revista contemporânea

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Revista aborda a Literatura Portuguesa a partir da análise e discussão de algumas obras de Vergílio Ferreira, José Saramago e Lobo Antunes. A publicação é resultado de seminário realizado na disciplina Língua e Literatura Portuguesa II, no 8º período do curso de Letras da UEA em Parintins.

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APRESENTAÇÃO

EXPEDIENTEOrientadora: Professora Doutora Gleidys

Meyre da Silva MaiaEditor: Emanoel Cardoso

Diagramação: Gabriel LealSuporte de WEB: Adriano Tavares

Textos e discussões - acadêmicos do 8º período de Letras Matutino:

Aldenize Maria Reis de OliveiraBruno Gonzaga da Costa

Emanoel da Conceição CardosoEnos Pio dos Santos

Francenilza da Silva CarmoJean Miller Barros Navegante

Jonas Teixeira NevesJosiane de Souza dos S. Gadelha

Leomar Mendonça PereiraLourdeme Nunes Ferreira

Hellen AlbuquerqueMaria Eleonora da Silva Rodrigues

Marta Pereira LopesMarzo Queiroz dos Santos

Mônica Batista Freires BrasilMárcia Maria Ribeiro de Sena

Missandra Barros de SouzaPaula Cristiane de C. FerreiraRichardson Farias Gonçalves

Suzana Gomes LimaVicente Nunes Gonçalves

A revista “Contempo-rânea as vozes do lácio” é uma edição

única que apresenta o resultado dos Seminários desenvolvidos na disciplina de Literatura e Língua Portuguesa II, no 8º período do curso de Letra da UEA em Parin-tins. Os acadêmicos, que apare-cem na foto abaixo, fazem parte do grupo provocado pela profes-sora doutora Gleidys Meyre da Silva Maia para apresentar parte da obra de três dos principais au-tores portugueses da contempo-raneidade.

Os artigos sobre os auto-res Vergílio Ferreira, José Sara-mago e Antônio Lobo Antunes são as peças principais da revis-ta e trazem uma breve biografia,

o resumo das obras estudadas e as características que os escrito-res imprimiram nos livros, bem como a correlação entre as obras de cada autor.

Além dos resultados das dis-cussões dos seminários, Contem-porânea traz uma página dedica-da à poesia de alunos da turma e curiosidades sobre o universo da Literatura Portuguesa. Na en-trevista, o leitor acompanha uma conversa com a professora Glei-dys Maia que fala sobre a contri-buição da Literatura Portuguesa no cenário mundial, esclarece e a importância dos autores abor-dados nos seminários e se posi-ciona sobre o lugar da literatura enquanto arte, no universo aca-dêmico.

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Entrevista

Gleidys Maia é doutora em Letras pela UFRJS, coordenadora do NICEBA (Núcleo de Investiga-ção da Cultura e Educação no Baixo Amazonas) e ministra, entre outas disciplinas, Língua e Litera-tura Portuguesa no Curso de Letras do Cesp-UEA (Centro de Estudos Superiores de Parintins). A entre-vista aconteceu em seu escritório, como ela fez questão de determinar: “Lá fora não. Fotos aqui no meu local, na frente do computador onde trabalho”. Na conversa sobre a Literatura Portuguesa, que durou pou-co mais de vinte minutos, A professora expressou com a voz, as mãos, gestos e olhar o entendimento de alguém imerso no universo da arte literária e que é capaz de articular história, filosofia, arte e literatura.

GLEIDYS MAIA

“Trouxeste a chave?”

Drummond

Contemporânea - Como conceituar a literatura?

Gleidys - Existem vários. A literatura é uma arte e como arte ela tem que ser apre-ciada, ela tem que ser desfrutada como arte. Agora você só vai conseguir isso se você conhecer a arte, se não conhece como vai fazer isso, como é que você vai ler? Como é que você vai desfrutar? Como é que você vai se conectar, pra usar um ter-mo mais moderno? Então, às vezes as pes-soas dão demonstrações da sua ignorância no sentido do não conhecimento quando leem algo e dizem que não entenderam nada do que foi dito. Sempre me lembro de Drummond quando pergunta, no poema que se chama à procura da poesia: “trou-xeste a chave”? Quer dizer, você só tem acesso aquele texto se você tiver a chave, se você tiver a senha, se você tiver o ins-trumento, do contrário, não há como ter acesso. Eu tento sempre dizer, o leitor tem que responder esta pergunta: “trouxeste a chave?” Se não trouxe vai ficar na porta.

Contemporânea – Como arte, que elementos a literatura consegue articular em sua cons-tituição?

Gleidys - A literatura é um mundo. Existe uma teoria que afirma ser a litera-tura narrativa uma diegese. Diegese é um termo grego de se refere ao mundo. A die-gese é o mundo que a gente conhece o ini-cio, conhece o meio e conhece o fim. Um

mundo que tem comunicação, tem o hu-mano, tem as profissões, tem as idiossin-crasias, tem a modernidade, tem o mun-do da velocidade, tem a sociologia, tem a filosofia... é um mundo em cada texto. É assim que uma obra literária ela se trans-forma numa obra atemporal, quando ela traz esse mundo para o leitor, quando esse mundo pode ser lido em qualquer época.

