introdução à economia troster e monchón cap 2

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~ MAKRON Books CAPíTULO ~ OS AGENTES ECONÔMICOS Os agentes econômicos - as famílias, as empresas e o setor público - são os responsá- veis pela atividade econômica. Em relação ao seu comportamento, supõe-se que são coerentes quando tomam decisões. 2.1 A ATIVIDADE ECONÔMICA E OS AGENTES ECONÔMICOS A atividade econômica concretiza-se na produção de ampla gama de bens e serviços, cujo destino último é a satisfação das necessidades humanas. Os homens, mediante sua capacidade de trabalho, são os organizadores e executores da produção. As atividades produtivas numa sociedade contemporânea realizam-se por meio de numerosas unidades de produção ou empresas, cada uma das quais emprega traba- lho, capital e recursos naturais, procurando obter bens e serviços. Por meio das uni- dades de produção se faz possível o fenômeno da divisão do trabalho. A organização dos fatores produtivos (terra, trabalho e capital) dentro das empresas, assim como a direção de suas atividades, recai sobre pessoas ou grupos de aráter privado ou público. Na economia, os diversos papéis que desempenham os 19

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~MAKRON

Books CAPíTULO ~

OS AGENTES ECONÔMICOS

Os agentes econômicos - as famílias, as empresas e o setor público - são os responsá-veis pela atividade econômica. Em relação ao seu comportamento, supõe-se que sãocoerentes quando tomam decisões.

2.1 A ATIVIDADE ECONÔMICA E OS AGENTESECONÔMICOS

A atividade econômica concretiza-se na produção de ampla gama de bens e serviços,cujo destino último é a satisfação das necessidades humanas. Os homens, mediante suacapacidade de trabalho, são os organizadores e executores da produção.

As atividades produtivas numa sociedade contemporânea realizam-se por meiode numerosas unidades de produção ou empresas, cada uma das quais emprega traba-lho, capital e recursos naturais, procurando obter bens e serviços. Por meio das uni-dades de produção se faz possível o fenômeno da divisão do trabalho.

A organização dos fatores produtivos (terra, trabalho e capital) dentro dasempresas, assim como a direção de suas atividades, recai sobre pessoas ou grupos dearáter privado ou público. Na economia, os diversos papéis que desempenham os

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20 Introdução à Economia Capo 2

agentes econômicos, isto é, as famílias ou unidades familiares, as empresas e o setorpúblico, podem ser agrupados em três grandes setores (Esquema 2.1).

o setor primário abrange as atividades que se realizam próximas às basesdos recursos naturais, isto é, as atividades agrícolas, pesqueiras, pecuáriase extrativas.

o setor secundário inclui as atividades industriais, mediante as quais sãotransformados os bens.

o setor terciário ou de serviços reúne as atividades direcionadas a satisfa-zer necessidades de serviços produtivos que não se transformam em algomaterial.

Setoreseconômicos

{

• Primário: agricultura, pesca e mineração.

• Secundário: indústria e construção.

• Terciário: serviços, comércio, transporte, bancos etc.

Esquema 2.1 Os setores econômicos.

2.2 AS EMPRESAS

Nas sociedades modernas, as empresas produzem e oferecem praticamente a totalidadedos bens e serviços, como o pão, os automóveis, os sapatos, as agências de turismo etc.

• A empresa é a unidade de produção básica. Contrata trabalho e com-pra fatores com o fim de fazer e vender bens e serviços.

Nas sociedades primitivas, contudo, a produção era individual e artesanal.Hoje, as empresas são as maiores responsáveis pela produção, já que só elas são capa-zes de obter as vantagens da produção em massa. Somente as empresas podem reunirgrandes quantidades de recursos financeiros e físicos necessários para construir as ins-talações e os equipamentos que a atualidade exige.

Além disso, somente as empresas têm capacidade de organizar os complexosprocessos de produção e distribuição exigidos pelas sociedades modernas. Assim, porexemplo, para produzir automóveis de maneira eficiente o tamanho da fábrica deveriaser tal que pudesse produzir um mínimo de 250.000 automóveis ao ano.

