avaliaÇÃo morfomÉtrica do efeito do Óleo...
TRANSCRIPT
69
R. Periodontia - Junho 2010 - Volume 20 - Número 02
INTRODUÇÃO
A periodontite crônica é uma das formas mais
comuns de doença periodontal caracterizada pelo
desenvolvimento de um processo inflamatório lento
que afeta o periodonto de sustentação, na presen-
ça de biofilme subgengival (Ranney, 1993; Hyman &
Reid, 2003). O fator etiológico primário da
periodontite é o efeito cumulativo da interação en-
tre desafio microbiano e resposta imunológica do
hospedeiro (Ranney, 1993; Assuma et al., 1998;
Hyman & Reid, 2003). Fatores de risco, tais como
diabetes, fumo e suscetibilidade genética podem
predispor ou agravar a perda de inserção periodontal
(Hyman & Reid, 2003).
A reação do periodonto frente à presença
bacteriana e seus produtos envolve a geração de
mediadores inflamatórios como prostaglandinas
(PGs), citocinas, fatores de crescimento, liberação de
enzimas líticas, além do recrutamento de células in-
flamatórias e ativação de osteoclastos, formando a
base do processo destrutivo da periodontite (Assu-
ma et al., 1998).
As citocinas, principalmente a interleucina 1 (IL-
1) e o fator de necrose tumoral (TNF), são os media-
dores pró-inflamatórios diretamente envolvidos na
estimulação da reabsorção óssea, assim como as
AVALIAÇÃO MORFOMÉTRICA DO EFEITO DO ÓLEOESSENCIAL DO CROTON ZEHNTNERI (OECZ) SOBRE APERDA ÓSSSEA ALVEOLAR EM RATOS COMPERIODONTITE INDUZIDAEffect of croton zehntneri essential oil (CZEO) on alveolar bone loss in rats with induced
periodontitis. Morphometric analysis
Roberto Dias Rêgo1, Margarida Maria de Lima Pompeu2, Maria Mônica Studart Mendes Moreira3, Talapala GovindaswamyNaidu4, Sérgio Luís da Silva Pereira5
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar morfometricamente
o efeito do óleo essencial do Croton zehntneri (OECz), na
perda óssea decorrente da periodontite induzida em ratos.
Quarenta ratos Wistar fêmeas foram divididos aleatoriamen-
te em dois grupos de vinte (controle, n=20 e teste, n=20),
nos quais foi induzida periodontite através de ligadura. No
grupo teste foi aplicado 0,1 ml de OECz, ao redor do dente
com o fio de sutura, diariamente a partir do quinto dia após
a indução da periodontite até o 11o dia. No grupo controle
não foi aplicada nenhuma substância. Os animais foram
sacrificados no 12o dia, a maxila removida e as peças foram
submetidas à avaliação morfométrica. As hemiarcadas fo-
ram analisadas em microscópio óptico e ocular graduada
para se efetuar as medidas. O índice de perda óssea (IPO)
em mm foi calculado e a comparação das médias de perda
óssea foi realizada estatisticamente pelo teste não-
paramétrico de Mann-Whitney em nível de significância de
5%. Houve uma diferença estatisticamente significante do
IPO entre os grupos, favorecendo o grupo teste (p < 0,05).
Os valores médios demonstraram que, comparativamente
ao grupo controle, o grupo teste demonstrou uma menor
perda óssea alveolar no primeiro molar (11,1 vs 16,4mm),
no segundo molar (11,2 vs 14,2 mm) e no terceiro molar
(3,8 vs 5,9mm). Portanto, a aplicação tópica do óleo essen-
cial do croton zehntneri (OECZ) inibiu parcialmente a perda
óssea provocada pela periodontite induzida em ratos.
UNITERMOS:
1 Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial, Universidade de Fortaleza, Ceará, Brasil
2 Doutor em Patologia Humana, Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil
3 Doutora em Periodontia, Professor Assistente, Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil
4 Doutor em Imunologia, Professor Titular, Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil
5 Doutor em Periodontia, Professor Titular, Universidade de Fortaleza, Ceará, Brasil
Recebimento: 09/03/10 - Correção: 06/04/10 - Aceite: 07/05/10
periodontite, perda óssea, ratos, Cróton
zehntneri. R Periodontia 2010; 20:69-75.
