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*Glauco Felipe Araújo Garcia é advogado e bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Anápolis UniEVANGÉLICA. A LEI COPLEMENTAR Nº 135 DE 04 DE JUNHO DE 2010 NO CONTEXTO NACIONAL BRASILEIRO Glauco Felipe Araújo Garcia* 1. Resumo Este Artigo tem por finalidade desenvolver um estudo mais elaborado sobre os direitos políticos passivos, ou negativos, que se apresentam como cláusulas de inelegibilidade estabelecidas pela Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988, tendo sido estendidos pela reforma da Lei Complementar nº 135 de 04 de junho de 2010. O trabalho destina-se, neste padrão, a esforçar-se no sentido de tornar mais claros os objetivos que levaram o legislador a ampliar as inelegibilidades, sob um fundo moral, erigido pela cobrança social. Nesse compasso, a pesquisa empreendida também objetivou apresentar como tal empreitada normativa passou pelo controle de constitucionalidade, feito em abstrato, no Supremo Tribunal Federal, por meio de análises dos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca da matéria proposta e suas implicações no mundo político. Para que a pesquisa atingisse o êxito esperado, a metodologia de trabalho utilizada foi a de reunião bibliográfica, consistente na análise e exibição do pensamento de vários autores que escreveram sobre o tema escolhido. Com a análise de todo o material recolhido, foi possível aclarar a imagem que a LC nº 135/2010 trouxe à República, asseverando a moralidade no Poder Público. Palavras-chave: Direito Constitucional, Direito Público, Direito Eleitoral, Inelegibilidade, Moralidade.

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Page 1: Artigo Científico A Lei Complementar n 135 de 04 de junho de 2010 no contexto nacional brasileiro GLAUCO FELIPE ARAÚJO GARCIA

*Glauco Felipe Araújo Garcia é advogado e bacharel em Direito pelo Centro Universitário de

Anápolis – UniEVANGÉLICA.

A LEI COPLEMENTAR Nº 135 DE 04 DE JUNHO DE 2010 NO

CONTEXTO NACIONAL BRASILEIRO

Glauco Felipe Araújo Garcia*

1. Resumo

Este Artigo tem por finalidade desenvolver um estudo mais elaborado sobre os

direitos políticos passivos, ou negativos, que se apresentam como cláusulas de

inelegibilidade estabelecidas pela Constituição da República Federativa do Brasil de

05 de outubro de 1988, tendo sido estendidos pela reforma da Lei Complementar nº

135 de 04 de junho de 2010. O trabalho destina-se, neste padrão, a esforçar-se no

sentido de tornar mais claros os objetivos que levaram o legislador a ampliar as

inelegibilidades, sob um fundo moral, erigido pela cobrança social. Nesse compasso,

a pesquisa empreendida também objetivou apresentar como tal empreitada

normativa passou pelo controle de constitucionalidade, feito em abstrato, no

Supremo Tribunal Federal, por meio de análises dos entendimentos doutrinários e

jurisprudenciais acerca da matéria proposta e suas implicações no mundo político.

Para que a pesquisa atingisse o êxito esperado, a metodologia de trabalho utilizada

foi a de reunião bibliográfica, consistente na análise e exibição do pensamento de

vários autores que escreveram sobre o tema escolhido. Com a análise de todo o

material recolhido, foi possível aclarar a imagem que a LC nº 135/2010 trouxe à

República, asseverando a moralidade no Poder Público.

Palavras-chave: Direito Constitucional, Direito Público, Direito Eleitoral,

Inelegibilidade, Moralidade.

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2. Abstract

This article aims to develop a more elaborate study about the passive or negative

political rights, posing as ineligibility clauses established by the Constitution of the

Federative Republic of Brazil of October 5, 1988, having been extended by the

reform of the Complementary Law 135 of June 4, 2010. The work is intended, in

default, to strive towards making clearer the goals that prompted the legislature to

extend the ineligibility under a moral background, erected by social recovery. In this

measure, the research undertaken also aimed to present how such a normative

undertaking passed the control of constitutionality done in abstract, in the Supreme

Court, through analysis of the doctrinal and jurisprudential understandings on the

subject proposal and its implications in the political world. So the research could

reach the expected success, the work methodology used was the combination of

literature, consisting on the display and analysis of the thought of many authors who

have written on the topic chosen. With the analysis of all material collected, it was

possible to clarify the image that the LC n º 135/2010 brought to the republic,

asserting morality into the government.

Key-words: Constitutional Law, Public Law, Electoral Law, Ineligibility, Morality.

3. Introdução

O presente trabalho tem como objetivo geral a análise da Lei

Complementar (LC) nº 135 de 04 de junho de 2010 face à Constituição da República

Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Tal diploma infraconstitucional

acresceu cláusulas de inelegibilidade ao Ordenamento Jurídico brasileiro, alterando

a LC nº 64 de 18 de maio de 1990, e, tais modificações, foram objeto de intensa

polêmica na doutrina e jurisprudência brasileira. Neste sentido, especificamente,

esta pesquisa cuida de analisar a origem e os desideratos da referida norma; os

princípios constitucionais aparentemente controvertidos na mesma; e, por fim,

formula um painel reflexivo acerca do Direito, da ética, da moral e do comportamento

do brasileiro face aos comandos normativos eleitorais.

A realização deste artigo vale-se da utilização do método compilativo,

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pinçando tanto os estudos teóricos quanto as leis e as normas em sentido amplo,

bem como a fundamentação jurisprudencial que foi construída no debate

problematizado por este tema.

Perquirir por que razões e com quais justificativas tanto a Suprema Corte

do Brasil quanto o Tribunal Superior Eleitoral assentou à constitucionalidade as

disposições da LC nº 135/2010; Investigar o surgimento deste mesmo objeto

nomológico; Examinar que objetivos teria e se há real possibilidade de efetivar tais

anseios do espírito da norma em tela; Discutir a cultura e a conduta valorativa do

povo brasileiro em confronto com a positivação de cláusulas negativas de direitos

políticos passivos; dentre outras abordagens, são imbricações que justificam e

motivam a linha de trabalho deste Artigo Científico que, honesta e humildemente,

espera contribuir com a academia e com a sociedade.

4. Origem e intenções

Em caráter vestibular, é importante que se registre que falar sobre a

origem é dizer de onde vem, é buscar o surgimento, a fonte, as características

embrionárias da gênese, do início, do começo de qualquer ideia.

Neste sentido, com o auxílio da etimologia, observa-se que a palavra

candidatura deriva de candidato que, por sua vez, do latim, candidus, implica em

branco/brancura. Deocleciano Torrieri Guimarães explica que os candidatos da

Roma Antiga se apresentavam publicamente às pessoas, vestidos somente de toga

branca, com o fito de não levantar a suspeita de trazer dinheiro sob ela para

corromper o povo, comprando-lhe votos ou subornando apoio para a condução da

República (2007, p. 144).

Não apenas no aspecto estrito da palavra candidatura, mas buscando

seus liames semântico e axiológico, vale ressaltar as anotações do professor Paulo

Bonavides, em sua clássica obra Ciência Política, sobre a origem da democracia na

Grécia Antiga, valor fundamental e objetivo da lei em estudo:

[...] os gregos consideravam democracia aquelas formas de governo

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que garantissem a todos os cidadãos a isonomia, a isotimia e a isagoria, e fizessem da liberdade e da sua observância a base sobre a qual repousava toda a sociedade política. [...] a isonomia [...] proclamava o gênio político da Grécia a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de grau, classe ou riqueza. Dispensava a ordem jurídica aí o mesmo tratamento a todos os cidadãos, conferindo-lhes iguais direitos, punindo-os sem foro privilegiado. [...] a isotimia abolia a organização democrática da Grécia os títulos ou funções hereditárias, abrindo a todos os cidadãos o livre acesso ao exercício das funções públicas, sem mais distinção ou requisito que o merecimento, a honradez e a confiança depositada no administrador pelos cidadãos. [...] isagoria trata-se do direito de palavra, da

igualdade reconhecida a todos de falar nas assembleias populares, de debater publicamente os negócios do governo [...]. Com a isagoria, exercício da palavra livre no largo recinto cívico que era o

Ágora, a democracia regia a sociedade grega, inspirada já na soberania do governo de opinião. [...] (2010, p. 291, grifos do autor).

