apostila parte 02

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    1122 LLUUÍÍSSEESS FFRRAANNCCEESSEESS II 

    Na França, cada vez que um novo reisubia ao trono, era comum quemodificasse seus palácios e ambientesencarregando arquitetos e decoradoresde criarem novos estilos de móveis querecebiam o nome do monarca que oencomendara. Muitos foram os estilosfranceses que se sucederam, desde aRenascença até o ecletismo do século

    XIX, sendo que quase todos foramcriados em função da monarquia, de seufausto e de sua riqueza.

      A partir do século XVII, os estilosLuíses franceses  apresentaram umadecoração barroca mais pomposa eum mobiliário mais impressionante doque confortável. Móveis em linhasretas carregadas de ornatosapresentavam pés em forma de Sestirado. Com o tempo, os mesmospassaram a ser arrematados por um

    disco, taco ou voluta; ou também seapresentaram simples e sem nenhumoutro arremate. Apareceram também,sob o S estirado, a garra e a esfera,passando este detalhe a ser conhecidocomo pé de corça, cervo ou cabra(cabriolet ).

    Como novidade, o ebanista André-Charles Boulle(1642-1732) introduziu reforços em bronze,desenvolvendo a aplicação de outros materiais  – inclusive pequenos pedaços de madeira formandodesenhos em arabescos  –  não em relevo, mas

    embutidos: era a MARCHETARIA  (Marqueterie ouMarcheterie). Utilizavam-se geralmente comomateriais: o bronze, nácar, ouro, prata e cobre.

      Nesse período, dois tipos demóveis tornaram-se bastante comuns: 

    a) Bergère: poltrona estofada comorelheiras ou abas largas, semnenhum espaço entre encosto eespaldar e travessas dos pés em formade H ou X, destinada à leitura;

    b) Buffet : aparador em forma de armário,próprio para guardar louças eutensílios necessários para o serviço

    de mesa, que logo acabou se abrindopara mostrar peças de valor,transformando-se em vitrines.

    EESSTTIILLOO LLOOUUIISS XXIIIIII 

    Foi no final da Renascença, na primeirametade do século XVII, que surgiu na

    França este estilo frio e sóbrio, aindadesprovido de riqueza imaginativa, comoreflexo da vida severa desta época.Essencialmente maneirista, de basesitalianas e oriundo da experiência deFontainebleau, mantinha a redundânciadas formas e o desrespeito deliberado àsregras antigas (DUCHER, 2001).

     Aos poucos, foi se abrindo à levezae à graça, predominando durante todoo reinado de Louis XIII (1601-43) que,depois do período de Regência(1610/17), estendeu-se de 1617 a1643, data também da morte do seuprincipal ministro, o Cardeal deRichelieu (1585-1642), que importouda Itália artistas e artesãos paratrabalharem em seus projetos.

    Do Renascimento, ficaram algumasinfluências como os motivos decorativoscom guirlandas envolvendo medalhõescom bustos, cariátides e colunas. Domaneirismo, encontraram-se frontões com

    volutas ou recortados, interrompidos porcártulas, nichos, tabernáculos ou mesmogradeados salientes. Ainda, as cártulasamoldavam-se aos recortes, às curvas, àschanfraduras e às perfurações de suascercaduras lavradas [VERBO, 1980].

      Sob a influência do Barroco, suasmodinaturas, logo espessas e gordas,multiplicaram as intumescências e assaliências. Deste tipo, destacava-se acártula denominada auricular , porquesua fisionomia mole e cartilaginosa

    evocava o lóbulo da orelha.

    Palais de Cheverny (1626/35, Loire Fr.)Jacques Bougier (?-1632)

    CASTELNOU

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    Quanto ao MOBILIÁRIO, as madeirasmaciças eram muito usadas, em especiala nogueira e o ébano e, para os móveisrústicos, o pinheiro. Três novas técnicas

    passaram a ser empregadas: marchetariade madeiras colorias; incrustações defolhas de mármore; e placas de ébanocom folhas de 8 a 10 mm de espessura,esculpidas em baixo-relevo. Aos poucos,a época foi passando da marcenariamóvel   (mesas com cavaletes, cadeirasdobráveis e em tenazes) para tipos demóveis fixos (DUCHER, 2001).

      Rico em efeitos de volume, otorneado do Estilo Louis XIIII tirava docubo e do cilindro fustes lisos, com

    anéis (de seção quadrada e depoisredonda), em rosário (de contas) e emespiral.

     Nos assentos, a madeira torneadaadotava a forma dos montantes, dospés, dos suportes dos braços e dastravessas em forma de H. Naspoltronas e cadeiras, uma outratravessa de entrepernas vinha àsvezes consolidar os pés dianteiros. Osespaldares podiam ser muitoenfeitados com entalhes em alto-relevo, enfeites ovais ou com formatode folhas e grutescos (TESTA, 1981).

     A cadeira de braços  –  que com o tempo setransformaria em “poltrona” – possuía assentoretangular baixo, a uma altura de 45 cm dochão; espaldar reto, baixo e largo; braçosretilíneos, perpendiculares ao espaldar; hastesdos pés em forma de H; e pés poucodecorados, da mesma maneira que as travesde sustentação. Já a cadeira de encosto tinhaas mesmas característica da anterior, massem os braços; sendo os assentos quadradose menos espaçosos e os encostos mais altos.Houve o reaparecimento dos braços em cruz ecurvos (Y ATES, 1999).

       Ambos tipos de cadeirasapresentavam uma guarnição decouro ou assentos estofados emtecido bordado, geralmentetachonados3. Como enfeites fixosapareceram: o  ponto de Hungria, aslistras, as flores e os frutos, empesados motivos enfileirados, além defranjas de linho ou algodão, soltas ou

    com nós, e outros aviamentos emfazenda. Bem no final do reinado, osbraços das poltronas arquearam-se eadotaram a extremidade recurvada.

    Nesse período, segundo MONTENEGRO (1991), surgiu a cadeira com encosto esem braços chamada à vertugadin, maisacolhedora para as incômodasvestimentas femininas. Era um assentopara a mesa, sendo que algumas vezesum simples marco formava o espaldar.Havia igualmente a cadeira em forma detesoura, dobrável e que tinha peças

    curvas  –  pelo menos duas  –  colocadasem torno de um eixo central e unidasentre si pelos braços e pelas bases dospés. O assento era formado por tiras decouro ou de fazenda muito resistente4.

    3  Característica típica deste período, os estofadostachonados  eram fixados por pregos de cabeça larga(tachas) espaçadas, simples ou formando desenhos comtachas de menor tamanho.

    4 Outra peça de mobiliário criada foi o sofá para doentes,de espaldar reclinável (sistema de cremalheira). Oacolchoado dos braços não era uma exclusividade destemóvel, nem o estofado que cobria a madeira natural;podiam ser balaustrados, em espiral ou com a forma depêra ou de terço (com contas ou uvas sobrepostas).

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      Como assentos havia também osde uso diário em estilo rústico,parecendo uma sela com três pés.Seu formato era de um assentoalongado, sem espaldar nem braços,

    sendo seus derivados a banqueta (emferro forjado e bronze, geralmentedobrável ou desmontável, inspirada nacurul ) e o banco (de espaldar e braços,com assento grande que podia ser atégiratório), todos eles sem dar “maiorimportância” aos estilos.

     As arcas Louis XIII   eram móveis grandes epesados, enfeitados com medalhões e entalhes,principalmente compostos com painéis formadospor losangos e triângulos. Funcionando comobanco grande e armário, eram móveis deconcepção arquitetural, que se distinguiam porsuas cornijas com saliências enormes no topo e nabase. O gosto pela geometria aparecia em suasalmofadas, quadradas ou retangulares, muitasvezes guarnecidas de  pontas de diamante, umadecoração rica de jogos luminosos e plásticos

    (DE AGOSTINI, 2005).

      A MESA  era quadrada ouretangular, de tamanho pequenopossuindo uma travessa em Hornada em seu centro com umvaso, pião ou pinha. De resto, suascaracterísticas a assimilavam àscadeiras, pois seus suportes eramde madeira torneada.

    O vocabulário arquitetural também dominava nasescrivaninhas  (secretaires) e nas cômodas-

     papeleiras  ou escritórios  (bureaux ), estesenriquecidos de colunas, frontões, pilastras,balaústres e nichos. Já o buffet   era composto porduas partes, sendo a de cima menor, com gavetasintermediárias. Os elementos decorativos maisfreqüentes eram a ponta de diamante e as frutas,especialmente maças e pêras (BRIDGE, 1999).

    EESSTTIILLOO LLOOUUIISS XXIIVV 

    Louis XIII e Ana da Áustria casaram-seem 1615. Após a morte do rei, em 1643, Ana tornou-se regente do jovem Louis XIV(1638-1715), tendo o cardeal GiulioMazarino (1602-61) como ministro, o qualmanteve a influência italiana na Cortefrancesa e tornou possível a monarquiaabsoluta de Louis XIV, Le Roi Soleil .

      Nesse reinado, iniciou-se a Idadede Ouro da França, com umamudança de costumes que deixougrande herança de refinamento ecultura para as gerações seguintes.

    Começou uma nova vida intelectual edecorativa francesa e, paralelamente,desenvolveram-se estilos artísticos degrande sofisticação: os enormesedifícios barrocos feitos por LouisLeVau (1612-70) e Jules Hardouin-Masart (1646-1708); as pinturas edecorações de Charles LeBrun (1619-90); e os dramas de Molière (1622-73)e de Jean Racine (1639-99). 

    O Palais de Versailles (1668-1710), construído soba supervisão do ministro das finanças, Jean-Baptiste Colbert (1619-83), tornou-se a glória da

    Europa. Entretanto, o custo da obra e as guerrasde Louis XIV foram onerosos. Ao fim do reinado, amiséria havia se disseminado pela França.

    Basicamente, pode-se dividir o reinado deLouis XIV em 03 (três) fases:

      Es til o de Trans ição   (de 1643 a 1660):correspondente à menoridade do rei; umaépoca de maturação marcada pelapersistência das formas Louis XIII   e porforte penetração do Barroco italiano, masque se distinguia também pela arteclassicista, por exemplo, de FrançoisMansart (1598-1666) no Château deMaisons, atual Maisons-Laffite (1642/51). 

      Primeiro Est i lo Lou is XIV   (de 1660 a1690): referente ao período triunfante doreinado pessoal, ao qual correspondeuuma arte de Corte brilhante e ostentatória,exibida no Palais de Versailles através dostrabalhos de LeBrun, LeVau e Hardouin-Masart, entre outros;

      Segundo Est i lo Louis XIV   (de 1690 a1715): outra fase de transição, queapareceu nos últimos anos do reinado,sob influência de Hardouin-Masart e dedecoradores como Jean Berain (1639-

    1711), onde a nova leveza das formas e afantasia das linhas já anunciavam o estiloLouis XV. 

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    No princípio de seu reinado, Louis XIV reduziu anobreza a um estado de vassalagem, exigindo suaconstante presença na Corte. Nas suas palavras:L’ État c’ est moi   (“O Estado sou eu”). Com a ajudade Colbert e LeBrun5, converteu a França em umagrande fábrica dedicada às artes decorativas,buscando em toda Europa artesãos especializados,que se instalaram com grandes privilégios emdiversos centros artísticos.

