cap. 1 introdução v.f

Download Cap. 1 Introdução v.F

If you can't read please download the document

Upload: priscilatavares

Post on 18-Dec-2015

218 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

agricultuta organica rj

TRANSCRIPT

INTRODUO

10

AGRICULTORES ORGNICOS DO RIO DA PRATA (RJ):Luta pela preservao social

1. INTRODUO

Esta anlise do processo de transformao pelo qual esto passando os agricultores No caso aqui analisado, o termo agricultores est referido a pequenos produtores agrcolas que tm no trabalho familiar a base para produo agrcola. A utilizao deste termo se justifica por ser ele utilizado pelos agentes entrevistados no decorrer da pesquisa de campo como auto-referncia. do Rio da Prata A regio reconhecida como Rio da Prata est situada na zona oeste do municpio do Rio da Janeiro., cuja literatura classifica como passagem de agricultores denominados convencionais para agricultores qualificados como orgnicos Trato da diferenciao entre agricultor convencional e agricultor orgnico no Captulo 3., deslocamento social possvel pela interferncia de agentes externos adeptos aos princpios conservacionistas, apoia-se no estudo das formas de integrao desses agricultores ao mercado de produtos agrcolas. Para tanto, toma os agricultores como agentes inseridos num sistema de relaes sociais que perpassa as esferas de produo e circulao Para essa anlise, beneficiei-me das contribuies, nessa perspectiva, apresentadas por NEVES (1997, p. 41-57)..

No Brasil, parte dos estudos sobre a unidade familiar de produo est marcada por tipologias, ora ressaltando o volume da produo, ora enfatizando a relao de trabalho no interior da unidade produtiva. Os pesquisadores vinculados a esta perspectiva analtica, privilegiam as estruturas internas da produo, visando demonstrar a lgica e a racionalidade da produo familiar. Reduzem o pequeno produtor agrcola a uma posio meramente econmica, ao mesmo tempo que homogeneizante, elidindo as diferenciaes sociais por ventura constitutivas das posies destes agricultores.

Outros autores, entretanto, mesmo enfocando as anlises sobre as caractersticas especficas da unidade de produo e da unidade familiar, voltam seus interesses para a questo das formas contextuais de integrao social do agricultor familiar, condio que, inclusive, permite entender as variaes internas, que podem estimular ou limitar as condies de reproduo do produtor familiar. Nesta perspectiva, os agricultores assumem o papel de sujeito referido, pois que em posio de subordinao a outros agentes sociais, detentores de recursos monetrios e dos meios produo, de vises de mundo com pretenses hegemonia.

No caso por mim analisado, ser difcil aceitar as simplicaes reducionistas das anlises voltadas para as estruturas internas do mecanismo de explorao familiar, que buscam o entendimento da lgica e da racionalidade internas a este modo de produzir. Dedicando-me ao estudo das condies de possibilidade da produo e reproduo de agricultores reconhecidos como inseridos ao modo de produzir agrcola consagrado como familiar, analiso os fatores internos e externos unidade domstica e unidade produtiva, considerando-os como elementos constitutivos das caractersticas da organizao social, poltica e econmica dos agricultores do Rio da Prata. Tal perspectiva possibilita a compreenso das condies de acesso aos meios de produo pelos agricultores abordados e suas formas de integrao em diferentes domnios da vida social.

Para efeito de anlise, recorri a referncias tericas visando dotar-me de um instrumento metodolgico apropriado. Neste sentido, pauto-me em autores como Chayanov, Galeski, Wolf e Lamarche, que enfatizam as formas de insero dos agricultores segundo contextos sociais, econmicos e polticos historicamente diversificados.

Chayanov (1981), enfatiza as limitaes do uso das categorias utilizadas por pesquisadores no estudo do modo de produo caracterstico da economia capitalista para compreender os sistemas produtivos reconhecidos como no capitalistas. Apresenta uma definio do modo de explorao agrcola qualificado como familiar, considerando que, na explorao agrcola familiar, a famlia, equipada com meios de produo, emprega sua fora de trabalho no cultivo da terra, e recebe como resultado de um ano de trabalho certa quantidade de bens (p. 137).

Os membros da famlia camponesa Chayanov caracteriza explorao econmica da famlia camponesa como sendo aquela que no emprega trabalhadores pagos, mas utiliza apenas o trabalho de seus prprios membros (cf. CHAYANOV, 1981, p.134), sendo o campons o produtor agrcola inserido neste modo de produo., para Chayanov, so mais do que agentes econmicos. Ele os considera como agentes sociais partcipes de um sistema de posies relacionais. Para Chayanov, o modo de explorao agrcola campons caracteriza-se pelo:

1)Produto indivisvel do trabalho familiar constitudo de acordo com: a) a densidade populacional; b) o nvel habitual, tradicional, das necessidades; c) o poder de formao de renda do melhor solo e das condies climticas mais favorveis;

2)A capacidade da populao para formar capital e sua capacidade tributria, que dependem do nvel de prosperidade;

3)As medidas econmicas e polticas do poder estatal, que atravs da coero no econmica controla o modo de utilizao e a migrao do povo (CHAYANOV, 1981, p. 146).

