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1 CARLA FERNANDES BATISTA RODRIGUES UNIVERSIDADE FEREDAL DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA UFSCar TANTRA YOGA: UM ESTUDO DE CASO UTILIZANDO A PROVA DE RORSCHACH SÃO CARLOS – SP 2004

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CARLA FERNANDES BATISTA RODRIGUES

UNIVERSIDADE FEREDAL DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

UFSCar

TANTRA YOGA: UM ESTUDO DE CASO UTILIZANDO A PROVA D E

RORSCHACH

SÃO CARLOS – SP

2004

2

CARLA FERNANDES BATISTA RODRIGUES Monografia de conclusão de curso Apresentada ao departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos para obtenção do título de Bacharel em psicologia

ORIENTADORA: Profa. Marília Gonçalves

São Carlos – 2004

3

Agradeço a minha orientadora, pelas lições que me deu, no âmbito acadêmico e principalmente pessoal; pela compreensão, paciência e carinho com que me tratou todos esses anos. Á minha família e

amigos por me agüentarem nas horas estressantes e difíceis desse processo e ao meu namorado pela ajuda, carinho e amor que

demonstrou durante todo esse processo.

4

SUMÁRIO

Prefácio ........................................................................... 5

Introdução ....................................................................... 7

Objetivos ......................................................................... 22

Método ............................................................................ 23

Resultados ...................................................................... 32

Sujeito 1 prova 1.............................................................. 35

Sujeito 1 prova 2.............................................................. 45

Discussão e conclusão.................................................... 56

Sujeto 2 prova 1............................................................... 69

Sujeito 2 prova 2 ............................................................. 78

Discussão e conclusão................................................... 85

Referência Bibliográfica........................................ 90

Anexo 1................................................................. 92

Anexo 2................................................................. 99

Anexo 3 ................................................................ 102

Anexo 4 ................................................................ 103

5

Prefácio

Antes de começar o estudo em questão eu já não me identificava com o

modo quantitativo para a busca de respostas pois este “enquadrava” os

indivíduos em categorias, deixando de estudar aspectos importantes; aspectos

esses que fazem com que cada um se configure como um ser único. Sendo a

Psicologia uma ciência que busca o conhecimento de aspectos

comportamentais e da pisque humana, acredito que a maneira mais completa

de adquirir esse conhecimento seja a busca de conhecimento (o mais ampla

possível) de cada fenômeno/indivíduo.

Esta pesquisa me auxiliou na compreensão de uma das possíveis

formas de tentar chegar a esse conhecimento “completo”, embora acredito que

o completo conhecimento é uma utopia. E o melhor foi a união do uso de

técnicas quantitativas e qualitativas. Desse modo, comecei a enxergar com

mais clareza que é possível unir o conhecimento “preciso” trazido pelo método

positivista com o método qualitativo.

O Tantra Yoga é não somente uma prática física mas também tem um

esfera religiosa. Até começar a estudar o tema, não tinha tido contato com essa

vertente mas lendo os materiais, percebi a variedade de temas que pode ser

estudado no que diz respeito a religião, bem com explicações advindas das

diferentes abordagens psicológicas; além disso pude perceber as contribuições

que este tema traz para a compreensão do ser humano, bem como traz à luz

explicações sobre temas que perpassam a esfera religiosa.

Observando que atualmente existe uma grande procura por “atividades”

que se originaram no Oriente, me interessei em estudar a Ioga para verificar

como está sendo o seu processo de entendimento e prática, já que o contexto

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sócio-cultural, político e psicológico brasileiro é muito diferente dos orientais. Já

a escolha em estudar o Tantra Yoga deve-se ao fato do meu interesse em

estudar a sexualidade e tentar verificar como esta aparece em diferentes

contextos que até então eu tinha conhecimento.

A visão analítica de Jung associada a teoria psicanalítica freudiana me

auxiliou a compreender alguns fenômenos presentes na história de vida do

sujeito e no seu modo de interação consigo e com o mundo.

Outro fato importante foi a escolha de sujeitos saudáveis psiquicamente,

já que o intuito era verificar as mudanças ocorridas em indivíduos saudáveis

enquanto que a maioria das pesquisas que utilizam Yoga e a prova de

Rorschach são realizadas em indivíduos com algum comprometimento da

saúde geral.

Acredito que falte um apêndice específico para os indivíduos que

praticam a Yoga pois chegamos a índices que, se tomados fora de um

contexto global ou forem analisados por profissionais sem prática nessa prova,

corre-se o risco de enquadrar o sujeito numa patologia, por não ter um

conhecimento de que diferentes culturas ou vivências podem modificar um

psicograma, sem no entanto, haver nesse indivíduo, uma patologia instalada.

Ao final do trabalho, além do conteúdo educacional, aprendi muito sobre

relações humanas, e enxergar que muitos aspectos devem ser levados em

consideração ao realizar um psicodiagnóstico. Acredito que esse trabalho

serviu para me dar uma maior compreensão do ser humano e dos aspectos

influentes na vida de cada um.

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I. INTRODUÇÃO

A Psicologia tem sua origem na filosofia; é uma ciência que se baseia

fundamentalmente na observação e seu objeto de estudo primeiro é a conduta

em todos os seus aspectos; e isto também se aplica no campo religioso. A

Psicologia deve esclarecer fatores, estruturas e os processos de natureza

psicológica implicados.

A epistemologia qualitativa busca novas e diferentes formas de produção de

conhecimento que representem a subjetividade humana que de acordo com

González Rey (2002) se apoia em 3 princípios:

- O conhecimento é uma produção construtivo-interpretativa, ou seja, não

é a simples soma dos fatos definidos por constatações imediatas do

momento empírico. O caráter interpretativo é importante na medida em

que o pesquisador tem a oportunidade de integrar e reconstruir os

indicadores obtidos no decorrer da pesquisa e que não teriam sentido se

tomados de forma isolada.

- Caráter interativo do processo de produção de conhecimento: afirma que

a relação entre o pesquisador e o pesquisado é condição para o

desenvolvimento da pesquisa assimilando os momentos informais

surgidos na comunicação como produtos de informações relevantes

para a produção de conhecimento.

- Significação da singularidade como nível legítimo da produção de

conhecimento, que se daria através da identificação do sujeito como

único e diferenciado de constituição subjetiva; sendo legitimado o seu

conhecimento pela qualidade de sua natureza.

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Para o autor, uma definição de qualitativo deve-se levar em conta o seu

caráter oculto à evidência, não constituindo de maneira indutiva a produção de

conhecimento pois esta não se orienta para produzir resultados finais e sim por

novos momentos teóricos que se interagem ao processo geral de construção do

conhecimento. Na pesquisa qualitativa não é necessário definir as hipóteses a priori

bem como não responde obrigatoriamente a uma pergunta ao final da pesquisa,

pois ela não se destina a provar ou verificar. “Neste tipo de pesquisa não se

descobre apenas o que se busca e a entrevista não deve ser utilizada como um

instrumento fechado pois tem o propósito de se tornar um diálogo visto que o

pesquisador participa constantemente do que está pesquisando” (REY, 2002 p. 79 e

93).

Na generalização qualitativa o pesquisador não se apoia na quantidade e no

que é constatável, pois como diz González Rey (2002) “o conhecimento dos

processos básicos da subjetividade não é possível de ser construído por meio de

entidades homogêneas definidas de forma direta e universal no nível do

comportamento”.

A abordagem qualitativa volta sua atenção para estudar a subjetividade no

que se refere aos processos que a constituem não tendo o objetivo de predizer,

descrever e controlar.

A subjetividade é um sistema complexo de significações e sentidos

subjetivos produzidos na vida cultural humana; é um processo que está em

constante desenvolvimento e é sensível à experiência do seu momento atual,

momento no qual as opções do sujeito e tem papel essencial.

Os conteúdos que vem da experiência aparecem em configurações que só

terão sentidos quando se integrarem com outros estados dinâmicos do sujeito (REY,

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2002). Pelo fato do ser humano ser interativo e ativo no curso da pesquisa, não se

pode isolar as características psicológicas no momento que se manifestam. A

pesquisa qualitativa deve desenvolver um diálogo progressivo e constituído com o

sujeito como uma das fontes de informações.

A palavra experiência tem vários significados tanto no senso comum

como na filosofia e o psicólogo pode levar em conta por exemplo somente o

que a pessoa diz perceber internamente dela e também pode conseguir

agregar a esta análise meios que permitam algum tipo de observação externa

para obter uma comparação e generalização. Entre os filósofos

contemporâneos que estudaram a experiência destacam-se: E. Hussel, M.

Heidegger e M. Scheler. O primeiro dizia que a consciência não é separável do

mundo pois o homem e o mundo interagem permanentemente pela recriação e

reinterpretação do que existe. Heidegger fala que a experiência é marcada

pela sua mundaneidade e temporalidade e está em contínua tensão e que

somente quando soubermos a verdade do ser poderemos pensar a essência

do sagrado.

Scheler tentou estabelecer uma relação adequada entre a psicologia e

a religião não considerando-as como absolutamente diferentes ou idênticas e

para ela o ato religioso é determinado pela intencionalidade do sujeito

englobando os sentimentos, pensamentos, atividade psíquica interna e

atividade externa.

Atualmente existem especialistas na experiência religiosa e estes

consideram que o ser humano religioso mostra seus sentimentos, modos de

compreensão e atitudes e estes não podem ser reduzidos a representações

pois as ultrapassam. Entretanto, como diz Valle (1998), variam o modo de

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definir este “a mais” do religioso (Valle, 1998). Para uma adequada visão da

experiência religiosa deve-se distinguir a religiosidade (forma individualizada) e

religião (é institucionalizada, a forma comunitária, a matriz que possui funções

psicológicas e socioculturais).

Quando fala-se de experiência religiosa, depara-se com o pressuposto

do inconsciente. O autor P. Ricour demonstrou que a interpretação

fenomenológica pode contribuir para a discussão em torno da relação

consciente e inconsciente (RICOUR, citado por VALLE, 1998).

Existem vária definições de religião e uma das mais aceitas é a W.

James. Para ele a religião é um conjunto de sentimentos, atos e experiências

individuas realizados em sua solidão enquanto se situa em uma relação com

seja considerado divino para o sujeito, como nos esclarece Valle (1998). Sua

visão não é aceita totalmente pois deixa de lado alguns fatos sociais e

históricos. Outro autor importante é Thouless, que afirma que a religião é uma

relação vivida e praticada entre o ser humano e o ser ou seres supra-humanos

nos quais ele crê; é um comportamento e um sistema de valores e de sentidos

(Valle, 1998) e utilizando desse conceito Vergote acrescenta que os sentidos ,

experiências, ritos e crenças devem ser situados no contexto pois são

fenômenos parciais de experiências individuais e coletivas.

Na psicologia da religião nota-se a presença de todas as tendências

presentes na Psicologia; algumas correntes dão maior atenção ao subjetivo,

enquanto outras ao objetivo e ao comportamento religioso, também se

verificando um intercâmbio com outras ciências humanas e do comportamento.

Alguns psicólogos utilizam um modelo psicodinâmico que enfatiza a

dimensão inconsciente e conflitiva da experiência mística e entre estes,

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destaca-se a escola freudiana (que é patologística) e a escola jungiana (dá à

experiência religiosa um lugar central e uma visão positiva no processo de

individuação do sujeito).

Ainda de acordo com Valle, atualmente nota-se um redirecionamento do

estudo religioso para um “holismo transpessoal”, que postula a existência de

uma harmonia previamente estabelecida entre a sabedoria das religiões

(principalmente das religiões orientais) e os resultados obtidos pela ciência e

neste contexto pode-se dizer que a psicologia da religião, de maneira geral,

procura estudar a origem e a natureza mental da experiência religiosa

procurando porque e como alguns fenômenos religiosos ocorrem internamente

na estrutura psicológica do sujeito, ao invés de definir o que é a conduta

religiosa, visando descrever e explicar a ação religiosa do sujeito

psicologicamente de modo estrutural e dinâmico.

Um dos autores de maior destaque no assunto é Allport. Ele se

preocupou em obter uma visão integral da personalidade (para ele é a

organização dinâmica que possui tendências e características próprias e que

são parcialmente inconscientes mas dirigidas aos processos egóicos) e do

comportamento; seu interesse é no que é “único” de cada indivíduo

privilegiando as funções egóicas ativas e o caráter potencial e autônomo da

motivação. Para ele o problema da religiosidade se apresenta através de 4

elementos constitutivos (necessidades físicas, os componentes

temperamentais, valores psicógenos e o noético – busca de significado).

Como nos mostra Valle, pode-se dizer que na origem psicológica do

catolicismo popular existem dois níveis psicoafetivos, um onde agem os

sentidos, crenças, atitudes e valores profundamente radicados na cultura e

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vivenciados desde a primeira socialização humana (um esquema inconsciente

de percepções e motivações que possui uma força psicoafetiva decisiva e que

configura a vivência profunda do indivíduo – podendo considerá-lo como

“inconsciente coletivo ou étnico”) e outro como resultado da exposição do

indivíduo aos estímulos da socialização secundária (que se dá quando o

indivíduo entra em contato com outros agentes socializadores além da família e

interioriza os papéis dessas outras instituições sociais, assimilando novos

valores, comportamentos e normas).

Atualmente nota-se uma grande onda de expectativas, atitudes e

comportamentos pára-religiosos denominada Era de Aquário ou Nova Era.

Esta Era se caracteriza como uma espécies de “redes de redes” que se ligam

através de percepções em comum baseadas na captação mística e monista do

universo. E a mais presente inspiração desta Era são fatos, idéias e atitudes

provenientes das religiões orientais (embora os ocidentais não possam assumir

completamente as experiências orientais em função das limitações psico-

culturais que existem).

Este fenômeno atinge principalmente a classe média e a cultura

universitária e aponta um novo modo de sentir, pensar e se relacionar com o

universo, estendendo ao transcendente; eles acreditam que haverá nesta

época uma modificação do ser humano, da humanidade e do cosmo. Nesta

linha de pensamento deve-se destacar Fritjof Capra que vê o mundo como um

conjunto de elementos justapostos e mutuamente condicionantes onde o

espiritual transcende. Aqui se integram os saberes ocultos (como astrologia,

esoterismo e gnoses vindas de revelações e descobertas excepcionais), os

dados, hipóteses e preocupações nascidas dentro do âmbito psicológico e de

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várias terapias bioenergéticas, que estão na busca de um nível superior de

consciência e de potencializar o Self; esta era se caracteriza como uma mistura

de terapias (seria uma via de salvação subjetiva e grupal, um antídoto para a

despersonalização e alienação prometendo a cura, integração e o poder da

mente), religião (pois é um meio de se ligar espiritualmente com Deus e com o

mundo) e uma arte de viver (busca uma mudança qualitativa na consciência de

si e do mundo) (Valle, 1998). Essas religiões abrem espaço para uma

sensação integral do corpo, sexualidade e da “emoção espiritual”, tópicos

extremamente reprimidos pelas culturas e religiões ocidentais.

No ocidente as doutrinas orientais deparam-se com a separação entre

religião e ciência (que se apoderou da doutrina do ioga transformando-a em

objeto científico ao mesmo tempo em que a aclamava como um seguimento

terapêutico.

A Nova Era vem utilizando aleatoriamente e de modo inadequado

fragmentos do “corpus” do conhecimento psicológico em função dos interesses

de argumentação que justifique técnicas utilizadas em cursos e reuniões,

proporcionando experiências e confirmar crenças nos adeptos desses novos

modos de viver, sentir e ritualizar. Com isso, a Psicologia teve que fazer uma

aproximação cientificamente adequada para estudá-la, sempre atenta as

generalizações sobre os dados observados e teorias elaboradas e sabendo os

limites desta ciência e das suas possibilidades. Entre os Psicólogos destacados

três mais influentes no campo da religião são:

1. Carl G. Jung: Considera que o “eu consciente está mergulhado no

oceano da consciência transpessoal “ (VALLE, 1998) e que fala

sobre inconsciente coletivo e seus arquétipos (dos quais se

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destacam os arquétipos Self e Deus, que para ele são faces da

mesma moeda).

