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CONTROLE ESTATÍSTICO DA QUALIDADE: UMA APLICAÇÃO FMEA EM UMA EMPRESA METALÚRGICA STATISTICAL QUALITY CONTROL: FEMEA’S APPLICATION IN A METALLURGICAL COMPANY CONTROL ESTADÍSTICO DE CALIDAD: LA APLICACIÓN FEMEA EN UNA EMPRESA METALURGICA Alex Rovian Zonner (FAHOR) [email protected] Daniel Scalco (FAHOR) [email protected] Anderson Dal Molin (FAHOR) [email protected] Édio Polacinski (FAHOR) [email protected] Resumo: Atualmente, a utilização do controle estatístico da qualidade, a partir de suas diversas ferramentas disponíveis, vem representando um diferencial competitivo para inúmeras empresas, de portes, e segmentos variados. Neste sentido, este artigo objetivou analisar uma aplicação da ferramenta da qualidade Análise de Modo e Efeito de Falha (FMEA), na empresa Chapemec, do ramo metalúrgico, localizada na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Dessa forma, com base em uma pesquisa de natureza qualitativa, classificada também como descritiva, e que utilizou, para o desenvolvimento de seu processo, a técnica do estudo de caso foram coletadas as informações necessárias na referida empresa. Para tanto, inicialmente, determinou-se, a partir da pesquisa bibliográfica, as principais abordagens referentes ao tema. Em um segundo momento, descreveu-se a aplicação da ferramenta FMEA na empresa considerada e a partir do estudo das análises necessárias foram apresentandas as particularidades de aplicação na Chapemec. Abstract: Currently, the use of statistical quality control, from its various tools available, has represented a competitive advantage for many companies, ports, and many segments. Therefore, this article aims to analyze the implementation of a quality analysis tool for Failure Mode and

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CONTROLE ESTATÍSTICO DA QUALIDADE: UMA APLICAÇÃO FMEA EM UMA EMPRESA METALÚRGICA

STATISTICAL QUALITY CONTROL: FEMEA’S APPLICATION IN A METALLURGICAL COMPANY

CONTROL ESTADÍSTICO DE CALIDAD: LA APLICACIÓN FEMEA EN UNA EMPRESA METALURGICA

Alex Rovian Zonner (FAHOR) [email protected]

Daniel Scalco (FAHOR) [email protected]

Anderson Dal Molin (FAHOR) [email protected]

Édio Polacinski (FAHOR) [email protected]

Resumo: Atualmente, a utilização do controle estatístico da qualidade, a partir de suas diversas ferramentas disponíveis, vem representando um diferencial competitivo para inúmeras empresas, de portes, e segmentos variados. Neste sentido, este artigo objetivou analisar uma aplicação da ferramenta da qualidade Análise de Modo e Efeito de Falha (FMEA), na empresa Chapemec, do ramo metalúrgico, localizada na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Dessa forma, com base em uma pesquisa de natureza qualitativa, classificada também como descritiva, e que utilizou, para o desenvolvimento de seu processo, a técnica do estudo de caso foram coletadas as informações necessárias na referida empresa. Para tanto, inicialmente, determinou-se, a partir da pesquisa bibliográfica, as principais abordagens referentes ao tema. Em um segundo momento, descreveu-se a aplicação da ferramenta FMEA na empresa considerada e a partir do estudo das análises necessárias foram apresentandas as particularidades de aplicação na Chapemec.

Abstract: Currently, the use of statistical quality control, from its various tools available, has represented a competitive advantage for many companies, ports, and many segments. Therefore, this article aims to analyze the implementation of a quality analysis tool for Failure Mode and Effect Analysis (FMEA), the company Chapemec, the metal industry, located in the northwestern state of Rio Grande do Sul. Thus, based on a qualitative research, also classified as descriptive, and that used for the development of its process, the technique of the case study were collected the necessary information in that company. For that, initially, it was determined from the literature, the main approaches on the subject. In a second step, we described the application of FMEA tool in the company considered. Next, we made the necessary analysis showing the specific application in Chapemec.