Então, se você pega uma obra como Dom Quixote de La Mancha, escrito há mais de 500 anos, você lê Dom Quixote hoje e ele ainda te mostra o mundo em que você vive. Uma obra ela é clássica, atemporal, quando consegue trazer esse mundo para o leitor que não está preo-cupado com Cervantes no século XVI, nem com Camões, esse leitor está ligado naquilo que está sendo dito e naquilo que a gente chama de horizonte de ex-pectativas que trazemos para o mundo da leitura. Essa literatura chega até ao leitor, ainda tem coisas a dizer. Você pega Hamlet, do Shakespeare, e ainda tem o que dizer. Mas tem outros escritores que passaram por essas mesmas épocas e que você não sabe que fim levou todos eles.

Contemporânea – Qual a contribuição da Literatura Portuguesa para com a arte da li-teratura?

Gleidys - A Literatura Portuguesa não é muito difundida no mundo in-teiro porque a maior parte do mundo não fala português e por ser uma língua

extremamente discursiva não facilita para que haja aprendizes de português. Então é necessário todo um sistema literário para que as obras sejam tra-duzidas, mas obra que é traduzida é obra que perde sua qualidade original.

Passando essa questão da língua e do mercado, eu digo que uma das lite-raturas mais ricas do ocidente é a Litera-tura Portuguesa e a literatura da Penín-sula Ibérica. Eu não consigo imaginar um período como o renascimento ou como o modernismo sem a Literatura Portuguesa. Eu não consigo imaginar o renascimento sem a visão de Camões. Infelizmente a maior parte do ociden-te vai reconhecer todos os valores es-téticos que poderiam ser atribuídos a Camões, Em Shaikspeire, por exemplo.

Contemporânea – Qual sua análise sobre a obra de Vergílio Ferreira, Lobo Antunes e José Saramago?

Gleidys - Essa tríade aí, vamos come-

çar por Vergílio Ferreira dentro do pró-prio contexto da Literatura Portuguesa ele já possui uma obra sui generis, ou seja, não existe uma escola existencialista den-tro da Literatura Portuguesa, existe a es-cola do existencialismo fundada pelo pró-prio Vergílio Ferreira. Ele tem seguidores, mas isso não representa uma estética den-tro da Literatura Portuguesa. Só por estas questões, a obra dele já é uma obra sin-gular, uma obra que precisa ser analisada

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Entrevista

com cuidado para não ser clicherizada. A obra do Vergílio Ferreira é uma obra

extensa dentro de uma pragmática que é a pragmática existencialista. É existen-cialismo aliado ao Marxismo. A influên-cia Sartreana é visível, é palpável na sua obra, mas isso não quer dizer que seja uma obra panfletária, não é uma obra que vá fazer um discurso político no sentido panfletário/partidário como muitas obras de vertente marxista o fizeram anterior-mente, tanto no neorrealismo português, quanto no romance social do Brasil da década de trinta, como é o caso do Alves Redol, com “Gaibel”, e como é o caso de Graciliano Ramos com “São Bernardo”.

Então, nós vamos ter, no Vergílio Fer-reira, uma espécie de trilha de percurso da literatura. É como se fosse um desvio da Literatura Portuguesa. No contexto maior, amplo, é um desvio porque ele está dentro de um período que é chamado de período neorrealista, mas as suas obras tem muito pouco de neorrealismo. A pragmática ne-orrealista passa ao largo da obra vergilia-na em função da filosofia existencialista.

Já nos outros dois que são mais pró-ximos historicamente de nós, inclusive, o Lobo Antunes está vivo e produzindo. É uma literatura de impacto porque ele lan-ça, praticamente, uma obra por ano, às ve-zes, duas obras no mesmo ano e são obras imensas. Sempre quando falo de escrito-res como Lobo Antunes e Saramago eu me lembro de uma frase que o Machado de Assis diz, em um pequeno ensaio em que o Machado fala o seguinte: “o escritor tem que ser um homem do seu tempo”.

Eu penso que as doenças, o homem do século XXI, é esse homem doente que aparece na literatura do Lobo Antunes; é esse homem marcado por uma série de esquizofrenias, de medos, de angustia que resultam numa visão do humano frag-mentado, estilhaçado, como um humano que não encontra e não consegue mais se encaixar, não consegue mais ver seus espaços onde pode se colocar e se sentir bem. É o famoso mal estar da modernida-de que agente vê desde Baudelaire e chega ao fim do século XX e na passagem para o século XXI chega ao seu ápice. Então, é um homem menos humano, no sentido de que a sua humanidade esta deflagrada por doenças, deflagrada por esse mal-estar.

O Lobo Antunes já apresenta o huma-no na forma mais degradante e não é uma questão moral, a moral não tem nada a ver com isso em principio, não é menos

humano, ou é desumano por uma ques-tão moral. Não é porque o personagem é amoral, é porque foi-lhe tirado a sua por-ção, aquilo que seria o brilho no olhar ou a bondade, o amor, a perseverança, isso já foi tirado. O que ficou foi o ser doente.

No meio desses dois está o José Sa-ramago. Eu diria que ele é mais que um escritor, é um pensador da literatura, aci-ma do escritor está o contador de histó-ria. Eu não consigo imaginar o José Sara-mago numa escrivaninha simplesmente contando uma história, narrando algo que ele pensou. José Saramago escreve a partir da literatura, ele não quer a fun-dação do novo da origem. Então, não é atoa que ele pega a Bíblia como funda-ção para os seus textos. Quantos roman-ces ele escreve a partir da bíblia? Não é atoa que ele pega o discurso histórico e a partir desse discurso ele vai fazer a lite-ratura. Não é atoa que ele pega o Fernan-do Pessoa e vai escrever a sua literatura.

