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s1321 Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1321-s1322, 2007. ISSN 1678-0345 (Print) ISSN 1679-9216 (Online) Associação de cirurgia e quimioterapia para tratamento de adenocarcinoma orofacial com linfonodo positivo em um cão Association of surgery and chemotherapy for treatment of orofacial adenocarcinoma with positive lymph node in a dog Luciana Oliveira de Oliveira 1 , Rosemari Teresinha de Oliveira 2 , Kelly Christini Rocha da Silva Ferreira 3 , Cristiano Gomes 4 & Juliana Aguiar 5 1 Médica-Veterinária. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS. Serviço de Oncologia Veterinária. 2 Médica-Veterinária. Professora de Patologia Veterinária. Faculdade de Medicina Veterinária UFRGS. 3 Médica-Veterinária. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS. 4 Médico-Veterinário. Mestrando Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária UFRGS. 5 Médica-Veterinária. Residente. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS. [email protected] ABSTRACT A case of a canine presented with adenocarcinoma of apocrine glands at the mucocutaneous junction of inferior and superior lips, with metastases at the regional lymph node, is reported. The patient was treat by excison of the nodule and regional lymph node, associated with intravenous chemotherapy with 5-fluorouracyl. The dog developed complete response to the therapy. Key words: adenocarcinoma, facial, neoplasm, surgery, chemotherapy. INTRODUÇÃO Existem poucos dados a respeito de adenocarcinomas de glândulas apócrinas de cães. São tumores incomuns em cães e gatos, sem predisposição de raça ou sexo. Os locais mais afetados são cabeça, pescoço, região lombar e flanco [2]. Tumores oro-faciais variam bastante no seu potencial metastático, mas são todos muito invasivos localmente [1,2]. O prognóstico é ruim, mas tem melhorado pois já se demonstrou que os cães toleram muito bem as cirurgias orofaciais extensas. Como resultado, as ressecções cirúrgicas têm se tornado mais agressivas. A cirurgia, com margens de segurança, é o melhor tratamento para cães com câncer oral. A associação da cirurgia com radio ou quimioterapia é indicada no caso dos tumores orofaciais com potencial metastático [1,3]. RELATO DO CASO Foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul um canino, sem raça definida, fêmea, com 9 anos de idade, pesando 8 kg, apresentando dois nódulos, na região cervical e no lábio, há 2 meses, com crescimento rápido. Segundo o proprietário, o cão havia sido tratado anteriormente com antibiótico e antinflamatório não esteróide por 14 dias, sendo que o tumor reduziu de volume, depois voltou a crescer. Foi suspensa toda a medicação anterior. Ao exame clínico, o cão apresentava normotermia, mucosas rosadas, ausculta torácica e palpação abdominal sem alterações. O cão apresentava uma massa neoplásica envolvendo a junção mucocutânea e o lábio superior e inferior direito medindo 4 cm, além de aumento do linfonodo submandibular direito medindo 6 cm de diâmetro. A massa era dolorida à palpação. Foi feita biopsia aspirativa por agulha fina (BAAF) das duas massas, sendo sugestivo de carcinoma. O hemograma se mostrou normal. Foi indicada excisão cirúrgica da massa e do linfonodo. O cão apresentou hemorragia pos-operatória, que foi resolvida por compressão local. Após a cirurgia, foi indicado cefalexina 1 30 mg/kg por 10 dias, a cada 12 horas, e meloxicam 2 0,1 mg/kg por 5 dias, a cada 24 horas, retorno e retirada dos pontos após 7 dias. Foi instituída quimioterapia com 5-fluorouracil 3 na dose de 150 mg/m 2 , via intravenosa, a cada 7 dias, fazendo um total de 5 doses. A primeira dose foi aplicada no dia da cirurgia, após a recuperação da anestesia. O nódulo coletado e o linfonodo foram fixados em formol a 10% e enviados para o Setor de Patologia Veterinária da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para confirmação do diagnóstico. O resultado do exame histopatológico foi adenocarcinoma de glândulas apócrinas. Foi feita retirada dos pontos 7 dias depois da cirurgia, com deiscência parcial. A ferida resultante foi tratada com limpeza diária com solução salina. O cão retornou semanalmente para aplicação do quimioterápico. Na aplicação da terceira dose, o paciente apresentou fezes amolecidas. Foi indicado tratamento com omeprazol e metoclopramida enquanto estivesse recebendo o quimioterápico. Na quinta aplicação do 5-fluorouracil, o proprietário relatou que o cão apresentou apetite fraco durante toda a semana e teve dois episódios de vômito. A dose do 5-fluorouracil foi reduzida para 100 mg/m 2 . Em retorno para revisão após a quinta aplicação, o cão apresentava-se novamente com apetite normal e bem disposto.

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s1321

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1321-s1322, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Associação de cirurgia e quimioterapia para tratamentode adenocarcinoma orofacial com linfonodo positivo em um cão

Association of surgery and chemotherapy for treatmentof orofacial adenocarcinoma with positive lymph node in a dog

Luciana Oliveira de Oliveira 1, Rosemari Teresinha de Oliveira 2,Kelly Christini Rocha da Silva Ferreira 3, Cristiano Gomes 4 & Juliana Aguiar 5

1Médica-Veterinária. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS. Serviço de Oncologia Veterinária. 2Médica-Veterinária.Professora de Patologia Veterinária. Faculdade de Medicina Veterinária UFRGS. 3Médica-Veterinária. Hospital de Clínicas

Veterinárias UFRGS. 4Médico-Veterinário. Mestrando Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária UFRGS.5Médica-Veterinária. Residente. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS.

[email protected]

ABSTRACT

A case of a canine presented with adenocarcinoma of apocrine glands at the mucocutaneous junction of inferior and superiorlips, with metastases at the regional lymph node, is reported. The patient was treat by excison of the nodule and regional lymph node,associated with intravenous chemotherapy with 5-fluorouracyl. The dog developed complete response to the therapy.

Key words: adenocarcinoma, facial, neoplasm, surgery, chemotherapy.

INTRODUÇÃO

Existem poucos dados a respeito de adenocarcinomas de glândulas apócrinas de cães. São tumores incomunsem cães e gatos, sem predisposição de raça ou sexo. Os locais mais afetados são cabeça, pescoço, região lombar e flanco[2]. Tumores oro-faciais variam bastante no seu potencial metastático, mas são todos muito invasivos localmente [1,2]. Oprognóstico é ruim, mas tem melhorado pois já se demonstrou que os cães toleram muito bem as cirurgias orofaciaisextensas. Como resultado, as ressecções cirúrgicas têm se tornado mais agressivas. A cirurgia, com margens de segurança,é o melhor tratamento para cães com câncer oral. A associação da cirurgia com radio ou quimioterapia é indicada no casodos tumores orofaciais com potencial metastático [1,3].

RELATO DO CASO

Foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul um canino, semraça definida, fêmea, com 9 anos de idade, pesando 8 kg, apresentando dois nódulos, na região cervical e no lábio, há 2meses, com crescimento rápido. Segundo o proprietário, o cão havia sido tratado anteriormente com antibiótico e antinflamatórionão esteróide por 14 dias, sendo que o tumor reduziu de volume, depois voltou a crescer. Foi suspensa toda a medicaçãoanterior. Ao exame clínico, o cão apresentava normotermia, mucosas rosadas, ausculta torácica e palpação abdominal semalterações. O cão apresentava uma massa neoplásica envolvendo a junção mucocutânea e o lábio superior e inferior direitomedindo 4 cm, além de aumento do linfonodo submandibular direito medindo 6 cm de diâmetro. A massa era dolorida àpalpação. Foi feita biopsia aspirativa por agulha fina (BAAF) das duas massas, sendo sugestivo de carcinoma. O hemogramase mostrou normal. Foi indicada excisão cirúrgica da massa e do linfonodo. O cão apresentou hemorragia pos-operatória,que foi resolvida por compressão local. Após a cirurgia, foi indicado cefalexina1 30 mg/kg por 10 dias, a cada 12 horas, emeloxicam2 0,1 mg/kg por 5 dias, a cada 24 horas, retorno e retirada dos pontos após 7 dias. Foi instituída quimioterapia com5-fluorouracil3 na dose de 150 mg/m2, via intravenosa, a cada 7 dias, fazendo um total de 5 doses. A primeira dose foi aplicadano dia da cirurgia, após a recuperação da anestesia. O nódulo coletado e o linfonodo foram fixados em formol a 10% eenviados para o Setor de Patologia Veterinária da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sulpara confirmação do diagnóstico. O resultado do exame histopatológico foi adenocarcinoma de glândulas apócrinas. Foi feitaretirada dos pontos 7 dias depois da cirurgia, com deiscência parcial. A ferida resultante foi tratada com limpeza diária comsolução salina. O cão retornou semanalmente para aplicação do quimioterápico. Na aplicação da terceira dose, o pacienteapresentou fezes amolecidas. Foi indicado tratamento com omeprazol e metoclopramida enquanto estivesse recebendo oquimioterápico. Na quinta aplicação do 5-fluorouracil, o proprietário relatou que o cão apresentou apetite fraco durante todaa semana e teve dois episódios de vômito. A dose do 5-fluorouracil foi reduzida para 100 mg/m2. Em retorno para revisãoapós a quinta aplicação, o cão apresentava-se novamente com apetite normal e bem disposto.

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Oliveira L.O., Oliveira R.T., Ferreira K.C.R.S., Gomes C. & Aguiar J. 2007. Associação de cirurgia e quimioterapia para tratamentode adenocarcinoma orofacial com linfonodo positivo em um cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1321-s1322.

s1322

www.ufrgs.br/favet/revista

Supl 4

DISCUSSÃO

A associação da cirurgia com a quimioterapia, neste caso, proporcionou a cura do tumor, sem prejuízo para opaciente. A cirurgia com excisão do nódulo, acrescido de margens de segurança e do linfonodo, não resultou em prejuízofuncional para o paciente e, segundo o proprietário, a aparência estética foi aceitável. A cirurgia para excisão do nódulo edos linfonodos envolvidos é o principal tratamento para estes tumores [2,3]. A quimioterapia pós-operatória deve ser consi-derada para pacientes com tumores potencialmente metastáticos [1].

A avaliação pré-cirúrgica incluiu citologia e hemograma. Optou-se por iniciar a quimioterapia logo após a cirurgiadevido ao grande tamanho do nódulo, à metástase no linfonodo, à invasividade e ao potencial metastático apresentado porestes tumores. O resultado do exame citológico, sendo sugestivo de carcinoma, foi importante para o planejamento cirúrgico,influenciando a decisão por uma excisão cirúrgica com margens amplas juntamente com a retirada no linfonodo correspon-dente. Após a cirurgia, o resultado foi confirmado pela biopsia. Neste caso não foi feito estudo radiográfico já que o proprie-tário optou por tratar mesmo sem saber da existência de metástases distantes. O estadiamento pré-operatório do tumor incluia mensuração do tumor, palpação do linfonodo submandibular, BAAF ou biopsia do linfonodo, radiografias torácicas e daface. A radiografia do local ajuda a determinar a extensão do tumor. As radiografias torácicas são importantes para odiagnóstico de metástases, já que a presença de metástases indica prognóstico muito ruim e, assim, cirurgias agressivasdevem ser evitadas [1].

Foi indicado para o proprietário retornar a cada três meses para reavaliação do paciente. Na primeira revisãoapós o tratamento, o cão retornou em bom estado geral, sem sinais de recidiva tumoral nem de metástases distantes. Fatoresde prognóstico para o câncer orofacial incluem o tipo histológico (relacionado ao potencial metastático) e o local do tumor(influenciando a possibilidade de ressecção cirúrgica adequada). A taxa de desenvolvimento de metástases distantes podeser reduzida com o uso de quimioterapia sistêmica, mas o efeito na sobrevida dos pacientes ainda precisa ser melhorestabelecido [3]. Para o controle pós-operatório, são indicados exames clínicos e radiográficos periódicos a cada três ouquatro meses, embora as metástases torácicas aparentemente não respondam bem à quimioterapia [1].

CONCLUSÃO

A associação de cirurgia para retirada do nódulo, com margens amplas, excisão do linfonodo regional correspon-dente, e quimioterapia à base de 5-fluorouracil para um cão com adenocarcinoma orofacial proporcionou a cura do tumor epermitiu a recuperação do paciente após o tratamento. A cirurgia não resultou em danos estéticos nem funcionais para opaciente. O cão apresentou poucos efeitos colaterais decorrentes da quimioterapia aplicada, que foram revertidos após aretirada da droga.

NOTAS INFORMATIVAS

1Ouro Fino. Ribeirão Preto. Brasil.2Cefalexina. Teuto Brasileiro. Anápolis. Brasil.3Fluoro-Uracil. ICN Farmacêutica Ltda. Campinas. Brasil.

REFERÊNCIAS

1 Berg J. 1998. Principles of orofacial surgery. Clinical Techniques in Small Animal Practice. 13: 38-41.2 Henderson R.A. & Brewer W.G. 1993. Skin and subcutis. In: Slatter D. (Ed). Textbook of Small Animal Surgery. 2.ed. Philadelphia: Saunders,

pp. 2075-2088.3 Klein M.K. 2003. Multimodality therapy for head and neck cancer. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. 33: 615-628.

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s1323

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1323-s1324, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Tratamento criocirurgico de pólipo auricularem cão após ressecção lateral do conduto auditivo

Cryosurgical treatment of aural polyps in dog after lateral resection of auditory conduit

Marcelo Seixo de Brito e Silva 1, Liliana Borges de Menezes 2,Neusa Margarida Paulo 3, Aline de Morais Faria 4 & Lívia Maria Lindoso Lima 4

1Doutorando em Ciência Animal na EV/UFG. 2Doutoranda em Ciência Animal na EV/UFG. Profa. de Patologia Geral no IPTSP/UFG.3Professora Doutora do Departamento de Medicina Veterinária na EV/UFG. 4Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da EV/UFG.

[email protected]

ABSTRACT

This work describes the surgical treatment of otology polyps in Rottweiler dog. This dog presents the following signals: Purulentsecretion in the aural canal, bad smell, aural eritema whit mass (polyps) closing almost all the auditory conduit. He has some months intreatment with topic and systemic antibiotics but don’t have satisfactory results, because this the surgery treatment with cryosurgery andlateral resection of the auditory conduit has indicated for polyps remotion. The surgical treatment presented excellent aesthetic andfunctional results.

Key words: aural, cryosurgery, zepp.

INTRODUÇÃO

A doença neoplásica do ouvido e incomum nos cães e gatos em comparação com a incidência de neoplasia emoutras regiões do tegumento. Aproximadamente 2 a 6 % dos cães e 1 a 2 % dos gatos que realizam cirurgia auricular temtumores no conduto auditivo [3].

A ressecção da parede lateral esta indicada quando há necessidade de exposição do canal para coleta de biopsiaou para a remoção de pólipos benignos. Nos quadro de otite crônica a cirurgia melhora a ventilação, permite a drenagemmelhorando as condições para o tratamento, mas freqüentemente não tem efeito curativo [3-5].

Durante o pós-operatório a otite é tratada conforme foi determinado pela avaliação previa. A prevenção daautomutilação deve considerar o enfeixamento ou o uso de colar elizabetano. É comum a deiscência parcial da linha desutura recomendando-se o tratamento pela cicatrização de segunda intenção [4].

A criocirurgia é um protocolo terapêutico de grande importância na Medicina Veterinária e as indicações são asmais diversas. Esse recurso terapêutico pode ser empregado também no tratamento de distúrbios não neoplásicos traumáticoscomo os dermóides congênitos, em casos de adenoma sebáceo, histiocitomas cutâneos, papilomas, adenoma, adenocarcinoma,carcinoma de basocelular e espinonocelular, epulis, fibroma, fibrosarcoma, hemanginoma, hemangisarcoma, histiocitomas,melanoma, sarcoma e tricoepitelioma [1,2,6,7]. No Brasil Lucas (1999) utilizou com sucesso em cães e gatos, diferentestécnicas crioterápicas em uma grande variedade de patologias dermatológicas, principalmente as neoplásicas, demons-trando a efetividade dessa modalidade terapêutica em Medicina Veterinária.

Atualmente, o protocolo é utilizado de maneira adequada devido suas características peculiares e suas seqüelaspouco desastrosas. Dentre as vantagens podem relacionar o tempo utilizado na criocirurgia, consideravelmente menor doque o empregado na exérese cirúrgica tradicional [7]. As cicatrizes por segunda intenção que ocorrem após a criocirurgiaoferecem um excelente resultado cosmético. O método pode ser empregado em áreas nas quais as suturas são contraindicadas. Em áreas com lesões extensas e com presença de pouco tecida circundante normal, tornando as suturas poucoexeqüíveis, a criocirurgia tem apresentado bons resultados. As áreas acometidas podem ser destruídas, sem danificar ostecidos adjacentes, quando se utiliza a técnica apropriada [1,2,6,7].

A cirurgia de ressecção da parede lateral esta contra indicada nos casos em que haja obstrução ou neoplasiasenvolvendo os canais vertical e horizontal, ou presença de otite média recidivante [3-5].

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi atendida no município de Goiânia uma cadela da raça Rottweiler, adulta que agitava a cabeça, com odorfétido na região auricular e perda de apetite. Já havia um histórico de tratamento de otite crônica no ouvido direito desteanimal. Ao exame clinico foi identificada uma massa ulcerada e com secreção purulenta na região da cartilagem auricularabaixo do tubérculo da anti-helix que obstruía quase todo o conduto auditivo caracterizando uma otite proliferativa nãopermitindo a avaliação por otoscopia do tímpano e do canal horizontal. No ouvido esquerdo não havia problema algum, oanimal foi então tratado por uma semana com cefalexina oral bid e medicação otológica tópica1 havendo discreta melhorado quadro infeccioso e sem remissão da massa.

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Silva M.S.B., Menezes L.B., Paulo N.M., Faria A.M. & Lima L.M.L. 2007. Tratamento criocirurgico de pólipo auricular em cãoapós ressecção lateral do conduto auditivo. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1323-s1324.

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Supl 4

Diante do quadro apresentado foi recomendado ao proprietário a cirurgia para avaliação da extensão e remoçãoda massa.

Os exames pré-operatórios não apresentaram alteração e animal pode ser encaminhado à cirurgia. Após tricotomiae assepsia da região auricular foi realizada a técnica de ressecção lateral do conduto vertical (Procedimento de Zepp) paraexposição da totalidade da massa e avaliação do conduto horizontal que se apresentava integro juntamente com o tímpano.Após avaliação da extensão da massa optou-se pela associação à cirurgia de Lacroair de técnica criocirurgica paradestruição seletiva do tecido e manutenção da cartilagem.

Um equipamento da marca Cry-Ac foi utilizado apara a aplicação de nitrogênio líquido por meio de um sistemaaberto de aplicação, foram utilizados dois ciclos de congelamento e descongelamento com no mínimo 1 minuto de conge-lamento de cada massa sempre mantendo uma margem de segurança de 3 mm.

Após o congelamento dos pólipos a porção lateral foi suturada ventralmente conforme a técnica descrita naliteratura [4] foi utilizado fios de nylon nº 2-0 e pontos separados simples.

Durante o pós-operatório foi utilizado cefalexina V.O. (b.i.d) por 15 dias, meloxicam V.O. (s.i.d) por 10 dias e tratamentotópico da ferida com solução otológica1. Após 7 dias o animal apresentou marcante necrose da massa congelada, o flaprebatido ventralmente para a ressecção do conduto estava com sinais claros de cicatrização o estado geral do animal erabom com retorno do apetite e sem sinais dolorosos.

Com 20 dias não havia mais sinal do pólipo e a cicatrização estava praticamente completa com toda a cartilagemmedial da porção vertical do conduto auditivo cicatrizada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A técnica de ressecção do conduto lateral do conduto auditivo permitiu a completa identificação na massa eavaliação do canal horizontal e da membrana timpânica [3-5], no presente caso só após a avaliação dessas estruturas é quefoi possível definir a técnica a ser utilizada para resolução do problema.

A opção pela criocirurgia permitiu a manutenção da porção medial do conduto auditivo vertical, e em comparaçãocom as técnicas de excisão normalmente utilizadas foi extremamente rápida e muito menos cruenta. A ausência de sinaisevidentes de dor no pós-operatório deveu-se à destruição das terminações nervosas pelo nitrogênio liquido e é citada comouma das vantagens da criocirurgia [1,2].

Uma das principais preocupações do proprietário era a parte estética da orelha, e o resultado foi extremamentesatisfatório e isso deve ser levado em consideração quando da indicação de um procedimento cirúrgico a um proprietáriorelutante.

CONCLUSÃO

Diante do quadro encontrado, a criocirurgia mostrou-se viável e de rápida execução, com um pós-operatóriosimples e com excelentes resultados funcionais e cosméticos quando associada à ressecção lateral do conduto auditivo.

NOTAS INFORMATIVAS

1Otomax. Schering-Plough Saúde Animal. Cotia, Brasil.

REFERÊNCIAS

1 Baust J. & Gage A.A. 2005. The molecular basis of cryosurgery, Cryobiology. 95:1187-1191.2 Dawber R., Colver G. & Jackson A. 1999 . Criocirurgia cutânea, princípios e prática clínica. 2nd edn. São Paulo: Manole, 135 p.3 Fan T.M. & de Lorimier L.P. 2004. Inflammatory polyps and aural neoplasia. Veterinary Clinics North America Small Animal Practice. 34(2):489-509.4 Fossum T.W. 2002. Cirurgia de pequenos animais. 1nd edn. São Paulo: Roca, pp.172-198.5 Holberg D.L. 1998. Criocirurgia. In: Slatter D. B. (Ed). Manual de cirurgia de pequenos animais. 2ed. São Paulo: Manole, cap 17, p. 237-2436 Krahwinkel D.J . 1998. Criocirurgia. In: Slatter D. B. (Ed). Manual de cirurgia de pequenos animais. 2ed. São Paulo: Manole, pp. 1850-1858.7 Lucas R. 1999. Crioterapia na clínica veterinária – avaliação da praticabilidade, exeqüibilidade e efetividade em dermatoses de caninos e

felinos. 111f. São Paulo, S.P. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidadede São Paulo.

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Adenocarcinoma mamário associado à melanoma em cadela

Mammary adenocarcinoma associated to melanoma in bitches

Luciano Schneider da Silva 1, Ingrid Bueno Atayde 2,Marcelo Seixo de Brito e Silva 3 & Luciano Marra Alves 4

1MSc, Professor Adjunto, Patologia Clínica Cirúrgica, SOES-GO. 2MSc., Professora Adjunta, Zoonoses e Saúde Pública,Méd. Veterinária – HVET/SOES-GO. 3MSc., Professor de Anatomia Animal – UFG, Médico Veterinário – HEVT/SOES-GO.

4MSc., Professor Adj. Clínica de Pequenos Animais –SOES/GO, Méd. Vet, Hospital Veterinário EV/[email protected]

ABSTRACT

Within neoplasias are those of the mammary glands the most common in bitches, from which adenocarcinoma stand at as oneof the most frequently found malignant mammary tumors. On the other hand, melanoma are usually found in skin around eyes and mouth.They are aggressive, but no commonly reported in mammary glands of bitches. This study reports the case of a 12-year-old Poodle,overweight, from the routine of the Veterinary Hospital from SOES-GO in October/2004, presenting with a tumoral process in the first threemammary glands on the right side of the abdomen. The tumoral mass measured about 18 cm longhand 9 cm of diameter. Hemogram, bloodalkaline phosfatase, urinalysis, thoracic and abdominal X-ray were done. No apparent calcified metastases were found in the X-rays. Amastectomy was carried-out on the affected glands along with removal of regional limphnodes. A fragment of the tumor was colleted andsent to histopathology’s analysis at the Veterinary Pathology Lab of EV/UFG, which indicated the presence of adenocarcinoma and melanoma.Daily dressings were recommended, and the animal recovered well after surgery having the stitches removed after 12 days, and did notpresent metastasis in the following evaluations once every six months, and even after 24 months. On this case mastectomy was animportant therapeutic decision, even though there was a risk of metastasis and the advanced age of the animal, for it collaborated to a betterlife quality and changed the expected progression of the tumor.

Key words: Adenocarcinoma, melanoma, mastectomy.

INTRODUÇÃO

As neoplasias mamárias são muito freqüentes em cadelas, principalmente entre 10 e 11 anos de idade [10]. Ashipóteses mais citadas sobre a etiologia dos tumores mamários referem-se à obesidade e a atividade hormonal [4,9]. Autoresrelatam que a obesidade já no primeiro ano de vida pode predispor as fêmeas às neoplasias. A alimentação caseira,principalmente no que se refere à alta ingestão de carnes bovinas e suínas apresentam correlação positiva com o desenvol-vimento tumoral em cadelas [6]. Fêmeas caninas não esterilizadas cirurgicamente apresentam riscos maiores de tumoresmamários do que fêmeas já submetidas a ovariohisterectomia [9].