Recorri tambm a Galeski, que, buscando ampliar a definio das caractersticas especiais do modo de explorao camponesa como unidade de produo agrcola, apresenta como caracterstica bsica do modo de explorao agrcola, a fuso ou a identificao da empresa (isto , o estabelecimento de produo de mercadoria) com a economia domstica familiar (GALESKI, 1977, p. 47). Priorizando uma anlise voltada ao entendimento dos universos relacionais no qual o campons est envolvido, o autor chama a ateno para a dupla funo da produo agrcola camponesa, considerando que, como a explorao camponesa ao mesmo tempo tanto uma empresa como uma economia domstica, sua atividade econmica se baseia em princpios diferentes e s vezes contraditrios. O produtor (a famlia camponesa) pode tratar os produtos como valores de troca ou como valores de uso segundo seu destino (GALESKI, 1977, p. 48). Esta duplicidade na orientao da produo agrcola camponesa estaria diretamente relacionada maior ou menor diviso social do trabalho.

Procurando delimitar a posio do campons na sociedade e atento diversidade de formas de organizao e de situaes, Galeski (1977) tomou as interconexes sociais entre unidade familiar, unidade de produo e a configurao de fatores e projetos polticos vigentes na sociedade como unidade de anlise.

Com intuito de entender a relao entre campesinato e sociedade, Wolf (1970), mesmo tratando do campesinato como segmento da espcie humana que permaneceu a meio caminho entre a tribo primitiva e a sociedade industrial, destacou que o mundo campons no amorfo, mas ordenado, possuindo suas formas particulares de organizao. Essas formas de organizao variam de um ambiente campons para outro (WOLF, 1970, p.13). Para esta demonstrao, ele valorizou o entendimento de diversos contextos de dependncia e subordinao do campesinato, em termos polticos, econmicos e sociais, constitutivos de um sistema maior de relaes sociais, considerando que o termo campons denota nada mais nada menos que uma relao estrutural assimtrica entre produtores de excedentes e o grupo dominante (WOLF, 1970, p.22-24). Nesta perspectiva, o campesinato pode ser definido a partir das posies desiguais ocupadas no interior do sistema de relaes de poder que este mantm com o mundo exterior somente quando um cultivador est integrado em uma sociedade com um Estado isto , somente quando o cultivador passa a estar sujeito a exigncias e sanes de detentores do poder, exteriores ao seu extrato social que podemos falar propriamente de um campesinato (WOLF, 1970, p. 26)..

Preocupado em compreender a diversidade de situaes empricas, inclusive coordenando uma equipe de pesquisa cujo investimento possibilitou realizar um trabalho de comparao tomando em conta vrios pases, Lamarche tem representado outra contribuio para demonstrao da capacidade adaptativa da explorao familiar Na busca por um esquema de analise que possibilitasse, ao mesmo tempo, delimitar o objeto da pesquisa e dar conta da diversidade de situaes empricas, Lamarche apresenta uma definio para o modo de explorao familiar onde o modo de explorao camponesa uma das possibilidades daquele modo de explorao agrcola (cf. LAMARCHE, 1993, p.16). diante da diversidade de situaes encontradas. Com o objetivo de formular uma tipologia para o modo de produzir agrcola que se convencionou chamar de explorao familiar, Lamarche (1993) considerou-a como uma unidade de produo agrcola onde propriedade e trabalho esto intimamente ligados famlia (p. 15), chamando a ateno para a importncia de se levar em considerao a histria e o contexto scio-econmico e poltico Segundo Lamarche a explorao familiar transforma-se, evolui, adapta-se em funo de sua histria e do contexto econmico, social e poltico no qual sobrevive (1993, p. 23). no qual est inserido.

Para efeito de anlise e interpretao da situao abordada neste estudo, adotei como definio de explorao familiar aquela elaborada por Lamarche (1993), considerando o modo de produo agrcola em apreo como sendo uma das possibilidades deste modo de explorao agrcola. No entanto, a adoo deste esquema de analise (c.f Lamarche, 1993, p.15) no exclui a contribuio dos autores citados anteriormente, uma vez que todos adotam uma perspectiva analtica na qual o agricultor familiar concebido como agente social inserido em um sistema de relaes sociais mais abrangente, mesmo que ora falando do modo de explorao familiar, como uma definio que abrange a diversidade de situaes empiricamente encontradas, ora tratando do modo de explorao campons, como sendo uma das possibilidades de produo agrcola familiar, ora atribuindo explorao familiar e explorao camponesa o mesmo significado.

Aderindo perspectiva analtica adotada por Chayanov, Galeski, Wolf e Lamarche, apresento um investimento analtico no sentido de compreender as relaes sociais que possibilitam o reconhecimento desses agricultores enquanto agentes sociais que se associam para criao de estratgias comuns que viabilizem a reproduo do acesso aos meios de produo e vida. Neste sentido, trato das sucessivas formas de reproduo social dos agricultores do Rio da Prata, analisando as estratgias de insero desses agricultores ao mercado de produtos agrcolas. Enfocando este aspecto, busquei analisar, tambm, a influncia dos vnculos mercantis sobre as formas de organizao produtiva e sua adequao s condies de apropriao da terra.

Essa minha pressuposio metodolgica ancora-se ainda no fato de a trajetria dos agricultores do Rio da Prata, enquanto produtores agrcolas, ser por eles formulada a partir de recorrentes rupturas e descontinuidades vis-a-vis s relaes com o mercado, impondo-lhes alteraes quanto ao destino da produo agrcola para o mercado ou para o autoconsumo.