Capo 2 Os agentes econômicos 21

2.2.1 TIPOS DE EMPRESAS SEGUNDO SUANATUREZA JURíDICA

o Esquema 2.2 apresenta os diferentes tipos de empresas segundo sua natureza jurídica.Os dois tipos mais representativos são analisados a seguir.

Individual: Trata-se de empresas que pertencem a um só indivíduo e são dirigidas por ele.

Social(A propriedadenão correspondeaum sóindivíduo)

í ·Limitadas. O capital social deve estar totalmente desembolsado em ummovimento de constituir a sociedade. O capital está dividido em partesiguais, chamadas cotas. Nestas empresas os sócios não respondempessoalmente a dados sociais, somente com o capital aplicado.

• Sociedades Anônimas ou S.A.'S. Somente se pode ser sócio investindodinheiro. O capital está dividido entre os acionistas. A responsabilidade dossócios se limita ao capital aplicado. As ações são eventualmente negociadasna bolsa.

• Cooperativas. As sociedades cooperativas são associações criadas parasatisfazer as necessidades comuns dos associados que compartilham deiguais riscos e benefícios.

Esquema 2.2 Tipos de empresas segundo a natureza jurídica.

A EMPRESA INDIVIDUAL

A empresa individual é de propriedade individual e é a forma mais simples de se estabe-lecer um negócio. Esse tipo de empresa pertence a um indivíduo e é dirigida por ele.Uma banca de jornal ou um borracheiro seriam exemplos típicos.

A SOCIEDADE ANÔNIMA

Sociedade anônima ou simplesmente S.A. é a forma de organização empresarial maiscomum. Em uma sociedade anônima, o capital está dividido em pequenas partesiguais, chamadas ações, que servem para facilitar a união de grandes capitais. Cadasócio acionista tem uma responsabilidade limitada, respondendo apenas pela sua partedo capital. Ele não se responsabiliza pelas dívidas sociais da empresa. Ao limitar as

22 Introdução à Economia Cap.2

responsabilidades dos proprietários, a sociedade proporciona menor proteção legal aoscredores, a quem ela deve dinheiro.

Nas sociedades anônimas, especialmente nas grandes empresas, existe umaclara separação entre a propriedade - que é dos acionistas - e a direção - que éexercida pelo Conselho Administrativo. É esta que geralmente contrata técnicos espe-cializados para as diversas áreas da empresa.

• A forma de organização empresarial mais comum é a sociedade anô-nima. O capital da S.A. está dividido em ações.

2.2.2 O FINANCIAMENTO DA EMPRESA

As sociedades podem conseguir fundos para seu crescimento do mesmo modo que osproprietários individuais, isto é, obtendo empréstimos ou créditos de instituições finan-ceiras ou reinvestindo os lucros, isto é, autofinanciando-se (Esquema 2.3). O financia-mento pode ser diferenciado entre crédito e empréstimo. No caso do empréstimo, aempresa recebe de imediato o total do financiamento concedido, apesar de em algunscasos haver desconto dos juros. Ao contrário, a empresa que recebe um crédito retira,dentro do limite máximo combinado, o capital necessário, podendo realizar várias reti-radas e pagamentos, de maneira que somente pague os juros relativos ao capital utili-zado. A forma típica de instrumentar os créditos é por meio de títulos.

{

Empréstimos.

Financiamento Créditos.externo

Obrigações (para grande volume de dinheiro).

Autofinanciamento: recursos financeiros gerados pela própria empresa.

Esquema 2.3 O financiamento da empresa.

