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i FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO “IMPACTO DO IMPAIRMENT SOBRE O PREÇO DAS AÇÕES DE EMPRESAS BRASILEIRAS” ALUIZIO FERREIRA SENA DOS SANTOS ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2013.

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i

FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO

PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

“IMPACTO DO IMPAIRMENT SOBRE O PREÇO DAS AÇÕES DE EMPRESAS

BRASILEIRAS”

AALLUUIIZZIIOO FFEERRRREEIIRRAA SSEENNAA DDOOSS SSAANNTTOOSS

ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA

Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2013.

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“Impacto do Impairment Sobre o Preço das Ações de Empresas Brasileiras”

ALUIZIO FERREIRA SENA DOS SANTOS

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado Profissional em Administração

como requisito parcial para obtenção do

Grau de Mestre em Administração.

ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA

Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2013.

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iii

“Impacto do Impairment Sobre o Preço das Ações de Empresas Brasileiras”

ALUIZIO FERREIRA SENA DOS SANTOS

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado Profissional em Administração

como requisito parcial para obtenção do

Grau de Mestre em Administração.

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________________

PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA (Orientador)

Instituição: Faculdades Ibmec

________________________________________________________

PROF. DR. MARCELO VERDINI MAIA

Instituição: Faculdades Ibmec

_____________________________________________________

PROF. DR. ODILANEI MORAIS DOS SANTOS

Instituição: Co-orientador - Petrobras

Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2013.

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iv

S237

Santos, Aluizio Ferreira Sena dos.

Impacto do impairment sobre o preço das ações de empresas

brasileiras / Aluizio Ferreira Sena dos Santos. - Rio de Janeiro:

[s.n.], 2013.

41 f. : il.

Dissertação de Mestrado profissionalizante em

Administração do IBMEC.

Orientador: Raimundo Nonato Sousa Silva.

1. Impairment. 2.Value Relevance. 3. Ohlson. 4. IFRS.

5. Preço da ação. I. Título.

CDD 657

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Dedico este trabalho às três mulheres da minha vida:

Dilma, Giulia e Giovanna. Amor Incondicional e Infinito!

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AGRADECIMENTOS

Ao Criador, por estar sempre a minha frente, guiando meu caminho, e me carregando nos

momentos de necessidade.

À minha esposa, Dilma, por administrar sozinha nossa casa em vários momentos do curso de

Mestrado, e às minhas filhas, Giulia e Giovanna, por não terem feito bagunça além do normal

nesse período.

Aos meus pais, Júlio e Francisca, e minha irmã Andréa, meus primeiros professores, e a quem

até hoje recorro quando tenho dúvidas na disciplina da vida.

Ao meu orientador, Raimundo Nonato, por toda a ajuda acadêmica durante o Mestrado e na

orientação desse trabalho, e por não ter deixado o navio zarpar sem que eu estivesse a bordo.

Ao co-orientador Odilanei dos Santos, que trouxe excelentes ideias que ajudaram a tornar esse

trabalho mais completo e efetivo.

Aos demais professores do Mestrado, que tornaram minha volta à vida acadêmica mais

enriquecedora. Como é bom estar numa sala de aula!

Aos meus colegas de Mestrado, pela cooperação nos trabalhos realizados em grupo, e pelo

incentivo para a conclusão dessa importante etapa.

Aos meus clientes, que compreenderam esse período um tanto quanto sabático, e por

continuarem, espero, sendo meus clientes.

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RESUMO

A avaliação de empresas passa necessariamente pelo uso e interpretação das informações

contábeis. A recente convergência das normas contábeis brasileiras para as normas contábeis

internacionais foi bem recebida pelo mercado, uma vez que dessa forma se espera

demonstrações contábeis com informações mais claras e comparáveis com as demonstrações

contábeis de outras empresas, especialmente de outros países. O objetivo desse estudo foi

analisar se o impairment registrado pelas empresas que compõe o IBOVESPA, nos anos de

2011 e 2012, impactou o preço das ações no momento em que aquelas informações foram

divulgadas. A conclusão é que o impairment impactou de maneira significante o preço das

ações, denotando que os investidores já absorveram as mudanças recentes nas práticas

contábeis.

Palavras Chave: Impairment, value relevance, Ohlson, IFRS, preço da ação.

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ABSTRACT

Valuation is determined based upon the financial statements´ use and interpretation. The

recent Brazilians' generally accepted accounting principles movement toward the international

financial reporting standards, has been appreciated by the market as a whole. It is expected

comparative information provided by the entity in its financial statements through time and

with information provided in the financial statement of other entities in other countries. The

purpose of this research was analyse if the impairment recognized by the company´s under

IBOVESPA (2011-2012) had relevant impact on their current stock pricing, by the report and

disclosure period. The conclusion is that the impairment recognition, has relevantly impacted

the stock price, denoting the investors has already absorbed the international financial

reporting standards issues.

Key Words: Impairment, value relevance, Ohlson, IFRS, stock price.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Jurisdições que adotam o IFRS ................................................................................. 4

Quadro 2- Organização do CPC01 (R1) ................................................................................... 13 Quadro 3- Hipóteses propostas para os testes que serão executados e resultados esperados ... 19 Quadro 4- Empresas selecionadas para o teste, que representam as empresas não financeiras

que compõe o índice IBOVESPA em 30 de abril de 2013 ............................................... 20

Quadro 5- Classificação das Empresas por Setor e Presença do Impairment .......................... 21 Quadro 6 – Estatística descritiva da amostra: valores absolutos do impairment são

significativamente inferiores aos valores das demais variáveis ....................................... 22 Quadro 7 – Análise de Correlação de Pearson ......................................................................... 23 Quadro 8 – Resumo Estatístico com Verificação da Correlação.............................................. 24

Quadro 9- Resultados do Trabalho ........................................................................................... 24

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Órgãos que compõe o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC ................... 11

