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PERMANECER SÓBRIO UM GUIA PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS TERENCE T. GORSKI e MIRLENE MILLER PREFÁCIO DE PADRE MARTIN BASEADO NO MODELO DE TRATAMENTO CENAPS

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PERMANECER SÓBRIO

UM GUIA PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS TERENCE T. GORSKI e MIRLENE MILLER

PREFÁCIO DE PADRE MARTIN

BASEADO NO MODELO DE TRATAMENTO CENAPS

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ..................................................................................................... 3 PREFÁCIO DO AUTOR ................................................................................ 4 CAPÍTULO I - Recaída na doença adictiva .................................................. 8 CAPÍTULO II - Doença da adicção ............................................................... 11 CAPÍTULO III - Síndrome da abstinência demorada ................................... 20 CAPÍTULO IV - Recuperação e recuperação parcial ................................... 30 CAPÍTULO V - Crenças errôneas sobre recuperação e recaída .................. 43 CAPÍTULO VI - Entendendo o processo de recaída ..................................... 49 CAPÍTULO VII - A síndrome da recaída ....................................................... 56 CAPÍTULO VIII - Plano de prevenção de recaída ........................................ 69 CAPÍTULO IX - O envolvimento da família na síndrome da recaída ........... 73 CAPÍTULO X - Grupo de auto-ajuda - prevenção de recaída ...................... 83 PALAVRA FINAL ........................................................................................... 92

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Acredito nos conceitos descritos neste manual. Tão forte é a minha

crença na sua eficácia que estamos implementando um efetivo Centro de

Prevenção de Recaídas em Dependência Química.

Acredito que este livro junto com este manual de trabalho podem dar-

lhe informações valiosas que podem salvar vidas. Ao tentar entender e

aplicar estas informações e você não conseguir sozinho, não perca a

esperança. Existem muitos bons centros de tratamento que podem ajudá-lo

com Planos de Prevenção de Recaídas.

Não importa o que seja feito, porém, algumas pessoas morrem desta

doença terminal. Porém, muitos continuarão a morrer porque não

entendemos como tratar o fenômeno da recaída.

Um Plano de Prevenção de Recaída é uma nova aproximação

poderosa que está ajudando milhares a escaparem do que era uma sentença

de morte.

É importante que transmitamos a mensagem para o alcoólico com

tendência a recair, que existe esperança.

É importante que transmitamos a mensagem para os Centros de

Tratamento, pois temos a obrigação moral de nos esforçar ao máximo para

tratar o mais doente dos doentes na fileira dos alcoólicos.

Acredito que este livro abre um excelente caminho para começar a

ajudar pessoas que foram antes consideradas sem esperança.

Padre Joseph C. Martin

Co-fundador Padre Martin’s Ashlcy

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PREFÁCIO

Todos têm consciência da natureza básica destrutiva da doença do alcoolismo. Ela afeta suas vítimas no corpo, mente, emoção e alma. Pela sua natureza é uma doença terminal.

Sabemos que é uma doença que não pode ser curada, mas que pode ser detida.

Centenas de milhares de alcoólicos nos últimos 50 anos detiveram sua doença e vivem felizes, efetivas, produtivas e sóbrias. Porém, uma das grandes tragédias neste campo é o fato de que muitos alcoólicos ficam bem por um tempo e então voltam a beber.

É dito que aproximadamente metade dos alcoólicos que chegam a porta da sobriedade, entram e ficam. Dos outros, muitos ficam um tempo e tem uma ou mais recaídas e então entendem sobre a necessidade de uma vida sóbria e ficam sóbrios até a morte.

Dos remanescentes alcoólicos, muitos passam pelo que chamamos de “porta circular”, várias vezes: às vezes sóbrios, às vezes voltando a beber. Alguns deles, naturalmente, eventualmente morrem.

Terry Gorski, no início de sua carreira profissional, foi encaminhado para tentar ajudar aqueles “no fim da estrada”. Ele sentiu que alguns deles, obviamente, eram totalmente incapazes de ficar bem; o dano feito a eles por sua maneira de beber era muito grande para ser reparado.

Os demais, porém, ele sentiu que era possível ajudá-los a conseguir a sobriedade que outros tinham conseguido com mais facilidade que eles.

E assim este jovem gastou 15 anos de sua vida (e ainda continua) estudando estória de caso após estória de caso, chegando já a milhares destes pobres infelizes que voltam de vez em quando a beber.

Disto tudo veio o modelo CENAPS para prevenção de recaídas. Integra Alcoólicos Anônimos com tratamento profissional e cria um mapa rodoviário ou Guia para a Recuperação. Como ele diz este guia não tem novidade. O que ele fez foi integrar a sabedoria do programa de recuperação do A.A. com toda a pesquisa das últimas décadas.

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PREFÁCIO DO AUTOR

No início de 1970, estava trabalhando como Consultor em Alcoolismo no Hospital Grant em Chicago. Começando em Junho de 1971, fui designado em tempo integral com a responsabilidade do departamento ambulatorial. Como tinha pouco tempo na agência, eu tinha poucas condições de conseguir “pacientes com um bom prognóstico”.

Eram encaminhados a mim os pacientes mais difíceis, muitos dos quais passaram por tratamento várias vezes sem alcançar a sobriedade. Na hora fiquei preocupado. Acreditava que podia trabalhar com qualquer um. Nunca ninguém me disse que estes pacientes com tendência a recaída eram casos sem esperança, logo eu esperava que eles simplesmente se recuperassem.

Quando todos os casos são exclusivamente compostos de indivíduos com tendência a recaída, pode ser uma tarefa avassaladora, mas comecei a aprender logo.

A primeira coisa que aprendi foi que muitos pacientes recaídos tinham experimentado tudo que aconselhamento de alcoolismo e psicoterapia tradicional tinham a oferecer. Também aprendi que muitos conheciam mais de passos e tradições de A.A que eu próprio. Conheciam o Livro Grande (Alcoólicos Anônimos) e os Doze Passos e as Doze Tradições.

Muitos tiveram longos períodos de abstinência praticando os princípios do AA., mas por algum motivo eles não conseguiram colocar estes princípios em suas vidas.

Muitos sentiam que eram “incapazes constitucionalmente de recuperação” e falavam da declaração no Capítulo 5 de “Alcoólicos Anônimos” que descreve estes desafortunados que não podem se recuperar.

Eu tinha sido treinado num estilo de terapia bastante confrontativo. Logo, aprendi que Confronto não funciona com pacientes recaídos porque uma coisa que eles têm mais experiência que qualquer um é lidar com pessoas que fazem confrontos. Quase que diariamente eles foram confrontados por quase todos: empregadores, esposas, filhos, terapeutas, consultores, policiais, etc... Se existe algo que eles conhecem é lidar com confronto.

Logo percebi que este grupo de pacientes era mais difícil que qualquer terapeuta poderia ter. Tendem a se colocarem para baixo. Sua auto-estima todo tempo está baixa.

Durante vários meses tentando trabalhar com estes pacientes, tive pouco sucesso. Decidi esquecer tudo sobre o aconselhamento tradicional em alcoolismo e comecei a aprender com os verdadeiros especialistas, os próprios pacientes.

Ao invés de partir para sofisticados Planos de Tratamento, Estratégias de Tratamento altamente confrontativos e Programas de Tratamento muito estruturados, adotei uma aproximação mais simples.

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Primeiro, peço para cada paciente assistir pelo menos 3 reuniões de AA. por semana.

Segundo, preparei um grupo especial de terapia de 3 horas que ajuda as pessoas a se comunicarem com outras, como experimentar e falar sobre emoções e sentimentos e como identificar estruturas gerais de comportamento no grupo, para então aplicar estas estruturas e problemas que ocorrerem em outras áreas de suas vidas.

A terceira parte do tratamento consiste de sessões de terapia individual que eram devotadas quase que exclusivamente a construir uma detalhada estória de recaída. Eram encorajados a começar com a última vez que iniciara um período de sobriedade. Fiquei surpreso ao achar que muitos estavam convencidos que eram alcoólicos, que precisavam de um Programa de Recuperação Progressivo antes de sua recaída mais recente.

Também fiquei surpreso de ver que muitas dessas pessoas eram muito motivadas para ficarem sóbrias. Elas não queriam recair. Estavam dispostas em usar o AA., Aconselhamento Profissional e tudo o mais que um Programa de Tratamento recomendasse.

Alguns tinham experimentado a terapia de choques elétricos ou Tratamento de Aversão (onde vomitavam depois que bebiam). Outros ficavam presos voluntariamente por meses. Muitos se embebedavam novamente apesar destes esforços intensivos.

Meu objetivo em coletar estas estórias de recaídas era reunir passo a passo um detalhado registro de como alguém que queria a sobriedade e com conhecimento sobre alcoolismo voltava a beber. Como poderiam os alcoólicos convencerem-se a si mesmos a beber sabendo que a bebida poderá matá-los?

O que aprendi coletando estas estórias de recaídas foi que haviam muitas similaridades entre os pacientes. Parecia que muitas seguiam a mesma estrutura de pensamento, reações emocionais, comportamentais e situações de vida que levavam à recaída.

Após ver cinco ou seis estórias descobri como é difícil para estes alcoólicos em recuperação arranjarem seus pensamentos, seus sentimentos. Tornou-se aparente que eles não eram capazes de pensar claramente, processar seus sentimentos e emoções e até mesmo lembrar de coisas. Sua habilidade para lidar com abstrações, reconstruir suas histórias era muito limitada. As próprias estórias levavam de seis a dez horas para serem completadas. As pessoas tinham grandes lacunas na memória. Grandes períodos de tempo que não se lembravam. Também tinham muita dificuldade para reunir eventos passados na mesma ordem de seqüência lógica. Quando pedia a eles que descrevessem o que certas dificuldades ou ações significavam, foram incapazes de indicar o seu significado. Podiam lidar com lembranças concretas, mas tinham grande dificuldade para abstrair e generalizar o significado destas experiências para outras situações de vida.

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Após completar quase 10 estórias, comparei os resultados. Percebi as semelhanças e comecei a construir uma lista comum do que chamei sinais de aviso de recaída. Em vez de começar uma estória com um novo paciente, mostrei-lhe a lista de sinais de aviso. Então os sinais eram uma simples lista de palavras e pequenas frases como: negação, comportamento defensivo, crises de crescimento, etc . Explicava o que cada um significava numa sessão de terapia individual e usava isto para estimular sua memória para ver se eles tinham experimentado estas coisas.

Descobrir que usando a lista podia se acelerar o processo de estórias. Também descobri que no grupo de terapia, mais e mais pacientes voluntariamente falavam sobre os seus sinais de aviso de recaída. Muitos também começaram a identificar estruturas que levaram a beber no passado. Perceberam estes mesmos sinais quando começaram a reconhecê-los na sua sobriedade atual.

A focalização do grupo mudou rapidamente de um grupo psicologicamente bem orientado para o crescimento, para um concreto grupo de terapia orientado para Prevenção de Recaída.

O foco era identificar os concretos sinais de recaída, reconhecê-los em situações de vida real e aprender como tomar passos concretos para revertê-los.

Embora então eu não soubesse, este grupo de três horas de terapia junto com o processo de estória de recaída individual e o envolvimento contínuo com o AA., tornou-se a base de uma compreensiva prática e Teoria da Recaída que tornou-se conhecida como Plano de Prevenção de Recaídas.

Durante dois anos como terapeuta do ambulatório, coletei 118 estórias de recaídas e comecei a tarefa de analisar em detalhes estas estórias.

O resultado final disto foi uma lista revisada com 37 sinais de aviso que foram apoiados pelas estruturas gerais que eram evidentes nestas estórias.

Em Junho de 1973, deixei o Hospital Grant para começar a trabalhar como Coordenador de Programa de Apoio ao empregado para o exército em Fort Sheridan - Illinois. Mais trabalho foi acrescentando na área de Prevenção de Recaídas. Em agosto de 1974 tornei-me o Diretor do Departamento de Serviços em Alcoolismo no Hospital Central da Comunidade em Illinois, agora Hospital de Comunidade Hyde Park em Chicago, Illinois.

Posteriormente a dinâmica neste hospital confirmou a dinâmica da recaída.

Em 1976, tornei-me Diretor do Centro de Tratamento em Alcoolismo no Hospital Memorial Ingalls em Harvey, Illinois. Comecei a trabalhar exclusivamente com o Dr. Harry Hannij, M.D., juntos trabalhamos com pacientes com tendência à recaída.

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Tínhamos um Centro de Reabilitação de Alcoolismo Tradicional, mas logo reconhecemos a necessidade de dar serviços especiais para pacientes com tendência à recaída.

Todos os membros da equipe foram treinados nos princípios básicos de prevenção de recaídas. Identificamos as atitudes contraprodutivas e crenças erradas que aumentavam o problema de recaída. Também reavaliamos nossa política de confronto pesado e começamos a separar os pacientes que não tinham motivação para aceitar o tratamento daquele que aceitava o tratamento, mas para quem o tratamento tradicional não funcionava.

Descobrimos que após a terapia de Prevenção de Recaída, estes pacientes tinham menos recaídas e experimentavam maiores períodos de sobriedade. Se voltavam ao uso de álcool e drogas, suas recaídas tendiam a ser mais curtas e a severidade das conseqüências eram menores do que aqueles tratados com outros métodos. Estavam esperançosos e excitados.

Em 1979 associei-me a Mirlene Miller, profissional de educação e escritora.

Juntos começamos a organizar o material que iria agir como base de um novo modelo de aconselhamento baseado principalmente sobre técnicas de prevenção de recaídas.

Nossa Organização inicialmente chamou-se Alcooholism Systems Associates (ASA) e funcionava em Hazeleret, Illinois.

Fazíamos treinamento local na área de Chicago e lentamente uma reputação nacional por estes métodos começou a ser construída.

Em 1982, publicamos um livro intitulado: “Aconselhamento para Prevenção de Recaídas”, que tornou explícito pela primeira vez os princípios básicos e estratégicos do Plano de Prevenção de Recaída.

A primeira metade do livro foi devotada à Teoria da Recaída. Este livro foi escrito para consultores, muitas pessoas em recuperação começaram a usar em sua própria recuperação.

No início dos anos 80, tomamos conhecimento do trabalho de G. Alan Marlatti e seus associados do Centro de Pesquisas do Comportamento Aditivo da Universidade de Washington, em Seattle. Embora seu trabalho venha de uma escola de pensamento de conceito da doença, os atuais procedimentos de tratamentos para prevenir recaídas são bastante parecidos. A Escola Behaviorista contribui muito para a pesquisa, confirmando a eficácia do Plano de Prevenção de Recaída.

Em 1985 o livro Prevenção de Recaída, editado por G. Alan Marlatti e Judith A. Gordon reuniu junto pela primeira vez um sumário e integração desta pesquisa empírica.

Este presente livro, PERMANECER SÓBRIO - UM GUIA PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS é um esforço para atualizar o modelo de Prevenção de Recaídas com as novas informações que foram aprendidas desde nosso livro anterior. É também um esforço para trazer aos membros

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de comunidade em recuperação, informações vitais que podem significar a diferença entre a vida e a morte.

É minha esperança e de Mirlene que a informação deste livro permita-os compartilhar com a experiência acumulada de muitos milhares de alcoólicos que direta ou indiretamente contribuíram para o desenvolvimento deste modelo.

O livro é apresentado num esforço para compartilhar nossas experiências e esperanças com você.

Queremos que você tenha esperança. Neste espírito vamos juntos começar uma jornada. Uma jornada que irá resumir nestas páginas o conhecimento essencial sobre Prevenção de Recaídas que nos levou 15 anos para resumir.

(TERENCE T. GORSKI)

CAPÍTULO I

RECAÍDA NA DOENÇA ADICTIVA

Este é um livro sobre Recaídas, o que é, e o mais importante, como pode ser prevenida.

O livro pretende confortar o que está perturbado e perturbar quem está confortável. Confortará o perturbado porque muitos recaídos são vítimas de crenças errôneas e recaíram porque não sabem como preveni-las.

Xingam-se pelas recaídas passadas e acreditam que não têm esperanças porque não sabem o que fazer para prevenir futuras recaídas. Pretendemos dar-lhes esperanças, corrigir suas crenças erradas e ajudá-los a estabelecer planos baseado em informação acurada que pode libertá-los da desesperança de repetidas recaídas.

Não pretendemos perturbar àqueles que estão confortáveis numa sobriedade saudável, mas pretendemos perturbar os ingenuamente confortáveis. São pessoas que acreditam que desde que estão abstêmios do álcool e das drogas e “levam o corpo” para as reuniões, não precisam se preocupar sobre recaída. Não sabem que recuperação é mais que isto. Não sabem que muitos indivíduos que estão assistindo reuniões, apesar de não estarem bebendo, não estão sóbrios. Eles apenas não estão bebendo ou usando drogas. Estas pessoas têm alto risco de recaída, embora muitos deles neguem o fato com toda a força. Pretendemos mostrar que encarando a possibilidade de recaída realisticamente é a única maneira de preveni-la.

A recaída é um processo complexo, não podendo ser explicado simplesmente. Tem muitos aspectos que precisam ser entendidos. Você precisa ler este livro mais de uma vez para realmente entender e aplicar os princípios que estamos tentando explicar. Como tudo é importante, é difícil

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saber por onde começar. Talvez ajudasse se disséssemos agora o que esperamos de você ao ler este livro.

Primeiro vamos discutir a doença adictiva. É impossível entender o processo de recaída sem entender a doença da qual recai.

Recaída é um problema que se aplica a uma variedade de adicções. Uma pessoa pode ser adicta ao álcool, drogas, sexo, comida, ao caos,

ou a outras drogas alteradoras do humor sejam elas produzidas exteriormente ou interiormente. Embora a maioria das pesquisas em recaídas foram feitas com alcoólicos (pessoas adictas à droga álcool), há uma evidência crescente que os mesmos métodos de prevenção de recaída podem ser usados para uma variedade de adicções. Devido a isto, para o propósito deste livro, usaremos os seguintes termos indistintamente: alcoolismo, dependência química, adicção e doença adictiva. Também usaremos o termo alcoólico e pessoa quimicamente dependente, adicto e pessoa adicta, para significar a mesma coisa.

Este livro foi escrito por pessoas em recuperação da adicção, dedicando-o a você (caso seja uma destas pessoas).

Acreditamos, porém que será valioso para aqueles que não são adictos, principalmente consultores e membros da família.

Discutiremos adicção como uma doença bio-psico-social. Sendo então uma doença física (bio) que também afeta a mente (psico) e os relacionamentos (social).

Há muito tempo se sabe que pessoas com uma doença adictiva experimentam reações anormais, não somente com o uso do adictivo químico, como também por não usar o químico. Quando várias pessoas pensam sobre a doença adicção pensam somente nos sintomas que ocorrem quando alguém está ativamente envolvido na adicção.

Eles não sabem que existem sintomas que surgem na abstinência. Estes sintomas baseados na sobriedade podem ser reativados a qualquer tempo durante a recuperação.

Vamos discutir alguns destes sintomas em detalhes no capítulo sobre: Síndrome de Abstinência Demorada. Então discutiremos técnicas que minimizarão os riscos da S. A.D.

Para entender e prevenir a recaída também é preciso entender o processo da recuperação e o que acontece quando a recuperação não é completa. Chamamos esta de recuperação e ver o que ocorre algumas vezes para bloquear uma recuperação completa.

Existem crenças erradas sobre a recaída que exploraremos com você. Estas crenças podem aumentar o risco das recaídas. Mudar algumas destas crenças permitirá que você mude o comportamento que leva à recaída.

Muitas pessoas pensam em usar adictivos químicos quando pensam em “recaídas”. Certamente o uso de adictivos é recaída.

Mas por pesquisas mais recentes, mais e mais pessoas vêm a perceber que o processo de recaída começa antes de usar a droga de

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preferência. As pessoas podem tornar-se disfuncionais na sobriedade sem beber ou usar. Podem perder a capacidade de julgamento e comportamento, desenvolver problemas emocionais ou físicos. Ficam disfuncionais na sobriedade antes de usar adictivos ou em vez de usar adictivos.

O processo de recaída vai além da idéia tradicional de recaída com o uso de álcool ou drogas para entender que o processo de recaída incluem atitudes e comportamentos que levam ao uso ativo de adictivos.

O processo de recaída é um movimento à parte de recuperação. Não significa que você precisa atingir um ponto difícil na recuperação ou estar experimentando alguma dor e luta na recuperação para estar recaindo. Significa que, em geral, você não está prestando atenção na sua recuperação e não está fazendo coisas que contribuem para o processo de recuperação, você pode estar movendo-se inconscientemente em direção à recaída. Se você estiver parado na recuperação parcial, você está com um alto risco de recaída.

Recuperação da doença da adicção começa com a aceitação do fato de que você não pode usar álcool ou drogas alteradoras de humor com segurança. Mas só saber que adictivos químicos são danosos não é o bastante: você precisa parar de usá-los. Não usar adictivos químicos é abstinência, e isso permite que o processo de recuperação comece. É o meio para um fim - o meio de viver normalmente. Aprender e viver normalmente sem uso de adictivos requer mais que abstinência.

É necessário corrigir os danos físicos, psicológicos e sociais a saúde, causados pela adicção. Também é necessário aprender a viver uma vida saudável e produtiva sem a necessidade de álcool ou outras drogas, ou mesmo de um comportamento adictivo. A pessoa adicta deve aprender a enfrentar a vida de uma maneira não adictiva.

Recaída e recuperação estão intimamente relacionadas. Você não pode experimentar recuperação de adicção sem experimentar uma tendência à recaída. Tendência à recaída é uma parte normal e natural do processo de recuperação. Não tem porque se envergonhar. Precisam tratar delas abertamente e honestamente, pois senão se tornarão mais fortes. Tendências e recaídas são parecidas com fungos venenosos. Crescem melhor na escuridão no segredo . A luz do pensamento claro e acurado tendem a matar as tendências à recaída rapidamente.

Quando os sintomas de adicção baseados na sobriedade tornam-se severos demais, a pessoa fica disfuncional embora não beba ou não use. No AA. estes episódios de disfunção são conhecidos como “bebedeira seca”. Neste livro chamamos isto de síndrome da recaída. Quando os sintomas da síndrome da recaída tornam a vida dolorosa demais, muitos alcoólicos preferem beber e usar drogas, para conseguir um alívio temporário da dor. Outros não bebem, mas desenvolvem sérios problemas de vida e de saúde relacionados à síndrome de recaída.

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É possível interromper a síndrome da recaída antes que ocorram conseqüências sérias trazendo os sinais de aviso de recaída que você está experimentando conscientemente.

Este é o plano de prevenção de recaída. Na parte final deste livro vamos explicar o plano de prevenção de recaída. Existe também um manual de trabalho disponível para guiar pelo processo e planejar a prevenção de recaída e ajudar a desenvolver um plano de prevenção de recaída a sua maneira.

CAPÍTULO II

DOENÇA DA ADICÇÃO

Para entender a recaída, é preciso entender a doença da adicção. As pessoas muitas vezes não conseguem se recuperar porque não entendem sua adicção, ou não conseguem fazer aquelas coisas que podem ajudá-las a evitar a recaída. Informação errada sobre a natureza da adicção é responsável por muitos tratamentos impróprios e incompletos que levam à recaída.

ADICTIVOS QUÍMICOS

Drogas alteradoras de humor são agentes químicos que produzem mudanças na função do cérebro por alterar a química do cérebro. Uma vez que a função do cérebro for alterada, a pessoa experimenta mudanças físicas, psicológicas e comportamentais como resultado direto.

Estas mudanças no funcionamento físico e psicológico, como também no comportamento, causam mudanças no relacionamento social. Todas as drogas alteradoras do humor têm o potencial de alterar o pensamento, danificar a mente e o corpo e afetar os comportamentos e relacionamentos. SE ELAS SÃO USADAS ADICTIVAMENTE OU NÃO. As extensões destas conseqüências dependem da droga usada, da pessoa que utiliza e em alguns casos, das circunstâncias em que é utilizada.

As principais drogas adictivas podem ser classificadas em quatro grupos: depressoras, estimulantes, analgésicas e alucinogênicas. As drogas mais comuns encontradas, pertencentes a estas categorias, estão listadas abaixo: 1- DEPRESSORAS: a) Álcool; b) Pílulas para dormir (barbitúricos e similares que agem como sedativos

hipnóticos); c) Tranqüilizantes (Librium, Valium, etc).

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2- ESTIMULANTES: a) Anfetaminas; b) Cocaína; c) Nicotina (tabaco); d) Cafeína. 3- ANALGÉSICOS a) Narcóticos; b) Derivados de narcóticos. 4- ALUCINOGÊNICAS: a) Alucinogênicos; b) Penciclidina (PCP); c) Cannabis (Maconha, haxixe, etc.). Aparte: 5- Comportamentais (que anestesiam, estimulam, deprimem)

a) Práticas de isolamento a anorexia b) Sexo compulsivo c) Fantasias de todos os tipos d) Sedução, troca de olhares e Luxúria Romântica e) Comer compulsivo f) Gastar Compulsivo g) Jogar h) Acesso a Internet compulsiva

A DOENÇA DA ADICÇÃO

“Adicção” é uma condição na qual uma pessoa desenvolve bio-psico-

social dependência com qualquer droga alteradora de humor. Uma adicção leva uma pessoa a usar droga para conseguir uma gratificação a curto prazo. Mas existe um preço a ser pago. Em longo prazo, a adicção é acompanhada por obsessão, compulsão e perda de controle. Quando não está usando, a pessoa que sofre de adicção está pensando, planejando ou procurando usar novamente (isto é a obsessão). O uso interfere com a maneira de viver, mas existe uma compulsão ou necessidade avassaladora para usar novamente, apesar das conseqüências dolorosas em longo prazo. A pessoa adicta usa a droga para aliviar a dor criada pelo seu uso. Assim o contínuo uso do químico leva ao contínuo uso do químico = isto é adicção.

Contínuo uso de adictivos químicos leva ao uso continuado de adictivos químicos.

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Adicção distingue-se de uso de droga pela falta de liberdade de escolha. Usar uma substância alteradora de humor é uma escolha. Adicção é uma condição que tira da pessoa a escolha, data e freqüência, quantidade e natureza do uso. Toda adicção começa com o uso, mas nem todo uso leva à adicção.

Adicção é uma doença física. Ela é classificada propriamente como o câncer, a doença do coração, o diabete, sendo uma doença crônica que em longo prazo produz danos físicos, psicológicos, sociais. Como as vítimas destas outras doenças, os alcoólicos têm condições físicas que os tornam suscetíveis ao desenvolvimento da doença.

Embora o alcoolismo, hoje em dia, é amplamente aceito como doença, até pouco tempo atrás era considerado um problema psicológico ou moral. O trabalho do Dr. Jelinck nos anos 50 e 60 levou à aceitação do alcoolismo como uma doença pela Associação Médica Americana (AMA), Sociedade Médica Americana sobre Alcoolismo (AMSA), Conselho Nacional de Alcoolismo (CNA), Associação Psiquiátrica Americana (APA) e Academia Americana de Prática Familiar. Também é considerada como doença pela Associação Psicológica Americana, Associação de Saúde Pública Americana e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Embora entre estes aceitem o alcoolismo como uma doença, existe uma crença comum de que sua causa primária é psicológica. Dr. James Milan deu uma importante contribuição ao reconhecer o alcoolismo como doença física primária. O Dr. Milan declara com ênfase que fatores psicológicos e sociais não representam um papel importante em alcoolismo como em qualquer doença crônica. Ele desafia a noção de que o alcoolismo é causado por susceptibilidade psicológica e apresenta o ponto de vista de que o corpo da pessoa que torna-se adicto ao álcool não reage ao álcool da mesma maneira ao de uma pessoa não adicta. Pesquisas atuais reforçam fortemente esta posição. A pesquisa de Charles Leiber, Marc Schuckit e outros indicam que algumas pessoas nascem com o corpo mais suscetível à adicção que outras.

Adicção como uma doença física primária, é afetada e afeta todos os aspectos de vida da pessoa.

Por esta razão chamamos a doença adictiva de uma doença bio-psico-social. “Bio” significa biológico ou do corpo. “Psico” significa psicológico ou da mente. “Social” refere-se ao relacionamento entre as pessoas.

A doença adictiva é bio-psico-social.

