boletim anp – petróleo e pd – edição nº29 (janeiro 2016)

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UFPR, em parceria com Frade Japão, oferece curso de extensão de Geoquímica de Sedimentos Carbonáticos De 29 de fevereiro a 4 de março, será realizado o curso de extensão Geoquímica de Sedimentos Carbonáticos, oferecido pelo Laboratório de Análise de Minerais e Rochas (Lamir) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com a concessionária Frade Japão e a Universidade de Hiroshima (Japão). O conteúdo ministrado no curso deriva de resultados obtidos no projeto Geobiocal, projeto de P&D em uma área ainda pouco conhecida e divulgada no Brasil, a geomicrobiologia. O objetivo do projeto Geobiocal é compreender o ambiente deposicional e os sinais biogeoquímicos dos microbialitos recentes, rochas carbonáticas associadas a atividades microbiais, bem como suas propriedades petrofísicas como rocha reservatório em diferentes escalas. Tendo em vista a quantidade de informações obtidas durante as etapas de campo e profícua troca de conhecimento entre a UFPR e a Universidade de Hiroshima, o curso oferecido pelo programa de pós-graduação em Geologia da UFPR foi organizado com o objetivo de compartilhar o conhecimento adquirido durante a execução do projeto e incentivar esse tipo de estudo em universidades brasileiras, além de introduzir e debater novos conceitos nesta área ainda em estágio embrionário no Brasil. O curso será ministrado para convidados, dentre eles alunos de pós-graduação de universidades brasileiras. Seus instrutores são: Profa. Dra. Judith Mckenzie (Sedimentologia e Geoquímica), do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça/ETZ Zurique; Profa. Dra. Anelize Bahniuk (Sedimentologia e Geoquímica), da UFPR/Lamir; Dr. Crisogono Vasconcelos (Geomicrobiologia e Geoquímica), do Instituto Federal de Tecnologia da Suiça/ETZ Zurique; Prof. Dr. Fumito Shiraishi (Paleontologia e Geoquímica), da Universidade de Hiroshima Ainda no âmbito do projeto Geobiocal, será gerado o Atlas Mineral (Catálogo de Microbialitos), um banco de dados contendo imagens de depósitos travertinos e tufas resultantes dos trabalhos de campo conduzidos no Brasil e no Japão ao longo do projeto. Para mais informações sobre o curso e o projeto, acesse www.lamir.ufpr.br. Entrevista: Ricardo Franciss, vencedor da categoria III, do Prêmio ANP p.3 BG Group e ITA desenvolvem projeto de motor de fundo descartável p.5

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Page 1: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

UFPR, em parceria com Frade Japão, oferece curso de extensão de Geoquímica de Sedimentos Carbonáticos

De 29 de fevereiro a 4 de março, será realizado o

curso de extensão “Geoquímica de Sedimentos

Carbonáticos”, oferecido pelo Laboratório de

Análise de Minerais e Rochas (Lamir) da

Universidade Federal do Paraná (UFPR) em

parceria com a concessionária Frade Japão e a

Universidade de Hiroshima (Japão).

O conteúdo ministrado no curso deriva de

resultados obtidos no projeto Geobiocal, projeto

de P&D em uma área ainda pouco conhecida e

divulgada no Brasil, a geomicrobiologia. O

objetivo do projeto Geobiocal é compreender o

ambiente deposicional e os sinais

biogeoquímicos dos microbialitos recentes,

rochas carbonáticas associadas a atividades

microbiais, bem como suas propriedades

petrofísicas como rocha reservatório em

diferentes escalas. Tendo em vista a quantidade

de informações obtidas durante as etapas de

campo e profícua troca de conhecimento entre a

UFPR e a Universidade de Hiroshima, o curso

oferecido pelo programa de pós-graduação em

Geologia da UFPR foi organizado com o

objetivo de compartilhar o conhecimento

adquirido durante a execução do projeto e

incentivar esse tipo de estudo em universidades

brasileiras, além de introduzir e debater novos

conceitos nesta área ainda em estágio

embrionário no Brasil.

O curso será ministrado para convidados, dentre eles

alunos de pós-graduação de universidades brasileiras.

