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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCar CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS - CECH DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA - DPsi AVALIAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DO ANTAGONISTA E AGONISTA DOS RECEPTORES 5-HT 2B/2C NA MATÉRIA CINZENTA PERIAQUEDUTAL DE CAMUNDONGOS SUBMETIDOS AO LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO Aluna: Vanessa Nunes de Souza RA: 215830 Orientadora: Prof a . Dr a Azair Liane Matos do Canto de Souza São Carlos Dezembro 2004 SP

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCar

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS - CECH DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA - DPsi

AVALIAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DO ANTAGONISTA E AGONISTA DOS RECEPTORES 5-HT2B/2C NA MATÉRIA

CINZENTA PERIAQUEDUTAL DE CAMUNDONGOS SUBMETIDOS AO LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO

Aluna: Vanessa Nunes de Souza RA: 215830 Orientadora: Profa. Dra Azair Liane Matos do Canto de Souza

São Carlos Dezembro 2004

SP

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SUMÁRIO

Abreviaturas .................................... ................................................... 03

Resumo ........................................... ..................................................... 04

Introdução ....................................... .......................... ........................ 05

Material e Método ................................ ............................................... 11

- sujeitos ................................. .... .............................................. 11

- equipamento .................................... ....................................... 11

- cirurgia .......................... ....................................................... 12

- drogas .................................... .............................................. 12

- procedimento geral ................. .............................................. 13

- histologia .......................... ....................................................... 14

- análise estatística ................ ................................................. 15

Resultados ....................................... .................................. ................. 16

Discussão ........................................ .................................................... 20

Conclusão ........................................ .................................................... 22

Referências ...................................... ..................................... ........ ..... 23

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ABREVIATURAS

MCP - Matéria Cinzenta Periaquedutal

5-HT - Serotonina

LCE - Labirinto em Cruz Elevado

BA - Braço Aberto

BF - Braço Fechado

TP - Transtorno do Pânico

TAG - Transtorno de Ansiedade Generalizada

NDR - Núcleo Dorsal da Rafe

NMR - Núcleo Mediano da Rafe

NS - Não Significativo

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RESUMO

A neurotransmissão serotonérgica vem sendo objeto de vários estudos desde que seu envolvimento foi relacionado à ansiedade. Compostos que agiam como antagonistas dos receptores de serotonina (5-HT) resultavam em efeitos ansiolíticos similares aos dos benzodiazepínicos. A hipótese serotonérgica da ansiedade foi corroborada pelas observações de que ansiolíticos benzodiazepínicos diminuíam a atividade de neurônios serotonérgicos. Entretanto, esta hipótese vem sendo revista em função dos resultados obtidos a partir de modelos animais que envolvem microinjeções de drogas diretamente nos sítios cerebrais. Nesse sentido, alguns estudos procuraram relacionar a atividade dos diferentes receptores serotonérgicos à ação de drogas agonistas e antagonistas de 5-HT. A matéria cinzenta periaquedutal (MCP) caracteriza-se como uma estrutura que está envolvida na integração das manifestações comportamentais e neurovegetativas relacionadas à aversão. Ela recebe conexões aferentes e eferentes de estruturas que estão funcionalmente separadas, as quais possuem papéis distintos nas respostas defensivas. Foi proposto, assim, que a MCP desempenha um papel maior que o de uma via final comum para as respostas defensivas. A validação do labirinto em cruz elevado (LCE) como modelo animal de ansiedade tanto para ratos, quanto para camundongos, bem como a constatação de que este modelo mostra grande sensibilidade no que diz respeito à detecção de efeitos ansiolíticos e ansiogênicos de compostos serotonérgicos, justificam a escolha e a utilização desse modelo neste trabalho. O presente estudo avaliou a ação do antagonista ketanserina e agonista mCPP dos receptores 5-HT2B/2C através de microinjeção destas drogas na MCP de camundongos submetidos ao LCE. Foram utilizadas 3 doses do agonista (0,03, 0,1 e 0,3 nmol/0,1ul), obtendo-se efeito ansiolítico para a dose de 0,03 nmol/0,1ul, quando analisados os índices convencionais e etológicos de ansiedade no LCE. A administração do antagonista ketanserina (10 nmol/0,1ul) mostrou ausência de efeitos para os índices de ansiedade avaliados.

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INTRODUÇÃO

O papel da serotonina (5-HT) na ansiedade vem sendo objeto de numerosos

estudos desde as primeiras constatações de que antagonistas da

neurotransmissão serotonérgica resultavam em efeitos ansiolíticos similares aos

dos benzodiazepínicos em testes de conflito (Graeff e Schoenfeld, 1970). Estes

resultados apontavam para o fato da 5-HT provocar ansiedade agindo no

mesencéfalo e na matéria cinzenta periaquedutal (MCP) (Graeff e Schoenfeld,

1970, Graeff, 2002). Os ansiolíticos benzodiazepínicos clássicos (por exemplo,

diazepam) são, talvez, as drogas mais prescritas para o tratamento da ansiedade.

