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Arte Pará 2003 - 22ª edicão

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Page 1: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

Arte

Pará

2003 - 2

2ª e

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22a Edição

O Modernismo como Inspiração e Diálogo

Museu do Estado do Pará

Galeria da Residência

Fundação Romulo Maiorana

Belém-PA

Outubro 2003

Page 3: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

4

Ao longo dos seus vinte e dois anos de atuação, a Fundação Romulo Maiorana vem

assumindo um papel cada vez mais importante para o cenário artístico do Pará,

notadamente o das artes plásticas.

De um sonho que passou de pai para filha, o trabalho exercido nesta fundação ganha,

ano a ano, uma dimensão mais profissional e organizada, realizando projetos que unem

arte e educação. Não só para a formação de um futuro público para exposições de arte,

mas para a formação de cidadãos mais esclarecidos e cientes de seus papéis sociais.

Uma missão que procuramos seguir em todas as empresas que compõem as

Organizações Romulo Maiorana.

Na apresentação de mais uma edição do Arte Pará, que hoje temos o orgulho de ver como

o mais importante salão de arte da região Norte, agradeço a todos que têm feito com que

seja possível continuar o sonho e ampliá-lo, dando a abertura para um diálogo entre artistas

de todas as partes do Brasil. Agradecemos especialmente às empresas que patrocinam o

evento deste ano: REDE Celpa, Unimed-Belém, Supermercados Nazaré e Sistema Del Rey

Casa Própria.

Lucidéa Maiorana

Presidente

5

1982 - “Um novo espaço”. Assim escreveu João de Jesus Paes Loureiro no texto de

abertura do primeiro Salão Arte Pará. Passaram-se vinte e dois anos, com mudanças no

mundo, no país, no Estado e no tempo; e o salão Arte Pará está vivo e vive na busca de

aprender para poder ser visto.

O Salão Arte Pará é um espaço ainda novo, de vinte e dois anos felizes e de um trajeto

de idéias concretizadas. Sua finalidade, através dos seus espaços, MEP e Galeria da

Residência, é educar com a arte, revelando um tempo passado e o contemporâneo. É

um trabalho de vida longa.

2003 - Estamos na maturidade e no crescimento, o Salão ousa mais em sua curadoria e,

como vem fazendo há alguns anos, investe em atividades didáticas, com o apoio dos

monitores da Universidade Federal do Pará. Temos um compromisso com a educação. O

Salão evoluiu. Seu percurso é de um trabalho em conjunto, de uma equipe infatigável na

busca de realizar um sonho dividido com todos.

Roberta Maiorana

DiretoraFundação Romulo Maiorana

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Quantos salões no Brasil têm a permanência do Arte Pará? Virou tradição. E tão inarredável

quanto o Círio de Nazaré, integrando-se a ele tanto no calendário, quanto na expectativa

e nos zelosos preparativos que antecedem ambos.

A feliz semente do seu criador, Romulo, amadureceu nas mãos diligentes da filha, Roberta,

a lhe dotar de novos ares e rumos, mas sem perder jamais os objetivos traçados desde a

primeira versão: estabelecer um espaço competitivo de excelência para as chamadas

artes visuais que fosse referência nacional; propiciar condições ideais para as trocas

simbólicas entre os nossos artistas e os do restante do país; estimular o surgimento de

novos valores, sem descurar aqueles que já estão consagrados; ampliar o debate do

conceito de arte, particularmente a contemporânea, refletindo sobre a sua inserção social.

Bem, obrigado - assim caminha o nosso Arte Pará nessas duas décadas de compromisso

assumido com o bem fazer. Celebremos, sem dúvida de qualquer índole, a obstinada

decisão de manter viva a chama, e que continue a iluminar os tempos que vão chegar.

Paulo Chaves Fernandes

Secretário Executivo

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Seleção 8Premiação 9

Museu do Estado do Pará 11

Artes Plásticas

O modernismo como inspiração e diálogo 12

Alberto da Veiga Guignard 14

Aldo Bonadei 16

Alfredo Volpi 18

Antônio Bandeira 20

Antônio Gomide 22

Cândido Portinari 24

Clóvis Graciano 26

Emiliano Di Cavalcanti 28

Fulvio Pennacchi 30

Ismael Nery 32

Tarsila do Amaral 34

Vicente do Rego Monteiro 36

Entre a Figura e a Abstração 41

Augusto Morbach 44

Benedicto Mello 46

João Pinto Martins 48

Mário Pinto Guimarães 50

Roberto de La Rocque Soares 52

Ruy Meira 54

Tadashi Kaminagai 56

Waldemar da Costa 58

Yoshio Yamada 60

Mostra Competitiva 62Artes Plásticas

Grande Prêmio 64

Segundo Prêmio 65

Aquisição 66

Artistas Selecionados 68

Galeria da Residência 75

Fotografia

Caixa de LuzLuiz Braga

Mostra Competitiva 82Fotografia

Grande Prêmio 84

Segundo Prêmio 85

Aquisição 86

Fotógrafos Selecionados 89

Fichas Técnicas 93

Agradecimentos 95

Patrocinadores 96

Apoio Cultural 97

Page 5: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Seleção

A comissão que fez a seleção dos artistas participantes do Arte Pará 2003 foi formada

pelo curador Marcus de Lontra Costa, pelo jornalista e crítico de arte Celso Fioravante,

pela jornalista Daniela Name, pelo fotógrafo Orlando Maneschy e pelo artista plástico

Emanuel Franco, que presidiu os trabalhos.

A seleção aconteceu no dia 12 de setembro de 2003, na Galeria da Residência, totalizando

53 artistas escolhidos, sendo 33 deles em artes plásticas e 20 em fotografia. Na avaliação

das obras, foram observados os critérios de contemporaneidade e adequação dos meios

técnicos às propostas apresentadas.

9

Premiação

A premiação do Arte Pará 2003 aconteceu no dia 6 de outubro e deu o grande prêmio de

artes plásticas para Marcone Moreira (PA) e o grande prêmio de fotografia para Eduardo

Kalif (PA). O segundo lugar em artes plásticas foi dado a Lúcia Gomes (PA) e, em fotografia,

a Miguel Chikaoka (PA). O júri também concedeu prêmios de aquisição para Danielle

Fonseca (PA), Alexandre Monteiro (RJ), Frederico Dalton (RJ), Dirceu Maués (PA) e

Alexandre Sequeira (PA).

O júri de premiação foi formado pelos fotógrafos Evandro Teixeira e Orlando Maneschy,

pelos curadores Jussara Derenji e Marcus de Lontra Costa e pelo artista plástico Emanoel

Franco, que presidiu os trabalhos. Eles mantiveram os mesmos critérios usados para a

seleção, acrescentando os itens de pesquisa e adequação da obra ao projeto expositivo.

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10 11

Museu do Estado do Pará

Artes Plásticas

O modernismo como inspiração e diálogo

Curadoria Marcus de Lontra Costa

Di Cavalcanti

Carnaval (detalhe da obra), 1972

Óleo sobre Tela, 1,67x1,97m

Acervo do Banco Central

Page 7: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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O modernismo como inspiração e diálogo

A mostra reúne 31 obras da coleção do Banco Central, um dos mais importantes acervos

sob a guarda de instituições públicas no Brasil. Esse pequeno e exemplar conjunto de

obras selecionadas pela curadoria traça um roteiro sintético do período “heróico” do

modernismo brasileiro, que se esboça nas duas primeiras décadas do século XX, se

cristaliza na emblemática Semana de 22 e avança até a criação de instituições voltadas

para a difusão específica da arte moderna, como os Museus de Arte Moderna do Rio de

Janeiro e de São Paulo, criados no final dos anos 40.

De Tarsila do Amaral a Alfredo Volpi, a curadoria buscou traçar um eixo crítico no qual se

evidencia o principal desafio da arte moderna em nosso país: criar uma obra autônoma

num país periférico e contribuir para a formação de um olhar brasileiro que incorporasse

elementos do nosso passado e, ao mesmo tempo, viesse projetar as bases do nosso

futuro. O modernismo surge, portanto, como um desejo, uma ânsia de um país jovem e

republicano disposto a criar um novo “projeto visual” que substituísse a velha ordem

imperial representada pela Academia, oriunda da Missão Francesa de 1815, trazida ao

Rio de Janeiro por D. João VI.

Agrícola e conservador, o Brasil desses “tempos heróicos” sofria as pressões de uma

pequena classe média dos grandes centros urbanos que clamava por uma mudança no

quadro político nacional. Essa reação espalhava-se com destaque no meio militar, no

movimento “tenentista” e numa espécie de ímpeto desenvolvimentista que colidia com

a política da Velha República. Nas artes, o modernismo vem a se manifestar inicialmente

com os herdeiros dessa aristocracia, privilegiados estudantes que voltavam da Europa

com novas informações, novos projetos.

Ao mesmo tempo, os ímpetos nacionalistas, já despertados na segunda metade do século

XIX com os movimentos artísticos de valorização do índio brasileiro, ressurgem com

força total na literatura e nas artes, visando a valorização da língua “brasileira” e das

nossas lendas e costumes nacionais, muitas vezes sufocados pela valorização estética

excessivamente européia imposta pelos padrões da Academia.

Assim, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Antônio Gomide e Vicente do Rego Monteiro

trazem esse jovem e aguerrido espírito modernista patrocinado por uma aristocracia

disposta a épater les bourgeois, ao mesmo tempo em que refletem o compromisso de

um país disposto a estabelecer novos pactos de convívio e ação política e social. Nesse

sentido, a pintura ao mesmo tempo moderna, surrealista e ingênua de Tarsila, a “caipira

vestida por Poiret”, aluna de Léger, esposa de Oswald de Andrade e herdeira e afilhada

da República Velha, é exemplar como emblema e síntese dos anos 20 e das curiosas e

intrincadas relações da arte moderna com as forças conservadoras do poder constituído.

Na verdade, a arte moderna acaba por se estruturar como realidade concreta e como

estratégia real de formação de um pensamento crítico coerente somente nos anos 30,

seja com a ação efetiva dos artistas modernos na então capital brasileira, Rio de Janeiro

, seja com o surgimento de uma nova geração de artistas oriundos da classe operária em

São Paulo. Conforme anota o grande Mário Pedrosa, com a inteligência e precisão de

13

sempre: “Se foi Higienópolis que fez a Semana de Arte Moderna de 1922, foram Cambuci

e adjacências que fizeram a Família Artística Paulista na outra etapa. Se o local em que se

realizou a Semana foi o majestoso foyer do Teatro Municipal de São Paulo, a sede da

Família era uma sala do edifício Santa Helena, no largo da Sé, onde desde 1933 se localizava

a maior parte dos sindicatos novos criados com a Revolução de 30.”

