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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD ANÁLISE DO PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL (FEAMBI) PARA EDUCADORES DE ITACARÉ BAHIA. Paula Fabyanne Marques Ferreira - SEC-BA/FEAMBI [email protected] Gustavo Péres de Aguiar - SEC-BA/FEAMBI [email protected] Luiz Clemente Passos Bissoli FEAMBI [email protected] Resumo: Apesar da inserção oficial da educação ambiental em âmbito nacional, sabe-se que, na prática, muitos são os desafios para uma implementação efetiva com resultados significativos. Muitas são as dificuldades encontradas pelos professores no processo pedagógico, desde a falta de acesso a conteúdos acadêmicos e reflexões produzidas na área socioambiental até orientações acerca de planejamentos metodológicos mais elaborados e consistentes. O entendimento acerca de questões socioambientais locais é urgente, como o tratamento dos resíduos sólidos, de água e esgoto, o desenvolvimento da agricultura sustentável, entre outras, especialmente, em uma cidade de grande atratividade turística. Neste estudo, busca-se analisar o desenvolvimento de uma sensibilização socioambiental entre educadores e alunos em suas respectivas unidades escolares, durante e após o processo de formação continuada. Até o momento, verificam-se avanços significativos na percepção socioambiental local, bem como crescente inserção de práticas pró-ambientais no lócus escolar, com expressivo envolvimento de docentes, pais e alunos. Abstract: Despite the official inclusion of environmental education nationwide, it is known that in practice, there are many challenges to effective implementation with significant results. Many are the difficulties faced by the teachers in the teaching process, since the lack of access to academic content and reflections produced in the environmental area to methodological guidance on planning more elaborate and consistent. Understanding about local environmental issues is urgent, as the treatment of solid residues, water and sewage, the development of sustainable agriculture, among others, especially in a city of great tourist attraction. This paper intends to analyze the development of environmental awareness among educators and students in their respective school units, during and after the process of continuing education. Until now, there are significant advances in local environmental perception as well as increasing participation of pro-environmental practices in the locus school, with significant involvement of teachers, parents and students. Palavras-chave: Educação ambiental, Formação Continuada, Feambi, Itacaré. Introdução Nas últimas décadas observa-se um crescente interesse acerca das questões socioambientais e estas, por sua vez, têm exercido maior influência nas questões socioeconômicas. A proteção ao meio ambiente e medidas visando à sustentabilidade, tanto na área urbana como na zona rural, têm se

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

ANÁLISE DO PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO

AMBIENTAL (FEAMBI) PARA EDUCADORES DE ITACARÉ – BAHIA.

Paula Fabyanne Marques Ferreira - SEC-BA/FEAMBI [email protected]

Gustavo Péres de Aguiar - SEC-BA/FEAMBI [email protected]

Luiz Clemente Passos Bissoli – FEAMBI [email protected]

Resumo: Apesar da inserção oficial da educação ambiental em âmbito nacional, sabe-se

que, na prática, muitos são os desafios para uma implementação efetiva com resultados significativos. Muitas são as dificuldades encontradas pelos professores no processo pedagógico, desde a falta de acesso a conteúdos acadêmicos e reflexões produzidas na área socioambiental até orientações acerca de planejamentos metodológicos mais elaborados e consistentes. O entendimento acerca de questões socioambientais locais é urgente, como o tratamento dos resíduos sólidos, de água e esgoto, o desenvolvimento da agricultura sustentável, entre outras, especialmente, em uma cidade de grande atratividade turística. Neste estudo, busca-se analisar o desenvolvimento de uma sensibilização socioambiental entre educadores e alunos em suas respectivas unidades escolares, durante e após o processo de formação continuada. Até o momento, verificam-se avanços significativos na percepção socioambiental local, bem como crescente inserção de práticas pró-ambientais no lócus escolar, com expressivo envolvimento de docentes, pais e alunos.

Abstract: Despite the official inclusion of environmental education nationwide, it is known that

in practice, there are many challenges to effective implementation with significant results. Many are the difficulties faced by the teachers in the teaching process, since the lack of access to academic content and reflections produced in the environmental area to methodological guidance on planning more elaborate and consistent. Understanding about local environmental issues is urgent, as the treatment of solid residues, water and sewage, the development of sustainable agriculture, among others, especially in a city of great tourist attraction. This paper intends to analyze the development of environmental awareness among educators and students in their respective school units, during and after the process of continuing education. Until now, there are significant advances in local environmental perception as well as increasing participation of pro-environmental practices in the locus school, with significant involvement of teachers, parents and students.