Estes compostos atuam como agonistas dos receptores benzodiazepínicos, os

quais, embora estejam abundantemente distribuídos no sistema nervoso central,

estão particularmente presentes em estruturas do sistema límbico como septo,

hipocampo e amígdala (Menard e Treit, 1999).

A proposição da teoria serotonérgica clássica da ansiedade, a qual atribui

um papel ansiogênico para a 5-HT foi favorecida também pelas observações de

que os ansiolíticos benzodiazepínicos diminuíam a atividade dos neurônios

serotonérgicos (Pinheiro et al., 2002).

Esta hipótese pode, ainda, ser fortalecida pela utilização de drogas

serotonérgicas com potencial ansiolítico como os antagonistas dos receptores 5-

HT2 (ritanserina, mianserina e ketanserina) e 5-HT3 (ondasetron, zacopride e BRL

46470) que resultaram em efeitos ansioliticos em vários modelos animais (para

revisões ver Handley e McBlane, 1993; Cruz, et al. 1997).

Entretanto, a hipótese serotonérgica clássica da ansiedade vem sendo

revista principalmente em função dos resultados obtidos de modelos animais que

envolvem microinjeções de drogas diretamente nos sítios cerebrais. Tem sido

constatado que, em geral, microinjeções de 5-HT na amígdala produzem efeitos

ansiogênicos (Pesold e Treit, 1995; Menard e Treit, 1999, Nunes-de-Souza, et al.

2000), o mesmo não ocorre com microinjeções de 5-HT na MCP, que resultam em

efeitos ansioliticos (Deakin e Graeff, 1991; Graeff et al.,1993; Graeff,1994;

Gonzalez et al.,1996; Guimarães et al., 2004).

Os receptores 5HT2 (B e C) do sistema nervoso central (córtex frontal,

gânglios da base e sistema límbico – hipotálamo, septo, amígdala, cerebelo e

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MCP) são responsáveis pela regulação dos transtornos de humor e de ansiedade.

Algumas descobertas apontam para o fato da ativação destes receptores

promoverem efeito ansiolítico em algumas regiões do cérebro, como na amígdala

medial, e ansiogênico em outras, como no hipocampo dorsal (Menard e Treit, 1999)

e Hipocampo ventral (Fachinni,et al., 2004). Assim, tem sido sugerido que a 5-HT

possui um papel dual na regulação das respostas defensivas.

A neurotransmissão serotoninérgica é, realmente, muito complexa,

composta por sete classes de receptores (5-HT1, 5-HT2, 5-HT3, 5-HT4 ,5-HT5, 5-HT6

e 5-HT7 , sendo estes ainda subdivididos em 5-HT1A, 5-HT1B , 5-HT1D ,5-HT1F , 5-

HT2A , 5-HT2B , 5-HT2C , 5-HT5A,5-HT5B ) (Zifa e Fillion, 1992).

Dentre esses subtipos, os receptores 5-HT1, 5-HT2 e 5-HT3 constituem

aqueles que estão mais diretamente relacionados à ansiedade (Hoyer e Martin,

1997; Barnes e Sharp, 1999). Alguns estudos buscaram relacionar a atividade

desses receptores à ação de suas respectivas drogas agonistas e antagonistas

(Nogueira e Graeff, 1995; Hensler e Truett, 1998; Wallis e Lal, 1998; Setem et

al.,1999). Os principais agonistas serotonérgicos utilizados são a 2,5- dimetoxi-4-

iodoanfetamina (DOI) (Hensler e Truett, 1998) e a 1-(3-clorofenil) piperazina

(mCPP) (Wallis e Lal, 1998). O DOI caracteriza-se como um agonista dos

receptores 5-HT2A/2C, enquanto o mCPP atua principalmente sobre os receptores 5-

HT1B/2C e parcialmente sobre os 5-HT2A (Hensler e Truett, 1998; Wallis e Lal, 1998).

Entre os antagonistas serotoninérgicos mais empregados estão a

ketanserina (3 - [2 - [4 - (4 - fluorobenzoil) – 1 – piperdinil] etil] – 2,4 (1H, 3H) -4-

quinazolinedione tartrato) e a mianserina (Hensler e Truett, 1998). Ambas atuam

principalmente sobre os receptores 5-HT2 (Nogueira e Graeff, 1995; Hensler e

Truett, 1998).

