livro - vivendo sóbrio

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VIVER SBRIOAlguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

NDICEVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Por que "no beber"?....................................................................................................................... 1. - Como utilizar este livro............................................................................................................... 2. - Evitar a primeira bebida............................................................................................................. 3. - O plano das 24 horas................................................................................................................. 4. - Lembre-se de que o alcoolismo uma doena incurvel, progressiva e fatal.......................... 5. - "Viva e deixe viver"..................................................................................................................... 6. - Entrar em atividade..................................................................................................................... 7. - Usar a Orao da Serenidade..................................................................................................... 8. - Mudar velhas rotinas.................................................................................................................... 9. - Comer ou beber algo geralmente doce..................................................................................... 10. - Utilizar a "terapia do telefone"..................................................................................................... 11. - Arranjar um padrinho/madrinha................................................................................................... 12. - Repousar bastante....................................................................................................................... 13. - "Primeiro o mais importante"....................................................................................................... 14. - Evitar a solido............................................................................................................................ 15. - Preste ateno raiva e aos ressentimentos............................................................................. 16. - Ser bom para si mesmo.............................................................................................................. 17. - Estar atento ao excesso de euforia............................................................................................. 18. - "V com calma"............................................................................................................................ 19. - Sentir gratido.............................................................................................................................. 20. - Recordar a ltima bebedeira........................................................................................................ 21. - Evitar substncias qumicas que alteram o humor...................................................................... 22. - Eliminar a auto piedade............................................................................................................... 23. - Procurar ajuda profissional.......................................................................................................... 24. - Evitar os envolvimentos emocionais............................................................................................ 25. - Evitar a armadilha do "se"............................................................................................................ 26. - Estar atento s situaes em que se bebe.................................................................................. 27. - Largar as velhas idias................................................................................................................ 28. - Ler a mensagem de A.A.............................................................................................................. 29.- Experimentar os Doze Passos......................................................................................................

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Por que "no beber"?VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Ns, os membros de Alcolicos Annimos, percebemos a resposta a esta pergunta quando olhamos honestamente para as nossas vidas passadas. A nossa experincia demonstra claramente que a menor quantidade de lcool provoca graves problemas ao alcolico ou ao bebedor-problema. Segundo as palavras da Associao Mdica Americana: O lcool, para alm das suas qualidades aditivas, tem tambm um efeito psicolgico que altera o pensamento e o raciocnio. Uma s bebida pode alterar o pensamento de um alcolico no sentido de faz-lo crer que pode aguentar outra, e depois outra, e outra... O alcolico pode aprender a controlar completamente a sua doena, mas o mal no pode ser curado, de modo a permitir-lhe que volte a beber lcool sem conseqncias adversas." Para nossa surpresa, viver em sobriedade no a experincia triste e desoladora que supnhamos ser. Enquanto bebamos, a vida sem lcool parecia no ter sentido nenhum. Porm, para a maior parte dos membros de A.A., viver sbrio significa realmente viver uma experincia alegre e preferimo-la mil vezes a todos os problemas que tnhamos quando bebamos. Uma nota adicional: qualquer pessoa consegue ficar sbria. Todos ns o fizemos muitas vezes. A questo ficar e viver em sobriedade. disto que trata este livro.

1. - Como utilizar este livroVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Este livro no descreve um plano de recuperao do alcoolismo. Os Passos de Alcolicos Annimos que resumem o seu programa de recuperao vm descritos em pormenor nos livros "Alcolicos Annimos" e "Doze Passos e Doze Tradies". No inteno deste livro interpretar esses Passos nem to-pouco os processos que envolvem a sua aplicao. Aqui tratamos apenas de alguns mtodos que utilizamos para viver sem beber. Convidamo-lo cordialmente a p-los em prtica, esteja ou no interessado nos Alcolicos Annimos. A nossa maneira de beber estava relacionada com muitos hbitos grandes e pequenos. Alguns deles eram hbitos de pensamento ou coisas que sentamos dentro de ns. Outros eram hbitos de atitudes coisas que fazamos aes que realizvamos. Ao habituarmo-nos a no beber, descobrimos que precisvamos substituir os velhos hbitos por outros totalmente novos. (Por exemplo, em vez de tomar a prxima bebida a que tem na mo ou a que est a pensar em tomar consegue adi-la s at chegar ao fim da pgina...? Tome uma bebida gasosa ou um sumo de frutas em vez de uma bebida alcolica enquanto l. Um pouco mais adiante, explicaremos mais detalhadamente o que est por detrs desta mudana de hbitos). Depois de termos passado uns meses a pr em prtica estes novos hbitos de sobriedade, ou formas de atuar e de pensar, eles quase se tornaram numa segunda natureza para a maioria de ns, tal como era com a bebida. No beber tornou-se natural e fcil, e no uma luta longa e enfadonha. Estes mtodos prticos podem utilizar-se, hora a hora, facilmente em casa, no trabalho ou em reunies sociais. Tambm se incluem aqui vrias coisas que aprendemos a no fazer ou a evitar. Eram estas coisas que, como agora vemos, nos tentavam a beber ou punham em perigo a nossa recuperao. Pensamos que achar teis muitas ou quase todas as sugestes que aqui apresentamos para viver sbrio, cmoda e facilmente. No existe um critrio especial na ordem em que as apresentamos. Pode reagrup-las na ordem que achar conveniente, desde que resulte. No se trata to-pouco de uma listagem completa. Praticamente qualquer membro de A.A. que voc encontre pode dar-lhe, pelo menos, outra idia que seja melhor e que no esteja aqui mencionada. E voc mesmo poder acabar por encontrar novas idias que resultem para si. Esperamos que as passassem a outros para que possam tirar benefcio delas. O A.A., como comunidade, no endossa formalmente nem recomenda aos alcolicos o conjunto de linhas de ao aqui descritas. Porm, cada uma das prticas referidas tem sido de utilidade para alguns membros e podem tambm ser teis para si. Este livro est concebido como um manual para ser consultado de vez em quando e no para ser lido do princpio ao fim de uma s vez, para depois se esquecer. Queremos mencionar duas precaues que provaram ser de grande utilidade:

A. Mantenha o esprito aberto.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Talvez algumas das sugestes aqui feitas no sejam do seu agrado. Se for esse o caso, ns verificamos que melhor p-las simplesmente de lado por algum tempo, em vez de rejeit-las para sempre. Se no fecharmos em definitivo o nosso esprito a elas, podemos sempre se quisermos voltar de novo e experimentar idias de que antes no tnhamos gostado. Por exemplo, alguns de ns vimos que, nos nossos primeiros dias sem beber, as sugestes e o companheirismo oferecidos por um padrinho A.A. ajudou-nos muito a mantermo-nos sbrios. Outros de ns esperamos at termos ido a vrios grupos e conhecido muitos membros de A.A. antes de resolvermos, finalmente, pedir ajuda a um padrinho. Alguns de ns achamos que a orao formal era uma enorme ajuda para no beber, enquanto outros fugiam simplesmente de tudo o que lhes sugerisse religio. Mas todos ns somos livres de mudar de opinio sobre estas ideias mais tarde, se nos apetecer. Muitos de ns vimos que, quanto mais cedo comessemos a praticar os Doze Passos oferecidos como um programa de recuperao no livro "Alcolicos Annimos", tanto melhor. Outros sentiram a necessidade de adiar este trabalho at terem estado sbrios por um tempo. O facto que no existe nenhuma forma "certa ou errada" recomendada no A.A. Cada um de ns utiliza o que melhor para si, sem fechar a porta a outras formas de ajuda que possamos encontrar noutras alturas, e cada um de ns procura respeitar o direito que os outros tm de fazer as coisas de um modo diferente. s vezes, um membro de A.A. falar sobre a maneira como pega em diferentes partes do programa em estilo de "self-service" escolhendo o que gosta e deixando de lado o que no quer. Talvez venham outros que apanhem as partes deixadas, ou talvez esse mesmo membro volte mais tarde atrs e pegue nalgumas das ideias que antes rejeitou. Porm, bom chamar a ateno para a tentao do "self-service", que consiste em s escolher montes de sobremesas, pratos que engordam, saladas ou outros pratos de que gostamos particularmente. Este exemplo importante para lembrar a necessidade de se manter o equilbrio nas nossas vidas. No processo de recuperao do alcoolismo, percebemos que precisvamos de uma dieta equilibrada de ideias, mesmo que algumas delas, de incio, no nos agradassem tanto como outras. Tal como com a comida saudvel, as boas ideias no nos serviam de nada a no ser que fizssemos um uso inteligente delas. E isto leva-nos a uma segunda precauo.

B. Use o seu senso comum.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Temos de usar uma inteligncia comum do dia a dia para aplicar as sugestes que se seguem: Tal como quaisquer outras ideias, as sugestes deste livro podem ser mal utilizadas. Por exemplo, vejamos a idia de comer doces. bvio que, alcolicos com diabetes, obesidade ou problemas de acar no sangue, tero de encontrar substitutos, de modo a no porem em perigo a sua sade, podendo, no entanto aproveitar a idia de comer doces no processo de recuperao do alcoolismo. (Muitos nutricionistas aconselham pequenas refeies ricas em protenas em vez de doces). Tambm no conveniente exagerar este remdio. Para alm dos doces, devemos fazer refeies equilibradas. Outro exemplo o uso do slogan "V com calma". Alguns de ns vimos que poderamos abusar desta simples noo, utilizando-a como desculpa para sermos indolentes, preguiosos ou desabridos. A inteno do slogan no obviamente essa. Aplicado adequadamente, pode ter um efeito benfico; e mal aplicado pode atrasar a nossa recuperao. Alguns de ns completamos o slogan da seguinte maneira: "V com calma mas v!". claro que tivemos de usar a nossa inteligncia para seguir fosse que conselho fosse. Todos os mtodos aqui descritos tm de ser usados com discernimento. Mais uma coisa. O A.A. no pretende dar opinies cientficas para se alcanar a sobriedade. S podemos partilhar consigo as nossas experincias pessoais e no teorias e explicaes profissionais. Assim, estas pginas no descrevem tcnicas mdicas de como parar de beber, se que voc ainda est a beber, nem to-pouco descrevem segredos milagrosos para suavizar ou evitar ressacas. Por vezes, ficar sbrio algo que se pode conseguir na prpria casa, mas, com frequncia, um percurso alcolico prolongado causa problemas mdicos to graves, que melhor procurar ajuda mdica ou um internamento hospitalar para fazer uma desintoxicao. Se o seu caso tiver esta gravidade, possvel que precise de servios profissionais antes de ser capaz de se interessar pelo que temos para lhe oferecer. Muitos de ns que no estivemos doentes a esse ponto, conseguimos, contudo, fazer a primeira fase da nossa recuperao na companhia de outros membros de A.A. Por termos passado pelo mesmo, podemos oferecer ajuda como leigos para aliviar uma parte da angstia e do sofrimento. Pelo menos, ns compreendemos. Passamos por isso. Por isso, este livro trata de como no beber, mais do que propriamente parar de beber. Trata de como viver sbrio. Vimos que, para ns, a recuperao comeava por no beber por ficarmos sbrios e permanecermos completamente livres de lcool em qualquer quantidade e em qualquer forma que fosse. Percebemos tambm que temos de nos manter afastados de outras drogas que provoquem alteraes mentais. S conseguimos encaminhar-nos para uma vida plena e satisfatria quando estamos sbrios. A sobriedade a plataforma de lanamento para a nossa recuperao. Num certo sentido, este livro trata da maneira como lidar com a sobriedade. (Antes, no conseguamos; portanto bebamos).