Esse projeto modernista, de caráter nacionalista, encontra eco nas propostas do novo

governo e se estrutura através do embate político provocado pela revolução bolchevista

de 1917 e os movimentos nazi-fascistas que alcançam o poder na Itália e na Alemanha. O

Brasil dos anos 30 assinala a formação de um modernismo nacionalista, disposto a

colaborar efetivamente para a formação do olhar e do sentimento brasileiro. A exuberância

das mulheres de Di Cavalcanti e o lirismo e sofisticação das paisagens e naturezas-mortas

de Guignard são elementos característicos dessa situação. Porém, se Tarsila, sob todos

os aspectos, é o símbolo da ânsia modernista dos anos 20, Portinari, filho de imigrantes

italianos, de origem campesina, de grande técnica e extraordinário talento, incorpora

elementos acadêmicos, dialoga com os muralistas mexicanos e traz, definitivamente, o

homem brasileiro para o centro da discussão, tema principal da arte e do nosso

modernismo, híbrido e necessário na sua tentativa de se fazer presente numa arena

nacional por vezes tão erma e cruel para a afirmação do novo.

A presença de Le Corbusier, o surpreendente arrojo da arquitetura moderna brasileira e a

construção do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro acabam por resolver

definitivamente os dilemas do nosso modernismo e contribuem para a implantação de

novas diretrizes teóricas, nas quais se resolve a dicotomia entre o nacional e o internacional,

entre o Mundo e o Eu.

Nesse sentido, as obras de Antônio Bandeira se afirmam como explosão de vitalidade e

ousadia cromática, enquanto o genial Alfredo Volpi detona conceitos tradicionais com a

elaboração de uma obra poética na qual a clareza e a sofisticação estabelecem um dos

mais belos diálogos de toda a história da arte brasileira.

Surge, então, já nos anos 50, um país estruturado e pronto a enfrentar os grandes dilemas

estéticos com os quais o mundo se defronta. Graças a esses artistas, o Brasil começa a

estruturar um olhar substantivo e coerente e cria uma linguagem na qual elementos

internacionais e nacionais se fundem de maneira ousada e harmônica. A abstração

geométrica e informal, os grandes movimentos culturais dos anos 50 (concretismo e

neo-concretismo, bossa nova, cinema novo, etc...) tornam-se possíveis graças à ação

ousada e pioneira desses grandes artistas, que estruturam a base de nosso saber.

Vê-los aqui, reunidos, nessa Feliz Lusitânia, querida Belém, é mais que uma honra e um

prazer. É um reencontro sempre necessário com o que temos de mais puro e valioso, a

nossa história, os nossos valores, a nossa maneira de ver e dialogar com o mundo. Tudo

o que nos une...

Marcus de Lontra Costa

Belém, setembro de 2003.

Page 8: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Alberto da Veiga Guignard

Nova Friburgo - RJ, 1896 / Belo Horizonte - MG, 1962

Marcada pela singeleza, a obra de Guignard guarda algo de extremamente autêntico, que

revela a própria personalidade amorosa e solitária do artista, em trabalhos cujo

despojamento das pinceladas e a estruturação aparentemente simples do desenho

ocultam uma ciência compositiva sóbria e apurada.

Suas paisagens, recriadas em uma atmosfera onírica, e que sugerem referências orientais,

são trabalhadas com delicadeza e dramaticidade. Amante do desenho, com o qual organiza

suas composições, Guignard foi ainda um grande retratista, autor de cenas brasileiras e

de naturezas-mortas muito sensíveis, tendo mesmo se aventurado pela temática religiosa

e incursionado tardiamente pela pintura histórica. Introvertido e apaixonado, carinhoso e

solitário, Guignard, atento à ciência da pintura, levou para sua obra a dolorida ternura de

sua alma.

Menção Honrosa no Salão Nacional de Belas Artes de 1924, quando esteve rapidamente

no Brasil, Medalha de Bronze no salão de 1929 e Prata no salão de 1939, ganhador do

Prêmio de Viagem ao País em 1940 e Medalha de Ouro em 1942, Guignard conquistou

aos poucos amplo respeito e admiração, construindo, ao longo dos anos, uma obra sólida

e fiel aos seus princípios estéticos.

Convidado por Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, Guignard mudou-

se em 1944 para Minas Gerais, onde viveu até o fim da vida como professor de um curso

livre de desenho e pintura.

Vaso de Flores, 1958

Têmpera sobre Tela, 0,50x0,70m

Acervo do Banco Central

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Page 9: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Aldo Bonadei

São Paulo - SP, 1906 / São Paulo - SP, 1974

Aldo Bonadei foi aluno de Pedro Alexandrino entre 1923 e 1928, período em que freqüentou

ainda o ateliê de Antonio Rocco e o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. No começo

dos anos 30, foi para a Itália, onde estudou na Academia de Belas Artes de Florença,

aprofundando-se no estudo do nu. Retornou a São Paulo e passou a integrar a Família

Artística Paulista e o Grupo Santa Helena, do qual faziam parte artistas como Rebolo,

Zanini, Pennacchi, Clóvis Graciano e Volpi.

O artista faz parte da segunda fase do modernismo brasileiro, caracterizada pelos artistas

proletários que, com cavalete às costas e caixas de tintas nas mãos, trabalhavam suas

telas ao ar livre, diante do assunto - em geral paisagens dos arredores da cidade.

Rompendo com o rigor inicial do aprendizado acadêmico, Aldo Bonadei alcançou,

progressivamente, uma simplificação de seus planos pictóricos, absorvendo os exemplos

de Cézanne e de um cubismo moderado. Sua liberdade criativa, no entanto, o levou por

caminhos variados e pessoais, com uma paleta de alturas cromáticas muitas vezes

intensas. Suas experimentações no campo da abstração expressam a tensão entre uma

representação figurativa lírica e uma racionalidade muito subjetiva, operando assim, em

um só artista, uma multiplicidade de forças plásticas em constante elaboração.

A arte abstrata foi praticada por Bonadei esporadicamente, entre 1940 e 1968, sempre

em paralelo à obra figurativa. Apesar dessas interessantes experiências com a abstração,

o artista produziu as melhores obras dentro dos temas cezanianos prediletos: as naturezas-

mortas e as paisagens.

Igreja, 1955

Óleo sobre Tela, 0,55x0,74m

Acervo do Banco Central

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Page 10: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Alfredo Volpi

Lucca - Itália, 1896 / São Paulo - SP, 1988

Chegou ao Brasil ainda criança. Foi entalhador, carpinteiro, encadernador e pintor

decorativo e se dedicou progressivamente ao estudo da pintura. Após uma primeira

premiação em 1928, começou a freqüentar o Grupo Santa Helena, saindo em expedições

pictóricas pelos arredores da cidade e se relacionando com artistas como Rebolo Gonzales,

Bruno Giorgi, Mario Zanini e Aldo Bonadei.

Mestre de um colorido tonal sucinto e harmonioso, Alfredo Volpi iniciou sua pintura ainda

sob os efeitos de um impressionismo tardio, ampliando seu universo estético no contato

com outros artistas. Alcançou uma alta maturidade expressiva já em suas primeiras

paisagens e marinhas, julgadas por Sérgio Milliet como algumas das melhores de nossa

pintura, junto aos trabalhos de Castagnetto e Pancetti.

A atenção sobre alguns aspectos da arquitetura colonial, somando-se ao influxo dos pré-

renascentistas italianos, transparece em sua produção construtiva que, se aproximando

da abstração, não rompe com as referências do mundo exterior.

Após participar da XXVI Bienal de Veneza em 1952, dividiu com Di Cavalcanti, no ano

seguinte, o Prêmio de Pintura da II Bienal de São Paulo. Novamente na Bienal de Veneza,

em 1954, Volpi foi apontado pelos artistas do abstracionismo geométrico como um de

seus precursores, participando como convidado especial de exposições de arte concreta

no Rio de Janeiro (1956) e São Paulo (1957).

Bandeiras e Mastros, Sem data

Têmpera sobre Tela, 1,02x0,70m

Acervo do Banco Central

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Page 11: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

20

Antônio Bandeira

Fortaleza - CE, 1922 / Paris - França, 1967.

Começou nas artes de modo praticamente autodidata. Desde jovem, atuou na vida cultural

de sua cidade, fundando, com outros artistas, o Centro Cultural Cearense de Belas Artes.

Entre 1942 e 1945, expôs localmente suas pinturas e desenhos figurativos de índole

expressionista, ligados tematicamente a uma ambiência regional. Mudou-se em 1945

para o Rio de Janeiro, com Aldemir Martins e Inimá de Paula. Foi onde realizou com

sucesso uma primeira individual no Instituto dos Arquitetos do Brasil. No mesmo ano,

conseguiu uma bolsa de estudos do governo francês e se mudou para Paris.

Pintor de grande liberdade criativa, mesmo em sua produção figurativa, Antônio Bandeira

é dono de uma obra de certo modo intimista, apesar dos gestos largos de algumas de

suas pinceladas, que materializam plasticamente uma espécie de paisagem interior e

psicológica e uma busca pela verdade da própria pintura, sem compromissos com a

realidade imediata do mundo exterior.

Sem deixar de lado a qualidade e importância de suas obras na fase cearense, é a ida do

artista para Paris, entretanto, que o coloca na linha de frente dos debates artísticos de

seu tempo, com o abstracionismo informal se impondo naturalmente como sua linguagem

preferencial, o que fez de Bandeira um dos expoentes internacionais dessa vertente.

Olhos Saindo na Escuridão do Bosque, 1953

Guache sobre Cartão, 0,98x0,68m

Acervo do Banco Central

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Page 12: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Antônio Gomide

Itapetininga - SP, 1895 / Ubatuba - SP, 1967

Antônio Gonçalves Gomide foi aluno da Escola Normal de São Paulo antes de se mudar

com a família, em 1913, para Genebra, onde freqüentou a Academia de Belas Artes local

até 1918. Estudou com Gillard e Ferdinand Hodler. Naquela mesma época, entrou em

contato com Sérgio Milliet, também na Suíça.

Na década de 20, após viagens entre Espanha, Portugal e Brasil, o artista se fixou na

França. Foi onde aprendeu com Marcel Lenoir a técnica do afresco, colaborando na

execução de murais para o Institut Catholique e conventos da região de Toulouse. Instalado

em Paris, entrou em contato, nesse período, com Picasso, Braque, Lhote, Picabia, Severini

e os brasileiros, como Brecheret, Anita Malfatti e Vicente do Rego Monteiro.

Realizou, também nesse período, vitrais, cartazes e desenhos em tecidos, expondo no

Salon des Indépendants (1924) e no Salon d’Automne (1926). Expôs seus trabalhos com

sucesso também em São Paulo, em 1927, quando executou afrescos em algumas

residências da cidade. Logo depois, retornou definitivamente ao Brasil e participou, em

1930, junto a Tarsila do Amaral e outros artistas, da exposições da Casa Modernista e de

arte brasileira no Roerich Museum de Nova Iorque. Em 1931, expôs no chamado Salão

Revolucionário, no Rio de Janeiro e, em 1932, participou da fundação da Sociedade Pró-

Arte Moderna e do Clube dos Artistas Modernos, com Di Cavalcanti, Carlos Prado e

Flávio de Carvalho.