Resumen: En la actualidad, el uso de control estadístico de calidad, de sus herramientas disponibles diferentes, ha representado una ventaja competitiva para muchas empresas, los puertos, y muchos segmentos. Por lo tanto, este artículo tiene como objetivo analizar la implementación de una herramienta de análisis de calidad de modo de falla y análisis de efectos (FMEA), el Chapemec empresa, la industria metalúrgica, ubicada en el noroccidental estado de Rio Grande do Sul. Por lo tanto, sobre la base de una investigación cualitativa,

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también se clasifica como descriptiva, y que se utiliza para el desarrollo de su proceso, la técnica del estudio de caso se recogieron los datos necesarios en esa empresa. Para ello, inicialmente, se determinó a partir de la literatura, los principales enfoques sobre el tema. En una segunda fase, que se describe la aplicación de la herramienta FMEA en la empresa considerada. A continuación, se realizó el análisis necesarios que muestren la aplicación específica en Chapemec.

Palavras chave: CEQ; Ferramentas da Qualidade; FMEA.

Keywords: CEQ; Quality Tools; FMEA.

Palabras clave: CEQ; Herramientas de calidad; FMEA.

1. Introdução

Inicialmente, torna-se importante destacar que qualidade se refere às características específicas de produtos, bens, serviços (finais ou intermediários) de uma empresa, as quais definem a capacidade destes bens ou serviços em promoverem à satisfação do cliente e o cumprimento dos requisitos (CAMPOS, 1999).

Neste contexto, observa-se a partir de Montgomery (2004) que entender e aprimorar a “qualidade” nas organizações caracteriza-se como “fatores-chave”, que as conduzem ao sucesso, desenvolvimento e melhoria da competitividade, sendo que o emprego de “ferramentas da qualidade” caracteriza-se como parte complementar desses fatores.

Neste sentido, ressalta-se que a utilização de ferramentas da qualidade para o controle estatítico da qualidade (CEQ), é fundamental no controle de qualidade. Miguel (2001) afirma que todas as decisões em empresas que desenvolvem suas atividades relacionadas à qualidade são tomadas com base em análise de fatos e dados, sendo que para se aproveitar ao máximo esses dados, são utilizadas técnicas e ferramentas adequadas.

Conforme Miguel (2001), as denominadas “Ferramentas Estatísticas da Qualidade”, ou mesmo as definidas como “Ferramentas Clássicas da Qualidade” podem ser utilizadas como auxílio no desenvolvimento de um sistema de qualidade, podendo ser utilizadas isoladamente, ou então, em conjunto com outros métodos de implantação de programas de qualidade.

Neste interim, e a partir do exposto, evidencia-se que este artigo tem por obejtivo apresentar uma aplicação, em uma empresa metalúrgica, no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, de uma das principais ferramentas da qualidade utilizadas pelas empresas e indústrias, atualmente, denominada “Análise de Modo e Efeitos de Falha Pontencial” (FMEA).

Justifica-se a realização desta pesquisa, uma vez que oportunizará a identificação de uma aplicação prática, de uma ferramenta de CEQ, no caso FMEA, em uma situação real, oferecendo subsídios para acadêmicos, empresas de um modo geral, empresas congêneres, bem como a profissionais interessados na temática prosposta.

2. Revisão da Literatura

2.1 CEQ

Inicialmente, destaca-se conforme Montgomery e Runger (2003) que CEQ pode ser definido como “métodos estatísticos e de engenharia” que são utilizados em processos de

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medição, monitorização, controle e melhoria da qualidade.

Já, para Toledo, Batalha e Amaral (2000), CEQ está relacionado à área de desenvolvimento de ferramentas estatísticas de amostragem e de controle estatístico, orientadas para o controle da qualidade de processos, os quais se caracterizam como um enfoque preventivo centrado no acompanhamento e controle das variáveis que podem influir na qualidade final dos produtos.

Werkema (2006) destaca que para se estabelecer as características da qualidade de um produto ou serviço, torna-se necessário garantir a satisfação dos clientes, ou seja, é preciso transformar as características dos produtos, em grandezas mensuráveis, as quais são denominadas itens de controle, que medem a qualidade intrínseca, vindo a caracterizar a importância do CEQ.

