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Novo Testamento

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Novo Testamento

ORAÇÃO

Jo 20, 19ss - 19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» 20*Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. 21E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» 22Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. 23*Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»24*Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. 25*Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.»26Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» 27Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» 28*Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» 29*Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!»30Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro.31*Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele.

APRESENTAÇÃO

Padre Nuno Tavares

[email protected]

SEMESTRE

Programa

.1 O NOVO TESTAMENTO

.2 AS DIVISÕES DO NOVO TESTAMENTO

.3 OS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO

.4 A TRANSMISSÃO DO TEXTO DO NOVO

OS EVANGELHOS SINÓPTICOS

. O FACTO SINÓPTICO

. ESTUDO DOS EVANGELHOS SINÓPTICOS

O Evangelhos segundo MarcosO Evangelho segundo MateusO Evangelho segundo Lucas e os Actos dos Apóstolos

O CURSO

Bibliografia

BIBLIOGRAFIA

AA.VV., A Mensagem das Bem-aventuranças, Ed. Paulinas, S. Paulo 1982.

AA.VV., Os Milagres no Evangelho, Col. Cadernos Bíblicos, nº 20, Difusora Bíblica,

Lisboa 1986.

AA.VV., Para ler o Evangelho segundo S. Mateus, Col. Cadernos Bíblicos, nº 2, Difusora Bíblica, Lisboa 1980.

Bibliografia

AGUIRRE MONASTERIO, R., Introduccion a los EvangeliosSinópticos, em Evangelios Sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Ed. Verbo Divino, Estella (Navarra) 1994.

AGUIRRE MONASTERIO, R., Evangelio Segun San Mateo, em Evangelios Sinópticos Y Hechos de los Apóstoles, Ed. Verbo Divino, Estella (Navarra) 1994.

AUNEAU, J., Evangelio de Marcos, em Evangelios Sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Ed. Cristiandad, Madrid 1983.

BEAUDE, P. M., Jesús de Nazaret, Ed. Verbo Divino, Estella(Navarra), 1988.

Bibliografia

BOVON, F., Evangelio de Lucas y Hechos de los Apóstoles, em Evangelios Sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Ed. Cristiandad, Madrid 1983.

CHARPENTIER, E., Cristo Ressuscitou!, Col. Cadernos Bíblicos, nº 6, Difusora Bíblica, Lisboa 1981.

DANIELI, G., Mateus, Ed. Paulinas, S. Paulo, 1983.

DELORME, J., Leitura do Evangelho segundo Marcos, Ed. Paulinas, S. Paulo 1985.

Bibliografia

DE LA CALLE, F., Teologia de Marcos, Ed. Paulinas, S. Paulo 1984.

DORADO, G., A Bíblia Hoje, Ed. Perpétuo Socorro, Lisboa 1984.

FABRIS, R., Atos dos Apóstolos, Ed. Paulinas, S. Paulo 1984.

GEORGE, A., Para ler o Evangelho segundo S. Lucas, Col. Cadernos Bíblicos, nº 1, Difusora Bíblica, Lisboa 1979.

GOPPELT, L, Teologia do Novo Testamento, vol. I, Ed. Sinodal/Vozes, Petrópolis 1988.

GRELOT, P., Os Evangelhos - Origem, data, historicidade, Col. Cadernos Bíblicos, nº 18, Difusora Bíblica, Lisboa 1985.

Bibliografia

JEREMIAS, J., Jerusalen en Tiempos de Jesus, Ed. Cristiandad, Madrid 1987.

LAPPLE, A., Mensagem Bíblica para o nosso tempo, Ed. Paulistas, Lisboa 1970.

LÉON-DUFOUR, X., Les Évangiles Synoptiques, em Le NouveauTestament, L’Annonce de L’Évangile 2, Ed. Desclée, Paris 1976.

LÉON-DUFOUR, X., Les Évangiles et l’histoire de Jésus, Ed. Du Seuil, Paris 1963.

LÉON-DUFOUR, X., Resurreccion de Jesus y Mensaje Pascual, Ed. Sígueme, Salamanca 1985.

