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DIREITO DO CONSUMIDOR AULA 9 Prof. Sergio Cavalieri Filho PUBLICIDADE ENGANOSA 5. Princípio da veracidade da publicidade Art.37 do CDC: “É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. PUBLICIDADE ENGANOSA a) O elemento fundamental para a caracterização da publicidade enganosa será a sua capacidade de induzir em erro o consumidor b) Erro é a falsa representação da realidade; é juízo falso, enganoso, equivocado, incorreto que se faz de alguém ou de alguma coisa COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS CASO EXTRA Importante loja de departamento fez veicular em determinado jornal, em dia de domingo, publicidade de um forno de microondas por preço bem abaixo do mercado. A referida oferta acarretou significativa afluência de consumidores interessados em adquirir o bem em condições vantajosas. Sucede, entretanto, que o Gerente da loja não vendeu o produto, pois, atendendo a ordens superiores, explicou que o valor constante no jornal significava a metade do valor de custo, caracterizando erro essencial. Disse ainda que não tinha mais o bem e que, conforme constava na matéria veiculada, a venda estaria limitada à existência do produto no estoque. Estaria a loja obrigada a cumprir publicidade?

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Page 1: Aula 9

DIREITO DO CONSUMIDOR

AULA 9

Prof. Sergio Cavalieri Filho

PUBLICIDADE ENGANOSA

5. Princípio da veracidade da publicidade

Art.37 do CDC: “É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

PUBLICIDADE ENGANOSA

a) O elemento fundamental para a caracterização da publicidade enganosa será a sua capacidade de induzir em erro o consumidor

b) Erro é a falsa representação da realidade; é juízo falso, enganoso, equivocado, incorreto que se faz de alguém ou de alguma coisa

COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS

CASO EXTRA

Importante loja de departamento fez veicular em determinado jornal, em dia de domingo, publicidade de um forno de microondas por preço bem abaixo do mercado. A referida oferta acarretou significativa afluência de consumidores interessados em adquirir o bem em condições vantajosas.

Sucede, entretanto, que o Gerente da loja não vendeu o produto, pois, atendendo a ordens superiores, explicou que o valor constante no jornal significava a metade do valor de custo, caracterizando erro essencial. Disse ainda que não tinha mais o bem e que, conforme constava na matéria veiculada, a venda estaria limitada à existência do produto no estoque. Estaria a loja obrigada a cumprir publicidade?

TIPOS DE PUBLICIDADE ENGANOSA

a) Por comissão – a questão da FANTASIA

b) Por omissão – (§ 3º do art.37)

“Para os efeitos deste Código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.”

COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS

CASO EXTRA

Page 2: Aula 9

Bianca propôs ação de indenização por danos materiais e morais em face de Refrigerante Gelado S/A. Alega ter direito ao prêmio de R$ 50.000,00 por ter adquirido tampinhas premiadas do refrigerante “delícia”, segundo promoção divulgada nacionalmente. Em contestação, sustenta a Ré que as tampinhas supostamente premiadas, apesar de conterem em seu verso coordenadas que efetivamente dariam ensejo ao prêmio (5F e 6D), na realidade não são premiadas. Por um erro de impressão, a grafia saiu incorreta pela troca de 5B, que seria o correto, por 6D, pelo que a autora não faz jus à premiação. Aduz que aguardava o cidadão erroneamente premiado se apresentar para esclarecer o erro de impressão.

Resolva a questão fundamentadamente.

PUBLICIDADE ENGANOSA

a) Enganosidade potencial

b) Irrelevância da má-fé, do dolo, da intenção de enganar, ou mesmo da imprudência (culpa)

c) Consumidor típico

PUBLICIDADE ABUSIVA § 2º do art.37 do CDC

a) Elenco não exaustivo

b) Ofensa a valores constitucionais, ético, sociais etc.

A OFERTAArt.31 do CDC

“A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.”

A OFERTA

a) Também ocorre na fase pré-contratual;

b) Está subordinada a todos os princípios da publicidade – transparência e confiança;

c) Obriga o fornecedor e integra o contrato – princípio da vinculação contratual (arts.30 e 35)

Page 3: Aula 9

A PROPOSTA NO CÓDIGO CIVIL

Art. 427 do C.Civil

“A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.”