2.2 Ferramentas da Qualidade

Mariani, Pizzinatto e Farah (2005) enfatizam que na área de CEQ para se tomar decisões, bem como para controlar processos com maior precisão, busca-se trabalhar com base em fatos e dados, ou seja, elimina-se o empirismo. Para tanto, utiliza-se como instrumentos de apoio, técnicas específicas e eficazes, denominadas “ferramentas da qualidade”, as quais são capazes de proporcionar a coleta, os procedimentos e a disposição clara das informações disponíveis, ou dados relacionados aos processos gerenciados, dentro das organizações.

Montgomery e Runger (2003) complementam que o uso das “ferramentas da qualidade” (histograma, gráfico de pareto, diagrama de causa-efeito, gráfico de controle, diagrama de dispersão etc) é importante para aplicações relacionadas ao estudo técnico do controle estatístico de processo, a melhoria contínua na qualidade e, a produtividade por meio da redução sistemática da variabilidade.

Para Alves, Mattioda e Cardoso (2009) as ferramentas da qualidade são dispositivos gráficos, numéricos e analíticos estruturados para viabilizar a implantação da qualidade total, sendo que, normalmente, cada ferramenta se dispõe a uma área específica. Ainda acrescentam que esses instrumentos promovem a busca da melhoria contínua, permitindo a análise de problemas e a busca de soluções. Além disso, destacam algumas das principais ferramentas da qualidade utilizadas pelas empresas: Fluxograma; Lista de Verificação; Histograma; Gráfico/Diagrama de Pareto; Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa); Diagrama de Dispersão; Gráficos de Controle etc.

Acrescente-se que com o passar dos anos percebe-se inúmeras ferramentas relacionadas a qualidade sendo desenvolvidas, contudo, tem-se na literatura uma classificação que apresenta aquelas consideradas “ 7 clássicas da qualidade”, a saber: Cartas de Controle; Folhas de Verificação; Diagrama de Pareto; Histograma; Diagrama de Dispersão (ou gráficos de dispersão); Fluxograma e Diagrama de Causa-Efeito (ou Espinha de Peixe ou Diagrama de Ishikawa).

Já, a partir da Mizuno (1993), é possível identificar outra classificação, denominada “7 novas ferramentas de controle da qualidade”, que são: Diagrama de Relações; Método KJ (Diagrama de Afinidade); Diagrama Sistemático; Diagrama Matriz; Análise dos dados da matriz; Gráfico do programa do processo de decisão (PDPC) e Diagrama de seta.

Ressalte-se que é possível identificar inúmeras outras ferramentas no mercado, utilizadas pelas empresas para solucionar problemas relacionados à qualidade, definidas como “de qualidade”, “gerenciais”, “estatísticas” ou “organizacionais”, como por exemplo:

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Brainstorming; 5W2H; Cinco Porquês; Metodologia 8D; Diagrama em Árvore; Matriz GUT; Metodologia de Análise e Solução de Problemas (MASP); Diagrama SIPOC; Árvore de Decisão; FMEA etc.

2.3 FMEA

Para Sakurada (2001), FMEA pode ser definida como uma técnica analítica, estruturada e lógica que tem por objetivo assegurar que nos limites pré-estabelecidos, os modos potenciais de falha, suas causas e seus efeitos associados, sejam considerados no projeto de um produto, sistema ou processo.

Stamatis (1995) acrescenta que FMEA, caracteriza-se por ser uma metodologia de engenharia que realiza uma análise “bottom-up”, ou seja, de baixo para cima, que auxilia na identificação de falhas potenciais e/ou existentes em um sistema, produto, processo ou serviço, e na identificação de processos de risco. Ainda conforme o referido autor, o FMEA provê um método sistemático de identificar as possibilidades que uma falha pode ocorrer antes de atingir o cliente, bem como permite implementar ações para confiabilizar os processos.

Convém ressaltar de acordo a Helman e Andery (1995) que um bom gerenciamento em processos e sistemas, garante a execução daquilo que foi planejado (atendendendo as expectativas dos clientes) em relação a um produto ou serviço. Os referidos autores colocam ainda que o FMEA permite uma avaliação sistemática e padronizada de falhas potenciais, fornecendo “critérios de risco” para a priorização de ações gerenciais que oportunizam atenuar os riscos identificados, uma vez que oferecem a hierarquização de causa das falhas, diretamente relacionadas à sua importância e risco, estabelecendo parâmetros que orientam as medidas preventivas ou corretivas.

