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Antigo Testamento

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Antigo Testamento

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ORAÇÃO

Jer 1, 4ss: 4*A palavra do SENHOR foi‐me dirigida nestes termos: 5«Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia;  antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» 6E eu respondi: «Ah! Senhor DEUS, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.»  7Mas o SENHOR replicou‐me:  «Não digas: 'Sou um jovem'. Pois irás aonde Eu te enviar  e dirás tudo o que Eu te mandar. 8Não terás medo diante deles, pois Eu estou contigo para te livrar» ‐oráculo do SENHOR. 9*Em seguida, o SENHOR estendeu a sua mão, tocou‐me nos lábios e disse‐me: «Eis que ponho as minhas palavras na tua boca; 10a partir de hoje, dou‐te poder sobre os povos e sobre os reinos, para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e plantares.» 11*Depois foi‐me dirigida a palavra do SENHOR nestes termos: «Que vês, Jeremias?» E eu respondi: «Vejo um ramo de amendoeira.» 12«Viste bem ‐ disse‐me o  SENHOR ‐ porque Eu vigiarei sobre a minha palavra para a fazer cumprir.»

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ORAÇÃO

13Foi‐me dirigida, de novo, a palavra do SENHOR: «Que estás a ver?» Respondi: «Vejo uma panela a ferver, cuja fervura se volta para o lado Norte.» 14E o SENHOR retorquiu‐me: «Do Norte virá a desgraça  sobre todos os habitantes do país.  15Eis que vou convocar  todas as famílias dos reinos do Norte ‐ oráculo do SENHOR. Eles virão colocar cada um o seu trono junto das portas de Jerusalém, em torno das suas muralhas  e contra todas as povoações de Judá. 16Então julgá‐las‐ei  em razão das suas maldades:  por me terem abandonado  para oferecer incenso a outros deuses, adorando a obra das suas próprias mãos. 17Tu, porém, cinge os teus rins,  levanta‐te e diz‐lhes tudo o que Eu te ordenar.  Não temas diante deles;  se não, serei Eu a fazer‐te temer na sua presença.  18E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada,  como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. 19Far‐te‐ão guerra, mas não hão‐de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar»‐ oráculo do SENHOR. 

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As origens do profetismo bíblico

Aquilo que Zeus faz saber a Apolo e este transmite à Pitonisa, a sacerdotisa expressa‐o de forma não percetível. Então, é necessário um interprete, (o “profeta”), que articule de forma lógica a revelação do deus. Assim, o “profetes” é o que comunica ou proclama a mensagem da divindade.

Esses oráculos eram sobretudo referidos ao futuro;  “profetes” ganhou o significado de “aquele que fala do futuro”.

O vocábulo grego “profetes" designava aquele que interpretava as vozes desconexas da Pitonisa, no santuário de Delfos (início no séc. VII a.C.).

A Tradução grega dos LXX  escolhe‐o para traduzir um conjunto de vocábulos:  “ro’eh”, o “hozeh”, o “’ish‘elohim" e o "nabi”  ‐ são os vocábulos hebraicos aplicados aos agentes do fenómeno profético.

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As origens do profetismo bíblicoO  “vidente”  (“ro’eh”)

O termo aparece 11 vezes no Antigo Testamento, mais de metade das quais, aplicado a Samuel. Parece designar um homem que conhece coisas ocultas e a quem se pode consultar, mediante um pagamento.

Em Is 30,10 fala‐se dos “videntes” (“ro’im”);  a partir deste texto, há uma alteração em relação aos videntes da época anterior (Samuel...); este novo grupo tem uma missão: a partir das suas visões e palavras, recordam ao povo a sua responsabilidade diante de Deus.

Também aparecem ligados ao mundo sacrificial, oferecendo sacrifícios. O sacerdote Sadoc é, também designado com este título.

Já não são os que se consultam para resolver pequenos problemas; são homens que se pronunciam sobre questões fundamentais para a nação.

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As origens do profetismo bíblicoO “visionário” (“hozeh”)

O termo “hozeh” utiliza‐se por 16 vezes no Antigo Testamento, dez das quais no Livro das Crónicas.