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM69
R. Periodontia - 20(2):69-75
70
metaloproteinases liberadas pelos macrófagos, que induzem
a proliferação de progenitores de células clásticas e, indireta-
mente, estimulam a ação de osteoclastos maduros (Assuma
et al., 1998). A análise desses achados sugere que, em casos
avançados de periodontite, os processos imunológicos
desencadeados poderão, em princípio, sustentar o quadro
inflamatório crônico em fases até posteriores à eliminação
dos microorganismos, conferindo um caráter
imunopatológico à periodontite crônica (Assuma et al., 1998,
Williams, 2002).
Estudos com o uso de substâncias farmacológicas com
propriedades anti-inflamatórias, neutralizando alguns medi-
adores dos macrófagos ativados, demonstraram resultados
significativos na contenção dos processos destrutivos da
periodontite crônica (Paquette et al., 1997; Yaffe et al., 2000;
Carvalho et al., 2010). Além dos anti-inflamatórios não-
esteroidais (Offenbacher et al., 1992, Azoubel et al., 2007;
Fernandes et al., 2008), produtos naturais vêm sendo estu-
dados no intuito de avaliar suas propriedades anti-inflama-
tórias e a sua ação no processo destrutivo do periodonto
(Gonzales et al., 2001; Pistorius et al., 2003; Botelho et al.,
2007; Toker et al., 2008; Botelho et al., 2009).
Entre os produtos naturais com efeitos anti-inflamatóri-
os figuram as plantas Croton da família “Euphorbiaceae” que
podem ser agrupadas em quatro categorias: canelas silves-
tres, marmeleiros, velames ou outras espécies de Crótons
(Craveiro et al., 1981). Um membro dessa família, o Croton
zehntneri, pertencente à categoria das canelas silvestres,
popularmente conhecido como “canela de cunhã”, possui
caracteristicamente um aroma forte e adocicado, semelhan-
te ao anis (Illicium verum) ou ao cravo da Índia (Eugênia
caryophyllata) ou a mistura de ambos, sendo exalado por
toda a parte da planta (Coelho-de-Souza et al., 1997).
Os principais constituintes desse óleo são o anetol, o
estragol, o eugenol (Craveiro et al., 1981; de Siqueira et al.,
2006), além do crototropone (Bracher, et al., 2008). Estudos
preliminares em animais com o óleo essencial do Croton
zehntneri (OECz) têm demonstrado atividade miorrelaxante,
com elevada especificidade de atuação e efeito
antiespasmódico, mais específico para o músculo respirató-
rio e cardíaco (de Siqueira et al., 2006). Relatos recentes tam-
bém têm demonstrado um efeito antifúngico do óleo es-
sencial de espécies de OECz extraídas da caatinga brasileira
(Fontenelle et al., 2008), bem como sua ação antibacteriana,
onde apresentou efeito sinérgico com potentes antibióticos
(Rodrigues et al, 2009).
O OECz e seus princípios ativos possuem também efei-
tos anti-inflamatórios, com alto grau de tolerância sistêmica
(Chainy et al., 2000), revelando um índice terapêutico supe-
rior a de outros óleos essenciais de outras plantas descritas
na literatura (Sousa et al., 1998; Oliveira et al., 2001). Mais
significativamente, essas observações preliminares parecem
apontar para algum potencial “imunomodulador” desse óleo
essencial e seus derivados.
Tal potencial da planta, se comprovada em estudos con-
trolados, poderá possibilitar o uso de seus derivados no tra-
tamento de processos imunopatológicos sob o mérito de
ser um recurso natural, renovável e de larga faixa de segu-
rança entre as doses terapêutica e tóxica sistêmica, a custos
mais acessíveis. Em virtude dessas ações biológicas e pela
escassez de estudos deste fitoterápico em Odontologia, este
trabalho tem o propósito de avaliar o efeito do óleo essenci-
al do OECz sobre a perda óssea alveolar em ratos com
periodontite induzida.
MATERIAL E MÉTODOS
O protocolo utilizado está de acordo com os Princípios
Éticos na Experimentação Animal adotados pelo Colégio
Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa e do Complexo Hospitalar
da Universidade Federal do Ceará (Comepe, protocolo no.
202/03).
