behaviorismo

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BEHAVIORISMO ("Tericos do Comportamento") Definio Teoria da aprendizagem (humana e animal) que se centra apenas nos "comportamentos objectivamente observveis" negligenciando as actividades mentais... A aprendizagem simplesmente definida como a aquisio de um novo comportamento. Princpios do Behaviorismo A forma mais simples de aprendizagem a habituao, isto , a diminuio da tendncia para responder aos estmulos que, aps uma exposio repetida, se tornaram familiares. O organismo aprende que j encontrou um dado estmulo numa situao anterior. O "condicionamento" um processo universal de aprendizagem: 1) Condicionamento clssico : engloba o reflexo natural de resposta a um estmulo. O organismo aprende a associar dois estmulos : - o EI (estmulo incondicionado) - que surge antes do condicionamento e evoca uma RI (resposta incondicionada); - o EC (estmulo condicionado) - estmulo que se emparelha sucessivamente ao EI e que acaba por evocar uma RC (resposta condicionada) em geral semelhante RI. 2) Condicionamento instrumental (operante) : que envolve o reforo da resposta ao estmulo. Trata-se de um simples sistema de retroaco (feedback) que obedece lei do efeito de Thorndike segundo a qual a tendncia para realizar a resposta fortalecida se esta for seguida de recompensa (reforo) e enfraquecida se no o for. Ao contrrio do que acontece no "condicionamento clssico" - em que a RC evocada pelo EC - no "condicionamento operante" a "RC emitida do interior do organismo" (Skinner). Crticas: a) No leva em conta algumas capacidades intelectuais das espcies superiores; b) No explica alguns tipos de aprendizagem , como por exemplo o reconhecimento de padres de fala diferentes detectados em bebs que no tinham sido antes reforados para tal; c) No explicam alguns dados conhecidos de adaptao, por parte de alguns animais, dos seus comportamentos (previamente reforados ) em novos contextos... O CONSTRUTIVISMO Definio: Teoria da Aprendizagem que parte do pressuposto de que todos ns construimos a nossa prpria concepo do mundo em que vivemos a partir da reflexo sobre as nossas prprias experincias. Cada um de ns utiliza "regras" e "modelos mentais" prprios (que geramos no processo de reflexo sobre a nossa experincia pessoal), consistindo a aprendizagem no ajustamento desses "modelos" a fim de poderem "acomodar" as novas experincias... Princpios do Construtivismo 1) A Aprendizagem uma constante procura do significado das coisas. A Aprendizagem deve pois comear pelos acontecimentos em que os alunos esto envolvidos e cujo significado procuram construir... 2) A construo do significado requer no s a compreenso da "globalidade" como das "partes" que a constituem. As "partes" devem ser compreendidas como integradas no "contexto" das "globalidades". O processo de aprendizagem deve portanto centrar-se nos "conceitos primrios" e no nos "factos isolados". 3) Para se poder ensinar bem necessrio conhecer os modelos mentais que os alunos utilizam na compreenso do mundo que os rodeia e os pressupostos que suportam esses modelos. 4) Aprender construir o seu prprio significado e no o encontrar as "respostas certas" dadas por algum. (Jackeline e Martin BROOKS : "The Case for Constructivist Classrooms) A PERSPECTIVA DESENVOLVIMENTALISTA DE PIAGET Definio

Modelo que se baseia na ideia de que a criana, no seu desenvolvimento, constri estruturas cognitivas sofisticadas - que vo dos poucos e primitivos reflexos do recm-nascido at s mais complexas actividades mentais do jovem adulto. De acordo com Piaget, a estrutura cognitiva um "mapa" mental interno, um "esquema" ou uma "rede" de conceitos construidos pelo indivduo para compreender e responder s experincias que decorrem dentro do seu meio envolvente. Princpios A teoria de Piaget identifica quatro estdios de desenvolvimento e um conjunto de processos atravs dos quais acriana progride de um estdio a outro: 1) Estdio Sensrio-Motor ( do nascimento aos 2 anos) - a criana, atravs de uma interaco fsica com o seu meio, constri um conjunto de "esquemas de aco" que lhe permitem compreender a realidade e a forma como esta funciona.Acriana desenvolve o conceito de permanncia do objecto, constri alguns esquemas sensrio-motores coordenados e capaz de fazer imitaes genunas (adquirindo representaes mentais cada vez mais complexas); 2) Estdio Pr-Operatrio (2 - 6 anos) - a criana competente ao nvel do pensamento representativo mas carece de operaes mentais que ordenem e organizem esse pensamento. Sendo egocntrica e com um pensamento no reversvel, acriana no ainda capaz, por exemplo de conservar o nmero e a quantidade. 3) Operaes Concretas (7 - 11 anos) - conforma a experincia fsica e concreta se vai acumulando, a criana comea a conceptualizar, criando "estruturas lgicas" para a explicao das suas experincias mas ainda sem abstraco. 4) Operaes Formais (11- 15 anos) - Como resultado da estruturao progressiva do estdio anterior a criana atinge o raciocnio abstracto, conceptual, conseguindo ter em conta as hipteses possveis e sendo capaz de pensar cientificamente. A perspectiva das NEUROCINCIAS Definio As neurocincias dedicam-se ao estudo do sistema nervoso humano, ao estudo do crebro e das bases biolgicas da conscincia, da percepo, da memria e da aprendizagem. Princpios * O sistema nervoso e o crebro so as bases fsicas/biolgicas do nosso processo de aprendizagem,o suporte material do funcionamento intelectual * O suporte material do funcionamento intelectual, surge como um rgo composto por trs crebros: o arqueocortex (crebro "rptil", que data de h 250 milhes de anos), que controla as funes bsicas sensrio-motoras, assegurando as relaes com o meio e a adaptao; o paleocortex (crebro "lmbico", que data dos "mamferos", h 150 milhes de anos), que controla as emoes elementares (medo, fome, ...), o instinto gensico (relativo procriao), a memria, o olfacto e outros instintos bsicos; o "neocortex" (que data dos novos mamferos de h algumas centenas de milhares de anos), que representa cerca de 85% da massa cerebral e que controla a cognio, o raciocnio a linguagem e a inteligncia. * O crebro no um computador - A estrutura das conexes neuronais no crebro livre, flexvel, "como que uma teia", sobreposta e redundante. Para um sistema como este impossvel funcionar como qualquer computador de processamento linear ou paralelo. A melhor descrio do crebro ser v-lo como "um sistema auto-regulvel". * O crebro altera-se com o uso atravs de toda a vida. A concentrao mental e o esforo alteram a estrutura fsica do crebro. * Os neurnios (clulas nervosas), conectados entre si atravs das "dendrites", so cerca de 100 bilies e podem ter entre 1 e 10 000 sinapses cada um. A complexidade das conexes possveis incalculvel e o prprio padro das conexes sinpticas pode alterar-se com o uso do crebro, isto , aps uma conexo sinptica estabelece-se um padro que faz com que essa mesma conexo seja mais fcil numa prxima vez (resultando mesmo numa alterao fsica da sinapse), como acontece por exemplo no campo da memria. AS MLTIPLAS INTELIGNCIAS (Howard Gardner) Definio