O típico dos personagens assim designados era “contemplar” ou “ter visões”. Assim é referido Gad, “visionário” do rei. Parece que ele servia o rei com as suas visões (cfr. 2 Sm 24,11).

Já em 2 Re 17,13,  o “visionário” tem a missão religiosa de, em nome de YHWH, advertir o povo no sentido de viver de acordo com os mandamentos de Deus.

Samuel, Isaías, Amós, Miqueias, Naum, Abdias, Habacuc e Ezequiel são homens favorecidos com “visões”, através das quais Deus transmite mensagens ao seu povo.

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As origens do profetismo bíblicoO “homem de Deus” (“’ish ‘elohim”)

É uma expressão muito mais frequente do que as anteriores. Aparece 76 vezes no Antigo Testamento, sobretudo no Livro “Livro dos Reis” – Eliseu (29 vezes), Elias (7 vezes),  Moisés (6 vezes), Samuel (4 vezes), David (3 vezes).

Sempre que se fala destes “homens de Deus”, ligam‐se à transmissão da Palavra de YHWH. Não é uma Palavra que anuncia o futuro ou exige uma mudança no presente: é, sobretudo, uma Palavra poderosa, que opera milagres.

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É por isso que a expressão é tão utilizada nas tradições sobre Eliseu, o maior fazedor de milagres do Antigo Testamento

Os designados com esta expressão são autênticos intermediários entre Deus e os homens, e a Palavra de Deus ocupa um lugar fundamental na sua actividade

A grande diferença em relação aos profetas posteriores, é que essa Palavra que transmitem é, sobretudo, poderosa: não se restringe a ser uma leitura do presente, com a denúncia do mal presente ou o anúncio do futuro; é Palavra que tem a capacidade de transformar a realidade.

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As origens do profetismo bíblicoO “profeta” (“nabi”)

O termo hebraico “nabi” é um passivo do verbo “nabah”, cuja forma activa falta no hebraico ‐ embora se encontre noutras línguas afins, como o acádico (“anunciar”, “chamar”) e o árabe (“anunciar”).

Tomando a forma passiva, “nabi” é “aquele que é chamado” pela divindade (realça sobretudo a vocação).

No entanto, pode‐se também considerar “nabi” em sentido activo (na linha do que aparece no acádico e no árabe): nesse caso, “nabi” é “aquele que anuncia e proclama”.

Aparece 315 vezes no Antigo Testamento: “nabi” é o termo mais frequente e mais clássico que se refere aos profetas.

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Surge na Tradição Bíblica a partir de finais do séc. VII e durante o séc. VI. Coincide com a redacção da “história deuteronomista” e com Jeremias e Ezequiel.

No entanto, o uso abundante não ajuda na precisão do seu significado; é aplicado a pessoas muito distintas e, às vezes, parecendo ter significação oposta.

No Pentateuco, aplica‐se a Abraão (Gn 20,7). Maria, após a passagem do mar, é também “nebi’ah” (Ex 15,20). Também Moisés (Dt 18,15; 34,10).

Na “história deuteronomista”, é um termo muito usado: Débora (Jz 4,4), Gad (1 Sm 22,5), Nathan (2 Sm 7,2), Elias, Eliseu. Há outros “personagens menores” com este título.

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Nos livros proféticos, aparece em contextos com certa contradição.

Em Is 9,14, o “nabi” aparece aplicado a anciãos e nobres que “ensinam mentiras”; e em Is 28,7, os “nebí’im” são, como os sacerdotes, comilões e ébrios, incapazes de entender e aceitar a palavra de Isaías.

Também Jeremias, Ezequiel e Zacarias apresentam contradições.

De tudo isto podemos tirar as seguintes conclusões:“nabi” não é, necessariamente, um título de conteúdo positivo; aplica‐se também aos profetas de Baal e aos falsos profetas de YHWH.