Antes de ser esse contador de histó-rias Saramago é um pensador da litera-tura, eu diria que ele é um ensaísta an-tes de tudo, inclusive algumas obras ele intitulou ensaio. Ele não pensar apenas a filosofia em si pela filosofia, pensar o escrito filosófico, pensar a representação desse escrito filosófico, pensa a literatura, pensa a história, pensa o discurso livre.

Contemporânea – Que relação deve ser esta-belecida entre a literatura e o ensino na aca-demia?

Gleidys - Eu sou completamente con-tra usar o texto literário como um recurso didático. Pra mim, o texto literário dentro da escola deve ser fruição. Agora, para o

aluno que estuda letras, um dos objetos de estudo dele é o texto literário e, por-tanto, ele tem que ter o conhecimento adequado pra adentrar e analisar o texto literário tanto em um curso de licencia-tura, ou em um curso de bacharelado.

O texto literário tem uma função social na formação do professor leitor mas, não é qualquer leitor. Nada impede que o professor de matemática, história, educação física seja professor leitor. En-tão, qual é a diferença entre o professor leitor dessas áreas para o professor lei-tor do curso de letras? A diferença esta na habilidade. A literatura não vai ser só fruição como é para o professor da his-tória, ou da matemática. Não é só frui-ção, ou só efeito estético. Para o profes-sor de letras, que deve ser um professor leitor, a literatura vai trazer uma carga imaginativa e criativa que talvez outros professores não tenham acesso, porque não tenham os instrumentos de analise que o professor de letras vai ter. Eu não consigo me imaginar como professora de literatura sem essa leitura imagina-tiva e criativa que a literatura me deu.

Quando eu vejo um poema, a forma como ele foi escrito, eu não vejo litera-riamente só o que está dizendo o poe-ma ou aquilo que estou sentindo ao ler o poema, mas como ele foi construído? O que o poeta usou? Quais as estraté-gias? Quais os mecanismos linguísticos? Que seleção vocabular foi feita? Como é que ele montou os versos? Que tipo de rima? Tudo isso é porque o conhe-cimento esta viajando comigo. Então, o professor que aprende e apreende isso, no momento que ele se depara com o objeto de arte como é a literatura, ele

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VERGÍLIO FERREIRA

Seminário do Autor

Nasceu em Melo, no conselho de Gouveia, em Janeiro de 1916, fi-lho de Antonio Augusto Ferrei-

ra e de Josefa Ferreira. A ausência dos pais, emigrados nos Estados Unidos, marcou toda a sua infância e juventude. Após uma peregrinação a Lourdes, e por sugestão dos familiares, frequentou o Seminário do Fun-dão durante seis anos. Daí sai para com-pletar o Curso Liceal na cidade da Guarda. Ingressa em 1935 na Faculdade de Letras a Universidade de Coimbra, onde concluiu o Curso de Filologia Clássica em 1940. Dois anos depois, terminado o estágio no liceu D. João III, nesta mesma cidade, parte para Faro onde iniciou uma prolongada carreira como docente, que o levará a pontos tão distantes como Bragança, Évora ou Lisboa.

A partir das apresentações realizadas no Seminário do autor Vergílio Ferreira, na aula da disciplina de Literatura Portuguesa, percebeu-se que o foco narrativo das obras “Nítido Nulo”, “Signo Sinal” e “Alegria Breve” esta em primeira pessoa e o narrador é o protagonista.

No romance “Nítido Nulo” escrito em 1969, período em que Portugal enfrentava a herança de um regime chamado salazarista, que causava muito desconforto ainda nes-ta época, pois já haviam passado mais ou menos 150 anos da vigência desse regime. A obra reflete inquietações sobre assuntos como morte, vida, política, sociedade, exis-tencialismo e niilismo. Dentro dessas ques-tões o autor discorre misturando o imagi-nário, suas lembranças, suas aventuras, e sua vida real. A personagem Jorge divide as cenas com o narrador protagonista. O en-redo não linear, o tempo é psicológico, pois recorrentemente faz uso de sua memória para trazer à tona cenas que fazem parte de sua infância, por exemplo.

Em relação ao livro “Alegria Breve” é vá-lido dizer que ele se constitui numa densa auto-interrogação de Jaime Faria, perso-nagem e narrador. Este interrogatório se realiza nos momentos mais importantes de sua vida, nas suas várias dimensões. O homem procura se ajustar a uma realidade sofrida de sua alma, dentro de uma dire-ção intelectual que antes se sintetiza com os fatos, cuja base está a existência da vida naquilo que apresenta de mais empolgante. Espírito e matéria se juntam para mostrar que o homem está bem vivo, presente to-talmente à vida, procurando reinterpretá-la e reinventá-la a todo o momento. Isto im-põe constantemente a reflexão do ser so-bre seus atos, pensamentos e sentimentos. E a imaginação leva o homem a ver novas dimensões nas coisas e com isso alterar o sentido do irreal fazendo-o sentir-se no mundo de ficção. E este constante embate entre a realidade e a irrealidade é recorrente na obra “Alegria Breve” em suas notas mais significativas. Jaime Faria, o narrador-pro-tagonista, retoma sua vida desde a infância, passando pela juventude e atingindo a ma-turidade, várias mulheres participam de sua existência. Norma, Águeda, Vanda consti-tuem o processo evolutivo da personagem que busca constantemente uma explicação para tudo. Contudo, ele esbarra com cer-tas coisas misteriosas e absurdas, uma das quais, a morte de Águeda, que aparece des-de o início do romance. “Enterrei minha mulher hoje”, assim começa “Alegria Breve”. As primeiras páginas enfatizam a solidão do mundo, expressa a lenta e cruel sinfonia do poema que vai além da morte de uma aldeia, destaca a morte de toda a razão de viver.