Seus instrutores são: Profa. Dra. Judith Mckenzie

(Sedimentologia e Geoquímica), do Instituto Federal de

Tecnologia da Suíça/ETZ Zurique; Profa. Dra. Anelize

Bahniuk (Sedimentologia e Geoquímica), da

UFPR/Lamir; Dr. Crisogono Vasconcelos

(Geomicrobiologia e Geoquímica), do Instituto Federal

de Tecnologia da Suiça/ETZ Zurique; Prof. Dr. Fumito

Shiraishi (Paleontologia e Geoquímica), da

Universidade de Hiroshima

Ainda no âmbito do projeto Geobiocal, será gerado o

Atlas Mineral (Catálogo de Microbialitos), um banco

de dados contendo imagens de depósitos travertinos e

tufas resultantes dos trabalhos de campo conduzidos no

Brasil e no Japão ao longo do projeto. Para mais

informações sobre o curso e o projeto, acesse

www.lamir.ufpr.br.

Entrevista: Ricardo Franciss,

vencedor da categoria III, do Prêmio ANP

p.3

BG Group e ITA desenvolvem projeto de

motor de fundo descartável p.5

Page 2: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

2

EXPEDIENTE

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

Diretora-geral Magda Maria de Regina Chambriard

Diretores José Gutman Waldyr Martins Barroso

Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Tathiany Rodrigues Moreira de Camargo - Superintendente Luciana Maria Souza de Mesquita – Superintendente-Adjunta José Carlos Tigre – Assessor Técnico de Mercado e Política Industrial

Roberta Salomão Moraes da Silva – Assistente de Comunicação Denise Coutinho da Silva – Assistente de Georreferenciamento

Secretárias Maria de Fátima Marinzeck Barreiros Rosane Cordeiro Lacerda Ramos

Coordenação de Projetos de P&D Anderson Lopes Rodrigues de Lima – Coordenador Geral Antônio José Valleriote Nascimento Claudio Jorge Martins de Souza Joana Duarte Ouro Alves Leonardo Pereira de Queiroz Maria Regina Horn

Coordenação de Fiscalização de P&D Marcos de Faria Asevedo – Coordenador Geral Aelson Lomonaco Pereira Alex de Jesus Augusto Abrantes Luiz Antonio Sá Campos Moacir Amaro dos Santos Filho

Coordenação de Formação e Capacitação Profissional Eduardo Torres – Coordenador Geral Bruno Lopes Dinucci Diego Gabriel da Costa Mirian Reis de Vasconcelos Rafael Cruz Coutinho Ferreira

Coordenação de Estudos Estratégicos Alice Kinue Jomori de Pinho – Coordenadora Geral Jacqueline Barboza Mariano José Lopes de Souza Krongnon Wailamer de Souza Regueira Márcio Bezerra de Assumpção Ney Mauricio Carneiro da Cunha Patricia Huguenin Baran Victor Manuel Campos Gonçalo

Elaboração Denise Coutinho da Silva Roberta Salomão Moraes da Silva Victor Manuel Campos Gonçalo

Page 3: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

3

“A ideia (da Petrobras) era desenvolver tecnologia sem grandes aportes de recursos”.

A atividade de pesquisa e

desenvolvimento (P&D) cada vez

mais impulsiona o avanço

tecnológico das empresas. Na

indústria de petróleo e gás não é

diferente. A Petrobras, por exemplo,

alcançou competitividade

internacional investindo também no

setor de P&D. Um projeto que é

retrato desse investimento é o

Sistema de Boia de Sustentação de

Riser (BSR), vencedor da categoria

III do Prêmio ANP de Inovação

Tecnológica 2015. Ele consiste em

uma boia submersa, ancorada no

fundo do mar por um conjunto de

tendões, com o objetivo de impedir

que os movimentos do navio-

plataforma sejam transmitidos

integralmente aos risers rígidos. A

boia reduz o esforço sobre os risers,

aumentando sua vida útil mesmo em

condições oceanográficas severas.

Nessa entrevista, Ricardo Franciss,

coordenador do projeto

desenvolvido no Centro de

Pesquisas & Desenvolvimento

Leopoldo Américo Miguez de Mello

da Petrobras (Cenpes), explica suas

vantagens e impactos na área de

Exploração e Produção (E&P).

O projeto BSR envolveu muitas

empresas em sua concepção e

desenvolvimento. Como foi a

participação de cada empresa?

