bpi portugal - capacidade de financiamento da economia

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E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015 7 No ano terminado em Junho de 2014, a capacidade de financiamento da economia situou-se em 1.3% do PIB, ou seja menos 0.6 pontos percentuais do que no trimestre anterior. A redução deste indicador reflecte a diminuição da capacidade de financiamento das empresas não financeiras e das famílias, parcialmente compensada pela melhoria do rácio da administração pública, que passou de -7.1% do PIB no primeiro trimestre para -6.4% do PIB no segundo. Por seu turno, as sociedades financeiras registaram uma capacidade de financiamento equivalente a 5.1% do PIB, menos 0.1 pontos percentuais do que no trimestre anterior. No caso das famílias, a redução da capacidade de financiamento foi acompanhada pela diminuição da taxa de poupança para níveis próximo dos mínimos de 2008; enquanto que a menor capacidade de financiamento das empresas não financeiras reflecte a inclusão de empresas públicas do sector dos transportes no perímetro de consolidação da Administração pública. Os movimentos observados na capacidade/necessidade de financiamento das sociedades financeiros e da administração pública reflectem os efeitos associados à capitalização do Novo Banco. No conjunto da economia a diminuição da capacidade de financiamento reflecte a diminuição da poupança corrente, que caiu 2% face ao trimestre anterior, por via de um aumento mais acentuado do consumo (+0.9% em cadeia) do que do rendimento disponível (+0.5%), e ao aumento de 1.9% em cadeia da formação bruta de capital. Portugal - Capacidade de Financiamento da Economia Temas em Destaque Capacidade de Fianciamento da Economia (em % do PIB) Necessidades de Fianciamento da Economia (em % do PIB) -20.0% -15.0% -10.0% -5.0% 0.0% 5.0% 10.0% 15.0% jun-00 abr-01 fev-02 dez-02 out-03 ago-04 jun-05 abr-06 fev-07 dez-07 out-08 ago-09 jun-10 abr-11 fev-12 dez-12 out-13 ago-14 jun-15 SNF SF AP Famílias Economia Fonte Fonte: INE, calc. BPI -8.0% -6.0% -4.0% -2.0% 0.0% 2.0% 4.0% 6.0% SNF SF AP Famílias Economia 2014T2 2015T1 2015T2 Fonte: INE, calc. BPI A redução da poupança, em grande parte é explicada pela diminuição da poupança das famílias, que em cadeia caiu 14% e em termos homólogos 29%. Este facto traduziu-se na diminuição da taxa de poupança das famílias para 5.0% do rendimento disponível (RD) no segundo trimestre, o que compara com 5.9% no trimestre anterior e com 7.2% no período homólogo, e explica-se pelo aumento mais acentuado do consumo do que do rendimento disponível, em linha com a melhoria do sentimento dos consumidores quanto à evolução do mercado de trabalho e da situação financeira das famílias e ao aumento do consumo, sobretudo de bens duradoiros. Note-se que a taxa de poupança das famílias se encontra próximo dos mínimos observados em 2008, suscitando alguma preocupação, na medida em que poderá reflectir-se em menor ímpeto de correcção dos ainda elevados níveis de endividamento. Famílias: rendimento, consumo e poupança (tvh, % do RD) 0.0% 5.0% 10.0% 15.0% -10.0% -5.0% 0.0% 5.0% 10.0% jun-01 jun-02 jun-03 jun-04 jun-05 jun-06 jun-07 jun-08 jun-09 jun-10 jun-11 jun-12 jun-13 jun-14 jun-15 Taxa de poupança, % RD (ELD) RD, tvh Consumo, tvh Fonte: INE, calc. BPI Em menor parte a diminuição da capacidade das famílias explica-se também pelo aumento do investimento, que em cadeia aumentou 1.2% e em termos homólogos 3.4%, provavelmente reflectindo o aumento das novas operações de crédito à habitação, também com potencial impacto desfavorável na redução do endividamento. Note-que, embora permanecendo próximo dos mínimos históricos, o ritmo de expansão das novas operações de crédito para aquisição de casa tem vindo a acelerar desde o terceiro trimestre de 2014. A redução da capacidade de financiamento das empresas não financeiras para 0.5% do PIB reflecte a inclusão, já em 2014, no perímetro da administração pública de empresas públicas ligadas ao sector dos transportes, o que se traduziu da diminuição das transferências de capital recebidas por este sector institucional. A menor capacidade de financiamento explica-