Teoria desenvolvida por Gardner que sugere a existncia de pelo menos 7 inteligncias distintas, isto , de 7 distintas maneiras de perceber e "conhecer" o mundo e de as pessoas resolverem os problemas que lhes surgem, correspondendo de alguma forma a 7 estilos de aprendizagem. Princpios Gardner define "Inteligncia" como um conjunto de competncias que: autnomo das outras capacidades humanas; tem um ncleo base de operaes de "processamento de informao"; tem uma histria diferenciada de desenvolvimento (estdios de desenvolvimento por que todas as pessoas passam); tem razes provveis na evoluo filogentica; e pode ser codificada num sistema de smbolos . As sete inteligncias identificadas por Gardner so: Verbal / Lingustica - A habilidade para "brincar com as palavras", contar histrias, ler e escrever. A pessoa com este estilo de aprendizagem tem facilidade em recordar nomes, lugares, datas e coisas semelhantes; Lgica / Matemtica - A capacidade para "brincar com as questes", para o raciocnio e pensamento indutivo e dedutivo, para o uso de nmeros e resoluo de problemas matemticos e lgicos; Visual / Espacial - Habilidade para visualizar objectos e dimenses espaciais, para criar "imagens" internas. Este tipo de pessoas adoram desenhar, pintar, visitar exposies, visualisar slides, videos e filmes... Somato-Quinestsica - Conhecimento do corpo e habilidade para controlar os movimentos corporais. As pessoas com este "tipo de inteligncia" movem-se enquanto falam, usam o corpo para expressar as suas ideias, gostam de danar, de praticar desportos e outras actividades motoras. Musical - Rtmica - Habilidade para reconhecer sons e ritmos; trata-se de pessoas que gostam de ouvir msica, de cantar e at de tocar algum instrumento musical. Interpessoal - Capacidade de relacionamento interpessoal. So pessoas que esto sempre rodeadas de amigos e gostam de conviver. Intrapessoal - Auto-reflexo, metacognio e conscincia das realidades espirituais. So pessoas que preferem "estar ss" e pouco dadas a convvios. (Gardner - Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences) OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM Definio Teoria da Aprendizagem que parte da ideia de que os indivduos tm diferentes maneiras de "perceber" e de "processar a informao" o que implica diferenas nos seus processos de aprendizagem. Princpios O conceito de "estilos de aprendizagem" tem a sua raz na Psicologia, especialmente na classificao dos "tipos psicolgicos" (C. Jung). Das interaces entre os dados genticos do indivduo e as exigncias do meio resultam diferentes formas de recolher e processar a informao, podendo apontar-se os seguintes tipos: Relativamente Recolha da Informao : Os Concretos - recolhem a informao atravs da experincia directa, fazendo e agindo, percebendo e sentindo; Os Abstractos - Recolhem a informao atravs da anlise e observao, pensando... Relativamente ao Processamento da Informao : Os Activos - Fazem imediatamente qualquer coisa com a informao que recolheram da experincia; Os Reflexivos - Aps a recolha de novas informaes pensam nelas e reflectem sobre o assunto. (McCarthy - Teaching to Learning Styles with Right/Left Mode Techniques) CREBRO DIREITO / CREBRO ESQUERDO Definio Uma teoria acerca da estrutura e funes do crebro que sugere que:

a) os diferentes hemisfrios cerebrais controlam diferentes "modos" de pensar; b) todos ns temos uma preferncia por um ou outro desses modos. Princpios A investigao tem demonstrado que os dois lados (hemisfrios) do crebro so responsveis por diferentes modos de pensamento admitindo-se que, em geral, essa diviso implica: Hemisfrio Esquerdo Lgico Sequencial Racional Analtico Hemisfrio Direito Aleatrio Holstico (simultneo) Intuitivo Sinttico

Objectivo Subjectivo Percebe o pormenor Percebe a forma A maioria dos indivduos tem uma preferncia por um destes estilos de pensamento; no entanto, algumas pessoas so adeptas dos dois estilos (ambidextras). Em geral a Escola tende a valorizar o modo de pensar do hemisfrio esquerdo (que enfatiza o pensamento lgico e a anlise) em detrimento do modo caracterstico do hemisfrio direito (que mais adequado para as artes, os sentimentos e a criatividade). (Bernie McCarthy - Teaching to Learning Styles with Right/Left Mode Techniques) A APRENDIZAGEM CONSCIENTE " De acordo com os resultados dos estudos experimentais em pedagogia podemos definir sete estdios de aprendizagem humana ao longo de toda a vida ... Primeiro Estdio: Aprendizagem de sinais em funo de estmulos-respostas, quer vegetativos, quer involuntrios; Segundo Estdio: Aprendizagem das relaes estmulos-respostas musculares ou voluntrias; Terceiro Estdio: Aprendizagem de cadeias mentais ou verbais; Quarto Estdio: Aprendizazgem de uma discriminao mltipla, isto , escolha voluntria entre vrias respostas em funo de um estmulo dado; Quinto Estdio: Aprendizagem de um conceito, isto , escolha entre vrias respostas em funo de vrios estmulos; Sexto Estdio: Aprendizagem de um princpio, isto , combinao de conceitos que conduzem ao conhecimento, no quadro de um contexto. Stimo Estdio: Aprendizagem da resoluo de um problema, isto , reflexo tendo em conta o meio. " preciso insistir no facto de os processos de aprendizagem serem baseados no sistema de comunicao entre o crebro e o meio, por intermdio do corpo." (Daniel Dubois (1994): "O Labirinto da Inteligncia. Da Inteligncia Natural Inteligncia Fractal"; Lisboa: Instituto Piaget; pg 38) Aprendizagem e Inteligncia Artificial - Alguns Conceitos ... Daniel Dubois ( engenheiro civil / ciberntica) "A inteligncia como um prisma de numerosas faces. No se trata de uma qualidade prpria das condutas humanas, mas sim de uma funo auto-organizadora de comportamentos que se desenvolvem e evoluem. O crebro humano no o nico suporte da inteligncia: qualquer outro sistema, quer seja natural ou artificial, pode engendrar comportamentos inteligentes... O objectivo de um sistema inteligente reconstruir a (ou as) melhor(es) representao (es) do seu meio e de si prprio, a fim de adquirir o mximo de autonomia e de ser o menos possvel sensvel s flutuaes do meio. Para atingir este objectivo, ele desenvolve a actividade de aprender e de auto-aprender. A APRENDIZAGEM , precisamente, o processo que permite a criao de novas representaes. Pode ser "inculcada", no sentido em que estas novas representaes so propostas aos sistemas inteligentes, que as assimilam. A auto-aprendizagem o processo pelo qual o sistema inteligente cria, por si prprio, novas representaes... O crebro humano

parece ser o nico sistema inteligente dotado daquilo a que chamamos a metaaprendizagem [aprendizagem da aprendizagem - que pode ser "inculcada sob a forma de regras/instrues] e a meta-auto-aprendizagem [reflexo do sistema sobre os seus prprios mtodos de auto-aprendizagem - que se assemelha ao fenmeno da conscincia]" (O labirinto da Inteligncia, pp. 15-17) Georges Vignaux ( neuropsicologia) "... qualquer aprendizagem num sistema ou num ser vivo manifestar-se- pela aquisio de uma ou mais propriedades que no so inatas neste sistema ou neste ser ..." ( As cincias cognitivas ; pp.135) O MODELO DE APRENDIZAGEM BASEADO EM REGRAS ( Segundo Daniel Dubois) Ideias principais: "Os patrimnios genticos dos seres vivos so mais ricos em regras de aprendizagem do que em informaes" [... os ratos (como demonstrou Tolman) constroem mapas mentais do seu espao familiar; as abelhas dispem de mapas mentais estabelecidos no decurso de uma fase instintiva de reconhecimento do territrio; experincias com pombos sugerem que eles tm uma capacidade inata de generalizao de certos conceitos ...] Muitos animais, como parecem provar as investigaes feitas no domnio das neurocincias, esto mais particularmente aptos em certos domnios favorecidos pela seleco natural e so particularmente "estpidos" ou inaptos no que toca s aprendizagens que no tm que ver com o seu estilo de vida. No entanto, " O crebro humano, para alm da sua capacidade de memorizar e de tratar conhecimentos, teria a possibilidade de memorizar e tratar regras de aprendizagem por metaaprendizagem, que , ela prpria, constituida pela memorizao de meta-regras adquiridas e/ou inatas." "Atravs da auto-aprendizagem, o crebro humano teria, alm da sua capacidade de memorizar e de tratar os conhecimentos descobertos em si prprio ou adquiridos automaticamente no exterior, a possibilidade de memorizar e de tratar auto-regras de aprendizagem, atravs de metaauto-regras adquiridas e/ou inatas". "Este ltimo tipo de aprendizagem implica decises "conscientes" no momento ... tendo como consequncia o enfraquecimento da aco do instinto sobre o homam". "Esta aprendizagem reflectida ... uma componente essencial da inteligncia humana" Embora a estrutura e a funo dos neurnios sejam idnticas em todos os seres vivos (animais e humanos), a organizao dos fluxos de informao neuronais prpria de cada espcie ... O prprio processo de aprendizagem tem, portanto, uma parte de inato e uma parte de adquirido ... OS MOMENTOS DA APRENDIZAGEM (Segundo Daniel Dubois) A aprendizagem envolve quatro tipos de conceitos: A aprendizagem propriamente dita - processo atravs do qual se criam novas representaes que pode ser inculcada, no sentido em que representaes j prontas podem ser propostas aos sistemas inteligentes, que as assimilam; A auto-aprendizagem - processo atravs do qual os prprios sistemas inteligentes criam novas representaes; A meta-aprendizagem - processo que se refere aprendizagem da prpria aprendizagem - que pode ser inculcada sob a forma de regras que orientam, guiam ou canalizam o processo de aprendizagem; A meta-auto-aprendizagem - processo referente reflexo do sistema inteligente sobre os seus mtodos de auto-aprendizagem. Neste aspecto, a meta-auto-aprendizagem assemelha-se Conscincia.