Ricardo Franciss: O projeto

conceitual foi concebido dentro das

instalações do Cenpes. Quando

necessitamos verificar seu

comportamento, realizamos testes

com modelos reduzidos no Instituto

de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Lá, obtivemos a confirmação das

nossas análises numéricas iniciais.

Depois, partimos para uma boia

maior, já no formato de anel

retangular, para o cenário do campo

de Roncador, com 1.800 metros de

lâmina d'água. Então realizamos,

em meados de 2002, testes com

modelos reduzidos no Marin,

instituto de pesquisas marítimas na

Holanda, com o objetivo de testar o

comportamento do sistema BSR e

dos risers. O tanque oceânico do

Marin, com 10 metros de

profundidade, era um dos poucos

lugares do mundo onde se poderia

testar essa tecnologia. Após a

indicação de que o sistema

funcionava como previsto, faltava a

análise da instalação do conjunto

boia + riser. Para essas análises,

contratamos a Subsea7 no intuito de

viabilizar a operação de instalação.

Porém, persistia a dúvida quanto à

sua instalação. Então partimos para

o projeto de uma boia protótipo,

com o objetivo de verificar o

procedimento de instalação. Esse

teste teve a cooperação da Marinha,

do Tanque de Provas Numérico da

Universidade de São Paulo (TPN-

USP) e da E-xcellentia nas análises

estruturais e de ancoragem. E a boia

protótipo foi instalada com sucesso

no Campo de Congro, na Bacia de

Campos. Para o pré-sal, demos

mais um passo: a boia, agora

chamada de Boia de Sustentação de

Risers, tinha um número diferente

de risers, com funções distintas, e

estaria ancorada um uma lâmina

d’água maior. Para isso, em 2008,

realizamos ensaios no novo tanque

oceânico da Coppe/UFRJ - o

LabOceano - onde viabilizamos um

outro procedimento de instalação.

Com a comprovação de que a

tecnologia estava madura para esse

novo cenário, a Petrobras convidou

várias empresas a participarem de

um Design Competition. A Subsea7

foi a vencedora desse evento e

subcontratou as empresas 2H

(brasileira) e IntecSea (americana),

que efetuaram as análises

estruturais e de seu procedimento

de instalação. Além disso, a

empresa realizou ensaios

experimentais no Marin, visto que o

tanque possuía disponibilidade de

cronograma. Dentre as instituições,

as que mais participaram foram o

IPT (com testes de modelo

reduzido) e a Coppe/UFRJ (com

análises numéricas e ensaios), além

do TPN-USP, que fez análises

acopladas do conjunto BSR/FPSO.

Quais são as dimensões e os

elementos que formam a BSR?

Ricardo Franciss: As dimensões

da BSR são: comprimento de 40 m,

largura de 52 m e a largura do

pontoon de 14 m. As alturas dos

membros estruturais são 10 m do

lado dos risers rígidos (SCRs) e 5 m

do lado dos risers flexíveis

(jumpers). Na lateral, a altura passa

de 10 m para 5 m suavemente e sua

largura é de 4 m. Seu deslocamento

total é de 10.604 m3, peso seco de

2.717 t, tendo um empuxo líquido

máximo de 3.471 t.

O percentual de conteúdo local

do projeto é bastante alto, de

94,6%. Como foi possível atingir

esse percentual e qual foi a maior

dificuldade para desenvolver essa

tecnologia no Brasil?

Ricardo Franciss: O conceito

inicial nos foi apresentado pelo

consórcio Deepstar na década de 90.

Este consórcio reúne diversas

empresas de petróleo para estudar

problemas em comum da indústria.

Com o término dos estudos iniciais,

algumas empresas perderam

interesse em manter esse projeto no

consórcio, pois não identificavam

um cenário de aplicação.

ENTREVISTA – Ricardo Franciss

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Ricardo Franciss, engenheiro civil sênior do setor

de Tecnologia de Dutos e Risers do Cenpes

Page 4: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

4

A Petrobras resolveu dar

continuidade aos estudos em sua

carteira de projetos de P&D. O passo

inicial foi adaptar simuladores para a

análise numérica desse sistema.