O estudo da química do cérebro que afeta a transmissão de mensagem pelas células nervosas está levando a um avanço no entendimento da adicção. Muitas respostas que estão sendo descobertas estão também levantando novas questões. O processo inteiro da ação química do cérebro é

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muito complexo, mas está claro que a química do cérebro numa pessoa adicta é diferente de uma pessoa não-adicta.

Muito está sendo aprendido no estudo do metabolismo do fígado mostrando que muitas pessoas com uma estória de alcoolismo na família metaboliza o álcool (quebram e o eliminam do corpo) de maneira diferente mesmo antes que haja qualquer indicação de um problema de bebida.

Estes estudos reforçam uma base hereditária e genética para a adicção. Pessoas com uma predisposição genética para o alcoolismo não estão pré-destinados a desenvolver a doença, mas têm um risco muito grande pela maneira como seus corpos reagem ao álcool.

Uma pessoa precisa usar álcool ou drogas para tornar-se adicta. A predisposição genética influenciará quanto álcool e droga e que

período de tempo será necessário para deflagrar a adicção, pessoas diferentes têm níveis diferentes de suscetibilidade genética ou herdada para a adicção. Em algumas pessoas uma pequena quantidade de álcool ou uso de drogas num curto período de tempo pode deflagrar a adicção. Outras pessoas podem usar álcool, drogas pesadas por muito tempo para que se desenvolva a doença adictiva.

Jack começou a usar álcool com 19 anos. Na primeira vez que usou álcool ele bebeu mais que pretendia, ficando bêbado e teve problemas com o uso da bebida. Jack nunca teve um dia de bebida normal. Com 26 anos, 7 anos após sua primeira bebida, Jack estava num hospital, seriamente doente por seu alcoolismo. Mais tarde no AA., Jack se descrevia como um “alcoólico instantâneo”.

Bill, de outra maneira, também começou a beber com 19 anos. Quase ficou bêbado. Seus primeiros problemas com o álcool começaram a aparecer na idade de 34 anos. O álcool não lhe causou problemas sérios até que completasse 46 anos. Bill teve 15 anos bebendo normalmente antes que seu alcoolismo se tornasse aparente.

As pessoas começam a usar álcool ou drogas por razões psico-sociais. Bebem porque se sentem bem (uma razão psicológica), porque os outros bebem, porque ajuda-os a fazer parte de seu grupo, ou porque são pressionados (razões sociais).

As pessoas se tornam adictas por razões físicas. Desenvolvem tolerância; precisam usar mais droga para conseguir o mesmo efeito. As células do corpo adaptam-se a altos níveis de droga e começam a funcionar normalmente quando ela está presente e isto leva à dependência. O corpo começa a precisar de droga: a falta da droga resultará em comoção física causando desconforto e doença.

Quanto mais as pessoas usam químicos para se sentir bem, menos elas aprendem a usar maneiras eficazes para experimentar e enfrentar sentimentos, situações e pessoas. Eles não aprendem ou esquecem de usar outros métodos para resolver problemas. Sua dependência torna-se tão psico-social quanto física. Todas as áreas de sua vida são afetadas.

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SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

A dor que aparece quando uma pessoa adicta pára de usar drogas ou álcool é chamada de síndrome da abstinência.

Parte da dor de abstinência é criada pelos danos físicos e pela necessidade física da substância adictiva. Parte da dor é causada pela reação psicológica por perder o principal método de lidar com a vida - o uso de drogas adictivas. Parte da dor é social, causada pela separação de uma maneira de viver centrada na adicção.

A síndrome de abstinência física se desenvolve em duas fases. A primeira é chamada abstinência aguda e dura de três a dez dias. Durante algum tempo as pessoas acreditavam que a dor da abstinência passava após vários dias. Pesquisas recentes, porém, mostram que a síndrome de abstinência é de longo prazo e pode durar meses ou anos na sobriedade. Esta síndrome de abstinência em longo prazo, chamada de síndrome de abstinência demorada (SAD) será discutida em detalhes num capítulo posterior.

PROGRESSÃO

Um alcoólico desenvolverá uma série de sintomas previsíveis, baseados em álcool e drogas.

Estes sintomas progridem por três estágios: No primeiro estágio é muito difícil distinguir o uso adictivo ou não

adictivo porque existem poucos sintomas visíveis. O corpo, porém, está mudando e se adaptando a ingestão regular da droga. O sintoma principal do primeiro estágio da adicção é um aumento da tolerância. Isto significa que as pessoas que estão se tornando adictos podem geralmente usar cada vez mais quantidade sem ficar intoxicadas e sem sofrer conseqüências danosas.

PROGRESSÃO DA DOENÇA ADICTIVA

1- Estágio Inicial - crescente tolerância e dependênci a. 2- Estágio Médio - progressiva perda de controle.

3- Estágio Crônico - deterioração da saúde bio-psico-s ocial.

Para estas pessoas é difícil reconhecer que são adictas, pois podem

“controlar a bebida” (ou maconha, Valium). O primeiro sinal de aviso então, realmente se opõe ao diagnóstico precoce porque ele esconde o problema. Enquanto muitas doenças criam prejuízos imediatos no funcionamento, esta doença inicialmente aparece como um benefício, dando a pessoa afetada um sentimento eufórico com o uso da droga, sem pagar nenhuma penalidade.

Porém a dependência física e psicológica, embora oculta, está aumentando, pois não há mais apenas um desejo de usar, mas uma necessidade de usar. Todas as células do fígado e do sistema nervoso

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mudam para tolerar maiores quantidades do químico, pois quantidades maiores são necessárias para conseguir o mesmo efeito. Quantidades aumentadas prejudicam o fígado, alteram a química do cérebro e logo a tolerância começa a cair.

Bill ficou surpreso quando finalmente entrou em tratamento. “Eu não acreditava em quão seriamente doente estava”, disse Bill. “O problema caiu sobre mim num tempo curto. As mudanças foram lentas e nunca percebi como minha maneira de beber se tornava destrutiva”.

O estágio médio da adicção, então, é marcado por uma progressiva perda de controle quando a pessoa não consegue mais usar as mesmas quantidades sem ficar intoxicado ou criar problemas. Não usar começa a criar dor. A droga é usada para aliviar a dor de não usar. A pessoa adicta é incapaz de funcionar normalmente sem a droga. Família e amigos começam a notar o problema: trabalho, saúde, casamento, problemas legais.

Eles são capazes de acreditar, porém, que a pessoa está se comportando irresponsavelmente. Não têm consciência de que o adicto não escolheu o problema de comportamento. Ele é parte da doença. A pessoa não pode, pela força de vontade, escolher beber ou usar responsavelmente. A única alternativa para os problemas continuados e o processo de progressão da doença é tratamento e abstinência total.

O estágio crônico da adicção é marcado pela deterioração física, psicológica, de comportamento social e espiritual. Todos os sintomas do corpo podem ser afetados neste estágio. O cérebro, o fígado, o coração e muitas vezes o sistema digestivo estão afetados. Mudanças de humor são comuns quando a pessoa usa drogas para se sentir melhor, mas é incapaz de manter os bons sentimentos. Quando a vida fica cada vez mais centrada na droga, há cada vez menos controle sobre o comportamento. Atividades que interferem com a bebida ou o uso são abandonadas. Estar pronto para usar, usando e se recuperando do uso tornam-se atividades da vida do adicto. Ele faz coisas quando bebe que não faria sóbrio. Quando sóbrios, eles estruturam suas vidas para proteger seu uso. Quebram promessas, esquecem compromissos, mentem - tudo para poder usar. Isolamento é comum. Amigos e conhecidos se afastam porque o comportamento torna-se embaraçante ou ofensivo. A vida é consumida pela necessidade de usar. O comportamento e procura de drogas torna-se a maneira de viver.

FASES DA NEGAÇÃO

1- Estágio Inicial - poucos problemas observáveis. 2- Estágio Médio - problemas não ligados com o uso adictivo. 3- Estágio Crônico - muito doente para pensar racionalmente.

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PENSAMENTO FALSO

Adicção é uma doença crônica. Chega gradualmente e permite aos adictos ajustarem-se à doença para que, por um tempo, sejam capazes de continuar funcionando, embora doentes. Por não estarem conscientes que estão compensando-se e adaptando-se a sua doença, são capazes de negar que estão doentes por muito tempo.

A negação da doença aumenta devido a danos neurológicos que distorcem a realidade pelos apagamentos que criam espaços vazios na memória, e pelo efeito de intoxicação na percepção e memória. Negação da doença é parte da doença.

O Adicto é capaz de negar a existência de adicção porque no estágio inicial não existem problemas físicos ou de comportamento; no estágio médio os problemas não estão associados ao uso; e no estágio crônico o pensamento é prejudicado e o julgamento distorcido. A negação bloqueia a motivação para a recuperação, marcando a dolorosa realidade de uma vida presa num ciclo de dor, negação e uso de álcool/drogas das quais parece que não há saída.

O CICLO DE ADICÇÃO

O que descrevemos é um ciclo de adicção que leva o adicto a uma armadilha mortal. Vamos dar uma olhada mais próxima neste ciclo e o que acontece a você se ficar preso nele.

CICLO DE ADICÇÃO

1- Gratificação a curto prazo; 2- Dor a longo prazo;

3- Pensamento adictivo;

4- Aumento da tolerância;

5- Perda de controle;

6- Danos bio-psico-social.

1- GRATIFICAÇÃO A CURTO PRAZO : Primeiro há uma gratificação a

curto prazo. Sente-se bem agora, há um forte ganho a curto prazo, que leva você a assumir que a droga ou comportamento é bom.

2- DOR A LONGO PRAZO : A gratificação a curto prazo é seguida por dor a longo prazo. Esta dor, parte da qual é devida à abstinência física, e parte por dificuldade de funcionar psico-socialmente sem drogas, é conseqüência direta do uso de drogas adictivas.

3- PENSAMENTO ADICTIVO : A dor a longo prazo e a disfunção deflagram o pensamento adictivo. O pensamento adictivo começa com a obsessão e compulsão. Obsessão é um pensamento contínuo sobre os

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efeitos positivos do uso do álcool e das drogas. Compulsão é um impulso emocional ou necessidade de usar a droga para conseguir o efeito positivo embora saiba que vai murchar ao longo da caminhada. Isto leva a negação e a racionalização para permitir o uso continuado. Negação é a incapacidade de reconhecer que há um problema. Racionalização é atacar outras situações e pessoas, por problemas em vez do uso da droga.

4- AUMENTO DA TOLERÂNCIA : Sem sentir o que está acontecendo, necessita-se cada vez de mais droga para produzir o mesmo efeito.

5- PERDA DE CONTROLE : A obsessão e a compulsão tornam-se tão urgentes que não se pode pensar em mais nada. Sentimentos e emoções ficam distorcidos pela compulsão. Fica-se enterrado, desconfortável até que o impulso para usar é tão forte que não se consegue resistir. Uma vez usado o adictivo químico ou os comportamentos adictivos novamente, o ciclo começa outra vez.

6- DANOS BIO-PSICO-SOCIAIS : Eventualmente haverá danos para a saúde de seu corpo (saúde física), mente (saúde psicológica) e relações com outras pessoas (saúde social). Como a dor e o stress ficam piores, a compulsão para usar drogas ou comportamentos adictivos para conseguir alívio da dor aumentam. Desenvolve-se uma armadilha mortal. Precisa-se usar adictivos para sentir-se bem. Quando se usa adictivamente, prejudica-se fisicamente, psicologicamente e socialmente. Este dano aumenta a dor que aumenta a necessidade de uso de adictivos. Torna-se um ciclo vicioso, o uso leva a culpa e que leva ao uso novamente.

RECUPERAÇÃO

Abstinência total é necessária para se recuperar de uma a adicção. Promessas para diminuir são promessas que não podem ser mantidas. Qualquer uso manterá a adicção ativa. Abstinência é o primeiro passo necessário à recuperação.

Susana rebelou-se com a necessidade de abstinência total. “Pensei que poderia controlar meu uso”, ela disse contando sua história. Ela lutou com o controle por cinco anos antes de aceitar a necessidade de abstinência total. “Trabalhei duro para controlar meu uso de álcool e drogas mais do que qualquer coisa que minha vida inteira, e mesmo com todo esse trabalho falhei periodicamente e entrei em confusão. Finalmente perguntei a mim mesma por que o controle é tão importante? A resposta foi simples: - Porque sou dependente química e devo proteger meu direito de uso a qualquer custo”.

Somente abstinência, porém não é recuperação. Em muitos casos a escolha de parar de usar não é suficiente para se conseguir uma sobriedade duradoura e recuperação a não ser que a decisão seja acompanhada de tratamento de algum tipo. Muitos, bem intencionados fizeram tentativas honestas para parar de usar, mas, sem ajuda externa, não tiveram sucesso.

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O primeiro passo no tratamento é desintoxicação, removendo a substância tóxica do corpo. Sintomas de síndrome de abstinência aguda que aparecem quando o químico é removido podem ser muito sérios. Síndrome de abstinência é um problema médico e deve ser tratado por um médico. Um método comum de desintoxicação é administrar uma droga substituta e diminuir a dose gradualmente enquanto existem sintomas da retirada. Deveria ser visto que a pessoa não está totalmente desintoxicada até que a droga substituta seja removida e a pessoa fique livre de drogas.

A desintoxicação sozinha não é um tratamento adequado para a doença da adicção.

Desintoxicação sozinha não é um tratamento adequado. Para manter a

abstinência, se requer muito mais. A adicção afeta todos os aspectos da vida da pessoa. Por isso essa doença requer um tratamento holístico. A recuperação requer mudanças duradouras físicas, psicológicas, de comportamento, sociais e espirituais. A educação é um aspecto importante do tratamento. Devido à recuperação de uma adicção requerer auto administração, é necessário para os pacientes adictos aprender o mais possível sobre sua doença e como manejá-la.

Aconselhamento individual e em grupo - em um hospital com um programa de internação ou ambulatorial ou um local residual sem ser um hospital, são componentes vitais do tratamento. A intenção do aconselhamento é facilitar o desenvolvimento de habilidades que irão apoiar uma sobriedade crescente e uma recuperação duradoura. Pesquisar as causas de uma adicção (como problemas emocionais ou familiares) geralmente não é produtivo. O tratamento que reconhece a adicção como condição primária em vez de ser o sintoma de outra coisa, tem sido considerada mais eficiente.

Alcoólicos Anônimos é o mais simples tratamento de alcoolismo efetivo. Mais pessoas se recuperam do alcoolismo usando o programa de AA. do que se recuperam de qualquer outra maneira de tratamento. Por esta razão é que o AA. precisa ser uma parte vital de qualquer plano de sobriedade de um alcoólico. Existem grupos de auto-ajuda para outras adicções, como o Narcóticos Anônimos para usuários de drogas, o Coda, para pessoas ligadas ao adicto, o Dasa, para pessoas com adicção em sexo, relacionamentos ou falta deles, os Neuróticos Anônimos que trata a neurose e o pensar compulsivo. No início da recuperação, porém, muitas pessoas requerem uma ajuda mais extensiva ou mais especializada que um grupo de auto-ajuda pode dar. Quando a pessoa está doente fisicamente, precisa de cuidados médicos. Algumas pessoas precisam ficar num ambiente protegido para manter a abstinência o tempo suficiente para que a recuperação comece.

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Os tratamentos de mais sucesso combinam os princípios dos doze passos do AA. com aconselhamento profissional e terapia.

Muitas vezes também existe no curso da recuperação pessoas que enfrentarão problemas específicos.

Isto pode incluir dificuldades financeiras, problemas conjugais, desordens emocionais ou psicológicas, ou problemas de comportamento que não são um resultado direto da adicção.

Embora isto possa melhorar com um programa de auto-ajuda somente, tem sido demonstrado que o aconselhamento profissional e terapia podem dar assistência e resolver estes assuntos mais rapidamente e eficazmente. As formas de tratamento de mais sucesso combinam grupo de auto-ajuda com tratamento profissional. Administração dos sintomas da Síndrome de Abstinência Demorada são essenciais para se manter a sobriedade. Administrar inclui entender e aceitar estes sintomas que interferem com a habilidade de se lembrar, pensar claramente e administrar sentimentos e emoções. Também inclui vencer a vergonha, culpa e o medo de ficar louco que está muitas vezes ligado a estes sintomas. Inclui reduzir e administrar o stress, retreinamento da memória e uma vida equilibrada. Sobriedade é essencial para uma boa saúde e uma boa saúde é essencial para a sobriedade. A primeira regra de boa saúde física para a pessoa em recuperação inclui a abstinência de todas as drogas que alteram o humor.

Isto inclui drogas prescritas e auto-medicação, a não ser que seja absolutamente necessária para lidar com algum outro problema sério de saúde. Então elas podem ser cuidadosamente monitoradas sob os cuidados de um médico e um consultor em adicção.

Boa nutrição é vital para a recuperação. Má nutrição e álcool ou drogas prejudicam o corpo e deve ser reconstruído por uma dieta balanceada. Porque as pessoas em recuperação são sensíveis ao stress, substâncias que causam stress como doces concentrados, cafeína e nicotina deveriam ser evitados. O exercício é importante e ajuda a reconstruir e manter o corpo. Exercícios são especialmente benéficos em reduzir e lidar com o stress. Tempo de relaxamento deve ser colocado na vida de cada pessoa em recuperação.

Exercícios de relaxamento reequilibram o corpo e reduzem a produção de hormônios de stress. Alegria e jogos também relaxam e contribuem para a calma e bem estar. Recuperação requer a resolução dos problemas de família, trabalho e sociais que foram criados por uma adicção ativa. Também envolve o desenvolvimento de novas e mais significantes redes sociais. Os membros da família devem fazer parte do programa. Eles, como o usuário, ficaram disfuncionais pelo uso da droga. Papeis, regras e rituais da família devem ser redefinidos e reestruturados. Habilidades de comunicação devem ser aprendidas ou reaprendidas na sobriedade. Toda a família precisa se recuperar junto. É difícil se recuperar de uma adicção sem o que é referido no A.A como um “programa espiritual”.

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Os princípios de A.A ensinam que os alcoólicos são impotentes perante sua condição e não podem controlar suas vidas até que aceitem a ajuda de um poder superior a eles mesmos. Uma vida que inclua viver saudável, relacionamentos melhorados, propostas de valores fora de si mesmo e crescimento espiritual apóiam saúde e sobriedade duradoura.

Reorientar a vida em torno de valores que não são centrados em drogas é uma parte essencial da recuperação.

Um estilo de vida que leva a usar não é o que leva à sobriedade.

CAPÍTULO III SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA DEMORADA

Quando a maioria das pessoas pensam sobre alcoolismo, pensam

somente nos sintomas baseados no álcool e esquecem dos sintomas baseados na sobriedade.

Ainda são os sintomas baseados na sobriedade, especialmente da abstinência demorada, que tornam a sobriedade tão difícil. A presença de disfunção no cérebro foi documentada em 75-95% dos alcoólicos testados. Pesquisa recente mostra que os sintomas de abstinência demorada associados com danos relacionados com álcool e drogas no cérebro podem contribuir em muitos casos de recaída.

Abstinência demorada sintomas que ocorrem após abstinência aguda. Síndrome significa um grupo de sintomas.

Síndrome: Um grupo de sintomas. Abstinência demorada: Sintomas que ocorrem após a abstinência aguda.

Abstinência demorada é um grupo de sintomas da doença adictiva que

ocorre como um resultado da abstinência de adictivos químicos. No alcoólico, estes sintomas aparecem entre sete e quatorze dias de abstinência, após a estabilização da abstinência aguda. É uma síndrome bio-psico-social. Resulta da combinação dos danos causados ao sistema nervoso pelo álcool ou drogas e o stress psico-social de lidar com a vida sem drogas ou álcool.

Recuperação causa muito stress, muitos adictos nunca aprendem a lidar com o stress sem álcool e uso de drogas. O stress agrava a disfunção cerebral e torna os sintomas piores. A severidade da SAD depende de duas coisas: a severidade da disfunção cerebral causada pela adicção e a quantidade de stress psico-social experimentado na recuperação.

Os sintomas da SAD geralmente atingem uma intimidade de pico de três a seis meses após o início da abstinência. O dano geralmente é reversível, significando que os sintomas principais vão embora na hora, se um tratamento próprio for feito; assim não precisa ter medo. Com o

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tratamento correto e uma vida sóbrio efetiva, é possível aprender a viver normalmente apesar dos danos. Mas o ajustamento não ocorre rapidamente. A recuperação dos danos no sistema nervoso requer normalmente de seis a vinte e quatro meses, com a ajuda de um saudável programa de recuperação.

SINTOMAS DA ABSTINÊNCIA DEMORADA (SAD)

Como saber se você tem SAD? A característica que identifica melhor é a falta de capacidade para resolver problemas, geralmente simples. Existem seis tipos de sintomas de SAD que contribuem para isso. São eles: • a incapacidade de pensar com clareza; • reações emocionais exageradas; • problemas de memória; • distúrbios do sono; • problemas de coordenação física; • problemas para lidar com o stress.

1- Incapacidade de pensar com clareza.

Existem várias desordens de pensamento experimentadas por pessoas

quando a SAD é ativada. A inteligência não é afetada. É como se o cérebro não funcionasse bem, às vezes. Às vezes funciona tudo bem, às vezes não. Um dos sintomas mais comuns é a incapacidade de se concentrar por mais que alguns minutos. Danos no raciocínio abstrato é outro sintoma comum de SAD. Uma abstração é uma idéia ou conceito que não é concreto. Algo que você não pode pegar com as mãos, colocar num quadro ou colocar numa caixa. Concentração é muito importante quando conceitos abstratos estão envolvidos. Outro sintoma comum é o pensamento rígido e repetitivo. Os mesmos pensamentos dão voltas e mais voltas na tua cabeça e você não é capaz de brecar esse pensamento circular, para colocar os pensamentos de uma maneira ordenada.

2- Problemas de memória.

Problemas de memória imediatos são muito comuns na pessoa em recuperação. Você pode ou vir alguma coisa e entender, mas dentro de vinte minutos você já a esqueceu. Alguém dará uma instrução e você sabe exatamente o que fazer. Logo depois esta memória fica nublada ou desaparece completamente. Algumas vezes, em períodos de stress pode ser difícil lembrar-se de eventos significativos do passado. Estas memórias não se apagaram. A pessoa pode ser capaz de lembrá-la facilmente em outras horas. Percebe que sabe, mas não pode lembrar na hora do stress.

Para uma alcoólica chamada Jane isto criou um problema no AA. - “Eu tinha problema em apresentar minha estória no AA.” - ela disse. “Tinha

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problemas para lembrar-se de coisas que aconteceram antes dos meus dias de bebida, ficando somente as coisas que aconteceram enquanto bebia. Colocar minha vida numa estória é difícil para mim. Não me lembro dela toda. Lembro que algumas coisas aconteceram, mas fico confusa sobre quando ocorreram. As vezes posso lembrar algo quando estou sozinha e sem pressão, porém não posso lembrar-me sobre a pressão que sinto quando falo nas reuniões”.

Devido ao problema de memória na recuperação, poderá ser difícil aprender novas habilidades e informações. Você aprende habilidades adquirindo conhecimento e construindo sobre o que você já aprendeu.

3- Reação emocional exagerada ou insensibilidade.

Pessoas com problemas emocionais na sobriedade tendem a reagir com exagero. Quando acontecem coisas que requerem duas unidades de reação emocional, elas reagem com dez. Você pode ficar nervoso com alguma coisa que mais tarde pode parecer um assunto trivial. Você pode ficar mais ansioso ou excitado do que você tinha motivo de ficar. Quando essa reação exagerada coloca mais stress no sistema nervoso do que você pode manejar, há um desligamento emocional. Se isso acontece, você fica insensível emocionalmente, incapaz de sentir qualquer coisa, mesmo sabendo que deveria sentir algo, você não sente nada. Você pode variar um humor para outro sem saber por quê.

4- Problemas de sono.

Muitas pessoas em recuperação experimentam problemas com sono. Alguns são temporários, outros são para sempre. O mais comum no início da recuperação são sonhos incomuns ou perturbadores. Estes sonhos podem interferir para que você consiga o sono que você precisa. Mas eles ficam menos freqüentes e menos severos quando aumenta a duração da abstinência.

Existe um relacionamento direto entre stress elevado e a severidade da SAD. Um intensifica o outro. A intensidade da SAD cria stress, o stress agrava a SAD e a torna mais severa. Quando o stress abaixa, os sintomas melhoram e podem até ir embora. Quando se está descansado e relaxado, comendo corretamente, e estando bem com as pessoas, ficará bem. Os pensamentos serão claros, as emoções apropriadas e a memória boa. Nas horas de stress alto, porém, o cérebro pode desligar subitamente. Começa-se a ter problemas com os pensamentos, emoções impróprias e problemas de memória. Se os pensamentos ficam confusos ou caóticos ou se é incapaz de se concentrar. Se existe dificuldade para lembrar ou resolver problemas você, pode-se sentir que vai se ficar louco. Você não é. Estes sintomas são uma parte normal da recuperação e são reversíveis com a abstinência e um programa de recuperação. Se a pessoa não entender isto, você pode ficar com vergonha e culpa, que diminuirá a auto estima e levará ao isolamento

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que cria stress e aumenta a SAD. É um ciclo de dor que é desnecessário se for possível entender o que está acontecendo. Quando o corpo e a mente melhoram, aprende-se maneiras de reduzir o risco dos sintomas da SAD, uma vida produtiva e significativa é possível, apesar da possibilidade dos sintomas recorrentes.

A recuperação dos danos causados pela adicção exige abstinência. O próprio dano interfere com a habilidade de manter a abstenção. Este é o paradoxo da recuperação. O álcool pode reverter temporariamente estes sintomas de dano. Se o alcoólico beber, por pouco tempo, ele começará a pensar claramente, terá sentimentos normais e emoções e se sentirá saudável. Infelizmente, a doença levará a uma perda de controle que destruirá de novo estas funções. Por isso é necessário reduzir os sintomas da SAD. É necessário entender-se a SAD para perceber que não se é incompetente e se está ficando louco. Como os sintomas da síndrome da abstinência demorada são sensíveis ao stress, você precisa aprender sobre SAD e os métodos de controle quando os níveis de stress estão baixos, para ser capaz de prevenir os sintomas ou manejá-los quando ocorrerem.

Aqui estão algumas estórias sobre pessoas que experimentaram a síndrome de abstinência demorada e como isto afetou suas vidas sem eles perceberem o que estava acontecendo a eles.

Ray é um jovem solteiro, alcoólico em recuperação. Parou de beber quando tinha 22 anos. Estava muito entusiasmado do que viria com sua sobriedade. Após seu tratamento inicial ele começou a reestruturar sua vida em torno da recuperação. Estava ansioso para recuperar o tempo que tinha perdido durante seus anos de bebida. Conseguiu um emprego de tempo integral, se inscreveu na faculdade e se prontificou a fazer trabalho voluntário. Após algum tempo percebeu que estava tendo problemas com seus trabalhos escolares. Sentia-se confuso sobre coisas que antes tinham sido fáceis para ele seguir e representar. Estava tendo problemas de cuidar de suas responsabilidades financeiras, quando as pessoas que se preocupavam com ele tentavam ajudá-lo, sentiu pânico e foi vencido pela emoção. Os pensamentos corriam em sua cabeça e ele não conseguia colocá-los em ordem. Ele disse: “Quando alguém do escritório de ajuda financeira na faculdade começava a falar para mim sobre compartilhar dinheiro, emprestar dinheiro, formulários que precisavam ser preenchidos, eu ficava confuso e nervoso que não podia ouvir o que ele dizia. Rodava tudo na minha cabeça e precisei ir embora. Levantei e sai sem preencher o formulário de ajuda financeira”. Em desespero e com medo de beber Ray fugiu. Em vez de avaliar que coisas na sua vida ele precisava mudar e o que devia manter, abandonou tudo. Abandonou seu emprego, saiu da escola e parou de fazer o trabalho voluntário. Abandonou seu apartamento e se mudou para a casa de um parente até que pudesse “juntar os seus pedaços”. Isto criou problemas adicionais com os quais teve grandes dificuldades para lidar. Procurou então um consultor com quem aprendeu

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algumas maneiras de lidar com seus sintomas. Ray pensava que estava tendo um colapso nervoso quando o que estava experimentando era SAD.

