aplicação do estudo de tempos e movimentos no processo de

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APLICAÇÃO DO ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE AÇAÍ EM UMA EMPRESA LOCALIZADA EM ANANIDEUA-PA. Mara Juliana Sena Goncalves (uepa ) [email protected] ANDRESA OLIVEIRA DE MENEZES (uepa ) [email protected] LARISSA BARATA DA SILVEIRA (uepa ) [email protected] O estudo de tempos e movimentos tem como meta determinar a capacidade produtiva de um setor. Ou seja, é possível relacionar com a capacidade real, concebendo informações para tomada de decisões. Tal estudo é de suma importância para o setorr produtivo atual, pois define o tempo padrão e ampara a organização dos processos produtivos, sendo uma ferramenta que acompanha a prosperidade contínua das melhorias. A pesquisa em questão é um estudo de campo em uma empresa do ramo de produção e venda de açaí. Foram necessários para o desenvolvimento do trabalho: a identificação do processo de produção de açaí da empresa, a cronometragem do tempo padrão, e a análise dos micro movimentos. Para resultados deste estudo, foram feitas 5 (cinco) cronometragens prévias com finalidade de definir a quantidade de cronometragens ideais a serem feitas. Por fim, foram obtidos os elementos da operação, os tempos para cada um, o tempo médio total e diversos outros elementos necessários para realizar o cálculo que estabelece a quantidade de cronometragens necessárias. Com a aplicação da cronometragem foi possível estabelecer o tempo padrão real para cada etapa do processo produtivo, que viabilizou revelar ao produtor a sua capacidade produtiva diária, que é igual a 2 ciclos por dia, ou seja, ele só consegue realizar todo seu processo produtivo 2 vezes ao dia, mediante o tempo disponível para trabalho. Palavras-chave: Tempos e movimentos; Tempos cronometrados; Capacidade produtiva; XXXVI ENEGEP. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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APLICAÇÃO DO ESTUDO DE TEMPOS E

MOVIMENTOS NO PROCESSO DE

PRODUÇÃO DE AÇAÍ EM UMA

EMPRESA LOCALIZADA EM

ANANIDEUA-PA.

Mara Juliana Sena Goncalves (uepa )

[email protected]

ANDRESA OLIVEIRA DE MENEZES (uepa )

[email protected]

LARISSA BARATA DA SILVEIRA (uepa )

[email protected]

O estudo de tempos e movimentos tem como meta determinar a

capacidade produtiva de um setor. Ou seja, é possível relacionar com

a capacidade real, concebendo informações para tomada de decisões.

Tal estudo é de suma importância para o setorr produtivo atual, pois

define o tempo padrão e ampara a organização dos processos

produtivos, sendo uma ferramenta que acompanha a prosperidade

contínua das melhorias. A pesquisa em questão é um estudo de campo

em uma empresa do ramo de produção e venda de açaí. Foram

necessários para o desenvolvimento do trabalho: a identificação do

processo de produção de açaí da empresa, a cronometragem do tempo

padrão, e a análise dos micro movimentos. Para resultados deste

estudo, foram feitas 5 (cinco) cronometragens prévias com finalidade

de definir a quantidade de cronometragens ideais a serem feitas. Por

fim, foram obtidos os elementos da operação, os tempos para cada um,

o tempo médio total e diversos outros elementos necessários para

realizar o cálculo que estabelece a quantidade de cronometragens

necessárias. Com a aplicação da cronometragem foi possível

estabelecer o tempo padrão real para cada etapa do processo

produtivo, que viabilizou revelar ao produtor a sua capacidade

produtiva diária, que é igual a 2 ciclos por dia, ou seja, ele só

consegue realizar todo seu processo produtivo 2 vezes ao dia, mediante

o tempo disponível para trabalho.

Palavras-chave: Tempos e movimentos; Tempos cronometrados;

Capacidade produtiva; XXXVI ENEGEP.

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1. Introdução

O fruto açaí, além de fazer parte da cultura, realiza grande movimentação na economia da

região amazônica, ou seja, boa parte da população trabalha com a fabricação da bebida

proveniente desse fruto. O estado que mais se destaca como produtor e consumidor do fruto é

sem dúvidas o Pará. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

(2015) o estado do Pará possui uma produção anual em torno de 850 mil toneladas do fruto,

gerando para a economia estadual um valor aproximado de R$ 677 milhões. Entretanto, os

produtores geralmente não possuem noções aprofundadas no que tange o estudo de tempos e

movimentos, o que poderia tornar a produção ainda mais rentável.