2. - Evitar a primeira bebidaVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Expresses que se ouvem frequentemente em A.A. so: "Se voc no tomar a primeira bebida, no se pode embebedar" e Uma bebida demais e vinte no chegam". Muitos de ns, quando comeamos a beber, nunca queramos nem bebamos mais do que um ou dois copos. Porm, medida que o tempo foi passando, aumentvamos o nmero. Depois, nos anos que se seguiram, vimo-nos a beber cada vez mais e alguns de ns chegvamos a embebedar-nos e a ficar nesse estado durante muito tempo. Talvez o nosso estado no transparecesse muito na nossa maneira de falar ou de andar, mas j por esta altura nunca estvamos completamente sbrios. Se isso nos causava alguma preocupao, ramos capazes de diminuir ou de tentar limitar-nos a beber um ou dois copos, ou ainda de mudar de bebidas fortes para cerveja ou vinho. Quanto mais no fosse, tentvamos reduzir a quantidade de modo a evitar bebedeiras desastrosas, ou ento tentvamos ocultar as quantidades que bebamos. Porm, todos estes processos tornaram-se cada vez mais difceis. Por vezes, chegvamos a parar com o consumo de lcool e passvamos perodos sem tocar numa bebida. Por fim, voltvamos a beber comeava sempre por um s copo. E, uma vez que esse copo no provocava aparentemente grandes danos, sentamo-nos confiantes para tomar outro. Talvez ficssemos, nessa altura, s por a e, era com grande alvio, que verificvamos que conseguamos tomar s um ou dois e depois parvamos. Alguns de ns fizemos isto vezes sem conta. Mas a experincia provou que isto no passava de uma iluso. Fazia--nos crer que podamos beber sem problemas. E ento chegava uma ocasio (uma festa especial, uma perda pessoal, ou mesmo nada de muito concreto) em que dois ou trs copos nos faziam sentir bem, de modo que pensvamos que mais um ou dois no nos podiam fazer mal. E, sem a menor das intenes, encontrvamo-nos de novo a beber em excesso. Estvamos exatamente no mesmo ponto onde tnhamos estado a beber demais sem realmente querer. Tantas e to repetidas experincias fizeram-nos chegar a esta concluso incontestavelmente lgica: se voc no tomar a primeira bebida, no se pode embebedar. Portanto, em vez de planearmos nunca mais nos embebedar, ou de tentarmos diminuir a quantidade de bebidas ou de lcool, aprendemos a concentrar-nos em evitar apenas uma bebida: a primeira. Com efeito, em vez de nos preocuparmos em reduzir o nmero de bebidas ou a quantidade de lcool depois de uma bebedeira, ns evitamos aquele primeiro copo que desencadeia tudo isto. Parece quase demasiado simplista e trivial, no verdade? Para muitos de ns, agora difcil entender que nunca nos demos conta desta verdade to simples, antes de chegarmos ao A.A. (Naturalmente, e para dizer a verdade, nunca quisemos realmente deixar de beber por completo, at aprendermos a natureza do alcoolismo). Mas o ponto principal que ns agora sabemos que isto o que realmente funciona. Em vez de tentarmos imaginar quantos copos podamos beber quatro? seis? uma dzia? lembramo-nos, "Limite-se a no tomar essa primeira bebida". muitssimo mais simples. O hbito de pensar desta maneira tem ajudado centenas de milhares de ns a permanecermos sbrios durante anos. Mdicos especialistas em alcoolismo dizem-nos que h um fundamento clnico slido para se evitar a primeira bebida. a primeira bebida que vai desencadear, de imediato ou um pouco mais tarde, a compulso para beber mais e mais, at nos encontrarmos novamente em dificuldades com a bebida. Muitos de ns viemos a acreditar que o nosso alcoolismo uma adio droga lcool. Tal como quaisquer outros adictos que querem salvaguardar a sua recuperao, temos de nos manter afastados da primeira dose da droga da qual nos tornamos dependentes. A nossa experincia parece confirmar isto, tal como se pode ler no livro "Alcolicos Annimos" e na nossa revista "Grapevine"* , e tambm como se pode ouvir sempre que se renem membros de A.A. para partilharem as suas experincias.

3. - O plano das 24 horasVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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No tempo em que bebamos, passvamos frequentemente por to maus bocados, que jurvamos: "Nunca mais". Fazamos promessas por um ano ou prometamos a algum que no voltaramos a tocar em lcool durante trs semanas ou trs meses. E, claro, tentamos vrias vezes passar por perodos de abstinncia. Estvamos a ser absolutamente sinceros quando fazamos de dentes cerrados, estas declaraes. Queramos de todo o nosso corao nunca mais nos embebedar. Estvamos decididos e jurvamos deixar de beber com a inteno de nos mantermos afastados do lcool por um tempo indeterminado. Contudo, apesar das nossas intenes, o resultado era quase invariavelmente o mesmo. Por fim, a lembrana dos juramentos e o sofrimento que os tinha ocasionado desvaneciam-se. Voltvamos a beber e encontrvamo-nos ainda com mais problemas. O nosso "para sempre" no tinha durado muito tempo. Alguns de ns que fizemos este tipo de promessas, guardvamos uma reserva especial: dizamos a ns mesmos que a promessa de no beber se referia unicamente a "bebidas fortes" e no a cerveja ou a vinho. Dessa forma, viemos a aprender se que no sabamos j, que a cerveja e o vinho tambm nos podiam embebedar era s uma questo de beber em maiores quantidades para obter os mesmos efeitos que nos produziam as bebidas destiladas. Acabvamos to bbedos com cerveja ou vinho como antes com bebidas fortes. verdade que outros de ns deixaram o lcool por completo e cumpriram integralmente as promessas, at ao limite estabelecido... Depois, terminado o perodo de "secura" voltvamos a beber e em breve estvamos metidos em problemas, com uma nova carga de culpa e de remorsos. Agora em A.A., com este passado de lutas, tentamos evitar a expresso "definitivamente abstmio" e fazer juras. Elas fazem-nos lembrar os nossos fracassos. Embora compreendendo que o alcoolismo uma condio permanente e irreversvel, a nossa experincia ensinou-nos a no fazer promessas em longo prazo a respeito de no beber. Percebemos que mais realista e que d mais resultado dizer, "S por hoje eu no vou beber". Mesmo se tivermos bebido ontem, podemos planear no beber hoje. Podemos beber amanh quem sabe se estaremos vivos amanh? mas durante estas 24 horas decidimos no beber. Sejam quais forem s tentaes ou provocaes, ns decidimos fazer o que for preciso para evitar beber hoje. Os nossos amigos e famlias esto compreensivelmente cansados de nos ouvir prometer, "Desta vez a srio", para depois verem-nos chegar a casa completamente bbedos. Assim, no lhes fazemos mais promessas de no voltar a beber, nem sequer entre ns. Cada um de ns s se compromete perante si prprio. Afinal, a nossa vida e a nossa sade que esto em jogo. Somos ns que temos de dar os passos necessrios para recuperarmos e no a nossa famlia ou amigos. Se a apetncia pela bebida for, na realidade, muito forte, muitos de ns dividimos s 24 horas em perodos menores. Decidimos no beber, digamos, pelo menos durante uma hora. Conseguimos suportar o desconforto temporrio de no beber s durante mais uma hora; depois outra, e assim por diante. Muitos de ns comeamos a nossa recuperao exatamente desta maneira. Com efeito, toda a recuperao do alcoolismo comeou com uma hora de sobriedade. Outra verso consiste simplesmente em adiar a bebida (seguinte). (Que tal? Ainda est a beber a sua gua gasosa? Adiou, na realidade, aquela bebida que referimos na pgina ...? Se conseguiu fazer isso, pode ser o comeo da sua recuperao). possvel que a tomemos a prxima bebida mais tarde, mas, neste momento, adiamo-la pelo menos pelo dia de hoje ou pelo momento presente. (Digamos, at ao fim desta pgina?)VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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O plano das 24 horas muito flexvel. Podemos come-lo de novo a qualquer momento, seja onde for. Em casa, no trabalho, num bar ou num quarto de hospital, s 4 da tarde ou s 3 da manh, podemos decidir no tomar uma bebida durante as 24 horas ou nos 5 minutos que se seguem. Continuamente renovado, este plano evita a fraqueza de mtodos, como a "lei seca" ou os juramentos solenes. Tanto um perodo de abstinncia como uma promessa chegam a um fim, conforme planeados de modo que nos sentamos livres para beber de novo. O dia de hoje, porm, est sempre ao nosso alcance. A vida diria; o dia de hoje tudo o que ns temos; e qualquer pessoa pode passar um dia sem beber. Em primeiro lugar, procuramos viver no presente s para no beber e vemos que isto funciona. Uma vez que esta idia se torne uma parte da nossa maneira de pensar, vemos que viver a vida por perodos de 24 horas tambm uma forma eficaz e satisfatria que se aplica para lidar com muitas outras questes.