A rotina na educao infantilD sua nota: tualmente /5 Avaliao : /5 (nenhum voto) Voc precisa estar logado para votarTweet Rotina estrutura bsica, da espinha dorsal das atividades do dia. A rotina diria o desenvolvimento prtico do planejamento. tambm a seqncia de diferentes atividades que acontecem no dia-a-dia da creche e esta seqncia que vai possibilitar que a criana se oriente na relao tempo-espao e se desenvolva. Uma rotina adequada um instrumento construtivo para a criana, pois permite que ela estruture sua independncia e autonomia, alm de estimular a sua socializao. Maria Carmen Barbosa e Maria da Graa Horn, afirma em Organizao do Espao e do Tempo na Escola Infantil. O cotidiano de uma Escola Infantil tem de prever momentos diferenciados que certamente no se organizaro da mesma forma para crianas maiores e menores. Diversos tipos de atividades envolvero a jornada diria das crianas e dos adultos: o horrio da chegada, a alimentao, a higiene, o repouso, as brincadeiras os jogos diversificados como o faz-de-conta, os jogos imitativos e motores, de explorao de materiais grficos e plsticos os livros de histrias, as atividades coordenadas pelo adulto e outras . Assim, para organizar estas atividades no tempo, fundamental levar em considerao trs diferentes necessidades das crianas: As necessidades biolgicas, como as relacionadas ao repouso, alimentao, higiene e sua faixa etria; as necessidades psicolgicas, que se referem s diferenas individuais como, o tempo e o ritmo de cada um; as necessidades sociais e histricas que dizem respeito cultura e ao estilo de vida . interessante aqui reforar a idia de que a rotina deve prever pouca espera das crianas, principalmente durante os perodos de higiene e de alimentao. A espera pode ser evitada se organizarmos a nossa sala de aula de maneira que a criana tenha a possibilidade de realizar outras atividades, de forma mais autnoma, tendo livre acesso a espaos e materiais, enquanto o professor est atendendo uma nica criana. Atividades de organizao coletiva As crianas definem o que desejam fazer, e para isso necessrio que o ambiente, em termos de materiais e espaos, d condies. J as crianas maiores podem participar na prpria organizao das atividades. Uma festa, por exemplo, uma atividade coletiva que pode ser organizada junto com as crianas. O mesmo pode ser feito com relao a um passeio, uma visita fora da instituio. Atividades de cuidado pessoal No devemos separar o cuidar do educar . Uma das preocupaes bsicas das atividades de cuidado pessoal com a sade, entendendo a sade como sendo o bem-estar fsico, psicolgico e social da criana. A higiene, o sono e a alimentao so algumas das principais condies para a sua vida, necessria uma ateno maior em relao limpeza e aos hbitos adequados de higiene. Tambm a alimentao muito importante e no deve ser encarada com momento de dificuldade e de tenso. importante observarmos alguns detalhes, tais como: o uso do guardanapo, a utilizao correta dos talheres, e a ingesto de lquidos no momento adequado. possvel organizar na creche brincadeiras e msicas que envolvam questes de higiene e alimentao. O sono outro fator relevante para a sade da criana, o ideal que sejam ofertadas outras opes de atividades para as crianas que no querem ou no conseguem dormir. O problema da exigncia dos momentos de sono da criana o resultado da falta de pessoal. Mas isso no correto? Importante: as crianas nunca devem dormir sem a presena de um adulto para atender a qualquer eventualidade, como passar mal, acordar aos sustos, por exemplo. Alm disso, o horrio de descanso das crianas e no do profissional, que neste momento est trabalhando! O momento do banho especial para a criana na creche. No berrio, devemos cuidar da temperatura da gua, arrumar as roupas antecipadamente e escolher os brinquedos para entreter a criana antes, durante e aps o banho. No maternal pode-se dar banhos de mangueira nas crianas, ou mesmo instalar chuveiros externos quando as condies climticas assim permitirem. Atividades dirigidas Na creche, as atividades dirigidas so aquelas que o professor realiza com uma ou poucas crianas, procurando chamar a ateno pra algum elemento novo do ambiente, como uma figura, uma brincadeira com som etc. No momento em que as crianas aprendem a andar relevante realizar passeios pela creche. O adulto deve coordenar inmeras atividades com as crianas, a partir de certa idade, tais como: contar histrias, fazer teatro com fantoches, ensinar msicas e brincadeiras de roda, brincar de esconde-esconde. O interessante propor atividades criana e deix-la segura para escolher a forma de participar. Isso significa respeitar seu ritmo, confiar na criana, na sua capacidade de ao e na liberdade que tem para expressar seus sentimentos. Atividades livres (isto , menos dirigidas pelo professor) Estas atividades devem fazer parte d programao diria de todos os grupos de crianas, desde o berrio at a turma dos maiores. Cabe a este organizar espaos e momentos para que as crianas livremente explorem o

ambiente e escolham suas atividades especficas, mas sempre interessante que o professor intervenha na coordenao das brincadeiras quando assim for necessrio e integre-se como participante. Por Renata Gonalves

Agrupamentos preferenciais e nopreferenciais e arranjos espaciais em creches1

Mara I. Campos-de-Carvalho Flvia H. Pereira Padovani Universidade de So Paulo

Resumo Para verificar o impacto do arranjo espacial para ocorrncia de agrupamentos preferenciais e no -preferenciais, analisou -se a ocupao do espao por crianas de 2 -3 anos de duas creches da regio de Ribeiro Preto (SP), que atendem famlias de baixa renda. Os dados foram obtidos por duas cm eras fotogrficas automticas, ativadas a cada 30 segundos, em trs fases: I - arranjo aberto: habitual (4 sesses); II - arranjo aberto: introduo de estantes nas laterais (6 sesses); III - arranjo semi-aberto: montagem de duas zonas circunscritas (6 sesses). Proximidade fsica foi utilizada para registrar os agrupamentos, verificando -se: maior estruturao espacial acarretou aumento significativo nos agrupamentos, especialmente com trs ou mais crianas; maior ocorrncia de agrupamentos nas reas das estantes (FII) e nas zonas circunscritas (FIII), sendo significativa para os no-preferenciais; maior ocupao da zona do adulto na fase inicial, significativa para os no preferenciais. Concluindo, h evidncias da relevncia do arranjo espacial para ocorrncia de agrupamentos, principalmente para os no-preferenciais. Palavras-chave: Psicologia Ambiental; Agrupamentos preferenciais; Arranjo espacial; Creches; Abordagem ecolgica.

Abstract Preferential and no preferential groups and spatial arrangements in day care centers The role of spatial arrangement in the occurrence of preferential and no preferential groups is examined. The spatial distribution of 2 - to 3year-old children from two day care centers serving low income families in the Ribeiro Preto (SP) area was analyzed. Data were collected by two automatic photographic cameras shooting at every 30 seconds, in three phases: I open arrangement: the usual space (4 sessions); II open arrangement: inclusion of shelves along the periphery of the space (6 sessions); III semi-open arrangement: formation of two circumscribed zones (6 sessions). Physical proximity was used to record the peer groups. The analysis showed: a significant increase in the occurrence of peer groups with increased spatial structure, especially with three or more children; a preferential occurrence of peer groups in the area around the shelves (Phase II) and circumscribed zones (Phase III), with a significant occurrence of no preferential groups. Thus, the data point out the relevance of spatial arrangements for the formation of peer groups, mainly of no preferential groups. Key words: Environmental Psychology, Preferential peer groups, Spatial arrangement, Day care centers, Ecological approach

