cap 2 - introdução à circulação extracorpórea
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Introdução à Circulação
Extracorpórea 2
Podemos considerar que a fase moder-
na da cirurgia cardíaca teve início com o
advento da circulação extracorpórea. Essa
tecnologia permitiu aos cirurgiões parar o
coração, incisar suas paredes, examinar
detalhadamente o seu interior e corrigir as
lesões existentes sob visão direta.
A circulação extracorpórea, em um sen-
tido mais amplo, compreende o conjunto de
máquinas, aparelhos, circuitos e técnicas
mediante as quais se substituem temporaria-
mente, as funções do coração e dos pulmões,
enquanto esses órgãos ficam excluidos da cir-
culação. As funções de bombeamento do co-
ração são desempenhadas por uma bomba
mecânica e as funções dos pulmões são
substituidas por um aparelho capaz de reali-
zar as trocas gasosas com o sangue. Um nú-
mero de tubos plásticos une os diversos com-
ponentes desse sistema entre sí e ao paciente,
constituindo a porção extracorpórea da cir-
culação. A oxigenação do sangue, o seu bom-
beamento e circulação, fazem-se externa-
mente ao organismo do indivíduo[1 - 4]
.
Na prática, comumente se denomina o
sistema utilizado para a circulação extracor-
pórea de máquina coração-pulmão artificial,
aparelho coração-pulmão artificial, ou, sim-
plesmente, bomba coração-pulmão. No jar-
gão da especialidade, as equipes costumam
referir-se simplificadamente à “bomba”, para
designar o sistema coração-pulmão artificial.
A parte motora do aparelho coração-
pulmão artificial consiste de uma bomba
mecânica que impulsiona o sangue através
o sistema circulatório do paciente e a parte
oxigenadora consiste de um aparelho, o
oxigenador, que permite a introdução do
oxigênio no sangue e a remoção do dióxido
de carbono (CO2
)[3, 4]
.
Desde a pioneira operação realizada
por Gibbon em 1953 até os dias atuais,
ocorreram o nascimento, o crescimento e
o desenvolvimento da cirurgia cardiaca
moderna, e com ela, da circulação extra-
corpórea, com velocidade inigualável, sen-
do suplantada, apenas, pela velocidade do
desenvolvimento da informática.
No seu início, a circulação extracorpórea
era limitada a oxigenar e bombear o sangue
por períodos curtos, suficientes apenas para a
realização das operações mais simples. Os
equipamentos eram artesanalmente cons-
truidos e as técnicas eram rudimentares. Os
procedimentos de maior porte, freqüente-
mente, se acompanhavam de grandes com-
plicações, raramente reversíveis.
A circulação extracorpórea moderna,
não apenas substitui as funções cardiopul-
monares mas, ao mesmo tempo, preserva
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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
a integridade celular, a estrutura, a função
e o metabolismo dos órgãos e sistemas do
indivíduo, enquanto operações mais com-
plexas e prolongadas são realizadas pela
equipe cirúrgica.
Os progressos com relação à indicação
das cirurgias, a possibilidade da sua reali-
zação em pacientes idosos e em crianças,
mesmo recém-nascidas, em portadores de
lesões mais complexas, em pacientes gra-
ves com doenças sistêmicas associadas, a
cirurgia na fase aguda e nas complicações
do infarto do miocárdio, das dissecções
aórticas, do implante de corações artifici-
ais e mesmo a cirurgia dos transplantes car-
díacos, estimularam a evolução das técni-
cas de circulação extracorpórea e o desen-
volvimento dos equipamentos mais sofisti-
cados disponíveis nos dias atuais [2, 5, 6]
.
CIRCULAÇÃO NORMAL
Na circulação natural, o sangue deso-
xigenado ou venoso, que cedeu oxigênio
aos tecidos, retorna ao átrio direito, atra-
vés das duas grandes veias cavas, superior
e inferior. Do átrio direito, o sangue alcan-
ça o ventrículo direito de onde é bombea-
do para a artéria pulmonar e seus ramos
para, finalmente, atravessar a rede capilar
pulmonar. Nos capilares pulmonares o san-
gue recebe o oxigênio do ar contido nas vias
aéreas dos pulmões e nelas elimina o
dióxido de carbono. Após as trocas gasosas
nos capilares o sangue arterializado é cole-
tado pelo sistema de veias pulmonares e
dirigido ao átrio esquerdo, de onde alcan-
ça o ventrículo esquerdo e é bombeado
para a aorta e seus ramos arteriais, percor-
rendo o sistema arterial, arteriolar, e capi-
lar, na intimidade de todos os tecidos. Nes-
sa imensa rede capilar do organismo, o san-
gue cede oxigênio e outros elementos nu-
tritivos aos tecidos e capta o dióxido de car-
bono e outros dejetos produzidos pelo
metabolismo celular. Após passar pelos ca-
pilares dos tecidos, o sangue alcança o sis-
tema de vênulas e veias que convergem
para formar as grandes veias cavas superi-
or e inferior, retornando novamente ao co-
ração[1, 2, 7]
. Esta atividade circulatória
ininterrupta mantém a viabilidade e a fun-
ção de todos os tecidos do organismo. (Fig.
2.1). O dióxido de carbono é eliminado pe-
los pulmões, enquanto outros dejetos são
eliminados pelos rins ou metabolizados no
fígado, para posterior excreção.
