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Ano I - Nº 1 - Dezembro / 2000 revista da s aúde O Brasil falando como quer ser tratado Distrito Sanitário Indígena: território de médicos e pajés

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Ano I - Nº 1 - Dezembro / 2000

revista da saúdeO Brasil falando como quer ser tratado

Distrito Sanitário Indígena:território de médicos e pajés

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Capa e ilustrações das páginas 3, 4, 5, 7 e 9 - retiradas do livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, de Jean Baptiste Debret.

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caso de sucessoNo Sul, no Rio de Janeiro, na Floresta Amazônica. Os índios comemoram naprática a conquista de uma política sanitária só para eles. Pg. 24

sumário

novo modeloUm subsistema para cuidar dos povos indígenas.O novo modelo de atenção já está em vigor. Pg. 6

trabalho de campoRespeito à tradição. Nas comunidadesindígenas, médicos e pajés procuramfalar a mesma língua. Pg. 28

ética e ciênciaResolução 304/00. Agora existemregras para conter os abusos naspesquisas envolvendo os povosdas florestas. Pg. 36

conferênciaMaio de 2001. A III Conferência Nacional de Saúde Indígena já temdata e será o palco de debates sobre a efetivação do SUS. Pg. 14

ainda nesta edição16 As mudanças no atendimento aosíndios brasileiros.

30 Em Manaus, o DSEI valorizacontrole social.

34 Os líderes das nações indíge-nas exigem respeito à sabedoria

das selvas.

43 Os telefones eendereços úteis para a

saúde indígena

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A jornada dos povos indí

A história do índio brasileiro foi contada de todas as formas.Carta de Caminha, desenho de Rugendas, romance de Alencar,música de Gismonti. Os primeiros habitantes da Terra Brasilisajudaram a construir a identidade do povo brasileiro. A herançatribal está presente não apenas nas manifestações artísticas, masna culinária, medicina popular, agricultura, hábitos do dia a dia,como o banho freqüente. Mas mesmo assim, alguns fios não foramalinhados ainda.

Relegados durante muito tempo a um papel secundário na tramasocial, os índios brasileiros sobreviveram a séculos de descaso.Assistiram, estarrecidos, à morte de milhões de irmãos e irmãs, quesucubiram às doenças e aos problemas trazidos pelos “brancoscivilizados”. No entanto, no ano em que o Brasil comemora 500anos, se percebe que avançam os passos que podem ajudar namudança desse quadro negativo.

Pela primeira vez em décadas, os índios brasileiros apresentamacelerado crescimento populacional. Hoje existem, no Brasil, 350mil índios distribuídos entre 210 etnias. Significa dizer que, emcinco anos, a população nas tribos aumentou 17%. É muito mais doque a média da população brasileira. Ainda estamos longe dosmilhões que cobriam o Novo Mundo quando da chegada de PedroAlvares Cabral, mas, pelo menos, se iniciou a reversão de umacurva que apontava para o extermínio étnico de alguns grupos.

Só isso já alegra bastante, mas não é o suficiente para nos fazerfechar os olhos ao dramático cotidiano da população indígena. Claro,que não há espaço para o pessimismo de 15 anos atrás, quando seacreditava que no século 21 os índios brasileiros seriam umalembrança histórica. Mas já existe a consciência de que o processode mudanças ainda necessitará de uma aposta de toda a sociedade.

Nessa primeira edição da Revista da Saúde vamos mostrar umpouco da trajetória dos povos indígenas, no que se refere à questãosanitária. Uma luta marcada pela busca de um direito asseguradona Constituição de 1988: acesso ao atendimento igualitário, gratuitoe universal para os integrantes das tribos nacionais ao serviçopúblico de saúde. Um esforço no qual vale destacar experiênciasimportantes e bem sucedidas, junto às comunidades, paraproporcionar mais qualidade de vida.

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Dentro da ótica de evolução no modelo de atendimento no SUS,enxergamos como fundamental a implementação da Política de SaúdeIndígena baseada nos chamados Distritos Sanitários. Até este momento,o caminho foi longo. Quem acompanha há muito esse processo, queculminou com as novas medidas tomadas pelo Governo, vê nelas ocoroamento de uma antiga reivindicação de várias tribos, dosambientalistas, da FUNASA e do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

O que procuramos na Revista da Saúde foi colocar o tema emdebate, subsidiando as discussões com dados sobre o funcionamentodo modelo voltado para os indígenas, suas vantagens e possíveisproblemas. Para tanto, convidamos o leitor a embarcar numa viagempelo mundo mágico desses povos que buscam uma convivência maisharmoniosa com o antigo e o moderno.

Para ilustrar as experiências, que funcionam como exemplos domuito que ainda pode ser feito, apresentamos, por exemplo, umpanorama da parceria entre as prefeituras de Angra dos Reis (RJ) ede Londrina (PR) com os índios Guarani e Kaingang, respectivamente.Fazemos o relato do esforço dos agentes de saúde indígena no AltoRio Negro, no Amazonas, e mostramos a estrutura de funcionamentodo Distrito Sanitário do Leste, em Roraima.

A valorização da chamada medicina tradicional nas comunidadesindígenas, em complemento à da ação dos médicos alopatas, tambémé abordada. Tem até receitas com base em plantas medicinais, queexemplificam o valor do conhecimento acumulado das tribos. Comrelação ao que nos reserva o futuro, vamos mostrar um pouco sobreo que está sendo preparado pelas autoridades e especialistas emcima de temas como levantamento estatístico da situação sanitáriae epidemiológica nas comunidades indígenas e a importância de seinvestir em saneamento nas tribos.

Um dos pontos fundamentais neste processo, que está permeandocada uma dessas ações, é o controle social. O instrumento quegarante ao brasileiro acompanhar e fiscalizar as políticas de saúdeno país, em todos os níveis de Governo, agora também é um direitodos índios. Nos conselhos distritais, eles poderão fazer ouvir suasvozes, seus clamores. Trata-se de um momento, até agora único,em que os índios assumem papéis de protagonistas de sua própriahistória e saúde.

genas chega ao século 21

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De acordo com o presidente daFUNASA, Mauro Ricardo MachadoCosta, o atendimento feito pela Fun-dação Nacional do Índio não era“permanente”. Por causa da preca-riedade dos serviços, os índios conti-nuavam sendo vítimas de diarréiase doenças como a malária e a tu-berculose. Problemas de tratamen-to simples, mas que sem a atençãodevida podem evoluir para quadrosmais complexos.

Para montar a nova estrutura, ba-seada nos Distritos Sanitários Especi-ais Indígenas – DSEIs, a FUNASA jágastou R$ 62 milhões. Pouco mais dametade deste montante – perto deR$ 38 milhões – veio de convênioscom estados, municípios, universida-des e organizações não-governamen-tais. O restante – R$ 24 milhões – saiuda aplicação direta do órgão do Mi-nistério da Saúde. No decorrer de2000, estão previstos mais R$ 106milhões em investimentos, estimati-va feita ainda no primeiro semestre.

Em locais estratégicos, foram ins-talados 34 Distritos Sanitários. Eles es-tão espalhados por quase todo o país,com exceção do Piauí e do Rio Gran-de do Norte. Alguns deles abrangemmais de um estado, mas todos têmum mesmo objetivo: o atendimentoespecializado aos 350 mil índios, per-tencentes a cerca de 210 povos e fa-lantes de 170 línguas identificadas.

Em cada Distrito está organiza-da uma rede de serviços de saúdeintegrada, hierarquizada e articula-da com o Sistema Único de Saúde(SUS). A FUNASA, inclusive, dá umincentivo aos hospitais que queiramse credenciar ao sistema, na formade uma remuneração diferenciadaque chega a representar 30% a maisde faturamento. Quem disponi-bilizar leitos para os índios doentesreceberá mais por isso.

Em cada aldeia ou comunidade,os índios vão contar com o trabalhode um Agente Indígena de Saúde,

um profissional formado por umaequipe multidisciplinar. Até o fim doano de 2002, a Fundação esperacontratar 2.644 agentes. Tambémserão capacitados Agentes Indíge-nas de Saneamento que cuidarãodas questões de abastecimento deágua, sistema de esgotos e instala-ção de banheiros adequados nasaldeias. Só no ano passado, aFUNASA investiu R$ 5 milhões emsaneamento básico nas comunida-des indígenas.

O funcionamento dos DSEIs ésimples e vai contar com a ajuda dosConselhos Locais de Saúde, forma-dos por índios e Distritais de Saúde,que têm metade dos representantesescolhidos entre as lideranças indí-genas e metade por organismos go-vernamentais, ONG e Universidades.

O índio que adoece deve pro-curar o agente indígena de saú-de, que vai encaminhá-lo ao Pos-to de Saúde da aldeia. Lá, ele re-

Até 1991, a FUNAIcuidava da saúde dosíndios brasileiros. Hojeessa responsabilidadeestá a cargo doMinistério da Saúde,através da FUNASA.Uma lei, aprovada peloCongresso, oficializou oato. Dessa forma, foidefinido um modelo deatenção à SaúdeIndígena, que ajudará amelhorar a qualidade devida desses povos.

novo modelo

Saúde para os povos indígenasSaúde para os povos indígenas

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cebe os primeiros socorros, tomavacinas e tem acompanhamento,nos casos de pacientes crônicos.Nas situações mais graves, um sis-tema de transporte, que inclui car-ros, barcos, e até a utilização derádios – mantidas de prontidão –poderá levar os índios aos Pólos-base. Trata-se de pequenos hos-pitais municipais, com médicos,enfermeiros, dentistas e auxiliaresde enfermagem, especializadosno atendimento indígena.

Nos Pólos-Base, o tratamento seráintensificado para resolver o proble-ma. Se o índio doente precisar deuma internação demorada ou enca-minhamento a um hospital maior ouespecializado, será transferido pormeio da Casa de Saúde Indígena.

São elas que serão as responsá-veis por agendar serviços especializa-dos e acompanhar a continuidade aotratamento depois da alta do hospitalaté que o índio tenha condições devoltar à aldeia. A Casa de Saúde aju-dará, ainda, na marcação de consul-tas e exames, além de traduzir a con-versa entre médicos e índios. Nessesabrigos, não apenas o doente, masos acompanhantes dele terão aces-so a pouso, comida e remédios.

Para o diretor do Departamentode Operações da FUNASA, UbiratanPedrosa, hoje, a maioria dos povosaceita o tipo de organização elabo-rada pela Fundação, apesar de algu-mas resistências encontradas no iní-cio. Ele conta que com o tempo esseperfil vem mudando. “Numa aldeiaKaiapó, no Mato Grosso, um líder queera totalmente contra o novo siste-ma, atualmente, dá aulas sobre osDistritos Sanitários da FUNASA”.

Em dois anos, todos os DistritosSanitários Especiais Indígenas de-vem estar em pleno funcionamen-to. Ponto para os defensores deuma política de atendimento inova-dora. O modelo foi elaborado combase na Constituição de 1988, quegarante ao índio um tratamento desaúde diferenciado levando em con-ta sua distribuição demográfica,cultural e relação política.

Processos de licitação para con-tratar mão-de-obra, compra deequipamentos e execução de obrasjá estão em andamento. A corrida,agora é contra o tempo. A FUNASAquer detectar e combater da for-ma mais rápida as doenças quepodem atingir os povos indígenas.A preocupação é garantir qualida-de de vida às comunidades, mes-

mo após o contato e a influênciada civilização moderna. O compro-misso inclui até exigências aos hos-pitais que queiram se credenciarao sistema. Eles terão que apresen-tar instalações e uma equipe de pro-fissionais que seja adequada e queatenda às necessidades dos índios,sempre levando em consideração oatendimento básico.

O serviço é considerado um mo-delo pela qualidade do atendimen-to prestado à população indígena.Um médico, um enfermeiro, noveauxiliares de enfermagem e doisoutros funcionários. Este pequenogrupo de profissionais tem a tarefade receber, na capital brasileira, osíndios doentes que vêm de outrosestados, principalmente da RegiãoCentro-Oeste, à procura de trata-mento especializado nos hospitaisdo Distrito Federal.

A estrutura física do Serviço de

Brasília dá exemplo

Apoio ao Índio inclui um consultórioe um auditório, onde são realizadasoficinas e palestras para atualizaçãoe treinamento da equipe de profissi-onais, especialmente os médicos.Nos estoques do SAI, procura-se tersempre medicamentos para atendera demanda. Em caso de emergên-cia, dois carros ficam à disposiçãopara deslocamentos às pressas.

Aliás, há também um esque-ma de plantão 24 horas paraatender aos pacientes hospeda-dos nas pensões da cidade que

População indígena: 350 mil (210 povos)

Línguas identificadas: 170

Investimento da FUNASA:

- Realizados: R$ 62 milhões (ago-dez/99)

- Previstos: R$ 106 milhões (ano 2000)

O subsistema de saúde indígena

- Distritos Sanitários Especiais: 34

- Hoje: 1.545 agentes de saúde

- Até 2002: 2.644 agentes indígenas

Números da saúde indígena

Em fevereiro de 2000, começou afuncionar em Brasília o Serviço deApoio ao Índio (SAI).

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Uma Lei que também tem sua história

A Lei de Saúde Indígena, ela-borada pelo deputado SérgioArouca, remonta a 8.a Conferên-cia Nacional de Saúde, em 1986,nas discussões de integração dasaúde pública e a criação do SUS.

Para escrever a Lei, o deputa-do manteve contato freqüentecom indigenistas e profissionais daFaculdade Paulista de Medicina,além de vários representantes dospovos indígenas. Sérgio Aroucaressalta que a Lei é fruto do queele observou nas aldeias e do queos grupos discutiram.

Arouca ampliou os artigos daLei por influência da II Conferênciade Saúde de Indígenas, em 1993,na qual se discutiu temas como acriação de um subsistema para ospovos indígenas, vinculado ao SUS,

tendo por base os Distritos Sanitá-rios Especiais Indígenas.

A demora do projeto em setransformar em lei, segundo Sér-gio Arouca, deveu-se à mudan-ça de ânimos no Congresso e àtroca contínua dos presidentes daFUNAI, entre outros fatores.

O projeto foi aprovado na Câ-mara dos Deputados em 1994. De-pois de ser apresentado e votadoem várias comissões, a Lei trami-tou no Senado em 1997, tendocomo relator o senador RobertoFreire (PPS-PE). Mas só após pas-sar pelas mãos do novo relator,Tião Viana (PT-AC), a Lei foi apro-vada no Senado, em abril de 1999,e sancionada pelo presidenteFernando Henrique, em setembrodo mesmo ano.

precisem de atendimento no meioda madrugada.

Entre os problemas mais comuns,estão casos de desnutrição e difi-culdades respiratórias. Além deles,a lista engloba doenças mais com-plexas que se enquadram em espe-cialidades da Medicina, comoneuropediatria, cardiopatias, neuro-logia, ortopedia e doenças tropicais.Boa parte desses males exigem tem-po e paciência até que se encontrea cura ou, pelo menos, o caminhoda sobrevida.

A enfermeira e responsável pe-las atividades do SAI, Sandra Regi-na Carneiro da Costa, garante queos índios têm aprovado o atendi-mento tanto no Centro, onde sãorecebidos, como nos hospitais deBrasília. Na avaliação dela, o maisimportante é que o Serviço de Apoiotem cumprido um dos seus objeti-vos: reduzir o tempo de permanên-cia do índio fora da sua aldeia.

Organização do distrito especial indígena e fluxo de atenção à saúde

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Lei n.º 9.836, de 23 de setembro de 1999Acrescenta dispositivos à Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção,

proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”,instituindo o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1.º A Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a vigorar acrescida do seguinte Capítulo V ao Título II - Do SistemaÚnico de Saúde:

CAPÍTULO VDo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena

Art 19 - A. As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações indígenas, em todo o territórionacional, coletiva ou individualmente, obedecerão ao disposto nesta Lei.

Art 19 - B. É instituído um Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, componente do Sistema Único de Saúde - SUS, criadoe definido por esta Lei, e pela Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, com o qual funcionará em perfeita integração.

Art 19 - C. Caberá à União, com seus recurso próprios, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.

Art 19 - D. O SUS promoverá a articulação do Subsistema instituído por esta Lei com os órgãos responsáveis pela PolíticaIndígena do País.

Art 19 - E. Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-governamentais poderão atuarcomplementarmente no custeio e execução das ações.

Art 19 - F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a realidade local e as especificidades da cultura dos povosindígenas e o modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que se deve pautar por uma abordagem diferenciada eglobal, contemplando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, demarcaçãode terras, educação sanitária e integração institucional.

Art 19 - G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarquizado eregionalizado.

§ 1º O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como base os Distritos Sanitários Especiais Indígenas.

§ 2º O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para isso, ocorreradaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões onde residem as populações indígenas, para propiciar essaintegração e o atendimento necessário em todos os níveis, sem discriminações.

§ 3º As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regional e de centros especializados, deacordo com suas necessidades, compreendendo a atenção primária, secundária e terciária à saúde.

Art 19 - H. As populações indígenas terão direto a participar dos organismos colegiados de formulação, acompanhamentoe avaliação das políticas de saúde, tais como o Conselho Nacional de Saúde e os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde,quando for o caso.

Art 2º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias.

Art 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 23 de setembro de 1999; 178.º da Independência e 111.º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

José Serra - Ministro da Saúde

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Dono da própria saúde

“Certa ocasião uma índia emtrabalho de parto emitia sons quepreocupavam toda a equipe de saú-de. Perguntavam-lhe se estava bem.Ela dizia que sim, mas não paravade emitir aquele som. Parecia umlamento de dor. Até que uma mé-dica aproximou-se e perguntou osignificado dos gritos: ‘na minha al-deia, todos cantam quando umacriança está para nascer. Se nãocantarmos ela não será bem rece-bida no mundo. Aqui, como eu es-tou sozinha, eu mesma tenho quecantar para receber meu filho’”.Quem conta esta história é a antro-póloga Clarice Mota.

Segundo ela, situaçõescomo essa demonstram a importân-cia dos profissionais de saúde –acostumados ao modo como as po-pulações urbanas se comportam –respeitarem as tradições e peculia-

novo modelo

Para entender a maneira como os índios vêem as questões relacionadasà saúde, é preciso conhecer e compreender a cultura desses povos. Nãosão poucos os relatos que demonstram que os integrantes de váriasetnias agem e reagem de forma, muitas vezes, incompreensível diantedas situações consideradas comuns pelo homem da cidade.

ridades dos índios brasileiros nos con-sultórios, postos de saúde e hospi-tais. Agora, essa preocupação tam-bém está garantida na lei que criaa Política de Atenção à Saúde dosPovos Indígenas (9.836/99), incorpo-rada à Lei n.o 8.080/90, capítulo V,do Sistema Único de Saúde (SUS).

A proposta, sancionada pelo pre-sidente Fernando Henrique Cardoso,no dia 23 de setembro de 1999,implementa os princípios da igual-dade, eqüidade e universalidade doSUS também aos povos indígenas.Entre outras coisas, a Lei da SaúdeIndígena, como ficou mais conheci-da, reafirma o direito de atençãosanitária diferenciada. Uma das con-dições para que o modelo passe avigorar é que sejam respeitadas pe-los responsáveis pela sua conduçãoas peculiaridades culturais, geográ-ficas e geopolíticas de cada tribo.

Para isso, devem ser estabeleci-dos os instrumentos e recursos ne-cessários à aplicação da Lei. A re-gra institui um subsistema de saúdevoltado para atender os problemasdas comunidades indígenas, finan-ciado com recursos da União e comapoio de estados, municípios, orga-nizações governamentais e não-go-vernamentais. Ao SUS, caberá pro-mover a articulação do novo mode-lo com o apoio dos órgãos respon-sáveis pela política indígena no país.No âmbito do Ministério da Saúdeessa missão é da FUNASA, que devecontar com o apoio da FUNAI, quedurante décadas acompanhou deperto a problemática desses grupos.

Pelo texto, o Subsistema deSaúde Indígena terá como base acriação de Distritos Sanitários Espe-ciais Indígenas (DSEIs). A princípio,

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Tião Viana, senador (PT-AC) erelator do projeto de lei – “Na mesmaépoca em que o projeto estava sendovotado, Mauro Ricardo Costa estava as-sumindo a Presidência da FUNASA. Foiuma feliz coincidência. Mauro conhece arealidade amazônica e traçou como pri-oridade de sua gestão a saúde dos povosindígenas na Amazônia, definindo um in-vestimento per capita em relação a essespovos, garantindo a chegada dos recur-sos, o que é um fato inédito. O novo pre-sidente acabou com a farra que havia.Muitos profissionais iam para a Amazôniacuidar de índio por causa da diária, nãopor compromisso ideológico e social. Osresultados ainda estão muito aquém doque gostaríamos e que seguramente oMauro gostaria. Mas passos concretosiniciais foram dados, porque o presidenteuniu sensibilidade e ação efetiva”.

