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Ciência Veterinária nos Trópicos v. 16 nº 1/2/3

janeiro-dezembro/2013

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DE PERNAMBUCO – CRMV-PE

DIRETORIA EXECUTIVAMed. Vet. Erivânia Camelo de Almeida

Presidente

Med. Vet. Gerson Harrop FilhoVice-presidente

Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz PontualSecretária-geral

Med. Vet. José Alberto Simplício de AlcântaraTesoureiro

CONSELHEIROS TITULARESMed. Vet. João Alves do Nascimento JúniorMed. Vet. Geraldo Vieira de Andrade FilhoMed. Vet. Robério Silveira de SiqueiraMed. Vet. Paulo Ricardo Magnata da FonteMed. Vet. Marcelo Weinstein TeixeiraZootec. Valderedes Martins da Silva

CONSELHEIROS SUPLENTESMed. Vet. Maria José de SenaMed. Vet. Airon Aparecido Silva de MeloMed. Vet. Amaro Fábio de Albuquerque SouzaMed. Vet. João Ferreira CaldasMed. Vet. Luiz Paulo de Moraes BrandãoMed. Vet. Fabiano Sellos Costa

SEDE DO CRMV/PE Rua Conselheiro Theodoro, 460, Zumbi, Recife, PE, CEP 50711-030Fone: 081-3797.2517 | Fax: 081-3797.2506www.crmvpe.org.br

Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Resolução nº 652, de 18 de novembro de 1998.

INDEXAÇÃORevista Ciência Veterinária nos Trópicos está indexada na base de dados da Cabi Abstracts, Agris e Agrobase.

CONSELHO EDITORIAL

EDITORAZoot. Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro Manso

EDITORES ASSOCIADOSMed. Vet. Márcia de Figueiredo PereiraMed. Vet. Késia Alcântara Queiroz PontualMed. Vet. Jéssica de Torres Bandeira

CORPO EDITORIALAurino Alves Simplício

EMBRAPA-Caprinos

Carlos Enrique Peña AlfaroUFCG - Depto. de Clínicas Veterinárias

Cristiano Barros de MeloUFSE - DEA/CCBS

Eduardo Alberto TuduryUFRPE - Depto. de Medicina Veterinária

Francisco Carlos Faria LobatoUFMG - Escola de Veterinária

José Augusto Bastos AfonsoUFRPE - Clínica de Bovinos de Garanhuns

Marcos Antônio Lemos de Oliveira UFRPE - Depto. de Medicina Veterinária

Maria do Carmo de Souza BatistaUFPI - Depto. de Medicina Veterinária

JORNALISTA RESPONSÁVELEldemberga Grangeiro dos Anjos

Reg. Prof. 3686 DRT-PE

REVISÃO TÉCNICA Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual

EDITORAÇÃO GRÁFICAJônathas Souza

PERIODICIDADEQuadrimestral

SITEEdições da Revista Ciência Veterinária nos Trópicos estão disponíveis no site www.rcvt.org.br

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Sumário ContentsARTIGO DE REVISÃO

MÉLO, S.K.M.; SILVA, E.R.R.; HUNK, M.M.;

MANSO, H.E.C.C.C.

Brucelose Canina: Revisão de literatura ..................

REVIEW ARTICLE

MÉLO, S.K.M.; SILVA, E.R.R.; HUNK, M.M.;

MANSO, H.E.C.C.C.

Canine Brucellosis - Review .....................................

ARTIGO CIENTÍFICO

PEREIRA, M.F; MOTA, R.A.; PEIXOTO, R.M.;

PIATTI, R.M.

Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado de Pernambuco, Brasil ....................................

SCIENTIFIC ARTICLE

PEREIRA, M.F; MOTA, R.A.; PEIXOTO, R.M.;

PIATTI, R.M.

Abortion in sheep and goats in Pernambuco State, Brazil - case study ............................................

ARTIGO CIENTÍFICO

VAZ, S.G.; ALMEIDA, T.L.A.C.; MANSO FILHO, H.C.;

TEIXEIRA, M.N.; RÊGO, E.W.; FREITAS, A.A.

Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária ...............................................................

SCIENTIFIC ARTICLE

VAZ, S.G.; ALMEIDA, T.L.A.C.; MANSO FILHO, H.C.;

TEIXEIRA, M.N.; RÊGO, E.W.; FREITAS, A.A.

Risk Map in Clinical Veterinary Pathology Laboratory ................................................................

ARTIGO CIENTÍFICO

MACHADO, M.B.; SILVEIRA, P.P.M.; BANDEIRA, J.T.;

MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; BARÇANTE, T.A.

Prevalência de mormo no estado de Pernambuco no período de 2006 a 2011 .....................................

SCIENTIFIC ARTICLE

MACHADO, M.B.; SILVEIRA, P.P.M.; BANDEIRA, J.T.;

MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; BARÇANTE, T.A.

Glanders prevalence in the State of Pernambuco, Brazil, from 2006 to 2011 .......................................

ARTIGO CIENTÍFICO

SILVEIRA, P.P.M.; MACHADO, M.B.; BANDEIRA, J.T.; MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; SILVEIRA, A.V.M.; ROCHA, C.M.B.M.

Comparação da Prevalência do Mormo entre as Zonas da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco, de 2005 à 2011 ...........................................................

SCIENTIFIC ARTICLE

SILVEIRA, P.P.M.; MACHADO, M.B.; BANDEIRA, J.T.; MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; SILVEIRA, A.V.M.; ROCHA, C.M.B.M.

Glanders Prevalence comparision between Zona da Mata, Agreste and Sertão from Pernambuco, Brazil, from 2005 to 2011 ...............

ARTIGO CIENTÍFICO

RIFAS JÚNIOR, J.R.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.; BRANDESPIM, D.F.; MOTA, R.A.; ANDERLINI, G.A.

Avaliação sobre o conhecimento de Zoonoses em profissionais e acadêmicos da Medicina e Medicina Veterinária na cidade de Maceió-Alagoas-Brasil ............................................................

SCIENTIFIC ARTICLE

RIFAS JÚNIOR, J.R.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.; BRANDESPIM, D.F.; MOTA, R.A.; ANDERLINI, G.A.

Evaluation of the knowledge of Zoonoses by professional and academic of Medicine and Veterinary Medicine in Maceió-Alagoas- Brazil .........................................................

Informações Gerais .................................................. 04 General Information................................................. 04

Editorial ..................................................................... 05 Editorial ..................................................................... 05

07 07

18 18

31 31

37 37

45 52

53 53

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Informações Gerais

A revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE), e destina-se a divulgação de trabalhos técnico-científicos (trabalhos originais de interesse na área de ciência veterinária e zootecnia,

ainda não publicados, nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas a área de ciência veterinária em meio digital.

Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (Resolução no 652, de 18 de novembro de 1998).

Endereço para correspondência:Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE) Rua Conselheiro Theodoro, 460 - Zumbi. CEP 50711-030 Recife, PE, Brasil.Telefone: (081) 3797.2506 e fax (081) 3797.2514

Informações a respeito do Regulamento Editorial e Normas de Estilo poderão ser obtidas através do site: http://www.rcvt.org.br e do e-mail: [email protected]

Os artigos publicados nesta Revista são indexados nas bases de dados: CABI ABSTRACTS, AGRIS E AGROBASE

Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 16, n 1,2,3 (2013) – Recife: CRMV – PE, 2013

Quadrimestral ISSN 1415-6326

1. Veterinária – Ciência – Periódico I. Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco, Recife, PE.

CDD 636.08905

5

Editorial

Zoot. Helena Emília C. C. Cordeiro Manso

A revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE), e destina-se a divulgação de trabalhos técnico-científicos (trabalhos originais de interesse na área de Ciência Veterinária e Zootecnia, ainda não publicados, nem encaminhados a outra revista

para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas a área de Ciência Agraria em meio digital.

No atual volume os leitores podem encontrar importantes publicações na área o escopo da publicação com ênfase nas zoonoses que acometem alguns dos animais envolvidos nos sistemas de criação em Pernambuco, tanto nas áreas rurais como nas áreas urbanas, além de importante aspecto sobre os cuidados nas práticas laboratoriais, muitos delas associadas ao diagnóstico das zoonoses descritos nas publicações descritas nesse periódico.

Duas publicações abordam a situação do mormo no estado de Pernambuco. Essa enfermidade, desde o inicio desse século, tem não só causado inúmeras perdas nos criatórios de equídeos em Pernambuco, mas parece se alastrar por todo o Brasil. Além do mais, o mormo, tem comprometido a exportação de animais e causado alguns transtornos em centros de importantes animais de trabalho, como nas cavalarias militares.

Outras duas publicações, em espécies diferentes, demonstram a combinação entre enfermidades reprodutivas e as zoonoses. Nos pequenos ruminantes foi demonstrado diferentes causas de abortos e, entre elas, a toxoplasmose, tão comum nos pequenos animais. Já no trabalho sobre a brucelose em caninos foi discutido um linha de procedimento para o diagnostico da enfermidade nesses grupo de animais. Observem aqui como os profissionais da saúde pública devem estar atentos aos “movimentos” de patógenos entre espécies e os envolvidos com as criações em fazendas, tanto veterinários como zootecnistas, devem atentar para a implicação da presença dos “pets” nesses estabelecimentos.

Finalmente no atual volume, o leitor é levado a ̀ observar os cuidados que devem ser observados ao longo do processamentos das amostras em seus laboratórios e com os diferentes envolvidos com os sistemas sanitários compreendem o seu mundo ao redor. Nada mais importante para que todos nós reciclemos os conceitos de saúde animal, que devem ser re-inscritos sobre a edge do programa mundial do “One Health”, ou seja, Saúde para todos, animais e humanos.

Boa leitura a todos.

7

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7 - 17 - janeiro/dezembro, 2013

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Brucelose Canina:Revisão de literatura

A crescente importância conferida pela sociedade aos animais de compa-nhia faz com que grande atenção seja dispensada à sanidade desses animais. Dentre as doenças que podem causar problemas reprodutivos em machos e fêmeas, destaca-se a brucelose canina, zoonose que acarreta grandes pre-juízos aos criadores de cães. Os sintomas mais significativos são o aborta-mento nas fêmeas, orquites e epididimites nos machos e infertilidades em ambos os sexos. Os testes sorológicos são os métodos diagnósticos mais frequentemente utilizados no diagnóstico. Estes testes podem resultar em resultados falso positivos e em casos crônicos em falso negativos havendo a necessidade do isolamento bacteriano para firmar diagnóstico definitivo da doença. O tratamento consiste de antibioticoterapia, a qual não obtém resultado muito satisfatório devido à persistência intracelular do agente. O homem apresenta certa resistência ao agente, no entanto muitos casos já foram relatados em humanos, ficando o alerta para os profissionais de saúde quanto ao caráter zoonótico desta doença. Portanto, é importante ter um maior conhecimento sobre a doença, possibilitando aos Clínicos Veterinários a diagnosticar e instituir um plano de controle e profilaxia adequados.

Modern society is giving increasing importance to pets, so that great attention should be paid to the health of these animals. Among the diseases that can cause reproductive problems in males and females, there is the canine brucellosis, a zoonosis that causes great losses to dog breeders. The most signifi cant injuries are abortion in females, orchitis and epididymitis in males and infertility in both sexes. Serological tests are the most often used methods in the diagnosis. These tests can result in false positives and false negatives in chronic cases so it is neces-sary to accomplish bacterial isolation as a definitive diagnosis. Treatment consists of antibiotics, which did not get very satisfactory results due to the intracellular persistence of the agent. Man presents a certain resistance to the bacteria, how-ever many cases have been reported in humans, and healthcare professionals should be alert regarding this zoonotic disease. Therefore, it is important to have a greater knowledge of the dis ease, enabling Veterinarians diagnose and establish a plan of appropriate control and preventive measures.

R E S U M O

A B S T R A C T

Canine Brucellosis: Review

PA L A V R A S - C H A V E Brucella canis, Cães, Aborto, Zoonose

K E Y W O R D S Brucella canis, Dogs, Abortion, Zoonosis

Stephânia Katurchi Mendes MÉLO1*, Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA1, Monica Miranda HUNK1, Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO1

1 BIOPA - Laboartório de Biologia Molecular Aplica à Produção Animal, Departamento deZootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco

*Autor para correspondência

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I N T R O D U Ç Ã O

A incidência da Brucelose nos animais e no homem vem diminuindo devido ao aumento de medidas de controle, no entanto, devido à geo-grafia, o clima, densidade populacional dentre outros fatores, favorece a permanência do agen-te principalmente na América Latina (LUCERO et al., 2007).

A brucelose canina foi descrita em 1966, por Carmichael, nos Estados Unidos da América du-rante episódios de abortamento em canis da raça Beagle em diversos estados americanos. Sendo isolado de tecidos fetais e placentários, um mi-crorganismo cujas características de cultivo, bio-químicas e sorológicas indicavam ser um micror-ganismo do gênero Brucella, e verificando-se que o mesmo apresentava características distintas das demais espécies do gênero Brucella já des-critas, sendo designado Brucella canis (CARMI-CHAEL, 1966; JONES et al., 1968; MOORE, 1969).

No Brasil, a brucelose canina foi descrita pri-mariamente em 1977 por Godoy e colaborado-res, no estado de Minas Gerais, isolando a bacté-ria de uma cadela com histórico de abortamento e reagente a prova de soroaglutinação lenta (SAL) (GODOY et al., 1977).

A brucelose canina é causada pela Brucella canis, um cocobacilo Gram-negativo que tem morfologia colonial irregular que o distingui das demais espécies de Brucellas. Caracteriza-se como doença infectocontagiosa crônica e é con-siderada uma zoonose. A transmissão envolve o contato direto com o microrganismo que é capaz de penetrar em qualquer mucosa, sendo a oral, conjuntival e vaginal as mais importantes. As fê-meas transmitem a doença durante o estro, no momento da cobertura, por via transplacentária, após o aborto, leite e urina. Sendo, aerossóis ad-vindos do material abortivo a principal via de infecção, devido à presença de grande quantida-de de microrganismos (CARMICHAEL & KEN-

NEY, 1970; NELSON & COUTO, 2001).A B. canis pode ser transmitida pelo sêmen,

principalmente durante as primeiras seis a oito semanas de infecção, pela urina, e também por fômites contaminados (NELSON & COUTO, 2001).

A presença do agente no organismo causa principalmente alterações reprodutivas como in-fertilidade, abortamentos, principalmente no ter-ço final da gestação e a ocorrência de natimortos ou do nascimento de filhotes débeis. Ocasional-mente afeta outros tecidos causando alterações como uveíte, discoespondilite, osteomielite e der-matite (NELSON & COUTO, 2001; WANKE, 2004; HOLLETT, 2006).

Como a possibilidade de êxito com o tra-tamento é incerta e os animais se tornam uma fonte de infecção para outros cães e pessoa, o tratamento não é recomendado, pois os cães tra-tados estarão sempre susceptíveis a reinfecção (ETTINGER, 1992).

Segundo o LABORATÓRIO CEPAV (2003), a brucelose ainda não tem cura, sendo assim o animal infectado permanece portador por toda a vida. Todavia, alguns medicamentos podem ser utilizados para minimizar os sintomas clínicos da doença e sendo utilizada de acordo com a fase da enfermidade em que o animal se encontra, e quanto mais tardia a doença for diagnosticada, mais difícil será o tratamento.

Para prevenção e controle dessa doença, de-ve-se testar todo o lote reprodutor quanto a Brucella antes de empreender um programa de acasalamento e, teoricamente, antes de cada aca-salamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por ano nos machos. Os animais positivos devem ser eliminados de canis de reprodução ou esteriliza-dos (SHERDING & BICHARD, 1998).

E T I O L O G I A

O gênero Brucella é constituído por bactérias intracelulares facultativas, com seis espécies re-

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013

Stephânia K. M. MÉLO et al.

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conhecidas, cada uma acomete um hospedeiro preferencial, sendo assim, identificadas confor-me seu hospedeiro, características morfológi-cas, propriedades metabólicas, sorotipagem e fenotipagem (ALTON et al., 1976). As espécies do gênero Brucella são bastante sensíveis aos desinfetantes comuns, à luz e a dessecação. Em cadáveres ou tecidos contaminados enterrados, podem resistir vivas por um a dois meses em cli-ma frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes, um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes (CORRÊA & CORRÊA,1992).

A B. canis causa uma enfermidade infecto--contagiosa crônica, reconhecida como pequeno (1,0 - 1,5 µm) cocobacilo, Gram negativo, aeró-bico, imóvel, não esporulado e não encapsulado, que se distingue de outros do gênero Brucella, por apresentar colônias com morfologia rugosa e aspecto mucóide, e características bioquímicas próprias (CARMICHAEL & SHIN, 1996; CAR-MICHAEL & GREENE, 1998; WANKE, 2004).

I M P O R T Â N C I A

O gênero Brucella é constituído por bactérias intracelulares facultativas, com seis espécies re-conhecidas, cada uma acomete um hospedeiro preferencial, sendo assim, identificadas confor-me seu hospedeiro, características morfológi-cas, propriedades metabólicas, sorotipagem e

fenotipagem (ALTON et al., 1976). As espécies do gênero Brucella são bastante sensíveis aos desinfetantes comuns, à luz e a dessecação. Em cadáveres ou tecidos contaminados enterrados, podem resistir vivas por um a dois meses em cli-ma frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes, um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes (CORRÊA & CORRÊA,1992).

A B. canis causa uma enfermidade infecto--contagiosa crônica, reconhecida como pequeno (1,0 - 1,5 µm) cocobacilo, Gram negativo, aeró-bico, imóvel, não esporulado e não encapsulado, que se distingue de outros do gênero Brucella, por apresentar colônias com morfologia rugosa e aspecto mucóide, e características bioquímicas próprias (CARMICHAEL & SHIN, 1996; CAR-MICHAEL & GREENE, 1998; WANKE, 2004).