Excluindo o crédito e o financiamento, as sociedades anorumas podemtambém emitir ações e obrigações. Quando uma sociedade "vende" participações emforma de ações, potencialmente aceita um novo sócio, já que cada ação representa uma

Capo 2 Os agentes econômicos 23

fração da propriedade e da sociedade. As ações conferem direitos políticos - o principaldestes é votar nas assembléias-gerais dos acionistas - e econômicos. O principal direitoeconômico é o de participar na repartição dos lucros (dividendos), caso se produzam.Por isso as ações são títulos de renda variável e integram o que se denomina o capitalde risco, pois sofrem, conforme o caso, as perdas ou as reduções de lucros. O outro di-reito econômico é o de participar em todo o patrimônio da empresa, que não pode serutilizado até sua liquidação, pois origina o direito preferencial ao subscrever a emissãode novas ações.

Alternativamente, a empresa pode obter fundos mediante a venda de bônus eobrigações, com os quais não se aumentará o número de novos acionistas. Uma obriga-ção representa uma dívida para a empresa, pois de fato é uma parte proporcional de umempréstimo ou um empréstimo concedido à empresa emissora e supõe para esta umaobrigação legal expressa de pagar juros periódicos e de devolver o valor da emissãoprincipal ao portador, quando acontecer o vencimento. Uma obrigação muito comumemitida pelas empresas brasileiras são as debêntures. Outra forma de obrigação é oCommercial Paper, que está crescendo de importância no Brasil.

2.3 AS FAMíLIAS OU UNIDADES FAMILIARES

Os diferentes agentes econômicos (Esquema 2.4) podem ser divididos em privados epúblicos. Os agentes privados básicos são as famílias e as empresas.

Tipos de agenteseconômicos

{

{

O Famílias (unidades familiares).o Setor privado

o Empresas.

o Setor público.

Esquema 2.4 Os agentes econômicos.

As funções das farru1ias consistem em, por um lado, consumir bens e serviços;por outro, oferecer seus recursos, isto é, trabalho e capital às empresas. Entretanto, asfamílias que pretendem maximizar a satisfação obtida no consumo são limitadas peloorçamento de que dispõem.

24 Introdução à Economia Capo 2

TEXTO DE APOIOO setor público como empresário

do aço na primeira metade do século. A se-guir, tivemos a criação da PETROBRÁScom a campanha "O petróleo é nosso". OPlano de Metas na década de 1950 e o IIPND (Plano Nacional de Desenvolvimento)nos anos 70 intensificaram a participaçãodo Estado na indústria nacional. Os investi-mentos do Estado na indústria são basica-mente o resultado da opção de desenvol-vimento adotada pelo país.

O nascimento do Brasil coincide com a in-tervenção do Estado na economia. A expe-dição de Pedra Álvares Cabral foiorganizada pelo Estado português comobjetivos econômicos. Ao longo do tempo,a participação do Estado como empresárioteve muitas mudanças, contudo estevesempre presente. A partir da Segunda Guer-ra Mundial, aumentou consideravelmente.Em primeiro lugar, para garantir insumosconsiderados estratégicos, como foi o caso

• As famílias ou unidades familiares consomem bens e serviços, e ofe-recem seus recursos - fundamentalmente trabalho e capital- às em-presas.

Comportamento similar ao das famílias é o dos indivíduos, grupos esportivos,culturais, associações beneficentes e religiosas etc. A atividade econômica desses gru-pos atrai sujeitos com intenção mercantil ou empresarial.

2.4 O SETOR PÚBLICO

Entende-se por setor público mais do que somente o Estado-Nação das organizações po-líticas atuais. Os órgãos e administrações públicas que compõem o setor público têm aomenos três níveis de governo (Esquema 2.5).

Cap.2 Os agentes econômicos 25

FinanceirasNão-financeiras

Setor públicoprodutivo

Setorpúblico

Empresasestatais

EstadosMunicípiosTerritórios

Entesterritoriais

Sistema de Previdência socialOutras administrações

Previdênciasocial

AutarquiasEstado

Administraçãocentral

Esquema 2.5 Estrutura do setor público brasileiro.

a) As administrações locais: as prefeituras.

b) As administrações estaduais.

c) A administração central, isto é, governo da União, ministérios e demaisorganismos de caráter nacional.