Fig.2.1 – Representação esquemática da circulação
normal. O sangue do coração esquerdo transita pelas
artérias até atravessar o sistema capilar do organismo
e retorna ao coração direito pelas grandes veias cavas
superior e inferior.
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CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
Na circulação extracorpórea, o sangue
venoso é desviado do coração e dos pul-
mões ao chegar ao átrio direito do pacien-
te, através de cânulas colocadas nas veias
cavas superior e inferior. Daí, por uma li-
nha comum, o sangue venoso é levado ao
oxigenador, onde, através de um percurso
por câmaras especiais, recebe oxigênio e eli-
mina gás carbônico e, em seguida, é cole-
tado para ser reinfundido ao paciente. Do
oxigenador, e já “arterializado”, o sangue é
bombeado para um ponto do sistema arte-
rial do paciente, geralmente a aorta ascen-
dente, de onde percorre o sistema arterial
e é distribuido a todos os órgãos, cedendo
oxigênio aos tecidos para a realização dos
processos vitais, e recolhendo o dióxido de
carbono neles produzido. Após circular pelo
sistema capilar dos tecidos o sangue volta
ao sistema das veias cavas superior e infe-
rior, onde é continuamente recolhido, para
ser levado ao oxigenador[1,2,5,6]
. Este proces-
so é mantido pelo tempo necessário à cor-
reção da lesão cardíaca e dele depende a
preservação da integridade morfológica e
funcional de todos os órgãos do paciente
(Fig. 2.2).
Isto significa que, em um adulto mé-
dio, a máquina coração-pulmão artificial,
deve coletar 3 a 5 litros de sangue por mi-
nuto e distribuí-lo em uma grande superfí-
cie onde é exposto ao oxigênio para as tro-
cas gasosas. A seguir, o sangue deve ser
novamente coletado, separado do excesso
de gás, filtrado e bombeado sob pressão no
sistema arterial do paciente. O processo
deve ser continuado por períodos de até
algumas horas, se necessário, sem alterar
significativamente as propriedades biológi-
cas do sangue ou a integridade dos seus ele-
mentos celulares e proteinas[1, 6, 7]
.
OXIGENADORES
Os oxigenadores são os aparelhos utili-
zados para a realização das trocas gasosas
com o sangue, durante a circulação extra-
corpórea. Estas consistem na captação de
oxigênio pela hemoglobina das hemácias,
para distribuição aos tecidos e na remoção
do dióxido de carbono produzido nos teci-
dos, para eliminação do organismo. Os oxi-
genadores mais utilizados nas últimas dé-
cadas são de dois tipos principais, confor-
Fig. 2.2. Representação esquemática da circulação
extracorpórea. O sangue é recolhido das veias cavas
superior e inferior e drenado para o oxigenador, onde é
arterializado. Em seguida, a bomba arterial impulsiona o
sangue oxigenado para o sistema arterial do paciente.
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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
me o método utilizado para a introdução do
oxigênio no sangue:
a. Oxigenadores de bolhas. São os mais
antigos. O oxigênio é dispersado no in-
terior de uma coluna do sangue, em
microjatos, que produzem bolhas. As
trocas gasosas se processam na superfí-
cie das bolhas[8,9]
. Nos dias atuais estão
abandonados. São raramente usados e
seus fabricantes já interromperam a sua
produção.
b. Oxigenadores de membranas. São os
mais modernos. Existe uma membrana
semi-permeável que separa o sangue do
oxigênio e as trocas gasosas são feitas
por difusão dos gases através a mem-
brana ou através de poros existenes nas
membranas. Simulam, com grandes
vantagens, as trocas gasosas que ocor-
rem nos pulmões[10, 11]
.
MÁQUINA CORAÇÃO-PULMÃO
O conjunto de bombas, arterial,
aspiradoras e bomba d’agua é, geralmente,
montado em um único suporte ou console,
e constitui a máquina extracorpórea [1, 6]
.
Esta máquina é o único ponto do sistema
onde há geração de energia, para impulsio-
nar o sangue pelo sistema circulatório do pa-
ciente e através dos componentes do próprio
oxigenador; para recolher o sangue extrava-
sado ou coletado no campo operatório, bem
como para as trocas térmicas (Fig. 2.3).
A energia necessária ao deslocamento
do sangue pelo circuito extracorpóreo e
pelo sistema circulatório dos pacientes é
fornecida pela bomba arterial.
BOMBAS ASPIRADORAS
A abertura das cavidades cardíacas,
as manobras cirúrgicas no seu interior e
a circulação colateral, permitem o extra-
vasamento de sangue no campo operató-
rio. Outras bombas, geralmente duas ou
três, semelhantes à bomba arterial, cha-
madas bombas aspiradoras, coletam o san-
gue do campo operatório e o transportam
a um reservatório especial, o reservatório
de cardiotomia, de onde o sangue é dre-
nado para o oxigenador, mantendo o vo-
lume total constante, sem perdas exter-
nas. Uma dessa bombas é usada para as-
pirar o sangue e evitar a distensão e con-
seqüente injúria do ventrículo esquerdo,
durante as operações; é denominada bom-
ba de descompressão ventricular.