Palavras-chave: Educação ambiental, Formação Continuada, Feambi, Itacaré.

Introdução

Nas últimas décadas observa-se um crescente interesse acerca das

questões socioambientais e estas, por sua vez, têm exercido maior influência

nas questões socioeconômicas. A proteção ao meio ambiente e medidas

visando à sustentabilidade, tanto na área urbana como na zona rural, têm se

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tornado um importante campo de atuação para os governos, indústrias,

agentes econômicos privados ou estatais, grupos sociais e indivíduos.

No Brasil, especialmente em decorrência da Conferência Rio-92, as

questões ambientais também ganharam mais visibilidade e materialidade e,

nesse cenário, a educação surge como uma importante ferramenta pró-

ambiental. A valorização da educação ambiental (EA) passa a ter um papel de

maior expressividade no ensino Formal (Fundamental e Médio) com a

introdução dos temas transversais difundidos pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais e pela Política Nacional de Educação ambiental (Lei 9.795 de 27 de

abril de 1999), caracterizada por reflexões mais aprofundadas em termos

didáticos e pedagógicos.

Em resposta às premissas da sustentabilidade, buscando soluções para o

Brasil, também foram criadas nas últimas décadas, ações de desenvolvimento

sustentável com abordagem territorial, muitas delas apoiadas por programas

governamentais decorrentes de políticas públicas especialmente formuladas nessa

direção (SILVA JÚNIOR et al., 2011). Assim, a educação ambiental passa a ser

um componente essencial e permanente, devendo estar presente, de forma

articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, na zona rural

e urbana, em caráter formal e não formal. O objetivo seria despertar a consciência

de que o ser humano é parte do meio ambiente, visando superar a visão

antropocêntrica.

Contudo, apesar da inserção oficial da educação ambiental em âmbito

nacional, sabe-se que, na prática, muitos são os desafios para uma

implementação efetiva com resultados significativos. Evidentemente, muitos são os

avanços ao longo desses anos, entretanto, muitas também são as dificuldades

encontradas pelos professores no processo pedagógico, desde a falta de acesso a

conteúdos acadêmicos e/ou reflexões produzidas na área socioambiental até

orientações acerca de planejamentos metodológicos mais elaborados e

consistentes.

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É necessário sair da teoria e passar à prática socioambiental. Sob essa

perspectiva, é importante, claro, obter o conhecimento didático e ecológico

sobre os problemas ambientais globais, bem como sobre a agenda da

sustentabilidade nacional e inovações didáticas. Contudo, as questões locais e

certamente mais urgentes, como o tratamento dos resíduos sólidos, de água e

esgoto, o desenvolvimento da agricultura sustentável, entre outras, devem ser

priorizadas, visto que a construção de uma consciência coletiva sustentável

dependerá do ativismo ecológico diário, da ação do governo e da participação

da comunidade. Essa consciência pró-ambiental que levará à formação de uma

sociedade cidadã e sustentável, e para isso, o papel do docente,

especialmente em uma comunidade como Itacaré, é fundamental.

Dessa forma, a educação ambiental também está relacionada com a prática

das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de

vida e desenvolvimento de processos por meio dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum

do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

O presente projeto busca difundir um movimento socioambiental iniciado no

município de Itacaré em meados de 2003, que vem, através da educação,

procurando sensibilizar a comunidade acerca de questões socioambientais globais

e locais. O Curso de Formação Continuada em Educação Ambiental (FEAMBI) foi

implementado em 2011, considerando-se que, atualmente, não há como abordar

uma educação de qualidade sem mencionar uma formação continuada de

professores, visto que esta, já vem sendo considerada, juntamente com a

formação inicial, uma questão fundamental nas políticas públicas para a educação

(FOGAÇA, 2012). É importante destacar, nesse sentido, como bem afirma

Caldeira (1993), que a Formação Continuada não se trata, tão somente, de um

curso de atualização, mas, sobretudo, de um processo, construído no cotidiano

escolar de forma constante e contínua.