Telma conseguiu um novo emprego, isso após o início de sua recuperação. Estava confiante na sua habilidade de aprender o trabalho e corresponder em suas novas responsabilidades. Ela não tinha qualquer problema para entender o que devia fazer, quando lhe explicaram. Logo depois quando tentou fazer certas tarefas sozinha não conseguia se lembrar de como fazê-las. Tinha vergonha de pedir ajuda porque achava que era capaz de fazer estas tarefas simples sem ajuda. Freqüentemente errava quando tentava fazê-las sozinha. Começou a se sentir muito ansiosa e conforme seu stress aumentava seus problemas também aumentavam. Além disso, começou a ter problemas de se concentrar quando alguém lhe explicava algo. Ficava confusa e a ansiedade aumentava: “Não podia imaginar o que estava acontecendo comigo”, ela se lastimava, “sabia que tinha a habilidade para fazer o trabalho, mas quanto mais duro tentava, pior ficava”. Estava confusa e perturbada e não sabia como conseguir ajuda, após vários problemas Telma perdeu o emprego. Não sabia por que isto tinha acontecido e começou a acreditar que era menos competente.

ESTRUTURA DA SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA DEMORADA

Os sintomas da SAD não são os mesmos em todas as pessoas. Variam na severidade, na ocorrência e na duração. Umas pessoas experimentam alguns sintomas, outras experimentam outros e algumas não têm nenhum.

A SAD, por um período de tempo, pode melhorar, pode piorar ficar no mesmo, ou pode ir e vir.

Se melhora com o tempo a chamamos de regenerativa. Se piora a chamamos de degenerativa. Se permanece igual a chamamos de estável. Se ela vem e vai a chamamos de intermitente.

SAD Regenerativa - pode melhorar

SAD Degenerativa - pode piorar SAD Estável - permanece o mesmo

SAD Intermitente - vai e volta

SAD regenerativa gradualmente melhora com o tempo. Quando mais tempo está sóbrio os sintomas ficam menos severos.

É mais fácil pessoas com SAD regenerativa recuperarem-se porque o cérebro rapidamente volta ao normal.

SAD degenerativa é o oposto. Os sintomas pioram com o passar do tempo de sobriedade. Isto pode acontecer, mesmo que a pessoa esteja freqüentando o AA. e ou seguindo algum tipo de programa de recuperação. Pessoas com SAD degenerativa tendem recair. A sobriedade fica tão dolorosa que eles sentem que devem se auto-medicar da dor com álcool ou

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drogas, entram em colapso físico ou emocional, ou cometem suicídio para acabar com a dor.

A pessoa com SAD estável experimenta o mesmo nível de sintomas por um longo período de tempo na sobriedade. Pode haver dias em que os sintomas estão pouco melhores ou pouco piores, mas normalmente os sintomas não mudam.

Muitas pessoas em recuperação acham isto muito frustrante porque acreditam que deveriam se sentir melhor com o tempo de sobriedade. Com o tempo suficiente de sobriedade muitas pessoas aprendem a lidar com estes sintomas.

Com a SAD intermitente os sintomas vêm e vão. No começo as pessoas com sintomas intermitentes parecem experimentar uma estrutura regenerativa. Em outras palavras, rapidamente seus sintomas começam a melhorar. Mas então começam a experimentar episódios periódicos de SAD que são bastante severos. Para algumas pessoas, os episódios diminuem, ficam menos severos, demoram mais para aparecer e então param todos de uma vez. Em outros, eles continuam por toda a vida.

Estas estruturas descrevem pessoas que não se trataram de SAD e não sabem como lidar ou prevenir os sintomas. Tratamento tradicional não trata estes sintomas, porque até pouco tempo eles não eram reconhecidos. Se você sabe o que fazer e está disposto a fazer. SAD degenerativo pode mudar para estável, estável para regenerativo ou intermitente.

A estrutura mais comum de SAD é a regenerativa, que com o tempo passa para intermitente. Gradualmente melhora até que os sintomas desapareçam e então vão e vêm. O primeiro é trazer os sintomas de SAD para remissão.

Isto significa colocá-los sob controle, para que você não os sinta no momento. Então o objetivo é reduzir as vezes que ocorreram, quanto eles duram, e quão ruim os sintomas são. Você deve lembrar que mesmo quando eles não estão acontecendo existe sempre a tendência deles voltarem.

É preciso construir uma resistência contra eles - uma maneira segura que baixa seu risco.

COMO LIDAR COM OS SINTOMAS DA SAD

Quanto menos atenção for dada ao processo de recuperação, maiores as possibilidades de se desenvolver a SAD e menores serão as resistências. Pode-se fazer uma analogia com o tétano. Quanto mais distante a intervenção após um episódio da infecção, maiores as probabilidades de se desenvolver a doença.

Condições que colocam em alto risco de experimentar a SAD geralmente são falta de cuidado pessoal e falta de atenção no teu programa de recuperação. Se o adicto quer se recuperar sem uma recaída, precisa

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estar consciente dos sintomas de stress na tua vida, pois isto pode aumentar o risco de experimentar SAD.

Como não pode se sair de todas as situações de stress, é necessário preparar-se para lidar com elas quando ocorrerem. Não é a situação que quebra a pessoa em pedaços, é a reação perante a situação.

EDUCAÇÃO E RETREINAMENTO

Aprendendo sobre a doença da adicção, recuperação e síndrome da abstinência demorada a aliviar a ansiedade, culpa e confusão que levam a criar o stress que intensifica os sintomas da SAD.

Como uma pessoa em recuperação, você precisa de informação para perceber que os sintomas são normais durante a recuperação. Você também precisa aprender habilidades de administração para que saiba o que fazer para interromper e controlar o stress e os sintomas quando eles ocorrerem. Pelo re-treinamento você melhora sua habilidade de lembrar, concentrar-se e pensar claramente. Re-treinamento envolve a prática de certas técnicas num ambiente seguro onde se constrói confiança. Inclui fazer as coisas passo a passo e lidar com uma coisa de cada vez para não se sentir sobrecarregado. Inclui escrever em baixo o que você deseja lembrar e fazer perguntas quando você precisa classificar alguma coisa.

Aprendendo sobre os sintomas da síndrome de abstinência demorada, sabendo o que pode acontecer, e não reagindo com exagero aos sintomas, aumenta a habilidade para funcionar apropriadamente e efetivamente.

COMPORTAMENTO AUTO-PROTETOR

Depois que tudo é falado e feito, você é responsável para se proteger de qualquer coisa que ameace sua sobriedade ou algo que acione os sintomas da SAD. Reduzir o stress que resulta e que contribui para os sintomas da abstinência demorada deveria ser a tua primeira preocupação. Você deve aprender comportamentos que te protegerão do stress e que podem ameaçar a sobriedade. Este comportamento auto-protetor é o que te capacitará a ser firme em aceitar suas próprias necessidades e não permitir que outras pessoas ou situações leve você a reações que não são o melhor para tua sobriedade. Para proteger de stress desnecessário, primeiro você deve identificar o que aciona o stress, aquelas situações que podem levar a uma reação exagerada. Então aprender a mudar estas situações, evitá-las, mudar reações, ou aprender a interrompê-las antes de perder o controle.

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NUTRIÇÃO

A maneira que você come tem muito a ver com o nível de stress que você experimenta e tua habilidade para lidar com os sintomas da SAD.

O stress deflagra e intensificam os sintomas da SAD, ela pode ser controlada, aprendendo a lidar com o stress e desenvolver habilidades em tomar decisões e resolver problemas para ajudar a reduzir o stress. Dieta correta, exercícios, hábitos regulares, atitudes positivas, todos representam partes importantes em controlar a SAD relaxamento pode ser usado como uma ferramenta para re-treinar o cérebro a funcionar corretamente e reduzir o stress.

Uma saúde pobre contribui por si mesma para o stress, e uma má nutrição contribui para uma saúde pobre. Pode-se ficar mal nutrido devido a maus hábitos alimentares ou devido ao teu corpo prejudicado pelo álcool ou drogas, sendo incapaz de usar os nutrientes que se consome.

Abstinência do álcool e drogas trará alguma melhoria, mas a abstinência somente não é suficiente para reconstruir o tecido do corpo danificado e manter boa saúde.

Novos hábitos alimentares devem ser estabelecidos e praticados regular e permanentemente. A dieta diária deve ser equilibrada com vegetais, frutas, carboidratos, proteínas, gorduras e laticínios. Solicitar a um nutricionista ajuda para descobrir quantas calorias se necessita a cada dia e que quantidades de cada tipo de alimento é adequado.

DIETA PARA UMA PESSOA EM RECUPERAÇÃO - Três refeições bem balanceadas diariamente.

- Três nutritivos lanches diariamente. - Evitar açúcar e cafeína

A fome produz stress. Tente planejar a lista de tuas refeições

assim como omitir refeições e ter periodicamente lanches nutritivos. Não coma açúcar, bolachas, refrigerantes, batatas fritas, ou outros alimentos com altas calorias e baixos nutrientes. Especificamente você deve evitar a produção de stress comendo doces concentrados e cafeína. Estes dois produtos produzem a mesma espécie de reação química em teu corpo, como ficar assustado e principalmente excitado. Doces concentrados como açúcar, geléia, xarope e refrigerantes adocicados te darão uma rápida “subida”, porém uma hora mais tarde. Se experimentará uma “caída” acompanhada de nervosismo e irritabilidade. Lembre-se que a razão para você comer um lanche é combater a fadiga e o nervosismo. Fazer um lanche delicioso evita você ficar com fome e previne uma compulsão por doces.

Jayne, uma alcoólica em recuperação, tinha o hábito de comer uma grade quantidade de sorvete toda noite. Falou muitas vezes da compulsão que lhe dava, e acreditava que por comê-lo estava reduzindo a

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compulsão por álcool. Na manhã seguinte sempre se sentia pesada e irritada. Durante o dia, seu stress aumentava até ser aliviado por um sorvete. Quando seu consultor lhe sugeriu tirar o sorvete de sua dieta, sentiu que não podia continuar sem ele. Quando examinaram sua dieta, descobriram que no café da manhã ela não comia e durante o dia não se nutria bem. Concordou então, em tentar uma dieta balanceada a fazer uma tentativa de eliminar o sorvete. Ela descobriu que com uma dieta balanceada e com refeições regulares e vários lanches nutrientes durante o dia, sua compulsão por sorvete desapareceu e então pode eliminá-lo facilmente de sua vida.

Cafeína também causa nervosismo e desconforto. Pode também interferir na concentração e condições de sono. Perda de sono ou sono irregular causa irritabilidade, depressão e ansiedade.

ESTABILIZAÇÃO

Se você estiver experimentando sintoma de SAD, é importante

colocá-los sob controle o mais breve possível. Aqui estão algumas sugestões que podem ajudar a perceber o que está acontecendo e ajudar a interromper os sintomas antes que fiquem fora de controle.

VERBALIZAÇÃO

Comece a compartilhar com pessoas que não vão acusar, criticar ou minimizar. É necessário dizer o que se está sentindo. Vai ajudar a ver a situação mais realisticamente. Ajudará a trazer sintomas internos à percepção consciente. Isto dará ao adicto o apoio quando necessitar confiar nos outros.

LIVRE EXPRESSÃO : expressar tanto quanto puder sobre o que

você está pensando e sentindo mesmo se parecer irracional e infundado. TESTANDO A REALIDADE : pergunte a alguém se o que você

fez tem sentido. Não só o que você diz mas teu comportamento. Tua percepção do que está acontecendo pode ser muito diferente da realidade. Problema resolvido e objetivo alcançado. Você está fazendo o quê, sobre o que está acontecendo?

TRILHANDO PARA TRÁS : pense sobre o que aconteceu. Você pode identificar como o episódio começou? O que deslizou mais rápido? Pense nas outras vezes que teve sintomas de SAD. O que os iniciou? Como terminou? Existem outras opções que poderiam funcionar melhor ou mais rápido.

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EXERCÍCIO

Exercícios ajudam a reconstruir o corpo e o mantém em bom funcionamento, reduzindo também o stress. O exercício produz químicas em teu cérebro que fazem você se sentir bem. Estas químicas são os próprios tranqüilizantes naturais que aliviam a dor, a ansiedade e a tensão. Tipos de exercício diferentes são valiosos por várias razões. Exercícios para soltar os músculos e aeróbicos provavelmente serão mais úteis para tua recuperação. Exercícios para soltar os músculos ajudam a manter o corpo mais flexível e alivia a tensão muscular. Aeróbica tem ritmo e exercícios vigorosos para os músculos maiores. Aeróbica pretende elevar a média de seu coração para 75% do máximo e manter esta média ao menos por 20/30 minutos. Recomendamos uso regular de exercícios aeróbicos. Correr, nadar, pular corda, andar de bicicleta, são exercícios aeróbicos comuns, ou você pode participar de uma classe de ginástica aeróbica. Dançar também é aeróbico, mas lembre-se que deve ser feito vigorosamente. Muitas pessoas em recuperação testemunham o valor dos exercícios para reduzir a intensidade dos sintomas da SAD. Após os exercícios, eles se sentem muito melhor, acham mais fácil se concentrar e se lembrar, se tornam mais produtivos. Escolha uma forma de exercício que você goste, pois te ajudará muito. Muitos médicos e livros de saúde aconselham fazer exercícios três ou quatro vezes por semana, mas não recomendamos que os façam todos os dias, devido seu valor em reduzir o stress. Qualquer dia que não se exercite é um dia que se tira de você mesmo para sentir-se mais relaxado, ser mais produtivo e ter mais energia.

RELAXAMENTO

Existem coisas que se pode fazer para reduzir ou escapar do stress que você sente quando é incapaz de mudar uma situação ou lidar melhor com o stress do dia a dia. Rir, jogar, ouvir música, contar histórias, fantasiando, lendo, em massagem, são alguns dos métodos para a redução natural do stress. Jogar é uma forma de relaxamento necessária que muitas vezes é negligenciada.

VIDA EQUILIBRADA

Vida equilibrada significa que existe harmonia bio-psico-social na vida. Significa que se é saudável fisicamente e psicologicamente e que se têm relacionamentos saudáveis. Significa que espiritualmente se é inteiro, que não mais olha apenas um aspecto em tua vida. Significa que se está vivendo com responsabilidade, dando a si mesmo, tempo para trabalhar, para família, amigos assim como tempo para seu próprio crescimento e recuperação. Significa permitir que um Poder Superior trabalhe na tua vida.

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Significa uma vida saudável, ter um equilíbrio entre trabalho e lazer, entre cumprir responsabilidades com outras pessoas e suas necessidades serem auto-realizadas. Significa tanto quanto for possível, funcionar a um nível ótimo de stress, mantendo bastante stress para continuar funcionando de uma maneira saudável e não ficar sobrecarregado de stress para torná-lo improdutivo. Com uma vida equilibrada, a gratificação imediata com uma maneira de viver que é abandonada para conseguir uma vida completa e com significado. Vida equilibrada pede cuidados com a própria saúde para que o corpo funcione bem. Nutrição, descanso, exercício, tudo recebe a necessária atenção na tua vida para dar energia, lidar com stress, libertar-se da doença e da dor, combater a fadiga e reconstruir o corpo danificado.

Libertação da aflição física permite o crescimento psicológico. Quando você sente-se bem é mais fácil pensar sobre atitudes e valores e trabalhar para eliminar da negação, culpa e raiva. Vida equilibrada requer fazer coisas para desenvolver autoconfiança e auto-estima, aprendendo a se sentir bem.

Vida equilibrada precisa de uma forte rede social que alimente e encoraje um saudável e orientado caminho para a recuperação do estilo de vida. Uma rede social saudável dá uma sensação de fazer parte. Inclui relações nas quais você sente que é uma parte valiosa. Incluem os membros da família mais próximos, amigos, parentes e colegas, consultores, empregador, membros de grupos de auto-ajuda e padrinhos.

Mesmo após alguns anos de sobriedade, Walter tinha horas em que achava mais difícil que o normal lembrar-se das coisas quando ficava mais irritado e ansioso, quando reagia com exagero com sua família e amigos, quando se sentia confuso e vencido. Sua esposa percebeu que ele sentia mais estes sintomas no sábado. O que é diferente no sábado? Ele geralmente dormia até mais tarde e tomava xícaras de café logo que acordava. Como sentia-se irritado logo ao levantar, começou a visitar seu padrinho de AA. o mais cedo possível. Juntos bebiam café, comiam bolacha, fumavam cachimbos e falavam. Walter ficava até o início da tarde, e quando chegava em casa almoçava entre 13:30 e 14:00 horas. Se um dos garotos deixava a bicicleta no caminho ou a esposa demorava demais no telefone, ele reagia exageradamente e saía de casa. O restante do dia era totalmente improdutivo e ficou conhecido na família pela sua “síndrome do sábado”. Walter decidiu tentar algumas atividades alternativas para ver se havia alguma mudança em suas reações. Começou a beber suco de laranja, logo que despertava, em vez de café, o que ajudou, assim, decidiu tentar comer no café da manhã. Isto ajudou muito mais. Ele e seu padrinho começaram a beber café sem cafeína e omitiram as bolachas. Vinha almoçar em casa, mais cedo e ser exercitava por um tempo. Então começou a fazer alguma coisa com a família à tarde. Todos ficaram surpresos com o desaparecimento da “síndrome do sábado”.

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CAPÍTULO IV RECUPERAÇÃO E RECUPERAÇÃO PARCIAL

Embora a doença adictiva possa ser controlada, ela não pode ser

detida. Sempre existe a possibilidade da recaída. A não ser que sejam tomadas medidas duradouras para controlar a doença, a recaída é provável.

A primeira tarefa da recuperação para os alcoólicos é reconhecer que têm uma doença debilitante, com risco de vida, associada ao uso do álcool ou outras drogas que alteram o humor. Precisam reconhecer que tem uma doença que prejudica sua habilidade para continuarem sóbrios e viverem produtivamente.

Uma vez aceito isto, a segunda tarefa da recuperação é a abstinência. Abstinência total é necessária. Isto significa nada de álcool, de nenhuma forma, nem pílulas para dormir, nem sedativos ou drogas alteradoras do humor. A terceira tarefa é reconhecer a necessidade de um programa de recuperação diário para dar apoio e assistência em continuar sóbrio, um dia de cada vez.

Recuperação da doença da adicção é um processo que requer um longo período de tempo. Uma pesquisa recente mostra que se leva de oito a dez anos, em média, para que um alcoólico em recuperação volte totalmente ao normal. Os problemas menos sérios causados pela adicção requerem dois a três anos para se resolver. Os problemas mais sérios exigem de oito a dez anos para total resolução.

O processo de recuperação é evolucionário. Isto significa que a recuperação é um processo de crescimento e desenvolvimento que progride de tarefas básicas para outras mais complexas. Esta progressão começa com a abstinência (aprender como parar de usar álcool e drogas) depois para a sobriedade (aprender a lidar com a vida sem álcool/drogas), depois para uma vida confortável (aprender a viver confortavelmente, enquanto abstinente), depois para uma vida produtiva (aprender como construir uma maneira de viver sóbria significativa).

Ajuda pensar no processo de recuperação como tendo seis períodos de evolução. Cada período tem um objetivo principal. Cada período de recuperação e seu objetivo principal estão listados abaixo:

Período de evolução Objetivo 1- Pré-tratamento Reconhecer a adicção. 2- Estabilização Lidar com a crise da abstinência. 3- Recuperação inicial Aceitação e como lidar com não-químicos. 4- Recuperação média Vida equilibrada. 5- Recuperação final Mudança de personalidade. 6- Manutenção Crescimento e evolução.

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O Modelo de Recuperação Evolucionário (MRE) sugere que uma recuperação com sucesso depende de se completar tarefas específicas de recuperação numa certa ordem. O fracasso em concluir certas tarefas deixará o dependente químico despreparado para lidar com as tarefas mais complexas da recuperação. É necessário se lembrar que recuperação é um processo muito pessoal. Duas pessoas não se recuperam da mesma maneira. O que estamos vendo pode ser descrito como um guia geral, não como um quadro de recuperação absoluto. Com isto em mente os períodos evolucionários do MRE serão revistos.

O PERÍODO DE PRÉ-TRATAMENTO

O objetivo principal do pré-tratamento é reconhecer a presença da doença da adicção. Deve-se reconhecer que perdeu a habilidade para controlar o uso de álcool, drogas e que não se é mais um usuário normal, mas um usuário adicto.

Neste período aprende-se pelas conseqüências do comportamento que não se pode usar drogas ou álcool com segurança.

Isto acontece quando se tem problemas devido ao uso adictivo. Quando os problemas tornam-se mais severos, tenta-se controlar o uso, pode-se trocar de uísque para vinho e depois do vinho para a cerveja. Pode usar outras drogas como a maconha ou anfetaminas para compensar o efeito tóxico do álcool. Quando isto falha tenta-se parar para provar que se pode controlar, e finalmente a derrota é admitida, assim a pessoa reconhece que é um adicto e não pode controlar o uso.

É importante entender que o pré-tratamento descreve o processo continuando dentro da pessoa dependente quimicamente. Pode acontecer após, a pessoa ser submetida a tratamento externo. É possível, por exemplo, uma pessoa ser forçada a um tratamento devido estar dirigindo embriagada, antes de aceitar que a bebida é um problema.

O reconhecimento da adicção que vem como um resultado tratamento é, para a pessoa, parte de experiência do pré-tratamento.

PRÉ-TRATAMENTO Aprender pelas conseqüências que não se pode usar

adictivos químicos com segurança

O PERÍODO DE ESTABILIZAÇÃO

Durante o período de estabilização o objetivo maior é reconquistar o controle do processo de pensamento, julgamento e comportamento. Não se está estabilizado até que seja capaz de pensar claramente, identificar e reconhecer sentimentos, lembrar de coisas, exercer julgamento e controle do comportamento. Estabilização envolve recuperação

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da síndrome de abstinência demorada e os severos sintomas. Envolve estabilização da crise motivacional que leva ao tratamento. Também envolve a administração de outros problemas físicos e psico-sociais que podem ameaçar a recuperação inicial. Durante a estabilização, a estrutura do uso adictivo se interrompe: sintomas da abstinência demorada, os imediatos e mais severos sintomas da SAD e problemas de saúde física ligados a adicção são colocados sob controle; e a crise da vida que causou a crise motivacional é estabilizada.

RECUPERAÇÃO Recuperando o controle do processo de pensamento, processo

emocional, memória, julgamento e comportamento.

O PERÍODO DE RECUPERAÇÃO INICIAL

Durante o período de recuperação inicial o objetivo principal é aceitar a doença da adicção e aprender como funcionar sem drogas e álcool. Um retorno à saúde é promovido pela recuperação dos danos físicos sérios e psico-sociais causados pela doença adictiva. Este período de recuperação repousa muito sobre um programa de recuperação estruturado que protege de stress excessivo da vida no dia a dia. Nesta hora começa-se a dar valor a uma vida sóbria.

Um programa de recuperação estruturado permite que ocorra um período de cura física. Um programa de nutrição apropriado e administração do stress são estabelecidos para dar alívio dos sintomas da SAD.

Um tratamento físico é feito para tratar de doenças físicas co-existentes ou problemas de saúde.

Um programa de recuperação estruturado cria um ambiente que dá condições ao adicto e sua família a educar-se sobre a doença adictiva e recuperação. Permite uma auto-avaliação sobre a natureza e severidade das estruturas da adicção e co-adicção.

Ajuda a reconhecer e aceitar a adicção e os problemas de vida causados e a começar a resolver estes problemas. Este programa de recuperação estruturado é temporário. Sua duração irá variar, dependendo da severidade da doença adictiva e o nível de saúde e problemas psico-sociais. O objetivo é ensinar a viver tão normal quanto for possível com o uso de um programa de recuperação. Se alguém quebra a perna, um aparelho de gesso é pedido para restringir o movimento e promover a cura. Quando a pessoa teve prejudicada sua personalidade e estilo de vida como resultado da doença adictiva, um programa de recuperação estruturado é necessário para restringir stress desnecessário e perturbação da recuperação da vigência do processo. Uma vez que esta recuperação inicial ocorra, abstinência total, sobriedade e uma vida produtiva podem ser mantidas com

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um programa de recuperação menos restritivo que o que se exige durante a estabilização e a recuperação inicial.

RECUPERAÇÃO INICIAL Aceitação da doença da adicção é aprender a funcionar sem drogas e álcool.

O PERÍODO DE RECUPERAÇÃO MÉDIO

Durante o período de recuperação médio o objetivo principal é a mudança no estilo de vida. Você estabeleceu uma maneira de viver centrada na adicção, um estilo de vida que requer o suo de adictivos químicos para lidar com o stress que resulta de adicção. No início da recuperação a maneira de viver adictiva foi trocada por um programa estruturado, desenvolvido pelo pessoal do tratamento, te ajudando a começar a recuperação. No meio da recuperação o desafio é desenvolver gradualmente uma maneira normal e equilibrada de viver, centrada na sobriedade.

Estando bem e estável, trabalhando a aceitação da adicção. O Dependente Químico encontra-se pronto para começar a redução das horas em terapia e estabelecer uma estrutura de vida normal. Ao invés de focalizar sobre não usar, focaliza sobre uma vida normal, trabalho e família.

Para uma pessoa adicta é típico que estabeleça uma vida centrada na adicção, embora estando abstinente.

Isto é acompanhado pelo uso de outras adicções no lugar da adicção original.

O objetivo é estabelecer um estilo de vida equilibrado livre de adicção, baseado em valores centrados na sobriedade e atividades.

Uma vida equilibrada envolve um programa de recuperação ativo e menos intenso que no início da recuperação. Inclui atividades da recuperação, atividades de trabalho, atividades de família e atividades sociais com a família e amigos, tempo para auto desenvolvimento e recreação, para exercícios próprios e dieta. Lidar com o stress e resistir a adicções substitutas são assuntos importantes no meio da recuperação.

RECUPERAÇÃO MÉDIA Desenvolver um estilo de vida normal e equilibrado

PERÍODO DE RECUPERAÇÃO FINAL

O objetivo principal do período final de recuperação é a mudança

de personalidade pela evolução de uma saudável auto estima, a capacidade para relações íntimas saudáveis e a habilidade para viver feliz e produtivamente.

É hora de avaliar valores pessoais: crenças sobre o ser, os outros e o mundo; estruturas de vida auto-destrutivas; habilidade nos relacionamentos e intimidade. Se você não tem o trabalho que gostaria, o

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final da recuperação é a hora de reestruturá-la. Isto pode exigir ajuda especializada. Para algumas pessoas em final de recuperação não apresentam problemas especiais. Estas pessoas vieram de famílias relativamente funcionais. Na infância desenvolveram crenças e valores saudáveis e aprenderam estratégias para lidar construtivamente com a vida. Suas adicções interferiram com sua habilidade para viver produtivamente. Para estas pessoas, recuperação significa reabilitação, voltar a um prévio nível de saúde e bem estar.

Outras pessoas em recuperação não são tão felizes. Tem muito trabalho a fazer no final da recuperação porque cresceram em famílias disfuncionais ou adictivas, porque começaram a usar álcool ou drogas tão cedo que o crescimento emocional e o desenvolvimento foram detidos. Nunca tiveram crenças normais saudáveis e atitudes sobre a vida e como viver. Muitos desenvolveram problemas emocionais, não relacionados a suas adicções, que resultou em incapacidade para conseguir conforto e significado na sobriedade.

Para resolver assuntos que vêm da infância ou adolescência, primeiramente é necessário reconhecer que estes assuntos criaram crenças erradas que estão interferindo com uma sobriedade confortável. Estas crenças formam a base de julgamentos e decisões que levam ao malogro. É necessário analisar cuidadosamente - com a ajuda de terapeutas habilitados - as dinâmicas da família na qual você cresceu. Você precisa identificar as crenças erradas que desenvolveu, que agora estão interferindo com uma sobriedade confortável e significativa. Precisa tomar decisões para mudar como você pensa e age em resposta aos desafios diários e aos problemas.

Filhos de Alcoólicos, um grupo de apoio, são bastante úteis nesta mudança diária. O resultado final de resolver estes assuntos antigos é se libertar das crenças erradas que foram aprendidas na infância, que limitaram o potencial para a tua oportunidade para desenvolver uma saudável auto estima, que resultará em crescimento espiritual, relações íntimas saudáveis e uma vida produtiva e expressiva.

O propósito do final da recuperação é desenvolver sistemas de crenças, sistemas de valor e ter habilidade para uma vida plena e produtiva.

Quando sua maneira de viver é estabilizada, você começa a querer um pouco mais. Pode ser um tempo perigoso porque sua personalidade adictiva pode querer levar você a uma maneira de viver dependente. Você precisa perceber que o propósito da vida não é escapar da realidade.