Quarenta ratos Wistar fêmeas (Ratus Norvergicus
allbinus), pesando entre 150g e 300g e fornecidos pelo
Biotério Central do Campus do Pici – UFC foram utilizados
no experimento, realizado no Biotério do Departamento de
Patologia e Medicina Legal da UFC. Os animais foram aco-
modados em gaiolas individuais com água e ração à vonta-
de e mantidos em ambiente controlado (luz entre 7h e 19h
e temperatura média de 23oC). O modelo de doença
periodontal experimental utilizado foi semelhante ao de ou-
tros estudos (Crawford et al., 1978; Sallay et al., 1982;
Samejima et al., 1990; Koide et al., 1995).
Os animais foram divididos aleatoriamente em dois gru-
pos de vinte (controle – n=20 e teste – n=20), nos quais foi
induzida periodontite através de ligadura com fio de nylon
3-0 (Ethicon – Johnson & Johnson, São Paulo/SP, Brasil). Os
animais foram anestesiados com Cloridrato de Ketamina
(Dopalen – Sespo, Jacareí/SP, Brasil) e Cloridrato de Xylazina
(Rompun – Bayer do Brasil, São Paulo/SP, Brasil) 1,3 mL/kg,
via intraperitoneal e, após a imobilização dos mesmos, foi
transfixada uma agulha de fio de sutura cardiovascular de
1,5 cm (Polipropileno 5-0) (Ethicon – Johnson & Johnson,
São Paulo/SP, Brasil), de palatino para vestibular, por entre as
faces proximais (mesial e distal) do segundo molar superior
esquerdo, criando espaço para a passagem de um fio de
nylon 3-0 (Ethicon – Johnson & Johnson, São Paulo/SP, Bra-
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM70
R. Periodontia - 20(2):69-75
71
sil) que foi transpassado ao redor do mesmo dente. Após a
colocação do fio, foi dado um nó de duplo reforço
voltado para vestibular, permanecendo no local até o dia
do sacrifício.
No grupo teste foi aplicado 0,1 ml de OECz, fornecido
pelo Departamento de Fisiologia da Universidade Estadual
do Ceará (UECE), ao redor do segundo molar com o fio, uti-
lizando uma seringa de insulina com uma agulha sem bisel,
diariamente a partir do quinto dia após a indução da doen-
ça periodontal até o 11º dia. OECZ foi obtido da planta por
um processo de destilação a vapor e posterior condensação,
onde o óleo essencial foi extraído, separando-o da parte
aquosa e outros solutos. Sua composição química foi deter-
minada por cromatografia gasosa e espectometria de mas-
sa, encontrando-se os seguintes constituintes: anetol (86%),
estragol (4,7%), eugenol (3,8%), além de cariofileno, 1,8 cineol
e mirceno que totalizaram 5,5%.
No grupo controle não foi aplicada nenhuma substân-
cia. Os animais foram sacrificados com deslocamento cervical
no 12o dia e a maxila foi removida preservando-se as estru-
turas periodontais, sendo colocada em um frasco contendo
formol a 10% por 48 horas, separando-se o grupo teste do
controle.
As peças fixadas em formol foram seccionadas ao meio
dividindo a maxila em duas hemiarcadas. As hemiarcadas
contendo a ligadura tiveram os fios cortados com lâmina de
bisturi nº 11 e removidos. Os tecidos gengivais, tanto por
vestibular como por palatino, foram removidos e colocados
novamente nos frascos contendo formol para posterior es-
tudo imunohistoquímico. O restante das peças, contendo
os dentes e as estruturas ósseas de sustentação, foi imerso
em álcool a 70% e posteriormente corado com azul de
metileno a 1% para destacar o osso alveolar das demais es-
truturas. As peças foram submetidas à avaliação
morfométrica da perda óssea, sendo a hemiarcada que não
possuía fio, utilizada como controle. As hemiarcadas foram
montadas em blocos de cera e analisadas em microscópio
óptico com aumento de 4x e ocular graduada.