1.1 Agricultores do Rio da Prata na literatura sociolgica

A imagem social projetada pelos entrevistados corresponde de certa forma quelas que pesquisadores tm reafirmado. Musumeci (1987), ao estudar a pequena produo agrcola no recente contexto da modernizao da agricultura no estado do Rio de Janeiro, enfoca as anlises sobre duas regies produtoras de hortigranjeiros. Uma delas foi a zona oeste do municpio do Rio de Janeiro, regio conhecida como serto carioca. Ela assim apresenta a insero econmica desta regio no mercado local e nacional.At meados do sculo XIX predominaram como atividades econmicas no chamado serto carioca a lavoura canavieira e a pecuria bovina ambas assentadas na grande propriedade, oriunda de antigas sesmarias (que no sculo XVIII j haviam passado, em boa parte, s mos de conventos e confrarias religiosas: jesutas em Santa Cruz. Carmelitas em Campo Grande; beneditinos em Jacarepagu e Guaratiba. Tais atividades determinaram uma concentrao do povoamento e do interesse econmico nas reas de baixada e nos piemontes(plancies elevadas), s vindo a ocorrer a ocupao agrcola das serras em meados do sculo XIX, com a introduo do caf [cf. Galvo (1962), Abreu (1957), Bernardes (1959), SE/GB (1962) e Pernambuco et al. (1979)].Fazendas de escravos se disseminaram, a partir da, nas encostas propcias ao cultivo desse produto as chamadas soalheiras (vertentes ensolaradas e bem drenadas) -, abandonado-se em parte as baixadas e deixando-se de lado, tambm, as noruegas(vertentes midas e sombrias) [cf. Galvo (1962)]. Findo o breve ciclo carioca do caf, passam a predominar atividades extrativas (de lenha e carvo vegetal, sobretudo) e alguma agricultura de subsistncia, at a dcada de 20 deste sculo, quando ento ocorre aqui um novo (e derradeiro) surto agroexportador: o da citricultura (MUSUMECI, 1987, pp 71 e 72).

Os agricultores do Rio da Prata entrevistados no reconhecem essa longa sucesso de ciclos, caracterizando sua existncia como produtores mercantis a partir do fornecimento de carvo e lenha para os mercados locais. Esta era uma atividade predominante desde o incio do sculo passado, quando este combustvel era uma importante fonte de energia, tanto para indstria como para o consumo domstico. Sua importncia marcada por ser ela, neste perodo, fonte principal na composio do rendimento para os grupos domsticos daquela regio.

Essas serras tudo que t ai j foi feito carvo, a maioria das pessoa ai derrubava essas mata todinha ia pro cho fazendo carvo [...] pra vender. Vendia l pra Bangu. Isso tem mais de cem anos. (Depoimento de Claudino, 43 anos, agricultor morador do Rio da Prata, cedido em 27/06/04)

No situao em que a economia da regio, na qual est inserida o Rio da Prata, fora basicamente extrativa, como mostrou Musumeci, a preocupao com os danos causados por esta atividade ao meio ambiente j se fazia presente. o que se pode perceber no relato de Corra (1933), ao descrever as atividades econmicas dos habitantes da rea do serto carioca, denominada plancie de Jacarepagu, compreendida entre os macios da Pedra Branca e da Tijuca. Ao descrever a atividade dos machadeiros (trabalhadores que extraem lenha, para fornec-las aos habitantes das reas urbanas e s industrias) e dos carvoeiros (trabalhadores que extraem madeira para produo de carvo, para fornecer aos habitantes das reas urbanas e s industrias), Corra relata que:

A questo da lenha no Distrito Federal no pode ficar sem soluo, principalmente pela barateza desse combustvel, que fornece calor to indispensvel vida econmica de um povo, desde a choupana mais humilde mais importante industria. O aumento de ano para ano da populao, nas zonas urbanas e rural, e do consumo do trfego das estradas de ferro e mesmo nas indstrias de todos os gneros, o gasto da lenha aumenta proporcionalmente, resultando numa destruio sistemtica de alqueires de matas, que ficam abandonadas, depois da derribada, esterilizao, em prejuzo das geraes vindouras e com grande depreciao do solo; precisamos, pois, cuidar do replantio das arvores de corte.As matas do Distrito Federal, compreendidas entre a Tijuca e a Pedra Branca, sofrem estragos incalculveis, no s para o comercio de lenha como do carvo. (CORRA, 1933, pp 69 e 85)

Aps o perodo em que predominaram as atividades extrativas, a produo de laranja que finca a insero dos agricultores do Rio da Prata ao mercado. Com isso, esses agricultores reconhecem a laranja como produto de maior importncia para a composio do rendimento familiar. Aos produtos destinados principalmente ao autoconsumo, s hortalias, atribudo pelos agricultores um papel secundrio, como mostra o depoimento do Claudino e Madalena:

C - E antigamente a origem nossa no era caqui, ...no era nada. A gente plantava assim cenoura, aipim, batata... o que dava muito era laranja lima naquela poca.M - Aqui era o rei da laranja.(Claudino e Madalena, agricultores moradores do Rio da Prata, depoimento cedido em 27/06/04)

Durante o perodo denominado por Galvo (1962) como febre da laranja, que vai do final da dcada de 20 at meados da dcada de 30, a laranja produzida no serto carioca era destinada principalmente ao mercado externo. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, as exportaes deste produto entram em declnio, passando, j no final da dcada de 50, a atender principalmente ao mercado interno. O aparecimento de doenas e pragas tambm contriburam para o declnio da produo de laranja nesta regio, forando os agricultores a substituir os laranjais por cultivos de produtos que possibilitassem um maior rendimento (MUSUMECI, 1987).