Quando você queria viver pela via rápida, você sabia como conseguir uma gratificação imediata. Para viver uma vida mais completa você precisa fazer mudanças que podem ser temporariamente dolorosas. No final da recuperação você vê qual é o seu propósito de vida e decide mudar os valores que irão lhe permitir uma vida mais expressiva.

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RECUPERAÇÃO FINAL Desenvolvimento de uma auto-estima saudável, crescimento espiritual,

relações íntimas saudáveis e uma vida expressiva

O PERÍODO DE MANUTENÇÃO

O objetivo principal do período de manutenção é uma vida sóbria e produtiva. Isto envolve manter um programa de recuperação efetivo, identificar sinais de aviso de recaída, resolver os problemas diários, e uma vida produtiva.

Adicção é uma doença crônica que nunca termina. Como uma pessoa em recuperação você precisa manter uma vida centrada na sobriedade que dá condições de lidar com o stress, resolver os problemas e manter como prioridade a honestidade nos teus relacionamentos pessoais. Você também precisa ter consciência da tua potencialidade adictiva e evitar com cuidado adictivos químicos e comportamentos compulsivos.

MANUTENÇÃO Continuar sóbrio e viver produtivamente

RECUPERAÇÃO PARCIAL

Recuperação da doença adictiva não é um processo de

crescimento em linha reta. Muitas pessoas se recuperam em estágios oscilantes. Eles desenvolvem um novo entendimento de sua doença e recuperação. Gastam tempo aplicando e integrando este novo conhecimento nas suas vidas diárias. Se tornam confortáveis por um tempo, antes de desenvolverem a necessidade de novo conhecimento.

É comum para pessoas em recuperação recaírem. Isto acontece muitas vezes quando não estão tentando colocar o novo conhecimento para funcionar. O stress da mudança os pega por algum tempo e então param. Quando o stress diminui, eles falam sobre como melhorar a situação, arregaçam as mangas e começam novamente. Muitas pessoas em recuperação eventualmente conseguem uma sobriedade duradoura e confortável. Recuperação de doença adictiva não é um processo de crescimento em linha reta

Muitas pessoas em recuperação não fazem todo o caminho do

processo de recuperação. A recuperação parcial começa quando eles confrontam uma tarefa de recuperação que acham ser incontrolável ou intransponível.

Esta tarefa de recuperação intransponível é chamada de “ponto de estrangulamento”. Ficar estrangulado os leva a fracassar por completo em

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toda a tarefa de recuperação. A conseqüência é que permanecem desconfortáveis e experimentam uma sobriedade de baixa qualidade. DIAGRAMA 2: PONTO DE ESTRANGULAMENTO

Uma pessoa pode experimentar um ponto de estrangulamento em qualquer lugar na recuperação. O ponto de estrangulamento mais comum ocorre na transição entre os estágios de recuperação.

Uma saudável e produtiva resposta para atingir um ponto de estrangulamento é atrasar um pouco para baixar o stress. O passo seguinte é examinar racionalmente o ponto de estrangulamento discutindo-o com outras pessoas e então procurar ajuda apropriada para lidar com isto. Em vez de tomar esses passos produtivos, muitas pessoas que estão estacionadas na recuperação usam de negação para lidar com o ponto de estrangulamento. A negação não é usada conscientemente. Bloqueia automaticamente a consciência de que algo está ruim. O ponto de estrangulamento produz o stress, a negação, enquanto bloqueia temporariamente a consciência do stress e eventualmente o intensifica. DIAGRAMA 3: 0 PAPEL DA NEGAÇÃO NA RECUPERAÇÃO

A recuperação parcial começa quando o Ponto de Estrangulamento é negado. A pessoa diz: “Está tudo bem com minha recuperação. Não há nada de errado comigo”. DIAGRAMA 4: STRESS E RECUPERAÇÃO PARCIAL

A negação do Ponto de Estrangulamento produz um aumento no stress. Quando o stress aumenta, os sintomas de abstinência demorada começam a se desenvolver e a piorar. Isto significa que a pessoa desenvolve dificuldade nas pessoas, claramente, manejar sentimentos e emoções, lembrar coisas, reconhecer e lidar com o stress.

Também podem ter dificuldades para ter um sono tranqüilo ou podem ter tendência a sofrer acidentes. Muitas pessoas em recuperação não reconhecem conscientemente os sintomas da SAD. Isto pode ser porque ele não conhece nada sobre APA. Pode ser também que o stress está bloqueando sua habilidade de pensar claramente sobre si mesmo. Como resultado, não conseguem lidar com os sintomas da SAD. Ao invés disso, tentam lidar com eles com mais negação. A negação aumenta o stress, que torna piores os sintomas da SAD. A SAD cria mais problemas e estes problemas criam stress adicional que adiante agrava SAD.

O ponto de estrangulamento original muitas vezes é obscurecido por problemas severos que resultam da falta de habilidade de lidar com a

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SAD. A pessoa fica preocupada com estes problemas e falha em identificar a causa primária do que está acontecendo.

Ele fica cada vez mais estressado. O aumento do stress leva a um estado de ansiedade variável e compulsão. A pessoa se sente compelida a fazer alguma coisa, qualquer coisa, para aliviar a ansiedade e a compulsão, muitas vezes adotando comportamentos compulsivos que aliviam temporariamente o stress. O comportamento compulsivo, porém, produz problemas adicionais duradouras em troca do alívio a curto prazo. DIAGRAMA 5: COMPULSÕES SUBSTITUTAS

Num esforço para lidar com o stress, compulsões substitutas como trabalhar demais, comer demais, gastar demais, etc... são usadas. Estes comportamentos compulsivos trazem alívio no momento, mas aumentam o stress no final das contas.

Eventualmente o stress leva a ativação do processo de recaída a estas pessoas começam a perder o controle.

Quando a perda de controle força a consciência, eles vêm o manuscrito na parede - Se continuarem fazendo o que estão fazendo, usaram álcool ou drogas, ficam loucos ou tentam o s uicídio para se livrar da dor. Neste ponto muitas vezes eles reativam seus programas de recuperação e a vida é estabilizada. Progridem na recuperação até que o mesmo bloqueio é encontrado novamente.

Quando o stress aumenta, os sintomas da abstinência pós aguda começam a se desenvolver e a piorar.

DIAGRAMA 6: O PROCESSO DE RECAÍDA

Eventualmente o stress torna-se tão severo que o processo de recuperação, marcado por uma disfunção progressiva interna e externa, começa a se desenvolver. A pessoa reconhece o risco de recaída. DIAGRAMA 7: REPETINDO O CICLO

A pessoa reativa o programa de recuperação e progride até o mesmo ponto de estrangulamento ser alcançado. O ciclo começa de novo. É muito fácil acreditar que isto é recuperação. Pessoas em recuperação podem ficar presas numa estrutura de recuperação parcial.

Progridem várias vezes até o mesmo ponto, onde novamente, sem saber, começam o processo de recaída. Às vezes, eles reconhecem a progressiva perda de controle que precede um episódio de recaída aguda. O medo da recaída os motiva a tomar alguma ação para colocá-los de volta ao processo de recuperação, onde eles ficam confortáveis. Perseguem um programa de recuperação ativo até que encontram um estágio que percebem como tão ameaçador para encarar, e o ciclo da recuperação parcial continua.

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Eles podem repetir a mesma estrutura várias vezes. O livro grande chama isto de “meias medidas”.

Joana é uma alcoólatra de 57 anos. Está sóbria por 16 anos no AA. Quando parou de beber lhe disseram para assistir 90 sessões em 90 dias. Funcionou tão bem que ela não viu qualquer razão para mudar esta estrutura. Joana é casada com um homem que não ama, mas se sente na obrigação de continuar com ele devido a sua religião. Ela trabalha em tempo integral em um grande hospital. Sentia que era capaz de ser uma assistente administrativa, mas que suas promoções eram bloqueadas porque outros ficavam com o crédito por suas realizações.

Quando ficava perturbada sobre seu casamento ou seu trabalho, ia a reuniões de AA., falava com seu padrinho, e então tentava de todas as maneiras forçar os problemas para fora de sua mente. Sua recuperação era uma viagem na montanha russa. Às vezes se sentia excitada ou serena e agradecia a seu Poder Superior pela recuperação, mas outras vezes sentia tanta dor e frustração que ela achava que ia morrer.

O ciclo é previsível. Durante um período de três a cinco meses Joana ficou cada vez mais deprimida e ansiosa até finalmente começar a pensar em beber ou usar tranqüilizantes para reduzir a dor. Ela fala para seu padrinho e comenta nas reuniões sobre sua dor e seu desejo de beber, mas ela não falava para ninguém sobre os problemas que estavam causando dor.

Quando pensava na bebida, sua assistência ao AA. aumentava, às vezes assistindo duas ou três reuniões por dia. Então diminuía sua participação nas reuniões e ficava envolvida de novo com seu casamento e seu trabalho e a dor voltava, e então começava a pensar em beber.

Joana não bebeu por 16 anos, mas ela achava apenas um alívio temporário da dor crescente de uma recuperação disfuncional. A qualidade de sua sobriedade poderia melhorar muito se reconhecesse a necessidade para resolver os sucessivos problemas de vida que periodicamente levavam-na a pensar em beber.

Algumas pessoas que experimentam a recuperação parcial não percebem a progressiva perda de controle que acompanha a síndrome da recaída. Suas vidas ficam fora de controle, embora estejam aparentemente participando de um programa de recuperação. Acreditando que assistência nas reuniões de AA. ou num grupo de ambulatório, somente para garantir uma sobriedade contínua e eles recaem. Eles, assim como os que estão próximos, imaginam por que aconteceu.

Recuperação parcial não é parcial

Não é bom arruinar a tua vida numa recuperação parcial. Você merece mais do que isso. Existe algo melhor que isto. A conseqüência da recuperação parcial é viver em uma crise de grau baixo, dor e desconforto. O

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stress da recuperação parcial pode causar doenças ligadas a ele, e isso pode abreviar a vida.

Você pode reconhecer os pontos de estrangulamento e passar além deles para a recuperação total.

ADMINISTRAÇÃO DOS SINAIS DE AVISO Preciso ter planos concretos para prevenir e parar os sinais de aviso

Administração dos sinais de aviso: cada sinal de aviso na

verdade é um problema que precisa prevenir ou resolver, desde que ocorra. Se você quer evitar um problema, precisa revisar cada sinal de aviso e responder a questão: “Como posso evitar que este problema aconteça?”

É necessário lembrar que adicção é uma doença com tendência à recaída. Isto significa que qualquer adicto em recuperação terá uma tendência a experimentar problemas ou sinais de aviso que podem levá-lo de volta ao uso adictivo.

Uma vez que se saiba e aceite este fato, pode-se planejar o inevitável. Haverá problemas e sinais de aviso de recaída. Se você quer evitar a recaída, precisa ver cada sinal de aviso que experimentou no passado e formular um plano para lidar com eles. É essencial que se estabeleça novas respostas para identificar sinais de aviso de recaída. Determinar o que se irá fazer quando reconhecer que um sinal de aviso está acontecendo em sua vida. Como pode ser interrompida a síndrome de recaída? Que ação positiva pode-se tomar que removerá o sinal de aviso de recaída? Liste várias opções ou possíveis soluções para remover o problema. Listar várias alternativas dará mais chances de se escolher a melhor solução e dar alternativas se a primeira escolha não funcionar. Escolha uma opção razoável que pareça oferecer a melhor possibilidade de interromper o processo de recaída. Esta será a resposta nova quando perceber um sinal de recaída em particular.

Pratique cada nova resposta até se tornar um hábito. Se a nova resposta estiver disponível para você na hora de stress alto, haverá a necessidade de praticá-la na hora em que o stress estiver baixo.

Pratique e pratique até que a resposta torne-se um hábito. Se a resposta nova falhar para interromper o sinal de aviso, estabeleça um plano novo mais efetivo.

Não se pode permitir adiar um plano para interromper os sinais se eles ocorrerem. Se não se possuir um plano, não será capaz de interrompê-la quando ocorrerem.

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TREINAMENTO DE INVENTÁRIO Preciso fazer um inventário duas vezes por dia para que possa perceber os primeiros sinais de

problemas e corrigir os problemas antes que fiquem fora de controle.

Treinamento de inventário: Qualquer programa de recuperação com sucesso envolve um inventário diário. O 10o. Passo do AA. “lembra-nos que devemos continuar a fazer um inventário pessoal e quando estivermos errados admiti-los prontamente”. Um inventário diário é necessário para ajudar a identificar os sinais de aviso de recaída antes de a negação ser reativada. Qualquer sinal de recaída é sério porque pode ser o primeiro passo para voltar a beber ou ter colapso emocional/físico. Sem um inventário diário, o adicto irá ignorar os sinais iniciais, e então será incapaz de interromper a síndrome da recaída quando se torna mais aparente.

Para um plano de prevenção de recaída é necessário projetar um sistema de inventário especial que monitora os sinais de aviso de uma recaída em potencial.

Desenvolva uma maneira para incorporar este sistema de inventário na vida no dia a dia. Agora você tem uma lista dos sinais de aviso pessoais. Como você vai determinar se algum destes sintomas for ativado em sua vida?

Para que um inventário diário se torne um hábito, recomendamos que se estabeleça dois rituais para o inventário diário. O primeiro deveria ser pela manhã. Abra um espaço de 5 a 10 minutos para ler a meditação no livro “24 horas” e fazer um resumo de seus planos para o dia. Pergunte-se se você está preparado para este dia e o que você pode fazer que lhe ajude fisicamente e emocionalmente a enfrentar os desafios do dia e manter uma sobriedade confortável. O segundo ritual de inventário deveria ocorrer à noite. Reveja as tarefas do dia. Identifique o que você manuseou bem e o que precisa melhorar.

Que forças você usa para enfrentar os desafios do dia? Como você pode reforçar e aumentar sua força? Que fraqueza ficou aparente e como você pode corrigir os defeitos e melhorar nestas áreas?

Olhe cuidadosamente na sua lista de sinais de recaída pessoais. Alguns deles estão presentes em sua vida? Se estiver o que você está fazendo para corrigir estas situações? Existem outros sinais de aviso que podem ser acrescentados à sua lista?

Pode ser útil manter um diário para rever seu progresso na recuperação e para acompanhar os sinais de recaída. Isto ajudará a ver se você está fazendo progresso na recuperação. É progresso porque lutamos. Afinal, não por perfeição.

Apenas saber quais são seus sinais de aviso não irão necessariamente lhe ajudar. Lembre-se que os sinais de recaída se desenvolvem inconscientemente. Você não sabe que eles estão acontecendo. Um inventário é uma maneira para rever conscientemente o

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que acontece no dia. Através de um inventário feito duas vezes, de manhã e à noite, é possível perceber os sinais de recaída, e fazer algo para pará-los antes de perder o controle.

REVER O PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO Preciso rever meu programa de recuperação atual para ter certezade que existe

ajuda para tratar com meus sinais de aviso.

Rever o programa de recuperação: Recuperação e recaída são os lados opostos da mesma moeda.

Se você não está se recuperando, você está em perigo de recair. Um bom programa de recuperação é necessário para evitar a recaída. Seu programa de recuperação anterior funciona bem para você?

Como pode ser melhorado é necessário aprender a se desafiar na vida diária. O adicto conhece sua adicção a sabe lidar com os sintomas? Presta atenção a todas suas necessidades de saúde? Está fazendo todo o necessário para se recuperar?

É necessário desenvolver um novo programa de recuperação baseado no que funcionou e do que não funcionou no passado.

Para cada problema, sintoma ou sinal de aviso que se identifique precisa-se ter certeza de que há alguma coisa no programa de recuperação para ajudar a lidar com isto.

ENVOLVIMENTO COM OS OUTROS Preciso pedir aos outros que se ajudem a continuar sóbrio falando-lhes sobre meus sinais de

aviso e pedindo por um retorno se eles verem quaisquer sinais aparecerem.

Envolvimento de pessoas significativas. Você não pode se recuperar sozinho. Recuperação total envolve a ajuda e apoio de uma variedade de pessoas. É necessária ajuda de outras pessoas para ter sucesso num plano de prevenção de recaída. O processo de recaída muitas vezes é um processo totalmente inconsciente. Apesar de um inventário diário pode-se não ver o que está acontecendo. Por isso é importante envolver outras pessoas nos planos de prevenção de recaída.

Membros da família, colegas de trabalho e companheiros de AA. podem ser muito úteis em ajudar a reconhecer sinais de aviso enquanto ainda é possível fazer algo sobre eles. Para que os outros possam ajudar, eles precisam conhecer os sinais de aviso e preocupar o bastante para ter disposição de falar ao adicto quando percebem estes sinais de aviso.

É necessário estar disposto a falar com estas pessoas regularmente para que eles possam notar quando algo está errado e agir sobre o que eles dizem.

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Selecione pessoas significativas na vida do adicto para ficarem envolvidas na prevenção de recaída. Podem ser os membros mais próximos da família, um patrão que o apóia, um padrinho do AA., ou um amigo do AA.

Faça uma lista das pessoas com quem se tem um contato diário. Escolha desta lista as pessoas que você acha que seriam importantes para lhe ajudar a continuar sóbrio e evitar a recaída. Estas pessoas formam a rede de intervenção. Determine como cada pessoa interagiu com o adicto no passado, quando mostrou sintomas de recaída. Foram úteis à sobriedade? O que poderia fazer que fosse mais útil à sua sobriedade? Agora determine o que você gostaria que estas pessoas fizessem na próxima vez que forem reconhecidos os sintomas de recaída.

Reúna as pessoas da vida do adicto para a reunião. Explique a eles a lista de sinais de aviso pessoais e forme um contrato com cada pessoa de apoio sobre o que ele deverá fazer quando os sintomas de recaída forem percebidos e o que eles farão se o adicto começar a usar. O que se quer que eles façam e o que eles estão dispostos a fazer se a negação for reativada e se ficar incapaz de reconhecer que existe um problema?

A rede de intervenção deveria ensaiar ou representar uma situação quando o adicto pode ficar numa pior. Representar uma situação na qual se está mostrando sinais de aviso e então negar estes sintomas. Deixar que eles ensaiem o que eles precisam fazer para ajudar a interromper a síndrome de recaída.

APÊNDICE O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída

INTRODUÇÃO

O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída é uma reunião

estruturada projetada para assistir alcoólicos em tendência a recaída e pessoas dependentes químicas para reconhecer os sinais de aviso e sintomas de recaída e aprender como lidar eficazmente com estes sinais e sintomas. Este grupo é projetado como uma organização voluntária de auto-ajuda. Não existem jóias, nem taxas, nem requisitos para ser membro. O propósito primordial do grupo é ajudar pessoas propensas a recaída a reconhecerem seus próprios problemas a se unirem para darem ajuda mútua e apoio em tempo de crise.

O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída é feito para trabalhar em cooperação com Alcoólicos Anônimos e programas relacionados. Também é feito para trabalhar com consultores profissionais. O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída não foi feito para substituir o AA. ou outras formas de aconselhamento profissional. Para ser membro do grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída a única qualificação é uma

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história de tentativas honestas em sobriedade que falharam ou um medo real de recair. O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída reconhece que as pessoas com tendência a recaída experimentaram muitos fracassos na recuperação. Suas histórias de fracassado muitas vezes os levam a serem rotulados ou estigmatizados como fracassados. Devido a seus próprios problemas que passam de mão em mão com uma longa história de fracassos na recuperação. As pessoas com propensão a recaída precisam de um grupo de apoio especial onde possam encontram amizade de outras pessoas em recuperação que tiveram uma história de fracasso parecida.

Recaída é um processo progressivo que é marcado por sinais de aviso definidos, previsíveis e progressivos. Desde que as pessoas conheçam seus sinais de aviso pessoais podem criar um plano de recaída que lhes permitirão lidar com sucesso com estes sinais. Muitos sinais podem se desenvolver sem a percepção consciente ou decidida da pessoa com propensão a recaída. Por isso, o grupo de PPR é feito para dar retorno aos membros sobre os sinais de aviso e sintomas que são observados por outros membros do grupo. Pelo processo de inventário diário, administração dos sinais de aviso consiste na auto-revelação e retorno dos outros que a recaída pode ser prevenida.

CAPÍTULO V CRENÇAS ERRÔNEAS SOBRE RECUPERAÇÃO E

RECAÍDA

O primeiro passo para prevenir recaída é entender o que é e o que não é. Quanto mais se entender e conhecer sobre recaída, menor será o risco de experimentá-la e será menos ameaçadora.

Evita mal entendidos que prendem as pessoas com tendência a recaída num estado de desespero.

Muitas pessoas têm estas crenças erradas e agem como se elas fossem verdadeiras.

Crenças errôneas sobre recaída criam profecias que se auto realizam. Quando crenças errôneas tornam-se “verdades”, age-se como se fossem verdade.

O problema com as crenças errôneas é que elas evitam que o

problema efetivo seja resolvido, necessário para interromper o ciclo de recaída.

Crenças errôneas sobre recaída criam profecias que se auto realizam. Quando crenças errôneas tornam-se “verdades” age-se como se fossem verdade.

Estes comportamentos inadequados levam a um ciclo de recaída, assim as crenças errôneas tornam-se reais.

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Gostaríamos de dispensar alguns dos mitos e noções erradas sobre recaída e substituí-los com noções concretas que ajudarão mais realisticamente com o potencial de recaída da doença.

As crenças erradas que detêm a recuperação de pessoas com tendência à recaída caem em 4 áreas. Estas áreas são: 1- Crenças erradas sobre o papel do álcool e o uso de drogas na recuperação e na recaída. 2- Crenças erradas sobre a presença e natureza dos sinais de aviso de recaída. 3- Crenças erradas sobre o significado e o papel da motivação na recuperação. 4- Crenças erradas sobre a eficiência do tratamento.

CRENÇAS ERRADAS SOBRE O PAPEL DO ÁLCOOL E O USO DE DROGAS NA RECUPERAÇÃO

Muitas pessoas com propensão à recaída acreditam que

recuperação é abstinência do álcool e uso de drogas e que recaída é o uso de álcool e drogas. Isto os leva a acreditar que em qualquer hora que se abstenham de álcool e drogas, estão em recuperação e sempre que voltarem ao álcool e ao uso de drogas recaíram. Como resultado acredita que não usar álcool e drogas é o objetivo principal na recuperação.

Recuperação não é abstinência do uso de álcool e droga. Abstinência é apenas um pré-requisito para a recuperação. A recuperação verdadeira envolve realizar uma série de tarefas diariamente que permitem lidar com a síndrome de abstinência aguda e demorada e a correção de danos bio-psico-sociais causados pela adicção. Em outras palavras, recuperação é muito mais que apenas não usar álcool ou drogas. Se a crença que apenas não usar produzirá recuperação, a pessoa se surpreenderá com a disfunção causada pelos sintomas baseados na sobriedade, da adicção.

O adicto também pode se sentir preso e sem esperança devido às crenças erradas que impedem que se ache um caminho para lidar com estes sintomas. Muitos alcoólicos com propensão à recaída levam os mal entendidos muito além. Considerando-se que recuperação é abstinência do uso de álcool e de drogas, então você vai acreditar que desde que não beba e não use drogas você manterá o controle e ficará bem.

Vamos rever esta seqüência de mal entendidos:

1- Recuperação é abstinência do álcool e drogas. 2- Recaída é usar álcool e drogas. 3- Desde que eu me abstenha de álcool e drogas, estarei em recuperação. 4- Desde que volte a beber e usar drogas, estarei recaído.

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5- Desde que não use álcool ou drogas estarei em controle de mim mesmo e de meu comportamento.

CONCLUSÃO: Recaída é sempre o resultado de uma escolha

consciente e deliberada em usar álcool e drogas ou comportamentos. CONCLUSÃO: Minha primeira tarefa na recuperação é não usar

álcool nem drogas. O engano é que não usando álcool nem drogas isto não garantirá

o controle do uso e automaticamente advirá a recuperação. Não usar álcool e drogas deterá o ciclo de adicção e os episódios de perda de controle causados pela intoxicação.

Mas como discutimos antes, quando os sintomas baseados no álcool/drogas são interrompidos pela abstinência, são substituídos pelos sintomas baseados na sobriedade. Estes sintomas de sobriedade podem ser tão severos que levam você a perder o controle do seu julgamento e comportamento mesmo quando sóbrio.

Muitos alcoólicos que recaem dizem que se sentem tão disfuncionais na recuperação que uma volta ao uso adictivo parece como uma opção positiva.

Estão sentindo tanta dor que eles vêm a acreditar que são deixadas três escolhas: 1- Medicar a dor usando álcool/drogas 2- Suicídio

3- Insanidade

Dadas estas opções, o uso do álcool ou drogas aparece como a melhor escolha.

Abstinência de álcool e drogas é necessária para a recuperação, mas não é o único objetivo na recuperação. Aprender como viver confortavelmente e expressivamente sem álcool/drogas é o objetivo principal da recuperação.

Sintomas baseados na sobriedade - incluindo os sintomas de abstinência aguda e abstinência demorada, a incapacidade de lidar com a vida sem álcool e drogas e a crise criada pelos danos bio-psico-sociais da adicção.

Não interferir com a capacidade de ter uma vida confortável e significativa sem o uso do álcool e drogas. Para recuperar é importante parar de usar álcool e outras drogas alteradoras do humor e então aprender como lidar com a retirada e o stress da vida sem voltar ao uso de álcool e drogas.

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Abstinência não é o único objetivo da recuperação

CRENÇAS ERRÔNEAS SOBRE OS SINAIS DE AVISO DE RECAÍDA

Um erro comum é que a recaída ocorre subitamente e espontaneamente sem sinais de aviso.

Esta crença leva a um sentimento de desesperança e impotência. Recaída permanece um processo misterioso sobre o qual as pessoas em recuperação têm pouco ou nenhum controle. Tudo que podem fazer é esperar e rezar para que a recaída não ocorra.

Recaída não ocorre subitamente e espontaneamente sem aviso.

A verdade é que existem muitos sinais de aviso que precedem

uma recaída. Uma vez que se reconheça e administre os sinais de aviso iniciais da recaída, pode-se parar o processo antes que ele se inicie.

Se o adicto estiver preso na crença errônea de que a recaída é uso de álcool e drogas, irá identificar apenas alguns sinais de aviso de recaída.

Pessoas que acreditam que recaída é somente usar álcool ou drogas, somente identificaram sinais de aviso relacionados a beber ou usar drogas.

Estes sinais são: • Pensar sobre o uso de álcool e drogas; • Desenvolver uma compulsão para usar álcool e drogas. • Colocar-se em situações onde outros estão bebendo ou usando

drogas. • Parar de participar nos grupos de auto-ajuda ou outras atividades

da recuperação. Estas pessoas acreditam que sempre sabem quando

experimentam sinais de aviso. Falham em perceber que a negação continua na sobriedade e pode bloquear o reconhecimento destes sinais de aviso.

O ponto final neste processo de raciocínio errado leva a alguma coisa como: “Uma vez que estou consciente dos sinais de aviso, sempre poderei lidar com eles se eu quiser”. Vamos revisar estes mal entendidos: 1- Todos os sinais relacionados ao uso de bebida ou drogas não devem ir às reuniões de AA. 2- Sempre sei quando experimento estes sinais de aviso de recaída. 3- Uma vez que sei os sinais de aviso, sempre serei capaz de lidar com eles se quiser.

CONCLUSÃO: Desde que não estou pensando em beber ou usar

e estou indo às reuniões está tudo bem.

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O problema com estas crenças é muito sério. Pensar em usar álcool ou drogas, sentir compulsão para usar, se colocar em situação de uso do álcool/drogas e parar com atividades de recuperação. São sinais de aviso de recaída muito sérios. Mas estes sinais de aviso acontecem muito tarde no processo de recaída. Quando estes sinais aparecem, muitos adictos já perderam o controle de seu julgamento e comportamento. Por isso, eles podem ser incapazes de reconhecer ou fazer alguma coisa para interromper estes sinais de aviso.

CRENÇAS ERRÔNEAS SOBRE MOTIVAÇÃO

Muitas pessoas em recuperação observam, o fato que a recaída é como uma ocorrência bastante freqüente. Por isso, desenvolvem algumas maneiras de explicar por quê. Devido às crenças errôneas dadas anteriormente, muitas pessoas em recuperação desenvolvem os seguintes mal entendidos: 1- Se eu recair eu não estou motivado para me recuperar. 2- Eu me recuperei quando me magoar bastante devido ao uso de álcool e drogas. 3- Se eu recaio é porque não sofri o suficiente para querer continuar sóbrio.