Fig 2.3. Máquina coração-pulmão completa, com as bombas
arterial e aspiradoras e bomba d´água. Hastes verticais servem
para fixar o oxigenador, focos de iluminação direta, módulos
de monitorização e outros acessórios necessários à perfusão.
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CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
PERMUTADOR DE CALOR
E HIPOTERMIA
A exposição do sangue do paciente à
temperatura da sala de operações, o conta-
to com o oxigênio e a evaporação de vapor
d’agua propiciam perdas de calor e, portan-
to, a redução da temperatura dos pacien-
tes. Para compensar esse fenômeno, uma
bomba circula água morna, à uma tempe-
ratura máxima de 40 a 42o
C, através de um
circuito especial existente dentro do oxi-
genador, onde se processam trocas térmi-
cas, que reaquecem o sangue e mantém a
temperatura dos pacientes nos níveis de-
terminados pela equipe cirúrgica.
Outras vezes é necessário reduzir o dé-
bito da bomba arterial, para facilitar as téc-
nicas operatórias e algumas manobras ci-
rúrgicas. Para compatibilizar essa menor
oferta de oxigênio aos tecidos com o seu
consumo, costuma-se reduzir a temperatura
do organismo do paciente. A hipotermia
reduz a velocidade das reações químicas do
metabolismo e, em conseqüência, reduz as
necessidades de oxigênio do organismo.
A hipotermia é induzida pela circula-
ção de água gelada no permutador térmico
do oxigenador até o paciente alcançar a
temperatura desejada. A reversão da hipo-
termia, ou seja, o reaquecimento do paci-
ente, se obtém circulando água morna no
permutador de calor. Os mecanismos das
trocas de calor entre a água que circula no
permutador térmico e o sangue, bem como
as trocas entre o sangue e o organismo do
paciente, são semelhantes, durante os pro-
cedimentos de hipotermia, em ambas as
fases, de resfriamento e de reaquecimento.
As temperaturas da água, do sangue no
oxigenador e do paciente são cuidadosa-
mente monitorizadas para assegurar que
não haverá desprendimento de gases em
conseqüência de alterações da solubilida-
de por variações térmicas bruscas.
CIRCUITO EXTRACORPÓREO
O conjunto de elementos da circula-
ção extracorpórea, tais como cânulas, tu-
bos plásticos, conectores, reservatórios e
filtros, quando posicionados em seqüência
para uso, constituem o circuito extracor-
póreo, ou simplesmente, circuito. Podemos
definir o circuito como sendo o conjunto
de elementos que fazem a interligação en-
tre a bomba, o oxigenador e o paciente.
Os circuitos podem ser de diversos ti-
pos. Embora exista um desenho básico, seus
detalhes, entretanto, costumam correspon-
der às preferências da equipe cirúrgica. Em
certos casos, os circuitos são desenhados
para atender às necessidades especiais de
determinados procedimentos cirúrgicos.
O circuito representado na figura 2.4,
corresponde ao circuito básico, para um
oxigenador de membranas, utilizado para
a maioria das operações. As cânulas das
veias cavas superior e inferior são unidas
por um conector em formato de Y, originan-
do a linha venosa, que leva o sangue venoso
do paciente até o reservatório venoso do oxi-
genador. Esta drenagem se inicia por ação
da gravidade e se mantém por sifonagem. O
sangue escoa pela linha venosa graças ao
desnível que deve existir entre o átrio di-
reito do paciente e a entrada do reservató-
rio venoso do oxigenador, geralmente de
40 a 60cm, para uma drenagem adequada.
As linhas aspiradoras servem para aspi-
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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
rar o sangue extravasado das cavidades
cardiacas, através das bombas aspiradoras,
para o reservatório de cardiotomia, onde é fil-
trado e devolvido ao oxigenador através a
linha de cardiotomia, mantendo constante
o volume de sangue do paciente e do siste-
ma extracorpóreo. O reservatório venoso do
oxigenador coleta o sangue já desborbulha-
do e filtrado, pronto para as trocas gasosas.
Desse reservatório venoso, o sangue é as-
pirado pela bomba arterial, que o impulsio-
na através do compartimento das membra-
nas, onde recebe o oxigênio e elimina o
dióxido de carbono e, em continuidade para
a linha arterial, que termina na cânula arte-
rial ou aórtica, inserida na aorta ascenden-
te do paciente, de onde é distribuído para
todo o organismo.
Os elementos acima analisados são os
componentes essenciais do circuito. Alguns
outros, freqüentemente usados, tornam o
circuito mais complexo porém, aumentam
a segurança e a eficácia dos procedimen-
tos. São elementos auxiliares e cumprem
importantes funções. Os principais são: fil-
tros microporosos, “catabôlhas”, monitores
de pressão, de fluxos e de temperaturas.
MATERIAIS E COMPATIBILIDADE
O sangue circula por um conjunto de
elementos, oxigenadores, tubos, reservató-
rios, filtros e conectores, com os quais tem
contato direto. Os materiais usados na
contrução dos componentes da circulação
extracorpórea devem ser criteriosamente
escolhidos e testados. Esses materiais de-
Fig 2.4. Esquema representativo do circuito básico da circulação extracorpórea com oxigenador de membranas: 1.
reservatório de cardiotomia integral; 2. compartimento das membranas; 3. linha venosa; 4. linha arterial; 5. expurgo
do filtro da linha arterial; 6. filtro arterial; 7. bomba arterial; 8. bombas aspiradoras; 9. bomba de descompressão
ventricular; 10. bomba de cardioplegia; 11. cardioplegia cristaloide; 12. linha de entrada de água; 13. linha de saída de
água; 14. linha de gás. (Davis RB et al. In Mora C. Cardiopulmonary bypass. Principles and techniques of extracorporeal
circulation, 1995).