Nogueira e Graeff (1995) estudaram o papel dos subtipos de receptores de

5-HT da matéria cinzenta periaquedutal (MCP) na modulação da aversão

generalizada em ratos, a partir da constatação de que esta estrutura está envolvida

na integração das manifestações comportamentais e neurovegetativas

relacionadas à aversão (para uma revisão ver Graeff, 1990). Entretanto, não

chegaram a uma conclusão a respeito da interação entre os receptores 5-HT1 e 5-

HT2 no que diz respeito à versão generalizada na MCP dorsal.

Vianna e Brandão (2003) concluíram que a organização anátomo-funcional

da MCP é consistente com a idéia de que ela recebe conexões aferentes e

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eferentes de estruturas funcionalmente separadas e com papéis em diferentes

respostas defensivas. A partir disso, afirmaram que a MCP é mais que uma via final

comum para as respostas defensivas. Propuseram que diferentes subdivisões da

MCP podem mediar o congelamento dependendo ou não da presença de perigo

imediato.

A estimulação elétrica da região dorsal da MCP gera comportamentos

defensivos como, por exemplo, luta ou fuga, respostas que sugerem que o animal

esteja passando por uma acentuada experiência aversiva (Graeff et al., 1993). Em

pacientes humanos, a estimulação elétrica desta estrutura em neurocirurgias

estereotáxicas gera fortes sentimentos de medo, morte iminente ou dor não-

localizada e acentuadas mudanças autonômicas (Nashold et al., 1969; Amano et

al., 1978, citado por Zanoveli, et al., 2003).

Dada a impressionante semelhança entre os efeitos autonômicos e

comportamentais decorrentes da estimulação da MCP dorsal e os sintomas dos

ataques de pânico, tem sido sugerido que esta área esteja envolvida na gênese do

Transtorno de Pânico (TP) em humanos e que a estimulação desta região em

animais possa gerar ataques de pânico (Graeff, 1990; Jenk et al., 1995; Lovick,

2000; Schenberg et al., 2001, citado por Zanoveli et al., 2003).

Evidências de experimentos que utilizaram estimulação elétrica ou química

da MCP dorsal de ratos apontam que os receptores de 5-HT localizados nesta área

cerebral regulam comportamentos de fuga, considerados indícios de pânico

(Nogueira e Graeff, 1991, 1995).

As evidências clínicas também são contraditórias. Enquanto os efeitos

ansiolíticos dos benzodiazepínicos no tratamento do Transtorno de Ansiedade

Generalizada (TAG) podem envolver uma diminuição na liberação de 5-HT (Blier et

al., 1995, citado por Zangrossi et al., 2001), drogas que facilitam a

neurotransmissão de 5-HT, como os inibidores de recaptação de serotonina são

clinicamente utilizados no tratamento dos transtornos de ansiedade. A ritanserina,

um antagonista dos receptores 5-HT2A/2C tem mostrado bons resultados no

tratamento do TAG, assim como os ansiolíticos benzodiazepínicos, porém com

efeitos inconsistentes no tratamento do TP (Ceulemans et al., 1985, citado por

Zangrossi et al., 2001).

Dessa forma, as evidências indicam que a 5-HT pode ter tanto um efeito

ansiolítico, quanto ansiogênico dependendo da região cerebral considerada.

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Deakin e Graeff (1991) propuseram a existência de dois sistemas serotonérgicos

separados que regulariam o comportamento defensivo. A ativação da via

serotonérgica ascendente do núcleo dorsal da rafe (NDR), que envia projeções

para a amígdala e para o córtex frontal facilitaria os comportamentos defensivos

aprendidos em resposta a uma ameaça potencial ou indeterminada. A ativação da

via serotonérgica periventricular do NDR, a qual envia projeções para MCP dorsal

poderia inibir a fuga ou reações de luta em resposta a alguma ameaça próxima.

Esta concepção pode ser importante no sentido de que a MCP dorsal comanda a

defesa ativa, como as reações de luta ou fuga, típicas de circunstâncias de extremo

perigo, como a proximidade de um predador, por exemplo, (Zangrossi et al., 2001).