CONCLUSÃO: Pessoas com propensão à recaída precisam sofrer mais para interromper suas estruturas de recaída.

Esta é uma conclusão devastadora para pessoas propensas à

recaída. Pode levar a questionar sua sanidade, se quer se sabe que deseje ficar bem, mas é incapaz de fazê-lo. Isto destrói o auto valor e a auto estima e produz vergonha e culpa. É verdade que alguns dependentes químicos recaem porque não acreditam que são alcoólicos, e não aceitam seu alcoolismo porque não tiveram conseqüências severas o suficiente para se convencer.

Mas esta estrutura de recaída só se aplica no período de pré-tratamento da recuperação. Não se aplica a pessoas com tendência à recaída que sabe que são adictos e não podem usar o álcool ou a droga com segurança. E mais, que não podem permanecer sóbrios, não importa quanto tentem. Muitas pessoas propensas à recaída estão numa dor terrível. De fato a dor é tão forte que não permite que eles funcionem sóbrios. A dor forte realmente lhes tira os benefícios de seu programa de recuperação.

A dor não evita a recaída; ela pode aumentar o risco

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CRENÇAS ERRADAS SOBRE O TRATAMENTO

Muitas pessoas que estão se recuperando da doença adictiva fazem um esforço muito grande para se recuperarem. Procuram aconselhamento e terapia de grupo. Assistem regularmente a um grupo de ajuda. Mesmo assim, eles falham em sua recuperação.

Estas pessoas desenvolvem uma ou duas, igualmente destrutivas, crenças errôneas. A primeira crença errada é que nenhuma forma de tratamento ou grupo de auto-ajuda pode funcionar.

Isto simplesmente não é verdade. Existem muitos casos documentados de pacientes propensos à recaída que se recuperam após voltarem a reaplicar em si mesmos o programa de recuperação que não funcionou antes. Sempre vale a pena tentar o AA. ou um tratamento.

Uma crença igualmente destrutiva é o totalmente oposto. É a crença de que o tratamento (AA. mais aconselhamento profissional) é 100% efetivo para qualquer um que queira se recuperar, e que a causa principal da recaída é a decisão de desligar-se do tratamento. Com esta crença, quando as pessoas falham no tratamento, eles assumem que é porque existe algo basicamente errado com elas que torna impossível a recuperação

Olhemos estas crenças errôneas: 1- Nenhuma forma de tratamento ou grupo de auto-ajuda pode me ajudar a continuar sóbrio. 2- O tratamento é 100% eficaz para prevenir a recaída.

CONCLUSÃO: Eu recaio porque sou constitucionalmente incapaz de recuperação.

CONCLUSÃO: Não adianta fazer outro tratamento. Não consigo ficar bem.

Na verdade existem bons tratamentos e maus tratamentos. Existe tratamento que é bom para uns, mas não para outros. E ainda existem muitos que são desconhecidos sobre o que é um tratamento efetivo sobre a doença da adicção.

Algumas pessoas recaem porque não conseguem a habilidade para continuarem sóbrios. Isto não significa que eles não podem. Tratamento pode ser eficaz numa faixa de 20 a 60%, dependendo de como é medida a eficácia.

Uma história de recaída não significa que você não pode se recuperar.

Não é uma indicação de que você é incapaz constitucionalmente de recuperação.

É uma indicação de eu você é um alcoólico ou dependente químico bastante típico e que você precisa arregaçar as mangas e voltar para o tratamento.

As chances são boas de que você encontre um programa que use um plano de prevenção de recaída, capaz de conseguir uma sobriedade

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duradoura ou ao menos continuar sóbrio por períodos mais longos de tempo e melhorar sua vida. O propósito deste livro é mostrar como, com informação acurada, para iniciar isto já.

São boas as chances de que com um plano de prevenção de recaída você consiga uma sobriedade duradoura.

CAPÍTULO VI

ENTENDENDO O PROCESSO DE RECAÍDA

O que é recaída? Esta pergunta não é fácil de ser respondida

como parece. Para conseguir uma resposta precisa, vamos examinar como o conceito de recaída se desenvolveu historicamente.

Nos primeiros dias do AA., no meio da década de trinta, os alcoólicos eram considerados como recaídos quando voltavam a beber novamente. Recaída definia-se simplesmente como uma volta ao uso do álcool. Como os alcoólicos começaram a usar drogas substituindo a bebida, se tornaram conscientes de que alcoólicos não podem usar qualquer droga sedativa com segurança. Álcool é uma droga sedativa e agora se sabe que qualquer droga sedativa tem efeito no corpo, similar ao álcool. De fato, alguns profissionais começaram a usar o termo “sedativismo” em vez de “alcoolismo” porque o problema não é o álcool, mas a reação do corpo a drogas sedativas.

Assim, recaída começou a significar o uso de qualquer droga calmante (incluindo o álcool). Com o uso comum de uma variedade de drogas nos anos 60, algumas pessoas começaram a perceber que qualquer droga alteradora do humor poderia levar a recaída. Drogas como anfetaminas, maconha, cocaína, ou LSD, têm efeito no corpo diferentemente das drogas calmantes. Mas também mudam o estado mental e emocional e prejudicam o julgamento, fazendo com que a pessoa se afaste da recuperação. Têm o mesmo efeito no comportamento, fazendo com que se sinta bem agora, mas causando dores, levando à obsessão, compulsão e perda de controle mais tarde. Abusar de qualquer droga ou combinação delas, logo causará danos físicos, psicológicos e sociais. Ficou claro que qualquer droga alteradora do humor pode reativar o ciclo da adicção. Como resultado deste novo conhecimento, os alcoólicos começaram a pensar em recaída como o uso de qualquer droga alteradora do humor (lembre-se de que o álcool é uma droga que altera o humor).

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A DEFINIÇÃO DE RECAÍDA MUDOU DE USO DE ÁLCOOL PARA: USO DE QUALQUER DROGA CALMANTE

PARA:USO DE QUALQUER DROGA QUE ALTERE O HUMOR

Embora pensando em recaída como uma volta ao uso do álcool ou drogas, muitos profissionais e membros de AA. sempre reconheceram que para se recuperar não basta apenas parar com o uso.

Somente o primeiro passo menciona álcool. Os outros passos falam como viver sóbrio. Ao invés de olhar “não beber”, o foco é aprender a viver efetivamente e confortavelmente sem o uso de adictivos. Isto nos leva ao conceito de que recaída tem muito a ver com o modo que o indivíduo funciona e não se ele está usando álcool ou drogas. Não usar álcool ou drogas é um pré-requisito para a recuperação.

Pensando assim, o processo de recaída inclui tornar-se disfuncional na sobriedade. Esta disfunção pode envolver a saúde física, psicológica e social. Isto não quer dizer que o uso do químico não é recaída, mas o processo de recaída está acontecendo antes de começar o uso. Quando o uso de drogas começa, é o resultado do processo que já está acontecendo. O uso do químico é uma maneira de medicar a dor da disfunção. A disfunção começa com um processo mental que em AA. se chama “pensar abobrinha”, ficar fantasiando, tendo lembranças eufóricas. Que leva a uma mudança no comportamento que o AA. chama de “acompanhamento”. Finalmente leva a uma mudança de comportamento que leva a um comportamento disfuncional na sobriedade que no AA. chama-se “bêbado seco”. Esta bebedeira seca pode levar ao uso do químico ou qualquer outra disfunção séria como distúrbio emocional, colapso físico ou alguma doença relacionada ao stress. Muitos alcoólicos ficaram livres das drogas, mas cometeram suicídio ou tiveram um colapso físico ou emocional. Isto não é recuperação. O conceito do processo de recaída somente como o uso da bebida ou drogas evita o tratamento dos sintomas baseados na sobriedade da adicção. Muitos sintomas na sobriedade do alcoolismo e da dependência química foram ignorados ou mal interpretados como problemas psicológicos ou psiquiátricos.

Depressão, confusão e ansiedade que surgem como sintomas de síndrome da abstinência aguda e demorada não são muitas vezes reconhecidos como sintomas da adicção. Assim, um tratamento apropriado para eles não é procurado, oferecido ou encorajado. Muitas pessoas em recuperação sofrem com estes problemas relacionados à adicção, e são encaminhados a psicólogos ou psiquiatras que sabem muito pouco ou nada sobre a doença adictiva, causadora dos problemas. Com o aumento do entendimento do processo de recaída, o foco da vida não é apenas usar ou não usar.

Está na recuperação dos danos causados pela adicção, aprender a lidar com os sintomas, baseados na sobriedade e em melhorar a saúde

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física, psicológica e social. Isto permite que a vida seja centrada numa vida saudável, sem álcool ou drogas. Isto encoraja a aprender e reconhecer os sinais de aviso iniciais de recaída, antes de ser forçado a começar o uso de adictivos num esforço para se livrar destes sintomas. Se o uso de químicos fosse o único indicador de recaída, o simples fato de estar abstinente faria acreditar que está tudo bem.

Não ficar preocupado com outras situações na vida, que podem ser tão sérias como beber. Negligenciar estas áreas importantes da vida pode ser danosas para sua recuperação.

O PAPEL DAS ADICÇÕES SUBSTITUTAS

Uma vez ficando adicta ou dependente de uma droga, existe uma tendência de transferir esta dependência para outras drogas alteradoras de humor. Isto é mais verdadeiro se a outra droga tem efeito similar a da dependência original. Este processo é chamado adicção cruzada. Ficar adicto a uma droga causará uma rápida adicção a qualquer outra droga deste grupo.

A razão é principalmente física. O corpo fica dependente deste tipo de droga e responderá da mesma maneira às drogas parecidas. Uma pessoa pode também ficar dependente de outras drogas alteradoras do humor de outros grupos como: sexo, comida, jogos, gastar compulsivo, remédios, doces e chocolates. Esta dependência para a nova droga se desenvolve gradualmente.

Uma pessoa pode ficar dependente de uma variedade de drogas. Este processo pode ser mais bem entendido, olhando-se para o que é chamado “a equação da adicção”:

DOR + ÁLCOOL / DROGAS = PRAZER IMEDIATO + DOR FUTUR A

O dependente químico precisa contar com uma primeira droga de escolha para lidar com a vida. Se ele fica sem usar esta droga, simplesmente substitui por uma nova droga e pode desenvolver dependência desta nova droga.

A droga substituta pode não ser tão efetiva para aliviar a dor como a primeira, e isto leva as pessoas ao desejo de voltar ao uso da droga original. Também nos períodos de desintoxicação, seu julgamento pode ser prejudicado levando-o a fazer uma escolha irresponsável de usar a primeira droga de novo. Mudar de uma adicção para outra não é recuperação total.

* John F. Blattner - “Os efeitos do consumo de cafeína com alcoólicos

em recuperação e seu relacionamento à nível de ansiedade”. Dissertação de doutoramento não publicada, preparada pelo instituto Fielding de Santa Bárbara, Califórnia, 1985.

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O PAPEL DO COMPORTAMENTO COMPULSIVO NA RECAÍDA

Comportamentos compulsivos são ações que produzem uma excitação intensa ou alívio emocional e são seguidos por dor ou desconforto a longo prazo. Estes comportamentos podem ser internos (pensar, imaginar, sentir) ou externos (trabalhar, jogar, falar, etc.). Comportamentos compulsivos fazem você sentir-se bem no momento mas lhe enfraquecem com o passar do tempo.

Muitas pessoas em recuperação do alcoolismo ou dependência de drogas tentam substituir o uso de drogas por comportamentos compulsivos. Para alguns, o resultado é o desenvolvimento de um comportamento compulsivo severo que pode interferir com a recuperação.

Lembre-se da equação da adicção:

DOR + ÁLCOOL / DROGAS = PRAZER IMEDIATO + DOR FUTUR A

A equação é idêntica exceto pelo fato que comportamento compulsivo substitui álcool e drogas.

Vamos agrupar os principais comportamentos compulsivos em oito tipos: 1- Comer/Fazer dieta: Isto inclui comer compulsivamente, dietas compulsivas (muitas vezes chamadas anorexia) e a combinação de comer compulsivamente seguidos por dietas compulsivas ou vômitos (muitas vezes chamado de bulimia). N.T. - Anorexia - falta de apetite- Bulimia - apetite insaciável (Aurélio) 2- Jogar: A necessidade compulsiva de arriscar. 3- Trabalhar / Realizar: A necessidade compulsiva de se manter ocupado ou realizar coisas ou de exceder em tudo que você faz extrapolar os horários trabalhando exaustivamente. 4- Exercícios: A necessidade compulsiva de estimular o corpo através de esforço físico. 5- Sexo: A necessidade compulsiva de ter experiências sexuais, masturbação. 6- Busca de emoções: A necessidade compulsiva de experimentar grandes emoções ou intenso stress. 7- Fuga: A necessidade compulsiva de evitar as rotinas da vida. 8- Gastar: A necessidade compulsiva de comprar ou adquirir posses.

COMPORTAMENTOS COMPULSIVOS

1- Comer / Fazer dieta 2- Jogar

3- Trabalhar / Realizar

4- Exercícios

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5- Sexo

6- Busca de emoções

7- Fuga

8- Gastar

Davi quase perdeu sua família devido ao seu uso de maconha, e perde-os devido a correr compulsivamente. Procurou tratamento para sua adicção à maconha quando sua mulher e filhos saíram. Concordaram em voltar quando ele aceitou fazer o tratamento. Como parte de seu programa de recuperação, começou a correr. Colocou como objetivo correr 5 quilômetros por dia, três dias por semana, e logo alcançou este objetivo. Não ficando satisfeito, começou a correr todo dia - antes do trabalho, na hora do almoço e após o trabalho. Sua família esperava que agora estando sóbrio participasse da vida familiar, ficando desapontada ao perceber que ele estava sempre fora. Entrava em corridas e ia a vários lugares para competições, quando não corria ficava impaciente e irritado. Sua esposa nunca gostava de seu comentário: “Bem, ao menos estou sóbrio”. Ela resolveu que este tipo de sobriedade não lhe dava um marido como tivera antes e foi embora. Este é um exemplo de como outras compulsões podem causar problemas da mesma maneira que as adicções químicas.

SAÍDAS POSITIVAS VERSUS COMPORTAMENTOS COMPULSIVOS

O mesmo comportamento pode ser usado compulsivamente ou não. Comportamento compulsivo não é medido tanto pelo que você faz, mas como você faz. Todo comportamento que pode ser usado compulsivamente, pode ser produtivo se usado de uma maneira que não resulte numa dor em longo prazo ou uma disfunção.

Existe uma diferença entre um comportamento compulsivo e uma saída positiva. Uma saída positiva é uma atividade que dá prazer livre de dor. Em outras palavras, sente-se bem agora sem criar dor mais tarde. Exercícios saudáveis, por exemplo, é uma saída positiva. Permite uma agradável e prazerosa descarga de energia. Mas se é feita racionalmente e não compulsivamente, não criando problemas para o futuro.

Sexo saudável também é uma saída positiva. A expressão sexual entre pessoas que se amam e se preocupem com o outro, sendo desempenhada de uma maneira segura e responsável é uma alegria e uma vantagem para os parceiros. Não sendo compulsiva, realça os dois, é uma escolha livre de ambos e acontece num contexto em que conseqüências negativas não são prováveis.

Cada comportamento compulsivo tem comportamentos paralelos que se realizam sem compulsão e moderadamente podem ser uma saída positiva. Quando um comportamento é usado compulsivamente, é como se fossem utilizados os químicos. O objetivo é mudar o humor, desviar a mente e fugir da realidade. O comportamento torna-se compulsivo quando é usado

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para enfrentar a dor da realidade e ajudam uma pessoa a lidar com a realidade com maior eficiência.

Se uma pessoa deseja uma sobriedade de alta qualidade e evitando uma recaída, é aconselhável evitar comportamentos compulsivos, identificar e praticar um número de saídas positivas que dão prazer livre de dor.

Alguns alcoólicos e dependentes de drogas desenvolveram problemas sérios de comportamentos compulsivos. Tentativa de parar o comportamento compulsivo produz dor e sentimentos como à síndrome da abstinência.

Realmente você tem dois problemas: dependência química e o problema de comportamento compulsivo. Não tenha medo de pedir ajuda para isto. Pode tornar sua sobriedade muito mais confortável e ajudar a evitar uma recaída.

NEGAÇÃO BASEADA NA SOBRIEDADE

É muito difícil colocar negação na recuperação. Mesmo se você conhecer sua adicção e parar de usar, você está acostumado a pensar numa maneira que apóia o que você deseja acreditar. É mais fácil dizer “Tudo está bem agora que parei de beber”, do que admitir que você precisa seguir cuidadosamente um programa de recuperação para o resto de sua vida.

Quando é inconfortável ou ameaçador ver as coisas como elas são, é mais fácil apagá-las ou alterá-las na sua mente para que pareçam menos ameaçadoras. Filtrar para fora uma informação dolorosa é uma maneira de lidar que pode trazer alívio imediato, mas leva a uma dor mais intensa no futuro.

Desfazer-se de uma consciência imprecisa é um imediato senso de segurança. Você pode enfrentar a realidade dolorosa tirando-a fora de sua percepção consciente, mas existe um preço. Este preço pode ser a recaída.

Existem certas circunstâncias e condições que podem lhe levar a tomar más decisões sobre a recuperação. Estas situações podem levar à recaída se você permitir que a negação, pensar em enganar a si mesmo e falta de uma informação precisa para nublar o entendimento do que você precisa fazer para progredir na recuperação.

Ao longo do caminho existem sinais de que o processo de recaída esteja ocorrendo. Se for desconfortável ou ameaçador conhecer estes sinais de aviso, é fácil apagá-los de consciência ou “torcê-los para uma realidade mais aceitável”. Isto te ajudará a ficar mais seguro e confortável agora. Mas permitirá que o processo de recaída continue e reúna impulso até ficar fora de controle.

Os sintomas da recaída geralmente se desenvolvem a um nível subconsciente. Porque estão fora de sua consciência, os sintomas crescem

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em intensidade. Você não os percebe até perder o controle. Quando suas percepções, seu julgamento e seu comportamento estão fora de controle, você provavelmente será incapaz de interromper o processo de recaída antes e resulta num episódio de recaída agudo.

Embora a recaída seja uma possibilidade muito real, ela pode ser evitada. Pelo plano de prevenção da recaída você pode aprender maneiras para lidar com os sintomas baseados na sobriedade e trazê-los para o nível consciente antes que seja tarde. Você pode aprender a interromper o processo de recaída antes de se tornar disfuncional.

Comportamento compulsivo não é o que você faz, mas como você faz.

O PROCESSO DE RECAÍDA

A tendência de ignorar outros sintomas da recaída, dependência cruzada e “drogas aceitáveis”, como nicotina e cafeína, e comportamentos compulsivos permitem que o processo de recaída (disfunção na sobriedade) inicie. Quando começa o processo de disfunção, começa o processo de recaída. Olhando o processo de recaída, percebe-se que existem sinais de aviso antes que ocorra um episódio agudo de recaída. Quando se reconhece sinais de viso da recaída antes de beber ou usar, pode-se conseguir ajuda e interromper o processo.

Sobriedade é abstinência de drogas adictivas mais abstinência de comportamentos compulsivos e melhoramentos na saúde física, mental e social. Sobriedade inclui todas as três coisas.

Até onde se conseguir chegar nestas três coisas, estará sóbrio, até onde não conseguir, não estará sóbrio. Não é definida totalmente se você usou drogas, bebeu ou não. Define-se pela totalidade de sua sobriedade.

SOBRIEDADE É: - Abstinência de drogas adictivas;

- Abstinência de comportamentos compulsivos; - Melhoria na saúde física, mental e social.

O plano de prevenção de recaída se baseia no fato de que os

sintomas da dependência química não param com a abstinência. É uma doença que corta de dois lados. Por um lado ataca quando você bebe ou usa químicos - este é o lado óbvio. O que não é óbvio é que a doença vai além da abstinência e se torna um círculo vicioso enquanto você tenta se recuperar. Este lado da doença baseado na sobriedade é tão poderoso e destrutivo quanto o lado baseado no álcool/drogas. E você fica mais exposto quando ocorre, porque geralmente é mal entendido e não são reconhecidos.

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São sintomas da adicção baseados na sobriedade que levam à recaída.

Você pode aprender do passado. Na verdade, o passado é seu melhor e mais efetivo mestre. Ensina a você o que funciona e o que não funciona. Permitindo que o passado lhe ensine como continuar sóbrio, você pode evitar o uso de químicos no futuro. E você pode evitar outros tipos de disfunção como um colapso emocional ou físico. Existem sinais de aviso previsíveis e progressivos que ocorrem em muitas pessoas em recuperação antes de voltar ao uso dependente. Os sinais de aviso começaram com pequenas mudanças no pensamento e no comportamento. Você se convencerá que a sua dependência química não é mais um assunto prioritário. Outras coisas tornam-se mais importantes. Você começará a usar velhos comportamentos em vez de novos que você aprendeu e que fazem parte do seu programa de recuperação.

Os velhos hábitos acionam velhos problemas e o uso das velhas estruturas de negação. Estas mudanças aumentam seu desconforto e fazem de uma volta ao uso algo não somente possível, mas desejável. Provavelmente você não estará consciente das mudanças que aconteceram no seu pensamento e seu comportamento.

Plano de Prevenção da Recaída ensina você como ficar consciente destas mudanças e escolher alternativas positivas aos químicos e aos comportamentos compulsivos, alternativas a uma isolação contínua, impedimento e negação. Você pode interromper esta estrutura em qualquer ponto se você aprender como.

Antes de ficar com um problema você pode delinear um plano que permitirá a sua família, seus amigos, seu consultor e membros do grupo de auto-ajuda a ajudar você a interromper um potencial ou real episódio de recaída que possa ocorrer. Você precisa tomar algumas medidas para ajudá-lo a evitar conseqüências destrutivas de recaída. Plano de Prevenção de Recaída é o processo de trazer os sintomas de recaída ao nível consciente e agir de uma maneira que permita removê-los de sua vida.

CAPÍTULO VII A SÍNDROME DA RECAÍDA

Recuperação da adicção deve ser um processo ativo. As pessoas

em recuperação precisam trabalhar um programa diário de recuperação. Precisam se lembrar diariamente que sofrem de uma adicção. Precisam ter um programa de recuperação ativo que forneça direções para uma vida produtiva e significativa.

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“Recuperação é como uma escada rolante. Ou você está subindo ou está descendo; É impossível ficar parado”.

Recuperação é como subir numa escada rolante. É impossível

ficar parado. Quando se pára de ir à frente, acha-se indo para traz. Não é necessário fazer algo em particular para desenvolver sintomas que levam à recaída, tudo que se precisa fazer é não conseguir tomar os passos apropriados à recuperação. Os sintomas desenvolvem-se espontaneamente na falta de um programa de recuperação forte. Uma vez que se abandone o programa de recuperação é uma questão de tempo até que apareçam os sintomas de abstinência demorada, e se nada é feito para lidar com eles, você irá experimentar um período de comportamento fora de controle que chamam a síndrome da recaída. Perda de controle dos sintomas da abstinência demorada resulta na síndrome de recaída. Os sintomas de SAD são sentidos por muitas pessoas em recuperação, mas eles variam de intensidade. É como eles podem ser admitidos que determina a severidade da síndrome da recaída.

Síndrome da recaída = SAD ���� administração de sintomas Se você experimentar SAD e não fizer o que for necessário para

lidar efetivamente com estes sintomas, a síndrome da recaída eventualmente tomará conta. Os sintomas, se desenvolverão, crescerão, progredirão. Existem muitos súbitos sinais de aviso e muitas mudanças nos pensamentos, nas emoções e na personalidade que ocorrem antes da perda de controle. Finalmente se perderá o controle de si mesmo. Começará a descer numa progressão em que levará o adicto ao uso de álcool ou drogas ou alguma outra aguda reação emocional ou física, a não ser que algo seja feito para interromper esta progressão. É importante estar sempre consciente de que o processo de recaída não envolve apenas o ato de tomar um drinque ou usar drogas. É uma progressão que cria uma crescente necessidade por álcool ou drogas. Esta progressão é o que chamamos de síndrome de recaída. É impossível interromper esta progressão antes que os sinais de aviso sejam óbvios. Se não for feito nada até que se mostrem os sinais óbvios, geralmente é muito difícil interromper a síndrome de recaída porque você já perdeu o controle de seu julgamento e comportamento.

A recaída geralmente não é um processo consciente. Estudos mostram que as pessoas recaindo geralmente não estão conscientes dos sinais de aviso iniciais de sua recaída. Mais tarde, quando olham para traz, podem ver quando começam a errar, mas na hora que está acontecendo são incapazes de perceber que estes problemas estão se formando e crescendo.

Os sinais da recaída se desenvolveram num nível inconsciente. O adicto não saberá que estão ocorrendo a menos que você aprenda a trazer os sinais de aviso para a percepção consciente.

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O processo de recaída não envolve apenas o ato de tomar um drinque ou de usar drogas. É uma progressão que cria a necessidade por álcool ou drogas. Esta progressão pode ocorrer facilmente sem um efetivo

programa de recuperação e sem uma administração eficiente dos sintomas da SAD.

O processo geralmente começa com MUDANÇA. Mudança é uma parte normal da vida, mas uma grande causa de

stress. A mudança pode ser um fato externo que leva você a responder de alguma maneira. Ou pode ser uma mudança no pensamento ou nas atitudes. Mudanças produzem stress, para o qual você pode reagir com exagero e para o qual com certeza tem baixa tolerância. Quando o nível de stress se eleva, existe uma tendência normal de negar a presença do stress e acionar tendência normal de negar a presença do stress e acionar mecanismos de negação que fazem parte da dependência química. Você começa a lidar com o stress com a mesma negação que uma vez usou para negar o uso. “Não tenho problemas. Posso lidar com isto. Tudo está bem.”

O stress elevado intensifica os sintomas de abstinência demorada mas sua negação não lhe deixa ver o que está acontecendo. Se não foi feito nada, os sintomas da SAD aumentam. Perde-se o controle de pensamentos, emoções e memória. Não pensa com clareza, reage com exagero, não consegue lembrar-se de coisas simples. O stress aumenta e perde-se o controle da capacidade de pensar, sentir e lembrar. Então perde-se o controle do próprio comportamento. Pode-se ir aos mesmos lugares e realizar as mesmas atividades, mas experimenta uma mudança de comportamento. Não age da mesma maneira, trata as pessoas diferente. Interage de uma maneira diferente e há um colapso na estrutura social.

Na realidade, toda a estrutura da vida cai. Muda sua rotina diária. Abandona hábitos regulares que davam à vida consciência e segurança. Seus planos de recuperação são negligenciados e evitados.

Finalmente perde-se o controle de julgamento. Você faz escolhas ruins que em estado normal nunca faria. Como resultado, comete-se enganos, criando-se uma crise. A vida fica incontrolável. Perde-se o controle, sendo capaz de ver que não tem mais controle sobre a vida. Acha que está ficando louco. Não vê alternativas de ficar louco a não ser a de se suicidar ou usar álcool/drogas para remediar sua dor.

Não consegue pensar em outras opções. Neste ponto está num estado de degeneração aguda. A vida está se desentendendo. Pode voltar a usar porque parece melhor que as outras alternativas. Mas nem todos que experimentaram a síndrome da recaída usam. Algumas experimentam uma alternativa igualmente destrutiva. Alguns se suicidam ou se machucam em acidentes sérios. Outros têm colapsos nervosos ou colapsos físicos / emocionais. Outros desenvolvem doenças como dores de cabeça, úlceras ou pressão alta.

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É impossível interromper a progressão da recaída antes dos sinais de tornarem óbvios.

Kenneth era um homem de 47 anos, casado, com dois filhos

jovens. Tinha sete anos de abstinência e uma firme convicção de que ele nunca mais iria beber, mesmo que isto o matasse. Tinha trabalhado numa estrada de ferro por sete anos.

Por vários anos Kenneth vinha trabalhando no turno na noite e achava bom ter menor supervisão no trabalho e seus dias livres para fazer outros trabalhos para ganhar um dinheiro extra. Devido redução de pessoal, ele mudou para o turno do dia.