A raça Poodle é citada dentre as raças com maior incidência [10]. Em pesquisa realizada com 136 cadelas comtumores de mama, foram observadas 104 fêmeas tinham tumores mamários malignos e 66 destes animais tinham adenocarcinoma[1]. Existem relatos de casos onde cadelas apresentavam além de adenocarcinomas mamários outras neoplasias (melanomas,sarcomas e linfosarcomas) em diversas regiões do corpo [5]. Os adenocarcinomas são tumores malignos derivados detecido epitelial com envolvimento de epitélio glandular, geralmente invasivos e de crescimento rápido [7]. Já os melanomassão tumores de melanócitos e melanoblastos, de multiplicação autônoma e desordenada, encontrados freqüentemente napele, boca e olhos [3]. Há relatos de que geralmente quando localizados nos dígitos e na cavidade oral, são extremamentemalignos [2]. O melanoma é um dos 10 tumores de pele e de tecido subcutâneo mais diagnosticado em cães [8]. Para asneoplasias mamárias em fêmeas da espécie canina, a mastectomia constitui a terapia de escolha, com exceção das metástasesà distância. O câncer mamário quando mestastático geralmente é mais encontrado nos pulmões, sendo a radiografia detórax um teste importante de triagem antes da mastectomia. A remoção dos linfonodos regionais próximo as mamas afetadaspode reduzir o risco de recorrência tumoral [10]. O prognóstico para cadelas com tumores malignos varia muito, dependendodo tamanho, tipo e estágio tumoral. Cadelas com tumores com mais de 3cm apresentam prognóstico ruim pois 80%manifestam recorrência tumoral em 2 anos [11].

RELATO DE CASO

Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Objetivo – SOES-GO, uma cadela da raça Poodle, de pelagembranca, pesando 16 kg, com 11 anos de idade. Ao exame clínico o animal apresentava discreta taquicardia, incômododoloroso durante a locomoção, significativa massa tumoral que abrangia duas mamas inguinais e uma abdominal, do ladodireito. A consistência da massa tumoral era firme, medindo aproximadamente 18cm (comprimento) por 9 cm (diâmetro),com ulcerações superficiais que secretavam um líquido sanguinolento. Na palpação a massa tumoral apresentava motilidadee sem aparente ramificação, quente a palpação da região peritumoral e com sensibilidade dolorosa. De acordo com oproprietário do animal o aparecimento e desenvolvimento tumoral se deu em 4 meses. Foi ainda relatado que a paciente se

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1325-s1326, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Silva L.S., Atayde I.B., Silva M.S.B. & Alves L.M. 2007. Adenocarcinoma mamário associado à melanoma em cadela.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1325-s1326.

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alimentava constantemente das sobras das refeições, ingerindo preferencialmente carne. Foram coletados materiais parahemograma, dosagem de fosfatase alcalina, EAS e indicado Raio X de tórax e abdome.

O hemograma revelou discreta leucocitose com neutrofilia relativa e absoluta. A urinálise e dosagem de fosfatasealcalina apresentaram níveis normais. Os exames radiológicos não revelaram presença de massas tumorais metastáticas.Após conversar com o proprietário do animal, no intuito de melhorar a qualidade de vida do paciente, foi então decididorealizar a mastectomia das glândulas afetadas com ampla incisão cirúrgica e a retirada dos linfonodos regionais. Foi indicaro tratamento pré cirúrgico com enrofloxacina a 2,5% durante 5 dias e higienizações diárias das ulcerações com soluçãofisiológica iodada a 5%.

Após este período o paciente retornou, foi submetido a anestesia inalatória e realizada a mastectomia regionalcom remoção de linfonodos perimamários, seguindo as largas margens de segurança indicadas por Withron & Macewen(1996). Foram usados pontos de aproximação com fio 2-0 de poligalactina para redução do espaço morto e aproximaçãodas bordas da ferida. Pontos separados simples foram dados com fio 2-0 nailon, para coabitação da ferida cirúrgica. Curativoscompressivos foram indicados com intuito de diminuir a possibilidade de seroma, sendo trocados diariamente. No póscirúrgico foi dado continuidade a antibióticoterapia com Enrofloxacina a 2,5% e foi usada o Meloxicam como analgésico. Apósa cirurgia foi coletado em formol tamponado a 10% fragmentos (3cm3) das massa tumoral mamária, sendo o material proces-sado e incluído em parafina, laminado a cinco micrometros, corado através da coloração de hematoxilina e eosina (HE) eencaminhado para exame histopatológico.

O laudo histopatologico revelou que a técnica cirúrgica realizada apresentou uma margem de segurança satisfatóriae que o tumor mamário era misto composto por adenocarcinoma tubular complexo associado a melanoma, infiltrados inflama-tórios e focos de necrose. Após a retirada dos pontos com 12 dias, o paciente seguiu uma dieta alimentar indicada paraperda de peso e foi avaliado a cada 6 meses com exames hematológicos e radiológicos.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Relatos de adenocarcinomas mamários descritos por De Nardi et al. (2002), O’Brie et al. (2001) e Jones et al.(2000) descrevem que esses tumores são freqüentes em cadelas. Mas não foram encontrados relatos na literatura científicada ocorrência de melanoma em glândula mamária e nem relatos deste tumor associado à adenocarcinomas. Pudemosobservar que o animal se enquadrava nos fatores predisponentes das neoplasias mamárias conforme os relatos de Withrow& Macewen (1996), Morrison (1998), Zuccari et al. (2001) e Perez et al. (1998). Após 24 meses os exames do paciente nãoapresentavam sinais de metástase ou aparecimento de nova massa tumoral, o que confronta os relatos de Yamagami (1996)sobre a recorrência de tumores com diâmetros acima de 3 cm. Portanto foi possível observar que adenocarcinoma emelanoma podem acometer glândulas mamárias de fêmeas caninas da raça Poodle e que mesmo em pacientes idosos épossível a indicação da mastectomia. Neste caso, mesmo havendo o risco de doença metástatica, foi importante a decisãoterapêutica tomada para melhorar a qualidade de vida do paciente e modificar a progressão da doença.

REFERÊNCIAS

1 De Nardi A.B., Rodaski S., Sousa R.S., Costa T.A., Macedo T.R., Rodigheri S.M., Rios A. & Piekarz C.H. 2002. Prevalência de neoplasiase modalidades de tratamentos em cães, atendidos no Hospital Veterinário da UFP, Archives of Veterinary Science. 7: 15-26.

2 Hataka A. 2004. Citologia aspirativa com agulha fina e histopatologia: valor e significado para o diagnóstico e prognóstico do câncer de mamaem cadelas. 2004. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista,Botucatu. f. 90.

3 Jones T.C., Hunt R.D. & King N.W. 2000. Patologia Veterinária. 6 ed. Manole, São Paulo, p. 1200-1240.4 Morrison W.B. 1998. Cancer in dogs and cats: Medical and Surgical Management. Baltimore: Williams &Wilkins, p. 592-598.5 O’Brien D.J., Kaneene J.B., Getis A., Lloyd J.W., Swandson G.M. & Leader R.W. 2000. Spatial and temporal comparison of selected

cancer in dogs and humans, Michigan, USA, 1964-1994. Preventive Veterinary Medicine, Amsterdam, v. 47, n3, p. 187-204.6 Perez A.D., Rutteman G.R., Pena L., Beynem A.C. & Cuesta P. 1998. Ralation between habitual diet and canine mamary tumors in a case-

control study. Journal of Veterinary Internal Medicine, Lakewood, v. 12, n. 3, p. 132-139.7 Thonson R.G. 1990. Patologia Veterinária Especial. 1 ed. São Paulo. Manole, P. 750-760.8 Vail D.M. & Withrow S.J. 1996. Tumores of the skin and subcutaneous tissue. In:Withrow, S. J.; Macewen, E. G. Small Animal Clinical Oncology.

Philadelphia: W. B. Saunders, p. 167-191.9 Zucarri D.A.P.C., Santana A.E. & Rocha N.S. 2001. Fisiopatologia das neoplasias mamárias em cadelas – revisão. Clínica Veterinária, São

Paulo, n 32, p. 50-54, mai./jun.10 Withrow S.J. & Macewen E.G. 1996. Small Animal Clinical Oncology. 2 ed. Philadelphia: W. B. Saunders, p. 4-16.11 Yamagami T. 1996. Influence of ovarectomy at time of mastectomy on the prognosis for malignant mammary tumours, Journal Small Animal

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ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Adenocarcinoma primário de íris em cão

Primary adenocarcinoma in iris in dog

Patrícia Arrais 1 & Paulo César Rodrigues Tabanez 2

1Clínica Veterinária PRONTOVET, médica veterinária, MS.2Clínica Veterinária PRONTOVET, médico veterinário, MS.

patrí[email protected]

ABSTRACT

Primary iris adenocarcinoma is an uncommon tumor in dogs. The diagnosis is usually done through detection of the tumor in justone eye without signs of another neoplasm. A four years old male Doberman was admitted in Prontovet hospital presenting a mass in theleft iris associated with anterior uveitis, blepharospasms and epiphora with purulent ocular secretion. No clinical or laboratorial alterationswere detected and aspirative citology presumed malignancy. Ocular globe was enucleated and histopatology revealed primary adenocar-cinoma in iris.

Key words: adenocarcinoma, iris, dog.

INTRODUÇÃO

As neoplasias do globo ocular podem comprometer tanto a visão quanto a vida do paciente, pois podem serbenignas e de desenvolvimento lento ou malignas. Desta forma, o diagnóstico precoce pode não só permitir a funcionalidadedo órgão como também a sobrevida. Neoplasias intra-oculares são relativamente incomuns em cães. Os tumores do segmentoanterior de cães são quase sempre divididos entre primários (52%) ou secundários, ou seja, metastáticos para o olho (42%).A úvea anterior parece ser a porção ocular mais acometida por tumores metastáticos em função da sua estrutura vascular [2].O melanoma é a neoplasia mais freqüente da úvea anterior, e corresponde a mais de 50% dos casos. Os tumores de corpociliar têm sido relatados mais frequentemente em cães maiores de oito anos de idade embora sem predisposição por sexo.Os adenocarcinomas primários de íris são bem menos relatados que suas metástases à distância [4]. Não se sabe ao certose existe alguma predisposição racial, mas, no entanto, o pastor alemão e o cocker spaniel americano são as raças maisreportadas [3]. O aspirado por agulha fina e a histopatologia concluem o diagnóstico. O aspirado por agulha fina de massasintra-oculares tem sido um procedimento pouco relatado em oftalmologia veterinária, pois se atribui ao procedimento maiorrisco de sangramento em relação a seres humanos, em função da maior vascularização da íris canina [1].

RELATO DO CASO

Um cão, Dobermann marrom de quatro anos de idade, não castrado, nascido em Brasília-DF, foi atendido àclínica, na mesma região, apresentando um quadro de hiperemia conjuntival, epífora, blefaroespasmo, secreção ocularpurulenta e prurido no olho esquerdo que se desenvolvia há 30 dias. A biomicroscopia ocular com lâmpada de fenda revelouum nódulo de íris medindo cerca de 1 cm de diâmetro entre nove e uma hora, ocupando todo o meridiano superior da íris,expandindo-se para a câmara anterior e através da pupila. Além disso, havia intensa congestão escleral e pressão intra-ocular diminuída (10 mmHg, aferida com tonopen). Não havia outras alterações sistêmicas e os exames complementaresestavam todos normais. Realizamos uma punção aspirativa por agulha fina da massa que revelou proliferação de célulasdispostas em agrupamentos tridimensionais, por vezes, apresentando projeções papilares, exibindo cariomegalia ehipercromasia nuclear discretas.

O citoplasma mostrava-se ora escasso ora abundante e denso e, configurando aspecto maligno. Foram realizadasradiografia torácica e ultra-sonografia abdominal, as quais não revelaram lesões primárias ou metastáticas. O animal foiencaminhado então à iridectomia para ressecção do nódulo, mas em função da invasão da massa para esclera e segmentoposterior, optou-se pela enucleação. Todo material foi encaminhado para análise histopatológica revelando um adenocarcinomaprimário de íris. Não houve complicações trans ou pós-operatórias. Nenhum tratamento quimio ou radioterápico foi instituídoe o paciente está sendo acompanhado há um ano sem sinais de alteração no olho direito ou de doenças neoplásicas sis-têmicas.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os tumores da úvea anterior são pouco comuns em cães e podem ser primários ou secundários. Os adenocarcinomascorrespondem a menos de 25% deste total e normalmente são metastáticos. O diagnóstico de neoplasia intraocular primáriaem relação àquelas metastáticas para o olho, é parcialmente pela exclusão de um sítio primário. Os exames físicos e laboratoriaisnormais, o diagnóstico por imagem negativo para neoplasia primária, juntamente com a presença de uma massa intra-

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Arrais P. & Tabanez P.C.R. 2007. Adenocarcinoma primário de íris em cão.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1327-s1328.

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ocular unilateral, normalmente permite estabelecer o diagnóstico de neoplasia ocular primária [5]. A escolha do tratamentodas neoplasias de íris depende do grau de malignidade do tumor, sua localização e tamanho da massa, porém é semprecirúrgico. As técnicas podem variar entre a exérese do nódulo, a enucleação do globo ocular e a exenteração da órbita. Amaior indicação de excisão cirúrgica de massas de íris deve ser para aqueles tumores pequenos, localizados na margempupilar da íris e em pacientes nos quais o olho contra lateral já tenha sido perdido por outras causas [3]. A despeito do querefere a literatura em relação a maior risco de hemorragia intra-ocular secundaria a agulha fina, acreditamos que neste casonão haveria tal risco em função da posição da massa e do fato de a mesma ser grande e estar bem próxima à córnea,tornando-a mais firme. A terapia de escolha nos casos de adenocarcinoma de íris tem sido a enucleação ou exenteração,embora o tratamento com 5-fluoruracil tenha sido descrito após a cirurgia de exérese de tumor e os resultados parecempromissores [3]. O potencial curativo da enucleação e a chance de desenvolvimento de metástases pós-cirúrgicas têm sidoestudados e permanece controverso. Desta forma, o paciente deve ser acompanhado por longo tempo para avaliação dorisco de desenvolver metástases à distância.

REFERÊNCIAS

1 Augsburger J.J., Shields J.A., Folberg R., Lang W., O’Hara B.J. & Clarissi J.D. 1985. Fine needle aspiration biopsy in the diagnosis ofintraocular cancer. Ophthalmology. 92(1): 39-49.

2 Collins B.K. & Moore C.P. 1991. Canine anterior uvea. In: Gelatt K.N. (Ed). Veterinary ophthalmology. 1.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, pp.357-395.

3 Collins B.K. & Moore C.P. 1991. Canine anterior uvea. In: Gelatt K.N. (Ed). Veterinary ophthalmology. 1.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, pp.785-788.

4 Glickstein J.M. & Allen H.L. 1974. Malignant ciliary body adenocarcinoma in a dog. Journal of American Veterinary Medical Association.165(5): 455-456.

5 Krohne S.G. 1998. Ocular tumors of the dog and cat. In: Morrison W.B. (Ed). Cancer in dogs and cats medical and surgical management. 2.ed.USA: Williams & Williams, pp. 741-746.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1329-s1331, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Osteossarcoma extra esqueléticono tecido subcutâneo facial em cão

Extraskeletal osteosarcoma in the facial subcutaneous tissue in dog

Magyda Arabia Araji Dahroug 1, Silvio Henrique de Freitas 2, Cristiane Macedo Carmona 1,Manuela Arruda e Silva 1 & Claudia Gorgulho Nogueira Fernandes 2

1Residente de clínica cirúrgica do HOVET-UNIC. 2Professor do departamento de Cirurgia da faculdade de Medicina Veterinária – UNIC.3Professor do departamento de Clínica médica da faculdade de Medicina Veterinária – UNIC.

ABSTRACT

Extraskeletal osteosarcoma is a rare malignant neoplasm in dogs. The diagnosis is based on histopathology and on the exclusionof primary osseous neoplastic foci through appropriate exams. A five-year-old female, mixed bred was presented to the surgical service ofthe Veterinary Hospital from Universidad of Cuiaba with a hard subcutaneous mass on the left lateral facial region. Diagnosis was reachedthrough histological analysis after the realization of nodulectomy.

Key words: osteosarcoma, estraskeletal, oncology, soft tissues, neoplasia.

INTRODUÇÃO

Neoplasias malignas, identificadas como osteossarcomas, já foram identificadas na maioria das espécies, sendomais freqüentes em cães, especialmente nas raças gigantes. Esses tumores originam-se mais freqüentemente na metáfisedos ossos longos, onde é maior a taxa de substituição do tecido ósseo, contudo, os osteossarcomas podem ocorrer emqualquer local, inclusive nos sesamóides [6].

Osteossarcoma extra-esquelético (OSEE) é uma neoplasia mesenquimal maligna rara de partes moles que nãotem conexão com a estrutura esquelética e nos cães, mais frequentemente, tem origem em órgãos viscerais [2,5,6]. Geralmenteacomete cães idosos, sem predisposição sexual, sendo as raças rottweiller e beagle as mais afetadas [7].

Os osteossarcomas extra-esqueléticos do tipo justacorticais, são tumores que têm origem na superfície do osso,e não envolvem a cavidade medular. Esses tumores se compõe tipicamente de tecido fibro-ósseo bem diferenciado, masmaligno. Não apresentam tendência para metástase, mas há recorrência local em seguida a uma remoção cirúrgica incom-pleta [6].

Essa neoplasia é caracterizada pela produção de osteóide ou osso, algumas vezes acompanhada por cartilagem.A etiologia do OSEE em cães é desconhecida, embora trauma tenha sido relatado na formação de osteossarcoma ocular emgatos [1]. Osteossarcomas extra-ósseos não têm causa definida, embora alguns registros sugiram a participação de célulaspluripotenciais indiferenciadas na etipatogênese dessa alteração [10].

O diagnóstico de osteossarcoma depende da identificação da produção de osteóide e de osso reticulado porcélulas estromais inequivocamente anaplásicas. Diversas variantes morfológicas do tumor possuem características histológicasdiferentes, embora a maioria demonstre um comportamento clínico semelhante [6].

Os tumores malignos que surgem no tecido conjuntivo mesenquimatoso compartilham muitas características,independente do fato de sua origem ser em tecidos fibroso, vascular ou adiposo. Neste aspecto, eles requerem margens deexcisão cirúrgica bastante largas. Nesses pacientes, podem-se aumentar significamente os tempos de sobrevida pelo usode doxorrubicina e/ou cisplatina [4].

RELATO DE CASO

Um canino SRD fêmea, com cinco anos de idade, foi atendido no setor de clínica cirúrgica do Hospital Veterinárioda Universidade de Cuiabá (UNIC), apresentando assimetria facial, devido a uma massa tumoral do lado esquerdo, medindocerca de 15 centímetros de diâmetro, com evolução de quatro meses. A massa tinha consistência firme, aderida, alopécica,normotérmica, sem úlceras, eritemas ou sensibilidade. O proprietário relatou que ao tratar uma vez com antinflamatórios, porconta própria, o nódulo apresentou discreta diminuição de volume, apresentando recidiva quando suspenso o tratamento.A par disto, demonstrava bom estado físico geral.

Foi realizado exame radiológico do crânio que revelou aumento de volume de tecidos moles com alguns pontosde calcificação medindo cerca de 0,3cm de diâmetro, sem comprometimento ósseo, na face esquerda do crânio. Na radiografia

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Dahroug M.A.A., Freitas S.H., Carmona C.M., Silva M.A. & Fernandes C.G.N. 2007. Osteossarcoma extra esquelético no tecidosubcutâneo facial em cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1329-s1331.

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de tórax, havia ausência de metástase pulmonar. Ao hemograma e bioquímica sérica para dosagem de alanina amino-transferase (ALT) e creatinina, não foram observadas alterações dignas de nota.

O animal foi submetido à nodulectomia. Ao final da cirurgia, colocou-se um dreno na região da exérese com afinalidade de drenar edemas conseqüentes da manipulação cirúrgica.

A massa tumoral foi enviada ao Laboratório de Patologia do HV-UNIC para análise histopatológica, o qualrevelou o osteossarcoma justacortical.

Durante o pós-operatório foram realizadas limpezas com solução de cloreto de sódio 0,9% através do dreno,pomada cicatrizante na região suturada, antinflamatórios e antibióticos via oral. Os pontos cirúrgicos foram retirados apósdez dias da intervenção cirúrgica.

Atualmente, o animal encontra-se em excelente estado de saúde, apresentando ferida cirúrgica completamentecicatrizada e sem recidivas.

DISCUSSÃO

Osteossarcomas cutâneos e subcutâneos sem envolvimento ósseo primário são considerados raros [10]. Osteos-sarcomas extra-esqueléticos são tumores incomuns que mais freqüentemente têm origem nos cães, em órgão visceral [6]. Opaciente deste caso clínico era um cão e a localização da massa tumoral era na região facial esquerda.

Em geral essa enfermidade ocorre com maior freqüência em cães de raças grandes ou gigantes, com idademédia de sete anos e meio e em região metafisária dos ossos [3]. Não há predileção racial ou sexual claramente definida [7].O paciente pertence a uma raça de porte grande, com idade de cinco anos e não apresentava alteração óssea.

Os locais de maior incidência deste tipo de tumoração (extra-esquelético) no cão, em um estudo de 169 casosforam às glândulas mamárias, sistema digestório, tecido subcutâneo, fígado e baço, havendo ainda relatos em glândulassalivares e tireóide, pulmão, rim, bexiga, olhos e mesentério [7,11]. Metástases são comuns, mas os pulmões estão menosenvolvidos que nos osteossarcomas esqueléticos [8]. O paciente do relato apresentava tumoração no tecido subcutâneo daface. No exame radiológico de tórax, o paciente não encontrava nenhuma alteração pulmonar sugestiva de metástase.

Na variedade mais comum, o achado clínico do osteossarcoma é a presença de osteoblastos fusiformes que, nosestudos histológicos, são visualizados como células triangulares ou fusiformes curtas com núcleos ovóides e distendidos,habitualmente bastante compactadas [6]. No exame histopatológico do paciente do relato, observou-se massa neoplásicaconstituída por tecido fibro-ósseo bem diferenciado, contudo demonstrando características de células de malignidade, o quêpermitiu concluir o diagnóstico de osteossarcoma justacortical.

O prognóstico para o OSEE em cão é pobre, tendo um prognóstico médio de sobrevida em torno de dois meses[1], sendo portanto desfavorável, resultante do comportamento biológico, extremamente agressivo dessa neoplasia [10]. Noentanto o paciente deste relato apresenta boa condição clínica, com ausência de recidivas e metástases, após três mesesda exérese cirúrgica do tumor.

No momento da intervenção cirúrgica, é recomendado obter margem de segurança ao realizar a exérese dotumor [4]. Neste caso, por se tratar de um osteossaroma extra-equelético na região facial, como também o tamanho do nóduloque ocupava a região da face, isso não foi possível.

Existe portanto, a possibilidade de tratamento quimioterápico para possibilitar uma sobrevida maior ao animal.Neste paciente, a quimioterapia ainda não foi realizada por motivos econômicos do proprietário. Dentre os protocolosquimioterápicos recomendados temos: Cisplatina e doxorrubicina; carboplatina; carboplatina e doxorrubicina; loboplatina [9].

CONCLUSÃO

Considerando o estudo bibliográfico, concluiu-se que osteossarcoma em tecido subcutâneo extra-esquelético éuma enfermidade rara no cão.

Neste caso clínico, a boa avaliação clínica e o auxílio de exames complementares de diagnóstico, tais como oradiológico e o histopatológico, nos ajudou a tratar o animal, embora a massa esteja localizada numa região de acessocirúrgico complicado, sem portanto, obter margens de segurança devido a grande extensão do tumor.

É sabido também que a procura precoce por tratamento aumenta a expectativa de sobrevida do paciente comeste tipo de tumoração, além da associação da cirurgia com a quimioterapia, quando houver possibilidade e indicação.

REFERÊNCIAS

1 Araújo A.C.P., Gaiga L.H., Seitz A.L., Dreimeier D. 2006. Osteossarcoma extra-esquelético primário testicular em cão criptorquida. ActaScientiae Veterinariae. 34(2): 197-200.

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Dahroug M.A.A., Freitas S.H., Carmona C.M., Silva M.A. & Fernandes C.G.N. 2007. Osteossarcoma extra esquelético no tecidosubcutâneo facial em cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1329-s1331.

s1331

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Associação Médica do Brasil. 44: 43-46.9 Rodaski S. De Nardi, A. B. 2006. Quimioterapia Antineoplásica em cães e gatos. Curitiba: Bio Editora, pp.201-207.10 Silveira L.M.G., Cunha F.M., Biasi C., Silva P.T.D., Kolber M., Ferrigno C.R.A . 2006. Osteossarcoma estra-esquelético no tecido subcutâneo

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1333-s1334, 2007.

