apontamentos de direitos reais toda a materia

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    DIREITOS REAIS

    1. ACEPES SUBJECTIVA E OBJECTIVA DA EXPRESSO DIREITOS REAIS

    Direitos reais uma expresso utilizada juridicamente em mais de umaacepo.

    Num sentido subjec t ivo identifica uma categoria de direitos subjectivos.Num sentido objectivo identifica um ramo do direito (objectivo), comodiviso do Direito Civil. Nesta acepo, direitos reais sinnimo deDireito das Coisas.

    O Direito das Coisas identifica um ramo de direito que estabelece o

    regime de direitos que se referem a coisas.A favor da expresso, direitos reais em sentido objectivo, sempre sepoderia invocar o facto derivado da sua raiz, tendo presente que, naorigem da palavra reais est o vocbulo latino res, que significacoisa.

    Porm, contesta-se a utilizao desta terminologia, quando aplicada auma diviso do direito objectivo, uma vez que a sua utilizao seafastaria da nomenclatura corrente da chamada classificaogermnica do Direito Civil. No entanto, este no ser um argumento

    decisivo para excluir que as expresses direitos reais ou direito dascoisas, no sejam sinnimas.

    Assim, qualquer das expresses no ser isenta de reparos e verifica-seser corrente na doutrina portuguesa antiga e moderna o uso dela nosdois sentidos.

    Como refere o Professor Oliveira Ascenso nenhuma dasexpresses,direitos reais ou direito das coisas, rigorosa, tendo ambas umsentido meramente convencional, sedimentado pelo uso corrente.

    Sem nos afastarmos da prtica tradicional, devemos reservar aexpresso direitos das coisas para identificar o ramo de direito quese ocupa dos direitos reais subjectivos.

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    2. CATEGORIAS DE DIREITOS REAIS

    O Direito Civil direito privado e o Direito das Coisas faz partedo direito privado comum ou geral.

    Numa primeira anlise ao Livro III do Cdigo Civil, face aos restanteslivros da parte especial do C.C., detectamos a ausncia de uma partegeral relativa a esta categoria de direitos (nem o Cdigo fornecequalquer noo desta categoria de direitos subjectivos).

    J o mesmo no se verifica relativamente aos restantes trs livrosrelativos s demais modalidades de relaes jurdicas civis. Assim, noque respeita a este ramo do direito, estamos perante uma dificuldadeacrescida na elaborao doutrinal de uma Teoria Geral dos DireitosReais.

    Numa anlise mais aprofundada e, deixando de lado a matria daposse, pela sua natureza jurdica ser controvertida e, o direito depropriedade, como direito real por excelncia, facilmente se apurahaver de comum entre as demais figuras reais a compreendidas, aatribuio ao respectivo titular de poderes de uso1 ou de fruio sobreuma coisa.

    No Livro III do C.C., encontramos a chamada categoria de d ireitos reaisde gozo . Mas, os direitos reais no se esgotam nesta categoria. Oart.

    1539. faz mesmo contraposio entre direitos reais de gozo edegarantia, sendo esta categoria pacificamente admitida peladoutrina.

    Nos direitos reais de garantia mantm-se (como no Cdigo de Seabrade 1867) a sistematizao, que se justifica pela ligao especial com osdireitos de crdito. Assim, encontramos esta matria regulada noLivro II do C.C. dedicado ao Direito das Obrigaes (Cfr. aa. 656. a761.).

    Mas, para alm destas duas categorias ou modalidades dedireitos reais, tambm no C.C. (para no falar de legislao avulsa) hfiguras caracterizadas por terem eficcia real e, atriburem aorespectivo titular o poder potestativo de, mediante o seu exerccio,adquirirem certo direito sobre determinada coisa. Estamo-nos a referiraos dir eitos reais de aquisio.Os direitos reais de aquisio tmum tratamento disperso, em funo do seu campo de aplicao, emvrias partes do C.C.

    A sua fonte pode ser legal ou convencional. caso do contratopromessa com eficcia real e do pacto de preferncia, tambm comeficcia real (cfr. aa. 413. e 421.), e ainda, mltiplos direitos depreferncia legal que tm eficcia real (cfr. aa. 1409. e1535.).

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    Os direitos reais de aquisio constituem a categoria menos bemdefinida de direitos reais.

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    Face a esta multiplicidade de figuras reais e, face disperso do seutratamento jurdico, coloca-se a questo de se saber se faz sentido falarde uma categoria unitria, Direito Real. A resposta afirmativa,uma vez que, para alm das diferenas existentes, h algo de comumentre estas vrias categorias de direitos reais. T odos incidem s o bre

    coisa s , envolvendo uma particular afectao das suas utilidades realizao de interesses de pessoas determinadas. Por outro lado, todosos direitos reais se apresentam dotados de uma eficcia particular emrelao a terceiros, habitualmente identificada pela eficcia real.

    3. DIREITO DAS COISAS COMO RAMO DE DIREITO PRIVADO

    O Direito das Coisas o conjunto de normas jurdicas que rege aatribuio das coisas com eficcia real.

    No existindo dvidas de que este ramo de direito direito privado,

    no nos podemos esquecer das projeces desta matria jurdica nodireito pblico.

    Recordemos que, no regime dos direitos reais, se verifica ainterferncia de institutos prprios do direito pblico, como acontececom as expropriaes e a requisio. O prprio legislador civil sentiu anecessidade de lhes fazer referncia especfica (cfr. aa. 1308. e1310.). Tambm no podemos esquecer das limitaes ao contedodos direitos reais decorrentes de razes de interesse pblico (ex: ocaso da requisio de origem militar que permite a utilizao

    temporria de bens ou servios, ou produz uma forma de extino dedireitos sobre mveis, sempre mediante indemnizao).

    O direito das coisas tem marcada natureza patrimonial e constituemmesmo, ao lado dos direitos de crdito, uma das mais importantescategorias de direitos patrimoniais.

    4. ASSENTO LEGAL DE MATRIA. FONTES DO DIREITO DAS COISAS

    O Cdigo Civil, e nele, o seu Livro III, constituem a sede fundamentaldo regime dos direitos reais. Porm, nem o C.C. nem o Livro III,

    constituem as nicas fontes do direito das coisas, nem contm todo oregime dos direitos reais.

    Em primeiro lugar, de mencionar a Constituio da RepblicaPortuguesa enquanto base de todo o sistema jurdico e que contm amxima proteco propriedade privada, encontrando-se vigentesnormas que respeitam matria dos direitos reais, como o caso don.2 do art.100., preceito que determina a abolio da enfiteuse e dacolnia.

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    A enfiteuse, era o contrato pelo qual o senhorio de um prdio concediaa outro o domnio til dele, com reserva do domnio directo. Era odesmembramento do prdio rstico ou urbano em dois domnios,designados directo e til. Ao titular do primeiro, d-se o nome desenhorio; ao titular do segundo, d-se o nome de foreiro ou

    enfiteuta (cfr. art. 1491.). Enfiteuta ou foreiro , aquele que tem odomnio til de um prdio, pagando foro ao senhorio directo. Aenfiteuse foi abolida em 1976 pelo DL 195-A e 233/76.

    Em 1981 foi introduzido no sistema jurdico portugus um novo tipo dedireito real: direito de habitao p eridic a , que actualmente seencontra regulado pelo DL 275/ de 5 de Agosto e alterado peloDL180/99 de 22 de Maio.

    Refira-se ainda, para alm da Constituio e do Cdigo Civil, as leis

    especiais como o Cdigo de Registo Predial, o Cdigo de PropriedadeIndustrial, etc., tambm so fontes do Direito das Coisas.

    Como j se referiu, o Cdigo Civil no esgota actualmente, ficandolonge disso, a regulamentao das relaes jurdicas reais.

    Por exemplo, em matria de direito de propriedade o C.C. apenas seocupa do que tem por objecto coisas corpreas(cfr. a. 1302.).

    O regime dos direitos que recaem sobre coisas incorpreas, que o C.C.

    identifica sob a designao comum de propriedade intelectual(Direitos de Autor/ Propriedade Industrial), encontra-se regulado emimportantes diplomas avulsos como o Cdigo dos Direitos de Autor edos Direitos Conexos (DL 63/85 de 14/3 j vrias vezes alterado e,Cdigo Propriedade Industrial ( DL 16/95 de 24 de Janeiro ) 2.

    Para alm dos aspectos j referidos, h a salientar vrios diplomascomplementares ao C.C. que integram o regime de vrias divisesdeste ramo de direito.

    No que diz respeito ao Direito das Coisas, o diploma mais importante

    de todos sem dvida, o Cdigo de Registo Predial, aprovadopelo DL224/84 de 6 de Julho, tendo sofrido sucessivas e mltiplas alteraes.

    O Registo Predial refere-se aos factos relativos aos direitos reais queincidem sobre coisas imveis, em particular sobre os prdios rsticos eurbanos. No que diz respeito s coisas mveis sujeitas a registo,o regime do seu registo encontra-se, disperso em diversos diplomasque, regem para cada uma das modalidades de coisas que integramesta categoria. Com o fim de ultrapassar esta situao foi publicado oCdigo do Registo de Bens Mveis, aprovado pelo DL 277/95 de 25 deOutubro. Porm a sua entrada em vigor est dependente (comoresulta do diploma preambular), da publicao de normas

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    complementares, que ainda no foi feito.

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    Para alm do Cdigo de Registo Predial e, como diplomacomplementar, refira-se o Cdigo de Notariado (aprovado pelo DL207/95, de 14 de Agosto, e tambm, objecto de vrias alteraes), quetem um papel importante no regime dos direitos reais, uma vez que frequente nos negcios relativos a estes direitos, o cumprimento de

    formalidades solenes, em que se exige a interveno notarial.

    5. CONFRONTO ENTRE OS DIREITOS REAIS E OS DIREITOS DECRDITO

    importante, desde j, demarcar os direitos reais da categoria dosdireitos subjectivos creditrios, com que mantm relevantes relaes.

    Desde logo, os direitos reais so direitos sobre uma coisa, enquantoque os direitos de crdito traduzem-se no direito prestao a efectuarpelo devedor, a qual pode consistir num dare, facere e non facere.

    Caracterstica dos direitos reais a sua eficcia absoluta (cfr.Art..413., 421., 1305.), ou seja, os direit o s reais so oponve is a todaequalquer pessoa que, possa interferir ou entrar em relao com acoisa. O mesmo no se verifica nos direitos de crdito, quehabitualmente so integrados na categoria de direitos relativos, porcontraposio queles.

    Os direitos reais so absolutos e de excluso, na medida em que, orespectivo titular pode op-los s restantes pessoas, impedindo-as deinterferir na coisa sobre que versam. Corresponde-lhes a chamadaobrigao passiva universa l , que se traduz no dever que recai sobre asrestantes pessoas de no perturbarem o exerccio dos titulares dosdireitos absolutos.

