appiah - introdução à filosofia contemporânea (cap. 1-3)

54
Dados Internacionais de Catalogaca o na Publicacao (CIP) (Camara Brasileira do Livre, Sf', Brasil) A pp iah , K w am e A nth on y Introducao a fi lo so fia c on tc m po ri ln ea / K wamc , A nthony A ppiah ; traducao de Vera Lucia M ello Joscelyne. 2. cd. - Petropclis, R .I • Vozcs, 20()S. ISBN 978-85-326-332X-() T itu lo o rig in al: T hin kin g it th ro ug h: A n in tr od uc tio n \(1 '_ c on te m po ra ry p hi lo so ph y 1 . F ilo so fi a - ln tr od uc oe s l. Titulo. Kwame Anthony Appiah Introdugao a filosofia conternporanea 00-2531 ! /" I Traducao de Vera Lucia Mello Joscelyne l CDD-IOI Ib ED!TORA Y VOZES Petr6polis i nd ic es para c at al og o s is te m at ic o: 1 , F il os of ia : l nt ro du co es 1 O 1

Upload: francine

Post on 18-Jul-2015

655 views

Category:

Documents


26 download

TRANSCRIPT

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 1/54

 

Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP)

(Camara Brasileira do Livre, Sf', Brasil)

A pp iah , K w am e A nth on y

Introducao a fi lo so fia c on tc m po ri ln ea / Kwamc, A nthony A ppiah ; traducao de V era Lucia M ello

Joscely ne. 2 . cd. - Petropclis, R .I • Vozcs, 20()S.

ISBN 978-85-326-332X- ()

T itu lo o rig in al: T hin kin g it th ro ug h: A n in tr od uc tio n \(1

'_ c on te m po ra ry p hi lo so ph y

1 . F ilo so fi a - ln tr od uc oe s l. Titulo.

K w am e A nth on y A pp ia h

I n t r o d u g a o a f i l o s o f i a

con te rnporanea

00-2531

!/"I

T ra d u c a o d e V e ra L u cia M e l l o J os ce ly n e

l

CDD-IOI Ib ED !TORA

Y VOZES

Petr6polis

i nd ic es p ar a c at al og o s is te m at ic o:

1 , F il os of ia : l nt ro du co es 1 O 1

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 2/54

 

i\

----

A mente 1o que e a mente?

Poderfamos construir uma mequlne que tivesse mente?Qual e 0 relacionamento entre mentes e corpos?

1. 1. Iutrnducfio

C om pu ta do rc s ja p ro ta go niz ar am in um cr os filrncs. E m a lg uns , fa la rn co m

v oz cs s in tc ti za da s: e m o ut ro s, c sc rc vc m urna t or rc nt c d e p a la vr as na tela. E m

alguns, adrninistrarn n av es e sp ac ia is ; e m outros , sa o "cerebros" de robes e g e-

renciam seus proprios "corpos'', Em todos, m antem dialogos com os outros

pcrsonagcns l' cntcndcrn 0 que cles dizcm . H a intcrcam bios de inforrnacoes ede saudacoes entre clcs. Em bora grande parte de tudo isso ainda seja f iC<;30

c ic nt lfi ca , n a v id a r ea l, cornputadorcs d e v crda dc a co ns clha rn a dvo ga do s em

c as os r el ev an te s, m ed ic os s ob re d ia gn os ti co s, e ng en he ir os s ob re 0 e sta do d e r ea -

teres atornicos, T an to a f an ta sia q ua nta 0 fa to te ria rn d eix ad o n os so s a v6 s e sta r-

rccid os . E scus a vo s p rov av clrn cn tc tcria m a ch ado q ue css cs cvcn to s cra m re-

sultado de a lg um a ma gi ca . N os , n o cntanio.ja c st am o s, q u as c t od o s, a co st ur na -

dos a des e com ccam os ale a achar a era do silicic norm al.

Urua suspcita ainda p crma nc cc , p or cm . A fi na l, n os , s o re s h uman o s, scm-

pr e 110S ju lg arn os c sp cc ia is , E prcsumirnos q ue e xis tc a lg um a d is tin ca o en tr e 0

mundo de coisas materials e 0 de cois as esp iritua is . S e 0 cornputador e real-

mente urna "m en te m ateria l" na o so s er a p re ci so r ep en sa r essa d if er en ca c om o

tam bcm sera verdade que a tercm os rom pido com nossas proprias criacoes.U rn a c on clu siio a ssim tao importante, no cntan to, d cvc scr ad iada at e q ue p en -

sernos m ais a fundo sobrc 0 a ss un to . P ois, p or m ais na tu ra l q ue pa reca s up or

qu e co mpu ta dores p od em p ens ar e a gir, na o dev em os s im ples men te presu mir

qu e isso e verdade. Na filosofia, m uitas vezes descohrim os que aquilo que

a ch am o s n at ur al - 0 p on to de vista d o s enso com um - preju dica a com preen sa o

a deq ua da d as q uc sto es . C or ne ce rn os , p or ta nto , p or v erif ic ar s e m in ha m an eir a

d e I al ar s ob re c om p ut ad or es 110 p rim cir o p ara gr afo fo i p re cis a.

E ll disse que clcs falam . M as sera que eles rea/mente f a lam e x at am e nt e

c om o a s p cs so as ? Na n b asta diz cr q ue clcs pro du zcm a lgo q ue s oa C01'10 a f al a.

G r av ado rc s l il /. cm isso , m us n an I ala m. Q u an do a s p cs so as 1 :1 1a m,c xp rc ss am a l-

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 3/54

 

1 8 • I N T R O D U C A o A F IL O S O F I A r ,O N T E M P O R A N E A

guma coisa atraves d o q ue fa lam, Para e xp re ss er a lg um a c o is a. 6 p re ci se q u e c la s

_ s ej ar n c ap az es d e c om p re en de r frases, O ra , e LId is s c t amb cm que' os computado-

r es e n te n dem 0 q ue lhes dizem os. M as sen" q ue entcndern mesmo? ('Is so ns d e

nossa fala s ao tr an sfo rm a do s e m i mp ul se s c lc tri co s. O s im pu ls es p as sa m a tra vc s

d os circ uitos da m aq uin a. E is so fa z c om q ue 0 s in te ti za do r d e v oz p ro du za s on s.

Na o M d uv id a d e q ue 0 de se nh o d e um a maquina qu e f a? t ud o i ss o c xig c m uita

h ab ilida de , m as q ue prov a te mo s d e q ue a m ~lq Llin area l m en te on tc nd c?S era q ue u ma maquina p o de en te n de r? Ex istcm duas respostas o bv ia s p a ra

e ssa p erg un ta . A prim eira eh al1la mos d e mc nt al is ta , a p cn as p ar a t el ' lim nome.

E a resposta daqueles q ue aeham q ue para entendcr 0 qu e as pcssoas diz cm (:

p rec iso te r um a m en te . 0m e nt al is ta d iz :

Na verdade , os compu tado rcs na o podcl11en:ender na!n . P a ra en t e n-d er, t eri am q ue t er m en te s e on sc ie nt cs - M as nox O~ fizcmos comch ip s d e s ilic io e o s programamos. N an l he s demos ment es c o ns ci cn -

t e s . Po r tan to, sabemos q ue e le s nfio a s t e1 1 1.

N o o ut ro extremo, tem os a resposta que cham am os de conlportamcnta l is-

ta o 0 c om p or ta m en ta lis ta d iz :

N a tu ra lmen t e, t od o s d evc tn concorda t qu e a/glills COll1putatioresniioe nt en dem . M a s n ao h a nc nh um a ra za o qu e n os i m pc c a de fazct urncompu ta d or qu e realmen te cntenda. S c a m aq uina rc agc a linguagellle x at am e nt e c om o um a p es so a q u c c nt cn dc a t in gu ag cm r ca gc , n os saj us ti fi ca ti va p ar a d iz er q ue a m a qu in a e nt en de e igual a justifieativaq ue t er no s p ar a d iz er q ue a p es so a e ntc nd c. Um 3 m aq uin a q ue scc om p or ta e x at am e nt e c om o s c e n t en dc ss e n ao p ed e s cr d if er cl lc ia dad e u ma m a qu in a q ue r ca lm c nt e e ntc nd c. S c e la s c c om p or ts d a rna-n e ir a c o rr ct a , i ss o d eve ri a d cmon s tr a\ ' q u e tern um a m e nt e.

A go ra fi ca c la ro p or q ue c ha m o e ss a u lt im a re :: ;p os ta d e " co mp ort am en ta ·

Iista". Pois 0 com portam enta!is ta d iz que cntcndcr (: ('o/l1/m/,I(//,-SC com o se

entendesse,o que tem os aqui e um a situayao bast a nte COI11UI11 na 1 1 1 0 s o l l < 1 . IU duas

ideias opostas _ a m entalista e a com portam cntalista neste case - e cada um ap are ce te r algo a se u fa vo r, m as n enh um a d as d ua s pa rc cc to ta ll1 1e nte c orrc ta . E

c ada u ma de la s te rn u rn p ouc o d e s enso C Ot1 1u mem s ua d cfc sa , A m enta lis ta d e-

pende da afirm a9ao do senso com um que diz que maquinas nao pensam . A

c om p or ta m en ta lis ta d ep en de c ia afirrnacao do scnso com um que diz q ue tudo 0

q ueS iib em os so bre a s m en tes d e ou tra s p csso as 0 s ab e1 11 0s p e r a qu ilo q ue e la s

fazern. Parece entao q ue aqui 0 senso com um nao vai SCI' capaz de nos dizer

q ua l da s d ua s v erte nte s te rn ra za o.Na verdade, a crenca em qualquet dessas duas id6ias conduz a algum as cs-

c olh as in te le ctu ais d ific eis. C om ec em os c om 0 q ue seria probk:m Mico para 0

m e nt al is ta . S up on ha m os q ue , r .e ss e c as o, 0 c om puta dor e sta lo ca liz ad o e m un :

r ob o q ue , c om o o s a nd ro id cs n a f ic ~~ o c ie nt il1 cn , 6 .i gu al 7.i nh o n lima p rs ~ ;o a . E

um compu t ac lo r 11111i to i nt el i gc nt l' c pm I SS ( \ S l'\ 1 "('()rpn" 1'L' :lgl' l',\:\\;11 oll'll\( '( '()1110

1 . A r J 1 E N T E • 1 9

u ma pc ss o: e sp cclfic a: su a mac , p o r c x cmp lo. POI' esse motive , c ha ma re i e ss e

robo de "M ". As razocs que voce teria para achar que M tern um a mente na o

sa o ig ua isa s q ue v oc e te rn p ara achar q ue sua m ae a tern? V oce pode dizer "nao

sc e l~ ~o l1 be r q u e M tern c hip s de si licio na cabeca" . M a s p OI 'a ca so v oc e a lg um a

v: z j a c he co u para, v cr sc su a m ac tern tecido cerebral n a c a be c a? E c la ro q ue

n ao , p o rq u e ISSOnao d cm o n st ra ri a n ad a. Su a ccrteza de que sua m ae tem um a

m en te b asc ia -~ c n aq uilo q uc .e la d iz 0 faz, 0 que esta na cabeca dela po d e ser

U~11~e rg u nt a i nt er es sa nt e, d ir a 0 comportamcnta l ista , m as nao nos ajuda a de-~ I dl r s e ,ci a le,111u n a o p e n samen to s , Es e 0 que sua m ae tern n a ca bec a n ao te m

im portan cia , p or q ue devcria tel' importancia 0 que M tcm na dele?

, !sS2) 6 \I~problem a s~ ri: sc voce e urn mentalista: com o cxplicar por q ue

voce nao diria cue um androidc tern m ente, rnesm o q ue a evidencia q ue voce

t ~m d e _ q ue ,c le , tC ,mm e nt e 6 i gl~ al it evidencia que voce tem de que sua mae a

tC I11.Nao ha duvida de que scna urn absurdo acrcditar que sua m ae tem um a

mente a pl ~n as . c om b as e naqui lo qu e cl a faz e diz c, ao mcsmo tempo, recu-

f ,~ lI ' -~e :1H( : re ( lI tar .que M tom men te CO/l1 base /10 /I1C,I'/I10 111)0de evidencia. Se ea e v id e n ci a d a~ ut lo ~ ue sua m ac faz que Ih e da 0 dircito de acreditar que ela

tem m ente (c n ao, d ig ar no s, u rn preconceito i na to ) , e n ta o a me s rn a e v id e n ci a

aprcscntada com rclacao aalgum a outra co .sa dcvcria lhc dar 0 direito de acre-

d ita r q ue c ssa ou tra c oisa ta mb ern te rn m en te . E ssa C u ma lin ha de p en sa rne nto

que pode Ihe levar 30 comportamentalismo.

, P or6 11 ~,sc v oc e d ec idir S CI'lim c om po rt am en ta li st a, v ai t er p ro ble m as t am -

bern . V oce e ell sabem os, afinal de contas, ja q ue am bos ternos m entes, com o et e~ ·um~ m e nt e, E n ,t ao : voce e cu tam bcm sabem os que 1 1 < 1 u ma d if erc nc a e ntr e

nos dots e um a m aqum a que so com porta cxatam cnte com o nos, m as nao tem

q ll a~ qu e,. e xp cri en ci a. A n Ro S CI 'q ue M t cn ha c xp cri cn ci as , c le n ao te rn m e nt e.

A (l !f ~rc nc ;: ae ntr e t el ' u m a m e nt e c a gir c om o s c a ti ve ss c parecc t ao c la ra q ua n-

t o a d i fc rc nc a e ntr e s cr c on sc ic nt e e S CI 'i nc on sc ic nt c.

o rc su lta do fin al (~e sse : sc v oc e c xa mina r a q uc sta o de fora . c orn pa ran do

t v ! com ( )u ~ r~ s p .e s :; o as , 0 com porlam cntalism o parcce atracntc, D o ponto de

vista d a e vide nc ia q ue vo ce tern, M e sua m ac sao iguais . E xam inando por den-tro, n o e nta n~ ~,.h a." m aie r ~ ife rc nya do m un do . V oc e sa bc q ue tern m en te p or-

qu e tern e xp en en ci as c on sc ie nte s, u ma " vi da i nte rn a" . M p od e te l' e xp eri en ci as ,

pelo quo sabcm os. M as se cle nao as tern, n cm tod o 0 tin gim en to d o m un do v ai

fazcr com que scja vcrdade que ele tern mente.

Cornccarnos com ur n fate que nos 6 fam iliar: os cornputadores e sta o e m

t od a p er te 0 f ic an do c ad a v ez m a is i nt el ig cn te s. E provavel que em breve ve-

nharn a s cr m a qu in as i nte li gc nt cs , q ue e nt en de ra o 0 q ue lh es d isse nno s. M as,

so b urn exam e m ais profundo, as coisas nao sao assim ~ao sim ples. Por um

lado, ha m otives para duvidar q ue comportar-se com o um a pessoa com m ente

e IeI' ul11a m ente 6 a m csm a c ois a. P OI' ou tro , q ua nd o c om ey am os a p erg un ta r 0

qlle sa hc llI(ls s nh l'c a s m onte s de o lltrn s pe ss na s c dc q ue m nn eira , p nre ce q ue

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 4/54

2 0 i ,. I N TA o ou C A o A F IL O S O FI A C O N T EM P O R A N ~ A

nossa conviccao de que as pesso as tern m entes nao (em L Im a base m uito m ais

.s6lid a d o q ue a crenca d e q ue poder iam existir computadorcs c ap az es d e enten-

der. A u rn a p esso a q ue faz p erg un tas f il os of ic as s ob re aquilo q ue s ab cm o s e

como 0 s ab em o s d am os 0 nom e de ep istcm 6logo. S e nos perg untarm os com o

sa bem os so bre as m en tes d e o utras p es so as p ur cc c c la re qu e c p cl o qu e CI~lS di ·

zem e fazem . Sim plesm ente nao tem os ncnhum m eio direto de saber aquilo

q ue esta o co rren do n as m en tes alhcias, sc c q ue n lg o cst{ 1o co rrcn do . M as e n-

tao, se aquilo que as pessou s dizcm e fazcm C 0 q ue n os d cm on stra q ue c la s tC l11

m entes, um a m aquina que diz e faz as m esm as coisas nos dcm onstra q ue tam -

bern tem m ente . D o ponto de vista do c pi st cm o lo go , a m e nte de o u tr a s p c ss o as

e a "m en te " d e c om pu ta do re s estao no mcsmo barco.

Q uan do ex a:n in am os a q uestao d o p on to d e 'vista in fern o, c om o jil vimos, 0

q ua dr o p ar ec e diferente. A p esso a q ue e xa m in a a s c oi sa s do ponto de vista in ·

t er no d amo s 0 n om e d e f en om en 6l og o. "F en om cn ol og ia " c a palavra que o II..

loso fo usa para expressar a r efl ex ao s ob rc a natureza de nossa vicla m ental

consciente , D o ponto de vista de fenom enologo, M c todas as m aquinas, por

m elh ores q ue se ja m em su as te nta tivas d e s c c om p or ta r como p c ss oa s, p ro va -

v elm en te n un ca terao mente.

P en sa nd o so bre co mp utad orc s n a IicC ;Jo cicnti rica dcscobrimos 0 carninho

at e 0 c en tro d o la birin to d e p ro ble ma s q ue o s f il os o fo s ehal11HI11e filo so fia da

m en te o u p si co lo gi a f ilo s6 fi ca .

C om o eu disse na intro ducao, a pcrplcx idadc filosofica c u rn pou co assim

com o estar p erdido em um a c id ad e a ntig a. C he go u a h ora de cncontrar 0 C1l111i-

nho para aquela torre para dar um a olhad a de la . Ja C0l110S fo rc ad os a rc cu ar ate

d ua s d as q uesto es filo s6fica s m ais fundamentais, "0 qu e c tcr lim a m ente?" c

"C om o sabem os que outras pessoas tern m entes'?" P ortanto, dcixem os a per-

g un ta so bre M d e Ia do p ara n os co nce ntra r n essa s p crg un ta s mars fundamentais

d ire tam ente . N o fim do capitulo vo ltarci para M c vcrcm os que nossa viagcm

at e 0 alto d a to rre re alm en te n os aju do u a n ao n os p er de r.

1.2. Descartes: 0 inicio da moderna fllosofia da mente

A visao da m en te que predom inou nos ultim os trezentos anos da filosofia

. o c id en ta l fo i aq uela q ue se o rig in ou co m 0 f ilo so fo f ra nc es R en e D es ca rte s, l im

d os fil6sofos m ais influen tes da historia da filosofia . S ell m etod o e corn ecar a

ex an un ar a s questoes p er gu nt an do -s e c om o um i nd iv id u o e capaz de adquirir

co nh ec im en to . O u seja, Descartes com eca se pergull tando como sabc 0 que;

sabe: e se voce quiser sentir a forca de se ll s a rg ul 11 cn to s. r cr a ta rn bc m q ue c o-

m e9~ seperguntando co mo e q ue vo ce p ro prio ta ) s abe 0 qu e sabe, 0 fa.to d_C

D escar tes te r te nta do d esc obrir c om o sa bia 0 q ue sabin Ia z d ele lim de s pnrncr-

ros fil6sofos m odern os. P ois, a partir de D escartes, g rande parte da filosofia

o ci de nt al b as eo u- se em c on si dc ra co cs c pi st cl l1 ol 6g ic as .

1 . A M E N T E • 2 1

A o bra m ais c on hc cid a d e D esca rte s, 0Discurso sobre 0metoda - n a v er -

dade 0 titulo complete c DiSCI/I'.I'() sobre 0 / J1CJ /Oc/O para bem conduzir a razi io

11(1 busca da verdade dentro das cienc ias - fo i e scrito em u rn c stilo ag ra dave l e

d e fac il c orn prc cn sa o. C orn isso , p od e p arec er q ue 0 q ue ele d iz c r n ai s s imp l es

c m ais cvidc ntc d o q ue rc alm cn tc c . Portanto, c irnportantc rcflctir cuidadosa-

m en te s ob re 0 que clc d iz, T ran screvo a segu ir um a passagern cia quarta p arte

do D is cu rs o, p ub li ca da e m 1 63 7. onde c l c c s bo c a. c0Il1Il111ita clarcza, su a visao

d a n a tu r ez a de sell propr io ell:J:; :!l la_o.~xn111ir ,a:ldo.coll1ll1l1ita atcncfio 0 que cu era, e vcndo q ue p o-

d in Iin gir q ue n ao tinh a Cl'I'pO c que nao havia ncnhum m undo c ne-

nhum lugar ondc eu estivcssc: m as que nao podia fingir, da m esm a

form a, que ell n ilo cx islia; c que. ao contrario , so porque eu estava

p cn san do p ara q ucstio nar a verd ad c d as o utra s co isa s, se gu ia -se ,

b a st a nt e o b vi am en t e e com b a st an t c c e rt e za , qu e e u r ea lm e nt e e xi s-r ia : c nquan to que, s e e u s im plc sm en te tiv ess e parado de pensar , em -

bo ra tu do a qu ilo q ue c ujam ais tivess e im ag in ad o tive sse sid o ve rd a-

de, cu nao t er ia q u al qu e r motive p ar a a er ed it ar q ue e xi stia ; a tr av es

drsso ell soubc qu e cu er a u ma s ub st an ci a c uj a intcira cssencia ou na -tu rcza e ra s o rn c nt c p en sa r, c q ue n ao tin ha nccessidadc a lgum a de

un : l ug ar p ar a e xi st ir e nfio dcpcnd ia d e q u al qu e r co isa material; por-t an to q ue e ss e " cu ", q ue r d iz er , m in ha mente . atraves d a q ua l eu so u

(1 qu e sou , e t o ta lm cn te d if e rc n tc de m eu corpo , e a te m es mo rnaisf(leil de conhcccr q ue m cu C Ol'P O c, m ais a in da , q ue mesmo se me u

corpo ncm sequel' cx ist issc, minha m en te n ao dcixaria d e ser tu do

o que c .

E s s a p u ss a gc r n content praticamcntc to do s o s componcntcs csscnciais da

fi lo so fi a d a m e nte de Descar tes .

P rim ci ra m cn tc , D e sc ar te s c urn dualists. Isso signi fica que cle ere que a

mente C 0 corpo sa o dois t ip os d e c ois a b as ta nt e d if er en te s, d oi s t ip o s d a qu i lo

que cle cham a de "substancia",

Segundo, 0 q ue e le acha q ue as pessoas r ea l m e nte sa o, i.e . 0 selfdelas, e a

mente . 13 qu e S0l110S nossas m entes e as m entes sao to talmente independentes

d o c orp o, p od erlarn os c on tin ua l' e xistin do m csm o scm co rp o.

Tercciro , su a men te e seu s pensamentos sao as coisas que voce con hece

me l h o r. Para D esc artes e possivel, pelo menos em princip io, qu e exista um a

mente sern C0rpO, i nc ap az , p or rnais q ue ten te, d e to rn ar-se c on scien te d e q ua l-

q ue r o utra c oisa, in clu sive d e o utra s m en tes. D esca rte s sa bia , e claro , q ue a r na-

n e ir a p e la qual chegarnos a s ab er 0 q ue e st a oeorrendo n as m e nt es a lh ei as e o b·

servandu a fala e as acocs de "o utros corp os." M as para ele havia duas possibi-

lid ad es se ria s, c ad a u ma d as q uais sig nifica ria q ue n ossa cre nca n a e xiste nc ia

de o utr as m e nt es e st av a c rr ad a. Urna e que e ss es o ut ro s c or po s p od er ia m se r

mo ra s f an ta si as d e n os sa irnaginacao. A o u tr a c que, m csm o sc corpos e outras

coisas rnatcriais rc alm cn tc cx istcm , aq uilo q ue n os n orm alm cn te co nsid era -

IllOS COIllO evidcncia para justi tica l" nossa crcnca de que outro s corpos estao

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 5/54

2 ' 2 • I N T R o D U g A o A F I LO S O F I A C O N T E M P o nA N E A

o cu pa do s p or m en te s p od eria te l' sid o p ro du zid o p or a uto ma to s, p or rnaquinas

semmen te .

Q ua rto , a e sse nc ia d a m en te e te l' p en sa me nto s, c p ar "p en sa me nto s" D es-

c artes q uer diz er q ualq uer coisa d a q ua l voc e e sta c icnte e m su a m ente q uand o

esta conscie nte . (A esse ncia d e um tipo de co isa , K 6 a proprie dade - ou 0 COI1-

ju nto d e p ro prie da de s - c uja p os se ss ao e u ma c on dic ao n ec es sa ria e s ufic ie nte

para pertencer a K . Isto e , se algo tern a propriedade essencial E , cntao e~se

a lg o p erte nc e a K- e po rta nto E e s ufic ie nte p ara p crte nc er a K ; q ua lq uc r c ois aqu e n iio te nh a E nao pertence a K - entao E e ncccssa rio para pertencer a K .)

E m outros tre cho s, D esc artes diz q ue a esse ncia d e um a coisa m aterial> - a pro-

prieda de, e m outras pala vras, q ue toda s a s c oisa s m atcriais dcv cm te l' - - e qu.e

e la o cu pa e sp ac o, Is so sig nific a q ue p ara D es ca rte s a s d ua s d ifc re ny as essenc r -

a is e ntre co isa s m ateriais e m ente s sao: (I) q ue as m entes pcn sa m, c nq ua nto

q ue a m ateria nao 0 fa z, e (2) q ue as coisas m ateria is ocuparn es_ r ayo , enqu : : l~ to

q ue a s m en tes n ao 0 faz em . 0 que afirrna D escarte s. portan tc, c q ue 0 q ue dis-

tin gu e a m en te d o c orp o e 0 fato ne gativo d e q ue a m ente l1ao c sta no c spa co e 0

fato po sitivo d e q ue a m ente pensa.

N iio e d e surpreen der q ue D esca rtes uc rcdita va q ue a m ateria n a o pcnsa.

P ou quissim as pe ssoas im aginam q ue p edras ou m esas ou ato mos t e r n ideias .

M as por que e que ele achava que as m entes nao cstiio no e sp aco ? A fin al de

co ntas, pode mos perfeita mente ac har q ue no ssa m ente csta ondc nos~ o eer.po

esta, M as se eu nao tive sse corpo , c om o D esc artes ach ou q ue era possivel, am -

da assim eu teria um a m ente . P ortan to elc na o po dia dize r q ue a m ente d eve e s-

t ar o nd e 0 corpo e sta , sim plesm ente porq ue c ia po dia ne m m csm o te l' ~l1ncor-

po . A inda assim , se e u rea lm ente te nho um co rp o, por q ue nao ~OSSl) d iz er q ue

e la q ue e sta m inha m ente? S e e u na o tiv esse lim corpo , cssa scna a rcsposta er-

ra da; m as ac onte ce q ue, sim , te nho um corpo.

A cho q ue a raz ao princip al q ue nos leva a a cha r q ue a s m en tes nao c sta o no

espaco e q ue re alm en te p are ce c stra nh o p crg un tu r "o nd c e Sl~ o S~lIS p~I1S~m~l1-

t os ?' M e sm o s e r es po nd es se 11 10 s d iz en do " na 1 11 11 1h (\abcca . n ao scna tao o b-

v io q ue is so e ra lite ra l m en te v erd ad e. P ois , s c c lc s e Sliv es se n~ ern s ua c ab e cavoce pod eria d escobrir e xata men te o ndc cstarian t, c a q uantida dc de cspa co

q ue o cup ava m. M as e im po ss iv el d iz cr q ua nto s c en tim etl:o s m elle u m p en :,a ~

m e nt o e sp ec ifi co , q ua l e s ua l ar gu ra , o u s c e m l im d el er m1 11 ad o 1 11 0l 11 en to s ta

n o norte ou no suI de se u c6rtice ce rebral.

-'-Ha a inda um a quin ta caracteris tica q ue e a ultim a dcssa passagcm que e

tip ica da filo sofia da m ente de D esca rtes: atra vcs de tod o 0 a rgu111en lo Des -

ca rtes insiste e m co mec ar com a quilo sobre 0 q ual e p os ~i ve l t el ' c c rt cz a, q ue

n ao pode ser q uestiona do. O u seja , cle insistc e m c om cc ar e 0111urn ponte de

. v is t a e p is temo 1 6gi c o.

E sses sao os elem entos principa is c ia filosofia da m ente de Descartes e,

co mo eu disse ante s, e ssa te rn sido a visao prcdominantc d esdc sua c poc a. N a

1 · · · • • · ·

, " : ~

c,

.

.,

i:~

1 . A M E N T E • 2 3

vcrdadc , a rrcdoillinfillc ia fo i tao grande que , ate a m etade do seculo XX os

p ro ble ma s p rin cip als d a filo so fia d a m en te c sta va m rc strito s a d ois : 0pr imeiro

er a 0 p ro bl em a s ob re 0 q ual 0 caso de M no s fez pen sa r, 0 p ro ble ma d e o utra s

men tes : 0 qu e e q ue justifica nossa cren ca de q ue outras m entes ex istem ? E 0

segundo e 0 problem a m ente -corpo: C om o devem os explicar as re lacoes de

um a m ente co m seu c orpo? A prim eira d essa s pergu ntas reflete a v is ao e pi st e-

m ol6 gic a d e D es ca rte s; a se gu nd a, se u d ua lis mo .

O ra , ~ p re cis am cn tc e ss e d ua lism o q ue tra z a lg um as d as m aio re s d ific uld a-des da posicao de Descartes . Po is qualquer pessoa que ache que a m ente e 0

c or po s ao t ot alm cn tc el i fe rc nte s p re cisa d ar u ma re sp osta a d ua s p erg un ta s p rin -

c i pa i s. P r ime i ro , C0I110 e q ue e vcn tos m en ta is c ausam e vento s fisic os? C om o e

que , pOI' e xe mp lo , n oss as in te nc oc s, q ue s ao m en ta is , le va m a a ca o, q ue e nv ol -

VI.! m ov im cn to s fls ic os d e n OS S0 8c orp os ? S eg un do , c om o e q ue e ve nto s fisic os

c au sa m e ve nto s m en ta is ? C O M Oe p os si ve l, p O I' ex em p lo , q ue a i nt er ac ao f is ic a

e ntre n os so s o lh os c a lu z lc ve m a s e xp er ie nc ia s s en so ri ai s d a v is ao , q ue e men-t al ? E , C 0 11 10v cr cm o s, a r es po st a q ue D e sc art es d a a c ss as p er gu nt as n ao p are ce

ser coe re nte com sua cx plicac ao da dife re nca e ssenc ial entre corpo e m ente.

A re sp os ta q ue D es ca rte s e l i l p ara e ss as p crg un ta sp are ce b as ta nte clara e

simples. 0 ce re bro h um ane, pensav a ele , e ra urn ponto de in te racao entre a

m en te e a m ate ria . C om e fe ito , D es ca rte s s ug eriu q ue a g la nd ula p in ea l, n o c en -tro de nossas cabecas, e ra 0 canal q ue ligava os dois dom in ies d ife rentes da

m en te e d a m ate ria . E ssa e ra su a re sp os ta p ara a p erg un ta s ob re m en te e c orp o.

B ssa te oria, p orern , e ntra em co nfiito com a a firm aca o de D esc artes q ue 0

qu e d i st in g u e 0m e nt al d o m a te ri al e q ue 0 m ental na o e e sp ec ia l. P oi s, s e a eo n-

te cim en to s m en ta is p ro vo ca rn a eo nte cim en to s n o c ere bro , e n ta o is so n ao q ue r

dize r q ue eve ntos m en tais o corrcm no c crebro? C om o e q ue a lg o p od e c au s~ r

ur n aco ntec im en to n o cere bro a nao ser q ue esse a lgo seja urn o utro aco ntec i-

m en te n o (o u p erto d o) c ere bro ? N orm alm en tc , q ua nd o urn e ven to - c ham e-o de

"A ".- c ausa outre evc nto - cha mc-o de "8"- A e 8 t er n q ue e st ar p r6 xi rn os u m

d o ou iro , ou sera prec iso q ue ha ja u ma ca deia de ev entos, pr6x im os un s a os ou-

tro s, q ue V aG de A a te 8.A nove la no e stud io de re levisao provo ca a im agem nome l t a pa re lh o d e te le vis ao a q uilo me tro s d e d is ta nc ia . M as h a u m e a~ po e le tro -

m ag nc tic o q ue le va a im ag em d o e stu dio a te 1 11 im , I1 11a mp o q ue e sta n o e sp ac o

e ntre m eu apa relho de TV e 0 estudio , A visao de D escartes tem que ser que

m eus pcnsam entos causam m udancas em m eu cerebro e que essas m udancas

enta o produz em m in has a coe s, M as se os pe nsa men tos na o e sta o ne m no ce re-

bro ne m prox im o!'; a ele , e se na o ha um a c ade ia de eve ntos e ntre m eu s ~ ensa-

-nentos e m eu c erc bro , e nta o is so s eria lim tip o m uito in co mu m d e c au sa ltd ad e.

D es ca rte s q ue r d iz er q ue o s p en sa mtn to s n ao e sta o e m p arte a lg um a.~ M as,

segundo cit, p elo m onos alguns dos cfeitos dos m eus pcn sam ento s estao no

m eu c crcb ro . e nc nhum de seu s e fe itos direto s esta no c erebro de q ua lq ue r o u-

t ra p es so a. M e us p cn sa m en to sg cr 81 m en te I ev ,! 11 1a minhas a co es e n un ca d ire -

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 6/54

2 4 , .' I N TR OD U C A o A F I L O S O F I A C O N T E M P O R A N E A

ta me nte as a yo es d e u ma o utra p es so a. C he ga mo s a go ra a u m p ro blem a cru cial

para a posicao d e D es ca rte s. P ois 0 no rm al e achar que as coisas esti io mule

seus efeitos se originam. (C ham am os isso de ex plicacao cau sal de lo calld a-

de .) E , s e gundo e s sa p e rs p ec ti v a, meus pensamentos estao em meu ce rcb ro qu e

e a origem de m eu com portam ento. M as se e ve nt os m e nt ai s ocorrern n o c er e-

b ro , c om o 0 c ere bro e st a no es pa co, cn tao p olo m on os alguns c vc nt os m e nt ai s

tam be m es ta o n o es pa co . P ortan to , a fo rm a q ue D es ca rte s u sa p ara d is tin gu ir 0

m en tal d o m ate rial n ao fu ncio na . C ham em os es se c on flito ap are ntc e ntrea) 0 fato de que a m en te e a m ateria real m ente parecern intcragir causal -

m ente e

b) a afirrnacao de D escartes que a m ente nao esta no espaco

de 0problema d e D escartes. N o m om enta em qu e v oce aceitar a exp licacao

c au sa l d e l oc al id ad e, surgern quatro mancrras principals de lidar com esse

problema.

A p rim e ir a s eri a r ef ut al' q ue a s c au sa s c sc us c fc ito s te rn qu e cstar no cspa-

co . A solucao d e De s ca rt es e apenas um a d as p os siv cis s olu co es d ua l.s ta s p ar a

a q ue sta o m en te -c orp o q ue ad ota e ss a abordagcm. C om o e lc acha q ue o s even-

to s m en ta is e m ate ria is in tera ge m, a in da q ue s om en te n oce rcb ro su a p ers pec -

tiva e cham ad a d e in teracion ism o. M as se v oce qu iser m anter a con cepcao dcD escartes de q ue a m ente nao esta no espaco c v oce n ao ach a qu e as causas c os

e fe ito s d os e ve nto s n o espaco tern, e le s p r6 pr io s, q ue e st ar nocspaco, p od e te n-

tar um a das outras fonnas de dualism o. Ha dois tipos de dualisrno nos quais a

causaIidade vai apenas em um a direcao. V oce pode afirm ar ou que cven tos

m en ta is te rn c au sa s c or po ra is m a s n ao e fe ito s c or po ra is , o u q ue e ve nto s m en ta is

te rn e fe ito s m ate ria is m as n ao c au sa s m ate rials . A s d ua s p os ic oe s m ere cem s er

e xa min ad as. N o en tan to , e ss es d ois tip os d e d ua lis mo a fir ma m qu e as mentes,

ao m esm o tem po em que sao causal m ente ativ as n o cspaco , n ao cstao cbs pro -

prias no espaco. P o r i ss o, e p re cis o q ue eles no s s ug ir am uma nova mancira de

p en sa rs ob re c au sa lid ad e q ue s eja b as ta nte d if er en te daquela qu e normalmente

usamos.

Um a s eg un da s ol uc ao para 0 p ro bl em a d e D es ca rte s 6 rc fu ta r qu e existent

q uaisq ue r c on ex oe s ca us ais en tre m en te e m ateria . S eg un do e ss a co nc ep ca o,

ex istem do min ios m ateria is e mentais, qu e carninham paralelamente, sern

qualquer interacao causal . 0 p ara le lis mo p sic ofis ic o, co mo es sa te oria e ch a-

mada , c er ta m en te e vi ta 0 p ro ble ma d e D esc artes . M as ur n m is tc rio a in da per-

m anece: po r que a m en te e 0 corpo trabalham juntos sc nao ha interacao entre

eles? 0 p arale lis mo p sico fisico d iz q ue a m en te c 0 corpo caminharn pa ra l e la -

m ente sem exp licar por q ue.

A t er ce ir a f or ma d e e vita r 0p ro ble ma d e D e sc ar tc ss cr ia te nta r urna manci-

radiferen te d e d isting uir a m ente e a m ateria . S c voce a cr cd ita r q ue ta nt o as

eau sas com o seus efeitos precisam cstar no cspaco c qu e os cvcnto s m cnta is

te rn c au sa s o u e fe ito s m ate ri a is , n ao podcra m an te r a p crsp cc iiv a d e Descartes

1 . A M E N T E • 2 5

de q ue a s m en tes na o sa o e sp ac ia is . C om cc an do co m alguma m an eira n ov a d e

distinguir e n tr e m e nt e c m ate ri a, n o cntanto, e provavel qu e v oc e c on si ga man-

te r o d ua lis m o, m esmo le va nd o e m c on sid cr ac ao 0 fato de q ue se os efe ito : es-

tan n o cs pac o, a s c au sas t arn be m t ern q ue es ta r la .

M as por m ais que voce e st ab cl cc a c ss a d is ti nc ao entre 0 m ental e 0 mate-

rial, s c v oce ac rcd ira r q ue clc s s ao d ois tip os d e c ois a d ifere ntes , tc ra q ue c on -

front~r 0 p ro blem a d as o utras m entes. S e sua m ente e seu corpo sao do is tipos

de coisas complctamentc difcrcntcs, como podcrci saber qualqucr coisa sobrcsua m en te .ja q ue tud o que p osse vel' ( ou ouv ir, o u to car) e 0 s cu co rp o? S e v oce

espan ta a m osca que csta no scu om bro, cu imagino que voce quer se livrar

d el a. M a s, se na o ha n cn hu ma c on cx ao n e ce ss ar ia e nt re 0 que seu corpo faz e 0

qu e esta se passando na s ua m en te , c om o e q u e po s so j u st if te a r essa conclusao?

C om o p osso saber qu e scu co rpo nao e ap cn as ur n a ut or na to , l im a rnaquina qu e

rcagc m ccan icam cntc, S 0m a intcrvcncao de qualquer processo m en tal? Se

v oc e sc scntir atraldo por cssa u ltim a ideia, deve tcntar um a solucao para 0 pro-

blema de D es ca rtes q ue n ao s c ja d u al is ta .

Porianto , a quarta c u lt im a m an ei ra de cvitar 0 p ro ble ma d e D es ca rte s es im pl cs me nt c d es is tir d cs sa i dc ia de que a m ente e a m ateria sao realm ente ti-

p os d e co is a d ifcre nte s e , a ssim , tra ns fo rrn ar-s e n aq uilo q ue o s fil6 so fo s c ha -1 1 1 [ 1 1 1 1 de "monista". 0 m onism o a firm a que a rcalidadc e on sis te d e urn unico

tip o d e c ois a. P ara o s m on is ta s, c ren ca s e terre rn oto s s ao ap en as eo is as n o m un -

do . C oisa s n o m und o p ode rn in te ra gir ca usa lrn en te entre s i , po r tan to, na o ha

nada surpreendcnte sobre m in ha c re nc a de qu e 0 fa to d e h av er um a m esa em

m eu cam inho m e faz m udar a m esa de lugar. 0 m ovim en to da m esa e parcial-

mente c ausa do p ela m in ha c rcn ca . ls so n ao C ma i s s u rp re end ent c d o qu e 0mo-

v im en to d e u ma m es a c au sa do p or lim tc rrc mo to ,

S ug eri q ue p en sa r s obre 0 p roblem a de ou tras m entes p ode Ihe lev ar a de-

sistir do dualismo. E se voce considerar 0 fa to m uito 6 bv io d e q ue rea lm en te

sabern os q ue as ou tras p essoas tem m entes, e p os sfv el q ue v oce s eja lev ad o,

c om o f ora rn m u ito s f ilo so fo s e p sic 61 og os d o s cc ulo XX , p ara a qu ela fo rm a d e

1110nisl110ue chamarnos de "comport amen ta l ismo" , 0 co rnpo rtamen ta l ismo ,

qu e en co ntram os antes co rno u ma po sslvel resp osta ao pro blem a d e d ecid ir se

o co rn pu ta do r p od cria te r m en te, e sirnplesrnente a identi fica ca o d a m en te co m

c er ta s p re dis po sic oe s e or po ra is . U r n c orn po rta me nta lis ta , p or ta nto , e alguem

q ue a cre dita q ue te r u ma m en te 6 es ta r p red is po sto a se c orn po rta r d e e erta s rn a-

n cir ns e m r es po sta a u rn e stim u lo , S eg un do um a c on ce pc ao c om p or ta m en ta lis -

ta , po r exem plo, p ara qu e pessoas de lin gua in glesa aereditem q ue alg o e ver-

m clho 6 0 mcsrno qu e dizcr q ue elas e stao p rcd isp os ta s a d iz er, "is to e v erm e-

lh o" o u res po nd er co m u m "s im " s e a lg ucm Ih es p erg un tar "is to 6 v erm elh o? "

E pred isposicoes com o essa sao lim a parte fam iliar do mundo, S cI' a ft a do e

(aproximndamcnte) cstar predispo sto a co rtar sc fo r p ression ad o co ntra u ma

supcrficic; s cr f nlg il e (aproxirnadarncntc) c sta r p re dis po sto a q ue br ar s e c air o

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 7/54

2 6 1 . I N T A O D U CA O A F IL O S O F IA C O N T E M P O R A N E A

Ha um a g ra nd e d if er en ca e nt re 0 c om p or tam cl ll al is l1 1o C.H c on cc pc ao d e

.D es c ar te s . D e s ca rt e s a c re d it a va qu e a crenca C l ima q uc stiio p ri va da . ls so ti nh a

duas consequenclas. P ri me ir o, q ue v oc e s ab e e ~a ta ll 1e nt e a qu il ~ e ,1 1q ue .a cre -

d ita . S eg un do , q ue s o v oc e sa be e xa ta me nte aq uilo e m q ue a cre dlt~ . E o ? lO b.I:-

rna com a visao qu e De s ca rt e s tinha da mente e q ue f az co111.qu e seja muito difi-

c il d esc ob rir c om o p od em os sa be r q ua lq ue r c oisa so brc a s o utra s. mentes. Para

o c om po rt am en ta li st a, n o e nt an to , a c re nc a e a p re di sp os iy 8. o a a gi r em r es po st a

a seu am biente. Se voce reagir de um a m aneira que e a dc qu ad a p ar a a lg ue mc om u ma de te rm ina da c re nc a, isso e prova de q ue voce tem essa c:enya. C om ?

s u a r es p os ta e publica - visivel e audivel - outros podem dcscobrir 0 q ue ~ oce

e re , C om e fe ito , c om o 0 fil6so fo Ing le s G ilb ert R yle a rg um ento u e m se ~l l iv ro

o c on ce ito d a m en te , a s ve ze s de sc ob rim os e m q ue n os m esm os a crc dlta mos

quando observam os nosso proprio com portam ento . .

H a um a longa distancia entre dizer q ue alguns de nossos cstados mentais

sao coisas que outras pessoas podem saber e dizer, com o. dize~ 1 os cornporta-

m en ta lista s, q ue to do s e sse s e sta do s se ria m, d es sa mancira, pu bllc os. N o e n-

ta nt o u m d os a rg um en to s fi lo so fi eo s m ai s re sp ei ta do s n os u lt im o s ~ n? s C !1 Cg ou

e xa ta me nt e a e ss a c on clu sa o. E ss e a rg ul 11 en to fo i l cv an ta do p cl o fi lo so lo a us -

t ria co L ud wi g W it tg en st ei n, c uja o bra d is cu ti re m os o ut ra v el n o c ap it ul o s ob re

linguagem.W ittge nste in c om ec ou p or S Up OI'q ue q ua lq ue r p es so a q ue a crc dita sse n os

p en sa me nt os e ss en ci al me nt e p ri va do s d a f il os ofi a d a m e nte d e D es cn rt es a ~~ a-

ria b asta nte a ce ita ve l s up or q ue a lg ue m p od cria d ar urn n 0 11 1 ea uma exp el 'l e n-

cia privada _ ou seja, um a experieneia sobre a qual ningucm pudessc ~aber

nada. C om efeito , com o verem os no capitulo 3, T hom as H obbes, um , f ilo~ ofo

In gle s q ue re agiu c ontra a lg um as da s ide ia s d e D esc arte s, .a ch ou q ue n os u sa va -

m os palavras com o nom es para nossos pensam entos privados a fim de lern-

bra-los. Ele cham ou essas palavras de "m arcas" de 1108S0S pen sa~11ento s . Pa r a

u sa r m arc as d essa m an eira , a pe s s o a tc ria q ue te l' u ma re gra d e s o L l.s ara qu e~ e

n om e n as o ca si oe s e m q ue a qu cl a e xp 8ri cn ci a p ri va da o co rrc ss c. W :l t~ en ~t el t1

a rg um e nt ou q ue a o be di en ci a a e ss a r< ~ gr ae xi gi ri a m a is d o. q u e a e XIs 10 nC In ~ Ie

c ir cu ns t§ .n ci as q ua nd o e ra e q ua nd o n ao e ra a dc qu ad o USaI 0 n 0 11 1 e.A s eu v e l' ,

s eria ta mb em p rec iso s er c ap az d e vcnficar s c v oc e o st av a r ea lm .c nte u sa nd o 0

nom e de acordo com a regra. E ele elaborou urn a rg umen t o mU l l o. en g e~1 h os o

. p ara de mo nstra r q ue e ssa v erific ac ao era impossivel- Sc Wi t tg ens ~ el n c s nv c ss c

~ , nao poderiam ex istir "linguager.s ~ rivadas". E P ?r esse m on VO, s eu a rg u-

mente e cham ado de 0 argum cnto da hnguagcm pnvada.

1.3.0 argum ento da linguagem privada

A ob je yao d e W ittg enste in a ling ua ge m p riv~ da h obb csia na d 1e pc ndc ,

c om o e u j a d is se , d e S H a afi rm ac ao s ob re 0 q u~ s eg U lr l ~m a r cg r,~ , en vo .v e .. S~ u

livro Inves t igac ;oe s f il o sa /i cas c om ey a c om a ln tro duyao da ideia de urn .logo

1 . A M E N T E • 2 7

de I Inguagi .'H l qu e 6 q ua lq uc r a tiv id ad c h um an a e111que IHium uso de palavras

~istel11alicamente govcmado pOI' regras. U ma das conclusocs a q u e, s eg un do

Wittgensrein, d ev er ia rn os c he ga r a tr av cs d e sc u e xa me d e j og os d e li ng ua ge m

e que a nocao de seguir um a regra so podc ser aplicada nos cases em que for

p os si ve l v eri fi ca r s e algucrn a e sta se gu in do c orre ta me nte . S e a lg ue rn u sa u ma

p al avr a o u um a frase de uma rn an ci ra governada po r u ma r eg ra - W i tt ge ns te in

a rgu men ta - d ev e fazer s en ti do p erg un ta r c om o sabcmos qu e cles estao usando

a re gra co rre ta me ntc ; o u, c om o c le e xp re ss ou a id eia , d ev e h ave r u m "c rite rio

de co r recao".

S upo nh arn os , p ot' e xe mp lo, q ue M ary d ig a q ue e sta us an do a pa la vra " id io -

ta " em u m jo go d e lin gu ag em . O bse rv an do ..a d ura nte a lgu m te mpo , v em os q ue

e la re pe te a p ala vra "id io ta " de v ez e rn q ua nd o m a s n ao c on se gu im os d es co br ir

u rn padrao para a m aneira com o cia usa a palavra. P erguntam os a ela, entao ,

qual e a rcgra q ue csta scguindo. Se M ary afirrna q ue sabe quando e adeq uado

usar a palavra m as nos nao conseguim os descobrir a regra, entao nao tem os

qualquer m otivo para achar que cia esta scguindo um a regra. A nao ser que

p os sa rn os v er if ic ar s e c a u n ao a de qu ad o pa ra M ary u sa r a p ala vra "id io ta ", n ao

podcm os dizer que hil lim a difcrcnca entre M ary scguir um a regra, pO I' um

la do, o u M ary sirnplcsmente p ro nu nc ia r u m sorn a le ato ric de ve z e m q ua nd o,

p o r o u tr o .V eja mo s a go ra c om o W ittg en ste in utiliz a a a firm ac ao de q ue se gu ir re gra s

envolvc tim c rite rio d e c orre ca o pa ra a ta ca r a ling ua ge rn p riv ad a d e H ob be s.

P ode mo s 0 011 1e ya re xa min and o u m po uc o m ais d eta lh ada me nte 0 tip o d e

u sc priv ad o d a lin gu ag ern q ue H ob be s a cha va q ue e ra p ossiv e!. S up on ha mo s

q ue ell te r.h a u ma e xp crie nc ia q ue n un ca liv e a nte s, P ara urn c ar tc sl an o ( es te eo a dj et iv o p ar a " De sc ar te s" ) 1 1a Op od e h av er d uv id a 1 1arn in ha m en te q ua nta a o

f ato d e q ue e sto u t en do a e xp er ie nc ia n e r n q ua nt o a o q ue a qu ela e xp eri en cia e .Ainda a s s i r n , com o 6 l 1 1 1 1 a e xp erie nc ia n ov a, e u p osso q ue re r Ih e d ar um n om e,

apenas para q ue, se cla ocorrer outra vez, ell possa m e lem brar de que ja a tive

a nt es . D ig am os q ue Ch,ll110 a qu cla c xp crie nc ia d e um a "p onta da ". E ll se i e xa ta -

m ente co mo e um a pontada e acabei de decidir que irei m e referir a coisas

c om o a qu cl a c om o " po nt ad as ", E c la ro , n ao po ss o Ih e rnostrar um a pontada e,C0ll10 na n sc i 0 que foi que a causou em m im , .am pouco sci produzir um a em

v oc e. M in ha por.tada c c ssc nc ia lm en te p riv ad a: e ll a c onh ec o m as n in gue rn

m a is p od c c on he ce -l a.

E ssa h istoria p are cc fa zc r se ntid o. M as W ittg en stein a ch av a q ue se a na li-

sarmos 0 assunto 1 1 m pouco rnais, verernos que nao 0 bem assim . A seguir

transcrevo a passagcm em q ue W ittgenstein ex pressa sua objecao ao tipo de

lin gu ag cm p riv ada h ob be sia na q ue d esc re vi a cim a.

lmagincmos 0 s eg ui nt e c as o, Q u er o m a nt er um d ia ri o s ob re a r ec or -r en ci a d e u rn a c er ta s cn sa ca o. P ar a e ss e t im e u a a ss oc io c om 0 sinal"S" c c sc rc vo e st e s in al em um c al en da ri o t od os a q ue le s d ia s em q u e

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 8/54

? 8 • I N T R O D U g A o A F IL O S O FI A C O N T E M P O R A N E A

tenho a se nsa ca o, "- A ntes de m ais nuda. obscrvarci que a dcfinicao

do sinal nao pode s cr f orm ul ad a, - -Mas mcsmo assirn e ll POS !;Omedar um a especie de dc finic ao ostensive. - C om o? P osso apontar para

a sensacao? Nao no scntido cornum cia palavra, M as cu falo, ou cs-crevo 0 sinal e ao m csrno tem po conccntro minha ntcncfio na sensa-yaO - e entao, de um a ce rta m anc ira , aponto pa ra cia inte rnam cnte . -

M as para que e essa cc rim onia? P ois parccc q ue 6 na da m nis do qu eu ma c er im oni al U m a d clin ic ao s cg ura rn cn tc s erv e p ar a c sta bc lc cc r

o significa do de um sinal. - Bem , isso (: f eito pre cisa me .ite pela con-

c entr ac ao d e m inh a ater.cflo; pois, dcssa m aneira. cu grave em m immesmo a conexao entre 0 sinal c a s cn sa c f io . Ma s "cu a gravo emm im mesmo" s6 p od e s ig ni fi ca r: e ss e processo faz com que eu lcm-

bre a conexao corretam ente no futuro. M as no caso atual eu nao te-

n ho q u al qu er criterio de correcao, Gostariarnos de dizer: seja 0 qu e

for que m e pareca correto e c or re to . E i ss o s o s ig n if ie s que aqui nao

podemos f al ar s ob re "corrccao",

A ntes de tentanno s en t ender q ual 6 0 argumcnto qu e W ittg cnstcin c sta

apresentando aq ui , d ev er no s o bs cr va r L im a s cr ic de caractcristicas cia mancira

c om o e ss e te xto f oi e sc ri to , A p as sa ge rn 6 lim p ou co c om o 1 1 1 1 1 d ia lo go e m u ma

p eca d e tea tro . A lg un s filo so fo s, c om o Platfio, qu e discutircmos 110 proximo

c ap itu lo , e sc re ve ra m r ea l m e nte dialogos filosoficos a lim de apresentar sells

arg um en to s. W ittg en stein n ao d a n om os d ifcrc ntc s ,I S p c sso as e x pr cs s andop on to s d e v is ta d if er en te s. N o e nta nto , 6 p os siv cl p cr cc bc r q ue 0 q lle e sta o co r-

r en do a qu i e , co m efeito , u ma discu ssao entre a lgl 16 1 1 1 q ue ac re dita e alg ue m

q ue nao acredita que a historia d e H o bb es fa z scntido. lsso significa q ue [ClnOI'

q ue te r c uid ad o p ara d ee id ir q ua l d as p osic oe s e a q ue W it tg en st e. in e sta = :m en te d efen de nd o. N a v erd ad e, e le es ta d efe nd en do 0 p on to d e vista da ])OS(-

9ao qu e tem a u ltim a palav ra no texto ou seja , 0 po nte d e v ista da p essoa que

d iz q ue "is so s ig nific a q ue a qu i n ao p od ern os fa lar s obrc 'c orrec ao "'. P re cis a-

m o s t en ta r examinaro qu e Wittgenstein qucr d iz er e 01 1 1essa afirmacao c como

e le a d ef en d e.

Como e q ue e le chega a s ua conclusao? Vamos d cix ar c la ro qu e d ua s p os i-

90e s o po stas e sta o re pre se nta da s a qu i, i de nt if ic an do -a s s ep ar ad am c nt c co m

p ers on ag en s d ife ren te s. P od em os ig ualm en te d ar a l~ l1 1desses pcrsol:agens 0

nom e de H obbes e ao ou tro de W ittgenstein. A s cg uir p od cm os p ar afr as ca r 0

tex to c om o s e F oss e u m dialogo filosofico; c, para qu e a coisa fiquc mcnos nbs-

. tra ta , c ha mem os a sensacao de "pontada" como fizernos a nt es , e m ve z de usar

esse "S" me io n eu tr o d e W i tt ge ns te in .-_HO BB ES : P ara q ue ha ja lim a li ng ua gc m privada, sll6 precise cue eua ss oc ie a lg um a pa la v r a, " pon ta da ", com u r na s cn sa c ao elise aqucla

pala vra para gravar a s oc asiocs e m q ue a sc nsacito ocorre.

W I TI GENS TE IN : M a s c om o 6 q u e v oc e p od e dcfinir 0 tcr1110"pontad a"?

H OBB ES: E u posso dar lim a cspcc ic de dcfinicao o st ~I ~s iv a. Em urna

d ef in ic ao o st en si va , m os tr am os 0 qu e 0 tcrrno Slgnlf le a ap on t an d o

1 . A M E N T E • 2 9

para aq uilo a q ue clc sc rcfcrc. A ssim , suponham os q ue e starnos ten-lando cxplicar a algucm - uma pcssoa qu e nao s a b e ingle« - 0 qu e

q ucr dize r "vcrm cll.o". A ponta ria mos pa ra algum as c oisas vc rrnc-l ha s c d ir iamo s " v cr rn c lh o " quando apontasscmos para clas, Essa sc -

ria 1I11Hl d cf in ic ao o st cn si va d a p al av ra " vc rm cl ho ",

WITf'GENSTEIN: Mas p ar a q ue u rn a d cf in ic ao o st cn s iv a s ej a p os si ve l,

pr cc is am os p od cr a po nta r p ara a lgu ma c ois a c , n c ste c as o, n iio (: p os si-

ve l a po nta r. N iio p os so a po nta r p ara m in ha s p r6p ria s s en sa co es .

HOBBES: Naturalmentc, voce niio pode litcralrnente apontar pa raLImn scnsac f i o , m as v oc e p o d e v olt ar s ua a t e n c a o p ar a e la ; e se , Ii . me-dida q ue v oc e s e conc cn t ra r na sensacao , v oc e di sse r o u e se re ve r 0

n om e, vo ce gravara em s i l 1 1eS l1 1 0a conexao entre 0 nome "pontada"

e n s cn sa ca o.

\VnTGENSTEIN: 0 q LI~ vo ce q uc r d iz er c om "gravar a conexao em si1111::,l11c/"1 Tudo 0 que voce pode c star que rendo dizer e q ue voc e faza lg o c uj a c on sc qiie nc ia 6 qu e voce lernbra a c o nc x ao c o rr et ar n en ten o fu tu ro . M as 0 q ue signi fic a, nc stc c aso, dize r q ue voce a lem brou

c or rc ta rn cn tc ? P ar a f az cr c orn q ue d iz cr q ue vo ce a lc rn bro u c or rc ta -mcr.rc tcnha scntido, e precise que voce tcnha uma m aneira de dis-t in gu ir s c v oc e a l cm br ou c or rc ta mc nt c, OU s ej a, L Im c ri te ri o d e corte-

quo. E C01l10 6 q ue voce ave riguaria, neste c aso, q ue voc e a le mbrou

corrctamcnte?

Estc ~ 0 ponto fundamental do argumcnto. W ittg en ste in p ed e a H ob be s, n a

v erdade, q ue co nsidcrea p crgu nta "C om o 6 q ue voce sabe, quando diz 'h a h a ,

al vcm outra pontada ', que n cxpcricncia 6 a m csm a que nas outras vezes?"

