até quando o etnoconhecimento sobre as abelhas sem ferrão será transmitido entre gerações pelos...

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  • Sitientibus Srie Cincias Biolgicas 6 (4): 343-350. 2006.

    343

    At quAndo o etnoconhecimento sobre As AbelhAs sem ferro (hymenopterA, ApidAe, meliponinAe) ser trAnsmitido entre gerAes pelos ndios guArAni mby dA AldeiA

    morro dA sAudAde, locAlizAdA nA cidAde de so pAulo, estAdo de so pAulo, brAsil?

    ArnAldo dos sAntos rodrigues

    Mestre em Ecologia de Agroecossistemas, Escola de Agricultura Luiz de Queiroz ESALQ, Universidade de So Paulo, Brasil ([email protected])

    (At quando o etnoconhecimento sobre as abelhas sem ferro (Hymenoptera, Apidae, Meliponinae) ser transmitido entre geraes pelos ndios Guarani Mby da Aldeia Morro da Saudade localizada na cidade de So Paulo, Estado de So Paulo, Brasil?) Desde 1542, os ndios Guarani so etnografados como conhecedores dos insetos, incluindo vrias prticas alimentares, medicina local e costumes religiosos. A presente pesquisa discorre sobre o conhecimento etnobiolgi-co dos ndios Guarani-mby sobre as abelhas sem ferro. O estudo se deu na rea Indgena Guarani da Barragem Aldeia Morro da Saudade, localizada na periferia da cidade de So Paulo, Brasil, entre 2002 e 2004. O levantamento dos dados se fez observando o comportamento da comunidade e etnografando-o, seguindo-se entrevistas livres e semi-estruturadas aplicadas a vrios indivduos, identificando-se os informantes-chave. Deu-se nfase aos seguintes aspectos descritivos: distribuio, nidificao, sazonalidade, disperso, hbitat, ecologia, reproduo, morfologia e etologia, manejo e prticas de manipulao para extrao de produtos, acondicionamento e semidomesticao de espciesdas abelhas sem ferro. Constatou-se que o conhecimento sobre abelhas sem fero transmitido entre as geraes, principalmente de pai para filho, oralmente, por observao e tentativa de acerto e imitao, onde dois grupos so conhecidos: abelhas e vespas. O primeiro subdivide-se em abelhas sem ferro, com 13 etnoespcies, e abelhas com ferro, com sete etnoespcies. O grupo das vespas rene cinco etnoespcies. O conhecimento sobre esses insetos compartilhado entre os membros da comunidade, mas est presente com maior relevncia entre os especialistas.

    Palavras-chave: Etnoentomologia, ndios Guarani, conhecimento indgena, abelhas sem ferro, Meliponinae.

    (How long will the ethnoknowledge on the stingless bees (Hymenoptera, Apidae, Meliponinae) be transmitted to new generations of Guarani Mby Indians of the Morro da Saudade Village in the city of So Paulo, SP, Brazil?) Since 1542, Guarani Indians were ethnographed as experts of insects, including several alimentary behaviors, local medicine, and religious practices. This research deals with ethnobiological knowledge that the Guarani-mby have about stingless bees. The area under study was the Guarani da Barragem indigenous reservation in Morro da Saudade Village, located in the periphery of the city of So Paulo, Brazil. It was carried out between 2002 and 2004. Data were recorded by means of observing the communitys behavior and ethnography, followed by free and semi-structured interviews with several individuals, identifying key informers. A pre-established itinerary was used in order to guarantee homogeneity in the approach. Descriptive aspects of stingless bees were identified: distribution, nesting, seasonality, dispersion, habitat, ecology, reproduction, morphology and ethology. Their handling and manipulation practices for extraction of products, as well as their packaging and semidomestication were also recorded. Knowledge was transmitted orally between generations, mainly from father to son, through observation and imitation, trial and error. Indigenous knowledge distinguishes bees from wasps. The first is subdivided into stingless bees with 13 ethnoespecies, and stinging bees with seven ethnoespecies. Wasps are divided into five ethnoespecies. Knowledge on stingless bees is shared among virtually all members of the community, being the specialists those individuals with deeper knowledge on the subject.