      O resultado disso foi a eclipse nocontinente das influências italiana,espanhola e flamenga; e a ascensãode um estilo que se converteu naexpressão do gosto real por suamagnificência e sua suntuosidade,concebido em proporções grandiosas.

    O PRIMEIRO ESTILO LOUIS XIV aconteceu durante grandes conquistasmilitares, entre 1660 e 1690, e se refletiunas magníficas residências reais, em queo rei deleitava-se com telas, tapeçarias eesculturas que glorificavam seusaposentos e exploravam a temáticamitológica, colocando-o como a realencarnação do deus Sol – o próprio Apolo –, cujo Olimpo seria Versailles.

      Marcado pela busca do efeitomonumental e riqueza dos materiais,este “estilo real” empregava adornos

    de mármore e jogos policrômicosdeste com ouros, bronzes, pinturas e reflexos de espelhos. Graças à suaopulência, predominavam asformas pesadas e cores escuras. 

     Ao esplendor pesado dos materiais, inseridos nasordenações arquiteturais de colunas, pilastras enichos, acrescentou-se a espessura dasmodinaturas. Finalmente, acima das pesadascornijas, figuras e arquiteturas fingidas ordenavam-se dentro de molduras enriquecidas de estuquespelos pincéis dos pintores-decoradores.

    Mosaico Rocai l le

    5  O ministro Colbert era promotor das manufaturas deGobelin; a fábrica de tapetes mais importante do fim doséculo XVII e de todo o século XVIII que foi fundada nomesmo local onde até 1607 funcionava uma tinturaria emum povoado próximo a Paris, cujo nome passou a ser omesmo da família proprietária, assim como seusprodutos. LeBrun comprou a propriedade dos Gobelins edeu impulso à tapeçaria que cresceu espantosamente noperíodo de Louis XIV, dominando Versailles  e outrospalácios da França.

      Os tetos eram altos e decoradoscom pinturas dos maiores artistas daépoca, entre os quais: Georges deLaTour (1593-1652), Nicolas Poussin(1594-1665) e Claude Lorrain (1600-

    82). Os pisos eram em mármore,pedra ou  parquet   com o desenho emtrama que recebia o nome deVersailles. Sobre o piso de madeirapodiam ir almofadas Savonnerie,Beauvais  ou  Aubousson; outrasfábricas de tapiz do período (p.92). 

     As residências reais eram mais museus que locaisde moradia e toda a sua decoração eraastutamente calculada para que servisse de fundoà magnificência do rei e sua Corte, assim comopara impressionar os embaixadores dos outrospaíses com o poder, prestígio e gosto francês. Asparedes podiam ser de mármore ou entalhadas edouradas. Com freqüência eram penduradastapeçarias criadas por LeBrun e realizadas pelafábrica Gobelin, onde imperava o luxo e em que se

    pintavam cenas históricas da vida do rei.

     Típicas desse estilo, as chamadasportas “com painel” por causa de suasmolduras salientes enfeitadas deconsolos, de cornijas e encimadas debaixos-relevos, de medalhões, defrontões, tiravam também seu efeitomonumental da ornamentaçãoesculpida de suas folhas duplas.Nesses compartimentos eramesculpidos atributos e monogramascercados de bordaduras espessas.

    Simétricas duas a duas, essasgrandes portas multiplicavam osefeitos de enfiada (enfilade). 

    Ap liq ue Carcás e maça Emo

    Concha Chinoiserie Ornato

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    Os principais MOTIVOS  DECORATIVOS eram as máscaras e cabeças de deusesradiadas (encimadas de uma palmetairradiante), que se assimilavam à esfinge

    do Apolo real, em conjunto aos inúmerosatributos do monarca  – o galo, o leão e aáguia de Júpiter  –, além de monogramascoroados e bastões reais cruzados.

      O triunfalismo do reinado eraexpresso por troféus, armas, elmosguerreiros e ramos de carvalhosimbolizando a vitória, combinados acarcases6   e maças de armas7 ,realizadas em bronze dourado ouesculpidas na madeira, destacando-seem forte relevo no meio de mármores.

     Além de LeBrun, LeVau e Hardouin-Mansart,destacaram-se os arquitetos Claude Perrault(1613-88) e Robert De Cotte (1656-1735),assim como o paisagista André Le Nôtre(1613-1700). Entre os maiores escultores doperíodo estavam: François Girardon (1628-1715) e Antoine Coysevox (1640-1720). Já nomobiliário, os maiores expoentes foramDominique Cucci (1635-1705), André-CharlesBoulle (1642-1732), Aubertin Gaudron (1670-1710), Gilles-Marie Oppenord (1672-1742) e Antoine Gaudreaux (1680-1751).

     A enorme saliência das coifas Louis XIII   acaboudesaparecendo, substituída primeiro por umacomposição piramidal e depois por uma caixaretangular, espécie de maciço de mármore quesustentava uma ou duas prateleiras guarnecidas devasos. Em cima, o tremó8   recebia uma montagemde pequenos espelhos ou uma pintura enquadradapor uma espessa bordadura monumental,guirlandas de folhagens ou flores.

    6 Carcás ou aljava trata-se de um estojo sem tampa emque se guardam e transportam as flechas do arqueiro eàs vezes o próprio arco. Além de motivo decorativo, no

    Estilo Louis XVI   , este termo designou os pés retos,despontados e estriados em espiral, de cadeiras e mesas: pés em aljava.

    7  Maça ou clava é um bastão de madeira, grosso epesado, com uma das extremidades mais dilatada, usadocomo arma de guerra desde a Antiguidade até o séculoXVI, sendo uma espécie de martelo. A maça de armas constituía-se de uma haste encimada por uma esferaeriçada de pontas.

    8  Em uma fachada, a parte compreendida entre duas janelas ou balcões recebe o nome de tremó ou trumeau. Na Idade Média, desempenhava o papel de pilar,sustentando o lintel das portas das igrejas, sendo muitasvezes esculpido ou flanqueado por uma estátua. Tambémpodia designar o espaço entre dois painéis ou janelas naparte interna da casa. Finalmente, também tem o sentidode console ou aparador com espelho estreito e alto, quecobre a parte da parede entre duas janelas, utilizado atéhoje sobre lareiras. 

     À primeira fase do Estilo Louis XIV  correspondeu um MOBILIÁRIO  maciçocom ornamentação opulenta, criado pelosmais célebres artistas da época.. A arteda Corte desenvolveu o uso de móveisesculpidos e dourados, sendo maisdecorativos que funcionais, já que tinhamornatos solenes e exuberantes.Começavam a aparecer as curvas e oscantos arredondados, embora aindaperdurassem a severidade e dureza de

    suas linhas em certos detalhes.

    Os móveis eram desenhados para se encaixar nadecoração grandiosa das residências reais,caracterizando-se por uma robustez que seaproximava da solidez excessiva. Alguns até eramfeitos em prata pura. Fizeram sucesso a talhadourada e a aplicação de bronze e de mosaicoflorentino, este popularizado pelo artista italianoCucci que havia chegado de Roma para trabalharnos ateliês do Palácio do Louvre.

       As madeiras mais comuns era ocarvalho, o mogno, a nogueira e a

    pereira, além das chapas de ébano enácar, e ricas guarnições de bronzecinzelado e dourado, popularizadaspor Boulle, que, entre 1675 e 1680,aperfeiçoou a incrustação de cobre ede tartaruga, enriquecendo-a comestanho, marfim ou madrepérola9.

    Em relação aos assentos, as pernas emsoco  –  quadrangulares e afinadasembaixo  – ou em balaústre, complicaram-se com óvalos, caneluras e folhagens.

    9 Os trabalhos de André-Charles Boulle apresentavam 02tipos de composição: a marchetaria em primeira parte, naqual a ornamentação de cobre contrastava com um fundode tartaruga; e a marchetaria em contrapartida, na qual aornamentação de tartaruga contrastava com um fundoe,m cobre. Seus motivos distinguiram-se primeiro pelasfolhagens espiraladas e encaracoladas; e depois, nasegunda parte do reinado, pela fantasia e exotismo doEstilo Berain. Ele explorava relevos ornamentais ouhistoriados que enriqueciam as dobradiças, os puxadorese os espelhos de fechadura; ou que decoravam osângulos e os painéis.

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    Podiam ser torneadas ou encurvadas,terminando geralmente em cáliceinvertido, borla10, garra ou casco. Atravessa em H, herdada do Estilo Louis XIII , evoluiu aos poucos para uma formaem X; e os braços, em geral arqueados,acabaram terminando em pontaencurvada ou voluta (manchette).

      As cadeiras  eram desenhas comose fossem tronos e seu empregoseguia uma hierarquia. Em um mundodominado pelas sutilezas da etiqueta,resultavam de vital importância, poisdesignavam onde cada um deveria sesentar. Seus encostos, assim comodas poltronas, eram altos retângulos. Aetiqueta favoreceu o aparecimento deinúmeros  ployants (cadeirasdobráveis) e  placets  (tamboretes), àsvezes também enriquecidos deesculturas (M ALLALIEU. 1999).

     As mesas   apresentavam os mesmos pés emontantes em soco ou em balaústre. A travessaem X podia terminar em volutas ou em consolosinvertidos; e a cinta recebia uma rica ornamentaçãoesculpida. De particular importância foram osarmários criados por Boulle e Cucci, que eram umaespécie de vitrines fechadas colocadas sobre altospedestais. Na sua frente, estavam muitos nichospara estatuetas (bibelots)

     A terceira fase do reinado de Louis XIV,de 1690 a 1715, foi sombreada pelos

    reveses militares, pelas dificuldadesfinanceiras e pelas tragédias pessoais11.

    10  Borla  (do lat. burrula, floco de lã) é um tufo redondo,também presente no topo de paus de madeira e dosmastros, que representa um feixe esférico de fios deseda, algodão, lã, ouro ou prata, servindo de ornamentonobre.

    11 Em 1684, após a morte de sua primeira esposa, MariaTeresa (1638-1683), Louis XIV casou-se secretamentecom uma antiga aia real, a Madame de Maintenon (1635-1719), mulher mundana que o influenciou negativamente.Ela o aconselhava que devia “ler as Escrituras, admitirseus defeitos e arrepender-se de seus erros”. Em 1711,

    morreu seu filho, o Delfim, e um ano depois morreu seuneto, o Duque de Borgonha, deixando o herdeiro ao tronouma criança de dois anos. O rei converteu-se em umhomem triste e cansado, cumprindo apenas a rotina deseu ofício.

    No SEGUNDO ESTILO LOUIS XIV, sob ainfluência de Hardouin-Masart e de decoradorescomo Pierre Lepautre (1660-1744), filho doarquiteto e gravador Antoine Lepautre (1621-91),além de Jean Berain (1639-1711), e os  Audrans12,a escala da ornamentação reduziu-se e o relevodecorativo se adelgaçou.

      O mármore desapareceu, sendosubstituído pelos lambris de madeira,pintados em cores claras, ondecontrastava o ouro das modinaturas;ou pelos lambris de madeira natural,encerada ou envernizada, chamadoslambris à capuchinha (capucine). 

    Libertos da ornamentação pintada e das pesadasmolduras de estuque, os tetos , a partir de entãobrancos, arejaram-se. No centro, era colocada umaroseta, cujas modinaturas flexibilizavam-se, logoconquistadas pelos enrolamentos dos arabescos epelas volutas das folhagens. Nas arqueaduras,esses finos relevos dourados ordenavam-se emgeral em “mosaicos”: espécie de quadriculado delosangos guarnecidos de pequenas flores e rosas.Encontravam-se mosaicos igualmente nasmolduras de espelhos, os quais se tornarambastante freqüentes.