    Ao invs, os direitos de crdito so relat i vo s , produzindo efeitos apenasinter partes (cfr. a. 406. n.2).

    Como corolrio da eficcia absoluta, tem o titular do direito real,

    o direito de sequela, ou seja, o direito de perseguir a coisa onde querque ela se encontre e fazer valer o seu direito, reivindicando-a.

    Porm, existem excepes a este princpio, desde logo, decorrentes doregisto e dos art. 243. e 291..

    Ainda como consequncia da eficcia absoluta dos direitos reais, refira-se o direito de prevalncia ou preferncia:

    do primeiro adquirente de um direito real (quando se adquiremediante contrato cfr. a. 408. n.1). Exemplo: A, vende a sua casaa B e, algum tempo depois, vende a C. De quem a propriedade?

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    De acordo com este princpio a propriedade de B, uma vez que foi eleque adquiriu em primeiro lugar o direito real de gozo, mediantecontrato (cfr. a. 408. n.1).

    do credor com garantia real, tendo este direito a ser pago

    com preferncia, no s sobre os credores comuns (a. 604. n.2),como ainda, sobre qualquer outro credor que, sobre a mesma coisatenha obtido, em momento posterior, um novo direito real degarantia, p. ex., a hipoteca.

    Exemplo: A para adquirir casa celebra um contrato de emprstimocom o Banco X constituindo-se uma hipoteca sobre a mesma. SeA. pretender contrair outro emprstimo noutro Banco Y, este poderconstituir outra hipoteca para garantia de pagamento desta outradvida de A. Caso A no cumpra o pagamento das dvidas,qualquer dos Bancos pode exigir o pagamento das mesmas, custa da

    venda da casa hipotecada. Porm, o Banco X tem prevalncia paraser pago em primeiro lugar, dado o seu direito real de garantia seranterior, independentemente de o dinheiro chegar ou no para pagarao Banco Y.

    Conclui-se que o direito real, quer de gozo quer de garantia, queprimeiro se tenha constitudo prevalece sobre o posterior, que sejaincompatvel.

    O princpio em anlise admite excepes que a seguir se indicam: se

    a lei fizer depender de registo a eficcia do direito real em relao aterceiro, o direito que prevalece o primeiramente registado e no oprimeiramente constitudo. Est ideia no se aplicaria ao caso dahipoteca, uma vez que, juridicamente esta s existe depois deregistada, pois neste caso, o registo tem eficcia constitutiva entre asprprias partes e, ao mesmo tempo, eficcia em relao a terceiros.

    Mas apontemos mais traos distintivos entre os direitos reais eos direitos de crdito: os direitos reais como direitos absolutos que so,podem ser ofendidos por qualquer pessoa. J quanto aos direitos decrditos, os mesmos s podem ser ofendidos pelo devedor ou

    devedores.

    Os direitos reais de gozo podem constituir-se por usucapio e,habitualmente, constituem relaes duradouras ou, at de carcterperptuo. Os direitos de crdito constituem relaes transitrias ou, decurta durao. Em princpio, a obrigao nasce para se extinguir nomais curto espao de tempo.

    As obrigaes extinguem-se com o seu exerccio, diferentemente, o usono pe termo aos direitos reais, antes os vivificam.

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    1. NOO DE DIREITO REAL

    1.1. Teoria clssica e Teoria moderna ou personalista

    O debate sobre a noo de direito real uma questo dogmtica que

    ocupa a doutrina h longo perodo de tempo. Assim, iremos estudar asorientaes mais importantes, nomeadamente as assumidas peladoutrina portuguesa quanto noo de Direito Real.

    Segundo uma concepo que se pode designar por clssic a , odireito real entendido como um poder dire c to e imediato sobre umacoisa (certa e determinada).

    Esta teoria ou concepo desprezava o conceito de relao jurdica talcomo hoje a caracterizamos com todos os seus elementos (sujeito,objecto facto e garantia). Ao dizer-se p o der directo est implcita a ideiade domnio ou de senhorio sobre certa coisa.

    J poder imediato significa a faculdade, atribuda ao titular do direito,de aproveitar das utilidades da coisa sem ser necessria a colaboraode outros, como se verifica nos direitos de crdito, em que ao credorassiste o direito de exigir do devedor a realizao da prestao (cfr.a.397.).

    Esta concepo reala a posio da coisa como objecto do direito,

    deixando transparecer, a ideia da existncia de relao entre o titulardo direito e a coisa. Refira-se porm que, os direitos reais, como no querespeita a todos os direitos subjectivos, envolvem uma relao entrepessoas e no com coisas ou com uma coisa certa e determinada.

    concepo clssica contrape-se outra, dita moderna ou personalist a ,que constri a noo de direitos reais, partindo da ideia de relaojurdica. Esta teoria tambm designada por obrigacionista e define odireito real como o poder que tem o seu titular de excluir todas aspessoas de qualquer ingerncia na coisa, incompatvel com o seudireito.

    De acordo com esta teoria, existe um vnculo pessoal entre o titular dodireito real e todas as pessoas (sujeito passivo) que tm a obrigaode se abster de violar ou perturbar o titular do direito (obrigaonegativa). Recordemos, que nos direitos de crdito, o dever de prestarrecai sobre um sujeito certo e determinado ou determinveis.

    Os crticos de ambas as doutrinas consideram que nenhuma destasteorias est errada e que as mesmas no so entre si incompatveis,porm ambas so insuficientes. Por este motivo, as vrias doutrinaseclcticas procuram construir uma teoria do direito real que concilie adoutrina clssica com a personalista. Embora existam autores aentenderem que as duas concepes se completam, e a aceitarem

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    existncia de uma teoria mista, que concebe o direito real como opoder directo e imediato sobre uma coisa certa e determinada comeficcia erga omnes, isto , oponvel a toda e qualquer pessoaque possa interferir com a coisa. Iremos referir sucintamente, aposio das doutrinas eclcticas para melhor compreenso desta

    matria.

    1.2. Doutrinas Eclcticas

    Escola de Lisboa (Prof. Oliveira Ascenso e MenezesCordeiro):

    O direito real um direito absoluto inerente a uma coisa efuncionalmente dirigida afectao dessa coisa aos fins do sujeito.

    Escola de Coimbra (Prof. Mota Pinto):

    No direito real existe um lado interno e um lado externo. O ladoexterno a obrigao intersubjectiva o poder de exigir dos outros aobrigao passiva universal. No direito real a intersubjectividade estabelecida entre o titular do direito e todos os outros, enquantoque, nas obrigaes, ela se estabelece apenas entre o credor e odevedor. O lado interno constitudo pelos poderes que o titularest legitimado a exercer sobre a coisa, objecto do direito.

    2. PRINCPIOS CARACTERSTICOS DOS DIREITOS REAIS

    2.1. Princpio da actualidade e Princpio daindividualizao

    determinao ou

    2.2. Princpio da totalidade

    2.3. Princpio da permanncia

    2.4. Princpio da compatibilidade

    2.5. Princpio da elasticidade

    2.6. Princpio da tipicidade e numerus clausus

    2.7. Princpio da consensualidade ou consentimento

    2.8. Princpio da inerncia do direito real

    2.9. Princpio da publicidade

    2.1. Princpio da actualidade e Princpio da

    individualizao

    determinao ou

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    O objecto do direito real tem que ser uma coisa certa e determinada, ecomo tal, existente, ou seja, tem de existir, ser certo e determinado nomomento da constituio ou da aquisio do direito.

    Por contraposio, nos direitos de crdito a prestao pode respeitar a

    coisas genricas, ou seja, individualizadas apenas pelo seu tipoou gnero e quantidade, s se tornando necessrio a sua determinaono momento do cumprimento.

    Em suma, para se poder exercer um poder directo e imediato sobreuma coisa, esta tem de existir materialmente, no sendo suficienteque a coisa seja eventual ou futura, ao contrrio do que acontece nosdireitos de credito (cfr. a. 408. n.2).

    A existncia deste princpio tem como consequncia no se poderexercer um poder directo e imediato sobre uma coisa que ainda no

    existe e consequentemente, se a coisa sobre a qual incide umdireito real se destruir ou perecer, extinguem-se de imediato os direitosreais a ela inerentes (cfr. a. 1476., n. 1 al. d), entre outros).

    Os direitos reais e os negcios com eficcia real tm de incidirsobre uma coisa certa e determinada (individualizada). Exemplo: A queradquirir uma casa x na Rua y em Lisboa descrita sob o n. tal. Desteprincpio se conclui e, como anteriormente j foi referido, que nopodem ser constitudos direitos reais sobre coisas genricas, aocontrrio do que sucede nos direitos de crdito (cfr. a. 539.). Este

    princpio resulta do a. 408. n.2, que estabelece que at determinao da coisa, os contratos tm eficcia meramenteobrigacional e no real.

    2.2. Princpio da Totalidade

    Duvidosa esta caracterstica, segundo a qual, o direito real afecta atotalidade da coisa que tem por objecto.

    Os autores que defendem a existncia deste princpio, consideramque os direitos reais, como exclusivos que so, ho-de incidir sobre a

    totalidade do objecto.

    Porm, o direito do condmino, refere-se na propriedade horizontal, sua fraco e, no necessariamente, a todas as partes comunsdo edifcio (cfr. a. 1421., n.3) sem, que isto ponha em causa, ocarcter real do direito.

    Estamos assim, perante uma caracterstica tendencial e, no essencial,dos direitos reais, a qual explica que, em regra, eles se estendem scoisas que no seu objecto se incorporem ou, a ela sejam unidas.

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    Por outro lado, refira-se que, nada impede a constituio dedireitos reais sob partes de uma coisa. Por exemplo: hipoteca (cfr. a.688.), propriedade horizontal (cfr. a. 1414.), direito de superfcie(cfr. a.1524.) e direito de uso e habitao (cfr. a.

    1489.).

    2.3. Princpio da Permanncia

    Esta caracterstica no pode ser entendida de forma absoluta. A ideiade perpetuidade dos direitos incorrecta, uma vez que h direitosreais que, por natureza, so temporrios como o caso do usufruto edo uso e habitao (cfr. a. 1439. a 1490.).

    Se com este princpio se visou significar que, os direitos reais no seextinguem pelo seu exerccio, sempre se dir que, esta nota no

    especfica destes direitos, uma vez que, pode tambm verificar-se nasobrigaes de non facere. Acresce que, h direitos reais que seextinguem pelo seu exerccio , sendo esta, a regra dos direit os reais degarantia e de aquisi o .

