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128 U NIVERSIDADE F EDERAL DE S ÃO C ARLOS C ENTRO DE E DUCAÇÃO E C IÊNCIAS H UMANAS D EPARTAMENTO DE P SICOLOGIA RELAÇÃO DE AJUDA: UM ESTUDO SOBRE IDOSOS E SEUS CUIDADORES FAMILIARES MONOGRAFIA APRESENTADA COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA DA ALUNA DE GRADUAÇÃO M ARCELA A LICE B IANCO SOB ORIENTAÇÃO DA P ROFA . D RA . E LIZABETH J OAN B ARHAM E C O - ORIENTAÇÃO DA P ROFA D RA . S OFIA C RISTINA I OST P AVARINI . SÃO CARLOS - SÃO PAULO DEZEMBRO DE 2003 ÍNDICE Resumo..................................................................................................................................07 Introdução.............................................................................................................................09

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

RELAÇÃO DE AJUDA: UM ESTUDO SOBRE IDOSOS

E SEUS CUIDADORES FAMILIARES

MONOGRAFIA APRESENTADA COMO TRABALHO DE

CONCLUSÃO DO CURSO DE BACHARELADO EM

PSICOLOGIA DA ALUNA DE GRADUAÇÃO MARCELA

ALICE BIANCO SOB ORIENTAÇÃO DA PROFA. DRA. ELIZABETH JOAN BARHAM E CO - ORIENTAÇÃO DA PROFA

DRA. SOFIA CRISTINA IOST PAVARINI .

SÃO CARLOS - SÃO PAULO DEZEMBRO DE 2003

ÍNDICE Resumo..................................................................................................................................07

Introdução.............................................................................................................................09

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A presença do idosos na população brasileira...........................................................09

Conceitos sobre velhice.............................................................................................11

A dependência do idoso............................................................................................14

Qualidade de vida na velhice.....................................................................................17

A relação idoso-família na promoção e manutenção da qualidade de

vida na velhice...........................................................................................................20

Redes sociais de apoio...............................................................................................20

Conceitos sobre apoio familiar..................................................................................20

A influência da história familiar................................................................................23

Arranjos familiares....................................................................................................24

Fatores sócio econômicos.........................................................................................26

Fatores interpessoais.................................................................................................27

O estresse entre cuidadores familiares de idosos......................................................28

Fatores que afetam a percepção de estresse..............................................................30

Enfrentamento de estresse.........................................................................................31

Recursos pessoais......................................................................................................32

Recursos ambientais..................................................................................................33

A qualidade do relacionamento entre idosos e seus familiares.................................34

O cuidador familiar de idosos...................................................................................35

Tipos de cuidadores..................................................................................................35

A decisão de cuidar de um idoso dependente...........................................................36

Níveis de apoio familiar............................................................................................37

Dificuldades encontradas no papel de cuidar............................................................39

Benefícios encontrados no cuidado à idosos.............................................................41

A influência da qualidade do relacionamento entre idoso e cuidador familiar.........42

Objetivos...............................................................................................................................43

Método..................................................................................................................................44

Participantes..............................................................................................................44

Local..........................................................................................................................44

Procedimentos...........................................................................................................44

Instrumentos..............................................................................................................46

Resultados.............................................................................................................................51

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Discussão............................................................................................................................108

Conclusão............................................................................................................................119

Referências Bibliográficas..................................................................................................122

ANEXOS

Anexo A: Instrumento para avaliação do cuidador familiar de idoso.................................128

Anexo B: Instrumento para avaliação do idoso..................................................................138

Índice de tabelas

Tabela 01 – Outras características pessoais dos idosos........................................................55

Tabela 02 - Freqüência média das atividades sociais e de lazer desenvolvidas pelos idosos

(dias por ano)........................................................................................................................57

Tabela 03 - Número de idosos que dependiam da ajuda de mais alguém para desenvolver suas

atividades sociais e de lazer..........................................................................................57

Tabela 04 - Estado de saúde física geral dos idosos.............................................................58

Tabela 05 - Prevalência e grau de severidade de problemas comportamentais ou limitações

físicas encontrados nos idosos, segundo relato dos cuidadores familiares...........................59

Tabela 06 - Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os idosos...........62

Tabela 07 - Expectativas para o futuro, dos idosos...............................................................63

Tabela 08 - Outras características pessoais dos cuidadores familiares.................................65

Tabela 09 - Freqüência de envolvimento dos cuidadores familiares em atividades domésticas,

sociais e de lazer (dias por ano).........................................................................68

Tabela 10 - Mudanças no envolvimento dos cuidadores em atividades, devido aos cuidados

para com os idosos................................................................................................................69

Tabela 11 - Estado de saúde física geral dos cuidadores familiares.....................................70

Tabela 12 - Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os cuidadores....72

Tabela 13 - Expectativas para o futuro, entre os cuidadores................................................73

Tabela 14 - Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores

que moravam juntos com os idosos......................................................................................75

Tabela 15- Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos

cuidadores que moravam juntos com os idosos....................................................................75

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Tabela 16 - Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos idosos que

não moravam juntos com seus cuidadores............................................................................76

Tabela 17- Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores

que não moravam juntos com os idosos que apoiavam........................................................77

Tabela 18 - Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos

cuidadores que não moravam juntos com os idosos que apoiavam......................................77

Tabela 19 - Aspectos do papel de cuidador, apontados pelos cuidadores............................78

Tabela 20 - Envolvimento e freqüência média (em dias/ano) com a qual os cuidadores ou

outras pessoas ajudavam os idosos em suas AVD’s e AIVD’s, segundo relato dos

cuidadores.............................................................................................................................81

Tabela 21 - Dificuldades apontadas pelos cuidadores em relação ao papel de cuidar de

idosos....................................................................................................................................83

Tabela 22 – Grau de parentesco com os cuidadores de familiares que poderiam auxiliar nos

cuidados dos idosos, mas não o fazem..................................................................................84

Tabela 23 – Número de pessoas que poderiam oferecer apoio aos idosos, mas não

oferecem................................................................................................................................85

Tabela 24 – Grau de parentesco com os cuidadores das pessoas que auxiliam nos cuidados dos

idosos..............................................................................................................................86

Tabela 25 – Número de pessoas que também oferecem suporte aos idosos.........................86

Tabela 26 – Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares

em relação ao suporte oferecido aos familiares e aos idosos...............................87

Tabela 27 – Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares

em relação ao suporte recebidos dos familiares nas tarefas de cuidar.................88

Tabela 28 – Formas de manifestação de afeto dos cuidadores em relação aos idosos, segundo

relatos dos idosos....................................................................................................89

Tabela 29 – Aspectos que os idosos sentem falta em seu relacionamento com os

cuidadores.............................................................................................................................90

Tabela 30 – Assuntos das conversas entre cuidadores familiares e idosos...........................91

Tabela 31 – Aspectos valorizados na relação idoso - cuidador familiar...............................92

Tabela 32 – Pontos positivos de conflitos segundo os dois grupos......................................94

Tabela 33 – Pontos negativos de conflitos segundo os dois grupos.....................................94

Tabela 34 – Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da

mudança do próprio pensamento..........................................................................................95

Tabela 35 – Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da

solicitação de apoio emocional de alguém............................................................................95

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Tabela 36 – Estratégias usadas por idosos e cuidadores para melhorar a comunicação numa

situação de conflito...............................................................................................................96

Tabela 37 – Concepção de velhice apresentada pelos idosos...............................................97

Tabela 38 – Concepção de velhice apresentada pelos cuidadores familiares.......................98

Tabela 39 – Características apontadas pelos dois grupos como sendo próprias da

velhice...................................................................................................................................99

Tabela 40 – Comentários dos idosos sobre se considerarem idosos.....................................99

Tabela 41 – Comentários dos idosos sobre não se considerarem idosos..............................99

Tabela 42 – Fontes de preocupação dos idosos em relação ao próprio

envelhecimento...................................................................................................................100

Tabela 43 – Fontes de preocupação dos cuidadores aos idosos..........................................100

Tabela 44 – Concepção de cuidado dos idosos...................................................................104

Tabela 45 – Forma que os idosos gostariam de ser cuidado...............................................104

Tabela 46 – Concepção de cuidado dos cuidadores............................................................105

Índice de Figuras Figura 1 – Composição da amostra de idosos, por sexo.......................................................53

Figura 2 – Composição da amostra de idosos, por idade......................................................53

Figura 3 – Composição da amostra de idosos, por estado civil............................................54

Figura 4 – Composição da amostra de idosos, por grau de escolaridade..............................54

Figura 5 – Pontuação obtida pelos idosos no “Mini Exame do Estado Mental”..................60

Figura 6 – Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades da Vida Diária, segundo

escala de “OARS”...................................................................................................60

Figura 7 – Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades da Instrumentais de Vida

Diária, segundo escala de “OARS”..............................................................................61

Figura 8 – Grau de satisfação com a vida, entre os idosos...................................................62

Figura 9 – Composição da amostra de cuidadores familiares, por sexo...............................64

Figura 10 – Composição da amostra de cuidadores familiares, por idade............................64

Figura 11- Composição da amostra de cuidadores familiares, por estado civil....................65

Figura 12 – Composição da amostra de cuidadores familiares, por grau de

escolaridade...........................................................................................................................65

Figura 13 – Satisfação com a vida, entre os cuidadores.......................................................71

Figura 14 – Grau de parentesco do idoso com seu cuidador familiar...................................74

Figura 15 – Intimidade da relação segundo idosos e seus cuidadores Familiares................89

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RESUMO O aumento exponencial do número de idosos e da expectativa de vida dos brasileiros vêm trazendo a necessidade de pesquisas e iniciativas que contribuam para a garantia da satisfação das necessidades dessa população e de um envelhecimento com qualidade e dignidade. O número de idosos na sociedade que apresenta algum grau de dependência já é muito significativo. Como existem poucos serviços públicos ou particulares para idosos no país, a tarefa de apoiar um idoso é, na maioria das vezes, desempenhada por familiares, sendo que o cuidador familiar possui um papel crucial nessa tarefa. Para garantir a qualidade e a continuidade dos cuidados que um familiar oferece a um parente idoso, acredita-se que é necessário atentar para a qualidade da relação interpessoal, uma vez que esta pode afetar as estratégias usadas em situações difíceis e sustentar o interesse do cuidador em ajudar. Nesse sentido, faz-se necessário investigar o status desta relação como primeira etapa na identificação de fatores que podem interferir na qualidade dos cuidados. Este trabalho objetivou analisar a relação idoso-cuidador familiar e identificar possíveis variáveis que podem estar envolvidas nesta questão, por meio de quatro objetivos específicos: caracterização dos idosos, caracterização dos cuidadores familiares, identificação da forma como as famílias estão estruturadas e identificação de como se dá o relacionamento entre idoso e cuidador.

Observando-se os princípios éticos de pesquisa com seres humanos, foram entrevistados 39 cuidadores e 28 idosos de uma cidade do interior de São Paulo, utilizando dois roteiros de entrevista construídos com base em uma combinação de itens específicos a esta pesquisa e algumas escalas já existentes e consideradas de bom padrão de confiabilidade e precisão. Para a análise dos dados quantitativos, foram feitas análises estatísticas descritivas e comparativas para verificar a influência de vários fatores sobre o relacionamento idoso-cuidador familiar, comparando-se as respostas dadas por eles. Para a análise qualitativa dos dados, foi feita uma análise de conteúdo, buscando consenso entre os juízes em relação à escolha de categorias e posterior categorização dos dados.

No que diz aos idosos entrevistados, um pouco mais da metade era homens (57%), com idade variando entre 61 e 95 anos (M = 76 anos). A maioria era casada (60,7%) ou viúva (32,1%) e possuía, em média, quatro filhos e sete netos. Como é típico desta faixa etária, o nível de escolaridade era baixo, com a maioria sem formação do primeiro grau. A grande maioria dos idosos (89,3%) relatou pelo menos uma enfermidade. Para avaliar o grau de dependência dos idosos, utilizou-se a escala de OARS (que varia de 0 a 14 pontos, sendo que quanto menor a pontuação, maior o grau de dependência). Verificou-se que a maioria não

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apresentou altos graus de dependência em relação às atividades básicas (M = 12,44, D.P. = 3,1) e instrumentais da vida diária (M = 9,29 , D.P.= 3,4). Além disso, de acordo com o Mini Exame do Estado Mental, a maioria dos entrevistados (70,8%) não apresentou alterações cognitivas. Com relação aos cuidadores familiares, 95% era do sexo feminino, com idade variando entre 30 e 75 anos. Em 66,7% dos casos os cuidadores eram casados e possuíam em média dois filhos. Em relação ao grau de escolaridade, nenhum dos cuidadores era analfabeto e 43,6% deles completou o Ensino Fundamental. A grande maioria (70,3%) não possuía emprego remunerado. Em 43,6% dos casos, os cuidadores relataram apresentar pelo menos um problema médico.

Quanto a forma como as famílias estavam estruturadas, a maioria dos cuidadores entrevistados cuidavam de pais idosos (65,8%), seguidos de 15,8% dos entrevistados que cuidava de seu cônjuge, 13,2% que oferecia suporte a sogra e 2,6% que auxiliava o irmão ou o cunhado, respectivamente. Em 71,8% dos casos, os cuidadores ofereciam suporte a somente um idoso e, nos demais casos, a dois idosos. No geral (86,9% dos casos), existiam outras pessoas envolvidas na tarefa de cuidar dos idosos. Mesmo contando com este apoio, 70% dos entrevistados eram os cuidadores principais. em 43,6% dos casos, os idosos moravam junto com seus cuidadores, o que diz respeito à 19 famílias.

No que concerne ao status do relacionamento existente entre idosos e cuidadores, os resultados encontrados mostraram que os cuidadores avaliavam vários aspectos do relacionamento de forma mais negativa do que os idosos (por ex., grau de intimidade, emissão de afeto e freqüência de conversas sobre questões importantes). Apesar desses resultados, tanto idosos quanto cuidadores valorizavam com maior intensidade aspectos subjetivos da relação, como a afetividade. Além disso, os cuidadores avaliavam o envolvimento do idoso na tomada de decisões como sendo bastante restrito, enquanto a maioria dos idosos se consideravam autônomos. Em relação às dificuldades de relacionamento, as fontes de conflito mencionadas pelos idosos e cuidadores de forma equivalente nos dois casos foram relativas a uso de medicamentos (25,4%), controle de dinheiro (12,7%), religião (11,1%) e organização da casa (6,3%). Somente o modo de educar filhos/netos foi apontado como fonte de conflito para os dois grupos de forma significativamente diferenciada (X2 (1) = 3,9, p<0,05), sendo que para os cuidadores, esta questão provoca dificuldades de relacionamento em 33,3% dos casos, enquanto para os idosos isso ocorre em 11,5% dos casos. Como forma de lidar com tais dificuldades, tanto os cuidadores como os idosos utilizam mais estratégias passivas que ativas de enfrentamento de conflitos. As estratégias apontadas como sendo utilizadas com grande freqüência foram: pedir ajuda a Deus, respeitar o outro como sendo alguém de boas intenções, melhorar o tom da conversa, encontrar um ponto comum, buscar o lado positivo da situação e manter a calma. E as estratégias menos utilizadas foram: não deixar que os sentimentos interfiram na situação, não expressar opinião e pedir ajuda profissional ou de amigos.

Em parte, os resultados encontrados sobre o relacionamento refletem normas culturais que desfavorecem conversas intergeracionais sobre assuntos mais íntimos, fazendo com que barreiras interpessoais sejam criadas ao longo da trajetória do relacionamento. Problemas em relação à intimidade e à preservação da participação do idoso na tomada de decisões podem contribuir para as dificuldades experimentadas para resolver diferenças de opinião, ou mudar comportamentos inadequados. Além disso, tanto os idosos quanto os cuidadores possuíam uma concepção de velhice bastante negativa, enfatizando as perdas e limitações em detrimento dos pontos positivos encontrados na velhice. Essa concepção negativa da velhice pode influenciar a qualidade das interações entre os idosos e seus cuidadores, além de afetar de forma positiva ou negativa a forma como ambos lidam com as mudanças decorrentes da situação de cuidado e da velhice e a qualidade do suporte oferecido. Deste modo, este estudo aponta a necessidade de planejamento de intervenções para essa população, que os ajudem a melhorar suas estratégias de comunicação interpessoal e a diminuir barreiras interpessoais que possam estar comprometendo a intimidade do relacionamento; e que trabalhem com crenças a respeito da velhice e do cuidado. Tais intervenções podem promover um impacto importante sobre a qualidade da relação e por conseqüência, na qualidade dos cuidados prestados aos

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idoso e na qualidade de vida da díade idoso-cuidador. Palavras-chave: Idoso – cuidador familiar – relacionamento interpessoal INTRODUÇÃO

A presença do idoso na população brasileira

O crescimento da população idosa no Brasil e o aumento da expectativa de vida vêm

despertando a atenção para os problemas referentes ao processo de envelhecimento e

mostrando a necessidade de se garantir condições propiciadoras de um envelhecimento com

dignidade e qualidade. Do envelhecimento individual e populacional surgem novas demandas

sociais em função do impacto e das necessidades advindas desse novo cenário social,

acarretando elaboração e modificações de serviços que promovam a qualidade de vida da

população (Mendiondo, 2002). Tal preocupação desperta no meio científico o interesse em

estudar as interfaces da velhice propriamente dita e do envelhecimento populacional, para

compreendê-lo em sua magnitude e especificidade, contribuindo assim para a estruturação de

intervenções e políticas adequadas e para a qualidade de vida daqueles que já envelheceram,

dos que estão por envelhecer e dos indivíduos que se relacionam com essa população.

De acordo com o censo realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), o número de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil era, nesta data, de

15,5 milhões, representando 9,1% da população brasileira. A presença dos idosos na

população vem aumentando continuamente através dos anos, sendo que em 1989 representava

7,4%, subindo para 7,9% em 1991 e chegando a 8,3% em 1995 (Garrido & Menezes, 2002).

Estima-se que em 25 anos a população de idosos nesse país poderá ultrapassar os 30 milhões

de habitantes (IBGE, 2003). Dessa forma, percebe-se que a estrutura demográfica da

população brasileira está mudando, alterando as demandas normativas sobre as famílias e

aumentando o interesse em melhorar a qualidade de vida dos idosos e de seus familiares.

Esta mudança na estrutura da população brasileira se tornou possível, principalmente,

em função do aumento na expectativa de vida e queda na fecundidade dos brasileiros nos

últimos anos. De acordo com as estimativas do censo de 2000, a esperança de vida, ao nascer,

da população brasileira cresceu 2,6%, ao passar de 66 anos, em 1991 para 68,6 anos, em

2000. Apesar deste crescimento ter sido evidenciado em ambos os sexos, a expectativa de

vida das mulheres é maior que a dos homens, sendo de 72,6 anos e 64,8 anos respectivamente

(IBGE, 2003). Contribuem para esse fato a redução da morbidade e da mortalidade, devido

aos avanços tecnológicos e científicos, especialmente na área da saúde, que permitem que a

sobrevivência tanto das crianças quanto dos adultos seja maior, apesar do grande número de

pessoas que ainda vivem em condições precárias de nutrição e higiene (Zimerman, 2000). A

redução da taxa de natalidade se tornou viável com a difusão dos métodos contraceptivos, os

quais permitem que a mulher opte por um menor número de filhos. O interesse por parte das

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mulheres em entrar no mercado de trabalho cooperado com demandas econômicas cada vez

maiores sobre as famílias também incentivaram uma redução no número de filhos.

O envelhecimento populacional não é um assunto novo para muitos países

desenvolvidos. Países como China, Japão e alguns países da Europa e da América do Norte, já

convivem com um grande número de idosos em sua população e com todos os problemas

associados ao envelhecimento, como a aposentadoria e as doenças próprias desta fase da vida,

que geram altos custos para o Estado (Garrido & Menezes, 2002). Todavia, em países em

desenvolvimento, como o Brasil, cujo contingente populacional de idosos vem aumentando

mais recentemente, a necessidade de políticas nacionais para lidar com as conseqüências

econômicas, sociais e de saúde do processo de envelhecimento da população se faz presente.

Torna-se importante ressaltar que, além das modificações sócio-demográficas, que exigem

novas demandas e serviços, as condições sócio-econômicas da maioria dos países em

desenvolvimento, que contribuem para a precariedade ou escassez de serviços adequados para

a população e a má distribuição de renda pode ser fonte de inúmeros problemas tanto para os

indivíduos quanto para o Estado. Segundo Papaléo Netto (1996),

“à precária condição sócio econômica, associam-se múltiplas afecções

concomitantes, perdas não raras da autonomia e independência e dificuldade de

adaptação do idoso às exigências do mundo moderno que, em conjunto, levam ao

isolamento social do idoso.”

Tal situação gera um impacto importante na sociedade, exigindo reestruturações que

vão desde mudanças nas estruturas familiares, que tem que se adequar às necessidades do

idoso até a implantação e reestruturação de serviços tanto no setor público quanto no privado.

Para tanto, o conhecimento dos fatores relacionados ao processo de envelhecimento é de

extrema importância, uma vez que fundamentam cientificamente as estratégias a serem

utilizadas pelas agências e por profissionais que trabalham com essa população.

Conceitos sobre a velhice

Os estudos promovidos tanto pela Gerontologia e Geriatria, quanto por outras áreas de saber,

vem proporcionando uma visão bastante complexa do fenômeno envelhecimento, originando

variados conceitos sobre a velhice (Papaléo Netto, 1996).

A necessidade de estabelecer critérios para delimitar serviços oferecidos e direitos

das pessoas idosas, fez com que fosse criado um critério cronológico para identificar os

indivíduos idosos na sociedade. O critério cronológico usado pela Organização Mundial da

Saúde (OMS) para estabelecer o início da velhice é de 65 anos para os países desenvolvidos e

de 60 para os em desenvolvimento (Papaléo Netto, 1996). Todavia, do ponto de vista

biológico, não se pode afirmar que o envelhecimento se inicia quando um indivíduo completa

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60 ou 65 anos, pois diversos especialistas reconhecem que o mesmo depende de fatores

hereditários, do ambiente, da dieta alimentar e do estilo de vida de cada indivíduo, ou seja, de

fatores biológicos individuais (Duarte, 1998). Existe também, uma relação entre a idade

cronológica e a idade psicológica, que diz respeito às capacidades do indivíduos, como

percepção, memória, aprendizagem, que predizem o potencial funcional do indivíduo no

futuro. Além disso, existe a idade social, relacionada a capacidade do indivíduo em se adequar

à papéis sociais e a apresentar comportamentos esperados para as pessoas de sua faixa etária.

Desta forma, percebe-se que um ou outro critério isoladamente não define a velhice, sendo

necessário o uso conjunto dos mesmos ao conceituar a velhice (Papaléo Netto, 1996).

Deste modo, o envelhecimento pode ser considerado um fenômeno biológico,

psicológico e social, sendo que as alterações que irão ocorrer nesses três aspectos durante a

velhice são geralmente lentas, gradativas e em grande parte, heterogêneas. Isto é, para cada

pessoa, o envelhecimento se dá de forma única e tem características individuais (Neri, 1995;

Zimerman, 2000).

Assim, teorias que prezam tanto os pontos positivos quantos os negativos que

envolvem o processo de envelhecimento, balanceando-os, originam concepções de velhice

mais próximas da realidade de vida dos idosos. Nesse sentido, algumas teorias propõem

modelos multidimensionais que analisam a relação entre perdas e ganhos durante essa fase

(Baltes, 1983; Baltes & Baltes, 1990).

Segundo a perspectiva teórica do curso de vida, o envelhecimento é caracterizado

como uma propriedade exclusiva dos organismos vivos. No caso do ser humano, ele

compreende os processos de transformação que o organismo sofre após a maturação sexual,

podendo ser iniciado em diferentes épocas para as diferentes partes e funções do organismo, e

possuindo um ritmo e velocidade heterogêneos para cada parte, bem como, entre os

indivíduos. O processo de envelhecimento, portanto, implica na diminuição gradual da

probabilidade de adaptação e sobrevivência do indivíduo, sendo acompanhado por alterações

na aparência, no comportamento, nas experiências vivenciadas e nos papéis desempenhados

no ambiente social, que variam para cada indivíduo (Birren & Bengston, 1988 apud Neri,

1995).

As diferenças encontradas no processo de envelhecimento se devem a forma como

cada indivíduo organizou seu curso de vida, dependendo das circunstâncias históricas,

culturais e sociais que estiveram presentes durante sua trajetória, das diferenças genéticas de

cada indivíduo, das interações entre fatores genéticos e ambientais, da incidência de diferentes

patologias durante o desenvolvimento normal, dos hábitos adquiridos durante a vida, da

estimulação mental recebida, das formas como a pessoa lida com fatores estressores da vida,

do apoio psicológico que recebe de outras pessoas e agências em situações difíceis, da atitude

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positiva ou negativa perante a vida, entre outros fatores que podem minimizar ou maximizar a

qualidade de vida de um idoso (Neri, 1995; Zimerman, 2000).

Portanto, as condições físicas, psicológicas e sociais de um idoso variam de acordo

com as características individuais adquiridas durante toda a vida, sendo impossível

caracterizar o processo de envelhecimento como homogêneo e estabelecer características da

velhice propriamente dita. Como enfatiza Zimerman (2000), as características de uma pessoa

idosa não são peculiares somente de sua faixa etária, mas fazem parte de um repertório

construído durante toda a sua história de vida. Isto é, as características adquiridas durante o

curso da vida são mantidas ou acentuadas durante o envelhecimento. Desta forma, um idoso

poderá apresentar características positivas ou negativas diante da sociedade, de acordo com

aquelas adquiridas desde o seu nascimento.

Apesar do envelhecimento populacional representar uma das maiores conquistas no

presente século, devido ao aumento da longevidade, muitas sociedades ainda valorizam a

competitividade, a capacidade de trabalho, a independência e a autonomia funcional de seus

membros, que nem sempre são encontradas na velhice, devido às perdas e limitações

decorrentes dessa fase (Camargo, 1999, Mendiondo, 2002). Segundo algumas pesquisas

(Debert, 1996; Medrado, 1994; Santos, 1990 apud Camargo, 1999), o idoso ainda é bastante

desvalorizado, sendo sua condição relacionada às perdas, às incapacidades e às doenças da

velhice. Segundo Zimerman (2000), existe na sociedade uma cultura da "velhice infeliz",

onde permanece um conjunto de crenças que marginaliza o idoso, relacionando-o com

aspectos negativos como a perda da produtividade e a debilidade orgânica, que acabam sendo

aceitos sem questionamentos pelas pessoas e inclusive pelos próprios idosos. Paschoal (2002)

acrescenta à essas representações negativas, a impotência, a decrepitude, o desajuste social, os

baixos rendimentos, a solidão, a viuvez, a cidadania de segunda classe, além de estereótipos

que definem o idoso como chato, rabugento, implicante, triste, demente e oneroso.

Além disso, algumas pesquisas brasileiras mostram que os próprios idosos possuem

uma visão enviesada do processo de envelhecimento, enfatizando as perdas em detrimento

dos ganhos existentes, proporcionando a criação de representações negativas, preconceitos e

de estereótipos (Camargo, 1999; Mendiondo, 2002).

Sobre esse aspecto, Medrado (1994 apud Camargo, 1999) realizou uma pesquisa em

uma cidade baiana sobre representações da velhice e encontrou dados que remetem a uma

representação negativa do envelhecimento, ligada por exemplo, à perda da saúde, da utilidade

social e de perspectivas futuras. Um estudo de Santos (1990 apud Camargo, 1999), a respeito

da influência da aposentadoria sobre a idade do sujeito, também apontou uma ênfase em

aspectos negativos da velhice, sendo o idoso representado pelo afastamento do mundo social.

Em contrapartida, a pesquisa de Barros Pinto (1997), sobre conceitos de velhice em diferentes

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gerações nipo-brasileira apontou aspectos positivos da velhice, relacionados a fatores que

podem proporcionar respeito e poder aos idosos como, sabedoria, experiência de vida,

geratividade, consciência das próprias realizações e continuidade do desenvolvimento

intelectual. Deste modo, existem duas maneiras de pensar na velhice, que levam em

consideração somente aspectos positivos ou negativos do envelhecimento. Qualquer uma

dessas concepções de velhice é parcial, uma vez que em todas as fases do desenvolvimento

humano o indivíduo experiência tanto ganhos e perdas que afetam a sua vida de forma

exclusiva e diversificada (Mendiondo, 2002).

Como alguns comportamentos dos idosos podem passar desapercebidos e até serem

desvalorizados, em função da representação social do envelhecimento, vários autores fazem

questão de destacar os aspectos mais positivos da velhice, mostrando que este é um período

da vida que envolve a continuação do processo de desenvolvimento psíquico e social,

desviando o foco de atenção da deterioração de capacidades físicas (Camargo, 1999; Neri,

1995, Mendiondo, 2002). O declínio biológico normal que ocorre com o envelhecimento do

indivíduo e o progressivo aparecimento de doenças e dificuldades funcionais que podem

aparecer na velhice, podem levar a uma concepção negativa desta fase. Entretanto, com os

avanços na área de saúde e tecnologias assistivas1, existe uma grande possibilidade de

controlar muitos problemas de saúde comuns na velhice e, desta forma, garantir uma boa

qualidade de vida nesta fase do desenvolvimento. Deve-se, portanto, reconhecer as

particularidades de cada organismo que envelhece e considerar a saúde do idoso em termos da

manutenção da sua capacidade funcional (Assis, 1998). Desta forma, pode-se considerar que o

envelhecimento é uma fase de adaptação na vida do indivíduo, como todas as outras. Porém,

neste caso, a necessidade de adaptação às incapacidades físicas, cognitivas e psicossociais se

fazem mais presentes que em outras fases do desenvolvimento. Portanto, como afirma

Papaléo Netto (1996), “é relevante ter uma visão global do envelhecimento como processo e

do idoso como ser humano”, considerando os aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais,

culturais e econômicos envolvidos nesse processo e na vida de cada idoso.

A dependência do idoso

A diminuição das capacidades físicas freqüentes em muitos idosos desencadeia um

processo de adaptação psicossocial (Leme e Silva, 1996). Este processo pode ser

evidenciado em vários graus e aspectos como por exemplo, a necessidade de aceitar e

administrar limitações físicas e cognitivas que podem deixar a pessoa incapaz de lidar com

pequenas coisas, como sair de casa para um passeio ou de se lembrar da mudança de lugar de

um objeto ou móvel dentro de sua casa. Mudanças bruscas e mais amplas, como a perda de

1.Tecnologias assistivas: Equipamentos que permitem que uma pessoa dependente possa realizar atividades sem ou com pouca ajuda de outras pessoas.

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um ente querido ou uma mudança de moradia, exigem alterações muito grandes nas rotinas

cotidianas do idoso, e a reconstrução de alguns dos laços emocionais mais importantes na

sua vida. No caso dos idosos, estas restrições e alterações na sua vida costumam levar a um

aumento na sua dependência do ambiente familiar e doméstico, caracterizado como um local

que costuma oferecer estabilidade, proteção e cuidado ao idoso.

A dependência é caracterizada pela incapacidade ou impotência do indivíduo em

viver satisfatoriamente sem a ajuda de outras pessoas. Em função das alterações físicas,

sociais e psicológicas que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento, um idoso

pode se tornar dependente de outras pessoas para que sua qualidade de vida seja mantida

(Pavarini, 1996).

Segundo Baltes e Silverberg (1995), a dependência dos idosos é normalmente

evidenciada em três dimensões: física, estruturada e comportamental. A dependência física

está relacionada à falta de capacidade funcional para realizar as atividades básicas e

instrumentais da vida diária, como tomar banho, cuidar da aparência, alimentar-se, fazer

compras, etc. Este tipo de dependência pode ocorrer em diferentes graus, dependendo do

comprometimento funcional do idoso. A dependência estruturada esta relacionada à perda do

papel produtivo na sociedade e na família, gerada pela perda do trabalho e/ou pela

aposentadoria. Já a dependência comportamental está embutida culturalmente na sociedade e

não depende da competência do idoso em realizar uma tarefa, mas sim da expectativa das

outras pessoas em relação ao que o idoso é capaz de fazer e das oportunidades dadas a ele

por essas pessoas. Este último tipo de dependência normalmente é caracterizado por um

ambiente superprotetor, que estimula a dependência do idoso, onde os familiares acabam

fazendo coisas que ele ainda seria capaz de executar sozinho ou com pouca ajuda.

Neri & Sommerhalder (2002) afirmam que a dependência de um idoso pode estar

relacionada a diversos domínios, além do físico. Por exemplo, ela pode estar ligada à

obtenção de informações que possam auxiliar na tomada de decisões do idoso, ou na

utilização de recursos disponíveis na sociedade para melhorar sua qualidade de vida. Pode

também estar relacionada à necessidade de ajuda na realização de atividades práticas que

ocorrem fora do ambiente doméstico, como compra de roupas, alimentos ou utensílios,

recebimento e execução de pagamentos, deslocamento de um local para outro, etc. Além

disso, pode ser funcional, ou seja, estar associada a déficits das capacidades funcionais do

idoso, podendo resultar na necessidade de ajuda em diferentes graus e dimensões,

dependendo do grau de comprometimento.

Todavia, é importante destacar que a dependência em um determinado domínio não

implica na dependência em outros. Por exemplo, a dependência de um idoso em relação a

outras pessoas para realizar algumas atividades instrumentais da vida diária não significa que

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esse mesmo idoso também dependa de outras pessoas em outros domínios, como atividades

da vida diária (consigo mesmo), à tomada de decisões, etc. Mesmo dentro de um mesmo

domínio, a necessidade de ajuda pode existir para determinadas tarefas e não para outras

(Neri & Sommerhalder, 2002).

Segundo Gatz, Bengston e Blum (1990) apenas uma minoria da população idosa é

totalmente dependente da ajuda de outras pessoas para realizar suas atividades de vida diária.

Todavia, uma boa parcela apresenta diferentes graus de dependência leve ou moderada,

dependendo da idade.

No Brasil, a presença de idosos que apresentam algum grau de dependência é

bastante freqüente. Um estudo desenvolvido por Ramos (1993) na área metropolitana da

região sudeste do Brasil, por exemplo, evidenciou a presença de 86% de idosos que referiam

possuir ao menos uma doença crônica e 46% de idosos que precisavam de ajuda de outras

pessoas para realizar pelo menos uma das atividades básicas da vida diária.

Nesse mesmo sentido, um estudo realizado por Coelho Filho e Ramos (1999), com

667 idosos residentes na região nordeste do Brasil, evidenciou que 92,4% dos idosos

entrevistados apresentava pelo menos uma doença, sendo que 78,1% mencionou apresentar

de uma a cinco doenças crônicas. Em relação à necessidade de ajuda, 47,7% dos idosos

referiu necessitar da ajuda de outras pessoas para pelo menos três atividades da vida diária.

Ainda em relação à dependência, Medina (1998 apud Karsch, 2003) afirma que cerca

de 40% dos idosos com idade superior a 65 anos necessitam de apoio para realizar pelo

menos uma tarefa como fazer compras, lidar com finanças, preparar refeições e limpar a

casa. Além disso, cerca de 10% precisa de ajuda em atividades básicas de vida diária como,

tomar banho, alimenta-se, etc.

Independente do grau de ajuda necessária, na velhice a pessoa idosa pode passar a

depender cada vez mais do meio social onde vive, especialmente da família que a auxilia e

cuida, por ser a base da estrutura social presente atualmente. Conforme relatos dos próprios

idosos, apenas 2% dos idosos brasileiros não contam com ajuda familiar em caso de doença

ou incapacidade (Ramos, 1992). Assim, a família, na maioria dos casos, passa a ser uma

agência primordial na manutenção e promoção da qualidade de vida dos idosos.