Dono de uma técnica controlada, Gomide constrói seus quadros em composições

figurativas muito equilibradas, nas quais as texturas e tons terrosos de alguns trabalhos

evidenciam as pesquisas do artista que, dominando o afresco, percorre ainda um conjunto

diferenciado de linguagens, em desenhos, gravuras, aquarelas, relevos, cerâmicas e

esculturas.

Seguro e dinâmico, o artista dá à figura humana um tratamento quase abstrato,

destacando-se em sua produção a elevada sensibilidade de suas pinturas religiosas, a

beleza de suas paisagens e marinhas, e o extraordinário movimento de suas cenas

populares.

A Despedida, 1930

Óleo sobre Tela, 1,05x1,31m

Acervo do Banco Central

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Page 13: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Cândido Portinari

Brodósqui - SP, 1903 / Rio de Janeiro - RJ, 1962

Considerado o mais importante pintor moderno brasileiro, Cândido Portinari traduz o

conteúdo freqüentemente dramático de suas obras em um cromatismo sóbrio e

equilibrado que, trazendo a presença de um certo classicismo, denota algo de sua origem

peninsular.

De família de agricultores imigrantes no interior paulista, Portinari auxiliou na decoração

interna da paróquia de sua cidade em 1912, ainda menino. Em 1918, matriculou-se no

Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde, em 1921, começou a estudar pintura na

Escola Nacional de Belas Artes. Participou regularmente do salão anual da instituição e

ganhou, em 1928, o cobiçado Prêmio de Viagem ao Estrangeiro.

Partiu para a Europa, onde permaneceu até 1931, quando retornou definitivamente ao

Rio de Janeiro. Realizou sua primeira individual em São Paulo, em 1934 e, no ano seguinte,

sua obra “Café” foi premiada na International Exhibition of Paintings de Pittsburgh, EUA.

Foi quando passou a reger a cadeira de pintura do Instituto de Artes da Universidade do

Distrito Federal.

Após uma vasta produção pictórica, na qual se destacam seus inúmeros retratos e cenas

brasileiras, foi convidado, em 1953, para realizar um painel na sede da ONU em Nova

York. Intitulado “Guerra e Paz”, o painel foi inaugurado quatro anos depois, sendo premiado

com o Guggenheim’s National Award e o Hallmark Art Award. Ainda em 1953, Portinari

pintou os murais para a igreja de Batatais, no interior paulista, e expôs no Museu de Arte

Moderna do Rio de Janeiro. Foi eleito pelo International Fine Arts Council dos Estados

Unidos como o melhor pintor de 1955.

Samba, 1956

Óleo sobre Tela, 1,67x1,97m

Acervo do Banco Central

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Page 14: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Clóvis Graciano

Araras - SP, 1907 / São Paulo - SP, 1988

Clóvis Graciano mudou para a capital paulista em 1934, após participar da Revolução

Constitucionalista de 1932. Até então autodidata, seu contato com Cândido Portinari o

levou a freqüentar o ateliê de Waldemar da Costa. No mesmo período, cursou a Escola

Paulista de Belas Artes. Em 1937, instalou-se no Palacete Santa Helena, onde se integrou

ao chamado Grupo Santa Helena, que congrega, entre outros, Francisco Rebolo, Mario

Zanini e Aldo Bonadei. Membro também da Família Artística Paulista, foi eleito presidente

do grupo em 1939, participando regularmente dos Salões do Sindicato dos Artistas

Plásticos.

A partir dos anos 50, dedicou-se à pintura mural e realizou mais de cem trabalhos em

edifícios de diversas cidades brasileiras. Clóvis Graciano produziu também ilustrações

para obras literárias, cenários e figurinos. Na década de 70, o artista assumiu o cargo de

diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e a função de adido cultural em Paris.

Em sua obra, que se destaca no ambiente artístico da época, convivem harmoniosamente

elementos figurativos distintos, extraídos tanto do expressionismo, quanto de certo

realismo social. Dono de um desenho estruturante de grande talento, o artista dedica

atenção especial à figura humana e atinge, com sua linguagem compositiva e cromática,

um lirismo comedido e rigoroso.

Retrato de Tarsila, Sem data

Óleo sobre Tela, 0,50x0,65m

Acervo do Banco Central

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Page 15: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Emiliano Di Cavalcanti

Rio de Janeiro - RJ, 1897 / Rio de Janeiro - RJ, 1976

Di Cavalcanti começou a exprimir suas propensões artísticas ainda muito jovem, ao

publicar, em 1913, sua primeira caricatura na revista Fon-Fon e participar, em 1916, do I

Salão dos Humoristas no Rio de Janeiro. Já estudante de Direito, em 1917, mudou-se

para São Paulo, passando a estudar na Faculdade do Largo São Francisco. Mas logo

envolveu-se com a imprensa, trabalhando como revisor no jornal O Estado de São Paulo

e publicando ilustrações em O Pirralho. No mesmo ano, realizou uma individual de

caricaturas.

Freqüentando, a partir de 1918, o ateliê de Georg Fischer Elpons, começou a estreitar o

contato com o círculo da vanguarda paulista, vindo a servir como uma ponte entre os

jovens intelectuais e artistas do Rio de Janeiro e São Paulo, e participou ativamente da

Semana de Arte Moderna de 1922. Abandonando definitivamente o Direito, mudou-se

para Paris, onde conheceu Breton, Léger, Max Ernst, De Chirico, Matisse, Braque e Picasso.

Emiliano Di Cavalcanti fez de sua obra, unindo vida e criação, uma ode aos tipos mais

simples do Brasil, com os quais se sentia em comunhão, retratando-os com caloroso e

desprendido afeto, destacando-se, sobretudo, como um artista brasileiro que traduz com

lirismo, em um cromatismo intenso e vibrante, os personagens e ambientes do país.

Figura Mitológica, 1969

Óleo sobre Tela, 0,50x0,73m

Acervo do Banco Central

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Page 16: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Fulvio Pennacchi

Garfagnana, Toscana - Itália, 1905 / São Paulo - SP, 1992

Pintor, ceramista, desenhista, ilustrador e professor, Fulvio Pennacchi formou-se na

Academia Real de Pintura de Lucca em 1927, onde foi aluno de Pio Semeghini, a quem

substituiu em 1927. Pennacchi veio para o Brasil em 1929 e se estabeleceu em São

Paulo, realizando, inicialmente, além de sua produção artística, outras atividades para se

sustentar. Chegou a trabalhar em um açougue.

Convidado pelo escultor Galileo Emendabili, em 1932, passou a dividir com ele um ateliê

e a colaborar em algumas das obras dele. Integrou ainda o Grupo Santa Helena e a Família

Artística Paulista, junto de Rebolo, Bonadei, Volpi e Clóvis Graciano, entre outros, e

participou da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Entre 1930 e

1935, Fulvio Pennacchi realizou uma série de obras de temática religiosa. Um ano depois,

tornou-se professor de desenho no Colégio Dante Alighieri.

Figura de Homem, Sem data

Óleo sobre Painel, 0,30x0,58m

Acervo do Banco Central

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Page 17: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Ismael Nery

Belém - PA, 1900 / Rio de Janeiro - RJ, 1934

Em 1923, Nery iniciou uma intensa produção de desenhos e pinturas que retratam

encontros entre personagens masculinos e femininos. Em sua segunda viagem à Europa,

em 1927, teve contato com o movimento surrealista e com a obra de Marc Chagall. Em

seu retorno, realizou duas exposições, primeiro em Belém do Pará (1928) e depois no Rio

de Janeiro (1929), quando vendeu apenas um trabalho para Graça Aranha.

Adoeceu em 1930 e passou os últimos quatro anos de sua vida dedicando-se também à

poesia. Ismael Nery morreu, precocemente, aos 33 anos de idade. Em 1935, o escritor e

poeta Murilo Mendes, o primeiro entre os defensores da obra de Nery, organizou uma

exposição póstuma, publicando ainda uma série de artigos em sua homenagem no jornal

O Estado de São Paulo.

Caso raro de pintor filósofo, em que construção plástica e preocupação metafísica unem-

se harmoniosamente, Ismael Nery (chamado também de pintor maldito do início do

modernismo) é tido por alguns como um autêntico surrealista, embora haja em suas

obras aspectos também cubistas e expressionistas. As imagens criadas pelo artista,

porém, ultrapassam estas classificações, atingindo uma originalidade que as colocam

além de qualquer escola ou estilo.

Perfil e Alma, Sem data

Óleo sobre Madeira, 0,35x0,28m

Acervo do Banco Central

33

Page 18: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

34

Tarsila do Amaral

Capivari - SP, 1886 / São Paulo - SP, 1973

Filha de ricos fazendeiros do café, Tarsila do Amaral estudou em colégios religiosos de

São Paulo e de Barcelona. Regressou ao Brasil e casou-se em 1912, tornando-se mãe de

uma menina. Em 1916, começou a executar, em São Paulo, modelagens em barro com

William Zadig e Mantovani, iniciando-se, em 1917, no desenho e na pintura com Pedro

Alexandrino.

Em 1920, mudou-se com a filha para Paris, onde continuou os estudos e expôs no Salon

Officiel des Artistes Français (1922). De volta a São Paulo, aproximou-se dos jovens

modernistas, formando o Grupo dos Cinco, com Menotti del Picchia, Oswald de Andrade,

Anita Malfatti e Mário de Andrade.

Influenciada por Anita, sua pincelada tornou-se mais livre. Após expor no Salão de Belas

Artes de São Paulo e colaborar na revista Klaxon, retornou a Paris, para onde também

seguiu Oswald de Andrade. Trabalhando em 1923 com André Lhote, Tarsila começou a

elaborar uma temática mais pessoal e brasileira e, através da amizade com Blaise Cendrars,

freqüentou o círculo intelectual e artístico de Paris (Brancusi, Jean Cocteau, Eric Satie,

etc). Nesse período, recebeu ainda os modernistas brasileiros na cidade (Vicente do Rego

Monteiro, Di Cavalcanti, Brecheret, entre outros).

Por se preocupar cada vez mais em ser uma pintora do seu país, após a convivência com

Léger e Gleizes, retornou ao Brasil em fins de 1923, firmando sua busca por uma

visualidade mais pura, baseada na recuperação de uma estética popular.

O Porto, 1953

Óleo sobre Tela, 0,70x1,00m

Acervo do Banco Central

35

Page 19: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

36

Vicente do Rego Monteiro

Recife - PE, 1899 / Recife - PE, 1970

Vicente do Rego Monteiro iniciou precocemente seus estudos artísticos no Rio de Janeiro,

em 1908, acompanhando a irmã Fedora na Escola Nacional de Belas Artes. Durante viagem

com a família para a França, em 1911, freqüentou, em Paris, as academias Colarossi,

Julien e La Grande Chaumière. Dois anos depois, entrou em contato com Modigliani,

Léger, Braque, Miró, Gleizes, Metzinger e Marcoussis.