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Análise financeira

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Page 1: BPI Portugal - Capacidade de Financiamento Da Economia

E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

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No ano terminado em Junho de 2014, a capacidade de financiamento da economia situou-se em 1.3% do PIB, ou seja menos 0.6 pontos percentuais do que no trimestre anterior. A redução deste indicador reflecte a diminuição da capacidade de financiamento das empresas não financeiras e das famílias, parcialmente compensada pela melhoria do rácio da administração pública, que passou de -7.1% do PIB no primeiro trimestre para -6.4% do PIB no segundo. Por seu turno, as sociedades financeiras registaram uma capacidade de financiamento equivalente a 5.1% do PIB, menos 0.1 pontos percentuais do que no trimestre anterior. No caso das famílias, a redução da capacidade de financiamento foi acompanhada pela diminuição da taxa de poupança para níveis próximo dos mínimos de 2008; enquanto que a menor capacidade de financiamento das empresas não financeiras reflecte a inclusão de empresas públicas do sector dos transportes no perímetro de consolidação da Administração pública. Os movimentos observados na capacidade/necessidade de financiamento das sociedades financeiros e da administração pública reflectem os efeitos associados à capitalização do Novo Banco.

No conjunto da economia a diminuição da capacidade de financiamento reflecte a diminuição da poupança corrente, que caiu 2% face ao trimestre anterior, por via de um aumento mais acentuado do consumo (+0.9% em cadeia) do que do rendimento disponível (+0.5%), e ao aumento de 1.9% em cadeia da formação bruta de capital.

Portugal - Capacidade de Financiamento da EconomiaTemas em Destaque

Capacidade de Fianciamento da Economia

(em % do PIB)

Necessidades de Fianciamento da Economia

(em % do PIB)

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SNF SF AP Famílias Economia

FonteFonte: INE, calc. BPI

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2.0%

4.0%

6.0%

SNF SF AP Famílias Economia

2014T2 2015T1 2015T2Fonte: INE, calc. BPI

A redução da poupança, em grande parte é explicada pela diminuição da poupança das famílias, que em cadeia caiu 14% e em termos homólogos 29%. Este facto traduziu-se na diminuição da taxa de poupança das famílias para 5.0% do rendimento disponível (RD) no segundo trimestre, o que compara com 5.9% no trimestre anterior e com 7.2% no período homólogo, e explica-se pelo aumento mais acentuado do consumo do que do rendimento disponível, em linha com a melhoria do sentimento dos consumidores quanto à evolução do mercado de trabalho e da situação financeira das famílias e ao aumento do consumo, sobretudo de bens duradoiros. Note-se que a taxa de poupança das famílias se encontra próximo dos mínimos observados em 2008, suscitando alguma preocupação, na medida em que poderá reflectir-se em menor ímpeto de correcção dos ainda elevados níveis de endividamento.

Famílias: rendimento, consumo e poupança

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Taxa de poupança, % RD (ELD)RD, tvhConsumo, tvh Fonte: INE, calc. BPI

Em menor parte a diminuição da capacidade das famílias explica-se também pelo aumento do investimento, que em cadeia aumentou 1.2% e em termos homólogos 3.4%, provavelmente reflectindo o aumento das novas operações de crédito à habitação, também com potencial impacto desfavorável na redução do endividamento. Note-que, embora permanecendo próximo dos mínimos históricos, o ritmo de expansão das novas operações de crédito para aquisição de casa tem vindo a acelerar desde o terceiro trimestre de 2014.

