artigo revista eletricidade moderna

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E m dezembro de 2011, o MTE - Ministério do Trabalho e Empre - go publicou, através da Portaria n o 293, o Anexo XII - “Equipamentos de guindar para elevação de pessoas e realização de trabalho em altura” da Norma Regulamentadora n o 12 - “Segu - rança no trabalho em máquinas e equi - pamentos”. O documento apresenta re - quisitos técnicos e de gestão para fabri- cação e uso de cestas aéreas, cestos aco- plados em guindautos/guindastes e ces- tos suspensos, os quais são amplamente utilizados em todo o País, principal- mente pelas concessionárias de energia elétrica e suas contratadas nas ativi- dades de construção, operação e manu- tenção das redes elétricas. O Anexo XII da NR-12 foi elabora- do tendo em vista a necessidade de es- tabelecer um patamar tecnológico mí- nimo para construção e utilização de cestas aéreas, cestos acoplados em guindastes e cestos suspensos, a fim de evitar o uso de equipamentos inseguros e inadequados e adaptações improvisa- das, os quais geram condições precá- rias de trabalho e acidentes muitas ve- zes fatais, como mostram as imagens abaixo e da página ao lado. Principais exigências No Anexo XII da NR-12, foram de- finidos 39 requisitos técnicos para ces- tas aéreas, 36 para cestos acoplados e 85 para cestos suspensos. A seguir são apresentadas algumas das principais exigências estabelecidas pelo documen- to para cada um desses equipamentos. Cestas aéreas As cestas aéreas são equipamentos veiculares destinados à elevação de pes- soas para execução de trabalho em altu- ra, dotados de braço móvel, articulado, telescópico ou misto, com caçamba ou plataforma, com ou sem isolamento elé- trico, podendo, desde que projetados para este fim, também elevar material por meio de guincho e de lança comple- mentar (JIB), respeitadas as especifica- ções do fabricante. As cestas aéreas devem dispor prin- cipalmente de: pontos de ancoragem para o cinto paraquedista; todos os controles claramente identifi- cados quanto às suas funções e protegi- dos contra uso inadvertido e acidental; controles que retornam à posição neutra quando liberados pelo operador; controles inferior e superior para operação do guincho e válvula de pressão para limitar carga nas cestas equipadas com guincho e JIB; dispositivo de travamento de segu- rança dos controles; controles superiores prontamente acessíveis ao operador; dispositivo de parada de emergência; controles inferiores prontamente acessíveis ao operador e dotados de Novo padrão de cestas aéreas, cestos acoplados a guindautos e cestos suspensos O artigo apresenta e discute as exigências do Anexo XII da NR-12, que regulamenta a fabricação e o uso de cestas aéreas, cestos acoplados em guindautos/guindastes e cestos suspensos, com o objetivo de ampliar a conscientização quanto aos requisitos mínimos exigidos para esses equipamentos, de maneira a evitar o uso de dispositivos inseguros e adaptações improvisadas, que colocam em risco a segurança dos trabalhadores. Hélio Domingos R. Carvalho, engenheiro da Cemig, membro do Grupo Técnico do Anexo XII da NR-12 e coordenador da Comissão de Estudos de Cestas Aéreas da ABNT e do GT12 da Funcoge SEGURANÇA 54 EM DEZEMBRO, 2015 Acidente com cesta aérea

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Page 1: Artigo Revista Eletricidade Moderna

Em dezembro de 2011, o MTE -Mi nistério do Trabalho e Em pre -go publicou, através da Portaria

no 293, o Anexo XII - “Equipamentosde guindar para elevação de pessoas erealização de trabalho em altura” daNorma Regula men tadora no 12 - “Se gu -rança no trabalho em máquinas e equi -pamentos”. O documento apresenta re -qui sitos técnicos e de gestão para fabri-cação e uso de cestas aéreas, cestos aco -plados em guindautos/guindastes e ces-tos suspensos, os quais são amplamenteutilizados em todo o País, principal-mente pelas concessionárias de energiaelétrica e suas contratadas nas ativi-dades de construção, operação e ma nu -tenção das redes elétricas.

O Anexo XII da NR-12 foi elabora-

do tendo em vista a necessidade de es-tabelecer um patamar tecnológico mí-nimo para construção e utilização decestas aéreas, cestos acoplados emguindastes e cestos suspensos, a fim deevitar o uso de equipamentos insegurose inadequados e adaptações improvisa-das, os quais geram condições precá-rias de trabalho e acidentes muitas ve-zes fatais, como mostram as imagensabaixo e da página ao lado.

