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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD AS CONTRIBUIÇÕES DE BOFF NO ENSINO DE CIÊNCIAS: EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NOS ANOS INICIAIS Tamara Santos de SANTANA- UESB 1 [email protected] Júlio César Castilho RAZERA- UESB 2 [email protected] RESUMO Este artigo apresenta um estudo teórico prévio que integra uma pesquisa de mestrado sobre a Educação Socioambiental na perspectiva de Boff, voltada para o Ensino de Ciências nos Anos Iniciais. Neste ensaio teórico, temos como objetivo buscar fundamentos que orientem e demonstrem a possibilidade de trabalhar a perspectiva de Boff no Ensino de Ciências com crianças. A literatura vem apontando uma educação científica com práticas e conteúdos fragmentados. Com a urgência de se promover uma Educação Socioambiental pautada na mudança de olhar sobre o meio ambiente, torna-se imprescindível uma formação ativa e integrada do indivíduo, com embasamentos que potencializam a tomada de decisões, e que pode ser iniciada já com crianças. Neste ensaio delineamos e defendemos possibilidades de uma formação, já nos anos iniciais do ensino fundamental, embasada nas dimensões politica, econômica, social, ética, mental, ambiental e integradora de Boff. 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de Professores na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Campus Jequié. Bolsista PPG/UESB. 2 Orientador-Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de Professores na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Campus Jequié.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

AS CONTRIBUIÇÕES DE BOFF NO ENSINO DE CIÊNCIAS:

EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NOS ANOS INICIAIS

Tamara Santos de SANTANA- UESB1

[email protected]

Júlio César Castilho RAZERA- UESB2

[email protected]

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo teórico prévio que integra uma pesquisa de

mestrado sobre a Educação Socioambiental na perspectiva de Boff, voltada

para o Ensino de Ciências nos Anos Iniciais. Neste ensaio teórico, temos como

objetivo buscar fundamentos que orientem e demonstrem a possibilidade de

trabalhar a perspectiva de Boff no Ensino de Ciências com crianças. A literatura

vem apontando uma educação científica com práticas e conteúdos

fragmentados. Com a urgência de se promover uma Educação Socioambiental

pautada na mudança de olhar sobre o meio ambiente, torna-se imprescindível

uma formação ativa e integrada do indivíduo, com embasamentos que

potencializam a tomada de decisões, e que pode ser iniciada já com crianças.

Neste ensaio delineamos e defendemos possibilidades de uma formação, já

nos anos iniciais do ensino fundamental, embasada nas dimensões politica,

econômica, social, ética, mental, ambiental e integradora de Boff.

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de Professores na

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Jequié. Bolsista PPG/UESB.

2 Orientador-Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de

Professores na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Jequié.

1

Palavras-chaves: Dimensões de Boff; Ensino de Ciências; Anos Iniciais;

Educação Socioambiental.

INTRODUÇÃO

Observando alguns noticiários apresentados pela mídia têm reportado

as contradições e conflitos sobre a questão socioambiental que por sua vez

está direcionada ao futuro do nosso planeta e dos seres vivo existente nela,

tendo em vista uma suposição de promover um consenso preconizando um

desenvolvimento sustentável. Por inúmeras vezes, diante de discursos políticos

e até de filmes americanos a seguinte frase “a criança é o futuro da nossa

humanidade” pode-se questionar como esta sendo a formação dessas crianças

com o Ensino de Ciências, num sistema de ensino denominado Ciclo criado em

prol da cultura de não reprovação, sendo que serão os adultos de amanhã.

Perante a recente trajetória acadêmica da autora principal deste trabalho,

percebeu-se em suas leituras e atividades uma necessidade de desenvolver

como às pesquisas de Iniciação Científica, do Programa de Iniciação á

docência (PIBID), o Programa Todos pela Alfabetização (TOPA) a importância

da formação do indivíduo não restrita a alfabetização (ler e escrever), mas no

saber e fazer pertença da sociedade, ou seja, do meio ambiente o qual está

inserido.

O Ensino de Ciências mesmo não tendo as dificuldades apresentadas

em outras disciplinas tem se configurado numa cultura do fracasso escolar.