4. - Lembre-se de que o alcoolismo uma doena incurvel, progressiva e fatal sabido que muitas pessoas no podem comer determinados alimentos ostras, morangos, ovos, pepinos, acar ou qualquer outra coisa sem que isso lhes provoque muito mal estar ou faa com que fiquem muito doentes.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber

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Uma pessoa que tenha uma alergia alimentar deste tipo pode viver num estado de permanente autopiedade, queixando-se a tudo e a todos da sua privao injusta e lamuriando-se constantemente por no poder, ou no lhe ser permitido, comer uma determinada coisa deliciosa. evidente que, embora possamos sentir-nos enganados, no prudente ignorarmos a nossa prpria estrutura fisiolgica. Se ignorarmos as nossas limitaes, poderemos sofrer srias conseqncias ou vir a padecer de graves doenas. Para nos mantermos saudveis e razoavelmente felizes, temos de aprender a viver com o organismo que temos. Um dos novos hbitos mentais que um alcolico em recuperao pode desenvolver, uma percepo calma de si mesmo, como algum que precisa evitar substncias qumicas (o lcool e outras drogas que o substituem) se quiser manter-se de boa sade. Temos como prova, os dias em que ns prprios bebamos que totalizam centenas de milhares de anos de consumo de lcool, tanto por homens como por mulheres, e que equivalem a uma enorme quantidade de bebida. Sabemos que, medida que passavam os anos de bebedeiras, os nossos problemas relacionados com a bebida agravavam-se continuamente. O alcoolismo progressivo. claro que muitos de ns passamos por perodos em que, durante meses ou mesmo anos, pensvamos por vezes que a nossa maneira de beber parecia ter-se normalizado. Parecamos ser capazes de manter um elevado consumo de lcool com bastante segurana. Ou ento passvamos por perodos sem beber, a no ser com umas bebedeiras ocasionais noite e, tanto quanto conseguamos aperceber-nos, a nossa maneira de beber no se agravava de um modo perceptvel. No acontecia nada de horrvel ou de dramtico. Contudo, agora podemos ver que, nesse perodo, fosse ele curto ou longo, o nosso problema alcolico s se agravava de um modo inevitvel. Alguns mdicos, peritos em alcoolismo, dizem-nos que no h dvida de que o alcoolismo se agrava progressivamente medida que uma pessoa envelhece. (Voc conhece algum que no esteja a envelhecer?). Estamos tambm convencidos de que, depois das inmeras tentativas que fizemos para provar o contrrio, o alcoolismo incurvel tal como tantas outras doenas. No pode "curar-se" no sentido de que no podemos mudar a constituio qumica do nosso organismo e voltarmos a ser os bebedores sociais moderados e normais, que tantos de ns parecamos ser em jovens. Como alguns de ns o descrevemos, to possvel voltar ao nosso estado inicial como possvel transformar de novo um "pickle" num legume cru. Nenhum medicamento ou tratamento psicolgico jamais "curou" o nosso alcoolismo. Alm disso, depois de vermos milhares e milhares de alcolicos que no pararam de beber, ficamos profundamente convencidos de que o alcoolismo uma doena fatal. No s temos visto muitos alcolicos beberem at a morte a morrerem durante os sintomas de "privao" de delirium tremens (D.T.) ou de convulses, ou de cirrose heptica em consequncia do lcool como tambm sabemos que muitas mortes, que no so atribudas oficialmente ao alcoolismo, so, com efeito, uma consequncia disso mesmo. Muitas vezes, quando um desastre de automvel, uma morte por afogamento, um suicdio, um homicdio, uma trombose, um fogo, uma pneumonia, um enfarte so considerados como causa imediata de morte, o facto que o consumo excessivo de lcool foi na realidade a verdadeira causa dessa condio ou acontecimento fatal.

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Certamente, a maioria de ns em A.A. sentamo-nos muito distantes de um tal destino quando bebamos. E, provavelmente, a maioria de ns nunca chegou mesmo a estar prximo das horrveis fases finais do alcoolismo crnico. Porm, apercebemo-nos de que poderamos l chegar se continussemos a beber. Quando se toma um autocarro com destino a uma cidade que fica a milhares de quilmetros de distncia, a mesmo que se vai parar a no ser que se saia antes e se tome outra direo. Muito bem! Ento que fazer quando voc vem, a saber, que tem uma doena incurvel, progressiva e fatal seja ela alcoolismo ou qualquer outra doena, tal como uma doena cardaca ou um cancro? Muitas pessoas negam simplesmente essa verdade, ignoram a sua prpria condio, no aceitam o tratamento, sofrem e acabam por morrer. Porm, existe outro processo. Voc pode aceitar o diagnstico, persuadido disso pelo seu mdico, pelos seus amigos ou mesmo por si prprio. Pode ento informar-se sobre o que se pode fazer, se que se pode fazer alguma coisa para manter a situao "sob controlo", de modo a que possa viver ainda muitos anos felizes, produtivos e saudveis desde que possa tomar devidamente cuidado de si prprio. Voc tem de reconhecer inteiramente a gravidade da sua condio e tem de proceder com sensatez para levar uma vida saudvel. Acontece que isto surpreendentemente fcil em relao ao alcoolismo, se quisermos realmente recuperar-nos. E visto que ns A.A.s aprendemos a apreciar tanto a vida, queremos realmente recuperarnos e sentirmo-nos bem. Tentamos nunca perder de vista o facto inaltervel que o nosso alcoolismo, mas aprendemos a no sentir pena de ns prprios nem a remoer nem a falar constantemente sobre isso. Aceitamos esse facto como uma caracterstica do nosso corpo, tal como a nossa altura ou a necessidade de usar culos, ou como qualquer alergia que possamos ter. Podemos ento conceber como viver confortavelmente com esse facto e no com amargura desde que comecemos simplesmente por evitar essa primeira bebida (lembra-se?) s por hoje. Um membro de A.A. que cego disse que o seu alcoolismo era muito parecido com a sua cegueira. "Uma vez que aceitei que tinha perdido a viso", explicou ele, "e fiz um curso de reabilitao que estava minha disposio, descobri que posso efetivamente, com a ajuda do meu co ou da minha bengala, ir para onde quiser com bastante segurana, desde que no me esquea nem ignore o facto de que sou cego. Mas, quando no procedo em conformidade com o facto de que no vejo, ento que me mago ou que arranjo problemas." "Se quiser recuperar-se", disse uma mulher A.A., "aceite simplesmente o tratamento, siga as instrues e continue a viver. fcil, desde que se lembre dos novos fatos sobre a sua sade. Quem que tem tempo para se sentir "diminudo" ou com autopiedade, quando se descobre que h tantas outras coisas boas relacionadas com uma vida feliz e sem medo da prpria doena?". Resumindo: lembramo-nos de que temos uma doena incurvel, potencialmente fatal, chamada alcoolismo. E, em vez de insistirmos em continuar a beber, preferimos descobrir e utilizar formas agradveis de viver sem lcool. No precisamos ter vergonha por termos uma doena. No nenhuma desgraa. Ningum sabe exatamente porque que certas pessoas se tornam alcolicas e outras no. No temos culpa. Ns no quisemos tornar-nos alcolicos. No procuramos contrair esta doena.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 11

Afinal de contas, no padecemos de alcoolismo por gosto. No nos propusemos deliberada ou maliciosamente fazer as coisas das quais viemos a ter vergonha. Fizemos essas coisas contra o nosso melhor juzo ou instinto porque estvamos realmente doentes e nem sequer o sabamos. Aprendemos tambm que no serve de nada ter remorsos ou preocupaes inteis sobre a forma como chegamos a este estado. O primeiro passo em direo a sentirmo-nos melhor e a superarmos a nossa doena simplesmente no beber. Experimente a idia e veja se resulta. No prefervel reconhecer que tem um problema de sade que se pode tratar com bons resultados, do que perder imenso tempo a preocupar-se inutilmente sobre o que est mal consigo? Achamos que isto uma imagem mais bonita e mais agradvel de ns mesmos do que os seres deprimidos que costumvamos ser. E tambm mais real. Ns sabemos isso. A prova o modo como sentimos, agimos e pensamos agora. Quem quiser bem-vindo a tentar "um perodo experimental gratuito" deste novo conceito de si mesmo. Depois disso, quem quiser voltar aos tempos antigos inteiramente livre de faz-lo. Est no seu direito de voltar sua desgraa, se quiser. Por outro lado, pode tambm conservar a sua nova imagem, se preferir. Tambm ela sua, por direito.

5. - "Viva e deixe viver"O velho ditado "Viva e deixe viver" parece j to gasto que fcil no lhe dar o devido valor. claro que uma das razes de ser to citado ao longo dos anos porque tem provado ser benfico de muitas maneiras. Ns A.A.s usamo-lo de um determinado modo para nos ajudar a no beber. Ajuda-nos especialmente a lidar com as pessoas que nos enervam.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 12

Revendo de novo parte das nossas histrias de bebedores, muitos de ns podemos ver quantas vezes o nosso problema alcolico parecia estar de certo modo relacionado com outras pessoas. Experimentar beber cerveja ou vinho na nossa adolescncia parecia natural, visto que tantos outros tambm bebiam, e ns queramos a sua aprovao. Mas depois vieram os casamentos, as ocasies festivas, os batizados, as festas, os jogos de futebol, os cocktails e os almoos de negcios... e esta lista podia continuar indefinidamente. Em todas estas situaes, ns bebamos, pelo menos em parte, porque todos os outros estavam a beber e pareciam esperar que tambm bebssemos. Aqueles de ns que comeamos a beber sozinhos ou a beber s escondidas de vez em quando, fazamo-lo frequentemente para evitar que uma determinada pessoa ou pessoas soubessem quanto ou com que frequncia ns bebamos. Raramente gostvamos de ouvir os outros falarem da nossa maneira de beber. Se o fizessem, dvamos-lhes imensas "razes" para explicar a maneira como bebamos como se quisssemos evitar crticas ou queixas. Alguns de ns, depois de termos bebido, ficvamos implicativos ou mesmo conflituosos com os outros. No entanto, outros de ns sentamos que nos relacionvamos muito melhor com as pessoas depois de uma ou duas bebidas, quer se tratasse de uma reunio social, de uma difcil negociao de venda, de uma entrevista para um emprego ou at mesmo para fazer amor. A nossa maneira de beber fazia-nos escolher os amigos de acordo com as quantidades que eles bebiam. Chegvamos mesmo a mudar de amigos quando sentamos que tnhamos "ultrapassado" a maneira como eles bebiam. Preferamos "verdadeiros bebedores" a pessoas que s bebiam um ou dois copos, e evitvamos por completo os abstmios. Muitos de ns sentamo-nos com culpa e raiva pela forma como a nossa famlia reagia perante a nossa maneira de beber. Alguns de ns perdemos empregos porque o nosso chefe ou colega de trabalho se opunha maneira como bebamos. O que ns queramos era que os outros tratassem das suas vidas e nos deixassem em paz! Muitas vezes sentamos raiva e medo mesmo em relao a pessoas que no nos tinham criticado. Os nossos sentimentos de culpa tornavam-nos hipersensveis para com os que nos rodeavam e alimentvamos ressentimentos. s vezes mudvamos de bares, de empregos ou de vizinhana s para fugirmos de certas pessoas. Assim, de uma maneira ou de outra, um grande nmero de pessoas alm de ns estava envolvido, at certo ponto, na maneira como bebamos. De princpio, quando deixamos de beber, foi para ns um grande alvio descobrir que as pessoas que encontrvamos em A.A. alcolicos recuperados pareciam ser muito diferentes. No tinham em relao a ns atitudes de crtica ou de suspeita, mas sim de compreenso e de preocupao. Contudo, perfeitamente natural que encontremos algumas pessoas que nos enervem, tanto em A.A. como fora de A.A. Podemos achar que os nossos amigos que no so A.A.s, colegas de trabalho, membros da famlia, ainda nos tratam como se estivssemos a beber. ( natural que precisem de algum tempo para acreditar que deixamos realmente de beber. Com efeito, no passado eles viram-nos inmeras vezes deixar de beber, para recomearmos sempre de novo). Para comearmos a pr em prtica o conceito: "Viva e deixe viver", temos de encarar o seguinte facto: h pessoas em A.A. e em todos os outros lados, que dizem por vezes coisas das quais discordamos, ou que fazem coisas de que ns no gostamos. Aprender a viver com as diferenas essencial para o nosso bem-estar. precisamente nestes casos que consideramos extremamente til dizer para ns mesmos, "Ento, vive e deixa viver". Com efeito, em A.A. d-se grande nfase aprendizagem de como tolerar o comportamento dos outros. Por mais ofensivo e detestvel que nos possa parecer, no vale de modoVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 13