“E este constan-te embate entre a realidade e a irrealidade é re-corrente na obra Alegria Breve em suas notas mais significativas”

Artigo

Aldenize Maria Reis de OliveiraFrancenilza da Silva CarmoHellen AlbuquerqueJosiane de Souza dos S. GadelhaMárcia Maria Ribeiro de SenaRichardson Farias GonçalvesSuzana Gomes Lima

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A obra “Signo Sinal” de Vergílio Ferreira, publicada em 1979 é um romance de ficção e está

dividido em 38 capítulos. Sua narrativa é construída em primeira pessoa e o narra-dor do romance é o próprio protagonista da história, Luís Cunha. O romance trata de um lugar à beira do mar, devastado por um terremoto, onde sua população tenta reconstruir sua vila sem muito sucesso, pois não há entendimento entre os habitantes do lugar. Luís Cunha narra à perspectiva de reconstrução do lugar onde vive, onde em certo dia pela manhã sofreu um terremoto, que destruiu boa parte das casas e culminou com a morte da maioria das pessoas.

A narrativa conta a respeito da vinda de novas pessoas, que vieram ocupar os cargos deixados por pessoas que estavam mortas como é o caso do professor e do padre mortos no desastre. A cada capítulo o autor conta fatos da vida dos mortos da aldeia e em paralelo faz uma crítica social a respei-to das divisões de classe e como é possível

Artigo

perceber no capítulo XXX, na página 193, ao dizer que “só há uma sociedade sem classes, que é a sociedade do cemitério”. Entre outros aspectos utilizados na narra-tiva podemos notar o emprego de ditados populares como o descrito na página 193 “a verdade de um homem não é aquilo que é, mas aquilo em que se torna”.

O único amigo a que se refere o per-sonagem é um cachorro o qual atende pelo nome de Teseu, e que lhe acompanha até o fim da estória. Embora Luís Cunha seja o protagonista e narrador do romance, não se percebe nenhuma atitude concreta por parte dele no que diz respeito à constru-ção ou a ajuda de construir o lugar. Ver-gílio Ferreira utiliza-se do estilo metafórico quando se refere ao lugar destruído, pois o contexto histórico da obra é a queda do regime Salazarista ditatorial. Em síntese, a aldeia destruída nada mais é do que a forma alegórica que o autor se utiliza para descre-ver Portugal ao fim desse regime.

“Nítido Nulo” é carregado de simbolis-mos podemos citar alguns como: a clarida-de a luz e o silêncio. A narrativa começa com o personagem preso, por talvez ser

um agitador na sociedade ou alguém que-rendo ser ouvido por ela, se manifestando de modo “impróprio” aos olhos daquela sociedade afogada em um regime opres-sor, no entanto, o autor também nos leva a perceber a claridade, a luz, o branco, tal-vez numa tentativa de mostrar que apesar de tudo ele tinha “esperança” de dias me-lhores. Ferreira 1983, p. 11, menciona que o seguinte: “agora a praia está deserta. Os últimos banhistas subiram a grande escada-ria...Memória do que morreu, subtil, do que

vibrou – e a indiferença da terra, da luz”. Em toda obra Vergílio Ferreira evidencia a luz a claridade, em contraste à escuridão da morte, na página 48 é notório a “Mas há tanta morte na vida. A esta hora plena de sol é talvez mais fácil. Luz fixa, rígida. Como um diamante. Estala em centelhas como grãos de areia como agulhas, repassa a leva neblina lá ao fundo, florescente”.

A crítica social mais explicita em “Signo Sinal” é sobre a organização de um povo que, saindo de um regime ditatorial não vê em seus lideres novos horizontes, dada a falta de organização dessa liderança. É cla-ro que Ferreira não faz essa crítica de forma direta, ele utiliza-se da linguagem metafó-rica, em forma de alegoria, para combater tais situações, como vemos no capítulo XII, p. 82: “Apelo aqui a todos os trabalhado-res, e todos os patriotas, apelo aqui para os camponeses, ninguém vos quer roubar as terras, nem a lavoura, e a aldeia há de ser reconstruída e a cada qual há de ter a sua casa com a sua lareira e os seus quar-tos e a sua retrete”. As palavras de Silvério cangalheiro é de um personagem revoltado com os demandes de quem está no poder e, que só com a união do povo é que poderão combater as injustiças de um novo sistema de governo. A obra refere-se aqui, aos pro-blemas existentes, que o povo deve ter o es-pírito nacionalista se quiser reconstruir suas moradas e para isso apela às ideologias mar-xistas para unir o povo em um só objetivo.

O autor constrói as suas narrativas fa-zendo com que a literatura, ao mesmo tem-po proporcione prazer ao leitor e, faça com que ele se conscientize, ou reflita sobre sua realidade. Nesse aspecto atemporal da lite-ratura de Ferreira, seu leitor se deleita com uma obra de qualidade acima da média no que diz respeito à sua literalidade.