Figura 2 – Fluxo para o teste de impairment de acordo com o CPC01 (R1)............................ 14

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LISTA DE ABREVIATURAS

BACEN Banco Central do Brasil

BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

CFC Conselho Federal de Contabilidade

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CPC01 Pronunciamento técnico CPC 01

CVM Comissão de Valores Mobiliários

FASB Financial Accounting Standards Board

IAS International Accounting Standards

IASB International Accounting Standards Board

IASC International Accounting Standards Comitee

IBOVESPA Índice da Bolsa de Valores de São Paulo

IFRS International Financial Reporting Standards

SUSEP Superintendência de Seguros Privados

US-GAAP Princípios contábeis geralmente aceitos nos Estados Unidos

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................................................... 1

1.2 QUESTÃO DA PESQUISA ........................................................................................................................ 5

1.3 OBJETIVO DA PESQUISA ....................................................................................................................... 5

1.4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA ................................................................................................................. 6

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .......................................................................................................... 6

1.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ..................................................................................................................... 7

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 8

2.1 IMPLANTAÇÃO DOS IFRS ...................................................................................................................... 8

2.2 IMPAIRMENT .......................................................................................................................................... 11

2.3 VALUE RELEVANCE ............................................................................................................................. 14

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................... 17

3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................................................... 17

3.2 MODELO DA PESQUISA ........................................................................................................................ 17

3.3 COLETA DE DADOS ............................................................................................................................... 19

4 RESULTADOS .................................................................................................. 22

5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 28

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O objetivo desse trabalho é analisar se o impairment contabilizado pelas empresas brasileiras

a partir da convergência das normas contábeis brasileiras às normas internacionais impactou o

preço das ações das mesmas. Sabemos quais são as principais perguntas feitas sobre o valor

das empresas. Quanto vale a ação da empresa X? Qual o valor de mercado da empresa Y?

Diariamente, milhões de investidores em todo o mundo fazem essas perguntas. A avaliação

de empresas, chamada pelo mercado de valuation, é uma das áreas mais importantes da

Economia. Para Damodaran (2007), uma empresa pode ser avaliada através de quatro formas

distintas:

(i) Avaliação baseada em ativos (avaliação contábil): o valor da empresa seria medido

pelo valor de liquidação, que é quanto o mercado está disposto a pagar por seus

ativos se os mesmos fossem liquidados e o valor de substituição, que é quanto se

gastaria para substituir os ativos que a empresa tem hoje. Esta técnica tem

aplicação restrita, é usada para empresas em dificuldades, ou que deixaram de ser

operacionais, ou quando o valor dos ativos da empresa é muito superior à sua

geração de caixa futura;

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(ii) Avaliação relativa: tem como princípio a ideia de que ativos semelhantes devem ter

valores semelhantes. Portanto, para usar esse método, dependeremos sempre da

existência de outras empresas do mesmo setor que estejam precificadas, e que esta

precificação esteja adequada;

(iii) Avaliação de direitos contingentes: o valor de mercado da empresa seria o valor de

ativos (descobertas científicas, patentes, direitos minerários) que poderão gerar um

grande fluxo de caixa para a empresa no futuro, mas cuja mensuração por outro

método (ativos ou fluxo de caixa) é mais imprecisa por não conseguir capturar o

potencial de crescimento e aprendizado da entidade avaliada.

(iv) Avaliação pelo fluxo de caixa descontado: tem por princípio que o valor da empresa é

representado pelo valor presente dos fluxos de caixa a serem gerados pelos ativos

da companhia. É o método mais usado pelo mercado, pois através do mesmo é

possível considerar, no preço da empresa, variáveis importantes, como variações

futuras nos preços e quantidades dos produtos ou serviços oferecidos pela

empresa, assim como impactos esperados nos custos.

A Contabilidade continua a fornecer os insumos necessários para que uma empresa tenha o

seu valor de mercado estimado, seja através do método do fluxo de caixa descontado, seja

através de outros métodos. Como principal insumo da avaliação do valor de mercado das

empresas, temos as demonstrações contábeis divulgadas anualmente pelas mesmas, e no caso

das empresas de capital aberto, também as demonstrações contábeis trimestrais.

Considerando a hipótese dos mercados eficientes de Fama (1970), segundo a qual os

mercados financeiros são eficientes porque o valor de mercado da empresa (suas ações)

reflete toda informação pública conhecida, as boas notícias trazidas nas demonstrações

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contábeis devem provocar um aumento no valor da empresa e, no sentido contrário, as más

notícias provocarão a queda do mesmo valor.

Os analistas que avaliam as empresas brasileiras tiveram que ajustar seu foco a partir de 2007:

naquele ano foi aprovada a Lei 11.638, que introduziu a maior mudança nas práticas contábeis

brasileiras desde a Lei 6.404 de 1976, conhecida como Lei das Sociedades Anônimas. Essas

mudanças tinham como objetivo fazer as normas brasileiras convergirem para as normas

contábeis internacionais (IFRS), acompanhando um esforço feito nos últimos anos para

unificar as normas contábeis em todo o mundo. Em junho de 2013, 66 jurisdições já

adotavam as normas internacionais de contabilidade, de maneira integral ou parcial. No caso

da União Europeia, uma dessas 66 jurisdições, dos 27 países que compõe a mesma, um total

de 14 países adotam os princípios internacionais.