    2.4. Princpio da Compatibilidade

    Significa este princpio que, os direitos reais devem sercompatveis entre si e que, portanto, no se excluam uns aos outros.Resulta do que ficou dito que, no possvel existirem dois direitos

    de propriedade sobre a mesma coisa ou, dois direitos de uso, uma vezque so direitos que conferem exactamente as mesmas faculdades apessoas diferentes (tm o mesmo contedo) sendo por issoincompatveis.

    Porm, j possvel, existirem dois direitos de contedo diferente,como o caso de um direito de propriedade e um direito de usufruto,ou um direito real de gozo a propriedade e, um direito real degarantia a hipoteca.

    2.5. Princpio de Elasticidade

    De acordo com este princpio, o direito real tem a caracterstica de serelstico, isto , tem a capacidade de comprimir-se ou distender-seconsoante exista sobre ele um outro direito real, cuja existnciadetermina que os poderes incompatveis com este segundo direito realfiquem inactivos.

    O direito de propriedade o direito real por excelncia, o direito realpleno. E os vrios direitos reais foram como que recortados do direitode propriedade. Ora, quando sobre a mesma coisa que propriedadede algum, constitudo a favor de outrm, um direito real menor,aquele fica esvaziado de parte do seu contedo, limitando o direito depropriedade.

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    O direito real menor aquele que tem um contedo diferente do direitode propriedade, mas com ele compatvel. o caso, de ser constitudoa favor de algum, um direito de usufruto sobre uma coisa, tendo este,o poder de usar e fruir, sendo que estes poderes foram retiradosao, agora, nu proprietrio. Mas, mal se extinga o direito real menor que

    constitui factor de compresso, o contedo do direito de propriedaderetoma a sua forma inicial.

    2.6. Princpio da Tipicidade ou numerus clausus

    Um dos instrumentos de que o direito se socorre na regulamentao davida econmica-social o da fixao de certas categorias jurdicas, queele prprio delimita, de modo directo ou indirecto. Por exemplo, acompra e venda, o testamento, o direito de propriedade, etc.

    No direito das obrigaes a fixao das categorias jurdicas no assume

    carcter taxativo ou exclusivo, por isso, podem os particulares criaroutras que melhor entendam assegurar os seus interesses (cfr.a.405.).

    Existem outras reas ou ramos em que a regulamentao jurdica decertas matrias se faz mediante o recurso a categorias exclusivas.Quando assim acontece, apenas as realidades que neles se enquadramso juridicamente atendveis.

    No sistema jurdico portugus, encontramos este modelo no direitocriminal, quanto aos factos que so considerados crimes, e nodireito das coisas, quanto s situaes reais.

    Significa isto, que o direito s aplica o regime das situaes jurdicasreais s que se enquadram em alguma categoria que ele caracteriza.

    De acordo com o princpio da tipicidade, s so admissveis os direitosexpressamente previstos na lei e, pela forma nela regulada, ou seja,quanto ao contedo do direito real legalmente previsto, no podem aspartes fixar-lhe outro contedo, no tm como nas obrigaes,

    liberdade negocial. Exemplo: o direito de propriedade confere o poderde usar, fruir e dispor. Caso A, venda a B uma casa, no pode estipular,ainda que de comum acordo, que o poder de fruir no transmitido com o direito de propriedade. Mas, caso exista umaclusula nesse sentido, a mesma teria eficcia meramenteobrigacional, por fora do a.1306., isto , B ficaria vinculado perante A, a cumprir a obrigao aque se vinculou de non facere. Porm, caso B no cumpraessapromessa por ter arrendado a C, A teria incumprido uma obrigaoe, em consequncia, poderia ficar obrigado a indemnizar B, peloincumprimento.

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    Em concluso, as partes tm de limitar-se aos direitos reaisidentificados na lei e tal qual ela os define, no alterando nem o nomenem o contedo (cfr. a. 1305.).

    Refira-se ainda que, tipicidade significa que os direitos reais tm por

    fonte exclusiva a lei, no vigorando o disposto no a. 405..

    Por numerus clausus entenda-se, que o nmero de tipos de direitosreais, so s aqueles que se encontram definidos na lei. O numerusclausus , pois, uma consequncia do princpio da tipicidade.

    2.7. Princpio do Consensualismo ou Consentimento

    Este princpio encontra-se ligado fundamentalmente transmissoconvencional dos direitos reais. Estabelecido no direito francs,esta tese foi acolhida pelo nosso Cdigo Civil no a. 408., disposio

    que se aplica exclusivamente aquisio der i vad a , seja ela con s titutivaou translativa. Decorre do a. 408. n. 1 que, para se constituirou transferir um direito real, basta o acordo entre as partes consagrando-se o chamado sistema do ttulo (justa causa).

    Assim, se atravs do contrato de compra e venda ou de doao setransmite a propriedade (de forma imediata e instantnea), aquelecontrato o ttulo de aquisio do direito real, ou seja, a razo oufundamento jurdico da aquisio, sendo suficiente esse ttulo paraproduzir o efeito real.

    Os contratos acima referidos, no constituem os nicos ttulos (justacausa) possveis. A constituio de usufruto ou o direito de uso tambmso exemplos. Daqui resulta, que no necessrio qualquer acto deentrega ou outra formalidade (como por ex: o registo), para se adquiriro direito real.

    Este princpio est intimamente ligado com o princpio de c ausalidad e ,uma vez que, se verdade que suficiente a existncia do ttulopara que o direito real se transmita ou, se constitua, tambm verdade que o ttulo tem que serjust o , isto , a causa de aquisio tem

    de ser vlida. Por isso, se o contrato nulo ou anulvel, verifica-se ano produo do efeito real ( cfr. aa. 875., 220., entre outros). Se ocontrato nulo, no se transmitiu a propriedade do transmitente para oadquirente.

    2.8. Princpio da inerncia do direito real

    Para o Prof. Penha Gonalves, o que de mais caracterstico existe nodireito real, a inerncia entre o direito e o seu object o .

    Como conceito, esta inerncia tem consagrao legal na alnea d)do n.1 do a. 204.. Exemplo : A e B possuem dois prdios contguos,sendo o prdio de A, um prdio encravado e, necessitando este de

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    atravessar o

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    prdio de B para atingir a estrada que a passa. Para obter talpassagemA, pode fazer uma de duascoisas:

    celebra com B, um contrato de passagem pelo qual este lhe concedeo direito de atravessar o seu prdio. A, fica assim, com um direitocontratual de pass a ge m . Imaginemos agora, que B vende o seu prdioa C. Neste caso, C no fica obrigado perante A, a cumprir o contrato depassagem que este havia celebrado com B, o que significa que A perdeo seu direito contratual de passagem.

    ou constitui um direito real de pas s agem a chamada servido depassagem, adquirindo o direito de passagem. Neste caso, se B vender oseu prdio a C, o direito de passagem de A manter-se- sempre,porque o direito real um direito inerente coisa.

    O direito real de passagem pode, assim, ser sempre imposto,independentemente das relaes jurdicas sobre o prdio, ou seja, oprdio pode ser vendido, arrendado, que ainda assim, o direito depassagem persistir.

    A inerncia um n e x o d e i n t im a lig a o e n t r e o d i r e i to e a c o is a , podendomesmo afirmar-se que o direito se torna inseparvel da coisa que seu objecto. Na verdade, o seu titular pode opor o seu direito a todos,perseguindo a coisa consistindo nisto a chamada sequela, e ainda,devido inerncia, o direito sofre todas as vicissitudes de coisa.

    So corolrios da inerncia:

    a inseparabilidade do direito em relao coisa;

    oponibilidade erga omnes;

    repercusso, no direito, das vicissitudes da coisa(sequela).

    A inseparabilidade do direito em relao coisa significa que o direitono se desanexa do objecto. O direito nasce, vive e extingue-se com oobjecto a que se encontra ligado. Exem p lo : A, proprietrio da quinta X,concede o seu usufruto a B, em termos vitalcios. Entretanto, Aprope a B que passe a ter o usufruto da quinta Y em lugar do usufrutoda quinta X.

    Caso B aceite a sugesto de A, e se, este ltimo um dia vender aquinta Y a C, B no poder opor o seu direito de usufruto, j que omesmo no existe. O seu direito sobre a quinta X e o direito nopode separar-se da coisa.

    A oponibilidade erga omne s , consiste na faculdade que o titular de um

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    direito real tem de, o poder invocar eficazmente contra terceiros. No contra toda e qualquer pessoa indiscriminadamente, mas apenascontra

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    toda e qualquer pessoa em condies de violar o direito, quer essapessoa tenha somente a inteno ou, j o esteja a violar.

    Muitos autores, actualmente, reconhecem que a sequela no mais doque uma manifestao particular da oponibilidade erga omnes do

    direito real. A manifestao da oponibilidade nos direitos reais de gozoverifica-se na aco de reivindicao (cfr. a. 1311.).

    Nos direitos reais de garantia, a oponibilidade manifesta-se pelaaco de execuo, uma vez que o titular do direito tem o poder deexecutar o bem, onde quer que ele se encontre, fazendo-se pagar pelovalor da execuo.

    Relativamente aos direitos reais de aquisio a manifestao daoponibilidade verifica-se atravs da aco de preferncia.

    Exemplos para melhor compreenso da importncia da oponibilidade:

    1. A vende um imvel a B e posteriormente vende a C. B oproprietrio do imvel e. portanto, o seu direito oponvel a terceirosque violem o mesmo. Em princpio, a posio de B, inatacvel dado avenda a C ser nula, como venda de bem alheio (cfr. a. 892.).

    2. A vende um imvel a B, que no regista e posteriormente vende aCque regista.

    Neste caso, a situao torna-se complicada j que verificados osrequisitos dos aa. 291. e 17. do Cdigo de Registo Predial, aposio de C inatacvelo imvel pertence-lhe.

    No se admitindo a existncia de direitos reais inoponveis, entender-se- que o registo feito por C funciona como condio resolutiva donegcio celebrado entre A e B. Resolvido o contrato, o direito depropriedade regressa titularidade de A e como tal C, adquire o seudireito por aquisio derivada (cfr. ainda a. 6. do Cdigo de RegistoPredial).

    3. A confiou a B certa coisa mvel, no sujeita a registo.Posteriormente, B vende a coisa a C que a comprou de boa f, ou seja,desconhecendo que o bem pertencia a A.

    De acordo com o nosso ordenamento jurdico, a tutela de terceirosadquirentes de boa f, s assegurada q uando se trate de d i reitosreais sobre coisas imveis ou mveis registveis , e mesmo assim, sdentro dos limites dos aa. 291. e 17. do Cdigo de Registo Predial.

    A nica coisa que C tem a seu favor, a presuno da titularidade dodireito cfr. a. 1268.. Porm, esta presuno legal i lidvel peloproprietrio A, que pode intentar uma aco de reivind icao e,

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    se

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    conseguir provar que C obteve a coisa, a non domini, esta, ser-lhe-restituda.