Alm dos fatores citados acima, a concorrncia gerada pela entrada de laranjas oriundas de outros regies no mercado do Rio de Janeiro contribuiu para o declnio desta produo. Nestas condies de desfavorecimento, os agricultores do Rio da Prata fazem um investimento no sentido de substituir a produo de laranja pela produo de caqui. Durante o processo de transio da produo - da laranja para o caqui - com a produo de hortalias que eles garantem a manuteno das relaes de mercado tidas como possibilitadoras de sua reproduo social. Esta situao faz com que o cultivo de hortalias, que nos perodos de relativa especializao da produo fosse tido como secundrio para os agricultores, passasse a ocupar o lugar principal na composio do rendimento do grupo domstico. Mesmo nestes momentos em que a produo para o mercado Na situao por mim analisada o termo mercado est referido s praas e aos circuitos de mercados locais, principalmente feiras livres, onde a parte da produo agrcola dos agricultores do Rio da Prata comercializada era mais diversificada, principalmente por conta das caractersticas deste tipo de produo (produo de ciclo curto), esses agricultores apresentavam um certo grau de especializao em alguns produtos, que determinado a partir das relaes diretas objetivadas nas praas de mercado.

1.2. Trabalho de campo

Para realizao do trabalho de campo, focalizei a anlise nos processos de mudanas nas condies de integrao de agricultores reordenados por converso em ambientalistas.

Na busca de uma situao que possibilitasse o desenvolvimento da questo proposta no projeto, em maro de 2004, consegui fazer contato com o engenheiro agrnomo que coordenou o projeto Desenvolvimento Sustentvel na comunidade rural do Rio da Prata Este projeto foi elaborado e coordenado pelo engenheiro agrnomo, que contou com o financiamento de Unio Europia, para sua execuo das atividades, e com os representantes da Associao Projeto Roda Viva, que atuaram como mediadores entre a instituio financiadora e o coordenador do projeto. Este projeto consistia em incentivar os agricultores do Rio da Prata a aderirem ao modo de produzir qualificado como orgnico. Voltarei a esta questo mais adiante., desenvolvido de 1o de maro de 2001 a 28 de fevereiro de 2003. Este contato foi feito a partir da indicao de uma pessoa que havia colaborado em uma das etapas deste projeto, qual fui apresentado por minha orientadora. Aps ter conversado pessoalmente com o engenheiro agrnomo e apresentado os objetivos do meu projeto de pesquisa para elaborao da dissertao de mestrado, ele se comprometeu em consultar os agricultores com os quais ele trabalhava no Rio da Prata sobre a minha participao em uma reunio, na qual eu exporia os objetivos do trabalho e solicitaria permisso para trabalhar com eles. A reunio foi marcada para ltima segunda-feira de maro, dia 29 de maro de 2004, onde estavam presentes oito agricultores. Aps minha apresentao e explicao dos objetivos do meu trabalho, os agricultores concordaram com a minha participao nas reunies semanais.

O trabalho de campo foi realizado entre abril de 2004 e janeiro de 2005, perodo no qual freqentei as reunies dos membros da Associao dos Produtores Orgnicos da Pedra Branca, que ocorre toda segunda-feira, acompanhei algumas atividades produtivas e comerciais e realizei entrevistas.

Para chegar ao local da reunio no meu primeiro dia de visita para o esclarecimento do meu trabalho, combinei com o engenheiro agrnomo de nos encontrar em frente Igreja do Rio da Prata e depois seguir para o local da reunio. Por conta desta atitude e por ter sido o engenheiro agrnomo o mediador para minha primeira visita aos agricultores afiliados associao, estes imediatamente me colocaram na posio de um agente do projeto Desenvolvimento Sustentvel na comunidade rural do Rio da Prata, ligado Associao Roda Viva. Com o tempo este mau entendido foi resolvido. No entanto, ainda hoje, alguns agricultores no filiados associao ainda me colocam nesta posio, o que rapidamente esclarecido pelos prprios agricultores ligados associao, quando estes esto por perto.

Para construir a imagem de pesquisador autnomo e me aproximar dos agricultores para efeitos da pesquisa, resolvi chegar sozinho e mais cedo para as reunies, que comeavam por volta da seis horas da noite. Recorrentemente dirigia-me barraca (bar) da Dona Graa, uma das scias fundadoras e colaboradoras da associao, local onde os agricultores geralmente se encontravam antes de irem para a reunio. Assim, informalmente encontrvamo-nos e conversvamos. Nestes momentos, muitas vezes, o foco das conversas era o meu trabalho e o que eu fazia. Ter revelado que morei em Campo Grande por dezoito anos tambm facilitou minha relao com o grupo. Contar sobre a minha experincia na Reserva Aman, Amaznia, da mesma forma contribuiu para que se criasse uma relao de troca de informaes, possibilitando, em alguns casos, comparaes entre a situao vivida pelos agricultores do Rio da Prata e quela vivida pelos agricultores moradores da reserva.

Durante o primeiro ms, eu me limitei a assistir s reunies e tomar notas, discretamente, de algumas informaes que julgasse importante. Dois temas dominaram a pauta de reunies durante os meses que antecederam s eleies municipais: 1) as negociaes, mediadas pelo engenheiro agrnomo e os representantes do IBAMA responsveis pela gesto do Parque Lage, situado no bairro do Jardim Botnico, para a concesso de um espao onde os agricultores pudessem vender os seus produtos, o que possibilitaria o acesso a consumidores de alto poder aquisitivo, elevando o ganho na venda de seus produtos; 2) um projeto que o engenheiro agrnomo estava enviando aos representantes do SEBRAE, solicitando financiamento para implantao de novas formas de manejo das reas de cultivo, principalmente de caqui e banana, assim como a contratao de outro engenheiro agrnomo que ficaria responsvel por prestar assessoria tcnica aos agricultores beneficiados pelo projetoApresento uma anlise destas duas questes em captulos posteriores..