    Key words: Ethnoentomology, Guarani Indians, indigenous knowledge, stingless bee, Meliponinae.

    introduo

    No mundo animal, 53% dos txons em nvel de es-pcie esto compostos por insetos (delong, 1962). Alves (1998) afirma que atualmente existem cerca de um milho de espcies de insetos descritos pela cincia. No levanta-mento realizado por erwin (1997), est sustentada a hip-tese de que o nmero de espcies de insetos viventes gira em torno de 30 milhes. Esses artrpodes esto presentes em diferentes ambientes: terrestre, aqutico, no subsolo, no dossel das florestas etc. (wilson, 1997). Morris et al. (1991) e Fisher (1998) consideram os insetos os principais constituintes dos ecossistemas terrestres em termos de bio-

    massa. No entanto, grande parte dos Insecta vive em flores-tas tropicais, ameaadas constantemente pela devastao (Jenkins Junior, 1997).

    A importncia cultural dos insetos para as socieda-des humanas foi estudada por diversos autores (ver CostA neto, 2002). sChwArz (1948) realizou um estudo sobre as abelhas sem ferro entre os Maya da Amrica Central, com-provando um conhecimento indgena detalhado sobre esses insetos. vellArd (1939) estudou a importncia das abelhas e de algumas vespas para os Guaiaky do Paraguai. No Bra-sil, Posey (1979, 1980, 1982) estudou os ndios Kayap e sua relao com os insetos sociais, dando nfase s abelhas sem ferro. Interessante ressaltar que a grande maioria dos

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    nomes populares das abelhas sem ferro no Brasil tem ori-gem indgena (nogueirA-neto, 1970; lenko & PAPAvero, 1979), sendo que muitos dos nomes cientficos tambm provm diretamente do Tupi (nogueirA-neto, 1997).

    No que se refere ao uso de insetos como alimento no Brasil, as primeiras informaes sobre o tema foram re-gistradas desde a chegada dos europeus. Com relao aos Guarani, existe pouco material publicado sobre a prtica entomofgica. Etngrafos como CAdogAn (1949, 1955, 1959a, 1959b, 1992), MArtinez-Croveto (1968) e Meli et al. (1976) forneceram material que direta ou indiretamente tratam da entomofagia entre esses ndios.

    Em 1542, CAbezA de vACA (1984) escreve que [...] no oco destas canas havia uns insetos brancos, to grossos e compridos como um dedo, os quais a gente assava para comer e saa dele tanta gordura, que bastava para fritar-se muito bem, e os comiam toda dente e os tinham como uma comida muito boa [...]. AnChietA (1988), em 1560, escreveu sobre os costumes dos Tupinamb em comerem insetos do oco de taquaras, muito similar ao costume dos Guarani. Mais tarde, ihering (1917) descobre que se trata da larva de Morpheis smerintha. CAbezA de vACA (1984) tambm menciona a importncia do mel para os Guarani, atribuindo um valor intrnseco a esse produto na cultura desses ndios.

    So comuns descries sobre o uso da formiga Atta sexdens, conhecida popularmente como i. O significado em Guarani formiga que se come. Essas formigas eram comidas cruas ou torradas (Meli et al., 1976).

    Os estudos que enfocam as diversas interaes que as sociedades humanas mantm com os insetos cons-tituem a etnoentomologia, um dos ramos da etnobiologia. A etnoentomologia, ao examinar o conjunto complexo de conhecimentos, pensamentos, crenas, sentimentos e mo-dos de uso dos insetos pelas comunidades humanas, tanto passadas quanto contemporneas, leva a um entendimento mais profundo do modo de vida de um grupo tnico parti-cular sob estudo, de suas interaes com o meio ambiente e de seus costumes, tradies e culturas (Meyer-Rochow, 1978/1979).

    Nesse sentido, o presente artigo uma contribuio aos estudos etnoentomolgicos ao discutir o conhecimento dos ndios Guarani-mby sobre as abelhas sem ferro e sua re-transmisso entre geraes.