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Disgerminoma unilateral em cadela

Unilateral dysgerminoma in female dog

Ana Cláudia Conte Dune 1 & Gervásio Henrique Bechara 2

1Aluna da Pós-graduação em Patologia Animal do Programa de Medicina Veterinária da FCAVJ/UNESP.2Prof. Dr. do Departamento de Patologia Animal da FCAVJ/UNESP.

ABSTRACT

This work reports the case of a nine-year-old Rottweiller female dog that presented prolonged oestrus, vomiting and progressiveemaciation. An enlarged mass of firm consistency in the hypogastric area was noticed through abdominal palpation. Ultrasonographicexamination showed a structure of irregular and heterogeneous contours, with solid portions and cavities with anechoic content. Radio-graphic examination of the thorax showed no metastasis. After exploratory lapatoromy has taking ovariosalpingohysterectomy fragmentsof the mass were sent for histopathological analysis. Cells large polyhedral in nests or cords divided into compartments by thin stranous ofconnective tissue with large centrally placed nuclei and mitotic figures. Was diagnosed rare ovarian tumor, dysgerminoma.

Key words: ovary, tumor, female dog.

INTRODUÇÃO

O disgerminoma é uma neoplasia ovariana maligna. Morfologicamente assemelha-se ao seminoma testicular,porém este tumor de ovário é muito raro em animais. Em humanos representa apenas 2% das neoplasias deste órgão [1,2].

A ocorrência do disgerminoma é mais freqüente em pacientes com disgenesias gonadais, incluindo o pseudo-hermafroditismo. Normalmente metade dos casos apresentam sintomas clínicos endócrinos e em alguns casos, causaelevação da gonadotrofina coriônica (HCG) [3,4].

A histogênese deste tumor não é bem definida, há evidências de se tratar de um seminoma de células germinativasmasculinas em um ovário bissexual [2-4].

Clinicamente as cadelas podem apresentar cios irregulares, febre, piometra, descarga vaginal, vômito e diarréia [1].

Macroscopicamente este tumor apresenta as seguintes características: massa macia, ovóide, de 6 a 15 cm dediâmetro maior, de coloração acinzentada a marrom amarelado [1,2].

Histologicamente o disgerminoma é composto por células poliédricas dispostas em lençóis ou cordões entremeadaspor delicados septos de tecido conjuntivo. Os núcleos das céluas neoplásicas são grandes e centrais com nucléolos proe-minentes. As figuras de mitose, áreas de necrose e hemorrágicas são comuns [2].

No estroma, que é escasso, se identifica uma intensa resposta inflamatória linfoplasmocitária. Também pode serabundante, fibroso e apresentar granulomas epitelióides. Em pequena porcentagem, apresenta marcado pleomorfismocelular, com abundantes mitoses e menor resposta inflamatória no estroma. Estas formas se associam a um pior prognóstico;aproximadamente 3% apresentam células sinciciais, com secreção de HCG [3,4].

RELATO DE CASO

Trata-se de um caso de uma cadela com 9 anos de idade, da raça Rottweiller, que apresentava cios irregularesa cada 3 semanas em média (estro prolongado); tem histórico reprodutivo de 5 partos eutócicos. O proprietário tambémrelatou vários episódios de vômitos e emagrecimento progressivo.

No exame clínico constatou-se a presença de uma massa palpável abdominalmente em região hipogástrica. Foirealizado um hemograma completo e verificou-se leucocitose por neutrofilia sem desvio à esquerda.

O exame ultra-sonográfico abdominal mostrou uma estrutura de contornos irregulares, heterogênea com conteúdoanecogênico.

No exame radiográfico do tórax não foram encontradas metástases.

O animal foi encaminhado para a realização de uma laparotomia exploratória que evidenciou a presença de umamassa ovóide com 10 cm de diâmetro maior no ovário esquerdo. Optou-se por realizar a ovariossalpingoisterectomia (OSH).

Os fragmentos desta massa foram enviados para exame histopatológico. Este revelou a presença de célulasgrandes poliédricas em lençóis ou cordões, separadas por finos septos de tecido conjuntivo com núcleos grandes ecentralizados, cromatina frouxa, nucléolos proeminentes. As figuras de mitose, áreas de necrose e pleomorfismo moderadotambém estão presentes.

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Dune A.C.C. & Bechara G.H. 2007. Disgerminoma unilateral em cadela.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1333-s1334.

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DISCUSSÃO

Apesar de não ter constatado, nesta cadela, disgenesia gonadal ou pseudohermafroditismo [3,4], a massa retiradana OSH apresentava características histopatológicas compatíveis com um caso de disgerminoma [2].

A cadela apresentou sintomas clínicos endócrinos (estro prolongado) decorrentes da elevação da HCG provocadapelo tumor [3,4]. Assim como outros sinais inespecíficos desencadeados por esta neoplasia [1].

O exame macroscópico da massa durante a laparotomia exploratória mostrou semelhanças com o descrito naliteratura [2].

CONCLUSÃO

Considerando os aspectos clínicos, a macroscopia e a microscopia da massa retirada na OSH conclui-se tratarde um caso raro de disgerminoma.

REFERÊNCIAS

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s1335

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1335-s1337, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Mastocitoma faríngeo em um cão

Pharynx mastocytoma in a dog

Fabiano Zanini Salbego 2, Alceu Gaspar Raiser 1, Alexandre Mazzanti 1, Charles Pelizzari 2,Rafael Festugatto 2, Diego Vilibaldo Beckmann 2, Soraia Figueiredo de Souza 2, Fabíola Dalmolin,Marina Mori da Cunha 2, Rosmarini Passos dos Santos 3, Lourenço Sausen 3 & Desidere Pereira 3

1Professor – DCPA – UFSM. 2Pós-Graduando – PPGMV – UFSM. 3Graduando Medicina Veterinária – UFSM.

ABSTRACT

Mastocytomas are neoplasm proliferations of the mastocyte, presents in the skin or in the mucous membranes. These tumorsrepresent about 7 to 20% of thecutaneous neoplasms in dogs, that could happen in any age, being more common in adult animals. Masto-cytomas occurrence is related in several parts of the body of dogs, evolving the skin or the mucous membranes, however mastocytomasoccurrence in the pharynx area of the dog, it is not commonly observed. The definitive diagnosis is accomplished by the histophatologicexam and the histologic classification of the tumor it is used to guide the therapy and the prognostic. Although there are several associatedconducts for the neoplasm treatment, the surgical treatment is the election technique to treat these tumors. This report aimed at describinga case of degree III mastocytoma, located in the pharynx area of a dog and the results obtained in front the diagnostic and therapeuticapproaches to the case.

Key words: mastocytoma, dog, neoplasm, pharynx.

INTRODUÇÃO

A principal função dos mastócitos é produzir e armazenar potentes mediadores químicos do processo inflamatório[3]. Estas células possuem importância comprovada nas doenças de hipersenssibilidade. Os mastocitomas são proliferaçõesde carcterísticas neoplásicas dos mastócitos presentes na pele ou nas mucosas [4] e representam de 7 a 20 % das neoplasiascutâneas do cão [1]. Estes tumores podem ocorrer em qualquer idade, porém são mais comumente encontrados aos 8 anos,sem predisposição para um dos sexos [2].

Estes tumores podem desenvolver-se em quase qualquer localização, porém são encontrados mais comumentena pele e tecido subcutâneo [2], sendo que, a maioria dos mastocitomas são observados como massas solitárias na pele dotronco e da região perineal (50%), seguidos das extremidades (40%) e da região da cabeça e pescoço (10%) [1].

Segundo a literatura [5], 6% de todos os tipos de tumores são mastocitomas, enquanto que aproximadamente50% dos mastocitomas no cão são malignos [1], mas como a diferenciação histológica entre os tipos maligno e benignofreqüentemente é difícil, deve-se, considerar todos os mastocitomas como sendo potencialmente malignos.

Os locais mais comuns de ocorrência de metástases no cão são o baço, fígado e os linfonodos regionais, podendoocorrer envolvimento da medula óssea, sendo incomum as metástases pulmonares [1]. Alguns mastocitomas permanecemcontidos estritamente na pele, porém outros se apresentam infiltrativos, atingindo grandes profundidades, podendo atingiros lifonodos regionais [4].

Os sinais clínicos são dependentes do tamanho do tumor, de sua localização e das complicações sistêmicassecundárias. Os animais podem apresentar vômito, anorexia, diarréia e melena, sendo esses dois últimos sinais explicadospelas úlceras gastroduodenais encontradas em 83% dos cães com mastocitomas [2]. O diagnóstico definitivo é obtidoatravés do exame histopatológico [6].

É importante que após o diagnóstico, seja feita a avaliação da terapia profilática para as ulceras gastroduodenais[7] e se realize a classificação do mastocitoma, pois o resultado da classificação afeta o prognóstico e as decisões terapêu-ticas [1].

O tratamento deve considerar uma série de fatores, entre eles a idade, a raça, o estado geral, o tamanho dopaciente, o local de ocorrência, a classificação do tumor, a disponibilidade de equipamentos e a motivação do proprietário[4]. A terapia pode incluir uma mescla de procedimentos clínicos e cirúrgicos, como a excisão cirúrgica, radioterapia,quimioterapia, imunoterapia, criocirurgia e eletrocirurgia, ou ainda a combinação entre os diferentes meios terapêuticos,que geralmente é a mais utilizada. A excisão cirúrgica abrangente constitui o tratamento de escolha para os mastocitomasno cão [2]. O prognóstico após uma extirpação cirúrgica completa varia grandemente em função da classificação do tumor.

Este relato tem o objetivo de chamar a atenção para a localização de um mastocitoma em área não comum deprevalência.

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Salbego F.Z., Raiser A.G., Mazzanti A., Pelizzari C., Festugatto R., Beckmann D.V., Souza S.F., Dalmolin F., Cunha M.M., SantosR.P., Sausen L. & Pereira D. 2007. Mastocitoma faríngeo em um cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1335-s1337.

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RELATO DO CASO

Um cão macho, sem raça definida, com 11 anos de idade e pesando 10 kg, foi trazido ao hospital veterinário porapresetnar disfagia e dificuldade respiratória há cerca de duas semanas. Ao exame clínico constatou-se aumento de volumena região da faringe, próximo à região cervical ventral junto ao linfonodo retrofaríngeo. O paciente apresentava sialorréia edor discreta a moderada ao exame de palpação. Pela a inspeção da cavidade oral com auxílio de um laringoscópio, observou-se o aumento de volume que se projetava na mucosa da orofaringe, em direção à luz da faringe, porém sem ulceração ousolução de continuidade. O tecido tinha aspecto firme e apresentava superfície regular. O paciente urinava e defecavanormalmente, embora as fezes de consistência normal apresentassem cor levemente enegrecida.

O cão foi submetido a exame radiográfico da região retrofaringea e torácica além de biópsia aspirativa da massatecidual. O exame radiográfico não revelou indícios de metástases pulmonares ou de alterações ósseas na região do tumor,já o aspirado identificou a presença de inúmeros mastócidos, sugerindo a ocorrência de mastocitoma.

Baseado neste achados o decisão frente à terapia, foi a opção pela excisão cirúrgica. Foi então realizada coletade sangue para exames laboratoriais de rotina e o animal foi medicado preventivamente com antagonistas H2 e anti-histamínicos. Após preparação adequada com banho e tricotomia ampla da região cervical ventral o animal foi submetido àantissepsia com álcool-iodo-álcool. Previamente ao procediemtno, cerca de 30 minutos antes, o paciente recebeu ampicilinasódica (20mg/kg) por via intravenosa. A pré medicação foi realizada com maleato de acepromazina (0,05 mg/kg) associadoa citrato de fentanila (2 ìg/kg) por via intramuscular. A inducão anestésica foi realizada com propofol (5 mg/kg) por viaintravenosa e a manutenção com halotano vaporizado em oxigênio puro. A analgesia transoperatória foi assegurada comsuplementação de citrato de fentanila por via intravenosa.

Com o paciente em decúbito dorsal, a incisão foi feita de forma paralela ao eixo longitudinal do pescoço sobre aregião da faringe e levemente ventral a ela, para a realização de traqueostomia temporária. Com a traqueostomia realizada,utilizou-se a mesma incisão para a exploração, dissecando-se em profundidade para abordar o tecido tumoral. Uma vezlocalizado, o tecido foi cuidadosamente dissecado na tentativa de isolamento, porém como se encontrava bastante friável,rompeu durante a manipulação. O linfonodo retrofaingico medial foi juntamente removido por apresentar-se com aspectoalterado. O tecido foi integralmente removido, com margem de segurança, a área operatória exaustivamente lavada eefetuada a hemostasia local. Os planos anatômicos abordados foram reduzidos com poliglactina 910 no 2-0 em padrão desutura isolado simples e a sutura da pele realizada com mononailon no 4-0 em mesmo padrão de sutura. A sutura da traquéiafoi realizada com fio de mononailon no 3-0 com pontos isolados simples unindo os anéis traqueais e sutura contínua naadventícia. Ao final do procedimento, realizou-se faringostomia para a alimentação do paciente.

A analgesia pós-operatória foi assegurada pela administração de sulfato de morfina (0,3mg/kg) durante asprimeiras 24 horas, associada ao uso de flunixin meglumine (1,1 mg/kg) por um período de três dias. O paciente apresentoutraços de sangue vivo nas fezes que se resolveu até o final do 3o dia. Durante o pós-operatório imediato a condição respiratóriaapresentou melhora significativa, sendo que a deglutição apresentou-se normalizada aos 10 dias de pós-operatório, com aremoção da sonda de faringostomia e instituição de dieta pastosa per os. A dieta sólida foi administrada a partir do 15o diade pós-operatório. Após o exame histopatológio o tumor foi classificado como um mastocitoma de grau III.

DISCUSSÃO

Os sinais clínicos apresentados pelo paciente aqui relatado eram semelhantes àqueles descritos na literatura. Acoloração escurecida das fezes antes da cirurgia eram provavelmente decorrentes de lesões oriundas dos distúrbiosgastrintestinais, que afetam cerca de 83% dos cães portadores dessa neoplasia [2].

Embora várias alternativas para a terapia antineoplásica estivessem disponíveis, a opção pela ressecção cirúr-gica foi adotada porque, devido a dados de literatura, a proporção entre mastocitomas benignos e malignos no cão é de50%, porém a diferenciação histopatológica entre ambos é difícil, e dessa forma é sugerido que se consideram todos osmastocitomas como potencialmente malignos [1]. Além disso, a terapia cirúrgica é considerada por alguns autores [2] comoo tratamento de escolha para os mastocitomas no cão.

A realização de biópsia por aspiração previamente à cirurgia, permitiu a realização de medidas terapêuticasprofiláticas para evitar a formação de úlceras gastrintestinais [7]. A eficácia da terapia profilática foi constatada no períodopós-operatório, em que os sinais de lesão gastrintestinal desapareceram em 72 horas. O diagnóstico definitivo foi obtido porexame histopatológico [6] que classificou a neoplasia como mastocitoma de grau III. O envolvimento do linfonodo retrofaringicomedial confirma o poder infiltrativo destes tumores [4] e demonstra que um dos locais mais comuns para ocorrência demetástases são os linfonodos regionais [1]. Devido ao alto índice de morbidade desse tipo de tumoração é recomendável amonitorização por inspeções periódicas no pós-operatório.

CONCLUSÃO

O procedimento terapêutico empregado demonstrou-se eficiente na resolução do problema em questão permitindoo retorno do paciente as suas atividades normais de forma satisfatória. O diagnóstico prévio a terapia demonstrou-sefundamental para a correta conduta profilática das lesões gastrintestinais e o diagnóstico definitivo indispensável para oprognóstico futuro do animal.

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Salbego F.Z., Raiser A.G., Mazzanti A., Pelizzari C., Festugatto R., Beckmann D.V., Souza S.F., Dalmolin F., Cunha M.M., SantosR.P., Sausen L. & Pereira D. 2007. Mastocitoma faríngeo em um cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1335-s1337.

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REFERÊNCIAS

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pp.1601.

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Neuropatia paraneotlásica associada ao mastocitoma canino

Paraneoplastic neuropathy associated with canine mast cell tumor

Sabrina Marin Rodigheri 1, Carlos Roberto Daleck 2, Sabryna Gouveia Calazans 3,Simone Crestoni Fernandes 3, Jane Regina França Cesar 3, Andrigo Barboza De Nardi 4,

João Humberto Teotônio de Castro 3, Márcio César Vasconcelos Silva 3,Thiago Demarchi Munhoz 5 & Luiz Gustavo Gosuen Gonçalves Dias 3

1Pós-graduando do Programa de Cirurgia Veterinária, FCAV – UNESP / Jaboticabal. 2Professor do Departamentode Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV – UNESP / Jaboticabal. 3Pós-graduando do Programa de Cirurgia Veterinária,FCAV – UNESP / Jaboticabal. 4Professor do curso de mestrado em Cirurgia e Anestesiologia Veterinária - UNIFRAN.

5Pós-graduando do Programa de Medicina Veterinária, FCAV – UNESP / [email protected]

ABSTRACT

Paraneoplastic syndromes comprise a diverse group of clinical anomalies associated with neoplasias that occur in a locationdistant from the primary tumor or of your metastasis. Paraneoplastic neuropathy are rare disturbs in dogs, but represent significant morbidityand are useful as diagnostic and prognostic indicators. This present study work report the occurrence of two cases report of paraneoplasticneuropathy in dogs with mast cell tumor, considering the clinical signs, diagnosis and treatment used.

Key words: oncology, paraneoplastic syndromes, nervous system, dog.

INTRODUÇÃO

As síndromes paraneoplásicas representam um grupo heterogêneo de alterações clínicas associadas ao câncerque decorrem de ações não invasivas do neoplasma [1,7]. A incidência destas alterações ainda é desconhecida na medicinaveterinária, mas aproximadamente 75% dos pacientes humanos com câncer apresentam algum distúrbio paraneoplásico [7].

Sabe-se que os neoplasmas podem induzir o desenvolvimento de lesões no sistema nervoso mediante efeitosindiretos ou paraneoplásicos, ou seja, na ausência de compressão tecidual, infiltração local ou metastática. Nestas condi-ções, não são detectadas células tumorais nas diferentes estruturas neuronais, incluindo cérebro, medula espinhal, nervoscranianos, nervos periféricos ou junções neuromusculares [3]. Estas complicações neurológicas podem acompanhar odesenvolvimento tumoral ou anteceder a detecção clínica do neoplasma [5].

As neuropatias paraneoplásicas (NP) podem ser classificadas como centrais ou periféricas e clínicas ou subclínicas.Estudos demonstram que as neuropatias periféricas subclínicas acometem de 17 a 50% dos pacientes humanos comcâncer, mas apenas 2 a 5% manifestam a doença clinicamente [3]. A prevalência das NP em animais é desconhecida,existindo apenas relatos esporádicos sobre estas alterações. Autores demonstraram a presença de lesões em nervosperiféricos de 59% dos cães com carcinoma broncogênico, 59% com adenocarcinoma mamário, 48% com melanoma, 47%com insulinoma, 39% com osteossarcoma e 32% com mastocitoma [2].

RELATO DE CASO

Foram encaminhados ao Serviço de Oncologia do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, FCAV-UNESP/Jaboticabal, dois animais da espécie canina manifestando sinais neurológicos associados ao crescimento de nóduloscutâneos.

O primeiro paciente, um macho, doberman pinscher, nove anos de idade, apresentava tetraparesia não relacio-nada a trauma, com evolução de 24 horas. O proprietário referiu que há duas semanas o animal demonstrou fraqueza emmembros pélvicos, a qual evoluiu gradualmente a tetraparesia. Além disso, foi relatada a presença de um nódulo cutâneolocalizado na região inguinal com crescimento acelerado e evolução de oito dias. Ao exame físico foi constatado que o tumorapresentava 7cm de diâmetro, consistência firme, abrangência dermosubcutânea e intenso edema peri-tumoral. O exameneurológico revelou nocicepção profunda preservada, hiporreflexia e hipotonia muscular em membros torácicos e pélvicos.Não foram detectadas alterações em nervos cranianos.

O segundo paciente, uma fêmea, sem raça definida, 12 anos de idade, apresentava apatia, hiporexia, incoor-denação e inclinação da cabeça, com evolução de 24 horas. O proprietário referiu a presença de um nódulo cutâneolocalizado em lateral do tórax com dois meses de evolução. Ao exame físico foi constatado que o tumor apresentava oitocentímetros de diâmetro, abrangência dermosubcutânea, consistência firme e intenso edema peri-tumoral. O exame neuro-lógico revelou síndrome vestibular periférica caracterizada por “head tilt” e nistagmo horizontal com fase rápida para aesquerda. Não foram detectadas alterações em nervos cranianos e reflexos espinhais. A avaliação clínica dos condutosauditivos não demonstrou alterações.

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1339-s1341, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Rodigheri S.M., Daleck C.R., Calazans S.G., Fernandes S.C., Cesar J.R.F., De Nardi A.B., Castro J.H.T., Silva M.C.V., Munhoz T.D.& Dias L.G.G.G. 2007. Neuropatia paraneotlásica associada ao mastocitoma... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1339-s1341.

s1340

Objetivando a avaliação clínica completa dos pacientes e a exclusão das principais causas de neuropatia emcães, procedeu-se à realização de alguns exames laboratoriais, incluindo hemograma, urinálise, glicemia, alanino amino-transferase, creatinina e cálcio ionizado. Foram detectadas alterações apenas no hemograma do segundo paciente, incluindoanemia normocítica normocrômica regenerativa (Ht=12%) e leucocitose por neutrofilia (Lt=16.000). Nos dois pacientes, aavaliação citológica do tumor conferiu o diagnóstico de mastocitoma. A avaliação radiográfica do tórax não revelou altera-ções compatíveis com metástase pulmonar.

O primeiro paciente foi submetido a avaliação radiográfica da coluna tóraco-lombar, em incidências látero-laterale ventro-dorsal, porém não foram visibilizadas alterações. A análise do líquor deste paciente não revelou alterações signi-ficativas. O segundo paciente foi submetido a transfusão sangüínea e administração de ranitidina (2mg/kg, via subcutânea)e difenidramina (1mg/kg, via intra-muscular). No dia seguinte ao atendimento, foi realizada análise do líquor, a qual tambémnão demonstrou alterações significativas.

Devido a suspeita de NP e impossibilidade de ressecção cirúrgica imediata de ambos neoplasmas foi instituídaquimioterapia antineoplásica pré-operatória. O protocolo quimioterápico incluiu a administração de prednisona (1mg/kg, acada 24 horas, via oral) e sulfato de vimblastina (2mg/m2, a cada 7 dias, via intra-venosa), e foi associado a terapia comranitidina (2mg/kg, a cada 12 horas, via oral) e difenidramina (4mg/kg, a cada 24 horas, via oral).

A resposta terapêutica foi semelhante nos dois pacientes, ocorrendo resolução completa do quadro neurológicopoucos dias após o início da quimioterapia. No sétimo dia de tratamento, ambos proprietários referiram ausência de altera-ções sistêmicas e redução significativa do diâmetro tumoral. Após a terceira sessão de quimioterapia foi realizada a exéresecirúrgica dos neoplasmas. A avaliação histopatológica confirmou o diagnóstico de mastocitoma grau II em ambos pacientes.O primeiro paciente encontrava-se em boas condições clínicas 60 dias após a cirurgia, isento de alterações neurológicas. Osegundo paciente apresentou recidiva neoplásica irresponsiva à quimioterapia 90 dias após a cirurgia, evoluindo a óbito.Durante o seu período de sobrevida não apresentou sinais de comprometimento neurológico.

DISCUSSÃO

Os distúrbios paraneoplásicos do sistema nervoso têm se tornado freqüentes em seres humanos, porém emanimais a incidência destas alterações ainda é desconhecida [3,7,8].

Embora a patogênese das NP não tenha sido elucidada, acredita-se que a origem das lesões neurológicas sejaauto-imune, não havendo relação com distúrbios metabólicos, nutricionais, traumáticos, infecciosos ou tóxicos [3,5,8]. Estudossorológicos em seres humanos demonstraram a existência de anticorpos antineurais em pacientes com NP. Pesquisasrecentes revelam que alguns anticorpos podem servir como marcadores para NP específicas, bem como para determinadostipos tumorais [8]. Em animais, ainda não existem estudos relacionados a pesquisa destes anticorpos, desta forma, não foirealizada a mensuração dos anticorpos antineurais nos pacientes referidos.

