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1245 Um nome para a dor: fibromialgia Vera Lopes Besset Doutora em Psicologia (Paris V); Professora da Pós- Graduação em Psicologia-IP-UFRJ; Coordenadora do Grupo de Pesquisas CLINP (Clínica Psicanalítica)-UFRJ/ CNPq; Pesquisadora da AUPPF; Psicanalista. Membro da EBP-ECF e da AMP. End.: Trav. Euricles de Matos, 28. Laranjeiras. Rio de Janeiro-R.J. CEP: 22240-010. E-mail: [email protected] Jean-Luc Gaspard Psychologue clinicien, Maître de Conférences en Psychopathologie. Directeur du Laboratoire Recherches en psychopathologie clinique : champs et pratiques specifiques. End.: EA 4050, Université Rennes 2, Place Recteur le Moal, 35043 Rennes Cedex, France. E-mail : [email protected] Caroline Doucet Psychologue clinicien, Maître de Conférences en Psychopathologie. Laboratoire Recherches en psychopathologie clinique : champs et pratiques. End. : EA 4050, Université Rennes 2. Place Recteur le Moal, 35043 Rennes Cedex, France. E-mail : [email protected] REVISTA MAL-ESTAR E SUBJETIVIDADE – FORTALEZA – VOL. X – Nº 4 – P . 1245-1269 – DEZ/2010

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    Um nome para a dor: fibromialgia

    Vera Lopes Besset

    Doutora em Psicologia (Paris V); Professora da Ps-Graduao em Psicologia-IP-UFRJ; Coordenadora do Grupo de Pesquisas CLINP (Clnica Psicanaltica)-UFRJ/CNPq; Pesquisadora da AUPPF; Psicanalista. Membro da EBP-ECF e da AMP.

    End.: Trav. Euricles de Matos, 28. Laranjeiras. Rio de Janeiro-R.J. CEP: 22240-010.

    E-mail: [email protected]

    Jean-Luc Gaspard

    Psychologue clinicien, Matre de Confrences en Psychopathologie. Directeur du Laboratoire Recherches en psychopathologie clinique : champs et pratiques specifiques.

    End.: EA 4050, Universit Rennes 2, Place Recteur le Moal, 35043 Rennes Cedex, France.

    E-mail : [email protected]

    Caroline Doucet

    Psychologue clinicien, Matre de Confrences en Psychopathologie. Laboratoire Recherches en psychopathologie clinique : champs et pratiques.

    End. : EA 4050, Universit Rennes 2. Place Recteur le Moal, 35043 Rennes Cedex, France.

    E-mail : [email protected]

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    Marcelo Veras

    Mdico. Doutor em Psicologia (UFRJ). Diretor executivo da FAPEX. Pesquisador do Grupo de Pesquisas CLINP (Clnica Psicanaltica)-UFRJ/CNPq; Psicanalista. Membro da EBP-ECF e da AMP.

    End.: R. Caetano Moura, 140. Federao. 40210-340.Salvador. Bahia.

    E-mail: [email protected]

    Ruth Helena P. Cohen

    Doutora em Psicologia (UFRJ). Professora da Ps-Graduao em Psicologia-IP-UFRJ; Pesquisadora do Grupo de Pesquisas CLINP (Clnica Psicanaltica)-UFRJ/CNPq; Psicanalista Membro da EBP-ECF e da AMP.

    End.: Rua Afrnio de Melo Franco 141/sala 212. Leblon. Rio de Janeiro-RJ .

    E-mail: [email protected]

    ResumoEste texto aborda o estudo da fibromialgia, sndrome cujas dores crnicas sem causalidade orgnica constatvel so fonte de sofrimento para pacientes e desafio para os clnicos. Situada na fronteira entre a reumatologia e a patologia psicossomtica, com seu cortejo de transtornos, conduz a uma degradao da qualidade de vida no plano profissional, social e/ou familiar. Dados epidemiolgicos apontam uma maior incidncia dessa entidade clnica controversa em mulheres jovens. A falta de evidncias na materialidade do corpo e a presena de fatores psicopatolgicos problematizam seu diagnstico e tratamento. Face diversidade e dos fatores envolvidos nessa sndrome, a indicao de uma abordagem multidisciplinar para seu tratamento vem se firmando como consenso. Por outro lado, o carter subjetivo da experincia de dor contribui para a reticncia das autoridades mdicas e governamentais em afirmar plenamente o estatuto de doena da sndrome. Nesse contexto, ao mesmo tempo em que buscam uma

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    cura para suas dores, os pacientes clamam pela legitimao do reconhecimento da fibromialgia como doena. Nossa proposta considerar a eventual funo da fibromialgia na estruturao psquica como soluo subjetiva. Para tanto, o referencial terico-clnico da psicanlise de orientao lacaniana fornece elementos para reflexes sobre a dor no corpo e seu lugar na economia psquica. Dados da clnica sugerem algumas especificidades dos usos da dor em funo da estruturao psquica de cada sujeito. A partir do estado atual das pesquisas sobre o tema e considerando a escassez de estudos no campo da psicanlise, interessa-nos contribuir para uma abordagem da fibromialgia que sustente o particular da enunciao no relato da experincia de dor. Sem pretender reduzir a fibromialgia a qualquer quadro psicopatolgico, como a histeria ou a depresso, interessa-nos sublinhar a relevncia da posio subjetiva daquele que sofre em seu corpo para o diagnstico e tratamento da fibromialgia.

    Palavras-chave: Fibromialgia. Posio subjetiva. Psicanlise. Dores crnicas. Corpo.

