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7/26/2019 ARTIGO Flavia Revista Da ESPM1
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Entrevistas
OS NOVOSCIENTISTAS
DO CONSUMOEles esto de olho em voc!
R E V I S T A D A E S P M A N O 2 1 E D I O 9 8 N 3 M A I O / J U N H O 2 0 1 5 R $ 2 8 , 0 0
ArtigosArtigos
Em busca dos cientistas
do consumoConsumo: proscrito ou prescrito?
A economia comportamental: umnovo olhar para o ser humano
Neurocincia do consumo:as fronteiras da pesquisa demercado e suas contribuiespara os mtodos tradicionaisde pesquisa
O virtual que se tornou real
A era da neurocincia:
entenda o crebrodo seu consumidor!
A plateia invadiu o pal
O consumo comlinguagem: aqu
e alm da satisfa
O marketing nunser uma cinc
Classe C... de contid
A vov no mavovozin
Responsabilidadsocioambiental e consum
O consumo qnos defi
Nem garantido, nem caprichosAndr Olivei
Caadores de emoJanana Brizante
Manuel Garcia-Garc
Mais do que produto, nvendemos ponto de vist
Andrea Salgueiro Cruz LimRede social: o futuro d
consumo passa por aquDaniel Mill
O binmio do consumJulio Ribei
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REVISTA DA ESPM
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P
ense sobre a ltima vez que voc decidiu
assinar uma revista ou jornal, inscrever-se
em uma academia, comprar um produto depoupana, plano de sade ou um simples
televisor. E quando tomou uma deciso pensando no
bem-estar do prximo, economizou gua ou simples-
mente respondeu a um favor?
Voc lembra o que pesou na sua deciso naquele
momento? Quanto tempo demorou para decidir? O que
acha que o influenciou bem ali?
Os economistas comportamentais (tambm chamados
de cientistas comportamentais) tm abraado o desafio
de propor uma nova forma de olhar para estas e muitas
outras perguntas, e buscado um entendimento mais
profundo das in fluncias comportamentais conscien-
tes e inconscientes que agem quando fazemos escolhas.
Mais ainda, como pequenas nuances em um contexto
podem alterar completamente o resultado at mesmo
de escolhas simples que tomamos no nosso dia a dia.
A economia comportamental prope uma viso mais
realista da natureza humana. Assim, a lm de fornecer
ferramentas poderosas para entender mais a fundo os
consumidores, vai mais longe ao investigar fatores como
bem-estar, o poder dos outros, altrusmo, reciprocidade,
pobreza, entre outros.
As suas pesquisas utilizam como ferramenta princi-pal experimentos controlados para observar o compor-
tamento do ser humano f rente s pequenas variaes
na forma pela qual uma escolha apresentada, ou em
seu contexto.
Para dar uma ideia mais clara do que seria um experi-
mento, vejamos um caso simples e interessante citado
pelo professor da Duke University, Dan Ariely, em seu
livroPrevisivelmente irracional(Editora Campus, 2008).Segundo o autor, a ideia surgiu quando ele notou que
a revista The Economistestava oferecendo trs opesde assinatura para clientes: uma assinatura digital da
revista por US$ 59; uma da revista impressa por US$ 125;
e um combo da assinatura digital e da revista impressa
por US$ 125. Afinal, por que a The Economistofereceriaa opo apenas com a revista impressa?
Para entender mais a fu ndo a estratgia, ele convo-
cou alguns estudantes do MIT para um experimento em
laboratrio. Separou aleatoriamente dois grupos. Para
o primeiro ofereceu a verso da prpria The Economistcom as trs opes (digital, impressa e combo). E para o
segundo grupo retirou a opo do meio, oferecendo ape-
nas a verso digital e o combo. O resultado foi impres-
sionante. No primeiro caso, 16% escolheram a opo
digital e 84% o combo. J no segundo exemplo, em que
se omitiu a opo do meio, 68% foram para a opo mais
barata da assinatura digita l e apenas 32% compradores
escolheram o combo.