2. A . A . Maslow: Descobriu que as pessoas que sentem-se bem

consigo mesmas sentem “experiências de culminação”, que são

momentos vividos como experiências privilegiadas de integração

biopsíquica e espiritual. Tais experiências, motivações e

percepções do universo eram quase desconhecidas dos estudos

psicológicos.

3. R. Assagioli: Vê a pessoa holisticamente e se preocupa com a

integração conseguida através da experiência consciente de

unificação do ser e acrescenta às idéias jungianas o conceito de

inconsciente superior, que para ele é a região onde recebemos as

intuições, inspirações superiores, artísticas, filosóficas ou

científicas, os impulsos para a ação humanitária e heróica e os

imperativos éticos; ele é a fonte dos sentidos superiores e dos

estados de contemplação, iluminação e êxtase, de acordo com a

autora (1998). Outro conceito muito utilizado de Assagioli é o de

que o “eu superior” é o eu verdadeiro, além do eu consciente e

que funciona como um centro organizador psíquico.

Entre os autores destaca-se também Ken Wilber que relaciona a

psicologia e espiritualidade como uma unidade e correlacionou terapia com

meditação, dizendo que esta tem o efeito de esclarecer e educar, não de

resolver os problemas. Para ele a pessoa que medita se torna mais sensível e

desperta.

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Como nos diz Valle, 1998 “os elementos e espiritualidade importados do

Oriente, são geralmente importados de maneira massificada e seus

comportamentos, crenças e símbolos são, até certo ponto, estranhos ao nosso

meio cultural ocidental, logo, sua assimilação é mais complexa e os processos

motivacionais, afetivos e cognitivos envolvidos neste tipo de conversão são

complexos e exigem mais que imitação”.

Um dos psicólogos que mais se destacou nos estudo sobre o Oriente e

sobre religiosidade foi Carl Jung. Para ele o conflito instaurado no ocidente

entre a religião e a ciência é um mal entendido pois o materialismo científico

denominou o princípio supremo da realidade de uma forma diferente

acreditando ter criado algo novo e destruído algo antigo, mas na verdade

apenas mudou de símbolo. Para a Psicologia ocidental espírito é uma função

da psique, a mentalidade do sujeito e a condição essencial para o

conhecimento e experiência do mundo enquanto idéia e representação. No

oriente o espírito é considerado um princípio cósmico, a existência do ser em

geral e é tratado como fonte importante de conhecimento para a iluminação,

objetivo maior do hinduísmo e budismo. Outra diferença observada por Jung é

que o ocidente cristão considera os homens totalmente dependentes da graça

de Deus ou da igreja e que a graça vem de fora (é exterior ao homem)

enquanto no oriente o homem é a única causa eficiente da sua própria

evolução superior e a psique é o elemento mais importante já que tudo jorra

dela. E mesmo havendo o contato do ocidente com o modo de pensar oriental

só é possível aprender algo deste pensar quando se chagar a conclusão de

que a alma possui riquezas que dispensam a sua fecundação por elementos

externos e quando nos sentirmos capazes de nos desenvolver através de

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nossos próprios meios e nos apropriarmos do conhecimento consciente do

conflito existente entre os valores cristãos e a atitude introversiva oriental

(existente inconscientemente em cada um) poderemos nos apropriar do

conhecimento oriental (JUNG, 1983).

Corroboro com a visão do autor acima citado pois acredito que para

haver um crescimento pessoal real é preciso que indivíduo se aproprie do

conhecimento que vem do mundo exterior através de uma atitude de reflexão,

assimilando o que é importante para si. Deste modo haverá então uma

“apropriação” dos mesmos, que se tornam parte do indivíduo.

Na visão oriental o inconsciente é o arcabouço das formas arquetípicas,

a raiz de todas as experiências da unidade. Ainda de acordo sua teoria,

arquétipos são como “estruturas fundamentais, características herdadas dos

tempos remotos que não possuem conteúdos específicos que determinam a

vida psíquica” (JUNG,,1983) e que por isso são denominados por ele como

dominantes do inconsciente.

Tantra é um termo sânscrito que significa doutrina, conhecimento,

sabedoria, realidade expansiva revelada pela sabedoria; historicamente se

caracteriza como um gênero de ensinamentos espirituais que afirmam a

continuidade entre o espírito e a matéria. Os tantristas acreditam que seus

ensinamentos são destinados para quem busca à espiritualidade mas que

estão presos nas trevas. Para atingir tal objetivo seus iniciados modificam os

velhos ensinamentos que possuem na vida “cotidiana” e criam um novo

repertório de práticas. O Tantra tem raízes no Budismo e no Hinduísmo.

Os praticantes do Tantra acreditam que o mundo material visível

coexiste com outros 13 níveis de manifestação, mas o nosso é o único que se

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estende acima a abaixo da terra. Abaixo do plano dimensional terrestre existem

7 planos do submundo (cada um é povoado por diferentes espécies de seres) e

acima estão os 6 planos mais altos habitados por semideuses e divindades

reconhecidas pelas religiões do Oriente Médio, sendo o plano mais alto

habitado pelo Criador (Shiva). Os reinos sutis são considerados o lar das

divindades, espíritos ancestrais e outras entidades e os praticantes tântricos

devem se proteger contra a interferência e forças desses mundos e uma das

formas de conseguir isto é cultivando a amizade a ajuda dos seres que habitam

os domínios sutis (que assumem um papel de protetores). A mente ocidental

tende a destacar aspecto tântrico das divindades e as consideram como uma

espécie de superstição ou como projeção das fantasias arquétipicas residentes

na psique humana. Entre os deuses existentes alguns se destacam: Shiva,

Parana Shiva e Sakti.

O primeiro é o aspecto da Realidade definitiva conhecido como

Consciência, Bem aventurança ou puro “eu”, Paraná possui inúmeros poderes

entre os quais os mais importantes são os intrínsecos à Realidade definitiva,

Consciência auto reveladora, Bem aventurança absoluta, vontade ilimitada,

conhecimento total e dinamismo universal e Sakti é o princípio da criatividade e

pode ser entendido como uma manifestação da Bem aventurança da Realidade

definitiva; é o espelho no qual a Consciência esta refletida.

Para a Tantra o universo é uma polarização transcendente entre Shiva e

Shakti; sua união é transcendental e sexual e o fruto desta união é a meta da

Tantra Yoga, é a Bem aventurança perpétua, que vai além do que o nosso

sistema nervoso é capaz de produzir.

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Para os sábios indianos a lei de Newton de causa-efeito/ação-reação

também se aplica na mente no que se refere aos pensamentos e vontades e

acreditam que a causalidade governa todos os eventos como nos mostra

Feuerstein (2001). O ser humano é um indivisível Ser-Consciência puro e o

mundo idêntico a nossa natureza, não uma realidade externa.

Os mestres tântricos acreditam na existência de dois níveis de

compreensão (que correspondem a dois níveis de realidade), um é o ponto de

vista mundano que acredita num sólido universo material, tende a ser parcial e

que com freqüência é corrompido; e o segundo é o ponto de vista espiritual,

informado pela sabedoria e que leva à Realidade definitiva (que tem 2 aspectos

– Consciência e energia – e se manifestam como o universo). Para eles é

através da sabedoria superior que poderemos ver as coisas como uma só e

que o mundo é a Realidade definitiva.

Uma das grandes contribuições tântricas para a espiritualidade é sua

filosofia do corpo que para eles não é somente um adereço para o Self

vivenciar o mundo mas também um templo do Divino, uma manifestação da

Realidade suprema; o corpo é compreendido como um terreno para as

realizações mais elevadas, o campo no qual crescemos e colhemos nossa

experiência (FEUERSTEIN, 2001). Para eles o corpo deve ser honrado pois

desempenha uma função importante e quando há o entendimento verdadeiro

deste corpo descobre-se o que é o mundo (que em essência é divino). No

interior do corpo-mente encontra-se a porta de entrada para o cosmo exterior e

toda a arquitetura do universo espelha-se fielmente no próprio corpo-mente e a

vida humana pode servir como uma escada para a Auto-realização já que a

vida humana dá aos seres humanos a consciência para que eles reflitam sobre

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a sua própria existência. Eles acreditam que existe um ciclo de renascimentos

e mortes só interrompido pela intervenção mental com a troca do senso de

identidade do corpo-mente para o Self.

O Tantra é uma tradição iniciatória; os tantristas ou seus adeptos

acreditam que seus ensinamentos sagrados devem ser mantidos em segredo

pra não serem utilizados por pessoas despreparadas e são passados dos

mestres para os discípulos oralmente. Os adeptos acreditam que somente a

instrução oral dada pelo mestre é capaz de trazer crescimento interior. Com a

iniciação a pessoa se torna um discípulo, o que exige escolher a consciência a

responsabilidade e realidade, adotar uma disciplina espiritual recomendada

pelo guru e sua obrigação principal é conquistar os “seis inimigos” (desejo,

raiva, cobiça, ilusão, orgulho e inveja) e para realizar esta autotransformação o

pupilo deve se inspirar no desejo de libertação. O mestre prescreve ao pupilo

um currículo de disciplina que envolve várias práticas, principalmente recitar

mantras, oração e adoração ritual pois acreditam que a libertação é o ato de

renunciar totalmente os objetos e relações mundanas. Estas práticas acabam

com o tempo pro aquietar a mente, possibilitando aos adeptos dominar o

desejo.

Dentro desta tradição iniciatória o guru tem como função mais

importante propiciar os discípulos a se espelharem em si mesmos fortalecendo

a intuição da Realidade definitiva, o Ser transcendental. E somente quando se

está disposto a derrubar as barreiras egóicas é que a “função guru” poderá

desempenhar seu trabalho de transformação. O guru deve conhecer os

mantras, yantras (imagens reduzidas do universo, carregadas de poder

espiritual e utiliza-las como instrumentos de concentração e visualização),

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perceber o Self mais íntimo, ter a mente tranqüila e estar realizado plenamente;

quando o guru permite que seu discípulo ensine significa que este foi levado ao

grau de mestre para passar os ensinamentos a outros.

O Tantra desenvolveu sua própria disciplina, baseada na idéia de auto-

purificação física, mental e energética; e a purificação física por ele utilizada no

Tantra Yoga.

Yoga significa disciplina unitiva e Tantra Yoga disciplina tântrica unitiva

que se baseia na expansão ou intensificação da sabedoria através das crenças

e práticas. Sua é romper o ovo cósmico (soma total das ações do indivíduo no

que é mundo; noções que definem o que a realidade pode ser para o indivíduo)

e sua ruptura é um modo de pensar através do qual a imaginação pode

escapar do mundo e criar um novo ovo cósmico) (PIERCE citado por

FEUERSTEIN, 2001).

Existem alguns tipos de Yoga além do Tantra Yoga e entre eles

destaca-se o Hatha Yoga. Seu propósito é realizar a preparação do corpo para

os rigores da meditação intensiva e depois investida de iluminação, levar a

mudanças bioquímicas e energéticas (FEUERSTEIN, 2001).

O hatha Yoga vem sendo utilizado como um auxiliar em diferentes tipos

de intervenções, mas também pode ser utilizado como a principal intervenção.

Suas técnicas são utilizadas para o tratamento de varias enfermidades, entre

as quais estão a asma, abuso de álcool, stress, problemas cardiovasculares,

eficiência na redução da alta pressão sanguínea (especialmente na

hipertensão), etc e para melhorar as atitudes do praticante (ANATHARAMAN &

KABIR, 1984; PATEL, 1973; PAUL & NORTH, 1975; SIM & RATMAS, 1982

citados por ROBINSON & CUSTOMANO, 1992).

21

Em seus estudos, Arpita (1983, citado por ROBINSON & CUSTOMANO,

1992) realizou uma revisão bibliográfica sobre os efeitos psicológicos e

fisiológicos da hatha Yoga e constatou que esta pratica contribui para melhorar

a imagem corporal, o auto-conceito, e a auto-estima e para reduzir a ansiedade

e a depressão. A hipótese é de que o sistema nervoso autônomo seja o

mediador desses efeitos e que este sistema seja influenciado diretamente

pelas posturas do hatha Yoga; e que o seu sucesso seja possivelmente em

virtude da refocalização da atenção promovendo uma limpeza da mente dos

pensamentos que causam stress (ROBINSON & CUSTOMANO, 1992).

O presente estudo pretende verificar as possíveis mudanças na

dinâmica afetiva de uma mulher praticante do Tantra Yoga após 9 meses e 15

meses desta prática. É importante reiterar a escassez de estudos nesta área,

pois a maioria dos estudos que englobavam a prática da Yoga com a avaliação

do Rorschach se referia ao “mapeamento” e melhora dos pacientes

psiquiátricos ou psicossomáticos com uma quase ausência de estudos

enfocando a saúde ou sua promoção através destas técnicas.

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II. OBJETIVOS Objetivo geral:

Contribuir para o desenvolvimento das pesquisas sobre os modos de

percepção e além disso sobre o instrumental para auxílio do processo

terapêutico.

Objetivo específico:

Descrever o processo perceptivo, produtivo e criativo de um indivíduo

que se submete ao treinamento da Tantra Yoga.

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III. MÉTODO

Escolhemos o método do diagnóstico compreensivo composto da

avaliação projetiva e da história de vida para acompanhar e descrever as

manifestações comportamentais e a dinâmica afetivo-emocional em

praticantes, da Tantra Yoga.

Este tipo de avaliação derivado do diagnóstico da clínica começou a ser

utilizado em 1896. No período entre as duas grandes guerras quando houve

uma hierarquização das doenças mentais. Nesta época quando se constatava

uma condição orgânica, a doença precedia sobre os outros diagnósticos. Neste

cenário Freud e Kraepilin foram importantes pois caracterizaram a diferença

entre estados psicóticos e neuróticos entre os transtornos denominados

funcionais/não orgânicos, sendo Freud o primeiro elo da corrente dinâmica

(Cunha, 2000). Às propostas de Freud seguiu o surgimento do teste de

associação de palavras de Jung, que forneceu um lastro para o aparecimento

das técnicas projetivas. Em 1913 Freud generalizou o termo projeção

afirmando que este é um mecanismo defensivo normal. Quando se projeta algo

na realidade há o reconhecimento de um estado em que algo esta presente

nos sentidos e na consciência junto com outro estado, em que a mesma coisa

está latente e pode reaparecer, mostrando a existência de processos mentais

conscientes ao lado dos inconscientes; e através da projeção as técnicas e

métodos projetivos nos possibilitam avaliar as áreas sadias e patológicas da

personalidade, retratando o mundo interno do indivíduo, revelando o seu

equilíbrio e recursos para lidar com os conflitos (Cunha, 1993).

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Pretendemos observar os movimentos da dinâmica afetiva emocional e

da percepção no transcorrer de seis meses e revelar as mudanças ocorridas.

Os estudantes de Tantra Yoga realizarão Prova de Rorschach a seguir e

farão um relato de sua história de vida. O perfil psicológico será analisado

articulando-se os dados revelados pela prova de Rorschach e os sentimentos,

ações e fatos revelados na história de vida dos sujeitos.

O método escolhido para a interpretação da prova de Rorschach será o

de Klopfer, esta escolha está baseada na experiência da idealizadora deste

projeto e também porque os índices a serem avaliados nos possibilitaram o

reconhecimento do grau de controle do ego, o grau de maturidade, as

potencialidades afetivas, o movimento dos processos cognitivos e como está

sendo gerida a dinâmica dos afetos. Serão considerados especialmente os

seguintes índices:

1) Ressonância afetiva; 2) Exteriorização da afetividade; 3) Tipo de

exteriorização; 4) Organização das necessidades afetivas; 5) Recursos da

personalidade; 6) Grau de esteriotipia; 7) Produção; 8) Manutenção da

objetividade.

Para verificar o nível do funcionamento mental utilizou-se o esquema

proposto por Penna (1987). Para ela, os elementos introversivos são

representados por respostas FM e m e indicam energia potencial que tem

possibilidade de serem transformados em energia integrada e criativa M.

25

No eixo do movimento e cor, representa nas respostas de movimento, a

energia psíquica em seu campo interno, indicando a conscientização e

organização dos impulsos primitivos, orientação e disponibilidade de recursos

internos, construção de valores pessoais, processos imaginativos, orientação

da energia vital para gratificação imediata ou para metas a longo prazo. As

respostas de cor representam o mundo externo, relações interpessoais, modo

do sujeito comportar-se no mundo, suas reações e manifestações emocionais

(CHIODI, 2002).