Roberto Liebgot, coordenadordo Conselho Indigenista Missioná-rio (CIMI) – “A sanção da Lei de Saú-de Indígena é uma boa notícia, princi-palmente pelas conseqüências que elatrará para a política de saúde indíge-na. Porém, os poderes atribuídos àFUNASA, com as recentes deliberaçõesdo poder executivo (Medida Provisórian.º 1.911-8, Decreto n.º 3.156/99 ePortaria n.º 1.163/99), não são cabí-veis. A FUNASA não é gestora nemdefinidora de políticas de saúde. Comestas medidas, a implantação doSubsistema de Saúde fica inviabilizadae as responsabilidades do Governo es-tão sendo repassadas a terceiros, viaconvênios para prestação de serviços”.

Cibele Verani, antropóloga daFundação Oswaldo Cruz – “Acho aLei fantástica por conter o arcabouçoda integração entre a saúde do índio eo SUS. Sua aprovação sinaliza o ciclode lutas políticas aos princípios do SUSe da Constituição. O modelo de aten-ção operacionalizado pela FUNASA ébaseado na II Conferência Nacional deSaúde Indígena, mas apresenta dife-renças. No entanto, isso tudo repre-senta o fruto da mobilização dos mo-vimentos indigenistas”.

Subsistema indígena em debateeles serão distribuídos em 34 locali-dades, englobando todo o país.Cada Distrito será responsável peloatendimento das necessidades deum determinado número de tribose povos indígenas. Uma equipe for-mada por um médico, um enfer-meiro, um auxiliar de enfermageme cinco agentes de saúde executa-rá as ações definidas para melhorara qualidade de vida dessas popula-ções e atenderá aos pacientes, numprimeiro momento.

Uma das grandes inovações daproposta é agregar integrantes das co-munidades nativas como peças-chavede todo este processo. A idéia é trans-formar algumas lideranças comunitá-rias em agentes de saúde indígena.Trata-se de um passo fundamentalpara que o índio se torne dono de suaprópria saúde, já que membros dastribos ou aldeias vão auxiliar direta-mente no trabalho de visitação às fa-mílias e aos pacientes, bem como par-ticiparão dos debates que visem amelhoria do atendimento em cadalocalidade. A partir do momento queessas pessoas tenham o domínio daspeculiaridades culturais de cada povo,acredita-se que será mais fácil encon-trar o caminho da adaptação dos pro-gramas e ações aos contextos de cadaDistrito Sanitário Indígena.

Para garantir as especificidadesdas comunidades, o SUS deverá fa-zer adaptações em sua estrutura e

organização. Caberá aos Distritosfazer o primeiro contato com possí-veis pacientes. O trabalho do DSEIserá itinerante, sendo que cada umdos 34 Distritos terá na sua cota deresponsabilidade a implementaçãodas ações de Atenção Básica nasaldeias. Coordenar as campanhasde prevenção às doenças – inclu-indo as de vacinação –, dar o pri-meiro atendimento aos usuários in-dígenas e a instalação de uma far-mácia básica também são tarefasdo DSEI. As ações que exigireminternação serão realizadas noshospitais municipais e estaduaispróximos ou nas unidades regio-nais vinculadas ao SUS.

De acordo com o senador TiãoViana (PT-AC), relator do projeto delei aprovado pelo Congresso, os pro-fissionais de saúde que atuarem nosDistritos Sanitários deverão ser trei-nados para um atendimento sem dis-criminação. “Coisas simples comousar talheres, vaso sanitário ou dor-mir em cama em ambulatório po-dem representar desconforto paraquem não está habituado a isso”,exemplifica. Na opinião dele, “osmédicos e enfermeiros devem estardispostos a se abrirem para mundose vivências novas que serão trazidospelos moradores das comunidadesatendidas. Sem esse desprendimen-to, o êxito da proposta pode ser com-prometido”, arrematou.

Congresso: palco de debates da nova lei

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Na década de 80, em Brasília,funcionários da FUNAI iniciaram adiscussão sobre a necessidade de seformular uma proposta de organiza-ção dos serviços de saúde destina-dos aos povos das tribos. Essa idéiadesaguou na 8.a Conferência Nacio-nal de Saúde. Ainda nas proximida-des da Esplanada dos Ministérios, re-presentantes de vários segmentossociais deram o pontapé inicial naformulação de uma política sanitá-ria dirigida ao setor.

A 8.a Conferência foi palco da re-novação democrática, após sucessivosgovernos autoritários. Na época, acaba-va a Ditadura e a abertura política seconsolidava. O processo culminou coma eleição de Tancredo Neves para a Pre-sidência da República e fortaleceu a no-

ção de cidadania. Para os militantes dacausa indígena, era o momento apro-priado para tirar do armário temas rele-gados ao esquecimento.

Os problemas ligados à saúde damulher, ao controle das epidemias,às campanhas nacionais demultivacinação dividiram os debatesdurante a 8.a Conferência Nacional.Discussões sobre a preocupação coma situação sanitária das comunidadesindígenas também encontrou acolhi-da. A recepção foi tamanha que osparticipantes da Conferência decidi-ram que o tema merecia um encon-tro específico, apenas para avaliar oponto no qual se encontrava esse tipode atendimento dirigido.

Entre os dias 26 e 29 de novem-

bro de 1986, a I Conferência Nacio-nal de Sáude do Índio reuniu tímidos80 participantes. Representantes dasUniversidades Federais do Amazo-nas, Pará, Paraná e Santa Catarina,da Escola Paulista de Medicina, doConselho Indigenista Missionário(CIMI) e da Conferência Nacional dosBispos do Brasil (CNBB) se debruça-ram sobre o tema. Junto com o gru-po, estavam artistas dedicados àcausa dos índios, antropólogos,etnólogos e Ailton Krenak, da Uniãodas Nações Indígenas (UNI). Era oúnico movimento indígena brasilei-ro organizado até aquela data.

Segundo a antropóloga Ana Ma-ria Costa, naquele período, o aten-dimento sanitário indígena era“feito exclusivamente pela FUNAI”.

Por que tão poucas discussões sobre o índio e a sua saúde? Essa é umapergunta de difícil resposta que envolve questões de interesse para todaa sociedade. Uma coisa é certa: depois de cinco séculos doDescobrimento, os primeiros moradores do Brasil ainda não recebem aatenção merecida. Para alguns pesquisadores, estudiosos e líderescomunitários a implementação de mudanças depende de iniciativaspontuais, cujos passos mais significativos foram dados há pouco tempo.

novo modelo

Por que demorou tanto?Por que demorou tanto?

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O agravante, segundo ela, era queo tratamento oferecido aos morado-res das tribos pelos agentes de saú-de da época não se diferenciavadaquele aplicado às populações ri-beirinhas. Inexistia uma atenção, umcuidado maior em se evitar o des-respeito à cultura dos povos nativos.“Não havia, até então, a preocupa-ção de fazer um atendimento etni-camente diferenciado”, ressaltou.

No centro dos debates estava aproposta de criação de uma agên-cia, ligada ao Ministério da Saúde,exclusivamente preocupada com osíndios e a definição de um modelode atendimento próprio para eles,através dos Distritos Sanitários Espe-ciais Indígenas (DSEIs). Para os estu-diosos do problema, foi uma vitória.Durante a I Conferência se diagnos-ticou a responsabilidade federal,sem, no entanto, esquecer a neces-sidade de respeito às heranças cul-tural e étnica dos povos da floresta.

Seis anos depois, em 1992, na9.a Conferência Nacional de Saúde,foi assegurado dentro do SUS a aten-ção integral à saúde do índio. A me-dida veio embalada num conjuntode decisões que previa a observa-ção das características socioculturaisdos povos, incluindo o respeito aossistemas tradicionais de cura. Comtal avanço, foi natural a convoca-ção da II Conferência Nacional deSaúde para os Povos Indígenas parao ano seguinte.

Em Luziânia (GO), cidade háquase 100 quilômetros de Brasília,mais de 500 pessoas acompanha-ram o encontro onde a participa-ção indígena foi considerável. Sena I Conferência Nacional a pre-sença dos índios era quase nula,neste segundo encontro os repre-sentantes das tribos e comunida-des rivalizavam em número com ados não-índios.

No relatório final, se retomoua defesa de uma política setorialespecífica para a saúde dos povosindígenas. Uma proposta ampara-da nos princípios do Sistema Úni-co de Saúde e no modelo básicode atendimento, a partir dos Dis-tritos Sanitários Especiais Indíge-nas. As medidas consolidaram o

Subsistem

Distritos da saúde indígena

processo de implantação de ummodelo próprio de atenção sani-tária nas comunidades e forammais uma vitória para quem de-fendia essa necessidade.

Desde o segundo semestre de1999, a Fundação Nacional de Saú-de (FUNASA) começou a implantaros DSEIsC em todo o país. A meta édeixar os 34 Distritos espalhados pelopaís em pleno funcionamento até2002. O tema deve pautar os deba-tes da III Conferência Nacional deAtenção à Saúde dos Povos Indíge-nas, cuja realização foi proposta na10.a Conferência Nacional de Saúde,em 1996. O encontro já tem datadefinida: maio de 2001.

Pela expectativa dos especia-listas, técnicos do Governo e daspróprias comunidades que devemse fazer representadas nasdiscussões, o encontro será o maior

do gênero realizado até omomento, no Brasil. A reunião detantas pessoas interessadas namelhoria da qualidade de vida demilhares de pessoas deverá ser ummarco no processo de valorizaçãoe respeito aos povos indígenas.

Para o médico e antropólogoIstván Varga, os representantes dastribos brasileiras é que irão comandara reunião. Na opinião dele, caberáao grupo exibir uma nova posturadesse segmento da população. “Umanova face – organizada e consciente– vai ser mostrada”, ressaltou ele,que acredita no crescimento domovimento em defesa dos indígenas.“Hoje esses povos não têm vergonhade ser o que são. A identidade delesnunca foi tão valorizada quanto agora.É uma nova etapa”.

1 - Alagoas e Sergipe - AL/SE2 - Amapá e Norte do Pará - AP/PA3 - Altamira - PA4 - Alto Rio Juruá - AC5 - Alto Rio Purus - AC/AM6 - Alto Rio Negro - AM7 - Alto Rio Solimões - AM8 - Araguaia - GO/MT9 - Bahia - BA10- Ceará - CE11- Minas Gerais e Espírito Santo - MG/ES12- Interior Sul - SP/PR/SC/RS13- Vale do Javari - AM14- Kayapó - PA15- Kayapó - MT16- Leste de Roraima - RR17- Litoral Sul - RJ/SP/PR/SC/RS18- Manaus - AM19- Guamá-Tocantins - PA20- Maranhão - MA21- Mato Grosso do Sul - MS22- Médio Rio Purus - AM23- Parintins - AM/PA24- Pernambuco - PE25- Porto Velho - RO/AM26- Potiguara - PB27- Cuiabá - MT

28- Rio Tapajós - PA29- Médio Rio Solimões e Afluentes - AM30- Tocantins - TO31- Vilhena - RO/MT32- Xavante - MT33- Parque Indígena do Xingú - MT34- Yanomami- RR/AM

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O último encontro do tipo acon-teceu em 92, quando foramlançadas as bases dos atuais Distri-tos Sanitários Especiais que se tor-naram realidade nos últimos meses.

O tema também já foi fechado.Numa reunião do Conselho Nacio-nal de Saúde (CNS), que aprovouem plenário a realização da Confe-rência, se definiu que as discussõesdevem ser orientadas a partir doeixo Efetivando o SUS: Acesso, Qua-lidade e Humanização na Atençãoà Saúde Indígena com Controle So-cial, quase o mesmo da 11.a Confe-rência Nacional de Saúde.

Os organizadores da III Conferên-cia de Saúde Indígena esperam cer-ca de 500 participantes, nas váriasmesas previstas para acontecerem

entre os dias 14 e 18 de maio de 2001.A convocação do encontro, a cargodo ministro da Saúde, José Serra, edo presidente Fernando HenriqueCardoso, é considerada oportuna pe-los especialistas pelo momento detransição pelo qual passa a atençãodedicada ao segmento.

“É oportuna a reflexão sobre oprocesso que vem ocorrendo na or-ganização dos serviços de atençãoà saúde indígena, buscandoaprofundar a análise do modeloorganizacional, que está sendoimplementado, e as estratégias aserem seguidas rumo à efetiva par-ticipação e controle social”, se lêna argumentação propondo a reali-zação da Conferência.

O documento, encaminhado aos

Em maio de 2001, o futuro do novo modelo de atendimento sanitáriopara os índios brasileiros estará em debate. Está tudo certo para arealização da III Conferência Nacional de Saúde Indígena.

conselheiros do CNS, faz uma radi-ografia das necessidades e dosavanços percebidos nos últimos tem-pos no que se refere ao atendimen-to aos povos indígenas. O papel daFUNASA é apontado como peça-chave neste processo, como a en-carregada de operacionalizar a pro-posta de criação dos 34 Distritos Sa-nitários Especiais Indígenas.

O desafio, de acordo com os in-tegrantes da Comissão Intersetorialda Saúde Indígena – subordinadaao CNS – que acompanha a execu-ção da proposta, está sendo venci-do através de medidas objetivas,como a equação dos investimentospúblicos no segmento. Num levan-tamento preliminar, se verificou quede 99 para 2000 o volume de recur-

O futuro em discussãoO futuro em discussãoconferência

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Mesmo antes da convocação ofi-cial do encontro pelo presidenteFernando Henrique Cardoso e peloministro da Saúde, José Serra, os seusorganizadores já se desdobram di-ante da missão de mobilizar o mai-or número possível de representantesdas tribos e comunidades espalha-das de norte a sul, bem como deprofissionais de saúde, gestores doSistema Único de Saúde e deprestadores de serviço.

A III Conferência Nacional deSaúde Indígena tem responsabilida-de na análise, formulação e propo-sição de ações que terão impactoem todo o país. Durante este even-to deverá ser feita a consolidaçãodas propostas debatidas nas confe-rências locais e distritais.

Os debates deverão ser conduzi-dos em etapas, pelo que prevê oregimento da III Conferência. A pri-meira – que abrange as reuniõesdentro das comunidades e dos DSEIs,denominada de Local – deve acon-tecer até o dia cinco de março de2001. As sugestões serão acatadase encaminhadas para a fase Distrital.

A etapa Distrital deve aconteceraté o dia 16 de abril de 2001. As ques-tões levantadas terão espaço garanti-do na etapa Nacional (de 14 a 18 demaio de 2001). Devido aos problemasque podem atrapalhar a realização dasbaterias iniciais de discussões, como aprópria dificuldade de mobilização, fi-cou garantido no regimento que a IIIConferência Nacional de Saúde Indí-gena acontecerá mesmo que as eta-pas anteriores tenham desempenhoabaixo do esperado.

O tema é o mesmo da 11.aConfe-rência Nacional de Saúde. No entan-to, na III Conferência Nacional de Saú-de Indígena, em torno da discussãoEfetivando o SUS: Acesso, Qualidadee Humanização na Atenção à SaúdeIndígena com Controle Social, deve-rão ser criadas três mesas redondas,abordando os seguintes aspectos: a)Os povos indígenas e o Sistema Únicode Saúde: avaliação do processo deimplantação dos Distritos SanitáriosEspeciais Indígenas; b) Acesso, quali-dade e humanização do Subsistemade Atenção à Saúde Indígena; e c)Promoção à Saúde: sustentabilidadee etnodesenvolvimento.

Regras do jogo na mesaEm setembro de 2000, o CNS aprovou aconvocação da III Conferência Nacional deSaúde Indígena que discutirá o acesso, aqualidade e a humanização no SUS.

CNS: apoio unânime à III Conferência

sos disponibilizados para a área pas-saram de R$ 62 milhões para R$106 milhões.

O mesmo empenho foi notadona captação de profissionais de saú-de para atuarem em áreas indíge-nas. Atualmente, os DSEIs contamcom 152 médicos, 114 dentistas,256 enfermeiros, 731 auxiliares deenfermagem e 1.871 agentes desaúde. Vale lembrar que neste últi-mo grupo há um número conside-rável de representantes das própriascomunidades, o que acaba por fa-cilitar o contato com os moradorese a disseminação de práticas pre-ventivas e curativas que acabam porreduzir o impacto das endemias.

Com a alocação de mais verbase profissionais, se tornou uma ne-cessidade a melhora da infra-estru-tura de trabalho nas áreas indíge-nas. A compra de 234 veículos, 317barcos, 382 equipamentos de rádio,a montagem de 77 Polós-base, 130postos de saúde e de 25 casas desaúde indígena, além da recupera-ção e adequação de cerca de 90outras unidades, indicam outros as-pectos positivos dentro desta novaetapa que se inaugurou em 2000.

Com um quadro positivo e fortesventos a favor, a decisão de fazer a IIIConferência Nacional de Saúde Indí-gena surgiu como uma conseqüên-cia natural dos fatos. Um grupo detrabalho – que contou com a partici-pação de representantes de várias en-tidades e segmentos – se dedicaramà tarefa de organizar o evento queirá, entre outras coisas, assegurar naprática o que está previsto pela pró-pria Constituição, em seu artigo 196,dentro do enfoque indígena. Nesteponto, foram lançadas as bases doSistema Único de Saúde com a ga-rantia de universalidade, igualdade egratuidade ao atendimento, tudobaseado na descentralização,integralidade das ações, participaçãoe controle social.

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“Estamos no caminho certo”ponto de vista

Entrevista com Mauro Ricardo Costa, presidente da FUNASA

Como era o trabalho deatenção ao índio antes daFUNASA?

Quando assumimos essecompromisso em agosto de 1999,

encontramos uma situaçãoextremamente precária. Infeliz-mente a FUNAI não tinha médicos,enfermeiros e outros profissionaisem quantidade adequada. Eles

também não tinham a especializaçãona área, fundamental para umatendimento com qualidade. Issofacilitou a ocorrência de muitasdoenças nas comunidades.

As metas que tratamda saúde indígenaestão sendocumpridas antes dosprazos previstos. Aboa notícia foi dadapelo presidente daFUNASA, MauroRicardo Costa.Segundo ele, muitodo que deveria estarpronto apenas noano de 2002 vaiestar disponível paraa populaçãoindígena em breve,ainda nos próximosmeses. Formado emAdministração,Mauro Costa temquase 20 anos deexperiência pública.Antes de assumir ocargo, ele foiSuperintendente da

Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). “O fato de eu conhecer arealidade da Amazônia facilitou meu trabalho com a saúde indígena”,afirma, com a segurança de quem sabe do que está falando.

Para o presidente da FUNASA, a FUNAI é uma grande parceira no atendimento aos índios

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“Se os estrangei-ros querem

pesquisar a me-dicina amazônica

então venhampesquisar juntocom a gente.”

E os equipamentos ?

Estamos extremamente avan-çados. Já temos 80% das aquisiçõesde meios de locomoção previstaspara o final do ano, somando 234veículos e 317 barcos. Hojedisponibilizamos 382 rádios decomunicação, que representa 47%da meta em 2000, e temos 157computadores, que totalizam 66%.Pretendemos avançar agora naparte das obras civis. Ainda este ano,teremos 154 pólos-base, 694 postosde saúde e 44 casas do índio. Parase ter uma idéia do nosso compro-misso, em 1998 foram gastos comas comunidades em torno de R$ 25milhões. Em 1999, foram gastos R$62 milhões. No ano 2000, aexpectativa é gastar em torno deR$ 106 milhões.

Como é feito o controlesocial de todo esse trabalhonas aldeias ?

O controle é exercido pelosconselho locais de saúde, formadossomente por índios, que funcionamnas aldeias. Eles avaliam o que estásendo feito, se o atendimento éadequado e se está respeitando acultura de cada um. Além disso,temos os conselhos distritais, numâmbito maior, que funcionam noDistrito Sanitário. Neles, 50% dosgrupo são de indígenas e a outrametade é composta por membrosde vários outros organismos. Osconselhos são responsáveis tambémpela elaboração dos planos desaúde distritais.

Qual o diferencial na remu-neração desses profissionais ?