Nos estudos de economia comportamental, muito
comum vermos desenhos simples como esse trazerem
resultados reveladores.
Nesse caso, por exemplo, as preferncias do indivduo
so alteradas de forma decisiva, apenas com a adio de
um novo produto, a assinatura exclusivamente da revistafsica. Extrapolando para diversos outros casos, o que
vemos que mesmo o indivduo preferindo o produto A
ao produto B, a adio de um produto C pode fazer com
que a ordem de preferncia mude completamente e ento
o produto B seja prefervel ao produto A.
Esse fenmeno acontece normalmente quando a ter-
ceira opo dominante de forma assimtrica. A melhor
Aeconomia comportamental:
um novo olhar para o ser humanoQual o diferencial que a economia comportamental e suas metodologias trazem para a mesa?Ainda pouco explorada no Brasil, essa rea est cada vez mais consolidada no exterior, comestudos que podem ajudar a melhorar as escolhas do ser humano nas mais diversas esferas
Por Flvia vila
CINCIA
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CINCIA
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que B em um atributo, mas no to bom em um segundo
atributo. E o produto C normalmente chamado de isca,
pois colocado apenas para deslocar as escolhas entre
as outras duas opes.
Como falamos antes, a economia comportamental vai
muito alm do uso para estratgias de marketing. Nos
ltimos anos, os seus estudos tm colecionado evidn-
cias empricas substanciais de que somos muito menos
racionais do que imaginamos, e que pequenas mudan-
as, ou at fatores imperceptveis a priori, pelo tomadorde deciso, frequentemente influenciam muito mais do
que aes custosas baseadas em incentivos financeiros
ou programas de conscientizao.
Assim, seja em um contexto de compra ou para pro-
mover mudanas positivas no dia a dia das pessoas
que podem gerar mais bem-estar, sade e tranquilidadefinanceira , os estudos da economia comportamental
movem o nosso olhar para detalhes antes desconsiderados.
Muitas vezes, pensamos em grandes solues quando
surge um problema ou quando criamos u m produto,
mas frequentemente vemos que os melhores resulta-
dos esto nos detalhes.
As pesquisas em economia comportamental tm
mostrado o enorme impacto que podem gerar pequenas
mudanas das mais diversas formas: no contexto em que
a escolha est inserida, na forma como ela apresentada,
evidenciando como os outros agem naquele contexto, se
fcil ou no tomar aquela deciso, se naquela circuns-
tncia mais confortvel se manter na opo padro
ou no status quo, enfatizando o poder do ponto de refe-rncia, dado que nossas escolhas so sempre relativas,
enquadrando a escolha como perda ou ganho, trazendo
a deciso para um momento que tentao ainda no est
na jogada, ou o contrrio, entre outros.Mais ainda, observa-se sistematicamente que as nos-
sas decises so muito menos deliberativas, lineares e
Um marco importante para a rea foi a escolha do psiclogo israelense Daniel Kahneman para receber o Prmio Nobelde Economia de 2002 por seus estudos que forneciam uma viso integrada da psicologia na economia
LATINSTOCK
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conscientes do que gostaramos de acreditar. Segundo
o professor Daniel Kahneman, podemos dividir a nossa
forma de pensar em dois sistemas: sistema 1 e sistema 2.
O sistema 1 um pensamento rpido e instintivo, sem
esforo, emocional, associativo, difcil de controlar. J
o sistema 2 consciente, exige raciocnio, lento, traba-
lhoso, usado para tarefas exigentes e complexas. O pon-
to-chave que a maioria das nossas decises so toma-
das pelo sistema 1. As pessoas evitam esforo cognitivo
e muitas vezes confiam em um julgamento plausvel que
rapidamente vem mente. O sistema 2 preguioso e
na maioria das vezes no entra na jogada.
Dessa forma, ao entender melhor como todos esses
fatores, muitas vezes ignorados, influenciam as nossas
escolhas, podem-se construir estratgias de marketing
mais efetivas, assim como produtos e aes que real-mente ajudam os indivduos a fazer as melhores esco-
lhas, maximizando o seu bem-estar.