A perspectiva de que as interaes entre crianas so toimportantes quanto as interaes adulto -criana para o desenvolvimento infantil (Campos -de-Carvalho & Rossetti Ferreira, 1993; Carvalho & Beraldo, 1989; Hartup, 1987; Legendre & Fontaine, 1991), suscita questes sobre como o ambiente pode facilitar ou dificultar a ocorrncia de interaes, especialmente entre crianas menores de trs anos em ambientes educacionais coletivos, tais como em creches. Vemos o contexto ambiental como um sistema de interdepen dncia entre seus componentes fsicos e humanos, de acordo com uma abordagem ecolgica, a qual tem sido apontada como necessria para o estudo do desenvolvimento humano (e. g., Bronfenbrenner, 1993; Campos-de-Carvalho, 1993; Moore, 1987; Wohlwill & Heft, 1987). A Psicologia Ecolgica vista como um dos domnios da Psicologia Ambiental, embora uma perspectiva ecolgica j estivesse em uso na Psicologia, anteriormente emergncia da Psicologia Ambiental (Campos-de-Carvalho, 1993; Tudge, Gray & Hogan, 1997; Valsiner & Benigni, 1986). Apesar de a Psicologia Ambiental priorizar aspectos fsicos do ambiente e suas relaes com o comportamento humano, ainda persiste na Psicologia o que Stokols (1990, p. 641)

denomina de uma perspectiva reducionista, pela qual "am bientes fsicos exercem influncia mnima ou negligencivel sobre o comportamento, sade e bem-estar de seus usurios". Por exemplo, na Psicologia do Desenvolvimento o ambiente social tem sido primordialmente focalizado, como bem apontado por Wachs (1990), sendo os aspectos fsicos negligenciados. Nossa viso de desenvolvimento baseia -se numa perspectiva ecolgica, enfatizando a relao bidirecional entre pessoa -ambiente (Bronfenbrenner, 1977; Campos-de-Carvalho, 1993; Moore, 1987; Pinheiro, 1997; Stokols, 1990; Valsiner, 1987; Valsiner & Benigni, 1986; Wohlwill & Heft, 1987). A pessoa, inclusive a criana, participa ativamente de seu desenvolvimento atravs de suas relaes com o ambiente fsico e social, e neste ltimo, principalmente atravs de suas interaes com outras pessoas (adultos e crianas), dentro de um contexto scio-histrico especfico. Por exemplo, a criana explora, descobre e inicia aes em seu ambiente; seleciona parceiros, objetos e reas para suas atividades, mudando o ambiente atravs de seus comportamentos. Por outro lado, os comportamentos humanos so influenciados pelo ambiente, fsico e social; no caso da criana, o ambiente fsico e social fornecido pelos adultos, de acordo com seus objetivos pessoais, construdos com base em sua s expectativas scio -culturais sobre os comportamentos e desenvolvimento infantis (Campos -de-Carvalho & Rubiano, 1996a). Desenvolvimento, portanto, envolve mudanas contnuas e duradouras no modo como a pessoa percebe e negocia com seu ambiente, isto , mudanas nas capacidades da pessoa em descobrir, manter ou alterar as propriedades do ambiente. Diferentes maneiras de organizar o espao oferecem suporte para diversas formas de organizao social, especialmente em ambientes de educao coletiva, tais como em creches, onde um adulto cuida, simultaneamente, de vrias crianas, os parceiros mais disponveis para interao. Vrios estudos tm demonstrado a importncia de aspectos fsicos do ambiente, tal como o papel dos objetos (e.g., Eckerman & Stein, 1982; Mueller & Lucas, 1975; Stambak & Verba, 1986), para interaes de crianas, especialmente durante os trs primeiros anos de vida, pois suas habilidades sociais e verbais esto se desenvolvendo. Porm, poucos estudos tm investigado a influncia nos comportamentos infantis de espaos abertos e fechados, referentes ausncia ou presena de barreiras na rea de atividades, particularmente em creches, tais como os estudos de Legendre (1995; 1999; Legendre & Fontaine, 1991; Moore, 1987). O arranjo espacial uma das variveis do ambiente fsico, que diz respeito maneira como mveis e equipamentos existentes em um local esto posicionados entre si. Legendre (1986, 1989, 1999) tem descrito as caractersticas de trs tipos de arranjos espaciais e sua

interdependncia com as interaes de crianas de 2-3 anos em creches francesas. O "arranjo semi-aberto" caracterizado pela presena de zonas circunscritas, proporcionando criana uma viso de todo o local. Zonas circunscritas so reas delimitadas pelo menos em trs lados por barreiras formadas por mobilirios, parede, desnvel do solo etc.; a caracterstica primordial destas zonas a sua circunscrio ou fechamento, independentemente do tipo de material colocado para as crianas manipularem, o que, ento, as dife renciam dos chamados cantos de atividades. Neste arranjo, as crianas ocupam preferencialmente as zonas circunscritas, nas quais ocorrem interaes afiliativas freqentes entre elas; suas aproximaes do adulto, embora menos freqentes, tendem a evocar mais respostas deste em comparao com outros arranjos. No "arranjo aberto", h ausncia de zonas circunscritas, geralmente havendo um espao central vazio. As interaes entre crianas so raras, as quais tendem a permanecer em volta do adulto, porm ocorrendo pouca interao com o mesmo. Afora esta tendncia, as crianas se espalham pela sala, com deslocamentos freqentes. No "arranjo fechado", h a presena de barreiras fsicas, por exemplo um mvel alto, que dividem o local em duas ou mais reas, impedindo uma viso total do local pelas crianas. Estas tendem a permanecer em volta do adulto, evitando reas onde a viso do mesmo no possvel; h ocorrncia de poucas interaes entre crianas. Devido aos comportamentos de apego (Rossetti Ferreira, 1984), freqente a busca pela criana de proximidade fsica e/ou visual com o adulto que dela cuida. Desta maneira, necessrio que os elementos utilizados para estruturar uma zona circunscrita sejam baixos o suficiente para permitirem s crianas um fcil conta to visual com o adulto, pois elas tendem a no permanecer em reas fora do contato visual com a educadora. Isso observado no arranjo fechado, onde as crianas evitam permanecer em reas, inclusive em uma zona circunscrita, onde no possvel ver as educ adoras (Legendre, 1986, 1989; Legendre & Fontaine, 1991). O contexto pouco estruturado de nossas creches, especialmente as que atendem populao de baixa renda tal como nmero grande de crianas pequenas (por exemplo, 10 a 35 crianas entre 18 a 36 meses) sob a superviso de um s adulto; escassez de mobilirio, objetos e equipamentos; ausncia de zonas circunscritas no favorece interaes, seja entre criana -adulto e, especialmente, entre crianas menores de trs anos, cujas habilidades verbais e soci ais esto se desenvolvendo. Nossos estudos, descritos a seguir, direcionam -se para a contribuio do arranjo espacial para a ocorrncia de interaes de coetneos, tanto entre si, como com o adulto, investigando a relao entre arranjo espacial e ocupao do espao por crianas de 2 -3 anos em

creches. Utilizamos a metodologia denominada por Bronfenbrenner (1977) de experimento ecolgico, a qual prope a realizao de manipulaes sistemticas de uma nica varivel, a que est sob investigao, mantendo-se os demais componentes ambientais presentes, ou seja, aquelas manipulaes ocorrem no interior do sistema ecolgico, preservando -se assim o sistema de interdependncia entre os componentes ambientais. Em estudo anterior (Campos-de-Carvalho & Rossetti Ferreira, 1993), transformamos o arranjo espacial aberto, que era habitual, em um arranjo semi-aberto em duas creches da regio de Ribeiro Preto (SP) que atendem famlias de baixa renda. A coleta de dados foi realizada durante a ocorrncia de atividades livres d as crianas de 23 anos, com a presena da educadora, em perodos regularmente programados pelas creches e com materiais pertencentes creche, comumente utilizados pelas crianas. Utilizou -se duas cmaras fotogrficas com funcionamento automtico e conjun to a cada 30 segundos, sem a presena do operador, fixadas no alto de duas paredes opostas, abrangendo todo o local; cada duas fotos obtidas simultaneamente eram ampliadas em um mesmo papel, havendo cerca de 30 a 40 fotos por sesso. O estudo constou de trs fases: Fase I - arranjo aberto: espao usual, amplo e vazio (4 sesses); Fase II - arranjo aberto: introduo de estantes baixas na periferia da rea (6 sesses); Fase III - arranjo semi-aberto: montagem, com as estantes, de duas zonas circunscritas, uma maior e mais distante do local habitual do adulto e a outra, menor e prxima da educadora (6 sesses). A anlise da distribuio espacial das crianas mostrou: (1) reorganizao da ocupao do espao a cada fase; (2) ocupao preferencial de reas mais estruturadas a cada fase; (3) maior concentrao de crianas em volta da educadora em arranjos com menor estruturao espacial; afora esta tendncia, as crianas se deslocaram freqentemente pela sala, especialmente na primeira fase, a menos estruturada. Os resultados deste estudo (Campos -de-Carvalho & Rossetti Ferreira, 1993) suscitaram novas questes sobre a formao de agrupamentos infantis, investigadas em dois estudos posteriores envolvendo novas anlises das fotos (Campos-de-Carvalho, Meneghini & Mingorance, 1996; Meneghini & Campos-de-Carvalho, 1997), nos quais se utilizou o critrio de proximidade fsica distncia mxima de 1 m para registrar os agrupamentos entre crianas e criana(s) -adulto. A proximidade fsica importante para a ocorrncia de interaes entre crianas, sobretudo entre as pequenas e, embora seja um dos indicadores mais simples propostos para a anlise de interao de crianas, tem sido utilizada na anlise de dados de grupos infantis