Para estimular o médico a tra-balhar nas comunidades indígenasda região norte do país, eleschegam a receber um salário de R$5.500,00. Enfermeiro tem remu-neração de R$ 3.500,00 e auxiliarde enfermagem ganha R$ 850,00.O índio, como agente de saúde,

Como está a relação entreFUNASA e FUNAI ?

A FUNAI é uma grande parceira.No começo houve resistência.Alguns funcionários acharam que ainstituição seria extinta, mas não éisso o que o Governo deseja. AFUNAI deve ser o grande órgão decobrança dos direitos dos índios,exigindo resultados da FUNASA, doMEC, dos órgãos especializados. AFUNAI também participa dosconselhos distritais, ajudando adefinir os planos de saúde dosíndios, e trabalha na articulaçãoentre a FUNASA e as comu-nidades indígenas.

A terceirização de serviçosvem trazendo grandes resul-tados. Mas muita gente critica omodelo, alegando a não respon-sabilidade do governo.

Não podemos imaginar que opoder público fará tudo sozinho.O Ministér io da Saúde temgrande experiência de parceriacom estados, municípios e ONG.

Muitos índios disseram nãohaver o que comemorar na festado descobrimento. Mas para aFUNASA, o índio vive hoje umanova realidade, não é ?

Temos muito o que comemo-rar no que se refere ao atendi-mento integral da saúde indígenaporque alcançamos 79% dasmetas previstas até dezembro de2000. Vamos ultrapassá-las. Prova-velmente, anteciparemos para2001 os trabalhos oficialmentemarcados para serem concluídosem 2002, no que se refere acontratação de recursos humanos,aquisição de equipamentos eobras civis de atendimento àscomunidades.

Por exemplo ?

Prevíamos a contratação de 200médicos no ano 2000 e desde o mêsde maio já temos 152 médicosatuando nas aldeias, o querepresenta 76% da meta prevista.Em 2002, serão 245 médicos. Dos295 enfermeiros previstos, jácontratamos 256 no primeirosemestre de 2000, abrangendo86%. Os exemplos incluem osagentes de saúde indígena, agentesde saneamento, laboratoristas e

motoristas. Em 2002 vai ter um agenteindígena para cada aldeia ou conjuntode aldeias, dependendo dalocalização, pois até lá, formaremosmais de 2.700 agentes.

embolsa R$ 150,00. Ou seja,estamos criando emprego tambémpara a comunidade indígena. Oshospitais que fazem atendimentodiferenciado ao índio, evitando queele enfrente fila, respeitando suaspeculiaridades, recebem 30% amais do que o faturamento normal.

“Temos muito oque comemorarno que se refereao atendimentointegral da saú-

de indígena”

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A FUNASA tem de buscarexperiência aonde ela estiver, sejano poder público, na iniciativaprivada ou nas ONG. Onde haviaórgão que já estava trabalhandocom comunidades, a FUNASAconvidou para trabalhar junto. Masé a FUNASA que estabelece aspolíticas, diretrizes e metas. Aresponsabilidade é sempre dela.Os chefes dos distr itos sãofuncionários da Fundação Nacionalde Saúde e são responsáveis peloacompanhamento de todas asações dos nossos parceiros. Afinal,ela não faz nada sozinha. Por issoque alcançamos rapidamente asmetas estabelecidas.

Durante as comemoraçõesdos 500 anos, Porto Segurorecebeu cerca de três mil índios.Qual sua opinião sobre comoeles foram atendidos ?

Montamos um pos to desaúde para a tender aque lacomunidade . Houve 1 .642atend imentos , a té porquemuitos vieram a pé, de muitolonge . F i zemos desde umamedição de pressão arterial atéuma cirurgia dentária. Fiqueisurpreso inclusive com um ofíciodo Conselho Indigenista Missio-nário (CIMI) elogiando nosso

trabalho pelo atendimento emPorto Seguro. Vale lembrar queo CIMI é contra a terceirização,o que demonstra que estamos nocaminho certo.

Já temos um retrato da saúdeindígena no País ?

A FUNASA está reformulandoo s i s tema de informaçãoind ígena, que está sendoalimentado de dados pelos 34distr i tos sanitár ios. Estamosestruturando o sistema para que

“Não podemosimaginar que opoder públicofará tudo sozi-nho. A FUNASAtem de buscar

experiência aon-de ela estiver,seja no poder

público, na inici-ativa privada ou

nas ONG.”

A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), órgão executivo do Ministério daSaúde, tem uma história que remonta a 1904. Depois de quase um séculode atividades, atualmente, tem como missão ser uma agência de excelênciaem promoção e proteção à saúde, mediante ações integradas de educaçãoe de prevenção e controle de doenças e outros agravos, bem como ematendimento integral à saúde dos povos indígenas, visando à melhoria daqualidade de vida da população.

A FUNASA é dirigida por um Presidente, auxiliado por um Diretor-Executivo e pelos Diretores dos Departamentos de Planejamento eDesenvolvimento Institucional, de Administração, de Saúde Indígena,de Engenharia de Saúde Pública e o do Centro Nacional de Epidemiologia.Atua de forma descentralizada, com uma Coordenação Regional emcada Estado, com estrutura técnico-administrativa para promover,

supervisionar e orientar as ações de prevenção e controle de doenças,de engenharia de saúde pública e de saúde dos povos indígenas. Estãovinculados à FUNASA três institutos de estudos e pesquisas: o Centrode Referência Professor Hélio Fraga (RJ), o Instituto Evandro Chagas(PA) e o Centro Nacional de Primatas (PA).

Para conhecer mais sobre o trabalho executado pela FUNASA, bastavisitar o site da instituição. No endereço, www.funasa.gov.br qualquerpessoa pode encontrar, por exemplo, as informações que procura sobreas grandes campanhas de vacinação e de gestão do Sistema Nacional deVigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde, no âmbito nacional. Nomesmo endereço eletrônico, podem ser acessadas informações e análisesepidemiológicas, bem como detalhes sobre programas de capacitação derecursos humanos.

FUNASA: referência na busca por uma saúde melhor no Brasil

possamos ter as informações atempo de agir rapidamente, deuma forma preventiva.

Qual a sua opinião sobre abiopirataria ?

Não adianta pensar que vamoscombater o problema com políciaporque não conseguiremos. Hoje épossível levar extratos dedeterminadas substâncias na cargade uma caneta. Para enfrentar arealidade, o governo brasileiroprecisa criar centros de pesquisapara explorar a diversidadeamazônica e a indígena, no sentidode patentear esses produtos noBrasil. Já existe um programachamado Probem (ProgramaBrasileiro de Ecologia Molecularpara Uso Sustentável daBiodiversidade Amazônica), queprevê a criação de um grandelaboratório em Manaus para aexploração da biodiversidadeamazônica. Se os estrangeirosquerem pesquisar a medicinaamazônica, então venham pes-quisar junto com a gente. Venhamsomar o conhecimento e dividir osroyalties. As comunidades indígenastambém serão beneficiadas. Épreciso regulamentar a forma deexploração.

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O primeiro módulo do SIASI –denominado Cadastro da FamíliaIndígena (CAFI) – foi desenvolvidoe está sendo implantado pela Uni-dade Central de Informática daFUNASA para ser utilizado peloDepartamento de Operações daFundação Nacional de Saúde(DEOPE/FUNASA).

O SIASI vai realizar o recensea-mento completo dos 350 mil índiosbrasileiros, com dados estatísticosconfiáveis sobre demografia, distri-buição geográfica, acompanhamen-to da aplicação de recursos desti-nados pela FUNASA à saúde indí-gena, além de identificar, para po-der prevenir, as principais doençasque afetam cada uma das 210etnias indígenas brasileiras. As pri-meiras informações estarão dispo-níveis a partir de julho deste ano.

tes da pastoral da Criança, CNBB,FUNAI e Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz).

Para a coordenadora da Comis-são Intersetorial de Saúde Indígena– subordinada ao Conselho Nacio-nal de Saúde –, Zilda Arns Neumann,“o objetivo do sistema de informa-ções é consolidar todos os dados demaneira simples, efetiva, de modoa satisfazer não só as ações na áreade epidemiologia, mas a todos oscampos de atuação na área da Saú-de Indígena”, destacou.

Carlos Coloma, membro daequipe da FUNASA que coordenaa implantação do SIASI, enfatizouque “o sistema é fundamental paraárea de saúde indígena, tanto parao planejamento quanto para omonitoramento das ações”.

A Fundação Nacionalde Saúde apresentou oinovador Sistema deInformações daAtenção à SaúdeIndígena (SIASI),durante o SeminárioNacional deInstituições de Ensino,Pesquisa e AssessoriaTécnica, realizado noprimeiro semestre de2000, no InstitutoIsrael Pinheiro, emBrasília. O trabalhodeve levar ao censode todos os indíosdo país.

A principal inovação do SIASI éfornecer, por meio de um banco dedados permanentemente atualiza-do, informações para efetivar aestruturação do Subsistema deAtenção à Saúde Indígena.

O SIASI deverá estar sendo ali-mentado com dados dos 34 Distri-tos Sanitários Especiais Indígenas(DSEI). Essas informações estarãodisponíveis para qualquer usuário daInternet, até o final de 2000.

O seminário, promovido peloDEOPE/FUNASA e pela ComissãoIntersetorial de Saúde do Índio doConselho Nacional de Saúde (CISI/CNS), contou com a participação depesquisadores, professores e espe-cialistas ligados à temática indíge-na de universidades de 10 estados.Também participaram representan-

novo modelo

A busca por dados e números

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Até o ano de 1999 só se dispunhade dados parciais sobre a situação desaúde dos povos indígenas no Brasil, nãosendo possível a comparação entre asdiversas etnias ou com o restante da po-pulação brasileira. Esses dados eram defontes heterogêneas, gerados pelaFUNAI, FUNASA, organizações não go-vernamentais ou ainda por missões reli-giosas que, através de projetos especi-ais, têm prestado serviços de atenção àsaúde aos povos indígenas. À baixa co-bertura dos serviços do Sistema Únicode Saúde e ao problema do subregistrode agravos, juntava-se outro limitante:não se tinha um sistema de informa-ções em saúde que contemplasse a iden-tificação étnica, a procedência do paci-ente e o registro das suas condições reaisquando da alta do tratamento. O esta-belecimento do perfil epidemiológicodos vários povos indígenas era tarefapraticamente inviável, a espera de con-dições adequadas para ser cumprida.

Um consolidado dos relatórios de 22das 47 administrações regionais da Fun-dação Nacional do Índio (FUNAI), em 1998,sobre uma população de cerca de ses-senta mil indivíduos registra 466 óbitos,quase 50% deles entre menores de cincoanos de idade, sendo as causas mais fre-qüentes as doenças transmissíveis, espe-cialmente as infecções das vias respirató-rias e as parasitoses intestinais, a maláriae a desnutrição. As causas externas, es-pecialmente a violência e o suicídio, cons-tituem a terceira causa de mortalidadeconhecida entre a população indígena noBrasil, afetando sobretudo regiões comoMato Grosso do Sul e Roraima.

Os dados consolidados no Relatóriode Atividades de 1998 da Coordenaçãode Saúde do Índio/FUNASA, baseam-seno material enviado pelas equipes de

saúde indígenas de 24 unidades da Fe-deração. Se referem a uma populaçãode 312.017 indígenas e num total de219.445 ocorrências, mostram um incre-mento de cerca de 24,7% sobre o volu-me registrado no ano anterior. A indica-ção de causas de óbitos (844) é propor-cionalmente semelhante a dos dadosanalisados pela FUNAI.

Os principais agravos de morbidadenotificados foram as afecções do apa-relho respiratório, classificação na qualse incluem as infecções respiratóriasagudas, que representa 36,5% do to-tal das notificações.

As diarréias e parasitoses intestinaiscontribuem com 26,7% das ocorrênciase, em algumas regiões, são os agravosidentificados com mais freqüência. Os re-latórios apontam para uma correlaçãocom a ausência de saneamento básico ecom a deficiente oferta de água potável.

A malária contribui notoriamentepara o total dos casos notificados nesteano. A comparação com os dados de 1997(9350 casos) mostra um incremento decerca de 119% com 20.834 casosregistrados, representando 4,7% do to-tal de casos de malária (440.277) ocorri-dos na Amazônia Legal. Este aumentoocorreu praticamente em todos os esta-dos que compõem esta região.

Deficiências nutricionais foram detec-tadas em 4624 indivíduos e foram atribu-ídas, como causa determinante, a 52 óbi-tos. No entanto, sabe-se que este esta-do, quando se apresenta conjugado aoutro agravo, deixa de ser notificado, poisainda que tenha sido o fator que antece-deu e/ou propiciou o adoecimento poroutro agente, ele deixa de ser valorizadocomo causa, passando a ser compreendi-do como parte da síndrome clínica.

Causas externas determinaramaproximadamente 15% dos óbitosregistrados. O principal componentedessas ocorrências é a violência, fican-do os acidentes responsáveis de umapequena proporção de casos. Atribui-se este elevado percentual de violênciaàs modificações culturais e sociais dosgrupos indígenas derivadas do contatocom as frentes de exploração dos re-cursos naturais e do aparecimento dedistúrbios de comportamento decorren-tes dessas profundas alterações.

A situação de alguns povos indíge-nas é de extrema vulnerabilidade, comorevelam relatórios detalhados. Entre osYanomami de Roraima, por exemplo, se-gundo dados da Fundação Nacional deSaúde, o coeficiente de mortalidade in-fantil foi, em 1998, de 141 por mil nasci-dos vivos, sendo o de sua mortalidadegeral de 20,4 por mil.1

Tais indicadores entre os Yanomamiapontam uma mortalidade anual decerca de 50% da população indígena,a nível de pequenas comunidades, comofoi observado na região do Tucuxim,ao norte da Serra Parima. A análiseespecífica da incidência da malária,mostra um incremento, em 1998, de58% do índice parasitário anual emrelação ao ano anterior, superando milcasos por mil habitantes.

A tuberculose é um dos agravos queacometem com maior freqüência e se-veridade as comunidades indígenas. Em-bora precários, os dados disponíveis indi-cam taxas de incidência altíssimas, supe-riores em muito àquelas encontradasentre a população branca do país. Entreos Yanomami, em Roraima, por exem-plo, o coeficiente de incidência anual detuberculose passou de 450 para 100.000,

Um estudo sobre o quadroepidemiológico indígenaResumo elaborado por: Alba Figueroa, Barbara Souza, Cibele Verani, DominiqueBuchillet, Douglas Rodrigues, Marcos Pellegrini, Paulo Daniel de Morães e Vera Lúcia deAraújo Costa.*

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pessoas em 1991 a 881.4 para 100.000pessoas em 1994. Em 1998, era de 525.6para 100.000, segundo os dados da orga-nização CCPY. Também em outros povosindígenas foram registradas taxas de inci-dência altíssima. Os dados epidemiológicosda FUNAI, relativos ao mesmo ano indi-cam que a tuberculose foi responsável por22.7% do total dos óbitos indígenasregistrados por doenças infecto-parasitá-rias (2.2.% dos óbitos por todas as causas),ou seja, duas vezes a taxa mundial demortalidade específica por tuberculose.

A fraca cobertura sanitária das co-munidades indígenas, a deterioraçãocrescente de suas condições de vida emdecorrência do contato com os brancos,a ausência de um sistema de busca ativados casos infecciosos, os problemas deacessibilidade (geográfica, econômica,lingüístico-cultural) aos centros de saú-de, a falta de supervisão dos doentesem regime ambulatorial e o abandonofreqüente pelos doentes do tratamentoconcorrem pela manutenção daendemia tuberculose entre as popula-ções indígenas no Brasil.

A infecção pelo HIV/Aids também éum agravo que tem ameaçado um gran-de número de comunidades. Desde1988 começaram a ser registrados osprimeiros casos entre os índios, númeroque vem aumentando com o passar dosanos, sendo que dos 36 casos conheci-dos até o momento, 8 foram notifica-dos em 1998, distribuídos em todas asregiões do Brasil. O curto período detempo transcorrido entre o diagnósticoe o óbito dos pacientes e a falta de in-formações entre os índios sobre os mo-dos de transmissão do vírus e preven-ção da doença, bem como as limitaçõesde ordem lingüística e cultural para acomunicação com eles constituem osdesafios a serem enfrentados e expres-sam sua situação altamente vulnerávelfrente a tendencia de interiorização daepidemia no pais. A compreensão dasredes de transmissão e os determinantesdos processos sociais e culturais origina-dos do contato com a sociedadeenvolvente, bem como as relaçõesintegrupais, são importantes para a to-mada de decisão e implementação deações de prevenção. Com relação àsDST, co-fator que potencializa a infeçãopelo HIV em qualquer grupo social, indi-

cadores a partir de estudos de casosrevelam números preocupantes. O re-latório da FUNASA em 1998 indicou385 casos registrados.

Em algumas regiões, onde a popu-lação indígena tem um relacionamentomais contínuo com a população regio-nal, nota-se o aparecimento de novosproblemas de saúde relacionados àsmudanças introduzidas no seu modo devida e especialmente na alimentação,tais como: diabetes (171 casos), alcoo-lismo, hipertensão arterial (565), obesi-dade , entre outros, problemas cada vezmais freqüentes em diversas comunida-des no país. Foram notificados tambémcasos de desidratação (626), coquelu-che (188) e tracoma (185).

Embora com significativo subregistro,os dados disponíveis indicam, em diver-sas situações, taxas de morbidade emortalidade três a quatro vezes superi-ores àquelas registradas na populaçãobrasileira em geral. Evidenciam tambémum quadro sanitário caracterizado pelaocorrência de agravos que poderiam sersignificativamente preveníveis com o es-tabelecimento de ações sistemáticas econtinuadas de atenção básica à saúdeno interior das áreas indígenas, tal comovem sendo feito com a implantação dosDistritos Sanitários Especiais Indígenas.

Com a implantação dos Distritos Sa-nitários Especiais Indígenas, a FUNASA de-finiu um Sistema de Informação em Saú-de Indígena (SIASI), o qual, a partir dedados coletados diretamente nas aldeiaspelos Agentes Indígenas de Saúde e equi-pes multidisciplinares, nos Pólos-Base eCasas de Saúde Indígena, permitirá final-mente uma análise da situação geral dasaúde indígena, bem como uma avalia-ção da qualidade dos serviços prestadosnuma perspectiva de vigilância em saúde.

O SIASI é estruturado em diversosmódulos de informação nos quais es-tão inc lu ídos a demograf ia , amorb idade e morta l idade, oCadastramento de RH, o Programa deImunização em Área Indígena (PIAI), oServiço de Apoio à Saúde Indígena(SASI) e o Saneamento Básico.

As informações primárias estão sen-do preenchidas manualmente em formu-lários específicos, sendo a digitação dos

FONTES:MJ/FUNAI. Relatório Anual do Departamentode Saúde. 1998.AMARANTE, J.M., A tuberculose comoproblema de saúde dos índios brasileiros –1998. Ministério da Justiça, FundaçãoNacional do Índio, Diretoria de Assistência,Departamento de Saúde, s.d.

1 A taxa bruta de mortalidade no Brasil, em1997, foi de 7,1. A de Roraima, no mesmoano, de 5,6 (MS, IDB 98 Brasil. Indicadores edados básicos para a saúde).

* Alba L.G. Figueroa - antropóloga,consultoraFUNASA/DESAIBarbara Souza, enfermeira, coordenadora deoperações do DESAI/ FUNASACibele Verani, antropóloga, professora,Fiocruz/RJDominique Buchillet, antropóloga, pesquisa-dora - IRD/ISADouglas Rodrigues, médico, professor,UNIFESPMarcos Pellegrini, médico e antropólogoFUNASA/DESAIPaulo Daniel de Morães, médico, DSEI-Lestede RoraimaVera Lúcia de Araújo Costa, enfermeira,coordenadora de Monitoramento dasAções e Serviços do DESAI /FUNASA

dados feita em terminais de computadornos Pólos-Base e/ou na sede dos Distritos.

O fluxo de informações vem sendopactuado com os municípios de referên-cia e/ou Estados. Nas situações em queos dados sejam gerados nos serviços dereferência, eles serão encaminhadospara a sede dos DSEIs. Nas circunstânci-as especiais em que couber ao DistritoSanitário viabilizar o serviço de assistên-cia em sua área de abrangência, o mes-mo repassará estas informações para osrespectivos Municípios e/ou Estados demodo a alimentar de maneira continuaos bancos de dados nacionais. O SIASI,configurará um banco de dados de al-cance nacional que será um instrumentooperacional para o planejamento dasações nos DSEIs. Fornecerá uma linha debase da morbidade e mortalidade indí-gena no Brasil que permitirá uma avalia-ção das ações empreendidas. O acessopermanente ao banco de dados deveráser assegurado a qualquer cidadão. Combase em indicadores de saúde pública oSIASI permitirá assim definir as políticas eas estratégias de ação, melhorar a qua-lidade dos serviços, a capacitação dos Re-cursos Humanos, o planejamento, e ocontrole social nos Distritos Sanitários Es-peciais Indígenas.