Stamatis (1995) complementa que a análise final de um FMEA, caracteriza-se pela identificação das falhas, resultando em ações corretivas, classificadas de acordo com sua criticidade, para eliminar ou compensar os modos de falhas e seus efeitos, sendo que para cada falha é realizada uma estimativa do efeito total da severidade, da ocorrência e da detecção associada em cada sistema analisado.

Quanto ao desenvolvimento de um FMEA, Stamatis (1995), destaca que é possível considerar duas etapas essenciais, sendo uma de planejamento, e outra de execução. Especificamente para o planejamento, deve-se definir e detalhar todas as necessidades que assegurem o êxito na aplicação da ferramenta, como por exemplo: definição da equipe, do material de apoio, de reuniões, de treinamentos, da seleção do formulário FMEA etc. Já, para a execução, deve-se considerar outras recomendações relacionadas à condução e desenvolvimento de atividades, a saber: descrição de componentes; identificação dos modos e falhas; identificação dos efeitos de falha; identificação das causas de falha; definição de severidade e ocorrência; definição de ações corretivas e análise funcional.

Observe-se de acordo a Costa (2007) que a análise de falhas pode ser realizada através da análise qualitativa ou quantitativa, a saber: (i) análise qualitativa - considera dados históricos para realizar a análise de dados de ocorrências similares, bem como também pode ser considerada para dados relacionados a garantia de reclamações do cliente, e de toda informação pertinente disponível para definição das falhas; (ii) análise quantitativa - considera dados de taxa de falhas para calcular números de criticidade, sendo que utiliza-se de inferências estatísticas, modelagem matemática, simulações e engenharia da confiabilidade (para identificar e definir as falhas).

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Ainda de acordo a Costa (2007), a falha é classificada a partir da criticidade de seus efeitos e de sua probabilidade de ocorrência, sendo o ponto crítico enfocado a partir da causa na direção do efeito. Dessa forma, determina-se através da análise do modo de falha, o efeito de cada falha e identificam-se os pontos críticos. Logo, tem-se a análise dos modos, efeitos e criticidade da falha (FMECA) que é resultado do FMEA e da “Criticality Analysis” (CA). Ressalte-se que a análise de criticidade é realizada por meio do índice “Risk Priority Number” (NPR), que estima o risco relacionado às falhas ocorridas, bem como é obtido pelo produto de outros três índices, a saber: “Severidade”, “Ocorrência” e “Detecção”.

Conforme Stamatis (1995) ao se realizar uma análise FMEA/FMECA deve-se buscar: identificar os modos de falhas conhecidos e potenciais; identificar as causas e os efeitos de cada modo de falha; priorizar os modos de falha identificados de acordo com o NPR. Além disso, torna-se essencial manter o FMEA atualizado, a partir das seguintes condições: (i) um novo ciclo é iniciado (produto novo/processo); (ii) mudanças são realizadas às condições de funcionamento; (iii) mudanças são realizadas no projeto; (iv) novos regulamentos são instituídos; (v) clientes exigem melhorias a partir da identificação de problemas.

3. Métodos e Técnicas

O presente artigo caracteriza-se por ser um estudo de caso, que conforme Gil (1999) tem por característica principal apresentar a análise profunda e exaustiva de uma, ou poucas questões, visando permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Neste contexto, observa-se que a pesquisa caracteriza-se por apresentar as particularidades de uma aplicação FMEA, em uma empresa específica, ou seja, na Chapemec.

Além disso, torna-se importante destacar que o artigo também pode ser classificado como descritivo (quando se propõem a descrever a aplicação FMEA, na empresa considerada), uma vez que procura referir-se sistematicamente a uma área de interesse, ou fenômeno (LAKATOS; MARCONI, 2001).

Também, pode ser definido como exploratório, por procurar em sua fase inicial entender um fenômeno (como se dá a aplicação de FMEA em uma empresa metalúrgica) para depois explicar suas causas e consequências (GIL, 1999).