    Esta soluo, est de acordo com a regra nemo plus iuris(ningum pode transmitir mais do que aquilo que tem) e, consagra a

    prevalncia do direito do titu lar verdadeiro sobre a titularidadea parente do possuidor, sem embargo da sua boa f.

    A repercusso, no direito , das vicissitudes da coisa.

    O perecimento total da coisa provoca a extino do direito real, j queum dos pressupostos de um direito real a existncia da coisa.Por outro lado, o direito real pode alterar-se, caso seja alterado oregime a que a coisa est submetida. Assim, se A resolve transformarum edifcio de 6 andares em propriedade horizontal, deixa de haver umdireito de propriedade sobre o edifcio de 6 andares, para

    passarem a existir vrios direitos de propriedade.

    2.9. Princpio da Publicidade

    Com j foi referido, o direito real um direito com eficcia absolutae, por isso necessrio que os terceiros saibam da sua existncia parano direito no interferirem, cumprindo deste modo dever de absteno.

    Para que seja possvel a todos os sujeitos de obrigao passivauniversal conhecerem a existncia dos direitos reais e igualmente para

    segurana do comrcio jurdico (em que se tutela a posio destesterceiros), necessrio dar publicidade existncia desses direitos.Repara-se que o desconhecimento da real situao das coisas podeafectar terceiros, no que respeita s consequncias dos negcios que,em relao a elas se venham a praticar, contribuindo a publicidade dosactos para estes mesmos terceiros respeitarem esta situao.

    Mas, esta publicidade no constitui requisito de validade do direito rea l ,que foi validamente constitudo, por mero efeito do contrato, apenasvlido inter partes. Porm, este requisito condio de eficc iarelativamente a terceiro s . A publicidade conseguida atravs do

    registo das coisas imveis (Registo Predial) e d a s coisas mveis dec onsidervel valor (como os avies, helicptero, automveis, quotasde sociedade). Por exemplo: se A e B celebrarem contrato de compra evenda (mediante escritura), B comprador torna-se proprietrio do bem.Porm, este negcio apenas tem eficcia entre A e B (cfr. aa. 406. e408. n.1). Embora, para que B se torne proprietrio, no sejanecessrio proceder ao registo, dever faz-lo, sob pena de colocar emrisco o prprio direito.

    A relevncia econmica, social e jurdica da publicidade, neste sector,como em outros, levou o Estado a intervir e, a organizar serviospblicos, especialmente encarregados de a promover e organizarsistematicamente.

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    Em Portugal, a publicidade est h muito confiada s Conservatrias,que so servios pblicos com competncia especializada em funodas matrias e das categorias de coisas a que a publicidade respeita.

    Quanto nossa cadeira, interferem a Conservatria do Registo Predial e

    as Conservatrias do Registo de Bens Mveis, ainda pendente deregulamentao.

    Podemos encontrar duas modalidades de publicidade: a provocada e aexpontnea.

    Na realidade, h uma srie de comportamentos humanos que pela suarepetitividade e tipicidade social, implicam, por si mesmos, a revelaoe publicitao de certas realidades sociais e jurdicas. Da que, aadopo de certos comportamentos possam envolver, a produo decertas consequncias no mundo do direito. Por exemplo, as relaes

    estabelecidas entre pessoas que vivem maritalmente ou, a relaoentre pais e filhos, assumem uma certa feio ou, maneira de ser

    tipicidade social.

    Ora, se algum adopta em relao pessoa do sexo oposto com quemvive ou, em relao a um menor, com regularidade certoscomportamentos, que integram a chamada posse de estado, naturalque da se retirem consequncias quanto existncia, entre essaspessoas, de uma relao matrimonial ou de filiao.

    No plano dos direitos reais, algo de semelhante se passa. Em regra, oproprietrio dos bens quem adopta em relao a eles oscomportamentos, correspondentes ao seu uso e fruio, fazendo-o, emregra, vista de todos, sem reservas ou reparos de qualquer outrapessoa. Compreende-se por isso que se veja naquele comportamento, osinal exterior de propriedade e que, a partir da, se lhe d relevncia naatribuio ou reconhecimento da titularidade do correspondente direito.De facto, resulta desses comportamentos a publicidade que se designapor expontnea.

    Contrape-se a esta publicidade, outra, designada por pro v ocad a , que

    deriva de uma act u ao intencionalmente dirigida a dar a conhecer aterceiros uma certa situa o jurdica . Actualmente, essa publicidadefaz-se mediante ins c rio no registo de certos factos em livros ouregisto prprios que so guardados ou conservados, por um serviopublico.

    2.9.1. Publicidade Registal

    Noes gerais

    Nos termos do a. 1. do C.R.Predial, a funo essencial doregisto predial a de: darpublicidade situao jurdica dosprd ios . Atravs

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    desta funo, realiza-se o fim a que o registo predial est votado: asegurana do comrcio imobilirio .

    A lei do registo s se refere a prdios, compreendendo os rsticos eurbanos, e no a todas as coisas mveis, abrangidas na enumerao do

    a. 204..

    Porm, refira-se, que a partir dos actos de registo relativos a prdios, seconsegue saber e estabelecer a situao jurdica das demais coisasimveis, uma vez que estas mantm sempre uma ligao comum prdio, seja rstico ou urbano.

    A publicidade da situao jurdica das coisas, organizada pelo Estado, relativamente recente, datando do segundo quartel do sc. XIX. Oprimeiro Cdigo de Registo Predial verdadeiramente merecedor destenome, surgiu com a publicao do D/L n. 42545 de 8 de Outubro de

    1959, revogado em 1967, sendo publicado outro Cdigo, aprovadopeloD/L n. 47611 de 28 de Maro de 1967.

    O actual Cdigo, foi j objecto de alteraes, algumas importantesintroduzidas pelos seguintes diplomas : D/L n. 355/85 de 2 deSetembro; D/L n. 60/90 de 14 de Fevereiro; D/L n. 80/92 de 7 de Maio;D/L n. 30/93 de 12 de Fevereiro; D/L n. 255/93 de 15 de Julho;D/L n. 227/94 de 8 de Setembro; D/L n. 267/94 de 25 de Outubro; D/Ln. 67/96 de 31 de Maio; D/L n. 375-A/99 de 20 de Setembro; D/L n.

    533/99 de 11 de Dezembro e D/L n. 273/2001 de13 de Outubro.

    2.9.2. Caractersticas Gerais do Sistema de Registo PredialPortugus

    O sistema de registo predial portugus tem como caractersticas, entreoutras, ser um sistema de natureza pblico e real.

    O carcter pblico revela-se, desde logo, na circunstncia de o RegistoPredial estar a cargo de servios pblicos Conservatria do Registo

    Predial. Estas dependem, por sua vez, de um servio central comum, aDireco Geral de Registos e Notariado, integrado na orgnica doMinistrio da Justia.

    E o carcter real e no pessoal, verifica-se na circunstncia de assentarnum acto de registo que respeit a a prdios em si mesmos e, no spessoas que sejam titulares de direitos que os tenham por objecto.

    Os registos que assumem grande relevncia na nossa ordemjurdica so:

    o registo predial;

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    o registocomercial;

    o registo de propriedadeautomvel;

    o registo de propriedade intelectuale,

    o registo de propriedade industrial

    O registo predial assume uma particular relevncia, dado que as suasnormas aplicam-se subsidiariamente aos diplomas reguladores de cadaum dos restantes registos.

    2.9.3. Princpios do Registo Predial a)

    Princpio da Instncia

    Este princpio encontra-se previsto no a. 41. do C.R.Predial e significaque, salvo nos casos previstos na lei, o registo deve ser pedido pelosinteressados.

    Decorre deste princpio que os servios esto disposio dosinteressados, mas a estes cabe a iniciativa de requerer os registos quelhes convenham, vigorando assim um princpio equivalente ao que rege

    em direito processual civil.Cabe, em suma, o impulso inicial de r egisto s parte s , o que se fazmediante o preenchimento e apresentao de um impresso de modeloaprovado (requisio), acompanhada dos suportes documentaisnecessrios a cada acto de registo.

    O Cdigo de Registo Predial Portugus no estabelece, em caso algum,a obrigatoriedade do registo, sendo neste domnio elucidativo que, ofacto de a sua falta no configurar qualquer transgresso, nem seestabelecer para ele qualquer sano podendo, no entanto, afirmar-se

    uma obrigatoriedade indirect a .

    Assim, no ser adequado falar-se de dever de re g istar mas apenas emnus, sendo que, a no observncia do nus de registo, acarretaconsequncias indesejveis para o interessado no registo, ou a eledesfavorveis.

    Sem prejuzo do princpio da instncia, a lei prev vrios casosparticulares de registo oficioso, isto , por iniciativa do Conservador(cfr. aa. 92. n.5, 97., 98. n.3 e 100. n.3).

    b) Princpio da legalidade

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    Este princpio decorre, desde logo, do carcter pblico do registo, numadas suas manifestaes. Na verdade, tanto o Conservador comoos

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    demais servidores das Conservatrias, funcionrios pblicos, todos elesesto nessa qualidade subordinados lei que devem respeitar. Por estasimples razo, j aqui domina uma ideia de legalidade. Contudo, oprincpio em anlise, tem alcance mais vasto e que decorre do a. 68.do C.R.P.

    A este princpio pode ser-lhe atribudo um contedo formal ousubstancial. No primeiro caso, significa que cabe aos funcionrios doregisto verificarem a regularidade fo r mal dos actos apresentados aregisto e a legitimid ade dos respectivos requerentes. No segundo caso,vai-se mais longe, impondo tambm ao Conservador a obrigao de sepronunciar sobre a viabilidade do pedido de regist o , tomando emconta a sua validade substancial dos actos a registar, assemelhando-sea sua funo do juiz.

    A actividade fiscalizadora do Conservador implica a apreciao dos

    seguintes aspectos:

    identidade entre o prdio a que se refere o acto a registar ea correspondente descrio;

    legitimidade dosinteressados;

    regularidade formal dos ttulos referentes aos actos a registar ea

    validade substancial dos mesmosactos.

    Relativamente ao ltimo ponto, exige-se uma observaocomplementar. entendimento corrente na doutrina que o poder doconservador restringe-se nesta matria, aos casos de nulidade,sendo vrias as razes que impedem que a sua apreciao se alargueaos actos anulveis. Desde logo, porque os actos anulveis produzemos seus efeitos enquanto no sejam invalidados (cfr. a. 287. n.1).

    Assim, no seria razovel atribuir ao conservador um poder que iriacolocar em causa a eficcia do acto, num campo que deixado disponibilidade de certas pessoas.

