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Antigo Testamento

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Antigo Testamento

ORAÇÃO

12 Vocação de Abraão ‐ 1*O SENHOR disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. 2*Farei de ti um grande povo, abençoar‐te‐ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos.  3Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.» 4*Abrão partiu, como o SENHOR lhe dissera, levando consigo Lot. Quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos. 5Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Haran, e partiram todos para a terra de Canaã, e chegaram à terra de Canaã. 6*Abrão percorreu‐a até ao lugar de Siquém, até aos carvalhos de Moré. Os cananeus viviam, então, naquela terra. 7*O SENHOR apareceu a Abrão e disse‐lhe: «Darei esta terra à tua descendência.» E Abrão construiu ali um altar ao SENHOR, que lhe tinha aparecido. 8Deixando esta região, prosseguiu até ao monte situado ao oriente de Betel, e montou ali as suas tendas, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente. Construiu também um altar ao SENHOR e invocou o seu nome. 9Abrão continuou a sua viagem, acampando aqui e ali, em direcção ao Négueb.

Acerca do maná, encontramos duas descrições diferentes:

Lecanora, que se encontra desde o Irão até Norte de África, que parece cair de dia, granuloso e aquado (Ex 16,14), do tamanho da semente do coentro, de cor branca, de sabor a mel

O outro é mais próprio da península sinaítica, “cai” de noite, é colorido como o bdélio (amarelo‐castanho), com sabor a azeite (Nm 11, 7‐9)

Tentativa de reconstrução histórico‐geográfica‐tribal

Hicsos: são príncipes estrangeiros semitas, oriundos da Síria‐Palestina, que se estabelecem no delta do Nilo a partir de 1720. De lá foram expulsos em 1552 por Amósis, e entrincheiraram‐se em Saruhen onde resistem até 1468. Fizeram sucessivas razias ao delta do Nilo

Simeonitas espiões – presos no Egipto (Gn 42, 19.24) durante o vizirato de José (talvez perto de 1506‐1494). São “feitos sair” ao encontro dos irmãos (Gn 43,23)

Simeonitas de Gósen – pastores, separados e abominados pelos egípcios, têm algumas folgas de libertação, durante as quais fazem caminhadas de 3 dias no deserto para oferecer sacrifícios (Ex 15,22)

Grupos indeterminados do território palestinense, controlados à distância pelo Egipto (“Rei do Egipto), que fazem carregamentos sob a vigilância dos escribas israelitas. 

Estes dados temos através das cartas de Tell‐el‐Amarna (séc. XIV a.C.), onde se referem os “servos” e os “chefes” locais na dependência da administração egípcia. Têm cessações de trabalho (shabat) à condição (Ex 5,5), em que nem sempre são bem sucedidos.

Por isso, os “escribas dos filhos de Israel” foram açoitados (Ex 5,14) e ameaçados com a espada (Ex 5,21). A eles se deve a única menção de uma fuga (Ex 14,5a). Neste cenário, o relacionamento com a administração egípcia é feita através dos “escribas” israelitas (Ex 5,14.15.19), na ausência expressa de Mosiés e de Aarão. É neste solo palestinense que se compreende a multiplicação dos israelitas (Ex 1,7)ou do povo dos israelitas  (Ex 1,9) ou “povo da terra” (Ex 5,5). Assim como o Faraó, visto da Palestina, é o Rei do Egipto, os israelitas são hebreus

Grupos indeterminados que são levados prisioneiros para construção das cidades‐armazém. Sob a vigilância dos opressores, serão expulsos através da via maris, ainda no séc. XIII. A ideologia J insere neste cenário as negociações de Moisés com o Faraó (Ex 7,8–10,27), que tem em vista o “serviço cultual” dos Ázimos, o abandono do serviço ao Faraó e o serviço exclusivo a YHWH.

J, na corte de Salomão, nada sabe de qualquer Êxodo; conhece a epopeia de libertação dos israelitas do domínio dos Hicsos; não há travessia do mar (os israelitas são convidados a ficarem quietos). Apenas viram os egípcios mortos à beira do mar e acreditaram. A acção é toda de YHWH.

O cenário de travessia do mar é redação de P, e, com base das tradições deste grupo, se narram as fixações no sul da palestina.