    Abstract This text concerns the study of fibromyalgia, syndrome whose chronic pains without detectable organic causality is source of suffering to patients and challenge to doctors. Located in the border between rheumatology and psychosomatic pathology, with its following symptoms, the syndrome leads to a degradation of quality of life in the professional, social and familys spheres. Epidemiologic data indicate a greater incidence of this controversial clinical entity in young females. The lack of evidences in bodys materiality and the presence of psychopathological factors problematize its diagnosis and treatment. Considering the diversity of factors involved in this syndrome, the indication of a multidisciplinaly treatment has been established as a consensus. On the other hand, the subjective character of the experience of pain contributes to the reticence by medical and governmental authorities in determining the status of disease to this syndrome. In this context, the patients, while search for the cure to their pain, clamor for the legitimation of fibromyalgia as a disease. Our proposal is to consider the eventual function

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    of fibromyalgia in psychic structuration as a subjective solution. Aiming this, the clinical and theoretical references of Lacanian psychoanalysis provide elements to reflections about the bodys pain and its place in psychic economy. Clinical data suggest some specificity in the uses of pain in the psychic structuration of each subject. From the current status of researches in this matter and considering the scarcity of studies in psychoanalysis field, we look forward to contributing to an approach to fibromyalgia which sustains the particularities of enunciation in the report of the experience of pain. Without intending to reduce fibromyalgia to any psychopathological profile, as hysteria or depression, we aim to underline the relevance of the subjective position of the one who suffers in body to the diagnosis and treatment of fibromyalgia.

    Keywords: Fibromyalgia. Subjective position. Psychoanalysis. Chronic pain. Body.

    Fibromialgia: uma doena A existncia de estados dolorosos crnicos sem substra-

    to orgnico, doenas da dor, assinalada desde o sculo XIX. Dentre elas, a fibromialgia (FM), conhecida como fibrosite desde 1904 (Gowers, 1904), tem denominao bastante recente (Smythe e Moldofsky, 1977). Reconhecida pela OMS em 1992, sob a iden-tificao M 79.7 na classificao internacional das doenas (CID), essa sndrome definida como composta de dores msculo-es-quelticas acompanhadas, frequentemente, de transtornos do sono e fadiga. A partir dessa classificao, que lhe confere um estatuto de doena, o aumento do interesse sobre a fibromialgia repercute em numerosos estudos (Kahn, 1989; Kochman, 2002; Heymann, 2006; Saltareli, Pedrosa, Hortense e Sousa, 2008). No entanto, sua etiologia permanece obscura e parece remeter a uma origem multifatorial, sem que nenhuma causalidade orgnica tenha sido detectada (Sordet-Guepet, 2004).

    Em termos epidemiolgicos, a incidncia da fibromialgia de 1,3% na Europa e de 2% nos EUA (Menks e Godeaul, 2007). Na Frana, atinge de 1 a 2% do total da populao, dos quais quase 70% so mulheres. Concerne at 20% das consultas em reuma-tologia, perfazendo 10% das consultas motivadas por dor. Seu

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    aparecimento se d, geralmente, entre 25/30 anos e 50 anos, sua incidncia fraca em pessoas com mais de 70 anos, assim como em crianas e adolescentes (Gaspard, 2009). No Brasil, os dados mais recentes, e que servem de base a estudos mdicos, referem-se a levantamento realizado na cidade mineira de Montes Claros (Senna et al., 2004). Segundo eles, a prevalncia observada na po-pulao de 2,5%, a maioria sendo de sexo feminino, das quais 40,8% com 35 e 44 anos de idade. Desses dados, ressalta-se a predominncia da incidncia dessa sndrome entre as mulheres. Esse fato pode levar a uma aproximao da fibromialgia com o fe-minino (Leite e Pereira, 2003) e com a histeria (Marques, Slompo e Bernardino, 2006).

    Observe-se que a classificao da fibromialgia como uma sndrome no resolve a polmica em torno da questo de seu es-tatuto de doena entre os especialistas no assunto. Assim, longe de reunir um consenso, o tema suscita controvrsia e seu diag-nstico permanece em discusso (Quartilho, 2004; Eisinger, 2000). Isso, em funo da falta de causalidade orgnica detectvel ano-malias biolgicas ou antomo-biolgicas e do carter subjetivo dos transtornos nela implicados (Menks e Godeaul, Ibid), apesar da tese de uma disfuno no processamento da dor estar ga-nhando terreno entre os reumatologistas (Martinez, 2006). Nesse contexto, a Sociedade Brasileira de Reumatologia, considerando a fibromialgia uma das doenas reumatolgicas mais frequentes, promoveu um estudo com o intuito de atualizar as diretrizes do seu tratamento, mas tambm de inovar, ao reunir especialistas de outras reas mdicas com conhecimento desta sndrome, para elaborarem um consenso sobre seu tratamento (Heyman et al., 2010, p. 57). Fiis a seu propsito, os autores do referido estudo no mencionam qualquer polmica a respeito dessa sndrome. Ao mesmo tempo, ao defini-la como um estado de sade complexo e heterogneo no qual h um distrbio no processamento da dor as-sociado a outras caractersticas secundrias (Ibid, p. 59), parecem no creditar a ela o estatuto de doena. Nesse sentido, afirmam igualmente que a dor crnica um estado de sade persistente que modifica a vida (Idem). Coerentemente com essa avaliao, um dos resultados do estudo aponta: Houve consenso que a fi-bromialgia no justifica afastamento do trabalho (Idem).

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    Em outra direo, entrando na discusso sobre a legitimi-dade da caracterizao da fibromialgia como doena, o relatrio da Academie Franaise de Mdecine, datado de 2007, chama a ateno para o fato de que a CID classifica a fibromialgia tanto entre os transtornos do aparelho locomotor quanto nos de soma-tizao (F 45), dependendo somente do mdico a deciso sobre a classificao diagnstica (Menks e Godeaul, Ibid). A relevncia desse debate se liga s implicaes quanto ao custeio pblico do tratamento dessa sndrome, de carter crnico e sem tratamento consagrado, e no plano do trabalho, com a abertura da possibili-dade de dispensas e licenas remuneradas.