"S cm ," p od eria res po nd er H obbe s "C01110 nada e m ais seg uro d o qu e aqu ilo

qu e cstti ocorrcndo e 111su a p r op r ia men te , nflo pode haver duvida de q ue voce

s ab e q ue 6 a m es ma co is a",

M as sc e p os siv cl q ue v oc e lem bre co rre ta men te, e ntal) d ev e s er p os siv el

q ue vo ce lern bre ineorretam ente . A fin aI d e contas, segun do H obbes, eo fa to

de que voce pock vir a esquecer um a experiencia que faz com que nom es se-

jam u te is C0l110 m arcas. Suponham os que voce tenha Iem brado m al. Supo-

n ham os q ue n a v erd ad c es sa u ltim a c xp cricn cia se ja o utra to ta l m en te d ife ren -

(c . C om o '6 q ue voce pod eria dcscobrir isso? E se v oce nao p ode d esco brir,

para que serve a palavra "pontada"? 0 nome nao lhc d{ 1 ncnhuma g ar an tia d e

qu e v oce lem brou corretam cnte sc vo ce ja na o tiv cr q ualq ue r g ara ntia d e q ue

sabe a que 0 n om e s e re fere ,

A Jim d e d ar cnfasc no po der d o argurncnto d e W ittg cn ste in , v oc e p od er ia

argurncntar 0 s cg uin tc: a id cia d e H obb es e qu e 0 n om e p ode lhe ajudar a lem -

br a I' q ue v oc e ja tev e a qu ela ex pe rien cia an tes . S e 6 p oss iv el q ue v oce ten ha es -

q uec id o a cx pcric nc ia d a p on tad a, n o e nta nto , e nta o 6 p os siv el q ue v oce ten ha

esquccido [Ie xp er ie nc ia d e d ar urn nome a p on ta da . V oce p re cis a o utra "m ar-

c a" c lu e d c nome ,1 ex perie nc ia d e d ar lim 1 10 11 le p on tad a? S c c ad a m em 6ria

p rc ci sa r d e urn nom e p ara n os ajudar a lernbrar d el a, p ar ec e q ue e st ar no s p re so s

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 9/54

3 0 • I N T~ O D U C A oA F IL O S O FI A C O N T E M P O RA N E A

em um a regressao infinita. 0u so d e m arcas d e H obbes parccc aqucla teoria in -

.d i ana antiga que d iz que 0 m undo esta apoiado n as c os ta s d e um c le fa ntc . S c 0

mundo p re c is a de ap oio , 0 e le fa nt e t am be rn v ai p rc ci sa r d e a po io . E so 0 clcfan-

te nao precisa de ap oio , p or q ue e q ue 0 m un do p re cis a?

U rn arg um ento d e reg ressa o in f in ita com o cste mostra

a) que a solu9ao s ug er id a p ar a um p ro bl em a - - n cs te caso 0 pro1.JlemHde

como 0 m undo fica em pe - s6 cria outro - neste caso 0 p ro ble ma d e ~01110

o elefan te fica em pe eb) qu e tod as as vezes qu e usam os um a s ol uy il o s u ge ri da p ar a lidar co m um

p ro ble ma a uto matica me nte h av era u m o utro p ro ble ma p ara re so lv er,

Is so m os tra q ue a s olu cao s ug erid a n os le va a p o si ca o r id ic ul a n a q u al a ce it am o s

uma es tr a teg ia p ar a s olu ci on ar u rn p ro ble ma q ue c ria um n o vo p ro bl em a p ar a cada

p ro ble ma q ue e la s olu cio na . Em o ut ra s p ala vr as , n ao 6 s olu ca o a lg um a .

E ss e a rg um en to d e re gre ss ao In fin ita e 0 q ue m ostra q ue n ao h a qu alqu er

p o ss ib iB d ad e d e v er if ic ar se voce esta usando 0 te rmo "pontada" corrc tamcnte .

E , quando este ponto fica claro , chegam os ao cerne da linha de raciocinio de

W ittg en ste in . U s ar a p ala vr a "pontada" para se referir a urn e s ta d o p r iv a do sig-

n ifica aceitar a reg ra de q ue vo ce so d ev e diz er "pontada" p ara s i I1lCSl110 quan-

d o vivencia aqu ele estado priv ado . M as a idcia d e tc nta r a cc ita r lim a re gra en -

v olv e e ss en ci alm e nte a p os sib ilid ad e d e q ue v oc e p os sa n ao a plic ,1 -la c or re ta -

m en te e , n es se ca so , nao M t al p o ss ib il id a de p o rq u e: "Seja 0 qu e fo r qu e m e pa-

reca corre to, e corre to . E isso s6 ind ica q ue aq ui n ao podemos falar de 'corte-

to ''', S e te mo s e st ad os mentais q ue s ao p riv ad os , 0 argumento rnostra qu e njio

podem os falar sobre eles, nem para n6s m esm osl C om o nao faz sen ti do falar

sobre esses estados privados, W ittgenstein chegou ,\ conclusao de que nao

p od e h av er tais es ta do s: a fin al d e co ntas , s c a p ro po siy ao "e xi.s tc m e sta do s p ri-

v ad os " n ao fa z s en tid o, ela c erta men te n iio p ed e s er v erd ad clra !

N o e nta nto , n es te e xa to . no m cn to , C p o ss iv e l v ir al ' a c st ra tc gi a d a r cg rc ss ao

infinitacontra 0 p r6 pr io W ittg en ste in . P oi s a id cia d e 1 1 1 1 1 e ri tc ri o d e c o rr e <; ii o C ,

su po stam ente , a ideia d e alg um p ad rao co ntra 0 qu al p od em os v eri0 :ar se esta-m os seguindo a reg ra de fo rm a ndcquada. M as nao C esse 0 o bjc tiv o d e c sla r

a pl ic an d o a r eg ra : v e ri fi ca r 0 u sc q ue v oc e f ez d a p rim ~ ir a r eg ia c O ~1 1p ar an do .?

co m 0p ad ra o? E s e fo r, n ao p re cis ar em o s d ~ u rn c ntc l'l0 Nd e ~ or re .y ao p ar a ~ pll-

car a essa s eg u nd a r eg ra ? Q u a nd o e ss a c ad ei a C om ey < 1,n ao . ha m c io s d c , p. ar a- Ia ,

Thl .v_ez0m elh or s eja n ao d eix ar q ue ela c om cc c. T alv ez ex is ta m, n a pratica, rc -

g ra s q ue a plic am os s em c rite rio s d e co rrey ao .

N a v erd ad e W ittg enste in m esm o apo nto u para algo sem elh allte qu an do

a rg um en to u q u:, q uan do s eg uim os u ma s 6rie n urn cric a (ta l c Oln ~ 1.3:5 . .. ) , n f ioa dian ta d iz er q ue es ta mo s se gu in do u ma reg ra p orq ue q ua lq uer d ircc ao em q ue

'fo rm os v ai o bed ec er a a lg um a re gra . P orta nto e le p arec c tel' c hc ga do a conclu-sao de q ue e m eram ente um fa to que sores hum anos a quem sc aprcscn ta um a

s erie a cab am s em pre "co ntin uan do n a m esm a d irec ao ".

1 . A M E N T E • 3 1

O bserv e q ue csscs p roblem as a resp cito d e segu ir regras n ao p arecem ter

n ad a e sp ec ia l a v el' c om 0 a rg um e nto s ob re p riv ac id ad e. S e e u tiv es se i ntr od u-

z id o a p alav ra "p on ta da" p ara m e rc ferir a lim tip o d e bo la d e g ud e, s eria p re ci-

s o h av er a lg um c rite rio d e c orre cao q ue d ec id iss e s e e u e stav a u san do a p ala vra

c orre ta me nte. N ao s eria s ufic ien te q ue e u d is ses se "S im , e um a pontada" ou

"Nan, na o e um a pontada" a cad a bo la de gude que m e mostrassem. I ss o s er ia

c om o M ary u sa nd o a p ala vra "id io ta", V oc e s o fica ria c on ve nc id o d e q ue e u es -

lava scguindo um a regra se houvesse algo es pec ific o s ob re ca da p on tad a - q ue

fo ss e m ais v erd e d o q ue v erm clh a, o u q ue tiv es se urn ce rto ta man ho , o u a lg o p a-

recid o - qu e fiz cssc com qu e Cll a s clc cio nas sc e ntre a s bo las d e g ud e. N ao s eria

satisfat6rio dizer qu e "seja 0 que fo r que m e pareca corre to, e correto".

0 1 " & , isso p od e p arecer co nv incente qu an do u tiliz ad o co m bo las d e g ud e,

m as que d izer dos conceitos que voce usa para verificar m eu uso da regra , ou

seja: "C ha r ne d e 'p o nt ad a ' &0 se for verde e grande". Q ue tipo de criter io de

corrocao e xi st e p a ra 0 lISO ci a palavra "verde" n es te c as o'? V oce p od eria d iz er

que a rcgra que estou segu indo e:

G : Chame-o de "verde" so se f or v er de .

M as se isso c v alid o co mo c rirc rio d e co rrec ao , p or q ue e qu e

T: Chamc-o de "pontada" so se fo r lima pontada

n ao s er ve C O I1 \Ocriicrio dc corrccao no caso original? A el ifcrcnca e nt re G e T

parece scr s6 qu e G e L Ima reg ra q ue o utras p es so as p od em v erifica r s e es to u o u

n ile u sa nd o c orreta men tc c nq ua nto q ue T :1 aO0 e .M as isso sugere qu e 0maier p ro bl em a d a pontada m en ta l n ao e s e e u p os so

v erificar a m irn m esm o, e sim se as o utras p essoas podern m e verificar. E se 6

is so q ue W itt ge ns te in c on sid er a urn p roblem a, en tao ele esta in co rrend o em

lima pcticao de principio. (Urn a rg um c nt o i nc or rc em p rt j~ ao de p rin cip io se

ja adm ire co mo vcrd ad ciro aqu ilo qu e esta q uerend o p rov ar.) P ois 0 objetivo

d o arg urn en to d a lin gu ag em p riv ad a e ra m os trar q ue n ao p od eria h av er e stad os

m cn ta is que s6 sao conhccidos pcla pcssoa que os tcm ; m as agora parece que

e ss a 6 L Im a d as p re mis sa s d o a rg um en to !

I'o ra m m uitu s a s d isc uss ocs filo S6 tic as s ob rc sc W iltg en ste in e stav a c erto

em s uas a firm nc ocs s abre s cg uir rc gra s, C om o ell d is se ac im a, g ran de p arte d e

s cu l iv re Investiga<;i5es.fllos6.ficas e sta v olta da p ar a a d ef es a d es sc a rg um e nto .

S e a a fir ma ya o c corre ta , rod e ser u m arg llm cn to bastantc po deroso con tra a

p ers pec tiv e h ob be sia na d e q ue a fu nca o p rim ord ia l d a lin gu ag cm 6 n os a ju da r a

l er n br a r n o s sa s p r 6p r ia s c x pc r ie n ci as . POI' is so , 6 p ro va vc l q ue v oc e q ueira p en -

s al' se d cv e o u n fio a ccitar a id cia d e W ittg en stc in d e q ue p ara s cg uir u ma reg ra

e p recise q ue cxista u rn criterio d e co rrecjio. S e vo ce aceitar a afirm acao de

W i ttg en ste in s ob re r eg ra s, te ra u m b or n m o tiv e p ar a p re fe rir 0 c om p or ta me nt a-

l ismo e111 v cz d o c arte siu nis mo . (E m bo ra v alh a a p ella in sis tir n este m om en to

qu e 0 p ro pr io W ittg cn ste in n iio a po ia va 0 comportamenta l ismo.)

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 10/54

. 3 2 • I N T R O D U ~ A o A F IL O S O F IA C O N T EM P O R A N EA

A concepcao c om p ort am e nta lis ta d e crcnca soluciona 0 p ro ble ma d e D es-

. c arte s: n ao b a q ua lq ue r d ific uld ad e p ara 0 c om p or ta m en ta li st a e m cxplicar as

relacoes c au sa is d e m en te e c orp o. Portanto, essa concepcao tern um a rcsposta

p ar a a p erg un ta s ob re m e nt e- co rp o, o u s ej a, q ue t el ' um a men te c tel' u rn c or po

c om c er ta s predisposicoes especif icas. E 0 c om po rt am e ti ta li sm o c e rt am c n te

na o esta a be rto a o a rg um en to d a lin gu a g em privada, Com isso, ele r es ol ve t am -

bern 0p ro ble ma d e o utra s m en te s p orq ue d iz q ue p od em os c on he ce r as mentes

de outras pessoas com a m esm a facilidade com q ue conhcccrnos q ualq ucr tipo

d e p re di sp os ic ,: ao . P od em o s c on he ce r s ua d ol' c om a I1 1c sm 1 f ac il id ad c c om q ue

sabem os que um copo e fragil.

M as 0 c om p ort am e nt al is m o p are ce criar novos problem as ,\ m cdida que

s ol uc io na o s a nt ig os . A qu i t cm os ur n doles: 0 comportal11e!1lo qu e ex ibc crcn -

c as m a is c1aramente e a fala: se voce q uer saber em q ue acredito , SC LIpr imeiro

passo e m e p er gu nt ar. P or ta nt o, c om o e u j a d is sc , a lg un s c om p or ta l1 1c nt al is ta s

a firm ara m q ue e re r a lg o e e st ar p re di sp os to ( em c cr to s t ip os d e c ir cu ns ta nc ia s

especific as) a diz er certos tipos de palavras - a s palavras, com efeito , q ue nor-

malmente s e ri am co ns id e ra d a s expressoes daqucla crcnca. 0 problema e que

essa teoria faz com que seja impossivel, por e xernplo , ex plica r a s crenca s de

c ri at ur as q ue n ao falam (incluindo bebes) e l ev ou a lg un s filosofos a afirmaremq ue e ssa s c ria tu ra s n ao te rn q ua Jq ue r c re nc a. E m bo ra h aja a lg o b as ta nte in sa tis-

f at 6r io c om relacao a p ri va ci da de d a m e nte c art es ia na , haalgo simplesmentc

loueo a respe ito da publicidade d a men te compor tamen ta l is ta . "Oi; voce esta

6 ti mo . C om o e q ue eu estou?" di z 0 c om p ort am c nta lis ta e m uma conhecida ca-

r ic at ur a, e 0 e ari ca tu ri st a t em a lg urn a r az ao . E 6 bv io q ue nos sa bc mo s m ais q ue

os outros sobre pelo m enos alguns aspe ctos de nossa vida mental. E a p e rg u nt a

para 0 comportamentalismo 6 por que? N fio 6 ap cn as p orq ue tcstc111unhamos

nossas ac,:oe s ma is do q ue os outros. P ois , a o in terpretar as m ente s dos outros

dependem os m uito de suas expressoes facials ; c quasc nunca VCl110S nossas

p r6 pria s e xp re ss oe s fa cia is. E , c om c fc ito , p arc cc 6 bv io q ue p oss e d iz er 0 qu e

vou fazer a seguir - ou seja, q ua is s50 m inhas predisposic oes atuais -- porq ue

se i (p or a ssim d iz er, p orq ue "o lh ei in te rn am en te ") a lg o s ob rc minhas proprius

crencas, d es ejo s e intencoes.Nem 0 c om p ort am e nta lis m o n C Il 1a tcoria d e De s ca r te s parccem ser total-

ment e c or re to s.- _1 .4 . COl l lpu tadore s como modelos da men te

No s ultimos anos, propos-se um a n ov a a lt cr na ti va a o cO ll 1p or tam en ta lisrno

que trata a m ente de um a m aneira que nao e n cm t ao a bs ll ld al l1 en tc p l' lb li ca ,

.c om o f az 0 c om po rt am e nt al is m o, n ern t ot al tn cn te p ri va da , c om o fa z 0 car tcsia-

nismo. Em o ut ra s palavras, e urn mcio caminho entre comportal11cntalismo cc ar te si an is m o e e c ham a do d e f un ci on al ism o. SU(l a tr ac ii o a tu al 6 r cs ul ta do d e

d es en vo lv im e nt o d aq ue lc s m c sm o s c O l1 1p ut ac io re s c om o s q ua is comccarnos 0

1 . A M E N T E • 3 3

livro . P uis u ma m an cira de cx prcssa r 0 q ue a fi rm a 0 funcionalismo c d iz er q ue

e a concepcao segundo a qual a m ente, para o corpo, c COIllO Ulll p ro gr am a p ara

uma m uq uin a.

U ma boa form a de cornecar a pensar s o br e t e or ia s funcionalistas, n o e n t an -

to , e e xa min er te oria s se me lh an te s m as m ais sim ple s. P en se , e nta o, e m q ue tip o

d e t co ria v oc e teria qu e oferecer s e e sti ve ss e t cn ta nd o e xp li ca r 0 funcionamen-

to - nao de algo tao cornplexo com o a m ente - de a lgo ba stante sim ples e fam i-

liar, com o um tc rm osta to cuja funcao scja m anter a tem peratura ac im a de umce rt o 1 1 1\ 1e1 . qu e C que a tcoria rcgulando e sse tip o d e te rm os ta to d iria ?

E l a d ir ia , c claro, que lim tcrm ostato e lim a pa re lh o q ue lig a e d eslig a um

aqucccdor de uma mancira que pcrm ita manter a temperatura acima de urn cer-

to n iv cl . P en se em t im tc rmos tato qu e mantcnha a tempera tu ra acima de 60 g r au s.

Um a a na li se d as c ar ac tc ri st ic as d o t ip o d e c oi sa n ec es sa ri a p ara r ea li za r e ss a t ar e-

fa ro de rc su lta r e m L Im a p eq uc na tc oria d o tc rm os ta to ,

Um t e rm o s ta t o tern q ue tc r trc s p arte s op cra cion ais . A p rim eira , q uec o s e ns o r c a lo r ic o , tern q ue te l' d ais e sta dos : e m ur n e sta do , a se ns or

c a lo ri co i cs tn L1GADO c no ou tro esta DESLIGADO. E le de ve e sta r

LlGADO quando a tem peratu ra externa csta abaixo de 60 graus e

DE,;LlGi\DO quando c sta acim a. Isso nao depende de c om o e f ei to a

s en so r. S e c um a fa ix a h i-m cta lic a, p od c s er q ue c sta r o u n iio LlGADO

d cp cn da .d o g ra u d e i nc li na ca o d a faixa: se e ur n balao de g as q ue e x-

pandc c sc eon trai de aeo rdo c om a m uda nc a de tem pe ratura, en taoLlGADO sera abaix o e DESLIGADO a cim a de u m d ete rm in ad o v olu -m e. A scgunda parte C0 i nt er ru pt er q u e tarnbern p rc c is a t el ' d ai s e st a-

dos, E lc dcvc ir para 0 cstado LiC iADO sc 0 s en so r c alo ri co e nt ra r n o

cstado LlGADO c p ar a 0 cstado DESL1CiADO se 0 s en so r c al 6r ic o e n-

t ra r n o e st a d o DESUCiA[ )O . (0q ue c u d is sc s ob rc 0 s en so r c al or ic o s eap l ica a s o utra s p arte s ta mbc m; n iio im po rta de q ue sa o fe ita s, e OI1 -

ta nt o q ue cumprarn su a funciio c om o a ca be i d e d es cr ev er .)

E ss a c xp lic ac ao c ia n at ur ez a d e lim t cr mo st ato ta mb cm m os tr a 0 qu e e a t eo -r ia fu nc io na lis ta , p oi s e ss a p eq ue na t eo ri a e um a teoria func iona lis ta. E o q ue a

t or n a f u nc io n al isla 60

fato de ter todas as scguintcs earactcr is tieas:E la d iz c om o funciona 1 1 1 1 1 t cn n os ta t o a f irm a nd o :

11) q ua is o s c ve nto s e xte rn o s 110 rnundo p ro duz em m ud an ca s n o in te -rio r do sistem a - aq ui, m udancas de tem peratu ra fazc m c om q ue 0

s en so r s ej a LlGADO ou DESLIGADO;

b ) q ua is o s e ve nt os i nte rn es q ue p ro du ze rn o ut ro s e ve nto s i nte rn os -

a qu i, m uda nca s de L1GADO para DESLIGADO n o s en so r p ro du ze mm ud an ca s de LIGADO para DESLIGADO n o in te rr up to r; e

c ) q ua is o s e ve nto s in te rn os q ue provocarn m ud an ca s n o m un do ex -terno - aqu i as m udancas de DESLIGADO para LlGADO no in t er ru pt e r

rcsu l tam ern um a m aier p roducao de calor e m udancas de L1GADO

para DESLIOADO resultant em um a m cnor p roduc ao de ca lo r.

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 11/54

• I N T R O O U C A o A F IL O S O F IA C O N T E M P O R A N EA

Q ua lq ue r c oisa q ue p re en ch a e ssa s e sp ec if ic ac oc s o pe ra C01110 u r n l c rr n os -

ta t6e po de re mo s d iz er q ue q ua lq ue r c oisa q ue tc nh a p ar te s q ue d es cl1 1:,e nh em

p ap eis p oss ui u m s en so r c alo ric o, urn interruptor e um a Fonte de calor do

tip oa de qu ad o. E m o utr as p ala vr as , d e um a f o rma mais g er al, lim a te or ia f un cio -

nalista diz quais sao os estados in ternos de urn sistem a determ inando com o

e le s i nt er agem c om u rn e sti mu lo e c om o utr os estados i nt er ne s, p ar a p ro du zi r

u r n r e su lt ado . 0q ue quero d ize r qua ndo af irm o qu e a (c oria diz 0q u e ~ ii o c s ta -

dos pode ser exp lica do a trave s de um cxcrnplo : a nossa (c oria do tcrrnostato di z

o que e urn senso r calo rico quando diz que ele

a ) rn ud a d e L1GADO para DESLlt,/\i)O (c vice-versa) q ua nd o a t em p e-

r atu ra e xte rn a c ai a ba ix o o u s ob e acirna de 60 grau s, c

b) provoca m u da nc as q ue levam a urn aumcnto d a p r od u c ao de calor sc

esta L1GADO e a u ma d im in uic fio d cs sa prodllC;ilo se csta DESUGADO.

U rn se nso r c al6ric o, p or ta nto , e c ar ac te riz ad o p or sc u p ap el f un clo na l. Oll

seja , a m an eira c om o ele fun cio na m edian do e ntre estim ulo e re sultado e1 11in-.

tera yao com o utros e stado s in ternos. E p ode rno s dizer , de u ma form a geral, qu e

uma te oria f un cio na lis ta d iz 0 q ue e um e sta do a o d iz er C 01 11 0elc opera no fUI1-

cionamento in te rn o d e u rn siste ma .

Podemos a pli ca r e ss e m o de le g er al a os c 01 11 pu ta do re s. C om p uta do re s ternu rn g ra nd e n um er o d e e sta do s in te rn es, n orm alm en te c le tro nic os. P ro gr am ar urn

com pu ta dor e nvolve con ectar esse s e stados uns a os outro s e a p ar te e xte rn a d a

maquina de ta l form a que qua ndo vo ce in troduz algum estimulo na maquina, os

estad os internos m udam de cer ta s manciras p re visiv eis, c a lg um as v ez cs c ss as

m udancas fazem com que ela produza algum resultado. Por tanto , ern l1 '11 caso

s im p le s, v o ce i nt ro du z uma s er ic de slmbolos como " 2+2 '= ' " e rn urn t er m in al c os

e sta do s in te rn os d a maquina m udam de tal mancira que cia p roduz 0 resultado

"4" em um a i mp re ss or a. Podernos vc r, agora, por qu e 6 posslvel pcnsar os pro-

g ram as d e c om p uta do r c om o t eo ria s I 'u nc io na lis ta s d o c om p ui ad or . Pois l im p ro -g r am a de com pu tad or e ape nas um a form a de e spe cif icar com o os esta dos in te r-

nos d e ur n c om p uta do r ir ao mudar ao i nt ro d uz irmo s s in ai s de ur n d is co o u c ass c-

te , ou de urn tec1ado, e com o essas m udancas no cstado in terne irao fazer co m

qu e 0 c om pu ta do r p ro du za u m re su lta do .

D e urn ponto de vista - 0 do engcnheiro - tudo 0 que esta ac ontcce ndo no

. c om putador e um a se ria d e m uda nca s eletronica s. D e o utro - 0 do p~ ogram ado r

- c e e - .am aquina esta so mando 2 m ais 2 para fa zer 4. A s pcssoa s q ue s50 funcion alis-

t as c om r ela ca o a m ente - qu e sa o a s que c ham arei de func io nalista s da qui em dl-

ante _ acreditam que, com o no caso do eom putador , ex isten t duas m aneiras de

c o ns id e ra r a m ent e- ce re br o. 0 n e ur ot is io lo gi st a, C 0 11 1 00 e ng cn he ir o, v e 0 c ere -

b ro em te rm os d e c orr en te s e le tric as o u re ac ;o cs hioquimicas. 0 p si co lo g o, q ue Ccomo 0p ro gra ma do r, v e a m en te e rn te rr no s d e c rc nc as, p cn sa me l1 to s. d ese jo s c

o utro s e sta do s e e ve nto s m en ta is . N o c nta nto , a ss im c om o s 6 h a u m c om pu ta do r

~

'"

·

·

1 . A M E N T E • 3 5

te -c er eb ro , c om s eu s d ois n iv eis d e d esc ric so . C om e fe ito , a ssim c om o p od em os

d iz er q ue e ve nto s e le tr ic os e m urn c omp ut ad o r c or re sp on d em a s u a cap ac id ad e

de s or na r n ume ro s, u rn f un cio na lis ta p od e afirmar qu e pode mo s de sc obrir que

e ve nto s c er eb ra is c or re sp on de m a q ue p en sa rn en to s. P orta nto , 0 fu nc io na lisr no

leva eo m onism o. H a apenas urn t ip o d e c oi sa , e mb or a n iv eis d if er en te s d e t eo ri a

sobre ela,

OJullciolWlisl110 corneca com lim a analogia entre computadores e mentes.E le na o d iz q u e c ompu ta do re s (em m entes. M as se cx am in arm os os argum en-

to s fu nc ic na lista s c uid ad osa me nte , v ere rn os c om o e p os siv el a ca ba r a fir m an do

que eles podcrao ter m entes, em bora nao as tenharn ainda.

.~' .~

1.5. Por qu e dcve haver uma teoria funcionalista?

M as antes dc cxam inarm os algum as propostas funeionalistas m ais deta-

lhadam cntc, sera util im aginar por que razao alguem acha que deve s.r possi-

v el c on stru ir u ma tcoria funcionalista.

Na sccao 1 .2, eu propus duas perguntas a que um a teo ria da m ente dever ia

responder : "0 que justif ies nossa crenca de que outras m en tes existem ?" e"C om o podem os explicar as re lacoes da m en te com 0 c or po ?" 0 f un ci on al is -

1110 responde a s eg un da p er gu nta de um a f or ma b as ta nte s im p le s: 0 corpo de

ulna pcssoa e aqu ilo qu~ tern os cstados que funcicnarn com o sua m ente . E xa-

tam ente como as partes flsicas que compoern 0 "corpo" do term osta to sao

a qu il o q ue f un ci on a ':01110 s en so r c alo ric o, in te rr up te r e a qu ec ed or , a ssim ta m-

be m 0 "h ard wa re " Ilsic o d e u rn c om pu ta do r e 0 que tern os cstad os q ue opcrarn

segundo 0 programs.

M as c on sid cr c a go ra 0 q ue c sta im plic ito n cs sa rc sp os ta fu nc io na lista p ara

a primcira pcrgunta. Tel ' uma mente, dizcm os funcionnlistas. c te r estados in -

tcrnos qu e funcionam de um a d ctcrm in adn m ancira, um a m an eira qu e determi-

na com o a pessoa ira rca g il' a urn estim ulo - na form a de sensacoes e percep-yoes. A respo sta no problem a de outras m en tes, po rtanto, dove ser q ue sab em os

so bre outra s m entes porque tc mos cvidcn cia de que as p cssoas tern estado s in -

te rn os q ue fu nc io na m d e r na nc ira c or re ta . E , re al m en te , te rn os e ssa e vid en cia ,

C 0l1 10o s c orn po rta mc nta lista s in dic ara m. A s p ess oa s c om m en te s a ge m d e c er-

tas form as que sao provocadas por aquilo que esta ocorrendo em suas m entes e

aqu ilo que esta o corren do em sum , m entes e p rov oea do por coisa s que ac onte-

ce rn a scu rcd or, U rn m otive) para ser funcionalista e , p or ta nto , q ue is so lh e p er -

m ite re fu ta l' a a flrm ac ho c ar tc sia na d e q ue a s m en te s sa o e sse ne ia lm en te p rlv a-

d as , q ue s o voce pode saber 0 que se passa em sua m ente. 0 a rg um en to d a lin -

guagcm privada de W ittgenstein nos da um a razao para duvidar que as m entes

possum scr csscncialm cntc privadas. V crcm osno proxim o cap itulo por quem uitos f ilosofos a credita m que n ada do que cx istc pod c scr con hec ido a pena s

po r limn pcssoa. Pois a tesc de que ex istcm co isas que nan podcm , m esmo em 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 12/54

3 6 • I N T R O D U C A O A F IL O S OF IA C O N T EM P O R A N EA

p rin cl pi o, s er c on he ci da s p or qualqucr p cs so a p ar cc cm c on tr ud iz cr alguns 1 : - 1 -

basicos sobre 0 c on he ci me nt o. P ara e sb oc ar csscs argumentos agora,

eo teria q ue ultrapassar 0 tem a deste capitu lo . M as q uando voce tiver lido 0 q ue

d ig o n o proximo c ap it ul o s ob re veri f icacionismo, e p os si ve l q ue q ue ira pensar

o utra v ez se o s fu nc io na lis ta s te rn o u n ao ra za o q ua ndo a firm am q ue a te oria d e-

les tem a vantagem de rejeitar a tese de q ue a m ente e e ss cn ci alm en te p ri va da ,

1 .6 . Func iona l ismo: ur n p ro ble ma in ic ial

o q ue e u d iss e a te a qu i so bre 0 funcionalismo e muiio abstrato. P ar a q ue sc

to me m ais plausivel, p re ci sam os c x am i na r ur n caso ma i s co nc re t o. Falernos de

crencas.

P ara urn funeionalista, c rencas sao caractcrizadas com o cstados q ue silo

causados p or s en sa co es e pcrccpcocs.do t ip o a dc qu ud o c q ue p od cm c au sa r ou -tras crencas, e que interagem com desejos p ara pro duz ir a c;a o. Assirn, por

exemplo.ver um ceu c in za fa z c om que cu a cr ed it e q ue 0 ccu csta cinza, 0 qu e

p od e le va r a q ue eu acredite q ue vai chover, e i ss o p od e f a ze r com que eu leve

meu guarda-chuva, porque nao q uero m e molhar, Aqui 0 estimulo e sensacao c

percepcao e 0 re su lta do e a ca o; o s e sta do s internes que m ediam entre os dois .s ao c re nc as e d es ejo s,

HA um problem a im ediato e 6bvio para qualqucr PCSSO<1ue que i ra dizcr 0

questlo crencas em uma te or ia d es se t ip o. Lcmbrc-sc de que UIl1 funcional isla

di z 0 qu e e um e sta do in te rn o d o s iste ma d cs crc vc nd o s ell p ap cl fu nc io na l: di-

zendo com o ele funciona m ediando entre 0 estim ulo e 0 re su lta do e m im era -

9 a O com outros estados in ternos, S uponham os q ue ell tcnte fazer isso no caso

de uma c re n ca e s pe c if ie a - digamos, a crcnca d e q ue o cc u esta cinza. E possi-

vel q ue voce ache. q ue pode dizer com bastante p rc c i sao 0 q ue p ro vo ca ria e ssa

c re nc a. O lh ar para cim a, com os olhos abcrtos c e st an do p lc nam cn tc cons-

c ie nte , n a direcao de um ceu cinza devcria sc r a rcsposta Maso problema 6

que isso nao e um a cond'cao ncm necessaria nC111suficicntc para ndquirir

essa crenca, N ao 6 necessaria porq uc voce podcria adq ui ri I' a c rc nc a de v ariu so utra s m an eira s: o lh an do p ara 0 reflexo do ccu em ur n la go , p or e xe m pl o, ell

ouvindo a previsao do tempo. Nao 6 suficicnlc p orq uc , e m c irc un st an ci as

apropriadamente e st ra nh as , v oc e p od eri a a cr ed it ar . corn n lg uma I ': lZ aO , qu e 0

ceu nao e stava cinza em bora parecesse cinza. (Im agine , por ex em plo , q ue eu

IhcL gi_g_a ue pus lentes de c ontato cinza nos scus olhos cnq uanto voce dor-

m ia; e que voce acreditou em m im . Nesse caso , seria m uito cstranho sc voce

a cr ed it as se q ue 0 c eu e sta va c in za q ua nd o p are cia c in za .) 0PO ;1t oma i s g e ra l ,

c om re la ca o a o e stim ulo , e q ue em bora a cvidenc ia de scus sentidos possa Ihe

levar a um a crenca espec ifica - no caso , de que 0 ceu csta cinza - isso vai de-

pender das outras coisas em que voce ere.

U m problem a sem elhante surge com 0 re sulta do , c mbo ra a qu i a q uc sta o

se ja a in da m ais e om ple xa . P ois 0 q ue voce Inz com i){ lse n a crcnca de q ue 0 cell

1 . A M E N T E • 3 7

es t a cinza vai depcndcr nilo sb das outras c rcncas q ue voce tern - p o r e x emplo,

v oc e a crc dita q ue c cu c in za "significa" chuva? -m as tam bem dos seus desejos

- per c xem plo , voc e q uer evitar se m olhar? P ortanto , enq uanto q ue no caso do

s en so r c al or ic o e m l im te rm os ta to 0 efeito do estim ulo nao depende de um nu-

rn ero in dcfin id am en te am plo d e o u tr os e s ta d os internes, no caso de um a c re nc a

mental, ccorre 0 contrario.

N a b usc a d e u ma m an cira de lid ar c om e ss a m aie r c om ple xid ade , a a na lo gia

co m 0 c om putn do r p ed e se r u til. P ois , n este a sp ec to , o s c om puta do re s sa o m ais

parccidos com a m ente q ue os tc rm ostatos, O s resultados de in troduzir urn nu-

m c ro em U1 1 1o rn pu ta do r dependent t a1 11 be 11 1e u ma s cr ic c om p lc xa d e e st ad os

in ternes. se c u p us cr urn "=" em urn p ro gr am a p ar a s om a l' d ep oi s d e c ol oc ar "2"

scguido de "+" scguido de outre "2", cntao ()rcsultado sera "4"; mas sc e u p us er

o l 1l eSI 11Osinal "<", dcpois de colocar "4" scguido de "r". scguido de "2", cnt i to

o r cs ulta do s er a " 6" . N o c nta nt o, a in da ( cr em es ur n p a pc l I u nc io n al para c ad a c s-

t ad o i nt ern e d o s is te m a: P O dC 11 10 Sa zc r i ss o d iz en do , p or exernplo, q u e q ua nd o 0

program a de som ar csta no cstado funcional de ter ur n "2" arm azcnado, se en-

t ra rJ 11 0S" ", ," s eg uid o p or q ua lq ue r n um e ra l " n" , s eg ui do d e '>". 0 r es ul ta do s er a

o n umer a l "11+2", A e str at cg ia g en ii e a s eg ui nt c: p re ci sa rn os espccificar 0 papel

fu nc io na l d e urn e st ad o A , d iz en do 0 q ue o co rr era , p ara q ua lq uc r e st irn ul o, s e 0c om pu ta do r e sti vc r n o c sta do A , 1 I1 <1 Se urna m aneira q ue dependa de q uais sao

o s o ut ro s c st ad os i nt ern es .

P crta nto, p ara u ma c xp lic ac ao funcionalista da crcnca de que 0 c cu e sta

cinzapodernos dizer, em tcrrnos de cstirnulo , q ue esse sera e au sa do o lh an do

para o ceu cinza, contanto que voce nao crcia que ha algum m otivo para que 0

cc u deva p arc ce r c in za m es mo quando nfio csta c in za : e q ue s er a t am be rn c au -

sado se voc e adquirir q ualq uer outra crenca que. a seu ver, e evidencia de q ue 0

c eu e st a cinza. E, em terruos de r es ul ta do , p o dem os d iz er q ue te l' um a determi-

n ad a c rc nc a o(a) lcvara a r ea li zu r a qu cl as a cf ie s qu e mclhor satisfazem seus de -

sejos _._cj<1111lcs quais forcl1l- sc 0 CCU cstivcr rcalmcnte cinza. Quais acoes

voce ach a q ue ira rca liz ar va n d cp cn dc r, p OI' su a vez, d e s ua s o ut ra s o re n- as .

P od e p ar cc er q ue a in da n 50 s olu ci on am os 0 p ro ble m a c om 0 q ua l c om e ca -

m os. P ois c sta d cfin ic ilo d a c rc nc a d e q ue 0 c el l c sta c in za a in da p arc cc definir a

c re nc a e m te rm os d e ou tros c sta do s de c rc nc a c d e d csc jo , e c ssc s o utro s e sta do s

tarnbem p rc ci sa m d e d ef in ic oe s fu nc io na li st as , V oc e bern q ue p od e p er gu nt ar ,

sera q ue cstc tipo de dcfin icao nao vai scr circular? V am os defin ir a crenca de

q ue 0 ceu esta cinza parcialm ente em te rm os do q ue isso vai leva r voce a fazer se

v oc e a crc dita q ue c cu c in za s ign ific a c huv a; m as n ao v arn os te l' q ue a cre dita r n a

c re nc a d e q ue c cu c in za sig nific a c hu va p arc ia lm cn tc e m tc rm os d aq uilo q ue iss o

vai levar voce a fazer quando acredita q ue 0 c eu e st a c in za ?

lsso c urn problem a real se voce q uc r usar dcfin icocs funcionalistas, m as

IH \ lim n c st ra tc gi a q ue n os p cr mi tc r es ol ve r 0 p ro bl em a c vi ta nd o a c ir cu la ri da -

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 13/54

• . I N TR O DU C Ao A F IL O S O FI A C O N T EM P O R A N E A

'<10",""lJ"<;I1 essa e stra te gia no caso de crcncas C e xtrc ma mc ntc c om plic ad o ..

e u m a boa ideia, um a vez mais, COI11Cy ar corn urn caso 111a i s s imp l es .

.Uma teoria funcionalista e simploria da dol'it~;t~,' : : - :

/. A do r e u rn e st ad o m e nt al . Suponhamos qu e c sta mo s tc ntan do p ro du zir

u m a. te ori a f un ci on al is ta d el a. C om e ca rn os p or ju ntar to das as vcrdades qu e

no rmalmen te a c hamos qu e ur n estado mental deve satisfazcr para sc r um a dor.

o £1 16 80 foa me ric an a N ed B lo ck su ge riu u ma m an cira d e fa ze nn os iss o, p ara

aq uilo q ue ele cham a de "teoria ridicularncnte simples" a que charnarcmos de

"T", em que

T: A dor e causada por a lfinetadas e provoca prcocupacao e a cm issiio de

s on s m u ito a lt os e a p re oc up ac ao , p O I's ua v cz , p ro vo ca f ra nz im c nto d a t es ta .

T e ridic ula me nte s im ple s. M as m es mo a ss im p od cm o s u sa -l a para clarificar

alguns pontos ge rais sobre as teorias funcionalistas du mente, Pois co m csta

s im ple s te oria p od em os v er c om o a acusacao de c i rcu la rid ade pede SCI 'evitada,

Portanto , com ece mos com T . V am os cscrevc-la CI11 um a frasc. A scguir

substituimos to da s a s referencias a dor - verdadeira o u p o tc n c ia l - na frase, por

u ma le tra e c ad a o utro te rm o m en ta l d ife re nte P Ol'uma l ct ra d if cr cn tc , p ar a o bt cr

T': X e ca usada por alfine ta da s e provoca Y ea cm issao de sons m uitc ,d-

to s e Y , po r su a vez, p ro vo ca fra nz im en to d a te sta .

O bserve que agora tem os um a frase, R , scm urn u ni co t cr mo mental. El a 110S

pe rm i te d i ze r c om o a d or fu nc io na sem d cp cn der , d e um a mancira c ir cu la r, d e

. s ab er 0 qu e e p re oc up ac ao po rq ue , e m u ma te oria fu nc io na lista p erfe ita , id a-

m os d efi ni r p re oc up ac ao m a is t ar de . Ago ra , f in a lme n tc , podcmos definir 0 q ue

signific a para um ~ pessoa se ntir dol', Pois podem os dizer q ue algucm - varnos

chama-la de M ary - sente dor se ex istem dois estados d e M ary , 0 e sta do X e 0

estado Y , em que X e c au sa do p or a lfin cta da s e c au sa Y c a cm issao de sons

muito a lto s, e Y, por sua vez , causa franzimento d a t es ta e Mary tern X. Se

M ary tem esse estado, um estado que funciona dessa m aneira, en tao ela estasent indo dor.

Ora, T e , com o e u disse acirna, a bs ur da rn cn te s im p le s. Mas pcrmitiu-nos

. p e rc e be r com o defin ir um estado m enta l - dor - que so pode ser e xp li ea do C I1 1

te rm os d e s ua s in te ra co es C O I1 1u tro e sta do m cn ta l- p rc oc up ac ao - sc m p re su -

mirque p od em o s d ef in ir 0 o ut ro e st ad o ment al p rim ci ro ,

1.8. A s ol u~ a o de Ramsey para 0 problema inicial

A gora q ue vim os com o resolver 0 problema d e d cfirn r lim e sta do mental

s em p re su mir, c irc ula rm en te , q ue ja d cfin im os a lg un s o utro s, v am os v cr c om o

fazer 0m es mo n o c as o d a c re nc a. S e te nta rm os fa ze r iss o c om c re nc a, p rc cisa -

r l n m o s m u lto m a i s lctrns do que "X" c "Y". Ch:tlll:tI1\(\S l'~:sns le t rns ,Ie "varia-

1. A M E N T E • 3 9

veis" c cbs funcionam de um a m aneira que cxplicarei no capitu lo sobre lin-

guagem . M as 0 p ro ce di me nto s eri a e xa ta m en te 0 m es rn o. P rim eira me nte e s-

crevcrlamos todas as afirrnacoes sobre crcncas e desejos e evidencia e acao qu e

achamos que 11 l1 ' ac r ia t ur a qu e tivesse m en te d ev eria te r. E sse c orp o d e id eia s eaq uilo q ue algum as vezes e c ha ma do d e "p sic olo gia po pu la r": e 0 c on se ns o

com partilha do em nossa cultura sobre com o funciona a m ente, a "teoria " q ue

aprendcmos a m cd id a q ue varnos c re sc en do . S e juntarrnos t od as a s a fi rm a co esd a ps ic olo gia p op ula r c om "e" tcremos uma frase muito lo ng a e e ssa se ra n os sa

te oria fu nc io na lista d a m en te . C ha me e ss a fra se d e T M (p ara "te oria m en ta l").

De TM, tirariamos entao to do s o s termos mentais referindo-se a crencas e de-

scjos c as substituiriarnos por "variaveis". 0 resultado d isso c ha ma ria mo s d e

T Mo , F in alm en te , p ara c ad a v aria ve l, d ev cria mo s e sc re ve r "E xis te u ma .... " n a

frente de TM" e te ria rn os u m a n ov a fra se , q ue n ao c on te ria n en hu m te rm o m en -

tal. E ssa frase (; c harna da fra se-R am sey da te oria T M porq ue foi 0 fil6sofo in-

g lcs Frank R am sey q ue invcntou esse proccdirnento . A frase-R am sey da T M

diz, co m cfeito, q ue algo q ue tern um a m ente tem inumeros e s ta d os i n te n -o s -

lim p ara c ad a v nria ve l-· q ue in te ra ge m c om e stim ulo s e e ntre si d e m ane ira s e s-

p ec ific as , pa ra p ro du zir tim c om po rta me nto d ete rm in ado . (C ha me i a v ersa o fi-

nal da tcoria sim ploria da dol' de "R " porq ue cia nada m ais e q u e a f ra se -R am -sey dcssa teoria.)

N o item 1.4 . eu d iss e q ue m uito s filo so fo s q ue e sta va m p re oc up ad os c om a

q ue st ao d e o utr as m e nte s d cs ej av am SCI ' c ap az cs d e d cfin ir e sta do s m en ta is d e

lim a m an cira q ue p os sib ilita ssc , p elo m on os e m tc oria , q ue lim a p es so a s ou be s-

s c s em p re 0 q ue esta succdcndo na m ente dos dcm ais. O bse rve q ue essa teoria

f un ci on al is ta . .c st ab cl cc id a d a m a nc ir a s ug cr id a p O I'Ramsey, p ar ec e t or na r i ss o

p os si vc l. P o is 0 m ctodo de R am sey nos pcrm itc dcfin ir dol' ern te rm os d e s ua s

c au sa s e c fc ito s, sc u pard f un ci on al, d e t al rnancira q ue , s e t iv erm o s e vi de nc ia

d e q ue o s c sta do s in te rn es d e a lg uc m fariam c om q ue e ss e a lg ue rn re ag iss e p u-

blicamcntc , de ccrta m aneira - fran zind o a t es ta , p O I'cxernpio, e e mitin do s on s

forte, - ~m reacao a c er to s eventos publicos - alfinetadas - teriamos a eviden-

c ia d c qu e clcs cstavarn s cn ti nd o d ol '. E i S5 0 n os p cr mi tir ia f az er tais c oi sa s s em

q ue Io sse n ec es sa rio sa be rm os q ua lq ue r c oisa s ob re o s o utros e sta do s in te rn os

- nessc C 3S 0, preocupacao - a nao SCI ' q ue c lc s ta mb cm tiv cs sc m c erta s c au sa s e

efcitos qu e poderiam, n o f in al , ser o bs er va do s p O I' aq ui lo q ue a s p es so as f az em .

Pois a frasc-R am scy 56 c vcrdndcira em rclaca o a lim a pcssoa sc - e unicam en-

te sc - essa pessoa tivcr urn sistem a de estados in ternos q ue produza 0 padrao

adequado de respostas c om o re su lta do - neste caso, franzimento d a te sta e s on s

a lto s - a u rn e stim ulo d ctc rm in ado - n es tc c as o, a lfin eta da s.

No caso m ais cornplcxo de crcncas, com o vim os, podernos proceder da

m csm a m ancira. M as aqui, s im plesm entc porquc 0 caso e m ais com plexo e ha

um num ero tao m aier de estados in ternes, po de SC I ' m u it o d ifi ci l, n a p ra ti ca ,

d csco hrir so r ca lm cn tc cx istc lint cornplicado padrao d e p re di sp os ic oe s a de -

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 14/54

I N T M D U C A o A F iL O S O FI A C O N T E M P O R A N E A

p ara rea gir ao es tlm ulo . P ortan to , cm bo ra p erm itilld o q ue ICVCIl10~ a s e -o s e sta do s m en ta is , 0 fu nc io nalis mo ta mbcm n os p erm ite n crcd ita r qu e

s er mu ito d if ic il- n a v er da de , p ra tic am en te i1 11 po ss iv el- p ar a u m a p cs so a

qu al qu e r a lem , ta lv ez , d a p r6 pr ia pessoa qu e o s possui, dcscobrir algo sobre

eles, ( Dir ei a lg o s ob re c om o u rn f un cio na lis ta explicaria no sso c onh e cimen to

de nossos pr6prios estadcs m ais tarde, na sccao 1.11.) E n es sc s cn tid o q ue 0

funcionalismo esta a m eio caminho e n tr e De s ca rt es c () comportan'Cl1talis111o.

P ois D es ca rte s, c om o v im os , d eix ou em abe rto a p oss ibilid ad e d e q ue alg uc t1 1p od eria ter e sta do s m en ta is s obre cu ja ex is tcn cia n en hu rn a outra p es so a s ub e-

ria, m esm o em teoria. 0 funeionalism o rejeita isso. Q ualquer evidencia da

existencia do padrao a deq ua do (e e xtre rn am en te c om p lc xo ) de prcdi spos i< ;cC ' s

seria evidenciade s eu s e sta do s m en tais. P ara 0 cornportamental ismo, UI11 esta-

do m enta l nada m ais e do q ue um a predisposicao para respond er a um cstimu-

10.0 funcionalismo tambem r ej ei ta i ss o . 0 qu e alguern co m um a dcterminada

c re nc a fa ra q uan do es tim ula do (a), af irm a 0 funcionalista, v ai d ep en de r tam -

bern de s eus ou tr o s e st ad os i nt er n o s.

1.9. Funcionalisrno: urn segundo problema

Em 1.1., eu disse que d e um ponto de v is ta c pis tc mo lo gi co , p ar cc ia p la us i-

v el d iz er q ue M te m u ma m en te. N as u ltim as tre s sCyocs c st iv cm o s c x am i nu n-

do a perspectiva fu ncio na lista s obre m en te d e ur n p on to d e vista csscncia lmcn-

te ep is tem o1 6g ico . V im os q ue 0 f un cio na lis mo o fc rc cc lim a r cs po sta p la us iv cl

para a questao da m ente de outras pessoas. M as do po nto de vista Icnorncnolo-

g ico ,q ue n eg av a q ue a s m aq uin as p od ia m te l' m en te s, 0 f un eio na lis mo n ao p a-

. r ec e assim ro o atrae nte. P ois , se 0 f un ci on al i sm o c st a ccrto, e , t el ' U l n a m e nt e 6

te r ce rto s es tad os in tern os q ue fu ncio na m d e um a man ci ra dcterminacla, entao

qualqu er coisa q ue tenha estados que fu ncionem de m aneira corre ta tern lima

m ente. 1sso parece ter com o consequ encia que sc urn cornputar 'or t iv c ss c e s ta -

d os in te rn os q ue fu ncio na ss em d a m an eira co rreta , e le tam bc m te ria lim a m en -

te. O ra , d iz 0 f en om en o!o gis ta , is so c sta c rra do . N ao b as ta te l' e sta do s in te rn esq ue r ea ja m d a m an eira c or re ta ; e p reeiso tam bcm que voce tcnha um a vida in-

terna . E ssa vida intern a tem que ter 0 tip o d e n atu re za p ro po sta p or D es ca rte s.

Tern que ter um a vida m en tal conscicntc. E u m a m a qu in a p od er ia c or np o r-

ta r- se d e m an eira co rreta se rn p ro ble mas sc m te l' q ua lq uer v id a m en tal.

.- S e_o s f en omeno !og is ta s cstjto cortes, scgue-sc que () f ll nc iona li s l11o nao

c on se gu iu cap tu ra r a es se ncia d o q ue c te l' u ma m en te . P ois se clcs cstfio ccrtos,

u rn fu ncio na lista p od eria d iz er q ue u ma criatu ra (o uu ma m aq uin a) tin ha m en te

porque tinha estado s in ternes com as funcoes co rrcta s, ern bo ra n a v crd ad c c ia

nao tivesse u ma m ente porque nao tinha um a vida in terna. P ara entendcr cssa

o bje c;a o a o fu nc io na lis mo , p re eis am os p rim eiro te n t ar SCI' urn p ou co m ais p rc-

c is os s ob re 0 q ue "te r u ma v id a in te rn a" s ig nif ic a. 0 IC l1 omcno lo g is ta n o rma l-

m en te ex plica is so d iz en do q ue a d iferc nca en tre u ma criatura c om v id a in tc rn a

1 . A M E N T E • 4 1

c lIt'1U criatura . se n~ v id a in tc rn a (: q ue I U l lima s cn sa cao c sp cc if ic a a s so c i a d a

co m IeI' l im it V id a i nt cr na m as nao com I1clO t el ' l im a v id a interna. O u seja, se

u m a p es so a tern um a e xp er ic nc ia - digarnos. se ela ve urn objeto verm elho -

p od er no s l he ?C rg u ll ta l' ( 1 U : s ~n sa< ;ao tev e a o te l' aq ue la e xp erien cia. S e, p or

e xe mp lo , v oc e, COP10 e u, n ao e c cg o( a) n em d alto nic or a) , sabera qu e sensacao

tern ao ver lim objeto vermelho,

Suponhamos flue houvesse uma maquina qu e fosse sensivel a c oi sa s ver-

mel has e q ue tiv cs se e sta do s internes qu e 3 levassem a d iz e r "isso e vermelho"e a fazer t od a, ~ a s e oi sa s. qu e a s pessoas fazcm quando tern informacao visual. 0

f en om cr :o lo .g ls ta a ~re dlta q ue m cs rn o a ss im n ao p od er ia rn os estar se gu ro s d e

que a m aq um a sabl~ que sensacao tinha q uando via algo verm elho. E p or is so

qu e 0 fe l ,I011'~CnologI5taaeha que 0 fu nc io na lis ta p od e e sta r e rra do q ua nd o ju lg a

qu e a m aqum a tern mente .

C om o s olu cio nar e ss a p olem ic a e ntre 0 fc no me no lo gis ta e 0 funcionaJista?

Podera SCI' ~til, a m cu ver, exarninar tu do is so a lu z d e e xe mp lo s e sp ec if ic os

limn ve z mats: C, co mo v~re1 110S ,M c a sua m ac nos da o p rc ci sa rn en te o s t ip o s

d e c x cm p lo s de qu e prCCI~;al110s.

1.10. M outra vcz

M e ra u ma m aq uin a flu e, e m to da s a s s itu ac oc s, s c c om p or ta ria e xa ta me nte

com o sua m a e . A lim a m aq uin a q ue (~co ns tru id a p ara tcr o s cs tad os i.itern os

q ue f un cio na m C 0l1 10a m en te h um an a p od em os c ha ma r d e f un cio na lm en te e qu l-

v alcn te a lim a p es so a. Iv ! e sua mae sao funcionalmente e qu iv ale ntes . M as o s

f cn om en olo gis ta s tc rf io a titu dc s d if er cn tc s c om re la ca o a e la s. 0 fe no rn en olo -

g i st a d i ri a :

CO I: l0 6 qu e ell sc i sc M sabc, assim com o sua m ae sabe, qual e a sen-

sacao qu e sc tern ao vel' algo vcrmelho? S ua m ae , c re io eu, r e al men t e

sabc, porque cla, como ell, 6 um se r humane. Tenho motivos parapcnsar qu e sercs humanos com visao normal sabcm a scnsacao qu e

v ~;r algo v crm clh o p ro vo ca. P ois cu sci c om o 6 cssa sc nsacao , e a cre -

dito qu e o ut ro s s or es h ur na no s sao com o cu.

o fur.cionalista responde:

T o da a e vid en ~i a qu e voce tern d e q ue su a m ae sa b e q ue scnsacao el atern quando vc algo vcrm clho, origina-sc daquilo que cla diz c faz .Como Mfa? 0 mcsmo, 6 p ou co r az o av cl a cr cd it ar q ue s ua mac tern

mente c M nfio,

O bse rv e, p rim ciro , q ue l1 ao p od cm os ap olar p ara q ualq ucr ev id en cia p ara

reso lv er a p ole rn ica. M esm o q ue c stiv ess ern os d isc utin do u rn a m aq uin a d e v er-

d ad e em v ez d e u n.1 <1m aq uin a h ip otetica , n ao n os a ju daria, pOl' e xc mp lo , p er -

g un ta r '~ cl~ s e sa bl~ l q ue s cn saca o ~ in ha q uan do v ia a lg o v erm clh o. P ois q ual-

quer maqurna fu ncionalm ente cquiv alcntc a sua m ac diria "sim " se voce the

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 15/54

;·_c"~

l i ~ ~ : - ' - ' < '~~~~2' I N T R O D U C A o A F I L O S O F I A C O N T E M P O R A N E A

,i:~ ,': pe rg un ta ss e s e s ab ia q ua l e ra a s en sa ca o q ue tin ha q ua nd o v ia a lg o vcrmclho,

'~i~" justamente porque isso seria 0 que sua m ac iria d iz er. S e v oc e n a o a c rc d it as s c

~;que a maquina d is se a v erd ad e, p od er ia te n t ar testa-ln. d a m c sn ;a maneira ql~r.;

'ivoce poderia te nta r te sta r s ua m ae s e suspeitasse qu e ela era daltonica. Mas seja

"fo que for que sua m ae fizesse no teste, a m aqu in a tam bcm faria. Portanto po r

" ma io r q u e f o ss e 0 numero d e t es te s, v oc e a in da n ao te ria um_1110t l\Opara d l z~r,

so bre a maquina, a lg um a eo is a qu e nfio diria sobre s ua 1 11 ae ,A prcoeupaya~

qu e 0 fen om en olo gis ta tem de q ue M p oss a n fio tel' es ta do s m cn ta is nu nca seras ol uc io na da c om 0 tip o d e e vide nc ia q ue n orm alm cn tc no s co nv cn cc d e q ue a s

p es so as o s tern.Isso j a e uma situacao bastante estranha, j a q ue n orm al me nt e achamos que

p ode mos p erceb er se a s p es s o as s ab ern q ua l e a s cn sa ca o q ue _ tem , p or eX ~I1 1-

p lo , q u an d o veem algo vermelho simplesmcntc t e st an (~o a rcacao d e l. as ~ coisas

v erm elh as . N o e nta nto , a pesa r d e q ue n en hum a q ua ntid ad e d e cv id en cia p ~d c

s olu cio na r a q ue sta o, a eo nv icca o d e qu e ha um a du vid a rea l s c uma m aq ui na

assim teria mente e b as ta nt e c om um , mesmo entre filosofos. No c api tu lo sc-

g uin te e sta re i e xa m in an do a lg un s a rg um en to ~ q ue d ef cn d::m a i~ ci a ~ e q ~I C,s e

n en hu ma q ua nti d ad e d e e vi de nc ia p od e d ec id ir uma q u es ta o , e nt ao ; la o h ~ U 1 ~ a

q ue sta o v er da de ir a. O s q ue a cre di ta rn n is so s ao c ha m a do s d e v cr lf lc ac io nts -

tas. E se 0 v er if ic ac io nis mo e sta c er to , o f en om en olo gis ta d cv e e sta r e rr ad o,

M as m esm o q ue 0 fen om eno log is ta es teja eerto em a ch ar q ue s o a s pe s~ oa ~

q ue te m v id a interna podem t er a lg u ns estados, t a!s c om o v cr queaiguma coisa e

vermelha, ha o u tr o s e s ta d os mentais p ara o s q ua is IS 80 parecc na o scr verdadc.