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África do Sul China Itália República Tcheca

Albânia Cingapura Jamaica Romênia

Alemanha Colômbia Japão Rússia

Arábia Saudita Coréia do Sul Lesoto Sérvia

Argentina Dinamarca Lituânia Sri Lanka

Austrália Equador Macau Suíça

Áustria Eslováquia Macedônia Taiwan

Bahamas Estados Unidos Malásia Tanzânia

Bélgica França Malta Turquia

Bolívia Geórgia México Ucrânia

Botsuana Holanda Mianmar Uganda

Brasil Hong Kong Mongólia União Européia

Brunei Ilhas Fiji Noruega Uruguai

Bulgária Ilhas Maurício Nova Zelândia Venezuela

Butão Índia Paquistão Zâmbia

Canadá Indonésia Reino Unido Zimbábue

Chile Israel

Fonte: site IFRS Foundation

TOTAL: 66 JURISDIÇÕES

Quadro 1- Jurisdições que adotam o IFRS

A primeira norma criada dentro do ambiente de convergência das normas brasileiras às

normas internacionais foi o CPC01, que trata da redução ao valor recuperável de ativos. A

primeira versão da norma foi aprovada em 14 de setembro de 2007, e a segunda versão

(chamada de R1), atualmente em vigor, foi aprovada em 6 de agosto de 2010. De acordo com

a norma, a empresa deve “assegurar que seus ativos estejam registrados contabilmente por

valor que não exceda seus valores de recuperação”. De acordo com a norma, “um ativo está

registrado contabilmente por valor que excede seu valor de recuperação se o seu valor

contábil exceder o montante a ser recuperado pelo uso ou pela venda do ativo”.

Uma vez que a empresa faça os testes de recuperação, e descubra que determinado item do

imobilizado ou do intangível não será capaz de trazer um retorno financeiro superior ao seu

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valor contábil, materializa-se a perda (tratada nesse trabalho por impairment), que deve ser

imediatamente contabilizada.

1.2 QUESTÃO DA PESQUISA

Considerando que a norma contábil brasileira que trata do impairment é relativamente recente

(2007), e que o conjunto de novas normas contábeis está, ainda, sendo estudado e aplicado

pelas empresas, assim como pelos analistas de mercado encarregados de analisar as

demonstrações financeiras das empresas, foi desenvolvida a seguinte questão de pesquisa:

O impairment impacta o valor das ações, e por consequência o valor de mercado das

empresas brasileiras?

Essa questão central e outras subsidiárias, de caráter contábil em geral, e de caráter temporal e

setorial em relação ao impairment, serão respondidas pela análise das demonstrações

financeiras e outras informações de empresas de capital aberto.

1.3 OBJETIVO DA PESQUISA

O objetivo principal desse trabalho é analisar se o impairment impactou o valor das ações das

empresas brasileiras em 2011 e 2012. A metologia a ser utilizada se baseia na Teoria de

Ohlson (1995), onde através de regressões lineares se avalia a associação entre o preço da

ação com outras variáveis. No caso dessa pesquisa, especialmente com o impairment. A

utilização do Modelo de Ohlson permitirá que, além do objetivo principal, possam ser

formuladas hipóteses subsidiárias, que também serão respondidas pela equação e variáveis

criadas. Além disso, vale lembrar que também será avaliado se o Modelo de Ohlson é

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provado em sua essência, avaliando diretamente se o lucro por ação e o valor patrimonial por

ação impactam o seu preço.

1.4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA

O impairment vem tendo papel relevante nas pesquisas da Contabilidade no Brasil e no

mundo, tanto pela complexidade do assunto, quanto pela relevância, por conta dos

investimentos realizados pelas empresas. Entretanto, poucas pesquisas foram realizadas até o

momento, nas quais se analisa o impacto do impairment sobre o valor das empresas.

Espera-se que esse trabalho, somado ao pequeno número que já foi publicado, e

possivelmente outros ainda inéditos sobre o impairment value relevance, possam impulsionar

mais estudos dessa natureza no Brasil, possibilitando aos contadores avaliar e colocar em uso

as melhores práticas em termos de contabilização e divulgação dos testes de valor recuperável

e registro das perdas, assim como a preocupação mais precoce dos gestores sobre o impacto

de investimentos mal planejados ou executados e possível perda sobre o valor de mercado das

empresas.

Espera-se também que essa expansão sobre pesquisas de value relevance aconteça não

somente em relação ao impairment, mas também em relação a outras rubricas contábeis,

demonstrando a importância que a Contabilidade exerce na avaliação de empresas.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O trabalho está dividido em 5 capítulos da seguinte forma

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(i) Introdução: nesse primeiro capítulo é demonstrada a ligação entre a avaliação de

empresas e a Contabilidade, e porque se acredita que o possível impacto do

impairment sobre o preço das ações deva ser estudado;

(ii) Referencial Teórico: o referencial teórico tem como objetivo apresentar outros

estudos relacionados com o tema da dissertação, assim como apresentar o Modelo

de Ohlson, ferramenta escolhida para o desenvolvimento da mesma;

(iii)Metodologia da Pesquisa: é a descrição de como a pesquisa foi desenvolvida e as

questões formuladas;

(iv) Resultados: apresentação dos resultados alcançados na pesquisa e análise dos

mesmos;

(v) Conclusão: como fechamento do trabalho, apresentamos a conclusão acerca dos

resultados da pesquisa.

1.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

O fato da amostra da pesquisa ser apenas de empresas brasileiras limita o estudo. Espera-se

que estudos futuros possam comparar o impacto do impairment sobre o preço das ações de

empresas brasileiras com empresas de outros países.

Outra limitação é o período estudado, de dois anos. Considerando que as novas normas

contábeis são relativamente recentes, ainda não foi possível fazer um estudo de um período

mais extenso. Essa limitação cessará com o decorrer dos anos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 IMPLANTAÇÃO DOS IFRS

As normas internacionais de contabilidade são emanadas do IASB, órgão criado em abril de

2001. Anteriormente, as normas de contabilidade internacionais, que eram chamadas de IAS,

eram emanadas do IASC. A busca pela harmonização das normas contábeis através dos IFRS

ganhou impulso em 2002, quando a União Europeia divulgou o Regulamento 1.606, que

determinava que as empresas de capital aberto dos estados-membros deveriam divulgar suas

demonstrações financeiras consolidadas, de acordo com as normas internacionais, a partir de

2005.