Qualidade de vida na velhice

A qualidade de vida na velhice e as condições responsáveis pela existência da mesma são

questões levantadas em relação ao processo de envelhecimento, sendo estudada por muitas

áreas da ciência. Todavia, apesar do grande número de estudos sobre esse assunto, Neri

(1993a) aponta que até o presente momento, o conhecimento científico se restringe à

existência de diferentes variáveis envolvidas na promoção da qualidade de vida na velhice e

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no fato de que as mesmas podem ter diferentes impactos sobre o bem-estar subjetivo. Porém,

as pesquisas e teorias relativas a esse fenômeno ainda não estabelecem com clareza em que

grau cada um dos múltiplos fatores envolvidos afeta a qualidade de vida do idoso, como eles

estão inter-relacionados e quais as relações de causalidade existentes.

Atualmente, predomina no meio científico, a visão de que “envelhecer

satisfatoriamente depende do delicado equilíbrio entre as limitações e as potencialidades do

indivíduo, o qual lhe possibilitará lidar, em diferentes graus de eficácia, com as perdas

inevitáveis do envelhecimento” (Neri, 1993a, p.13). Por exemplo, quando um idoso sofre uma

perda física (visão, movimento dos membros, audição, etc.) que altera a forma como

conseguirá realizar suas tarefas cotidianas, ele terá que acionar membros de sua família ou

outras pessoas para lhe ajudar a lidar com essas limitações possibilitando uma qualidade de

vida melhor.

Para avaliar a qualidade de vida na velhice, se faz necessário usar múltiplas medidas

de natureza biológica, psicológica e sócio-estrutural (Neri, 1993a; Paschoal, 2002). Os

indicadores mais comuns de bem-estar na velhice incluem: longevidade, saúde biológica e

mental, satisfação com a vida, funcionamento cognitivo, competência social, atividade, status

social, renda, continuidade de envolvimento em papéis familiares e ocupacionais e

continuidade de relações informais em grupos primários (Neri,1993). As relações sociais

podem ser preditoras de bem-estar uma vez que, promovem sentimentos de felicidade,

satisfação, otimismo, pensamentos positivos sobre si mesmo e podem estar relacionados à

diminuição de estados de ansiedade, baixa auto-estima, depressão, etc. (Norris, 1993;

Hansson, 1994).

Assim, nota-se que a qualidade de vida é um constructo multidimensional, bipolar e

subjetivo, uma vez que envolve inúmeras variáveis, possui dimensões positivas e negativas

(como autonomia e dependência, por exemplo) e depende da avaliação subjetiva que cada

pessoa faz de sua situação (o que também é influenciado por aspectos culturais, históricos,

temporais e disposicionais), tornando-se um conceito extremamente complexo (Paschoal,

2002)

Com base nos conceitos sobre qualidade de vida na velhice, percebe-se que este

fenômeno não é somente um atributo pessoal, mas resulta da interação entre o indivíduo e o

seu meio, ambos em constante transformação. Assim, envelhecer bem é um referencial sujeito

às condições e valores presentes em cada contexto histórico-cultural de uma sociedade (Ryff,

1982; Neri, 1995). Desta forma, a promoção do bem-estar na velhice é algo que ultrapassa os

limites da responsabilidade pessoal, sendo também conseqüência da qualidade das interações

entre as pessoas. Ou seja, a qualidade das relações existentes entre os idosos e as pessoas que

com eles convivem (amigos e familiares, especialmente) é um fator fundamental para a

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promoção e preservação da qualidade de vida de ambos (Featherman, Smith, e Peterson, 1990

apud Neri, 1993a; Hansson, 1994).

Nesse sentido, a concepção que as pessoas possuem a respeito do processo de

envelhecimento, mediadas por fatores culturais existentes na sociedade, pode ser um dos

determinantes da qualidade das interações entre idosos e seus familiares. Uma sociedade que

encara o envelhecimento de forma negativa e que não consegue distinguir o envelhecimento

normal do patológico, poderá exercer fortes influências sobre o autoconceito do idoso e sobre

a visão que as pessoas têm dele, o que pode afetar o relacionamento idoso-família e o modo

como os mesmos lidarão com as mudanças decorrentes da velhice. Além disso,

representações negativas e estereotipadas da velhice podem influenciar as perspectivas dos

idosos em relação ao seu futuro, limitando as possibilidades de se garantir uma maior

qualidade de vida. Um idoso que se considera ou é considerado pelos outros como uma

pessoa sem valor funcional para a sociedade e para a família, pode ser levado a diminuir os

contatos sociais, a não se envolver em atividades que lhe de prazer, a se conformar com

interações precárias e debilidades vindas com o envelhecimento, etc. Tais aspectos podem

afetar negativamente sua qualidade de vida atual e futura. O suporte e o relacionamento

familiar também podem ser influenciados por crenças relativas ao envelhecimento, uma vez

que as necessidades dos idosos podem ser negligenciadas ou ignoradas, afetando,

consequentemente, a qualidade de vida dos idosos (Paschoal, 2002).

A importância da família na manutenção da qualidade de vida dos idosos é destacada

por diferentes autores (Richards, 1996 apud Duarte & Diogo, 2000; Family Caregiver

Alliance, 1996 apud Duarte, 2001, Hooyman & Kyiak, 1996 apud Neri & Sommerhalder,

2002, Lemos & Medeiros, 2002) que apontam a família americana como provedora de 80 a

90% dos cuidados dispensados aos seus membros idosos, sejam eles relacionados a suporte

material, prático, técnico, social ou psicológico. No Canadá, essa importância é ainda maior,

sendo que em 94% dos casos a família é quem oferece suporte aos idosos. Richards (1996

apud Duarte & Diogo, 2000) também afirma que, quanto maior o grau de fragilidade do

idoso, maior o suporte oferecido por seus familiares.

No Brasil, país onde são oferecidas poucas alternativas de cuidados formais de

qualidade, a tarefa de apoiar um idoso é, na maioria das vezes, desempenhada por familiares,

sendo a família reconhecida legalmente pela constituição brasileira como responsável pelo

cuidados necessários aos seus membros idosos (Duarte, 2001; Neri & Sommerhalder, 2002;

Barros Pinto, 1997, Mediondo, 2002). De acordo com a Lei Federal 8.842/94, que institui a

Política Nacional do Idoso, artigo 3, inciso 1, “a família, a sociedade e o Estado tem o dever

de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na

comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito a vida.” (Fernandes, 2002).

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Desta forma, percebe-se que as relações familiares exercem uma influência muito

importante sobre a qualidade de vida do idoso. Por sua vez, as avaliações subjetivas feitas

pelos familiares das situações que envolvem o idoso são fortemente influenciadas pelas

crenças, prioridades e valores que possuem, pelo relacionamento passado e atual com o idoso

que cuidam e pelas representações sociais de velhice e do papel do cuidador que construíram

(Neri & Sommerhalder, 2002). Assim, pode-se notar que a participação dos familiares é

significativa quando se refere à qualidade de vida das pessoas idosas, sendo de grande valia

estudar essa relação em mais detalhes.

A relação idoso-família na promoção e manutenção da qualidade de vida na velhice

Redes sociais de apoio

No geral, a manutenção e promoção da qualidade de vida de um indivíduo é proporcionada

por meio de redes sociais de apoio. Segundo Neri & Sommerhalder (2002), essas redes são

“grupos hierarquizados de pessoas que mantém entre si laços e relações de dar e receber" (p.

12) e tem como objetivo o suprimento das necessidades básicas do indivíduo, inserido na

sociedade. Entre as redes de apoio para idosos existentes na sociedade atual, pode-se destacar

a família, que em todas as fases da vida, para a maioria das pessoas, a família desempenha

um papel muito importante na vida do indivíduo, apoiando-o prática e emocionalmente.

Como já foi exposto, na velhice, os familiares costumam desempenhar um papel essencial na

manutenção da qualidade de vida dos idosos.

Tais redes sociais de apoio podem sofrer modificações em sua estrutura e função em

conseqüência das necessidades das pessoas em diferentes etapas e situações da vida. Assim,

as famílias que oferecem apoio a idosos possuem normas, condutas, valores e expectativas

específicas que dependem do tipo de ajuda necessária (material, instrumental ou emocional) e

dos serviços, informações e recursos disponíveis a eles e por outros meios.

Conceitos sobre o apoio familiar

De fato, idosos podem receber ajuda por meios não-familiares. Numa análise feita por

Debert (1999) sobre a importância das relações familiares para o bem-estar de idosos, esta

autora encontrou alguns estudos que questionam esta importância. No entanto, ela também

verificou que muitas outras pesquisas demonstram que as relações familiares são

fundamentais na assistência ao idoso e nas expectativas em relação ao processo de

envelhecimento.

A família é a instituição social fundamental em nossa sociedade, sendo um dos grupos

primários (não depende da escolha do indivíduo) e naturais nos quais o indivíduo vive e

consegue se desenvolver (Gargiulo, 2003; Duarte, 2001; Knobel, 1996, Lemos & Medeiros,

2002). Segundo Rodrigues e Rauth (2002), apesar das mudanças ocorridas através dos

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tempos, a família continua a ser um núcleo promotor de suporte emocional, social e

psicológico indispensável a todas as pessoas, inclusive aos idosos. É no ambiente familiar

que o indivíduo adquire uma série de habilidades que servirão para sua vida, é um dos locais

onde ele é socializado, educado, cuidado e exposto a crenças e valores de sua cultura

(Gargiulo, 2003). Além disso, Camara et al. (1998) apontam que, a família é um lugar de

emoções e conflitos. Por fim, Leme e Silva (1996) consideram a família o habitat “natural” do

indivíduo, em função de nossa cultura atual, sendo o local onde o idoso é conhecido por seus

defeitos e qualidades e, dessa forma, onde ele pode agir naturalmente, sem usar máscaras

sociais.

O ambiente familiar pode ser considerado um ambiente social, uma vez que o

relacionamento entre os membros, a divisão do trabalho e a vida cotidiana da família é ditada

por fatores culturais e sociais. Isto é, a forma como a família está estruturada depende das

idéias transmitidas pela cultura e pela sociedade sobre o modo como as pessoas devem se

comportar no ambiente familiar (Miles, 1982).

As funções da família se referem à proteção e socialização de seus membros, de

acordo com a cultura em que a mesma está inserida, atendendo a objetivos internos (proteção

psicossocial de seus membros) e externos (adaptação à cultura e transmissão da mesma para

as próximas gerações). Desta forma, cabe à família a preservação da integridade física e

psicológica de seus membros (Minuchim 1990, apud Duarte, 2001). Pode-se perceber,

portanto, que a família possui grande importância para a sobrevivência e adaptação do

indivíduo ao seu meio, sendo que seu suporte não se restringe as primeiras fases do

desenvolvimento, mas é necessário durante toda a vida do ser humano.

Entre as necessidades que devem ser satisfeitas pelas famílias podemos destacar:

necessidade de afeto e amizade, caracterizada pelo compromisso emocional e pela

manifestação de afeição; necessidade de socialização, que permite o desenvolvimento de

habilidades sociais e estabelecimento de relações interpessoais; e necessidade de auto-estima,

onde um indivíduo contribui para o desenvolvimento da auto-estima de outro por meio do

reconhecimento de contribuições positivas. Além disso, existe ainda necessidades de cuidados

diários (saúde, educação, alimentação, etc.), econômicas, de recreação e educação que

também devem ser supridas (Gargiulo, 2003). Geralmente, suprir as necessidades acima

citadas é uma tarefa comum para todas as famílias. Todavia, quando se trata de família que

possuem membros com necessidades especiais, como idosos dependentes, algumas

necessidades podem ser exclusivas e as tarefas e atividades necessárias para supri-las podem

afetar negativamente ou positivamente o sistema familiar (Gargiulo, 2003).

Assim, durante todo o ciclo vital, cabe à família cuidar, proteger e ajudar seus

membros. No entanto, apesar de responsabilizar-se, o surgimento de dependência por parte de

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um familiar idoso pode resultar em diferentes dificuldades no contexto familiar, dependendo

da forma como a família está estruturada e, portanto, das alterações necessárias para lidar com

a situação. A vida normal da família pode ser interrompida, exigindo uma nova estruturação

das atividades desenvolvidas por cada pessoa, sejam elas domésticas, sociais ou relacionadas

ao trabalho (Miles, 1982). Desta forma, as necessidades de adaptação e reorganização da

família refletem no reajustamento dos papéis familiares e das formas como cada membro

interage com os demais (Minuchim, 1982 apud Romano, 1999; Lueckenotte, 2000). Ao

mesmo tempo, reajustes na estrutura familiar dependem de como as mudanças e eventos se

originaram, dos recursos disponíveis para lidar com tais modificações e da importância dada

pelos membros da família ao acontecimento (O'Connor, 1983 apud Romano, 1999).

Geralmente, as famílias passam por um processo de desenvolvimento e evolução,

denominado de ciclo vital da família, ou seja, a história da vida da família. O ciclo vital da

família se refere às mudanças desenvolvimentais que ocorre na maioria das famílias ao longo

do tempo. Essas mudanças podem alterar a estrutura da família e por sua vez, relações

afetivas, funções e interações familiares (Turnbull & Turnbull, 1997 apud Gargiulo, 2003).

Assim, cada família possui características e necessidades únicas que representam sua forma

de ser e de estar em cada situação que experienciam e opera como uma unidade interativa e

interdependente (Duarte & Diogo, 2000; Turnbull & Turnbull, 1997 apud Gargiulo, 2003).

Todos os eventos e experiências que afetam um ou mais membros da família em particular

também afetam os demais membros, caracterizando assim, o desenvolvimento familiar como

uma série de transições e mudanças que exigem reorganizações constantes na estrutura

familiar. Assim, a forma como uma família se reorganiza frente à necessidade de cuidar de

um membro idoso, irá depender então, de como se deu o desenvolvimento familiar até o

presente momento (Duarte & Diogo, 2000). Uma situação nova dentro da família pode ser

acompanhada por períodos de ajustamento e caracterizar as transições percorridas pela

mesma. Essas transições podem ser particularmente estressantes quando se tratam da

dependência de um membro idoso, o que para muitos se traduz em um período de mudanças

e incertezas em relação aos próximos estágios de desenvolvimento tanto familiar, como de

cada indivíduo, trazendo ansiedade e estresse significativo (Gargiulo, 2003). Uma mulher,

filha de um idoso que se torna dependente, por exemplo, terá que reorganizar toda sua rotina

diária de trabalho e doméstica para atender as necessidades desse membro da família, o que

por sua vez, poderá repercutir na rotina de outros membros da família, como filhos e marido,

gerando uma série de sentimentos e reações em todo o ambiente familiar. Nota-se, então, o

quanto é importante considerar todo o sistema familiar e entender e ajudar as famílias nestes

períodos de transição, para que as novas relações que emergem entre pais e filhos, cônjuges,

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etc., sejam as melhores possíveis, ajudando a obter uma melhor qualidade de vida para todas

essas pessoas (Neri, 1993a; Gargiulo, 2003; Perracini & Neri, 2002).

Entender e ajudar as famílias, então, requer um processo de estudo que se desdobra

em muitas partes, sem esquecer-se do contexto mais amplo. O cuidado oferecido a idosos no

contexto familiar deve ser visto como uma realidade complexa, marcada por contextos sócio-

demográficos, culturais e psicológicos; pela história do relacionamento familiar

(especialmente da relação entre idoso e cuidador); pela natureza das necessidades do idoso e

das demandas de cuidados para suprir tais necessidades; pelos recursos existentes e apoios

oferecidos por redes formais ou informais e pela avaliação subjetiva que cuidador, idoso e

demais membros da família constróem sobre o cuidar e sobre a velhice (Neri &

Sommerhalder, 2002).

A influência da história familiar

Dificuldades em relação a qualquer um dos fatores acima listados podem empobrecer

a maneira como familiares reagem às necessidades materiais, sociais ou psicológicas dos

membros idosos. Por exemplo, quando membros de uma família não possuem um bom

relacionamento com o idoso, seus familiares costumam ter maior dificuldade em se adaptar à

dependência do idoso do que na família cuja história do relacionamento tinha sido

satisfatória. No caso de uma família com uma história de relacionamentos deficitários, o

suporte ao idoso pode ser prejudicado, favorecendo conflitos, maiores dificuldades e atos de

negligência e maus-tratos.

Nesse sentido, Assis (1998) afirma que a relação afetiva entre os membros de uma

família é um dos principais aspectos que favorecem o equilíbrio e o bem-estar dos idosos.

Sentimentos positivos (como respeito e aceitação) e negativos (como raiva ou rancor),

construídos pelos familiares ao longo do tempo em relação ao idoso, irão repercutir no apoio

familiar dado a ele e exigir um novo arranjo das relações familiares e das formas de

convivência social existentes. Segundo Lueckenotte (2000), relacionamentos pobres entre o

idoso e seus familiares podem estar relacionados com o aumento da angústia emocional dos

membros da família em assumir os cuidados. Com base nessas colocações, pode-se afirmar

que as dificuldades de relacionamento entre o idoso e seus familiares podem influenciar

negativamente o apoio oferecido.

Arranjos familiares

Os tipos de arranjos familiares também podem afetar o suporte oferecido a um idoso

dependente e o relacionamento entre os familiares, afetando assim a qualidade de vida de

todos os seus membros. Segundo Ramos (1993), os tipos de famílias devem ser considerados

com base na diversidade dos arranjos de moradia. Ramos descreve três tipos de arranjos

familiares: (a) a família jovem, que não possui nenhuma pessoa idosa em sua constituição;

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(b) a família do tipo idosa, cuja chefe é idoso, com menor número de pessoas por domicílio e

(c) famílias multigeracionais, que são aquelas que possuem pessoas idosas, mas estas não

chefiam a família.

De outro modo, Aquino & Cabral (2002), decompões os tipos de arranjos familiares

em nuclear, estendida, composta e unipessoal. A família nuclear é aquela que se limita a

relação conjugal e aos filhos desse casamento e eventualmente um avô ou um outro familiar.

A família estendida é aquela que integra membros que possuem laços consangüíneos mais

diretos, mas fazem parte de diversas gerações. No arranjo composto encontra-se pessoas com

laços de parentesco ou laços parciais (como filhos de outros casamentos). Alguns autores

ainda, separam os arranjos familiares de acordo com a renda familiar (Camarano et al.,

1999).

Em relação aos tipos de famílias existentes, Knobel (1996) aponta uma série de

modificações na estrutura familiar ao longo da história, que podem influenciar no apoio

oferecido a um membro que envelhece. Segundo este autor, observava-se no passado e ainda

pode ser encontrada em algumas culturas, a presença de famílias do tipo tribal, nas quais

todos os parentes fazem parte da família. Deste tipo de família, passou-se a observar a

presença de famílias denominada extensas. Atualmente, encontra-se um maior número de

famílias nucleares, e de família reduzidas, que é representada por uma desvinculação

precoce dos filhos e a estruturação complementar do casal.

As mudanças ocorridas nas estruturas familiares são resultado de mudanças de ordem

sócio-econômica, demográfica e de saúde ocorridas durante as últimas décadas. Essas

alterações favorecem novos tipos de arranjos familiares, podendo colocar um indivíduo

idoso em situação de proteção ou de risco (Camara et. al, 1998). Por exemplo, a ida das

mulheres para o mercado de trabalho, sem alterações significativas na participação dos

homens para compensar a redução na disponibilidade da mulher aos familiares, bem como, a

diminuição do número de filhos de um, podem resultar na falta de pessoas que possam se

engajar no apoio a um idoso, ainda mais quando sua dependência for acentuada (Knobel,

1996; Rodrigues e Rauth, 2002; Lemos & Medeiros, 2002).

A redução do convívio intergeracional, devido ao pequeno número de pessoas de

diferentes gerações habitando a mesma residência, também favorece problemas de

relacionamento com o idoso. Isso ocorre à medida que o convívio com um idoso dependente e

os cuidados dirigidos ao mesmo não se encaixam nas rotinas normativas familiares, se

tornando fonte de conflitos entre os familiares e destes com o idoso (Camara et. al, 1998;

Veras et al, 1987 apud Assis, 1998; Lemes & Silva, 1996). As dificuldades em manter o

suporte ao idoso podem ser agravadas, ainda, por fatores como distância entre as moradias

dos idosos e dos familiares, dificuldades de trânsito comuns nos grandes centros urbanos e a

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falta ou o pouco interesse dos familiares adultos, ou mesmo dos mais jovens, em possuir um

contato mais estreito com seus familiares idosos (Assis, 1998).

Zimerman (2000) também destaca as mudanças ocorridas nas famílias nos últimos

tempos, afirmando que, antigamente, as famílias possuíam papéis mais rígidos, definidos e

estáveis, com maior grau de hierarquização. Atualmente, as famílias possuem papéis mais

dinâmicos e flexíveis, com uma menor hierarquização e que mudam com maior facilidade.

Apesar da maior flexibilidade na estrutura familiar, a convivência entre pais, filhos e netos

tornou-se mais complicada. Constantes mudanças advindas da globalização e da evolução

científica e tecnológica podem facilitar a comunicação e a identificação entre jovens e idosos

por meio de recursos como telefone ou Internet. Por outro lado, essas mesmas mudanças

podem dificultar essa comunicação, porque os jovens podem passar mais tempo entretidos

com aparelhos advindos dessa tecnologia, não querendo interagir com os idosos e acentuando

o choque de gerações e conflitos intergeracionais. Além, disso, em alguns casos, o idoso não

consegue acompanhar essas mudanças e, ao mesmo tempo, os mais jovens não entendem nem

respeitam os conhecimentos e o modo de pensar dos mais velhos (Duarte, 2001; Zimerman,

2000). Essa distância pode favorecer a "falta de assunto" na convivência familiar, os conflitos

e a intolerância entre as duas partes, cuja repercussão tende a privá-los de um possível

crescimento mútuo e do prazer que as relações intergeracionais são capazes de gerar (Assis,

1998).

Apesar da redução no tamanho das famílias nos tempos atuais, em relação ao passado,

vários estudos mostram um predomínio de idosos vivendo em famílias multigeracionais,

mesmo quando a amostra inclua idosos sem fragilidades. Ramos (1993) aponta que 56% dos

idosos entrevistados em sua pesquisa vivia em domicilio com duas ou mais gerações, contra

32% que co-habitavam apenas com moradores da mesma geração e 12% que vivia sozinho.

Coelho Filho & Ramos (1999) também obtiveram dados parecidos: 75% vivia em famílias bi

ou multigeracionais, 10% vivia em domicílios unigeracionais e 6,3% morava sozinho.

Fatores sócio econômicos

As famílias multigeracionais nem sempre são tão bem sucedidas em sua capacidade de

apoiar as necessidades afetivas do idoso, em comparação com os idosos que vivem em

famílias unigeracionais ou que moram sozinhos. Porém, as dificuldades encontradas em

famílias multigeracionais não refletem apenas fatores de mal relacionamento. Segundo,

Ramos et al. (1993), os idosos que vivem em domicílios multigeracionais na América Latina

tendem a ser mais pobres e com maior grau de dependência, do que os que habitam em

domicílios unigeracionais ou sozinhos. A precariedade sócio econômica, o baixo nível de

escolaridade, uma falta de incentivo ao idoso para que ele mantenha sua independência,

apesar de um rebaixamento nas suas capacidades, valores e costumes familiares que definam

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o espaço familiar atribuído ao idoso podem afetar diretamente o apoio afetivo e prático dado

ao idoso. Quando estas condições são muito desfavoráveis, aumenta a probabilidade de maus

tratos, abandono e asilamento do idoso (Neri & Silva, 1993; Pavarini, 1996).

Uma pesquisa realizada por Ramos, Rosa e Manzochi (1991, apud Neri & Silva, 1993)

exemplifica a relação entre condições sócio econômicas e o contexto familiar de moradia.

Eles levantaram seus dados com 1.602 idosos residentes em uma metrópole brasileira. Entre

os idosos que faziam parte de famílias multigeracionais, predominavam condições de baixa

renda e de baixo grau de instrução, sendo geralmente migrantes rurais e nordestinos. Entre os

moradores de domicílios unigeracionais ou unipessoais, por outro lado, predominavam níveis

mais altos de renda e escolaridade. Apesar de não contarem com o apoio de outras pessoas, os

idosos que vivem em domicílios unigeracionais ou unipessoais, possuíam maiores condições

financeiras para encontrar recursos que os auxiliem a manter uma vida com qualidade.

Segundo esses autores, esta relação entre condições sócio econômicas e moradia também

existe em países desenvolvidos.

Assim, percebe-se que a crença popular, de que os idosos com baixa qualidade de vida

são aqueles “abandonados” pela família, é superficial. O fato do idoso morar com os filhos ou

manter um convívio intergeracional não é, por si só, garantia de uma velhice com qualidade.

Neri & Silva (1993), apontam que as relações de idosos pobres, residentes em grandes áreas

urbanas e com comprometimentos físicos ou cognitivos, com suas famílias, pode ser bastante

problemática. A convivência compulsória entre os familiares pode ser um gerador de

conflitos, uma vez que a convivência não é ditada por laços afetivos, mas por necessidades

financeiras.

Ao analisar a população idosa e a família no Estado de São Paulo, Prata (1993)

também discute se a integração do idoso à família se dá mais por questões de ordem cultural

(respeito e ajuda nas tarefas) ou mais por questões de ordem econômica. Prata conclui que a

situação atual dos idosos varia de acordo com o nível sócio econômico, o qual tende a ser

reduzido pelas demandas financeiras associadas às fragilidades características dessa faixa

etária. Desta maneira, entende-se que, mais do que a proximidade física, a qualidade das

relações familiares depende das condições de vida do idoso e de seus familiares.

Fatores interpessoais

Em relação às dificuldades de relacionamento entre idosos e seus familiares,

Zimerman (2000) aponta que, durante seu trabalho com idosos, observou a existência de

alguns problemas comuns que tornam difícil a convivência familiar quando os membros da

família não encontram estratégias para lidar com a situação de dependência do idoso. Entre os

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problemas interpessoais destacados por esta autora estão: a dificuldade dos membros da

família em entender como os idosos pensam e sentem; a falta de comunicação entre o idoso e

os outros membros da família; a depressão na velhice; o excesso de medicação e casos de

hipocondria que requerem uma exigência maior da família para atender às necessidades do

idoso; a superproteção por parte da família em relação ao idoso, o que pode aumentar a

dependência do mesmo; um processo demencial envolvendo problemas de memória e

confusão mental por parte do idoso, dificultando imensamente o processo de comunicação; e

dificuldades para lidar com a morte, tanto por parte do idoso quanto dos outros familiares.

Um quadro demencial, por exemplo, prejudica não só a vida do idoso, mas provoca

alterações na vida cotidiana de todos os familiares à sua volta. Como enfatiza Camara et. al.

(1998), os familiares de um idoso demenciado se vêem obrigados a modificar seus projetos

futuros e sua rotina diária para se dedicar aos cuidados ao idoso dependente. Neste caso, os

sentimentos dos familiares em relação à doença do idoso podem prejudicar ainda mais a

situação de cuidado. É comum o cuidador sentir ansiedade, raiva (por achar que o idoso está

agindo de uma maneira difícil, de propósito), desesperança em relação à possibilidade de

tratamento e melhora do quadro, e recusa em acreditar no resultado de exames que

demonstram uma alteração cognitiva. A negação da situação real do idoso pode afetar o apoio

oferecido e gerar diversos conflitos no ambiente familiar, prejudicando a qualidade de vida do

idoso, do cuidador e dos demais familiares.

O estresse entre cuidadores familiares de idosos

Desta forma, a presença de um idoso dependente na família pode desencadear uma grande

desestruturação familiar, gerando uma grande variedade de situações estressantes. As

experiências estressantes vividas pelos familiares podem ser caracterizadas como: estresse

físico, financeiro, ambiental, social e emocional (Caovilla, 2001).

O estresse físico está relacionado à providência de cuidados a serem oferecidos ao

idoso, como atividades domésticas e atividades relacionadas aos cuidados com a manutenção

da alimentação, da higiene e da saúde física do idoso. Esse tipo de estresse pode ser

evidenciado também pela presença de problemas de saúde, insônia ou cansaço do próprio

familiar, devido à situação de cuidar (Caovilla, 2001; Neri & Sommerhalder, 2002).

O estresse financeiro está relacionado a distúrbios nas finanças e consequentemente,

às dificuldades de cuidar do idoso de forma satisfatória e oferecer apoio adequado, devido a

limitações financeiras da família que arca com os gastos do cuidado (Caovilla, 200; Perracini

& Neri, 2002).

O estresse ambiental está ligado à moradia onde o idoso irá permanecer e às

adaptações do ambiente doméstico necessárias às condições do idoso (como adaptação do

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banheiro, colocação de rampas, etc.). No que se refere à moradia, tanto o fato do idoso

permanecer em sua própria casa, quanto o de se mudar para a residência do cuidador podem

gerar estresse. Em relação à primeira opção, pode ocorrer uma sobrecarga maior para o

familiar que assume os cuidados, pois terá duas casas para administrar. No que concerne a

segunda opção, esta pode gerar conflitos entre os membros da família com a qual o idoso

passa a conviver, quando estes não aceitam a nova situação (Caovilla, 2001).

O estresse social ocorre devido ao isolamento do cuidador familiar de seus próprios

amigos, familiares, vizinhos, reduzindo ou até eliminando sua própria vida social e de lazer,

devido ao tempo e esforço dedicado ao idoso. Este tipo de isolamento pode ser exagerado

quando o cuidador não consegue delegar responsabilidades a outras pessoas, teme receber

críticas sociais por não dedicar-se integralmente ao idoso ou devido à sobrecarga de

atividades que existe quando combina uma vida profissional com o papel de cuidador. Quanto

maior o tempo investido e carga de cuidados oferecidos, quanto maior será o isolamento

social do cuidador familiar (Caovilla, 2001; Perracini & Neri, 2002, Neri & Sommerhalder,

2002).

O estresse emocional está ligado a todas as outras formas de estresse já apontadas.

Envolve a capacidade de administrar as inúmeras responsabilidades adquiridas e os

sentimentos que surgem, a partir do início dos cuidados da pessoa idosa. As demandas e,

como resultado, o estresse enfrentado tende só a aumentar com o avanço do grau de

dependência do idoso. Além disso, o estresse emocional é provocado pela competição entre as

demandas dos vários outros papéis que o cuidador ocupa; sentimentos de embaraço diante de

comportamentos inadequados apresentados pelo idoso; ressentimentos advindo da relação

entre cuidador-idoso, idoso-familiares ou entre cuidador e demais familiares; sentimentos de

impotência diante da doença do idoso e sobrecarga de cuidados (Caovilla, 2001; Lueckenotte,

2000; Perracini & Neri, 2002, Neri & Sommerhalder, 2002).

Os sentimentos em relação ao idoso e ao papel de cuidador podem sofrer

modificações ao longo do tempo, dependendo da situação. No entanto, os sentimentos mais

evidenciados incluem: irritação, medo, esperança, culpa, resignação, remorso, angústia,

raiva, vergonha, pena, preocupação, tristeza, sentimentos de perda, etc. Sentimentos

positivos e agradáveis também podem aparecer, sobretudo quando os mesmos já existiam no

relacionamento, antes do surgimento das limitações do idoso (Camara et. al., 1998; Papaléo

Netto, 1996).

Fatores que afetam a percepção de estresse

A avaliação de um evento como estressante, ou não estressante, dependerá do

envolvimento da pessoa com esse evento. Por sua vez, o envolvimento da pessoa se reflete no

significado e na importância que ela dá a uma determinada situação. As crenças pessoais, isto

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é, a percepção que o indivíduo tem de si mesmo e do mundo ao redor, são determinantes

muito importantes da reação de estresse (Goldstein, 1995; Neri & Carvalho, 2002). Assim,

um fator primordial no reconhecimento de um evento como estressor ou não é a avaliação

cognitiva que o cuidador faz desse evento, identificando se é capaz de dar conta da situação

com as habilidades, conhecimentos, suporte social e recursos de enfrentamento que dispõe

(Lawton et al. apud Neri & Carvalho, 2002).

Além dessas variáveis, Goldstein (1995) coloca que a avaliação de um evento como

gerador de estresse também pode ser influenciada por fatores situacionais ligados a ele. Entre

esses fatores estão a novidade e a temporalidade. O primeiro está relacionado a situações

novas que o indivíduo vivencia e que podem gerar estresse devido à falta de uma experiência

prévia. Já a temporalidade está relacionada com o contexto do curso de vida em que o evento

ocorre e com a relação do mesmo com outros eventos experenciados anteriormente. Um

evento que ocorre de forma inesperada ou em épocas diferentes das que ele seria percebido

como normal, podem ser avaliados como estressores por gerar uma série de alterações

inesperadas na vida do indivíduo ou por não proporcionarem tempo suficiente para a

preparação para o desempenho desse papel. Assim, quando uma pessoa cuida de um familiar

idoso em algum momento inesperado de sua vida, tal evento pode ser visto como estressor,

devido ao despreparo do cuidador e das perdas que ele poderá vivenciar em decorrência dessa

situação.

Além disso, Leal (2000) aponta o estresse causado pela falta de opção que existe em

relação ao papel de cuidador de idoso. Quando um membro da família se torna dependente

ou incapacitado, mesmo que temporariamente, seus familiares gostariam de escolher se iriam

ou não assumir a responsabilidade de cuidar dessa pessoa, de avaliar suas condições de

continuar sua vida cotidiana e seu trabalho, de receber apoio e assistência de outras agências

e profissionais, etc. Todavia, no geral, os familiares possuem pouca liberdade para escolher

como se envolver, devido a motivos como: o número de outros familiares que podem ou não

se oferecer para apoiar o idoso, fatores culturais e sociais que restringem as opções de

escolha, o grau de dependência do idoso, a falta de assistência oferecida pela rede social e

governamental, limitações financeiras, estrutura familiar presente, etc.

Como resultado, pode-se verificar que cuidar de um idoso fragilizado pode ser um

papel muito estressante, que representa uma grande dificuldade para aquele que o

desempenha. Além do desgaste físico para atender às exigências dos cuidados para com o

idoso, o cuidador também sofre perdas financeiras, sociais, familiares e psicológicas

(sobretudo de sua liberdade) e todas elas podem repercutir sobre a vida do grupo familiar

como um todo (Camara et. al., 1998; Papaléo Netto, 1996). Todavia, isso não quer dizer que

todos os cuidadores sofram de estresse em função do papel que desempenham. Uma vez que

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a situação de cuidado é multimensional e o bem-estar do cuidador depende de muitos

eventos que ocorrem ao longo do tempo, o estresse ou o bem-estar pode se manifestar de

inúmeras maneiras e em períodos diferentes na vida de cada cuidador (Lawton et al. apud

Neri & Carvalho, 2002).

Enfrentamento de estresse

Para lidar com todos esses fatores relacionados ao envelhecimento e com a situação de

cuidado, os idosos e seus familiares precisam desenvolver comportamentos de coping, ou

seja, estratégias de enfrentamento que diminuam o valor estressante das situações

experienciadas. Os recursos que os indivíduos podem usar para lidar com eventos

estressantes e demandas cotidianas, segundo Lazarus e Folkman (1984 apud Goldstein,

1995), podem ser pessoais (que a pessoa possui) ou ambientais (advindos de outras pessoas

e fontes). Entre os recursos pessoais estão os físicos (como saúde e energia), os psicológicos

(que incluem as crenças pessoais e existenciais) e de competência (como habilidades sociais

para lidar com as situações e solução de problemas interpessoais). Já os recursos ambientais

estão relacionados aos suportes material, social e familiar.

Recursos pessoais

Em relação aos recursos pessoais utilizados como estratégias de enfrentamento, a

literatura mostra a importância do bem-estar físico em todos os momentos estressantes da

vida, em especial, naqueles onde as exigências são muito grandes (Goldstein, 1995).