    A maioria dos textos sobre o tema indica uma possvel co-morbidade psiquitrica no que concerne presena de transtornos de ansiedade e depresso. Sendo assim, apontam a adequao do recurso a tratamentos medicamentosos e no medicamentosos. Digno de nota, a indicao de tratamento psicoterpico mencio-nada no recente estudo brasileiro sobre o tema ao mesmo tempo em que os exerccios de alongamento e assimilados (Heyman et al., Idem). De todo modo, a indicao de uma abordagem multidiscipli-nar para o tratamento dos casos de fibromialgia parece consenso na maioria dos trabalhos da rea mdica, figurando tanto no re-cente estudo Consenso brasileiro do tratamento da fibromialgia (Heyman et al., Ibid) quanto no relatrio da Academie Franaise de Mdecine (Menks e Godeaul, 2007).

    Ao mesmo tempo, uma das vertentes das pesquisas sobre a fibromialgia a busca de evidncias para seu diagns-tico. Profissionais reunidos em Barcelona, em 2008, na Jornada Fibromialgia: Una enfermedad ms visible, avanam algumas concluses otimistas nesse sentido. Na ocasio, anunciam um avano no conhecimento das alteraes fsicas, de cunho neu-rolgico, graas ao aporte das novas tecnologias aos estudos da fibromialgia e outros processos de dor crnica:

    O umbral de estimulao requerido para transformar um estmulo sensorial em uma possvel ameaa est significativamente rebaixado na Fibromialgia, sendo uma das caractersticas principais do processo neu-robiolgico, que afeta de forma extensa todo sistema

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    e pode converter informaes subclnicas em sensa-es desagradveis em diferentes partes corporais. (Collado, A., 2008, p. 517-518).

    Em perspectiva diversa, um trabalho publicado pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia (Quartilho, Ibid) ob-serva que a luta dos doentes pela legitimao dos sintomas pode consistir em um fator de manuteno das queixas e contribuir des-favoravelmente para a evoluo do quadro. Essa luta se afirma em vrios pases da sociedade ocidental sob forma de associaes de doentes, mas tambm a partir de iniciativas individuais direciona-das a organismos pblicos.

    Em maro de 2007, a partir da demanda de um cidado no sentido do reconhecimento da fibromialgia, o Jornal do Senado da Frana, publica a resposta do Ministre de la Sant et des Solidarits, com o ttulo Reconnaissance de la fibromyalgie1. A interpelao se justifica no somente pelas dificuldades de trata-mento para a mesma, mas pelo que os doentes ressentem como suspeita das pessoas a sua volta, incluindo empregadores e funcio-nrios da administrao pblica. Essa situao atribuda falta de conhecimento do grande pblico acerca dessa sndrome. Em fun-o disso, os doentes sentem-se isolados e, at mesmo, excludos. Em sua resposta, o responsvel governamental sublinha que no h tratamento especfico para a sndrome e ressalta o carter ne-cessariamente individualizado e multidisciplinar do atendimento.

    O carter eminentemente subjetivo dos transtornos ligados fibromialgia (dor, fadiga, mal-estar, transtornos do sono) sugere a adequao de uma avaliao e de uma teraputica de tipo multi-disciplinar. Com efeito, quaisquer que sejam as modalidades de tratamento escolhidas, os elementos psquicos no podem ser negli-genciados por muito tempo. De fato, se a cronicidade e a estabilidade da sndrome fibromilgica se opem s variaes dos transtornos do humor, sabe-se que, do contrrio, os estados dolorosos intensos e/ou prolongados implicam, frequentemente, em reaes depressi-vas. Essas situaes de reforo mtuo, de entrelaamento entre as dores crnicas e a depresso, assim como a ideia de uma alternn-cia de transtornos em funo do estado psquico e da experincia subjetiva do paciente, fazem com que, frequentemente, a proposta

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    de um acompanhamento psicoterpico seja indicada.

    Frente a essa discusso, interessa-nos buscar apreender as possveis funes da fibromialgia na economia psquica dos sujeitos que dela sofrem. Sublinhe-se que os textos mdicos sobre o assun-to, ao repertoriar os fatores psicopatolgicos ligados fibromialgia, notadamente depresso e ansiedade, referem-se a tratamentos medicamentosos e psicoterapia, sem mencionar a psicanlise. Ao mesmo tempo, as contribuies de nosso campo sobre o es-tudo do tema so pouco numerosas, embora relevantes. (Gaspard, 2009; Marques, Slomo e Bernardino, 2006; Leite e Pereira, 2003; Fernandes, 2001).

    No contexto desse trabalho, nossa interrogao concerne posio subjetiva daquele que sofre de fibromialgia. O que essa patologia pode ensinar ao psicanalista? Apostamos que, para alm da doena, h um sujeito em questo e que o diagnstico em psi-canlise se produz a partir da posio que este ocupa frente a seu sintoma. O que, para alm da dor, do dito, comporta uma enuncia-o, um dizer singular? Se na medicina o diagnstico se alicera nos fenmenos comprovados e numa probabilidade estatstica, a psi-canlise busca, para alm dos fenmenos, os modos de enfrentar as singularidades do sofrimento. O que a dor psquica, implicada na dor fsica, faz avanar a psicanlise em cada caso? Se a fibromialgia no pode ser igual para todos, mesmo que haja uma tipologia, uma particularidade sintomatolgica na doena, o trao nico dir mais sobre aquele que sofre e sobre o uso que faz de sua dor.

