apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

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1 Nós não existe, mas é composto do Eu e Tu. É uma fronteira sempre móvel onde duas pessoas se encontram. E quando há encontro, então eu me transformo, e você também se transforma. Frederick S. PERLS Hoje, na crise do projeto humano, sentimos a falta clamorosa de cuidado em toda parte. Suas ressonâncias negativas se mostram pela má qualidade de vida, pela penalização da maioria empobrecida da humanidade, pela degradação ecológica e pela exploração exacerbada da violência. Que o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que prevaleça em todas as relações! O cuidado salvará a vida, fará justiça ao empobrecido e resgatará a Terra como pátria e mátria de todos ( Leonardo BOFF

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Nós não existe, mas é composto do Eu e Tu.

É uma fronteira sempre móvel

onde duas pessoas se encontram.

E quando há encontro, então eu me transformo,

e você também se transforma.

Frederick S. PERLS

Hoje, na crise do projeto humano, sentimos a falta clamorosa de cuidado em toda parte. Suas ressonâncias negativas se mostram pela má qualidade de vida, pela penalização da maioria empobrecida da humanidade, pela degradação ecológica e pela exploração exacerbada da

violência. Que o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que prevaleça em todas as relações! O cuidado salvará a vida, fará justiça ao empobrecido e

resgatará a Terra como pátria e mátria de todos (

Leonardo BOFF

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INTRODUÇÃO

Conviver é “viver com”. Consiste em partilhar a vida, as atividades, com os outros. Em todo

grupo humano existe a necessidade de conviver, de estar em relação com outros indivíduos.

Além disso, a convivência é também formativa, pois ajuda no processo de reflexão, interiorização

pessoal e auto-regulação do indivíduo.

O homem começa a ser pessoa quando é capaz de relacionar-se com os outros, quando

se torna capaz de dar e receber e deixa o egocentrismo dar lugar ao alterocentrismo. A

capacidade de estabelecer numerosas pontes de relacionamento interpessoal, é considerada

pelos estudiosos do comportamento como um dos principais sinais de maturidade psíquica.

Pelo fato de vivermos em sociedade, oferecemos aos outros uma imagem de nós mesmos,

assim como formamos conceito sobre cada uma das pessoas que conhecemos, ou seja, cada um

de nós tem um conceito das pessoas que conhece e cada uma delas tem um conceito de nós.

Assim como depositamos em cada pessoa conhecida um capital de estima maior ou menor,

temos com ela também a nossa cota, de acordo com o nosso desempenho pessoal e social.

De acordo com Fritzen (1998), a sociabilidade e a socialidade são as duas formas básicas

de estabelecer relação com o meio. A sociabilidade faz parte da natureza humana: é a

necessidade de comunicação ativa e passiva que se manifesta no indivíduo desde o seu

nascimento. A socialidade vai depender das circunstâncias, do ambiente, no nível de participação

da pessoa em nível social.

Existem pessoas mais abertas e extrovertidas, que comunicam com facilidade suas

impressões e estão sempre dispostas a receber as mensagens dos outros. São as pessoas que

consideramos comunicativas e sociáveis. Outras pessoas são mais tímidas e introvertidas,

propensas a reações de fechamento e de reserva, que sentem dificuldades na comunicação e

podem mostrar-se inseguros até mesmo diante de suas próprias possibilidades. Há pessoas mais

seletivas, que sentem dificuldade de extrapolar o círculo familiar, restringindo suas relações a

pessoas próximas e em número reduzido; assim como existem pessoas que manifestam

características de dominação, que gostam de impor sua vontade aos demais.

Enfim, pondera Fritzen, os estilos e formas de sociabilidade variam muito e também

dependem das situações, sendo necessário, para a boa relação interpessoal, certa disposição de

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ânimo e interesse pelo outro: ver e ser visto, escutar e ser escutado, compreender e ser

compreendido.

NECESSIDADES INTERPESSOAIS E PROCESSO GRUPAL

Um grupo é composto de pessoas, mas não equivale à soma dos indivíduos, possuindo

uma realidade distinta e características peculiares. Neste são produzidos vários fenômenos

psicossociais a partir de ações que os favorecem. Participar de um grupo não significa ter as

mesmas idéias, mas participar de uma construção conjunta, consensual, pressupondo a

necessidade de abertura às idéias alheias e capacidade de aceitação.

Todo indivíduo chega a um grupo com necessidades interpessoais específicas e

identificadas, não consentindo em integrar-se até que certas necessidades fundamentais são

satisfeitas pelo grupo. Schutz (...) identifica três necessidades interpessoais básicas para esse

processo de integração: necessidade de inclusão, de controle e de afeição.

A necessidade de inclusão define-se pela ansiedade experimentada pelo membro novo de

um grupo quanto a se sentir aceito, integrado, valorizado por aqueles aos quais se junta. Esta é

uma fase importante para estabelecer confiança e sentimento de “pertencer”, resultando em

aumento da estima e confiança pessoal. Uma vez satisfeita esta necessidade de inclusão, a

atenção do indivíduo se dirige para a influência e o controle, consistindo na definição, pelo

próprio indivíduo, de suas responsabilidades no grupo e também as de cada um dos que o

formam, ou seja, sentir-se responsável por aquilo que constitui o grupo, suas estruturas, suas

atividades, seus objetivos, crescimento e progresso. Satisfeitas as primeiras necessidades, de

inclusão e controle, o indivíduo confronta-se com as necessidades emocionais, de afeição, que

consiste em obter provas de ser valorizado, estimado e respeitado pelo grupo, não apenas pelo

que tem a oferecer, mas pelo que é, como ser humano.

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PEDAGOGIA DA SUSTENTABILIDADE:

ÉTICA E SOLIDARIEDADE

O principal fundamento da boa governança é o compromisso com a ética, aqui entendida

como um código de valores partilhados por toda a sociedade, com o objetivo de proteger o

conjunto de seus membros contra os interesses de uma minoria. Ao fixar limites para o

comportamento individual, a ética, em realidade, estabelece condições de previsibilidade

necessárias ao bom funcionamento do corpo social, inclusive no mundo privado e dos negócios.

O enfraquecimento do Estado, a desorganização social e a ênfase na vida material

aumentam os sentimentos coletivos de falta de proteção e abandono que levam muitas pessoas

para o misticismo, enquanto outras permanecem totalmente descrentes. O individualismo

predatório mina as bases mais sólidas da vida em sociedade, a solidariedade grupal, os laços de

família e de vizinhança. Esse processo corrosivo provoca sérios danos morais e materiais à

comunidade humana.

A expansão das fronteiras do

conhecimento racional e a crença

incondicional de que a tecnologia pode

resolver todos os problemas

enfrentados pelo ser humano é um

ponto sensível que se confunde com a

laicização e a especialização excessiva

e com a perda de referências humanas

e afetivas. Problemas e situações como

a manipulação genética, as armas de

extermínio, os resíduos perigosos, os

transplantes de órgãos, e,

especialmente, a devastação

ambiental, impõem uma ética entre gerações cuja consequência exige extrema responsabilidade

e precaução.

A prosperidade material se fez acompanhar - como já ocorreu em outras civilizações do

passado - de um profundo vazio moral. Mas o fato novo foi a crise ecológica e a possibilidade de

esgotamento de nossos recursos naturais, comprometendo a continuidade da vida. A Agenda 21

propõe a pedagogia da sustentabilidade como modeladora dos códigos éticos do século XXI.

Surge, portanto, a partir dessas grandes lacunas, a ideia-força de uma civilização

planetária, ligada a uma sociedade mundial que comungue dos mesmos ideais de celebração da

vida, da solidariedade, da justiça e em torno de temas que afetam todos os seres humanos: a

alimentação, a água, o ar, a saúde, a moradia, a educação, a segurança, a comunicação. Essa

dependência comum das fontes naturais e sociais da existência exige uma nova ética do cuidado,

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proposta por Leonardo Boff, um dos redatores da Carta da Terra, junto com o sentido de

compaixão.