Canto-de-Souza et al. (2002) relataram efeitos ansiolíticos com infusões

intra-NMR (núcleo mediano da rafe) de WAY-100635, um antagonista seletivo dos

receptores 5-HT!A, em camundongos expostos ao LCE. Segundo esses autores,

tais efeitos poderiam estar associados ao aumento de disparos de neurônios

serotonérgicos (via bloqueio da ação da 5-HT nos autorreceptores inibitórios do tipo

5-HT1A), levando à atenuação da ansiedade pela 5-HT em sítios pós-sinápticos

(exemplos: amígdala, hipocampo, matéria cinzenta periaquedutal). Evidências de

que a atenuação da ansiedade não se deve à ação da serotonina nos receptores 5-

HT1A localizados na amígdala e hipocampo ventral são encontradas em estudos

com injeções locais de 8-OH-DPAT e WAY-100635, agonista e antagonista de

receptores 5-HT1A, respectivamente. Por exemplo, a microinjeção de 8-OH-DPAT

na amígdala provoca efeitos ansiogênicos (Nunes-de-Souza et al., 2000), enquanto

injeções de WAY-100635 no hipocampo ventral atenuam a ansiedade (Nunes-de-

Souza et al., 2002) de camundongos expostos ao LCE. Assim, é possível que os

efeitos ansiolíticos relatados por Canto-de-Souza et al., (2002) se devam ao

aumento da liberação de serotonina em outros sítios (exemplos: nos receptores 5-

HT1A e 5-HT2 da matéria cinzenta periaquedutal) ou à sua ação em outros

receptores serotonérgicos (exemplos: receptores 5-HT2 e 5-HT3 localizados na

amígdala e hipocampo.

Setem et al., (1999) estudaram os efeitos de injeções intraperitoniais de

agonistas e antagonistas dos receptores 5-HT1A, 5-HT2 e 5-HT3 em ratos expostos

ao labirinto em cruz elevado (LCE). Os resultados mostraram grande sensibilidade

desse modelo no que diz respeito à detecção de efeitos ansiolíticos e ansiogênicos

de compostos serotonérgicos, em especial os que atuam nos receptores 5-HT2.

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O LCE constitui um modelo animal de ansiedade validado primeiramente

para ratos (Pellow et al., 1985) baseado na aversão natural de roedores por

espaços abertos. Estes, normalmente, evitam os braços abertos do labirinto

restringindo suas atividades aos braços fechados. Os índices primários de

ansiedade neste modelo consistem de medidas relativas à freqüência de visitas

aos braços abertos (relativas ao total de entradas em ambos os braços) e o tempo

gasto pelos animais nestas áreas aversivas do aparato (relativas ao tempo de

duração do teste). Fernandes e File (1996) mostraram a importância de se

acrescentar beiradas ao longo dos braços abertos do LCE (0,5 cm para testes com

ratos), após constatarem que, em vários experimentos que utilizavam altas doses

de benzodiazepínicos, uma parcela significativa de animais caía do aparato.

Lister (1987) validou o uso do LCE para camundongos obtendo resultados

que se mostraram de acordo com os obtidos por Pellow et al., (1985). Demonstrou

as vantagens da utilização desse modelo animal de ansiedade sobre os outros

modelos, os quais envolvem privação de água e/ou comida ou que envolvem a

administração de choques elétricos. O LCE permite a visualização do

comportamento espontâneo do animal, além deste não necessitar de treinamento

prévio. O teste é rápido e se mostrou eficaz em detectar efeitos ansiogênicos e

ansiolíticos decorrentes da administração de drogas e outros compostos.

Rodgers e Jonhson (1995) ampliaram a análise dos índices de ansiedade no

LCE incluindo a observação de comportamentos etológicos como levantamentos,

mergulhos, esticadas, exploração do ambiente através do olfato, autolimpeza, além

de retornos aos braços fechados (saída do braço fechado com apenas um par de

patas, com posterior retorno ao mesmo braço). A área central e os braços fechados

do LCE foram considerados áreas protegidas do labirinto, enquanto os braços

abertos foram considerados áreas desprotegidas.

Setem et al., (1999) indicaram que a observação dos comportamentos

etológicos em ratos, juntamente com as medidas convencionais, pode ser mais

efetiva na avaliação dos efeitos de compostos serotonérgicos ou outras drogas no

LCE.

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OBJETIVO

Diante dos relatos da literatura, este projeto teve por objetivo avaliar a ação

do antagonista (ketanserina) e agonista (mCPP) dos receptores 5-HT2B/2C através

de microinjeção na MCP de camundongos submetidos ao LCE.

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MATERIAL E MÉTODO

Sujeitos

Foram utilizados camundongos ingênuos da cepa Suíço albino, (n=9-13)

machos, pesando aproximadamente 25g provenientes do Biotério Central da

Universidade Federal de São Carlos.

Os animais foram mantidos no biotério do Laboratório de Psicologia da

Aprendizagem (LPA), acomodados em caixas apropriadas (medindo 45x28x13cm)

contendo comida e água à vontade. Um ciclo claro-escuro de 12h controlou o

ambiente onde a temperatura foi mantida constante (23° ± 1°C).