Sobre tal legado grego, Carlos Sanchez Viamonte cita as palavras de

Péricles quando comunicou aos heróis da Guerra do Peloponeso o culto da

imortalidade e o sentimento póstumo da Pátria agradecida:

Nosso regime político é a democracia e assim se chama porque busca a utilidade do maior número e não a vantagem de alguns. Todos somos iguais perante a lei, e quando a república outorga honrarias o faz para recompensar virtudes e não para consagrar privilégios. Nossa cidade se acha aberta a todos os homens. Nenhuma lei proíbe nela a entrada aos estrangeiros, nem os priva de nossas instituições, nem de nossos espetáculos; nada há em Atenas oculto e permite-se a todos que vejam e aprendam nela o que bem quiserem, sem esconder-lhes sequer aquelas coisas, cujo conhecimento possa ser de proveito para os nossos inimigos, porquanto confiamos para vencer, não em preparativos misteriosos, nem em ardis e estratagemas, senão em nosso valor e em nossa inteligência. (1959, p. 186).

Ora, esse grupo social que há milênios fundou talares inescusáveis da

democracia ocidental, já primava por um comportamento ético distinto e lídimo de

seus governantes, a fim de que esses passassem mais do que efetividade à

moralidade pública: exemplo e segurança aos cidadãos - quer estrangeiros ou não,

reafirmando e asseverando a transparência, a publicidade e a honestidade. Nesse

sentido votou o ministro relator Luiz Fux, no julgamento das conexas Ações Diretas

de Constitucionalidade (ADC) nº 29, nº 30, e Ação Direta de Inconstitucionalidade nº

4578: “[...] o princípio da segurança jurídica é compreendido na sua vertente

subjetiva de proteção das expectativas legítimas” (2012, online, grifo nosso). Sucede

que estas expectativas referem-se aquelas que a coletividade tem em relação ao

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Poder Público. E, não fosse o bastante, o douto magistrado citou Soren Schonberg,

para definir as implicações jurídicas do que se entende por expectativas:

[...] Uma expectativa é razoável quando uma pessoa razoável, agindo com diligência, a teria em circunstâncias relevantes. Uma expectativa é legítima quando o sistema jurídico reconhece a sua razoabilidade e lhe atribui consequências jurídicas processuais, substantivas ou compensatórias. (2012, online).

São estas expectativas legítimas, ou ainda, legitimadoras de poder que

reforçam o princípio democrático erigido pela célebre frase de Abraham Lincoln: “um

governo do povo, pelo povo e para o povo”. Sobre esta máxima, o professor José

Joaquim Gomes Canotilho aponta que “Ainda hoje se considera esta formulação

como a síntese mais lapidar dos momentos fundamentais do princípio democrático

[...] um modo de justificação positiva da democracia” (2002, p. 285). Portanto,

percebe-se que a LC nº 135/2010 tem o seu surgimento aventado pelo que seja a

própria democracia e pelo espírito republicano. Entretanto, ainda sobre tal elemento

democrático, o magistério lusitano do constitucionalista José Joaquim Gomes

Canotilho cita também a fórmula de Popper: “A democracia nunca foi a soberania do

povo, não o pode ser, não o deve ser” (2002, p. 289) justamente para cunhar a

justificação negativa, ou seja, os mecanismos de limitação prática do poder que

objetiva, sobretudo, proteger instituições políticas das tentações da tirania,

garantindo não apenas as diferenças e as divergências, como também

salvaguardando as minorias.

Adiante com a mesma análise da gênese da lei em estudo, por subsistir

uma situação caótica e tangente à tirania da corrupção, o que rompia com as

expectativas sócio-constitucionais de moralidade e segurança, é que disparou-se, no

final do século XX, na Itália, um marco estatal que ficou conhecido por Operazione

Mani Pulite, ou melhor dizendo, Operação Mãos Limpas.

[...] A independência judiciária, interna e externa, a progressiva deslegitimação de um sistema político corrupto e a maior legitimação da magistratura em relação aos políticos profissionais foram, portanto, as condições que tornaram possível o círculo virtuoso gerado pela operação mani pulite. [...] (MORO, 2012, online).

Segundo o professor Sérgio Moro, em apenas dois anos - 1992 a 1994 -,

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foram expedidos 2993 mandados de prisão; 6059 pessoas estiveram sob

investigação, dos quais, 872 empresários, 1978 administradores locais, 438

parlamentares, incluindo quatro ex-primeiros-ministros:

[...] A ação judiciária revelou que a vida política e administrativa de Milão, e da própria Itália, estava mergulhada na corrupção, com o pagamento de propina para concessão de todo contrato público, o que levou à utilização da expressão ‘Tangentopoli’ ou ‘Bribesville’ (o equivalente à ‘cidade da propina’) para designar a situação. [...] (2012, online, grifos do autor).

A Operação Mãos Limpas veio à tona com a queda do muro de Berlim e o

inevitável fechamento e enfraquecimento do que o historiador Eric Hobsbawm

chamou de A Era dos Extremos - porque foi o tempo em que se levava as ideologias

até as últimas consequências e, ao final do século XX, a humanidade já havia visto e

experimentado quase tudo, estafada, cansada, sugada pelos extremismos e

sectarismos não tão distantes: “[...] sem dúvida, houve momentos em que talvez

fosse de esperar-se que o deus ou os deuses que os humanos pios acreditavam ter

criado o mundo e tudo o que nele existe estivessem arrependidos de havê-lo feito.”

(HOBSBAWM, 2012, online). Também adveio, tal emblemática operação, com a

abertura do mercado nacional italiano à nova ordem mundial que se perfazia pelo

bloco econômico da União Europeia, o que descentralizava o poder do governo

local, maximizando a força da iniciativa privada e intensificando o fenômeno do

globalismo e do neoliberalismo, com a flexibilização das fronteiras econômicas:

[...] a integração européia, que abriu os mercados italianos a empresas de outros países europeus, elevando os receios de que os italianos não poderiam, com os custos da corrupção, competir em igualdade de condições com seus novos concorrentes; [...] (MORO, 2012, online).

Tendo sido inspiradora para um país em situação congênere a que

passou a Itália, a Operação Mãos Limpas batizou a LC nº 135/2010, por sua vez,

popularmente conhecida como “Lei Ficha Limpa”. O promotor de justiça de Minas

Gerais Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira delimita que a referida lei teve

enorme repercussão social, além de “[...] conteúdo moralizador e profilático. [...]”