I N C I D Ê N C I A

Dados sobre a ocorrência de B. canis no esta-do de São Paulo são pontuais e em sua maioria baseados em exames sorológicos. Observa-se na tabela 1, uma ocorrência variando entre 3,61% e 41%, de acordo com a população de cães exa-minados, e do método diagnóstico utilizado.

T R A N S M I S S Ã O

A transmissão ocorre, geralmente, pela inges-

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013

Brucelose Canina: revisão de literatura

Autores Número de Animais Procedência dos Cães Positivos Diagnóstico Utilizado

Sandoval et al., 1976 221 Errantes 8 (3,61%) SAL

Larsson et al., 1981 27 Canis e Errantes5 (18,51%) SAL

3 (11,12%) HEMOCULTURA

Cortes et al., 1988 3386 Canis e Errantes 254 (7,5%) IDGA

Keid et al., 2004a 171 Canis58 (33,91%) IDGA

24 (14,03%) HEMOCULTURA

Keid et al., 2004b 139 Canis 5 (41%) HEMOCULTURA

SAL: Soroaglutinação lenta. IDGA: Imuno difusão em gel de Agar.

Ocorrência da Brucelose canina causada por Brucella canis na cidade de São Paulo de acordo com métodos sorológicos e/ou bacteriológicos de diagnóstico.

TABELA 01

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tão ou inalação de microorganismos presentes em tecidos fetais abortados, descargas vaginais do parto ou do abortamento, assim como em urina. A transmissão venérea pode ocorrer tanto do macho para a fêmea, devido à eliminação do agente no sêmen, quanto da forma inversa, uma vez que as descargas vaginais de fêmeas infecta-das durante o estro também possuem altas con-centrações do microorganismo (JOHNSON & WALKER, 1992; CARMICHAEL & GREENE, 1993; MIRANDA et al., 2005).

Segundo Organização Internacional de Epi-zootias (OIE, 2005), entre os animais, a Brucel-la é geralmente transmitida pelo contato com a placenta, feto, fluidos fetais e descargas vaginais de animais infectados. Os animais são infecta-dos após um abortamento ou parto completo. A bactéria pode ser encontrada no sangue, urina, leite ou sêmen; produzida no leite e sêmen, pode ter sua vida prolongada. A brucelose pode ser transmitida por fômites,e em condições de alta umidade, baixa temperatura e se luz solar, os mi-croorganismos podem se tornar resistentes por muitos meses na água, fetos abortados, esterco, pêlos, fenos, equipamentos e roupas.

Nos cães, as principais portas de entrada da bactéria compreendem principalmente as mu-cosas oronasal, genital e conjuntival (CAR-MICHAEL & GREENE, 1998). Infecções experimentais já foram induzidas pelas vias in-travenosa, subcutânea, intraperitoneal e intrava-ginal (MEYER, 1983).

A infecção oral é a mais frequente e a dose mínima infectante por esta via é de cerca 106 mi-crorganismos, enquanto a dose mínima infectan-te por via conjuntival é 104 a 105 microrganis-mos. A dose infectante mínima por via venérea é desconhecida (CARMICHAEL & GREENE, 1998).

A eliminação pelo sêmen é decorrente da pre-sença de microrganismos na próstata e no epidí-dimo. A quantidade de bactérias isoladas a partir do sêmen em cães infectados é alta nas primeiras

seis a oito semanas pós-infecção. Entretanto, a eliminação intermitente do organismo em baixas concentrações, foi relatada por até 60 semanas pós-infecção, podendo continuar por até dois anos (JOHNSON & WALKER, 1992; CARMI-CHAEL & GREENE, 1993).

As fêmeas podem, também, excretar as bruce-las pelo leite, ainda que em pequena concentra-ção e com pouca importância na infecção dos fi-lhotes, uma vez que normalmente, estes animais já foram infectados intra-uterinamente (CAR-MICHAEL & GREENE, 1998). Contrariamen-te, Johnson e Walker (1992) consideram o leite como importante via de transmissão, decorrente do potencial de dispersão do microrganismo no meio ambiente.

A transmissão da bactéria por fômites, utili-zação de vaginoscópio e seringas contaminadas, assim como da realização de transfusões sanguí-neas e inseminações artificiais, com sangue ou sêmen de animais infectados, já foram relatadas (CARMICHAEL & GREENE, 1998).

A eliminação da bactéria pela urina tem início uma a quatro semanas depois do início da bac-teremia e persiste por pelo menos 18 semanas. Portanto, as tentativas de isolamento da urina neste período geralmente produzem resultado positivo (JOHNSON & WALKER, 1992).

PA T O G E N I A

A infecção pode ocorrer através das membra-nas mucosas (oral, ocular, nasal e genital). Após a penetração no organismo, o agente é fagoci-tado por macrófagos ou outras células fagocitá-rias, transportado para órgãos genitais e linfo-nodos, desenvolvendo linfadenopatia transitória e no interior dos leucócitos realiza bacteremia (JOHNSON e WALKER, 1992; CARMICHAEL & GREENE, 1998).

Durante a fase de bacteremia ocorre dissemi-nação bacteriana por todo o organismo do hos-pedeiro, mas preferencialmente para tecidos ricos

Stephânia K. M. MÉLO et al.

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013

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em esteróides gonadais e em células reticuloen-doteliais como baço, fígado, linfonodos, medula óssea, útero de fêmeas gestantes, próstata, epidí-dimos e testículos. Outros sítios de localização são os rins, circulação dos discos intervertebrais, meninges e câmara anterior dos olhos (CARMI-CHAEL, 1979; GREENE, 1995). Uma vez cessa-da a bacteremia, esses tecidos podem constituir sítios de persistência bacteriana, caracterizando a fase crônica da infecção (JOHSON & WAL-KER, 1992; GREENE, 1995; CARMICHAEL & SHIN, 1996).

Após a bacteremia, títulos de anticorpos per-sistentes e não protetores contra B. canis come-çam a ser detectados, a resposta imune é predo-minantemente celular. Entretanto, parecem ter pouca influência sobre a bacteremia e o número de microrganismos encontrados nos tecidos (fi-gura 1) (WANKE, 2004).

S I N A I S C L Í N I C O S

Em sua maioria, as infecções por B. canis são

inaparentes (ETTINGER, 1992). A B. canis in-fecta o útero nas fêmeas prenhes e coloniza as células epiteliais placentárias, resultando em morte embrionária ou fetal, abortamentos tar-dios no terço final da gestação, podendo ocor-rer retenção de placenta e/ou corrimento vaginal persistente. Algumas fêmeas podem apresentar vários abortamentos consecutivos. Em alguns casos, podem levar a gestação a termo com nas-cimento de natimortos, filhotes fracos que mor-rem em poucos dias, ou filhotes aparentemente sadios, exceto pela bacteremia persistente e o enfartamento de linfonodos, que geralmente é o único sinal clínico da infecção até a maturidade sexual (JOHNSON & WALKER, 1992; CAR-MICHAEL & GREENE, 1998; WANKE, 2004).

As cadelas infectadas não prenhes comumen-te não mostram sinais de infecção, mas podem eliminar o microrganismo na urina e secreções vaginais por período de tempo variável (JOHN-SON & WALKER, 1992).

As manifestações clínicas de brucelose mais

Brucelose Canina: revisão de literatura

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013

URINA SÊMEN

OLHOS

SECREÇÃO VAGINAL

DISCO INTERVERTEBRAL

MUCOSA ORONASAL E CONJUNTIVA MUCOSA GENITAL

TRATO GENITAL

FAGOCITOSE

(LINFONODOS)

BACTEREMIA

ÚTEROFÊMEA MACHO

OVÁRIOEPIDÍDIMOPRÓSTATA

Patogenia da brucelose canina.FIGURA 01

12

frequentes nos machos, são as epididimites e prostatites severas. A epididimite desenvolve-se cerca de cinco semanas pós-infecção. Durante a fase aguda da doença, o testículo e o epidídimo aumentam de tamanho, e este último torna-se sensível devido à presença de fluido serosangui-nolento na túnica albugínea. O epidídimo di-minui de tamanho na fase crônica da infecção, apresentando consistência firme e geralmente há atrofia epididimária (CARMICHAEL & GREE-NE, 1993, WANKE, 2004).

A dermatite e o edema escrotal são resultados do hábito frequente de lamber o escroto. Orqui-tes e aumento dos testículos raramente ocorrem na fase aguda, mas os machos cronicamente in-fectados desenvolvem atrofia testicular uni ou bilateral (CARMICHAEL & GREENE, 1993, WANKE, 2004).

Danos testiculares desenvolvidos pela ação direta da bactéria, iniciam uma resposta auto--imune contra os espermatozóides e determinam distúrbios na espermatogênese, alterações da morfologia e redução na motilidade dos esper-matozóides, presença de células inflamatórias e redução de volume do ejaculado. Acredita-se que este fenômeno auto-imune, esteja envolvido na patogenia da esterilidade, que geralmente ocor-re nas infecções crônicas. Independentemente do desenvolvimento da esterilidade, os cães conti-nuam excretando a bactéria no fluido seminal (CARMICHAEL & GREENE, 1993, WANKE, 2004).

Ocasionalmente, B. canis infecta outros te-cidos além do linforeticular e reprodutivo, po-dendo ocorrer hepato e esplenomegalia, uveítes, discoespondilites, osteomielites, meningites, glo-merulonefrites e dermatites piogranulomatosas (SOUZA et al., 2003).

Relata-se recuperação espontânea da infec-ção entre um e cinco anos pós-infecção (CAR-MICHAEL, 1990). Animais que se recuperaram da infecção apresentam títulos aglutinantes bai-xos ou ausentes e podem apresentar-se imunes

à re-infecção (CARMICHAEL, 1990; GREENE, 1995).

Mesmo sendo uma doença sistêmica, rara-mente cães adultos manifestam sinais clínicos sistêmicos severos, sendo o principal problema à ocorrência de prejuízos no desempenho reprodu-tivo (JOHNSON & WALKER, 1992).

A presença dos sinais clínicos é sugestiva da infecção, mas o único método definitivo para o diagnóstico da brucelose em cães é o isolamento bacteriano do agente que fornece diagnóstico de-finitivo quando a bactéria é isolada. Entretanto, é demorado, e resultados negativos na cultura, decorrentes de pequena quantidade de microor-ganismos viáveis ou contaminação da amostra, não eliminam a possibilidade de infecção (WAN-KE, 2004).

D I A G N Ó S T I C O

O diagnóstico é sugerido pela história clínica, por anormalidades no sêmen e relativa ausência de anormalidades físicas. Todavia, o diagnóstico definitivo consiste no isolamento do microor-ganismo, caracterizando-se como método que consome muito tempo e por isso pouco prático como teste de rotina em animais assintomáticos. O sucesso do diagnóstico ainda depende da es-colha do material a ser cultivado (NELSON & COUTO, 2001).

D I A G N Ó S T I C O D I R E T O

O cultivo microbiológico do agente é conside-rado o método definitivo e direto (figura 2) para o diagnóstico da infecção por Brucella canis (MOORE, 1969; CARMICHAEL, 1976).

O microorganismo pode ser isolado a partir da cultura do sangue, aspirado de medula ós-sea, sêmen, secreção vaginal, urina, leite, humor aquoso, órgãos como o fígado, baço, linfonodos, útero, ovário, próstata, epidídimo, testículo ou ainda líquido amniótico, placenta, rins, fígado, baço, pulmão e fluidos pleurais de fetos aborta-

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dos (JOHNSON & WALKER, 1992, WANKE, 2004).

O sangue é a melhor amostra a ser cultivada na tentativa de isolamento, uma vez que nos cães a bacteremia é prolongada. Após uma a quatro semanas da infecção, o agente já pode ser isola-do na hemocultura, persistindo por no mínimo seis meses e de forma intermitente pode durar até 64 meses ou mais. Porém, em animais cro-nicamente infectados a bacteremia pode estar ausente impossibilitando o isolamento (JOHN-SON & WALKER, 1992, WANKE, 2004).

A cultura da descarga vaginal no período imediatamente após o abortamento ou durante o estro é o mais indicado para tentativa de iso-lamento do agente nas cadelas (JOHNSON & WALKER, 1992), uma vez que estas descargas podem conter elevadas concentrações da bacté-ria por até seis semanas pós-abortamento (CAR-MICHAEL & KENNEY, 1970; CARMICHAEL & GREENE, 1998).

As culturas de urina e sêmen podem ser úteis para o diagnóstico, mas se colhidas isoladamen-te não são confiáveis, uma vez que um resultado negativo não exclui a possibilidade de infecção (GREENE, 1995).

A cultura de sêmen realizada entre três e onze semanas pós-infecção revela quantidade muito elevada de microorganismos. Depois de 12 se-manas a quantidade de microorganismos elimi-nados começa a diminuir até tornar-se pratica-mente negativa após 60 semanas (JOHNSON &

WALKER, 1992).Keid (2001) concluiu que o cultivo de sêmen e

swab vaginal não apresentam valor para o diag-nóstico laboratorial da brucelose canina por B. canis visto que foi pequeno o número de isola-mentos obtidos nestes materiais.

Segundo Paulin (2003), em meio sólido e con-dições ideais, uma cultura leva de três a sete dias para a visualização das colônias, embora se reco-mende a incubação por no mínimo três semanas. As colônias são pequenas, translúcidas, brilhan-tes, convexas, de bordos arredondados e bem definidos e, geralmente, de coloração leitosa. À microscopia óptica comum apresentam-se isola-das, aos pares ou em pequenos grupos.

D I A G N Ó S T I C O I N D I R E T O

Em função das dificuldades do isolamento do agente, diferentes tipos de diagnósticos soroló-gicos foram desenvolvidos, variando em sensibi-lidade, especificidade e complexidade (WANKE, 2004).

Anticorpos não protetores, produzidos contra antígenos da parede celular e do citoplasma da B. canis, podem ser detectados com oito a 12 sema-nas pós-infecção. Os títulos de anticorpos per-manecem altos enquanto persiste a bacteremia. Quando a bacteremia torna-se intermitente, os títulos de anticorpos declinam e podem tornar--se duvidosos ou negativos, enquanto o micror-ganismo ainda persiste nos tecidos. Em alguns

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Mecanismo do diagnóstico direto da Brucelose Canina.FIGURA 02

HEMOCULTURAPOSITIVO

NEGATIVO RETESTAR EM UM MÊS

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casos, há flutuações nos títulos de anticorpos na presença ou na ausência de bacteremia (JOHN-SON & WALKER, 1992).

Resultados falso-positivos podem acontecer em decorrência da reatividade cruzada com ou-tros microrganismos, uma vez que alguns deter-minantes antigênicos da parede celular da B. ca-nis podem ser semelhantes aos de Brucella ovis, Brucella abortus, espécies mucóides de Pseudo-monas aeruginosa e Staphylococcus sp. e Borde-tella bronchiseptica. (GREENE, 1995; CARMI-CHAEL & SHIN, 1996).

Resultados falso-negativos podem ocorrer nas primeiras quatro semanas pós-infecção uma vez os testes falham em detectar os anticorpos pro-duzidos nesta fase e em outras fases da doença, por flutuações nos títulos de anticorpos (JOHN-SON & WALKER, 1992; MEGID et al., 2000).

O sorodiagnóstico da brucelose canina pode ser realizado empregando-se as seguintes pro-vas: soroaglutinação rápida (SAR), soroagluti-nação lenta (SAL), imunodifusão em gel de ágar (IDGA) e ensaio imunoenzimático (ELISA).

Pelas características de especificidade mode-rada da sorologia e da baixa sensibilidade do isolamento, nenhum deles é, sozinho, adequado para o diagnóstico de todos os casos de bruce-lose (FLORES-CASTRO & CARMICHAEL, 1978). Desta maneira é interessante associá-los e tentar descobrir em que fase da doença o animal se encontra, uma vez que em cada fase haverá maior probabilidade da bactéria ser isolada em determinada amostra (JOHNSON & WALKER, 1992).

S O R O AG LU T I N AÇ ÃO R Á P I DA

A SAR (figura 3), além de rápida, é sensível e costuma ser utilizada como procedimento de triagem, por detectar anticorpos precocemente, com aproximadamente seis semanas após o iní-cio da bacteremia, até um período máximo de três meses após a mesma (GEORGE & CARMI-

CHAEL, 1978; JOHNSON & WALKER, 1992).Ao realizar o teste, e o resultado der positivo,

haverá grande probabilidade de que o animal seja doente, uma vez que a brucelose é doença crônica. Quando a prova é suspeita, deve ser re-petida um a dois meses após. Caso se mantenha o mesmo título, ou o título diminua, a prova e o animal serão julgados negativos, ou seja, sem brucelose (CORREA & CORREA, 1992).

É considerada altamente acurada na identi-ficação dos cães não infectados, existindo alta correlação entre teste negativo e ausência de infecção. Como outras bactérias podem ter de-terminantes antigênicos semelhantes aos da B. canis, podem ocorrer resultados falso-positivos, por reações cruzadas com anticorpos produzidos contra estes microrganismos (CARMICHAEL, 1969; JOHNSON & WALKER, 1992; CARMI-CHAEL & GREENE, 1993; GREENE, 1995; CARMICHAEL & SHIN, 1996).

T R A T A M E N T O

O tratamento com antibiótico é difícil, devido à natureza intracelular da B. canis, e todos os animais infectados devem ser considerados como potenciais portadores por toda a vida, pois, os títulos de anticorpos declinam após o tratamento, mas podem permanecer em níveis significativos durante seis semanas após ter sido após o microorganismo ser eliminado da corrente sanguínea, mas os títulos aumentam novamente, se vier a ocorrer recidiva da infecção mesmo após de finalizado o tratamento (CARMICHAEL & GREENE, 1998).