Principais exigênciasNo Anexo XII da NR-12, foram de-

finidos 39 requisitos técnicos para ces-tas aéreas, 36 para cestos acoplados e 85para cestos suspensos. A seguir sãoapresentadas algumas das principaisexigências estabelecidas pelo documen-

to para cada um desses equipamentos.

Cestas aéreasAs cestas aéreas são equipamentos

veiculares destinados à elevação de pes-soas para execução de trabalho em altu-ra, dotados de braço móvel, articulado,telescópico ou misto, com caçamba ouplataforma, com ou sem isolamento elé-trico, podendo, desde que projetadospara este fim, também elevar materialpor meio de guincho e de lança comple-mentar (JIB), respeitadas as especifica-ções do fabricante.

As cestas aéreas devem dispor prin-cipalmente de:• pontos de ancoragem para o cintoparaquedista;• todos os controles claramente identifi-cados quanto às suas funções e protegi-dos contra uso inadvertido e acidental;• controles que retornam à posiçãoneutra quando liberados pelo operador;• controles inferior e superior paraope ração do guincho e válvula depressão para limitar carga nas cestasequipadas com guincho e JIB;• dispositivo de travamento de segu-rança dos controles;• controles superiores prontamenteaces síveis ao operador;• dispositivo de parada de emergência; • controles inferiores prontamenteacessíveis ao operador e dotados de

Novo padrãode cestas aéreas,

cestos acoplados aguindautos e

cestos suspensos

O artigo apresenta e discute as exigências do Anexo XII da NR-12, que regulamenta afabricação e o uso de cestasaéreas, cestos acoplados emguindautos/guindastes e cestossuspensos, com o objetivo de ampliar a conscientizaçãoquanto aos requisitos mínimos exigidos para essesequipamentos, de maneira aevitar o uso de dispositivosinseguros e adaptaçõesimprovisadas, que colocam em risco a segurançados trabalhadores.

Hélio Domingos R. Carvalho,engenheiro da Cemig, membro do Grupo Técnico do Anexo XII

da NR-12 e coordenador da Comissão de Estudos de CestasAéreas da ABNT e do GT12 da Funcoge

SEGURANÇA

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Acidentecom cestaaérea

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meio de pre valecer sobre o controle su-perior;• válvulas de retenção nos cilindrosdos estabilizadores e holding nos cilin-dros dos braços;• sistema estabilizador com indicadorde inclinação;• controles estabilizadores protegidoscontra o uso inadvertido que retornemà posição neutra quando soltos, locali -zados de forma que o operador possavê-los se movimentando;• válvula seletora junto ao comando dosestabilizadores – estabilizadores/cestaaérea;• sistema que impeça a operação dassapatas estabilizadoras sem o préviorecolhimento do braço móvel para umaposição segura de transporte;• sistema para operação de emergênciaem caso de pane;• recurso para operação de emergênciaem caso de ruptura de mangueirashidráulicas; e•ponto de aterramento.

A caçamba deve atender aos seguin-tes requisitos:• ser dimensionada para suportar e aco-modar o(s) operador(es) e as ferramen-tas indispensáveis para realização doserviço;• não devem haver aberturas nem pas-sagens nas caçambas de cestas aéreasiso ladas, exceto para trabalho pelo mé -todo ao potencial;• as caçambas fabricadas em materialnão condutivo devem atender aos requisi-tos da norma ABNT NBR 14631 (atual-mente NBR 16092); e• a caçamba das cestas aéreas isola-das deve ser dotada de cuba isolante(liner), exceto para trabalho pelo méto-do ao potencial.

As cestas aéreas devem possuir sis-tema de nivelamento da(s) caçamba(s)ativo e automático, através de sistemamecânico ou hidráulico que funcioneintegradamente aos movimentos do bra-ço móvel e independente da atuação daforça de gravidade.

Para serviços em linhas, redes e ins-talações energizadas com tensões iguaisou superiores a 1000 V, deve-se utilizarcesta aérea isolada, que possua grau deisolamento categorias A, B ou C, con-forme NBR 14631 (atualmente NBR16092). Além disso, devem ser adota-das outras medidas de proteção coleti-

vas para prevenção do risco de choqueelétrico nos termos da NR-10.

As cestas aéreas devem ser submeti-das às inspeções e ensaios previstos naNBR 14631 (atualmente NBR 16092).

Cestos acopladosSão caçambas ou plataformas aco-

pladas a um guindaste veicular para ele-vação de pessoas e execução de traba-lho em altura, com ou sem isolamentoelétrico, podendo também elevar mate-rial de apoio indispensável para realiza-ção do serviço.