Portanto, nesta perspectiva, seguindo a proposições de Paulo Freire e Moacir Gadotti, o

Movimento Cidade Futura se engajou na promoção da pedagogia da sustentabilidade. Com esta

Pedagogia da Sustentabilidade vamos construir os alicerces de uma cidade educadora, onde irá

prevalecer a sustentabilidade no processo de seu desenvolvimento. Para tanto, devemos

aprofundar as discussões em torno do conceito de solidariedade cidadã, pedagogia comunitária e

gestão participativa, construindo uma Ética por meio da qual todos os cidadãos saibam

relacionar-se conscientemente com a natureza e com os outros na cidade futura.

A meta deste enfoque é discutir os paradigmas da Terra como uma comunidade global. Os

princípios da pedagogia da sustentabilidade são mais amplos do que a educação ambiental,

desde que seu debate inclui processos de "co-educação", no marco da cultura de

sustentabilidade, dentro e fora das escolas. A sustentabilidade educativa está além das nossas

relações com o ambiente – ela se insere desde o quotidiano da vida, o profundo valor da nossa

existência e nossos projetos de vida no Planeta Terra. Neste sentido, a pedagogia da

sustentabilidade é algo mais apropriado para a construção coletiva da Carta da Terra.

Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral. A

experiência própria é o que conta. Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma

plantinha, caminhando pelas ruas da cidade ou aventurando-se numa floresta, sentindo o cantar

dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não, observando como o vento move as plantas,

sentindo a areia quente de nossas praias, olhando para as estrelas numa noite escura. Há muitas

formas de encantamento e de emoção frente às maravilhas que a natureza nos reserva. É claro

existe a poluição, a degradação ambiental para nos lembrar de que podemos destruir essa

maravilha e para formar nossa consciência ecológica e nos mover à ação. Acariciar uma planta,

contemplar com ternura um pôr de sol, cheirar o perfume de uma folha de pitanga, de goiaba, de

laranjeira ou de um cipreste, de um eucalipto... são múltiplas formas de viver em relação

permanente com esse planeta generoso e compartilhar a vida com todos os que o habitam ou o

compõem. A vida tem sentido, mas ele só existe em relação. Como diz o poeta brasileiro Carlos

Drummond de Andrade: "Sou um homem dissolvido na natureza. Estou florescendo em todos os

ipês".

HISTÓRICO DA PEDAGOGIA DA SUSTENTABILIDADE EM UBERLÂNDIA

A Pedagogia da Sustentabilidade foi inserida nas atividades de extensão da Universidade

Federal de Uberlândia (UFU) pelo MOVIMENTO CIDADE FUTURA no Fórum Ampliado de

Organização do III ENESCPOP – Encontro Nacional de Educação, Saúde e Cultura Populares,

que aconteceu em maio de 2008, em Uberlândia, no Campus Santa Mônica.

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Propomos esta visão, e felizmente o coletivo, na época, entendeu e aprovou, porque

acreditamos que a sustentabilidade tornou-se um tema gerador preponderante neste início de

milênio para pensar não só o planeta, mas um projeto social global, capaz de reeducar nosso

olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança num futuro possível, com

dignidade, para todos, como tem afirmado o pedagogo Moacir Gadotti.

O modo pelo qual vamos produzir nossa existência neste pequeno planeta decidirá sobre a

sua vida ou a sua morte, e a de todos os seus filhos e filhas. A educação está articulada

umbilicalmente com o tema da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente. Por isso,

propomos como um dos eixos temáticos a Pedagogia da Sustentabilidade, por entendemos que

necessitamos de uma ecopedagogia, que recoloque a relação entre a natureza e o ser humano

como tema da educação e que esta relação se reproduza em todos os espaços públicos da

cidade urbana ou rural.

Queremos uma Pedagogia da Sustentabilidade que seja apropriada para esse momento de

reconstrução paradigmática, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem se

constituindo gradativamente, beneficiando-se de muitas reflexões que ocorreram nas últimas

décadas, principalmente no interior do movimento pela ecologia e por cidades educadoras. De

acordo com o professor Moaciar Gaotti, ela “se fundamenta num paradigma filosófico emergente

na educação que propõe um conjunto de saberes/valores interdependentes. Entre eles podemos

destacar: 1º) Educar para pensar globalmente; 2º) Educar os sentimentos; 3º) Ensinar a

identidade terrena como condição humana essencial; 4º) Formar para a consciência planetária;

5º) Formar para a compreensão; 6º) Educar para a simplicidade e para a quietude”.

Lutamos por construir um novo ambiente comunitário na cidade futura. Nossas vidas

precisam ser guiadas por novos valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar,

saber viver juntos, compartir, descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais

responsável frente à cultura dominante que é uma cultura de guerra, de competitividade sem

solidariedade, e passar de uma responsabilidade diluída a uma ação concreta, pessoal,

praticando a sustentabilidade na vida diária, na família, no trabalho, na escola, na rua.

Com esta Pedagogia da Sustentabilidade vamos construir os alicerces de uma cidade

futura, onde irá prevalecer a sustentabilidade no processo de seu desenvolvimento. Para tanto,

devemos aprofundar as discussões em torno do conceito de solidariedade cidadã, pedagogia

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comunitária e gestão participativa, construindo uma Ética por meio da qual todos os cidadãos

saibam relacionar-se conscientemente com a natureza e com os outros na cidade futura.

Trabalhos pela educação sedimentada na formação integral, em que o cidadão é

considerado na sua multidimensionalidade de ser humano. Novos paradigmas pedagógicos,

tendo em vista a formação humanística, ética e solidária, sustentando a vida num equilíbrio

dinâmico, buscando a redução da violência, em todas as suas formas, e vislumbrando o homem

como um ser planetário.

O Movimento Cidade Futura propõe a pedagogia da sustentabilidade em uma perspectiva

da educação maior do que uma pedagogia do desenvolvimento sustentável integrado, tanto das

pessoas como do território. A pedagogia da sustentabilidade não se preocupa apenas com uma

relação saudável com o meio ambiente, mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a

nossa existência, a partir da vida cotidiana, com o que fazemos como nosso próximo, como nós

cuidamos das pessoas.

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O que é cuidar

Cuidar é um ato de preservação, aprendido por meio das experiências vividas e dos

saberes desenvolvidos pela cultura da qual fazemos parte. Este ato se traduz em atitudes e

comportamentos relacionados à atenção, ao zelo, ao respeito aos limites, à cautela, tanto frente a

si próprio e como frente ao outro. O perfil de cuidador é próprio e individual, cujos conhecimentos

e habilidades se refletem nas atitudes de cuidar de si, do outro e na própria disponibilidade

interna em se deixar cuidar pelo outro.

O cuidar dá-se em três vertentes: consigo próprio - o autocuidado; cuidado para com o

outro - o cuidar de; e cuidado do outro para mim - o ser cuidado. As três vertentes sempre

precedem uma relação de apego e afeto. Não se cuida se não há estima a si próprio e ao outro.

Em seu livro SABER CUIDAR, Leonardo Boff traz uma reflexão acerca do cuidado e da

compaixão, pelos outros e também pelo planeta Terra. Em sua proposta, direciona o leitor a uma

reflexão crítica sobre os problemas do mundo, onde a falta de atitudes de cuidado são os

sintomas dos maiores problemas da humanidade. De acordo com o autor, degradação ambiental

do planeta, as relações superficiais entre as pessoas e a falta de conhecimento de si mesmo,

levam a falência da Terra.

O autor apresenta crítica ao realismo materialista, a então filosofia de sustentação do

cientificismo tecnicista atual, tecendo uma critica acerca da razão analítica, ditame da nossa

sociedade pós-moderna, sociedade esta que se configura pelo encapsulamento do existir, um

existir individual que não oferece espaço para o cuidado. Posto isso, o autor propõe um novo

ethos, um modo-de-ser-essencial (re) significando as formas de agir e resgatando o cuidado

inerente á existência humana.