A utilização das ferramentas de estudos de tempos e movimentos pode ser realizada para

eliminar esforços desnecessários ao executar uma operação, habilitar os empregados a sua

função, estabelecer normas para execução do trabalho e descobrir novos métodos que possam

proporcionar melhorias no processo produtivo. (FIGUEIREDO; OLIVEIRA; SANTOS,

2011).

Diante disso, o referido artigo tem como objetivo realizar a aplicação do estudo de tempos e

movimentos no processo de produção de açaí em uma empresa de pequeno porte, localizada

no município de Ananindeua no estado do Pará. Busca também minimizar, controlar e

padronizar o tempo de execução do produto e evidenciar a capacidade produtiva da empresa.

2. Referencial teórico

Para dar início ao estudo de tempos e movimentos, deve-se lembrar de Frederick W. Taylor,

que observou que não havia padronização na organização do trabalho. Por volta de 1903, ele

publicou o primeiro livro com suas ideias, chamado “Administração de Oficinas”, tendo como

ideia principal a ORT (Organização Racional do Trabalho).

De acordo com Barnes (1977), o objetivo do estudo de tempos e movimentos é o estudo dos

sistemas de trabalho, visando padronizar esses sistemas e métodos, determinar o tempo gasto

por uma pessoa qualificada e devidamente treinada, trabalhando num ritmo normal, para

executar uma tarefa ou operação específica e orientar o treinamento do trabalhador no método

escolhido.

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É válido ressaltar que se deve fazer presente o estudo de tempos cronometrados, estudo de

tempos sintéticos e também gráficos de controle como base fundamental para a realização do

estudo de tempos e movimentos.

2.1 Estudo de tempos cronometrados

Embora seja um processo bastante antigo, a divisão de tarefas e cronometragem dos tempos

padrões, ainda é um método utilizado nas organizações industriais. O tempo padrão engloba a

determinação da velocidade de trabalho do operador e aplica fatores de tolerância para

atendimento às necessidades pessoais, alívio de fadiga e tempo de espera. (PEINADO e

GRAEML, 2007).

Com o estudo de tempos cronometrados é possível estabelecer padrões para as programações

de produção, permitindo assim o planejamento da fábrica, utilizando os recursos com eficácia.

2.1.1 Determinação do número de ciclos a serem cronometrados

Para determinar o número de cronometragens necessárias para a operação, deve-se utilizar a

seguinte fórmula:

Sendo:

n = número de ciclos a serem cronometrados

z = coeficiente da distribuição normal padrão para uma probabilidade determinada

R = amplitude da amostra (diferença entre a amostra maior e menor)

Er = Erro relativo

d2 = coeficiente em função do número de cronometragens realizadas preliminarmente

= média dos tempos cronometrados

Antes da fórmula ser utilizada, faz-se necessário uma cronometragem prévia, para obter os

valores de “R” e “ ”, estipulando o nível de confiança e o erro relativo.

Os valores de z, que correspondem às porcentagens de 90% à 95%, são descritos abaixo, na

Tabela1.

Tabela 1 – Nível de confiança

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Probabilidade (%) 90 91 92 93 94 95

Z 1,65 1,70 1,75 1,81 1,88 1,96

Fonte: Peinado e Graeml (2007).

Foi visto também que para executar a fórmula utilizada para determinação do número de

cronometragens é utilizado um coeficiente denominado “d2”, que o mesmo está relacionado

ao número preliminar de cronometragens realizadas, então o d2 será obtido a partir da Tabela

2 abaixo:

Tabela 2 – Número preliminar de cronometragem

N 2 3 4 5 6 7 8 9 10

d2 1,123 1,693 2,059 2,326 2,534 2,704 2,847 2,970 3,078

Fonte: Peinado e Graeml (2007).

2.1.2 Calculo de tempo cronometrado

O calculo é obtido a partir da média dos tempos cronometrados para cada elemento da

operação e pode ser calculado a partir da seguinte fórmula:

Sendo:

= tempo cronometrado na enésima medição

𝑛 = número de cronometragens

2.1.3 Fatores de ritmo

Também denominado como avaliador de velocidade da operação, que deve ser determinado

subjetivamente por quem executa a cronometragem, onde é atribuído um valor menor que

100% para a velocidade lenta de operação, igual a 100% para a velocidade normal de

operação e maior que 100% para a velocidade acelerada de operação.