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A tribo dos índios Ticuna é umadas maiores do Brasil. A comunida-de de Belém de Solimões, localiza-da na beira esquerda do RioSolimões, próximo a fronteira daColombia e do Peru, concentra omaior contigente populacional dosTicuna. Hoje, são 2.831 habitantes,segundo levantamento realizadopela equipe do Distrito Sanitário.

Esta comunidade teve início nosanos 70, quando vários Ticuna fo-ram atraídos a viver nos arredoresde um engenho de açucar que seinstalou na região. A migração in-dígena para as proximidades de ci-dades de pequeno e médio portedeve-se a busca por melhores con-dições de vida.

O Bispo do Alto Solimões, DomAlcimar Guimarães, revela que arealidade dos Ticuna é muito di-

ferente de quando viviam na flo-resta recolhendo o seu sustentocom a caça e a pesca. “Os Ticunatêm uma população de mais de 4mil estudantes, que necessitam dealimentação quando retornam daescola. É absolutamente necessá-rio se enfrentar a realidade dosíndios viverem em grupos maiores,com todas as consequências deri-vadas dos problemas urbanos”,alertou.

Na comunidade existem 448casas, feitas de madeira com tetode zinco ou cobertas com palha. Aágua consumida é basicamente doigarapé (89,7%) e somente 3% afervem para beber e 6,7% clorama água para consumo. Mais de 80%da população consome água semtratamento algum. As condições desaneamento básico ambiental são

extremamente precárias, sendo olixo deixado ao céu aberto em 74%das casas. Não existe um sistemade esgoto, mas em 65% das casasexistem fossa séptica. A presençade ratos e baratas é comum na mai-oria das casas.

Esta comunidade retrata os pro-blemas a serem enfrentados, emescala cada vez maior, pelas co-munidades indígenas. Em Belém deSolimões, morreram 38 pessoas em1999, sendo que 44% foram crian-ças com menos de 1 ano de idade.A principal causa de morte foi a di-arréia. A taxa de mortalidade in-fantil foi de 104,8 por 1000 nasci-dos vivos, quase três vezes a médiado Brasil. As crianças de 1 a 4 anosforam o segundo grupo a apresen-tarem o maior índice de óbitos, re-presentando 19.4%.

Belém de Solimões é exemplo da tendência de crescimento populacionalda comunidade indígena, demonstrada por um perfil predominantementejovem. A metade da população tem menos de 15 anos. Os velhos, acimados 55 anos, representam 5,6% da população. Outro indicador é quecerca de 18% são mulheres em idade reprodutiva.

O retrato de uma aldeiatrabalho de campo

O retrato de uma aldeia

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Um sistema simples e bara-to. Com um pequeno poçoartesiano se retira a água dosubsolo e a expõe aos raiosultravioletas, tornando-a pura eadequada para o consumo hu-mano. Esta experiência funcio-na a quase um ano na pequenaaldeia de Santa Rosa, na regiãodo Alto Solimões.

Os recursos investidos forampróximos a mil dólares, financi-ado pela Comunidade Européia.O sistema de abastecimento temcapacidade para fornecer mil equinhentos litros/dia, suficientepara atender a pequena comu-nidade. O equipamento funcio-na com energia solar, sem ne-cessidade de qualquer interven-ção para o seu acionamento. Ocusto de manutenção é a trocada lâmpada que lança raiosultravioletas a cada 40 mil/horassolares.

Esta experiência tem de-monstrado o retorno em quali-dade de vida para a comunida-de. Foram praticamente elimi-nada a diarréia e as verminoses,que eram comuns na aldeia. Amalária teve sua incidênciabastante reduzida. A explicaçãoé que acabaram os banhos aofinal da tarde no rio, que tor-nava o índio presa fácil do mos-quito transmissor. Os índios nãosó bebem, a água potável e deboa qualidade, mas tambémfazem uso para os seus banhos.Até mesmo quando saem paraa pesca e o trabalho na roça,levam a água benzida pelo rai-os ultravioletas.

Saneamento - umdesafio de todos

A comunidade indígena já rei-vindica uma ação concreta de aten-ção básica, que realize investimentode infra-estrutura e educação sani-tária. A FUNASA tem discutido osmelhores métodos para implanta-ção de um sistema de abasteci-mento de água, melhorias sanitá-rias, esgotamento sanitário e arqui-tetura de estabelecimentos de saú-de, como Postos de Saúde e Casasde Saúde Indígena.

Estas ações envolvem o Depar-tamento de Engenharia e SaúdePública e o Departamento de Saú-de Indígena da FUNASA. Os princi-pais objetivos são aprimorar o aten-dimento prestado ao índio e darsuporte para que as ações de sane-amento em aldeias reduzam a ocor-rência de doenças associadas à fal-ta ou inadequação de sistema desaneamento básico, tais como có-lera, diarréia, verminose, malária,dentre outras.

Nas discussões sobre uma políti-

ca de saneamento para a comuni-dade indígena têm se valorizado aimportância da sustentabilidade dosprojetos, destacando-se o papelprioritário de ações de educaçãoque envolvam a comunidade aten-dida, além da atuação dos agentesindígenas de saúde e de saneamen-to capacitados pela FUNASA, quese constituem na primeira referên-cia para os índios na aldeia.

No momento está sendo reali-zado diagnóstico das experiênciasem curso na área de saúde indíge-na e contatos para o desenvolvimen-to de parcerias com as secretariasde saúde municipais e estaduais,universidade e Organizações Não-Governamentais.

A FUNASA, investirá cerca deR$ 10 milhões em ações de sanea-mento nas aldeias. Os recursos se-rão destinados à construção de sis-temas de abstecimento de água,melhorias sanitárias e construçãode sistemas de coleta e destinação

A falta de saneamento básico é umadas principais causas dos altos índicesde doenças e de mortalidade indígena. O milagre de

Santa Rosa

final do lixo e do esgoto. O atendi-mento ao índio leva em considera-ção as especificidades de cadaetnia e o modelo de atenção ado-tado respeita a cultura dos índios econtempla aspectos culturais, an-tropológicos e ambientais.

Falta de saneamento: porta de entrada de doenças

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Os agentes indígenas de saú-de desempenham o papel de inter-locutores de saúde nas aldeias.Eles fazem a ponte entre o ín-dio que adoece e o atendimen-to apropriado.

A Fundação Nacional de Saú-de (FUNASA) quer que, até o fimde 2001, quatro mil agentes indí-genas de saúde estejam prontospara atuar. A idéia é colocar umagente em aldeias pequenas emédias, e mais de um agente nasgrandes aldeias.

A FUNASA já está preparandotodo o material que vai transfor-mar os índios escolhidos pela suarespectiva tribo em agentes desaúde. O curso será dado emmódulos. O primeiro é introdutório.

Os outros, que vão do primeiro aoquinto nível, ensinam de maneirateórica e prática o que realmenteeles devem saber. O conteúdo, ametodologia e o material de apoio(apostilas e formulários) seguemas normas da nova Lei de Diretri-zes Básicas da Educação, definidapelo MEC.

Quem dá o treinamento são, ge-ralmente, enfermeiros, que foramcapacitados para trabalhar dentro doprocesso que envolve os DistritosSanitários Especiais Indígenas.

A cada módulo, o índio põe emprática na própria aldeia o queaprendeu, sempre acompanhadode um enfermeiro. A formaçãocompleta se dá em dois a trêsanos, e equivale à competência de

um auxiliar de enfermagem. Se oíndio quiser ainda um certificadode auxiliar de enfermagem teráque anexar ao curso profis-sionalizante, oferecido pelaFUNASA, um diploma de conclu-são do segundo grau. A Fundaçãojá está em contato com escolastécnicas ligadas ao Sistema Úni-co de Saúde (SUS) para que pos-sam ajudar nesse processo de for-mação. Elas darão legitimidade elegalidade ao processo.

Para o coordenador do DESAI,Welington Muniz Ribeiro, o impor-tante é que a metodologia aplica-da respeite o ritmo de aprendizadodo aluno. “Caso o índio sinta algu-ma dificuldade, o método definidopela FUNASA possibilita a adequa-

As línguas faladas pelos povos indígenas ainda impõem barrei-ras à influência da civilização dos não-índios. Mas quandofalamos de saúde é preciso vencer todos os obstáculos parasalvar essas comunidades das mais diversas doenças. Malesque eram desconhecidos nas próprias aldeias.

caso de sucesso

Índio que cuida de índioÍndio que cuida de índio

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ção. E o instrutor tem capacidadepara resolver o problema”. Ele ex-plica, por exemplo, que, se o índionão souber falar, escrever ou enten-der o português, os profissionais li-gados ao trabalho vão encontrar amelhor maneira de ensinar. É possí-vel até que o material seja traduzi-do para a língua da etnia à qualpertence o índio.

O salário estimado do agenteindígena de saúde é de R$ 150,00por mês. Em lugares onde o dinhei-ro ainda não é utilizado, a remu-neração será de acordo com a cul-tura do índio.

Os recentes números divulga-dos pela FUNASA, segundo Ribei-ro, são satisfatórios. Mostram que1.073 agentes já concluíram omódulo introdutório. Até o mês defevereiro, já haviam sido contra-tados mais 1.545 agentes para co-meçar o treinamento.

Nas aldeias, o agente temcomo tarefa fazer o cadastramentodas famílias (identificar mulheresgestantes, número de nascimentose óbitos), acompanhar o crescimen-to e desenvolvimento das crianças.Tudo isso para combater a desnu-

trição infantil.

Como a formação do agenteequivale à de um auxiliar de enfer-magem, ele pode também diagnos-ticar doenças como a febre amare-la, tuberculose e diabetes. E, emcasos mais graves, o agente servecomo elo de ligação entre a aldeiae as equipes multidisciplinares, for-madas por médicos e enfermeiros.A FUNASA espera montar 200 des-sas equipes.

Os agentes indígenas de saúdetambém ficarão responsáveis porfazer reuniões educativas e pelaorganização e divulgação das cam-panhas de vacinação. “Acredito queos agentes vão poder resolver até80% dos problemas que hoje sãoencontrados nas aldeias, outros10% serão resolvidos pela equipemultidisciplinar e os outros 10%, pelotratamento especializado nos hos-pitais credenciados”, afirma o coor-denador do DESAI.

O fundamental é que, pelametodologia empregada, os agen-tes vão ser orientados a, antes detomar qualquer atitude, valoriza-rem os remédios naturais utiliza-dos na aldeia e, principalmente,

o trabalho tradicional dos pajés,xamãs e caciques.

Os agentes indígenas de sanea-mento também estão sendo contra-tados pela FUNASA. Eles vão rece-ber treinamento específico na faseintrodutória do curso e, também, doprimeiro ao quinto módulos.

Caberá a este grupo trabalharnas aldeias onde existe um sistemade abastecimento de água maiscomplexo. A remuneração vai serigual à do agente indígena desáude, cerca de R$ 150,00 por mês.A FUNASA espera que, pelo me-nos, 200 desses agentes trabalhemna melhoria da saúde dos índios,para que eles possam tomar águapotável, tenham um sistema de es-goto eficiente, bem como banhei-ros higiênicos.

O trabalho dos agentes indíge-nas de saneamento vai ser simples.Ficará sob responsabilidade deles,entre outras coisas, a manutençãodo sistema de água e a solução depequenos problemas, como os deregistros quebrados, vazamento emcaixas d´água e o baixo nível decloração da água. Ou seja, o básicosobre saúde e saneamento.

de Saneamento

• identificação de condições ambientais emananciais disponíveis;

• reconhecimento de doenças relacionadas aágua, dejetos e lixo;

• promoção de melhorias nas condições desaneamento;

• supervisão dos sistemas deabastecimentode água e outros projetos de saneamento;

• execução de inquéritos sanitáriosdomiciliares;

• implantação de pequenas obrasde saneamento.

de Saúde

• acompanhamento de crescimento edesenvolvimento infantil;

• acompanhamento de gestantes;

• atendimento aos casos de doenças maisfreqüentes;

• acompanhamento de pacientes crônicos;

• aplicação de primeiros socorros;

• promoção à saúde e prevenção dedoenças de maior prevalência;

• acompanhamento da vacinação;

• acompanhamento e supervisão de trata-mentos de longa duração.

Saiba o que fazem os agentes indígenas:

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Pajés e médicos de mãos dadasEm comunidades indígenas do Paraná e Rio de Janeiro, existe umaprofusão de pajés, rezadeiras, parteiras e médicos cuidando da saúdedos índios. Nessas regiões, o kit de medicamentos inclui, além decomprimidos e antibióticos, pedras energéticas e plantas medicinais.Danças e rituais são tão fundamentais para estes povos, quanto tirarradiografia é para um morador de cidade grande. Na visão dessesindígenas, o respeito às tradições e peculiaridades das aldeias é ocaminho para garantir a saúde de seus habitantes.

trabalho de campo

Para os índios Kaingang, de Lon-drina (PR), as armas contra as do-enças na comunidade estão nopluralismo cultural. Coordenadopela socióloga Marlene de Oliveira,o programa de saúde da Prefeituravoltado para os indígenas é execu-tado por dois médicos, uma enfer-meira, dois auxiliares de enferma-gem, um dentista e um auxiliar dedentista. As consultas médicas naaldeia ocorrem duas vezes por se-mana. No local, ainda trabalhamdois auxiliares de enfermagem, sen-do um índio e um não-índio.

O atendimento a gestantes in-clui pré-natal, acompanhamento derecém-nascidos de alto risco e ca-sos de desnutrição. O programaabrange imunizações, exames decâncer de colo do útero, tratamen-to dentário e exames de análises clí-nicas. Além disso, um carro fica àdisposição da aldeia quando o pa-ciente precisa fazer consultas no sis-tema da rede municipal.

Na aldeia, o maior problema desaúde são as doenças respiratórias(24%). Em seguida, vêm os malesparasitários e as gastrointestinais(22%). Os casos de desnutrição eanemia representam 15% dos pro-blemas. Embora em menor propor-ção, as doenças sexualmente

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transmissíveis e a tuberculose tam-bém estão presentes, além da altaocorrência de alcoolismo.

Apesar dos números negativos,o trabalho na comunidade Kaingangconseguiu triplicar a população.Quando o programa foi iniciado,em 1993, havia apenas 450 índi-os na aldeia. De lá para cá, apopulação saltou para 1.500 ín-dios, com média de 40 a 50 par-tos por ano.

O sucesso do programa se deve,inclusive, ao respeito às tradiçõesda aldeia. Para a antropólogaCibele Verani, existem dois tipos detratamento xamântico entre osKaingang: o “Kuiã” e o rezador.Kuiã é um pajé que recupera o es-pírito da pessoa doente, com práti-cas sobrenaturais. Já o rezador in-corpora um espírito que identificao remédio do mato para o pacien-te tomar. Também é o único capazde curar doenças atribuídas a feiti-ços, como as enfermidades maisgraves e doenças provocadas peloar e o vento.

Famosa pelo turismo e as usinasnucleares, Angra dos Reis tem po-pulação diversa, incluindo remanes-centes de quilombos e fazendas co-loniais. É também uma das cidadesescolhidas pelos índios Guarani parainstalar suas aldeias. E é lá que os500 moradores indígenas recebemtratamento médico, num modeloem que o pajé e o médico estão demãos dadas. O índio só costuma ira postos de saúde e hospitais noscasos mais graves.

Mesmo assim, a estrutura básicade atendimento existe na aldeia.Para os casos de internamentos emhospitais e tratamento odontológico,o sistema garante o acompanha-mento do paciente pelos familiares.O SUS também mantém um pro-grama de imunização e controle de

doenças na aldeia. Os casos maisfreqüentes são de doenças respira-tórias, parasitoses, doençasosteomusculares e hipertensão.

Coordenada pela psicóloga Ma-ria Betânia Chaves, a equipe deatendimento é composta de um mé-dico epidemiologista, um odon-tólogo, uma enfermeira e um auxi-liar de enfermagem concur-sados,que trabalham em tempo integral.Os cursos e a formação de pessoaldeu unicidade à equipe no modode ver e agir na atenção diferencia-da aos Guarani.

Para o secretário de Saúde deAngra dos Reis, Carlos Alberto Vas-concelos, entre as principaismelhorias geradas pelo programadestacam-se a criação de uma uni-dade de saúde na aldeia de Bracuhy,uma cobertura vacinal próxima a95%, a prevenção à saúde oral, oresgate da auto-estima da comuni-dade e a redução do alcoolismo. “AFUNASA, com a implantação dosDistritos Sanitários Indígenas, temsido uma parceira no processo ga-rantindo apoio técnico, logístico e

de recursos financeiros”, afirma.

A integração de índios e profis-sionais de saúde ajuda a melhoraro atendimento. Atualmente, porexemplo, existem estoques de san-gue guarani por iniciativa dos índios.Alguns deles não queriam transfu-são de sangue de não-índios paraos pacientes graves da aldeia.

Fato marcante também aconte-ceu após a morte de uma criançaguarani em um hospital da cidade.Por não ter certidão de nascimen-to, o corpo não podia ser transpor-tado para o enterro tradicional naaldeia. O problema foi resolvidodepois de negociações entre o mu-nicípio e a FUNAI. Por conta disso,hoje existe uma solução legal espe-cífica para esses casos.

A experiência com saúde indí-gena em Angra dos Reis surgiu em1991. Quatro anos depois, foi cria-da uma unidade de saúde na al-deia do Bracuhy, mas o salto maioraconteceu em 1999, com a forma-ção da equipe multidisciplinar e dodistrito sanitário.

Protagonistas: no novo modelo, os índios tem papel de destaque

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A espiritualidade é o grande eixo da cultura guarani. Para conhecer umpouco desse universo, apresentamos breves relatos de trêspersonalidades indígenas de Angra dos Reis, recolhidos pelaantropóloga Cibele Verani. O pajé Seu Tito fala dos espíritos na visãoguarani e do processo de aprendizado para ser um xamã. O professorAlgemiro mostra como repassar a tradição aos mais jovens. E o agentede saúde indígena Pedro Guarani retrata o cotidiano de seu ofício.Suas opiniões ajudam a refletir sobre o que pensam da existência, dadoença e da saúde.

trabalho de campo

Seu Tito – Para o pajé, há umarelação entre o nome de uma pes-soa e a doença da Terra. “Existe oespírito da cachoeira, o espírito daterra, da cobra, do vento... Essesespíritos podem não gostar do nomeda pessoa, que foi dado incorreta-mente, e interferir no espírito dela.Então a pessoa morre”, explica.

Segundo ele, na Terra há doisespíritos maiores: Nhe’en Vaikue (es-pírito mau) e Nhe’en Poran (espíri-to bom). “O espírito mau aparecesem cabeça, às vezes sem outraparte do corpo. Mais forte do que

os outros espíritos, como o da ca-choeira e do vento, o espírito maupode trabalhar junto com as demaisentidades. As doenças provocadaspor esse espírito só podem ser cura-das pelo pajé”, detalha.

Seu Tito afirma que, para ver adoença no corpo de uma pessoaGuarani é preciso falar com NhanderuEté (Deus). “A gente não vêNhanderu Eté; só sente seu poderespiritual. Deus dá sabedoria e poderde visão dos espíritos, das doenças,dentre outras coisas. A criancinha vêDeus porque ela não tem pecado”.

E como se aprende a ser umxamã? Seu Tito afirma ser necessá-rio muita dedicação. Não se podebeber, namorar outras mulheres,exceto a esposa, nem comer certosalimentos, pois enfraquecem o es-pírito. “Ele tem de se fortalecer coma reza Guarani, feita de dança emúsica tradicional no Opy (casa dereza). No rito da cura espiritual, opajé precisa de dois ou três ajudan-tes. A esposa do pajé costuma serajudante, menos quando estámenstruada, para não enfraquecero espírito”, ensina.