Moisés está ligado ao grupo E, mas a redação central de J inseriu‐o no seu texto narrativo numa altura em que Moisés era já a figura de unidade. 

Levitas de Aarão – estão na área de Seir/Edom, a sul do Mar Morto, no vale de Arabah, que podem ter experimentado a opressão egípcia (séc. XIII), que conjugam a libertação com um culto “festivo”, uma refeição sagrada, na presença de Deus (Ex 12,14; 13,16; 18,12b), na planície. Este culto pode andar associado a imagens (Ex 32,4), sem relação com o culto de Moisés, que é anicónico (Ex 20,6.23) e sacrificial

Grupos de Moisés – descendentes de José, é constituído pelos que se individualizarão no terreno da Palestina central, sob os nomes de Efraim‐Benjamim e Manassés‐Maquir. Estarão no Egipto desde finais do séc. XVI, com estatuto de “estrangeiros residentes”, em boas relações com os egípcios, com propriedades juridicamente reconhecidas, com amigos e amigas. Em meados do séc. XIII são forçados a sair por Moisés, em cumprimento da missão que lhe fora confiada por Deus, num encontro “não programado” (Ex 3,1‐6.12)

Este grupo contaria com cerca de 1000 pessoas; mercê das alianças com edomitas, madianitas e quenitas, poderia ter contado com 3000 pessoas, uma força não negligenciável para a época de 300 a 600 homens armados. Pode ter sido em conjunto que enfrentam as tropas de Merneptah. Talvez por isso os baixos‐relevos de Karnak representam os israelitas com roupas de cananeus e não dos Shasu que andam pelos desertos. Este grupo terá entrado na Cisjordânia, passando pela Transjordânia, evitando a entrada pelo sul palestinense e contornando Edom e Moab.

Páscoa – ritos apotropaicos (afastar de), realizados por pastores semi‐nómadas do deserto. Era um sacrifício nocturno, à luz da lua (de dia, os pastores andavam ocupados com o rebanho). Não seria necessariamente um cordeiro (o cabrito aparece muitas vezes). Devia ser oferecido com o bolo folhado de pão não‐levedado, próprio dos pastores nómadas que condimentam o seu alimento frugal com ervas do deserto, e não com plantas da horta

O sangue do animal imolado era oferecido com o bolo folhado do pão não levedado (próprio de pastores nómadas) na primeira noite de lua cheia da primavera para afastar os golpes do “exterminador” (Ex 12,23) 

Há uma sedentarização: fala‐se de casas em vez de tendas, localizando‐as no Egipto.

A Festa dos Ázimos e a Festa da Páscoa aparecem emaranhadas

A Aliança Bíblica não é questão de Palavras, não é questão de negócios ou de tratados. Não é uma obrigação que Deus impõe a si próprio em função de um terceiro [= Promessa], não é obrigação que Ele impõe a um terceiro [=Lei].

A Aliança Bíblica

A Aliança deve ser transferida do meramente conceptual  e terminológico para o domínio do acontecimento.  Este acontecimento tem a ver sobretudo e em primeiro lugar com YHWH que vem ao encontro de Israel

O acontecimento da Aliança assenta na manifestação de Deus ao Homem. A Deus a iniciativa; ao homem compete reconhecer quem é este Deus que veio ao seu encontro, quem é o homem perante este Deus, e que encontro é este, para o qual não veio, não sabia, nem podia vir por si.

Assim encontrado, maravilhado, surpreendido, o homem reconhece que quer permanecer neste encontro. Deus e a sua palavra são o lugar da vida.

É um acontecimento complexo, pessoal, vivo, envolvente. Começa com uma teofania, em que o outro vem de fora (e‐vento) do meu horizonte natural e físico.

Começa quando eu, no meio das minhas cogitações, sou encontrado pelo Deus Outro, diferente de qualquer outro, e caio maravilhado, com o rosto por terra, ou entre as mãos.

Esse Deus, entregando‐se a mim, me entrega a mim, e me entrega todos e tudo como uma dádiva. 

“Dar – receber (aceitar) – Voltar a dar” – são os três actos com que se organiza a ordem simbólica do sistema do dom‐permuta.

Neste contexto, a histórica bíblica é uma imensa dádiva de Deus, que coloca o homem em estado agraciado de recitação e reclama a responsabilidade do homem. Dom e tarefa!