(2013, online). Para Josevando Souza Andrade, magistrado do Egrégio Tribunal de

Justiça do Estado da Bahia que publicou nos Estudos Eleitorais do Tribunal Superior

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Eleitoral, a lei em comento fortaleceu o Estado Democrático de Direito, na medida

em que trouxe “reflexões no âmbito social, político e técnico” (2012, online). E, nesta

linha, segundo o magistério do professor Noberto Bobbio, “a democracia é o regime

que, dialética e respeitosamente, admite o seu contrário” (1987, p. 135). Isto porque

se, como visto, a democracia é a base, o pano de fundo da LC nº 135/2010, ao

mesmo tempo, há autores que entendem ser a mesma norma altamente

antidemocrática e, portanto, tirana, ditatorial. Estes enunciados trazidos pela lei

desembocam incontáveis choques, sobretudo quando tocam na delicadeza da

moralidade jurídica, que para Chaim Perelman pode consistir em fundamentar o

juízo moral nos princípios morais ou, noutro giro, fundamentar os princípios no juízo

moral (1996, p. 288). E a problemática se dá pelo fato de que tal perspectiva

fundadora, não pode significar algo subjetivo, vinculado às predileções de qualquer

intérprete. Deve depender de uma base axiológica sob a qual assenta-se o Estado e

suas opções engendradas na respectiva Constituição.

Impulsionado por esse fundo moralizante e revolucionário, no tocante à

preponderância da vida pregressa de candidatos, o Movimento de Combate à

Corrupção Eleitoral (MCCE) recolheu mais de quatro (4) milhões de assinaturas em

todo o Brasil, para abrir o Processo Legislativo por iniciativa popular – que, para

tanto, bastariam um milhão e trezentas mil assinaturas –, logicamente, na Câmara

dos Deputados. O Parlamento brasileiro, por sua vez, preocupado com a pressão

social e as eleições à época tão próximas de serem realizadas, aprovou por

unanimidade o referido projeto de Lei Complementar (2013, online), por razões

óbvias: o teor apelativo, exortador, simbólico, promocional e moralizante da lei em

estudo.

Logo, como observado, as origens da LC nº 135/2010 se resumem às

mesmas contidas no mote da democracia e da república, intencionando moralizar,

transparecer e cuidando de limpar, lavar, refazer o repertório do Poder Público

exercido pela classe política eleita diretamente pelo voto do povo.

5. Identificação dos princípios constitucionais aparentemente controvertidos

no objeto

Antes de adentrar perfunctoriamente nos princípios invocados na tentativa

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de obstar a presunção de constitucionalidade da LC nº 135/2010, é preciso

relembrar as elucubrações de Ferdinand Lassalle de 1863, quando apresentou o

trabalho “O Que É Uma Constituição?”. O referido autor defendeu que a Constituição

apresenta um caráter eminentemente sociológico que encontra suporte no que

denominou de “fatores reais de poder” (2012, online). “[...] Para Lassalle, eles

designariam a força ativa de todas as leis da sociedade. Logo, uma constituição que

não correspondesse a tais fatores reais não passaria de simples folha de papel [...]”

(BULOS, 2011, p. 103, grifos do autor). Nesta guisa, Ferdinand Lassalle assevera

que a Constituição está afinada às raízes fincadas nos fatores de poder

predominantes no país.

No caso dos confrontos quanto à constitucionalidade da LC nº 135/2010,

perceber-se-á, então, quais os fatores de poder predominam no Brasil. Com toda a

licença, isso provoca, sobremaneira, os mais distintos discursos ideológicos

estratégicos muito bem dirigidos que, agarrados a um positivismo exacerbado, se

interessam pelas ruínas dos direitos políticos negativos calhados em 2010, e pelo

reinado das possibilidades de legitimação espalhafatosas para com os axiomas do

Estado Constitucional Democrático de Direito. Neste sentido, Konrad Hesse

percebeu que as constituições, dentro de uma dinâmica de um determinado

momento histórico e um estrito contexto político social datados de suas

promulgações ou, simplesmente, criações, estariam limitadas, presas, relacionadas

a este período. E, comentando a obra de Konrad Hesse, o professor Uadi Lammêgo

Bulos destaca:

[...] Daí o conteúdo vago e indeterminado de seus preceitos. Mas isso não significa que elas se esfalecem perante a dinâmica da vida, já que equivalem a uma ordem material e aberta.

Essas idéias, hauridas do espírito arguto de Konrad Hesse, granjearam notório respeito entre os nomes mais expressivos da juspublicística mundial. E faz sentido, pois é indubitável que a função de um texto constitucional escrito é racionalizar, estabilizar e garantir o exercício das liberdades, ao mesmo tempo que erige critérios para limitar as mazelas do processo político.

Disso exsurge a força normativa da constituição que, ao atuar diretamente na realidade histórica, pretende atribuir ao texto supremo efetividade ou eficácia social. (2011, p. 109, grifo nosso).

Bem por isso, a lei vem fechar o conceito na hipótese e no consequente,

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dando sentido ao texto, conforme os fatores reais de poder e engendrando critérios

para limitar as mazelas do processo político.

O conceito de princípios é muito bem descrito por Celso Antônio Bandeira

de Melo:

Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. [...] (2012, p. 545-546).

Por óbvio, os princípios constitucionais aparentemente controvertidos no

objeto nomológico em comento tem mera aparência de contradição, pois devem ser

interpretados conforme o princípio da unidade da Constituição, de modo a

resguardar a Carta Maior e seus valores, a partir de técnicas de interpretação que

sopesem e dirimam os conflitos levantados. E é claro que a Teoria Geral do Direito

tem passado por intensas modificações nos últimos 50 anos, e uma destas é a

ampliação da natureza jurídica dos princípios. Daniel Sarmento fala em

reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e valorização da sua

importância no processo de aplicação do Direito (2013, online). De modo que, se

antes os princípios importavam apenas como complemento à lacuna sistêmica

jurídica, hoje, na verdade, compõe verdadeira norma propriamente dita.

Neste coro, para o professor Lênio Streck, é bem verdade que os

princípios, depois de Jürgen Habermas e Émile Durkheim, tornaram-se normas.

Mas, isso não implica dizer que perderam seu caráter deontológico (ciência do dever

ser). O referido doutrinador aponta uma crise hermenêutica no Sistema brasileiro,

vez que os hermeneutas atuais do Brasil vem fazendo verdadeiros “[...] standards

jurídicos, construídos de forma voluntarista por juristas descomprometidos, em sua

maioria, com a deontologia do direito (lembremos: princípios são deontológicos e

não teleológicos!). [...]” (2012, online, grifo do autor). É bem por isso que este

trabalho se ocupará de analisar tão somente os princípios apreciados pela Suprema

Corte quando da discussão da (in)constitucionalidade da LC nº 135/2010, não se

estendendo às tantas criações inesgotáveis da doutrina e da jurisprudência afetas à

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nova produção da principiologia jurídica brasileira.

Nas ADCs nº 29 e nº 30, ADI nº 4578, bem como nos Recursos

Extraordinários (RE) com matéria similar, por exemplo os mais repercutidos: RE

630.146/DF, caso Joaquim Roriz; e, RE nº 631.102/PA, caso Jader Barbalho, os

postulantes arguiram pela inconstitucionalidade da LC nº 135/2010, elencando uma

possível ofensa aos princípios: (i) do devido processo legislativo

(inconstitucionalidade formal por ofensa à bicameralidade legislativa); (ii) da

irretroatividade das leis; (iii) da intangibilidade do ato jurídico perfeito; (iv) da

imutabilidade da coisa julgada; (v) da proporcionalidade; (vi) da razoabilidade; (vii)

da soberania popular; (viii) da segurança jurídica; (ix) da anualidade eleitoral; (x) do

devido processo legal; (xi) da presunção de inocência (MORO, 2011, online).