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CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
vem ser resistentes aos impactos para evi-
tar fraturas durante o uso, não devem rea-
gir quimicamente com os componentes do
sangue nem liberar resíduos químicos na
corrente sanguínea.
As superfícies com as quais o sangue
tem contato devem ser polidas, extrema-
mente lisas, apresentar potencial de cargas
elétricas negativas e ter muito baixo nível
de absorção de água.
Todas as peças devem ser construidas de
modo a ter bordas arredondadas ou boleadas,
sem arestas vivas e sem recessos onde bolhas
gasosas, grumos celulares ou fibrina do san-
gue possam ser acumulados[12,13]
.
ANTICOAGULAÇÃO
O sangue permanece na forma líquida
enquanto se mantém em contato com as su-
perfícies internas do coração (endocárdio) e
dos vasos sanguíneos (endotélio). Quando o
sangue entra em contato com outra superfí-
cie, de qualquer natureza, biológica ou não,
ocorre um conjunto de reações que resultam
na coagulação.
Durante a circulação extracorpórea, há
necessidade de fazer o sangue circular atavés
de um intrincado circuito, em cuja constru-
ção se utilizam diversos materiais, com os
quais o sangue entra em contato. Embora
biocompatíveis, todos aqueles materiais esti-
mulam, em maior ou em menor grau, as rea-
ções que levam à coagulação do sangue.
É, portanto, essencial que a coagula-
ção do sangue seja inibida, para que os pro-
cedimentos de circulação extracorpórea
possam ser realizados. A heparina é a dro-
ga anticoagulante utilizada com essa fina-
lidade. Ela é administrada em doses que va-
riam de 2 a 4mg/Kg de peso do paciente,
imediatamente antes da inserção das câ-
nulas arterial e venosas, respectivamente,
na aorta e no átrio direito dos pacientes.
Dessa forma, os fenômenos da coagulação
do sangue são inibidos, antes de qualquer
contato com as superfícies do circuito ex-
tracorpóreo. A anticoagulação é mantida
por todo o tempo necessário à utilização
da circulação extracorpórea. A atividade
anticoagulante da heparina é monitorizada
e doses adicionais podem ser administra-
das, se necessário, conforme os protocolos
previamente estabelecidos para a anticoa-
gulação[2,14,15]
.
Ao final do procedimento, constatada a
adequácia do reparo cirúrgico, as cânulas são
removidas e a heparina é neutralizada, com o
objetivo de permitir a normalização das fun-
ções do sistema de coagulação. O antídoto
universalmente utilizado para a neutralização
da heparina é a protamina, sob a forma de
cloridrato ou, mais comumente, o sulfato. A
equivalência da atividade biológica entre a
heparina e a protamina é de aproximadamen-
te 1:1, significando que cada 1 miligrama de
heparina é neutralizado por 1mg. de prota-
mina [16, 17]
. Prefere-se, contudo, usar as uni-
dades internacionais, como padrão de con-
centração eficaz da heparina, ao invés da
massa. Nesse contexto, cada 1 mg de
heparina corresponde à aproximadamente
100 UI (unidades internacionais).
Após a neutralização da heparina a
hemostasia é revista e a operação é termi-
nada pelo fechamento da cavidade torácica
e drenagem do mediastino.
Se um determinado paciente apresen-
ta reações prévias ou secundárias ao uso da
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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
heparina, esta pode ser substituída por dro-
gas alternativas, para a anticoagulação,
embora esse procedimento seja de maior
complexidade.
TRAUMATISMO DO SANGUE
O bombeamento artificial do sangue e
a sua circulação por superfícies plásticas rí-
gidas ou pouco flexíveis e não biológicas,
produzem traumatismo e injúria aos ele-
mentos celulares e proteicos, diretamente
proporcional ao tempo de duração do pro-
cedimento. Embora este traumatismo seja
bem tolerado pela maioria dos pacientes,
em determinadas circunstâncias os seus
efeitos adversos são mais pronunciados e
podem tornar-se clinicamente aparentes,
contribuindo substancialmente para o de-
senvolvimento de complicações após a
operação.
A escolha adequada dos equipamen-
tos e circuitos e a condução criteriosa dos
procedimentos de circulação extracorpórea,
contribuem significativamente para mini-
mizar a injúria ao sangue e demais tecidos
do paciente, permitindo reduzir o número
e a severidade das complicações [18, 19]
.
