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O LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA: CONTEÚDOS, E ATIVIDADES QUE
EXPRESSAM A CULTURA E A EXPERIÊNCIA COTIDIANA NA APRENDIZAGEM
DOS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS.
Jeane Patricia dos Santos e Silva - UESC Bolsista de Iniciação Científica/CNPq
E-mail: [email protected]
Maria Elizabete Souza Couto - UESC Professora no Departamento de
Ciências da Educação E-mail: [email protected]
Eixo 5- Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Resumo
Este trabalho tem como objetivo identificar nos conteúdos dos livros didáticos as
possibilidades que os alunos têm para expressar as suas experiências cotidianas e
construir os conteúdos da matemática, transformando a matemática em uma
atividade humana, social e cultural. O objeto de estudo é a matemática como
atividade humana – social e cultural – nos livros didáticos do ensino fundamental I.
Trata-se de uma pesquisa de caráter documental, tendo como fontes para estudos e
coleta de dados os livros didáticos de Matemática do ensino fundamental I. A
pesquisa ajudou a compreender 'como’ e 'quando' nos livros didáticos aparecem
indicativos para que o professor possa trabalhar com a cultura e as experiências dos
alunos, bem como: que matemática será ministrada; que matemática o educador
precisa conhecer para ensinar; e os objetos matemáticos que são utilizados para a
aprendizagem cultural e social do conhecimento matemático. Foram analisados
livros didáticos do 1º ao 5º ano, que são divididos em 8/9 unidades e apresentam:
parlendas, cantigas, jogos, trechos de livros infantis nacionais e exercícios criativos.
Entretanto, ainda não apresentam uma concepção da Matemática como expressão
social e cultural. Finalizando podemos inferir que os conteúdos matemáticos e
atividades que estão pontuadas nestes livros didáticos que expressam a cultura e o
cotidiano dos alunos e professores ainda não indicam oportunidades para que estes
possam expressar seus saberes e fazeres, sua experiência e vivência. É como se a
atividade terminasse em si mesmo, estão presentes apenas para atender as
questões didáticas.
Palavras-chave: Aprendizagem. Cultura. Livro didático. Matemática.
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Introdução
A matemática é uma disciplina presente no currículo escolar de variados
níveis de ensino do país, ela começa a organizar-se como uma ferramenta de
análise, devido às necessidades oriundas do cotidiano a fim de suprir as
necessidades de uma geração futura, aonde a variedade cultural vem sendo algo
natural. Esta pesquisa tem como objetivo identificar nos conteúdos dos livros
didáticos as possibilidades que os alunos têm para expressar as suas experiências
cotidianas e construir os conteúdos da matemática, transformando a matemática em
uma atividade humana, social e cultural. O objeto de estudo da pesquisa é a
matemática como atividade humana – social e cultural – nos livros didáticos dos
anos iniciais. Para analisar a presença de uma matemática voltada à
contextualização do aluno temos como pressuposto teórico a Etnomatemática, que
segundo D’Ambrósio (2005), é uma manifestação clara do novo renascimento
adequando outras maneiras de aceitar e explicar fenômenos, que também se dá
com a inter-relação de outras culturas, além da Etnomatemática, tratar-se de um
estudo baseado na ética humana centralizando na recuperação da dignidade social
e cultural dos indivíduos.
O papel da Etnomatemática é socializar o saber e compartilhar o
conhecimento através da interação dos sujeitos, respeitando suas diferenças
culturais e sociais. Através da matemática, temos a noção de cultura e como se dá a
sobrevivência de cada espécie humana, como diferentes grupos são capazes de
organizar-se como sociedade compartilhando informações que são adquiridas em
conjunto. Podemos dizer que o dia-a-dia está repleto de sabedorias matemáticas
próprias do contexto de cada um, e utilizamos a matemática para entender as
operações cognitivas que utilizamos para comprar, vender, financiar etc., em
ambiente familiar e escolar, entre outros como afirma D’Ambrósio (2005).
Procuramos analisar tais aspectos no livro didático de Matemática
utilizado em sala de aula do ensino fundamental I do ano de 2012/2013. Este
material didático está presente no contexto da escola e quando utilizado é
trabalhado com alunos diariamente. O livro didático é um auxilio para um bom
desempenho do trabalho do professor e da aprendizagem do aluno. Para a
pesquisadora Magda Soares (1996, apud. LOPES, 2009), os livros didáticos não
estão sendo utilizados de maneira correta por seus responsáveis, além do que vem
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sendo alvo de interesse de autores e editoras como afirma em: “professores e
alunos, avaliadores e críticos que, hoje, manipulam tão incorretamente os livros
didáticos, nem sempre se dão conta de que eles são o resultado de uma longa
história da escola e do ensino”. (id, p. 35).