O sentido e a função do “nabi” variam ao longo da história; o sentido  predominante é comunicar a palavra de outra pessoa: os “nebi’im” de YHWH ou de Baal, transmitem a Palavra de Deus

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O “nabi” actua, quer de forma independente, quer em grupo.

O fenómeno do “nebiismo” apresenta múltiplos aspectos e não é homogéneo, nem quanto à mensagem, nem quanto às suas manifestações.

Há mulheres que também fazem parte deste movimento. É realmente espantoso, uma vez que, em Israel, não têm acesso ao sacerdócio. Prova que não se pode generalizar a proximidade ao culto.

Os que atuam em grupo aparecem à volta do rei (no Norte), e à volta do templo de Jerusalém (no Sul). 

Pode‐se falar de “profetas cultuais”, ainda que não se possam considerar todos os profetas como funcionários do culto.

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As Etapas do Profetismo BíblicoMoisés

Sem uma leitura crítica, provavelmente pensaríamos que Israel tem Profetas desde as origens (até Abraão é designado como “Profeta” em Gn20,7). Também Miriam, irmã de Aarão é designada como profetiza em Ex 15,20.

Mais do que apresentar a evolução histórica dos profetas, estes textos sublinham a mentalidade na altura da sua redacção acerca dos aspectos do profetismo.

Moisés será certamente  um caso à parte, mesmo com a impossibilidade de distinguir entre o personagem histórico e a projeção da sua importância nas gerações posteriores. O texto mais antigo que apresenta Moisés como profeta é o de Os 12,14: “Por meio de um profeta, o Senhor tirou Israel do Egipto e por meio de um profeta o guardou”.

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Oseias, tão fiel às referências históricas, parece não estar a inventar nada. Seria opinião corrente entre as tribos do Norte que Moisés era um “profeta” (“nabi”).

Apresenta como função especifica desse profeta a libertação do Egipto e a condução pelo deserto. O profeta é o homem da acção, mais exatamente, da libertação.

Outros textos sublinham outras dimensões: Nm 12,1‐16 apresenta o profeta Moisés como alguém a quem Deus fala “cara a cara”.

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Este aspecto da comunicação directa com Deus e da transmissão da Palavra divina, é talvez o traço mais importante para a história da profecia.

A passagem programática sobre os profetas em Dt 18,9‐20, apresenta Moisés como o mediador entre o Povo e Deus, quando Israel sente medo de escutar directamente o Senhor.

Há dois aspectos ‐ a acção e o contacto com Deus – que estão presentes no juízo que se faz sobre a vida deste grande personagem.

Apesar disto,  certamente que o que se diz de Moisés nestes textos, será uma interpretação das gerações posteriores.

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As Etapas do Profetismo BíblicoA época dos Juízes

Os textos da época dos Juízes apresentam‐nos uma profetiza (Débora), um profeta anónimo (cfr. Jz 6,7‐10), Samuel e outros grupos proféticos.

Em Jz 4, Débora aparece a dirimir questões e a solucionar disputas; mas também se apresenta esta mulher como “profetiza” (“nebi’ah”).Pergunta‐se muito sobre a origem deste título. Em Jz 4,6‐7, Débora comunica a Barac um oráculo; justificará a referência a ser mediadora entre Deus e o Povo, a ser designada de “nebi’ah”.

Samuel tem na tradição bíblica rasgos muito diversos: herói da guerra contra os filisteus, juíz em Israel, vidente que soluciona a questão das jumentas de Saul (cfr. 1 Sm 9). Exerce também funções sacerdotais, oferecendo sacrifícios de comunhão e holocaustos.

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Sobretudo, Samuel é Profeta: é o homem que transmite a palavra de Deus. Este dado é já visível no capítulo sobre a vocação (cfr. 1 Sm 3).

Outro traço profético de Samuel é a sua intervenção na política, ungindo Saul como rei. Esta unção recorda o que mais tarde Nathan fará com o rei Salomão (cfr. 1 Re 1, 11ss.) e o que Elias fará com respeito a Jehú (cfr. 1 Re19,16).

Ainda mais típico da missão profética, temos a denúncia do rei.