PRÁTICAS ABUSIVAS NA FASE PRÉ-CONTRATUAL

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes;

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;

QUESTÃO OBJETIVA

Com relação à publicidade, pode-se dizer:

a) Publicidade tem objetivo comercial, enquanto que propaganda visa a um fim ideológico.

b) Nem toda informação é publicidade, como também nem toda a publicidade é informação.

c) No regime contratual consumerista a publicidade obriga o fornecedor e integra o contrato que vier a ser celebrado, e nisso consiste o princípio da veracidade da publicidade.

d) Ao vedar a publicidade enganosa, o CDC consagrou o princípio da vinculação da publicidade.

e) O elemento fundamental para a caracterização da publicidade enganosa será a sua capacidade de induzir em erro o consumidor.

Assinale a opção correta:

I - Todas as afirmativas são corretas.

II - Apenas a letra E está correta.

III - Todas as afirmativas estão incorretas.

IV - Apenas a afirmativa da letra A está correta

V - Estão incorretas as afirmativas das letras C e D

Page 4: Aula 9

SEMANA 8

A PROTEÇÃO CONTRATUAL DO CONSUMIDOR NA

FASE DA FORMAÇÃO DO CONTRATO

Leitura recomendada: Capítulo VIII do Programa de Direito do Consumidor. Sergio Cavalieri Filho, Ed. Atlas

A CONTRATAÇÃO PADRONIZADA

a) A massificação da produção e do consumo tornou a contratação padronizada um instrumento indispensável;

b) Não há tratativas, nem margem para negociações;

c) Vantagens e desvantagens;

CONTRATOS DE ADESÃO - DISCIPLINA

a) Não é espécie nova e independente de contrato;

b) Cláusulas e condições gerais pré-elaboradas pelo fornecedor

CONCEITO DE CONTRATO DE ADESÃO

Art. 54 do CDC

“Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.’ 

DENOMINAÇÕES

a) Condições gerais dos contratos – doutrina germânica;

b) Contratos de adesão – doutrina francesa;

c) Dupla adesão (SUSEP, BACEN, ANATEL)

COMO EVITAR ABUSOS?

Art. 46 do CDC

“Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.”

CONCRETUDE DO PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA

a) Inversão da regra anterior – informação clara e correta

b) § 3º do art.54 – “Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo

Page 5: Aula 9

doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.” (Redação dada pela nº 11.785, de 2008)

c) § 4º do art.54 – “As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.”

CONCRETUDE DO PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA(continuação)

d) Efeitos – ineficácia: Art. 46 – “Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores , se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.”

ANÁLISE DO CASO 1 DA COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS

Antônio propôs ação de obrigação de fazer em face do Banco Crédito Fácil visando compeli-lo a excluir de sua conta-corrente lançamento de débito no valor de R$ 200,00, referente à fatura de seu cartão de crédito. Alega não ter autorizado ao banco debitar em sua conta corrente qualquer valor relativo a pagamento do cartão de crédito. Em contestação, o Banco réu sustenta ter sido celebrado um contrato adesivo entre as partes no qual consta uma cláusula permitindo o débito automático.

Ap.Cível 6.474/2006 TJRJ

INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS DE ADESÃO

Art.47 do CDC

“As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.”

INTERPRETAÇÃO CONTRA PROFERENTE

a) Quem parte e reparte fica com a melhor parte;

b) Quem parte não escolhe;

c) Quem escreve não tem a seu favor o que escreveu.

CÓDIGO CIVIL

a) Art.423 – “Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.”

b) Art. 424 – “Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.”

Súmula 112 do TJRJ

“É nula, por abusiva, a cláusula que exclui de cobertura a órtese que se integre, necessariamente, a cirurgia ou procedimento coberto por plano ou seguro de saúde, tais como stent e marca passo

PREVALÊNCIA DAS CLÁUSULAS NEGOCIADAS

§ 1º do art.54 do CDC

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“A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.”

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

Art.113 do C.Civil

“Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.”

DIREITO DE ARREPENDIMENTO DO CONSUMIDOR

Art.49 do CDC

“O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.”