Tradição de pai para filhoTradição de pai para filho

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Nas aldeias do Xingu, a tradição é repassada

Professor Algemiro – Conhe-cido na sua aldeia como KaraíMirin Poty, o índio Algemiro ensi-na história e os segredos da me-dicina indígena às crianças da al-deia, na escola da comunidadeSapukai. Ele também participa doConselho de Saúde do 4.o DistritoSanitário de Angra dos Reis. Jun-to aos membros da aldeia, orga-niza oficinas sobre cultura guaranipara professores e alunos da redemunicipal e forma índios profes-sores. Para Algemiro, aespiritualidade é o grande eixo dacultura Guarani. “O nome das cri-anças é dado pelo pajé. É funda-mental para a saúde de umGuarani a escolha de seu nome esua participação nas danças e can-tos religiosos”.

Pedro Guarani – Embora co-nheça doenças e remédios “de bran-co”, o agente de saúde indígenaPedro Guarani, da aldeia de Paraty-Mirin (RJ), procura conhecer melhorsua tradição. “A oficina sobre plan-tas medicinais da FundaçãoOswaldo Cruz, que aconteceu re-centemente, permitiu aos mais ve-lhos ensinarem aos mais jovens. Eumesmo não conhecia muitas des-sas plantas porque meus pais haviamesquecido”, diz.

O cotidiano de Pedro envolvedesde atendimentos simples comomedir pressão até casos de tuber-culose e pneumonia. Ele tambémencaminha mulheres grávidas parapré-natal às unidades de referênciamunicipal e as acompanha ao hos-pital na hora do parto.

Sobre as dificuldades no seu ofí-cio, Pedro enumera: “é precisocontrato de trabalho, dinheiro paraal imentação, hospedagem etransporte na cidade quando vouacompanhar pacientes. Eu gosta-r ia ainda que alguém deAraponga, onde atendo, tambémfizesse o curso”.

Seja pela festa do Quarup que deuorigem a livro e filme com o mesmonome, pela riqueza musical, ou pelaação política de índios e não-índios,o Parque do Xingu tem trajetóriaexemplar e bem sucedida no campoda ação indigenista. Essa história co-meçou há pouco menos de quarentaanos, mais precisamente em 1961,com a criação da área pelo Governode Jânio Quadros. Hoje, ocupandoespaço nobre no noticiário nacional,o Parque ocupa posição de destaquedentre as atividades orquestradas pelaFUNASA em prol do índio brasileiro.

O Xingu, por exemplo, tem o seupróprio Distrito Sanitário. Na coorde-

A exclamação de “Um Sonho”, músicade Gilberto Gil, justifica porquê asaldeias do Xingu figuram entre as maiscomentadas do Brasil.

nação, dois médicos, DouglasRodrigues e Sofia Mendonça – quea partir do município de Canarana (MT),comandam ações em três áreas, ondefuncionam os pólos-base de Leonar-do, Pavurú e Diauarum. O trabalhoé realizado, conjuntamente, pelaFUNASA, FUNAI, Secretaria de Es-tado da Saúde de Mato Grosso (SES/MT) e Secretarias Municipais de Saú-de (SMSs). Parceria que ainda incluio Instituto Socioambiental e algumasprefeituras da região.

Em cada um dos pólos-base, hácaracterísticas e uma equipemultiprofissional próprias. São qua-tro médicos, seis enfermeiros, três

“Viva o índio do Xingu!”

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dentistas, 14 auxiliares de enferma-gem e 30 agentes de saúde indíge-na, que têm como missão propor-cionar o acesso e o atendimento emsaúde de milhares de índios, mora-dores das tribos da região.

Existem ainda 16 alunos do cursode auxiliar de enfermagem que atuamno Distrito Sanitário do Parque doXingu. Eles têm ampla experiênciacomo agentes de saúde e atuam nasáreas de intervenção aos agravos desaúde, vigilância epidemiológica epromoção da saúde.

O que se busca no Xingu é esti-mular a profissionalização dos agen-tes indígenas de saúde, capacitan-do-os como auxiliares de enferma-gem. A experiência, inédita no País,proporciona aos participantes doprocesso a ampliação dos conheci-mentos terapêuticos e dá treina-mento profissional aos índios.

De acordo com o médico Geral-do Grossi Júnior, os 16 alunos foramselecionados por critérios de expe-riência e representatividade comu-nitária. “Utilizamos uma pedagogiaproblematizadora, isto é, levandoem consideração a realidade do alu-no como base de construção denovos conceitos”, explica. A prepa-ração não é em nada facilitada pelofato de serem os alunos da própriacomunidade indígena. O curso temcarga horária de 1.440 horas, distri-buídas em sete etapas.

Trata-se de uma proposta que játem alguns anos e abrange cincopólos do Estado do Mato Grosso. Ocurso de auxiliar de enfermagem noXingu, que integra o Projeto Xamã,iniciado em 1997, tem recebido oapoio da Escola Técnica de Saúdeda Secretaria Estadual de Saúde.Em cada um dos outros pólos, cer-ca de 20 alunos enfrentam a mes-ma preparação numa iniciativa ou-sada de fazer do índio agente realde seu próprio bem-estar.

No trato com os problemas do dia-a-dia, o Distrito Sanitário do Xinguobedece à mesma rotina dos outros

DSEI espalhados pelo país. O primeiroatendimento se dá nas aldeias, comações de promoção da saúde e desaneamento. Quando não é possívelsolucionar o problema na própria al-deia, os doentes são encaminhadospara as Unidades de Saúde, localiza-das nos pólos-base. Se mesmo ali, ofim do suplício não chega, os pacien-tes continuam seu périplo por centrosde referência com maior capacitação.

No caso do Xingu, os serviços desaúde dos municípios de Canaranae Água Boa são a primeira referên-cia de atendimento fora do Parque.Em Canarana, foi montada umaCasa de Saúde do Índio para alojare acompanhar os doentes encami-nhados do Parque para atendimen-to na rede do SUS. A Casa compor-ta 24 pessoas entre doentes e acom-panhantes e funciona com plantãode enfermagem 24 horas e visitasmédicas diárias. Os doentes quenecessitam de serviços de maiorcomplexidade são encaminhados àBrasília ou São Paulo.

As infecções respiratórias agu-das (34,9%), doenças diarréicas(20,5%), malária (11%) e doenças

de pele (5%) são os problemas desaúde mais freqüentes, revelandoum quadro semelhante ao da po-pulação brasileira em geral. O mapaepidemiológico dos índios do Xingurepete o mesmo diagnóstico de gru-pos urbanos, onde doenças quepodem ser em sua maioria solucio-nadas com medidas simples, aca-bam por causar transtornos por fal-ta de acompanhamento.

No entanto, a médica Sofia Men-donça afirma que a mortalidade pordoenças transmissíveis evitáveis pelaatenção primária à saúde diminuiu,se comparada às causas de óbitosem anos anteriores. Mesmo com osnúmeros chamando a atenção, elagarante que a situação estaria piorse o modelo de atendimento não ti-vesse passado por uma pequena re-volução. “Outros agravos têm tidoum impacto maior na mortalidade,como os acidentes, neoplasias,síndromes congênitas e outras. Po-demos atribuir a melhor qualidadeda atenção à saúde daquela popu-lação ao trabalho das equipes locaisde saúde, principalmente dos agen-tes de saúde indígena”, avalia.

Índios aprendem as técnicas para de suas tribos

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De Roraima, vem uma lição

Paulo Daniel

Agentes de saúde das próprias aldeiase respeito às tradições são alguns dospontos que fazem a diferença no DSEIdo Leste de RR.Longe das sonolentas reuniõesem Brasília, as palestras de saúdeindígena em Rora ima têmprotocolos mais criativos. O pajéAuquino faz defumação e osYanomami cantam e dançam.Esses encontros ref letem odiálogo entre diversas culturas eos grandes resultados alcançadosno Distrito Sanitário Indígena doLeste de Roraima.

O núcleo atende aos povosMacuxi, Wapichana, Taurepang,Ingaricó, Patamona e Wai-Wai.São 23 mil pessoas, distribuídasem 204 comunidades e 29 ter-ritórios indígenas independen-tes. Subdividido em nove regi-ões e 25 pólos-base, o Distritoé composto de uma rede de320 agentes indígenas de saú-de, trabalhando em 141 postose 45 laboratórios.

O Distrito integra o Projeto deAtenção Básica à Saúde Indíge-na no Leste de Roraima, num con-vênio do Conselho Indígena deRoraima (CIR) e a FUNASA. Co-ordenado pelo médico PauloDaniel, o trabalho visa estruturarações de saúde junto às comuni-dades indígenas na área local. Oprojeto de saúde do CIR vem sedesenvolvendo desde 1995, ini-c ia lmente com o apoio daDiocese de Roraima e da ONGMédicos Sem Fronteiras e, pos-teriormente, com a Fundação.

Trabalhando com povos indí-genas da Amazônia desde 1990,Paulo Daniel afirma que a linha

de atuação inclui a formação deagentes indígenas de saúde emicroscopistas. “Atuamos naatenção primária à saúde nascomunidades. O foco está naimunização, controle de endemias,principalmente malária, tubercu-lose e calazar. Participamos demobilização comunitária, apoian-do o funcionamento de conselhoslocais e distrital de saúde, e in-centivando a medicina tradicio-nal”, enumera.

As plantas curativas são am-plamente utilizadas pelas comu-nidades de Roraima. Os agentesindígenas buscam uma coexistên-cia destas práticas terapêuticascom as oriundas da medicinamoderna. Junto aos postos de saú-de existem hortas medicinais. Háviveiros de mudas para repasseàs demais comunidades.

É muito freqüente nos postos apresença de pajés, rezadores e par-teiras, aliando seu conhecimentoao dos agentes de saúde no trata-mento das doenças. Vários agen-tes são, também, rezadores. Elesutilizam recitações tradicionais nalíngua indígena relacionadas a mi-tos que dizem respeito a doençasou problemas de saúde.

Paulo Daniel ressalta a impor-tância dos encontros realizados hávários anos em todas as regiões doDistrito Sanitário, a exemplo do IIEncontro Estadual de Medicina Tra-dicional Indígena, em setembro de1999, na Maloca da Malacacheta.“O primeiro evento em nível esta-dual foi em 1997, na Missão doSurumu. A idéia agora é manter suafreqüência todos os anos”, prevê.

Para o médico, a reorganizaçãoda assistência à saúde dos povosindígenas no Brasil, a partir das leisque instituíram os Distritos Sanitá-rios Especiais Indígenas, tem pro-porcionado avanços na atenção àsaúde das comunidades indígenasem Roraima, com melhorias nacapacitação e acompanhamentodos AIS e montagem de uma infra-estrutura indispensável para o de-sempenho de seu trabalho.

No leste de Roraima, mais de 20 mil pessoas são atendidas

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Alto Rio Negro faz escolaRegião do Amazonas tem um dosmelhores trabalhos de formação deagentes indígenas e capacitação delideranças em saúde.

Conselho de saúde: ponto alto de uma experiência que deu certo

O índio Ambrósio Arantes Vianafoi um aluno tão aplicado no cursopara agente indígena de saúde quese tornou grande líder. Ele, hoje, épresidente da Associação dos Agen-tes Indígenas de Saúde do Alto RioNegro (AAISARN), no Amazonas.Sua formação profissional foiconstruída nos treinamentos do Pro-grama de Agentes Comunitários deSaúde (PACS).

Também pudera. O programaem que Ambrósio estudou é consi-derado modelo no país na forma-ção dos chamados AIS. Um dospontos-chave do trabalho é a or-ganização dos conselhos locais desaúde para que o Distrito Sanitário

seja gerido pelos próprios índios.Atualmente existem 146 agentesindígenas em atividade no Alto RioNegro, situado no município de SãoGabriel da Cachoeira (AM). O pro-grama inclui aprimoramento nagestão de várias organizações,como a AAISARN e a Federaçãodas Organizações Indígenas do RioNegro (FOIRN).

Para o indígena Benjamin Cas-tro, da comunidade Açaí, a forma-ção de agentes de saúde do Ama-zonas é modelar por ter um proces-so de educação continuada dos pro-fissionais em serviço. “Evita-se a pe-dagogia convencional, em que oagente encerraria seu aprendizado

após cumprir determinado númerode horas-aula. O trabalho tem di-nâmica própria, articulada às prin-cipais demandas epidemiológicas eoperacionais da rede local de servi-ços e do movimento indígena nocampo da saúde”, afirma.

A formação desses grupos co-meçou nos anos 80, por meio doPrograma de Agentes Comunitári-os de Saúde (PACS). Nos anos se-guintes começaram os treinamen-tos realizados pelo convênio FOIRN/FUNASA. O projeto de capacitaçãode lideranças indígenas envolve aparticipação dos índios da região,FUNASA, FUNAI, a Prefeitura deSão Gabriel da Cachoeira, Secre-tarias Municipais e do Estado, Uni-versidade do Amazonas, entre ou-tras entidades.

O trabalho inclui o resgate dacura com plantas medicinais, reali-zado por meio do Projeto de Medi-cina Tradicional Baniwa e Curipaco,executado pela Universidade doAmazonas. O projeto mereceu oprêmio Gestão e Cidadania de 1999,concedido pela Fundação GetúlioVargas, segundo Luíza Garnelo, pro-fessora da universidade e coorde-nadora do projeto.

Nos encontros de agentes indí-genas, os índios mais velhos repas-sam informação sobre como identi-ficar plantas na floresta, quais suaspropriedades curativas e como pre-parar o medicamento. Há, inclusi-ve, o cultivo de hortas de plantasmedicinais. Parte desse conheci-mento encontra-se num manual dedoenças tradicionais baniwa.

Na região do Alto Rio Negro en-contram-se 24 grupos étnicos:Yanomami, Dessano, Tukano,Baniwa, Baré, Kuripako, MakuHupdo, Barasano, Miriti, Tapuia,Tuyuca, Maku Yuhúpde, BaráTukano, Coevana, Piratapuia,Tariano, Maku Nadeb, Camã,Warekana, Kubeo, Wanano,Siriano, Maku Kana, Arapaço.

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O que é o Distrito Sanitário Indígena?Antes, é importante lembrar que a saúdeestava na responsabilidade da FUNAI hámuito tempo. Durante esse tempo não sa-tisfez a população indígena. Na época doGoverno Collor houve a transferência des-sa responsabilidade para a FNS (FundaçãoNacional de Saúde), que atualmente cha-ma-se FUNASA, e isso criou problemas. Ouseja, disputa entre a FUNAI e a FNS. Apendenga deixou a saúde curativa com aFUNAI e a saúde preventiva com a FNS.Novamente, isso não deu certo. Duranteessa época, e por vários anos, os indígenasvinham fazendo suas reivindicações de saú-de, procurando a forma mais adequadapara a atenção de sua própria população.Há dez anos, o modelo do Distrito Sanitárionascia como reivindicação dos povos indí-genas. Neste momento, algumas pessoasdevem estar se perguntando – o que, en-tão, a FUNAI está fazendo agora? Eviden-temente que a FUNAI continua trabalhan-do hoje. Menos na área de saúde. A FUNAIcontinua trabalhando na área de educa-ção (ajudando alunos indígenas a se forma-rem nas escolas); na proteção e fiscalização(é um trabalho importante porque não dei-xa invasores entrarem nas áreas indígenasdemarcadas e não demarcadas) e no de-senvolvimento comunitário, que é a cria-ção, agricultura e outros tipos de atividadesque interessam às comunidades. Tudo issoé importante entender para podermoscompreender o que é o Distrito SanitárioEspecial Indígena.

Trata-se de um assunto novo. Portan-to, é necessário entender o significado decada palavra: distrito significa uma áreadeterminada. Para melhor entendermos,vamos utilizar como exemplo o próprio li-mite de pescaria de uma comunidade paraoutra; o limite de um município para ou-tro; o limite de um estado para outro; olimite internacional de um país para outro.

O distrito sanitário indígenae o controle socialAndré Fernando Baniwa*

É a mesma coisa. Só que quem define aárea é a própria presença dos povos indí-genas. Sanitário significa saúde, livre dedoença, ou ainda pode significar estar pron-to para enfrentar problemas de saúde etrabalhar para preveni-la. Especial signifi-ca específico dos indígenas. Indígenas por-que trata-se de moradores próprios do lu-gar, em diferentes partes do Brasil. Agorapodemos entender o Distrito Sanitário Es-pecial Indígena: uma área determinadaque trata da saúde específica da popula-ção indígena.

É muito importante esclarecercomo e porque dessa política indigenistado atual governo do Brasil. O Governobrasileiro, hoje, tem uma política deterceirizar a saúde indígena. Ou seja,deixar esse trabalho para ser feito pe-las entidades que não são governamen-tais. Por que? Porque no Brasil inteirotem muitos “espertinhos”. O Governosempre repassou dinheiro para saúdeindígena. Só que passava para chama-da regional de saúde e somente depoispara o local. O problema é que na re-gional sumiam recursos destinados àpopulação indígena. Com isso, o pessoalque finalmente ia fazer atendimentose vacinação na área indígena, nuncadispunha de recursos necessários paraatender a demanda de cada povo ouregião. Então, a política de terceirizara saúde indígena é interessante, por-que o dinheiro não passa mais pela re-gional. É depositado direto na contade quem vai trabalhar para a área in-dígena. Portanto, mesmo que o Distri-to não tenha saído exatamente comoreivindicado, é um passo muito impor-tante para os indígenas. É preciso con-tinuar lutando para que cada vez maispossamos melhorar a saúde.

No caso do Distrito Sanitário do Alto RioNegro, a Federação das Organizações Indí-

genas do Rio Negro (FOIRN) tem um papelmuito importante nessa história. No caso, comrelação ao chamado controle social. Dentrodessa proposta, estão sendo organizados seteConselhos Locais de Saúde para fazer plane-jamento de atividades junto com cada insti-tuição responsável e prestação de contas dosgastos de recursos. Cada um dos conselhoslocais de saúde escolhe um titular e um su-plente para se fazer representar no Conse-lho Distrital. A FOIRN também mobiliza repre-sentações indígenas regionais para participa-rem das reuniões dos Conselhos Municipaisde Saúde. Além do trabalho de controlesocial, a Federação é responsável pela com-pra de motores, equipamentos deradiotransmissão, construção de pólos-base,pagamento de agentes de saúde, distribui-ção de medicamentos e combustível desetorização. Por isso, a FOIRN montou umdepartamento de saúde onde trabalhamquatro coordenadores e dois técnicos.

Este trabalho de organização da saú-de indígena começou em janeiro. Por en-quanto, já se percebe o clima de cobran-ça. Tem pessoas que argumentam queainda não foi feito praticamente nada.Esta cobrança é muito importante, mas éimatura se compararmos com os dez anosque reivindicamos a implantação do Distri-to. É impossível, em poucos meses, realizaros milagres esperados. O trabalho respon-sável deve ser levado adiante de acordocom a realidade de cada localidade. O im-portante é que as prioridades estão sendodiscutidas em cada conselho local de saú-de, os profissionais sendo contratados etreinados e já iniciando sua ação em cam-po. Quer dizer, está acontecendo de acor-do com o planejamento inicial.

* Liderança da Organização Indígena daBacia do Içana, Coordenador Regional doDepartamento de Saúde da Federação dasOrganizações Indígenas do Rio Negro ePresidente do Conselho Municipal de Saúde

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Manaus: a luta por apoio

No Amazonas, a saúde de mais de 10 mil índios brasileiros depende dodesempenho do Distrito Sanitário Especial Indígena de Manaus. Mesmoenfrentando problemas, principalmente a resistência de algunsgestores, a experiência se consolida como um modelo de atendimentoque tem dado bons resultados.

Abrangendo 14 municípios, oDSEI/Manaus busca consolidar ummodelo diferenciado de atendimen-to de saúde dos povos indígenas. ODSEI/Manaus (Distrito Sanitário Es-pecial Indígena de Manaus), apósum período de quase um ano con-centrando esforços no estabeleci-mento da infra-estrutura necessáriaao funcionamento dos pólos-base,organização dos conselhos locais ede um intenso trabalho das equipes,diagnosticando e mapeando as do-enças, prepara-se para iniciar umasegunda fase.

A partir dela, o trabalho dasequipes de profissionais de saúdevai contar com o apoio de estudosda fitoterapia e de antropologia,para consolidar um modelo dife-

renciado de atendimento de saúdedos povos indígenas.

O DSEI/Manaus está localizadono Estado do Amazonas, na regiãodo entorno da capital amazonense,e é constituído de 14 municípios(Manaus, Manacapuru, Anamã,Beruri, Novo Airão, Itacoatiara,Autazes, Castanho, Careiro da Vár-zea, Nova Olinda do Norte, Borba eManicoré). A população assistidatotaliza 10.802 pessoas, pertencen-tes aos povos Ticuna, Mura,Munduruku, Apurinã, Baré, Saterê-Mawé, Parintintin, Cambeba eMura-Pirahã. A execução das açõesdesenvolvidas no âmbito do DSEI/Manaus está a cargo da Coordena-ção das Organizações Indígenas(COIAB) das Amazônia Brasileira,

por meio de convênio com a FUNASA.