Leonardo Boff desenvolve a sua obra utilizando-se de fábulas e mitos, para apresentar a

origem do homem e o significado do cuidado, sendo a essência do ser humano, o saber cuidar.

Para o autor, o homem apenas constitui-se homem, a partir do cuidado, cuidado esse essencial a

sua condição. Com a fábula-mito do cuidado elaborada por Higino, o autor explica o sentido do

cuidado para a vida humana como forças que atuaram nos universais mais importantes: o céu

(Júpiter), a terra (Tellus), a história e a utopia (Saturno). A partir desta fábula, ele aprofunda as

suas várias dimensões na vida pessoal, social e planetária do humano. Como indicação para o

caminho certo, Boff aponta uma nova ternura para com a vida e um sentimento (pathos) autêntico

de pertença a Mãe-Terra no modo de ser essencial por meio do "cuidado essencial".

Apresenta então dois conceitos cruciais desta obra, as formas de ser no mundo: a do

trabalho e a do cuidado. O modo-de-ser-no-mundo pelo trabalho é o de interação e de

intervenção na natureza. Já o outro modo de ser-no-mundo se realiza pelo cuidado em que a

relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Ainda neste contexto, Boff traz a ideia do

cuidado em relação às formas de cuidar, a falta de cuidado no mundo atual, e o que seria

necessário para amenizar esse mal, resgatando a re-espiritualização como um dos remédios da

humanidade, o cuidar como prioridade de vida.

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Em seguida, Boff, propõe uma "cultura acústica" do cuidado como o amor sendo um

fenômeno biológico, um equilíbrio ou medida justa, uma carícia essencial, uma cordialidade

fundamental e uma compaixão radical que podem ser concretizadas com o planeta e todos os

seus seres numa espécie de inversão da cultura e práxis em vigor na ética mundial. A proposta

desta obra, é uma nova ética para a conduta humana nas relações com o meio e com o outro,

partindo para uma nova ótica. Para tanto, o autor apresenta caminhos para a cura e o resgate da

essência humana, de modo que o homem deve passar por uma alfabetização ecológica, revendo

os hábitos de consumo, aprendendo a conviver, a mostrar seu carinho e sua generosidade,

alimentar o amor, o contato humano, aumentar a capacidade de sentir, aprendendo a cuidar do

planeta, sempre envolto em uma ética de cuidado.

Refletindo Sobre Saber Cuidar

Vivemos na era pós- moderna, era da morte de Deus e da assunção da razão técnico-

cientifica. Neste contexto impera o capitalismo como produtor e reprodutor de ditames do existir

humano, tendo como matéria-prima a subjetividade humana, de modo que " o neocapitalismo

convoca e sustenta modos de subjetivação singulares, mas para serem reproduzidos, separados

de sua relação com a vida, reificados e transformados em mercadoria: clones fabricados em

massa, comercializados como 'identidades prêt-à-porter'." ( ROLNIK, 1997, p.03).

Neste contexto percebe-se um homem desamparado, fragmentado diante de uma

sociedade liquida, onde não existem grandes verdades, onde as relações são técnicas e

superficiais, onde cada um deve falar e cuidar apenas por si. Constata-se que "(...) o ser humano

da modernidade entrou num aceleradíssimo processo de secularização. Não precisa de Deus

para legitimar e justificar pactos sociais. A religião persiste mas não consegue ser fonte de

sentido transcendente para o conjunto da sociedade." (BOFF, 1999, p. 21).

Deste cenário, surge a angustia, angustia geradora de sofrimento, um sofrimento solitário,

posto que, como aponta Critelli apud Lima (2001), a partir da modernidade efetivou-se o

"fenômeno de desenraizamento da existência" de modo que o homem não consegue ligar-se com

os outros, com o mundo e lidar com o seu desamparo constitutivo. Neste sentido, Boff aponta em

sua obra, que a única saída possível para esse "caos" que é o existir humano na sociedade

contemporânea, seria o cuidado que segundo clássicos dicionários de filologia, alguns estudiosos

derivam cuidado do latim cura. Esta palavra é um sinônimo erudito de cuidado, usada na tradução

de Ser e Tempo de Martin Heidegger. Em sua forma mais antiga, cura em latim se escrevia coera

e era usada num contexto de relações de amor e de amizade. Expressava atitude de cuidado, de

desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação. (

BOFF, 1999, p.90-91).

O autor clarifica o cuidado como uma atitude de desvelo, solicitude para com um outro, que

deve acima de tudo ser amado, pois o cuidado verdadeiro, pontua o autor, só acontece quando

existe uma pré-ocupação genuína com o outro.

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De acordo com Lima (2001), na Grécia clássica a prática do cuidado de si era indissociável

ao cuidado do outro, com a influência moderna da cultura romana, essa lógica muda

substancialmente, de modo que "o cuidado de si não é mais pressuposição do cuidado do outro.

O cuidado de si tautologicamente torna-se fim em si mesmo" (LIMA, 2001, p.185).

Entretanto, para Boff, o cuidado é inerente a condição/constituição humana, ou seja, o

autor pontua o cuidado como essência da humanidade (...) Não se trata de pensar e falar sobre

cuidado como objeto independente de nós. Mas de pensar e falar a partir do cuidado como é

vivido e se estrutura em nós mesmos. Não temos cuidado. Somos cuidado. Isso significa que o

cuidado possui uma dimensão ontológica que entra na constituição do ser humano. É um modo-

de-ser singular do homem e da mulher. Sem cuidado deixamos de ser humanos. (BOFF, 1999,

p.89).

Neste sentido ainda há muito o que evoluirmos no nosso acontecer humano, para que

possamos, como acredita Boff, alcançar o ponto ideal de equilíbrio entre a falta e o excesso de

cuidado, e assumirmos a essência do cuidado em nosso existir, posto que " não se pode ser

apenas cuidado. Ele é a essência do humano, mas o humano não é só a sua essência. Existe a

historia ziguezagueante, as ressonâncias do cuidado, as limitações que cabe acolher e revelar"

(PASCAL apud BOFF,1999, p.161).

Leonardo Boff vem propor através da sua obra uma verdadeira re-significação do que é ser

humano em essência e cuidado, de modo que em alguns trechos do livro transparece certo

"romantismo" ao se tratar das posturas e comportamentos diante do mundo e dos outros.

Entretanto Compreende-se aqui, o cuidado muito mais como uma postura ética diante do existir e

lidar com os outros com as coisas que fazem pano de fundo nas nossas vidas, sabendo tratar

coisas como coisas, e pessoas como pessoas, não o contrário.

Talvez um dia sejamos capazes de um cuidar incondicional, um cuidado em não

precisemos nos esconder da dor e do sofrimento, onde possamos nos doar ao outro sem nos

esconder por traz das mascaras da instrumentalidade, da técnica, da coisificação. Talvez o

humano seja ainda uma porção de argila, á margem de uma sociedade capitalista e liquefeita,

entretanto com possibilidade de auto moldar-se ao rigor de uma ética do existir e relacionar-se

com os outros.

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ÉTICA: CONCEITO E HISTÓRIA

A história da ética se entrelaça com a história da filosofia. No século VI a.C., Pitágoras

desenvolveu algumas das primeiras reflexões morais, afirmando que a natureza intelectual é

superior à natureza sensual e que a melhor vida é aquela dedicada à disciplina mental. Seus

ensinamentos forjaram a maior parte das escolas de filosofia moral gregas da posteridade.

Para Platão, o mal não existia por si só, sendo apenas um reflexo imperfeito do real, que é

o bem, elemento essencial da realidade. Afirmava ele que, na alma humana, o intelecto tem que

ser soberano, figurando a vontade em segundo lugar e as emoções em terceiro, sujeitas ao

intelecto e à vontade. Aristóteles considerava a felicidade a finalidade da vida e a conseqüência

do único atributo humano, a razão. As virtudes intelectuais e morais seriam apenas meios

destinados à sua consecução. O epicurismo, por sua vez, identificava como sumo bem o prazer,

principalmente o prazer intelectual, e, tal como os estóicos, preconizava uma vida dedicada à

contemplação.