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Acredita-se então, que educação ambiental transcende seu aspecto

puramente comportamental para chegar a outras esferas (e compromissos), como

a política e a cultural, pois a educação não pode existir para outro motivo que não

o de formar indivíduos críticos de seu papel histórico. Deve subsidiá-los com um

repertório que permita a reflexão crítica do desafio existente nos períodos de

transição e, a partir de seus próprios impulsos, integrar esse processo rumo à

construção de uma realidade mais condizente com sua noção de equilíbrio e

sobrevivência.

A atual parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Secretaria

Municipal de Meio Ambiente de Itacaré nos permite contemplar todas as salas de

aula do município, através da formação continuada dos professores, que,

respaldados pelas orientações do curso, podem desenvolver projetos paralelos

nas escolas nas quais atuam, contemplando as séries iniciais e abrangendo outros

segmentos da comunidade.

Nesse contexto, busca-se subsidiar a prática de educação ambiental nas

escolas através da qualificação do quadro docente municipal, propiciando o

acesso à produção científica e o aprimoramento das práticas docentes. A

sensibilização dos professores é de grande relevância no que concerne a

qualificação em termos de fundamentação teórica e o desenvolvimento de práticas

pedagógicas pró-ambientais orientadas e pontuais.

Neste estudo, pretende-se analisar e monitorar o desenvolvimento de uma

sensibilização socioambiental entre educadores e alunos em suas respectivas

unidades escolares, durante e após etapas do processo de formação continuada

FEAMBI, que visa à inserção de um paradigma pró-ambiental nas práticas

pedagógicas de professores do ensino básico, fundamental e médio.

Proporcionar um melhor entendimento sobre uma integração equilibrada

entre homem e ambiente através de uma análise sistêmica, identificar as múltiplas

dimensões da sustentabilidade ambiental (ecológica, social, ética, cultural,

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econômica, espacial e política), subsidiar o embasamento teórico para o

desenvolvimento de práticas pedagógicas orientadas, desenvolver maior

envolvimento e a participação social, estão entre as premissas do projeto, que visa

melhorias das condições socioambientais e de qualidade de vida de Itacaré.

Itacaré (BA) é uma pequena cidade localizada no litoral sul da Bahia e tem

sua gênese urbana relacionada ao florescimento, auge e declínio da lavoura

cacaueira. Possui uma grande diversidade ecológica caracterizada por um

conjugado de ecossistemas de expressivo valor científico e econômico. E, em

função deste grande potencial paisagístico, vive desde a década de 1990 uma

transição funcional promovida por ações governamentais do Estado da Bahia,

pautadas nas perspectivas da indústria do turismo (FERREIRA, 2011).

Ainda segundo Ferreira (2011), a súbita inserção no setor tem

promovido uma reorganização socioespacial caracterizada por uma intensa

expansão urbana e seus inerentes impactos socioambientais, visto que há

geralmente, no bojo do crescimento populacional, um aumento da

informalidade, da favelização, dos índices de criminalidade e da degradação

ambiental. Segundo dados do IBGE (2010), a população urbana praticamente

dobrou nos últimos dez anos. Estudos indicam que grande parte da população

local se considera despreparada para lidar com essas transformações que o

município vem sofrendo, tanto nos aspectos sociais, políticos, econômicos,

culturais e ambientais (ITI, 2005; RAMOS, 2005; OLIVEIRA, 2008; FERREIRA;

MATIAS, 2011).

Metodologia

A metodologia consiste em criar estratégias didáticas para reflexão,

experimentação e ação, a partir de conhecimentos pretéritos e novos. Os

encontros são quinzenais, com aulas expositivas, modulares, além de oficinas e

atividades em campo, representando um total de 120 horas presenciais a serem

desenvolvidas anualmente, por meio de atividades teóricas e práticas, como visitas

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técnicas, atividade de campo, intercâmbios, troca de experiências, pesquisas

socioambientais participativas, planejamento de aulas, seminários, oficinas, entre

outras. A Formação Continuada é implementada em regime de alternância e

atividades extraclasse (atividades não presenciais) destinadas às atividades

realizadas nas salas de aula e comunidades, consideradas como atividades

avaliativo-indicadoras.