Nesse contexto, surge a economia comportamental
e seus estudos experimentais para oferecer uma forma
diferente de olhar para os indivduos (e consumidores).
No h dvida de que muitos dos seus conceitos j tenham
sido aplicados h anos na rea de marketing e publicidade.
Porm suas metodologias e abordagem sistemtica trazem
novas perspectivas para a construo de estratgias mais
efetivas ao reunir diversos fatores cruciais que agem num
momento de deciso, em um mesmo campo de pesquisa.
Uma nova forma de observarA economia comportamental, em seu cerne, uma cin-
cia experimental, por isso muitas vezes somos chama-
dos de cientistas de jaleco branco, no muito diferente
daqueles que vemos manipulando vrios compostos
qumicos em um laboratrio.Experimentos nas cincias comportamentais podem
ser conduzidos em laboratrio, em campo (no mundo
Considerado um dos pais da economia comportamental, o economista Richard Thaler autor deNudge o empurropara a escolha certa(Editora Elsevier, 2008), um dos livros que so referncia no assunto
LATINSTOCK
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real), com ferramentas da neurocincia, entre outros.
Outras ferramentas, como surveyse big data, podemser usadas de forma complementar ou separadamente,
para enriquecer os dados e aumentar seu nvel de pre-ciso e alcance.
Em linhas gerais, em um experimento testam-se diver-
sos cenrios, simultaneamente, com indivduos escolhi-
dos de forma aleatria no grupo que se quer investigar.
Sempre que possvel, so utilizados grupos de controle
que no sofrem qualquer tipo de interveno.
Alm disso, usualmente manipula-se apenas uma vari-
vel, ou pouqussimas, entre os diferentes cenrios testados
com o objetivo de isolar o efeito que est sendo estudado.
Muitos so tambm incentivados financeiramente para
tornar a deciso o mais real possvel. Um bom experimento
requer um desenho e planejamento criterioso, assim como
a adoo de alguns protocolos no s no desenho, como
tambm na conduo e avaliao de resultados.
A ascenso da reaNas ltimas duas dcadas, a economia comportamen-
tal e suas aplicaes empricas tm vivido seu auge,
ganhando cada dia mais destaque, tanto no meio aca-
dmico quanto em reas como marketing, sustentabi-
lidade e polticas pblicas.
Apesar de os primeiros estudos sobre o que atual-
mente chamamos de economia comportamental teremsurgido na segunda metade do sculo 20 e continuarem
a ser amplamente analisados at hoje, vrios fatores tm
contribudo para a ascenso dessa rea.
Um marco importante para a rea foi a escolha do psi-
clogo israelense Daniel Kahneman para receber, ao
lado do economista Vernon Smith, o Prmio Nobel de
Economia de 2002 por seus estudos que forneciam uma
viso integrada da psicologia na economia e utilizavam
uma abordagem experimental. Tambm importante
foi a premiao de Vernon Smith por consolida r o uso
de experimentos em laboratrio como ferramenta paraestudos empricos em economia, principalmente para
mercados e leiles.
Outro divisor de guas foi o lanamento de livros did-
ticos e acessveis sobre os estudos da rea, que alcana-
ram rapidamente as listas de mais vendidos. Encabeam
a lista:Rpido e devagar duas formas de pensar(EditoraObjetiva, 2012), escrito pelo prprio Kahneman, que pode
ser considerado uma das grandes referncias que temos
atualmente sobre o assunto;Nudge o empur ro paraa escolha certa(Editora Elsevier, 2008), do economistaRichard Thaler, da University of Chicago (considerado
tambm um dos pais da economia comportamental)
e do advogado Cass Sunstein, da Harvard Law School;
ePrevisivelmente irracional(Editora Elsevier, 2008), deDan Ariely, professor da Duke University, que com
uma abordagem divertida e irreverente foi a porta de
entrada para muitos leigos e amantes da rea, tanto no
mundo dos negcios quanto em reas no diretamente
relacionadas.