PROTEÇÃO DO MIOCÁRDIO
O acesso ao coração implica, necessa-
riamente, na interrupção do seu funciona-
mento, por um período de tempo suficien-
te para a correção das lesões existentes no
seu interior. Portanto, é necessário utilizar
métodos capazes de impedir o desenvolvi-
mento de lesões do miocárdio, produzidas
pela interrupção do fornecimento do oxi-
gênio utilizado no seu metabolismo. Num
sentido amplo, aqueles métodos são conhe-
cidos como métodos de proteção do mio-
cárdio. Os métodos mais usados incluem a
redução das necessidades metabólicas pela
hipotermia miocárdica e o suprimento in-
termitente ou contínuo de sangue oxige-
nado, com ou sem variações da sua tempe-
ratura. Estes métodos incluem a infusão de
soluções ricas em potássio na circulação
coronariana, para promover a parada qua-
se instantânea do coração, sem consumo
de energia. As soluções que tem essa pro-
priedade são chamadas de soluções
cardioplégicas. A proteção do miocárdio
contra a injúria isquêmica durante a ope-
ração é essencial para assegurar a recupe-
ração funcional imediata do coração [20 - 24]
.
BASES FISIOLÓGICAS
DA CIRURGIA CARDÍACA
Os pacientes submetidos à cirurgia do
coração e dos grandes vasos torácicos dife-
rem uns dos outros pela natureza e pela se-
veridade das lesões cardíacas que apresen-
tam. Diferem, também, dos demais pacien-
tes cirúrgicos, pela natureza das técnicas
operatórias e auxiliares empregadas, bem
como, pela possibilidade do comprometi-
mento simultâneo de outros sistemas orgâ-
nicos, principalmente os sistemas nervoso,
pulmonar e renal.
O objetivo fundamental do tratamen-
to cirúrgico das doenças do coração e dos
grandes vasos é o restabelecimento da fun-
ção cardíaca. As manifestações das doen-
ças cardíacas ou dos grandes vasos são va-
riáveis e dependem, em grande parte, da
capacidade de reserva do coração e dos
seus mecanismos de compensação.
As doenças do coração e dos grandes
41
CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
vasos podem ser de natureza congênita ou
adquirida, sendo estas últimas representa-
das principalmente pela febre reumática e
pela aterosclerose. Independente da natu-
reza da doença, se congênita ou adquirida,
a falência funcional do coração, ocorre em
conseqüência de um dos seguintes meca-
nismos:
a. Dificuldade de enchimento ventricular;
b. Resistência ao esvasiamento ventricular;
c. Afluxo excessivo de sangue aos
ventrículos;
d. Afluxo excessivo de sangue aos
pulmões;
e. Insuficiente afluxo de sangue aos
pulmões;
f. Insuficiente fluxo sanguíneo coronário;
g. Contração miocárdica inadequada;
h. Distúrbios da condução elétrica.
Os mecanismos acima assinalados po-
dem ser desencadeados por uma enorme va-
riedade de lesões localizadas nos grandes va-
sos arteriais (aorta e artéria pulmonar), nas
grandes veias (cavas e pulmonares), nos átri-
os ou no septo interatrial, nos ventrículos ou
no septo interventricular, nas válvulas car-
díacas, no sistema especial de condução
elétrica intra-cardíaca ou no sistema de ir-
rigação do miocárdio ventricular (circula-
ção coronariana)[25 - 27]
.
O grau de benefício da correção cirúr-
gica depende da extensão do comprometi-
mento da função do miocárdio e da
vasculatura arteriolar pulmonar, produzido
pelas doenças. Quanto menor o compro-
metimento do miocárdio pela doença, tan-
to melhor, via de regra, é a recuperação fun-
cional após a operação.
A sobrevida imediata e a sua qualida-
de após a cirurgia dependem, fundamental-
mente: a. da extensão das lesões perma-
nentes produzidas pela doença sobre o mi-
ocárdio ou outros órgãos; b. da capacidade
do coração e demais órgãos vitais de tole-
rar o estresse imposto pela cirurgia e por
eventuais complicações pós-operatórias; c.
da recuperação funcional dos sistemas car-
diovascular e respiratório, até um ponto em
que as necessidades metabólicas do pacien-
te, para as suas atividades diárias, possam
ser inteiramente supridas[27]
.
Os sistemas que podem apresentar al-
terações funcionais após a cirurgia cardía-
ca são, principalmente, o cardiovascular, o
respiratório, o sistema renal e o sistema
nervoso central. A função normal de todos
os sistemas do organismo, depende do ade-
quado suprimento de oxigênio para as suas
atividades metabólicas. Quando a função
cardíaca, após a operação, é adequada, o
fornecimento de oxigênio e outros
metabolitos está assegurado e a sobrevida
do paciente é a regra. Ao contrário, o orga-
nismo tolera um débito cardíaco baixo,
apenas por determinados períodos de tem-
po, antes que as funções dos diversos siste-
mas entrem em colapso. Quando as medi-
das de apoio à função cardíaca, farmacoló-
gico ou mecânico, não são suficientes para
normalizar ou para, pelo menos, manter um
débito cardíaco marginal, a sobrevida tor-
na-se altamente improvável[27, 28]
.
A qualidade do débito cardíaco imedia-
tamente após a operação, depende do ade-
quado planejamento e condução dos seguin-
tes procedimentos da sala de operações e do
pós-operatório: a. Procedimento anestésico;
b. Correção intra-cardíaca; c. Proteção do
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FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
miocárdio; d. Perfusão; e. Manuseio pós-ope-
ratório. O planejamento ou a condução ina-
dequada de qualquer desses eventos intima-
mente relacionados, pode ser causa de
insucesso do tratamento cirúrgico.