Em duas ocasiões Samuel enfrenta Saul (cfr. 1 Sm 13,7‐15; 15,10‐23), antecipando os grandes confrontos dos profetas com o poder político nas fases posteriores da história do profetismo em Israel.

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Alguns autores completam a imagem com outros detalhes que conhecemos de Samuel e apresentam estes grupos como fervorosos patriotas que acompanham os soldados ao combate.

Outros pensam que se tratava de escolas proféticas fundadas por Samuel, onde os jovens se preparavam para uma possível eleição divina ou se convertiam em doutores religiosos de Israel.

Os “grupos de profetas” (“hebel nebi’im”), aparecem mencionados em 1Sm 10, 5‐13 e 19,19‐24, apresentando a seguinte imagem: vivem em comunidade, liderados por Samuel; pelo menos numa ocasião, saem à rua precedidos de saltérios, tambores, flautas e cítaras.

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As Etapas do Profetismo BíblicoDesde as origens da monarquia até Amós

Desde a época dos Juízes até ao séc. VIII a.C. (altura em que aparecem os primeiros profetas escritores), podemos identificar três etapas no caminho da evolução do movimento profético.

A primeira etapa pode definir‐se como de proximidade física e distanciamento crítico em relação ao monarca.

Os mais famosos desta etapa são Gad e Nathan. Gad intervém em três ocasiões: aconselhando David a voltar a Judá (1 Sm 22,5); acusando‐o por ter realizado o recenseamento (2 Sm 24,11ss) e ordenando‐lhe que edifique um altar na eira de Arauna (2 Sm 24,18ss).Gad nunca se dirige ao povo: está sempre e só em relação directa com David.

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Nathan tem mais relevo. É o profeta principal da corte em três momentos decisivos da vida de David: quando o rei quer construir o templo (cfr. 2 Sm 7); quando David comete adultério com Betsabé e manda assassinar Urias (cfr. 2 Sm 12); e quando Salomão herda o trono (cfr. 1 Re 1,11‐48).

Considerá‐los profetas da corte, não é acusá‐los de servilismo. Eles nunca se venderam aos interesses do monarca.

Por isso, podemos definir a sua postura como de proximidade física e distanciamento crítico em relação ao monarca.

A segunda etapa caracteriza‐se pelo distanciamento físico que se vai estabelecendo entre o profeta e o rei.

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Um exemplo típico é o de Aías de Silo, acerca do qual nos falam dois relatos (1 Re 11,29‐39 e 14,1‐8). A palavra de Aías dirige‐se a Jeroboão I, rei de Israel, uma vez para prometer‐lhe o trono e outra para condená‐lo pela sua conduta. Isto mostra que o compromisso do profeta não é com o rei, mas sim com a palavra de Deus.

Aías não vive na corte, nem perto do rei: sai ao encontro de Jeroboão no caminho; é a própria esposa de Jeroboão que vai procurar o profeta.Assim também Miqueias, filho de Jemla.

A terceira etapa concilia o distanciamento progressivo da corte com a aproximação cada vez maior ao povo.O exemplo mais patente é o de Elias. De facto, Elias nunca pisa o palácio de Acab. Com o rei Ocozias, a conduta do profeta também não muda: nada pode obrigá‐lo a apresentar‐se diante do rei.

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Por outro lado, o profeta aproxima‐se do povo, como o demonstram os episódios da viúva de Sarepta (cfr. 1 Re 17,9‐24) e do juízo no monte Carmelo (cfr. 1 Re 18).Os passos de Elias serão retomados por Eliseu, o profeta mais popular do Antigo Testamento.

A partir de agora, os profetas dirigir‐se‐ão predominantemente ao povo

Não deixam de falar ao rei, já que este ocupa um posto capital na sociedade e na religião de Israel e da sua conduta dependem numerosas questões.

Mas estabeleceu‐se um contacto estreito entre o movimento profético e o povo e, cada vez mais, os laços entre os dois ir‐se‐ão estreitando.

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Elias desenvolve a sua actividade durante os reinados de Acab e Ocozias, isto é, entre 874 e 852 a. C., no Reino do Norte.

