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SEMANA 3 Usurpação de função pública – art. 328 Bem jurídico tutelado Tutela a Administração Pública, especialmente sua moralidade e probidade administrativa. Elementos do tipo (subjetivo, descritivos e normativos) Elemento objetivo: referem-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e só precisam ser descritos pela norma, como por exemplo, o objeto do crime, o lugar, o tempo, os meios empregados o núcleo do tipo (verbo). Elemento normativo: NÃO HÁ. Elemento subjetivo: há elemento subjetivo geral, ou seja, o DOLO (vontade livre e consciente de usurpar função pública ilegitimamente). Sujeitos do delito SUJEITO ATIVO – é crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa até mesmo o funcionário público incompetente ou investido em outra função. SUJEITO PASSIVO – é o Estado. Consumação e tentativa Consumação – consuma-se o delito com o efetivo exercício de pelo menos um ato de ofício, típico de função pública em que o agente não está investido. A consumação ocorre no momento e no lugar em que o ato de ofício é praticado pelo agente.

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SEMANA 3Usurpao de funo pblica art. 328

Bem jurdico tuteladoTutela a Administrao Pblica, especialmente sua moralidade e probidade administrativa.Elementos do tipo (subjetivo, descritivos e normativos)Elemento objetivo: referem-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e s precisam ser descritos pela norma, como por exemplo, o objeto do crime, o lugar, o tempo, os meios empregados o ncleo do tipo (verbo).

Elemento normativo: NO H.

Elemento subjetivo: h elemento subjetivo geral, ou seja, o DOLO (vontade livre e consciente de usurpar funo pblica ilegitimamente).

Sujeitos do delito

SUJEITO ATIVO crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa at mesmo o funcionrio pblico incompetente ou investido em outra funo.

SUJEITO PASSIVO o Estado.

Consumao e tentativa

Consumao consuma-se o delito com o efetivo exerccio de pelo menos um ato de ofcio, tpico de funo pblica em que o agente no est investido. A consumao ocorre no momento e no lugar em que o ato de ofcio praticado pelo agente.

Tentativa teoricamente admissvel e verifica-se quando iniciada a prtica de atos inequvocos de execuo, interrompida durante sua realizao, por circunstncias alheias vontade do agente.

CLASSIFICAO DOUTRINRIA:

Trata-se de CRIME COMUM (aquele que no exige qualquer condio especial do sujeito ativo); quanto ao resultado CRIME FORMAL (que no exige resultado naturalstico para sua consumao); CRIME DOLOSO (pois no h previso legal para a figura culposa); CRIME DE FORMA LIVRE (pode ser praticado por qualquer meio ou forma pelo agente); CRIME INSTANTNEO (o resultado opera-se de forma imediata, sem se prolongar no tempo); CRIME UNISSUBJETIVO (pode ser praticado, em regra, apenas por um agente); CRIME PLURISSUBSISTENTE (pode ser desdobrado em vrios atos, que, no entanto, integram a mesma conduta).

Usurpao de funo pblica Art. 328 - Usurpar o exerccio de funo pblica: Pena - deteno, de trs meses a dois anos, e multa. Pargrafo nico - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - recluso, de dois a cinco anos, e multa.

Confronto com o delito de estelionatoOs delitos de usurpao de funo qualificada (art. 328, PU, CP) e de estelionato (art. 171, CP) no se confundem, nada obstante tenham como nota com um a obteno de vantagem ilcita. O crime do art. 328, PU, CP, contra a Administrao Pblica; o crime do art. 171, CP, contra o patrimnio. Na usurpao qualificada o agente obtm vantagem ilcita, emanada do exerccio ilegal de uma funo pblica. No estelionato o sujeito no exerce nenhuma funo pblica, mas finge ser funcionrio pblico (fraude) para em seguida induzir ou manter algum em erro, obtendo vantagem ilcita em prejuzo alheio. Alm disso, no crime contra a Administrao Pblica o agente realiza indevidamente algum ato de ofcio, enquanto no crime patrimonial isso no ocorre, razo pela qual correto afirmar que o estelionato um minus quando comparado usurpao de funo pblica qualificada.Resistncia - art. 329

Bem jurdico tuteladoTutela a Administrao Pblica, especialmente sua moralidade e probidade administrativa.Elementos do tipo (subjetivo, descritivos e normativos)Elemento objetivo: referem-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e s precisam ser descritos pela norma, como por exemplo, o objeto do crime, o lugar, o tempo, os meios empregados o ncleo do tipo (verbo).