      Sob a influência de Berain e dos Audrans, as modinaturas espessasdesapareceram em proveito daliberação das linhas, de motivos maisleves e flexíveis. Ao lado da concha,

    os arabescos desenvolveram o gostodas fantasias lineares e do exotismo.

    Sinônimo de flexibilidade e de fantasia, aconcha   era seu motivo decorativo principal,sendo que sua cercadura conhecia suasprimeiras sinuosidades e recortes. Além devasos, flores,  putti   e máscaras sorridentes, orejuvenescimento dos temas era reconhecidoem voga dos grutescos reutilizados por Beraine pelos Audrans: o primeiro mesclou desenhoscom macacos (singeries) e temas exóticos aleves combinações arquiteturais governadas

    apenas pela fantasia e pelos jogos lineares; osoutros tiraram do arabesco uma enxurradaornamental de enrolamentos sinuosos e umaarte de “renda”, anunciando o Stile Regence.

    12  Os Audrans foram uma família de artistas francesesiniciada por Charles Audran (1594-1674), seu irmãoClaude I (1597-1677) e seu sobrinho Germain (1631-1710), que foram gravadores. Eram irmãos de Germain opintor Claude II (1639-84) e o gravador oficial de LeBrun,Gérard II (1640-1703). Eram filhos de Germain o pintor dearabescos Claude III (1657-1734), o pintor e escultorGabriel (1659-1740) e os gravadores Benoît I (1661-1721), Jean (1667-1750) e Louis (1670-1712). Eram filhosde Benoît I o gravador Benoît II (1698-1772) e o tapeceiroMichel (1701-71). O gravador Benoît III (?-1740) era filhodo precedente e o tapeceiro Joseph (?-1795) filho deMichel, rei das tapeçarias Gobelin.

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      Os MOTIVOS ORNAMENTAIS eram ricos e rigorosamente simétricos,sendo os mais comuns: formasvolutadas, ovóides e molduras; folhasde acanto, lótus, dardos e conchas;

    cálices invertidos, o Sol (geralmentetendo esculpida no centro uma cabeçade mulher) e a inicial de Louis XIVentrelaçada.

    O tamanho das lareiras  continuou a se reduzirem sua parte inferior em proveito do tremó quecada vez mais era ocupado por um grandeespelho retangular desde que um processo demoldagem permitia obter peças de grandeporte. Na parte superior, sua moldura tendeu areproduzir a ordenação dos lambris doaposento quando estes últimos desenhavamuma seqüência de arcadas. Seu coroamentoem curva ou em volta inteira acolheu motivosde vasos, flores e putti.

      Entre os acessórios de decoraçãousaram-se amplamente os espelhos,as porcelanas chinesas, os elementosem metais nobres e as lamparinas ecandelabros de cristal, porcelana eprata. As pinturas eram abundantes.

     A ornamentação mais leve e linhas mais flexíveiscaracterizaram o MOBILIÁRIO  do Segundo EstiloLouis XIV . Mantiveram-se as mesmas madeiras,

    ainda bastante entalhadas e depois douradas. Amarchetaria  desenvolveu-se em 02 tipos demateriais: um, de origem animal (tartaruga, chifre,marfim e osso); e outro de origem mineral (cobre,estanho e bronze). Do mesmo modo, as madeirascoloridas também eram muito utilizadas.

     Já mais numerosos do que os pésem soco, os pés en console  tinhamperfis acentuados e depois setransformaram em pata de corçaterminada ou não por um casco. Aposição deles era geralmente oblíqua. A medida que se desenvolvia a

    tendência barroca, os assentos foramtomando um aspecto mais feminino,os tamanhos se reduzindo e atapeçaria já não cobria mais os braçose marcos do assento. 

    Os braços das cadeiras, poltronas e sofásadotavam uma graciosa curva inclinada; e aspernas dianteiras passaram a ser en cabriolet ,muito entalhadas nos joelhos e terminado emvoluta ou garra. Algumas cadeiras usavamfranjas e tecidos de seda. Também maisflexíveis, as almofadas do móvel de 02 corpos

    se curvaram na parte inferior ou nas 02extremidades e complicaram-se com ressaltosou com chanfraduras nos ângulos (KING,1999).

    Enquanto os armários e guarda-roupas nãopareciam gozar de muita popularidade, ascômodas, as escrivaninhas e as mesasestavam no apogeu de seu uso, passandoestas últimas a serem maiores, muito

    ornamentadas e com ricas incrustações.   Aparecem nesse período asCÔMODAS, sucessoras das arcas edescritas como “mesas com gavetas”,sendo geralmente feitas em ébano,palissandra e laca; e decoradas commarchetaria ou pedaços de bronzedourado com tampo de mármore,pórfido ou mosaico. Alguma jáapresentavam a silhueta bombé. 

     As camas , cuja decoração estava de acordo com afortuna e o status do proprietário, passaram a ser

    largas e baixas.  Eram cobertas de bordados earrematadas por um dossel plano ou curvo, sendocom freqüência colocadas sobre um estrado ouplataforma, rodeadas de uma barra baixa. A formade palio estava sustentada por 04 suportes oucolunas, de onde se penduravam cortinas deterciopelo, damasco ou brocado. Havia a cama‘duquesa’, que era adornada por um largo pavilhãomontado sobre a parede ou teto; e a cama‘canapé’, que foi precursora do sofá.

    Outros móveis típicos nesse estilo de transiçãoforam: a bergère, a chaise-longue, o console(pequena mesa para ser encostada à parede),

    os bureaux   (escritórios) e as torchères (cujaparte central era ocupada pela figura de umescravo árabe ou uma representaçãoalegórica), além de pedestais e biombos.Todos eram enriquecidos com molduras eapliques de cobre e latão dourado.

      O interesse por materiais doOriente  –  como a seda e o marfim  – era grande e as lacas vermelha e pretaforam usadas para decorar gabinetes (armários com várias finalidades),popularizando-se e imitandoacabamentos em verniz.

    Os tec idos   preferidos pelo Louis XIV foram asfazendas trabalhadas com motivos coloridos ouadamascados (ton-sur-ton), efeitos em preto,veludos genoveses ou sedas trabalhadas em ouroe prata. A tapeçaria era feita à mão e usada nosassentos de luxo, sendo seus motivos decorativosas flores enormes, os buquês e a listras. Os tecidoslisos usados eram cetim e veludos de Utrecht(muito sólidos, bordados em  peldefebre, fazendaantiga), utilizados sozinhos ou com  passamanaria (tecidos entretecidos com fitas. cordões, sedas eouros) As cores preferidas eram o vermelho vivo, overde-musgo ou tons naturais. Ricos brocados edamascos, enriquecidos por fios de prata e ouro,couros estampados e pintados, terciopelos e telasbordadas com pedras semipreciosas eram usadospara forrar sofás, poltronas e camas.

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    1133 LLUUÍÍSSEESS FFRRAANNCCEESSEESS IIII 

     A Luis XIV sucedeu seu bisneto e comoeste só contava com 5 anos, foi tuteladopor Philippe d’Orléans13, cuja curtaRegência de apenas oito anos, de 1715 a1723, produziu um estilo transitório quefez com que desaparecesse a pompa,mas se mantivesse o luxo, prenunciandoo excesso de adornos e formasassimétricas do Rococó. Embora

    conservando a majestade anterior,produziu linhas mais simples e móveismenores, mais ao gosto popular.

      A influência de La Maintenon e amelancolia do velho rei romperam afrivolidade e o prazer da Cortefrancesa. Diminuiu-se a ornamentaçãoque ficou mais elegante, mas comuma liberdade que ainda não chegavaà fantasia que caracterizaria o estiloseguinte, o Louis XV. 

    EESSTTIILLOO RREEGGEENNCCEE 

    Durante o período da Regência francesa,de 1715 a 1723, da época de Louis XIV,subsistiu o fundo quadriculado daspilastras e cornijas, mas as ordenspassaram a ser tratadas mais livremente.Como exemplos, podem ser citados agrande Galerie Dorée, de 50 m deextensão, do Banque de France, criadopor François Mansart (1598-1666); e

    alguns aposentos nos solares da PlaceVendôme  (1698), de Hardouin-Mansart,hoje ocupados pelo Ministère de Justice epelo Crédit Foncieri, em Paris.

    13 Filho de Louis-Philippe-Joseph d’Orlénas (1640-1701) eneto de Louis XIII em seu segundo casamento com aprincesa palatina Charlotte-Élisabeth de Baviere (1652-1722), Philippe d’Orléans (1674-1723) foi regente daFrança de 1715 a 1723. Em seu testamento, Louis XIVdeixara-lhe apenas a presidência honorífica do Conselhode Regência, entregando o poder ao Duc du Maine. Entretanto, Philippe obteve a anulação desse ato peloParlamento de Paris. Negligente e amigo dos prazeres,deu à Corte o exemplo de libertinagem. Dirigiu osnegócios do Estado até sua morte e subida ao trono deLouis XV (1710-74), com apenas 13 anos de idade, emfevereiro de 1723.

    Certos artistas, como o arquiteto RobertDe Cotte (1656-1735), viveram etrabalharam tanto sob o Louis XIV   comosob a Regência  e Louis XV,  além deGermain Boffrand (1667-1754), outronome de destaque do período.

    Bo rdas flamejad as Palmeta Medalhão

    Cártu la alada Roc aille

    Como elementos decorativos novos doESTILO REGENCE apareceram:

    a) As cártulas em forma de violino colocadasno alto das pilastras;

    b) As  palmetas, onde cada lóbulo ou folhaera separado, as bordas nervuradas e omeio ornado de pequenos florões depérolas (devem ser observados osângulos rebaixados do painel com o brotorecurvo de folhagem);

    c) Os espagnolettes, que eram pequenosbustos de mulheres com gargantilha eplumas na cabeça, encontrados em todaparte, nos cantos dos espelhos e até nospés dos móveis.;

    d) Os dragões, animais mitológicos que seencontravam em toda decoração emobiliário da época, aparecendoigualmente no terraço de certos edifícioscomo o Hôtel Chenizot  em Paris.

    Em relação ao MOBILIÁRIO, as madeirasmais utilizadas foram o carvalho e anogueira, sendo a marchetaria aindamuito comum, a qual valorizava as estriasda madeira formando desenhos comolosangos, quadrados de cores alternadas(tabuleiro de xadrez), buquês de flores,medalhões e instrumentos musicais.

     Os móveis tornaram-se menores emais cômodos; e as travessas demesas e cadeiras em forma de X,onduladas ou planas, desapareceramprogressivamente. Os elementos maiscaracterísticos foram os espaldaresmais baixos e a inclinação menos

    acentuada, com a parte superior decorte reto (os relevos de formasretilíneas) e as molduras bem à vista.

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     Apareceram assentos com tendência à formatrapeizodal, sinuosos na parte dianteira (cantos àsvezes arredondados e salientes) e mais baixos,muito profundos para algumas poltronas; assimcomo braços retos e horizontais, ligeiramenteacolchoados e um pouco abertos na parte dafrente. A base, “feita para ser vista”, sobressaia-sesempre para disfarçar a junção com os pés; e umacurva sutil suavizava os pés em sentido oblíquo.

