"não se ferre com o ferrão"

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ecoaventura l PESCA ESPORTIVA, MEIO AMBIENTE E TURISMO 70 T saúde alvez você já tenha ouvido falar que um bom remédio para amenizar a dor causada pela ferroada de um peixe é lavar o local afetado com a própria urina. Se não der certo, talvez a fé resolva: é só cortar em cruz o ferimen- to e espremê-lo bastante para o veneno sair junto com o sangue. Porém, a alternativa mais eficaz ensina que o mal passará se você arrancar os olhos do espécime ‘agressor’ para esfregá-los onde o ferrão penetrou. No caso dos olhos dos Mandis, não se trata de lenda: pes- quisadores da Área de Fisiologia da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) comprovaram cientificamente que seus olhos possuem uma proteína no humor vítreo (líquido do olho), capaz realmente de ajudar na cicatri- zação e no alívio da dor. Já as lendas populares certamente são efeitos da ten- tativa desesperada de livrar as vítimas de uma experiên- cia bastante dolorosa, causada por um descuido na hora de segurar ou armazenar algumas espécies cujo meca- nismo de defesa é um pontiagudo ferrão. Integram essa lista tanto espécies de escamas — como a maioria dos Bagres — quanto os chamados peixes de couro ou lisos. Saber lidar com eles é essencial para evitar um descon- forto intenso e duradouro, contra o qual é muito difícil encontrar um antídoto para um alívio efetivo. No mar ou na água doce, várias espécies de peixes apresentam mecanismos de defesa, como dentes afiados, espinhos, escamas, choques e o desgostoso ferrão — tema deste artigo. Acompanhe DA REDAÇÃO l FOTOS: ARQUIVO ECOAVENTURA l ARTE: MARCELO KILHIAN não ‘se ferre’ com o ferrão saude.indd 70 27/07/2011 11:21:19

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Matéria de saúde publicada na Revista Ecoaventura 9, em junho de 2010

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Page 1: "Não se ferre com o ferrão"

ecoaventura l pesca esportiva, meio ambiente e turismo70

T

saúde

alvez você já tenha ouvido falar que um bom remédio para amenizar a dor causada pela ferroada de um peixe é lavar o local afetado com a própria urina. Se não der certo, talvez a fé resolva: é só cortar em cruz o ferimen-to e espremê-lo bastante para o veneno sair junto com o sangue. Porém, a alternativa mais eficaz ensina que o mal passará se você arrancar os olhos do espécime ‘agressor’ para esfregá-los onde o ferrão penetrou. No caso dos olhos dos Mandis, não se trata de lenda: pes-quisadores da Área de Fisiologia da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) comprovaram cientificamente que seus olhos possuem uma proteína no humor vítreo

(líquido do olho), capaz realmente de ajudar na cicatri-zação e no alívio da dor.

Já as lendas populares certamente são efeitos da ten-tativa desesperada de livrar as vítimas de uma experiên-cia bastante dolorosa, causada por um descuido na hora de segurar ou armazenar algumas espécies cujo meca-nismo de defesa é um pontiagudo ferrão. Integram essa lista tanto espécies de escamas — como a maioria dos Bagres — quanto os chamados peixes de couro ou lisos. Saber lidar com eles é essencial para evitar um descon-forto intenso e duradouro, contra o qual é muito difícil encontrar um antídoto para um alívio efetivo.

No mar ou na água doce, várias espécies de peixes apresentam mecanismos de defesa, como dentes afiados, espinhos, escamas, choques e o desgostoso ferrão — tema deste artigo. AcompanheDA REDAÇÃO l FOTOS: ARquivO EcOAvEnTuRA l ARTE: MARcElO KilhiAn

não‘se ferre’

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Nos rios, lagos e represas onde praticamos a pesca esportiva há uma infinidade de peixes cujos ferrões podem ocasionar ferimentos muito dolorosos. Saber como manuseá-los é a única forma de se precaver

Não há tratamento?Certa vez, um médico-cirurgião picado no Araguaia por

uma Arraia injetou em si próprio doses de um poderoso e conhecido analgésico ao redor da ferroada para dar fim à dor. Segundo ele, embora o sofrimento tenha diminuído as-sim que se automedicou, foi o efeito do remédio passar para a dor se revigorar. Foram 36 horas intermináveis sentindo latejamento no local, ínguas e câimbras. Conclusão: tomar cuidado para evitar esse tipo de acidente é a única solução.

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Como fugir da Arraia A maioria dos acidentes com Arraia

acontece quando o pescador entra na água. Andar arrastando os pés no fundo do rio pode afastar o ataque, já que es-sas espécies só usam o ferrão quando se sentem ameaçadas — ou seja, encostar nela é pouco para uma investida. Outra dica é cutucar a frente de onde se anda com um pedaço de pau para espantar o animal, que pode estar em seu caminho. Mas, quando ela aparece na ponta do anzol, só mesmo aqueles que têm muita experiência devem tentar manuseá-la para a soltura, pois durante esse pro-cedimento o animal se contorce, e seu ferrão pode atingir mãos e braços. Na dúvida, corte a linha.

BagresPintados, Jaús, Jurupocas, Piraíbas,

Filhotes, Mandis e os pequenos Mandi-chorões compõem a lista dos Bagres que costumam apresentar três ferrões — dois localizados nas laterais e um no dorso. Para evitar acidentes, alguns pro-cedimentos durante o manuseio se mos-tram extremamente eficientes. Quando for um Bagre pequeno, apoie-o em local firme e posicione a mão com os dedos abertos atrás do peixe. Após encaixar o vão dos dedos no ferrão do dorso, dobre

Entre os seres aquáticos, a Arraia é a que costuma provocar os acidentes mais dolorosos. E o pior é que não há antídoto

para aliviar o sofrimento dos desafortunados

Entre os peixes de couro, diversas espécies e de porte variado possuem ferrões que podem provocar ferimentos. Os menores, como os Mandis, são os mais perigosos

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as suas pontas nos ferrões laterais. Assim se-guro, o anzol pode ser retirado sem que o peixe escape ou possa ferir as mãos. Ao liberá-lo do anzol, caso tenha interesse em transformá-lo em petisco, corte todos os ferrões antes de guardá-lo no viveiro do barco ou na geladeira. Já os pei-xes maiores devem ser seguros pelos próprios ferrões laterais, sempre com o dorso para o lado oposto do pescador. E, quando a intenção for ex-por o animal a uma sessão de fotos, o melhor é fazer a sua barriga encostar-se à do pescador e o mantê-lo no colo com o braço por trás dos ferrões [veja exemplo na foto ao lado].

Como dica final, lembre-se: a pressa é a maior inimiga da perfeição, portanto tenha calma e proceda com cuidado ao manusear essas espécies.boas pescarias.

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