Voltou para o Rio de Janeiro em 1915, onde se interessou pela música e dança populares

e trabalhou como escultor, realizando bustos em gesso. Em 1918, realizou sua primeira

exposição individual no Teatro Santa Isabel, no Recife. Em 1920, expôs em São Paulo,

quando se aproximou de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Pedro Alexandrino e Victor Brecheret.

Naquele mesmo ano, começou a se interessar pela arte marajoara e, em 1921, após

realizar alguns figurinos teatrais no Rio de Janeiro, viajou novamente para a França,

deixando algumas pinturas e aquarelas para serem expostas na Semana de Arte Moderna

de 1922. Foi o ano em que viajou pela Bélgica e Alemanha na companhia de Gilberto

Freyre.

Vicente do Rego Monteiro, além de pintor, foi autêntica e multifacetada personalidade

cultural. Contaminado por certo fauvismo nos anos 20, incorpora em suas obras elementos

do expressionismo, do cubismo e da abstração geométrica. Excelente desenhista e artista

de alto apuro técnico, ele atingiu a maturidade de um estilo figurativo próprio, no qual se

constróem volumes de um geometrismo muito sensível, em pinturas de grande beleza e

sobriedade.

Mulher Sentada, Sem data

Óleo sobre Painel, 1,00x1,20m

Acervo do Banco Central

37

Page 20: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

38 39

Museu do Estado do Pará

Artes Plásticas

Entre a Figura e a Abstração

Curadoria Jussara Derenji

Ruy Meira

Caixa d’água (detalhe da obra), 1958

Óleo sobre Tela, 0,94x0,73m

Acervo Secult

Page 21: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

40 41

Entre a Figura e a Abstração

Descobrir a própria pátria, reinterpretar o exotismo das paisagens tropicais e

examinar com novos olhos a arquitetura tradicional eram algumas das preocupações dos

intelectuais que, nos anos 20, começaram a delinear os rumos do modernismo brasileiro.

A partir de 1925, os modernistas se empenham em viagens pelo Norte e Nordeste do

Brasil buscando uma renovação das artes, a ser fundamentada em valores nacionais.

A arquitetura popular receberia uma nova valorização e, no Manifesto Pau-brasil

(1924), Oswald de Andrade declarava “... A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão

e de ocre, nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos”. A aceitação de

uma fase do passado comum como o genuinamente nacional implicava na condenação

da arquitetura mais recente, a do ecletismo, que dominava o centro das cidades nortistas,

como Belém, onde os raros vestígios coloniais seriam celebrados na viagem modernista

à cidade em 1927.

O mesmo Oswald de Andrade diria do ecletismo que não mais mereceria ser

chamado de moderno - “Veja as cores destas casas antigas: excelentes. Repare na pintura

destas casas modernas: horríveis. Horríveis para nós, para nosso ambiente.”

A arquitetura espontânea, as cores vivas das favelas, as singelas ruas de subúrbio,

os mercados e portos, com seu colorido peculiar, integram-se, nos anos seguintes, às

obras de nossos principais artistas. Contribui para a disseminação de temas populares e

para as alegorias do trabalho (que são constantes na produção artística dos anos 40 e

50), o surgimento, nas principais cidades brasileiras, de grupos de artistas que teriam

papel decisivo na renovação das artes e num fenômeno característico do período, a

formação dos museus de arte moderna no país.

O Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro, a Família Artística Paulista e o Grupo

Santa Helena, em São Paulo, agregariam os principais artistas do período, muitos deles

oriundos das classes operárias e de famílias de imigrantes italianos, enquanto o Grupo

15 e o Seibi reuniam os artistas de origem japonesa. As chaves temáticas que se impõem

nas décadas seguintes privilegiam, sob estas influências, o papel social dos imigrantes e

estrangeiros e uma representação inédita de tipos e motivos populares.

A nova composição das associações de artistas mantinha as influências da Europa,

em especial a de movimentos como o “Retorno à ordem” ou o “Novecento” italiano. No

Brasil, a vinculação a esses movimentos europeus amenizaria os pontos mais polêmicos

e reduziria a ousadia dos modernistas de primeira hora.

No Pará, forma-se, desde os anos 40, um grupo de artistas que se reúne nas

matas do Utinga, reserva de águas da cidade, para pintar ao ar livre. Do grupo de artistas

de Belém, informalmente chamado Grupo do Utinga, fariam parte Ruy Meira, Arthur Frazão,

Ângelus Nascimento, Irene Teixeira, Benedicto Mello, Joaquim e João Pinto, Leônidas

Monte e Roberto de La Rocque Soares, que se consolidariam como alguns dos mais

importantes artistas do período.

Page 22: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

42

As cenas da vida urbana, os subúrbios e casebres louvados pelos mestres

modernistas recebem tratamento fortemente pós-impressionista pela maioria desses

artistas nos anos 40, 50 e 60, por influência da atuação e dos ensinamentos de mestres

estrangeiros como Raul Devezza, Armando Balloni e Tadeshi Kaminagai.

É por meio de um integrante da Família Paulista, o paraense Waldemar da Costa,

que a cidade de Belém receberia, em 1937, a primeira exposição modernista. Montada

anteriormente em Fortaleza, a mostra era produto do I Salão Paulista de Pintura. Waldemar

da Costa estudou na Escola Nacional de Belas Artes de Lisboa e, em 1924, transferiu-se

para Paris, onte teve contato com artistas como De Chirico, Foujita e Portinari. De volta ao

Brasil em 1931, Waldemar da Costa seria um dos fundadores da Família Paulista em

1937, junto com Paulo Rossi Ozir e Vittorio Gobbis. Em 1941, premiaria ao artista Augusto

Morbach, que apresentara um desenho a nanquim, técnica na qual se notabilizaria nas

décadas seguintes.

Em 1940, tinha início o Salão Oficial de Belas Artes do Pará, que somente em 1947,

na sua oitava edição, finalmente estabeleceria uma seção moderna ao lado da tradicional

seção acadêmica. É também em 1947 que chega a Belém o jornalista e colecionador

Frederico Barata, com a tarefa de dirigir os órgãos dos Diários Associados na região: um

jornal, uma rádio e uma emissora de TV. A pinacoteca - de excepcional qualidade - que

Barata traz para a cidade contém: Portinari, Visconti, Pancetti, Oswaldo Goeldi, Quirino

Campofiorito, Roault, Balloni, Goeldi, Burle Marx e até cerâmicas de Picasso.

Frederico Barata seria uma influência importante na transformação do meio e

atualização de artistas locais. Num período no qual eram poucas as exposições e as

trocas de informação, a presença dele e do acervo que tornou disponível aos jovens

artistas foi decisiva para as trajetórias posteriores desses artistas.

Em 1951, acontece em São Paulo a primeira Bienal, num momento em que a

disputa conceitual mais acirrada procura delimitar os territórios entre figurativos e

abstratos. A Bienal paulista, nos moldes da Bienal de Veneza, surge como uma grande

exposição internacional para qual os países participantes mandavam sua representação

e disputavam prêmios.

Na disputa entre figurativos e abstratos, a Bienal, ao dar o prêmio a Max Bill em

1951, contribuiu para legitimar a posição teórica dos abstracionistas e, em especial, dos

concretistas, que tinham em Bill um de seus representantes mais ortodoxos. A Bienal de

São Paulo teve, dentre outros méritos, um inegável: o de agilizar a atualização dos artistas

brasileiros, que não mais dependeriam exclusivamente de viagens para examinar a

produção de outros centros.

Parece difícil admitir que a arte abstrata, hoje tranqüilamente aceita, era motivo

de brigas e disputas que chegavam a agressões físicas há apenas 50 anos. No ano de

1952, surge em São Paulo o Grupo Ruptura e, em 1953, o Grupo Frente, no Rio. Nos anos

de 1956, em São Paulo, e 1957, no Rio de Janeiro, acontece a I Exposição de Arte Concreta,

da qual participam os dois grupos, com divergências já perceptíveis e, em 1959, acontece

a cisão que dá origem ao neo-concretismo.

43

Em Belém, se estrutura, à época, outro grupo, o Clube de Artistas Plásticos da

Amazônia e nele constam, quase sem mudanças, os nomes do Grupo do Utinga: Ruy

Meira, Benedicto Mello, Dionorte Drummond, Paolo Ricci, Concy Cutrin, Roberto de La

Rocque Soares e José Pires de Moraes Rego. Em 1960, cinco componentes desse clube

iriam participar da I Exposição Coletiva de Pintura Abstracionista do Pará, que aconteceria

na sede do Clube do Remo. Ruy Meira seria deles o que mais se identificaria com o

abstracionismo1. Ele participa, em 1967, da IX Bienal de São Paulo com uma tela abstrata

e seguiria, nas décadas de 70 a 90, na mesma direção. (1)

Na década de 60, a Universidade Federal do Pará começaria a ter participação

importante nas artes plásticas, promovendo salões universitários e trazendo artistas da

vanguarda nacional. O curso de arquitetura, criado em 1964, acolheria engenheiros como

Roberto de La Rocque Soares e formaria muitos arquitetos que seriam artistas importantes

da década de 1970 em diante.

As obras destacadas nesta exposição permitem a visualização de traços da arte

moderna que começam a ser impressos sobre a cidade de Belém durante a II Grande

Guerra Mundial e se espraiam até os anos 60 e 70. Ainda que distante das discussões

exaltadas de outros países e mesmo de outras regiões do Brasil, os artistas locais, alguns

com permanências no exterior, tentavam responder ao desafio de produzir uma arte

internacional com acento brasileiro.

Na maioria das trajetórias, a figura vence a abstração, mas em quase todas elas

há idas e vindas que não devem ser interpretadas como avanços e retrocessos. Apenas

como parte do caminho de sinuosas metamorfoses da arte moderna em nossa região. É

a pontuação dessa trajetória rica e complexa que procura oferecer esta exposição, ao

observar as diferentes interpretações de um tema recorrente: o do mercado do Ver-o-

peso, ou as cenas de cotidiano e trabalho, ou os tipos populares, e perceber que estas

pinturas convivem com a abstração, surpreendendo inusitadas convergências onde se

poderia supor distanciamentos.

Para percorrer esse caminho sinuoso e inusitado, privilegiamos o olhar de nove

artistas. Os paraenses Waldemar da Costa, Ruy Meira, Benedicto Mello, Roberto de La

Rocque Soares, João Pinto e Mário Pinto Guimarães; os que vieram e ficaram, como

Augusto Morbach e Yoshio Yamada; e uma curta e marcante presença, a de Tadeshi

Kaminagai. Esperamos que os visitantes desta mostra sintam a esperança e a poética

que permeia os trabalhos de um período de sereno equilíbrio, de um interlúdio de paz.