As medidas foram realizadas em sete pontos diferentes,
nas faces vestibulares, da ponta da cúspide ao rebordo ós-
seo em todas as cúspides, ao longo do eixo dos molares:
três no primeiro molar, denominadas mesial (m1), mésio-distal
(md) e distal (d1); dois pontos no segundo (m2 e d2) e ter-
ceiro molares (m3 e d3), respectivamente (Crawford et al.,
1978). Essas medidas foram anotadas e subtraídas da
hemiarcada contralateral, do mesmo animal, que não rece-
beu o fio (controle) e as diferenças ou variações foram soma-
das, quantificando assim a perda óssea provocada pela
indução da doença periodontal (Samejima et al., 1990). A
média dessas diferenças corresponderia ao índice de perda
óssea (IPO) em cada dente, expresso em milímetros (Crawford
et al., 1978). A comparação das médias de perda óssea foi
realizada estatisticamente pelo teste não-paramétrico de
Mann-Whitney em nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Na análise macroscópica visual pôde-se observar que,
com relação aos espécimes em que não foi induzida doença
periodontal (Figura 1), o grupo controle apresentou uma
perda óssea severa com exposição de grande parte da su-
perfície radicular (Figura 2). O grupo teste demonstrou uma
perda óssea menos evidente, com menor exposição das raízes
(Figura 3), porém também apresentou exposição de furca,
principalmente no segundo molar, de forma semelhante ao
grupo controle.
Através da média dos valores mensurados e a obtenção
do IPO para cada dente, verificou-se uma maior perda óssea
ao redor dos 1º e 2º molares em ambos os grupos (Tabela
1), porém o grupo teste apresentou um menor percentual
de perda óssea em todos os dentes (Figura 4). Houve uma
diferença estatisticamente significante das médias de perda
óssea entre os grupos teste e controle para o primeiro molar
(p= 0,014), segundo molar (p= 0,0014) e terceiro molar (p=
0,0032), favorecendo o grupo teste (Tabela 1).
DISCUSSÃO
O modelo animal utilizado neste estudo está de acordo
com a literatura, em que ratos são frequentemente utiliza-
dos para se estudar a periodontite crônica (Johnson, 1975;
Sallay et al., 1982; Klausen, 1991; Györfi et al., 1994; Koide
et al., 1995). Estes animais oferecem algumas vantagens
como preço, facilidade de manuseio, além de permitir avali-
ação microbiológica, macroscópica e histológica. Ademais,
os aspectos clínicos, radiográficos e histológicos da doença
periodontal em ratos são similares aos encontrados em
humanos (Klausen, 1991; Koide et al., 1995).
Tabela 1
MÉDIA E DESVIO-PADRÃO (EM MM) DO ÍNDICE DE PERDA ÓSSEA (IPO)
PARA CADA DENTE PARA OS GRUPOS TESTE E CONTROLE
*p<0.05.
Grupos /Dentes
TESTE*
CONTROLE*
1º MOLAR
11,1 + 0,27
16,4 + 0,32
2º MOLAR
11,2 + 0,24
14,2 + 0,25
3º MOLAR
3,8 + 0,33
5,9 + 0,30
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM71
R. Periodontia - 20(2):69-75
72
A indução de periodontite em ratos pode ser obtida de
três maneiras: inoculação de periodontopatógenos, coloca-
ção de ligadura ao redor dos dentes favorecendo o acúmulo
de biofilme (Johnson, 1975; Györfi et al., 1994; Koide et al.,
1995) e por meio de dieta que facilite o crescimento de
microorganismos periodontopatogênicos (Pilatti et al., 1997;
Offenbacher et al., 1998). No presente estudo foi utilizado o
modelo de indução de periodontite por ligadura, o qual é
suficiente para causar a presença de debris e infiltrado infla-
matório com consequente perda de inserção e de osso
alveolar (Johnson, 1975; Sallay et al., 1982; Györfi et al., 1994;
Koide et al., 1995). A dieta não foi modificada para uma mais
amolecida, como utilizada em outros estudos (Pilatti et al.,
1997; Offenbacher et al., 1998), mesmo porque este não é
um fator preponderante para uma maior indução de
periodontite (Galvão et al., 2003).
Ainda há na literatura divergências com relação ao perí-
odo de indução de periodontite. A presença de infiltrado in-
flamatório moderado foi observada três dias após a inserção
da ligadura (Koide et al., 1995) e a partir de oito dias linfócitos
e hiperplasia gengival foram encontrados (Györfi et al., 1994),
entretanto a reabsorção da crista óssea alveolar ocorreu a
partir de 17 dias da ligadura com fio de seda (Johnson, 1975).
Galvão et al. (2003) relataram que 30 dias foram suficientes
para promover inflamação e destruição periodontal, utilizan-
do fio de algodão.