Após esse passo, buscamos o IPT

para realizar ensaios com modelo

reduzido e calibrar os modelos

numéricos. O desenvolvimento do

conceito continuou e depositamos

uma patente de uma BSR em

formato de anel retangular. Faltava

estudar procedimentos de instalação

e buscamos no mercado nacional a

viabilização de sua instalação. A

ideia da companhia era desenvolver

tecnologia sem grandes aportes de

recursos e assim fizemos.

Encontramos empresas nacionais

bem capacitadas, com as quais

aumentamos a massa crítica nesse

conceito, discutindo desafios e

mitigando problemas. Não houve

grandes dificuldades, apesar de se

tratar de uma tecnologia pioneira.

Qual é a grande inovação

tecnológica do projeto? E quais

suas vantagens e impactos em

longo prazo na área de E&P?

Ricardo Franciss: O conceito BSR

permite aliar as boas características

dos risers rígidos com a dos risers

flexíveis. Os rígidos possuem

diâmetros em torno de 12 polegadas

para águas profundas e resistência à

corrosão devido à presença de gases

como H2S e CO2 no óleo produzido,

além de possuírem um custo menor

do que as linhas flexíveis. Estas

participam na absorção dos

movimentos da BSR até o FPSO

devido à presença das ondas. As

vantagens desse sistema são: (i)

desacopla os movimentos dos risers

com a plataforma, o que permite a

escolha da plataforma de produção

(FPSO ou semissubmersível); (ii)

reduz as cargas de topo dos risers no

projeto de estabilidade da

plataforma; (iii) reduz a

complexibilidade das operações de

pull-in e pull-out, tempo e risco na

instalação dos risers; (iv) é possível

instalar quase 90% de todo o sistema

de risers, independente da

plataforma de produção estar na sua

locação final, antecipando a

produção; (v) aumenta a janela de

operação para os SCRs na

configuração em catenária livre em

termos de fadiga estrutural, porque

os jumpers absorverão os

movimentos da plataforma de

produção; (vi) reduz a rigidez do

sistema de ancoragem da plataforma

de produção; (vii) aumenta a

possibilidade do uso de risers

flexíveis pendurados na BSR até o

fundo do mar, porque esse conceito

reduz a dinâmica das linhas no ponto

de toque no fundo do mar (TDP);

(viii) os SCRs podem ser instalados

por qualquer método de instalação

(Reel-Lay, S-Lay ou J-Lay); (ix) os

jumpers podem ser instalados ou

substituídos usando rebocadores

tradicionais devido a menores cargas

de topo.

Como foi a experiência do

depósito de patente? Há potencial

de comercialização da tecnologia

desenvolvida em outros países?

Ricardo Franciss: O conceito BSR,

no aspecto de seu formato (anel

retangular), foi patenteado no Brasil,

EUA, Nigéria e Patent Cooperation

Treaty - PCT (que congrega 148

países-membros, dentre eles

Inglaterra e Noruega). Já tivemos

algumas empresas interessadas nesta

tecnologia e, em congressos

internacionais, são muitas as dúvidas

dos projetistas. Achamos que, no

futuro e por meio de parcerias, essa

tecnologia poderá ser utilizada em

outros campos de petróleo.

Quantos BSR estão operando

atualmente e qual a perspectiva

para novas instalações?

Ricardo Franciss: Atualmente

existem quatro BSR instaladas nos

campos de pré-sal: duas em

Sapinhoá e duas em Lula-NE.

Existem perspectivas futuras de

utilização desse conceito,

principalmente em campos cujo óleo

produzido tem altas porcentagens de

H2S e CO2. É uma ótima solução

quando as condições ambientais

forem severas e em lâminas d’água

bastante elevadas.

Já foram observados resultados

positivos com relação à corrosão

dos risers com liner metálico e ao

aumento da vida útil dos risers

nos campos em que o sistema

BSR foi instalado?

Ricardo Franciss: Não. O tempo

ainda é curto para se verificar

alguma ação de corrosão nos risers.

A primeira BSR instalada foi em

Sapinhoá Norte - em dezembro de

2013 - e o processo de corrosão pode

durar anos. Além disso, os risers

foram fabricados com um

revestimento interno

(metallurgically clad) ou com um

tubo interno (mechanically lined)

como uma camada de proteção.

Como o senhor avalia o atual

momento do setor de petróleo e

gás no Brasil, considerando

a acentuada queda do valor do

barril do petróleo desde 2014?