    O maior artesão de mobiliário do períodofoi Charles Cressent (1685-1768),responsável por cômodas leves eonduladas denominadas de Bombonet ,dotadas de decorações simiescas. AsCADEIRAS  adquiriram contornos suavese simétricos, com pernas ligeiramentecurvas e terminando por uma sapata debronze. As terminações em pata de cabra(cabriolet ) passaram a ser adotadasuniversalmente e dominavam todos os

    móveis com pequenas variedades.   As mesas regência tinham asmesmas características que as doSegundo Estilo Louis XIV , sendo queos pés de garras de leão eramarqueados segundo o mesmo perfil.Os motivos decorativos mais comunseram as conchas, as folhas de acanto,as cabeças de fauno ou de mulher eos motivos orientais, tais comopagodes e flores exóticas. 

    Quanto às fazendas, a diminuição do tamanho dos

    espaldares conduziu a uma redução nos motivos,em que os desenhos se suavizaram. Flores, frutase folhas ficaram sendo a base da decoração, alémde dominar a moda de desenhos persas e indianos.Os enfeites removíveis eram modificados conformea decoração  – de inverno ou verão  – seguindo umhábito introduzido nas tapeçarias.

      Essas variações estilísticas doLouis XIV chegaram à Espanha e seucultivo por José de Churriguera deuorigem ao estilo que leva seu nome.Do mesmo modo, passaram aPortugal, ao Brasil e ao Rio de La

    Plata, transformando-se no EstiloLatino-Americano ou Luso-Espanhol. 

    EESSTTIILLOO LLOOUUIISS XXVV 

    Durante o reinado de Louis XV (1710-74),entre 1723 e 1774, o Barroco foi

    substituído pelo movimento rococó, queresultou em uma decoração maisfantasiosa, baseada nos motivos derochas e conchas, que oferecia móveismais graciosos e em uma escala maisíntima. Rico e refinado, o estilo resultantemostrava o fausto e o luxo que cercavama Corte francesa da época, marcada pelafrivolidade. A linha reta foi condenadadefinitivamente e tudo passou a sertorneado, ondulado e entalhado.

     Nessa época, ocorreram váriasmudanças na Corte. Mesmo casadodesde os 15 anos com a princesapolaca Marie Leszczyńska (1703-68), orei teve várias amantes e favoritas. Asprincipais foram a Duchesse deChâteauroux   (1717-44), depoissubstituída pela Marquise dePompadour 14  e finalmente pelaComtesse du Barry   (1743-93), asquais influenciaram a decoração.

    Externamente, Louis XV envolveu-se em várias

    guerras, como as da Sucessão Polaca e daSucessão Austríaca, além da Guerra dos Sete Anos (1756/63), em que a França perdeu o Canadáe outras possessões coloniais. A classe médiacomeçou a pressionar por reformas, o que o reiignorou da mesma maneira que fazia seu bisavô,dizendo:  Après moi, le déluge  (“Depois de mim, odilúvio”). Os  intelectuais que se destacaram foramMontesquieu (1689-1755), Jean-Jacques Rousseau(1712-78) e Denis Diderot (1713-84).

     Sob Louis XV, segundo DUCHER (2001), o uso das ordens decolunas tendeu a desaparecer. A

    simplicidade das fachadas,ritmadas pela abertura regular das janelas, opôs-se à exuberância daornamentação interior. 

    14  Jeanne-Antoinette Poisson (1721-74), aMarquise de Pompadour, foi a favorita de Louis XVdurante um período de 20 anos, de 1743 a 1764; eusou sua influência para financiar artistas efilósofos, protegendo-os e iniciando variastendências artísticas. Juntamente com seu irmão,

    François Poisson de Vandières (1726-81), oMarquês de Marigny   e Diretor das Obras Públicasda França, impulsionou várias tendências.

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    Externamente, o ornamento limitava-se aos fechos das arcadas, aosarremates das janelas, aos jogos deombreiras e de refendimentos, àsferragens e às folhas dos portais,

    assim como aos frontões e consolosdos balcões, por sua vez guarnecidosde ferros forjados de desenho sinuosoe de forma bojuda chamada cesto. 

    Em sua duração, o ESTILO LOUIS XV apresentou duas tendências: a doexagero no emprego das linhas tortuosase composições assimétricas; e a de umafantasia comedida e uma simetria bemrigorosa. Em ambas, contudo, havia aintenção de suprimir as ordens clássicas.Basicamente, ele pode ser dividido em 02(duas) fases consecutivas:

      Primeiro Est i lo Louis XV (de 1715 a1750): correspondente ao desabrochar darocaille, o ornato em forma de concha, oque resultou no emprego de linhas curvase contra-curvas, em uma decoraçãomarcada pela sinuosidade e ondulações;

      Segundo Est i lo Louis XV   (de 1750 a1774), quando ocorreu uma reação muitoforte contra os excessos, fazendopredominar o espírito neoclássico, quepreparou o advento do Estilo Louis XVI.

    Na decoração de interiores, o PRIMEIROESTILO LOUIS XV foi bastante inventivo. Soba progressão dos enrolamentos e retorcidos,os cantos dos aposentos arquearam-se, ascornijas aprofundaram-se e avançaram. Noslambris, a escultura ornamental atingiu notávelqualidade de execução, especialmente nostrabalhos de Jacques Verberckt (1704-71).

      Emolduradas de finas cercaduras(almofadas alongadas e esculpidas),as almofadas arqueadas, comressaltos ou chanfradas, viram suas

    extremidades e, por vezes, seu centroguarnecido de medalhão, além dereceberem o essencial daornamentação. Esta, inimiga daintumescência barroca, restringia-se auma arte de superfície, mais inclinadaà ondulação geral das linhas, ao jogodelicado e ao movimentado do relevodo que ao excesso plástico.

    Entretanto, na França, esse movimento ornamentalnão cedeu à assimetria. Invertendo-se, curvas econtra-curvas anulavam-se e mantinham oequilíbrio da composição. Ramos de palmeira ou

     juncos entrelaçados de fitas subiam ao longo dasmolduras dos espelhos (B ARRIELLE, 1982).

     Ao invés de bordas onduladas,empregaram-se também freqüentementebordas flamejadas, isto é, com a forma depequenas chamas. E a palmeta e aconcha associaram-se para formar umúnico motivo, assim como a cártula alada,elemento que se encontrava em todaparte, como no alto dos espelhos, nostremós e nas cornijas (DUCHER, 2001).

      A pintura decorativa explorava oexotismo das singeries e daschinoiseries  introduzidas nosarabescos do início do século XVIII porJean Berain e pelos Audran, comopode ser observado no Hôtel deRohan, projetado em Paris por Pierre-

     Alexis Delamair (1676-1745). 

    Hotel de Soubise (1735/40) Petit Trianon (1765)

    Os cômodos reduziram seu tamanho, ficando mais

    graciosos e confortáveis. A rigidez pomposa daCorte anterior acabou substituída por um espíritomais pessoal e íntimo: o Barroco declinou-se parauma ornamentação mais livre, complicada eluxuosa.Telas, tapeçarias e espelhos davam um arvivo e alegre aos interiores (P ALACIOS, 1991).

      O ouro reluzia sob os tetos, queagora eram brancos, assim como asparedes; e a fantasia predominava emtudo, quando a graça alcançava suaexpressão mais feliz. Foi o momentoem que reinava a mulher elegante,mas frívola, transformando tudo em

    belo e refinado. Tudo eraminuciosamente cuidado, mas oconjunto aparentava ligeira desordem.

     As cortinas eram confeccionadas compesadas sedas e as cores intensas doRenascimento foram finalmentesubstituídas por suaves e delicadospasteis: os cinzas prateados e os matizespálidos de azul, rosa, amarelo e lilásentraram em plena voga. O equilíbrioassimétrico se popularizou no desenho e

    na ornamentação; e desenvolveu-se umgrande amor à arte que se expressavaatravés da frivolidade e da alegria.

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    Cenas românticas e pastoris na tapeçaria refletiama tendência feminina. Os desenhos aplicadosformavam composições decorativas com motivosde vasos de flores, cenas bucólicas, guirlandas ebuquês, geralmente emolduradas por outrosdesenhos de folhagens entrelaçadas, pássaros oufrutas. Outro tema ornamental no Primeiro Louis XV  foi a mistura de corações e flores, cupidos epombas, ninfas e sátiros, cintas e cartelas,pastores e pastoras [VERBO, 1980].

      Entre as personalidades queinfluenciaram no gosto do períodoencontravam-se os pintores AntoineWatteau (1684-1721), Jean-MarcNattier (1685-176), François Boucher(1703-70), Charles-Amadee Vanloo(1719-95), Jean-Baptiste Pillement(1728-1808) e Jean-Honoré Fragonard

    (1732-1806); além do ebanista Jean-François Oeben (1721-63) e o escultorJean-Jacques Caffieri (1725-92)

    Espagnolet tes Rocai l le  

    Também no MOBILIÁRIO, as influênciasrenascentista e barroca foram substituídaspelo rococó, surgindo uma forte reaçãocontra a simetria contida ou o equilíbrioanterior. Apareceu a tendência deequilibrar os moveis de modo à simetriarelativa: um ramo de flores equilibravauma guirlanda de frutas ou um conjuntode laços e corações.

      O elemento rocaille foi sobretudo

    empregado nos consolos com umexagero das linhas arredondadas, quefaziam referência ao mar, ondas econchas, mas também às grutas erochedos. Leveza, conforto e harmoniadas linhas caracterizaram seusassentos, quês e tornaram menores,de linhas simples e muitoornamentados, com incrustações emarchetarias, pintados ou dourados.

     As madeiras mais usadas foram a nogueira, acaoba, a palissandra, o acaju e o pau-rosa, além deébano, outras madeiras exóticas e árvores

    frutíferas (especialmente a pereira). As cores damoda foram os verdes e azuis suaves, dourados,rosas e beges.

    Ornatos em roc ai l le

     A vida intensificava-se e isto influenciava nomovimento, que traduzia todos os detalhes e secompletava no móvel. Em ornamentos de chapa demetal martelada ou de metal fundido, a rocaille, afolha aquática de bordas onduladas e a treliça comenvasados invadiram os trabalhos de ferro

      As CADEIRAS  desse período nãotinham travessas e a linha curvadominava todas as estruturas,intensificando os pés em S. A pernacabriolet   acentuava o efeito curvo eacabava com um folha volutada, pé degamo ou cabeça de delfim. Osencostos eram largos e ligeiramentecurvados, aparecendo espaldares emforma de violino (violonnés), assimcomo os assentos se estreitavam até aparte traseira (Y ATES, 1999).

    O talhado interrompia-se por múltiplascurvas e os braços das poltronas eramsobressalentes e curtos. Já não eramem linha reta com os pés, mascolocados em recuo. Com freqüência,abriam-se em conseqüência dos

    vestidos de anquinhas. Aornamentação esculpida compreendiaflorzinhas, palmetas, conchas, cártulase folhagens espiraladas.

     A poltrona mais típica era a ber gère , com braçosabertos e atapetados, existindo também asbergères de confessionário, providas de encostoslaterais estofados; as marquesas, canapés deespaldar baixo e braços curtos, com dois lugares;as duchesses, compostas por uma poltrona e umtamborete fazendo jogo (que podiam se unir paraformar um divã); as confidents  (siamoise, vis-à-vis ou tête-à-tête), com dois assentos dispostos emformato de S; as cabinets, próprias para se colocarnos cantos, devido à sua forma e localização dos

    pés (tinha uma ponta do assento para fora,suportada por um pé com os outros dispostos aoredor dele); e, finalmente, a chaise-longue.