Barth et al (2008) pesquisaram valores contábeis de empresas que implantaram os IFRS, entre

1994 e 2003, em 21 países. Os valores contábeis foram comparados a partir dos sistemas de

relatórios contábeis, o que inclui as normas contábeis, sua interpretação, aplicação e riscos

(litígios). A conclusão foi de que a informação contábil passou a ter mais qualidade, com

menor espaço para gerenciamento de resultados e uma apuração mais precisa de perdas

(provisões). Além disso, observou-se um maior impacto da informação contábil sobre o preço

das ações. A melhora da informação contábil foi constatada na comparação dos relatórios da

própria empresa antes e depois da implantação dos IFRS e também, na comparação das

empresas que fizeram a migração para os IFRS com outras que não o fizeram.

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9

Ashbaugh (2001) analisou 211 demonstrações financeiras de empresas não americanas,

listadas na Bolsa de Londres, com demonstrações contábeis feitas de acordo com os IFRS ou

de acordo com os US-GAAP. A conclusão foi de que, quando podiam optar,

voluntariamente, pela divulgação de suas demonstrações financeiras em princípios contábeis

alternativos ao do país de origem da empresa, faziam porque as ações das empresas eram

negociadas em duas ou mais bolsas de valores diferentes. Também o faziam para gerar

demonstrações mais comparativas, que o mercado teria apenas se usasse as informações nos

princípios contábeis do país de origem. Além disso, havia maior opção pelos IFRS que pelos

US-GAAP, já que a implantação desses últimos exigiria um esforço maior e, portanto,

custaria mais também.

Armstrong et al. (2010) concluíram que os investidores, em relação a implantação do IFRS a

partir de 2005 na Europa, reagiram positivamente aos eventos relacionados a harmonização

das normas, assim como reagiram negativamente quando surgiam eventos que poderiam

atrasar ou impedir a implantação. A conclusão é de que os investidores percebiam os

benefícios com os novos relatórios (mais comparáveis) e possível aumento de recursos de

investidores como maiores que os custos de implantação das novas normas.

Leuz (2003) estudou empresas listadas em bolsa na Alemanha, comparando as demonstrações

financeiras de empresas que usavam US-GAAP e IFRS, e não encontrou diferenças

significativas na qualidade das informações contábeis.

Para Cordazzo (2007), a transição para os princípios internacionais teve um profundo impacto

nas empresas italianas, que tinham a Contabilidade como um direcionador tributário, e com as

mudanças puderam ter uma melhor informação gerencial e a possibilidade de emitir um

relatório financeiro global.

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Na Espanha, a implantação das novas normas do IFRS em 2004, como não era mandatória,

foi pouco utilizada pelas empresas, sugerindo que a mesma poderia ter um alcance maior nos

anos seguintes, desde que o órgão regulador determinasse que deveria ser mandatório o uso

dos princípios contábeis internacionais para todas as empresas (Callao et al., 2007).

A harmonização das normas contábeis brasileiras com as normas internacionais se deu em

duas etapas: com uma pequena quantidade de mudanças previstas inicialmente com a Lei

11.638 de 2007 e, num segundo momento, com uma maior quantidade de alterações, através

da Lei 11.949 de 2009. Ambas vieram para alterar a Lei 6.404, a qual continua em vigor

porque trata, além das questões contábeis, de questões societárias das empresas que atuam sob

o regime de sociedades anônimas no país.

As normas contábeis brasileiras são emanadas atualmente pelo Comitê de Pronunciamentos

Contábeis (CPC), criado pelo Conselho Federal de Contabilidade através da Resolução 1.055

de 2005, que tem como objetivo principal, de acordo com o artigo 3º da Resolução, “o estudo,

o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade

(...), visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre

em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais”. As

normas emitidas pelo CPC devem ser, necessariamente, referendadas pelo CFC e pela CVM

(que regula as empresas de capital aberto) e outras agências reguladoras de determinados

mercados (como o BACEN, que regula as instituições financeiras, e a SUSEP, que regula o

mercado segurador).

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11

Figura 1 – Órgãos que compõe o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC

O CPC, conforme quadro acima, é composto por 6 entidades, 3 das quais ligadas diretamente

à regulação e ensino da Contabilidade e Auditoria Independente e 3 ligadas ao mercado de

capitais.

2.2 IMPAIRMENT

A Academia tem envidado muitos esforços sobre o tema impairment. De acordo com

pesquisa feita por Borba e Zandonai (2009), no portal da CAPES, de 2000 a 2007, foram

encontrados 62 artigos nas revistas acadêmicas de língua inglesa, onde 13 puderam ser

considerados científicos e possuíam abordagem empírica. Pesquisa semelhante foi realizada

por Rocha et al (2010), que mapeou a produção de artigos sobre o tema no Brasil durante o

período de 2005 a 2009, e identificou 14 artigos sobre o tema. Santos et al (2011) também

mapearam as pesquisas de impairment no Brasil e encontraram 12 trabalhos produzidos entre

2003 e 2009. Nesse universo, entretanto, pouco esforço foi dedicado à verificação do impacto

do impairment contabilizado sobre o valor de mercado das empresas.

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12

A palavra inglesa impairment pode ser traduzida de várias formas: prejuízo, diminuição, dano

ou enfraquecimento. No nosso caso, vale a definição do CPC01, que é a tradução literal do

IAS36, ou seja, a palavra significa perda por desvalorização, que é o montante pelo qual o

valor contábil de um ativo ou de unidade geradora de caixa excede seu valor recuperável. Em

suma, um ativo imobilizado, ou uma patente, ou o investimento em uma controlada, não

podem ter um valor contábil superior ao retorno que se espera ter com o mesmo ao longo do

tempo.