Além da natureza auto-imune, acredita-se na participação de citocinas pró-inflamatórias e na influência dasvasculopatias na patogênese das NP [5]. Sabe-se que os grânulos dos mastócitos contém uma série de compostos biologi-camente ativos, incluindo histamina, heparina, sulfato de condroitina, fator ativador de plaquetas, fator de necrose tumoral,prostaglandinas, leucotrienos, hidrolases ácidas, catepsinas e carboxipeptidades. Desta forma, a degranulação dos mastócitosneoplásicos induz uma série de manifestações sistêmicas, incluindo ulceração gástrica, inflamação peri-tumoral, alteraçõescardiopulmonares, tempo de sangramento prolongado e atraso na cicatrização [4]. A ocorrência destes dois casos de NP emcães com mastocitoma alerta para a necessidade de pesquisas relacionando a degranulação mastocitária com distúrbiosneurológicos.

Conforme observado nos referidos casos, as NP podem ser manifestadas como lesões focais ou difusas. Osprincipais sinais clínicos de NP periférica referidos em literatura são fraqueza, intolerância a exercícios, hipotonia muscular,paresia ou paralisia de membros torácicos e/ou pélvicos, atrofia muscular neurogênica e reflexos espinhais reduzidos ouausentes, conforme observado no primeiro paciente [2].

O diagnóstico definitivo das NP é extremamente difícil, constituindo-se do histórico do paciente (exclusão detrauma, intoxicação ou sinais clínicos de doença sistêmica), exame físico e neurológico, eletroneuromiografia e exclusão deoutras enfermidades que possam ocasionar neuropatias, conforme foi realizado nos referidos casos [6]. Um grande númerode etiologias podem ser atribuídas às diferentes neuropatias em cães, incluindo distúrbios metabólicos, nutricionais, infec-ciosos, tóxicos, traumáticos, degenerativos e idiopáticos [6]. Em ambos pacientes referidos não foram detectadas alteraçõesclínicas e laboratoriais compatíveis com doença sistêmica concomitante à neoplasia. Além disso, a excelente recuperaçãodos pacientes após a instituição da quimioterapia antineoplásica, com ausência de recidiva dos sinais neurológicos após aexérese tumoral, sugerem a ocorrência de NP. Em seres humanos, o tratamento das NP é baseado no tratamento da neoplasiaprimária ou mestastática, imunossupressão e/ou administração de glicocorticóides, porém, resultados satisfatórios sãoobservados apenas na ausência de desmielinização ou degeneração axonal severas [5,6].

CONCLUSÃO

As neoplasias malignas podem induzir síndromes neurológicas paraneoplásicas clínicas ou subclínicas, especial-mente envolvendo o sistema nervoso periférico. Desta forma, é importante incluir as NP no diagnóstico diferencial de cãesidosos com distúrbios neurológicos, bem como, incentivar pesquisas relacionadas a patogenia, métodos de diagnóstico etratamento destas alterações em animais.

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Rodigheri S.M., Daleck C.R., Calazans S.G., Fernandes S.C., Cesar J.R.F., De Nardi A.B., Castro J.H.T., Silva M.C.V., Munhoz T.D.& Dias L.G.G.G. 2007. Neuropatia paraneotlásica associada ao mastocitoma... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1339-s1341.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1343-s1344, 2007.

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Aspectos epidemiológicos do TVT em cães atendidos no Hospitalde Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Epidemiologic aspects of TVT in dogs attendedin the Veterinary Hospital of Rio Grande do Sul

Ruben Lundgren Cavalcanti 1, Cristine M. De Carli 2, Rosemari Teresinha de Oliveira 2,Luciana Oliveira de Oliveira 2 & Cristiano Gomes 2,3

1Médico Veterinário Autônomo. 2Serviço de Oncologia Veterinária do HCV-UFRGS.3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

ABSTRACT

Transmissible venereal tumor is a contagious venereal tumor that affect dogs. It commonly occurs in the external genitalia andis usually transmitted at coitus. The odd of this paper is evaluate the data about the transmissible venereal tumor in the local canine community.We analyzed 89 dogs attended in the Veterinary Hospital of the University of Rio Grande do Sul between January 2002 and july 2005 withdiagnostic of TVT. We evaluated the breed, sex, age, therapeutic modality, chemotherapy application, localization, direct contact withroaming dogs. 44 dogs were analyzed about the therapy utilized, tumor total remission and contagious form. The most of animals werefemale. The mean age was 5 years-old and all animals were sexually active. This disease was more frequently in mixed breeds with 78,6%of the cases. 80% came from the high density areas of homeless dogs. All of the 44 animals analyzed were treated with vincristinechemotherapy. 36 dogs (80%) were completely cured with 1 to 12 application of vincristine and 9 dogs were not cured. 41 animals lived inareas with high prevalence of homeless dogs and had direct contact with them.

Key words: Oncology, transmissible venereal tumor, chemotherapy.

INTRODUÇÃO

O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia reticuloendotelial benigna comum em cães e que geralmentetem crescimento local venéreo, afetando a genitália externa e interna e áreas extra-genitais [1,4-6]. Atinge cães de diferentesidades, embora acometa principalmente animais sexualmente maduros entre 4-5 anos [6]. Ocorre em diferentes raças,fazendo parte do grupo de risco os cães de guarda, assim como os que habitam áreas de alta densidade e com alta prevalênciade animais abandonados, predominando nestes casos, cães sem raça definida – SRD e abandonados [6]. O tumor étransmitido por implantação celular durante o coito ou por transplante mecânico através de lambida ou outra interação entreo cão portador e o cão suscetível, sendo que as fêmeas são mais suscetíveis ao contágio que os machos [2,5,6]. Para que otumor se desenvolva é necessário que a pele e a mucosa apresentem escoriações ou solução de continuidade. A deposiçãode células tumorais sobre a pele e a mucosa íntegras não permite o crescimento do TVT [5]. Com relação ao diagnóstico, osproprietários mais atentos procuram atendimento médico veterinário devido à presença de secreção sanguinolenta vaginalou peniana, tumefação genital, odor ou aparecimento de massas neoplásicas visíveis, além de hematúria. Com o desenvol-vimento do TVT, observa-se tecido nodular, hemorrágico e friável, pouco demarcado, sendo que, freqüentemente, a lesãopode apresentar ulcerações. Esta neoplasia pode apresentar aspecto de couve-flor ou de placas [3,5,6]. O diagnóstico do TVTé baseado na anamnese e nos exames macro e microscópico da lesão, sendo a confirmação microscópica realizada atravésde exame citológico de esfregaços da descarga genital e/ou “imprints” de fragmentos do tumor [5]. Condutas terapêuticasvêm sendo preconizadas para o TVT, entre elas a criocirurgia, radioterapia, ressecção cirúrgica e quimioterapia antineoplásica.Entre estas, as quimioterapia citotóxica com sulfato de vincristina tem se mostrado o mais prático e eficaz tratamento curativopara o TVT e a completa remissão geralmente ocorre após 2-8 injeções intravenosas [6]. Embora os resultados dessetratamento sejam satisfatórios na cura do tumor, prevenir o aparecimento do mesmo torna-se um fator importante quando seobserva que a maioria dos casos de TVT ocorre em cães cujos proprietários são de baixa renda.

O objetivo deste trabalho é analisar os dados referentes ao tumor venéreo transmissível (TVT) na comunidadecanina local, na busca de um perfil dessa doença para a nossa realidade e, assim, incorporar esses conhecimentos ao dia-a-dia da clínica oncológica veterinária, bem como promover soluções para a prevenção dessa doença.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisados os dados de 89 cães atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul (Porto Alegre/RS) no período de janeiro de 2002 a julho de 2005 cujo diagnóstico foi de TVT. Os dadosforam analisados quanto à raça, sexo, idade, modalidade terapêutica, número de aplicações de quimioterapia, áreas deorigem e se mantinham ou não contato direto com cães de rua. Animais com dados clínicos incompletos foram excluídos dotrabalho. Ainda, dos 89 casos, 44 foram avaliados quanto ao tratamento empregado, à remissão total do tumor e quanto àsformas de contágio. Estes 44 casos foram assim analisados por proporcionarem maiores informações. Também obteve-seinformações através de entrevistas para que possíveis dúvidas fossem resolvidas e eventuais comentários pudessem seranotados, analisados e computados.

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Cavalcanti R.L., De Carli C.M., Oliveira R.T., Oliveira L.O. & Gomes C. 2007. Aspectos epidemiológicos do TVT em cãesatendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1343-s1344.

s1344

RESULTADOS

Dos dados analisados, a maioria dos animais afetados pelo TVT foram do sexo feminino (60%). A idade média deocorrência foi de 5,4 anos, sendo 18 cães jovens (11 meses-2 anos) e 71 cães adultos (2-14 anos), todos sexualmentemaduros. Não foi observada nenhuma incidência maior em determinada raça canina; 78,6% dos cães acometidos nãotinham raça definida (SRD). Em relação à origem desses cães, 80% provinham de áreas com alta densidade de cães abando-nados e 20% de áreas centrais com menor número de cães de rua. Dos 44 casos separados, o tratamento de eleição emtodos foi a quimioterapia endovenosa com sulfato de Vincristina. Trinta e seis animais ficaram curados completamente (80%)com aplicações que variaram de 1 a 12 vezes e o total de cães não curados foi de 9 (20%). Além disso, 41 cães (93%) viviamem áreas com alta prevalência de animais abandonados e mantinham contato direto com esses, enquanto que os 7%restantes viviam sem contato externo com outros cães.

DISCUSSÃO

Em conformidade com a literatura consultada, a maioria dos cães afetados pelo TVT foram do sexo feminino,adultos e sexualmente maduros [1-6]. Não foi observada uma raça mais susceptível ao aparecimento do TVT, mas sim umgrupo de risco que incluiu cães provenientes de áreas com alta densidade de cães abandonados. Isso se deve à forma decontaminação do TVT, seja através do contato sexual, seja através de outro tipo de interação [5,6]. Verificou-se que a predo-minância, nestes casos, era de cães sem raça definida (SRD) e com idade média de 5,4 anos, muito próxima daquela citadapela literatura de 4-5 anos [6].

Em relação aos 44 casos estudados a parte, a unanimidade na literatura médica veterinária sobre a eficácia daadministração de sulfato de vincristina no tratamento de TVT certamente fundamentou a opção pela quimioterapia antineo-plásica, visto que, em todos os casos, esta foi a opção escolhida para o controle do TVT, com doses variando de 0,5 a 1 mg/m2

[3,4,6]. Trinta e seis animais ficaram curados completamente (80%) com aplicações que variaram de 1 a 12 vezes. O total decães não curados foi de 9 (20%) e isso deveu-se principalmente a não realização do tratamento (1 caso), ao tratamentoquimioterápico com somente 1 aplicação (4 casos) e a recidiva tumoral não tratada (2 casos). A não realização do tratamentopode ser explicada pelo fato de o HCV-UFRGS atender principalmente a uma população de baixa renda do município dePorto Alegre e, embora o hospital onere em alguns casos com todo o tratamento, os proprietários acabam não retornandopara a realização deste. Em relação ao tratamento quimioterápico com somente 1 aplicação (4 casos), este decorreu do fatode que geralmente após as primeiras aplicações de vincristina ocorre uma redução drástica no tamanho do tumor [6]. Estefato acarreta uma falsa idéia nos proprietários de que seus cães já se encontram plenamente curados, embora a terapiadeva ser continuada com mais duas aplicações após o desaparecimento completo das lesões [6].

Além disso, 41 cães (93%) viviam em áreas com alta prevalência de animais abandonados e mantinham contatodireto com esses, seja pelo coito e por outro tipo de interação social. Os demais 7%, não tiveram contato direto com cães darua, mas podem ter sido infectados em cruzamentos eletivos.

CONCLUSÕES

Tendo em vista que o TVT se dissemina com maior incidência em áreas com maior número de cães SRD, aban-donados nas ruas ou animais que possuam acessos a esses locais, faz-se necessário o desenvolvimento de programaspreventivos visando à orientação da comunidade ao controle populacional e sanitário dos cães. Estes podem incluir programasde castração em massa; orientação aos proprietários em relação à forma de vida do cão; busca, identificação e tratamentode animais portadores; e projetos que visem à esterilização e adoção de cães de rua.

REFERENCIAS

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www.ufrgs.br/favet/revista

Supl 4

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s1345

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1345-s1347, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Correlação da ciclooxigenase-2 com o prognósticodos carcinomas mamários de cadelas

Corelation of cycloxygenase-2 with the mammary carcinoma prognostic in bitches

Andrigo Barboza De Nardi 1, Carlos Roberto Daleck 2, Renée Laufer Amorim 3, Suely Rodaski 4,Christine Hauer Piekarz 4, Geórgia Modé Magalhães 5, Juliana Werner 6, Duvaldo Eurides 7, Sabrina Marin

Rodigheri 2, Sabryna Gouveia Calazans 2, Simone Crestoni Fernandes 2, Jane Regina França Cesar 2,João Humberto Teotônio de Castro 2, Márcio César Vasconcelos Silva 2 & Fabio Rodrigues da Motta 2

1Professor do Curso de Mestrado em Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da Universidade de Franca (Unifran). 2Departamentode Clínica e Cirurgia Veterinária – FCAV – UNESP – Campus de Jaboticabal. 3Departamento de Clínica Veterinária – FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu. 4Departamento de Medicina Veterinária – UFPR – Campus de Curitiba. 5Departamento de PatologiaVeterinária – FCAV – UNESP – Campus de Jaboticabal. 6Mestre em Ciências Veterinárias – Laboratório Werner & Werner – Curitiba.

7Professor de Clínica Cirúrgia Animal – Universidade Federal de Uberlândia.

ABSTRACT

Considering the relationship between cycloxygenase-2 (COX-2) with the cancer evolution, this study aimed to detect theexpression of this enzyme in the mammary carcinoma prognostic in bitches. Twenty mammary carcinoma samples were selected for theaccomplishment of this study; the samples were divided into two groups (good prognosis carcinoma and poor prognosis carcinoma) inaccordance to clinical evolution of tumor. The evaluation of the COX-2 expression was achieved by immunohistochemistry, by means ofstreptavidine-biotine-peroxidase. About the results were noted a lower COX-2 immunoreactive in good prognosis carcinomas (41.6%). But,high COX-2 expression was noted in poor prognosis carcinomas (60.8%).

Key words: Cancer, mammary neoplasm, ciclooxygenase-2, bitch.

INTRODUÇÃO

O câncer de mama é a neoplasia mais comum em cadelas [10]. A remoção cirúrgica completa destas neoplasias,com amplas margens de segurança, quando não existe envolvimento metastático, ainda é o procedimento terapêutico commaior probabilidade de cura. Os protocolos de quimioterapia antineoplásica e radioterapia apresentam baixa atividadeantitumoral para as neoplasias mamárias [7].

Nas últimas duas décadas, numerosos estudos clínicos, experimentais e epidemiológicos têm ligado o desenvol-vimento e progressão das neoplasias com a presença da COX-2 nas células tumorais humanas [2]. A correlação entre COX-2e o câncer emergiu a partir de estudos que estabeleceram o uso crônico de antiiflamatórios não esteroidais e a diminuiçãoda incidência do carcinoma de cólon, em meados dos anos noventa [1].

Mecanismos associados à promoção tumoral, como aumento da angiogênese, inibição da apoptose, modulaçãoda resposta imune, maior capacidade de invasão e metástase, têm sido propostos, baseados em estudos experimentais,para explicar as conseqüências da super expressão de COX-2 [5,9]. Tendo em vista a relação da ciclooxigenase-2 com odesenvolvimento do câncer, objetivou-se correlacionar a imunorreatividade desta enzima no prognóstico dos carcinomasmamários de cadelas.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização deste estudo foram selecionados 20 casos de carcinoma mamário de cadelas atendidas noperíodo de janeiro de 2002 a dezembro de 2004. Estas amostras foram divididas em dois grupos (carcinoma com prognós-tico bom e carcinoma com prognóstico ruim), composto por 10 tumores em cada grupo, de acordo com a evolução clínica dotumor.

Procurou-se estabelecer o estadiamento clínico das neoplasias por meio da mensuração do tamanho do(s) tumor(es)com auxílio de um paquímetro. Procedeu-se também à avaliação dos linfonodos quanto ao tamanho, mobilidade e envolvimentopor células neoplásicas, através do exame citológico. A avaliação radiográfica do tórax e a ultra-sonografica do abdomeobjetivaram pesquisar a presença ou não de metástases nestas cavidades. O estadiamento clínico das neoplasias mamá-rias foi realizado segundo o sistema TNM (Tumor/Linfonodo/Metástase).

Após a realização do estadiamento da doença planejou-se a execução do procedimento cirúrgico. A mastectomiafoi realizada com amplas margens de segurança, ressecando-se sempre 2 a 3cm de tecido normal perineoplásico. Apóscirurgia adequada para cada caso específico efetuou-se a colheita das amostras contendo tecido neoplásico para a classi-ficação da histogênese tumoral. No período pós-operatório as pacientes foram avaliadas trimestralmente por exames físicos

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De Nardi A.B., Daleck C.R., Amorim R.L., Rodaski S., Piekarz C.H., Magalhães G.M., Werner J., Eurides D., Rodigheri S.M.,Calazans S.G. et al. 2007. Correlação da ciclooxigenase-2 com o prognóstico... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1345-s1347.

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e complementares, com o propósito de monitorar a evolução da afecção neoplásica (presença ou ausência de recidiva e/oumetástase), procedimento este que teve continuidade até o mês de dezembro de 2006. O grupo de carcinomas com prognós-tico bom refere-se as neoplasias que durante o período de acompanhamento pós-operatório não propiciaram recidiva oumetástases. Quando ocorreu o desenvolvimento de recidiva e metástases os tumores foram agrupados em carcinomas comprognóstico ruim.

Cortes das amostras de carcinoma mamário, com 3 mm de espessura, foram processados através de imuno-istoquímica utilizando anticorpo monoclonal anti-COX-2, clone CX-294, Dako, com a finalidade de avaliar a expressão paraa COX-2, nestes tecidos. A recuperação antigênica aconteceu em banho maria; a diluição do anticorpo utilizada foi de 1:50.

Na avaliação imunoistoquímica foram contados cinco campos para cada caso analisado, avaliando-se o númerode células marcadas e a intensidade de coloração [4]. A independência dos resultados foi testada por meio de uma tabela decontingência 2X2 (Teste Qui-Quadrado).

RESULTADOS

No grupo de carcinoma mamário com prognóstico bom, quatro tumores (40%) foram estadiados em estágio I, dois(20%) em estágio II e quatro (40%) em estágio III. Nas neoplasias do grupo carcinoma mamário com prognóstico ruim, doistumores (20%) foram classificados em estágio I, dois (20%) em estágio II, cinco (50%) em estágio III e um (10%) em estágio IV.

Na avaliação imunoistoquímica, o número de células marcadas para atividade da COX-2, variou de acordo coma evolução clínica da neoplasia, havendo uma correlação significativa (P<0,05) entre o número de células marcadas e oprognóstico dos animais. Observou-se uma menor imunorreatividade da COX-2 nos casos de carcinoma com prognósticobom (41,6%). No entanto, elevada imunomarcação para a ciclooxigenase-2 foi observada nos carcinomas com prognósticoruim (60,8%). A imunorreatividade para a COX-2 foi inteiramente confinada ao citoplasma das células neoplásicas.

DISCUSSÃO

Os resultados encontrados, no presente experimento, evidenciam a importância do estudo de marcadores celu-lares nas neoplasias mamárias pela técnica de imunoistoquímica [10], pois foi possível determinar a presença, bem comoquantificar a expressão da enzima COX-2; que normalmente só é encontrada em resposta a estímulos inflamatórios. A utili-zação da técnica da estreptoavidina-biotina-peroxidase, bem como a recuperação antigênica em banho-maria, juntamentecom a diluição do anticorpo monoclonal (clone CX-294, Dako) na proporção de 1:50 foi adequada para realizar a imunomarcaçãodas células neoplásicas. A marcação positiva foi identificada pela coloração marrom -acastanhada granular citoplasmática dascélulas neoplásicas, apresentando variação na intensidade de forte a fracamente positivas [4].

Com relação à classificação histopatológica das neoplasias mamárias adotou-se a descrita por Misdorp [6]. Aexpressão da COX-2 tem relação com o prognóstico em carcinoma mamário em mulheres [3], provalvelmente o mesmoacontece em cadelas, haja visto a diferença significativa (P<0,05) que foi observada entre o grupo de pacientes comcarcinoma de prognóstico bom e o grupo com carcinoma de prognóstico ruim.

Não foi observado diferença estatística, em relação a imunoexpressão da COX-2, entre os três sub-tipos de carci-noma (sólido, complexo e túbulo-papilífero) utilizados em nosso estudo. Este resultado ressalta a importância de realizarpesquisas avaliando principalmente o prognóstico dos animais. Em relação ao estadiamento das neoplasias verificou-semaior imunorreatividade para a ciclooxigenase-2 nos tumores em estágio III (P<0,05), relacionando a expressão destaenzima com a progressão do tumor [4].

Pode-se especular que o desenvolvimento da carcinogênese mamária está ligado à atividade da ciclooxigenase-2,porém a exata implicação desta enzima nas neoplasias mamárias permanece desconhecida [1,2,9]. Os coxibes, inibidoresseletivos da COX-2, devem ser investigados quanto ao uso na quimioprevenção e tratamento dos tumores de mama, poisresultados positivos já foram descritos no tratamento de outras neoplasias através do uso dos antiinflamatórios não esteróides [8].

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que a expressão da ciclooxigenase-2 está relacionadacom o comportamento clínico dos carcinomas mamários de cadelas (P<0,05). A sobrevida das pacientes com neoplasiasmamárias no pós-operatório está ligada com a expressão da COX-2 (P<0,05).

REFERÊNCIAS

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De Nardi A.B., Daleck C.R., Amorim R.L., Rodaski S., Piekarz C.H., Magalhães G.M., Werner J., Eurides D., Rodigheri S.M.,Calazans S.G. et al. 2007. Correlação da ciclooxigenase-2 com o prognóstico... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1345-s1347.

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1349-s1351, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Neoplasias múltiplas não metastáticas em cão

No-metastatic multiple neoplasias in dog

Silvana Maris Cirio 1, Diego Lunelli 2, Luiz Carlos Leite 3,João Maria Ferraz Diniz 4, Maria Júlia Peretti Iglesias 5 & Selene Cirio Leite 2

1Médica Veterinária Patologista, Professora Adjunta de Patologia Veterinária, Curso de Medicina Veterinária, PUCPR.2Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária, CCAA, São José dos Pinhais, PUCPR. 3Médico Veterinário Parasitologista,

Professor de Parasitologia Veterinária, UNIGUAÇU, PR. 4Médico Veterinário Patologista, Professor aposentado UFPR, Curitiba, PR.5Médica Veterinária Autônoma, Curitiba, PR.

ABSTRACT

An adult bitch Pinscher, presented six masses of different sizes and locations. After removal, trhough of histopatology wasdiagnosticated like neoplasias with varied degrees of malignity: solid basal cell tumor in the right scapular region; hemangiopericytoma in theleft supraescapular region; squamous cell carcinoma in the left thoracic region; malignant mixed tumor in left cranial abdominal breast;mammary carcinoma at right caudal thoracic breast and papillary cystadenocarcinoma in right cranial abdominal breast. Six months afterthe masses removal, the bitch presented good wealth conditions, without signs of methastasis or return.

Key words: No-metastatic multiple neoplasias; primary multiple neoplásicos; hemangiopericitoma; squamous cell carcinoma, mammaryneoplasia.

INTRODUÇÃO

Os processos neoplásicos múltiplos não metastáticos são pouco freqüentes, despertam grande interesse e sãorelatados tanto nas espécies domésticas quanto nas selvagens. Em um terrier de dez anos foi observada a presença demastocitoma, seminoma e sertolioma na genitália externa [2]. Um boxer de doze anos foi diagnosticado com nove neoplasiasprimárias: quemodectoma, osteossarcoma, adenocarcinoma bronquíolo-alveolar, leydigocitoma, seminoma, fibropapiloma,carcinoma basocelular, adenoma de cortical de adrenal e adenoma pancreático [14]. Uma fêmea de macaco Rhesus(Macaca mulatta) apresentou sarcoma osteogênico de face, lipoma no membro, hemangioma hepático e adenocarcinomarenal [3]. Em uma fêmea adulta de gambá (Didelphis virginiana) foram encontradas cinco neoplasias primárias, sendocarcinoma de células de transição, adenocarcinoma de bexiga, adenocarcinoma de pulmão, linfossarcoma e papilomaesofágico [1]. Mais recentemente um mustelídeo (Arctictis binturong) foi diagnosticado com adenocarcinoma renal, carcinomahepatocelular e carcinoma de ilhotas pancreáticas [9]. No Brasil, em um estudo retrospectivo de neoplasias múltiplas nãometastáticas em cães realizado em Curitiba, PR, foram diagnosticados 13 (5,1%) delas em um universo de 251 casos deneoplasias. Os cães da raça boxer e sem raça definida foram os mais afetados, seguidos da raça fila brasileiro e pinscher. Afreqüência maior foi de neoplasias mamárias múltiplas e em fêmeas [4]. Em outro estudo retrospectivo na Espanha, foramencontrados 17,9% de casos de um total de 2724 exames e as raças mais afetadas foram poodle, cocker spaniel, yorkshiree boxer. Em fêmeas também houve predomínio de neoplasias mamárias [5].