Todavia, apesar da infra-estruturanecessária quase consolidada, ogerente técnico do DSEI/Manaus,Esron Soares Carvalho Rocha, ex-plica que o serviço de atendimentoenfrenta dificuldades resultantes dafalta de compreensão das secreta-rias municipais de saúde, co-respon-sáveis pelas ações do Sistema Úni-co de Saúde (SUS). Os problemasaparecem no momento de comprara idéia da política que criou os DSEIcomo parte do próprio SUS. “Elesacham que é um sistema paralelo”,ressalta Rocha.

De acordo com ele, “esses pro-blemas são conseqüência da lenti-dão da implantação do SUS noAmazonas, o que dificulta o enten-

Manaus: a luta por apoiotrabalho de campo

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dimento da distritalização da saúdeindígena em sintonia com amunicipalização da saúde”. O geren-te do DSEI aponta ainda a falta deprofissionalismo de pessoas que ocu-pam postos-chave no âmbito muni-cipal, o que resulta na falta de orga-nização dos serviços municipais. Umexemplo seria a falta de serviço deultra-som no município de Manicoré(AM), distante 330 quilômetros deManaus. “Essa situação encarece opróprio serviço prestado pelo DSEI/Manaus, porque o deslocamento deuma paciente gestante de Manicoréaté a capital do Estado chega a cus-tar R$ 360,00”, informa.

No entanto, as atividades desen-volvidas pelo DSEI/Manaus já reper-cutem além das terras indígenas. Umfato inesperado vem ocorrendo nopólo-base do Maquira, situado no rioUrubu, município de Itacoatiara (AM),onde comunidades não-indígenasestão reivindicando que também se-jam contempladas com serviços doDSEI/Manaus. “Isso ocorre porque oatendimento prestado pelas prefeitu-ras é muito precário”, explica RaliclyAlmeida de Carvalho, representan-te indígena no Conselho Distrital.

No pólo-base de Nossa Senhorada Saúde, no município de NovoAirão (AM), onde quatro comuni-dades indígenas são atendidas, ainfra-estrutura está consolidada,conforme explica Waldemir da Sil-va, representante indígena no Con-selho Distrital. Silva ressalta que fal-ta interesse do governo municipalde participar como parceiro. “Exis-tindo uma parceria com a prefeitu-ra teremos chance de agilizar oatendimento”, afirma Silva.

Contudo, apesar da parceria comos municípios ser considerada umaestratégia necessária para que o DSEI/Manaus possa se consolidar comomodelo de atendimento, o gerentetécnico lembra que a falta de maisenvolvimento dos gestores locais doSUS já era esperado e que a estraté-gia “é manter esforços contínuos dearticulação com as prefeituras”.

Nesses encontros, foram discu-tidos mecanismos de participaçãocontínua de seus membros nas de-cisões que envolvem o atendimen-to, superação de obstáculos, entreoutros temas.

Em fevereiro de 2000 foi reali-zado um curso para os representan-tes indígenas no Conselho Distrital,contemplando análise de aspectostécnicos e políticos que envolvemas atividades desenvolvidas peloDSEI/Manaus. Nos pólos-base fo-ram realizadas 14 reuniões dos con-selhos locais, até setembro.

Dificuldades e críticas contráriasaos DSEIs não reduzem o otimismode quem vestiu a camisa do proje-to. Eles esperam ver a consolidaçãoda política pública de atendimentoaos povos indígenas, com dotaçãoorçamentária própria. “Nós lutamosdurante cerca de 14 anos para quea proposta dos DSEI se transformas-se em realidade, ouvimos críticas,mas, apesar das dificuldades,

estamos convencidos que o mode-lo tem tudo para ser um sucesso”,destaca Benjamin Castro, coordena-dor-tesoureiro da Coordenação dasOrganizações Indígenas da Amazô-nia Brasileira (COIAB).

O coordenador-geral da COIAB,Euclides Pereira, lembra que aindaexiste resistências, principalmentequando a entidade executora éuma organização indígena. Mesmoassim, ele está convicto de que osDSEIs vêm demonstrando que épossível os povos indígenas, pormeio de suas organizações e comapoio de aliados, gerenciar açõesvoltadas para melhoria das condi-ções de vida das comunidades. “Osproblemas até o momento já eramesperados e estão sendo contorna-dos com a prática, porque é umaexperiência nova, mas nós estamosconfiantes e esperamos que sejaconsiderado como política pública,inclusive com recursos previstos emlei”, assinala.

Os dez primeiros meses deatividades desenvolvidas peloDSEI/Manaus, além da implan-tação dos pólos-bases, forammarcados pelo intenso trabalho deatendimento. Um dos gargalos,que exigiu maior atenção eesforço, foi o trabalho de consultasambulatoriais. A dificuldadeaconteceu porque as comunidadespassaram muito tempo semreceber assistência. “As equipestrabalharam como se fosse umacampanha”, explica a enfermeiraRosilene Martins.

Na segunda fase dos trabalhos,está prevista a implementação de

um programa de crescimentoracional, que vai possibilitar omonitoramento da situaçãonutricional das crianças nas faixaetária de zero a cinco anos,serviços regulares de exame docolo uterino e pré-natal.

De acordo com a coordenaçãodos DSEI, eles serão ampliadosconforme o perfil definido naprimeira fase. O principal desafio,porém, é assegurar que o DSEI/Manaus refl ita um modelodiferenciado, capaz de equilibrarconhecimentos tradicionaisindígenas e a medicina moderna.

Saúde com voz indígenaO Conselho Distrital, constituído por 22representantes, sendo 11 indígenas,promoveu apenas três reuniões.

Trabalho para recuperar tempo perdido

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Na busca pelo conhecimento,pesquisadores e estudiosos menosavisados podem colocar em risco aidoneidade de indivíduos e gruposinteiros, na avaliação da ComissãoNacional de Ética em Pesquisa(CONEP) – que faz parte do Conse-lho Nacional de Saúde (CNS).

A saída para evitar um desastrefoi investir na formulação de normasque delimitem o espaço da investi-gação científica neste campo. Oresultado já tem nome e número.A Resolução 304 foi aprovada pelo

plenário do CNS, em agosto de 2000,e já foi encaminhada ao Ministro daSaúde, José Serra, para homologa-ção. O texto, desenvolvido pelaCONEP conjuntamente com a Comis-são Intersetorial de Saúde Indígena,tem como meta afirmar o respeito aosdireitos dos povos indígenas no quese refere ao desenvolvimento teóricoe prático de pesquisas em seres hu-manos que envolvam a vida, os terri-tórios, as culturas e os recursos natu-rais dessas comunidades.

O trabalho tomou como base a

Resolução 196/96, que contém asdiretrizes e normas que regulamen-tam as pesquisas envolvendo sereshumanos. Na argumentação daResolução 304, os técnicos e inte-grantes do grupo que a prepararamafirmam que “os benefícios e van-tagens resultantes do desenvolvi-mento de pesquisas, devem aten-der às necessidades de indivíduosou grupos alvos do estudo. Isso, le-vando em consideração a promo-ção e a manutenção do bem-estar,a conservação e proteção da diversi-dade biológica, cultural, saúde indivi-dual e coletiva. Além disso, deve sergarantida a contribuição ao desenvol-vimento e tecnologia próprias”. Emoutras palavras, os direitos e a ido-neidade dos povos indígenas devemser protegidas a qualquer custo.

A CONEP e a rede de Comitêsde Ética em Pesquisa das institui-ções assumem, com a medida, aposição de guardiãs dessas comu-nidades. Todas as propostas de pes-quisa envolvendo esses grupos pas-sam a depender do aval dessas ins-tâncias. Sem esse selo, os trabalhospodem ser suspensos e, até mes-mo, proibidos.

A Resolução 304 funciona comoum leque de defesa dos povos indí-genas. As preocupações são mui-tas. A principal é a regra que exigeque os pesquisadores respeitem oscostumes, atitudes estéticas, cren-ças religiosas e organização socialdos grupos ou indíviduos que sejamalvos de estudos. A preocupaçãofica explícita no texto, que proíbe aexploração física, mental, intelectuale social dos povos indígenas, alémde não admitir situações que colo-quem em risco a integridade e obem-estar deles.

De acordo com a Resolução 304,o desrespeito a qualquer um desses

Vítimas de uma série de equívocos, os índiosbrasileiros, principalmente nos últimos tempos,ficaram a mercê de uma nova ameaça: osabusos de cientistas. O problema surgiu com oincremento das pesquisas envolvendo ospovos de origem pré-colombiana.

Índios ganham proteção da Éticaética e ciência

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pontos deverá ser imediatamentecomunicado a estas instâncias paraque sejam tomadas as providênciascabíveis. A determinação deixa bemclaro a importância delas como ins-trumentos para garantir a idoneida-de e a segurança dos voluntários, ou,como são chamados pelos pesquisa-dores, sujeitos das pesquisas.

Outro aspecto que também de-verá ser levado em conta pelos pes-quisadores é o fato de que a partir davigência da Resolução 304 as comu-nidades devem concordar formalmen-te com a realização do trabalho. To-das as pesquisas na área da saúdeterão de ser informadas aos conse-lhos de saúde, ligados aos DistritosSanitários Especiais Indígenas. Comisso, se impede que os experimentos“roubem” informações que podemser usadas sem o controle devido.

A Resolução ainda recomendaque, de modo preferencial, não se-

jam realizadas pesquisas com índiosisolados. Em casos especiais, essasiniciativas devem apresentar justifi-cativas detalhadas. Pagamentos,trocas ou quaisquer outras formasde transação também foram objetoda norma. São recursos proibidoscomo estímulo ou facilidade na re-alização de pesquisas nas comuni-dades. O mercantilismo, ou a pres-são de grupos econômicos, passa aser barrada por instrumento legal.

O nível de detalhamento da re-solução 304 vai ao ponto de consi-derar inaceitável o patenteamentode produtos químicos ou material bi-ológico de qualquer natureza obti-do a partir de pesquisas com povosindígenas. “A formação de bancosde DNA, de linhagens de células oude quaisquer outros materiais de ori-gem humana e não-humana não éadmitida sem a expressa autoriza-ção das comunidades envolvidas e

a apresentação detalhada da pro-posta no protocolo de pesquisa, aser submetida ao CEP e à CONEP”,enumera o relatório anexo à argu-mentação de defesa da Resolução,encaminhada ao Conselho Nacio-nal de Saúde.

Se, em algum momento, essas re-gras forem descumpridas, a pesquisapoderá ser suspensa, de acordo com anorma. A partir da Resolução 196/96,a própria comunidade pode fazer essasolicitação se considerar que houveabuso ou usurpação de direitos, geran-do conflitos ou mal-estar. Com essa ga-rantia, a proteção dos direitos das co-munidades indígenas no campo cientí-fico deixa de vez o campo teórico paraingressar no universo das medidas con-cretas, com a fixação dos limites e daspunições àqueles que nem sempre re-conhecem nos povos das florestas se-res que merecem respeito.

• As pesquisas envolvendo povos indíge-nas devem obedecer também aos referenciaisda bioética;

• Os benefícios e vantagens das pesqui-sas devem levar em consideração a promo-ção e manutenção do bem-estar , a conser-vação e proteção da diversidade biológica,cultural, a saúde pessoal e coletiva de indiví-duos e povos pesquisados;

• Qualquer pesquisa deve respeitar a visãode mundo, os costumes, atitudes estéticas, cren-ças religiosas, organização social, filosofias pe-culiares, diferenças lingüísticas e estrutura polí-tica dos indígenas;

• Não se admite exploração física, mental,psicológica ou intelectual e social dos indígenas;

• Não se admitem pagamentos, trocas ouquaisquer outras formas de transação para faci-litar a realização de pesquisas;

• A realização das pesquisas depende daconcordância com os indivíduos e comunida-des pesquisadas;

• Recomenda-se a não realização de pesqui-sas em índios isolados;

• Será eticamente inaceitável o patente-amento de produtos químicos e material bio-lógico obtidos a partir de pesquisas com po-vos indígenas;

• A não observância a qualquer um dos itensacima deverá ser comunicada ao CEP institucionale à CONEP do Conselho Nacional de Saúde, paraas providências cabíveis.

Principais pontos da Resolução 304/00

Reunião do CNS

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Flechas contra os biopiratasética e ciência

Grupo de 25 pajés entrega carta ao presidenteFernando Henrique Cardoso, no Palácio doPlanalto. Eles reivindicam o combate a biopiratariae uma lei que preserve a medicina indígena.

“Presidente. Pedimos que o se-nhor fale com o Ministro da Justiçapara acabar com esse troca-troca depresidente da FUNAI e nomeie umíndio para defender nossos direitos. Epedimos que o senhor mande queseja feita uma lei para proteger nos-sos conhecimentos milenares, queaprendemos com nossos avós, paraque não haja roubos de nossas ciên-cias e de nossos remédios e plantas”.

Os pedidos acima constam na“Carta da Sabedoria Indígena” (leiana página ao lado), como resultadodo encontro que reuniu 25 pajés emBrasília, em maio de 2000, na Uni-versidade de Brasília (UnB). O eventointegra a série de mobilizações desteano, a exemplo da Conferência Indí-gena, realizada em abril, em CoroaVermelha (BA), e da reunião de 300líderes em Pesqueira, no interiorpernambucano, que aconteceu em

maio. Além da forte preocupaçãocom a biopirataria, os líderes receiama ameaça de projetos que alterem otexto do Código Florestal, reduzindoa área de proteção da floresta ama-zônica. “O pajé pode morrer e levaruma sabedoria acumulada durante sé-culos. Ao mesmo tempo, não temossegurança de repassar conhecimen-tos de como manipular plantas ali-mentares e medicinais”, exemplificaMarcos Terena, um dos coordena-dores do encontro e representanteda FUNAI.

Terena informa que a ONU con-vidou quatro pajés brasileiros para par-ticipar de uma conferência sobre pazmundial. “A ONU já debate regrasde propriedade intelectual e de pro-teção ao conhecimento. É precisofazer isso no Brasil, por meio do Esta-tuto do Índio e de regras que falamde propriedade intelectual”, sugere.

O encontro reuniu também re-presentantes da FUNAI, FUNASA evários professores de universidadesbrasileiras. Os pajés presentes emBrasília representam 20 povos:Tukano, Terena, Gavião, Pareci,Kaiwá, Guarani, Kaingangue,Tupari, Xavante, Bororo, Kadiwéu,Krenak, Xacriabá, Maxakali,Apurinã, Umutina, Kuikuro, Bakairi,Karajá e Pataxó.

A pajé Amipé, do Mato Grossodo Sul, afirma que na sua aldeia hápromessas, por parte da FUNASA,de melhorar a atenção básica aosmoradores da tribo, mas afirma que,até o momento, as mudanças per-cebidas pelos nativos foram muitopequenas. “O melhor é o carro paraatender os índios, principalmente nospartos. Quando tem índio doente, agente telefona. O carro chega”, diz.

Para Amipé, o atendimento pro-priamente dito ainda não existe. “AFUNASA fala que existe médico,dentista, para atender o índio. Masna minha aldeia não tem. No postonão tem remédio. Preciso usar mi-nhas plantinhas”, afirma, recusando-se a detalhar seus conhecimentos.

A pajé também receia abiopirataria. O uso indiscriminadode matérias-primas das regiões defloresta, como a Amazônia, se tor-nou um risco à segurança, culturae qualidade de vida e saúde dosmoradores. “A ameaça é grande.Outro dia na minha aldeia, umpajé foi esperto. Ele recebeu umpesquisador americano e ensinoutudo errado, trocando de propósi-to o nome das plantas e a formade usá-las”, ironizou.

De acordo com ela, nessa batalhacontra a pressão de megaindústriase homens nem um pouco preocu-pados com a preservação do meioambiente e com a manutenção deuma cultura, como a indígena, temque se usar astúcia para que o piorseja evitado.

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O Brasil é a terra dos nossosantepassados. A natureza é a morada doGrande Espírito que protege todos ospovos da Terra. (...) Cada dia precisamosfortalecer o nosso espírito como parte doequilíbrio da vida, da terra e da natureza.Por isso, é preciso demarcar nossas terras.

Chegamos numa época que o homembranco denomina de novo século ou milênio.Todos falam que querem construir ummundo melhor, cheio de esperança. O nossoBrasil fala dos 500 anos de existência. Éimportante que um povo reconheça suasraízes. É preciso conhecer a identidade quedeu origem às nossas diferentes maneirasde vida e cultura, o branco, o negro e nós.Nosso povo foi roubado e morto, mas nossacabeça não esquece nosso valor. A históriaprecisa reproduzir tudo isso, para não virarsuperstição ou crendice. Os que matarammais de cinco milhões de vidas indígenas,culturas e conhecimentos precisamencontrar a paz, pois seguem com a loucurade matar as florestas e seus próprios irmãoscom guerras, a religião e a fome. Tudo issodeixa nossos corações muito tristes.

Para nós, os pajés e líderes espirituaisdos povos indígenas, cinco séculos ou TerceiroMilênio não faz nenhum sentido, pois osensinamentos de nossos antepassados, vêmde muito mais longe no tempo. Nossasabedoria foi transmitida tradicionalmentede geração a geração, para manter viva acultura, os conhecimentos medicinais, osalimentos e a visão do espírito da terra e doshomens, que fazem parte da nossa formade ver, pensar e sentir o mundo e a nósmesmos. Uma grande parte de todos essesconhecimentos já desapareceu para sempre,junto com centenas de povos irmãos, inclusiveda cultura negra, mortos pela ambição eignorância do homem branco.

(...) Quando olhamos o mundo dohomem branco, percebemos que muitoscontinuam destruindo o que a naturezacriou por milhares de anos, pois acreditamque vão se beneficiar com os lucrosimediatos. Nossas terras, que são os últimoslugares sagrados das águas, dabiodiversidade e dos animais, tornam-sefonte dessa grande ambição. O GovernoFederal tem uma grande responsabilidadecom o nosso futuro e o futuro das novasgerações, por isso deve demarcar nossasterras, proteger as águas e preservar osvestígios arqueológicos. (...) Entre nós, ospajés, temos a percepção de que é anatureza quem torna a vida possível, sendomuito importante respeitá-la e protegê-lacomo fonte sagrada da vida.

O Encontro de Pajés foi a maneira queencontramos para reunir a sabedoria da

terra e dos nossos espíritos, pois é precisoque cada homem branco aprenda a ouvira nossa voz. Chamamos a atenção detodos, de que é preciso criar leis paraproteger nossa sabedoria e osconhecimentos tradicionais contra a bio-pirataria, o roubo das plantas, do nossosangue, das madeiras e dos minerais. (...)Tudo o que o Brasil possui foi protegidopelos povos indígenas, como a Amazônia,o Pantanal, o cerrado e as matas doAtlântico. Precisamos proteger tudo issocontra as iniciativas ambiciosas edestrutivas que visam apenas o lucro,roubando não só aos povos indígenas,como também, todo o povo brasileiro.

Não se pode medir a riqueza da vida,destruindo a fonte da vida. O governo doBrasil deve criar regras para nos protegerdaqueles que justificam suas loucuras emnome do desenvolvimento e do progresso.O homem branco deve parar com sualoucura e a destruição. Aos homens brancos,destruidores da terra e do espírito da terra edos homens, fazemos apenas uma pergunta.Que lucros terão as futuras gerações? A faltade ar puro, a falta de água e a proliferaçãode novas e incuráveis doenças?

Diante de tudo isso, os Pajés assinamcom suas mãos esse documento afirmandoseu compromisso com a vida, mas é precisoum compromisso do Governo Federal. Ocompromisso de nunca abandonar os povosindígenas em nome do desenvolvimentoerrado que tem causado mais pobreza doque riqueza aos brasileiros. (...) O governodo Brasil deve fortalecer sua relação comos povos indígenas, criando uma FUNAIforte e capaz de proteger as questõesindígenas. Nós, os pajés, estamos rezandotodos os dias e o grande espírito quebraráa força do inimigo, fazendo com quetenhamos terras e vida para todos osbrasileiros, preservando o meio ambientee a força espiritual.

(...) A terra representa o equilíbrio davida, da cultura, das línguas, costumes e doespírito que começa com o choro da vida etermina com o choro da morte. Masalertamos que nada disso terá valor se opróprio homem branco não despertar seuespírito de ser humano e domar suatecnologia para o verdadeiro sentido da vida,por isso, estamos aqui, para falar, cantardançar e rezar o Grande Espírito da Criação.