As principais exigências relativasaos cestos acoplados são:• ancoragem para cinto de segurançatipo paraquedista, conforme projeto esinalização do fabricante;• todos os controles claramente identifi-cados quanto às suas funções e protegi-dos contra uso inadvertido e acidental;• controles para movimentação dacaçamba nas partes superior e inferior,que voltem para a posição neutra quan-do liberados pelo operador;• dispositivo de travamento de segurançade modo a impedir a atuação inadvertidados controles superiores;• controles superiores na caçamba ou aoseu lado e prontamente acessíveis aooperador;• controles inferiores prontamente aces -síveis e dotados de um meio de prevale-cer sobre o controle superior de movi-mentação da caçamba;• dispositivo de parada de emergêncianos comandos superior e inferior, quedeve ser mantido funcional em ambosos casos;• válvulas de retenção nos cilindroshidráulicos das sapatas estabilizadoras eválvulas de retenção e contrabalanço(holding) nos cilindros hidráulicos dobraço móvel e giro, a fim de evitarmovimentos indesejáveis em caso deperda de pressão no sistema hidráulico;• controles dos estabilizadores protegi-dos contra o uso inadvertido, que re-tornem à posição neutra quando soltospelo operador, localizados na base doguindaste, de modo que o operador pos-sa vê-los se movimentando;

• válvula seletora, junto ao comandodos estabilizadores, que, numa po si ção,bloqueie a operação dos estabili zadorese, na outra posição, os comandos demovimentação da(s) ca çam ba(s);• sistema que impeça a operação dassapatas estabilizadoras sem o préviorecolhimento do braço móvel para umaposição segura de transporte;• sistema de operação de emergênciaque permita a movimentação dos braçose rotação da torre em caso de pane, ex-ceto no caso previsto na alínea “m”;• recurso para operação de emergênciaque permita a movimentação dos braçose rotação da torre em caso de ruptura demangueiras hidráulicas;• sistema estabilizador, com indicadorde inclinação instalado junto aos co-mandos dos estabilizadores, em ambosos lados, para mostrar se o equipamen-to está posicionado dentro dos limitesde inclinação permitidos pelo fabri-cante;• sistema limitador de momento de car-ga que, quando alcançado o limite domomento de carga, emita um alerta vi-sual e sonoro automaticamente e impe -ça o movimento de cargas acima da ca-pacidade máxima do guindaste, bemcomo bloqueie as funções que au-mentem o momento de carga;• ponto para aterramento no equipa-mento de guindar;• sistema mecânico e/ou hidráulico quepermita o nivelamento do cesto, eviteseu basculamento e assegure que seunível não oscile além de 5° em relaçãoao plano horizontal durante os movi-mentos do braço móvel ao qual o cestoestá acoplado.

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Utilização absurda de guindaste

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As caçambas fabricadas em mate-rial não condutivo devem atender as di-mensões do Anexo C da norma ABNTNBR 16092. Já as plataformas metálicas devem:

• possuir sistema de proteção contraque das com, no mínimo, 990 mm de al-tura e demais requisitos dos itens 12.70alíneas “a”, “b”, “d”, “e”, 12.71,12.71.1, 12.73 alíneas “a”, “b”, “c” daNR-12;• quando o acesso à caçamba for pormeio de portão, a abertura para fora nãopode ser permitida e deve haver um sis-tema de travamento que impeça a aber-tura acidental;• possuir o piso com superfície antider-rapante e sistema de drenagem, cujasaberturas não permitam a passagem deuma esfera com diâmetro de 15 mm; e• possuir degrau, com superfície anti-derrapante, para facilitar a entrada dooperador quando a altura entre o nívelde acesso à caçamba e o piso for supe-rior a 0,55 m.Para serviços em linhas, redes e ins-

talações energizadas com tensões infe-riores a 1000 V, a caçamba deve possuirgrau de isolamento adequado. Alémdisso, devem ser adotadas outras medi-das de proteção coletiva para prevençãodo risco de choque elétrico nos termosda NR-10.O conjunto guindaste/cesto acoplado

deve ser ensaiado com carga de 1,5 veza capacidade nominal a ser aplicada nocentro da caçamba na sua posição demáximo momento de tombamento, re-gistrado em relatório do ensaio.