A redução da capacidade de financiamento das empresas não financeiras para 0.5% do PIB reflecte a inclusão, já em 2014, no perímetro da administração pública de empresas públicas ligadas ao sector dos transportes, o que se traduziu da diminuição das transferências de capital recebidas por este sector institucional. A menor capacidade de financiamento explica-

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E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

se também, pelo comportamento mais positivo da formação bruta de capital, que no trimestre aumentou 1%, mantendo-se praticamente inalterada face ao período homólogo. Este comportamento da FBC reflectiu-se na estabilização da taxa de investimento das ENF em torno dos 20% do PIB.

No sector das sociedades financeiras, a capacidade de financiamento manteve-se praticamente inalterada face ao primeiro trimestre, mas melhorou cerca de 3 pontos percentuais face ao nível registado no período homólogo, traduzindo o efeito associado à capitalização do Novo Banco no terceiro trimestre. Com efeito, os 4.9 mil milhões de euros (2.8% do PIB) relativos a esta operação de capitalização, justifica praticamente na totalidade a melhoria da capacidade de financiamento das SF de 2.1% do PIB no segundo trimestre de 2014 para 5.1% do PIB no mesmo período de 2015. Como contrapartida, assistiu-se ao aumento das necessidades de financiamento das administrações públicas que aumentaram para 6.4% do PIB no ano terminado no segundo trimestre, mais 1.8 pontos percentuais do que no período homólogo. Excluindo o efeito da capitalização do Novo Banco das Contas públicas, assistir-se-ia à queda das necessidades de financiamento da AP em 1 ponto percentual, beneficiando do aumento da receita fiscal. No seu conjunto a receita de impostos sobre a produção e importação e sobre o rendimento e património aumentou 1.6% em termos homólogos.

Portugal - Capacidade de Financiamento da EconomiaTemas em Destaque

Empresas não financeiras: evolução do investimento

(tvh, % do PIB)

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Taxa de investimento (ELD)FBC, tvh Fonte: INE, calc. BPI

Teresa Gil Pinheiro

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Na segunda metade de 2014, os preços do petróleo nos mercados internacionais registaram uma queda substancial, que se prolongou até 2015. No período que medeia entre Setembro de 2014 e Setembro deste ano, o petróleo registou uma queda de quase 50%. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a queda pode ser explicada, em parte (20-35% da queda), por uma inesperada menor procura, mas essencialmente por factores do lado da oferta.

No início de 2010, o intervalo de valores desejado pela OPEP para os preços do petróleo era de USD 100-110 por barril. No entanto, a organização começou a perder quota de mercado, em linha com o aumento da produção de petróleo através de fontes não convencionais nos EUA e Canadá, a par da produção de biocombustíveis. No 3T de 2014, a organização concedeu melhores condições aos importadores asiáticos e revelou que a sua intenção era manter o nível de produção em 30 milhões de barris diários (mbd), com o objectivo de reduzir os preços do petróleo e tornar menos rentáveis outras formas de produção. Adicionalmente, também as tensões geopolíticas na segunda metade de 2014, incluindo os conflitos no Médio Oriente e Europa de Leste, tiveram um impacto menor do que o esperado na oferta de petróleo, como exemplifica o caso da Líbia, que conseguiu adicionar 0.5 mbd, no 3T de 2014. Ao mesmo tempo, a apreciação do dólar também pesou na redução da procura. Mais recentemente, o receio quanto ao abrandamento da economia chinesa está a exercer pressão sobre as matérias-primas, incluindo o petróleo e metais. A título de exemplo, 60% da variação dos preços dos metais pode ser justificada pelas flutuações da produção industrial chinesa, de acordo com o FMI.