Na sua entrega, Deus institui a  minha liberdade, entrega‐me a mim. Ao entregar‐se a mim, fica completamente dependente de mim: é o Rosto imperativo do mandamento que institui a minha liberdade e responsabilidade. 

A sua palavra não é um conjunto de princípios eternos e universais. Tem Rosto. Interpela‐me. Precisa do meu rosto, do meu tempo e da minha palavra. Vai‐se dizendo na medida em que recebe de mim espaço e tempo para se exprimir. Por isso, a história bíblica é quase sempre recitação

A história, sabe‐se; a recitação acredita‐se!

O “arquivo neutro” da história consigna o que é passado; a recitação apresenta o que se passou. A diferença está na formalidade da enunciação (não no carácter credível ou não do conteúdo).

A recitação institui, cria, para aquele que enuncia, presente e futuro. Atribui a Deus toda a acção de Salvação. Não elimina a acção do homem; recitar o passado é fazer a decisão

O mandamento bíblico é outra imensa dádiva. Encontrado por Deus, Israel vive de Deus, com Deus e para Deus. Não pode, portanto, viver segundo o próprio capricho. É percorrer o caminho contrário ao caminho ruinoso de Adam. 

O mandamento é a palavra que quebra o meu determinismo natural, desiderativo, projectual e espontâneo. Faz‐me nascer para a liberdade e para a responsabilidade através da obediência. Só assim se pode saciar o meu desejo mais profundo: Conhecer como sou conhecido!

Em boa verdade, somos sempre primeiro falados por Deus no acto com que nos cria!

Somos dádiva: dada, recebida, correspondida‐obedecida. A dádiva não é um acrescento ao nosso ser. Ela é o nosso ser verdadeiro, verdadeira intencionalidade do criador.

Esta é a chama que vai sendo passada a todos os grupos do futuro Israel. 

As fórmulas: “Ir ao deserto fazer um sacrifício”, “Servir YHWH”, “Servir a Deus sobre este monte”, “fazer uma festa” – serão indícios cultuais tribais anteriores ao grande encontro mortal, criacional, fundacional e principal! O Povo de Israel começa verdadeiramente a nascer aqui.

Não é estranho que Moisés se desdobre em “fraternidades” e “parentescos”.  Está presente nas experiências de opressão e de libertação de outros grupos, outros tempos e outros espaços.

Moisés é o grande legislador. Ainda não há muito tempo se dizia que era o autor do Pentateuco. Hoje, pode‐se dizer que é a base do edifício bíblico do Pentateuco e da história de Israel.

Também nós hoje. Em causa está não tanto a opressão imposta por terceiros, mas a nossa própria violência e opressão. Dos nossos ídolos  [=recondução da nossa existência para dentro do princípio natural] para a liberdade da dádiva.

Através do eleito, Deus oferece à humanidade a sua bênção salvadora. Não a impõe.

Deus, oferece a sua bênção, e liberta‐se de todo o controlo sobre ela. Todos os homens são convidados a prestar o seu consentimento livre.Deus confia nos homens: no eleito, e nos outros. Deus recusa a “concorrência”, fruto da posse e da inveja. A bênção salvadora de Deus nada tem de mágico. Atrás da aparente preferência pelo eleito, esconde‐se, na verdade, o amor de Deus por toda a humanidade.

São recitadas dentro de Israel, são agora parte da história de Israel. O que foram, fora do contexto da história de Israel, é introduzido, como se lê em Ex 6,2‐3)

Mesmo remontando a fase normativa da religião a Moisés, as narrativas patriarcais não são alheias à sua história (pré‐história)

Narrativas Patriarcais

Há uma novidade da fase iniciada por Moisés; mas há continuidade com a religiosidade patriarcal (designa “pais das famílias israelitas”; em sentido mais amplo, é aplicável aos 10 “chefes” pré‐diluvianos: Adão, Set, Enós, Quemam, Maalalel, Jéred, Henoc, Matusalém, Lamec, Noé), bem como aos 10 que ligam Noé a Abraão (Sem, Arfaxad, Chela, Héber, Péleg, Reú, Serug, Naor, Tera, Abraão – Gn 11, 10‐26).