Com relação ao princípio do devido processo legislativo, tem-se que o

mesmo certifica que as regras de elaboração da lei devem ser sempre observadas,

sob pena de ilegalidade ou inconstitucionalidade formal. No ponto, o devido

processo legislativo desenvolve a bicameralidade no Processo Legislativo do

Congresso Nacional, explicada nas palavras do professor Alexandre de Morais:

[...] O poder Legislativo Federal é bicameral e exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos deputados e do Senado Federal, diferentemente dos estaduais, distritais e municipais, onde é consagrado o unicameralismo (CF, arts. 27, 29 e 32). O bicameralismo do Legislativo Federal está intimamente ligado à escolha pelo legislador constituinte da forma federativa de Estado, pois no Senado Federal encontram-se, de forma paritária, representantes de todos os Estados-membros e do Distrito Federal, consagrando o equilíbrio entre as partes contratantes da Federação. [...] (2011, p. 430-431).

Dessa forma, os projetos de Lei Complementar que iniciados na Câmara

dos Deputados, necessariamente, porque tem iniciativa exógena ao Congresso

Nacional, são revisados pelo Senado Federal. Tal estrutura revisional também é

aplicada às emendas parlamentares a qualquer projeto de lei, exceto aquelas cujo

teor seja meramente redacional. Estas disposições coadunam-se à dicção dos

artigos 134 e 135 do Regimento Comum do Congresso Nacional, Resolução nº 1 de

11 de agosto de 1970, abaixo transcritos:

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Art. 134. O projeto de lei, aprovado em uma das Casas do Congresso Nacional, será enviado à outra Casa, em autógrafos assinados pelo respectivo Presidente. Parágrafo único. O projeto terá uma ementa e será acompanhado de cópia ou publicação de todos os documentos, votos e discursos que o instruíram em sua tramitação. Art. 135. A retificação de incorreções de linguagem, feita pela Câmara revisora, desde que não altere o sentido da proposição, não constitui emenda que exija sua volta à Câmara iniciadora.

Sobre tal princípio do bicameralismo, no caso da Lei Complementar nº

135/2010, obviamente, antes de sancionada, houve uma considerável polêmica

quando no projeto, pela Casa Revisora, o Senador Francisco Dornelles (PP-RJ)

apresentou emenda alterando os tempos verbais da propositura legal em cinco

distintas situações. Em todas elas, alterou-se as expressões “tenham sido

condenados” pela frase “que forem condenados”, nas alíneas “e”, “h”, “j”, “l” e “n” do

art. 1º da LC nº 64/1990. Em verdade, seriam Emendas meramente redacionais,

entretanto, as alegações de inconstitucionalidade aduziram que houve ofensa ao

sentido da proposição, alterando os efeitos da Lei, que, pelas novas conjugações

verbais, deveriam ser considerados retroativos. Conseguintemente, se houve

alteração no sentido do texto-lei, o mesmo deveria ser submetido, mais uma vez, à

Câmara dos Deputados, casa originária, sob pena de violação ao devido processo

legislativo, o que acarretaria a inconstitucionalidade formal à LC nº 135/2010. No

ponto, sobre este imbróglio, prevaleceu o cauteloso e pormenorizado voto do

ministro Ricardo Lewandovski que, no RE nº 630.147 esclareceu:

Para descobrir o sentido e o alcance dessa emenda de redação, é preciso fazer uma reflexão a respeito da técnica hermenêutica, pois não existe norma em si mesma considerada, senão aquela que é interpretada pelo aplicador do Direito. O primeiro método de interpretação para compreender-se o significado de uma norma jurídica é o gramatical ou filológico. Nessa perspectiva, ao examinar a questão sob exame, Carlos Vogt, eminente Professor Titular de Linguística, área de semântica, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, concluiu o seguinte: “[...] ‘os que forem condenados’ é um enunciado de compreensão e não de extensão. Define, pelo predicado que enuncia, o universo compreensivo dos que nele se incluem pela qualidade de ‘ser condenado’, de maneira conceitual e, nesse sentido, intemporal. Não é um enunciado descritivo, isto é, não inclui por enumeração, no conjunto dos ‘condenados’, os indivíduos que a ele pertencem, mas sim o faz por atribuição da qualidade enunciada no predicado ‘ser condenado’. Daí a forma condicional de sua enunciação: em sendo condenado, a qualquer tempo, seja ontem,

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hoje, ou amanhã, o indivíduo pertence, por compreensão atributiva ao conjunto dos que são definidos pelo enunciado ‘os que forem condenados’ e, portanto, compreendidos pela abrangência da lei”. [...] Assim, por tratar-se de mera emenda de redação, forçoso é concluir que o texto não sofreu nenhuma modificação em seu sentido original, pois se tal fosse o caso, o projeto teria sido devolvido à Câmara dos Deputados. (2013, online).

O princípio da irretroatividade das leis é outro aspecto levantado, por sua

vez, no mérito das Ações e recursos submetidos à apreciação do Supremo Tribunal

Federal (STF), gerando divergências quanto à constitucionalidade da LC nº

135/2010, e a aplicação de seus efeitos. O conceito legal da irretroatividade pode

ser extraído do Decreto Lei nº 4657, de 04 de setembro de 1942, da Lei de

Introdução às Normas do Direito Brasileiro, quando em seu art. 6º pontua que “[...] a

Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito

adquirido e a coisa julgada.”. Ora, consiste em não atribuir os efeitos de uma nova

legislação aos atos jurídicos realizados no passado, quando não contrariam tais

novas consequências calhadas pela norma recém criada. O rol dos direitos e

garantias fundamentais também insculpiu o princípio da irretroatividade no art. 5º,

inciso XXXVI da Carta Maior: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico

perfeito e a coisa julgada”. Porém, apesar de estar contido no texto constitucional e

também em uma lei que disciplina, genericamente, as normas do Direito Brasileiro,

tal princípio pode ser mitigado em matérias específicas. É o caso de um outro

comando constitucional do mesmo art. 5º, mas no inciso XL: “a lei penal não

retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Eis ai o que a sábia doutrina de Fernando

Capez chamou de princípio da retroatividade benigna (2008, p. 157).

De fato, a irretroatividade das leis, bem como a intangibilidade do ato

jurídico perfeito e a imutabilidade da coisa julgada, são objetos de exaustivos debate

quando das análises da LC nº 135/2010, sobretudo, quanto à alínea “k” que

considera inelegível os mandatários que:

Art. 1º [...]. I - [...]; k - [...] renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período

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remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura; [...]

Note-se que a renúncia de mandato em decorrência de representação ou

petição capaz de ocasionar uma cassação, antes de 2010 não surtia os efeitos da

inelegibilidade. Tão logo, a partir de 2010, renúncias desta estirpe, realizadas em

período anterior à vigência e eficácia da LC nº 135, teriam essa força de

inelegibilidade? O ministro Luiz Fux entendeu que sim, amparado por Joaquim José

Gomes Canotilho, observando que, na Teoria Geral da Norma, há dois tipos

retroatividade: a própria ou autêntica; e a imprópria ou inautêntica. Na primeira

espécie de retroatividade, a norma possui eficácia retroativa, gerando efeito sobre

situações passadas, atingindo relações jurídicas estabelecidas no passado. Na

segunda espécie de retroatividade, a inautêntica, também chamada de

retrospectividade, a norma jurídica editada atribui efeitos futuros a situações ou

relações já existentes. O primeiro caso de retroatividade (própria ou autêntica) é

vedado no Brasil. O segundo caso, o da retrospectividade, é permitido e acolhido

pelo tribunal, com vistas à fundamentação de sua Excelência, o ministro relator Luiz

Fux:

[...] A aplicabilidade da Lei Complementar nº 135/10 a processo eleitoral posterior à respectiva data de publicação é, à luz da distinção supra, uma hipótese clara e inequívoca de retroatividade inautêntica, ao estabelecer limitação prospectiva ao ius honorum (o direito de concorrer a cargos eletivos) com base em fatos já ocorridos. A situação jurídica do indivíduo – condenação por colegiado ou perda de cargo público, por exemplo – estabeleceu-se em momento anterior, mas seus efeitos perdurarão no tempo. Esta, portanto, a primeira consideração importante: ainda que se considere haver atribuição de efeitos, por lei, a fatos pretéritos, cuida-se de hipótese de retrospectividade, já admitida na jurisprudência desta Corte. (2012, online).