Elemento normativo: ATO ILEGAL ao contrrio dos descritivos, seu significado no se extrai da mera observao, sendo imprescindvel um juzo de valorao jurdica, social, cultural histrica religiosa, bem como qualquer outro campo do conhecimento humano. Aparecem em expresses como sem justa causa, indevidamente, documento, funcionrio pblico, dignidade, decoro ...

Elemento subjetivo: h elemento subjetivo geral, ou seja, o DOLO (vontade livre e consciente de resistir a ato ilegal de autoridade competente). H elemento subjetivo especial do tipo que representado pela finalidade de impedir a execuo do ato legal.

Sujeitos do delito

SUJEITO ATIVO crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa que, mediante violncia ou grave ameaa, obstaculize a prtica de ato ilegal.

SUJEITO PASSIVO o Estado e, ao lado dele, o funcionrio competente ou quem lhe esteja prestando auxlio para a execuo do ato legal.

Consumao e tentativa

Consumao a consumao do crime ocorre com a efetiva oposio prtica de ato legal, no momento e no lugar em que pratica a violncia ou ameaa, independentemente de onde o ato seria realizado. irrelevante que o agente obtenha xito em seu fim pretendido, qual seja o de impedir a realizao do ato legal.

Tentativa a tentativa teoricamente admissvel, especialmente porque o ato de resistir pode, facilmente, ser objeto de fracionamento.

CLASSIFICAO DOUTRINRIA:

Trata-se de CRIME COMUM (aquele que no exige qualquer condio especial do sujeito ativo); quanto ao resultado CRIME FORMAL (que no exige resultado naturalstico para sua consumao); CRIME DOLOSO (pois no h previso legal para a figura culposa); CRIME DE FORMA LIVRE (pode ser praticado por qualquer meio ou forma pelo agente); CRIME INSTANTNEO (o resultado opera-se de forma imediata, sem se prolongar no tempo); CRIME UNISSUBJETIVO (pode ser praticado, em regra, apenas por um agente); CRIME PLURISSUBSISTENTE (pode ser desdobrado em vrios atos, que, no entanto, integram a mesma conduta).

Resistncia Art. 329 - Opor-se execuo de ato legal, mediante violncia ou ameaa a funcionrio competente para execut-lo ou a quem lhe esteja prestando auxlio: Pena - deteno, de dois meses a dois anos. 1 - Se o ato, em razo da resistncia, no se executa: Pena - recluso, de um a trs anos. 2 - As penas deste artigo so aplicveis sem prejuzo das correspondentes violncia.OBS: o 2 trata de concurso material entre o crime de resistncia e aqueles que resultarem do emprego de violncia contra o funcionrio, como a leso corporal (leve, grave ou gravssima) ou o homicdio. Portanto, o legislador afastou a possibilidade do concurso formal de crimes. Confronto com os delitos de desacato, desobedincia e leso corporal.DESACATO E RESISTNCIA constitui crime de desacato o mero xingamento contra funcionrio pblico. Se, no caso concreto, o agente xinga e emprega violncia, contra o funcionrio pblico, teria cometido dois crimes, mas a jurisprudncia firmou entendimento que, nesse caso,o desacato fica absorvido pela resistncia.

DESOBEDINCIA E RESISTNCIA da mesma forma que o crime de desacato, o crime de desobedincia resta absorvido pela resistncia, quando praticados no mesmo contexto ftico. O delito de furto consumado e posterior delito de resistncia: controvrsias concurso de crimes ou crime nico de roubo imprprio.Se o agente subtraiu a res e logo depois da subtrao empregou violncia ou grave ameaa contra o policial, para evitar a priso em flagrante ou sua identificao, haver a configurao do roubo imprprio. A violncia ou grave ameaa, no caso, integram o crime patrimonial. A demora entre uma ao (subtrao) e outra (violncia ou grave ameaa) poder caracterizar o concurso material entre o crime de furto e o delito de resistncia, pois, uma vez consumado o delito patrimonial, qualquer ao fsica contra os perseguidores (policial civil, militar, guarda municipal, delegado de polcia) constituir crime autnomo, no se podendo falar em roubo imprprio. Por exemplo: agente subtrai o bem e, aps longo tempo escondido com a res, surpreendido por policial, contra o qual emprega violncia.Desobedincia art. 330

Bem jurdico tuteladoTutela a Administrao Pblica, especialmente sua moralidade e probidade administrativa.Elementos do tipo (subjetivo, descritivos e normativos)Elemento objetivo: referem-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e s precisam ser descritos pela norma, como por exemplo, o objeto do crime, o lugar, o tempo, os meios empregados o ncleo do tipo (verbo).