    Por outro lado, uma vez que este tipo de invalidade no doconhecimento oficioso do tribunal, permitir-se a interferncia doconservador nesta matria, seria atribuir-lhe poderes mais amplos doque os reconhecidos ao poder judicial.

    No entanto, quando a anulabilidade resulte de falta deconsentimento de outrem ou, de consentimento do tribunal, impe o a.92. al. e) do C.R.Predial, a realizao do registo como provisrio pornatureza. O mesmo regime vale para os actos praticados pelo

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    gestor ou representante sem poderes enquanto no forem ratificados(cfr. al. f) do

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    a. supra citado). Em qualquer outro caso no pode o conservadorrecusar o registo.

    O princpio da legalidade devia conduzir, sempre que o registo semostrasse invivel, sua recusa. Mas, dado que este regime poderia

    acarretar graves inconvenientes para os interessados, em alternativa figura da recusa do registo, surge a do registo provisrio pordvidas. S nos casos mais graves e enumerados no a. 69. doC.R.Predial, o registo deve ser recusado.

    Os meios de impugnao das decises do conservador podem revestircarcter gracioso ou contencioso.

    A impugnao gracio sa , possibilita a reclamao para o prprioconservador (cfr. a. 140. do C.R.P.) e o recurso hierrquico para oDirector-Geral dos Registos e Notariado (cfr. a. 142. do C.R.P.) e, que

    tem lugar, no caso de a reclamao ser indeferida.

    Se a pretenso do interessado no for atendida pelos meios graciosos,o mesmo ainda se pode socorrer da via contenciosa que consiste norecurso para o tribunal de comarca (cfr. a.145. do C.R.P.).

    Para alm destes meios, o interessado dispe ainda de outros meios,destinados reparao dos danos que, a conduta do conservador lhetenha causado, por fora do a. 153. do C.R.P., efectivando aresponsabilidade criminal e civil em que este incorre.

    c) Princpio da prioridade ou prevalncia

    De acordo com o a. 6. do C.R.P., o direito em primeiro lugar inscritoprevalece sobre os que se seguirem em data.

    Caso os registos sejam da mesma data, a prioridade determinadapelo nmero de ordem das apresentaes.

    O princpio em anlise s admite uma e x cepo em matria dehipoteca. As hipotecas inscritas na mesma data, concorrem entre

    si, na proporo dos crditos que cada uma delas garante.

    Saliente-se que o registo provisrio quando convertido em definitivo,conserva a prioridade que tinha como provisrio, ou seja, aprioridade do registo determinada segundo os critrios do n 1 do a.6. Esta disposio demonstra, s por si, a importncia daprovisoriedade do registo, como alternativa sua recusa. O registoprovisrio que no seja renovado ou convertido em definitivo dentro doprazo da sua vigncia (6 meses), caduca.

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    d) Princpio do trato sucessivo

    O princpio do trato sucessivo, previsto no a. 34. do C.R.P., tem comoobjectivo reconstituir ou estabelecer uma cadeia ininterrupta dossucessivos titulares do direito. Estabelecendo-se esta cadeia, fcil

    conhecer toda a histria jurdica de um imvel, consultando os registos.

    Quando, ao longo da cadeia dos sucessivos actos de transmisso,existe algum que no regista, d-se aquilo a que se chama de quebra do

    registo

    :

    1912B regista

    1942C no regista

    1968D no regista

    1989E pretende registar.

    Deslocando-se Conservatria para registar a sua aquisio, E,constata haver um hiato no registo, ou seja, o ltimo registo de que hconhecimento data de 1912 e encontra-se em nome de B. Neste caso, oConservador vai exigir a E a justificao das sucessivas alienaes queculminaram no contrato pelo qual B adquiriu de A. Existem duas

    formas de reatar o trato sucessivo: atravs de justificaonotaria l, tentando obter junto dos notrios as sucessivas escrituras decompra e venda, habilitao de herdeiros, partilha etc. ou, atravs dejustificao judicial pedindo ao tribunal que faa a respectivareconstituio.

    Com efeito, o a. 9. vem permitir dar soluo aos problemas colocadospelo princpio do trato sucessivo, no que diz respeito aos imveisque vo sendo alienados aps a entrada em vigor do Cdigo de RegistoPredial.

    e) Princpio da legitimao

    De acordo com o a. 9. do C.R.P., o titular de um imvel nopode alien-lo nem constituir encargos sobre ele, mediante escriturapblica se esse imvel no estiver devidamente registado.

    Note-se que, o a. 9. do C.R.P., no se dirige ao titular dos imveis, massim aos notrios, pois a estes que compete cumprir o preceito,ou seja, no realizar a escritura se no for apresentada Certidodo Registo. O notrio que o fizer ser objecto de sano disciplinar,sendo que as partes no sofrem qualquer sano.

    Este princpio traduz um outro, o princ pio de obrigatoried ad e indirect a ,

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    segundo o qual ningum obrigado a registar um imvel, mas sequiser alien-lo ou constituir encargos sobre ele, ter forosamenteque o

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    registar. No h, portanto, qualquer sano para quem noregistar, mas uma forte limitao.

    2.9.4. Actos do Registo, trmites processuais e prova de registo

    So trs as modalidades de actos de registo, propriamente ditos,atendendo ao seu contedo e sua funo: a descrio, a in scrio eos averbamentos.

    A descrio o acto de registo dirigido identificao fsica,econmica e fiscal de cada prdio (cfr. a. 79. n.1 do C.R.P.). Asdescries so dependentes, em geral, de uma inscrio ou de umaverbamento cfr. a. 80. n.1 do C.R.P.

    Os averbamentos s descries (acto complementar), servem paraalterar, completar ou rectificar os elementos delas constantes, ampliar

    ou inutilizar, em virtude de circunstncias supervenientes. Osaverbamentos tm um nmero privativo e devem ter tambm onmero e data da apresentao quando dela depender (cfr. aa. 88.n.1 e 89. do C.R.P.).

    Diversa a finalidade da inscrio. Esta o acto de registo que vairevelar a situao jurdica dos prdios descritos, consistindo numextracto dos factos jurdicos relativos a cada prdio. A identificao dainscrio faz-se mediante uma letra, seguida do nmero de ordemcorrespondente e o nmero e data da apresentao, elementos que

    devem constar do correspondente extracto. semelhana do que passa com as descries, os averbamentos sinscries servem para completar, restringir ou actualizar umainscrio j existente, devendo ser lanados na inscrio a querespeitam (cfr. a. 100. n.1 e n. 4 do C.R.P.).

    A existncia do registo prova-se por meio de ttulos de regist o ,certide s , fotocpias e notas d e regist o . Uma vez efectuado o registo,dos factos legalmente sujeitos a ele, os mesmos sero oponveis aterceiros, depois da data do respectivo registo (cfr. a. 6. do C.R.P.).

    O a. 7. do C.R.P., estabelece duas presunes: a de que o d ireito existetal como o registo o revela e a de que o direito pertence a quem estinscrito como seu titula r . Estas presunes, so presunes legais,ilidveis.

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    3. CLASSIFICAO DOS DIREITOS REAIS

    3.1. Direito Real Pleno e Direitos Reais Limitados

    O critrio de distino entre direitos reais plenos e direitos reais

    limitados ou menores, a extenso d o s poderes que os d ireitos reaisatribuem ao seu titula r , ou seja, existem direitos reais que atribuemaos seus titulares mais poderes do que outros.

    Exemplo: o direito de propriedade atribui poderes mais amplos, que odireito de usufruto.

    Considera-se que para alm da propriedade, tambm a posse umdireito real pleno, significando que, por meio desta classificao, asituao possessria colocada ao nvel do direito de propriedade.

    O direito de propriedade um direito real pleno porque abrange osmais amplos poderes de aproveitamento, ou seja, usar, fruir e d i spo r .Todos os outros direitos reais so limita d os , dado os mesmosserem recortados do direito real pleno, permitindo ao seu titular oaproveitamento parcial e no pleno da coisa.

    3.2. Direitos Reais de Gozo, Garantia e de Aquisio

    Esta a classificao tradicional das categorias dos direitos reais. Oseu critrio de distino assenta no modo como se efectua o

    aproveitamento das utilidades da coisa, que o objecto do direito real.Direitos reais de gozo

    Nos direitos reais de gozo, o aproveitamento da coisa feito de mododirecto e imediato no sentido de que, o titular do direito real degozo pode fazer suas as utilidades que a coisa lhe proporciona. Podecolher os frutos naturais, perceber frutos civis, consumir a coisa, alter-la, etc.

    Portanto, o titular do direito real de gozo, satisfaz o seu

    interesse atravs do aproveit a mento do valor de uso da cois a , retirandoda sua substncia todas as utilidades dessa coisa.

    So direitos reais de gozo: a po s s e , o direito de propriedade(compropriedade e propriedade horizontal), as servides, o direito desuperfcie, o direito de uso e habita o , o direito de usufruto e o direit oreal de habitao peridic a .

    Direitos reais de garantia

    Nos direitos reais de garantia, as utilidades proporcionadas ao seutitular so aproveitadas de modo indirecto, isto , atra v s dovalor econmico, do valor de troca, e no atravs do seu valor de uso.

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    Estes direitos reais so acessrios de u ma relao creditria e por issoencontram-se regulados no Livro II , tendo a funo de assegurareficazmente ao credor, o pagamento preferencial do seu crditopelo valor da coisa sobre que recaiem.

    Os direitos reais de garantia caracterizam-se pelo facto de incidiremsobre o valor ou os rendimentos de bens certos e determinados, doprprio devedor ou de um terceiro.

    O C.C. admite os seguintes direitos reais de garantia:

    1. Consignao de rendimentos

    2. Penhor

    3. Hipoteca

    4. Privilgios creditrios

    5. Direito dereteno

    1. Consignao de rendimentos

    A consignao de rendimentos consiste na aplicao dosr endimentos de certos bens im veis ou mveis su jeitos a registo

    g arantia do cumprimento de uma obrigao (que pode ser condicionalou futura), e do pagamento dos respectivos juros, se devidos, ou to sdo cumprimento da obrigao ou do pagamento dos juros.

    Dispe o a. 657. n.1, que: Stem legitimidade para constituir aconsignao quem puder dispor dos rendimentos consig nados . ocaso do usufruturio.

    A consignao de rendimentos pode ser: voluntria, que aquela que instituda pelo devedor ou por um terceiro, mediante negcio entrevivos ou testamento, ou judicial, que resulta de uma deciso do tribunal

    (cfr. a. 658.).

    No que diz respeito consignao voluntria, exige-se escritura pblicaou testamento, desde que verse sobre coisas imveis, mas bastante,documento particular, quando estejam em causa bens mveis (cfr.a.660. n.1).