nenhum pena beber por causa disso. A nossa recuperao demasiado importante. O alcoolismo pode matar e na realidade mata mesmo. Temos de ter isto sempre presente. Aprendemos que compensa fazer um esforo muito especial para tentar compreender os outros, muito em particular aqueles que nos irritam. mais importante para a nossa recuperao compreender do que ser compreendido. Isto no muito difcil se tivermos presente que tambm outros membros de A.A. fazem o mesmo esforo para compreender, tal como ns. Com efeito, havemos de encontrar algumas pessoas em A.A. ou noutros stios que tambm no morrero de amores por ns. De modo que todos ns tentamos respeitar o direito que os outros tm de proceder da forma que escolhem (ou devem). Podemos ento esperar deles que nos tratem da mesma maneira. Geralmente o que se faz em A.A. De um modo geral as pessoas que gostam umas das outras num bairro, numa empresa, num clube, em A.A. sentem uma atrao recproca. Quando convivemos com pessoas de quem gostamos, aquelas de quem no gostamos particularmente no nos aborrecem tanto. medida que o tempo passa, vemos que deixamos de ter medo de nos afastar simplesmente daqueles que nos irritam, em vez de lhes permitir timidamente que se metam nas nossas vidas, ou em vez de tent-los modificar para que se adaptem melhor a ns. Nenhum de ns se consegue lembrar de algum que nos tenha forado a beber. Ningum jamais nos amarrou e nos enfiou lcool pela boca abaixo. Tal como ningum nos obrigou fisicamente a beber, tambm agora temos de nos assegurar que ningum "nos leve mentalmente a beber". muito fcil usar as aes dos outros como justificao para beber. Costumvamos ser peritos nisso. Mas, em sobriedade, aprendemos uma nova tcnica: nunca deixamos acumular tanto um ressentimento em relao outra pessoa, que lhe permita controlar as nossas vidas especialmente ao ponto de nos levar a beber. Percebemos que no temos a menor vontade de deixar que outra pessoa dirija ou destrua as nossas vidas. Um antigo sbio dizia que nenhum de ns deve criticar outra pessoa at termos andado um quilmetro com os seus sapatos. Este sbio conselho pode ajudar-nos a ter uma maior compaixo pelos nossos semelhantes. E pr isto em prtica faz-nos sentir muito melhor do que estarmos com uma ressaca. "Deixe viver" - sim. Mas alguns de ns achamos que a primeira parte do slogan, que "Viva", tem exatamente o mesmo valor: "Viva"! Quando descobrimos a forma de gozar plenamente a nossa prpria vida, sentimo-nos ento felizes por deixar os outros viver a vida que querem. Se as nossas prprias vidas tiverem interesse e forem produtivas, ento no sentimos, na realidade, qualquer impulso ou vontade de descobrir falhas nos outros e de nos preocuparmos com o modo como atuam. Consegue realmente pensar neste momento em algum que o incomoda? Se for esse o caso, tente o seguinte: adie pensar nessa pessoa ou sobre o que quer que seja em que ela o incomode. Pode explodir a seguir se quiser, mas, por agora, porque que no tenta desligar o seu pensamento disso enquanto l o pargrafo seguinte? Viva! Preocupe-se com a sua prpria maneira de viver. Em nossa opinio, estar sbrio abre o caminho para a vida e para a felicidade. Vale pena sacrificar muitos ressentimentos e discusses... Muito bem! Voc no conseguiu abstrair completamente dessa outra pessoa. Ento vamos ver se a sugesto seguinte consegue ajud-lo.

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6. - Entrar em atividade muito difcil ficar simplesmente sentado e tentar no fazer uma determinada coisa ou nem sequer pensar nela. muito mais fcil entrar em atividade e fazer qualquer coisa diferente do que aquilo que procuramos evitar. Com a bebida a mesma coisa. Tentar apenas evitar beber (ou no pensar nisso) parece no ser, s por si, suficiente. evidente que quanto mais se pensa na bebida que queremos evitar, mais isso nos ocupa o esprito. E isso no bom. melhor ocuparmo-nos com qualquer coisa, seja ela qual for que ocupe o nosso esprito e canalize a nossa energia de um modo saudvel. Milhares de ns pensvamos no que iramos fazer quando deixssemos de beber, com todo o tempo livre nossa frente. claro que quando deixamos realmente de beber, todas aquelas horas que tnhamosVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 15

passado a planear, a arranjar lcool, a beber e a recuperar dos seus efeitos imediatos, tornaram-se, de repente, em enormes e vazios espaos de tempo que tinham que ser preenchidos de qualquer maneira. Quase todos ns tnhamos de trabalhar, mas, mesmo assim, havia horas e minutos compridssimos, que eram espaos vazios nossa frente. Precisvamos de adquirir novos hbitos de atividade para preencher esses espaos vazios e utilizar a energia nervosa antes absorvida pela nossa preocupao ou pela nossa obsesso pela bebida. Qualquer pessoa que j tenha tentado deixar um hbito sabe que mais fcil substitu-lo por uma atividade nova e diferente do que simplesmente largar o velho hbito sem colocar nada em seu lugar. Os alcolicos recuperados dizem muitas vezes: "S deixar de beber no suficiente". Apenas no beber algo negativo e estril. Isto est bem demonstrado pela nossa experincia. Para continuar sem beber, descobrimos que temos de substituir o vazio que a bebida nos deixou por um programa positivo de ao. Tivemos de aprender a viver sbrios. O medo pode ter sido o que, de incio, levou alguns de ns a encarar a possibilidade de termos um problema com a bebida. E, por um curto espao de tempo, o medo s por si pde ajudar alguns de ns a mantermo-nos afastados do lcool. Mas no possvel uma pessoa manter-se feliz e descontrada num estado de medo por muito tempo. Por isso, ns tentamos adquirir um respeito saudvel pelo poder do lcool em vez de ter medo dele, da mesma maneira que se tem um salutar respeito por cianeto, por iodo ou por qualquer outro veneno. Sem termos necessidade de sentir permanentemente medo destes venenos, a maior parte das pessoas tem-lhes respeito pelo que podem causar ao organismo e tem suficiente bom senso para no os tomar. Ns, em A.A., temos agora o mesmo conhecimento e o mesmo cuidado com o lcool. Mas, claro, que isto se baseia na prpria experincia e no no simples respeito provocado por se ver uma caveira com ossos cruzados numa etiqueta. No podemos confiar no medo para nos ajudar a passar as horas mortas sem bebermos. Ento que podemos fazer? Descobrimos vrias tipos de atividades teis e interessantes, algumas mais do que outras. A seguir, descrevemos duas atividades, por ordem de eficcia, tal como ns as praticamos.

Atividade dentro de e relacionada com A.A.Quando membros de A.A. com experincia dizem que descobriram que o facto de "se manterem ativos" os ajudava na sua recuperao do alcoolismo, eles geralmente querem referir-se atividade dentro de e relacionada com A.A. Se voc quiser, pode fazer isso mesmo antes de decidir se quer ou no tornar-se membro de A.A. No precisa da autorizao nem do convite de ningum. Com efeito, antes de tomar qualquer deciso sobre o seu problema de bebida, talvez seja boa idia andar um pouco por A.A. No se preocupe. Pelo facto de assistir a reunies de A.A. e de observar o que se passa isso no faz de si um alcolico nem um membro de A.A., do mesmo modo que se voc se sentarVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 16

num galinheiro, isso tambm no faz de si uma galinha. Voc pode primeiro, tentar fazer uma espcie de "ensaio geral" em A.A. e depois decidir se quer ou no "fazer parte". As atividades que usamos frequentemente em A.A. podem parecer relativamente pouco importantes, mas os resultados demonstram o seu valor. Podemos chamar-lhes os "quebra-gelos" porque nos ajudam a sentir bem com pessoas que no conhecemos. Quando terminam as reunies de A.A., ver que alguns dos presentes geralmente comeam a arrumar as cadeiras, a limpar cinzeiros ou a levar chvenas vazias de ch ou caf para a cozinha. Ajude. Voc ficar surpreendido com o efeito que estas pequenas tarefas tero sobre si. Voc pode ajudar a lavar as chvenas ou a cafeteira, arrumar a literatura e a varrer o cho. Colaborar nestas pequenas e fceis tarefas concretas no significa que voc se torna o porteiro ou guarda do grupo. Nada disso. Por termos feito isso durante anos e termos visto outros membros fazerem o mesmo, ns sabemos que praticamente todas as pessoas com uma recuperao feliz em A.A. tomaram parte nestas atividades de limpeza e arrumao ou de preparao do caf ou ch. Os resultados que temos sentido, ocupando-nos destas tarefas, tm sido concretos, benficos e geralmente surpreendentes. Com efeito, muitos de ns s nos comeamos a sentir vontade dentro de A.A. depois de termos comeado a ajudar com estas pequenas coisas to simples. E sentamo-nos ainda mais vontade e muito mais longe da bebida ou mesmo de pensar nisso, quando comeamos a aceitar simples e pequenas responsabilidades com continuidade tal como comprar o caf, ajudar a preparar e servir o caf, ficar ao acolhimento ou desempenhar outras tarefas que precisavam de ser feitas. Bastar observar os outros membros do grupo para voc aprender o que necessrio para uma reunio de A.A. e como deixar tudo em ordem depois de terminada reunio. claro que ningum obrigado a fazer tais coisas. Em A.A. nunca se exige a ningum que faa ou deixe de fazer o que quer que seja. Porm, estas tarefas simples e humildes e o compromisso (apenas em relao a ns prprios) para faz-las fielmente tm tido, e ainda tm efeitos inesperadamente positivos em muitos de ns. Ajudam-nos a consolidar a nossa recuperao. medida que voc for ficando num grupo de A.A., ver que outras tarefas precisam de ser feitas. Ouvir o secretrio fazer comunicaes e ver o tesoureiro encarregar-se do saco das contribuies. Servindo numa destas funes, depois de se ter certo tempo de sobriedade, (mais ou menos 90 dias, na maior parte dos grupos) uma boa maneira de se preencher parte do tempo que antes passvamos a beber. A partir da altura em que estas "tarefas" o comearem a interessar, d uma vista de olhos no folheto "O Grupo de A.A.". Explica o que fazem os "servidores" do grupo e como so escolhidos. Em A.A. ningum est "acima" ou "abaixo" de quem quer que seja. No existem classes, estratos ou hierarquias entre os membros. No existem servidores formais com qualquer tipo de poder ou autoridade. O A.A. no uma organizao no sentido comum da palavra. , em vez disso, uma comunidade de iguais. Tratamo-nos todos uns aos outros pelo primeiro nome. Os membros alternam-se rotativamente para desempenharem as tarefas necessrias para o funcionamento das reunies, alm de outras funes. No necessria qualquer experincia ou formao profissional. Mesmo que voc nunca tenha sido membro, coordenador ou secretrio de qualquer organizao ver tal como a maior parte de ns que estes servios so fceis de desempenhar dentro de um grupo de A.A. e que eles operam maravilhas em ns. Eles constituem um suporte firme para a nossa recuperao.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 17

Vamos, agora, ver o segundo tipo de atividade que nos ajuda a manter afastados da bebida.