Durante as reunies, neste perodo, o engenheiro agrnomo relatava as dificuldades nas negociaes com os representantes do IBAMA, negociaes estas que no renderam resultados positivos no sentido de alcanar os objetivos dos agricultores, que era conseguir um local para a venda de seus produtos. Alm das negociaes com representantes do IBAMA, alguns pontos do projeto que seria enviado aos representantes do SEBRAE eram discutidos, como, por exemplo, o tempo de durao do projeto (seis meses), em que ele consistia (introduo de novas tecnologias, adequadas ao modo de produzir reconhecido como orgnico, e assistncia tcnica), o nmero de ps de caqui que seriam podados e de touceiras ou socas de banana que seriam desbastados, assim como os valores pagos e a estratgia utilizada para a realizao deste servio. Este projeto foi aprovado e est em andamento.

As reunies dos membros da associao eram, geralmente coordenadas pelo engenheiro agrnomo, que antes de iniciar a reunio apresentava os pontos sobre os quais ele teria que falar e solicitando a explicitao de acordos ou desacordos dos presentes. Neste momento, alguns agricultores sugeriam questes para serem discutidas, geralmente referidas prpria associao. Definida a pauta, os pontos que seriam debatidos eram postos em ordem de prioridade e dava-se prosseguimento reunio seguindo esta ordem.

Durante o perodo de safra do caqui, que denominada pelos agricultores de poca do caqui, que vai de maro a junho, tive dificuldades de me aproximar deles, devido ao grande volume de trabalho que envolvia a colheita, o transporte e a comercializao do caqui. Nesta situao, meu contato com eles se restringia ao momento anterior reunio, em que falavam principalmente sobre a produo de caqui, as dificuldades enfrentadas nas diversas etapas que compem a colheita, o transporte e a comercializao do produto.

Com o trmino da safra do caqui, os agricultores passaram a se dedicar a outras atividades agrcolas, como tirar banana, preparar hortas, isto , retomaram as atividades que ficaram paradas durante a poca do caqui. Foi neste perodo que eu consegui me aproximar mais dos agricultores, fazendo algumas visitas nas suas casas e nos stios, onde realizei algumas entrevistas. Durante a primeira entrevista, que foi previamente combinada com o agricultor para um dia de sbado, pela manh, percebi que o agricultor que estava sendo entrevistado ficou um pouco incomodado com o tempo de durao da mesma, cerca de uma hora, pois tinha deixado alguns afazeres para me atender. Diante desta situao, resolvi realizar as entrevistas e conversas informais acompanhando-os nos trabalhos dirios.

Coincidentemente, aps tomar esta deciso, com a aprovao do projeto enviado pelo engenheiro agrnomo aos representantes do SEBRAE, fui tambm contemplado, j que, para realizarem as atividades previstas no projeto, poda de parte dos caquizais e desbaste de parte dos bananais, os agricultores beneficiados resolveram se organizar em mutires Mutiro corresponde uma forma coletiva de organizao da fora de trabalho que no envolve o pagamento em espcie. O agricultor, responsvel pela rea, onde realizado o trabalho, e pela organizao do mutiro, fica obrigado moralmente participar dos mutires que possivelmente ocorrero nas reas dos agricultores que participaram da equipe de mutiro em sua rea., o que em muito facilitou a realizao das entrevistas e da observao direta. Para a poda dos ps de caqui foram organizados seis mutires, dos quais acompanhei cinco. E para o desbaste da banana, que ainda est em andamento, foram previstos cinco mutires e j realizados dois, dos quais acompanhei um.

As entrevistas realizadas no decorrer do que denominaram de mutiro eram geralmente abertas e negociadas, associavam as informaes dadas pelo agricultor e o meu interesse na pesquisa. Em alguns momentos, priorizei entrevistar individualmente o responsvel pela rea onde ocorria o mutiro. Nestas, privilegiei informaes sobre a composio do grupo domstico e a participao dos membros da famlia na atividade agrcola, as caractersticas da unidade produtiva, os tipos de cultivo e as formas de mobilizao da fora de trabalho para a realizao das etapas do processo produtivo, os meios de produo envolvidos, as formas de mobilizao da fora de trabalho, os diferentes tipos de reas que compem a propriedade dos agricultores, as praas de mercado nas quais esto inseridos, entre muitas outras informaes que analiso no decorrer deste trabalho.

Nesta pesquisa, pelos fatores j aventados, detenho-me na anlise dos agricultores do Rio da Prata que esto envolvidos no processo de converso de produtor dito convencional para produtor denominado orgnico. Esta deciso foi tomada devido falta de tempo para construir relaes adequadas ao desenvolvimento da pesquisa com os agricultores no envolvidos neste processo, principalmente por eles no terem local e dia determinado para se reunirem, o que em muito dificultou o contato com os mesmos.

1.3. Os agricultores do Rio da Prata

A localidade denominada Rio da Prata, situada na zona oeste do municpio do Rio de Janeiro, pode ser chamada de rea de cinturo hortigranjeiro, como indicado por Musumeci (1987). Por estar situada prxima a reas urbanas, os agricultores ai localizados esto integrados por uma estreita relao de mercado, fornecendo produtos agrcolas e consumindo bens e servios mercantilizados. Devido sua localizao, a regio do Rio da Prata tem sido alvo de intervenes que refletem os diversos significados e interesses de agentes externos sobre este espao. Estas intervenes tm causado alteraes na maneira de agricultores e demais moradores desta rea, se relacionarem entre si e com o seu territrio.