Feita essa descrição, a partir de agora, para abreviar, os sujeitos públicos serãodenominados indistintamente de Estado ou setor público.

2.5 O DESENVOLVIMENTO DO SETOR PÚBLICO

Em qualquer sociedade moderna, seja qual for sua configuração política, o setor públicorealiza funções econômicas de fundamental importância. Até o início do século XX, erafreqüente afirmar que o governo deveria cuidar fundamentalmente da segurança e defe-a dos cidadãos e de seus direitos de propriedade. Ainda, deveria garantir as condições

para que as atividades puramente econômicas se desenvolvessem sem obstáculos. Emíntese, acreditava-se que a função do Estado consistia no estabelecimento de um marco

26 Introdução à Economia Capo2

jurídico-institucional, ·sendo porém os indivíduos e grupos privados os verdadeiros res-ponsáveis pela atividade econômica do sistema.

Ao longo do século XX, as funções públicas ampliaram-se e diversificaram-seem setores como saúde, educação, transportes etc. O Estado deixou de ser mero guar-dião do bom desenvolvimento da atividade econômica para se converter em um verda-deiro agente econômico. Com freqüência, o setor público atua como empresário eoferece certos bens, os bens públicos.

• Bens públicos são bens proporcionados a todas as pessoas a um custoque não é maior que o necessário para fornecimento a uma só pessoa.

Um exemplo típico de bem público são os serviços de defesa nacional. Essesserviços não podem ser oferecidos por empresas privadas; portanto, devem ser providospelo Estado.

O setor público, ainda, coordena e regula o mercado e, às vezes, estabelece apolítica econômica, tentando alcançar objetivos gerais, tais como: crescimento estáveldo produto nacional; pleno aproveitamento dos recursos e eficiente alocação dosmesmos; estabilidade dos preços; e distribuição de renda justa.

• O setor público estabelece um marco jurídico-institucional no qual sedesenvolve a atividade econômica. É responsável também pelo estabe-lecimento da política econômica.

Capo 2 Os agentes econômicos 27

APÊNDICE:

MEDiÇÃO E COMPARAÇÃO DASVARIÁVEIS ECONÔMICAS

Este apêndice pretende especificar uma série de conceitos freqüentemente utilizados emanálise econômica. Tais conceitos necessitam de esclarecimento, pois permitem medir ecomparar as variáveis econômicas.

2.A.1 MEDiÇÃO DAS VARIÁVEIS ECONÔMICAS

2.A.1.1 OS íNDICES DE PREÇOS

Na economia, de um ano para outro, alguns preços sobem, outros baixam e outrospermanecem constantes. Dado que existem milhões de bens e serviços que participamda evolução de preços de uma economia, devemos recorrer a uma unidade de nívelmédio de preços, entendendo por isto uma média ponderada dos preços dos bens eserviços da economia .

• Um índice de preços proporciona uma medida adequada do nível médiode preços. Obtém-se dividindo o valor monetário de um conjunto debens e serviços em um período dado de tempo, e seu valor monetárioem um determinado período-base, multiplicando, ao final, o resultadopor cem.

O índice de preços mais utilizado é o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).No Brasil, temos várias instituições que calculam e publicam índices de preços aoconsumidor. Destacamos o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, aFGV - Fundação Getúlio Vargas e a FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas da Univer-idade de São Paulo. Os diferentes IPC são publicados mensalmente e são calculados a

partir de um conjunto de bens e serviços representativo das compras de uma famíliamédia brasileira.