RELATO DE CASO

Uma cadela da raça pinscher, chegou a clinica veterinária com alopecia generalizada e hiperpigmentação cutâneadifusa. O proprietário não soube informar a idade do animal e a estimativa aproximada foi entre seis e sete anos. Na regiãoescapular direita existia uma massa com aproximadamente quatro centímetros de diâmetro. Após o exame clínico completoforam identificadas também uma massa subcutânea com cinco centímetros de diâmetro, e consistência sólida localizada naregião supraescapular esquerda; outra massa ulcerada em região torácica esquerda com três centímetros de diâmetro,além de três nódulos comprometendo mamas torácica caudal direita, abdominal cranial direita e abdominal cranial esquerda,todos com consistência firme e medindo respectivamente cinco centímetros, meio centímetro e um centímetro de diâmetro.Foi realizada a exérese das massas e estas foram encaminhadas ao Laboratório de Patologia Veterinária, do Curso deMedicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em São José dos Pinhais, PR, para o diagnósticohistopatológico.

Os cortes histológicos foram submetidos às colorações de HE, Tricrômico de Mallory, Tricrômico de Shorr e Azulde Toluidina e seis neoplasias diferentes foram diagnosticadas, todas com carcterísticas de malignidade: carcinoma basocelularsólido na região escapular direita; hemangiopericitoma na região supraescapular esquerda; carcinoma espinocelular naregião torácica esquerda; tumor misto maligno em mama abdominal cranial esquerda; adenocarcinoma em mama torácicacaudal direita e cistoadenocarcinoma papilífero na mama abdominal cranial direita.

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Cirio S.M., Lunelli D., Leite L.C., Diniz J.M.F., Iglesias M.J.P. & Leite S.C. 2007. Neoplasias múltiplas não metastáticas em cão.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1349-s1351.

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O último contato com a cadela ocorreu seis meses após a exérese das massas, e a mesma apresentava-se emboas condições de saúde, sem sinais de metástases ou recidiva.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A presença de neoplasias múltiplas não metastáticas nos animais é incomum e os relatos em geral mostram queas neoplasias de caráter benigno e maligno são concomitantes [1,3,14]. No caso estudado observou-se que todas as neoplasiastinham características de malignidade em graus variados, desta forma com possibilidade de desenvolvimento de metástases,o que não havia acontecido ainda por ocasião do último contato, seis meses após a exérese.

As neoplasias de pele são as mais comuns nos cães, entre 30 e 35% e as segundas mais comuns em gatos, emtorno de 20% [16]. Carcinoma basocelular sólido é observado em cães e gatos, podendo se desenvolver em qualquer regiãodo corpo, mas são mais freqüentes na cabeça e pescoço [11]. Em geral são solitários, circunscritos, firmes a císticos, redondos,apresentando 0,5 a 10 cm de diâmetro, alopécicos e ulcerados [15]. Neste caso descrito não havia sinais de alopecia e úlcera,e a massa era firme, confirmada como sólida pelo exame histopatológico.

Hemangiopericitomas originam do pericito vascular. Geralmente apresentam-se como uma massa solitária, deconsistência firme ou macia, medindo de um a 25 cm, aderida ao tecido subjacente, alopécica, hiperpigmentada e ulcerada[10]. Estes tumores desenvolvem-se primeiramente nas extremidades e são mais prevalentes em fêmeas com idade maisavançada. O crescimento é lento e a taxa de metástase é baixa. Quando esta ocorre, é encontrada primeiramente noslinfonodos regionais, pulmões e fígado [7]. A freqüência de recorrência desta neoplasia é de 25 a 60% [6]. O crescimento dohemangiopericitoma está limitado à pele e subcutâneo na maioria dos casos, como neste relatado, porém em alguns casospode haver infiltração nos músculos, tendões e nervos, principalmente quando localizados em extremidades distais.

O carcinoma espinocelular é uma neoplasia maligna, originada dos queratinócitos e ocorre normalmente emanimais submetidos à ação freqüente dos raios solares. Raramente tem sido descrito seu desenvolvimento a partir dequeimaduras, em cicatrizes ou processos inflamatórios [11]. As lesões podem ser ulcerativas ou proliferativas, estas comaparência de couve-flor, onde a superfície tende a ulcerar e sangrar facilmente. As lesões ulcerativas inicialmente são rasase tendem a ficar profundas e crateriformes. O carcinoma espinocelular é encontrado mais freqüentemente nos membros,entretanto a região do tronco, cabeça e pescoço estão geralmente envolvidas [12], como observado neste caso.

Os carcinomas mamários variam em tamanho e aparência. São geralmente pouco circunscritos, não-encapsuladose altamente infiltrativos. Podem apresentar-se como nódulos solitários ou múltiplos. Estes podem ser histologicamenteiguais ou diferentes [13]. Devido a sua capacidade invasiva, pode haver recorrência dentro de 6 meses em mais de 80% doscasos após a exérese [12]. Histologicamente são vários os padrões de neoplasias mamárias. O tumor misto maligno possuiconsistência firme, devido o desenvolvimento de cartilagem e/ou osso neoplásico em conjunto com ácinos neoplásicos [13].Adenocarcinomas são neoplasias malignas que emergem dos dutos maiores mamários, dutos interlobulares, dutos intralobularese células acinares. Geralmente três padrões de proliferação ocorrem nos adenocarcinomas mamários: o acinar, tubular, epapilífero; em muitos casos mais de um padrão pode ser encontrado em diferentes regiões da mesma neoplasia. Já ocistoadenocarcinoma papilífero origina do epitélio dos dutos maiores e intralobulares mamários e crescem por um períododentro de seus lumens [8]. As características histológicas observadas nas neoplasias que envolveram as mamas deste relatosão compatíveis com aquelas descritas pelos autores.

Com relação à idade do animal, os autores são unânimes em afirmar que a maior incidência das neoplasiasdiagnosticadas ocorre entre seis e nove anos. Neste caso o proprietário não soube informar a idade do animal e a idadeestimada é compatível com aquela de maior incidência de neoplasias. As seis neoplasias diagnosticadas neste caso têmcaracterísticas de malignidade, e nos seis meses após a exérese contrariaram a expectativa de recidiva ou de metástasescomuns em neoplasias malignas.

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Supl 4

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1353-s1355, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Tumor venéreo transmissível canino em glândula mamária,um diferencial para neoplasia mamária – relato de caso

Canine transmissible venereal tumor disease in mammary gland,a differential for mammary neoplasia – case report

Alessandra Aparecida Alça Alvares 1, Nancy Lorena Montano Rivera 2,Angela Marcia Requena 3, Fernando Henrique Yoshida Cezário da Silva 3, Ricardo Requena 3,

Vânia Hamessi Valério 3, Rosana Zanatta 3 & Rodrigo Jesus Paolozzi 4

1MV, MSc, Setor Clínica Médica de Animais de Companhia e Laboratório Clínico - HV CESUMAR. 2 MV. Profa MSc.Departamento de Zootecnia – UEM. 3Aluno de Graduação Medicina Veterinária – UEM. 4MV, Esp. Prof. Departamento

Medicina Veterinária - Setor de Clínica Médica de Animais de Companhia – HV [email protected]

ABSTRACT

The transmissible venereal tumor disease (TVT) is of rare occurrence of metastase in mammary gland and due to the differen-tiation of other mammary nodules that the current case reports. An eight year old female dog, of the Dalmatian breed was diagnosised at theCentro Universitário de Maringá (CESUMAR) Veterinary Hospital presenting intense apathy, anorexy, dehydration, bloody vaginal secretionand with presence of nodules of firm consistency and aspect of polyps in all the mammary chain and small subcutaneous nodules in thecostal region. Hematological, ultrasonographic and cytological examinations were carried through as aid in the diagnosis, in order todiscard the clinical suspicion of piometra and mammary tumor. The results of the examinations were compatible with primary genital TVT withmetastases in the mammary gland. Complete remission occurred after five applications with sulphate of vincristine intravenous at the doseof 0,025mg/kg every 7 days. Since TVT is a frequent dog pathology, 80 cases were diagnosed from January 4th until January 7th, takenin consideration sex, age, and location of the neoplasia. Prevailed 91,25% (n=73) of genital implantation; 3.75% (n=3) of nasal origin; 3.75%(n=3) of cutaneous TVT (parapenien); e 1.25% (n=1) of genital TVT with primary occurrence of metastase in mammary glands and subcuta-neous. Of the 80 cases, 73.75% (n=59) were female, whereas 26.25% (n=21) were male. The prevalence of age was between 3 and 5 year.

Key words: dog, TVT, citology.

INTRODUÇÃO

O tumor venério transmissível (TVT) é uma das neoplasias de maior incidência na espécie canina que habita emregiões tropicais, que acomete principalmente o trato genital, com maior freqüência em fêmeas de dois a cinco anos. Atransmissão ocorre pelo coito, lambedura ou contato direto [5,10].

Está relacionado ao estro devido maior aporte sanguíneo vaginal e intumescência vulvar, favorecendo o trans-plante de células tumorais [9]. Filhotes também podem ser acometidos através do contato com a mãe portadora durante otrânsito do neonato pelo canal do parto ou durante o período de amamentação [3,4]. O sinal mais comum da patologia é ocorrimento serossanguinolento vaginal e peniano, a neoplasia apresenta-se como uma massa firme, friável, ulcerada,nodular ou polipóide e também podem apresentar sinais de prurido, agressividade ou apatia, letargia e anorexia [6].

O TVT extragenital ocorre isoladamente ou associado a lesões genitais. Embora a ocorrência de metástase sejarara, o TVT pode ocorrer em linfonodos, pele, lábios, musculatura, vísceras abdominais, pulmões, sistema nervoso central emama [1,2,6-8].

O método diagnóstico mais utilizado é a impressão sobre a lâmina de microscopia “imprint” e citologia deaspiração por agulha fina. As células descritas são arredondadas, individualizadas, quantidade moderada de citoplasmaazul-pálido que contêm múltiplos vacúolos, núcleo redondo, atividade mitótica alta, e pode haver inflamação. Os diagnósticosdiferenciais para TVT são outros tumores de células redondas como o histiocitoma, linfoma e mastocitoma [6].

Para o tratamento é feita a administração de vincristina1 uma vez por semana, por 4 a 6 semanas. Devendo sermanipulado o quimioterápico com cuidado, pois é citotóxico, carcinogênico e mutagênico [5].

O objetivo deste trabalho é relatar um caso raro de metástase em mama e tecido subcutâneo, e alertar a impor-tância da citologia para diagnósticos diferenciais de TVT.

RELATO DE CASO

Foi atendido no Hospital Veterinário (H.V.) do Centro de Ensino Superior de Maringá (CESUMAR) um cão do sexofêmea, da raça Dálmata com oito anos de idade apresentando intensa prostação, anorexia, desidratação, secreção vaginal

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Alvares A.A.A., Rivera N.L.M., Requena A.M., Silva F.H.Y.C., Requena R., Valério V.H., Zanatta R. & Paolozzi R.J. 2007. Tumorvenéreo transmissível canino em glândula mamária... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1353-s1355.

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sanguinolenta e presença de nódulos de consistência firme e aspecto polipóide em toda a cadeia mamária e pequenosnódulos subcutâneos na região costal. Foram realizados exames hematológicos, ultra-sonográfico e citológico, como auxílioao diagnóstico.

A ultra-sonografia e o hemograma descartaram a possibilidade de piometra. A única alteração foi de hiperproteinemia.A citologia aspirativa dos nódulos mamarios e “imprint” da secreção vaginal teve como resultado a presença de célulasredondas com vacúolos citoplasmáticos evidentes, núcleo arredondado e células inflamatórias, indicativas de TVT genitalprimário com metástase mamária.

Foi estabelecido a fluidoterapia tratamento com sulfato de vincristina1 intravenosa na dose de 0,025mg/kg a cada7 dias. Após uma semana, no retorno ao HV, constatou-se significativa regressão dos nódulos mamários e subcutâneos,ausência de secreção vaginal sanguinolenta e melhora no estado geral. No total foram realizados cinco aplicações de quimio-terápico, com remissão completa confirmado por citologia aspirativa.

Devido o TVT ser uma patologia freqüente, realizou-se uma estimativa de atendimentos no H.V. do CESUMAR noperíodo de janeiro de 2004 a janeiro de 2007, considerando o número de cães, o sexo, a idade e o local de implantação daneoplasia. Foram atendidos 80 casos, desses, houve prevalência de 91,25% (n=73) de implantação genital; 3,75% (n=3) deorigem nasal; 3,75% (n=3) de TVT cutâneo (parapeniano); e 1,25% (n=1) de TVT genital primário com metástase em glân-dulas mamárias e tecido subcutâneo. Dos 80 casos, 73,75% (n=59) acometeram fêmeas, enquanto que 26,25% (n=21)eram machos. A prevalência de idade foi entre 3 e 5 anos.

DISCUSSÃO

O presente relato descreve o caso de TVT genital primário com metástase mamária e em tecido subcutâneo.

O animal apresentava alterações clínicas compatíveis com as descritas na literatura, como: anorexia, prostração,secreção vaginal sanguinolenta e nódulos na cadeia mamária.

Devido a presença de secreção vaginal e nódulos na cadeia mamária do animal, teve como diferencial para TVTa piometra e tumor mamário. A ultra-sonografia não evidenciou alterações indicativas de piometra, que foi confirmado pelohemograma, o qual não apresentou resultado correspondente a infecções, demonstrando apenas hiperproteinemia suges-tivo de desidratação. A citologia aspirativa dos nódulos mamários e “imprint” da secreção vaginal teve como resultado apresença de células redondas com vacúolos citoplasmáticos evidentes, núcleo arredondado e células inflamatórias, quedescartaram os diagnósticos diferenciais de tumor mamário e de piometra, confirmando a suspeita clínica de TVT. Apesar dametástase ser rara, foi encontrado uma citação em glândula mamária e em outros órgãos [1,2,6-8]. Os nódulos mamários nãotinham como suspeita inicial TVT, por não ser a apresentação clínica mais freqüente, sendo mais comum o acometimentodas mamas por outros tumores [6].

O tratamento de escolha foi a quimioterapia com sulfato de vincristina1 intravenosa na dose de 0,025mg/kg a cada7 dias, por cinco aplicações, que foi administrada concomitantemente a fluidoterapia para evitar lesão vascular [5]. Apósessas aplicações houve remissão completa dos nódulos mamários, subcutâneos e da secreção vaginal.

O TVT é de comum ocorrência em países tropicais [10]. Dos 80 casos atendidos no período de janeiro de 2004 ajaneiro de 2007 no Hospital Veterinário da CESUMAR, esse é o primeiro caso de metástase em glândula mamária, sendoesse órgão citado em apenas uma referência na literatura.

CONCLUSÃO

Apesar de menor prevalência de metástase em animais com TVT genital primário, é de extrema importância autilização de exames complementares como a citologia para identificar as células de TVT e diferenciá-las de outras neoplasiascom apresentações clinicas mais freqüentes, especialmente em órgãos extra-genitais.

NOTAS INFORMATIVAS

1Sulfato de Vincristina - Tecnocris® 1mg - São Paulo - Brasil.

REFERÊNCIAS

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Supl 4

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1357-s1358, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Hemangiossarcoma causandotamponamento cardíaco – relato de caso

Hemangiosarcoma causing cardiac tamponade – case report

Luciana Pereira dos Santos Fonseca Lima 1, Israel Estrela Gomes 2,Patrícia Arrais 3, Paulo Cesar Rodrigues Tabanez 4 & Carina José de Oliveira 5

1Graduanda do curso de Medicina Veterinária da União Pioneira de Integração Social – UPIS.2Graduando do curso de Medicina Veterinária da União Pioneira de Integração Social – UPIS.

3Clínica veterinária PRONTOVET, MS, médica veterinária. 4Clínica veterinária PRONTOVET, MS, médico veterinário.5Clínica veterinária PRONTOVET, médica veterinária.

patrí[email protected]

ABSTRACT

Cardiac tumors are rare in dogs. This report describes a case of hemangiosarcoma in a 11-year-old female Cocker Spaniel dogwith clinical signs of congestive heart failure. The patient did not survive to the treatment. Multiple similar dark nodules in the heart, lung, liver,spleen, kidney and omento were seen during necropsy. Pericardic effusion and cardiac tamponade was present. Histopathology revealedhemangiossarcoma with metatasis. The relation between hemangiossarcoma and cardiac tamponade is discussed in this report.

Key words: dog, hemangiosarcoma, cardiac tamponade.

INTRODUÇÃO

Tumores cardíacos são raros e ocorrem em uma porcentagem de 0,19% em cães e 0,03% em gatos. Estes tumorestendem a aparecer em cães de idade avançada [2]. O hemangiossarcoma (hemangioendotelioma, angiossarcoma) é umaneoplasia maligna do endotélio vascular. Trata-se da neoplasia mais comum que acomete o coração de cães machos demeia idade ou mais velhos. O Golden Retriever, o Cocker Spaniel e o Labrador são as raças mais predispostas [2]. Oangiossarcoma pode ser encontrado em qualquer vaso sangüíneo, sendo que no baço, coração, pele, pulmão e fígado sãofreqüentemente os sítios primários de localização [1,6,7]. Simultânea e esporadicamente ocorre em outros órgãos como rim,vesícula urinária, osso, língua, próstata, músculos, linfonodos, peritônio, cérebro e diafragma [2,8]. É uma neoplasia de caráteragressivo caracterizada por infiltração e metástase logo no início da doença [2]. Os angiossarcomas primários do coraçãolocalizam-se no átrio direito em 93% dos casos, com invasão precoce de cavas, valva tricúspide ou pericárdio [4]. Comumenteestá associado ao hemopericárdio evoluindo para tamponamento cardíaco [2]. Os sinais clínicos são variados e dependemdo local primário e das lesões metastáticas, além de sinais inespecíficos de neoplasia maligna [3]. As alterações metabólicasdemonstradas pelo animal afetado, geralmente, estão ligadas à presença ou ausência de metástase, ruptura tumoralespontânea, coagulopatias, arritmias cardíacas e à localização primária do tumor. A maioria dos animais acometidos éavaliada por descompensação aguda por ruptura tumoral espontânea e geralmente apresentam insuficiência cardíacacongestiva do lado direito causada por tamponamento cardíaco ou obstrução da veia cava [2]. Alterações hematológicasincluem anemia, fragmentos de hemácias (esquisócitos) e acantócitos, leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda emonocitose [2]. Havendo uma suspeita clínica, sugere-se a realização de punção aspirativa para avaliação citológica eposterior confirmação diagnóstica por histopatologia, onde podem ser notadas células endoteliais imaturas pleomórficasabundantes formando espaços vasculares preenchidos por sangue, ou massas celulares sólidas [2,3]. Metástases podemser observadas em exames de apoio diagnóstico, como radiografia, ultra-sonografia e tomografia computadorizada [2]. Otratamento cirúrgico é preferido, mas historicamente a sobrevida desses pacientes é relativamente curta, não ultrapassandoum ano, com algumas exceções. Prefere-se o tratamento quimioterápico adjuvante pós-operatório com vincristina, doxor-rubicina e ciclofosfamida, por se obter melhores resultados do que a cirurgia isoladamente [2].

RELATO DE CASO

Uma cadela Cocker Spaniel, com 11 anos de idade foi encaminhada à Clínica Veterinária Prontovet, Brasília - DF,apresentando diminuição da acuidade visual, abdômen distendido, tosse intermitente e dispnéia há um mês. Ao examefísico, notou-se mucosas hipocoradas e ictéricas, estertores pulmonares, perda de peso e apatia. Ao exame oftálmico, foidiagnosticada uveíte. A investigação laboratorial revelou anemia normocítica e normocrômica regenerativa e leucocitosepor neutrofilia com desvio à esquerda regenerativo, aumento da creatinina (1,32 mg/dl), fosfatase alcalina (608,2 UI/l), TGP(268,2 UI/l) e bilirrubina total (2,08 mg/dl), sendo tal aumento apenas pela bilirrubina direta. Entretanto, detectamos diminuiçãoda concentração sérica de cálcio (8,1 mg/dl), proteínas totais (3,77 g/dl), devido redução da globulina, e potássio (4,19 mmol/l).Pela urinálise, observamos que a densidade urinária era de 1.006. Realizou-se abdominocentese e avaliação do líquidoascítico, que constatou ser um transudato modificado, de cor rosada, aspecto turvo, rico em proteínas e leucócitos. Havia

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Lima L.P.S.F., Gomes I.E., Arrais P., Tabanez P.C.R. & Oliveira C.J. 2007. Hemangiossarcoma causando tamponamentocardíaco – relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1357-s1358.

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predominância de hemácias e presença de moderada quantidade de células mesoteliais reativas e agrupadas. Ao exameecocardiográfico, constatou-se degeneração valvar mitral mixomatosa e efusão pericárdica moderada com sinais detamponamento cardíaco. O animal foi submetido à pericardiocentese com punção de líquido hemorrágico. No terceiro dia deinternação, a paciente veio a óbito. À necropsia, observou-se múltiplos nódulos pulmonares difusos, com até um centímetrode diâmetro, de cor enegrecida, consistência firme e com formato circular. No coração, os nódulos estavam localizados nabase, principalmente nas aurículas esquerda e direita e também no saco pericárdico, de onde uma quantidade significativade sangue foi retirada. Um nódulo único foi encontrado no rim esquerdo. Havia quatro pequenos nódulos no fígado. O baçoestava aparentemente normal e o omento apresentava dois nódulos de aproximadamente dois centímetros de diâmetro. Ahistopatologia revelou que as lesões encontradas são indicativas de hemangiossarcoma.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O hemangiossarcoma acomete mais animais de meia idade e mais velhos, com predisposição pelas raças GoldenRetriever, Cocker Spaniel e Labrador [2], o que é compatível com a paciente relatada. Entretanto, a neoplasia é principalmentevista em machos. Do ponto de vista clínico, o animal com tamponamento cardíaco apresenta sinais de insuficiência cardíacacongestiva direita devido ao adelgaçamento da parede e pressões baixas do átrio e ventrículo direito que ficam, assim, maisvulneráveis aos efeitos da compressão. Por isso, é típico o histórico de aumento abdominal, tosse, dispnéia, perda de peso,sendo achados comuns no exame físico a taquicardia, palidez de mucosas, ascite e hepatomegalia [2]. Moderada hipopro-teinemia é observada em alguns casos de efusão pericárdica e moderado aumento das enzimas hepáticas e azotemiapodem ocorrer secundariamente à falha cardíaca. O hemangiossarcoma cardíaco pode estar associado com anemiaregenerativa, leucocitose e o líquido peritoneal é frequentemente um transudato modificado [2]. Cerca de 30 a 60% dos cãesapresentam trombocitopenia [8], o que não ocorreu com este animal. A ecocardiografia é sensível o bastante para detectaraté pequenos volumes de fluido no pericárdio e é o exame de eleição para detectar efusão pericárdica. O tamponamento émanifestado pelo colapso diastólico do átrio direito e algumas vezes do ventrículo direito, sendo a pericardiocentese o trata-mento de escolha inicial para estabilizar o animal [5]. Em casos de hemangiossarcoma cardíaco, a pericardiectomia éconsiderada paliativa já que o índice de metástase é alto e o prognóstico ao longo prazo é ruim. Nem sempre é possível arealização da remoção cirúrgica dos tumores devido ao tamanho e localização [5]. O prognóstico é sempre ruim para cãescom hemangiossarcoma. Porém, a quimioterapia tem sido efetiva em alguns pacientes. Menos de 10% dos cães tratadossobrevivem por mais de um ano [8]. No caso relatado, a neoplasia cardíaca foi a possível causa do derrame pericárdico. Otamponamento cardíaco ocorreu devido ao acúmulo de sangue no saco pericárdico, o que aumentou a pressão intrapericárdica,ultrapassando a pressão cardíaca diastólica e, portanto, prejudicando o funcionamento cardíaco [2]. O baixo débito cardíaco,a hipotensão arterial e a pouca perfusão nos outros órgãos, bem como no coração, levou o animal a um choque cardiogênicoseguido de morte, apesar das tentativas de reanimação.

REFERÊNCIAS

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Supl 4

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s1359

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1359-s1361, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Tumor venéreo transmissível sem envolvimento genital

Transmissible venereal tumour without genital involvement

Rafaela Magalhães Barros 1, Fabiana Elias 2,Helvécio Leal Santos Júnior 2 & Benito Juarez Nunes Alves de Oliveira 3

1Residente do setor de Anatomia Patológica da União Pioneira de Interação Social. 2Professor (a) do setor de Anatomia Patológicada União Pioneira de Interação Social. 3Residente de Clínica Cirúrgica de pequenos animais da União Pioneira de Interação Social.