Ricardo Franciss: O cenário é igual

para todas as operadoras e cria

oportunidades de desenvolvimento

tecnológico que visam reduções de

custo e aumento de eficiência.

Ricardo Franciss é formado em Engenharia Civil pela PUC-Rio em 1980, com Mestrado pela UFF em 1987 e com doutorado pela UFRJ em 1999.

Entrou na Petrobras em 1987 e, desde então, trabalha no Cenpes com Análises Globais e Fadiga de Risers Rígidos. Na área de Fadiga, se especializou

em Vibrações Induzidas por Vórtices, sendo solicitado a dar inúmeras palestras sobre este tema, inclusive internacionais. Mais recentemente,

coordenou o projeto BSR e, em 2015, recebeu os prêmios OTC e ANP pelo projeto. Participou de vários congressos nacionais e internacionais,

apresentando artigos técnicos sobre risers. Ricardo também leciona na Escola de Engenharia da Universidade Católica de Petrópolis desde 2006.

“O conceito BSR

permite aliar as boas

características dos

risers rígidos com a

dos risers flexíveis”.

Page 5: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

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BG Group e ITA desenvolvem projeto de motor de fundo descartável

A BG Brasil e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica

(ITA) estão trabalhando juntos em um projeto financiado

por recursos da Cláusula de P,D&I cuja primeira fase

está praticamente concluída e pode inclusive resultar em

uma patente. Trata-se da etapa de prova de conceito de

um motor de fundo descartável para perfuração de poços

utilizando tubos de revestimento (Downhole Disposable

Casing Motor – DDCM).

Esse projeto, coordenado pelo professor Jesuíno Takachi,

foi considerado pelo ITA o melhor projeto de pesquisa

aplicada em 2015 e vai resultar em uma tese de

doutorado. O objetivo desse primeiro estágio era validar,

por meio de simulação e testes de protótipos virtuais, o

conceito do motor. Foram utilizadas ferramentas

numéricas para o desenvolvimento do projeto preliminar

do motor que, nessa primeira fase, foi uma turbina do

tipo axial, e incluiu o dimensionamento da turbina, o

cálculo do escoamento tridimensional entre grades da

turbina e o cálculo estrutural da turbomáquina. Uma vez

validado o conceito do motor, pretende-se iniciar a

segunda fase do projeto, na qual será desenvolvido o

protótipo físico laboratorial do equipamento. A terceira e

última etapa será a construção do protótipo de campo.

O projeto foi financiado com recursos próprios da BG e

da Cláusula de P,D&I. Até o momento, foram investidos

cerca de R$

3 milhões.

A BG Brasil

e o ITA

acreditam

que a

tecnologia

desenvolvida

reduzirá

significativa

mente a

complexidad

e, a duração

e os riscos

associados às

tecnologias

correntes de

perfuração.

Seu propósito é viabilizar a perfuração das formações

acima do sal (top

hole), na área do pré-sal (poços com cabeça de poço

submarina), utilizando-se da rotação do revestimento em

vez de uma coluna de perfuração. Sistemas nesta área de

tecnologia já existem há quase 20 anos. Entretanto, nos

cenários atuais, as tecnologias existentes não se aplicam

ao caso do pré-sal.

A tecnologia desse projeto, 100% nacional, tem um

caráter inovador devido a três premissas básicas: o

produto é não recuperável (requer custo comercial

relativamente baixo); a vida útil não precisa estender-se

além do tempo necessário para uma única utilização; e

permite a continuidade da perfuração sem a necessidade

de se remover qualquer mecanismo de sua constituição.

No momento, não existem motores de fundo com essas

características. Embora existam motores de fundo não

recuperáveis para a perfuração da última fase da

construção de um poço de petróleo, eles não podem ser

utilizados na perfuração das camadas superiores. A atual

tecnologia para perfuração da camada de pós-sal

necessita que o motor após a operação seja retirado à

plataforma para depois se iniciar a perfuração da camada

seguinte. Geralmente esses motores são da classe

motores de deslocamento positivo (do inglês, PDM –

Positive Displacement Motor), que tem o funcionamento

baseado no

princípio

de

Moineau.

O projeto da

BG e do

ITA

pretende

avaliar a

possibilidad

e de se

projetar um

turbodrill

que seja

capaz de

perfurar a

camada pós-

sal e logo

após iniciar

a perfuração da camada de sal. A figura ao lado ilustra as

diferentes camadas mencionadas.