(Campos-de-Carvalho & Rubiano, 1996b; Carvalho, 1992; Hinde & Roper, 1985). Estes dois estudos (Campos-de-Carvalho et al., 1996; Meneghini & Campos-de-Carvalho, 1997) indicaram que: (1) medida que o espao foi se tornando mais estruturado fisicamente, houve um acrscimo nos agrupamentos formados entre as crianas e uma reduo naqueles com a educadora; (2) as dades foram os agrupamentos mais freqentes em quaisquer das fases; (3) agrupamentos com cinco ou mais elementos, embora bem menos freqentes que os demais (trios e quadras), ocorreram com porcentagem mais elevada na rea prxima educadora, especialmente no arranjo aberto da Fase I; (4) as reas mais estruturadas de cada fase rea em torno do adulto, estantes e zonas circunscritas, respectivamente nas fases I, II e III exerceram um papel de suporte para a ocorrncia de agrupamentos entre crianas, especialmente os com trs ou mais crianas. Estes resultados suscitaram uma nova questo, investigada no presente estudo, sobre a ocupao do espao por agrupamentos privilegiados ou preferenciais, para verificar se prescindiriam, ou no, do suporte do arranjo espacial para se associarem. Utilizou -se a coleta de dados do estudo de Campos -de-Carvalho e Rossetti Ferreira (1993). Agrupamentos privilegiados entre crianas pequenas vm sendo identificados pela preferncia a certos parceiros, dentre outros disponveis, e pela maior freqncia interacional entre eles, pois em grupo as crianas interagem e brincam com freqncias difere ntes com os parceiros disponveis (Carvalho, 1992). Os trabalhos de Carvalho (1992) e de Carvalho & Moraes (1987) sugerem uma tendncia concentrao em certos parceiros, ou seja, uma seletividade, a qual se acentua com o contato ao longo do tempo. Hartup (1987) aponta que a amizade favorece interaes prolongadas, pois enquanto crianas desconhecidas precisam negociar para que a interao ocorra, crianas amigas ficam mais livres para elaborar e manter o jogo compartilhado. O presente trabalho teve por objetivo verificar o papel de suporte do arranjo espacial para a ocorrncia de agrupamentos entre crianas, tanto os preferenciais, aqueles cujos componentes se associam mais freqentemente, como dos que pouco se associam, os agrupamentos no-preferenciais. A ocorrncia destes agrupamentos foi analisada (1) verificando se as reas mais estruturadas, especficas a cada fase seriam, ou no, os locais mais freqentemente ocupados e (2) comparando o nmero de cada um desses agrupamentos detectados em cada fase.

Mtodo SujeitosForam observados dois grupos de crianas entre dois e trs anos e suas respectivas educadoras, uma por grupo, de duas creches da regio de Ribeiro Preto (SP) que atendem famlias de baixa renda a Creche 1 localiza-se na periferia do municpio e a Creche 2 em uma pequena cidade, a 40 km de Ribeiro Preto. Na Creche 1 havia condies precrias nas instalaes sanitrias e na conservao do prdio, que foi adaptado para o funcionamento da creche. A creche era pobremente equipada, com escass ez de mobilirios, materiais e brinquedos. Atendia crianas de dois meses a dez anos, a maioria filhos de mes solteiras e empregadas domsticas. As crianas eram subdivididas em grupos conforme a idade, sendo que cada grupo permanecia a maior parte do dia em uma sala especfica. Esta creche era administrada por uma assistente social, sendo que as demais dez funcionrias, especialmente as educadoras, participavam do planejamento da programao geral da creche. O prdio da Creche 2 havia sido construdo especialmente para seu funcionamento, apresentando boas instalaes fsicas e sanitrias. Esta creche possua, em comparao primeira, maior quantidade e variedade de materiais, equipamentos, decorao e brinquedos novos, embora estes ltimos estivessem pouc o disponveis s crianas, especialmente durante o perodo de atividades livres. Atendia crianas de trs meses a quatro anos, a maior parte advinda de famlias de bias-frias e de funcionrios de uma usina de cana -deacar. As crianas eram subdivididas por grupos de idade, havendo rodzio na utilizao das salas e demais reas. O funcionamento e a programao eram decididos pela administradora (2 o grau) e por duas tcnicas, uma psicloga e uma fonoaudiloga, com pouca participao dos demais funcionrios , doze mulheres e dois homens. Nas duas creches as educadoras recebiam pouca orientao e treinamento para desenvolverem a funo, havendo um grande nmero de crianas sob os cuidados de um nico adulto. O Grupo 1, observado na Creche 1, era formado por 22 crianas na fase inicial (8 meninas e 14 meninos), com idades que variavam de 18 a 35 meses (idade mdia = 26 meses). Nas fases subseqentes, ocorridas seis meses aps a primeira devido a problemas tcnicos, restavam apenas duas crianas do grupo inicial, sendo compostas por 13 crianas (8 meninas e 5 meninos), de 20 a 35 meses de idade

(idade mdia = 26 meses). O Grupo 2, da Creche 2, era formado por 11 crianas na primeira fase (7 meninas e 4 meninos), com idades variando entre 26 e 31 meses (idade mdia = 28 meses). Nas fases subseqentes, trs meses aps, havia a presena de duas crianas que no tinham participado da primeira fase; o grupo passou a ser formado por 13 crianas (8 meninas e 5 meninos) com idades entre 30 e 34 meses (idade mdia = 31 meses). Em ambas as creches, as crianas estavam familiarizadas entre si e com a educadora.

Local e SituaoA coleta de dados foi realizada durante perodos de atividades livres, em horrio regularmente programado pelas creches. As crianas utilizavam materiais da prpria creche, geralmente sucatas (copos plsticos, vasilhames de gua, revistas velhas etc.) e/ou brinquedos velhos, levados pela educadora e colocados no centro do local. Nas duas creches, o arranjo espacial caracterizava -se por um grande espao vazio, sem zonas circunscritas, definindo um arranjo espacial aberto, o qual foi modificado nas duas fases subseqentes. Na Creche 1, a coleta de dados foi realizada em um galpo coberto de aproximadamente 126 m 2 de rea, contendo uma plataforma de cimento (5,56 x 2,68 x 0,45 m) com um degrau de acesso (0,80 x 0,30 x 0,20 m), pilastras de concreto nas bordas laterais e um bebedouro de cimento inacessvel s crianas devido a sua altura. Na Creche 2, os dados foram coletados numa sala de 60 m 2, na qual havia apenas um banco de madeira (1,90 x 0,30 x 0,30 m) e duas pilhas de colchonetes, somente utilizados no horrio de sono ps almoo.

Equipamentos e Coleta de DadosForam utilizadas duas cmeras fotogrficas, com funcionamento automtico e simultneo a cada trinta segundos, sem a presena do operador, fixadas em suportes de madeira, presos no alto de paredes opostas. Cada duas fotos batidas simultaneamente eram ampliadas em um mesmo papel, abrangendo todo o local. Foram obtidas de 30 a 40 fotos por sesso. Para a estruturao do espao, foram utilizadas estantes baixas de madeira (1,10 x 0,30 x 0,50 m), dez na Creche 1 e oito na Creche 2. Destas estantes, quatro em cada creche eram mais estruturadas que as demais, contendo um papelo na parte posterior, s endo que duas na Creche 1 e uma na Creche 2, tinham um segundo papelo em uma das laterais, formando uma quina.

ProcedimentoO estudo de Campos-de-Carvalho & Rossetti Ferreira (1993) constou de trs fases, cada uma contendo uma estruturao espacial diferente. A Figura 1 mostra uma ilustrao do arranjo espacial da sala do Grupo 2 em cada uma das fases. Indica tambm a ampliao no mesmo papel das fotos obtidas simultaneamente pelas duas cmeras fotogrficas, onde a parte central da sala aparece nas duas fotos.

Fase I - Arranjo Espacial AbertoO arranjo habitual do local observado nas duas creches, apresentava um espao central amplo e vazio, caracterizando um arranjo aberto. Foram realizadas quatro sesses em cada creche, num perodo de quatro semanas na Creche 1 e duas semanas na Creche 2.

Fase II - Arranjo Espacial Aberto: introduo das estantesHouve a introduo de pequenas estantes de madeira nas laterais do local, necessrias para a delimitao das zonas circunscritas na fase seguinte. Aps cerca de quinze dias de familiarizao s estantes, foram realizadas seis sesses num perodo de trs semanas, em c ada creche.