De um modo geral, os baixos preços do petróleo potenciados por choques da oferta são benéficos para a economia mundial, manifestamente de forma diferente para países importadores e para países produtores/exportadores. As consequências dependerão da dimensão e da duração desses choques, que determinam o ritmo de ajustamento e a reacção inicial dos consumidores e empresas. Para os países importadores, as consequências são positivas: crescimento do PIB, melhoria do consumo, da posição externa, redução dos custos de produção e consequente melhoria dos resultados financeiros e do investimento das empresas. No caso dos países exportadores, os impactos da queda dos preços do petróleo, ou de outras commodities das quais sejam dependentes economicamente, variam consoante o peso das exportações do petróleo no total exportado pelo país, da dependência do sector petrolífero para a obtenção de receitas fiscais e da capacidade de intervir ao nível monetário e fiscal. Os impactos negativos para os países exportadores são imediatos, nomeadamente ao nível do crescimento económico. De acordo com o FMI, no grupo de países exportadores, os preços relativamente baixos das commodities deverão subtrair 1 ponto percentual à taxa de crescimento económico média entre 2015-17, comparativamente a 2012-14. A agravar a situação está o efeito de contágio aos países vizinhos.

Em muitos destes países, as finanças públicas estão dependentes dos impostos provenientes do sector petrolífero. Por exemplo, nos países do Médio Oriente e

Ciclo de baixa das Commodities: Choque permanente ou temporárioTemas em Destaque

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Bloomberg Commodity Index Brent (ELD)Fonte: Bloomberg

Evolução dos preços das matérias-primas

(pontos; USD por barril)

Produção de petróleo: OPEP e restantes

(milhões de barris por dia)

Peso das receitas orçamentais petrolíferas no total das receitas fiscais (2014)

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OPEP Fora OPEP (ELD)Fonte: Bloomberg

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Fonte: FMI; cal.BPI

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Norte de África, as receitas fiscais petrolíferas representam mais de metade das receitas totais arrecadadas, obrigando, nestes casos, a uma redução da despesa pública, em linha com as menores receitas recolhidas. Os impactos podem ser, no entanto, atenuados, caso os governos tenham almofadas financeiras disponíveis para mitigar essa queda. O Canadá e a Arábia Saudita são exemplos disso: no primeiro caso, o país detém um fundo soberano que actualmente representa cerca de 200% do seu PIB; no segundo caso, o país detém um elevado montante de reservas internacionais, que, em 2014, representavam 36.3 meses de importações, de acordo com o FMI. No entanto, países com menores almofadas financeiras, como o Iémen (em 2014, tinha reservas que permitiam cobrir 3.2 meses de importações, de acordo com o FMI), são obrigados a proceder a fortes ajustamentos fiscais e externos, incluindo a desvalorização da moeda local. Os constrangimentos fiscais podem ser ampliados ao sector empresarial, nomeadamente às empresas petrolíferas, muitas delas detidas pelo Estado. Apesar dos efeitos negativos sobre os países produtores, esta queda poderá reduzir o encargo fiscal decorrente da concessão de subsídios aos combustíveis vigentes em alguns deles, e criar espaço para fiscal para a aplicação dos recursos noutras áreas de relevância social.

A resposta fiscal deverá depender, no entanto, se o choque nos preços do petróleo for permanente ou temporário. No primeiro caso, o país necessitará de ajustamentos fiscais, cuja magnitude e ritmo dependerão da dimensão das almofadas financeiras disponíveis. Adicionalmente, no caso de países exportadores com vulnerabilidades externas e/ou rigidez da política fiscal, a depreciação da moeda local ou a maior flexibilidade da taxa de câmbio poderá facilitar o ajustamento. Se, por outro lado, o choque for temporário, o governo deve actuar no sentido de impulsionar a despesa enquanto estabilizador cíclico, o que implica um aumento do endividamento.

O preço do petróleo é denominado em dólares, sendo, neste sentido, uma importante fonte de reservas internacionais para os países exportadores. Assim sendo, quando os preços do petróleo descem, a quantidade de dólares no país reduz-se, tornando a moeda norte-americana mais cara comparativamente à moeda local. Esta depreciação face ao dólar acaba por afectar as empresas e os governos dos países exportadores que tenham dívida denominada em dólares, agravando os problemas financeiros. Ao mesmo tempo, esta depreciação pode potenciar um aumento da taxa de inflação no país, por via do encarecimento dos bens importados.