INVESTIMENTOS EM P,D&I

Page 6: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

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Tecnologia de Turbodrill para operação na área de Óleo e Gás

O uso de turbomáquinas na indústria de óleo e gás sempre foi de grande importância para o transporte de fluidos,

geração de energia e exploração. Dentro desse contexto, estão as turbomáquinas utilizadas no processo de

perfuração de poços de petróleo. Essas turbomáquinas, geralmente da classe de máquinas axiais, são conhecidas

como turbodrill. Trata-se de turbinas axiais hidráulicas que, montadas em rolamentos especiais, possuem brocas de

perfuração conectadas em seu eixo, no qual o objetivo é utilizar a energia de pressão oriunda de algum sistema de

bombeamento, transformar essa energia de pressão em energia cinética e logo após obter energia mecânica capaz de

girar a broca conectada.

O interesse em se utilizar essa classe de turbomáquinas na exploração de petróleo iniciou-se por volta de 1873,

quando as primeiras patentes foram depositadas. Basicamente dois países se destacaram nesse desenvolvimento:

EUA e Rússia. Os esforços de ambos não obtiveram sucessos até 1934, quando os russos conseguiram fazer uso

dessa tecnologia de maneira aplicada pela primeira vez. Após 16 anos, os EUA iniciaram o uso de turbodrills na

exploração de petróleo. Por volta de 1950, nota-se uma intensa utilização dessa tecnologia para perfuração na

indústria de óleo e gás.

Mesmo sendo uma tecnologia desenvolvida décadas atrás, ainda há muitos itens a serem melhorados no projeto

dessas turbomáquinas e em sua aplicação no processo de perfuração. Ao longo dos anos, foram surgindo ferramentas

de projeto cada vez mais robustas. Diversos dados experimentais foram obtidos através de ensaios realizados para se

obter perfis de pás cada vez mais eficientes no processo de transferência de energia entre o fluido e a pá. Esses dados

foram sintetizados em modelos físico-matemáticos que são utilizados para a quantificação de perdas internas do

escoamento. Com esses modelos de perdas, os projetos de turbomáquinas puderam alcançar níveis com alto grau de

robustez.

Esses modelos desenvolvidos para ferramentas de projetos baseadas na técnica da linha média (1D, meanline

technique) são vastamente utilizados no campo de projetos de turbomáquinas. Com o avanço de tecnologias de

hardware, o uso de técnicas de cálculo de escoamento 3D tornou-se uma realidade no campo da mecânica dos fluidos

computacional. Devido ao fato de que, para problemas complexos de engenharia, não existe uma solução analítica

(exata) das equações de conservação de massa, Navier-Stokes e conservação de energia, diversas técnicas numéricas

foram desenvolvidas em busca de formas adequadas de se obter uma solução aproximada do campo do escoamento.

Essas técnicas numéricas necessitam de forte poder computacional de processamento e armazenamento de dados,

para oferecerem soluções aceitáveis de determinação de características do fluido e do escoamento. Os fenômenos da

turbulência foram e continuam sendo estudados e, em paralelo, equipes de pesquisadores desenvolvem modelos

físico-matemáticos que são implantados juntamente com as equações gerais da mecânica dos fluidos, de maneira a se

calcular características de viscosidade turbulenta do escoamento. Todos esses desenvolvimentos em ferramentas de

projetos são utilizados tanto na academia quanto na indústria e têm oferecido resultados bastante promissores, pois

tornam possíveis projetos mais refinados em menor tempo, refletindo diretamente no custo dos produtos de

engenharia.

É válido ressaltar que o uso dessas ferramentas modernas exige uma equipe de profissionais com alto nível de

capacitação e conhecimento em áreas multidisciplinares da engenharia e, em determinados casos, em áreas de

desenvolvimento científico.

Fonte: BG Group

Page 7: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

7

ANP autoriza R$ 223 milhões em investimentos em P,D&I em 2015

Ainda sob a vigência do Regulamento Técnico ANP N°

5/2005, a ANP concedeu autorização prévia a 82 projetos

de investimento em P,D&I, sendo 76 para implantação de

infraestrutura laboratorial, 2 para pesquisa em tecnologia

industrial básica (TIB), 2 em pesquisa em energia e 2 para

estudos de bacia com aquisição de dados.

