aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

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APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE GESTÃO DE RISCOS E OPORTUNIDADES: UM ESTUDO DE CASO EM E & P DE PETRÓLEO E GÁS Gabriel Pessanha Jabarra Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Thereza Cristina Nogueira de Aquino Rio de Janeiro Novembro de 2015

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Page 1: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE GESTÃO DE RISCOS E OPORTUNIDADES: UM ESTUDO DE CASO EM E & P DE

PETRÓLEO E GÁS

Gabriel Pessanha Jabarra

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia de Produção da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Thereza Cristina Nogueira de

Aquino

Rio de Janeiro

Novembro de 2015

Page 2: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE GESTÃO DE RISCOS E OPORTUNIDADES: UM ESTUDO DE CASO EM E & P DE

PETRÓLEO E GÁS

Gabriel Pessanha Jabarra

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE

PRODUÇÃO.

Examinado por:

________________________________________________

Profa. Thereza Cristina Nogueira de Aquino, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Roberto Ivo da Rocha Lima Filho, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Édison Renato Pereira da Silva, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Regis da Rocha Motta, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Novembro de 2015

Page 3: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

Jabarra, Gabriel Pessanha

Aplicação da metodologia de gestão de riscos e

oportunidades: Um estudo de caso em E & P de

Petróleo e Gás / Gabriel Pessanha Jabarra – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

XII, 71 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia de Produção, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 69-71.

1. Gestão, 2. Riscos, 3. Oportunidades

I. Aquino, Thereza Cristina Nogueira. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia de Produção. III. Titulo.

Page 4: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de

Produção.

Aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades: Um estudo de caso

em E & P de Petróleo e Gás

Gabriel Pessanha Jabarra

Novembro/2015

Orientador: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Curso: Engenharia de Produção

Empresas que operam em ramos que envolvem cenários de alta complexidade por

vezes encontram-se cercadas de incertezas e instabilidades inerentes aos projetos

que estão realizando. A garantia e confiabilidade nos resultados é algo

extremamente incerto e influenciado por diversos fatores, sejam eles internos ou

externos à empresa. O objetivo deste trabalho é avaliar a aplicabilidade dos

conceitos de gestão de riscos e oportunidades em um projeto da cadeia do petróleo

através de um estudo de caso e da análise de seus resultados.

Palavras-chave: Gestão, Riscos, Oportunidades.

Page 5: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

Application of risk and opportunity management methodology: A case study in E & P

of Oil and Gas

Gabriel Pessanha Jabarra

November/2015

Advisor: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Course: Industrial Engineering

Companies operating in branches involving highly complex scenarios often are

surrounded by uncertainties and instabilities inherent in projects that are being

performed. The assurance and reliability of the results is extremely uncertain and

influenced by several factors, whether internal or external to the company. The

objective of this study is to evaluate the applicability of risk and opportunities

management concepts in an oil chain project through a case study and analysis of its

results. Keywords: Management, Risks, Opportunities.

Page 6: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

SUMÁRIO

1  INTRODUÇÃO  ...............................................................................................................................  1  

1.1  APRESENTAÇÃO  DO  TEMA  ................................................................................................................  1  1.2  OBJETIVO  .....................................................................................................................................  1  1.2.1  OBJETIVO  GERAL  .................................................................................................................................  1  1.2.2  OBJETIVOS  ESPECÍFICOS  .......................................................................................................................  2  1.3  METODOLOGIA  ..............................................................................................................................  2  1.4  ESTRUTURA  ...................................................................................................................................  3  

2  GESTÃO  QUALITATIVA  DE  RISCOS  E  OPORTUNIDADES  ..................................................................  4  

2.1  CONCEITO  DE  RISCO  ........................................................................................................................  4  2.2  TIPOS  DE  RISCOS  ............................................................................................................................  5  2.3  RISCOS  DE  CUSTO  E  CRONOGRAMA  .....................................................................................................  6  2.4  RESTRIÇÕES  DO  MODELO  ..................................................................................................................  7  2.5  ETAPAS  DA  GESTÃO  DE  RISCOS  E  OPORTUNIDADES  .................................................................................  7  2.5.1  PLANEJAMENTO  DO  GERENCIAMENTO  DE  RISCOS  ....................................................................................  10  2.5.2  IDENTIFICAÇÃO  DE  RISCOS  ..................................................................................................................  12  2.5.3  ANÁLISE  QUALITATIVA  DE  RISCOS  .........................................................................................................  14  2.5.4  ANÁLISE  QUANTITATIVA  DE  RISCOS  .......................................................................................................  18  2.5.5  PLANEJAMENTO  DE  RESPOSTAS  A  RISCOS  ..............................................................................................  19  2.5.6  MONITORAMENTO  E  CONTROLE  DOS  RISCOS  .........................................................................................  21  2.7  MATRIZES  DE  PROBABILIDADE  E  IMPACTO  ..........................................................................................  22  2.8  PAPÉIS  E  RESPONSABILIDADES  .........................................................................................................  25  2.9  PRINCIPAIS  DOCUMENTOS  ..............................................................................................................  26  

3  GESTÃO  QUANTITATIVA  DE  RISCOS  E  OPORTUNIDADES  .............................................................  28  

3.1  PROVISÃO  ..................................................................................................................................  31  3.2  CONTINGÊNCIA  ............................................................................................................................  31  3.3  BOAS  PRÁTICAS  ............................................................................................................................  33  3.4  LIBERAÇÃO  DA  CONTINGÊNCIA  ........................................................................................................  34  

4  SIMULAÇÃO  DE  MONTE  CARLO  ...................................................................................................  37  

4.1  APRESENTAÇÃO  ...........................................................................................................................  37  4.2  MODELO  MATEMÁTICO  .................................................................................................................  38  4.3  CARACTERÍSTICAS  DO  MODELO  ........................................................................................................  40  4.4  RESTRIÇÕES  E  CUIDADOS  ................................................................................................................  42  

5  ESTUDO  DE  CASO  ........................................................................................................................  44  

5.1  APRESENTAÇÃO  DA  INDÚSTRIA  ........................................................................................................  44  5.2  APRESENTAÇÃO  DA  EMPRESA  ..........................................................................................................  45  5.3  GESTÃO  QUANTITATIVA  .................................................................................................................  48  5.4  GESTÃO  QUALITATIVA  ...................................................................................................................  54  5.5  ANÁLISE  CRÍTICA  ..........................................................................................................................  59  

6  CONCLUSÃO  ...............................................................................................................................  67  

7  REFERÊNCIAS  ..............................................................................................................................  69  

Page 7: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1: VISÃO GERAL DO GERENCIAMENTO DE RISCOS DO PROJETOS. ............................ 9 FIGURA 2: PLANEJAR O GERENCIAMENTO DOS RISCOS: ENTRADAS, FERRAMENTAS E

TÉCNICAS, E SAÍDAS. ............................................................................................. 11 FIGURA 3: IDENTIFICAR OS RISCOS: ENTRADAS, FERRAMENTAS E TÉCNICAS, E SAÍDAS. ...... 13 FIGURA 4: REALIZAR A ANÁLISE QUALITATIVA DE RISCOS: ENTRADAS, FERRAMENTAS E

TÉCNICAS, E SAÍDAS. ............................................................................................. 15 FIGURA 5: REALIZAR A ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS: ENTRADAS, FERRAMENTAS E

TÉCNICAS, E SAÍDAS. ............................................................................................. 18 FIGURA 6: PLANEJAR AS RESPOSTAS AOS RISCOS: ENTRADAS, FERRAMENTAS E TÉCNICAS, E

SAÍDAS. ................................................................................................................ 20 FIGURA 7: CONTROLAR OS RISCOS: ENTRADAS, FERRAMENTAS E TÉCNICAS, E SAÍDAS. ..... 22 FIGURA 8: MATRIZ DE PROBABILIDADE E IMPACTO. .......................................................... 23 FIGURA 9: COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS E RECEITA. .......................................................... 30 FIGURA 10: FAIXAS DE ESTIMATIVAS DE CUSTOS DO PROJETO. ........................................ 32 FIGURA 11: EVOLUÇÃO DA CONTINGÊNCIA. .................................................................... 35 FIGURA 12: ESQUEMA DE RISER CATENÁRIA DE AÇO. ...................................................... 47 FIGURA 13: PREMISSA UTILIZADA NO CRYSTAL BALL®. .................................................... 49 FIGURA 14: PREMISSA UTILIZADA NO CRYSTAL BALL®. .................................................... 51 FIGURA 15: CURVA-S, RESULTADO DA SIMULAÇÃO REALIZADA NO CRYSTAL BALL®. .......... 53 FIGURA 16: EVENTO IDENTIFICADO NO REGISTRO DE RISCOS E OPORTUNIDADES. ............ 55 FIGURA 17: ANÁLISE PRÉ-MITIGAÇÃO. ............................................................................ 57 FIGURA 18: AÇÕES MITIGADORAS. ................................................................................. 58 FIGURA 19: ANÁLISE PÓS-MITIGAÇÃO. ........................................................................... 59  

Page 8: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

ÍNDICE DE TABELAS TABELA 1: TABELA DE REFERÊNCIA PARA PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA. ..................... 16 TABELA 2: TABELA DE REFERÊNCIA PARA IMPACTO EM CUSTO, CRONOGRAMA E

PERFORMANCE. .................................................................................................... 17 TABELA 3: DADOS DE REFERÊNCIA PARA PREMISSAS UTILIZADAS NO CRYSTAL BALL®. ...... 52 TABELA 4: CATEGORIZAÇÃO DOS FATORES QUALITATIVOS. .............................................. 57

Page 9: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

ÍNDICE DE GRÁFICOS GRÁFICO 1: SITUAÇÃO FINAL DOS RISCOS. ..................................................................... 61 GRÁFICO 2: COMPARAÇÃO DO NÍVEL DE RISCO INICIAL E RESIDUAL. ................................. 62

Page 10: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

1

1 Introdução

1.1 Apresentação do tema

O estudo dos riscos de projeto é um caminho inevitável no ambiente

competitivo contemporâneo com a crescente necessidade de evitar perdas

materiais, monetárias e humanas advindas de problemas decorrentes da omissão ou

inconsciência com relação aos eventos que podem ser evitados, mitigados,

transferidos ou aceitos desde que gerenciados a partir de uma metodologia e um

procedimento estruturado.

O incremento do processo de globalização das atividades econômicas

aumenta em grandes proporções o grau de complexidade dos projetos, entretanto o

mesmo processo de globalização traz consigo um fator muito importante: a

necessidade de se enfrentar os eventos de risco de forma estruturada, a partir de

um modelo.

Com base nesse aumento da visibilidade e da crescente necessidade de se

propor uma gestão eficiente de riscos, foi elaborado o presente trabalho, buscando

apresentar e analisar um caso real, apontando as principais dificuldades de se

encontrar o equilíbrio entre a competitividade e a segurança sob a perspectiva da

gestão de riscos.

1.2 Objetivo

O presente projeto tem como objetivo analisar o emprego das práticas e

diretrizes contidas na bibliografia disponível acerca do tema de gestão de riscos em

uma situação real de projeto de engenharia.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo mais amplo deste trabalho é fazer um diagnóstico dos principais

problemas identificados na gestão de riscos do projeto exposto no estudo de caso.

Este resultado será então comparado com as diretrizes contidas na literatura

específica da área afim de identificar as causas destas questões.

Page 11: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

2

A elaboração de um estudo de caso como o apresentado neste trabalho tem

como motivação o fato de a gestão de riscos em projetos estar sendo cada vez mais

vista com bons olhos pelas empresas. Entretanto, esta disseminação dos

conhecimentos e práticas desta ferramenta deve ser acompanhada por um

embasamento teórico e adaptada a cada ambiente específico onde a empresa atua.

1.2.2 Objetivos específicos

Esta avaliação, por fim, tem o objetivo de apontar os erros críticos cometidos

na gestão de riscos de projeto que podem ser facilmente extrapolados para outros

projetos em áreas similares ou mesmo áreas distantes da engenharia. Este

apanhado dos principais problemas ou falhas cometidas será então analisado a fim

de se identificar a causa raiz de cada ponto.

A intenção de se chegar na causa raiz destes principais pontos levantados

acerca da gestão de riscos de um projeto real é detalhar os principais problemas

encontrados que proporcionaram o resultado do projeto de forma a se reduzir todos

estes eventos a apenas poucas causas comuns. Tenta-se provar, portanto, que

grande parte das dificuldades encontradas é, na verdade, uma consequência ou um

efeito de um problema maior encontrado anteriormente.

1.3 Metodologia

A metodologia utilizada para este trabalho se baseou em duas etapas

principais: uma introdução teórica acerca da gestão de riscos e oportunidades de

projeto nos seus campos qualitativo e quantitativo, até apresentar os principais

métodos de cálculo utilizados, tendo como base a literatura existente sobre o tema,

com destaque para a literatura do Project Management Institute (PMI).

A segunda etapa consiste em um estudo de caso cujo propósito é apresentar

e analisar uma situação real, um projeto de grande porte, cujo nome foi mantido em

sigilo por motivos de confidencialidade, onde foi implantado um mecanismo

complexo de gestão de riscos apontando de forma crítica as principais

características deste mecanismo e salientando as principais dificuldades

encontradas ao longo desta implantação.

Page 12: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

3

1.4 Estrutura

A partir dessa estruturação, o trabalho foi organizado em seis capítulos.

O capítulo inicial apresenta a introdução ao projeto de graduação, com a

apresentação do tema de gestão de riscos e oportunidades, definição dos objetivos

do estudo, a metodologia empregada de exposição teórica seguida de estudo de

caso e, por fim, a apresentação da estrutura dos 6 capítulos do trabalho.

O segundo capítulo é resultado de uma pesquisa bibliográfica acerca do

gerenciamento de risco em projetos, apresentando uma visão geral acerca da

gestão qualitativa de riscos em projetos, desde a definição de risco, os tipos de

riscos, restrições do modelo de gestão qualitativa, até chegar nas etapas da gestão

de riscos e nas formas de apresentação, registro e controle desta gestão.

O terceiro capítulo, assim como o anterior é fruto de uma pesquisa

bibliográfica aliado às experiências e conhecimentos adquiridos pela autor durante

tempo de atuação nesta área, compreende uma revisão da gestão quantitativa de

riscos salientando a mesma como uma decisão estratégica, passando pelas

definições de provisão e contingência, as quais dão suporte para a compreensão do

estudo de caso proposto.

O capítulo 4 se propõe a estabelecer o referencial teórico acerca da

Simulação de Monte Carlo, a fim de embasar uma análise crítica a partir dos

resultados obtidos por este método no estudo de caso, salientando o modelo

matemático e as principais precauções que devem ser tomadas.

O quinto capítulo trata do estudo de caso, que tem como intenção

proporcionar uma análise crítica da gestão de riscos de forma simplificada em um

projeto de alta complexidade que demanda, além de extensos recursos físicos e

intelectuais de uma empresa mundial, esforços bastante significativos em todas as

áreas de projeto.

Por fim, o capítulo 6 apresenta as conclusões extraídas do presente trabalho,

levando em consideração as etapas anteriores, tanto na parte teórica, quanto na

parte do estudo de caso.

Page 13: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

4

2 Gestão qualitativa de riscos e oportunidades

Keelling (2005) afirma que em todos os projetos existe um elemento de risco.

A administração dos riscos deve ser um processo contínuo ao longo da vida de todo

o projeto. As consequências de uma variação de risco entre o mínimo e o traumático

podem afetar o resultado do projeto, a consecução dos objetivos, a duração, o custo

excessivo dentre outros fatores.

Neste capítulo serão expostos através de um aparato teórico os aspectos

mais importantes da gestão qualitativa de riscos e oportunidades. Dentre estes,

destacam-se as definições de risco e incerteza, distinção entre os diferentes tipos de

riscos, limitações dos modelos e principais etapas da gestão de riscos, meios de

classificação de riscos, matrizes de classificação por nível, papéis e

responsabilidades dentro de cada setor de projeto e os principais resultados de uma

análise qualitativa contínua de riscos e oportunidades de projeto.

2.1 Conceito de risco

Segundo o PMI (2014), o risco do projeto é um evento ou condição incerta

que, se ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos

do projeto tais como escopo, cronograma, custo e qualidade. Um risco pode ter uma

ou mais causas e, se ocorrer, pode ter um ou mais impactos.