Os baixos preços do petróleo também colocam pressão descendente nos preços das outras commodities, como o gás natural e os bens alimentares. De acordo com um estudo do Banco Mundial, uma queda de 45% dos preços do petróleo deverá reduzir os preços dos bens agrícolas em 10%. Mais recentemente, o adiamento da normalização da política monetária por parte da Reserva Federal intensificou os receios sobre as perspectivas de crescimento económico mundial, com consequente declínio do preço das commodity. No entanto, há também factores intrínsecos a cada commoditie, como o caso do petróleo, em que o excesso de oferta face à procura continuará a pesar nos preços (o Citi Bank revela que a oferta

Evolução do consumo de petróleo

(barris por pessoa, por ano)

Evolução das reservas internacionais

(milhões de USD; milhões de USD)

Evolução do índice de preços dos metais, energia e matérias-primas agrícolas (FMI)

(ano base=2005)

Ciclo de baixa das Commodities: Choque permanente ou temporárioTemas em DestaqueTemas em Destaque

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Global per capita China - per capitaFonte: Bloomberg

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Arábia Saudita Angola (ELD) Fonte: Bloomberg

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ago-10 nov-11 fev-13 mai-14 ago-15Metais 1)Energia 2)Matérias-primas agrícolas 3) Fonte: FMI

Nota: 1) Inclui os preços de: cobre, alumínio, ferro, níquel, zinco, urânio, estanho e chumbo; 2) Inclui: petróleo, gás natural e carvão; 3) Inclui: madeira, algodão, lã, borracha e peles.

Page 5: BPI Portugal - Capacidade de Financiamento Da Economia

E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

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Preços do ferro e gás natural

(USD por tonelada; USD por Mbtu)

Importações de commodities - China

(mil milhões USD)

de petróleo excede a procura em 1-1.5 mbd, situação que se deverá agravar quando a eliminação das sanções ao Irão permitirem aumentar a produção em 1 mbd). No entanto, os preços das commodities tendem a ser voláteis, e, por isso, difíceis de prever. Apesar disso, parece haver consenso de que os preços deverão manter-se relativamente baixos, dada a elevada oferta e as perspectivas globais de baixo crescimento. De acordo com o FMI, os preços das matérias-primas deverão manter-se baixos ou tenderão a recuperar apenas moderadamente nos próximos cinco anos.

A desaceleração da economia chinesa, explicada pela alteração de um modelo de crescimento assente no investimento para um modelo baseado no consumo e serviços, está a ter impacto na procura por commodities e, consequentemente, na evolução dos preços. Entre 2002-2012, os preços das matérias-primas registaram uma forte subida, potenciada pela forte procura por matérias-primas, nomeadamente da China. Durante este período, o crescimento económico médio na China foi de 10.6% e o país tornou-se no principal importador de commodities do mundo (em 2000, o país consumia cerca de 12% dos metais no mundo, passando para quase 50% actualmente). Dado o elevado peso da China no consumo mundial de matérias-primas, a passagem para o “novo normal” constitui um dos principais factores de pressão descendente dos preços nos mercados internacionais. No Commodities Market Outlook de 2014, o Banco Mundial explicava que, por exemplo, os preços dos metais estão fortemente dependentes das perspectivas de crescimento da China, principalmente da indústria transformadora. Esta expectativa de queda dos preços deverá manter-se nos próximos tempos, e poderá afectar o crescimento económico nos países exportadores, mas em menor dimensão do que se poderia antecipar inicialmente. De acordo com o BBVA, e dando como exemplo a América do Sul, estes países estão fortemente dependentes do comércio com a China para a exportação das suas principais commodities, mas a taxa de crescimento do PIB é menos dependente deste país. As exportações do Brasil e da Argentina para a China, por exemplo, representam menos do que 2% do respectivo PIB. Ainda assim, espera-se que algumas matérias-primas deverão ser afectadas, nomeadamente metais como o ferro, minérios e carvão, assim como o cobre, que deverá ser fortemente atingido, à medida que o investimento em construção na China vai reduzindo. No entanto, a procura por commodities não deverá diminuir significativamente; em causa poderá estar uma alteração gradual para a procura de outros metais e de alimentos de melhor qualidade, à medida que os rendimentos aumentam e o poder de compra acompanha essa tendência.