Em “Alegria Breve” é possível relatar que a aldeia deserta, a qual a miséria expul-sou todos os habitantes, e o narrador na figura do professor se recusou sair, e ficou solitário na aldeia desmoronada em face do vazio vistoso, em meio a um cenário de neve, de gelo e de morte, subsiste e lembra as imagens do seu passado. Sua esperança é de mostrar as futuras gerações o testemu-nho de agarrar-se à sua ascendência, até a morte. Talvez, ainda, seja necessário des-crever que a aldeia abandonada constitui também uma simbologia, a qual representa que Portugal não está definitivamente ex-cluído da história.

O tema existencialismo é tratado mui-

“Agora a praia está deserta (...) Em toda sua obra Vergílio Ferreira evidencia a luz, a

claridade”

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to claramente nas três obras supracitadas. O qual não admite depender de um ser supremo para tomar decisões, mas confia que o próprio ser é dono de si mesmo. “O homem é que é o deus do homem imedia-tamente se começa a adorá-lo. Como é que se há de fazer. Como é que se há de exaltar uma coisa sem adorar essa coisa” (p. 44).

Por não acreditar na existência de Deus, usa de ironia em várias partes do li-vro “Nítido Nulo”: “Porque sou pobre entre os pobres, mas vim para trazer a verdade, eu vo-la dou. Bem sei que hei de ser cus-pido e humilhado e amarrado ao madeiro. Mas a verdade está comigo e a verdade não morre. Eu sou a salvação e a vida”. A crítica social é uma temática recorrente do come-ço ao final da história. Levando em consi-deração o contexto histórico da obra, a qual foi escrita em tempos difíceis, politicamen-te, uma das primeiras críticas é direcionada à ordem política salazarista e esta “rede de arame cruzava o país, arame ferrugento. Pe-los intervalos passa a vida”.

No livro “Alegria Breve” encontra-se os temas relacionados à solidão, a miséria, a morte, o erotismo, o silêncio e a questão re-cursiva é o existencialismo, o qual está pre-sente nas afinidades de Jaime Faria com as mulheres que tem em sua vida, cada uma, mais ou menos, permitindo a revelação da potencialidade sensual da personagem. No que se refere à vida da personagem, como quase sempre, Vergílio Ferreira faz brotar como maior destaque uma em especial, e que vai colocar diretamente as suas idéias, impressões e sensações, ficando as outras em âmbito apagado, como definição psico-lógica mais precisa, embora com interesse para a explicação do íntimo do protagonis-ta. Outra característica periódica na obra é a questão memorialística, ou seja, os atos de recordar e esquecer são evidentes da atitude do narrador protagonista.

“Alegria Breve” vai ao embate dos gran-des livros interrogadores do romance con-temporâneo e nos prova mais uma vez que

a literatura Portugue-sa pode, mantendo suas raízes próprias, assumir a medida do nosso tempo, seria um livro absoluta-mente desesperado se não desse enfim a palavra à mais desas-trosa e frágil de todas as criaturas (Montaig-ne), mas também de tantas coisas maravi-lhosas, a grande ma-ravilha (Sófocles): o homem.

No que tange ao existencialismo, o autor se fundamen-ta ao existencialismo sartriano, e isso está presente nas três obras analisadas. No li-vro “Signo Sinal” reflete o posicionamento do personagem principal com o contexto da vila destruída. Ao mesmo tempo em que Luís Cunha (narrador protagonista) se mostra presente em todos os acontecimen-tos, admite também a repugnância humana, o ser humano estaria descompromissado da solidariedade e a ação social, o homem é aquilo que faz. No contexto de um ter-

Artigo

Vergílio Antônio Ferreira

“rede de arame cruzava o país, arame ferrugento. Pelos intervalos passa a vida”.

remoto que devasta sua aldeia, Luís Cunha re-fulgia-se em um lugar atemporal. “Vou à deriva pelo labirinto das ruas - estendo-me na areia de ventre para o Sol. Es-tou bem aqui. Espojado na areia, o olhar errante pelas nuvens, passam ao alto no azul” (Cap. I, p 11).

Arthur Vergílio reu-niu em si diversas face-tas, a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. Contudo, foi na escrita que mais se

destacou, sendo dos intelectuais contem-porâneos mais representativos. Toda a sua obra tem uma profunda preocupação ensa-ística. Ainda nos restou o imenso homem, que ficou dentro dos livros, pois, o autor nunca pode ser dissociado da sua obra por-que nela vive, respira e dela fica impregna-do.

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JOSÉ SARAMAGO

Seminário do Autor

Funcionário público, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e tradutor, José de Sousa Sarama-

go foi uma das vozes mais críticas ao re-gime capitalista, apoiando o comunismo cubano. Nascido 1922, no Conselho Gole-gã em Portugual, recebeu em 1998 o prêmio Nobel de Literatura de Língua Portuguesa por sua obra ensaio sobre a cegueira. Seu interesse pelos estudos, cultura, originaram obras como “Terra do Pecado”, “Clarabóia”, “Provavelmente Alegria” que eternizaram uma curiosidade perante o mundo que o acom-panhou até a morte.