Bibliografia

MATEOS, J.,/CAMACHO, F., O Evangelho de Mateus, Ed. Paulinas, S. Paulo 1993.

NEVES, J. C., Jesus Cristo, História e Fé, Ed. Franciscana, Braga 1989.

PERROT, C., Narrativas da Infância de Jesus, Col. Cadernos Bíblicos, nº 9, Difusora Bíblica, Lisboa 1981.

PIKAZA, J., A Teologia de Lucas, Ed. Paulinas, S. Paulo 1985.

RADERMAKERS, J., Evangelio de Mateo, em Evangelios Sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Ed. Cristiandad, Madrid 1983.

Bibliografia

RODRÍGUEZ CARMONA, A., Evangelio Según San Marcos, em Evangelios Sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Ed. Verbo Divino, Estella (Navarra) 1994.

RODRÍGUEZ CARMONA, A., La Obra de Lucas (Lc-Hch), em Evangelios Sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Ed. Verbo Divino, Estella (Navarra) 1994.

SÁNCHEZ MIELGO, G., Claves para leer los Evangelios Sinópticos, San Esteban Edibesa, Salamanca/Madrid 1998.

SAULNIER, C.,/ROLLAND, B., A Palestina no Tempo de Jesus, Col. Cadernos Bíblicos, nº 41, Difusora Bíblica, Lisboa 1993.

Bibliografia

TRILLING, W., O anúncio de Cristo nos Evangelhos sinópticos, Ed. Paulinas, S. Paulo 1981.

ZUMSTEIN, J., Mateus, o Teólogo, Col. Cadernos Bíblicos, nº 29, Difusora Bíblica, Lisboa 1990.

O Novo Testamento é um conjunto de 27 escritos, redigidos quase integralmente em grego entre os anos 50 e 100.

Nos finais do séc. II generalizou-se a designação geral deste conjunto de textos como “Novo Testamento”.

Estes escritos que compõem o “Novo Testamento” adquiriram progressivamente uma autoridade tão grande, que os cristãos os equipararam aos textos do “Antigo Testamento”, durante muito tempo considerados como a única Bíblia (biblioteca).

Esta designação de “Novo Testamento” advém dos primeiros teólogos cristãos (de onde sobressai Paulo - cf. 2 Cor 3,14) que reconheciam nestes textos a apresentação da “nova aliança”. Dela, recebemos os termos que regem a relação entre Deus e o seu Povo na última etapa da história da salvação.

É o reconhecimento da importância central da “nova aliança” que depois provocará a designação, pelos cristãos, dos textos anteriores a Jesus Cristo como “Antigo Testamento”.

No centro dos escritos do “Novo Testamento” encontramos Jesus Cristo: a sua vida, as suas palavras, os seus gestos, a sua novidade, as suas propostas, o seu projecto.

Para além de Jesus Cristo, o Novo Testamento apresenta-nos a Igreja - a comunidade que nasceu do Espírito de Jesus: descreve-se a vida dos primeiros cristãos, as suas inquietações e dramas, os seus sonhos e esperanças, a sua luta por continuar no mundo a obra iniciada por Jesus de Nazaré.

1. AS DIVISÕES DO NOVO TESTAMENTO

Que tipos de textos encontramos no “Novo

Testamento”? Como podemos ordenar estes 27

escritos? Há diversas propostas. Nós vamos seguir esta

classificação:

1. Evangelhos (de Mateus, de Marcos, de Lucas e João) e Actos dos

Apóstolos. Os “Evangelhos” são, como indica a palavra, a “Boa Nova” de Jesus, tal como foi experimentada, percebida e depois transmitida pelas comunidades cristãs do séc. I.São uma “mensagem de salvação” posta por escrito, cujo tema e conteúdo é Jesus Cristo. Não são, portanto, “biografias” de Jesus, nem colecção de histórias, nem uma obra de retrato literário da autoria de alguém isolado, nem mesmo uma redacção de história pura, como se tratasse de uma crónica.