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     Além dos assentos, a diversidade dos móveis Louis XV   era imensa. Da cômoda , surgida no final doreinado de Louis XIV, derivaram-se a camiseira com cinco gavetas; a  papeleira com tampo angularou abaulado com uma escrivaninha com tampo deabrir; o toilette  também chamado toucador ou penteadeira, espécie de secretária plana com trêspainéis articulados, o do meio com espelho noreverso; a mesa-de-cabeceira  baixa com porta de

    cortina, etc. (BRIDGE, 1999)

      Suas formas tortuosas prestavam-se muito bem ao trabalho do bronze,especialmente nos apliques, cujosbraços e bocais com folhagensemergiam de uma grande folha ou deuma peanha, com as ondulações e asrupturas da rocaille.  Além disso,recebiam marchetarias, mármores emadrepérola. Para o acabamento,podiam ser folheados ou coberto pelalaca Coromandel , proveniente da

    China; ou pelo imitador verniz Martin,que recebeu o nome do seumarceneiro inventor. 

    Difundiram-se as guarnições em bronze dourado,assim como uma marchetaria de madeirascoloridas importadas com jogos de fundosgeométricos: xadrezes, estrelas, losangos e,depois, motivos de flores. Os móveis podiam serlaqueados ou envernizados; ou ainda “frisados”, oque consistia em opor as folhas de revestimento,produzindo um efeito cintilante, com o veio damadeira se unindo no eixo dos painéis. Ochapeado foi executado em diagonal e cruzado.

      Pompadour apaixonou-se pelainfluência chinesa, o que se degenerouna chinoiserie, uma adaptaçãofrancesa dos motivos chineses eorientais (pássaros, mandarins epescadores), que iniciou a importaçãode móveis e biombos laqueados. Osdesenhos chineses fizeram uniram-sea outras fantasias, como a chamadasingerie15  (do francês singe, macaco).

    15 O gibón, descoberto pelos marinheiros portugueses naÍndia, contribuía para aliviar o tédio das grandes viagens.Seu emprego na decoração durante o reinado de LouisXV, cuja Corte tinha algo de singerie, resultou muitoapropriado.

    Nessa época, desenvolveu-se o interesse pelaPORCELANA, cuja admiração e colecionismo debelas peças conduziram à fama das fábricas deLimoges, fundada em 1736 próxima às reservas dematéria-prima, o caolim, que resulta nasimplicidade e pureza do branco; e de Sèvres,fundada em 1738, caracterizada por peças defundos coloridos com esmalte, passando a serprotegida pelo rei em 1753, a partir de quando seproibiu sua manufatura por toda a França.

     A partir de 1750, em reação aos exagerosdo rococó, surgiu o SEGUNDO ESTILOLOUIS XV, inicialmente marcado por umacircunspeção da ornamentação e pelavolta às nobres ordenações da épocaLouis XIV  e depois por uma imitação cadavez mais precisa da Antiguidade, que iriadesembocar no Neoclassicismo.

     O gosto neo-Louis XIV  ressuscitouo repertório guerreiro do grandereinado, passando seus troféus dearmas serem inscritos em painéis comdivisões quadrangulares. Nessespainéis com molduras retilíneas,instalaram-se igualmente medalhões historiados ou ornamentais de espíritonaturalista, cujos relevos eramtratados com forte vigor plástico. 

    Principalmente depois de 1760, uma moderaçãoprogressiva invadiu tanto o mobiliário como adecoração dos interiores na França. As formasrocaille  permaneceram, porém de modo mais

    discreto e mais contido. O culto crescente da Antiguidade introduziu novos temas, embora semprovocar uma retificação sensível das linhas.

       Às rocailles e as chinoiseries sucederam frisos ou baixos-relevos àantiga, composições que misturavamfiguras de ninfas aos vasos, àsfolhagens espiraladas, aos tripésantigos e às cornucópias. Ao mesmotempo, nos últimos anos, modinaturase relevos tornaram-se mais magros emais rígidos. Sensível no mobiliário, apopularidade dessa moda preparou

    terreno para a tendência aoenrijecimento e à depuração que iriase apoderar dos objetos de mobiliário. 

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     A descoberta do dórico grego de Pesto influencioupouco a pouco os ornamentistas. Dente eles, JeanCharles Delafosse (1734-89) lançou os motivos àgrega16 , de fisionomia arcaizante voluntariamentemanifesta, quando não exagerada: pêndulas oupés de consolo em fuste de coluna, frisos gregos,focinhos de leões, patas de grifos e sobretudoguirlandas na forma de “cordas de poço”.

      Nesta segunda etapa do EstiloLouis XV,  a tendência aodespojamento das formas acentuou-seem benefício da clareza dos volumes eda nudez das superfícies. No PetitTrianon (1757/63), obra de Ange-Jacques Gabriel (1698-1782), extraiu-se ainda dessa vontade de rigor umafórmula de estereotomia elegante,através do renascimento das colunatas

    e da sobriedade das formas, noretorno ao academismo de Hardouin-Mansart (TESTA, 1981). 

    Uma nova geração de arquitetos, entre os quaisGermain Soufflot (1713-80), Claude Nicolas Ledoux(1736-1806) e Jean Chalgrin (1739-1811), adotouuma ordem colossal e um novo tratamento dosvolumes e massas, que rompeu definitivamentecom a tradição.Voltou-se definitivamente para aspesadas arqueaduras e cornijas cheias de Lepautre(Ècole Militaire); e ao rigor másculo das grandespilastras foi se acrescentando aos poucos umrepertório arcaizante inserido como, por exemplo, oHôtel  de Rochechouart  (1776), em uma concepçãoretilínea da moldura bem como da distribuição daornamentação (DUCHER, 2001).

     Em relação ao MOBILIÁRIO, todas

    as características do meio do reinadosubsistiram. Contudo, os perfis curvosdas formas e a ornamentaçãoesculpida de conchas e de florzinhaseram apresentados com umamodinatura mais estática.

    16 O crescente culto à Antiguidade deu origem, no final doreinado de Louis XV, à moda à grega, apaixonada porformas pesadas e, na ornamentação, por pesadasevocações arqueológicas, mesmo quando a inspiraçãoarcaizante permanecia ainda fantasiosa. Aos frisos, àscabeças de leões, aos troféus de armas acrescentaramnos arquivos um repertório arquitetural insistente decaneluras, de grossas volutas invertidas à guisa deconsolo e o pedestal em forma de tambor do grupomitológico.

    Todos os móveis tinham pernas finas,com a linha em forma de S, geralmenteterminando em metal (bronze ou cobre)trabalhado. Os pés eram curvos. Ascadeiras, poltronas e sofás tinhamencosto e assento forrados em seda comaplicação de flores ou folhagens querepetiam o mesmo motivo dos outrosmóveis, feitos em acaju, palissandra epau-rosa; divididos em quadrantes, comdesenhos geométricos e marchetaria.

      Os MOTIVOS DECORATIVOS mais comuns eram: as pombasaparelhadas, os cupidos, os sátiros, oscorações, as cenas pastoris ealegóricas, as conchas, as flores, osinstrumentos musicais e asferramentas rústicas, além de laços,ramalhetes, folhagens e pássaros. Oespírito de transição era reconhecidopela presença de pesadas guirlandasà antiga, cujo ritmo repetitivo opunha-se ao movimento sinuoso da cinta.

    Os móveis de repouso caracterizavam-se por suacomodidade: os almofadões de plumas, comdesenhos florais e/ou orientalizados, e os gênerossuntuosos cobriam as bergères, as chaises-longues e os lits-de-repos. As camas (lits) faziam-se mais baixas, com dossel na cabeceira e quando

    se situavam em linha com a parede, aqueleabarcava toda a sua extensão. O detalhe maisimportante da cama era a cabeceira, entalhada oucom aplicação de figuras e desenhos em bronze.Quando fechadas, formavam um cortinadoescondendo o interior da cama.

     As TABLES  eram pequenas, como asque hoje se utilizam na cabeceira dacama. Seu uso era semelhante: serviampara suportar castiçais ou candelabros,mas na sala. Apareceram também asmesas de chá e de jogo. A cintura dessasmesinhas, isto é, as laterais abaixo dotampo, eram muito decoradas e os péstinham um pequeno “sapato” em bronze

    ou cobre dourado. Havia entalhes nas 03faces das mesinhas e os pés em bronzedourado, que também rodeava o tampo. 

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    Outra peça comumente encontrada naépoca era a escrivaninha (secretaire), queficava num canto do aposento onde o reicostumava despachar os negócios daCorte. Tinha linha fina das pernas,entalhes e bronze dourado, além de umagaveta estreita com o tampo ricamentedecorado que abria sobre ela. Nela, amarchetaria, as incrustações e o bronzedourado gozaram de muita popularidade.

     Entretanto, a transição para o EstiloLouis XVI   estava muito mais patentena cômoda, tanto na ornamentaçãocomo no perfil do móvel. A retificaçãodas linhas passou a ser avaliada pelaafirmação das superfícies planas, que

    o efeito do ressalto central acentuava,e pela redução dos suportes, outrorade perfis curvos, a pés poucotorneados.

    Nos ângulos, perfis arredondados, em outraspartes de cantos facetados, vieram porémcompensar a rigidez das superfícies. De espíritonitidamente neoclássico, as guarnições de bronzeviraram definitivamente as costas para a rocaille,dado o caráter arcaizante dela. Por fim, friso deentrelaçamentos com rosetas, filetes de cercaduracom desenho geométrico, fundos enriquecidos deguirlandas de folhas de carvalho e motivos depanejamentos e de serpentes na cinta se

    adiantavam ao repertório greco-romano do Louis XVI.  A posterior influencia da Du Barry mudou otom da decoração e extremizou ainda mais osdesenhos e os ornamentos classicistas.

    EESSTTIILLOO PPRROOVVEENNÇÇAALL FFRRAANNCCÊÊSS 

    De 1610 e 1790, entre as épocas de LouisXIII e Louis XVI, paralelamente aos estilosluxuosos da Corte, nasceu no interior daFrança um estilo novo, mais simples e aomesmo tempo mais alegre, denominadoProvençal Francês.  Tratava-se de cópiasregionais dos móveis aristocráticosproduzidos durantes os Luíses Franceses,feitas por carpinteiros locais para pessoas

    de condições modestas, mas inspiradosna ornamentação barroca excessiva.

    Realizados em madeiras sólidas – como ocarvalho, a nogueira, a castanheira eoutras árvores frutíferas de fácil obtenção –  o MOBILIÁRIO provençal destinava-se

    a ser usados nas rústicas casas de campoou nas habitações da classe média quevivia nas cidades francesas.

      Seu aspecto foi influenciado pelascaracterísticas locais, como o clima, ageografia e o fundo histórico dasdiferentes regiões da França. Quantomais sde distanciava de Paris, maisreforçado se tornava o caráter seucaráter regionalista e simplório. 

    Considerado uma versão original da artefrancesa, o Provençal  remontava à épocado Estilo Louis XIII , de 1610 a 1643,quando o mobiliário era ainda rude e osdesenhos escassos. Arcas, bancos,mesas e camas acabaram recebendoinfluências holandesas e flamengas. E

    durante o Louis XIV , de 1643 a 1715,somaram-se armários com portas,embora os excessos deste estilo nãofizessem muito sucesso nas províncias.