A mudança de turno criou muito stress em Kenneth porque ele tinha problemas para dormir quando costumava estar acordado, e estava tendo problemas financeiros por ter abandonado seus trabalhos extras. Além disso, está mais tempo com sua família e era difícil se acostumar ao barulho das crianças. Quando as pessoas próximas a ele notaram que ele parecia mais tenso que o normal, Kenneth muitas vezes lhes dizia: “Vou ficar bem. Apenas preciso de tempo para me ajustar”.

Em breve Kenneth começou a achar que as crianças faziam barulho deliberadamente para irritá-lo. Parecia que sua esposa arrumava brigas e sua mente estava sempre enevoada e confusa. Tomar pequenas decisões era difícil.

Kenneth não gostava das reuniões do AA à noite como daquelas reuniões de dia, assim ficou mais fácil não ir às reuniões. Sempre chamava um amigo para contar uma piada, as chamadas e as piadas tornaram-se cada vez mais freqüentes. Parecia que ele não tinha motivação para acionar seu recurso verbal. As crianças de Kenneth deixaram cada vez mais de ficar em volta quando ele estava em casa. Sua esposa saiu e confiou a seu padrinho que não sabia quanto mais ela conseguiria suportar.

Finalmente a participação de Kenneth no AA. parou totalmente. Não se encontrava mais com seus amigos para um café ou para jantar fora. Quase não comia com a família e começava a comer lanches ao invés de refeições regulares. Devido aos problemas financeiros Kenneth vendeu seu bom caminhão e comprou um mais velho que duas vezes mais para manter. Decidiu repavimentar a estrada da garagem ao invés de reparar a máquina de lavar e a TV. Seu mau julgamento piorou a situação financeira e criou outros problemas em sua vida. Começou a dormir demais e ligava dizendo estar doente, por isso não ia trabalhar. A mulher de Kenneth chegou num ponto que estava ameaçando de se divorciar, no trabalho tinha recebido duas advertências verbais e uma escrita, seu filho tinha ido morar com um amigo para evitar as controvérsias.

Ainda firme em não voltar a beber, Kenneth começou a planejar seu suicídio. “Se não melhorar eu vou me jogar embaixo do trem”.

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A mulher de Kenneth ficou sabendo que a recaída pode ser interrompida e deu-lhe a escolha de tratamento ou divórcio. Ele escolheu fazer o tratamento. Escolheu a vida ao invés do suicídio. Procurou tratamento para sua recaída, mesmo pensando que não tinha bebido nada.

A síndrome da recaída é a doença da adicção baseada na sobriedade.

A síndrome da recaída pode destruir sua saúde e bem estar; pode destruir sua família e sua maneira de viver. É a doença da adicção baseada na sobriedade, e pode ser devastadora para a pessoa em recuperação.

Muitas pessoas em recuperação acreditam que se não estão usando, sua recuperação está bem. Isto é um engano. O processo de recaída começa muito antes de a pessoa começar a usar. Lembre-se que ela começa em silêncio dentro de você. Por muito tempo você não terá consciência da progressão porque ela está acontecendo subconscientemente. Poderão existir sinais de aviso externos, mas você não vai percebê-los a não ser que você aprenda a reconhecer a estrutura previsível. As pessoas em torno de você provavelmente não o reconhecerão porque muitas vezes os sintomas da recaída é reversível com o tratamento apropriado. Aprendendo a reconhecer os estágios no processo da recaída, é possível interromper a progressão.

INTERROMPENDO A SÍNDROME DA RECAÍDA Lidar com os sintomas da abstinência demorada é o melhor

método de prevenção da recaída. Porém, quando você já está num episódio de disfunção, pode ser muito tarde para utilizar estes métodos, e você precisará de alguma ajuda para se estabilizar e evitar uma progressão posterior.

A primeira coisa a fazer é utilizar um meio ambiente adequado e controlado onde você pode ser protegido da crise imediata e da disponibilidade de álcool e drogas. Se o episódio for suave, algum tempo num lugar calmo e tranqüilo, provavelmente será suficiente para começar a reverter o processo.

Se a nutrição é moderada pode ser necessário ficar algum tempo fora do serviço e planejar, ficar algum tempo longe de pessoas e lugares que aumentam o problema.

Se os sintomas de recaída são severos, a hospitalização pode ser necessária antes que você tenha um colapso de qualquer outro tipo.

Algumas vezes, pessoas num episódio de disfunção agudo acreditam que se não usarem vão ficar loucas ou se matar.

Você precisa reconhecer antes que existam outras opções disponíveis. Tratamento internado é uma das opções. É melhor optar por um

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programa de internação para evitar severas conseqüências do que ir para uma desintoxicação.

Existem pessoas que preferem morrer que beber. Por isto, a média de suicídios é alta entre dependentes químicos em recuperação. Isto é muito triste porque é possível se recuperar do uso de álcool ou drogas, mas não é possível se recuperar da morte. Se você sentir que sua vida está em risco porque sua dor é muito forte, e que o suicídio é uma opção, procure ajuda IMEDIATA. Existem outras opções que não são visíveis para você, devido à dor.

É importante reconhecer e se lembrar que não existe um ponto em que não se possa interromper a síndrome de recaída se souber como reconhecê-la, existindo uma opção construtiva ao invés de destrutiva, basta que reconheça a escolha.

AS FASES E SINAIS DE AVISO DA RECAÍDA (Sintomas da Disfunção Externa)

O processo de recaída leva a pessoa em recuperação a sentir dor

e desconforto sem o químico. Esta dor e desconforto ficam tão fortes que a pessoa em recuperação fica incapaz de viver normalmente quando não bebe ou usa e sente que beber não pode ser pior que a dor de continuar sóbrio.

Trinta e sete sinais de recaída foram identificados em 1973 por Terence Gorski pela conclusão de entrevistas clínicas com 118 pacientes em recuperação. A pessoa em recuperação tem quatro coisas em comum: 1- Eles completam um programa de reabilitação de alcoolismo de 21 a 28 dias; 2- reconheceram que são pessoas em recuperação e que não podem usar álcool ou drogas com segurança; 3- foram dispensadas com a intenção consciente de ficarem sóbrios permanentemente, se utilizando de Alcoólicos Anônimos e aconselhamento profissional no Ambulatório; 4- finalmente voltaram a beber, apesar de seu compromisso inicial de permanecerem sóbrios.

Os sintomas mais comuns relatados nesta Pesquisa clínica foram compilados num Quadro de Recaída, retratando os sinais de aviso de recaída.

Esses sinais foram divididos em 11 fases e a redação mudou um pouco para ser entendida com mais facilidade.

FASE I: SINAIS DE AVISO DE RECAÍDA INTERNOS

Nesta fase as pessoas em recuperação se sentem incapazes de funcionar normalmente dentro de si mesmos. Os sintomas mais comuns são:

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1.1- Dificuldade de pensar com clareza. Pessoas em recuperação muitas têm dificuldade em pensar com

clareza ou resolver problemas, geralmente simples. Às vezes suas mentes correm com pensamentos rígidos e repetitivos. Outras vezes suas mentes parecem se fechar ou dar brancos. Têm dificuldades de se concentrar ou pensar logicamente por mais que alguns minutos. Por isso nem sempre estão seguros de como uma coisa se relaciona ou afeta outras coisas. Também têm dificuldades em decidir o que fazer a seguir para lidar com suas vidas e recuperação. Às vezes são incapazes de pensar claramente e tendem a tomar más decisões que não tomariam se o pensamento estivesse normal.

1.2- Dificuldades em lidar com sentimentos e emoções. Na recuperação muitas pessoas que têm dificuldades em lidar

com seus sentimentos e emoções. Às vezes super reagem emocionalmente (sentem demais). Às vezes ficam emocionalmente insensíveis (sentem muito pouco) e não são capazes de saber o que estão sentindo, em outras ainda, têm pensamentos estranhos e malucos, sem razão aparente (sentem coisas erradas) e começam a pensar que vão ficar loucos. Estes problemas em lidar com os sentimentos e emoções levam-os a experimentar oscilações de humor, depressão, ansiedade e medo. Por isto, não confiam em seus sentimentos e emoções, muitas vezes tentam ignorá-los ou esquecê-los. Às vezes a incapacidade de lidar com os sentimentos e emoções leva-os a reagir de maneira que não agiriam se seus sentimentos fossem admitidos apropriadamente.

1.3- Dificuldade em lembrar coisas. Muitas pessoas em recuperação têm problemas de memória que

os impedem de apreender informações novas e habilidades. As coisas novas que apreendem tendem a se dissolver ou se evaporar de suas mentes dentro de 20 minutos após apreendê-las. Também têm problemas para se lembrar de fatos importantes de sua infância, adolescência ou como adultos. Às vezes se lembram de tudo claramente. Às vezes estas mesmas memórias não vêm à mente. Sentem-se bloqueados, grudados ou desligados destas memórias. Às vezes a incapacidade de lembrar coisas levou-os a tomar más decisões que não tomariam se sua memória estivesse funcionando bem.

1.4- Dificuldade em lidar com o stress. Muitas pessoas em recuperação têm dificuldade em lidar com o

stress. Não conseguem reconhecer os menores sinais do stress diário. Quando reconhecem o stress são incapazes de relaxar. As coisas que outras pessoas fazem para relaxar, ou não funcionam ou pioram seu stress. Eles ficam tão tensos que não conseguem controlá-lo. Devido à tensão constante existe dias em que o esforço torna-se tão forte que são incapazes de funcionar normalmente e sentem que vão ter um colapso físico ou emocional.

1.5- Dificuldade em dormir tranqüilamente.

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Na recuperação muitas pessoas têm dificuldades em dormir tranqüilamente. Não conseguem dormir. Quando dormem, têm sonhos incomuns e perturbadores. Acordam muitas vezes e têm dificuldade de voltar a dormir. Dormir intermitentemente e raramente experimentam um sono profundo e reparador. Acordam de uma noite de sono se sentindo cansados e mudam as horas do dia em que descansam. Às vezes ficam acordados até tarde devido a incapacidade de dormir e então dormem demais porque estão cansados demais para se levantar de manhã. Às vezes ficam tão cansados que dormem por longos períodos, dormindo até um dia inteiro ou mais.

1.6- Dificuldades com a coordenação física e acidentes. Na recuperação muitas pessoas têm dificuldades com a

coordenação física que resulta em torturas, problemas de equilíbrio, dificuldades de coordenação entre os olhos e as mãos, ou reflexos fracos. Estes problemas criam inércia e propensão a acidentes que levam a outros problemas que não teriam se sua coordenação fosse normal.

1.7- Vergonha, culpa e desesperança. Às vezes as pessoas em recuperação sentem muita vergonha

porque acham que estão loucas, perturbadas emocionalmente, deficientes como pessoas, ou incapazes de serem ou sentirem-se normais. Outras vezes sentem culpa porque acham que estão fazendo alguma coisa errada ou falhando em trabalhar um programa de recuperação apropriado. A vergonha e a culpa leva-os a esconder os sinais de aviso e param de falar honestamente com os outros sobre o que estão experimentando. Quanto mais eles mantêm escondidos, mais fortes os sinais de aviso se tornam. Eles tentam lidar com estes sinais de aviso, mas falham. Por isso começam a acreditar que não têm mais esperança.

FASE II: VOLTA A NEGAÇÃO

Nesta fase as pessoas não são capazes de reconhecer e falar honestamente aos outros, o que estão pensando ou sentindo. Os sintomas mais comuns são:

2.1- Preocupação sobre o bem estar. Os sinais de aviso internos levam muitas pessoas a sentirem-se

inquietas, assustadas e ansiosas. Às vezes têm medo de não serem capazes de continuar sóbrio. Esta inquietação vem e vai e geralmente dura pouco tempo.

2.2- Negação da preocupação. Para suportar estes períodos de preocupação, medo e

ansiedade, podem ignorar ou negar estes sentimentos, da mesma maneira que antes negava a adicção. A negação pode ser tão forte que não têm consciência dela enquanto a mesma está acontecendo. Mesmo quando estão conscientes dos sentimentos, eles os esquecem logo que se vão. Somente quando pensam de volta na situação mais tarde, é que são capazes de reconhecer os sentimentos de ansiedade e sua negação.

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FASE III - IMPEDIMENTO E COMPORTAMENTO DEFENSIVO

Nesta fase as pessoas em recuperação não querem pensar sobre qualquer coisa que possa trazer de volta os sentimentos dolorosos e desconfortáveis. Por isso começam a evitar tudo que possa forçá-los a uma honesta olhada em si mesmos. Quando são feitas perguntas diretas sobre seu bem estar, eles tendem a ficar na defensiva. Os sintomas mais comuns são:

3.1- Acreditar que “eu nunca mais vou beber”. Pessoas em recuperação se convencem que nunca mais vão

usar ou beber novamente. Algumas vezes falam isto a outras pessoas, mas geralmente mantêm isto só para si. Podem ter medo de falar sobre isto para seu consultor ou para outros membros de AA. quando acreditam firmemente que nunca mais vão beber ou usar, a necessidade por um programa de recuperação diário parece menos importante.

3.2- Se preocupam com os outros em vez de si próprios. Ficam mais preocupados com a sobriedade dos outros do que de

com a sua recuperação pessoal. Não falam diretamente sobre estas preocupações, mas em particular julgam a maneira de beber dos amigos e do cônjuge, assim como o programa de recuperação das outras pessoas. No AA., isto se chama “trabalhando com o programa dos outros”.

3.3- Fica na defensiva. Podem ter uma tendência para se defender quando falam dos

problemas pessoais ou de seu programa de recuperação mesmo quando nenhuma defesa é necessária.

3.4- Comportamento compulsivo. Podem tornar-se compulsivos (“obcecados”, com idéias fixas ou

rígidas) na maneira que pensam ou se comportam. Existe uma tendência de fazer as mesmas coisas várias vezes sem uma boa razão. Existe uma tendência de controlar conversas ou por falar demais ou por não falar nada. Tendem a trabalhar mais que o necessário, se envolvem em muitas atividades e podem parecer um modelo de recuperação devido a um forte envolvimento no trabalho de 12o. Passo de AA. Pode ser um líder em aconselhar os grupos “representando um terapeuta”. Envolvimento casual ou informal com as pessoas, porém, é evitado.

3.5- Comportamento impulsivo. Estruturas do comportamento compulsivo começam a ser

interrompidas por reações impulsivas. Em muitos casos são reações a situações estressantes. Situações de stress alto duram bastante tempo geralmente resultam em comportamento impulsivo. Muitas vezes estas super reações ao stress formam a base de decisões que afetam áreas da vida importantes e compromissos para continuar o tratamento.

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3.6- Tendências à solidão. Começar a gastar mais tempo sozinho. Sempre têm boas razões

e desculpas para ficar longe das outras pessoas. Estes períodos de “ficar sozinho” começam a ocorrer mais vezes e começa a sentir-se cada vez mais sozinho. Em vez de lidar com a solidão tentando se encontrar ou ficar junto das pessoas, seu comportamento torna-se mais compulsivo e impulsivo.

FASE IV: CONSTRUINDO A CRISE

Nesta fase as pessoas em recuperação começam a experimentar uma seqüência de problemas na vida causados pela negação de sentimentos pessoais, a se isolar e negligenciar o programa de recuperação. Embora queiram resolver estes problemas e trabalhar duro nisto, surgem dois problemas para substituir cada problema resolvido. Os sinais de aviso mais comuns que ocorrem neste período são:

4.1- Visão de túnel. Visão de túnel é ver somente uma pequena parte da vida e não

conseguir uma “visão panorâmica”. Muitas pessoas em recuperação vêem a vida como sendo feita de partes separadas e sem relação. Focalizam em uma parte sem olhar as outras partes ou como estão relacionadas. Às vezes isto cria a crença errada de que tudo está seguro e indo bem. Outras vezes leva a ver só o que está indo errado. Pequenos problemas explodem e ficam fora de proporção. Quando isto acontece, começam a acreditar que estão sendo tratados injustamente e não têm poder para fazer nada sobre isto.

4.2- Depressão secundária (leve). Sintomas de depressão começam a aparecer e a persistir. Podem

sentir-se para baixo, tristes, apáticos, vazios de sentimentos. Dormir demais se torna comum. São capazes de se distrair destes humores ficando ocupados com outras coisas e não falando sobre a depressão.

4.3- Deixar de planejar construtivamente. Podem parar de planejar cada dia e o futuro: muitas vezes o

interpretam mal o lema de AA. “Um dia de cada vez”, significando que eles não devem planejar ou pensar sobre o que vão fazer.

Cada vez menos atenção á prestada aos detalhes. Ficam apáticos. Planos são baseados mais em fatos que gostariam que fossem realidade (como gostariam que fossem as coisas) do que a realidade (como as coisas realmente são).

4.4- Planos começam a falhar. Porque fazem planos que não são realistas e sem prestar

atenção em detalhes, os planos começam a falhar. Cada fracasso causa novos problemas na vida.

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Alguns destes problemas são parecidos aos que acontecem quando bebiam. Tipicamente incluem problemas conjugais, sociais e dinheiro. Muitas vezes se sentem culpados e com remorsos quando estes problemas ocorrem.

FASE V: IMOBILIZAÇÃO

Nesta fase a pessoa em recuperação é incapaz de iniciar uma ação. Passa pelos movimentos da vida, mas é controlado em vez de controlar a vida.

5.1- Devaneios e ilusões. Fica mais difícil se concentrar. A síndrome do “se somente” fica

mais comum na conversa. Começam a ter fantasias de fuga ou de “ser socorrido” por algo improvável de acontecer.

5.2- Desejo imaturo de ser feliz. Um senso de fracasso começa a se desenvolver. O fracasso

pode ser real ou imaginário. Pequenos fracassos são exagerados e aumentam de proporção. A crença de que “Fiz o melhor que pude e a recuperação não está funcionando” começa a se desenvolver.

5.3- Sentimentos de que nada pode ser solucionado. Um vago desejo “de ser feliz” ou ter as coisas funcionando. Usam

de um pensamento mágico. Desejam que as coisas melhorem sem fazer nada para melhorá-las, sem pagar o preço para que as coisas melhorem.

FASE VI: CONFUSÃO E SUPER REAÇÃO

Neste período as pessoas em recuperação têm dificuldades em pensar claramente, ficam perturbadas consigo mesmos e com as pessoas ao seu redor. Ficam limitados e super reagem às pequenas coisas. Os sinais de aviso mais comuns nesta fase são:

6.1- Períodos de confusão. Períodos de confusão tornam-se mais freqüentes, duram mais, e

causam mais problemas. As pessoas em recuperação ficam zangadas consigo pela sua incapacidade de resolver as coisas.

6.2- Irritação com os amigos. As relações com os amigos, consultores e membros de AA. ficam

tensas. As pessoas em recuperação podem se sentir ameaçadas quando os outros falam sobre as mudanças que estão notando em seu comportamento e humor. Os conflitos aumentam apesar de seus esforços para resolvê-los. Começam a sentir-se culpados e com remorsos sobre seu papel nestes conflitos.

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6.3- Irritado facilmente. Podem experimentar episódios de raiva, frustração,

ressentimento e irritabilidade sem uma razão real, reação exagerada a pequenas coisas ficam freqüentes. O stress e a ansiedade aumentam devido ao medo de que a super reação pode resultar em violência. O esforço para se controlar aumenta o stress e a tensão.

FASE VII: DEPRESSÃO

Neste período as pessoas em recuperação ficam tão deprimidas que têm dificuldades de se manter na rotina diária. Às vezes podem ter pensamentos de suicídio, beber ou usar drogas como uma maneira de terminar com a depressão. A depressão é muito forte e persistente e não pode ser ignorada facilmente ou escondida dos outros. Os sinais de aviso mais comuns que ocorrem neste período são:

7.1- Hábitos alimentares irregulares. Podem começar a comer demais ou comer pouco. Existe perda

ou ganho de peso. Param de ter refeições regulares e substituem uma dieta nutritiva e bem balanceada por comida ruim.

7.2- Falta de iniciativa. Podem haver períodos em que são incapazes de iniciar ou de

fazer qualquer coisa. Nestas horas são incapazes de se concentrar, sentem-se ansiosos, medrosos e inquietos, e muitas vezes presos e sem saída.

7.3- Hábitos de sono irregulares. Podem ter dificuldades para dormir ou ficar inquietos e

caprichosos quando querem dormir. O sono muitas vezes é marcado por sonhos estranhos e assustadores. Devido ao cansaço podem dormir de 12 a 20 horas de cada vez. Estas “maratonas de sono” acontecem cada 6 a 15 dias.

7.4- Perda da estrutura diária. A rotina diária fica acidental. Param de se levantar e ir para a

cama nas horas regulares. Às vezes não podem dormir, e isto leva a dormir demais em outros dias. Os horários das refeições ficam irregulares, fica mais difícil manter compromissos e planejar eventos sociais. Sentem-se apressados e sobrecarregados, e em outras horas não têm nada para fazer. São incapazes de dar seguimento a um plano e decisões e experimentar tensão, frustração, medo ou ansiedade que não os deixe fazer o que precisa ser feito.

7.5- Período de profunda depressão. Se sentem deprimidos mais vezes. A depressão fica pior, dura

mais e interfere com a vida. É tão grande que pode ser notada pelos outros e não pode ser negada facilmente. A depressão é mais forte nas horas não

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planejadas e não estruturadas. Fadiga, fome e solidão tornam a depressão pior. Quando se sentem deprimidos, se separam das outras pessoas, ficam irritadas, zangadas com os outros, e muitas vezes reclamam que ninguém se preocupa ou entende o que está acontecendo com eles.

FASE VIII: PERDA DE CONTROLE DO COMPORTAMENTO

Nesta fase ficam incapazes de controlar ou regular o comportamento pessoal e os horários do dia. Existe ainda uma negação forte e falta de uma consciência de estar fora de controle, sua vida fica caótica e muitos problemas se criam em todas as áreas da vida e na recuperação. Os sinais de aviso mais comuns nesta fase são:

8.1- Participação irregular nas reuniões de tratamento e no AA. Param de participar do AA. e começam a perder as consultas

marcadas para acompanhamento ou tratamento. Encontram desculpas para justificar isto e não reconhecem a importância do AA. e do tratamento. Desenvolvem uma atitude de que “O AA. e o aconselhamento não estão fazendo com que eu me sinta melhor, porque deve fazer disto sua prioridade número um? Existem outras coisas mais importantes”.

8.2- Desenvolvimento de uma atitude de “não tenho nada c om isto”.

Tenta agir como se não tivessem nada haver com os problemas que estão acontecendo.

Isto é para esconder sentimentos de desesperança e uma crescente falta de auto-respeito e autoconfiança.

8.3- Rejeição aberta de ajuda. Desligam-se das pessoas que podem ajudar. Podem fazer isto

tendo ataques de raiva que afastam as pessoas, criticando ou colocando os outros para baixo ou se afastando dos outros tranqüilamente.

8.4- Falta de satisfação com a vida. As coisas parecem tão mal que começam a pensar que deveriam

começar a usar o químico, porque as coisas não podem ficar piores. A vida parece que ficou incontrolável desde que parou de beber.

8.5- Sentimento de impotência e desesperança. Têm dificuldade em “começar as coisas”, têm problemas em

pensar claramente, em se concentrar, e em pensar abstratamente: sentem que não podem fazer nada e começam a acreditar que não há saída.

FASE IX: RECONHECIMENTO DA PERDA DE CONTROLE Sua negação quebra e de súbito reconhece como seus problemas são,

como a vida ficou incontrolável e como eles têm pouco poder e controle para

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resolver qualquer problema. Esta percepção é muito dolorosa e assustadora. Nesta hora estão tão sozinhos que parece não existir ninguém para pedir ajuda. Os sinais de aviso mais comuns que ocorrem nesta fase são:

9.1- Auto piedade. (Último estágio antes de usar, aqui n ão tem

volta, a doença já decidiu o uso) Começam a sentir pena de si mesmos e podem usar a auto-

piedade para conseguir atenção no AA. ou dos membros da família. 9.2- Pensamentos de beber socialmente. Eles acham que beber ou usar drogas iria ajudá-los a se sentirem

melhor e começam a achar que podem beber ou usar normalmente e que podem se controlar. Às vezes conseguem colocar estes pensamentos para fora de suas mentes, mas às vezes os pensamentos são tão fortes que não podem ser detidos. Podem começar a sentir que beber pode ser a única alternativa e ficar louco ou cometer suicídio. Realmente beber parece uma alternativa sã e racional.

9.3- Mentiras conscientes. Começam a reconhecer as mentiras, negação e desculpas, mas

não podem interrompê-las. 9.4- Perda completa de autoconfiança. Sentem-se presos e vencidos pela incapacidade de pensar

claramente e agir. Este sentimento de impotência lhes causa a crença que são inúteis e incompetentes. Por isso acreditam que não podem lidar com a vida.

FASE X: REDUÇÃO DE OPÇÕES

Nesta fase as pessoas em recuperação sentem-se presas pela

dor e pela incapacidade de lidar com a vida. Então parecem haver apenas três saídas: insanidade, suicídio ou uso do químico. Não acreditam que alguém ou algo possa ajudá-lo. Os sinais de aviso mais comuns nesta fase são:

10.1- Ressentimentos insensatos. Sentem raiva por causa da incapacidade de comportar-se da

maneira que desejam. Às vezes a raiva é com o mundo em geral, às vezes com alguém em particular, e às vezes consigo mesmo.

10.2- Param todo o tratamento e o AA. Param de assistir reuniões de AA. Se estão tomando medicação

esquecem-se de tomá-lo ou evitam deliberadamente de tomá-lo. Se um padrinho ou pessoa que ajuda é parte do tratamento, se desenvolve uma tensão e conflito tão fortes que os relacionamentos geralmente acabam. Podem retirar-se do aconselhamento profissional muito embora precisem de ajuda e saibam disto.

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10.2- Esmagadora solidão, frustração, raiva e tensão. Se sentem totalmente esmagados. Acreditam que não existe

saída a não ser beber, suicídio ou insanidade. Existem fortes sentimentos de insanidade e sentimentos de desespero.

10.4- Perda do controle do comportamento. Experimentam cada vez mais dificuldades em controlar

pensamentos, emoções, julgamentos e comportamentos. Esta progressiva e incapacitante perda de controle começa a causar problemas em todas as áreas de sua vida. Começa a afetar a saúde. Não importa quanto tentem reconquistar o controle, são incapazes de conseguí-lo.

FASE XI: VOLTA AO USO DO QUÍMICO OU COLAPSO FÍSICO/EMOCIONAL

11.1- Volta ao uso “controlado” de químicos. Neste ponto muitas pessoas estão por demais desesperadas e se

convencem que é possível usar com controle. Planeja usar o químico por um curto período de tempo ou de uma maneira controlada. Começam a usar o químico com a melhor das intenções. Acreditam não ter outra escolha.

11.2- Vergonha e culpa. O uso produz sentimentos de vergonha e culpa muito fortes.

Culpa é o sentimento que é causado pelo próprio julgamento de que “Fiz alguma coisa errada”. A pessoa recaída recentemente se sente moralmente responsável por ter voltado a usar e acreditar que isto não teria acontecido se fizesse as coisas corretas. Vergonha é o sentimento que resulta do próprio julgamento que “Sou uma pessoa defeituosa”. Muitas pessoas em recuperação sentem que sua recaída prova que são sem valor e que podem morrer como um adicto na ativa.

11.3- Perda de controle. O uso do químico leva aos poucos a perda de controle. Às vezes

a perda de controle ocorre lentamente. Outras são muito rápidas. A pessoa começa a usar tanto ou mais que antes.

11.4- Problemas de vida e de saúde. Começam a experimentar problemas severos com sua via e

saúde. Casamento, trabalho e amizades são prejudicados seriamente. Finalmente sua saúde física sofre e se tornam tão doentes que precisam de tratamento profissional.

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A SÍNDROME DA RECAÍDA

Disfunção Interna: • Danos nos pensamentos. • Danos nas emoções. • Problemas de memória. • Stress alto. • Problemas de sono. • Problemas de coordenação. Disfunção Externa: • Volta a negação. • Impedimento e defesa. • Construindo a crise. • Imobilização. • Confusão e super reação. Perda de Controle: • Depressão. • Perda do controle do comportamento. • Reconhecimento da perda de controle. • Redução de opções. • Episódios de recaída.