O fator de ritmo pode ser determinado por meio do teste do baralho, proposto por Barnes

(1977). E funciona da seguinte forma: Um único operador utiliza um baralho de 52 (cinquenta

e duas) cartas, que deve ser distribuído uniformemente e na mesma direção sobre uma

superfície. O teste deve ser repetido cinco vezes, com cada etapa sendo cronometrada, logo

após calcula-se a média dos cinco testes, para definir a velocidade do operador pela equação:

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2.1.4 Tempo normal (TN)

O tempo normal representa o tempo utilizado por um operador qualificado e treinado,

trabalhando em um determinado período com um ritmo normal, para completar um ciclo de

operação. É utilizada a seguinte fórmula para designar o tempo normal:

Sendo:

TC= Tempo Cronometrado

V= Velocidade da Operação

2.1.5 Fator de tolerância

É a previsão da interrupção do trabalho para atender necessidades pessoais e para aliviar a

fadiga. Para determinar o fator de tolerância, deve-se primeiramente, determinar , que leva

em consideração a reação entre o tempo permissivo e o tempo trabalhado, como é mostrado

abaixo:

Com isso, deve-se substituir o valor de encontrado, na seguinte fórmula:

2.1.6 Cálculo do tempo padrão

Este cálculo determina o tempo padrão de cada operação em que o item é processado. O

Tempo padrão é calculado em função do Tempo Normal (TN) e do Fator de Tolerância (FT),

pela fórmula:

2.1.7 Capacidade produtiva

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Segundo Moreira (2004), capacidade produtiva pode ser determinada como a quantidade

máxima de peças/produtos e/ou serviços que podem ser produzidos em alguma unidade

produtiva, em um período de tempo já determinado.

A capacidade produtiva pode ser determinada através da seguinte fórmula:

Onde:

CP – Capacidade produtiva

– Horas trabalhadas ao dia

TP – Tempo padrão

– Número de funcionários

2.1.8 Tempo de setup

É denominado como o tempo que não agrega valor algum, entretanto pode causar danos ao

processo de produção de uma empresa. O setup tem que ser tratado frequentemente, pois

cliente nenhum paga por movimentos e ações que não acrescentam valor ao produto final, ou

seja, as empresas que fazem descaso ao tempo de setup podem acabar perdendo lugar no

mercado em que atuam. (MOURA, BANZATO, 1996)

2.2 Estudo de tempos sintéticos

A principal vantagem da utilização de tempos pré-determinados é a eliminação da

necessidade de nova análise. Assim é possível levantar o tempo de execução do novo produto

antes mesmo dele ter sido colocado em produção. (PEINADO e GRAEML, 2007).

Barnes (1977) fala a respeito de alguns tipos de sistemas de tempos sintéticos, comentando

que, devido à falta de informação publicada e as especificidades de cada método feito ou

adaptado para cada empresa em particular é impossível saber quantos sistemas distintos de

tempos sintéticos podem estar em uso nas organizações.

2.3 Gráficos de fluxo de processo

Os gráficos de fluxos de processos servem para examinar se o processo está sob controle.

Segundo Reno (2015), esses gráficos sintetizam um conjunto de dados, que fazem uso de

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métodos estatísticos para observar as mudanças que ocorrem dentro do processo, baseado em

dados amostrais.

2.4 Layout

Layout corresponde à organização dos elementos em determinado espaço físico, com o

objetivo de atender às necessidades dos clientes, fornecedores e funcionários, fazendo-os

interagir com o ambiente organizacional e, consequentemente, aumentando a produtividade e

reduzindo custos. (VENANZI, 2013).

2.5 Fluxograma

De acordo com Rebouças (2009), o fluxograma seria uma representação gráfica realizada para

mostrar a sequência de um trabalho de forma analítica, caracterizando as operações

envolvidas no processo.

2.6 Carta de atividades múltiplas

Segundo Barnes (1977), carta de atividades múltiplas, é uma tabela realizada com a finalidade

de analisar as atividades simultaneamente executadas por homens e máquinas. É representada

através de colunas que identificam a participação do homem ou da máquina nas atividades

produtivas, sendo o retângulo preto o indicador de quem realiza a etapa, o retângulo branco, o

indicador de quem não está fazendo parte do processo no momento indicado e o retângulo

listrado indica que ambos estão operando.