As variações nos resultados são esperadas em função das incertezas

inerentes à natureza do trabalho que está sendo executado, podendo gerar um

impacto negativo, sendo assim chamado de risco, ou um impacto positivo, sendo

assim chamado de oportunidade. Por isso a gestão destes eventos se faz

necessária a fim de minimizar os impactos dos mesmos para o projeto.

As fontes de incertezas que geram riscos podem ser das mais variadas,

sejam elas internas ou externas à empresa. Dentre elas pode-se citar: comunicação

entre áreas da empresa, mudanças no planejamento financeiro, interação com os

clientes, interação com o meio social, interação com o meio ambiente, mudanças

macroeconômicas, mudanças institucionais, entre outras.

Conforme Alencar et al. (2005), as equipes de projetos podem assumir duas

posturas em face das incertezas: ser reativa ou proativa. A postura reativa se baseia

Page 14: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

5

em tratar cada um dos fatores de risco na medida em que eles vão acontecendo

enquanto a postura proativa reconhece as vantagens do planejamento e

acompanhamento como ferramentas racionais e econômicas para enfrentar as

incertezas dos projetos.

Estas incertezas se apresentam das mais variadas maneiras, pois são

causadas por diversos motivos, sendo assim é necessário organizar e classificar

estes eventos de forma a simplificar o processo de gestão.

2.2 Tipos de riscos

Dentro da gestão de riscos e oportunidades encontram-se diversos tipos de

riscos que podem ser divididos de diversas maneiras de acordo com cada tipo de

projeto ou operação. O objetivo desta divisão é organizar e definir os responsáveis

por cada subdivisão de riscos e facilitar o tratamento dos eventos. A título de

exemplo, destaca-se uma divisão usual utilizada por empresas atuantes no setor de

construção. São três categorias, as quais: riscos de saúde, segurança, meio-

ambiente e qualidade; riscos de engenharia; e riscos de projeto.

Dentro das empresas que contam com uma área ou setor especialmente

dedicada à gestão de riscos e oportunidades é comum que esta divisão seja feita já

na definição dos papéis de cada equipe. Numa empresa de operações complexas,

por exemplo, a gestão dos riscos de saúde, segurança, meio-ambiente e qualidade1

é considerada primordial. Esta importância fica evidente na declaração de valores da

corporação, reafirmando o compromisso de cuidar e zelar pela saúde e segurança

de seus empregados e do meio ambiente.

Os riscos de engenharia são mais específicos àquelas empresas atuantes no

ramo de projetos físicos que demandem operações mais complexas. Estes riscos

estão associados ao desenho e projeto de componentes e são normalmente

tratados pela própria equipe de engenharia do projeto.

Finalmente, os riscos e oportunidades de projeto, objeto de estudo deste

trabalho, são aqueles inerentes à execução do projeto em si, relacionados não

somente à operação e execução, mas a todas as fases que o envolvem, seja do

porte que for, como: planejamento, compras, logística, engenharia, fabricação,

custos, financeiro, clientes, fornecedores, etc.

1 Chamados HSEQ, sigla em inglês para Health, Safety, Environment, Quality

Page 15: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

6

Os riscos de projeto são definidos por Blunden e Thrilwell (2010) como o risco

de perda resultante de processos internos, pessoas e sistemas inadequados ou

deficientes ou por eventos externos. Esta definição exprime e confirma que os riscos

operacionais são aqueles derivados de incertezas geradas pelos próprios processos

internos, pessoas e sistemas, ou pelas circunstâncias externas nas quais o projeto

está inserido. Neste caso as perdas em custo estariam inseridas em todas as faces

dos processos, sistemas e resultantes do impacto de eventos externos nestes

processos.

2.3 Riscos de custo e cronograma

Em um projeto de engenharia, os impactos gerados pelos riscos e

oportunidades podem, em geral, ser separados entre impactos no custo e impactos

no cronograma. Ambos devem ser abordados e tratados pela equipe de gestão de

riscos e oportunidades juntamente com os especialistas em cada risco.

O motivo pelo qual os impactos podem ser agrupados e divididos entre custo

e cronograma é que estes dois fatores cruciais do projeto são as principais variáveis

que determinam se o resultado final da equipe de projeto como um todo, não

somente a parte de riscos, é satisfatório ou não.

O objetivo principal de uma equipe de projeto é entregar ao cliente, seja ele

interno ou externo, o que foi solicitado dentro do escopo programado, dentro do

custo estipulado e seguindo o cronograma acordado entre as partes. Logo,

quaisquer impactos nos custos ou no cronograma, sejam estes positivos ou

negativos, são de extrema importância para a equipe do projeto, pois esses fatores

são os principais resultados esperados pelos stakeholders1 envolvidos.

Desta forma, a divisão e classificação dos riscos, assim como as ações de

mitigação e prevenção são guiadas pelas características principais dos riscos e das

oportunidades. Os impactos destes eventos no custo e no cronograma devem ser

entendidos como uma diretriz para se definir a melhor abordagem para cada item

separadamente.

1 Pessoa ou grupo que possui participação, investimento ou ações e que possui interesse em

uma determinada empresa ou negócio. O inglês stake significa interesse, participação, risco. Enquanto holder significa aquele que possui.

Page 16: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

7

2.4 Restrições do modelo

Estas limitações estão associadas aos grupos de riscos e oportunidades para

os quais o modelo não se adapta de forma satisfatória ou que possam causar um

desvio na avaliação feita pelo método.

A ferramenta não engloba, por exemplo, eventos com as seguintes

características: eventos com probabilidade extremamente baixa associada a impacto

extremamente alto, riscos que o projeto partilha com a empresa como um todo e

riscos de um projeto que representem grande ameaça para outros projetos.

O motivo pelo qual os riscos e oportunidades com as características descritas

acima não são abordados pelo modelo descrito é a necessidade de eliminar da

análise aqueles elementos que poderiam contaminar os resultados do estudo em

função de sua natureza. Por exemplo, incluir em uma análise de risco de projeto de

engenharia civil o risco de colapso total da estrutura do empreendimento poderia

contaminar as análises de previsão de contingência, seja de custo ou cronograma.

Este evento enquadra-se na categoria de itens com probabilidade muito pequena de

ocorrer associado a um impacto catastrófico.

Outros riscos que são deixados de fora são aqueles que são segurados para

o possível impacto que possam causar. Como, por exemplo, o naufrágio de um

navio de construção submarina. É impensável que um navio de construção

submarina não possua um seguro para o caso de naufrágio ou mesmo dano

estrutural causado sob quaisquer circunstâncias, logo este risco tem seu impacto

coberto por fatores seguros contratados pela empresa, os quais não competem ao

projeto.

2.5 Etapas da gestão de riscos e oportunidades

O gerenciamento de riscos adiciona à gerência de projetos uma ferramenta

para identificação e análise de riscos no início do planejamento do projeto e no

decorrer das suas fases. Dessa forma, os objetivos do gerenciamento são aumentar

a probabilidade e o impacto dos eventos positivos e diminuir a probabilidade e o

impacto dos eventos adversos ao projeto.

O PMI (2014) elenca seis fases para o processo de gerência de riscos:

planejar o gerenciamento de riscos, identificar os riscos, realizar a análise qualitativa

Page 17: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

8

dos riscos, realizar a análise quantitativa dos riscos, planejar as respostas aos riscos

e controlar os riscos.

Segundo o instituto, as seis fases podem ser descritas como processos:

i. Planejar o gerenciamento dos riscos: Definição de como conduzir as

atividades de gerenciamento dos riscos de um projeto.

ii. Identificar os riscos: Determinação dos riscos que podem afetar o projeto e de

documentação das suas características.

iii. Realizar a análise qualitativa dos riscos: Priorização de riscos para análise ou

ação posterior através da avaliação e combinação de sua probabilidade de

ocorrência e impacto.

iv. Realizar a análise quantitativa dos riscos: Analisar numericamente o efeito

dos riscos identificados nos objetivos gerais do projeto.

v. Planejar as respostas aos riscos: Desenvolvimento de opções e ações para

aumentar as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto.

vi. Controlar os riscos: Implementar planos de respostas aos riscos, acompanhar

os riscos identificados, monitorar riscos residuais, identificar novos riscos e

avaliar a eficácia do processo de gerenciamento dos riscos durante todo o

projeto.

Page 18: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

9

Figura 1: Visão geral do gerenciamento de riscos do projetos.

Fonte: PMI (2014, p.312)

Page 19: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

10

As etapas descritas acima de gerenciamento de riscos devem caminhar em

paralelo com as etapas do projeto. Ou seja, identificando, analisando, avaliando e

tratando os riscos ao longo das etapas do projeto. Esta interação demonstra a

importância do trabalho próximo entre as equipes do projeto, por este motivo a

gestão de riscos é tratada pelas empresas como responsabilidade de toda a equipe

de projeto. A seguir destacam-se as características intrínsecas de cada fase, bom

como as principais ferramentas utilizadas em casa etapa.

2.5.1 Planejamento do gerenciamento de riscos

Segundo PMI (2014) planejar o gerenciamento dos riscos é o processo de

definição de como conduzir as atividades de gerenciamento dos riscos de um

projeto. O principal benefício deste processo é que ele garante que o grau, tipo, e

visibilidade do gerenciamento dos riscos sejam proporcionais tanto aos riscos quanto

à importância do projeto para a organização.

A primeira etapa consiste em estabelecer o contexto no qual o projeto está

inserido e definir as premissas utilizadas para realizar as projeções dos valores-

meta, targets, destes objetivos. É necessário nesta etapa receber informações

precisas acerca dos objetivos do projeto no tocante aos três principais fatores já

mencionados: escopo, custo e cronograma. Estas informações serão essenciais

para identificar quais fatores mais influenciam nos resultados esperados e quais

critérios serão utilizados para medir os possíveis impactos dos riscos identificados

no atingimento destes objetivos.

Conforme Linhares et al. (2004), nesta etapa deve-se desenvolver,

documentar e organizar a estratégia de riscos, estabelecendo propósitos e objetivos,

definindo responsabilidades para áreas específicas, identificando técnicas e

expertises adicionais, estabelecendo métricas, definindo relatórios e documentação.

Durante o planejamento e definição dos objetivos é gerado o principal

documento para a área de riscos e oportunidades: o plano de gestão de riscos e

oportunidades. O plano de gerenciamento dos riscos é vital na comunicação,

obtenção de acordo e apoio das partes interessadas para garantir que o processo de

gerenciamento dos riscos seja apoiado e executado de maneira efetiva.

Page 20: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

11

Conforme PMI (2014), no planejamento do gerenciamento dos riscos, todos

os planos de gerenciamento auxiliares e linhas de base aprovados devem ser

levados em consideração a fim de que o plano de gerenciamento dos riscos seja

consistente com os mesmos. O plano de gerenciamento dos riscos é um

componente do plano de gerenciamento do projeto. O plano de gerenciamento do

projeto fornece a linha de base ou situação atual das áreas afetadas pelo risco

incluindo escopo, cronograma e custo.

As entradas, ferramentas e técnicas, e saídas desse processo estão

ilustradas na Figura 2.

Figura 2: Planejar o gerenciamento dos riscos: entradas, ferramentas e técnicas, e saídas.

Fonte: PMI (2014, p.313).

Esse plano utiliza como entradas fatores ambientais da empresa, fatores

externos e macroeconômicos, principais ativos dos processos organizacionais já

definidos pela empresa, declaração do escopo do projeto contendo projeções de

custo e cronograma e o plano de gerenciamento do projeto.

As ferramentas utilizadas na elaboração do plano consistem em maneiras de

se obter informações, são elas: técnicas analíticas, reuniões de planejamento com

as partes envolvidas no projeto, ou seja, ouvir a opinião especializada e incluir a

participação das principais áreas envolvidas no projeto.

O plano de gerência de riscos descreve como as atividades de gerenciamento

dos riscos serão estruturadas e executadas. O plano deve incluir diversas

informações, as quais:

a. Metodologia: Define abordagens e fontes de informação que podem ser

usadas no gerenciamento dos riscos;

b. Papéis e responsabilidades: Definição dos responsáveis por cada escopo

dentro da equipe de riscos;

Page 21: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

12

c. Orçamento;

d. Prazos: Com que frequência o processo de gerência de risco será realizado;

e. Categorias de risco: Pode ser feita por meio de uma análise dos projetos

passados, através da experiência dos envolvidos ou através de

procedimentos definidos pela empresa.

f. Definições de probabilidade e impacto dos riscos;

g. Matriz de responsabilidade e impacto;

h. Tolerâncias revisadas das partes interessadas;

i. Formatos de relatórios;

j. Acompanhamento.

Contendo todas estas informações no plano e gerenciamento de risco,

principal saída da primeira etapa do gerenciamento de riscos proposto pelo PMI,

deve-se então avançar para a segunda etapa.

2.5.2 Identificação de riscos

Identificar os riscos é o processo de determinação dos riscos que podem

afetar o projeto e de documentação de suas características (PMI, 2014). Segundo

Kerzner (1998), o primeiro passo para identificar os riscos é detectar as áreas

potenciais de falha, e que a eficácia desta identificação resultará na eficiência do

gerenciamento de risco.

Por outro lado, afirma Pritchard (2001), nem todo risco identificado precisa ser

gerenciado. A decisão de qual risco gerenciar e como agir requer análise cuidadosa.

Para Keelling (2005), os riscos podem ter origem no próprio projeto, em

ocorrências não planejadas ou em causas externas, relacionadas a situações

políticas e crises ambientais ou econômicas.

Conforme a visão de Linhares et al. (2004) os riscos podem ser classificados

quanto aos impactos no objetivo do projeto como riscos de escopo, risco de

qualidade, risco de cronograma, risco de custos ou riscos de negócio.

De acordo com o PMI, o principal benefício desse processo é a

documentação dos riscos existentes e o conhecimento e a capacidade que ele

fornece à equipe do projeto de antecipar os eventos.

As entradas, ferramentas e técnicas, e saídas desse processo estão

ilustradas na Figura 3.

Page 22: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

13

Figura 3: Identificar os riscos: entradas, ferramentas e técnicas, e saídas.

Fonte: PMI (2014, p.319).

As entradas desta etapa são os diversos planos de gerenciamento das outras

áreas de projeto que serão responsáveis por alimentar a equipe de riscos com

informações sobre as incertezas inerentes a cada uma das etapas do projeto.

As principais técnicas e ferramentas utilizadas nesta fase são: revisões da

documentação, técnicas de obtenção de informações, por exemplo sessões de

brainstorm1, técnica Delphi2, entrevistas, identificação da causa raiz e matriz SWOT3,

análise de hipóteses, além de técnicas como diagramas de causa e efeito,

fluxogramas de sistemas e diagramas de influência.

Conforme PMI (2014), identificar os riscos é um processo iterativo porque

novos riscos podem surgir ou se tornar evidentes durante o ciclo de vida do projeto.

1 Técnica de discussão em grupo que se vale da contribuição espontânea de ideias por parte

de todos os participantes, no intuito de resolver algum problema ou de conceber um trabalho criativo. 2 Técnica que prevê que rodadas sucessivas de questionários sejam enviadas a um grupo

seleto de especialistas. Após cada rodada de respostas, os integrantes tomam conhecimento das respostas fornecidas pelos demais.

3 Sigla dos termos ingleses stranghts (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities

(oportunidades) e threats (ameaças). Consiste em um importante instrumento utilizado para planejamento estratégico capaz de recolher dados importantes que caracterizam o ambiente interno e externo.

.

Page 23: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

14

A frequência da iteração e participação em cada ciclo variará de acordo com a

situação.

As entrevistas, talvez o principal método de identificação de riscos e

oportunidades de projeto, devem ser realizadas com os especialistas de cada área

do projeto a fim de definir e expandir ainda mais as questões já identificadas através

dos outros métodos, principalmente a análise de documentação e projetos antigos

similares.

Durante as entrevistas, a equipe de risco assume o papel de entrevistador e

deve se concentrar nos seguintes aspectos:

• Identificar e descrever a origem e o impacto potencial do risco / oportunidade;

• Definir ações potenciais para o risco / oportunidade na fase inicial do projeto;

• Propor ações de prevenção, melhoria e contingência para estes riscos /

oportunidades durante a fase de execução do projeto;

• Determinar uma pontuação qualitativa quanto a probabilidade de ocorrência,

custo, cronograma e impacto no desempenho (tanto para a fase pré-

tratamento, quanto para a fase pós-tratamento).