     Em contrapartida, o Estilo Louis XV  foi muito popular e penetrante nointerior da França, acabando por semesclar ao Louis XVI   e produzirexemplares que aliavam elegância esolidez ao mesmo tempo, através de entalhes mais simples, curvasmenos onduladas e detalhes

    delicados em pinturas e floreios.

    Para fins de identificação, os desenhos doESTILO PROVENÇAL FRANCÊS  podemser divididos em 02 (duas) derivações:

      Pro vençal Rústico :   criado por artesãoslocais em madeiras de fácil exploração(carvalho, olmo, castanheira, cerejeira epereira) e sem dourados e marchetaria;

      Prov ençal Ur bano :   criado com base naimitação dos móveis cortesãos, fazia suasimplificação e descomplicava suaornamentação, diferindo-se do mobiliário

    rústico por ser atapetado e mais decorado

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    No ESTILO  PROVENÇAL RÚSTICO, omobiliário carecia de ornatos pintados oudourados; e a madeira era deixada àsvezes sem acabamento ou coberta com

    uma camada de cera para realçar seuaspecto natural. Seu desenho foi bastantediversificado conforme a região francesade origem, modificando-se porcondicionantes climáticas e culturais.

    Nos locais da França em que aschuvas primaveris inundavam ascasas dos carpinteiros, os móveispassaram a ter pernas mais altas e ospés mais grossos. Nas regiões frias,com nos Vosges, as camas fechadasou semi-fechadas fizeram-se mais

    presentes, inspiradas nos leitos daBretanha, Normandia e Auvergne. Emoutros locais, as camas possuíam 04colunetas fechadas por telas,permitindo intimidade e não calor.

     As cadeiras   provençais rústicas tinham

    assentos de madeira ou palha, sobre aqual se punham almofadas amarradasnos lados. A mais popular foi a chaise àcapucine, que recebeu este nome doMonastério em que era bastante usada. Acredita-se que tenha sido elaborada nascelas monásticas dos mongescapuchinhos17 do século XVII.

     Realizada geralmente em carvalho,nogueira ou cerejeira, tinha as pernastorneadas, o encosto aberto e o

    assento trançado. As almofadas soltaspodiam ser de algodão estampado oude toile de Jouy .

    O dressier   ou buffet-vaisselier   era um aparador.Cuja parte inferior estava fechada com portasenquanto a superior era formada por váriasestantes, nas quais se colocavam a porcelana,sopeiras e jarros. Um alto aparador consistia noorgulho e alegria de qualquer casa provinciana.

    17 Os capuchinhos (do it. cappuccini ) são religiososespecializados no apostolado popular, derivados de

    um ramo da ordem mendicante saída dos FradesMenores, estabelecidos em 1528 por Matteo daBascia, frade desejoso de fazer sua ordem retornarao ideal franciscano.

     As mesas   de almoço e jantar podiam serretangulares, com bancos baixos e compridos nosdois lados. Já as mesas do tipo console e de canto,assim como as de trabalho, eram ainda maissimples em linha e decoração.

      A comode-secreter   era umamesa-escritório com gavetasrealizada em nogueira e tida comouma peça ”valiosa”. Nas casasprovincianas mais ricas, estascômodas, assim como as arcas,eram ricamente entalhadas.

    Quanto ao ESTILO PROVENÇALURBANO, embora seus desenhos fossemmais simples que os nobres, eram melhorelaborados que na versão rústica.Possuíam respaldos e assentosatapetados, assim como braços depoltronas almofadados. Os armários e ascômodas tinham contornos bombonados ecom serpentinas filetadas.

     Entretanto, esse mobiliário careciade adornos decorativos mais ricos,

    como incrustações de tartaruga ebronze dourado, típicas de Boulle. Atéo século XIX, o Estilo Louis XV   foi omais copiado e simplificado, a partir dequando surgiram combinações entre oLouis XV , o Louis XVI   e o EstiloDiretório do século XIX. 

     Apesar de que a quantidade de mobiliárioprovençal francês criado no século XVII tenha sidorelativamente pequena, suas linhas simples egraciosas atraíram um número cada vez maior defranceses e outros, até que gradualmente suascaracterísticas regionais foram reconhecidas evalorizadas pela sua originalidade e sabor. Hoje emdia, seus móveis gozam de popularidade devido àsuas qualidades principais: a graciosidade de seuscontornos, a resistência de suas formas e a

    elegância de sua decoração; valores que seadequam muito bem aos princípios modernos.

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    1144 BBAARRRROOCCOO IINNGGLLÊÊSS 

    Quando o Renascimento chegou à Grã-Bretanha, através do período Tudor, fez-se principalmente por meio de fontesholandesas, flamengas e alemãs, devidoao seu isolamento geográfico, além docaráter dos seus ebanistas. O móvel,geralmente em nogueira, foi entalhado ouornado com incrustações; e as peçaspesadas e difíceis de manejar. Somente

    no século XVII que começaram a se criardesenhos mais leves e elegantes.

     Em 1660, o rei Charles II (1630-85)voltou de seu prolongado exílioparisiense e, impressionado com oesplendor da Corte de Louis XIV,procurou fazer os artesãos inglesescriarem modelos mais graciosos.Paralelamente, os trabalhos de InigoJones (1573-1652) e Christopher Wren(1632-1723) já apresentavam asinfluências italianas e francesas.

    Rejeitando os excessos dos Barroco – que, para osbritânicos, estava fortemente ligado ao catolicismoe apresentava formas imorais, pois servia a umareligião de austeridade e humildade com toda asorte de sensualidade e fausto  –, a Inglaterrapreferiu adotar o chamado PALLADIANISMO, umacorrente classicista inspirada na doutrina dotratadista da Renascença Andrea Palladio (1508-80),  que dominou todo o país por quase doisséculos, de 1620 a 1800, servindo de ponte entre oRenascimento do século XVI e o Neoclassicismodo final do século XVIII (B AUMGART, 1999).

    Em 1688, o trono inglês foi ocupado porWilliam III of Orange (1650-1702) & MaryII (1662-94), filha do rei Stuart James II(1633-1701). Estes reis trouxeram dosPaíses baixos uma agradável nota deambiente doméstico, que se manifestouno caráter pouco formalista de sua Cortee no mobiliário criado durante seureinado. Influenciados pelos holandeses eflamengos, seus móveis apresentavamterminações em forma de garra etrabalhos em marchetaria no formato dealgas marinhas, além da decoração deconchas, introduzindo o gosto rocaille.

    William III não esqueceu seu país de origem, aHolanda, e trouxe dela artesãos que divulgaramuma nova idéia de conforto e sentido de lugar,suavizando com curvas as linhas retas britânicas esubstituindo o carvalho pela nogueira. A vida se foifazendo mais intima e a relação, a se desenvolverem grupos pequenos, fez mudar a forma de muitosmóveis (MONTENEGRO, 1991).

    Os tecelões huguenotes  (protestantesfranceses) emigraram para a Inglaterra depoisda revogação por Louis XIV do Edito deNantes18; e o rei William, devoto protestante,ofereceu-lhes proteção. Eles trouxeram daFrança sua experiência decorativa e foram osresponsáveis pela introdução e popularizaçãona Inglaterra do chintz 19, do chamalote20, daseda, do terciopelo, do linho estampado, dosbrocados e dos damascos21, enriquecendo-os

    com belos desenhos e cores. Grandedestaque teve o projetista huguenote DanielMarot (1661-1752).

      No século XVII, a  tapeçariaentrou na moda britânica, cobrindo nãosomente os assentos, mas todo omóvel e também as paredes, comtelas de algodão estampadas compequenos desenhos florais, que foraminspiradas pelos chintzs, que tantaimportância tiveram na modernadecoração inglesa (M ALLALIEU, 1999). 

    18 O Édito de Nantes foi um édito de pacificação assinadopor Henri IV (1553-1610) em Nantes, a 13 de abril de1598, que definiu os direitos dos protestantes na França epôs fim às Guerras de Religião. Declarado “perpétuo eirrebogável”, concedia aos partidários da Reforma aliberdade de consciência em todo o reino, a liberdade deculto em duas localidades por território de jurisdição  – mas não em Paris e em seus arredores  –, a igualdadecívica e a admissão aos ofícios e cargos públicos.Entretanto, em 1685, foi revogado por Louis XIV (1638-1715), o que provocou o êxodo de cerca de 300.000súditos para outros países.

    19

     Chintz  é uma palavra inglesa derivada do sânscrito quesignifica “multicor”, sendo empregada para designar umtecido de algodão acetinado. Trata-se de um tecido detela geralmente muito fino, tinto ou estampado, tendocomo uma de suas características principais a superfíciebrilhante.

    20  Embora Chamalote  (do fr. ant. chamel ; camelo, hoje

    chameau, pelo fr. chamelot ) signifique originalmente umtecido de lã de camelo, também pode designar um tecidomisto de pêlo com seda, cujo brilho forma ondulaçõesdevido à posição dos fios.

    21 Damasco é nome de fruta e também da capital da Síria,onde foi criado este tecido, geralmente de uma só cor ereversível, graças aos seus desenhos que se formamtanto no avesso como no direito. Pode designar um estofode seda ou de lã tecido com fios da mesma cor, comflores e desenhos em relevo. Diz-se que o tecido éadamascado  quando imita o damasco , sendo de lã,algodão ou linho.

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    EESSTTIILLOO WWIILLLLIIAAMM && MMAARR Y Y 

    Em 1690, o exército anglo-holandês deWilliam III derrotou a tropa franco-irlandesa de James II (Batalha de Boyne)e, em 1692, ocorreu o massacre dos jacobinos (pró-Stuart) pelas suas forçasem Glencoe. Durante o reinado dos reisStuart William & Mary , de 1689 a 1702,surgiu um estilo de transição de mobiliárioe decoração, já influenciado pelos ideaisdo Barroco continental.

     Leve, delicado e mais adaptado àsproporções humanas, o MOBILIÁRIO William & Mary   era feito

    preferencialmente em nogueira;madeira que, bem produzida, não seestilhaça ou se rompe ao ser talhada.Contudo, a grande variedade deincrustações requereu diversidades decolorações, usando-se também acerejeira, a macieira, a pereira, oébano e o pau-marfim, entre outras. 

     As paredes eram cobertas com painéis denogueira, cedro, pinho e outras madeirasmacias, que eram pintadas em amarelo,pardo e azul. As camas, janelas e portas,eram cobertas por telas estampadas,sedas, terciopelos e brocados. E osmóveis eram mais elegantes e atrativos,graças à aplicação de motivosdecorativos, como arabescos e folhas de

    acanto, por influência oriental.  A principal mudança ocorreu nosassentos. Os barrotes, planos eserpentinos, dispuseram-se comfreqüência em diagonal em relação àspernas, cujas formas eram torneadas,dispostas em balaustradas, retas ecom algum torneado sobre o pé, quepodia ser em fuso, espiral, volutaflamenga, cálice invertido e trombeta.Geralmente, as pernas das cadeiras epoltronas eram retas, quadrangulares

    ou octogonais, havendo tambémalgumas en cabriolet  (Y ATES, 1999) 

     As pernas dos móveis terminavam em “bola” (Ballfeet ) no chamado “pé-trombeta” (Trumpet Turning )e eram ligadas entre si por travessões. Istocaracterizou especialmente o estilo, que criou comopeculiar uma cômoda composta de 02 corpossobrepostos, sobre pernas altas torneadas eligadas por travessões. Estas cômodas montadas

    sobre pés eram chamadas de Highboys, sendofeitas de nogueira, tinham brilho intenso eabundância de finas ferragens cinzeladas.

