aula 1 - politicas de cotas e igualdade

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    Desigualdade econmica, regional e racial, sobretudo em relao aos negros. Nos EUA,os negros representam atualmente cerca de 13% da populao. No Brasil, segundo dados doIBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), de 1996, respondem por 45% dapopulao, ou seja, 76,5 milhes de negros e pardos. A proporo de negros entre aspessoas com 12 anos ou mais de estudo (equivalente aos que concluram o ensino mdio e

    possuem curso superior) de apenas 2,8%, quase quatro vezes menos do que os brancos namesma faixa (10,9%). A taxa de analfabetismo quase trs vezes maior entre negros emulatos do que entre a populao branca.

    Por outro lado, constata-se tambm que o ideal de igualdade entre os cidados um idealindispensvel democracia, inclusive inserido na prpria constituio. Em sua 14 Emenda,a constituio norte-americana diz textualmente:

    Section 1. All persons born or naturalized in the United States, and subject to thejurisdiction thereof, are citizens of the United States and of the state wherein they reside. Nostate shall make or enforce any law which shall abridge the privileges or immunities of

    citizens of the United States; nor shall any state deprive any person of life, liberty, orproperty, without due process of law; nor deny to any person within its jurisdiction the equalprotection of the laws.

    Qual o papel do direito diante deste problema? Como podem a constituio, os

    tribunais, as leis, os profissionais contriburem para fazer com que o ideal seja real? Odever ser, de fato, seja?

    Um conjunto de aes visando a diminuir e mesmo extinguir as desigualdades foi entopensado, formatado e praticado, entre elas as aes afirmativas. Ou seja, normas, leis esentenas que afirmam juridicamente a igualdade. Um dos tipos de aes afirmativas so asleis de quotas, que no dizem respeito apenas aos negros, embora tenham se transformadonum dos instrumentos mais poderosos do movimento negro norte-americano. So leis queasseguram, reservam um determinado numero de posies (uma quota), que seropreenchidas exclusivamente por determinados grupos que, do contrrio, no teriam acesso posio em disputa.

    Na ultima dcada, o Brasil comeou a criar algumas leis que estabelecem cotas, como,por exemplo, a Lei Federal 9.504 de 30 de setembro de 1996, que reserva, em seu artigo10, 30% de vagas nos partidos polticos para mulheres como candidatas s eleies.

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    Luisa Peixoto fez o vestibular para desenho industrial da UERJ em 2003. Foi a 10acolocada no concurso, mas no se classificou porque a universidade reservava grande partede suas vagas para alunos de escolas pblicas, negros e pardos. Das 36 vagas oferecidaspelo curso, apenas quatro no foram preenchidas por cotistas. Luisa entrou com uma ao

    na justia do Rio de Janeiro, e o Tribunal de Justia considerou inconstitucional a prtica daUerj, que estava amparada pela lei estadual 3524/00, como inconstitucional. (O Globo)

    Foi argida tambm a inconstitucionalidade desta lei, agora junto ao Supremo TribunalFederal pela Confederao Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (ADIN 2858-8). Napetio inicial, alega-se que esta lei fere a constituio, pois, ao combater a discriminaoracial, a lei provocaria a descriminao de outros grupos to ou mais vulnerveis do que osnegros os ndios brasileiros, por exemplo, que no seriam beneficiados na quota.

    Alegava-se, por exemplo, que a lei seria extremamente difcil de ser aplicada, diante datradio cultural de miscigenao brasileira. muito difcil estabelecer em definitivo quem negro e quem no . Diante da reao da sociedade e da ameaa de deciso contrria doSupremo, a lei foi modificada. O critrio racial no mais o nico para a reserva de vagas.A nova lei diz:

    Art. 5 Atendidos os princpios e regras institudos nos incisos I a IV do artigo 2e seu pargrafo nico, nos primeiros 5 (cinco) anos de vigncia desta Lei devero asuniversidades pblicas estaduais estabelecer vagas reservadas aos estudantes carentesno percentual mnimo total de 45% (quarenta e cinco por cento), distribudo daseguinte forma:

    I 20% (vinte por cento) para estudantes oriundos da rede pblica de ensino;II 20% (vinte por cento) para negros; eIII 5% (cinco por cento) para pessoas com deficincia, nos termos da legislao

    em vigor e integrantes de minorias tnicas.

    Pergunta-se: diante da Constituio Federal, o Brasil pode adotar leis que es-tabelecem o sistema de cotas com o objetivo de promover o ideal da igualdade? E

    outros tipos de ao afirmativa? Essas leis podem utilizar qualquer critrio? O

    critrio racial? O critrio da desigualdade econmica? O critrio do gnero, como por

    exemplo, o artigo 7, XX da prpria Constituio? O critrio da nacionalidade? Ocritrio da deficincia fsica, como por exemplo, no art. 37, VIII? O critrio da idade,

    como na preferncia de tramitao de processos de idosos na justia?

    Indicao de material de apoio:

    Pena, Srgio D. Pena. Retrato Molecular do Brasil, in Falco, Joaquim e Arajo, RosaMaria Barbosa de. O Imperador das Idias: Gilberto Freyre em questo. Rio deJaneiro: Topbooks, 2001 (tpicos Razes Filogenticas do Brasil e No existemraas)

    Merola, Ediane. Notas baixas e critrios de cotas para negros provocam polmica naUerj. Reportagem publicada no jornal O Globo em 11/03/04.

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    Gois, Antnio e Petry, Sabrina. Na era das cotas, negro o 1 lugar em medicina.Reportagem publicada na Folha Online em 08/02/04

    O GLOBO. Estudante ganha ao contra Uerj. Reportagem publicada no jornal OGlobo de 17/03/04.