Vamos fixar‐nos apenas nos patriarcas Abraão, Isaac e Jacob.

Abraão é a grande referência, é o “pai” (Jo 8,39); ninguém pode ser pai como ele, nesta longa cadeia. A paternidade dos outros fica limitada aos próprios filhos.

Ciclo de Abraão: Gn 12, 1—25,18)Ciclo de Isaac: Gn 26

Ciclo de Jacob Gn 25,19—36,43)

A existência humana era normalmente experimentada na sucessão de gerações, não no conceito de indivíduo; recitando as histórias dos pais os descendentes encontravam a sua identidade.

Assim, percebemos que estas histórias atravessem séculos, e que os transmissores e os recetores entrem também na recitação, enriquecendo‐a com os seus valores e sabores. Assim se entendem os aparentes anacronismos e incongruências, repetições e o tom circular das narrativas.

O texto exprime essa imensa recitação: transporta o carácter teofânico “principal” que marcou a vida dos patriarcas, das muitas gerações de recitadores. Pretende envolver‐nos a nós, nessa aventura.

As narrativas patriarcais transportam uma imensa avalancha de dados, alguns dos quais remontam certamente à própria vida dos patriarcas: os seus nomes, a sua vida de pastores semi‐nómadas, a sua religiosidade específica, práticas jurídicas. A jusante entrarão os “anacronismos”, e alinhamento genealógico e teológico.

Abrão [amorreu – “pai que é exaltado”; acádico: “pai que ama”]. Ao aumentar de uma para duas sílabas, ganha o sentido de “pai da multidão”

Isaac é formado por um verbo no imperfeito [sorrir, ser favorável] – que Deus ria, que seja favorável. No entanto, na Bíblia, o facto de YHWH rir nunca está associado com favor, mas sempre com escárnio. Assim, explica‐se o nome como o “riso de Abraão ou de Sara”

Jacob [=proteger], significaria “Deus protege” ou “que Deus proteja”. No hebraico, ‘aqab já não significava “proteger”, mas sim suplantar, ou como substantivo “calcanhar” (Gn 25,26)

As narrativas patriarcais mostram‐nos os patriarcas como pastores de gado miúdo, que levam uma vida semi‐nómada, deslocando‐se lentamente “ao passo do rebanho e das crianças” (Gn 33,14). Não entram no deserto (têm um percurso preciso), nem nas terras cultivadas. Não manifestam desejo de ocupar ou de conquistar terras cultivadas ou cidades‐estado. Têm uma relação harmoniosa com os sedentários. Os conflitos e lutas começarão mais tarde quando os grupos do “futuro Israel” quiserem ocupar a terra.

Note‐se que os juízos negativos acerca de Canaã e dos Cananeus (que aparecem continuamente no AT a partir do Êxodo) estão ausentes das narrativas patriarcais.

Neste clima, Deus aparece a estabelecer uma relação com os patriarcas. A familiaridade é uma característica fundamental desta religiosidade. A tradição sucessiva, para falar de Deus, dirá apenas “o Deus de meu pai”. É um Deus sereno e pacífico, nunca se exalta ou castiga. Não é chamado de “Santo”, “Justo” ou “Guerreiro”.

Em claro contraponto com o que se seguirá a Moisés e ao Êxodo, não encontramos o conceito de “pecado” e de “julgamento”, nem o encadeado “pecado‐castigo”, nem o esquema “Pecado/castigo‐Conversão/salvação). Em contraponto com o que se seguirá a Moisés, a religiosidade patriarcal não é agressiva nem intolerante (Dt 7,5).Abraão e Melquisedec (Gn 14,18‐22), Abraão e Abimelec (Gn 20,17), José e o Faraó (Gn 41,38‐39) relacionam‐se com o mesmo Deus, sem todavia haver um sincretismo.

O sincretismo começará mais tarde quando Israel se fixar na terra e quiser tornar‐se como os outros povos autóctones.

O culto dos patriarcas não tem lugar fixo, nem pessoal especializado (sacerdotes) nem calendário próprio (festas). Não há referência à observância do shabat, nem a leis alimentares.Tem um cunho familiar, sem regras. O próprio Abraão ergue altares e oficia numa grande variedade de locais. Tais comportamentos atentam contra a lei deuteronómica, que impõe a centralização do culto num único local (Dt 12, 2‐5).