No ponto, o eminente ministro Luiz Fux ainda avalia que não há que se

falar em direito adquirido à candidatura, tendo em vista que o processo eleitoral se

dá justamente pela adequação daquele que se propõe a ser candidato no regime de

regras e condições para o exercício do direito político passivo (2011, online).

Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade também são

aventados quando se discute a constitucionalidade da LC nº 135/2010.

Necessariamente porque muito embora não encontrem expressa citação no texto

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constitucional brasileiro, são limites à interpretação da norma, como entende o prof.

Fredie Didier Jr. (2008, p. 36), sem prejuízo, portanto, de trazer à tona o § 2º do art.

5º, CF.: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais [...]” (grifo nosso). O professor Juarez Freitas diria que o princípio da

proporcionalidade implicaria no fato de que o Estado não deve agir com demasia,

com excesso, nem tampouco de modo insuficiente na consecução dos seus

objetivos (1997, p. 56). Aprofundando, Humberto Bergmann Ávila ressalta que

[...] pode-se definir o dever de proporcionalidade como um postulado normativo aplicativo decorrente da estrutura principal das normas e da atributividade do Direito e dependente do conflito de bens jurídicos materiais e do poder estruturador da relação meio-fim, cuja função é estabelecer uma medida entre bens jurídicos concretamente correlacionados. [...] (2012, p. 175).

Com os olhos voltados à análise da LC nº 135/2010 e uma suposta

violação à proporcionalidade, o eminente ministro Dias Toffoli durante a exposição

do voto do ministro Gilmar Ferreira Mendes, aproveitou o ensejo para relembrar que

a edição da LC nº 5 de 29 de abril de 1970, era extremamente restritiva ao espaço

democrático da cidadania diante das razões históricas e, obviamente,

antidemocráticas, do momento em que foi editada (2012, online). Pra causar o

espanto peculiar do contexto da ditadura militar no Brasil, no referido diploma legal:

[...] existia previsão que tornava inelegíveis candidatos que tivessem denúncia recebida por crime contra a lei de segurança nacional, contra a administração pública etc. (Art. 1º, I – São inelegíveis, para qualquer cargo eletivo: n) os que tenham sido condenados ou respondam a processo judicial, instaurado por denúncia do Ministério Público recebida pela autoridade judiciária competente, por crime contra a segurança nacional e a ordem política e social, a economia popular, a fé pública e a administração pública, o patrimônio ou pelo direito previsto no art. 22 desta lei complementar, enquanto não absolvidos ou penalmente reabilitados). Na época da ditadura, surgiram inúmeros processos cíveis e criminais visando exclusivamente tornar inelegíveis alguns candidatos. Nesta época, em 23 de setembro de 1976, o TSE, por voto de desempate (4 votos a 3), declarou a inconstitucionalidade da alínea n desta lei complementar, por ferir o princípio da inocência. O STF, contudo, por escassa maioria, derrubou o entendimento do TSE, alegando, em suma, que o princípio da inocência é aplicado apenas na esfera penal. [...] (CERQUEIRA, 2013, online).

Nesta linha, na LC nº 5 de 29 de abril de 1970, e no entendimento que

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sob ela assentou-se o STF, após o advento da Constituição Federal de 1988, havia

flagrante inobservância ao princípio da proporcionalidade. De modo que, por se

tratar de matéria congênere, pesquisadores e juristas apontam que a LC nº

135/2010, na alínea m, não seria destoante aos austeros objetivos legais e

antidemocráticos de 1970. O professor Ruy Samuel Espíndola rechaça dizendo que

pode haver muitas decisões administrativas que não observam as garantias

constitucionais, e, portanto, seria altamente antiquado atribuir a processos

disciplinares o que chamou de força derrogadora de direitos (2013, online).

Contudo, o ministro Carlos Ayres Britto, defensor da constitucionalidade

da LC nº 135/2010 em sua totalidade, ressalvou que a própria lei permite que o

Judiciário, através de qualquer juiz monocrático, possa suspender o ato

administrativo ou classista que acarrete a inelegibilidade a terceiro, principalmente

se naquele houver sobressaltada discrepância às garantias constitucionais que, por

terem eficácia irradiante, devem ser observadas em toda e qualquer situação

jurídica, estendendo-se a todos os ramos do Direito (2012, online). Neste ínterim, a

proporcionalidade não estaria atacada, com destaques para alínea “k”, que prevê a

inelegibilidade ao ato de renúncia para afugentar de representação ou petição que

possa acarretar cassação e, de consequência, a negativação do direito político

passivo.

Suscitado nos debates sobre a (in)constitucionalidade da lei em questão,

o princípio da segurança jurídica versa sobre uma higidez, uma firmeza, uma

estabilidade do Ordenamento Jurídico, que passa ao Estado e aos seus cidadãos

não apenas a sensação, mas a certeza de um sistema que não se coaduna a riscos,

perigos ou dubiedades. Para o doutrinador Uadi Lammêgo Bulos, tal princípio

materializa-se “[...] mantendo estruturas e competências, com vistas à defesa da

ordem jurídica [...]” (2011, p. 125). No entanto, com a alteração do rol de direitos

políticos negativos, percebe-se uma modificação nas estruturas, admissível, desde

que respeite os preceitos que disciplinam tais alterações, contidos na própria ordem

jurídica.

Por sua vez, princípio da anualidade eleitoral foi extremamente

preponderante no tocante a aplicabilidade da LC nº 135/2010 para as eleições

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daquele mesmo ano. O art. 16 da Carta da República de 1988 preconiza que: “[...] A

lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não

se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência” (grifo

nosso). O problema instalou-se porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido

naquele ano pelo ministro Ricardo Lewandowiski entendeu que a referida lei deveria

produzir seus efeitos para a eleição do mesmo ano em que foi publicada, qual seja,

2010. Necessariamente justificando que o princípio da anualidade pretende apenas

uma antecedência para evitar surpresas nas regras da disputa eleitoral. Para os

eminentes ministros Ricardo Lewandowiski e Ayres Britto, tal antecedência teria sido

observada, pois a publicação da Lei Complementar data de 04 de junho do mesmo

ano, anterior, inclusive, às convenções partidárias (2012, online). Na Suprema Corte,

tal tese não prosperou, pelo voto de desempate proferido pelo ministro Luiz Fux:

‘[...] É aplicar, como naquela ocasião, a literalidade do art. 16 da Constituição Federal, de modo a que as inelegibilidades por instituídas pela nova lei sejam aplicáveis apenas às eleições que ocorram mais de um ano após a sua edição, isto é, a partir das eleições de 2012. [...]’ (2012, online, grifo do autor).

Na ADI nº 4578, a autora, a Confederação Nacional das Profissões

Liberais (CNPL), arguiu como objeto de inconstitucionalidade, a alínea “m” da LC nº

135/2010, sob o argumento de que esta ofenderia expressamente o parâmetro

constitucional do devido processo legal, insculpido no art. 5º, inciso LV da

Constituição Federal, transcrevendo-se: “[...] Art. 5º [...]; LV - aos litigantes, em

processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o

contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...]”.