Adicionalmente, observe-se que o estudo também é classificado como qualitativo, onde de acordo a Mattar (1999), identifica a presença ou ausência de algo, não tendo a preocupação de medir o grau em que algo está presente, ou seja, inicialmente buscou-se apenas caracterizar CEQ, Ferramentas da Qualidade e FMEA utilizando-se da pesquisa bibliográfica, para em um segundo momento, coletar as informações necessárias na Chapemec, através de pesquisa documental, relatórios, observação participante, entrevistas não estruturadas e reuniões, não tendo a preocupação de quantificar as referidas informações consideradas para o desenvolvimento do artigo.

4. Resultados e discussões

4.1. Caracterização da empresa

A empresa pesquisada, Chapemec, está situada na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, possui aproximadamente 130 colaboradores e atua no mercado agrícola, rodoviário, florestal e de movimentação de cargas. Dentre seus principais clientes, pode-se destacar: AGCO Group; John Deere; Terex Roadbuilding; Ciber; Madal Palfinger e Saur.

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A Chapemec iniciou suas atividades em 1979, atuando inicialmente como prestadora de serviços na área de chapeamento, mecânica e elétrica para veículos automores. Em 1980, direcionou suas atividades para a área de chapeamento de utilitários Pick-Ups. Já, de 1980 a 1985, redefiniu seu foco de atuação, especializando-se na personalização e instalação de acessórios em veículos automotores.

Em meados de 1985, a empresa montou os primeiros protótipos de cabine dupla em “Camionetas F1000”. A partir de junho de 1986, passou a desenvolver cabines duplas em série para “Pick-Ups nacionais”. Convém destacar que houve também a aquisição de novas máquinas, entre elas, uma laminadora de fibra de vidro pelo processo “Spray-Up”, bem como novos produtos foram desenvolvidos, dos quais se pode destacar: capotas; capôs; grades; painéis; tampões marítimos; aerofólios; consoles etc.

No ano de 2006, com o propósito da ampliação do portfólio de produtos, bem como para atender a sua demanda de manufatura, a empresa adquiriu a “Metal Master”, empresa especializada em corte e conformação de chapas, que foi fundada em julho de 1994, a partir do processo de terceirização desencadeado pela então IOCHPE-MAXION (hoje AGCO do Brasil).

Dessa forma, a Chapemec foi reestruturada, recebendo investimentos significativos, direcionados a ampliação da planta, máquinas e infraestrutura, contudo, sempre priorizando a qualidade no desenvolvimento de produtos, bem como em seu sistema de gestão. Evidencie-se que das inúmeras atividades, ações e/ou ferramentas utilizadas pela empresa para aprimorar o desenvolvimento de seus produtos, destaca-se a utilização da ferramenta FMEA, foco do presente artigo. Sendo assim, a seguir apresenta-se a aplicação FMEA na empresa pesquisada.

4.2. Aplição FMEA na empresa pesquisada

4.2.1.Item considerado

A partir da Figura 1 é possível identificar o item considerado para aplicação FMEA na empresa pesquisa. O item carateriza-se como suporte do Filtro, é utilizado em equipamentos agricolas, mais especificamente tratores de médio e grande porte. Utilizado para a fixação do filtro de óleo no chassi do equipamento.

FIGURA 1 – Item considerado na aplicação FMEA. Fonte: Empresa pesquisada.

Com base na Figura 2 é possível identificar o detalhamento do item considerado na aplicação FMEA, na empresa pesquisa. O item é constituido por dois componentes, sendo eles, ambos produzidos de chapa “NBR6656 LNE38”, que se caracteriza por ser uma chapa estrutural de boa conformabilidade e soldabilidade.

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Para sua produção são utilizados os processos de recebimento do material, corte laser, conformação, soldagem, pintura e expedição. Como principais processos, podemos destacar a conformação e a soldagem, devido a sua grande importância, pois um irá permitir uma boa montagem entre os componentes, e outro uma união segura para que o conjunto desempenhe sua função.

FIGURA 2 – Detalhamento do item considerado na aplicação FMEA. Fonte: Empresa pesquisada.

4.2.2.Detalhamento da aplicação FMEA

Neste subitem, inicialmente, evidencia-se que o processo de aplicação FMEA, completo, é composto pelas seguintes etapas: recebimento de matéria-prima; corte; laser; dobra; solda; preparação de superfície; pintura; inspeção final e expedição. Contudo, para efeito de análise, no presente artigo, pelo motivo de a aplicação FMEA, na íntegra, ser muito extensa, e pelo fato das “normas Seprosul”, limitarem o número de páginas, serão consideradas apenas as seguintes etapas para apresentação da aplicação proposta: corte laser; dobra; solda e inspeção final.