NATUREZA JURÍDICA DO PRAZO DE REFLEXÃO OU DE ARREPENDIMENTO

a) Venda a contento (arts. 509-512 do C.Civil)

b) Condição suspensiva

c) Comodato

d) Faculdade jurídica, direito potestativo ou formativo. A compra está perfeita e acabada, mas durante o prazo de reflexão o consumidor pode desistir do contrato

EFEITOS DO ARREPENDIMENTO

a) Todas as responsabilidades contratuais podem ocorrer no prazo de reflexão;

b) Fato ou vício do produto correm por conta do fornecedor;

c) Se a coisa perecer, o consumidor deverá responder pela sua perda – res perit domino.

CASO EXTRA

Antônio adquiriu da empresa X, pela internet, um aparelho DVD, que lhe foi entregue pelo correio. Cinco dias após o recebimento, Antônio descobriu o mesmo aparelho por preço bem inferior, razão pela qual pretende desfazer o negócio. Ocorre que, quando se dirigia ao correio para devolver o DVD, no sexto dia após a compra, Antônio sofreu um assalto, no qual o seu carro foi roubado e com ele o DVD.

A Empresa X se recusa a desfazer o negócio em face do roubo do DVD, mas Antônio insiste no seu direito de arrependimento. Em face do exposto, é correto dizer:

A) não tem razão Empresa X porque trata-se de compra e venda sob condição suspensiva e esta não se concretizou;

B) tem razão a Empresa X porque durante o prazo de reflexão o consumidor é mero comodatário;

C) tem razão a Empresa X porque durante o prazo de reflexão há uma compra e venda perfeita e acabada e a coisa perece para o dono (res perit domino)

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D) tem razão a Empresa X porque o direito de arrependimento não se aplica à compra e venda feita pela internet.

A GARANTIA LEGAL E A CONVENCIONAL

a) Legal – art.24 do CDC

“A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual.”

b) Vícios dos produtos ou serviços – art.26 do CDC

c) Contratual - art.50 do CDC

“A garantia contratual é complementar à Legal e será conferida mediante termo escrito.”

ANÁLISE DA QUESTÃO OBJETIVA DA COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS

Claudia comprou uma televisão LCD 48 polegadas na Casa Bons Negócios, com garantia de doze meses. No décimo terceiro mês de uso a televisão apresentou grave defeito de imagem, mas a Casa Bons Negócios se recusa a reparar o defeito ao argumento de já estar vencido o prazo de garantia. Em face da negativa da vendedora. É correto afirmar:

a) está correto o entendimento da vendedora (Casa Bons Negócios);

b) não está correto o entendimento da vendedora, porque o caso é de prescrição cujo prazo é de cinco anos;

c) não está correto o entendimento da vendedora porque prevalece a garantia legal;

d) está correto o entendimento da vendedora porque prevalece a garantia contratual;

e) está correto o entendimento da vendedora porque o caso é de vício oculto do produto para o qual não há garantia legal.

QUANDO COMEÇA A CORRER CADA GARANTIA?

REsp. 225.858/SP, Min. Carlos Alberto Menezes Direito

“Na verdade, se existe uma garantia contratual de um ano tida como complementar à Legal, o prazo de decadência somente pode começar da data em que encerrada a garantia contratual, sob pena de submetermos o consumidor a um engodo com o esgotamento do prazo judicial antes do esgotamento do prazo de garantia. E foi isso que o art.50 do CDC quis evitar.”

PRÁTICAS ABUSIVAS NA FASE DE FORMAÇÃO DO CONTRATO

a) Art.39, V – “exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva.” Ex. ágio em automóvel

b) Art.39, IX – “recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento.

c) Art.39, XII – “deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.”

CASO EXTRA

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Maria de Fátima pleiteia indenização por dano moral contra a Casa Bahia decorrente da recusa injustificada de venda a crédito. Alega que embora não houvesse qualquer restrição ao seu nome junto aos órgãos de proteção ao crédito, a ré lhe negou o parcelamento para a aquisição de uma geladeira, mesmo tendo apresentado seu sogro como avalista para a compra pretendida. A conduta arbitrária da ré teria lhe causado vergonha e humilhação pois injusta a negativa de crédito. Procede a pretensão de Maria?