28 Introdução à Economia Capo 2

Para calcular o IPC em determinado ano, divide-se o valor no ano em questãoda "cesta de compra" da família representativa pelo valor dessa "cesta" no ano-base,multiplicando o resultado por cem. Por exemplo, supomos que em 1997 esse valor eraR$ 119,60 e em 1995 foi de R$ 96,47, o IPC para o ano de 1997 com base em 1980 seráobtido como se segue:

IPC = Custo da "cesta" de compra em 1997 x 100 = 12398Custo da "cesta" de compra em 1995 '

= R$ 119,60 x 100 = 12398R$ 96,47 '

Dado que o IPC mede o custo de uma "cesta" típica de bens comprados pelosconsumidores (custo de vida), ele nos dá uma boa idéia de como variam os preços dosbens em geral. Por isso o IPC é um dos índices utilizados para medir a taxa de variaçãodo nível geral de preços (inflação). Além dos IPC, temos outros índices de preços: pre-ços por atacado, preços da construção etc.

2.A.1.2 VALORES REAIS E NOMINAIS

A diferença entre valor real e valor nominal é muito usada na economia e é fundamentalpara entender a inflação. Assim;· a distinção entre salário real e nominal depende da va-riação dos preços. A distinção entre variáveis reais ou nominais se faz, às vezes, utili-zando os termos unidades monetárias correntes e unidades monetárias constantes. Semedimos as variáveis em unidades monetárias correntes, medimos em unidades do anoem que se aplicam. As variáveis em unidades monetárias constantes ajustam as variá-veis nominais para ter em conta as variações do nível geral de preços.

Quando se deseja analisar de forma adequada a evolução da atividade econô-mica ao longo do tempo, deve-se separar a influência dos preços sobre os valores dosagregados econômicos. Os preços aparecem como variável-ponte entre as variáveisreais e as nominais. É por isso que os índices de preços são utilizados para realizar a de-flação.

• A deflação consiste precisamente em eliminar o efeito da variação dospreços nos valores correntes e nominais, ou seja, em corrigir o efeitodessa perda de valor do dinheiro ao longo do tempo.

Capo 2 Os agentes econômicos 29

Assim, por exemplo, se um indivíduo em 1997 quer calcular sua renda porhora trabalhada em reais constantes de 1995, dividirá a renda nominal pelo IPC corres-pondente a 1997 (base: 1995 = 100). Supondo que em 1997 a renda em termos nomi-nais por dia de trabalho de um indivíduo ultrapassava R$ 40,00 e o IPC é R$ 123,98,a renda real por dia será:

Valor em termos reais(em reais no ano-base = 1995)

= ~ alor em termos nominais (em reais de 1997) x 100Indice de preços para 1997 (ano-base = 1995)

= R$ 40 x 100 = 32 26123,98 '

2.A.2 COMPARAÇÃO DAS VARIÁVEIS ECONÔMICAS

Para analisar dados econômicos, muitas vezes é necessário buscar relações entre as va-riáveis econômicas. Neste apêndice, apresentamos as ferramentas básicas para fazereste trabalho: os quocientes e as variações percentuais.

2.A.2.1 OS QUOCIENTES

• O quociente ou razão é o resultado da divisão de uma variável qualquerpor outra e.iportanto, permanece invariável diante de mudanças pro-porcionalmente iguais, as variáveis postas em relação. Tal como foidefinido, o quociente pode ser um número maior que a unidade. Se semultiplica o quociente por 100, tem-se a porcentagem.

Por exemplo, se a população no Brasil em 1997 é de 159.884 pessoas e em1990 foi de 144.091 pessoas, para estudar a evolução da população pode-se tomar a ra-zão ou a porcentagem da população em 1997 em relação à de 1990. Ambos os dadossão:

População em 1997Quociente = = 1,11

População em 1990

30 Introdução à Economia Capo2

P População em1997 x 100 -_ 11101.0orcentagem = -"----=----- 7l

População em 1990

Observando a razão, conclui-se que a população de 1997 é 1,11 vez maior quea de 1990 e, tomando a porcentagem, diremos que a população em 1997 é 111% da po-pulação de 1990.