Durante as entrevistas devem ser identificadas as ações corretivas / de

melhoria para os riscos e oportunidades tanto na fase inicial do projeto quanto

durante a execução do projeto.

O principal resultado do processo de identificação dos riscos é o registro dos

riscos, este é o documento em que todas as informações acerca de cada item

identificado, como os resultados da análise dos riscos e o planejamento das

respostas aos riscos são registrados. A preparação do registro dos riscos começa no

processo de identificação dos riscos com as informações e, então, fica disponível

para outros processos de gerenciamento do projeto e de gerenciamento dos riscos

do projeto. O registro de riscos será detalhado seção 2.9.

2.5.3 Análise qualitativa de riscos

Após a identificação dos riscos inicia-se outra fase crítica do processo de

gestão de riscos, a avaliação qualitativa. Segundo Carvalho et al. (2006) o objetivo

desta fase é priorizar os riscos do projeto com base na análise conjunta da

probabilidade de ocorrência e seu impacto nos objetivos do projeto.

Page 24: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

15

Conforme PMI (2014) realizar a análise qualitativa dos riscos é o processo de

priorização de riscos para análise ou ação adicional através da avaliação e

combinação de sua probabilidade de ocorrência e impacto. O principal benefício

deste processo é habilitar os gerentes de projetos a reduzir o nível de incerteza e

focar os riscos de alta prioridade.

As entradas, ferramentas e técnicas, e saídas desse processo estão

ilustradas na Figura 4.

Figura 4: Realizar a análise qualitativa de riscos: entradas, ferramentas e técnicas, e saídas.

Fonte: PMI (2014, p.328).

A análise qualitativa é baseada em escalas nominais ou descritivos para

descrever as probabilidades e consequências dos riscos. Este método é

particularmente útil para uma ponderação inicial ou quando é necessária uma

avaliação rápida. A análise qualitativa estende o processo analítico através da

atribuição numérica de valores para as escalas descritivas.

Essa etapa utiliza como ferramentas a avaliação de probabilidade de risco e

impacto, a matriz de classificação da probabilidade impacto/risco, apresentada no

item 2.7, avaliação da qualidade dos dados sobre riscos, a categorização de riscos e

a avaliação da urgência do risco.

Existem diversas maneiras e métricas que podem ser utilizadas para

determinar a probabilidade de ocorrência de um evento, seja ele um risco ou uma

oportunidade. Cada empresa, juntamente com seus departamentos de riscos é livre

para escolher a métrica que deseja utilizar. A seguir apresenta-se uma tabela

exemplo para determinação de probabilidades de ocorrência.

Page 25: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

16

Escala Probabilidade

de ocorrência Descrição qualitativa de ocorrência

Muito alta > 90 % Praticamente inevitável durante o projeto

Alta 75% - 90% Provável durante o projeto

Média 33% - 75% Possível durante o projeto

Baixa 1% - 33% Baixa, mas credível durante o projeto

Muito

baixa < 1%

Não é considerada credível durante o projeto

Tabela 1: Tabela de referência para probabilidade de ocorrência.

Fonte: Elaboração própria.

Observa-se que a escala da probabilidade de ocorrência pode ser definida

através de uma visão quantitativa / percentual ou através de uma visão qualitativa /

descrição textual. Normalmente, pelo fato de a análise de probabilidade ter um viés

subjetivo, a escala mais utilizada é a descrição textual, ou seja, a afirmativa mais

adequada para cada evento é que vai determinar o resultado da probabilidade de

ocorrência.

Seguindo a etapa de classificação dos riscos e oportunidades, passa-se para

a fase de identificar o impacto de cada evento sobre o custo, o cronograma e a

performance. Vale destacar que diversas são as classificações entre impactos, o

instituto PMI, por exemplo, classifica os impactos entre custo, tempo, escopo e

qualidade. Neste trabalho será utilizada uma versão simplificada, ou seja, apenas

com impactos em custo, cronograma e performance.

Os impactos de todos os riscos e oportunidades identificados devem ser

classificados de acordo com uma mesma escala. Normalmente dentro do meio

empresarial é utilizada a escala de cinco pontos, como para a probabilidade,

variando de muito alta a muito baixa em conformidade com valores estabelecidos

pela empresa e pela equipe do projeto.

Os valores utilizados para definir as fronteiras entre cada classificação devem

ser cuidadosamente estudados pela equipe de gestão de riscos e oportunidades em

conjunto com o time de gestão de projeto. Sem dúvida, a definição de impacto tanto

Page 26: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

17

em custo quanto em cronograma deve ser adaptada para o escopo de cada projeto

individual.

Normalmente o procedimento de gestão de riscos da empresa mostra um

valor genérico percentual do custo total do projeto para classificar os impactos em

custo. Por exemplo, seria considerado um impacto muito alto em custo um evento

que ultrapasse 2% do valor do contrato. Por outro lado é considerado muito baixo

um evento cujo impacto não ultrapasse 0,5% do valor do contrato.

A seguir é apresentada, a título de exemplo, uma tabela de referência para

exemplificar como é realizada a classificação dos impactos dos eventos identificados

quanto ao custo, o cronograma e a performance. Os valores percentuais para os

impactos em custo referem-se ao custo total do projeto.

Escala Impacto em custo

Impacto em cronograma Impacto em performance

Muito alta > 2% > 4 semanas Incapacidade de alcançar os objetivos de desempenho do projeto em termos

de especificações contratuais

Alta 1,5% - 2% 2 – 4 semanas Falha em alcançar os objetivos na maioria dos elementos

Média 1% - 1,5% 1 – 2 semanas Falha para atingir a especificação de um elemento

Baixa 0,5% - 1% 1 dia – 1 semana

Especificação não alcançada para um elemento, mas dentro da tolerância

Muito baixa < 0,5% < 1 dia Pequeno desvio na especificação de um elemento

Tabela 2: Tabela de referência para impacto em custo, cronograma e performance.

Fonte: Elaboração própria.

A classificação de probabilidade de ocorrência e impacto para cada risco deve

ser definida considerando cenários pré e pós mitigação e registrados no registro de

riscos do projeto. Este documento deve conter um mecanismo para atribuir

pontuações finais baseadas na classificação atribuída à probabilidade de ocorrência

e ao maior dos três impactos. O objetivo final é produzir uma matriz de riscos.

Page 27: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

18

2.5.4 Análise quantitativa de riscos

É definida pelo PMI (2014), como o processo de analisar numericamente o

efeito dos riscos identificados nos objetivos gerais do projeto. Para Lock (2003), os

métodos de análise quantitativa tentam atribuir valores numéricos para os riscos e

seus possíveis efeitos.

De acordo com Kerzner (1998), esta etapa é muito importante, tendo em vista

que o objetivo final do gerenciamento de riscos é a sua mitigação, que é o ato de

revisar os objetivos do projeto (escopo, prazo, custo e qualidade) de modo a diminuir

as incertezas sem que haja um impacto expressivo sobre tais objetivos.

Para o PMI, o principal benefício desse processo é a produção de

informações quantitativas dos riscos para respaldar a tomada de decisões, a fim de

reduzir o grau de incerteza dos projetos.

As entradas, ferramentas e técnicas, e saídas desse processo estão

ilustradas na Figura 5.

Figura 5: Realizar a análise quantitativa de riscos: entradas, ferramentas e técnicas, e saídas.

Fonte: PMI (2014, p.334).

A etapa de análise quantitativa de riscos deve ser executada nos riscos que

foram priorizados na etapa de análise qualitativa como tendo impacto potencial

considerável no projeto. O processo quantitativo analisa o efeito desses riscos nos

objetivos do projeto. Ele é usado principalmente para avaliar o efeito agregado de

todos os riscos identificados.

A técnica de entrevista se baseia na experiência e em dados históricos para

quantificar a probabilidade e o impacto dos riscos nos objetivos do projeto. As

informações necessárias dependem dos tipos de distribuições de probabilidade que

Page 28: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

19

serão usados. Por exemplo, seriam coletadas informações sobre os cenários

otimista, pessimista e mais prováveis para algumas distribuições comumente

usadas.

A análise quantitativa em si, utiliza como técnicas de modelagem a análise de

sensibilidade, análise de valor monetário esperado (VME), análise da árvore de

decisão e modelagem e simulação usando geralmente para essa, a simulação

Monte Carlo.

Kendrik (2003) afirma que as técnicas para a análise quantitativa que utilizam

mais rigor estatístico, tais como valor esperado, árvore de decisão e simulação,

fazem mais que apenas olhar para os riscos dentro do projeto. Elas podem ser

utilizadas para providenciar uma avaliação total desses riscos.

Conforme Ward (1999), na fase inicial do ciclo de vida do projeto, um ampla

abordagem qualitativa para identificação e gestão do risco tende a ser mais eficaz.

Quando os planos detalhados estão sendo desenvolvidos, a análise quantitativa é

mais apropriada por permitir a avaliação dos cursos de ação alternativos.

O capítulo 3 deste trabalho se dedica exclusivamente a tratar da gestão

quantitativa de riscos de forma mais aprofundada, a fim de oferecer uma análise e

revisão de literatura mais robusta para a sequência do trabalho.

2.5.5 Planejamento de respostas a riscos

Planejar as respostas aos riscos é o processo de desenvolvimento de opções

e ações para aumentar as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do

projeto. O principal benefício deste processo é a abordagem dos riscos por

prioridades, injetando recursos e atividades no orçamento, no cronograma e no

plano de gerenciamento do projeto, conforme necessário (PMI, 2014).

As entradas, ferramentas e técnicas, e saídas desse processo estão

ilustradas na Figura 6.

Page 29: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

20

Figura 6: Planejar as respostas aos riscos: entradas, ferramentas e técnicas, e saídas.

Fonte: PMI (2014, p.342).

É importante destacar na figura 6 que a etapa de planejamento de respostas

aos riscos tem com entrada essencial o registro de riscos elaborado na etapa de

identificação. A saída principal desta etapa é exatamente este registro, dentre outros

documentos do projeto, atualizados com a estratégia adotada para cada item ou

grupo de itens.

As estratégias mais utilizadas para a gestão de riscos e oportunidades são:

i. Evitar - encontrar uma abordagem alternativa, método ou caminho diferente;

ii. Controlar / Reduzir - se a prevenção não for possível ou razoavelmente

praticável, implementar ações para reduzir o impacto e / ou probabilidade de

ocorrência. Os planos de mitigação reduzem o risco do projeto antes que ele

ocorra, ações contingenciais são implementadas após a ocorrência do risco.

Planos de redução de riscos do projeto podem ser testados e simulados nos

modelos de risco afim de calcular a sua eficácia na redução do risco global do

projeto;

iii. Melhorar - aumentar a probabilidade de ocorrência e / ou potencial impacto

positivo das oportunidades;

iv. Aceitar - aceitar o risco do projeto e incluir contingências apropriadas em

custo e / ou cronograma;

v. Custear - estabelecer uma provisão de custo adequada ou contingência. O

custo pode fazer parte da estimativa itens específicos ou pode ser adicionado

como uma quantia discreta assumida no modelo de simulação;

vi. Cronograma - estabelecer uma provisão adequada (garantia). A garantia

pode ser parte de uma estimativa para uma atividade específica ou pode ser

adicionado como uma quantia discreta assumida no modelo de simulação de

riscos de cronograma;

Page 30: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

21

vii. Contornar – utilizar mecanismos e qualificações de contrato para contornar os

riscos;

viii. Compartilhar - aceitar parte do risco, mas esperar de clientes, fornecedores e

subcontratados aceitem também parte do risco;

ix. Transferir - aceitar nenhum risco, transferindo todos os riscos para

fornecedores, subcontratados, clientes, etc;

x. Assegurar - aceitar e segurar todos os riscos através de um seguro interno ou

de uma seguradora terceirizada.

Outra ferramenta destacada no processo descrito pelo PMI para esta etapa é

a opinião especializada que pode ser utilizada através de entrevistas ou de reuniões

técnicas. Através destes encontros, um especialista ou grupo de especialistas com

formação especializada, conhecimentos, habilidade, experiência ou treinamento

poderá dar respostas para os eventos de risco identificados que a própria equipe de

riscos tem dificuldade de abordar.

2.5.6 Monitoramento e controle dos riscos

O monitoramento e controle dos riscos é um trabalho contínuo, definido por

Carvalho et al.(2006) como o ato de rastrear os riscos identificados, monitorar o risco

residual, identificar novos riscos, executar os planos de resposta aos riscos e avaliar

sua eficácia ao longo do ciclo de vida do projeto.

Pyra et al. (2002) argumenta que esta fase também envolve a definição de

como os riscos serão controlados de acordo com sua evolução bem como a

atualização de estratégias de mitigação para se adaptar à mudança de risco

ambiental.

Segundo PMI (2014), controlar os riscos é o processo de implementação de

planos de respostas aos riscos, acompanhamento dos riscos identificados,

monitoramento dos riscos residuais, identificação de novos riscos e avaliação da

eficácia do processo de riscos durante todo o projeto. O principal benefício desse

processo é a melhoria do grau de eficiência da abordagem dos riscos no decorrer de

todo o ciclo de vida do projeto a fim de otimizar continuamente as respostas aos

riscos.

Page 31: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

22

As entradas, ferramentas e técnicas, e saídas desse processo estão

ilustradas na Figura 7.

Figura 7: Controlar os riscos: entradas, ferramentas e técnicas, e saídas.

Fonte: PMI (2014, p.349).

Como esperado e confirmado pela figura 7, as entradas desta etapa são os

documentos do projeto e da área de riscos elaborados ao longo desta cadeia de

cinco passos.

É nesta fase que fica evidente o perfil contínuo da gestão de riscos. Apesar

de os documentos já estarem elaborados, estes não têm valia nenhuma se não

forem atualizados durante o ciclo de vida do projeto e mesmo após o seu

encerramento.

As técnicas utilizadas nesta fase incluem: reavaliação de riscos, auditoria de

riscos, análise das tendências e da variação, medição do desempenho técnico,

análise de reservas e reuniões de andamento.

O monitoramento e controle de riscos gera atualizações nos registros de

riscos, mudanças no plano de gerenciamento do projeto do projeto e

recomendações de ações corretivas ou preventivas.

2.7 Matrizes de probabilidade e impacto

Como foi visto em seção anterior, com base na classificação dos riscos é

possível priorizar os eventos afim de se fazer uma análise quantitativa e um

planejamento de respostas mais focado e direcionado àqueles itens mais críticos.

A partir da classificação dos riscos com relação à probabilidade e impacto,

conforme as referências estabelecidas pela equipe de projeto, exemplo no item

Page 32: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

23

2.5.3, a importância dada a cada risco e prioridade de atenção é normalmente

definida por uma matriz de probabilidade e impacto.

A matriz de probabilidade e impacto constitui uma forma de determinar a

classificação final de um risco ou oportunidade. Para a classificação final dos riscos

PMI define uma escala de três faixas, ou seja, os eventos são classificados entre

“baixo”, “médio”, “alto”.

O fator a ser considerado para classificar um risco na matriz é a combinação

dos dois aspectos de um risco analisado: a probabilidade de ocorrência e o impacto

nos objetivos. Para esta avaliação final é utilizado o impacto de maior importância de

cada evento.

Os dados obtidos na análise qualitativa devem ser exatos e imparciais para

serem confiáveis. A figura abaixo mostra um algoritmo que pode ser utilizado para

classificar um risco ou uma oportunidade.

Figura 8: Matriz de probabilidade e impacto.

Fonte: PMI (2014, p.331).

O valor que se encontra nas células do corpo da matriz corresponde à

multiplicação da probabilidade de ocorrência com o maior dos três impactos, seja ele

em custo, cronograma ou performance.

Como bem destacada pela figura 8, em uma matriz em preto e branco, os três

níveis finais de risco ou oportunidade são indicados pelos diferentes tons de cinza. A

área em tom de cinza escuro, com os números maiores, representa alto risco; a área

em tom de cinza médio, com os números menores, representa baixo risco, e a área

em tom de cinza claro, com os números intermediários, representa risco moderado.

Page 33: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

24

Como já mencionado no item 2.5.3, as regras de classificação de riscos e

oportunidades são especificadas pela organização antes do projeto e incluídas nos

processos descritos para a gestão de riscos para serem seguidas durante todo o

ciclo de vida do mesmo. Evidentemente, estas regras de classificação podem ser

adaptadas a cada projeto específico.