Erigido pelo episódio histórico da Carta Magna de 1215, no qual o rei João Sem

Terra pactuou com senhores feudais ingleses o jargão no taxation without

representation, ou seja, não haveria recolhimento tributário sem prévia comunicação

e discussão com os sujeitos passivos, os contribuintes, no caso, os senhores

feudais, o princípio do devido processo legal instaura, naquele momento, uma

exigência documental, submetida ao prestígio de donatários de terra

representativos, que mais tarde fundariam a concepção básica parlamentar,

rebuscando os modelos clássicos de governo da antiguidade grecorromana (LENZA,

2009, p. 5). Tal princípio evocado estaria sendo pisado pela LC nº 135/2010, sob a

escusa de que haveria um direito adquirido à elegibilidade, e que esse direito não

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poderia ser obstado sem a observância a um devido processo legal, no qual

prevalecesse a ampla defesa e o contraditório. Pois bem, tal tese não prosperou no

julgamento em tela, porque entendeu-se que a elegibilidade não é direito subjetivo

do indivíduo e, de consequência, não estaria a mercê de toda a processualística e

suas dissidências. Do contrário, é direito que, para o seu exercício, exige manifesto

preenchimento a requisitos éticos e elementares.

Por fim, o princípio da presunção de inocência (ou não culpa), levantado

como aparentemente controvertido na LC nº 135/2010 é um tanto quanto curioso,

pois no julgamento em questão, foi causador de uma revisão de jurisprudência da

Suprema Corte. Primeiramente, é importante consignar a previsão internacional

deste instituto, mormente o texto da Convenção Americana de Direitos Humanos, o

conhecido “Pacto de San Jose da Costa Rica”, firmado em 22 de novembro de 1969,

do qual o Brasil é signatário, tendo o promulgado na forma do Decreto nº 678 de 06

de novembro de 1992. Transcrevendo-se o que traz a lume: “[...] 8.2. Toda pessoa

acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se

comprove legalmente sua culpa [...]” (2013, online).

Diferentemente da Convenção Internacional, mas quase no mesmo teor,

o arrimo do constituinte pátrio, no art. 5º, inciso LVII da Carta Mãe preconiza: “[...]

Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado em sentença penal

condenatória; [...]” (grifo nosso). O doutrinador Rogério Sanchez Cunha (2013,

online) enumera que o primeiro desdobramento deste princípio é o de que qualquer

restrição à liberdade do acusado somente se admite após a condenação definitiva,

ao não ser que a prisão provisória seja imprescindível à instrução criminal, nos

termos do art. 312 do Código de Processo Penal, Decreto Lei nº 3.689 de 03 de

outubro de 1941. Outra consequência deste princípio alinhavada pelo mesmo autor

é a de que cumpre à acusação o dever de demonstrar a responsabilidade subjetiva

do réu, provando a materialidade e autoria do crime, não cabendo ao acusado

provar a sua inocência. No mesmo ínterim, a condenação tem que derivar da

certeza do julgador, consagrando o brocardo in dubio pro reo, ou, melhor dizendo,

havendo dúvida, julgar em favor do réu.

O processualista penal Nestor Távora alerta que até o marco do trânsito

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em julgado, que trata-se do esgotamento de todas as vias de recurso no processo

penal, o réu deve ser considerado presumivelmente inocente, ou não culpável,

cabendo à acusação todo o lastro probatório que demonstre a materialidade e

autoria do crime. E, não obstante, o mesmo jurisconsulto citando George Sarmento

destaca que houve a necessidade de:

[...] cristalizar a presunção de inocência como um direito fundamental multifacetário, que se manifesta como regra de julgamento, regra de processo e regra de tratamento [...] criando um amplo espectro de garantias processuais que beneficiam o acusado durante as investigações e a tramitação da ação penal [...] (2010, p. 50-51, grifo

nosso).

Neste diapasão, é justamente onde reside a revisão da jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal, no tocante à amplitude da presunção de inocência. Até

então, prevalecia o entendimento do ministro Celso Antônio Bandeira de Mello, que

em Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 144, decidiu

pela eficácia irradiante e horizontal da presunção de inocência, para além dos

espaços do processo penal apenas (2013, online).

Nesta toada, o relator da ADI nº 4578, ADC nº 29 e nº 30, o ministro Luiz

Fux, chamou de overruling, ou seja, o fim de uma regra, ou a virada de uma regra, a

proposta de revisão de jurisprudência que utilizara para divergir da interpretação

dada à presunção de inocência ou não culpabilidade na aludida ADPF do parágrafo

anterior. Para o eminente ministro relator, o momento histórico da referida Arguição

remetia-se a um período pós-ditatorial muito recente, consoante a

imprescindibilidade de elevar ao máximo, as garantias da democracia que insurgia

em face de um período arbitrário da história brasileira, 1964-1985. Contudo, ressalta

Luiz Fux, que o momento histórico brasileiro contemporâneo ao seu voto é assaz

louvavelmente outro, no qual as instituições democráticas, já consolidadas, fazem

um apelo pela moralização da política e pela probidade no manusear da coisa

pública. Tão logo, com vistas ao que chamou de “[...] incongruência sistêmica ou

social [...]” (2012, online), caberia a relativização da presunção de inocência para

fins eleitorais, antes considerada absoluta. Nestes termos, foi seguido pela maioria

do colegiado da mais alta corte da República, que afastou a aplicação da presunção

de inocência ou não culpa para o processo eleitoral e, sobretudo, quando acolhe os

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critérios de inelegibilidade constados da redação da LC nº 135/2010.

6. Direito, ética, moral e o comportamento brasileiro frente aos comandos

normativos eleitorais

A propedêutica jurídica leciona que o direito, bem como a moral, são

instrumentos de controle da sociedade, que existem, num conceito durkheimiano,

para manter a ordem (NADER, 2010, p. 53). Todavia, para muitos doutrinadores,

direito e moral não se confundem, estabelecendo-se entre estes, algumas diferenças

a serem enfrentadas.

O professor Paulo Nader leciona que existem as normas jurídicas e não

jurídicas. Estas, do campo moral, e aquelas relativas ao Direito, produto de uma

atividade legislativa, e positiva do Estado. Estabelecendo as diferenças entre Direito

e Moral, o magistério supracitado pugna que o Direito é objetivo; a moral subjetiva; o

Direito subordina-se ao comando estatal; a Moral subordina-se tão somente à

coletividade e às convicções das pessoas; o Direito, se violado, contrai sanções

efetivas a serem impostas pelas instituições públicas; a Moral, se atropelada, pode

vir a ser submetida a uma reprimenda social, que não aquelas oriundas da atividade

do Estado; o Direito é norma bilateral; a Moral é regra unilateral; O Direito é norma

que sucede fenômeno exterior; a Moral não é cogente e não dispõe de punição; o

Direito é sancionado ou promulgado; a Moral é elemento formado a partir de uma

cultura, de uma axiologia intersubjetiva das comunidades (2010, p. 53). Por outro

lado, o jurisfilósofo Eduardo Carlos Bianca Bittar, professor da tradicional Faculdade

do Largo do São Francisco da Universidade de São Paulo (USP), enfatiza que há,

nesse paralelo entre Direito e Moral quase uma antinomia, um paradoxo, uma ampla

antítese:

[...] o Direito possui como características: a heteronomia; a coercibilidade; a bilateralidade [...] Unilateralidade, incoercibilidade e autonomia seriam as notas essenciais da moral, significando exatamente o oposto do indicado anteriormente como características do Direito. [...] (2011, p. 519-520).