Sabemos que existe o CongressoNacional, um lugar onde muitos homensforam escolhidos pelos homens brancospara representar o povo. Não temosnenhum índio neste congresso, mas serálá no meio daqueles que falam bonito, quetransformaram as palavras em meias

verdades, onde será lido, analisado eaprovado o novo Estatuto do Índio. Épreciso que os deputados e senadorestenham a compreensão de que umcompromisso com a verdade indígena éum compromisso com a raiz do Brasil e umpacto para um futuro melhor, poisentendemos que isso significa protegernossos direitos à valorização cultural e odireito de crescer econômica e socialmente,sem deixarmos de ser povos indígenas.

Queremos que essa Carta daSabedoria Indígena feita pelos Pajés sejaentregue e lida pelo Presidente FernandoHenrique Cardoso e pelo Senador AntônioCarlos Magalhães. Estes são os dirigentesdo Brasil, mas que atravessam uma pontemuito frágil, pois construíram esta ponteem cima dos homens falsos e de falsasverdades, e não com o povo do Brasil.

(...) A sociedade brasileira deve aprendera escolher melhor seus representantes nocongresso e no governo, como fazemosquando escolhemos nossos líderes onde ocompromisso é com nossas aldeias, nossasfamílias e nossas comunidades. Um maudirigente significa prejuízo para o povo epara a terra. Rezamos ao Grande Espírito,pois o Brasil de nossos antepassados merecegrandes Chefes.

Como Pajés e líderes espirituaisavisamos a todos que nunca fomos pobrese não queremos ser miseráveis. Somos araiz do Brasil e da Humanidade. Queremosque seja reconhecida não só peloCongresso Nacional e pelo governo doBrasil, mas também pelo mundo científico,a sabedoria indígena, a medicina semefeitos colaterais ou os sagrados alimentosnutritivos, assim como a força espiritual quenão possui religião ou igrejas. (...)

Esperamos, por fim, que o CongressoNacional e o Governo Federal cumpram oseu dever para com os povos indígenas. Épreciso reconhecer que existe uma grandedívida social diante de todas as perdas quetivemos ao longo desses 500 anos do Brasil.(...) Queremos dignidade e honestidadenessa relação.

(...) Agora, voltaremos para nossasaldeias e lá seguiremos como Pajés,cantando ao grande Criador, tocandonossos chocalhos e falando, pois enquantohouver nossa canção e o sorriso das nossascrianças, índios e brancos, haverá aesperança do mundo melhor.

Campus da Universidade de Brasília, 17 demaio de 2000

Carta da sabedoria indígena

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Alguns exemplos do Manual

DISENTERIA. Olho de goiabeira + olho decajueiro

Colocar três mudas novas de cada planta num litrode água. Ferver, retirar do fogo e pôr uma pitadade cinza.

Modo de usar:

Adultos – tomar um copo 3 vezes ao dia; criança –tomar meio copo 3 vezes ao dia; menores de 1 ano– tomar meio copo, dando de colheradas duranteo dia.

. Leite de bananeiraAdultos – pegar uma colher de leite do pé da ba-naneira para um copo de água fria; crianças –pegar meia colher de leite do pé da bananeira parameio copo de água fria.

Modo de usar :

Ir tomando aos poucos durante o dia.

. Erva relógioFerver nove folhas da erva relógio em um litro deágua.

Modo de usar:

Adultos – tomar o litro durante o dia; criança –tomar metade da dose durante o dia.

MENSTRUAÇÃO IRREGULARColocar quatro vagens de jucá e quatro limões intei-ro em um litro de água fria. Beber meio copo duran-te o dia, quatro dias antes da menstruação.

MANEIRAS DE EVITAR GRAVIDEZ

. Folha de abacateSecar a folha de abacate uma semana após o par-to. Começar a tomar todas as noites, um copo médio,por um ano.

. Pião brancoPegar 3 caroços de pião branco, retirar a casquinhae torrar no fogo; fazer o chá em um litro de água etomar durante a menstruação, em jejum. Um litroa cada menstruação.

. Amor crescidoFerver um punhado de amor crescido num litro deágua. Tomar uma xícara duas vezes ao dia (pelamanhã e à noite, por seis meses).

. CaimbéPegar raiz de caimbé velho, cortar uns 20 pal-mos, fazer a limpeza e raspar só em um sentido.Colocar em um litro de água e tomar durante amenstruação.

Remédio 100% naturalNas comunidades do Leste de Roraima, existe ummanual com receitas da medicina tradicional indígena,que junta receitas coletadas nos encontros e cursosrealizados nos últimos anos por índios e não-índios. O livro foidistribuído para todas as comunidades, sendo muito utilizadopor agentes de saúde e curadores tradicionais. Sua circulação,no entanto, é restrita às comunidades indígenas por decisãode suas lideranças. As receitas respeitam os mitos e a culturaindígena. De acordo com os organizadores, a doença deve ser encaradanão só como mal físico, mas também espiritual.

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Sob o manto árido das teses aca-dêmicas, estão brotando inúmerassoluções no campo da saúde indí-gena. São experiências – hoje iso-ladas – que podem ser transforma-das em ações eficazes para todo oBrasil, nos próximos anos.

Além de escrever monografias,esses pesquisadores capacitamagentes de saúde indígena e pro-movem palestras. Alguns trabalhosda área foram debatidos na Reuniãodas Instituições de Ensino, Pesquisae Extensão, realizada no InstitutoIsrael Pinheiro, em Brasília, entre 30e 31 de março de 2000.

Ao sugerir que os representantesdas universidades discutissem o quepodem fazer pelo processo de implan-tação do novo sistema de saúde indí-gena, a FUNASA assinalou o interesse

Representantes de universidades, índios, ONG eentidades governamentais discutiram saúde indígena,em Brasília. Médicos e antropólogos estão unidos emtrabalhos que pretendem ampliar a cidadaniaindígena e divulgar conhecimentos milenares.

em fortalecer uma relação institucionalcom as universidades e não só com pes-soas ou grupos a elas vinculadas.

A FUNASA considerou tambéma importância de ampliar o ensino àdistância com o uso sistemático dorádio. Para a FUNASA, é uma op-ção relativamente barata, a partir domomento que cada aldeia venha terum aparelho.

No encontro, a troca de experi-ências mostrou a riqueza das pesqui-sas realizadas nas quais os povos in-dígenas são protagonistas. A profes-sora Esther Langdon, da Universida-de Federal de Santa Catarina, abriuo bloco de debates com seu trabalhona área de xamantismo. Abordandoetnobotânica, dinâmica religiosa epolíticas de saúde entre os Kaingang,Esther fez uma síntese de seus 15 anos

de estudo sobre o tema. Sua falaabrangeu a cura e o poder dosYawanawá, etnologia do sistema desaúde no Alto Juruá, doenças e curasentre os Yanomami, cosmologia dosKanamari, além do extermínio e so-brevivência entre os Xetá.

O médico Roberto Baruzzi, fa-moso pelo trabalho realizado naEscola Paulista de Medicina,enfocou a formação de profissionaisde saúde com prática em residên-cia médica entre os índios. Baruzzidestaca-se nos trabalhos sobre ma-lária, avaliação nutricional, dietasalimentares e diversas patologias,como micoses, hepatite B e D, into-xicação mercurial, gripe, sarampo,toxoplasmose e herpes.

Mas estes foram apenas dois exem-plos do esforço do meio acadêmico. Omédico João Paulo, também da EscolaPaulista, mostrou as novidades de suaspesquisas sobre endocrinopatias e vírusdas hepatites B, C e Delta, HTLV1,HTLV2, HTLV3 e suas relações com aesclerose lateral amiotrófica entre osXikrin. Ele ainda apresentou traba-lhos sobre blastomicoses, polineurites,câncer no testículo e diabetes nas co-munidades Xavante, Bororó eParakanã, entre outros povos.

As linhas de pesquisa na Funda-ção Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Riode Janeiro, priorizam mudançassócioculturais e ambientais sobre aspopulações indígenas, além do pro-cesso saúde-doença de populaçõesindígenas no passado (paleopa-tologia e paleoparasitologia).

Isso sem contar as atividades reali-zadas em várias universidades espa-lhadas pelo Brasil. Foram inúmeros ostrabalhos apresentados em Brasília. DeRoraima, Mato Grosso do Sul, MatoGrosso, Pernambuco, Maranhão eAmazonas brotaram exemplos do usoda ciência em prol de comunidadesque já estavam aqui muito antes doBrasil existir como país.

O saber da mata na universidadeética e ciência

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Saúde indígena comcontrole social no BrasilZilda Arns Neumann*

Na minha experiência de conselheira,de médica e de administradora sanitária,tenho a certeza de que, para exercer ocontrole social, em primeiro lugar, é precisosaber bem o que está acontecendo com asaúde dos povos indígenas. Conhecer deperto a realidade de cada Distrito Sanitário,de cada povo, de cada comunidade. Háperguntas que precisam de respostas: deque estão morrendo ou f icandodoentes? quais os principais sofrimentosque afligem as famílias?

Para fazer este levantamento nãobastam pesquisas esporádicas, mas sim aexistência de um sistema de informaçãosimples, de base familiar e comunitária,que sirva de instrumento gerencial e deestímulo no trabalho de todos e,principalmente, das famílias indígenas.Afinal, a maioria das doenças e suascausas, que hoje afetam estas famílias,são facilmente preveníveis.

Esse diagnóstico pode ser iniciado emconversas locais, com a participação doshomens, das mulheres (que podem ajudarmuito) e dos jovens também. Eles conhecembastante os problemas e participando dosdebates se tornam co-responsáveis, alémde representarem o futuro das famíliasindígenas.

Eu gostaria ainda de sugerir que osproblemas principais fossem listados porescrito, começando pelos mais graves, paraserem entregues aos representantesescolhidos para os respectivos conselhos.

Os conselhos de saúde, integrados porrepresentantes indígenas - que ocupam ametade das vagas - junto comrepresentantes do governo e das entidadesque trabalham com as populaçõesindígenas, devem escutar o que os povosestão sentindo, para depois fazer um planode ação participativo.

O plano de ação, que é feito com aparticipação organizada das bases, temmuito mais probabilidade de dar certo,com melhores resultados. Por exemplo,se a comunidade disser que o alcoolismoé um problema grave, como fazer paracontrolar esse mal? O conselho deveempenhar-se para reduzir o alcoolismo.Isto se faz através de ações concretas,que devem constar no orçamento-programa.

O controle de qualquer doença ousofrimento requer sempre o pensamento,a atitude e a ação de como prevenir, comocurar os que já estão sofrendo desse mal.Além de reabilitar as pessoas dasconseqüências e danos provocados poraquela doença ou aquele sofrimento.

Por isso, a prevenção das doenças é muitomais barata e dá muito mais resultados. Noplano de ação, o conselho sempre deveconstar, com absoluta prioridade, as atividadespara a prevenção das doenças, além das açõespara cura e reabilitação.

A gestação, o parto e a saúde nosprimeiros anos de vida têm influênciadrástica sobre as mortalidades infantil ematerna e sobre a qualidade de vida dapopulação até a idade avançada. Por isso,é preciso garantir a melhor atençãopossível nestas etapas. Elas devem constarcomo prioridade no orçamento-programa.

Assim como a saúde da gestante, oparto, o aleitamento materno até doisanos ou mais, e a vigilância nutricional,também devem integrar o documentopontos como a segurança alimentar, avacinação contra todas as doenças quepossam ser prevenidas, a educação contraacidentes, o saneamento ambiental - boaqualidade da água, destino dos dejetos -,o lazer e outros.

Como se pode verificar, o conselhoprecisa articular-se com outras áreas, somaresforços, para garantir melhoria gradualda qualidade de vida de todas as famíliasem todas comunidades indígenas. Porexemplo, o cultivo de alimentos de formaauto-sustentável, a educação em saúde nasescolas, a manutenção da higiene e limpezanas casas e comunidades, o lazer que incluia educação para a saúde e outros.

Para fazer um plano de saúde, épreciso saber negociar e somar esforçospara o bem comum. Um exemplo, aintegração entre o Programa Saúde daFamília e a Pastoral da Criança. Daí ariqueza de um bom conselho, onde existampessoas que possam ajudar a desenvolverações que conduzam a uma melhorresolutividade dos esforços. Isso tambémgera economia de recursos e estimula aparticipação da comunidade no processo.Com certeza, essa é a melhor maneira de

fazer com que os líderes comunitáriosajudem a estimular cada índio a setornar um agente de promoção de seupróprio bem-estar.

O segundo passo é verificar como sepode fazer mais gastando menos, nãodesperdiçando recursos humanos,materiais e financeiros. A preocupaçãodeve ser não ultrapassar o teto do dinheiroprevisto. Em terceiro lugar, através dosindicadores do sistema de informação,verificar se a saúde está melhorando. Nesteponto, é fundamental saber os desem-penhos dos índices de mortalidadematerno-infantil, de desnutrição, decobertura vacinal, de doenças comodiárreia, tuberculose, malária, dengue,hanseníase, hepatite, sífilis, AIDS, e outras.

Os povos indígenas e não-indígenasprecisam ter uma atenção especial comrespeito ao acesso, à qualidade e àhumanização no atendimento nos postosde saúde. Participar de encontros eseminários que discutem o assunto fazparte do processo de tomada deconsciência acerca dos direitos e deveresde todos nós, inclusive dos índios.

Nestes tempos, em que o país assiste aimplantação de um novo modeloespecialmente direcionado para os povosdas florestas, é fundamental acompanharos desdobramentos que vêm pela frente.Aliás, este será um dos motes da IIIConferência Nacional de SaúdeIndígena, prevista para acontecer noprimeiro semestre de 2001, em Luziânia,interior de Goiás.

Será a hora dos líderes das nações epovos indígenas falarem sobre seusproblemas, apresentarem suas reinvin-dicações e comemorarem as conquistasdos últimos tempos. O êxito de todosnós, brasileiros, será demonstrar maisuma vez a capacidade de convivênciaharmônica entre as culturas urbanas eindígenas, sempre se preocupando empreservar as tradições que atravessaramos séculos.

* Coordenadora da Comissão Inter-setorial daSaúde Indígena do Conselho Nacional de Saúde,Representante titular da CNBB no ConselhoNacional de Saúde, Fundadora e CoordenadoraNacional da Pastoral da Criança e Membro doConselho do Comunidade Solidária

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Ministério da SaúdeEsplanada dos Ministérios - Bl. G70058-900 - Brasília - DFFone: (61) 315 2425Fax: (61) 224 8747Disque Saúde: 0800-61-1997Home page: saude.gov.br

Fundação Nacional de Saúde(FUNASA) -SAS - Quadra 4 - Bl. N 5 ° Andar70.058- 902 - Brasília - DFFone: (61) 226 4745/ 314 6440Fax: (61) 225 9428Disque Saúde: 0800-61-1997Home page: www.funasa.gov.brE- mail: [email protected]

Departamento de SaúdeIndígena da FUNASA (DESAI/FUNASA)SAS Q. 04, Bl. N, 7° andar, sala 70470058902 - Brasília - DFFone: (61) 226 4745/ 314 6440Fax: (61) 225 9428Home page: www.funasa.gov.brE- mail: [email protected]

Conselho Nacional de Saúde ( CNS )Esplanada dos Ministérios Bl. G Ed.Anexo - Ala B - 1º andar - salas 128 a 14770058-900 - Brasília - DFFone: (61) 315 2150 / 315 2151 / 226 3298Fax: (61) 315 2414 / 315 2472Home page: conselho.saude.gov.brE-mail: [email protected]

Comissão Intersetorial de SaúdeIndígena do CNS ( CISI/CNS )Esplanada dos Ministérios Bl. G Ed.Anexo - Ala B - 1º andar - salas 128 a 14770058-900 - Brasília - DFFone: (61) 315 2150 / 315 2151 / 226 3298Fax: (61) 315 2414 / 315 2472Home page: conselho.saude.gov.brE-mail: [email protected]

Composição da ComissãoIntersetorial de Saúde doÍndio

COORDENADORA

Zilda Arns NeumannRepresentação: Pastoral da Criança/CNBB e conselheira do CNSR. Jacarezinho, 1691 - B. Mercês80910-900 - Curitiba - PRFones: (41) 336-0250Fax: (41) 336-9940Home Page: www.rebidia.org.brE-mail: [email protected]

TITULARES

01 - Euclides PereiraRepresentação: Coordenação dasOrganizações Indígenas daAmazônia Brasileira (COIAB)Av. Airão n° 235 - Presidente Vargas

endereços e telefones úteisCaixa Postal 108169025290 - Manaus - AMFone: (92) 233 0548Fax: (92) 233 0209E-mail: [email protected]

02 - Esther Jean LangdonRepresentação: Instituições deEnsino, Pesquisa e Extensão(Universidade Federal de Santa Catarina)Caixa Postal 510488040970 - Florianópolis - SCTelefax: (48) 331 9714 - (48) 335 0268 (Res.)E-mail: [email protected] [email protected]

03 - Clovis AmbrózioRepresentação: Conselho Indígenade Roraima (CIR)R. Sebastião Diniz n° 1672 - B. São Vicente69303120 - Boa Vista - RRFone: (95) 224 5761Telefax: (95) 224 5761E-mail: [email protected]

04 - Ubiratan Moreira PedrosaRepresentação: Fundação Nacionalde Saúde (FUNASA)Departamento de Saúde Indígena (DESAI)SAS Q. 04, Bl. N, 7° andar, sala 70470058902 - Brasília - DF

05 - José Souza da SilvaRepresentação: União das NaçõesIndígenas do Acre e Sul doAmazonas (UNIACRE)R. Amazonas n° 158 - Cerâmica69900 - 390 - Rio Branco - ACFone: (68) 223 1973Fax: (68) 223 2400

06 - Márcio Ferreira da SilvaRepresentação: Associação Brasileirade Antropologia (ABA)Rua dos Franceses n° 470, Bloco C -apartamento 171- B. Bela Vista01329010 - São Paulo - SPFone: (11) 211 2552 - 818

07 - Roberto Antônio LiebgotRepresentação: Conselho IndigenistaMissionário (CIMI)SDS Ed. Venâncio III Bloco P n° 36salas 309/31470393900 - Brasília - DFFone: (61) 322 7582Fax: (61) 225 9401E-mail: [email protected]

08 - Wilson Jesus de SouzaRepresentação: Articulação dos PovosIndígenas do NE/MG/ES (APOINME)Posto Indígena Caramuru45890000 - Pau Brasil - BAFone da Aldeia: (73) 613 7104Fax: (73) 273 2198 (obs.: pedir paraentregar para Wilson)

09 - Ana Maria CostaRepresentação: Fundação Nacionaldo Índio ( FUNAI)

Programa de Proteção das TerrasIndígenas da Amazônia Legal -PPTALSRTVS 702/902 - Ed. Lex, Bloco A70340904 - Brasília - DFFone: (61) 226 7500 - 9967 4038Fax: (61) 226 7500E-mail: [email protected]

SUPLENTES

01 - Alba Lucy Giraldo FigueiroaRepresentação: Fundação Nacionalde Saúde (FUNASA)Departamento de Saúde Indígena(DESAI)SAS Q. 04, Bl. N, 7° andar sala 70470058902 - Brasília - DFFone: (61) 314 6413Fax: (61) 226 4006E-mail: [email protected]

02 - Benjamim CastroRepresentação: Coordenação dasOrganizações Indígenas daAmazônia Brasileira (COIAB)Av. Ayrão, 235 - Presidente VargasCaixa Postal 108169025290 - Manaus - AMFone: (92) 233 0548Telefax: (92) 233 0209E-mail: [email protected]

03 - Ricardo IshakRepresentação: Instituições deEnsino, Pesquisa e ExtensãoR.Diogo Móia, 380/1500 - B. Umarizal66055170 - Belém - PAFone: (91) 224 9739 - 224 7238 -99822174 (Res.) - 211 1587 (UFPA)Telefax: (91) 224 9739 e 224 7238E-mail: rishak@canal 13.com.br

04 - Roberto Lima CostaRepresentação: Fundação Nacionaldo Índio (FUNAI)Diretora de AssistênciaSRTVS 702/902 - Ed. Lex, Bl. A, 3° Andar70340904 - Brasília - DFFone: (61) 313 3714Fax: (61) 321 1940

05 - Julião Viana PereiraRepresentação: Conselho Indígenade Roraima (CIR)