CAPÍTULO VIII PLANO DE PREVENÇÃO DE RECAÍDA

Muitas recaídas na adicção não são necessárias e muitos recaem

porque não entendem o processo e o que fazer para preveni-lo. Ações apropriadas da sua parte e das pessoas em sua vida podem prevenir ou interromper a síndrome da recaída antes que as conseqüências ficam trágicas. Plano para a recaída minimiza seu potencial destrutivo. Um plano de prevenção de recaída pode dar um senso de segurança. Saberá que se está fazendo o necessário para evitar a recaída, poderá identificar os sinais de aviso iniciais e desenvolver um plano para interromper a síndrome da recaída se ela aparecer. Um plano de prevenção de recaída deveria ser uma parte essencial de seu programa de recuperação.

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Plano de prevenção de recaída minimiza seu potencial destrutivo.

Os passos do plano de prevenção de recaída são: 1- Estabilização - conseguir auto controle. 2- Auto avaliação - descobrir o que acontece em sua mente, coração e vida. 3- Educação sobre a recaída - aprender sobre a recaída e o que fazer para preveni-la. 4- Identificação dos sinais de aviso de recaída pessoa is.

5- Administração dos sinais de aviso - aprender como interromper os sinais de aviso antes de perder o controle. 6- Treinamento de inventário - aprender como ficar consciente dos sinais de aviso quando eles se desenvolvem. 7- Rever o programa de recuperação - tenha certeza que seu programa de recuperação é capaz de ajudar você a lidar com seus sinais de aviso. 8- Envolvimento das pessoas significativas - ensinar aos outros como trabalhar com você para evitar a recaída. 9- Seguimento - atualizar seu plano de prevenção de recaída regularmente.

1- Estabilização - Voltar ao autocontrole e ao meu comportamento.

Estabilização: Antes de fazer o plano de prevenção de recaída, deve-se estar no controle de si mesmo.

Estabilização significa reconquistar o controle dos pensamentos, emoções, memória, julgamento e comportamento após ter recaído. É uma hora de crise para o adicto e sua família. A recaída quebrou sua vida. É normal que todos se sintam assustados, zangados, desapontados e culpados. O adicto precisa de ajuda. Precisa se voltar para pessoas em quem confia e de quem depende e que podem ajudar a tomar os passos necessários para estabelecer sua sobriedade.

Se for incapaz de manter um controle consistente de seus pensamentos, emoções e comportamento deveria consultar um consultor profissional ou centro de tratamento. Pode precisar de ajuda profissional para conseguir se estabilizar.

2- Avaliação - precisa entender, com a ajuda dos outros, o que ocasionou o episódio de recaída.

Avaliação: O segundo passo do plano de prevenção de recaída é

descobrir o que ocasionou a recaída. Isto é feito revisando a história de uso de químicos, assim como os sinais de aviso específicos e sintomas que ocorrem durante tentativas de conseguir abstinência.

Esta informação fornecerá valiosos indícios do que foi feito errado e o que pode ser feito diferentes para melhorar suas chances de sobriedade

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permanente. Lembre-se que seu passado é seu melhor professor. “Se você falha em aprender com seu passado, você é condenado a repeti-lo”.

3- Educação - Preciso aprender sobre o processo de recaída e como preveni-lo.

Educação: para prevenir recaídas é preciso entendê-las. Quanto

mais informações possuir sobre adicção, recuperação e recaída, mais ferramentas você terá para manter sobriedade.

É necessário entender os sintomas de abstinência demorada, o

que lhe coloca num alto risco de desenvolvê-la, o que pode acioná-la, o que se precisa para preveni-la ou lidar com ela. Deve-se familiarizar com os sinais de aviso e ser capaz de dar exemplos deles e colocá-los nas próprias palavras para ter certeza de entendê-los. Você já começou o processo de educação lendo este livro. Mas somente ler não é o suficiente. Os conceitos apresentados neste livro precisam ser revisados e discutidos com outras pessoas. Um consultor em dependência química credenciado deveria estar envolvido em ajudar a rever este material. Se isto não for possível, o padrinho no AA. ou outro adulto que leu este livro e não tem um problema de Dependência Química pode lhe ajudar a rever e aplicar esta informação.

Lembre-se, o programa de educação não está completo até que o adicto seja capaz de aplicar honestamente e francamente as informações que aprendeu da própria vida e das atuais circunstâncias da mesma. Adicção é a doença da negação. Sem o envolvimento de outros, no processo de educação, a negação pode impedi-lo de reconhecer o que acontece realmente.

Identificação dos sinais de aviso - preciso identificar os sinais de aviso que me dizem que problemas com minha sobriedade.

IDENTIFICAÇÃO DOS SINAIS DE AVISO

Toda pessoa tem um conjunto pessoal e único de sinais que

indicam que o processo de recaída está acontecendo. Estes são sinais para o próprio e para os outros que existe perigo de recaída, ou desenvolvimento de outros sintomas. Identificação dos sinais de aviso é o processo de identificar os problemas e sintomas que podem levar à recaída. Problemas podem ser situações internas ou externas ao adicto.

Sintomas podem ser problemas de saúde, problemas de pensamento, problemas emocionais, de memória ou de julgamento e comportamento adequado. É preciso desenvolver uma lista de sinais de aviso pessoais ou de indicações de que se pode estar em perigo. A lista de avisos deve ser desenvolvida de experiências das recaídas passadas.

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Da lista de sinais escolha cinco que se aplicam ao adicto. Coloque-os nas próprias palavras do adicto e escreva uma declaração sobre cada um que descreva sua própria experiência. Você precisa ter uma lista de indicadores e especificar o que está saindo de uma vida produtiva e confortável, para começar a se mover para a recaída.

Permita a rede de intervenção particular na sua recuperação. Encoraje-os a apoiar o programa de recuperação e a rejeitar apoio a seus sintomas de aviso de recaídas. Lembre-se, também, que os membros da família também estão se recuperando. É preciso conhecer suas necessidades e assumir um forte compromisso para atendê-los em seus próprios programas de recuperação. Acompanhamento e reforço - preciso revisar meu plano de prevenção de recaída

em intervalos regulares a medida que cresço e mudo na recuperação.

Acompanhamento e reforço: Adicção não tem cura. Ela é uma doença crônica. Recuperação

da adicção é uma maneira de vida. Como o plano de prevenção de recaída é parte da recuperação, também precisa tornar-se uma maneira de vida. O plano de prevenção de recaída precisa ser integrado em toda a vida e em todos os aspectos da sua recuperação do adicto.

O plano de prevenção de recaída precisa ser compatível com A.A e outros grupos de apoio que se usa para progressiva sobriedade.

Deve também ser compatível com o programa de tratamento e da família.

Prevenção de recaída precisa ser praticada até torna-se um hábito. Todos somos escravos de nossos hábitos. A única liberdade que podem ter é escolher com cuidados os hábitos dos quais ficaremos escravos. Para a pessoa em recuperação, é especialmente real que existe liberdade na estrutura. Somente no hábito e na estrutura de um programa de sobriedade diário é que se pode conseguir a liberdade da escravidão da adicção.

É preciso estar disposto a revisar e atualizar o plano de prevenção de recaída em intervalos regulares e estar disposto a reconhecer novos problemas que ameaçam a sobriedade. Plano de prevenção de recaída é um processo que deveria tornar-se uma parte integral da recuperação.

A conseqüência será a liberdade para gozar uma sobriedade confortável e a garantia que se tem um conhecimento de recaída, que se pode identificar os próprios sinais de aviso, e que se tem um pleno de ação para não permitir que estes sinais de aviso se desenvolvam.

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CAPÍTULO IX O ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA NA

SÍNDROME DA RECAÍDA

Em muitos casos, o adicto é o primeiro membro da família a procurar tratamento. Outros membros da família se envolvem para ajudar o adicto a ficar sóbrio.

Muitos membros da família recusam considerar o fato que eles têm um problema que requer tratamento especializado. Estes membros da família tendem a negar seu papel na família dependente, jogando os problemas pessoais e de família sobre o adicto. Desenvolvem expectativas irreais de como a vida da família vai melhorar com a abstinência. Quando estas expectativas não são alcançadas, eles agridem o dependente pelo fracasso, embora ele esteja seguindo um programa de recuperação com sucesso. Suas atitudes e comportamentos podem tornar-se fatores que complicam a recuperação do adicto e que podem contribuir para o recaído. Os membros da família podem ser aliados poderosos na prevenção de recaída do dependente. O plano de prevenção de recaída utiliza a motivação da família para conseguir que o adicto fique sóbrio. Quando os membros da família ficam envolvidos no plano de prevenção de recaída, um foco muito forte é colocado na co-dependência e seu papel na recaída da família (recaída emocional).

Os membros da família são ajudados a reconhecerem sua própria co-dependência e ficarem envolvidos ativamente no seu próprio tratamento.

A adicção é apresentada como uma doença da família que afeta todos os membros da família, e que requer deles participação no tratamento. O adicto precisa de tratamento para a dependência e os outros membros da família, precisam de tratamento para a co-dependência.

O termo co-dependência, às vezes é usado para referir apenas ao cônjuge de um adicto e outros termos são usados para se referir aos outros membros. Nós usamos o termo “co-dependente” para se referir a qualquer um cuja vida ficou incontrolável por viver uma relação comprometida com um dependente.

Co-dependência é uma síndrome definível que é crônica e segue uma progressão previsível. Quando uma pessoa numa relação comprometida com um dependente tenta controlar a bebida ou o uso de drogas ou um comportamento compulsivo (sobre o qual são impotentes) perdem o controle sobre o próprio comportamento (sobre o qual eles têm poder) e suas vidas ficam sem controle.

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Quando você tenta controlar algo sobre o que você não tem controle, você perde o controle daquilo que você consegue administrar.

As pessoas que sofrem de co-dependência desenvolvem

sintomas físicos, psicológicos e sociais como resultados de tentar se adaptar a para compensar os efeitos debilitadores do stress de viver com a adicção. Quando a co-dependência progride, os sintomas relacionados ao stress tornam-se habituais. Os sintomas também se tornam auto-reforçadores: o que é a presença de um sintoma de co-adicção acionará automaticamente outros sintomas de co-adicção. A co-dependência finalmente torna-se independente da adicção que a causou originalmente. Os sintomas de co-adicção continuarão mesmo se o adicto ficar sóbrio ou se unir ao AA. ou o co-dependente terminar o relacionamento. A condição de co-dependência se manifesta em três estágios de progressão.

Estágio inicial: Tentar resolver os problemas normais e tentativas de se ajustar.

A reação normal dentro de qualquer família à dor, à crise e à disfunção de um membro da mesma é reduzir a dor, acalmar a crise e assistir o membro disfuncional para proteger a família. Estas respostas não tornam as coisas melhores quando o problema é adicção, porque estas medidas privam a pessoa dependente de aprender com as experiências dolorosas que traz uma consciência de que a adicção está criando problemas. Neste estágio a co-dependência é simplesmente uma reação aos sintomas da doença adictiva. É uma resposta normal e uma situação anormal.

Estágio médio: Respostas comuns que levam a derrota. Quando as respostas prescritas culturalmente para o stress e a

crise não trazem alívio da dor criada pela adicção na família, os membros da família tentam com mais força. Fazem as mesmas coisas, porém mais vezes, com mais intensidade, com mais desespero. Tentam dar mais apoio, serem mais úteis, mais protetores. Assumem as responsabilidades do adicto, sem perceber que isto o leva a ficar mais irresponsável.

As coisas pioram ao invés de melhorar e o sentido de fracasso aumenta a resposta. Os familiares experimentam frustração, ansiedade e culpa. Existe uma crescente autocensura, diminuição do autoconceito e comportamento que levam ao fracasso, ficam isolados, olham o comportamento adictivo e nas suas tentativas para controlá-lo, tem pouco tempo para outras coisas. Como resultado perdem o contato com o mundo normal fora de sua família.

Estágio crônico: Colapso de família e stress crônico. A resposta habitual e continuada da adicção na família resulta em

específicas estruturas circulares e repetitivas de comportamentos que levam ao fracasso. Estas estruturas de comportamento independentes e auto-

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reforçadoras continuam mesmo na ausência dos sintomas da doença adictiva.

As coisas que os familiares fizeram, num sincero esforço para ajudar, fracassaram. O desespero resultante e a culpa trazem confusão e caos e a incapacidade de interromper o comportamento disfuncional mesmo quando estão conscientes do que estão fazendo não está ajudando. O pensamento e o comportamento do co-adicto estão FORA DE CONTROLE, e estes pensamentos e estruturas de comportamento continuaram independentes da adicção. A degeneração do co-dependente é física, psicológica e social. As tentativas ineficientes para controlar o uso do químico e os comportamentos elevam o stress crônico ao ponto de produzir doenças físicas relacionadas ao stress, como enxaquecas, úlceras e pressão alta. Este stress crônico pode também levar a um colapso nervoso ou outras doenças emocionais. Comportamento fora de controle é uma maneira de viver centrada na dependência que permeia todas as atividades da vida, mesmo aquelas não relacionadas à adicção. Degeneração social acontece quando o foco na adicção interfere com os relacionamentos e as atividades sociais. Degeneração espiritual resulta quando o foco no problema torna-o tão penetrante que não há mais interesse em mais nada além dele, principalmente preocupações e necessidade relacionadas a um maior significado da vida.

Recuperação da co-dependência significa aprender a aceitar e a separar-se dos sintomas de adicção.

Significa aprender a lidar e controlar os sintomas de co-dependência. Significa aprender a olhar as necessidades pessoais e o crescimento pessoal, aprender a se respeitar e a gostar de si mesmo, aprender a escolher o comportamento apropriado, aprender a ter controle sobre sua própria vida.

Por ser uma condição crônica, a co-dependência, assim como a adicção, está sujeita a recaída.

Mas a condição de um co-dependente recaído pode ser mais difícil de identificar. Sem um progressivo programa de recuperação e o cuidado apropriado de si mesmo, velhos sentimentos e comportamentos que estavam sob controle, tornam-se descontrolados novamente.

A vida fica fora de controle novamente: o co-adicto está recaído.

SINAIS DE AVISO DE RECAÍDA PARA A CO-ADICÇÃO

Da observância de consultores que trabalham com familiares em recuperação, surgiram os sinais de aviso de recaída do cônjuge co-dependente.

A lista seguinte foi copiada destas observações:

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1- Perda da condição de estrutura diária. A rotina diária dos familiares é interrompida por uma situação

temporária como uma doença, o horário das crianças, as férias, viagens, etc. Após o evento ou a doença, o cônjuge não volta para todas as atividades de seu programa de recuperação.

2- Falta de cuidados pessoais. O cônjuge fica descuidado da aparência pessoal: pode parar de

fazer e se divertir com pequenas coisas que não são apenas “para nosso divertimento pessoal”. A pessoa cuida dos outros em primeiro lugar e ele mesmo fica em segundo ou terceiro lugar.

3- Incapacidade para colocar e manter limites com efic iência. O cônjuge começa a experimentar problemas de comportamento

com as crianças. Limites que estão sendo colocados tendem a ser tão clementes ou tão rígidos e resultam em mais problemas de disciplina.

4- Perda de planos construtivos. O cônjuge começa a sentir-se confuso e vencido pelas

responsabilidades pessoais. Em vez de decidir o que é mais importante e fazê-lo, começa a reagir fazendo a primeira coisa que apareça enquanto coisas mais importantes não são feitas.

5- Indecisão. O familiar fica mais e mais incapaz de tomar decisões

relacionadas à vida diária. 6- Comportamento compulsivo. O cônjuge experimenta episódios em que se sente levando a

fazer coisas mais de tudo o que já foi feito. Parece que não é o bastante. 7- Fadiga ou falta de descanso. Fica incapaz de dormir as horas necessárias para se sentir

descansado. Quando consegue dormir é um sono instável. 8- Volta de ressentimentos insensatos. O cônjuge se vê revendo mentalmente pessoas ou fatos que

magoaram, irritaram ou foram perturbadores. Quando são revistos, o cônjuge revive velhas emoções e sente ressentimentos sobre eles.

9- Volta da tendência de controlar pessoas, lugares e coisas. Quando o co-dependente sente um menor controle sobre a vida,

começa abertamente a tentar controlar e manipular outras pessoas ou situações. O adicto pode ser o alvo principal, mas não necessariamente.

10- Defensiva. O co-dependente pode não aprovar totalmente alguma de suas

ações, mas quando desafiada justifica abertamente as ações de uma maneira aguda e irritada.

11- Auto-piedade.

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O co-dependente começa a viver problemas do presente e do passado, aumentando-os. A pessoa pode perguntar: “Por que tudo acontece comigo?”

12- Se preocupando com dinheiro ou gastando demais. O cônjuge pode estar muito preocupado com finanças da família,

mas impulsivamente gasta dinheiro para se sentir melhor, fica convencido de que merecia o que comprou, mas sente culpa e sem outra saída.

13- Desordens no apetite. O familiar “perde” seu apetite ao ponto de não querer, mesmo

suas comidas favoritas. Pode começar a comer demais, sem se preocupar com o apetite, para se sentir melhor. Comer demais satisfaz por um certo espaço de tempo e mais nada.

14- Bode expiatório. Existe uma tendência crescente para colocar a culpa em outras

pessoas, lugares e coisas. O co-dependente olha para fora de si para encontrar as razões porque se sente tão mal.

15- Retorno do medo e ansiedade geral. O cônjuge começa a experimentar períodos de nervosismo.

Situações que antes não causavam medo ou ansiedade agora estão causando estas emoções. O cônjuge pode mesmo não saber a fonte do nervosismo.

16- Perda na crença de um Poder Superior. O cônjuge começa a perder a crença num poder superior,

qualquer que seja. Há uma tendência de confiar só em si ou de se voltar para o adicto para conseguir força e solução (o Poder Superior passa a ser o adicto).

17- Freqüência ao Al-Anon fica esporádica. O cônjuge muda a estrutura de freqüência das reuniões de Al-

Anon. Vai a poucas reuniões, pensando que não têm tempo, as reuniões não estão ajudando, ou não precisam mais.

18- Pensamento acelerado. O cônjuge sente como se estivesse num redemoinho que vai

cada vez mais rápido. Apesar das tentativas de diminuir, o pensamento continua a correr com muitas coisas que não foram feitas ou problemas não resolvidos (procrastinação).

19- Incapacidade de construir uma cadeia lógica de pens amento. O cônjuge tenta resolver problemas e pára em algo que

normalmente seria simples. Parece que sua mente não trabalha mais, que é impossível entender o mundo. Por isso se sente impotente e frustrado com a vida.

20- Confusão. O cônjuge sabe que existem muitos sentimentos internos, mas

não sabe o que está realmente errado.

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21- Distúrbios do sono. Insônia ou noites com sono intermitente tornam-se regulares.

Quanto mais a pessoa tenta dormir, menos ela consegue. O sono pode vir, mas não existe descanso. O cônjuge parece cansado pela manhã (ao invés de descansado).

22- Emoção artificial. O co-dependente começa a exibir sentimentos sem um

conhecimento consciente do por que. Fica emocional sem nenhuma razão. 23- Perda de controle de comportamento. O co-dependente começa a perder o controle de seu

temperamento, especialmente em torno do adicto e das crianças. Perda do controle do comportamento é apresentado de maneira como punir demais as crianças, batendo e gritando com o adicto, ou atirando as coisas.

24- Mudanças de humor incontroláveis. Mudanças no humor do co-adicto acontecem sem qualquer aviso.

As mudanças são dramáticas. Não se sente mais um pouco deprimido ou pouco feliz, mas vai se sentir extremamente feliz e extremamente deprimido.

25- Fracasso para manter os sintomas de apoio informais . O co-adicto pára de procurar os amigos e a família. Isto pode

acontecer muito lentamente. Não aceita convites para um café, perde as reuniões de família e não mais responde às chamadas telefônicas.

26- Sentimento de solidão e isolamento. O co-dependente começa a gastar mais tempo sozinho.

Geralmente racionaliza seu comportamento - muito ocupado, as crianças, a escola, etc. Ao invés de lidar com a solidão, fica mais compulsivo e impulsivo. O isolamento pode ser justificado por se convencer que ninguém entende ou realmente o preocupa.

27- Visão de túnel. Não importa qual seja o assunto ou situação, o co-dependente

olha a sua opinião ou decisão e é incapaz de ver outros pontos de vista. Está com a mente fechada.

28- Volta de períodos de ansiedade variável e ataques d o pânico. O co-dependente pode começar a se experimentar ou

experimentar pela primeira vez ondas de ansiedade que parecem ocorrer sem nenhuma razão específica. Pode sentir medo e não saber por que. Estes sentimentos sem controle podem crescer ao ponto da pessoa viver com medo de ter medo.

29- Problemas de saúde. Problemas físicos começam a ocorrer, como dores de cabeça,

enxaqueca, dores de estômago, dores no peito, erupções ou alergias. 30- Uso de medicação ou álcool como um meio de lidar co m os

problemas.

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Desesperado para conseguir alguma espécie de alívio da dor física ou emocional, o co-dependente pode começar a beber, usar drogas, tomar remédios prescritos. O álcool ou uso de drogas dá um alívio temporário aos problemas que aumentam.

31- Abandono total das reuniões de apoio e sessões de t erapia. Devido a uma série de razões (crença de que não precisam mais

das reuniões, medo imobilizador, ressentimentos, etc.) o co-adicto, pára complemente de ir às reuniões de apoio ou à terapia (ou a ambos).

32- Incapacidade de mudar comportamentos derrotistas. Embora exista o reconhecimento pelo co-dependente de que o

que está fazendo não é bom para si mesmo, existe ainda a compulsão para continuar o comportamento, apesar disto.

33- Desenvolvimento de uma atitude de “Eu não me import o”. É mais fácil acreditar que “Eu não me importo” do que “Eu estou

fora de controle”. Para defender a auto-estima, o co-dependente racionaliza. “Eu não me importo”. Como resultado, uma mudança ocorre nos sistemas de valores. Coisas que antes eram importantes, agora parecem ser ignoradas.

34- Perda completa da estrutura diária. O co-adicto perde a crença de que uma vida ordenada é possível.

Começa a perder (esquecer) encontros e reuniões. É incapaz de comer na hora certa, ir dormir ou levantar na hora. O co-dependente é incapaz de realizar atos simples da função diária.

35- Desespero e idealização de suicídio. O co-dependente começa a acreditar que a situação é

desesperadora. Sente que tem duas ou três opções: ficar louco, cometer suicídio ou se entorpecer com remédios e/ou álcool.

36- Grande colapso físico. Os sintomas físicos ficam tão severos que atenção médica é

requisitada. Podem ser qualquer um dos sintomas que ficam tão severos que deixam o co-dependente disfuncional (ex.: úlceras, enxaquecas, dores no coração, palpitações no coração).

37- Grande colapso emocional. Aparentemente tendo tentado tudo para lidar com os problemas,

o co-dependente pode não encontrar mais nenhuma maneira para lidar com sua vida incontrolável. Neste ponto, ele pode ficar tão deprimido, hostil ou ansioso, que fica totalmente fora de controle.

PREVENÇÃO DE RECAÍDA PARA A FAMÍLIA

Enquanto cada familiar é responsável por sua própria recuperação e ninguém pode se recuperar pelo outro, os sintomas de adicção e co-adicção impelem o potencial de recaída do outro. Mesmo que o adicto não esteja mais usando e não esteja mais experimentando os sintomas relacionados a bebida da doença, os sintomas de abstinência tardia

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afetam e são afetadas pela co-dependência. Tanto os sintomas de abstinência demorada e de co-dependência são sensíveis ao stress. Stress intensifica os sintomas e os sintomas intensificam o stress. Como resultado, o adicto em recuperação e o co-adicto podem se transformar numa equipe geradora de stress que sem saber e inconscientemente complicam a recuperação do outro e criam um alto risco de recaída.

O que os familiares podem fazer para reduzir o risco de sua própria recaída e o risco de recaída do adicto em recuperação?

Podem se informar sobre a doença da adicção, recuperação e os sintomas que acompanham a recuperação.

Precisam reconhecer que os sintomas de abstinência demorada são sintomas relacionados à sobriedade ao invés de defeitos de caráter, distúrbios emocionais ou doença mental. Ao mesmo tempo, precisam aceitar e reconhecer os sintomas de co-dependência e se envolver no Al-Anon e ou uma terapia pessoal para desenvolver um plano para sua própria recuperação. Experiência clássica com um plano de prevenção de recaída em vários programas de tratamento mostra que a família pode ser um aliado poderoso para prevenir a recaída do adicto. Em 1980, o plano de prevenção de recaída foi modificado para incluir o envolvimento das pessoas significativas, incluindo os membros da família. Isto aumentou muito a eficiência. Com posteriores experiências clínicas, porém, outros problemas apareceram. Muitos familiares recusam participar num plano de prevenção de recaída. Outras participam de uma maneira que é contra produtiva.

Em 1983, o plano de prevenção de recaída foi aumentado para incluir a prevenção de recaída para o adicto e o co-adicto. O protocolo do novo plano de prevenção de recaída projetado utiliza a motivação da família para manter o adicto sóbrio. Como os familiares se envolvem no plano de prevenção de recaída, uma focalização forte é colocada sobre a co-dependência e seu papel na recaída da família. Os familiares são ajudados a reconhecerem sua própria co-dependência e ficam envolvidos ativamente em seu próprio tratamento. Adicção é apresentada como uma doença de família que afeta todos os familiares, onde todos precisam de tratamento.

Todos os membros de uma família adicta têm propensão de voltar para um comportamento derrotista que pode deixá-los fora de controle. Um episódio de recaída agudo pode ocorrer com um adicto ou co-adicto. Como os adictos que desenvolvem problemas sérios, embora nunca usem álcool ou drogas, o co-adicto muitas vezes fica disfuncional, embora o adicto esteja sóbrio e trabalhando num ativo programa de recuperação.

É importante proteger a família do stress que pode ser gerado pelos sintomas da abstinência tardia experimentada pela pessoa em recuperação e cooperar nos planos para proteger a pessoa em recuperação do stress, criados pelos sintomas da co-dependência. Lembre-se que ninguém fica doente numa noite. Recuperação, igualmente, levará um longo período de tempo. Desenvolva um plano para prevenir recaída pessoal e

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apoiar planos de prevenção de recaída para o adicto em recuperação. Plano de prevenção de recaída da família pretende ajudar a prevenir episódios de recaída agudos no adicto em recuperação, para prevenir crises no co-dependente, desenvolver um plano de recuperação para o adicto e o co-adicto, desenvolver um plano de intervenção no início para interromper episódios de recaída agudos no dependente e no co-dependente.

Para os adictos, isto envolve interromper os problemas causados pela síndrome de abstinência demorada no adicto sóbrio e pelo uso de álcool ou drogas no adicto que voltou a usar e beber. Para o co-dependente, isto envolve interrupção da crise de co-dependência. A família precisa trabalhar com um consultor para estabelecer um plano de prevenção de recaída formal que lhes permitissem apoiar a recuperação um do outro e ajudar a intervir se os sintomas de aviso de recaída ficarem fora de controle.

O protocolo do plano de prevenção de recaída da família consiste em 12 procedimentos básicos. Estes são:

1- Estabilização. O primeiro passo no plano de prevenção de recaída é estabilizar

o adicto e o co-adicto. O adicto é estabilizado pela desintoxicação ou pelo tratamento dos sintomas da abstinência demorada. O cônjuge é estabilizado tratando da crise de co-dependência pela separação da crise do adicto, recuperando uma perspectiva baseada na realidade, e o desenvolvimento de algumas forças pessoais. Muitas vezes isto pede Al-Anon e aconselhamento profissional.

2- Avaliação. Antes de desenvolver um plano de prevenção de recaída é

preciso avaliar o adicto, os co-adictos e o sistema familiar. A avaliação analisa os problemas atuais de cada familiar, sua disposição e capacidade para iniciar um programa de recuperação pessoal, e sua disposição para se envolver num programa de recuperação familiar.

3- Educação sobre alcoolismo, co-dependência e recaída . Informação exata é a mais poderosa de todas as ferramentas de

recuperação. O adicto e a família precisam aprender sobre a doença da adicção, a condição de co-adicção, tratamento e o plano de prevenção de recaída.

Esta educação é dada melhor para a família como uma unidade em reunião com outras famílias. Ajuda se a educação é acompanhada por programas separados de terapia de grupo para cada membro da família. O adicto deveria entrar num grupo de adictos, o co-dependente adulto num grupo de cônjuges.

São nestas sessões de tratamento em grupo que a recuperação individual de todos os membros da família começa.