Destarte, o grande perigo que existe em delinear, destrinchar, esmiuçar e,

por fim, diferenciar Direito e Moral insurge da hipótese dessa separação solver um

Direito imoral, enquanto a moral não seria, por si só, objeto essencial, predecessor,

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requisito, e constitutivo do Direito. Tão logo, o Doutor Eduardo Bittar insiste na

intensa intimidade do Direito com a Moral, obstando a argumentação nazista

proferida em quase todos os julgamentos do Tribunal de Nuremberg que ousou

alegar a licitude e, portanto, moralidade do genocídio de judeus, por haver previsão

legal que todo o serviço público nacional alemão devia hierarquia e obediência,

atendo-se somente à tarefa do cumprimento de ordens, não importando quais

fossem elas e que objetivos tivessem, vez que decorriam da presunção de

legitimidade da própria lei alemã (2011, p. 521).

No artigo O Neoconstitucionalismo no Brasil: Riscos e possibilidades, de

Daniel Sarmento, há a acertadíssima observância de que até mesmo os positivistas,

na atual conjuntura jurídica, reconhecem a imbricação da moral e do Direito como

fenômeno inarredável:

[...] Ao reconhecer a força normativa de princípios revestidos de elevada carga axiológica, como dignidade da pessoa humana, igualdade, Estado Democrático de Direito e solidariedade social, o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral. É certo que aqui reside uma das maiores divergências internas nas fileiras do neoconstitucionalismo. De um lado, figuram os positivistas, como Luigi Ferrajoli, Luiz Prietro Sanchís, Ricardo Guastini e Suzana Pozzolo, que não aceitam a existência de uma conexão necessária entre Direito e Moral, mas reconhecem que pode haver uma ligação contingente entre estas esferas, sempre que as autoridades competentes, dentre as quais se inclui o poder constituinte originário, positivem valores morais, conferindo-lhes força jurídica. Do outro, alinham-se os não-positivistas, como Ronald Dworkin, Robert Alexy, Carlos Santiago Nino e seus seguidores, que afirmam que Moral e Direito têm uma conexão necessária, e aderem à famosa tese de Gustav Radbruch, de que normas terrivelmente injustas não têm validade jurídica, independentemente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento. Dentre estes autores, há quem insista na idéia de que o Direito possui uma ‘pretensão de correção’, pois de alguma maneira é da sua essência aspirar à realização da justiça. [...] (2013, online, grifos do autor).

Sobre esta intersecção entre Direito e Moral, Eduardo Bittar compila

situações exemplificativas de estreita ligação e expressa previsão no Ordenamento

Jurídico brasileiro, que dão um fundo jusnaturalista para o sistema em vigor: (i) a

dívida de jogo, que por ter um objeto ilícito, não encontra na escada ponteana o

plano de validade consolidado, sendo juridicamente inexigível, restando somente

uma obrigação moral; (ii) o incesto não é tipificado como crime no Código Penal

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pátrio, mas é altamente expurgável pela moral coletiva; (iii) a boa fé objetiva, da qual

é erigida uma série de presunções nas relações civis, na teoria geral dos negócios

jurídicos; (iv) a perda do poder familiar dos pais, caso procedam ao arrepio da moral,

mormente o exarado no art. 1.638 do Código Civil brasileiro, Lei nº 10.406 de 10 de

janeiro de 2002; (v) o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,

Decreto Lei nº 4.657 de 04 de setembro de 1942, que permite à judicatura a

aplicação dos princípios gerais do direito, quando a norma for omissa, tendo aqueles

implicação ética: neminem laedere, do latim, a ninguém lesar, suum cuique tribuere,

melhor dizendo, dar a cada um o que é seu, honeste vivere, viver honestamente; (vi)

no mesmo artigo do diploma supracitado, insta que o magistrado pode aplicar os

costumes para solucionar a demanda; e, (vii) o princípio da moralidade pública,

insculpido no caput do art. 37 da Constituição Federal de 1988. Para o jusfilósofo

supra evocado:

[...] Aqui se comprova a relevância do princípio moral para a própria organização, manutenção e credibilidade cívica dos serviços públicos. O que é moralmente recomendável tornou-se juridicamente exigível do funcionalismo público. [...] (2011, p. 521).

Dando continuidade à análise proposta, o termo ética, por seu turno,

origina do grego ethos, e implica uma tradução do sentido de pele (2013, online).

Portanto, ético é aquilo que está na pele, ou que se traz nesse tecido protetor e

elástico do organismo humano. Por esta ótica, o conceito de ética está ligado ao

hábito, ao comportamento, à repetitiva, reiterada ação humana, a ponto de

determinar o modo de agir do indivíduo, sua cor, sua textura (BITTAR, 2011, p. 542).

Pelo que se percebe, a LC nº 135/2010 é fruto de uma crise ética na coisa

pública brasileira, algo sucedido das fundamentações dos votos de alguns ministros

do Supremo, em especial, Luiz Fux e Ayres Britto (2012, online). Todavia, vinculado

ao conceito comportamental da ética, convém anotar que apesar da existência de

uma moral comum, uma reação esperável do homem médio a situações adversas

do moralmente recomendável, incide um comportamento cultural do brasileiro que

repisa os versos de Chico Buarque: “[...] Não existe pecado do lado debaixo do

equador [...]” (2013, online).

Neste esteio, para enrobustecer o perfil pacifista, desinteressado, passivo,

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controvertido e estranho do brasileiro, a Federação das Indústrias do Estado de São

Paulo (FIESP) (2013, online), em pesquisa publicada em agosto de 2011, aponta

que nos últimos dez anos foram desviados cerca de 720 bilhões de reais dos cofres

públicos do Brasil. Isto representa um desperdício oscilando entre 50 e 85 bilhões de

reais anualmente, o que é muito maior do que as previsões orçamentárias de vários

entes federativos, como, exemplificativamente, o Estado de Goiás. Os dados

levantados pela FIESP não auferiram quanto custou, na última década, ao erário, a

manutenção dos órgãos técnicos de fiscalização como os Tribunais de Contas, quer

da União, dos Estados ou dos Municípios. Ora bem, mesmo com todo esse aparato

fiscalizador, não há na coisa pública brasileira uma segurança mínima da destinação

dos recursos públicos, haja vista que todo esse dinheiro resvalou-se pelo tempo, e, a

própria Controladoria Geral da União publica gráficos mostruários da probabilidade

de um funcionário corrupto ser condenado: de menos de 5% (HERNANDES, 2013,

online). Não obstante, a possibilidade desse mesmo agente cumprir pena de prisão

é quase zero. Por último, dos recursos desviados, apenas 8% deles retornam aos

cofres públicos.

Por esta esteira, é assustador que, no Brasil, ainda haja tanta discussão

quando há singelos apelos, acenos, gestos populares pela moralização da coisa

pública. Em sua defesa no fatídico RE nº 631.102, o senador Jader Barbalho, até

então banido pela LC nº 135/2010, chegou a questionar a legitimidade democrática

do referido diploma (2012, online). Para o senador, a taxada lei ficha limpa precisaria

de apenas um milhão e quatrocentas mil assinaturas. Numericamente, tal norma

estaria aquém de si, haja vista que foi endossado por um milhão setecentos e

noventa e nove mil, setecentos e sessenta e dois votos. Tal famigerada comparação

seria ainda mais procedente se considerados os números do Departamento

Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), que, sobre o produto das eleições

de 2010, a 52ª legislatura da Câmara dos Deputados, aponta a verdadeira

dificuldade que o eleitor brasileiro tem de renovar os seus representantes. A

despeito da insatisfação geral com as políticas públicas, e com os escândalos cada

vez mais latentes, 54% dos parlamentares foram reeleitos para mais um mandato na

referida Casa dos representantes do povo (2013, online).