Pense um a vez m ais em crencas. Norm alm enle nao falam os em "saber a

s en sa ca o q ue se tem a o te~ u m a crenca", E claro, temos crencas - inconscie~tes

_ d as q ua is nem s eq ue r e st am o s c ie nt es e a te m e sm o n os sa s e r~ n ya s c on _: ;c lC n -

tes na o tern u ma "sen sa c,;a o" es pecia l q ue a s a co mp an he. Q ua l e ? s en sa ca o . qu e

s e t er n q ua nd o s e a ere di ta c on sc ie nte me nte q ue 0 p re sl~ c!:te e sta e m W a sh in g-

ton.ou q ue b ata tin ha q ua nd o nascc csparrama pclo chao! ,

S e i ss o e v er da de , m e sm o se 0 fenomcno log i st n t inha r az ao e m su a SLlSPCI-

ta com relayao a afirmacao de que M sabe q ua l e a sen sa y~ o de ver algo venue-

Iho isso nso lhe daria um m otivo para duvida r de que M t in h a c re n ca s. E e 01 11 0o fu nc io na lis ta in sistiria em a firm ar, 0 m otiv e q ue v oce te ria p ara a ch ar q ~e M

. re al me nt e t in ha c re nc as e 0 mesmo que voce tern para achar que sua mac as

tern. Mas as c rencas sa o ur n a s pe c to b a st an t e importantc d a m e nt e da s pcss.oase8e1e r crencas e 0 ba sta nte pa ra q ue se ten ha urna m en te , e nt~ o, c om o e ,u disse

antes, e p os siv el q ue terminemos s us te nta nd o q ue as mc ' lq u lnas podcnam .cr

mentes, mesmo q ue a in da na o as tenham.

1 .1 1. A consctencla

o c em e d a p ole mic 3 e ntr e o s f un ci on alis ta s c ~ ~ f cn om en olo gis :a s p al 'e ce

r es id ir , e nta o, em s l in s c onccp«ocs dn c()llsciCllci.\. ~:;l 'cXIsICll1Oil nan cs li l( \ns

1 . A M E N T E • 4 3

m cn ta is - co mo crcn ca s in co nsc ien tes - q ue n ao e sta o n a c on scien cia , e bern

verdadc, tarnbcru, q ue e xis te m c st ad os m cn ta is c on sc ic nte s. ( Sc existern esta-

des m cntais inconscicntcs, cn tao terao que ser captados de algum a m aneira

nao-caricsiana. COIlIO D es ca rt es d is sc q ue o s c sta do s m en ta is e ra rn 0 conteudo

d a m en te c on scien te , p ara de a id eia de lim es ta do m en ta l in co ns cien te s eria

lim a co ntra dica o em tcrm os .) 0 q ue, s eg und o 0 f un ci on al is ta , s er ia 0 a sp ee to

c ar ac tc ri st ic o d os e st ad os m c nt ui s c on sc ie nt es ?

Lima possibilidadc, q ue fo i s ug er id a p elo fil6sofo britanico Hu gh M e ll or(que pOI ' acaso fo i lim de meus professores), 6 d iz er q ue o s e st ad os e on se ie nt es

sao os cstados de nossas p ro pri us m en te s s ob re o s q ua is te mo s d ete nn in ad as

crcn ca s; s ao a qu ctcs d os q ua is cs ta mo s eien tes em lim d ad o m em en to . A ssim ,

lim a crcn ca co nscicn te d e q ue es ta ch ove nd o esta ra p res en te, seg un do e sta ex -

p lica ca o, q ua nd o c rc io qu e n es tc m em ento a cred ito q ue es ta ch ov en do . C ha -

memos U1113 c rc nc a s ob re nO S5 0 es ta do m en ta l a tu al lim a cren ca "d e seg un da

o rd ern ", L im a se ns aca o co ns cicn te (d e eo is a v erm elh a, d ig am os ) ir a oeorrer

quando tcnho a crcnca de q ue neste morncnto estou vendo algo vermelho.

o p ap el f un cio na l d es se s e st ad os d e s eg un da o rd em s er a e sp ec if ic a to q ua n-

d o d is se rm os q ue sa o causados p or es ta do s d e prirneira ordem - com o ver algo

vermellio Oll acreditar q ue esta eh ove nd o - e qu e eles d es em pen ha rn u rn p ap el n a

fo rm ula ca o d e n os so cornportamento, sobretudo com rela cao a nos m esm os.

P ois u ma fo rma e ssenc ia l d e comportarnento qu e um a c re nc a a ee rc a d e algurna

eo is a - c ha mcm os cs sa co is a d e "A " - p ode p rod uz ir cu m c orn po rta men to cu jo

o bje ti vo ( : tc r l im c fe ito s ab re A . P or ta nt o u m tip o d e comportamento q u e m i n ha s

c rc nc as s ob rc m cu s p ro pr io s c st ad os a tu ais p ro va vc lm cn te i ra n a fe ta r e 0 c om -

p or ta rn en to c uj o o bjc ti vo e mudar ou manter meu e s ta d o a tu a l.

L im e xe rn pl o o bv io e 0 s eg uin te: C reio q ue h a tim relog io co nfia vel n a co -

zinha. Tam bcm quero saber que horas sao . Portanto vou ate a cozinha com a

cren ca d e q ue s ell ell olh ar 0 relo gio , ire i a cred ita r q ue a h ora c s eja la a q ue fo r

qu e 0 r c lo gio c sta m a rc an do c que isso se ra m a is o u m cn os correto. P ara qu e

c st a l in h a de r ac io c in io f un c io n e, no entanto. e rn u rn dctcrminado momenta te-

n ho q ue esta r cien te d e q ue na o ten ho certez a da h ora e p ara q ue iss o a co ntec a,

do po nte d e v is ta d o funcionalista, t en ho q ue t el' um a c re nc a de s eg un da o rd er n

sobre me u e s ta c io m e n ta l ( at ua l) , S eg u e- so que , d a p e rs p ec ti v a funcionalista,voce so pede exp t ic a l ' pO l ' q ue eu v ou a te a co zin ha pa ra olh ar 0 relog io s e e u es-

tiver conscicnte d a m in ha i gn or an ci a c ia h or a. P ort an to c stc e um tipo d e co m-

p or ta rn en to q ue so p od e o co rr er c om a c on sc ie nc ia .

P or outro lado, se estou dirig indo e 0 sinal a m inh a fren te d e rep en te fica

v cr rn elh o, p os se p ar ar 0 c ar ro , C 01 11 0d iz em os , " au to ma ti ca me nte ": m in ha

cren ca d e q ue a lu z v erm elh a e sta la e m eu de sejo de ob ed ec er a s reg ra s de tran-

site po dem fun cio nar d ire tam en te sern qu e eu chegue a a cr ed it ar q ue a cr ed it o

q ua lq ucr co isa . P orta nto , n es te tip o d e co ncep ca o fu nc io na lis ta , a lg un s co m-

p or tam cn to s p od em o co rr er s cm c on sc ic ll ci a.

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 16/54

4 4 • I N T A O D U C A o A F IL O S O FI A C O N T E M P O R A N E A

H a urn outro tipo de com portam cnto que obviarncnte c x ig ir a a c on sc ic n-

. c ia : d iz er a V O C e ? que eu penso ou d es cjo . P ois a qu i, p re cis e formal crencas

so ~re m eu s p ro prio s e sta do s m cn ta is c de po is d csc ju r c om un ic ar a qu ilo e m q ue

c re io. R ea lrn ente, c om o v ere rn os n o c ap itulo so brc llnguagcm, c om o a c orn u-

nicacao e u ma q ue sta o d e te nta r fa zc r C 011 1 ue a s pc sso as c rc ia m c oisa s a cc rc a

de suas pr6pri.as crencas , to da s a s cornunicacocs c xi gi ra o c rc nc as d e s cgu ll d a

ordem - ou seja, crencas sabre aq uilo q ue ereio no m em ento - c. portanto , cx i-g i rao consc ienc ia ,

A id eia de que tanto essa ida a c oz in ha p ar a dcscobr i r qu e horns sao quanta

a c om un ic ac ao l in gu ls ti ca exigent consciencia C , a mcu vcr , intuitivarncntc

a tra en te , e 0 m esm o ocorre com a ideia de q ue ,I S v cz cs a gim o s Cll111 base em

n o ss as c re n ca s s em q u al qu er me d ia ca o c on s ci cn tc , Com cfcito, p a re cc r az o a-

vel supor que as pessoas podem agir 1 1 < 1 0s 6 s cm m cdia cfio c o n s c i c n l c m a s

q ua nd o n ao estao sequer conscientes. P cs so as in co nsc ic ntc s -- q ua nd o e sta o

dorm indo, por ex em plo - podem fazer coisas c om o m ata r ur n mosquito.

Um a e xp lic ac ao d a c on sc ie nc ia d este m odo fu nc io na lis ta a mp le p oss iv cl-

men te p ro vo ca ra a lg um a impaciencra no fcnomcnologista. Pois 0 aparato cl e cs -

tados de segunda ordem - estados q ue sao p ro du zid os p or o utro s csta do s atu ais c

qu e f ormu lam 0 c om po rta me nto d e urn sis te ma m ud an do o u m an tc nd o scu s pro -prios estados m entais - obviam ente podcria ser reproduzido ern urn androidc:

c om oj a i nd iq u ei , M c erta me nte te m a l i s t a complcia d e c om po rt arn en to s q ue s ua

m a e te rn , i nc lu si ve re sp on de r p er gu nt as e ir v er q ue horas sao . Talvcz, 0 fcnornc-

n olo gis ta p ud esse c on ce de r q ue a e xp lic ac ao fu nc io na lista d a c on sc ic nc ia c ap ta

a lg o so bre a c on sc ie nc ia , d a m es ma m anc ira q ue s ua c xp lic ac ao d :l c rc nc a - c om

se u p ape l n a fo rm ula ca o d o c om po rta rnc nto ---c ap ta a lg o so brc c rc nc a. M as c ia

deixa tota lmente de lado a natureza fenom cnol6giea da conscicncia - q ual c a

sensacao d e se r su a m ae , o u e u, a u q ua lq ue r pessoa com co ns c ie n ci a . E, s cm c ss a

natureza, 0 que voce tem e a pe na s u ma im ita ca o m uito b oa .

Parece que chegam os a um impasse: uma S itU Hy80 em que ja nao tcm os

m ais argum entos e ainda nao chegam os a ncnhum a conclusao segura . D iantc

de urn im passe com o este, po d e s er u ti l perguntar s e h a a lg ur na p re rn is sa qu e ccom partilhada pelas duas parte s do debate - aquilo que cham am os de pressu-

posi~ao com partilhada - q ue precise SCI' cx am inada. S c ex istent bons argu-

. m e ntos d~ s dois lados e os dois lados nao pode rn estar certos, talvez seja por-

q ue os dois estejam errados de algum a m aneira q ue nos passou desapercebida.

U m a ..p re m is sa c om p art il ha da n o d eb at e a te a qu i 6 um a premissa sobrc a mcto-

do f i lo s6fico . E a prem issa de que podem os dcscobrir a csscncia da m ente ou

da c o ns ci en c ia p u ram en tc a traves de urna i nv cs ii ga ca o c on ce pt ua l. V ic mo s

p ro g re di nd o a tr av es d e a l'g urn en to s q ue sa o bascados e m n os sa c om pr cc ns ao

de te rmos-chave, t ai s c om o "crenca" , "C,) l11por tamento", "scnsaci io" . Nan men-

c io ne i q ua isq ue r e xp lo ra co es e xp crim cnta is d a n atu re za d a m ente p or p sic (\io -

gos. (N a verdade, sugeri no eom eyO , :ie C q uc v oc e I c m b r a , q ue e ra i rr el cvHnt c

s ab er se su a miic t in ha t cc id o l'l'I'l'hr:1I l ' I Ii IO el l i p~ <ll' ~iIil' in l 'l ll S ll il c;rhe~'i1!)

1 . A M E N T E • 4 5

A s { micas cxperiencia s q ue considerei sao c xpertenc ias de pcnsam ento on d e

voce p cn sa s ob rc u rn c as o im ug in ar io c p cr gu nta -se 0 q ue d iria s e el e realmente

o co rre ssc , M as v oc e p od e t cr o b jc c oc s a e ss e p lO e ed im e nt o p or v arie s m o tiv es .

E ntre o utra s ra zo cs, p od c S CI're le va nte sa be r sc a s expcriencias d e p en sa -

mente forarn so brc c oisa s q ue p ode rn n a rc alid ad c o co rrc r, N ao e a ssim ta o e vi-

dente, pOl' ex em plo , que possa na verdade e xistir um a criatura com o M . (E pos-

s iv el q ue 0 u ni co ti po d e c ois a q ue p od er ia r ep ro du zi r C O I1 1x at id ao 0 cornpor-tam cnlo de sua m ac scria algo que fossc constru ido , quase que m olecula por

m olccula , ig ua lzin ho a su a m ae . N csse ca so , a maior i a da s p es so as p ro v av el -

m ente a cre dita ria q ue h av ia urn algo cspecifico cq uivalente a ser com o ela, e

c ia c nt fl o s at is fa ri a t an to c ri te ri os fu nc io na lis ta s c om o c ri te ri os fe no m en ol og i-

c os p ara SCI' ment al m e nt e i gua l a sua mae . ) Que impor tanc ia d eve mo s da r anossa rca ciio quando a lguem nos diz q ue algo pode ocorrer q uando, na verda-

de , n ao p od e? OLlsc ja , po r qu e d eve r ia r no s presumir que form as de pensamen-

to que funcionam de um a rnaneira bastante satisfat6ria - em bora precaria - na

vida c otid iana , funcionariam da m esm a m aneira em urn rnundo diferente?

O utro tipo de objeyao m ais basica seria perguntar por que partim os do

p rin cip io d e q ue te rn os e sta dos inte rn os c om o c re nc as e s ens ac oe s. E sta mo s in-

clinados a achar q ue c 6 bv io q ue a s p cs so as tern crencas q uando elas agem , aus en sa yo es q ua nd o a brC I1 1se us o lh os e m u m m un do ilu rn in ad o. M as s6 p orq ue

cssa prcm issu fuz parte de lim pacotc cle prem isses norm ais do senso eom um

na o C n en hu ma g ara ntia d e q ue c sta rn os c erto s. A r.tig am en te a cre dita va -se q ue

algum as pessoas cram obviam ente brux as e q ue havia fantasm as. (A lias, com o

v crc mos n o c ap itu lo fin al, a ind a h a lu ga re s o nd e a m aio ria d as p es so as a cre dita

e m a lg o p urc cid o.) E p oss ivc l q ue 0 m cro fa to de nossas m aneiras de pensar co-

t id ia na s p od cr cm n os l ev ar t an to a o f ll nc io na lis l1 1o q ua nt o it fc no m en ol og ia s u-

gere qU 0 c ss as m an eira s d e p en s al ' s a o confusas. (A f in al d e contas, s e p od em o s

chegar a conclusocs ineompativcis a partir de um mesmo e on ju nto d e prernis-

s as , i ss o d cm o n st ra q ue h it a lg a errado c om e ss as prernissasl) Talvez devesse-

m os re pe ns ar a s o ri ge ns d o e om po rt am en to .

o filo sofo a mc ric an o c ontc mp ora ne o S te ph en S tic h s uge riu q ue , re alm en -

te, 6 possivel q ue ten h am os que fazer justam entc isso . S tich ex am inou inum e-

ro s tra ba lh os re ce nte s so bre p sic olo gia c og nitiv e, 0 ram o da psicologia que

pro cu ra c xp lic ar c om o p erc cb em os , lc mh ra rno s, ra cio cina mo s, to m a mos d ec i-

sfics e dcpois agim os, criando hipotcscs sobrc cstados in ternos m uito serne-

lhantes as q ue existern em ur n pro gra ma de c orn pu ta do r. S tic h a rg um enta q ue

. i l l h {! m uita c vid cn cia n a ps ic olo gia c og nitiva q ue d cm ons tra q ue n os sa te oria

p si co lt )g ka p op ul ar < 6 simplcsl11cnte talsa. Com c fc it o, n a o pi ni it o dele, pode-

m os acabar descobrindo que n1\o h{1 a bso lu ta mc ntc n ad a em n os sa s c ab ec as

q ue fU l1c:ona da rnaneira q ue a psicologia popular sobre crencas e desejos su-

p oc o S e i ss o ( : v er da de . n 1 \ o h av cr ia c re n< ;a s o u d es ej os ! E e nt ao , o ri en ta d~ s p ela

psico 1 o gi a c o); ni ti va o u p el a n ell ro ci cn ci a ( Ol l ta lv e7 . a l gu m o ut ro c am p o e ie nt i-

 

1 . A M E N T E • 4 7

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 17/54

r U C jH I II ll U ,lj qu e on ti nu al ' t en ta nd o e nt cn d cr a s c au sa s p ar a ( )cornportnmcn-

d e e st ~d o s i nt er no s b as ta nt c d ifc rc nt cs d aq uc lc s no s ' Iu a i> c st a -

,,"''''''ll'''",U''1J. E po r isso qu e 0 subtitulo d o liv ro de Stich, From [o lk

'J""'.v"v;:.y t o c og n it iv e s ci en c e (D a p si co lo gi a p op u la r ,I cicncia co gnitiva) C

, ag ai ns t B e li e/CO caso contra a Crenca).

A essa possibi l idade, um a resposta natural s cr ia d iz er q ue m e sm o qu e a c ie r. -

a ca be d em on stra nd o is so , a in da a ss im ia mo s q ue re r c on tin ua l' COI11 n os sa t eo -

p sic ol6 gic a p op ula r n o d ia -a -d ia . O u s eja , continuariamos a q uc rc r trata r as

'. \ p e ss oa s c om o s e e la s tiv es se m c re nc as e d cs ejo s C 0 d cm ais , m cs rn o s e a p os ic ao, " , ," v J. .l 'J 1 al fo s seq u e e la s n a o o s t er n . Ou t ro f il o so f o america-to, Da nie l D e nn et t, c ha -

'm ou e ss a estra te gia d e "ad ota r a p oslc ao intencional" . Adotamos um a posicao

.Intencional com relacao a alguem (ou algum a coisa) quando prcdizcmos sc u

c om p or ta me nto c om b as e naquilo que essa pes s o a ou c ois a f ar ia s e ti ve ss e c re n-

cas, d es ejo s e intencoes, em bora d eixem os em aberto a possibilidade d e q ue , na

v erd ad e, ela o u ele n ao o s ten ha . M uitas p ess oas ja ad otam a p osic ao intcncional

com relacao a o bje to s q ue , a n os so v el', n ao tcm mentcs. E pcrfeitarncnte natural

fa la rq ue u rn c om p uta do r "p en sa " o u te nta r e xp lic ar a e str ate gia d e u ma m aq uin a

quejoga xadrez dizendo que "ela esta tentando cvitar a m in ha to rrc", M as r a m -

bern e p erfeita men te n atu ra l n eg ar q ue qualqucr computador (ou maquina que

jogaxadrez) exis tente tem c r enc a s, d e s ej o s Ol l intcncocs, (D 8 n.csma 1 '01 '1118,1101 '-

m alm en te f ala mo s q ue 0 s ol esta s ubin do o u d cs cc nd o n o ccu , cm bo ru s aiba mo sq ue , r ig id am e nt e f al an do , e st am o s e rodando e m v olta delc.)

S tic h a rg um en ta q ue a s ug es ta o d e D en ne tt 6 i n tc l cc t ualmcn tc i r rc sponsavc l.

D e q ue a dia nta e xp lic ar 0 c om po rtam en to d as p es so as em te rm os d e e stad os q ue

. e la s nab p os su em , q uan do ja e xiste u ma te oria q ue e xp lica c om o e las se co mp or-

tam em term os do s estad os que possuem ? M as a cssa objecao podem os respon-

d er q ue e xi st em mu it as r az o es p ra ti ca s p el a s q ua is e ma is f ac il u sa r a teoria psi-

c oI 6g ic a p op ula r. P or e xe mp lo , e p oss iv el q ue este jam os lig ad os a es sa tco ria

p orq ue ela fo i programada c le ntr o d e n os p e la evol ucd o, de m an eira q ue , a ssi rn

como ce r ta s i lu soes 6ticas continu am m esm o dep ois de sabcrm os que s20 ilu-

s oe s, c on tin ua re mo s a p en sa r e sp on ta ne a1 11 en te q ue a s p es so as te rn c re nc as , m es -

m o q uando com preenderm os qu e elas nao as tern. O u ta lv ez o s e sta do s p os tu la -

d os p ela n ov a teo ria p sico l6g ica c og nitiv a sao m uito dificeis d e id en tifica r e s o

u rn p sic 6lo go c om i ns t rumentacao especial podc dcseobrir 0 q ue s ao exa tamcn-

teo ( H a alg o e stran ho em d isc ut.r a qu ilo em q ue d cv cm os a cred itar se realm en te

nai:u;~!.stem c re nc as l) 0 a pa ra to im pr ov is ad o m as p ra ti co d a p si co lo g ia popular

peIo me n o s tern a v an tag em d e p od er SCI ' u ti li za do c om b as ta nt c f ac i l i dadc ape-

n as o bs erv an do e o uv in do , s em e qu ip a me n to s e sp ec ia is .

M as Mum a resposta natural para as du as pro postas, a de S tich e a de D en-

nett, um a resposta que questiona as pressupo sicoes que cornpartilham. E qu e

am bo s i gn or am 0 f at o q u e e p on to d e partida para 0 fe no me no lo gis ta : d e q ue to -

d os n 6s s ab em o s m u ito b em p or e xp cr ic nc ia propria q ue t cm o s c rc nc as , d cs ej os ,

sensacces e o utra s co is as m ais , R es po nd en do a S tic h, g os tariam os d e d iz cr:

/\ dn 1i to q ue p os sa c st ar errndo( a) sobrc () tuncionarncnto d e m elts e s-

la d()~ ,m cn ta is c s oh rc s ua s rc la co cs c au sa is . M as nilo p os so c sta r c r-

radom ) com rclacfio a sc tcnho O lt nu n cstad os m cntais, E les sao,c om o D e sc ar te s i ns is ti a, C COI11 toda a r:lZaO. a [ mi ca c oi sa n o m un do

etc que cs to u to ta l rn cnt c scgurota), PO I' c rc nc n, q uc ro a pc na s dizcr al-g um a co rsa sem clh an tc ao cstad o e m q ue m e en co ntro q uan do o lh op ara lim v aso e ch cg o a acrcd ita r qu e h ll u ma flo , d cn tro d ele .

E a D en ne tt, p od eria mo s d iz er:

Posso me imag in a l' adotando u m a p os ic ao in te nc io na l c om relacao a

a lg um a o utra p _c sso a, p re cis am cn te p orq ue p os so i.n ag in ar q ue u mao ,u lr a p ~s so a n ao tc m r ca lm c ntc c re nc as c d es ej os , a re na s a pa re ntatc-lo s. E ste IS exatarncnte 0 problema de o utra s m en te s. M as e ump :o b~ en ja d e outras mentes: c xa ta m cn tc p or qu c t cn ho l im a e xp er ie n-

c ia dircta de m~lIs p : 6p r io~ e s ta do s infernos, n ao p os so me imaginara do ta nd o a p os 'c ao in te nc io na l c orn r cla ca o a m im m es rn o(a ).

1.12. 0 ell ig ma fin s c oisa s ffs icas

M cn cio nci h ei p ou co q ue a s v cz es , n a f il os of ia , e i m po rt an te e xam in ar as

p rcs su po sic ocs co mp artilh ad as d as p artes ern urn d eba te, e d is cu ti u ma s erie

d e p rern is sa s (alg um as co mu ns ao funcionalista e ao fenomeno log i s ta e um a

d clas a Dennet t c a S tich ) qu e p o dcm s cr q u es ti on a da s. Quem t er rn in a r e st e

ca pitu lo c on vid an do o (a ) leito r(a) a p cn sar s obre o utra s p rem is sa s co mp arti-l ha da s: o u s eja , que os enigm as sobre as relacoes e nt re m e nt e e c or po s ur gem

dcvido a natureza especia l da m ente. M inai de contas, a idcia de que h a algo

especial sobre a m ente qu e p rccisa scr exp licada pO I' si so ja p a re c e p r es s upo r

qu e nuo ha nada de mais a ser explicado sobre aquila que nao 6 metal, 0

m undo flsico, Segundo as m elhores teorias a tuais sobre a natureza, em um

d ete rm in ad o m em en to 0 un iverse n ao continha m entes, elas surgiram m ais

tarde. U ma m aneira de cntendcr com o os fenom enologistas pensam sobre 0

p r ob lema r nc n te -c o rp o e im aginal' que d es se pergun tam : "C om o e q ue a mi-

nha men te - que conheco por m inha propria experiencia - pode ser fe ita de

m ateria, a lg o q ue parecetao diferente d e l a ? "

M as pOI ' qu e e as sim tao s urp rccn dcn tc q ue as m en tes seja m fe itas d e m ate-ria? Estrelas, irnfis, b ac te ria s e e lc fa nte s ~;ao fcitos d e ma te ri a e , so p ela nature-

za do universe, teria side dificil prever a existen cia d e cad a urn d eles a ntes d e

s u.r gir cl1 1 A pr en de mo s s ob re a s p ro pr ic da dc s d a m ate ria v en do 0 que p ode ser

feito COI11 cla : sabcm os que C 0 tipo d e coisa da qual o s irnas podcm ser fe itos

p orq uc d csco brim os su bsta ncias m ag nc ticu s; sab cm os q ue 6 0 tipo de coisa da

q ua l a s bacterias p odem ser f c it a s, po r que descobrimos bacterias . P or que, en-

tao, e lao es pcc ific am en te d iflcil ac eitar q ue e 0 tip o d e co is a c ia q ual m en tes

p o d em s e r f e it a s? A fin al, co mo n os sa s m en tes sa o a c oisa so bre a q ua l tem os a

rua io r c m ais va sta c xpc rie nc ia dircta , na o dcveriamos no s s ur pr ee nd er - se eque dcvem os nos surprccndcr com qualqucr co isa - COI11 a n atu rez a d a m ate-

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 18/54

I N T R O D U C A O A F I L O SO F I A C O N T E M P 0 8A N E A

, , ' C o m o e p osslve l, d ev eria mo s q uer er n os p crg un ta r, q ue urn m un do f eito

,tip os de coisas e go vcrn ad o pelo s tipos d e leis sobrc as quais os llsicos

llr.lr'Prlitlllm hoje em dia , deveria dar o rigem a cstu varicdadc cx traordinaria de

e xn en en cr as q ue t od os n 6s t em os d ia ria mc nte ?

1.13.Conclusao

Ne st e c ap it ul o discutimos algumas das principais qucstocs da filosofin

d a m en te . C om ec ar no s p or p erg un ta r-n os, "A s maqu inas podcm tcr mentes? 'e isso n os levou a perg un tar co mo e qu e s abe rn os q ue as pcssoas ( e m mentes c

a p en sa r s ob re 0 tip o especifico d e con hecim ento qu e parcccm os tel' em no s-

sa s p r6p ria s m en te s. P orq ue fiz ern os cssa s p crg un ia s cp istcmolog icas, che-

g am os, n o f in al, ao p on to o nd e ser ia im po ssiv cl p ro ssc gu ir a te q ue p en sa ssc-

m os um pouco m ais sobre 0 c on he cim en to . F orn os u un bcm lcv..d os a co usi-

d er ar q u al e 0 relacion am en to entre a m ente c S CL Iorpo . E C01110 a c au sa l i da -

de p arece m uito im portante para esse rclncionamcnto - ja que os pcnsarncn-

to s p ar ec em p ro vo car a ed es e e vc nto s n o m un do p arC CC 11 1rovocar scnsacocs

- descobrim os, a certa altura , que tam pouco podcriarnos prossegu ir se na o

pensassem os um po uco rnais sobre cau sa I i da de . E ss a c um a dn s r az oc s p cl as

q ua is n ao m e fo i p ossiv el so Iu cio na r a p olc mica p rin cip al d cstc c ap itu lo -- e n-

tre 0 f un ci on al is ta e 0 fen om eno Iog ista - decisivarnentc a favo r de lim o u do

outro . M as m esm o que eu tivesse lhes dado u ma cxplicacao d a natu reza da

causalid ad e e do co nhecim en to , n ao teria sido capaz dc solucionar a qucstao

d eu ma vezp ortod as . P ois e um a questao q ue d iv id e os filosofos atualm entc e

M algo a ser dito em defesa dos do is lades. S e , q u an d o t iv cr rn o s 110S aprofun-

d ad o m ais co m 0 c on he ci me nt o, v oc e d ec id ir ficar do lado do fcnomcnologista

ou do lado d o f un cio na li st a, e sp er o q ue s e l emb re d e q ue ha forks argumentos

a f av or d os d ois.

M as espero q ue vo ce tambern p cn se n a possibilidade de q ue c ss as tc nso es

n o p en sam en to fiIo s6 fico re ve lam q ue ta lv ez so ja p re cise d csco br ir m an cira s

no vas de pensar a fim d e en ten der 0 q ue 1 l0 SS 0Sc cr ch ro s l'a ZC 1l1- c a te d e q ue

p ossa mo s a cab ar d esistin do d a idcia da m en te de urna vc z po r todas. Alinal,

q ua nd o D es ca rte s d eu inicio a modcrna f i l o s o f i a ria m en te , c lc 0 I'ez traiando-a

com o u ma (m ica categoria de cu jas cnrnctcrlsticus podcmos cstar dirctamcntc

c on sc ie nt es : m a s p er ce pc oe s, c re nc as , c sp er an ca s, pontadas , ansicdadcs, cmo-

'y oes, vo ntad es e d esejos - m esm o q uand o as tratam os .lc um a m an eira no rm al

-Jiao urn b an do d e e oi sa s b as ta nte difcrcntcs. Talvez tcnha side urn erro pcnsar

q ue s er ia p os siv el c on st ru ir u m a t eo ri a q ue c ob ris se t od os e le s. l vl in ha s ug es ta o

foi que ta lvez tam bem tenha sido um erro pensar que 0 e ni gm a p ro fu n do caqu ele so bre a natu reza da m ente e n ao so bre a natu reza da m ateria : Se, depois

d e tu do , co mo as m elho res teorias atu ais so bre a n atu reza sug crem , as m entes

aparecem no m undo atraves d e evo lu cao d e org anism os materiais, entao urn

d os fa to s so bre a m ate ria q ue p rc cis a S cI' cx nlica do c p or q ue c ia p oc k p ro du zir

to do s o s m uito s fe no men os d ife re nte s q ue ch am am os d e "m en te ".

~ j ~ :

i

' f t . : ·' _ ' .

_'.

~:,

~L ".

f, k · "

~(J

~

I~~~-~,t'.

t~

I

I~~\'

'

,

,

<

,

~~1b~

~~

~

f

.#

M1 1~,\

~r ', , ' r

r~~\

~',~;

o conhecimento 2o que e conhecimento?

Como e possivel justificar nossas etirmecoes deque temos conhecimento?

o que podemos saber?

2.t. Intrnducao

A ciru rg ia ce re br al c sta se a pr irn or an do c ad a v ez m ais e e rn bo ra ain da n ao

p oss ar no s r ca liz ar ir an sp la ntc s d e c er cb ro , d ia v ir a e m q ue p ro va ve lm e nt e 0 fa -

rem os, S up onh am os q ucja cstarno s vivend o em um a epo ca em qu e isso 6 p os-

sive l. A o c on tr ar io d e o utro s tra nsp la nte s, p rc su rn c-se q ue a p esso a q ue so br e-vivo a lim a o pc ra ca o d csse tip o c d on a do orgao, n ao c lo c o rp o d o c lo ad or ! M a s,

c om o em to do s o s tra nsp la ntc s d e o rg ao s, o s tr an sp lan te s d e c er eb ro en vo lvern

li m e st ag io i nte rm c di ar io e m q ue s e a rm a ze na 0 c er eb ro fo ra d e se u co rp o a nti-

g o po r algu m tem po , antes d e co nccta-lo ao co rpo novo. O ra, su pon ham os qu e

um a pessoa - vam os cham a-la de A lbert -ten ha ficad o gravem en te ferid a em

urn acidente . Seu corpo fo i d an if ic ad o d e ta l f orm a q ue I~aohit ma i s e s pe r an c as

d e s ob rc vi ve nc ra , F c li zm e nt e, 0 ce.ebro estava p rotegido pO l' u m cap acete e

n fio fo i fe rid o, P o.tan to , a n cu ro ciru rg ia -- q u e ch am arc rn os d e M arie - c om ey a

a r emo ve r 0 cc rcbro d e A lbe rt p ara tra nsp la nta-lo p ar a tim n ov o co rp o. C om 0

c cr cb ro , M a ri e r cti ra , cuidadosarncntc, () scguintc:

a) os nerves scnsoriais qu e costurnavam levar a inforrnacao do s olhos, ou-

v id os , n nr iz , b oc u, etc. d e ;\ lb cr t s ob rc n pa rc nc ia s. sons, chciros c gosto c a

scnsacao do mundo a set! rcdor; e

b ) o s n erv es m oto re s q ue c ostu ma vu m lc var m cn sa gc ns c lo c ere bro p ara o s

mu s c ul o s, " d iz e ndo - lh e s" 0 q u e f az er .

C om o, in fel izm ente , a ircla n ao h a urn c or po d isp on ive l p ara 0 transplante,

M a ri e c ol oc a 0 ccrebro de A lbert e11 1um a cu ba cheia de liquido e co necta o s

p rin cip als va se s san gu ln eo s a u ma fo nte d e san gu e. HI q ue i ss o e f ic ca o c ie n -

tifica , po dcm os tornar as co isas m ais inicressantcs presurnindo qu e M arie

nfio 0 multo cscrupulosa c que CS({I disposta a f az cr p ra tic ar nc ntc q ua lq uc r coi-

s a p a ra adquirir c on h ec im e nt o. T e nd o lim c cr cb ro a s ua d is po sic ao , e la n ao c on -

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 19/54

5 0 • I N T R O D U C A o A F IL O S O F IA C O N T EM P O R A N EA

s e gu e r e si st ir a tentacao de in vc st ig a-l o c nq ua nt o c sp cr a pO I ' ur n c o r p o . Para

esse fim , ela conecta as term inacoes dos nerves senso ria is a urn computador

s of is ti ca d o. A funcao d o eomput a do r e a l imcn tH l' a s tcrminacocs nervosas co m

estimulos eletricos q ue sao exatamentc iguais no s cstimulos q ue A lb ert rcce-

bia quando seu cerebro estava conectado norm alm cntc ao corpo. A ssim ,

quando 0 c ere bro d e A lb ert re co bra a c on sc ic nc ia , 0 computadllr 0 alimcnta

c om e st im u lo s eletricos que produzem no s nerves de s el ls o lh os os mcsmos

sinais eletricos qu e costumavam f aze - to pellsar cue cstava o lhando a sa l a a

sua volta . Se M arie tam bern eonee ta r as tcrrn inacocs dos nerves m otores 80

computador , podera saber 0 q ue 0 c erebro e sta tenta ndo fa zer C 0 cOlnputndor

imitara a s e xp erit~ nc ia s q ue 0 cerebro icria t ido n o c or po sc conscgu issc fazer

o que estava ten tando fazcr .

O ra , a q ue st ao e a s e gu i nt e : H avc ria a lgum a m an cira d e A lb ert s ab er qu e

estava sendo e ngan ado? A maioria d a s j le s so : ts diria qu e a rcsposta c nfio, M as

s e A lb ert n aO p od ia sa be r 0 q ue e sta va o co rre nd o n cs sa situ ac ,:a o, sc v oc e c sti-

v es se e m u m a s it ua ca o s em e lh an te , tampouco p odcria sa ber. E ntao 0 q ue C qu e

lh e g ara nte q ue v oc e n an e sta s en do e ng an ad o(a ) n estc 1 11 01 11 en to '?alvez voce

seja pa rte do prim eiro program a ex perim enta l q ue in'! evcntualmente .cvar a

tran spla ntes c erebrais re gulares. O s pcsq uisadores sab em o ue voce fica ria

m u it o a fl it o(a ) s e d es co br is se q ue perdeu scu corpo, portanlo, dclibcradarnenLea pa ga ra m to da s a s m em 6ria s d o a cid cn tc . Sim ularam cssa s ua e xp crie nc ia d e

e sta r le nd o e ste c ap itu lo p ara qu e voce com ccc a pcusar na idcia de urn novo

c orp ol M ais ta rd e, ta lv ez , e le s lh e dirac a v crd ad c so brc M arie C SCLIompu ta -

dor,m as, pelo m om ento , voc e esta "vivcndo" C0 l1100 Alber t. E claro, se voce

esta s en do e ng an ad o( a) a go ra , entao to das a s coisas q ue v oc e acha qu e estao

oc orre ndo a sua volta na o e sta o a eonte cend o. E stc livro q ue v oce a cha q ue esta

l en d o, p or exemplo.e ape nas um a ilusao produz ida por urn dispo sitive co mo o

c om pu ta do r d e M arie . (E ste e urn dos tcm as fa vorites da Iic cao cie ntifica em

fi lm e s c om o Matrix . )C aric atu ra s d e fll6 so fo s m uita s v ez cs o s rc prc se nla l1 1 c om o p css oa s q ue S~

p re oc up am c om c ois as c om a s q ua is s eria a bs urd o p re oc up ar-sc . N a filo so fia cp re cis o fa ze r p erg un ta s d o tip o " Co mo c q ue sci q ue cstc livro a m i nh a f rc n te

esta re alm en te a li? " S em u m c on te xte , c ssa s p crg un la s rc alm cn tc p arc cc rn in tl-

. te is. M as, no m om ento e m q ue coloc am os a pergun ta no c ontex to dessa p ossi-

b ll id ad e d e c H ln ci a/ fi cc ,: ao , e la n ao p ar cc e a ss im t ao o bv ia m en te i nu ti l, T al ve z,

em um dia na o m uito distante , no s descob rirem os fa zcnd o cssa m esm a pe rgu n-

ta c om toda a serieda de. U m a ve z m ais, um a pa ssagero de ficc ao cienti fic a nos

lev ou d ire tam en te a o ce rne de um problem a filosofico . C om o sa bcm os da cx is-

te nc ia d e o bje to s fisic os ? Nosso robo m atcrnal, M ., lcvantou a qucstiio de

com o sabem os que outras pessoas tern m en tes. A go ra tC1110~ que fazcr um a

p erg un ta a in da m ais in qu ie ta do ra : C om o e q il C s a b'2 m os q uc a s o ut ra s p cs so as

t e r n c orp os? R ca lm cn tc , c om o c quc s i lh c1110S( j ll e i lSC OiS i lSex is tCI l1 ?

2.0 C O N H E C I M E N T O • 5 1

. .. P ~ I ~g u nt~~ scom ,o CS!ilS2 S O~ )I~ C n atu re za d o c on he cim en to . p erte nc ern ~ \

,?P~S tc:llO JOg l(t.-:-0 ex arnc filo so fico cia natureza do c on he cim en to . E u ma rn a-

n cira d c, c orn cc ar a rc sp on d~ r 0 tipo d e p erg un ta s p ro vo ca do p or e sta h ist6 ria epcrgunta r 0 que quercm os d izcr com "conhecim ento". Se puderm os resp d

a e sta pc rgu nta, cstarem os e m m elhores cond icoes para de sc obrir se realmente

sabcm os sc S0 l110S- ou nao - apenas cercbros em algum I' 'd ' deI .','.' .' iqui 0, jogue tes ea gum c iennsta incscrupi.loso . E se sabem os, com o 0 sabernos?

2.2. Platao: conhecimento como crenca verdadeira justificada

( P I~ t~ o n ao , c S L~ r~ ve ut ri lt a~ lo s fi l o so f ic o s C0 l 11 00 Discurso sobre 0 metoda

de r ?e scM tc s, cm b .o lU t cn ha sid e 0 p rimc ir o f il os of o o ci dc nt al a no s Ie ar urn

e ~n :IL ln to ~ ub sta llC ta l d e c sc rito s. E lc c sc rc vc u d ia lo go s, o bra s te atra is :m u e

v arro s P CIso na ge ns re pre se nta m p os ic oe s filo so fic as d ife re nte s e a rg um e (

e m s ua d ~f c.s a. ( E~ o ( c, z de um a forma mais c xp li ci ta q ue a d e W i tt ge ns te fn ~~

: ~ l Ce ss e 1 I.ltll1 l0n ao .c la n om es e p crso na lid ad es a os e xp oe nte s d as v aria s o ;i-

coes q u e s ~ o d ef el !? ld ~ s nas Investigacoesfilosoficas.i Nos dialogos de Pi~ti iO

a p e r~o l~ a l t~ a d ~ p r in c ip a l e n orm alm en te s eu p ro fe sso r, S oc ra te s, c uja tecnica

flIosofica na o tinha c o~ no ba se a afirm ac ao de L Im aposicao e sim um a serie de

pc rgu ntas q U? c onduz iam aq ue les com q ue m conv ersa va a suas pr6prias re s-

posta.s . (Isso e a lgumas vezes chamado de metodo socratlco ) N di 'I h1 d d 7> S ' . . . 0 la o go e a-Ila.n e ceteto, Locratcs discute a p er gu nt a "0 que e c on he cim en to ?" c

lim J~JV~Cl1lch a ll 1 ~l d oTcc t e to . C0 1 1 10a d i scu ssao de P la ta o s ob rc 0 conheciI11~:

t o f OI. ta o e ss en e. la l p at :a a t ra di ca o o ci dc nt al C 0 11 10 v is ao d a m e nt e d e D e sc ar -

te s f ~1 p ar r, a 'ps lco logta filosofica modem a , e rn minhas consideracoes sob re 0

q ue e ~ on hc cl l1 1e nt o q ue ro c om c ca r exarninando algu mas da s ideias disc tidpOI' Socra tes c Tcc tcto nesse fam oso dia logo. u as

E m r es po st a ,\ p er gu nt a de Socrates "0 qu e c c on he cim en to ?", T ee te to c o-

m cca ~ lat~ c1 ocx cm plos d e con hecim en to : a g co rn ctria, p or cx cm plo , e 0 know-

h~)w te cl~ le o d e u rn sa pa te iro .. M as S 6c ;r~ te s a le ga q ue 0 q ue e le q ue r n ao e um

baudo C ! l ; e xe mp lo s d e c on he cim en to e 8 1l1 lu ma e xp lic ac ao so bre a natureza do

c ot 1h ee ll ll e~ to : Em r es po ~ t~ a p e rg u n ta f il o so f ic a "0 qu e e c on he cim en to ?" 0q uc s~ de se ja e urna defin ic ao q ue possam os usar para de cid ir se q ua lq uer caso

especi f ic o r ca lm en tc C lllll case em que algucm sa be algum a coisa .

~ T e~ to ~(: e l.ltilo te ~ta o utra s re sp osta s q ue re alm en te d ao e ss e tip o d e defini-

c , :HO .Mc1S,<)CI a te s a l g U l1 l~ nt a c on tra t od as e la s, F in al rn en te T ee te to s ug ere q ue

s n~ er. a l.g o e n pc na s a cre dita r q ue a lg o c verdade , S e voce sa b e q ue esta lendo

este 11VIO, pOl' e xe mp lo , s eg un do a te oria d e T ee te to ,

a) dcve acrcdita r que esta tendo estc livro c

b y c le v e, n a verdade, e st ar l cn do o st e l iv ro .

~ 6c ra te s lllo stra q ue , p ela te oria d e T C'2 le to , p oc le mo s d ec lu zir q ue q ua nd o u m

, Id vo gad (, d e a l to ) !" Ih a n lo CO I IV l' ll l' l'I ll n jl 'l ri d L 'qlll' ;dg ll l 'l I Il ' i I lO l 'CI l fL ' , c 11pl 'S-

 

5 2 • I N T R O D U C A o A F IL O S O F IA C O N T E M P O R A N EA2, 0 C O N H E C I M E N T O • 53

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 20/54

s oa f or d e f ato in oc en te 0 juri sabe se ele ou ela 6 inoccntc, lI 1e S l1 1 0q ue 0 a dv o-

g ad a t en ha c o nv en ci do 0 ju ri p or m eio s d es on es to s. Esse rcsultado, S6erat,cs

arg um en ta , m os tra q ue a te oria d e T ee te to d ev c c sta r c rra da p orq uc n cs sa s e r r -

cu nstancias n ao po deriam os aceitar q ue o s jurado s soubessetn qu e a pcssoa

a cu s ad ae ra i no ce nt e, mesmo q ue e le s tivessem raziio em acreditar nisso.

S 6c ra tes p are ee e sta r ee rto nesse e as o. S u po n ha 11 1 o~ " pO I" ex cm p lo , q u e

m eu s a dv og ad os ac re ditam q ue eu so u inoc ente e qu e estou sendo incriminado

fa lsamente . E p os siv el q ue e\es decidam que c mais i m po rt an tc p ro te ge I' 2 1 1 -

guem de ser in crim in ad o falsam en te d o q ue rcsp citar a lei, que , afina l de eon-tas, esta send o frau dada p ela acu sacao . E lcs po dcriam , entfio, f ab rie ar u m a

"ev id en cia" q ue s ol a pe a "evidencia" fa lsa produzida pclo p rom ot or . S u po n ha -

m os qu e eles convencam 0juri: os mcmbros do jur: ostariarn {/('/'edi/~l/7dl) cor-

retamente qu e so u ino ccnte, m as certamente na o saberiam qu e SOL I inocente.

A s eg u ir 0 t ex to cm q u e S o cr at es r es um e s el l a rg u 11 1 en to e T c ct ct o r es po n de :

S6CRA TES: M as se a v erd ad eira c re nc a C 0 conhecimento rOSSCIl1 a

m esm a coisa, 0 juri nunca ju lg a ri a co r rc t a l1 1Cll tC ~Ct1 1co nh(~~ i1 1 1 cn t (l ;

e, d o je ito qu e as coisas sao , pa rcc c q ue os dO ls (con hcc lt11c nto c

crenca v er da de ir a) s ao diferentcs.

TEETETO: Sim, S6cratcs, ha algo q ue o uv i algucm d iz cn do c e sq ue -

ci, mas de qu e e sto u m e l cmbrando agora. E l c d is sc qu e " , vCI :dad c i~ ' a

c re n ca c om j u st if ic a c; ao c c on hecim en to c a qu cla sc m JlIStI ficaciio

fica fo ra d a csfera do conhecimcnto.

T ee te to c om pre en de q ue e ss e ca so dcm onstra que p rc cis am os d e lIl11~~er -

c ei ra c on d iC ;a o p ar a h av er c on h ec im e nt o: 0 s ab er r ca I l1 le ,n te e nv o lv c a ~ re dl t~ r c

tambem envo lve a verdade daqu ilo em que voce acrcdita, mas tam bcm cx ige

algo mais. E co mo, m ais do q ue qualquer outra coisa, Teete~o e ' p: rs i~ t cn te , e le

s ug er e q ue 0 conhecimento e a verdadeira crenca corn uma justi f icacao, 0 res-

to de Teeteto o c u J2~ :! l~ ~m d i se u ti r q u e tipo d e j us t i ficaciio c necessario, Mas a

i d e ia b a si c a e q _u e, p a ra s a be r algo,_ .. -_ ...

\

a ) v oc e p re cis a a cr ed it ar naquilo,

b ) a q ui lo d ev e s er v er da de ec ) v oc e deve tel ' uma justificacao p a ra a e re d it ar nclc.

.0 rec on hec im en to d e q ue n ec es sita mo s d e uma tcrceira condicao ._.qu e cu cha-

marei de c o nd ic ;a o -j us ti fi ca c ;a o - co maier lcgado de Teeteto ,j cpistcruologiu.

Orato d e q u e- a c ond lc ;a o justificacao e as duas p r ime i ra s , eo nd ic ;o c s jU l~ a S : a o

cond i c; oe s nece ssa r ia s e suficientes para 0 c on~ e cl ll lc n to ~ . ul ~ la a firrnacao fdo-

s 6fic a c ru cia l d a tra dic ao o cid en ta l d es de P la ta o. E ss a id eia e m uu as v cz es ex -

p re ssa n o slogan "Conhecimento e c rc nc a v cr da dc ir a j us ti f ic ad a ".

S 6cra tes nu nca aceitou q uaisqu er d as tcn ta tiv as d e T cctc to para dcfin ir

e xa ta me nte q ue tip o d e ju stific ac ao 6 n cc es sa rio p ara tran sl'o n:ln t' c rcn ca ~ er-

d ad eira e m co nh ec im en to , m as a id cia fo rn cc c 0 po nto de partida p ar a m u ua s

te nta tiv as f utu ra s p ar a d ef in ir 0 c on h cc im c nt o. T ip ic C ll 11 c nt e, o s f tl 6s of os d c-

Icndcram a idcia de que 0 c on he ci me nto 6 c rc nc a v crd ad ci ra ju sti fi ca da c d cp oi s

p ro ss cg uira rn Ia zc nd o a p crg un ta: "Q ue tip o d e ju stifica cao c n ece ssa rio p ara

qu c hoja conhecimento?"

A id cia d e T cc tc to (' s u gcrid a p or urn d ia gn os tico d e p or q ue o sju ra do s n ao

sabem real m en te que sou inocente . E sse diagnostico e, m ais ou m enos que,

e mb or a o s ju ra do s tivcsscrn um a crenca vcrdadeira , nao era um a crenca a que

des tin harn d irc ito, p ois m eus ad vo gad os p od eriarn te l' usado aq uela m esrn a

ev id en cia p ara c ou vcn ce -lo s d e q ue e u e ra in occ ntc, IIICSI110 que eufosse culpa-

do. E m outras palavras, a cvidcncia que m cus advogados ofereceram ao jurip a ra a fi rnH l re l~ l m in ha in oc enc ia se ria c om pa tive l com m inh a cu lp a, ernbora

ela os convcnccsse de que eu nao era cu lpado. 0 d iagnostico esta na base das

d ua s p rim eir as m a nc ir as u sa da s p el os f ilo so fo s p ar a te nta re rn d iz er e xa ta me nt e

o q ue c a ~Q~ ig .~ g jl J~ _ t. i} i. s: a9 ~9 _, ss a c xp li ca ca o p o dc s cr c nc on tr ad a n a e pi st e-

m olog ia de Descartes.

2.3. A mancira d c D esca rte s: a justiflcacao cx igc ccrteza

P ara vcr com o p cdcm os ch cgar a p rim cira m an eira d e in tc rp reta r a c on di-

c ;a o ju st i f ic ac ao - - a m aneira de D escartes - com ccem os ex am in an do cc'm m ais

prccisao 0 qu e sig nifica diz cr qu e a evid en cia q ue m eus adv og ad os apresen -

ta m, n o ca so h ip otcrico q ue cs tiv cm os co ns id era nd o, e compatlvel corn a m i-n h a c ul pa ,

Uma forma de expresser mais precisamcntc 0que quero dizer q ua nd o d ig o

que a evidcncia e cornpativel co m minha culpa e a s e gu i nt e:

a) h a um a frasc v erd ad eira (ch am c-a d e "T ") q ue tran sm ite tod a a eviden-

cia, e

b) T c com pativcl com um a frase que diz qu e SOL I culpado,

Du as f ra sc s 'laO c om pa tiv cls s c a rn bas p od cm SCI' v er da de ir as a o m es rn o t ei. i-

p o. (N o d ecorrer dcste capitulo , sem pre q ue estiver falan do so bre ev id en cia

m uitas v cz es u sarc i a cx prcssao "frases qu e tran sm itcm a ev idencia". Isso n ao

significa q ue e LIa ch e q ue tc r e vid en cia c simplcsmente um a q ue st ao d e a c re d i-

ta r q ue ccrtas frases s50 v er da de ir as . S c e ll a ch as se isso, te ria d if ic ul da de e mcxplicar como 6 q l le l ll 1l SCI' q ue n ao s ab e p el o m en o s lim a ling ua po de saber

q ua lq ucr c ois a, c mbo ra cu a crc ditc, d ig am os . q ue q ua nd o m cu c ach orro ab an a

o rabo (:porque sabe q ue e sto u chegandocm casa. U so a expressao apenas por-

q ue fa la r s ob re fra scs fa z co m q ue se ja m ais fa cil ex pl ic ar m eu s arg um en to s.)

S up on harn os , c nta o, q ue tern os u ma fra sc c e sta mo s c xa min an do a e vid en -

c ia p ara cia , C ha m e mo s a fra se q ue tra ns mitc a e vid en cia d e "fra se-e vid en cia "

c a frasc para a qu al ela e e vid cn te d e "S ", 0 q ue q uere rn os d iz er, en ta o, q ua nd o

d iz cm os q ue a ev id cn cia 6 com pativ cl com a frase S seI' fa lsa c qu e e possivel

q ue a frase-cv idencia scja vcrdadeira c S so ja falsa ao m esm o tem po . A ssim ,

po r cxcrnplo, a f ra se -c vid en cia " Jo hn c sta e ho ra nc lo e p ar ec e d cp rir nid o" c bas-

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 21/54

" I N T R O D U C A O A F I LO S O F IA C O N T E M P O flA N E A

2. 0 C O N H E C I M EN T O • 55

b om pative l c orn a fa lsid ad e d a frasc "Jo hn c sta in fe liz" p orq uc J oh n p od e

no s eng an ar, E ntao, se qu iserrn os dcixar de falar sobre frascs,

d iz er q ue te l' evidencia qu e John e sU\ c ho ran do c pa rc cc dcprilllido.c om pa tfv eJ c om J oh n e sta r f eliz .

: A pe sa rd isso , "Jo hn esta chorando e parcce dcprilllido" c urna bo a evidcn-

. cia de que John esta infeliz . E vidcn cia com o cssa, qu e C c om pa tlvc ] c om a fal-

s id ad e d a f ra se q ue s us te nt a, e c ham ad a d e e vi de nc ia "revogavel" C'revogavel''

porque p od e s er re vo ga da po r evidencia p os te rio r q ue II c olo qu e em duvida),S e, p or o utro la do , v oc e te rn evidcncia p ara a verdadc de Ul11af r as e , S, qu e c ta o

boa q ue nao e p os siv el q ue S seja f al sa q u an d o a fmsc-evidet1cia c vcrdadeira ,

voce tera a qu ilo q ue c ha ma mo s de evidencia "irrevogavel" para S. A frasc-evi-

dencia "A mim, parece-me vermelho", POl' cxcmplo, sc verdadcira, seria consi-

d erad a p or D es ca rte s (e p ela m aio ria d as pessoas) C0l110 e v id c n ci a i rr cv o ga v t' lp ara a fra se "E sto u te nd o u rn a e xp erien cia o tica ".

oju ri, n a rninha h i st 6 ri a , s imple s r nen t e na o t inha um a evidencia irrevoga-

vel de que eu era ino cente: p ois, com o cu disse antes, a evidcncia er a compati-

ve l c om m in ha cu lp a. U m a p ossive l in te rp re ta ca o, e nta o, se ria d e q ue 0 q ue f al-

tava ao juri na m inha hist6ria era um a evidcncia irrevog avel e , sc tivesse tido

i ss o , t er ia tido conhecimento. A c on di ca o j us ti f ic ac ao para 0 conhecimento,

n es sa i nt er pr et ar ;: ao , s ig ni fi ca q u e v oc e devc tel' um a c vi dc nc jn qu e justi l ie a su acrenca irrevogavelmente.

E ss a e ra , c om o e u d iss e, e sse nc iall1 1e nte a c on ec py ,lo d e D esc arte s. D es-

cartes nao tinha m uita ideia d e com o 0 cerebro funcion a. M as chego u a essa

conclusao c on sid er an do p ro ble ma s b as ta nte p arc cid os COIll a qu ele q ue s ur giu

com M arie , a cirurgia inescrup ulosa com qu e com ecei. U rn dos p roblem as qu e

e le p ro po s fo i co mo p od er fal1 1o s sa be r q ue to da s a s n ossa s expcricncias na o sac '

apenas ur n sonho, D e m u ita s m an eira s isso e C0l110 perguntar como sabemos

q ue n ao so mo s vitirn as d a M arie. M as a 1 11 ~II1 cira ais COI1\1 i nc cn tc q ue D e sc ar -

tes u sou p ara levantar a q uestao de no s so con hccim ento do m und o flsico, ern

te rm os q ue e ram n atu ra is e d e in teres se im cd ia to e m su a epoca, fo ! c o ns id er ar a

p os sib iIid ad e d e u rn d em on ic c ru el n os e ng an an do pOI' meio d e lim a manipula-

9~0c uid ad osa d e n os sos s e nt id o s p a ra q u e , lc r ed i U1SS e l1 l0 s ccrtas coisas. ComoM arie , e sse d em on ic se ria c ap az d e im pe dir q ue so ub cs sern os 0 q ue e le e sta va

'fazendo , ao m esm o tem po em qu e praticam entc in vcntava toclas as nossas ex -periencias p ar a n 6s .

A seguir, duas passagens onde D escartes pcla prim cira vcz confronts a

p ossibiIid ad e d o d em on ic c ru el e lo go d ep ois il1 ld gin a c om o rcagir <1 ele.

M i nh a s up os ic ao s er a, p or ta nt o, de q ue n fl o c x is tc u m D eu s v cr da dc i,

ro , q ue se ja a fo nte s ob era na d a v erd ad c, c sim urn c sp ir ii o c ru el , q u .ee n il o m en os d is si mu la cl o c m cn ti ro so c /o q u e 6 p od er os o, e q ue d cc i-

d iu , co m toda sua cngcnhos idndo, cngann l' -l l1 l' . 11l1: lg in li rc i quc 0

Ce ll , a terra, as ~Ol 'e s, 1()1' 1l1: lS , SOi lS C lodos OS I)hjL-l()s cxtCI'llOSque

v cm os 1 1< 10: l( ) n a da m ai s q ue ilusocs c tru qu cs q ue ole u sa p ara ar-ma r u ma c ila da p ar a m in ha c rc du lid ad c.

M as sc m e C Ollvencessem de q ue nao ha nada no m undo, q ue nao ha

cel l. ncm tcrrn, ncm mcntcs, ncm corpos, scr(l que CUI11Cconvcnccrin

ImnbcI l1 d e q ue ! lao c x is to ? N a o, c cr ta m cn ro , e u e x is ti ri a, scm duvi-

da , sc I11Cconvcnccsscm ou mcsmo sc c u p en sassc quaiquer coisa,

"M:1S 11,\um cnganador c l es c ol li le c id o , qu e 6 rnu ito p od cro so c 11111itot ra ic oc ir o, q u e esta usando toda sua cngenhosidade para m e enga-

nar." E ntao, nao havcria q ualq uer duvida de q ue ex isto, se ele csti-vcssc me cnganando: e se el c me enganassc t an t o qu a nt o d e se ja , a in -cia a ssirn c it: n un ca se ria ca pa z d c faz cr COIll q ue fosse verdade q ue

ell SOL I nada, cnq uanto eu cstiver pensando q ue sou algum a coisa. 0re su lta do (\ q u e d ep ois d e tel' p cn sad o p rec isa me nte so bre isso e de

tel' cx . un i n ado cu i d ado s a rn enn , to da s a s coisas , n o f im p rc ci sa m os

c ou cl ui r, e d efen de r c om o salid a q ue e ss a p ro po si ca o: " Eu sou", "e ue xis to ", (\ n ecc ssa riam en re v crd ad cira em to da s a s o cas io es e m q ueeu a pronuncia} o u q ue eu a conccba em rninha mente.