Além disso, antes de apresentar a aplicação propriamente dita, convém destacar alguns conceitos relacionados:

(i) Falha potencial - é definida como a forma pela qual a falha pode ocorrer, descrita de forma específica e objetiva;

(ii) Efeito da falha potencial - é definido como o efeito do modo de falha no cliente. Neste contexto, o cliente pode ser a próxima operação, operações posteriores, revendedor e/ou usuário final. Cada cliente deve ser considerado na avaliação do efeito potencial de uma falha;

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(iii) Severdidade - é uma avaliação da gravidade do efeito do modo de falha potencial (listado na coluna anterior) para o cliente. A severidade se aplica somente ao efeito. Na avaliação da severidade o cliente deve ser consultado. A Figura 3 apresenta os critérios de ponderação para severidade do efeito do item análisado;

(iv) Ocorrência - é a probabilidade de uma causa específica vir a ocorrer. A ponderação da ocorrência tem um significado mais importante que apenas seu valor. Apenas a ocorrência referente ao modo de falha deve ser considerada nesta ponderação. Deve-se utilizar um sistema de ponderação que assegure consistência. Na Figura 4 pode-se observar os critérios para a probabilidade da ocorrência, no item avaliado, a partir da empresa pesquisada;

(v) Controle atual do processo - são descrições dos controles que podem detectar ou prevenir a ocorrência do modo de falha. Estes controles podem ser pelo CEP ou por verificações após o processo. A avaliação pode ocorrer na própria operação, ou em operações posteriores que possam detectar o modo de falha desta operação;

(vi) Número de prioridade de risco (NPR) - é uma medida do risco do processo. Para NPRs altos o grupo deve concentrar esforços a fim de reduzir o risco, através de medidas preventivas. De modo geral, deve ser dada atenção especial quando os valores individuais de severidade, ocorrência e detecção forem altos, independente do “NPR” resultante;

(vii) O objetivo das ações recomendadas é reduzir a ponderação da ocorrência ou da detecção. Se, por exemplo, mecanismos/causas de falha, múltiplos ou interativos estão presentes, uma ação recomendada pode ser um projeto de experimentos.

FIGURA 3 – Critérios de ponderação para Severidade do Efeito. Fonte: Empresa pesquisada.

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FIGURA 4 – Critérios de ponderação para probabilidade da ocorrência. Fonte: Empresa pesquisada.

A partir da Figura 5, demonstra-se a aplicação da ferramenta FMEA proposta, onde se pode observar as etapas consideradas no estudo.

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FIGURA 5 – Aplicação da ferramenta FMEA. Fonte: Empresa pesquisada.

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4.3. Particularidades da aplição FMEA na empresa

Em face da aplicação apresentada, na empresa pesquisada, destaque-se em primeiro momento que é possível identificar a sistematização das atividades necessárias para a utilização da ferramenta FMEA, de forma adequada, em uma situação real, conforme proposta do artigo. Além disso, a partir das atividades de pesquisa realizadas, permite-se fazer algumas considerações específicas acerca da aplicação FMEA:

(i) o FMEA, é considerado uma uma técnica analítica, utilizada para o controle dos produtos/processos, com a finalidade de assegurar que, os modos de falha potenciais e suas causas sejam avaliados, considerados e solucionados;

(ii) o FMEA, também pode ser considerado uma ferramenta de síntese de reflexões dos grupos de trabalho, durante o desenvolvimento de um processo/produto, uma vez que sistematiza e organiza as ações e procedimentos de forma apropriada;

(iii) através da utilização constante da ferramenta FMEA, é possível desenvolver um banco de dados, que oferece a partir das análises dos itens, com base em experiências passadas (problemas e falhas anteriores) aqueles com maior potencial de falhar, bem como as eventuais soluções;

(iv) essa abordagem sistemática (FMEA) acompanha, formaliza e documenta as idéias, bem como o desenvolvimento de produtos/processos, minimizando ou excluindo os erros de produção;

(v) pelo fato de minimizar ou excluir falhas potenciais nos projetos, para a Chapemec e seus clientes, consolidou-se maior confiabilidade entre as partes;