Atividade no relacionada com A.A. espantoso, mas a verdade que alguns de ns, ao princpio, quando paramos de beber, parecemos sofrer de uma falta de imaginao temporria. estranho, porque durante o tempo em que bebamos, muitos de ns demonstrvamos uma incrvel e frtil imaginao. Em menos de uma semana conseguamos inventar, num instante, mais razes (ou no seriam desculpas?) para beber do que a maioria das pessoas utilizam para outros fins durante uma vida inteira. (A propsito, a experincia prtica ensina-nos que os bebedores normais isto , os no alcolicos nunca precisam nem usam qualquer gnero de desculpa tanto para beber como para no beber!). Quando j no temos necessidade de encontrar desculpas para ns prprios para justificar a bebida, muitas vezes parece que a nossa mente deixa de funcionar. Alguns de ns achamos que no conseguimos pensar em nada para fazer que no esteja relacionado com a bebida. possvel que isto seVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 18

deva ao facto de no estarmos habituados a isso. Ou talvez a nossa mente precise de um perodo de convalescena tranquila depois de passar a fase de alcoolismo ativa. Em qualquer dos casos, o tdio desaparece. Depois do nosso primeiro ms de sobriedade, muito de ns sentimos uma grande diferena. Depois de trs meses, a nossa mente comea a ficar mais clara. E, durante o nosso segundo ano de recuperao, a mudana extraordinria. Parece que temos mais energia mental do que nunca. Mas durante o primeiro perodo de abstinncia, que parece interminvel, que voc ouvir alguns de ns dizer: "O que devemos fazer?" A lista que se segue serve apenas de ajuda para essa altura. No muito excitante nem ousada, mas descreve o gnero de atividades que muitos de ns usamos para preencher as nossas primeiras horas de tdio quando no estvamos nos empregos ou na companhia de pessoas que no bebiam. Sabemos que funcionam. Fizemos coisas tais como: 1. Dar passeios especialmente passear em stios novos, em parques ou no campo. Passeios breves e a andar devagar e no dar passeios cansativos.

2. Ler apesar de muitos de ns ficarmos muito impacientes quando tentvamos ler qualquer coisa que exigisse grande concentrao. 3. Ir a museus ou a galerias de arte. 4. Fazer exerccio nadar, jogar golfe, jogging, fazer yoga ou outras formas de exerccio aconselhadas pelo mdico. 5. Comear com tarefas rotineiras de h muito abandonadas limpar uma gaveta de escritrio, arrumar papis, responder a cartas, pendurar quadros ou coisas deste gnero que tnhamos vindo a adiar. Descobrimos, no entanto, que importante no exagerar nenhuma destas atividades. Parece simples tencionar fazer a limpeza a todos os armrios (ou a todo o sto, garagem, cave ou apartamento). Porm, depois de um dia de trabalho fsico, podemos acabar exaustos, sujos, sem termos acabado o que queramos fazer e desanimados. Por isso, o conselho que damos uns aos outros : reduza o seu plano a uma dimenso vivel. Comece simplesmente por arrumar uma gaveta ou uma pasta de papis e no por querer arrumar a cozinha inteira ou todo o arquivo. Continue com o resto noutro dia.

6. Arranjar um novo "hobby" Nada de muito caro nem que exija um grande esforo; apenas uma diverso agradvel e trivial em que voc no tenha de ganhar nem competir, mas simplesmente passar uns momentos de distrao. Alguns de ns arranjamos "hobbies" (passatempos) que antes nunca nos tinham passado pela cabea, tal como jogar bridge, fazer tapearia, ir pera, colecionar peixes tropicais, fazer carpintaria, costurar, jogar futebol, escrever, cantar, fazer palavras cruzadas, cozinhar, observar pssaros, fazer teatro amador, fazer artesanato, cuidar do jardim, fazer vela, tocar guitarra, ir ao cinema, danar, jogar ao berlinde, cuidar de rvores bonsai, fazer colees de qualquer coisa, etc. Muitos de ns descobrimos que agora gostamos realmente de coisas que antes nunca nos tinham passado pela cabea. 7. Retomar um velho passatempo Exceto aquele que ns sabemos! Talvez voc tenha guardado, numVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 19

stio qualquer, uma caixa de aquarelas, em que no pega h anos, ou um estojo de ferramentas, um acordeo, um jogo de ping-pong ou de gamo, uma coleo de cassetes ou um conjunto de apontamentos para escrever um livro. Para alguns de ns, tem sido muito compensador desenterrar estas coisas, limp-las e tentar ocupar-nos com elas de novo. Se voc achar que elas j no tm interesse para si, ento se desfaa delas. 8. Tirar um curso J alguma vez pensou em: saber falar Chins ou Russo? Vir a gostar de Histria ou Matemtica? Compreender Arqueologia ou Antropologia? Em quase todo o lado existem cursos semanais por correspondncia, aulas dadas por televiso ou aulas para adultos (s por gosto e no com objetivos acadmicos). Por que no experimentar? Muitos de ns vimos que estes cursos no s ajudam a adquirir uma nova dimenso da vida, como tambm conduzem a uma carreira completamente diferente. Mas, se o facto de estudar se tornar pesado, no hesite e pare com isso. Voc tem o direito de mudar de opinio e desistir do que quer que seja que lhe traga mais contrariedades do que compensaes. Ter coragem para desistir de qualquer coisa pode justificar-se, se desistimos dela quando no nos benfica, nem acrescenta nenhuma faceta positiva, agradvel ou saudvel nossa vida. 9. Oferecer-se como voluntrio para um servio til Muitos hospitais, creches, igrejas e outras instituies e organizaes precisam desesperadamente de voluntrios para todos os gneros de atividades. A escolha imensa e vai desde ler para pessoas cegas a fechar envelopes para a correspondncia de uma igreja ou recolher assinaturas para peties polticas. Pea em qualquer hospital, igreja, agncia governamental ou organizao civil da sua vizinhana que o informem sobre o tipo de servios voluntrios que so precisos na sua freguesia. Percebemos que nos sentimos muito melhor quando contribumos, nem que seja apenas com um pequeno servio, para benefcio dos nossos semelhantes. O prprio facto de investigar as possibilidades de um desses servios , s por si, interessante e informativo. 10. Cuidar da sua aparncia Muitos de ns desleixmo-nos demasiado. Um novo corte de cabelo, roupas novas, culos novos ou mesmo novos dentes podem ter um efeito animador extraordinrio. Tnhamos tido frequentemente intenes de fazer algo a esse respeito, e os primeiros meses do comeo da nossa sobriedade pareceram ser uma boa oportunidade para nos preocupar-nos com isso. 11. Iniciar uma atividade superficial! Nem tudo o que fazemos precisa de ser um esforo orientado para o melhoramento pessoal, embora se reconhea o mrito de tais esforos para melhorar a nossa autoestima. Muitos de ns achamos importante estabelecer o equilbrio entre perodos de coisas srias com coisas que fazemos por mero divertimento. Voc gosta de bales? De jardins zoolgicos? De pastilha elstica? De filmes dos irmos Marx? De msica soul? De ler histrias de fico cientfica ou histrias de detetives? De apanhar banhos de sol? De andar na neve? Se no gostar de nada disto, procure qualquer outra atividade no alcolica que contribua apenas para o seu mero divertimento e divirta-se a 'seco'. Voc merece isso.

12. _____________________________________________________________

Preencha voc mesmo este espao. Esperemos que a lista acima referida lhe sugira uma idia diferente daquelas que enunciamos... Se foi esse o caso, ento timo! Comece logo a p-la em prtica.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 20

Convm, porm, referir uma palavra de precauo. Alguns de ns consideramos que temos uma tendncia manifesta para exagerar tudo e para querer fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo. Para isso temos um bom travo, sobre o qual poder ler na pgina ... Chama-se 'V com calma'.

7. - Usar a Orao da SerenidadeNas paredes de milhares de salas de reunies A.A., traduzida em vrias lnguas, pode ver-se esta invocao: Concedei-me, Senhor, SERENIDADE para aceitar as coisas que no posso modificar, CORAGEM para modificar aquelas que posso, e SABEDORIA para distinguir umas das outras. A.A. no inventou esta orao. Parece que, durante muitos sculos, se usaram diferentes verses desta orao em vrios credos religiosos e, atualmente, ela usada frequentemente, tanto dentro como fora da Comunidade de A.A. Quer pertenamos a esta ou quela igreja, quer sejamos humanistas, agnsticos ou ateus, o facto que a maioria de ns encontrou nestas palavras um guia extraordinrio para alcanar a sobriedade, continuar em sobriedade e gozar a nossa sobriedade. Quer encaremos aVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 21

Orao da Serenidade como uma verdadeira orao ou apenas como expresso de um forte desejo, ela oferece-nos uma frmula simples para uma vida emocional saudvel. Colocamos o nosso alcoolismo logo cabea da lista das "coisas que no podemos modificar". Por mais que faamos, sabemos perfeitamente que amanh no vamos subitamente tornar-nos no alcolicos, do mesmo modo que no vamos ficar dez anos mais novos nem vinte centmetros mais altos. No pudemos modificar o nosso alcoolismo, mas tambm no dissemos docilmente: "Pois bem, j que sou alcolico terei que resignar-me a beber at morrer". Aqui estava uma coisa que podamos modificar. No tnhamos de ser alcolicos bbedos. Podamos tornar-nos alcolicos sbrios, mas a verdade que, para isso, era preciso coragem, e precisvamos tambm de um bocadinho de sabedoria para compreender que isso era possvel, que podamos modificar-nos a ns mesmos. Para ns, esta foi apenas a primeira e a mais evidente utilizao da Orao da Serenidade. Quanto mais nos afastamos da ltima bebida, maior significado e beleza adquirem estas poucas linhas. Podemos aplic-las a qualquer situao de todos os dias, precisamente ao tipo da qual habitualmente nos evadamos para nos refugiarmos na garrafa. A ttulo de exemplo: "Detesto este trabalho. Tenho de continuar com isto ou posso deix-lo?". Um pouco de sabedoria pode ajudar: "Bom, se eu largar o trabalho, as prximas semanas ou meses podem vir a ser difceis, mas se tiver a coragem para aquent-lo 'a coragem para mudar' acho que terei possibilidades de arranjar outra coisa melhor". A resposta pode tambm ser: "Vejamos esta situao agora no altura para andar procura de trabalho, porque tenho uma famlia para sustentar. Alm disso, tenho apenas seis semanas de sobriedade e os meus amigos A.A. sugerem que no faa, por enquanto, grandes mudanas na minha vida melhor concentrar-me em no tomar a primeira bebida e esperar que a minha cabea se comece a clarificar. Est bem, por enquanto no posso mudar de trabalho, mas talvez possa mudar a minha prpria atitude. Vejamos: como que posso aprender a aceitar o meu trabalho com serenidade?". A palavra "serenidade" parecia um objetivo impossvel quando ouvimos pela primeira vez a orao. Com efeito, se serenidade significava apatia, resignao azeda ou ter de suportar qualquer coisa estoicamente, ento nem sequer queramos fazer esforos nesse sentido. Porm, acabamos por perceber que serenidade no representava nada disso. Quando ela agora nos ocorre, mais no sentido de simples aceitao uma maneira realista e lcida de ver o mundo, acompanhada por uma paz e fora interiores. A serenidade como um giroscpio que nos ajuda a manter o equilbrio apesar da turbulncia nossa volta, e isso um estado de esprito que vale a pena alcanar.