Li et al (2010) analisaram o impacto do impairment de ágio (goodwill) sobre o valor de

mercado de 600 empresas não financeiras, com ações na Bolsa de Londres, que tivessem

participado de alguma operação de aquisição ou fusão entre 1997 e 2002. A conclusão foi de

que, o impairment do goodwill, ao contrário da amortização do mesmo, não trouxe impacto

significativo sobre o preço das ações. Concluíram ainda que o goodwill impactava

significativamente o preço das ações no ano da aquisição, mas que essa relevância se tornava

menor nos anos seguintes.

Para Kvall (2007), a discussão e normatização do impairment são relativamente recentes,

tendo como ponto de partida a norma contábil americana, a SFAS 121 (Accounting for the

impairment of long-lived assets and for long-lived assets to be disposed of), emitida em 1995

pelo FASB, órgão responsável pelas normas contábeis americanas. A primeira norma

internacional de impairment foi emitida em 1998, quando o IASB divulgou o IAS 36

(Impairment of assets).

Carlin et al (2008) concluíram que as empresas australianas eram pouco transparentes na

aplicação da norma local sobre impairment, e atribuíram isso a dificuldades na implantação

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13

do modelo e a pouca experiência dos envolvidos, sendo um problema para o qual os auditores,

órgãos reguladores e fiscalizadores deveriam ocupar-se.

Das 12 pesquisas sobre impairment identificadas por Santos et al (2011), feitas no Brasil entre

2003 e 2009, 5 pesquisas (42%) fizeram análise comparativa do tratamento do impairment

pelos US-GAAP e pelos IFRS, e 3 pesquisas (25%) estudaram o impairment em empresas

petrolíferas.

A norma contábil que trata do impairment no Brasil é o CPC01. A primeira versão do CPC01

é de 2007, mesmo ano da Lei 11.638, que alterou diversos dispositivos da Lei 6.404, tendo

alterado no artigo 183 o 3º parágrafo, que antes tratava da amortização e análise do valor

recuperável do diferido, e passou a tratar da necessidade expressa de testar o valor recuperável

do imobilizado, do intangível e do diferido. O artigo foi alterado mais uma vez em 2009 pela

Lei 11.941, dessa vez para excluir o diferido da lista de grupos sujeitos a testes de valor

recuperável, visto que essa rubrica contábil deixou de existir naquele ano.

A versão atual do CPC01 é, a exemplo da norma originária da mesma (IAS36), extensa e

detalhada, e organizada em itens da seguinte forma:

ITENS ASSUNTO

1 a 7 Aspectos introdutórios

8 a 17 Momento em que um valor recuperável deve ser determinado

18 a 57 Exigências para mensuração do valor recuperável

58 a 108 Exigências para reconhecimento e mensuração de perdas com desvalorização

109 a 116 Exigências para reversão de perda por desvalorização reconhecida em períodos anteriores

117 a 121 Exigências adicionais para ativo individual

122 e 123 Exigências adicionais para unidade geradora de caixa

124 e 125 Exigências adicionais para ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill)

126 a 133 Informação a ser divulgada acerca das perdas por desvalorização e reversões de perdas

134 a 136 Divulgações adicionais requeridas para unidades geradoras de caixa

Apêndice A Utilização de técnicas de valor presente para mensurar o valor em uso

Apêndice B Eliminado (apesar de eliminado, a indexação anterior foi mantida)

Apêndice C Teste do valor recuperável de unidade geradora de caixa com ágio goodwill e participação

de não controladores

Quadro 2- Organização do CPC01 (R1)

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A figura abaixo procura resumir o fluxo a ser seguido pelos contadores, a fim de determinar a

necessidade ou não de fazer o teste de impairment, bem como o que fazer com o resultado do

teste.

Início

sim

registrar o impairment

sim

o teste de impairment dos intangíveis de

vida útil indefinida ou não disponíveis

para uso foi feito há mais de um ano?

não precisa realizar o teste de

impairment

não

o teste de impairment do ágio pago por

expectativa de rentabilidade futura

(goodwill) em combinação de negócios

foi feito há mais de um ano?

há indicativo de perda para demais ativos

e unidades geradoras de caixa sujeitas a

impairment?

o valor recuperável é inferior ao valor

contábil do item testado?

exceto para o goodwill, se há perda

anterior registrada, fazer a reversão da

perda até o limite do valor justo apurado

não

Figura 2 – Fluxo para o teste de impairment de acordo com o CPC01 (R1)

2.3 VALUE RELEVANCE

Value relevance pode ser classificado como o estudo de variáveis contábeis utilizadas para

avaliar o preço e o retorno das ações de determinada empresa, através da análise empírica de

dados contábeis (Lima, 2008). A literatura de value relevance começou com os estudos de

Ball e Brow (1968) e Beaver (1968), onde se relacionou o preço das ações e a divulgação de

resultados contábeis.

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Holthausen e Watts (2001) estudaram a contribuição da literatura de value relevance para a

criação de padrões contábeis. A conclusão foi de que, apesar da grande quantidade de

literatura de value relevance, a contribuição para os padrões contábeis era modesta, por não se

ter desenvolvido uma teoria descritiva da Contabilidade e definições padrão. Para os autores,

a literatura seria motivada pela suposição de que a Contabilidade fornece subsídios para que

os investidores possam avaliar as empresas, resultando em testes empíricos que buscavam

unicamente a avaliação patrimonial. Dessa forma, se ignorava outros papéis da Contabilidade

e outras forças necessárias para desenvolver normas e práticas contábeis.

No mesmo periódico em que foi publicado o artigo acima (Journal of Accounting and

Economics), Barth el al (2001) ofereceram uma visão alternativa para a mesma questão, onde

concluíram que a literatura de value relevance gera conhecimento importante para o

desenvolvimento de padrões e normas contábeis. Para chegar a essa conclusão, foram

discutidas as hipóteses testadas pela literatura de value relevance relacionadas a valor justo, e

resumidas as principais conclusões. De acordo com os autores, a conclusão foi de que as

pesquisas abordavam, também, questões relevantes para a normatização contábil, gerando

conhecimento acadêmico e não acadêmico.