1.3.1 Presso sobre o territrio

Com a criao do Parque Estadual da Pedra Branca, em 1974, rea que abrange os bairros do Rio da Prata, de Jacarepagu, Bangu, Vargem Grande, entre outros, os agricultores que possuem suas reas de cultivo situadas no interior do parque, passam a estar submetidos a uma legislao especfica, que determina a maneira como aquele espao deve ser ocupado e gerido. Trata-se de um projeto que prioriza a preservao dos recursos naturais, assim como sua recuperao, tal como o caso das reas que passaram por algum tipo de interferncia humana, condio na qual a legislao que regulamenta e define os objetivos do Parque Estadual da Pedra Branca, mas tambm impe sua objetivao, associa a atuao dos fiscais representantes das instituies responsveis pela gesto do Parque. Por esta condio ainda, os fiscais tentam impedir o uso de algumas reas e tcnicas que so consideradas, pelos agentes institucionais desse quadro de interveno social, como danosas ao meio ambiente. Por exemplo: a abertura de novas roas em reas que possuem rvores acima de um determinado tamanho e dimetro; a ampliao e a rotao das reas de cultivo; o uso do fogo, que era utilizado em uma das etapas da preparao do terreno a ser cultivado. Enfim, os agricultores so nesta condio condenados, no melhor dos casos, reproduo simples no que diz respeito incorporao de fatores de produo. So, ento, limitados quanto ao acesso e ao uso do seu territrio. (VER MAPA ANEXO 1)

Outro fator que tem contribudo para a limitao do acesso dos agricultores da regio do Rio da Prata terra a presso causada pela expanso do mercado imobilirio. A expanso deste mercado, possibilitada pelo crescimento demogrfico e mudanas nos modos de consumo ocorridos em todo municpio do Rio de Janeiro, fundamentou-se, entre outros fatores, no fato que determinadas parcelas de terra, que anteriormente eram destinadas produo agrcola, passassem a reas destinadas a loteamentos e construo de habitaes, destinadas aos trabalhadores das reas urbanas, e vinculados aos setores industriais, de comrcio e servios. Com isso, o acesso terra, que num determinado contexto era ordenado por orientaes cujos objetivos eram a reproduo social daqueles agricultores, passa a ser gerido por fatores orientados por princpios definidos pelo mercado capitalista. A terra, da condio de possibilitadora da reproduo de um modo de vida e de produtora de algumas mercadorias, torna-se ela prpria, mercadoria. (VER QUADROS ANEXO 2)

Em ambas condies de interferncia, de presso sobre o acesso e na gesto e uso da terra, os agricultores so vistos, pelos agentes responsveis por essas intervenes, como um empecilho realizao plena dos projetos de preservao e conservao. Sendo assim, no contexto em que vivem os agricultores do Rio da Prata, trs concepes sobre uso ou apropriao da terra esto em disputa. A concepo dos agricultores que, devido ao sentimento de pertencimento, construdo a partir do processo histrico de ocupao e uso deste territrio, projetam as possibilidades de se constiturem e se reproduzirem enquanto agricultores, a partir de relaes que mantm entre si e com a terra. A terra ento valorada pelo sua capacidade de propiciar a reproduo social deste grupo. A concepo dos agentes integrantes do setor imobilirio, que consideram a terra como um fim nela mesma, concebendo-a, portanto, como mercadoria. E, por fim, a concepo dos agentes adeptos da ideologia conservacionista, que definem este espao geogrfico como um ecossistema que deve ser preservado, inclusive pelo intuito de combater um modelo de desenvolvimento altamente degradante em outras reas, adotando medidas compensatrias, que pretendem isolar para preservar as reas ainda no destrudas pela ao humana.

Neste contexto, cujo campo de relaes sociais se desenha pelo jogo de disputa pela imposio de uma concepo de funo da terra, os agricultores tm sido os maiores prejudicados, por serem includos sob constrangimentos mltiplos, por no desfrutarem de mecanismos eficientes de ao poltica capazes de fazer valer suas concepes sobre o territrio apropriado.

No entanto, sua presena a fundamental segundo os interesses dos agentes adeptos ideologia conservacionista, razo pela qual a aliana de interesses tem sido possvel. Com a ocupao desordenada ocorrida em outras vertentes do Parque Estadual da Pedra Branca, os agricultores do Rio da Prata passam a assumir um papel importante na conteno do processo de ocupao nesta vertente do parque, contribuindo, assim, para sua preservao.

Pela nova posio indiretamente atribuda, de possveis colaboradores para a conservao do Parque, melhor consagrada aos agricultores por agentes ligados organizao no governamental Associao Roda Viva, de maro de 2001 a fevereiro de 2003 foi sendo colocado em prtica o projeto Desenvolvimento Sustentvel na comunidade Rural do Rio da Prata, financiado pela Unio Europia. Este projeto tinha como objetivo suscitar nos agricultores o interesse por novas formas de produo agrcola, tidas como no danosas natureza, sade do consumidor e do agricultor. Esta maneira de produzir, qualificada como orgnica, pressupunha a incorporao de novas tecnologias ao processo produtivo, tais como a utilizao de adubos e fertilizantes classificados como orgnicos, que poderiam ser produzidos pelos prprios agricultores, e o abandono de tcnicas tradicionalmente utilizadas, como o fogo usado para a limpa e adubao da rea a ser cultivada. produo mercantil sob controle, os agricultores deveriam acrescer o auto-consumo produtivo, conforme definio atribuda por Tepicht (1975)

Segundo os objetivos dos idealizadores do projeto, a incorporao das tcnicas e tecnologias vinculadas produo orgnica garantiria aos agricultores, entre outras coisas, o aumento da produo e o acesso a um determinado tipo de mercado o mercado de produtos orgnicos -, onde eles conseguiriam um preo pelas suas mercadorias superior aos encontrados nas feiras convencionais, aumentando com isso o seu rendimento. A incorporao da responsabilidade sobre a preservao do meio ambiente e sobre a sade do consumidor e a perspectiva de aumentar os rendimentos foram capazes de levar alguns agricultores do Rio da Prata a aderir ao projeto. Alm de participarem de cursos de formao e orientao tcnica oferecidos por engenheiros agrnomos, os agricultores envolvidos integravam-se a um treinamento para constituio de uma associao, que funcionaria, ao mesmo tempo, como entidade representativa e como um espao de atuao coletiva e de definio pblica de interesses e posies frente aos problemas daquela regio.