Equipamento

Labirinto em cruz elevado, construído em madeira e vidro transparente, o

qual compõe as paredes dos braços fechados que medem 30 x 5 x 15 cm. Os

braços abertos, por sua vez, medem 30 x 5 x 0,25 cm. O aparelho foi montado

sobre uma base de madeira e elevado a 38,5 cm do chão (Foto 1). O tempo de

teste no aparato foi de 5 minutos, registrado por meio de filmagem.

Foto 1. Labirinto em Cruz Elevado

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Cirurgia

Os animais eram pesados e em seguida, anestesiados com pentobarbital

sódico (60mg/kg, i.p.). Após a tricotomia, os sujeitos eram colocados no

estereotáxico (Insight ETX 3/99) e recebiam uma injeção subcutânea de cloridrato

de lidocaína na região cirúrgica.

Os animais receberam implantação craniana de cânula-guia (25- gauge) de

7 mm de comprimento. A cânula era fixada no crânio do animal com cimento

acrílico. As coordenadas estereotáxicas para implantação da cânula-guia (Antero-

posterior: -3,8; Dorso lateral:+0,3 e Ventro medial:-1,4) foram definidas pelo Atlas

de Franklin e Paxinos (1997). A ponta da cânula-guia era posicionada a

aproximadamente 1,0 mm dorsal à estrutura alvo. O mandril, que era removido

durante o procedimento de injeção, era inserido dentro da cânula-guia para evitar

problemas com obstrução e para reduzir contaminação.

Na ocasião dos testes, a agulha de injeção (33-gauge) foi inserida dentro da

cânula-guia para injeção das soluções dentro da MCP, sendo que o comprimento

da mesma ultrapassou em 1,0 mm a ponta da cânula-guia. A agulha de injeção foi

conectada, por meio de tubo de polietileno (PE-10), a uma microsseringa Hamilton

de 10 µl. Uma bomba de infusão (Insight Bi 2000) foi programada para injetar (na

MCP) 0,1µl de solução durante um período de 60 segundos.

O procedimento de microinjeção consistiu na remoção do mandril, inserção

da agulha de injeção, injeção da solução por 60 segundos, permanência da agulha

de injeção por 90 segundos após o término da injeção e inserção do mandril

enquanto o animal era contido manualmente pelo experimentador. O movimento

de uma pequena bolha de ar no tubo de polietileno antes, durante e depois da

injeção confirmou o fluxo da solução.

Drogas

Agonista mCPP – Tocris, PM: 233,147 gramas (0,03 ,0,1 e 0,3 nmol/0,1µl)

dissolvidas em veículo (salina com 2% de Tween-80).

Antagonista ketanserina – RBI, PM: 545,5 gramas (10nmol/0,1µl) dissolvida

em veículo (salina com 2% de Tween-80).

As doses basearam-se em estudos anteriores e/ou em estudos pilotos.

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Procedimento Geral

Antes de cada teste no LCE, os animais receberam microinjeção de veículo

(controles), mCPP (nas doses: 0,03, 0,1 e 0,3 nmol/0,1µl) ou ketanserina

(10nmol/0,1µl). Imediatamente após o tempo necessário para a ação das drogas

(3 minutos), cada sujeito foi colocado no centro do labirinto voltado para um dos

braços abertos. Cada teste tinha duração de 5 minutos, os quais eram registrados

por meio de filmagem. Foram avaliados os comportamentos convencionais e

etológicos. As medidas convencionais incluíram a porcentagem de tempo de

permanência do sujeito no centro do LCE, a porcentagem do número de entradas

e de tempo gasto nos braços abertos e fechados em relação ao tempo total do

teste. A entrada em um braço foi definida pelo cruzamento de todas as quatro

patas para dentro do braço.

Os comportamentos etológicos foram medidos em relação à freqüência e

duração, incluindo as seguintes categorias:

• Levantar: caracteriza-se pela freqüência de elevações do corpo sob as

patas traseiras.

• Mergulhar (”head-dipping”): refere-se à freqüência de movimentos

exploratórios da cabeça/ombros em direção ao solo.

• Esticar (“stretched attend postures” – SAP): relativo à freqüência de esticar

o corpo e retraí-lo à posição original, sem a ocorrência de locomoção.

• Autolimpeza: refere-se à duração de tempo das lambidas e esfregadas da

cabeça e corpo típicas da espécie, que normalmente começam pelo

focinho, progridem pelas orelhas e terminam nos flancos e traseira.

• Imobilidade: refere-se à quantidade de tempo em que o animal não executa

qualquer movimento.