Este e urn.argurncnm r nu it o conv incen te : e, na verdade, urn do s argumen-

tos mais famosos n a his t6ria da filosofia, 0 q ue D esc arte s c orn pree nd eu fo i

que, por mais p od ero so q ue fossc o demonic, havia uma coisa sobre a qual 0

demonic n ao p od ia engana-lo, e isso era a p r6p ria ex istc nc ia d e D esca rte s. A

evid en cia q ue cad a um de nos [em de n ossa pro pria ex isteneia C i rrcvo gavel: eo bvia me ntc im po ss lve ] c sta r c icn tc d e vo ce m csrn o (o u d e q ua lq uer o utra co i-

sa) e ao inesrno tempo na o cxistir, Descar tes forrnulou esse argurnento co m

muito v ig or e m latim em u rn d os slogans mais c on hc cid os e m to da a filo so fia :

"Cogito ~ rg o s um " , que siguifica "Pense, portanto existo" (esse argurnento asv ez es { ;c ha m ad n a pc na s de "0 cogito"),

Descar tes achou q u e pod cr ia escapar dos tru qu es d o d em on ic se descobris-

se o utra s c re nc as q ue f o s s e r n ta o seg uras e in du bitav eis p ara e le c om o su a p ro -

pria existencia - 0 "eu ex isto" - eo fa to de ele te r p en sam en to s - 0 "eu penso",

C on ta nto q ue ele tiv es se c ren ca s se gu ras e in du bita ve is co mo e ssa s, p od ia a fir-

m ar q ue essas crcncas c ram conhe c imen to , por rnais qu e 0 d em o ni c t en ta ss econfundi - Io.

D esc arte s, e n ta o, su ge riu q ue a m an eira c orre ta d e e xp iic ar a co nd ic ao ju s-tific ar;:a o e ra in sis ur q ue a e vid cn cia q ue v oc e p os su ia d av a- Ih o 0 d ir cito d e c s-

tar ccrto d aq uilo e m q ue vo ce acreditava. E po r " c cr to " e le q u e ri a dizcr qu c fos-se a lg o im po ssiv el d e d uvid ar. Isso , a fin al, e u ma e xte nsd o n atu ra l d a i de ia qu e

cxp ressam os qu an do p crgun tam os as pcsso as que acham qu e sabem algum a

coisa, "Voce tern certeza?" O u cr er no s q ue e la s p en se rn se rea l m en te n ao te rnq u al qu er d u vi da de qu e es tao ccrtas.

A d ;S ti ln c ia e n tr e insistir qu e um a c re nc a, para SCI' c o ns id e ra c fa c o nhe c i-

m en to , d cv c s et' in du bita vo }, a te in sis tir q ue c p rcc iso te r u ma e vid en cia irre -

vogavcl p ara aqu cla crcn ca, C m in im a. P ois se Ih e c im p os siv e] d uv id ar d a v e-

r nc id ad c d e S. ( 'I lf :i o vo ce c lc ve t el ' l In l< l cv id e! lc ia q ll c ! l, to p o de ri n s er v er da -

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 22/54

• I N T R O D U C A o A F IL O S O FI A C O N T E M PO R A N E A

d eif li'§ eS n ao f os se v er da de ir o. E e ll d cf in i " cv id cn cia irrc vo ga vc l" como

vm a evidencia ta o c la ra d a v era cid ad c d e l im a f ra s c, S, qu e seria s implesmcn-

t eii hp os siv el q ue S f os se f als o q ua nd o n fr as c-c vid cn cia f or v crd ad cira . I'o r-

t an to , D e sc a rt es c on fi a p Je nam en te na idcia de que para saber algo c precise

~ce ~1?J.1a_um ae vi de n ci a i rr ev o ga v el para aquilo, au , da mCSl1 IHmanei -

. ta , q ue s ua evidencia faca com que a crcnca scja i n duh i t a v c l . Para Descartes,

p ar a s ab er a r g o , e prec iso

\

a ) q ue v oc e a cre dite n aq uilo

b ) q ue a quilo seja verd ad e e

c ) q ue voce ten ha u ma e v id e nc ia i rr cv o ga v cl para s u a c rc n ca .

A concepcao d e D e s ca r te s te rn u ma c on sc qiic nc ia im cd ia ta c s urp rc cn dc ntc .

A lgum as frases - ta is com o "Nada csta £10 m csm o tem po em Nova lo rquc e

f ora d e N ov a Io rq ue" - n ao p od eria rn S CI'f als as e s ao ch ar na da s d e "v erd ad cs

necessar las" . O e or re q ue , d ev id o a manci ra como c v id c nc ia i rr cv o ga vc l c de -

finida, qualquer frase e uma evidencia irrevogavel para IIl11a verdade necessa-

ria..J_~en:tQs como exem plc um a frasc, S , que 6 um a verdadc necessaria. POl'

d ef ln ic ao , e la n ao p od e s er f al sa . Ev id c nc ia i rr cv o ga vc l para S J dcfinido como

a '- ev id ~ nC 1 a- qu en a o p od er ia s er v er da d ei ra s e S f os se f a ls a . Cons idc r e qualquer

ou tra fra se : d iga mos, T . C ertam ente na o e possivc l q ue S soja fa lsa se T 6 ver-

d ad eir a, p oi s n ao e posslvel para S se r falsa em q ua lq uc r c ir cu ns ta nc ia . P or ta n-to , voce tem u ma e vi de n ci a i rr ev o ga v cl para qualqucr Craseque scja u r n a vcr-

d ad e n ec es sa ria , d es de q ue v oc e a er ed itc em qualqucr coisa!

Segue-se , e c la ro , q ue , n a c on ce pc ao d e D es ca rte s, n os conhecemos quais-

q ue r v er da de s n ec es sa ria s e m q ue a cr ed ita m os . P ois v cr da dc s ncccssarias : : ; a o ,

po r d ef in ic ao , v er da d ei ra s e m q u al qu cr circunstancia, c , C 0 l1 1 0vimos, autorna-

ti ca m en te t em o s y m a e vi de n ci a i rr ev o ga v el para eias.

P or ta nto , n o c as o da s verdades neccssarias, a teoria d e D e s ca r te s C rnu i to

t ol er an te . A dificuldade co m es sa teoria e que, em c on tr ap os ic ao , c la c muito

ex ig en te q ua nd o s e t ra ta d e crencas sobre 0mu nd o f is ic o. Com efeito, ela e ta o

e xi ge nt e q u e e d if ic il i ma gin ar q ua lq ue r c re nc a s ob rc o bjc to s f ls ic os q ue D es -

c a rt es c la s s if ie a ri a c omo c o nh e cim e nt o . Po is , a f in a l, com o a historia d e M a rie e

d e A lb ert d em on str ou - e co mo a p ro pria h is to ria d e D es ca rte s so brc 0 demonicd em o ns tr a- , a e vid en ci a q ue n os r ea lm en te t em o s c c om p a ti vc l c om a p o ss ib il i-

d ad e d e es ta rm os e rra do s s ob re q ua se L id o a qu ilo em q ue a cre dita mo s, e xc eto

( com o- eo n cl ui u D e sc ar te s) s o br e a q ui lo q u e acreditarnos a r es pe ito d e n os sa p ro -

p ria e xis ten cia e d e n os so s p ro prio s p en sa mc nto s. N ad a -- a nfio s c r a c x is t en c ia

d e n os sa s p r6 pria s m en te s - e s eg uro . P or ta nto , s ob a p ers pec tiv e c arte sia na , a

n ao s er no e as o d as v er da de s n ec es sa ria s, nf io c on hc cc mo s n ad a m ais ,I nf io sc r

a e xis ten cia d e n os sa s p ro pria s m en tes . A p os ic.lo I IIOS('l fica que diz q ue na o

podemos sa ber na da a resp eito d e algu m tip o d e co isa C c onh cc ida co mo ce ti-

cismo a r es pe it o d e c oi sa s d a qu el e t ip o. A ( kf in i~ 'i i( ) c n r tc si an a d o c on h ec im e n-

t o l ev a m u it o r ap id am en te aO c et ic is l1 1 0 c om r cl ay ii o a o mllntio I1sico .

2. 0 C O N H E C I M EN T O • 57

D es ca rte s a ch av a q ue p od cr ia c vit ar a s c on se qu en cia s c eti ca s d e s ua d ef in i-

y ao d o c on hc cir ne m o. S ua f or ma d e c vit ar c ss as c on se qii en ci as d cp en de d a c re n-

ca de qu e h i l u rn D eu s onipotcnte c bcncvolcntc qu e na o que!" qu e sejamos enga-

n ad o s. [ ~ i m po rt an tc c xp li ca r 0 ma is c la ra m cn tc p os si ve l pOI' q ue isso a ju da, ja

q ue es sa crc nc a n os p crrn itc c sc la rc cc r L im a d as p re miss as d e D es ca rtes s ob re

como dcvcrnos buscar justificacao para nossas crcncas. Como vcrcmos, cssa

premissa c e s sc n ci a l p a ra rnuitas d a s c o n cc p co c s f il o so f ic a s s o b rc ju s ti fi ca c ao.

M as a n te s d e p ro s sc g ui rr no s , c prec iso c sta r c ie nte d e u ma o utra p re rn is sa

de Descartes. Descartes achava qu e nao podcriamos estar errados sobre 0 eon-

tcudo de nossa s m entes. A cha va , po r cxcm p!o , que sc cu a cha r q ue estou pen-

s an do s ob rc la ra nja s, cn ta o, n a v er da dc , d ev o e sta r p en sa nd o s ob re la ra nja s.

V ale a p cn a q ues tio ne r s c D es ca rte s tin ha r az ao co m rc sp eito a is so . P ois p od e

p ar cc cr q ue , n s v cz cs , c rra rn os s ob rc a qu i 1 0 qu e cstamos pcnsando, Certamente

na o c uma c o ns e qi ic n ci a automatics c lo argumcn to cogito. O u s eja , p elo m ere

1 1 1 1 0 d e q ue , sc cstou p c n s a n d o c po r quc devo cx is t i r , na o p o d c m o s e on el ui r q u e

n un ca p osso c sta r e rra do so brc aq uilo em que e st ou p e ns an do: a un ic a c o nc lu -

s i lo obv i a C:q ue n a'') p os so c st ar c rr ad o s ob re 0 fato d e q ue e xis to , A p es a r d is so ,

p oderiarnos d iz cr qu e ossa idc ia de q ue na o po sso cstar crrad o com re laca o ao

conteudo de minha propria m en te n fio e t ot al m e nt e im p la us iv el e muitos filoso-

fo s da cpoca de Descartes achavarn qu e isso e r a v e rd ad e.

O ra .. su pon ha mcs q ue eu ten ha lim a cxperien cia sensoria l q ue p ossa ser

d cs cr ita t in s cg ui nt e m a nc ir a:

E : P arcc c-rn e q ue h{1 lim livro n a m in ha frc ntc .

C ha rn ar ci c ss a f ra sc d e "E ", p ara "cvidencia", C om o cia c a re sp eito d e minha

p ro pria m en te, D es ca rtes m e perrnitiria dizer qu e p osso sab er qu e e verdade :

seg und o ele, com o a ca bo de ind ica r, p osso tcr um a evidenc ia irrevog av el d o

mcu proprio c st ad o m e nt al .

M as com o e qu e posso s ab er , c om base nesse estado m e nt al , q ue ha, na

v cr da de , u rn livre n a m in ha f rc n te ? D e s ca r te s di z q ue s c D eu s c ta o benevolen-

t e q u ant a onipotente, E le p od e garantir qu e a s experiencias q ue te m os c or re s-

p on de rn a qu il o qu e 0 mundo e realmente. M as mesmo q ue m in ha experiencia

eorresponda a r ea lid ad e, p or qu e D eu s 0g ar an tiu , n ao p os so s ab er s e is so e ver-d ade a m en os qu e tenha l im a e v id e n ci a i rr e vo g ave l. Suponharnos, 11 0 entanto ,

qu e ell te nh o e vi de nc ia i rr ev og av el d e q ue D eL ISg ar an te q ue a e xp er ie nc ia s en -

soria l corresp ond e ao m und o com o ele e . N este caso , sa bere i qu e se as coisas

a pa re nta m, s oa m o u, d e urn m od o g era l, m e p are ccm s er d e u ma d eter min ad a

f orm a, c la s sao d aq ue la d ctc rr nin ad a f or ma . E p or ta nt o e u s ei , e sp ec if ic am e n-

t c, q ue ,

R : So m e p are cc q ue IUllJl11 Iiv ro n a m in ha frc nte, en t ao h a lim liv ro n a m i-

nha frente.

O ra, a pa rtir da s d un s rrases, R c E , s egue-se , logica mcntc, q ue h a urn liv ro n a

m i n ha f "c n te . (D is c ut ir c l1 1 o s 0 q ue s ig ni f ic a d iz cr q ue algo.l '( , segll(, logieamen-

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 23/54

_ a ~ ,i N T R O D U Q A O A ~ l O S O F I A C O N T E M P O A A N E A

i, t e n o p r6 xi mo c ap it ul o; v ej a 3 .1 0) . A le rn d is so , c u sc i, se gu nd o D es ca rte s, q ue

~ ~!ta nto R quanto E 'la O verda deira s, S upon ham os q uc sc a lgo e m q ue voc e crc se-

~ r:~~~ se log icam en t~ de duas coisas que voce conhece: en tao voce eO~lbecc

! '$;,f: iquz/o tambem, Se rsso fo r verdade, D escar tes poderia dizcr q ue cu sabcria qu e

,Jh aum "liv ro na m in ha fre nte.

/; ri',A a firm ac ao d e D esc arte s d e q ue a g ara ntia d iv in a d e n o ss os s cn ti do s p o dc

'c on stitu ir a b as e d o c on he cim en to s era corrcta , po rtanto x e

r: a) conhecerm os a garantia d ivina , eb) 0 s eg ui nt e p ri nc ip io f or co rreto : para quaisqucr duas [rase s, A c G , S0

voce conhecer A e co n he c e r B, e se a p arti r d e A e G, ju nta s. C segue-so 10-

gicamente, entao, se v oc e a c re di ta r em C , v oc e conhece C .

Esse princlpio e n orm alm en te c ha ma d o d e p rin cip io da conclusao dedutiva,

po is ele a firm a q ue a cate goria das co isa s q ue co nhe ce mcs inc lu i to das as n os-

s as c re nc as q ue sa o c on se qu en cia s lo gic as (o u " de du tiv as ") d e tu do a qu i 1 0q ue

ja conhecemos .

O bs erv e q ue 0 p ri nc ip io d a c on cl us ao d ed ut iv a e c on se qtie nc ia d a d ef in i-

C;aodo conhecimen to d e D e sc a rt es . Pois, segundo a tcoria de D es ca rte s, s e

v oc e c on he ce ta nto A quanto B, e n t ao s er a verd ad ciro p ara cad a fra se qu e,

a ) v oc e a cre dita n ela

b) ela e verdadeira e

c) voc e tern u ma e vi de n ci a i rr ev oga vc l para cla.

S up on ha mo s q ue voce e re ia e rn C , q ue e lima sequencia 16gica de A c B. Como

voc e co nhe ce A e B , se gue-se q ue sua crcn ca er n C c v cr da de ir a, (0 a rg um e nt o

. eo seguin te: se um a conc lusao e a sequenc ia 16giea de a lgum as prem issas,

enta o a c onc lusao sera v erda deira se as p re misses sa o ve rdad ciras . D e b ) sc-

gue-se que se voce conhece A e B. cntao A c G s ao a mb as v crd ad cira s,

C om o acabei d e dizer, se C decorre lo g icamcntc de A c B . c ntao C { :vcrd n-

d e ira s e A e B s a o v e rd ad ei ra s . Entao, se voce conheee A c B e sc C decorre

dela s, en tao C e ve rdad eira.) Isso nos da con dico es (a ) c (b) pa ra c rerm os e m

C . P ortanto , voce conhece C se a cond icao j usti flc ac ao (c ) tambern fo r s at i s-fe ita. 0 fa to de voce eonhecer A e B significa q ue v oc e tern e vi de nc ia i rr e-

, vogavel p ara C , q ue d ec orre d el as ? O b vi ar ne nt c. Pois se C decorrc de A e B.

entao a frase-evidencia que faz com que A c G scjarn vcrdadciras, faz com C

s eja v erd ad eira ta mb em , 0 a rg um en to e 0 se guin te: S upo nha mos q ue E se ja

a evidencia irrevogavel para A e E ' scja a e vi de nc ia ir rc vc ga vc l para R .

E ntao , (E & E ') e a ev id en ci a irrevogavel para (A & 8). I S 50 ap cna s s i gn i fi e a

que se (E & E ') e v er da de ir a, entao (A & 8) tambcm 0 sao . M as sc (A & B)

p re c is am s er v er da d ei ra s , en tao C ta mb cm p rc cis a SCI' vcrdadciru , po rquc cla

d ec or re d e (A & B). Portanto , se (E & E') {:vcrdadcira, C tambcm 0 6. 0 qu e

s ig ni fi ca q ue ( E & E) e e vi de n ci a i rr ev og a ve l para C. Portanto, 0 principio de

c on cl us ao d ed ut iv a e st a c er to .

2 , 0 C O N H E C : M EN T O • 5 9

o ccrnc do argum cnto csui cxprcsso aqui 11 0 s cg u in tc p r in c ip io :

I 'D .! : S c v(~ce [ e111 duas frascs quaisqucr, A c B. sc voce tern justificacao

par~1acrcditar tanto em A quanto CI11 13 , esc de A c 13jun tas, C segue-so

.og rcamcn tc, cntao, sc voce acrcditar em C . tcra j us ti f ic a c ao para acredi-ta r e m C.

o f il?so :o americano Irving Thalbcrg cham ou isso de "princip io de dcducao

par a ju s ti f icacao" (0 a cr on im o ( : P D J) . 0 PDJ 6 certarncntc C01Teto se ju s ti f ica -

£ ~9_~ i .~ t !i 0 ca : ·' ju s ti fi c aQ ao i rr e vo g ave l ", E , C0 l 11 0v imo s, dados 0 PO ] e a defi-n icao d o c on he ci me nt o d e D e sc ar te s. 0 principio ci a conclusao d c du ti va d ec o r-rc dele.

. ~ e s~ a rt es cxigc 0 principle de conc lusao dcdu tiva porq ue, scm i S8 0, a te a

Cx!s t .cn c la de t~11D eu s b cn .c ~? lc nte , q ue te nte fa ze r 0 oposto do q ue faz 0 de -

1110n lOcrue l, n ao 110S p crn utiria te r c on he ci me nto d o m un do . C om a c om bin a-

<;50 d cstc p rin cip io c do con hec im ento de q ue Deus g ara ntc q ue n os so s se nti-

d os n ao n os .e ng a'n ara o, n o c nta nto , D es ca rte s p od e p erm itir q ue te nh am os a l-gum c onh ecim en to d o m undo flsico ,

M as ha u rn p ro b lema scrio com a posicao cartesiana. E q ue D esc arte s n ao

n o s ? 3 , n e~ t 1l l1 n ~m otivo co nvin cen tc p ara a ch ar q ue sab cm os q ue D eus ga rante

a cvid cnc ia d e 110S505 sentidos, Alina' , parccc qu e I'OSS05 scntidos a s vezcs no scnganam: a s v cz es p are cc q ue te mo s alucinacocs Es e a s v ez es t em o s a lu ci na -

<;OC8,cntao Deus nfio garantc scm prc que 0 mundo e a qu i 1 0 qu e parcce ser .

.N i io n ,08 ajudaria neste caso dizcr qu e Deus tis vezes g ara ntc q ue nossos

,scn tldos nn o 110S cn gan am , p orqu c, p ara saber q ua lq uc r c oi sa . segundo a con-

c ep ca o d e D esc arte s, tc ria mo s q ue sa be r quando i ss o o co rr e. D e sc ar te s c st av a

c on sc ic nte d es se p ro ble ma , e p ro po s u ma s olu ca o p ara ele, A ideia de le era q ue

Deus .10S ofe rece lim a m aneira de diz er q uais d e nossas id eia s sao re alrne nte

co nfiav eis . P ois de a rg um cntou q ue nu nca e rra rlam os se ac rc dita ssem os so-

m ente n aq uclas idc ias q ue fossc m "clara s e nitid as". M as nao e n ada c laro q ue

realm en te tem os u ma m an eira dc d is ti ng u ir , a p en a s p el a n atu re za d e n os sa s e x-

p e ri en c ia s . . se elas S,10 a u 1 1ao confiavcis c a 110y aO de i de ia s " ci ar as e n i ti d as "

de D escartes nao 6, n a o pi ni ao d c m uito s filo so fo s, u ma s olu ca o satisfatoriapara 0 proble ma . S e ele s tern ra za o, e nta o, na o tem os urna gara ntia d iv ina de

q u e a lg um as d as e vi de nc ia s d e n 08 S0 8 s en t id os sa o co rretas ,

A na o s:r q ue saibarnos qu e Deus garante pelo m en os p arte d aq uilo e m qu e

n os so s s cn ti do s n os levarn a c re r, n ao terernos q ua isq ue r c re nc as v erd ad eira s e

i rr ev o ga v ei s s ob re 0 m un do fisi co . E ntflo n ao c on he ce mo s n ad a so bre e le . A in -

<lQ_Q_~~jm,C0l110 vimos antes, tcm os pclo m onos algum conh ecim en to, j~qu e

c on he cc rn os a s v erd ad cs n ec es sa rie s e rn q ue a crc dita rn os . 0 v crd ad ciro rn oti-

v o p elo q ua l Descartes achava que conheciamos as verdades necessarias e qu e

.n ao p r ecisamos da evidencia d e n oss os s en tid os p ara justificar a c re nc a n es sa s

vcrdades, Su a te oria leva ao ccticism o so brc 0 m undo fisico porquc toda a cvi-

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 24/54

• I N TA OD U C A o A F I L O S O F I A C O N T E M P O R A N E A 2.0 C O N H E C I M EN T O • 61

Mas ternos pclo mcnos urn forte motive p ara re je it ar a i ntc rp re ta ca o e xtr e-

m am cntc rlgida da condicao jusf ficacao de D escartes, sc cia rcalm cntc tern a

conscq iicncia de q ue sabcm os upcnas sobrc a e xistcncia de nossos proprios

p en sa mc nto s; o u s cja , q ue UI l lB tcoria do conhecim ento q ue diz q ue nao pede-

mos saber n ad a s ob rc 0 mundo e111que vivernos torna 0 e on ee ito d e conheci-

rn en to u rn t an to dcs in te res sante . C er ta rn en te t em os c re nc as s ob re 0 mundo e

a lg um as d cla s p ar ec er n SCI' mais just i fi c ada s qu e outras, Mesmo sc 0 conheci-m e nt o n il o c sti ve r d is po ni ve l, a in da p re ci sa rn os d o e on ee it o d e c re nc as j us ti fi -

cadas, E scja Ia 0 q ue f or q ue " ju st if ic ad a" signifiquc, nao podc q uerer d izer

" irr ev og av cl mc ntc j us ti f ic ad a" n cs tc c on te xt e, p or qu c, c om o v im o s, n en hu m a

c re nc a s ob rc 0 m un do I is ic o c j u st i f ic a da i rr cv o gav clment c .

T e l 11 0 s en ta o b a st un i cs motives p ara e spc ra r q ue D es ca rte s e ste ja e rra do

e m i ns is ti r s ob re a j us t] f ic ac ao i rrc vo ga vc l, p or qu e e ss a (c or ia d o c on he ci me n-

(0 l ev a no c c ti ci smo . Mas p or lc m os t al vc z SCI' capazcs de dcscnvo lver um a teo-

ria d e c on he cim en to q ue nno lcvc no ccticisrno s e c nc on tr arm o s o ut ra r na ne ira

de in rc rprc ta r a c o n d i c a o j us ti f ic a < ; i ' i o . H a vc ra l ima m an cir a m cn os e xi gc nt e d e

i nt cr pr ct ar o ss a c on di ca o?

2.4. A m ancira de Locke: a justlflcacilo nao prccisa SCI' to talmcntc

certa

A c ois a m ais o liv ia q ue p odc rn os fa zc r c e nf ra q ue c er a c on di ca o j us ti fi ca -

cao cxigindo, em vcz de e vid cn cia irrcvo gavc l, ap cn as u ma boa evidencia,

C om o in dic ou - M oo re , n orrn alm ente a ce ita rno s q ue sa be mo s q ue te rn os m ao s,

m esm o scm tel' e vi de nc ia i rr cv og av el p ar a i ss o. A evidencia de que tem os \

m aos - quc C 1 1 cvidcncia d e n os so s s cn tido s -_ C l ima cvidencia f or te , a in d a que '

na o forte 0 s uf ic ic nt c p ar n s at is f' <l :; ,c r DC~C;l:·:CS.

,o j ~j.._,.~ rHLCi:1l~ tiCICditar nuquilo,

b) aq uilo d cvc SCI 'vcrd ad ciro cc) voce dcvc tCI' boa evidcncia - n jio ncccssar iarncn tc irrc vo ga ve l - p ara

e ss a c re nc a,

POI' e ssa te oria , n o c on tra rio d a d e D esc arte s, e ll po sso sa be r, p OI' ex em plo , q ue

tc nh o d un s m ao s, p orq ue te nho bo a e vi dc nc ia p ela m in ha propria experiencia

para c ss a m in ha c rc nc a v cr da dc ir a d e q ue tc nh o d ua s rnaos. Alguern q ue a cr e-

dite q ue e vid eu cia d csse tip o 0 0 SlI f ic i en te p a ra 0 c on he ci me nt o d o m un do fisi-

co c c hum ad o d e c ntp lrts ta . E mp irism o c a afirm acao de que a m aioria de to-

da s as nossas crcncas C jusiificada pcla cxpcricncia - ou seja , po r evidencia

cmpirica , como c ch am ad a. E sse tipo d e cvidencia vern d e n os so s s en tid os :

n os sa v is ao , a ud ic ii o. sabot', 01 fato, tate c assim por clian te. Assirn com o os ra -

cio na lis ta s a ch arn q ue 0 mo de le d o c on he ci me nto s ao a s v er da dc s n cc es sa ri as

- - I r as cs q u e p rc ci sa l1 1 SCI' v er da de ir ns o s e mp ir is t< 1s c on sid er am a s v er da de s

: d en cia d e n osso s se ntid os p as sa a SCI' rc vo ga vc l, M as p od crno s d csc ob rir vc r-

d ade s n ec ess aria s s em d ep en de r de i10SS0S p rc c a ri o s s c ni id o s.

. C om o a s le is e arte sia na s d ao e nfa se ,\ c e rtc za , iS S0 l ev a-n os a c on cluir q ue

c on he ce m os u ni ca m en te a qu el as c oi sa s a q ue c he ga rn os a tr av cs d o r ac io cin io ,

s e rn r eco rr e r a e vi de nc ia d os s en ti d os , c m bo ra D es ca rt es e vi te e ss a c on cl us ao .

. A p os ic ao q ue a fi rrn a q ue ch eg am os ao s elementos mais s igni f iea t ivo s d aq ui 1 0

q u e c on he cem os atraves do r ac io cin io e n fio p ela e xp cr ie nc ia e chamado de" ra ci on al is mo ". F al are m os s ob re a n at ur ez a d a s v cr da d es necessar ias 11 0 capi-

t ul o s eg ui nt e, o nd e v ere m os q ue a crc nca ra cio na lista d e qu e t od o n os so conhe-

c im e nt o d e v erd ad es neccssarias C unicam cntc rcsultado de nosso raciocinio

e s ta e r ra d a.

A o bje ca o p rin cip al a o r ac io n al ismo c a rt es iu n o, 11 0 cntanto, c qu e cl e leva

I)a o c etic is mo so bre 0 mundo fisico.·Nao c sim plcsm cntc absurdo - 0 p io r t ip o

d e d is pa ra te f ilo so fi co - d iz er q ue n ao s ab cm o s s ob rc a c xi st cn ci » d e I lC nh U l1 1 b-

j e to f is ic o ? 0 fi losofo ingles G.E. M oore ergueu as maos para cxpressar s ua ir-

ritacao co m aqueles qu e ncgam a cxistcncia do "mundo cxtcrno", 0 mundo

"fo ra " de no ssa s m en te s, e dis se q ue c le c crt am cn tc s ab in q ue s ua s m a os c x is ti ar n.

oq ue e le e st av a fazendc er a prcsumir qu e d cv cr ia mo s r cj cit ar u ma tc or ia qu e

te m u ma conclusao ta o absurda C0l110 a de dizcr que M oore I1JO sa bia q ue t i n h a

duas m aos. M uitas ve zes, na f il os o fi a, a r gu r nc n tumo s c on tr a L Im a p os ic ao d e-

m on stra nd o q ue c ia te m c on se qiie nc ia s a bs urd as: lim p ro cc dim on to c ha ma do

de reductio ad absurdum (ou reduct io , de forma ubrcviada ) que 6 a cxprcs-

sao em latim para "reducao ao absurdo." 0 argum cnto de M oore foi que dc ve-

ria mo s re je ita r u ma te oria filo so fic a d o c on he cim en to q ue n os le va a c on eluir

que nao sabem os que n os sa s p ro pr ia s m fi os c xi st cm . E d c vc ri ar n os r c jc ii a- la

po rq ue e ssa c on se qu en cia a re du z a o a bsu rdo .

R im porta nte p ro va r e m l l111 reductio que a conscqucncia que dcla cxtrai-

m os nao so nos p arece a bsu rd a m as n a vcrd ad c c til:::: <:;n i. < :-;;L Ni' :.:" .:1>

g ui nt e f ala re m os s ob re 0 fa to de que, sc voce pudcr chcgar a 1I11la conclusao

falsa a partir de um a posicao, a p ro p ri a p os ic ao d cv c SCI' lalsa. Como c a n , Isi-d ad e d a conclusao que indica que a posicao deve SCI' falsa, < IS vezcs no s refcri-

m os a um argumento com o urn reductio sim plesm en te p orq uc ele m ostra qu e

um a d ete rm in ad a p osic ao le va aquilo q ue (a n osso v cr) c urna c on cl us ao f al sa .

Na o ha d uv id a d e q ue te rn os q ue te l' cu id ad o co rn 0 reduction ad absurdum

corno.uma forma de argum ento. Isso porquc ncm scm prc 'J o bvio q ue a qu ilo

q ue c ons ide ra mo s urn a bsu rd o c realmcntc f a l se . Durante muito tempo, pOI'

e xe mp lo , po de te r sid o c ons ide ra clo a bsu rd o c hc ga r ,t conclusao de que D eus

nao existe. Hoje, n o e nta nto, a te p esso as que acrcditam em Deus concordarn

q ue n ao e absurdo su po r q ue nao ha um Deus (cmbora eles achcm qu e 6 urn

e rro a cre dita r n iss o). P orta nto , a nte s de re je ita r a p osic iio d e D esc arte s c om o

fe z M o or e, d ev em os c on si de ra r scriarncntc a posxibi Iid ad c de () ta ro d e !la o sa -

bennos nada do m undo externo nao ser!(!I,I 'o . .

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 25/54

• I N T R o D U g A o A F IL O S O FI A C O N T EM P O R A N E A

.~~ ~~~ -= -~u ~~ e po dernn ao ter sid o vcrdadciras+ com o sen m odele. (F nla-a id eia d e a s v er da de s se re m necessaria: ou contiugentes n o c ap i-

tu lo se gu in te .) P ar a u m r ac io na lis ta C0l110 Descartes , "2+2=4" scria um born

exemplo d e a lg o q ue sabemos, porque 0 racioci ni o podc nos da r cvidcncia irrc-

vogavel d e q ue isso 6 v er da de . P ar a L Im cm p i ri st a , l ima f ra se C 0l1 10 "Esta cho-vendo aqui" dita po r algu em qu e esta parade na chuva, seria U11 l b or n e xemp lo

de algo qu e alg uem sabe.

.D escartes foi um racionalista im portantc . 0 fi lo so fo in glc s Jo hn L oc ke ,q ue tam bem escreveu no seculo X VII, foi urn d os f un da do rc s d o em pir ism o

m odem o. N o livro d ois, capitu lo urn , secao 2 , d e SCLI Ensaio sobre 0 conheci-

mento humano, u m do s g rand es classicos do em pirism o, elc d iz :

Todas as ideias Vent da Sensac/k: Oil da Rcflexiio. Suponhamos en-

t ao q ue a m e nt e s eja , c om o J iZ C Ill OS ,i ma I ol ha e m b ra nc o, v az ia d ct od o s o s s im b ol os , s CI I' n c nh um a i dc ia : COIllO c q ue c ia ch cg a 11 sc rp re en c hi da ? D e o nd c VCI11 a q uc l c v r .s to c s to q u c q u e ,l flllllasia.f"n:n6-tica e se m lim ite s d o h om em p in to u sa bre c ia co rn lim a variedadcq ua se i nf in it a? D e o nd c c ia o btc m l od os o s matcriais d a r az 50 C doe on he ci me nto ? A is so c u r es po nd e. e m li ma p ala vr a, ('xpcl'ir'ncil1.

N is so t od o n o ss o c on h ec im e nt o c st a b as ca do : e d is so , cm ultirna ins-

t an ci a, e le s e o ri gi na .

E mbo ra isso seja um a d eclaracao bastan tc clara d as bases do em pirism o,

o que Locke esta dizendo nao e tao sim ples quan to parccc. H a duas razocs

p ar a is so .

E m prim eiro lug ar, Lo cke tin ha um a co ncep cao especia l daqu ilo qu c n os-

sas m entes con tem . Nosso conhecim ento, segundo cle, esta arm azcnado em

n ossas m entes na form a de co lecces de ideias, E ssas ideias sao 0 q ue c lc c ha m a

de "materiais'' do con hecim ento: eles sao, q uasc q ue litcra lm cn tc , aq uilo d e

qu e n osso con hecim ento 6 feito. P ortan to . quan do L ock e d iz q ue no sso co nh e-

c im e nto t od o e basead o na cx pcrien cia . c lc n ao qu cr d izcr q ue 1l0SS() conheci-

m e nt o to do ejustificado p ela e xp erie nc ia . A o c on tra rio , q uer d iz er q ue 1150 po -

f d em o s te r n en hu m a . id 6i a q l:e n ?o p os sa s c o ri gi na l d a c XI :c ric ll cia ; e q l~ ~,'! Jl: r'

I ta nto to do 0 con hectm en to c feito de m atcn ats qu e sc orig tm m da cxpertcncia.\ C om ~ verem os a segu ir, 6 m u ito importante q ue L oc ke n ac te l~ ha a firm ad o q ue

.to do n osso c on he cim en to te rn q ue scrjllslijiclldo pcla cxpcrtencia.

U m segundo m otivo para que 0 que Locke d iz aqui nao seja tao sim ples

q u a ri fo p a re c e e qu e po r "exp erien cia" L ocke q ucr d izcr u lg o m ais d e qu ~ m cra

sen sa ca o. N o liv ro d ois, ca pitu lo u rn , sc co cs 3 c 4 , c lc a rg ul1 1en t< t qu e 1 \ ( \ duns

f on te s d e id ei as n a e xp er ie nc ia :

Os ohjc/os da sensaci io , i uuoton«: de ide ias. P ri mc ir «. n os so s s en ti -

dos , tamiliarizados co m ccrtos objctos sClls ivcis, . real l l1el l tc t ransl l1~-tern a men te v a ri e s p c rc c pc o cs d i lc r cn t cs d a s C ( )I S il ~ ',e gu nd o a s va -r ia s m a ne ir as n as q u ai s aquclc« ob jcios os in f1ucnc i ,I I l". .. I~ s sag ran -d e f on te d a m ai or p ar te d a.' id ci as (jIIC [cIllOS. dcpel1<ienlcsInteml-

I.:.,.,

2. 0 C O N H E C I M E N T O • 63

mente de 11<)SSOS s cn tio os c o rig in an do -s c d ole s para 0 conhecimen-to , cu chamo de Sf:NSII('Ao.

A., opcrac/ ies de nossas 1 1 7 1 ' 1 1 1 1 ' . 1 ' . 1/ outrafonte dclas . Em s egundo lu-

gar, a outra Iontc da qual a cxpcriencia prove 0 c on h ec im e nt o c omidcins e ,- a perccpc.io du s opc ra cocs de nossa p r op r ia men te , q u andocia ,;C ocupa co m as i d ei a s q u e . i ; \ p os su i: ... C ha rn o is so de REFLE-

xi\(), a s i dc ia s q ue p ro pic ia s cn do u nic am e nt e a qu cla s q ue a m e nteob tcm ao r c fl c ti r s o br c s u as p r op r iu s o p er a co c s i n te r na s . . . E s sa s d u a sc oi sa s, d ig o e ll , o u s cj a, a s c oi sa s m a te ri al s e xt er n a s , c omo objctos

da SENSA(,,\() c a s o pe ra co cs i nt er na s d e n os sa s p ro pr ia s m e nt es ,COI l lOob jcios dn REFLEX i \O , sa o a m cu vc r o s u nic os o rig in ais d eon dc tod as a s n os sa s id cia s ob tc m su as origc ns.

T od as as n ossas ideias, entao , vern da exp eriencia: ou da expericncia do

m un do ex tern o a n0 5, na sensac.Io , o u a exp cricn cia do funcion am ento d e n os-

sas p ro prias m en te s, n a rc fle xa o. E verdade tam bcm que a m aio ria de nossas

c rc nc as sc o rig in a c ia c xp cr ic nc ia. M as, af ir rn a L ock e, ta mbc rn p od cm os c he -

g ar a sa be r a s c oisa s - v er da de s m ate matica s, p or ex er np lo , ta is c om o "2+2=4"

- a.raves do racio cin io , q ue elc cham a d e "dcm onstracao". A "d em onstracao

m atcm atica" diz elc, "n ao dcpend e do sen ti do " (L ivro Ires , cap itulo o nze, se-

9a O 6 ). M esm o a qu i, n o c nta nto , n osso c on he cim en to c baseado n a e x p er ie n -

c ia : p or qu e n os sa s iJ~iDS dos num cros 2 e 4, ou sobre adicao c a igualdade dos

nurneros, segundo Locke, o riginam -sc tanto da cxperiencia quan ta nossas

id eias de m esas c cadeiras. L ock e ach ava, po r exem plo, qu e a id eia d o n um ero

2 tin ha se o rig in ad o d e n ossa s e xp er ie nc ias d e p are s d e co isa s, p or "a bstra cao ",

S eg ue-so , p ortanto, qu e cm bora L ocke enfatizc que n ossas id eias vern d a

cxp ' cr J " ci1c iaou s ao bascadas na cx periencia , e lc tam bern pede conco rdar q ue a

razao, assim com o a exp ericncia, po de ser um a fonte de co nh ecim en to . L ock e

p od c, p orta nto , a ccita r to do s o s tip os d e co nh ec im en to p erm itid os p ela teo ria

d e D es ca rt es , s cm , n o c nta nto , c sta r r cs tr it o a qu cl as v cr c1 ad es q ue c on he ce m os

C01l10 i rrcvogaveis . POl' isso ele po de afirm ar qu e as vezcs chcgarn os a saber as

c oisa s p OI ' ou tr os r nc io s q ue n ao se jar o 0 raciocinio.

E m pirism o c om o u ma ab or da gc m a c pisrc mo lo gia c rc sc eu lad o a la do c om

a ciencia m oderns . L ock e foi co ntcm poran co de S ir Isaac N ew ton ,0

primeirog ran de fisic o m od ern o. E ssa c on ex ao en tr e 0 d cse nvo lvim cn to d o em pir ism o e

o d a cie nc ia n ao d eve 110S su rp ree nd er m uito . N a su a b usc a d e c on he cim en to d o

m und o fisico , a ciencia depcnd e m uito da ex pcrien cia . A te a p sicolog ia , q ue,

p ara sua cvid cn cia , as vezcs d cpcnd c de n ossas cxp cricn cias de n ossa p ro pria

vida n-cntal, d cp cn dc d a cx pc ric nc ia n o se ntid o lo ck ian o. P ois, lcm bre m-sc ,

Locke considcrava a "rcflexao' ~ . q ue segundo elc era nossa oxpericncia de

n ossa s p ro pr ia s v id as m en ta is - c om o u rn tip o d e cx pe ricn cia .

A idcia basica de que grande parte de nosso conhecim ento se o rig ina de

n ossas c xp cric nc ia s d o m un do C , p or ta nt o, b as ta ntc a tr ae nt e e m um a e ra c ie nt i-

fica. E clare, a m atcm atica tam bcm 6 importantc p ar a a c ie nc ia l 11 0d e rn a e a pr en -

d cm o s f a; os m a tc ll1 ,\ ti co s n an p cl a c xp cr ic il cia C silll - co mo L ock e in dicou ...

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 26/54

• ' I N TR O D U g A o A F IL O S O FI A C O N T E M P OR A N E A

",,,,,,u,uuv n osso s p od ere s d e rac io cin io . 1 \,1 a8m csm o n a fisica m atem atic a, q ue

u sa m ais m atem atic a q ue a m aio r p arte d as cicncias, a evidcncia da expc ri cnc i a

e e xt rem amen te impo r ta n te .-I ")! .-

.,;. A pesar dis s o, um a coisa e d iz er q ue so conhcccm os as coisas em q L1 C acre-

d ita mo s c orre ta me nte e q ue a e xp eric nc ia - o u d cm ollstr n< ,;a o-- ju sti fica nossa

c re nc a n aq ue la s c ois as. O utra e d i ze r p r cci s amcn t c como e q ue n ossa s c xp c-

rien cias ju stific am n ossas c re nca s. R ealm cn tc , ja n os d cp ararn os co rn 0 fatoq ue c ria 0 p ro ble ma p rin cip al p ar a 0 c n-p ir is mo : a c vid cn cia d a c xp cri cn cia csempre r ev og av el , I ss o significa que a evidencia qu e tcmos podc, em cad a

ca so , e sta rn os en ga nan do . E nta o tc mo s q ue p erg un ta r se h a alg um a m an eira d e

d ec id ir d e q ue evidencia devemos d ep en de r. E m rcsposta a cssa pcrgunta, os

empiristas te ntaram d ese nvo lver a id eia d e q ue a lg un s d os c on hec im en to s q ue

a dq uir im os n a e x pe r ie n ci a f o rn e ccm as base s p ara 0 res t o d e nosso conheci-

mento. E le s a rg urn cn ta ra m, c orn c fc iro , q ue todo nosso conhecimento 6 ba sc a -

d o em u ma c ate go ria b asica d e c oisa s q ue co nh ccc mo s. E ssa a bo rd ag em e cha-

mada de e p is temo lo g ia f u nd a ci on a li st a .

2.5. A s b as es d o c on he ci me nto

S eg un do to d as a s e pi st em o lo gi as f un da ci on al is ta s,

a ) p re ci sa m os e ne on tr ar a lg um a c atc go ria d e cr eu ca s s ob rc a s q ua is t er no s

conhecimento seg uro ; e

b) q uan do en co ntra rrn os cssa ca te go ria , p od cm os e n ta o h on rar alg um as d e

n os sa s o utr as c re nc as c om ° status e sp ec ia l d e c on he ci me nto , d cm o ns tr an -

d o q ue e la s s ao a pro pria da me nte s us tc nta da s pc los m cm br os d es sa c at cg o -

ria de c re ~~as f u nd a ci on a is .

P o rt an to , a e pi st em o lo gi a fundacionalista prccisu responder d u ns p c rg u nt as

principais:

a) a natureza dasfundaciies: qu ais sao as crcncas fu ud ac io na is ? c

b ) a natureza dajustificaciio; e01110 C q ue a s cr cn ca s f u n d a c i o n a i s suslcn-

ta m a s o utra s crencas derivativas?S e p ud errn os en co ntra r a s crcncas fundacionais corrc tas e a c xp l'c ac ao c cr ta

p ara c om o e las sustentam o u tr a s c r cn c a s, talvcz scja possivcl c nc on tr ar l im a

. maneira de solucionar a questao de Marie, a c i cn t is t a i ncsc rupu losa , c a do

d em onio de D escartes. C om as respostas corrc tas para cssas duas pcrguntas,

pod eriam os ser capazes de Iidar com os problem as criados pelo fato de qu e a

evidencia da experiencia e s e rn p rc r c vo g avc l . V ale a pcna investigar a po ss i-

bilidade.

Eu disse ha poueo que 0 fu nd acio na lism o atraiu m uito s cm pirista s. M as

el e e u ma c on ce pc ao n atu ra l ta mb cm p ara q ua lq u cr r ac io na l is la . O s ra cio na lis -

ta s a cre ditam q ue 0 raciocinio c a m clhor fontc de conhecim ento: c, no tipo

2 . 0 C O N H E C I M E N T O • 6 5

m ais rig oro so d e rac io cin io . o u scja , a dernonstracao m ate ma tic a - cornccarnos

c om ax io rn as, q ue sa o n ossa s ba ses, e p ro ce dem os p or m eio d e p asso s l6g ico s

ate no ssas conclusocs, O s axiom as sao seguro s: eles sao as bases. E des sus-

ten tarn a s c on scq uc ncia s a q ue ch eg am os d a m an eira m ais p od ero sa p ossivel:

irrevoguvcl mel itc,

Ne ss e a sp ec to , Descartes Curn racionalista tipico. Para ele a c ate go ria f un -

d ac io nal era ap en as a c ate go ria d e p en sam cn to s so bre a q ual n ao p od iam os te l'd u vi da s, p o rq u c tinharnos c vid cn cia irr ev og av cl p ara c la s. S eu c on he cid o slo-

gan "Pense , logo cx isto" er a u m a c ois a q ue e le c on si dc ra v a i nd u bi ta v el . N a o

e ra p ossive l d uvid ar d isso p orq ue vo ce n ao p od eria se r en ga nad o c om relacao a

is so . A te a lg uc m la O in tc lig cn tc q ua nto a M a rie , n os sa c ie ntis ta i ne sc ru pu lo sa ,

na o p od er ia e st ar enganando 0 c er eb ro s e c ia tivesse c on seg uid o q ue e le p en -

s as se q ue e st av a p cn sa nd o; e s c c lc p e ns a ss e isso, sabcri a q ue e xis tia , p orq ue

na o c p os siv cl p cn sa r s cm c xis tir.

E p re cis e o bs cr va r q ue h it muiios argum entos da form a do cogito q ue sa o

ig ua lm cn te v alid os , P O I\ ex em plo , " Eu r io , lo go e xis to ". E verd ad e q ue vo ce

na o p od c p cnsar sc vo ce n ao cxistir, m as v oc e ta mp ou co p od c rir s c n ao c xis tir.

o qu e c especial sobrc 0 cogito e que a premissa - "Pense" - e a lg o q ue na o em eram cn te vc rd ad ciro scm pre q ue e u p en so isso , m as ta mbern e i nd ub it av el o u

ce rto , se gu nd o D esc arte s, to das a s ve ze s q ue p en so isso . "R io ", p OI' ou tro la do ,

e algo CI11 q ue a lg ucm q ue n ao c stive sse rin do p od cria ae red ita r (p ot' ex em plo ,

Albert, no toncl). 0 motive p ol o q ua l D es ca rt es queria uma prernissa q ue f os se

in du bira vel e ra q ue ele q ueria u sa r a cstrateg ia fu nd ac io nal ista. Q ue ria u ma

p rc m is sa q ue f os sc s cg ur a ( "P e ns o" ) p or qu e achava que um a rg um en to v a li do

q ue te nh a p re rn is sa s s eg ur as p od e tr an sm itir c erte za p ar a a c on clu sa o. (A pre n-

d cre rn os rn ais s ob re a rg urn cn to s v alid os n o c ap itu lo s eg uin te .)

M as, c om o vim os an te rio rrn en te , a c ateg oria fu nd ac io nal d e D esca rtes

e rn p c qu c na dernais p ara d ar-n os u ma base p ara 0 c on he cim en to d o m un do fi-

sieo. P oi s n ao h: 1 nada·- a n ao SC I'110SS(15 m entes - euja e xi st en ci a s ej a segura.

C om o D esc arte s c xig ia q ue to do co nh ec im en to fo ssc sc gu ro , isso levo u 1 1ati-

tucle gcral de duvida que 6 a form a m ais extrem a de cctic ism o a respeito do

r nu n do f is ic o .

P ara L oc ke, p OI' D utro lad o, a c atcg oria fu nd acio na l d e c re nca s, d a q ual se

origin a n o ss o co nh ec im en to d o r nundo fisico, c a categoria d e c re nc as p er ce p-

tu ais. L oc ke e ra , p ortan to , u rn c xp oe nte d e u ma fo rm a d e em pirism o, a e piste -

m olo gia fu nd acio na lista , em q ue n ossa s cren cas so bre 0 m undo tern que ser

s us te nta da s p or e xp er ie nc ia s en so ria l, a ss im c om o n os sa s c re nc as s ob re n os sa s

m entes [em que ser su stentadas pela reflexao, E ssa era a concepcao de Lock e

d a n atu re za d as f un da co es .

Locke cstava a par do s argu mentos de D escartes c do ccticism o com rela-

91\0 110 m undo fisico a que clcs tao facilm cn tc conduziam . M as tinha um a res-

p osta p ara c lcs, q ue d ep cn de d e d ua s afirm ac ocs p rin cip als:

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 27/54

i . I N T R O D U g i i o A F IL O S O FI A C O N T E M P O R A N E A

a ) N o ssa s e xp erie nc ia s s ao in vo lu nta ria s, N ao p od cm os sim plc sm cntc cs -

. c ol he r a s experiencias qu e devcmos ter. Posse dccidir se a brir o u n ao inCUS

olhos. M as nao posso escolher se verei ou nao estc livro na m inha frcnte

.q ua ndo a brir o s o lh os . P orta nto d ev e s er algum a outra coisa que nao a m i-

n ha m ente q ue c au sa m inh as e xpe rie nc ia s.

1 ;» N ossa s e xpe rien cia s sa o c om pa tiv eis: "N osso s se n-id es ern m uito s c a-

. sos atestam a verdade dos relatos uns dos outros". POI' exernplo, podernos

verificar 0 q ue nossos olhos nos dizern quando vernos u rna Iogucira usan-

d o n ossa s m ao s p ara se ntir se ll c alo r.

E ss es s ao , r ea lm e nt e, a rg um e nt os q ue p od cri am s at is ltl Zc r a lg uc m q ue c st iv cs -

s e p re oc up ad o e m s ab er s e a lg um a s e xp eri cn cia s cspccificas cram, ria vcrdade,

confiaveis. Se e u n ao tiv esse c erte za se ur na v is ao 11 0 dcscrto era OLi !l50 uma

m ira ge m, p or e xe mp lo , se ria u til ve rific ar se m eu s o utro s s en.id os a c on firm a-

vam . E u poderia correr ate onde a llgua parecia estar para descobrir se era pos-

sive l toc a-la o u prov a-la , D a m esm a forma, parece razoavel pensar que se ell

pudesse·fazer com que um a experiencia aparecessc e desaparecesse simples-

m en te pe la m in ha vo nta de , e n ta o a que la e xp erie ncia n fio po de ria se r e vide nc ia

para a ex istencia de um objeto fisico . M as observe que ncnhum desscs pontes

r ea lm e nt e s at is fa z a preocupacao do cetico. Po is A lbe rt ,0

cerebro n a c ub a, po-.d eria pe nsa r q ue (a ) su as expcriencias cram involuntarius c (b) clas cram COI11-

p at iv ei s; m as a in da a ss im e le e sta ri a errado se acreditasse em SCLIS sentidos. Eo

dem onio tam bem faria com que as expcricncias d e D es ca rt es fo ss em t an to e O I1 1-

p at iv ei s q ua nta i nv ol un ta ri as '- OL i p elo m cno s ta o c om pa tivc is e ta o in volu nta -

ria s c om o e la s sa o n a re alid ad e.

o problem a e que ernbora a n a tu r ez a involuntaria de m in ha e xp er ic nc ia

possa dem onstrar q ue ela deve ter alguma causa cxterna a m in ha m e nt e COl1S-

c ien te , a h is to ria de q ue ell sou um cerebro em um a cuba parecc cxpiicar a na-

tureza involuntaria d e m i nh a experiencia de L im a ma nc i ra ta o a dc qu ada q ua n-

t o a h is t6 ri a d e q ue e sto u v iv en ci an do Li m mundo real. E cmbo ra it cornpatibi-

Iid ade d e n ossa e xp erie nc ia re al m en te p re cise SCI' e x p i ic ad a, p arcc c q ue a h i ~;-

t6ria de que eu sou um cerebro em um a cuba poderia ser cxatamcnre a c x pl i-c ac ao c orre ta . P are ee q ue d iz er q ue n os sa c xp cric nc ia c a pcn as u ma c vid cn -

cia revogavel para a existencia das coisas no rnundo Cm cra mc nte a dm itir q ue

a sugestao d e q ue to da s a s n ossa s expericncias sa o u ma frau de e L ima po ss i bi -

'lida de re al. S e isso e v erd ad e, se ja qual fo r 0m otiv e q ue alegarmos p ar a c on -

fiar.em n os so s s en tido s n ao podera eliminar a possibilidadc de que eles cstc-

j am n os e ng an an do . Alguern qu e ere qu e nao tcmos d ire ito d e pcnsar 11<I1)('ssi-

b ilid ad e de q ue a lgu ma de n ossa s crcncas sobre 0 mundo podcria nao cstar cr-

rada e cham ado de falibilista.

L oc ke se gu iu e ssa v erte nte d e argum cntacao c dissc, portanto, q ue nossos

sentidos no s dfio f un da me nt os p ara crcncas provtiveis, n50 pa m crcncus 1'('/'/0.1'.

M as a s egu ir a firm ou q ue , n a pra tic a. p ro ba bi Iid ud c ~ tud o d e q ue p rc c isarnos.

2. 0 C O N H E C I M E N T O • 6 7

t'

A qu clc q ue , 110S as sun tos o rdin ar i es c ia v ida, na o adrnitissc qualqucrcoisa qu c na o f oss c lim a d em o ns tra ca o d ir eta e clara, n ao t er ia s eg u-

ranca de nada neste m undo a nao scr a de m orrer rapidam ente.

A c ert cz a v e1 11s orn cn tc c om a s v erd ad cs c ia r az ao q ue p od em os e st ab el ee er

por "detnonstracao direta e clara". S e VOCl2 so aceitar essas verdades e recu-

sar-se a acreditar n il cvidcncia d e s el ls scntidos, d iz L o ck e, sim plcsm ente aca-

ba ra so fre nd o as c on sc qiic nc ia s. 0 c cticism o po de p arc ce r u ma po ss ib rlid ade

r ea l n a t co ri a, 1 1 1 : 1 5 ningucrn p odc ria s ob rcv iv cr se n d o c ctic o n o rnundo real.

A dcfin icao de conhecim ento de L ocke csta m ais prox im a da de D escartes

do que prcsumimos normulmcntc, !lo~~cn( ido de que de concorda com muitas

de nossas prctcnsocs de que conhcccm os dcterm inadas coisas com base no

sensa C')I11Un1. Elc accitu , por cxem plo , que sabcm os que ternos duas m aos,

p ~ ~ q i . i e i e l l 1 o s evidcn cia com pativel oriund a d e n os sa expericncia d e q ue t ern os

m aos , C ornc ca rno s n os sa b usc a po r lim a d efin ic ao de c onh ec im en to n a e xp ec -

t at i v a d e q ue p od crl am os r es po nd er a pergunta se sabem os q ue nao som os ape-

nus urn ccrcbro em algum Jluido e, se sabem os, com o 0 sabernos. A re sp os ta de

L oc ke te rn q ue S cI' qu e sim , q ue sabcmos isso, P oi s, c om o v im os , 0 PD.r signifi-

en q ue , se acrcditamos algo c e ss e a lg o c u ma c on scq ue nc ia lo gic a d e o ut ra coi-

' saque conhccemos, cntao tambcm conhcccmos esse algo. E como 0 fa to dem i nh a c xp cr ic nc ia nao se;' apcnas um a fraudc de Marie c um a conscqiicncia 10-

gica dem cu conhecim ento de q ue estou vivenciando m inhas duas m aos, devo

saber q ue nao sou apcnas U I 1 1 ccrcbro na cuba de M arie.

Quanto a e xp lic ac ao d e L oc ke sa bre 0 m otiv o p elo q ua l 0 cerebro em um a

c ub a n ao s a b e c oi sa s s ob re 0 mu nd o f is ic o, c que deve ser porq ue as crencas do

cerebro sao/alsas, na o que e la s s ao injustificadas. Pois e a evidencia que justi-

fic a as c rc nc as e u m c creb ro e rn u ma c ub a tc ria e xa ta rne nte a m csm a e vide nc ia

de ;que scus sen tid os nfio a e sta va rn e ng an and o do q ue a q ue eu t en ho n es te mo -

mente de q ue os m cus na o estao 11 1eenganando. Segue-so qu e 0 cerebro tem

tanta jusiificacao para dizcr que suas crencas sao verdadeiras com o eu tenho

paraas iriinlias.

N o entanto , essa cxplicacao do m otive pelo qual 0 ccrebro de A lbert nao

sabe das coisas a respcito do m undo e p ro blc ma tic a, S up on ha mos q ue M arie

p crm itiu no c creb ro d e A lb ert te l' a lgu ma s c rc nc us v crda dc ira s, S up on ha mo s

tambern q ue c Ia 0 fe z a crcd ita r q ue { )so l e sta va b rilha nd o e 111u m dia e m q ue 0

s ol re al mc nt e e st av a b ri lh an do . S up on ha m os , alern disso, que ela fez com que

ele acrcditassc em tudo isso, dando-lhc cx atam entc a cvidcncia que eu tcnho

neste m em ento de q ue 0 sol esta brilhando (que, no m eu case, C 0 r es ult ad o d e

el l tel' olhado peiajanela Cl11lll11dia d e s ol ). N ao 6 ne m precise dizer q ue A lb er t

1 1 , 1 0 saberia qu e 0 so l c s ta b ri lh a nd o. No en ta n t o, L o ck e tcria qu e dizcr que sim ,

q ue A lb er t 0 sabia j{1 qu e 0 c cr cb ro t er ia u ma c rc nc a v crd ad cir a j us ti fi ca da :

(/\ f in al, n c rc nca de /\ lbcrt c ta o j us t! f ic ad n q u an to H m inha: tcm os a 111e.,l11il

e vid cnc ia .) /\ c onc cp ca o d e D esc arte s d o c Ol1 he cim cn to - q ue c xig ia c vide nc ia

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 28/54

6 ,8 , . · . I N T A O D U ~ A o F IL O S O FI A C O N T EM P O R A N E A

irr evo gav el= le va va a o e etie ism o. E le tin ha q ue ncgar qu e s ab iamos q ua lq ue r

c o is a s o br e 0m un do f isie o. P orta nto , su a te or ia le va va ,I c on clu sa o d e q ue n ao

saoemos alg um as das eoisas q ue n a verd ad e sabernos. Mas se simplesmente

d es va lo ri za rm o s a condicao justificacao d e D esc arte s p ar a permitir evidencia

~

e VO g aV el' o bte re mo s a te or ia d e L oc ke - q ue le va a conclusao de que 0 cerebro

Iab e ~OiS1S q .u e e ~ e n ~ o. s ab ~. S e 0 e~n~1ecimento e c re nc a v er da de ir a j us ti fi ca -a , n ao e assim t ao f ac t! evitar 0 ceticismo,

2.6. M eio s d e evitar 0 cetic ismo I: verificacionismo

A s eg u ir q u er o examinar um a concepcao d o c on he cim en to q ue te ve muita

in flu en cia n o se cu lo X X e q ue p arc cc o fe rc ee r urn mcio d e c v it ar 0 im p as se c c-

t ico. E um a concepcao q ue m en cio ne i v ag ar nc nte n o c ap itu lo a nte rio r, o u sc ja,

o veriflcacio nism o. D escrevi-o com o a idcia de que n ao hri um a questao real

s e, p or m a is evidencia qu e se tenha, n ao f ur p os si ve l d ec id ir l ima qucst iio . D e-

c id ir u m a questao, n e st e c o n te x to , e decidir sc ur n estado espcci f ic o d e coisas

ex iste ou n ao n o m un do .