Jussara Derenji

Outubro de 2003

1 Mokarsel, Marisa. Panorama da Pintura do Pará, MEP, 2000

Page 23: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

44

Augusto Morbach

Santo Antônio da Cachoeira - GO, 1911 / Belém - PA, 1981

Augusto Bastos Morbach chegou ao Pará com oito anos de idade. Viveu com a família,

por muitos anos, em Marabá, interior do Pará. Parte de sua obra, que lança um olhar

sobre os modos de produção, especialmente da castanha, é oriundo dessa experiência.

Nessa fase, foi premiado em salões realizados em Belém. Transferindo-se para Belém

em 1961, trabalha com ilustrações de livros e revistas e convive com o Grupo do Utinga.

Participou, por escolha e rigor pessoal, de poucas exposições. Sua forma preferida de

expressão foi o nanquim, embora tenha feito incursões na pintura a óleo, por sugestão

de Armando Balloni. Essas obras revelam uma aproximação com temáticas do

modernismo, como as atividades cotidianas e cenas relacionadas com a produção. No

nanquim, produziu séries abordando mitos e lendas. “Morbach cria, expressa e traduz o

seu mundo - o da realidade e da ficção - através do desenho, que nele é beleza, graça,

ritmo, força e movimento...”, disse o crítico Machado Coelho em 1976.

Comércio do Cacau, 1961

Óleo sobre Tela, 1,20x0,90m

Acervo Museu da UFPA

45

Page 24: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

46

Benedicto Mello

Nascido em Belém - PA, 1926

Benedicto Antônio Soares de Mello é bacharel em Direito, mas dedicou-se às artes

plásticas e à restauração, com estágio no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de

Janeiro em 1983. Dirigiu a Pinacoteca Municipal, promovendo e ministrando cursos de

restauração e mostras do acervo. Talvez um de nossos artistas mais profícuos, Benedicto

Mello recebeu inúmeras premiações em pintura, cerâmica, escultura e caricatura. Suas

obras encontram-se em museus e galerias, além de coleções particulares.

“As qualidades perceptíveis do pintor, afinadas ao tempo em que viveu, fizeram dele um

universal, como universais foram seus amigos Ruy Meira e João Pinto, com os quais

formou uma trindade moderna, ex-modernista e ex-tudo que foi esta, exceto a forma

humanista, da qual jamais se afastaram...”, escreveu João Carlos Pereira na retrospectiva

“Benedicto Mello - Arte e Fatos” (1995).

Luz e Sombra, 1963

Óleo sobre Tela, 0,52x0,62m

Acervo Museu da UFPA

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Page 25: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

48

João Pinto Martins

Belém - PA, 1911 / Belém - PA, 1992

Artista versátil, João Pinto dedicou-se à caricatura, pintura, murais e, principalmente, foi

um incansável escultor. Desenhava e esculpia sem orientação formal e só nos anos 30

teria aulas de desenho e modelagem com Lassance Cunha. Na década de 40, participava,

com seu irmão Joaquim, do Grupo do Utinga, fase de alguns de seus melhores óleos

sobre tela, que demonstram as experimentações que o grupo executava em suas reuniões

nas matas da periferia de Belém. Suas premiações, porém, incidem sobre a escultura ,

nos Salões Oficiais de Belas Artes, na década de 40, e nos Salões de Artes Plásticas da

UFPA, nos anos 60. Em 1977, sua obra foi exposta no Museu do Homem, em Paris, numa

exposição coletiva de artistas paraenses.

Trabalhou com mármore, madeira, alumínio, cobre, bronze e argila. Deixou vários e

importantes painéis, com temática do cotidiano local, pintados na técnica de afresco em

prédios públicos e particulares de Belém. Foi de sua autoria o busto do presidente

Kennedy, que ficava na praça de mesmo nome. A temática preferida de sua extensa e

diversificada obra sempre foi a figura da mulher.

Mulher, 1966

Escultura em Madeira, 2,10x0,48x0,48m

Acervo Banco Central

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Page 26: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

50

Mário Pinto Guimarães

Santarém - PA,1930 / Belém - PA, 1997

No final dos anos 40, Mário Pinto Guimarães recebeu o 3° premio no 1º Salão de Artes

Plásticas do Estudante, em Belém. Participou, nos anos 60, dos salões e bienais da

Universidade Federal do Pará. Em 1963, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudaria

com Domenico Lazarini e Ivan Serpa. Em 1965, foi premiado no I Salão da UFPA, num

período em que a universidade assumia um papel importante no estímulo e divulgação

das artes no panorama local, e que tinha como pólo irradiador o recém-criado curso de

arquitetura (1964) .

No retorno ao Pará, sua obra expressaria não só uma visão sobre a cidade de Belém,

onde passa a viver, como retoma o imaginário amazônida e interiorano de sua adolescência

em Santarém. Em 1980, fundou a Debret Galeria de Arte, onde se reuniam artistas,

intelectuais e colecionadores. Suas últimas obras tomam grandes dimensões e as cores

de uma vibrante interpretação de mitos indígenas.

Canto de Rua, 1965

Óleo sobre Tela, 0,70x0,90m

Acervo Dióris Guimarães/Galeria Debret

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Page 27: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Roberto de La Rocque Soares

Belém - PA, 1924 / Belém - PA, 2001

Artista plástico que transita pelo desenho, pintura, escultura e gravura, Roberto de La

Rocque Soares teve formação universitária em engenharia, depois em arquitetura e ainda

em restauro e preservação de monumentos históricos e artísticos, sendo o responsável

pelo restauro (anos 70) e pela reforma (anos 90) do Palácio Lauro Sodré. Recebeu muitos

prêmios e realizou inúmeras exposições individuais e coletivas. Lecionou desenho na

escola de engenharia e no curso de arquitetura, iniciando vários de nossos maiores artistas

da atualidade. Participou ativamente das discussões sobre o ensino de artes plásticas e

foi premiado nas exposições mais significativas do início do período moderno no Pará,

dentre estas a I Coletiva de Arte Abstrata (1960) e os I e II Salão de Artes Plásticas da

UFPA (1963 e 1965).

Foi um incansável pesquisador da história da arquitetura e seu livro “Vivendas Rurais no

Pará” demonstra a perfeita fusão que fazia das disciplinas técnicas com as artes plásticas.

Profundo conhecedor do desenho, La Rocque destaca-se, dentro de uma obra irretocável,

como aquarelista.

Sem Título, 1962

Óleo sobre Tela, 0,80x0,47m

Acervo Elza Lobo Soares

53

Page 28: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Ruy Meira

Belém-PA, 1921 / Belém-PA, 1995

Desde o início da década de 40, estava se formando um grupo de artistas em Belém,

informalmente chamado Grupo do Utinga. Em 1942, o estudante de engenharia Ruy

Meira tinha conhecido, durante o Salão Oficial de Belas Artes, na Biblioteca Pública,

artistas como João Pinto, Arthur Frazão, Ângelus Nascimento e Irene Teixeira. Começaria,

incentivado por eles, a sua trajetória nas artes plásticas. Ruy Meira, Benedicto Mello,

Joaquim e João Pinto, Arthur Frazão, Leônidas Monte, Roberto de La Rocque Soares

estavam entre eles e se consolidariam como alguns dos mais importantes artistas do

período. Ruy Meira era engenheiro e começou a pintar sem ter estudos específicos.

Levado pela vontade de se aprimorar que nunca o abandonou, estudou no Rio de Janeiro

com Manuel Santiago e com Raul Devezza, e em Belém, com Tadashi Kaminagai e

Armando Balloni. Também fez parte do Clube de Artistas Plásticos da Amazônia, já no fim

dos anos 50, com vários outros nomes do Grupo do Utinga. Em 1960, cinco componentes

do clube participaram da I Exposição Coletiva de Pintura Abstracionista do Pará, no Clube

do Remo. Dentre eles, Ruy Meira, segundo Marisa Mokarsel, foi o que mais se identificou

com o abstracionismo. Participou da IX Bienal de São Paulo em 1967, com uma tela

abstrata e seguiu a mesma direção nas décadas de 70 a 90.

Caixa d’água, 1958

Óleo sobre Tela, 0,94x0,73m

Acervo Secult

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Page 29: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Tadashi Kaminagai

Hiroshima - Japão, 1899 / Paris - França, 1982

O meio local receberia em 1953 e 1954 a presença do artista Tadashi Kaminagai, pintor

cujo trabalho oscila entre o pós-impressionismo e o expressionismo. Kaminagai fazia

parte do grupo Seibi, do qual Flavio Shiró ( Sapporo, Japão, 1928) participava também.

Shiró chegou ao Brasil pelo Pará, onde morou em Tomé-açu nos anos 30 e fez parte do

Grupo Santa Helena e dos grupos de japoneses Seibi e Grupo 15. Shiró e também

Fukushima foram alunos de Kaminagai no estúdio do artista em Santa Teresa, no Rio de

Janeiro.

Kaminagai, assim como Waldemar da Costa, é considerado por Zanini como “ mestre-

professor”, em alusão não só ao trabalho dele em escolas, como a uma vocação de

transmitir conhecimentos e difundir técnicas. A passagem deste artista pelo Pará a convite

do governo do Estado (mas com participação e influência de Frederico Barata) é um

exemplo dessa disposição. Nos dois anos nos quais permaneceu em Belém, o pintor

privilegiou o trabalho fora do atelier e muitas vezes era acompanhado por artistas locais,

como Ruy Meira. Teve estreito contato, também, com o artista Yoshio Yamada, de quem

pintou um retrato.

Ver-o-Peso, 1953

Óleo sobre Tela, 0,72x0,49m

Acervo Lutfala de Castro Bitar

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Waldemar da Costa

Belém - PA, 1904 / Curitiba - PR, 1984

Levado pela família com seis anos de idade para viver em Lisboa, Waldemar da Costa

estudou na Escola Nacional de Belas Artes daquela cidade e transferiu-se, por discordar

da orientação acadêmica da mesma, para Paris em 1924. Foi onde teve contato com

artistas como De Chirico, Foujita e Portinari. De volta ao Brasil em 1931, seria um dos

fundadores da Família Paulista em 1937, junto com Paulo Rossi Ozir e Vittorio Gobbis. Foi

por meio dele que a cidade de Belém recebeu em 1937 sua primeira exposição modernista.

Montada anteriormente em Fortaleza, a mostra era o produto do I Salão Paulista de Pintura.

Pouco se sabe, como registra a pesquisadora Mariza Mokarsel, da repercussão local

desta exposição, num ambiente marcadamente academicista como era o de artes

plásticas em Belém àquela época. Mas pode ser um indício revelador constatar que

Waldemar da Costa está representado em pelo menos dois museus de Belém, o Museu

do Estado do Pará e o Museu de Arte de Belém , com obras desse período.