3. Método de pesquisa

No presente artigo, foi realizado um estudo de campo tendo abordagem quantitativa, com o

objetivo de aplicar o estudo de tempos e movimentos no processo de produção de açaí em

uma empresa de pequeno porte.

Segundo Popper (1972), de uma forma geral, tal como a pesquisa experimental, os estudos de

campo quantitativos guiam-se por um modelo de pesquisa onde o pesquisador parte de

quadros conceituais de referência bem estruturados, a partir dos quais formula hipóteses sobre

os fenômenos e situações que quer estudar. Para realizar a coleta de dados, faz-se necessário

enfatizar números ou informações que podem ser convertidas em números, que permitam

verificar a ocorrência ou não das consequências, e daí então a aceitação ou não das hipóteses.

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Para Gil (2008), a pesquisa de campo procura mostrar o aprofundamento de uma realidade

específica. É realizada por meio da observação direta das atividades de um grupo estudado e

de entrevistas para obter as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade.

Sendo assim, foi feita a coleta de dados, por meio da visita in loco, para obter o tempo padrão

da produção da bebida de açaí, através da cronometragem de fenômenos do processo

produtivo e filmagens, a fim de conseguir a duração de cada etapa, analisar e listar os

micromovimentos presentes nesse processo.

No dia 05 de dezembro de 2015, ocorreu a visita ao local para conversar com o empresário,

observar como ocorria a produção e conhecer o ambiente. Nos dias 06, 07, 08, 11 e 12 de

dezembro de 2015, foi realizada a visita de campo para coletar os dados necessários. Tal

coleta ocorreu através de anotações do que era observado e filmado no momento em que o

funcionário da empresa realizava a produção. Vale frisar, que o funcionário foi informado do

objetivo das observações e consentiu em realizar suas devidas funções como de costume.

O processo produtivo ocorre de oito às dez horas da manhã, todos os dias da semana. Segundo

o empresário, o tempo permissivo é de vinte minutos para necessidades pessoais, sendo

inviável tempo para aliviar a fadiga por ser um trabalho de curta duração.

Depois do processo produtivo finalizado, o produtor apenas vende o açaí. O mesmo

funcionário que produz, também realiza a atividade de venda. A cada dia foi realizada apenas

uma cronometragem, pois algumas etapas, como a de lavagem completa, que inclui as três

lavagens e molho, ocorrem apenas uma vez ao dia, devido o produtor realizá-las com toda a

matéria prima que será usada no dia.

No decorrer do artigo busca-se, a aplicação das ferramentas dispostas no estudo dos tempos e

movimentos para a mensuração de resultados em números, que irão fornecer dados relevantes,

como o tempo padrão e o tempo sintético, evidenciando também cada etapa do processo

produtivo.

4. Análise do processo produtivo e resultados

A empresa dispõe de um funcionário no processo produtivo e um empresário no processo

administrativo. O processo produtivo ocorre em duas horas, sete dias por semana. É possível

visualizar o quadro da empresa através do layout da mesma, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Layout do espaço produtivo

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Antes do processo de produção ter início, ocorre o setup com as seguintes atividades: lavar as

mãos, vestir o uniforme, lavar as vasilhas, secá-las, arrumá-las sobre o balcão, limpar o

estabelecimento e montar a máquina. Esse tempo foi cronometrado cinco vezes e possui a

média de aproximadamente dezenove minutos.

Feito isso, é iniciado o processo de produção do açaí, que passa primeiramente pela lavagem

do fruto, que ocorre com o produtor enchendo o tanque com água, e em seguida, submergindo

o açaí, mexendo o produto e crivando as impurezas. Depois, a água do tanque é escoada e este

processo é repetido três vezes, para que o fruto esteja bem higienizado para consumo. Após as

lavagens, o fruto permanece no tanque e o produtor despeja água no mesmo e deixa o fruto de

molho em torno de trinta minutos, para amolecer o fruto. Em seguida, o açaí que estava

contido no molho, passa por um processo de choque térmico, ou seja, o produtor retira o açaí

do molho com água em temperatura ambiente e passa para um recipiente com água quente,

que está sendo aquecida pelo ebulidor. Com isso, dá-se início ao processo de batimento,

realizado pela máquina e o produtor, que despeja água enquanto a máquina funciona. A

próxima etapa é retirar o caroço da máquina, depois ocorre a preparação para o embalamento,

que é quando o produtor posiciona a vasilha que contém o açaí despejado pela máquina para

que fique mais próximo das embalagens. É feito o processo de embalamento e depois o

produtor armazena o produto no freezer. Esse processo pode ser melhor visualizado no

fluxograma a seguir e na folha de registro, ilustrada na Figura 2.