É possível observar na última linha e na primeira coluna da matriz que os

impactos de “muito baixo” a “muito alto” e as probabilidades de “muito baixa” a

“muito alta” correspondem à numeração valores entre 0 e 1 que são definidos para

cada projeto em especial.

Um risco, por exemplo, que foi classificado como tendo uma probabilidade

muito elevada de ocorrência combinada com um impacto muito elevado assumirão

uma pontuação global de 0,72. Ao mesmo tempo é interessante observar que um

risco classificado com uma elevada probabilidade de ocorrência combinada com um

baixo impacto vai conseguir uma pontuação de 0,05.

O grande benefício da matriz de probabilidade e impacto é a capacidade de

fornecer uma forma de visualização simples e intuitiva para a classificação geral das

ameaças e das oportunidades. A apresentação dos eventos de acordo com o nível

final de classificação permite à equipe priorizar de maneira mais direta aqueles

eventos que necessitam estratégias agressivas de resposta.

Há duas matrizes que devem ser construídas após o processo de

identificação e classificação dos riscos, a matriz antes das ações e a matriz depois

das ações. Como foi dito acima, a equipe de gestão de riscos e oportunidades deve

considerar a probabilidade e os impactos de cada evento em dois cenários: caso

nenhuma ação seja implementada e caso todas as ações sejam implementadas com

sucesso.

As matrizes podem ser preenchidas depois de atribuídas pontuações pré e

pós mitigação para todos os riscos. Apenas a mais alta pontuação de impacto dentre

custo, cronograma e performance deve ser considerada ao determinar o impacto

para as matrizes. A matriz pré-mitigação é baseada na pontuação antes da

consideração de medidas de gestão e a matriz de pós-mitigação é baseada na

pontuação após a implantação das ações. Neste ponto é interessante ressaltar que

a classificação pós-mitigação é feita a partir da percepção da equipe de riscos

acerca da efetividade da estratégia escolhida para determinado item, antes mesmo

dela ser efetivamente implantada.

Page 34: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

25

2.8 Papéis e responsabilidades

É evidente que o processo de análise de riscos e oportunidades de projeto

deve ser conduzido por uma equipe preparada para tal tarefa, incluindo profissionais

com treinamento especializado para a utilização de softwares de simulação.

Entretanto, é necessário que toda a equipe de projeto esteja ciente dos seus papéis

e responsabilidades neste processo.

É papel da equipe de gestão de riscos o seguinte:

a. Desenvolver e implementar um quadro global de gestão de riscos para

garantir que os riscos sejam geridos de forma positiva de uma forma eficiente,

eficaz e econômica em todos os níveis do projeto.

b. Pró-ativamente gerenciar riscos e oportunidades no processo de todos os

aspectos da empresa e de suas operações de gestão e avaliação a fim de

considerar inteiramente os riscos no planejamento estratégico.

c. Incorporar a gestão do risco nos sistemas de gestão e processos de negócios

como parte integrante dos processos de controles internos da empresa para

assegurar a melhoria contínua da qualidade e sucesso dos projetos.

d. Gerenciar o balanço de riscos e oportunidades dentro da empresa para

garantir um nível aceitável de exposição.

e. Elaborar planos de ação adequados para eliminar ou mitigar o risco a um

nível aceitável para assegurar a proteção, saúde e segurança de todo o

pessoal envolvido nas operações e para dar o devido cuidado para proteger o

meio ambiente.

f. Cumprir as obrigações de governança corporativa da empresa e os requisitos

regulamentares estabelecidos usando um sistema de gestão eficaz dos

riscos.

A partir destes objetivos da gestão de riscos e oportunidades da empresa é

possível perceber que diversos destes pontos apenas são possíveis de serem

completamente atingidos através de uma compreensão global da empresa quanto à

importância da ferramenta. Além disso é necessário que a equipe de projeto como

um todo compreenda as etapas a serem desenvolvidas a fim de se atingir os

resultados esperados no que tange à elaboração de documentos que serão

utilizados e atualizados durante todo o projeto.

Page 35: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

26

O envolvimento do alto escalão do projeto como o Gerente do Projeto, o

Gerente de Operações e o Gerente de Engenharia é essencial para a garantir que

as ferramentas utilizadas tenham o efeito desejado dentro do projeto e dentro das

expectativas da própria empresa sobre o mesmo. Neste ponto é relevante destacar

que independente da estrutura hierárquica utilizada, os papéis e responsabilidades

devem ser divididos e compreendidos por todos, independente da nomenclatura

utilizada para os cargos.

A partir do momento em que as peças-chave do projeto estão envolvidas e

confiam na ferramenta de gestão de riscos e oportunidades, o escalonamento

vertical das responsabilidades e o engajamento da equipe será muito maior e muito

mais eficaz.

2.9 Principais documentos

Com base nas saídas obtidas nas etapas anteriores da gestão de riscos e

oportunidades são preparados diversos documentos pela área de gestão de riscos

que englobam e sumarizam as informações coletadas durante as etapas,

principalmente, de identificação e classificação dos riscos e oportunidades.

Como foi descrito anteriormente, a partir da classificação dos eventos em

relação à probabilidade de ocorrência e aos impactos potenciais nas três

perspectivas, é necessário compilar estas informações de forma a facilitar a leitura

pela equipe de projeto e possibilitar o fácil acompanhamento e monitoramento

destes eventos e de suas ações.

Sendo assim, o principal resultado da gestão qualitativa é o Registro de

Riscos e Oportunidades. Segundo PMI (2014) um registro de riscos deve conter uma

lista dos riscos identificados e uma lista de respostas potenciais. A partir da

descrição do PMI, organizou-se uma estrutura exemplo. Este registro pode conter:

índice do evento, descrição do evento, causa do evento, consequência do evento,

probabilidade de ocorrência pré-mitigação, potenciais impactos pré-mitigação,

pontuação inicial, nível inicial, responsável pelo evento, plano de ação de mitigação,

probabilidade de ocorrência pós-mitigação, potenciais impactos pós-mitigação,

pontuação final e nível final.

A seguir cada elemento será apresentado e explicado brevemente:

a. Índice do evento: número único para cada evento;

Page 36: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

27

b. Descrição do evento: descrição breve do evento em si;

c. Causa do evento: detalhes da incerteza e causas associadas;

d. Consequência do evento: Descrição do impacto previsível;

e. Probabilidade de ocorrência pré-mitigação: probabilidade estimada de

ocorrência antes da consideração de ações de gestão;

f. Potenciais impactos pré-mitigação: gravidade estimada do impacto antes da

consideração de ações de gestão;

g. Pontuação inicial: pontuação numérica resultante da combinação da

probabilidade de ocorrência e impacto mais elevado antes das ações de

gestão;

h. Nível inicial: nível de risco resultante da pontuação numérica antes da

consideração de ações de gestão;

i. Responsável pelo evento: responsável por riscos específicos e ações

associadas dentro de sua própria área de influência;

j. Plano de ação de mitigação: ações sugeridas para gerir o risco / oportunidade

antes que o mesmo ocorra, ou seja, para reduzir / aumentar a probabilidade e

os impactos associados;

k. Probabilidade de ocorrência pós-mitigação: probabilidade estimada de

ocorrência após a análise das ações de gestão;

l. Potenciais impactos pós-mitigação: gravidade estimada do impacto após a

análise das ações de gestão;

m. Pontuação final: pontuação numérica resultante da combinação da

probabilidade de ocorrência e impacto mais elevado após análise das ações

de gestão;

n. Nível final: nível de risco resultante da pontuação numérica após a análise

das ações de gestão.

Ao longo do projeto este registro será monitorado e atualizado afim de incluir

as últimas informações acerca do andamento das ações corretivas e da identificação

e classificação de novos riscos ou oportunidades que venham a ser encontrados

durante a fase de execução do projeto.

A partir deste registro é possível elaborar relatórios de risco e montar as

matrizes de risco antes e depois da implementação das ações afim de observar a

mudança no perfil dos riscos, de um nível mais elevado para um nível mais baixo, e

das oportunidades, de um nível mais baixo para um nível mais elevado.

Page 37: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

28

3 Gestão quantitativa de riscos e oportunidades

O objetivo fundamental da gestão quantitativa de riscos e oportunidades é

entender o efeito sobre o projeto dos eventos identificados durante a análise

qualitativa em termos de custo e cronograma. Uma vez que estes efeitos são

compreendidos, a equipe pode concentrar a atenção sobre as principais áreas de

risco e de oportunidade afim de melhorar o desempenho do projeto.

As principais características e benefícios da gestão quantitativa incluem:

a. Consideração das lições aprendidas em projetos anteriores e parâmetros de

referência disponíveis;

b. Simulação dos potenciais efeitos dos eventos identificados na fase

quantitativa;

c. Desenvolver e testar premissas e / ou recomendações sobre custos /

cronogramas base;

d. Auxiliar no desenvolvimento de metas realistas para o projeto;

e. Ajudar a determinar e alocar contingências de custo e cronograma;

f. Destacar os principais fatores que influenciam o custo e o cronograma do

projeto;

g. Fornecer ferramentas para uma tomada de decisão embasada em

informações.

Das características apresentadas acima destacam-se, principalmente, a

utilização da análise quantitativa para simular os efeitos dos eventos identificados

durante a fase qualitativa através de análises de sensibilidade e a determinação e

alocação de contingências de custo e cronograma.

Em projetos de alta complexidade, os fatores custo e cronograma são

extremamente importantes e a adição de uma contingência em ambos é essencial

para proteger a empresa de eventuais riscos que o projeto venha a incorrer durante

a sua execução.

Durante a etapa quantitativa da gestão de riscos e oportunidades surgem

diversos conceitos que devem ser definidos, entre eles: provisão e contingência,

cujos processos de decisão usual para se chegar nos valores finais destas contas

variam entre as empresas, mas podem ser abordados de forma geral.

Page 38: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

29

A provisão pode ser tratada como uma quantia, seja de custo ou cronograma,

que abrange desvios da estimativa que nem sempre aconteceram no passado, mas

têm uma alta probabilidade de ocorrência. Sendo assim, podem ser razoavelmente

quantificadas e mitigadas durante a execução. Ou seja, são eventos que possuem

uma alta probabilidade de ocorrência e que podem ser tratados como parte das

premissas na estimativa.

Um exemplo é um atraso operacional na instalação de um equipamento

complexo. É muito provável que a estimativa de instalação sofra algum desvio que já

é esperado devido à complexidade da tarefa, para isso cria-se uma provisão de

cronograma.

A contingência, por outro lado, pode ser entendida como uma provisão para o

custo base ou cronograma base para cobrir os riscos específicos do projeto que não

são transferíveis para clientes, fornecedores ou subcontratados. Geralmente têm

baixa probabilidade de ocorrência, mas impacto considerável e certa dificuldade de

serem quantificados e mitigados.

Um fator importante a ser considerado é o caráter de oportunidade que a

conta de contingência possui tanto para a empresa, quanto para o projeto. Enquanto

que no início do projeto a contingência é um custo que está somado ao custo base,

sendo assim diminuindo os lucros, conforme avança-se nas atividades e diminuem

as incertezas, surge a possibilidade de liberar o valor de contingência que não foi

utilizado. Isto quer dizer que eventos que foram provisionados mas conseguiram ser

mitigados pela equipe e não necessitaram utilizar a reserva de recursos destinada a

eles agora podem se tornar oportunidades de recuperação de capital.

É importante entender a diferença entre provisão e contingência. Enquanto a

provisão faz parte do custo base do projeto, ou seja, não possui caráter de

oportunidade, a contingência, por outro lado, já o possui, fazendo parte somente do

custo total, conforme explica a Figura 9.

Já a estimativa pode ser entendida como a base de custos e cronograma

viável para a realização de uma atividade ou uma série de atividades. É geralmente

calculada a partir de cálculos de engenharia, informações recebidas de fornecedores

ou feedback de projetos anteriores. A experiência diz que é improvável executar tal

atividade a um custo mais baixo ou tempo mais curto do que a estimativa, ou seja,

os desvios provisionados são sempre de caráter positivo.

Page 39: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

30

Figura 9: Composição dos custos e receita.

Fonte: Elaboração própria.

Na figura 9 apresenta-se um exemplo de composição de custos e receita

onde fica evidente a posição das contas explicadas nesta seção. Observa-se que a

estimativa é a base da estrutura de custos e o reajuste é calculado com base nesta

estimativa.

Nota-se que o custo base é formado pela soma da estimativa, reajuste1 e

provisão. Já o custo total é formado pelo custo base somado de outros custos que

não fazem parte da estimativa como foi definida e pela contingência. O rendimento

do projeto é formado pela soma da margem de lucro2 com o possível lucro

1 Reajuste relacionado ao aumento natural no preço de bens e serviços ao longo do projeto

devido à condições econômicas que fogem ao controle do projeto. 2 Porcentagem adicionada aos custos totais de um produto ou serviço formando o preço final

da comercialização.

Lucro

Margem

Contingência

Outros custos

Provisão

Reajuste

Estimativa

Rece

ita

Rendimento

Custo base

Custo total

Page 40: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

31

resultante. Por fim a receita ou preço final apresentado ao cliente é a soma de todos

os componentes.

A partir da composição dos custos e receita e do detalhamento dos

componentes de custo fica claro que a decisão da provisão, mas principalmente a

decisão do valor de contingência é uma decisão estratégica, ou seja, irá influenciar

na competitividade da empresa perante seus concorrentes e no valor do rendimento

do projeto.

3.1 Provisão

Ao definir o custo de um projeto durante a fase de concorrência, em uma

licitação por exemplo, cada componente terá seu custo estimado, que deve ser

mensurado no custo viável com base em normas de projeto, benchmarking de

tempo, ofertas de fornecedores, etc. A imprecisão destas estimativas pode ser

quantificada como uma provisão, cujo valor é adicionado à estimativa do projeto.

As provisões de cada item devem ser definidas no momento da proposta e

são fruto de uma análise transparente de cada função ou disciplina técnica, como

engenharia, compras, operações, financeiro, engenharia, etc. Estes valores devem

então ser revisados pela equipe de riscos juntamente com os gerentes destas

funções. A estimativa de custo base do projeto, incluindo o reajuste e provisão

devem refletir o caso mais provável, ou seja, o caso base. É extremamente

importante garantir que nenhum componente da provisão seja listado como parte da

contingência.

O valor da provisão é de responsabilidade de cada disciplina de projeto. Com

base na experiência e benchmarking, é esperado que as disciplinas sejam capazes

de quantificar todos os desvios da estimativa de custo e cronograma.

3.2 Contingência

A contingência deve ser reconhecida como valor monetário que é alocado na

fase de concorrência para contabilizar as incertezas inerentes à estimativa do

projeto, que não podem ser definidas ou tratadas no momento que a estimativa é

preparada, mas devem ser geridas durante a fase de execução.

Page 41: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

32

Há duas opções para o destino da contingência durante o projeto:

i. Utilizada para compensar uma perda em um elemento do trabalho;

ii. Convertida para lucro durante o projeto, assim que os riscos para os quais a

contingência foi provisionada forem totalmente mitigados ou já não mais

aplicáveis.

Depois de alocada a contingência e iniciado o projeto, é de responsabilidade

do Gerente do Projeto entregar o mesmo com sucesso e maximizar o lucro a partir

das premissas acordadas de custo e cronograma, além das contas de provisão e

contingência.

O cálculo da contingência é realizado para os riscos contínuos, ou seja,

aqueles riscos que são intrínsecos às tarefas quanto ao custo e cronograma. A partir

deste momento falaremos especificamente de contingência em custo.

A partir das estimativas de custos fornecidas pela equipe de projeto, para

cada item do orçamento é atribuído um tipo de sensibilidade, ou seja, um "caso

otimista", um "caso pessimista" e um caso “mais provável”. Estas sensibilidades são

definidas pela equipe ou pela disciplina responsável por aquele item de custo,

apoiados por pessoas com conhecimento sobre essa parte do orçamento.

Um exemplo de estimativa de custos de três pontos é mostrados a seguir:

Figura 10: Faixas de estimativas de custos do projeto1.

Fonte: PMI (2014, p.336).

Estas estimativas são a base para a simulação realizada pelo computador

que irá definir os níveis de contingência para auxiliar na tomada de decisão pela

equipe do projeto.