    O desafio clnico da dor crnica Os critrios mais comumente admitidos para a avaliao

    clnica so os propostos pelo American Collge of Rheumatology (Wolfe et al., 1990). Eles se ligam, essencialmente, observao positiva e s levam em conta uma associao eventual com outros transtornos no caso de definio de uma fibromialgia secundria. So assim definidas, excluindo-se todos os outros signos radio-lgicos ou biolgicos significativos: a existncia de dores difusas h mais de trs meses e a presena de pelo menos onze pontos dolorosos (dos dezoito descritos pela A.C.R.) por ocasio de uma presso digital moderada, indolor em um sujeito sadio. Os elemen-

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    tos de uma autoavaliao da dor so geralmente coletados com o auxlio de entrevistas semiestruturadas e instrumentos de avaliao, tais como escalas de medida (intensidade da dor, estado psicolgi-co, intensidade do alvio da dor etc.), questionrios de descries verbais, esquemas de zonas dolorosas e instrumentos de avaliao multidimensional sobre as implicaes da dor. A escala Regional Pain Scale (RPS) um questionrio autoadministrado que permite medir a dor corporal sem pesquisa dos pontos dolorosos (Wolfe, 2003). O questionrio Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) permite avaliar o impacto da fibromialgia sobre as aes da vida cotidiana, familar e social, a capacidade de trabalho e as consequ-ncias do trabalho sobre as dores, mas tambm o nvel de fadiga, o nvel de ansiedade etc. Permite, igualmente, medir a eficcia dos cuidados. (Bennett, 2005). Todavia, o diagnstico adequado das sndromes dolorosas apresenta-se sempre como uma tarefa deli-cada. (Boureau, Luu e Doubrere, 1994).

    Face extrema dificuldade de passar de uma evocao sub-jetiva da dor sua objetivao, o embarao dos profissionais da rea da sade junta-se disputa dos pesquisadores, opondo, como no caso de outras sintomatologias atuais, os defensores da explicao funcional, do dficit neuroqumico, de uma disfun-o do sistema nervoso autnomo2 ou de um desregramento do tratamento cortical e subcortical da dor. Assim, certas anomalias diagnosticadas por ocasio de exames musculares so no espe-cficas. A presena de ondas alfa rpidas detectadas por ocasio de estados de sono lento profundo explicariam tanto os transtor-nos do sono quanto as dores difusas.

    Em relao ao modelo biomdico clssico, a proposio de um tratamento complementar parece ainda mais indicada porque o mdico confrontado, nesses casos, s diversas e paradoxais situaes da presena de dores sem leso. Enquanto a dor aguda um indicador precioso para o estabelecimento de um diagnsti-co, a dor crnica, por ter perdido seu carter de sinal de alarme, remete a um emaranhado de determinaes de ordem somtica, psicolgica e/ou ambiental. A importncia de cada um desses fa-tores na manuteno ou no agravamento do processo doloroso demanda, ento, uma verdadeira abordagem holstica. At porque, ao se tornar crnica, a linguagem da dor tem tendncia a enfatizar

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    as dimenses emocionais e afetivas.

    Em relao ao modelo biomdico clssico, a proposio de um tratamento complementar parece ainda mais indicada porque o mdico confrontado, nesses casos, s diversas e paradoxais situaes da presena de dores sem leso. Enquanto a dor aguda um indicador precioso para o estabelecimento de um diagnsti-co, a dor crnica, por ter perdido seu carter de sinal de alarme, remete a um emaranhado de determinaes de ordem somtica, psicolgica e/ou ambiental. A importncia de cada um desses fa-tores na manuteno ou no agravamento do processo doloroso demanda, ento, uma verdadeira abordagem holstica. At porque, ao se tornar crnica, a linguagem da dor tem tendncia a enfatizar as dimenses emocionais e afetivas.

    Nesse contexto, o peso dos cdigos e das limitaes socio-culturais, mas tambm psicolgicas, para todo paciente convidado a relatar sua experincia de dor, deveria ser levado em conta. Dentro dessa orientao, a considerao da enunciao do pa-ciente evitaria trs obstculos principais: primeiro, responder na urgncia demanda urgente de alvio (lgica da sedao); segundo, um sentimento de fracasso ou de impotncia, que pode conduzir multiplicao das investigaes e dos atos tcnicos no produti-vos; e, por fim, a manifestao de atitudes de rejeio em relao pessoa que sofre, em funo de sua prpria incapacidade para decodificar ou tratar essa expresso de dor. A incompreenso pode levar, se nos referimos s defesas acionadas tanto pelo mdico como pelo paciente, a situaes de discordncia na transmisso de informaes, de subestimao ou, ao contrrio, de supersti-mao da dor. Isso pode levar a possveis falhas no atendimento, a impasses teraputicos, at mesmo, por vezes, ao agravamento da experincia de dor.

    Sublinha-se, assim, a necessidade de a formao mdica enfatizar a qualidade de uma escuta sem julgamento, alm da di-menso clnica, que consiste verdadeiramente em se colocar na cabeceira do doente. (Poindessous, Menegoz e Stanek, 2000). Somente ela pode permitir o desenvolvimento de um espao nar-rativo onde o paciente dar testemunho da realidade subjetiva de seu sofrimento, buscando contextualiz-la e tentando, desse modo, traar suas primeiras coordenadas. De fato, uma iniciativa

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    dessa natureza consiste em criar condies para uma elaborao prvia da queixa e do mal-estar, levando ao esboo de uma de-manda de mudana. Demanda que pode, ento, abrir a via de um acompanhamento. Nessa perspectiva, a adeso ativa do pacien-te ao projeto teraputico solicitada, notadamente pelo recurso a um protocolo de cuidados individualizado. Sustentando junto ao paciente o interesse em um percurso de cuidados em parceria (reumatologista, psiquiatra, psiclogo, reeducador etc.), o mdico pode abandonar mais facilmente sua posio de mestria quanto ao saber para sustentar seu paciente no trabalho de modificao de sua posio em relao doena. Inscritas na inspirao do modelo biopsicossocial, encontram-se principalmente as aborda-gens teraputicas centradas sobre a dor propostas aos pacientes fibromilgicos. (Houvenagel, 2001). Ao mesmo tempo, h a indica-o a combinao de quimioterapia e psicoterapia (Perrot, 2001; Boureau, 2004).