    Os Guarani MbyAs informaes a respeito dos Mby em territ-

    rio brasileiro so escassas e confusas (sChAden, 1963). No entanto, lAdeirA & AzAnhA (1988) apontam duas possveis rotas. A primeira sai da Argentina e entra no Brasil, via Rio Grande do Sul, mais tarde formando o aldeamento do Rio Branco e Boa Vista (Ubatuba, SP) e Boa Esperana (Esp-rito Santo). A segunda rota, traada a partir do Paraguai em direo ao Paran, forma vrios aldeamentos, entre eles o de Rio das Cobras e Palmeirinha. a partir dessa segun-da rota que, mais tarde, ser responsvel pelo grosso da populao Mby dos aldeamentos de So Paulo e Rio de

    Janeiro (lAdeirA & AzAnhA, 1988).Os ndios Guarani referidos neste estudo so fa-

    lantes da lngua Guarani do tronco lingstico Tupi, fa-mlia Tupi-Guarani, de dialeto Mby. Habitam pequenas moradas (Fig. 1) na Aldeia Morro da Saudade (a comuni-dade pretende alterar o nome para Tekoa Tenonde Por), na rea Indgena Guarani da Barragem, localizada em Parelheiros, no bairro da Barragem, periferia da cidade de So Paulo, SP, Brasil, latitude 235216S e longitude 463858W (elipside internacional de hayford datum ho-rizontal = Crrego Alegra, Minas Gerais, Brasil). A rea total de 26,3 hectares e a populao de aproximadamente 600 indivduos compondo cerca de 120 famlias. As primei-ras chegaram ao local por volta de 1970, vindas da Aldeia de Palmeirinha, seguidas de outras que vieram da Aldeia Rio das Cobras, ambas do estado do Paran.

    A organizao entre os Guarani-mby se funda-menta nas relaes familiares, sustentando-se na solidarie-dade entre os componentes da famlia extensa, composta segundo a tradio Guarani, em princpio, pelo casal, as filhas, os genros e os netos. Todos os ndios falam seu pr-prio idioma, tendo a lngua portuguesa do Brasil como se-gunda lngua. O costume de unio entre os membros das diferentes famlias ou com parentes de outras aldeias mantido nos moldes tradicionais, isto , se a unio matri-monial no se d com outro Mby, o casal no poder mais viver na aldeia. As famlias mantm uma mobilidade que lhes garante um importante intercmbio entre as aldeias, reforando as relaes sociais e de reciprocidade: casamen-tos, visitas a parentes e troca de sementes, de mudas de plantas e de conhecimentos adquiridos nas relaes com as diversas sociedades envolventes.

    Embora os ndios tenham comeado a registrar seu conhecimento por meio da escrita apenas a partir do final do sculo XX, no significa que o conhecimento adquirido ou (re)transmitido por meio desse instrumento. Na verdade, o saber entre os Guarani ainda transmitido oralmente, por observao, imitao e tentativas de acerto, de gerao para gerao, de pai para filho principalmente.

    Fig. 1. Moradia da Aldeia Morro da Saudade, local onde um meliponrio foi mantido.

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    metodologiA

    Este artigo parte de um estudo que ainda est em desenvolvimento sobre o etnoconhecimento dos ndios Guarani-mby sobre abelhas e outros insetos.

    As coletas de campo foram realizadas entre 2002 e 2004 totalizando cerca de 40 visitas aldeia, incluindo diferentes etapas: apenas observao; conversas informais com os moradores da aldeia, com lideranas e outros n-dios visitantes da aldeia; participao em reunies e ativi-dades internas, como festas e rituais. Seguiu-se a aplicao de entrevistas livres (viertler, 2002) e semi-estruturadas, obedecendo a roteiros pr-estabelecidos (hAguette, 1992). A identificao de dois informantes-chave (MArtin, 1995), aqui considerados como especialistas, deu-se pela indica-o espontnea dos prprios moradores da aldeia. Uma vez identificados tais informantes, os procedimentos seguiram o mtodo anteriormente aplicado por CArMArgo & Posey (1990) com os ndios Kayap, onde as entrevistas informais e formais passaram a ser diretas e objetivas com relao ao assunto, realizando-se tambm turns guiadas (MArques, 2001) inclusive acompanhando o informante em viagens a outras aldeias.

    A utilizao da abordagem mica prevaleceu em todas as etapas. Todas as informaes concernentes direta ou indiretamente ao tema foram consideradas, registran-do-se os dados sobre a maneira como os ndios organizam, percebem usam e transmitem seus conhecimentos sobre as abelhas sem ferro, com o cuidado de no lhes impor os parmetros cientficos do pesquisador (Posey, 1983). Foi aplicada a metodologia geradora de dados, permitindo que o prprio informante propusesse tpicos e explicaes para o assunto em questo (Posey, 1986).