Ao invés, é uma síntese da tradição apostólica, adaptada às necessidades das igrejas a quem os escritos se destinam e com um estilo próprio de proclamação. São sobretudo “catequese” sobre Jesus, com objectivos definidos e identificados nos próprios textos.Os “Actos dos Apóstolos” incluem-se neste bloco, pois são a continuação do “Evangelho segundo Lucas”: descrevem como a “Boa Notícia” ultrapassou as fronteiras da Palestina e se espalhou pelo mundo de então.

2. Cartas (13 atribuídas a Paulo, 1 de Tiago, 2 de Pedro, 3 de João, 1 de Judas e a Carta aos Hebre us). São um conjunto de textos complexos, nada uniformes. As “Cartas” paulinas, por exemplo, são verdadeiras cartas: têm um enquadramento circunstancial, são dirigidas a destinatários concretos e conhecidos. De uma forma geral, adaptam-se ao esquema clássico (remetente, destinatário, fórmula de saudação, corpo da carta, saudações finais), embora Paulo não se atenha com rigidez ao esquema.

Considerando-as em conjunto, têm algumas diferenças: temos um pequeníssimo bilhete de recomendação (Carta a Filémon), uma carta que aborda questões polémicas abertamente (Carta aos Gálatas), uma que responde a certas consultas concretas (1 Coríntios), uma que se poderia denominar de ‘carta aberta’ (Carta aos Efésios), uma carta que doutrinalmente tem uma constituição impecável (Carta aos Romanos). Diferem mais ainda as chamadas “Cartas Pastorais” (1 e 2 Timóteo e a Carta a Tito).As outras “cartas” lembram: um sermão (Carta aos Hebreus), homilias (Carta de Tiago), ou simples bilhetes de circunstância (1 e 2 João).

3. Apocalipse. O livro que encerra o conjunto do Novo Testamento é denominado de ‘Apocalipse’, que significa “revelação”. Tradicionalmente, é identificado como pertencente ao género literário apocalíptico, que floresceu nos dois últimos séculos antes de Cristo e nos dois primeiros séculos depois de Cristo. É um género literário muito usado em tempos de crise ou de perseguição e pretende animar e dar esperança a essas comunidades perseguidas e martirizadas. Utiliza preferentemente a linguagem simbólica, recorrendo frequentemente a números, a cores, a imagens, para expressar determinadas realidades. Para entender a linguagem apocalíptica, é preciso saber descodificar a linguagem expressa através desse mundo simbólico. É fruto da evolução profética.

2. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO “NOVO TESTAMENTO”

Quando utilizamos o termo “cânon” neste contexto, referimo-nos à lista oficial dos livros sagrados, aos livros que reconhecemos como inspirados por Deus, e por isso, normativos para a vida e para a fé da Igreja. É este o sentido deste termo na literatura cristã a partir do séc. IV.

Como é que os primeiros cristãos realizaram a constituição de um novo conjunto de livros sagrados, em complemento da colecção intitulada “a Lei e os Profetas”? A “introdução ao Novo Testamento” da TOB (Traduction Oecuménique de la Bible) apresenta esta evolução da seguinte forma:

“Para os cristãos da primeira geração, a autoridade suprema em matéria religiosa era representada por duas instâncias. A primeira era o Antigo Testamento, citado (...) como revelação de Deus pelos primeiros escritores cristãos. A segunda dessas autoridades (...) era habitualmente chamada “o Senhor”. Esta expressão designava, quer o ensinamento apresentado por Jesus (1 Cor 9,14), quer a autoridade do ressuscitado expressa através dos canais que eram os apóstolos (2 Cor 10,8.18). Destas duas instâncias que tinham valor de critérios, só o Antigo Testamento consistia em textos escritos. As palavras do Senhor e a pregação dos apóstolos, em compensação, foram conservadas oralmente durante vários anos e somente com o desaparecimento dos últimos apóstolos se tomou consciência da necessidade, seja de fixar por escrito o essencial do seu ensinamento, seja de assegurar a conservação desses textos que eles haviam redigido (...).