Cestos suspensosSão o conjunto formado pelo sistema

de suspensão e caçamba ou plataformasuspensa por equipamento de guindarpara utilização em trabalhos em altura.Os cestos suspensos são utilizados emsituações muito específicas e especiais,como atividades em que é tecnicamenteinviável o uso de uma plataforma detrabalho aéreo (PTA), de uma cesta aé-rea ou de um cesto acoplado, e onde nãoexista possibilidade de contato ou pro-ximidade com redes energizadas ou deenergização. Poderá ser utilizado cestosuspenso içado por equipamento deguindar que atenda aos requisitos míni-mos previstos no Anexo XII da NR-12,sem prejuízo ao disposto nas demais

Normas Regula men tadoras e normastécnicas vigentes pertinentes à tarefa.A inviabilidade técnica de uso de

uma PTA, cesta aérea ou cesto acopladodeve ser comprovada por laudo técnicoelaborado por profissional legalmentehabilitado e mediante emissão de res-pectiva Anotação de ResponsabilidadeTécnica (ART).Além disso, a utilização de cesto

suspenso deverá ser objeto de planeja-mento formal, contemplando as seguin-tes etapas:• realização de análise de risco;• especificação dos materiais e ferra-mentas necessárias;• elaboração de plano de movimentaçãode pessoas;• elaboração de procedimentos opera-cionais e de emergência; e• emissão de permissão de trabalho paramovimentação de pessoas.

Ações de divulgaçãoA data limite para adequação dos

equipamentos de elevação (tanto novosquanto usados e adaptações) às diretri-zes e requisitos técnicos do Anexo XII,em todo território nacional, foi de 24meses após sua publicação, ou seja, de-zembro de 2013. Como o assunto é muito técnico e

específico, é grande a preocupação peloamplo entendimento das exigênciasconstantes no documento, visando umapadronização de ações e soluções técni-cas. Nesse contexto, foram desenvolvi-das várias ações no âmbito da FundaçãoCoge (Funcoge), instituição técnico-científica de assessoramento mantidapelas concessionárias de energia elétri-ca, com o objetivo de auxiliar a divul-gação e entendimento desse anexo, co-mo: • criação de um Grupo de TrabalhoGT12, que conta com representantes detodas as concessionárias de energiaelétrica do País;• divulgação de um vídeo com as prin-cipais exigências do Anexo XII daNR-12, o qual foi publicado no youtube(https://youtu.be/0by4cTvQP0E);• elaboração de um manual de interpre-tação do Anexo XII da NR-12, ilustra-do e detalhado, com todas exigênciaspara cestas aéreas e cestos acoplados, oqual está disponível no site da Fun da -ção Coge (www.funco ge.org. br/ comi -

tes/ csst/wp-content/ uploads/ ma nual_ anexo_XII_NR12.pdf); e• realização do “Workshop nacional desegurança para trabalhos em altura”,que abordou o Anexo XII da NR-12, econtou ainda com a divulgação dovídeo e do manual elaborado peloGT12, além de apresentações práticasde soluções e equipamentos de fabri-cantes.O GT12 da Funcoge ainda planeja

executar outras ações para dissemina-ção dos requisitos do Anexo XII, comotreinamento de multiplicadores, homo-logação de fornecedores, criação deuma certificação (selo) e outras inicia-tivas para divulgação do conhecimentoe desenvolvimento de bons fornecedo-res.Desde a entrada em vigor do Anexo

XII da NR-12, observa-se a evolução daadequação das cestas aéreas às novasexigências por parte dos fabricantes.Em contrapartida, muitas soluções decestos acoplados a guindastes encontra-dos no mercado são incompletas, inade-quadas e até oportunistas. Um dos prin-cipais problemas é a dificuldade de im-plantar um correto sistema de nivela-mento da caçamba, o qual deve ser ati-vo e automático. Mas sabe-se que, pelomenos, seis fabricantes estão atenden-do a todos requisitos referentes a cestosacoplados.

ConclusõesA aplicação das exigências do Anexo

XII da NR-12 aumentará a segurançados trabalhadores que utilizam equipa-mentos de elevação, contribuindo paraa redução drástica de acidentes do tra-balho, além de incentivar a indústria na-cional para a fabricação de equipamen-tos modernos e mais seguros. Trata-sede um salto de segurança e tecno-logia para os usuários e a indústria bra-sileira.É fundamental que as empresas

compradoras dessas soluções exijamexplicitamente nas suas especificaçõesde compra que os produtos atendam asexigências do Anexo XII da NR-12. Contudo, todo esse trabalho não terá

eficácia sem um controle mais intensivodo MTE. Em função da falta de fiscali-zação, as exigências do Anexo XII daNR-12 ainda não são cumpridas namaioria das situações de campo.

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