ABSTRACT

Transmissible Venereal Tumour (TVT) is the most common neoplasia of the canine external genitalia, however, extragenitalsites also can be affected. Extragenital lesions can occur idependenttly of genital lesions. The biological behavior and the pathogenesis ofextragenital TVT forms are not yet clear, because the few number reported. Mucosa and skin lesions turns easier the implantation ofneoplastic cells.

Key words: Transmissible Venereal Tumour, extragenital.

INTRODUÇÃO

Tumor venéreo transmissível (TVT) é a neoplasia mais comum da genitália externa de cães, todavia locais extragenitaistambém podem ser afetados [1,2,5]. É uma neoplasia sexualmente transmissível. Células tumorais viáveis são fisicamentetransplantadas pelo contato das membranas mucosas durante a copulação [1,2,4,5]. A ocorrência extragenital pode tambémser na cavidade oral ou nasal quando os animais ficam lambendo ou cheirando descarga prepucial ou vaginal de cãesinfectados [5].

Em machos, o tumor, é usualmente localizado na base do pênis, ou na área da glande e ocasionalmente ocorreno prepúcio [2-4]. Em fêmeas a neoplasia é freqüentemente encontrada na parte posterior da vagina, na junção do vestíbuloe da vagina. Algumas vezes circunda orifício uretral e pode protuir da vulva [3,4].

A neoplasia aparece inicialmente como pequenas pápulas hiperêmicas que progride para nodular, multilobulado,com proliferações pedunculadas e se assemelha a couve-flor [3,4]. A massa é friável, e a parte superficial geralmente estáulcerada e inflamada [3]. No exame clínico pode ser observado exsudado serosanguinolento gotejando da vulva e doprepúcio. O tumor apresenta nódulos de diferentes tamanhos, medindo até 15cm de diâmetro [4]. Manifestações clínicas doTVT dependem do estado imune do cão. Em animais imunocomprometidos, cães estressados e filhotes, o curso naturalpode ser mais agressivo [1]. Em cães imunocompetentes a neoplasia pode regredir espontaneamente dentre 6 meses [2].Todavia outros autores citam que regressão espontânea é extremamente incomum em casos de ocorrência natural de TVT [5].

Metástases não são freqüentes. É relatado ocorrer em menos de 5% dos casos [4]. Metástases são observadasprincipalmente em cães imunossuprimidos e filhotes [1]. Pode ocorrer via transplantação mecânica (manifestando como lesõescutâneas, nasal e oral), por extensão local ( por exemplo no útero e tubas uterinas em associação com lesões genitais) oupor rota hematógena (como é visto metástases viscerais) [1]. São mais comumente vistas em cães machos adultos [1,3].Locais relatados incluem pele, linfonodos regionais, tonsilas, olhos, pulmão, fígado, baço, rim, peritônio, mucosa oral enasal, nariz, língua, lábios, região mamária, pituitária, hipófise, cérebro, cordão espinhal, medula óssea e musculatura [1,2,4].

O diagnóstico é baseado no histórico assim como nos achados clínicos, citológicos e histopatológicos [4]. TVT érapidamente diagnosticado pela avaliação de aspirados por agulha fina devido a sua aparência citológica única [5] na qual,observa-se uma grande população de células redondas homogêneas, com núcleo grande arredondado e um a dois nucléolosproeminentes e figuras mitóticas são muito comum [1,2,4]. O citoplasma é abundante, com bordas distintas, basofílico eintensamente vacuolizado, com vacúolos bem definidos [1,2,5]. É possível visualizar células redondas compatíveis com TVTno esfregaço de sangue periférico [1]. Avaliação histológica revela população homogênea de células redondas com núcleohipercromático e citoplasma finamente granular. Figuras mitóticas são comuns e infiltração por plasmócitos e linfócitostambém é evidente [1]. Células tumorais estão arranjadas em massas compactas entremeadas por finas bandas de tecidofibrovascular ou menos freqüentemente em cordões [5].

O tratamento pode ser realizado por excisão cirúrgica, radioterapia, imunoterapia e quimioterapia. Recidivas pós-excisão cirúrgica é comum e é vista em 12-68% dos casos. Resultados com imunoterapia têm sido esporádicos e arecorrência é comum. O tratamento que tem demonstrado ser mais efetivo é a quimioterapia e a radioterapia. A radioterapiatem sido efetiva mas necessita de uma imobilização química do animal durante o procedimento, profissionais especializadose equipamentos [4]. O TVT é muito responsivo a agentes quimioterápicos e cães afetados são melhores manejados porquimioterapia sistêmica [1]. Diferentes agentes quimioterápicos e protocolos têm sido usados. Agentes antimitóticos como

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Barros R.M., Elias F., Santos Júnior H.L. & Oliveira B.J.N.A. 2007. Tumor venéreo transmissível sem envolvimento genital.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1359-s1361.

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ciclofosfamida, methotrexate, vincristina, vinblastina e doxorrubicina são os agentes quimioterápicos de preferência para otratamento deste tumor. Sulfato de vincristina, uma planta alcalóide é considerada ser a droga quimioterápica de escolhapara o tratamento do TVT, sendo mais efetivo, seguro e que gera cura permanente mesmo em pacientes com metástasesextragenitais e há poucos casos resistentes [1,4].

RELATO DE CASO

Foi atendida no Hospital Veterinário da UPIS uma cadela sem raça definida, adulta. O animal foi encontrado narua e estava debilitado. No exame físico, o animal apresentava escore corporal ruim e abdômen abaulado. Foi observadouma massa, multilobulada, com aspecto de couve-flor na região inguinal e nódulos subcutâneos de 1 a 3cm espalhados portodo corpo, alguns estavam ulcerados. Foi realizado imprint da massa inguinal e punção aspirativa por agulha fina dosnódulos subcutâneos. A citologia sugeriu tumor venéreo transmissível. Foi observado uma grande população de célulasredondas homogêneas, com núcleo grande arredondado e um a dois nucléolos proeminentes, citoplasma abundante, combordas distintas, basofílico e intensamente vacuolizado. Contudo o animal não apresentava nódulos na região genital,sendo assim, foi recomendado biópsia, coletado por punch, para avaliação histopatológica. Na histopatologia confirmou-seo tumor venéreo transmissível revelando população homogênea de células redondas com núcleo hipercromático e citoplasmafinamente granular. Estas células estavam arranjadas em massas compactas entremeadas por finas bandas de tecidofibrovascular em padrão trabecular. O animal foi internado e o tratamento foi realizado com sulfato de vincristina na dose de0,5mg/m2 (total 0,5 ml IV). Foram realizados cinco aplicações intercalando intervalos de 7 e 14 dias, ocorrendo remissão totalda neoplasia.

DISCUSSÃO

TVT é observado principalmente em cães de rua, jovens, no período de atividade sexual máxima [3,4]. O animaldo relado era uma cadela, sem raça definida, adulta e havia sido encontrada na rua. Cães acima de um ano de idade estãoem alto risco em áreas endêmicas [3,5]. Qualquer raça ou sexo são susceptíveis. Entretanto a doença é mais observada emcães sem raça definida [3,5].

Há autores que citam que fêmeas são mais susceptíveis que os machos [3], o que corroba com o presente relato,todavia, para outros autores a doença é observada principalmente em machos [5].

No exame físico foi observado uma massa com aspecto de couve-flor, multinodulada, friável, ulcerada e inflamadana região inguinal e nódulos subcutâneos espalhados por todo corpo, características descritas como sendo sugestivas deTVT [3,4]. Todavia não havia nódulos na região genital. O comportamento biológico e a patogênese das formas extragenitaisdo TVT não são ainda bem esclarecidos, porque o número de casos é pequeno dentre os relatos mais relevantes [5]. Lesõesextragenitais podem ocorrer independentemente de lesões genitais [1,4]. Lesões na pele e mucosa facilitam a implantaçãode células neoplásicas [1]. Local extragenital primário mais comum é a cavidade nasal. Outros locais primários de TVTincluem cavidade oral, reto e pele [5]. Este animal apresentou apenas nódulos subcutâneos e na região inguinal.

O diagnóstico foi realizado por imprint da massa inguinal e punção aspirativa por agulha fina dos nódulos subcutâ-neos, como é sugerido na literatura [5]. Na citologia observou-se uma grande população de células redondas homogêneas,com núcleo grande arredondado e um a dois nucléolos proeminentes, citoplasma abundante, com bordas distintas, basofílicoe intensamente vacuolizado. Essa aparência é característica de tumor venéreo transmissível [1,2,4]. Contudo o animal nãoapresentava nódulos na região genital, sendo assim, foi recomendado biópsia, coletado por punch, para avaliaçãohistopatológica. Biopsia para examinação histológica é o método diagnóstico mais fidedigno [4]. Na histopatologia confir-mou-se o tumor venéreo transmissível revelando população homogênea de células redondas com núcleo hipercromático ecitoplasma finamente granular, arranjada em massas compacta entremeadas por finas bandas de tecido fibrovascular empadrão trabecular, como é relatado [5]. Todavia também é relatado um arranjo pseudoalveolar [2] que não foi observado nonosso caso.

O tratamento foi realizado com sulfato de vincristina que é considerada ser a droga quimioterápica de escolhapara o tratamento do TVT com poucos casos resistentes [1,4]. A dose utilizada foi de 0,5mg/m2 (total 0,5ml IV). Essa dose éconsiderada efetiva mesmo em pacientes com metástases. Foram realizados cinco aplicações intercalando intervalos de 7e 14 dias, ocorrendo remissão total da neoplasia. Na maioria dos casos 2 a 8 aplicações são suficientes para induzirremissão completa [1].

CONCLUSÃO

Tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia comum da genitália externa de cães, todavia locaisextragenitais também podem ser afetados. Sua ocorrência em outros locais é relativamente comum, porém, sua presençaextragenital isolada é rara, tendo este caso relevância clínica. A origem primária desta forma extragenital não está esclarecida,sugerindo-se mais estudos para se compreender melhor a patogenia da mesma. Importante ressaltar que mesmos nessescasos o tratamento convencional com vincristina demonstrou ser eficaz e de custo acessível, porém, ela deve estar associadaá outras medidas preventivas como o impedimento do contato direto com o tumor, evitando lambedura e o isolamento dopaciente, desta forma prevenindo possível disseminação.

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Barros R.M., Elias F., Santos Júnior H.L. & Oliveira B.J.N.A. 2007. Tumor venéreo transmissível sem envolvimento genital.Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1359-s1361.

s1361

REFERENCIAS

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s1363

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1363-s1364, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Emprego da rinoscopia e citologiano diagnóstico de linfoma nasal em cão

Using of rinoscopy and citology in the diagnostic of nasal lymphoma in dog

Thiago Demarchi Munhoz 1, S.S. Costa 1, G.T. D’Angelo 2, A.B. Galvão 2,G.G.S. Oliveira 1, C.L. Maniscalco 3, A.E. Santana & M. Tinucci-Costa

1Pós-graduando em Medicina Veterinária da FCAV/UNESP – Jaboticabal. 2Aprimorando em Clínica Médica de PequenosAnimais da FCAV/UNESP – Jaboticabal. 3Docentes do Depto. de Clínica e Cirurgia Veterinária da FCAV/UNESP – Jaboticabal.

ABSTRACT

Lymphoma is the most common malignancy of dogs. According to the World Health Organization, it can be classified as multi-centric, alimentary, cutaneous, mediastinic or extranodal. In this paper, a case of nasal lymphoma in a dog attended at the Veterinary TeachingHospital “Governador Laudo Natel” FCAV/Jaboticabal is described. Citological data was essential to establish de definitive diagnosis.

Key words: dog, lymphoma, nasal.

INTRODUÇÃO

O linfoma origina-se de tecido linfóide e é o principal tumor hematopoiético no cão. Afeta cães de todas as idades,predominantemente aqueles de meia idade (6,3 a 7,7 anos), não apresentando predileção sexual. As raças predispostasincluem basset hound, bulldog, boxer, golden retriever, pastor alemão, scottish terrier e airedale terrier; teckel e lulu dapomerânia são raças menos acometidas [4]. Esta neoplasia, cujo aparecimento é espontâneo, representa 7-24% de todos ostumores caninos. Em cães, compreende aproximadamente 83% das desordens proliferativas do tecido hematopoiético [7].

Caracteriza-se por elevada agressividade e, ao contrário do que ocorre em gatos, a relação com agentes viraisnão foi definitivamente demonstrada. Fatores ambientais têm sido investigados na tentativa de determinar a etiologia dolinfoma. A exposição ao herbicida 2,4 ácido fenoxiacético aumenta a possibilidade de aparecimento do tumor em pessoase animais [4].

Embora seja considerada incompleta, a classificação anatômica, proposta pela Organização Mundial de Saúde(OMS) é aceita e muito utilizada e se divide em multicêntrico, alimentar, mediastínico, cutâneo e extranodal (renal, neuroló-gico, ocular, ósseo, articular e etc) [4].

Na cavidade nasal, o linfoma é a afecção neoplásica mais comum, juntamente com carcinomas e tumor venéreotransmissível, induzindo sinais clínicos de dispnéia, epistaxe e corrimento nasal [2], além de distorção facial [1]. O diagnósticodiferencial para corrimento nasal unilateral inclui trauma, corpo estranho e neoplasia. Rinite de etiologia alérgica, fúngica ebacteriana também podem ser consideradas, mas geralmente estas afecções causam secreção nasal bilateral [8].

O diagnóstico presuntivo de linfoma pode basear-se nos sinais clínicos e exame físico [1] e ser confirmado pormeio de exames citológicos ou histopatológicos [3]. Os achados caracterizam-se por linfócitos grandes, alguns em mitose,com núcleos duplos e nucléolos evidentes [2]. De forma geral, a radiografia nasal ou a tomografia computadorizada (TC), arinoscopia, a biópsia e as culturas nasais profundas são exigidas para se estabelecer um diagnóstico de doenças intranasais.As radiografias ou varreduras por TC são obtidas primeiramente, seguidas pelo exame bucal e rinoscopia e depois a colheitade material. Esta seqüência é recomendada porque os resultados da radiografia ou da TC e da rinoscopia normalmente sãoúteis na seleção de locais para a biópsia [6].

A abordagem terapêutica pode incluir quimioterapia com fármacos como vincristina, ciclofosfamida, doxorrubicina,prednisona e L-asparaginase. A radioterapia tem pouca aplicação no linfoma canino sendo indicada nos casos de tumoresnasais e com envolvimento do sistema nervoso central. A cirurgia como parte da terapia é controversa [4].

RELATO DE CASO

Foi atendida, no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, uma cadela sem raça definida, de 6 anos,apresentando histórico de espirros freqüentes e epistaxe bilateral, com cerca de 1 ano de evolução. O quadro progrediu paraespirros com eliminação de coágulos de sangue e secreção nasal purulenta pela narina direita. Ao exame físico, o animalapresentava discreto ruído inspiratório e aumento de volume de tecido mole em plano nasal direito. Os parâmetros vitaismostraram-se normais. O hemograma revelou discreta trombocitopenia (143.000 plaquetas). Imprint e swab da secreçãonasal foram coletados e a citologia revelou celularidade inflamatória mista, presença de diversas células epiteliais associa-das a um componente bacteriano e alguns poucos linfócitos com morfologia alterada. As radiografias de cavidade e seiosnasais não revelaram anormalidades. Estabeleceu-se o diagnóstico inicial de rinite crônica e após 14 dias de tratamento

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Munhoz T.D., Costa S.S., D’Angelo G.T., Galvão A.B., Oliveira G.G.S., Maniscalco C.L., Santana A.E. & Tinucci-Costa M. 2007.Emprego da rinoscopia e citologia no diagnóstico de linfoma nasal em cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1363-s1364.

s1364

antimicrobiano, sem melhora, realizou-se rinoscopia com o animal submetido à anestesia geral inalatória, utilizando-seisoflurano. Observou-se irregularidade de mucosa em narina direita, com aspecto esbranquiçado e presença de secreçãonasal mucóide. Não foram observados focos de hemorragia. Coletou-se material por meio de lavado e swab nasais eprocedeu-se punção biópsia aspirativa com agulha fina da lesão localizada em plano nasal. Citologicamente, todas aspreparações colocaram em evidência a presença de um componente celular linfóide com critérios verdadeiramenteneoplásicos. Estabeleceu-se, então, o diagnóstico definitivo de linfoma em cavidade nasal direita.

DISCUSSÃO

Conforme dados da literatura, a cadela apresentava-se dentro da faixa etária de maior ocorrência de linfoma [4].Os sinais clínicos e os achados físicos em cães e gatos com linfomas extranodais são extremamente variados e dependemda localização da massa [6]. Conforme descrito, o animal apresentou sinais clínicos de afecção em cavidade nasal comoespirro e presença de secreção e epistaxe unilaterais [2,8,9]. Justifica-se o fato do primo diagnóstico de rinite com posteriorquadro de linfoma nasal, uma vez que diagnosticar casos de linfoma extranodal torna-se mais demorado e outras doençasprovocam os mesmos sinais clínicos [4,9].

O animal do presente relato não apresentou linfocitose, embora muitos autores descrevam a ocorrência destaalteração nos pacientes afetados [2]. As anormalidades hematológicas resultam de infiltração da medula óssea por célulasneoplásicas, hipo ou hiperfunção esplênica (provocada por infiltrados neoplásicos) ou anormalidades imunomediadasparaneoplásicas (anemia hemolítica ou trombocitopenia imune) [6].

Conforme preconizado por diversos autores, o exame citológico é um dos principais meios para se estabelecero diagnóstico definitivo de linfoma [3-6]. As principais vantagens do exame citológico são a rapidez e a simplicidade com quese estabelece o diagnóstico. Acrescenta-se o fato de ser um método seguro, que não proporciona riscos à vida do paciente,não requerendo equipamento sofisticado, sedação ou anestesia para a sua realização. De um modo geral, as amostrascitológicas são facilmente obtidas já que muitas formas de colheita são pouco invasivas e o grau de morbidade e/ou com-plicações tardias, associadas às mesmas, são mínimas [3].

As anormalidades radiográficas em cães e gatos com linfoma variam com as diferentes localizações. Emborapossam ocorrer áreas de opacidade de tecido mole em cavidade nasal [8,9], o paciente do presente relato não apresentoutais alterações. A tomografia computadorizada é o método diagnóstico de eleição para se avaliar cavidade nasal e sinus [8].Na ausência de tal recurso, optou-se pela realização de rinoscopia, por meio da qual se evidenciou mucosa nasal irregulare esbranquiçada, proporcionando inspeção direta da lesão e coleta de amostra, favorecendo o diagnóstico definitivo.

CONCLUSÃO

O presente relato teve, como finalidade, descrever um caso de linfoma em cavidade nasal em cão, abordandoseus aspectos clínicos e diagnósticos, principalmente utilizando a citologia e a rinoscopia, já que a tomografia computadorizada,considerada a melhor ferramenta para avaliação de cavidade nasal, não se encontra disponível.

REFERÊNCIAS

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1365-s1367, 2007.

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Adenocarcinoma papilífero intestinalem um cão fila brasileiro: relato de caso

Papilliferous intestinal adenocarcinoma in male dog fila brasileiro: case report

Luiza Quintão Medeiros 1, Richard da Rocha Filgueiras 2, Dharana Guedes Mendonça 3,Márcio Botelho de Castro 4, Mário Sérgio A. Falcão 5 & Paula Diniz Galera 6

1Residente em Clínica Cirúrgica e Anestesiologia do Hospital Veterinário de Pequenos Animais da Universidade de Brasília (UnB) –Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV/UnB). 2 MV, Msc., Prof. de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais – FAV/UnB.

3Médica Veterinária do Hospital Veterinário de Pequenos Animais da UnB. 4MV, PhD., Prof. Adjunto de Patologia Veterinária – FAV/UnB.5Médico Veterinário do Hospital Veterinário de Pequenos Animais da UnB. 6MV, PhD., Prof.ª Adjunta de Técnica Cirúrgica

e Anestesiologia Veterinária – FAV/[email protected]

ABSTRACT

Intestinal adenocarcinoma is a malign tumor of epithelial cells with unknown etiology. This tumor mainly appears in colon andrectum of adult dogs (old and middle-aged dogs) and represents 25% of all gastrointestinal tumors in this specie. Diarrhea, hematocheziaand dyschezia are common findings. Infiltrative tumors cause tenesm and constipation due to intestinal obstruction which may be detectableby retal palpation. The diagnosis is based on colonoscopy and histological evaluation. Also, radiology may be useful on the diagnosis. Treatmentincludes complete surgical exertion of the tumor while the chemotherapy has no beneficial effects. This case report describes this conditionand discusses about diagnosis and therapeutics of the disease.

Key words: dog, adenocarcinoma, colits.

INTRODUÇÃO

O adenocarcinoma retal ou anal é o tumor maligno mais comum em cães [6]. Possui origem nas células epiteliaisda mucosa intestinal. Com base nas suas características macroscópicas, o adenocarcinoma pode ser classificado comoinfiltrativo, ulcerativo, ou proliferativo. O tipo infiltrativo invade a parede retal, causando fibrose e formação de constipação. Sefor circunferencial, freqüentemente ocorrerá a clássica lesão em “aro de guardanapo”. O tipo ulcerativo produz lesão elevada,ulcerada e firme, enquanto que a lesão proliferativa se evidencia por tipo pedunculado, múltiplo e friável. A invasão delinfáticos é achado comum, do mesmo modo que as metástases até os linfonodos regionais (mesentéricos) e até órgãos àdistância como pulmão e fígado [5].

Os adenocarcinomas ocorrem predominantemente em cães mais idosos. Os sinais clínicos associados à neoplasiada região anorretal são: diarréia, disquezia, tenesmo, excreção de sangue e muco com as fezes, e defecação dolorosa.Ocorrem perda de peso, letargia e anorexia nos estágios avançados da neoplasia [6].

O diagnóstico de neoplasia anorretal requer exame físico por inspeção retal digital. O tamanho, extensão e ainvasibilidade do tumor são avaliados. Os linfonodos sublombares pélvicos são palpados por via retal e abdominal. Perfishematológicos e bioquímicos, radiografias torácicas e abdominais e a ultra-sonografia abdominal ajudarão na avaliação doestágio da afecção e de possíveis distúrbios concomitantes. A colonoscopia terá utilidade na avaliação do tamanho e extensãodo tumor e na obtenção de amostras de biópsia para o exame histopatológico. Para identificar carcinomas submucosos,biópsias relativamente profundas são necessárias [7]. É importante a determinação da localização e extensão exatas dotumor para a seleção da abordagem cirúrgica e método correto de ressecção [5].

Os tumores que podem ser tratados com excisão local estão associados ao melhor prognóstico que os tumoresque dependem de excisão radical. É comum a recidiva local da afecção, refletindo no fracasso na tentativa de remoçãointegral do tecido neoplásico. O prognóstico é reservado e está relacionado ao aspecto macroscópico do tumor, sendo asobrevida maior para as massas polipóides pedunculadas isoladas [2].

O adenocarcinoma em gatos acomete mais o intestino delgado de animais idosos, uma ulceração macroscópicada mucosa parece ser mais comum em tumores do cólon do que nos tumores do intestino delgado [1,4].

RELATO DE CASO

Relata-se o caso de um cão, macho, sem raça definida, dez anos de idade, não castrado, com histórico dehematoquezia, disquezia, tenesmo, fezes pastosas em forma de fita e presença de pólipo anal. Ao exame cínico, observou-se na palpação retal digital muita sensibilidade e desconforto, presença de sangue vivo, aumento do volume prostático e doassoalho da porção final do reto, além da mucosa irregular.

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Medeiros L.Q., Filgueiras R.R., Mendonça D.G., Castro M.B., Falcão M.S.A. & Galera P.D. 2007. Adenocarcinoma papilíferointestinal em um cão fila brasileiro: relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1365-s1367.

s1366

Na investigação diagnóstica do caso-clínico foram solicitados exames complementares como enzimas renal ehepática e hemograma completo, revelando neutrofilia e linfopenia. Ao método de contagem Direto de Willis não foi verificadaa presença de parasitas intestinais, observando-se grande quantidade de hemácias e células de descamação nas fezes. Apartir do exame radiográfico simples do abdômen, com contrate negativo da bexiga, foi observado aumento do volumeprostático, visualizado também na ultra-sonografia do abdômen juntamente com a presença de gazes e resíduos fecais nasalças intestinais. À radiografia contrastada do cólon e reto (enema de bário) foi verificada a presença de estenose intestinalparcial, verificando uma redução da luz na região na porção distal do reto. O exame colonoscópico evidenciou ausência deestenose completa, mucosa retal e colônica proximal com hiperemia e processo inflamatório com lesão retal sugestiva depolipóide no cólon proximal. O exame histopatológico realizado nos fragmentos obtidos na biópsia incisional de uma porçãodo intestino, sendo sugestivos de reto-colite e adenoma polipóide, recomendado então biópsia excisional dos nódulosretais para conclusão histopatológica.