C om o estam os n orm alrn ente p rco cu pado s co m cstad os d e coisas q ue po -

d em os d is cu tir e m n osso id io ma , o s v erific ac io nis ta s n orm al m en te e xp res sa m

su a posicao em terrn os d e frases qu e descrevem estados de coisas. Frascs qu e

d escrevem estado d e co isas e po dem po rtan to S CI'verdad eiras (se 0 estado de

coisas e com o elas dizem que e) ou falsas (se nao 0 e ) p od em ser ch am adas de

frases declara tivas. E las fazem afirm aco es sobrc a crenca qu e a pesso a q ue as

d iz t er n s ob re 0 mun do . P o rt an to , p od em os c xp rc ssa r v er i f ic ac io n iS1110c ia s c-

g u in te m a n ei ra :

V: P ar a c ad a f ra se d ec la ra ti va , d ev e h av er algum ti po d e evidcncia q ue fo r-

n e9a bases p ara acred itar - ou nao acrcdi tnr - ncla,

U m a frasep ara a qu al ha u ma p ossibilid ad e d e e vid en cia - - a fa vo r o u c on tr a - - e

c ha m a da d e f ra se v er lf ic av el . T od as a s s cn tc nc as d cc la ru ti va s, d iz 0 vcrificacio-

n ista, d eve m se r v erific ave is. E ss a te se , q ue c ha mar no s d e p rin clp io d e v erifl-

cacao, e u ma ve rs ao ra dic al d o e rn pir ism o> ra dic al p orq uc c ia diz, co m cfcito,q ue tod as as p ro po sicces q ue fazem um a alcgacao sobrc 0 mundo prccisarn cs-

t a r s u j ei t as a e vid en cia d a e xp erie nc ia , 0 f ilo so fo a ustrla co M or itz S ch l i ck , q ue

f oi u ma d as fig ur as m ais im po rta nte s d a c sc o la de f l os of ia c h amad a d e po si ti -

vismo 1 6g ic o e q ue d es en vo lv eu 0 verific acion ism o. cham ou ossa conccpcao

de - - ;- ; em_pi ri smocoe ren te " . Mas , a p rim eira vista , tcm -sc a im prcssao d e q ue 0

p rincip io d e verificacao presum e q ue 0 universe csta organizado p ar a n os sa

conveniencia epistemologica. Q ue m otives havcria p ara acrcditarrnos nisso?

o m elho r arg um en to em d efesa do p rincipio de veri ficacao d cpcn dc d e al-

g um a s p re m is sa s s ob re l in gu ag em q ue d is cu ti rc m os 110 c ap it ul o s cg ui nt c. M a s

a seg uir faco u m esbo co d o argu men to basico :

2. 0 C O N H EC I M E N T O • 69

P ara q ue n ossa s Im scs Ia ca m sc ntid o, c p re cis e q ue c xis ta m r cg ra s

s obr c c om o u sa -la s, U m s orn q ue vo ce u sa s cm s c gu ir q ua lq ue r r eg ra

nao podc ser um a frasc com sentido. U ma rcgra para urna frase dira

quando voce devc c quando n50 deve usa-la . Por excm plo , a regra

para u sa r a f ra sc " Es to u c om c al or " e , m a is ou menos, q ue v oc e d ev e

u sa-I a q ua nd o q ucr cornun icar 0 fato d e q ue esta se ntin do ca lo r e nao

em outros casos,

U m a m an eir a d e d e fe n d er um a p os ic ao c dernonstrar po r reductio

que 6 lllll crro refutal ' cssa p osic ao , S e p ud erm os d em ons tra r qu e re-fu tar u rna a lcg aca o le va a u ln a c on clu sa o q ue p od em os re co nh ecer

c om o f al sa , e nta o l' a le ga ca o p ro pri am en te d ita d ev e s er v er da de ira .

Portanto suponhamos q ue 0 p rinc ip io d e v er if ic a ca o , V , e falso , evers c i ss o c on du z a u rn a c on clu si io f al sa ,

Suponhamos, e n t ao , q ue p od cr ia h av er urna I ra sc d cc la ra ti va , S , p ar a

it q ua l n fi o f os sc p os si vc l c nc on tr ar , e m q ua is qu er c ir cu ns ta nc ia s, e vi -

d C l1 c ia a f av o r Oll c o nt ra . PO l ' is so , c c la re , n an e xi st ir ia m c ir cu ns ta n-cia s e m q ue scria p osslvcl u sa-ln . M as en t ao . n 50 h avc ria q ua lq uer

rc gra d izc nd o e m q ue circu nstan cias vo ce d cvc ria u sa-I a e em qu e o u-

tr us c irc un sta nc ia s n ao d cv cr ia . M a s, c om o e u d is se , c om o to da s a s fr a-

~e s q ue fa zc m sc ntid o p rc cisa m sc r u sad as tie a co rd o co m alg um a rc -

gra, segue-so que nao pock haver um a frasc COI11 se nti d o ig ua l a S .

A rg um e nt os d es se t ij: JOe nc or aj ar am r nu ito s f il 6s of os a a ce it ar er n 0 v er if i-c ac io nism o, V er if ic ac io nisrn o d iz q ue s6 p od em os f ala r c om a lg um se nti d o d a-

q ue la r ca lid ad e q ue c on siste d e c oisa s q ue a s p es so as sa o ca pa ze s d e d esc ob rir.

C om o eles in sis tcrn q ue to das as frases sao do tipo p ara 0 q ua l te m os e vi de n-

c ia , o s v er if ic ac io ni sta s s ao p ar tic ul ar m en te i nc li na do s a a do ta r 0 p on to d e v is ta

c piste mo lo gic o q ue n os le vo u ao f un cio na lism o n o c ap itu lo a nter io r. R ea lm en -

te, como voce dove tel' observado, 0 argumento em d efesa do verificacionisrno

e m uito parecidc ao argum en to da Iinguagem particular de W ittgenste in.

A qu cl e a rg um cn to d iz ia qu e n ii o p odi amo s no s referir, em u ma lin gu ag em pri-

vada, a coisas so brc as qu ais as p csso as g eralm ente nao p odern saber; este d iz

que n30 podcrnos n os rc fcr ir, em lim a lin gu ag em publica, a coisas sobre as

q uais as p esso as geralrnen te nao p od em saber. E ssa sern elh an ca nao e mui to

surprccndcnte, po is Wi t tg e n st ei n estava bastante Iigado ao C irculo d e V iena, 0grupo d e f il 6s o fo s que fundou 0 positivismo 16gico.

H a du as coisas im portan tes a o bserver so bre esse argu men to em defesa do

veri ficacio nism o. P rim eiro , e le nao d cm on stra q ue p recisam os realm en te ser

c an az es d e encontrar e vid en cia p ara a u c on tr a to da s as f ra se s d ec la ra tiva s. Ep re ci se t el' u m a r eg ra q ue c st ab cl cc a a s c ir cu ns ta nc ia s n as q ua is s er ia a pr op ri a-

d o u sar a f ra sc , M as para q ue haja lim " regra na o e p re ci so q ue n os s ej a p os siv el

r ca lm c n tc e st arm os ern lim a daq uclas circun stancias. N ao po sso ch eg ar ate a

c str ela m ais p ro xim a, c l1 aO sc i c om o m ed ir a te mp era tu ra d e o bje to s a dis tan-

c ia . M a s hil u ma rcgra p crfcitam cntc adcq uad a p ara qu and o u sar a frase "A es-

tre la m ais p ro xim a 6 qu ente": u se-a qu and o q uiser com un icar 0 fato de que a

 

7 . 0 • I N T R O D U ~ A O A F IL O S O F IA C O N T E M P O R A N EA 2. G C O N H E C I M E N T O • 7 1

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 29/54

e s tr el a m a i s p r 6x im a e qu en te, E ssa C u ma Irasc para :1 q ua l v oc e s o podc ri a tel '

eyid~ncia se v i a jas se 4,4 anos lu z ate a Proxima Ccntauri com um ten nornctro,

m e's mo q ue v oce n ao p oss a rea l m ente ch cg ar 1,1n o m em en to atual. Segue-so

quese 0p r in c lp io d e v e ri fi ca c ao e s us te nta do p or e ss e a rg um en to , d cv cm os in -

terpreta-lo com o se ele e xi gi ss e q ue devcria SCI' possivel para alguem, ('III a/-

g um l ug ar , e m a lg um m om en ta , c olig ir e vid cn cia a favor ou contra todas as fra-

ses declarativas, e nao com o se exigissc que dcvcria SCI' possivc] para voce ou

p ara m im e nco ntra rm os e vid en cia a qu i c a go ra ,

Isso n os t ra z a s eg un da c oi sa importantc a observe r sobrc o argurncnto, qu e

6 qu e ele n ao p resu me q ue 0 universe cst;l org.mizado p a ra n o ss a c onvc n ic n ci a

ep is tem o1 6g ica . 0 a rg um en to qu e d ei d ep en de d e p rem is ses s obrc co mo d ov e

sernossa lin gu ag em , e n ao prernissas so brc co mo d ev e s cr 0 u ni ve rs e. M a s h'l

u ma o ut ra m an eir a d e d es en vo lv er 0 a rg um en to q ue C na o e b as ea da em p re-

m iss as so bre lin gu ag em e sim em p rem iss as so bre n os sa s crcn ca s.

Im agine qualquer propriedade, P , sobre a qual tem os crcncas, Para que P

d es em pen he q ua lq uer p ap el e m n oss as v id as e p recis o q ue s eja mos ca pa zes d e

c on ce be r c ir cu ns ta nc ia s n as q ua is a a pl i ca ri am o s. Charnemos c ssas c i rc un st an -

cias de "circunstancias de atribuicao" d e P . N as c ir cu ns ta nc ia s d e a tr ib uic ao

d e u ma p ro pr ie da de , l im o bs cr va do r bern posic iona do podc intcragir com a

p ro pr ie da de d e m an eir as q ue lh e d ar ia m c on he ci me nto s e a p ro pr ie da de e sta Olln ao p res en te. M es mo qu an do n ao s ab em os rea lm en tc s e lim a d cterrn in ad a co i-

s a te rn e ss a p ro pr ie da de , p od em os irnaginar que :

• s e a lg um a c ois a tiv es se e ss a p ro pr ie da de

• se as c ir cu ns ta nc ia s d e a tr ib uic ao c stiv cs sc m p re se nte e c

• s e a lg uern es tiv es se em L im a p os ica o q ue Ih G pc rm itis sc pc rc eb cr a s c ir-

c u ns ta n ci a s d e a tr ib u ic a o,

e ss e a lg ue m p ro va ve lm en te f ic ar ia c ie nte d e q ue a p ro pr ic da dc c sta va p rc se ntc

n aq ue la d et er min ad a c ois a, E nt ao , s e n in gu cm , GIll nenhurna circunsrancia, fo i

ca pa z d e ter a id eia d e lim a de term in ad a p ro pricd ad c, 11()S tarnpouco poderc-

m os te r id eia d ela .

E sse argum ento devc scr particularm cntc atracntc para um a pessoa que

a cr ed it a q ue 0 tip o d e f un ci on al is mo q ue d cs crc vi n o c ap it ul o a nte rio r tern ra -

z a~ . P ois , s e 0 fu ncio na lism o tem ra za o, p ara ca d a crcn ca d cv c h av er LlIll meio

de p od er d iz er q ua l e s el l p ap el f un ci on al, q ue p ap el c ia desernpenha n a d e te r-

m ina eso d aq uilo q ue a s p es so as q ue tern aq uc la c rc n ca i ri 1o ./ il ': (, 1'c omo r cs p os -

ta a s ex perien cia s q ue tern . M as se C i rn po ss iv cl p ara q ua lq uc r p cs so a c hc ga r a

a cre dita rq ue a lg o te rn a pro pried ad e P , e n ta o a crcn ca d e q ue a lg o c P na o [em

q ua lq ue rp ap el f un cio na l: n ao lU I cx pc ric nc ia a ig um a q ue lc va ria a PCSSOtl qu e

te rn a qu ela cren ca a fa ze I' q ua lq ue r c oi sa .

E ssa lin ha de p en sa mcn to p od cria . sc cln bo ra da d e 1()l 'Jl1H n pr op ri ad a, I c-

v ar -n os a a ce ita r u ma v er sa o d o v cr if lc ae io ni- ;I llo : ,H ille < iiI qlll' lodas n s p rn -

~

F

i_.

f

p ric da dc s em lim a ccrta ca tcg oria d cv cm s cr ° tip o d e p ro pr ie da de q ue e sta ria

p rC Se l1 1Ge m d ctc rr nin ad as c ir cu ns ta nc ia s c q ue a s p cs so as p od cr ia m s ab er d is -

<;0, Un18 Iin ha scrnclhan tc de p cn samen to c onduz ir ia a concepcao de que, em

d ete rr nin ad os 1 11 01 11 en to s,t od os o s n om os d ev em tel' circunstancias em que al-

gum agente saberi a que a coisa a que aquele nom e se refere possui um a certa

propriedadc.

S e es se a rg um cnto C s olid o, tcm os m otiv es p ara a cred ita r q ue os co mp or-

ta mc nta lis .a s c o s fu nc io na lista s e sta va rn c crto s quando ncgararn q u e p o de ri a

h av er c sl ad os rncntais privados, Sc houvcssc lIlll es t ad o assirn - chamcmo-lo

dc "S" a lg uc m p od cria tel' a p ro pricd ad c d e tel'S c mbo ra n cn hu ma o utra p es -

so a pudcxsc, e m q un is qu cr c ir cu ns ta nc ia s, s ab er q ue e lc Oll c ia a ti nh a.

o vcrificacionismo niin s() Iornccc fundarncntos p ar a r ej ci ta r a p si co lo gi a

filosofica ca rtesia n" co mo ta mb cm o fc rc ce u ma res po sta p ara 0 c et ic ism o, A s

h ip otc se s c etic as d o d em on ic c ru el c d o c cr eb ro nurna c ub a s ao a m ba s d es tin a-

d as a le va nta r a p os si bi lid ad c d e q ue existent e st ad os d e c oi sa s q ue n ao p od er iam

s er d es co be rto s p or rnais e vid cn cia q ue t iv es se mo s, M a s 0 p ri nc ip io d e v er if t-

c ( 1 c ; : 1 1 0 d iz qu e fra ses q ue te m 0 o bj ctiv o d e d cs cr ev er c sta do s d e c ois as i mp os si -

vcis de dcscobrir nao podcm fa zer scntido , e 0 argurnento que aca be i de dar

tern li in tcn ca o d e m os tra r q uc n in guc m po dc tcr c rc nc as s ob re csta do s d e c oi-

sa s q ue n ao p od cm SCI' d cs co bc rt as . P o rt an to , s c 0 p ri nc ip io d e v er if ic ac ao e st acerro, 0 c eticism o n ao sera u ma p oss ib ilid ad e rea l po rq ue a s h istoria s cetic as

n ao f ar ao s cn ti do , literalrnentc.

Mas C0110 comccarnos c om a h is to ria d e A lb er t, 0 c er eb ro n a c ub a, 0 prin-

c ip io d e v cr if ic ac ao p ro va vc lm cn tc p ar cc cr a im pla us iv cl. A lb cr t n ao p od ia e x-

p lic ita r a difcrcnca e ntr e a s s cg uin tc s d ua s h ip otc se s:

n ) q u e c le c sta va p as sc an do p cl o m un do t en do c xp cr ic nc ia s d e c ois as r ea is ; e

b) que cle era l 1 1 1 1 cc rcb ro em u ma cu ba c om ex pc ricn cia s sim ula da s.

E a h is to ria p ar cc c I nz er s en tid o t ot al. S c c ia r ca lm cn tc f iz er s en tid o, p ar ec e s er

ur n C< lSO o bvio d c a lg o q ue 0 v cr if ic ac io ni st a d iz q ue e i mp os si ve l: u m a q ue st ao

q ue n cn hu ma e vid cn cia p od cri a d ec id ir .

M as c rcalmcntc LlIll c aso qu e 0 veri ficacionista d cv cria a ceita r co mo u rn

co ntra -ex em plo ? P OI' ex em plo , s upo nh arn os qu e M arie en eo ntra ss e u rn n ov o

co rp o p ara A lb ert. E la n ao p od eria e nta o co necta -lo o utra ve z a o co rpo e Ih e d i-

z er q ue s ua s e xp er ie nc ia s d es de 0 a cid cn te f or ar n to da s s im ula da s? E e le e nta o

1 1 1 1 0 t cr ia e vid en cia d e q ue tin hu s id o 1 1 1 1 1 ccrcbro C I 1 1 um a c ub a? E claro, Albert

n ao tin ha q ua lq ucr c on tro lc s ob rc s c M arie rca lm cn tc Ih e fo rn cccria ess a e vi-

dcncia. I 'y1(lS 0 vcrificacionista nao diz que nos tlnham os que ser capazes de

p rod uz ir a cv id cn cia p ar n os so s p r6 prios c sfo rco s, so q ue tin ha qu e s er lo gica -

m e n te p c ss lv c l haver c vi dc nc ia . E o faro d e q ue M a rie p od ia c on ee ta r ° cerebron a cu ba co m Ul11l0VO c or po s ig ni flea q ue p od cr iu m te l' d a do a Albert cvidcncia

de que elc l 1 1 1 1 d ia I in ha s id o l 1 1 1 1 e cr ~b ro e m li ma c ub a.

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 30/54

" . I N T R O D U C A o A F I L O S O F IA C O N T E M P O R t ,N E A

1;il' ' V er if ic ac io n is m o n ao e u til c om o so lu ca o p ara 0 cc tic ism c. 0 c ctic os q ue -

./f~inm a m aneira d e verificar se sua expericncia os csta eng an and o, nao a ga-

'. ·· lr iihtia d e qu e a evidencia de qu e eles cstao sen do en gan ad os po d e eventual-

'm e nt e a pa re ee r. E se 0 v er if ic ac io nis m o e st a c cr to , e lc o fe rc cc a pc na s e ss e t ip o

. 'ma is f ra co d e garantia ,

M as ou tro eam inho para evitar 0 ceticisrno fo i sugcrido reeentcmente .

E ssa n ova a bo rd ag em f oi in sp ira da p or u rn a e ate go ria d e ex ern plo s q ue so la pa -ra m 0 p ri nc ip io , h a mu i to e s t. ab e le c id o , d a d cd uc ao p or ju stif ic ac ao .

2.7. Meios de evitar 0 ceticismo II: tcor ias causais d o c o nh c cim cn to

V im os que a definicao d e c on he ci me nt o d e D es ca rt es obrigou-o a acciiar 0

p rin cip io d e conclusao dedutiva porque elc teve qu e accitar ° principio d e d e-

ducao pOl 'justificacao. M a s L oc ke tambem accita 0 PO l Com cfcito, em todos

o s c asos em q ue tem os um a ju stificacao p ara n ossa crcnca, scgu nd o a rigida in-

t er pr eta ca o d a c on di ca o ju sti fi ca ca o e m D es ca rte s, t cm o s ju sti ficacao tambcm

na ln terp r e tacao menos rigida de Locke. A te h{ 1 pouco tempo, a maioria do s

e pi st em o lo go s p re su m ia q ue 0 PD J c c or re to . M a s em 1%3 , Clll u rn d os p ou co s

exemplos n a h ist6 ria d a filosofia ondc urn argumel1to rcalmcntc novo muda ao ri en ta ca o d a disciplina, 0 fil6sofo amcr icano Edmund Gertler mostrou qu e 0

P OJ estava errado atraves d e u ma seric d e cxcm plo s.

G e t ti er p r ep a ro u 0 t er re n o p ar a s eu s c xc mp lo s c xp l i ci ta nd o pt imcirumcntc

u ma o utra prem issa im portante qu e tod os os cm piristas fazern . O u seja , a pre-

m issa d e q ue p od er ia mo s tel' justificacoes p ara a cre ditar n aq uilo q ue n a v er da -

d e e ra f a1 so . E sta p re m is sa e u m s im p le s coro la rio d a concopcao ernpirista de

Locke de que suas crencas podem ser justificadas po r u ma evidcncia revoga-

v el . P o is , e p re cise le mb ra r, d iz er q ue a e vid en cia re vo ga vel p od e ju stifica r

u m a c re nc a e 0 m esm o que dizer que um a crcnca pode SCI' s us te nt ad a p or u rn a

evidencia q ue seja eo mp ativel co m a p ossib ilid ade d e essa c rc nc a s er falsa. Se

-com o supunha Locke - e a e vid en cia q ue ju stif ic a su a cr cn ca , cn ta o v oc e tcr ia

a m esm a justificacao nos easos em que a crenca fosse falsa ('IU no s cases em

q u e f os se v er da de ir a.

U m do s exem plo s de G e tti er e ra 0 seg uin tc : S up on ha rn os q ue duas pes-

. so as S mith e Jo nes, can did atara tn -se a u rn e rn p re g o. Durante s u a en tr cvi s ta , 0

p re sid en te d a e om pa nh ia em q uem S m ith c on fia va in .f 'o rm ou q ue , n o i} na l: . 1 0 -

n es s er ia s el ec io na do . A e on te ee t ambem que, uns m inutes antes, Smith tinha

percebid o qu e Jon es tinh a d ez m ocdas n o ho lso d o palcto . P ortan to . S mi th tern

u m a f or te evidencia p ar a a po ia r a s eg uin tc p ro po siy al) :

0: Jones e 0 h om em qu e obtera 0 cmprcgo e Jones tcm dcz mocdas no bolso.

De (0) i nf er e- se q u e:

E : 0 hom em que obtera 0 emprego tern dez m ocd as n o bo lso.

2. 0 C O N H E C I M E N T O • 7 3

O ra , S mith sa bc p cr fc ita mc ntc b ern q ue E d cc or re d e 0 , e a ce ita E p re cisa me n-

tc p orqu c acrcdita em D . C o mo tern fo rte e vid en cia p ara 0 , S mith tambern esta

obviamcnte justi ficado p elo P O.! em sua crcnca d e qu e E 6 verdadeira .

M as sup on ham os qu e, ap csar d aq uilo q ue 0 p re sid en te d isse , S m ith , e n ao

J on es , o bt er a 0 e rn p rc go . T a lv cz tenham d ecidid o q ue ele 6 born d em ais p ara

s e r r e eu s ad o . E su po nh am os, ta mb em , q ue 0 p ro prio S mith ten ha d ez m oe da s

no bo lso, cm bora nfio 0 saiba. N es te c as o E e verdadeira ernbora D, que fo i aun ica razao para acrcd itar em E , 6 falsa .

. N o excm plo de G ettier, en tao , todas as (res condicoes que se seguem se

aplicarn:

a) E c vcrdadcira

b) Smi th acrcdita qu e E c vcrdadeira e

e) S mith (em ju stif ic ac oc s p ar a a cr cd iia r qu e E c vcrdadeira,

A c on clu sa o d e G cttier c a s e gu i nt e:

Mas c igu alm cn tc claro qu e S mith 1l~(1 sa be que (E) c vcrdadcira,

P oi s ( E) c v cr du dc ir a d cv id o , \s m o cd as no b ol so d e Smith, cmboraS 11 1i th n ii o s ai bu q ua nt as m o cd as c sti io e m s cu p ro pr io bolso, c b a sc i a

sua crcno: na (E) contagcm (\,IS mocdas no bolso de .JOIlCS, a o m cs-

1Jl() t empo C111 q ue a crc ditu , c rro nc am cn tc , q ue J on es C 0 horncm qu e

obtcra 0 cmprcgo .

, Como e sse cx crn p!o c xig c a p rc miss a d e q ue um a crcnca falsa pode SCI'us -

t if ic ad a, e le s e o pd e il tcoria q ue perrnitc q ue a justificacao a s v ez es s ej a r ev o-

g,1VCl. Portanto, ci a 11<10ignifica q u al qu er a r nc a ca para 0 racionalista qu e acre-

d ita q ue t od as a s e vi de nc ia s d ev cm SCI' i rr ev cg av eis . M a s n ao e a ss im t ii o d i fi ei l

demonstrar qu e 0 PO ! t ar nb em 6 i nc omp at iv e l co m as p rern is sas raeionalistas.

Suponhamos , pOI' e xe rn plo , q ue a cr ed ito q ue a lg um te or em a m ate rn atico

m uito co mplicad o e vcrd adciro, sim plesm cntc po rq uc voce m e d isse isso e eu

t in h a con fund ido vo ce c om um m atcm atico m uito t al en to so . S up on ha m os q ue ,

na ve rdade, voce s cja lim maternatico b as ta nt e r ui m e i n ve n to u 0 teorema irre-

flctidamentc, mas , p or p ura s ortc , aeertou em cheio c c1c c verdadeiro. Supo-n ha rn os . a lc rn d is so , qu c c u s ai ba a lg um as v er da de s m ate matic as da s quais po -

demos inferir e ss e t e or e rn a logicamente embora eu 11c10 saiba que ele decorre

daquelas vcrdadcs. Mais a in da , a tc or ia d e De s ca r te s a c ci ta p lc n am c n tc 0 prin-

cip io de con clu sao d cd utiva , ou soja. q ue tod as as crcncas infcridas d e c oi sa s

q ue cu co nh cco , ell tam bcm con hcco . P ortanto, seg un do D escartes, sei qu e 0

tcorcma c v cr da dc ir o. M a s, c cla re , n a v cr da dc, n ao s ci.

C om o dcvcm os rcagir ,\ d csco bcrta de q ue 0 I 'D J n ao c c o rr ct o? P o dcmo s

cornccar obscrvand o qu e, em cada urn dcsscs casos, fo: pO I' rn cra so rte q ue a

c rc nca q ue ,I p cssoa ad qu iriu Ios sc v crda dcira . E mbora em cad a caso a crcnca

s cj a v cr da dc ir a c j us ti ficada, 0 fa to d e sc r v cr da dc ira n ao te m q ua lq ue r in flu en -

c ia n a r a7.a o q u e [' le va a ser ju stifica da. F oi u ma q ue sta o d e so rte q ue S mith e s-

 

l-

i I N i R O D U C A O A F IL O S O F I A C O N T E M P O R A N E A 2. 0 C O N H E C I M EN T O • 75

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 31/54

.ti~ esse certo em acreditar em E ou q ue eu esteja certo em acreditar no teorem a

. : i h~ te fu A ti co q u e v oc e m e r el at ou . T al ve z, e nt ao , dcvessernos in ter pr cta r a con-

diyao justificacao com o se ela exig isse - com o sugcriu 0 filosofo amcricano

P ete r U ng er- q ue 0 fa to de a c re nc a se r v crd ad eira n ao s cja urn mcr o a c id ent e .

" H A a lg um as te oria s re ce nte s, cstim ula da s em parte pc l as di ficuldadcs de

. G e t tl e r, q ue te nta m d efin ir c on he cim en to d e urna mancira qu e C infcrida pela

concepcao aeima. E a co nte ce q ue e la s tambern nos perm.tern encontrar um a

e sp ec ie d e s ol uc ao p ar a 0 p ro bl em a c cti co c om 0 q u al c or nc ca rn os . E s sa s t eo ri as

s ao c ole ti va me nt e c on he ei da s c om o teorias c au sa is d o c on he cim en to .A ideia basica das teorias causais do conhecimento c que, n fim de eo-

nhecer S,

a) voce precisa acreditar em S,

b) S deve se r ve rd ade ira e

c ) su a c re nc a e m S d ev e se r c aus ad a d e U I1 1Hm an cira a pro pria da .

A interpretacao da condicao justificacao pela teoria causal 6 mais ou m e-

n os a s eg ui nt e: sua crenca esta justificada se eta e causada de uma manei-

ra certa.

O rigin alm en te , su ge riu -se q ue su a c rc nc a d ove SCI' causada -- d e um a rna-

neira apropriada - pelo fato de q ue S e v cr da dc ir a, T co ri as d cs tc t ip o s ao c ap a-

ze s de lidar co m 0 exemplo de G cttic . q ue citc i a cim a. E m bo ra Smith acrcdi-

t as se , c or re ta me nt e, q ue 0 h or ne rn q u e o bt cr ia 0 cmprcgo tinha d cz m o cd as no

bolso, e le te ria a cre dita do a mesma coisa, I llCSI110c o ho rncm que tivcssc obti-

do 0 emprego nao tivesse dez m o ed as n o b ols o. 0 fa te d e 0 homem qu e o b te ri a

o em prego ter dez m oedas no bolso nao era parte cia c ausa quo Sm ith tinha para

a cr ed it ar q ue e le o bt eri a 0 ernprego. Porianto, e m u ma r co ri a.d cs se t ip o, d cv e-

riamos dizer que Sm ith nao sabia quc 0 homern q ue o bt cr ia 0 emprego t inha

dez m oedas no bolso . M as tem os q ue d cs istir cia id cia d e qu e 0 fate q ue f az C0111

qu e a crenca s e ja v e rd ade i ra deve n a v cr da dc causar a crcnca. Pois conhecc-

m os m uitos fatos gerais - tais com o 0 fa to de q ue to dos os ho mc ns s ao m orta is

- e fatos gerais nao podem causal' coisas. (O u pelo m enos c 0 qu e pcnsararn

mu i to s f iI 6s o fo s !)No m om ento em que desistim os da ideia de que 0 fa to q ue torn a a c re nc a

'v er da de ir a d ev eri a r ea lm en te c au sa l' a c re nc a, 0p ro bl em a p ri nc ip al p ara a s t eo . .

~usais e q ue fa la r q ue u ma c re nc a d ov e se r c au sa da d e U IT .am an eira a pro-

priada e e xtr em am e nt e i mp re ei so . P re cis arn os , c nt ao . re sp on de r a pergunta:

C om o, e xa ta m en te , d ec id im os q ua is m a ne ir as s ao a pro pri ad as ?

P odem os dar urn ex em plo im ediatam cnte dem onstraudo q ue nao e qual-

q uer m aneira q ue se apliea. E ste ex e.nplo espccifico vern da obra do fil6sofo

americano A lvin G oldm an, q ue desem penhou um papcl significative para 0

d es en vo lv im e nt o d as t eo ri as c au sa is . A lg uc m c ha rn ad o Henry eS({1dirigindo

s c u c a rr o c v o u rn cstabulo. C o m hase nisso. L 'k l'ill'~~:I:1,1l'1 'l'tiit<ll',C()I'I'l':,II ucn-

t e, q ue lui um c st ab u lo , Como hit u rn c st ab u lo ali eo fato de ele 0 t er v is to ep arte d a c xplic ac ao p ela q ua l e le re alm cnte a cre dita q ue 0e st ab ul o e st a a li , i ss o

p od er ia p ar cc cr urn caso 6bvio de conhecim ento segundo a teoria causal.

Como hc l rnuito pouca duvida de q ue n es se ca so , com o foi descrito, dir iamos

q u e H e nr y sa bia qu e ha via ur n estabulo a li, a te oria v ai in do bem a te a qu i. M as

a s eg ui r G ol dm a n arnplia a h i sto r ia ac rcs ccntando alguns detalhes e x tr as .

S up onh arn os q ue n os d ig arn , sc m q ue H enry saiba, q ue 0 d is tr it o e m

que clc acabou de cntra r csta cheio de capias de cstabulos feitas de

papier-nuiche. Essas c ap ia s s ao mu it o p a rc c id a s co m estabulos mas,n a v c rd n dc , sa o a pc na s f ac ha da s, s cm p ar cd cs de fundo ou intcriorcsc pra tic nm cn tc in ca pn zc s d e s crc m utilizadas c omo c s ta b ul os , Sa o

construidas COI11 t al c ng en ho si da de q ue o s v ia ja nt es i nv ar ia ve lm e nt e

a s con lundcm COI11 e st ab ul os . C 0 l1 10 e le a ca bo u d e e nt ra r n o d is tr it o,

H en ry a in da n it o c nc on tr ou ncnhurna c op ia d e e st ab ul os : 0 objeto

q ue e ll' vi ! C lll11 e sta bu lo v erc la de iro . M as , s c 0 o bjc to n aq ue le lo ca l

!()SSC um a copia , l lcnry a confundiria COIll u rn c stabu lo , C om e ssa

nova inforrnacao, cstariamos fortcmcntc in clin ad os a r eti ra r a a fi r-111,1<;;10 de que Henry sabc que 0 objcto C Ulll cstabulo.

G oldm an sugerc q ue 0 m otive pelo qual nao devem os dizer que H enry

sabe que ha um estabulo al i c q ue , n aq uc le d is tr it o, procurar um e st ab u lo den-

tro de urn carro nao e L Im a m an cira a prop ria da d e d esc ob rir s c h a urn estabulo

ali. P ois, nessa s circu nstd ncia s csp ccia is, ap cn as o lha r pela ja ncla d o c ar ro va ifazcr c om q ue v oc e a cre ditc que ha LIn, cstabulo em muitas ocasioes em qu e

l1ao h it n c nhum . Apenas olliar pela jane la do carro C, nes sa s circunstancias,

li ma m an cir a p ou co confiavcl d e a dq ui rir a c rc nc a d e q ue ha urn c st ab ul o a li .

o q ue o ss a histo ria su gcrc 6 qu e a m a nc ir a a pr op ri ad a de o bre r u ma crenca

v er da dc ir a, s o voce q ucr tcr co nhecim ento, C o btc-la po r lim m cto do qu e e con-fiavel naquclas circunstancias. Urna fo rm a de te oria c au sa l, p orta nto , diz q ue 0

conhecimento e c rc nc a v er da dc ir a p rc du zi da p or u rn m eio q ue e c o nf ia ve l n a s

circunstdncias. A concepcao qu e s ub st it ui a c on di ca o j us ti fi ca ca o fenomeno-

1 6g ic a p ela c on di ca o d e confiabilidadc o bj ct iv a, t al c om o c ss a, e um a form a de

conf iabilismo. Fo rma s d i fe re n tc s de c on fi ab il is m o o fe re cem r na n ei ra s d i st in -

ta s de garantir qe e 0 processo de formacao de u m a c rc nc a c c on fia ve l 0 sufiei-

ente para q ue a crcnca resultan te, se e verdadeira, scja eonsiderada conheci-mento .

O bse rv e q l1e e ss a tc oria e xp lic a p OI' qu e S mith n ao sa bia q ue 0 hom em que

obteria 0 e mp re go e ra 0 q ue tinh a d ez m oe da s n o b olso e , d e U l1 1am an eira m ais

g era l, p or q ue 0 PDJ e sta e rra do . P ois S mith v eio a a cre dita r q ue :

E: 0 hornem qu e obtera 0 emprego tem dez moedas no bolso,

deduzindo isso de

D: Jones e 0 h or nc m q ue obtera 0 cmprcgo c . lo ne s t em d ez m ce da s n o b ol so .

Mas , n cs sa s c ir cu ns ta ncia s, e sta tuio f oi lim a m an cir a c on fia vc l de chcgar (I

acrcditar em I': Pois xc 0 pn\ pl 'i o S ll li lh latnhcm nno tivcx sc, p or p ura coinci-

 

' I N T R O D u g A O A F IL O S O FI A C O N T E M P O R A N E A2 . 0 C O N H E C I M EN T O • 7 7

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 32/54

.; ,,,,u ," ,.'C l,d ezm o ed as n o b ol so , E t er ia s id o f als a. N ao p od cm o s a cc ita r 0 PD.!

n oro ue em m uita s c irc un sta nc ias, c om o e ssa, d ed uzir u ma co nsc qu en cia p ed e

.f az er c om q ue v oc e t en ha u m a c rc nc a v cr da dc ir a pOl' p ur a so rt c, I ss o 6 p os si vc i

- :p or qu e v oc e p od e i nf er ir u ma c on se qtl en ci a v er da dc ir a de um a p rc mi ss a fa ls a,

urn f ato q ue d is cu ti re mo s n o c ap it ul o s eg ui nt c.

·2.S. Teoriascausais co mp ara da s co m e xp lica <;iic s tradicionais de

justiflcaejlo

H i a in da m uito s p ro ble mas a ser em so lu cio nad os a ntes q ue UI1Hl t co ri a c au -sa l p ossa ser a ceita c om o re sp osta p ara nossa p e rg un ta o r ig i na l: 0 que c conhe-

cim ento? M as teo rias causais certam entc sao um a rcacao .m portante aos pro-

b lem as d e G e tt ie r. Mais qu e isso, no c n ta r .t o , proposicocs como as d e G o ldm an

re pre sen ta m u ma r up tu ra ra dic al c om 0 tip o d c c pi st em o lo gi a t ra di ci on al de -

sen vo lvid a p or D esca rtes e p or L oc ke .

E xiste m d ois elem en to s im po rtan te s q ue d istin gu cm a s teo ria s c au sais d as

a bo rd ag en s t ra di ci on ai s q ue e xa m in am o s, E m p ri mc ir o lu ga r, a s c pis tc mo io gia s

trad ic io na is p re su me m q ue a d ife rc nc a en tre as p csso as q ue cstito justificadas

em acreditar a lgo e aq uelas que nfio cstao dcvc dcp cn dcr de estad os d es quais

essa s p esso as e sta o cie ntes d e u ma m an eira c on sc icn tc . E pistc mo lo gia s tr ad i-

c ionais d ao aquilo que cham am os de cxp licacocs fen om eno l6gicas da con di-

9aO justificacao. (Lembre-se de q ue "fenomcnologico" tern q ue vcr com os as -

p ec to s c on sc ie nt es d e n os sa v id a m en ta l. ) T ai s e xp l ic ac oc s d e ju sti fi ca ca o sa o

as vezes cham ad a s tarnbem d e "lnternalistas" p or qu c, s eg un do e ss as e xp li ca -

90e s, aquilo em que uma pessoa esta j us tif ic ad a e m a cr ed it ar d cp cn de s or nc nt c

d o s e st a do s i nt ern o s a m e nte d aq uc lc q ue a cr ed ito u.

Tanto Descartes q uan to L oc ke , p OI' exernplo, produziram tcorias Icnomc-

n ol6g ic as d e ju stific aca o. Ju stific ac ao , p ara D esc ar te s, tin ha q ue SCI' i rrevoga-

v el , e s e v oc e ti ve r e vid en cia irrevogavel p odcra saber q ue a tern s implesmente

a tr av es d a r ef le xa o s ob re 0 co nteu do d e su a p ro pria m en te co nsc ie nte . ;\ ju sti-

f icacao d e L ock e re su lta d a e xp erie nc ia , m as a ex pc ric nc ia ta mbc m, C0l110 de a

concebeu, e alg o de qu e vo ce es ta cien tc s cm pr c q ue a live r.

A teo ria causal d o conh ecim en to d e G old man , por outro lad e, n 50 6 fcn o-

. meno l6gica . E nao 0 e porque os fates qu e clc no s contou sobrc H en ry - - os fa-

to s q ue n os fize ra m m ud ar n ossa opiniao c d izcr q ue clc n 50 sabia q ue h avia u m

estao ulo ali em vez d e d izer q ue 0 sabia - na o tinharn nada a v cr c om a natureza

da vida m ental eon sciente de H enry. A o conrrario. tinham a vcr com fates so -

bre a s relacoes d e H en ry co m 0m undo a se u r e do r . S c s ubs ti tL l is s' ~mo s t od as a s

c 6p ia s d e estabulo em papier-/1ulche ao rcdor de 1 -1 e nr y pO I' cs ta bu lo s d e v er eb .l -

de segu nd o a teoria de G old man , devenam os cn tao d izcr q ue H enry IIc/O sabin

q ;e havia u m estabulo ali. E isso sign ifica qu e sc a crcnca vcrdu dcira d e IIenry

e o u n ao ju stificada vai depender de ralo s do s q uais d e n50 cst{ l cicntc . Como

o s te oric os c au sais cx plic am ju stific aca o d e u ma m an cira q ue d ep en de d e fa to s

sobre 0 m un do , e xtcrn os [ I me nte d aq ue le q ue sa be, p od er no s ch am ar su as te o-

r ia s d c ju sti fi ca cf io d e t co ri as " ob jc ti va s" . T ai s c xp li ca co cs d c j us tif ic ac ao s ao

tam bcm ch am adas d e "cx tern alistas" po rqu c, ncssas cxp licacocs, aqu ila em

q ue u ma p csso a c sta ju stific ad a a a crc ditar p od c d cp cn dcr d e c sta do s externos

a m en te d aq uc le q ue a cre dito u. A p rim cira ru ptu ra C O I1 1 e pistc rn olo gia tra di-

cio nal, c ntao , 6 q ue tc or ia s c au sais d e j usti fica ca o sa o o bje tiva s ( ou ex te rn al is-

tas) c nao Icnomenol6gicas (ou in tc rnalistas) .

A scgu nda ru ptura co m a tradicao e q ue tc or ia s c au sais n ao saofill1dacio-

nalistas. T eo ria s ca usa is n ao n cg am , e claro, que um a crcn ca p ossa ser a basepara acrcd itar, com algu ma razao, em um a outra, M as elas, sim , negam q lle a

justifica< ;8o de ulna crcnca dcpcnd c d e ela ser o u n ao susten tada po r crencas

em algu ma catcgo ria fund aeional. C on tanto qu e a crcnca seja p rod uzid a p or

u rn m et od o c on fia vc l, di z Goldman, cI a 6 apropriadamente justificada,

Ha m ui to s casas em que a t e or ia c a us a l funciona de um a m aneira nao fun-

d ac io na li st a. U s an do urn cxcmplo do proprio Goldman , sc so u capaz de d i s ti l l-

g uir as g em en s T ru dy e Ju dy scm sa be r 0 qu e 6 qu e e la s t er n que m e perrnite fa -

zcr isso , cntao Icnho lim m ctodo confiavcl de form al' a crcnca de que essa cT ru dy . S c e ll r ca lm c ntc Iorrno a qu cla c rc nc a co rrc ta mc ntc , c ntao , a tc or ia c au -

sa l d iz - pOI' certo corrctamente - qu e eu sci q ue c ia c T rud y. M as co mo nao sou

ca paz de dizcr 0 que 6 que a T ru dy tern que m e pc rm i tc d i st ingui -l a d a J ud y,

n fio t cn ho c rc nc as f un da ci on ai s qu e ju stif iq uc m m in ha a lc ga ca o d e q ue a qu ela

c rcalmente Trudy.

D e qualqucr form a, nos ultirnos a no s, m u it os filosofos corn ccaram a ter

d uvidas so bre a valid ad c do fun dacion alism o. P ois no m em ento em que se ron -

c or da q ue n cn hu ma c rc nc a so bre 0m un do 6 irre vo ga ve l, p arec e n ao h ave r m o-

tivo pa ra procurer lim a b ase se gu ra p ara crcncas de que estarnos certos. E se

do ! 1 { , ba se p am c crta s crc nc as, n ao h a nenh um a m aneira o bvia de distingu ir a

c at cg or ia l un da ci on al . S c ta nt o.

a) a e ate go ria fu nd ac io na l e stive sse c orr cta e

b) 0 processo de justificacao pudcssc transfcrir a ccrtcza p ara as crencas

d e le d e ri va d as ,

o fu nd acio nalism o so ria m uito atra cn tc , M as crc nc as so br c 0m undo fisico - aocontrario d e c rc nc as m atcm aticas - na o satisfa zcm ncnhum a dus duas condi-

c oc s a cim u.

T co ria s c au sa is , p or ta nt o, sao ao I 11CSI110 tempo o bj ct iv as e n ao -f un da ci o-

nalistas, E ssas duas cnrnctcristicas Iazcm com qu e tcorias como a de Goldman

sejam ba sta nte d if crc ntc s d as d e L oc ke e D esc arte s. M as c a "o bjetivid ad e" d a

tcoria de G oldm an que pcrm itc forncccr um a resposta ,\ dupla p er gu nt a c om

que com ccam os: V oce sabc qu e n50 6 ap cn as urn ccrcbro CI11 urna cuba - e se

sa be, com o 6 que sabc? P ara vcr pOI' q ue iS S I)a co nt cc c, p rim c ir o p rc ci sa mo s i n-

tro du zir a rc sp osta q ue a tco ria ca usa l e l i l a e ss a p er gu n ta .

 

1 'Z B . . · I N T R o D U g A o A F IL O S O F I A C O N T E M P O R A N EA 2. 0 C O N H E C I M E N T O • 79

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 33/54

I~.'ti.A r es po st a e , claro , qu e vo ce s abc qu e na o c L Im ccrcbro e rn um a cuba se

. su a c re nc a v er da de ir a d e q ue v oc e t e r n L Im co rp o q ue s c mo v im c n t a p c lo 1 l1 1 1n -

.do fisico e p ro du zi da p O l' L Im proccsso q ue s eja confia ve l nas circunstfincias.

C om o, n a v er da de , v oc e nao e LI mcerebro em lim a cuba, suas crencas a respei-

to d o m un do s ao p ro du zid as p elo p ro ce ss o c on fi av el d e L 1S arS CL IS lh os , o uv i-

d os e o utr os s en tid os e , p or ta nto , v oc e realmente s ab e q ue n fio 6 L Im ce re br o e m

u ma c ub a. E claro que, se com o A lbert voce fossc LIm cerebra em um u cuba,

vo ce n ao sa beria q ue 0 e ra . A lia s, v oc e n ao s ab cri a p ra tic am cn te n ud a s obrc 0

mundo f is ico Todas a s s ua s crcncas sabre clc s cr ia rn p ro du zid as p ur a lg o

como 0 c om pu ta do r d e Marie e esse 6 LIm mcio muito POI ICOconfiavcl d e f or -m ar crencas, ja que M arie, com o voce devc lcrnbrar, sim ulou to da s a s ex pc-

. r ie nc ia s d e A lb er t.

E ss a s olu ca o p ar a n os sa p er gu nta o rig in al t e r n u m c err o jc i to d e p ar ad ox o,

P o is c he g amo s a co nclu sa o de qu e sa bcm os q ue n ao som es ccrcbro s e rn lima

cub a, ern bora m esm o qu e fos serno s. teria rno s tide cx ata mcn tc a s m csn .a s ex -

p erie nc ia s, M a s is so , p ara a te oria c au sa l, 6 prccisumcntc 0 q ue im po rta . E sta r

p re oc up ad oia ) co m a n atu rez a d e n OS Sd Sc xp cric nc ia s - nossa fc nomcnologi a -

sem examinar se nossos meios de obtcr crencas sao na verdade confiaveis e

m er am en te r ec us ar -s e a a do ta r L Im a t co ria o bjc ti v a d e ju sti f ic ac ao ,

S e v oce n ao a ceita r u ma teoria objetiva de justificacao, se ra obr ig ado (a ) a

a ce it ar q ue 0 cereb ro n a cu ba tern ta nt a ju stif ic ac ao c om o n os p ar a a cr ed ita r

que ele tam bern nao esta em um a cuba, ja que cle tern cxatam cnte os IllCSIl10S

tip os d e ex perien cia q ue u ma pes so a qu e C StL \v iv cn do L im a vid a hu ma na n or-

m al. E u tiv e objecoes a teoria de L ock e seg un do a q ual sc Marie dessc ~ Albert

a ve rdadei r a crenca de q ue 0 so l e sta va b rilh an do , is so a in da n ao s ig ni ficaria

qu e 0 cereb ro n a cu ba sa bia qu e 0 s o l e st av a brilhando. Ma s q ua lq uc r tc ori a fe -

no men ol6g ica de ju siifica ca o tem q ue d iz cr ou

a) que a crenca d e A l be rt esta j us ti fi ca da - e, assim, conclu ir e r rone amen te

que ele sabe que 0 s ol e st a brilhando - 011

b ) qu e a cren ca de A lb ert n ao esta ju sti fica da - e aS Sl1 11 hcga r L I conclusao

cetica e erronea d e q ue m in ha crenca de qu e 0 so l esta br i l h ando tampouco

esta justificada.

O s t e 6r i co s causais dizem q ue c om o nenhuma dcssas duas conclusocs csta cer-ta , n en hum a teoria feno men olog icn d o con hecim ento p od e ser a ccita .

--2~9.Epistemoiogia naturalizada

E s ti vemos d is c ut in d o 0 r el ac io nam en to e nt re j us ti fi ca ca o e c on he ci me nt o

com a prem iss a de que podem os decidir a qucstao com a ajuda de cxperirnen ..

tos m enta is . T od as a s vez es qu e a lgo foi sugerido, seguimos 0 exemplo de S6 -

c ra te s e m Teeteto, t es ta nd o a s ug es ta o ,I lu z d e ca ses, co mo 0 case de H enry c

o s e sta bu lo s, d e G old ma n, o u 0 d e S mith , J on es c ~ s m o cd as n o b ols o, d e G ettle r.

Isso ~'I';CI".~ qu e 0 q ue e st av ar no s f az en do c e xp lo ra r a n atu re za d e n os so s COI1-

cc itos deconhecimento, crcnca ejustificacao, prcsumindo que nossa avaliacao

da u t il izac ao desscs term os em ca so s determinados e st a va c or re ta . Essa na o etu na p re mis sa P O LIC Oa zo av el: q ua lq ue r p es so n q ue s aib a p or tu gu es s ab era c o-

mo usar as palavras "saber" "acreditar" e "justificar" - sabe, isto e, 0 q ue e ss as

p ala vr as s ig nif tc am . E c cr ta men te a lg ue m q ue s aib a 0q ue e la s s ig nif ic am s ab e

qu and o p od cm o u na o s er utiliz acla s ap rop ria da mente. M as se sa bem os 0 qu e

es sa s pa la vra s sig nifica nt, p or qu e n ao p odcm os diier 0 q ue e la s s ig ni ft cam ?

O u scja , p or qu e cs ta scn do ta o dificil cn con tra r u ma resp osta p ara a p erg unta

definitoria de Socrates. "0 qu e 6 conhecimento?" Parece, !lO cntanto, que ern-b ora , p or u rn l ad e, p os sa rn os d iz er q ua nd o a p ala vr a " sa ber " e a plicav el em u m

c as e ( co nta nto q ue !l0S falern o s uf ic ie nt e s ob re elci. ~'N o ut re . n ao 5l'11105 mui-

to eficien tcs qu an do sc tra ta d e rev ela r e d e ex plica r co mo s ab erno s se e o u n ao

a plic av cl, S c p ud es se mo s e xp lic ar is so , en ta o c erta me nt c tc ria mo s c on co rd ad o

s ob rc a lg um a r cs po st a p ara a p er gu nta c lc fi nit6 ria h a rnuito tempo.

Volturci ,\5 q uc st oc s s ob re 0 r ela cio na me nto e nt re n os so c on hec im en to d o

s ig nif ic ad o d as p ala vra s e m n os sa lin gu a c n os sa h ab ilid ad e d e c xp res sa r 0 qu e

sabernos 110 c ap itu lo s eg uin te ; v eja 3 .1 3. P or e nq ua nto , p ore m, q ue ro o bs er va r

que podcriam os tcr proccdido de um a m aneira diferente. Poderiam os ter de-

p en did o n fio s o d e n os so c ntc nd im en to in tu itiv o d os c on ce ito s d e c on he cim en -

to c ju sti fica ca o m as ta mbem d o cs tud o cicn tlfico do s pro cesso s p elo s q ua is as

p es so as c hc gam a a cr cd it ar ern c ert as c oi sa s, p or ex em plo d a p sic olo gia c og ni-tiv a, o u cia so cio log ia do co nh ecim en to , O u seja , p od eria rn os tcr co rr-eca do a

estudar 0conhecimento n ao c om o um a i nv es ti ga ca o purarnente c on ce it ua I m a s

sim paralelam ente ao trabalho feito nas ciencias, A dotar essa abordagem na

e pi stc mo lo gi a s cr ia s cg uir a rc co men da ca o d o fil os of o a me ric an a W .V .O . Q ui-

n e , q u e p ro p os , Cl11 1 96 9, q uc d cv cr ia mo s " na tu ra liz ar " a c pis tc rn olo gia . E m u rn

c on hc ci do a rt ig o, in titu la do "E pis te mo lo gy N atu ra liz ed ", Q uin e s ug er iu q ue a

c pi st er no lo g ia d c vi a SCI' "u rn c ap itu lo ci a p sic olo gia e , p orta nto , c ia c ie nc ia n a-

tural".

Essa e um a proposta um pouco surpreendente porque, com o vim os, a in-

v es tig aca o so bre a na tu rez a d o con hecim ento en volv e pcn sa r s ob re q ua nd o e

C0l110 n ossa s crcnca s s ao ju stifica da s. A lcg ar qu e u ma crcn ca e j ustiftca da na o

6 a pc na s d iz er q ua nd o a crc di ta rc m os n cla , m as ta rn bc m d iz cr q ua nd o deverla-1I10S acrcditar nola Enos normalrnentc na o pensamos na s cicncias naturais

com o um a discip lina que nos diz 0 qu e dev eria mo s fa zer. N ao e certo que a

ciencia tern a ver com a descricao e a explicacao do mundo, c nao com 0 qu e

devemos fazer?

U m a fo rm a d e rcco nciliar cssa s du as ideias s eria cles en volv cr a id eia cen-

t ra l d o confiabilismo e dizer que a psicologia p od e n os ensina r qu ais os proces-

sos de form acao de crcncas sao verdadciram cnte confiavois. Nesse caso , a

cpis tcm olo gia e a p sico log ia da r-s e ..ia m a s m aos . A ep istem olog ia no s diz qu e

 

2. 0 C ON f- : E CI M E N TO • 81

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 34/54

, d e vemo s formar no ss as c r en c as d e m an cira s c on fia ve is, en qu an to q ue a psico-

·d\.IJo;I'" ".lI.aJHIlW qu e maneiras s ao e ss as : entao 0 "dcvc" viria da epistcmologia,

n ao 'd ap si co lo gi a, d ei xa nd o -n o s c ap az es d e co ntin ua l' a p en sa r q ue a s cicncias

n atu ra is s ao livres d e "deves", Alegayoes s ob re a qu i 1 0 q ue a s p es so as devcm

f az er , d iz er o u a cr ed it ar S 3 0 p re sc ri ti va s: e la s n fio so d cs cr ev cr n, e lm ; prescrc-

vem 0 q ue a s p ess oa s d ev em fa zer. POI ' iss o ess a m an eira de d iv id ir a ta re fa en-

tre.a ps ico lo gia e a e piste molog ia dc ix a pa ra a ep is tem olo gia 0 tra ba lh o d e

prescricao e mantem a concepcao de que a p s ic o lo g ia d c sc r ev e !lOSSOS proces-

s os m en ta is. Q uin e su geriu mais ta rd e q ue os "c lev es" da ep istem olo gia s ao

com o os "deves" d a en gen ha ria : q ua nd o Emma , a engenhcira , d iz que voce

d ev eu sa r 0 a ce c om u ma d ete rm ina da rcsistcnciu para construir lim n p on te , c ia

quer dizer que voce deve usar aquelc tipo de acov« voce qu iser que a ponte scja

ca pa z d e aguentar 0 peso que Viii t el ' q u e supor tar . 0 "dcvc " 6 condicional: cl c

pres um e um c e rt o o bj et iv o , n es sc e a so c o ns tr u ir urna p on te q ue p o ss a a g ii e nt a r

u m c er to p es o. V er em os , mais t a rd e , q u an d o f orme s d is cu ti r m o ra li da de , qu e 0

f il os of o a lem a o Imman u el Kan t argumcntou qu e os "dcvcs" morais na o cram

c on dic io na is - 0 term o que ele usou foi "hipoteticos" - d css a m an eira . A o c on -

trario, eram a quilo que e le chamou de "catcgor icos". (Veja 5.3.)

Entao , qua is sao os objetivos nos casos em q ue o s v de ve s" da cpistcrnolo-

g ia s a o c o nd ic io n ai s?A resposta obvia, como propos Q uine , e que a c pi st cm o lo gi a d iz que, se

quiser fer crencas verdadeiras, voce deve acreditar naquilo cuja crcnca se ja

justificada. Isso sugere um a m aneira de form ular um a com prccnsao do que econhec imento: e a c r en c a v e rd ade i ra produzida p o r p r oc e s se s q ue n or ma l m en -

te p ro d uz em c re n ca s verdadeiras. E n te n di da d e ss a forma, podcrnos consid~-

ra r a trad icao d a s abor dag en s f en o rn c no lo g ic a s a ju sti f ic ac ao c om o um a sene

d e h ip 6te se s s ab re q ua is p ro ce ss os tern m ais p ro ba bi Iid ad c d e p ro du zi r crcn -

cas verdadeiras. Na tradica o em pirista, prcsum ia -sc que S0l110S construidos

d e ta l m an eira q ue n orm alm cnte tcrcm os crcn cu s v crd ad ci ra s s c a crcd ita rm os

em n Of.S OSs en tid os. P orta nto , ch cg ar a a cred ita r n aqu ilo p ara 0 q ua l c st am o s

predispostos a a creditar com base nos nossos sentidos e j u sti f ic ad o e n fio p re -

c isam os estudar 1108S 0S proprios sistem as sensoriais a fi.n de chcgar m aispr6x im os da verdade. M as a ex istsncia de alucinacoes e ilusdcs - a m b as dis-

. c utid as po r D es ca rtes - demonstra, c clare, q ue n 05 SO S s en tid os n ao s ao a ss im

--ta o_ con fia veis a po nto d e q ue na o no s s ej a p re ci se e st ud ar m ais s ob re eles

p ara a pren der o utro s m eios melhores d e f orm al ' c re nc as . E quando perceber-

m os isso, verem os que 0 empirisrno (undacionalista. qu e tra ta a qu iio q ue 1105-

S OSs entid os n os d iz em co mo um a base s cg ura p ara to da s n oss as o utra s c rc n-

c as , n ao te m f un da mc nt o.