    A consignao de rendimentos encontra-se sujeita a registo,salvo se tiver por objecto os rendimentos de ttulos nominativos, comopor exemplo, aces de sociedades, devendo neste caso sermencionado nos ttulos e averbada, segundo a respectiva legislao(cfr. a. 660. n.2).

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    A consignao confere ao credor o direito de preferncia emrelao aos outros credores, apenas sobre os rendimentos consignadose no sobre os bens que os produzem. A consignao extingue-se nostermos do a.664..

    2. Penhor

    O penhor constitui um direito real de garantia, que consiste em odevedor ou terceiro se desapossarem voluntariamente de certa coisamobiliria, para que fique especialmente afecta segurana dedeterminado crdito, e que, por ele responde preferencialmente, nocaso de no cumprimento da obrigao por parte do devedor.

    Em princpio, o objecto empenhado tem que sair das mos dodevedor ou de terceiro (a. 667.) e entregue ao credor, ou a terceiro fieldepositrio deste (a. 669.).

    Quanto ao objecto, a lei permite que sejam dadas em penhor,coisas mveis como crditos ou outros direitos no hipotecveis .

    Admitem-se, assim, duas modalidades fundamentais de penhor: openhor de coisas (a. 669. e ss.) e o penhor de direitos (a. 679. e ss.)

    Regra geral, todas as coisas mveis podem constituir objecto do penhorsejam elas fungveis ou no, consumveis ou no. Exige-se apenas,que a coisa possa ser alienada, porquanto o credor pignoratcio tem o

    direito de promover a sua venda para se pagar (cfr. a.675.).Nos termos do a. 669, impe-se que o autor do penhor no tenha

    a disposio do objecto empenhado. A existncia do penhorpressupem a publicidade constitutiva que se traduz na posse oucomposse, decorrente do a. 669.

    Alm da publicidade, torna-se necessrio, data de entrega do objectoempenhado, acordo das partes, sobre a constituio da garantia.

    3. Hipoteca

    A hipoteca traduz-se no direito concedido a certos credores deserem pagos, pelo valor de certos bens imobilirios do devedor e, compreferncia a outros credores estando os seus crditos devidamenteregistados. Alm dos bens imobilirios, podem ser objecto dehipoteca, os automveis, navios e, aeronaves (bens mveisregistveis).

    A hipoteca incide sobre coisas imveis ou havidas como tais, indicadasnos ara.688. a 691..

    No requisito da hipoteca, que os bens saiam da posse do autorda garantia, diferente do que se verifica no penhor. No

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    entanto,

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    compreende-se a diferena, dada a especial natureza dos benssobre que recaem as duas garantias: a hipoteca sobre coisas imveisou equiparadas que no podem ser facilmente ocultadas ou sonegadas,como acontece com a generalidade dos mveis.

    A hipoteca carece de ser registada sob pena de no produzir efeitos,mesmo em relao s partes (cfr. a. 687.).

    Existem trs modalidades de hipotecas previstas na lei (cfr. a.703.):

    legais (cfr. a.704.)

    judiciais (cfr. a. 710.)

    voluntrias (cfr. a.712.)

    4. Privilgios creditrios

    um direito conferido a certos credores, de serem pagos, em ateno natureza dos seus crditos, de preferncia a outros credore s . Estagarantia no necessita de ser registada (cfr. a. 733.).

    O privilgio creditrio constitui uma garantia mais forte do que ahipoteca, porque se houver concurso entre credores, os privilgios

    imobilirios preferem preferncia, assim como preferem consignao de rendimentos e ao direito de reteno, ainda que estasgarantias se mostrem anteriores (a. 751.).

    Nos termos do a.734. esta garantia, abrange os juros de crditorespeitantes aos ltimos dois anos, se forem vencidos.

    Os privilgios creditrios podem ser p r iv il gio s m o b ili r i o s , oque pode abranger o valor de bens mveis, de todos se, o privilgio geralou, de determinados se, o privilgio especial do devedor, existentes data da penhora ou de acto equivalente (cfr. aa. 736. e 738.) e

    privilgios imobilirios, aqueles que podem abranger apenas o valor dedeterminados bens imveis (cfr. a.743. e ss.). De acordo com a actualredaco do a. 735 n 3, introduzida pelo DL n 38/2003 de 8 deMaro, os privilgios imobilirios estabelecidos neste Cdigo sosempre especiais.

    5. Direito de reteno

    O direito de reteno um verdadeiro direito de garantia e,consiste na faculdade que tem o detentor de uma coisa, de a noentregar a quem lha pode exigir, enquanto esta, no cumprir umaobrigao a que est adstrito para com aquele (cfr. a.754.).

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    Este direito resulta directamente da lei e no de um negcio jurdico e asua publicidade encontra-se assegurada pelo prprio texto legal. Estagarantia no carece de ser registada.

    O direito de reteno tem como requisitos so seguintes:

    - a deteno lcita de uma coisa que deve ser entregue aoutrem;

    - que o detentor se apresente, por sua vez, credor da pessoa comdireito entrega;

    - que entre os dois crditos exista o nexo apontado tratar-se dasdespesas feitas por causa dessa coisa ou de danos por ele causados.

    O a. 755. no seu n.1, estabelece casos especiais de direito de

    reteno j conhecidos, como o caso da alneas b), d) e f) da mesmadisposio legal.

    Direitos reais de aquisio

    Os d i r e i t o s r e a i s d e aq uis i o, constituem a categoria de direitosreais mais recente, em que o interesse do titular satisfeito atravs daaquisio de um ou t ro direito real, isto , a partir do momento emque se exerce o direito real de aquisio, o seu titular imediatamentetransposto para outro direito real de gozo.

    Por exemplo: o direito que tem cada um dos comproprietrios a terpreferncia, na venda ou doao, das quotas dos outros; o caso docontrato-promessa e do pacto de preferncia quando se tenha atribudoeficcia real. Tambm a situao jurdica do possuidor que adquire odireito de propriedade por usucapio, cfr. a. 1287. e; o caso deapropriao de coisa alheia, cfr. aa. 1321. e 1323., etc.

    4. VICISSITUDES DOS DIREITOS REAIS

    As vicissitudes dos direitos reais tm a ver com a aquis i o , com a

    modificao e com a perda dos direitos reais.

    4.1. Aquisio dos direitos reais

    A aquisio de um direito real, marca o momento em que essedireito(subjectivo) passa a fazer parte de uma esfera jurdica.

    A aquisio pode ser originria ou derivada e, esta ltima, aindapode ser, constitutiva e translativa.

    Na aquisio originria , o direito adquirido surge na ordem jurdica, noexacto momento em que se adquire, isto , o fenmeno de aquisio

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    constituio do direito simultneo e por sua vez no est dependentede nenhum outro direito.

    Na aquisio deriv a da o direito adquirido est sempre dependente deoutro direito. E essa dependncia exprime-se de duas formas:

    na aquisio der ivada translativa: a aquisio depende dodireito anterior que fundamentalmente o mesmo;

    na aquisio derivada constitutiva: o direito que se adquire um direito novo, muito embora, a sua constituio, se processe custade um direito pr-existente, que fica assim limitado pela constituiodesse direito.

    Com efeito, os direitos reais menores surgem por aquisio derivadaconstitutiva e limitam o direito de propriedade. Se eles foremtransmissveis, pode tambm existir aquisio derivada translativae, por regra, todos os direitos reais de gozo so transmissveis. Jquanto ao direito de propriedade, s pode ser adquirido ou, poraquisio originria ou, por aquisio derivada translativa.

    Quanto aos modos de aquisio , so eles osseguintes:

    a) Contrato: mediante contrato, transmitem-se para outro titular,direitos reais j existentes, na titularidade do transmitente e, podem

    ser constitudos (aquisio originria) novos direitos reais (cfr. a.408. n.1);

    b) Usucapio: a posse, mais o tempo, conduz usucapio e, ummodo de aquisio de direitos reais de gozo;

    c) Lei e decisoJud i cia l : a constituio em si mesma, de direitos reais,muitas vezes decorre automaticamente da lei, ou seja, semnecessidade de interveno das partes e independentemente da suavontade.

    Exemplos: servides legais (cfr. a. 1550.), hipoteca legal (cfr. a.704.), os privilgios creditrios (cfr. a. 733.), o direito dereteno (cfr. a.754.) e as prefernciaslegais.

    4.2. Modificao dos direitos reais

    A modificao dos direitos reais pode ser objectiva e subject iv a .Sempre que se opera uma aquisio derivada translativaexiste uma modificao subjectiva. Exemplo: A vende a B umautomvel.

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    Quanto modificao objectiva, esta verifica-se sempre que, nosencontramos perante aquisies derivadas constitutivas. Exemplo: Aconstitui a favor de B um direito de usufruto.

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    4.3. Perda dos direitos reais

    Os direitos reais extinguem-se pelas seguintescausas:

    Expropriao por utilidade pblic a : (cfr. a. 62. da Constituio daRepblica Portuguesa; a. 1308. e a. 1536., n. 1, al. f) consiste numadeclarao feita pelo Estado, em que este declara a necessidade deutilizar determinado bem para um fim especfico de utilidade pblica,que faz extinguir o direito real constitudo sobre tal bem e, determina asua transferncia para o patrimnio da pessoa a cujo cargo est aprossecuo desse fim (direito novo independentemente do anterior).

    Renncia: (cfr. aa. 731., 664., 677., 752., 761., 1267.,1476.,1490.) os direitos reais so renunciveis, por manifestao devontade, nesse sentido, do respectivo titular (Princpio darenunciabilidade).

    O titular do direito de propriedade de um bem mvel podesimplesmente abandon-lo, desligando-se da sua posse (causal),passando a coisa a ser considerada uma res nullius (coisa deningum) e, fica susceptvel de ser adquirida por ocupao (cfr. a.1318.).

    O proprietrio de um imvel tambm pode renunciar ao seu direito,

    embora haja opinio diversa. Por efeito da renncia (que deve ser feitapor escritura pblica e sujeita a registo) o imvel integra-se ex vi legeno patrimnio do Estado, no sendo susceptvel de ocupao.

    Confuso: esta figura aparece-nos como causa extintiva dos direitosreais limitados (cfr. aa. 1476. n.1, al. b); 1536. n.1, al. d),1569. n.1, al. c). Quando o titular de um direito real menor, passa atitular de um direito real maior, d-se a confuso. Exemplo: A.usufruturio adquire a propriedade a B (nu proprietrio).

    Extino de um d i reito real pelo decu r so do praz o , quando omesmo tenha sido constitudo a termo.

    DOS DIREITOS REAIS EM ESPECIAL

    1. DA POSSE (aa. 1251. a 1301. do Cdigo Civil)

    1.1. Noes Gerais

    A ideia de posse sugere imediatamente uma situao de p odersobre uma coisa e, por outro lado, sugere tambm a existnciade uma relao material entre uma pessoa e uma cois a .