Há fortes possibilidades de os primeiros textos recolhidos e utilizados na vida

eclesiástica terem sido as epístolas de Paulo. O fim não era, de forma nenhuma,

serem um suplemento à Bíblia; mas essa recolha foi ditada pelas circunstâncias:

os documentos paulinos datam duma época em que a tradição evangélica

estava conservada oralmente. Também Paulo tinha preconizado a leitura

pública das suas cartas, e a circulação nas igrejas vizinhas (1 Tes 5,27; Col 4,16).

Desde o início do séc. II, vários autores cristãos evidenciaram claramente

conhecerem um grande número de textos paulinos. Pode-se concluir que uma

recolha destas cartas foi feita muito cedo e que essa recolha conheceu uma

rápida difusão, devida sem dúvida à grande notoriedade do apóstolo. Contudo,

não obstante a autoridade que se atribuía a estes escritos, não há testemunhos

anteriores ao início do II século que nos permitam dizer que eles eram

considerados como escrituras sagradas e que gozavam de uma autoridade

comparável à da Bíblia.

Durante todo este período, a posição dos “evangelhos” não é clara (...). É verdade que nas obras de alguns autores cristãos da época não faltam citações dos “evangelhos” ou alusões a eles; mas é difícil decidir se essas citações são feitas a partir de textos escritos que esses autores têm debaixo dos olhos ou se eles apenas se limitaram a evocar de memória fragmentos da tradição oral. Antes do ano 140 não existem testemunhos que evidenciem uma colecção de escritos evangélicos. Também não se prova que qualquer um desses escritos tivesse carácter normativo. É a partir da segunda metade do séc. II que encontramos testemunhos, que se vão clarificando no avançar do tempo, de uma colecção de “evangelhos” e da autoridade que, progressivamente, se lhes vai reconhecendo.

Por volta de 150, abre-se um período decisivo para a formação do cânon do Novo Testamento. O mártir Justino é o primeiro a assinalar que os cristãos lêem os quatro “evangelhos” nas suas reuniões ao domingo, que os consideram como obras dos apóstolos (ou pelo menos de personagens ligadas aos apóstolos) e que os utilizam, atribuindo-lhes uma autoridade análoga à da Bíblia.

Tudo leva a crer que a atribuição de tão alta autoridade a estes escritos, não será tanto pela sua origem apostólica, mas antes por eles traçarem a história “do Senhor” de acordo com a tradição recebida. Mas a apostolicidade destas obras foi sublinhada, mais ainda a partir do momento em que foi necessário defendê-las contra a proliferação de escritos do mesmo género, mas cujos conteúdos eram uma imitação grosseira ou fruto da mais pura fantasia.

De facto, por volta de 150, quando sente na Igreja a necessidade de uma norma universalmente aceite, o olhar voltou-se normalmente para a colecção dos quatro “evangelhos”; eles conquistaram a atenção de todos, pelas suas qualidades internas, pelo testemunho autêntico que davam sobre “o Senhor”. De quase todos os autores desta época, a superioridade destes textos era esmagadora. A literatura paralela rapidamente se eclipsou. Por volta de 170, os quatro “evangelhos” já tinham adquirido o estatuto de literatura canónica, mesmo ainda não se tendo pronunciado este conceito por esta palavra.

As “cartas” de Paulo, não terão entrado isoladas umas das outras no cânon; todo o conjunto recolhido foi admitido neste processo pela importância que elas tinham na vida das primeiras comunidades. É provável que a noção de apostolicidade, já invocada em favor da autenticidade dos escritos evangélicos tenha, mais largamente ainda, desempenhado um papel importante em favor da literatura paulina que, pouco a pouco, toma o aspecto de uma colecção, com autoridade largamente reconhecida.

Nasce um novo cânon das sagradas escrituras, sendo que nunca terá havido uma reflexão e uma discussão formal para a sua determinação.