8. - Mudar velhas rotinasCertas alturas especiais, lugares conhecidos e atividades regulares associadas com a bebida estiveram intimamente relacionadas com as nossas vidas. Tal como o cansao, a fome, a solido, a raiva e a alegria exagerada, estes velhos hbitos ou rotinas podem tornar-se perigosas armadilhas para a nossa sobriedade. Quando deixamos pela primeira vez de beber, muitos de ns consideramos til rever os hbitos relacionados com a bebida e, sempre que possvel, mudar muitas das pequenas coisas associadas com o lcool. Para exemplificar: muitos de ns que costumvamos comear o dia com uma bebida na casa de banho, passamos a ir para a cozinha para tomar caf. Alguns de ns mudamos a ordem das coisas que fazamos para preparar o dia, tal como comer antes de tomar banho ou de nos vestirmos ou vice-versa. Mudar de marca de pasta dentifrcia ou de elixir (ateno, porque alguns contm lcool!) deu-nos um sabor fresco e diferente logo de manh para comear o dia. Procuramos fazer um pouco de exerccio ou termos alguns momentos sossegados de contemplao ou meditao antes de nos precipitarmos para o dia.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 22

Muitos de ns tambm aprendemos a procurar um novo caminho ao sair de casa de manh, evitando passar por um stio conhecido que estivesse relacionado com o lcool. Alguns deixaram o carro para ir de comboio, outros passaram a andar de bicicleta em vez de metro, a andar a p em vez de autocarro. Outros passaram a usar uma linha de transporte diferente. Quer a nossa maneira de beber comeasse no restaurante do comboio, no bar da esquina, na cozinha, no clube ou na garagem, cada um de ns pode muito bem determinar exatamente o seu local favorito para beber. Quer fssemos uns bebedores excessivos ocasionais ou uns bebedores de toda a hora, cada um de ns sabe muito bem, no seu ntimo, quais os dias, horas e ocasies que estavam mais frequentemente associados com as nossas bebedeiras. Quando se quer no beber, alterar todas estas rotinas e criar um novo esquema em sua substituio uma grande ajuda. As donas de casa, por exemplo, dizem que as ajuda mudar as horas e locais de fazer compras e reorganizar a agenda das tarefas dirias. As pessoas que, no seu trabalho, costumavam aproveitar para beber nos intervalos do caf ou do ch, deixam agora de sair nesses intervalos e tomam mesmo s caf ou ch. (E esta uma boa altura para telefonar a algum que voc sabe que tambm est a tentar deixar de beber. Nos momentos em que costumvamos beber, muito reconfortante falar com algum que tenha passado pelas mesmas experincias). Aqueles de ns que iniciamos a nossa sobriedade enquanto estvamos num hospital ou priso, procuramos mudar os nossos percursos dirios de modo a no darmos de caras com a pessoa que nos fornecia as bebidas s escondidas. Para alguns de ns, a hora de almoo era geralmente uma altura em que bebamos. Logo que paramos de beber, em vez de irmos ao restaurante ou snack-bar onde os empregados de mesa e de bar nos conheciam e nos serviam sem ser preciso dizer nada, bem mais sensato irmos a outro restaurante e muito conveniente almoar com pessoas que no bebem. intil "pr prova a nossa fora de vontade" numa questo que tenha a ver com a sade, quando no necessrio. Em vez disso, procuramos fazer com que os nossos novos hbitos de sade sejam o mais simples possvel. Para muitos de ns, isto tambm significou ter de evitar, pelo menos durante certo tempo, a companhia dos amigalhaos que bebem pesadamente. Se eles forem verdadeiros amigos, ficaro naturalmente contentes por nos ver a preocupar-nos com a sade e vo respeitar o nosso direito de fazer o que quisermos, tal como ns respeitamos o direito deles de beber, se lhes apetecer. Aprendemos, porm, a ter cuidado com aquelas pessoas que insistem para voltarmos a beber. Aquelas que gostam realmente de ns, do-nos nimo para continuarmos com os nossos esforos para recuperarmos. s 5 da tarde, ou hora a que termina o trabalho, alguns de ns aprendemos a parar num caf para comer qualquer coisa. A seguir, tomvamos um caminho diferente para casa, sobretudo um que no nos fizesse passar por stios frequentemente associados com a bebida. Se andssemos de comboio, evitvamos o bar e saamos no nosso local de destino e no na estao perto da nossa taberna habitual. Ao chegar a casa, em vez de irmos buscar os copos com gelo, mudvamos de roupa, fazamos caf ou ch ou bebamos um sumo de fruta ou vegetais, fazamos uma sesta ou descontramo-nos um pouco a tomar duche, a ler um livro ou o jornal. Aprendemos a fazer uma dieta diversificada que inclusse alimentos no associados com o lcool. Se o nosso hbito depois do jantar era bebericar a ver televiso, achamos melhor ir para outra sala e dedicarmo-nos a outras atividades. Costumavam-se esperar que a famlia fosse para a cama para puxarmos da garrafa, procuramos deitarmo-nos mais cedo para variar, dar um passeio, ler ou escrever, ou jogar xadrez. As viagens de negcios, os fins de semana e os feriados, o campo de golfe, os estdios de futebol, os jogos de cartas, a piscina habitual ou o refgio desportivo significavam beber para muitos de ns. As pessoas que andam de barco passavam geralmente os dias de vero a beber na baa ou no lago. Ao pararmos de beber, percebemos que valia aVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 23

pena, durante certo tempo, planear viagens ou frias diferentes. Tentar evitar beber a bordo de um barco cheio de bebedores de cerveja, de whisky, de sangria ou de cocktails muito mais difcil do que simplesmente ir para outros stios e, por uma questo de novidade, fazer coisas diferentes que no faam lembrar a bebida. Suponhamos que ramos convidados para um tipo de festa em que o divertimento principal ou negcio fosse beber. Ento o que fazer? Quando bebamos ramos extremamente hbeis em inventar desculpas, de modo que nos limitamos a aplicar esse talento para arranjar uma maneira gentil de dizer: "No, muito obrigado". (No caso de festas em que ramos obrigados a ir, planejamos novos hbitos que nos dessem segurana, que vm explicados mais frente).Deitamos fora todo o lcool que tnhamos em casa nos primeiros dias em que deixamos de beber ? Sim e no. A maioria dos que pararam de beber com xito concorda que uma boa precauo ao princpio desfazermo-nos de todas as garrafas que possam existir se as conseguirmos encontrar. Porm, as opinies variam quanto a termos garrafas na dispensa ou no bar da sala. Alguns de ns insistem que nunca foi disponibilidade da bebida que nos levou a beber, da mesma maneira que a falta de lcool nunca nos impediu de beber o que nos apetecia. Por isso alguns perguntam: "Para qu deitar um bom usque pelo cano abaixo ou mesmo d-lo de presente?". Vivemos numa sociedade de bebedores, dizem alguns, e no podemos evitar para sempre a presena de bebidas alcolicas. Mantenha-se a quantidade necessria para servir s nossas visitas e procure-se esquecer o lcool o resto do tempo. Para essas pessoas isto resultou. Muitos outros dizem que, por vezes, foi extremamente fcil pegarmos num copo, num impulso quase inconsciente, e beber mesmo antes de nos darmos conta disso. Se no tivermos lcool mo e se tivermos de sair para i-lo comprar, temos pelo menos a oportunidade de nos darmos conta do que estamos a fazer e decidirmos no beber. Os no bebedores que tm este ponto de vista dizem que acham que mais sensato prevenir do que remediar! Assim eles desfizeram-se de todo o lcool que tinham em casa e no ficaram com nenhum at acharem que a sua sobriedade tinha atingido um estado relativamente estvel e seguro. Mesmo agora, eles s compram o suficiente para as visitas de uma noite. Assim, faa a sua escolha. Voc sabe quais eram os seus hbitos de bebida e como se sente atualmente com a sua sobriedade. natural que algumas das pequenas mudanas de rotina referidas nesta seco possam parecer, s por si, incrivelmente triviais. Porm, podemos garantir-lhe que a soma total de todas estas mudanas deu a muitos de ns uma ajuda extraordinria para uma sade revigorada. Se quiser, voc tambm pode conseguir essa ajuda.

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9. - Comer ou beber algo geralmente doceVoc est-se a ver a beber whisky com soda depois de um chocolate com leite? Ou uma cerveja depois de um bolo com creme? Se no ficar demasiado enjoado com estas perguntas para continuar a ler, voc concordar que estas coisas no ligam umas com as outras. De certo modo, sobre isto que trata esta parte da nossa experincia. Muitos de ns viemos a aprender que algo doce ou qualquer alimento ou snack nutritivo, parece reduzir um pouco o desejo de beber. Assim, de vez em quando, lembramo-nos uns aos outros que nunca devemos ficar com muita fome. Pode ser s imaginao, mas a apetncia pela bebida parece ser muito mais forte quando o estmago est vazio. Sente-se, pelo menos, muito mais. Este livro baseiase muito mais na nossa experincia pessoal, do que em fatos cientficos. Deste modo, no podemos explicar precisamente, em termos tcnicos, porque que isto assim. Podemos apenas relatar a opinio de milhares de ns inclusivamente de muitos que nunca gostaram de doces que acharam que comer ou beber algo doce reduz a apetncia para beber. Como no somos mdicos nem especialistas de nutrio, no podemos recomendar que toda a gente traga consigo uma tablete de chocolate para comer sempre que surja a vontade de beber. Muitos de ns fazemos isso, mas outros tm srias razes de sade para evitar comer doces. Pode-se, no entanto, arranjar fruta fresca e adoantes dietticos de comida e bebida, para que a idia de utilizar um saborVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 25