    Os dados eram tabulados medida em que as in-formaes iam sendo obtidas. Eles eram contextualizados com informaes anteriores. Vrios dados foram analisados valendo-se da tcnica de cognio comparada (MArques, 2001). O relacionamento com a nomenclatura cientfica para as diferentes etnoespcies de abelhas sem ferro foi realizado com a colaborao do Prof. Dr. Paulo Noguei-ra-Neto do Laboratrio de Abelhas do Depto. de Ecologia Geral do Instituto de Biocincias da USP, uma vez que no foi possvel avistar ninhos ou espcimes de abelhas para o registro fotogrfico ou captura e identificao. Os dados eram agrupados em tabelas contendo a denominao da et-noespcie, a descrio e as pistas taxonmicas fornecidas pelos informantes. Palavras do idioma guarani-mby fo-ram confrontadas e confirmadas com um vocabulrio Gua-rani/Portugus (dooley, 1982).

    resultAdos e discusso

    Abelhas e vespas possuem significativa participa-o na cultura dos Guarani-mby, relacionando-se com alimentao, atividades religiosas, pajelana e medicina local, bem como para explicao do meio ambiente e de fenmenos naturais.

    Os Guarani-mby demonstraram um conhecimen-to diversificado sobre abelhas e vespas, distinguindo 25 et-noespcies divididas nesses dois grupos de insetos (Tabela 1). O primeiro grupo apresenta-se separado em dois sub-grupos: abelhas sem ferro (13 etnoespcies) e abelhas com ferro (sete etnoespcies). Tal conhecimento vai alm da enumerao de diferentes etnoespcies e abrange vrios as-pectos: descrio, distribuio, nidificao, sazonalidade, disperso, aspectos morfolgicos e etolgicos, manejo e prticas de manipulao para a extrao de produtos, acon-dicionamento e semidomesticao de espcies, e utilizao de seus produtos. O grupo das vespas (cinco etnoespcies) e o subgrupo das abelhas com ferro no esto sendo discu-tidos com mais detalhes por no serem objeto deste artigo.

    Tabela 1. Etnoespcies de abelhas sem ferro, abelhas com ferro e ves-pas, citadas na mesma ordem pelo informante-chave Karai Poty.

    AbelhasVespas

    Sem ferro Com ferro

    Jatei Mamanga Kavy typexa

    Ei pyt Mamanga guaxu Kavy tatur

    Guarykua Mamanga pyt Aguarakavy

    Ei raviju Mamanga u Kavy xi

    Yvy ei Mamanga para Eixu guaxu

    Ei tata Mamanga

    Ei mir Ei guaxu

    Ei mir i

    Ei irapua

    Ei ruxu ou Ak moto

    Madori

    Ei tapexua

    Kraxai

    O conhecimento sobre as abelhas sem ferro foi bem detalhado por um dos informantes-chave (Karai Poty). Referindo-se de uma forma geral, porm usando a etnoes-pcie jatei, ele explicou que essas abelhas so organiza-das, possuem rainha e se dividem em diferentes grupos de trabalho e funes: algumas auxiliam a rainha, dispostas sua volta; outro grupo sai para o campo, visita as plan-tas e nunca volta sem algum material para uso da famlia estas abelhas voam para muito longe arriscando a vida; outro grupo fica de guarda voando na entrada da colmia. Se o ninho ameaado, essas abelhas mudam de posio, enquanto outras saem para se juntar ao grupo, que se am-plia rapidamente. Quando o perigo acaba, as abelhas aos poucos retornam funo normal. Existem outros grupos que nunca saem do interior da colmia. Aps um dia de trabalho o movimento vai diminuindo gradualmente, como a luz do dia, e ao anoitecer entram pelo tnel, fechando-o para a proteo da colmia. sAkAgAMy (1982) discorre so-bre a organizao das abelhas sem ferro e seu complexo sistema de organizao social, com castas bem definidas, o que lhes conferem funes e atribuies diferentes, col-

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    nias grandes, perenes e as rainhas incapazes de fundarem ninhos solitariamente.

    A atividade da rainha na postura de ovos foi ex-plicada de diferentes formas: aumenta no calor, diminuin-do muito no perodo do frio, condicionando o tamanho da colnia oferta de comida e ao xito das abelhas campei-ras: [...] a me no tem mesmo que botar mais ovinhos numa poca em que a comida est acabando [...] quando os dias comeam a ficar mais quentes [...] vo novamen-te comeando a aumentar o trabalho [...] a me voltar a botar muitos ovos [...] no frio [...] vi dentro do ninho que todas as abelhas estavam dormindo, quietas e eram poucas abelhas.