Antes de mais, o cânon é uma realidade que se generalizou na Igreja. A reflexão teológica interveio à posteriori, quando há a necessidade de precisar em detalhe o conteúdo do cânon.

Este movimento é acelerado pela intervenção do herético Marcião (morreu em 160) que, rejeitava integralmente a autoridade do Antigo Testamento; ele sentia necessidade de dotar a igreja com novas escrituras sagradas e, por isso, com um novo cânon.Os marcionitas tiveram o seu papel na vulgarização do novo cânon. Admitiu-se que este continha duas partes (os “Evangelhos” e os “Apóstolos”), tal como o cânon do Antigo Testamento era também constituído por duas partes (a “Lei” e os “Profetas”).

Desde o final do séc. II, encontramos implantada na Igreja a ideia de uma nova norma escriturística. Faltava ainda a definição exacta do conteúdo do novo cânon. A lista definitiva das obras pertencentes ao novo cânon estabelece-se progressivamente, à medida que se vai tomando consciência da universalidade da Igreja, apoiada no desenvolvimento das relações entre as diferentes comunidades cristãs. É assim que se assiste, entre 150 e 200, à definição progressiva do livro dos Actos dos Apóstolos como obra canónica. No final do séc. II, Ireneu de Lião considera a obra como sagrada escritura e cita-a como testemunho de Lucas sobre os apóstolos. De facto, o livro dos Actos foi incluído no cânon por causa do seu parentesco com o terceiro evangelho, do qual é o seguimento. O desenvolvimento da noção de autoridade apostólica ao longo do séc. II foi igualmente um factor importante para a inclusão no cânon de uma obra que será bem depressa considerada como uma introdução necessária ao conjunto das epístolas.

No limiar do séc. III pode fazer-se o balanço desta evolução. Constata-se que, por todo o lado, os quatro evangelhos têm uma posição inexpugnável, que não será mais contestada. Desde essa altura, pode-se considerar como encerrado o cânon dos evangelhos.

No que diz respeito à segunda parte do cânon (os “Apóstolos”), encontram-se por todo o lado citadas como escritura sagrada as treze cartas de Paulo, o livro dos Actos dos Apóstolos e a primeira carta de Pedro. Há também unanimidade quanto à primeira carta de João.

O cânon definitivo fica esboçado. Restam algumas zonas de incerteza. Com efeito, paralelamente às obras que se impuseram por todo o lado à Igreja por uma espécie de evidência interna, há outras obras “flutuantes”, mencionadas como canónicas por certos Padres, mas consideradas apenas como leitura útil por outros. A Carta aos Hebreus, a segunda carta de Pedro, a carta de Tiago e a carta de Judas estão nessa situação. Simultaneamente, obras que são nessa época correntemente designadas como escritura sagrada e mesmo como fazendo parte do cânon, não se manterão muito tempo nessa situação e ver-se-ão, finalmente, expulsas do cânon. É o caso da obra de Hermas intitulada “o Pastor”, da “Didachê”, da primeira carta de Clemente, da carta de Barnabé e do Apocalipse de Pedro.

É nesta fase do processo, que se generaliza o critério da apostolicidade; vão caindo então, pouco a pouco, todas as obras que não se ligam a um apóstolo. Os livros contestados no séc. III são os cuja apostolicidade era discutida em algum sector da Igreja. Os casos mais debatidos foram os da Epístola aos Hebreus e do Apocalipse, cuja canonicidade foi vigorosamente combatida por muito tempo, no Ocidente (a Epístola aos Hebreus) e no Oriente (o Apocalipse). Por outro lado, a segunda, a terceira epístolas de João, a segunda epístola de Pedro e a epístola de Judas só muito lentamente se impuseram.

Não é necessário seguir em detalhe todos os passos desta evolução que conduziu, no séc. IV à constituição de um cânon idêntico, no geral, ao que conhecemos hoje. A única incerteza que persistirá, dirá respeito à ordem em que os livros aparecem” (TOB, Introduction au Nouveau Testament, págs. 14-17).

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