D a m esm a m aneira, quando os racionalista s d izcm que a raz iio c a f on tc

p ri nc ip al d e n os so c on he ci me nt o. c st ii o p re sl im in do qll~ S011l0S c on str ui do s d .e

ta l m an eira qu e n orm alm en tc o btcm os c rc nc us vcrdadcirux s c s cg un rn os n qtu -

10 qu e D es ca rtes c ha mou d e "lu z na tu ra l" d a ra za o. M as a cx pcricn cia n os cn si-

n ou q ue no ssa s ca pa cid ad cs de ra cioc in io s ao na v erda de b as ta nte lim ita da s: a s

pessoa s com etcm erros logicos elem entares com um a certa regula rida de , por

ex em plo . A lern diss o (com o D es ca rtes , q ue era LIm p ou co c ie nti sta , s ab ia m ui-

to bem ), a razao soz inha nao podc nos lcvar it vcrdadc sobrc 0 m undo a nosso

red or. P ortu nto , a qu i ta mb em tc mos m otiv es p ara d uv id ar qu e d ep en der de s se

m cto do v ai n os lcv ar ,\ v crd ad c,

C om o res ulta do , cn ta o, d o d es cn volvim en to d a ep istem olo gia n atu ra liz a-

d a, tern ha vido u m c re sccn tc in teres se em u sa r a s id eia s a clq uirid as a tra ves does tu do cien ti fico d as m an cira s p cla s qu ais a dq uirim os n oss as c rc nc as p ara ex -

p an di r n os so c nt cn di m cn to do n atu rez a do c on hecim en to . E ssa a bo rd ag em le -

'IOU ao d csen vo lv im en to da cp is tcm olo gia ev olu cio ll!lria , q ue s e b as eia na s

id cia s d e D arw in s ob re a e v ol uc a o e m d ois a sp ec to s impor tantes e significati-

v arn en te d ife re nt es . P ri me ir am en te . a c pis tc mo lo gia e vo lu cio na ria e xa m in a a s

e on se qi ic nc i3 s d e 0 fa to d e n os sa s c ap ac id ad es e og ni tiv as s erc m, e la s p r6 pr ia s,

PI 'OQuto ell' ur n proccsso evolueionario. E segundo, ela explora com o ideias e

teorias com petent entre si e sao selecionadas, de um a m aneira que e u m ta nto

s cm e lh an te a o p ro ce ss o d a s el ec ao n atu ra l d e traces biol6gicos. Aqu i, e nt ao , 0

in te re ss e d o f il os ofo n as q ue st oe s s ob re 0 c on he ci m en to corneca a i n te ra g ir

m ui to f or te rn en te c om 0 tr ab alh o d e b io lo go s e p si co lo go s,

2.10. Conclnsao

N es te c ap it ul o, d is cu ti rn os a lg um as d as q ue st oc s p rin cip ais d a e pis te rn ol o-

g ia. C om ccando com a pcrgunta de com o sa bcm os que nao som os apenas cere-

bros cm u ma c ub a, os jo gu ete s d e uma c i cn t is ta i n es c ru p ul o sa , f o tT IOSI cv ado s a

perguntar 0 qu e 6 conhec imento . Annlisarnos a s v aria s res po sta s p ara cs sa per-

g un ta d ad as pclo r ac io na lis mo c ar tc sia no c p clo e rn pir is mo d e L oc ke . M a ~- ,,1 _~ 1~ -

b o sCO \ 1l p, :r ti lh a vum a prcmissa de Teeteto d e q u e c o nh e cim en to e c re nc a v er -

( if ld eir ~ju stiji ca da : e a mb os , c om o a ca ba rn os d e v cr , c on sid cr av ar n a j u stif ic a-

y1\o-c om o fc no mc no lo gic a c fundacional. 0 problem a era que a teoria de D es-

c arl0 sT cv av a im ed ia ta men tc a o im pa ss e d o cetic ism o, en qua nto q ue L ock e er-

ron ea mente atribuia c on hecim en to no cereb ra na cu ba .

F in alm cn tc, ten ta mo s u ma s aid a ra dica l. D es is tim os d a id eia d e q ue n oss a

t e or i a d e j us t if lCay30 p r ec i sa v a s e r f e nomen ol o gi c a. A t eo r ia r es u lt an te e q ue, atim de c on he cc r S ,

a) voce tern q u e a c rc d it a r er n S,

b) S deve SCI' ve rd ad ci ra c

c) sua crcnca em S dove SCI' ca usada de lim a m ancira que c c on fia vc l n as

ci ret 1I1:;([ll1cias.

Essa tc or ia n os pcrmitc a Ii' m a r qu e sabcrnos que na n somos ccrcbros C111uma

c ub a c m bo ra l 10 ssa s cxp c r ic n c i a s possal11 SCI'a s m cs ma s q ue tc ria mo s se./()s.I'l!-

 

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 35/54

cereb ros e m um a cu ba, E la tarnb em nos ofcrece lim m otiv e p ara im po r-

e m sa be r s e a s c re nc as v erd ad ciru s d e o utra s p es so as s ao c on hc cim en -

t em o s i nt er es se n a e o nf ia bi li da d e dos processes pe l os q ua is a s crcncas

sa o a dq uirid as . S e u ma p es so a te m m uito c on he cim en to s ob re u rn c erto a ssu n-

to , e la fo rm ara c re nc as d e u ma m an eira confiavel, E iss o sig nific a q ue te mc s

.y u rn m o ti vo p ara c on fi ar r .aquela p es so a n o f ut ur o.

A po le mic a e ntre a teoria c ausal e a episternologia trad icional c um a po -lsm ica en tre um a teoria que considera a m ente COlllO sis te mas causa is no

m undo, porum Iado , e um a teoria que con sid ers a m en te de urna pcrspcctiva

em q ue 0 in div id uo e sta "o lh an do " p ara fo ra , p ara 0 rnundo, p or o ut ro . N es sc

aspecto , e com o a polemics entre 0 fenomenologo C 0 f un c i o na l i s ta que dis-

c utim os n o fim d o c ap itu lo a nte rio r. Assirn como Descartes esta d o l 11 eS l1 10

lado-ccontra a concepcao "objetiva" da m en te _ . na s duas disputas, muitos fi-

1 6s ofo s q ue s ao fu nc io na lis ta s e sta o d o la do o bjc tiv o na c pis tc mo lo gia . V cr a

m ente e 0 conhecim en to com o a fun cionalista e 0 cpisrernologo c ausal a s

veem - ou seja , com o urn sistem a causa l no mundo . .. c defender uma forma

de n aturalism o. E ver se re s humanos co m scus problemas f il os of ic os c omo

parte s de urn m un do natura l m ais am p 1o, n ao C0l110 o bs er va do re s p ri vi le g ia -

do s urn pouco fora do m undo na tura l.

-_

A linguagem 3o que e significado?

Qual e a releciio entre l inguagem e realidade?

De que forma as palav ras esc rltas e

faladas expressam ldeles?

3.l.lntrod!u;ao

Desdc q ue C h ar le s D a rw in publicou su a Origem das «species, o s b i 6l o go s

cada ve z m ais vcern os se rc s h um an os c om o a pc na s m ais u rn t ip o d e a ni m al . At co ri a d a c vo lu ca o d e D a rw in alcga q ue , p ar ' selecao natural, descendernos de

o ut ro s t ip os de animais qu e vicrarn a nte s d e n 6s . Nao e nenhuma s ur pr es a p ar a

o s b io lo g os , p o rt an tc , q ue I 1O $ sar cs pi ra ca o, n ut ric ao c r ep ro du ca o s ej am t ip i-

Ca s de m am llcros: (; q ue no ssas cclulas 5C p arc ca m m ulto as celulas d e o ut ro s

anirnais, co m scu nuclco e citoplasm a c a multiplicidade d e o rg an ela s q ue ve-

t110S so b ur n m ic ro sc op ic e le tr on ic o. M a s a te 0 biologo ter ia qu e c on co rd ar q ue

ternos a lg un s t ra ce s d is ti nt iv os irnportantes, e ur n do s mais i rnpor tan te s e qu e

u sa mo s a lin gu ag em p ara falai , c sc rc ve r c , diria m a lg un s, p en sa r. P elo q ue s a-

bcm os, som es o s u nicos an im a is, d a ameba a o e le fa nte , q ue usarn l inguagern

natu ralruentc. A lcm d isso, m uitas das o ut ra s c ar ac tc ri st ic as d is ti nt iv as d e n os -

s a e sp cc ie -. n os sa o rg an iz ac ao so cia l, a rtc s c a rtc sa na to c c ic nc ia s - sa o in co n-

ccbiveis sc m a lin gu ag cr n. MCS l l lO qu e outros a nima ls t cn ham l inguagens, 0

q ue fizeram com elas parecc m ulto 1imitado sc cornparado a o se r h um an e. Im a-

gine t cn ta r c oo rd en a r urn banco ou urna galeria de ar tc o u um experimento em

quimica sc m s cr c a pa z de e nte nd er , f ala r, l cr ou escrever urna palavra.

O s s er es h um an os u sa rn a linguagern h a pelo m en os cern m il anos, e q u as e

todos nos aprcndcmos urn idioma facil c naturalmentc qu and o crarn os m uito

jovens. No capitu lo 1 menc ione i c om o fo r facil a ce it ar a p re se nc a d e c om p ut a-

d or es c om o urn dado, cm bora clcs seja m re lativa mente n ovos no ce nario hu-

m ane . Q uante m ais facil e para nos aceitar a linguagem com o dada, e com cia

t od as a s o ut ra s a ti vi da de s e sp cc i f ic am e nt e hurnanas q ue e la possibilita, Mas ,

n a v er da dc , 0 qu e pod erno s fazer c om a l in gu ag em C b a st a nt c c x tr a or d in a ri o ,

P o r c x cmp lo , podcinos juntar lima s cric d e so ns c s im bo lo s g ra fic os q ue n os c o-

n cc ta rn c om ourros iu ga re s c p erio do s p as sa nd o p or distancia« in irnaginavcis

 

't ! I N T R O D U C A o A F IL O S O F IA C O N T EM P O R A N EA 3 . A L 1 N G U A G E M • 85

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 36/54

term os de espaco e tem po. S up o nh a rn o s q ue el l pcrguntc: "H a c ri at ur as

c on sc ie nc ia d o o utr o l ad e d a g ala x i n')" C om isso, csiou em urn c e rt o s e nt i-

c on ec ta do , a tr av es d es sa s p al av ra s, c om urn lug ar a c c n t c n a s d e a l1 0S l u z a o

eu lite ra lm ente na o p od eria ch ega r m esm o q ue via ja sse d ura nte m uita s vi-

i das em um a nave espacial. S e voce falar de "quando a vida na Te rr a CO I llC< ;:OU" ,

. es ta f a lando s ob re a lg o q ue o eo rrc u hil va r i e s bi l h o cs de a n c s , E fa z cm o s e ss as

conexoes apenas em itindo sons ou cscrcvcndo lctras em lim pedaco de papcl

ou d igita ndo -a s e m u m c oinp uta dor. C om o oc orrc q ue c ssa s p ala vra s e m n ossoi dio ma - d ig am os , portugues - podem SCI' usadas para concctar-nos t an to c om

c oi sa s q ue estao distantes quanta com as q ue estao porto?

Podemos tarnbern usar a linguagcm para falar sobrc coisus que nunca chc-

g are mos a c on he ce r. P od em os diz er, po r c xc mp lo: "G ostaria d e s ab er q ua is 1 ' 0 -

ram os ultimos pensamentos de Cesar". Mas nunca sabcrcmos a rcsposta. Ec la ro , a cha mos q ue sabemos qu e s ua s u lt im a s palavras f or um : " Et tu , 1 3r ut c" .

E is so fa z s urg ir o ut ro g ru po fa sc in an tc d e e nig ma s. POI' que c que no idiom a d e

Cesar , latim, a m ane ira d e d ize r "V oc e ta mb cm , B rutu s" e a quc l a e 0 11 1a s f ame -

sa s p al av ra s r om a na s? E po r que sons e s ina i s d i fc rcntc s sa o u sa do s e m o utr as

l in gu ag en s p ar a e st ab el ec er a s m es ma s c on ex oc s?

3.2. 0 giro lingiiistico

C om o e xis te m e sse s en igm as mul to gcr .. is sobrc 0 luncionamcnto c ia l in -

gu age m, e nig ma s q ue pa re ce m u rn p ou co com aq ueles que sao centrals a filo-

sofia da m ente e a epistemologia, na o e ncnhuma surprcsa qu e a 111080ia oei-

dental preocupou-se, d es de s eu inicio, coni a linguagcm. Os f il os o fo s , c omo ja

vim os, fazem perguntas fundam entals sobrc a m ente c 0 c onh ec im en to : a lin-

g ua ge m p are ee s er p el o m en os t ao i nt ere ss an te , t ao i ntr ig an te c t ao i mp or ta ntc .

V imos tambern qu e questoes sobre c om o a I in gu ag em lunciona ocorrcm muito

n at ura lm en te n o d ec orr er d o p en sa mc nto Iilos ofic o so brc ou tras q ucs to es. N o

capitu lo 1, nos descobrim os pensando score linguagcns privadas e jogos de

Iin gu ag em q uan do re fletiam os so bre a n atu re za de no ssa s vid as m cn ta is, D is-

cutim os tam bem as m aneiras pelas q uais a linguagcm p ar cc e e xi gi r c on sc ic n-

c ia . N o c apitulo 2, d ese obrim os q ue a lin gu ag em e e ss cn ci al p ar a 0 pensamcn-

t o s o br e 0 prin cip io de ve rific ac ao . D epo is ac ab arno s no s p ergu nta ndo c om o epossivel q ue possam os en t ender a palavra "saber" scm ser capaz de dar um a

d efini~ o sim ple s de seu sign ific ad o. V ere rn os m ais tarde q ue a s pe rg uu tas so -

bre lin gu age m ira Q surgir de o utras maneiras e em o utra s a rea s d a d is cip lin a,

P ort an to , e xi st em , n a verdade, muitas respostas para a pergunta "Por qu e e qu e

a Iin gua ge m e im po rta nte p ara a filosofia?" qu e C 0 t it ul o d e urn livro muito in -

teressante escrito pelo filosofo canadcnsc Ian l l acking. C om o Ilacking de-

m on stra , n as v aria s e ra s d a filo so fia, mo t i v e s difcrcntcs para pensar sobrc a

l in gu ag em f or am c on si de ra do s im po rt an tc s.

Ainda assim , uma fonte pe rm ane nte da atracao q ue a linguagem ex eree

p ara o s fi lo so fo s C 0 Ia to d e c ia SCI' 0 i ns tr um c nt o c om 0 q ua l f az er no s n os so t ra -

b al ho . N il t ra d ic ao oeidental, 0 p ro du to d o filosofo e urn texto, um eserito. A fi-

losofia, como j a v im os . preocupa-se p artic ula rm en te e m fa ze r u ma exposicao

c ui da do sa d os a rg um c nt os qu e iluminam os conceitos p rin eip ais co m o s q ua is

e a tra vcs d os q ua is c om prcc ndc mo s a re alida dc. E n atu ra l, po rta nto, q ue o s fi-

1650fos tcnham q ue d ar m uita atencao a o fu neio na me nto da linguagcm e mais

especialmcntc a s q uc st oe s s ob rc 0 u so da lin gua gem e m a rgu mc nto s v alido s,M a8 todos no s t(,1110S algurn motive para estarmos preocupados em enten-

dcr a Iinguagcm de um a m ancira adcq uada. Scja q uem voce for. algum as vezes

tera qu e rcllctir sohrc qucstocs complexus. E quando 0 fizcr, e ccrto qu e 0 tera

que fazcr com a linguagcm . M esm o acrcditando que 6 possivcl pensar em pri-

vado scm usar a l inguagem, voce precisara usa-la sc qu iser d iscu tir esses pro-

blemas C'Jl11 outras pessoas, ou buscar in forrnacocs ou argumen tos relevantes

e m liv ro s. P or isso , c mb ora os filos ofo s tc nh am q ue sc r m uito c uida dos os c om

a l inguagcm, 0 fato de cia ser 0 instrurncnto de seu trabalho nao distingue a fi-

1050l1a da m aioria de outras f or rn as d e a ti vi da de intelectual.

T am pouco esse fa to ex plica a im portancia incrivel q ue foi dada as q ues-

toes filosoficas sobrc Iinguagcm m ais ou m enos nos ult imos cern anos de filo-

sofia europeia. Da obra do filosofo alem ao G otlob Frege, escrita ha m ais decern anos atras, ate as lnvestigacoes filos6fieas de L udw ig W ittgenstein , na

m eta de d o se culo X X, a lgu ns d os filo so fos ma is i n fl ue n te s f iz e ram p e rg u nt as

sobre 0 funcionamento da linguagcrn. Na f il o so f ia da linguagem, perguntas ro -

br e a l in g uag em f o rum ab or d ad a s n ao p or qu e 0 cuidado e 01 11a s p al av ra s n os

ajuda 11 c v it ar c o nf u sa o , m as p or qu e a n atu re za d o s ig ni fi ca do l in gii is tic o, o u

daq uilo q ue faz com que frascs scjam vcrdadeiras ou falsas, jil e c on si d. r ad o

intrinsecarncnte importnntc do ponte d e v is ta f il os of ic o. /\ filosofia, euja preo-

cupacao tradicional e com conccitos c idcias, no dccorrcr do scculo passado

a ca bo u s c v olt an do in tc ns am cn tc para pcrguntas sobrc palavras c frascs. Num a

frasc qu e 0 f il os o fo am c ri ca n o Richard Rorty tornou f am os a, a fi .o so fia fe z urn

"giro lingilistico".

S era m ais facil pcrceber por q ue a linguagem chegou a S CI'tao irnportante

para a filosofia recente se cornccarm os antes do "giro linguistico". Portanto,

c om cce rno s um a vc z m ais e 011 10 c artc sia nism o q ue (c om o e uja d isse an tes ) foi

a f ilosof ia p re do rn in an tc d a m en te n os u ltim os tres se cu lo s. E m p ar ti cu la r, c on -

sidercm os a concepcao de linguagem q ue 0 acompanhava.

P ara D escartes, com o voce dcvc lernbrar, sua m ente c os pcnsam entos que

v oc e te rn sa o as e OIS ClS ue v oce c on he ce rn clh or. N es te a rc ab ou co , q ue e nco n-

tramos, pOI' exernp lo , no contcmporanco inglcs de D es ca rt es . T ho ma s H ob be s,

a li ng ua gc m p ub lic a e n atu ra lm cn tc c on si dc ra da a c xp rc ssa o d css cs p cn sa me n-

to s p riv ad os . C om o H ob be s d iz , e OI 11s ua o bjc tiv id ad c: " Pa la vra s e on ee ta da s

de tal form a que sc tornarn slm bolos de n oss os pc nsam cntos sa o charnadas de

 

.• I N TR O D U C A O A F IL O SO F IA C O N T EM P O R A N EA

3 . A L lN G U A G E M • 8 7

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 37/54

". Se voce partilha ou nao da concepcao quc D escartes tern d os p cn sa -

' rIJmE~ntlns. essa e , sern duvida, um a concepcao m uito n a tu ra l c le l ima clas maneiras

em que a l inguagern fun cion a. M as, p ara H ob bes , a l in gu ag cm tin ha

.um a fun ca o m ais im po rta nte qu e sell p apel na corn un ica ca o, u ma fu nca o qu e

mencionei no c ap it u lo I.

Como 0 p en sa me nto d o horncm c inconstante c e fc mc ro c q ua nd o

su a recup eracao dep cnd e d a so rte, nfio htl n ing ucm q ue nan 0 saiba

atraves d e sua p ro pr ia c in fa livc l c xp cric nc iu , P ois n cn hu m horncrn

consegue lembrar ... c ore s s cm padrocs scnslveis c prcscntes, nem

numeros sem q ue os nornes d os num eros estejam disposto. em or-

d em e s eja m m ern oriza do s ... D o q ue d cc orre q ue , p ara a aq uisic fio d a

filosofia a l gu n s l embr e te s sensatos sa o necessaries, pelos quais !lOS-

s os p en sa me nto s p as sa do s p od em n ao s o scrern r es um id os , m as t am -

b ern re gis tra do s c ad a u rn d clc s e rn s ua p ro p ri a o rd cm. E a esscs lcm -

bretes do u 0 nome de MARC AS.

f~, !

o q ue H ob bes cliz e qu e a fu nca o p rincip al da lin gu agcm e !lOS ajudar a

lem bra r de no ss os p ens am en tos e a l in guagem , para cle, C urn s is te ma d e "lcm-

bretes sensatos" -Iem bretes qu e podemos v cr c o uv ir . Assim, alega cle nessa

p as sa gem , q ue nin gu em p od eria se lernb ra r d e "numcro", o u s ej a, c lc q ua nt as

coisas ex istem de um certo tipo, sc nao tivcsscrnos os numcruis, o s s imbo lo s

escritos ou falados que representam os nllI11CrOS; e ole sugcrc qu e ningucrnpoderia contar coisas a nao scr que aprcndcssc os num crais em sua ordcm

a pro pria da . A leg a, ta rn bem , qu e n ao s cria po ss ivcllcm bn 1r n cu r d as cois as se

na o t ivessemos os nomes das cores - e assim po r diante - para q ue a s p ud cs -

sem os a rm az ena r n a m em oria , po r cx cm plo. glla rcla nd o a s pa la vra s "0 po r d o

sol fo i de um verm elho espetacular". Na verdade, H obbes acreditava que

quase todas as palavras eram 0 nom e de urn "pen sa mento" e po r pcnsarnento,

co mo D esca rtes, ele qu eria dizer qu alq uer co isa cia qu al v oce estivess e eien tc

e m s ua m en te , e sta nd o c on sc ie nte . A e ss en cia d e s ua c on ce pc ao d a li ng ua gc m,

entao e ra q ue

a n atu re za d e um nom e consistc p rin cip al me nlc n is so , q ue c le C l ima

m arca ado tada em bcn cficio da I11cl116ria:m as a cid cn la lm en te e lc

serve tambern p ar a c xp lic ita r e 1~I1 .crC O 1 11 q ue o s o utr os s ai bu rn a qu i-

10 d e q ue no s r nc sm os n os lcmbramos.

C om o a rgu mentei n o ca pitulo s ob re a m en te, o s p ensa men tos cnrtcsian os

sa o ba sica men te um a ss un to p riv adn . P ara H obb es, c a pc na s " po r a ci dc nt c"

que nom es tam bem desem penham um papcl na linguagem publica. No que diz

res peito a H ob bes , a l inguagern te ria s id o ta o uti] a R obin so n C ru so e a ntes de

S ex ta -feira ch ega r em s ua vid a qu anto d ep ois. P ara H obb es, o s s ore s h um an os

na o tern linguagem privadas - que consistent em sistem as de "marcas" qu e

p erm item qu e ca da pess oa s e lem brc cle su ns p rop ria s idcias c q ue n UI 1G as ao

u tiliz ad as n a c orn un ic ac ao _ . ap cn as p or n cid cn tc . S c H ob be s c sliv es se c cr to , 0

f at o d e chimpnn zc s sc l v nu cn x llilO pal'l'('L'I'l'llI uxn r s i l1 : li s p arn Sl' co n II III icnrcm

nao seria prqva de que clcs nao usarn sons ou gestos com o m arcas para seus

pensamentos.

Va'::e d ev e s c le rn bra r c le q u e, n o c ap itu lo I, a rg um e nt ei q ue a p ri va ci cl ad e

e xt re ma d os p en sam en to s cartesianos criou serios problem as para a teoria de

D es ca rt es . . Er n p ar ti cu la r, s ua t eo ri a s us ci to u, c le l i ma m a ne ir a e sp ec if ic am e nt e

in tcns a, 0 pro blem a d e ou tra s m entes . 0 a rg lll1 1en lo de W ittg ens tein s ob rc a

lingllagem privada d el l f or te cnfase a esse problema e isso nos levou ao com -

pOrlam\;nlalismo c m ais ta rd e a o f un ci on ali sm o . A teoria d e H ob be s, e m e ss en -

c ia , d iz qu e u sa mo s i in gu ag en s c om e id io ma s p ri va do s. A ss im , c orn po rta me n-talistas e f un ci on al is ta s p ro va ve lm en te opor-se-ao a concepcao hobbesiana

po rqu e n ao creern na exis tencia d os esta dos to ta lm ente p riva dos - os "pen s a -

mentos" - q ue H ob bes , c om o Descartes, considerava com o sendo a unica coisa

q ue c on he ce mo s s cg ur a m en te . A cr ed ita nc lo q ue o s d ef ei to s d a c on ce pc ao c ar -

tcs ia na cra m rcsu lta do d e su a co nvicca o d e qu e cxis tia m es ta do s m en ta is pri-

vados, o s C O l1 1p orta me hta lis ta s co nfia va m p le na rn en te n a e xis te nc ia c le u ma

l inguagern pubtica. CCJI11 efci to, g ra nd e p ar te c ia atracao q ue a l in gu ag em exer-

c c C 0 l1 10o bj ct o d e c st ud o f il os of ic c s ob re ruuitos f i l6so fo s r e cen te s e 0 fato de

e ia s e r p u bl ic a . Linguagens fa la da s e escrita s, a o con tra rio d as m en tes d os ora -

dares c cscritorcs, cstao abertas a in sp cc ao g em I.

Mas 1 Ia ainda um a outra razao qu e lcvou 0 e st ud o da l in gu ag em a o cu pa r um

lu ga r ce ntr al n a f ilo so fia rc cc ntc : o s f ilo so fo s a ca ba ra m p er a ere clita r q ue , c om opcnsava H ob be s, n ao CpOI ' a c id cnt c que a l inguagem c um fe no rn en o p ub li co .

C om o v im os n o c ap it ulo 1,0 a r gu l1 1 en to c ia l in g uag em p ri vad a d e W i tt ge n st ei n

s up os ta mc ntc i ria d cm on str ar q ue a id eia d e H ob be s d e q ue u s am os a Iin gu ag em

como tim "lcmbrete sensate" era, na verdade, i nc on s is te nt e. Ma s W i tt ge n st ei n

ta rn bem se ofereceu pa ra dem on stra r p or qu e H obb es e D esca rtes p od eria m ter

c he ga dc a c om etc r 0 crro d e p ens ar q ue u ma lin gu agern priv ada era p ossiv el.

C01110no case do a l' gum e nt o v er if ic a ci on is ta c lo capitulo 2, a e xp li ca ya o d e W it t-

gcnstein C ob riga da a recorrer a u m fa to so bre a Iin gu agem pu blica .

3.3. 0 besouro na caixa

A s cg uir lima passagcm de / / 1\ 'i !s / ig a (i iC ! s . /7 I o. \' ( i/ i c{ /s , secao 2 93 , o nc le

w iu gc ns te in c xam in a um a m ancira em que a l inguagcm p r ivada se ri f! c onceb i-

vel. Sic oonsidera pOI q ue p oc le mo s " ch ar q ue u sa rn os a p al av ra "dor" com o se

fo ssc 0 n om e de urn ob jeto priv ado . E m ou tra s p ala vra s, ele examina pOI' qu e

achariamos qu e a palavra "dor" fo i usada C01 110a palavra "pontada" em minha

historra 1\0 capitulo I.

Ora , algucrn m c d iz q ue s ab c 0 qu e C d ol' u ni ca m cn tc p el a s ua p r6 pr ia

e x pc ri cn c ia ! _ .Sup0nhamos qu e todas as pcssoas tern u ma e aix a c om

a lg o d cn tr o d cl a: c ham am o s esse a lg o d e l im " bc so ur o" . N in gu empo dc o lh ar dc ntro d a cuixa de ncn hu mn ou tra pcsso a, c tod os dizem

<Jlle sabcm 0 q ue t: '1111hcsouro np cnas nlhando seu p r op r io h c s ou r o.

 

I N T R O D U g A o A F IL O S O F IA C O N T E M P O R A N E A

3 . A L lN G U A G E M • 8 9

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 38/54

_ A qu i, p od er ia s er b er n p os siv cl q ue iodos t iv c ss cm r .l go d if cr cn te

em s ua s c ai xa s. P o de ri am o s a le imaginar que a co i sa c s t iv c s sc 11lU-

dando c on sta nte me ntc . - M as s up on ha mo s qJC a p ala vr a " bc so ur o"

t ivesse um us o n a l in gu ag er n d cs sa s p cs so as . - - S c is~,oo c or rc ss c , n ii os er ia u sa do c om o um n om e d e um a coisa. /\ coisa na c aix a nilo t e r nq u al qu e r l ug a r n o j o g o ci a l i nguagcm; l l e l11111eSI110OI11U algo , p ois a

c ai xa p o de a te e st ar v az ia . - N 10 p odc mo s fa zc r um a d istinc ao abso -

l ut a s 6 p el a c ois a n a c aix a: s cja I~\() que for. ci a sc anula .

Ou s ej a: s e construirmos a g ram atica d a cx pre ssao d a s en sac fio co m

b as e n o modelo de " ob jc to c dcsigna<; i io" ( )o bj ct o d ci xa d e s cr c on si -

d e ra d o po r s e r i rr el ev a nt e.

A an alo gia e ntre a d or, p or urn la do , c 0 bcsouro 11(1 c ai xa , p cl o o ut ro , tern a

i nt en y ao d e r ef o rc a r 0 o bje tiv o d o argumcnto da linguagcm privada. Sc ! la o p u -

dessem os, m esm o em teoria , olh ar d cn tro da caixa d e ou tra pcssoa p ara vcr se

havia u r n b e so u ro , entao, sc havia o u !la o urn bcsouro na caixa 1180 podcria IeI '

i rn p or ta nc ia p ar a 0 jogo da lin guagcm . W iugcnstcin sl'gere , no rim d a passa-

g em , q ue fo m os e rr on ca me ntc lc va do s, p cla " gr all1 ,itic a" l i n f ra s c "Tcnho u ma

do r" a achar qu e q uando John tcm u ma dor, h {\ ur n o bjc to p riv ud o q ue c lc s cn tc ,

assim com o quando Joanna tern urn besouro em um a caixa de f o s f o ro s , h;'\ urn

o bje to p ublic o q ue e la p ossu i. M as W iu gc ns tcin a ch a q ue d cvc mo s c on sid cra r

"T en ho um a dor'' com o se fo sse scm clhun tc a "T cn ho fcbrc". A ssim c om o e li-

ze r "tenho u ma fe bre" n ao fa z sen tid o, tarnbcm na o faz s cn tid o d iz cr q ue "te-

nh o um a dor''. Q uando tenho febre, nao existent duas co isas , ell c a fcbrc: hfl

ap en as u ma c oisa , e u p r6 prio e mU !1 1 c stu do fcb ril. A ssim tarnbcm, q ua nd o tc -

nho um a dor, nao ha duas coisas envo lvidas cu c a dol' - m as apcnas lim a coi-

sa _ eu - que esta em um detcrm inado ostado: (\ c stado de tcr 11I11l1 dol'.

T er um a d ar, . po r c er to , n ao 6 esscncia lmcntc urn cs tado pr ivado, S c, p or

e xe mp lo , eu lh e esp eta r c om urn a lfin ctc vo ce c sia nd o d csp crto c v cr q ue v oc e

estrem ece, entao, no curso n orm al d as coisas, sabcrci q ue voce csta scntind o

dor. (E ssa foi a ideia basica q ue scrviu de p an o de fu ndo para a "rcoria sim ple-

ria da dor" de Block em 1 . 7. ) S e w i n g cn s tc i n rive r ra za o, o s p ro ble ma s g cra-

d os p ela p riv ac id ad e d a d ol' esta o so lu eio na do s. R ca lm cn tc , sc p ud crm os s ubs-

tituirtodo0

d is cu rs o c arte sia no s ob re o bje to s d e c xp cric ne ia s up os (a me ntcpri-

va do s p or u rn d isc urso d a p ro prie da de p ubl ie a (ou scja, p as sl vc l d e s cr d cl cc ta -

d a ) d e t er -a -e x pe ri en c ia 0 p ro ble ll1 a d e o utras m en te s d esa pa ree eria . A ssim ,

-em bo ra W ittgenstein d iseu ta a q ucstao dc p rivaeidade em tcrrno s de um a lin-

guagem privad a e nao sim p1esm ente em tcrrnos de objctos p ri va cl os d e c xp c-

r i~ n ci a, s eu s a rg ument o s, s c bC i1 1 -s u ee d id o ", s o il ie io n a1 l1 0 p ro ble ma c en tra l d a

f il os of ia d a m e nt e.o q ue d iz W ittg en ste in so brc "g ra m{ \(ica " n o (e xlo a eim a SlIg crc q ue , a SCLI

v er, n es se c as o a c la re za s ob re c om o a lin gu ag e1 1l fu nc io na n os p er mitir {\ c vita r

o e rr o filo s6 fic o d c a eh ar q uc p od e Iw vc r e sta d( :s p riv <ld os . P orta nto . p od en 'o s

ser levado s a eon clu ir q ue 0 i nt cr es se q ue W i ll gC lI st ei n l in h a p el a l in gu ag cl 1l

e r a a p cn a s urn tip o d e in tere sse n a lin gu ag cm c om o u ma c sp ec ic d e ferra me nta

q ue, com o ell disse, nao era 0 m ot iv e p rin cip al qu e induzia o s f il 6s o fo s a se

p re oc up arcm c orn a lin gu ag cm n o sc cu lo d e W ittg cn stc in . A raz ao p el a q ua l cu

aeho qu e na o d e vemos c h eg ar a c ss a c on cl us ao e qu e acredito que a preocupa-

\a o ric W iu ge nstc in co m q uc sto cs rc la cio nad as c om g ra ma tic a 6 conseqiiencia

e n ao causa d e sell ce tic ism o so bre a u tilid ad e d e te nta r e xp lica r a a ca o h um a-

n a, in clu sive a fala hu mana, atraves de um a discussao sobre estad os m entais

p riv ad os . U rn d os motivos p ar a e ss e c e ti c ismo t o rn a -s e e vid en te s e n os pergun-

tam es cx a(,am en le o q ue H obb es d iria se Ih e perguntassernos 0 qu e compreen-d er lim a fr as e rcalrncnte c nv ol v c.

A rc sp os ta d e H ob be s sc ria q ue , c om prc cn de r lim a frasc c s ab er "q ue p en -

sarnento 0 orador rin ha ., d ia ntc d e su a m en te". Por tanto , segund o H obbes, se

e u s ou bc r 0 qu e Joann a q ucr d izcr co m a palavra "m esa" sei qu e isso "sign ifi-

en" a idcia qu e cia faz de um a m esa. H oi pclo m en os d ois tipos de objecao a essa

ex plic ac ao . A p rim cira (\q ue , lo ng e d e n os aju dar a e nte nd cr 0 q ue J oa nn a q uer

dizcr, isso na vcrdadc faz com q ue seja im possivel entend er Jo an na. A final,

H ob bes a ch a q ue n iio p osse co nh cc cr a s id cias d e Jo an na p ois c las sa o p ro prie -

d ad e p riv ad a d e J oa nn a. ,N o e nta nto , s e e ss a e xp lic ac ao d e s ig nif ic ad o e stiv es se

co rreta , para saber 0 que Joanna qucria dizer qu an do diz ia a p alavra "m esa" eu

te ria q ue s ab er , ( /priori, com o era a ideia qu e ela tin ha sobre 0 q ue e u ma m es a

- 0 que, seg und o H obbes, c impossivel!A sc gu nd a o bjc ca o a te oria d e H ob be s c q ue ele ju lga que um a perg unta

objctiva e fundaruentalmentc s ubjc tiva , A q uesta o d e q ue e xp erie nc ias a co rn -

panham 0 u sa q ue Jo an na faz d as p ala vra s e s ub je tiv a e d ep en de d a p sic olo gia

p articu lar de Joanna. M as a qu estao do q ue Joanna qu er dizer co m aqu ilo nao e,n es se s en ti d o, n ad a s ub je ti va . 0 que Joanna quer dizer com a palavra "m esa",

se e la cn tc nd c p ortu gu es, 6 0 l1 1e ~;1 11 0u e v oc e o u e u q ue re mo s d iz er q ua nd o e li-

z em os a p ala vr a e 6 b as ta nte in dc pc nd en te d e s ua s p ec ulia rid ad es p sic ol6 gic as .

E ssa scg un da o bjcc ao fo i fcita p elo filo so fo alernfio G ottlo b F reg e em ur n

co nh cc id o artig o in titu la do "O n se nse a nd r e fe r en c e ", " S e nt id o " e "referencia"

sa o a s p alav ra s q ue F reg e u so u, c om o ve rc mo s, p ara e xp lic ar 0qu e e q ue c om -

p rce nd cr u rn a lin gu ag cm c uvo lve . P or c nq ua nto , va mo s p re su mir q ue "se nti-

do" refcre-se a sign ificad o e "referen da" qu er d izer a coisa q ue urn n om e de-sig na. N essa p assa gc m, F rc gc d csc nv olvc se ll arg um cn to c on sid era nd o 0 q ue

c nvo l vc c n tc n de r 0 q ue algu cm q uer dizcr q uando usa 0 n om e "B uc efa lo " q ue

er n 0 n om e d o c av alo e le A le xa nd re 0 Grande.

D c vcmo s d is ti ng u ir e n tr e <I rcfcrcncia e 0 s en ti do d e u rn s im b ol o, p o rl I1I1 la do , e a idcia a s so c i a d a , p e lo o u tr o . Sc a rcfcrcncia d e u rn s ir n-b olo 6 11 m o bj et o q ue p o d e s er p er ee bi do p el os s en ti do s, e n ta o minh1

i d6 ia d el e e um a i mn g em i nte rn a q ue s c o ri gi '1 a d < l sm em 6r ia s d e i m-p re ss oc s s en so ri ai s q ue t iv e a nt es e d e a to s, t an to i nt cm o s q u an ta e x-t cmo s , q u e p r nt iq ll ei . E s sa im ag em e s t{ \ ll 11 1 it as c z e s imp re g n ad a d esen ti l11c ll to s , a c l n reza dc sua s pa r te s i nd iv i d ll a is 6 va r i1 i ve l e osc il an -

 

it. , : I N T A O D U C A o A F IL O S O FI A C O N T EM P O R A N E A3 . A L lN G U A G E M • 9 1

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 39/54

t e, T am p ou co a m e sm a i dc ia c s cmp rc a ss oc ia da a o I 11CSI110 scntido,

at e em u ma m esm a p essoa. A idcia c s ub jc tiv a: a i dc ia d e u rn a pcssoa

na o e igual a d e L im a outra. ( ' 0 1 1 1 0 r cs ul ta do , h a d if cr cn ca s m ul ti fa ri ns

e n tr e a s i d ei a s a s so c ia d a s e 0 11 1 L 1 11 1 1 1 1C S l1 1 0 scntido. Ur n pintor, u rn

c av al ei ro , e u m z 06 10 go p ro va vc ll ll cn tc a ss oc ia ra o i dc ia s m u it o d if e-

r en te s a o n om e " Bu cc fa lo ".

U m a resp osta aceitavel a essas d uas o bjcco cs q ue sao, n a v crd ad c, a rg u-

m e n to s c o nt ra 0 c ara te r su bje tiv o d a te oria h ob bc sia na d e sig ni f ic ad o, 6 tc nta r

explicar 0 q ue acon tece na lin guag em nao d izcn do co mo ela se rclacion a comn os sa s e xp er ie nc ia s s ub je tiv as i nte rn as c sim como sc rc laciona C01110 mundo

o bj et iv o e xt em o . E , n o p en sa m en to modcrno, F rc gc f oi p io nc ir o n cs sa o uc sta o.

3.4.0 "sentido" e a "referencia" de Frege

C om o F reg e era m atem atico , seu in teresse sobrc 0 f un eio na me nto d n lin -

gu ag em surg iu orig inalm en te de um a preocu pacao em q ucrer ex pliear ex ata-

m en te c om o o s sim bo lo s u sa do s 1 1 3 m atc ma tic a fu ncio nar n. E lc a ch av a q ue , s e

entendessemos bem c om o a lin gu ag em matemat ica funcionava, dcvcriamos

ser cap azes d e evitar certo s tip os de crro m atcm atico . M as clc log o d cscn vo l-

v eu u m in te re sse in de pe nd en te n o fu nc io na mcn to d as lin gu ag en s e c mb ora to -

nha trabalh ad o m uito co m as questoes r el ac io na da s c om0

f un ei on am e nt o d ossim bo los m atem aticos com o num erals (" I ", "2" , "3" e assim por d ian tc), de-

s en vo lv eu ta mb em u ma te oria so br c n om cs p ro prio «, C01110 " Bu cc fu lo ", c v ar ia s

fo rm as d e p ala vra s, ta is c om o a c xp rc ssa o "D uv id o q ue ," q ue n un ca s~ o u sad as

e m d em o ns tr ac oe s m a te m ati ca s.

o o bjetivo de F reg e era d esen vo lver um a teoria de sign if1 cl\d o. um a ex -

p li ca ca o f ilo s6 fi ca q ue n os d ir ia 0 q ue p rc cisa mo s sa be r so brc a s p a'a vra s e Ir a-

ses de um id iom a a fim de en tender a m aneira com o as pcssous as usam . Sua

id eia b asica e ra q ue 0 s ig ni fi ca do d e UI1l<l palavra c tu do q ue v oc e p rc cis a sa be r

sobre ela para en tender com o ela e u tilizad a em u rn id io ma. C om o a p alavra

"se ma ntic a" sig nific a "te r a ve r c om sig nific ad o" 0 q ue F re gc fa zia 6 tam be m

c ha m ad o d e " se m an ti ca fllosofica" e s ua te or ia d e "te oria se man tie a".

. U m a d as id eia s im po rta nte s d e F re ge f oi q ue a s te oria s d e sig nific ad o a nte -r io re s tin ha m co rn eo ad o n o lu ga r e rra do . H obb es, c om o v im os, C O !1 1e yO Uen -

t an d o e x pl ie ar 0 s ig :1 if ic ad o d e p al av ra s i nd iv id u al s. C0ll10 n om os. F rcgc o b-

.s erv ou q ue , n esse s en tid o, p ala vra s so zin ha s n ao sig nific am n ud a. P ois 0 s igni-

ficad o de u ma p alavra e aq uilo qu e vo ce p recisa saber para en tcn der o s u so s

a de qu ad os d aq ue la p ala vra n aq uclc id io mu ; c a pc na s d izc r "do" na n Clim lI~O

aprop riad o da p alavra em po rtu gues. S 6 se eu u sar a p alavra "cao" C('111 outras

palavras, form an do um a frase , es tarci dizcnd o algo q ue vo ce p ossa cn tend er.

. N ao e q ue a p alavra "cao" n ao q ueira dizcr n ada; c s implcs l11en lC que 0 q ue c ia

qu er d izer d epen de de com o ela e usad a em frases. E ssa d cscobcrta da "p riori-

d ade d a frase" e um a d as id eias basicas d a filo so fia d a ling uag cm de F :·eg e.

Podernos expresser 0 qu e el e d cs co br iu d a s eg ui nt e r na ne ir a: p ar a d iz er 0 qu e

U 1 l 1ap al av ra o u e xp rc ss ao s ig ni fi ca nt c p rcciso dizer q ua l e s u a c on tr ib u ic a o

para 0 s ig nif ic ad o d e f ra sc s c om p le te s.

Q ua nd o e ssa id eia b asic a e sta va d ef in id a, F reg e p as-se a d is cu tir c om o e n-

te nd cm os n om os como "B uc cfalo ", E lc afirma qu e d cv cmo s c on si dc ra r qu e

eles se refercm a algu m objeto . D ad a a p riori dad e d a frase , p recisam os entao

pe~gu~tJr 0 q ue isso sig nifica em term os d e com o as palavras con tribu em p ara

o s ig ni fi ca do d a f ra sc , Um a r es po st a s im p le s, p re lim i na r e q ue a palavra "P " re-

f cr c- ~c a u rn o bj et o "0" se - e unicarnente se - "P" fo r usada ern frases q ue d e-tcrminam sobre 0 que S(IO cs sa s fr ase s. A ssir n, c om o a p ala vra "B uc ef alo " re -

fere-se a urn d etcrm inad o cavalo . a trasc "A lexan dre cavalgava B ucefalo " e

sobre aquele c av alo . C om o vcrcmos, F re ge t in ha um a re spos ta mais precisa

q ue e ssa r esp osta p rc lim in ar ; m as a nte s q ue c u a in tr od uz a, p re cis arn os c on he -

c er a ter min olo gia d e F re ge urn p ou co m a is .

Q ua nd o F re ge introduziu a ideia d e referend a, e le observo u lo go a seg uir

q ue nao po dcm os dizcr q ue a coisa a qual 0 nom e sc refere _. sua referenda - er udo qu e vo ce prccisa saber para en tend cr co mo ur n n om e fun cion a em no ssa

lin gu ag cm , P o is f ie ci a f o ss c t ud e d e q u e p re ci sam o s, 0 s ig ni fi ca do d e d ua s p a -

lavras co m a mcsrna rcfcren cia seria idc ntico ; c ele d a u rn cx ernplo f am oso q ue

dcm onstra que esse nao 6 0 c aso . A se gu ir 0 exernplo:

E p o ss lv cl o bs cr va r 0 p lancta Venus prox im o ao horizon ie tanto no

p er -d o-so l q ua nto n o n asc er d o so l. N a A ntig uid ad e, a s p csso as c ha rn ava m V e-

n u s d e " E si rc la ci a N oitc ' quando a vi am durante 0 p or-do -so l cd c "E strc la d a

M an hfl" q uan do a viarn ao am an hcccr, scm p crceber q ue estavarn faland o so -

br e 0m esm o c orp o c eles tia l, ( Co mo v em os p elo s n om cs, c le s ta mp ou co sa bia m

q ue e ra :1111 p la nc ta e n fl o u m a c st rc la .) C O I1 1a c vo lu ca o d a a str on or ni a, d es co -

b ri u- sc q u e 0 c or po c ele stia l q ue a s p csso as v ia m d ura nte 0 p er -d o- so l e 0 qu e

vi am ao n asccr do so l era 0 m esm o, E ssa d esc ob erta p od eria se r d esc rita d a se -

g u in t e ma n e ir a :

F : A estre la d a m an hfi e a estrcla d a n oite .

O ra , sup onh arn os qu e ach assem os q ue 0 sig nificad o d e "E stre la da Manha"

fo sse a pe na s s ua re fe ren cia e 0m esm o no caso de "E stre la d a N oite". D isso de-co rrcria q ue co mo os d ois n om os sc referen t ;\ m e sm a co isa , e les d cveriam ter 0

111eS1110i gn i f ic ad o. S e ISSO fossc vcrdad c a frasc F n ao p odcria de fo rm a alg u-

m a SCI' in fo nn ativ a. P O ls se as d ua s p ala vra s s ig nif ica ss cm a m cs ma c oisa , e n-

ta o tu do q ue v oc e p rc cisa va sa ber p ar a c ertif ica r-se d e q ue F e ra v erd ad eira er a

( ) q u e (1S d un s p ala vr as s ig nif ica va m. M as a d csc obc rta d e q ue F e ra vc rd ad cira

na o c a lg o q ue a s p esso as sim plcs rn en te so ube sse m s 6 p or qu e s ab ia m 0 que as

palavras signiticavarn; fo i urna d cs co bc rt a d a a st ro no rn ia ,

F r cg e c x pr cs so u 0 m csm o argu meruo d e u ma m aneira lig eirarn en te d ife-

r en te , O f cr cc cu u m a rg um c nt o reductio q ue m ostrava q ue rcferencia n ao era a

me s l1 1 a c o i sa q u e s ig n if ic a d o. 0 a rg u l1 1 en to d e pe nd e d as s eg u in te s p rem is sa s:

 

3. A L l N G U A G E M • 9 3

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 40/54

S e duas palavras ou frases tem 0 me smo s ig n~ fi ea do , d ev er ia l1 1 0s s er

a:,;c:apaz(~se substituir Ul11ad el as p cl a oulra em qua lqucr nasc S . scm mudar

o se ntid o d e S.e "ho m em adu lto q ue !laO se casou" signillcam a m csm a coisa . Po r-

"Jo hn 6 so lte iro " e "Jo hn e u m h 01 11 C1 11d ult c q ue n ao s c c as ou " ta m bc m

significam a m esm a co isa , Cham arci C T de tese de cOlllposicio1lalidade p~~ra

s ig nif ic ad os . ( Ch am o -a a ss ir n p or qu e e la e c on se qu en cie d a id eia d e q ue 0 Sll5-

n ifica do d e u ma fr ase e e om po sto d os sig nif ic ad os d e scu s e om po nc ntc s. E ssaid 6ia m ai s g er al e mu it as v ez es c ha rn ad a d e " comp os ic io n al id ad c' ~. ) ? ar~u-

mento e b a st an t e s imp l es . 0 sig nific ad o d e u ma p nlav ra o u ex pre ssao c a qu ito

que voce sabe se _ e unicam ente se - voce soubcr com o ~Ia e u sa da n a I in gu a-

g em . D ad a aprioridade dafrase isso sig nif ic a q ue 0 sc ntld o d e u ma p alavr a Oll

expressao "P" 6 aquilo que voce sabe se ,- c unicam cn tc sc - voce cntendcr

com o "P " con tribu i para 0 sentid o de q ualq ucr frasc qu e a contenha. Segue-so

que duas palavras, "X " e "Y", sig niilc am 0 m csm o sc c u lli ,c am e nt e s c - - c la s

c on tr ib ui rem d am e sm a maneira para 0 s en tld o d e to da s a :; I ra sc s.

Frege nos pediu que com panlssem os F com

G : A E strela da Manha e a E stre la d a M an ha,

E le observou que, ao co ntnlrio de F , G e u m a f ra sc q ue v oc e s ab e se t~v er d, ad ei -

ra porque sabe 0 q ue as palavras significam , D a lese de con lpos lC lona ltdadc

deco rre qu e, se o sign ificad o de "E stre la da M an ha ' c apen as aquilo a que sc rc-

fere entao com o ele S0 refere a m esm a co isa que em "E strela da NO lte", F e G

d ev~m si~ ificar a m esm a eo isa , C om o claram entc clas n ao sign iticam a ~lles-

r na c oi sa , e ss e e um reductio da alegayao que 0 significado de urn nom e e sua

referencia .A explicayao de Frege por que F e G di fcrcm em signi "cado ,c ~ lu e a

"E st re la d a Manhs" e a " Es tr ela d a N oit e" , c m bo ra t en h am a \1 1e sm a r e le rc n~ ta ,

d iferem n o "m odo de apresentacac ' daquilo a qu e S0 refcrcm, e a esse m odo de

a p re se n ta y ao a s so e ia d o a palavra ele cham a de scu sentido. _ "

P o demos p er ee be r 0 q ue F rege quis dizer com "m od o d e apresentC lyaO e,

p orta nto , co m "se nti d o" n o ca so q ue e stive 11 10 Sex am in an do , P I'ra co nh eec r cse ntid o d e a "E strcla d a M an hfl" vo ce p rc cisa s,lo er q ue c la sc rc e re n o c o rp o ce -

lestia l q ue n orm alm en te ap arc ce em u rn d cte rm in ad o p ot~ ,lO 11 (~h on ~o nte a o,

:_amanhecer, Fa,;) (Oimh" , (c r 0 scn tido de "a E srrcla d a N Olte vo ce prccisa sah~1

~ ecia se refere a um Lujp0 que aparecc e111urn d elert11l-

nad o pon to no h orizonte ao entard ecer. E m outras palavras, para lim 110111e,

tid ' ma maneira de identiflcar ° rejcrel1le, Sc v o ce s o ub c r 0 scnllill) d e u rnse n 0 e u . , ' ,, ' '1 Ino me, voce sabers 0 qu e determ in a se q ualqu er objeto e a rcfere~1 Cta ( aqu e ,c

nome . E m uito im po rtan te , c om o ver em os m ais ta rd e, q ue u m sen tld ~ se Ja d efl-

nido co mo algo que voce precisa saber a fim de entend er seu l~SO e :11!t 'a s~ s, I s so

e uma d e co r re n ci a , e c la ro , d a i dc ia b {l sic a d e F t~ eg c d e q ue s lg nt ll ca d~ ) e 0 qu e

v o c e precisn sahel' p ar a e n t en d er C0J110 a s p a la v r: ls s ~ () u tt ll i' .: \( la s em Ims cs ,

" . N em es pr(~rios ~ ~(), C clar~, aren as um a categoria entre as m uitas categ o-

lias de cxprcsso cs q ue um a teon a de sign ificad o prccisa ex plicar. C om o 6 d e se

e sp er ar , F rc gc , q _u ed cs co br iu a p rio rid ad c c ia f ra se . p er gu nta , a s eg ui r, s e p od e-

mo s ap li ca r nO .9 oe s s e rn cl ha nt cs a C r as es intciras.

A ¥ora ~ os p el guntarnos sobrc o sentido e a referencia de um a frase

aflrn~atlva m tc rra. U m a f ra sc a ss im c on te nt l ima idcia. Dcvcmos

co nsid cra r c ssa id cia co mo scn do 0 scntido ou a rcfcrencia da fra-s e? S up on ha mo s p or lim 1 11 01 11 cn to u e a fr as e tern l ima r e fe r e nc i a I

Ago ra s ll bs ti ll l~ l In .1 ap al av ra n aq u cl a f ra sc co m o ut ra p al av ra CO t~a m cs rn a referencia, m as com sentido diferente; en t ao isso nao

I~~cfetcr qual~lI,~r influencia so bre a rc fe re ncia d a fra se. M as ag oravcm os que a idc ia, na vcrdadc, se m odifica em um caso assim : por-

9uc , pOl 'exernplo, a i de ia n a f ra se "a estre la d a manhf e u rn c or poil um in ad o p el o sol" c diferentc ci a id eia n a f ra se " a E st re la da Noite

6 l im corpo i . llIl~inado pelo sol", Algucm que nao soubesse que a

c s tr ~ l~ d a no it c c a e st re la d a m a nh f p od er ia p re sum ir qu e um a d es -sns Idcl<lS:t'n ~erda~leirH c a outra f als a, A i dc ia , portanto, n i' io p o d escr a rcfcrencia c i a I r as e ; tcriarnos mais r~lzii.o s c a i n te r p rc t as s emos

c om o s en d o s el l s cn tid o.

, F rcgc cliz: e m um a nota de ro dape, q ue p or "id eia" ele quer d izer "nao a ati-

v l~ la cle s ub je ti va d e p en sa r, m as s eu c on te ud o o bje ti vo , q ue e c ap az d e se r p ro -

p ric da dc C Ol1 1u md e m uitas p csso as". P or ta nto , su a a lcg ac ao d e q ue 0 s e nt i d o

cia frasc "a cstrc la d a n oitc c UI11 corpo ilum inado pelo sol" 6 0 c on teu do d a

crcn ca p artilh ad a p or d uas pcssoas qu e acrcditarn que a estrela da m anha 6 u m

c or po il um in ad o p elo s ol . E ss e c on tc ud o c or np ar ti lh ad o e a qu il o q ue o s f il os o-

f os n or ma lm e nte q ue rc rn d iz er c om a p al av ra " pr op os iy ao ",l v1 uit as v ez es d iz e-

InOS q ue um a frase expressa lima proposiciio, 0 que sig nifica q ue cia tem u rn

d ct crm in ad o c on tc ud o .

. Observe q ue n cssa p assag crn F rc ge a plic a alg o co mo a tese d e co mp osieio -

nalidadc it re fcr en cias q uan do d iz q ue "se su bstitu irm os n ela u ma p alav ra c om

outra palavra com a m esm a referencia, m as um sen tido difercn tc , .. isso nao

p od e te l' q L'a lq ~le r.i ~f lu cn cia s ob re a r ef er en cia d a frase", Em o ut ra s p ala vr as ,

e lc parte do pnn cipro que a referencia d e um a frase e deterrn in ad a ex clusiva-

m en te p cl as ~ 'c fe rc nc ia ~ d as p al av ra s o u c xp rc ss oc s q ue a CW1p O el l1 ,Sc pudcr-m o s d cs co br ir u m u c ar ac tc ri sti ca d e L Im a C ra se q u e s ej a dctcrrninada cxclusiva-

m en te p cla s r cf or cn cia s d ,1 S pa la vr as q ue a c om p oc m, t cr cm o s d cs co bc rto .

g un do F rc gc , q ua is silo a s r cf cr cn ci as d ii f ra sc ,

A te a qu i :; (\ s ab cm o s 0 q ue : ;; In s cn tid o c r cf cr cn ci a Cle i,U1LC,

Chamarr-os d o i s n om o s q ue tc nh am a m c sm a r cf cr cn ci a d e " co -r ef er cn cia is ''.

P ortan to , a p erg un ta q ue d ev em os fa ze r e : Q u e c ar ac te ri sti ca d as f ra se s e sem-

p re p re ser va da sc su bstitu irm os o s n om es n essa f rase p or o ulr os n om es c o-r e-

i'cre'1ciais? A resp osta d e F re ge 6 q ue a ca ra cter istie a q ue 6 p re serv ad a e aQuilo

que ele cham a de "valor de \ crdade", "E ntendo por valor de vcrdade de um a

 

I N T R O D U C A o A F IL O SO F IA C O N T E M PO R A N E A

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 41/54

'a c ir cu ns ta nc ia q ue e la e v erd ad eira o u q ue c ia c fa lsa . N ao h el q ua isq uc r

6utr6s valores de verdade." 0 argum cnto de F rege c qu e 5 C ; subst i tu i rmos lim

nom e por outro nom e co-refe rendal em um a fra sc , isso na o tcra ncnhum a in-

flu en cia s ob re s e a fra se e v er da de ir a o u f als a.

P o rt an to , c om o "a Estrela da Manha' e "a E strela da Noite sfio co-rcfe-

. re nc ia is, d ev eria mo s p od er s ub stitu ir u ma p ela o utra em q ua lq uer fra se ve rd a-

d eira e o bter u ma o utra fra se ta mb em v erda deira : e, d u m es ma fo rm a, d ev eria -m os ser capaz es de substitu ir um a pel a outra em qualquer fruse falsa e obter

u ma fra se q ue e falsa. A ce ite mo s, p or enquanto, qu e isso 6 certo.

Se a referenda de um a frase e um va lor de verda de, cntiio da m csm a rna-

neira qu e 0 s en tid o d e ur n nome e urn m odo de aprcscntacao da r ef er en da , a s-

s im t am b em 0 sentido de um a frase deveria ser \1111 m odo de aprcsenta cao de

u rn v alo r d e v er da dc . E a ss im c or no o scntido d e u rn n 01 11 eC l im n m a nc ir a de

identifiear 0 o bje to a q ue s e re fere, a ss im ta mb cm 0 se ntid o d e lim a Ira sc s era

um a m aneira de identifica r se a frasc C o u nao vcrdadcira. S c conhcccrm os 0

s en ti do d e u ma f ra se , s ab er em os 0 q ue d ete rm in e s c a qu cla [ra se c ve l d adc ir a

o u f a1 Sa . E 0 r ef er en te d e u ma fr as e no m undo real 6 sell valor de vcrda de.