Assim, nos ltimos anos, comeamos a vivenciar aconsolidao da rea internacionalmente. Um exemplo
foi o World Development Report 2015, do Banco Mundial,intituladoMind, Society and Behavior, que foi totalmentededicado economia comportamental e experimental em
pases em desenvolvimento. Outro exemplo foi a dimenso
que oBehavioural Insights Team (BIT) fundado em 2010na Inglaterra e ligado diretamente ao governo tomou ao
propagar o uso de experimentos nas polticas pblicas.
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Dinmica que serviu de inspirao para a fundao de
diversos grupos de pesquisa similares em todo o mundo.
J na rea de negcios, renomadas consultorias e
agncias de publicidade tm adotado, publicamente,
seus conceitos e ferramentas. Novas consultorias espe-
cializadas so criadas a todo instante. E grandes empre-
sas tm investido em reas exclusivamente com essefoco. Alm disso, atualmente, as principais universi-
dades do mundo oferecem programas especficos de
economia comportamental, diversos laboratrios de
pesquisa foram criados em grandes centros. Observa-
se uma exploso de papers em peridicos renomados,
e suas teorias esto em rpida evoluo.
No entanto, nem tudo so flores... A rea ainda apre-
senta grandes desafios a serem superados. Transformar
resultados rigidamente controlados em solues apli-
cveis no mundo real nem sempre fcil. Um debate
sempre presente se resultados de experimentos em
laboratrio, ou em campo, podem ser transpostos parao mundo real. Alm disso, a implementao de labora-
trios e departamentos com esse foco requer um inves-
timento considervel e profissionais ainda ra ros no
mercado para gerar resultados confiveis e replicveis.
Se nos Estados Unidos e na Europa onde a rea
est no auge e bem mais consolidada essas questes
e barreiras de entrada ainda so um desafio, o cenrio
fica ainda mais crtico quando falamos de pases como
o Brasil, onde a rea praticamente desconhecida e h,
ainda, uma enorme dificuldade em angariar fundos para
laboratrios e estudos experimentais.
Mesmo com grandes desafios, a rea cresceu a passos
largos na ltima dcada e est cada vez mais consoli-dada, tanto na academia quanto no mundo dos negcios.
Por ser uma rea relativamente nova, pequenos ajustes
ainda esto em andamento. Um deles, por exemplo, a
proposta de ampliar o alcance da atividade e de seus pro-
fissionais ao denominar seus estudos no apenas beha-vioural economics, mas algo mais amplo como behaviou-ral science. Essa discusso tem ganhado fora, lideradatambm pelo prprio Daniel Kahneman, e vamos pre-
senciar o seu desenrolar nos prximos anos.
Apesar de ser uma discusso, sem dvida, plausvel ejustificvel, o publicitrio Rory Sutherland, um defensor
apaixonado da rea, observa que, no obstante as diver-
gncias, o uso do termo behavioural economics um timocase de rebrandingque deu certo e, com certeza, propiciouque seus estudos entrassem em meios que at ento eram
inalcanveis, ao serem vinculados com a economia.
Aproveito assim a oportunidade para deixar um con-
vite. Independentemente da denominao, economistas
comportamentais, cientistas comportamentais, psic-
logos comportamentais, advogados comportamentais,
un-vos, pois evidncias no faltam que, pases comoo Brasil, que tm pouqussimo conhecimento sobre a
rea, tero ainda muito a se beneficiar com seus estu-
dos e aplicaes, em todas as esferas.
Flvia vilaProfessora do curso de economia comportamental EAD
da ESPM, fundadora do site economiacomportamental.org
e da InBehavior Pesquisa e Insights
LATINSTOCK
A economia comportamental prope uma viso maisrealista da natureza humana. Alm de fornecer ferramentaspoderosas para entender o consumidor, ela vai mais longe aoinvestigar fatores como bem-estar, altrusmo e reciprocidade