Se houver no psicograma um predomínio de respostas Fm sobre Me

maior tendência de respostas CF, o indivíduo estará funcionando com energia

organizada no processo primário do funcionamento mental. Ao contrário, se o

predomínio for de respostas M e FC, sua energia estará elaborada no processo

secundário do funcionamento mental, transformando as necessidades de

gratificação em metas a longo prazo.

O processo primário caracteriza-se por um sistema inconsciente, com

energia psíquica escoando livremente, indo de uma representação para outra

de acordo com os mecanismos de deslocamento e de condensação. Já o

processo secundário caracteriza o processo consciente e pré-consciente, e a

energia começa “ligada” antes de escoar controladamente; sua satisfação é

adiada (LAPLANCHE E PONTALIS, 1995). A oposição entre os processos é

correlata ao princípio do prazer e o princípio de realidade.

A história de vida e as experiências relatadas no segmento da atividade

meditativa serão norteadores para a descrição do comportamento manifesto

frente ao potencial libidinal apresentado pelos sujeitos. A história de vida será

26

conduzida segundo a anamnese – “Exame Clínico e Psicológico” de Hipólito

C. Filho e Helena B. Prebianchi, (1999).

Entrevista semi-dirigida: Nela o indivíduo tem a liberdade para expor

seus problemas e pode incluir o que desejar; a intervenção do entrevistador se

dá para assinalar vetores caso o entrevistado não saiba como começar ou

continuar - fazendo isso da maneira mais ampla possível - , para indagar

aspectos importantes que o entrevistado não disse, contradições,

ambigüidades, verbalizações obscuras e para assinalar situações onde há

bloqueio ou paralisação em virtude do aumento da angústia, assegurando o

cumprimento dos objetivos da entrevista de compreender o mapa da história de

vida do sujeito (OCAMPO, ARZENO, PICCOLO, e col., 1995). As razões para

se utilizar este tipo de entrevista são a oportunidade de conhecer

exaustivamente o paciente e extrair dados que permitam formulações de

hipóteses, planejamento de novos procedimentos e interpretação mais precisa

dos dados obtidos.

As técnicas projetivas tem como principal característica apresentação

de uma tarefa relativamente não estruturada, o que permite uma variedade

quase ilimitada de respostas possíveis, na qual apresenta-se apenas

instruções breves e gerais. Neste tipo de avaliação espera-se que seus

materiais funcionem como telas nas quais o sujeito “projeta” seus medos,

conflitos, necessidades; dinâmica psíquica em geral. Elas nasceram da

situação clínica e seu esquema teórico reflete a influencia dos conceitos

psicanalíticos.

Os instrumentos projetivos também apresentam - se como “teste

disfarçados”, visto que raramente a pessoa está ciente do tipo de interpretação

27

psicológica que será feita das suas respostas, sendo por isso consideradas

eficientes principalmente em revelar aspectos inconscientes latentes

(ANASTASI, 1977).

Nos testes projetivos a atenção aos processos de construção da

resposta do sujeito e de permitir que o sujeito identifique qual o desejo social

da resposta, podendo levá-lo a responder buscando a aceitação e não

expressando o que realmente sente (REY, 2002).

Como nos salienta Gonzáles Rey, 2000, o diagnóstico qualitativo deve

ser compreendido como um processo teórico de construção dos aspectos

subjetivos do sujeito. Neste tipo de diagnóstico os instrumentos fazem parte do

processo geral não sendo um fim em si mesmo.

A avaliação psicológica é um processo cientifico que tem propósitos

clínicos e visa identificar as forças e fraquezas do funcionamento psicológico

que pode focar ou não a existência psicopatológica. Utiliza técnicas e/ou testes

psicológicos para entender os problemas à luz de pressupostos teóricos para

identificar e avaliar aspectos específicos para classificação e previsão do

possível curso do caso (Cunha, 2000).

O comportamento de projeção subtende atribuir as próprias

necessidades e qualidades a objetos externos sem que o sujeito tenha

consciência disso, através de respostas livres e espontâneas. No que diz

respeito à projeção, o autor Schachtel (1996, cap 2, 3, 9, citado por WEINER,

2000) detalhou a maneira como esta influencia as respostas dadas no

Rorschach. A resposta acontece através da atribuição de sentimentos,

qualidades, experiências e anseios próprios do indivíduo aos estímulos da

prancha. E o fato desta projeção ocorrer aponta que o Rorschach elicia

28

respostas que contém descrições objetivas como também impressões

subjetivas (WEINER, 2000).

A perspectiva psicanalítica é considerada a melhor teoria para

compreender a prova de Rorschach e esta considera que as respostas do

Rorschach envolvem processos de associação (atribuir características além

das reais ao estímulo), e simbolização, auxiliando na investigação do

funcionamento e da estrutura da dinâmica da personalidade.

Cada resposta é classificada, no sistema Klopfer, quanto a sua

localização, determinante, conteúdo, popularidade, originalidade e nível formal

e além de classificar as respostas, o sistema leva em conta as freqüências de

respostas e realizando alguns cálculos obtêm-se os índices e sua interpretação

leva em conta os aspectos qualitativos e quantitativos.

Como nos diz Cunha, 2000: “ A pressuposição básica ao se utilizar as

técnicas com manchas de tinta e de que a forma como o sujeito percebe

estruturalmente os estímulos ambíguos reflete seu comportamento na vida real;

e pode também ser conceitualizado como um estímulo a fantasia, levando a

pressupostos de que a ambigüidade presente nos estímulos é um veículo

apropriado para projetar as necessidades de sujeito através de representações

simbólicas”.

As características da personalidade identificadas através do teste se dá

pois a maneira como o indivíduo “impõe a estrutura perceptiva sobre as de tinta

reflete o modo como provavelmente ele vê e responde a outras situações

relativamente pouco estruturadas (ou seja, campos de estímulos) de sua vida”

(WEINER, 2000 pp 21).

29

Para obter uma avaliação adequada do teste deve-se conhecer a

história do sujeito (pois esta representa uma garantia para precisão diagnóstica

e é importante para avaliar a personalidade e identificar as áreas que devem

ser focalizadas numa terapia), em qualquer intervenção que objetive a melhora

da qualidade de vida do sujeito.

De acordo com Cunha, o teste do Rorschach é dividido em 4 partes, a

saber:

1. Administração propriamente dita (também chamada de fase da

associação livre): Abrange desde o modo que o examinador e examinado

sentam, a entrega das pranchas, as instruções, anotação do tempo de reação

e do total e os registros dos comportamentos verbais e não verbais do sujeito.

Se caracteriza como uma situação-estímulo ambígua e pouco estruturada (as

instruções dadas pelo experimentador são básicas para que o próprio sujeito

as interprete e assuma sua responsabilidade sobre o modo de agir),

relativamente padronizada (as respostas a perguntas ou solicitações ao

sujeito não são totalmente padronizadas em virtude de não ser possível o

controle de todas as variáveis, tais como fatores conscientes e inconscientes

relativo ao sujeito, ao experimentador e a sua interação). A situação é nova

para o sujeito (o sujeito não tem conhecimento prévio do material e da

situação de avaliação. No reteste supõem-se que uma série de fatores

influenciam o sujeito, fazendo com que novos elementos existam na situação-

estímulo. De cardo com Cunha, 2000; a suposição básica é a de que a

amostra do comportamento do sujeito pode fundamentar hipóteses

interpretativas e permitirão chegar a inferências acerca da estrutura e do

30

funcionamento de sua personalidade. Antes de realizar a administração e

necessário estabelecer um bom rapport, lembrando que as condições atuais

do sujeito podem interferir ou comprometer o desempenho do sujeito,

devendo ser avaliadas adequadamente.

Um dos problemas que pode ocorrer nesta fase é que estados emocionais

provocados por diferentes situações levem a emergência de determinados tipos

de respostas, tal como demonstrados pelos estudos de Aron (1982 citado por

CUNHA, 2000), que demonstrou que acontecimentos estressantes se manifestam

nos protocolos de Rorschach.

2. Inquérito: Tem o objetivo de averiguar os aspectos

perceptocognitivos que estão por trás das respostas. Esta fase fornece

subsídios para tornar as verbalizações registradas na administração

clinicamente úteis. O aplicador deve partir das próprias verbalizações do

sujeito, restringindo-se à terminologia utilizada por ele e as perguntas do

examinador devem ser o mais neutras e rotineiras possíveis. Em geral, um

inquérito bem realizado dispensa o período de analogias.

3. Analogias : Seu objetivo é esclarecer os problemas de definição

do índice e deve ser utilizado caso ainda existam dúvidas sobre aspectos

importantes e/ou essenciais para a realização de um diagnóstico diferencial.

Teste de Limites : Tal como a fase anterior é facultativo e se propõe a

testar as hipóteses do examinador. É utilizado para testar as reações do sujeito

a determinadas pranchas e para realizar uma avaliação potencial do sujeito e

deve ser minimamente sugestiva para não comprometer o desempenho do

sujeito no reteste, restringindo-se apenas as hipóteses fundamentais para a

avaliação. Esse recurso técnico pode ser utilizado em casos onde, por

31

exemplo, o sujeito não refere nenhuma cor, ou em outras situações que

venham suscitar dúvidas durante a aplicação.

Contamos com a colaboração de 2 sujeitos, uma era aluna de Tantra

Yoga e a outra sua professora. Para preservar seu anonimato, os nomes

colocados são falsos.

32

IV. RESULTADOS

A evolução de cada caso será discutida à luz da teoria Jungiana e de

seus continuadores. E os resultados obtidos em cada descrição serão

organizados buscando uma integração entre os índices encontrados na Prova

de Rorschach, a história de vida dos sujeitos, as mudanças relatadas no

transcurso da atividade meditativa.

De acordo com Jung,(1983), os tipo gerais de atitude se dividem em

introvertido e extrovertido, que se diferenciam basicamente em função do seu

comportamento singular em relação ao objeto. Para ele, introversão e

extratensão estão ambos presentes em todos os indivíduos, sendo que um

opera para adaptação consciente e o outro de maneira compensatória (através

do inconsciente e como parte dele). Assim, a pessoa sofrerá reações

compensatórias que provém do lado primitivo, inadaptado.

1- O introvertido é uma personalidade preocupada em retirar do objeto a

libido; os sujeitos introversivos tendem se defender das solicitações externas e

tenta se prevenir do consumo de energia que refere-se diretamente ao objeto

criando para si uma posição que lhe dá segurança e que é ao máximo

fortificada. Sua orientação principal é para fatores subjetivos; sua consciência

percebe as condições do exterior mas as suas condições decisivas

determinantes para avaliação de situações e respostas ao meio são subjetivas,

se orientando pela percepção e pelo conhecimento que estão internalizadas no

subjetivo (“ação ou reação psicológica que, sob a influencia do objeto, se funde

num novo estado psíquico”), (JUNG, 1983). Com isso, sua atitude inconsciente

é a de não dar ao objeto a importância devida.

33

Seu pensamento é orientado principalmente pelo fator subjetivo (em

última análise determinando os julgamentos) e os fatos tem uma importância

secundária, valendo mais o desenvolvimento e apresentação da imagem

simbólica inicial; pensam para aprofundar-se, evidenciando algumas vezes a

falta de sua relação com o objeto. Seu julgamento parece inflexível, frio,

arbitrário e duro em função do seu relacionamento maior consigo mesmo do

que com o objeto, fazendo supor uma maior importância de sua atenção ao

sujeito que ao objeto.

Com relação a sentimentos, em função da preocupação secundária com

o objeto, ele manifesta muito pouco seus sentimentos e geralmente de modo

equívoco, tentando dominar os sentimentos ao mesmo tempo em que procura

inconscientemente tornar reais as suas imagens de base.

2- Já o tipo extrovertido orienta sua atitude subjetiva para o objeto e se

reporta a ele, o que caracteriza uma atitude de comportamento positivo frente

ao objeto; tendo também como característica a intromissão e a constante

participação em tudo. Em sua atitude há o predomínio de condicionar as

decisões e ações às circunstâncias objetivas, com o predomínio da orientação

pelos dados objetivos e pelo objeto.

Seu agir é orientado pelas influencias que o sujeito recebe das pessoas

e coisas e seu foco de interesse e atenção primeira são os acontecimentos

objetivos do meio ambiente próximo. Sendo a função auxiliar do sujeito

extrovertido a introversão, seu inconsciente é dotado de uma forte tendência

egocêntrica.

Jung salienta no entanto que os dois tipos psicológicos estão presentes

nos indivíduos, em todas as personalidades sendo que, enquanto um se move

34

em direção à adaptação consciente, o outro tipo opera como parte e através do

inconsciente de maneira compensatória, de modo que ao analisar o tipo

psicológico, deve-se buscar compreender também a sua estrutura

compensatória. ( JUNG, 1983).

Para fins de análise, considera-se um terceira vertente, que seria o

ambigual. Este, seria um indivíduo que possui potencial introversivo e

extratensivo na mesma proporção, de modo que poderá ir para extroversão ou

introversão com a mesma probabilidade.

Outros aspecto utilizado por esse estudo, é o conceito de animus. De acordo

com Jung, animus é o aspecto masculino, recessivo presente na mulher. “Ele

representa sistemas de avaliação nunca confrontados pela consciência

(FENICHEL, 1981). O animus aparece sob várias formas: imagens, fantasias,

sonhos ou projetado sobre o homem; o relacionamento com o pai ou irmão

serve como modelo primeiro para a conexão da mulher com o significado,

ordem racional, iniciativa, agressividade, segurança e autoridade.

(FENICHEL,1981).

35

Sujeito 1 : Júlia

QUADRO 1 : PONTUAÇÕES OBTIDAS NOS ÍNDICES AFETIVOS NA

AVALIAÇÃO DA PROVA DE RORSCACH.

TESTES 1º

Aplicação

Aplicação

1. Ressonância

(Rs.)

% 33,33 54,83

Csum 2 2,5 2. Exteriorização

(Ext.) M : Csum 3 : 2 5 : 2,5

3. Tipo de

Exteriorização

FC : CF + C 2,5 : 1,5 10,5 : 0

FK + Fc/F 2/6,5 11/17 4. Organização

(Int.) SD : SI 2,5 : 0 12,5 : 0,5

M : FM 3 : 1 5 : 6 5. Recursos (Rec.)

M : FM + m 3 : 2,5 5 : 7,5

A% 25 54,83 6. Identidade

H% 25 19,35

7. Número

respostas

R 12 31

8. Objetividade F% 16,66 16,13

V

A

R

I

Á

V

E

I

S

9. Realidade F+% 100 80

36

TESTE 1: Aplicado no início da prática do Tantra Yoga (08/01/2003)

Pranchas

Índices

I Soma Soma Total

R 12 P 6

G 1a 1 1 1 G 2a 1 1 1 1 4 1 1 1 1 4 8 G/ 1 1 1 D 1 1 2 2 S 1 1 1 M 1 1 1 1 2 3

FM 1 1 1 M 1 1 1 1 1,1 FC 1 1 1 2,1 2,1 FC’ 1 1 1 1 2 1,2 Fc 1 1 1 1,1 C 1 1

CF 1 1 1 FK 1 1 1 Fk 1 1 1 F+ 1 1 1 1 1 1,4 1 1 1 1,1 1,4 2,8 F- 1 1 1 A 1 1 1 3 3 H 1 1 1 1 2 3

Nat 1 1 1

Cena 1 1 2 2

Obj 1 1 1 1 2

Sg 1 1 1

Dd

F +

K

KF

k

Kf

kF

37

cF

Cf

C

C’F

C’

Ad

(A)

Hd

(H)

Anat

Sexual.

Simb.

Plant

* Os números destacados em negrito correspondem às respostas principais.

38

1. Ressonância afetiva

R.A. = 33, 33%

Indica responsividade geral do indivíduo aos estímulos emocionais do

meio, seja expressa em realidade manifesta ou não e serve de valor

comparativo para confirmar o tipo de exteriorização da afetividade. No caso de

Júlia, podemos dizer que não há inibição nem estimulação exagerada pela cor.