O curso FEAMBI - Formação Continuada em Educação Ambiental de

Itacaré conta atualmente com Secretaria Municipal de Educação e com a CEAI -

Coordenação de Educação Ambiental de Itacaré (Secretaria de Meio Ambiente de

Itacaré/ FEAMBI): Prof. M.a. Paula F Marques Ferreira (Coordenação); Agentes de

Educação Ambiental: Prof. M.e. Gustavo Péres de Aguiar e Prof. Luiz Clemente

Passos Bissoli e com a equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,

Aquicultura e Pesca, que vem trabalhando veementemente para estender os

trabalhos para toda a zona rural do município. Vale destacar que a Equipe FEAMBI

vem identificando problemas socioambientais existentes no município há dez anos,

especialmente enquanto docentes nas escolas municipais.

O foco central do Programa é o exercício da cidadania, trabalhando o

conteúdo e as abordagens didáticas com o Tema Transversal Meio Ambiente.

Como forma de trabalho, propõe-se a organização de grupos de estudo

interdisciplinares liderados por coordenadores gerais, responsáveis por

promover momentos de estudo coletivos, debates, simulações e estudos do

meio. Os grupos interdisciplinares de estudo podem ser compostos por escolas

ou por polos.

A composição depende da Secretaria Municipal de Educação, ou de

acordos feitos por intermédio dos polos, considerando que o ideal é que os

professores da mesma escola façam parte do mesmo grupo (BRASIL, 2001).

Entre as principais referências estão: Guia do Formardor (BRASIL, 2001),

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

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Responsabilidade Global (TEASS), Carta da Terra, Cartas das

Responsabilidades Humanas e Agenda 21.

Sob esta perspectiva, busca-se neste projeto o respaldo teórico em

políticas públicas em EA (Educação Ambiental). A Secretaria de Educação

Fundamental do Ministério da Educação preparou o Programa Parâmetros em

Ação - Meio Ambiente na Escola, para as secretarias de educação implantarem

a formação continuada de professores, de modo articulado com o Programa

Parâmetros em Ação. O referido programa foi planejado com o objetivo de

estimular o compromisso dos educadores com problemáticas ambientais locais

e, tem por finalidade apresentar opções de estudo do Tema Transversal Meio

Ambiente para grupos de professores e especialistas em educação, de modo a

servir de instrumento para o desenvolvimento profissional, bem como para a

melhoria da qualidade de ensino e da qualidade de vida nas comunidades

(BRASIL, 2001).

É necessário propor leituras, apresentar vídeos, reflexões, trabalhos

coletivos, interações, trocas e situações-problema, considerando as

representações, os conhecimentos e os pontos de vista de cada professor. Além

de estimular as trocas de informações, ideias e experiências, pretende-se

incentivar o registro escrito das reflexões dos educadores, bem como incitar o

compromisso com a autoformação, ao proporcionar o devido acesso à produção

acadêmica e científica acerca da temática, bem como ao embasamento teórico

sobre o conhecimento ecológico e geográfico do espaço no qual se encontram.

A estratégia metodológica para estruturação de indicadores, avaliação e

acompanhamento do curso tem se baseado em questionário indicador aplicado

(previamente e posteriormente ao curso) aos profissionais envolvidos,

relacionando suas percepções sobre a temática socioambiental local. A análise

concernente aos educandos envolve depoimentos e relatos dos educadores sobre

o cotidiano e resultados das atividades desenvolvidas. Outras estratégias têm sido

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avaliadas no momento, visando ampliar as atividades do curso e acompanhar os

novos procedimentos.

Resultados e Discussão

Num primeiro momento da Educação Ambiental, a noção de natureza

estava relacionada aos recursos naturais. Desde que temas específicos

relacionados com os discursos contemporâneos sobre a natureza, como a

biodiversidade e os transgênicos ganharam o espaço público, pode-se afirmar

que a Educação Ambiental se viu diante de novos desafios teóricos, políticos,

ecológicos, sociais, culturais e pedagógicos (REIGOTA, 2010).