Em geral há declínio da bacteremia e dos tí-tulos de anticorpos séricos com o início da anti-bioticoterapia. Muitas vezes não há retorno da bacteremia, mas o microorganismo persiste em determinados órgãos (JOHNSON & WALKER, 1992).

Como a possibilidade de êxito com o trata-mento é incerta e os animais se tornam uma fon-

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te de infecção para outros cães e pessoa, o trata-mento não é recomendado, pois os cães tratados estarão sempre susceptíveis a reinfecção. A tabe-la x demonstra os efeitos da antibioticoterapia. Caso o tratamento seja realizado, os animais in-fectados devem ser esterelizados para minimizar a disseminação (ETTINGER, 1992).

Segundo Wanke (2004), os tratamentos que ti-veram relativos sucessos são:

Tetraciclina (30 mg/kg), VO, duas vezes ao dia, durante 28 dias; Estreptomicina (20 mg/kg), IV, uma vez ao dia, durante 14 dias. Foram submeti-dos a esse tratamento 105 cães, desses 81 foram negativados; Tetraciclina (30 mg/kg), VO, três vezes ao dia, durante 30 dias; Estreptomicina (20 mg/kg), IM, nos dias 1 a 7 e 24 a 30. Foram submetidos a esse tratamento 19 cães, 14 foram negativados com um ciclo, 2 animais com dois ciclos e 3 cães foram refratários; Monociclina (10 mg/kg), duas vezes ao dia; Estreptomicina (4,5 mg/kg), IM, durante 7 dias consecutivos; Oxitetraciclina de longa ação (20 mg/kg), IM, uma vez por semana, durante um mês, associa-da a Estreptomicina (20 mg/kg), IM, uma vez ao dia, durante 1 semana. Dos 24 cães tratados 21 foram negativados. Nesse mesmo estudo, não foram obtidos sucessos com Ampicilina e obser-vou-se bons resultados com 4 semanas de trata-mento com enrofloxacina.

P R E V E N Ç Ã O E C O N T R O L E

A prevenção da infecção é particularmente im-portante nos canis comerciais, já que uma vez que a infecção é introduzida numa população canina confinada, sua disseminação ocorre rapi-damente, acometendo diversos animais. Exames bacteriológicos e sorológicos rotineiros devem ser realizados a cada seis meses, assim como nos animais previamente ao acasalamento. Novos animais introduzidos no plantel devem antes ser submetidos aos exames clínicos e laborato-riais e então devem ser mantidos em quarentena durante oito a doze semanas, quando os testes laboratoriais forem repetidos. Os cães que apre-sentarem sinais clínicos sugestivos de brucelose não devem ser introduzidos no plantel (WAN-KE, 2004).

Todos os animais reprodutores devem ser regu-larmente testados para anticorpo B. canis, antes de empreender um programa de acasalamento e, teoricamente, antes de cada acasalamento nas fê-meas e uma ou duas vezes por ano nos machos.

Em canis todos os animais positivos devem ser eliminados da reprodução. Um macho reprodu-tor não deve retornar ao serviço, mesmo após o tratamento com antibioticoterapia (NELSON & COUTO, 2001).

Devido ao custo do tratamento e da manu-tenção de animais inférteis, a redução do status

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Mecanismo do diagnóstico direto da Brucelose Canina.FIGURA 03

SAR - 2ME

HEMOCULTURA

PCR

POSITIVOPOSITIVO

NEGATIVO

NEGATIVO (RETESTAR)

RETESTAR EM UM MÊS OUBIANUALMENTE (CANIL)

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reprodutivo dos animais, do número de filhotes que sobrevivem a amamentação e a persistência da infecção no canil, é muito mais econômico testar e descartar os animais infectados do que tentar o tratamento (NELSON & COUTO, 2001).

O controle da brucelose em canis infectados baseia-se nas seguintes medidas: identificação e remoção de todos os animais positivos do local, identificação das vias de transmissão, higieniza-ção das instalações, repetição mensal dos exa-mes laboratoriais a fim de identificar todos os animais positivos e evitar que novos surtos ve-nham ocorrer (CARMICHAEL & SHIN, 1996).

Uma vez que a infecção é confirmada num plantel, todos os animais devem ser testados so-rologicamente e bacteriologicamente, em inter-valos mensais para identificação dos positivos (JOHNSON & WALKER, 1992).

Com relação aos animais de companhia, de-vem-se ter outras condutas, como tratamento com antibioticoterapia e a esterilização, pois terminam com as secreções genitais e a elimina-ção do microorganismo por essa via, porem, não excluem a possibilidade de o animal permane-cer como fonte de infecção para outros cães e até mesmo para pessoas de seu convívio (HOL-LETT, 2006).

C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

A Brucelose Canina tem potencial zoonótico. Deve-se ter cuidado na manipulação dos animais e higiene rigorosa em canis, além de identificar e eliminar os animais que sejam resultados positi-vos ao exame laboratorial. O conhecimento da doença possibilita o clínico veterinário a diag-nosticar e instituir um programa de controle e prevenção apropriados.

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Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado de Pernambuco, Brasil

Foram estudadas causas infecciosas de aborto em fetos caprinos e ovinos, em especial Aborto Enzoótico Ovino, Toxoplasma gondii e brucelose, no Estado de Pernambuco, Brasil. Utilizou-se 23 amostras de fetos, natimor-tos e neonatos procedentes de criatórios, a partir de 8 semanas de gestação, incluindo um neonato. Os fetos apresentavam-se em estado de autólise va-riável e 4 estavam em processo de mumificação. Os achados mais comuns foram: líquido serosanguinolento na cavidade torácica (17 - 73,91%), edema subcutâneo (10 - 43,48%), líquido serosanguinolento na cavidade abdominal (7 - 30,43%), no saco pericárdico (9 - 39,13%) e hemorragia subcutânea (8 - 34,78%). O achado histopatológico mais freqüente foi a reação do endotélio vascular, observada no pulmão (9/39,13%), além de coração, fígado, rim, baço e cérebro. Somente um feto (4,35%) apresentou lesões características de toxoplasmose. As amostras submetidas ao PCR foram negativas para Chlamydophila spp. No exame microbiológico das secreções vaginais foram identificadas Streptococcus spp. e Escherichia coli em uma matriz caprina e Staphylococcus spp. em outra. Não se isolou Brucella sp em nenhuma das amostras estudadas. A ausência da placenta na maior parte dos fetos examinados e o avançado estado de autólise dos fetos dificultaram o diagnóstico das causas de abortamento.

Infectious causes of abortion associated to reproductive disorders in goat and sheep foe-tus were studied, in the State of Pernambuco, Brazil. Samples of 23 foetus, stillborn and newborn were pro cedent from goat and sheep raising flocks, from 8 of gestation, in-cluding a two weeks old newborn. Most foetus were autolized, and 4 (17.39%) were in mummifying process. The most frequent find ings were the presence of serohaemorhag-ic fluid in the thoracic cavity (17/73.91%), subcutaneous oedema (10/43.48%), pres-ence of serohaemorhagic fluid in the abdominal cavity (7/30.43%), in the pericardic sac (9/39.13%) and subcutaneous hemorrhageae (8/34.78%). Histopathologic find ings in-cluded endotelium vascular reaction in the lungs (9/39.13%), but also in the heart, liver, kid ney, spleen and brain. Only one embryo (4.35%) presented characteristic injuries of toxoplasmosis. All samples sent for PCR were negative for Chlamydophila spp. Microbi-ological examination of vaginal secretions identified Streptococcus spp. and Escherichia coli in a goat matrix. In another one, the isolation of Staphylococcus spp. was possible. Brucella sp was not isolated in any sample. Absence of placenta and advanced autolysis in most foetus made difficult diagnosing the causes of abortion.

R E S U M O

A B S T R A C T

PA L A V R A S - C H A V E Aborto, caprinos, ovinos, anatomia patológica, PCR.

K E Y W O R D S Abortion, goat, sheep, anatomopathology, PCR

Márcia de Figueiredo PEREIRA1; Rinaldo Aparecido MOTA1, Rodolfo de Moraes PEIXOTO2 ; Rosa Maria PIATTI3.

1 Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, Pernambuco. E-mail: [email protected] Médico Veterinário.3 Pesquisadora do Instituto Biológico de São Paulo

Abortion in sheep and goats in Pernambuco State, Brazil - case study

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I N T R O D U Ç Ã O

A criação de ovinos e caprinos no Nordes-te, apesar de representar uma importante ati-vidade econômica, ainda apresenta um baixo desempenho produtivo e reprodutivo (Barros, 2004) em decorrência da falta de organização dos criadores, assistência técnica especializada e da precariedade do manejo higiênico-sanitário, acarretando sérios problemas sanitários (Vieira et al., 1998). O abortamento tem sido relacio-nado como uma importante falha reprodutiva, com uma taxa de 13,0 a 45,3%, capaz de causar grandes perdas econômicas (Silva e Silva, 1983; Leal et al., 1992; Poudevigne et al, 1988; Pinhei-ro et al., 2000). Contudo, ainda são escassos os trabalhos referentes às suas causas no Brasil.

As causas de aborto em ovinos e caprinos são numerosas e incluem agentes infecciosos como o Toxoplasma gondii, Chlamydophila abortus, Brucella spp., Coxiella burnetii, Listeria mono-cytogenes, Campylobacter spp., Salmonella sp., Leptospira sp. e vírus Border, entre outros (Nas-cimento e Santos, 2003; Pérez et al., 2003; Mo-bini et al., 2004).

O objetivo deste trabalho foi estudar as cau-sas infecciosas de aborto associadas a distúrbios reprodutivos em fetos caprinos e ovinos do Es-tado de Pernambuco no Estado de Pernambuco, Brasil.

M A T E R I A L E M É T O D O

As amostras utilizadas eram provenientes de propriedades do estado de Pernambuco. Foram utilizadas 23 amostras de fetos, natimortos e neonatos encaminhados ao DMV/UFRPE para diagnóstico. Os procedimentos de necropsia dos fetos e coleta de material foram executados de acordo com Perez et al. (2003).

Para estimar a idade dos fetos, natimortos e neonato, da espécie caprina, utilizou-se a fórmu-la CCC, onde 28,8 + 0,37. X = idade em dias, sendo X a medida da base do crânio a base da

cauda (Souza, 2000). Para ovinos, a idade foi es-timada, baseando-se em uma tabela descrita por Schwarze (1970). Também foram utilizadas as características de desenvolvimento cronológico descritas por Sivachelvan et al. (1996) para de-terminação da idade em semanas para ovinos e caprinos.

Durante a necropsia, foram coletados frag-mentos de cérebro, cerebelo, pulmão, coração, baço, fígado, rim e placenta, quando disponível. As amostras foram fixadas em solução de forma-lina a 10% tamponada. Posteriormente, o mate-rial foi recortado e submetido à técnica rotineira de desidratação, diafanização e inclusão em pa-rafina. Os blocos foram então cortados em mi-crótomo a 4μm, as lâminas foram coradas pela hematoxilina-eosina (Prophet et al., 1992).

Os achados histológicos foram classificados como ausentes, lesões não relacionadas, con-sistentes ou características para Toxoplasmose (Bueno et al., 2004) e clamidiose.

As amostras de cérebro, pulmão, coração, fí-gado, baço, rim e placenta foram colocadas em tubos de ependorf, congeladas e encaminhadas ao Laboratório de Doenças Bacterianas da Re-produção do Instituto Biológico de São Paulo para detecção de Chlamydophila abortus pela técnica de Polimerase Chain Reaction (PCR) (OIE, 2000).

Algumas propriedades de onde os fetos haviam sido enviados foram visitadas e foram realiza-dos exames clínicos, de acordo com Rosenber-ger (1993), em quatro ovelhas e 15 cabras com histórico de problemas reprodutivos. Também se coletou, em três cabras secreção vaginal pu-rulenta, utilizando-se swabs estéreis que foram posteriormente encaminhados sob refrigeração ao Laboratório de Doenças Bacterianas do De-partamento de Medicina Veterinária da Univer-sidade Federal Rural de Pernambuco para a rea-lização de exames microbiológicos, para fins de diagnóstico diferencial.

Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]

20

As amostras para PCR (aproximadamente 2 gramas de cada fragmento de rim, coração, pul-mão, fígado e baço) foram macerados conjunta-mente no homogeneizador de forma a obter-se um “pool”. Este foi ressuspendido em tampão Tris-EDTA 0,1M pH 7.4 e armazenados a –20oC até o momento da extração do DNA. Placenta, carúncula, conteúdo torácico e conteúdo abdo-minal foram homogeneizados separadamente (OIE, 2000).

A extração do DNA foi realizada utilizando o reagente comercial DNAzol (Invitrogen) e o pro-tocolo adaptado de Chomczynski (1993). Para diagnóstico da Chlamydophila spp., oligonu-cleotídeos iniciadores (primers) foram utilizados – região conservada do gene que codifica para a proteína omp-2 (Proteína de membrana externa – 60 KDa – rica em cisteínas), que corresponde a um fragmento de aproximadamente 587 pares de bases (Hartley et al., 2001).

CH1- 5’ ATG TCC AAA CTC ATC AGA CGA G 3’

CH2- 5’ CCT TCT TTA AGA GGT TTT ACC CA 3’

Como controle positivo da reação foi utiliza-da a amostra de Chlamydophila abortus S26/3. Como controle negativo da reação foi utilizada a mistura da reação da PCR sem DNA, contendo 10μL de água ultra-pura (OIE, 2000).

O material proveniente da secreção vaginal foi cultivado em ágar base enriquecido com 8% de sangue ovino, ágar Levine e ágar Brucella. As placas foram incubadas a 37ºC em aerobio-se e microaerofilia, respectivamente por 24 a 72 horas. As colônias bacterianas isoladas foram estudadas quanto aos aspectos morfológicos e tintoriais pela técnica de coloração de Gram e identificadas utilizando-se provas bioquímicas (Carter, 1986).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram examinados 23 fetos, sendo 21 abor-

tos, um natimorto e um neonato. Destes, 18 (78,26%) eram caprinos e cinco (21,74%) ovinos. Onze (47,83%) eram machos e doze (52,17%) fêmeas. Os fetos mediam entre 50 e 435 mm, com média de 285,22 mm e idade esti-mada de 47 a 184 dias. Na espécie ovina, houve variação entre 405 e 435mm, correspondente às idades 126 e 133 dias, respectivamente. Todos os fetos examinados tinham acima de 8 semanas de gestação, sendo que 14 (60,9%) tinham entre 8 e 16 semanas, 8 (34,8%) tinham mais de 16 sema-nas e um neonato com duas semanas de nascido. Entre os fetos com mais de 16 semanas de gesta-ção, um encontrava-se completamente formado e a termo (Tabela 1).

Estes achados estão de acordo com o que foi observado por Engeland et al. (1998) que relata-ram perdas fetais após os 90 dias de gestação em caprinos. No presente trabalho, de 21 abortos examinados, 20 (95,23%) tinham mais de 12 se-manas de idade (Tabela 1).

No estado da Paraíba, as mortes perinatais foram estudadas e se observou que em cabritos e borregos, respectivamente, somente 1,69% e 4,44% ocorreram antes do parto e 16,94% e 10,0% ocorreram durante o parto. Acredita-se, no entanto, que os abortos sejam subestimados, pois são observados com freqüência nas proprie-dades da região (Medeiros et al., 2005; Nóbrega Jr et al., 2005).

Ao exame macroscópico, a aparência dos ani-mais foi classificada de acordo com o estado de conservação, sendo um (4,35%) considerado fresco, 4 (17,39%) parcialmente autolisados, 14 (60,87%) muito autolisados e 4 (17,39%) em processo de mumificação (Tabela 1). Estes nú-meros, embora a amostra não seja considerável, aproximam-se do que foi relatado por Engeland et al. (1998) que examinaram abortos em reba-nhos caprinos na Noruega e relataram que 16% dos fetos apresentavam aparência fresca, 19% estavam mumificados em diferentes graus e 65% estavam decompostos.

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Os processos infecciosos septicêmicos, como os causados por Salmonella sp. ou Listeria sp., produzem degeneração, autólise e edemacia-ção dos fetos (Pérez et al., 2003). No entanto, a autólise observada na maioria dos animais examinados neste trabalho deve ser atribuída à demora na colheita e envio ao laboratório e má conservação dos fetos. Este é um fator limitante no diagnóstico das causas de aborto.

Na Tabela 2, estão resumidas as alterações macroscópicas observadas nos animais. O acha-do mais comum foi a presença de líquido sero-

sanguinolento na cavidade torácica, observado em 17 (73,91%) fetos, seguido do edema sub-cutâneo, verificado em 10 (43,48%) fetos. A pre-sença de líquido serosanguinolento na cavidade abdominal e no saco pericárdico e a hemorragia subcutânea foram observadas em 7 (30,43%), 9 (39,13%) e 8 (34,78%) animais, respectivamen-te.