No fim da Idade Média, São Tomás de Aquino viria a fundamentar na lógica aristotélica os

conceitos agostinianos de pecado original e da redenção por meio da graça divina. À medida que

a Igreja medieval se tornava mais poderosa, desenvolvia-se um modelo de ética que trazia

castigos aos pecados e recompensa à virtude através da imortalidade. Thomas Hobbes, no

Leviatã (1651), asseverava que os seres humanos são maus e necessitam de um Estado forte

que os reprima. Para Spinosa, a razão humana é o critério para uma conduta correta e só as

necessidades e interesses do homem determinam o que pode ser considerado bom e mau, o

bem e o mal. Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, em seu Contrato social (1762), atribuía o mal

ético aos desajustamentos sociais e afirmava que os seres humanos eram bons por natureza.

Uma das maiores contribuições à ética foi a de Immanuel Kant, em fins do século XVIII.

Segundo ele, a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas conseqüências, mas apenas

por sua motivação ética. Kant partiu do pressuposto que a razão guia a moral e que três são os

pilares em que se sustenta: Deus, liberdade e imortalidade. Porém, adverte que a simples

inclinação para o cumprimento da lei, por respeito, não é o exercício de uma vontade para si

mesmo. Sem liberdade não pode haver virtude e sem esta não existe a moral, nem pode haver

felicidade dos povos, porque também não pode haver justiça. Para Kant, quando alguém cumpre

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um dever ético por interesse, pode até lucrar com isto, mas não pode receber a classificação de

virtuoso.

As teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Benham, sugerem o princípio da utilidade

como meio de contribuir para aumentar a felicidade da comunidade. Já para Hegel, a história do

mundo consiste em "disciplinar a vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer a um

princípio universal e facilitar uma liberdade subjetiva".

O desenvolvimento científico que mais afetou a ética, depois de Newton, foi a teoria da

evolução apresentada por Charles Robert Darwin. Suas conclusões foram o suporte documental

da chamada ética evolutiva, do filósofo Herbert Spencer, para quem a moral resulta apenas de

certos hábitos adquiridos pela humanidade ao longo de sua evolução. Friedrich Nietzsche

explicou que a chamada conduta moral só é necessária ao fraco, uma vez que visa a permitir que

este impeça a auto-realização do mais forte. Bertrand Russell marcou uma mudança de rumos no

pensamento ético das últimas décadas. Reivindicou a idéia de que os juízos morais expressam

desejos individuais ou hábitos aceitos. A seu ver, seres humanos completos são os que

participam plenamente da vida social e expressam tudo que faz parte de sua natureza.

João Baptista Herkenhoff apresenta a seguinte definição sobre o que seriam normas

éticas; "São normas que disciplinam o comportamento do homem, quer o íntimo e subjetivo, que

o exterior e social. Prescrevem deveres para a realização de valores. Não implicam apenas em

juízos de valor, mas impõem a escolha de uma diretriz considerada obrigatória, numa

determinada coletividade. Caracterizam-se pela possibilidade de serem violadas."

Podemos concluir que a ética disciplina o comportamento do homem, quer o exterior e

social, quer o íntimo e subjetivo. Prescreve deveres para realização de valores. Não implica

apenas em Juízos de valor, mas impõe uma diretriz considerada obrigatória pela sociedade. Este

conjunto de preceitos morais devem nortear a conduta do indivíduo no ofício ou na profissão que

exerce, devendo necessariamente contribuir para a formação de uma consciência profissional

composta de hábitos dos quais resultem integridade e a probidade, de acordo com as regras

positivadas num ordenamento jurídico.

Embora o termo ética seja empregado, comumente, como sinônimo de moral, a distinção

se impõe. A moral disciplina o comportamento do homem consigo mesmo, trata dos costumes,

deveres e modo de proceder dos homens para com os outros homens, segundo a justiça e a

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equidade natural. A primeira, moral propriamente dita, é a moral teórica, ao passo que a segunda

seria a ética, ou a moral prática.

A Ética é o pensamento filosófico acerca do comportamento moral do homem, dos

problemas morais e dos juízos morais enquanto a moral é o conjunto de normas, princípios e

valores, aceitos ou descobertos de forma livre e consciente, que regulam o comportamento

individual dos homens. A filosofia define ”ética” como o estudo da “conduta ideal”, esta decorrente

de um conceito mais amplo, o de “homem ideal”.

Sem perder sua autonomia científica, a Ética tem ligações muito fortes com as doutrinas

mentais e espirituais. Os estudos científicos da mente chegaram a conclusões comuns no que

tange à influência dos conhecimentos adquiridos nas primeiras idades. Desta forma, mesmo

admitindo-se mudanças por força de outras influências, o campo da infância é mais fértil que o de

outras idades para sua formação moral. É nesta fase que se deve estimular virtudes e repelir toda

a tendência para o vício, sustentando os princípios éticos que irão norteá-la quando adulta.

Portanto, segundo esta teoria, é no lar e na escola a principal usina de moldagem das

consciências.

O descumprimento de um dever ético pode estar explicado nos conceitos de virtude que

foram absorvidos pela educação ou pela ambiência do ser. A agressão aos bons costumes,

quando se consagra como prática aceita socialmente, compromete o futuro das novas gerações,

por desrespeito ao passado e negligência no presente. Em tudo parece haver uma tendência para

a organização e os seres humanos não fogem a essa vocação. Em cada agrupamento, no

entanto, depende de uma disciplina comportamental e de conduta. Hoje, o estudo da Ética não

pode desprezar a associação da razão com a emoção.

ÉTICA PROFISSIONAL E DEONTOLOGIA

Com referência ao ser humano em especial, é exigível uma conduta especial, denominada

de Ética. Como os seres são heterogêneos, face suas próprias características, a

homogeneização perante a classe precisa ser regulada de forma que o bem geral esteja

preservado, incluindo o próprio indivíduo. O ser humano é tendencioso a defender em primeiro

lugar seus interesses próprios. Se laborado desta forma, em geral, tem seu valor restrito,

enquanto ao praticar atos com amor, visando o benefício de terceiros, passa a existir a expressão

social na sua prática.

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Sua utilidade mais presente consiste em ditar as qualidades das ações humanas,

definindo-as como boas ou ruins, tendo como norte a razão da felicidade – “o soberano bem”. Em

resumo, a Ética é uma ciência que estuda os valores e virtudes do homem, estabelecendo um

conjunto de regras de conduta e de postura a serem observadas para que o convívio em

sociedade se dê de forma ordenada e justa. Já “deontologia” consiste no conjunto de regras e

princípios que regem a conduta de um profissional, uma ciência que estuda os deveres de uma

determinada profissão.

A problemática das profissões foi, desde muito cedo, objeto de análise da sociologia. Émile

Durkheim questionava-se já sobre o papel das corporações, que considerava indispensáveis ao

funcionamento democrático da sociedade. O conceito de profissão decorrente, sobretudo, de uma

construção social, sendo susceptível de sofrer alterações de acordo com as condições sociais em

que é utilizado. O fato de variar em função do tempo e do contexto em que ocorre, faz com que

esta noção dê ensejo a uma pluralidade de significações, implicando, em virtude disso, a

inexistência de uma definição fixa ou universal.

A profissão não deve ser considerada como um somatório de características distintivas,

mas como um processo de emergência e de diferenciação social de determinado grupo

ocupacional, que faz variar o estatuto e o reconhecimento das profissões ao longo dos tempos.

Sociologicamente, profissão pode ser entendida como o desempenho de uma atividade humana,

apoiada num saber e em valores próprios.