A escola está desempenhando vários e novos papéis na sociedade

atual, pois vem sendo campo de constante mutação e o professor tem um

papel central, no que concerne uma mudança de atitude e pensamento dos

alunos, de modo que precisa estar preparado para os novos e crescentes

desafios (FOGAÇA, 2012). Nesse cenário, há a necessidade de um contínuo

aprimoramento profissional, bem como de reflexões críticas sobre a própria

prática pedagógica, pois melhorias efetivas do processo ensino-aprendizagem

acontecerão apenas pela ação do professor, ao superar o distanciamento entre

contribuições da pesquisa educacional e a sua utilização. E, sobretudo,

implicando que o professor seja também pesquisador de sua própria prática,

visto que, em geral, os professores têm uma visão simplista da atividade

docente (SCHNETZLER, 2000).

Trabalhos direcionados à formação continuada em Educação Ambiental

(EA), tal qual um projeto-processo educativo, se alicerçam em valores de

respeito e proteção a todas às formas de vida, bem como na reflexão sobre o

desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e na equidade de acesso a

condições de vida digna para as comunidades. Trata-se de um novo conceito

de “Ser e estar no mundo”, em que sejam retomados os princípios de

interconectividade entre os integrantes da biosfera, especialmente para o

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professor, que precisa incorporar novos paradigmas, para que possa então,

transmiti-los, visando à melhoria das condições ambientais.

Segundo Lima (2008), estudos em psicologia ambiental enfatizam a

importância da educação para aquisição de comportamentos que modifiquem a

relação do ser humano com o ambiente. Buscando corretamente hoje, não um

relacionamento com o ambiente que apenas preserve o que temos, mas também

que nos permita recapturar de fato o que já foi supostamente perdido (HOLT;

WINSTON, 1974).

Percebe-se então, a necessidade de uma ação educativa permanente, pela

qual se busque uma tomada de consciência da realidade sistêmica, do tipo de

relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas

derivados de ditas relações e suas causas mais profundas. Assim, acredita-se que,

mediante uma prática pedagógica capaz de vincular o educando à comunidade,

bem como aos seus valores e atitudes, pode-se promover um comportamento

dirigido a uma transformação dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais

como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias

para a referida transformação.

Focalizando os sistemas de ensino e o ponto de vista de gestores

estaduais de EA, em diálogo com a educação não formal, a formação

continuada de professores em educação ambiental, a inserção qualificada da

EA no currículo, o estímulo à criação e fortalecimento de Com-Vidas (Comissão

de Meio Ambiente e Qualidade de Vida) nas escolas, a institucionalização da

EA nas secretarias estaduais (e municipais) de educação (e meio ambiente) e

o monitoramento e avaliação das ações e projetos de EA figuram como

prioridades para o planejamento e gestão das políticas (BARBOSA, 2008).

Como indicador oficial na Educação Formal, considera-se neste caso, o último

Ideb: Itacaré está entre os municípios brasileiros que tiveram a melhor

evolução no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A

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pontuação de Itacaré subiu de 2,6, em 2009, para 4,6 em 2011, atingindo a

meta estabelecida para 2021.

A Educação Ambiental é vista hoje como uma possibilidade de

transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio

da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria

(LOUREIRO, 2006). Consoante o autor, essa conscientização é obtida com a

capacidade crítica permanente de reflexão, diálogo e apropriação de diversos

conhecimentos. Esse processo torna-se fundamental para se formar sociedades

sustentáveis, ou seja, orientadas para enfrentar os desafios da

contemporaneidade, garantindo qualidade de vida para esta e futuras gerações.

Sob essa perspectiva, a educação ambiental deve ser entendida em seu sentido

mais amplo, voltada para a formação de pessoas para o exercício da cidadania

responsável e consciente, e para uma percepção ampliada sobre os ambientes no

qual estão inseridas.

É necessário contribuir com a organização de grupos, voluntários,

profissionais, associações, cooperativas, comitês, entre outros – que atuem em

programas de intervenção em educação ambiental, apoiando e valorizando

suas ações. Cresce, assim, a importância da educação ambiental

interdisciplinar e, por conseguinte, a participação das Secretarias Municipais de

Meio Ambiente no âmbito educacional, sendo tal participação, inclusive, uma

tendência no cenário nacional (BRASIL, 2005).