    Certamente, a dor crnica, em sua repetio ou cronificao, complexifica as determinaes ligadas ao modelo biopsicossocial. Entretanto, colocar o projeto teraputico a servio de uma lgica de sedao da experincia de dor e, tambm, de domnio dos afetos e de controle de sensaes, parece conduzir a um impasse sobre o que est em questo para o paciente. Isso se d frequentemente a despeito dele e para alm da compreenso que o mesmo pode ter de sua doena, assim como das atitudes e condutas que adota em relao a ela. Em outros termos, pensamos que os sinais clni-cos, os sintomas em sua acepo mdica, s podem ter sentido no particular do caso e na relao com a singularidade do sujeito.

    Com efeito, tudo o que atinge o corpo mobiliza o campo do imaginrio fantasias, identidade e identificaes , mas tambm as modalidades de inscrio do sujeito no lao social e sua relao ao Outro3 (Lacan, J., 1978), a dimenso simblica. A abordagem da fibromialgia atravs da relao entre os trs registros, real, ima-ginrio e simblico, pode ser radicalmente diversa em funo do diagnstico diferencial, notadamente no que concerne ao tipo de enlaamento entre eles ou, em outros termos, a uma estrutura-o neurtica ou psictica. Assim, no lugar de sustentar a ideia de que preciso, a todo preo, erradicar definitivamente qualquer sndrome dolorosa e qualquer sofrimento psquico associado, en-

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    tendemos que seria til atentar para o que est em jogo em termos estruturais e inconscientes. Ocorre que, por vezes, a dor crnica, ocupando o centro do cenrio, oculta radicalmente todas as ou-tras experincias de vida afetiva ou social do sujeito.

    Caberia, a partir desse contexto, pensar como a fibromialgia encontra via frtil de inscrio, como soluo psquica, na topologia borromeana do sujeito. Lacan, ao enfatizar o corpo na psicanli-se, especialmente no final de seu ensino, indica a interseo do registro real com o simblico para falar de um gozo especfico do sintoma, o gozo flico. Nele, a nfase estaria fora do imaginrio, fora do corpo. Entretanto, na interseo entre o imaginrio e o simblico que Lacan aponta para um gozo que produz sentido, usando a homofonia: jouissance: jouis (gozo) e sens (sentido) tra-duzido como gozo-sentido. Nesse modo de amarrao o que d consistncia aos fenmenos da fibromialgia so os sentidos ima-ginrios que o sujeito encontra para gozar com o sofrimento, fazer o corpo falar de uma dor (psquica) impossvel de simbolizar. Por outro lado, se consideramos a interseo do real com o imaginrio veremos que o autor situa a o gozo do Outro, ou seja, o que est fora do simblico, fora da palavra. A fibromialgia, dentro desta pers-pectiva, poderia ser abordada como fenmeno psicossomtico.

    Ter ou ser um corpo? Um corpo sempre, para um sujeito, algo de seu. Nesse

    sentido, para existir, cada um depende de ter um corpo4. Assim, ao abordarmos as paixes, ideais ou afetos, ou o que, a partir da filo-sofia clssica resumiramos como psique ou alma, a referncia a um corpo com sua funo de suporte necessria. Isso torna bastante complexa a anlise do corpo, por instaurar uma relao de coperti-nncia entre o ser e sua materialidade. Esse o cerne de grandes questes que atravessam nossa cultura: a vida, o nascimento, a morte e, um tema caro psicanlise, a diferena sexual.

    No Fedro, de Plato (1950), conhecido como o segundo dis-curso de Scrates, h uma ruptura aparente entre a imortalidade da psique e a mortalidade do corpo. Nele, a alma seria tanto divina como humana, do ponto de vista seus estados e atos. A clssica comparao entre a diviso corpo e alma com a da carruagem e

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    seu cocheiro acaba por marcar uma distino entre o que se move por si mesmo (o imortal) e o que se move por interveno de uma outra fora (o mortal). Nesse sentido, no seria o cocheiro e sim a carruagem, que estaria sujeita corrupo dos corpos. No seria a alma mortal, mas o conjunto formado pela carruagem e seu cochei-ro suscetvel mortalidade? Sobre isso, Vernant (1965) sinaliza uma transposio entre a instituio simblica grega arcaica e esse mo-mento em que, na filosofia, a alma no mais deve sua existncia s divindades. As ideias so imortais e, segundo Plato, divinas. Esse entendimento, que atravessar sculos de filosofia, de que o corpo institudo simbolicamente, marca a ruptura com a instituio ar-caica. Aristteles, em De lme (1969), traz o corpo referido pelas sensaes de seus prprios movimentos (kinesthses) e pelas sen-saes globais (coenesthses), onde o que lhe excede relatado como vivido ou como sendo do psquico.

    A partir do sculo XVII o corpo fsico objeto da cin-cia positiva, quer dizer, alvo de experimentaes suficientemente definidas para que possam ser reprodutveis por qualquer expe-rimentador. Em toda teoria cientfica o conhecimento objetivo do corpo fsico somente pode ser obtido se evacuarmos a questo de saber o que um organismo vivo, um rgo vivo ou uma clula viva (Richir, 1993). Sem dvida, o pensamento de Descartes que promove uma revoluo na fundamentao filosfica do corpo. A forma moderna do dualismo entre a alma e o corpo apresenta seu ponto de origem e argumentao no dualismo cartesiano. Esse dualismo est na base da cincia moderna. Ela encontra sua con-dio de possibilidade quando deixa de se inquietar com a vida e cadaverizando o corpo, seu objeto de estudo, em um sistema que jamais explicar a res cogitans.