De acordo com um estudo piloto realizado anterior à
execução da pesquisa no Laboratório de Farmacologia da
Inflamação e do Câncer (LAFICA) do Departamento de Fisi-
ologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina (UFC), no 5o
dia após a colocação da ligadura se inicia a perda óssea no
periodonto de sustentação dos molares progredindo até atin-
gir um pico por volta do 11o dia. Pelos resultados encontra-
dos no presente estudo e em outros que utilizaram período
igual (Azoubel et al., 2007; Carvalho et al., 2010), no qual
ocorreu perda óssea considerável atingindo além do terço
médio da raiz, acreditamos ter sido suficiente este período,
apesar de Johnson (1975) relatar que são necessários 49 dias
de indução de periodontite na presença de fio de nylon para
promover ação osteoclástica. Estas variações podem ser de-
correntes de fatores locais como tipo de microbiota, espes-
sura e qualidade de tecido ósseo, bem como pelo tipo e
localização do nó cirúrgico, que poderiam ter facilitado um
maior acúmulo de biofilme subgengival.
Substâncias com propriedades anti-inflamatórias vêm
sendo pesquisadas para o tratamento da doença periodontal.
Entre estas encontram-se a indometacina (Lasfargues &
Saffar, 1983; Azoubel et al., 2007), flurbiprofeno (Williams et
al., 1988) e cetoprofeno (Paquette et al, 1997), que demons-
traram menor perda óssea em modelos experimentais de
indução de periodontite, apesar de outro estudo não com-
provar tal efeito (Camilotti et al., 2005).
Os trabalhos de Williams et al. (1988) e Yaffe et al. (2000),
utilizando flurbiprofeno tópico e bifosfanatos observaram
redução de perda óssea em torno de 50%, valores seme-
lhantes aos encontrados no presente estudo, no qual no
grupo teste houve uma menor perda óssea em relação ao
grupo controle. Entretanto, o estudo de Fernandes et al.
(2008) demonstrou que o ibuprofeno não foi capaz de
reduzir a perda óssea alveolar. Estas discrepâncias entre os
estudos podem ser explicadas pela diferenças metodológicas,
como tempo de sacrifício e dosagem das substâncias
avaliadas.
O nordeste brasileiro é considerado um importante ce-
leiro de plantas medicinais (Craveiro et al., 1981; Sousa et al.,
1998), razão pela qual a cultura de medicina alternativa à
base de produtos naturais é muito difundida, principalmen-
te no meio rural e nas camadas sociais menos privilegiadas.
Experimentos realizados essencialmente em animais de la-
boratório com óleos essenciais e os princípios ativos de vári-
as plantas, sugerem reais perspectivas de aproveitamento
de produtos naturais no tratamento de doenças humanas
(Sousa et al., 1998).
O presente trabalho é o primeiro a avaliar a ação do OECz
em modelo experimental de periodontite induzida, o qual
demonstrou uma ação significativa deste fitoterápico na di-
minuição da perda óssea alveolar. Resultados semelhantes
foram encontrados com outros produtos naturais, tais como
no estudo de Toker et al. (2008) que observaram uma redu-
ção da perda óssea alveolar com o uso da própolis. Mais
recentemente, trabalhos utilizando metodologia semelhan-
te ao nosso estudo também demonstraram um efeito pro-
tetor da perda óssea periodontal de duas plantas brasileiras,
o alecrim-pimenta (Lippia sidoides) e aroeira (Myracrodruon
urundeuva) (Botelho et al., 2007; Botelho et al., 2009)
Estudos da atividade antiedematogênica e
antinociceptiva do OECz sugeriram um potencial anti-infla-
matório dessa substância, inibindo o edema em pata de rato
induzido por formalina, histamina e serotonina (Oliveira et
al., 2001). Mais significativamente, essas observações preli-
minares e de outros estudos recentes (de Siqueira et al., 2006;
Bracher et al., 2008) parecem apontar para algum potencial
“imunomodulador” deste fitoterápico, principalmente devi-
do à alta concentração de anetol presente no extrato, o qual
possui semelhança química com o eugenol que, por sua vez,
apresenta comprovada atividade antinociceptiva, anti-infla-
matória e antimicrobiana (Jadhav et al., 2004; Bracher et al.,
2008; Rodrigues et al., 2009).