O fígado apresentou-se friável em 6 (35,29%) fetos caprinos como também em um (20,0%) ovino. De acordo com Riet-Correia & Mendez (2003), a presença de líquido sero-hemorrági-

Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]

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Feto Espécie Sexo Medida (mm)1 Idade (dias)2 Idade (semanas)3 Aparência

1 caprino macho 235 116 12 a 13 Autolisado

2 caprino fêmea 230 114 13 a 14 Autolisado

3 caprino macho 265 127 13 a 14 pouco autolisado

4 caprino macho 290 136 15 a 16 pouco autolisado

5 caprino macho 350 158 17 a 20 Autolisado

6 caprino fêmea 365 164 17 a 20 Autolisado

7 caprino macho 275 130 15 a 16 Autolisado

8 caprino fêmea 380 169 17 a 20 Autolisado

9 caprino macho 370 166 16 a 17 Autolisado

10 caprino macho 350 158 17 a 20 Autolisado

11 ovino macho 435 133 17 a 20 pouco autolisado

12 ovino fêmea 405 126 17 a 20 Autolisado

13 caprino fêmea 400 - 02 fresco

14 caprino fêmea 270 129 14 a 15 Autolisado

15 caprino fêmea 250 121 14 a 15 Autolisado

16 caprino fêmea 160 88 12 a 13 mumificado

17 caprino ND 140 81 12 a 13 mumificado

18 caprino fêmea 170 92 12 a 13 mumificado

19 caprino macho 50 47 8 a 9 pouco autolisado

20 ovino fêmea 215 108 13 a 15 mumificado

21 ovino fêmea 270 129 14 a 15 Autolisado

22 ovino macho 420 184 20 a 22 Autolisado

23 caprino macho 265 127 13 a 14 Autolisado

1 Medida entre a base da nuca e a base da cauda.2 Idade estimada pela fórmula CCC (28,8 + 0,37.X = Idade em dias)3 Idade estimada pelo desenvolvimento do feto, segundo Sivachelvan et al. (1996).

Número dos fetos, natimortos e neonatos com respectiva espécie, sexo, tamanho, idade em dias e em semanas e aparência.

TABELA 01

22

co nas cavidades torácica e abdominal e a au-tólise, principalmente no fígado e rim, além de ausência de sinais de viabilidade fetal, indicam que a morte ocorreu antes do parto. Portanto, a presença de líquido subcutâneo, nas cavidades e no pericárdio, pode ser uma alteração pós-mor-te no feto. Um fluido gelatinoso sanguinolen-to pode ser evidenciado no tecido subcutâneo após 96 horas. O hidrotórax é observado entre 24 horas até 144 horas após a morte do feto. A ascite inicia-se após 16 horas, adquirindo uma

coloração hemorrágica por volta das 72 horas e desaparece após 144 horas (Pérez et al., 2003). Portanto, estes achados podem estar relaciona-dos a causas infecciosas de abortamento, como clamidiose, brucelose e campilobacteriose (Jones et al., 2000). Contudo, não são específicos para o diagnóstico da causa de aborto nos pequenos ruminantes.

Ao exame macroscópico, dois (8,7%) cabritos apresentaram pneumonia (Tabela 2). À histopa-tologia, foi observado infiltrado inflamatório no

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N ES1 LCT2 LCA3 LP4 HS5 HC6 HP7 Con8 Pne9 LH10 Mum11 S/A12

1 x x

2 x x x

3 x

4 x x x

5 x x x x x

6 x

7 x x x

8 x x x

9 x x x x x

10 x x x x

11 x x x x

12 x x

13 x x x

14 x x x x x x

15 x x

16 x

17 x

18 x x

19 x

20 x x x

21 x x x x

22 x x x

23 x x

10 43,48%

17 73,91%

7 30,43%

9 39,13%

8 34,78%

1 4,35%

1 4,35%

2 8,70%

2 8,70%

1 4,35%

4 17,39%

2 8,70%

1 ES = Edema subcutâneo; 2 LCT = Líquido na cavidade torácica; 3 LCA = Líquido na cavidade abdominal; 4 LP = Líquido pericárdico; 5 HS = Hemorragia subcutânea; 6 HC = Hemorragia no coração; 7 HP = Hemorragia pulmonar; 8 Con = congestão de órgãos; 9 Pne = pneumonia;

10 LH = lesão hepática; 11 Mum = mumificação; 12 S/A = sem alterações.

Achados de necropsia em fetos, natimortos e neonatos ovinos e caprinos, Recife, PE, 2006.TABELA 02

23

pulmão de oito (34,78%) fetos (Tabela 3). O in-filtrado inflamatório é sugestivo de etiologia in-fecciosa, mas isoladamente é insuficiente para de-terminar o diagnóstico etiológico (Okana et al., 2003). Em pequenos ruminantes, a pneumonia é relatada em fetos abortados em conseqüência de infecção por Campylobacter ou Leptospira sp (Jones et al., 2003; Campero et al., 2005; Szeredi et al., 2006). A presença de problemas pulmona-res não é rara como causa de morte em ovinos e caprinos. Medeiros et al. (2005), examinando 59 cabritos com infecção neonatal necropsiados na Paraíba, relataram que 12 apresentaram afec-

ções respiratórias (pleurite e broncopneumonia).Ao exame microscópico, todos os fetos apre-

sentaram algum grau de autólise em pelo menos uma das amostras colhidas. Em nove (39,13%) fetos, a autólise foi a única observação possível à histologia (Tabela 3). Isso acontece nesse tipo de material devido à morte ocorrer algum tempo antes do abortamento, como também ao longo período de tempo que o tratador leva até encon-trar os fetos abortados nas pastagens (Okano et al., 2003).

Com relação aos achados do pulmão foram

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Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]

NPulmão Coração Fígado Rim Baço

EV In EV EV Hi De In NM EV Ci De EV In Dp

01 X X X X X X

02 X X X X X

03 X X X X X X X X

04 X X X X X X

05 X X

06 X X

07 X

08 A A A A A A A A A A A A A A

09 A A A A A A A A A A A A A A

10 X

11 X X X

12 A A A A A A A A A A A A A A

13 X X

14 X X X

15 A A A A A A A A A A A A A A

16 X X

17 A A A A A A A A A A A A A A

18 A A A A A A A A A A A A A A

19 A A A A A A A A A A A A A A

20 X

21 A A A A A A A A A A A A A A

22 A A A A A A A A A A A A A A

23 X

EV = endotélio vascular reativo; Hi = hiperemia; De = alterações degenerativas; In = infiltrado inflamatório; NM = áreas de necrose e mineralização; Ci = alterações circulatórias; Dp = depleção de células linfóides; A = autólise.

Achados histopatológicos em pulmão, coração, fígado, rim e baço de fetos, natimortos e neonatos de caprinos e ovinos, Recife, PE, 2006.

TABELA 03

24

observadas reação do endotélio vascular, migra-ção leucocitária, edema, hiperemia, pneumonia intersticial e degeneração da parede vascular, res-pectivamente em 9/23 (39,13%), 4/23 (17,39%), 1/23 (4,34%), 3/23 (13,04%), 3/23 (13,04%), 5/23 (21,74%). Esta última lesão também foi encontrada no coração de um caprino. No co-ração de 3/23 animais foi observada reação do endotélio vascular. No fígado, observou-se hi-peremia, dilatação dos sinusóides, degeneração de hepatócitos e necrose seguida de calcificação em 2/23 (8,70%), 2/23 (8,70%), 4/23 (17,39%), 1/23 (4,34%), dos caprinos, respectivamente. Focos de hematopoese, considerados normais no feto, também foram vistos no fígado. No baço, foi visualizado depleção linfóide 2/23 (8,70%), reação do endotélio vascular 2/23 (8,70%) e in-filtrado inflamatório em 2/23 (8,70%). Nos rins

foram encontradas áreas de hemorragia na corti-cal em 1/23 (4,34%), reação do endotélio vascu-lar em 3/23 (13,04%) e degeneração de epitélio tubular em 1/23 (4,34%).

O achado histopatológico mais comum foi uma reação do endotélio vascular, observada no pulmão de nove (39,13%) fetos, mas também no coração, fígado, rim, baço (Tabela 3) e cé-rebro (Tabela 4). Onze (47,83%) fetos apresen-taram alguma alteração histológica no pulmão, 6 (26,09%) no fígado, 3 (13,04%) no rim, 4 (17,39%) no baço (Tabela 3) e 4 (17,39%) no cérebro (Tabela 4).

A reação do endotélio vascular e a congestão encontrada em alguns dos órgãos, não têm muito significado para diagnóstico devido a sua inespe-cificidade (Jones et al, 2000). Porém, são eventos encontrados em processos inflamatórios, sendo, então, sugestivos de algum tipo de infecção.

Lesões hepáticas foram observadas em seis (26,08%) amostras, incluindo hiperemia em três (13,04%), alterações degenerativas em cinco (21,74%), infiltrado de células inflamatórias em três (13,04%) e focos de necrose e mineralização em um (4,34%). Em nove amostras (39,13%), o fígado já apresentava autólise avançada, impos-sibilitando a avaliação histológica.

A presença de alterações degenerativas carac-terizadas por vacuolização citoplasmática dos hepatócitos e do epitélio tubular renal foi rela-tada em fetos normais e foi associada a acúmu-lo de glicogênio. Este achado é fisiológico e está relacionado ao desenvolvimento fetal. Por outro lado, necrose de hepatócitos e de túbulos renais também é relatada em abortos infecciosos (Oka-no et al., 2003).

A hepatite necrótica multifocal é uma lesão es-pecífica também do aborto por Campylobacter sp, mas não é uma lesão patognomônica. Altera-ções semelhantes ocorrem no aborto por Listeria sp (Kennedy e Miller, 1992).

No rim, além da reação do endotélio vascular

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NCérebro

ES1 LCT2 LCA3 LP4 HS5

3 x x x x

4 x x

6 x x

7 x x

8

9

12

13 x x

22

Total 3 2 5 1 1

1 Ci = alterações circulatórias; 2 EV = endotélio vascular reativo; 3 Mg = reação de células microgliais; 4 Tr = Presença de trombos; 5 NM = áreas de necrose e mineralização.

*As amostras de encéfalo dos fetos 1, 2, 5, 10, 11, 14 a 21 e 23 não pode ser processado devido ao avançado estado de autólise.

Achados histopatológicos no cérebro de fetos, natimortos e neonatos de caprinos e ovinos, Recife, PE, 2006.

TABELA 04

25

observada em três animais, alterações circulató-rias foram identificadas em um animal. Outras nove amostras estavam muito autolisadas para exame histológico.

O rim e o fígado são órgãos que entram em autólise muito rapidamente, e, portanto, seu exame histológico é geralmente difícil ou im-possível. Apesar disso, é importante realizar o exame destes órgãos, pois alguns agentes causa-dores de abortamento podem ser identificados neles, como a Leptospira sp. e outras bactérias (Acland, 1998).

A depleção linfóide com reação fagocitária é um sinal de processo inflamatório, sendo, além disso, identificada a degeneração de células lin-fóides e migração e marginação no baço, todos característicos de inflamação (Jones et al, 2000).

Os centros germinais esplênicos podem apre-sentar-se hipocelulares em estados hiperimunes, associados a processos infecciosos. Infecções maciças causam linfólise das células do centro folicular, com produção de debris nucleares e exposição das células reticulares dendríticas. Os fragmentos nucleares são rapidamente remo-vidos e o centro folicular aparece vazio (Valli, 1992).

Em fetos bovinos normais, a ausência de folí-culos linfóides foi considerada como imaturida-de do tecido linfóide, relacionada à idade do feto (Okano et al., 2003).

Em 14 (60,87%) animais, não foi possível rea-lizar o processamento histopatológico do siste-ma nervoso central devido ao avançado estado de autólise, tornando o cérebro liquefeito (Ta-bela 4). Nos nove fetos onde o material estava viável para exame histológico foram observadas alterações circulatórias e reação do endotélio vascular em 3 (33,33%) e 2 (22,22%) fetos, res-pectivamente. Em cinco (55,55%) amostras foi observada reação de células microgliais. Em um feto que apresentava necrose com calcificação no cérebro também foi observada a mesma lesão

na placenta obtida juntamente com este feto. A microgliose, principalmente quando associada à necrose e mineralização, é relatada pelos autores em abortos por T. gondii e Neospora caninum (Dubey et al., 1990; Jenkins et al., 2002).

No cerebelo (3/17), além da congestão obser-vada em um dos animais, também foram obser-vadas áreas de hemorragia em dois animais e rea-ção do endotélio vascular em um outro animal.

Em um feto, foi observado a presença de trombo intravascular no cérebro e no fígado, um achado também associado à infecção pelo T. gondii (Dubey et al., 1990).

Somente quatro fetos vieram acompanha-dos da placenta. Destes, dois apresentaram es-pessamento, áreas de necrose e mineralização, confirmado pelo exame histopatológico. Uma das placentas apresentou somente infiltrado in-flamatório mononuclear (Tabela 5). A ausência da placenta para exames e diagnóstico tem sido incriminado por reduzir as possibilidades de diagnóstico das causas de abortamento (Plant et al., 1972; Pérez et al., 2003). Acredita-se que todos os agentes infecciosos causadores de abor-to multiplicam-se e passam pela placenta em seu trajeto para o feto (Pérez et al., 2003). Muitos agentes infecciosos ocasionam alterações ma-croscópicas e microscópicas exclusivamente na placenta, como pode ocorrer nos casos de infec-ção por Campylobacter jejuni e Coxiella burnetii (Szeredi et al., 2006). A Chlamydophila abortus, Coxiella burnetii e Brucella sp ocasionam as le-sões mais significativas na placenta (Molello et al., 1963; Pérez et al., 2003). Para o diagnóstico do T. gondii, a placenta é um dos materiais pre-feridos para o exame histopatológico (Bueno et al., 2004). Por isso, a ausência da placenta na maioria dos casos de abortamento estudados prejudicou o diagnóstico de suas causas.

Nos rebanhos acometidos pela toxoplasmose, observa-se o adiantamento da data prevista dos partos em um grupo de matrizes (partos prema-turos) e o nascimento de animais debilitados e

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Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]

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pouco viáveis intercalados com partos normais e expulsão de fetos mumificados. Estes achados foram observados neste estudo, inclusive a mu-mificação fetal que é freqüente na espécie capri-na (Barberan e Marco, 1997) e foi observada em dois fetos caprinos de gestação gemelar e proce-dentes de uma propriedade estudada, além de um outro caprino de gestação simples e um ovino. A mumificação do feto morto pode ser conseqüên-cia de doenças genéticas, infecções virais e pro-tozoários e insuficiências placentárias (Kennedy e Miller, 1992). Segundo Pérez et al. (2003), em pequenos ruminantes, a mumificação é observa-da principalmente em casos de abortamento por Toxoplasma gondii e pestivírus, mas deve-se fa-zer o diagnóstico diferencial com clamídia, Febre Q e vírus de Border (Mobini et al., 2004). Até o momento, a Coxiella burnetii e o vírus de Border não foram relatados no Brasil. A Clamídia, por outro lado, já foi isolada em búfalos (Freitas e Machado, 1988) e touros (Gomes et al., 2001) e há estudos sorológicos demonstrando a presença da infecção em ovinos e caprinos (Piatti et al., 2006).

As lesões anátomo e histopatológicas foram classificadas de acordo com descrições prévias dos achados na Toxoplasmose (Bueno et al., 2004; Pérez et al., 2003), em inespecífica ou au-sente, compatível ou característica de toxoplas-mose fetal. Somente um feto (4,35%) apresentou lesões características de toxoplasmose, caracte-rizada por áreas focais de necrose e mineraliza-ção com infiltrado inflamatório circunjacente no encéfalo, placenta e fígado (Feto no. 7). Cinco (21,74%) fetos apresentaram alterações consi-deradas compatíveis com toxoplasmose, sendo 4 mumificados e um com foco de necrose e mine-ralização na placenta e no encéfalo, embora não tenha sido realizado outros testes laboratoriais para confirmar a presença de formas parasitárias nos tecidos examinados. Por outro lado, foram encontrados 26,4% de sororeagentes para T. gondii nos rebanhos de onde alguns fetos eram

provenientes. Este achado associado às lesões histopatológicas compatíveis com este protozoá-rio, faz suspeitar da participação deste agente como causa de aborto em caprinos e ovinos na região estudada.

As lesões típicas observadas em placentas in-fectadas pelo T. gondii são focos de inflamação e necrose localizados exclusivamente nos cotilé-dones, enquanto que as áreas intercotiledonárias geralmente não estão afetadas. Esses focos são brancos, calcários e geralmente múltiplos e en-contrados somente na metade das placentas afe-tadas (Barberan e Marco, 1997). Neste trabalho, encontrou-se lesão de necrose e calcificação em cérebro e placenta de um feto caprino abortado (Figuras 3 e 4). Estes achados, nestas duas estru-turas, são sugestivos da infecção pelo T. gondii, no entanto, para o diagnóstico desta enfermida-de, outros exames laboratoriais seriam necessá-rios, tais como, isolamento do parasita através de inoculação intraperitonial em camundongo, imunohistoquímica e PCR.

Dois fetos (4 e 12) apresentaram lesões ma-croscópicas compatíveis com a infecção por cla-mídia, caracterizadas por hemorragias no mio-cárdio e no pulmão (Jones et al, 2000; Szeredi et al., 2006). No aborto por clamídia, os principais achados macroscópicos na placenta são focos de necrose nos cotilédones, espessamento do córion com formação de pseudomembranas amarelo acinzentadas e no feto ascite, edema subcutâneo, líquido avermelhado nas cavidades, petéquias no coração e pulmões e manchas amareladas no fí-gado. À histopatologia, as áreas de necrose dos cotilédones estão cercadas por infiltrado focal e difuso de neutrófilos e plasmócitos, degeneração vascular hialina na placenta e infartos esplêni-cos, dilatação dos capilares e extravasamento de sangue (Caro et al., 2003), necrose de coagula-ção no fígado, com infiltrado mononuclear, no feto (Kennedy e Miller, 1992). As lesões histoló-gicas encontradas no material estudado não fo-ram, portanto, suficientes para associar os abor-

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tamentos a este agente.Neste estudo, 10,3% das amostras de caprinos

e ovinos examinadas para a pesquisa de anticor-pos anti-Chlamydophila sp. foram sororeagen-tes. Contudo, apesar da infecção estar presente em alguns dos rebanhos de onde foram colhidos os fetos, não se pode atribuir os casos de aborto a esse agente, uma vez que 100% das amostras foram negativas na pesquisa do DNA da bac-téria. Considerando que apenas duas amostras de placenta foram incluídas neste teste e que, na maioria dos casos, a infecção por clamídia está restrita à placenta, permanecendo o feto livre de infecção (Szeredi et al., 2006), a clamidiose não pode ser completamente descartada como uma das possíveis causas de abortamento entre os animais estudados.