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    Imaginemos as seguintes situaes:

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    A, utiliza um automvel em virtude de o ter roubado ou, em virtude deo ter alugado ou, ainda, em virtude de o ter comprado, sendo o seuproprietrio. Do ponto de vista factual, no h qualquer diferena entreestas trs situaes.

    Para compreenso da noo de posse, foroso uma abordagem dadistino que, a doutrina estabelece entre posse causal, pos s e formale, posse precria ou deteno.

    1.2. Posse causal, posse formal e posse precria

    A posse diz-se causal porque existe uma causa que a justific a , isto , nocaso do proprietrio ele titular de um direito real em cujo contedo seintegram os poderes que justificam o uso da coisa.

    Ora, a posse o po d er de uso e, neste caso, causal, porque tem

    como causa a titularidade de um direito real, cujo contedo integra umpoder de uso.

    A posse causal no tem autonomia, inerente titularidade de umdireito real e no mais do que a manifestao exterior da titularidadedo direito real.

    O proprietrio e o possuidor embora actuem do mesmo modo perantetodas as outras pessoas, no tm o mesmo direito, dado que um proprietrio e, tais actos traduzem o exerccio do seu direito, o

    outro no proprietrio e, os seus actos traduzem uma mera actuaode facto.

    Repare-se ainda, que o possuidor tem de praticar os actoscorrespondentes titularidade de um direito real, enquanto que oproprietrio no precisa de praticar quaisquer actos para que o direitolhe reconhea a sua qualidade.

    Na posse formal, o possuidor no titular de qualquer direito real sobrea coisa, em cujo contedo se integre o poder exercido, isto , no h qualquer causa que justifique o uso.

    Face ao exposto, poder dizer-se que na posse causal o p ossuidor, enquanto que, na posse formal, o possuidor actua como se foss e .

    A posse diz-se pre c ria (caso do comodatrio), quando o sujeito temapenas uma autoriz ao do titular do d ireito real para pos s uir a coisaem seu nome, isto , em nome do titular do direito. O possuidorprecrio to somente o possuidor e m nome de outr e m em cujocontedo se integra o poder de uso.

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    A noo de posse que se encontra definida no a. 1251. u ma noode posse formal: quando algum actua por forma corres pondenteao exerccio do direito de propriedade ou de outro direito real .

    De acordo com esta noo, o possuidor aquele que actua como

    se fosse o titular de um direito real e actua de tal modo, que tempoderes idnticos aos do verdadeiro titular.

    Com a expresso ( )por forma correspondente ao exerccio do direitode propriedade ou de outro direito real , a lei visou expli citar que, aposse referida neste preceito a posse formal, porque no se identificacom o exerccio do prprio direito real. Trata-se apenas, deactuao que s exteriormente se apresenta parecida com o exercciodo direito real e, por isso, no assimilvel posse causal.

    O a. 1268. consagra uma presuno ilidvel, (admite prova emcontrrio) segundo o qual: o pos suidor goza da presuno datitularidade do direito () . O simples detentor no goza destapresuno.

    A posse formal e causal podem entrar em conflito, caso existam doissujeitos que se arrogam a titularidade de um direito sobre a mesmacoisa.

    Para solucionar este conflito, a lei presume que o possuidor o titulardo direito, cabendo quele que se afirma como titular do direito (ex:

    proprietrio ou usufruturio), enquanto lesado, apresentar prova emcontrrio, mediante a qual ilide a presuno legal.

    1.3. Estrutura da Posse

    Existem duas correntes que devero ser consideradas paramelhor compreenso desta matria.

    A corrente objectiv ista perfilhada por Jhering para a qual basta ocorpus, ou seja, a apreenso material ou o poder de facto para existiruma situao possessria.

    Para esta teoria existe posse, quando algum tem a apreenso materialda coisa e mostra vontade de continuar com essa apreenso.

    Para a corrente subjectivista perfilhada por Savigny, alm do corpus,ser tambm necessrio o animus, ou seja, necessrio que opossuidor deixe transparecer um poder sobre a coisa que sejaconforme titularidade de um direito real de gozo sobre ela. Poroutras palavras, o animus a inteno demonstrada pelo possuidor noseu modo de agir em relao coisa, objecto da posse.

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    No entender da maioria da doutrina, a corrente perfilhada pelo nossoCdigo Civil a cor r ente subjectivista de Sav i gny , no sentido de queno basta a apreenso da coisa e a vontade de a manter, mas tambm necessrio o animus. O Prof. Menezes Cordeiro partilhade opinio contrria.

    No entanto, leia-se o que estabelece o a. 1251.: actua por formacorrespondente ao exerccio do direito de propriedade ou de outrodireito real , onde o animusreleva claramente. Ainda, em justificao datese subjectivista, o a. 1252. pode ser invocado no sentido de que, odetentor tem a apreenso material da coisa e pode manifestar avontade de manter essa apreenso, mas no considerado possuidor.

    Para que exista uma situao possessria, no se exige que opossuidor pratique directamente actos materiais sobre a coisapossuda, dado que a mesma pode ser exercida por intermedirio de

    outrem, nos termos do a. 1252., isto , algum pode possuir a coisaem nome do possuidor ou, actuando como seu representante. Esta achamada situao de deteno identificadas nas al. a), b) e c) do a.1253.. E xemplo s : a empregada domstica que se serve do aspiradorde casa onde trabalha, como instrumento de trabalho, detentoranos termos da al. a) do a.1253., porm, se utilizar o secador de cabelo pertencente dona dacasa, j ser considerada detentora nos termos da al. b) do a. 1253.;Olavrador que vai a casa de um vizinho pedir uma charrua emprestada,

    mas como o mesmo no se encontra em casa, leva a charrua porquesabe que aquele no se importa cfr. al. b) do a. 1253.; Omotorista que conduz o camio pertencente firma X detentor, nostermos da al. c) do a. 1253.;

    1.4. Natureza Jurdica da Posse

    Existem vrios entendimentos, mas de um modo geral, e sempretenso de aprofundar esta questo, entender-se- a posse como u mdireito real subjectivo.

    No nosso Cdigo Civil, a posse opera e releva ora, como m e r o fa c t o ju r d i c ocfr. aa. 1252., n2, 1254., 1257., n1, 1260., 1287. ora, c om os i t u a o ju r d i ca s u bje c t iv a , fonte de importantes efeitos jurdicos para opossuidorcfr. aa. 1263., 1266., 1267., 1268. n.1, 1270. e 1273..

    1.5. Fundamento da Proteco Possessria

    Na verdade, muitas das razes invocadas por vrias teorias podero terconcorrido historicamente e, concorrem ainda hoje, para oacolhimento e fundamento do instituto possessrio nos diversosordenamentos jurdicos.

    Destaco dois dos principais fundamentos do instituto possessrio:

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    a paz pblica

    e o valor econmico e social autnomo daposse.

    Vigora entre ns um sistema de justia pblica (cfr. a. 1. do C.P.C.), adefesa da posse s pode operar por meios processuais regulados na lei.Deste modo, havendo proteco legal da posse, evitam-se conflitossociais e esta pode funcionar como instrumento de conservao e deproduo de efeitos funcionais da coisa.

    1.6. Objecto da Posse

    O objecto material da posse corresponde h existncia materialda coisa.

    O objecto jurdico da posse (cfr. a. 1251.), a forma de actua ocorrespondente ao exerccio do direito de propriedade e dos demaisdireitos reais de gozo, passveis de serem adquiridos por usucapio.

    Portanto, o objecto da posse pode ser no s o direito de propriedadecomo tambm outro direito real de gozo, susceptveis de seremadquiridos por usucapio, ficando excludos os direitos reais degarantia e de aquisio.

    1.7. Modalidades da Posse

    Posse ex cl usiva: aquela que exercida por um nicopossuidor.

    P o ss e s i m ult n e a: corresponde s situaes em que, sendoalgum possuidor, por uma ou outra razo e, sem a sua vontade, existealgum que tambm adquire a posse.

    C o m p o ss e : uma situao de comunho do direito que a posse.Cada um dos compossuidores exerce a posse correspondente parteque lhe caiba na posse comum, semelhana da figura da

    compropriedade, cujas regras lhe so extensveis com as necessriaadaptaes. (cfr. a.1404.).

    Caso as posses, que incidem sobre a mesma coisa, sejam de naturezadiferente (Ex: A actua como se fosse proprietrio e, B comousufruturio) no h composse, mas sim convergncia de posses queno so incompatveis entre si.

    1.8. Modos de Aquisio da Posse

    a) Pela prtica reiterada, com publicidade dos actos materiaiscorrespondentes ao exerccio do direito ( o chamado apossamento

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    cfr. a. 1263., al. a)

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    Por prtica reiterada entende-se a prtica continuada. Esta expressosuscita a questo de se saber, quantos actos materiais tero de serpraticados para se considerar que h prtica reiterada. Parece que nose exige a prtica de muitos actos, a prtica de apenas um s actopode dar lugar investidura da posse, desde que esse acto tenha

    intensidade suficiente para demonstrar que o sujeito tem a inteno depassar a comportar-se como possuidor nos termos do a. 1251..

    ( )com publicida de () , significa que a prtica reiterada tem que serrealizada de modo a poder tornar-se conhecida dosinteressados.

    O apossamento consiste na apropriao de uma coisa, mediante aprtica sobre ela, de actos materiais correspondentes ao exerccio decerto direito real. Ora, neste momento adquire-se o corpus. Porm, aposse s surge, quando pela prtica reiterada (intensa e no

    necessariamente continuada) de actos materiais, se d publicidadesemelhante aos praticados pelo titular do direito real animus.

    Assim, se A furtar o relgio vizinha e passar a us-lo como se fosseproprietria, por exemplo, colocando o relgio de forma visvel nopulso, diremos que A, tem o corpus quando furta, mas ao us-lopublicamente como se fosse seu adquire o animus. Porm, se A, apsfurtar o relgio, o guardar em casa ou, o esconder at o poder vender,adquire apenas o corpus, isto , tem apenas a deteno, noadquirindo a posse por falta do elemento psicolgico.

    O legislador ao referir-se a ( ) actos materiais () , pretendeuafastar

    a possibilidade de se tratarem de actosjurdicos.

    Exemplo: Se A v um determinado terreno em boa localizao e, colocaum anncio no jornal anunciando a venda de lotes desse terreno e,se na sequncia desta publicao, celebrar com diversas pessoas,contratos-promessa, A no adquire a posse do referido prdio, porqueapenas praticou actos jurdicos e no actos materiais.

    b) Pela tradio material ou simblica da coisa efectuada pelo seuanterior possuidor (cfr. a. 1263., al. b)

    Neste caso, sucede que algum que j era possuid or (anteriorpossuidor ), cede a sua posse a outrem, atravs da entrega materialou simblica da coisa.