S e s o ub e rmo s 0 q ue d ete rm in a s e l im n f ra sc ( ; vc rd ad cir a ou I a ls a , d ir cmo s

qu e sabemos suas condicdes de verdade. Assim, a tcoria d e sig nifica do d e

F re ge d iz q ue 0 s ig nif ic ad o d e li ma f ra sc s G o su as c on di co cs d e v cr da dc . C om o,

na concepcao de Frege, todas a s frascs que nao sao vcrdadciras sa o faisas, se

souberm os qua ndo um a frase sera verdadcira, sabercm os suas co-id icoes de

verdade. P ois, em qua lquer c ircunstanc ia em que cla nao t()SSC v cr da d ci ra , s c-

r ia f a ls a .

C hegam os agora a urn ponto onde outro m otive im porta nte para 0 intcrcs-

se q ue a filo so fia te rn p ela lin gu ag em fica c la re. ;\ lin gu ag cm (; 0 m cio e rn QU0

e xp re ss am o s v er da de s. D es de 0 in ic io d a f ilo so fi a o cid en ta l, a n atu re za c ia v c r-

d ad e f o i c o ns id e ra d a um a q ue st ao f il os of ic a cssencial. A (coria de s igni f ic ado

fo mece u rn ca min ho p ara es sa rcs po sta . P o is c xa min ar C01110 a :, [ ra se s e x p r es -

sam verdade ou falsidade, ajuda-nos a entender a natureza da verda dc. N a teo-ria d e F reg e, o nd e ha u ma forte co nc xfio en tre sig ni fica do c v crd ad c, es se p ro -

b lem a t ra d ic io n al 6 c en tr al p ar a a scnuinticn f i losofic».

3.5. Predicados e f ra s es abertas- _T en do d es en vo lv id o u ma e xp lic ac ao p ar a 0 s en ti d o e a r cf er cn cia d as frases,

F re ge p o d e e xp li ea r 0 sentido e a referencia de outras palavras c cxprcssoes, de -

p en den do sem pre d a tese de cornposicionalidadc, aplicada agora tanto ao senti-

.do como a referencia, 0 s en tid o d e uma palavra ou expressao sera um n caractc-

ris tic a q ue d eten nin a a s co nd ico es d e v crd ad c -- o s en t i do - d e lim a [ra se n a q ua l

a q u el a p a la v ra O ll c xp rc ss ii o o co rr c; a r c J ' c r l' l1 c i a SC,r ;'1 1 1 1 1 1 : 1 a 1 ' i l c t c r i s ( ie a q ue d c-

:

~ijW ; : :k~\

J,

- , c • .

.

~

." ' .~ 1 : ·Ji~

iJ i

t

':,

,t'Fl~;

I·~':

.-~

1J r . :

.

~~:'1.

3 . A L lN G U A G E M • 9 5

tc rm in a o 'v alo r d e vcrdade - a r cf cr cn ci a. P a ra c xp li ca r 0 rcs to d a tco ria d e F re-

g c, n o cn ta nto , p rccisa mo s in tro du zir lim p ou co m ais d e tcrminologia,

N a g ra rn atica tra dic io na l, d iz ia -s c q ue a s fra scs cra m fo rm ad as p or lim su -

jei:lO.e U111 predicado, A frase "Susan esta n o C a na d a" compreenderia, entao, 0

sujerto, "Susan" , eo prcdicado, "esta n o C a na da ". 0 sujeito- neste caso ur n

n om e - cs ta be lcc ia s ab re q ue, Oll quem era a frase , e 0 predicado, a qu ilo q ue

cstava scndo dito sobre 0 sujeito, Suponharnos qu e cstivessernos tentandoi de nt if ic ar q ua l e a rcfe rencia dc "csta no C ana da". C om o 0 C anada e 0 rr-iior

pals do continentc r.orte-am erica no, qua lquer frase que diga que algo ou a l-

gucm esta no m aior pa is de continentc n or te -am er ic an o t er a 0 m esm o va lor de

v crd ad c q ue I 1m<1 frase que diga que aque le a lguem esta no C anada. U sando a

tese de composicionalidade como refercncia, podernos dizer que? caracteristi-

ca que n prcdicado "csta no Canada" com partilha com 0 p re dica do "e sta n o

maier pais do c ont in c nt e n o rt c- ar n cr ic a no " c a rcfcrcncia qu e tern em cornum.

E ssa rc fcrencia em conium , na teoria de F rcgc era (/ catcgoria das coisas

110 Canada. P or ta nt o, u ss im c om o urn n 01 11 es c r cl cr c a urn o bj ct o, u m p rc di ca -

do sc refcre a l ima catcgoria de objetos. Essa catcgoria e chamada de "exten-

sao" d o p rcd ica do , S e v oce q uisc r d csco brir s c a lg a cs ta n a cx tcn sa o d e u m p re-

d ic ad o, s im ple sm cn tc f ac a U 1 11 ar as e COlli 0 n om e d aq uela co is a se guid a p elo

p red ic ad o e v eja sc a qu ela fra sc (;\v erd ad eira . P orta nto , se v oce q uise r s ab er s e

a lgo -- cham c-o de X - csta na cx tcnsao do predicado "csta no C anada" sirn-

plesmente veja se a frase "X esta 111) Canada" c verdadeira. Sc for, dizemos qu e

X satlsfaz 0 predieado "esta no Canada".

A g or a s ab cm o s 0 que 6 a refercncia de urn predicado P odem os a plica r a

rcgra gcral que diz que 0 scntido de lim a pa lavra ou frase e um m odo de apre-

sentacao c ia re fe rcncia. Os prcdicados "esta no Canada" e "esta no maior pais

do contincntc nortc-americann" SaO modos de apresentacao diferentes da mes-

rn a categoria de objetos: ou sc ja. a categoria das coisas no pais cuja ca pital eOttawa. As vczcs, rcferimo-nos ao sentido de urn predicado como a "intensao"

dcssc prcdicado. C om o vcrernos e:n 3.R , no cntanto , essa tenninologia pode

g cra r co nfu sao , p ortan to c on tin uare i a falar de "sentidos",

O ra, F rcgc sa bia que ncm todas as frascs sc cncaixavarn 110 p a dr ao s im p le sd e s uj ci to c p re di ca do . Afinal, a f ra sc

F : John e M ary, que sao am igos de Pete r, sentaram no jard im e com erammOI·nngo5

sera sobre John ou M ary ou sobre a lgo charnado de "John e M ary" ou ate m es-

1110 sobi e algo chamado de "John e M ary, que sao am igos de P ete r"? Por isso,

F reg c s ug eriu q ue d ev eria mo s s ub stitu ir a id eia tra dic io na l d e tim p red ic ad o

pela idcia daquilo qu e ele chamou de "frase aberta", P ara o bter u ma frase abe l"

( a d e F , s it np le sr ne nt c I 'e mo vn lim Oll v il ri os d os n 01 11 e8 .; \s si m , a s d ua s f ra se s

 

!i~6 • I N T R O D U C A o A F IL O S O FI A C O N T E M P O R A N E A 3 . A L lN G U A G E M • 9 7

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 42/54

.,:. i F 1: e M ary, qu e sao am ig os d e P eter, sentaram no j ardim e com e-

r am mo ra ng o s.

e

F 2: e M ary, qu e sao . .migos de , sentaram no jard im e co -

m e ram mo ra ng o s.

s ao f ra se s a be rt as .

E facil perceber co mo ap l icar a sug cstao dc F rcgc ~ 1Fl. S e F 6 v cr da dc ir a,

e nt ao J oh n s at is fa z a f ra se a be rta Fl. P ortan to , a c xtcn sa o d e F 1 l: a ca teg or ia d eco isa s q ue sa tisf az em e ssa f ra se a be rta, a c atc go ria d e c oisa s c ujo s n om os p ro -

d uzem u ma frase v er da de ir a q u an d o forem colocados no s espacos em branco.

F reg e su ge riu q ue a r ef er en cia d c F 2 era a catcgoria de pares ord cnado s de

c oisas d e ta l fo rm a q ue se v oc e co lo cassc 0 nom e do prim ciro m cm bro do par

n o p r ime i ro espaco ( ;11l bran co ~ 0 nome d o s eg u nd o mcmbro no s eg un do c sp a-

90 em branco teria um a f r as e v e rd a de i ra . Ur n p ar o rd cn ad o c apcnas urn pa r

d e co isa s to ma do em u rn a o rd ern esp ec ifica . (A ssim < X,Y > e lllll p a r o r dc n ado

d ife re nte d e < Y,X >, e mbo ra o s d ois p are s tcnharn o s m e sm o s m c mb ro s.) O bv ia -

m ente, p o d e ser verdade q ue

Joh n e M ary , qu e sao am igo s d e P eter, sen taram no jard im e co merarn 1110-

rangos

qu an do for falso q ue

P eter e M ary, qu e sao amigos d e J oh n , scniaram no j . irdim c comcrarn 1110-

rangos .

Portanto, 0 no me qu e voce v ai c ol oc ar no cspaco em brunco 6 importantc c 6

p or isso q ue 0 par tem q ue vir em o rd cm , I~ clare qu e cssa idcia p ock SCI' gene-

r al iz ad a: s e v oc e r et ir as se tres nom cs, cn tao a fra sc a bc rta s cria satisfc i ta na o

pelo s pares ordenado s e sim por g rup os orden ado s ele t rcs, c assim pO I'diante,

P or m ais c om plica da q ue seja um a fra se, CpOI ' m ais nom os que cia contcnha, a

te or ia d e F re ge p od e id en ti fi ca r a r e fe r e nc i a c 0 s en ti do c ia fr as c a bc rt a p ro du zi -

da pela rem ocao de tod os o s n om os.

N o c ap it ul o 1, se voce se lernbrar, introduzi a i dc ia dc LIma va ri a v e l pare

e xp lica r as fr ase s-R am sey qu c o s f un c io n al i st as u sa m p ar a cstabclcccr s ua t eo -ria d a m en te. Ha urna conexao simples entre variaveis c cssas [rases abertas,

Q uan do voce cria um a frase ab er ta , i nt ro d uz l ima variavel p ara c ad a n om e qu e

- r eti ra . P or ta nt o, e m vez d e e sc r ev e r a fr as e a bc rta

___ sentou no jardim e com eu morangos

v o ce e s cr e ve

X se nto u n o jardim e comeu morangos.

( Se v oc e retirar 0 mesmo nome mais de li ma v el : d e li ma li'HSC, voce podc subs-

titu i-lo tod as as vezes co m a m esm a variavcl.) Frcgc dcmonsirou q ue u sa nd o

e ss e a rti fi ci o, v oc e p od cr ia e 11 (a Oc xp lic ur c om o 'a s p al av ra s " alg un s" e " tu de "

- e p alavras rclacionad as com o "algu em " e "rodos", q ue s ao to da s q ua nt i f ic a-

d or es - f un ci on av am em i ng le s. ( O u c om o a s p ala vr as equivalentes funcionam

e m a lem ao l) P ara "a lg ucm " a h isto ria e que "A lguem sentou no jardim e co-

meu r n or a ngo s" 6 vc rdadci r a sc h a lim a p esso a q ue satisfa ca essa fr ase ab erta .

( Al gu m as v ez cs 0:; cspecia listas em lcg ica cham arn lim objeto qu e satisfaz

um a frase aberta d e "valor satisfatorio d a v a ri av e l" qu c substitui 0 cspaco em

b ran co . P o rt an to , s e v oc e scntou no jardirn c corncu morangos voce scria u m

valor satisfa torio cia vnriavcl "X " n a frasc: "X scntou n o j ardim e com eu m o-

tangos.") P ar a " to do s" a h is to ria e qu e "Todos sc nta ra m n o jardim e comeramrn ora ng os" ser a vc rd ad cir a se to da s as p esso as satisf iz ere m e ssa fra se a be rta

( e rn ou tr as palavras , sc q ua lq ue r n om e qu e voce lISC pa ra sub st i tu i r 0 "X " p ro -

d u za um a F ra se v cr da d ci ra ). POI' esse m otiv e, a s v cz cs esc rc vc mo s, e 11 1v ez d e

"T od os sc ntar am n o ja rd im e c or ne ra m m ora ng os ".

Para todos os X . X sen tou no jardirn c c om e u m o ra ng os .

e para " Al gu er n s er uo u n b ja rd im e co meu m ora ng os ".

E xiste urn X d e tal f orm a que X sentou no j a rd im e corneu morangos

qu e e 0 q ue fiz er no s c om a s frases-Ramsey. "P ara to do s o s X, X..." e 0quantifi-c ad or u nive rsa l q ue u sam os p ara a le ga r q ue tu do -/10 un iv er so s - s at is fa z um a

fra se abc rt a , ( "Ha tim X, de tal form a que X F) e 0q u an ti fi ca do r e xi st en ci al q u e

usa1110Spara alcgar a existencia d e a lg o q ue s at is fa z um a f ra se a be rta ") ( Aq ui

"F" cst;'t rcprcscntando alguma frasc abcrta espccifica. P or ta nt o s e "F" e "ri"

cntao " 1 1 : 1 um X de ta l f orm a q ue X ri" 6 vcrdadcira pOI' sc acaso a lg um o bj et o

satisfizcr a frnse abcrta " ri", isto c , p or s c a ca so a lg uc m r ir .) C on si de -

ra nd o a m an cira co mo Iid am os, h{1 p ou co , co m a s fra sc s a bcr ta s c om d ois c sp a-

co s em bran co, po dc-se pcrcebcr co mo F rcg c po deria te l' eo ntin uad o e traba-

lhado Will frascs co m mais de lim quantificador, m ais ou m en os c om o ftz em os

n as fra sc s-R am sc y d o c ap itu lo I.

3.6 Problemas de intcnsionalidade

V en ho p resum ind o, com o disse, q ue se su bstituirm os u m term o co -refe-

rencia l POl' o utro em u ma f ra se, o bte ria rn os u ma f ra se v er da de ira se a fra se o ri-

ginal fossc verdadcira C lima frase falsa se a frasc o ri gi na l f os sc falsa, Ou seja,vcn ho p rcsum ind o que a tcsc cia com posicio nalidad e se aplica a referencias

tan to q uan ta a sentid os. M as F rcge observou qu e a prim eira vista , isso nao p a-

r ec ia e st ar c o rr ct o.

C onsidcre as duas frascs "A credito que a estre la da m anha e Venus" e

"Acrcdiio que a cstrcla da noitc 6 V en us ". C om o v ir no s, u rn a dcssas frases po -

d oria S CI've rd ad eira e a o utra fa lsa. N o e nta nto , u ma F ra se e g er ad a p ela o utra

quando substituimos as cxprcssocs co-rcfcrcnciais. Podcr ia rnos c on clu ir q ue ea pc na s c rr ad o s up or q ue a s ub st it uic ao d e c xp rc ss oc s c o- rc fe re nc ia is p re se rv a

o v al or d e v cr da dc .

 

• I N T A oD U gA o A F I L O S O F l t . C O N T E M P O R A N E A3. A L lN G U A G E M • 9 9

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 43/54

o qu e F reg e argu men tou , n o en tan to , fo i qu e "so p od cm os c on clu ir co m

a lg um aju stific ativ a ". q ue " a e stre la d a m an ha "n em sempre f ie r e fe re a o p la n e-

ta V en us", S e, n a frase "A credito q ue a cstre la da m an hf c Venus" 0 nom e "a

e st re la d a manha" n ao se re fe rir a V en us, en ta o, C c la ro , e le n ao conta como um

co ntra-exem plo d e rsign ifeferen cia p ara a tese d e co mp osicio nalid ad e. M as

e s sa r e sp o st a 56 d ev e n os s at is fa ze r se t ivermos um a e x pl ic ac ao tanto sobre

quando ela n ao se refere a Venus e p or q ue na o 0 faz . Tentarci ofercccr um a ex -

plicacao d esse tip o n o fim des ta secao c naproxima.

M as an tes d efaze-lo dcixe

q ue eu d escreva a m an eira com o F rege tento u resolver esse p ro blem a.

N a f ra se

F : A estre la da m anha e a es tre la da no ite

. q u e c on si d er amo s anteriorrnente, a substituicao das expressocs co-refcren-

ciais, c om o v im o s, p re se rv am 0 v al or d e v er da de . [SS() ica que a frase abcrta

Fl 6 a estrela da noire

produzira um a frase co m 0 m esrn o valo r d e vcrdadc qu e FI contanto qu e cu

su bstitua no esp aco em bran co u ma p alavra , ta l com o "V en us" q ue tern a m es-

m a referencia q ue "a estre la d a m an ha". U m a F rase abcrta d essc ripo, q ue p ro -

duz um a frase com 0 m esm o valor de vcrdadc scm pi c que substituirmos um a

exp ressao co m a m esm a referencia n o csp aco em bran co, 6 ch am ada d e "con -te xto e xte nsio na l". ( Le mb re , a re fer en cia d e urn p rc di ca do e ra charnada d e su a

extensiio.i

P or ou tro lad o, a frase aberta

A cred ito qu e _ _ 6 Venus

na o e u m co ntex te ex tens io nal, com o vim os. S c q uiserm os fo rneccr tcrmos

c uja su bstitu ic ao n o e sp ac o e m b ran co in '! p r cs er var 0 va lo r d e v erd ad c, c lc s

tern qu e ser ten no s co m 0 m esm o sentido . . 1 < 1 q ue , c om o e ll d iss c, 0 se ntid o d e

um predicado e, as vezes, cham ado de sua intensao, e ssc s ter mo s sa o c ha ma -

d os d e "c on te xto s in te nsio na is ". A solucfio d e F rcg c p ara o s problem as qu e 0< ;

e on te xto s in te nsio na is e ria ra m p ara su a te oria ba sic a fo i m uito sim ple s. E lc su -

g eriu q ue , n os c on te xto s in tc nsio na is, p ala vr as c (r as c« s c r cf cr ia m n fio a su us

r ef ere nc ia s n on na is e s im a se us s en tid os.

E m bo ra e sta s ej a u m a s olu ca o m u it o s im p le s, c ia t am b em 6 b as ta nte dificil de

e ap ta r. S er ia u m a d ec or re nc ia d es sa t eo ri a, afinal, q ue "a e stre la d a martha" em

A cred ito q ue a estre la d a m anh a e Venus

r efe re -se a o se nti d o d e "a e stre la d a m an hii". I'o rta nto , 0 s cn ti do d e " n c st rc la

da m anha" nessa frase 6 0 m odo de apresentacao do sentido que "a cs trc la da

m a nh a" t em n os c on te xt os e xt en sio na is . E ~0 se ntid o d e lim se nti d o.

C olo ca do d essa fo rm a, a p ro po sta d e F re ge n ao 6 1 11 11 itoa cil d e c ntc nd cr;

m as p od em os e xp re ssa r a te or ia d e F rc gc d e lim a o utr a m an cira , q ue n os p en ni-

ta c ap ta r ao nd c e lc q ucr c hc ga r, 0 q ue e le e sta d iz en do e q ue a c on tribu ic ao q ue

a s p ala vra s "a cstrela d a m anh a" em "Acrcdito que a estrela cia m a nh a 6 Venus "

fazern 11 0 proccsso de determiner s c a f ra se C o u n ao verdadeira depende na o so

d e sua rcfcrencia co mo tam bem d e seu senti do . E certam en te , isso 6 correto.

Pais 0 f at o d e cu ac rcd i ta r ou na o que a estrela da m anha 6 Ve nu s v ai d ep e nd er ,

em p arte, sc ell sc i q ue a estre la q ue as vezes ap arece em u m deten nin and o p on-

to d o horizonte an am anhcccr 6 V en us; s e e ll acrcdito ou n ao , e nt ao v ai d e pe n -

d el ' d e e ll tcr associado 0 modo de aprcscn tacao c or re to c om as palavras "a e s-

trcla d a martha".

C Ot" cfeito , F rege po de o fercccr L un a ex plicacao g eral d a razao p el a q ual

"Acredito qu e 6 Venus" devc e r ia l' c o n te x to s i n te n si o na i s. 0 e fe it o d o

i nt er ca rn bi o d e t crm o s co-rcfcrenciais no espaco e rn b ra nc o a qu i 6 e qu iv al en te

ao in tercam bio d e frascs co-refcrcncia is n o csp aco em branco d a frase aberta

"Acredito que ". Segundo Frege. 0 co nteud o d a frase , a ideia qu e ela

expressa , 6 se ll s cn tid o. D ua s fra ses c om c on te ud os d ife re nte s e xp re ss am c ren -

y:lS d ifc rc ntc s, [ ~natural , portanto, qu e i nt er ca r nb ia r f ra s es co m a m es ma refe-

rencia m as senti do d iferen te no con tex to "A cred ito que ., i ra , as vezes,

l cvar-nos t in vcrdadc , \ falsidade.

Muitos contextos intensionais qu e envolvcm a a ti tu d e da s p es so a s d ia nt e

d e p ro posico cs p odcm scr cx plicad os d cssa fo rm a. A atitud c das p csso as a es-

sa s p ro po siy oe s d cp cn dc c ia i dc ia c n ao simplesrncnte s c c ia e o u n ao v er da de i-

I'll. Assim, "Duvido que __ ", "Espero que __ ". "Terno que __ ", "Sei

que __ ", "Suponho que __ ", c ou tras expressoes sernelhan tes, sao eon-

tc xto s in tc nsio na is p or e ss e m otiv e. E sse tip o d e e xp re ss oe s sa o 0 n om e d aq ui-

1 0 q ue 6 c ha ma do d e " atitu dc s f ra sa is' Oll " at itu dc s p ro po sic io na is ", p or qu e

o q ue p rccn ch c o csp aco ern b ra nc o 6 L im a F r as e q ue c xp re ss a u m a p ro po sic ao .

Portanto a sugestao de Frcge, de que devem os tratar a referencia de um a ex -

p rcssao em u m co ntex te inten sio na I c om o seu sen tid o 6, em term os d e su a teo-

r ia , l im a rnaneira a cc ita vc l d e lid ar c om c on tc xto s in te nsio na is q ue en vo lv em

m u it as d as a ti tu de s f ra sa is .

lnfclizrncntc, p or cm , n cm to do s o s c on tex to s in tc nsio na is e nv olv cm a titu -d es fr asa is , S c, pOI' e xe mp lo , su bstitu irm os a F ra se "E ste ja o u n iio e ste ja ch o-

vcn do " em "J~ n eccssario q ue este ja ou l1 ao es te ja ch oven do " p or lim a frase

co m a m csm a rcfcrencia - is to 6, co m 0m csm o valo r de vcrd ad c - n em sem pre

obteremos uma frase que tambem 6 verdadeira. Assim, "Gosto de aipo" e v er -

d ad cira , m as nfio 6 n cc css ar iam cn te v erd ad eir a, P or ta nto p re cis am os e xam i-

n ar, a go ra , sc n os (; p ossiv cl c xp lic ar p or q ue "E necessario que _" gera con-

textos intcnsionais.

 

. 0 0 d I N T A O O U C A O A F IL O S O F I A C O N T E M f'O R A N E A 3. A L 1 N G U A G E M • 1 0 1

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 44/54

3.7. Condiefies de verdade e m undos possivcis

, ;I 'P ara re sp on de r a e st a qucstao VOL ILIsaI'LImn (coria sobrc ncccss idadc de-

senvolvida no s ultimos a no s, q ue tern C01110 origem u m a i d c i n do filosofo ale-

m a o Go tt fr ie d W i lh elm L e ib ni z. Essa ideia e a ideiu de um m un do possivel .

P or m u nd o possivel L e ib ni z q ui s dizcr 0 maneira CO/1100 universe poderia tel'

sido. (L em bre -se de q ue u rn m un do p os siv cl na o C como a Terra p od er ra ter

sido e sim com o 0 u nive rso in te iro po deria te r sido . Q ua ndo fa lo d e "rnundos",

neste l iv ro , norma lmente q ue ro d iz er u niv ers os i nte iro s p os siv eis .) A ss im , t od osa cr ed it am o s q ue 0 P re si de nte K en ne dy p od eri a n ao t el' s id o a ss as sin ad o. E. na

fo rm a d e p en sa r d e L eib ni z, lU Iu rn m un do p os si ve l q ue c e xa ta rn en te c om o n os -

s o u ni ve rs o a te 0momento e m q ue K en ne dy foi assassinado c dcpois di fere dele

de varias m an eir as . C om e fe ito , ha uma infinidade de outros mundos possiveis

c om o e sse . E m a lgu ns, K enn edy m orro de vc lhic c; e m o utro s, clc c assassinado

m ais ta rd e, e a ssim po r dia nte . H a u ma in f in ida dc de m un dos po rq ue h;\ u ma in -

fi ni cla de d e c oi sa s d es se ti po q ue p od cri ar n tcr o co rri do d e o utr a mancira.

L eibniz pede usar a ideia de m undos possivcis para responder a lim a serie

d e p e rg u nt a s f il os o fi c as importantcs. L ~1 l1s pe cia l. c lc C ui ca po z d e d iz cr ( ) qu e

e, para um a frase ser n ec es sa ri am en tc v cr da dc ir a. Su a cxplicacao fo i qu e lim a

f ra se e necessariamentc verdadcira scfor verdadcira ('/II todos os IIII/lle/OS pos-

s lveis . O u s ej a, na o h ave ria u ma u nica fo rm a qu e 0 u nive rse p od cria a do ta r e mq ue u ma frase necessaria nao fosse vcrdadcira. Assim, "2 e 2 siio 4" c vcrdadci-

ro em todos os mun do s p o ss iv ci s.

L eib niz a cre dita va q ue D eu s, n o m em en to d a C ria ca o, tin ha c sc olh id o e n-

t re to do s o s m un do s p os siv eis e s elc ci on ad o 0m clh or d elc s. (I~ d e L cib niz q ue

s e o rig in ou a e xp re ss ao "0 m elh or d e to do s os m und os p ossiv cis ". D isc utire i

essa tese um a vez m ais em 8.12, em conexao com argum cntos CIll d cfc sa d a

existencia de D eus.) C om o ele acreditava qu e na o havia 1l11111dosossiveis em

qu e "2 e 2 sa o 4" s eja fa ls o, e le argurnentou qu e mesmo DeLISnao p o dc ri a t cr

criado urn m undo no q ual dois mais dois n ao p cr fi zc ss c q ua tr o. COt'10 e ra dc sc

e s pe ra r , L e ib n iz deu ao u n iv e rs o que DeLISrcalmcntc criou 0 nome de "mundo

real". ( E importante deixar cla ro, no e n l ap to , q ue () u sn cia id cia d e urn mundo

p o ss iv el n fi o 0 o brig a a acreditar CIl1 n cn huma . lo u tr in a tcologica.)

Examinaremos alguns outros p ro ble ma s c om o s q ua is podcrcmos lidar em

. te nno s de m und os p ossiv eis no s ca pitu lo s sobrc c ic nc ia c m c ta fl si ca . M us p o-

-d em os usa r a ide ia d e L eib niz so brc m un do p ossiv cl p ara d csc nvo lvc r a te oria

d e sign ifica do d e F re gc . F rc gc d iz ia qu e 0 signi ficado de Lima Irusc er a suas

condicoes d e v e rd ade . 0 q ue a t eo ri a dizia e q ue 0 q u e L 1 :1 1arasc s ig n i f ic a esta

d et erm in ad o p or c om o 0mundo forcosamente seria se a f ra s c fosse verdadeira.

P orta nto , p od em os su ge rir, n a te rrn in olo gia de L cib niz , q ue 0 s ig nif ic ad o d e

um a frase e deterrninado por q uais m undos possivcis lazcm eO Il1 que a frasc

se ja verdade ir a . Como e q ue f un ci o. wr ia e SS ,l l e or ia ?

qu e 0 u niv erse po dc ria tc r sid o, rc alm cntc c xistia m: o utro s filo so fo s, e m ep o-

c as m ais rc ccn te s, ta mb cm acrcditararn nisso. t um a q uc st fi o cornplcxa, se

m u nd os p os si vc is r ca lm c nt c existent c ccrtam cnrc a maioria da s p css oa s a cha

q ue a id eia c on tra ria no ssa intuic ao. M as se v oc e a cre dita o u nao na ex istencia

dc mu nd os p os si vc is ( a1 61 11d o r nu nd o real), a i dc ia de Lcibniz nos da u rn a r na -

n eir a m uito u til de pcnsar sobre r cf cr cn ci a. P oi s seria mui to f ac il e x pr es sa r, em

im age ns d e L cib niz , a te oria d e F re ge sob re re fe re nc ia .

No caso de nOn1CS, por cxcrnplo. Frege dizia que a referencia de "Bucefa-

10" er a 0 c ava lo a qUL: se r e fe r ia , Bern, a qu elc c av alo e xistia em m uito s m und os

p ossiv cis, (L cm brc -sc d o q ue isso sign ifica : q ue 0 u ni ve rs e p od eri a t el' s id o d i-

ferentc de rnuitas manciras c ainda assim conter aquele c av alo.) E m a lg uns

d cs sc s m u nd os p os sl vc is , A le xa nd re 0 c ava lga ; e m o utro s, A lex and re n ao 0 ca -

valga ecm vcz disso e li l 0 cavalo para scu p rof esso r. Ar ist6 te les.

TOlllCI110~ um sim plcsprcdicado, como " cra cavalgado". F rcgc di-

z ia q ue a rc fe rcn cia d esse p re dic ado e ra su a e xtc nsa o, a ca te go ria de co isas q ue

c ra m c ava lga dus. N este nu md o, "B uc cfa lo " c sta n aq uela c xtc nsa o, M as se e le

tiv essc c o.u in ua do sua v id a sc lva gc m nu s p lan icic s d a M ac edo nia .ja n ao 0 se -

ria . P ortan to .. hfl JIm m un do p os siv el n o q ua l "B uc cfa lo" n ao e sta na ex te nsa o

de " era cuvalgado", c naquclc m undo possivcl a [rase "Buccfalo er a ca -v al ga do "l ~ f al sa , C om efcito, c xistcm m uito s m und os po ssive is e m q ue "B uce -

Iato" nf io er a cavalgado. Em alguns dclcs, clc ficou na M ac ed on ia ; e m o ut ro s

d e ga lop ou a(() a R us sia .

A idcia gcral de u rn a c xp li ca ca o de refcrcncia em tcrrnos de mundos POSSI-

veis c s im p le >: L im a frase sujeito-predicado 6 ve rd ade ira e m tim m undo se - e

unicamcntc se - 0 referente do sujeito estiver na extcnsao do predicado naque-

Ie m und o, P ara g ue urna frasc seja verdadeira no m undo real- em outras pala-

vras, para q ue ela seja sim plcsm ente verdadeira - 0 referente d o suje ito de ve

c star na c xten sa c do p rc dic ado ne ssc u nive rs o.

A u tiliz ac ao do c on cc ito de m un do s p os siv cis dc ssa fo rm a. p ara en te nd er

r cf cr cn ci a e s ig ni f ic ad o, c cham ada de "scm fintica de m undo possivcl". C on-

sidc ra ndo c ssu sc ma ntica d e m un do po ssive l c om o rc fc rc nc ia , po dcm os en ten -

dc r irncdiatamcntc p or q ue "E ncccssario que __ " produz urn c on te xto i n-

t en si on al . P oi s essa semantics d iz q ue

N: F , n cc es sa ri o q ue 2 mais 2 sejarn < +

s6 6 vcrdadcira se c unicarncntc se

S: 2 mais 2 sao 4

for v crd ad eira e m tod os os m und os p ossiv eis. S e sub stitu irm os S p or o utra fra-

se COI11 a m csm a rc fe rcn cia , e n ta o e starc mos sim ple sm en te sub stitu in do u ma

frase qu e C vcrdadcira n o ;1 1L lI1 doea l. P orta nto na o h a ne nhu ma g ara ntia d e

 

· 1 0 2 • I N T A o D U g A O A F I LO S O F I A C O N T E M P O R A N E A

q ue , n es se c on te xto , a s ub st itu ic ao d e e xp rc ss ce s c o- re fe re nc ia is ir a p re se rv er

3 . A L lN G U A G E M • 1 0 3

3 .8 . Ann l tt lco - si n te t lco c n ece ss a r lo - con t ln g en te

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 45/54

a verdade de N.

N o q ue d iz r es pe ito a r ef er en cia , c nt ao , a s em an tic s d e m un do p os sl vc l efacil. M as e no caso de sentido? Ja vim os que e n atu ra l d iz cr q ue 0 significado

de um a frase e de ten nin ad o p or q ua is m un dos po ssive is fa zem C0111 q ue e la

s eja v er da de ira . E xp re ss an do d e o utr a f or ma , is to s ig nif ic a q ue 0 s ig ni fi ca do d e

um a f ra se e determ inado pelo que e a SUJ re fe re nc ia e m c ad a m un do p os siv el.

P ois co mo a referen cia d e u ma fra se e urn v alo r de ve rd ad e, qu an do s ab em os se

a f ra se e o u na o v erd ad eira n o m un do , s ab ern os q ua l e s ua r ef er en ci a n aq uc le

m und o. P arece q ue a fo rm a m ais n atu ra l d e tra ta r a s s en tid os d as p ala vra s e ex -

press5es e d iz er qu e s eu s s en tido s s ao deterrninados p or a qu il o q ue SUfiS refe-

r en cia s s ao e m c ad a m un do p os siv el , V ou c on tin ua r tr ab alh an do c om e sta id eia

po ru m m om en to . M as , co mo v ere mos n a se ca o s cg uin te, o co rre q ue nfio e exa-

ta me nte a pro pr ia do d iz er q ue 0 s en ti do de u ma cx prcs sa o 6 d ctcrrnina do p or

s ua r ef er en ci a e m t cd os o s m un do s p os siv ei s.

P a ra c o nh e ce r 0 s ig ni fi ca do d e "Bucefalo", n cs sa t co ri a, s cr ia n ec es sa ri o

s ab er q ua l era a referen cia d e "B uc efa lo " em to do s o s m un do s p oss iv cis , POI'·

t an to , d e te nn in ar 0 s ig ni fi ca do d e " Bu cc fa lo " s er ia i dc r. ti fi ca r 0 r cf cr cn tc d e

"B ucefalo" no m undo real bern assim com o scu referente em r o do s o s o ut ro s

m un do s. P ara sa be r 0 significado de " era cavalgado" seria ncccssario

conheeer qual era a ex tensao daque lc predica do em todos os m undos possl-

v eis : s ab er q ue , em q ua lq uer m un do, a ca teg oria de co is as q ue c ra m ca va lg a-

das era a ex tensao do predicado " era cavalgado". Portanto , dcte rm inar

o significado de" era cava lgado" (; idcntificar 11 cx tcnsao de "__ era

cava lgado" naquele mundo juntam ente com a cxtcnsao de " era cava l-

g ad o" em to do s os ou tro s m un do s.

E mb ora es ta rea l m en te s eja u ma m an eira na tu ra l d e a pliea r 0 r ac io ci ni o d e

mu n do s p o ss iv e is a teoria do significado de F regc, ocorre que essa form a de

p en sa r so bre sen tido e referen cia n ao e equivalente a d e F re ge . ( Re al m en te ,

F re ge n un ca lid ou c om m un do s p os siv ei s. e mb or a L eib niz ja o s t iv es se s ug er i-

do 'COmo uma m an err a ~epe:lsa~ ~(I:l:·t:jtJ.~·.t·~~:J~ljj; !p~t:-;~.::-);.ljGaCJ~.:'~l7 ;'~~f

m otiv o, direi q ue a ex plica ca o de m un do s po ssive is da , ,is pa la vra s e <1 S frases,

n ao e xa ta m en te s en ti do s e s im "intensiies" p ara u sa r u rn term o q ue ja s e to rn ou

padrao , A in te ns ao d e u ma p ala vr a f ic a d ete rm in ad a q ua nd o e sta be le ce rn os s ua

r ef er en cia e m to do s o s m un do s p os siv eis . I nte ns oe s, a o c on tr ari o d e s cn tid os ,

n ao s ao s ig ni fi ca do s, e e p or iss o q ue cu d is sc a ntes q ue 0 f ato d e q ue 0 scntido

d e u m p re dica do s eja a s v ez es c ha ma do d e s ua in te ns ao e c on fu se . P ar a c nt cn -

d er a d if er en ca e nt re s en tid o e in te ns ao , p re cis am os v olta r a re sp os ta d e L eib -

niz para a seguinte pergunta: 0 que e que faz um a frasc SCI' nccessariamentc

verdadeira?

C om o v irn os , L eib niz d iz ia q ue u ma f ra se s er ia n ec es sa ri ar ne nte v er da de i-

ra sc fossc verdadeira em todos os m undos possiveis. P odem os usar esse fato

co mo b as e p ara lim reductio d a i de ia q ue i nt en so es s ao s ig ni fic ad os . S eg un do a

p ro po si ca o q ue i nt cn so es s ao s ig ni fi ca do s, 0 s ig ni fic ad o d e u m n om e e st} e sta -

beler.:iclo :10 m em ento em que souberm os a que ele sc refere em todos os m un-

dos possiveis.

C onsidcrernos, entao , qual e a in tensao de "a estrela da manha", Bem,

ocorre que em todos os m undos possiveis "a estrela da m anha" se refere it es -

t re la d a noite, S e co nsid era rrn os u ma fo rm a q ue 0u ni ve rs o p od er ia t er a ss um i-

do na qual a estrela cia rnanha fo ss e diferen te de v aria s m ane ira s, iss o seria a

m eS 11 18 o is a q ue c on si de ra r u ma f or ma q ue 0u niv er so p od eri a t er a ss um id o n a

q ua l a c str ela d a n oite f os se c 1i fe re nte .

T alvez voce ache qu~ isso nao pode estar certo . V oce poderia achar que epossivcl que a cstrcla cia m anha pudcssc nao te r sido a estrela da noite. M as

pense sobre isso por um m om ento . C om o a estrela da noite e a estre la da m a-

n!1a,0 que e q ue v oce es ta s up on do q ue n ao p od eria ter sid o a es trela d a n oite?

E c la ro , a e str ela d a n oite p od er ia n ao e sta r v is iv el n o h or iz on te a o a ma nh ec er .

Portanto , ha u m m un do p oss iv el n o qu al a es trela d a n oite na o a pa rece no h ori-

z on te a o a ma nh cccr. M as es se (; urn m un do p os siv el n o q ua l a estre la d a m an ha

tam pouco aparecc no horizonte ao am anhecer, Naquele m undo, ac~ trela dan oitc p od e ne ro te r sido charnada de "a cstrela da m anha", C om o existe esse

m un do p os siv cl, a f ra se

A cs trela d a m an hf p od cria n ao tel' s id o ch am ad a de "a es trela d a m an ha "

e v crda de ira . M as em n oss a tin gu ag em , n este m un do , a e strela d a m an ha e cha-m ad a de "a e strela cia martha", E a qu ela eo is a a q ue se refere no ssa ex pres sa o "a

e st re la d a m a ni la " e a m esrna coisa em todos os m undos possiveis que a quela a

q ue "a E strela d a N oite" se refere. S egu e-s e, e c la ro , q ue a f ra se

F : A e str el a c ia m a rt ha e a e str el a d a n oite

6 v crd ad eira em tod os o s m und os p os siv eis e, p orta nto , n ece ss aria . 0 fa to d e a s

a fi rm a co es d e i de nt id ad e v er da de ir as e nt re n om e s s cr em t od as n ec es sa ri ar ne n-

t e v er d~ dc ir as ( ; ch am a do d e n ec cs sl da de d e id en ti da de . E a n ec ess id ad e d e

id en tid ad e q ue l ev a a c on cl us ao d e q ue a s in te ns 5e s n ao s ao s ig nif ic ad os .

P o ls , l emb r e- s e, 0 s ig nif ic ad o d e u ma f ra se e aquilo que voce tem que sa-

b er a f im d e e nte nd er a qu cl a f ra se . S e a s in te ns ce s f os se m s ig ni fic ad os , p or ta n-

to , q ua lq uc r p es so a q ue s ou be ss c 0 s ig nif ic ad o d os n or ne s e m l im a I in gu ag em

s er if} c a pa z d e s ab er a v erd ad e d e to da s a s a fir rn ac oe s d e i de nt id ad e e nv olv en -

d o n ornc s. M as , C0l110 F reg c o bs erv ou, F , q ue (; u m a a firm aca o d e ide ntid ad e

en volve nd o n orn es , n ao 6 u m co nh ec im en to s em an tico e s im um ag ra nd e d es -

 

; 1 0 4 • I N T R O D U 9 A O A F I L O SO F I A C O N T E M P O R .4 N E A

c ob er ta d e a str on om ia . E ss e a rg um cn to I or nc ce UIll reductio da alcgacao de

3. A L 1 N G U A G L 1 • 1 0 5

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 46/54

que in tensdes sa o significados.__n ~

,:~ ':'"H a u m o utr o m ot iv o im po rta nt c p clo q ua l o ss a tc or ia c su i c rr ad a. S c a s in -

tensoes fossem significados, 0 significado d e lim a fr as c sc ria d ctc r.n in ad o p cla

c ate go ria d e m un do s p os siv eis n os q ua is c ia fossc v e rd a dc ir a. P o rt an to , quais-

. q uer fra se s qu e fo ss e m v erd ad ci ..a s exa ta r ncn t c no s m cs mo s m un do s p os siv cis

t er iam o m e sm o s ig ni fi ca do .

Is so t er ia c on se qu en ci as m uit o e str an ha s. E ntr e o utr as c oi sa s, s ig nif ic ar ia

q ue to da s a s f ra se s necessar iamente v er da de ir as t er iam 0 mesrno significado.Portanto "2 mais 2 sa o 4" seria 0 mesrno que" J 6 mais 16 sa o 3 2". M ais qu e

is so , q ua is qu er o ut ra s d ua s fr as es contingcntes q ue fo ss e m v cr da de ir as c xa ta -

m en te n os m es mo s m un do s p os siv eis te ri ar n 0 rn es mo s ig ni f ic ad o. A ss im , n ao

so a fra se "a Estrela d a No it e e mu it as v ez cs v is iv cl no h or iz on tc a o c air d a noi-

t e " s i gni f ic a r ia 0 m es mo q ue . "V en us e m uita s v ez es visiv el n o h oriz on tc a o

cair d a n oite" m as t ambem "John e solteiro" s ig ni fi ca ri a ( ) I l1C!11l10 q ue " Jo hn 6

s olte ir o e 2 mais 2 sa o 4"!

E sses sa o o s d ois tip os r na is import ant c s de r az oc s p cl as quais t cmos qu e

d is ti ng uir e ntr e s en tid os e intensocs. Em 3.4, e u d is sc qu e f ic a ri a c la ro como

e ra im po rta nte d efi ni r s en tid o c om o sendo a qu ilo q ue v oc e precise saber para

e nt en de r um a f ra se . 0sentido, insistia F rc gc , c um a idcia cognitive, ("Cogniti-

vo " s ig nifica a pen as "ter a ve r co m co nh ecim en to ".) S e d ois n am es , "a " e "b'tern 0 m es mo s en ti do , e n ta o q ua lq ue r p cs so a q ue conhcca scus sCI1tidos-- qual-

q uer p es so a q ue en ten da co mo es ses no rn es fu ncio na rn n a l inguagcrn - sabera

q ue "a e b" e v er da de ir a. M a s uma intensfio nao 6 urna i dc ia c og ni ti ve . A p ar ti r

do fato que dois nom es "a" e "b" tcm a m csm a intcnsao , nao sc segue que as

p es so as q ue e nt en de m 0 id ioma saber/io q ue "a 6 b" 6 ve rda dc ira ,

o qu e e v er da de ir o e m to do s o s m un do s p os siv ci s, c ntf io 6 0q u e 6 n c ce ss .i -

rio . E us am os a pa la vra "contingcnte" p ar a d cs ig na r c ois as q ue s ao v er da dc i-

ra s s om en te em a lg un s mu nd os p os si ve is , Ass im , 6 urn rato c on ti ng en tc q ue

p ep in os s ao v er de s, p or qu e eles podcriam nao tcr sido verdes. lsso 6 0 mcsrno

q ue d iz er q ue 0 universe poderia tel ' side difcrcntc de l ima mancira ( nl q ue os

p e pi no s t iv e ss em alg um a o utra cor; 6 t am b cm 0 IllCSI110 q ue d iz cr qu e e x i st cm

m un do s p os siv ei s o nd e o s p ep in os nao sao verdes.E fundamentalmente i mpo r ta n te o b sc rv a r qu e 0 f ato d e l ima frasc SCI " ou

n ao n ece ss aria na o e a m esm a co is a q ue s ab er s c q ua lq uer p cs so a q ue co nh cca

o s ig nifica do d ev e s ab er (o u s et' ca pa z de d cs co brir) q ue a qu cla Ira se c v erd a-

d eira s em d ep en der d e q ua lq uer in fo rm aca o n ao -sc ma ntica . P OI' ess e m otive

p re ci sa m os o utr a p ala vr a p ar a d es er cv er f ra sc s c uj a v cr da de n ao d cc or rc , d es sa

m an eira , d e s eu sign ifica do . C ha m a mo s e ss as frases d e "a na liti ca s" u sa nd o

um a pa lavra que 0 gra nd e fil6 so fo a lcm ao Im ma nu el K an t in tro duz iu , co m

e ss e m cs mo s cn iid o. U l 1 1 a [ r as e vc rdadc ir a qu e nito c analitica c cham ada de

um a v cr da dc " si nt et ic a" .

.iiI Vil110S qu e ex istent vcrdadcs necessaries "a Estrcla da M anha 6 a

E stre la d a N oitc", p or c xcm plo - qu e niio sa o analiticas, Mas tambem e v e rd a -

d e q ue ex is tem v erd ad es co nu nge ntcs q ue sao a na lit ic as . A ss im , t od as a s p es -

S0HS qu e s ai bam p or tu gu es e cntendarn 0 qu e "centigrade" s ig ni fi ca , s ab em

q ue a f ra sc "A agua congela a o n iv cl do ma r a te mp er at ur a d e z er o g ra u centi-

g ra de s' 6 v cr da dc ir a p or qu e z er o g ra us n a c sc al a c els iu s 6 a te mp er atu ra defini-

do C O 1 110 0 ponto de congclam cnto ao n ivcl d o m ar. M as n fio c verdadeiro que a

a zu a s e c on ce la J zero z ra u c cn ti gr ad o: e xi st em 11l11ndl~5 p oss iv eis em q ue cia

s; co ng cla ,; u ma tem peratu ra m ais alta.

N o c ap it ulo a nte ri or e LIdisse q ue o s racionalistas a c hav an ,' q u e p o de ri a .m~ s

c on he cc r v crd ad cs n cc es sa ria s p or qu e c lic ga ri am os a c on he ce -la s p elo ra cio cr -

n io , q ue e a unicu Conte de ce r tc z a . Ma s, c om o vimos a go ra , is so n ao e verdade.

Podemos d cs co brir v crd ad cs a na litica s p elo ra cio cln io : m as n em tod as a s v er-

d ad cs n cc cs sa ria s s il o a na lit ic as , e n em t od as a s v er da de s a na lit ic as s ao n ec es -

sarias. U sa mos a cxpressa o latina "a priori" para dcsignar verdades que po-

d em s er co nh ecid as a pen as p el a ra za o. E 11 1certo s en ti d o, ela s p ode m s er co -

n hc ci da s a nt es de q ua lq uc r c xp cr ic nc ia c sp cc if ic a. Verdadcs a pos te r io r i sa o

aquelas que ex igem m ais que a razao para serem descobertas. Em um certo

s c nt id o , c la s so p cd cm s cr c on hc ci da s depots ( i st o 6 , po s te r io r rn en te a) d a ex -

p cr ic nc iu . O s r ac io na li st as p ar ti ra rn do principio d e q ue todas a s v e rd ad~~ ne -

c es sa ri as c ram a priori c de q ue to da s a s ve rd ad es a priori e ram n e ce s sa n a s.

Como o s ig ni fica do d e u ma fra se 6 co nh ecid o p or to do s a qu eles qu e a e ~-

t endcrn , qualqucr pessoa qu e c ntc nd a u ma fras e qu e e analitica p o de d e ~~o bnr

q ue ela 6 ve rd ad cira . P orta nto , cles de q ue v oce en ten da u ma fra se a na ltttc~ , ~

verdacie d ela , p ar a v oc e, 6 urna questao a priori. Se todas a s v e rd ade s a prtort

sa o a na litic as 6 u ma q uc sta o p ole mic a. M as v oc e p od e p en sa r q ue , em bo ra teo -

r er na s m at em ati co s, q ue p od em s er c orn pr ov ad os , s eja m a priori, eles n ao sa o

vc rdac ic i ros s impl c smcn t c em virtude do s significados d os te rm os q ue contcm,

p o rq u e nC I1 1 oc lo 0m un do q ue c nt cn de o s s ig ni f tc ad os d os tc rr no s p od e d es co -

brir os tcorcm as. (Fularci m ais sob rc isso 110 3 .1 3 .) C c rt am c n tc , n o e n ta n t~ ,

n cm tod as a s v crd ad cs a na lltica s sa o nc ccss aria s, co mo a ca ba mo s d e v el'. F i-

nalrncnte ha scm prc a possibilidade d e q ue a lg um as v er da de s a posteriori se -

j am n cc cs sa ri as , e O I1 1( 1 0 c as o d e "a c st rc la c ia m an ila c a e str ela d a n oitc ",

E e ss cn ci al , p or ta nt o, c om o ell disse ur n p ou co a nte s, .d is tin gu ir a s q u:s -

to es s co re se a s v erd ad es s ao a na litica s o u a priori, p or u m la do , d as q ues to es

so bre se ela s sa o n ece ss aria s, p OI' ou tro . E sse 6 u m d os m otiv es p el o s q ua is eu

fiz tanto csforco para usar possiveis m undos para explicar as relacoes ~ nt~ e

e la s. M a s h a um a outra raza o. E mbora nao possam os usar m undos possivers

d es sa f or ma p ar a e xp lic ar

 

1 0 6 • I N T R O O U C A O A F I L O S O F I A C O N T E M P O R A N E ! ,

"Os s olt ci ro s n ao s ao casados."

3 . A L 1 N G U A G E M • 1 0 7

u rn a I ra sc e po rt an to c ss en c ia l p ar a e nt en dc r a t eo ri a 1 6 gi ca . A fim de exp li c a r 0

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 47/54

Ne~essaria Analitica A priori

Contingente Analitica A priori"A a gu a c on gc la a z er o grau

c c nt ig r ad o . "

Necessaria Sintetica A prioriQ u al qu er t eo re rn a m a tc m at ic o

cornplcxo. ._-

Contingente Sintetica A priori X

Necessaria Analitica A posteriori X

Contingente Sintetica A posteriori X

Necessaria Sintetica A posteriori"A e strela d a martha e a c s tr el a

d a n o ir e. " --

Contingente Sintetica A posteriori"E sta ch ov cn do n a s ua cid ad c

f av or it a, "___....-~

R e la ci on am e nt os e nt re necessaria-contingcntc, analltica-sintctica c a

priori- a posteriori --

o s s ig ni fic ad os d as p ala vr as , p od cm o s u sn -lo s p ar a l im a o ut ra t ar cf a f ilo so fi ca

m u it o i mp or ta nt e q ue e sta r el ac io na da c om lin gu ag er n. E ss a t ar ef a e e n te nd er a

n a tu re za d o s a rg um e nt os .

3.9. Linguagem natural e form a J6gica

A 1 6g ic a e 0 estudo dos a rgum entos, um a discip lina que ev olu iu m uito a

pa rtir da obra de F reg e. N a obra de fil6sofos que se seguira m a F rege, 0 entu-

siasm o que acom panhou suas descobertas 16g1cas levou-os a descobrir -

com o A rist6te les m ais de dois m il anos antes - que a natureza e status dR S

v er da d es l 6g ic as e um tem a de in teresse in tr inseco . A crescenta ndo novas

id eia s a s s ua s teo ria s, p od em os a pro fu nd ar n os sa c orn pre en sa o d o fu nc io na -

m e nt o d os a rg um e nt os .

A s eg ui r, p or ta nt o, a lg um a s i de ia s b as ic as s ob re l og ic a. U rn argllm cnto 6

u ma s eq uen cia d e fra ses d ecla ra tiv as q ue n os levarn a um a frasc final, que 6 a

c on clu sa o. A s o ut ra s f ra se s, a s p rc mi ss as , tern a funcfio d e a p oi ar a c on cl us a o.

._ _ JJm a rg um e nt o e v alid o q ua nd o q ua lq ue r s itu aca o q ue fa ca co m q ue a s p re rn is -

sa s s eja m v erd ad eira s ta mb ern fa z c om q ue a c on clu sa o se ja v crd ad cira . S c u rn

argumento e v alid o, d iz em os q ue a co nc lu sa o decorre das prem isses - ou e

u ma c on se qiie nc la ( de du tiv a) d ela s. O s 1 6g ic os e st ao e sp ec ia l m en te i ntc re ss a-

dos em a rgum entos que sa o form alm cntc valido s. E sses sao argum onto s CII1

qu e umafrase c om a fo rm a de conclusiio d ev e s er v er da de ira s e o s m em bro s d e

uma c a te g or ia defrases com asformas das premissas s ao v cr da de ir as . D iz -s e

ta m be m q ue e ss es a rg um en to s tern um a fo rm a va lida. A idc ia da form a de

qu e C forma, tornarci cxplicitn urna idcia qu e virnos usando de mane ir a i mp li ci -

ta n o d ec or rc r d cs tc c ap it ulo .

Q ua nd o d is cu ti a tc oria scrnantica d e F re ge, fa le i s ob rc n om es e p re dic a-

do s c :r a.s es , q ue s ao i tcns l ingu is ti cos , e d is cu ti s ua conexao c om o bj et os e c a-

ra cten stica s e ~ crd ad cs , q ue s ao c ois as n o m un do . Q ua nd o fa la mo s s ob re p ala -

v ra s e e x pr es so e s qu e c or np oe m u rn a frase e a ordern em que e la s o co rre m, e s-

ta m es f ala nd o d e s in ta xe . P or ta nto , e ntr e a s p ro pr ie da de s s in ta ti ca s d a f ra se "A

neve 6 branca" estao as se gu in t es :

a) qu e sua prim eira p alavra 6 "neve"

b) qu e 0 p red ica do e "e branca"

e ) q ue c ia c on tc rn t re s p a la v ra s

A ideia da forma c c sse nc ia lm cn te a id cia c ia sin ta xc ,

N a lo gic a, e nta o, 0 qu e buscam os fazcr 6 i de nt if tc ar a q ue le s a rg ume nt os

q ue silo co n f ia vc is d cv id o ,I s in ta xe d as p rem is sa s e d a c on clu sa o, P orta nto ,

q uc re rn os id cn ti f ic ar m o dc lo s de a rg um c nt o q ue f un ci on ar ao , se ja q ua l fo r 0

c on te ud o e sp ec if ic o d as f ra se s. A ss im c om o a nt es u sa mo s v ar ia ve is p ar a s ub s-

titu ir o s n om es , a qu i p O dC 11 10 Su sa r v ari av cis f ra sa is p ar a s ub stitu ir a s frases a

firn d e fa zer g en cra liz ac ocs s ob re a rg um en to s, U sa nd o "S " c "T " p ara re pre-

se nta r fra ses , p od cm os d iz er q ue u m a rg um en to d e u ma fra se d a fo rm a "S e T"

q ue c he ga a conc lusao "S" c co nfia ve l p orq ue n ao 6 p os siv el p ara "S e T " se-r em v cr da d ei ra s q ua nd o "S"fo r fa ls a. C om o cs ta mo s in te res sa do s n a fo rm a n o

formate, d os a rg um cn to s v alid os e n ao n os co ntcu do s e sp ecific os d as fra se s

que os com poem , a 16giea e charnada. a s v ez es , d e "16gieaformal".

A te a qu i v en ho fa la nd o s ob re a s Iin gu ag en s n atu ra is q ue a s e ultu ra s h um a-

n as d es en vo lv er am p ar a a c om u nic ac ao . M a s a firn d e e st ud a r a s q ue st oe s r el ac io -

n ad as c om a rg um en to s q ue s ao fu nd am en ta ls p ara a lo gica , o s fil6 so fo s e lin -

g ui st as d es en vo lv cr am v a ri as l in gu a ge ns a rt if ic ia is . Q u a nd o e sc re vi "S e T ", h a

p ou co , e u j a e st av a s ain do d as li ng ua ge ns n atu ra is p ar a 0 t ip o d e l in gu a ge m a rt i-

f ic ia l q ue o s lo gic os d es en vo lv er am p ar a c st ud ar a rg um en to s. 0 u sa d e s im bo lo s

C01110 v a ri a ve is f ra s ai s tern u ma s erie d e v an ta ge ns . U m a d ela s e q ue iss o n os

p er mit e v el' m u it o c la ra m en te c om o a f or ma d e urn a rg um e nt o i nf lu en ci a s ua v a -

l id a dc . O u t ra c q ue is so n os pcrrnite c vita r l im p ou co d a i nd ct er min ac ao e i mp re -c is ao d as li ng ua gc ns n atu ra is . M a s p ar a u sa r a s li ng ua ge ns a rti fic ia is d a 1 6g ic a

f orm al t cm o s q u e c om c ca r c sc la rc cc nd o com que objetivo a s c st am o s d es en vo l-

v en do . E pa ra e sc la re cc r i ss o, 6 im p or ta ntc c se la re ce r t am b em 0 q ue q ue r e m d i-

z er q ua nd o fa la m d a f orm a d e u rn a rg um en to n a lin gu ag em n atu ra l.

. Portanto , exam inem os um exernplo. F aca mo s u so d e lim a fra se q ue ja a na -

l isarnos a ntes , e d e u ma co nclu sa o q ue p od eria mo s e xtra ir d ela .

P re 11 1L ;s a:S : J oh n c M a ry , q ue s ao arnigos de P eter, sentara m no jard im e

c om e ram mo ra ng os .

 

· 1 0 8 • I N T R o D U g A o II F IL D S O F IA C O N T E M P O R A N E A3 . A l I N G U A G E M • 1 0 9

de p alav ra s, P od cm os co nstruir um a fra se a berta rctira nd o tod as a s pa la vra s d e

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 48/54

C on clu sa o: T : A lg ue m c or nc u morangos .

"A qu i M um a p rernissa e a con clus ao certa men tc pa rece d ccorrer d cln. Iv 1;)s

eia e ta mbem fon na lm ente va lid a. S egu nd o a dcfinicao qu e a ca bci d e d ar, is so

s ig nif ic a q ue u ma f ra se d a f orm a c ia conclusao devc se r verdadeira se um a [rase

d a f or ma d a p re mis s a 0 e . Portanto, q ua is s ao as f o r r nas dessas frases?

;, U ma m ane ira de obter um a i ma ge rn m ai s cla ra do qu e q ucro d iz cr po r fo r-

m a de um a frase e v ol t ar p ara ex am ina r a s fra ses a herta s d e F regc. O Hel1 10 F

fra ses a berta s retira ndo os no mes d e fra scs co mp lcta s. P odcm os en tfio dizcr

q ue a f ra se e "composta dos" nomes e da frase aberta. ( Com o a nt es , marcamos

o s esp acos em b ra nco com v aria veis, lim a pa ra cada no me q ue rcmovcnnos.)