Descanso, 1935

Óleo sobre Tela, 0,79x0,95m

Acervo do MEP

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Yoshio Yamada

Shizuoka - Japão, 1896 / Belém - PA, 1973

Nascido no Japão, veio ao Brasil pela primeira vez em 1928 e retornou definitivamente na

década de 30. Começou a desenhar no período de reclusão imposto a alguns membros

da colônia japonesa do Pará durante a II Grande Guerra Mundial, na cidade de Tomé-açu.

Sem ter tido acesso ao ensino formal e atraído pelos mestres do impressionismo, o

artista encontrou em Tadashi Kaminagai um interlocutor privilegiado. Trabalhou, porém,

com várias técnicas, fazendo desenhos em carvão e nanquim, nestes casos com

aproximações da arte tradicional japonesa; pastel e óleo sobre tela, técnica na qual executa

grandes panoramas do mercado de Belém, o Ver-o-Peso, que estão entre suas obras

mais expressivas.

Ver-o-Peso, Sem data

Óleo sobre Tela, 1,19x0,98m

Acervo da Família Yamada

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Page 32: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Mostra CompetitivaArtes Plásticas

63

Salão Arte Pará 2003

Qual é o papel dos salões de arte no complexo contexto da arte contemporânea? Esta

pergunta vem perturbando instituições, críticos e jovens artistas há pelo menos duas

décadas, mas, alheios ao debate, os salões se multiplicam pelo país.

Inspirados em modelos franceses do século 19 e inseridos no contexto brasileiro a partir

da chegada da Missão Artística Francesa ao país, em 1816, os salões possuem um formato

básico que se mantém até hoje e que se divide basicamente nas fases de inscrição,

seleção, premiação e exibição.

Poucas iniciativas culturais apresentam uma longevidade tão grande quanto os salões de

arte e isto talvez se deva justamente ao fato de eles não terem se transformado

substancialmente, ao sabor das modas.

Em 1984, em um artigo publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, a crítica e curadora

Sheila Leirner elencou problemas e virtudes desse tipo de iniciativa. “O salão é um lugar

de artistas jovens, talentos em progresso que ainda não atingiram o circuito comercial,

museológico ou universitário e ainda não possuem as prerrogativas necessárias para um

confronto com as estrelas internacionais de uma Bienal”, escreveu Leirner. “Um salão

pode (e deve) oferecer prêmios de estímulo. Ser compreendido como um espaço coletivo

preliminar, prospectivo, de futuras ocupações culturais”, acrescentou.

No mesmo artigo, a curadora criticou: “O salão é uma instituição imposta de cima,

impensada, mal reformulada no decorrer dos anos e diante das modificações da arte.

Longe de orientar-se pelas estruturas que o próprio processo artístico sugere, é um evento

sem ideologia, num processo quase mecânico de repetição”, escreveu ainda a curadora.

O curador Marcus Lontra é um incansável defensor da permanência e crescimento dos

salões. “O motivo real do sucesso permanente dos salões é ser um evento democrático,

comprometido com o caráter prospectivo da arte e com o pluralismo das vertentes

contemporâneas. O salão é o espaço da inquietação e da incerteza e por isso toda

comissão julgadora deve ter a coragem de provocar o novo, de se abismar e de apostar

no que há de vir. O júri deve ser a expressão prática do axioma socrático ‘sei que nada

sei’ e, por isso mesmo, incorporar a dúvida e a coragem de garimpar o novo”, escreveu

Lontra no catálogo do 3° Salão Nacional de Arte de Goiás.

O Salão Arte Pará, organizado pela Fundação Romulo Maiorana, reflete as questões

colocadas por Sheila Leirner e Marcus Lontra, mas a cada edição trabalha para que as

virtudes se sobreponham aos problemas. Esta 22ª edição do Salão é um exemplo disso.

Os artistas selecionados e seus trabalhos representam um grande espectro da produção

contemporânea paraense e nacional que, com o Salão, ganha atenção e visibilidade.

Ao júri, cabe sempre a ingrata tarefa de decidir quem entra e quem fica de fora, de

preferência sempre seguindo o espírito democrático do Salão. Para isso, o júri deste

Salão, do qual fiz parte (assim como Marcus Lontra), se absteve por alguns momentos de

seu ímpeto de curador rigoroso e deixou que o evento se revelasse como um panorama

da diversidade de técnicas, estilos, aprendizados e desejos contemporâneos deste país.

Celso Fioravante

Jornalista e crítico de arte Júri do Arte Pará 2003

Marcone Moreira

Sem Título (detalhe da obra)

Mista, 0,76x0,51m

Page 33: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

64

GRANDE PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS

Sem Título (0,76x0,51m), Urucu (0,57x1,33m), Esteio (1,02x0,67m), MistaMarabá/PA, 2003

Marcone Moreira

65

SEGUNDO PRÊMIO ARTES PLÁSTICAS

Tempo, InstalaçãoBelém/PA, 2003

Lúcia Gomes

Page 34: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

66

AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS

Jse-ren-de, MistaRio de Janeiro/RJ, 2003

Alexandre Monteiro

67

AQUISIÇÃO ARTES PLÁSTICAS

Casa (0,60x0,60m), MistaBelém/PA, 2003

Danielle Fonseca

Page 35: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

68

Acácio SobralInstalação; DespojosAvenida Gov. José Malcher, 2845, casa 04São Braz – Belém/PATel.: (91) 2262216/ 99953041

Afonso Falcão OliveiraEscultura; Cabo I, II e IIITravessa Teófilo Conduru, 718Canudos – Belém/PATel.: (91) 2741419

Alberto Bitar e Leo BitarVídeo; Paisagem urbana em três atosAvenida Serzedelo Corrêa, 322, apto. 301Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2420726

Alexandre MonteiroMista; Jose re-nd-, Jse-ren-de, Jose resend-eRua Corrêa Dutra, 47, apto. 801Flamengo - Rio de Janeiro/RJTel.: (21) 25122098

Bettina Vaz GuimarãesPintura; Sem TítuloRua Bandeirante Sampaio Soares, 601Morumbi - São Paulo/SPTel.: (11) 37592122

ARTISTAS SELECIONADOS

Cláudio Lima AssunçãoMista; Trânsito I, II e IIIPassagem Santo Antônio, Quadra 30, casa 61Cabanagem – Belém/ParáTel.: (91) 81140914

69

ARTISTAS SELECIONADOS

Daniel DiasInstalação: Reciclar e criar criar e reciclar, Criar e

reciclar reciclar e criar, Reciclar e criar criar e reciclarPassagem Beira Mar, 42

Guamá - Belém/PATel.: (91) 2499732

Danielle FonsecaMista; Poema-cimento, Cabana-box, Casa

Travessa 14 de Março, 663Umarizal – Belém/PA

Tel.: (91) 2221182/ 91637050

Elieni TenórioMista; Pedaços de mim, Espelhos da alma, Toma... Não

diga nada a ninguémConjunto Ipuan, rua A, casa 38

Marambaia –Belém/PATel.: (91) 2315515

Fabrício MeloDesenho; 2, 4, 5

Travessa 14 de Março, 222Umarizal – Belém/PA

Tel.: (91) 2252722

Geraldo TeixeiraObjeto; Náufragos - devoção,

Náufragos - viagemAvenida Alcindo Cacela, 1924, apto. 902

Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2498808/ 2294349

Glauce Patrícia da Silva SantosGravura; Biombos I, II e III

Conjunto Cidade Nova 8, Rua WE 40-A, casa 271Coqueiro – Ananindeua/PA

Tel.: (91) 88017585

Page 36: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

70

Jair Jr.Objeto; De Pablo a Long Dong todo mundo tem umapomba entre as pernas, Com os dedos e as pombas...te segura!, Cabeças vão rolar... ainda bem!Avenida Assis de Vasconcelos, 213Reduto – Belém/PATel.: (91) 2241504/ 81122098

JocatosGravura; SB-10, G. C, S. K.Travessa Dr. Liberato de Castro, 405Guamá – Belém/PATel.: (91) 2299078

Jorge MargalhoInstalação; Raízes do mundoRua José de Alencar, 45Marambaia – Belém/PATel.: (91) 96250925

ARTISTAS SELECIONADOS

Keyla SobralDesenho; Sem TítuloAvenida Gov. José Malcher, 2845, casa 07São Braz – Belém/PATel.: (91) 2595422

Lúcia GomesInstalação; Banquete das águas, TempoTravessa São Francisco, apto. 101Batista Campos – Belém/PATel.: (91) 2426589

Luzia VellosoMista; Bubu, Planeta Utopia, Limite I - cuboRua Leila Diniz, 365São Francisco – Niterói/RJTel.: (21) 27103136

71

ARTISTAS SELECIONADOS

Manoel VeigaPintura; Sem Título

Rua Benjamin Egas, 66, apto. 3Pinheiros - São Paulo/SP

Tel.: (11) 30889685

Marcone MoreiraMista; Sem Título, Urucu, Esteio

Rua Santo Antônio, 250Amapá – Marabá/PA

Tel.: (94) 3945258

Marinaldo SantosMista; Caixa prego, Caixa do agiota,

Caixa do fura-dedoAvenida Visconde de Souza Franco, 1395

Nazaré – Belém/PATel.: (91) 2121962/ 81124228

MuriloPintura; De tempo, Era, Memorial

Rua Coronel José do Ó, Alameda Ceci, 2Mosqueiro – Belém/PA

Tel.: (91) 37715498

Marcos CostaObjeto; Objeto desusado I, II e III

Rua Santana, 160Casa Forte – Recife/PE

Tel.: (81) 34424374

Page 37: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

72

Nina MatosMista; Mantendo-se bela na longa espera, Perder seuscabelos já é envelhecer,Rio - Paris sem escalasTravessa Arcipreste Manoel Teodoro, 329, apto. 1304Batista Campos – Belém/PATel.: (91) 2232978/ 2198252

NioMista; Sem TítuloTravessa Joaquim Távora, 275Cidade Velha – Belém/PATel.: (91) 224-5695

Raimundo Calandrino B JúniorMista; Sem TítuloRua Nova, 451Pedreira – Belém/PATel.: (91) 2547536

Reginaldo Braga MoraesMista; Mangue I, II e IIIBelém/PA

RumaMista; Raio = lado, Raio infinitoTravessa Padre Eutíquio, 2527, apto. 301Batista Campos – Belém/PATel.: (91) 2723329

ARTISTAS SELECIONADOS

73

ARTISTAS SELECIONADOS

Saint Clair DiasObjeto; A vida por um fio III

Travessa Rui Barbosa, 237Reduto – Belém/PATel.: (91) 99611083

SanchrisInstalação; Imaculados filhos de Eva

Travessa Vileta, 688, apto. 107Pedreira – Belém/PA

Tel.: (91) 2331875

Telma SaraivaMista; Chuva preciosa

Travessa Capitão Pedro Albuquerque, 432Cidade Velha – Belém/PA

Tel.: (91) 2220986

Tetê RaiolInstalação; As janeleiras

Travessa Lomas Valentinas, 1412, apto. 302Marco - Belém/PA

Tel.: (91) 2772292/ 2430384

Vera BellatoInstalação; Toucas para pensamentos aéreos

Avenida Guararapes, 86, sala 802Santo Antônio – Recife/PE

Tel.: (81) 34246077

Page 38: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

74 75

Galeria da ResidênciaFotografia

Caixa de Luz

Luiz Braga

Curadoria Marcus de Lontra Costa

Foto Luiz Braga

Page 39: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Page 40: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

78

Mundo Vasto Mundo

“O destino poético do homem é o de ser o espelho da imensidão, ou mais exatamente

ainda, a imensidão vem tomar consciência de si mesma no homem. Para Baudelaire, o

homem é um ser vasto”.