Fluxograma da operação:

Colocar a água e o açaí no tanque

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Lavar, inspecionar e crivar a sujeira

Esperar escoar a água do tanque

Lavar, inspecionar e crivar a sujeira

Esperar escoar a água do tanque

Lavar, inspecionar e crivar a sujeira

Esperar escoar a água do tanque

Esperar o açaí amolecer (molho no tanque)

Retirar do molho

Levar para o choque térmico

Esperar o processo de choque térmico

Retirar do processo de choque térmico

Levar para a máquina de bater açaí

Esperar a máquina bater o fruto enquanto coloca água na máquina

Retirar o caroço da máquina

Preparar para embalar

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Embalar

Levar até o Freezer

Armazenar no Freezer

A legenda dos símbolos utilizados para representar as atividades realizadas está ilustrada na figura 3.

Figura 2 – Folha de registro

Figura 3 – Símbolos das subdivisões das atividades

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Figura 3 – Símbolos utilizados no fluxograma

Fonte: Slack (2002).

Durante o processo de produção, em algumas etapas, ocorre a ação apenas do operador, e em

outras, a ação da máquina e do operador, simultaneamente, como é ilustrado na a carta de

atividades múltiplas (Figura 4).

Figura 4 - Carta de atividades múltiplas para a operação

Atividades Operador Máquina

Lavagem do Açaí

Molho

Choque Térmico

Batimento

Tirar o Caroço

Ensacar

Armazenar

Para estipular a velocidade média do funcionário, foi realizado o teste do baralho. Os

resultados obtidos na cronometragem do teste estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Tempos cronometrados no teste do baralho (em segundos)

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Tempo 1 Tempo 2 Tempo 3 Tempo 4 Tempo 5 Média (Mm)

Operador 35,2 37,8 42,5 29,7 17,86 32,612

Para determinar o fator de ritmo (FT) do operador, foi necessário calcular, primeiramente sua

velocidade, a partir da média das médias (Mm).

Com o subsídio destas cronometragens, a velocidade resultou em 92 %. Como a média ideal é

considerada 100%, pôde-se concluir que a velocidade do operador é considerada lenta. Após o

teste do baralho iniciou-se a cronometragem dos elementos que compõem o processo de

produção de açaí. A Tabela 4 mostra os tempos (em minutos) cronometrados em cada

atividade.

Tabela 4 – Tempos cronometrados do processo

Folha 1 - Cronometragens prévias Período: 5 dias

Operação: Produção de açaí

Nome do produto: Açaí Tipo de produto: Açaí

Líquido

Ingredientes: Água e açaí

Materiais e Máquinas Utilizadas: tanque, crivo, ebulidor, máquina de bater açaí, filtro, vasilhas, jarra medidora,

embalagens e freezer.

Nome da Equipe: Paulo Sérgio e Paulo Luiz Sexo do operador:

Masculino

Supervisor: Paulo Sérgio Setor: Ponto de produção

e venda de açaí

Início: 8 h Fim: 10h Tempo decorrido: 2 h Turno: Manhã

Nº de máquinas operadas: 2

Cronometragens Tempo (minutos)

Elementos 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia

1° Lavagem 5.58 5.23 5.5 5.33 5.38

Escoamento 1 1.01 1.16 1.11 1.15 1.08

2° Lavagem 1.93 2.6 1.98 1.78 1.91

Escoamento 2 1.05 1.08 1.13 1.08 1.16

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3° Lavagem 5.25 4.86 4.33 4.91 5.03

Escoamento 3 1.25 1.26 1.2 1.2 1.21

Encher o tanque para o molho 1.51 4.01 3.76 3.98 3.88

Molho (água em temperatura ambiente) 35.11 28.05 29.13 32.06 25.25

Choque Térmico 0.18 0.21 0.25 0.13 0.28

Batimento 3.38 3.55 3.53 3.4 3.95

Tirar caroço 0.05 0.083 0.06 0.06 0.05

Ensacar 0.26 0.36 0.35 0.3 0.41

Armazenamento

Total

O cálculo prévio permitiu determinar o número de cronometragens (n) necessárias para

utilizar na cronometragem efetiva. Para alcançar este objetivo, calculou-se um n para cada

componente da referida operação, utilizando-se um erro de 10% e um grau de confiança de

95%. A partir das seguintes cronometragens médias: 56,92 - 52,03 - 52,64 - 55,79 - 50,1.