PROPORÇÃO E PORCENTAGEM DE PARTICIPAÇÃO

Se o denominador do quociente é uma soma dos vários termos e o numerador équalquer um desses termos, o resultado é uma proporção. Em conseqüência, a propor-ção jamais poderá exceder a unidade. Se tais quocientes são multiplicados por cem, ob-têm-se os denominados percentuais de participação. Suponhamos o caso de uma famíliaque distribui seus gastos mensais conforme mostra o Quadro 2.A.l. A porcentagem in-dica, por exemplo, que esta família dedica 40,1% de sua renda mensal à alimentação.

Quadro 2.A.1 Proporções e porcentagens.

Gastos mensais de Valor absoluto Proporção Porcentagem deuma família (reais) participação

Alimentos 140,49 0,401 40,1

Habitação e 170,07 0,485 48,5transporte

Lazer 39,77 0,114 11,4

TOTAL 350,33 1,000 100,00

2.A.2.2 AS VARIAÇÕES PERCENTUAIS

As variações percentuais são utilizadas para calcular as diferenças entre as unidadesde medida (pessoas, reais etc.) dos dados econômicos. Essa medida é atrativaporque, ao não utilizar nenhuma unidade, proporciona medidas comparáveis às varia-

Capo 2 Os agentes econômicos 31

ções de séries diferentes. Por exemplo, poderíamos comparar a variação percentual davenda de livros em um país com a variação percentual da venda de bebidasnão-alcoólicas. Normalmente, essa comparação traria maior informação que uma com-paração de aumento absoluto de ambos valores.

• A variação percentual de uma variável, durante um período de tempodeterminado, define-se como resultado da divisão da diferença entre ovalor no instante de tempo considerado e o valor no instante de tempoinicial e multiplicando por 100.

Para ilustrar melhor o cálculo e a utilização das variações percentuais, supo-nhamos que queiramos saber no período dos anos 1990 a 1997 como cresceu a popula-ção no Brasil. O Quadro 2.A.2 mostra a população brasileira correspondente a cada umdesses anos. Uma maneira simples, porém enganosa, de comparar as cifras consiste emcalcular, por meio de uma diferença simples, a variação absoluta experimentada. Assim,por exemplo, a variação entre 1996 e 1997 foi de 159,9 milhões - 157,5 milhões = 2,4milhões. O Quadro 2.A.2, na página seguinte, mostra que é entre 1990 e 1997 que a po-pulação cresce em termos absolutos (crescimento positivo). Porém, para fazer compara-ções que tenham sentido, devemos levar em conta as diferenças de valor da populaçãode cada época, dividindo cada variação absoluta por seu valor inicial e obtendo assim avariação percentual- ou variação relativa - da população. Desse modo, para 1997 a va-riação percentual se expressa da seguinte forma:

Variação

percentual = 159,9 milhões de pessoas -157,5 milhões de pessoas x 100 = 152%157,5 milhões de pessoas '

1997 -1996

Interpreta-se esse valor dizendo-se que a população cresceu em 2,17% em1997. É interessante destacar que nos anos de 1994, 1995 e 1996 a população cresceuem 2,2 milhões de pessoas por ano. Contudo, em razão de a população ser maior, a taxade crescimento foi menor.

Um tipo especial de variação percentual constituem as taxas de crescimento.

2.A.2.3 AS TAXAS DE CRESCIMENTO

É raro folhear um jornal e não encontrar em suas páginas a expressão taxa de inflaçãoou crescimento econômico. A taxa de inflação é a taxa de crescimento dos preços deconsumo. O crescimento econômico faz referência muitas vezes à taxa de crescimento

32 Introdução à Economia Capo 2

da produção total da economia. A taxa de crescimento é um instrumento útil quandoestudamos dados de séries temporais. Muitas vezes, é mais conveniente estudar osaumentos das variáveis objeto de análise por ano no lugar de períodos grandes (de 5 ou10 anos, por exemplo).

• A taxa de crescimento de uma variável é a taxa percentual por período(normalmente um ano) em que aumenta ou diminui a referida variável.

O PIB - Produto Interno Bruto - é uma medida de tudo o que produzimos nopaís durante determinado período. O índice do PIB real é uma medida utilizada parafacilitar comparações. Trataremos desse ponto no Capítulo 11.