2. Exteriorização da afetividade

Csum = 2 M : Csum = 3 : 2

Tipo de vivência do sujeito; o tipo de reação diante do impacto

emocional provocado pelos estímulos do meio. No caso de Júlia, a

classificamos como ambigual. A ambigüidade pode apresentar-se através do

sujeito do tipo dilatado ou coartado. O indivíduo “dilatado” conserva um

equilíbrio entre as características introversivas e extroversivas, trazendo

consigo uma habilidade de manter contatos afetivos profundos e ao mesmo

tempo tendo o domínio do ambiente que o cerca. Indica reatividade manifesta.

Júlia apresenta pouca responsividade às informações do meio; também vemos

que ela, por ser ambigual, demostra potencial para introversão e extratensão.

3. Tipo de exteriorização

FC : CF+C = 2,5 :1,5

Indica a presença ou ausência de exteriorização e o tipo de controle que

o indivíduo dispõe para exteriorizar seus afetos: Júlia apresenta um tipo de

exteriorização normal, uma capacidade de responder com adequado controle

39

aos estímulos do meio, tanto interna quanto externamente e sua expressão é

profunda, não havendo necessidade de um controle exagerado. A existência de

respostas CF+C indica que ela é capaz de uma responsividade controlada em

relação ao meio social, respondendo apropriadamente tanto com sentimentos

como com ação. Além disso, indica que é capaz de respostas profundas e

genuínas sob forte impacto emocional, não havendo controle excessivo.

4. Organização interna e necessidades afetivas

Somb dif : Somb indif = 2,5 : 0

FK+Fc = 2,0 F 6,5

Demonstra a presença de sinais de ansiedade e se aquelas são

passíveis de reconhecimento ou se são tão primitivas que se tornam

indiscriminadas. As respostas de sombreado indicam como os sujeitos

manipulam as necessidades básicas de segurança, afeição e do sentimento de

pertencer a alguém. A ausência de respostas K e KF indica uma falta de

consciência das necessidades afetivas ou a presença de defesas que

protegem o sujeito dessa consciência. Júlia apresenta, consciência parcial das

suas necessidades afetivas estando presente conteúdos que provocam

sensação de angústia mas que não atingem a consciência devido a presença

de defesas que a protegem dessa consciência. Isto pode ser indicado por uma

repressão intensa dos sentidos.

Quando FK+Fc está numa proporção entre ¼ e ¾ de F indica que a

necessidade de afeto desenvolveu-se suficientemente bem e está integrada

com o resto da personalidade, e há função sensitiva controladora, auxiliando

40

o indivíduo na sua integração com outras pessoas, sem a implicação de uma

super-dependência vulnerável.

5. Recursos da personalidade

M : FM = 3 : 1

M : FM + m = 3 : 2,5

Júlia demonstra recursos da personalidade predominantemente no

processo secundário do funcionamento mental (o que indica que seu ego é

capaz de tolerar impulsos arcaicos sem ser subjugados a eles); também

observamos a presença energia vital no processo primário (FM), e além disso

sinais de angústia indiscriminada devido a presença de m. A energia no

processo primário e aquela a serviço da angústia são esperadas para pessoas

em estado de equilíbrio emocional com potencial de energia vital a disposição

de um continuo desenvolvimento afetivo emocional. Sua maturidade emocional

é normal e há reconhecimento do impulso vital e integração com seus sistemas

da valores. Com relação a estabilidade interna, a presença de angústias

arcaicas estão adequadamente sob o domínio do ego e não colocam em risco

a estabilidade da personalidade.

Necessidade de afeto bem desenvolvida e integrado com o resto da

personalidade.

6. Grau de esteriotipia

A% = 25

Indica a capacidade de concentração, o controle dos processos de

pensamento e a amplitude de interesse que o sujeito apresenta. Júlia

41

apresenta uma esteriotipia cujas funções do pensamento estão dispersas.

7. Produção

R = 12

Produção indica capacidade de produção intelectual. Júlia apresenta

uma baixa produtividade. A produtividade deve ser avaliada à luz da qualidade

dessa produção. Nesse caso as respostas, apesar de poucas são bem

elaboradas e de boa qualidade, apresentando cor, textura, sombreado,

movimento, entre outros.

8. Manutenção da objetividade

F% = 16, 66

Indica a capacidade de formação de conceitos objetivos. Um baixo F%

indica ênfase inadequada em conformar-se com as exigências da realidade,

uma relação altamente personalizada. Além disso as respostas fornecidas por

Júlia apresentaram um alto grau de elaboração, isto é, a maioria delas foram

respostas gerais com nível de detalhamento que sugere habilidade para

integração dos dados da realidade.

9. Dado de realidade

%F+ = 100

Indica capacidade de objetivação adequada do sujeito, segundo os

padrões sociais. A qualidade das respostas F e sua quantidade são indicativos

da capacidade reguladora do pensamento e da razão. Júlia apresenta uma

rigidez, vida afetiva comprometida. Júlia está controlando sua vida afetivo-

42

emocional através da recusa de um contato mais amplo com a realidade.

Tipo de Sucessão: Ordenada, que é considerado ótimo para a eficiência

intelectual, implicando numa abordagem sistemática das situações, mas com

flexibilidade.

G% = 83,33

Parece que Júlia nesse momento apresenta uma necessidade de produzir

intelectualmente muito mais, o que não corresponde a sua atual capacidade e

produtividade e de manutenção da qualidade destas produções já que manter este

patamar de produção implica em asfixia da vida afetivo-emocional e de super-

impor generalizações aos fatos, sendo estes adequados ou não.

D% = 16,66

Esta interpretação depende do nível formal dos D e das outras localizações.

Júlia se mostra desinteressada em diferenciar os fatos óbvios apresentados pelo

mundo ao seu redor devido a um comprometimento da vida afetivo-emocional

provocando asfixia dos processos da formação do pesamento

Dd% = 0

Indica um baixo nível de interesses nas minúcias da experiência.

Dd% + S% = 8,33 (normal)

43

Organização e apreensão da realidade

G% : D% S% G : D: Dd: S 83,33 : 16,66 : 8,33 83,33 : 16,66 : 0 : 8,33 Apreensão adequada da realidade, embora ela apresente desinteresse pelos

detalhes das situações que a vida lhe impõe.

Aspiração intelectual X recursos internos

G : M = 10:3.

Júlia apresenta um nível de aspiração muito alto, o que pode ser

considerado um sinal negativo. Parece que isto se deve a uma ambição

hipertrofiada, embora em muitos caso não se trate de uma aspiração tão alta.

Como o nível formal é alto e há uma produção normal de M com super-

acentuação de G, parece tratar-se de um caso de pessoa de nível superior com

impulso muito grande para realizações, mas às custas de outras satisfações

importantes. Júlia apresenta interesse em organização, com potencial criativo

suficiente para torná-lo não penas um falso impulso, mas um impulso real para

realização intelectual.

p – engajamento em grupo social

P/M = 6/3 G : F = 7 : 7 = 1 : 1

A pessoa que tem um número médio dessas respostas tende a ver o

mundo da mesma maneira que os outros, sem ênfase na visão convencional.

(H+A) : (Hd+Ad): 6:0

Não há atitude extremamente crítica por parte de Júlia, que apresenta um

44

alto grau de empatia e auto-estima bastante preservada.

Fundo de personalidade: (FM+Fm+mF+m) : (FC’+C’F+C’+Fc+cF+c)

Júlia apresenta pouco potencial introversivo e extratensivo e em igual

quantidade. Por ser ambigual e por estar restringindo seu potencial de repostas.

Interferência de perdas e rejeições na manifestação da afetividade

(FC’+C’F+C’+Fc+cF+c) : (FC+CF+C) = 3,5 : 4,0 (Crom > Acrom)

Júlia teve experiências traumáticas que resultaram em comprometimento

da capacidade de responsividade ao meio, entretanto, está equilibrada eu função

de um provável alto nível cognitivo-intelectual estas experiências não chegam

atrapalhar seu cotidiano.

Organização das necessidades afetivas

(FK+Fk+Fc) : (KF+K+kF+k+cF+c) = 11,5 : 0,5

Júlia tem consciência das suas necessidades afetivas.

Modelos de identidade

%H = 25

%A = 25

TRI crom X TRI acrom: Indica que o indivíduo não é perturbado pelo

impacto emocional do meio.

45

TESTE 2 – Júlia: Aplicado no após seis meses da prática do Tantra Yoga

(03/07/2003).

Pranchas

Índices

I IV V VI VII

Soma II III VIII IX X Soma Total

R 31 P 8

G2° 1 1 3 1 6 1 1 7 G/ 1 1 1 1 2 D 1 2 3 1 2 1 2 6 9

Dd 1 2 3 4 2 6 12 15 S 2 1 1 1 2 7 1 1 2 4 11 M 1 2 3 1 1 2 5

FM 1 1 2 2 1 1 4 6 M 1 1 1 1 1,1 FC 1 2,2 1,

2 2,1 5,6 5,6

FC’ 1 1 1 1 1,1 2,1 Fc 2 1 3 1 3,4 1 1 1 1 1 2,3 5,7 FK 1 1 1 1,2 1 1 1,3 Fk 1 2 3 3 KF 1 1 1 F+ 1, 1 2 1 3 2 1,9 1 1 3 2 3,3 3, 9 4, 18 F- 1 1 1 2 1 1, 1 1, 6 A 2 1 2 5 3 1 6 10 15

Ad 1 1 1 (Ad) 1 1 1 Aobj 1 1 1

H 2 2 1 1 2 4 (H) 1 1

(Hd) 1 1 Sg 1 1

Cena 1 1 2 1 1 3 Obj 1 1

Alimento 1 1 1

46

Plant 1 1 1 Geo 1 1 1 Arq 1 1 1

kF

cF

Cf

C

C’F

C’

Ad

(A)

Hd

(H)

Anat

Sexual.

Simb.

Plant

*Os números destacados em negrito correspondem às respostas principais

47

1 Ressonância Afetiva:

R. A. = 54,83 (aumentou)

Normal, o que indica que o indivíduo é capaz de responder com controle

adequado aos estímulos do meio, externa e internamente e sua expressão é

profunda, não havendo necessidade de responder com exagerado controle. A

pessoa é capaz de responder de maneira apropriada com sentimentos e ação,

sendo também capaz de respostas profundas e genuínas sob forte impacto

emocional.

Tipo de vivência, capacidade de reflexão, de imaginação e energia

psíquica existente: É desfavorável, embora o sujeito tenha dado um bom

número de M.

2. Exteriorização da afetividade

Csum = 2,5 M : Csum = 5 : 2,5 (aumentou ambos)

No caso, Júlia passou da ambigüidade para a introversão. No que diz

respeito a vivência atual ela manifesta mais o mundo humano (seu próprio

mundo).

3. Tipo de exteriorização

FC:CF+C = 10,5 : 0

Indicativo da capacidade de responder com adequado controle aos estímulos

do meio, tanto interna quanto externamente e sua expressão é profunda, não

havendo necessidade de um controle exagerado. É um sinal de controle sobre

a expressão impulsiva da emocionalidade. Júlia demonstra uma dificuldade em

reagir emocionalmente diante de uma situação que solicite um envolvimento

48

mais profundo. Sua exteriorização da afetividade se dá de modo organizado e

compreensível, embora algumas vezes possa perder o controle e ser inundada

pelo afeto, situação que não remete a nenhum problema emocional.

4. Organização interna e necessidades afetivas

Somb dif : Somb indif = 12,5 : 0,5

FK+Fc = 11 F 17

Demonstra a presença de sinais de ansiedade e se aquelas são

passíveis de reconhecimento ou se são tão primitivas que se tornam

indiscriminadas. As respostas de sombreado indicam como os sujeitos

manipulam as necessidades básicas de segurança, afeição e do sentimento de

pertencer a alguém. Júlia demonstra um baixo índice de respostas de

consciência das necessidades afetivas, o que indica a presença de defesas

que protegem Júlia dessa consciência. Ela mantém o controle interno, só que

se mostra mais produtiva (fornece mais respostas) e externaliza mais suas

necessidades embora ainda apresente uma repressão de alguns afetos.

Relação de F: (FK+Fc): . Quando FK+Fc está numa proporção entre ¼

e ¾ de F indica que a necessidade de afeto desenvolveu-se suficientemente

bem e está integrada com o resto da personalidade, e há função sensitiva

controladora, auxiliando o indivíduo na sua integração com outras pessoas,

sem a implicação de uma super-dependência vulnerável. Organização das

necessidades afetivas de Júlia melhorou; houve uma maior estabilização de

sua função egóica, podendo agora lidar com o afeto indiferenciado, integrando

suas experiências com o meio.

49

5. Recursos da personalidade

M:FM = 5 : 6 (aumentou ambos os índices)

M : FM + m = 5 : 7,5

A quantidade de respostas M é indicativa da presença de energia vital.

As respostas FM, comparadas com as M, requerem um menor grau de

diferenciação intelectual, não implica empatia pelos seres humanos e sugerem

impulsos que necessitam de gratificação imediata.

Júlia apresenta um alto nível intelectual e potencial criativo bem

desenvolvido, possuindo potencial para um maior desenvolvimento. A

quantidade de respostas de movimento humano e animal aumentaram, o que

indica um rebaixamento das defesas utilizadas anteriormente, possibilitando a

ela demonstrar com maior clareza seu potencial para respostas de boa

qualidade aos impactos emocionais ocasionados pelas situações da vida. A

estabilidade interna melhorou em função do aumento das respostas de

movimento humano e animal.

Predomínio no nível primário do funcionamento mental. Quando Júlia

solta respostas inadequadas, ela as redimensiona no mundo. Ela apresenta um

ótimo reconhecimento do impulso vital e tenta integrá-lo com o seu sistema de

valores, mas seu ego não consegue tolerar alguns impulsos arcaicos que

insistem em manifestar impulsivamente sem o controle da função egóica de

modo que ela Algumas vezes responde inadequadamente as situações do

meio tentando adequá-las ao mundo externo. Há o predomínio do

funcionamento no nível primário.

50

6. Grau de estereotipa

A% = 54,83 (aumentou)

Júlia apresenta um controle rígido nos processos de pensamento; o

grau de estereotipa dobrou em relação ao teste anterior. Aqui ela utiliza a

rigidez nos processos do pensamento para controlar a adequação das suas

respostas ao meio.

7. Produção

R = 31 (aumentou)

A produção de Júlia apresenta um excesso de produtividade, mas

muitas das respostas foram populares, o que demonstra uma superficialidade

de relacionamento com as experiências do meio, que pode levar a

generalizações simples.

8. Manutenção da objetividade

F% = 16,13

Indica a capacidade de formação de conceitos objetivos. O número

encontrado indica uma objetividade rebaixada. No caso, Júlia esforça-se mas

não consegue manter um relacionamento impessoal e realista com o mundo.

9. Dado de realidade

%F+ = 80 (diminuiu)

Indica capacidade de objetivação adequada do sujeito, segundo os

padrões sociais. Índices muito altos de respostas de conteúdo formal, levam-

nos a pensar numa asfixia parcial da vida afetiva. Isto é, Júlia demonstra

51

capacidade e necessidade de vivência afetivo-emocional, entretanto como já foi

relatado acima, alguma experiência de ordem traumática utiliza parte da sua

força egóica em mecanismos de defesa desestabilizando o funcionamento do

potencial psíquico da mesma perturbando de modo inconsciente a elaboração

dos conteúdos emocionais.

Júlia se apresenta constricta: Embora ela seja capaz intelectualmente de

dar uma resposta mais rica e diferenciada para o mundo, ela reprime suas

tendências. Mesmo assim não consegue responder às suas próprias

necessidades interiores adequadamente e age segundo suas próprias reações

emocionais, ou então as suprime reagindo de forma extremamente racional,

não dando vazão aos sentimentos relacionados.

Júlia mostra uma flexibilidade com a realidade; mas mantém uma forte

esteriotipia.

Tipo de Sucessão de Júlia continua a ser Ordenada; o que é

considerado ótimo para a eficiência intelectual, implicando numa abordagem

sistemática das situações, mas com flexibilidade.