Os fetos 5 e 6 eram procedentes de uma pro-priedade do município de Vicência, onde foram realizados exames clínicos, microbiológicos e so-rológicos em cabras que haviam abortado. Uma cabra que havia parido dois cabritos natimortos e um vivo dois dias antes do exame, apresentava corrimento vulvar sanguinolento. O exame bac-teriológico do material isolou Streptococcus sp e Escherichia coli. Esta cabra apresentou soro-logia negativa para clamídia e brucela e positiva para Toxoplasma gondii, porém com título bai-xo (1:64).

O animal 13, um neonato de 2 semanas de vida, era proveniente de uma propriedade onde havia animais sorologicamente positivos para clamídia e toxoplasma. Em visita à proprieda-de, foi examinada uma cabra com corrimento vulvar catarral, de onde foi isolado Staphylococ-cus sp. Esta mesma cabra apresentou sorologia positiva para clamídia (1:32) e para toxoplasma (1:256). Não se isolou Brucella sp em nenhuma das amostras estudadas.

Os agentes infecciosos foram considerados uma causa menos importante de aborto em al-guns trabalhos. Engeland et al. (1998) relatou não haver conseguido isolar agente infeccioso

em 95% de abortos examinados. Nos demais fe-tos, isolou-se Listeria monocytogenes, inclusive de descargas vaginais de uma cabra. Os autores também relacionaram casos de aborto a sorolo-gia positiva para T. gondii, mas não encontraram evidência de infecção por Neospora caninum ou Chlamydophila abortus.

Algumas bactérias como Escherichia coli, Ser-ratia marcescens, Pseudomonas sp, Staphylococ-cus spp. e Arcanobacterium pyogenes, podem estar eventualmente envolvidos em casos esporá-dicos de abortos nestas espécies. Contudo, estas bactérias são muito ubíquas no meio ambiente e geralmente não se associam a surtos de abor-tos. Considerando os resultados obtidos neste estudo quanto ao isolamento de bactérias como Staphylococcus spp., Escherichia coli e Strepto-coccus spp. da mucosa vaginal de matrizes da espécie caprina que apresentavam histórico de aborto, não é possível confirmar o envolvimento destas bactérias, uma vez que segundo Kirkbri-de (1990), para confirmar a participação destas bactérias em casos de abortos nestas espécies é necessário que seu isolamento ocorra em cultivo puro e que este esteja associado a lesões purulen-tas na placenta ou tecidos fetais. As bactérias fo-ram isoladas em culturas puras, contudo não foi possível o estudo das lesões nos fetos e placenta para confirmar tal etiologia uma vez que quando da visita às propriedades, os fetos e placentas já não existiam mais. Esse fato é muito freqüente no campo, dificultando na grande maioria das vezes a obtenção de amostras adequadas para o estudo etiológico dos casos de abortos.

Quanto ao aborto por Brucella sp, os resulta-dos deste estudo descartam a participação desta bactéria nas falhas reprodutivas nas proprieda-des estudadas, uma vez que todos os animais tes-tados independente de terem abortado ou não, foram negativos aos testes sorológicos utilizados no diagnóstico da infecção. Outro achado clíni-co freqüentemente relatado na brucelose ovina, além dos abortos, retenção de placenta e endo-

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metrite nas fêmeas, é a epididimite nos machos que pode ser detectada pela palpação da cabeça, corpo e cauda do epidídimo (Blasco e Barberan, 1990). Contudo, este sinal clínico não foi obser-vado ao exame clínico dos testículos dos repro-dutores das propriedades visitadas, confirmando os achados dos exames sorológicos que excluem a doença nos rebanhos.

Outros fatores associados a ocorrência de aborto e não avaliados neste estudo, podem estar presentes e serem causa dos mesmos. Condições ambientais, como iluminação nos alojamentos dos animais e presença de concentrações altas de animais são relacionadas a ocorrência de aborto (Engeland et al., 1998). Segundo Medeiros et al. (2005) a maioria dos casos de morte perinatal está associada a falhas de manejo.

As causas nutricionais, metabólicas e tóxicas também podem estar implicadas na etiologia dos abortos (Mobini et al., 2004). Grande parte das criações de caprinos e ovinos em alguns estados da região Nordeste não possuem um manejo nu-tricional diferenciado para as fêmeas em final de gestação e lactação (Medeiros et al., 2005). Um alto percentual de aborto tem sido observado na época seca (Silva e Silva, 1983). Há, ainda, nu-merosas plantas na região que têm efeito aborti-vo, como Aspidosperma pyrifolium (“pereiro”) (Nóbrega Jr. et al., 2005).

Este é o primeiro estudo de casos de aborto em Pernambuco incluindo a tentativa de diag-nóstico etiológico por métodos histológicos e PCR para C. abortus. A falta da placenta entre o material enviado e avançado estado de autóli-se das amostras contribuíram significativamente para que não fosse possível determinar o agente etiológico da maioria dos casos. Porém, pelo me-nos um feto enviado com a placenta apresentava características histopatológicas de aborto por T. gondii, o que alerta para a possível importân-cia deste agente nos abortamentos em caprinos e ovinos, uma vez que o mesmo encontra-se disse-minado nos rebanhos estudados nas Regiões da

Zona da Mata e Agreste Pernambucano.

C O N C L U S Ã O

O Toxoplasma gondii está presente nos reba-nhos de caprinos e ovinos e é um agente poten-cial do abortamento destas espécies. A partici-pação da Chlamydophila abortus na ocorrência de abortos em ovinos e caprinos não deve ser descartada, apesar do agente não ter sido iden-tificado nas amostras estudadas. O diagnóstico das causas de abortamento em caprinos e ovinos é limitado pela má conservação do material e porque ainda não há um hábito dos proprietá-rios encaminharem a placenta junto com o feto ao laboratório. Os programas sanitários devem incluir a educação de criadores e trabalhadores que atuam em caprino e ovinocultura para que estes saibam qual o material adequado a ser en-viado para diagnóstico, além de não deixar que restos de abortos contaminem o ambiente, per-petuando possíveis agentes infecciosos no reba-nho.

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Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

As avaliações de risco constituem um conjunto de procedimentos com objetivo de estimar o potencial de danos à saúde ocasionados pela exposi-ção de indivíduos a agentes ambientais. Objetivou-se elaborar o Mapa de Risco, do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Campus Recife. As atividades da rotina do laboratório foram registradas, analisadas, bem como os tipos de riscos categorizados. A metodologia uti-lizada consistiu de entrevistas com roteiro, participação dos estudantes, técnicos administrativos e professores. Quanto ao layout, obteve-se veri-ficando in locun a disposição das bancadas, e dinâmica de uso dos equi-pamentos e materiais (químicos, físicos e biológicos), utilizando recursos fotográficos e planta baixa. O risco biológico, de acidentes e ergonômico foram considerados altos. Já o risco físico e químico foi referido como bai-xo. Com Mapa de Risco identificou-se as fontes de risco (perigos) químico, físico, biológico, ergonômico e de acidentes aos Professores, Estudantes e Técnicos Administrativos, e sensibilizou todos sobre os riscos individuais e coletivos inerentes ao local pesquisado.

Risk assessments are a set of procedures in order to estimate the potential damage to health caused by exposure of individuals to environmental agents. This report aimed to develop the Risk Map in the Clinical Veterinary Pathology Laboratory, Department of Veterinary Medicine, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife Campus. The routine activities of the laboratory were recorded, analyzed, and types of risks were categorized. We used interviews with resource script, participation of students, teachers and administrative staff. As for the design, it was obtained in locun checking the layout of the benches, and dynamic use of equipment and materials (chemical, physical and biological), using photographic resources and floorplan. The biological risk of ergonomic injuries and were con-sidered high. Physical and chemical risks were considered low. Risk Map identi-fied sources of risk (hazards), chemical, physical, biological, ergonomic and acci-dents to Teachers, Students and Technical Administrators, and touched on all the individual risks and collective, from the study location.

R E S U M O

A B S T R A C T

PA L A V R A S - C H A V E agentes ambientais, perigo, saúde, segurança, trabalho

K E Y W O R D S environmental agents, danger, health, safety, labor

Simone Gutman VAZ;1* Telga Lucena Alves Craveiro de ALMEIDA2; Hélio Cordeiro MANSO

FILHO3; Miriam Nogueira TEIXEIRA4; Eneida  Willcox RÊGO4; Aderaldo  Alexandrino de FREITAS4

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária – UFRPE. e-mail: [email protected] Doutoranda Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária – UFRPE3 Professor do Departamento de Zootecnia, UFRPE, Recife, PE4 Professor do Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE, Recife, PE

*Autor para correspondência

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Risk Map in Clinical Veterinary Pathology Laboratory

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I N T R O D U Ç Ã O

As avaliações de risco objetivam estimar o po-tencial de danos à saúde ocasionados pela ex-posição de indivíduos a agentes ambientais. Tais avaliações auxiliam no controle e na prevenção dessa exposição (PORTO et al. 1997).

Freitas et. al., (2003) consideram que estas avaliações são realizadas tradicionalmente por especialistas – que aplicam métodos científicos para identificar e mensurar quantitativamente os riscos. Baseiam-se também em instrumentos pré-definidos por comissões de biossegurança ou controle de qualidade para avaliar os riscos e a conformidade com as práticas de segurança, tendo como objetivo explícito garantir a obser-vância de padrões estabelecidos por especialis-tas, que dominam um saber técnico, modelando inclusive o comportamento dos trabalhadores (ROCHA et al.,2000 ; CARDOSO et al., 2000).

A avaliação de riscos ambientais, à qual se fi-liam a metodologia de mapa de risco, prioriza a identificação dos riscos enfrentados pelos traba-lhadores e isso implica numa discussão coletiva sobre as fontes dos riscos, o ambiente de traba-lho e as estratégias preventivas para reduzir os riscos identificados (SANTOS et al., 2000; HÖ-KERBERG et al., 2006).

Portanto, Mapa de Risco “uma representação gráfica de um conjunto de fatores que podem es-tar presentes nos locais de trabalho, carretando prejuízos à saúde dos trabalhadores: acidentes e doenças de trabalho” (MATTOS & SIMONI, 1993).

O trabalho nas instituições de saúde envolve riscos gerais e outros específicos a cada área de atividade, podendo inclusive ser classificados em: Riscos de Acidentes, Riscos Ergonômicos, Risco Físico, Riscos Biológicos e Riscos Quími-cos (BRASIL, 1978a).

Os equipamentos de proteção têm o seu uso regulamentado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em sua Norma Regulamentadora nº

- 6 (NR-6). São classificados em equipamentos de proteção individual (EPI) ou coletiva (EPC). Equipamento de proteção individual é todo dis-positivo de uso individual, destinado a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador (BRASIL, 1978 a). Os equipamentos de proteção coletiva são dispositivos utilizados no ambiente laboral com o objetivo de proteger os trabalha-dores dos riscos inerentes aos processos de tra-balho (BRASIL, 1978 b).

O mapeamento de risco surgiu na Itália no fi-nal da década de 60 e início de 70, através do movimento sindical, com origem na Federazione dei Lavoratori Metalmeccanici (FLM) que, na época, desenvolveu um modelo próprio de atua-ção na investigação e controle das condições de trabalho pelos trabalhadores, o conhecido “Mo-delo Operário Italiano” (MATTOS & SIMONI, 1993). Chegou ao Brasil no início da década de 80, com diferentes versões. Uma enfocando a Saúde e Ambiente de Trabalho (DIESAT, 1989); e outra a Segurança e Medicina do Trabalho (ABRAHÃO, 1993).

No Brasil tornou-se a partir da Portaria nº 5 de 18/08/94 do Departamento Nacional de Se-gurança e Saúde do Trabalhador (DNSST) do Ministério do Trabalho (MTb), que estabeleceu a obrigatoriedade da confecção do Mapa de Ris-cos Ambientais para todas as empresas do país que tenham Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) conforme relatado por Teixei-ra et al. (1998).

Segundo a legislação brasileira em Segurança e Medicina do Trabalho, em particular a NR-5, a construção do Mapa de Risco é responsabilida-de da CIPA, que deve desenvolver atividades que possibilitem a participação de todos os trabalha-dores da empresa, de tal forma que a observação das condições de trabalho e as recomendações para as melhorias sejam resultados do conheci-mento do conjunto dos trabalhadores. Para que isso aconteça é necessário em primeiro plano, um estudo preliminar das atividades e do ambiente

VAZ SG et al.

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de trabalho (MATTOS & SIMONI, 1993).O descaso aos riscos presentes nas ativida-

des de pesquisa em laboratórios ou mesmo em trabalhos de rotina, já prejudicou e tem preju-dicado ao longo do tempo, vários profissionais. Segundo Orestes-Cardoso et al. (2009), em seu trabalho em duas Faculdades de Odontologia de Recife-PE, constatou-se que a prevalência de alunos acidentados nas duas instituições foi de 25,3%, com percentual mais elevado nos alunos do 8º ao 10º períodos (35,3%). Dos acidenta-dos, 34,2% foram orientados por professores em relação às medidas profiláticas. A maioria (73,7%) se restringiu a lavar o ferimento com água e sabão. Apenas 13,2% procuraram serviço médico especializado em acidentes ocupacionais, no entanto, 88,7% classificaram o conhecimento que tinham acerca de medidas profiláticas pós-a-cidentes de razoável a bom.

Neste contexto, objetivou-se com este traba-lho elaborar o Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária (LPCV) do De-partamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)- Campus Recife.

M A T E R I A L E M É T O D O

O Mapa de Risco foi desenvolvido no Depar-tamento de Medicina Veterinária/UFRPE- Cam-pus/Recife, no Laboratório de Patologia Clínica Veterinária (LPCV), no período de dezembro de 2009 a fevereiro de 2010.

Os aspectos da rotina foram descritos mediante informações dos técnicos de nível su-perior (Médicos Veterinários), técnico-adminis-trativos e estagiários (graduandos em Medicina Veterinária) em reuniões e diálogos individuais. Para descrição da rotina utilizou-se o roteiro se-gundo Cabral (2010). A referência para as cate-gorias de risco foram as propostas pela NR-5, identificando os potencias riscos, o uso ou não dos equipamentos de proteção individual e cole-tiva. Quanto ao esboço do laboratório, obteve-se verificando in locun a disposição das bancadas, e dinâmica de uso dos equipamentos e mate-riais (químicos, físicos e biológicos), utilizando para isto recursos fotográficos e simbologia para identificar os equipamentos (Quadro 1).

Os riscos foram definidos por círculos de diâ-metros diferentes que correspondem ao risco pe-queno, médio ou grande. E ainda, preenchidos pelas cores verde, azul, vermelho, amarelo e mar-

Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

Símbolo Significado Símbolo Significado

Pia Estufa

Microscópio E Estantes

Recepção de Amostras D Destilador

Computador C Centrífuga

Telefone BM Banho-maria

Deionizador G Geladeira

Contador de Células F Freezer

Simbologia usada no Mapa de risco com Esboço do LPVC.QUADRO 01

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A. Armários e destilador com potencial de risco químico e de acidentes; B. Armário visto de perto com potencial de risco químico e de acidentes; C. Refrigerador com potencial de risco químico, físico, biológico e de acidentes; D. Janela receptora de amostras com potencial de risco biológico; E. Bancadas e mesa com potencial de risco físico, biológico, ergonômico e de acidentes; F. Mesa com potencial de risco ergonômico, armários com potencial de risco de acidentes e refrigerador com potencial de risco biológico; G. Instalação elétrica inapropriada com potencial de risco de acidentes; H. Instalação hidráulica com potencial de risco biológico; I. Bancada com potencial de risco químico, físico, biológico e de acidentes; J. Bancada com potencial de risco ergonômico; L. Mesa com potencial de risco ergonômico; M. Bancada com potencial de risco biológico, físico e de acidentes; N. Bancadas e refrigerador com potencial de risco biológico e físico.

FIGURA 02

A. Esboço do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, mostrando os tipos de risco encontrados e suas intensidades; B. Esboço do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, mostrando os tipos de risco encontrados e suas intensidades com laboratório ocupado por pessoas.

FIGURA 01

Risco ergonômico (grande): postura inadequada, excesso de atenção e concentração, repetitividade, acúmulo de responsabi-lidades.

Risco de acidentes (grande): probabilidade de incêndio ou ex-plosão, quebra de vidrarias, material perfurocortante, quedas dos bancos, derrame de amostras, queimaduras.

Risco físico (pequeno): calor das estufas e ruído das centrífugas.

Risco químico (pequeno): reagentes químicos em geral.

Risco biológico (grande): bactérias, fungos, protozoários, parasitas.

A B

VAZ SG et al.

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rom que indicam respectivamente o risco físico, de acidentes, químico, ergonômico e biológico (TEIXEIRA & VALLE, 1996).

R E S U LTA D O S E D I S C U S S ÃO

Foi observado que as pessoas não estiveram expostas aos riscos de forma igualitária, seja em relação ao tempo de exposição, distrIbuição es-pacial ou quanto à natureza da atividade desen-volvida (Figura 1 e 2).

Os riscos identificados no ambiente do LPCV estão resumidos na Tabela 1.