Fase III - Arranjo Espacial Semi-Aberto: montagem de duas zonas circunscritasA estruturao espacial caracterizou -se pela presena de duas zonas circunscritas ZC1 e ZC2), montadas com as estantes introduzidas na fase anterior. ZC1, maior e mais estruturada (estantes com e sem papelo e em maior nmero; caracterstica de fechamento mais saliente, com o quarto lado possuindo uma pequena abertura para a passagem das crianas), localizava -se longe da rea habitualmente ocupada pela educadora. ZC2, menor e menos estruturada (delimitada em trs lados - dois lados por duas estantes sem papelo e o terceiro, por uma parede), localizava-se perto da rea do adulto. Foram realizadas seis sesses, em um perodo de trs semanas na Creche 1 e de cinco semanas na Creche 2, aps cinco dias de familiarizao ao novo arranjo espacial.

Anlise de DadosA cada 30 segundos, foto por foto, foram identificadas as crianas que se encontravam agrupadas em dades, trades, quadras e em subgrupos de cinco ou mais criana s, atravs do critrio de proximidade fsica - duas ou mais crianas eram consideradas agrupadas quando estavam no mximo a 1m de distncia uma da outra. Para tal levantamento, era colocada sobre as fotos, uma mscara de acetato com uma planta quadriculada do local, onde cada quadrado correspondia a 1m 2 da superfcie da sala. Considerando o conjunto das sesses de cada fase, para cada tamanho de agrupamento (dades, trades, quadras e com cinco ou mais crianas) em reas especficas, foi calculada a freqn cia mdia de associao para todo o grupo de crianas - somatria das freqncias de associao de cada agrupamento, dividido pelo nmero total de agrupamentos observados naquela fase (crianas que se associaram ao menos uma vez em qualquer das sesses de uma fase e em qualquer rea espacial). Obtidas as freqncias mdias, calculou-se os respectivos desvios padro. Com base na freqncia mdia de associao do grupo em cada fase e no desvio padro, foram discriminados dois tipos de agrupamentos, para o conjunto das sesses de cada fase: agrupamentos preferenciais - aqueles que se associaram dois desvios padro acima da freqncia mdia de associao do grupo; agrupamentos no preferenciais aqueles que se associaram mas no atingiram o critrio de agrupamento preferencial. Um mesmo agrupamento poderia ser identificado em uma determinada rea como um agrupamento preferencial e em outra como no-preferencial. A somatria de cada tipo de agrupamento foi feita para as seguintes reas, de acordo com sua ocorrnc ia: Fase I - zona do adulto e todo o restante da sala; Fase II - zona do adulto, estantes e resto da sala; Fase III - zona do adulto, zonas circunscritas e resto da sala. Entende-se por zona do adulto a rea de permanncia habitual da educadora, considerando cerca de 1m ao seu redor. De acordo com a diviso da rea em m 2, a zona do adulto corresponde ao quadrado no qual o adulto se encontra e aos oito quadrados adjacentes. Em anlise posterior, os agrupamentos no -preferenciais foram discriminados em dois s ubgrupos: agrupamentos usuais aqueles que se associaram igual ou acima da mdia de associao do grupo, mas que no atingiram o critrio de agrupamento preferencial; agrupamentos ocasionais aqueles que se associaram abaixo da mdia de associao do grupo.

Comparaes estatsticas da freqncia de ocorrncia de agrupamentos preferenciais e no -preferenciais, didicos, tridicos e com quatro ou mais crianas, entre e dentro das fases, foram realizadas pelo Teste de Goodman. Para a comparao inter -fases, considerando em conjunto o nmero de agrupamentos didicos, tridicos e com quatro ou mais crianas, e tambm o nmero de agrupamentos detectados na "zona do adulto" (nica rea presente em todas as fases), foi utilizado o teste do Qui-quadrado. Todas as discusses estatsticas foram feitas no nvel de significncia p < 0,05.

ResultadosOs dados so apresentados para o conjunto das sesses de cada fase, pois as mesmas tendncias foram observadas na maioria delas. Desde que as crianas do Grupo 1 nas Fases II e III no eram as mesmas da fase inicial, com exceo de duas, a comparao dos resultados da Fase I com as demais mais sugestiva que conclusiva. A Tabela 1 mostra, para cada creche e em cada fase, o nmero de agrupamentos preferenciais e no -preferenciais, de acordo com o nmero de componentes. Desde que agrupamentos com quatro ou mais crianas foram pouco freqentes, sua o corrncia foi somada freqncia das trades, sendo denominado de agrupamentos com trs ou mais crianas, facilitando uma visualizao comparativa com as dades.

A Tabela 1 mostra que houve, para os grupos de ambas as creches, um aumento gradual da Fase I para a Fase III, no total de agrupamentos observados em cada fase, bem como no nmero de agrupamentos preferenciais e no -preferenciais, com exceo dos agrupamentos preferenciais do Grupo 2 (mesmo nmero nas Fases II e III 22). No Grupo 1, este acrscimo gradual inter-fases significativo para os agrupamentos preferenciais ( X2 = 20,72, p< 0,01) e no-preferenciais (X 2 = 7,37, p< 0,05). No Grupo 2, este acrscimo significativo para os agrupamentos no -preferenciais (X2 = 38,89, p< 0,01), enquanto que o nmero de agrupamentos preferenciais significativamente menor na comparao da Fase I com cada uma das outras duas (X2 = 7,55, p< 0,05), mas no entre as duas ltimas fases. Na anlise posterior, com desmembramento dos agrupamentos no preferenciais em dois subgrupos (usuais e ocasionais), tambm se observou um acrscimo gradual inter -fases, sendo bem mais acentuado para os agrupamentos preferenciais e usuais. Quanto aos ocasionais, no Grupo 2 houve um aumento inter -fases (30, 42 e 52, respectivamente para as fases I, II e III), embora menor que o observado nos dois outros agrupamentos, enquanto que no Grupo 1 houve um aumento no nmero de ocasionais somente da primeira para a segunda fase (47, 53 e 46, respectivamente para as fases I, II e III). Considerando cada agrupamento em relao ao nmero de componentes (didicos e com trs ou mais crianas), embora a Tabela 1 tambm evidencie, geralmente, um aumento gradual inter-fases quanto ao nmero de agrupamentos preferenciais e no preferenciais, esta diferena no s ignificativa. No Grupo 1 ocorreram duas excees: (a) quanto s dades no-preferenciais Fase III significativamente maior que a I (G = 2,59, p < 0,05); (b) quanto aos agrupamentos no-preferenciais com quatro ou mais crianas (02, 15 e 13 ocorrncias, respectivamente em cada fase; na Tabela 1 foram somadas s trades) - Fase II significativamente maior que Fase I (G = 3,09, p < 0,05). Entretanto, tais excees no Grupo 1 devem ser tomadas mais como sugestivas que conclusivas, dada a comparao com a Fase I. No Grupo 2 h exceo quanto s trades preferenciais (01, 12 e 07 ocorrncias, respectivamente em cada fase; na Tabela 1 somadas aos agrupamentos com quatro ou mais crianas) Fase II significativamente maior que a Fase I (G = 2,66, p < 0,05). A Tabela 1 indica que, para ambos os grupos, as dades foram mais freqentes que os agrupamentos com trs ou mais crianas. Ao se analisar as trades separadam ente dos agrupamentos com quatro ou

mais crianas, observou -se que as dades foram seguidas pelas trades e, finalmente, pelos agrupamentos com quatro ou mais crianas, em quaisquer das fases e no conjunto delas. Esta diferena significativa, em ambos os grupos, com relao aos agrupamentos no-preferenciais (p < 0,05). Quanto aos agrupamentos preferenciais, os resultados das duas creches divergiram. No Grupo 1 verificou-se diferena significativa apenas entre o nmero de dades (07) e deagrupamentos com quatro ou mais crianas (01) na Fase I (p < 0,05). No Grupo 2 temos que: (a) na Fase I o nmero de dades preferenciais (06) foi significativamente maior que o nmero dos demais agrupamentos preferenciais (p < 0,05); (b) na Fase II o nmero de agrupamentos preferenciais com quatro ou mais crianas (01)foi significativamente inferior ao das dades (09) e das trades (12) (p < 0,05); (c) na Fase III o nmero de dades preferenciais (11) foi significativamente superior ao de agrupamentos preferenciais com quatro ou mais crianas (04) (p < 0,05). Quanto ao acrscimo no nmero de agrupamentos preferenciais e no-preferenciais observados na Fase III em relao I, pode -se verificar, pela Tabela 1, que este aumento foi mais substancial para os agrupamentos com trs ou mais crianas, nos dois grupos de crianas. Esta relao se manteve na anlise discriminando os agrupamentos no-preferenciais em usuais e ocasionais. A Figura 2 mostra a porcentagem de agrupamentos preferenciais e no-preferenciais detectados em reas especficas; a porcentagem foi calculada para cada tipo de agrupamento, proporcionalmente ocupao das reas consideradas em cada fase.