No que diz respeito às crenças pessoais e existenciais, a autora acima nos mostra que

os estudos sobre o assunto apontam que essas crenças influenciam o comportamento de

coping do indivíduo, sendo que as pessoas que possuem crenças positivas em relação ao

autocontrole tendem a utilizar estratégias de enfrentamento focalizadas no problema e não na

emoção. Todavia, os estudos sobre essa relação ainda são controversos. As crenças religiosas

e existenciais também possuem uma relação com o estresse percebido, sendo esta inversa, ou

seja, quanto mais positivas essas crenças, menor o estresse percebido.

Outros recursos psicológicos valiosos para lidar com eventos estressores são as

habilidades sociais e solução de problemas. As habilidades sociais podem ser definidas como

"o conjunto de desempenhos apresentados pelo indivíduo diante das demandas de uma

situação interpessoal" (Del Prette & Del Prette, 1999, p.47). Segundo esses autores, essas

habilidades podem incluir componentes fisiológicos, comportamentais e cognitivo-afetivos.

Os componentes fisiológicos se referem às reações corporais diante da situação, como taxa

cardíaca, respiração, etc. Entre os componentes comportamentais pode-se citar

comportamentos como solicitar mudança de comportamento, lidar com críticas, opinar,

concordar, discordar, etc. Já os componentes cognitivo-afetivos estão relacionados aos

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conhecimentos prévios do indivíduo sobre si mesmo, sobre os papéis sociais e sobre a

cultura e o ambiente em que está inserido; às crenças e expectativas (planos, metas, valores

pessoais, autoconceito, estereótipos, etc.); e estratégias e habilidades de processamento

(leitura do ambiente social, solução de problemas, empatia, auto-observação, etc.).

A solução de problemas inclui a busca por informações relevantes, a análise da

situação como forma de identificar o problema de forma adequada, busca dos recursos e

soluções disponíveis, o balanceamento das conseqüências positivas e negativas de cada curso

de ação possível, etc. Todos esses aspectos são essenciais para a delimitação de um curso de

ação eficiente a ser desenvolvido pelo indivíduo para enfrentar eventos estressantes e lidar

com as demandas que surgem durante o curso de vida (Goldstein, 1995).

Recursos ambientais

Em relação aos recursos ambientais, pode-se destacar o suporte social que, além do

que já foi discutido acima, é definido por Goldstein (1995) como uma "rede ou configuração

de ligações pessoais onde se trocam afeto e ajuda instrumental" (p.157). Este tipo de suporte

implica na existência e disponibilidade de pessoas com as quais um indivíduo pode contar, e

que fazem com que ele se sinta importante, valorizado e amado.

O suporte social pode ser dividido em: instrumental (como auxílio financeiro e

físicos), informativo (relacionado ao fornecimento de informações, explicações, etc.),

avaliativo (fornecendo um ponto de referência para que a pessoa determine a gravidade, ou

não, da sua situação) e emocional (que envolve demonstração de afeto e a valorização do

outro). Em geral, as pessoas que oferecem suporte social a outras são os amigos e familiares

que mantém um relacionamento duradouro com as mesmas (Hansson, 1994). O suporte

social não deve ser confundido com o relacionamento social entre as pessoas uma vez que,

apesar de afetar o tipo de suporte social estabelecido, o relacionamento não é garantia desse

suporte, pois isso dependerá da sua qualidade.

Segundo Goldstein (1995), muitos estudos realizados na última década vêm

apontando a importância do suporte social no enfrentamento de crises, transições, doenças,

privações, estresse, etc., principalmente no que diz respeito à qualidade desse suporte. A

importância do suporte social foi abordado por Lowental e Haven (1968 apud Goldstein,

1995), que encontraram em um estudo com 280 idosos uma alta correlação entre a presença

de um relacionamento íntimo entre o idoso e uma outra pessoa e o bem-estar psicológico de

ambos.

A qualidade do relacionamento entre o idoso e seus familiares

A qualidade do relacionamento que existe entre os familiares e o idoso pode afetar as

estratégias usadas em situações difíceis e está intimamente ligada à manutenção e promoção

da qualidade de vida dos indivíduos. Os laços afetivos, a intimidade e as trocas familiares

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podem amenizar o impacto de várias situações negativas e garantir um suporte social

adequado ao idoso. Por sua vez, a existência de conflitos, dificuldades de relacionamento e

falta de habilidade para lidar com situações conflitantes podem levar a ou manter uma

percepção negativa de si mesmo, baixa satisfação com a vida e tornar o suporte oferecido ao

idoso algo desgastante, aversivo e inadequado, entre outras conseqüências (Hansson, 1994).

Um relacionamento de boa qualidade geralmente é mediado pela qualidade da

comunicação, das trocas afetivas e pela intimidade entre as partes (Brehm 1985; Crawford &

Unger, 1986). Segundo Brehm, uma relação de intimidade é mediada por três fatores: o grau

de interdependência que existe entre duas pessoas, as necessidades psicológicas de cada um

em se relacionar com o outro e o vínculo emocional que existe entre ambos.

A interdependência é caracterizada pela influência de um membro em relação ao

outro, onde a ação de um provoca uma reação no outro e vice-versa (Berscheid & Peplau,

1983 apud Brehm, 1985). Numa relação de intimidade, a interdependência costuma ser forte,

freqüente, duradoura e diversa, isto é, os membros da relação exercem forte influência em

diferentes esferas da vida do outro por um período de tempo significativo (Brehm, 1985).

A necessidade psicológica é outro fator que media uma relação de intimidade (Weiss,

1969 apud Brehm, 1985). Weiss sugeriu a existência de cinco necessidades psicológicas

importantes: necessidade de intimidade, de integração social, de segurança/cuidados (com

relação a alimentação, educação, etc.), de assistência e de valorização.

O vínculo emocional entre as partes também é importante para que uma relação seja

íntima, uma vez que os laços afetivos envolvidos favorecem uma maior confiança de um

membro em relação ao outro, levando a maior interdependência e à satisfação das

necessidades psicológicas.

Em suma, pode-se supor que, na relação entre o idoso e sua família, a qualidade do

relacionamento se torna um aspecto fundamental para a manutenção do bem-estar do idoso

uma vez que, quanto maior a intimidade, maior será a qualidade e aproveitamento do suporte

oferecido.

O cuidador familiar de idosos

No contexto brasileiro, a existência de um familiar que se responsabiliza pelos cuidados de

um idoso é muito freqüente. Assim, quando se enfoca o relacionamento entre idosos e seus

familiares, se faz necessário atentar para a figura do cuidador, uma vez que este possui maior

contato com o idoso e é responsável, em maior grau que os demais familiares pela

manutenção da qualidade de vida da pessoa que necessita de cuidados.

Segundo Papaléo Netto (1996, p.154),

“cuidar é o ato de assistir alguém ou prestar-lhe serviços quando este necessita. É

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uma atividade complexa, com dimensões éticas, psicológicas, sociais, demográficas,

e que também tem seus aspectos clínicos, técnicos e comunitários.”

Tipos de cuidadores

Existem três tipos de cuidadores de idosos: o cuidador principal e os cuidadores

secundários e terciários. O cuidador principal ou primário é aquele responsável por prestar o

maior número de cuidados ao idoso dependente. Os cuidadores secundários são outros

familiares, voluntários e profissionais que prestam o mesmo tipo de ajuda ou se engajam em

tarefas complementares nos cuidados do idoso, mas que não possuem o mesmo grau de

responsabilidade e poder de decisão do cuidador principal. Já os cuidadores terciários são

coadjuvantes e não possuem responsabilidades no papel de cuidar, substituindo de forma

ocasional ou esporádica os demais cuidadores em situações específicas, por curto período de

tempo ou se envolvendo em tarefas que não exigem contato direto com o idoso, como fazer

compras, pagar contas, etc. (Neri & Sommerhalder, 2002).

Existe ainda uma segunda versão da divisão entre os tipos de cuidadores, usando a

denominação de cuidador informal para os familiares, amigos e voluntários da comunidade

que prestam cuidados ao idoso e que oferecem apoio com base em princípios de solidariedade

e de reciprocidade entre gerações. A denominação cuidador formal é utilizada para classificar

os profissionais contratados para cuidar do idoso, como enfermeiros, auxiliares de

enfermagem, acompanhantes, empregadas domésticas, etc. A diferença essencial entre esses

dois tipos de cuidadores está na base voluntária e não remunerada do primeiro em relação ao

segundo (Caldas, 1998; Neri & Sommerhalder, 2002).

A decisão de cuidar de um idoso dependente

A decisão de um familiar em assumir os cuidados de um idoso está geralmente

relacionada a algumas normas culturais e sociais que têm uma forte influência na designação

de uma pessoa para assumir este papel. Tais normas incluem o gênero do cuidador, o grau de

parentesco existente entre idoso e cuidador, a proximidade física e afetiva entre ambos, a

história de relacionamento do cuidador com o idoso e com outros membros da família, a

personalidade do cuidador, as condições financeiras do mesmo e questões geracionais, nas

quais cabe aos descendentes diretos ou a parentes e não-parentes da mesma faixa etária os

cuidados da pessoa idosa (obrigação filial, Barros Pinto, 1997). Em relação ao parentesco, a

freqüência de envolvimento é maior para o cônjuge e em segundo lugar para os filhos ou

outro familiar adulto. Segundo dados de pesquisa, dos 98% de idosos brasileiros que recebem

algum tipo de ajuda familiar, 40% dos idosos conta com o cônjuge, 35% com a filha, 11%

com o filho e 10% com a família (Perracini & Neri, 2002). Dados muito semelhantes foram

relatados por Karsch (2003), nos quais 44,1% dos cuidadores eram esposas e 31,3% eram

filhas do idoso cuidado. Além disso, nos domicílios unigeracionais, predomina a perspectiva

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de ajuda do cônjuge (60%) e nos multigeracionais, da filha (56%) ou do filho (13%),

mostrando que o apoio familiar é, realmente muito freqüente (Yazaki, Melo & Ramos, 1993).

A esse aspecto soma-se a relação de intimidade entre idoso e cuidador que costuma ser mais

íntima na relação conjugal e na relação entre pais e filhos, respectivamente. No que diz

respeito ao gênero, a predominância de mulheres que se envolvem nos cuidados de um idoso

é maior, sendo esse fato estritamente relacionado a fatores culturais, onde cabe a mulher

assumir os cuidados de seus familiares. Segundo vários estudos, o índice de participação das

mulheres gira em torno de 70 a 75% (Lueckenotte, 2000; Caldas 1998; Neri & Sommerhalder,

2002). Karsch (2003) relata uma prevalência ainda maior do sexo feminino, girando em torno

de 92,9%. Da mesma forma, Shi (1993, apud Neri & Sommerhalder, 2002) aponta que o

apego emocional existente entre cuidador e idoso também é um fator importante, sendo que as

mulheres idosas possuem mais chances de serem cuidadas pelos familiares do que os homens

idosos, porque geralmente mantém um laço emocional mais forte com seus filhos. Peter-

Davis, Moss & Pruchno (1999 apud Neri & Sommerhalder, 2002) afirmam que este fator

ocupa um lugar mais importante que o grau de parentesco na determinação do familiar que

ocupará o papel de cuidador. Além destes padrões sociais, a decisão de assumir os cuidados

de um idoso também é tomada por meio do balanceamento da disponibilidade e da preparação

de cada um dos envolvidos (Mendes,1995 apud Caldas 1998; Neri & Sommerhalder, 2002).

Segundo Cohen e Eisdorfer (1988 apud Papaléo Netto, 1996), a motivação de um

familiar para cuidar de alguém está subsidiada por quatro razões, que são: amor ao familiar

que necessita de cuidados; gratidão em relação a experiências passadas nas quais a pessoa

atualmente fragilizada ofereceu suporte ao cuidador; moralidade, o que reflete as expectativas

da sociedade em relação ao papel dos familiares no cuidado de um membro dependente e

vontade própria em oferecer suporte a alguém.

Níveis de apoio familiar

O apoio familiar oferecido ao idoso pode se dar em diversos níveis, discutidos e

analisados por diferentes autores. Segundo Cirelli (1993 apud Neri & Silva, 1993), os tipos de

assistência oferecidos aos idosos fragilizados são divididos em primários e secundários. O

primeiro nível inclui assistência quanto à moradia, manutenção da casa, sustento, segurança,

cuidados pessoais e cuidados com a saúde, que ocorrem dentro de casa. O segundo nível

inclui transporte, apoio psicológico, ajuda para participar de atividades sociais e recreativas,

apoio espiritual, proteção e mediação burocrática.

Para Neri & Sommerhalder (2002), existem diversos critérios para classificar os

cuidados oferecidos. Esses critérios podem estar relacionados: ao domínio de ajuda (material,

instrumental, socio-emocional ou cognitivo-informativo), o que determina os tipos de

habilidades exigidas por parte do cuidador; à intensidade (fraca, forte ou moderada) ou grau

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de esforço físico/emocional ou dificuldade envolvidos (pequeno, médio ou grande) ou,

ainda, quantidade da ajuda (pouca, média, alta); à periodicidade (contínua ou descontínua); à

duração (cuidados de curta ou longa duração); se o início foi súbito ou gradual; o local onde

a ajuda ocorre (fora ou dentro de casa); e o envolvimento de outras pessoas na ajuda (com ou

sem envolvimento de outras).

Adaptando uma esquema apresentada por Stephens (1990 apud Neri & Silva, 1993),

pode-se organizar as atividades desempenhadas para atender às necessidades dos idosos em

quatro domínios: apoio material (ajuda financeira ou recursos objetivos que procuram

manter, melhorar ou propiciar a qualidade de vida dos idosos); apoio prático (ajudar o idoso

a realizar tarefas relacionadas a cuidados corporais, tarefas domésticas e atividades fora de

casa); apoio sócio-emocional (fazer companhia, atuar como confidente, conversar sobre

questões pessoais, compartilhar experiências, ouvir, consolar, aconselhar, dar carinho,

incentivar atividades sociais, ajudar a resgatar laços afetivos importantes, etc.) e apoio

cognitivo-informativo (explicar, orientar, informar, ajudar na tomada de decisões, decidir

pelo idoso quando este já não é mais cognitivamente capaz, etc.).

Na literatura, o apoio prático está dividido em duas áreas: atividades (básicas) da vida diária

(AVD's) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD's). As AVD's compreendem tarefas

ligadas a atividades físicas e cuidados corporais do idoso (como locomoção, alimentação,

toalete, banho, escovar os dentes, trocar roupas, cuidar da aparência, tomar medicamentos,

fazer exercícios, fazer fisioterapia, etc.). As AIVD's incluem tarefas que contribuem para a

manutenção das rotinas domésticas do idoso (como limpeza e arrumação da casa, preparo de

refeições, lavar roupas, etc.) e assistência no desempenho de atividades fora de casa (fazer

compras, transportar e acompanhar o idoso ao médico, levar para fazer exames; levar à igreja

ou para fazer visitas etc.)

Em um estudo realizado sobre a percepção dos próprios cuidadores quanto aos tipos

de ajuda que oferecem ao idoso (Albert, 1991 apud Neri & Silva, 1993), foram identificadas

três dimensões: o tipo de limitação ou dificuldade apresentada pelo idoso (física ou cognitivo-

emocional), o local onde o cuidado ocorre (dentro ou fora de casa) e a resposta à

incompetência do idoso que é objeto de cuidado (estímulo à autonomia ou tutela). Numa

pesquisa realizada por este autor com 52 cuidadores, os mesmos não fizeram distinção entre

prestar ajuda em atividades instrumentais da vida diária (AIVD) ou em atividades da vida

diária (AVD), mas fizeram distinção entre tarefas prestadas em decorrência de deficiências

cognitivas e ao atendimento de necessidades emocionais. Discriminaram também os cuidados

que são prestados dentro de casa daqueles que são oferecidos fora do lar e que incluem outras

pessoas e serviços. Além disso, distinguiram os cuidados prestados em situações que

envolvem a falta de autonomia do idoso (como ter que explicar comportamentos bizarros do

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idoso, tomar decisões por eles, administrar o dinheiro, etc.) daquelas nas quais o idoso

participa (como ajudá-lo a usar o telefone, levá-lo para visitar amigos, etc.).

Resultados enfocando questões diferentes foram obtidos num outro estudo (Perracini

& Neri, 2002), no qual as autoras também procuravam verificar como os cuidadores

percebam suas tarefas. Estas pesquisadoras fizeram uma análise de escalonamento

multidimensional, com base na maneira como cuidadores familiares primários de idosos,

portadores de comprometimentos físicos e cognitivos graves, dividiram uma série de cartões

descrevendo várias formas de ajuda. Os cuidadores categorizavam as tarefas em três

domínios: 1) tarefas que refletem as necessidades dos idosos (cuidados pessoais e

instrumentais, em oposição a cuidados cognitivo-emocionais); 2) tarefas relativas ao manejo

de tempo (tarefas realizadas rotineiramente em oposição às realizadas esporadicamente); e 3)

tarefas que refletem as redes de apoio de que dispõe o cuidador (o que realiza sozinho em

oposição ao que faz com ajuda de outras pessoas da família). As tarefas consideradas mais

difíceis pelos entrevistados foram as de cuidados pessoais junto ao idoso, que o cuidador

geralmente administra sozinho. Em segundo lugar, apareceram as tarefas ocasionais, para as

quais precisa pedir ajuda de outro familiar.

Dificuldades encontradas no papel de cuidador

As dificuldades encontradas no papel do cuidador surgem de diversas fontes:

isolamento social dentro e fora da família do cuidador, perda de liberdade, privacidade e

tempo de lazer; distância entre as moradias do idoso e do cuidador; necessidade de adaptação

do ambiente doméstico ou até mudanças de moradia; conflitos familiares em conseqüência

do papel do cuidador e da situação de cuidado; exigências do idoso, dos demais familiares e

das condições de trabalho que podem sobrecarregar e estressar o cuidador; insegurança em

relação ao cuidado oferecido (se é correto ou não) e falta de informações sobre a duração do

comprometimento assumido, que pode perdurar até o falecimento do idoso que está sendo

assistido (Crawford & Unger, 1986; Golfarb & Lopes, 1996 apud Leal, 2000; Lueckenotte,

2000).

Segundo Braithwaite (2000 apud Neri & Carvalho, 2002), as dificuldades de

adaptação de um cuidador à situação de cuidado podem estar relacionadas a seis dimensões,

que são: peso das tarefas, relação disfuncional com o cuidado, medo de tornar-se escravo do

papel, intimidade e amor, resiliência do cuidador e distância social entre cuidador e idoso. O

peso das tarefas está relacionado ao tempo e esforço necessários para o oferecimento do

suporte em cuidados pessoais diretos ou na supervisão dos mesmos; ao grau em que o

cuidador é responsável pelas decisões relativas ao cuidado e ao acesso do cuidador a

suportes informais. A relação disfuncional com o cuidado diz respeito à sentimentos de

despreparo para o papel de cuidador, de fragilização e de prejuízo (cognitivo, emocional,

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social, etc.); e à histórias contínuas de conflitos interpessoais com o idoso. Neste caso, é

comum que os cuidadores busquem estratégias de enfrentamento baseadas no problema e na

emoção para lidar com a situação vivenciada. O medo de se tornar escravo do papel ocorre

quando o cuidador se envolve com os cuidados de forma tal que se vê e é visto apenas como

cuidador, deixando de lado sua identidade, preferências e desejos. A intimidade e o amor são

fatores que predispõe a adaptação do cuidador ao seu papel. Todavia, quando esses aspectos

não estão presentes, seja devido a uma deterioração física ou psíquica do idoso ou porque a

história do relacionamento nunca envolveu uma relação de reciprocidade e apreciação

mútua, a situação de cuidado pode ser percebida como mais onerosa para o cuidador. A

resiliência do cuidador relaciona-se ao grau de resistência e de eficácia internas que

dependem de recursos pessoais como auto estima, saúde física, estabilidade emocional e

senso de controle. Por fim, a distância emocional se refere à situações que, embora haja

contato direto do cuidador para com o idoso no tipo de ajuda oferecida (cuidados com o

corpo, por exemplo), o idoso não é caloroso para com o cuidador nem o inclui em suas

relações mais próximas, fazendo com que, muitos cuidadores se sintam excluídos e

injustiçados.

Assim, para manter o apoio oferecido ao idoso, o cuidador precisa lidar com as

pressões psicológicas decorrentes do papel de cuidar. Pesquisas com cuidadores de idosos

revelam que estes experimentam sentimentos como constrangimento, angústia, culpa,

frustração, ira, desespero, desgaste emocional, baixa satisfação e até distúrbios psicológicos

e psiquiátricos, principalmente a depressão (Caldas, 1998; Camara et al., 1988). Doenças

orgânicas e esgotamento também são comuns, especialmente quando os idosos são altamente

dependentes (Neri & Silva, 1993). Dependendo do grau de comprometimento cognitivo e

psicológico do idoso, as recompensas em relação aos cuidados prestados pelo familiar são

mínimas, tornando o relacionamento entre a díade idoso-cuidador unidirecional, tornando a

tarefa de cuidar ainda mais custosa (Papaléo Netto, 1996).

A negação ou o desconhecimento das limitações e incapacidades do idoso

dependente pode gerar nos familiares diferentes tipos de posicionamentos, sendo eles,

superproteção, evasão da realidade e expectativas exageradas em relação ao desempenho do

idoso nas tarefas cotidianas (Camara et. al., 1998). Quando o idoso é superprotegido, os

familiares podem estimular a dependência do idoso em relação às atividades que ele é capaz

de desempenhar sozinho, ou privá-lo da tomada de decisões. No caso da evasão da realidade,

ocorre a negação das limitações dos idosos e as características do processo de

envelhecimento. Como resultado, os cuidadores esperam e exigem que o idoso desempenhe

atividades que já não possui mais capacidade ou habilidade para efetuar. Tais atitudes podem

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prejudicar a qualidade dos cuidados oferecidos e no relacionamento existente entre o idoso e

seus familiares, devido à incompreensão da situação real.

Como enfatiza Leal (2000, p.22), “cuidar não é uma tarefa fácil: exige uma mudança

radical na vida de quem cuida, e também demanda a execução de tarefas complexas,

delicadas e sofridas”. Além das informações disponíveis sobre fontes de dificuldades, ainda

se faz necessário uma melhor compreensão dos fatores envolvidos no relacionamento do

cuidador com o idoso que afetam as condições emocionais e de saúde do próprio cuidador,

afim de contribuir para a identificação de como favorecer a boa qualidade dos cuidados

prestados.

Benefícios encontrados no cuidado à idosos

Apesar da crença generalizada e apoiada em dados científicos de que a situação de

cuidar é altamente estressante e desgastante para o cuidador, prejudicando sua qualidade de

vida, alguns pesquisadores mostram possíveis benefícios resultantes do papel de cuidar para

o familiar que assume essa responsabilidade. No entanto, os estudos sobre os impactos

positivos do cuidar são poucos, sendo as informações sobre esse aspecto insatisfatórias (Neri

& Sommerhalder, 2002). Essas autoras relatam que os benefícios citados por diversos

cuidadores, a respeito do papel de cuidar, estão relacionados com sentimentos positivos e

retornos práticos para a vida do cuidador, ou à percepção de que o cuidar tem um significado

existencial. Em geral, os benefícios incluem: retribuição, gratificação, reciprocidade, ganho,

recompensa, alegria, satisfação pessoal, prazer, aumento do sentimento de orgulho e da

habilidade para encarar desafios, crescimento pessoal, melhora do senso de realização e do

relacionamento com o idoso e com outros, aumento do senso de controle e do significado na

vida, continuidade da tradição familiar, sentimentos de bem-estar em relação à qualidade dos

cuidados oferecidos, reconhecimento e valorização social, prazer em servir, cuidar por amor,

amizade e disponibilidade (Neri & Sommerhalder, 2002; Crawford & Unger, 1986, Barros

Pinto, 1997).

A influência da qualidade do relacionamento entre idoso e cuidador familiar

A avaliação que os cuidadores fazem da situação de cuidado pode ser influenciada

pela história de relacionamento passada e atual entre a díade cuidador-idoso. A esse respeito,

um estudo realizado por Neri & Sommerhalder (2002), com 20 cuidadoras familiares de

idosos de alto grau de dependência, mostrou que a história do relacionamento foi descrita

como relevante para a promoção do bem-estar subjetivo das cuidadoras e da avaliação

positiva da situação de cuidar. Nos casos em que a história de relacionamento entre as duas

partes era positiva, as cuidadoras relatavam sentimentos positivos em relação ao papel de

cuidadora, enquanto que, nos casos em que a história de relacionamento envolvia aspectos

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negativos e conflituosos, as participantes relatavam sentimentos negativos em relação a essa

situação.

Braithwaite (2000 apud Neri & Carvalho, 2002), também se refere ao papel da

qualidade do relacionamento entre idosos e cuidadores, afirmando que quanto maior o amor

e a intimidade presente na relação, menor o senso de ônus e maior o bem-estar do cuidador.

Além disso, Peter-Davis (1999 apud Neri & Carvalho, 2002), ao investigar a influência do

grau de parentesco em avaliações negativas sobre o cuidado, identificaram que a qualidade

do relacionamento era um fator de maior peso do que a relação de parentesco em si.

Desta forma, percebe-se que a relação entre cuidador e idoso pode ter um significado

muito importante para a promoção e manutenção da qualidade de vida de ambos, uma vez

que uma história positiva de relacionamento poderá resultar em avaliações subjetivas

positivas da situação de cuidar o que, por sua vez, aumentará a chance de que o cuidado seja

realizado de forma adequada e com menores prejuízos para a qualidade de vida de ambos.

Assim, para garantir a qualidade e a continuidade dos cuidados que um familiar oferece a um

parente idoso, acredita-se que é necessário atentar para a qualidade da relação interpessoal,

uma vez que esta pode sustentar o interesse do cuidador em ajudar.

Deste modo, estudar e analisar o relacionamento entre o idoso e a sua família, para

conhecer suas peculiaridades, é extremamente importante para que se possa programar e

executar intervenções eficazes tanto com a população de idosos quanto com as famílias a que

eles pertencem, que possam fortalecer os aspectos positivos na relação entre o idoso e seu

cuidador familiar e ajudar a minimizar o impacto dos agravantes, trazendo melhorias na

qualidade destes relacionamentos.

Assim, o que se pretendeu com este esse estudo é analisar a relação idoso-cuidador.

Os resultados certamente contribuirão para o planejamento de intervenções com idosos e

seus cuidadores.

OBJETIVOS

Este trabalho teve por objetivo analisar a relação idoso-cuidador familiar e tem como

objetivos específicos:

1- Caracterizar os idosos.

2- Caracterizar os cuidadores.

3- Identificar como as famílias estão estruturadas.

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4- Identificar como se dá o relacionamento entre idoso e cuidador, os conflitos entre ambos,

quais os papéis de cada um dentro do grupo familiar, e quais as necessidades a que estão

submetidos no processo de cuidar e ser cuidado.

MÉTODO

O desenvolvimento deste trabalho considerou todos os cuidados a serem tomados para

observar os princípios éticos que regem pesquisas com participação voluntária de seres

humanos. A pesquisa não causou nenhum tipo de dano físico, psicológico ou moral aos

participantes. Os participantes foram informados claramente dos objetivos dos estudos, antes

de solicitada a sua colaboração, e o sigilo de suas respostas foi e será garantido. Os

participantes terão acesso aos resultados e conclusões dos estudos realizados. As entrevistas

para coleta de dados somente foram realizadas após autorização dos participantes.

Participantes

Os sujeitos deste estudo foram idosos e seus respectivos cuidadores familiares, residentes na

cidade de São Carlos, estado de São Paulo. Os idosos que participaram recebiam atendimento

numa Unidade Básica de Saúde da cidade e eram atendidos por médicos geriatras. Tal decisão

foi tomada tendo em vista que idosos com problemas de saúde têm uma alta probabilidade de

possuírem algum grau de dependência, necessitando da ajuda de familiares em algum aspecto

das suas vidas. Os cuidadores entrevistados foram identificados a partir dos contatos

realizados com seus respectivos idosos.

Idosos e cuidadores que procuraram os serviços oferecidos pelo “Centro de Orientação ao

Idoso e seu Cuidador”, localizado em São Carlos, São Paulo durante a realização do estudo

também participaram do mesmo.

Local

A coleta de dados foi realizada através de visitas domiciliares à casa de cada um dos

participantes a serem entrevistados.

Procedimento

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Este estudo foi dividido em cinco partes: aperfeiçoamento de dois instrumentos de coleta de

dados ("Instrumento para Avaliação do Cuidador Familiar de Idoso" e "Instrumento para

Avaliação do Idoso no seu Contexto Familiar"); treinamento de pessoas para a aplicação dos

instrumentos construídos; busca de pessoas interessadas em participar deste estudo; coleta e

análise dos dados.

Aperfeiçoamento dos instrumentos de coleta de dados

Versões anteriores destes instrumentos demonstraram algumas falhas durante a coleta de

dados, em trabalhos que antecederam este estudo, nos quais esta autora estava envolvida.

Deste modo, foi realizado um aperfeiçoamento dos mesmos, a fim de melhorar sua clareza e

confiabilidade.

Os dois roteiros de entrevista, "Instrumento para Avaliação do Cuidador Familiar de

Idoso" (Anexo A) e "Instrumento para Avaliação do Idoso no seu Contexto Familiar" (Anexo

B) têm por finalidade identificar a forma como a díade idoso-cuidador e suas famílias estão

estruturadas, quais são os papéis de cada um dentro do grupo familiar, estratégias usadas para

lidar com eventuais conflitos entre idosos e cuidadores e quais as necessidades que sentem no

processo de cuidar e ser cuidado. Estes instrumentos também possibilitam a comparação entre

as respostas dadas pelos idosos e por seus cuidadores familiares.

Treinamento para aplicação do instrumento

A coleta de dados para este estudo foi realizada em colaboração com alunos envolvidos num

projeto de extensão, no qual esta autora participou no ano anterior. Assim, foi necessário o

treinamento dos alunos que participaram da coleta de dados, para que a mesma ocorresse de

forma padronizada e correta. Este treinamento funcionou, também, como teste piloto dos

instrumentos, possibilitando a verificação da compreensão e clareza dos itens e correção de

possíveis deficiências.

Busca de participantes

A procura por participantes envolveu três estratégias. Num primeiro momento, foi feita uma

listagem de idosos que recebiam atendimento médico em uma Unidade Básica de Saúde

(UBS) do município, que conta com o serviço médico de um geriatra e com a qual a

Universidade Federal de São Carlos possui convênio. Foram anotados o nome e endereço das

pessoas com consultas marcadas com o geriatra para posterior contato para agendamento de

entrevistas com as pessoas dentro do perfil para este estudo (um idoso dependente que conta

com a ajuda de um cuidador familiar) e interessadas em participar.

Também foram realizados plantões na UBS escolhida, durante o período de consulta

com o geriatra, para explicitação do projeto e solicitação de autorização para a coleta dos

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dados, junto aos interessados. Além destas maneiras mais formais, foi usada, também, a

técnica de Bola de Neve, perguntando às pessoas encontradas se poderiam indicar outros

idosos e/ou cuidadores do bairro para o projeto.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada no domicilio dos idosos e dos cuidadores interessados em

participar deste estudo, num horário previamente agendado pelos entrevistadores, de acordo

com os horários disponíveis.

Análise dos dados

A análise dos dados envolveu a organização e interpretação de dados quantitativos (respostas

aos itens com formato fechado) e qualitativos (respostas aos itens com formato aberto), que

foram obtidos por meio dos instrumentos. Os dados quantitativos foram analisados

estatisticamente, segundo medidas descritivas de tendência central e dispersão (média, desvio

padrão, valores mínimos e máximos) e de freqüência relativa. Os itens que são iguais no

instrumento do cuidador e do idoso foram utilizados para comparar as opiniões destes, com

base no uso do teste-t (quando trata-se de pontuações de variáveis escalares) ou do qui-

quadrado (quando trata-se de variáveis nominais).

Para os dados qualitativos, foram realizadas análises de conteúdo, buscando consenso

entre os juízes em relação à escolha de categorias e posterior categorização dos dados.

Procurou-se respeitar a terminologia existente na literatura para definir as categorias.

Instrumentos

O instrumento "Instrumento para Avaliação do Cuidador Familiar de Idoso" (Anexo A) é

constituído de perguntas de formatos abertos e fechados, para levantar o perfil dos cuidadores

e verificar o tipo de envolvimento que eles possuíam com os idosos que cuidam. Este

instrumento é constituído das seguintes partes:

1. Dados de identificação do cuidador. A primeira parte compreende informações

como, data de nascimento, sexo, endereço, grau de parentesco com a pessoa que cuida,

grau de responsabilidade com os cuidados, grau de instrução, estado civil, moradia,

religião, saúde, dados sobre trabalho remunerado, renda pessoal e trabalho doméstico.

2. Percepção do idoso. Este item tem por finalidade verificar a representação de velhice

que o cuidador possui, quais as características da velhice que ele observa no idoso que

cuida e suas preocupações com o envelhecimento deste.

3. Papel de cuidador. Esta parte compreende uma descrição do significado do papel de

cuidador e as dificuldades encontradas neste papel.

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4. Escala de estresse. Para avaliar o estresse dos participantes é utilizada uma tradução

da escala de Cohen e Williamson (1988), com 11 itens, que tem por objetivo verificar

a freqüência com a qual o respondente sente-se estressado, pontuado entre 1, ‘nunca’ e

5, ‘sempre’.

5. Rotina de atividades. Nesta parte são identificadas: 1) qual o cotidiano geral do

respondente; 2) a freqüência com que realiza atividades sociais, de lazer e

entretenimento e 3) a freqüência com que os respondentes ajudam os idosos a realizar

suas atividades da vida diária (AVD’s) e atividades instrumentais da vida diária

(AIVD’s).

6. Grau de dependência do idoso. Este item visa a verificação de quais os problemas de

saúde apresentados pelo idoso e qual a intensidade destes problemas.

7. Satisfação do cuidador com o próprio desempenho. Este item verifica o grau de

satisfação dos respondentes quanto ao seu próprio desempenho, em relação a sua

família nuclear e em relação ao idoso.

8. Satisfação do cuidador com o apoio familiar. Este item verifica o grau de satisfação

dos respondentes quanto ao apoio recebido pela família nuclear e extensa, nas tarefas

de cuidador de idoso.

9. Habilidades sociais. Nesta parte são apresentadas questões para que o cuidador faça

uma auto avaliação das habilidades que possui em se comunicar com o idoso, o grau

de intimidade entre o cuidador e idoso e questões que dizem respeito à tomada de

decisões.

10. Dificuldades de relacionamento. Este item visa identificar as principais questões que

causam dificuldades de relacionamento entre o idoso e o cuidador.

11. Enfrentamento de conflitos. Este item tem por objetivo identificar as principais

estratégias usadas pelos respondentes para enfrentar seus conflitos com o idoso que

cuida. Por meio dele verifica-se a freqüência do uso de três tipos de estratégias: a)

cognitivas - mudando a maneira como pensa sobre o desentendimento, b) buscando

apoio social - pedindo a ajuda de outros, e c) melhorando o processo de comunicação

- tentando melhorar a maneira como entende e conversa sobre o problema.

12. Situação atual. Neste item identifica-se o que os cuidadores valorizam na sua relação

com o idoso e possíveis diferenças entre sua situação atual e o que esperavam para

este momento da sua vida. Além disso, verifica-se o grau de satisfação dos

respondentes com sua própria vida.

13. Perspectivas futuras. Este item identifica quais as perspectivas dos respondentes para

o seu futuro.