É um profeta itinerante, sem ligação a um santuário; aparece e desaparece de forma imprevisível. De certo modo, Elias é um novo Moisés.

A sua vida repete em parte o itinerário de Moisés: fuga para o deserto e refúgio num país estrangeiro (1 Re 17), sinais e prodígios, viagem ao Horeb (Sinai) que culmina na manifestação de Deus (1 Re 19,1‐18).

Há uma intenção premeditada por parte dos narradores ao apresentá‐lo desta forma: se Moisés foi o fundador da religião de YHWH, Elias será o seu maior defensor nos momentos de perigo.

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Eliseu, discípulo e continuador de Elias, apresenta‐se com dois traços dominantes: é taumaturgo, especializado em milagres relacionados com a água (2 Re 2,19‐22; 5,1‐19; 6,1‐7); é o profeta que dirige os movimentos políticos, sendo responsável pela mudança de dinastias (cfr. 2 Re 8,7‐15; 9,1‐13

Ligados a Eliseu aparecem grupos proféticos chamados “filhos dos profetas” (“benê nebi’im”), os continuadores dos grupos proféticos que existiram na época de Samuel …

… e que devem ter ajudado Eliseu na sua missão profética

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A Vocação Profética:Os relatos de vocação

Como é que um profeta se torna profeta ?Não há uma forma genérica. Cada um é um caso à parte, com experiências, sentimentos, descobertas, caminho e história própria. A singularidade de cada um ultrapassa o que há de comum a todos.

Podem‐se apontar alguns traços essenciais, comuns às várias experiências de vocação profética.

‐ Não surge por geração espontânea, nem é fruto de um acaso fortuito. Ele não é o resultado de uma acção fantástica de Deus que o atira do céu para o meio do mundo dos homens.

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É um homem que Deus chama; por sua parte, escuta o apelo de YHWH. Sensível a esse apelo, descobre que Deus lhe confia uma missão no meio da comunidade.

Chegaram‐nos vários relatos de vocação profética. Todos diferentes, embora com traços comuns.

Vocação de Isaías (Is 6,1‐13)O relato da vocação de Isaías pode ser dividido em três partes:

visão inicial (Is 6,1‐5)objecção e purificação (Is 6,6‐7)missão (Is 6,8‐13)

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Neste relato está sobretudo em causa uma reflexão sobre a vocação profética mais do que dados biográficos:

Não importa tanto a pessoa que se escolhe, a sua vida ou o seu destino; importa a Palavra de Deus, a missão que Deus confia a um homem

Vocação de Jeremias (Jr 1,4‐10)O relato da vocação de Jeremias pode ser dividido em seis partes:

encontro com Deus (Jr 1,4)discurso introdutório (Jr 1,5)objeção (Jr 1,6)ordem de Deus (Jr 1,7)palavras de alento (Jr 1,8)sinal (Jr 1,9‐10)

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No seu conjunto, é muito diferente do relato da vocação de Isaías; há também linhas gerais que se repetem. Em ambos, tudo está em função da Palavra de Deus que o profeta deve transmitir ao povo.

Vocação de Ezequiel (Ez 1‐3)O relato da vocação de Ezequiel aparece nos 3 primeiros capítulos com duas partes bem definidas:

visão (Ez 1) ‐ A visão inicial está em linha com a do relato de Isaías. As imagens de Ezequiel sublinham a grandeza e omnipotência de YHWHdiscurso divino (Ez 2‐3)O discurso de YHWH pode dividir‐se em cinco secções: 

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Primeira secção (Ez 2,3‐5)  ‐ coloca‐nos diante dos protagonistas típicos da vocação profética: Deus, o profeta e o Povo. A acção de Deus concretiza‐se no verbo “enviar” e a acção do profeta em proclamar: “isto diz o Senhor”.

A segunda secção (Ez 2,6‐7) ‐ procura retirar do profeta o sentimento de medo.  Por três vezes se repete a fórmula: “não tenhas medo”. É um elemento presente em quase todos os relatos de vocação.