06 - Odile EglinRepresentação: ConselhoIndigenista Missionário (CIMI)SDS Ed. Venâncio III Bloco P n° 36salas 309/31470393900 - Brasília - DFFone: (65) 558 1206Fax: (65) 558 1125

07 - Josiel Francisco FelícioRepresentação: Articulação dosPovos Indígenas do NE/MG/ES (APOINME)Associação Indígena TupiniquimGuaraniR. Principal n° 100

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29195000 - Aracruz - ESFone: (27) 2502700 - 9992 9780 (Recado)

DISTRITOS SANITÁRIOSESPECIAIS INDÍGENAS ( DSEIs )

ACRE

DSEI- Alto JuruáChefia: Luiz Alberto FernardesR. Siqueira Campos, 97- Centro69.980- 000 - Cruzeiro do Sul- ACFone: (68) 322 2283/ (68) 3224350/ (68) 9983 1292Fax: (68) 322 4350

DSEI- Alto PurusChefia: Márcio Sales UchôaR. Antônio da Rocha Viana, s/n°Bairro V. Ivonete69.908- 560 - Rio Branco- ACFone: (68) 223 3708/ (68) 99857147/ 9984 7925Fax: (68) 223 3708E-mail: [email protected]

ALAGOAS

DSEI- AlagoasChefia: Ricardo José Morone ValençaAv. Durval de Goes Monteiro, 6122-Tabuleiro57.080- 000 - Macéio- ALFone: (82) 241 5497/ (82) 983 0734Fax: (82) 241 8698

AMAZONAS

DSEI- Alto Rio NegroChefia: Clícia Alves Padilha DantasAv. Dom Pedro Massa, 124- CentroCep: 69.750- 000 São GabrielCachoeira- AMFone: (92) 471 1280Fax: (92) 471 1280

DSEI- Alto SolimõesChefia: Nancy Filgueiras da CostaR. Marechal Rondom, s/n° BairroSanta Rosa69.000- 640 - Tabatinga-AMFone: (92) 412 2977/ 412 2259Fax: (92) 412 2977

DSEI- JavariChefia: Regina Célia AlvesRodriguesR.Cunha Gomes, 123- CentroCep: 69.650- 000 - Atalaia doNorte- AMFone: (92) 417 1128/ (92) 4171160/ (92) 417 1155E- mail: [email protected]

DSEI- ManausChefia: Bernadeth de LourdesVon SohstenR.Oswaldo Cruz, s/n° Bairro da GlóriaCep: 69.027- 000 - Manaus- AM

Fone: (92) 672 1206/ (92) 672 1170/(92) 6721136Fax: (92) 672 1206

DSEI- Médio PurusChefia: BartolomeuR. Cel. Luis Gomes, 1318- Centro69.830- 000 - Lábrea- AMFone: (92) 331 1020/ (92) 331 1462

DSEI- ParintinsChefia: João Cabral MourãoAv. Nações Unidas, 1744- Centro69.150- 060 - Parintins- AMFone: (92) 533 3377/ (92) 964 1834Fax: (92) 533 2528

DSEI- Médio Solimões e AfluentesChefia: Rosana Lima VianaEst. do Aeroporto, 106469.470- 000 - Tefé- AMFone: (92) 343 3330/ (92) 343 3394Fax: (92) 343 3330/ 343 3545

AMAPÁ

DSEI- AmapáChefia: Sueli Costa de OliveiraAv. Odilardo Silva n° 103968.900- 000 - Macapá- APE-mail: [email protected]: (96) 214 2019/ (96) 214 2033Fax: 214 2033

BAHIA

DSEI- BahiaChefia: Jonas Araújo FilhoAv. 7 de Setembro, 2328- Vitória40.080- 001 - Salvador- BAFone: (71) 336 8891/ 8922 R: 216/ 217/ 218Fax: 336 8891

CEARÁ

DSEI- CearáChefia: Meire de Souza Soares FontesAv. Santos Dumont, 185660.150 -160 - Fortaleza- CEFone: (85) 244 2473/ 261 6173/ 224 9888Fax: 244 2473

ESPÍRITO SANTO

DSEI - MG/ESChefia: Antônio Sotero SobrinhoR. Moacir Strauch, 85- Praia do Canto29.055- 630 - Vitória- ESFone: (27) 335 8113/ 335 8210Fax: (27) 335 8113

GOIÁS - MATO GROSSO

DSEI- AraguaiaChefia: Rubenilda Coelho Silva RegoR. Manoel Fereira Rocha, n° 333- Centro78.670- 000 - S.Felix do Araguaia- MTE-mail: [email protected]: (65) 224 5897

MARANHÃO

DSEI- MaranhãoChefia: Elmorane N.G. CoelhoMendonçaR. 5 de Janeiro s/n°- Jordoa65.000- 000 - São Luís- MAFone: (98) 243 1144 R: 213/ 99729248Fax: 243 1259/ 243 3190

MATO GROSSO

DSEI- CuiabáChefia: Márcio Carlos Vieira BarrosAv. Getúlio Vargas, 867- Centro79.004- 270 - Cuiabá- MTFone: (65) 623 2200 R: 244/ 218Fax: (65) 624 9272/ 6393/ 7690

DSEI- Kaiapó- ColíderChefia: Jamir Alves FerreiraR. Borba Gato (esq. c/Av. TancredoNeves), s/n°Cep: 78.500- 000 - Colider- MTFone: (65) 9978 1991Fax: (65) 541 2285/ 541 1391 (FUNAI)

DSEI- XinguChefia: José Ferreira de FigueiredoR. Derrubada 81- Canarana78.640- 000 - Rondonópolis- MTFone: (65) 422 4569/ 478 1940Fax: (65) 422 4554/ 478 1940

DSEI- XavanteChefia: Leila Maria S.R. FonsecaR. Amaro Leite, 543- Centro68.600- 000 - Barra das Garças - MTFone: (65) 401 1279/ 9961 2155

MATO GROSSO DO SUL

DSEI- Mato Grosso do SulChefia: Wanderlei GuenkaR. Jornalista Belizário Lima, 26379.004- 270 - Campo Grande- MSE- mail: [email protected]: (67) 725 1499/ 783 5403/ 991 1724Fax: (67) 725 4313

MINAS GERAIS

DSEI- Minas Gerais / Espírito SantoChefia: César Bontempo TeixeiraR. Bárbara Heliodora, 184- CentroCep: 35.000- 000 - GovernadorValadares- MGE-mail: [email protected]: (33) 271 8231/ 2718264/271 9572Fax: (33) 271 8231

PARÁ

DSEI- AltamiraChefia: Maria Tereza Ribeiro FialhoTravessa Paulo Marques, 20568.370- 000 - Altamira- PAFone: (91) 515 4492/ 976 1215Fax: (91) 515 4493

DSEI- Guamá TocantinsChefia: Raimunda de FátimaGomes LimaFone: (91) 222 0456

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Fax: (91) 241 4015Av. Visconde de Souza Franco,616- Reduto66.053- 000 - Belém- PADSEI- Kaiapó- RedençãoChefia: Cildo de Souza RegoAv. Otávio Batista Arantes, 141- Centro68.550- 000 - Redenção- PAFone: (91) 424 2041/ 424 0905DSEI- TapajósChefia: Jair JacintoAv. Marechal Rondon, s/n°68.180- 000 - Itaituba- PAFone: (91) 518 1726Fax: (91) 518 1903

PARAÍBA

DSEI- PotiguaraChefia: Ana Maria Nóbrega de GóesR. Geraldo Van Shoster, 285- Jaguaribe52.050- 190 - João Pessoa- PBFone: (83) 221 2838Fax: (83) 221 2838E-mail: [email protected]

PARANÁ

DSEI- Litoral SulChefia: Rosa Lilir FragosoR. Cândido Lopes, 208 - Centro80.020 - 060 - Curitiba- PRFone: (41) 322 8699 - R: 225/ 322 1082Fax: (41) 322 1082

PERNAMBUCO

DSEI- PernambucoChefia: Antônio Fernando da SilvaAv. Conselheiro Rosa e Silva,1489- Aflitos52.050- 020 - Recife- PEE- mail: [email protected]: (81) 427 8339/ 427 8340/ 41/42 - 9977 0762Fax: (81) 427 8343

RONDÔNIA

DSEI- Porto VelhoChefia: Fernando José Costa/Maurazina C.F. SabóiaR. 5, n° 167- B. Costa Silva78. 900- 970 - Porto Velho - ROFone: (69) 216 6124/ 6123/ 216 6101Fax: (69) 216 6101/ 216 6149

DSEI- VilhenaChefia: Maria José de Matos TavaresR. 7 de Setembro, 3125 - CentroCep: 78.995- 000 - Vilhena- ROFone: (69) 322 2958/ 322 4023Fax: (69) 321 4098RORAIMA

DSEI - Leste de RoraimaChefia: Marcondes SaraivaGranjeiroAv. Brigadeiro Eduardo Gomes, n° 12469.305- 010 - Boa Vista- RRFone: (95) 623 0918Fax: (95) 623 9421

DSEI- YanomamiChefia: Aldacy XavierAv. Capitão Ngarsez n° 1636, São

Francisco69.340- 000 - Boa Vista - RRFone: (95) 623 6563Fax: (95) 623 9405/ 623 9269

SANTA CATARINA

DSEI- Interior SulChefia: Maria Dalva DantasAv. Max Schramm, 2179- Estreito88.095- 0001 - Florianópolis- SCFone: (48) 244 6154/ 9969 0503Fax: (48) 244 6154

TOCANTINS

DSEI- TocantinsChefia: Nadja Mara Moreno BarbosaACSO conjunto 02 lote 1177.013- 030 - Palmas- TOFone: (63) 218 3629Fax: (63) 218 3629

ENTIDADES LIGADAS ÀQUESTÃO INDÍGENA

AMERÍNDIAAv. Antártica, 1371 69.190- 000 - Maués - AMFone: (92) 542 1953Fax: (92) 542 1953E-mail: [email protected]

ANSAAv. Dr. José Fragelli, 1010 - Vila Nova78.670- 000 - S. Félix do Araguaia - AMFone: (65) 522 1638Fax: (65) 522 1535E-mail: [email protected]

Associação Estadual dosRondonistasR. Eng° Max Schramm - Estreito88.095- 001 - Florianópolis - SCFone: (48) 348 7568Fax: (48) 244 6154

Associação Missão TremembéR. José Candido 53-Monte CasteloFortaleza - CEFone: (85) 283 2468Fax: (85) 283 2468E-mail: [email protected]

Associação Saúde Sem LimitesR. Frei Caneca 1407, sala 206Cerqueira César01.307- 003 - São Paulo - SPFone: (11) 283 1277/ (92) 471 1353Fax: (11)283 1277/ (92) 471 1176E-mail: [email protected] /[email protected]

CIMISDS Ed. Venâncio III Bloco P n° 36salas 309/31470393900 - Brasília - DFFone: (61) 322 7582

Fax: (61) 225 9401E-mail: [email protected]

CIRR. Major Manoel Correia , 954 - B.São Francisco69.305- 100 - Boa Vista - RRFone: (95) 224 0927Fax: (95) 224 1482E-mail: [email protected]

CIVAJAR. Cunha Gomes, 12369.650- 000 - Atalaia do Norte - AMFone: (92) 417 1128Fax: (92) 417 1128E-mail: [email protected]

COIABAv. Ayrão, s/nManaus - AMFone: (92) 233 0548/ 233 0209E-mail: [email protected]

CUNPIRR. Alfazema 181- COHAB - Floresta II78.900- 210 - Porto Velho - ROFone: (69) 210 3798Fax: (69) 210 3798E- mail: [email protected]

Diocese de Alto SolimõesR. Pedro Teixeira s/n° Igreja NossaSenhora Perpetuo SocorroTabatinga - AMFone: (92) 415 5491/ 415 5494Fax: (92) 415 5491/ 415 5494E-mail: [email protected]/ [email protected]

Diocese de São Gabriel daCachoeiraAv. 7 de Setembro, 205- Centro69.750- 000 - S. Gabriel daCachoeira - AMFone: (92) 471 1367Fax: (92) 417 1276/ 471 1287

FASAMACNO 1 conjunto 3 lote 7 rua LO 0577.130- 040 - Palmas - TOFone: (63) 215 3558/ 214 3090Fax: (63) 214 3090/ / 214 4103E-mail: [email protected]

FOIRNAv. Álvaro Maia 795- Centro69.750-00 - São Gabriel daCachoeira - AMFone: (92) 471 1349Fax: (92) 471 1349E-mail: [email protected]

Fundação Nacional do Índio (FUNAI)SRTVS 702/902 - Ed. Lex, Bloco A70340-904 - Brasília - DFFone/Fax: (61) 226-7500

IDSAv. 31 de março n°132- Fortaleza

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Cep: 69.750-000 - São Gabriel daCachoeira - AMFone: (92) 471 1278Fax: (92) 471 1278

Instituto Adventista Central Brasileirode Educação e Assitência SocialAv. L2 Sul- Q. 611- módulo 75/76Cep: 70.200- 710 - Brasília - DFFone: (61) 345 7117Fax: (61) 345 2119E-mail: [email protected]

ISMAR. Visconde de Porto Alegre, 850- Centro69.020- 130 - Manaus- AMFone: (92) 633.4414Fax: (92) 232 4649

Missão Evangélica CaiuáEndereço: Rodovia Dourados-Itaporã- Km 2Cep: 79.804- 970m - Dourados - MSFone: (67) 421 4197Fax: (67) 421 4197E-mail: [email protected]

OPANAv. Ipiranga, 97- Bairro GoiabeiraCep: 78.005- 970 - Cuiabá- MTFone: (65) 322 2980Fax: (65) 322 4161E-mail: [email protected]

OPIMPR. João Bosco Lima, 124869.830- 000 - Lábrea - AMFone: (92) 731 1631/ 731 1467Fax: (92) 731 1631

PACALinha 6 lote9 Km 178.975- 000 - Cacoal - ROFone: (69) 441 2221Fax: (69) 441 2677E-mail: [email protected]

Pastoral da Criança/CNBBR. Jacarezinho, 1691 - Bairro Mercês80810-900 - Curitiba - PRFone: (41) 336-0250Fax: (41) 336-9940Home page: www.rebidia.org.brE-mail: [email protected]

PM de AltamiraR. Otaviano Santos, 2228- Centro68.371- 080 - Altamira - PAFone: (91) 515 1412Fax: (91) 515 2297E-mail: [email protected] de AmaranteAv. Deputado La Roque, 1229-Centro65.945- 000 - Amarante - MAFone: (98) 532 2020/ 532 2036Fax: (98) 532 2020

PM de ArameAv. Deputado Ulisses Guimarães,1021- Centro65.945- 000 - Arame - MAFone: (98) 532 4283

Fax: (98) 532 4283

PM da Barra do CordaRua Issac Martins, 297- Centro65.945- 000 - Barra do Corda - MAFone:(98) 643 1466Fax: (98) 643 2333E-mail: [email protected]

PM de ColíderTrav. dos Parecis, 06078.500- 000 - Colíder - MTFone: (65) 541 1112Fax:(65) 541 1242

PM de Entre RiosR. Pergentino Alberici, 180 - Centro89.862- 000 - Entre Rios - SCFone: (49) 391 0870/ 391 0871Fax: (49) 391 0870/ 391 0871E-mail: [email protected]

PM de IpuaçuFone: (49) 449 0200/ 449 0045Fax: (49) 449 0200/ 449 0045E- mail: [email protected]

PM de JacareacangaAv. Brigadeiro Haroldo CoimbraVeloso, 034 - CentroCep: 68.195- 000 - Jacareacanga - PAFone: (91) 542 1104Fax: (91) 542 1105

PM de José BoiteuxFone: (47) 352 7111E-mail: [email protected]

PM de MaranhãozinhoR. Boa Vista s/n° - Centro65.283- 000 - Maranhãozinho - MAFone: (98) 221 4913Fax: (98) 232 2233

PM de OurémTrav. Lázaro Picanço, 110- Centro68.640- 000 - Ourém - PAFone: (91) 467 1178Fax: (91) 467 1184E-mail: [email protected]

PM de ParagominasAv. do Contorno, 121268.625- 970 - Paragominas - PAFone: (91)729 3347Fax: (91) 729 3176E-mail: [email protected]

PM de RedençãoR. Guarantã, 60068.550- 240 - Redenção - PAFone: (91) 424 1850Fax:(91) 424 1844E-mail: [email protected] / [email protected]

PM de São Gabriel da CachoeiraAv. Álvaro Maia, 56969.750- 000 - São Gabriel daCachoeira - AMFone: (92) 471 1369Fax: (92) 471 1065

PM DE TucuruíTucuruí - PA

Fone: (91) 787 1412/ 787 2389Fax: (91) 787 2207/ 787 1869E-mail: [email protected]

PM de Zé DocaAv. Coronel Stanley Cortes Batista, 47865.365- 000 - Zé Doca - MAFone: (98) 6553545Fax: (98) 6553545/ 655 3310

SECOYAR. Vereador José Basílio n°169.700- 000 - Barcelos - AMFone:(92) 233 1464Fax: (92) 721 1354/ 622 2284E-mail: [email protected]

SES - APAv. Procópio Rola, 90- CentroCep: 68.900- 010 - Macapá - APFone: (96) 212 6101Fax: (96) 212 6101

Sociedade em Defesa da CidadaniaSHIS QI 03 conj. 5 casa 08- Lago Sul71.605- 250 - Brasília - DFFone: (61) 365 2886Fax: (61) 365 2739E-mail: [email protected]

TRÓPICOSFone: (65) 6425285Fax: (65) 642 5380

UNI-ACRER. Amazonas, 158- Aviário69.900- 390 - Rio Branco - ACFone: (68) 223 1973Fax:(68) 224 0091E-mail: [email protected]

UNIFESPR. Botucatu, 740- Vila Clementina04.023- 900 - São Paulo - SPFone: (11) 549 7890Fax: (11) 576 4313

UNI-TeféR. Barão do Rio Branco, 163- Bairrode JuruáCep: 69.470- 000 - Tefé - AMFone: (92) 343 3330/ 343 3545Fax: (92) 343 3545E-mail: [email protected]

URIHIR. Rocha Leal, 717- Bairro SãoFrancisco69.306- 020 - Boa Vista - RRFone: (95) 624 1652Fax: (95) 624 1636E-mail: [email protected]

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expediente

Revista da SaúdePublicação do Conselho Nacional de Saúde (CNS)

Presidente do CNSMinistro de Estado da Saúde José Serra

CONSELHO EDITORIAL

Representantes dos UsuáriosMário SchefferCarlos Martins

Representante do GovernoSílvio Mendes de Oliveira Filho

Representante dos Prestadores de ServiçosOlympio Távora Corrêa

Representante dos Profissionais de SaúdeTemístocles Marcelos Neto

Assessoria de Comunicação SocialFernando CartaxoPaulo Henrique de Souza

Editor ResponsávelPaulo Henrique de Souza - RP: 734/04/72/GO

ReportagemAlessandro SoaresBárbara Bonfim

Fotos: cedidas pelos arquivos e bancos de imagem do CNS,COIAB, CIMI, FUNAI, FUNASA, Pastoral da Criança e Ministé-rio da Saúde.

EstagiáriosAna Beatriz SantosRodrigo Duhau

Projeto Gráfico e EditoraçãoDavid Bandeira TaveiraReinaldo Palmeira(61)328-6395

Revisão, impressão e acabamentoEditora – Coordenação de Processo Editorial/CGDI/SAA/SE/MSfone: (61) 233-2020 fax: (61) 233-9558Endereço: SIA, Trecho 4, Lotes 540/610CEP: 71200-040 – Brasília-DF

Endereço para correspondência:Conselho Nacional de SaúdeAssessoria de Comunicação SocialEsplanada dos MinistériosBl. G - Anexo Ala B 1.º andar - salas 128 a 147CEP: 70058-900 – Brasília - DFFones: (61) 315-2150/315-2151/226-3298Fax: (61)315-2414/315-2472e-mail:[email protected] page: conselho.saude.gov.br

As matérias são de responsabilidadede seus autoresTiragem: 20.000 exemplares

Ano I - Nº.1 - dezembro de 2000

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III Conferência Nacionalde Saúde IndígenaTema central: Efetivando o SUS: Acesso,Qualidade e Humanização na Atenção à SaúdeIndígena com Controle Social

Data: 14 a 18 de maio de 2001

Local: Luziânia (GO)

Informações: (61) 315-2150 / 315-2151

E-mail: [email protected]