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ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DO MURIQUI-DO-NORTE (Brachyteles hypoxanthus Kuhl, 1820) NUM FRAGMENTO FLORESTAL EM SANTA MARIA DE JETIB, ESPRITO SANTO, BRASILBruna N. Sepulcri, Camila M. Sena, Denise A. Manhani, Isabelly T. C. Duque, Larissa H. Potratz & Polyanne A. Santos

RESUMO Nos remanescentes florestais da Regio Serrana do Esprito Santo, na cidade de Santa Maria de Jetib foram encontrados alguns grupos com o desenvolvimento do Projeto Muriqui que iniciou no ano de 2002. Assim, ainda possvel encontrar grupos de muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), maior macaco das Amricas e endmico da mata atlntica. Nesse trabalho foi proposto anlise ecolgica de um grupo de muriquis num fragmento de 120 hectares, dando nfase a ecologia comportamental e interaes ecolgicas. Para isso, dados comportamentais foram coletados por meio da tcnica do "all occurrence sampling, ou seja, amostragem de comportamento vontade, ad libitum, num perodo de 10 dias, contabilizando 120 horas/campo, observando um grupo composto por 13 indivduos, sendo 7 macho e 6 fmeas em faixas etrias diferentes. Aps a coleta de dados, pde-se perceber diferenas atividades sendo comportamentais, presenciadas alm de interaes uma com sociais o e interespecficas, duas delas, Arapau

(Xiphorhynchus sp.) e outra Jupar (Poto flavus). Os resultados do presente trabalho, indicam uma possvel extino dos indivduos, uma vez, que no h fluxo migratrio de fmeas para reproduo j que se encontram isolados, o que ressalta a importncia de medidas de conservao como a implantao de corredores ecolgicos que interliguem outras populaes. Palavras-chave: muriqui-do-norte; ecologia comportamental; interaes ecolgicas. 1. INTRODUO

O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) o maior primata neotropical, no humano, e est entre os 25 primatas mais ameaados do mundo. Estima-se que sobrevivam nos dias atuais aproximadamente 855 indivduos, em fragmentos isolados da Mata Atlntica no leste de Minas Gerais, sul da Bahia e na regio serrana do Esprito Santo (MENDES et. al, 2005). Neste estudo, analisamos os aspectos ecolgicos do muriqui-do-norte, bem como ecologia comportamental e interaes ecolgicas num fragmento de Mata Atlntica,

o grupo de estudo do fragmento possui 13 indivduos, sendo 7 machos e 6 fmeas com faixa etrias diferentes. E o estudo da ecologia dessa espcie foi engajado no entendimento de diversas ordens comportamentais, sendo elas: repouso, alimentao e deslocamento. Alm, da anlise das interaes inter e intra especficas que so muito comuns entre eles, pois vivem em grupo. A fim de conhecer os aspectos ecolgicos do B. hypoxanthus, tal trabalho ter os seguintes propsitos: - Categorizar a ecologia comportamental do grupo de muriqui-do-norte; - Verificar a existncias de interaes ecolgicas. 2. 2.1. MATERIAL E MTODOS ESPCIE DE ESTUDO

O muriqui pertence a famlia Atelidae, que composta por 5 gneros: Alouatta, Lagotrix, Ateles, Oreonax e Brachyteles. O gnero do Brachyteles composto por apenas duas espcies, o muriqui-do-norte (B. hypoxanthus) e o muriqui-do-sul (B. arachnoides). A distribuio histrica do muriqui-do-norte abrange os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo e no sul da Bahia (AGUIRRE, 1971). Devido devastao de seus habitats se adaptaram a viver em ambientes de mata secundarias, mas h uma necessidade de grandes extenses de mata para a sobrevivncia de populaes viveis (FONSECA, apud VIEIRA et. al, 2009). O muriqui-do-norte est criticamente ameaado de extino, segundo a lista de espcies ameaadas do Ministrio do Meio Ambiente (MMA; IUCN, apud VIEIRA et. al, 2009), estima-se que exista aproximadamente 855 indivduos na natureza atualmente, distribudos em 12 localidades. Tendo sua ocorrncia restrita Mata Atlntica, a qual foi reduzida a menos e 9% de sua extenso original (MYERS et al., apud VIEIRA et. al, 2009). Suas populaes se encontram ameaadas pela destruio e fragmentao do habitat e tambm pela atividade de caa ilegal (MITTERMEIER et al., apud VIEIRA et. al, 2009. O B. hypoxanthus um primata diurno e arborcola, que possui um grande tamanho corporal, podendo pesar ate 15 kg quando adultos (AGUIRRE, 1971). A espcie alimenta-se principalmente de folhas e frutos durante o ano, ha um consumo de

outros itens alimentares como flores, sementes, entre outros (STRIER, apud VIEIRA et. al, 2009). As fmeas dispersam rotineiramente de seus grupos natais quando adolescentes entre cinco e sete anos de idade antes de se tornarem ativas sexualmente, esse comportamento principalmente devido a reproduo, por esse motivo muitos esforos tem sido feitos para a preservao de matas onde ainda encontra-se grupos de muriquis (VIEIRA, et. al, 2009). J os machos da espcie B. hypoxanthus so filoptricos, ou seja, ficam no grupo que nascem. A estao reprodutiva varia de agosto a fevereiro com perodo de gestao de 7,2 meses. Devido ao cuidado parental da fmea a mesma tem filhote a cada trs anos, sendo apenas um filhote por gestao. Nos primeiros 6 meses os filhotes se alimentam basicamente de leite e segundo SOUZA , o perodo do cuidado maternal pode possuir uma variao individual, sendo assim, mes podem diferir no tempo do cuidado da prole. 2.2. CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