    O conhecimento tradicional sobre abelhas com-partilhado pelos membros da famlia do informante-chave. Karai Poty foi levado, desde o incio de sua vida com me-nos de dois anos (bem como seu bisav o fez com o av e este com seu pai), para acompanhar o pai na manipulao das abelhas: O pai tinha que levar a criana bem cedo pro mato, para ver as abelhas, pra que a criana sentisse o chei-ro dela, do ninho, das rvores onde elas estavam e j ir se acostumando com o zumbido e olhar os bichinhos nas plan-tas, nas flores, pra aprender a encontrar seus ninhos quando crescesse [...]. Isso aconteceu no apenas com ele e seu ir-mo mais velho, mas em outras famlias esse procedimento tambm era comum. medida que a criana ia crescendo, as incumbncias mudavam e se acumulavam. Com cerca de 10 anos de idade, Karai Poty j havia recebido de seu pai algumas caixas e troncos com ninhos de abelhas implan-tados. Essas eram de sua exclusiva responsabilidade e ele deveria cuidar e ampliar a criao. Procedimento indicativo da preocupao em manter o costume entre os membros da mesma famlia e retransmitir o conhecimento para as geraes futuras. A tradio em observar, entender, classi-ficar, semidomesticar, extrair produtos e aproveit-los em rituais especficos, tanto os que so realizados no dia-a-dia como aqueles especiais e que ocorrem apenas em algumas ocasies, fazia parte da rotina de vida na rea Indgena Rio das Cobras, municpio de Laranjeira do Sul, Paran, onde nasceram e cresceram Karai Poty e seu irmo, os dois prin-cipais colaboradores deste estudo.

    Na participao das rodas de conversa, muitos in-divduos com idade acima de 50 anos sempre se referiam s abelhas em constantes discusses sobre sua importncia para a florao e as estaes do ano, que para os Guarani regido por kuaray (sol) e jaxy (lua) e dividido em duas estaes: arapyau (quente) e arayma (frio). O ano se inicia quando surge a primeira lua nova de agosto. Ocorre uma renovao ne pyau (novo tempo ou esprito novo) que foi explicado da seguinte forma: [...] quando est chegando o vero, que o juru (branco) chama de primavera, as rvores comeam a ter novas flores e folhas novas e isso sinaliza que toda a vida vai mudar [...]. Nessa poca, os ndios afir-mam que vrias espcies de abelhas so encontradas nas plantas, sinal da vida se renovando.

    Um indicativo de regras de manejo se observa nas transferncias de plantas das matas para a rea dos melipo-

    nrios e proximidades. Existia a preocupao em selecionar plantas de florao alternada para atender a alimentao das abelhas durante todo o ano. Os ndios explicam que: [...] as abelhas tiram o evorakue (plen) [...] gastam menos tempo voando e no tm perigo de ser pega pelo passarinho [...]. Caso o corte de plantas no seja adequado, [...] algu-mas abelhas nunca mais voltam e as rvores tambm no. Posey (1987) sugere que prticas como essas podem ser es-tudadas para entender a polinizao das plantas com flores em florestas tropicais, o que se pode acrescentar a mesma hiptese para manejo: plantio intencional em interface com a semidomesticao de abelhas polinizadoras.

    A aquisio de colnias obedece a algumas regras: procurar na poca certa (calor) aps o incio da florao, quando os ninhos esto fortes, e nunca explorar ninhos fracos com poucas abelhas. Para a localizao nas matas, so vrias as tcnicas: seguir o vo das abelhas (strelni-kov, 1928; holAndA, 1957; noelli, 1993; litAiFF, 1999; nogueirA-neto, 1997 essa tcnica est difundida entre vrias etnias), escutar os diferentes sons ou sentir o chei-ro. Karai Poty explica: [...] de tanto voc prestar ateno no mato, o mato parece que fala pra voc o que voc quer saber. Outros fatores se destacam, como verificar a com-posio das matas, a idade das rvores, a presena de de-terminados animais, a luminosidade e relevo, direo dos ventos e quantidade das chuvas e a umidade do solo e pare-des rochosas. Esses fatores so analisados com uma viso multivariada e interdependente, demonstrando um conheci-mento abrangente sobre a complexidade do ecossistema e fenmenos naturais.