Acreditamos que isso decorre de vários aspectos. Dentre eles, podemos citar

os materiais didáticos fragmentados, com conceitos científicos distorcidos,

dando uma impressão de fácil compreensão. E ao mesmo tempo de práticas e

referenciais não articulados que impossibilita uma mudança no olhar sobre o

meio social e ambiental por serem transmitidas de forma simples e sem

conhecimentos aperfeiçoados. No dia 10 de Abril de 2013, o portal do MEC

divulgou que a Prova Brasil que é aplicada nas unidades públicas de ensino

passará a avaliar o desempenho em ciências, considerando português,

matemática e ciências como os eixos importantes no processo da busca da

2

qualidade, no entanto o IDEB (Índice de Desenvolvimento das Escolas

Básicas) continuará a avaliar apenas português e matemática.

Torna-se necessário incorporar aspectos que dêem conta de uma

educação denominada socioambiental que consiste no indivíduo ou o grupo a

responsabilidade da gestão social e do meio ambiente contribuindo num

desenvolvimento responsável para qualidade de vida de todos os seres

existentes. E neste momento a educação deve admitir, segundo Layrargues

(2006), a função "moral da socialização humana" e "ideológica de reprodução

das condições sociais".

Nos Anos Iniciais, a autora principal deste trabalho percebeu durante

suas experiências no período de estágio, que a prática pedagógica deixa de

lado a possibilidade da criança já começar a adquirir um conhecimento que

colabore para a compreensão mais integral do mundo e de suas constantes

transformações, porque privilegia apenas o desenvolvimento da leitura e da

escrita.

Para uma compreensão mais integral desse mundo poderíamos, por

exemplo, utilizar estratégias que contemplassem os conflitos socioambientais,

que segundo Nicolai-Hernández e Carvalho (2006) não são consideradas na

escola. Para fazer frente aos conflitos socioambientais é fundamental que os

exercícios, a compreensão e a construção de significado estejam relacionados

à temática, para a busca de soluções. E a educação por sua vez, é constitutiva

desse processo, sendo que além do saber ler, escrever e calcular o indivíduo

tem que compreender o mundo em que vive em suas constantes

transformações.

Com preocupações sobre esse panorama lacunar na formação restritiva

da educação ambiental que ainda persiste em nossas escolas e, ao mesmo

tempo, com o entendimento de que há possibilidades de uma formação voltada

a aspectos socioambientais já para crianças, a autora principal deste trabalho

está a desenvolver uma pesquisa de intervenção para avaliar os limites e

possibilidades dessa proposta em situação real, com crianças de faixa etária de

7-9 anos, utilizando-se estratégias didáticas que envolvam os Conflitos

Socioambientais de acordo com Milaré; Little apud SARTORI (2011, p.92)

esses conflitos gira em torno da consequência da apropriação dos recursos

3

limitados para atender as necessidades ilimitadas que estabelece no meio da

sociedade, que para entender a sua dinâmica basta identificar o foco central do

conflito. Neste ensaio, apresentamos argumentos teóricos que nos permitem

entender e dar o norte didático-pedagógico sobre essas possibilidades de

trabalhar as dimensões da perspectiva de Boff no Ensino de Ciências em Anos

Iniciais. Ressaltando-se que toda essa construção teórica que aqui fazemos

em prol dessas possibilidades será investigada empiricamente com a

intervenção realizada numa unidade pública de ensino e que tenha o perfil dos

alunos que queremos trabalhar.

CONTEXTUALIZANDO: TRANSFORMAÇÕES POR DIREITOS

A princípio é relevante ressaltar um pouco da história para se situar o

contexto do presente ensaio. O século XX é marcado por transformações

sociais, politicas e econômicas, especificadamente no Brasil, que através das

constantes transformações e lutas reivindicando um novo direito a nova

cidadania que se erguer, a partir de um caráter emergencial e motivada pela

carência. Bobbio (1992); Brandão (2000 apud VIEIRA, 2007) salienta que isso

deriva de lutas cuja necessidade de atender a constante transformação devido

a um progresso de limitações de domínio.

Vieira (2007) ressalta que as constantes reivindicações no aparecimento

desses novos direitos os quais compreendem:

Direito Civis que está relacionado à liberdade individual, considerando

como fundamental a ação dos indivíduos circunscritos ao direito à vida,

a liberdade, a propriedade e a igualdade perante a lei.

Direitos políticos relativos ao direito de votar e ser votado e o direito de

participação em organizações, de se organizar por afinidade de

interesses e opinião.

Direitos sociais, ligado ao bem social, tidos como modernos são os

direitos trabalhistas, greves, á um salário que assegure uma dada renda

real, a educação pública, laica e gratuita, a saúde, a habitação, a

previdência, a assistência.