Um número de fatores ligados às do-
enças cardiovasculares e a associação com
outras doenças interfere nos resultados do
tratamento cirúrgico. Essas associações
constituem fatores que acentuam os riscos
habitualmente envolvidos naqueles proce-
dimentos. Os fatores de risco mais impor-
tantes são: disfunção ventricular, elevação
da resistência vascular pulmonar, idades
extremas (recém nato ou idoso), comple-
xidade da doença cardíaca, desnutrição,
disfunção renal, alterações da coagulação,
tempo de perfusão prolongado, diabetes,
obesidade, hipertensão arterial, doenças
respiratórias, infecção ativa (endocardite)
e lesões neurológicas recentes.
COMPLICAÇÕES
Uma das características dos pacientes
submetidos à cirurgia cardíaca com circu-
lação extracorpórea é a facilidade com que
os demais sistemas orgânicos podem ser
afetados, por alterações primárias da fun-
ção do sistema cardiovascular. As funções
pulmonares, neurológicas, renais e hepáti-
cas, principalmente, dependem da adequa-
da e contínua nutrição e, rapidamente
colapsam, diante de reduções do débito
cardíaco.
Uma variedade de complicações pode
ocorrer, após a cirurgia do coração e dos
grandes vasos, algumas relacionadas ao
manuseio anestésico, outras relacionadas
à cirurgia e outras relacionadas à circula-
ção extracorpórea. Com freqüência, é difí-
cil atribuir uma determinada complicação
à um procedimento específico, em função
da interrelação dos procedimentos na sala
de operações. As complicações mais
freqüentemente encontradas são: hemor-
ragias, baixo débito cardíaco, disfunção res-
piratória, disfunção renal, alterações neu-
rológicas e infecções[19,29,30]
.
O SERVIÇO DE CIRURGIA CARDÍACA
O tratamento cirúrgico das doenças
cardiovasculares em todas as suas fases, pré-
operatória, intra e pós-operatória envolve
a participação integrada e harmônica de di-
versos serviços, laboratórios e especialistas,
constituindo uma equipe multidisciplinar
[31]
. O comando geral da equipe bem como
o inter-relacionamento com os demais es-
pecialistas, em todas as circunstâncias, é
da responsabilidade do cirurgião. A inter-
dependência dos serviços, laboratórios e es-
pecialistas envolvidos no tratamento dos
pacientes é representada na figura 2.5.
A SALA DE OPERAÇÕES
Devido à natureza das técnicas cirúr-
gicas empregadas e à necessidade da cir-
culação extracorpórea nos centros cirúr-
gicos dos hospitais, existem salas de ope-
rações especificamente destinadas à ci-
rurgia cardíaca, de maior complexidade
que aquelas destinadas aos procedimen-
tos cirúrgicos gerais.
A sala de operações é planejada em
integração com as demais áreas de apoio
do centro cirúrgico, para facilitar a movi-
mentação e circulação dos pacientes e do
pessoal cirúrgico, isolar as áreas limpas e
43
CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
evitar contaminação externa. Uma sala
para cirurgia cardíaca deve ser ampla, com
área mínima de 25 a 30 m2
, devido à ne-
cessidade de abrigar uma grande varieda-
de de equipamentos especiais, como os apa-
relhos para monitorização hemodinâmica,
colchão térmico e seu módulo de controle,
desfibrilador, máquina coração-pulmão, e
módulos de hipotermia, dentre outros, além
dos equipamentos habitualmente disponí-
veis nas salas de operações. A sala deve ter
boa iluminação, com um foco central e fo-
cos accessórios, livremente ajustáveis e sem
espelhos refletores para minimizar a pro-
dução de calor. A temperatura ambiente
deve ser ajustada em 20 - 22o
C e a umida-
de do ar deve estar em torno dos 55 a
60%[32]
.
Anexa à sala de operações, existe uma
sala menor, que serve à estocagem dos equi-
pamentos e aparelhos de uso diário na ci-
rurgia e na circulação extracorpórea. Esta
sala ainda abriga um refrigerador, que man-
tém diversas soluções à baixa temperatu-
ra, para o preparo das soluções de
cardioplegia e para irrigação do coração, e
uma máquina para produzir gelo, que será
usado com a bomba d’água durante os pro-
cedimentos com hipotermia. A sala serve
ainda para a montagem preliminar da bom-
ba coração-pulmão.
Anexa às salas anteriores, ou nas suas
proximidades, uma outra pequena sala
abriga uma extensão do laboratório cen-
tral, que realiza exames de controle dos
pacientes durante a operação, principal-
mente as dosagens dos gases sanguíneos,
hematócrito e dosagens de eletrolitos e
Fig 2.5. Gráfico demonstrativo da relação íntima do serviço de cirurgia cardíaca com diversas disciplinas, laboratórios
e especialistas. A prática da cirurgia cardíaca requer uma equipe multidisciplinar. A colaboração estreita entre os
diversos membros da equipe contribui para a melhora dos resultados e o aperfeiçoamento da equipe.
44
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
glicose, dentre outras. São os exames “in
situ” ou exames realizados junto aos paci-
entes. Cada vez mais, um maior número de
exames é realizado junto aos pacientes,
para avaliação imediata dos resultados, ao
invés de serem realizados no laboratório
central do hospital. Com freqüência, aque-
le laboratório anexo à sala de operações ser-
ve de apoio ao banco de sangue, para esto-
car o sangue e derivados que serão utiliza-
dos nas cirurgias.