Quadro 2.A.2 Variações da população desempregada no Brasil (milhares de pessoas, médiaanual).

Ano População Variação absoluta Variação percentual

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

144,1 milhões

146,4 milhões

148,7 milhões

150,9 milhões

153,1 milhões

155,3 milhões

157,5 milhões

159,9 milhões

2,3 milhões 1,60%

2,3 milhões 1,57%

2,2 milhões 1,48%

2,2 milhões 1,46%

2,2 milhões 1,44%

2,2 milhões 1,42%

2,4 milhões 1,52%

Fonfe:IBGE

Uma taxa de crescimento é também uma variação percentual, porém por pe-ríodo. Seguindo com nosso exemplo relativo ao índice do PIB real no Brasil, o Quadro2.A.3 mostra a evolução do PIB durante o período 1990-1997. A taxa de crescimentopara 1995 se expressa como se segue:

. 94,5 - 90,6Vanação em 1995 = x 100 = 7,9%

94,5

Capo 2 Os agentes econômicos 33

Quadro 2.A.3 Taxa de crescimento do Índice de Produto Interno Bruto Brasileiro de 1980 a 1991.

Anos índice do PIB real brasileiro Taxa de crescimento PIB

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

81,2

82,0

81,6

85,6

90,6

94,5

97,1

100,0

1,0

-0,5

4,9

5,9

4,3

2,8

3,0

Fonte: Banco Central do Brasil.

2.A.3 RELAÇÃO FUNCIONAL ENTRE VARIÁVEIS

A idéia de que uma variável depende ou está funcionalmente relacionada com outra ououtras variáveis é uma das noções básicas que fundamenta o conhecimento científico.Vamos analisar a relação funcional que existe entre o preço de um produto e a quantida-de vendida do mesmo. Para isso, suponhamos que existam outras variáveis que podemafetar a quantidade vendida no mercado, permanecendo estas constantes. Assim, pois, avariação funcional que liga ambas as variáveis será a seguinte:

Q = f(P) [1]

onde:

Q = quantidade vendida de produtoP = preço do produto

34 Introdução à Economia Capo 2

A expressão anterior nos diz unicamente que a quantidade depende do preço,isto é, que Q é função de P, porém nada diz sobre a sua relação. Se Q aumenta juntocom P, dizemos que Q é função crescente de P ou que Q e P variam na mesma direção.Se Q diminui à medida que P aumenta, dizemos que Q é função decrescente de P, ouseja, Q e P variam em relação inversa.

2.A.4 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS FUNÇÕES

As funções podem representar-se geometricamente por meio de gráficos. Estes se cons-troem utilizando os eixos de coordenadas cartesianas. Talvez os gráficos mais caracte-rísticos da economia sejam os de oferta e demanda. A esse respeito, devemos salientarque a quantidade vendida é a variável dependente e o preço é a independente, tal comose mostra na equação [1]. Em economia, para realizarmos a representação gráfica dospreços e das quantidades, não seguimos a norma usual: no eixo das ordenadas represen-tam-se os preços; e no eixo das abscissas, as quantidades. Assim, a curva de demandaadotará a forma mostrada na Figura 2.A.I.

Preço(P)10 O

8

6

4

2 O

O2 4 6 8 10 Quantidade

(Q)

Figura 2.A.1 Curva de demanda.

A curva de demanda refere-se à relação entre o preço de um bem e a quantidadedemandada do mesmo. Essa relação funcional é inversa ou decrescente: quandoaumenta o preço, diminui a quantidade demandada.

Capo 2 Os agentes econômicos 35

Resumo

• Os agentes econômicos fundamentaissão: as unidades familiares, as empresas eo setor público. As funções das unidadesfamiliares consistem, por um lado, emconsumir bens e serviços e, por outro,vender seus recursos (trabalho e capital)nos mercados de fatores. Em suas ativi-dades, supomos que os agentes econômi-cos atuam procurando maximizar suasatisfação ou utilidade que obtém dosbens que compram, limitando suas deci-sões à renda disponível.