A partir de quatro obras desse grande autor, acadêmicos de letras da Universi-dade do Estado do Amazonas realizaram um seminário com a exposição dos livros: “Memorial do Convento”, que apresenta duas histórias paralelas. A primeira revela epi-sódios da história Portuguesa no tempo da construção do Convento de Mafra, um grandioso monumento construído a pedi-do do rei D. João V e a segunda é a história de amor entre Blimunda e Baltasar, pessoas humildes, que se unem ao padre Bartolo-meu Lourenço em seu sonho de voar, atra-vés da construção de uma máquina, à qual chamam de passarola; “Intermitências da mor-te”, que conta a história de uma região da terra em que as pessoas param de morrer. Um livro que carrega um tom um pouco mais cômico, fazendo com que a morte seja até um personagem de sua trama e traz à tona questões da sociedade e o quanto ela poderia ser prejudicada; “A caverna”, que conta a história de uma família e tem como personagem principal Cipriano Algor que tem sessenta e quatro anos, é oleiro de pro-fissão, sua olaria é um negócio de família, passado do seu avô, para seu pai e chegan-do a ele. A trama gira em torno do avanço

da tecnologia, que em consequência fez o centro parar de encomendar suas peças de barro e passar a comprar peças de plástico, que são mais econômicas; e “O ano da mor-te de Ricardo Reis”, uma obra que se passar após a morte de Fernando Pessoa em 1935, onde Saramago percebeu que um de seus heterônimos havia sobrevivido, o heterô-nimo mais clássico do grande poeta portu-guês Fernando Pessoa, o horaciano Ricardo Reis. Saramago enfrenta o desafio de contar a morte de Ricardo que acontece no ano de 1936, quando o poeta retorna a Lisboa, depois de uma temporada no Brasil, onde se auto-exilara. Médico, educado pelos je-suítas e monarquistas, ele é um sábio capaz de se contentar em assistir ao espetáculo do mundo, como diz numa das epígrafes do livro, porém, ele se vê confrontado com os acontecimentos da Portugal de 1936. Na obra, Ricardo Reis tem conversas regulares com o fantasma de Fernando Pessoa, se en-volve com a camareira Lídia e alimenta um amor platônico por Marcenda.

Entre as características das obras de Sa-ramago se destaca a crítica social, à exemplo da opressão que os nobres e o clero exer-ciam sobre o povo miserável e analfabeto, traço apresentada de forma marcante no livro “Memorial do convento” onde a igreja tira proveito da sua posição de superioridade e da influência para a construção do grandio-so convento. Uma obra santa em que todos deveriam trabalhar, a custa de muitos sacri-fícios e mortes da população mais carente.

Na obra “As intermitências da morte” o que autor faz críticas explícitas contra o estado e também a igreja, mostrando que a socie-dade e a economia estão diretamente liga-das ao mundo capitalista, mostrando que existe muita hipocrisia nesse meio.

“Médico, educa-do pelos jesuítas e monarquistas, ele é um sábio capaz de se contentar em assistir ao espetá-culo do mundo”.

Artigo

Emanoel da Conceição CardosoEnos Pio dos SantosJean Miller Barros NaveganteLourdeme Nunes FerreiraMaria Eleonora da Silva RodriguesMissandra Barros de SouzaMônica Batista Freires BrasilPaula Cristiane de C. Ferreira

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Já em “A caverna” Saramago critica a ideia de uma sociedade dividida por classes, que discriminam seus

indivíduos, segregando quem possui menos poder aquisitivo. O livro “A caverna” reve-la que a modernidade traz suas vantagens, mas também contribui para expandir e prender o indivíduo dentro dessa jaula que o comércio remete ao sujeito.

Em “O ano da morte de Ricardo Reis”, Sa-ramago relata as condições sociais e histó-rias de Lisboa, articulando realidade e fic-ção apresentando, de um lado, a ditadura fascista de Salazar de outro, a gestação da Segunda Guerra Mundial, a Frente Popular francesa, a Guerra Civil espanhola, a ex-pansão nazista na Europa. Um confronto, enfim, com um mundo que decerto não era um espetáculo.

Outro ponto marcante nas obras de José Saramago foi sua linguagem. No livro “Memorial do Convento” todas as caracterís-ticas de uma linguagem oral, predominan-temente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional; os diálogos das personagens são inseridos nos próprios pa-rágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a

ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensa-mento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgu-las onde a maioria dos escritores usariam pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores.

Em “As intermitências da morte” essa lin-guagem se apresenta em uma estrutura cí-clica, que surge como alegoria ao próprio ciclo da vida. Saramago faz uso de uma escrita simples e ao mesmo tempo detalhis-ta onde a trama, ao invés de estacionada, começa com uma mudança de figura, e de um evento geral muda-se o foco para per-sonagens individuais. Além disso, também há um forte existencialismo presente na fi-gura do cardeal.

Na obra “A caverna” a linguagem é de uma escrita em certo sentido complexo, pois ele utiliza elementos que fazem parte da sociedade portuguesa, além de desenvol-ver ao longo da narrativa o discurso direto e indireto. Isso acontece porque as conversas que ocorrem no decorrer do enredo não tem a presença de travessões quando algum personagem está dialogando com outro. Essa maneira única de linguagem e escrita são marcantes na grafia de Saramago, que ao utilizar dessas ferramentas envolve o leitor nas narrativas, o que em certo ponto

é muito parecido com linguagem oral. A es-crita é atribuída com a presença de vírgulas e pontos finais, sendo que aonde deveria ser colocado o ponto seguido está a vírgula. Porem, após essas vírgulas o escritor utiliza as letras maiúsculas para dar continuidade à sentença de pensamentos que estão sendo desenrolados.