Os comportamentos de mergulhar a cabeça e esticar o corpo foram

diferenciados quanto ao local de sua ocorrência (protegido ou desprotegido) no

labirinto. O aparato foi limpo com solução de álcool a 20% após cada sujeito ser

testado. O experimentador não permanecia na sala onde os testes foram

realizados e filmados e não tinha conhecimento do protocolo experimental em

relação às doses das drogas utilizadas, sendo empregado um código para cada

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dose e controle. Somente no final de todo o experimento, inclusive após a análise

das fitas, que este código foi revelado, para que, então, fosse realizada a análise

estatística.

Histologia

Após o término dos experimentos, todos os animais receberam injeção

central de 0,1µl de uma solução de 1% de azul de metileno, de acordo com

procedimento descrito para a injeção das drogas. Os animais foram, então,

decapitados e tinham seus cérebros removidos e acomodados em recipientes

contendo solução de formalina (10%) para, posteriormente, sofrerem secções

coronais ao longo do trajeto da cânula utilizando-se um micrótomo. As secções

foram inspecionadas com o uso de um microscópio e a visualização da dispersão

do azul de metileno indicou o local da injeção.

A figura 1 mostra alguns sítios de injeção dos animais em que a ponta da

agulha estava localizada dentro da MCP.

Figura 1. Localização dos sítios de microinjeção de acordo com o Atlas de Franklin e Paxinos (1997). A área preenchida de cinza indica os sítios de injeção

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Análise estatística

Os resultados foram analisados pela análise de variância (ANOVA), e

quando pertinente, submetidos a testes de comparações múltiplas (Teste de

Duncan). Os valores de P < ou iguais a 0,05 foram considerados significativos .

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RESULTADOS

A figura 2 mostra os efeitos das microinjeções de mCPP na MCP de

camundongos expostos ao LCE. A análise estatística mostrou efeitos significativos

para a porcentagem de tempo gasto nos braços abertos (F(3,38) = 3,35, P < 0,05) e

a porcentagem de entradas nos braços abertos (F (3,38) = 3,93, P < 0,05), (ver

Fig. 2B), sem alterar a atividade locomotora (entradas nos braços fechados), (ver

Fig. 2A) (F(3,38) = 0,48, NS). Comparações múltiplas entre os grupos revelaram que

somente a dose mais baixa de mCPP (0,03 nmol/0,1µl) aumentou a porcentagem

de entradas nos braços abertos do LCE quando comparado com o grupo veículo.

.

0

1

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raço

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bert

os

0 0,03 0,1 0,3mCPP (nmol/0,1ul)

Entradas nos BAs Tempo nos BAs

*

* *

B

Figura 2. Efeitos da administração do mCPP (veículo, 0,03, 0,1 e 0,3 nmol/0,1µl) microinjetado na MCP de camundongos expostos ao LCE. As barras representam as médias e o erro padrão da média (M+EPM) do número de entradas nos braços fechados (A) e as percentagens de entradas e de tempo gasto nos braços abertos (BAs) (B). P < 0,05 comparado ao grupo veículo (0).

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A tabela 1 mostra os resultados obtidos para os comportamentos etológicos

nas diferentes doses de mCPP aplicadas.

A análise estatística revelou efeitos significativos para o total de esticadas

(F(3,38) =4,57, P <0,05), total de mergulhos (F(3,38) = 2,72, P < 0,05) e para a

porcentagem de mergulhos protegidos (F(3,38) = 3,71, P < 0,05). Nenhum efeito

significativo foi revelado para a porcentagem de esticadas protegidas (F(3,38) =

2,42, NS), total de levantamentos (F(3,38) = 1,0, NS), porcentagem de

levantamentos protegidos (F(3,38) = 2,11 NS), autolimpeza (F(3,38) = 1,95, NS) e

para a imobilidade (F(3,38) = 1,95 NS).

O teste de comparações múltiplas entre os grupos revelou que a dose mais

baixa de mCPP (0,03 nmol/0,1ul) aumentou o total de esticar e mergulhar,

enquanto diminuiu a porcentagem de esticar e mergulhar protegidos. Além disso,

a dose de 0,3 nmol/0,1ul (dose mais alta) também diminuiu a porcentagem de

mergulhos protegidos.

mCPP(nmol/0,1µl)Comportamentos 0 0,03 0,1 0,3 F(df 3,38)