doce seja vivel para qualquer pessoa. Alguns de ns achamos que no s o sabor que ajuda a reduzir o impulso pelo lcool. Pode tambm ser, em parte, o resultado de se arranjar uma nova sequncia de aes: preparar um refrigerante, um copo de leite ou refresco, uns bolos e gelado, e depois beber ou mastigar e engolir. natural que muitos alcolicos, quando param de beber, estejam muito mais subalimentados do que podiam supor e esta situao verifica-se a todos os nveis econmicos. Por isso, os mdicos recomendam a muitos de ns tomarmos suplementos de vitaminas. Porm, muitos de ns necessitamos apenas de nos alimentar mais do que supomos, e qualquer alimento no estmago faz-nos sentir, sem dvida, melhor fisiologicamente. Um hamburger, mel, amendoins, vegetais crus, queijo, nozes, camaro de conserva, gelatina de frutas, rebuados de hortel-pimenta ou qualquer outra coisa que voc prefira e que lhe faa bem, pode ajud-lo. Alcolicos com pouco tempo de sobriedade ficam geralmente surpreendidos quando se lhes sugere que comam em vez de beber e interrogam-se se no iro engordar muito. Podemos dizer que raramente vemos isto acontecer. Muitos de ns perdemos gordura suprflua quando comeamos a alimentarmo-nos como deve ser, em substituio de meras calorias de lcool etlico, e outros aumentaram uns quilos de que precisavam. Com efeito, o facto que alguns "adictos" a gelados ou a doces vem aparecer, nos primeiros meses de sobriedade, umas gorduras suprfluas aqui e ali, geralmente nos stios menos desejveis. Porm, isto parece ser um preo baixo para pagar pela libertao do alcoolismo ativa. prefervel ser gorducho do que bbedo, no verdade? J alguma vez ouviu falar de algum que foi preso por "conduzir gordo"? De qualquer maneira, com um pouco de pacincia e de bom senso, a questo do peso volta ao normal, como prova a nossa experincia. Se no for o caso, ou se voc tiver um problema crnico de obesidade ou de peso a menos, melhor ir a um mdico especialista nesta matria, mas que tambm compreenda o alcoolismo. Nunca encontramos nenhuma discrepncia entre a experincia A.A. e um bom conselho mdico dado por um mdico conhecedor de alcoolismo. Assim, da prxima vez que surja a tentao de beber, melhor comer qualquer coisa ou tomar uma bebida aucarada. Pelo menos, isso vai adiar a bebida por uma ou duas horas, o suficiente para darmos mais um passo no sentido da recuperao ... talvez o passo sugerido no prximo captulo.

10. - Utilizar a "terapia do telefone".Quando comeamos a tentar ficar sbrios, muitos de ns vimo-nos a beber sem ser essa a nossa inteno. Por vezes, parecia acontecer, mesmo sem nos darmos conta disso. No havia uma inteno deliberada para beber, nem qualquer noo definida do que podiam ser as conseqncias. No tinha sido nossa inteno darmos incio a mais outra fase de bebedeiras. Agora j aprendemos que o simples facto de adiar a primeira bebida, substituindo-a por qualquer coisa, d-nos a possibilidade de pensar sobre o nosso passado de lcool, sobre a doena do alcoolismo e das provveis conseqncias de comearmos novamente a beber. Felizmente que podemos fazer mais do que limitarmo-nos a pensar sobre isso. E fazemos: telefonamos a algum. Quando paramos de beber, disseram-nos repetidamente para arranjarmos nmeros de telefone de membros de A.A. e para telefonarmos a essas pessoas em vez de beber. De incio, a idia de telefonar a algum que mal conhecamos, parecia-nos estranha e a maior parte de ns sentia relutncia em fazer isso. Mas os A.A.s, que tinham muito mais dias de sobriedade do que ns continuavam a insistir para que usssemos o telefone. Diziam que compreendiam a nossa hesitao, porque eles tinham passado pelo mesmo. No entanto, diziam eles, tente nem que seja s uma vez.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 26

Por fim, deste modo, milhares e milhares de ns seguimos esta sugesto. Para nosso alvio, acabou por se tornar uma experincia fcil e agradvel, mas melhor do que tudo, funcionou. Talvez a maneira mais fcil de compreender isto, antes mesmo de voc tentar, de se pr mentalmente no lugar da pessoa a quem se telefona. extremamente gratificante e compensador ser-se confiado a este ponto, de modo que a pessoa que recebe o telefonema invariavelmente agradvel, mesmo encantadora, no fica nada surpreendida e mostra-se mesmo muito contente por nos ouvir. Mas sobre isto h ainda mais. Muitos de ns descobrimos que, nas alturas em que nos apetecia beber, podamos telefonar a algum com mais experincia em sobriedade e que nem sequer era preciso mencionar que estvamos a pensar em beber. Isto se entendia muitas vezes sem que fosse preciso falar. E realmente no fazia a menor diferena as horas a que telefonvamos, de dia ou de noite! s vezes, sem nenhum motivo aparente, encontrmo-nos a passar por uma sbita e inexplicvel crise de ansiedade, medo, terror, mesmo de pnico, que no fazia o menor sentido. (Isto acontece naturalmente a muitos seres humanos e no apenas aos alcolicos). Quando contvamos a verdade sobre a maneira como realmente nos sentamos, o que estvamos a fazer, o que queramos fazer, descobrimos que ramos totalmente compreendidos. O que recebemos foi uma total empatia e no simpatia. preciso no esquecer que, todos aqueles a quem telefonvamos, tinham passado exatamente pelo mesmo que ns, numa determinada altura ou outra, e todos eles se lembravam muito bem disso. Na maioria dos casos, bastavam uns momentos de conversa para fazer desaparecer a idia de beber. Por vezes deram-nos informaes prticas e esclarecedoras ou uma orientao subtil e indirecta ou mesmo at conselhos duros, directos e francos. s vezes, at acabvamos a rir. Os observadores de alcolicos em recuperao tm notado a imensa rede de contactos sociais informais entre os membros de A.A., mesmo nas alturas em que no estamos nas reunies e muitas vezes em ocasies em que ningum est a pensar ou a falar em beber. Percebemos que podemos ter a vida social que queremos uns com os outros, a fazer as coisas habituais que os amigos fazem ouvir msica, conversar, ir ao cinema ou teatro, almoar ou jantar juntos, acampar e pescar, fazer excurses, estabelecer contactos, pessoalmente, por escrito ou por telefone tudo isto sem a menor necessidade de uma bebida. Estas relaes e amizades so de um valor nico para aqueles de ns que optmos por no beber. Somos livres de ser ns mesmos entre pessoas que partilham a nossa preocupao por manter uma feliz sobriedade, sem sermos fanticos contra a bebida. Naturalmente que possvel ficar-se sbrio entre pessoas que no so alcolicos em recuperao e at mesmo entre aqueles que bebem muito, embora possamos sentir-nos pouco vontade na sua companhia. Porm, na companhia de outros alcolicos sbrios, podemos ter a certeza de que a nossa recuperao do alcoolismo muito apreciada e profundamente compreendida. Isto tem um grande significado para eles, tal como o seu bem-estar conta muito para ns. A transio para a alegria da sobriedade, comea s vezes quando, sbrios h pouco tempo, nos mantemos em contacto com outras pessoas igualmente novas no programa. Ao princpio, parece um pouco estranho fazer amizades com pessoas que esto sbrias h anos. Sentimo-nos geralmente mais vontade com aqueles que, como ns, esto a dar os primeiros passos na recuperao. por isso que muitos de ns fazemos os nossos primeiros telefonemas, para nos mantermos sem beber, para os nossos "contemporneos" em A.A.

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"A terapia do telefone" funciona mesmo nas alturas em que no conhecemos ningum de especial a quem telefonar. Uma vez que o nmero de telefone do A.A. figura em quase todas as listas telefnicas dos Estados Unidos e do Canad (e em muitos outros pases), basta ligar o nmero para entrarmos imediatamente em contacto com algum que verdadeiramente nos entende, por ter passado pela mesma experincia. Pode ser uma pessoa que nunca tenhamos visto, mas a mesma empatia autntica est sempre presente. Feita a primeira chamada, muito mais fcil fazer uma outra sempre que necessrio. Por fim, a necessidade de desabafarmos o desejo de beber desaparece praticamente para a maioria de ns. Porm, quando isto acontece, a maior parte de ns acha que j criou o hbito de fazer telefonemas ocasionais amigveis e, por isso, continuamos a faz-los s porque gostamos. Isto, porm, vem geralmente mais tarde. A princpio, a "terapia do telefone" serve para nos ajudar a ficar sbrios. Pegamos no telefone em vez de uma bebida. Mesmo quando no acreditamos, isto funciona. E mesmo quando no queremos.

11. - Arranjar um padrinho/madrinhaNem todos os membros de A.A. tiveram um padrinho ou madrinha, mas milhares de ns confirmamos que j no estaramos vivos se no fosse pela amizade especial de um alcolico em recuperao nos primeiros meses e anos de sobriedade. Nos primeiros dias de Alcolicos Annimos, no se utilizava o termo "padrinho" na gria de A.A. Depois, alguns hospitais de Akron, Ohio, e de Nova Iorque comearam a aceitar alcolicos (com base nesse diagnstico) como pacientes desde que um membro de A.A. sbrio concordasse em "apadrinhar" o homem ou a mulher doente. O padrinho levava o doente para o hospital, visitava-o regularmente, estava presente quando lhe davam alta e levava o doente para casa e, em seguida, a uma reunio de A.A. Na reunio, o padrinho apresentava o recm-chegado aos outros membros do grupo, alcolicos felizes em sobriedade. Durante os primeiros meses de recuperao, o padrinho mantinha-se disponvel, pronto para responder a perguntas ou para ouvir, sempre que necessrio. O apadrinhamento resultou de tal maneira, como uma boa forma de ajudar pessoas a integrarem-se em A.A., que se tornou um costume em todo o universo de A.A., mesmo nos casos em que a hospitalizao no necessria. Frequentemente, o padrinho a primeira pessoa a visitar o bebedor-problema que procura ajuda ou o primeiro alcolico em recuperao a falar com a pessoa que procura ajuda, se ele ou ela forem a umVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 28

escritrio de A.A. ou o membro A.A. que se oferece para "apadrinhar" um alcolico prestes a sair de um centro de desintoxicao ou de reabilitao, de um hospital ou de uma instituio correccional. Em reunies de A.A., os membros recomendam frequentemente que os principiantes em A.A. arranjem um padrinho ou madrinha, e cabe ao recm-chegado escolher algum para seu padrinho ou madrinha, se for essa a sua vontade. Um dos motivos por que bom ter um padrinho, que se tem uma orientao amiga durante os primeiros dias e semanas, em que o A.A. ainda estranho e novidade, antes de uma pessoa se sentir vontade nas reunies. Alm disso, um padrinho pode dedicar-lhe muito mais tempo e dar-lhe muito mais ateno do que um terapeuta profissional extremamente ocupado. Os padrinhos chegam mesmo a fazer visitas de noite a casa daqueles que pedem ajuda. Se voc tiver um padrinho, algumas das sugestes que se seguem podem ajud-lo. Lembre-se que elas se baseiam na experincia de milhares de membros de A.A., ao longo de muitos, muitos anos.

A. Geralmente melhor um homem apadrinhar um homem e uma mulher apadrinhar uma mulher. Isto ajuda a evitar a possibilidade de um envolvimento sentimental, que pode vir a tornar-se numa terrvel complicao e acabar por destruir o relacionamento entre padrinho e afilhado. A experincia dos erros cometidos ensinaram-nos que sexo e apadrinhamento no so uma boa combinao.