S, a p re m is s a n es se a rg um en to , 6 com posta dos 110111eSJohn", "Mary" c "Pe-

te r", e a f ra se a be rta

0: X e Y, q ue sa o a mig os d e Z, s cn ta ra m n o j ar dim c c om cra m m or un go s.

U sa nd o as v aria veis co mo rotu lo s, p odcm os diz cr q ue "J oh n" es t(1 1 1 : 1 posicfio

X, "M ary" na posicao Y, e assim por diante.

Ora, nao ha nada que nos irnpeca de re tira r o utra s p ala vra s a lc m dos no-

m eso D a m esm a fo rm a q ue tem os v aria veis pa ra no mcs , po d c mos tel' v aria vcis

p ara su bsta ntivo s e pa ra qu aisq uer (J utra s palavras. Assinv, p od cr ia rn os d iz er

qu e S e com pos ta d e tres nomes, 0 substantive "amigos" e a expressao

X e Y , que sao F de Z , sentaram no jard im c corncram m orangos.E sta v ez p od em os u sa r 0 r6tulo "F" para dizcr que, em S, "amigos' csta na po-

siao F desta fo rm ula , "P " e U I 1 1 s ub st an tiv e v ar ia vc l, a ss im como "X " c um n

variavel para n om es . P od em o s, p ortu nto . general i za r a i dc ia de 1I1lHl Crase abcr-

ta p ar a q ue p as se a s ig nif ic ar q ua lq uc r c oi sa r es ul ta nts c ia s ub st itu ic ao de pa!a-

v ra s p or variaveis,

O bs er ve q ue q ua nd o retirarnos lI111ap ala vra d e l im a C ra se p a ra substi tui-la

po rum a va ria vel, a fra se a berta com qu e ficamos p od e s cr u t i l i z a d a p ar a c on s-

t ru ir u m a f ra se d if er en te . P od er iam os fazer

83 : P eter e M ary, qu e sa o a rnig os de Jo hn , sentaram n o ja rd im e c o.n cr am

morangosa p ar tir d e 0 e c om os m esm os nom cs, apcnas colocando us 110l1leS 111 posicoc»

va ria veis diferen tes. 0 q ue S e S3lc111 em com um C 0 fa to d e s cr cm c ompo st as ci a

f ra s e ab er ta 0, Quando d izemos qu e frases compartilham u ma c cr ta forma, que -

-fem OS d iz er q ue p od em SCI' compostas a partir d a m cstn a fra sc abcrla. Em outras

p aIa vras , p od em os u sa r a id eia de SCI ' c om po sta a p artir d a lI1e.\·ma.!i'(/se aberta

p ar a d es cr ev er a sp ec to s d a s in ta xe q ue c le te rm in ad as f ra sc s CO ll 1l xl Ii il ham .

Entre 0S f at os m e no s inte ressan tcs a rcsp cito d a I'o 1 ' 1 1 1a de S 60 fa to de cla

s eru ma fr as e. I s8 0 s im plc sm en te s ig nilie a q ue podcr lamos rctirar todus as pa-

la vra s e s ub stit ui-l as p or lima u ni ca v nr ia vc l q.rc a l l t c : , chamumos de vuriavcl

fra sa l. T od as a s f r a s e s compartilham c s sa c a ra d c ri st iC : 1 f orma ]: c la s t o c i n s p o-

d e m !lCI' c o m p o st m : s uh s( i tu i l it iu 1 11 1 1: 1 : ,\ '1 1 \' Ik 1 "1 \ ;I ~ II:, \ ' 1 1 1 h i ; 1 1 1 1 1 1 (I i \I 1 1 1 11 : 1 : : 1" 1 il'

um a fra sc em po rtug ucs c fa zcnd o o utra fra se co loea ndo u ma po rcao d e ou tra s

p a la v ra s ( cr nbo ra , c clare, as rcgras da sintaxe e rn p or tu gu es i ra o d et en ni na r

qu e se ries de pa lavras vao formal ' fr as es q ue tc nh am s en tid o.)

M as a s fra scs com pa rtilh arn a specto s d e fo rm a m ais interessa nte d o qu e 0

mero faro de serern f ra se s: p or e xe m pl o, a c ar ac te ri st ic a f orma l c om p ar ti lh ad a

por todas as frases q ue p od em SCI' feitas a p artir d e 0 pOI 'meio da substituicao

d as v ar ia vc is p O I' n om e s.

P od cm o s a go ra r e- cx ar ni na r 0 a rg um en to d e

S: John e M ary, quc sao am igcs de P eter, sentararn no jard im c com eram

morangos

i nd o p ar a

T: A Ig~161l1OIllCU morangos

i1 lu z d cssn dis cu ss ao so brc form a. Q ua l c 0 a sp cc to d a 1 ' 0 1 ' 1 1 1 da prcm issa c da

c on clu sa o q ue to rn a 0 p rg ul lle llto v ali do ? A f ra se c eo mp osta d e tres n om es

( ch a rn c rn o s c ss c s nomos de "j", "m ", c "p"), d ois p re dic ad os d e u rn lu ga r ( ch a-

memos os prcdicados de "0", para "scntaram no ja rdim" e "A", p ar a " com e-

ram morangos") c um prcdicado de dois lugares ("F" p ara " sa o a mig os de'") 0

que a Crase diz, com c fc ito , C

jF p & mFp &jO & mO &jA e mA oC om o p od cm os su bstituir q ua lqu cr fra sc d a fo rm a "S & T " com urna variavel

f ra sn l ( po rq uc to da s a s c on ju nc ocs d e f ra sc s s ao , c la s p ro priu s. u r n a f ra s e) a p li -

cacocs rcpctidas c icssa rcgra I lOS pcrmitiriio d iz cr q ue c ss u Ir as c c d a f or ma

S & x rem que "S" C um a v ar ia vc l I ra sa l, "P " C Lllll prcdica do, c x C Lllll n ome. P o rt an to ,

um a rcsposta muito gcral 6 que a infcrencia qu e estarnos analisando e um

cxcmplo de uma i nf cr cn ci a de um a frase da forma

P re rn is sa : S & xP

para uma frase c i a fo rma

Conclusao: Algucm P.

Ora, a razao pcla q ual 0 arg um cn to C valid o 6 qu e todos os a rgumen tos des-s a f orma S20 v alid os . Is so n os p crr nite r eg is tra r u ma g en er aliz ac ao b em amp la

s ob rc m uito s a rg un icntos posslvcis.

E ssa m 10 6 a (m ica m aneira pela qual podcm os dcm onstrar que um argu-

m ente dcssa form a 6 valido, no entanto . A ssirn , qualquer infcrencia de um a

frase d a f orm a de

0: X c Y , que sa o amigos de Z, scn taram no jardim c c o r ne r am morangos

para

( 'OI lC!I IS:\o: 1\ lgncm c o m c u l11t)r:lllg()~

 

i

\ 1 1 0 • I N T R O D u g A O A F IL O S O FI A C O N T EM P O R A N E A

tambem e valida, Seja 0 q ue fo r q ue co lo ca rm os n o lugar de X, Y e Z . s t' a Ir as c

3 . A L lN G U A G E M • 1 1 1

A lo uic a p rc di ca da c urna e x p a n s a o da 16gica frasal, E la es tu da a m an e i ra

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 49/54

r es ult an te f or v er da de ir a, a c on clu sa o d ev e SCI' v er da de ir a t am b em . P o rt an to ,

essa e u ma m an eira d e fa ze r um a g en era lizaca o m cno s am pla sobre q u e a rg u-

m en to s s ao v ali do s. M a s o s 1 6g ie os c on cc nt ra m SCll in te res se em lim g ru po es -

p ecia l d e c ara cte ris tica s fo nn ais d e fra se s e es tu da m co mo a p re scn ca d ess as 'i

c a ra c te r fs ti ca s f o rm a i s influenciam 3 val idadc dos a rgumcu tos .

U m ex em plo d es se tip o d e es tu do c 3 l og ic a I ru sa l ( ou i <l gi ca p ro po sl cl o-

n al) q ue fa z generalizacoes so bre a m an eira c om o a presenca das palavras "e",

"nao" "ou" e "se" e m f ra se s i nf lu en ci am o s a rg um cn to s . Para tal firn, a logica

f ra sa l u sa variaveis fra sa is d o tip o q ue acabci de introduzir, mas tambcm va l

m a is a dia nte n a d ir ec ao d e u m a li ng ua ge m purarnente a rt if ic ia l s ub st it ui nd o a s

palavra s "e", "ou" e "na o" pe los sim bolos "Sc", "V " e "-" c as pa lavras

" S e . . . en t ao . .. " p o r "-+". Urna a le ga ca o ti pic a ( c n ao m u it o c xc it an te rd a 1 6g ic a

frasal e q ue todos os a rgum entos da form a

P re miss a: S -+ T

S

C on clu sa o: T

sa o validos. E ssa form a de argurnento na vcrd ad c tern u m n om e. l~ c harn ad a d e

"m odus ponens". Se ja qual for a frase colocada no lugar de "S" c "T" dcsdc

q ue v oc e o bed eca a reg ra , s e a s p rern iss as fo rer n verdudciras, a conclusao tarn-

bern 0 s er a. ( Se v oc e s ub st it uir "S ", n a p ri me ir a p rc mi ss a, p or u ma lr as c, c prc-

ciso q ue v oc e 0 s ub st it ua p el a mesma f ra se n a s eg un d o prcrnissa e n a c on clu -

sao.) "E," "ou" e "se" S aO ch ama d as d e c on ec ti va s, porque s ao u sa d as p ara co -

n ec ta r a s f ra se s u m as a s o utr as . "S e T" e charnada dc conjuncao de "S" cHI";

"S ou T" e c ham a d a de disjuncao de "S" e "T"; c "Sc S, cntao T" c chamada

um a condiclonal com "S" com o a ntecedente c "T" como conscq uente.

"Nao" , e c la ro , n ao e ex ata me nte u ma c on ec tiv a: e la sc a plic a a u ma f ra sc

d e c ad a v ez , p or ta nt o nao ha um a segunda Crase a qu e p ossa se c on cc tar. M as cu m a g en er ali za ca o n at ur al d o conceito de conectiva a firm ar q ue h a conectivas

d e u m lu ga r (o u u n a ria s) c orres po nd en te s a c on ec tiv as d e d ois lu ga res (o u b i~

narias) c om o "e". E ntre a s o utra s c on ec tiv as unarias h ,\ expressocs C0l110 "E

necessario q ue ", p or e xe mp lo . A s c on ec tiv as unarias podem tambern se r c ha . .

m adas de "opera do r es form adores de frases sobre frases": s e v oc e colocat

um "nao" e m u ma f ra se , n o J ug al ' a p ro pr ia do , o pe ra nd o, p or ta nto , s ob re a qu ela

---rTase , obtera uma frasc diferente. Assim, podcmos ir de "Esta nevando' para

"N ao esta neva ndo", "N ao esta nev ando" e cha ma da de ncg aciio de "E sta ne-

v an do ". C om o, em portugues, voce p od e o bte r u ma fra se e qu iv ale nte ~ega-

9a O d e q ua lq uer fra se S , e sc rc ve nd o, n a frente d e S , a e xp rc ss fio " Nfio c vcrdndc

que_", mui tns vczcs l 'SCI 'L'Vl'1l1( lS "ni\(\S" ('llll]() ltlll:1 1'1It'll 1:1:lhl\'\'i:[(I:l Ii:l

neg acfo d e S.Mas , c c la ro , n a linguagcm a r ti fi ci a l d a logicn proposicional po -

d em os s im pl es me nte e sc re vc r "_ S" .

pcla qualo s q ua nti fic ad or es "t od os " c " al gu ns " in flu en cia rn a v al id ad e. A ss im ,

a i n fe r enc ia

Prem issa : X P

C on clu sa o: A lgu ern P ,

6 urn cx cm plo d e u m rcsu ltad o sim ples n a lo gica p red icad a. N esse easo ternos

v ar ia vc is p a:'< lI lO I1 lC S p ar a p rc di ea do s, n ao p ar a f ra se s, e 0 q ua nt if ic ad or " al -

g uem ", A lo gic a p rcd icad a de p ri mc ir a o rd em e nv ol ve q ua nt if ic ad or es c ~ ja s

v aria vcis s e refe ren t a in div id uo s; n a lo gic a p red ica da d e se gu nd a o rd em lid a-mos com quantificadores q ue se referern a g rupos de ind ivid uos, ou tambem

predicados. N o c ap it ul o 1, q ua nd o co nstru im os a s frases-Ramsey usando 0

q ua ntif ic od or e xi ste nc ia l "E xis te u m X d e ta l f or ma q ue X . . . " , e st av amo s u sa n-

d o o s c on ce ito s d a l og ic a d e s eg un da o rd em . I ss o p or qu e a lg um a s d as v ar ia ve is

n aq ue le c as o r ef er ia m- se n ao a in di vid uo s m a s a p ro pr ie da de s C0l110 " es ta r s en -

tin do .d or ", ( Oc or rc q ue isso e im po rtan tc po rq ue a l og ic a d e s eg un da o rd em e,

d e m uita s m ar.e ira s, b asta nte m en os d irc ta que a logica de primeira ordem.)

O ra , nem todo argum ento valido lhe da u m m otiv o p ara a cre dita r. n a co n-

clusao. M csm o que urn argum ento seja valido, ele 56 lhe da um m o tiv o p ar a

a ceita r a co nc lu sa o s e a s p rem is sa s fo rem v er da de ira s. U rn a rg um en to v alid o

c u ja s p r cm i s sa s sao v erd ad eira s 6 ch am ad o d e a rg um e? to . s 61 i~ o. A ta re :a d a

l o gi ca , p o rt a nt o , e t en t a r e ria l' u m a t eo ri a q ue n os p er rn it a id en tif ic ar q ua is a r-g um en to s s ao v alid os , Q u an do s ou bc rr no .s q ua is a rg um en to s !a O v al .id ?s , p o-

d em os p erc cb cr s c d ev em os o u n ao a cre dita r em su as c on clu so es d ec id in do se

tc mo s ra za o p ara a cre dita r n as p re miss as. S e u m a rg um en to e valido e sol ido ,

en ta o cle re alm en te n os d a urn b om m on vo p ara a cred ita r em s ua c on clu sa o.

O b se rv e q ue L im a c on se qii en cia d is so c que ha um a ou tra m aneira de usar

f o rr nas va li das de argu men to para chega r a n ovas crenca s, E m um argumento

v alid o, co mo n ao ro de a co ntc ce r q ue a s p re rn is sa s s eja rn v erd ad eira s e a ~ on -

clu sa o fa lsa , s e a c on clu sa o fo r fa lsa , a s p re miss as n ao s ao to da s verdadeiras,

A s v ez es , p or ta nto , s e r ec on he ce rr no s q ue a f or ma d e a rg um en to e v al id a e s ou -

b er mo s q ue a c on clu sa o e fa ls a, p od em os in ferir q ue p elo m en os u ma d as p re -

missas e falsa. Essa c a v er da dc 1 6g ie a c ia q ua l d ep en de mo s s em p re q ue u sa m os

argumentos reductio.

3.10. Usando a 1 6g ic a: Preservacao da verdade, probabilidade e 0

paradoxo da loteria

Defini Lim argumento valido com o aqucle em que a conc lusao deve ser

v er da de ir a s e a s p remi ss es sa o v er da dc ir as . O u tr a m an ei ra de e xp re ssar isso C

di'/,,'I' que, ~'Il\ 11111nrgllllll 'l\t(l v a li do , ( ' ilIlPlISSl\'l 'l !jill' 11Sp!'('misslIs se jnm \'('1'-

dadciras c a conclusfio Ialsa, Essa 6 aqucla m csm a nocao de p o ss ib il id ad c q ue

u sa m os q ua nd o f ala m os d e m u nd os p os siv cis . P or ta nto , e m tc rm os d a s cm a nti -

 

1 1 2 • I N T R O D U C A o A F IL O S OF IA C O N T EM P O R A N EA

c a d e m un dos p oss iv eis p ode ria mo s d iz cr q ue um a f or m a v ,1 1d a d e n rg um c nt o

e aquela em que uma frase da form a da conclusi io e v ,~ t' d ade l~ 'aem todo. s , os

3 . A L 1 N G U A G E M • 1 1 3

s eg ue -s o q ue

;\IenlHl111do s bi!hetes va i ganhar!

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 50/54

m undos possiveis onde as frases da s form as das prcmtssas sao ve rdade ll .a~ .

U m a m an e ir a a br ev ia da d e d iz er a m cs rn a c ois a { :d iz er q ue o s a rg um e~ lto s v all -

dos sa o preservadores da verda de : se voce tern p re m is se s v or da dc ir as e li sa

uma forma valida d e a r gume nt o, obtcra u ma c on clu sa o vc rd ad cir a.

Q u an do e st av am o s e xam in an do 0 c og it o d e D e sc ar te s em 2 .3 , m e n ci on c i

q ue D esc artes q ueria u rn argumento qu e rransmit isse na o so a ~~rdade ma ~

tambem a certeza desde as premisses ate a conclusao. E, com cfcito, sc .v.oce

d efin ir certez a co mo u ma s itu ac ao em q ue s e tern 10 0 po r een to d e probabil ida-

d e d e q ue a lg o seja v erd ad eiro , en t ao o s a rg um en lo s q ue p rescrv am a v crd ad c

tambem p res erv am a certeza, P o rt a nt o, D e sc ,~ r t~ s e s .t ,: vC lcerto q ua nd o ~ Ic ha ~ a

q ue s e p ud ess e d es co br!r u m argumento q u_ : f os sc v al td ~ - com ? 0 ~·()~tfO ~er-

tamente e - e sua premissa fosse certa, e l: t~ o a C ?nC IL l sd o . amb .~m se t ia ~er~a.M as o co rre ta mb em q ue u m a rg um en to v alid o cu ps prcn us sa s s ao n pcn as p ro-

vaveis pode ter um a conclusa o que e m uito m cnos prova ve l que q .lt~ lqucr d .' :!

s ua s p re mis sa s. P or is so , quando vo ce e s ti ve r usando a r gume nt os v a ll do ~ logi-

camente , e necessario que preste atencao na) so na verdade, m as ta mbcm na

probabilidade.

E ss e fa to e i mp or ta nt e n os c on te xt os C111 que est~I!110Sdese l :volvendo ~~m

a rg um en to qu e tem muitas premissas. Para pcrccbcr lSS0, cxammemos aquilo

qu e e ch am ad o de p ara do xo d a lo tcria , C on sidc rc , p ~r c xc mplo , .M a.ry . 1 0 , qu ee s t a p en sa nd o s ob re b ilh etes d e loteria em u m a l o te ri a ( . l e de z . 1 1 1 1 1bilhctcs el:'

que cada bilhete tern a m esm a chance de scr sortcado. A m cdida que cad~ bl-

Ihe te v em a su a m ao, e la p en sa , "E stc n ao va i g an ha r", p orqu c rcalmcnlc e ex -

tr em am en te im pr ov av el q ue q ua lq ue r b ilh ete e sp ec il1 co v a s cr s or te ad o '. Su po -

n ha m os q ue e la f iq ue a li ~ en ta da d ia s s eg ui do s, r ep as sa nd o to dl) ~ ~ SI 11 1~ 1a r~ ~

d e b ilhe tes , e n o fim e la diz para SI m es ma so bre .cada ur n d ele ~, E ste n ao var

g an ha r. " E s sa e c er ta rn en te u m a c on clu sa o p er fe lt al1 1e nte r az oa ve l s ob re c ~~ ~

um dos b i lh e te s , ja q ue a p ro ba bi lid ad e q ue qualquer U!11 deles tem d ~,ganhai e

um a em dez m il. E la eonclu i tam bern , no fina l de seu levanta mento , B ern, es-

tes sao todos os bilhetes". Mas das premissas:

1:0 bilhete 1n ao v ai g an ha r

2: 0 bilhete 2 na o v ai g an ha r

3: 0 bilhctc 3 n 1\o v ai ganhar

a ss im a te

10.000: 0 b il he te 1 0. 00 0 nao vai ganhar

e la p od e c on c1 ui r

C on clus ao : O s b ilh ete s d e 1 a te 10 .0 00 n ao va o g an ha r.

Disso , e c la ro , d ad a a o utr a p re rn is sa ,

10.001: Os h ilh c tcs de I :Itl' I () ( )( ) () , ;\ (\ twl,)s ()s hilhciCS

E ccrtamcntc na o qucremos q ue c ia c he gu e a essa conclusao.

Esse paradoxo - que , a o c onsid crar u ma lo tc ria , p od e s er a cc ita vc l a cr ed i-

tar qu e cada urn dos b il hct c s Ilao va i ganhar, mas i na c ci ta vc l a ch a r qu e ncnhurn

dclcs vai ganhar - 0 m en os p rc oc up an ic lim a vc z qu e v oce co mp reen da q ue,

p orq uc ca d a u ma d as p re rn iss as e rncnos d o q ue c er ta , n ao h a q ua lq ue r g ar an tia

lo gica d e q ue a co nclus ao s era ta o p ro va vc l q ua nto c ad a p rem is sa . 0 a rg um en -

to prcserva a vcrdadc mas nao a probabilidade. (Na v er da de , a r eg raeque se

v oce tiv er n prernissas e a p r e rn i ss a m en o s p ro va ve l te rn lim a p ro ba bili da de d e

( l -e ), c nta o a c ou cl us ao p od e te l' li ma p ro ba bil id ad e b ai xa (l -n e), C om o, n es se

caso , e c cerca de 0,000 I ell e 1 0 .0 0 0 ( l- n e) e ° - p or ta nto a p ro ba bi lid ad e d a

co nclu sa o p od e s er ~ ao b aix a q ua nto 0 1)

3. t 1. Vcrdndc loglca c propriedades 16gicas

Se pudcrm os dizer que um a frasc c v erd ad eira a pen as em v irtu de d e s ua

s in ta x e, i nd e pe n de n tem en te d os n orn es e p re dica do s es pe cifieo s q ue cia c on -

t er n , p o dcm os d iz cr q ue c Ia e fo rm al mc ntc o ulo gic am en tc v erd ad ei ra . F ra se s

I or ma lm cn te v cr da de ir as s ao s cm pr c n ec es sa ri ar ne nt e v er da de ir as : s er ao v er -

d ad ci ra s e m to do s o s m un do s p os slv ci s. Assirn, "A n ev e c b ra nc a o u 1n ev e n ao

c b l anc a" c logicam cntc vcrdadcira porquc todas a s frascs da form a "S ounao-S" s ii o v er da de ir as e m to do s o s mundos possivcis. Seguc-se dessas defini-

coos d e v al idadc e conscqucncia qu e q ua lq uc r s cr ic de frascs qu e levam a um a

vcrdadc logica {: um argumcnto valido, C qu e u ma vcrd ad c lcg ica e urna conse-

q ilcu cia d e q ua lq ucr s eric d e fra ses, s eja cia q ua l fo r. Is so o co rre po rq ue c om o

u ma v cr da dc l og ic s e v erda dc ira em tod os os m un do s p oss iv eis , se ja m q ua is

fo rem a s p rem iss as q ue colocarnos em frente de la em ur n a rg um en to , e la s era

v crd ad cira e m tod os o s m un do s em q ue es sa s p rcm is sa s s ao v erda de ira s. V er-

dadcs logicas, p or ta nt o, s ao verdades necessaries, q ue p od em s er i de nt if ic ad as

co mo v erd ad cira s p or s ua fo rm a,

J a s ab cm o s q ue a lg um a s v cr da dc s n cc cs sa ri as n ao p O dC 1 11e r i de nt if ie ad as

c omo ve rd ade ir a s por su a forma, P ois , c om o v im os, todas a s a firrn aco es d e

id cn tid ad c v crda dc ira s s ao n cccs sa ria s. M as na o po dcm os p crccb er q ue cs sa svcrdadcs sao v crd ad ciras a pc nas cx am in and o su a sin tu xc . E la s sa o ncccssarias

m as n ao lo gica men te v crd ad cira s. A lg um as a firm ac oe s d e id en tid ad e - d ig a-

mo s . "Ma rt e c a csrrcla da n oitc" - s ao fa lsa s: a lg um as, co mo "A cs trela d a r n a -

nha (; V enus", sao vcrdadeiras. M as nao ha qualquer garantia de que Ihe sera

p oss iv el s ab er q ua is fra ses s ao v erd ad eira s e q ua is sa o fa ls as a pen as p orq ue

vo c6 c n tc n de 0 idiorna e sabc que clas tcm a propriedadc sin ta tica de sercm

afirmacocs til: idcntidadc entre nomos.

 

1 1 4 • I N T R O O U C A O A F IL O S O FI A C O N T E M PO R A N E A

C om o eu ja d is se, lo gico s co ncen tra va m-s e em s istem as dc log ica , co mo

1 6g ic a f ra sa l o u p re dic ad a, q ue i dc nti fic am a rg um cn to s v ali do s em v ir tu dc c ia

3 . A L lN G U A G E M • 1 1 5

Ma s m uita s d as i dc ia s q ue d is cu tir no s n es tc c ap itu lo ir an s er r eto ma da s e m

c ap itu lo s p ostc rio rc s, c algumas j a s ur gi ram quando d is cu timo s f il os of ia da

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 51/54

presenca d e e er ta s p aI av ra s c om o "c" c "todos", E possivcl dizcr qu e Ci>SCS cs-

t ud io so s e xam in am a s p ro pr ie da de s l og ic a s cicssas p ala vras, E stu dar as p ro -

pried ad es l6 gica s de u ma p ala vra e ve l' co mo su a p rese nc a e m u ma fra se in flu -

en cia a v alid ad e d os argumentos qu e t enharn aqueIa frase com o prem issa ou

c omo c o nc lu s ao , E cla ro , a m aio ria d as p ala vra s n ao p od e ser c orn preen did a

totalmente a pe na s p or meio d e s ua s p ro pr ie da de s 1 6g ic as . POl' mais que voce

conheca a s p ro pried ad es l6 gica s d a palavra "vcrmelho", por cxcmplo, voce

nao en t ende ri a 0 q ue e Ia q ue r d iz er se na o soubesse com o sa o as coisas verrne-lh as . P ara co rn preen der "v erm elho ' v oce p rccis a sa ber 0 sentido d a p a la v ra .

Mas M p ala vra s - co mo "todos" e "e" - cu jo s i gn i fi c ado podc ficar absoluta-

m ente claro apenas com a especificacao de suas p ro p ri ed ade s 1 6gi ca s . Essas

pa la vra s s ao ch am ad as de co ns ta ntcs lo glca s c o s 1 6g ic os lC lllu m in teress e es-

p e ci al n e la s .

N os ultim os a nos, no en tanto , lim a grande parte dos trabalhos da logica

voltaram-se p a ra a s p r op ri ed ade s lcgicas d e o u tr a s palavras: a logico eplstemi-

ca , p or e xe mplo , ex am in a a s p ro p ric da de l og ic as de "saber" e a 16 !' ,i ca mod a l

e st ud a a s p ro p ri ed ade s logicas de "nccessario' c "possivel". Assirn, podcmos

t er a 1 6g ic a f ra sa l m od al, q ue i nc lu i es tas p ala vra s ao la de d e variavcis frasais,

d a n eg aca o e d os co nectiv os; e a lo gica p rc dica da m od al o nd c a dicio na mo s v a-

ria veis tam bem p ara n ornes e p red ica do s. A sernantica do s mundos posslveis ep articu la nn en te u ti! pa ra a log ica m od al, m asa cs ta rem os u sa ndo n o ca pitu lo

s eg uinte p ara ex am ina r a lgu ma s q ue sto es rela cio na da s co m a nc ccs sid ad c d e

l ei s d a n a tu r ez a . (E possivel q ue v oce ten ha a ch ad o q ue "necessario" e "possi-

v el" s ao co nsta ntes l6 gica s, e q ue poderiarn se r d c fi n id as cxaminando 0 papel

que desem penham em um argum ento . M as a cx istencia do tipos difcrcntes de

ne c ess id ade ": " i n ciu s ive 0 tip o q ue e xa m in ar er no s n o c ap itu lo s eg uin te - s ig ni-

f ic a q ue p re ci sa mo s d e o utr as c ois as alern d a 1 6g ic a m od al p ar a explicar a ideia

de necessidade.)

A 1 6g ic a f or ma l a tu al a um en to u n os sa c or np re cn sa o d e v alid ad e, nccessi-

d ad e e v erd ad e 1 6g ica . M as n ao es ta mos in teres sa do s n es sa s q ue sto cs 56 por-

q ue q ue re m os d es en vo lv cr a rg um cn to s valid os o u d csco brir vcrdadcs logicas.

O s fil6 so fo s s e interessarn pela lo gic a n ao p or qu c q uc ir am desenvolvcr argu-

mentos validos e sim porque quercm saber 0 qu e f1\Z corn qu e urn argumcnto

s ej a v alid o; n ern ta m po uc o p or qu c q uc ir am d cs co br ir vcrdadcs n ec es sa rie s c

s im p or qu e quercrn cn tcn dcr a id ciu d e ncccssidadc,

A te a qui su geri tres ra zoe s p ela s q ua is o s filos ofos tem se in tc rc ss ad o p ela

l inguagem:

a ) p o rq u e e s ua f er ram en ta p ri m or di al

b ) p orq ue , a o co ntra rio d e p en sa men to s e d e id eia s, a lin gu ag cm e p ub lic a e

c) porque ela e 0 m eio q ue u sa mo s p ar a e xp re ss ar v erd ad es .

m en te c cp istcm olo gia, E isso 111~ tra z ,\ u ltim a raz ao q ue quero sugerir: a e ad a

p G S S O , f ilo so fo s s e d ao mais conta de que as q u e s t o e s sobre l inguagern podern

levar a n ov os insights em todas as areas da f i lo so f ia .

3 .1 2. C on ve nc oe s c ia lin gu ag em

S e d is se rm os q ue c or np re en de r u ln a f ra se e saber 0 q u e e la s ig n if ic a , e na -

tural achar qu e alguem qu e saiba 0 qu e a Frase S s ig ni fi ca , s ab e q ue S signifiea1 \ 1 , o n de M 6 a lg um a es pecific aca o d o s ig nifica do . A ss irn , na C On CeP 9a O de

Frcgc, saber 0 s ig ni fi ca do d c uma Frase 6 conhccer scu scntido, que e s ab er a s

c on dic oc s e m q ue c ia s er ia v crd ad ei ra . P or ta nt o, v oc e s ab era 0 que a fra se em

a lem ao "E s rcg ne t' s ig ni fica se v oce so ub er qu e a fra se s eria v erd ad eira a pen as

n o c aso em q ue cstiv ess e ch ov en do , O u seja, voce tern u ma c re nc a q ue a pr ee n-

d e s ell c on he cim en to d o s ig ni fi ca do d a f ra se : v oc e e re q ue "Es r eg ne t" e v er da -

d cira a pcn as sc c stive r ehovendo.

U sci u rna frasc alcm f aq ui nao em homenagcm a Frcgc e sim porque se eu

tiv cs sc u sa do lim a f ra se e111por tugues , c ia p od cr ia p ar ec er um p o uc o i ne x pr es -

siva. Eu ter ia dito q ue s c v oce souber 0 qu e "Esta chovendo" significa, saberia

qu e aq ucla m csm a frasc 1'6 c vcrdadcira se cstivcssc c ho ve nd o. M a s 0 fato e

q ue i ss o n ao s cr ia n ad a i ne xp re ss iv e. E c la ro , e u s 6 p os so e sp ec if ic ar a s c on di-

'Y ce s .lc ve rda de da e xp res sa o "E sta ch ov en do " em p ortu gu es se u sa r p ala vra s

portugucsas que significam a m esm a coisa que "E sta chovendo", E e preciso

q ue v oce cn ten da p ortu gu es p ara co rn prccn der a que la cs pe cifica ca o. M as s a-

b er q ue u r n a i ra 3c S s er ia v cr da de ir a s o n os c as os e m q ue e sti ve ss e c ho ve nd o ealgo que voce podc saber scm conhecer portugues. Frcge s ab ia is so co m rela-

c ;a o , \ I ra s e alerna "E s regn et". 0 que isso deixa claro , a m eu ver, e que sua es-

pecificacao d o s ig nif ic ad o d a frase em s ua p r6 pria m en te I1 aOpo de s er em por-

t ug u cs . S u ponha rn o s, en t ao , q ue v oc e t er n um a l in gu ag em i nt er na : a l in gu a-

gem do pcnsam cnto (com o 0 titu lo d e um liv ro pe lo filo so fo d e lin gu ag em

a rn er ic an o J er ry Fodor c ha rn ou e ss a l in g uag em i nt er n a) .

P orta nto , sc u co nh ec im en to da s co nd ico cs d e v crd ad c d e S dc ve m s cr es-

pccificadas na traducao de S pam a linguagcm do pcnsarncnto. C ham cm os essa

trnducao de "S inferno". Su a c om p r c c n s a o d a l in g ua gcm do pcnsarncnto na oc on sis tc a pc nu s e m c on hc cc r ,IS condicocs de vcrdadc do S interne, pois sc esse

Io ss c ( ) cu so , c ss as tc ria m q ue SCI ' u nd uz id as e m < l in d a a lg uma o u tr a l in g uag cm ,

c e s ta r lamos ;1 c am in ho d e u ma r eg re ss ao infinita. 0 que faz com que seja ver-

d ad ei ro q ue 0 S in tern o lh e p erm ite es pe cifica r a s co nd ico es de v erd ad e d e S e

q ue c xis tc L Im a c ou ex ao a pr op ria da e nt re 0 S interno e os estados do m undo

q ue pre va lccern q ua nd o ele e v erda de iro , O u se ja , o s re la cio na me nto s en tre

n oss os esta dos m en ta is e a s c oisa s no m un clo q ue da o a qu eles e sta do s o s s eu s

contcudos - que fazcm, pOI 'exemplo , COlli q ue n os sa s c re nc as te nh am c on di -

 

:1 1 6 • I N T R O O U g A O A F llO S O F IA C O N T E M P O R A N E / \

yoes de verdade - devem ser de lim tipo difcrcnrc daquclas re la< ,:oes entre lin-

guagem e estados m cn ta is q ue c liio ,1 f ru sc x ua s c on di co cs de vcrdadc.

3 . A L lN G U A G E M • 1 1 7

Portanto , a [coria de Grice n os di/. (J que c cornprccndcr frascs quando as

usarnos IICSSCS m uitos atos de Ia ia . Conhcccr 0 significado de ulna frase 6 en-

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 52/54

C om e feito , iss o c cxatamcnn- 0 q ue e sp en \val1 1o s_ S e e u d lu allllcn te le nh o

u m a c re nc a q ue te rn 0 conteudo ('.1/(1c!IOVCIlc!O, cntao em dccorrcncin de 1 1 0 S S a s

discussoes n o c a pi tu lo I,esperariamos qu e i xs o [ os xc l imn < l as con scoucnc in s

do pa~el funcional da crenca: 0 fa to de e sse scr 0 tip o d e cstado qu e c produzidoem mim quando o lh o p el a janela e vejo a chuva caindo do ceu e isso fa z co m

que eu Ieve m eu guarda-chuva para nao I11C11101hal'_Por outro lado, 0 qu e faz a

~ase " Es ta c ho ve nd o" tel' 0 contcudr, qu e tern 2, pre sul1 1ivelm cn te, 0 In to d e

ISS0 ser uma convenyao do idioma portugucs Sc as c0l1vel1<;6es do pOrl l lgucsfossem as mesm as que a do alcrnfio, por CXCJ1lplo, cntfio a fhlsc ccrra parn ex-p re ss ar a qu ele conteudo seria "Es rcgnct".

C ons id eran do a d esc obe rta de F rc ge s obrc a p l'il1 1< 1z i,1 ria fra sc, (.w staria -

m os de perguntar, prim eiramente, qual c a convcncao que cil\ lIS r n ;~ c~ ; su a s

condicoes de verdade e seus valorc s de vcrdadc. A r cs po sr a m ai« s im ple s 6 qu e

a c o n v e n c a o q ue d an s frase s cO l1 di< ;()es d e vel-da de C a qu e d iz q ue d cv er no s

usar fra ses d ecla rativas p ara d iz er 0que c vcrdadciro. 0 filosofo fJ.P, Grice su-

geriu que todos n6s esperamos que algucm que cntcnda a frasc S in) usar S pam

convencer as outras pessoas a acredirarern que S 6 vcrdadcirn I'ortan to , agora

vem os por que ha uma conexao int ima entre os contcudos ---as condicocs de

verdade - das crencas e das f ra se s. U m a frasc c L11ll rncio c on ve nt- io na l e lc ten-

tar convencer outras pessoas a terem uma crcnca especf fica ; a crenca CO Il1 as

mesmas condicoes de verdade que a frase. A part i r dessa id ci a b as ic a, P O dC lll OS

prosseguir e exam inar as frases que nao sao dcclarativas, entre as quais es tfio asordens e as perguntas.

Q uan do u sa mos frases d ec la ra tiv as . t ~1 Ze Il1 O Saflrmacoos. Q u an do lI Si lI l1 0S

frases imperativas , dam os ordens. Nos dois casos cstamos produzindo u r n a

elocucao com significado e estam os desempcnhando aquilo que os lingiiistas

chamam de "ato de fala" embora os t ipos cspccificos de atos d e { ala scjarn di-

fere ntes em su as f un co es e sp cc i ficas. A p cs ar d cs xa s d i f ' cl 'e n< ;n s , no cniamo, po -

demos usar os conceitos da teoria semantica de Frcge -- os conccjtos que usa-

m os p ara explicar a e locucao de frascs dcclaral ivas 110 at o de fala dc a l ir l1 l < 1< ; ao

- ta mb em para explicar 0 conteudo de outros atos de fa la . Para ca d a um do s

atos de fala principais - a fi rm a ca o, q u cs ti on amc n to e orc lens -- 0 conccito de

Frege de condicao de verdade pode sc r utilizado.

Dizemos que as condicoes de verclade de uma frase declara tiva sao validas

se_aJrase e verdadeira. Na afirmacao, ten tarnos faze!' com que outros crciam

que as condicoes de verdade da frase quc afirmamos sao validas: nas ordcns,

ten tam os fazer com que alguern tome validas as condi< ;oes de verdadc: no

questionam ento tentamos fazer com que alguem nos dign quais condicocs de

verdade sao validas, No capitulo 5, exarninarei m a is deta lhadam ente ordens no

contex to de uma discussao de teoria tilosofica sobre linguagem moral que echamada de prescritivismo.

tender C0ll10 cia 6 usada nos atos de ta la . M as sc a cornbinarmos com a desco-

berra de Fregc sobrc a primazia da frase, a teo ria de G rice tambern po de nos di-

zc r 0 qu e e entcndcr os significados das palavras. E ntender 0 sig nificad o de

u m a p ala vr a e saber como ela contribui para dcterm inar 0 significado das fra-

ses. Portanto , cntcndor um a palavra , P , e saber com o cia contribui para estabe-

lccer que atos de Ia la voce podc executor com as frases qu e contern P.

Ol~scrvcque as tcorias dc Frege

ede

Grice naosa o

incompativeis.Pelo

contrario . sii\) cornplcmcntarcs. A tcoria de Frcgc diz que tcmos que saber 0

scntido de um n palavra pam cnicndc-la c q ue s ab er 0 scniido de l ima pa la v ra < 5

s ab er C 0l 11 0 c ia d et er mi na 0 scntido de um a frase. Saber 0 sentido de um a frase

c saber como cia dcvc scr para scr verdadeira. E iss o <5 exatamente 0 qu e e pre-

c iso saber na tcoria de G rice. Pois sc voce souber as condicoes de verdade de

um a frasc voce sabcra que crcnca as pcssoas que a cstuo usando cstao querendo

t ra ns mi ti i : 01 1 s eja , a c re nc a C0111 a s m csm as c on dic oe s de verdade. Podemos

dizc r q ue F reg e I~OS diz o que sao os significados das frases - ou seja, as condi-

cocs de vcrdadc - c G rice nos diz para que sao as condicoes de verdade.

A ssim , n a tco ria de G ri ce , a lg uc m entende " E st a c h ov e nd o " se ela

a) usar cssas palavras para tentar fazer com que as pessoas creiam que as

condicocs de vcrdadc de "Esta chovendo sa o validas e

b) e sp era q ue a s p cs so as u sem cssas palavras para tentar fazer com que elas

(e os dcmais) tambcm acrcditern que aquelas condicoes de verdade sao va-

lidas.

E, C c lare, acrcditar que as condicocs de verdade de "Esta chovendo" sao vali-

da s e prccisamcntc acrcditar que csta chovcndo. No caso das ordens, voce en-

tende a ordcm "Dcscasquc lim n uva para m im !" se voce

a) «sar cssas palavras para tentar fazcr com que as pcssoas facarn C I m que

as cond icocs de verdadc dcssa frase scjarn val idas c tam bcm

b) c sp c ra r q ue 1S p c s s o a s as uscm para t cn ta r f az c r COI11qu e voce (c os d e -

m ais) nl< ;;l c om qu e elas se jarn va lid as.

F az el ' c om q ue a s c on di co cs dc v cr da dc s cja m v alid as C , c la ra rn en tc , descascar

lim a u v a p ara 0 orador.

3.13. 0 pnradoxo da anal ise

No capitulo anterior fiz a seguin te pcrgunta : Se sabemos 0 q ue a p alavra

"saber" significa , por que nao podcm os simplesmente dizer 0 que significa?

Agor:1 que, por assirn dizcr.ja entcndem os e absorvem os <1explicacao de signi-

f ic ad o, p Od CI ~1 0S r cc on sid cr ar a p cr gu nta . S ab er 0 q ue "saber" sig nifica , se gu n-

do a tcsc da primazia d<1 Irasc, c sahel ' C0110 dcscobrir 0 s i~ nif ic ad o d as f ra se s

 

1 1 8 • I N T R O D U C A o A F IL O SO F IA C O N T EM P O R A N EA

q ue c on te rn a qu ela p ala vra . S eg un do a e xp lica cao d e F rc gc , isso significaria

s ab er e m q ue c ir cu ns ta nc ia s a s f ra se s c on tc nd o a qu cla p ala v ra scriarn vcrdadci -

3 . A L lN G U A G E M • 1 1 9

i lCnOal110Sd izcn do algo co mo "S ab er { ;e rer corretamente com base em urn

m cro do co nfia vcl". M as s e is so { :v crd ad ciro , o s co nceito s d e c on hec im en to e

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 53/54

r as . B er n, s up on ha m os q ue conhecimento c u m " c rc nc a v cr da dc ir a p ro d uz id a

p or u rn p ro ee ss o c on fi av el . P re sum e- so , c nt ao , qu e q ua lq u cr p es so a qu e saiba

p or tu gu es s ab er a e m q ue c ir cu ns ta nc ia s a f ra se "C on he ci me nto e c re nc a v er da -

deira p ro du zid a p or urn proeesso confiavcl" e vcrdadeira, A te aqui, r ud o b er n.

M as a go ra p are ee mo s e sta r p res os n os e hifre s d e urn di lcma.

T o da s a s f ra se s v er da d ei ra s p re cis am s er ou analiticas ou sinteticas (isso

d ec or re d o f ato d e s in te tic o te l' s id o d ef in id o c om o " na o a na liti co ") . S up on ha -

m o s q u e " C on he ci m en to e u ma cre nca v erd ad eira p ro du zid a p or u m p ro ccs so

c on fi av el" e analitica, verdade ira unicarnente em v ir tu de d os s ig n if ic ad os d as

p ala vra s q ue e la co ntem . N es se ca so n ao p arc ce h av er n ec es sid ad e d e rc flc tir

sobre qualquer outra eoisa alern dos signif iea dos a fim de dccid ir sc a f rase {:

v erd ad eira . R ea lm en te , iss o se ria u ma co ns eq uen cia d a tc se d e cornposiciona-

I id a de p ar a s ig ni fi ca d os . S e " sa b er " e "a crc dita r v crd ad eira mc nte p or u m pro-

cessoconfiavel" s ig ni fic am a mesma coisa, cntfio deveriamos podcr substituir

u ma p ela o utra e m an te r 0 s en tid o. Por tanto,

K : A lg u em sabe a lg um a c ois a s e e le s a sabern

e

K 1 : Alguem sabe a lg um a c ois a s c c lc s a crc dita m n es sa c ois a c orr cta mc ntc

p or u m p ro ce ss o c on fia ve ld ev er ia m s ig nif ic ar a m es m a c oi sa . M a s s e c la s r ca lm cn te significant a rncsma

c oi sa , c om o c q ue a s p es so as q ue e nte nd ern p ortu gu es p od cm imediatamcntc

c om p re en de r q ue K e verdadeira m as n ao p cd em c om p rc cn dc r i me di nt um cn tc

qu e K , 0 e? P arec e cla ro q ue s e d e a s fra se s sig nif ica nt a mcsrna c oi sa , c nta o s e

u ma e o bv ia m en te v er da de ir a a o utr a ta m be m d cv er ia SCI'. E sc is so e a ss im , p or

qu e 0p ri me ir o f il6 so fo q ue p en so u s ob re is so n ao p er ce be u im ed ia ta mc nte q ue

c on fia bilis mo es ta va c erto ? A fin al, se gu nd o a h ip ote sc q ue e sta mo s COilS ide-

ra nd o, d e tin ha to do 0 c on he ci me nto d e q ue p re cis av a: s ab ia 0 s ig n i f ic ad o d as

p ala vr as . C o mo e le n ao v iu q ue 0 c on fia bil is mo e st av a c cr to , d ev er no s c on cl uir

q ue a fra se n ao e a na litica .

M a s s e e la e s in te ti ca , e nt ao e p re eis o q ue h aj a alguma o utr a v er da de a na li-

ti ca q ue d ef in a 0 s ig nif ic ad o d o te rm o "s ab er ". E e s sa v e rd ad c c a qu cla q ue es -ta mos buscan do em um a a nalise filo so fic a, C ham em os u ma fra se em por tu-

.gues que d iz a verdade de "K"". Podcmos agora fazcr co m relacfio II K" a per-

g un ta q ue f iz er no s hit P('llCO sobrc confinhilismo: S e cia c analitica, p O I ' qu e cqu e ninguem r ec on he ce u q ue c ia { ; vc rd ad cir a, c on sid cr an do q ue su a vcrdadc

d e co r re d o s ig n if ic a do d a s p a la v ra s qu e c ia c on ten t c q ualq ucr p csso a qu e CI1-

tenda portugues e nte nd e a s palavras em K O ?

E sse problem a e um exem plo d aquilo q ue G .E . M oore ch am ou de "pa ra-

doxo da a nalise". E m geral, o bs erv ou M oo re -, em lim a analise filosofica,

de crenca verdadeira produzida de mancira C O I ( / I G V C / sao a rncsma eoisa e

p ar is so d ev eria m s cr in tcrs ub stitu iv eis . E m o utra s p ala vr as , "S ab er e saber"

deve afirm ar a rncsma p ro po sica o q ue "S ab er e a cre dita r co rre ta men te co m

ba se em am m ctodo confia vel", 0 pa radoxo , { :claro , e que um a dessas afir-

m a co es p ar ec e inforrnativa e a o utra nao; n o e nta nto , s e a a na lis e e sta ce rta ,

elas sao a me sma a fi rr na c ao

S 6 ha um a prem issa nesse a rgum ento que parece poder se r d esca rtada , e

es sa { :a p rem is sa d e q ue h a a lg um a v er da de a na litica q ue p od e s er e xp re ss a e m

p or tu g ue s q ue d ef in a 0 c on hec im en to . S e n ao p od em os d ar 0 s ig nific ad o d a p a -

l av ra " sa be r" ( ex ce to d iz en do , s em f az er m u ito s en ti do , q ue '''s ab er ' s ig ni fic a

's ab cr'") cn ta o n ao e n en hu ma s ur pr es a q ue n in gu er n te nh a a in da d es co be rto

u ma fo rm a d e cx pre ss a-la l T alv ez p ara n oss a s urp re sa , a lg un s fil6 so fo s n o se -

eulo XX, W .V .O . Q u in e e nt re c le s, r e al rn c nt e a rg ument ar am q ue n ao e xis te m

verdadcs analiticas, Qu ine disse (embora nao p or e ss es m o ti vo s) q ue q ua lq ue r

f ra sc p od er ia , e m p ri nc ip io , SCI ' d es ca rt ad a d ia nte d a e xp er ie nc ia , a te m es rn o

u m a f ra se 16gica ou ma tema ti ca . N en hu m a f ra se e ra v er da de ir a u ni ca m en te e m

virtudc de s igni f ic ado .

M as h a u ma said a m uito 1 1 1e 1 10Sad ic a l p a ra e s se p r ob l em a . 0 f a to d e ter-

1 ll 0S o s i ns tr um e nt os p a ra d es co br ir se um a f ra se e v er da de ir a nao s ig n if ic a q u e

o f ar er no s, o u q ue 0 fa re rn os c or re ta m en te . S ei c om o d es en vo lv er 0 r ac io cin ioneccssa rio pa ra dccid ir se 2 elevad o a 10 e 1 02 4. N ao p rec is e s ab er n ad a m ais

para dcscobrir isso ; m as ate que 0 tenha feito e ate que 0 tenha feito correta-

m en te, a ch arei q ue a in form aca o d e q ue e 1 02 4 e , n a v erd ad e, in fo rm ativ a.

Q u an do d ef in i " an ali tic id ad e" , d is se q ue a lg ue rn q ue s ab e 0 s ig ni fic ad o d e

um a frase ana litica dcve saber (ou ser capa z de descobrir) que a quela frase e

v cr da dc ir a s cm d cp cn dc r d e q ua lq uc r in fo rm a ca o n ao -s em a nti ca . O ra , n or ma l-

m en te n an d iz em os q ue d ua s ex pr es so es tern 0 m esm o significado a nao ser

q ue s oj a 6 bv io p ar a to do s a qu ele s q ue f ala rn a qu ela l in gu a c om p et en te me nte ,

qu e elas s ao e qu iv ale nte s. M a s frases p od em se r v erd ad eir as e m v irtu de d e s eu

significado e m es mo a ss im p od e s er m uito d ific il p erc eb er q ue 0 sa o. T ud o q ue

precisamos s ab er p am descobrir se

2 1°=1024

60 qu e "2" s i gn ! f i ca , 0 que" I0 24 " s ig ni fic a, c 0 q ue significa e le va r u rn n um e -

1'0 c \ d ecirn a p otcn cia , M as p ara v crifica r sc iss o 6 v crd ad c, a in da p od e s or p re -

c is o u rn p0UCO d e r ef le x ao . POI' i 5S0 , t a lve z valha a pena d is ti ng u ir e nt re d o is

s cn tid os d e a na lltic o. E m lim s cn tid o, c l ima frase que { :obv i ament e verdadeira

em v irtu de d e s eu s ig nifica do . (D ei a nterio rm en te 0 ex em plo fa vo rito d o filo -

so fo : "U m h om em s olte iro e um hom em que nao e casado'") Em o ut ro , e um a

fra se q ue v oce p od e d es co br ir q ue c v erd ad eira s cm d cp en de r d e informacao

na o scmfintica. 0 fate de vcrdades analiticas d o s eg un do ti po s er em in fo rm at i-

 

1 2 0 • INTRODlJ~Ao A F I L O S O F I A cmmMPoRANU \

va s e um a decorrencia de que pode SCI' n ec ess ar io m uito c sf or co in te lc ctu al

3 . A L lN G U A G E M • 1 2 1

m ais re cc ntc . Is so n os le vo u a c on sid cra r a lg um as d as id eia s b asic as d a lo gic a

formal. F i na lmc n tc , c x am i ne i as s ug est oc s d e G r ic e s ob re s e e p os si ve l r el ac io -

5/14/2018 Appiah - Introdução à Filosofia Contemporânea (Cap. 1-3) - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/appiah-introducao-a-filosofia-contemporanea-cap-1-3 54/54

. p ar a d es co br ir 0 q ue d ec orre d o s ig nific ad o d e u rn a fra se ,

O bs erv e q ue , s e is so esta c erto , a te se d a c om po sic io na lid ad e p ar a s ig nif i-

c ad os p re ci sa s er i nt er pr et ad a c om m uito cuidado. A t cs c d iz :

T C: Se duas palavras ou frase s tern 0 mCSl110 significado, dcvcr iarnos po-

d er s ub sti tu ir u m a p el a outra ern q ua lq uc r f ra se S s cm altcrar 0 significado

de S.

S e c om "te rn 0m es m o s ig nif ic ad o" q ui se rm o s d iz er "obviamente tern 0mesmosignif icado" entao a TC se a pl ic a. M a s duas cxprcssocs podem tc r 0 mcsmo

s ig ni fi ca do d e u m a m a ne ir a m e no s 6 bv ia . "E" c "F" p od em q ue re r d iz cr a rncs-

rn a c oisa n o se ntid o d e q ue "E e F" 6 analitica ma s n ii o obviatnente anulltica. TC

n ao s er a v er da de ira s e i nt erp re ta rm os " si gn ifi ca do " d es sa m a nc ir a. P oi s n cs sc

s en ti do , " 2" e " 1 02 4" significam a me s il la coisa. Mas nfio p od cr cm o s v er i f i ca r s c

u ma s ub st it ui ca o d e E p or F m u do u ~ s c on di co es d e v cr da dc s im p le sm cn te C011l-

p a ra nd o. as f ra se s r es ul ta nt es . P o is n ao e o bv io q ue e la s significarn a mCS l11acoi-

sa . Isso q ue r d iz er q ue a lg ue m p od e a crc dita r q ue 2iO6 51 2 ( po rq uc fizcrarn urn

e r ro d e c a lc u lo , n a o mu l ti p li c an d o 0n um e ro s ufi ci cn tc d e v cz es ) m a s n ao a cr cd i-

t ar -q u e 1 02 4 e 5 12 . E a ss im , e c la ro , s ub st it ui r 2 11 1 or " 10 24 " n a f ra se a bc rt a

" Jo e a cr ed it a q ue e 5 12 " c e rt am c nt e a lt er a o s s ig ni fi ca do s.

E m m uito s a rgu me nto s, fi1 6so fo s p artira m d o p rin cip io q ue s c a lg o e ver-d ade iro e m v irtu de d o sig nific ad o, d ev cm os p od cr d iz cr q ue 6 v crd ad ciro sc m

m uita dificu ldade. E stou m ostra ndo q ue nao e b er n a ss im , E , na rnedida em

qu e 0 t ra ba lh o fi lo s6 fi co e nv ol ve a d es co be rt a d e v cr da dc s a na li ti ca s, 0 fate

d e serem analiticas na o presum e q ue sao insigni ficantcs ou faceis de desco-

b rito J a tiv em os in dic io s dis so n a b usc a p or u ma d efin ic ao d e c on he cim ento

n o c apitu lo 2 . S e d efinirm os "a na lltic o" de ssa m an cira , f ic a r am bem monos

o bv io q ue m esm o te ore ma s m ate ma tic os c om ple xe s nfio s ao a na li ti co s. P oi s

e mb ora a p ro va m ate ma tic a p ossa s er L im a co isa m uito c lific il d c d cs co brir o u

c on str ui r, p od e s er p os si ve l q ue o s m a tc ri ai s p ara s ua C O I1 Sl rL lC ;a Os tc ja m d is -

ponive is a todos aqueles que entcndcm os tcr1110Sur i l izados p ara c xp rc s-

sa-los. M as m atem aticos ja dcm onstraram q ue cx i stcm vcrdadcs m atcm ati-

c as q ue n ao s ao d em on stra ve is , e p orta nto c la s podcrn na o SCI' a na li ti ca s m c s-

m o no sentido m ais am plo .

3:14.conclusao

V ia ja m os , n es te c ap itu lo , p or a lg um a s d as e str ad as p ri nc ip ai s d a fi lo so fi a d a

lin gu ag em . C om ec an do c om a te oria da lin gu ag em c arte sia na d e H ob be s - q ue

d em o ns tr ei e st ar a be rt a a c ri ti ca d e l in gu ag en s p ri va da s d e W i tt gc ns te in - - p as sa -

m os p ara a te oria d o sig nific ad o d e F re ge . U sa nd o a lg um as da s id eia s de F re ge ,

fo i- no s p os si ve l, e nta o, e xp lo ra r a lg um a s d as q ue st oe s b as ic as d a s em a nt ic a, e d e

re la cion ar e ss as q ue sto es c om o s c on cc ito s d a scmaiitica d e m u nd os p os si vc is ,

n ar o s c on cc ito s d a te cria sernantica ca m 0 u so d a Ii ng ua ge m n a c orn un ic ac ao

cctid iana. A m ed id a q ue Ia mo s e xa min an do e ssa s id eia s, in tro du zi e e xpliq ue i

m u it os d os c on ce it os c en tr ai s c ar ac te ris ti co s d a d is cu ss ao f il os of ic a n o m u nd o

d e lin gu a in gle sa n o s ec ulo X X. C om o e u d is se a nte s, m uito s d es se s e on ee ito s

c on ti nu ar ao .a s er u tc is quando discutirmos outras qucstoes.

O s d ois ultimos capitu los tratam d e q ue stc es q ue s urg ern po rq ue M seres

c on sc ie nt es n o u ni ve rs e, q ue r efl et em s ob re s ua p ro pri a s it ua ca o, c ri at ur as c ommentes, procurando conhecer 0m un do e m q ue v iv em . E ss as sa o p erg un ta s q ue

p od er ia m s er fe it as s ob re q ua is qu er s er es v iv cn te s c uj as m e nt es f os se m c om p le -

xa s 0 b a st a nt e , embo ra , Ii: c la ro , n ao ha m otiv e pa ra su po r q ue e la s se ria m fe ita s

p o r t od o s esses seres. M as neste cap i tu lo , concent r amos nossa atencao naquilo

qu e e (p elo q ue sa be rn os ) u ma in stitu ic ao e sp ec ific am en te h um an a - a lin gu a-

gem+, e m b ora n ao e xis ta n ada e m p rin cip io q ue e lim in e a p oss ib ilid ad e d e q ue

o utro s a nim ais ta mb em u tiliz em lin gu ag cn s. E m u rn c erto se ntid o, te mo s n os

c on ce ntr ad o e m q ue st oe s q ue s ao c ad a v ez m a is v ol ta da s p ar a n os s a p r op ri a s it u-

a <; ao cu lt ur al . S em m e nt es , n ao h a c on he ci me nt o; s em c on he cim e nt o ( do s ig ni -

fic ad o) n ao h a lin gu ag em . N o c ap itu lo se gu in te c on sid era re rn os u ma in stitu i-

<;aoque e a in da m ais e sp ec ific a q ue a Iin gu ag em , q ue o eo rre so rn en te n a e po ca

r no de rn a e c xc lu si va m en te e m d et er min ad as c ul tu ra s: a c ie nc ia .