G.Bachelard, “A Poética do Espaço”

Todo fotógrafo é um prisioneiro da paisagem. Enamorado, projeta sobre ela a ânsia de sua paixão.

O mundo, compreendido e sentido pelo Ser em seu estado de Totalidade, é seccionado pelo

registro da ação artística, enquadrado pelo olhar e esquartejado como um corpo que se fragmenta

em estilhaços, destroços, resíduos, lembranças. Dessa paisagem destruída, uma nova ordem

renasce, uma linguagem, uma experiência de interpretar o mundo: essência da arte.

Luiz Braga insere-se numa espécie de tradição romântica da fotografia brasileira, oriunda da

pesquisa formal, da documentação temática e dos compromissos com a clareza e a elegância da

composição. A partir daí, o artista constrói a sua linguagem utilizando-se da cor como um

instrumento ativo, elemento substantivo da obra, articulando uma poética particular e sensível. A

partir dela, o mundo se refaz e relações se articulam, descobertas são reveladas. O olhar vê o que

vê e enxerga além, invade a vastidão, o território dos mistérios, a profundeza que transcende os

limites da fotografia e viaja na construção de um novo cenário, uma nova paisagem, uma nova

realidade. Todo o trabalho de Luiz Braga é prenhe dessa metafísica, desse véu, dessa visão que

nos mostra um mundo real e hipotético, concreto e abstrato, palpável e misterioso.

Se em Miguel Rio Branco, outro mestre da fotografia, a cor é compreendida pelo viés expressionista,

com predominância dos vermelhos e carmins, em Luiz Braga a cor é elemento estrutural, base

dessa nova ordem criada pelo artista. Se Rio Branco dialoga com Goya, Luiz Braga identifica em

Cézanne alguns pontos essenciais de contato no tocante à elaboração de uma ordem e de um

método construtivo. Por isso, é sugestivo que, na entrada dessa mostra, o espectador se defronte

com uma enorme e extraordinária fotografia que repete, em seqüência, algumas maçãs, tema tão

caro e identificável no grande mestre francês, e na qual a reprodutibilidade da imagem evidencia

a revolução provocada pelo advento da fotografia na percepção humana.

A reunião desse conjunto de fotos revela um artista com pleno domínio de seus meios

79

Page 41: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

80

técnicos, criando uma linguagem artística determinada pela clareza da composição e uma estrutura

definida pela cor. Trata-se de um clássico, no sentido modernista da palavra, para o qual a ação

perpétua da arte é organizar e refazer o mundo. Diante das fotografias de Luiz Braga, o espectador

é instado a descobrir um mundo poético e possível, regido pela Ordem, no âmbito da construção

artesanal, e pela Utopia, no campo da estruturação conceitual.

Por isso, aqui não há espaço para sobressaltos e estrondos. Estamos no território das palavras

sussurradas e da simplicidade. E a contemplação silenciosa desse universo faz brotar um afeto

romântico povoado de nostalgia, uma beleza austera e emocionada que povoa o nosso ser de

encantamento e mistério. E como nos lembra ainda – e sempre – G. Bachelard: “Na alma relaxada

que medita e sonha, uma imensidão parece esperar as imagens da imensidão. O espírito vê e revê

objetos. A alma encontra no objeto o ninho de uma imensidão”.

Marcus de Lontra Costa

Belém/Rio, setembro de 2003.

Luiz Braga, 46 anos, nasceu em Belém. Teve o primeiro contato com a fotografia aos 11 anos. Em

1975, abraçou a fotografia como profissão, ao mesmo tempo em que ingressava na Escola de

Arquitetura, onde se graduou em 1983. Realizou mais de 70 exposições, entre individuais e coletivas,

tanto no Brasil, como no exterior. Sua obra está presente em coleções importantes como a Pirelli,

do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a Fundação Cultural de Curitiba e o Museu de Arte Moderna

de São Paulo, entre outras. Participou da primeira versão do Salão Arte Pará, foi premiado no anos

de 1985, 1987 e 1988 e também já atuou como jurado por duas vezes.

Até 1981, seu trabalho era desenvolvido apenas em preto e branco e suas primeiras exposições

eram esboços multifacetados de um autor em formação. Após essa fase inicial, descobre a cor

vibrante da visualidade popular amazônica e inicia o que considera seu primeiro ensaio, exibido na

mostra “No Olho da Rua”, composto por recortes da geometria colorida de barcos, brinquedos e

casas da região ribeirinha de Belém.

Em “A Margem do Olhar” (1985 a 1987), retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando

a dignidade do caboclo amazônico em seu ambiente nativo. Exibido nacionalmente, o ensaio

rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez de 1988, conferido pelo Instituto Nacional de Fotografia da Funarte.

O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades de confronto entre a luz natural e as

múltiplas fontes de luz dos bares, parques e barcos populares resultaram na mostra “Anos Luz”

(1986 a 1991), premiada em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da

Boston University. As fotografias desse ensaio são as mais conhecidas e exibidas pelo autor.

Excertos de “Anos Luz” foram exibidos na Alemanha, Inglaterra, Suíça, México, Estados Unidos e

publicados em diversas revistas e livros. Sua mais recente individual, intitulada “Desenhos do

Olhar”, foi mostrada durante a III Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba em outubro de

2000.

Trabalhando como fotógrafo independente a partir de Belém, Luiz Braga tem dado continuidade

à busca de uma Amazônia profunda, com inúmeras incursões em cidades da região. Este ano, sua

obra foi agraciada com o Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia.

A exposição exibida no 22º Salão Arte Pará é fruto de mais de uma década de trabalho e traz, em

sua grande maioria, imagens inéditas ao público paraense. Como diz Braga: “Certamente, não é

preciso nascer na Amazônia para fotografá-la. Entretanto, é preciso cumplicidade com a paisagem

e seus personagens. Há que se envolver com ela, compreendê-la no sentido literal de fazer parte.

Mais que fotografar na Amazônia, fotografar a Amazônia é um exercício de desenvolvimento do

olhar, algo que não se aprende em expedições isoladas”.

81

Page 42: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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Page 43: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

84

Mostra CompetitivaFotografia

85

Algumas Imagens no Mundo

Vimos configurando processos de vinculação, através da produção de imagens, desde o

início da humanidade. Estes sistemas de elaboração sígnica ficam mais extensos com o

tempo, o que faz com que vivamos, no cenário contemporâneo, em campos mediados

por imagens de naturezas as mais distintas, onde relações, conceitos e decisões estão

sob o seu poder de fogo.

Um novo paradigma passa a se constituir nos processos de conhecimento do mundo e

nos sistemas de vinculação entre o homem e a cultura, a partir do surgimento da fotografia,

ainda no século XIX. Essa nova maneira de mediação entre o homem e seus diversos

territórios foi se tornando cada vez mais complexa e, no cenário da arte, encontra espaço

para alguns de seus exercícios mais fecundos.

Se a fotografia nasce como fruto do desejo da apreensão do “real” e de nos projetarmos

para além da morte, constituindo um gigantesco repertório de duplos congelados em

papel, ela vem perfazendo, ao longo de toda a sua história, um percurso errático, com os

mais diversos empregos, em que um de seus caminhos perpassa pelo campo da arte.

É nesse território, um dos mais intrincados da humanidade - por encontrar suas raízes

fincadas no assentar de nossa cultura -, que a fotografia tem a chance de se manifestar

como potência de criação.

Longe de se apresentar como técnica aplicada a uma necessidade formal de uso, na

arte, a fotografia amplia seu campo de articulação, de empreendimento, de linguagem e,

por fim, de subjetivação. Ao se reconfigurar, expande sua possibilidade enquanto sentido,

nos dando algo além da mera representação imagética.

É dessa natureza de imagem que tratamos aqui. Ela cria fissuras, desestabiliza a percepção,

estabelece conexões instigantes e articula poéticas vigorosas. Estas relações operam

num território hiper-inflacionado por imagens que é o da cultura. Entretanto, propiciam

outro tipo de mediação, ao acenar com uma capacidade de amplificação da imagem para

além da mera objetividade técnica. A imagem, no campo da arte, afeta nossos sentidos

e constitui novas experiências para aquele que a vê. Aí está a sua razão de ser, a

complexidade que ela nos propõe ao ser vista e ao nos devolver este olhar.

Orlando Maneschy1

1 Artista, é pesquisador em linguagem visual, mestre e doutorando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Coordenador

do Caixa de Pandora – Núcleo de Imagens. Tem participado de exposições, publicações e projetos no Brasil e no exterior.