4- Identificação dos sinais de aviso. Tanto o dependente como o co-dependente precisam identificar

os sinais de aviso pessoais que mostram que eles não estão funcionando

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direito. Novamente, isto é feito melhor dentro de um grupo. O adicto tem mais facilidade de identificar os sinais de aviso de recaída quando trabalhados com outros alcoólicos. Co-dependentes têm mais facilidade de inicialmente identificar sinais de aviso de recaída quando trabalhados com outros co-dependentes.

5- Confirmação da família dos sinais de aviso. Após cada familiar desenvolver uma lista pessoal de sinais de

aviso e revisá-la no seu grupo, uma série de sessões familiares é programada. Nestas sessões todos os familiares apresentam suas listas pessoais de sinais e pedem por retorno. Novos sinais de aviso podem ser acrescentados à lista baseados nos retornos. Como cada família tem uma lista de sinais que precedem uma recaída, não existe um paciente identificado. Todos participam numa posição de igualdade. Essencialmente dizem um ao outro: “Todos fomos igualmente afetados de várias maneiras, pela doença da adicção”.

6- Um plano de prevenção de recaída da família. Os familiares discutem cada um de seus sinais de aviso, como a

família lidou com eles no passado e que estratégias deveriam ser usadas efetivamente no futuro. Situações nas quais os sinais de aviso provavelmente serão encontrados e identificados. Estratégias para uma administração mais efetiva dos sinais de aviso para cada familiar são discutidos. Os problemas de cada família são identificados e atribuídas soluções pelo próprio grupo.

7- Treinamento de inventário. Todos familiares são treinados em como completar um inventário

planejado pela manhã e uma revisão do inventário à noite. Focalizando principalmente sobre a estruturação do tempo, colocação de objetivos realistas e resolução de problemas.

8- Treinamento de comunicação. Os familiares precisam se comunicar efetivamente para que o

PPR (Planejamento de Prevenção à Recaída) funcione. A família é treinada no processo de dar e receber retornos numa maneira construtiva e com cuidado.

9- Revisão do programa de recuperação. Todos os familiares relataram à família o programa de

recuperação que estabeleceram para os mesmos. O foco aqui é “como você e eu vamos saber que estou indo bem em minha recuperação?”. Todos são convidados a expressar suas necessidades de recuperação e mostrar seu progresso no tratamento.

10- Plano de intervenção na negação. Tanto a adicção como a co-adicção são doenças da negação. A

maioria da negação é inconsciente. Nem o adicto nem o co-adicto percebem que estão em negação quando acontece. É importante ter em conta a realidade da negação desde o início. Cada familiar deveria responder a

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questão: “O que os outros familiares deveriam fazer se lhe derem um retorno sobre sinais de aviso concretos e você os negar, ignorar o retorno ou ficar zangado ou perturbado?”. Cada familiar deveria recomendar planos específicos para lidar com a própria negação. Esta discussão aberta de espaço para intervenção à negação se torna um problema no futuro.

11- Plano de intervenção de recaída inicial. Adicção e co-adicção são propensos à recaída. Recaída significa

ficar disfuncional na recuperação. Para o adicto, recaída pode envolver álcool e uso de drogas, ou pode também significar que a pessoa fica tão deprimida, ansiosa, irritada ou perturbadora que não funciona bem na sobriedade. Para o co-adicto recaída significa a volta ao estado de crise de co-dependência que interfere com o funcionamento normal. Uma vez que os familiares entram num episódio de recaída agudo ficam fora de controle de seus pensamentos, emoções, julgamentos e comportamentos. Muitas vezes precisam de ajuda direta de outros familiares para interromper a crise. Muitas vezes não aceitam esta ajuda. Agem como se não precisassem de ajuda, muito embora precisem dela desesperadamente. A família é instruída no processo de intervenção. Intervenção é um método de ajudar pessoas que recusam ser ajudadas. Este treinamento em intervenção resultou numa redução radical da duração e severidade de episódios de recaída nos familiares.

12- Seguimento e reforço. Adicção e co-adicção são condições da vida toda. Os sintomas

podem entrar em remissão, mas nunca desaparecem totalmente. Ficam quietos esperando um lapso no programa de recuperação para ficar ativos novamente. É importante que a família mantenha um programa progressivo incluindo AA., Al-Anon e um exame periódico de prevenção de recaída com um consultor profissional em adicção.

CAPÍTULO X GRUPO DE AUTO-AJUDA – PREVENÇÃO DE RECAÍDA

Prevenção de recaída é uma maneira de vida. Reconhecer e

interromper os sintomas de recaída precisa se tornar um hábito diário. Como qualquer hábito, a prevenção de recaída é difícil de se manter. Muitas pessoas com tendência a recaída acham que precisam de apoio para manter seu plano de prevenção de recaída funcionando. Descobriram que reunir-se com outros de mesma tendência é muito útil. Estabeleceram reuniões regulares para discutir seus planos de prevenção de recaída e trocar informações. Em algumas áreas estes grupos foram incorporados às reuniões de AA. Em outros locais, reuniões especiais de AA para alcoólicos com propensão à recaída apareceram. Estas reuniões muitas vezes são

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chamadas “Reuniões dos Recaídos Felizes”. Alguns membros de AA. discutem seu programa com seu plano de prevenção de recaída nas reuniões regulares de AA. Desde que tenham integrado o plano de prevenção de recaída ao seu programa regular de 12 pessoas para a recuperação de AA. Geralmente não há problemas.

Alguns grupos de AA, porém, são relutantes para discutir prevenção de recaída nas reuniões formais. Embora o plano de prevenção de recaída seja compatível com o programa de AA., não faz parte do programa. O próprio método e literatura como este livro, não são aprovados pela conferência. Por isso, muitas reuniões de AA. não permitem a discussão dos métodos do plano de prevenção de recaída.

Por isso, algumas pessoas em recuperação, desenvolveram grupos de auto-ajuda de prevenção de recaída que são independentes, mas que cooperam com o AA. e outros grupos de Doze Passos. Estas pessoas não deixam de ir ao AA., elas simplesmente começam a ir a mais uma reunião de auto-ajuda que focaliza especialmente seus problemas para prevenir a recaída.

O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída é uma reunião estruturada projetada para assistir pessoas propensas à recaída que sofrem da doença adictiva a reconhecer os sinais de aviso de recaída e aprender como lidar com estes sintomas.

O grupo é projetado como uma organização voluntária de auto-ajuda. Não há jóias, nem taxas, ou requisitos para ser membro. O propósito primordial do grupo é ajudar pessoas com tendência à recaída reconhecer seus próprios problemas e reunir-se para dar ajuda mútua e apoio em tempo de crise.

O grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída é feito para trabalhar em cooperação com Alcoólicos Anônimos e programas relacionados. Também para cooperar com profissionais de aconselhamento. O grupo não foi feito para substituir o AA. ou aconselhamento profissional.

Para ser membro, a única qualificação é uma história de tentativas honestas que falharam ou o medo que a recaída possa acontecer. Os grupos de PPR reconhecem que as pessoas com tendência à recaída tiveram muitos fracassos na recuperação. Muitas vezes sua história de fracassos leva-os a ser rotulados ou estigmatizados como fracassados. Devido a problemas especiais que vão de mão em mão, com uma longa história de fracasso na recuperação, a pessoa precisa de um grupo de apoio especial no qual irá encontrar a amizade de outras pessoas em recuperação que passaram pelos mesmos problemas. Muitos sinais de aviso podem se desenvolver sem o conhecimento ou intenção da pessoa.

Por isso, o grupo é feito, para dar retorno aos membros, dos sintomas observados por outros membros do grupo. Os fatores principais que tornam o grupo PPR mais eficazes são: inventários diários que identificam sinais de aviso no começo, esforços para parar os sinais de aviso

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antes que fiquem fora de controle, falar abertamente e honestamente sobre os sinais de aviso e o que fazer para pará-los e ouvir o retorno dos outros.

A experiência dos grupos PPR diz que não existem alcoólicos sem esperança. Recuperação é possível mesmo para pessoas com longas histórias de recaídas crônicas e fracasso na recuperação. A chave para a recuperação é uma combinação de tratamento profissional, grupo de ajuda baseado nos 12 Passos de AA. e os passos especiais do PPR. O AA. nos diz que a recuperação é possível seguindo Doze Passos básicos. PPR é construído sobre estes passos. PPR sugere que existem caminhos para uma recuperação com sucesso e caminhos para a recaída. O caminho para uma recuperação com sucesso pode ser descrito no modelo de Recuperação Desenvolvido. Os caminhos de recaída podem ser descritos de recuperação parcial, e as fases e sinais de aviso de recaída.

O AA. nos diz que algumas pessoas parecem ser “incapazes por constituição” de recuperação. PPR nos diz que estudando estas pessoas e determinando o que lhes acontece fisicamente, psicologicamente, socialmente e espiritualmente, podemos descobrir o que precisa acontecer para que eles possam ficar “constitucionalmente capazes de recuperação”. O AA. oferece Doze Passos para a recuperação. PPR aplica-se de uma maneira especial para aqueles que têm uma tendência a recair.

O primeiro passo nos diz para admitir que somos impotentes perante o álcool e que nossas vidas ficaram ingovernáveis. PPR nos ensina que não somos só impotentes perante o álcool, mas também aos sintomas de abstinência demorada que nos acompanha na recuperação. PPR também descreve “viver sem controle” com o conceito de “comportamentos compulsivos”: Perdemos o controle de nossa vida quando nos voltamos para comportamentos compulsivos para evitar lidar conosco, nosso pensamento, nossas emoções e nossas ações.

O segundo passo nos diz para acreditar que um poder superior a nós, pode nos devolver à sanidade. Este plano sugere que somos insanos por estar usando álcool e drogas. PPR descreve uma insanidade baseada nos termos da síndrome de abstinência demorada, pensamento adictivo, crenças erradas, e um sistema social adictivo que mantém estas crenças vivas. PPR afirma as promessas do segundo passo de possibilidade de recuperação. Também confirma que a recuperação não pode vir de dentro da pessoa com tendência à recaída, porque a percepção está distorcida demais pelo pensamento e crenças erradas. Precisam acreditar que não podem fazer isto sozinhos, mas de que existe ajuda efetiva disponível. Existe um poder que fornece esta força e coragem para encontrar e utilizar conhecimentos e métodos para desenvolver a disciplina necessária para recuperação.

O terceiro passo os diz para tomar a decisão de colocar nossas vontades e nossas vidas sobre o cuidado de Deus como nós entendemos.

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Quando este passo é aplicado, a PPR significa se render à vontade de Deus em utilizar nova informação e continuar a disciplina de completar o PPR.

O quarto passo nos diz para fazer um destemido e minucioso inventário moral de nós mesmos. PPR sugere um inventário especializado sobre os sintomas da AD (abstinência demorada), os sintomas da recuperação parcial, e os sinais de aviso de recaída que indica que AD está fora de controle. Este inventário especializado focaliza sobre avaliar sua própria estrutura de recaída.

O quinto passo nos fala para admitir pra Deus, pra nós mesmos e pra outro ser humano a natureza exata de nossas falhas. Em termos do PPR, não é suficiente saber pessoalmente quais são seus sinais de aviso. Você precisa discutir estes sinais nas reuniões de AA, em terapia de grupo, com seu padrinho no AA, terapeuta e familiares. PPR, além disto, lhe encoraja a se envolver num grupo de auto-ajuda PPR que envolva um amigo chave, familiares e membros de AA. Quanto mais pessoas forem familiares com seus sinais de aviso e podem lhe ajudar a reconhecê-los e pará-los será melhor para você.

O sexto passo nos diz para nos tornarmos inteiramente prontos para que Deus removesse todos estes defeitos de caráter. No PPR os defeitos de caráter são divididos em três categorias.

A primeira categoria envolve os sintomas de dano neurológico (abstinência demorada) acusado pelo uso crônico do químico. Estes sintomas requerem tempo, mais nutrição apropriada e lidar com o stress para se recuperar.

A segunda categoria envolve pensamento dependente e crenças erradas que criam desconforto na recuperação. Pensamento derrotista e estruturas de crenças precisam ser identificados falando e estando aberto ao retorno dos outros.

A terceira categoria envolve problemas com o pensamento e a vida, que interferem com o crescimento e o desenvolvimento.

PPR sugere que é útil categorizar e identificar com cuidado os defeitos de caráter. Cada tipo de defeito diferente requer uma aproximação diferente para corrigi-lo. Esta necessidade de aproximações diferentes para diferentes tipos de problemas foi sugerida pelo Padre Martim quando disse: “Se for atropelado por um caminhão, leve-me para o hospital, não me leve para a igreja ou para a reunião de AA. Enquanto estiver no hospital, usarei os princípios de AA para me dar forças para fazer meu tratamento”.

PPR sugere que precisamos ficar dispostos para se recuperar dos danos físicos e neurológicos de nossa adicção, bem como os psicológicos (pensar, sentir e agir). Este processo se torna possível por um programa de crescimento que fornece a força e esperança para continuar na recuperação sem precisar voltar para a adicção.

O sétimo passo sugere que nós, humildemente, roguemos a Deus para remover nossas falhas. Deus criou um universo ordenado.

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Adicção destrói esta ordem na vida da pessoa. Mas Deus também criou um processo para restaurar a ordem. PPR sugere que há um caminho para a recuperação. Não é fácil , mas existe. Aprendendo qual é este caminho e pedindo forças para segui-lo, com tempo todos os três tipos de defeitos de caráter são removidos.

Um homem estava se afogando numa enchente e pediu para Deus salvá-lo. Um homem na margem atirou-lhe uma corda, mas ele recusou pegá-la dizendo “Deus me salvará”. Estava afundando quando um barco passou perto dele e alguém lhe atirou um salva-vidas. Ele não quis pegá-lo dizendo: “Deus me salvará”. Finalmente, quando estava sendo arrastado rapidamente pela correnteza, um helicóptero pairou por cima e alguém balançou uma corda em sua frente. O homem gritou: “Não, obrigado, Deus me salvará”. Então ele mergulhou para a morte. Alguns minutos depois ele estava em frente de Deus. Estava zangado porque Deus o deixou morrer e disse: “Deus, porque você não me salvou?”. Deus lhe disse: “O que você queria que eu fizesse? Primeiro mandei um homem com uma corda, então mandei um bote, e finalmente um helicóptero. Você recusou minha ajuda todas às três vezes.”

Para estar disposto a que Deus remova todos estes defeitos de caráter, precisamos perceber que Deus muitas vezes trabalha através de outras pessoas. Deus muitas vezes remove nossos defeitos de caráter nos enviando a um bom médico, um bom conselheiro de nutrição, um conselheiro de alcoolismo, um colega, ou um membro de AA. Sempre nos dá uma escolha. Sempre temos o direito de dizer: “Não, obrigado. Não vou fazer isto”.

Oitavo passo sugere que façamos uma lista de todas as pessoas que prejudicamos e nos tornar dispostos a fazer reparações a todas. Em outras palavras, precisamos estar prontos para limpar a casa. Precisamos preparar para pôr em ordem nossas relações passadas. O oitavo passo fala para identificarmos aqueles que prejudicamos, como prejudicamos e prontificarmo-nos a fazer reparações. Pessoas com tendência à recaída tendem a ter listas maiores de pessoas a quem precisam fazer reparações. Isto porque muitas pessoas foram magoadas no longo processo da abstinência seguida pela recaída.

O nono passo sugere que nós realmente façamos reparações a estas pessoas sempre que forem possíveis, exceto quando fazer isto pode prejudicá-las ou a outros.

PPR afirma a necessidade de pôr em ordem nossos relacionamentos passados. Na prevenção de recaída é importante reconhecer que este é o nosso passo por uma razão. Tentar fazer reparações muito cedo pode criar stress e dor demais, que pode induzir à recaída.

O décimo passo nos diz para continuarmos a fazer um inventário pessoal e quando estiver errado, prontamente admiti-lo. PPR sugere uma

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forma especial de inventário composto de um inventário planejado pela manhã e um inventário de revisão a noite. PPR sugere que reconheçamos os sinais de aviso de recaída prontamente e façamos algo a respeito. Quanto mais o sinal é deixado de lado, mais ele crescerá em intensidade até ficar tão forte que leva de volta ao uso do químico. Reconhecer o sinal de aviso, admitir que existe, e usar o PPR para lidar com ele.

O décimo primeiro passo diz para procurarmos através da prece e da meditação, melhorarmos nosso contato consciente em Deus, como o entendemos, rogando somente pelo crescimento de Sua vontade e a força para realizarmos esta vontade. Oração e meditação fornecem uma fonte de inspiração e coragem para alcançarmos e pedirmos ajuda. Na prece e meditação, encontraremos a força para tentar de novo a recuperação.

O décimo segundo passo sugere que, tendo um despertar espiritual, tentemos transmitir esta mensagem para os alcoólicos e pratiquemos estes princípios em todos os nossos negócios. Recaídas repetidas interferem no crescimento espiritual. Sobriedade contínua ou longos períodos de sobriedade permitem o crescimento que motiva aqueles que experimentaram um despertar espiritual, compartilhar seu conhecimento de PPR com outros adictos com tendência à recaída.

PPR sugere que os adictos com tendência à recaída têm necessidades especiais, mas que existe esperança de recuperação. O fato de que uma pessoa com tendência a recaídas pode se recuperar é uma fonte importante de esperança para outros que ainda estão lutando para consegui-lo. Mas é preciso mais que esperança. Existe a necessidade de transmitir conhecimento, habilidade e apoio pessoal para que a pessoa que luta aprenda este novo conhecimento e coloque as novas habilidades para funcionar. Por isso PPR recomenda com firmeza a terapia de grupo e grupos de auto-ajuda para prevenção de recaída como veículos primários para aprender sobre PPR. Quando isto é acoplado com os princípios e praticas do AA., resulta numa fórmula poderosa para a recuperação.

ROTEIRO DE REUNIÃO

A reunião de auto-ajuda de prevenção de recaída seguirá em roteiro padronizado, consistindo no seguinte:

1- Declaração de abertura. A reunião será aberta com o coordenador

anunciando o nome da reunião, se apresentando e dando as boas vindas aos participantes. O coordenador designará um membro da reunião para ler a declaração de abertura* do grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída. O coordenador pedirá então para outro membro do grupo ler as ferramentas básicas do grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída.

2- Um tempo de silêncio. Um período breve de dois ou três minutos de silêncio será pedido para permitir que as pessoas se relacionem, clareiem

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suas mentes e se preparem para que possa se beneficiar do conteúdo da reunião. Neste período um breve exercício de relaxamento pode ser usado como instruir as pessoas a fazer uma respiração profunda, retê-la por um momento, depois exalar lentamente. O objetivo é para que todos consigam uma atitude mental onde possam se beneficiar da reunião.

3- Escolher um tópico. O coordenador será o responsável por relacionar um tópico para discussão. Cada tópico deve conter material que possa ser lido ao grupo de três a cinco minutos. A leitura do tópico preparará o cenário para o orador.

4- O orador. O coordenador será responsável por encontrar um orador que deve ser uma pessoa com propensão à recaída que conseguiu um período significativo de sobriedade. Este orador terá a tarefa de discutir sua experiência pessoal com a informação de que faz parte do tópico diário. O orador é encorajado a compartilhar suas experiências pessoais com situações relacionadas ao tópico. A apresentação não deve passar de 15 a 20 minutos.

5- Intervalo. Um breve intervalo será anunciado. Neste intervalo haverá café descafeinado, refrigerantes descafeinado, se houver lanches não devem ser doces ou carboidratos refinados. O lanche pode incluir amendoim, frutas ou queijos. É importante que os grupos de prevenção de recaída reconheçam que cafeína e açúcar podem criar estados de humor adversos que podem acionar sinais de aviso de recaída. Neste intervalo, os membros são encorajados a se apresentarem aos outros membros que não conhecem e trocar números de telefone.

6- Comentários. Quando o grupo se reúne novamente haverá uma chance para comentários sobre o tópico, a direção de apresentação do orador, ou quaisquer outros assuntos que escolherem discutir no grupo. É responsabilidade do coordenador garantir que todos tenham oportunidade para comentar, e que os comentários fiquem entre 3 e 5 minutos. Quando uma das pessoas comenta, é responsabilidade dos outros membros escutarem. Questionar, confrontar e retornar para as pessoas que fazem comentários não são permitidos neste período da reunião.

7- Sessão de retorno. A parte final da reunião será uma sessão de retorno. Pessoas do grupo que gostariam de apresentar informações sobre sua própria recuperação e receber um retorno de outros membros do grupo, que assim serão encorajados. Pessoas que pedem retorno devem apresentar com brevidade a área de sua recuperação que está precisando de um retorno do grupo. O grupo terá então a oportunidade de aclarar algumas questões. Isto será feito de uma maneira estruturada onde todos os membros do grupo terão uma oportunidade para fazer perguntas para esclarecer o que ouviram. Após todos terem oportunidade de fazer perguntas, o coordenador perguntará a todos do círculo, quem quer dar um retorno para a pessoa. Retorno consiste em quatro coisas: 1- O que penso sobre o que a pessoa falou.

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2- O que senti enquanto a pessoa estava falando. 3- As forças que vejo no programa de recuperação da pessoa que vai ajudá-la a ficar bem.

4- As fraquezas que vejo no programa de recuperação da pessoa que podem levá-la a beber e/ou usar adictivamente.

É importante que quem pede retorno o faça de uma maneira voluntária. Ninguém deve ser coagido a pedir um retorno. Também é importante que os membros do grupo que dão um retorno pratiquem uma honestidade rigorosa enquanto aprendem como dar apoio. O objetivo é apoiar os outros, enquanto mostra os pontos fracos em seus programas de recuperação que podem lhes causar problemas.

8- Final. O coordenador anunciará a hora e lugar da próxima reunião, recrutará um orador para a próxima reunião e terminará a reunião.

9- Duração da reunião: uma reunião típica do grupo de auto-ajuda e prevenção de recaída terá duas horas de duração. A abertura da reunião e o tempo de silêncio tomará mais ou menos 15 minutos. A leitura do tópico principal e a apresentação do orador tomará 30 minutos. O período de comentários tomará de 30 a 40 minutos. A sessão de retorno seria limitada aproximadamente 40 minutos. Dois membros teriam a oportunidade de receber retorno. Deveria ter um tempo limite para os retornos de 20 minutos.

PALAVRA FINAL

Imagine que você está numa caminhada no meio do deserto. Você vê uma figura a distância. É um velho barbudo e meio nu, sobre as mãos e os joelhos, com os dedos cavando na areia. Você pergunta: “O que você está fazendo?”. Ele te responde: “Estou procurando um tesouro enterrado.” “Há quanto tempo você está fazendo isto?”, você pergunta. “Semanas..., meses talvez”. É duro e um trabalho lento. Você nota que os dedos do velho estão sangrando e suas chagas e suas articulações calejadas. Você diz: “Escute homem! Cavar com suas mãos apenas é um método muito ineficiente. O buraco tem apenas alguns centímetros de profundidade. Deixe-me te emprestar a minha pá”. Você alcança o saco em suas costas, tira para fora um peso leve, uma pá afiada e a dirige para o chão. Em menos de cinco minutos você mostra para o velho que mais progresso pode ser feito em momentos que ele poderia fazer em um mês, usando apenas as mãos.

Então aconteceu uma coisa surpreendente. Os olhos do velho se encheram de ódio e sua face estava vermelha de raiva. Pulou sobre você, pegou a pá de suas mãos e jogou-a longe. “Vá embora com sua engenhoca”. Disse: “Cavei desta maneira toda a minha vida e sempre funcionou bem. Agora vá embora daqui e me deixe só. Estou muito bem fazendo do meu jeito.” Muitas pessoas procuram recuperação da doença de adicção da mesma maneira que este velho está cavando para encontrar um tesouro.

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Tentar manter a sobriedade sem as ferramentas do AA ou de um tratamento profissional.

Se cavar com as mãos nuas é a única maneira que você sabe fazer o trabalho, você faz desta maneira. Mas é um trabalho lento e duro, e as chaves de encontrar um tesouro na forma de uma sobriedade duradoura e confortável são muito baixas. O AA. é uma ferramenta para a recuperação como a pá é uma ferramenta para procurar um tesouro. Uma pá lhe dá uma maneira mais eficiente e melhor para cavar. Ter uma pá não garante que você vai achar o que está procurando, mas com certeza aumenta suas chances e torna o processo de busca mais fácil e mais agradável. Em 1935, os fundadores do AA. deram esperanças mostrando aos alcoólicos que a recuperação era possível. Forneceram uma pá na forma dos 12 Passos, que para muitos levou à recuperação. Desde 1935 aprendeu-se muito sobre recuperação. Os princípios básicos do AA. provaram ser apropriados. Existe um tesouro na forma de uma sobriedade duradoura e confortável. Pode ser encontrada cavando exatamente onde os Doze Passos falam para cavar, e usando a pá, tornou a tarefa mais fácil. Mas voltemos ao velho cavador: suponhamos que ele aceite a pá que você lhe ofereceu. Mas suponhamos que após um tempo ele alcance uma pedra que a pá não pode penetrar. Você oferece uma picareta e uma vez mais o objetivo pode ser alcançado. Tratamento profissional e o AA., juntos fornecem a picareta e a pá necessária para muitas pessoas alcançarem o objetivo da sobriedade.

Mas o que aconteceu com as pessoas que usaram suas mãos, a pá e a picareta e precisam ainda atingir pedras gigantes que não podem ser removidas com as ferramentas que têm. PPR fornece um martelo a ar - se você quiser usá-lo.

Ter a ferramentas certas não tira a sua responsabilidade de usar as mãos e cavar no lugar certo. As ferramentas certas apenas levam você a conseguir mais rápido - se trabalhar com elas. Também não garantem que você irá encontrar uma sobriedade duradoura e confortável, mas aumenta suas chances. PPR não substitui o AA. nem o tratamento profissional, nem diminui a importância dos princípios e práticas do AA.

Simplesmente acrescenta outra poderosa ferramenta de recuperação para os já poderosos princípios do AA.

Não é este modelo de PPR o final da história. A pá, a picareta e o martelo a ar tornaram mais rápidas e melhores as pessoas que cavam. Mas as pessoas continuam procurando melhores maneiras. E em breve a retro escavadeira e a pá a vapor serão inventadas.

É nossa esperança que este livro tenha tirado um pouco do medo e da ameaça da idéia da recaída. A nossa crença é muito forte que a ignorância é o maior inimigo de toda pessoa em recuperação. Quanto mais aprendemos sobre a doença da adicção, mais eficazes poderemos ser ao tratá-la e trabalhar para a recuperação. Este livro foi um esforço para acender as luzes em sua mente. O medo cego da recaída não é mais

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PERMANECER SÓBRIO – UM GUIA PARA PREVENÇÃO DE RECAI DAS

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necessário. Quanto mais entendemos sobre o processo de recaída nós podemos reconhecer com maior clareza o que é necessário para evitar uma recaída. Podemos substituir o pensamento ansioso por fatos cientificamente conhecidos. Lembre-se, este livro não é uma resposta final. Ao invés disto, um grosseiro começo. Existe muito mais a ser aprendido. Existem muito mais experiências pessoais para analisar e aprender. Novas pesquisas como esta, logo se tornarão disponíveis.

Pelas experiências das pessoas envolvidas no grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída, não existe adicto sem esperança. Recuperação é possível mesmo para pessoas com longas histórias de recaídas crônicas e fracassos crônicos em recuperação. A chave para a recuperação é uma combinação de tratamento profissional, envolvimento em grupos de auto-ajuda baseado nos Doze Passos de AA. e os passos especiais do plano de prevenção de recaída descritos pelo grupo de auto-ajuda de prevenção de recaída.

Podemos aprender algo novo amanhã, que pode melhorar muito estes métodos. Nosso objetivo é aprender mais sobre esta doença para que as pessoas dependentes químicas que agora estão condenadas a morte possam aprender como viver. É nossa sincera esperança que este livro tenha sido útil. Mas lembre-se, só o conhecimento não é o bastante. Este conhecimento pode ser colocado em ação. Coloque est e novo conhecimento e estes princípios em seus programas d e recuperação.

Transmitir a mensagem no AA, para as famílias e para outros alcoólicos que ainda sofrem. Iniciar grupos de prevenção de recaída que podem fazer as pessoas com tendência à recaída se sentirem confortáveis e em casa. Mais importante, oferece apoio e esperança ao invés de julgamento. Sinceramente esperamos que as pessoas que leram este livro comecem a entrar em ação, que comecem a estudar e a pesquisar, aprender como lidar com o assassino n º 1 das Américas - a Doença da Adicção.