1 EAP: Expressão da língua portuguesa para WBS (Work Breakdown Structure), definida por PMI como: uma decomposição hierárquica do escopo total do trabalho a ser executado pela equipe do projeto a fim de alcançar os objetivos do projeto e criar as entregas requeridas.

Page 42: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

33

3.3 Boas práticas

A decisão do valor de contingência é estratégica, acima de tudo. Seria um

pensamento intuitivo que uma empresa adicionasse um valor elevado de

contingência de custo para se proteger contra os riscos, mas desta forma estaria

perdendo competitividade em relação aos seus concorrentes que poderiam se

proteger menos e oferecer o mesmo serviço a um preço menor. O mesmo ocorre

para o cronograma, o cliente, em geral, espera que o projeto seja executado no

menor tempo possível, ou seja, uma contingência muito grande pode acarretar em

perda de competitividade.

A base de qualquer análise quantitativa é a estimativa de custo e cronograma

do projeto fornecidas pelas equipes de custo e planejamento. As estimativas de

custo devem ser divididas em pacotes para facilitar a compreensão e a análise

detalhada tanto da influência das incertezas sobre cada estimativa quanto de cada

pacote sobre o custo final. O cronograma deve ser analisado como uma série de

atividades ligadas. O objetivo é estimar a influência da incerteza sobre a duração de

cada atividade na duração total do projeto. Modelos de simulação de custo são

normalmente criados no Microsoft Excel enquanto modelos de risco de cronograma

costumam utilizar softwares específicos.

Definir as premissas e realizar estimativas determinísticas de custo e

cronograma significam o início da fase de análise quantitativa do processo. Usando

índices de referência históricos internos e dados de mercado, estas estimativas são

revisadas para garantir que a análise probabilística seja aplicada à projeções

realistas. Este esforço impede a análise de risco de validar expectativas irrealizáveis

do projeto.

Além disso, a incerteza inerente às estimativas de custo e cronograma

determinísticos é avaliada enquanto a equipe do projeto define as faixas de projeção

otimista e pessimista relacionadas a cada item de custo e cronograma. Durante este

processo é muito importante garantir que a equipe tenha conhecimento de quaisquer

contingências já incluídas nos itens a serem avaliados, pois isso irá impactar a

avaliação da incerteza de cada item. As estimativas otimista e pessimista resultantes

formam a base do exercício de mapeamento de risco.

Durante a atividade de mapeamento de risco, os pressupostos de incerteza

previamente definidos, intervalos em torno das estimativas de custo e cronograma,

Page 43: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

34

são revistas pela equipe do projeto. Além disso, o registro de risco é revisado para

assegurar que quaisquer impactos de riscos ou oportunidades identificados sejam

abordados nas hipóteses de incerteza.

Alguns dos itens no registro de riscos podem ser excluídas da avaliação,

tipicamente eventos catastróficos, eventos de força maior, exclusões contratuais etc.

Enquanto outros podem ser incluídos nos modelos quantitativos de risco como

pressupostos discretos porque não estão nos intervalos otimistas / pessimistas

acordados. Também é possível ajustar intervalos previamente acordados para cobrir

impactos de riscos e oportunidades. Uma atenção especial deve ser dada aos riscos

que impactam o desempenho do projeto, uma vez que estes podem ter grandes

impactos sobre o custo e / ou cronograma de execução do mesmo.

3.4 Liberação da contingência

Como mencionado anteriormente e reiterado pelo PMI, a contingência possui

um papel duplo para o projeto. Enquanto no início este valor é tido como um

componente do custo, como mostra a Figura 9, durante o projeto ele pode ser

liberado pela gerência e se transformar em receita para a empresa.

A contingência desempenha um papel significativo nas provisões contábeis

da empresa, influenciando assim de forma significativa o resultado financeiro da

corporação, provocando o reconhecimento de lucro no futuro. Sendo assim,

operações na contingência podem afetar significativamente o resultado do projeto,

assim como o resultado financeiro da organização.

O atingimento deste objetivo de liberar a contingência para transformá-la em

receita está diretamente relacionado à capacidade da equipe de risco de gerenciar

qualitativamente os riscos e oportunidades durante a vida do projeto. O resultado

deste trabalho contínuo de acompanhamento, reavaliação e tratamento dos riscos e

oportunidades é uma liberação maior ou menor do valor da contingência.

Conforme as incertezas vão diminuindo com o desenrolar do projeto e a

realização das tarefas, o valor de contingência necessária para cobrir as incertezas

residuais irá diminuir. Sendo assim, cabe à gerência do projeto definir as estratégias,

alinhadas com as estratégias corporativas, para liberar de forma segura o valor da

conta da contingência.

Page 44: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

35

Por diferentes razões, a alta administração ou “Board” da empresa pode

preferir não liberar a contingência até o nível que foi calculado pela equipe de risco

em um determinado momento do projeto. Este comportamento é um elemento de

"contingência discricionário" que permanece para cobrir áreas como relacionamento

com o cliente, fornecedores, multas e deduções, diferenças no julgamento e outros

aspectos mais amplos no âmbito organizacional.

As evidências que sustentam a contingência necessitam ser objetivas e

rastreáveis, não podem estar enviesadas por julgamentos da administração sobre a

situação. De qualquer forma, este comportamento tende a aumentar a prudência

acerca do elemento de contingência.

A Figura 11 mostra este efeito no caso usual de um projeto em que uma parte

significativa do custo e do risco está concentrada no final.

Figura 11: Evolução da contingência.

Fonte: Elaboração própria.

Observam-se duas curvas na figura, a curva em preto representa a evolução

natural da contingência que é calculada pelo software. Esta curva tem um perfil

contínuo, pois é definida pela curva de probabilidade acumulada gerada pelo

programa a partir da simulação. Por outro lado, a curva em vermelho com perfil

discreto é o nível real de contingência do projeto definido pela equipe. Esta curva

mostra em três momentos a liberação da contingência com base na simulação do

Page 45: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

36

software, ou seja, a equipe tem segurança em fazer uma libração de uma certa

quantia da conta da contingência. Nota-se também que nas três oportunidades se

mantém uma margem de segurança para o nível natural de contingência, onde as

curvas não chegam a se tocar.

Percebe-se que as reduções discretas, linhas verticais, no nível de

contingência são as liberações periódicas do valor da conta. Nestas liberações é

possível notar que o valor residual da conta nunca atinge o respectivo valor da curva

de evolução natural da contingência calculada na simulação de Monte Carlo. Este

comportamento comprova a constante preocupação inerente a este processo de

liberação, sempre mantendo um excedente confortável.

Page 46: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

37

4 Simulação de Monte Carlo

Durante a fase de análise quantitativa de riscos foram citadas diversas

características deste tipo de tratamento dado às incertezas. É importante observar

que diversas destas características são consequência do processo de simulação

abordado pela gestão quantitativa de riscos.

Atualmente existem ferramentas distintas que auxiliam no processo de

tratamento de premissas e simulação de dados, tanto para riscos e provisões de

cronograma quanto de custo. No escopo deste trabalho serão tratados somente

aqueles pertinentes ao tratamento e provisão de riscos de custo.

A técnica matemática mais utilizada para a análise quantitativa de riscos é a

Simulação de Monte-Carlo. Diversos softwares se baseiam neste referencial

matemático para gerar, a partir de dados de entrada, cenários que irão auxiliar na

tomada de decisão e no estudo dos possíveis resultados do projeto.

4.1 Apresentação

Reconhecendo que há sempre um grande número de resultados possíveis

para qualquer empreendimento, se faz necessária a implantação de um processo de

simulação que seja capaz de tratar os dados de entrada e simular os possíveis

resultados gerados através das inúmeras combinações relativas às incertezas do

projeto.

A simulação de Monte Carlo é uma técnica de análise quantitativa de risco em

que os dados de entrada contendo as incertezas, por exemplo, uma planilha do

Excel, são tratados e então representados por distribuições de probabilidade, ao

contrário de um valor determinístico como o valor mais provável.

Em outras palavras, o modelo utilizando simulação de Monte Carlo faz uma

análise probabilística para avaliar a provável ocorrência de qualquer resultado em

particular, do mais otimista para o mais pessimista.

Ao deixar o computador recalcular o modelo repetidamente, por exemplo,

10.000 vezes, e cada vez utilizando diferentes conjuntos de dados das distribuições

de probabilidade de entrada selecionados aleatoriamente, o programa está usando

todas as combinações válidas de alimentação para simular todos os resultados

Page 47: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

38

possíveis. Existe ainda a vantagem adicional de que estes cenários são gerados

com uma frequência proporcional à probabilidade que o usuário estima que eles têm

de ocorrer.

A grande virtude da simulação de Monte Carlo é o fato de os resultados

serem apresentados como uma distribuição de probabilidade, ao contrário de um

resultado determinístico fixo gerado pelos modelos mais simples de simulação.

4.2 Modelo matemático

O modelo da simulação de Monte Carlo utilizado pelo software tem seu início

nas variáveis de entrada. Para cada variável incerta em uma simulação, define-se os

possíveis valores desta variável com uma distribuição de probabilidade. O tipo de

distribuição que você selecionar depende das condições que cercam a variável.

Seja x uma variável aleatória com distribuição de probabilidade contínua

F (x). Então Fx(x) = U (Uniforme – 0 ≤ x ≤ 1). Se F é invertível, então Fx-1 (U) = X.

(1)

Logo:

(2)

É este conceito da função inversa expresso no desenvolvimento acima que é

utilizado na geração de amostras aleatórias de cada distribuição de um modelo de

análise de risco através da simulação de Monte-Carlo.

Para gerar uma amostra aleatória de uma distribuição de probabilidade, um

número pseudoaleatório é gerado entre 0 e 1 pelo próprio software. Este valor (r) é

F(x) = P(X ≤ x)

F u( ) = P U ≤ u( )P U ≤ u( ) = P Fx x( ) ≤ u"# $%

P Fx x( ) ≤ u"# $%= P Fx−1 Fx x( )"# $%≤ F

−1 u( ){ }P Fx

−1 Fx x( )"# $%≤ F−1 u( ){ }= P x ≤ Fx

−1 u( )"# $%

P x ≤ Fx−1 u( )"# $%= Fx F

−1 u( )"# $%

Fx F−1 u( )"# $%= u

Page 48: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

39

então introduzido na distribuição de probabilidade para determinar o valor a ser

gerado para a distribuição de probabilidade:

(3)

O número pseudoaleatório r é gerado a partir de uma distribuição uniforme

para proporcionar oportunidades iguais de ocorrência de um valor de x. Para alguns

tipos de distribuição de probabilidade não é possível determinar uma equação para

G (F (x)), para estes casos foram desenvolvidas outras técnicas para amostragem,

incluindo a geração de distribuições intermediárias para obter a distribuição

requerida.

Durante a simulação, o software calcula numerosos cenários de um modelo

escolhendo repetidamente valores da distribuição de probabilidade para as variáveis

de entrada e usando esses valores para cada módulo de cálculo.

Cada iteração segue uma sequência de três passos:

1. Números pseudoaleatórios são gerados para cada variável de entrada;

2. Simulação é realizada;

3. Valor de resposta é armazenado na distribuição de saída.

Com base neste conjunto de iterações e do resultado final das diversas

funções de probabilidade, a simulação de Monte Carlo é capaz de gerar um

resultado final para a soma das variáveis aleatórias devido ao teorema do limite

central1.

Em suma, pouco importa para o modelo a distribuição de probabilidade de

cada variável aleatória independente correspondente a cada risco analisado, o

somatório delas resulta sempre em uma distribuição normal.

Uma peculiaridade interessante sobre o modelo de simulação de Monte Carlo

é que a incerteza estatística é, em geral, proporcional a:

(4)

onde, D é uma constante e N é o número de iterações. A fórmula 4 permite observar

que para diminuir o erro estatístico em 10 vezes é preciso aumentar N, ou seja, o

1 Sob condições gerais, a função de probabilidade acumulada de uma soma de variáveis aleatórias independentes aproxima-se da distribuição de probabilidade acumulada de uma variável aleatória gaussiana apesar de as variáveis aleatórias individuais não apresentarem perfil gaussiano.

G(r) = x

DN

Page 49: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

40

número de processamentos em 100 vezes. Esta característica ajuda a explicar a

importância do processamento computadorizado neste tipo de simulação, a fim de

aumentar o número de iterações e reduzir o erro associado.

4.3 Características do modelo

A simulação de Monte-Carlo oferece uma série de vantagens em relação às

outras formas de análise dos resultados de um modelo:

a. As variáveis de entrada são expressas em termos de probabilidades;

b. As correlações e interdependências são representadas no modelo;

c. A complexidade matemática da simulação varia com o nível de domínio e

o propósito do usuário;

d. A simulação de Monte-Carlo é reconhecida como uma técnica válida e

seus resultados aceitos;

e. O comportamento do modelo pode ser avaliado e revisado;

f. Mudanças no modelo podem ser feitas com rapidez e os resultados

comparados com o modelo anterior.

Diversos softwares utilizam a simulação de Monte-Carlo para produzir

modelos e analisar dados quantitativos, como o @Risk, o XLSim/Insight, o Model

Risk / Model Assist e aquele que trataremos a partir deste momento, o software

Crystal Ball®, oferecido pela Oracle.

Um modelo matemático de simulação desenvolvido para medir o nível de

confiança depende, basicamente, de três elementos fundamentais: definição das

variáveis de entrada; determinação dos tipos de variações a que estarão sujeitas as

variáveis de entrada; os relacionamentos matemáticos das variáveis de entrada para

produzir um determinado resultado que será medido na forma de nível de confiança.

Uma tarefa que pode oferecer grande desafio na montagem do modelo é a

determinação das possíveis variações que poderão sofrer as variáveis de entrada.

Durante a execução da simulação, serão calculados muitos cenários levando-se em

conta a variação destas variáveis em função da definição do seu comportamento.

Este comportamento pode ser representado pelas curvas de densidade de

probabilidade que são definidas para cada item de custo.

Page 50: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

41

A definição do comportamento das variáveis de entrada através de uma curva

de densidade de probabilidade é bastante facilitada com a utilização do Crystal Ball®,

pois o mesmo apresenta uma galeria de curvas para escolha.

Dentre as opções destacam-se as distribuições: uniforme1 (contínua);

normal2; triangular3; beta4; e gama5.

O Crystal Ball® utiliza três tipos de definição de módulos:

a. Variáveis de entrada: são os módulos que irão influenciar o resultado

esperado em função de sua variação, são as incertezas do problema.

b. Variáveis de decisão: são módulos cujas variações estão sob o controle do

usuário. Estas células podem conter apenas um número simples, não

podem conter fórmulas e nem texto.

c. Variáveis de saída: são módulos que se referenciam com uma ou mais

células das variáveis de entrada e decisão. Estas células combinam os

valores das outras células através de fórmulas para produzir os possíveis

resultados.

Os resultados no final da simulação fornecem distribuições de probabilidade

acumulada, curva-S, para cada conjunto de custos simulado e para o custo total do

projeto, assim como o percentual de probabilidade de alcançar as metas

determinísticas definidas.

Os resultados também indicam as variáveis-chave que afetam o custo total do

projeto de maneira mais determinante. Estes fatores chave podem ser utilizados

para a elaboração de diagramas e gráficos de custo afim de simular o efeito de

pequenas mudanças em alguma destas variáveis.

1 Número finito de resultados com probabilidade de ocorrência idêntica.

2 Conhecida também como Distribuição de Gauss. É inteiramente descrita por seus parâmetros

de média e desvio padrão, ou seja, conhecendo-se estes valores consegue-se determinar

qualquer probabilidade desta distribuição. 3 Possui um valor mínimo (a), um valor máximo (b) e uma moda (c), de modo que a função densidade de probabilidade é zero para os extremos (a e b), e afim entre cada extremo e a moda, formando assim um gráfico em forma de triângulo.

4 Família de distribuições contínuas definidas sob o intervalo [0, 1] parametrizada por dois parâmetros positivos (a e b), que aparecem como expoentes da variável aleatória e controlam o formato da distribuição.

5 Uma variável aleatória X tem distribuição Gama com parâmetros α > 0 (denominado parâmetro de forma) e β > 0 (parâmetro de taxa).

Page 51: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

42

4.4 Restrições e cuidados

Como qualquer modelo, a simulação de Monte-Carlo possui limitações e

cuidados que devem ser tomados, principalmente, durante a fase de definição das

variáveis de entrada e da determinação das características destas varáveis.