Mesmo exigindo uma submisso a um saber estranho ao que eles so portadores, tal converso valorada positivamente por alguns agricultores. No entanto, este no um processo que recebe a adeso de todos os agricultores da regio do Rio da Prata, nem os atinge da mesma maneira, sendo, portanto, fator possibilitador de constituio de formas outras de diferenciao no grupo como um todo.

C Eles zombavam um bocado da gente. Diziam que no iam conseguir colher nada... At hoje tem gente que zomba de mim, que diz que no vou colher nada, maracuj essas coisas... que difcil pra caramba. Mas zombam de mim... Eu colho. As vez em quando eu mostro pra eles, eles ficam quieto assim... olhando assim... Fica meio desconfiado. ... Eu no sei. Pessoal do mato difcil de voc...entender. Tem que ter calma. assim mesmo. (Claudino e Madalena, agricultores moradores do Rio da Prata, depoimento cedido em 27/06/04)

1.3.2. Descrio dos atributos agricultores abordados na pesquisa

Os agricultores do Rio da Prata, de uma forma geral, vm sofrendo diversas presses, oriundas fatores e agentes externos, que lhes impem alteraes na sua forma de se relacionar entre si, com a terra e com a sociedade na qual esto inseridos. Tais alteraes tm influenciado, tambm, as formas de apropriao dos meios de produo. Como o objetivo da pesquisa analisar os fatores externos e internos unidade familiar e unidade produtiva, que condicionam as aes dos agentes envolvidos no processo de mudana em curso, para efeitos de classificao dos informantes, passo a apresentar algumas caractersticas dos agricultores a envolvidos:

Arnaldo, 69 anos, casado, 4 filhos (2 homens, 45 e 37 anos, e 2 mulheres, 44 e 43 anos).

Tem posse de uma rea de aproximadamente 23,7 hectares, onde produz principalmente caqui e banana.Possui 68 galinhas para produo de ovos, que so destinados principalmente para venda, e 4 animais (3 mula e 1 burro) para o transporte da produo agrcola.Dos quatro filhos, somente o mais velho, Claudino, 45 anos, solteiro, trabalha na roa com ele.* O filho de 37 anos, casado, com dois filhas (9 e 5 anos), trabalha como porteiro. A filha mais velha estuda.* A filha de 44 anos, casada (o marido bombeiro), tem 2 filhos (15 e 13 anos, ambos estudam), dona de casa* A filha de 43 anos, casada (o marido porteiro), dona de casa.Todos os filhos do Arnaldo moram em um mesmo terreno prximo ao largo do Rio da Prata. Cada um em sua prpria casa.Na poca do caqui, Arnaldo faz as feiras (vender na feira livre) de Bang e Piraquara, na entressafra se restringe feira de Bang, onde, neste perodo, vende principalmente banana. Ambas as feiras so de produtos tidos como convencional.O stio Durante a pesquisa foi possvel encontrar pelo menos cinco acepes para o termo stio, a saber: como rea cultivada; como a rea total de posse de cada agricultor; como a rea de roa; como local destinado somente para produo agrcola; e como local de cultivo e moradia. fica no alto da serra, lugar denominado Virgem Maria. Do stio at o ponto a partir do qual os produtos podem ser transportados, de caminho, para feira, local denominado largo do stio da falecida Dona Nonola, leva-se de 1 2 horas de caminhada.

Claudino, 45 anos, solteiro. Trabalha com o pai, Sr. Arnaldo, onde toma conta de uma parte do stio. Produz principalmente caqui e banana. Nos perodos de entressafra do caqui investe no cultivo de hortalias. Vende seus produtos na feira de produtos orgnicos da EMATER-RJ, sede de Campo Grande. (VER ANEXO 3)

Madalena, 45 anos, casada (o marido agricultor), tem 3 filhas (24, 22 e 18 anos).

Tem dois stios (5 e 3 hectares), onde produz principalmente banana, mas tambm caqui. No perodo de entressafra do caqui produz todo que da poca (hortalias de cada estao)* A filha de 24 anos, solteira, trabalha como secretria e faz curso tcnico de Enfermagem* A filha de 22 anos, solteira, estuda na Escola Tcnica do Estado do Rio de Janeiro.* A filha de 18, solteira, est no terceiro ano do 2o Grau e pretende fazer vestibular para enfermagem, ao final de 2005.As duas filhas mais novas so as responsveis pela produo dos produtos em passa (caqui-passa e banana-passa).Mesmo sendo casada, os stios da Madalena so separados do stio do marido. Ela faz feira sem o marido e vende seus prprios produtos. A renda tambm separada: cada um tem seu dinheiro. Na poca do caqui faz a feira de Bang (de produtos qualificados como convencional) e a feira de produtos orgnicos da EMATER-RJ, na sede de Campo Grande.Possui um animal (mula) para transportar a produo. Durante a poca do caqui o marido trabalha junto com ela no stio, emprestando seus dois animais para transportar a carga.O stio no alto da serra, mas sua casa, onde mora com o marido e as filhas, fica prximo do largo do Rio da Prata.