A título de reflexão, as palavras de Thomas Jefferson poderiam fazer

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algum sentido para o fechamento deste trabalho: “[...] Se os homens são puros, as

leis são desnecessárias; se os homens são corruptos, as leis são inúteis! [...]” (2012,

online). Tão logo, é impossível constatar se a LC nº 135/2010, suas implicações,

seus debates, sua incidência, suas pesquisas tenham alguma serventia para o

contexto histórico, político, social e cultural do Brasil, no invólucro da cultura moral

tão controvertida da cosmologia axiológica nacional.

Tais conclusões são conforme o estudo do antropólogo Roberto Damatta,

em “O que faz o brasil Brasil?”, pinçando abaixo, elementos da identidade cultural

brasileira:

[...] Por tudo isso, somos um país onde a lei sempre significa o ‘não pode!’ formal, capaz de tirar todos os prazeres e desmanchar todos os projetos e iniciativas. De fato, é alarmante constatar que a legislação diária do Brasil é uma regulamentação do ‘não pode’, a palavra ‘não’ que submete o cidadão ao Estado sendo usada de forma geral e constante. Ora, é precisamente por tudo isso que conseguimos descobrir e aperfeiçoar um modo, um jeito, um estilo de navegação social que passa sempre nas entrelinhas desses peremptórios e autoritários ‘não pode!’. Assim, entre o ‘pode’ e o ‘não pode’, escolhemos, de modo chocantemente antilógico, mas singularmente brasileiro, a junção do ‘pode’ com o ‘não pode’. Pois bem, é essa junção que produz todos os tipos de ‘jeitinhos’ e arranjos que fazem com que possamos operar um sistema legal que quase sempre nada tem a ver com a realidade social [...]. (1986, p.82, grifos do autor).

Enrobustecendo, Ironildes Bueno e Rogério Lustosa, já falando sobre o

grande problema que a LC nº 135/2010 buscou combater (a corrupção), já apontam

que:

“[...] Se apenas o Estado fosse corrupto, a engrenagem da corrupção não marcharia: é preciso que os políticos encontrem parceiros na sociedade civil. [...] Na verdade, como costumeiramente se diz na também corrompida vizinha Argentina, a corrupção é como o tango: é preciso mais de um para dançá-lo. [...]” (2011, p. 20).

Eis ai a suposta necessidade do resguardo, da tutela normativa estatal

cuidando de proteger o povo e o Estado inclusive de si mesmos, impondo uma carga

de valores muito mais complexa e historicamente conquistada, fitando preservar o

decoro, a decência, o pudor, a educação, a formação, a segurança jurídica e,

sobretudo, a dignidade, buscando eliminar esta fusão bagunçada do “não pode” com

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o “pode”, adequando à realidade social pátria o mínimo esperável e recomendável

de seus representantes, uma vida pregressa compatível com probidade com a qual

deveriam, em tese, exercer os cargos eletivos a que se propuserem ocupar.

7. Conclusão

A Lei Complementar nº 135/2010 vem ao encontro da avidez e do clamor

popular pela moralização da coisa pública no Brasil, em um momento peculiar da

história da democracia brasileira. Acrescendo cláusulas de inelegibilidade no

ordenamento jurídico pátrio, nos termos do art. 14, § 9º da Carta da República de

1988, tal norma inovou nos requisitos do exercício dos direitos políticos passivos.

No tocante à suas fontes, ou origens, a referida norma encontra arrimo no

próprio espírito democrático, que é traduzido pela participação popular nas decisões

do organismo social politicamente estruturado (o Estado), também através de atos

de publicidade, transparência e, sobretudo, garantindo-se a todos a presunção da

honestidade dos governantes.

Muito bem intencionada, portanto, no escopo de moralizar a coisa pública

e enrijecer os requisitos para a ocupação de cargos eletivos, a reforma que a lei em

estudo trouxe ao Ordenamento foi altamente rebatida por divergências de todos os

lados: doutrina ou jurisprudência. De modo que levantou-se uma série de aparentes

contradições das normas e preceitos constitucionais parâmetros, face à LC nº

135/2010. Tendo que solver estas incompatibilidades hipotéticas, à luz da segurança

jurídica e, pelo prisma teórico do princípio da unidade da Constituição e do Sistema

Normativo, os intérpretes maiores do Estatuto Político Brasileiro de 1988 apreciaram

a matéria tanto em sede de controle abstrato (por meio da ADI 4578 e ADCs 29 e

30), quanto também em controle difuso (ao exemplo dos REs nº 630.146/DF; e nº

631.102/PA). Na oportunidade, o Supremo assentou

à constitucionalidade a LC nº 135/2010, asseverando sua presunção vertical de

compatibilidade com a Constituição Federal de 1988, com as ressalvas de sua

aplicação somente a partir das eleições de 2012, nos termos do art. 16 da Lei Mãe.

Muito embora seja pacífico que a democracia materializa-se pelo respeito

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à vontade popular, é importante destacar que, por outro lado, o espírito democrático

se assevera quando as leis, já positivadas, não passam pelo esvaziamento de

eficácia, ainda que contrariem os interesses da maioria. Nesta toada, por mais que a

vontade do povo seja pela eleição de um candidato obstado por cláusula de

inelegibilidade, a pretensão popular pode abster-se, pois inexiste um direito

adquirido à candidatura. Para propor-se ao exercício do comando do Estado (o

governo), deve o cidadão que pretende passar pelo crivo das urnas, adequar-se ao

sistema eleitoral, ajustando-se às exigências de valores e galhardos constitucionais

embutidos nas cláusulas de inelegibilidade da recém reformada LC nº 64/1990.

Considerando a mutabilidade constante do direito, é através dos embates

desenvolvidos pelos escritores contemplados neste trabalho que caminha-se para

encontrar a forma mais justa e confiável que, por hora, consideram a LC nº 135/2010

plenamente constitucional, por decisão do Supremo Tribunal Federal, passível de

revisão pela própria Corte.

Sucede que, por fim, o Direito, a ética e a moral são institutos diferentes,

mas, estreitamente correlacionados. De modo que a ética pode ser determinante ao

conteúdo positivado pelo Estado (o Direito), principalmente porque esta se refere ao

comportamento, à conduta dos indivíduos. Assim, é de se concluir que o Direito é

produto ético de conteúdo moral, não importando se esta moral está ou não

coadunada a pressupostos sensíveis de humanidade. Logo, sob as lentes do

neoconstitucionalismo e do neopositivismo, a moral e o Direito não podem ser

dissociados, razão pela qual a LC nº 135/2010 é mais um ponto de intersecção entre

eles: o que se recomenda moralmente passa a ser exigido juridicamente.

Na mesma linha, ocorre que, o comportamento do brasileiro não é tão

simples e adequado à fria negativa da interpretação das leis. Por se tratar de um

povo cuja cosmologia axiológica é altamente vulnerável e isto se reflete em simples

hábitos/práticas do cotidiano, a aplicação da LC nº 135/2010 fica a mercê de cada

caso concreto, com suas peculiaridades subjetivas que suplantam a objetividade da

norma. Tanto que a própria lei faculta a um magistrado a possibilidade de

flexibilização das regras de inelegibilidade, sob a conveniência e oportunidade da

discricionariedade deste dispositivo que, em tese, deve ser utilizado como objeto de

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transformação política, social e cultural.

Espera-se que os contornos definidos por esta pesquisa possam

contribuir ao desenvolvimento das relações humanas em sociedade.

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