    Este modo de aquisio, um modo de aquisio derivada, ou seja, aposse aqui adquirida atravs de um acto de transmisso da posse(causal ou formal), anteriormente constituda.

    A posse a que alude esta alnea, corresponde entrega da coisa

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    quando o possuidor pretende que ela saa do seu poder e, queesta passe definitivamente para outrem.

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    A posse de algum adquirida por tradio, material ou simblica dacoisa, tem como consequncia a perda da posse, caso esta seja formal,por parte do transmitente.

    c) Constituto possessrio (cfr. aa. 1263. al. c) e 1264.)

    Na fase de aquisio da posse, a apreenso material extremamenteimportante, nomeadamente no que respeita ao constituto possessrio.

    A aquisio da posse por constituto possessrio, verifica-se quando opossuidor em nome prprio de certa coisa, deixar de o ser, por a teralienado, convertendo-se por acordo com o adquirente, em merodetentor.

    Por outras palavras, algum adquire a posse atravs de negciotranslativo de outrem que tinha a posse, mas que no entanto, mantm

    o poder de facto sobre a coisa por consentimento ou mera tolerncia donovo possuidor.

    Exemplos:

    A habita a casa X que vende a B, embora continue l a habitar poracordo entre ambos. Neste caso, a posse transferiu-se para B, emboraA continue a ter o poder de facto sobre a coisa (cfr. n.1 do a. 1264.);

    A vende a B um carro e combinam que, A continua a utiliz-lo. A era o

    possuidor formal e ao celebrar o negcio translativo, transmite a possepara B. Assim, B titular de uma posse sem poder de facto, porque noh entrega da coisa, continuando esta a ser utilizada por A.

    A proprietrio da casa Y (possuidor causal) vende a casa a B,verbalmente ou, por documento escrito, tendo sido convencionadoentre ambos que o bem apenas seria entregue passado um ano acontar da celebrao deste contrato. B, adquire apenas a posseformal, embora sem deter a coisa, dado que o contrato de compra evenda invlido e portanto, no pode haver a aquisio da possecausal.

    O constituto possessrio uma modalidade de aquisio de posse eno uma modalidade de perda da posse, por isso actua sempre do ladodo adquirente e no do transmitente.Pelo constituto possessrio, oadquirente torna-se possuidor e o transmitente torna-se detento r .

    O a. 1264. n. 2 estabelece uma outra situao, em que a coisa detida por terceiro em nome do titular , que aliena a mesma. Ora,a posse que tem, transfere-se para o adquirente, ainda que a situaode deteno existente deva continuar, quer por fora da lei, querpor acordo entre os interessados.

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    Exemplo: Se o senhorio do prdio locado a B, o vende a C, este ltimono deixa de adquirir a posse, mas B continua a ser locatrio (detentor).

    Compreende-se, pois, a razo de muitos autores afirmarem, ser o

    constituto possessrio um afloramento do princpio do consensualismono domnio da posse.

    A posse causal no tem autonomia, inerente titularidade de umdireito real, ou seja, a posse causal, no mais do que a manifestaoexterior da titularidade do direito real. Em consequncia, entende-se no ser de aplicar o constituto possessrio no domnio da possecausal, quando o negcio translativo do direito real for um negciovlido capaz de transmitir o direito real.

    Em concluso, o adquirente do direito real em causa, no passando a

    ter o poder de facto sobre a coisa, tido como seu possuidor. Se aposse anterior existia no alienante, este passa a mero detentor emnome do adquirente. Se a deteno existia em terceiro, este mantm adeteno, mas passa a exerc-la em nome do adquirente.

    De acordo com o a. 1264. n.1 indiferente a causa que justifica amanuteno da posse ou a deteno do alienante ou de terceiro.Pode ser qualquer causa, mas tem de existir uma causa.

    d) Inverso do ttulo da posse (cfr. aa. 1263. al. d) e 1265.)

    A inverso do ttulo da posse traduz-se numa mudana da atitude dodetentor. A inverso do ttulo da posse vem previsto na al. d) doa.1263. complementada pelo regime contido no a.1265..

    Nesta forma de aquisio da posse, d-se a transformao de umasituao de mera deteno em posse formal, isto , o ttulo por que seexerciam certos poderes sobre a coisa muda.

    O que justifica a apreenso material (o corpus) na qual se baseia adeteno, reside na existncia de uma outra pessoa, que possuidor.

    Assim, se B detentor, possui em nome de outrem, em nome dopossuidor. , pois, este o ttulo da deteno ou posse precria de B.

    Ora, o detentor pode inverter o ttulo da posse mediante duasformas:

    1. por oposio do detentor do direito contra aquele em cujo nomepossua;

    2. e por acto de terceiro capaz de transferir a posse.

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    Relativamente primeira situao, suponhamos o

    seguinte:

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    B, era detentor, possua em nome de A. Num dado momento passa apossuir em nome prprio, opondo o seu direito a A., mediantedeclarao receptcia.

    A oposio traduz-se numa modificao do animus do detentor,

    revelada pela exteriorizao de actos positivos que inequivocamenteexpressam a sua v o ntade de opor uma posse prpria pe s soa em cujonome ou, no interesse de quem vinha actuando como detentor.

    Note-se que, para que B possa inverter o ttulo da posse, tem que teruma pretenso lgica, invocar argumentos credveis, dado que A temmeios ao seu alcance para defender a sua posse.

    Por outro lado, necessrio que o detentor emita uma declaraoreceptcia, isto , que leve ao conhecimento do possuidor a suamudana de atitude em relao coisa. a partir deste momento

    (momento em que chega ao conhecimento de A, possuidor), que se da inverso do ttulo da posse.

    A exigncia de uma declarao receptcia proporciona ao possuidor A, apossibilidade de reagir e defender a sua posse.

    A oposio pode ser operada por via extrajudicial ou judicial e, relevaquando por essas vias for levada ao conhecimento do possuidor ou,se os actos que traduzem a oposio, forem praticados na presena dopossuidor ou, na de quem o represente.

    Conhecida a oposio, a deteno transforma-se em posse,configurando uma situao de esbulho de quem, at aquelemomento, foi possuidor. Exemplo : se o locatrio de um prdio rsticose recusar a pagar a renda, arrogando-se titular do direito ao prdio,alterar o seu sistema, cortando por exemplo, um pinhal nele existentepara passar a fazer culturas de milho.

    Relativamente segunda situao, a inverso do ttulo da posse resultade acto de terceiro capaz de transferir a posse.

    Repara-se que este acto de terceiro tem de sofrer de algum vcioimpeditivo daquele efeito translativo.

    Assim, h inverso do ttulo da posse, por esta via, quando algum,sem legitimidade, vende ao detentor, por exemplo ao locatrio, oprdio que lhe estava arrendado. A inverso produz-se por efeito deum novo ttulo

    compra e venda apto (em abstracto) a transferir aposse.

    Da mesma forma, h inverso do ttulo da posse se A, proprietrio deuma caneta deposita-a a B, sendo que, posteriormente C, terceirode boa f, doa essa caneta a B. Ora, o detentor B, torna-se possuidor

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    por inverso do ttulo da posse.

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    AB-C

    (Possuidor) (detentor) (intitula-se perante Bcomo sendo o possuidor)

    Afirmando-se possuidor, C apresenta-se como um terceiro na relaoentre A e B capaz de transferir a posse.

    1.9. Sucesso na Posse

    Na sucesso na posse verifica-se um fenmeno de aquisio mortiscausa.

    O legislador ao afirmar, no a. 1255., que a posse continua nossucessores do possuidor do falecido, pretende frisar a ideia de que severifica, um fenmeno especial de transmisso que, em razo dos seustraos particulares, se designa por sucesso na posse .

    De acordo com esta disposio, os sucessores ocupam, por fora dalei, a posio do possuidor falecido e, recebem a sua posse tal qual elea tinha.

    A sucesso no considerada de entre os modos de aquisio daposse, porque quando algum sucede na posse em virtude damorte do anterior possuidor, no se trata de uma nova posse, cujoscaracteres tenham que ser determinados, como acontece nos outros

    casos, de aquisio da posse. Neste caso, a transferncia da posseverifica-se por mero efeito da lei e, com a abertura da herana no seinicia uma nova posse, dado ela ser a mesma. A posse do sucessorforma um todo com a do de cujus, havendo apenas uma modificaosubjectiva.

    A posse adquirida por morte a mesma que j existia, no sentidode que, o seu ttulo no a sucesso por morte, mas sim o ttulodo prprio de cujus.

    Assim, se se tratava de posse de m f, continua a ser posse de m

    f, se se tratava de posse no titulada, continua a ser no titulada.Existe apenas uma excepo ao que foi referido e que reside nocarcter da posse violenta.

    A posse violenta pode purificar-se transformando-se em posse pacfica.Exemplo: A adquiriu a posse mediante coaco moral (posse violenta).Porm, se a ameaa cessar, a posse purifica-se. Mas, embora a possedeixe se ser violent a , no deixa de ser c onsiderada posse de m f .(cfr. a. 1260. n. 3presuno inilidvel).

    No caso da sucesso, se a posse era violenta mas, com a morte doanterior possuidor, a violncia cessou, a posse transforma-se empacfica, continuando, no entanto, a ser de m f.

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    1.10. Acesso na Posse

    No caso do disposto no a. 1256., houve uma transmisso daposse inter vivos (ex. compra e venda).

    A acesso da posse significa que aquele que adquirir de formaderivada, pode juntar sua posse, a posse do antecessor.

    Exemplo:

    ABC

    (Possuidor) (Possuidor)(Possuidor)

    (5 anos) (5 anos)

    (10 anos)

    No exemplo acima descrito, desde que C tenha adquirido a posse poruma modalidade de aquisio derivada (por tradio da coisa peloanterior possuidor ou por constituto possessrio), pode somar ao seutempo, o tempo da posse de B, ou seja 5 anos. E, poder tambmjuntar o tempo de posse de A, porque se considera que a lei ao falar deantecessor, no a. 1256. se quer referir a antecessores.

    Requisitos da acesso:

    aquisio derivada das posses, ou seja, as posses s podem sersomadas se a aquisio tiver sido derivada.

    os tempos de posses tm que ser referentes a possescontguas.

    No exemplo acima referido, C no pode ir buscar os anos de posse deA, sem ir buscar primeiro os anos de posse de B.

    dado que a soma dos tempos possessrios relevante para a

    aquisio do direito por usucapio e para o registo da mera posse, asposses a somar tm que ser pblicas (cfr. a. 1262.) e pacficas (cfr.a.1261.