O risco biológico foi considerado alto uma vez que o recebimento, processamento e/ou armaze-namento de amostras, limpeza de equipamentos e lavagem de material, são circunstâncias poten-cialmente contaminadas, e principalmente quan-do não se utiliza EPI.

As substâncias químicas eram relativamente pouco utilizadas, não cáusticas e armazenadas em frascos hermeticamente fechados, o que indi-cou o risco químico como baixo.

Quanto ao risco de acidentes foi identificado potencial de incêndio e/ou explosão pelo uso de instalações elétricas provisórias em mau estado de conservação. Foi verificado armazenamento inadequado de reagentes químicos, possibilida-de de acidentes com materiais perfurocortantes ou por quebra de vidrarias e ainda, queimaduras durante uso de estufas, referindo-se, assim, como risco alto.

Foi detectado risco ergonômico alto, pois o trabalho na bancada com auxílio de equipamen-tos, o uso de vidrarias e microscópios poderiam ocasionar problemas advindos da altura e tipo de banco, da bancada e postura no uso, riscos estes nem sempre percebidos o que exigia uma maior atenção e concentração.

O risco físico, considerado como baixo, foi re-lacionado ao calor produzido pela estufa e des-tilador, e ao ruído, gerado pela microcentrífuga utilizada diariamente de forma intermitente.

A opinião das pessoas (Professores, Estudan-tes, Técnicos) que usavam ou trabalhavam no Laboratório sobre a rotina LPCV, bem como a intensidade de riscos, foi necessária coadunando com Hökerberg et al., (2006).

Através da análise do Mapa de Risco foi pos-sível compreender alguns elementos do aspecto concreto do trabalho, tais como: riscos mais fre-quentes capazes de acarretar prejuízos à saúde dos envolvidos no Laboratório, acidentes e pos-síveis doenças de trabalho assim como descrito por Hökerberg et al., (2006). Possibilitou tam-bém a visibilidade da exposição das pessoas aos riscos, nos procedimentos realizados no Labora-tório de Patologia Clínica Veterinária (MATTOS & SIMONI, 1993).

Tais fatores têm origem nos diversos elemen-tos do processo de trabalho, como: materiais, equipamentos, instalações, conforto térmico, su-primentos, carga e espaços de trabalho (MAT-TOS & SIMONI, 1993).

Tipos de Risco Cor de identificação Pequeno Grande

Biológico MarromRecebimento, processamento e armazenamento: amostras

biológicas.

Químico VermelhoSubstâncias químicas: não causticas, pouco utilizadas.

De Acidentes AzulIncêndio: instalações elétricas impróprias, armazenamento

inadequado de substâncias químicas.

Ergonômico Amarelo Altura e tipo de banco, da bancada e postura no uso.

Físico VerdeCalor: estufa e destilador; Ruído: microcentrífuga

Resumo dos riscos identificados no Laboratório de Patologia Clínica Veterinária.TABELA 01

Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013

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C O N C L U S Õ E S

O Mapa de Risco identificou as fontes de risco (perigos) químico, físico, biológico, ergonômico e de acidentes presentes no laboratório e sensibi-lizou a todos sobre os riscos individuais, coleti-vos internos ao Laboratório de Patologia Clínica Veterinária.

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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013

VAZ SG et al.

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Prevalência de mormo no estado de Pernambuco no período de 2006 a 2011

O mormo é uma doença infecto-contagiosa de caráter agudo ou crônico, causada pela bactéria Burkholderia mallei. Acomete diversos mamíferos, principalmente, os equídeos, sendo maior a casuística em asininos e mua-res. Sendo uma zoonose de relevância econômica, foi realizado estudo epi-demiológico dos focos de mormo em Pernambuco no período de 2006 a 2011, com o objetivo de verificar a distribuição espacial, temporal e a duração do saneamento das propriedades afetadas. A população objeto das investigações epidemiológicas foi constituída de 94,36% de equinos, 3,78% de muares e 1,86% de asininos, distribuída em todo o Estado. Verificou-se geograficamente que a mesorregião da Zona da Mata de Per-nambuco, no período estudado, foi a que apresentou maior número de focos seguida das mesorregiões do Agreste e Sertão. A distribuição tempo-ral revelou que não há um comportamento regular na detecção de focos, sendo isso atribuído à dependência da detecção dos casos de animais em trânsito. Quanto á duração, cerca de 90% dos focos foram saneados em até 180 dias. Deste modo, verificou-se que os focos investigados foram, em sua maioria, na criação de equino, por esta ser a espécie mais trans-portada, exigindo-se o exame negativo para o mormo, causando impacto econômico nas criações de cavalos.

Glanders is an infectious disease of acute or chronic nature, caused by the bacterium Bur-kholderia mallei. It affects many mammals, especially the horses, and casuistry is higher in asses and mules. As a zoonosis of economic importance, it was conducted an epide-miological study of outbreaks of glanders in Pernambuco in the period of 2006-2011, with the objective of verifying the spatial distribution, temporal and sanitation duration of the affected properties. The object of epidemiological research population consisted of 94.36% of horses, 3.78% of mules and 1.86% of donkeys, distributed throughout the state. In the period studied, it was found that the “Zona da Mata” of Pernambuco showed the largest number of outbreaks, followed by others regions. The temporal dis-tribution showed that there is a regular behavior in outbreaks. This can be attributed to the dependence of the detection of cases of animals in transit. As for the duration, about 90% of outbreaks were resolved in 180 days. Thus, it was found that the outbreaks were seen mostly in horses breeding, because this is the specie most transported, requiring a negative test for glanders, and causing economic impact on breedings.

R E S U M O

A B S T R A C T

PA L A V R A S - C H A V E Brasil, Equideocultura, Saneamento, Sanidade, Zoonose

K E Y W O R D S Brazil, Equideocultura, Sanitation, Health, Zoonoses.

Marcelo Brasil MACHADO1, Pedro Paulo M. da SILVEIRA2, Jéssica de Torres BANDEIRA3, Renato

Souto Maior Muniz de MORAIS4, Fernando Leandro dos SANTOS5, Thales Augusto BARÇANTE6

1 Fiscal Estadual Agropecuário – Adagro2 Fiscal Federal Agropecuário3 UFRPE – Programa de Pós Graduação em Ciência Veterinária4 Médico Veterinário autônomo5 UFRPE – Professor do curso de Medicina Veterinária6 UFLA – Professor do Programa de Pós-graduação Lato Sensu em Defesa Sanitária Animal

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013

Glanders prevalence in the State of Pernambuco, Brazil, from 2006 to 2011.

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I N T R O D U Ç Ã O

O mormo é uma doença infecto-contagiosa de curso agudo ou crônico que acomete, princi-palmente, os equídeos, mas também pode aco-meter os carnívoros, o homem e, eventualmen-te, pequenos ruminantes, seu agente etiológico é a Burkholderia mallei (MOTA, 2000; 2006). A bactéria é imóvel, crescendo na presença de oxigênio e na presença de nitrato, apresenta--se como anaeróbia facultativa e não esporula (HIRSH e ZEE, 2003).

É uma das enfermidades mais antigas de equí-deos já descrita, mencionada por Aristóteles e Hipócrates nos séculos II e IV a.C. (DIEHL, 2013). A doença foi introduzida no Brasil, pro-vavelmente, no início do Século XIX, com a im-portação de cavalos de Portugal, sendo a Ilha de Marajó, no Pará, o primeiro local com registros da doença. (ITO et al., 2008). Apesar de ser uma zoonose rara em humanos , quando o acome-te, geralmente é fatal (DIEHL, 2013). Em 2009 houve casos em cientistas e pesquisadores (OIE, 2009)

As mais importantes vias de excreção da Bur-kholderia mallei são a respiratória e a digestiva, uma vez que as lesões pulmonares crônicas nos brônquios se rompem, desencadeando uma infec-ção das vias aéreas superiores, que resulta na eli-minação da bactéria no ambiente (RADOSTITS et al., 2002; MOTA, 2006). A mais importante fonte de infecção são os animais portadores as-sintomáticos (OIE, 2009; LEOPOLDINO et al., 2009). Instrumentos de uso coletivo dos animais, também são passíveis de veicular o agente. Em-bora incomum, já se confirmou a possibilidade de transmissão vertical da égua para o feto, bem como a transmissão sexual (TELES, 2012).

De acordo com a Instrução Normativa Nº 50, de 14 de Setembro de 2013 do Ministério da Agricultura Pecuária de Abastecimento (MAPA), a enfermidade está incluída na lista das doenças de notificação obrigatória imediata de qualquer

caso suspeito. A mesma deve ser realizada ao ser-viço veterinário oficial, sendo obrigatória para qualquer cidadão, assim como aos profissionais que trabalham na área de ensino, pesquisa ou diagnóstico em saúde animal (BRASIL, 2013).

Sendo o Mormo uma doença reemergente e inexistir um banco de informações sobre epide-miologia, sobretudo relacionado aos quantitati-vos de focos e a distribuição ao longo dos anos, objetivou-se determinar o perfil da distribuição dos focos no tempo/espaço no Estado de Per-nambuco, bem como tempo de duração do sa-neamento de propriedades foco, no período de 2006 a 2011.

M A T E R I A L E M É T O D O S

As informações constantes são oriundas do banco de dados da Agência de Defesa e Fiscali-zação Agropecuária do Estado de Pernambuco (ADAGRO-PE), relativas ao número de proprie-dade e focos e a distribuição geográfica no pe-ríodo de 2006 a 2011. A contagem das proprie-dades seguiu-se a numeração absoluta apenas na abertura do foco. Para contagem dos focos, registrou-se cada um deles, a cada notificação.

Para fins de distribuição geográfica dos municípios, considerou-se a divisão do Estado em três mesorregiões: Zona da Mata, Agreste e Sertão. Essa classificação usou o padrão climáti-co dominante nas áreas. Em cada região há uma característica da finalidade da propriedade e a espécie que predomina na criação.

Em relação ao saneamento, foram aplicadas as medidas sanitárias cabíveis aos focos de mor-mo, segundo a IN 24/2004, do MAPA. Para fins de averiguar a distribuição temporal da duração dos focos, classificaram-se em períodos. Assim, para o saneamento em duas colheitas de sangue até a desinterdição, a classificação foi de um pe-ríodo; quando houve necessidade de três colhei-tas, a classificação foi de dois períodos e assim sucessivamente.

Marcelo Brasil MACHADO et al.

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013

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O estudo permitiu a análise estatística descriti-va dos dados que estão apresentadas sob a forma de tabelas, gráficos e figuras.

R E S U LT A D O S

No período de 2006 a 2011 foram saneadas em conformidade com a Instrução Normativa, 24/04 do MAPA (BRASIL, 2004), um total de 204 propriedades e 235 focos. A divergência en-tre número de total de propriedades e o de focos esteve relacionado ao reaparecimento de novos casos após pelo menos um saneamento encerra-do. Dentre esses 31 novos focos, 10 proprieda-des retornaram ao saneamento, das quais, duas são Centros de Vigilância Ambiental, portanto fogem ao padrão das demais propriedades de criação de equídeos, pois são locais que alojam animais errantes, em sua maioria enferma e con-sequentemente tem uma elevada rotatividade de animais.

A população envolvida na investigação foi constituída de 233 asininos, 473 muares e 11.808 equinos e sua distribuição relativa é 1,86%, 3,78% e 94,36%, respectivamente.

A distribuição dos focos no Estado de Pernam-buco não se apresenta de modo uniforme entre as regiões, sendo que o sertão apresentou a me-nor frequência ao longo do período estudado e a Zona da Mata sempre apresentou os maiores valores, como está ilustrado na Tabela 1.

Quanto à distribuição dos focos, predomi-nantemente na Zona da Mata, dois aspectos po-dem ser considerados em relação a essa maior frequência: no primeiro, se deve em grande par-

te pela finalidade econômica das propriedades, plantio de cana-de–açúcar, e consequentemente a forma de utilização dos animais com o siste-ma de manejo aplicado, que favorece a rápida propagação da doença entre os animais, já que são criados em estábulos coletivos com cocho e bebedouro únicos; no segundo, observaram--se falhas graves no manejo sanitário, sobretu-do em relação à incorporação de novos animais ao plantel, a ausência e a dificuldade de maior controle no trânsito dos equídeos usados como transporte de pessoas. Outros fatores que favo-recem a introdução, propagação e persistência da bactéria causadora do mormo, as condições socioeconômicas das regiões, o clima quente e úmido, chuvas abundantes e aglomerados de animais, que são as circunstâncias que muito se assemelham às da Zona-da-Mata do Estado de Pernambuco. Podem ser acrescentados ainda, os eventos de vaquejadas e outros eventos eques-tres que envolvem a aglomeração dos equídeos (VERMA, 1988).

A segunda maior frequência de focos está no Agreste, onde predomina a maior população de equinos do estado, segundo o IBGE (2011), cujo tipo de propriedade consiste em haras, fazendas e sítios, tendo por finalidade hobby. Nessas pro-priedades o sistema de criação, em sua maioria, é de baias individuais ou em piquetes com redu-zido número de animais. Como a finalidade da criação é para trânsito como, exposições, leilões e outros eventos equestres diferentes daquela da Zona-da-Mata, os cuidados sanitários, controle de trânsito e o destino dos egressos são mais ri-gorosos. Os dois elevados números de focos do

Prevalência de Mormo no estado de Pernambuco no período [...]

Mesorregião 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total

Zona da Mata 14 68 17 22 19 25 165

Agreste 16 4 19 5 3 9 56

Sertão 1 1 0 3 0 0 5

Total 31 73 46 30 22 34 236

Distribuição e frequência absoluta de focos de mormo no Estado de Pernambuco, segundo a região geográfica, no período de 2006 a 2011.

TABELA 01

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013

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Agreste pernambucano foram relacionando-se aos prováveis dois últimos grandes focos Mor-mo no Estado.

O Sertão historicamente verifica-se com bai-xa frequência de focos, muitos deles envolven-do poucos animais. Isso pode ser explicado pela circunstância da finalidade da criação, que se caracteriza por ser de subsistência com poucos animais e com um menor número de haras, com baias individuais, cuidados mais aprimorados,

além da barreira climática, com menor umidade e temperaturas mais elevadas, que não favore-cem o desenvolvimento do agente.

Quanto à distribuição anual, foi possível veri-ficar que não houve homogeneidade em relação à incidência de focos temporalmente ao longo dos meses. Pôde-se perceber uma grande varie-dade de distribuição, havendo até meses sem fo-cos relatados. Essas informações podem ser ve-rificadas, detalhadamente, nos Gráficos de 1 a 6.

Marcelo Brasil MACHADO et al.

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013

Distribuição da frequência de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, no ano de 2006.

GRÁFICO 01 Distribuição da frequência de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, no ano de 2007.

GRÁFICO 02

Distribuição da frequência de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, no ano de 2009.

GRÁFICO 04

Distribuição da frequência de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, no ano de 2011

GRÁFICO 06

Distribuição da frequência de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, no ano de 2008.

GRÁFICO 03

Distribuição da frequência de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, no ano de 2010.

GRÁFICO 05

41

Uma interpretação mais detalhada da circuns-tância que desencadeia o processo de sanea-mento revelou que a identificação dos focos foi dependente do controle de trânsito de equídeos dentro da região onde ocorre mormo. Assim, os focos foram abertos à medida que um animal foi detectado no exame para fins de trânsito. Bem verdade que o número menor de casos foi por denúncia do próprio criador, como já foi trata-do anteriormente, e outros focos foram relativos aos centros de vigilância mantidos pelas prefei-turas, que apreendem animais errantes, os quais antes de serem devolvidos aos proprietários fo-ram submetidos ao teste da fixação do comple-mento para Mormo.

Comparando-se os seis anos, notou-se que não houve um mês que se repetisse na série his-tórica apresentando maior número de incidência de focos, sendo os meses de dezembro e janeiro os que apresentaram, respectivamente, os maio-res valores. Alternativamente, quando analisado os meses com menor incidência de focos, per-cebeu-se que os meses de outubro e novembro se destacaram. O Gráfico 07 ilustra os dados anuais ordenados todos juntos, possibilitando uma comparação entre as incidências de focos de Mormo por mês entre os anos.

Quanto à distribuição do período de sanea-mento das propriedades, verifica-se na Figura 1 que cerca de 90% delas foram saneadas no in-tervalo de seis meses e as demais, incluindo os CVAs, centro de vigilância ambiental, esse perío-do foi maior que seis meses. Do ponto de vista prático, imediato e econômico, o saneamento das propriedades com Mormo é relativamente rápido, porém um número pequeno de proprie-dades pode passar mais tempo interditada, sen-do os proprietários capazes de fazer várias incur-sões junto ao serviço oficial, no sentido de tornar o saneamento mais rápido e com isso desinter-ditar a propriedade. Um aspecto em relação a essa última afirmação é que o número de exames para Mormo para fins de trânsito de equídeos no período estudado foi de cerca de 105.000, fren-te a uma população de equídeos no Estado de Pernambuco de cerca de 200.000 cabeças (IBGE, 2011), revelando que há uma intensa movimen-tação desses animais e a interdição causa de fato, severo transtorno ao proprietário, independente do motivo que o leva a movimentar seu animal.

Há de considerar que a interpretação desses dados não permite que se estabeleça de imedia-to um paralelo de comparação com processos de saneamento em propriedade por outras causas,

Prevalência de Mormo no estado de Pernambuco no período [...]