       As cadeiras, poltronas e sofástinham espaldares torneados, comencosto e assento de esteira; ouespaldares ovalados ou curvilíneos.  Asmesas foram ampliadas em forma eemprego, tornando-se menores; e amoda do chá, cuja primeira importaçãofoi em 1660, requereu mesinhasespecíficas para este uso.

    Construíram-se cômodas, armários e buffets  comgavetas e portas que as ocultavam. Estes móveistinham a parte superior ornada com flores e arcos;aparecendo também os motivos decorativos dealgas, espigas, tulipas, borboletas, pássaros epapagaios. Escritórios e secretárias tambémpossuíam arremates superiores, superfíciesinclinadas e nichos para rodinhas. Nessa época, otoucador com espelho foi bastante utilizado.

    Os espelhos com marcos entalhados eramdispostos sobre as lareiras, os toucadores e osescritórios. O bronze e a a prata substituíram oferro forjado nos candelabros e nas lamparinas,que tiveram suas formas mais finas e graciosas. O

    candelabro francês de cristal entrou na moda(M ALLALIEU, 1999).

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      Como acessórios havia ainda osrelógios com pêndulo (Tompións), cujonome derivava do grande relojoeiro daCorte britânica, Thomas Tompion(1639-1713), introdutor do pêndulo.

    Daí em diante, apareceram os relógiosde mesa e os grandes relógios de péou carrilhão.

    Os decoradores do William & Mary   forraram seusmóveis e ambientes com sedas e linhosestampados, além de papeis pintados que erammontados antes de colocados, sobre um tecidofino. Seus fundos eram geralmente amarelos,laranjas, rosas e azuis suaves.

      Os motivos decorativos maisfreqüentes eram a natureza, a flora eos pássaros exóticos. Já as cores da

    tapeçaria era mais variada e commaior amplitude de matizes, porémtendendo ao gosto mais sutil e suave.

    Os colonizadores ingleses introduziram na América as influências do Estilo William &Mary , além da mistura das formasinglesas e holandesas, no nascente móvelcolonial americano.

    QQUUEEEENN AANNNNEE SSTT Y YLLEE 

    Em 1702, com a morte de seu cunhado, orei William III, subiu ao trono a rainha Anne Stuart (1665-1714), cujo reinadodurou até 1714, sendo marcado por umestilo refinado considerado por muitosmais como uma transição do que comouma renovação propriamente dita. Adecoração e o mobiliário tenderam aatenuar os elementos ligados à busca doluxo, que haviam caracterizado o William& Mary , o que seria retomado somente apartir de 1715, com o rei sucessor.

      Nessa época essencialmentemaneirista, foram projetados belosedifícios por Nicholas Hawksmoor(1661-1736), John Vanbrugh (1664-1726) e James Gibbs (1682-1754). Ogrande ebanista Grinling Gibbons(1648-1720) deu uma nota de luxo eelegância aos interiores, além deoutros decoradores que trabalharamno período anterior, como Daniel Marot(1661-1752), Gerrit Jensen (1680-1715), além de Thomas Roberts (?-

    1714), nomeado provedor real poralgum tempo (MONTENEGRO, 1991). 

    Recuperada do desgaste da Guerra Civilque caracterizou a segunda metade doséculo XVII, a Grã-Bretanha entrou emuma fase prodigiosa e, durante todo oséculo XVIII, desenvolveu seu poderiocomercial. Londres tornou-se um centrofinanceiro e ganhou espaço uma classede comerciantes e profissionais.

      A supremacia nos mares lançou asbases do Império; e a crescenteconfiança refletiu-se na arquitetura, nadecoração e nos hábitos elegantes.Entretanto, quanto mais habitadastornavam-se as cidades, pioresficaram as condições de vida dos maispobres, o que foi agravado com aRevolução Industrial  (1750-1830). 

    Distinguindo-se dos ditados da Corte do Rei Sol,segundo MONTENEGRO (1991), a Inglaterra começoua apreciar o mobiliário não somente pelos materiaismais ou menos preciosos que se empregavam,como também pela elegância de suas linhas, aqualidade de sua realização e, sobretudo, pela suafuncionalidade; elementos estes que figurariam ostraços marcantes do gosto inglês dos períodosseguintes.

      A característica principal do EstiloRainha Ana foi a linha curva, produtodo Barroco, que deu mais movimentoao contorno do mobiliário inglês. Estecontorno tornou os móveis menosmaciços; e as cadeiras e poltronasapresentaram-se mais confortáveis,tendendo para a redução da altura dosespaldares, que puderam ser demadeira entalhada ou estofada, commolduras soltas e pernas arqueadascom pés-de-bola (Ball feet ) ou pés-de-garra (Claw feet ). Estes derivavam dagarra com bola originária da China eque simbolizava o dragão subjugandoo globo terrestre (O ATES, 1991).

    Influenciado pelo Louis XIV   da França e tambémpelo Oriente, o Queen Anne  caracterizou-se pelatônica dos acabamentos, pela profusão das curvascombinadas com o redondo suave dos cantos epelos móveis com pernas em cabriolet. 

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    George I, eleitor de Hanover, encerrou adinastia Stuart e inaugurou uma fase ricae próspera para a Grã-Bretanha, quandomotores a vapor, canais e ferroviasprenunciaram o industrialismo. Ao mesmotempo, uma nova forma de habitação eragestada: a CASA GEORGIANA, alta ecom balcões, destinada às famíliasurbanas mais ricas e de melhor gosto.

      Estas moradias caracterizavam-sepor ter de dois a quatro pavimentos,sendo que os criados viviam no porão.Tinham uma sala de estar ricamenteenfeitada e usada para receber visitas;uma sala de jantar para as refeiçõesem família e um sallon para reuniões e

    coleções, geralmente revestido compapel de parede, alternativa maisbarata do que tapeçarias e tecidos. 

    Caracterizadas pela fileira homogênea de janelasde caixilho, as casas georgianas   eram feitas emalvenaria e cobertas preferencialmente por telhasde ardósia, sendo que telhados menos inclinadosdavam um ar italiano ao conjunto. No sótão,dormiam as crianças e no quarto principal,costumava-se ter uma cama de dossel em mogno. As melhores habitações tinham esquadrias emcarvalho; e as mais comuns em pinho.

      Com o tempo, o  conjunto 

    habitável viu-se carregado deornamentos, esfinges de leões,cariátides e frontispícios formados decapitéis e cornijamentos. A mobíliaganhou entalhes de cabeças e pernasde animais. Em geral, divide-se talestilo em 02 (duas) fases:  Early Georgian Sty le   (de 1714 a

    1760), correspondente à sua faseinicial barroca e mais característica;

      Late and Later Georgian Sty le   (de1760 a 1830), sua versão tardia eneoclássica, em que se sucederamestilos e personalidades tão variadascomo oChippendale, o Hepplewhite, oSheraton e principalmente o Adam.

    Na Inglaterra, os primeiros decênios do séculoXVIII foram marcados pela afirmação de umatendência de releitura clássica então chamadaNEOPALLADIANISMO, a qual foi intensificada pelapublicação em 1715 dos Quattro Libridell’Architettura  de Palladio, a partir da versãoinglesa traduzida por Colin Campbell (?-1729),através de Vitrubius Britannicus. 

      Estes textos representaram umaforte reação a reação inglesa contra osfaustos barrocos, intensificando asidéias de pureza, contençãocompositiva e restrições clássicas. Istoinfluenciou a decoração e mobiliário,especialmente William Kent (1684-1748) e o Lorde Burlington (1694-1753). Mesclando habilmente ordensclássicas e formas rigorosas com o

    fausto do último Louis XIV , conseguiu-se expressar com inteligência ummundo feito de riqueza e proporção.

    O EARLY GEORGIAN STYLE, quecorrespondeu aos reinados de George I, de1714 a 1727; e de George II, de 1727 a 1760,introduziu a época de ouro da cultura nomobiliário inglês. Foi quando se descobriu omogno e uma abundância de novos móveis foidesenhada, laqueados ou dourados. A rocaille

     –  triunfo das formas livres da natureza e doscaprichos exóticos do Extremo Oriente  – 

    influenciou enormemente o mobiliário inglês,que iniciou um período de busca da beleza,equilíbrio e finura de execução.

       As cadeiras e as poltronaspassaram a ter grande exuberância decurvas; e, embora não se descuidassedo conforto  –  eram estofadas erevestidas com tecido bordado  –, apreferência era pelo luxo. Receberampernas arqueadas e graciosas, alémde espaldares com abas laterais, alémde talhas com motivos de conchas.Surgiram mesas (tables) que podiam

    ser modificadas de diversas maneiras,além de escrivaninhas (desks),cômodas com gavetas (chests-with-drawers) e cômodas altas (tallboys).

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    Secretárias com espaço para as pernas (desks),móveis de dois corpos (bureau-bookcases) e divãs(settees) eram decorados com frontões, pilastras ecornijas, nas quais, juntamente com as clássicasvolutas e dentículos, colocaram-se elementos dorepertório barroco, tais como esfinges,  putti   econchas. A forma desses móveis, quase semprechapados em nogueira, era sóbria e linear. Aspernas eram esquadradas em forma de mísula.

      Desse período, destacou-se aBacelor’s chest, uma pequena cômodade solteiro composta por um tamposuperior abatível, com as variantes debureau  e de toilette; e um corpo quecontinha 04 fileiras de gavetas dealtura crescente. A primeira fileira, a

    mais baixa, podia ter de 02 a 04gavetas (drawers), a segunda 02 e asoutras uma gaveta.

    Entre os mais destacados ebanistas encontraram-se: Benjamin Goodson (1700-67), provedor real apartir de 1727; Giles Grendey (1683-1780), um dosprimeiros em se destacar nos móveis lacados; JohnGumley e James Moore (?-1726), que, separadosou associados, produziram móveis extraordinários,principalmente os modelados em gesso e dourados(MONTENEGRO, 1991).

    Já a época do LATE AND LATERGEORGIAN STYLE, correspondente aosreinados de George III , de 1760 a 1820; ede George IV, de 1820 a 1837, foi  operíodo  dos grandes designers, comoThomas Chippendale (1718-79) e GeorgeHepplewhite (?-1786), que produziram

    versões pessoais do Barroco inglês, já seabrindo à influência clássica.

    Em geral, os móveis tornaram-se maisricos, guarnecidos com marchetaria oumotivos pintados com florões e laços. Aselegantes cadeiras e poltronas georgianasreceberam pernas arqueadas com pés-de-bola e/ou pés-de-garra (Ball-and-Clawfeet ); e os espaldares eram artisticamentetrabalhados.

      Descobriu-se um novo material: opau-marfim, que consistia em umamadeira acetinada e amarelada,praticamente sem veios e provenientedas ilhas das Índias Ocidentais. Comoornamentos típicos, apareceramcabeças de leão e folhagens, assimcomo, no lugar das patas, surgirampés de aves (TESTA, 1981). 