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O instrumento usado para entrevistar os idosos, "Instrumento para Avaliação do Idoso

no seu Contexto Familiar" (Anexo B) também é constituído de perguntas de formatos abertos

e fechados, visando levantar o perfil dos idosos que recebem cuidados de seus familiares. Este

instrumento é constituído das seguintes partes:

1. Dados de identificação do idoso. Compreende informações sócio demográficas, tais

como, data de nascimento, sexo, endereço, estado civil, número de filhos e netos,

religião, grau de instrução, moradia, dados sobre renda pessoal.

2. Avaliação do estado mental. Para verificar se o idoso possui condições cognitivas

para responder aos itens do instrumento, aplicar-se o Exame Mini-Mental. O teste

consiste em questões subdivididas em 6 itens: orientação temporal e espacial, registro

(memória imediata), cálculo, memória recente e linguagem (Folstein e

Folstein,1974; Ventura e Bottino, 1996).

3. Percepção da velhice. Este item tem por finalidade verificar a representação de

velhice que o idoso entrevistado possui, se o respondente se considera idoso, suas

preocupações em relação à velhice, as características da velhice segundo o

respondente, e duas questões sobre os direitos dos idosos (os direitos que perdeu e que

ganhou com o processo de envelhecimento).

4. Situação atual. Este item objetiva identificar a expectativa do idoso em relação à

etapa que está vivenciando e quais os aspectos que estão melhores e piores do que

esperava.

5. Avaliação de estresse. Diferentemente da escala usado no instrumento do cuidador

para avaliar estresse, no instrumento do idoso é utilizada uma lista de dificuldades que

o idoso pode estar experimentando. Para cada dificuldade que o idoso já

experimentou, verifica-se o grau de dificuldade, pontuado entre 1, ‘pouca dificuldade’

e 5, ‘muita dificuldade’. Em seguida, investiga-se as estratégias que o idoso usa para

lidar com as dificuldades relatadas.

6. Rotina de atividades. Esta parte objetiva a identificação: a) da freqüência com que

realiza atividades sociais, de lazer e entretenimento; e b) qual o cotidiano geral do

respondente

7. Saúde. Neste item, verifica-se o estado de saúde do idoso, se tem algum problema de

saúde e se toma medicação.

8. Cuidar. Este item tem por finalidade identificar a representação de “cuidar” para o

idoso, como ele é cuidado e como gostaria de ser cuidado.

9. Grau de dependência do idoso. Este item verifica qual a concepção do respondente

de ser dependente, independente e autônomo. Também é verificado o grau de

dependência apresentado pelo idoso, através da aplicação da Escala de Atividade

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Física e Instrumental da Vida Diária (OARS), escala já validada para o contexto

brasileiro.

10. Tomada de decisões. Neste momento, identifica-se em que áreas o idoso toma

decisões e, quando não toma, levanta-se quem cuida dessas questões em seu lugar.

11. Relacionamento idoso-cuidador familiar. Nesta parte verificam-se as habilidades

que o idoso tem em se comunicar, o grau de intimidade entre idoso e cuidador e

questões que dizem respeito à satisfação com o apoio que recebe.

12. Dificuldades de relacionamento. Esta série de perguntas visar identificar as

principais questões que causam dificuldades de relacionamento entre o idoso e seu

cuidador.

13. Enfrentamento de conflitos. Neste item, identifica-se as principais estratégias usadas

pelos idosos para enfrentar seus conflitos. Será verificado a freqüência do uso de três

tipos de estratégias pelos idosos: a) cognitivas - mudando a maneira como pensa sobre

o desentendimento, b) busca de apoio social - pedindo a ajuda de outros, e c) melhoria

do processo de comunicação - tentando melhorar a maneira como entende e conversa

sobre o problema.

14. Perspectivas futuras. Neste último item, identifica-se quais as perspectivas dos respondentes em relação ao seu futuro.

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RESULTADOS Aperfeiçoamento dos instrumentos de coleta de dados

Algumas alterações foram realizadas nos instrumentos de coleta de dados utilizados neste

estudo para que os estivessem de acordo com os objetivos proposto por essa pesquisa. Essas

alterações consistiram em inserções ou exclusões de questões ou itens que foram considerados

relevantes ou não para a pesquisa. Além disso, foram efetuadas modificações na formulação

de perguntas ou itens para que os mesmos apresentassem maior grau de compreensão e

clareza tanto para os aplicadores quanto para os entrevistados, possibilitando melhores

respostas. Outras modificações nos instrumentos foram realizadas após etapa de treinamento

das pessoas que participaram da coleta de dados, pois, nesta fase foram evidenciadas outras

falhas que condiziam com dúvidas e dificuldades apontadas pelos aplicadores.

Treinamento para aplicação do instrumento

O treinamento para a aplicação dos instrumentos foi realizado através de um role play da

aplicação dos mesmos entre as pessoas que fizeram a coleta de dados. Nesta fase os

aplicadores teceram comentários sobre as questões presentes nos instrumentos e sobre

prováveis dificuldades em lidarem com as respostas dos participantes, o que facilitou a

posterior aplicação, uma vez que, as deficiências apontadas nos instrumentos foram corrigidas

e procurou-se buscar soluções para as dificuldades apontadas pelos aplicadores e esclarecer

suas dúvidas.

Busca por participantes

As estratégias utilizadas para buscar participantes atingiram seus objetivos ao encontrar um

grande número de idosos. Inicialmente, foram identificados 145 idosos, os quais foram

contatados para levantar o interesse em participar da pesquisa e se possuíam um cuidador

familiar oferecendo suporte. A partir desses idosos foi possível identificar 55 cuidadores

familiares. Todavia, o número de pessoas que consentiram sua participação no estudo foi

menor que o número total de pessoas consultadas. Em relação aos idosos, os motivos para a

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redução de participantes estão relacionados com os seguintes fatores: alguns idosos

identificados não possuíam cuidadores familiares, alguns idosos possuíam dificuldades em

responder ao instrumento devido ao alto grau de dependência que possuíam ou por estarem

hospitalizados e outros não se interessaram em participar do estudo. No caso dos cuidadores

familiares, alguns não se dispuseram a participar do estudo ou por indisponibilidade de tempo

ou por falta de interesse. Apesar disso, a colaboração das pessoas que participaram de projetos

paralelos e que auxiliaram na coleta de dados resultou num número significativo de

instrumentos.

Coleta de dados

Durante a coleta de dados foram entrevistados 28 idosos e 39 cuidadores familiares. A

diferença entre o número de idosos e cuidadores familiares entrevistados justifica-se pelas

dificuldades encontradas para a aplicação do instrumento de coleta de dados em alguns idosos

devidos à presença de limitações físicas e/ou cognitivas. Além disso, a pobre expressão oral e

o baixo grau de escolaridade de alguns entrevistados (tanto idosos quanto cuidadores

familiares) também resultaram em dificuldades, devido à falta de compreensão em relação ao

que era perguntado. Como a coleta de dados também foi realizada por outros aplicadores

menos experientes, apesar do treinamento realizado, a qualidade de algumas respostas dadas

por alguns entrevistados não estava de acordo com o esperado, devido às dificuldades

relatadas acima. Mais uma vez, foi reduzido o número de participantes porque foi necessário

excluir as respostas consideradas inadequadas ou confusas.

Análise dos dados

Após a coleta de dados, foi realizada a construção de um banco de dados em um programa de

estatística para as Ciências Humanas (SPSS, versão 10) onde foram inseridos os dados

quantitativos. Os dados qualitativos foram colocados em outro programa (WORD), onde

foram inseridas as respostas de todos os entrevistados e posteriormente foi realizada a criação

de categorias a partir da análise do conteúdo das respostas para cada item qualitativo do

instrumento. Os resultados encontrados estão relatados a seguir:

Objetivo 1: Caracterização dos idosos

Para traçar o perfil dos idosos entrevistados foram analisados: dados demográficos, religião,

dados sobre trabalho e renda, envolvimento em atividades, condições de saúde, satisfação

com a vida e expectativa dos idosos para o futuro. Os resultados encontrados nessa fase estão

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172

detalhados a seguir:

Figura 1: Composição da amostra de idosos, por sexo

Figura 2 : Composição da amostra de idosos, por idade

Figura 3: Composição da amostra de idosos, por estado civil

3,6

60,7

3,6

32,1

0

10

20

30

40

50

60

70

Solteiro Casado Divorciado Viúvo

Por

cent

agem

idade

95,090,085,080,075,070,065,060,0

8

6

4

2

0

Std. Dev = 8,45

Mean = 76,2

N = 28,00

Mas c ulino57%

Fem inino43%

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173

Figura 4 : Composição da amostra de idosos, por grau de escolaridade

Tabela 1: Outras características pessoais dos idosos Características Média D.P. Valor mín. Valor máx. N Duração do estado civil: 28 Casados (em anos) 41,7 18,10 3 61 Viúvos (em anos) 14,38 12,11 0,7 36,0 Número de filhos vivos 3,96 1,99 0 8 28 Número de filhos falecidos 0,68 1,12 0 4 28 Número de netos 7,14 4,41 0 16 28 Número de bisnetos 2,8 3,4 0 10 25 Anos de escolaridade 2,8 3,5 0 9 28

Como mostra as figuras 1 e 2, um pouco mais da metade dos idosos eram homens

(57%), com idade variando entre 61 e 95 anos (M = 76,2 anos). A maioria era casada (60,7%)

ou viúva (32,1%) e possuía, em média, quatro filhos, sete netos e três bisnetos. O tempo em

que encontravam-se no seu atual estado civil variou bastante. Entre os que estavam casados, a

média de tempo de matrimônio foi de 41,7 anos (d.p.= 18,10), com mínimo de 3 ano e

máximo de 61 anos. Entre os que estavam viúvos, o tempo médio de viuvez era 14,38 (d.p.=

12,11), com mínimo de 0,7 e máximo de 36 anos.

17,9

28,6

37,5

3,6 3,6 3,6 3,6 3,6

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Por

cent

agem

Analfabeto

Sem escolarizaçao

Primário incompleto

Primário completo

Ginásio incompleto

Ginásio completo

Colegial completo

Superior completo

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174

Em relação ao sexo, os resultados do último censo realizado pelo IBGE (2003),

indicam que o número de mulheres acima de 60 anos era maior que o de homens da mesma

faixa etária. Assim, a amostra estudada não pode ser considerada típica para a população geral

de idosos, pois foi encontrado um número maior de idosos do que de idosas.

Como é típico desta faixa etária, o nível de escolaridade era baixo, com a maioria sem

formação do primeiro grau. A média de anos de escolaridade foi de 2,8 anos (d.p.= 3,5), com

máximo de nove anos. Os dados encontrados aqui podem ser comparados aos encontrados

num estudo realizado por Laurenty e Lebrão (2003, usando dados do IBGE). Estes relatam

que, dos 972 mil idosos residentes na cidade de São Paulo, 21% dos idosos nunca

freqüentaram a escola e 60% não ultrapassaram sete anos de escolaridade, mostrando que a

escolaridade dos idosos realmente é baixa.

Religião

Em relação às crenças religiosas dos idosos neste estudo, a grande maioria dos idosos

era católica (77,8% dos casos) e os demais eram evangélicos ou não aderiam a uma religião

organizada, apesar de acreditarem em Deus. A grande maioria dos idosos (82,1%) relatou que

a religião possuía muita importância para suas vidas. Nos demais casos, a religião possuía

pouca (14,3%) ou nenhuma (3,6%) importância. Os dados encontrados nessa população são

semelhantes aos encontrados no censo realizado em 2000 pelo IBGE, ao encontrar uma

maioria católica.

Trabalho e renda

Quando entrevistados, nenhum idoso possuía emprego remunerado. As antigas

profissões dos idosos eram: lavrador/a (21,4% dos casos); dona de casa (21,4% dos casos);

operário de fábrica (17,9% dos casos); pedreiro (7,1% dos casos); e 3,6% dos casos em cada

uma das seguintes profissões: empregada doméstica; sinaleiro ferroviário; segurança,

professora primária, parteira e serralheiro. Somente um dos idosos nunca trabalhou, porque

sofria de epilepsia desde a adolescência. Nota-se que a grande maioria dos trabalhos eram

braçais, exigindo pouco ou nenhuma formação escolar. Tais resultados são semelhantes aos

encontrados no estudo de Lebrão e Laurenty (2003, usando dados do IBGE), no qual foi

evidenciado que 75,7% dos idosos na cidade de São Paulo exerceram trabalhos

predominantemente físicos no passado. Em relação à fonte de renda na época da entrevista, na

grande maioria (93%) dos casos, os idosos disseram que sua renda provinha de aposentadoria

própria ou do companheiro. Apesar de quase a metade dos idosos morar junto com um

cuidador familiar, somente dois idosos disseram que recebiam ajuda financeira dos filhos. Um

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175

pouco mais da metade dos idosos (58%) não considerava sua renda adequada, mal atendendo

às suas necessidades básicas.

Envolvimento em atividades

Como mostra a tabela 2, a grande maioria dos idosos estava engajado em atividades

que ocorriam dentro do ambiente doméstico, como: assistir televisão, afazeres domésticos e

ouvir rádio. Uma parcela significativa também se envolvia em atividades físicas, o que mostra

uma preocupação com a manutenção ou melhoria da qualidade de vida. Todavia, o

envolvimento desses idosos em atividades sociais e outras atividades de lazer foi baixo

durante o ano, o que não se justifica pelas condições financeiras dos idosos, uma vez que, a

maioria dessas atividades não necessariamente requer custos financeiros (a cidade oferece

várias opções de lazer gratuitas). Além disso, na maioria dos casos, os idosos relataram não

necessitar de ajuda de outras pessoas para realizar essas atividades. Desse modo, a realização

destas atividades seria possível desde que existisse iniciativa por parte do idoso, alguém que

fizesse companhia ou, em alguns casos, de alguém que ajudasse.

Tabela 2: Freqüência média das atividades sociais e de lazer desenvolvidas pelos idosos (dias por ano) Atividades Média D.P. Mínimo Máximo N Assistir televisão 287,7 147,8 0 365 27

Atividades Domésticas 222,6 175,7 0 365 27

Ouvir rádio 197,0 178,5 0 365 27

Atividade física 105,3 161,6 0 365 26

Receber visitas 93,1 119,4 0 365 26

Leitura 49,9 117,2 0 365 26

Trabalhos manuais 33,4 95 0 365 28

Fazer visitas 27,5 29,6 0 120 27

Participar de um grupo religioso 23,0 25,5 0 52 26

Atividades com amigos 22,1 7,1 0 365 27

Jogos 8,2 18,8 0 52 27

Realizar viagens 1,6 3,7 0 12 28

Eventos culturais 0,5 2,4 0 12 25

Cinema 0,04 0,2 0 1 26

Tabela 3: Número de idosos que dependiam da ajuda de mais alguém para desenvolver suas atividades sociais e de lazer Atividades Freqüência Porcentagem (%) N Trabalhos manuais 3 13,6 22

Fazer visitas 3 13,6 22

Atividade Física 3 13,0 23

Grupo religioso 2 9,52 21

Viagens 1 5,0 20

Receber visitas 1 5,0 21

Leitura 1 5,0 22

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176

Cinema 1 5,0 20

Assistir televisão 1 5,0 24

Ouvir rádio 1 5,0 23

As condições de saúde dos idosos

Tabela 4: Estado de saúde física geral dos idosos Estado de saúde Ruim Razoável Bom Excelente N

17,9% 53,6% 21,4% 7,1% 28

Problemas médicos Sim Não

92,6% 7,4% 27

Número de doenças 01 02 03 04 ou mais

44,0% 12,0% 24,0% 20,0% 25

Toma medicamentos Sim Não

88,9% 11,1 27

Número de medicamentos 01 02 03 04 ou mais

33,3% 25,0% 29,2% 12,5% 24

A grande maioria (92,6%) relatou pelo menos uma enfermidade. Os problemas de

saúde mais freqüentes foram: hipertensão arterial (27,5%); problemas pulmonares (11,8%);

cardiopatias (9,8%). Além disso 5,9% dos entrevistados mencionaram cada uma das seguintes

doenças: acidente vascular cerebral, diabetes, problemas ortopédicos; e 3,9% dos idosos

mencionaram cada um dos seguintes problemas: Mal de Parkinson, depressão, doença de

Chagas, hérnia de disco, epilepsia, arteriosclerose, artrose, catarata, labirintite, dores nas

pernas, edema em membros inferiores, braço fraturado, colesterol alto e problemas de visão

não especificados. Além disso, um idoso fez referência ao envelhecimento em si como

doença. Percebe-se que, na maioria dos casos, os problemas de saúde relatados são crônicos, o

que se assemelha com os tipos mais freqüentes de doenças encontrados numa amostra de

idosos morando na cidade de São Paulo (N = 2.143), entrevistados por Laurenty e Lebrão

(2003), nos quais a freqüência de doenças crônicas também era elevada. Apesar da alta

incidência de problemas de saúde, parece que a maioria sabia controlar seus problemas

médicos, uma vez que a maioria avaliou seu estado de saúde como sendo razoável (53,6% dos

casos), bom (21,4% dos casos) ou excelente (7,1% dos casos).

Em relação ao uso de medicamentos, os valores encontrados coincidem com a

porcentagem de idosos que possuíam algum problema médico, sendo que mais da metade dos

idosos (66,7%) tomavam mais de um medicamento diariamente. A porcentagem de idosos

que usavam medicamentos nesse estudo também é semelhante aos valores encontrados na

pesquisa de Laurenty e Lebrão (2003), que evidenciou que 86,7% dos seus entrevistados

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177

tomava algum medicamento cotidianamente.

Tabela 5: Prevalência e grau de severidade de problemas comportamentais ou limitações físicas encontrados nos idosos, segundo relato dos cuidadores familiares Problema Prevalência Severidade* D.P. N Visão 71,1% 1,81 0,68 27

Audição 55,3% 1,38 0,59 21

Dificuldade de compreensão 55,3% 1,8 0,93 21

Memória 54,1% 1,8 0,7 20

Depressão 48,5% 1,7 0,79 16

Locomoção 44,4% 2,1 0,85 16

Confusão Mental 43,2% 1,9 0,96 16

Agressividade 36,8% 1,9 0,92 14

Controle de urina e fezes 23,7% 2,0 0,71 9

Tabagismo 21,6% 2,5 0,76 8

Alcoolismo 0 0 0 0 Nota: *Grau de severidade, entre os portadores do problema:1, ‘leve’; 2, ‘moderado’; 3, ‘grave’.

No que concerne à tabela 5, os problemas como: visão, audição, dificuldade de

compreensão, memória e depressão, atingem entre 50 a 70% dos idosos, mas entre as pessoas

com estas dificuldades, o problema foi considerado leve ou moderado pelos cuidadores

familiares, na maioria dos casos. As dificuldades de saúde que foram avaliadas como sendo

mais graves foram: tabagismo e dificuldade no controle dos esfíncteres. No entanto, apenas

cerca de 20% dos idosos sofriam com estes problemas. Não foram identificados casos de

alcoolismo.

Figura 5: Pontuação obtida pelos idosos no “Mini Exame do Estado Mental”

avaliação mini mental

30,0

27,5

25,0

22,5

20,0

17,5

15,0

12,5

10

8

6

4

2

0

Std. Dev = 5,04

Mean = 21,9

N = 24,00

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178

Figura 6: Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades da Vida Diária, segundo escala de “OARS”

Figura 7: Grau de dependência dos idosos em relação às Atividades Instrumentais da Vida Diária, segundo escala de “OARS”

Para avaliar o grau de dependência dos idosos, utilizou-se a escala de OARS (que varia

de 0 a 14 pontos, sendo que quanto menor a pontuação, maior o grau de dependência).

Verificou-se que a maioria não apresentou altos graus de dependência em relação às

atividades básicas (M = 12,44, d.p. = 3,1) e instrumentais da vida diária (M = 9,29 , d.p. =

aivd/avaliação

14,012,010,08,06,04,02,0

10

8

6

4

2

0

Std. Dev = 3,36

Mean = 9,3

N = 27,00

avd/avaliação

15,012,510,07,55,02,50,0

16

14

12

10

8

6

4

2

0

Std. Dev = 3,12

Mean = 12,4

N = 27,00

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179

3,4). Além disso, de acordo com o Mini Exame do Estado Mental, a maioria dos entrevistados

(70,8%) não apresentou alterações cognitivas. Tais informações são encontradas nas figuras 5,

6 e 7.

Desta forma, pode-se notar que a maior parte dos idosos entrevistados não apresentava

problemas graves de saúde, entretanto, todos possuíam pelo menos uma restrição. Tal fato,

indica que a maior parte dos idosos não exigia total atenção dos cuidadores familiares, pois

não possuíam alto grau de dependência física, cognitiva ou comportamental, como seria o

caso de idosos acamados ou demenciados.

Satisfação com a vida e expectativas para o futuro

Figura 8: Grau de satisfação com a vida, entre os idosos

Escala de satisfação: 1– muito insatisfeito 2 – insatisfeito 3 – nem insatisfeito nem satisfeito 4 – satisfeito 5 – muito satisfeito

Tabela 6: Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os idosos Expectativas Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

Expectativas frustradas

"Não esperava envelhecer tão rápido." "Esperava que fosse melhor que agora"

19 65,5

Expectativas alcançadas "Esperava estar como está hoje." “Esperava que fosse assim.”

05 17,2

14,8

37

25,9

11,1

11,1

0 5 10 15 20 25 30 35 40

1

2

3

4

5

Sat

isfa

ção

Porcentagem (%)

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180

Expectativas ultrapassadas "Que estivesse pior de saúde e de condições financeiras."

04 13,8

Nunca pensou no assunto "Nunca pensei" 01 3,5

Total 29 100 Nota: N = 27

Tabela 7: Expectativas para o futuro, dos idosos Expectativas futuras Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

Boa ou melhor condições de vida para os familiares

"Queria que meus filhos e meus netos pudessem viver melhor..." “Terminar a construção da casa..."

10 22,2

Se manter ativo "...e viajar mais." "Ter coisas para fazer, preencher o tempo."

07 15,6

Trabalhar/estudar "Trabalhar." "Estudar."

05 11,1

Manutenção ou melhoria das condições de saúde física e mental do idoso

"Espero ficar bom para poder pescar de novo." "Que Deus de saúde."

03 6,7

Independência/autonomia "Espero ainda fazer muitas coisas boas da na minha vida."

02 4,4

Boas relações familiares "Viver em paz, entendimento, família inteira se entendendo."

02 4,4

Manutenção ou melhoria das condições financeiras

"Gostaria de ter melhor condição financeira, carro melhor."

02 4,4

Longevidade "Espero continuar vivendo...” 01 2,2

Respeito "Respeito." 01 2,2

Expectativa positivas sem especificação

“...melhorar." 01 2,2

Não possui expectativas "O plano do futuro já está feito." 06 13,4

Expectativas negativas "Espero mais nada; quando a pessoa tá doente não tem melhora."

05 11,1

Total 45 100 Nota: N = 28

Para avaliar a satisfação dos idosos com a vida, foi utilizada uma escala variando de 1,

‘muito insatisfeito’ a 5, ‘muito satisfeito’. Quase a metade dos idosos (48,2%) afirmou que

estava ‘insatisfeito’ ou ‘muito insatisfeito’ com seu atual contexto de vida (veja fig. 8). Em

parte, tal insatisfação reflete a frustração dos idosos com o que esperavam para a etapa da vida

que estavam vivendo. Quando questionados a esse respeito, a maioria (65,5%) relatou que

suas expectativas não foram alcançadas, principalmente no que concerne às condições

financeiras e de saúde (veja tabela 6). Em relação às expectativas para o futuro, a maioria

(78%) esperava se manter ativo, proporcionar boa ou melhor condição de vida para si e

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181

também desejavam melhores condições de vida para os familiares, apesar de que, em alguns

casos, dificilmente as expectativas seriam realizadas. Além disso, alguns (22%) não possuíam

expectativas ou não esperavam um futuro promissor (veja tabela 7).

Objetivo 2: Caracterização dos cuidadores familiares

Com o objetivo de traçar o perfil dos cuidadores familiares entrevistados, foram analisados os

seguintes fatores: dados demográficos, religião, trabalho e renda, envolvimento em atividades,

condições de saúde, satisfação com a vida e expectativas para o futuro.

Figura 9: Composição da amostra de cuidadores familiares, por sexo

Figura 10: Composição da amostra de cuidadores familiares, por idade

idade do cuidador

75,0

70,0

65,0

60,0

55,0

50,0

45,0

40,0

35,0

30,0

8

6

4

2

0

Std. Dev = 12,04

Mean = 50,3

N = 34,00

Feminino95%

Masculino5%

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182

Figura 11: Composição da amostra de cuidadores familiares, por estado civil

Figura 12: Composição da amostra de cuidadores familiares, por escolaridade2

Tabela 8: Outras características pessoais dos cuidadores familiares Características Média D.P. Valor mín. Valor máx. N

Duração do estado civil (em anos)

Casados 24,10 11,35 6 54 39

Viúvos 6,0 5,8 1 12

Número de filhos 2 1,3 0 5 39

Número de netos 1,6 3,4 0 15 34

Anos de escolaridade 7,6 4,5 1 16 37

Como mostra as figuras 9 e 10, a maior parte dos cuidadores era mulheres (95%), com

idade variando entre 30 e 75 anos (M = 50 anos). A idade dos cuidadores aproxima-se a uma

distribuição normal, com a maioria dos cuidadores possuindo entre 45 e 60 anos. Nota–se que

alguns cuidadores que eram os filhos adultos do idoso que cuidava possuíam idade igual ou

superior a de outros que eram esposos de quem cuidava. Além disso, mais da metade dos

cuidadores eram casados (66,7%) e entre estes, o tempo médio de matrimônio era de 24,10

anos (d.p. = 11,35), com tempo mínimo de 6 anos e máximo de 54 anos. Entre os que eram

viúvos, a média de tempo de viuvez foi de 6 anos (d.p.= 5,8), com mínimo de 1 ano e máximo

2 Atualmente, os níveis de escolaridade são denominados Ensino Fundamental (que engloba o primário e o ginásio; Ensino Médio (antigo colegial) e o Ensino Superior. Foi utilizada a nomenclatura mais antiga neste trabalho, por ser de maior compreensão por parte dos entrevistados, pois era a definição utilizada na época de escolarização dos mesmos.

66,7

12,8 12,85,1 2 ,6

0

20

40

60

80P

orce

ntag

em (

%)

Casado

Solteiro

V iúvo

Divorc iado

Separado

1 2 ,8

2 5 ,6

1 7 ,91 2 ,8

5 ,1

1 2 ,8

2 ,6

1 0 ,3

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

Por

cent

agem

(%

)

P rim á rio In co m p le to

P rim á rio C o m p le to

G in á s io In co m p le to

G in á s io C o m p le to

C o le g ia l In co m p le to

C o le g ia l C o m p le to

Su p e rio r In co m p le to

Su p e rio r C o m p le to

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183

de 12 anos. Entre os que estavam separados ou divorciados, o tempo média em que se

encontravam neste estado civil era de 6 e 9 anos, respectivamente (Fig. 11). Em relação a

outros envolvimentos familiares, os cuidadores possuíam, em média, 2 filhos e 1 neto.

Esperava-se encontrar um número maior de cuidadores do sexo feminino do que

masculino, uma vez que a literatura aponta que, em função de valores culturais, as mulheres

se envolvem com maior freqüência que os homens nos cuidados de familiares, inclusive

familiares idosos (Lueckenotte, 2000, Caldas 1998, Neri & Sommerhalder, 2002, Karsch,

2003). No entanto, o envolvimento de homens enquanto cuidadores de idosos (usualmente,

cuidando de sua esposa) costuma ser mais alto do que é o caso desta amostra. De fato, um

número maior de cuidadores do sexo masculino foi identificado inicialmente, mas a grande

maioria não se interessou em participar do estudo. Assim, existe um porcentagem maior de

homens cuidando de idosos do que aparece neste trabalho, no município onde este estudo foi

realizado. No que diz respeito à escolaridade dos cuidadores (veja figura 12), nenhum dos

cuidadores era analfabeto e 43,6% conseguiu completar o ginásio, chegando, em alguns casos

a cursar o ensino superior. A média de anos de escolaridade foi de 7,6 anos. Desta forma, o

grau de escolaridade dos cuidadores era significativamente maior do que o dos idosos (M =

2,8 anos).

Religião

Como no caso dos idosos, a grande maioria dos cuidadores era católica (84%). Os

demais eram evangélicos (10%), espirita (3%) e testemunha de Jeová (3%). Além disso, a

grande maioria dos cuidadores (92,3%) considerava a religião como sendo muito importante

para sua vida. Somente três cuidadores disseram que essa importância era mediana.

Trabalho e renda

A maior parte dos cuidadores (70,3%) não possuía emprego remunerado. Entre os

cuidadores que trabalhavam, cinco deles trabalhavam em período integral, e os demais no

período da tarde, da manhã ou sem horário fixo de trabalho (um caso para cada situação).

Nesses casos, o número de horas de trabalho por semana era de, em média, 33,2 horas (d.p. =

11,97), com mínimo de 16 e máximo de 50 horas por semana. Em relação à profissão, três

trabalhavam em casa, não especificando o tipo de trabalho e duas eram manicures. As demais

profissões, desenvolvidas por somente um cuidador cada, eram: vendedora (roupas e

chapeados), cabeleireira, funcionária de escola sem especificação, professora de escola

infantil, professora universitária e trabalhador autônomo (sem especificação). Somente 25%

dos entrevistados que possuíam emprego remunerado disseram que, no geral, não possuíam

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184

tempo suficiente para completar suas tarefas profissionais.

Hoje em dia, a taxa de envolvimento de mulheres no mercado de trabalho brasileiro é

quase 50% (Montalli, 2000). Assim, parece que o não envolvimento em trabalho remunerado,

ou um envolvimento com carga horária reduzida ou flexível, favoreceu a atuação destas

pessoas no papel de cuidadores de idosos. Nos casos em que a carga de trabalho era maior, os

entrevistados não eram os cuidadores principais dos idosos. Assim, pode-se dizer que, além

de questões de sexo e parentesco, os cuidadores estavam engajados nesse papel também em

função de sua disponibilidade em oferecer algum tipo de suporte aos idosos. Esses três fatores

coincidem com os que são apontados na literatura, como os mais importantes na decisão de

assumir os cuidados de um familiar (Mendes,1995 apud Caldas 1998; Neri & Sommerhalder,

2002).

Em relação à renda individual, 77,7% dos cuidadores ganhava entre um salário

mínimo3 a R$750, 00, com apenas um cuidador ganhando menos de um salário mínimo. Em

um pouco mais da metade dos casos (57%), o cuidador familiar destinava uma parte de sua

renda ao idoso que cuidava. Destes cuidadores, dois mencionaram possuir ‘algumas

dificuldades’ e cinco ‘muitas dificuldades’ em manter esse apoio financeiro. As dificuldades

relatadas foram: características da doença do idoso (seis casos), alimentação do idoso (três

casos), dificuldades financeiras do próprio cuidador (dois casos) e dificuldades de outros

familiares que ajudavam o idoso financeiramente (um caso). Comparando as respostas dos

idosos e dos cuidadores em relação à questão de apoio financeiro oferecido pelo cuidador ao

idoso, nota-se que o número de cuidadores que relatou apoiar o idoso financeiramente é muito

maior do que o número de idosos que relatou receber dinheiro dos familiares. Acredita-se que,

em parte, isto pode ser explicado em função da visibilidade do apoio: ajuda financeira direta

(dar dinheiro para o idoso para ele gerenciar) ou indireta (pagar despesas do idoso – comida,

remédios - como parte dos gastos familiares). Quando a ajuda financeira é indireta, parece que

os idosos não consideram que faça parte da sua renda.

Envolvimento em atividades

Tabela 9: Freqüência de envolvimento dos cuidadores familiares em atividades domésticas, sociais e de lazer (dias por ano) Atividades Média D.P. Mínimo Máximo N Atividades domésticas 365,0 0 365 365 37

Assistir televisão 321,5 115,2 0 365 39

Ouvir rádio 223,6 172,5 0 365 39

Leitura 139,1 166,2 0 365 38

Trabalhos manuais 81,8 146,6 0 365 39

3 Salário Mínimo vigente R$200,00.

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185

Grupo religioso 75,9 116,2 0 365 38

Atividade Física 68,5 129,9 0 365 39

Receber visitas 67,0 132,4 0 365 39

Fazer visitas 56,9 107,7 0 365 39

Atividades com amigos 10,1 19,6 0 52 35

Jogos 4,6 14,1 0 52 39

Eventos culturais 3,0 9,2 0 52 36

Viagens 1,4 3,2 0 12 37

Cinema 0,5 1,9 0 12,0 39

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186

Tabela 10: Mudanças no envolvimento dos cuidadores em atividades, devido aos cuidados para com os idosos Atividades Reduziu (%) Mesma (%) Aumentou (%) N Assistir televisão 28,9 65,8 5,3 38

Viagens 28,9 65,8 5,3 25

Trabalhos manuais 26,5 67,6 5,9 34

Atividades com amigos 26,7 73,3 - 30

Atividade Física 22,9 65,7 11,4 35

Leitura 22,9 71,4 5,7 35

Fazer visitas 20,0 74,3 5,7 35

Ouvir rádio 19,4 75,0 5,6 36

Cinema 19,4 80,6 - 31

Grupo religioso 17,6 73,5 8,8 34

Eventos culturais 15,6 84,4 - 32

Atividades domésticas 14,7 64,7 20,6 34

Receber visitas 8,6 77,1 14,3 35

Jogos 5,9 91,2 2,9 34

Assim como os idosos, a maioria das atividades desenvolvidas pelos cuidadores

ocorriam no interior do ambiente domiciliar. O engajamento em atividades físicas dos

cuidadores era baixo, sendo que os mesmos não estavam realizando atividades que poderiam

contribuir de forma significativa para sua saúde física e mental. No entanto, segundo a

maioria dos cuidadores, a freqüência de seu engajamento nessas atividades não sofreu

mudanças, devido aos cuidados com os idosos. Por outro lado, a atividade que aumentou de

freqüência, para 20% dos cuidadores, foi a doméstica. Além disso, em 44% dos casos, os

cuidadores reduziram o período de descanso, devido aos cuidados para com os idosos. Outras

atividades que sofreram redução, em alguns casos, foram as sociais e de lazer e atividades

físicas. Assim, parte dos cuidadores passaram a desenvolver mais atividades no ambiente

doméstico devido a sua função de cuidar do idoso. Pode-se perceber que, mesmo no casos de

idosos pouco dependentes, envolver-se no apoio de idosos traz algumas restrições e

modificações na rotina dos cuidadores desta pesquisa.

Condições de saúde dos cuidadores

Tabela 11: Estado de saúde física geral dos cuidadores familiares Estado de saúde Ruim Razoável Bom Excelente N

2,6% 33,3% 51,3% 12,8% 39

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187

Problemas médicos Sim Não

43,6% 56,4% 39

Número de doenças 01 02 03 ou mais

26% 61% 13% 23

Toma medicamentos Sim Não

44% 56% 39

Número de medicamentos 01 02 03 ou mais

43,5% 17,4% 39,1% 23

Em relação ao seu estado de saúde, um pouco mais da metade dos cuidadores (56,4%)

apresentava algum problema, sendo que 60,9% destes relataram duas enfermidades. Os

problemas de saúde relatados foram: hipertensão arterial (sete casos); três casos de depressão

e de colesterol alto; dois casos de diabetes, de problemas ginecológicos, de problemas

ortopédicos, de dores no joelho, de problemas estomacais, de síndrome do pânico, e de asma;

e um caso de artrite, de artrose, de deslocamento de retina, de hilostomia, de osteoporose, de

fibromialgia nervosa, de reumatismo, de catarata e de nódulos benignos. Assim, como no caso

dos idosos, boa parte dos cuidadores desta pesquisa possuíam doenças crônicas. Apesar, de

destes problemas, apenas 2,6% considerou seu estado de saúde como sendo “ruim” . Deste

modo, os cuidadores possuíam suas próprias fragilidades, mas conseguiam oferecer ajuda a

uma outra pessoa.