4

Esses novos direitos abrem caminhos para uma participação cidadão

que ainda é um desafio para a nossa sociedade que se diz democrática.

Koepsel (2003) aborda em sua dissertação que os indivíduos/ população tem

tido um maior acesso as informações, que por sua vez não consegue

interpretar ou não consegue se posicionar por falta de esclarecimentos,

consequentemente, por não conhecer ou não entender, e por conta disso

delega a sua oportunidade de decisão para outros que conhecem. Isso é

consequência de uma educação fragmentada de uma abordagem que não

estimula individuo no “querer saber mais”.

PERSPECTIVA DE BOFF: CONHECIMENTO DE FORMA INDISSOCIÁVEL

Boff (2009) traz em seu livro a opção-Terra: a solução para a terra não

cai do céu, através da compreensão de Ernst Haeckel (1834-1919), Jeans

Baggesen (1800), Jakob von Uexküll (1864-1944) sobre pensar á ecologia

numa vertente inter-retrorelacionamento dos seres vivos (bióticos) e não vivos

(abióticos) com o meio ambiente. E pensando nessa ecologia como um saber

das relações (p.101) acredito a relevância do ensino de ciências como um

saber de saberes entre si, holismo, ou seja, em sua totalidade.

Aspectos antes estudados separados, hoje são indissociáveis. Não

podemos olhar a sociedade de forma a não interagir com o meio ambiente, eles

estão intrínsecos e englobam aspectos inerentes ao desenvolvimento

sustentável. E aí vem uma questão a tona será que o cidadão em sua fase

escolar está sendo capacitados a lidar com essas dimensões. Boff (2009) na

vertente da urgência ecológica e os Parâmetros Curriculares Nacionais na

formação nos Anos Iniciais, afirmam propondo como meta “compreender a

ciência como um processo de produção de conhecimento e uma atividade

humana histórica associada a aspectos de ordem social, econômica, politica e

cultural” (MEC/SEF, 1998, p.33). O qual Boff (2009) traz correspondendo nas

dimensões:

5

Ambiental: pretende superar a visão reducionista do meio ambiente.

Social: apresentar as formas diferentes de relacionar com a natureza.

Politico: a participação dos indivíduos.

Econômico: na vertente de um desenvolvimento sustentável.

Mental: como a sociedade projeta entre valores e visões sobre o mundo.

Integral: assemelha com o ambiente, porém, procura acostumar o ser

humano com uma visão holística (total) onde tudo esta articulado.

Ético: reconhecer o caráter de autonomia dos seres, potencializando o

respeito ao futuro, procurando assim, limitar, cooperar, cuidar e

responsabilidade.

Com as dimensões de Boff, mencionada acima, observa-se numa

atividade exploratória sobre Educação Socioambiental na disciplina Introdução

e Metodologia do Ensino de Ciências, as respostas de três graduandos sobre

alguns itens relacionados á abordagem. Por meio da análise do discurso que

Orlandi (2002) concebe a linguagem como mediação necessária entre o

homem e a realidade natural e social (p.15). Almeja-se entender através das

perguntas o conhecimento dos termos e a visão sobre o que entende por meio

ambiente, social, e a junção delas, socioambiental em suas respostas. Trago-

as para percebermos a importância de um ensino de ciências, o qual permita

que o indivíduo avance em seus conceitos com uma interconexão,

considerando a partir das perspectivas de Boff para preencher essa lacuna da

fragmentação dos conteúdos e conhecimentos restringidos.

1. O que é meio ambiente? (pergunta)

-É o local onde tem árvores e animais diversificados. (graduando A)

-É tudo aquilo natural, o que o homem ainda não modificou e o qual não

pode viver sem. (graduando B).

2. O que é social?(pergunta)

-É o convívio com outras pessoas na sociedade (graduando B)

-É um conjunto de ações realizadas por um conjunto de pessoas.

(graduando C)

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3. E o que significa a junção socioambiental?(pergunta)

-É a sociedade vivendo no ambiente. (graduando A)

-Uma ação que a sociedade faz para cuida dos aspectos ambientais

como o desmatamento, a extinção. (graduando B)

-É o estudo social com o meio ambiente. (graduando C)

Analisando as respostas desses graduandos, percebem-se mesmo com

o nível superior eles não se veem pertencentes ao meio, destacando as

respostas das perguntas 1 e 3, sua visão ainda é compreendida ao aspecto

naturalista, o ambiente restrito a animais e plantas, a sociedade como algo

distante do meio ambiente, ou como apenas o convívio em um grupo. Neste

caso, podemos então desmistificar a concepção de que o não conhecimento

restringe apenas pessoas não escolarizadas, pois aqui esta um pequeno

incipiente resultados dentro da própria universidade.