Os valores autorizados não correspondem ao custo total

dos projetos, já que apenas as despesas enquadradas no

item 8.2 do referido Regulamento necessitam de

aprovação da Agência.

Assim, em 2015, a ANP concedeu 82 autorizações

prévias, gerando investimentos em várias instituições e

beneficiando diversos estados, conforme as tabelas a

seguir.

Recursos Autorizados por Instituição – 2015

Instituição Nº de Projetos Recursos (R$) % Recursos Instituições Diversas 19 158.193.247 70,93% UFRJ 21 18.156.516 8,14% UnB 2 6.666.721 2,99% USP 3 4.356.414 1,95% UFSC 3 3.440.994 1,54% PUC-RIO / INT 1 3.271.514 1,47% UTFPR 3 2.979.909 1,34% SENAI-SC 2 2.792.163 1,25% UFPE 1 2.784.276 1,25% UFSCAR 2 2.544.305 1,14% UENF 3 2.181.684 0,98% UFRGS 5 2.110.541 0,95% LACTEC 2 1.847.091 0,83% PUC-RIO 2 1.770.029 0,79% UNICAMP 2 1.659.829 0,74% UFPA/ UFRJ/ UERJ/ PROOCEANO 1 1.590.280 0,71% UFES 1 1.578.047 0,71% UEM 1 1.202.867 0,54% UFBA 3 1.062.082 0,48% INT 1 973.848 0,44% UFC 2 960.022 0,43% ITP - Universidade Tiradentes 2 907.687 0,41%

Total geral 82 223.030.067 100,00%

Fonte: SPD/ANP.

*Programas de capacitação de recursos humanos que envolvem várias instituições no Brasil.

Fonte: SPD/ANP.

Recursos Autorizados por Unidade Federativa – 2015

UF Nº de Projetos Recursos (R$) % Recursos

Diversos 3 156.230.131 70,05% Rio de Janeiro 31 25.001.244 11,21% São Paulo 8 9.401.234 4,22% Distrito Federal 2 6.666.721 2,99% Santa Catarina 5 6.233.157 2,79% Paraná 6 6.029.867 2,70% Rio Grande do Sul 9 3.833.670 1,72% Pernambuco 1 2.784.276 1,25% Espírito Santo 1 1.578.047 0,71% Bahia 3 1.062.082 0,48% Ceará 2 960.022 0,43% Rio Grande do Norte 1 839.563 0,38% Goiás 2 731.170 0,33% Minas Gerais 2 652.245 0,29% Sergipe 1 565.649 0,25% Paraíba 5 460.990 0,21%

Total geral 82 223.030.067 100,00%

AUTORIZAÇÕES PRÉVIAS

Page 8: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

8

O quadro abaixo mostra uma divisão dos projetos por área temática.

Recursos Autorizados por Área – 2015

Área Nº de Projetos Recursos (R$) % Recursos

Exploração 17 14.860.954 6,66%

Produção 37 28.947.560 12,98%

Abastecimento 2 880.708 0,39%

Gás Natural 2 2.323.208 1,04%

Biocombustíveis 2 1.837.307 0,82%

Meio Ambiente 5 3.971.221 1,78%

Estudos de Bacias com Aquisição de Dados 2 156.634.750 70,23%

Temas Transversais e Outros 15 13.574.358 6,09%

Total 82 223.030.067 100,00%

Fonte: SPD/ANP.

* Inclui as despesas previstas nos projetos: PNQP/Prominp, Ciaga/Marinha do Brasil e Ciaba/Marinha do Brasil. Inclui despesas de infraestrutura

laboratorial no valor de R$ 66.388.520,60.

** Inclui despesas de infraestrutura laboratorial no valor de R$ 14.974.779,52.

A Figura abaixo mostra a distribuição dos recursos de P,D&I autorizados em 2015, por estado e região.

Fonte: SPD/ANP.

Page 9: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

9

A tabela ao lado apresenta as

concessionárias que receberam

autorizações prévias para realização

de despesas obrigatórias em 2015.

Além de avaliar e aprovar os projetos

encaminhados pelos concessionários,

a ANP fiscaliza o cumprimento das

normas, reconhecendo ou não a

aplicação dos investimentos em

P,D&I, por meio de análise técnica

dos relatórios anuais encaminhados

pelos concessionários e por visitas

técnicas aos projetos.