Elemento normativo: ORDEM LEGAL ao contrrio dos descritivos, seu significado no se extrai da mera observao, sendo imprescindvel um juzo de valorao jurdica, social, cultural histrica religiosa, bem como qualquer outro campo do conhecimento humano. Aparecem em expresses como sem justa causa, indevidamente, documento, funcionrio pblico, dignidade, decoro ...

Elemento subjetivo: h somente o elemento subjetivo geral, ou seja, o DOLO (vontade livre e consciente de desobedecer ordem legal de funcionrio pblico competente para emiti-la).

Sujeitos do delito

SUJEITO ATIVO crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive o funcionrio pblico, desde que no se encontre no exerccio de suas funes. Relacionando-se, porm, s suas prprias atribuies funcionais, a desobedincia poder configurar o crime de prevaricao, observada as demais elementares tpicas.

SUJEITO PASSIVO o Estado.

Consumao e tentativa

Consumao consuma-se o crime com a efetiva ao ou omisso do sujeito passivo, isto , no momento e no lugar em que se concretiza o descumprimento da ordem legal. Tratando-se da forma omissiva, consuma-se o crime aps o decurso do prazo para cumprimento da ordem, ou, mais precisamente, no exato momento de sua expirao.

Tentativa somente possvel na forma comissiva. O crime omissivo prprio no admite a forma tentada.

CLASSIFICAO DOUTRINRIA:

Trata-se de CRIME COMUM (aquele que no exige qualquer condio especial do sujeito ativo); quanto ao resultado CRIME FORMAL (que no exige resultado naturalstico para sua consumao); CRIME DOLOSO (pois no h previso legal para a figura culposa); CRIME DE FORMA LIVRE (pode ser praticado por qualquer meio ou forma pelo agente); CRIME INSTANTNEO (o resultado opera-se de forma imediata, sem se prolongar no tempo); CRIME UNISSUBJETIVO (pode ser praticado, em regra, apenas por um agente); CRIME PLURISSUBSISTENTE (pode ser desdobrado em vrios atos, que, no entanto, integram a mesma conduta). Desobedincia Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionrio pblico: Pena - deteno, de quinze dias a seis meses, e multa.

JURISPRUDNCIAINFORMATIVO 425, STF 2 TURMACrime de Desobedincia e AtipicidadeNo h crime de desobedincia (CP, art. 330), no plano da tipicidade penal, se a inexecuo da ordem, emanada de servidor pblico, revelar-se passvel de sano administrativa prevista em lei, que no ressalva a dupla penalidade. Com base nesse entendimento, a Turma deferiu habeas corpus para anular condenao imposta ao paciente, que se recusara a exibir, a policial militar encarregado de vistoria de trnsito, seus documentos e os do veculo automotor que dirigia. Considerou-se que a conduta do paciente j est sujeita sano prevista no art. 238 do Cdigo de Trnsito Brasileiro. Precedente citado: HC 86254/RS (DJU de 10.3.2006). HC 88452/RS, rel. Min. Eros Grau, 2.5.2006. (HC-88452)INFORMATIVO 736, STF (CLIPPING)

AP N. 633-RSRELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKIEmenta: AO PENAL ORIGINRIA. FALSIDADE IDEOLGICA. DESOBEDINCIA. AUSNCIA DE DOLO. INSUFICINCIA DE PROVAS. ABSOLVIO. DENNCIA JULGADA IMPROCEDENTE. RU ABSOLVIDO NOS TERMOS DO INC. III, DO ART. 386, DO CDIGO DE PROCESSO PENAL.

1. O crime de desobedincia se configura quando demonstrada a clara inteno do agente de no cumprir ordem emanada da autoridade pblica. Para a configurao do delito insuficiente que a ordem no seja cumprida, sendo necessrio que tenha sido endereada diretamente a quem tem o dever de cumpri-la e que este, com vontade especfica de contrariar, desatenda ao comando.

2. No caso dos autos, ficou demonstrado que o ru no foi responsvel pelo descumprimento da ordem judicial, inexistindo, ademais, qualquer proceder doloso no fato ocorrido. 3. Denncia julgada improcedente, nos termos do art. 386, inciso III, do Cdigo de Processo Penal.