A rea de estudo est localizada num fragmento florestal da propriedade do Sr. Paulo Seick na cidade de Santa Maria de Jetib, no estado do Esprito Santo (40 42 36W / 20 1 12S) (Figura 01). O fragmento possui 120 hectares, esse fragmento encontra-se totalmente isolado de outros fragmentos vizinho, com vegetao predominante da Mata Atlntica, e classificada como Floresta Tropical Sub-montana Ombrfila Densa. Constata-se um relevo ondulado, com topos de morro com 790 m de altitude, predominando Latossolos, enquanto os fundos de vale apresentam 680 m(TEIXEIRA, 2006). As temperaturas so freqentemente amenas e o relevo acidentado, sendo fortemente influenciadas pelo intenso regime de chuvas e sistema de drenagem, proporcionando uma alta capacidade de recomposio vegetativa as florestas da regio (IPES, apud TEIXEIRA, 2006).

Figura 01: rea de estudo com trilhas. 2.3. GRUPO DE ESTUDO

O grupo de muriqui-do-norte estudado, formado por 13 indivduos, sendo 2 machos adultos, 3 fmeas adultas e 10 indivduos divididos entre jovens e infantes de ambos os sexos (Figura 02). Este grupo monitorando desde 2002 por pesquisadores do Projeto Muriqui, e foi acompanhado por ns nesse estudo no perodo de setembro a novembro de 2009. O reconhecimento dos indivduos desse grupo deu-se atravs de despigmentaes na cara, cor da pele e formas do rosto. Essas caractersticas possuem variaes individuais, o que permite a identificao de cada membro do grupo.

Estela Adulta

Eduardo 9 anos

Ennio 6 anos Sara Adulta

Estrela 3 anos

Samir 8 anos

Sick 5 anos

Mnica Adulta

Michele 8 anos

Mona 5 anos

Manso 2 anos

Machos Adultos do Grupo

Marcos

Alfredo

Figura 02: Heredrograma do grupo de estudo. 2.4. COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada durante 10 dias no perodo de setembro a novembro de 2009, entre 6h00 18h00, contabilizando 120 horas/campo, o que abrange o perodo do padro de atividades dos muriquis-do-norte. O mtodo empregado para a coleta de dados foi o "all occurrence sampling, amostragem de comportamento vontade, onde foi registrado tudo que observamos, pois almejamos registros de comportamentos fortuitos (Del - Claro, 2004). Foram observados o habitat, uso do substrato e interaes ecolgicas do grupo com o auxlio do binculo, e registrados em cadernetas de campo e cmeras fotogrficas. Dados comportamentais foram categorizados segundo a Tabela 01:

DESLOCAMENTO

LONGO CURTO

ATIVIDADES

ALIMENTAO REPOUSO SOCIAIS

Tabela 01: Dados comportamentais coletados. 3. 3.1. RESULTADOS Ecologia Comportamental

Durante o perodo amostral observado pudemos perceber vrias atividades comportamentais. O muriqui da inicio a suas atividades logo pela manh, o horrio varia de acordo o perodo do ano (estao seca e chuvosa). Atravs da tcnica "all occurrence sampling foram observadas, oportunisticamente, comportamentos de um ou mais indivduos em diferentes atividades (MENDES, F. (1990; SOUZA, 2007), tais como:

Alimentao: mordendo, mastigando, manipulando, segurando, carregando com a boca um item alimentar folha, fruto, flor, talo ou broto de uma espcie vegetal (Figura 03);

Beber: introduzindo a mo em formato de concha ou colocando a cabea dentro de uma bromlia contendo gua e sugando a parte posterior da mo; Repouso: deitados, sentados, sem mudanas posturais que caracterizem a locomoo, e sem est relacionada a alimentao (Figura 04); Deslocamento: locomovendo sem carregar item alimentar, e se movimenta de modo a transportar o seu corpo por uma distncia maior que o seu comprimento (cabea-cauda), podendo ser curto ou longo.

Sociais: interaes intra especficas entre o grupo: o Brincadeira: atividade realizada por dois ou mais indivduos; o Inspeo: quando o individuo pega, cheira ou lambe a genitlia de outra fmea; o Ponte: uso do corpo da me como meio de travessia entre rvores vizinhas para o infante ou jovem.

Figura 03: Muriqui manipulando e mordendo um item alimentar Taquara

Figura 04: Grupo de muriquis em repouso.

3.2.