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013

Distribuição da frequência acumulada de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, segundo o mês e ano.GRÁFICO 07

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em que as doenças possibilitem a ação incisiva ou não do Estado para erradicá-las. Em relação a Mormo, a maioria dos trabalhos publicados tem como tema a evolução ou sensibilidade/eficiên-cia de diferentes técnicas de exames para o diag-nóstico, todavia nenhuma aborda a evolução do saneamento em situação real. Manninger (1947) relatou o diagnóstico de Mormo com o uso do teste da maleína na Alemanha, todavia, foram números relativos aos reagentes em cada série de testes, mas não o número de focos e a distribui-ção temporal e geográfica deles, de modo que se visualiza a situação da doença aquela época na Alemanha e impossibilita fazer uma comparação com a situação atual. No Brasil tem-se o relato de Xavier (1930), abordando um saneamento de um foco em São Paulo com o teste da maleína seguidas vezes, em que pese os detalhes da cir-cunstância, mas esse trabalho descreve que se aplicava a maleína apenas nos animais com sin-tomas que pudessem ser confundidos com os do Mormo, diferentemente da situação atualmente aplicada ao foco, quando todos os animais são testados, tenham sintomas ou não.

A detecção dos focos e o saneamento pos-sibilitam, ao setor público, verificar imediata-mente como a doença é distribuída pelo Estado, seja em função do tempo, ou da área geográfica

e o risco que ela representa ao plantel de equí-deos do Estado, visto que a transmissão ocorre na maioria das vezes por convívio entre os ani-mais em que há bebedouros ou cochos coletivos (SANTOS, MANSO FILHO E MENDONÇA, 2007) ou mesmo o contato direto dos homens (VAN DER SCHAAF, 1964), que lidam com eles.

Na zona do Sertão onde predomina os asini-nos e os equinos, respectivamente, o aparecimen-to da enfermidade é menos comum, uma vez que os eventos e a concentração de animais ocorrem em menor número.

No Gráfico 8, nota-se a média e desvio padrão do número de animais reagentes ao teste da FC, fixação do complemento, no período estudado. Nele verifica-se que o número de positivos é relativamente baixo, inferior a 20% e o desvio padrão, quase sempre acompanha o comporta-mento da média.

Na Figura 2, observa-se que mais de dois ter-ços dos focos identificados em Pernambuco, no período estudado encontravam-se na Zona da Mata, seguido do Agreste e um percentual me-nor, 2,1%, no Sertão. Isso pode, em princípio ser atribuído aos tipos da criação, estábulos coleti-vos com cocho e bebedouros únicos e as condi-ções sanitárias das criações, como citaram Mota et al (2.000) e Santos, Manso Filho e Mendonça (2007).

No Gráfico 9, seguindo a mesma distribuição geográfica das propriedades-foco, nele observa--se o percentual de animais positivos, segundo as espécies constitutivas da população investigada, no período estudado. Na Zona Mata do Estado de Pernambuco, observa-se menor número de animais em cada foco, mas o percentual de posi-tivos é quase sempre elevado para os asininos e equinos, e mais baixos para os muares. Podendo isto ser reflexo do sistema de criação das proprie-dades daquela região e a utilidade dos animais. No Agreste a situação é menos grave, há menor percentual de positivos, independentemente da espécie, podendo isto ser atribuído a finalidade e

Distribuição relativa das propriedades foco, segundo o período de saneamento, no período de 2006 a 2011.

FIGURA 01

Marcelo Brasil MACHADO et al.

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o sistema de manejo das criações, quando preva-lecem os haras, sítios e pequenos criatórios. No sertão, o maior percentual de asininos positivos reflete o maior grupo de animais investigados e a espécie mais comum da região geográfica. Equi-nos são os que possuem um percentual mais bai-xo de casos, seguido dos muares. Estes últimos não tão comuns naquela região.

C O N C L U S Ã O

O regime de saneamento tem revelado que Mormo ainda é um problema no agronegócio do cavalo, particularmente em Pernambuco. Embo-

ra tenham se encontrado 225 animais positivos frente a uma população investigada de aproxi-madamente 13.000 animais, a interrupção da movimentação da propriedade aumenta seus custos por pelo menos seis meses.

Os focos ainda são, em sua maioria, na Zona da Mata, onde concentra maior população de equídeos, particularmente de muares, utilizada como força de trabalho e cujo impacto econômi-co e risco assume grandes dimensões e isto não diminui o impacto econômico da doença, pois, se não há o efeito negativo da interrupção do trânsito, afinal de contas os animais limitam-se

Distribuição da média e desvio padrão de reações positivas para Mormo nas propriedades em regime de saneamento para Momo, no Estado de Pernambuco, no período de 2006 a 2011.

GRÁFICO 08

Distribuição das propriedades-focos, segundo a região geográfica, no período de 2006 a 2011, no Estado de Pernambuco.

FIGURA 02 Distribuição percentual dos animais positivos para Mormo, em relação às espécies investigadas, segundo a distribuição das propriedades focos, no período de 2006 a 2011.

GRÁFICO 09

Prevalência de Mormo no estado de Pernambuco no período [...]

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013

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ao transporte de carga nas propriedades, As medidas de controle de trânsito, seja inter-

no ou externo, devem ser mantidas como meio de impedir que o Mormo se propague às outras regiões, do Estado ou fora deles, além de se pro-curar formas mais efetivas de se fazer levanta-mentos em um número maior de animais nos diversos estados que apresentem a enfermidade.

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Comparação da Prevalência do Mormo entre as Zonas da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco, de 2005 à 2011

O mormo acomete os equídeos, outros mamíferos e ocasionalmente o ho-mem. Este estudo descreve os resultados dos testes diagnósticos realizados para trânsito de equídeos no período de 2005 à 2011. Os testes foram realizados na Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. Todos os positivos no exame da fixação de complemento (FC) sem sintomatologia clínica eram confirmados pela prova da maleína. Foi utilizada a base de dados da Superintendência Federal de Agricultura no Estado de Pernam-buco (SFA-PE), alimentada por meio de relatórios mensais elaborados por dois laboratórios credenciados para realização do diagnóstico do mor-mo. Foi feita análise descritiva da série histórica 2005 à 2011 dos casos de mormo e calculada a prevalência. A prevalência foi estratificada pelas regiões de Pernambuco. Foi feito o teste qui-quadrado para testar a asso-ciação entre a prevalência do mormo (variável direta) e diagnóstico de AIE nas regiões do Estado (variáveis independentes).Verificou-se 68 animais positivos, com uma média de 9,71 casos por ano. Conclui-se que: 1.há maior prevalência de mormo na Zona da mata (p<0,05); 2.há associação entre a ocorrência de Mormo e AIE (p<0,05); 3. o número de testes reali-zados para diagnóstico do mormo e AIE apresenta sazonalidade causada pela distribuição dos eventos hípicos.

Glanders affects equines, other mammals and occasionally man. This study describes the results of diagnostic tests for equine traffic from 2005 to 2011. The tests were conduct-ed in the Zona da Mata, Agreste and Sertão of Pernambuco. All animals positive in the complement fixation test (FC) without clinical symptoms were confirmed by the evidence of mallein. It was used database of the Federal Agriculture in the State of Pernambuco (SFA-PE), fed through monthly reports from two laboratories accredited to perform the diagnosis of glanders. Descriptive analysis and calculated prevalence were accomplished on the time series in 2005 to 2011 cases of glanders. Prevalence was stratified by region of Pernambuco. The chi-square test was done to test the association between the prevalence of glanders (direct variable) and diagnosis of AIE in the regions of the state (independ-ent variables). There were 68 positive animals, with an average of 9.71 cases per year. It is concluded that: 1. There is a higher prevalence of glanders in the Zona da Mata (p <0.05); 2. There is an association between the occurrence of glanders and AIE (p <0.05); 3. The number of tests for diagnosis of glanders and AIE presents seasonality caused by the distribution of equestrian events.

R E S U M O

A B S T R A C T

PA L A V R A S - C H A V E ADAGRO, Equídeos, Defesa Sanitária Animal

K E Y W O R D S ADAGRO, Animal Health Protection, Equines

Pedro Paulo M. da SILVEIRA1, Marcelo Brasil MACHADO2, Jéssica de Torres BANDEIRA3, Renato

Souto Maior Muniz de MORAIS4, Fernando Leandro dos SANTOS5, Ana Virgínia Marinho SILVEIRA6,

Christiane Maria Barcellos Magalhães da ROCHA 7

1 Fiscal Federal Agropecuário, 2 Fiscal Estadual Agropecuário – Adagro3 UFRPE – Programa de Pós Graduação em Ciência Veterinária4 Médico Veterinário autônomo5 UFRPE – Professor do curso de Medicina Veterinária 6 UFRPE – Professora do curso de Gastronomia7 UFLA – Professor do Programa de Pós-graduação Lato Sensu em Defesa Sanitária Animal

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013

Glanders Prevalence comparision between Zona da Mata, Agreste and Sertão from Pernambuco, Brazil, from 2005 to 2011

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I N T R O D U Ç Ã O

O mormo é uma enfermidade infecto-conta-giosa de caráter zoonótico que acomete os equí-deos (burros, cavalos e jumentos), outros ma-míferos e o homem. Não existe um tratamento eficaz para essa enfermidade, sendo o sacrifício a única maneira de controlar a doença. Tem gran-de importância na saúde pública, por acometer os humanos, principalmente aqueles que lidam diretamente com os animais doentes.

Oficialmente o último foco de mormo no Brasil ocorreu no município de São Lourenço da Mata, em Pernambuco no ano de 1968, após esse pe-ríodo o mormo foi considerado erradicado no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Uma vez que todo material cole-tado nesse período para isolamento da bactéria não crescia em laboratório, impossibilitando a confirmação do diagnóstico. Passados 30 anos sem notificação oficial, o mormo voltou a ser no-tificado no ano de 1999, em dois municípios as mata sul de Pernambuco (Cortês e Serinhaém) e no município de São José da Laje, no Estado de Alagoas. (MAPA 1999)

O Estado de Pernambuco possui uma popu-lação estimada em 280.910 (duzentos e oitenta mil, novecentos e dez) eqüídeos, sendo 138.811 (cento e trinta e oito mil oitocentos e onze) equinos; 91.634 (noventa e hum mil seiscentos e trinta e quatro) asininos e 50.465(cinquen-ta mil,quatrocentos e sessenta e cinco) muares (IBGE 2006). Os equídeos estão distribuídos nas Zonas da Mata, na qual predomina os equinos e os muares, em decorrência das atividades, em grande parte, voltadas para o transporte de cana de açúcar; Zona do Agreste, composta de mais equinos, utilizados no trabalho das fazendas de criação, granjas, pequenas chácaras e pequenos produtores rurais e Zona do Sertão, onde existe a maior concentração de asininos.

Os animais da Zona da Mata (equino e mua-res) trabalham em usinas e engenhos no trans-

porte da cana de açúcar, já na região do agres-te a população de equinos é bem maior que a de muares e além dos trabalhos nas fazendas de criação, tem-se também maior quantidade de eventos agropecuários como leilões, exposi-ções, vaquejadas, feira de animais e na Zona do Sertão, predomina os asininos que antigamente trabalhavam nas fazendas e transportavam pe-quenas cargas para as cidades nos dias de feira. Com a reinsurgência do mormo no final de sécu-lo passado (1999), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) foi obrigado a instituir legislação especifica e restringir o trân-sito de equídeos com o objetivo de controlar a enfermidade no Estado. Com isso o MAPA pas-sou a credenciar laboratórios para realização do diagnóstico do mormo, cadastrar médicos vete-rinários para colheita de sangue para diagnós-tico. A partir de 2002, a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária (ADAGRO), passou controlar a enfermidade e fiscalizar o trânsito desses animais no Estado.

Sabe-se que o mormo é transmitido de um ani-mal para o outro por meio das secreções do ani-mal doente, veiculada na água e alimentos con-taminados. Observa-se que os muares são mais sensíveis, por isso desenvolvem a forma aguda da doença e os equinos são considerados porta-dores crônicos. Na Zona da Mata pernambu-cana onde predomina os muares e equinos usa-dos no trabalho de transporte da cana, o manejo sanitário é deficiente, onde os animais são alo-jados em estábulos coletivos, pouco arejados e úmidos, tendo em comuns cochos e bebedouros, com acesso livre. Essas condições são favoráveis à transmissão e disseminação da enfermidade, causando grandes surtos na criação e o conse-qüente prejuízo econômico na atividade. Na Zona do Sertão onde predomina os asininos e os equinos, respectivamente, o aparecimento da enfermidade é pouco comum, uma vez que os eventos e concentração de animais são em me-nor número. Na região do Agreste, predomina

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a criação de equinos, sobretudo aqueles usados para fins de hobby, esporte e exposição. Nessas criações possuem poucos registros de casos da doença.

Objetiva-se demonstrar a situação do mormo em relação aos equinos que transitam, observan-do sua regionalização e prevalência no Estado de Pernambuco, comparando a distribuição dos casos nas Zonas do Agreste, da Mata e do Ser-tão.

M A T E R I A L E M É T O D O S

C o l e t a d e D a d o s

Esse estudo foi realizado no Estado de Per-nambuco, no período de 2005 à 2011, em equí-deos que iriam se deslocar para participar de eventos hípicos. Os testes de diagnóstico para o mormo foram realizados em animais das Zonas da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. Para todos os testes positivos no exame da fixação de complemento (FC) em que o animal não apre-sentava sintomatologia clínica, eram exigidos o diagnóstico confirmatório realizado pela prova da maleína.

Em Pernambuco é obrigatório a apresentação dos exames sanitários para transitar, assim fo-ram levantadas informações sobre animais testa-dos com diagnósticos positivos e negativos para mormo e AIE, realizados para obtenção da Guia de Trânsito Animal (GTA), que é gerada apenas quando os exames são negativos. Este trabalho utilizou a base de dados da Superintendência Federal de Agricultura no Estado de Pernam-

buco (SFA-PE), informados por meio de relató-rios mensais elaborados por dois laboratórios credenciados para realização do diagnóstico do mormo.

A n á l i s e d o s D a d o s

Foi feita análise descritiva da série histórica 2005 à 2011 dos casos de mormo e calculada a prevalência. A prevalência foi estratificada pelas Zonas da Mata, Agreste e Sertão de Pernambu-co. Foi feito o teste qui-quadrado para testar a Associação entre a prevalência do mormo (va-riável direta) e diagnóstico de AIE nas regiões do Estado (variáveis independentes).

R E S U LT A D O S

Houve associação significativa (valor de P<0,05) entre os resultados positivos de Mormo e AIE em relação aos equídeos no Estado de Per-nambuco. Os equídeos apresentaram uma pro-babilidade 6,751 vezes maior de serem soropo-sitivos para AIE que para o Mormo. (tabela 1).

A variação dos casos de mormo durante os anos demonstra comportameto diferenciado nas diferentes regiões do Estado (gráf.1). Nos me-ses de maio a agosto (Graf.2) se concentram os eventos agropecuários que ocorrem durante o ano. As vaquejadas, as exposições agropecuá-rias específicas para equinos, fazem com que nesse período ocorra um maior trânsito dentro do estado e como conseqüência um aumento nas fiscalizações com barreiras fixas e móveis e nos eventos agropecuários. Isto também traz uma maior conscientização do criador que para tran-

ResultadosMormo AIE

TotalN % n %

Positivo 103.861 99,94 104.961 99,19 208.822

Negativo 68 0,06 855 0,81 923

Total 103.929 100 105.816 100 209.745

Associação entre os resultados positivos e negativos entre mormo e AIE para os eqüídeos, no período entre 2005 à 2011 no Estado de Pernambuco

TABELA 01

Comparação da Prevalência de Mormo entre as zonas da [...]

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sitar com seus animais, sabe que necessita estar com documentação sanitária em dia e dentro do prazo de validade.

Com o fim dos eventos agropecuários para equinos, os meses de dezembro a fevereiro foram aqueles que tiveram menor número de exames de Fixação de Complemento realizados para Mor-mo, sendo esse período considerado de descanso (férias) para os vaqueiros e tratadores (Graf.3). A quantidade de exames realizados no período de 2005 à 2011, aumentou ano a ano, com um total de exames realizados de 103.929. (Gráfico 4). Houve variação do número de casos entre os anos. No período estudado, o total de exames positivos foi 68 (gráfico 4). O aumento do núme-ro de exames realizados esteve relacionado com o trabalho de educação sanitária, realização de palestras, distribuição de folders nos locais dos eventos agropecuários e nos diferentes municí-pios em que ocorreu maior quantidade de ani-mais positivos, havendo a intensificação da vigi-lância nos eventos e no trânsito dos equídeos. A Zona da Mata é a que apresenta o maior número de casos neste período, porém houve aumento ao longo dos anos na Zona do Agreste e Sertão

Distribuição anual dos casos de Mormo nas Zonas da Mata, Agreste e Sertão do estado de Pernambuco no período de 2005 a 2011

GRÁFICO 01

Meses com maior número de exames no teste da Fixação de Complemento (FC), no período de 2005 a 2011, no Estado de Pernambuco

GRÁFICO 02

Meses com menor número de exames no teste da Fixação de Complemento (FC), no período de 2005 a 2011, no Estado de Pernambuco.

GRÁFICO 03

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(Gráf.5).

D I S C U S S Ã O

O maior número de exames positivos na Zona da Mata (Gráf. 4), em relação ao agreste, se deve ao fato dos proprietários de engenhos (produ-tores de cana de açúcar) também possuírem cavalos que transitam para participar de even-tos hípicos e são criados em coabitação com os animais de trabalho quando podem se conta-minar. No Agreste, ocorre o maior número de eventos agropecuários relacionados à indústria do cavalo. Com a realização dos eventos hípicos, há uma aglomeração dos animais proporcio-nando um aumento do risco de transmissão do agente, como citam (HOWE e MILLER, 1947; GANGULEE et al.1966). Facilitado pela forma de transmissão que são os cochos e bebedouros coletivos (MOTA et. al. 2000).