Observa-se pela Figura 2 que, para ambos os grupos nas duas ltimas fases, houve maior porcentagem de agrupamentos preferenciais e no-preferenciais nas reas mais estruturadas estantes (Fase II) e zonas circunscritas (Fase III) em comparao s demais reas. Esta diferena na ocorrncia por reas significativa para os agrupamentos no -preferenciais (Grupo 1 FII: X 2 = 52,97, p< 0,01; FIII: X 2 = 188,52, p< 0,01 / Grupo 2 FII: X 2 = 48,05, p< 0,01; FIII: X 2 = 102,04, p< 0,01). Quanto aos agrupamentos preferenciais, houve diferena significativa entre reas somente na Fase III do Grupo 1 - ocorrncia nas zonas circunscritas significativamente superior s outras reas ( X 2 = 27,40,p< 0,01). Quanto Fase I, no se salientou uma tendncia nica, havendo maior ocorrncia dos agrupamentos preferenciais no Grupo 1 na zona do adulto, enquanto que no Grupo 2, no resto da sala; j os agrupamentos no-preferenciais no Grupo 1 ocorreram preferencialmente no resto da sala e no Grupo 2, na zona do adulto. Tendncias semelhantes foram observadas, quando se desmembrou os agrupamentos no-preferenciais em usuais e ocasionais, salientando-se os agrupamentos ocasionais do Grupo 2 na ltima fase, com maior ocorrncia nas zonas circunscritas que os demais agrupamentos (62% e 59%, respectivamente para os preferenciais e usuais). A Figura 2 permite uma comparao entre fases quanto ocorrncia dos agrupamentos na zona do adulto (nica rea presente nas trs fases): ambos os tipos de agrupamentos, nos dois grupos de crianas, foram menos freqentes nesta rea na Fase III, nica fase com presena de zonas circunscritas, havendo uma reduo no decorrer das fases. Entretanto, diferena significativa inter -fases foi apontada apenas para os agrupamentos no -preferenciais: no Grupo 1, sua ocorrncia na Fase I foi significativamente superior ao das outras duas fases (X2 = 40,95, p < 0,01); no Grupo 2, houve um decrscimo significativo no nmero dos agrupamentos no preferenciais na Fase III em comparao s demais ( X 2= 6,94, p < 0,05). Na anlise considerando os agrupamentos preferenciais, usuais e ocasionais, tambm se observou um decrscimo na ocorrncia de agrupamentos na zona do adulto no decorrer das fases, especialmente na comparao da primeira com a ltima fase. Esta anlise permitiu um maior refinamento na comparao da ocupao da zona do adulto pelos diferentes agrupamentos em quaisquer das fases, os agrupamentos ocasionais ocorreram menos na zona do adulto, em comparao aos outros (com exceo do Grupo 1 na Fase II). Na ltima fase nenhum agrupamento ocasional foi observado

nesta rea, nos dois grupos de crianas, destacando -se o Grupo 2, com ocorrncia nula na zona do adulto desde a segunda fase.

DiscussoVrias das anlises realizadas evidenciaram o papel de suporte do arranjo espacial para a ocorrncia de agrupamentos entre crianas, algumas delas mostrando diferenas entre os agrupamentos preferenciais, cujos componentes foram observados prximos freqentemente, e os agrupamentos no-preferenciais, cujos componentes pouco se associaram: 1. Em ambos os grupos de crianas das duas creches, a estruturao do espao com duas zonas circunscritas favoreceu maior associao entre crianas, em comparao fase inicial, a menos estruturada espacialmente, na qual observou -se um nmero menor de agrupamentos infantis (preferenciais e no-preferenciais). Foi observado, nas duas creches, um significativo aumento gradual no nmero de agrupamentos no-preferenciais, medida que o ambiente foi se tornando mais estruturado a cada fase; quanto aos preferenciais, este acrscimo inter -fases foi significativo para o Grupo 1, enquanto que para o Grupo 2, o nmero de agrupamentos foi significativamente inferior na primeira fase em comparao ltima, mas no entre as duas ltimas fases. A diferenciao dos agrupamentos no -preferenciais em usuais e ocasionais, permitiu verificar que houve, nos dois grupos de crian as, um acrscimo bem mais acentuado no nmero de agrupamentos preferenciais e usuais, na ltima fase. Entretanto, isto no significa uma relevncia menor do arranjo espacial para os agrupamentos ocasionais, dada sua ocorrncia preferencial nas zonas circu nscritas, tal como para os outros dois tipos de agrupamentos, e considerando, especialmente, a anlise de ocupao da zona do adulto, descrita a seguir. 2. O maior nmero de agrupamentos observados na fase inicial em comparao ltima, na zona do adulto nica rea presente nas trs fases do estudo comprova dados de estudos anteriores (Campos-de-Carvalho et al., 1996; Meneghini & Campos -deCarvalho, 1997), evidenciando o papel relevante da educadora em um espao amplo e vazio, com escassez de materiais , equipamentos e mobilirios, como o arranjo aberto da Fase I, no qual a zona do adulto era a rea mais estruturada, seno a nica. A diferena significativa entre estas duas fases, encontrada somente para os agrupamentos no-preferenciais, indica que na fase inicial, menos estruturada espacialmente, a proximidade da educadora foi mais

necessria para aquelas crianas que se associaram menos, do que para aquelas com associao privilegiada. Dentre os agrupamentos no-preferenciais, nas duas creches os usuai s se mantiveram em maior proximidade da educadora na fase inicial, enquanto que aqueles agrupamentos com baixa associao, os ocasionais, foram os que menos permaneceram na zona do adulto, tanto na fase inicial e especialmente na ltima, pois no foram obs ervados nenhuma vez na zona do adulto o Grupo 2 destacou-se devido tanto ocorrncia nula nesta rea desde a segunda fase, como pela maior permanncia que os demais nas zonas circunscritas. 3. As reas mais estruturadas das duas ltimas fases, estantes e zonas circunscritas, forneceram maior suporte que as demais reas para as crianas se associarem, independentemente do tipo de agrupamento. Porm, a relevncia destas reas espaciais parece ter sido mais forte para os agrupamentos no-preferenciais, dada a ocupao significativa destas reas pelas crianas componentes destes agrupamentos, nas duas creches, salientando -se os agrupamentos ocasionais do Grupo 2, especialmente pela maior ocupao das zonas circunscritas. Enquanto que, para os agrupamentos cujas crianas foram vistas freqentemente associadas, a ocupao preferencial daquelas reas s se mostrou significativa para o Grupo 1 em relao zona circunscrita. Os resultados do presente estudo indicaram ainda a predominncia de agrupamentos didicos em relao aos demais, corroborando outros estudos com grupos de crianas pequenas (Baudonnire, 1988; Mueller & Lucas, 1975; Stambak & Verba, 1986), sendo esta predominncia significativa para os agrupamentos no -preferenciais observados nas duas creches. As dades foram seguidas pelas trades e estas pelos agrupamentos com quatro ou mais crianas portanto, agrupamentos com maior nmero de componentes, tiveram menor ocorrncia. Esta salincia das dades provavelmente se deve ao fato de que, apesar dos evidentes progressos na capacidade de crianas no terceiro ano de vida para iniciar e manter contatos (Camaioni, 1980), suas habilidades verbais e sociais ainda esto se desenvolvendo. Desta maneira, como apontado por Stambak e Verba (1986), agrupamentos com poucos elementos facilita s crianas pequenas prestarem ateno umas nas outras e, conseqentemente, desenvolverem atividades em conjunto. O acrscimo maior no nmero de agrupamentos com trs ou mais crianas, do que nas dades, observado na ltima fase em relao a inicial, nos dois grupos de crianas, sugere que uma estruturao espacial maior favorece especialmente a ocorrncia de associaes entre crianas em subgrupos com maior nmero de elementos, indicando assim um suporte maior do arranjo espacial com zonas circunscritas para os agrupamentos com mais componentes.