    Os ninhos (eiro) podiam ser retirados do tronco, obedecendo a um corte feito a aproximadamente 50 cm aci-ma ou abaixo da principal entrada/sada das abelhas, res-peitando-se o oco da rvore (yvyra kua) onde normalmente se instalavam. Cuidados com favos (etngue), crias (tayrai) ou larvas (ayre), mel (ei) e plen (evorakue) foram citados separadamente e especial ateno se d quando se localiza a me de todas (ixy), ou seja, a rainha, que para os n-dios [...] uma abelha diferente e delicada. Ela maior e mais mole, anda pelo ninho quando a gente mexe na casa delas. Se voc no tomar cuidado e perder ou machucar a me, vai ser muito difcil de dar certo; sem a me elas no acostumam.

    Transferidas para caixas (yru), levadas com o pr-prio tronco ou, ainda, mantidas no local de origem, mas como posse do dono (neste caso, s quando muito perto da moradia), as colmias passavam por um perodo de adapta-o. No se devia mexer nos ninhos para retirada de produ-tos antes de aproximadamente seis meses, caso contrrio o ninho no cresceria. A partir da, parte do mel e outros pro-dutos poderiam ser retirados. Pequenas colmias podiam ser transferidas para o interior da moradia ou paredes ex-ternas. As abelhas jatei eram penduradas por cip no teto, perto de janelas e portas, podendo sair e entrar a qualquer hora, e para serem observadas todo o tempo.

    Muitas vezes, as explicaes dos informantes-chave eram demonstradas espontaneamente em desenhos

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    feitos com um graveto, no cho, na terra. Em uma das oca-sies, Karai Poty foi solicitado a faz-los com lpis e papel (Fig. 2). A riqueza de detalhes, quando se comparou com o esquema da literatura cientfica (nogueirA-neto, 1970), demonstra similaridade e equivalncia.

    Fig. 2. esquerda, o esquema do ninho de abelhas sem ferro produzido pelo informante-chave na mata da aldeia, durante turn guiada, e di-reita esquema de nogueirA-neto (1970).

    Vrias caractersticas antropomrficas qualitativas

    foram atribudas s diferentes espcies de abelhas sem fer-ro, sempre conferindo benevolncia quando a comparao se dava entre as espcies do mesmo subgrupo. No entanto, as caractersticas negativas eram referncia para compa-rao com o subgrupo das abelhas com ferro (Tabela 2), mais especificamente atributos da etnoespcie ei guaxu. interessante observar que o subgrupo das abelhas com fer-ro formado por sete etnoespcies diferentes, sendo seis do mesmo gnero (pista taxonmica apontando para o g-nero Bombus), que so nativas brasileiras as mamanga no idioma guarani-mby. Mesmo elas sendo descritas como [...] grandona, s de ver j assusta [...] grandona mesmo e parece um bizoro [...] pica bem dolorido [...] quando uma abelhona dessas est perseguindo a gente no tem ningum que escapa de levar uma ferroada [...] ela brava demais [...], em nenhum momento essas abelhas foram citadas para a comparao negativa com as abelhas sem ferro, fi-cando no parmetro comparativo abelha ei guaxu.

    Tabela 2. Caractersticas antropomrficas citadas por Karai Poty para comparao entre as etnoespcies jatei e ei guaxu.

    Etnoespcie Aspectos antropomrficos positivos Etnoespcie Aspectos antropomrficos negativos

    Jatei

    Boazinha

    Ei guaxu

    Brava

    Calma Nervosa

    Mansinha Furiosa

    Gosta mais do ser humano No gosta do ser humano

    Dcil Danada

    No causa problema Esquisita

    Inofensiva De mau humor

    No perigosa Muito perigosa

    Esperta Perdida (vai em qualquer coisa)

    Valente No pensa, ataca qualquer um

    A abelha ei guaxu na classificao dos Guarani pertence ao subgrupo das abelhas com ferro. Pela descri-o apresentada, a pista taxonmica mais provvel aponta para Apis mellifera, que no nativa brasileira. O gne-ro Apis foi introduzido no continente sul-americano pelo padre portugus Antonio Carneiro Aureliano em 1839, no Rio de Janeiro, e para o Rio Grande do Sul, Paran e Santa Catarina em 1845 pelos colonizadores alemes (nogueirA-neto, 1972). Em 1956, Warwick Kerr trouxe da frica 170 rainhas de Apis mellifera adansonii, formando 49 ncle-os em Piracicaba, SP. Desses, 26 enxamearam e fugiram ao controle do experimento, espalhando-se por quase todo territrio brasileiro predominando sobre as anteriores, que eram relativamente menos agressivas e de fcil manipula-o (nogueirA-neto, 1972), formando o que se denomina como abelhas africanizadas. So muito agressivas e co-nhecidas comumente como abelha-oropa ou europa.