Obteve-se = 2. Isso caracteriza que para o número de cronometragens efetivas serem

estatisticamente válido, o número satisfatório de amostras seria dois.

Através dos dados coletados foi realizada uma análise detalhada do processo de produção de

açaí. A partir das cronometragens foram realizados os cálculos do Tempo Médio, Tempo

Normal, Fator de Tolerância, Tempo Padrão e Capacidade Produtiva:

Cálculo do Tempo Médio (TM):

Cálculo do Tempo Normal (TN):

Cálculo do Fator de Tolerância (FT):

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O tempo permissivo disponibilizado é de 20 min. O tempo de trabalho do funcionário da

empresa é de 2 horas diárias, ou 120 minutos.

Cálculo do Tempo Padrão (TP):

Cálculo da Capacidade Produtiva (CP):

Com base na coleta de dados foi elaborado também um gráfico de controle, onde se calculou

parâmetros estatísticos como o limite superior e limite inferior. Foram desenhadas linhas de

controle, depois plotada as médias das amostras no gráfico e por último verificou-se que os

pontos estão dentro dos limites de controle, ou seja, o processo está sob controle, como

mostra o Gráfico 1 abaixo:

Gráfico 1 - Gráfico de Controle

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Tempo sintético (tabela TMU):

No presente artigo, foi selecionada a operação de armazenamento do açaí para realização da

cronometragem de micromovimentos, ou seja, o tempo sintético. A cronometragem tem início

no momento em que o produtor está com o açaí em mãos, já embalado e encerra-se quando

ele, após ter colocado o açaí no freezer, fecha o mesmo. É possível observar os resultados da

cronometragem realizada logo abaixo, na Tabela 5.

Tabela 5 – Cronometragem dos micromovimentos do processo de armazenamento

Op

era

ções

Mic

ro o

per

açõ

es

Des

criç

ão

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a

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Arm

azen

ar o

Aça

í

Lev

ar o

Aça

í at

é o

lo

cal

de

Arm

azen

amen

to Girar o corpo - - - - 8,5

840,8 841

840,8 0,008408 0,50448

Andar até certo ponto - - - 157 393,7

Girar o corpo - - - - 8,5

Andar até o freezer - - - 157 393,7

Girar o corpo - - - - 8,5

Fixar os olhos - - - - 7,3

Alcançar o puxador do

freezer - - - 1 2,5

Abrir o freezer - - - - 2

Posicionar o açaí dentro

do freezer - - - - 5,6

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Soltar o açaí no freezer - - - - 2

Tempo de espera - - - - 4

Alcançar o puxador do

freezer - - - 1 2,5

Fechar o freezer - - - - 2

5. Conclusão

Com base no estudo efetuado na empresa, observou-se que foi possível alcançar o objetivo

traçado de realizar um estudo de tempos e movimentos na empresa em questão, mediante ao

estudo de tempos cronometrados feito na empresa abordada foi possível a realização de todos

os cálculos pré-estabelecidos, conseguindo evidenciar a capacidade produtiva através do

tempo padrão. Obtendo os valores de TN 49,38; FT= 1,2; TP 59,3; a capacidade produtiva

calculada foi de 2 ciclos ao dia , ou seja, a empresa estudada que trabalha com a produção de

açaí tem capacidade de realizar 2 vezes ao dia todo seu processo produtivo, devido ao tempo

disponível para o trabalho.

Para tentar reduzir mais o tempo de produção é sugerido unificar em um mesmo local o

freezer para que a tarefa de armazenamento seja executada sem movimentação desnecessária

e com maior velocidade. Por consequência, se essa alteração fosse adotada pelo produtor,

resultaria em um menor tempo de espera entre a próxima atividade.

Como sugestão para trabalhos futuros é possível identificar as variáveis do processo produtivo

para melhor encaixar as restrições da organização, estabelecendo um plano de trabalho mais

efetivo baseado em ferramentas como as de Pesquisa Operacional (PO).

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