Ciclo de baixa das Commodities: Choque permanente ou temporárioTemas em Destaque

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Ferro (ELD) 1) Gás Natural 2)

Nota: 1) China import Iron Ore Fines 62% FE spot (CFR Tianjin port); 2) Preço do gás natural Russo na fronteira com a Alemanha

Fonte: FMI

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Minérios Outras CobreFerro Alumínio Fonte: ITC

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E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

Ciclo de baixa das Commodities: Choque permanente ou temporárioTemas em Destaque

Principais exportadores e importadores

2001-2005 2006-2010 2011-2014

Crude

Principais Exportadores Peso Principais Exportadores Peso Principais Exportadores Peso

Arábia Saudita 17.4 Arábia Saudita 17.0 Arábia Saudita 18.4

Rússia 9.3 Rússia 10.8 Rússia 10.8

Nigéria/EAU 5.5 Nigéria 5.2 EAU 6.4

Principais Importadores Peso Principais Importadores Peso Principais Importadores Peso

EUA 23.9 EUA 22.6 EUA 18.0

Japão 10.3 Japão 9.3 China 13.4

Re. Coreia 5.5 China 8.6 Japão 8.8

Carvão

Principais Exportadores Peso Principais Exportadores Peso Principais Exportadores Peso

Austrália 32.9 Austrália 36.9 Austrália 34.4

Indonésia 8.7 Indonésia 14.1 Indonésia 19.2

África do Sul 8.1 Rússia 9.0 EUA 10.4

Principais Importadores Peso Principais Importadores Peso Principais Importadores Peso

Japão 23.4 Japão 22.3 Japão 19.0

Rep. Coreia 9.3 Rep. Coreia 9.8 China 17.0

Taipei, China 6.7 Índia 7.2 Índia 11.5

Ferro

Principais Exportadores Peso Principais Exportadores Peso Principais Exportadores Peso

Japão 9.5 Japão 8.6 China 10.1

Alemanha 8.9 Alemanha 8.1 Japão 8.8

Bélgica 6.0 China 7.9 Alemanha 7.3

Principais Importadores Peso Principais Importadores Peso Principais Importadores Peso

China 9.9 Alemanha 7.6 Alemanha 7.5

EUA 8.4 China 6.3 EUA 6.8

Alemanha 7.0 EUA 6.3 Rep. Coreia 5.5

Fonte: ITC; calc. BPI.

Vânia Patrícia Duarte

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E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

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Recentes movimentos nas taxas de câmbio, ao longo dos últimos meses, fizeram ressurgir a ideia de um cenário de “guerra cambial”. Com efeito, alguns países, nomeadamente economias emergentes como a China, viram-se confrontados com situações de menor equilíbrio económico-financeiro que levaram a intervenções dos respectivos bancos centrais ao nível da política cambial. De facto, procederam a desvalorizações praticamente administrativas das suas moedas de modo a ajudar a actividade económica doméstica a ganhar competitividade externa (em regra, uma forte depreciação cambial estimula de forma significativa as exportações). Esse facto fez reacender a discussão acerca da eficácia do uso desse instrumento em termos de condutor de fluxos e de comércio internacional.

A experiência histórica ocorrida tanto nas economias desenvolvidas como em vias de desenvolvimento conduz à relação e mesmo quantificação dos efeitos produzidos na evolução das exportações e das importações de depreciações efectivas das moedas. Basicamente, e segundo um relatório recente do FMI, uma desvalorização efectiva em 10% de uma moeda está associada a um aumento real das exportações, em média, de 1.5% do PIB. O efeito poderá não ser imediato, levando alguns anos a se concretizar na sua totalidade (embora grande parte do ajustamento ocorra no primeiro ano).