Em relação ao uso de medicamentos, os cuidadores que faziam uso de medicação eram

aqueles que apresentaram problemas de saúde. Nestes casos, 56,5% dos cuidadores usava

mais de dois medicamentos, chegando a tomar mais de quatro remédios rotineiramente.

Estresse

Para avaliar o nível de estresse no desempenho de cuidar de um idoso vários fatores

estão envolvidos: grau de dependência do idoso cuidado, grau de envolvimento do cuidador

com os cuidados do idoso, suporte oferecido por outras pessoas (familiares, profissionais,

amigos, profissionais da rede de saúde), crenças pessoais dos cuidadores em relação à

situação, fatores culturais e sociais que restringem as opções de escolha, circunstâncias em

que o cuidado foi iniciado, tempo em que o suporte é oferecido pelo cuidador, condições

financeiras do idoso e do cuidador, estrutura familiar presente (Goldstein, 1995; Leal, 2000).

Assim, o estresse é mediado tanto por fatores objetivos como por aspectos subjetivos do

cuidar, dependendo não só da situação de cuidado, mas da percepção dessa situação e da

importância que os cuidadores dão a cada fator.

Para avaliar os níveis de estresse vivenciado cotidianamente pelos cuidadores

entrevistados, aplicou-se uma escala tipo Likert de Cohen e Williamson (1988), composta por

nove itens, avaliados numa escala de freqüência variando de 1, “nunca” a 5, “sempre”. Esta

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188

escala apresentou um índice de confiabilidade de 0,52, eliminando um item ("sentiu-se

incapaz de dar conta de tudo") que estava com uma correlação item-total negativa. No geral,

no uso desta escala em estudos anteriores realizadas com pessoas que trabalham fora, na

mesma cidade, a confiabilidade da escala atingiu valores em torno de 0,80 e sempre

superiores a 0,70. Assim, precisa-se investigar porque a confiabilidade da escala abaixou

tanto, com cuidadores familiares de idosos. O valor médio de estresse entre os cuidadores

familiares foi de 2,83, com desvio padrão de 0,47 (valor mínimo de 1,90 e máximo de 3,90).

Assim, a maioria lidava com estresse crônico mas de grau leve a moderado. No entanto,

alguns lidavam com um nível de estresse mais elevado.

Satisfação com a vida e expectativas para o futuro

Figura 13: Satisfação com a vida, entre os cuidadores

Nota: N = 32 Legenda: 1- muito insatisfeito 2 – insatisfeito 3 – nem insatisfeito nem satisfeito 4 – satisfeito 5 – muito satisfeito Tabela 12: Expectativa para a etapa da vida que estavam vivendo, entre os cuidadores

Expectativas Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

Expectativas frustradas

"Esperava que fosse melhor." "Esperava ter minha casa, situação melhor, trabalhando."

23 57,5

Não esperava cuidar de idosos "Nunca pensei que iria cuidar dos pais. Não fazia parte das preocupações."

03 7,5

Esperava mais proximidade entre a família nuclear e a família do idoso

"Que não houvesse esse distanciamento entre a minha família e a família dos idosos."

02 5,0

Não esperava que o idoso morasse com sua família nuclear

"Esperava estar vivendo somente com a minha família..."

01 2,5

Subtotal 29 73,0

Expectativas alcançadas “Achava que seria como é.” “Era o que esperava.”

07 17,5

Expectativas superadas “Esperava que fosse mais difícil, não tenho dificuldades com filhos, marido.”

02 5,0

Subtotal 09 22,5

Não sabe 02 5,0

3,2

3,2

38,7

25,8

29

0 10 20 30 40 50

1

2

3

4

5

P orcenta gem (% )

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189

Total 40 100 Nota: N = 36

Metade dos cuidadores apresentavam bons índices de satisfação com a vida (veja

Figura 13). Coerentemente, a maioria dos cuidadores (73%) avaliou sua situação atual como

sendo aquém do esperado para este momento de suas vidas, com alguns dizendo que não

esperavam estar cuidando de idosos nessa etapa da vida (veja Tabela 12). No entanto, a

maioria apresentou expectativas positivas para o futuro (veja Tabela 13), demonstrando o

desejo de possuir boa saúde para manter suas atividades atuais e, em alguns casos, de

continuar oferecendo suporte aos familiares, inclusive aos familiares idosos. Parece existir

uma aceitação da situação atual pela maioria dos cuidadores e os mesmos esperavam

melhorias futuras.

Tabela 13: Expectativas para o futuro, entre os cuidadores Expectativas futuras Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

Melhoria ou manutenção da saúde do cuidador

"Espero ter mais saúde para poder cuidar da minha mãe, meus filhos e netos. E o resto a gente se arranja."

10 16,9

Tranqüilidade/ felicidade “Muito bem, feliz” “Ser uma pessoa tranqüila, muita paz...”

05 8,5

Boa ou melhores condições de vida para os filhos

“Que meus filhos estudem, fiquem longe das drogas.” “... e que os filhos tenham saúde.”

05 8,5

Boas relações familiares “Gostaria que a família estivesse sempre unida.”

05 8,5

Manutenção da independência "Quero continuar independente." 04 6,8

Trabalhar/estudar "Voltar a trabalhar, acabar o estudo." 04 6,8

Melhoria das condições de saúde do idoso

“Melhora a saúde do pai...” “Que minha mãe esteja forte e com saúde.”

04 6,8

Dedicação à família “Poder cuidar dos filhos, marido e da mãe”

04 6,8

Melhoria das condições de moradia

"Construir a casa." 03 5,1

Crescimento pessoal “Crescer mais espiritualmente. Gerenciar melhor o tempo. Ler mais.”

02 3,3

Oferecer apoio a quem necessitar “Poder cuidar muitos anos – quero ser útil para as pessoas que precisam”

02 3,3

Participar de atividades religiosas “...ir a igreja.” 01 1,7

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190

Transmissão de experiência à gerações futuras.

“Passar experiências para os mais novos.”

01 1,7

Expectativas positivas sem especificação

“Melhor que agora” 01 1,7

Sem expectativas “Sem muita expectativa.” Não sabe

05 8,5

Expectativas negativas "Pior do que está agora." 03 5,1

Total 59 100 Nota: N = 37

Objetivo 3: Forma como as famílias estão estruturadas

Para entender a forma como as famílias estavam estruturadas, analisou-se os seguintes

sub-tópicos: grau de parentesco e número de idosos apoiados pelos cuidadores; arranjos de

moradia dos idosos e seus cuidadores; apoio oferecido aos idosos pelos cuidadores

entrevistados; envolvimento de outras pessoas nos cuidados para com os idosos; suporte;

satisfação dos cuidadores com o suporte que ofereciam aos idosos e aos demais familiares e

com o apoio que recebiam de sua família nuclear.

Grau de parentesco entre idosos e cuidadores e número de idosos apoiados

Figura 14 : Grau de parentesco do idoso com seu cuidador familiar

Estudos anteriores mostraram que, em relação ao grau de parentesco, o primeiro

familiar a assumir o cuidado de um idoso é seu cônjuge, seguido, em ordem decrescente,

pelas filhas, filhos e outros parentes (Perracini & Neri, 2002, Yazaki, Melo & Ramos, 1993).

No caso deste estudo, a maioria dos cuidadores entrevistados cuidavam de pais idosos

(65,8%), seguidos de 15,8% dos entrevistados que cuidava de seu cônjuge, 13,2% que

39,5

26,3

13,2 13,2

2,6 2,6 2,6

0

10

20

30

40

Por

cent

agem

(%

)

Mãe

Pai

Sogra

Esposo

Esposa

Irmão

Cunhado

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191

oferecia suporte a sogra e 2,6% que auxiliava o irmão ou o cunhado, respectivamente.

Observa-se nesta pesquisa, que na maioria dos casos, existia uma relação intergeracional entre

idosos e cuidadores. Quando os idosos precisam de ajuda e não existe um cônjuge presente ou

em condições de ajudar, os filhos adultos costumam assumir o papel de cuidadores, por terem

um vínculo afetivo e uma responsabilidade culturalmente definida. Apesar de 60,7% dos

idosos entrevistados serem casados, parece que seus cônjuges não eram capazes de oferecer o

suporte necessário, necessitando da ajuda dos filhos, que acabavam assumindo o papel de

cuidador.

No que diz respeito ao número de idosos com os quais os cuidadores estavam

envolvidos, 71,8% dos cuidadores ofereciam suporte a somente um idoso e, nos demais casos,

a dois idosos. Em 86,9% dos casos, existiam outras pessoas envolvidas na tarefa de cuidar.

Mesmo contando com este apoio, 70% dos entrevistados eram os cuidadores principais.

Arranjos de moradia dos cuidadores familiares e dos idosos

No que concerne aos arranjos de moradia, encontramos que em 19 famílias (43,6%

dos casos), os idosos moravam junto com seus cuidadores. Assim, os resultados referentes a

esse sub-tópico estão separados entre idosos e cuidadores que moravam juntos e os que não

moravam na mesma residência.

Tabela 14: Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores que moravam juntos com os idosos Arranjo familiar Unigeracional Bigeracional Multigeracional

21,0% 31,6% 47,4%

Número de co-residentes Média D.P. Mín. Máx.

4,0 2,2 2 10

Tabela 15: Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos cuidadores que moravam juntos com os idosos Parentesco com cuidador Situação Profissional Freqüência Porcentagem (%)

Não existem outras pessoas Não se aplica 6 31,6

Esposo Trabalha 6 31,6

Filho (s) acima de 20 anos Trabalha 4 21,0

Filho entre 15 e 20 anos Estudante 4 21,0

Filho (s) entre 7 e 15 anos Estudante 4 21,0

Filho (s) entre menores de 7 anos Não se aplica 3 15,8

Irmão Trabalha 1 5,3

Esposa Não trabalha 1 5,3

Irmão entre 7 e 15 anos Estudante 1 5,3

Irmão dependente Aposentado 1 5,3

Irmã dependente Não trabalha 1 5,3

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192

Para os idosos que co-residiam com os cuidadores familiares entrevistados, quase

metade das famílias eram multigeracionais (47,4%). Na maioria das famílias unigeracionais,

os idosos viviam com seu cônjuge e nos demais casos, com irmão. Em média, cada residência

era composta por quatro moradores.

Como mostra a tabela 15, em poucas famílias não existiam outros membros morando

com os idosos e cuidadores. Nas demais famílias, existiam familiares que poderiam auxiliar

os cuidadores no suporte oferecido aos idosos, ou apoiar os cuidadores em outras atividades

(por exemplo, realizando mais tarefas domésticas e oferecendo apoio emocional ao cuidador).

Isto poderia contribuir para a diminuição da sobrecarga sentida pelos cuidadores e para a

diminuição de conflitos familiares.

Por outro lado, quando existe a possibilidade de auxílio por parte de outros membros

da família, mas isso não acontece, os conflitos familiares podem ser mais freqüentes, em

virtude da situação de sobrecarga vivenciada pelo cuidador familiar. Ao mesmo tempo em

que existiam membros da família que poderiam oferecer ajuda, em algumas famílias, também

existiam membros que exigiam demandas de cuidado, como no caso de filhos menores de sete

anos de idade (três casos), outros idosos no domicílio (três casos) ou irmãos que necessitavam

de apoio devido a algum grau de dependência (dois casos). O convívio com os idosos que

precisam de cuidados pode ser fonte de sobrecarga para os cuidadores, que acabam tendo

demandas diferentes a cumprir, visto que, as crianças e adolescentes também requerem grande

apoio e suporte por parte dos mais velhos (pais e responsáveis). Por outro lado, como a

maioria dos idosos ainda era capaz de fazer muitas coisas, poderiam estar auxiliando nos

cuidados das crianças pequenas, de alguma forma, sendo que esta prática está em crescimento

em muitas famílias na sociedade atual.

Tabela 16: Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos idosos que não moravam juntos com seus cuidadores Arranjo familiar Unigeracional Bigeracional Multigeracional

57,1% 28,6% 14,3%

Número de moradores Média D.P. Mín. Máx.

2,5 1,16 2 6

Nota: N = 14

Tabela 17: Número de gerações e de co-residentes presentes nos domicílios dos cuidadores que não moravam juntos com os idosos que apoiavam Arranjo familiar Mora sozinho Bigeracional Multigeracional

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193

5,5% 89,0% 5,5%

Número de moradores Média D.P. Mín. Máx.

3,83 1,25 1 6 Nota: N = 18

Tabela 18: Grau de parentesco e profissão das pessoas co-residentes nos domicílios dos cuidadores que não moravam juntos com os idosos que apoiavam Parentesco com cuidador Situação Profissional Freqüência Porcentagem (%)

Filho (s) acima de 18 anos Trabalha 09 50,0

Esposo Trabalha 08 44,4

Esposo Aposentado 05 27,8

Filho (s) acima de 20 anos Estudante 06 33,3

Filho entre 15 e 20 anos Estudante 04 22,2

Filho (s) entre 7 e 15 anos Estudante 04 22,2

Filho (s) menores de 7 anos Não se aplica 02 11,1

Genro Trabalha O1 5,56

Netos entre 7 e 15 anos estudante 01 5,56

Não existem outras pessoas não se aplica 01 5,56

Nota: N= 18

Com relação ao arranjo familiar dos idosos que não moravam com seus cuidadores

(Tabela 16), a maioria vivia em sua própria casa com o cônjuge (família unigeracional –

57,1%) ou com os filhos (família bigeracional – 28,6%). Nas residências multigeracionais, os

familiares presentes incluíam irmãos, netos, mães e genros. Assim, percebe-se que, em grande

parte dos casos, existiam familiares convivendo com os idosos que poderiam estar oferecendo

algum tipo de suporte, seja prático, financeiro ou emocional.

No que concerne aos cuidadores familiares que não moravam com os idosos apoiados

(Tabela 17), a grande maioria vivia com seu cônjuge e filhos (família bigeracionais – 88,8%).

Somente um cuidador morava sozinho e outro com seu marido, filhos e netos (família

multigeracional). Assim, a grande maioria dos cuidadores possuía outras demandas familiares,

que diz respeito ao cuidado com filhos, maridos e para alguns casos, com os netos. Tal fato

pode contribuir para a sensação de sobrecarga dos cuidadores, uma vez que, além dos

cuidados a serem dispensados a sua família nuclear, eles precisavam cuidar de membros

idosos da família. Por outro lado, como na maior parte dos casos os cuidadores entrevistados

não possuíam filhos ou netos pequenos no núcleo familiar, as possibilidades de contribuição

de outros familiares nas demandas domésticas ou no apoio emocional eram maiores. Tal fato

poderia ajudar na diminuição da sensação de sobrecarga dos cuidadores.

Dependendo da forma como ela está estruturada, os arranjos familiares nos quais os

idosos e cuidadores estão inseridos podem influenciar o suporte oferecido aos idosos e o

relacionamento existente entre os familiares, afetando a qualidade de vida de todos os

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194

envolvidos. Neste estudo, nota-se que, quase metade dos idosos viviam em famílias bi ou

multigeracionais, com quatro moradores em média na residência. Várias famílias possuíam

membros que poderiam estar oferecendo algum tipo de ajuda, seja diretamente ao idoso ou ao

cuidador entrevistado. Para aquelas famílias em que os idosos não co-residiam com seus

cuidadores, existia uma porcentagem equilibrada de idosos que moravam em domicílios

unigeracionais e em residências bi ou multigeracionais. Portanto, observa-se que sempre

existia alguém morando com os idosos que poderia oferecer algum tipo de ajuda ou que

necessitavam de suporte, assim como os idosos. Os resultados encontrados neste estudo

corroboram com os estudos de Ramos (1993) e de Coelho Filho (1999), que encontraram a

maioria dos idosos vivendo em domicílios bi ou multigeracionais, seguidos por uma parcela

menor que morava com familiares da mesma geração, com poucos idosos morando sozinhos.

Suporte oferecido aos idosos pelos cuidadores entrevistados

Tabela 19: Aspectos do papel de cuidador, apontados pelos cuidadores Categorias Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

1. Suportes Oferecidos

1.1. Suporte em atividades básicas e instrumentais da vida diária

“Levo ao médico, vou até a casa dela para ver como ela está, para dar remédio.” “Ajudo nas atividades diárias, de suas necessidades.”

14 23,7

1.2. Suporte sócio-emocional

"...ele costuma aceitar tudo que eu falo. Sugestões sobre como ele deve organizar sua vida....” Gosto de incentivá-lo a fazer coisas que vão lhe fazer bem."

06 10,2

1.3. Suporte multidimensional “Quero fazer o que puder para a minha mãe.”

02 3,4

2. Demandas Psicológicas

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195

2.1. Habilidades Interpessoais

"A gente tem que ter muita paciência. Ele pergunta várias vezes a mesma coisa." "Eu já fui mais presente na situação de cuidar. ...Hoje eu não sou ausente, mas eu coloco um limite. O limite foi na parte emocional."

10 16,9

2.2. Obrigação

"Eu já havia cuidado do meu pai, da minha mãe, do meu marido e agora do meu irmão. Tem que cuidar dele, senão fazer o quê?"

08 13,5

3. Sentimentos positivos

3..3.1. Atividade prazerosa/ Satisfação

"Sente-se realizada por estar ajudando..."

07 11,9

3.2. Experiência de vida "Mas, é muito gratificante para o aprendizado da vida e para a própria velhice."

02 3,4

4. Sentimentos negativos

4.1. Tarefa difícil "... não achava que seria tão difícil, exige muito gerenciamento.."

05 8,5

4.2. Sobrecarga "Sinto-me sobrecarregada..." 05 8,5

Total 59 100 Nota: N = 38

Pode-se perceber, portanto, que, para os entrevistados a situação de cuidado não diz

respeito só ao suporte prático oferecido, mas também envolve questões referentes à qualidade

do relacionamento, que corresponde ao apoio sócio-emocional, às demandas psicológicas e a

avaliações subjetivas do cuidar, que podem contribuir positiva e negativamente para o sucesso

dos cuidadores em cuidar de seus membros idosos adequadamente. Quando os cuidadores

percebem a tarefa de cuidar de maneira positiva e conseguem lidar com as demandas

psicológicas decorrentes desse papel, aumenta a probabilidade que as necessidades de cuidado

dos idosos sejam satisfeitas e de que os conflitos interpessoais e as dificuldades de

relacionamento sejam menores. Todavia, cuidar de um idoso pode ser uma tarefa estressante,

requerendo uma dedicação de tempo e esforço que poucos esperam. Assim, quando o

cuidador percebe seu papel como imposto, desgastante, difícil e ele não consegue lidar com as

demandas psicológicas do cuidar, a qualidade dos cuidados oferecidos pode ser

significativamente prejudicada, influenciando a qualidade de vida do idoso cuidado. Além

disso, nesses casos, a qualidade do relacionamento entre idoso e cuidador também pode ser

influenciada, aumentando conflito interpessoais. Os sentimentos negativos e as dificuldades

em lidar com as demandas psicológicas do papel de cuidar também pode ser fonte de

dificuldades de relacionamento com outros membros da família.

Ajuda ao idoso com atividades básicas e de lazer

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A Tabela 20 permite identificar o engajamento dos cuidadores em apoiar os idosos

numa série de atividades básicas e de lazer no seu dia a dia, nos casos em que os idosos

necessitavam de ajuda com a atividade em questão. Além disso, permite verificar a freqüência

com a qual outras pessoas estavam envolvidas nessas atividades.

Quanto às atividades relacionadas aos cuidados com o corpo, a participação dos cuidadores

entrevistados era maior para as seguintes atividades: levantar o idoso da cama, vestir e tirar

roupas e dar banho. Quando os idosos realizavam essas atividades com a ajuda dos cuidadores

(quanto maior o “N”, maior o número de idosos que dependiam de ajuda para realizar esta

atividade), este apoio era bastante freqüente, sendo realizado várias vezes por semana.

Tabela 20: Envolvimento e freqüência média (em dias/ano) com a qual os cuidadores ou outras pessoas ajudavam os idosos em suas AVD’s e AIVD’s, segundo relato dos cuidadores

Atividade N Freq.

Média D.P. Mínimo Máximo

Outra pessoa auxilia idoso (%)

Cuidados com o corpo

Levantar idoso da cama 25 212,7 168,3 0 365 17,5

Supervisionar idoso em atividades 17 205,9 177,5 0 365 12,5

Vestir e tirar roupas 21 171,4 117,6 0 365 22,5

Tomar banho 22 138,9 175,6 0 365 25,9

Tomar medicamentos 11 132,7 184,2 0 365 17,5

Alimenta-se 15 132,1 175,0 0 365 22,5

Locomover-se 16 123,5 155,4 0 365 12,5

Cuidar da aparência 18 111,7 150,5 0 365 20,0

Ir ao banheiro 16 110,8 160,3 0 365 25,0

Tarefas domésticas

Lavar e passar roupas 22 158,9 178,7 0 365 25,0

Limpeza da casa 26 153,6 163,7 0 365 20,0

Preparar refeições 19 139,9 166,8 0 365 25,0

Fazer compras 28 133,4 165,2 0 365 20,0

Acompanhar em lugares 28 87,3 133,4 0 365 7,5

Fazer pequenos consertos da casa 19 86,1 148,8 0 365 17,5

Acompanhar em consultas médicas 35 66,8 124,5 0 365 5,0

Outros Serviços

Preencher formulários 22 107,4 161,9 0 365 5,0

Usar telefone 18 94,3 153,5 0 365 27,5

Marcar consultas 27 80,3 129,7 0 365 10,0

Lidar com finanças 21 69,2 128,6 0 365 22,5

Atividades Sociais e de Lazer

Assistir televisão/ Ouvir rádio 14 130,4 181,5 0 365 22,5

Atividade religiosa 14 48,7 100,4 0 365 15,0

Atividade física 10 48,1 113,4 0 365 15,0

Fazer visitas 20 44,2 110,6 0 365 25,0

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197

Receber visitas 14 40,9 96,3 0 365 22,5

Atividades manuais 6 8,7 21,2 0 52 12,5

Jogos 5 6 15,4 0 30 10,0

Viagens 11 1,9 3,6 0 12 17,5

Ir ao cinema/teatro 5 0 0 0 0 12,5

Leituras 4 0 0 0 0 10,0

Passear com amigos 6 0 0 0 0 15,0

No que se refere às tarefas domésticas, um número maior dos idosos recebia apoio dos

cuidadores para tarefas realizadas fora da casa, entre elas: acompanhamento em consultas

médicas, a lugares que exigem condução e a fazer compras. A arrumação e limpeza da casa

também eram atividades nas quais muitos cuidadores participavam e com uma freqüência alta.

Com relação a “outros serviços” (atividades como marcar consultas e preencher

formulários) estes também eram tarefas que a maior parte dos idosos não conseguiam realizar

sozinho. A freqüência com a qual os cuidadores auxiliavam os idosos nessas atividades é

menor do que para as tarefas anteriores, o que reflete a periodicidade menor com a qual estas

atividades precisavam ser executadas. Nota-se que algumas dos cuidadores estavam em

contato diário com profissionais de saúde, marcando consultas e preenchendo papéis todos os

dias.

Quanto às atividades sociais e de lazer realizadas pelos idosos, percebe-se que poucos

recebiam ajuda dos cuidadores. Isso acontecia por dois motivos principais: ou porque essas

atividades não eram desenvolvidas pelo idoso (por exemplo, realizar viagens, assistir eventos

culturais) por falta de interesse ou incapacidade para execução, ou porque eles conseguiam

desempenhá-las sem ajuda (por exemplo, receber visitas). Uma pequena parcela dos idosos

ainda fazia visitas ou viagens, já que essas atividades exigem uma série de habilidades

envolvidas no seu planejamento e realização e um meio de locomoção. O fato de alguns

idosos necessitarem de ajuda para assistir televisão ou ouvir rádio pode estar relacionada com

uma dificuldade em manusear aparelhos eletrônicos.

A freqüência do envolvimento de outros familiares é parecida para a maioria das

atividades avaliadas, girando em torno de 20%.

Dificuldades enfrentadas pelos cuidadores

Quanto às dificuldades que os cuidadores encontravam no desempenho de seu papel

(veja Tabela 21), uma boa parcela (33,3%) citou dificuldades de relacionamento envolvendo o

idoso e o próprio cuidador, mas também houve casos em que apareceram conflitos entre os

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198

cuidadores e outros membros da família, ou casos em que o cuidador apontou conflitos entre

o idoso e outros parentes. Além disso, 7,1% dos entrevistados mencionaram dificuldades em

relação à resistência dos idosos com cuidados de higiene, o que também poderia gerar

problemas de relacionamento.

Tabela 21: Dificuldades apontadas pelos cuidadores em relação ao papel de cuidar de idosos Dificuldades encontradas Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%) Nenhuma dificuldade 07 16,6

Relacionamento/Conflitos familiares

"Conflitos." "É o relacionamento. Tem horas que ela não aceita minha ajuda. Ela se sente auto-suficiente." "A família com filhas e marido não entendem o idoso."

14 33,3

Condições de saúde do cuidador "...minha própria doença." "Problemas de saúde do cuidador."

04 9,5

Sobrecarga de cuidados "Estar sobrecarregada." 03 7,1

Resistência do idoso em relação aos cuidados com a saúde e higiene

"Dificuldade em administrar os remédios." "Ele não gosta muito de tomar banho."

03 7,1

Distância entre moradias "Morar muito longe." 02 4,8

Desgaste físico e emocional do cuidador

"...cansaço físico e desgaste emocional."

02 4,8

Locomoção dos idosos "Para locomover os pais." 02 4,8

Dificuldades de engajamento social do cuidador

"Não poder viajar." 01 2,4

Condições de saúde do idoso "Remédio, saber quando ele está bem."

01 2,4

Diminuição dos cuidados dispensados à família nuclear

"Deixar a família sozinha (filhos, marido)."

01 2,4

Disponibilidade do cuidador “Disponibilidade.” 01 2,4

Dificuldades no suporte instrumental

“Cuidados básicos, dar banho, por exemplo. As outras atividades dependem da hora.”

01 2,4

Total 42 100 Nota: N = 37

Dificuldades em apoiar os idosos, em função das condições físicas e mentais dos

cuidadores, também foram mencionadas. Para 9,5% dos cuidadores, os próprios problemas de

saúde eram tidos como grande dificuldade frente ao papel de cuidador. Além disso, 7,1%

disseram que tinham dificuldades em lidar com a sobrecarga de cuidados e 4,8%

mencionaram o desgaste físico e emocional provenientes da tarefa de cuidar, seja porque a

condição em que o idoso encontrava-se requeria muita atenção, seja por conta de acumularem

as responsabilidades para com o idoso além de outras que já lhes cabiam, antes do idoso

precisar de seus cuidados (por exemplo, filhos).

Outras dificuldades apontadas com pouca freqüência pelos cuidadores foram: distância

entre moradias, locomoção dos idosos, dificuldades do cuidador em desenvolver atividades

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199

sociais, as exigências de cuidado proveniente do estado de saúde dos idosos, a incerteza do

cuidador de estar realizando o suporte instrumental corretamente, a diminuição de cuidados

dispensados a outros familiares e a disponibilidade do cuidador. Além disso, sete cuidadores

não mencionaram dificuldades em desenvolver seus papéis.

As dificuldades relatadas pelos cuidadores deste estudo são semelhantes às relatadas

na literatura por outros cuidadores familiares. Dentre elas, problemas em lidar com conflitos

familiares em conseqüência do papel do cuidador e da situação de cuidado; isolamento social

dentro e fora da família do cuidador e tempo de lazer; distância entre as moradias do idoso e

do cuidador; insegurança em relação ao cuidado oferecido (se é correto ou não) e exigências

do idoso, que podem sobrecarregar e estressar o cuidador; (Crawford & Unger, 1986; Golfarb

& Lopes, 1996 apud Leal, 2000; Lueckenotte, 2000).

Envolvimento de outras pessoas nos cuidados dos idosos

Tabela 22: Grau de parentesco com os cuidadores de familiares que poderiam auxiliar nos cuidados dos idosos, mas não o fazem Grau de parentesco com os cuidadores Freqüência Porcentagem (%)

Irmão/irmã 04 44,5

Enteada 01 11,1

Sobrinha 01 11,1

Esposo 01 11,1

Não existem outras pessoas 02 22,2

Total 09 100 Nota: N= 7

Tabela 23: Número de pessoas que poderiam oferecer apoio aos idosos, mas não oferecem Número de pessoas Freqüência Porcentagem (%)

0 02 28,6

01 01 14,3

02 ou mais 04 57,1

Total 07 100 Nota: N = 7

Entre os cuidadores que desempenhavam sozinhos seu papel, somente dois cuidadores

afirmaram que não existiam outras pessoas que pudessem auxiliar nos cuidados dos idosos.

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200

Nos demais casos, os cuidadores apontaram irmãos, enteada, sobrinha e esposo como pessoas

que poderiam estar oferecendo algum tipo de auxílio, mas não o fazem. Além disso, esses

cuidadores afirmaram que, na maioria dos casos, existiam duas ou mais pessoas que poderiam

auxiliar. É importante ressaltar que podem existir diversos motivos para que os familiares

apontados aqui não estejam oferecendo suporte aos idosos e desta forma, os cuidadores

podem ter expectativas acima das possibilidades, achando que os familiares poderiam ajudar,

mesmo quando isso não é verdadeiro. Por outro lado, quando existe uma possibilidade real de

ajuda por parte de outros familiares mas esses não a realizam, isto pode contribuir para o

aparecimento de conflitos familiares, prejudicando o funcionamento familiar como um todo.

Neste estudo, o motivo da não ajuda por parte dos outros familiares não foi averiguado.

Portanto é necessário entender as expectativas de cada pessoa envolvida, as possibilidades e

disponibilidades da dar e receber ajuda, antes de qualquer inferência.

Tabela 24: Grau de parentesco com os cuidadores das pessoas que auxiliam nos cuidados dos idosos Grau de parentesco com os cuidadores Freqüência Porcentagem (%)

Irmão/irmã 19 52,8

Tia 01 2,8

Sobrinhos/sobrinha 01 2,8

Cunhado/cunhada 04 11,1

Filho/filha 02 5,5

Mãe 01 2,8

Esposo 02 5,5

Empregada (cuidador formal) 04 11,1

Vizinho 01 2,8

Não especificado 01 2,8

Total 36 100 Nota: N = 28

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201

Tabela 25: Número de pessoas que também oferecem suporte aos idosos Número de pessoas Freqüência Porcentagem (%)

01 09 32,1

02 ou mais 19 67,9

Total 28 100 Nota: N = 28

Na famílias em que existia mais de um cuidador familiar oferecendo suporte ao idoso,

este apoio era oferecido, na metade dos casos, por irmãos ou irmãs dos cuidadores

entrevistados, de tal forma que constata-se que é esperada a colaboração dos filhos frente ao

envelhecimento e necessidade de cuidados que ocorre com os pais. Evidenciando ainda mais

esta questão, verifica-se que quando aparece a categoria cunhado/cunhada como possíveis

auxiliares no cuidado do idoso, o cuidador principal era a nora e, portanto, também refere-se

ao apoio oferecido a um membro por outro de uma geração sucessivamente posterior. As

outras categorias perfazem um total menor, como mostra a Tabela 24.

A maioria dos cuidadores (68%) contavam com o apoio de somente um familiar no

auxílio aos idosos, o que mostra uma pequena contribuição dos familiares em apoiar

diretamente os idosos.

Em algumas famílias (11,1%), os cuidadores contam com a ajuda de cuidadores

formais ou particulares, como auxiliares de enfermagem e empregadas e em um caso, com a

ajuda de vizinhos, mostrando que o cuidado dos idosos não se restringe aos familiares.

Percebe-se, portanto, que na maioria das vezes, o suporte que os idosos recebiam era

oferecido somente por familiares.

Pode-se perceber que a maioria dos cuidadores (72%) contava com outras pessoas para

auxiliar no suporte oferecido aos idosos. Todavia, é importante destacar que, embora os

entrevistados tenham apontado alguém como possível auxiliar nos cuidados ao idoso, a

pessoa que assume o papel de cuidador principal (ou cuidador primário) geralmente é o

responsável por quase todos os cuidados ao idoso, além de outras tarefas não relacionadas ao

idoso que também estão sob sua responsabilidade, enfrentando dificuldades e sobrecarga de

tarefas.

Satisfação dos cuidadores com o suporte que ofereciam aos idosos e aos familiares e com o

apoio que recebiam de suas famílias nucleares

Tabela 26: Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares em relação ao suporte oferecido aos familiares e aos idosos Média D.P. Mínimo Máximo N

Satisfação com o apoio oferecido a família

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202

Cuidados que dedicava a família 4,5 0,7 3,00 5,00 35

Colaboração com a família 4,1 0,9 2,00 5,00 37

Proximidade da relação com a família 4,1 0,7 3,00 5,00 35

Organização de sua casa 3,7 1,0 1,00 5,00 37

Satisfação com o apoio oferecido ao idoso

Cuidados que dedicava ao idoso 4,0 1,2 1,00 5,00 39

Organização da casa do idoso 3,9 1,2 1,00 5,00 27

Proximidade da relação com o idoso 3,9 1,2 2,00 5,00 39

Colaboração com o idoso 3,8 1,2 1,00 5,00 39 Legenda: 1 – “nunca” 2 – “quase nunca” 3 – “às vezes” 4 – “quase sempre” 5 – “sempre”

Tabela 27: Medidas de tendência central e dispersão da satisfação dos cuidadores familiares em relação ao suporte recebido dos familiares nas tarefas de cuidar

Média D.P. Mínimo Máximo N

Satisfação com o apoio recebido da família nuclear

Com a dedicação da família na manutenção da casa 3,6 1,4 1 5 33

Com as tarefas domésticas realizadas pelos familiares 3,4 1,3 1 5 33

Satisfação com o apoio recebido de outros familiares

Com o grau de concordância dos familiares em relação aos 4,1 1,3 1 5 36

Com o apoio emocional oferecido pelos familiares 3,8 1,4 1 5 36

Com o apoio financeiro oferecido pelos familiares 3,7 1,5 1 5 33

Com a ajuda dos familiares em relação aos cuidados do idoso 3,6 1,6 1 5 36

Com a quantidade de tempo que os familiares dedicam ao 3,5 1,6 1 5 36 Legenda: 1 – “nunca” 2 – “quase nunca” 3 – “às vezes” 4 – “quase sempre” 5 – “sempre”

Além de serem cuidadores de idosos, a maioria dos participantes possuíam outras

responsabilidades familiares e também contavam com a ajuda de alguns membros da família.

A tabela 26 mostra a satisfação dos cuidadores com os cuidados dedicados ao idoso e a sua

família. Já a tabela 27 mostra a satisfação dos cuidadores com o apoio recebido de seus

familiares. Os cuidadores se mostraram satisfeitos com o apoio que dedicavam a sua família e

aos idosos que cuidavam. Porém, mostraram-se um pouco menos satisfeitos com o apoio que

recebiam nas tarefas de cuidador, tanto de sua família nuclear quanto de outros familiares. Tal

insatisfação pode influenciar desentendimentos entre os familiares, provocando maiores

conflitos interpessoais e interferindo diretamente na qualidade de vida dos cuidadores e dos

familiares e indiretamente sobre a qualidade de vida dos idosos apoiados.

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203

Objetivo 4: Qualidade do Relacionamento entre idoso e cuidador

Para avaliar a qualidade do relacionamento entre os cuidadores e os idosos, considerou-se as

seguintes informações: intimidade da relação, afetividade e suporte emocional; comunicação

interpessoal; aspectos valorizados no relacionamento; participação dos idosos nas tomadas de

decisões; dificuldades no relacionamento idoso-cuidador; enfrentamento de conflitos; e

representações sociais de velhice e cuidado dos participantes.