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM72
R. Periodontia - 20(2):69-75
73
Processos inflamatórios induzidos por ligadura são cau-
sados por infecção microbiana (Duarte et al., 2010), uma
vez que esta metodologia em ratos germ-free ou combina-
do com antibióticos não foi capaz de induzir periodontite
(Rovin et al., 1966; Sallay et al., 1982). A menor perda óssea
encontrada no grupo teste também pode ser explicada pela
atividade antimicrobiana do OECz (Craveiro et al., 1981; Oli-
veira et al., 2001; Rodrigues et al, 2009).
Com essas características, o Croton zehntneri parece
apresentar um bom perfil para o desenvolvimento de um
fitoterápico para o tratamento de periodontite crônica, sob
o mérito de ser um recurso natural, renovável e de larga fai-
xa de segurança entre as doses terapêutica e tóxica sistêmica
(Craveiro et al., 1981), a custos mais acessíveis. Entretanto,
por ser este um estudo preliminar, pesquisas futuras são
necessárias para avaliar a ação do OECz na etiopatogênese
da periodontite, principalmente sua ação na resposta imune
do hospedeiro, além de comparação entre doses terapêuti-
cas e entre substâncias alopáticas.
CONCLUSÃO
A aplicação tópica do óleo essencial do croton zehntneri
Figura 1. Aspecto macroscópico do periodonto de um animal sem indução de periodontite porligadura.
Figura 2. Aspecto macroscópico do periodonto de um animal do grupo controle
Figura 3. Aspecto macroscópico do periodonto de um animal do grupo teste.
Figura 4. Valores percentuais de perda óssea alveolar para cada dente em cada grupoexperimental.
(OECZ) inibiu parcialmente a perda óssea decorrente da
periodontite induzida em ratos.
ABSTRACT
The aim of this study was evaluate the effect of the
essential oil from Croton zehntneri (OECz) on the bone loss
rate in rats. Experimental periodontitis was induced in forty
Wistar female rats (control, n=20 and test, n=20) by placing
nylon ligatures around the upper molars. In the test group
OECz (0.1ml) was applied topically around the tooth with
ligature from day 5 to day 11. In the control group none
substance was used. At day 12, all animals were sacrificed,
maxillas were removed and they were evaluated by
morphometric analysis. The hemimandibulas were defleshed
and the measurements were performed by stereoscopic
microscopic. Measurements of the bone loss (in mm) were
conducted and bone loss index (BLI) was calculated. Non-
parametric Mann-Whitney test at 5% significant level was
used to compare means among groups. There was a
statistically significant difference of the BLI between groups,
favoring the test group (p<0.05). Mean BLI values showed
that, by comparison to control group, the test group
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM73
R. Periodontia - 20(2):69-75
74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Ranney RR. Classification of periodontal diseases. Periodontol 2000
1993; 2(1):13-25.
2- Hyman JJ, Reid BC. Epidemiologic risk factors for periodontal attachment
among adults in the United States. J Clin Periodontol 2003; 30(3):230-
7.
3- Assuma R, Oartes T, Cochran D, Amar S, Graves DT. IL-1 and TNF
antagonists inhibit the inflammatory response and bone loss in
experimental periodontitis. J Immunol 1998; 160(1):403-9.
4- Williams RC. A century of progress in understanding periodontal disease.
Compend Contin Educ Dent 2002; 23(5 Suppl):3-10.
5- Paquette DW, Fiorellini JP, Martuscelli G, Oringer RJ, Howell TH,
McCullough JR et al. Enantioscific inhibition of ligature-induced
periodontitis in beagles with topical (S)-ketoprofen. J Clin Periodontol
1997; 24(8):521-8.
6- Yaffe A, Golomb G, Breuer E, Binderman I. The effect of topical delivery
of novel bisacylphosphonates in reducing alveolar bone loss in the rat
model. J Periodontol 2000; 71(10):1607-12.
7- Carvalho RS, de Souza CM, Neves JC, Holanda-Pinto AS, Pinto LM,
Brito GA, de Andrade GM. Effect of venlafaxine on bone loss associated
with ligature-induced periodontitis in Wistar rats. J Negat Results
Biomed. 2010; 14(1):3-9.
8- Offenbacher, S, Williams RC, Jeffcoat MK, Howell TH, Odle BM, Smith
MA et al. Effects of NSAIDs on beagle crevicular cyclooxygenase
metabolites and periodontal bone loss. J. Periodontal Res.1992;
27(3):207-13.