INFORMATIVO 538, STJ (6 TURMA)

DIREITO PENAL. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA DE URGNCIA PREVISTA NA LEI MARIA DA PENHA.O descumprimento de medida protetiva de urgncia prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei 11.340/2006) no configura crime de desobedincia (art. 330 do CP).De fato, o art. 330 do CP dispe sobre o crime de desobedincia, que consiste em desobedecer a ordem legal de funcionrio pblico. Para esse crime, entende o STJ que as determinaes cujo cumprimento seja assegurado por sanes de natureza civil, processual civil ou administrativa retiram a tipicidade do delito de desobedincia, salvo se houver ressalva expressa da lei quanto possibilidade de aplicao cumulativa do art. 330 do CP (HC 16.940-DF, Quinta Turma, DJ 18/11/2002). Nesse contexto, o art. 22, 4, da Lei 11.340/2006 diz que se aplica s medidas protetivas, no que couber, o disposto nocapute nos 5 e 6 do art. 461 do CPC, ou seja, no caso de descumprimento de medida protetiva, pode o juiz fixar providncia com o objetivo de alcanar a tutela especfica da obrigao, afastando-se o crime de desobedincia. Vale ressaltar que, a excluso do crime em questo ocorre tanto no caso de previso legal de penalidade administrativa ou civil como no caso de penalidade de cunho processual penal. Assim, quando o descumprimento da medida protetiva der ensejo priso preventiva, nos termos do art. 313, III, do CPP, tambm no h falar em crime de desobedincia.REsp 1.374.653-MG, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, julgado em 11/3/2014.Desacato art. 331

Bem jurdico tuteladoTutela a Administrao Pblica, especialmente sua moralidade e probidade administrativa.Elementos do tipo (subjetivo, descritivos e normativos)Elemento objetivo: referem-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e s precisam ser descritos pela norma, como por exemplo, o objeto do crime, o lugar, o tempo, os meios empregados o ncleo do tipo (verbo).

Elemento normativo: FUNCIONRIO PBLICO ao contrrio dos descritivos, seu significado no se extrai da mera observao, sendo imprescindvel um juzo de valorao jurdica, social, cultural histrica religiosa, bem como qualquer outro campo do conhecimento humano. Aparecem em expresses como sem justa causa, indevidamente, documento, funcionrio pblico, dignidade, decoro ...

Elemento subjetivo: h elemento subjetivo geral, ou seja, o DOLO (vontade livre e consciente de praticar a conduta descrita no tipo penal). H elemento subjetivo especial do tipo, de acordo com a doutrina majoritria, consistente na vontade deliberada de desprestigiar a funo pblica exercida pelo ofendido.

Sujeitos do delito

SUJEITO ATIVO crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa que desacata funcionrio pblico.

SUJEITO PASSIVO o Estado e de modo secundrio o funcionrio pblico desacatado.

Consumao e tentativa

Consumao consuma-se o delito com a prtica efetiva, pelo sujeito ativo, da ofensa ou da manifestao ou exteriorizao oral ofensiva (palavra).

Tentativa teoricamente admissvel, embora, por vezes, de difcil caracterizao. Ser inadmissvel quando o desacato for praticado oralmente.

CLASSIFICAO DOUTRINRIA:

Trata-se de CRIME COMUM (aquele que no exige qualquer condio especial do sujeito ativo); quanto ao resultado CRIME FORMAL (que no exige resultado naturalstico para sua consumao); CRIME DOLOSO (pois no h previso legal para a figura culposa); CRIME DE FORMA LIVRE (pode ser praticado por qualquer meio ou forma pelo agente); CRIME INSTANTNEO (o resultado opera-se de forma imediata, sem se prolongar no tempo); CRIME UNISSUBJETIVO (pode ser praticado, em regra, apenas por um agente); CRIME UNISSUBSISTENTE (praticado por um nico ato, admitindo fracionamento) ou CRIME PLURISSUBSISTENTE (pode ser desdobrado em vrios atos, que, no entanto, integram a mesma conduta).

Desacato Art. 331 - Desacatar funcionrio pblico no exerccio da funo ou em razo dela: Pena - deteno, de seis meses a dois anos, ou multa.

Confronto com o delito de injria.

DESACATO E INJRIA OU DIFAMAO - o desacato pode constituir-se dos mais variados delitos (leso corporal, vias de fato, crimes contra a honra etc.), de forma que, diante do princpio da consuno, se tais delitos forem mais levemente apenados que o desacato, como o caso da injria e da difamao, devero ser absorvidos pelo crime de desacato.