Do particípio grego tò deón, a palavra deontologia remete para as dimensões do que

“deve ser ou fazer-se”. Este termo aplica-se, normalmente, ao conjunto de deveres, próprios de

determinada situação social, sobretudo profissional. A deontologia deve constituir uma expressão

de autonomia profissional. A regulação ética do desempenho profissional surge, deste modo, a

par da formação profissional interiorizada no decorrer de uma longa escolarização, da

profissionalização dos docentes e da existência de associações, como um dos elementos

constitutivos do profissionalismo:

O profissional brasileiro está sujeito a uma deontologia própria a regular o exercício de sua

profissão conforme o Código de Ética de sua classe. O Direito é o mínimo de moral para que o

homem viva em sociedade e a deontologia dele decorre posto que trata de direitos e deveres dos

profissionais que estejam sujeitos a especificidade destas normas. A normatização é própria do

Page 15: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

15

Código Deontológico, repositório de direitos e deveres dos profissionais que de maneira geral não

permeiam seus artigos de uma visão ética.

A tutela do trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma ética, imposta através

dos conselheiros profissionais e de agremiações classistas (institutos, associações, sindicatos,

federações, etc). As normas devem ser condizentes com as diversas formas de prestar o serviço

e de organizar o profissional para este fim.

A ética é indispensável ao profissional porque na ação humana "o fazer" e "o agir" estão

interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir

para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de

atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão.

Sendo a ética inerente à vida humana, sua importância é bastante evidenciada na vida

profissional, porque cada indivíduo tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais,

pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. O valor ético do esforço humano é variável em

função de seu alcance em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda,

em geral, tem seu valor restrito.

Assim, ética profissional pode ser concebida como sendo um conjunto de normas de

conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Assim, quando

falamos de ética profissional estamos nos referindo ao caráter normativo e até jurídico que

regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos.

A tutela do trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma ética, imposta através

dos conselhos profissionais e de agremiações classistas. As normas devem ser condizentes com

as diversas formas de prestar o serviço de organizar o profissional para esse fim. A conduta

profissional, muitas vezes, pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das fortes

razões pelas quais os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência. A conduta do

ser humano pode tender ao egoísmo, mas, para os interesses de uma classe, de toda uma

sociedade, é preciso que se acomode às normas, porque estas devem estar apoiadas em

princípios de virtude.

Uma classe profissional caracteriza-se pela homogeneidade do trabalho executado, pela

natureza do conhecimento exigido preferencialmente para tal execução e pela identidade de

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16

habilitação para o exercício da mesma. A classe profissional é, pois, um grupo dentro da

sociedade, específico, definido por sua especialidade de desempenho de tarefa.

A divisão do trabalho é antiga, ligada que está à vocação e cada um para determinadas

tarefas e às circunstâncias que obrigam, às vezes, a assumir esse ou aquele trabalho; ficou

prático para o homem, em comunidade, transferir tarefas e executar a sua. A formação das

classes profissionais decorreu de forma natural, há milênios, e se dividiram cada vez mais.

Historicamente, atribui-se à Idade Média a organização das classes trabalhadoras, notadamente

as de artesãos, que se reuniram em corporações A união dos que realizam o mesmo trabalho foi

uma evolução natural e hoje se acha não só regulada por lei, mas consolidada em instituições

fortíssimas de classe.

Não obstante os deveres de um profissional devem ser levadas em conta as qualidades

pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua atuação profissional, algumas

delas facilitando o exercício da profissão. Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com

esforço e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer de sua

atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao

lado dos deveres profissionais.

O senso de responsabilidade é um elemento fundamental no exercício profissional. Uma

pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior probabilidade de agir de

maneira mais favorável aos interesses do grupo dentro e fora da organização. As pessoas que

optam por não assumir responsabilidades podem ter dificuldades em encontrar significado em

suas vidas, pois seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de outras pessoas.

Atualmente as organizações buscam melhorar o ambiente de trabalho, qualidade e

produtividade por meio da ética. Nos últimos vem-se abordando mais profundamente a

importância da ética dentro do local de trabalho, nas relações interpessoais e no desempenho

das tarefas cotidianas. Um ambiente de trabalho que propicie regras claras e justas fornece um

balizamento ético-moral e a manutenção de altos índices de motivação produtividade e qualidade.

A preocupação das empresas com a ética propicia, além do cumprimento das leis,

qualidade e redução de custos por pequenos deslizes éticos, verificados diariamente e que

podem trazer prejuízos à qualidade dos relacionamentos e ao próprio desenvolvimento do

processo de trabalho.

Page 17: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

17

A confusão entre o que é falta de ética e desonestidade é muito grande. A ética, no fundo,

é a procura do bem comum, o respeito próximo. As pessoas devem conservar a ética sempre,

sejam em grandes ou pequenas questões porque agir com correção é o que se espera dos

demais. O senso da ética acontece quando cada um faz sua opção, e aí funciona a consciência

de cada um.

A elaboração e outorga de um código de ética é um elemento constitutivo da identidade

profissional de um grupo. Sem uma ética não há uma comunidade. As vantagens fundamentais

de um código deontológico advêm, portanto, da promoção de uma identidade profissional, a qual

se espelha na imagem interna e externa da profissão e na afirmação da autonomia em relação à

heteronomia dos regulamentos governamentais. Os códigos deontológicos têm a função de

garantir a qualidade dos serviços que se prestam e asseverar que os profissionais são dignos de

confiança por parte dos seus concidadãos, uma vez que atuam com o rigor e a seriedade a que o

código de ética lhes adverte.

Nem sempre é possível acumular todo conhecimento exigido por determinada tarefa, mas

é necessário que se tenha a postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida

capacitação para executá-lo. Assim, cada homem deve proceder de acordo com princípios éticos.

Cada profissão, porém, exige, de quem a exerce, além dos princípios éticos comuns a todos os

homens, procedimento ético de acordo com a profissão.

O comportamento ético deve ser procurado principalmente por aqueles que, na maioria das

vezes exercem suas funções em equipes multiprofissionais no serviço público ou privado.

Inúmeros elementos de respeito, moralidade, responsabilidade e princípios éticos devem estar

envolvidos na postura desses profissionais, que estarão em contato com outros indivíduos cujas

escolhas morais podem não ser claramente definidas. Cabe a cada um, então, a consciência de

estar respaldado em princípios éticos sérios, que estão além de interesses passageiros e

conveniências pessoais, pelos quais o seu “fazer” profissional vai estar resguardado.

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OS CAMINHOS DA SUSTENTABILIDADE

Hoje vivemos uma sucessão de catástrofes naturais estranhas e inusitadas como nunca

antes foram vistas em nosso planeta. Montanhas enterradas por séculos na neve e no gelo,

começam a mostrar suas encostas nuas. Geleiras milenares desaparecem aceleradamente sem

que se possa fazer nada e nem se medir as consequências. Furações no Atlântico Sul, tornados

cada vez mais freqüentes e violentos; secas e enchentes em áreas que antes não sofriam com

esses males, pragas de insetos; de roedores e de organismos microscópicos que se reproduzem

fora de controle.

Todos esses acontecimentos refletem uma única coisa: Desequilíbrio.

O homem moderno destrói e influencia o meio ambiente que o cerca como nunca. E as

conseqüências desses atos podem levar até mesmo a inviabilização da vida, como a

conhecemos, em nosso planeta. Felizmente, a aparente aniquilação iminente fez com que os

seres humanos acordassem e descobrissem que somente a convivência sustentável com o

ambiente que os cerca é a chave para a sobrevivência de nossa espécie. Nunca antes se falou

tanto em sustentabilidade quanto agora. Da mesma forma que nunca se tentou seguir e estudar

formas de encontrar os caminhos da sustentabilidade e harmonizar nossa existência com as

necessidades de preservação do meio ambiente.