Baseado em modelos económicos convencionais Krugman (2015), por exemplo, admite fortes efeitos. Outros economistas apontam efeitos limitados (no caso do Japão existe uma aparente falta de ligação entre câmbios e comércio, pois as exportações crescem pouco face a fortes movimentos de depreciação da moeda; mas a situação do Japão também é explicada por um modelo económico esgotado de acordo com a actual população e território). Por outro lado, com a globalização e a existência de inúmeras empresas supra nacionais que participam em cadeias globais de valor (que manuseiam e importam e exportam tanto produtos intermédios como produtos finais), torna-se reduzida a relevância dos movimentos cambiais para os fluxos de comércio, segundo estudos do Banco Mundial. Nas últimas décadas esta relação entre câmbios e comércio tem sido questionada: nos anos 80 com o Acordo de Plaza (1985), a apreciação do dólar e a depreciação do iene levou a fracos ajustamentos quanto ao volume de comércio; mas na década de 90, as balanças comerciais tanto dos EUA como do Japão acabaram por ajustar, de acordo com os modelos mais convencionais.

A pouca relação entre câmbios e comércio, a verificar-se, limita a capacidade de actuação em termos de políticas económicas. Por exemplo, proceder a uma desvalorização para estimular as exportações e ao mesmo tempo a descida dos juros pode fomentar o consumo interno e as importações, criando-se desequilíbrios na balança comercial. Paralelamente, também existem efeitos nas restantes variáveis macroeconómicas, como por exemplo, o surgimento de pressões nos preços. Acresce referir que a eficácia das políticas de desvalorização também está dependente da existência de tecido produtivo doméstico (empresas) com capacidade de resposta ao movimento de aumento da procura externa. Por outro lado, as apreciações cambiais que levam à acção contrária das autoridades surgem por duas vias: uma forte procura interna num contexto económico bastante favorável; uma aposta externa por parte dos investidores que vêem na compra de determinada moeda um meio de obter lucro.

Os movimentos dos câmbios e os vários tipos de fluxosTemas em Destaque

Segundo as contas efectuadas pelo FMI, de meados de 2014 (quando se iniciaram os movimentos mais fortes nos principais câmbios) até ao momento, o dólar verificou uma apreciação efectiva de 10%, enquanto o euro e o iene registaram depreciações de cerca de 10% (25% em termos nominais). E o que tem acontecido é que tanto moedas das economias desenvolvidas como das economias emergentes têm verificado ao longo do ano movimentos incomuns de dimensão considerável, tanto conduzidos pelo mercado como pelos bancos centrais (fazendo intervenções e contrariando as forças do mercado ou ajudando a movimentos de depreciação). Ao longo dos últimos meses tivemos alguns exemplos: o Banco Popular da China procedeu em meados de Agosto a uma acção de depreciação expressiva do yuan contra o dólar (em termos concretos, o USD/CNY passou de 6.21 para 6.43, mais 3.5%, embora esteja presentemente

Rublo (RUB) e yuan (CNY) mostram-se mais estáveis depois de perderem valor para o USD

(x yuans por USD; x rublos por USD)

32

40

48

56

64

72

6.00

6.10

6.20

6.30

6.40

6.50

out-14 dez-14 fev-15 abr-15 jun-15 ago-15 out-15

USD/CNY USD/RUB Fonte: Reuters, BPI

estabilizado em 6.35 yuans por dólar); na Rússia, o banco central tem manipulado a sua moeda não permitindo a sua apreciação. Em meados do ano o USD/RUB estava a ser transaccionado à volta de 49 rublos por dólar, encontrando-se actualmente nos 65, uma desvalorização da moeda russa em mais de 30%; no caso do real do Brasil, perante a desilusão com a situação económico-financeira do país, a fuga de capitais encarregou-se de colocar a moeda nos níveis máximos de sempre (o real foi criado em 1993) contra o dólar, nos 4.20, correspondendo a uma depreciação de 90% em 2015; também as moedas satélite do dólar, CAD, AUD e NZD, para além da nórdica NOK, experimentaram fortes movimentos de depreciação contra o dólar, em resultado do refúgio no dólar mas também da pouca atracção que as moedas de países produtores de commodities apresentam presentemente.