Ponte (2010) salienta que o currículo planejado e desenvolvido em sala

de aula vem pecando por uma grande parcialidade no momento de definir a

cultura legitima e os conteúdos que valem a apena. O Ensino de Ciências, por

exemplo, tem se configurado numa “cultura” como admite BIZZO (2009) do

fracasso escolar.

Muitas vezes, professor e aluno não entendem afirmações, mesmo algumas que aparecem impressas em seus livros didáticos, pela simples razão de que elas são uma síntese de várias explicações e conceitos e que não podem mesmo fazer sentido sozinhas, como afirmações isoladas. (p.12)

E segue ainda acrescentando:

Para tentar simplificá-las, os materiais didáticos acabam distorcendo os conceitos científicos, algumas dando a impressão de que podem ser facilmente compreensíveis, outras aumentando as dificuldades de professores e alunos. Por exemplo, durante décadas muitos livros didáticos afirmaram que o verão ocorreria quando a Terra se aproximava do Sol. Mas ao ligar a televisão e ver o noticiário, professor e alunos se deparam com as praias lotadas do nosso litoral e nevascas terríveis no hemisfério Norte. Onde estaria a Terra: perto ou longe do Sol?(p.13)

7

Para Morin (2000) o conhecimento fragmentado das disciplinas impede

de operar o vínculo entre partes e a totalidade, o qual deve ser substituído por

um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto,

sua complexidade, seu conjunto. Gil-Pérez (2003) salienta que ainda sobre a

ruptura no ensino de ciências a qual tem sido praticada de forma simples e sem

conhecimentos aprimorados e que Sangari (2008) por sua vez, diz que não

possibilita uma mudança no olhar da criança sobre o meio ambiente, o qual

pode perceber nas respostas acima que restrição.

Atualmente os municípios estão lidando com um novo sistema de ensino

denominado Ciclo de Formação Humana. Segundo Mainardes (2010) o termo

“ciclos” designa uma forma de organização da escolaridade que pretende

superar o modelo da escola graduada, organizada em séries anuais e que

classifica os estudantes durante todo o processo de escolarização. Na

realidade o ciclo é uma realidade da politica de não reprovação.

O ciclo pretende segundo a Proposta Curricular Grapiúna (2010):

Conhecer e respeitar as fases de desenvolvimento, um tipo de ensino que procura privilegiar o que é mais significativo em cada período de formação considerando material escolar aqueles saberes e valores que fazem parte do dia-a-dia de cada um preocupando-se com a formação de sua identidade social, procurando reconhecer o aluno àquilo que lhe é particular e único no processo contínuo de avaliação em que só o sujeito é o parâmetro de si mesmo. (p. 03).

E diante do referido acima da Proposta Curricular Grapiúna acredito que

a perspectiva de Boff possa suprir essa necessidade de formar esse novo

cidadão, respeitando e privilegiando o seu cotidiano, possibilitando uma

Educação Socioambiental significativa, por meio de um ensino o qual concordo

com Veiga (s.a.) por ser uma “construção do saber e da prática comunicativa,

com a realidade multidimensional das relações sociais e de um mundo de

informação em emergência” (p. 17). E ao considerar o trabalho nos Anos

Iniciais, embasando em Vygotsky quanto ao processo de aprendizagem se

constitui através da interação que FONTANA e CRUZ (1997) em sua

abordagem entre linguagem e pensamento, refletem que as crianças nascem

num universos de signos e símbolos sociais e por conta disso:

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O desenvolvimento não depende apenas dos fatores intrínsecos à criança ou dos modos de ação sobre o objeto, depende sim das possibilidades que essa criança tem ou não, nas suas relações sociais, de se aproximar, de compartilhar e de elaborar os conteúdos e as formas de organização do conhecimento histórico e culturalmente desenvolvido e materializado nas palavras. (p.85).

Análise de uma atividade tradicional de ciências nos Anos

Iniciais

Veja a seguir um exemplo de atividade típica, onde podemos perceber

fragmentações do conteúdo, restringindo apenas utilização e funcionalidade.