Em suma, vrias semelhanas nos dados obtidos nas duas creches na presena do mesmo tipo de arranjo espacial, mas que diferem entre si numa srie de aspectos, evidenciam o papel de suport e do arranjo espacial para a ocorrncia de agrupamentos entre crianas, medida que o espao foi se tornando mais estruturado. Tal impacto parece ter sido mais forte para os agrupamentos no-preferenciais, quando em comparao com aqueles cujos componente s esto freqentemente associados, favorecendo, inclusive, a formao de agrupamentos com mais componentes. interessante apontar a diferena do impacto da estruturao espacial para os agrupamento ocasionais, os que menos se associavam. Enquanto ocorreu um aumento no nmero de agrupamentos preferenciais e usuais na ltima fase, em comparao inicial, observou -se que para os ocasionais (no aumento no Grupo 1, ou pequeno aumento no Grupo 2), o impacto da estruturao espacial se mostrou claramente na reduo do uso da rea em torno do adulto nas duas fases finais, especialmente na ltima (maior estruturao espacial) na qual se observou ocorrncia nula destes agrupamentos naquela rea maior estruturao espacial parece ter fornecido, s crianas que se associam muito pouco, suporte para ocupao de outras reas espaciais estruturadas, em detrimento da zona do adulto. Legendre (1999), ao comparar a ocupao da sala por diferentes tipos de dades de crianas de 2 -3 anos em interao, em creches com arranjo semi-aberto, encontrou resultados diferentes dos nossos: (1) as dades privilegiadas ocupavam as diferentes reas da sala, independentemente se perto ou longe do adulto; no presente estudo, observamos este uso indiscriminado de reas da sala pelos agrupamentos preferenciais, somente na presena do arranjo aberto da fase inicial, pois nas demais fases, houve ntida preferncia pelas reas mais estruturadas (estantes e zonas circunscritas, respectivamente nas Fases II e III); (2) as dades ocasionais evitaram as reas longe do adulto, ou seja, houve preferncia pelas reas mais prximas ao adulto, enquanto que no observamos nenhuma ocorrncia de agrupamentos ocasionais na rea do adulto na ltima fase, como j apontado. Cabe ressaltar que, dentre outras diferenas entre o presente estudo e o de Legendre, ns diferenciamos os agrupamentos em dades, trades, quadras e com cinco ou mais crianas, enquanto Legendre distribuiu as crianas somente em dades; ademais, o mtodo utilizado por Legendre para diferenciar os tipos de dades no foi o mesmo que empregamos. O presente estudo evidencia que o arranjo espacial, embora tenha um papel de suporte importante para todos os tipos de agrupamentos, mostra-se mais relevante para os agrupamentos ocasionais, pois na ltima fase no foram observados na rea em volta da educadora e tiveram ocupao preferencial, tal como os demais agrupamentos, pelas zonas circunscritas.

Temos apontado (Campos-de-Carvalho & Mingorance, 1999; Campos-de-Carvalho & Rossetti Ferreira, 1993; Campos-de-Carvalho & Rubiano, 1996a; Meneghini & Campos-de-Carvalho, 1997) que a zona circunscrita, alm de oferecer sensao de proteo e privacidade, pode estar propiciando a emergncia de intenes, expectativas de aes e significados, relativos a ativid ades que, em nossa cultura, rotineiramente ocorrem em superfcies delimitadas e elevadas, como mesa, cadeira, fogo, almofades, bancos, estantes etc. A zona circunscrita propicia a emergncia de determinados repertrios de aes, conhecimentos e significa es comuns, j vivenciados por vrias crianas. Tal experincia anterior facilita o compartilhamento de atividades, possibilitando ocorrncia de interaes, mais freqentes e mais duradouras, as quais propiciam condies para a criao de novas brincadeir as e novos significados, que passam ento a serem compartilhados pelas crianas durante suas interaes, como bem mostrado nos estudos de Carvalho (1992). No presente estudo, o critrio de proximidade fsica foi utilizado para o levantamento de agrupamentos infantis. Em um estudo metodolgico, Campos-de-Carvalho e Rubiano (1996b) mostraram que este critrio um bom indicador para analisar associaes ocorridas em um grupo de crianas pequenas foram analisadas quatro sesses da ltima fase do Grupo 2 do p resente estudo, videofilmadas e fotografadas simultaneamente. Proximidade fsica (distncia de at 1m) foi o critrio utilizado para anlise das associaes de pares de crianas, via fotos, e atividade compartilhada (engajamento na mesma atividade e orientao mtua), para anlise pelo vdeo. Embora as associaes indicadas pela proximidade fsica excederam aquelas por compartilhamento de atividades, geralmente as crianas se envolveram em atividades compartilhadas quando prximas, sugerindo a importncia da proximidade fsica no compartilhamento de atividades entre crianas pequenas. Como apontado por Pedrosa e Falco (1993), a proximidade fsica necessria para a estruturao de brincadeiras entre crianas no incio do terceiro ano de vida; visto que a l inguagem oral ainda incipiente, as pistas visuais predominam na organizao da brincadeira e o estar prximo do outro facilita o contato. No final do terceiro ano, a proximidade fsica j no to necessria como no incio, pois as crianas utilizam pis tas verbais, alm das visuais, na estruturao de brincadeiras nas quais aes complementares esto presentes, determinadas principalmente pelo tema das brincadeiras. O critrio de proximidade fsica foi til para diferenciar os agrupamentos preferenciais dos demais, mostrando, como apontado por outros autores (Carvalho, 1992; Carvalho & Moraes, 1987; Legendre, 1989, 1999; Stambak & Verba, 1986), a tendncia precoce

seletividade em relao a parceiros e formao de relaes inter individuais - parcerias privilegiadas ou preferenciais. Porm, poucos so os estudos que mostram a influncia de variveis contextuais no comportamento de parcerias preferenciais. Para definir agrupamentos preferenciais, tem sido sugerido observar um nvel mnimo de 30% das oportunidades em proximidade fsica. Como comentado por Campos-de-Carvalho e Rubiano (1996b), este critrio pode ser extremamente exigente, sendo mais adequado utilizar a mdia de associao do grupo, especialmente ao se considerar o peso de outras variveis, as quais podem oferecer maior ou menor suporte para a interao, tais como tipo do arranjo espacial do local, nmero de componentes do grupo, alm da prpria idade das crianas. Por esta razo, optou -se por um critrio baseado na freqncia mdia de associao (e desvio padro) do grupo em cada fase, para classificar os agrupamentos em preferenciais e no preferenciais. O presente estudo contribui para indicar a relevncia do arranjo espacial no planejamento de ambientes infantis coletivos um arranjo espacial com zonas circunscritas favorece a ocorrncia de interaes entre crianas e com a educadora. Atravs de manipulaes pouco custosas financeiramente, o adulto, ao estruturar desta maneira o espao, torna-se mais disponvel para estabelecer contato com uma criana que tenha necessidade de sua ateno especial, ou para desenvolver atividades com um subgrupo menor de crianas, em comparao a um arranjo espacial aberto, onde as crianas tendem a permanecer em sua volta, sendo pouca sua disponibilidade de interao, visto o grande nmero de crianas sob sua responsabilidade. Desta maneira, o arranjo espacial contribui para a promoo da qualidade do atendimento de crianas pequenas em creches e pr-escolas. Convm salientar, entretanto, que a organizao espacial de um ambiente deve tambm contemplar outros aspectos, oferecendo por exemplo, um lugar confortvel e macio para descanso e/ou leitura, com almofadas e tapetes, espao mais privado que permita criana estar s etc. (Campos-de-Carvalho & Mingorance, 1999). Finalizando, o arranjo espacial uma das variveis fsicas, dentre outras do contexto ambiental, que contribui para o alcance de vrios objetivos relevantes para o desenvolvimento infantil, apontados por David e Weinstein (1987), que deveriam estar presentes no planejamento de ambientes infantis, especialmente os coletivos: (1) promoo de identidade pessoal personalizao de espaos e objetos auxilia as crianas a desenvolverem sua individualidade; (2) desenvolvimento de competncia deve-se permitir s crianas terem controle e domnio na execuo de atividades dirias, sem a

assistncia constante do educador, tais como tomar gua, acender e apagar luzes, pegar roupas e toalhas, acesso fcil a prateleiras ou estantes com materiais etc.; acrescentamos aqui a competncia para execuo de atividades ldicas com coetneos; (3) oportunidade para que movimentos corporais, especialmente os de grande amplitude, sejam executados com segurana; (4) estimulao dos sentidos, atravs de variaes ambientais moderadas, em termos de cores, formas, sons, sabores, aromas de flores e de alimentos, texturas etc.; (5) sensao de segurana e confiana o ambiente deve ser percebido como confortvel e seguro, convidando explorao; (6) oportunidade para contato social e privacidade.

AgradecimentosNossos agradecimentos FAPESP e ao CNPq pelos auxlios recebidos e ao Prof. Dr. Carlos Roberto Padovani (Depto. de Bioestatstica, Instituto de Biocincias / UNESP, Campus de Botucatu), pela anlise estatstica.