Salta à vista a menção de Ur como pátria de proveniência de Abraão (Gn 11,28…). Talvez porque redigido em época exílica. Os deportados habitavam a região dos Caldeus, no império da neo‐babilónia. Escutando esta recitação e transmitindo‐a, acalentavam a esperança, pois também já Abraão tinha habitado aquela terra e Deus o tinha conduzido para a da promessa.É mencionado o camelo no contexto das movimentações aramaicas. O camelo como animal domesticado, remonta ao séc. XII a.C.

Os clãs patriarcais de Abraão, Isaac e de Jacob seriam originariamente independentes. Terão entrado em Canaã independentemente uns dos outros. Com o passar dos tempos, fixam‐se em locais diferentes: Abraão na região do Hebron e Mambré (coração do território de Caleb), mais tarde Judá; Isaac na Bersabeia, território de Simeão, mais tarde Judá; Jacob em Galaad, vale de Jacob e Norte de Siquém. Depois se fundirá com o vizinho Israel, à volta do santuário de Silo.

A fixação de Abraão em Hebron dificilmente poderá ser de redacção pós exílio: após 587, o Hebron é ocupado por invasores edomitas (e só reconquistado em 163 por Judas Macabeu. Relatos pós exílio, dificilmente optariam por um cenário excêntrico (fora do centro), em vez de, por exemplo, Jerusalém (mencionado em toda a história patriarcal). 

Esta tradição de Abraão pode provir dos calebitas, recolhidas durante o reinado de David em Hebron (cerca de 1004‐997). David tem à sua volta calebitas e simeonitas, associando Isaac a Abraão

Ao contrário, Amalec e Ismael são afastados (2Sm 1,8‐13; Gn 25,12‐18). Poderá ser deste tempo que Moab e Amon, povos a oriente do Mar Morto, amigos de David, se juntam como “irmãos” dos “judeus” (Gn 13,8). Moab e Amon conservavam as tradições de Lot, seu pai (Gn 19,36‐38), “irmão” de Abraão (Gn 13,8).

Só no séc. VII se alinhará Abraão, Isaac e Jacob. No séc. VIII (Am 7,9.16), Jacob aparece ainda em paralelo com Isaac, o primeiro representado o Norte, o segundo o Sul.

Faz‐se aqui a experiência da bênção salvadora de Deus, abandonando atitudes de posse, cobiça e inveja, oferecendo a bênção a um não‐eleito. Um face a todos. Para que também o não‐eleito, interpelado pelo eleito, acolha a bênção. Até que o próprio inimigo recite o modelo narrativo de Israel (Jz 2,10‐13).

Existência ou não de Abraão: porquê um nome comum do Próximo Oriente Antigo e não Teóforo?

Porque exerce ele (ele mesmo, não sacerdotes, sem datas calendarizadas – festas) o culto em tantos lugares e altares, contra as leis deuteronómicas (centralização); e como não estão presentes as leis alimentares nem o shabat?Como entender a ausência do conceito de pecado e de julgamento, de castigo e conversão?Porque passam eles na terra como “estrangeiros residentes” e não ocupantes?Porquê um meio sociológico e religioso tão dispar do Israel histórico?

Porquê a fixação em Hebron Mambré, se este é ocupado por invasores edomitas no exílio e pós, até Judas Macabeu?Podemos situar Abraão nos alvores do II milénio a. C. a sua vida histórica foi preservada pela tradição. É importante para quem se ocupa da seriedade da fé bíblica. A fé é informada e não cega!Sem Abraão, perder‐se‐ia uma pedra importante nas fundações do judaísmo e do cristianismo. 

• As narrativas patriarcais mostram‐nos os patriarcas como pastores de gado miúdo, que levam uma vida semi‐nómada, deslocando‐se lentamente “ao passo do rebanho e das crianças” (Gn 33,14). Não entram no deserto (têm um percurso preciso), nem nas terras cultivadas. Não manifestam desejo de ocupar ou de conquistar terras cultivadas ou cidades‐estado. Têm uma relação harmoniosa com os sedentários. Os conflitos e lutas começarão mais tarde quando os grupos do “futuro Israel” quiserem ocupar a terra.

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