O animal foi encaminhado para a realização de orquiectomia terapêutica para cessar a produção de testosterona,o que levaria a uma diminuição do volume prostático e descompressão retal. Foram receitados antibioticoterapia comMetronidazol na dose de 28mg/kg / BID / VO / por 10 dias, além do aumento de fibras na dieta para o tratamento da colite.

Após quatro meses da realização da orquiectomia terapêutica o animal não sentia mais dor à defecação, porémainda possuía sinais clínicos de colite, sendo receitado Prednisolona na dose de 0,25mg/kg / BID / VO /por 5 dias e 0,25mg/kg / SID / VO / por mais 3 dias, além de ração terapêutica intestinal. O animal foi submetido novamente à radiografiacontrastada do cólon, verificando as mesmas alterações anteriores, sendo então encaminhado para enterectomia da porçãodistal do reto para biópsia. Esta foi realizada a partir da excisão da porção distal do reto e região anal, sendo efetuado proce-dimento retal com tração através do ânus.

O animal foi submetido a jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 2 horas, enema algumas horas antes da cirurgiae profilaxia com Metronidazol na dose de 30mg/kg / IV e Cefazolina 30mg/kg / IV trinta minutos antes do procedimento cirúrgico.

No pós-operatório imediato foi prescrita alimentação pastosa por cinco dias; Cefalexina na dose de 30mg/Kg /SID / VO / por 15 dias e Metronidazol 15mg/Kg / SID / VO / por dez dias; Meloxican 0,2mg/Kg / SID / VO / por 7 dias; e Cloridratode Tramadol 2mg/Kg / TID / VO / por 5 dias. Durante esse período o animal ainda apresentou desconforto ao defecar econstipação por dois dias sendo necessária a realização de um enema. Foi prescrito Metronidazol + Espiramicina (75.000UI/Kg + 12,5 mg/kg) / SID / VO / por 7 dias e Prednisolona 0,5mg/kg / BID / VO / por 10 dias. Decorrida a avaliação pós-operatória o animal recebeu alta cirúrgica, não sendo observado recidiva da sintomatologia clínica. O resultado do examehistopatológico caracterizado por neoplasia maligna de aspecto polipóide formado por células com moderado pleomorfismo,nucléolos grandes e múltiplos compondo estruturas papilíferas, por vezes tubular com infiltração tumoral da submucosa,concluiu-se em adenocarcinoma papilífero intestinal moderadamente diferenciado.

DISCUSSÃO

A diferenciação macroscópica e histológica entre pólipos e carcinomas retais pode ocasionalmente ser tarefadifícil. Podem ocorrer alterações carcinomatosas e carcinomas in situ, contudo, existem evidências insuficientes sugestivasde que os pólipos sejam pré-malignos [5].

Para que sejam diminuídas as complicações pós-operatórias associadas à infecção da ferida e deiscência daanastomose é necessária a efetiva preparação intestinal pré-operatória em cães e gatos. A preparação mecânica e a quimio-profilaxia antimicrobiana reduzem significativamente as complicações após cirurgia colorretal em seres humanos. O principalobjetivo da preparação intestinal grosso consiste na diminuição do fluxo fecal durante a cirurgia, e na redução do número debactérias fecais [5].

A abordagem cirúrgica e método de ressecção utilizados para a remoção de tumores malignos dependem de sualocalização. Para tumores envolvendo o terço caudal do reto e a região anal, pode ser efetuado procedimento retal comtração através do ânus, ou a anoplastia de 360° [5], sendo a primeira a de escolha para o procedimento. A deiscência daanastomose acompanhada de extravasamento e a formação de constrição são as complicações mais significativas [5].

CONCLUSÃO

Embora a chance de recidiva do adenocarcinoma em cães seja elevada, devido à dificuldade de excisão cirúrgicae ao risco de metástase, a cirurgia sempre é indicada associada aos tratamentos clínicos disponíveis para controlar a coliteque sempre está presente no quadro, resultando em maior sobrevida para o paciente. Todas as modalidades diagnósticasmencionadas utilizadas criteriosamente em associações podem elucidar o diagnóstico, orientando a localização exata dotumor. Entretanto, o adenocarcinoma papilífero em cães ainda é considerado de difícil tratamento e elevada mortalidade.

REFERÊNCIAS

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Medeiros L.Q., Filgueiras R.R., Mendonça D.G., Castro M.B., Falcão M.S.A. & Galera P.D. 2007. Adenocarcinoma papilíferointestinal em um cão fila brasileiro: relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1365-s1367.

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3 Couto C.G. 1984. Gastrointestinal neoplasia. Proceedings of the Kal Kan Symposium pp17.

4 Cribb, A. E. 1988. Feline gastrintestinal adenocarcinoma: a review and retrospective study. Canada Veterinary Journal. 29:709.

5 Jones, T. C.; Hunt, R. D.; King, N. W. 2000. Sistema Digestivo. In: Jones, T. C.; Hunt, R. D.; King, N. W. Patologia Veterinária. 6ed. São Paulo:Manole Ltda, pp. 1063-1130.

6 Matthiesen, D. T.; Marretta, S. M. 1998. Afecções do Ânus e Reto. In: Slatter, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 2ed. São Paulo:Manole Ltda, pp.760-779.

7 Nelson, R. W.; Couto, C. G. 2001. Distúrbios do Trato Intestinal. In: Nelson, R. W.; Couto, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 2ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., pp.343-369.

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Supl 4

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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1369-s1371, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Condrossarcoma de mama em cães: relato de caso

Mammary chondrosarcoma in dogs: case report

Andréa Faraon 1, Ana Cláudia Tourrucoo 2, Fernanda Silvestre 2,Kelly Ferreira 2, Luciana O. de Oliveira 2 & Rosemari Teresinha de Oliveira 3

1Médica Veterinária Residente do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.2Médica Veterinária do Serviço de Oncologia do HCV-UFRGS. 3Professora do Departamento de Patologia Veterinária da UFRGS.

ABSTRACT

Chondrosarcoma is a primary bone tumor of frequent occurrence, and may be responsible for about 10% of all cases of malignbone neoplasias. Very seldom chondrosarcoma arise from extra-bone tissues, like mammary gland, cardiac valve, larynx, trachea, lungand omentum. In this paper, we intended to give a succinct account of two patient’s case that had a diagnosis of histopthological mammarychondrosarcoma. Sarcoma represents less than 5% of total mammary malign neoplasias. The indicated therapy is the surgical resectionwith oncologic margins. Its prognosis is poor.

Key words: chondrosarcoma, mammary gland, malignant neoplasia.

INTRODUÇÃO

Em cadelas, os tumores das glândulas mamárias representam a metade de todos os tumores diagnosticados [7].Dentre esses, o percentual de tumores malignos varia muito conforme a bibliografia consultada. Para O’Keefe (1997), 50%das neoplasias mamárias são malignas, enquanto que em levantamento realizado por Martins et. al. (2002), 92% dos casospesquisados eram de tumores malignos.

Os sarcomas (fibrossarcoma, osteossarcoma e condrossarcoma) totalizam um percentual de ocorrência entre ostumores mamários malignos inferior a 5% [7].

O condrossarcoma é, para a espécie canina, o segundo tumor ósseo primário mais comumente diagnosticado,representando um percentual que varia entre 5 e 10% de todos os casos, sendo superado em termos de ocorrência apenaspelo osteossarcoma [3,8]. Apresenta tanto progressão quanto atividade metastática lentas [3,8]. Normalmente localiza-se emossos chatos [4]. Pode se desenvolver na cavidade nasal, costelas, ossos longos, pelve, vértebras, ossos faciais e ossopeniano e, muito raramente, em tecidos extra-ósseos, como as glândulas mamárias, válvulas cardíacas, laringe, traquéia,pulmão e omento [8].

Em estudo retrospectivo realizado nos arquivos do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veteri-nária da Universidade de São Paulo (USP), entre os anos de 1932 e 1999, dentre os laudos histopatológicos de 537 tumoresde mama malignos, apenas 1 foi diagnosticado como condrossarcoma [4].

A indicação terapêutica é a ressecção cirúrgica com margem oncológica, não havendo comprovação de que aradioterapia ou a quimioterapia sejam terapias adjuvantes efetivas [5,8].

Os agentes quimioterápicos indicados para a terapia antineoplásica de sarcomas são a cisplatina, doxorrubicina,bleomicina, metotrexato, ciclofosfamida e a vincristina [1,2].

A cisplatina pode desencadear reações adversas indesejadas, tais como náuseas, vômitos, toxicidade renal epara a medula óssea [2].

As células dos sarcomas não esfoliam facilmente, portanto, a realização de aspirados pode vir a gerar resultadosfalso-negativos, sendo o diagnóstico definitivo feito somente através da biópsia [6].

O prognóstico é bastante sombrio, havendo na grande maioria dos casos óbito dos pacientes em 9 a 12 meses [7].

RELATO DE CASOS

Foram atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS),no ano de 2006, dois caninos fêmeas que apresentavam nódulos mamários de surgimento antigo e crescimento abruptorecente.

A primeira paciente, com 13 anos de idade, foi atendida em fevereiro e, nesta data, apresentava vários nódulosnas cadeias mamárias direita e esquerda, sendo o maior localizado em M5 esquerda, medindo aproximadamente 8 centí-metros de diâmetro.

Foram realizados radiografia torácica, hemograma, dosagem de alanino-aminotransferase (ALT) e creatinina e,a única alteração observada, foi a presença de leucocitose (neutrofilia).

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Faraon A., Tourrucoo A.C., Silvestre F., Ferreira K., Oliveira L.O. & Oliveira R.T. 2007. Condrossarcoma de mama em cães: relatode caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1369-s1371.

s1370

Realizou-se a mastectomia total unilateral (cadeia esquerda) e os nódulos foram enviados para biópsia, tendosido diagnosticado condrossarcoma de mama.

Por tratar-se de neoplasia maligna e com período de evolução longo, foi sugerida como terapia adjuvante aquimioterapia com cisplatina1 na dose de 60mg/m2/IV associada com protocolo de diurese forçada. Após a primeira sessãoo proprietário julgou que em função de o animal ter apresentado efeitos colaterais após a administração do quimioterápico,não realizaria as sessões seguintes.

No mês de abril foi realizada mastectomia total na cadeia direita para a remoção dos nódulos restantes. Nestamesma ocasião, foi realizado controle radiográfico, não tendo sido observada imagem compatível com metástase. Atravésde contato telefônico em fevereiro de 2007 foi informado de que a paciente está muito bem, sem qualquer alteração aparente.

A outra paciente, com 16 anos de idade, foi atendida no mês de novembro, levada ao Hospital sob queixa principalde aumento de volume em região mamária e apatia. Ao exame clínico, as alterações observadas foram hipertermia (39,9°C)e presença de tumores em M1 e M4 esquerdas e M1 e M3 direitas, não havendo outras alterações nos parâmetros aferidos.Os nódulos presentes na cadeia mamária esquerda e mama inquinal direita apresentavam diâmetro médio de 3 cm,consistência firme, ausência de ulceração ou aumento de temperatura e não estavam aderidos à musculatura abdominal.Em M3 direita o tumor apresentava-se aderido, com superfície macia, temperatura elevada e diâmetro aproximado de 25 cme, como os demais, com superfície íntegra.

O proprietário foi orientado sobre a necessidade da realização de mastectomia possivelmente associada àquimioterapia. Previamente à intervenção cirúrgica foram realizados uma radiografia torácica, onde não observou-se imagemsugestiva de metástase pulmonar, aspirado com agulha fina nos nódulos mamários para análise citológica, além de exameshematológicos que demonstraram leve anemia e leucocitose (neutrofilia) e normalidade nas concentrações de ALT ecreatinina. Na análise citológica foi sugerido tratar-se de um carcinoma complexo de mama.

Oito dias após a primeira consulta, foi realizada a mastectomia total da cadeia direita e os tumores enviados parabiópsia. Na data da cirurgia o tumor em M3 apresentava-se ulcerado e, de acordo com o cirurgião, havia infiltração namusculatura abdominal. O diagnóstico definitivo, segundo exame histopatológico, foi de condrossarcoma de mioepitélio demama.

Com base no resultado indicou-se a quimioterapia como tratamento adjuvante, entretanto o proprietário nãoretornou mais ao Hospital. Ao final do mês de janeiro de 2007, através de contato telefônico, foi relatado que a pacienteestava bem, exceto pelo fato de apresentar emagrecimento nos últimos dias.

DISCUSSÃO

Os laudos dos exames citológico e histopatológico de uma das neoplasias mamárias relatadas não foramcoincidentes. Neste caso, a análise citológica foi prejudicada por tratar-se de um sarcoma, que como já citado anteriormente,é um tumor que não esfolia facilmente [6].

O prognóstico para pacientes com condrossarcoma é sombrio [7]. As duas pacientes até o momento estão bem,entretanto, uma delas tem apresentado emagrecimento que pode estar associado à evolução da neoplasia.

Terapias adjuvantes, como a radioterapia e a quimioterapia, não apresentam comprovada melhora no prognós-tico dos pacientes após ressecção cirúrgica [5,8], entretanto, a paciente que foi submetida a uma sessão de quimioterapiaparece apresentar um quadro mais favorável.

Após obter-se o resultado de condrossarcoma na biópsia, optou-se pelo tratamento quimioterápico com o obje-tivo de evitar o desenvolvimento de metástases e a recidiva da neoplasia, tendo em vista a agressividade do condrossarcoma.A cisplatina foi escolhida como quimioterápico a ser utilizado neste caso devido à sua reconhecida eficácia nos osteossarcomase condrossarcomas caninos [1,2].

Efeitos adversos são esperados com a administração de cisplatina [1]. Os sinais apresentados pelo animal prova-velmente poderiam ser sido controlados com a associção de outras medicações à terapia, por exemplo, algum antiemético,entretanto, o proprietário optou pela interrupção do tratamento.

CONCLUSÃO

As neoplasias mamárias em cadelas têm grande relevância na clínica de pequenos animais por serem umaafecção bastante comum. É fundamental caracterizar histologicamente o tumor para que seja adotada uma terapia adequadae para que o prognóstico fique melhor esclarecido para o proprietário do animal.

A associação de mastectomia e cisplatina IV pós-cirúrgica parece ter sido eficaz por ter proporcionado sobrevidasuperior a 1 ano a uma paciente com condrossarcoma de mama. Será necessária a observação da evolução clínica daspacientes por mais algum tempo para que se possa afirmar que a quimioterapia foi ou não efetiva como terapia adjuvante.

NOTAS INFORMATIVAS

1Incel, Darrow. Areal, RJ, Brasil.

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Faraon A., Tourrucoo A.C., Silvestre F., Ferreira K., Oliveira L.O. & Oliveira R.T. 2007. Condrossarcoma de mama em cães: relatode caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1369-s1371.

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REFERÊNCIAS

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Doenças sistêmicas de mastócitos em gatos:revisão de literatura e relato de caso

Systemic mast cell diseases in cats: review and case report

Tatiane Moreno Ferrarias 1, Milena Piacitelli Sanchez 2, Marília Takada 3, Rodrigo Gonzalez 4,Rubens D’Angelino 5, José Luiz Guerra 6 & Marcio Antonio Batistela Moreira 7

1,2,3Médica Veterinária Residente - Anhembi Morumbi. 4,7Médico Veterinário, Me. - Anhembi Morumbi.5Médico Veterinário - Anhembi Morumbi. 6Médico Veterinário Prof. Dr. - Anhembi Morumbi.

ABSTRACT

Systemic mast cell diseases (SMD) or systemic mastocytosis are a disease’s group characterized of increased pathologicalthe mast cells in the tissues (skin, bone marrow, liver, spleen and lymph nodes), it’s a rare disease. The clinical findings doesn’t specifics,included chronic vomiting and weight loss, this article review the SMD and reported a cat’s case, it’s started with liver’s mast cell tumor anddeveloped to myelophthisis. There are a lot of discussions about the treatment, but don’t have the treatment effective.

Key words: mast cell, mastocytosis, cat.

INTRODUÇÃO

Doenças sistêmicas de mastócitos (DSM) ou mastocitose sistêmica consistem em um grupo de desordens carac-terizadas por um aumento patológico dos mastócitos nos tecidos, incluindo pele, medula óssea, fígado, baço e linfonodos,representam uma pequena porcentagem das desordens hematológicas em gatos, sendo considerada de ocorrência rara[1,3,6].

A classificação das doenças de mastócitos em gatos ocorre em duas formas principais: a cutânea, representadapor tumores nodulares bem circunscritos localizados em um tecido, e a forma visceral envolvendo disseminação sistêmica,podendo causar infiltrações de mastócitos difusas e malignas. A forma cutânea geralmente é considerada benigna (80-90%dos casos) e através da excisão cirúrgica se atinge a cura, porém, os mastocitomas viscerais caracterizam-se por envolvimentohemolinfático ou intestinal [5,6].

Os gatos com envolvimento hemolinfático são classificados como portadores de DSM (ou leucemia mastocitária),uma vez que medula óssea, baço, fígado e sangue estão comumente envolvidos [6]. Metástases na pele podem ocorrer naforma visceral, assim, animais com mastocitomas cutâneos deverão ser analisados quanto à ocorrência de um foco primáriovisceral.

As DSM são bem documentadas em humanos, porém, raramente descritas em gatos [2,3,6,8]. Essas desordenshematológicas são dificilmente diagnosticadas principalmente devido a uma incompleta avaliação hematológica, a qualdeve incluir hemograma completo, unido à citologia aspirativa esplênica ou hepática e punção de medula óssea [2].

Gatos com DSM apresentam sinais e sintomas clínicos não específicos de doença sistêmica, inclui histórico deêmese crônica e perda de peso, atinge geralmente animais de meia idade, sem predileção por sexo e raça. Ainda poderáhaver manifestações mais sérias como dispnéia, hemorragia, hematêmese ou choque hipovolêmico. Tais alterações sãodiretamente proporcionais ao aumento de mastócitos e liberação de seus mediadores [1].

Mastócitos são mediadores multipotentes do sistema imune, finalizam o mecanismo de defesa através de media-dores vasoativos estocados em seus grânulos citoplasmáticos, a liberação dessas substâncias normalmente é estimuladapela presença de antígeno. A degranulação de mastócitos é acompanhada pela síntese de leucotrieno e prostaglandina,assim como a produção aguda de citocinas. O principal papel de cada mediador (principalmente heparina, histamina eserotonina) é importante na manifestação dos sinais clínicos da DSM.

A histamina age em receptores H1 dos músculos lisos do intestino delgado e dos vasos sangüíneos, contribuindopara vasodilatação sistêmica e hipotensão, estimula nervos aferentes do plexo mesentérico, causando irritação intestinal.Além disso, a histamina se liga a receptores H2 nas células gástricas parietais, aumentando a liberação de ácido clorídricono lúmen gástrico, o que leva a presença de úlceras na mucosa gástrica, vômitos, anorexia e perda de peso crônico. A sero-tonina contribui para os sinais e sintomas clínicos, pois estimula o vômito e os nervos aferentes do intestino delgado. A heparinaage como anticoagulante, inibindo a anti-trombina III e inibe a cascata de coagulação, isso resulta na tendência a hemorragia,que contribuirá na úlcera gástrica e na perda crônica de sangue [1].

O presente artigo descreverá um caso de DSM em um gato, o qual iniciou-se com mastocimas hepáticos e evoluiupara mieloftise.

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1373-s1375, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Ferrarias T.M., Sanchez M.P., Takada M., Gonzalez R., D’Angelino R., Guerra J.L. & Moreira M.A.B. 2007. Doenças sistêmicasde mastócitos em gatos: revisão de literatura e relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1373-s1375.

s1374

RELATO DE CASO

Um gato macho, sem raça definida, com 6 anos e 7,0 kg, foi encaminhado ao HOVET da Universidade AnhembiMorumbi, o proprietário relatava hiporexia, êmese e aquesia há sete dias, o animal apresentava em média três episódios deêmese por dia. Normodipsia e urina sem alterações de volume, coloração e odor também foram observadas. O animal jávinha sendo submetido a tratamento com enrofloxacina há três dias, porém, sem melhora do quadro.

Durante o exame físico, o estado geral era regular, apresentava desidratação 6%, mucosas hipocoradas; napalpação, havia sensibilidade abdominal aumentada. Foram realizados hemograma, dosagem sérica de alanina amino-transferase, fosfatase alcalina, albumina, creatinina e uréia. No eritrograma havia anemia normocítica normocrômica e noleucograma destacava-se a presença de 16% de mastócitos (mastocitemia moderada). Realizou-se fluidoterapia comsolução fisiológica 0,9% (400 mL – IV), aplicação de ranitidina (2 mg/Kg) e metoclopramida (0.5 mg/Kg) por via subcutâneae prescrição de ranitidina (3 mg/Kg-TID) e solicitou-se exame ultrassonográfico abdominal.

Após 20 dias, o animal retornou, apresentou melhora do quadro na primeira semana de tratamento, porém, apósesse período, o animal voltou a apresentar êmese, adipsia e emagrecimento progressivo (6Kg). No exame físico, haviadesidratação 8% e mucosas hipocoradas, na ultrassonografia, destacam-se: esplenomegalia acentuada, ecogenicidadereduzida e grosseira, e, hepatomegalia discreta, com ecotextura discretamente grosseira. No hemograma, a anemia semanteve e no leucograma, encontrou-se 11% de mastócitos.

Iniciou-se a terapia com prednisona (2 mg/Kg-BID) e a ranitidina foi mantida, houve acentuada melhora no quadroapós 7 dias, porém, no retorno (após 10 dias) houve piora no estado geral do animal com presença de êmese, anorexia,aquesia, adipsia e urina de coloração amarelo escuro e volume reduzido. No exame físico, as mucosas estavam ictéricas eanêmicas, desidratação 8% e hipotermia (37,7ºC) e o animal veio a óbito. No hemograma, a anemia havia evoluído (hematócrito:9%), o plasma estava ictérico, e já havia leucocitose, com presença de 69% de mastócitos na contagem diferencial.

Realizou-se punção da medula óssea pos-mortem onde foi observada relação granulocítica:eritrocítica de 5,28(normal de 1,21-2,16) com hipoplasia relativa da série eritrocítica e hiperplasia relativa da série granulocítica. A porcentagemde mastócitos neoplásicos observada na medula óssea foi de 54% de todas as células nucleadas identificadas, caracteri-zando uma mieloftise. Na necropsia, encontrou-se hepatomegalia moderada, bordos arredondados, presença de doisnódulos com aproximadamente 2,0 cm de diâmetro no lobo direito; esplenomegalia acentuada e aspecto friável, ao examemicroscópico, havia dilatação dos seios medulares e do componente sinusoidal, acompanhado de infiltrado mastocitáriodifuso no baço. O diagnóstico necroscópico foi: mastocitoma hepático e esplênico.

DISCUSSÃO

A DSM descrita se iniciou provavelmente no fígado, evoluindo para envolvimento esplênico e de medula óssea [6].

Como citado, os sintomas observados na DSM não são específicos: vômito, anorexia, perda de peso e presençade mucosas pálidas [2,3,6,10]. Ainda pode-se observar distensão abdominal, causada por esplenomegalia e ascite, os linfonodostambém podem ser acometidos. No hemograma, revelou-se anemia normocítica normocrômica devido a eritrofagocitoserealizada pelos mastócitos circulantes e devido a invasão da medula óssea pelos mastócitos neoplásicos [2,3,9].

O exame ultrassonográfico (US) abdominal é uma ferramenta para determinar a extensão da doença em gatoscom DSM, porém, nesse caso, não foi possível a identificação dos nódulos hepáticos. Quando possível, deve ser realizadajuntamente com a citologia ou exame histopatológico dos nódulos [10].

Esplenomegalia foi encontrado em 72% dos casos de DSM em humanos [4], sendo a infiltração por mastócitos oprincipal causador desse aumento, esse achado coincidiu com o caso supracitado. No US, também pode-se observaralterações na ecogenicidade e a presença de nódulos em baço, fígado ou intestino [10].

O mielograma é indicado como auxiliar no diagnóstico de DSM, devido a possível ocorrência de mieloftise. Namedula óssea normal há de 0 a 1 mastócito/1000 células nucleadas, e o achado de mais que 10 mastócitos/1000 célulasnucleadas sugere envolvimento hemolinfático na DSM [9]. Neste caso observou-se 54% de mastócitos na medula ósseaconcluindo o diagnóstico de mieloftise.

O tratamento curativo para mastocitose ainda não existe, se baseia na terapia de suporte com antagonistas dereceptores H2, protetores gástricos e agentes anti-histamínicos. Para DSM recomenda-se a esplenectomia combinada como uso de prednisona (4 a 8 mg/Kg – SID por via oral), a qual inibe a liberação de substâncias vasoativas, o tempo de sobrevidaé de 12 meses, variando entre 2 a 34 meses [2,6,10].