    Para a psicanlise, o corpo inaugurado com a experi-ncia cartesiana de separao entre a res cogitans e a res extensa. No que essa separao equacione as questes impostas teoria psicanaltica a partir de seus postulados bsicos. O homem carte-siano est condenado a pensar para existir enquanto a psicanlise subverte essa questo com sua hiptese do inconsciente. A au-sncia de fundamento orgnico para explicar algumas disfunes do corpo levou Freud a falar da erogeneidade dos rgos. No caso de cegueira parcial, o olho se comportaria como um rgo genital

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    e Freud atribui essa disfuno represso do prazer ertico de ver (Freud, 1910/1986, p. 215). Assim, podemos afirmar que a base da construo da clnica freudiana foi o encontro com o corpo histri-co, com sua anatomia imaginria, subvertido pela ordem simblica. Sendo assim, o saber sobre o corpo que, a partir da, a psicanlise elabora, tributrio da experincia indita que inaugura.

    Certamente, o que caracteriza o conhecimento objetivo do corpo a produo de regularidades objetivas cada vez mais finas. Em contrapartida, o sentido daquilo que faz com que o corpo se mantenha como um organismo se perde. O discurso mdico trata das sensaes como pertencentes a um corpo que objeto fsico, fruto de um dispositivo orgnico extremamente complexo. Mesmo o crebro, como o caso das neurocincias e cincias ditas cogni-tivas, concebido como um sistema extraordinariamente complexo interconectado com outros sistemas do corpo. O risco, a partir disso, para alm do relevante aporte ao aprofundamento do conhecimento nesse campo, seria chegarmos a acreditar que as trocas de sinais podem dar lugar ao pensamento e s ideias. Porque nesse caso ns seramos nossos corpos como dispositivo cego do pensamen-to, maquinalmente, sujeitos ao acaso dessas trocas.

    O discurso cientfico, representado pelo discurso mdico, como demonstra Canguillem (1971), esfora-se para converter aqui-lo que no faz sentido no corpo em algo passvel de ser nomeado. Assim, um diagnstico ser sempre inveno nominalista diante do no sabido. Essa lgica cara ao pensamento moderno na medida em que o fracasso do dispositivo religioso em fabricar sentidos aos enigmas do corpo5 convoca o cientista a obturar o vcuo de senti-do que a se estabelece. Por outro lado, em termos individuais, no momento em que irrompe um mal-estar e a esse mal-estar atri-budo um nome, por exemplo, o nome de uma doena, o corpo desse sujeito fica, para sempre, afetado por um efeito de nomeao, marca do significante sobre sua carne. Por conseguinte, um proble-ma se apresenta ao conjugarmos o exerccio da fenomenologia com o nominalismo cientfico. A percepo das sensaes, como na ex-perincia da dor, apresenta-se ao sujeito como dor de seu ser at o momento em que um nome arrasta essa dor para longe da identi-dade do sujeito, fazendo dessa dor Outra coisa que no seu prprio ser. A prpria tarefa de pensar estabelece uma relao de alterida-

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    de para o sujeito. Constata-se uma inverso de paradigmas onde a loucura revelaria a verdadeira condio do sujeito, seu pensamen-to o pensamento do Outro. Nessa perspectiva, a neurose seria o delrio de assumir para si mesmo esse pensar que nada diz sobre seu ser. A imagem do corpo tampouco traduo de um corpo em si, ela se forma igualmente como corpo do Outro a partir do estdio de espelho. Isto se deve ao fato de que o objeto que interessa ao humano o objeto do desejo do Outro.

    Quais seriam, ento, as condies de existncia para o su-jeito, uma vez que nem a condio de pensar e nem o jbilo diante de sua prpria imagem no espelho podem defini-lo? A resposta pode ser buscada a partir de uma outra pergunta: o que, no sujei-to, no vem do Outro? O Outro como universal, uma vez que tudo que pode ser dito vem do Outro, fornece quase tudo que permite ao sujeito se dizer humano, inscrevendo-o na coletividade. Porm, apenas aquilo que falta ao Outro poder dar indcios de existncia para um sujeito singular, ponto onde ele no tem nenhum modelo como apoio. Ou seja, apenas as sensaes enquanto no podem ser nomeadas pelo Outro podem dar indcios das condies de corporeidade do sujeito. Como o sujeito pensa e fala mediante o dispositivo simblico, torna-se necessrio descobrir como, a par-tir desse prprio dispositivo estabelecido pelo Outro, possvel encontrar sua inconsistncia. Sobre isso, Abelhauser sublinha o que psicanlise interessa: Esse corpo que ele no e que ele no possui, mesmo se pode, de bom grado, cultivar essa crena cumpre para o sujeito certas funes... (2009, p. 51).

    prprio estrutura do discurso um certo tratamento do gozo, entretanto, o discurso da cincia por tomar o real pela ver-dade, foraclui a singularidade como trao diferencial do ser falante. O produto o retorno sobre o corpo de um gozo onde a nica me-dida possvel fica reduzida a ele prprio, a arranjos onde o corpo tomado como substrato direto, sem intermediao. No mesmo movimento, o que serviria para dar um tratamento ao gozo, advm como um imperativo o real no se reduz verdade. O imperativo Goza! leva o humano at o ponto onde o corpo perde seus limi-tes onde no h Outro para localiz-lo! Na clnica, a passagem ao ato, que comumente estava circunscrita s psicoses, estendeu seus limites, pois s vezes, o nico recurso de um sujeito para

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    localizar seu corpo prprio: cortes na carne, marcas indelveis na pele, mutilaes de toda sorte como formas de constituir um corpo (Besset, Carrijo, Benedicto, Gaspard e Teles, 2008).