    O uso de produtos das abelhas sem ferro, tais como mel, cera, cerume, prpolis, plen e as prprias abe-lhas em estado larval ou outros estgios de desenvolvimen-to, foram apontados para vrios fins como alimentao, medicina tradicional, atividades relacionadas vida espiri-tual e contemplativa e ao artesanato (Tabela 3).

    considerAes conclusivAs

    O conhecimento dos Guarani-mby sobre as abe-lhas sem ferro e insetos correlatos resulta de muitas gera-es passadas. No pensamento desses ndios, as abelhas fa-zem parte de um universo onde se incluem os criadores do mundo, os espritos e entidades divinizadas, alm de todos os animais e as florestas, a gua, os ventos e o mundo fsico inanimado, os prprios ndios e seus antepassados. Para os Guarani-mby, esses insetos no so vistos separadamente. Em sua anlise, explicam que no existem florestas sem abe-lhas ou vice-versa.

    Na Aldeia Morro da Saudade, o conhecimento sobre as abelhas sem ferro pode ser notado entre todos os morado-res e visitantes do local. No entanto, o que difere na comuni-dade o grau de profundidade do conhecimento disseminado entre as pessoas. Por exemplo, so de conhecimento comum a existncia das abelhas e o uso de alguns produtos, como o mel para preparar certos alimentos, para uso medicinal e em rituais, bem como a cera para a elaborao de velas, entre ou-tras atividades. Porm, alguns membros da comunidade so apontados como grandes conhecedores (especialistas), sobre o assunto. Constatou-se, nas visitas realizadas nas aldeias,

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    Aguape, Boa Vista, Jaragu e Krukutu, que seus membros indicavam a Aldeia Morro da Saudade como a localidade

    onde existiam conhecedores sobre o assunto e que eles eram filhos e netos de ndios que muito sabiam sobre as abelhas.

    Tabela 3. Etnoespcies de abelhas sem ferro citadas por Karai Poty, que relacionou a utilizao dos produtos e citou as etnoespcies que manteve em meliponrio. 1Nomes locais. 2Nomes em portugus. 3Com base na descrio fornecida, a pista taxonmica foi fornecida pelo Dr. Paulo Nogueira-Neto. 4Algumas etnoespcies que formaram o meliponrio do informante-chave. A= mel; B= plen; C= cera; D= cerume; E= prpolis; F= crias/larvas; G= batume.

    Nomenclatura Tipo de utilizao Produtos utilizados Manteveem meliponrio4

    Etnoespcie1 Nome comum2 Pista taxonmica3 Alim. Med. Ativ. cult. relig. A B C D E F G

    N decaixas

    No prpriotronco

    Jatei Jata Tetragonisca angustula X X X X X X X X X X 12 X

    Ei pyt Vor Tetragona clavipes X X X X X X X X

    Guarykua Guaraip Melipona bicolor X X X X X X X X 10 X

    Ei raviju Mandaaia Melipona quadrifasciata X X X X X 8 X

    Yvi ei Paratrigona sp X X X X

    Ei tata Oxytrigona tataira X X X

    Ei miri Mirim Plebeia spp X X X X X X

    Ei mirii Mirinzinha Friesella schottky X X X X X X

    Ei irapua Irapu / Irapu Trigona spinipes X X X X X X X X X

    Ei ruxu / Ak moto Melipona sp X X X X X X X

    Mandori Manduri Melipona marginata X X X X X X 2 X

    Ei tapexua Mombuca Cephalotrigona capitata X X X X

    Kraxai no identificada X X X X

    No entanto, foi observado que a transmisso e re-transmisso do conhecimento sobre as abelhas sem ferro e insetos correlatos, que tradicionalmente ocorriam entre geraes, de pai para filho, ligando a interpretao da natu-reza, suas foras e a compreenso entre o homem (o ndio) e as diversas formas de vida, tm sido menos constante. Na Aldeia Morro da Saudade, nem as crianas e nem os jovens esto recebendo ensinamentos tradicionais sobre as abelhas. Os filhos dos principais informantes revelaram um conhecimento superficial sobre o assunto, isto , de ma-neira geral, possuem um conhecimento comum, registrado entre a maioria dos membros da comunidade como foi ex-plicado anteriormente.