G% = 25, 80 (diminuiu acentuadamente)

Não há interpretação especial. Observa-se uma diminuição da capacidade

de dar sentido às experiências e de estabelecer relações. Parece haver uma

necessidade compulsiva de fazer grandes coisas, no sentido intelectual, de super-

impor generalizações aos fatos, sendo elas adequadas ou não. Parece haver uma

ambição intelectual hipertrofiada sem a capacidade para mantê-la; isto ocorre pois

há interferências emocionais na sua capacidade de sentir as inter-relações

essenciais que existem entre os vários fatos da sua experiência. Falta uma

52

capacidade interna necessária para realizar percepção num nível integrado por

interferências emocionais. %G : Mostra um alto nível formal

D% = 25,80 (aumentou)

Esta interpretação depende do nível formal dos D e das outras

localizações. Se o nível formal é bastante bom e ainda já omissão das

localizações D, a implicação é de que a pessoa é capaz de diferenciação mas lhe

falta o reconhecimento dos problemas e fatos cotidianos. Júlia vive um núcleo

conflitivo, perdendo em assertividade, não perdendo mais em assertividade pois

seu potencial criativo é alto e bem desenvolvido. Além disso apresentou uma

aproximação dos índices de D% esperados, embora ainda pareça ter um interesse

pelos detalhes das situações ainda abaixo do esperado.

Dd% = 45,16 (aumentou acentuadamente)

Uma ênfase em Dd mostra um interesse diferenciado nos aspectos factuais

na Qual o indivíduo se defende apegando – se a áreas limitadas de segurança por

medo de perder sues pontos de referência se deixar essas áreas de segurança.

No caso de Júlia reflete simplesmente uma necessidade de certeza, um apego às

minúcias da vida, sem saber pedante.

Dd e S%: 45,16 (aumentou consideravelmente)

S% = 0 (diminuiu)

Aspiração intelectual X recursos internos

G : M = 9 : 5

Júlia apresenta uma hipertrofia, alta ambição e aspiração, mas tem

condição de realizar essa aspiração, fazendo isso às custas de outras aspirações

53

da vida afetiva.

p – engajamento em grupo social

P/M = 9/5 G : F = 9 : 5

A pessoa que tem um número médio dessas respostas tende a ver o

mundo da mesma maneira que os outro, sem ênfase na visão convencional.

(H+A) : (Hd+Ad) = 19 : 3 (aumentou consideravelmente os dois índices)

Se as respostas de detalhe tem a freqüências de metade ou menos, não há

interpretação especial, podendo dizer que não há atitude extremamente crítica.

Júlia está dando conta de lidar com a presença de auto – crítica e de traços de

rebaixamento da auto-estima. A presença da auto-crítica nos faz pensar que ela

está podendo manifestar um auto conceito mais aproximado da realidade que ela

sente.

Grau de exteriorização da afetividade

Csum= (FC x 0,5) + (CF x 1,0) + (C x 1,5) = 2,5

Júlia apresenta pouca responsividade às influências do meio; ela sofre o impacto

emocional e depois tenta reorganizar esse conteúdo.

54

Fundo de personalidade

(FM+Fm+mF+m) : (FC’+C’F+C’+Fc+cF+c) = 7 : 7 = 1 : 1

Júlia aumentou seu potencial introversivo e extratensivo, devido ao

aumento da extratensão e da maior capacidade de manifestar o seu mundo. Pode-

se dizer que o grau de consciência da necessidade afetiva aumentou com

possibilidade de aumentar ainda mais. Um número alto de respostas do tipo Fc,

indica que suas necessidades afetivas podem estar desempenhando um papel

desproporcional no ajustamento, o que sugere uma super-dependência do afeto

de outras pessoas, ou necessidade de atenção por parte de muitas pessoas.

Interferência de perdas e rejeições na manifestação da afetividade

(FC’ + C’F + C’ + Fc + cF + c) : (FC + CF + C) = 10 : 10,5

Júlia mantém o controle da expressão de suas emoções se desligando o

impacto emocional através do afastamento do envolvimento genuíno.

Organização das necessidades afetivas

(FK+Fk+Fc) : (KF+K+kF+k+cF+c) = 12,5 : 0,5

Aumentou a expressão da consciência e aceitação das necessidades afetivas está

bem organizada.

Modelos de identidade

%H = 19,35 (diminuiu)

%A = 54,83 (aumentou)

Emergiram conteúdos arcaicos que Júlia está podendo lidar. Observamos um

aumentou o grau de estereotipa.

55

TRI crom X TRI acrom: Indica que o indivíduo não é perturbado pelo

impacto emocional do meio.

56

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Júlia: Primeira entrevista

Júlia tem 20 anos, é estudante de Pedagogia. Sua família nuclear é

composta de pai, mãe e três irmãos. Ela relata ter um relacionamento bom com

os pais, mas antigamente brigava com o pai pois ele bebia e “enchia o saco

dos outros e aí eu ficava brava”. Como características emocionais dos pais, diz

que a mãe é amável, carinhoso e principalmente preocupada; o pai relata como

“nervoso mas carinhoso e atencioso, só que do jeito dele; ele demonstra

carinho, eu sei que ele é carinhoso só que ele é meio frio, meio na dele”. A mãe

é cantora e o pai está desempregado.

Com a irmã mais velha e com o irmão afirma ter um bom

relacionamento, principalmente com o irmã. Caracteriza a primeira como

afobada e carente e diz “às vezes fico de saco cheio pois ela é muito afobada,

gosta de ficar agarrando e abraçando e eu sou mais... e aí às vezes fico

irritada, mas me dou bem com ela” e o irmão com declara ter melhor relação

pois considera-se muito parecida com ele e o descreve como sendo “muito

sensível e muito durão, ele não gosta de demonstrar, ele é muito amigo”. O

irmão mora há três anos nos Estados Unidos.

Já com a irmã mais nova relata não se dar muito bem; e que a relação

melhorou depois que foi morar em outra cidade e a descreve sendo “muito

tímida, bem angustiada, sente as coisas mas não fala. Ela tem sempre dor de

garganta, tal. Ela é mais mimada, não sei por que, acho que por ser caçula”.

Também relata ter uma relação próxima com os avós maternos e

paternos, repleta de carinho de todos e relata que nunca sentiu falta de

carinho, só aponta como diferença que os avós maternos são mais abertos a

57

conversas, a família paterna é mais reservada. Como parentes importantes

destaca os primos, com quem diz sair bastante e diz serem seus melhores

amigos.

Com relação a satisfação familiar declara que família é fundamental, que

é muito valoroso para ela, mas que não é completamente satisfeita com a sua

pois com o desemprego do pai, a mãe intensificou a jornada de trabalho e o pai

ficava “sem fazer nada em casa e desde então passou a usar mais maconha

do que já usava antes e atualmente fuma quase o dia inteiro e está sendo um

problema nem tanto para mim, porque minha irmã fica muito triste com ele”. E

considera mais difícil se relacionar com a irmã mais nova.

Namora com outro estudante que cursa imagem e som; descreve-o:

“Parece muito faladeiro, muito alegra, mas é bem na dele, ele é muito

carinhoso”. No que diz respeito a relacionamento anterior Júlia namorou

durante 5 anos e disse: “o nosso relacionamento era meio problemático, meio

doentio, os dois eram muito...agente vivia muito um para o outro e esquecia de

viver o resto da vida e se um resolvesse viver a vida um pouco mais a vida

pessoal, confesso que era muito complicado” e descreve o antigo namorado

como “doente de ciúme, muito inseguro, muito carinhoso, não era muito

atencioso era meio desligado em algumas coisas, mas muito nervoso, ficava

irritado com tudo e só relaxava quando faziam o que ele queria”.

Com relação a amizade, destacou duas amigas: A primeira é sua

companheira de casa; caracteriza-a como inquieta, afobada e muito sincera.

Existem brigas por causa da casa, mas relata que sempre que precisa,

qualquer hora e para qualquer coisa pode contar com a amiga. A segunda é

58

sua prima; a caracteriza como histérica, muito engraçada e cúmplice e diz ser a

pessoa que mais sabe sobre sua vida.

Júlia: Segunda entrevista.

Relata que mudanças que ocorreram no período entre a primeira e a

Segunda aplicação da Prova de Rorschach: O relacionamento com a irmã

melhorou pois ela foi morar durante 4 ou 5 meses com o irmão nos Estados

Unidos e acha que a ansiedade da irmã está acabando e que ela vai ficar

menos mimada e acredita que o irmão volte a morar no Brasil, relatando que

toda a família está com saudades.

Houve melhora na relação dos pais e acredita que seja pelo fato dos 2

estarem praticamente sozinhos em casa ( a irmã mais nova viajou e a mais

velha está namorando, de modo que fica mais na casa do namorado que na

casa dela) “e agora minha mãe em casa sozinha está sendo a glória pro meu

pai pois ele tem minha mãe toda para ele”.

O pai arrumou um emprego com o irmão e nos finais de semana viaja

com o mesmo pro sítio. Disse que o tio conversou com sua mãe e os 2

decidiram que seria melhor para seu pai, “pra parar com o nervosismo dele, ele

estava depressivo em casa né, fumando muito” e que agora o pai tem planos

de escrever uma peça de teatro e está gostando, está contente e refletindo.

Com relação a bebida, disse que o pai continua bebendo e relatou a despedida

da irmã “que foi embora com raiva dele, foi horrível” e que depois desse dia

“ele tomou um gelo” de todos. Nesse ponto da entrevista, colocou que o pai

tem um argumento verdadeiro (no seu ponto de vista) de que a família tem um

pré-conceito que ele se ele beber acontecerá algo, “fora que ele adora preparar

59

armadilhas quando ele fica bêbado provoca até você cair na provocação e aí

ele fala – viu como você é preconceituoso!?”. Disse que conversou com ele

sobre o episódio da despedida da irmã e acredita que fez o pai pensar sobre

as coisas.

Com relação a Yoga Júlia abandonou pois estava muito atarefada e

optou pro parar, e concomitantemente começou a freqüentar a umbanda em

agosto. Relata ter interesse por ela, mas diz não seguir muito, gosta e acha “à

vezes é meio uma terapia” e disse que a entidade pediu que sua mãe fosse

participar um dia e ela foi.

Um dos primos foi preso confundido com um ladrão, relatando este

episódio como muito ruim. Ele ficou preso 2 meses, mas foi um episódio que

serviu para reunir novamente a família, que começou a se reunir aos domingos

em sua casa e isso uniu a família. Disse que a família estava desunida desde a

morte de um tio e que a irmã de sua mãe “é encrenqueira, acho que ela

sempre teve um pouco de ciúme da minha mãe e ela conseguiu uma desunião

e com esse fato, pelo menos, melhorou bem”.

Relatou que a mãe operou para retirar um calo na garganta e que ela

também operou de um cisto localizado no cóxis. Cisto apareceu um Janeiro,

mas ela só operou em Abril e uma semana após a operação voltou para a

cidade que estuda pois “não agüentava mais a cidade em que mora” e disse

que ouviu dizer que o cóxis é uma região que tara sobre sentimentos, sobre

relações com as pessoas. Nesse momento fala de sua relação com o

namorado: “Justamente quando tive o cisto, numa viagem que eu acho que foi

a pior situação que eu já passei em relação ao Pedro, foi horrível, agente nem

brigava mais era tanta indiferença que chegamos a dormir ao lado sem

60

cumprimentar e quando deu o cisto eu não tinha condições de andar e o Pedro

me ajudou muito, tava sempre me acompanhando, que ele é uma pessoa

atenciosa, muito carinhosa só que na situação que agente tava não rolava” e

quando chegou da viagem em foi para sua cidade em seguida. O cisto

apareceu, em sua visão, no momento que ela se encontrava em crise, na

viagem que havia decidido terminar com o namorado. No carnaval foi viajar e

se Pedro não ficasse ligando Júlia acredita que eles não teriam voltado, pelo

menos naquele período. Hoje, não sabe definir se ele é namorado ou não, mas

disse que agora estão bem (desde o fim de semana anterior não brigam, “o que

é um grande avanço - risadas – rindo do desastre né!? Mas eu gosto muito

dele e ele parece gostar muito de mim, porque se agente termina e eu quero

sair fora ele fica atrás e não deixa agente ficar longe; acho que ele deve gostar

de mim, mas eu não consigo aceitar até hoje o jeito dele assim, mas eu gosto

muito dele.”).

Outro fator que ela destacou foi um desentendimento que teve com a

amiga com quem mora que acredita ter sido simultâneo ao conflito com Pedro.

Acredita que voltava nervosa para casa, “mas partiu dela que estava

segurando há muito tempo e despejou um monte de coisas sem saber o que eu

achava e sentia e agente acabou se distanciando bastante mas agora

melhorou bem”.

Relatou que em Julho fez uma viagem após um momento profissional

bastante desgastante pois o projeto de capacitação que iria participar foi

cortado. A viagem aconteceu sem planejamento, de modo que ela foi para

rodoviária de sua cidade e da rodoviária ligou para avisar a mãe que foi até o

local levar alguns objetos “o cobertor que minha mãe levou foi minha salvação,

61

aliás, minha mãe sempre acerta as coisas”. Disse que a viagem foi renovadora

pois não se falava de assuntos ligados a cidade onde estuda (“queria sumir”),

conheceu bastante pessoas. Acredita que as mudanças ocorreram em função

de sair para um “outro mundo, fui respirar um pouco, é como se eu estivesse

sufocada aqui. É lógico que eu falava do Pedro, daquela cidade que trabalho,

falava da minha casa mas não era aquela coisa presente. Acho que foi uma

viagem muito boa, voltei mais aberta, mais tranqüila, foi super gostoso, fez

muita diferença.

Com relação a Universidade diz estar frustrada com o curso, com os

alunos, “de uma maneira geral pois as pessoas não estão preocupadas em

ouvir o que você tem a dizer, estão cheias de pré-conceitos e não se livram

deles, e nem querem também e eu acho isso muito ruim. Eu me empenho para

as coisas serem diferentes mas as pessoas não estão nem aí, é muito

frustrante saber que as pessoas estão se entregando, vem pra estudar, entrar

na sala, se formar e até logo” e sua maior frustração é com o departamento do

curso.

Ao final, diz que sai bastante para “descansar a cabeça, não abuso

tanto quanto antes, antes não perdia uma chance de sair mas hoje eu vou

dormir...descansar também é uma coisa boa”. Com relação a ela relata: “Com

relação as minhas angústias, acho que estou menos angustiada” e disse que

as coisas apontadas pela orientadora desse trabalho ao final da Segunda prova

eram verdadeiras: “a supervisora descreveu tudo, eu não acreditei que ela

descreveu minha angústia constante; ela falou que eu carrego comigo algumas

angústias e eu acho que até por isso que foi um dos motivos porque chorei

quando minha irmã foi viajar, sabe, não precisa de muitos motivos para eu

62

desaguar, mas acho que estou bem assim, continuo extremamente ansiosa,

ciumenta, até que esse eu melhorei, estou tentando aos poucos não me

preocupas com as meninas que provocam olhando o Pedro (...) mas não vou

mais passar nervoso por causa dele, acho que não tem mais porque, mas tem

vezes que não dá pra evitar, mas acho que to mais tranqüila nesse ponto. Não

posso dizer que estou mais feliz, acho que é bem momentâneo, eu estar bem

com ele, acho que é bem relacionado ultimamente meus problemas e soluções

– não, é f... falar isso, ele não é minha solução, mas minhas complicações

partem muito da minha relação com ele. Se eu estou meio angustiada com ele

atrapalha várias outras coisas, mas se estou bem com ele eu consigo

tranqüilizar a cabeça; é meio uma forma de depender mas não é dependência

porque eu não dependo dele. Quando agente ficou longe eu também estava

fazendo minhas coisas, estava bem até; pelo menos era o que eu acreditava

(risadas)”.

Com relação a Organização interna e necessidades afetivas Júlia

mantém o controle, está mais produtiva e externaliza mais; estabilizou sua

função egóica, que também foi melhorada, e agora pode lidar com o que é

desestruturado. Ela demonstra recursos de personalidade predominantemente

no nível secundário do funcionamento mental, mas também observamos a

presença de energia vital no processo primário do funcionamento mental e

além disso mostra sinais de angústia indiscriminada pela presença intensa de

respostas de movimento inanimado. Apresenta também respostas que

mostram integração das experiências com o meio. Tem alto nível intelectual,

potencial criativo bem desenvolvido; e potencial para desenvolver-se ainda

mais.