Todos os preparativos da sala de ope-
rações são feitos pelo enfermeiro do centro
cirúrgico e pela instrumentadora cirúrgica
designada para a operação, enquanto o
perfusionista prepara a máquina coração-
pulmão para a circulação extracorpórea. O
preparo preliminar antecede a chegada do
paciente à sala de operações, para reduzir
a sua ansiedade e outros inconvenientes de
uma espera prolongada e, principalmente,
desnecessária. Os principais elementos que
devem ser providenciados pela equipe do
centro cirúrgico são: material de anestesia
adequado ao paciente, cilindro de oxigê-
nio de reserva, para emergências com a fon-
te de gás da circulação extracorpórea, col-
chão térmico sobre a mesa cirúrgica,
monitor de eletrocardiograma e desfibrila-
dor com cabos, pás, pasta eletrolítica,
teletermômetro e transdutores apropriados,
bisturí elétrico, caixa básica de instrumen-
tos cirúrgicos, caixa especializada com ins-
trumental para cirurgia do coração e dos
grandes vasos, afastadores de esterno, ser-
ra elétrica para a esternotomia, bandejas
para punção ou dissecção arterial e veno-
sa, para cateterismo vesical, para antissep-
sia, soro fisiológico morno, gelo para uso
na perfusão e sangue, previamente testado
e cruzado para o paciente, na sala de ope-
rações.
Em geral, o paciente é recebido na sala
de operações, pelo enfermeiro da sala que
confere a sua identificação, o prontuário
médico e o mapa operatório. Imediatamen-
te após, são instalados os eletrodos para a
monitorização do eletrocardiograma, en-
quanto uma veia periférica é puncionada e
a anestesia é induzida pelo anestesista. To-
dos os demais preparativos, de um modo
geral, são feitos com o paciente já
anestesiado, exceto quando circunstânci-
as especiais recomendam o contrário.
O PERFUSIONISTA
O desenvolvimento da circulação ex-
tracorpórea e a sua introdução na sala de
operações, gerou a necessidade de um pro-
fissional qualificado para ministrar aqueles
procedimentos. Inicialmente, com forma-
ção apenas prática, um técnico de circula-
ção extracorpórea, auxiliava os cirurgiões
com aquela maquinária e seu manuseio [33]
.
Os progressos na construção e utilização
dos equipamentos, o desenvolvimento de
técnicas mais refinadas, o melhor conheci-
mento da fisiologia e da fisiopatologia da
circulação extracorpórea, tornaram neces-
sária a presença de um especialista, para a
ministração adequada daqueles procedi-
mentos, o Perfusionista[34,35]
.
O perfusionista é um membro da equi-
pe cirúrgica com pré-requisitos definidos
na área das ciências biológicas e da saúde,
com conhecimentos básicos de fisiologia
circulatória, respiratória, sanguínea e re-
nal, de centro cirúrgico e esterilização e
45
CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
com treinamento específico no planeja-
mento e ministração dos procedimento de
circulação extracorpórea [36 - 38]
.
ROTINAS E PROTOCOLOS
DE TRABALHO
Rotinas descrevem linhas gerais de con-
duta para determinados procedimentos
freqüentemente utilizados. As rotinas tem o
objetivo de padronizar os procedimentos, fa-
cilitando a sua rápida execução por todos os
membros da equipe. Protocolos detalham
cada passo de uma determinada rotina ou
de um procedimento específico, orientan-
do minuciosamente a sua aplicação.
A experiência tem demonstrado que
nas atividades em que há envolvimento e
participação coletiva, como na cirurgia car-
díaca, a existência de um conjunto de roti-
nas e protocolos, contribui para a ministra-
ção de um cuidado melhor e mais científi-
co aos pacientes, além de assegurar a
indispensável continuidade dos tratamen-
tos habitualmente ministrados.
A ampla integração e comunicação
entre os diversos membros da equipe envol-
vidos nos procedimentos contribui para
aprimorar a qualidade dos seus resultados.
A perfusão inclui uma série de proce-
dimentos bem padronizados e repetitivos,
além das condutas gerais, que são melhor
desempenhados, quando obedecem à uma
clara e específica rotina de trabalho, previ-
amente estabelecida.
As rotinas para a circulação extracor-
pórea devem incluir o inventário das má-
quinas, equipamentos, aparelhos e comple-
mentos habitualmente utilizados, bem
como um planejamento para a sua manu-
tenção e reposição[8,11,25]
.
Os dados relativos aos pacientes, tais
como a doença básica e outras associadas,
a idade, o peso, a altura, o hematócrito e a
operação proposta, devem ser do conheci-
mento do perfusionista, para o planeja-
mento e montagem do circuito e a adequa-
da condução do procedimento.
Na linguagem corrente do ambiente
hospitalar, a circulação extracorpórea é
comumente referida como “perfusão extra-
corpórea”, ou simplesmente “perfusão”.
Embora inapropriada, a denominação foi
consagrada pelo uso corrente que garante
o entendimento do seu significado.