Schiehll (1996) comprovou, através de uma amostra de 90 empresas brasileiras, comparando

a divulgação de suas demonstrações financeiras com a cotação das ações dessas empresas na

BOVESPA, que havia correlação entre a divulgação e a cotação das ações. No mesmo

trabalho, não ficou comprovado que a inclusão do parecer dos auditores nas informações

trimestrais poderia impactar o preço das ações.

Lopes (2001) analisou o impacto da informação contábil sobre o preço das ações das

empresas listadas na BOVESPA durante o período de 1995 a 2000. Concluiu que as

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informações contábeis impactavam o preço das ações. Concluiu ainda que a principal

informação contábil que impacta o preço da ação é o patrimônio líquido, e que os investidores

estão mais preocupados com as informações de curto prazo.

O primeiro trabalho a abordar a value relevance do impairment foi feito por Cerqueira et al

(2012), e analisou o impacto do impairment de ativos tangíveis e intangíveis, além do custo

atribuído, sobre o preço das ações de 182 empresas (546 notas explicativas) listadas em algum

nível de governança na BOVESPA, analisando-se as notas explicativas referentes a 2009 e

2010 (primeiros a apresentarem demonstrações financeiras de acordo com os IFRS). A

pesquisa identificou baixa correlação entre o preço das ações e o impairment. Apenas

identificou correlação significativa (ao nível de 5%) entre o impairment do ativo intangível

com o preço da ação para o ano de 2009.

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17

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA

Esta é uma pesquisa quantitativa, em que se busca a descrição quantitativa de uma tendência,

que neste caso é a tendência do impairment influenciar ou não no preço da ação. Faremos

isso através de uma equação (originada do Modelo de Ohlson). O uso da equação incorpora

caminhos causais e força coletiva de múltiplas variáveis (CRESWELL, 2010). A análise será

longitudinal, pois serão usadas informações de dois anos diferentes (2011 e 2012).

3.2 MODELO DA PESQUISA

Partindo do Modelo de Ohlson fizemos a seguinte equação para testar a hipótese principal e as

hipóteses secundárias:

Sendo:

-Pit é o preço da ação (cotação de fechamento) da ação da empresa i quatro meses após o final

do período t. É a variável dependente do Modelo de Ohlson, ou seja, a equação vai

determinar se o preço é influenciado pelas demais variáveis (independentes);

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-LPAit é o lucro por ação da empresa i no período t. É a primeira variável independente da

equação criada, inserida originalmente no Modelo de Ohlson. Assim sendo, espera-se que a

mesma seja significante para o preço da ação;

-VPAit é o valor patrimonial da ação da empresa i no final do período t. Segunda variável

independente da equação criada, também inserida originalmente no Modelo de Ohlson.

Também se espera que a mesma seja significante para o preço da ação;

-TANGit, terceira variável independente, é o impairment (ou reversão) de ativos tangíveis da

empresa i no período t. Objeto principal desse trabalho, verificaremos se o mesmo impacta o

valor da ação;

-INTit, quarta variável independente, é o impairment (ou reversão) de ativos intangíveis da

empresa i no período t. Objeto principal desse trabalho (ao lado do impairment de ativos

tangíveis), verificaremos se o mesmo impacta o valor da ação;

-CAP, quinta e última variável independente, é uma variável binária de setor, que assume 1

para as empresas de capital intensivo e 0 para as demais. O objetivo foi observar se o fato de

uma empresa ser intensiva em capital tornou seu impairment mais impactante para o valor da

ação. Consideramos, como de capital intensivo, as empresas dos setores de energia,

mineração, petróleo e siderurgia.

Ou seja, em relação às variáveis independentes, se espera os seguintes resultados:

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VARIÁVEL HIPÓTESE

LPA - lucro por ação significante de coeficiente negativo

para preço da ação

VPA - valor patrimonial da ação significante de coeficiente negativo

para preço da ação

TANG - impairment de ativos

tangíveis na amostra

significante de coeficiente negativo

para preço da ação

INT - impairment de ativos

intangíveis na amostra

significante de coeficiente negativo

para preço da ação

CAP - impairment nas

empresas de capital intensivo

mais significante que variáveis TANG e

INT para preço da ação

Quadro 3- Hipóteses propostas para os testes que serão executados e resultados esperados

Considerando o quadro acima, as hipóteses formuladas que estarão sendo testadas são:

-Hipótese 1 (variável TANG): o impairment de ativos tangíveis impacta o preço da ação;

-Hipótese 2 (variável INT): o impairment de ativos intangíveis impacta o preço da ação;

Hipótese 3 (variável CAP): o impairment é mais significativo para o preço da ação das

empresas de capital intensivo que as empresas em geral.

3.3 COLETA DE DADOS

Para o trabalho, foram analisadas as informações das empresas não financeiras, cujas ações

compõe o IBOVESPA em 30 de abril de 2013. Em alguns casos, as empresas possuíam duas

ações listadas no IBOVESPA. Nessas situações, trabalhamos com a ação preferencial e

descartamos a ação ordinária. Os dados foram obtidos no site da BOVESPA, das empresas

selecionadas, da CVM, e da Economática. No quadro abaixo, são informadas as empresas que

compõe a amostra.