63

Júlia dobrou o grau de esteriotipia, a porcentagem de D mostra que ela

possivelmente vive um pouco deslocado no núcleo conflitivo, perdendo em

assertividade, só não perde mais pois o potencial é alto, bem desenvolvido,

mas com diminuição do deslocamento . Júlia aumentou significativamente o

número de respostas, mas diminuiu a assertividade aparecendo o que está

inadequado nela e que antes não aparecia, o que parecer que ela esta

perdendo em criatividade, e isso não é real.

No que diz respeito a aspiração intelectual X recursos de personalidade:

apresenta uma hipertrofia, aspiração, ambição em ambos; ela tem condição de

realizar, mas os faz às custas de outras aspirações (da vida afetiva, podendo

ser um modo de fugir do núcleo conflitivo). Além disso, ambiciona .ter um

potencial bem maior do que tem.

H + A : Hd + Ad: Júlia demonstra aumento da capacidade de empatia o

mundo é humano e na sua condição de humana ela pode se aceitar. Na

segunda prova ela manifesta mais o mundo humano (ela mesma) e, quando

solta respostas, acaba também soltando respostas inadequadas, e assim

redimensiona-as no mundo (primeira aplicação); emergiram conteúdos arcaicos

que ela pode lidar.

Outra mudança ocorrida foi aumento significativo das necessidades

afetivas; esta consciência é parcial, ainda estando presente conteúdos que

provocam sensação de angústia mas que não atingem a consciência devido a

presença de defesas que impedem a tomada total da consciência das suas

necessidades afetivas. Na primeira prova Júlia demonstrou somente

necessidades afetivas conscientes, podendo ser que todas as necessidades

64

estavam conscientes ou que as necessidades inconscientes eram bastante

arcaicas.

Com relação a objetividade e recursos de personalidade, Júlia mostra

uma impulsividade inadequada às condições do mundo. Ela esforça-se para

dar respostas adequadas, aumentando o número de respostas afetivas e de

adequação das mesmas; ainda não admite frustração e com isso sua angústia

permanece. Na primeira prova, para manter a objetividade (conta do conflito

emocional), ela diminui o número de respostas por não conseguir manter a

qualidade das respostas e acaba dando respostas normais. Tenta asfixiar a

vida afetiva através dos processos de pensamento em virtude do que está

emergindo. Sua objetividade rebaixada mostra que ela se empenha em manter

um relacionamento impessoal e realista com o mundo mas não consegue. Nas

provas realizadas mostrou flexibilidade com a realidade mas mantendo certa

esteriotipia. Enquanto na primeira prova diminuiu o contato com o mundo afim

de manter o equilíbrio e a qualidade de respostas, na segunda aumenta o

número de respostas, mas são bastante convencionais.

Outra mudança foi que passou a ter o controle rígido dos processos de

pensamento e que começa a emergir conteúdos de natureza da crítica que faz

a si (rebaixamento da auto-estima); isto se mostra positivo pois Júlia tem maior

consciência das necessidades afetivas e angústias agora são passíveis de

elaboração através dos recursos que dispõe. Aparentemente Júlia aparece

mais inadequada, no entanto está ocorrendo uma liberação de conteúdos

latentes que não apareciam; ela mostra esses conteúdos, a angústia e para

lidar com ambos utiliza a racionalização.

65

O potencial criativo de Júlia dá conta de apreender a realidade e

transformá-la de modo singular; seu alto potencial parece ser uma forma

compensatória, camuflando a necessidade de elaboração dos núcleos

conflitivos, os quais parece não ter consciência e não ter condições de lidar

com eles. Para camuflar esses conflitos e a necessidade de lidar com eles Júlia

utiliza 2 mecanismos: Retraimento em relação ao mundo, limitando o universo

de contato, principalmente quando aparecem situações conflitivas exteriores.

Em outras ocasiões utiliza uma super-produção como tentativa de racionalizar

suas necessidades, cuja compensação se mostra parcialmente eficaz pois

também carrega sinais de aflição interior provocada pela necessidade de

elaboração desses conflitos (que são arcaicos e relacionados com as figuras

parentais, principalmente com o pai).

Uma observação importante foi a presença de traços de disforia e crítica

nas duas provas. Na primeira notamos uma dificuldade de Júlia entrar em

contato com a prancha; ela não segurou a prancha, olhava-a de longe e dava

respostas rápidas e em pequena quantidade. Na Segunda prova ainda estava

distante da prancha, porém entrou em maior contato com ela, chegando a um

contato físico; em compensação a quantidade de crítica e disforia foi maior.

Nessa também notamos a presença de respostas de alien, monstros, pessoa

invisível segurando uma faca, gato atropelado (esmagado), galhos morrendo

enquanto na primeira prova as respostas continham menos conteúdos dessa

natureza e mais presença de respostas de animais e humanos (teve o rabo

cortado do gato e espirro de sangue).

Notamos que Júlia tem a experiência de um feminino potente e um

masculino frágil, de modo que seu animus se apresenta frágil e dependente Ela

66

tenta ser independente (o que sugere uma identificação massiva com a mãe), e

isto se mostra através dos muitos compromisso que tem: Membro do Centro

acadêmico, trabalho na rádio da faculdade, estágios extra-curiculares, prática

do Tantra Yoga, entre outros e da necessidade que sente de ser ouvida, de

mudar aspectos considerados como ruins no curso e na faculdade. Com

relação ao seu animus, este é frágil, dependente e doente e ainda permanece

na sombra de sua persona; assim podemos dizer que parte do self de Júlia

está frágil, dependente e viciado.

A escolha do parceiro é em virtude do que admira, um homem

independente e que realiza diferentes tarefas, tal qual sua mãe. Não existe

uma pessoa dependente se não houver a pessoa totalmente independente.

Um fato observado foi que Júlia relata ter um melhor relacionamento

com seu irmão, justamente o único que não tem relação próxima fisicamente e

que também não está enfrentando os problemas cotidianos familiares. Isto nos

faz pensar que se ela entrar mais em contato com as pessoas, com problemas

do cotidiano e até mesmo com a prancha, conteúdos que permanecem à

sombra irão eclodir.

Nota-se também uma crença moral estabelecida em torno do significado

do que é dependência, associando este à fraqueza. Isto aparece na recusa

imediata após ter se considerado dependente do namorado: “Se eu estou meio

angustiada com ele atrapalha várias outras coisas, mas se estou bem com ele

eu consigo tranqüilizar a cabeça; é meio uma forma de depender mas não é

dependência porque eu não dependo dele. Quando agente ficou longe eu

também estava fazendo minhas coisas, estava bem até; pelo menos era o que

eu acreditava (risadas)”. Júlia precisa desligar os fatores negativos com relação

67

a dependência de seu pai e própria; desligar os valores morais que a

aprisionam e isto será através do processo terapêutico.

Através dos dados obtidos, nota-se que o afastamento é um meio de

lidar racionalmente com conteúdos que causarão sofrimento. Com relação ao

seu afastamento, nota-se que ela, da mesma forma que o pai (usa álcool e

maconha como substitutos afim de minimizar a dor), Júlia não entra em contato

com esses conteúdos. Esse isolamento tem um lado benéfico pra ela pois este

auxilia-a a lidar com seus conteúdos referentes a sua família. Esses, por serem

conteúdos importantes e arcaicos (pais são os formadores da estrutura

dinâmica do ego) devem ser vistos com ajuda de um profissional pois ela não

conseguirá dar vazão e significado a todos ele. Na segunda entrevista Júlia

relata que o pai arranjou uma ocupação. Isto faz com que aumente sua

consciência do animus, o que pode aumentar sua compreensão de si mesma.

Seu modo de relacionamento é mediado pela tensão; na sua família

existe uma tensão constante e acaba idealizando amor e carinho. Existe uma

grande identificação dela com o pai, mas esta ainda não está consciente de

sua semelhança com ele, podendo ser em virtude de um grande sofrimento

esta descoberta. Ela, da mesma maneira que o pai, é dependente

emocionalmente, cuimenta e tem dificuldade em demonstrar afetividade: “Sou

uma pessoa muito fechada (...). Me dou bem com a minha irmã – mais velha - ,

só que às vezes fico de saco cheio porque ela gosta de ficar agarrando e

abraçando e eu sou mais....e aí às vezes eu fico irritada”.

Utiliza como mecanismos de defesa a racionalização, negação, projeção

e idealização. Essas defesas são benéficas na medida em que funcionam

68

como descarga para futura elaboração. De acordo com LAPLANCHE E

PONTALIS (1995) e WHITMONT (2000).

� Negação: Capacidade de negar partes desagradáveis da realidade do

sujeito; esta realiza desejos e tem com adversárias a percepção e a

memória. Este mecanismo subsiste nos adultos através de fantasias ou

“sonhos acordados” que negam a verdade, sendo um refúgio para aliviar a

realidade.

� Projeção: Deriva da negação de querer distância entre o indivíduo e a idéia.

Esta defesa é essencial no estágio precoce do desenvolvimento do ego em

que tudo o que é prazeroso é experimentado como pertencente ao ego,

enquanto que o penoso ou doloroso experimenta-se como sendo não-ego.

� Idealização: As qualidades e o valor dos objetos são levados à perfeição e a

identificação do sujeito com o objeto idealizado contribui para a formação e

o enriquecimento do ego ideal e é uma defesa contra as pulsões

destrutivas.

� Racionalização: “Processo em que o sujeito procura apresentar uma

explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista

moral, para uma atitude, ação, idéia, sentimento, etc., cujos motivos

verdadeiros não percebe” ( LAPLANCHE E PONTALIS, 1995,pp 423).

69

RESULTADOS 2

Sujeito 2: Luciana

QUADRO: PONTUAÇÕES OBTIDAS NOS ÍNDICES AFETIVOS NA

AVALIAÇÃO DA PROVA DE RORSCHACH

TESTES 1º

Aplicação

Aplicação

1. Ressonância (Rs.) % 26 30

Csum 4,5 2 2. Exteriorização

(Ext.) M : Csum 5:4,5 3:2

3. Tipo de

Exteriorização

FC : CF + C 8 : 1,5 4 : 0

FK + Fc/F 11;5/38,5 7,0/24,5 4. Organização (Int.)

SD : SI 11,5:0,5 7:0

M : FM 5:8 3:4 5. Recursos (Rec.)

M : FM + m 5:11,5 3:11

A% 26,31 27,5 6. Identidade

H% 15,78 22,5

7. Número respostas R 57 40

8. Objetividade F% 38,59 27,5

9. Realidade F+% 77,27 90,5

V

A

R

I

Á

V

E

I

S

10. Crom: Acrom (Fc+c+C’): (FC+CF+C)

10:9,5 4:7

70

TESTE 1: Realizado dia 12/02/2003

Pranchas

Índices

I IV V VI VII Soma II III VIII IX X Soma Total

G1 1 1 1 G2 5 4 3 3 4 19 1 2 1 1 5 24 G/ 2 1 3 3 D 1 1 2 1 2 2 5 7 Dd 1 1 3 5 4 1 5 4 14 19 S 5 1 1,4 1,10 2,1 2 1 1 2,5 3, 15

M 1 1 2 2 1 3 5 FM 1 1 1 1 1 5 1 2 3 8 M 1 1 2 1 1 1,1 3,1 FC 2 1,1 2,1 2 7,2 7,2 FC’ 1 2 1 1,3 1,3 Fc 1 3 1 1,1 1,1 6,3 6,3 Fc’ 2 1 3 3 CF 1 1 1 1 1,1 Csum 1 1 1,1 1,1 FK 2 1 2,1 1 1 1 3 2,4 KF 1 1 1 F+ 2 6 2,1 1,3 5,1 8,13 4,2 2,2 1,2 2,2 4 9,12 17,26 F- 2 1 2 1,4 1 1,1 1 2,1 4,3 5,7 A 1 3 2 1 7 1 4 5 12 (A) 1 1 2 1 1 3 H 1 1 2 2 4 5 (H) 2 2 2 Hd 1 1 1 1 2 Sex Cena Nat Plant Geo Obj Aobj Máscara Simb Arq Abstract

*Os números destacados em negrito correspondem às respostas

principais

71

1.Ressonância afetiva

R.A.= 26%

Indica responsividade geral do indivíduo ao meio, expressa em

realidade manifesta ou não e serve de valor comparativo para confirmar o tipo

de exteriorização da afetividade. No caso de Luciana, podemos dizer que não

há inibição nem estimulação exagerada pela cor.

8. Exteriorização da afetividade

Csum = 4,5 M : Csum = 5 : 4,5

Tipo de vivência do sujeito; o tipo de reação diante do impacto

emocional provocado pelos estímulos do meio. No caso, a classificamos como

ambigual. A ambigüidade pode apresentar-se através do sujeito do tipo dilatado

ou coartado. O indivíduo “dilatado” conserva um equilíbrio entre as

características introversivas e extroversivas, trazendo consigo uma habilidade

de manter contatos afetivos profundos e ao mesmo tempo tendo o domínio do

ambiente que o cerca. Indica reatividade manifesta. No caso, parece haver

pouca responsividade às influências do meio, mas este índice raramente é

considerado isoladamente, exceto em relação a M e F%.

3. Tipo de exteriorização

FC : CF+C = 8 : 1,5

Indica a presença ou ausência de exteriorização e o tipo de controle que

o indivíduo dispõe para exteriorizar seus afetos. Luciana apresenta um tipo de

exteriorização normal, uma capacidade de responder com adequado controle

aos estímulos do meio, tanto interna quanto externamente e sua expressão é

72

profunda, não havendo necessidade de um controle exagerado. Ela é capaz de

uma responsividade controlada em relação ao meio social, respondendo

apropriadamente tanto com sentimentos como com ação. Além disso, é capaz

de respostas profundas e genuínas sob forte impacto emocional. Não há

controle excessivo neste caso.

4. Organização interna e necessidades afetivas

Somb dif : Somb indif = 11,5 : 0,5

FK+Fc = 11,5 F 38,5

Demonstra a presença de sinais de ansiedade e se aquelas são

passíveis de reconhecimento ou se são tão primitivas que se tornam

indiscriminadas. As respostas de sombreado indicam como os sujeitos

manipulam as necessidades básicas de segurança, afeição e do sentimento de

pertencer a alguém.

Quando FK+Fc está numa proporção entre ¼ e ¾ de F indica que a

necessidade de afeto desenvolveu-se suficientemente bem e está integrada

com o resto da personalidade, e há função sensitiva controladora, auxiliando o

indivíduo na sua integração com outras pessoas, sem a implicação de uma

super-dependência vulnerável.

5. Recursos da personalidade

M : FM = 5 : 8

M : FM + m = 3 : 11,5

Há uma tensão muito forte para permitir que ela utilize seus recursos

73

internos para a solução construtiva de seus problemas cotidianos. Luciana

demonstra recursos da personalidade predominantemente no processo

primário do funcionamento mental (o que indica que seu ego não capaz de

tolerar impulsos arcaicos, e sua energia estará voltada para gratificação

imediata); também observamos a presença energia vital no processo

secundário (M), e além disso sinais de angústia indiscriminada devido a

presença de m.

6. Grau de esteriotipia

A% = 26,31

Indica a capacidade de concentração, o controle dos processos de

pensamento e a amplitude de interesse que o sujeito apresenta. O sujeito

apresenta uma esteriotipia cujas funções do pensamento estão dispersas.

7. Produção

R = 57

Produção indica capacidade de produção intelectual. Luciana um

excesso de produtividade.

9. Manutenção da objetividade

F% = 38, 59

Indica a capacidade de formação de conceitos objetivos. Luciana tem

capacidade de ver o mundo de modo impessoal e realista, servindo para um

ajustamento controlado.

74

9. Dado de realidade

%F+ = 77,27

Indica capacidade de objetivação adequada do sujeito, segundo os

padrões sociais. Índices muito altos de respostas de conteúdo formal, levam-

nos a pensar numa asfixia parcial da vida afetiva. Isto é, Luciana demonstra

capacidade e necessidade de vivência afetivo-emocional, mas alguma

experiência de ordem traumática utiliza parte da sua força egóica em

mecanismos de defesa desestabilizando o funcionamento do potencial

psíquico da mesma perturbando de modo inconsciente a elaboração dos

conteúdos emocionais.