É crescente o número de pessoas, em todo mundo, que passaram a exigir uma postura

mais ativa por parte das autoridades de seus países em relação às políticas relativas ao meio

ambiente e a exploração de seus recursos naturais e a ocupação mais racional das áreas

urbanas. Da mesma forma, cientistas, estudiosos e pessoas ligadas ao meio ambiente reúnem-se

em fóruns, debates e conferências onde se procura demarcar claramente técnicas, formas e

diretrizes para que se assegure a descoberta para implementação de políticas que definam

claramente quais os caminhos da ecologia e sustentabilidade cada nação deve tomar de acordo

com o seu grau de desenvolvimento tecnológico, características populacionais e a forma como

exploram seus recursos naturais. Avaliando e estabelecendo, caminhos para um futuro

sustentável e pleno para todos os habitantes de nosso planeta.

Autoridades governamentais, organismos internacionais como a O.N.U.; além de ONG‟s e

entidades particulares, todos estão empenhados em estabelecer e encontrar metas e caminhos

viáveis para que qualquer governo possa implementar as políticas que melhor se adaptarão a

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19

cada país e a suas particularidades. Aprofundando a troca de experiências e estabelecendo

sempre um debate em todos os níveis do conhecimento humano.

É importante entender que a busca por caminhos da sustentabilidade global, passam antes

de qualquer coisa, pela busca da sustentabilidade individual. Pois, cada um como indivíduo

pode combater ao lado das forças que desejam proporcionar uma melhor qualidade de vida para

o futuro da humanidade. Cidades que tratam seus efluentes e resíduos, empresas que evitam o

desperdício de energia e recursos e pessoas que vivem atentas para o modo como interferem na

natureza e no meio ambiente que as cercam. Essas são as formas para encontrar os caminhos

da sustentabilidade e para manter nosso planeta com capacidade de sustentar a vida por muitas

e muitas gerações ainda.

MOVIMENTO CIDADE FUTURA

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20

O QUE É UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL?

Por Fritjof Capra e Ernest Callenbach*

O conceito de sustentabilidade transformou-se num elemento chave no movimento global,

crucial para encontrar soluções viáveis para resolver os maiores problemas do mundo. O que

significa isto? Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, elaborou uma definição clara:

"Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz as suas necessidades sem diminuir as

possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas".

Como seria, verdadeiramente, uma sociedade sustentável? Ainda não há modelos

detalhados, mas na última década surgiram critérios básicos que nos permitem desenhar a forma

emergente das sociedades sustentáveis.

A sustentabilidade global requer uma drástica diminuição do crescimento mundial. As

sociedades sustentáveis terão populações estáveis, como as que têm hoje em dia 13 países

europeus e o Japão. A população mundial deverá se estabilizar no máximo em oito bilhões de

pessoas.

As economias sustentáveis não serão movidas por combustíveis fósseis, mas sim por

energia solar e suas muitas formas diretas e indiretas: luz solar para aquecimento e eletricidade

fotovoltaica, energia eólica, hídrica e assim por diante.

A energia nuclear deixará de ser usada devido a sua longa lista de desvantagens e riscos

econômicos, sociais e ambientais. Os painéis solares aquecerão a maior parte da água doméstica

ao redor do mundo, e a maior parte da calefação será feita pela entrada direta dos raios solares.

Com as células fotovoltaicas, os lares, em todas as partes do mundo, serão tanto

produtores quanto consumidores de eletricidade. A produção de energia será muito mais

descentralizada e, por isso mesmo, menos vulnerável aos cortes ou apagões.

Um sistema energético sustentável será também muito mais eficiente. A economia de

combustível dos automóveis será duas vezes maior. Por sua vez, a eficiência dos sistemas de

iluminação será três vezes melhor, e as necessidades de aquecimento diminuirão em 75 por

cento. Tudo isto hoje em dia é possível graças às tecnologias já existentes.

O transporte numa sociedade sustentável será muito menos esbanjador e poluente do que

hoje. As pessoas morarão muito mais perto dos seus lugares de trabalho e se movimentarão nas

vizinhanças por sistemas altamente desenvolvidos de ônibus e transportes sobre trilhos.

Haverá menos automóveis particulares. As bicicletas serão um veículo importante no

sistema de transporte sustentável. Hoje em dia, já há no mundo duas vezes mais bicicletas do

que automóveis.

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21

Nas indústrias sustentáveis, a reciclagem será a principal fonte de matéria prima. O design

de produtos se concentrará na durabilidade e no uso reiterado, em vez da vida curta e

descartável dos produtos.

O desejável será uma mentalidade baseada na ética da reciclagem. As empresas de

reciclagem ocuparão o lugar das atuais companhias de limpeza urbana e disposição final do lixo,

reduzindo a quantidade de resíduos em pelo menos em dois terços.

Uma sociedade sustentável necessitará de uma base biológica restaurada e estabilizada.

O uso da terra seguirá os princípios básicos da estabilidade biológica: a retenção de nutrientes, o

equilíbrio de carbono, a proteção do solo, a conservação da água e a preservação da diversidade

de espécies.

É provável que as áreas rurais tenham maior diversidade do que atualmente com o manejo

equilibrado da terra, em que haverá rotatividade de plantações e de cultivo de espécies. As

empresas que produzirem alimentos e energia serão mais populares.

Não haverá desperdício de colheitas. Os bosques tropicais serão conservados. Não haverá

desmatamento para obtenção de madeira e outros produtos. Pelo contrário, milhões de hectares

de novas árvores serão plantados.

Os esforços para deter a desertificação transformarão as áreas degradadas em terrenos

produtivos. O uso exaustivo de pastagens será eliminado, assim como haverá modificação na

cadeia alimentar das sociedades afluentes, para incluir menos carne e mais grãos e vegetais.

Novas indústrias sustentáveis estarão mais descentralizadas, fomentando uma maior

independência nas grandes cidades. Os sistemas de valores que enfatizam a quantidade, a

expansão, a competição e a dominação darão lugar à qualidade, à conservação, à cooperação e

à solidariedade.

À medida que a acumulação de riqueza material perder sua importância, a distância entre

ricos e pobres diminuirá, eliminando muitas tensões sociais.

A característica decisiva de uma economia sustentável será a rejeição da cega busca de

crescimento. O produto interno bruto será reconhecido como um indicador falido. No lugar do PIB,

as mudanças econômicas e sociais, tanto quanto as tecnológicas, serão medidas por sua

contribuição à sustentabilidade.

Em um mundo sustentável, os orçamentos militares serão uma pequena fração do que são

hoje. Em vez de manter caras e poluidoras instituições de defesa, os governos poderão investir

em uma fortalecida Organização das Nações Unidas para a manutenção da paz.

As nações descentralizarão o poder e a tomada de decisões dentro de suas próprias

fronteiras. Ao mesmo tempo, estabelecerão um grau de cooperação e coordenação sem

precedentes em nível internacional para solucionar problemas globais.

Page 22: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

22

As diferenças ideológicas se dissiparão frente à crescente consciência de que a Terra é o

nosso lugar comum, não importando os nossos diferentes antecedentes culturais. A compreensão

de que todos nós compartilhamos esta Terra será a fonte de um novo código ético.

A imagem de uma futura Terra sustentável tem sido pintada com grandes pincéis. O

desafio das próximas décadas é aperfeiçoar os detalhes, por meio do trabalho das corporações,

dos governos, das organizações ambientais, dos partidos políticos e dos cidadãos.

Nós acreditamos que o ideal da sustentabilidade é uma preciosa meta, estimulante para os

seres humanos, cansados de uma época esbanjadora e destrutiva.

* Fritjof Capra é físico e teórico de sistemas. Ernest Callenbach é ambientalista.

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SOBRE A CARTA DA TERRA

A missão da Iniciativa da Carta da Terra é promover a transição para formas sustentáveis

de vida e de uma sociedade global fundamentada em um modelo de ética compartilhada, que

inclui o respeito e o cuidado pela comunidade da vida, a integridade ecológica, a democracia e

uma cultura de paz.

O que é a Carta da Terra?

A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção,

no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Busca inspirar todos os

povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada voltado

para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras

gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação.