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COMPANHIA SETOR COMPANHIA SETOR

ALL logística GERDAU METALÚRGICA siderurgia

AMBEV consumo GOL transporte aéreo

B2W comércio HYPERMARCAS consumo

BMF BOVESPA serviços financeiros JBS consumo

BR MALLS shoppings KLABIN papel e celulose

BR PROPERTIES imóveis LIGHT energia

BRASKEM químicos LLX logística

BRF FOODS alimentos LOCALIZA locação automóveis

BROOKFIELD construção LOJAS AMERICANAS comércio

CCR concessões públicas LOJAS RENNER comércio

CEMIG energia MARFRIG consumo

CESP energia MMX mineração

CETIP serviços financeiros MRV construção

CIA HERING consumo NATURA consumo

CIELO serviços financeiros OGX petróleo

COPEL energia OI telecomunicações

COSAN açúcar e álcool PÃO DE AÇÚCAR comércio

CPFL ENERGIA energia PDG REALTY construção

CSN siderurgia PETROBRAS petróleo

CTEEP energia ROSSI construção

CYRELA REALTY construção SABESP água e saneamento

DASA saúde SOUZA CRUZ consumo

DURATEX material de construção SUZANO papel e celulose

ELETROBRAS energia TELEFÔNICA telecomunicações

ELETROPAULO energia TIM telecomunicações

EMBRAER material de transporte ULTRAPAR químicos

ENERGIAS BRASIL energia USIMINAS siderurgia

FIBRIA papel e celulose VALE mineração

GAFISA construção VANGUARDA agronegócio

GERDAU siderurgia

Fonte: IBOVESPA

TOTAL: 59 EMPRESAS

Quadro 4- Empresas selecionadas para o teste, que representam as empresas não financeiras que compõe

o índice IBOVESPA em 30 de abril de 2013

É demonstrado abaixo, como as empresas analisadas estão distribuídas por setor de atividade,

o total de demonstrações financeiras analisadas (cada demonstração de cada ano, 2011 e 2012,

representou um item da amostra), quantos itens analisados apresentaram impairment (ou

reversão) e ainda o montante de impairment lançado.

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SETORTOTAL DE

EMPRESAS

TOTAL DA

AMOSTRA

ITENS COM

VALOR

% SOBRE

TOTAL TANGÍVEL INTANGÍVEL TOTAL TANGÍVEL INTANGÍVEL TOTAL

Açúcar e álcool 1 2

Agronegócio 1 2

Água e saneamento 1 2

Alimentos 1 2 2 2% 8.121 8.121 23.090- 23.090-

Comércio 4 8

Concessões públicas 1 2

Construção 6 12 5 4% 308.772 308.772 53.613 53.613

Consumo 7 14 4 3% 49.116 49.116 54.743 54.743

Energia 9 18 4 3% 457.108 69.588 526.696 1.246.646 91.558 1.338.204

Imóveis 1 2

Locação de automóveis 1 2

Logística 2 4

Material de construção 1 2

Material de transporte 1 2 2 2% 4.812 4.812 18.372 18.372

Mineração 2 4 2 2% 8.441.775 188.655 8.630.430

Papel e celulose 3 6 1 1% 6.913 6.913

Petróleo 2 4 4 3% 898.055 2.000 900.055 1.151.373 20.100 1.171.473

Químicos 2 4 4 3% 4.372- 4.372- 2.589 2.589

Saúde 1 2

Serviços financeiros 3 6 1 1% 16.500 16.500

Shoppings 1 2

Siderurgia 4 8 8 7% 11.930- 66.248 54.318 14.908 358 15.266

Telecomunicações 3 6 2 2% 8.985 8.985 4.362- 4.362-

Transporte aéreo 1 2 2 2% 50.653 50.653 1.697 56.761 58.458

TOTAL 59 118 41 35% 1.460.548 446.608 1.907.156 10.904.651 434.458 11.339.109

Fonte: Demonstrações financeiras das empresas analisadas

2011 2012

IMPAIRMENT OU (REVERSÃO)

Quadro 5- Classificação das Empresas por Setor e Presença do Impairment

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4 RESULTADOS

É apresentada abaixo a tabela com a estatística descritiva das variáveis. Não é apresentada a

variável CAP por ser a mesma uma variável de controle.

VARIÁVEL MÉDIA MEDIANA MÍNIMO MÁXIMO

DESVIO

PADRÃO

PREÇO 22,86 16,75 1,95 110,67 19,84

LPA 1,17 0,95 -5,61 9,39 2,13

VPA 13,34 9,39 0,72 56,81 11,28

TANG 0,03 0,00 -0,03 1,56 0,17

INT 0,01 0,00 0,00 0,30 0,04

Quadro 6 – Estatística descritiva da amostra: valores absolutos do impairment são significativamente

inferiores aos valores das demais variáveis

Por termos uma amostra heterogênea, com empresas de diferentes tamanhos, observamos uma

grande variação entre o valor mínimo e máximo em todas as variáveis. A variável LPA

apresenta valor mínimo negativo, por conta do prejuízo que algumas das empresas da amostra

tiveram no período analisado. Já a variável TANG apresenta valor mínimo negativo por conta

de algumas reversões de impairment da amostra analisada.

Inicialmente, foi executado o teste de correlação de Pearson, onde se busca verificar se há

correlação entre a variável dependente (P – preço da ação) e as variáveis independentes:

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Correlações

P LPA VPA TANG INT CAP

P

Correlação de Pearson 1 ,553** ,301

** -,022 -,144 -,056

Sig. (2 extremidades) ,000 ,001 ,809 ,120 ,545

N 118 118 118 118 118 118

LPA

Correlação de Pearson ,553** 1 ,368

** -,127 -,237

** ,236

*

Sig. (2 extremidades) ,000 ,000 ,171 ,010 ,010

N 118 118 118 118 118 118

VPA

Correlação de Pearson ,301** ,368

** 1 ,304

** -,009 ,454

**

Sig. (2 extremidades) ,001 ,000 ,001 ,920 ,000

N 118 118 118 118 118 118

TANG

Correlação de Pearson -,022 -,127 ,304** 1 ,067 ,253

**

Sig. (2 extremidades) ,809 ,171 ,001 ,472 ,006

N 118 118 118 118 118 118

INT

Correlação de Pearson -,144 -,237** -,009 ,067 1 ,101

Sig. (2 extremidades) ,120 ,010 ,920 ,472 ,278

N 118 118 118 118 118 118

CAP

Correlação de Pearson -,056 ,236* ,454

** ,253

** ,101 1

Sig. (2 extremidades) ,545 ,010 ,000 ,006 ,278

N 118 118 118 118 118 118

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

*. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).