Um cuidado importante está relacionado à calibração das estimativas. No

momento das entrevistas ou das reuniões de definição dos itens de custo com

aqueles responsáveis pelos pacotes de orçamento, se faz necessário coletar sua

opinião sobre a possível distribuição do valor final para os orçamentos que são

responsáveis.

Outra boa prática que o profissional da área de riscos pode exercer é ser

cauteloso com o problema de calibração da estimativa: é comum haver dificuldades

intrínsecas para se estimar probabilidades, ou seja, a melhor prática exigiria sua

"calibração", solicitando os responsáveis a estimar a probabilidade de certos eventos

para os quais essa probabilidade foi medida e é conhecida.

Para garantir a consistência dos dados de risco é importante o uso de

perguntas semelhantes para provocar respostas consistentes. Além disso, propõe-se

evitar, se possível, falar de probabilidades, preferindo-se falar em melhor ou pior

caso. Exemplos de tais perguntas são: O que é o melhor caso - o quanto a empresa

vai economizar se tudo correr bem? O que é o pior caso - o quanto a empresa vai

gastar, se tudo correr mal?

Uma grande restrição deste modelo está relacionada a eventos de baixíssima

probabilidade de ocorrência e impactos extremamente elevados. A simulação de

Monte-Carlo é capaz de considerar estes eventos desde que as estimativas de

probabilidade sejam bem definidas pela equipe, a fim de evitar uma análise

enviesada.

Não é recomendado, portanto, incluir esses eventos no modelo. Enquanto

que os eventos de alta probabilidade devem fazer parte do caso base, ou seja

estarem incluídos não como uma probabilidade, mas como dado determinístico, os

eventos de probabilidade muito baixa devem ser excluídos e gerenciados

separadamente, uma vez identificados pela equipe.

Outro cuidado relevante diz respeito à independência entre as variáveis

aleatórias. Em se tratando de um projeto de alta complexidade, os riscos

identificados são dos mais diversos e as variáveis aleatórias também estarão em

Page 52: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

43

grande número. Sendo assim, a fim de contabilizar o resultado da simulação de

diversas variáveis aleatórias basta fazer o somatório, ou seja, cada iteração do

modelo terá como resultado o somatório das variáveis.

De fato esta técnica é a mais indicada, mas para que a simulação esteja

correta é necessário satisfazer uma condição: as variáveis aleatórias devem ser

independentes, ou terem correlação não-linear. Isto significa que os eventos de risco

devem ser independentes, ou seja, o impacto de um evento não pode influenciar no

outro, ou esta influencia deve ser minimizada.

Page 53: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

44

5 Estudo de caso

O presente estudo apresenta um caso de uma empresa de construção

submarina na área de Óleo e Gás inserida no mercado internacional. Por motivos

de confidencialidade, os dados apresentados foram modificados, mantendo,

obviamente a proporção e a coerência entre os mesmos.

A partir da revisão teórica apresentada, tanto na questão da gestão

qualitativa, quanto na gestão quantitativa, é possível apresentar um estudo de caso

que exemplifica o emprego na prática das duas esferas mais importantes da gestão

de riscos e oportunidades de projeto, bem como analisar e criticar o emprego dos

conceitos em uma situação real.

A intenção deste estudo é proporcionar uma análise crítica da gestão de

riscos de forma sintetizada em um projeto de alta complexidade que demanda, além

de extensos recursos físicos e intelectuais de uma empresa mundial, esforços

bastante significativos em todas as áreas de projeto.

O resultado final esperado é uma crítica a respeito das medidas de gestão de

riscos implantadas no projeto em estudo. Com base na literatura mencionada e nos

dados do projeto a serem apresentados, pretende-se aproximar a teoria da prática

avaliando a efetividade das medidas tomadas e propondo diretrizes para a gestão

eficaz de riscos em projetos semelhantes.

5.1 Apresentação da indústria

Segundo Borsani (2001), a indústria do petróleo apresenta uma estrutura bem

segmentada, voltada para uma eficiente e eficaz realização de toda a gama de

atividades envolvidas entre as duas extremidades da cadeia de suprimentos,

abrangendo desde a localização e exploração da jazida de óleo até a colocação do

produto junto ao consumidor final. Braga (2004) salienta, entretanto, que essa

indústria já vem passando por profundas transformações, dentre as quais podem ser

destacadas a desverticalização e a terceirização de seus elos produtivos.

Para fins de introdução da empresa e do ramo de construção submarina, a

apresentação da indústria do petróleo no Brasil será feita de forma bastante sucinta

afim apenas de situar o leitor dentro da cadeia de produção do petróleo e do gás.

Page 54: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

45

Sob uma ótica estritamente logística, a indústria do petróleo pode ser

representada por uma espécie de cadeia industrial integrada, formada por vários

elos, onde cada um deles funciona de forma a distribuir os riscos entre os demais,

de modo que seja possível reduzir custos, ou obter ganhos, ao longo de toda essa

cadeia. Esses elos são conhecidos como segmentos de negócios, ou áreas de

atuação industrial, classificados em upstream, midstream e downstream.

Conforme observado por Borsani (2001), esses segmentos possuem

características próprias, estruturas particulares e funções específicas, comentadas a

seguir, de forma sucinta:

a. Upstream: abrange as operações que vão desde a prospecção geofísica para

identificação de jazidas de óleo, até o transporte do óleo extraído para as

refinarias, onde o mesmo será processado. Compreende as atividades de

exploração, perfuração e produção.

b. Midstream: consiste no conjunto de operações através das quais as matérias-

primas (diversos tipos de petróleo processado) são transformadas em

produtos com utilização específica (gasolina, diesel, GLP, querosene, entre

outros). Compreende, basicamente, a atividade de refino.

c. Downstream: ocupa-se das tarefas logísticas necessárias para transportar os

produtos desde a refinaria até os pontos de consumo. Compreende as

atividades de transporte, distribuição e comercialização dos produtos, como

gasolina, óleo diesel e gás natural.

5.2 Apresentação da empresa

A empresa utilizada para este estudo de caso está situada na cadeia do

petróleo no Brasil como uma prestadora de serviços, tanto em projetos pontuais,

quanto em operações rotineiras de engenharia e operações de apoio às atividades

das grandes empresas de exploração e produção no Brasil.

O escopo da empresa está delimitado pela linha da superfície e o fundo do

mar, ou seja, suas atividades estão ligadas à instalação de equipamentos e linhas

de transmissão submarinos, não sendo responsável pelas etapas de operação nos

poços ou nas embarcações de seus clientes.

Apesar de a empresa em questão operar de forma rotineira em contratos de

longo prazo com diversos parceiros do ramo de exploração e produção de óleo e

Page 55: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

46

gás, como a Petrobras, o foco deste estudo é um projeto de construção submarina

de alta complexidade, envolvendo diversas áreas da companhia e uma quantidade

grande de recursos, tanto no âmbito interno, quanto no âmbito externo de

contratação de outros agentes para serviços específicos.

O projeto em questão é do tipo SURF (sigla em inglês: Subsea Umbilicals,

Risers and Flowlines), ou seja, o escopo da empresa engloba toda a cadeia de

suprimentos, desde a fabricação ou compra dos equipamentos até a instalação e

comissionamento dos mesmos. Atualmente a escala e complexidade dos projetos

cresce rapidamente à medida que as novas reservas de petróleo de gás são

encontradas em águas mais profundas e em ambientes mais desafiadores.

As necessidades dos clientes no que se refere à engenharia, compras,

instalação e comissionamento (EPIC, sigla em inglês: Engineering, Procurement,

Installation and Comissioning) são cada vez maiores em função do constante

incremento de complexidade. Neste projeto, por exemplo, soma-se à complexidade

de execução a dificuldade extra de se tratar de uma solução inovadora para a

exploração de petróleo e gás no Brasil.

A solução em questão se deu para o problema de a exploração das reservas

na bacia de Santos, litoral do estado de São Paulo, se dar em águas ultra profundas,

acima de 2100 metros. Esta característica faz com que as soluções de engenharia

sejam no sentido de minimizar os impactos da grande profundidade e a

complexidade de explorar essas reservas.

O projeto em estudo, que tem como cliente a Petrobras, que demandou uma

solução que fosse capaz de minimizar o esforço e a carga suportada pelas

embarcações oriunda do peso dos risers, nome em inglês dado às tubulações

através das quais o óleo e o gás são transportados do poço até as embarcações na

superfície, que, dada a profundidade das reservas, chegam a ter 4 quilômetros de

extensão.

Um exemplo de riser conectado é apresentado a seguir:

Page 56: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

47

Figura 12: Esquema de riser catenária de aço.1

Nota-se na Figura 12 o riser em forma de catenária, exatamente o modelo

que foi utilizado no projeto em estudo.

O escopo do projeto inclui então a engenharia, a aquisição, a instalação e o

pré-comissionamento de quatro sistemas desacoplados de suporte com grandes

boias submersas de apoio a 27 risers de aço. A intenção das boias é suportar o

peso excessivo das tubulações e aliviar a carga suportada pelas embarcações.

De forma resumida, os principais produtos do projeto são:

a. 4 boias submersas, incluindo suportes e amarras, cada uma pesando cerca

de 2.000 toneladas a serem instaladas cerca de 250 metros abaixo do nível

do mar;

b. 27 risers catenárias de aço de 3,9 km;

c. 21 terminações finais associados de linha (PLETs), dos quais: 18 linhas de

produção, 3 linhas de injeção de água de e 6 linhas de injeção de gás;

d. 27 estacas âncora de sucção para fundação das boias;

e. 4 sistemas de monitoramento para as boias.

Dada a complexidade e a quantidade dos produtos do projeto, é evidente que

a fabricação dos mesmos será fracionada dentre diversas empresas subcontratadas

1 Extraído de http://www.gateinc.com/gatekeeper/gat2004-gkp-2015-02 em 03/09/2015 às 21:06.

Page 57: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

48

a fim de dividir os riscos de cada etapa. O escopo de fabricação que compete à

empresa em estudo se limita aos 27 risers.

Uma característica importante deste projeto é o fato de exigir uma solução

técnica, desta forma a contratação por meio de licitação ocorreu de maneira

diferente. Primeiramente o cliente, Petrobras, emitiu um documento contendo o

desafio que deferia ser solucionado no projeto. A partir daí as empresas

concorrentes passaram para a fase de elaboração técnica de uma solução. Diversas

soluções foram apresentadas e uma delas foi escolhida, neste caso o sistema de

risers suportados por boias. Por fim, a última fase do processo licitatório foi

executada da maneira usual, onde as empresas concorrentes enviaram propostas

comerciais para execução da solução escolhida. Ao final de todo este processo, a

empresa em estudo sagrou-se vencedora.

Neste contexto de aumento de complexidade e competitividade,

principalmente entre as empresas prestadoras de serviço e executantes de projetos,

a gestão de risco se torna cada vez mais importante para garantir um

aprovisionamento de custos e cronograma no montante estabelecido afim de se criar

um colchão para os impactos dos riscos que venham a ocorrer.

O fato de o projeto ser ultra complexo e ter sido disputado por diversas

empresas, sendo a decisão de contratação baseada do preço final, faz com que a

análise de contingência, que pode ser encarada como um custo adicional enquanto

não é utilizada, deva ser suficientemente robusta para proteger a executante do

projeto dos riscos que ela identificou, mas também realista para manter o custo final

do projeto competitivo frente aos concorrentes.

5.3 Gestão quantitativa

Nesta seção serão apresentados dados resumidos da gestão quantitativa de

riscos e oportunidades deste projeto, que não terá seu nome divulgado por motivos

de confidencialidade, a fim de exemplificar o cálculo e análise gerada por um

software de gestão de riscos, Oracle Crystal Ball®1, para a contingência a ser

adotada na questão de custos. Não serão apresentados os dados do cálculo de

contingência para a gestão de riscos de cronograma.

1 Oracle Crystal Ball é uma aplicação de planilha universal para a modelagem de previsões,

simulações e otimizações. Fornece uma visão para os fatores críticos que afetam riscos. Auxilia na tomada de decisões táticas para alcançar objetivos, mesmo sob condições de mercado incertas.

Page 58: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

49

A empresa calcula seus custos a partir dos métodos usuais, que não serão

explicados por este trabalho, resumindo-os, normalmente, a 3 valores: um valor

pessimista, um valor mais provável e um valor otimista. O valor pessimista leva em

consideração o pior caso, ou seja, qual será a estimativa para aquele item de custo

dado que todos os riscos mapeados para o mesmo se concretizem. O valor otimista

por outro lado, qual será o custo do item caso todos os riscos forem tratados e tudo

corra na mais perfeita ordem. Por fim, o valor mais provável é aquele que leva me

consideração a situação que tem maior probabilidade de ocorrer, ou seja, este valor

de custo é estimado a partir da ocorrência dos riscos mais prováveis e do tratamento

dos riscos mais brandos e de menor probabilidade.

Quando os dados das estimativas pessimista, otimista e mais provável

chegam ao setor de gestão de riscos, são atribuídos a eles distribuições de

probabilidade. Então, o software, através de uma análise de probabilidade utilizando

a simulação de Monte Carlo, faz milhares de iterações necessárias para prover uma

estimativa realista do perfil de riscos de cada item de custo e, consequentemente, de

todo o projeto.

A distribuição de probabilidade mais utilizada na prática é a distribuição

triangular, pois possui o mesmo perfil de três pontos utilizado nas estimativas.

Um exemplo de uma premissa utilizada no Crystal Ball® é apresentado a

seguir:

Figura 13: Premissa utilizada no Crystal Ball®.

Fonte: Elaboração própria.

Assumption: Engineering Personnel - Installation

Triangular distribution with parameters:10% 1,00 (=G17)Likeliest 1,06 (=H17)90% 1,06 (=I17)

Page 59: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

50

Esta premissa, apresentada em inglês em função das configurações do

software, se refere ao custo estimado para o pessoal da área de engenharia de

instalação do projeto. É possível observar que a distribuição de probabilidade dada à

esta premissa é triangular, como citado anteriormente, a distribuição triangular é a

mais utilizada para estes dados com estimativas de 3 pontos.

Outra peculiaridade deste conjunto de dados se refere às probabilidades. Na

figura, as estimativas são expressas em porcentagens do valor base do item de

custo. Pode-se observar que a estimativa pessimista é representada pelo valor ao

lado do “90%”, a estimativa otimista ao lado do valor “10%” e a mais provável ao

lado do “Likeliest”.

Em uma situação dita normal, o valor da estimativa otimista deveria ser uma

porcentagem menor que 100%, o valor da estimativa pessimista deveria ser maior

que 100% e o valor mais provável deveria ser exatamente 100%. Como trata-se de

porcentagens do valor base do item de custo, é esperado que as estimativas sigam

este padrão.

Entretanto, a partir do exemplo apresentado, pode-se observar que o valor

mais provável está representado como 1,06. Isto significa que a equipe de riscos

avaliou que o valor base para este item de custo foi muito otimista, ou seja, a equipe

alterou as probabilidades para trazer os valores para um patamar mais conservador,

logo a estimativa mais provável recebeu um valor maior que 100%.

Um exemplo de uma premissa seguindo o padrão discutido está apresentado

a seguir:

Page 60: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

51

Assumption: Connectors Triangular distribution with parameters: 10% 0,96 (=G25) Likeliest 1,00 (=H25) 90% 1,03 (=I25)

Figura 14: Premissa utilizada no Crystal Ball®.

Fonte: Elaboração própria.

Esta premissa está relacionada aos conectores utilizados no projeto para ligar

as tubulações aos equipamentos submarinos instalados. É possível observar que

seguem o padrão discutido, ou seja, o valor da estimativa otimista é uma

porcentagem menor que 100%, o valor da estimativa pessimista é maior que 100% e

o valor mais provável é exatamente 100%.

Como frisado, cabe à equipe de gestão de riscos avaliar estas porcentagens

juntamente com os responsáveis por cada item de custo e, quando necessário,

tomar decisões que possam garantir a segurança da empresa no tocante à

contingência. Normalmente decisões que irão aumentar a segurança e tornar a

análise quantitativa mais conservadora são tomadas de forma mais simples e direta.

Enquanto decisões que tornam a análise mais agressiva são tomadas com mais

cautela, exigindo uma discussão mais aprofundada a fim de fundamentar

solidamente a decisão.