A Carta da Terra se preocupa com a transição para maneiras sustentáveis de vida e

desenvolvimento humano sustentável. Integridade ecológica é um tema maior. Entretanto, a Carta

da Terra reconhece que os objetivos de proteção ecológica, erradicação da pobreza,

desenvolvimento econômico eqüitativo, respeito aos direitos humanos, democracia e paz são

interdependentes e indivisíveis. Consequentemente oferece um novo marco, inclusivo e

integralmente ético para guiar a transição para um futuro sustentável.

A Carta da Terra é resultado de uma década de diálogo intercultural, em torno de objetivos

comuns e valores compartilhados. O projeto da Carta da Terra começou como uma iniciativa das

Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma iniciativa global da sociedade civil. Em

2000 a Comissão da Carta da Terra, uma entidade internacional independente, concluiu e

divulgou o documento como a carta dos povos.

A redação da Carta da Terra envolveu o mais inclusivo e participativo processo associado

à criação de uma declaração internacional. Esse processo é a fonte básica de sua legitimidade

como um marco de guia ético. A legitimidade do documento foi fortalecida pela adesão de mais

de 4.500 organizações, incluindo vários organismos governamentais e organizações

internacionais.

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À luz desta legitimidade, um crescente número de juristas internacionais reconhece que a

Carta da Terra está adquirindo um status de lei branca (“soft law”). Leis brancas, como a

Declaração Universal dos Direitos Humanos são consideradas como moralmente, mas não

juridicamente obrigatórias para os Governos de Estado, que aceitam subscrevê-las e adotá-las, e

muitas vezes servem de base para o desenvolvimento de uma lei stritu senso (hard law).

Neste momento em que é urgentemente necessário mudar a maneira como pensamos e

vivemos, a Carta da Terra nos desafia a examinar nossos valores e a escolher um melhor

caminho. Alianças internacionais são cada vez mais necessárias, a Carta da Terra nos encoraja a

buscar aspectos em comum em meio à nossa diversidade e adotar uma nova ética global,

partilhada por um número crescente de pessoas por todo o mundo. Num momento onde

educação para o desenvolvimento sustentável tornou-se essencial, a Carta da Terra oferece um

instrumento educacional muito valioso.

O texto da Carta da Terra

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a

humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais

interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança.

Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas

e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino

comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito

pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.

Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa

responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras

gerações.

TERRA, NOSSO LAR

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva como

uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma aventura

exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A

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capacidade de recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da

preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade

de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus

recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade,

diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A SITUAÇÃO GLOBAL

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,

esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo

arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e a

diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos

violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da

população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança

global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

DESAFIOS FUTUROS

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou

arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais

em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as

necessidades básicas forem supridas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a

ser mais e não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a

todos e reduzir nossos impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global

está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos

desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos

podemos forjar soluções inclusivas.

RESPONSABILIDADE UNIVERSAL

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade

universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas

comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no

qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo

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presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O

espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos

com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em

relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para

proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na

esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes, visando a um modo de vida

sustentável como padrão comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos,

organizações, empresas, governos e instituições transnacionais será dirigida e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida

tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial

intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais,

vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.

b. Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder,

vem a

maior responsabilidade de promover o bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis

e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos

humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada pessoa a oportunidade de

realizar seu pleno potencial.

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27

b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a obtenção de

uma condição de vida significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e às futuras

gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas

necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem a

prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra a longo prazo.

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial

atenção à diversidade biológica e aos processos naturais que sustentam a vida.

a. Adotar, em todos os níveis, planos e regulamentações de desenvolvimento

sustentável que façam com que a conservação e a reabilitação ambiental sejam parte

integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. stabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viáveis, incluindo terras

selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra,

manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente

que

causem dano às espécies nativas e ao meio ambiente e impedir a introdução desses

organismos prejudiciais.

e. Administrar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais

e vida marinha de forma que não excedam às taxas de regeneração e que protejam a

saúde dos ecossistemas.

f. Administrar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e

combustíveis fósseis de forma que minimizem o esgotamento e não causem dano

ambiental grave.

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28

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e,

quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

a. Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais sérios ou irreversíveis,

mesmo quando o conhecimento científico for incompleto ou não-conclusivo.

b. Impor o ônus da prova naqueles que afirmarem que a atividade proposta não

causará dano significativo e fazer com que as partes interessadas sejam responsabilizadas

pelo dano ambiental.

c. Assegurar que as tomadas de decisão considerem as conseqüências

cumulativas, a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais das atividades humanas.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o

aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as

capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e

consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com moderação e eficiência no uso de energia e contar cada vez mais

com fontes energéticas renováveis, como a energia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de

tecnologias

ambientais seguras.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço

de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam às mais altas

normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde

reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência

material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o intercâmbio aberto

e aplicação ampla do conhecimento adquirido.

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a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à

sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria

espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar

humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a

proteção ambiental, incluindo informação genética, permaneçam disponíveis ao domínio

público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos

não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, alocando os recursos nacionais e

internacionais demandados.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma

condição de vida sustentável e proporcionar seguro social e segurança coletiva aos que

não são capazes de se manter por conta própria.

c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem

e habilitá-los a desenvolverem suas capacidades e alcançarem suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis

promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das

nações em desenvolvimento e liberá-las de dívidas internacionais onerosas.

c. Assegurar que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos

sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras

internacionais

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30

atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas

conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade dos gêneros como pré-requisitos para o

desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de

saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com

toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida

econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de

decisão, líderes e beneficiárias.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e o carinho de todos os

membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente

natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar

espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como as baseadas em

raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos,

terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas com condições de vida

sustentáveis.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir

seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV. DEMOCRACIA, NÃO-VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover

transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na

tomada de decisões e acesso à justiça.

Page 31: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

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a. Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e

oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades

que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse.

b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação

significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião pacífica,

de associação e de oposição.

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos

e independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela

ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios

ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde

possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os

conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

a. Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas

que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências,

na educação para sustentabilidade.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no aumento da

conscientização sobre os desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição

de vida sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-

los de sofrimento.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que

causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

Page 32: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

32

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies

não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.

a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação

entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a

colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver conflitos ambientais e

outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até o nível de uma postura

defensiva não-provocativa e converter os recursos militares para propósitos pacíficos,

incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição

em massa.

e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajude a proteção ambiental

e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo

mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade

maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo.

Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa,

temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de

interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com

imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, nacional, regional e global.

Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas

próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global

que gerou a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em

andamento por verdade e sabedoria.

Page 33: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

33

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar

escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade

com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas

de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a

desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de

comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos

chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas

é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar

seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos

internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um

instrumento internacionalmente legalizado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo

compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e

pela paz e a alegre celebração da vida.

Page 34: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

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LIDERANÇA, ÉTICA E DEMOCRACIA

A liderança pode ser considerada um papel social que deve ser desempenhado tendo

como suporte alguns princípios básicos. A liderança que procura seguir estes princípios

desencadeia o potencial humano individual de integrante (Covery, 2001, p.11). Do líder

dependem muitas pessoas, que depositam nele suas esperanças para melhorar suas condições

de trabalho e realizar seus objetivos individuais. Kernerg (2000, p.125) define como atributo do

líder a tarefa de proteção dos seus subordinados quanto às más condições de trabalho, às

arbitrariedades na atribuição de tarefas e aos riscos ligados aos trabalhos, independentemente se

estas situações causem impactos negativos na eficiência do trabalho. Assim, a qualidade de

trabalho e, em parte, a qualidade de vida, são atribuições do líder.