Um fator importante para manutenção e dis-seminação do agente é o muar de descarte (apa-rentemente sadio), oriundos dos engenhos locali-zados na Zona da Mata que são comercializados nas feiras da região do Agreste. Eles são adqui-ridos por fazendeiros e donos de haras, para o

transporte de capim nas propriedades. A presen-ça deste animal doente funciona como reservató-rio e potencial transmissor aos demais equídeos da propriedade. (ZUBAIDY e AL-ANI, 1978) (MOTA et. al., 2000).O aparecimento da enfer-midade no Sertão em 2009 e 2010 (Gráf. 4) pode ser explicado em parte pelo trânsito de animais de vaquejada. Muitos desses animais são prove-nientes da região do Agreste pernambucano.

Com o quantitativo de exames para diagnós-tico do mormo realizados no período estudado, pode-se observar que o mormo tem uma menor casuística em relação a Anemia Infecciosa Eqüina (AIE); no entanto, quando os equídeos são cria-dos coletivamente, dividindo o mesmo estábulo, cocho e bebedouro, numa coabitação constante, favorece a rápida transmissão da enfermidade e a consequente contaminação e morte dos os ani-mais. A análise comparativa dos dados relativos ao número de exames do período estudado, en-volvendo a AIE, observa-se no Gráf. 4, que o nú-mero de exames relativos as duas enfermidades se equivalem, todavia, a grande diferença está no número de exames positivos dessas doenças, que representa um percentual de 0,065% de exames positivos para mormo e de 0,808% de exames

Exame de mormo com a finalidade de trânsito no Estado de Pernambuco no período de 2005 a 2011.

GRÁFICO 04

Comparação da Prevalência de Mormo entre as zonas da [...]

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Distribuição dos soropositivos para mormo pelo Teste da Fixação de Complemento nas regiões da Zona da Mata, Agreste e Sertão do Estado de Pernambuco no período de 2005 a 2011

GRÁFICO 05

Pedro Paulo M. da SILVEIRA et al.

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positivos para AIE. Atualmente não existe tratamento ou vacina

eficaz contra essa enfermidade (AMEMIYA et al. 2002), onde todos os animais diagnosticados com mormo, deverão ser sacrificados seguindo a legislação vigente( IN nº 24). As medidas pro-filáticas, como evitar aglomerações de eqüídeos, fiscalização e controle do trânsito, participar de eventos hípicos fiscalizado são ações básicas, mais eficientes (MAPA, 2003) o que parece ex-plicar a baixa prevalência encontrada.

A população de equídeos com um bom mane-jo sanitário possui uma baixa prevalência para essa enfermidade. A associação do controle da doença, com a eficácia do diagnóstico, educação sanitária constante, maior conscientização dos proprietários, intensificação da vigilância passi-va e ativa e a exigência dos exames para trânsi-to são estratégicas para evitar a propagação da doença entre os plantéis de equídeos.

C O N C L U S Ã O

Há maior prevalência de mormo na Zona da mata, seguida da Zona do Agreste e Zona do Sertão de Pernambuco.

Há associação entre a ocorrência de Mormo e AIE.

O número de testes realizados para diagnósti-co do mormo e AIE apresenta sazonalidade cau-sada pela distribuição dos eventos hípicos.

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Avaliação sobre o conhecimento de Zoonoses em profissionais e acadêmicos da Medicina e Medicina Veterinária na cidade de Maceió-Alagoas-Brasil

Objetivou-se com este estudo avaliar o conhecimento de Médicos Hu-manos e Veterinários, assim como de formandos em Medicina Humana e Veterinária sobre o que são zoonoses. Foram entrevistados 31 Médicos atuantes na área de clínica médica, 27 veterinários atuantes na área de clínica médica de pequenos animais, 70 estudantes formandos em medi-cina e 57 em veterinária. Na avaliação sobre o conhecimento conceitual de zoonoses, 44,4% dos veterinários e 42,2% dos concluintes do curso de medicina veterinária assinalaram de forma correta, o que foi afirmado por 3,4% dos médicos e 12,9% dos formandos em medicina. Quando associa-do o conhecimento prévio entre os formandos de medicina e medicina ve-terinária e entre os profissionais médicos e veterinários, observou-se uma associação significativa (p<0,001). Diante o exposto sugere-se a necessida-de de reformulação das metodologias aplicadas nas disciplinas de Saúde Pública no que concerne ao conceito das zoonoses, bem como o desenvol-vimento de campanhas informativas e de reciclagem dos profissionais.

The objective of this study was to evaluate the knowledge of Human and Veter-inary Doctors, as well as graduates in Human and Veterinary Medicine on what are zoonosis. Thirty-one doctors active in the area of clinical medicine, 27 veter-inarians active in the area of small animals clinic, 70 graduates in medicine and 57 veterinary students were interviewed. In evaluation on the conceptual knowl-edge of zoonosis, 44.4% of veterinarians and 42.2% of students graduating in veterinary medicine correctly replied, what was stated by 3.4% of physicians and 12.9% of medical students. When associated with the prior knowledge between graduates of medicine and veterinary medicine and between doctors and veteri-nary professionals, we observed a significant association (p <0.001). Thereby, we suggest the need for a reformulation of the methodologies used in the disciplines of Public Health regarding the concept of zoonosis, as well as the development of information campaigns and retraining of professionals.

R E S U M O

A B S T R A C T

PA L A V R A S - C H A V E educação em saúde, medicina, medicina veterinária, zoonoses

K E Y W O R D S health education, medicine, veterinary medicine, zoonoses.

Jorge Rêgo RIFAS JÚNIOR1; José Wilton PINHEIRO JUNIOR2; Daniel Friguglietti BRANDESPIM3;

Rinaldo Aparecido MOTA4; Giulliano Aires ANDERLINI5

1 Médico Veterinário, autônomo, Maceió, Alagoas, Brasil

2 Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Av. Bom Pastor s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE 55296-901, Brasil. E-mail: [email protected] (Endereço para correspondência)

3 Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns, Pernambuco, Brasil.

4 Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Garanhuns, Pernambuco, Brasil.

5 Centro de Estudos Superiores de Maceió, Faculdade de Ciências Biológicas, Centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC), Alagoas, Brasil.

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013

Evaluation of the knowledge of Zoonoses by professional and academic of Medicine and Veterinary Medicine in Maceió-Alagoas-Brazil

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I N T R O D U Ç Ã O

Acredita-se que a ciência médica, de uma forma geral, tem sido cada vez mais tecnicista, especializada, fragmentada e curativa, contra-pondo-se à sua essência humana, geral, preven-tiva e educativa (ENGEL, 1977; CAPRA, 1982; CORDEIRO, 2001). Os educadores, submetidos aos avanços técnico-científicos, tem se preocupa-do com a formação do homem para o mercado de trabalho, objetivando dispor à sociedade um profissional competitivo e tecnocrático, o que tende a limitar a criatividade e o senso crítico humano, privando-o de uma visão holística do saber (DELLORS, 1999).

É função da escola médica auxiliar o estudante a compreender o sentido preventivo, educativo e social de sua atividade, considerando que a me-dicina individual, mercantilista e tecnicista fra-cassa em responsabilidade social (VENTUREL-LI, 1977; ALMEIDA, 2001), seja no âmbito da medicina humana ou da veterinária.

Após a Segunda Guerra Mundial, a medicina veterinária, na saúde pública, caracterizou-se pelo trabalho direcionado para a população, através da utilização da epidemiologia no desen-volvimento de programas de controle de zoono-ses pelos órgãos de saúde pública (PFUETEZE-NENREITER et al., 2004).

A história da medicina veterinária mostra cla-ramente a interação entre médicos veterinários e médicos humanos, quando os primeiros ocupam cargos importantes e de relevância técnica ad-ministrativa para a saúde pública (SCHWABE, 1984). No Brasil, o Conselho Nacional de Saúde, órgão do controle social do Ministério da Saúde, reconhece o médico veterinário como profissio-nal de saúde e identifica a medicina veterinária como profissão de saúde de nível superior para atuar neste Conselho (BRASIL, 1997; BRASIL, 1998).

Visando uma melhoria no âmbito da Saúde Pública, a medicina moderna entende que a edu-

cação para comunidade deve ser realizada com campanhas a favor da saúde, através de medidas preventivas (RODRÍGUEZ et al., 2007). Esta ação deve ter gerenciamento transdisciplinar, onde exista a possibilidade de comunicação não apenas entre os campos disciplinares, mas entre os agentes em cada campo, havendo coopera-ção através de uma abordagem que passa entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade do processo saú-de-doença (VILELA e MENDES, 2003), o que abrange as zoonoses.

As zoonoses são enfermidades transmis-síveis entre os animais vertebrados e o homem (ACHA e SZYFRES, 1986), sendo que o estreita-mento do relacionamento das pessoas com seus animais de estimação, seguido pelo aumento progressivo do número destes animais, sejam do-miciliados ou peridomiciliados, de modo geral, em todo o Brasil, associado ao fácil acesso destes aos locais de lazer e ambientes públicos, aumen-tam o risco de infecção, especialmente para as crianças (SCAINI et al.).

Neste contexto, objetivou-se com este es-tudo avaliar, de forma geral, o conhecimento de profissionais e acadêmicos médicos e veteriná-rios sobre o que são zoonoses a fim de analisar a forma como estas são abordadas nas clínicas veterinárias, consultórios médicos e nos cursos de graduação em medicina e veterinária.

M A T E R I A I S E M É T O D O S

O estudo foi desenvolvido no município de Maceió, sendo entrevistados 31 médicos huma-nos que atuavam em clínica médica e 27 médicos veterinários que atuavam em clínica médica de pequenos animais, e 70 estudantes formandos em medicina humana e 57 em medicina veteriná-ria. A coleta das informações foi realizada atra-vés de entrevistas utilizando-se questionário com questões objetivas sobre o conceito de zoonose, sendo aplicado por apenas um dos autores.

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Para avaliação dos dados realizou-se análise estatística descritiva por meio de distribuições absoluta e relativa, além da técnica de estatística inferencial, utilizando-se o teste qui-quadrado de independência. O nível de significância utilizado na decisão dos testes estatísticos foi de 5%. O programa utilizado para a obtenção das análises estatísticas foi o EpiInfo versão 6.04 (DEAN et al., 1990).

R E S U LT A D O S

Na avaliação sobre o conhecimento conceitual de zoonoses, 44,4% dos médicos veterinários e 42,2% dos concluintes do curso de medicina veterinária assinalaram de forma correta, serem tais enfermidades inter-transmissíveis para hu-manos e animais, o que foi afirmado por 3,4% dos médicos humanos e 12,9% dos formandos em medicina humana.

Quando associado o conhecimento prévio en-tre os formandos de medicina humana e medi-cina veterinária e entre os médicos humanos e veterinários, observou-se uma associação signifi-cativa, demonstrando um nível de conhecimento dos formandos de medicina veterinária e médi-cos veterinários superior aos dos acadêmicos de

medicina e médicos (Tabelas 1 e 2).Apesar da inserção do médico veterinário

na saúde pública observou-se neste estudo que 56,1% dos formandos de medicina veterinária e 51,9% dos médicos veterinários responderam de forma equivocada sobre o conceito de definição do que é uma zoonose.

Quando se avaliou o conhecimento dos aca-dêmicos de medicina e médicos de uma forma isolada observou-se que 84,3% e 89,7%, res-pectivamente, responderam que zoonose é uma enfermidade transmitida unicamente do animal para o homem.

D I S C U S S Ã O

As freqüências verificadas sobre a avaliação do conhecimento conceitual de zoonoses podem ser consideradas aquém do esperado, pois, uma vez que estas duas classes profissionais da saú-de representam as principais disseminadoras de conhecimentos sobre prevenção e controle das zoonoses, esperava-se encontrar valores iguais ou superiores a 80,0%.

Observou-se que tanto no curso de medicina quanto no de medicina veterinária, os discentes aprendem a direcionar o pensamento à medicina

Avaliação sobre o conhecimento de Zoonoses em [...]

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Resultados

Formandos em Medicina Humana

Formandos em Medicina Veterinária Valor de p

F.A. F.R. (%) F.A. F.R. (%)

Doença transmitida de animais para humanos

59 84,3 32 56,1

p < 0,001*

Doença transmitida de cães ou gatos para humanos

2 2,8 - -

Doença transmitida de animais para humanos e de humanos

para animais9 12,9 24 42,2

Não é doença/Não sabe - - 1 1,7

Total 70 100,0 57 100,0

F.A. – Freqüência Absoluta; Freqüência Relativa

*Associação significativa a 5,0%; Qui-quadrado = 15,86

TABELA 01 Associação sobre o conhecimento prévio do conceito zoonose entre os formandos em Medicina Humana e Veterinária, Maceió, Alagoas

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curativa e individual e este, quando é analisado a partir do modelo fleckiano, demonstra que aqui-lo que não concorda com o sistema (no caso, aquilo que foge à relação orgânica-doença e seus correspondentes) parece inobservável (PFUETE-ZENENREITER e ZYLBERSZTAJN, 2008) .

Ao estudar as percepções de estudantes de medicina veterinária sobre a atuação na área de saúde, Pfuetzenenreiter e Zylbersztajn (2004) ve-rificaram que os estudantes ingressam no curso de medicina veterinária com uma visão e uma expectativa voltada para a medicina curativa, e para que haja uma modificação nesse quadro será necessário que os diversos setores das Ins-tituições de ensino percebam que os estudantes devem ter uma formação integral para atender as diversas áreas de atuação do médico veteri-nário.

Ainda segundo esses autores caso não haja al-terações na matriz curricular acompanhadas de reformulação dos projetos políticos pedagógicos de formação dos estudantes, em caráter genera-lista, qualquer alteração será inútil e insatisfa-tória. Diante da realidade observada Arámbulo (1991) recomenda a mudança de abordagem dos currículos, com concentração excessiva na clínica, que favoreça uma educação mais voltada

para a saúde pública. Ao responderem que zoonose é uma enfermi-

dade transmitida unicamente do animal para o homem, 84,3% e 89,7%, respectivamente, de acadêmicos de medicina e médicos, corrobora-ram com a tendência de muitos profissionais, que sem o devido conhecimento sobre o tema, incriminam e até condenam os animais domés-ticos como os responsáveis pelas doenças nos humanos.

De acordo com revisão realizada por Pfuetzen-reiter et al (2004) as zoonoses estão inseridas em uma das principais vertentes da saúde pública veterinária, sendo tais enfermidades considera-das como um importante indicador sócio-econô-mico, pelos agravantes de saúde no ser humano e dos prejuízos econômicos na cadeia produtiva animal. Para que haja um controle e prevenção dessas doenças no homem, se faz necessário a adoção de medidas de controle no animal e para que isto ocorra as autoridades de saúde pública e agricultura devem se unir para elaborar medidas por meio da saúde pública veterinária.

Enquanto a matriz curricular dos cursos de medicina privilegiar a formação acadêmica dis-sociada de demais aspectos, como os históricos, sociais, econômicos e culturais, enfatizada e dire-

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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013

ResultadosMédico humano Médico Veterinário

Valor de p

F.A. F.R. (%) F.A. F.R. (%)

Doença transmitida de animais para humanos

26 89,7 14 51,9

p < 0,001*

Doença transmitida de cães ou gatos para humanos

2 6.9 - -

Doença transmitida de animais para humanos e de humanos

para animais1 3,4 12 44,4

Não é doença/Não sabe - - 1 3,7

Total 29 100,0 27 100,0

Associação sobre o conhecimento prévio do conceito zoonose entre os Médicos Humanos e Veterinários, Maceió, Alagoas

TABELA 02

F.A. – Freqüência Absoluta; Freqüência Relativa*Associação significativa a 5,0%; Qui-quadrado = 16,67

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cionada ao curativismo como principal elemento deste referencial, incorporando-se desta forma a noção de unicausalidade (uma causa, produzin-do um efeito) e biologicismo (as doenças e suas curas sempre acontecem no nível biológico); ex-cluindo-se portanto, a teoria da multicausalida-de da doença e incluindo-se fatores sociais, eco-nômicos, culturais e ambientais, o curativismo, como mencionado, será sempre o elemento es-sencial foco do ensino, direcionado ao diagnós-tico e cura das enfermidades, já que o conceito de saúde é a ausência da doença no indivíduo, quando considerado isoladamente na prática clí-nica (BRIATI, 2001).

A saúde coletiva ou de uma comunidade de-pende também das interações dos grupos sociais e dos diferentes grupos de profissionais envolvi-dos com a saúde humana, em caráter multidisci-plinar, além de outros fatores como as políticas governamentais, além da formação profissional dos diversos atores envolvidos na promoção da saúde, como por exemplo, médicos, enfermeiros, dentistas, farmacêuticos, nutricionistas e médi-cos veterinários entre outros que muitas vezes colaboram entre si e atuam sobre o ambiente em prol do bem-estar humano (SANTOS, 1991).

C O N C L U S Ã O

Diante do exposto sugere-se a necessidade de reformulação das metodologias aplicadas nas disciplinas de Saúde Pública no que concerne ao conceito das zoonoses, bem como o desenvolvi-mento de campanhas informativas e de recicla-gem dos profissionais, para que a situação atual destas enfermidades não seja potencializada por uma série de informações equivocadas, estas geradas, pelo desconhecimento destes próprios profissionais que deveriam estar na linha de frente, colaborando com as Secretarias de Saúde no combate, controle e até erradicação de certas zoonoses do nosso meio social.

A G R A D E C I M E N T O S

Jorge Rêgo Rifas Júnior e Giulliano Aires An-derlini participaram da concepção, delineamen-to e redação do trabalho, José Wilton Pinheiro Junior, Daniel Friguglietti Brandespim e Rinaldo Aparecido Mota participaram da redação do ar-tigo e revisão crítica.

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