Procedendo a análise de conteúdo baseado em Franco (2008) as mensagens

expressam as representações sociais na qualidade constituídas socialmente,

numa dinâmica estabelecida pelo sujeito cognitivo e o objeto do conhecimento

sendo constituídas por processos sociocognitivos, tem implicações na vida

cotidiana, influenciando não apenas a comunidade e a expressão das

mensagens (neste caso na atividade), mas também os comportamentos

(posterior às atividades).

Descrevendo:

Em dado momento é trabalhado em sala de aula a temática Água, e a

professora distribuiu para cada aluno, um ofício sobre o conteúdo.

Neste oficio destrincha a Água em frases constando de sua importância

para os seres vivos. A visibilidade da água como sem cor. Os sentidos, sem

cheiro e sem sabor.

A água é muito importante para todos os seres vivos.

A água não tem cheiro, nem gosto, nem sabor. Sem ela não há vida

9

Em um quadro exemplifica com imagens a utilização da água

restringindo apena para beber, tomar banho e cozinhar.

Figura 1

Para que serve a água:

Fonte: Google

Em seguida, com outro quadro exemplificando também com figuras

como devemos consumir a água.

Figura 2

Como devemos tomar a água:

FONTE: Google

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E por fim, prossegue com um informativo sobre os cuidados referidos ao

quadro acima, sobre a contaminação por alguns microrganismos e conceitua

como o modelo abaixo:

MICRORGANISMO: são seres vivos, só visíveis ao microscópio, que

podem causar doenças e prejudicar saúde.

E observando a atividade descrita acima, percebe-se a relevância do

fator biológico ligado á saúde, e o objeto em si – A ÁGUA, sempre é delineada

com a utilização e função vital para os seres vivos. E Quadro 1 abaixo, dos

Indicadores do Ciclo das Ciências da Natureza e Matemática, á temática –

ÁGUA tem como objetivo de apenas de:

“Compreender a importância da água (seu destino, uso adequado,

tratamento para promover a manutenção da saúde)”.

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QUADRO 1: INDICADORES DO CICLO

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1. Percepção de si mesmo como parte integrante de um ecossistema, onde interagem seres vivos e não vivos, colocando-se como defensor do mesmo, percebendo que sua conservação é fundamental para as espécies vivas.

- Seres vivos e sua relação com o homem e com o meio ambiente; - Seres vivos, suas características e necessidades vitais;

- Cuidados básicos de pequenos animais e vegetais: criação e cultivo; - Espécies de fauna e flora brasileiras e mundiais;

- População, comunidade, habitat, espécies, nicho e ecossistema. - Meio ambientes ecossistemas e conservação;

Compreender o corpo humano como um todo, integrando a saúde com bem estar físico, social e psíquico do indivíduo; Compreender a importância da água (seu destino, uso adequado, tratamento para promover a manutenção da saúde); - Estabelecer relações entre a falta de asseio corporal, a higiene ambiental e a ocorrência de doenças; - Caracterizar o corpo humano como receptor de toda uma estrutura de saúde, respeitando as diferenças das etapas da vida.

- Corpo humano; - Hábitos saudáveis e higiene;

- Reprodução humana; - Floresta Amazônica: seres vivos da Floresta Amazônica;

- Ecossistemas na: caatinga, cerrado, pantanal, campos sulinos.

1.1. Atua no cuidado com o meio ambiente, tendo consciência de que a conservação do mesmo é fundamental para as espécies vivas, compreendendo que os ambientes natural e cultural influenciam nossos hábitos de higiene, alimentação e habitação.

- Tipos de degradação ambiental causadas pelo homem e prejuízos ao planeta; Cuidados com o corpo e prevenção de acidentes;

Hábitos de higiene; Sentidos e evolução; diversidade dos seres vivos;

Biomas do Brasil; Desenvolvimento sustentável; Ecossistemas; Conservação; Meio ambiente: natural e cultural

Estrutura do Planeta Terra, corpos celestes... Ser humano e ambiente: ações responsáveis sobre o planeta.

- Saúde alimentar: pirâmide alimentar;

FONTE: Indicadores para o acompanhamento da aprendizagem de Ciclo.

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Contudo, a atividade aplicada não esta errônea em seu enfoque, pois,

condiz com os Indicados do Ciclo. Mas sua proposta não dá conta de uma

formação do indivíduo voltada para uma Educação Socioambiental.