Contudo, esta não é a prática da maioria das organizações. Faria (2000a, p.5-8), em uma

pesquisa realizada com gestores, verificou que a prática nem sempre corresponde ao um

discurso. Apesar de 74,1% dos pesquisados afirmarem que as pessoas que costumam cometer

injustiças não possuem condições de exercer postos de liderança, para a maioria dos

entrevistados “são os valores que a organização considera como importantes que condicionarão

a atitude ética de seus membros em última instância. Produtividade, racionalidade e estratégia

competitiva são os determinantes deste „código moral‟ que guia a ética nas organizações

globalizadas”. As organizações é que ditam o que devem ser consideradas atitudes éticas a

serem seguidas pelos líderes.

Esta disparidade de interesses, em que normalmente prevalecem os das organizações,

acaba por causar prejuízos para a maioria dos indivíduos, mas esta não é realmente a

preocupação dos gestores. As condições de trabalho, as arbitrariedades das tarefas e os riscos

no trabalho são constantemente subordinados à lógica do cálculo de eficiência material, em que

os interesses das organizações prevalecem sobre a qualidade de trabalho dos indivíduos. A

qualidade somente é levada em conta se os defeitos ou sua ausência diminuírem a produtividade

do trabalho e não se causarem danos às pessoas. Portanto, nas organizações existem dois

conceitos de qualidade: a qualidade instrumental, que segue padrões, é avaliada e certificada, e a

qualidade psicossociológica, que somente é levada em conta se seus efeitos interferirem

negativamente na qualidade instrumental. A pessoa e considerada por sua contribuição ou

colaboração aos objetivos da organização e não por seus desejos ou sentimentos. Nesse sentido,

Page 35: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

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convém não se iludir: mudar a denominação de administração de recursos humanos para o de

gestão de pessoas, pode ser apenas uma alteração de verniz.

É importante ressaltar que a responsabilidade por esta situação não é somente dos

indivíduos que ocupam os postos de comando. A própria estrutura econômica

capitalista21 favorece aos indivíduos que ocupam cargos de comando que não estejam atentos às

questões que provocam a precarização do trabalho e diminuem a qualidade de vida ou que a

desconsiderem, seja porque entendem ser esta uma situação natural e própria da realidade do

trabalho, seja porque negam as evidências para poder conviver com a culpa de reproduzir ou de

favorecer a reprodução das situações de sofrimento, seja porque não pretendem arriscar perder o

lugar que ocupam na organização. Em síntese, há um conjunto de fatores que imprime atitudes

defensivas ou alienadas.

O líder precisa estar atento a todas estas condições que o modelo sócio-econômico

impõem e às normas daí decorrentes, sempre observando que sua obediência depende da

maneira como ele mesmo a encara. O líder deve ser capaz de se posicionar como aquele que

receberá a norma, isto porque “quando o respeito da norma tiver se expandido com respeito a

outrem e ao si mesmo como um outro” (Ricoeur, 1999, p.211) ela passará a ser coerente com o

interesse de todos.

Princípios são temas que estão relacionados como atributos que o líder deve preservar,

independentemente dos interesses em jogo. O respeito ao outro e aos seus objetivos devem ser

preservados e o líder deve ser o integrador e mediador de todos esses interesses sem esquecer

que sua prática pressupõe uma atitude voltada para uma ética coletiva - sem que os interesses

econômicos prevaleçam sobre os interesses humanos -, voltada para a prática democrática do

diálogo e respeito à opinião de todos. Desta forma, é fundamental distinguir o líder do chefe, do

administrador, do gestor, do coordenador, ainda que o mesmo possa vir a exercer tais funções,

pois um líder pode vir a ser um gestor, mas um gestor, por si só, não é necessariamente um líder.

Finalmente, é preciso destacar que se a liderança pretende responder às condições de

emancipação, de autonomia e de construção de uma história, a mesma não pode estar separada

da ética e da democracia, pois “a questão ética tornou-se inseparável da democrática, na medida

em que a democracia afirma os princípios da igualdade, da justiça, da liberdade e da felicidade

como direitos universais, criados pelos agentes sociais, assim como o princípio do direito às

diferenças, universalmente reconhecidas como legítimas por todos” (Chauí, 1994).

FONTE:

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37

Em 10/05/2012

FORMAR LÍDERES ÉTICOS E SUSTENTÁVEIS

Como andar de bicicleta, liderança é algo que você só aprende se tiver oportunidade de

praticar – e todos podem praticar, pois está sempre ao nosso alcance na família, no grupo de

amigos, ou mesmo na faculdade ou na atividade profissional. Mas ao contrário de andar de

bicicleta, sobre liderança há grande variedade de livros, cursos, treinamentos e outros recursos

que permitem aprimorar o perfil dos líderes, ou melhor preparar os líderes em potencial.

E a liderança não tem época para nascer. Ainda mais agora que existem múltiplas

possibilidades de participação comunitária nos diversos mecanismos de controle social

estabelecidos pós-constituição de 1988.

Talvez você deve estar pensando “será que posso ser um líder?”.

Existem indivíduos que despontam naturalmente para exercer esse papel e certamente o

farão se o ambiente favorecer. Mas mesmo eles precisam de orientação para empregar essa

habilidade e toda a energia em nome do bem coletivo. Trata-se de um exercício associado à

consciência de responsabilidade social. Onde a gestão é democrática e participativa, há a

oportunidade de desenvolver essa característica em diversos agentes. Somente governos e

organizações autoritários e centralizadores não permitem isso.

Geralmente, é uma pessoa empreendedora, que se empenha em manter o entusiasmo da

equipe e tem autocontrole e determinação, sem deixar de ser flexível.

Os dirigentes que desenvolveram as competências de liderança nunca se deixam paralisar

diante dos desafios. Os que não as têm, contudo, se sentem imobilizados diante de pessoas que

resistem às mudanças, sobretudo aquelas que manifestam de forma mais veemente seu

incômodo com situações que causam desconforto. Em vez de colocar energia em atividades

burocráticas e administrativas, fazendo fracassar os propósitos de criação de uma comunidade de

aprendizagem, cabe aos gestores – e a todos os agentes sociais, na verdade – promover o

entendimento de que as adversidades são inerentes ao processo de gestão participativa. O

enfrentamento delas implica o desenvolvimento da compreensão sobre si mesmo, sobre os

outros e sobre o modo como o desempenho individual e coletivo afeta as ações da organização.

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A proposta do Programa Cidade Educadora é formar novos líderes éticos e sustentáveis.

Foi essa a linha do primeiro curso, em 2008. O líder sustentável deve estar conectado com as

mudanças, ter sensibilidade contextual, saber interpretar os sinais do realidade, e antecipar-se a

ele, identificando oportunidades e criando suas estratégias de atuação. Para isso, precisa passar

credibilidade, despertar a confiança, ter senso de justiça e ética, comunicar com transparência,

formar parcerias e redes de valor e, principalmente, estabelecer coerência entre suas estratégias

e ações. O líder sustentável cria valor no presente, sem destruir os recursos do futuro.

O principal atributo do líder é ouvir e dialogar. O segundo é a transparência em relação aos

projetos que coordena, às pessoas e aos públicos com os quais tem que se relacionar. Deve ser

uma pessoa coerente que coloque o respeito á vida em primeiro lugar. O líder inspirador é

aquele que baseia suas entregas em atributos que não são exclusivamente consequência da

ação que está fazendo.

Desenvolver líderes sustentáveis requer muito mais do que treinar habilidades. Envolve

desenvolver valores e atitudes, novos modelos mentais.

Durante o curso, o Programa Cidade Educadora irá colocar a ética como questão central

– São muitas as barreiras para a adoção de um foco mais ético nas organizações, enfim, na vida

cotidiana. Os líderes atuais decidem pela coletividade, fazem “acordos” inspirados pro interesses

pessoais. Nas conferências estaduais e nacionais das cidades vemos como os líderes passam

por cima dos interesses das bases. E isso que precisamos mudar com a formação de novos

líderes éticos e sustentáveis.

Formar novos líderes com a pedagogia da sustentabilidade, que seus princípios éticos

estejam presentes em todas as práticas.

Frank barroso - Coordenador do Movimento Cidade Futura

Page 39: apostila modulo 4 -curso de liderança 2013

39

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