Tipo de Sucessão: Relaxada, Luciana apresenta um enfraquecimento

do controle por condições emotivas ou patológicas, podendo não ter qualquer

distúrbio emocional em particular.

G% = 49, 12

Observa-se uma diminuição da capacidade de dar sentido às

experiências e de estabelecer relações. Parece haver uma necessidade de fazer

grandes coisas, de super-impor generalizações aos fatos, sendo elas adequadas

ou não. Parece haver uma ambição intelectual hipertrofiada sem a capacidade

para mantê-la; isto ocorre pois há interferências emocionais na sua capacidade de

sentir as inter-relações essenciais que existem entre os vários fatos da sua

experiência. Falta uma capacidade interna necessária para realizar percepção

num nível integrado por interferências emocionais. Entretanto suas respostas

denotam um alto nível formal possibilitando a mesma criar condições mínimas de

75

adequação a realidade.

D% = 12,5

Esta interpretação depende do nível formal dos D e das outras

localizações. Se o nível formal é bastante bom e ainda já omissão das

localizações D, a implicação é de que a pessoa é capaz de diferenciação mas lhe

falta o reconhecimento dos problemas e fatos cotidianos.

Dd% = 33,93

Mostra um interesse diferenciado nos aspectos factuais mas também

insegurança. Também pode ser simplesmente uma necessidade de certeza, um

apego às minúcias da vida, sem saber pedante.

Dd e S%: 48,21

S% = 14,28

Indica capacidade de responsividade original ou ainda um comportamento

de rebeldia frente a realidade ou até mesmo um boicote na sua autorealização.

Aspiração intelectual X recursos internos

G : M = 28 : 5

Luciana apresenta uma hipertrofia, alta ambição e aspiração, mas tem

condição de realizar essa aspiração, fazendo isso às custas de outras aspirações

da vida afetiva.

P – engajamento em grupo social

P/M = 5/5 G : F = 28 : 22

76

A pessoa que tem um número médio dessas respostas tende a ver o

mundo da mesma maneira que os outros, sem ênfase na visão convencional.

Luciana apresenta um alto índice de nível intelectual frente a média esperada

para a população brasileira.

(H+A) : (Hd+Ad) = 22 : 2

Se as respostas de detalhe tem a freqüências de metade ou menos,

podemos dizer que não há atitude extremamente crítica.

Grau de exteriorização da afetividade Csum= (FC x 0,5) + (CF x 1,0) + (C x 1,5) = 4,5

Luciana apresenta pouca responsividade às influências do meio; ela sofre o

impacto emocional e depois tenta reorganizar esse conteúdo.

Fundo de personalidade

(FM+Fm+mF+m) : (FC’+C’F+C’+Fc+cF+c) = 11 : 7

Luciana tem seu potencial introversivo em maior quantidade que o

potencial extratensivo.

Interferência de perdas e rejeições na manifestação da afetividade

(FC’ + C’F + C’ + Fc + cF + c) : (FC + CF + C) = 10 : 9,5

Luciana mantém o controle da expressão de suas emoções se desligando o

impacto emocional através do afastamento do envolvimento genuíno.

77

Organização das necessidades afetivas

(FK+Fk+Fc) : (KF+K+kF+k+cF+c) = 11,5 : 0,5

Elevada expressão da consciência e aceitação das necessidades afetivas

está bem organizada.

TRI crom X TRI acrom: Indica que o indivíduo não é perturbado pelo

impacto emocional do meio.

78

TESTE 2: Realizado 10/11/2003

Pancha

Índice

I IV V VI VII Soma II III VIII IX X Soma Total

G 1° 1 2 3 3 G 2° 4 2 6 2 2 8

D 2 2 2 2 2 1 1 8 10 Dd 2 2 2 1 7 1 4 2 3 1 11 18 S 1 1 1 1 1,1

F+ 1, 2 3 1, 1 1 3 5, 6 2, 2 2, 2 4 3 1, 2 5, 13 10, 19 F- 1, 2 1 1, 3 2 1 1 4 1, 7 FC 1 1 2 2 1, 1 1 3, 4 4, 4 FC’ 2 4, 1 1 7, 1 1 1 7, 2 C’ F Fc 1 3 1 2 7 1 1 8 CF FK 2, 1 1 2, 2 2, 2 KF Fk KF C C

CF M 2 1 3

FM 1 1 1 1 1 3 4 M 1 1 2 2 2 6 7 H 1 1 2 1 3 4

(H) 1 1 2 2 Hd 1 1 1 1 2 3

(Hd) A 1 2 2 1 1 7 1 1 2 9

(A) Ad 1 1 2 2

(Ad) Obj 1 1 1 3 1 1 2 5 Anat 1 1 2 2 Sex 1 1 1 1 4 1 1 2 6 Nat 1 1 1 Geo 1 1 1

Plant 1 1 2 2 AH

Aobj Simb 1 1 1 Alim Arq

Abstr 1 1 2 2 Fg

79

Sg 1 1 1 Nv

Cena 2 2

*Os números destacados em negrito correspondem às respostas principais

80

1. Ressonância Afetiva

R.A.= 30%

Uma responsividade geral do indivíduo ao meio de maneira normal,

podendo ser expressa em reatividade manifesta ou não. Seja esta

responsividade expressa em realidade manifesta ou não e serve de valor

comparativo para confirmar o tipo de exteriorização da afetividade; podemos

dizer que não há inibição nem estimulação exagerada pela cor.

2. Exteriorização da Afetividade

Csum = 2

M: Csum = 3 : 2

Há pouca responsividade manifesta às influências do meio, mas este

índice não deve ser considerado isoladamente. Há pouco mais de respostas M

sobre Csum, indicando um equilíbrio introversivo. Pessoas introversivas

tendem a ter uma vida interior mais rica, serem mais reflexivos e criativos.

3.Tipo de Exteriorização

FC: (CF+C) = 4:0

Essa relação mostra um controle sobre expressão da impulsividade da

emocionalidade em relação ao meio social, com respostas profundas e

genuínas. Quando CF+C=0 indica um excesso de controle, uma dificuldade em

reagir emocionalmente à uma situação de envolvimento mais profundo.

4.Organização das necessidades afetivas

81

F: (FK+Fc) = 24,5: 7

Somb Difer:Somb Ind = 7 : 0

Há boa integração da necessidade afetiva com a organização da

personalidade de Luciana.

5.Recursos da Personalidade

M: FM = 3 : 4

M: FM+m = 3 : 11

Luciana mostra uma dispersão do pensamento, mas como o conteúdo

humano é elevado, há um interesse voltado para o homem em geral.

6.Grau Estereotipia

A% = 27,5

H% = 22,5

Luciana apresenta uma esteriotipia cujas funções do pensamento estão

dispersas.

7. Número de respostas

R = 40

Luciana tem uma facilidade de dar respostas, comum em pessoas

perceptualmente sensíveis e receptivas em relação ao mundo que a rodeia.

Pode indicar uma necessidade compulsiva de realização.

8. Objetividade

F%= 27,5

82

Há uma manutenção normal da objetividade, indicando boa capacidade

de formação de conceitos objetivos.

9. Dado da Realidade

F+% = 90,5

Crom: Acrom = 4 : 7

Luciana apresenta uma super cautela aos contatos emocionais, que

pode ter sido ocasionada por uma experiência traumática, ocasionando um

retraimento. Ela inibe suas reações abertas aos outros por medo de ser ferido.

G% = 27,5 (diminuiu)

Continua apresentando uma alto nível formal, o rebaixamento de G, está

compensado num aumento do �ndice Dd e D denotando um esforço para lidar

com a realidade de modo mais integrativo.

D% = 25 (dobrou)

Esta interpretação depende do nível formal dos D e das outras

localizações. Se o nível formal é bastante bom e ainda já omissão das

localizações D, a implicação é de que a pessoa é capaz de diferenciação mas lhe

falta o reconhecimento dos problemas e fatos cotidianos. Além disso apresentou

uma aproximação dos índices de D% esperados, embora ainda pareça ter um

interesse pelos detalhes das situações ainda abaixo do esperado.

Dd% = 45 (aumentou)

Uma ênfase em Dd mostra um interesse diferenciado nos aspectos factuais

na Qual o indivíduo se defende apegando – se a áreas limitadas de segurança por

83

medo de perder sues pontos de referência se deixar essas áreas de segurança.

No caso de Luciana reflete uma necessidade de certeza, um apego às minúcias

da vida, sem saber pedante. Ela apresenta uma esteriotipia cujas funções do

pensamento estão dispersas

Dd e S%: 47,5

S% = 2,5

Dirige sua energia vital para funções construtivas do ego.

Aspiração intelectual X recursos internos

G : M = 9 : 5

Luciana apresenta um G: M alto nível de aspiração, com uma ambição que

supera os recursos criativos da personalidade. O nível formal é alto, e por isso há

uma tendência de impulso para grandes realizações, às custas de outras

satisfações importantes.

P – engajamento em grupo social

P/M = 9/5 G : F = 9 : 11

Luciana está começando se adequar a realidade. A pessoa que tem um

número médio dessas respostas tende a ver o mundo da mesma maneira que

os outros, sem ênfase na visão convencional.

Grau de exteriorização da afetividade

Csum= (FC x 0,5) + (CF x 1,0) + (C x 1,5) = 2,0

84

Luciana apresenta pouca responsividade às influências do meio; ela sofre o

impacto emocional e depois tenta reorganizar esse conteúdo.

Fundo de personalidade

(FM+Fm+mF+m) : (FC’+C’F+C’+Fc+cF+c)

↑ FC’ = presença de trauma significativo

Interferência de perdas e rejeições na manifestação da afetividade

(FC’ + C’F + C’ + Fc + cF + c) : (FC + CF + C) = : 0

Luciana tem trauma, tem dor, mas estes não chegam às consciência e não

se manifestam.

Organização das necessidades afetivas

(FK+Fk+Fc) : (KF+K+kF+k+cF+c) = 7 : 0

É inconsciente das necessidades afetivas e experimenta uma ansiedade

difusa

Modelos de identidade

%H = 22,5 (aumentou)

%A = 27,5 (aumentou)

Observamos um aumentou o grau de estereotipa.

TRI crom X TRI acrom: Indica que o indivíduo não é perturbado pelo

impacto emocional do meio.

85

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Luciana diminuiu o número de respostas dadas na prova; o que pode

indicar uma diminuição de interações com o meio externo, como uma tentativa

de continuar dando respostas de boa qualidade e assim manter o controle de

respostas “boas”. Esta hipótese é levantada em função da diminuição da

exteriorização da afetividade e do tipo desta exteriorização. No momento da

aplicação da primeira prova, ela lança mão do seu potencial, utilizando a

energia para dar conta do que vai acontecer, usando essa no mecanismo de

defesa. Para continuar lidando bem com a realidade, observou-se que no

momento da segunda prova ela reage com a constrição afetiva diminuindo o

contato real com a realidade externa e racionalizando para dar conta do

conteúdo que foi desencadeado nesse período (verificado pelo aumento de

F+%).

Sua consciência das necessidades afetivas diminuiu acentuadamente;

parte desse rebaixamento esta relacionada a limitação física a uma mudança

para estabilidade na vida amorosa, profissional e também no fato dela ter

fixado sua residência. A estabilidade de Luciana mexe com conteúdos internos

que causam angústia, levando-a a usar o mecanismo de defesa negação e de

racionalização, a fim de manter o domínio sobre suas emoções. Essas

angústias são evidentes no número de respostas de movimento inanimado (m),

que aumentou de maneira expressiva. Esse tipo de resposta reflete as forças

que ameaçam a integridade da organização da personalidade do sujeito; essas

forças são internas ao sujeito e ameaçam a sua auto-imagem.

86

Nossa hipótese é que em função da estabilidade física, seu inconsciente

pode expressar conteúdos relacionados a aspectos conservadores de sua

família nuclear, que poderiam estar à sombra de sua personalidade, numa

tentativa de ser aceita pelos outros conferindo a si atributos socialmente

aceitos, visto que ainda hoje no Brasil não existe uma valorização da sua

profissão. Essas ameaças aparecem com uma carga emocional que ela ainda

não é capaz de equilibrá-las.

Outra mudança aparente foi a passagem do funcionamento no processo

secundário na primeira prova para um funcionamento limítrofe para o processo

primário. Sua impulsividade aumentou a fim de dar vazão aos conteúdos que

emergem como formas de angústia e que por ela são negados ou

racionalizados; a falta de domínio sobre esses faz com que conteúdos de

diferentes aspectos de sua vida se exteriorizem por processo impulsivo e pelo

aumento da ansiedade. Uma de suas possíveis fontes de angústia é a

preocupação com a manutenção das relações que agora começam a se tornar

estáveis (casa fixa, casamento, alunos fixos...).

Houve uma diminuição visível no número de respostas acromáticas e

cromáticas. Acreditamos que houve nesse período entre as aplicações, uma

resolução de parte de sua ansiedade através da vazão da mesma. Luciana

resolveu sua necessidade de afeto e expandiu-a na relação com o mundo, ao

mesmo tempo em que gerou um certo tipo de ansiedade que mobilizou

angústias arcaicas.

Observa-se que Luciana dispõe de segurança básica, e a função egóica

é forte suficiente para não deixar que as forças inconscientes a dominem, com

integração emocional (que tem finalidade construtiva – constrói a defesa). Com

87

relação aos aspectos da personalidade, num primeiro momento Luciana

demonstrava uma ambição hipertrofiada, pois deslocava o que não a satisfazia

para outras realizações. Já na segunda prova, observou-se uma distribuição

da libido mais ampla e ela portanto não precisa utilizar sua energia vital em

defesas. Isso aparece com o estabelecimento de relações profundas e estáveis

no trabalho e no casamento.

Com relação aos aspectos da personalidade, num primeiro momento

Luciana tinha uma ambição hipertrofiada, pois deslocava o que não a satisfazia

para outras realizações. Já na segunda prova, observou-se um deslocamento

de sua ambição para o lugar correto. Isso aparece com o estabelecimento de

relações profundas e estáveis no trabalho e no casamento.

Nas provas de Luciana foi observada a presença constante de traços de

disforia e de crítica.

Ao falar sobre a natureza de sua personalidade, Luciana reconhece a si

mesma como um tipo ambigual, que ora se encontra expansiva e ora se

encontra introvertida. Sua atitude mental introvertida (que é alimentada pela

pratica do yoga) se alterna com uma postura extrovertida perante o mundo, que

é estimulada pelas tarefas e exigências cotidianas. “Acho que as pessoas

pensam que vão olhar para o yogui e achar que é uma pessoa que é

tranqüilíssima, acho que a interna é necessário ter (...) mas para dançar,

conversar com o publico, você precisa estar para fora também, articulando,

sempre com determinação, com essa coisa de mexer!”. É possível ver que

algumas vezes possui atitudes que são influenciadas pelo processo primário de

funcionamento mental, que exige uma satisfação imediata, mostrando uma

88

radicalidade e necessidade de mudança instantânea. “Vamos respirar, vamos

transformar, vamos embora, vamos mudar tudo!”

Durante a entrevista, tivemos a sensação que Luciana apresenta uma

superficialidade ao contar sobre os fatos de sua vida, pois não aprofundava nos

assuntos que à ela eram perguntados e se referia aos acontecimentos como

não tendo nenhum problema. Ao mostrar essa visão parcial da vida, onde tudo

é aparentemente lindo e sem conflito, podemos verificar que estes últimos

podem ser encontrados na sua sombra. Luciana pode estar jogando para a sua

sombra necessidades inconscientes que podem estar presentes no imaginário

da sua família de origem, e portanto deve fazem parte da sua educação: “Eles

também não são ortodoxos, (ao se referir à religião católica dos pais) me

batizaram porque eu vim de uma família antiga, de tradição que acredita que

batizado é uma benção”. Essa exigência familiar poderia estar confrontando

com sua escolha profissional e estilo de vida “Eu venho de uma família mais

rígida, uma educação tradicional. Sexo é uma coisa que não era para se

expressar assim (ao se referir à sua relação sexual com base no Tantrismo)”.