O ano da morte de Ricardo Reis”, ainda que preserve as características do heterôni-mo, foi escrito no estilo inconfundível do Saramaguianismo, ou seja, a escrita utiliza predominantemente o ponto final e a vír-gula que também aparece com a função de ponto. São parágrafos longos, que marca o ritmo de leitura da obra e mescla o discurso direto e indireto, como no trecho: “não lhe posso valer, E esse livro, para que é, Apesar

do tempo que tive, não cheguei a aca-

Artigo

“Outro ponto marcante nas or-bas de José Sa-ramago foi sua linguagem”.

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Artigo

bar de lê-lo, Não irá ter tempo, Terei o tem-po todo, Engana-se, a leitura é a primeira virtude que se perde, lembra-se”

No que diz respeito à simbologia, em “Memorial do Convento” o nome Blimunda é o reverso do de Baltasar, tal como é a Lua o reverso do Sol, que, juntamente com o número sete, completam-se até serem um só. Ver e não ver são as chaves simbólicas do romance. Baltasar tem a alcunha de Se-te-Sóis, porque apenas consegue ver à luz, enquanto que Blimunda é chamada de Sete-Luas, porque consegue ver no escuro, com o recurso ao seu dom - a ecovisão. Assim, esta dupla, cuja alcunha contém o Sete e a relação Sol-Lua, representa simbolicamen-te o uno. É nos transmitida uma ideia de união, de complementaridade e de perfei-ção, traduzida pela simbologia no número sete. Ambos os nomes representam tam-bém totalidade e até magia sugeridas pela extensão trissilaba (e aqui reside a simbolo-gia do número 3 revelador de uma ordem intelectual e espiritual traduzida na união do céu e da terra). A riqueza interna de Blimunda apresenta-se simbolicamente a força do seu olhar possuidor de um poder mágico. Metaforicamente surgem as duas mil “vontades”, símbolo de todos aqueles que contribuem para o progresso do mun-do. Ainda no que diz respeito à simbologia dos números, o sete não aparece só asso-ciado aos nomes de Baltasar e Blimunda, mas a data e à hora da sagração do con-vento, assim com aos sete anos vivido em Portugal pelo músico Scarlatti, as sete vezes que Blimunda passa po Lisboa à procura de Baltasar, as sete igrejas visitadas na páscoa, aos sete bispos que batizaram D. Maria Bár-bara comparado a sete- sóis de ouro e prata nos degraus do Alto Mor . O número nove surge também como símbolo que repre-senta a insistência e determinção quando Blimunda procura o homem amado duran-te nove anos. Este número encerra a ideia de procura, pois o que realmenta acontece a Blimunda após nove anos de busca é re-encontar finalmente Baltasar, não como um encontro físico, mas místico e completo.

Colocar a morte na figura da mulher, mostrando os dois lados da vida e a morte é a simbologia mais expressiva do livro “As intermitências da morte”. Já em “A Caverna” a presença da simbologia acontece princi-

palmente através da numerologia. Logo no inicio da narrativa já se percebe a simbolo-gia, quando o oleiro vai até o Centro e ao estacionar sua camioneta ocupa a vaga de número treze, o que automaticamente o fez pensar que aquele dia não era dos melho-res. Ele confirma esse fato quando o res-ponsável pela compra de seus vasilhames de barro comunica-o de que não fará mais as compras dos seus objetos, e que agora o que estava em voga eram os produtos feitos de plásticos.

Faleceu em 18 de junho de 2010, mas suas obras deixam o legado de um autor que sempre foi atento às injustiças da era moderna, vigilante das mais diversas causas sociais, não cansou de investir contra essas realidades, usando a arma que lhe coube usar, a palavra.

“Já em a caver-na a presença da simbologia acon-tece principal-mente através da numerologia”.

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LOBO ANTUNES

Seminário do Autor

Proveniente de uma família da alta burguesia, foi criado em Benfi-ca, e licenciou-se em Medicina,

optando pela especialidade de Psiquiatria. Entre 1970 e 1973 viveu em Angola, onde participou, como tenente médico do Exér-cito, na Guerra do Ultramar. Posteriormen-te exerceu a profissão no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, até 1985. Em 1979 publicou os primeiros livros, “Memória de elefante” e “Os Cus de Judas”, que obtiveram grande êxito e muito boa receptividade da critica, seguindo-se, em 1980, “Conhecimen-to do Inferno”. Estes primeiros livros são marcadamente biográficos, e estão mui-to ligados ao contexto da guerra colonial; transformaram-no imediatamente num dos autores contemporâneos mais lidos e dis-cutidos, no âmbito nacional e internacional.

Lobo Antunes tornou-se um dos es-critores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo. Pouco a pouco, a sua escrita concentrou-se numa temática concreta, adensou-se sem grande eficácia narrativa, ganhou em espessura e perdeu em novidade, compensando isto com recurso ao confronto e ao choque. De um modo impiedoso e obstinado, o autor trata a sua visão distorcida sobre o Portugal do século XX.