A circulação extracorpórea é uma
tecnologia em permanente evolução, na
qual os princípios básicos se encontram
bem estabelecidos. Seus efeitos sobre o
organismo humano ainda não estão in-
teiramente esclarecidos, bem como ain-
da são especulativos diversos mecanis-
mos das reações do organismo à circula-
ção extracorpórea.
Nos dias atuais, as administrações e as
equipes tem a permanente preocupação
com os custos sempre crescentes dos pro-
cedimentos terapêuticos, especialmente os
procedimentos cirúrgicos de grande porte.
É essencial que os perfusionistas tenham a
preocupação com a economia de custos e
com o melhor aproveitamento possível das
verbas destinadas à prática da circulação
extracorpórea. Um rígido protocolo de con-
trole de custos e um sistema de controle de
qualidade permitem a melhor avaliação da
relação entre os custos e os benefícios dos
procedimentos.
A contínua melhora dos resultados
46
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
obtidos com o tratamento cirúrgico das
doenças cardiovasculares depende do di-
agnóstico completo, da correção precisa das
lesões existentes e do minucioso planeja-
mento e condução da perfusão e da prote-
ção do miocárdio.[39]
.
RECENTES PROGRESSOS
Na medida em que a perfusão se tornou
uma tecnologia rotineira e segura na vida
hospitalar, seu uso foi estendido a outras in-
dicações, além da correção de lesões
intracardíacas e dos grandes vasos torácicos.
Usa-se, com alguma freqüência, a cir-
culação extracorpórea convencional ou al-
guma de suas variantes, em diversas ou-
tras áreas da cirurgia, como por exemplo:
1. Neurocirurgia - Para a ressecção de gran-
des aneurismas das artérias intracranianas,
correção de malformações artério-venosas
e remoção de certos tumores cerebrais, em
um campo operatório exangue, pela utili-
zação da parada circulatória total hipotér-
mica[40, 41]
;
2. Cirurgia de tumores renais com invasão
de veia cava inferior, com técnicas se-
melhantes às utilizadas em neurocirur-
gia[42 - 44]
;
3. Cirurgias de tumores da traquéia, envol-
vendo a sua bifurcação, podem ser realiza-
das, com o auxílio da perfusão, para a
oxigenação do paciente durante a remo-
ção de segmentos da traquéia e dos gran-
des brônquios[45 - 47]
;
4. Cirurgias de transplante de fígado [48, 49]
;
5. Em determinadas patologias pulmona-
res reversíveis, que cursam com grave com-
prometimento do parênquima pulmonar e
impedem as trocas gasosas eficazes, utili-
za-se a assistência ventilatória prolongada com
oxigenadores de membrana, que pode du-
rar até vários dias[50 - 52]
.
6. Em casos onde após a cirurgia da lesão
cardíaca, a função contrátil do coração não
se recupera adequadamente, a perfusão
pode ser continuada, como uma forma de
suporte circulatório, podendo também se
prolongar, conforme as necessidades indi-
viduais[53 - 55]
;
7. Como método exclusivo de assistência
circulatória, para falência de um ou de am-
bos os ventrículos, em pacientes não ope-
rados, candidatos a cirugia imediata ou à
espera de doadores para transplantes[54, 55]
;
8. Como adjunto de suporte circulatório na
sala de hemodinâmica, para determinados
casos de angioplastia coronária, em que a
cirurgia é contra-indicada[56]
;
9. Como veículo de concentrações eleva-
das de drogas quimioterápicas ou para pro-
duzir hipertermia regional, em segmentos
específicos do organismo, geralmente as ex-
tremidades, no tratamento de determina-
dos tipos de câncer, constituindo as técnicas
de perfusão regional[57, 58]
;
10. Nos países de clima frio da Europa e da
América do Norte, para o reaquecimento
lento, com suporte circulatório de pacien-
tes tornados hipotérmicos pela exposição
47
CAPÍTULO 2 – INTRODUÇÃO À CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
acidental ao frio ambiente[59,60]
;
11. Nas unidades de emergência para a
ressuscitação de pacientes vitimados por
certos envenenamentos, choque cardiogê-
nico refratário ou parada cardio-respirató-
ria de diversas etiologias.
O espectro de aplicação das técnicas
de circulação extracorpórea, tem aumen-
tado significativamente, ao longo dos anos.
O desenvolvimento de novos materiais e
equipamentos e, principalmente, novas
aplicações tem mantido essa tecnologia em
evolução ininterrupta, desde a sua intro-
dução o que permite imaginar que, com
toda probabilidade, os seus limites ainda
não estão definidos.
É cada vez mais intensa a busca das
equipes de cirurgia cardíaca para a utiliza-
ção da tecnologia extracorpórea em apli-
cações cirúrgicas não cardíacas, em apli-
cações clínicas ou como suporte para re-
moção de CO2
, suporte circulatório tem-
porário ou como medida de ressuscitação
de pacientes, intoxicações e outras situa-
ções de emergência[61]
.
A média mundial de operações car-
díacas com circulação extracorpórea
pode ser estimada em aproximadamente
1.200.000 a cada ano. Cerca de 700.000
daquelas operações são realizadas nos
Estados Unidos da América do Norte [62]
.
No Brasil, as estimativas apontam a rea-
lização de aproximadamente 40.000 ope-
rações a cada ano e estima-se um cresci-
mento significativo para os próximos
anos, em função de necessidades ainda
não atendidas da população.
48
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
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