Acreditamos que a temática em consonância com as dimensões dos

pressupostos de Boff, seja uma possibilidade formadora de um indivíduo

conhecedor das dimensões consolidada em dado elemento. Logo abaixo, o

Quadro 2 é um diagrama das dimensões atribuições ao elemento Água.

QUADRO 2 - Diagrama de abordagem

Fonte: Autora

O diagrama de abordagem, ao ver, possa representar algo complexo,

mas acreditamos na possibilidade de trabalhar essas dimensões da

perspectiva de Boff com as crianças. Na teoria de Vygotsky, o aprendizado dá

a partir do momento em que a criança começa a interagir com o meio, o qual

através dos meios de comunicação tem retratado fatores decorrentes aos

conflitos socioambientais de uma realidade muito próxima das crianças, como

as consequências das famílias em períodos de chuva com alagamento devido

ao acúmulo de lixo, a evolução da dengue em um período curto de tempo, os

“apagões” e o aumento nas contas de energias, são alguns exemplos.

Interagindo a Educação Socioambiental com os conflitos que estão no contexto

dessas crianças, acreditamos na possibilidade de um aprendizado significativo

que permeia a formação do individuo que tanto preconizamos. A atividade da

TEMA

AMBIENTAL

POLÍTICO

ECONÔMICO

SOCIAL INTEGRADOR

MENTAL

ÉTICO

13

Agua é possível perceber a ausência das dimensões da perspectiva de Boff

que estão intrínsecas na abordagem que não foi feita, como o trajeto da Água

até chegar a nossas residências, é extraída do meio ambiente, são armazenas

em usinas hidrelétricas para gerar energia, é um recurso vital ao ser humano,

temos que ter consciência de como a consumismo e isso não restringi apenas

ao beber, tomar banho e cozinhar, as contas que recebemos mensalmente

com valores variáveis, o que ela representa para cada individuo. Nicolai-

Hernández e Carvalho (2006) acrescenta que a incorporação de temas

controversos em atividades de ensino tem sido considerada com um caminho

de grande significado, não pelos conhecimentos que promove acerca dos

conteúdos, mas, também pelas potencialidades educativas para o

desenvolvimento cognitivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo é um ensaio teórico que apesar de breve já traz

demonstrativos para o leitor sobre a necessidade formativa de um cidadão

mais ativo frentes os problemas e possíveis soluções aos conflitos

socioambientais que se estendem. Mas para que isso aconteça torna-se

preciso que ele tenha conhecimento das dimensões que trago no presente

artigo na perspectiva de Boff (ambiental, politico, social, econômico, ético,

mental, integrador) que estão intrínsecos nas abordagens dos conflitos

socioambientais no ensino de ciências.

Inserir os Conflitos Socioambientais nos Anos Iniciais é um desafio. Não

quero formar as crianças em pequenos adultos, pretendo é que em sua

formação ele tenha a capacidade de poder interagir socialmente. Acreditamos

que uma das falhas dessa passividade do indivíduo é consequência de

assuntos complexos serem trabalhados apenas nos anos finais, que são

transmitidos de forma distorcida e fragmentada. Não quero elevar o ensino de

ciências, mais dá a importância precisa dessa disciplina que também possibilita

desenvolver as atividades potencializando a leitura e escrita como também a

14

formação de um cidadão consciente e integrado numa realidade

socioambiental.

Durante a verificação nos bancos de dissertações da CAPES, não

encontramos nenhum trabalho realizado nos Anos Iniciais que envolvesse a

Educação Socioambiental no Ensino de Ciências com os conflitos. As

pesquisas encontradas restringem a formação de professores, o processo de

ensino e aprendizagem com as dificuldades de leitura e escrita ou então os

benefícios de trabalhar com a ludicidade. E essa brecha foi determinante para

prosseguir com a temática na pesquisa, com o intuito de tentar preencher essa

lacuna. Com isso, estou propondo uma pesquisa titulada “Os conflitos

socioambientais: entre os limites e as possibilidades de uma abordagem

sociocientífica no Ensino de Ciências nos Anos Iniciais”, que estarão

embasadas na evocação de palavras das Representações Sociais e na

metodologia da aprendizagem por projeto que possibilitará avaliar a defesa que

delineie no processo prático das contribuições da perspectiva de Boff na

formação das crianças, pois considero a educação assim como ORDOÑEZ

(2005, p. 155) “a chave do progresso em todos os âmbitos”.

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