    Entre os móveis criados nesse período,podem ser citados:

    a) Bureau-bookcase , derivado dasbibliotecas (libraries), possuindo também02 corpos, mas se diferenciando pelasproporções de seus elementos;

    b) Chest-on-chest   ou Tal lboy , um móveltipicamente inglês, feito em nogueira eformado por duas cômodas superpostas,unidas ou apoiadas uma sobre a outra;

    c) Carl ton wri t ing desk , uma eleganteescrivaninha ou escritório formado por umtampo em forma de D, feita em nogueira,

    caoba ou acaju;d) Library table ,  uma escrivaninha

    tipicamente inglesa com um amplo tamposustentado por 02 corpos laterais, osquais contêm as gavetas, separadas porum vão que ocupa toda sua profundidade;

    e) Gate-leg table , uma mesa de jogodesenvolvida no auge do uso da caoba,que se caracterizava por ter um pedestalcentral que se abria em 03 pés;

    f) Dressing table , uma pequena mesa deasseio pessoal, fabricada também emnogueira e com 02 variantes: umasemelhante a um escritório (bureau) eoutra como um pequeno armáriototalmente fechado (toilette). 

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    CCHHIIPPPPEENNDDAALLEE SSTT Y YLLEE 

     A difusão por toda a Europa da moda chinesaencontrou na Inglaterra um grande intérprete:

    Thomas Chippendale (1718-79), que soubecomo ninguém imprimir um caráter especialaos móveis ingleses. Com a publicação em1754 de uma coleção de desenhos de móveisintitulada The gentleman and cabinet-maker’sdirector , ele impôs sua visão pessoal do gostode inspiração oriental.

      Os motivos chineses, góticos erococós  –  influências do Estilo Louis XV  –, combinados com formascaprichosas idealizadas por ele, deramorigem a um estilo que se distinguiupela elegância e pela exatidão nasproporções, além de sua resistência esolidez. Este estilo pessoal afirmou-seentre 1760 e 1790 graças a seuparticular ecletismo, que o permitiasatisfazer as exigências e gostos osmais diversos, desde a aristocracia àburguesia, tanto na Inglaterra comonos EUA. 

    Os móveis de Chippendale  –  escrivaninhas,cadeiras, sofás, mesas, camas e biombos  –  eramreconhecidos pela presença de amplas partesentalhadas, como nos espaldares, onde os motivosmais recorrentes eram: o trançado chinês, a agulhagótica e a lira neoclássica. O entalhe resultou maisfácil pela utilização de uma madeira dura e

    compacta como a caoba, que permitia umestreitamento das estruturas e uma estilização dasformas. Além disso, essa madeira tem acapacidade de conservar seu grande brilho.

      O mobiliário passou a sercomposto de várias peças, mas asmais características foram as cadeirase as poltronas em caoba e mogno, quepodiam ser de 04 tipos, sendo o maisfamoso o gótico, com linhas retas eencosto cheio de arcos e traçadosgoticizantes. Os assentos podiam serem seda ou brocado; ou ainda em

    couro lavrado com tachas douradas. Otecido da moda era o chintz , bastantefino e brilhante.

     A prodigalidade imaginativa de seu criador  –  que,às vezes, assinava seus móveis com os codinomesde Lock   ou Copland   –  deu grande variedade aoestilo, embora possam ser assinalados comodetalhes peculiares: os espaldares em forma decintas entrelaçadas, os degraus tambémentrelaçados e uma tábua central e verticalentalhada22. A influência chinesa (chinoiserie)predominava intensamente em um estilo de pernasbaixas e em conjuntos completos de móveis,cadeiras e sofás (MONTENEGRO, 1991).

       A escolha e o uso dos elementosorientais eram a princípio arbitrários.Por exemplo, a adoção do telhado emforma de pagode nas camas combaldaquim ou os cabinets com aspectode pequenos templos não secorrespondiam a nenhum original

    chinês. A pata de bola com garracontinuou a ser usada, assim comoalguns modelos de pernas retas.

     As cômodas (Chippendale  chests) tinham a frenteondulada como as do Louis XV   (bombé) e,fortemente apoiadas no solo, davam a idéia desolidez e conforto, ao mesmo tempo em queapresentavam grande elegância pela linhamovimentada de sua frente. Tendo como ornatoscabeças de águia, flores e folhagens, a influênciaoriental não estava somente nas formas, comotambém no tratamento do móvel, geralmente emdourado, laca e verniz. Utilizou-se também umamistura de óleo de linhaça, laca e goma arábicapara preencher os poros das madeiras.

      Muito difundido também foi o uso

    de colunas entalhadas em forma debambu; lacas de cor vermelho antigo everde intenso; contrastes cromáticosentre o preto e o ouro; motivosvegetais pintados ou em relevo; epequenos animais esculpidos,principalmente pássaros, que secolocavam nos cantos e nosarremates de todo o mobiliário.

    22 Chippendale não se inspirou no Estilo Gótico da Idade

    Média, mas no Neogótico inglês, predominante entre1750 e 1760 e difundido por escritores como HoracioWalpole (1717-97) cuja Strawberry Hill House  estavatotalmente decorada segundo seu gosto – ou desenhistascomo Batty Langley (1696-1751) e William Halfpenny (?-1755).

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    Os sofás Chippendale eram compostos por duasou mais cadeiras unidas para formar um únicoassento e seu móvel mais característico foi umBureau-bookcase  ou Library   coroado por umfrontão partido, cuja parte superior era composta de04 portas de cristal, atrás das quais se podiacolocar desde livros até porcelanas. Sua parteinferior tinha 04 portas abaixo de duas gavetas e deum departamento central abatível.

    HHEEPPPPLLEEWWHHIITTEE SSTT Y YLLEE 

    Diferentemente do que ocorria na França,onde os grandes ebanistas dominavam acena graças à alta qualidade de suaprodução, na Inglaterra da segunda

    metade do século XVIII os grandes nomesno campo da decoração manifestavamsuas melhores qualidades mais no terrenoteórico que no prático.

      Assim começou um largo processode transformação através do qual oantigo projetista-realizador converteu-se no estilista propriamente dito. Istoaconteceu com outro movelista daépoca georgiana, George Hepplewhite(?-1786), que, usando uma sábiacombinação de linhas curvas e retas,por influência do Estilo Louis XVI , foi oprimeiro a popularizar o gostoneoclássico propriamente dito.

    Seu estilo, contemporâneo ao Estilo Georgianotardio, passou a ser reconhecido pela graça naturalde suas formas, assim como pela utilização damadeira de zapote e pela adoção de espaldares na

    forma de escudo para as cadeiras, cujas pernas,geralmente retas, eram de seção redonda ouquadrada.

    Não se sabe quando Hepplewhite nasceu,conhecendo-se apenas que em 1786 já seencontrava em Londres fabricando móveis.Depois de sua morte em 1786, sua viúva, Alicia Hepplewhite publicou seu livro de

    desenhos sob o título de Cabinet maker andupholsterers guide  (1788), o qual consagrouseu estilo .

      Tratava-se de um estilo fino eelegante que se difundiu entre 1770 e1800 e cujos móveis eram muitosimples e leves, com o encostosempre em madeira (caoba) eentalhado em forma de roda, lira ouleque, além do escudo, sua criaçãoprópria. Outros tinham cintas, espigasde trigo e as 03 plumas de avestruz  – símbolo do Príncipe de Gales23  –  eadotavam a forma de ovo e coração,cheio em parte com um tramado.

    Freqüentemente o assento era trançado e demadeiras tão ricas como o mogno, o acaju, o pau-rosa e a palissandra. A mobília de sala de jantarapresentava mesas ovaladas, com folhas paraaumentá-las; e as cadeiras e poltronas eram muitoelegantes e distintas. O desenho dos armários ecômodas embelezava-se mediante o emprego dechapas de madeira envernizada, sendo suasbordas talhadas e frentes abauladas. Acredita-seque Hepplewhite foi o criador do primeiro aparadorde uma só peça mediante a combinação das trêspartes que se usavam separadamente na época: otampo, o pedestal e a vitrine.

     Os tapetes eram feitos com sedas

    de duas cores em franjas estreitas. Ossofás eram semelhantes às cadeiras,com 06 pernas, terminando em ponta(tipo estípete); os buffets  eramligeiramente curvos na frente(bombonet ); e as camas possuíam 04colunas para suportarem drapeados. 

    23  O emprego desse símbolo pode indicar que

    Hepplewhite pertencia ao partido Whig   –  abreviatura deWhiggamores, nome dado aos rebeldes escoceses doséculo XVIII  –  , uma vez que este havia adotado estasplumas como insígnia. Seus membros eram protestantese anti-absolutistas, tendo sido bastante ativos pelosdireitos do Parlamento inglês e pelos privilégios doanglicanismo. Porém, carecem informações sobre estefato, restando apenas suposições.

    http://en.wikipedia.org/wiki/Cabinet_Maker_and_Upholsterers_Guidehttp://en.wikipedia.org/wiki/Cabinet_Maker_and_Upholsterers_Guidehttp://en.wikipedia.org/wiki/Cabinet_Maker_and_Upholsterers_Guidehttp://en.wikipedia.org/wiki/Cabinet_Maker_and_Upholsterers_Guidehttp://en.wikipedia.org/wiki/Cabinet_Maker_and_Upholsterers_Guide

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    1155 NNEEOOCCLLAASSSSIICCIISSMMOO FFRRAANNCCÊÊSS 

     A REVOLUÇÃO BURGUESA  do final doséculo XVIII determinou uma mudançaabsoluta na vida social da população eexerceu grande influência nas orientaçõesdecorativas. O novo espírito republicanoreagiu contra tudo aquilo relacionado ao Ancién Régime  e, de modo específico,contra o que lembrava a nobreza ou erareal ou aristocrático.

      Em termos de arte, a primeirametade do século XIX caracterizou-sepela dicotomia entre 02 correntesantagônicas: o Neoclassicismo, que sefundamentava na imitação das formasclássicas greco-romanas, a exemplodo que ocorrera na Renascença; e oRomantismo, que se caracterizou peloemprego de referências medievais ebarrocas, conduzindo à atitude ecléticade meados do século.

    O NEOCLASSICISMO  foi uma correnteartística cujo apogeu ocorreu entre 1780 e1830, que expressou os interesses, oshábitos e a mentalidade da burguesiamercantilista, que assumira a direção dasociedade européia com a RevoluçãoFrancesa (1789/99) e o Império deNapoleão Bonaparte (1804/14).

      Tendo como principal teórico oalemão Johann Winckelmann (1717-68), baseava-se na busca de um “belo” absoluto, universal e eterno, a partir da

    inspiração nos modelos clássicos. Istoconduziu ao emprego sistemático dosprincípios de harmonia, regularidadeda forma e serenidade da expressão,idealizando-se a sociedade burguesa ealienando o artista da vida social epolítica. 

    Na França, seus maiores expoentes foram ospintores Jacques-Louis David (1748-1825), Jean-Germain Drouais (1763-88) e Jean-DominiqueIngres (1780-1867); os escultores Jean-AntoineHoudon (1741-1828), David d’Angers (1788-1856)e Jean-Jacques Pradier (1792-1852); e os

    arquitetos Jacques-Germain Soufflot (1713-80),Jean Chalgrin (1739-181) e Pierre A. B. Vignon(1763-1828), entre vários outros.

    Quanto ao ROMANTISMO, este secaracterizou pela oposição ao rigor clássicoem desenho e composição através domovimento e da cor, principalmente entre 1820e 185