Eduardo Kalif

Bonequinhas de Cheiro (detalhe da obra)

Page 44: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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GRANDE PRÊMIO FOTOGRAFIA

Bonequinhas de cheiro I, II e IIIBelém/PA, 2003

Eduardo Kalif

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SEGUNDO PRÊMIO FOTOGRAFIA

Hagakure 37, Hagakure 11, Hagakure 15ABelém/PA, 2003

Miguel Chikaoka

Page 45: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA

Identidade calcinada I e IIIBelém/PA, 2003

Alexandre Sequeira

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AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA

Peixeiro e Mercado de ferroBelém/PA, 2003

Dirceu Maués

Page 46: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

90

AQUISIÇÃO FOTOGRAFIA

Ponha-se no meu lugarRio de Janeiro/RJ, 2003

Frederico Dalton

91

Alan SoaresAh! Se ela pensasse, Ah! Se ela soubesse, Ah! Se ela

falasseAvenida Senador Lemos, 26

Umarizal – Belém/PATel.: (91) 2234109

Adriana FerlaSCSQ5 I e II

Rua Dr. Carlos Norberto Souza Aranha, 145Alto de Pinheiros – São Paulo/SP

Tel.: (11) 30216528

Alexandre SequeiraIdentidade calcinada I, II e III

Avenida Gov. José Malcher, 1631Nazaré – Belém/PA

Tel.: (91) 2237391

Cláudia TavaresPaisagens privadas

Rua Alice, 1658, apto. 301Laranjeiras - Rio de Janeiro/RJ

Tel.: (21) 25571341

Dirceu MauésPeixeiro, Gurijuba, Mercado de ferro

Travessa Mariz e Barros, 3066, apto. 302/AMarco – Belém/PA

Tel.: (91) 2468162/ 81127731

FOTOGRAFOS SELECIONADOS

Page 47: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

92

Eduardo KalifBonequinhas de cheiro I, II e IIITravessa São Francisco, 550, apto. 101Batista Campos - Belém/PATel.: (91) 2426589/ 99832447

Fagner Monteiro Silva e Simone de OliveiraIn Uterus I, II e IIITravessa Lomas Valentinas, 1897, apto. 1802Marco – Belém/PATel.: (91) 2282735/ 99623625

Frederico DaltonMemento Mori, Ponha-se no meu lugar,O curso de tatoRua Cândido Mendes, 98, apto. 1203Glória - Rio de Janeiro/RJTel.: (21) 22335414

Jair LanesBrasília: O silêncio das formas,Brasília: O silêncio das formas,Brasília: O silêncio das formasRua Francisco Pernoti, 638Jardim Ademar - São Paulo/SPTel.:(11) 37224217/ 91357841

João CastilhoSem TítuloRua Lavras, 935, apto. 502São Pedro - Belo Horizonte/MGTel.: (31) 96153291

FOTOGRAFOS SELECIONADOS

93

Kátia AbreuPolvo de luz, Lua na cabeça, Três coroas e a lua

SQN 416, Bloco Q, apto. 202Asa Norte – Brasília/DF

Tel.: (61) 3496994

Leopoldo PlentzSem título

Travessa Azevedo, 115, apto. 03Floresta - Porto Alegre/RS

Tel.: (51) 33468254/ 99633954

Marcelo ReisRitus II e III

Rua Anfilófio Reis, 3Itapuã – Salvador/BA

Tel.: (71) 2489797

Miguel ChikaokaHagakure 37, Hagakure 11, Hagakure 15A

Travessa Frutuoso Guimarães, 611Campina – Belém/PA

Tel.: (91) 2614240/ 99833185

Nailana ThielyE o amor resultou inútil I, II e III

Avenida Pedro Miranda, 1712, Casa 23Pedreira – Belém/PA

Tel.: (91) 2447974

FOTOGRAFOS SELECIONADOS

Page 48: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

94

Patrícia GouvêaSem títuloRua Cândido Gafrée, 18, apto. 504Urca - Rio de Janeiro/RJTel.: (21) 22950184

Polescena MarcoEternidade I, II e IIITravessa 14 de Março, 205Umarizal – Belém/PATel.: (91) 2244006

Roberto MenezesSem TítuloAvenida Almirante Tamandaré, 814, apto. 603Campina – Belém/PATel.: (91) 2251337/ 91140400

Rogério AssisSonho I, II e IIIRua Ernest Friedrich Jost, 38Pinheiros - São Paulo/SPTel.: (11) 30310233/92172224

Wagner SantanaIlusões I, II e IIIRodovia BR-316, Passagem Haidê, 208Souza – Belém/PATel.: (91) 2103039/ 99942479

FOTOGRAFOS SELECIONADOS

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Lucidéa MaioranaPresidente

Roberta MaioranaDiretora

Daniela OliveiraAssessora de Projetos

Ana Cristina PrataAssistente Executiva

Jorge MartinsGerente de Exposições

Fundação Romulo MaioranaAv. 25 de Setembro, 2473 - Marco - CEP: 66093-000Fones: (91) 2161142 / 2161125 - Fax: 2161125E-mail: [email protected]: Jornal O LIBERAL, Cx. Postal 487 - Belém-Pará-BrasilWebsite: www.frmaiorana.org.br

Page 49: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

96

Catálogo

Design GráficoLuciano e Daniela Oliveira

Coordenação EditorialAline Monteiro

Biografias dos ConvidadosFabrício de Paula Gomes

Edição e Execução das FotosRaimundo Paccó

Editoração EletrônicaNonato Moreira

Tratamento de ImagensFabrício Pereira

FotolitosNikkei Design

ImpressãoGráfica Supercores

Salão Arte Pará 2003

Coordenação GeralRoberta MaioranaDaniela Oliveira

CuradoriaMarcus de Lontra Costa

Curadoria Sala“Entre a abstração e a figura”Jussara Derenji

Assistente de CoordenaçãoAna Cristina Prata

Projeto de MontagemMarcus de Lontra CostaJussara DerenjiRoberta Maiorana

Coordenação de MontagemJuba MelloAntônio Sérgio de Oliveira RodriguesJorge Martins

Museologia/DossiêAntônio Visco Bruno

Assessor de Comunicação e PesquisaFabrício de Paula Gomes

ApoioAureliano Ferreira Lins

Design GráficoRicardo Harada

PlotagensCanvas DigitalRM Graphics

LogomarcaJosé Fernandes Fonseca Neto

97

A Fundação Romulo Maiorana agradece

Luciano Oliveira • Oswaldo e Rose Mendes • Ronaldo Salame

Banco CentralHenrique Meireles • Inês do Rosário Palmeira • Joéton Gomes de Ornelas • Roberto Reis

Secretaria Executiva de CulturaPaulo Chaves Fernandes • Rosângela Britto • Tadeu Lobato • Equipe do MEP

Secretaria Executiva de Obras PúblicasJoaquim Passarinho • Sérgio Massoud • Benedito Melo de Moura • Gilberto Massoud

Setrans-BelMário Martins • Luiz e Carmem Peixoto

Fábio Andrade • Silvana Scorcini • Flávia Gama • Marie Claire Carmona • Afonso Gallindo

Evandro Teixeira • Celso Fioravante • Orlando Maneschy • Jussara Derenji • Daniela NameEmanuel Franco • Marcos Lontra

Maria Angélica Meira • Elizabeth Meira • Milton Nobre • Roberto Reis • Gileno Müller ChavesElza Lobo Soares • Henrique Bernardo Lobo • Dióris Pinto Guimarães • Lutfala Bitar • Maria LúciaKoury • Benedito Nunes • Neuza Yamada • Museu de Arte de Belém • Museu do Estado do Pará• Museu da UFPA

Exposição Caixa de LuzLuiz Braga • Antônio Pires (Fuji/São Paulo) • Bolsa Vitae de Artes (1996) • Camila Souza Neto(Colégio Antônio Lemos) • Carla Abreu • Comunidade da Passagem Pedreirinha • Dorvalino Braga• Elza Lima (Caraparu) • Família Bruno de Menezes • Florentina Sales Cardias - In Memorian •Gildo Sarmento e Família (Vigia) • Irmã Otávia/ Filhas de Santana (Colégio Antônio Lemos) • JoãoLucas Braga • Jussara Derenji • Kátia Abreu • Laurene da Costa Ataíde - Pássaro Colibri (Outeiro)• Lília Helena Braga, Lu Guedes e Luciana Vasconcelos (Seleção de Imagens) • Loriene AtaídeMoraes • Marcos e Simone Silva (Manaus) • Maria Helena Braga • Maria Lúcia Medeiros (Bragança)• Michele Farias (Manaus) • Nélio Palheta (Vigia) • Paola Watrin • Rosa Lourenço Maneschy(Barcarena) • Rosely Nakagawa (São Paulo) • Rubens Fernandes Jr. (São Paulo) • Sávio Mileo(Oriximiná) • Simone Pureza • Tainá Godinho • Toniele Malcher (Barcarena) • Ulli Braga • Uyandara(Mosqueiro)

A todos que colaboraram para que fosse possível a realização deste salão.

Page 50: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

98

Patrocinadores

Rede Celpa

A REDE Celpa tem se destacado como uma das empresas que mais investe nodesenvolvimento cultural do Pará. Então, patrocinar o maior salão de arte doNorte é uma satisfação e a prova do nosso comprometimento com toda asociedade paraense. Assim como fez o jornalista Romulo Maiorana, idealizadordo salão, a REDE Celpa acredita e investe na produção cultural local. O Arte Paráé hoje um instrumento facilitador da cultura como bem de consumo e deprodução, é um exemplo claro de que em nosso Estado a arte se materializa emações concretas de incentivo e apoio cultural.

Unimed Belém

Cultura é vida, movimento, criação. É progresso, desenvolvimento. Para a UnimedBelém, apoiar o Arte Pará 2003 é uma forma natural de valorizar tudo o que acultura traz de benefício para o homem e para a sociedade. Como investimento, acultura gera bem-estar e resulta no aprimoramento de valores e instituições. Ficaclaro para um plano de saúde como a Unimed Belém que investir na cultura éinvestir no ser humano. É transformar arte em ação, para o bem de todos.

Supermercados Nazaré

Os valores sobre os quais se constrói uma sociedade se expressaminequivocamente na sua cultura e na sua arte. O Arte Pará se constituiu ao longodos anos como a mais privilegiada vitrine da arte paraense, destacando-se nocenário nacional. Não é tarefa fácil. É preciso renovar e inovar o tempo todo, adespeito das dificuldades. O sucesso do Salão é, portanto, resultado de umarebeldia constante de seus organizadores. Como o foi o movimento modernista,tema escolhido para a mostra deste ano. Tais valores inspiram também nossaorganização, sendo uma das razões pelas quais o Grupo Nazaré se une àFundação Romulo Maiorana neste evento.

Construtora Villa Del Rey

Falar da importância do Arte Pará é uma tarefa extremamente grata para nós.Evento consagrado no cenário nacional, tem revelado novos talentos das artesplásticas numa contribuição inestimável aos artistas de nossa terra.Neste ano, decidimos que o Sistema Del Rey Casaprópria, uma iniciativaplenamente vitoriosa de nossa empresa, emprestaria seu apoio ao evento. Afinal,engenharia e arquitetura também são manifestações de arte, daí acharmos que aligação com o Arte Pará 2003 é mais do que pertinente.

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Apoio

Secretaria Executiva de Cultura

O Arte Pará vem incentivando os novos artistas e investindo na inserção social. OArte Pará virou tradição, nessas duas décadas de compromisso assumido com obem fazer.

Secretaria Executiva de Obras Públicas

Desde sua criação, o Salão Arte Pará cumpre com a sua função maior de revelartalentos e proporcionar um encontro significativo e prazeroso com a arte. ASecretaria Executiva de Obras Públicas sente-se honrada em apoiar o 22o ArtePará, um agente de vanguarda que congrega as mais diversas manifestaçõesartísticas.

Sindicato das Empresas de Transpote de Passageiros de Belém

Há anos o Arte Pará vem ampliando o olhar do povo paraense a partir da arte,como um elemento de educação. Para nós, apoiar este evento é uma grataparceria em favor da cidadania.

Mendes Publicidade

A agência do Arte Pará.

Imagem Produções

Produzindo os filmes publicitários para o Arte Pará, ajudamos a apresentar paraum grande público a cultura através de imagens, o conhecimento através do some o saber através da emoção.

Page 51: Arte P ará 2003 - 22ª edicão

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