    O Outro contemporneo, o mestre moderno capitalista, en-contra respaldo no discurso da cincia e promove mutaes nos modos de gozar do sujeito falante. A psicanlise de orientao lacaniana muda a nfase que antes estava posta na relao do su-jeito com o desejo, regulado pela falta cujo significante prncipe era o falo, para um domnio de uma nova modalidade de gozo, deno-tando um outro regime de regulao da civilizao. A inexistncia do Outro (Miller, 2005) promove modos de identificao muito di-versos da poca do nascimento da psicanlise e os sintomas se apresentam em novas roupagens. A partilha dos sexos denun-cia seu fracasso e o direito ao gozo se torna uma norma (Melman, 2002). Essa nova lgica de funcionamento est diretamente vincu-lada ao discurso que a cincia moderna introduziu no mundo.

    A dor, se considerada como fenmeno de corpo, pode ser entendida como a emergncia do corpo no recoberto pelo sim-blico, tal como abordado por Lacan em um momento de seu ensino (1986). Em um mesmo corpo possvel que se manifeste o que pode ser simbolizado, e faz sentido, e um gozo fora do senti-do, caracterstico do registro do real (Lacan, 2005). A concepo do corpo a partir da teoria lacaniana dos ns borromeanos per-mite pensar sua funo de enlaamento dos trs registros (S,R,I). O corpo real o corpo que, como efeito do discurso cientfico, carne, desprovido de sentido, no mais portador de uma men-sagem. Instala-se, assim, um circuito de mo dupla: o mesmo discurso que evacua o sentido do corpo no cessa de produzir nomes para tentar signific-lo.

    A fibromialgia: uma soluo subjetiva?Numerosos autores reconhecem o importante e at mesmo

    preponderante papel dos fatores psquicos no surgimento da fibro-mialgia. Ao mesmo tempo, majoritariamente, rejeitam a assimilao desta a qualquer doena psiquitrica e somente o componente psicossomtico , em certos casos, evocado. Uma vulnerabilida-de psicolgica marcada pelo stress (Boureau, 2000), a tendncia

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    ao catastrofismo, victimizao, por vezes uma hiperativida-de prvia, um contexto de tenso emocional constante, ansiedade e afetos depressivos vm esboar um quadro psicolgico do paciente fibromilgico. Todavia, sublinha-se que as relaes de causalidade entre os sintomas psiquitricos e a fibromialgia so difceis de confirmar. (Menks, Godeaul, 2007).

    Certamente, os transtornos encontrados na fibromialgia (fadiga, transtornos do sono, dores de cabea, diminuio da ativi-dade cognitiva) fazem pensar em sinais de depresso, acrescidos de uma sndrome dolorosa. No entanto, a no se encontram nem as ideias suicidas nem os elementos de desvalorizao e autoa-cusaes. Do mesmo modo, se os autores sublinham as relaes inegveis entre a fibromialgia e uma extensa lista de transtornos psicolgicos, entre os quais a hiponcondria, transtornos funcio-nais e somatoformes, o critrio principal das dores difusas parece, entretanto, separ-los (Kochman, Hatron, 2003). Unicamente a co-morbidade entre os estados de stress ps-traumtico (SPT) e a fibromialgia, tanto em termos da expresso sintomtica como no da anamnese (eventos traumticos, violncia, abusos sexuais etc.) parece confirmada no plano clnico. Geralmente, a fibromial-gia inicia-se aps um traumatismo psquico (eventos recentes ou passados, situao prolongada de stress etc.) ou fsico, por vezes mnimo (traumatismo, cirurgia, acidente de trabalho, de transito etc.).

    Dados de pesquisas recentes sobre a dor (Doucet, 2000; Gaspard e Doucet, 2007), assim como da experincia clnica no mbito de acompanhamentos ou psicoterapias (Gaspard, 2008), mostram que o que se poderia chamar de teorias do sujeito nos levam pluralidade, largamente reconhecida, dos usos da dor (Eisinger, 2000). Assim, a fibromialgia pode intervir na economia psquica do sujeito em uma funo de apelo, no contexto de uma lgica de dependncia do outro, impasse ou falha do trabalho de separao vis--vis das imagos parentais; ou de proteo vis--vis de uma onipresena do Outro, que seja familiar, profissional etc; mas tambm como mecanismo defensivo, em relao a um conflito inconsciente, dando origem culpabilidade. Ela pode ser-vir tambm de resposta dbil e primeira frente ao inassimilvel de uma invaso traumtica, a uma ruptura no quadro fantasmtico

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    neurtico, a um mal-estar existencial ou a uma mudana radical de vida que mobiliza os recursos sublimatrios do sujeito, tais como: a menopausa, a sada dos filhos de casa, uma aposentadoria, den-tre outros fatores. Sobre isso, relata uma paciente: Ento, fiquei doente em janeiro e V. [seu filho] terminou os estudos no ms de junho. (...) Ele podia trabalhar e se assumir. Um outro sujeito esta-belece uma relao entre a sua fibromialgia e as coisas da vida. Como uma espcie de personificao, de duplo dela mesma, seu corpo que se manifesta no momento de uma escolha, que res-ponde s coisas que ela no quer: A fibromialgia est ligada ao stress no trabalho. (...) Talvez, para me afastar do trabalho porque eu no ousava mais dizer no. Para outra, a fibromialgia constitui um verdadeiro barmetro de seu estado psquico, especialmente nas ligaes que percebe entre as diversas afeces (quistos, fi-broma) e a demanda de reconhecimento no mbito profissional ou demanda de amor aos entes queridos. A doena dolorosa no ocorre por acaso, surge como reao contra os eventos exter-nos, cada vez que ela tem um problema, uma angstia, algo para resolver, como se no pudesse enfrentar os problemas da vida.

    A sndrome, com efeito, pode surgir para o sujeito como l-tima soluo de recusa (Gaspard, 2009) e ocupar uma verdadeira funo de enlaamento. Ela pode indicar um acesso ao que h de mais singular, produzindo, assim, uma peculiar forma de lao social, quando permite ao sujeito, na histeria, por exemplo, exibir atravs de sua dor corporal um desafio ao discurso mdico. Assim, a fibromialgia pode comparecer no sintoma, na neurose, como um modo de gozo ou como um fenmeno psicossomtico em qualquer estrutura clnica. Nesse ponto, concordamos com Ebtinger (2007), em que os fenmenos de converso no elucidam por completo o determinismo psquico da dor.