Interaes Ecolgicas

As interaes ecolgicas so comuns entre o grupo de muriqui-do-norte, desde interaes sociais a interaes interespecficas. No perodo amostral, foram presenciadas duas interaes interespecficas, uma com o Arapau (Xiphorhynchus sp.) (Figura 05) e outra com um Jupar (Poto flavus) (Figura 06). O Xiphorhynchus sp., tem sido visto na Estao Biolgica de Caratinga inspecionando as genitlias dos muriquis, isto , bicando, tal fato ainda no explicado pela comunidade cientfica intrigante, todavia que no se sabe qual tipo de interao interespecfica ocorre entre tal Passeriformes e o B. hypoxanthus. O Arapau foi avistado junto ao grupo de muriquis que repousavam em uma Embaba (Cecropia sp.), tal passro circundava o grupo em repouso e pousava prximo, acompanhou o grupo at o fim da tarde, mas no avistamos o mesmo bicando ou mesmo sendo enchotado pelos muriquis. A interao interespcifica agonstica, ocorreu entre um macho sub-adulto e um Jupar, onde observamos um comportamento de ameaa, visto que o grupo repousava, e o macho utilizou de latidos e outras vocalizaes para intimidar o P. flavus, tambm quebrou galhos, defecou e se pendurou pela cauda soltando os braos para a frente. Desse modo estas observaes esto de acordo com com as descries prvias de Mendes, F. (1990).

Figura 05: Arapau (Xiphorhynchus sp.)

Figura 06: Jupar (Poto flavus) 4. DISCUSSO E CONSIDERAES FINAIS

A estrutura social de primatas pode ser avaliada diante de relaes ecolgicas e comportamentais. Os resultados do presente trabalho indicam que o grupo que habita o fragmento florestal de Santa Maria de Jetib poder se extinguir, uma vez que o fragmento est isolado e no h fluxo migratrio de fmeas para reproduo. A Estela (Indivduo adulto), apresenta alteraes morfolgicas dedo indicador grande, e tal caracterstica estendeu-se aos seus filhotes, este caso pode ser um

indcio do baixo fluxo gentico na populao, ou seja, frutos de possveis endogamia. Mas a populao de muriquis desse fragmento tem um hapltipo nico, o que constata uma alta diversidade gentica, mesmo estando isolada (FAGUNDES et. al, 2008). O que demonstra que esse fragmento est conectado as demais populaes por um baixo fluxo gnico. Medidas conservacionistas devem ser tomadas para garantir o sucesso evolutivo dessa populao, como a implantao de corredores ecolgicos que interliguem outras populaes, principalmente aumentar o fluxo de fmeas adultas nas estaes reprodutivas. 5. REFERNCIAS BIBLOGRFICAS

AGUIRRE, lvaro Coutinho. O mono Brachyteles arachnoides (E. Geoffroy): Situao atual das espcies no Brasil. Academia Brasileira de Cincias. Rio de Janeiro, 1971. DEL-CLARO, Kleber. Comportamento Animal: uma introduo a ecologia comportamental. Editora - Livraria Conceito. Jundia, 2004. FAGUNDES, Valria; PAES, Marcela F; CHAVES, Paulo B; MENDES, Srgio L; POSSAMAI, Carla de B; BOUBLI, Jean P; STRIER, Karen B. Genetic structure in two northern muriqui populations (Brachyteles hypoxanthus, Primates, Atelidae) as inferred from fecal DNA. Genet. Mol. Biol., vol. 31, no.1. So Paulo, 2008 MENDES, Francisco D. C. Afiliao e Hierarquia do Muriqui: o grupo Mato de Caratinga. Instituto de Psicologia, USP. So Paulo, 1990. MENDES, Srgio L., SANTOS, Rogrio R. & CARMO, Luciano P. Conserving the northern muriqui in Santa Maria de Jetib, Esprito Santo. Neotropical Primates 13(Suppl.), Dezembro 2005.

MOREIRA, Leandro S. Socioecologia de Muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) no Parque Estadual Serra do Brigadeiro, MG. Programa de P pos Graduao em Biologia Animal UFV. Viosa, 2008 MOURTH, talo M. da Costa. A ecologia do forrageamento do Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus Kuhl, 1820). Instituto de Cincias Biolgicas, UFMG. Belo Horizonte, 2006 SOUZA, Karynna T. Comportamento parental de Brachyteles hypoxanthus (kuhl 1820) (PRIMATES ATELIDAE) na Estao Biolgica de Caratinga MG. Programa de Ps Graduao em Zoologia, UFP. Curitiba, 2007. TEIXEIRA, Ricardo N. C. A importncia de remanescentes de Mata Atlntica na ocorrncia dos Muriquis (Brachyteles hypoxanthus E. Geoffroy) no Estado do Esprito Santo. Programa de Ps Graduao em Botnica, UFV. Viosa, 2006 VIEIRA, L. A. & et. al. Vivendo num mundo em pedaos: o Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) na rea de Influncia da Reserva Biolgica Augusto Ruschi, Santa Teresa, Esprito Santo. Associao de Produtores da rea de Influncia da Reserva Biolgica Augusto Ruschi. Santa Teresa, 2009.