Intimidade da relação, afetividade e suporte emocional

Figura 15: Intimidade da relação segundo idosos e seus cuidadores familiares

Tabela 28: Formas de manifestação de afeto dos cuidadores em relação aos idosos, segundo relatos dos idosos Forma de manifestação de afeto Freqüência Porcentagem (%) Carinho, afeto 07 21,2

Atenção 05 15,2

Contato físico (beijo, abraço) 04 12,1

Cuidados 04 12,1

Respeito 03 9,2

Dedicação 02 6,2

Paciência 01 3,0

Companhia 01 3,0

Conselhos/ explicações 01 3,0

Insatisfatoriamente 05 15,2

Total 33 100 Nota: N = 28

intimidade da relação segundo idosos

5,04,03,02,01,0

10

8

6

4

2

0

Std. Dev = 1,21

Mean = 3,6

N = 26,00

Intimidade da relação segundo cuidadores

5,04,03,02,01,0

12

10

8

6

4

2

0

Std. Dev = 1,21

Mean = 2,7

N = 36,00

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204

Tabela 29: Aspectos que os idosos sentem falta em seu relacionamento com os cuidadores Aspectos que fazem falta no relacionamento Freqüência Porcentagem (%) Nada 22 81,5

Visitas do cuidador 03 11,1

Atenção 01 3,7

Tempo de convivência 01 3,7

Total 27 100 Nota: N = 28

Em relação à intimidade da relação, a avaliação feita pelos cuidadores familiares e

idosos (escala variando de 1 ‘nada íntimo’ a 5 ‘totalmente íntimo’) mostrou diferenças

significativas (t (60) = 2,33, p < 0, 01). Enquanto os idosos avaliavam a relação como sendo

bastante íntima (M = 3,6; d.p. = 0,21), para os cuidadores o relacionamento era considerado

razoavelmente íntimo (M = 2,6; d.p. = 1,21). Além disso, a freqüência com que os cuidadores

emitiam expressões de afeto (avaliação feita por meio de uma escala variando de 1 ’nunca’ à

5 ‘sempre’), também foi avaliada significativamente de forma distinta nos dois grupos, sendo

que para os idosos as expressões de afeto ocorriam com grande freqüência (M = 4,16, d.o. =

1,2), enquanto para os cuidadores isso acontecia somente algumas vezes (M = 3,4; d.p. = 1,3).

Além disso, os idosos relataram estar muito satisfeitos com o apoio emocional e com o

relacionamento que possuíam. Somente 11,1 % dos idosos disseram sentir falta de visitas dos

cuidadores, 3,7% gostaria que o tempo de convivência fosse maior e a mesma porcentagem

gostaria de receber mais atenção de seus cuidadores.

Comunicação interpessoal

Tabela 30: Assuntos das conversas entre cuidadores familiares e idosos Cuidadores Idosos

Assunto Porcentagem (%) Porcentagem (%) Familiares/família 22,6 20,5

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205

Tudo 16,1 6,8

Ambiente doméstico 11,3 9,1

Televisão/rádio 9,9 4,5

Acontecimentos do passado 8,1 -

Assuntos do cotidiano 6,4 11,3

Saúde/doença 4,8 9,1

Reclamações e sentimentos negativos do idoso 4,8 -

Outras pessoas 4,8 -

Não há diálogo / não costumam conversar 3,2 2,3

Lazer / atividades sociais 1,6 2,3

Política 1,6 -

Problemas 1,6 -

Nada que preocupe o idoso 1,6 -

Religião 1,6 4,5

Opiniões - 11,3

Situação financeira - 6,8

Acontecimentos do passado - 2,3

Sentimentos - 2,3

Aposentadoria - 2,3

Qualidade de vida - 2,3

Total 100 100 Nota: Cuidadores: N = 36; Idosos: N = 27

A freqüência de conversas sobre questões importantes entre idosos e cuidadores

também apresentou diferenças significativas. Para avaliar tal aspecto foi utilizada uma escala

variando de 1 ‘nunca’ a 5 ‘freqüentemente’. Os resultados mostraram que os idosos

costumavam conversar sobre questões importantes com os cuidadores freqüentemente (M =

3,93; d.p. = 1,3), enquanto os cuidadores só apresentavam tais comportamentos algumas

vezes (M = 2,88, d.p. = 1,6). Para avaliar a satisfação dos idosos com as características

comunicação interpessoal foi utilizada uma escala variando de 1 ‘muito insatisfeito’ a 5

‘muito satisfeito’. Neste aspecto, os idosos mostraram estar satisfeitos com a comunicação

existente (M = 4,6; d.p. = 0,8). No caso dos cuidadores, a avaliação também foi positiva,

sendo que a maioria disse que estava satisfeita com o tipo de conversa que tinha com os

idosos.

No que concerne ao assuntos das conversas entre idosos e cuidadores, somente

assuntos sobre a família e os familiares, ambiente doméstico e lazer/ atividades sociais foram

mencionadas de forma equivalente nos dois grupos. Os demais assuntos aparecem com

freqüências diferentes, ou só foram mencionados por um dos grupos. Além disso, somente um

idoso disse sentir necessidade de conversar mais com seu cuidador.

Aspectos valorizados no relacionamento

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Tabela 31: Aspectos valorizados na relação idoso - cuidador familiar

Cuidadores Idosos Aspectos valorizados Freqüência Porcentagem (%) Freqüência Porcentagem (%)

Afetividade 14 29,8 05 21,6

Comunicação 11 23,4 02 8,7

Companhia 09 19,1 05 21,6

Respeito 05 10,6 01 4,4

Cuidados oferecidos 04 8,5 03 13,0

Dedicação 02 4,3 03 13,0

Engajamento social 02 4,3 01 4,4

Características do cuidador

- - 02 8,7

Tudo - - 01 4,4

Total 47 100 23 100 Nota: Cuidadores: N = 34; Idoso: N = 22

No que concerne aos aspectos do relacionamento valorizados por idosos e cuidadores

familiares, a afetividade foi o aspecto mais relatado, aparecendo com freqüência bastante

parecida em ambos os casos. Os demais aspectos mencionados apareceram em menor

freqüência e de forma distinta no relato dos participantes. Pode-se perceber que, com exceção

da categoria cuidados oferecidos, que se trata do suporte prático, todos os aspectos levantados

dizem respeito ao suporte social oferecido pelos cuidadores familiares.

Participação dos idosos nas tomadas de decisões

No que diz respeito ao envolvimento do idoso na tomada de decisões, notou-se que os

cuidadores avaliavam o envolvimento do idoso como sendo bastante restrito, enquanto a

maioria dos idosos se consideravam autônomos na tomada de decisões. Segundo os

cuidadores, a participação dos idosos na tomada de decisões sobre sua vida ou sobre questões

familiares era relativamente baixa. No primeiro caso, o idoso tinha autonomia em apenas 31%

dos casos. No segundo, a participação dos idosos também era restrita, ocorrendo somente em

alguns casos (34%) ou nunca (31%). Todavia, ao contrário do que mencionado pelos

cuidadores, os idosos relataram maior autonomia sobre suas vidas. Em 55,6% dos casos os

idosos disseram possuir autonomia para tomar decisões relativas às questões financeiras, em

79,1% dos casos para questões relativas à moradia, em 96% dos casos para questões relativas

a atividades de lazer e em todos os casos para atividades cotidianas.

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Dificuldades de relacionamento

No que concerne as dificuldades de relacionamento, as fontes de conflito apareceram

com a mesma freqüência entre os idosos e os cuidadores, ou seja, eles concordavam sobre o

que causa desentendimentos na relação. Somente o modo de educar filhos/netos foi apontado

como fonte de conflito para os dois grupos de forma significativamente diferenciada (X2 (1) =

3,9, p < 0,05), sendo que para os cuidadores, esta questão provocava dificuldades de

relacionamento em 33,3% dos casos, enquanto para os idosos isso ocorria em 11,5% dos

casos. As demais dificuldades apontadas foram: uso de medicamentos (25,4%), controle de

dinheiro (12,7%), religião (11,1%) e organização da casa (6,3%).

Enfrentamento de conflitos

Tabela 32: Pontos positivos de conflitos segundo os dois grupos Idosos Cuidadores

Pontos positivos Freqüência Freqüência Disseram não possuir conflitos 03 08

Amadurecimento/aprendizado - 06

Esclarecimentos/compreensão 03 05

Conciliação 02 05

Não menciona pontos positivos 03 05

Aceitação - 01

Arrependimento 01 -

Total 12 30 Nota: Cuidadores: N = 28; Idosos: N = 11

Tabela 33: Pontos negativos de conflitos segundo os dois grupos Idosos Cuidadores

Pontos negativos Freqüência Freqüência Sentimentos negativos 02 09

Não possui conflitos 03 05

Desgaste emocional - 05

Não menciona pontos negativos - 02

Desentendimentos 01 02

Abalo na estrutura familiar - 01

Distanciamento 01 01

Agressividade - 01

Dificulta mudanças - 01

Preocupação 02 -

Troca de opiniões 01 -

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Total 10 27 Nota: Cuidadores: N = 28; Idosos: N = 09

A percepção que uma pessoa possui sobre as conseqüências positivas e negativas de

conflitos interpessoais pode influenciar sua postura quando os mesmos acontecem, facilitando

ou não o entendimento entre as partes conflitantes e influenciando a escolha por uma ou outra

estratégia de enfrentamento de conflitos. Por este motivo, foi perguntado aos entrevistados

quais eram os pontos positivos e negativos de um conflito, segundo seu ponto de vista. Os

resultados mostraram que ambos os entrevistados consideram que os conflitos interpessoais

possuem mais pontos negativos que positivos. Além disso, a freqüência com que a maioria

dos pontos levantados apareceu foi distinta nos dois grupos entrevistados. Os pontos positivos

mencionados por alguns cuidadores e idosos mostraram que, os conflitos podem ser

resolvidos por meio do esclarecimento/compreensão e da conciliação. Já os pontos negativos

relacionados mostram que, para alguns cuidadores, os conflitos podem resultar em

sentimentos negativos, distanciamento e agressividade entre as partes conflitantes, aumentar o

desgaste emocional e os desentendimentos, abalar a estrutura familiar e dificultar mudanças.

Outro ponto a ser ressaltado é de que, em alguns casos cuidadores e idosos disseram

não possuir conflitos interpessoais entre eles.

Tabela 34: Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da mudança do próprio pensamento Estratégias Média D.P. Buscar o lado positivo da situação 4,0 1,1 Esperar o tempo dar um jeito na situação 3,6 1,4 Pensar em outras coisas 3,2 1,3 Não deixar os sentimentos interferirem na situação 2,9 1,5 Não expressa sua opinião 2,8 1,7 Legenda: 1 – “nunca” 2 – “quase nunca” 3 – “às vezes” 4 – “quase sempre” 5 – “sempre”

Tabela 35: Estratégias usadas por idosos e cuidadores para enfrentar conflitos através da solicitação de apoio emocional de alguém Estratégias Média D.P. Pedido de ajuda … a Deus, rezando 4,9 0,4 a um familiar 3,6 1,4 para alguém fora da situação 2,8 1,6 a um amigo 2,1 1,5 a um profissional 2,4 1,5 Legenda: 1 – “nunca” 2 – “quase nunca” 3 – “às vezes” 4 – “quase sempre”

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209

5 – “sempre”

Tabela 36: Estratégias usadas por idosos e cuidadores para melhorar a comunicação numa situação de conflito Estratégia Média D.P. Respeitar a outra pessoa, como sendo alguém com boas intenções 4,5 0,8 Melhorar o tom da conversa, tentando ser amigável 4,1 1,1 Manter a calma 4,0 1,2 Encontrar um ponto comum nas opiniões 4,1 1,0 Explicar melhor seu ponto de vista 3,9 1,3 Entender o ponto de vista do outro 3,7 1,4 Mostrar ou expressar sentimentos ao outro 3,4 1,6 Legenda: 1 – “nunca” 2 – “quase nunca” 3 – “às vezes” 4 – “quase sempre” 5 – “sempre”

As tabelas 34, 35 e 36 mostram as estratégias de enfrentamento utilizadas por idosos e

cuidadores para lidar com conflitos. As estratégias apontadas pelos cuidadores e pelos idosos,

para lidar com tais dificuldades foram muitos semelhantes. As estratégias usadas com maior

freqüência foram: pedir ajuda a Deus, respeitar o outro como sendo alguém de boas intenções,

melhorar o tom da conversa, encontrar um ponto comum, buscar o lado positivo da situação e

manter a calma. As estratégias menos utilizadas foram: não deixar que os sentimentos

interfiram na situação, não expressar opinião e pedir ajuda profissional ou ajuda de amigos.

Percebe-se que as estratégias mais usadas pelos entrevistados para lidar com os

conflitos são predominantemente passivas, envolvendo a aceitação da situação e poucas

tentativas de alterar o problema. No entanto, quando trata-se da relação idoso-cuidador, nem

sempre estratégias assertivas são utilizadas com sucesso, principalmente em casos onde o

idoso está demenciado. Assim, algumas estratégias mais passivas podem ser bem sucedidas

na situação de cuidado, dependendo das especificidades da mesma e do conflito em questão.

Além disso, acredita-se que, apesar de tentar usar essas estratégias, o sucesso

provavelmente não seja tão alto e que as pessoas não são tão habilidosas quanto se

consideram. Isto é, as pessoas podem dizer que são capazes de ter habilidade para lidar com

uma determinada situação, mas na prática não se comportam de tal modo.

Concepção de velhice dos participantes

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210

Tabela 37: Concepção de velhice apresentada pelos idosos Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%) Aspectos negativos

1. Estereótipos negativos

"É ser velho." "... velho é aquilo que não usa mais, que vai quebrar..." "Velhice é idade perdida, nada volta para trás, cada vez fica mais difícil."

12 28,6

2. Perdas e Limitações

2.1. Debilidade orgânica

“Se for idoso sem doença tudo bem.” “Ver meu corpo não funcionar mais.”

04 9,5

2.2. Perda da disposição “Cansaço e falta de vontade de fazer as coisas.” “Vida cansada...”

04 9,5

2.3. Perda da produtividade "Ser uma pessoa afastada do trabalho." “... inutilidade..."

04 9,5

1.4. Perda das perspectivas futuras "Não tenho perspectiva...” “Esperar para morrer.”

03 7,1

3. Afastamento do mundo social/solidão

"Muito bom não é, pois é rejeitado." “Ser sozinho.”

02 4,8

Aspectos mistos

4.Idade cronológica "É ter idade avançada." “Pessoas que tem bastante anos.”

06 14,3

Aspectos positivos

5. Experiência de vida/sabedoria

"É um passado, é uma luta do passado.... mas é experiência. É luta e conhecimentos gerais sobre a vida. ..."

02 4,8

6. Presença de saúde física e mental

"Ter ... saúde." "Enquanto eu estiver...andando, comendo, dormindo está bom."

02 4,8

7. Produtividade/vida ativa

"Enquanto eu estiver trabalhando...está bom." "...porque ainda faz o que gosta e gosta das coisas, como viajar."

02 4,8

Satisfação "Acho bom." 01 2,4

Total 42 100 Nota: N = 25

Tabela 38: Concepção de velhice apresentada pelos cuidadores familiares Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

Aspectos negativos

1.Estereótipos negativos "É uma criança de novo." "Ser velho." "...é uma calamidade."

10 16,7

2. Perdas e Limitações "... que apresenta certas limitações." "... que depende de alguém."

09 15,0

2.1. Debilidade orgânica "... perda da memória." 05 8,3

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"...com corpo ruim."

2.2. Dependência sócio –emocional

"O idoso é uma pessoa que precisa de amor, afeto, tudo o que for possível."

06 10,0

2.3. Alterações no comportamento

"Pessoas que não aceitam as coisas, não tem paciência, teimoso..."

04 6,7

3. Afastamento do mundo social/solidão

"... sozinhas, difícil de parente visitar, ficam muito sozinhos."

03 5,0

Aspectos mistos

4. Idade cronológica "É uma pessoa que tem idade avançada..." "... definida pela idade."

09 15,0

Aspectos positivos

5. Experiência de vida/sabedoria

“... é ter experiência de vida, sabedoria. É ter habilidade para passar seus conhecimentos para outras pessoas." "Uma pessoa com muita experiência..."

05 8,3

6. Presença de saúde física e mental

"Na minha opinião, é envelhecer com saúde e ter a mente funcionando bem."

02 3,3

7. Utilidade social "... está sempre disposta a ajudar." 02 3,3

8. Fase do desenvolvimento humano

"Um dia fomos jovens e também temos que envelhecer - processo que faz parte da vida."

03 5,0

9. Consciência das próprias realizações

“É observar tudo o que construímos, ver filhos com a vida estabilizada, curtir netos.”

01 1,7

10. "Ser especial" "É uma pessoa especial..." 01 1,7

Total 62 100 Nota: N = 39

Tabela 39: Características apontadas pelos dois grupos como sendo próprias da velhice Cuidadores Idosos Característica Freqüência Porcentagem (%) Freqüência Porcentagem (%) Mudanças na aparência 36 92,3 22 81,5 Idade cronológica 24 61,5 18 66,7 Problemas de saúde física 36 92,3 19 70,4 Diminuição das capacidades físicas 38 97,4 18 66,7 Problemas de memória 30 76,9 18 66,7 Diminuição da lucidez e do raciocínio

26 66,7 17 63,0

Depressão 30 76,9 16 59,3 Falta de companhia 29 74,4 16 59,3

Tabela 40: Comentários dos idosos sobre se considerarem idosos Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

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1. Estereótipos negativos “Porque sou velho.” 02 10

2. Perdas e Limitações

2.1. Debilidade orgânica

"...hoje eu vou fazer as coisas e não agüento, daí fico nervosa. Não passeio mais. Quando passeio é para ir ao médico." "Saúde que era boa, foi embora."

05 25

2.2. Falta de disposição "Não tenho mais disposição.” 02 10

2.3 Perda de produtividade "Porque eu perdi a força para trabalhar..." "Não trabalho mais."

03 15

4. Experiência de vida "Me considero idoso pensando na luta e na experiência, mas pensando como velho, me considero jovem."

01 5

Total 20 100

Tabela 41: Comentários dos idosos sobre não se considerarem idosos Categoria Falas Freqüência Porcentagem (%) Independência física "Não tenho dependência física..." 02 28,6

Produtividade "Porque faz as coisas, cuida da casa. A gente tem idade mas vai tocando."

02 28,6

Disposição em realizar atividades

"Porque ainda tem vontade de fazer as coisas."

01 14,3

Idade cronológica "Pela minha idade eu não sou velho." 01 14,3

Atitude das outras pessoas "Ninguém me trata como idoso." 01 14,3

Total 07 100

Tabela 42: Fontes de preocupação dos idosos em relação ao próprio envelhecimento

Preocupação dos idosos Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%) 1. Perdas e limitações

1.1. Dependência (física/afetiva/social/ financeira)

"Medo de ficar na cama, dependente." "A gente tem que depender dos outros."

07 20,0

1.2. Estado de saúde "Saúde." "Ficar doente"

08 22,8

1.3. Perda da produtividade “Um dia não poder cuidar dos filhos e netos.”

01 2,9

1.4. Perda da autonomia "...falta de liberdade. 01 2,9

1.5. Morte do idoso "Medo de morrer e deixar o marido." 01 2,9

1.6. Morte do cônjuge “Ver meu esposo morrer antes de mim.” “... e ver minha velha morrer.”

02 5,6

2. Solidão/abandono "De ficar sozinha, dos filhos a abandonarem."

03 8,6

3. Problemas familiares "...e quando vê que as coisas não andam (problemas familiares)."

01 2,9

4. Violência/drogas "Violência, drogas." 01 2,9

5. Cuidador "Quem cuida de mim." 02 5,6

6. Filhos "Preocupação com os filhos." 01 2,9

7. Não possui preocupações 07 20,0

Total 35 100

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Nota: N = 27

Tabela 43: Fontes de preocupação dos cuidadores em relação aos idosos que cuidam Preocupação dos cuidadores Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

Estado de saúde física do idoso

"A saúde." "Que piore a saúde. Tenha que ficar hospitalizado."

15 32,6

Riscos envolvendo o idoso "Eles moram sozinhos, tenho medo de se machucarem, serem assaltados."

06 13,0

Estado de saúde emocional/mental do idoso

"A parte psicológica, a cabeça, porque ela não tem problemas físicos graves."

05 10,9

Sofrimento do idoso "De ver ele sofrer." 03 6,5

Relacionamento com o idoso "Tento conversar... eles estão sempre contrariando o que eu falo."

04 8,7

Estado de saúde do cuidador "Estar com saúde para cuidar dela." 03 6,5

Dependência física do idoso "Complicações físicas que causam dependência."

02 4,3

Morte do idoso "A morte." 02 4,3

Oferecer os cuidados/apoios necessários

"A manutenção da vida deles, se eu estou cuidando direito." "A falta de dinheiro para socorrê-los"

05 10,9

Moradia "Não ter condição de cuidar da idosa, em casa.”

01 2,3

Total 46 100 Nota: N = 38

Para avaliar os conceitos que idosos e cuidadores familiares possuíam em relação a

velhice foi perguntado aos mesmos o que eles consideravam como características da velhice,

o que está representado nas tabelas 37,38 e 39. Além disso, foi perguntado aos idosos se os

mesmos se consideravam como pertencendo realmente a população idosa e quais os motivos

para seu julgamento (tabelas 40 e 41). Também questionou-se os idosos acerca de suas

preocupações com seu próprio envelhecimento e aos cuidadores sobre suas preocupações com

o envelhecimento das pessoas que cuidam (tabelas 42 e 43 respectivamente).

A concepção de velhice que idosos e cuidadores familiares possuem pode influenciar a

maneira como a relação de ajuda se estabelece e afetar a qualidade do relacionamento entre a

díade idoso-cuidador. Isto é, a concepção que as pessoas possuem a respeito do processo de

envelhecimento pode ser um dos fatores que determinam a qualidade das interações entre os

idosos e seus cuidadores, além de afetar de forma positiva ou negativa a forma como ambos

lidam com as mudanças decorrentes da situação de cuidado e da velhice e a qualidade do

suporte oferecido. No caso da amostra estudada, pode-se afirmar que tanto os idosos como os

cuidadores possuem uma visão de velhice na qual as perdas e os aspectos negativos são

enfatizados em detrimento dos aspectos positivos do processo de envelhecimento. Apesar de

ambos citarem aspectos positivos do envelhecimento, como experiência de vida/ sabedoria,

presença de saúde física e mental, produtividade/vida ativa, satisfação, utilidade social, fase

do desenvolvimento humano, consciência das próprias realizações e ser especial, esses

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aspectos foram mencionados com menor freqüência do que os aspectos negativos relatados.

Em relação aos aspectos negativos mencionados, uma parte dos idosos (28,6 %) e dos

cuidadores (16,7 %) possuíam uma visão restrita e estereotipada da velhice, percebendo essa

fase como calamitosa, encarando o idoso como “velho” (no sentido de algo que perdeu sua

utilidade) ou infantilizando a velhice. Segundo Mendiondo (2002), é comum encontrar visões

estereotipadas da velhice, principalmente entre pessoas que ainda não atingiram essa etapa da

vida. Assim, rotular os idosos como “velhos”, “velhos gagás”, “esclerosados”, “rabugentos”,

“chorões”, etc., aparecem com muita naturalidade no discurso das pessoas. Para Mendiondo

(2002), tais concepções preconceituosas e estereotipadas ocorrem porque muitas pessoas se

prendem a um pequeno grupo de idosos com um envelhecimento patológico para delinear a

velhice. Além disso, ambos os entrevistados retrataram a velhice como uma fase da vida

envolta por perdas e limitações, que envolvem a perda da saúde, da disposição para fazer as

coisas, da produtividade, das perspectivas futuras, da utilidade social, da dependência sócio-

emocional e de alterações negativas no comportamento. Alguns entrevistados relacionaram

ainda, a velhice como uma fase solitária, na qual ocorre o afastamento do mundo social. A

representação negativa de velhice de grande parte dos entrevistados também pode ser

evidenciada na tabela 39.

Segundo Mendiondo (2002), um dos critérios mais difundidos para delimitar a velhice

é a idade cronológica do indivíduo. Todavia, esse indicador vem gerando várias discussões

devido a sua parcialidade, frente a complexidade do processo de envelhecimento. Assim, a

categoria “idade cronológica” mencionada pelos entrevistados, foi considerada uma categoria

mista, pois pode ser vista tanto de forma positiva quanto negativa. Ao mesmo tempo que essa

categoria mostra que os entrevistados possuíam um conceito restrito de e incompleto de

velhice, a determinação da idade cronológica para delimitar o início da velhice utilizada pelos

órgãos governamentais vem sendo incorporada pelos entrevistados.

A concepção de velhice encontrada neste estudo corrobora para os resultados de outras

pesquisas sobre o assunto, que mostram que os idosos ainda são bastante desvalorizados na

sociedade e a velhice é relacionada as perdas, incapacidade e à doenças, até mesmo pelos

próprios idosos (Debert, 1999; Medrado, 1994; Camargo, 1999). Todavia, apesar da ênfase

dada aos aspectos negativos, alguns estudos mencionam aspectos positivos da velhice

relatados por idosos, como sabedoria, experiência de vida, geratividade, consciência das

próprias realizações e continuidade do desenvolvimento intelectual, os quais também

aparecem nesse estudo. Assim, pode-se concluir, que apesar de enfatizar os aspectos

negativos, a amostra estudada percebe a velhice como uma fase de perdas e ganhos como

outras fases do ciclo vital.

Em 68% dos casos os idosos entrevistados se consideravam idosos. Nestes casos, as

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215

justificativas estavam relacionadas à idade cronológica que possuíam; perdas e limitações

decorrentes do envelhecimento, como debilidade orgânica, falta de disposição e perda da

produtividade; estereótipos sobre a velhice e a experiência de vida acumulada. Nos casos em

que os entrevistados não se consideravam idosos as justificativas relacionavam-se à

independência física; produtividade; disposição em realizar atividades; idade cronológica e a

atitude das outras pessoas. Além disso, alguns idosos fazem distinção entre ser idoso e ser

velho, mostrando que esse último possui uma conotação negativa. Assim, os aspectos

negativos estão sempre relacionados ao fato do participante se sentir ou não idoso, mostrando

que a representação negativa de velhice é realmente expressiva no caso dos idosos.

As maiores fontes de preocupação dos idosos com seu próprio envelhecimento,

percebe-se que as perdas em relação à independência e à saúde. A perda da produtividade e da

autonomia, a morte do cônjuge e a solidão/abandono, também eram fontes de preocupação

para alguns idosos. Além disso, 20% dos idosos relataram não possuir preocupações em

relação ao próprio envelhecimento. Assim, a maioria dos idosos parecia se preocupar

essencialmente com fatores que aumentariam sua dependência de outras pessoas para

sobreviver de forma satisfatória.

No que diz respeito as fontes de preocupação dos cuidadores familiares em relação ao

envelhecimento dos idosos que cuidam, o estado de saúde física do idoso, possíveis riscos

envolvendo o idoso (como assaltos, acidentes e quedas), o estado de saúde emocional/mental

do idoso e conseguir oferecer o suporte necessário foram as preocupações mencionadas com

maior freqüência. A qualidade do relacionamento com o idoso foi relatada por 8,7% dos

cuidadores como algo preocupante. O sofrimento do idoso, estado de saúde do cuidador, a

dependência física do idoso, a morte do idoso e a adaptação do ambiente doméstico às

necessidades de cuidado também foram mencionadas por uma parcela menor de cuidadores.

Pode-se notar, portanto, que os cuidadores se preocupam principalmente com questões

diretamente ligadas aos cuidados dos idosos que cuidam e que podem afetar o tipo de suporte

necessário para a manutenção e promoção da qualidade de vida dos mesmos, acarretando em

maior ônus para os cuidadores. Diante desses resultados, percebe-se que as preocupações

de ambos os entrevistados acerca do envelhecimento dos idosos reflete em parte, à

representação negativa de velhice que ambos possuem, ligada, principalmente às perdas e

limitações do envelhecimento. Assim, as concepções de velhice dos entrevistados parece

influenciar o modo como ambos lidam com as questões referentes ao envelhecimento e ao

cuidado.

Concepções de cuidado dos participantes

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Tabela 44: Concepção de cuidado segundo os idosos Categoria Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

1. Suportes oferecidos

1.1. Suporte em atividades básicas e instrumentais da vida diária

"Cuidar das coisas, das pessoas. Saber tratar as pessoas." "Lavar roupas, fazer o serviço, cuidar da casa." "Levar no médico se estiver doente, fazer um serviço de casa."

11 34,4

1.2. Suporte Sócio emocional "Ter carinho." "É ter amor." “Dar atenção ao outro.”

08 25,0

1.3. Suporte multidimensional

“Olhar a pessoa e ver se ela está bem.” “Tomar conta” “”Ajudar no que precisa.”

12 37,5

2. Demandas psicológicas

2.1. Obrigação “É uma obrigação de cada um.” 01 3,1

Total 32 100 Nota: N = 24

Tabela 45: Forma que os idosos gostariam de ser cuidado Cuidados desejados Freqüência Porcentagem (%)

Da forma como já é cuidado 09 34,6

Carinho/amor 07 26,9

Atenção 02 7,7

Suporte em atividades instrumentais da vida diária 02 7,7

Cuidar com dignidade/reconhecimento 02 7,7

Visitas freqüentes 01 3,9

Relacionamento satisfatório entre idoso e cuidador 01 3,9

Evitar riscos ao idoso 01 3,9

Apoio multidimensional 01 3,9

Total 26 100 Nota: N = 23

Tabela 46: Concepção de cuidado segundo os cuidadores Categorias Falas Ilustrativas Freqüência Porcentagem (%)

1. Suportes oferecidos

1.1. Suporte em atividades básicas e instrumentais da vida diária

"Quando ela precisa ir ao médico, fazer exame, ir ao banco, se divertir, lembrá-la de tomar os remédios." "Limpeza, tratar nas horas certas..."

15 25,0

1.2. Suporte sócio-emocional "Companhia." "amor, carinho, atenção...ter tato"

20 33,3

1.3. Suporte muldimensional "É encarar o outro como um ser humano...é o físico, o emocional e o espiritual juntos."

15 25,0

1.4. Suporte econômico "...não só financeiramente." 02 3,3

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217

2. Demandas psicológicas

2.1. Habilidades sociais

"Ter que lidar com os conflitos que surgem em razão de várias pessoas cuidarem do idoso ao mesmo tempo." "...ter paciência."

04 6,6

2.2. Obrigação "Obrigação. Cuidar até o fim." 01 1,7

3. Sentimentos positivos

3.1. Tarefa gratificante “Gratificante” 01 1,7

3.2. Dedicação “Doar, fazer algo para alguém.” 01 1,7

4. Sentimentos negativos

4.1. Tarefa difícil “É difícil, precisa tomar calmante...” 01 1,7

Total 60 100 Nota: N =39

Os idosos entrevistados possuíam uma concepção de cuidar embasada essencialmente

nos suportes oferecidos pelos cuidadores, sendo que boa parte (37,5%) percebe o cuidar como

uma tarefa multimensional, que não se limita a um ou outro tipo de suporte, mas que se

relaciona com o tipo de ajuda que a outra pessoa necessita em vários aspectos de sua vida.

Nos demais casos, os idosos mencionaram o suporte em AVD’s e AIVD’s (34,4%) e o

suporte sócio emocional (25%). Somente um idoso mencionou aspectos subjetivos do cuidar,

relacionado à obrigação. Além disso, quando questionados sobre o tipo e qualidade dos

cuidados que gostariam de receber de seus cuidadores (Tabela 45), os idosos mostraram que o

apoio emocional é muito importante, sendo mais enfatizado que o suporte prático.

Os cuidadores familiares mostraram uma concepção de cuidado, enfatizando não só os

tipos de suporte que podem ser oferecidos, mas também mencionaram alguns aspectos

subjetivos do cuidar. Em relação ao tipo de suporte oferecido, o suporte emocional foi

mencionado por 33% dos entrevistados, seguido do suporte em AVD’s e AIVD’s (25% dos

casos), do suporte multidimensional (26,7%) e do suporte econômico (3,3%). No que

concerne aos aspectos subjetivos do cuidar, os cuidadores mencionaram algumas demandas

psicológicas envolvidas na tarefa de cuidar (habilidades sociais e a obrigação social

existente); os sentimentos positivos proveniente da tarefa de cuidar (cuidar como sendo uma

tarefa gratificante) e os sentimentos negativos (cuidar como sendo uma tarefa difícil).

Todavia, tais aspectos subjetivos do cuidar foram citados com pouca freqüência, mostrando

que a concepção de cuidado dos cuidadores também está mais voltada para os tipos de suporte

oferecidos.

Realmente, o apoio familiar oferecido ao idoso pode se dar em diversos níveis.

Pesquisadores que discutiram e analisaram o suporte à idosos fragilizados mostraram

diferentes formas de classificar os tipos de ajuda que podem ser oferecidas e alguns

mostraram que o papel de cuidar não é restrito aos cuidados oferecidos, mas envolve

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218

características subjetivas que dependem de cada situação (Cirelli, 1993 apud Neri & Silva,

1993; Neri & Sommerhalder, 2002).

Em relação aos domínios de ajuda (tipo de suportes oferecidos), a literatura divide-os

em: material (ajuda financeira ou recursos objetivos que procuram manter, melhorar ou

propiciar a qualidade de vida dos idosos); apoio prático (ajudar o idoso a realizar tarefas

relacionadas a cuidados corporais, tarefas domésticas e atividades fora de casa); apoio sócio-

emocional (fazer companhia, atuar como confidente, conversar sobre questões pessoais,

compartilhar experiências, ouvir, consolar, aconselhar, dar carinho, incentivar atividades

sociais, ajudar a resgatar laços afetivos importantes, etc.) e apoio cognitivo-informativo

(explicar, orientar, informar, ajudar na tomada de decisões, decidir pelo idoso quando este já

não é mais cognitivamente capaz, etc.) Stephens (1990 apud Neri & Silva, 1993; Neri &

Sommerhalder, 2002). Assim, pode-se perceber que os idosos podem necessitar de ajuda em

diferentes aspectos de suas vidas, sendo o papel de cuidar multidimensional.

Os aspectos subjetivos do cuidar, não estão estritamente relacionados com o que os

cuidadores fazem para os idosos, mas se referem a estratégias para promover o cuidado de

forma satisfatória (como habilidades interpessoais), crenças, percepções e sentimentos sobre o

cuidado, que por sua vez, podem influenciar na forma como os diversos tipos de suporte são

oferecidos, interferindo na qualidade do cuidado prestado, no relacionamento entre idosos e

cuidadores e na qualidade de vida de ambos.

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219

DISCUSSÃO

Resumo dos achados

A análise dos resultados encontrados nos permite traçar um perfil da amostra estudada,

identificar os aspectos principais da forma como as famílias estão estruturadas e do

relacionamento interpessoal entre idosos e cuidadores familiares.

Caracterização dos idosos

Perfil sócio demográfico

A caracterização dos idosos encontrados nos permite dizer que os cuidadores

entrevistados estavam engajados nos cuidados de idosos de ambos os sexos, com baixo grau

de escolaridade, em sua maioria casados ou viúvos, católicos, com idade bastante variada (60

a 95 anos), possuindo, em média, quatro filhos. Em relação ao trabalho, nenhum dos idosos

ainda trabalhava, mas muitos haviam atuados em profissões braçais, necessitando de pouca

qualificação. Os idosos se mostraram insatisfeitos com a renda, provavelmente porque a

mesma era insuficiente para atender suas necessidades. A população estudada foi composta

por usuários do Sistema Único de Saúde, sendo em sua maioria pessoas de nível sócio-

econômico baixo ou médio baixo.