Desta forma, buscou-se um trabalho vinculado também à Secretaria

Municipal de Meio Ambiente, Aquicultura e Pesca de Itacaré. Esta vem, desde

o início de 2013, empreendendo esforços para fortalecer o presente projeto,

possibilitando a participação de seus funcionários nos encontros realizados

pelo Feambi como cursistas e palestrantes, ampliando a discussão acerca do

conhecimento ecológico local, questões ambientais locais, aspectos legais e

concernentes à regulamentação de política estadual de educação ambiental, a

legislação local, além de desenvolver projetos conjuntos e paralelos

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relacionados à educação ambiental, contemplando as escolas municipais de

Itacaré.

Existe a necessidade de problematizar a realidade, definir

coerentemente os conceitos e articular uma interpretação concisa dos

processos ecológicos e sociais à degradação do ambiente para a construção

de uma prática pedagógica efetiva que ultrapasse os “slogans e clichês” e que

permita, de fato, uma melhor compreensão das relações entre ambiental-

sustentável, tempo-espaço, necessidade-desperdício e principalmente, custo-

benefício. A compreensão do meio ambiente em sua totalidade desenvolve-se

na interação contínua entre uma sociedade em movimento e um espaço físico

que se modifica permanentemente.

No espaço geográfico, muitas são as “territorialidades”, de acordo com cada

análise procedida, com afirma Duncan (2011). Nesse contexto, o desenvolvimento

sustentável é um grande desafio que deve considerar o “território de identidade”

como um dos mais representativos, diante da gama de dimensões analíticas, como

ambiente, economia, política, sociedade, história, cultura, entre outros. No entanto,

a EA não tem sido incluída como uma abordagem interdisciplinar e transversal nos

currículos dos cursos de formação de professores mais tradicionais, nem mesmo

naqueles que seguem as novas diretrizes para formação docente a partir de uma

base comum filosófica, sociológica, política e psicológica, articulada com os

conteúdos de formação específica (TAGLIEBER, 2003).

É bem verdade que a incorporação de comportamentos, valores e

atitudes, nesse sentido, destinem-se a uma prática cotidiana e geralmente fora

das salas de aula e das escolas. Contudo, o desenvolvimento de projetos como

este, apesar de suas limitações, contribui para que as questões

socioambientais locais e as atividades em educação ambiental ganhem

visibilidade e incitem discussões acerca da necessidade de planejamentos

mais elaborados e encaminhamentos metodológicos para questões pró-

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ambientais e, principalmente, incentivem maior participação de populares nas

tomadas de decisão.

Como afirma Zaoual (2003), os espaços da desigualdade são interativos

e múltiplos, visto que a pobreza é irredutível a uma mera insuficiência de renda.

É necessário dar voz àqueles que são afetados diretamente por uma dada

situação, reconhecendo que todo o contexto da pessoa deve ser tomado em

consideração, especialmente sua capacidade de ser livre, de mudar e agir

sobre uma situação, participando efetivamente de sua vida social.

Pode-se afirmar que, até o momento, verificam-se avanços significativos na

percepção socioambiental local, bem como crescente inserção de práticas pró-

ambientais no lócus escolar, com expressivo envolvimento de docentes, pais e

alunos. Sabe-se a importância da participação efetiva das comunidades, na

discussão e elaboração de propostas que possam contribuir com melhorias nas

condições socioambientais. Entretanto, sabe-se, da mesma maneira, que essa

participação é um projeto em longo prazo, um caminho a ser percorrido, que

requer persistência e criatividade, atitudes imprescindíveis para superar uma

cultura que nunca valorizou uma cidadania ativa.

Gatti (2003) enfatiza as limitações do embasamento teórico na literatura

em psicologia social, que atenta para o fato de que esses profissionais são

pessoas integradas a grupos sociais de referência, nos quais se gestam

concepções de educação, de modos de ser, que se constituem em

representações e valores que filtram os conhecimentos que lhes chegam.

Considerações Finais

Seguindo este pensamento, faz-se necessária uma reflexão sobre como

o processo de Formação Continuada em Educação Ambiental depende,

sobretudo, de compreender a história de configuração socioespacial e o

modelo de desenvolvimento das cidades onde será desenvolvido

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(considerando suas particularidades em termos gerais) e os padrões internos

de diferenciação social. Portanto, é necessário considerar que, especialmente

no caso de cidades como Itacaré, os conhecimentos adquirem sentido ou não,

são aceitos ou não, são incorporados ou não, em função de complexos

processos, não apenas cognitivos, mas, principalmente, socioafetivo e

culturais.

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