Entre os prêmios recebidos dois des-taques. Primeiro um dos mais importantes prêmios literários do mundo, o Prêmio Je-rusalém, recebido em 2005. Este prêmio bienal, desde 1965, já laureou autores como Simone de Beauvoir (1975) Milan Kundera (1985), Mario Vargas Llosa (1995). Outro destaque vai para o Prêmio Camões, com que o autor foi distinguido em 2007, consi-derado o mais importante prêmio literário de língua portuguesa.

“António Lobo Antunes constrói uma narrativa de decadência e de-silusão”.

Artigo

Com foco nos livros “Arquipélagos da In-sônia”, “Memória de elefante” e “Conhecimento do Inferno”, acadêmicos do curso de Letras da UEA realizaram a apresentação de um seminário expositivo.

“Arquipélagos da insônia”, vigésima obra de Antunes, é a primeira de uma trilogia sobre o mundo rural. A história se inicia com a imagem de um casarão outrora im-ponente, símbolo de poder de uma época em que nada faltava, mas que agora parece abandonado. E é por meio de uma polifo-nia de vozes - o avô poderoso e seu neto autista, feitores e empregadas submissas, personagens vivos ou já mortos -, que An-tónio Lobo Antunes constrói uma narrati-va de decadência e desilusão que atravessa três gerações de uma família que antes foi poderosa, proprietária de terras no interior

Bruno Gonzaga da CostaJonas Teixeira NevesLeomar Mendonça PereiraMarta Pereira LopesMarzo Queiroz dos SantosVicente Nunes Gonçalves

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Antônio Lobo Antunes

de Portugal. Nas páginas de “O arquipélago da insónia” não convergem apenas ecos dos personagens que povoam as páginas de romances anteriores do autor; nelas estão muitos dos motivos e das obsessões de sua escrita - o relógio, os retratos, os fantas-mas, a procura do silêncio. É uma história narrada como em sonho, em que as dife-rentes vozes se fundem ou se intercalam, e finalmente escapam da sequência temporal. Desse conjunto de impressões surge um romance único, arrebatador, de um mestre da prosa contemporânea.

Já em “Memória de Elefante”, a narrativa é servida por uma multi-plicidade de vozes, fragmentos, re-

memorações autobiográficas e fantasmagó-ricas. O livro retrata a ditadura, as guerras coloniais, a transição democrática, como matéria prima da sua reflexão romanesca. O próprio autor integra-se no ciclo de apren-dizagem, contém as sementes estilísticas que, na verdade, só viriam a florescer uma década mais tarde. O autor não esquece os momentos que trabalhou em um hospital psiquiátrico em Angola, em plena guerra, período esse que conviveu com loucos, onde vivenciou fatos desumanos e caóticos. A obra é narrada com estilo próprio, pois o narrador é de sensações e sentimentos. Há fluxos de lembranças constantes dos mo-mentos horríveis que o autor presenciou na

Artigo

África. Em meio aos pensamentos de guer-ra vem a mente a lembrança da família que ficou em Portugal, rememorações que não seguem uma sequencia lógica como um texto escrito.

No livro “O conhecimento do inferno”, o autor apresenta um monólogo interior do personagem principal, alter ego do autor, durante uma viagem solitária de carro. Em cada parada, um desvio pelos atalhos da memória, onde reflexões sobre a prática psiquiátrica se entrelaçam a lembranças de sua experiência na guerra colonial em An-gola.

Lobo Antunes tem uma escrita densa. O leitor tem algum esforço de leitura por-que, por exemplo, não é raro haver mudan-ças de narrador e assim o leitor tem tendên-cia a “perder o fio da meada”. No entanto apesar de não ser um autor que opte por uma escrita fácil (ou facilitista) Lobo An-tunes constitui um fenômeno de vendas e é muito lido internacionalmente, especial-mente na Europa Continental.

“Desse conjunto de

impressões surge um

romance único, arreba-

tador, de um mestre da

prosa contemporânea”.

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Poesia

Conotação

A língua falada e escrita,É algo primordial,Na vida de qualquer ser humano,É a essência fundamentalNesse universo multicultural...A literatura é a linguagem universal,Tens um mundo que era distanteBem mais sábio perto de vocêNa palma da mão um clássico genialÉ a genialidade literal...Globalizou, globalizou,A literatura e um universo de amor

Jean Miller

Rodrigo Bit

na cova de sicava lava lavra lustra

doces quentes frias amargassem gosto saborosas

palavras

alva sombra mui significantena ânsia vaga-rosa do paciente vaga além da existência dele como gente

a arte à palavra formadesconforma deforma reforma redestransforma

formas ardilosas em línguas ágeissimbólicas figuras súbitas ao antrocosmo do sempre

subvertem o estado de dicionárioem cru’desnudo mundo

literário

Solidão

O universo nas mãos e nada por lei.

Liberdade pra voar enquanto sonho

E sonhar enquanto escreve sozinho

Pelos caminhos da vida herói sem títulos

Que a solidão é o exilio dos poetas.

Márcia Sena

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Cruzada

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9. Caracteristica comum entre os autores

1. Literatura Portuguesa2. Livro escrito por Vergilio Ferreira publicado no ano de 19793. Precursor do existencialismo na Literatura Portuguesa4. Ditadura em Portugal5. Escrita peculiar, pensador da literatura e ensaista6. Autor Contemporâneo da Literatura Portuguesa que produz em média duas obras 7. Caracteristica das obras do autor Vergílio Ferreira8. Teoria com base nos presupostos sociais de Karl Marx