(vi) além de caracterizar-se como uma ferramenta muito útil e eficaz para antecipação de possíveis falhas/problemas no desenvolvimento de projetos da empresa, quando utilizada em conjunto de outras ferramentas da qualidade, tornou-se ainda mais efetiva;

(vii) em situações específicas, permitiu a Chapemec priorizar atenção a componentes especiais, tanto relacionados no âmbito de desenvolvimento de produto/processos, ou mesmo nas etapas de montagem;

(viii) o FMEA, caracterizou-se como um grande facilitador no desenvolvimento das atividades voltadas ao processo produtivo, uma vez que permitiu previnir falhas potenciais que poderiam ocorrer ao longo dos projetos, assim, garantindo um aumento de produtividade, bem como apresentando uma melhor qualidade no desenvolvimento dos produtos/processos;

(ix) também, se evidencie que para melhor aproveitamento da ferramenta FMEA é necessário ter o empenho de todos que compõem a equipe multifuncional (colaboradores que possuem experiência nas áreas a serem analisadas pelo FMEA);

(x) quanto ao seu planejamento, deve-se registrar que a ferramenta FMEA deve ser estruturada sempre com o viés “preventivo”, com o objetivo de levantar todas as possíves falhas que poderão ocorrer durante o processo produtivo;

(xi) possibilitou o desenvolmento do espírito de equipe entre os colaboradores, uma vez que passaram a desvolver ações em conjunto, e perceberam que obtiveram índices de acerto e produtividade mais elavados, com base na utilização da ferramenta FMEA;

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(xii) a ferramenta FMEA não pode ser considerada um evento isolado na empresa, e sim, um compromisso de longo prazo, que complementa o desenvolvimento de produtos/processos/projetos, garantindo a redução ou eliminação de falhas potenciais das atividades relacionadas.

5. Conclusões

A partir das atividades de pesquisa realizadas, inicialmente, permite-se afirmar que o objetivo do artigo foi atingido, uma vez que foi possível apresentar as particularidades de aplicação da ferramenta FMEA na empresa considerada (Chapemec), conforme escopo do artigo. Complementarmente, ressalte-se que foi possível apresentar uma proposta de sistematização, de procedimentos necessários para a utilização da ferramenta FMEA, de forma adequada, em uma situação real.

Além disso, torna-se importante evidenciar que a ferramenta FMEA, a partir dos benefícios que apresenta à Chapemec, contribui de forma significativa para a manutenção dos padrões de qualidade estabelecidos pela empresa, ou seja, tem papel importante no sentido de aumentar a competitividade da empresa no mercado.

Também, permite-se afirmar que o FMEA, além de ser considerado uma técnica analítica, utilizada para o controle dos produtos/processos/projetos, com a finalidade de assegurar que os modos de falha potenciais e suas causas sejam avaliados, considerados e solucionados, pode ser considerada uma ferramenta de síntese de reflexões dos grupos de trabalho, durante o desenvolvimento de projetos, pelo fato de sistematizar e organizar as ações e procedimentos empresariais relacionados, de maneira apropriada.

Outra questão que merece ser destacada, a partir da aplicação na empresa, é que o FMEA através de sua utilização constante, ou seja, fazendo parte da cultura organizacional de uma empresa, como é o caso da Chapemec, permite desenvolver um banco de dados, com base em experiências anteriores, relacionadas a problemas/falhas de casos significativos do passado, que como consequência imediata, permitem antecipar eventuais soluções.

Evidencie-se ainda que o FMEA apresenta um viés “preventivo”, com o objetivo de antecipar todas as possíves falhas que poderão ocorrer durante o processo produtivo, contudo, para se ter um melhor aproveitamento dessa ferramenta, o empenho de todos colaboradores que compõem a equipe multifuncional é fundamental.

Finalmente, saliente-se que a ferramenta FMEA não pode ser tratada como um evento isolado na empresa, mas sim, como um compromisso de longo prazo, que envolva todos os colaboradores, equipe multifuncional e a alta direção, para só dessa forma, atender seu propósito, ou seja, garantir a redução ou eliminação de falhas potenciais das atividades relacionadas aos produtos, processos ou projetos.

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