Quadro 7 – Análise de Correlação de Pearson

De acordo com o Teste de Pearson, há forte correlação entre a variável dependente “preço da

ação (P)”, e as variáveis independentes “lucro por ação (LPA)” e “valor patrimonial da ação

(VPA)”, entretanto, a verificação da correlação é feita pela regressão da equação:

O resultado da regressão está demonstrado na tabela abaixo:

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COEF Ñ

PADRON

VARIÁVEL B

MODELO

PADRÃO BETA t P>[t]

CONSTANTE 15,954 3,058 5,217 0,000 *

LPA 5,310 1,153 0,598 4,605 0,000 *

VPA 0,275 0,227 0,170 1,210 0,232

TANG -18,531 43,753 -0,520 -0,424 0,674

INT -71,315 55,093 -0,137 -1,294 0,201

CAP -9,796 4,884 -0,245 -2,006 0,050

F 7,482

Sig. 0,000

R quadrado 0,414

R quad ajust 0,358

Durbin Watson 2,157

* nível de significância inferior a 1%

COEF PADRONIZADO

Quadro 8 – Resumo Estatístico com Verificação da Correlação

A tabela acima demonstra que as variáveis TANG, INT E CAP não são significativas, ou seja,

não apresentam correlação com o preço da ação.

As variáveis LPA e VPA se apresentaram significativas em relação ao preço da ação, ambas a

1%.

Considerando todas as hipóteses formuladas para este trabalho, chegamos aos seguintes

resultados:

VARIÁVEL HIPÓTESE RESULTADO

LPA - lucro por ação LPA impacta o preço da ação aceita fortemente

VPA - valor patrimonial da ação VPA impacta o preço da ação aceita fortemente

TANG - impairment de ativos

tangíveis na amostra TANG impacta o preço da ação não pode ser aceita

INT - impairment de ativos

intangíveis na amostra INT impacta o preço da ação não pode ser aceita

CAP - impairment nas

empresas de capital intensivo

mais significante que variáveis TANG e

INT para preço da ação não pode ser aceita

Quadro 9- Resultados do Trabalho

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As variáveis LPA (lucro por ação) e VPA (valor patrimonial da ação) se mostraram

significantes para o preço da ação, confirmando dessa forma a teoria do Modelo de Ohlson, de

que essas variáveis podem explicar o comportamento do preço da ação.

O mesmo resultado não foi alcançado pelas variáveis TANG (impairment de ativos tangíveis),

INT (impairment de ativos intangíveis) e CAP (impairment nas empresas de capital

intensivo), criadas para avaliar o impacto do impairment sobre o preço da ação. Acreditamos

que esse fato pode ter várias explicações diferentes.

A primeira hipótese é a de que o mercado, de fato, ainda não compreendeu o que é o

impairment e a relevância do mesmo para o preço da ação.

Tal teoria, entretanto, se torna improvável diante do fato de que, nesse mesmo estudo, vimos o

lucro por ação e o valor patrimonial da ação impactarem o preço da mesma, o que nos leva a

segunda hipótese, da não importância do impairment para o preço da ação: o impairment não

foi significante para o preço da ação porque o valor do impaiment da amostra analisada foi

imaterial.

Essa possibilidade é reforçada pelo fato de que os dois anos analisados (2011 e 2012) podem

ser considerados como bons para a economia brasileira, apesar das dificuldades na economia

global como um todo, da mesma forma que se projetava no fim de 2012 que os anos seguintes

seriam positivos para a economia do país. Esse cenário, certamente contribuiu para que as

empresas tenham apurado valores menores de impairment naqueles anos.

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26

5 CONCLUSÃO

O impacto das informações contábeis sobre o preço das ações é um assunto que sempre gerou

muito interesse, dentro e fora da Contabilidade. A análise de value relevance ganhou grande

impulso a partir de 1995, com o desenvolvimento da Teoria de Ohlson, cujo desenvolvimento

do Modelo deu aos pesquisadores uma ferramenta de grande utilidade para o desenvolvimento

de trabalhos acadêmicos.

A recente mudança nas práticas contábeis no Brasil, que convergiram para as práticas

contábeis internacionais, seguindo um movimento que está acontecendo em todos os

continentes, torna-se, portanto, um importante pano de fundo para analisar o impacto das

novas normas sobre o preço das ações. Particularmente, para este trabalho, buscou-se

entender o impacto do impairment sobre o preço das ações.

A confirmação de que a existência do impairment não impactou o preço das ações das

empresas analisadas vai ao encontro do resultado da pesquisa feita por Cerqueira et al (2012).

Por outro lado, tivemos a oportunidade confirmar que, conforme o Modelo de Ohlson, o valor

patrimonial da ação e o lucro por ação tem influência sobre o preço desta.

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Os resultados encontrados estão limitados à modelagem utilizada, à operacionalização das

variáveis, ao tamanho da amostra e a não realização de testes de robustez.

Como sugestão para estudos futuros, pode ser feita a comparação do impacto do impairment

sobre o preço das ações das empresas listadas na BOVESPA com empresas de outros países.

Pode ser feito também, comparando o impacto sobre o preço das ações das empresas que

possuem ações na BOVESPA, com o preço das ações da mesma empresa em outras bolsas. A

expansão do número de empresas analisadas, do período analisado, e a criação de novas

variáveis para análise, também poderiam ser empregadas em trabalhos futuros.

Outra variação que poderia ser analisada em trabalhos futuros é comparar o impacto do

impairment em anos de cenário econômico favorável com períodos de cenário econômico

desfavorável, onde provavelmente o impairment terá maior impacto sobre o preço da ação.

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