Total esticar 15,9 ± 2,1 24,4 ± 2,7 * 19,2 ± 2,9 12,6 ± 2,0 4,57, P< 0,05% esticar protegido 72,0 ± 6,6 48,5 ± 5,6 * 58,6 ± 7,5 70,8 ± 7,8 2,42, P <0,05Total mergulhar 9,0 ± 1,8 14,4 ± 1,7 * 9,0 ± 1,3 8,8 ± 1,6 2,72, P< 0,05% mergulhar protegido 81,5 ± 7,8 56,9 ± 5,6 * 72,2 ± 7,6 48,4 ± 9,0 * 3,71, P< 0,05Total levantar 4,0 ± 1,1 6,0 ± 1,4 7,9 ± 2,4 5,5 ± 1,2 1,0, NS% levantar protegido 100 ± 0 80,0 ± 13,3 100 ± 0 96,9 ± 1,7 2,11, NSautolimpeza 19,7 ± 8,8 12,7 ± 8,4 17,0 ± 7,8 16,2 ± 5, 7 0,13, NSimobilidade 27,5 ± 10,7 8,0 ± 4,1 34,3 ± 14,8 51,8 ± 16,9 1,95, NS

A figura 3 mostra os efeitos da microinjeção de ketanserina ou veículo na

MCP de camundongos expostos ao LCE. A análise estatística não revelou efeitos

significativos para a porcentagem de tempo gasto nos braços abertos (t (19) = 0,60,

NS), porcentagem de entradas nos braços abertos (t (19) = 0,70, NS) (ver Fig. 3B) e

para a atividade locomotora nos braços fechados (t (19) = - 0,78, NS) (ver Fig. 3A).

Tabela 1. Efeitos do mCPP (0,03, 0,1 e 0,3nmol/0,1µl) microinjetado na MCP, sobre os comportamentos etológicos de camundongos avaliados no LCE.

* P < 0,05 comparado ao grupo veículo (0). NS: Não Significativo

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% E

ntra

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e T

empo

gas

to n

os

Bra

ços

Abe

rtos

Entradas nos BA Tempo nos BA

0 10 ketanserina(nmol/0,1ul)

B

A tabela 2 mostra a ausência de efeitos da ketanserina microinjetada na

MCP de camundongos expostos ao LCE. A análise estatística não revelou efeitos

significativos para nenhum dos comportamentos etológicos, que incluem o total de

esticadas (t (19) = 0,26 NS), a porcentagem de esticadas protegidas (t (19) = - 1,45

NS), total de mergulhos (t (19) = -0,80 NS), porcentagem de mergulhos protegidos (t

(19) = -1,39 NS), total de levantamentos (t (19) = 0,60 NS), porcentagem de

levantamentos protegidos (t (19) = 1,84 NS), autolimpeza (t (19) = -0,07 NS) e

imobilidade (t (19) = 0,49 NS) no labirinto em cruz elevado.

Figura 3. Ausência de efeitos da ketanserina (veículo e 10 nmol/0,1µl) microinjetados na MCP de camundongos expostos ao LCE. As barras representam as médias e o erro padrão do número de entradas nos braços fechados e das porcentagens de entrada e do tempo gasto nos braços abertos (BA) no LCE.

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ketanserina (nmol/0,1µl)Comportamentos veículo 10 t (df 19)Total esticar 17,7 ± 2,88 16,73 ± 2,19 0,26, NS% esticar protegido 81,63 ± 6,97 81,64 ± 6,7 -1,45, NSTotal mergulhar 8,8 ± 0,89 10,18 ± 1,43 - 0,80, NS% mergulhar protegido 53,8 ± 10,67 72,94 ± 8,77 -1,39, NSTotal levantar 7,20 ± 1,96 5,63 ± 1,51 0,60, NS%levantar protegido 100 ± 0 72,73 ± 14,08 1,84, NSautolimpeza 7,17 ± 1,80 7,36 ± 1,99 -0,07, NSimobilidade 18,43 ± 4,55 15,12 ± 4,87 0,49, NS

Tabela 2. Ausência de efeitos da Ketanserina (10nmol/0,1ul) microinjetada na MCP, sobre os comportamentos etológicos avaliados no LCE.

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DISCUSSÃO

O nosso trabalho mostrou que o mCPP, agonista dos receptores 5-HT2B/2C ,

resultou em um efeito ansiolítico quando administrado na MCP de camundongos

expostos ao LCE. A porcentagem de tempo gasto nos braços abertos foi

significativamente maior para as doses de 0,03 e 0,1nmol/0,1ul, enquanto a

porcentagem do número de entradas nesses mesmos braços foi significativamente

maior para a dose de 0,03 nmol/0,1ul. A atividade locomotora dos animais não foi

afetada com nenhuma das doses utilizadas.

O LCE constitui um modelo animal de ansiedade validado primeiramente

para ratos (Pellow et al., 1985) e posteriormente para camundongos (Lister, 1987),

baseado na aversão natural de roedores por espaços abertos. Estes,

normalmente, evitam os braços abertos do labirinto restringindo suas atividades

aos braços fechados. Os índices primários de ansiedade neste modelo consistem

de medidas relativas à freqüência de visitas aos braços abertos (relativas ao total

de entradas em ambos os braços) e o tempo gasto pelos animais nestas áreas

aversivas do aparato (relativas ao tempo de duração do teste). Neste estudo

houve um aumento da porcentagem de entradas e de tempo gasto nos braços

abertos, indicando um efeito ansiolítico resultante da administração do mCPP,

principalmente para a dose mais baixa do agonista.