• As empresas realizam duas funçõesbásicas: elaboram bens e os vendem; eempregam recursos no mercado de fa-tores. Realizam essas ações tentando ma-ximizar seus lucros.

Supõe-se que as unidades familiares e asempresas tomem suas decisões racional-mente, isto é, observando certos obje-tivos, de maneira que suas escolhassejam consistentes com a avaliação deseu próprio interesse.

• O setor público estabelece o marco jurí-dico-institucional e é o responsável pelapolítica econômica. Em determinadosaspectos, atua também como um empre-sário, especialmente no caso dos bens pú-blicos.

Setor público.

Valores reais e nominais.

Porcentagens.

Taxas.

Números índices.

Relação funcional entre variáveis.

Conceitos básicos

Setores produtivos.

Unidades familiares ou famílias.

Empresas.

Sociedade anônima.

Ações.

Obrigações.

36 Introdução à Economia Capo 2

Questões

1. Quais são os agentes econômicos bási-cos?

2. O que se entende por "ação"?

3. Que diferença existe entre variáveis queexpressam termos nominais e termosreais?

4. Para que se usam os índices de preços?

S. Quais são as tarefas fundamentais do se-tor público?

6. Em quantos níveis se pode dividir o se-tor público? Especifique.

7. Quem oferece os bens?

8. Cite alguns exemplos de bens públicos.

9. Em que setor produtivo se englobam asseguintes atividades: agricultura, pesca,construção de automóveis, atividades fi-nanceiras e de seguros, e agência deviagens.

10. Cite alguns exemplos de empresas pe-quenas, médias e grandes.

11. As duas funções básicas das famíliassão: a) consumir bens e serviços; b) ofe-recer seus serviços (trabalho e capital)às empresas. De acordo com essas duasfunções (a) ou (b), classifique as se-guintes atividades econômicas dosmembros de uma família:

• Fazer compras num supermercado.

• Ir ao cinema.

• Depositar dinheiro em um banco.

• Contratar uma empregada.

• Tomar um ônibus.

• Trabalhar em uma fábrica.

• Sair em férias.

• Comprar uma casa.

Capo 2 Os agentes econômicos 37

NOTA SOBRE O PENSAMENTO ECONÔMICOA teoria econômica e a evidência empírica: a econometria

Este capítulo inclui um apêndice sobre a me-dição das variáveis econômicas. A parte daeconomia que se ocupa desses temas é a eco-nometria.

• A econometria é um estudo da teo-ria econômica na sua relação coma estatística e a matemática.

A premissa essencial é que a teoria eco-nômica pode ser formulada matematicamen-te, em forma de relações funcionais. Asobservações econômicas são consideradas,geralmente, como uma mostra extraída douniverso descrito pela teoria. Utilizandoessas observações e os métodos estatísticos,a econometria trata de estimar as relaçõesque constituem a teoria. Essas estimaçõespodem, por sua vez, ajudar a revisar a teoria.Assim, existe uma relação recíproca entre a

formulação da teoria e a estimação e con-traste empíricos.

A econometria adquiriu identidade comoenfoque específico do estudo da economia nodecênio de 1920. No desenvolvimento inicialdesse ramo da economia, cabe destacar a ta-refa dos professores Ragner Frisch, da Univer-sidade de Oslo(Noruega), e Irving Fisher, daUniversidade de YALE (EUA) (ver páginas267-268). Esses professores promoveramestudos que propiciaram a unificação do enfo-que teórico quantitativo e empírico quantitati-vo dos problemas econômicos. O enfoquepróprio da econometria é rigoroso, similar aoque caracteriza as ciências naturais.

Em nossos dias, todas as faculdades de eco-nomia do mundo possuem cursos de econome-tria, já que esta disciplina é um instrumentoimprescindível na investigação econômica.