Idercnio, 49 anos, separado, tem 3 filhas (26, 16 e 6 anos), mas nenhuma delas mora com ele, somente a filha mais velha ajuda, s vezes, no trabalho domstico.

Tem 8 hectares de rea, onde produz caqui e banana, principalmente. Na estressafra do caqui produz hortalias.No faz feira. Vende seus produtos na porta (o fregus, geralmente um comerciante, busca a mercadoria na casa dele). Durante a poca do caqui, ele vende sua produo junto com os agricultores que possuem pontos (tabuleiro ou barraca) nas feiras.Possui 1 burro para o transporte da produo. Seu stio, ao mesmo tempo local de produo agrcola e local de habitao, est no alto da serra do Rio da Prata. Deste at o largo do stio da falecida Dona Nonola, gasta-se, aproximadamente, uma hora e meia de caminhada com o transporte da produo.Cria doze galinhas e um galo, para produo de ovos que so destinados para o autoconsumo.

Antnio, 45 anos, casado, 5 filhos (2 mulheres, 18 e 4 anos, e 3 homens, 21, 13 e 6 anos).

Possui uma rea de aproximadamente seis hectares. Esta era do seu pai e hoje, por ser o mais velho entre os cinco irmos, est sob sua responsabilidade. o dono da roa.Dos seus filhos, somente o mais velho trabalha com ele na roa. O irmo mais novo, 32 anos e solteiro, tambm trabalha com ele.Produz caqui e banana. Na poca do caqui. faz as feiras de Piraquara e Bang, enquanto o irmo, 32 anos, faz a de Campo Grande. Eles dividem a carga.Na entressafra do caqui, alm da banana, produzem hortalias (roa branca), que so vendidas nas feiras de Bang e Campo Grande. Neste perodo, no fazem a feira de Priaquara.Possui seis animais (4 burros e 2 mulas) para o transporte da produo, e um cavalo, que usado exclusivamente para passeio.O filho mais velho, 21 anos, possui dois cavalos, tambm para passeio.

Dona Graa, 54 anos, viva, tem uma filha que trabalha como bancria.

Dona Graa est no Rio da Prata h 16 anos, herdou um pequeno bar, que fica no largo do stio da falecida Dona Nonola, onde mora. No agricultora, mas cria cinco galinhas e um galo no quintal de casa para consumo prprio e vende, esporadicamente, os ovos. Faz a feira da General Glicrio, em Laranjeiras, com um amigo, onde vende banana e caqui, ambos em passa.

Luiz, 54 anos, casado, 2 filhos (uma mulher, 14 anos, e um homem, 8 anos. Ambos estudam e no ajudam na roa).

Luiz, o irmo mais velho de um total de quatro irmos (dois homens, 53 e 52 anos, e uma mulher, 45 anos). Sua rea o stio que o seu pai deixou sob sua responsabilidade. Seus pais so vivos.Quando perguntado sobre o tamanho da rea, ele no soube responder. Disse que estava no documento de posse, que fica com o pai, e no conseguiu encontrar o documento.A esposa do Seu Luiz, Gecilda, 43 anos, agricultora e trabalha com o ele na roa. Luiz se dedica mais ao trabalho com a banana e o caqui, enquanto Gecilda trabalha mais com hortalias. Na poca do caqui eles trabalham juntos.Luiz faz a feira de Bang e Piraquara, sendo que na entressafra do caqui faz s a de Bang, e Gecilda faz a feira do Rio da Prata, independente da poca.Nenhum dos seus irmos vive da atividade agrcola.O irmo de 53 anos aposentado.O irmo de 52 anos trabalha na COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana)A irm de 45 anos dona de casa.Para o transporte da produo, Luiz conta com duas mulas, sendo uma dele e a outra da esposa.O filho possui um cavalo, que foi dado pela Gecilda.Por ser seu stio no alto da serra do Rio da Prata, seu Luiz possui sua casa no Rio da Prata (prximo ao largo do Rio da Prata), onde sua esposa e seus filhos so responsveis por cuidar das galinhas (seis) e dos patos (5 patas e um pato) todos destinados ao auto consumo, assim como seus ovos.

Sebastio, 45 anos, casado, tem dois filhos (22 e 18 anos).

A rea em que mora, juntamente com seus filhos, e trabalha do seu pai. Por ser o nico filho homem, ele quem toma conta ( que cuida) do stio. Suas irms (48, 43 e 40 anos) se casaram e se mudaram para Campo Grande.Seu pais so vivos e moram prximos ao largo do Rio da Prata.O filho de 22 anos, que casado e tem um filho de 5 anos, trabalha no mercado de flores em So Cristvo.O filho de 18 anos, que trabalha com o Sebastio na roa, casado e tem um filho de 2 anos.Como o stio no fica longe do largo do Rio da Prata, todos moram no stio, em duas casas separadas. Numa reside o Sebastio, a esposa e o filho mais novo com a esposa e o filho, e na outra o filho mais velho com a esposa e o filho.A rea do seu stio de 8 hectares, onde produz principalmente caqui e banana, que so vendidos por ele nas feiras de Bang e Realengo, durante a safra do caqui. Aps este perodo, ele se mantm vendendo banana, hortalias e outras frutas, como mamo, manga, goiaba, na feira de Bang.Para transportar a produo, Sebastio possui trs burros. Tem, tambm, dois cavalos para passeio.

Pode-se perceber que esses agricultores esto passando por um processo no qual a possibilidade da reproduo da famlia a partir da atividade agrcola est restrita aos meios de produo assegurando a incorporao de apenas um membro do grupo domstico por gerao.