    No mbito da psicose, a sndrome pode participar de um es-foro para apreender os limites corporais ou, at mesmo, como em casos de esquizofrenia, corresponder a uma tentativa de se fazer um corpo. Esse corpo, pelas dores e sensaes difusas que pro-duz, torna-se o parceiro do sujeito. Em casos onde a imagem do corpo no fornece a um sujeito a crena de ter um corpo e, em consequncia, de existir no mundo; a dor, como sensao, pode vir a desempenhar essa funo. a hiptese de Ebtinger (Ibid) na

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    abordagem do caso clnico de um sujeito acometido de uma dor fsica permanente aps sofrer um acidente, sem nenhum substra-to na realidade do corpo.

    Por vezes, por sua recorrncia e cronicidade, a fibromial-gia pode participar de uma suplncia nos casos de psicose, tanto extraordinria como ordinria6. Dessa forma pode evitar uma des-compensao ou, do mesmo modo que alguns desdobramentos de dores de cabea ou vertigens, pode ser um dos sinais clnicos de um desencadeamento psictico. Sendo assim, uma extrema pru-dncia recomendada em relao s dores crnicas rebeldes e aos numerosos fenmenos psicossomticos. Propondo a fibromialgia como um fenmeno de ordem histrica ou psicossomtica, Leite e Pereira (2003) afirmam: A dor marca o limite do eu atravessado por um excesso. Ela erotiza o corpo que arrisca revelar-se como carne crua, ela reveste o corpo orgnico que tanto horroriza

    Em alguns casos, a legitimao da doena atravs do diag-nstico pode permitir ao sujeito a obteno de um certo alvio e, em outros, funcionar como limite ao desenvolvimento de um delrio. De fato, o reconhecimento da dor, ou at mesmo de um eventual handicap, abre a possibilidade de se ter mo, como um prt--porter, uma causa que fornece certo sentido aos males somticos, mas tambm aos psquicos. Ao mesmo tempo, pode permitir a reinsero do sujeito no coletivo, no como todo-mundo, com um estatuto normativo, por assim dizer. Graas a essa identidade posti-a obtida com o selo da fibromialgia, o fato de experimentar certos gozos corporais no precisa mais ser escondido ou calado.

    De todo modo, na pesquisa sobre essa sndrome que desafia o saber cientfico vigente, como na de todas as patologias-limite que nossa modernidade repertoria, o debate entre normal e patol-gico parece ultrapassado, o que nos obriga a pensar esses eventos em termos sociopolticos (Gori e, Del Volgo, 2005) e sociohistricos (Arveiller, 2002 ; Sordet-Guepet, 2004). Com efeito, a fibromialgia no pode ser compreendida como uma simples verso atualizada de episdios de converso (Trillat, 2006), nem reduzida ao campo psicossomtico. Em funo disso, entramos em um campo escor-regadio e contraditrio no qual as autoridades da medicina, tanto quanto os pesquisadores, se mostram reticentes em legitimar um estatuto oficial de doena, com todas as consequncias mdico-

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    sociais e econmicas resultantes (Kahn, 2001). Apesar do ativismo na cena miditica das associaes de doentes, a multiplicao das reportagens de televiso e de artigos, a razo desse recuo dos es-pecialistas se deve, em primeiro lugar, ao carter subjetivo dos transtornos relatados.

    Em contraposio s tentativas sempre indefi-nidas para desenhar um perfil tpico do paciente fibromilgico, a orientao que propomos a referncia a uma psicopatologia sustentada na considerao do sujeito. Assim, no se trata de en-fatizar a cura a todo preo, mas ao contrrio, considerar a eventual funo da fibromialgia na estruturao psquica como soluo subjetiva. Nessa perspectiva, o clnico (mdico, psiquiatra, psi-clogo e/ou psicanalista) deve sustentar a enunciao do sujeito em sua tentativa de esboar uma teoria pessoal de sua doena. um primeiro passo, mas uma via para permitir ao sujeito mudar ou, pelo menos, modular sua posio face ao sofrimento sem remdio. Em alguns casos, esse pode ser um caminho para uma verdadeira mutao subjetiva, uma abertura para a interrogao sobre a ma-neira de se colocar no mundo, a singularidade de sua relao ao saber, ao real do sexo e morte. Em outros, o reconhecimento da legitimidade de um sofrimento particular, a partir de um nome que a cincia fornece, pode ser ocasio de um apaziguamento face interpelao de um gozo inominvel.

    Notas 1. Questo escrita n 26683 de M. Ivan Renar (Nord - CRC)

    publicada no JO Snat de 22/03/2007 p. 628; Resposta do Ministre de la sant et des solidarits publicada no JO Snat de 03/05/2007 p. 915. http://www.senat.fr/questions/base/2009/qSEQ090709431.html

    2. H, nos pacientes, uma reduo do limite de sensibilidade dor que legitima a escolha de pontos dolorosos a partir de uma presso como critrio de classificao.

    3. Aqui, o Outro uma referncia de ordem geral, cujas figuras, Deus, o Estado, a Cidade, entre outras, remetem a um lugar de

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    determinao e de introduo da lei, em resumo, a uma ordem simblica prvia e exterior ao sujeito.

    4. A generalizao aqui exige que sublinhemos: no caso dos sujeitos que podem dispor dessa crena.

    5. Tomamos como paradigma maior o gozo feminino e as sensaes de xtase to bem descritas por Santa Tereza dvila.

    6. Nossa referncia a denominao proposta por Miller, J.A., 1999.

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    Recebido em 27 de agosto de 2010Aceito em 08 de setembro de 2010Revisado em 19 de outubro de 2010