Com relação aos comportamentos etológicos medidos no LCE, a análise

dos resultados revelou efeitos significativos para o total de esticadas, total de

mergulhos, e para a porcentagem de esticadas e mergulhos protegidos. A

diminuição na porcentagem de esticadas protegidas significa um aumento na

porcentagem de esticadas desprotegidas (em relação ao total de esticadas). O

mesmo pôde ser observado com relação à porcentagem de mergulhos protegidos.

Estes resultados, portanto, sustentam o efeito ansiolítico obtido na avaliação dos

comportamentos convencionais.

Trabalhos como o de Setem et al., (1999) que investigou os efeitos de

agonistas e antagonistas serotonérgicos em ratos submetidos ao LCE indicaram

que a observação dos comportamentos etológicos, juntamente com as medidas

convencionais, pode ser mais efetiva na avaliação dos efeitos destes compostos

ou outras drogas no LCE.

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Consistente com os resultados obtidos neste estudo, Dhonnchadha et

al.,2003 também obteve efeito ansiolítico após a administração sistêmica de

mCPP , em ratos avaliados no LCE. Outros trabalhos, entretanto, mostram

resultados diferentes no que diz respeito à utilização deste agonista, como por

exemplo, o de Zanoveli et al., 2003, que obteve efeito ansiogênico com

microinjeções de mCPP na MCP dorsal de ratos avaliados no Labirinto em T

Elevado. Nogueira e Graeff (1995) obtiveram ausência de efeitos na avaliação do

comportamento aversivo induzido por estimulação elétrica da MCP dorsal de ratos

após microinjeções de mCPP nesta mesma região.

Estas variações podem ser atribuídas aos diferentes métodos utilizados,

bem como aos diversos modelos animais empregados.

Resultados obtidos com modelos animais que envolvem microinjeções de

drogas diretamente nos sítios cerebrais vem fazendo com que a hipótese

serotonérgica clássica da ansiedade, a qual atribui um papel ansiogênico para a 5-

HT, seja revista.Tem sido constatado que, em geral, microinjeções de 5-HT na

amígdala produzem efeitos ansiogênicos (Pesold e Treit, 1995; Menard e Treit,

1999, Nunes-de-Souza et al., 2000), e o mesmo não ocorre com microinjeções de

5-HT na MCP, que resultam em efeitos ansiolíticos (Deakin e Graeff, 1991; Graeff

et al., 1993; Graeff, 1994; Gonzalez et al.,1996; Guimarães et al., 2004). Segundo

teoria de Deakin e Graeff (1991), a serotonina possui um papel dual no sistema de

defesa, podendo atuar como ansiolítica ou ansiogênica, dependendo das

características do estimulo aversivo. Os nossos resultados corroboram esta teoria,

já que a administração de mCPP na MCP produziu efeito ansiolítico em

camundongos submetidos ao LCE.

A administração do antagonista 5-HT2, ketanserina, na MCP de

camundongos não provocou nenhum efeito significativo nos níveis de ansiedade

(comportamentos convencionais e etológicos) medidos no LCE. Resultados

semelhantes foram observados com a administração sistêmica deste composto

em ratos expostos ao LCE (Griebel et al., 1997). A mesma ausência de efeitos foi

observada por Soares e Zangrossi (2004), após microinjeções de ketanserina na

MCP dorsal de ratos submetidos ao Labirinto em T Elevado. Este estudo mostrou,

ainda, que a ketanserina foi capaz de bloquear o efeito ansiogênico decorrente de

microinjeções de 5-HT na MCP dorsal.

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CONCLUSÃO

Podemos concluir que o antagonista dos receptores 5-HT2, ketanserina, não

produziu nenhum efeito significativo quando microinjetado na MCP de

camundongos submetidos ao LCE. Esta ausência de efeitos é corroborada por

dados da literatura.

A administração do mCPP, agonista dos receptores 5-HT2B/2C , na MCP

atenuou a ansiedade de camundongos expostos ao LCE. A dose mais baixa da

droga (0,03 nmol/0,1ul) produziu efeitos significativos para um dos principais

índices de ansiedade avaliado no LCE, a porcentagem de tempo gasto nos braços

abertos, e a porcentagem de entradas nestes braços. A análise dos

comportamentos etológicos reforça este resultado, que também é consistente com

dados da literatura.

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