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www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA Direito Civil Cristiano Chaves 1 RESPONSABILIDADE CIVIL Parte III Prof. Cristiano Chaves de Farias Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia Professor de Direito Civil do CERS 1. O dano como novo referencial da responsabilidade civil (Direito dos Danos). Influência do movimento de constitucionalização do Direito Civil. Aplicação direta das garantias fundamentais constitucionais nas relações privadas (STF, RE 201.819/RJ). Aumento das hipóteses indenizatórias. Reconhecimento da categoria do dano injusto (art. 2.043, CC Itália). Reconhecimento de novos danos. Dano à vida sexual, dano pela perda de tempo útil e dano por perda de uma chance (STJ, REsp.788.459/BA). Possibilidade de cumulação de danos no próprio CC (ex: indenização por homicídio). Art. 948, CC: “No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.1.1 O dano patrimonial. Espécies: dano emergente e lucros cessantes. Critérios determinantes para os danos emergentes e os lucros cessantes. Restituição integral e razoabilidade. Caráter compensatório dos danos morais. 1.2. O dano extrapatrimonial (moral). a) Uma história recente (o leading case no STF, 1966, rel. Min. Aliomar Baleeiro, publ. RTJ 39:38-44). STF 491: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”. b) O posicionamento constitucional (art. 5 o , V, X e XII). Noções conceituais: o dano moral (extrapatrimonial) e os direitos da personalidade (honra, imagem, nome, vida privada etc). A autonomia do dano moral. Correlação entre dano moral e direitos da personalidade. STJ 370: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.” STJ 388: A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.” STJ 385: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.” c) Cumulabilidade entre danos morais e materiais. Cumulabilidade entre danos morais e danos morais. A questão da lesão estética (violação da integridade física). A admissibilidade de cumulação (STJ, REsp.347.978). STJ 37: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.” STJ 387: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.” d) A prova do dano moral (in re ipsa). Exemplo: inscrição indevida no sistema de proteção de crédito (STJ, REsp.233.076). Configuração (a lógica do razoável e o exercício regular de direitos). e) A prescrição da pretensão reparatória por danos morais. A regra do CC 206. O efeito civil da sentença penal (CC 200). A questão da prescrição da pretensão reparatória por dano moral. A exceção da indenização decorrente de tortura como imprescritível (STJ, REsp. 816.209/RJ). O

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RESPONSABILIDADE CIVIL – Parte III Prof. Cristiano Chaves de Farias Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia Professor de Direito Civil do CERS 1. O dano como novo referencial da responsabilidade civil (Direito dos Danos). Influência do movimento de constitucionalização do Direito Civil. Aplicação direta das garantias fundamentais constitucionais nas relações privadas (STF, RE 201.819/RJ). Aumento das hipóteses indenizatórias. Reconhecimento da categoria do dano injusto (art. 2.043, CC Itália). Reconhecimento de novos danos. Dano à vida sexual, dano pela perda de tempo útil e dano por perda de uma chance (STJ, REsp.788.459/BA). Possibilidade de cumulação de danos no próprio CC (ex: indenização por homicídio). Art. 948, CC: “No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.” 1.1 O dano patrimonial. Espécies: dano emergente e lucros cessantes. Critérios determinantes para os danos emergentes e os lucros cessantes. Restituição integral e razoabilidade. Caráter compensatório dos danos morais. 1.2. O dano extrapatrimonial (moral). a) Uma história recente (o leading case no STF, 1966, rel. Min. Aliomar Baleeiro, publ. RTJ 39:38-44). STF 491: “É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”.

b) O posicionamento constitucional (art. 5o, V, X e XII). Noções conceituais: o dano moral (extrapatrimonial) e os direitos da personalidade (honra, imagem, nome, vida privada etc). A autonomia do dano moral. Correlação entre dano moral e direitos da personalidade. STJ 370: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.” STJ 388: “A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.” STJ 385: “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.” c) Cumulabilidade entre danos morais e materiais. Cumulabilidade entre danos morais e danos morais. A questão da lesão estética (violação da integridade física). A admissibilidade de cumulação (STJ, REsp.347.978). STJ 37: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.” STJ 387: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.” d) A prova do dano moral (in re ipsa). Exemplo: inscrição indevida no sistema de proteção de crédito (STJ, REsp.233.076). Configuração (a lógica do razoável e o exercício regular de direitos). e) A prescrição da pretensão reparatória por danos morais. A regra do CC 206. O efeito civil da sentença penal (CC 200). A questão da prescrição da pretensão reparatória por dano moral. A exceção da indenização decorrente de tortura como imprescritível (STJ, REsp. 816.209/RJ). O