Condições de Saúde e rotinas cotidianas

No que diz respeito ao estado de saúde e grau de dependência, todos os idosos

possuíam pelo menos uma limitação, seja um problema de saúde física, déficits cognitivos ou

problemas comportamentais. Estas limitações deixavam-nos dependentes para pelo menos

uma atividade básica ou instrumental de vida diária, ou para a realização de atividades sociais

e de lazer. Todavia, o grau de dependência encontrado entre os idosos foi baixo. Apesar disso,

os idosos estavam pouco envolvidos socialmente, uma vez que, realizavam atividades sociais

e de lazer com baixa freqüência e estavam mais engajados em atividades que ocorriam no

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ambiente doméstico. Tal situação pode restringir o suporte social oferecido ao idoso por

outras pessoas que não são da família.

Satisfação com a vida e expectativas para o futuro

Sabendo das condições de vida dos idosos, não é de se surpreender que quase metade

dos idosos mostraram-se insatisfeitos com sua vida, sendo que a maioria possuía expectativas

frustradas no que diz respeito à fase da vida que estavam vivendo. Do lado positivo, apesar de

alguns idosos não possuírem expectativas ou possuírem expectativas negativas para o futuro,

a maioria mencionou possuir expectativas futuras positivas para si mesmo e para seus

familiares, almejando melhores condições de vida para ambos.

Caracterização dos cuidadores familiares

Perfil sócio demográfico

A caracterização dos cuidadores familiares neste estudo permitiu a constatação de que,

como outros estudos brasileiros vêm mostrando, os cuidados de um parente idoso são

oferecidos, na grande maioria das vezes, por mulheres. Sem dúvida, o maior envolvimento

das mulheres ocorre por motivos culturais que favoreçam a disponibilidade delas dentro do

lar, para assumir o papel de cuidador. Segundo a literatura, a escolha do cuidador está

relacionada a padrões sociais e culturais, criadas e mantidas através de interações familiares e

extra familiares, que influenciam na disponibilidade e preparo das mulheres para assumir os

cuidados de um parente idoso (Barros Pinto, 1997; Perracini & Neri, 2002; Karsch, 2003;

Yazaki, Melo & Ramos, 1993; Lueckenotte, 2000; Caldas 1998; Neri & Sommerhalder,

2002). Nesta amostra de cuidadores, por exemplo, a maioria das entrevistadas era casada, não

possuía emprego remunerado e não cuidava de filhos dependentes. As que trabalhavam

contavam com horários bastante flexíveis. Desta forma, estas mulheres não possuíam outras

demandas que competiam com o papel de cuidador. Além disso, todas as cuidadoras

indicaram que a religião era algo muito valorizado em suas vidas. Assim, presume-se que as

crenças religiosas e o senso moral de obrigação eram fatores culturais que também

influenciavam na sua dedicação aos cuidados dos idosos de sua família.

A idade dos cuidadores era muito variada (30 a 75 anos), sendo que alguns também já

eram idosos. No entanto, todos os cuidadores pertenciam ou a mesma geração que o idoso

(esposos, irmãos), ou à geração subsequente (filhos, gêneros).

Apesar de ser responsável pelos cuidados de um idoso, alguns aspectos das condições

dos cuidadores para desempenhar este papel não foram sempre favoráveis. Por exemplo,

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quase metade dos cuidadores possuía problemas de saúde crônicos, com alguns sofrendo com

um número de enfermidades maior do que no caso dos idosos que eles cuidavam. Assim, os

cuidadores também possuíam suas próprias limitações. No entanto, de modo geral, os

cuidadores não dependiam da ajuda de outras pessoas para desempenhar suas atividades, em

função destes problemas de saúde.

No que diz respeito à escolaridade dos cuidadores entrevistados, percebeu-se que os

mesmos possuíam maiores graus de instrução que os idosos que cuidavam. Por um lado, isto

favorece a qualidade dos cuidados oferecidos, porque estas pessoas poderiam possuir

capacidade verbal para ajudar o idoso a expressar suas necessidades (inclusive em consultas

médicas), possuir acesso a informações atualizadas sobre as dificuldades do idoso e sobre

estratégias para lidar com tais problemas (através de leitura), e poderiam fazer anotações para

organizar os cuidados oferecidos (horários para administração de remédios, manutenção de

registros para monitorar o impacto de tratamentos, etc.). Por outro lado, as diferenças de

escolaridade entre idosos e cuidadores podem influenciar a maneira como o cuidador e o

idoso entendem ou interpretam as situações que enfrentam, sendo fonte de conflitos

interpessoais.

Rotinas cotidianas

Em relação às rotinas cotidianas dos cuidadores, observou-se um padrão igual a outras

pesquisas na área que apontam o isolamento social do cuidador, a perda do tempo de lazer e a

necessidade de adaptação da rotina doméstica como dificuldades de cuidadores familiares de

idosos (Crawford & Unger, 1986, Golfarb & Lopes, 1996 apud Leal, 2000; Lueckenotte,

2000). A freqüência das atividades domésticas realizadas pelos cuidadores aumentou, seu

período de descanso diminuiu e a freqüência e amplitude de sua participação em atividades

sociais e de lazer também sofreu uma redução em função dos cuidados assumidos junto ao

idoso. Dessa forma, além de assumir mais tarefas, os cuidadores abriram mão de várias

atividades prazerosas devido ao seu papel de cuidador.

Bem estar dos cuidadores

Os cuidadores apresentaram níveis moderados de estresse, o que aponta que o papel de

cuidador representou uma demanda significativa. Graus máximos de estresse não foram

encontrados. Provavelmente, pessoas altamente estressadas não estariam envolvidas na tarefa

de cuidar.

Em relação à satisfação com a vida, apenas metade dos cuidadores estavam satisfeitos

com sua situação atual e a maioria esperava estar numa situação melhor. O próprio papel de

cuidador de idoso causava parte desta insatisfação, uma vez que vários cuidadores não

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esperavam ter que assumir o papel de cuidador de idoso na etapa da vida que estavam

passando ou esperavam um melhor relacionamento entre o idoso e outros membros da

família. Quanto às expectativas futuras, os cuidadores mostraram-se preocupados com o bem-

estar próprio, dos idosos e dos outros familiares.

Com base nestes dados, pode-se afirmar que, assumir o papel de cuidador de idoso

nem sempre é uma situação esperada na vida adulta. Também notou-se que não existe um

preparo adequado nem uma garantia de condições adequadas para exercer a função de

cuidador familiar de idoso. Desta forma, a situação de cuidado normalmente se torna algo

estressante e desgastante para quem cuida, para o idoso e para os demais familiares

envolvidos.

Forma como as famílias estão estruturadas

Sexo e parentesco

No que concerne a forma como as famílias estão estruturadas, o estudo mostrou que a

relação de parentesco entre idosos e cuidadores familiares é bastante próxima, sendo que a

maioria dos cuidados eram dispensados aos pais (com predominância de filhas cuidando de

suas mãe), ao cônjuge (com predominância de mulheres cuidando de seus esposos) ou às

sogras. Assim, os dados obtidos junto aos cuidadores mostraram que os cuidados foram

dispensados mais a mulheres do que a homens. Tendo em vista que as mulheres possuem um

maior expectativa de vida do que os homens, é de se esperar que o número de idosas

precisando de ajuda seja superior ao número de idosos. O fato deste estudo contar com um

número maior de entrevistas com idosos do que idosas pode ser explicado pelo fato de que

algumas idosas não puderam ser entrevistadas, devido às suas condições de saúde.

Além da questão sócio demográfica (um maior número de idosas do que idosos na

população brasileira), a maior probabilidade de um familiar oferecer ajuda a mulheres idosas

do que a homens idosos também está coerente com o que a literatura indica sobre diferenças

na proximidade de relações familiares, em função do gênero. Como apontado por Shi (1993,

apud Neri & Sommerhalder, 2002), as mulheres idosas possuem mais chances do que os

homens idosos de serem cuidadas pelos familiares, em função do maior apego emocional que

existe em relações com mulheres, uma vez que este é o determinante mais importante na

decisão de assumir os cuidados de um familiar idoso.

Além da questão do gênero, também é importante destacar que prevaleciam relações

intergeracionais (e não unigeracionais) entre os idosos e os cuidadores, neste estudo. Como a

natureza do vínculo entre dois esposos é diferente do vinculo entre um pai e um filho

(independente do gênero), pode-se esperar que alguns aspectos do relacionamento analisados

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neste trabalho refletiram mais o que é típico de uma relação pai-filho do que uma relação

entre esposos.

Moradia

Em relação aos arranjos de moradia dos idosos, notou-se a alta prevalência de

convívio com familiares, o que favorece a co-residência bi e multigeracional. Isto está de

acordo com outros estudos brasileiros, que estimam que mais de 80% dos idosos em algumas

regiões deste país moram com familiares (Ramos, 1993; Coelho Filho & Ramos, 1999), sendo

menos freqüente o idoso que mora sozinho ou num asilo. Como a maioria dos cuidadores

entrevistados neste estudo ocupavam o papel do cuidador principal do idoso, quase metade

dos idosos co-residiam com os cuidadores entrevistados. Nestes casos, uma grande parcela

das famílias eram multigeracionais (três ou quatro gerações), com, em média, quatro

moradores por domicílio. Nos casos em que os idosos não moravam com seus cuidadores, os

idosos residiam, em sua maioria, em domicílios unigeracionais (com o esposo), enquanto os

cuidadores residiam predominantemente em moradias bigeracionais (esposo e filhos), com,

em média, quatro moradores.

Envolvimento dos demais familiares junto ao idoso

Tanto nos casos em que os idosos e cuidadores moravam juntos, quanto nos casos em

que os cuidadores não moravam com os idosos, existiam outros familiares que, teoricamente,

poderiam auxiliar nos cuidados com os idosos ou em outras tarefas domésticas e familiares.

Na maioria das vezes, essas pessoas eram irmãos ou irmãs do cuidador principal entrevistado,

mostrando que o suporte costuma ser intergeracional e está relacionado com a obrigação filial.

Todavia, os cuidadores entrevistados indicaram que a freqüência da participação de demais

familiares junto aos idosos foi baixa, além de se mostrarem insatisfeitos com o suporte

oferecido por familiares. Desta forma, essas pessoas não ofereciam a ajuda que os cuidadores

familiares principais esperavam.. Nestes casos, a sobrecarga de cuidados e o

descontentamento do cuidador poderiam gerar conflitos familiares.

Tipos e intensidade do apoio oferecido

Em relação ao suporte oferecido pelos cuidadores familiares aos idosos,

predominaram o suporte prático (ajuda em AVD’s, AIVD’s e suporte financeiro) e o

emocional. No entanto, de maneira geral, o grau de ajuda não era muito intenso, devido ao

baixo grau de dependência da maior parte dos idosos. Os cuidadores se mostraram satisfeitos

com o apoio que dedicavam a sua família e aos idosos que cuidavam. Além do apoio

oferecido aos idosos, os cuidadores também indicaram que lidavam com várias demandas

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psicológicas relacionadas a seu papel de cuidador, experimentando sentimentos tanto

positivos quanto negativos que emergem da situação de cuidado. Os cuidadores relataram

várias dificuldades, envolvendo a relação interpessoal existente com o idoso, com outros

familiares e entre o idoso e outros familiares. Assim, parece que a qualidade dos

relacionamentos familiares era realmente importante para os cuidadores, sendo que afetava a

qualidade dos cuidados prestados.

Relacionamento entre cuidadores e idosos

Aspectos sócio-emocionais

Os cuidadores e idosos avaliaram vários aspectos da relação de forma diferente. Os

cuidadores avaliaram a intimidade, a afetividade e a comunicação existente na relação de uma

forma menos positiva do que os idosos. Em parte, isto pode ser explicado por normas

culturais que dificultam conversas intergeracionais sobre assuntos mais íntimos (tópicos

tabus), fazendo com que barreiras interpessoais sejam criadas ao longo da trajetória do

relacionamento. Diferenças nas oportunidades e experiências de vida entre os idosos e seus

cuidadores também podem contribuir para a falta de intimidade entre eles. A maioria das

dificuldades de relacionamento entre os idosos e seus cuidadores foram reconhecidas por

ambas as partes. No entanto, “o modo de educar filhos/netos” foi apontado como provocando

desentendimentos e conflitos para uma parcela maior dos cuidadores do que dos idosos.

Apesar dos cuidadores terem feito uma avaliação menos positiva dos aspectos sócio-

emocionais da relação, em comparação com os idosos, os cuidadores mostraram-se satisfeitos

com a qualidade da comunicação interpessoal que possuíam com os idosos.

Acredita-se que as diferenças nas avaliações da relação feitas pelos idosos e

cuidadores também refletem diferenças nas redes sociais dos idosos e cuidadores. A rede

social dos idosos era restrita devido à diminuição dos contatos sociais dos idosos em

decorrência do envelhecimento (os idosos não se engajavam com freqüência em atividades

sociais e de lazer e muitos já eram viúvos). Para muitos dos idosos, o cuidador familiar era a

pessoa com a qual mantinha mais contato.

A situação da maior parte dos cuidadores era diferente. A maioria dos cuidadores era

filhos dos idosos, com o esposo ainda vivo e filhos adolescentes ou jovens adultos morando

em casa. Assim, possuía um número maior de relações familiares de alto grau de intimidade e

uma rede social extra-familiar maior do que dos idosos. Assim, acredita-se que os cuidadores

possuíam expectativas e padrões mais altos do que os idosos para avaliar a intimidade da

relação entre eles o que pode ter afetado os resultados encontrados.

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Estratégias para lidar com conflitos

Tanto os idosos, bem como os cuidadores apontaram que usavam, principalmente,

estratégias passivas de resolução de conflito (não defender sua opinião, frente a um

desacordo). Também mencionaram mais pontos negativos que positivos dos conflitos

interpessoais existentes entre eles. Dessa forma, as dificuldades de relacionamento relatadas

tendiam a ser crônicas, a longo prazo, uma vez que estratégias passivas não levam à resolução

dos problemas, o que tende a reforçar a visão negativa dos conflitos, desfavorecendo ainda

mais a possibilidade da resolução construtiva dos mesmos.

Tomada de decisões

Outro resultado importante no que diz respeito à qualidade da relação interpessoal

entre o idoso e o cuidador envolve a tomada de decisões. Os idosos se sentiam mais

envolvidos e autônomos que os cuidadores os consideraram. No geral, os idosos não

possuíam dificuldades de cognitivas que podiam justificar sua exclusão da tomada de decisões

por parte dos cuidadores. Acredita-se que, quando o cuidador não entende a importância de

preservar a participação do idoso na tomada de decisões, isto se soma aos problemas em

relação à intimidade, contribuindo para as dificuldades experimentadas para resolver

diferenças de opinião ou mudar comportamentos inadequados.

Visão da velhice

Sem dúvida, a maneira como os idosos e os cuidadores percebem a velhice refle sua

própria experiência de vida. Para alguns idosos e cuidadores, a velhice era vista como um

processo natural do curso de vida, envolvendo vários aspectos positivos. Mas, para a grande

parte dos entrevistados, as perdas físicas, cognitivas e interpessoais foram os principais traços

que associavam com a velhice. Essa representação negativa da velhice também ficou muito

evidente no discurso dos idosos e dos cuidadores quando indicaram suas preocupações em

relação ao seu próprio envelhecimento. Assim, constatou-se que muitos dos idosos e

cuidadores possuíam uma visão altamente estereotipada da velhice. Este resultado é muito

preocupante, sobretudo em relação ao provável impacto dessa visão negativa sobre as ações

dos cuidadores. Com base na teoria da profecia auto-realizadora, sabe-se que o modo como

um cuidador compreende a velhice interfere diretamente na maneira como o cuidado será

prestado. Assim, um cuidador que espera apenas um declínio no bem-estar do idoso poderá

deixar de incentivar a independência e autonomia da pessoa que cuida, por exemplo. Além

disso, pode influenciar negativamente na qualidade dos relacionamentos interpessoais do

idoso, pois pode contribuir para a aceitação de relacionamentos cada vez mais pobres entre o

idoso e seus familiares. Desta forma, é de extrema importância que sejam realizadas

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intervenções que expliquem o processo de envelhecimento, atentando para maneiras neutras e

positivas de lidar com as mudanças envolvidas, com a intenção de influenciar positivamente

na qualidade do relacionamento cuidador-idoso e na qualidade dos cuidados oferecidos.

Visão do papel de cuidador

No que concerne a representação do papel de cuidador, pôde-se perceber que os idosos

possuíam uma visão mais restrita ao apoio prático, enquanto os cuidadores mencionaram o

apoio prático e também enfatizaram demandas psicológicas do cuidar. Notou-se que poucos

cuidadores apontaram benefícios da tarefa de cuidar. Assim, os resultados também apontam

para a necessidade de intervenções que abordem a tarefa de cuidar, ressaltando vários

aspectos positivos, que levam ao aprendizado, crescimento pessoal e enriquecimento de

relações, auxiliando os cuidadores a lidar com as dificuldades que encontram neste papel de

uma forma mais construtiva.

Limitações do estudo

Embora este estudo tenha possibilitado o conhecimento de variáveis importantes do

relacionamento entre idosos e cuidadores, que podem afetar a qualidade de vida de ambos, ele

possui algumas limitações que impedem a generalização dos resultados encontrados.

A amostra

Em primeiro lugar, os resultados relatados neste estudo foram baseados numa pequena

amostra de idosos e cuidadores de um município no interior do estado de São Paulo. Portanto,

a amostra possui características específicas quanto ao seu perfil, quanto à forma como as

famílias estão estruturadas e quanto ao relacionamento interpessoal que existia entre os

cuidadores e idosos. Não se sabe o quanto estes resultados são representativos da população

geral, brasileira, de idosos e cuidadores familiares.

Em relação à amostra de idosos, apesar de receber ajuda de seus familiares, uma

maioria apresentou um grau de dependência física e cognitiva baixo ou moderada. A ausência

de limitações físicas e cognitivas maiores entre os idosos possibilitou a realização de

entrevistas com os mesmos, o que permitiu a análise da situação a partir de dois pontos de

vista: os cuidadores e os idosos. Ao mesmo tempo, em função disso, impediu uma análise

apurada do status da relação de ajuda em famílias que possuem idosos com alto grau de

dependência.

No que diz respeito aos cuidadores nesta amostra, encontrou-se, quase que

exclusivamente, cuidadores do sexo feminino. Grande parte dos homens convidados a

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participar disse que não possuía tempo disponível, ou simplesmente não quiseram se

envolver. Desse modo, a amostra não é representativa da população geral de cuidadores, em

relação ao gênero dos cuidadores.

Também é importante destacar que neste estudo, entrevistou-se somente cuidadores

familiares. Não foram inclusos cuidadores profissionais ou voluntários. O grau de parentesco

encontrado entre cuidadores e idosos foi bastante próximo, sendo que os cuidados eram

dispensados aos pais, sogros, esposos e irmãos. Além disso, a grande maioria dos familiares

entrevistada era cuidadores principais, não trazendo informações sobre a relação de ajuda

entre idosos e cuidadores familiares secundários ou terciários e tampouco possibilitando uma

comparação significativa entre os diferentes tipos de cuidadores familiares.

Compreender a forma como as famílias estão estruturadas a partir do ponto de vista de

somente dois dos seus membros também limita a possibilidade de entender a situação das

famílias em geral, uma vez que a percepção de um ou outro membro sobre a estrutura familiar

pode ser influenciada por crenças e expectativas pessoais. Assim, este estudo investigou

aspectos da estrutura familiar que poderiam estar afetando a situação de cuidado, apenas do

ponto de vista dos idosos e cuidadores entrevistados.

Instrumentos

No que diz respeito aos instrumentos de coleta de dados utilizados, pôde-se perceber,

após a análise dos resultados, que os mesmos necessitam ser aperfeiçoados, tornando-os mais

claros e fidedignos. Além disso, o envolvimento de vários entrevistadores na fase de coleta de

dados trouxe dificuldades em controlar a forma como a entrevista foi realizada, o que

prejudicou a qualidade de algumas das informações obtidas. Além de diferenças na maneira

como as respostas foram registradas (por exemplo, fazendo anotações na primeira pessoa, ora

para representar as respostas do entrevistado, ora para representar o ponto de vista do

entrevistador), foram encontradas algumas respostas confusas ou incompletas. Todavia,

acredita-se que tais dificuldades não afetaram de forma significativa a análise dos dados e os

resultados obtidos no estudo.

Assim, pode-se perceber que, o estudo da relação entre idoso, cuidadores e suas

famílias é algo complexo e que envolve inúmeras variáveis, não sendo possível dar contar de

todas essas variáveis numa única pesquisa.

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CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, é possível afirmar que os instrumentos de coleta de

dados utilizados neste estudo permitiram a identificação de características importantes da

relação de ajuda existente entre idosos e seus cuidadores familiares e do processo de cuidar,

possibilitando uma compreensão da qualidade da relação estabelecida entre a díade. Além

disso, a identificação de fatores envolvidos na relação de ajuda existente entre idosos e seus

cuidadores, oferece um suporte científico para a estruturação e implantação de intervenções

capazes de auxiliar os cuidadores e idosos, sobretudo a oferta de informações sobre este

contexto, auxiliando-os na tarefa de cuidar, criando uma relação que propicia uma maior

qualidade de vida para ambos.

Os resultados encontrados sobre o status do relacionamento interpessoal neste estudo

aponta para a necessidade de preparar intervenções para essa população, que os ajudem a

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melhorar suas estratégias de comunicação interpessoal e a diminuir barreiras interpessoais que

possam estar comprometendo a intimidade do relacionamento, uma vez que isto poderia ter

um impacto importante sobre a qualidade da relação. Além disso, como foi evidenciada uma

visão bastante negativa em relação ao conceito de velhice tanto dos idosos quanto dos

cuidadores, o planejamento de intervenções em relação a esse aspecto também seria

importante. A estruturação de intervenções que abordem a papel de cuidador de forma

multimensional e auxiliem os cuidadores a encontrar estratégias para diminuir a sobrecarga

(como pedir ajudar, modificar comportamento, impor limites, etc.) também se fazem

necessárias para a população estudada. Acredita-se que todas essas estratégias de intervenção

possam contribuir para a qualidade da relação, dos cuidados oferecidos e para a promoção do

bem-estar de cuidadores e idosos.

Além disso, os resultados mostraram que a situação de famílias que possuem membros

idosos que precisam de ajuda em sua composição é bastante complexa, necessitando de

muitos estudos para delinear com precisão as variáveis existentes na situação de cuidado,

como e em que grau elas estão interrelacionadas e como elas afetam a qualidade de vida de

todos os membros da família.

Para que a relação de ajuda existente entre idosos e cuidadores e os fatores que podem

afetar e serem afetados por esta relação possam ser entendidos de forma mais completa, torna-

se necessário a realização de pesquisas futuras que consolidem o conhecimento a esse

respeito.

Assim, este estudo chama a atenção para a realização de estudos que: aumentem o

número de participantes da amostra, tornando os resultados mais abrangentes a população

geral de idosos e cuidadores. Além disso, investiguem diferenças entre gênero; níveis sócio-

econômicos; graus de instrução; regionalidade; faixa etária; grau de parentesco; tipo do

cuidado prestado (familiar ou profissional); tempo em que o cuidado é prestado; forma como

o cuidado foi iniciado; história do relacionamento entre idosos e cuidadores; graus e tipos de

dependência dos idosos, grau de ajuda oferecido pelos cuidadores e tipos de cuidadores

(formal/informal e principal/secundário/terciário). Estudos mais aprofundados sobre fatores

que podem ser afetados negativa ou positivamente pela qualidade da relação interpessoal

também seria de grande valia para o conhecimento de aspectos relativos aos cuidados

prestados a um idoso e para o planejamento de intervenções mais eficientes para essa

população.

Além disso, com a finalidade de suprir as deficiências encontradas nos instrumentos

de coleta de dados e na aplicação dos mesmos vê-se a necessidade de aperfeiçoar os

instrumentos de coleta de dados utilizados. Para tanto, será realizado um projeto de iniciação

científica que terá como objetivo o aperfeiçoamento dos instrumentos de coleta de dados e a

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confecção de um manual de orientação para aplicadores, para que novas pesquisas realizadas

com esses instrumentos tragam resultados mais significativos em relação aos estudos sobre

aspectos da relação de ajuda existente entre idosos e seus cuidadores.

Espera-se que tais propostas possam ser significativas na construção de novas

pesquisas sobre a população de idosos e cuidadores e para o estudo sobre famílias que

possuem membros idosos dependentes em sua composição, contribuindo para o conhecimento

científico sobre o assunto e para o planejamento de serviços e intervenções eficientes para

essa população.

Em suma, compreender a relação interpessoal do cuidador familiar com o seu parente

idoso parece ser um caminho promissor para melhorar a qualidade do cuidado, uma vez que,

informações desta natureza mostraram-se, neste estudo, importantes para o planejamento de

intervenções adequadas para: rever expectativas e crenças em relação a idosos e papel de

cuidador, para tornar mais realísticos os padrões usados para avaliar a satisfação de idosos e

cuidadores com a vida e melhorar estratégias de comunicação interpessoal, que tanto afetam a

qualidade do relacionamento e podem influenciar a qualidade de vida dessas pessoas e de

outros familiares.

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ANEXO A - INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DO CUIDADOR FA MILIAR DE IDOSO (2002)

N °°°°:________ Nome do entrevistador: __________________________________ Data da entrevista: __________/________/____________________ Horário da entrevista: ____________________________________ Início:...................Término:........................ DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: 1- Nome do cuidador: ___________________________________________ Idade__________ 2- Data de Nascimento:_______________ 3- Sexo: ( )M ( )F 4- Tel.:_______________ 5- End. :_________________________________________________Bairro:_______________ 6- Você é responsável pelos cuidados de uma, ou mais de uma, pessoa idosa? ( ) Sim ( ) Não b) Se sim, quantas pessoas? ____ 7- Qual(quais) o(s) nome(s)?_______________________________ 8- Qual o grau de parentesco?__________________________________________________________ 9-a) Você é a única pessoa que ajuda o(s) idoso(s)? ( )Sim ( )Não b)Caso positivo, existem outras pessoas que poderiam auxiliar o idoso? ( ) Sim ( )Não. Quem são essas pessoas e qual o seu grau de parentesco com elas? __________________________________________________________________________________ c) Caso negativo, você é a pessoa da família que mais ajuda o idoso? ( )Sim ( )Não d) Quem são as outras pessoas que auxiliam nos cuidado s com o idoso e qual o seu

grau de parentesco com elas? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10- a) O idoso que você ajuda mora com você atualmente? ( ) Sim ( ) Não b) Caso negativo, o idoso já morou com você? ( ) Sim ( ) Não c) Caso negativo, como você se sente em relação à possibilidade do idoso morar com você? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ GRAU DE INSTRUÇÃO: 11- a)Você sabe ler e escrever? ( ) Sim ( ) Não b) Se sim, qual seu grau de escolaridade:

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( ) Primário Completo(4anos) ( ) Primário Incompleto(___anos) ( ) Ginásio Completo(4 anos) ( ) Ginásio Incompleto(____anos) ( ) Colegial Completo(4 anos) ( ) Colegial Incompleto(___anos) ( ) Superior Completo(___anos) ( ) Superior Incompleto(___anos) ( ) Alfabetizado sem escolarização ESTADO CIVIL: 12- a) Qual é o seu estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Separado ( ) Desquitado ( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outro, especifique:____________________________ b)Em qualquer uma das alternativas assinaladas, especificar quanto tempo: _____________ 13- Quantos filhos você têm? _________ 14- Quantos netos você têm? __________

MORADIA:

15- Enumere as pessoas que residem em sua casa: Nome Idade Grau de Parentesco Ocupação

1 2 3 4 5 6 7 RELIGIÃO:

16- a) Você tem uma crença religiosa? ( ) Sim ( ) Não b) Se sim, poderia especificar qual? ____________________________________________ c) Qual a importância da religião em sua vida? ( )Nenhuma ( )Pouca ( )Mediana ( )Muita

SAÚDE: 17- Como é seu estado geral de saúde?

( ) Ruim ( ) Razoável ( ) Boa ( ) Excelente ( )Não sabe 18- a) Você tem algum problema médico? ( ) Sim ( ) Não

b) Se sim, poderia especificar qual? ____________________________________________ 19- a) Você toma algum medicamento? ( ) Sim ( )Não b) Se sim, qual?____________________________________________________________ DADOS SOBRE TRABALHO REMUNERADO E RENDA PESSOAL:

20- a) Você mantém algum emprego remunerado? ( ) Sim ( ) Não

Se não, segue para iten 21. Se sim… b) Quantas horas pôr semana? _________________________________________________ c) Onde?__________________________________________________________________ d) Qual(quais) o(s) período(s)? ( ) Integral ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

21- a) Qual a sua renda individual? ( ) menos de um salário mínimo ( ) entre R$ 751,00 e R$ 1.000,0 ( ) entre um salário mínimo e R$ 300,00 ( ) entre R$ 1.001,00 e R$ 1.500,00

( ) entre R$ 301,00 e R$ 500,00 ( ) entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00 ( ) entre R$ 501,00 e R$ 750,00 ( ) R$ 2.001,00 ou mais

b) Qual a sua renda familiar? ( ) menos de um salário mínimo ( ) entre R$ 1.001,00 e R$ 1.500,0 ( ) entre um salário mínimo e R$ 500,00 ( ) entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00

( ) entre R$ 501,00 e R$ 750,00 ( ) entre R$ 2.001,00 e R$ 2.500,00

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( ) entre R$ 751,00 e R$ 1.000,00 ( ) R$ 2.501,00 ou mais

c) Parte de sua renda individual ou familiar é destinada ao idoso? ( ) Sim ( ) Não

d) Caso positivo, qual a dificuldade de estar mantendo este auxílio financeiro?

___________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

TRABALHO REMUNERADO x TRABALHO DOMÉSTICO 22- Caso tenha trabalho remunerado : Enquanto seu trabalho remunerado, com qual freqüência… Nunca Quase

nunca Às

vezes Quase sempre

Sempre

a. Você tem tempo suficiente para completar seu trabalho. b. No seu emprego, tem coisas demais para fazer. c. Você tem tempo sobrando. 23- Enquanto o trabalho doméstico sobre sua responsabilidade, com qual freqüência…

Nunca Quase nunca

Às vezes

Quase sempre

Sempre

a. Você tem tempo suficiente para completar suas atividades domésticas.

b. Você tem coisas demais para fazer em casa. c. Você tem tempo sobrando.

PERCEPÇÃO DO IDOSO

24- A) O QUE É SER IDOSO PARA VOCÊ ? NÃO PENSE SOMENTE NO IDOSO QUE VOCÊ CUIDA, MAS EM

TODOS OS IDOSOS. __________________________________

____________________________

________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________ b) Quais das seguintes características você considera como sendo típicas da velhice?

(Marque somente os itens que o cuidador escolhe; deixe os demais itens em branco.) ( ) Diminuição das capacidades físicas em geral ( ) Problemas com memória ( ) Mudanças na aparência (rugas, cabelos brancos) ( ) Idade cronológica ( ) Problemas de saúde física (fragilidades) ( ) Solidão, depressão ( ) Diminuição de lucidez e raciocínio ( ) Falta de companhia (contato social) ( ) Ser dependente ( ) Outras : ____________________

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c) O que mais te preocupa em relação ao envelhecimento da pessoa que você cuida? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

O PAPEL DE CUIDADOR 25- Conte um pouco sobre seu papel de cuidador de idoso (pistas: o que faz, como sente-se, significado deste envolvimento, etc.) ____________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 26- O que é cuidar para você?_____________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 27- Quais as principais dificuldades no seu papel de cuidador?__________________________________________________________________________ ESCALA DE ESTRESSE 28- No último mês, pensando em como você estava se sentindo, com qual freqüência você....

Nunca Quase nunca

Às vezes

Quase sempre

Sempre

a. Se sentiu sobrecarregado pelas coisas. b. Se sentiu de bem com a vida. c. Se sentiu ansioso e/ou preocupado. d. Capaz de lidar com o estresse. e. Se sentiu cansado e esgotado. f. Se sentiu calmo e relaxado. g. Teve dificuldade de se concentrar. h. Se sentiu cheio de energia. i. Se sentiu incapaz de dar conta de tudo. j. Sentiu tudo sob controle. k. Conseguiu fazer alguma coisa para diminuir os problemas.

ROTINA DE ATIVIDADES: 29- Descreva um dia da semana da sua rotina (as 24 horas): Horário Atividade 5:00 6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16::00 17:00

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240

18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 24:00 1:00 2:00 3:00 4:00

Obs.: 30- Vou ler uma lista de atividades. Diga-me a freqüência com a qual você desenvolve cada atividade, atualmente. Depois, pense sobre a freqüência com a qual desenvolvia estas atividades antes de ser cuidador de idoso, e diga-me se você reduziu, aumentou ou manteve a freqüência da atividade, depois de envolver-se nos cuidados do idoso:

Diaria. Seman. Mens. Anual Nunca Reduziu

Aument. Mesma

Televisão ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Cinema ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Leitura: (Jornais, Revistas,

Livros) Especifique:

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

Atividade física Especifique:

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

Jogos (bingo, xadrez etc.) Especifique:

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

Viagens ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Receber visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Fazer visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Grupo religioso ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Tarefas domésticas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Trabalhos manuais (tricô, jardinagem, etc)

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( )

( )

Eventos culturais Especifique:

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

Passeio com amigos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Outros Especifique:

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )

31- Existe alguma outra atividade que você deixou de fazer, para cuidar do idoso? Qual? _____________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 32- Dentre todas as atividades que foram citadas, quais você considera as mais prazerosas? ______________________________________________________________________________________________________________________________________

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241

________________

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242

33. O que você faz para ajudar o idoso? Com qual freqüência você ajuda o idoso a realizar as seguintes atividades:

O idoso depende de minha ajuda para realizar as atividades… O idoso não realiza a atividade

O idoso não precisa de

ajuda (faz

sozinho)

Diaria-mente.