10 unidades de pesquisa foram credenciadas em dezembro

Em dezembro, 10 unidades de pesquisa foram

credenciadas segundo a regulamentação vigente. Dessa

forma, até esse mês, 672 unidades de pesquisa de 118

instituições foram credenciadas. No ano de 2015 foram

142 credenciamentos.

Para executar projetos com recursos oriundos da

Cláusula de Investimento em P,D&I, as instituições

interessadas devem ser credenciadas pela ANP. O

credenciamento é o reconhecimento formal de que a

instituição atua em atividades de pesquisa e

desenvolvimento em áreas de relevante interesse para o

setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis, e que

possui infraestrutura e condições técnicas e operacionais

adequadas para seu desempenho. Uma vez credenciada,

a instituição se torna apta a receber recursos

provenientes da cláusula presente nos contratos para

exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e

gás natural.

O credenciamento de instituições de P,D&I por parte da

ANP obedece as regras, as condições e os requisitos

técnicos estabelecidos pela Resolução ANP nº 47/2012,

alterada pela Resolução ANP nº 36/2014, e o respectivo

Regulamento Técnico ANP nº 7/2012. O processo de

credenciamento consiste em quatro etapas: cadastro de

informações e envio da solicitação por intermédio do

Sistema de Gestão de Investimento em Pesquisa e

Desenvolvimento (Siped) no sítio na ANP na internet;

protocolo, no escritório central da ANP, do documento

de solicitação gerado no sistema; avaliação da

solicitação, que consiste em análise técnica do pedido e,

a critério da ANP, em visita técnica à instituição

relevante; e emissão de parecer e formalização da

decisão do credenciamento.

A instituição interessada pode apresentar a solicitação

de credenciamento a qualquer tempo, pois o processo é

contínuo, não havendo data limite para seu

encerramento. Uma mesma instituição pode ter mais de

uma unidade de pesquisa credenciada, em função das

peculiaridades de sua estrutura organizacional e das

atividades de P,D&I por ela desenvolvidas.

No sítio da ANP, no endereço www.anp.gov.br >>

Pesquisa e Desenvolvimento >> Credenciamento das

Instituições de P,D&I, podem ser acessados as

Resoluções ANP e o Regulamento Técnico ANP nº

7/2012, bem como arquivo tutorial contendo instruções

para acesso ao Siped e preenchimento dos dados.

Esclarecimentos podem ser obtidos pelo e-mail:

credenciamentop&[email protected] unidades de

pesquisa de instituições credenciadas podem ser

consultadas no sítio da ANP, no endereço

Recursos Autorizados por Empresa – 2015

Concessionária Nº de Projetos Recursos (R$) % Recursos

Petrobras 50 191.937.394 86,06%

Petrogal 11 11.570.462 5,19%

Queiroz Galvão 4 6.279.501 2,82%

Sinochem 4 5.546.838 2,49%

PGN 1 5.266.414 2,36%

Statoil 1 884.982 0,40%

GeoPark 3 672.903 0,30%

ONGC 1 218.295 0,10%

QPI 2 192.289 0,09%

BG 1 92.198 0,04%

Chevron 1 92.198 0,04%

Repsol 1 92.198 0,04%

Shell 1 92.198 0,04%

Total 1 92.198 0,04%

Total geral 82 223.030.067 100,00%

Fonte: SPD/ANP.

CREDENCIAMENTO EM P&D

Page 10: Boletim ANP – Petróleo e PD – Edição nº29 (Janeiro 2016)

Edição nº 29 – Janeiro de 2016

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www.anp.gov.br >> Pesquisa e Desenvolvimento >>

Instituições Credenciadas.

O sistema permite realizar consultas por Unidade

Federativa, área de pesquisa, temas, ou ainda listar todas

as unidades de pesquisa das instituições credenciadas.

Além disso, estão disponibilizadas informações dos

coordenadores e equipe técnica de cada unidade de

pesquisa e a cópia da autorização publicada no Diário

Oficial da União com a relação de linhas de pesquisa em

que a unidade atua.

A figura a seguir mostra a localização regional das

instituições credenciadas pela ANP até 31/12/2015,

segundo regulamentação vigente.

Fonte: SPD/ANP