Na terceira secção (Ez 2,8‐3,3), define‐se a atitude do profeta diante da Palavra de Deus: ele deve aceitá‐la, comê‐la, devorá‐la.

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Na quarta secção (Ez 3,4‐9) desenvolve‐se o tema das duas primeiras: a rebeldia de Israel e a fortaleza que Deus concede ao profeta para enfrentar o povo.Na quinta secção (Ez 3,10‐11) aparece um curioso convite a escutar atentamente e a aprender de memória todas as palavras que Deus diga. Ezequiel é como um discípulo que está atento ao que diz o mestre, a fim de poder repeti‐lo.

Uma vez mais o relato não se centra em aspectos psicológicos ou biográficos. O essencial é que a Palavra de Deus chegue a Israel, mesmo que este não A escute!

Deus fala; Ezequiel sabe que tem de levar essa mensagem a esse Povo esmagado pelo desespero no cativeiro da Babilónia.

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Elementos para entender a Vocação Profética

Para se entender a vocação profética, temos de pensar em pessoas mergulhadas num determinado ambiente cultural e teológico.O profeta é, em primeiro lugar, um homem do seu tempo, marcado pelas descobertas, conquistas, contradições e esperanças dos homens do seu tempo. Mas tem sobretudo uma fé profunda, e uma consciência muito forte da presença de Deus na própria vida.

O amadurecimento da fé, conduzirá a uma comunhão cada vez mais forte com Deus e à progressiva descoberta do projecto de Deus para o mundo e para os homens.A experiência de Deus, a vida de união e de comunhão com Deus vai impregnando de tal forma a vida do profeta, que ele aprende a interpretar todos os acontecimentos políticos, sociais e religiosos à luz de Deus e do seu projecto.

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Mas isto não explica tudo. Os relatos de vocação sugerem a existência de um momento na vida do profeta em que o apelo de Deus se tornou tão nítido e tão forte, que toda a experiência posterior do profeta foi marcada por esse instante.

Na experiência de qualquer “chamado” por Deus, há instantes desses. O que despertou a consciência de cada profeta? Um sonho? Uma leitura? Um apelo? Uma necessidade sentida nas contradições da vida?

Hoje, Deus “chama” de muitas formas. Às vezes descobre‐se o seu apelo no rosto de um pobre ou de um escravizado; outras vezes nas páginas dos jornais; outras nas necessidades da Igreja ou da sociedade; outras, nos acontecimentos turbulentos do presente; outras, mais simplesmente, nas palavras de um amigo ou de um mestre.

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Para cada profeta haverá um momento que seja fundamental  na vocação, um ponto de partida para o seu compromisso com Deus.

Os profetas bíblicos encontraram uma forma de descrever esse momento, servindo‐se de processos literários típicos da sua época e da sua cultura.

O fundamental desses relatos é a convicção de que o profeta é “chamado” por Deus; recebe de Deus uma missão; é enviado por Deus ao mundo.

A experiência profética não é estática. O profeta vai‐se apercebendo dia a dia do que Deus quer, deixa‐se questionar pelos sinais dos tempos. Descobre em cada dia o projecto de Deus, as respostas de Deus.

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É uma missão ininterrupta; as diretrizes são reveladas ao profeta dia a dia, momento a momento. O profeta é muito atento aos acontecimentos da história e da vida! É um homem de fé profunda, que conhece a Palavra de Deus e lê a história do mundo a essa luz. Frequentemente, os relatos proféticos apontam momentos de angústia e de crise para o profeta.

Jeremias, é paradigmático: é um homem tímido e sensível, que tem de dizer palavras duras ao povo, que é escarnecido por toda a gente e que se sente sozinho e abandonado pelas pessoas que pretende salvar.

Não é missão fácil ou atraente. Implica compromisso, desinstalação, solidão,às vezes rejeição. Por isso, os relatos da vocação apresentam a “objeção” do profeta. Mas o profeta sabe que não está só na luta; Deus que o chamou assisti‐lo‐á e alentá‐lo‐á, para que a sua missão se concretize.

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