A quimioterapia pode ser realizada, o uso somente de prednisona tem fracassado e não aumenta o tempo desobrevida. Protocolos utilizando-se de vincristina, ciclofosfamida, prednisona e metotrexanteno também não têm aumentado asobrevida [6]. O uso de lomustina para mastocitoma cutâneo em gatos, ainda está em estudo [6].

Em humanos, estudos têm sido realizados com Interferon-alpha (IFN-a) e sugerem que ha inibição do crescimentocelular; uma combinação de ciclosporina em dose baixa e metilprednisolona tem sido benéfica, porém, pode estar associadaa complicações infecciosas [1,7].

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Ferrarias T.M., Sanchez M.P., Takada M., Gonzalez R., D’Angelino R., Guerra J.L. & Moreira M.A.B. 2007. Doenças sistêmicasde mastócitos em gatos: revisão de literatura e relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1373-s1375.

s1375

CONCLUSÃO

Nesse caso, a união de sinais clínicos, achados laboratoriais, ultrassonográficos e necroscópicos, direcionaramo diagnóstico de DSM. É importante ressaltar a importância do mielograma para verificar o acometimento metastático demedula óssea (mieloftise). Ainda há muitas divergências sobre o tratamento, não há um considerado eficaz, e, há a neces-sidade de novas pesquisas na área de Medicina Veterinária.

REFERÊNCIAS

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s1377

Hemangiossarcoma renal unilateral em cão – relato de caso

Unilateral renal hemangiosarcoma in dog – case report

Sonia Rumiko Suzuki 1, Geraldo do Prado Siqueira 2, Ricardo Fuso Camargo 3, Lanucha Fidelisda Luz Moura 4, Lívia Aparecida D’Avila Bitencourt Pascoal 1, Lívia Maria de Souza Rocha 5,Angélica do Roccio Souza Silva 6, Jefferson Douglas Soares Alves 7 & Helder Esteves Thomé 8

1MV Residente de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais no HOVET da UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 2MV Residentede Patologia no HOVET da UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 3MV Residente de Diagnóstico por Imagens no HOVET da UNIFEOB,São João da Boa Vista/SP. 4MV Residente de Anestesiologia no HOVET da UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 5MV Msc. Professora

de Técnica Cirúrgica no HOVET da UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 6MV Dra. Professora de Patologia Cirúrgica no UNIFEOB,São João da Boa Vista/SP. 7MV Msc. Professor de Diagnóstico por Imagens na UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP.

8MV Msc. Professor de Patologia na UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP.

ABSTRACT

Hemangiosarcoma is a malignant mesenchymal tumour that has its origin in endothelial cells of blood vessels, and can beprimary in any tissue. Renal neoplasms are rare e and can cause local or systemic signs of renal insufficiency. Although literature reportsthat malignant renal neoplasms are frequently bilateral, in this animal it doesn’t occurred. The aim of this paper is to report this case.

Key words: hemangiosarcoma, kidney, neoplasm, dog, nephrectomy.

INTRODUÇÃO

O hemangiossarcoma é um tumor mesenquimal maligno com origem no endotélio dos vasos, podendo ser primárioem qualquer tecido, sendo que nos animais domésticos o baço, o átrio direito e o fígado são os órgãos mais acometidos[2,8,10]. Pode ocorrer também, em menor freqüência, em tecido ósseo, subcutâneo e nos rins. Neoplasias renais primárias sãoincomuns nos cães e gatos, respondendo por 0,6 a 1,7% das neoplasias descritas, geralmente sendo malignas em ambasas espécies [1]. Segundo Serakides (2000) as neoplasias mesenquimais primárias dos rins também são consideradas raras,sendo que as diagnosticadas com maior freqüência são o fibroma e fibrossarcoma, seguidos pelo hemangioma e hemangios-sarcoma [6]. Os sinais clínicos mais comuns da enfermidade são anorexia, depressão e perda de peso, mas ocasionalmentea única anormalidade observada é o aumento de volume abdominal devido à presença da massa renal [1]. O presentetrabalho tem por objetivo relatar um caso de hemangiossarcoma renal unilateral em um cão com meia idade.

RELATO DE CASO

Foi atendido no Hospital Veterinário “Dr. Vicente Borelli” da Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), umacadela, Boxer, com 5 anos de idade, pesando 24 quilos e apresentando hiporexia, um episódio de êmese e cansaço fácil. Aoexame físico foram observados sifose, mucosas levemente pálidas, dor à palpação da região hipogástrica lateral direita,freqüência cardíaca (FC) de 140 batimentos por minuto, taquipnéia, tempo de preenchimento capilar de 2 segundos, tempe-ratura retal de 38,3°C e hidratação aparentemente normal. Ao exame ultrassonográfico foram observados presença demassa complexa dorsal ao rim direito com 5,44 centímetros (cm) de diâmetro, sugestivo de neoplasia; no baço, estruturasanecóicas, medindo aproximadamente 1,4 cm e 1,63 cm de diâmetro, tortuosas, intercomunicantes e mal definidas. Osdemais órgãos abdominais não apresentavam alterações ultrassonográficas. O hemograma demonstrou uma anemianormocítica normocrômica com anisocitose e linfopenia. As funções renal e hepática apresentavam-se dentro dos valoresnormais para a espécie. Na radiografia torácica não foram evidenciadas alterações.

O animal foi submetido a laparotomia exploratória, utilizando como medicação pré-anestésica meperidina (5mg.kg-1).Como agentes indutores empregou-se propofol (3 mg/kg) e midazolam (0,5 mg.kg-1), e para manutenção anestésica, oisofluorano. O animal recebeu um bolus inicial de lidocaína 2% sem vasoconstritor (1,5mg.kg-1), sendo mantido sob infusãocontínua na dose de 0,25 mg.kg-1min-1 durante o decorrer da anestesia. Durante o ato cirúrgico optou-se pela realização deuma esplenectomia, devido à presença de massas irregulares no órgão. Além disso, procedeu-se nefrectomia e retirada damassa que envolvia o rim direito e se estendia caudalmente ao mesmo. A ovariohisterectomia foi necessária devido à cons-tatação de áreas hiperêmicas e congestas no útero.

Após o procedimento cirúrgico, os órgãos foram encaminhados ao Serviço de Patologia para exame. Macros-copicamente notou-se a presença de massa neoplásica de aproximadamente 15x7 cm, localizada em pólo renal cranialesquerdo e projetando-se com áreas císticas repletas de sangue caudalmente ao órgão. Histologicamente observou-se aocorrência de formações vasculares preenchidas por sangue, constituídas de grande quantidade de células poligonais aovóides, com núcleos grandes e hipercromados, citoplasma escasso, com diversas figuras de mitose, diagnosticando-seque se tratava de um hemangiossarcoma renal. No baço, a cápsula e a porção subcapsular superficial apresentaram focos

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1377-s1378, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

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Suzuki S.R., Siqueira G.P., Camargo R.F., Moura L.F.L., Pascoal L.A.D.B., Rocha L.M.S., Silva A.R.S., Alves J.D.S. & Thomé H.E.2007. Hemangiossarcoma renal unilateral em cão – relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1377-s1378.

s1378

de necrose e reação inflamatória granulomatosa do tipo corpo estranho, adjacentes a fragmentos de material amareladorefringente, congestão, discreta hemossiderose e grande quantidade de megacariócitos. Adicionalmente, o útero apresentavaintensa hemorragia em miométrio e perimétrio. Todavia, nos demais órgãos, com exceção do rim, não foram encontradascélulas neolásicas.

Durante o pós-operatório, o animal permaneceu recebendo fluidoterapia durante 3 dias. O débito urinário foimonitorado, apresentando um volume de produção normal. Além disso, repetidos os testes de função renal, constatou-sevalores normalidade dos valores. Os pontos foram retirados 10 dias após o procedimento operatório, e os proprietáriosrelatam que o animal apresenta bom estado geral até o presente momento.

DISCUSSÃO

As neoplasias renais são raras, podendo causar sinais locais ou manifestações sistêmicas de insuficência renal [1].No presente caso não foi observada azotemia, provavelmente pelo fato de o comprometimento renal ser unilateral. O animalem questão apresentava leve anemia, quadro compatível com relatos de outras neoplasias renais, como o carcinoma [6].

O hemangiossarcoma, na maioria dos casos, parece ser de natureza espontânea, não possuindo uma etiologiaidentificada, e podendo acometer qualquer órgão, inclusive os rins, onde se encontrava a neoplasia do paciente relatado[1,2,8]. Este tipo de tumor, por se originar no endotélio dos vasos, acomete também o tecido subcutâneo. Estudo de Souza(2006), dos 761 tumores cutâneos encontrados em cães, 25 eram hemangiossarcomas [7]. No coração é o tumor mais comumde cães, envolvendo átrio ou aurícula direita e podendo causar metástases [8,10]. Em humanos, a sobrevida observada é de3 a 9 meses [3]. Este tipo de neoplasia também já foi descrita em camundongos, eqüinos, e suínos [4,5,9].

Geralmente o rim é local de metástase de vários tipos de neoplasias primárias, incluindo os hemangiossarcomas.Apesar de neoplasias primárias envolvendo fígado, baço e pulmões freqüentemente serem responsáveis pela ocorrênciade metástases renais, no animal em questão não se evidenciou a presença de células neoplásicas no baço, embora macros-copicamente se encontrasse alterado [1,8,10].

Apesar da literatura descrever freqüentemente o envolvimento renal bilateral no caso de neoplasias malignas, nopaciente relatado, se observava a presença de massa tumoral envolvendo somente o rim direito, o que pode ter contribuído,ou mesmo ter sido decisivo, para a sobrevida do animal [1].

CONCLUSÃO

Com este trabalho fica relatado o diagnóstico de hemangiossarcoma renal unilateral em um cão, embora sejararo o desenvolvimento primário desta neoplasia no órgão em questão. O envolvimento de outros sítios primários não podeser descartado, todavia, visto que alterações foram evidenciadas ao exame macroscópico, apesar da ausência de célulasneoplásicas ao exame microscópico.

REFERÊNCIAS

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s1379

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1379-s1380, 2007.

ISSN 1678-0345 (Print)ISSN 1679-9216 (Online)

Leiomiossarcoma vesical em cão. Relato de caso.

Leiomyosarcoma of the bladder in a dog. Case report.

Marília Takada 1, Rubens H.R. D’Angelino 2, Adriana Tomoko Nishiya 3, Tatiane Moreno Ferrarias 4,Milena Piacitelli Sanchez 5, Patrícia Braconaro 6, José Luis Guerra 7 & Claudia Domingos Schaeffter 3

1Médica Veterinária Residente da Área de Cirurgia do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi. 2Médico Veterinário do Hospital VeterinárioAnhembi Morumbi. 3Professora Mestre do Curso de Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi. 4Médica Veterinária Residenteda Área de Clínica Médica do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi. 5Médica Veterinária Residente da Área de Patologia Clínica

do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi. 6Graduanda do Curso de Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi. 7Professor Doutordo Curso de Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi.

[email protected]

ABSTRACT

Urinary bladder cancer is uncommon in the dog, compromising less than 2% of all reported canine malignancies [6]. Seen mostfrequently is the transitional cell carcinoma. Smooth muscle neoplasms, benigns (leiomyomas) and maligns (leiomyosarcoma), are rare inhumans and animals [3]. In dogs, they account for less than 0,5% of bladder neoplasms [6,7]. This study reports a case of a primary bladderleiomyosarcoma in a 3-year-old male lhasa apso dog, presented to the University of Anhembi Morumbi Hospital for Animals.

Key words: dog, leiomyosarcoma, urinary bladder.

INTRODUÇÃO

Tumores em vesícula urinária são mais frequentes que tumores em outras regiões do trato urinário. Dentre eles,o mais comumente encontrado é o carcinoma de células de transição [1]. Outros tumores de origem epitelial incluem carcinomade célula escamosa e adenocarcinoma. Tumores mesenquimais malignos vesicais incluem fibrossarcoma, leiomiossarcoma,rabdomiossarcoma e mixossarcoma. Tumores epiteliais benignos (papilomas) são mais comuns que mesenquimais comoleiomiomas, fibromas ou rabdomiomas [8]. A vesícula urinária pode ser invadida por neoplasias prostáticas ou por metástases,como hemangiossarcoma e linfoma [1].

Em estudo com 114 cães apresentando neoplasia em vesícula urinária, 101 (88,6%) eram carcinomas do uroepitélio,5 (4,4%) eram sarcomas de tecido conectivo, 3 (2,6%) eram hemangiossarcomas e 5 (4,4%) eram leiomiossarcomas [2].

Já em outro estudo com 115 cães apresentando neoplasia vesical, apenas 1 caso era de leiomiossarcoma e 2eram leiomiomas [9].

O leiomiossarcoma é um tumor maligno de crescimento lento proveniente de musculatura lisa [4]. A média deidade da constatação do leiomioma e leiomiossarcoma vesical em cães é de 12,5 e 7 anos de idade, respectivamente [7].

Sinais clínicos associados à neoplasia de vesícula urinária incluem estrangúria, hematúria, disúria, polaciúria,incontinência urinária, e em casos mais avançados, espessamento de uretra e do trígono vesical, aumento de volume delinfonodos ilíacos e massa em vesícula urinária ao exame retal [1,5]. Os valores de hemograma e provas bioquímicas podemestar normais ou podem apresentar azotemia [1].

Com a finalidade de descrever características ultrassonográficas de leiomioma e leiomiossarcoma vesical emcães, foi constatado que caso o animal apresente incontinência urinária e, massa vesical intraluminal única, arredondada ebem definida ao exame ultrassonográfico, pode-se suspeitar de neoplasia de musculatura lisa. Além disso, eles podemapresentar uma ecogenicidade mista e ausência de circulação sanguínea detectável por exame de Doppler [3].

A ressecção cirúrgica é o tratamento de escolha no caso do leiomiossarcoma com sobrevida de 0 a 47 mesesapós o procedimento cirúrgico, com uma média de 12,5 meses [4].

RELATO DE CASO

Peti, um cão macho da raça lhasa apso, com 3 anos de idade e 7 kg, foi encaminhado ao Hospital Veterinário daUniversidade Anhembi Morumbi no dia 06 de abril de 2005 apresentando quadro de hematúria há 1 mês e hiporexia há 7dias.

Ao exame físico não foi constatada nenhuma alteração significativa. Foi então prescrito Amoxicilina via oral nadose de 22 mg/kg a cada 12 horas durante 7 dias. No retorno, o proprietário relatou melhora do quadro mas com persistênciado sintoma de hematúria. Realizou-se posteriormente exame ultrassonográfico abdominal com a seguinte interpretação:vesícula urinária de repleção moderada, contornos regulares, paredes espessadas e com a presença de formação ovalada,medindo 1,59 x 2,32 cm, hipoecogênica heterogênea. Com base na suspeita de um processo neoplásico o paciente foiencaminhado para o serviço de cirurgia, onde realizou-se o procedimento de laparotomia exploratória com cistotomia e

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Takada M., D’Angelino R.H.R., Nishiya A.T., Ferrarias T.M., Sanchez M.P., Braconaro P., Guerra J.L. & Schaeffter C.D. 2007.Leiomiossarcoma vesical em cão. Relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1379-s1380.

s1380

excisão de neoformação de cerca de 1,5 cm de diâmetro e outras menores, e posterior cauterização. Exames pré anestési-cos de hemograma, contagem de plaquetas e perfil renal apresentaram-se dentro dos padrões de normalidade (Hemáceas6,8.106/ìl, Hemoglobina 17 g/dL, Hematocrito 48%, Proteína Total 6,4 g/dL, Leucócitos 10500/ìl, Creatinina 0,9 mg/dL e Ureia32 mg/dL).

O exame de histopatológico da formação retirada de vesícula urinária revelou um quadro histopatológico compa-tível com neoplasia maligna de origem mesenquimal. Decidiu-se então por realizar um exame de imunohistoquímico paradefinir um diagnóstico concreto, com o resultado de leiomiossarcoma vesical.

Após 15 dias da intervenção cirúrgica, o animal apresentou-se em bom estado geral, com urina sem alterações.Foi recomendado a realização da quimioterapia mas o proprietário não retornou.

O proprietário, em contato por telefone, informou que o paciente faleceu por metástase em torno de 13 mesesapós o procedimento cirúrgico.

DISCUSSÃO

O animal relatado apresentou sintomas relacionados à neoplasia vesical condizentes com a literatura, porém emidade precoce, aos 3 anos de idade, fugindo da média de idade de constatação do leiomiossarcoma vesical de 7 anos deidade [7].

O períoso de sobrevida do paciente em torno de 13 meses após excisão do tumor é próximo à média de sobrevidade 10 meses (entre 1 mês e 7 anos) constatada em estudo de 44 casos de leiomiossarcoma em cães [4]. Nesse estudo, 16apresentavam leiomiossarcoma esplênico, 13 estomacais ou de intestino delgado, 10 de ceco e 5 hepáticos. Não foi consta-tado porém, nenhum caso de leiomiossarcoma vesical. Todos aqueles com leiomiossarcoma hepático apresentavammetástases evidentes e foram submetidos à eutanásia durante o ato cirúrgico. Dentre os demais, 79% não apresentaramevidências marcantes de metástase. Desses, 48% morreram de metástase, 32% morreram por causas não relacionadas aotumor e 16% morreram por causa desconhecida [4]. O comportamento biológico do leiomiossarcoma aparenta ser deagressividade local, com metástases infrequentes, exceto no caso de leiomiossarcoma hepático.

O tempo de sobrevida do paciente poderia ser maior se fosse submetido à quimioterapia associada ao procedi-mento cirúrgico no caso de leiomiossarcoma vesical. Embora não haja dados recentes em literatura que avaliem a suaeficácia.

CONCLUSÃO

A neoplasia mesenquimal maligna, o leiomiossarcoma, em vesícula urinária é incomum em cães, e pode acometeranimais jovens.

O tratamento de escolha nesses casos é cirúrgico com excisão da neoformação. Devido à sua localização, aexcisão com margem de segurança é dificultada, por isso, deve-se levar em consideração a realização de quimioterapia,radioterapia ou imunoterapia concomitante, apesar da eficácia desses tratamentos ser desconhecida.

REFERÊNCIAS

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s1381

Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1381-s1382, 2007.

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Tratamento quimioterápico de mastocitomagrau I em cão da raça boxer: relato de caso

Chemotherapy treatment of mast cell tumor degree I in boxer breed dog: case story

Gabriela Silva Uchôa 2, Rejane Bernardes Souza Santos 3, José Belarmino da Gama Filho 1,Sílvio Augusto Moreira Miranda 3, Paulo Henrique Cândido de Carvalho 3, Leonardo Alves

Coutinho Souza 3 & Leonardo dos Reis Corrêa 2

1Méd. Vet., doutorando do programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, EV/UFG. 2Méd. Vet., mestrandosdo programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, EV/UFG. 3Méd. Vet., Centro Veterinário Asa Sul, Brasília – DF.

ABSTRACT

This study aims to report use of vimblastine and prednisone in the treatment of mast cell tumor grade 1 with multifocal distributionas a chemotherapic alternative of treatment, proving to be a viable therapeutic alternative.

Key words: canine; mast cell tumor; prednisone; chemotherapy; vinblastine.

INTRODUÇÃO

O mastocitoma é a neoplasia cutânea mais freqüente do cão, compreendendo de 7% a 21% dos tumores cutâneoscaninos e 11 a 27% das neoplasias malignas [5]. As raças mais predispostas são Boxer, Boston Terrier, Bull Terrier, LabradorRetrivier, Fox Terrier, Beagle e Schnnauzer [1,3,5]. A causa do mastocitoma ainda não está completamente elucidada [3]. Oscritérios propostos para classificá-los em grau I (bem diferenciado), grau II (moderadamente diferenciado) e grau III (poucodiferenciado) são: quantidade e forma do núcleo, número de nucléolos, número de figuras mitóticas e alterações comoedema e necrose [3]. A gravidade do mastocitoma relacionado com metástases e poder de invasão estão relacionados comdois fatores, a diferenciação citológica e a localização anatômica do tumor [1]. O tratamento do mastocitoma baseia-se no seugrau de diferenciação, onde para o mastocitoma de grau I a exérese é curativa, quando realizada dentro de certas normas(três cm de margem de segurança). Já no mastocitoma grau II e III a cirurgia isoladamente não é curativa e em alguns casos,mesmo com a quimioterapia, há recidivas e metástases [2]. O objetivo deste trabalho foi mostrar a quimioterapia com o usoda vimblatina e da prednisona como uma alternativa para o tratamento do mastocitoma grau I onde a remoção cirúrgicatorna-se ineficaz em função da grande quantidade de lesões, o que impossibilita a total remoção do mastocitoma commargens de segurança nos padrões recomendados para o tratamento adequado.

RELATO DE CASO

Deu entrada no Centro Veterinário Asa Sul, em Brasíia-DF, um cão da raça Boxer, 10 anos de idade, 28 quilos(0,92m2), apresentando pequenas lesões circulares com aspecto papilomatoso, disseminadas em toda a região do dorso eflanco. O animal foi submetido à biópsia de pele colhida por “punch”, sendo diagnosticado através da histopatologia ummastocitoma grau I nas duas amostras colhidas. Estabeleceu-se um protocolo de tratamento quimioterápico com o uso devimblastina em infusão venosa na dose de 2mg/m2 por oito sessões, sendo as primeiras quatro sessões realizadas sema-nalmente e as últimas quatro quinzenalmente [2,4]; prednisona na dose diária inicial de 2mg/kg por 15 dias, seguida deprotocolo de redução gradativa da dose; e ranitidina na dose de 2mg/Kg t.i.d. por uso contínuo [2]. Após duas semanas doinício do tratamento não se observou mais lesões em nenhuma parte do corpo, e desta forma permaneceu durante todo operíodo do tratamento quimioterápico. O animal foi monitorado através de avaliações hematológicas e perfis bioquímicossemanais que apresentaram como alterações o aumento na bioquímica hepática de ALT, FA e bilirrubina total a partir daterceira semana de tratamento. O animal completou todo o tratamento sem sinais clínicos que contra-indicassem o uso de taltratamento. Após o aumento do período entre as sessões de sete dias para quinze, houve redução considerável nos valoresdas bioquímicas hepáticas referidas anteriormente, voltando para os valores de referência de normalidade após duas sema-nas do fim do tratamento com a vimblastina. Durante todo o acompanhamento, o animal manteve-se com sinais clínicosnormais, apresentando apenas um considerável ganho de peso ao longo do tratamento (aproximadamente cinco quilos).

DISCUSSÃO

A remoção cirúrgica é o tratamento preconizado para mastocitomas grau I [2].Contudo, neste caso específico,tornou-se uma opção de tratamento difícil em virtude da área acometida ser multifocal, ficando inviável a excisão de todas aslesões, comprometendo a efetividade do tratamento. Em função de tal situação e com os proprietários informados sobre ospossíveis efeitos colaterais do tratamento, foi então estabelecida a quimioterapia. Após duas semanas do início do tratamentoquimioterápico as lesões não foram mais visualizadas macroscopicamente, o que demonstrou uma rápida remissão das

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Uchôa G.S., Santos R.B.S., Gama Filho J.B., Miranda S.A.M., Carvalho P.H.C., Souza L.A.C. & Corrêa L.R. 2007. Tratamentoquimioterápico de mastocitoma grau I em cão da raça boxer: relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1381-s1382.

s1382

lesões com tal protocolo. A monitorização do animal durante todo o período de tratamento e após encerramento das sessõesé fundamental para a avaliação da resposta e conhecimento e controle dos efeitos colaterais, o que pode minimizar os riscosque envolvem o uso de quimioterápicos.

CONCLUSÃO

O uso de vimblastina e prednisona mostrou-se uma alternativa viável no tratamento de mastocitomas grau Iprincipalmente em lesões multifocais ou em casos que não seja possível uma remoção cirúrgica adequada, contudo asalterações bioquímicas apresentas necessitam de rigoroso acompanhamento clínico ao longo do tratamento.

REFERÊNCIAS

1 Hahn, K. A. 2002 . Veterinary Oncology. Woburn: Butterworth-Heinemann, 318p.2 Lanore,D. & Delprat, C . 2004. Quimioterapia anticancerígena. São Paulo: Rocca, 191p.3 Patnaik, A.K.; Ehlerw.J.; MacEwen, E.G . 1984. Canine cutaneous mast cell tumor: morfhologic grading and survival time in 83 dogs. Veterinary

Pathology,21: 469-474.4 Rodaski, S.; DE Nardi,A .B. 2006. Quimioterapia antineoplásica em cães e gatos. 2.ed. Curitiba: Bio Editora, 307p.5 Vail, D.M. 1996. Mast cell tumors. In: Withrow, S.J.; Macewen,E.G. Small animal clinical oncology. 2.ed. Philadelphia: WB Saunders, pp.192-210.

www.ufrgs.br/favet/revista

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