    Em vrias ocasies, em conversas com as crian-as, constatou-se o desconhecimento do assunto. Elas ape-nas declararam que a palavra ei (abelha ou mel na forma generalizada do idioma guarani-mby) lhes era falada no ensinamento da leitura e da escrita do guarani-mby por professores indgenas, membros da prpria aldeia, que en-sinam na escola indgena formal instalada na comunidade em um projeto recente. Os pais alegaram como motivos a falta de tempo e excesso de outras atividades envolven-do-os em afazeres que lhes distanciam de suas tradies, levando-os a valores no condizentes com a transmisso daquele conhecimento, que praticamente no tem lugar no dia-a-dia da aldeia. Na verdade, muitos trabalham fora para garantir o sustento da famlia.

    A falta de espao outro fator decisivo que contri-bui, direta e indiretamente, para que meliponrios no se-

    jam mantidos na aldeia. A rea total da aldeia de 26,3 hec-tares, ocupados por moradias e outras construes, como casa de rezas (opy), escolas, centro comunitrio, sede de uma associao indgena, campo de futebol, posto de sa-de, duas lagoas artificiais, runas de uma grande construo em alvenaria que pertencera Rdio Tupi de So Paulo, v-rias construes de banheiros, caixas-dgua comunitrias, alm dos arruamentos para trnsito automotivo.

    Os caciques de mais de 20 aldeias, em reunio ocorrida na aldeia Morro da Saudade em meados de 2004, discutiram sobre a falta de prticas culturais, como a trans-misso do conhecimento indgena sobre as abelhas sem ferro. As novas lideranas formadas por jovens caciques, principalmente das aldeias do litoral paulista, chamaram a ateno para o fato de que algumas tradies precisavam voltar para o dia-a-dia das aldeias. Tal proposio assume objetivos diferentes, ambos utilitaristas, complementares para o contexto scio-cultural das aldeias na atualidade. Por um lado, explica que existe pressa em aprender e re-aprender a manipular as abelhas para uso de seus produtos em rituais e na alimentao. Por outro lado, revela a in-teno de comercializar os produtos, onde o resultado da operao render algum dinheiro para uso no sustento das famlias.

    Manifestaes de alguns ndios apresentaram certa coerncia ao explicarem que o conhecimento que eles pos-suem dificilmente poder ser transmitido em uma semana e que a forma de transmisso depende de muitos outros fa-tores. Um dado que pode intervir diretamente na idia da

  • outubro-dezeMbro 2006] 349rodrigues ConheCiMentos dos ndios guArAni sobre AbelhAs seM Ferro

    transmisso do aprendizado ou re-aprendizado o de que geralmente os ndios tm outras atividades que lhes toma muito tempo e ocorrem fora da aldeia.

    Algumas aes apontam para mudanas que po-dem surtir efeito em mdio prazo: atualmente tramita na Funai um processo para anexar duas reas particulares con-tguas aldeia Morro da Saudade. Isto aumentar a rea per capta, anexando inclusive matas em estgio avanado de regenerao. As lideranas locais anseiam pelo desfecho positivo que essa ao poder trazer para a comunidade, uma vez que acreditam que muitos dos costumes devero ser recuperados a partir da.

    Em agosto de 2004, tcnicos da Funai, a pedido

    dos ndios, ministraram um curso intensivo sobre a criao de abelhas sem ferro na aldeia Boa Vista, na cidade de Ubatuba, litoral norte do estado de So Paulo, com a parti-cipao de ndios de vrias aldeias.

    O prprio levantamento de dados apresentado nes-te estudo provocou muita discusso nas comunidades Gua-rani, despertando o interesse entre as lideranas, inclusive de outras aldeias, para a recuperao da prtica de manipu-lao com as abelhas sem ferro, levando a crer que esse conhecimento poder voltar a ser transmitido entre eles. A re-introduo do manejo dessas abelhas (etnomeliponicul-tura) poder ser uma ponte para que outras tradies tam-bm sejam recuperadas.

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