É importante chamar atenção ao fato de que os custos base ou custos

probabilísticos de cada item são formados pela equipe de projeto, ou seja, cada

segmento do projeto é responsável por alocar seus custos possibilitando a área de

custos fazer os procedimentos necessários para estimar o valor base. Conforme

Page 61: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

52

explicado na parte teórica deste trabalho, diversas são as formas de se estimar o

custo base, mas estas estimativas não cabem à equipe de riscos. O que cabe à área

de riscos é identificar o padrão de cada item de custo e, juntamente com os

responsáveis pelos mesmos, atribuir as probabilidades a fim de se chegar às

premissas apresentadas.

Conforme apresentado, as premissas utilizadas para a análise referenciam

valores estabelecidos pela equipe de riscos e pelos responsáveis pelos itens de

custo. A seguir mostra-se os valores para os dois exemplos utilizados nesta seção.

Tabela 3: Dados de referência para premissas utilizadas no Crystal Ball®.

Fonte: Modificado pelo autor.

Pode-se observar que os valores de referência seguem a forma apresentada

anteriormente, ou seja, a estimativa pessimista é representada pelo valor “90%”, a

estimativa otimista pelo valor “10%” e a estimativa mais provável é representada por

“Most Likely”. Vale lembrar que o padrão desta planilha de referências é de escolha

do usuário, os únicos valores que o Crystal Ball® necessita são o custo

probabilístico, ou seja, o custo base e as estimativas otimista, pessimista e mais

provável, que podem ser expressas em valores absolutos ou em valores relativos,

como os exemplos apresentados.

O resultado da simulação, como mencionado no capítulo 4, é uma curva-S de

probabilidade acumulada para cada um dos pacotes de custo definidos pela equipe

antes da simulação. Um exemplo de curva-S é apresentado a seguir. Nota-se que

este pacote diz respeito aos custos de engenharia que envolvem diversas premissas

que alimentam o mesmo gráfico de saída. Cabe ao usuário criar as relações entre as

premissas, variáveis de entrada, e as previsões, variáveis de saída.

Atividade (Otimista((((((((((((P10(

(Mais(provável((Pessimista

P90(

(Custo(Probabilístico(

(Impacto(

Engineering'Personnel','Installation 1,00 1,06 1,06 39.737.094

Connectors 0,96 1,00 1,03 38.937.411

Page 62: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

53

Figura 15: Curva-S, resultado da simulação realizada no Crystal Ball®.

Fonte: Elaboração própria.

Em conjunto com a curva de probabilidade acumulada, o software fornece o

resultado para cada percentil múltiplo de 10% para cada pacote de custo simulado,

assim como o custo total. Para o caso especial da empresa utilizada neste estudo de

caso, o percentil utilizado como referência para definição da contingência é 80%.

Como mencionado anteriormente, a gestão de riscos de projeto pode ser

dividida em duas etapas que se desenrolarão ao longo da vida do projeto, mas que

se complementam em diversos aspectos: a gestão quantitativa e a gestão

qualitativa. No projeto em questão, devido à grande incerteza advinda da nova

solução apresentada para o problema, a gestão quantitativa de riscos teve um papel

muito importante e tomou posição de destaque na gestão do projeto como um todo.

A gestão quantitativa é crucial principalmente no início, mas se estende por

toda a vida do projeto. Na fase de concorrência, o valor de decisão estratégica que

toma a gestão quantitativa e a análise de contingência já foi explicado. No caso

específico deste projeto, as incertezas eram ainda maiores por se tratar de um

projeto de grande porte, ultra complexo e que envolve soluções nunca antes

executadas no Brasil.

A gestão quantitativa na fase de concorrência é responsável, conforme

explicado anteriormente, por definir o nível de proteção que a empresa irá impor de

acordo com o perfil de riscos do projeto e do ambiente em que o mesmo está

inserido. Vale lembrar que os riscos mencionados nesta análise estão relacionados

não só aos aspectos internos do projeto e da empresa, mas também aos externos

do ambiente que os cerca. Fatores como o ambiente, o clima, as condições

Page 63: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

54

macroeconômicas, a disponibilidade empresas parceiras, entre outros, são

extremamente importantes no que diz respeito ao nível de contingência que será

tomado.

Por outro lado, após a definição da estrutura de custos final do projeto

realizada durante a fase de concorrência, levando em conta os componentes de

custo já apresentados, a gestão quantitativa não se encerra. A partir daí, a gestão

quantitativa é responsável por realizar a análise de cenários, que é uma ferramenta

extremamente importante para a tomada de decisão no que diz respeito à liberação

da contingência ou ao incremento da mesma através de um reconhecimento de

prejuízo.

Ao longo do projeto, conforme os custos vão sendo contabilizados de acordo

com o planejado para cada item, cabe à equipe de riscos avaliar o nível

remanescente de risco para cada item a fim de realocar o valor de contingência.

Vale lembrar que o valor da contingência faz parte do projeto como um todo, ou seja,

está apenas alocado para cada item, mas pode ser realocado conforme a

necessidade.

5.4 Gestão qualitativa

A gestão de riscos e oportunidades do projeto estudado seguiu de forma

contundente as diretrizes definidas pela empresa nos seus procedimentos. Tais

procedimentos foram escritos através de uma vasta revisão bibliográfica. Dentre a

bibliografia estudada para a confecção destes procedimentos estão diversos autores

cujas obras foram citadas neste trabalho, com grande destaque para a literatura do

PMI (Project Management Institute).

Na fase de identificação dos riscos e oportunidades vale destacar a presença

importante das incertezas oriundas do fator inovação, que cercava a solução

apresentada para o problema que o cliente enfrentava. O fato de a empresa ter

absorvido toda a responsabilidade de engenharia, compras, fabricação, instalação e

comissionamento de todos os equipamentos do projeto fez com que o grau de risco

assumido fosse bastante crítico.

De acordo com a expectativa de altos riscos e grandes incertezas, a gestão

qualitativa de riscos e oportunidades se mostrou uma ferramenta crucial para que a

Page 64: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

55

empresa pudesse identificar e tratar os eventos que poderiam vir a causar impactos

no projeto futuramente.

A ferramenta principal da gestão qualitativa, conforme mencionado, é o

registro de riscos e oportunidades. O registro é um arquivo que contém todas as

informações relevantes de todos os eventos identificados durante a vida do projeto,

ou seja, é um diário de informações que conta a evolução de cada evento

identificado, bem como o andamento das ações que foram implementadas em cada

evento particular.

A partir do registro, a equipe de riscos é capaz de gerar relatórios que são

imagens pontuais do projeto como um todo e que podem mostrar, se compiladas, o

andamento da gestão qualitativa em si, em termos de riscos mitigados, eventos

monitorados, oportunidade aproveitadas.

Conforme apresentado na fase teórica deste trabalho, os eventos são

identificados no registro. Um exemplo de evento identificado no registro de riscos

está a seguir:

Figura 16: Evento identificado no Registro de Riscos e Oportunidades.

Fonte: Modificado pelo autor.

A primeira coluna do registro diz respeito ao número de referencia, que neste

caso é precedido por uma letra de classificação inicial. Por se tratar de um projeto de

grandes proporções, os eventos são divididos em categorias, neste caso, o exemplo

está inserido na categoria de operação e instalação.

A segunda coluna mostra um índice que identifica de o evento é um riscou ou

uma oportunidade, enquanto que a terceira coluna mostra o status do evento, que

pode estar: aberto, mitigado, impactado ou cancelado. A importância destas três

colunas se dá em função da complexidade da gestão qualitativa de riscos em um

projeto que possui cerca de 200 eventos identificados.

Descrição do evento Causa ConsequênciaRiscoStatusRef. T/O

D.51 T Dano aos produtos (SCRs e BSRs)Dano aos equipamentos da embarcaçãoDuração das atividades mais longa que o estimado, levando à ociosidade das embarcações da empresa e de apoio

Eventos indesejados durante a transferência dos SCRs para as BSRs

I Falta de experiência na execução desta tarefaPiora repentina nas condições do marNão parada das operações da Petrobras durante a transferência (operações próximas às linhas ativas)

Page 65: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

56

No exemplo apresentado pode-se observar que o evento é “Eventos

indesejados durante a transferência dos SCRs para os BSRs”. SCR é a sigla em

inglês para Steel Catenary Risers, que pode ser traduzido livremente para riser

catenária de aço”, ou seja, SCR é o tubo que traz o óleo ou o gás do fundo do mar

para a superfície, enquanto BSR é a sigla em inglês para Buouancy-Suported

Risers, que pode ser traduzido livremente para “risers suportados por flutuabilidade”,

ou seja, BSR é a boia que sustenta os risers.

As causas apresentadas para este evento são: falta de experiência na

execução desta tarefa, piora repentina das condições do mar ou do clima, não

parada das operações da Petrobras durante a transferência (operações próximas às

linhas ativas).

As consequências são: dano aos produtos (SCR e BSR), dano aos

equipamentos das embarcações, duração das atividades mais longa que o

estimado, levando à ociosidade das embarcações da empresa e de apoio.

Em relação às causas destaca-se a falta de experiência na execução desta

tarefa, ou seja, a empresa vê como uma causa de um risco importante a falta de

experiência dela mesma na execução da tarefa de transferência, pois nunca

trabalhou com este tipo de solução, sistema de suporte por flutuabilidade.

Entre as consequências destacam-se a preocupação em relação aos

produtos que estão sendo instalados e aos equipamentos das embarcações tanto da

empresa quanto do cliente e a preocupação com a duração das operações. Por se

tratar de uma operação que será repetida no mínimo 27 vezes, que é o número de

risers a serem instalados, a preocupação com o atraso nas operações é

compreensível, pois qualquer atraso significa tempo ocioso tanto para as

embarcações e equipes da empresa, quanto para as embarcações de apoio à estas

operações.

Nota-se nas consequências listadas na Figura 16 que o tempo ocioso possui

grande destaque neste tipo de projeto em função da sua importância não só para o

cronograma, como para os custos. Empresas que operam seus projetos no mar têm

como maior elemento de custo o tempo de barco, ou seja, o custo para manter toda

a embarcação pronta para operar e executar as tarefas previstas. Este custo irá

incorrer esteja a embarcação em uso, esteja em ócio. É esta característica do

trabalho que faz aumentar a preocupação com o tempo de barco, em especial o

tempo ocioso.

Page 66: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

57

A próxima etapa de gestão de riscos e oportunidades diz respeito à análise

qualitativa dos riscos e oportunidades, ou seja, à definição da probabilidade de

ocorrência de impacto potencial de cada evento sobre o projeto. Como apresentado

na fase inicial deste trabalho, são dadas graduações para a probabilidade de

ocorrência e impacto em custo, cronograma e performance, conforme padrões

definidos pela empresa que podem variar para cada projeto devido às suas

especificidades.

A seguir apresenta-se a análise pré-mitigação para o evento utilizado no

exemplo anterior:

Figura 17: Análise pré-mitigação.

Fonte: Modificado pelo autor.

Destaca-se que o evento apresentado tem um perfil de risco bastante crítico.

Por se tratar de uma escala de cinco pontos para esta empresa em particular, pode-

se observar que a probabilidade de ocorrência deste evento é alta, ou seja, é a

segunda maior graduação que pode ser dada à um evento. Ao mesmo tempo, os

impactos nas três esferas são todos muito altos, a maior graduação possível.

A coluna “Final” apresenta o valor numérico utilizado para calcular o nível

inicial de risco. O numeral 20 que aparece na célula logo abaixo diz respeito à

multiplicação do valor numérico da probabilidade de ocorrência inicial e do maior

impacto inicial. Abaixo segue uma tabela categorizando os fatores qualitativos em

fatores numéricos.

Fator qualitativo (inglês) Fator qualitativo (português) Fator numérico

Very high (VH) Muito alto 5

High (H) Alto 4

Medium (M) Médio 3

Low (L) Baixo 2

Very low (VL) Muito baixo 1 Tabela 4: Categorização dos fatores qualitativos.

Fonte: Elaboração própria.

Descrição do eventoRiscoStatusRef. T/O Prob. Final

Custo Tempo Qual.Impacto Nível de

risco inicialD.51 T Eventos indesejados durante

a transferência dos SCRs para as BSRs

I

VHVH HH 20VH

Page 67: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

58

Além das informações iniciais a respeito de cada evento, o registro também

guarda a informação do responsável por cada risco ou oportunidade. O responsável

é o elemento de comunicação que será utilizado pela equipe de riscos para que a

mesma consiga coleta informações sobre o evento e, principalmente, sobre o

andamento das ações mitigadoras que foram implementadas. Cabe à equipe de

gestão de riscos acompanhar e monitorar este andamento.

Outra informação importante contida no registro, conforme citado, diz respeito

às ações implementadas pela equipe de projeto para cada evento em particular. A

seguir seguem as ações planejadas para o evento supracitado.

Figura 18: Ações mitigadoras.

Fonte: Elaboração própria.

As ações listadas através de entrevistas realizadas com o responsável pelo

evento e com os especialistas da área na qual o evento foi identificado recebem um

responsável operacional. Esta pessoa será responsável por realizar a tarefa

especificamente ou a delegará para a equipe operacional. O responsável pela a

ação deve, assim como o responsável pelo riscos, reportar o andamento da mesma

para seus superiores e cobrar a execução das tarefas referentes à ela.

A primeira coluna do exemplo apresentado mostra o índice numérico das

ações, a segunda coluna mostra a descrição das ações. A primeira ação, por

exemplo, é: utilizar um guindaste com compensador de peso. Esta ação diz respeito

ao guindaste da embarcação que realizará a tarefa de transferência. No caso

específico desta tarefa, exige-se uma maior estabilidade do guindaste em relação ao

balanço do mar, devido à proximidade da operação com as linhas ativas e outros

produtos da empresa.

No. Descrição Responsável Status Progresso Data limite

Plano de ação

D.51.01 Usar guindaste com compensador de carga CCO Completed 100% 15/12/13

D.51.02 Definir um procedimento de emergência para cobrir a transferência dos SCRs para as BSRs

JBR Completed 100% 15/12/13

D.51.03 Desenvolver uma ferramenta de instalação de riser CCO Completed 100% 15/12/13

D.51.04 Colocar uma flâmula de sinalização extra na embarcação de instalação

JBR Completed 100% 31/03/14

D.51.05 Desligar os propulsores durante a transferência para evitar acidentes

MXA Completed 100% -

D.51.06 Comprar cabo de guindaste sobressalente MXA Completed 100% -

Page 68: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

59

Observa-se que cada ação possui um responsável, representado por uma

sigla de seu nome por fins de simplificação, um status que pode variar entre: não

iniciada, não implementada, em andamento, cancelada ou completada. Existe

também uma coluna de progresso percentual para as ações em andamento e uma

data limite para a execução de cada ação. Esta coluna de data limite é

extremamente importante, pois é o controle que a equipe tem para acompanhar e

monitorar o andamento de cada ação implementada durante as reuniões periódicas.

Durante a avaliação qualitativa dos eventos, mesmo antes de as ações

mitigadoras serem implementadas, a equipe de riscos do projeto deve fazer uma

estimativa da probabilidade de ocorrência e dos impactos potenciais residuais. Isto

é, a probabilidade de ocorrência e o impacto residual do evento caso todas as ações

sejam implementadas da maneia planejada.

A seguir mostra-se a análise residual para o risco apresentado como

exemplo:

Figura 19: Análise pós-mitigação.

Fonte: Elaboração própria.

Nota-se que todos os fatores foram reduzidos. A probabilidade passou de alta

para média e os impactos passaram de muito altos para altos. A consequência desta

redução é visível no nível de risco numérico que passou de 20 para 12 e o nível de

risco qualitativo que passou de alto para médio. Estas reduções indicam a

segurança da equipe de riscos nas ações e nos métodos implementados para o

tratamento do evento.

5.5 Análise crítica

Com os dados da gestão qualitativa e da gestão quantitativa apresentados de

forma simplificada e orientada para uma análise crítica, fica evidente a possibilidade

de se fazer uma revisão das medidas colocadas em prática na gestão de risco e

avaliar o resultado econômico do projeto sob o ponto de vista dos impactos

causados pelos eventos identificados.