B. Gostemos ou no do que o padrinho sugere (os padrinhos podem apenas fazer sugestes. Eles no podem obrigar ningum a fazer o que quer que seja, nem to-pouco impedir qualquer ao), o facto que o padrinho tem estado sbrio h muito mais tempo, conhece as armadilhas que se devem evitar e provvel que tenha razo.

C. Um padrinho A.A. no nenhum gnero de conselheiro profissional nem de assistente social. Um padrinho no algum que nos empresta dinheiro, que nos arranja roupa, emprego ou comida. Um padrinho no um especialista em medicina, nem to-pouco qualificado para nos dar aconselhamento religioso, jurdico, domstico ou psiquitrico, muito embora um bom padrinho se disponha geralmente a falar sobre estes assuntos confidencialmente e pode, muitas vezes, sugerir onde obter assistncia profissional nestas matrias. Um padrinho simplesmente um alcolico sbrio, que pode apenas ajudar a resolver um nico problema: como ficar sbrio. O padrinho dispe apenas de um utenslio para usar: a sua experincia pessoal e no um conhecimento cientfico. Os padrinhos passaram pela mesma experincia que ns estiveram l e por vezes tm maior preocupao, esperana, compaixo e confiana em ns do que ns mesmos. Eles acumularam seguramente mais experincia e, reportando-se sua prpria experincia e vivncia do alcoolismo, eles estendem a mo para ajudar, no para humilhar. Diz-se que os alcolicos so talvez pessoas que nunca devem guardar segredos para si mesmos, particularmente segredos do tipo que envolvem sentimentos de culpa. Ao sermos abertos e francos sobre ns mesmos, isso evita-nos guardar esses segredos e pode tornar-se num bom antdoto contra qualquer tendncia para uma excessiva preocupao e inibio centradas em ns mesmos. Um bom padrinho algum em quem podemos confiar, uma pessoa com quem podemos falar abertamente.VIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 29

D. muito agradvel ter um padrinho com quem tenhamos semelhanas de temperamento e interesses, algum que partilhe a nossa experincia e gostos alm da sobriedade, mas isto no absolutamente necessrio. Em muitos casos, o melhor padrinho algum completamente diferente de ns. Os relacionamentos mais dspares entre padrinho e afilhado tm, por vezes, provado ser os melhores.

E. Os padrinhos, como quaisquer outras pessoas, tm naturalmente as suas obrigaes familiares e profissionais. Embora um padrinho possa ocasionalmente sair do seu trabalho ou de casa para ajudar um recm-chegado em dificuldade, h realmente alturas em que o padrinho no est disponvel. Para muitos de ns, esta uma oportunidade para pormos em prtica a nossa imaginao readquirida, ao procurarmos um substituto para o padrinho. Se realmente precisarmos de ajuda, no deixamos que a doena do padrinho, a sua indisponibilidade momentnea ou qualquer outra razo nos impea de procurarmos ajuda. Podemos procurar uma reunio de A.A. prxima do stio onde nos encontramos. Podemos ler literatura A.A. ou qualquer outra coisa que nos ajude. Podemos telefonar a outros alcolicos em recuperao que conhecemos, mesmo que no tenhamos um contacto muito ntimo com eles. Podemos tambm telefonar ou ir ao escritrio de A.A. mais prximo. Mesmo que a nica pessoa que nos aparea seja algum que ainda no conhecemos, seguramente que encontramos em qualquer membro de A.A. verdadeiro interesse e vontade de ajudar. Quando falamos honestamente sobre aquilo que nos preocupa, os outros reagem sempre com uma verdadeira empatia. s vezes, obtemos mesmo o encorajamento de que precisvamos de alcolicos em recuperao de quem no gostamos muito. Mesmo que estes sentimentos sejam recprocos, quando um de ns, num esforo para se manter sbrio, pede ajuda a outro alcolico para no beber, todas as coisas suprfluas e insignificantes se desvanecem.

F. Alguns consideram til ter mais de um padrinho, para que um deles esteja sempre disponvel. Esta idia tem uma vantagem adicional, embora implique certos riscos. A vantagem reside no facto de estes trs ou quatro padrinhos acumularem experincia e conhecimentos mais vastos do que uma s pessoa. A desvantagem de se ter ao mesmo tempo mais de um padrinho tem a ver com uma tendncia nossa dos tempos em que bebamos. Para nos protegermos e continuarmos a beber sem nos criticarem, contvamos diferentes verses a diversas pessoas. Aprendemos inclusivamente a manipular os outros, de tal modo que as pessoas que nos rodeavam quase apoiavam ou chegavam mesmo a encorajar a nossa maneira de beber. Podemos no ter tido a noo exacta desta nossa tendncia e a realidade que raramente fazamos isto de m f. O facto porm que este comportamento se tornou parte integrante da nossa personalidade, como alcolicos ativos. Por isso, alguns de ns, com mais de um padrinho ao mesmo tempo, procurmos tirar vantagem desta situao, contando verses diferentes a cada um deles. Isto nem sempre resulta, visto que os padrinhos dificilmente se deixam enganar. Eles apercebem-se relativamente depressa das artimanhas de algum que quer beber, uma vez que eles prprios usaram esses mesmos estratagemas. Mas, s vezes conseguimos manter este jogo at que um padrinho diga exatamente o oposto do outro. Pode ser que consigamos que algum diga aquilo que queremos ouvir e no aquilo que precisamos de ouvir ou, pelo menos, interpretamos as palavras dum padrinho conforme os nossos desejos. Um tal comportamento reflecte muito mais o estado da nossaVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 30

doena do que uma procura sincera para recuperar. Ns, os recm-chegados, somos os mais prejudicados quando isto acontece. Assim, se tivermos mais de um padrinho, seria bom que estivssemos atentos a este tipo de jogos, se quisermos progredir na nossa recuperao. G. Os padrinhos, como alcolicos em recuperao que so, tm as suas virtudes e fraquezas prprias. O padrinho (ou qualquer outro ser humano) perfeito, sem mcula nem fraquezas, tanto quanto sabemos, ainda est para aparecer. caso raro, mas possvel que sejamos mal aconselhados ou fiquemos desorientados por uma inadvertncia de um padrinho. Tal como ns mesmos errmos, os padrinhos, mesmo com a melhor das intenes, tambm podem falhar. Provavelmente voc j adivinhou qual vai ser a frase que se segue... O comportamento inadequado de um padrinho, tal como qualquer subterfgio, no serve como desculpa vlida para voltar a beber. A mo que pega no copo para beber ainda a sua prpria. Em vez de culparmos os padrinhos, encontrmos pelo menos 30 outras maneiras de nos mantermos afastados do primeiro copo. Essas 30 maneiras vm naturalmente descritas neste livro.

H. Voc no tem qualquer obrigao de retribuir o que o seu padrinho ou madrinha fizeram para o ajudar. Ele ou ela fizeram isso porque os ajuda a manter a sua prpria sobriedade. Voc livre de aceitar ou rejeitar a ajuda. No caso porm de a aceitar, voc no obrigado a pagar nada em troca. Os padrinhos so amveis e severos, no pelo crdito que isso lhes confere, nem to-pouco por gostarem de "praticar boas aces". Um bom padrinho recebe tanta ajuda como a pessoa que ele apadrinha. Voc vai descobrir como isto verdade a primeira vez que voc apadrinhar algum. Um dia voc vai querer dar essa ajuda a algum e essa a nica maneira que voc tem de retribuir.

I. Como um bom pai, um padrinho sensato pode deixar, sempre que necessrio, o recm-chegado entregue a si mesmo; ele pode deix-lo fazer os seus prprios erros; pode ver o afilhado no seguir as suas sugestes, sem ficar zangado nem sentir-se rejeitado. Um padrinho vigilante mantm-se sempre atento para impedir que a vaidade e os sentimentos feridos interfiram com o apadrinhamento. Os melhores padrinhos ficam sempre encantados quando os recm-chegados se mostram capazes de seguir o seu prprio caminho sem precisarem j de serem acompanhados. Isto no significa que tenhamos de continuar sozinhos, mas chega sempre a altura em que uma pequena ave tem de utilizar as suas prprias asas para criar a sua famlia. Que tenha um voo feliz!

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12. - Repousar bastanteAs pessoas que bebem pesadamente, geralmente no conseguem aperceber-se da extenso do seu cansao, pelo menos por trs motivos diferentes, que so caractersticas do lcool: (1) Tem imensas calorias que provocam uma falsa energia instantnea; (2) Anestesia o sistema nervoso central, de tal modo que no se pode sentir inteiramente o desconforto fsico; (3) Passado o seu efeito anestsico, o lcool provoca uma agitao que se assemelha a uma energia nervosa. Depois de pararmos de beber, este efeito de agitao pode persistir durante algum tempo, provocando nervosismo e insnias. Podemos, por outro lado, tornar-nos subitamente conscientes do nosso cansao e sentirmo-nos exaustos e letrgicos. Estes dois estados podem tambm alternar-se. Ambas reaces so normais e milhares de ns tivemo-las no incio da nossa sobriedade, em graus variveis conforme o nosso consumo de bebida e estado geral de sade. Mais tarde ou mais cedo, ambas acabam por desaparecer e no precisam de ser motivo de alarme. Porm, muito importante repousar bastante quando deixamos de beber, porque a idia de voltar a beber parece surgir inesperadamente com muito mais facilidade quando nos sentimos cansados. Muitos de ns temo-nos interrogado por que razo sentimos apetncia pela bebida sem nenhum motivo aparente. Quando examinamos esta situao, verificamos repetidamente que nos sentamos exaustos sem nos termos apercebido disso. O mais provvel que tenhamos gasto demasiado energia sem termos descansado o suficiente. De um modo geral, comer alguma coisas ou dormir um pouco pode modificar completamente o nosso estado e a idia de beber desaparece. Mesmo se no conseguirmosVIVER SBRIO - Alguns mtodos utilizados por membros do A.A. para no beber 32

adormecer, os poucos minutos que nos deitamos para descansar, descontrair sentados numa cadeira ou dentro da banheira, reduzem o nosso cansao. Naturalmente ser ainda melhor, se adoptarmos um modo de vida saudvel, que nos permita um perodo suficiente de repouso regular em cada 24 horas. Nem todos temos esse problema, mas o facto que milhares de ns contamos histrias de insnias por longos perodos depois de deixarmos de beber. evidente que o sistema nervoso precisa de um certo tempo para adquirir (ou geralmente para readquirir) o hbito de um sono regular e tranquilo sem lcool no organismo. O pior de tudo pode ser a preocupao que isto nos causa, porque essa preocupao dificulta ainda mais adormecer. O primeiro conselho que geralmente damos uns aos outros sobre este assunto : "No se preocupe. Nunca ningum morreu por falta de sono. Quando o seu corpo estiver suficientemente cansado, voc vai conseguir dormir". E assim . Como a insnia era um pret