    Trechos da petio inicial da Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) sobre a lei

    estadual do Rio de Janeiro n 4151/03 (lei de cotas), proposta pela CONFENEN(Confederao Nacional dos Estabelecimentos de Ensino)UNGER, Roberto Mangabeira. Justia racial j, artigo publicado no jornal Folha de

    So Paulo em 13/01/04.Kamel, Ali. Cotas: Um erro j testado. Artigo publicado em O Globo de 29/06/04.__________. UNB: Pardos s se forem negros. Artigo publicado em O Globo de

    20/03/04.Petio da ONG Conectas, na qualidade de Amicus Curiae (editada).Unger, Roberto Mangabeira. O Direito e o Futuro da Democracia. (trecho sobre aes

    afirmativas nos EUA).Schwartzman, Simon. Entrevista ao jornal O Globo de 21/03/04.Falco, Joaquim. Sistema de Cotas Brasileira. Publicado no Jornal do Brasil.Barroso, Lus Roberto. Cotas e o papel da universidade. Publicado em O Globo de

    28/06/03.Gomes, Joaquim B. Barbosa. Ao afirmativa & princpio constitucional da igualdade:

    O direito como instrumento de transformao social. Rio de Janeiro: EditoraRenovar, 2001.

    Vieira, Oscar Vilhena. Supremo Tribunal Federal Jurisprudncia Poltica. So Paulo:Malheiros, 2001 (trecho sobre a deciso da Suprema Corte no caso Bakke).

    Dworkin, Ronald. Levando os Direitos a Srio. So Paulo: Martins Fontes, 2002(captulo IX - A discriminao compensatria).

    Questes de Concursos:

    36 Concurso Magistratura Estadual/ 2002 RJ compatvel com a Constituio da Repblica a gratuidade estabelecida no art. 13, V,

    da Constituio do Estado do Rio de Janeiro em favor dos que percebem at um salriomnimo, dos desempregados e dos reconhecidamente pobres para o sepultamento e osprocedimentos a ele necessrios, inclusive o fornecimento de esquife pelo concessionriodo servio funerrio?

    Ministrio Pblico Estadual/ 2002 PRTramita no Congresso Nacional um projeto de lei que objetiva reservar 20% das vagas

    em estabelecimentos pblicos de ensino superior para estudantes negros. Suponha que estalei seja aprovada e sancionada e que uma entidade legitimada ingresse com uma ADINperante o STF, alegando que a lei ofende ao princpio da igualdade. Analise o mrito daquesto, dizendo da possibilidade de sucesso da ao, apresentando fundamentaojurdica.

    Provo/ 2002

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    A parte da natureza varia ao infinito. No h, no universo, duas coisas iguais. Muitas separecem umas s outras. Mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma s rvore, asfolhas da mesma planta, os traos da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluido,os argueiros do mesmo p, as raias do espectro de um s raio solar ou estelar. Tudo assim,desde os astros, no cu, at os micrbios do sangue, desde as nebulosas no espao, at os

    aljfares do rocio na relva dos prados. A regra da igualdade no consiste seno em quinhoardesigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade socialproporcionada desigualdade natural, que se acha a verdadeira lei da igualdade. O maisso desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou adesiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e no igualdade real. Os apetiteshumanos conceberam inverter a norma universal da criao, pretendendo, no dar a cadaum, na razo do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem.(Barbosa, Rui. Orao aos Moos. 18. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, pp. 53-55)

    A partir desse texto, analise a validade da adoo da discriminao positiva no Brasil,oferecendo exemplos; a relao entre o princpio da igualdade e o da proporcionalidade, apossibilidade de o juiz decidir unicamente com base no princpio da eqidade.

    Provo/ 2003(Estcio:) Eu creio que um homem forte, moo e inteligente no tem o direito de cair na

    penria.(Salvador:) Sua observao, disse o dono da casa sorrindo, traz o sabor do chocolate que

    o senhor bebeu naturalmente esta manh, antes de sair para a caa. Presumo que rico. Naabastana impossvel compreender as lutas da misria, e a mxima de que todo homempode, com esforo, chegar ao mesmo brilhante resultado, h de sempre parecer uma grandeverdade pessoa que estiver trinchando um peru... Pois no assim; h excees. Nascoisas deste mundo no to livre o homem, como supe, e uma coisa, a que uns chamammau fado, outros concursos de circunstncias, e que ns batizamos com o genuno nomebrasileiro de caiporismo, impede a alguns ver o fruto de seus mais hercleos esforos.Csar e sua fortuna! toda a sabedoria humana est contida nestas quatro palavras. (Assis,Machado de. Helena. Rio de Janeiro: W.M. Jackson Inc. Editores, 1962. cap. XXI: p. 221).Identifique a convergncia ou divergncia do pensamento do personagem Salvador aoiderio que inspira o Estado liberal, no tocante garantia de igualdade perante a lei e deliberdade de agir, como condicionantes do sucesso individual.

    AULA EXTRADA DO ROTEIRO DE CURSO DA FUNDAO GETLIO VARGAS /DIREITO RIO

    DISCIPLINA: TEORIA DO DIREITO CONSTITUCIONAL

    AUTORES: JOAQUIM FALCO, LVARO PALMA DE JORGE E DIEGO WERNECKARQUELLES. COLABORADORES: THAMY POGREBINSCHI, BRUNO MAGRANI,MARCELO LENNERTZ, PEDRO CANTISANO E VIVIAN BARROS MARTINS