Descrição do eventoRiscoStatusRef. T/O Prob. Final

Custo Tempo Qual.Impacto Nível de

risco finalD.51 T Eventos indesejados durante

a transferência dos SCRs para as BSRs

IH M12HM H

Page 69: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

60

É importante ressaltar neste ponto do estudo que o resultado econômico do

projeto foi insatisfatório para a empresa, ou seja, o projeto obteve resultado negativo

em relação aos custos apresentados e em relação ao cronograma estabelecido. No

âmbito econômico, a empresa admitiu um prejuízo de cerca de 30% do valor do

custo inicial do projeto. O resultado em termos de cronograma, que está bastante

atrelado ao prejuízo econômico, foi bastante afetado, chegando à marca de 40% de

atraso nas operações do projeto em relação à duração estabelecida em contrato.

As causas para estes resultados são das mais diversas, algumas delas,

inclusive, fogem ao escopo deste trabalho ou são cobertas por outros tipos de

acordo entre a empresa contratante e a empresa contratada. Por exemplo, os

atrasos nas operações causados por mau tempo são reembolsados pelo cliente para

a empresa executante. A taxa de reembolso é definida para cobrir o custo

operacional das embarcações que encontram-se ociosas em função de mau tempo.

Vale ressaltar que tempo ocioso de embarcações causado por qualquer outro fator

de responsabilidade da empresa contratada ou de seus subcontratados não é

passível de reembolso.

Um fator importante a se destacar a esta altura é a relação direta do tempo

ocioso das embarcações com o aumento do custo da operação. Dentre todos os

custos relativos ao projeto, seja na fase de engenharia, na fase de projeto dos

componentes ou na fase de instalação, o item de maior custo unitário é o tempo de

barco1. O custo deste tempo de barco é cotado para o projeto como o valor

necessário para manter a operação daquela embarcação para realizar as tarefas

previstas no cronograma.

O tempo de barco está associado principalmente à fase de instalação, ou

seja, esta preocupação com o custo de operação está mais evidente durante a

campanha offshore do projeto. Entretanto, as fases que antecedem a instalação

possuem uma importância relevante no que se refere à preparação para que as

tarefas sejam executadas conforme planejado. O planejamento, a engenharia, a

logística, o comercial, todos estes setores do projeto trabalham para que a atividade

de instalação dos produtos possa ocorrer com segurança, dentro do tempo

estipulado, seguindo os procedimentos estabelecidos e dentro do custo planejado.

1 Tempo medido em horas de utilização de cada embarcação, seja em operação ou em tempo

ocioso com custo unitário associado e conhecido.

Page 70: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

61

A seguir apresentam-se dois gráficos que têm por objetivo ilustrar o resultado

final da análise qualitativa de riscos do projeto. O primeiro, Gráfico 1, mostra um

resumo da situação final dos riscos do projeto. Um fato importante a se considerar é

que mesmo com as operações do projeto finalizadas permanecem alguns riscos

abertos que dizem respeito à medidas judiciais, negociações em andamento,

definição de multas e aditivos e finalização da documentação.

Gráfico 1: Situação final dos riscos.

Fonte: Elaboração própria.

O segundo gráfico faz uma comparação dos níveis de risco pré-mitigação e

pós-mitigação. Nota-se um fluxo de eventos de um nível mais alto para um nível

mais baixo na avaliação da equipe de riscos. É válido ressaltar que esta avaliação é

fruto da multiplicação da probabilidade de ocorrência pelo maior impacto identificado

para o evento tanto para a fase pré quanto para a fase pós mitigação.

10%  

49%  

28%  

13%  

Riscos  

Aberto   MiJgado   Impactado   Cancelado  

Page 71: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

62

Gráfico 2: Comparação do nível de risco inicial e residual.

Fonte: Elaboração própria.

Em relação tanto à gestão qualitativa quanto à gestão quantitativa, as

medidas tomadas pela equipe de riscos seguiram o procedimento estabelecido pela

empresa. A intenção desta análise é avaliar a efetividade destas medidas no

resultado final da gestão de riscos do projeto.

Tendo em vista o resultado insatisfatório do projeto, é possível destacar

diversos fatores que podem ter contribuído para o resultado final:

i. Avaliação insuficiente do nível de risco do projeto;

ii. Premissas de custo não realistas;

iii. Confiança no resultado quantitativo gerado pelo software;

iv. Decisão na estratégia de engajamento dos riscos.

O primeiro item a respeito da gestão de riscos apresentado como possível

causa do resultado negativo do projeto é a avaliação insuficiente do nível de risco do

projeto. Este fator, nível de risco, tomou papel de destaque para a empresa após a

mesma assumir o prejuízo no projeto. A partir deste resultado ficou decidido pela

gerência global que a empresa não participaria mais de licitações para projetos com

nível similar de risco no Brasil. A justificativa maior dada foi a dificuldade de se fazer

negócios de longo prazo no país, dada a exigência para conteúdo local, problemas

com administração, restrições de importações e impostos que vão muito além dos

termos e condições acordados em contrato.

Análise  pré-­‐miJgação   Análise  pós-­‐miJgação  

Alto   95   34  Médio   82   122  Baixo   1   22  

0  20  40  60  80  100  120  140  160  180  200  

QuanJ

dade

 Riscos  

Page 72: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

63

O projeto enfrentou problemas relacionados ao clima após a entrada na fase

offshore, em função principalmente de atrasos na fabricação, montagem e logística

dos equipamentos. Estes atrasos fizeram com que a campanha offshore do projeto

se iniciasse no período de inverno da Bacia de Santos, conhecida por condições

adversas de mar.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, atrasos foram experimentados como

resultado dos problemas contínuos com a cadeia de fornecedores, início tardio de

fabricação de gasoduto principalmente devido a problemas de desembaraço

aduaneiro e às condições meteorológicas adversas na temporada de inverno da

Bacia de Santos.

O principal problema da avaliação do nível de risco do projeto é o efeito

cascata gerado por uma premissa mal feita. O fato de o projeto ser encarado de

forma menos conservadora do que deveria, impacta todas as outras premissas

utilizadas tanto na simulação quanto na avaliação qualitativa dos eventos.

O segundo fator citado diz respeito às premissas de custo otimistas. Este fator

pode ser encarado como uma consequência da avaliação do nível de risco do

projeto, ou seja, a forma como a equipe de projeto enxerga os riscos do mesmo.

Esta forma de a equipe encarar os riscos reflete a visão que a gerência tem do nível

de risco do projeto.

Estas premissas de custo otimistas estão relacionadas tanto aos custos base

fornecidos pela equipe de projeto para cada item de custo, quanto à avaliação feita

pela própria equipe de riscos sobre as estimativas otimista, pessimista e mais

provável a fim de definir as distribuições de probabilidade que alimentaram o

software de simulação.

Durante todo o projeto foram feitas reavaliações quantitativas dos custos

esperados e grande parte das estimativas foram alteradas para um perfil mais

conservador. Entretanto, a partir do momento que o custo do projeto já havia sido

definido, estas estimativas reavaliadas passam a ter valia apenas para orientar

quaisquer realocações internas de recursos.

O terceiro item citado diz respeito à confiança no resultado quantitativo

gerado pelo software. Este problema, novamente, está interligado aos dois fatores

anteriores. O fato de o nível de risco avaliado ter provocado estimativas muito

otimistas fez com que o resultado quantitativo gerado pela simulação fosse

Page 73: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

64

enviesado. Afinal, o Crystal Ball® utiliza as premissas e estimativas para calcular e

fazer as simulações dos custos para definir a contingência.

Por fim, o resultado obtido, que não se sabia ser extremamente otimista, foi

tratado de forma crua. O fato de a simulação ter gerado um valor de contingência a

nível 80% não deve ser percebido como verdade absoluta. Este valor deve ser

tratado e somado ao valor discreto de contingência. Este valor discreto diz respeito

aos eventos identificados que não estão sendo levados em consideração na

simulação de custos, em grande parte dizem respeito à fatores da gestão do projeto,

da relação com o cliente e com os subcontratados e dos potenciais problemas que

possam vir a impactar o custo final.

O quarto e último problema identificado está relacionado à estratégia adotada

frente aos riscos identificados. Este fator é, sem dúvida, o que está mais diretamente

ligado à gestão de riscos do projeto, pois a decisão da estratégia adotada para se

engajar os eventos identificados é somente da equipe de riscos. Durante a fase de

concorrência, foram identificados diversos eventos que poderiam causar grandes

impactos no projeto e que foram tratados de forma meramente quantitativa,

enquanto que mereciam uma abordagem qualitativa para se abrir o leque de

possibilidades de tratamento.

Diversas estratégias de abordagem aos riscos poderiam ter sido utilizadas na

gestão de eventos identificados durante a fase inicial do projeto. Abaixo são citadas

as principais:

i. Evitar - encontrar uma abordagem alternativa, método ou caminho diferente;

ii. Controlar / Reduzir - se a prevenção não for possível ou razoavelmente

praticável, implementar ações para reduzir o impacto e / ou probabilidade de

ocorrência. Os planos de mitigação reduzem o risco do projeto antes que ele

ocorra, ações contingenciais são implementadas após a ocorrência do risco.

Planos de redução de riscos do projeto podem ser testados e simulados nos

modelos de risco afim de calcular a sua eficácia na redução do risco global do

projeto;

iii. Aceitar - aceitar o risco do projeto e incluir contingências apropriadas em

custo e / ou cronograma;

iv. Custear - estabelecer uma provisão de custo adequada ou contingência. O

custo pode fazer parte da estimativa itens específicos ou pode ser adicionado

como uma quantia discreta assumida no modelo de simulação;

Page 74: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

65

v. Contornar – utilizar mecanismos e qualificações de contrato para contornar os

riscos;

vi. Compartilhar - aceitar parte do risco, mas esperar de clientes, fornecedores e

subcontratados aceitem também parte do risco;

vii. Transferir - aceitar nenhum risco, transferindo todos os riscos para

fornecedores, subcontratados, clientes, etc;

viii. Assegurar - aceitar e segurar todos os riscos através de um seguro interno ou

de uma seguradora terceirizada.

Dentre elas vale destacar três mais importantes: compartilhar, transferir e

assegurar. Estas estratégias listadas anteriormente neste trabalho são muito

importantes principalmente para eventos de grande impacto, seja direto ou indireto.

Neste projeto, diversos eventos com impacto direto de pouca relevância causaram

grandes impactos indiretos que a equipe de riscos não esperava.

O fato de o empreendimento ser de grande porte, com diversas fases,

diversas frentes de trabalho, possuir diversos setores da empresa trabalhando em

conjunto em vários lugares do mundo faz com que a gestão de riscos assuma um

papel importante de comunicação das diferentes partes.

O papel de comunicação da gestão de riscos fica mais evidente quando se

fala das potenciais consequências para um setor do projeto causadas por eventos

ocorridos em outro setor completamente diferente do mesmo projeto. O fato de a

campanha offshore ter sido fortemente impactada pelos atrasos principalmente na

fabricação, montagem e logística dos equipamentos fez com que outros eventos

fossem encadeados e aumentassem o nível de risco do projeto. Este perfil de efeito

cascata dos eventos de risco possui características que dificultam sua identificação

ou mesmo seu tratamento, aumentando ainda mais a importância de uma gestão

qualitativa de riscos eficiente que seja capaz de tratar os eventos precursores de

forma correta.

O desencadeamento de eventos causado pela ocorrência de eventos isolados

foi, sem dúvida, a grande causa do resultado negativo do projeto. Os problemas

citados nesta análise foram os fatores precursores destes eventos iniciais que por

sua vez provocaram uma cadeia de outros eventos responsáveis pelo desfecho

insatisfatório do projeto.

Page 75: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

66

Neste ponto da análise vale a informação de que a empresa, mesmo

contabilizando prejuízos da ordem de 30% no custo inicial, persistiu na execução do

projeto e o entregou conforme o escopo acordado em contrato. Este compromisso

com o cliente ficou evidente ao longo do projeto e foi, de certa forma, evidenciado

por esta atitude.

Page 76: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

67

6 Conclusão

O presente trabalho dedicou-se a comprovar a eficácia da utilização das

diretrizes de gestão de riscos e oportunidades de projeto apresentadas na literatura

existente, com foco especial na literatura do Project Management Institute (PMI).

Para isto foi elaborado um estudo de caso em uma grande empresa do ramo de

serviços da cadeia do petróleo. Por se tratar de um projeto no ramo de serviços, a

gestão de riscos e oportunidade se mostrou um aspecto essencial a ser estudado. O

projeto de alta complexidade foi estudado a fundo no que diz respeito à gestão

qualitativa e quantitativa a fim de fundamentar a análise crítica apresentada.

A análise proposta se dedicou a rever o resultado do projeto como um todo

com olhares voltados, evidentemente, à gestão de riscos de forma que fosse

possível avaliar como as medidas implementadas contribuíram para tal resultado.

Esta avaliação crítica de resultado, apesar de ser motivada por resultados numéricos

de custo e cronograma, possui um viés importante em mostrar a contribuição da

gestão de riscos no resultado qualitativo do projeto, no que diz respeito às relações

com os principais stakeholders.

O propósito deste estudo era apresentar e analisar uma situação real, um

projeto de grande porte, onde foi implantado um mecanismo complexo de gestão de

riscos apontando de forma crítica as principais características deste mecanismo com

base na literatura específica revista nos capítulos 2 e 3.

É crescente e notória a preocupação das equipes de projeto e das empresas

executoras com relação à gerência de riscos, seja na esfera quantitativa, seja na

qualitativa. Esta necessidade em se tratar os eventos de risco de forma profissional

e introduzir a gestão de riscos como parte integrante da equipe de projeto fez surgir

uma tendência de enriquecimento na análise destes eventos de forma a

proporcionar uma análise efetiva da importância desta gestão no resultado final de

um empreendimento.

Após uma breve introdução acerca da indústria e da empresa em que se

insere o estudo de caso, o mesmo se dedicou a explicar de forma sucinta o projeto

em si, expondo a complexidade do mesmo e justificar a profundidade da análise da

gestão de risco em seu resultado final.

Page 77: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

68

Primeiramente, sob a ótica da gestão quantitativa, o estudo de caso buscou

explicar e exemplificar o mecanismo utilizado por um software de simulação de

Monte Carlo, no caso o Crystal Ball®, o qual, com base nas premissas e estimativas

de custo do projeto calcula previsões na forma de distribuições de probabilidade

acumulada, os valores, que irão auxiliar a equipe de projeto na tomada de decisão

acerca do valor de contingência que será empregado para proteger a empresa dos

riscos identificados e manter a competitividade da mesma perante o mercado.

No tocante à gestão qualitativa foi feito um apanhado de como a mesma se

desenrolou durante o projeto, expondo e explicando como seus principais aspectos

foram implementados na prática. Esta exposição foi contrastada com as diretrizes

descritas de forma teórica no segundo capítulo deste trabalho. O estudo de caso

mostrou a relevância do emprego de uma gestão qualitativa de riscos eficiente e sua

consequência no resultado final do projeto.

Como foi proposto pelo estudo, foi feita a análise crítica da implantação da

gestão de riscos no projeto em questão e foram criticadas as medidas implantadas

pela empresa afim de se justificar, em parte, o resultado obtido no empreendimento.

Além do desfecho da gestão qualitativa de riscos, foram expostas questões que

podem ter contribuído para a condição final do projeto, com a intenção de salientar

como a implementação da gestão de riscos pode ter contribuído para o prejuízo

realizado.

Espera-se que este trabalho sirva de guia de boas práticas e auxilie as

equipes de projeto na aplicação correta e efetiva dos conhecimentos da gestão de

riscos no gerenciamento de projetos, de forma a contribuir para o sucesso de novas

iniciativas. Tendo em vista a crescente noção de competitividade no ambiente de

negócios, seja na indústria do petróleo ou em outras esferas, faz-se essencial uma

ferramenta eficiente na gestão de riscos.

As novas vertentes propostas a partir deste trabalho são diversas e podem

ser divididas em três categorias. Primeiramente pode ser feito um estudo

aprofundado da real responsabilidade da subestimação de custos e riscos no

resultado de um projeto. A segunda diretriz que pode ser seguida é a análise do

impacto do clima em projetos offshore, tanto na operação, quanto no planejamento

das atividades. Por último seria interessante realizar um aprofundamento nas

questões culturais e políticas que cercam o ambiente de atuação destas grandes

empresas de projeto, principalmente as multinacionais da área de serviços.

Page 78: aplicação da metodologia de gestão de riscos e oportunidades

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