Diversas vezes por semana

Uma vez por semana

2 ou 3 vezes por mês

Uma vez pôr mês

Algumas vezes por

ano

Out

ra

pess

oa

ajud

a o

idos

o

1. AVDs Cuidado

s com o

corpo

Alimentar-se ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Tomar banho ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Cuidar de sua aparência: (pentear, barbear, maquiar)

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Vestir e tirar as roupas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Ir ao banheiro ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Tomar medicamentos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Locomover-se ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Deitar-se e levantar-se da cama

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Supervisionar o idoso em suas atividades

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

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243

2. AIVDs Tarefas

domésticas

Limpeza e arrumação da casa ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Lavar e passar roupas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Pequenos consertos na casa ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Preparar a sua refeição ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Fazer compras de alimentos, roupas e de outras necessidades pessoais

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Acompanhar o idoso a lugares que exigem condução

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Acompanhar a consultas médicas

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

O idoso depende de minha ajuda para realizar as atividades… O idoso não

realiza a atividade

O idoso não precisa de

ajuda

Diaria-mente

Diversas vezes por semana

Uma vez por semana

2 ou 3 vezes por mês

Uma vez pôr mês ou menos

Anualmente Ou

tra

pes

soa

aju

da

o

ido

so

OUTROS

SERVIÇOS

Lidar com suas finanças ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Preencher formulários ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

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Usar o telefone ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Marcar consultas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 3. Atividades Sociais e de Lazer

Assistir televisão/ouvir rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Ir ao cinema/ teatro ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Leitura: (Jornais, Revistas, Livros) Especifique:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Receber vistas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Fazer visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Atividades manuais (crochê, tricô, jardinagem) Especifique:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Atividade Física Especifique:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Jogos (xadrez, bingo) Especifique:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Atividade religiosa Especifique:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Passear com amigos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Viagem ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

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34- Você reduziu seu período de descanso durante o dia ou durante a noite devido aos cuidados com o idoso? ( ) Sim ( ) Não

35- Quando você precisa ir para algum lugar com o idoso, que transporte você usa? (qual o tipo de locomoção e quem dirige?) ______________________________________________________

GRAU DE DEPENDÊNCIA DO IDOSO E A TAREFA DE CUIDADOR : 36- O idoso que se encontra sob seus cuidados apresenta algum problema relacionado a: Leve Moderado Grave Não apresenta Audição ( ) ( ) ( ) ( ) Visão ( ) ( ) ( ) ( ) Memória ( ) ( ) ( ) ( ) Depressão ( ) ( ) ( ) ( ) Agressividade ( ) ( ) ( ) ( ) Confusão mental ( ) ( ) ( ) ( ) Dificuldade de Compreensão ( ) ( ) ( ) ( ) Locomoção ( ) ( ) ( ) ( ) Alcoolismo ( ) ( ) ( ) ( ) Tabagismo ( ) ( ) ( ) ( ) Controle urina/fezes ( ) ( ) ( ) ( ) SATISFAÇÃO COM O PRÓPRIO DESEMPENHO: 37- Qual a sua satisfação com o seu desempenho no papel familiar, pensando separadamente no que você faz para as pessoas na sua casa e para o idoso. Pontue os itens a seguir numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e 5 ‘muito satisfeito’. Com relação à família nuclear (esposo, filhos), o quanto você está satisfeito(a) com… 1 2 3 4 5 a. Sua colaboração com sua família? b. A organização de sua casa? c. O quanto você dá conta de tudo que precisa fazer para seus familiares? d. A proximidade da sua relação com a sua família? e. A qualidade dos cuidados que dedica a sua família? Com relação ao idoso, o quanto você está satisfeito(a) com… 1 2 3 4 5 f. Sua colaboração com o idoso? g. No caso do idoso não morar com o cuidador:

A organização da casa do idoso?

h. O quanto você dá conta das suas tarefas junto ao idoso? i. A proximidade da relação com o idoso? j. A qualidade dos cuidados que dedica ao idoso?

SATISFAÇÃO COM O APOIO FAMILIAR

38- Reflita sobre sua satisfação com o apoio dos seus familiares na tarefa de cuidar do idoso, pensando separadamente nas pessoas que residem na sua casa e nos demais familiares (irmãos, etc.).

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Pontue os itens a seguir numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e o 5 ‘muito satisfeito’: Pensando nas pessoas que moram com você, o quanto você está satisfeito(a) com…

Tipo de apoio 1 2 3 4 5 a. A quantidade de serviço doméstico que os outros membros da família realizam. b. A quantidade de tempo que os membros da família dedicam a administração e manutenção

da casa (pagar contas, fazer compras).

Pensando nos demais familiares, o quanto você está satisfeito(a) com… Tipo de apoio 1 2 3 4 5

c. A quantidade de tempo que os outros membros da família dedicam aos cuidados do idoso. d. O quanto seus familiares concordam com a maneira que você lida com o idoso. e. O apoio emocional que você recebe dos seus familiares para lidar com as dificuldades que

você enfrenta com a tarefa de cuidar do idoso.

f. A ajuda que a família oferece ao idoso quando você não pode cuidar dele (quando você está trabalhando, doente, viaja, etc.)

g. O apoio financeiro que os outros membros da família oferecem. HABILIDADES SOCIAIS:

AGORA EU GOSTARIA QUE VOCÊ FALASSE UM POUCO SOBRE COMO FUNCIONA A TROCA DE INFORMAÇÕES, OU SEJA, AS COMUNICAÇÕES, ENTRE VOCÊ E O IDOSO

DE QUEM VOCÊ CUIDA.

39- a) Você costuma compartilhar notícias ou informações com o idoso? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes b) Com que freqüência isso se realiza? ( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Algumas vezes ( )Freqüentemente ( ) Sempre

Se o idoso não mora com o cuidador… c) Com que freqüência você se encontra com o idoso de quem cuida?

( ) Diariamente ( ) Alguns dias por semana ( ) Semanalmente ( ) Algumas vezes no mês ( ) Mensalmente

d) Você está satisfeita com essa freqüência? ( )Sim ( )Não Caso negativo… e) Você gostaria que a freqüência do contato fosse: ( ) Maior ( ) Menor

40- a) Você esta satisfeita com o tipo de conversa que tem com o idoso que cuida? ( )Sim ( )Não b) Sobre o que conversam geralmente?_____________________________________________

____________________________________________________________________________ 41- Tratando-se de intimidade como sendo uma troca de sentimentos e pensamentos pessoais e de

poder falar tudo para o outro, você considera o relacionamento com o idoso como sendo: 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) Nada Pouco Razoavelmente Bastante Totalmente Íntimo Íntimo Íntimo Íntimo Íntimo 42- Com qual freqüência você pode trocar idéias com o idoso a respeito de coisas que

sejam realmente importantes em sua vida? 1 ( ) Nunca 2 ( ) Raramente 3 ( ) Algumas Vezes 4 ( ) Freqüentemente 5 ( ) Sempre

42b- Você omite alguma informação do idoso? ( )Sim ( )Não Por que? ____________________

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43- Com que freqüência você expressa afeto para o idoso, sem ser com palavras (segure a mão, abraça, beija, toque, senta ao lado) ? 1 ( ) Nunca 2 ( ) Raramente 3 ( ) Algumas Vezes 4 ( ) Freqüentemente 5 ( ) Sempre

44- O idoso participa das decisões familiares? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 45- Quem toma as decisões sobres fatores relacionados ao idoso? ( ) o próprio idoso ( ) o cuidador ( ) o idoso e o cuidador ( ) a família ( ) todos em conjunto 46- a) Aparecem questões relacionadas a sexualidade/intimidade do idoso? ( )Sim ( )Não

b)Caso positivo, quais? _______________________________________________________ c)Você tem ou teria dificuldade para lidar com essas questões? ( ) Sim ( ) Não

DIFICULDADES DE RELACIONAMENTO: Todos os tipos de relacionamentos, inclusive os familiares, às vezes, atravessam algumas dificuldades, as quais muitas vezes acabam gerando conflitos. A seguir, gostaria de saber sobre os desentendimentos e dificuldades que você encontra no convívio com o idoso de quem cuida. 47- O que você acha que provoca maior dificuldade na sua relação com o idoso? (Marque todas as opções que se apliquem, e explique o problema)

( )Sim ( )Não As atividades do dia-a-dia __________________________________ ( )Sim ( )Não Diferenças de opinião______________________________________ ( )Sim ( )Não Controle do dinheiro: ______________________________________ ( )Sim ( )Não Medicamentos: ___________________________________________ ( )Sim ( )Não Modo de educar os filhos: __________________________________ ( )Sim ( )Não Religião: ________________________________________________ ( )Sim ( )Não Organização da casa : ______________________________________ ( )Sim ( )Não Política: _________________________________________________ ( )Sim ( )Não Hábitos: _________________________________________________

( )Sim ( )Não Outros, especifique:_________________________________________ ENFRENTAMENTO DE CONFLITOS: A seguir, as perguntas buscam levantar como você enfrenta conflitos, quando aparecem com o idoso que você cuida. 48- Pede um exemplo de conflito (veja item 47). Quais as conseqüências positivas e negativas deste conflito? POSITIVAS:___________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ NEGATIVAS:___________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________

49- EXISTEM VÁRIAS ESTRATÉGIAS QUE PESSOAS USAM PARA ENFRENTAR OS CONFLITOS. VOU FALAR ALGUMAS DESSAS ESTRATÉGIAS. GOSTARIA QUE VOCÊ

RESPONDESSE A FREQÜÊNCIA COM A QUAL VOCÊ AS USA UTILIZA PARA LIDAR COM CONFLITOS COM O IDOSO QUE VOCÊ

CUIDA:

a) tentativas de mudar o próprio pensamento

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Nunca Quase nunca

Algumas vezes

Quase sempre

Sempre

1. Buscar o lado positivo da situação 2. Pensar em outras coisas, se distrair e não dar tanta

importância ao problema.

3. Levar sua vida dia-a-dia, esperando que o tempo dê jeito na situação.

4. Não deixar seus sentimentos interferirem na situação

5. Não expressar sua opinião 6. Outras, especifique _________

b) estratégia de solicitar ajuda ou apoio emocional de alguém: Nunca Quase

nunca Algumas

vezes Quase sempre

Sempre

1. Você conversa e pede conselho a alguém de fora do problema

2. Pede ajuda a um familiar 3. Pede ajuda a um amigo 4. Pede ajuda a um profissional 5. Reza, pede ajuda a Deus 6. Outras, especifique ____________

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c)estratégias para melhorar a comunicação: Nunca Quase

nunca Algumas

vezes Quase sempre

Sempre

1. Procura entender o ponto de vista do outro 2. Explica melhor o seu ponto de vista 3. Mantem a calma 4. Respeita a outra pessoa, como sendo alguém com

boas intenções

5. Procura encontrar um ponto em comum, algo que ambos concordem

6. Mostrar ou expressa seus sentimentos às pessoas 7. Procura melhorar o tom da conversa, tentando ser

amigável?

8. Outras, especifique ___________

SITUAÇÃO ATUAL:

50- ATUALMENTE, O QUE VOCÊ GOSTA, VALORIZA OU ACHA IMPORTANTE NA SUA RELAÇÃO COM O

IDOSO?___________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 51- O que você esperava para esta etapa de sua vida?_____________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 52- Comparando com o que você esperava para esta etapa da vida, como você a considera hoje? Numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e 5 ‘muito satisfeito’. Grau de satisfação:______ PERSPECTIVAS FUTURAS: 53- Como você espera viver sua vida futuramente? _______________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 54- Você gostaria de participar de um grupo de orientação para cuidadores de idosos?( )Sim ( )Não

55- QUAIS OS TEMAS QUE VOCÊ GOSTARIA DE ENTENDER MELHOR EM RELAÇÃO AOS CUIDADOS COM O IDOSO?

________________________________________________________________________________

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____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________

56- Caso existisse um grupo que oferecesse esse serviço de orientação, o que seria necessário para você participar? ( proximidade da casa, horários, auxílio para cuidar do idoso durante o encontro do grupo) __________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________

Acho que por enquanto eu já perguntei tudo o que precisava. Gostaria de agradecer muito a sua colaboração e dizer que foram bastante enriquecedoras as informações que você gentilmente cedeu. Você gostaria de acrescentar algo ou fazer alguma pergunta?

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ANEXO B - INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DO IDOSO (2002 ) N°°°°:________ Nome do entrevistador: __________________________________ Data da entrevista: __________/________/____________________ Horário da entrevista: ____________________________________ Início:...................Término:........................ I-DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1. Nome do idoso:_____________________________________________________________________

Data de nascimento:_______________ Sexo: ( ) F ( ) M Telefone:____________

Endereço:_____________________________________________________Bairro:______________

Nome do cuidador:

Endereço:_____________________________________________________Bairro:_____________

• ESTADO CIVIL

2. Qual é o seu estado civil?

a) ( )solteiro ( )casado ( )separado ( )divorciado ( )viúvo

( )outro, especifique ____________________________

b) Em qualquer alternativa acima, diga há quanto tempo. (Por ex: há quanto tempo está viúva?)

___________

3. Quantos filhos você tem? (anotar se há algum falecido) a. _________ vivos b. _________ falecidos

4. a Quantos netos você tem?__________ b. E bisnetos?_________________

• RELIGIÃO

5. a) Você segue alguma religião?( )Não ( )Sim Qual?________________

b) Qual a importância da religião em sua vida? 0 ( ) Nenhuma 1 ( )Pouca 2 ( )Média 3 ( ) Muita

• GRAU DE INSTRUÇÃO

6. A) VOCÊ SABE LER E ESCREVER? ( )SIM ( )NÃO

B) SE SIM, QUAL SEU GRAU DE ESCOLARIDADE:

4 ( ) Primário Completo (4 anos) ( ) Primário Incompleto (___anos)

8 ( ) Ginásio Completo (4 anos) ( ) Ginásio Incompleto (___anos)

11 ( ) Colegial Completo (3 anos) ( ) Colegial Incompleto (___anos)

( ) Superior Completo (___ anos) ( ) Superior Incompleto (___anos)

( ) alfabetizado sem escolarização.

7. a) Qual é (era) a sua profissão (dona de casa, balconista, professor(a), etc.)? ____________________

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b) trabalha fora de casa atualmente? ( )Não ( ) Sim. Em que?_________________________

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MINIEXAME DO ESTADO MENTAL

Agora, faremos algumas perguntas para saber como está sua memória. Sabemos que, com o tempo, as pessoas vão tendo mais dificuldades para se lembrarem das coisas. Não se preocupe com o resultado das perguntas.

Pontuação Pontuação Máxima obtida ORIENTAÇÃO TEMPORAL 5 ( ) Qual é o (ano), (dia), (dia da semana), (mês), (estação de ano)? ORIENTAÇÃO ESPACIAL 5 ( ) Onde estamos?(estado), (país), (cidade), (que tipo de lugar), (andar). REGISTRO 3 ( ) Repetir: vaso, carro, tijolo. ATENÇÃO E CÁLCULO. 5 ( ) 100-7=93-7=86-7=79-7=72-7=65 Alternativamente soletrar a palavra “MUNDO” de trás para frente. MEMÓRIA RECENTE 3 ( ) Quais as três palavras acima? LINGUAGEM 2 ( ) Mostrar um relógio de pulso e uma caneta e solicitar ao paciente que diga seus nomes. 1 ( ) Repetir: nem aqui, nem ali, nem lá. 3 ( ) Realizar o seguinte comando: “Pegue esta folha de papel com sua mão direita, dobre-a ao meio com as duas mãos , coloque-a no chão.” 1 ( ) Leia e obedeça: “Feche os olhos.” 1 ( ) Escreva uma sentença (ela deve conter sujeito e verbo, não há necessidade de corrigir erros gramaticais). 1 ( ) Copie o desenho (consiste em dois pentagramas que se interseccionam; está correto se existirem 10 ângulos, dos quais dois devem estar interseccionados). Total de pontos:_________ • MORADIA

8. a)Você mora sozinho(a) ou com alguém? ( ) Sozinho(a) ( ) Com alguém. b) Caso mora com mais alguém: Especifique as pessoas com quem mora. Nome Idade Grau de Parentesco Ocupação 1 2

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3 4 5 6 7 8 9. a) Você mora em sua própria casa? ( )Sim ( )Não

b) caso não more na própria casa: Por favor, qual o lugar onde mora (casa de filho, casa alugada)? ___________________________________________________________________ 10. Em relação à moradia, qual o tipo? Tipo (ex. apto., sobrado, casa térrea, barraco, asilo, edícula). N.º de cômodos 11. Se fosse possível, onde o(a) senhor(a) gostaria de morar (perto de..., longe de..., asilo, lugar menor, lugar

maior, apartamento, casa)? ___________________________________________________________ 12. Houve necessidade de mudar de residência nos últimos anos (mudança mais recente)? ( )Sim ( )Não 13. Se houve, qual o motivo da mudança? (assinalar quantas foram necessárias) a. Financeiro ( )Sim ( )Não b. Proximidade com família ( )Sim ( )Não c. Motivos de doença ( )Sim ( )Não d. Outra necessidade de ajuda:_____________________________________________________

SÓ FAZER AS QUESTÕES ABAIXO SE O IDOSO VIVER EM INSTITUIÇÃO:

a) QUAL O TIPO DE INSTITUIÇÃO ONDE O(A) SENHOR(A) MORA:

( )PARTICULAR ( )PÚBLICA ( )FILANTRÓPICA ( )ONG ( )OUTROS_____________________

B) SE PARTICULAR: QUEM PAGA AS MENSALIDADES?

( ) ELE PRÓPRIO ( )IRMÃOS ( )NETOS

( ) FILHOS ( )AMIGOS ( )OUTROS____________________________________

c) TIPO DE ACOMODAÇÃO:

( )INDIVIDUAL ( )COLETIVA. QUANTAS PESSOAS______________________________

d) QUAIS ERAM SUAS EXPECTATIVAS COM RELAÇÃO À INSTITUIÇÃO/GRUPO QUANDO INGRESSOU?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

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SUAS EXPECTATIVAS FORAM ATINGIDAS? ( )SIM ( )NÃO COMENTE: ____________________________________

_____________________________________________________________________________________

• RENDA PESSOAL

14. Qual a sua fonte de renda? Ela é obtida através de... (marque com um X todas

as opções que se apliquem)

a. ( )Pensão. (Especifique)________________________ b. ( )Salário próprio c. ( )Salário do marido ou companheiro d. ( )Aposentadoria própria e. ( )Aposentadoria do marido ou companheiro f. ( )Recebe dinheiro dos filhos g. ( )Não possui renda h. ( )Outro ____________________

15. Você considera a renda que tem como: 1 2 3 4 5 muito inadequada muito adequada

II - PERCEPÇÃO DA VELHICE

16. a) O que é ser idoso(a) para o senhor(a)__________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 17. a. O(A) senhor(a) se considera idoso(a)? ( )Sim ( )Não b. Por que:______________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ 18. a. Quais das seguintes características você considera como sendo típicas da velhice? Você acha que alguém com essas características é uma pessoa idosa? (Marque somente os itens que o idoso escolhe; deixe os demais itens em branco.) 1.( ) Diminuição das capacidades físicas em geral 2.( ) Problemas com memória 3. ( ) Mudanças na aparência (rugas, cabelos brancos) 4. ( ) Idade cronológica (número de anos) 5. ( ) Problemas de saúde física (fragilidades) 6. ( ) Solidão, depressão 7. ( ) Diminuição de lucidez e raciocínio 8. ( ) Falta de companhia (contato social) 9. ( ) Ser dependente 10. ( ) Outras: ______________________ 19. O que mais te preocupa em relação ao seu envelhecimento?

_____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________

20. Com o processo de envelhecimento, o senhor acha que perdeu alguns dos seus direitos que tinha

anteriormente (saúde, educação, moradia, lazer, trabalho, voto)? ( )Sim ( ) Não

Quais:__________________________________________________________________________________

21. Com o processo de envelhecimento, o senhor acha que ganhou algum direito que não tinha

anteriormente (aposentadoria, saúde, educação, moradia, lazer, trabalho, voto)? ( )Sim ( )

Não

Quais:__________________________________________________________________________________

III – SITUAÇÃO ATUAL

22. O que você esperava para esta etapa da vida?________________________________________________

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______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 23. Quais são os aspectos de sua vida atual que você:

a) considera melhores do que esperava?_____________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ b) considera piores do que esperava?_______________________________________________________

_______________________________________________________________________________________ c) Comparando com o que você esperava para esta etapa da vida, o quanto você está satisfeito(a) com sua vida, hoje? Numa escala de 1 a 5, sendo 1 ‘muito insatisfeito’ e 5 ‘muito satisfeito’. Satisfação:___________

IV - ESCALA DE ESTRESSE

24. EM ALGUNS PERÍODOS DA VIDA, NÓS PASSAMOS POR MOMENTOS DIFÍCEIS QUE PODEM GERAR ANGÚSTIAS E ESTRESSE. VOCÊ TEVE DIFICULDADE COM ALGUMAS DAS SEGUINTES ATIVIDADES NO ÚLTIMO MÊS? A) QUAIS? (MARQUE “SIM”, NO QUADRO ABAIXO) B)

PARA AS ATIVIDADES DIFÍCEIS: QUAL O GRAU DE DIFICULDADE QUE O(A) SENHOR(A) SENTIU ?

Situação Sim Pouca

dificuldade (1)

(2)

(3)

(4)

Muita dificuldade

(5) 1. Alimentar-se 2. Tomar banho 3. Cuidar de sua aparência: (pentear, barbear ou

maquiar)

4. Vestir e tirar as roupas 5. Ir ao banheiro 6. Tomar medicamentos 7. Locomover-se

8. Deitar-se e levantar-se da cama

9. Limpeza e arrumação da casa 10. Lavar e passar roupas 11. Pequenos consertos na casa 12. Preparar a sua refeição 13. Fazer compras de alimentos, roupas e de outras

necessidades pessoais

14. Outros:

25. Eu vou falar várias coisas que algumas pessoas fazem em situações difíceis. Fale para mim, quais dessas coisas você faz: a. ( ) procura ajuda de amigos e parentes b. ( ) procura ajuda profissional c. ( ) procura ajuda com alguém que passou por uma situação parecida com a sua

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V - ROTINA DE ATIVIDADES

26. Me fale: (a) a freqüência com que você desenvolve as atividades abaixo, e (b) se você depende de ajuda para realizá-las: Atividades Diariam-

ente Seman-almente

Mensal-mente.

Anual-mente

Nunca Depende de Ajuda Sim Não

1. Televisão ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2. Rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 3. Cinema ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 4. Leitura (especifique):__________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

5. Atividade física:_______________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 6. Jogos (bingo, xadrez, baralho): ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 7. Viagens ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 8. Receber visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 9. Fazer visitas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 10. Grupo religioso ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 11. Atividade

doméstica:_____________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

12. Trabalhos manuais (jardinagem, crochê):________________

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

13. Eventos culturais: _______________

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

14. Atividades com amigos:________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 15. Outros:_______________________

_ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

27. Descreva, o melhor que puder, um dia da semana típica do(a) senhor(a), incluindo o período da noite: Horário Atividade 5:00 6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 24:00 1:00 2:00 3:00 4:00

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OBS.:______________________________________________________________

______

28. Como você descreveria seu estado de saúde? Você diria, em geral, que sua saúde é: ( ) ruim ( ) razoável ( ) boa ( ) excelente ( ) não sabe

29. O senhor(a) tem algum problema de saúde? ( ) Não ( ) Sim 30. Se sim, qual(is)?_____________________________________________________ 31. O senhor(a) toma medicamentos? ( ) Sim ( ) Não

32. SE SIM, POR QUE?_____________________________________________________

VII – O CUIDAR 33. O que é cuidar para você?_______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

34. VOCÊ OFERECE ALGUM TIPO DE AJUDA A ALGUÉM? SIM ( ) NÃO ( ) SE SIM, A QUEM AJUDA, E O QUE FAZ?

PESSOA A QUEM AJUDA

TIPO DE AJUDA

35. Como você gostaria de ser cuidado? Por que?_______________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 36. Atualmente, quem são as pessoas que cuidam de você?________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 37. Por quem você gostaria de ser cuidado? Por que?_____________________________________________

__________________________________________________________________

_______

VIII - GRAU DE DEPENDÊNCIA

38. O SENHOR(A) SABERIA ME DIZER O QUE É SER DEPENDENTE?________________________________________

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_______________________________________________________________________________________39. O SENHOR(A) SABERIA ME DIZER O QUE É SER

UMA PESSOA INDEPENDENTE?______________________________

_______________________________________________________________________________________40.O SENHOR(A) SABERIA ME DIZER O QUE É SER

UMA PESSOA QUE TEM AUTONOMIA?_________________________

_______________________________________________________________________________________

ESCALA DE ATIVIDADE FÍSICA E ISNTRUMENTAL DA VIDA D IÁRIA DE “OARS”. Gostaria de perguntar ao sr.(a) sobre algumas das atividades da vida diária, coisas que todos nós necessitamos fazer como parte de nossas vidas do dia-a-dia. Eu gostaria de saber se o sr.(a) consegue fazer estas atividades sem qualquer ajuda ou com alguma ajuda, ou ainda, não consegue fazer de jeito nenhum. (circular o número em frente a resposta alternativa que mais se aplica à resposta do paciente.)

1. Atividades instrumentais da vida diária (AIVD) a) O sr.(a) usa o telefone:

2- sem ajuda tanto para procurar o número na lista, quanto para discar. 1- com uma certa ajuda (consegue atender chamadas ou solicitar ajuda à telefonista em emergência, mas necessita de ajuda tanto para procurar o número quanto para discar. 0- Ou, é completamente incapaz de usar o telefone.

OBS: _______________________________________________________________________________ b) O sr.(a) vai a lugares distantes que exigam tomar condução:

2- Sem ajuda (viaja sozinho de ônibus, trem, metrô, taxi ou dirige seu próprio carro) 1- com alguma ajuda (necessita de alguém para ajudar-lhe ou ir consigo na viagem) 0- ou, não pode viajar a menos que disponha de veículos especiais ou de arranjos

emergências como ambulância. OBS:________________________________________________________________________________

c) O sr.(a) faz compras de alimentos, roupas e de outras necessidades pessoais: 2- sem ajuda (incluindo uso de transportes) 1- com alguma ajuda (necessita de alguém que o acompanhe em todo o trajeto das

compras) 0- ou, não pode fazer compras de modo algum.

OBS:________________________________________________________________________________ d) O sr.(a) prepara sua própria refeição:

2- sem ajuda (planeja e prepara as refeições por si só) 1- com certa ajuda (consegue prepara algumas coisas, mas não a refeição toda) 0- ou, não consegue preparar a sua refeição de modo algum.

OBS:________________________________________________________________________________

e) O sr.(a) faz limpeza e arrumação da casa: 2- sem ajuda ( faxina e arrumação diária) 1- com alguma ajuda (faz trabalhos leves, mas necessita ajuda para trabalhos pesados) 0- ou, não consegue fazer trabalho de casa de modo algum.

OBS:________________________________________________________________________________ f) O sr.(a) toma os medicamentos receitados:

2- sem ajuda ( na identificação do nome do remédio, no seguimento da dose e do horário) 1- com alguma ajuda ( toma, se alguém preparar ou quando é lembrado(a) para tomar os

remédios. 0- Ou, não consegue tomar por si só os remédios receitados.

OBS:________________________________________________________________________________ g) O sr.(a) lida com suas próprias finanças:

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2- Sem ajuda ( assina cheques, paga contas, controla saldo bancário, recebe aposentadoria ou pensão)

1- Com alguma ajuda (lida com dinheiro para as compras do dia-a-dia, mas necessita de ajuda para controle bancário e pagamento de contas maiores e/ou recebimento da aposentadoria ou pensão.

0- Ou, não consegue mais lidar com suas finanças. OBS:________________________________________________________________________________

2. Atividades físicas da vida diária (AFVD) a) O sr.(a) toma as refeições:

2- Sem ajuda (capaz de tomar as refeições por si só). 1- Com alguma ajuda (necessita de ajuda para por ex.: cortar a carne, descascar laranja) 0- Ou, é incapaz de alimentar-se por si só.

OBS:_______________________________________________________________________________ b) O sr.(a) consegue vestir e tirar as roupas:

2- Sem ajuda (apanhar as roupas e usá-las por si só). 1- Com alguma ajuda . 0- Ou, não consegue de modo algum apanhar as roupas e usá-las por si só.

OBS:________________________________________________________________________________ c) O sr(a). cuida de sua aparência como pentear-se e barbear-se (para homens), ou maquiar-se

(para mulheres): 2- Sem ajuda. 1- Com alguma ajuda. 0- Ou, não pode cuidar-se por si só de sua aparência.

OBS:________________________________________________________________________________ d) O sr(a). locomove-se:

2- Sem ajuda (exceto com bengala). 1- Com alguma ajuda (de uma pessoa ou com o uso de andador, muletas etc.) 0- Ou, é completamente incapaz de locomover-se.

OBS:________________________________________________________________________________ e) O sr(a). deita-se e levanta-se da cama:

2- Sem qualquer ajuda ou apoio. 1- Com alguma ajuda (de pessoa ou suporte qualquer) 0- Ou, é dependente de alguém para levantar-se/deitar-se da cama.

OBS:________________________________________________________________________________ f) O sr(a). toma banho em banheira ou chuveiro:

2- Sem ajuda. 1- Com alguma ajuda (necessita de ajuda para entrar e sair do banheiro ou um suporte

especial durante o banho). 0- Ou, é incapaz de banhar-se por si só.

OBS:________________________________________________________________________________ g) O sr(a) já teve problemas em conseguir chegar em tempo ao banheiro:

2- Não. 1- Sim. 0- Usa sondagem vesical e/ou colostomia.

Se sim, com que freqüência o Sr(a). se molha ou se suja (seja de noite ou dia)? 1- Uma ou duas vezes por semana.

0- Três ou mais vezes por semana. OBS:________________________________________________________________________________

AVALIAÇÃO A Pontuação se obtém pela somatória dos pontos correspondentes às respostas assinaladas. Circular as pontuações atingidas pelo cliente nas escalas (a) e (b). quanto mais alta é a pontuação significa que o cliente é mais independente nas suas atividades de vida diária. E o inverso, o cliente é menos independente.

a) Pontuação da Atividade Instrumental da Vida Diária (AIVD): 14 13 12 11 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01

I__I___I___I___I___I___I__I___I___I___I___I___I___I

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<---------------------------------------------------------------------- Independência ---------------------------------------------------------� Dependência

b) Pontuaçao da Atividade Física da Vida Diária (AFVD): 14 13 12 11 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01

I__I___I___I___I___I___I__I___I___I___I___I___I___I <---------------------------------------------------------------------- Independência ---------------------------------------------------------�

Dependência VIII - TOMADA DE DECISÕES 41. Você toma decisões referentes a: Sim Não Se não, quem cuida destas questões para você?

a) Questões financeiras

b) Moradia

c) Atividades cotidianas

d) Atividades sociais/de lazer

IX- RELACIONAMENTO ENTRE O IDOSO E SEU CUIDADOR

FAMILIAR

42. Todos nós precisamos de amostras de afeto de outras pessoas. Como o(a) _____________(nome do cuidador atual) manifesta afeto na relação com você (segure a mão, abraça, beija, toque, senta ao lado)? _______________________________________________________________________________________ b) Com qual freqüência ele(a) faz estas coisas? 1 2 3 4 5 Nunca Raramente Algumas Freqüentemente Sempre Vezes 43. O que você gosta, valoriza ou acha importante na sua relação com essa pessoa no presente momento?_______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ 44. Tratando-se de intimidade como sendo uma troca de sentimentos e pensamentos pessoais e de poder falar tudo para o outro, você considera o relacionamento com essa pessoa como sendo: (marque um X no número que represente o grau de intimidade)

1 2 3 4 5 Nada Pouco Razoavelmente Bastante Totalmente Intimo Intimo Íntimo Intimo Intimo 45. Com qual freqüência você pode trocar idéias com __________(nome da cuidadora) a respeito

de coisas que sejam realmente importantes em sua vida? 1 2 3 4 5 Nunca Raramente Algumas Freqüentemente Sempre Vezes 46. Tem algo que te faz falta nesse relacionamento?______________________________________________

_______________________________________________________________________________________

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47. Com que freqüência você se encontra com essa pessoa: ( )diariamente ( )alguns dias por semana

( )semanalmente ( )algumas vezes no mês ( )mensalmente 48. a) Você está satisfeito(a) com essa freqüência?

1 2 3 4 5 insatisfeito(a) satisfeito(a)

b)Você gostaria que a freqüência do contato fosse:

( ) maior ( ) menor ( ) a mesma

49. a) Você esta satisfeita com o tipo de conversa que tem com essa pessoa? 1 2 3 4 5

insatisfeita satisfeita b) sobre o que conversam geralmente? ____________________________________________________

_______________________________________________________________________________________ 50. Até que ponto você se sente satisfeita com o apoio emocional que dá a essa pessoa e recebe dessa pessoa

(por exemplo, incentivo, atenção, dar força, ter alguém para escutar, etc)? a) apoio emocional que dá: 1 2 3 4 5 Insatisfeita Satisfeita b) apoio emocional que recebe:

1 2 3 4 5 Insatisfeita Satisfeita 51. Com qual freqüência sua família compartilha notícias ou informações com você? 1 2 3 4 5 Nunca Raramente Algumas Freqüentemente Sempre Vezes 52. No seu dia-a-dia, você costuma trocar mais informações com quem? (Marque todas as opções que se

apliquem) a. Filho ( )sim ( )não b. Filha ( )sim ( )não c. Companheiro ( )sim ( )não d. Netos ( )sim ( )não e. Outros parentes ( )sim ( )não f. Amigos ( )sim ( )não g. Vizinhos ( )sim ( )não h. Outros, especifique ________________

X - POSSÍVEIS DIFICULDADES NO RELACIONAMENTO - Todo tipo de relacionamento, inclusive os familiares, às vezes atravessa algumas dificuldades, as quais muitas vezes acabam gerando desentendimentos e conflitos. 53. O que você acha que provoca mais desentendimentos na sua relação com ______(nome do cuidador):

(Marque todas as opções que se apliquem e pede para explicar ou exemplificar) a. ( ) Controle do dinheiro___________________________________________________________ b. ( ) Modo de educar os filhos (meus netos)____________________________________________ ____________________________________________________________________________ c. ( ) Questões de saúde (medicamentos, etc)____________________________________________ d. ( ) Religião__________________________________________________________________ e. ( ) Organização da casa_________________________________________________________ f. ( ) Política____________________________________________________________________ g. ( ) Outros____________________________________________________________________

XI - ENFRENTAMENTO DE CONFLITOS - A seguir, as perguntas buscam levantar como você enfrenta estes desentendimentos, diferenças de opinião e conflitos, quando aparecem com ______(nome do cuidador).

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54. Os conflitos podem ter alguns resultados bons e outros ruins. Quais os

resultados que os conflitos tem trazidos para sua relação com ______(nome do cuidador)?

BONS:__________________________________________________

_______________

__________________________________________________________________

_________

RUINS:____________________________________________________________________________________________________________________________________________

55. EXISTEM VÁRIAS MANEIRAS PARA LIDAR COM DESENTENDIMENTOS E CONFLITOS. VOU FALAR ALGUMAS DESSAS MANEIRAS. GOSTARIA QUE VOCÊ RESPONDESSE A FREQÜÊNCIA

COM A QUAL VOCÊ FAZ ESTAS COISAS PARA LIDAR COM DESENTENDIMENTOS COM ______ (NOME DO CUIDADOR FAMILIAR):

b) mudar o próprio pensamento

Nunca Rara-mente

Algumas vezes

Muitas vezes

Sempre

Enfocar o lado positivo da situação 1 2 3 4 5 Pensar em outras coisas, se distrair e não dar tanta importância ao problema

1 2 3 4 5

Levar sua vida dia-a-dia, esperando que o tempo dê jeito na situação

1 2 3 4 5

Não deixar seus sentimentos interferirem na situação e não expressar sua opinião

1 2 3 4 5

Outras, especifique _________ 1 2 3 4 5 c) estratégia de solicitar ajuda ou apoio emocional de alguém

Nunca Rara-mente

Algumas vezes

Muitas vezes

Sempre

Você conversa e pede conselho a alguém de fora do problema

1 2 3 4 5

Pede ajuda a um familiar 1 2 3 4 5 Pede ajuda a um amigo 1 2 3 4 5 Pede ajuda a um profissional 1 2 3 4 5 Reza, pede ajuda a Deus 1 2 3 4 5 Outras, especifique _________ 1 2 3 4 5

d) estratégias para melhorar a comunicação

Nunca Rara-mente

Algumas vezes

Muitas vezes

Sempre

Procuro informações para entender o ponto de vista do outro

1 2 3 4 5

Explico melhor o seu ponto de vista 1 2 3 4 5 Mantenho a calma 1 2 3 4 5 Respeito a outra pessoa, como sendo alguém com boas intenções

1 2 3 4 5

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Procuro encontrar um ponto em comum, algo que ambos concordem

1 2 3 4 5

Mostro ou expresso seus sentimentos 1 2 3 4 5 Melhoro o tom da conversa, tentando ser amigável

1 2 3 4 5

Outras, especifique _________ 1 2 3 4 5

XII - SITUAÇÃO FUTURA - como você espera viver sua vida futuramente. 56.Quais são as coisas que você ainda gostaria de fazer em sua vida?

___________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Acho que já perguntei tudo o que precisava. Gostaria de agradecer muito a sua colaboração e dizer que

foram bastante enriquecedoras as informações que você gentilmente cedeu. Você gostaria de acrescentar algo ou fazer alguma pergunta?