9- Azoubel MCF, Menezes AMA, Bezerra D, Oriá RB, Ribeiro RA, Brito
GAC. Compraison of etoricoxib and indomethacin for the treatment
of experimental periodontitis in rats. Braz J Med Biol Res. 2007;
40(1):117-25.
10- Fernandes JB, Tanaka JLO, Lemos FL, Santos CCG, Ricardo LH. Influência
do uso de dose antimicrobiana de doxiciclina ou ibuprofeno na perda
óssea alveolar em periodontite induzida em ratas. R Periodontia 2008;
18(1):78-84.
11- Gonzales B, Yslas N, Reyes E, Quiroz V, Santana J, Jimenez G. Clinical
effect of a Mexican sanguinaria extract (Polygonum aviculare L.) on
gingivitis. J Ethnopharmacol 2001; 74(1):45-51.
12- Pistorius A, Willershausen B, Steinmeter EM, Kreister M. Efficacy of
subgingival irrigation using herbal extracts on gingival inflammation. J
Periodontol. 2003; 74(2):616-22.
13- Botelho MA, Rao VS, Carvalho CB, Bezerra-Filho JG, Fonseca SG, Vale
ML, Montenegro D, Cunha F, Ribeiro RA, Brito GA. Lippia sidoides and
myracrodruon urundeuva gel prevents alveolar bone resorption in
experimental periodontitis in rats. J Ethnopharmacol. 2007; 113(3):
471-8.
14- Toker H, Ozan F, Ozer H, Ozdemir H, Eren K, Yeler H. A morphometric
and histopathologic evaluation of the effects of propolis on alveolar
bone loss in experimental periodontitis in rats. J Periodontol 2008;
79(6):1089-94.
15- Botelho MA, Martins JG, Ruela RS, Santos JA, Soares JB França MC,
Montenegro D. Protective effect of locally applied carvacrol gel on
ligature-induced periodontitis in rats: a tapping mode AFM
study.Phytother Res 2009; 23(10): 1439-48.
16- Craveiro AA, Rodrigues AS, Andrade CHS, Matos FJA, Alencar JW,
demonstrated a lower bone loss for the first molar (11.1 vs
16.4mm), second molar (11.2 vs 14.2mm) and third molar.
Thus, the topical application of the essential oil of croton
zehntneri (OECZ) inhibited partially the bone loss in a ligature-
induced periodontitis model.
UNITERMS: periodontitis, bone loss, rats, Cróton
zehntneri.
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM74
R. Periodontia - 20(2):69-75
75
Machado MIL. Volatile constituents of Brasilian euphorbiaceae. Genus
Croton. J Nat Prod 1981; 44(5):602-8.
17- Coelho-de-Souza AN, Barata EL, Magalhães PJC, Lima CC, Leal-Cardoso
JH. Effects of the oil essential of Croton zehntneri and its constituent
estragole on intestinal smooth muscle. Phytother Res 1997; 11(2):299-
304.
18- de Siqueira RJ, Magalhães PJ, Leal-Cardoso JH, Duarte GP, Lahlou S.
Cardiovascular effects of the essential oil of Croton zehntneri leaves
and its main constituents, anethole and estragole, in normotensive
conscious rats. Life Sci 2006; 78(20):2365-72.
19- Bracher F, Randau KP, Lerche H. Crototropone, a new tropone derivative
from Croton zehntneri. Fitoterapia 2008; 79(3):236-7.
20- Fontenelle RO, Morais SM, Brito EH, Brilhante RS, Cordeiro RA,
Nascimento NR. Antifungical activity of essential oils of Croton species
from the Brasilian Caatinga biome. J Appl Microbiol 2008;104(5):1383-
90.
21- Rodrigues FF, Costa JG, Coutinho HD. Synergy effects of the antibiotics
gentamicin and the essential oil of Croton zehntneri. Phytomedicine
2009;16(11):1052-5.
22- Chainy GB, Manna SK, Chatuverdi MM, Aggarwal BB. Anethole blocks
both early and late cellular responses transduced by tumor necrosis
factor: effect on NF-kappaB, AP-1, JNK, MAPKK, and apoptosis.
Oncogene 2000; 19(25):2943-50.