Pelo fato de ela poder estar negando tais características presentes em

sua sombra, quando fala pode dar um ar de superficialidade, pois não entra em

contato com tais conteúdos internos, não fala de seus problemas e não

aprofunda sobre tais aspectos de sua família, e se as incomoda ou não.

Luciana, então, desconhece sua sombra, mostrando-se perante dela uma

postura rígida e com uma certa inflexibilidade. Aparece uma dicotomia, uma

cisão, apresentando os mecanismos de defesa da racionalização e negação.

Quando os conteúdos presentes na sombra são negados dessa forma, é

comum a pessoa apresentar traços de disforia, que é uma negação e não

89

aceitação das pranchas que contém cor escura e acinzentada. Luciana revela

em muitas pranchas sinais de disforía e também muita critica, isto é,

autocrítica. Os conteúdos presentes na sombra possuem como característica

principal um aspecto arcaico, e quando este conteúdo está para ser expresso,

sai de forma primitiva. É quando se faz presente a impulsividade de Luciana

apresentada em muitas atitudes, como ao expressar sua necessidade de fazer

as coisas acontecerem na hora.

No caso de Luciana, o Tantra Yoga a ajudou a aprofundar seu

auto conhecimento e a aceitar parte de suas necessidades, enquanto que

ainda apresenta sinais de necessidades inconsciente importantes que buscam

expressão e aceitação. O Tantra também possibilitou a expressão do animus

nela constituído e conseqüentemente o encontro com um parceiro com quem

pretende realizar uma vida amorosa estável.

90

REFERÊNCIA BIBLIOGRÀFICA

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Petrópolis, RJ, Editora Vozes.

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BERTAZZO, I. (1998), Cidadão corpo- identidade e autonomia do movimento,

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BERTHERAT, T. & BERNSTEIN, C. (1990), A toca do tigre – antiginástica e a

consciência do ser, Martins Fontes.

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PUCSP- Apostila produzida pelo grupo de trabalho em psicodiagnóstico

baseado na obra de: Bruno Klopfer, B. (1942), The Rorschach technique,

Nova York: Word Book Company, v. I e II.

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processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas, São Paulo: Martins Fontes.

PASIAN, S. R. (2000), O psicodiagnóstico de Rorschach em Adultos:atlas,

normas e reflexões. São Paulo, 1ª Edição, Casa do psicólogo.

91

PENNA, E.M.D. (1987), Um esquema auxiliar na interpretação dos tipos de

vivência. Trabalho apresentado no XII Congresso Internacional de Rorschach e

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RORSCHACH, H. (1967) Psicodiagnóstico: método e resultados de experiência

diagnóstica de percepção. São Paulo, Mestre Jou, p. 397.

TRINCA, W. (1983) O pensamento clínico e a integração dos dados no

diagnóstico psicológico. In: Diagnóstico psicológico: a prática clínica. São

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WEINER, I. B. (2000), Princípios da interpretação do Rorschach. Casa do

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WHITMONT, E. C. (2000). A busca do símbolo: Conceitos básicos de

Psicologia analítica. São Paulo: Editora Cutrix.

92

ANEXO I

Significado dos índices utilizados na computação da prova de Rorschach de

acordo com Bruno Klopfer (1949)

Índices aferidos na Prova de Rorschach

1. Ressonância Afetiva

A ressonância afetiva indica a responsividade geral do indivíduo ao meio

e também serve de valor comparativo para a confirmação do tipo de

exteriorização da afetividade. Os valores considerados foram:

R.A. < 30% ---------------------------------------- inibição afetiva

30% < R.A.< 40%-------------------------------- responsividade normal

R.A.> 40% --------------------------------------- impulsividade

2. Exteriorização da afetividade

A exteriorização da afetividade indica o tipo de vivência do sujeito, isto é,

qual o tipo de reação do indivíduo frente ao impacto emocional provocado

pelos estímulos do meio. Os valores considerados foram:

2M : 1Csum ------------------introversivo

M : 2Csum-------------------extratensivo

M : Csum----------------------ambigual

Os indivíduos considerados como introversivos têm uma vida interior

rica, são reflexivos e criativos. Mantém contatos humanos mais numerosos que

profundos e demonstram dificuldades na vida social e em adaptar-se à

93

realidade. A introversão extrema pode indicar, junto com a análise geral dos

dados, uma defesa frente às emoções provocadas pelo estímulo do meio.

Os indivíduos considerados extratensivos são hábeis em adaptar-se à

realidade, mostram-se mais pragmáticos, são pouco originais e encontram

facilidade para concretizar os seus objetivos. Mantém contato superficial e

numeroso e a extratensão extrema pode refletir uma defesa que busca ajuda

no engajamento total com a realidade.

A ambigüidade pode apresentar-se através do sujeito do tipo dilatado ou

cortado. O indivíduo que apresenta um tipo de vivência dilatada conserva um

equilíbrio entre as características introversivas e extratensivas, trazendo

consigo a habilidade de manter contatos afetivos profundos e, ao mesmo

tempo, tendo o domínio do ambiente que o cerca.

3. Tipo de exteriorização

O tipo de exteriorização da afetividade indica a presença ou ausência de

exteriorização e o tipo de controle que o sujeito dispõe para exteriorizar os seus

afetos. Os valores considerados foram:

FC = 0 e CF+C = 0 ----------- sem exteriorização

FC < CF + C ----------------------impulsividade

FC > CF + C e CF + C > 0 ---------- normal

A equação FC > CF + C, quando FC excede a soma CF + C, é

indicativa da capacidade do indivíduo de responder com o controle adequado

aos estímulos do meio, tanto interna quanto externamente, e sua expressão é

94

profunda, não havendo a necessidade de um controle exagerado. No entanto,

se a soma CF + C tender a zero, devemos pensar na dificuldade do sujeito em

reagir emocionalmente diante de uma situação que solicite um envolvimento

mais profundo. FC < (CF + C) é demonstrativo de que o sujeito tem o controle

frágil sobre sua emocionalidade e tende a reações comportamentais

impulsivas.

De acordo com Penna (1987), estas respostas deverão ser avaliadas

também em conjunto com as de movimento humano e animal.

4. Organização das necessidades afetivas

O índice da organização das necessidades afetivas demonstra a

presença de sinais de ansiedade e se aquelas são passíveis de

reconhecimento, ou ainda, se são tão primitivas que se tornam indiscriminadas.

Os valores considerados foram:

Sombreado diferenciado : Sombreado indiferenciado

(FK + Fk + Fc) : (KF + kF + cF + c)

0 : 0 --------------------------------- inconsciência

0 : x onde x ≠ 0 ------------------- consciência

y : x onde x e y ≠ 0 --------------- consciência e inconsciência

As respostas de sombreado nos indicam como os sujeitos manipulam as

necessidades básicas de segurança, afeição e do sentimento de pertencer a

alguém. As respostas K e KF indicam a presença de ansiedade de natureza

vaga: o sujeito está consciente dessa ansiedade, embora não tenha defesas

eficazes. A presença de ansiedades faz parte da vida, no entanto, se há um

aumento para 3 no índice dessas respostas de natureza vaga, e assim

95

excederem as respostas de sombreado diferenciado, podemos supor que o

grau de ansiedade é alto o suficiente para perturbar o cotidiano do sujeito. A

ausência de respostas dessa natureza indica uma falta de consciência das

necessidades afetivas ou a presença de defesas que protegem o sujeito dessa

consciência.

A relação entre as respostas de textura e forma é muito importante para

a avaliação global do sujeito. Se a quantidade das respostas de textura

exceder ¾ das de forma, poderemos supor que as necessidades afetivas

ameaçam inundar a personalidade; no entanto, se elas estiverem abaixo de ¼

de F, poderemos pensar na presença de repressão intensa ou numa

necessidade de afeto subdesenvolvida.

5. Recursos da personalidade

Os recursos da personalidade indicam o tipo de vivência do sujeito, a

capacidade de reflexão, de imaginação e a energia psíquica existentes. Os

valores considerados foram:

FM > 2M ---------- necessidade de gratificação imediata (2)

M > FM ------------ normal

M < FM < 2M------ desfavorável

O significado das respostas M é bastante complexo e implica

basicamente 3 conceitos: a) do processo imaginativo, isto é, ver na mancha

uma cinestesia que inexiste; b) da empatia, isto é, ver na mancha a presença

humana; e c) da percepção em nível altamente diferenciado e integrado.

A quantidade de respostas M é indicativa da presença de energia vital.

Nos introspectivos, espera-se um mínimo de 5 respostas dessa categoria.

96

Abaixo de 3, podemos supor um rebaixamento da energia vital disponível do

indivíduo, e ainda uma baixa tolerância do ego aos impulsos arcaicos.

As respostas FM, comparadas com as M, requerem um menor grau de

diferenciação intelectual, não implicam empatia pelos seres humanos e

sugerem impulsos que necessitam de gratificação imediata.

Assim sendo, a relação entre a quantidade dessas respostas aliadas ao

tipo de exteriorização dos afetos, analisadas em conjunto com os outros dados

do psicograma, poderá auxiliar-nos na avaliação desses sujeitos.

6. Grau de esteriotipia O grau de esteriotipia indica a capacidade de concentração, o controle

dos processos de pensamento e a amplitude de interesses que o sujeito

apresenta.

A% < 30 ------------------- dispersão do pensamento

30 ≤ A% ≤ 50 ------------- normal

A% > 50 -------------------- controle rígido dos processos do pensamento

As respostas de conteúdo animal indicam as tendências perseveratórias

e de esteriotipia que são necessárias à capacidade de concentração do sujeito;

um índice muito baixo pode indicar uma dissociação no curso do pensamento,

mas é preciso observar qual conteúdo aumenta em decorrência da baixa de

A%. Se for o conteúdo humano, podemos pensar num interesse voltado para o

homem de modo geral; se anatômico, podemos pensar em angústia

hipocondríaca, convivência com doenças graves, assim por diante.

97

7. Produção A produtividade indica a capacidade de produção intelectual. Os valores

considerados foram:

R < 15 -------------------- baixa produtividade

15 ≤ R ≤ 25 --------------normal

R > 25 -------------------- excesso de produtividade

A produtividade do indivíduo deve ser avaliada à luz da qualidade dessa

produção; se a responsividade for baixa, mas estiver associada a um bom

número de respostas, cujo determinante é global, do tipo secundário,

poderemos supor que a capacidade de produção intelectual desse sujeito se

caracteriza por uma abordagem mais elaborada, que implica percepção

discriminativa e integração das partes, o que lhe possibilita realização e

compreensão de experiências complexas. Entretanto, se o sujeito demonstrar

baixa produtividade, associada a um número exagerado de respostas globais

primárias, poderemos supor uma superficialidade de relacionamento com as

experiências do meio que pode levar a generalizações simplórias.

8. Manutenção da objetividade A manutenção da objetividade indica a capacidade de formação de

conceitos objetivos. Os valores considerados foram:

F% < 20 ----------------------------- objetividade rebaixada

20 ≤ F% < 50 ----------------------- manutenção da objetividade normal

50 ≤ F% < 80 ----------------------- constrição neurótica

F% ≥ 80 e nível formal alto ------ constrição neurótica

98

e nível formal baixo --------------- limitação natural

9. Dado de realidade A qualidade formal indica a capacidade de objetivação adequada do

sujeito, segundo os padrões sociais. Os valores considerados foram:

+ F% < 75 ------------------- sinal de desajuste às normas

75 ≤ + F% ≤ 80 -------------- normal

+ F% > 80 -------------------- rigidez, vida afetiva comprometida

Os índices de manutenção da realidade e capacidade de objetivação

estão intrinsecamente ligados. A qualidade das respostas F (F+, F-, F+-) e a

sua quantidade são indicativos da capacidade reguladora do pensamento e da

razão. Índices muito altos de respostas de conteúdo formal, quase ausência de

cor e das respostas de textura levam-nos a pensar numa asfixia da vida afetiva.

Os índices acima descritos devem sempre ser discutidos de maneira

articulada para nos proporcionarem uma visão global dos sujeitos.

99

ANEXO II

Classificação geral dos elementos segundo os critér ios para apuração da

prova de Rorchach de acordo com Bruno Klopfer (1942 )

Localização

G – Global

D – Detalhe usual

Dd – Detalhe inusual

S – Espaço

Determinantes (forma, cor, sombreado, movimento)

I. Forma

1- F+: Forma definida bem vista

2- F- : Forma definida mal vista

3- F+ : Forma indefinida

II. Cor (cromática e acromática)

Cor cromática (C)

1- FC: forma definida e cor

2- CF: forma indefinida e cor

3- C: cor sem forma

100

Cor acromática (C’) – branco, preto e cinza

1- FC’: forma definida e cor acromática

2- C’F: forma indefinida e cor acromática

3- C’: cor acromática sem forma

III Sombreado (de superfície e textura, de difusão e tridimensão, de redução

para bidimensão)

De superfície (c)

4- Fc: forma definida e textura diferenciada

5- cF: forma indefinida e textura

6- c: textura sem forma

Difusão e tridimensão (K)

1- FK: tridimensão ou reflexo

2- KF: difusão com alguma forma

3- K: difusão sem forma

De redução para bidimensão (k)

1- Fk: redução com forma definida

2- kF: redução com forma definida

3- k: sem forma alguma

101

IV: Movimento

1- M: humano

2- FM: animal

3- m: inanimado

3a - Fm: inanimado com forma definida

3b- mF: inanimado com forma indefinida

3c- m: inanimado e sem forma

Conteúdo

As principais categorias de conteúdo (animal, humana)

Animal

1- A: figuras animais inteiras e reais

2- Ad: parte do corpo do animal

3- (A): animais desvitalizados

4- (Ad): parte de animal desvitalizado

Humana

1- H: figuras humanas inteiras e reais

2- Hd: parte de figura humana

3- (H): figuras humanas desvitalizadas

4- (Hd): parte de figuras humanas desvitalizadas

102

ANEXO III

Universidade Federal de São Carlos Centro de Educação e Ciências Humanas

Departamento de Psicologia Consentimento Informado

Nós, Carla Rodrigues Fernandes e Maria Theodora Gazzi Mendes somos estudantes e pesquisadoras da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Estamos realizando um estudo com relação às pessoas que praticam o Tantra Yoga, com o objetivo de traçar a dinâmica psicológica destes praticantes.

O trabalho será realizado em quatro duas etapas, sendo estas constituídas de:

1. 1° entrevista 2. 1° avaliação com teste de Rorschach 3. 2° entrevista 4. 2° avaliação com teste de Rorschach

A entrevista e a avaliação ocorrerão em horários e locais a combinar com a participante.

Preciso muito de sua colaboração, mas você precisa saber que a ao aceitar participar desse estudo, aceitará as condições:

− as entrevistas serão gravadas e depois transcritas; − seus depoimentos só serão utilizados neste estudo; − você estará livre para desistir da entrevista em qualquer momento e

não precisa falar de situações que lhe tragam algum tipo de constrangimento;

− sua participação é inteiramente voluntária; − não há risco significativo em participar deste estudo. Considerando as questões acima: Eu, _______________________________________________ , aceito

participar deste estudo. Eu recebi uma cópia deste termo, estando ciente e de acordo.

_______________________________ Assinatura da participante _______________________________ Assinatura da Professora Responsável Marília Gonçalves __________________________ _______________________________ Assinatura das Pesquisadoras

São Carlos, 18 de dezembro de 2002

103

ANEXO IV

CONSENTIMENTO PARA UTILIZAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS NO

PSICODIAGNÓSTICO

(Cidade), (preencher com data) À

Eu, _ (nome e estado civil)________, portador(a) do documento de identidade:_______________ declaro para os devidos fins que cedo os direitos Dos resultados das minhas avaliações psicológicas ( entrevista e Prova de Rorschach), realizadas nos dias _____________ para _________, para ser usada integralmente ou em partes, sem restrições de prazos e citações, desde a presente data. A única restrição é que se mantenha o anonimato da minha identidade, sob a forma de um outro nome fictício.

Abdicando de direitos meus e de meus descendentes, subscrevo a presente,

Assinatura ________________________