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tempo decorrido entre o dano e a propositura da ação influencia o quantum reparatório: sim, para os danos morais (STJ, REsp.416.846). A questão intertemporal (CC 2.028). f) Dano moral e pessoa jurídica (CC 52 e STJ 227). Art. 52, CC: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. Enunciado 286, Jornada de Direito Civil: “Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.” STJ 227: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.” g) Fixação do quantum indenizatório. Critérios propostos pelo STJ. A inexistência de parametrização pelo sistema legal. STJ 281: “A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa”. h) O dano moral punitivo (punitive damages) e o caráter pedagógico: controvérsia doutrinária e orientação jurisprudencial. Admissibilidade tímida: caso SBT e a praia de naturistas (STJ, REsp.838.550). i) O dano moral transindividual (difuso e coletivo). Distinção entre dano moral coletivo e dano social: O dano moral coletivo é concebido como um dano extrapatrimonial a bens de caráter metaindividual (v.g. meio ambiente, consumidor). Serve como compensação por uma ofensa grave a interesses difusos. Já o dano social é uma espécie de pena civil, ou seja, uma condenação que não se confunde com o dano moral ou o patrimonial sofrido pela vítima, mas uma sanção punitiva aplicada ao autor do ofensa pela prática de um comportamento

gravemente reprovável. Ou seja, independente da fixação de uma reparação de danos, a pena civil detém caráter pedagógico, pois quer inibir o ofensor no sentido de desestimular a prática de novos ilícitos (em face da vítima ou de terceiros). j) O dano moral contratual e a admissibilidade indireta (STJ, REsp.257.036). k) Abrangência do dano moral nos contratos de seguro por danos pessoais. STJ 402: “O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão. STJ 229: “O pedido de pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.” l) A questão da transmissibilidade da obrigação de reparar danos (CC 12, Parágrafo Único, e CC 943). A distinção com a sucessão processual (STJ, REsp.577.787/RJ). A questão dos direitos da personalidade e dos lesados indiretos. A transmissão do direito de pleitear indenização por dano moral (STJ, REsp.324.886). 2. Aspectos processuais da indenização por dano moral. a) Parâmetros jurisprudenciais para a fixação do quantum reparatório: condição econômica da vítima e do lesante; extensão do dano e repercussão social (STJ, REsp.183.508). A importância do transcurso do tempo (STJ, REsp.416.846). b) Os valores exorbitantes e a admissibilidade de recurso especial, excepcionalmente. Mitigação das Súmulas 5 e 7 do STJ (STJ, REsp.203.755/MG) c) Descabimento de discussão sobre dano moral em embargos de divergência d) A possibilidade de utilização de salário mínimo como referência (CPC 475-Q e STF 490). Inaplicabilidade da Súmula Vinculante 4, STF.

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e) Possibilidade de interposição de recurso, caso o juiz conceda valor não aceito pelo autor. f) Possibilidade de formulação de pedido genérico e estimativo (STJ, REsp.674.174) g) Inexistência de sucumbência recíproca quando o juiz fixa valor inferior ao pleiteado na inicial (STJ, REsp.726.576), sob pena da vítima, hipoteticamente, ter de pagar mais do que receberá (STJ, REsp.265.350). STJ 326: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.” STJ 7: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.” STJ 420: “Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais.” 3. Liquidação do dano e repercussões processuais. a) A regra do CC 944 (reparação integral) e a possibilidade de redução equitativa da indenização. CC, art. 944: “A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.” Enunciado 457, Jornada de Direito Civil: “A redução equitativa da indenização tem caráter excepcional e somente será realizada quando a amplitude do dano extrapolar os efeitos razoavelmente imputáveis à conduta do agente.” Enunciado 458, Jornada de Direito Civil: “O grau de culpa do ofensor, ou a sua eventual conduta intencional, deve ser levado em conta pelo juiz para a quantificação do dano moral.” b) Verbas acessórias cumuladas implicitamente: juros (a polêmica do CC 406;

STJ 54 – dano moral e material); correção monetária (STJ 43 e 362; CC 389 e 395); honorários advocatícios e custas processuais. Os juros na condenação por dano moral desde o evento danoso – STJ, REsp. 1.132.866/SP. A garantia das prestações periódicas (CPC 475-Q: inadmissibilidade de prisão civil; garantia do juízo; novidades do CPC). STJ 54: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.” STJ 43: “Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.” STJ 362: “A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.” STJ 498: “Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.” Art. 475-Q, CPC: “Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. § 1º Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do devedor. § 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de direito público ou de empresa de direito privado de notória capacidade econômica, ou, a requerimento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz. § 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação. § 4º Os alimentos podem ser fixados tomando por base o salário-mínimo.

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§ 5º Cessada a obrigação de capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.”prestar alimentos, o juiz mandará liberar o