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E.E.F. Mercados Financeiros Outubro 2015

No caso da China, os investidores têm mostrado igualmente grande preocupação para com as vulnerabilidades do país, quando o crescimento encolhe para valores que fogem ao padrão dos últimos anos. Neste âmbito, surgiu grande turbulência ao nível dos activos chineses (fortes quedas das bolsas) e as autoridades decidiram proceder a uma depreciação do yuan, que ainda se encontra num sistema semi-flexível. Factor penalizador da situação financeira tanto da China, como da Rússia, e de outros países produtores de matérias-primas foi o facto de os preços, com destaque para o petróleo, terem verificado uma queda acentuada, reduzindo as receitas obtidas com o seu comércio. O preço do Brent, por exemplo, depois de ter recuperado até aos $68 em Maio, voltou a cair para o patamar dos $48, uma variação de -29%.

Em termos de fluxos financeiros para as economias emergentes é igualmente visível uma diminuição

O saldo comercial da China melhorou apartir de 2014 com o fim da apreciação constante do CNY

(mil milhões USD)

-30

-10

10

30

50

70

jan-13 jul-13 jan-14 jul-14 jan-15 jul-15

Fonte: Reuters, BPI

expressiva ao longo dos últimos meses. Se os níveis de capitais externos encontram-se já abaixo dos verificados em 2008, aumentou igualmente a fuga de capitais de residentes. Em resultado, e de acordo com o Institute of International Finance (IIF), é provável que em 2015 o valor líquido dos fluxos para os emergentes seja negativo pela primeira vez desde 1988. Para 2016, está prevista uma ligeira recuperação, embora o ambiente económico mundial seja incerto. É sabido que a divergência de políticas monetárias entre os vários blocos económicos é factor de turbulência nos diversos mercados, nomeadamente a nível dos câmbios, havendo expectativa em relação ao início do processo de normalização das taxas de juro nos EUA. Acresce que nalguns países pode-se sentir com mais expressão a desconfiança e o desagrado dos mercados, já que mostram um forte desequilíbrio externo, com altos défices correntes.

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Agostinho Leal Alves

Economias Emergentes: fluxos de capitais

mil milhões USD2013 2014 2015 E 2016 P

-Entrada de capitais não residentes 1305 1074 548 776Fluxos privados 1273 1032 483 727Investimento acções 663 683 561 599Credores 610 349 -77 129

Fluxos oficiais 33 42 65 48-Saída de capitais de residentes -1527 -1164 -748 -1013

Fluxos privados -986 -1043 -1089 -1082Reservas -541 -121 341 68

-Fluxo líquido de capitais (incl. reservas) -222 -89 -199 -238-Fluxo líquido de capitais (excl. reservas) = Bal. Financeira Corrente 319 32 -540 -306Fonte: IIF.

Entrada de capitais de não residentes

mil milhões USD2013 2014 2015 E 2016 P 15 % 15/14 16/15

-Fluxos Privados 1273 1032 483 728 100.0 -53.2% 50.7%América Latina 304 291 239 257 49.5 -17.9% 7.5%Emergentes Europa 218 31 -20 43 -4.1 -164.5% -315.0%África/Médio Oriente 83 97 79 84 16.4 -18.6% 6.3%

Emergentes Ásia 668 613 185 344 38.3 -69.8% 85.9%-Fluxos Oficiais 33 43 65 49 100.0 51.2% -24.6%

América Latina 19 25 34 25 52.3 36.0% -26.5%Emergentes Europa -4 7 17 8 26.2 142.9% -52.9%

África/Médio Oriente 10 5 8 9 12.3 60.0% 12.5%Emergentes Ásia 8 6 6 7 9.2 0.0% 16.7%Total 1306 1075 548 777 -49.0% 41.8%Fonte: IIF