23- Sousa MF, Santos FA, Rao VS, Sidrim JJC, Matos FJA, Machado MIL et
al. Antinociceptive, anticonvulsant and antibacterial effects of the
essential oil from the flowers heads of Egletes viscosa L. Phytoter Res
1998; 12(1):28-31.
24- Oliveira AC, Leal-Cardoso JH, Santos CF, Morais SM, Coelho-de-Souza
AN. Antinociceptive effects of the essential oil of Croton zehntneri in
mice. Braz J Med Biol Res 2001; 34(11):1471-4.
25- Crawford JM, Taubman MA, Smith DJ. The natural history of
periodontal bone loss in germfree and gnotobiotic rats infected with
periodontophatic microorganisms. J Periodontal Res 1978;
13(4):316-25.
26- Sallay K, Sanavi F, Ring I, Pham P, Behling UH, Nowotny A. Alveolar
bone destruction in the immunosupressed rat. J Periodontal Res 1982;
17(3):263-74.
27- Samejima Y, Ebsu S, Okada H. Effect of infection with Eikenella
corrodens on the progression of ligature-induced periodontitis in rats.
J Periodontal Res 1990; 25(5):308-15.
28- Koide M, Suda S, Saitoh S, Ofiji Y, Suzuky T, Yoshie H et al. In vivo
administration of IL-1 accelerates silk ligature-induced alveolar bone
resorption in rats. J Oral Pathol Med 1995; 24(9):420-34.
29- Johnson JH. Effects of local irritation and dextran sulphate
administration on the periodontium of the rat. J Periodontal Res 1975;
10(6):332-45.
30- Klausen B. Microbiological and immunological aspects of experimental
Endereço para correspondência:
Sérgio Luís da Silva Pereira
Av. Engº Leal Lima Verde, 2086 - Alagadiço Novo
CEP: 60833-520 – Fortaleza – CE
Tel.: (85) 3477-3200
E-mail: [email protected]
periodontal disease in rats: a review article. J Periodontol 1991; 62(1):59-
73.
31- Györfi A, Fazekas A, Suba ZS, Ender F, Rosivall L. Neurogenic component
in ligature-induced periodontitis in the rat. J Clin Periodontol
1994;21(9):601-5.
32- Pilatti G, Sampaio JE. The influence of chlorhexidine on the severity of
cyclosporine-A induced gingival overgrowh. J Periodontol 1997;
68(9):900-4.
33- Offenbacher S, Jared HL, O’Reilly PG, Wells SR, Salvi GE, Lawrence HP
et al. Potential pathogenic mechanisms of periodontitis associated
pregnancy complications. Ann Periodontol 1998; 3(1):233-50.
34- Galvão MP, Chapper A, Rösing CK, Ferreira MB, Souza MA.
Methodological considerations on descriptive studies of induced
periodontal diseases in rats. Pesqui Odontol Bras 2003; 17(1):56-62.
35- Lasfargues JJ, Saffar JL. Effect of indomethacin on bone destruction
during experimental periodontal disease in the hamster. J Periodontal
Res 1983; 18(1):110-7.
36- Williams RC, Jeffcoat MK, Howell TH, Reddy MS, Johnson HG, Hall
CM et al.. Ibuprofen: An inhibitor of alveolar bone resorption in beagle.
J Periodontal Res 1988; 23(4):225-9.
37- Camilotti AG, Rocha ALR, Júnior FHN, Borsato KS, Rached RN, Grégio
AMT et al. Avaliação radiográfica do efeito do meloxicam e cetoprofeno
na periodontite induzida por ligadura em ratos. Rev Periodontia 2005;
15(2):5-9.
38- Jadhav BK, Khandelwal KR, Ketkar AR, Pisal SS. Formulation and
evaluation of mucoadhesive tablets containing eugenol for the
treatment of periodontal diseases. Drug Dev Ind Pharm 2004; 30(2):195-
203.
39- Duarte PM, Tezolin KR, Figueiredo LC, Feres M, Bastos MF. Microbial
profile of ligature-induced periodontitis in rats. Arch Oral Biol 2010.
55(2):142-7.
40- Rovin S, Costich ER, Gordon AH. The influence of bacteria and irritation
in the initiation of periodontal disease in germfree and conventional
rats. J Periodontal Res 1966; 1(3):193-204.
periojun2010 08-11-10.pmd 11/17/2010, 10:27 AM75