Segundo Echeverria (1994), muitos alunos têm dificuldade no
aprendizado de matemática, seja pelas diversas formas de interpretação de
questões matemáticas ou mesmo pela linguagem gráfica utilizada pelo autor do
material didático que vem sendo empregada na escola. A linguagem do livro em
questão pode influenciar no aprendizado que, por vezes, tem como usuários alunos
de diferentes culturas e contextos sociais. Deste modo é perceptível que os livros
didáticos sigam uma padronização, não se diferencia conforme cada região. Sendo
necessária, apresentação de características próprias de cada região, fato que levaria
o aluno a se envolver e se reconhecer dentro da linguagem didática utilizada, a fim
de facilitar a comunicação e o entendimento do educando.
A Etnomatemática e os livros didáticos
Com os dados da pesquisa pudemos verificar certa ausência nos
conteúdos matemáticos de aspectos da cultura ou regionalismo brasileiro– textos
diversificados - quer seja, de natureza cultural ou social, que possa ajudar na
construção de sujeitos críticos e com autonomia. A maneira como estes livros são
organizados minimizam a pluralidade cultural dos cidadãos, seus conteúdos e
atividades equivalem a uma percepção ideológica que acabam por se expressarem
nos conteúdos dos livros didáticos a padrões impostos socialmente, o que, em
alguns casos, causa certa exclusão pela cultura, experiência e hábitos de certas
regiões do território brasileiro, e acabam não refletindo a realidade do cotidiano dos
alunos ao qual está sendo trabalhada.
Observamos que as atividades terminam em si mesmo, não possibilitando
aos alunos situações para partilhar seus saberes, para avançar nos desafios
cognitivos e para que possam ir além do que está proposto no livro didático, não
sugerindo a troca de experiências e saberes entre os educandos. Um dos objetivos
do estudo da Etnomatemática é compreender e captar a complexidade dentro dos
contextos sociais das diferentes camadas econômicas e políticas. Está prática
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pedagógica nada mais é que uma prática fundamentada em estudos culturais. É
necessário que os professores tenham uma base de conhecimento ampla para
realizar um trabalho considerando o contexto e que leve em conta os conhecimentos
dos alunos e suas semelhanças com a cultura popular, atentando-se a importância
da valorização da sabedoria popular no exercício educacional. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Matemática (BRASIL, 1997) observam a importância de
respeitar a capacidade de aprendizagem e os conhecimentos que cada aluno traz
consigo no decorrer de seu cotidiano:
Os alunos trazem para a escola conhecimentos, ideias e intuições,
construídas através das experiências que vivenciam em seu grupo
sociocultural. Eles chegam à sala de aula com diferenciadas
ferramentas básica para, por exemplo, classificar, ordenar,
quantificar e medir. Além disso, aprendem a atuar de acordo com os
recursos, dependências e restrições de seu meio. (BRASIL, 1997, p.
25).
Os conteúdos presentes no livro didático ainda não contemplam de forma
satisfatória a cultura e pluralidade de cada região do país, nem mesmo dimensionam
a diversidade de discentes que evadem da escola por não saber como adaptá-la a
sua realidade social. Torna-se necessário rever a política cultural que deve ser
fundamentada no atual currículo educacional. Tal condição ficou evidente quando
analisamos o livro didático do ensino fundamental I, que ainda mantém a valorização
da camada social elevada que, muitas vezes, são representações ideológicas que
influi em minimizar a compreensão da própria história ou contexto social em que
este aluno convive. Numa mesma civilização os indivíduos poderão dar variadas
explicações, pois os conhecimentos e tradições não são iguais para todos.
Entretanto, poderão chegar a um determinado resultado utilizando diferentes
mecanismos materiais e intelectuais do seu cotidiano. O livro didático nesta questão
ainda tem uma lacuna que divide o saber popular da matemática acadêmica.
Podemos então afirmar que a Etnomatemática é praticada por grupos, comunidades
urbanas e também rurais em diversas formas de expressão desde os primórdios
onde já se usava cálculos para a divisão de terras utilizando-se a geometria
associada ao sistema de produção. Estas práticas comumente são vistas em nosso
cotidiano, existem estudos sobre a Etnomatemática que não é utilizado diretamente
na escola, mas aprendida no meio social do indivíduo caracterizado pela
Etnodidática. É comum observarmos os hábitos matemáticos em feiras livres, por
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exemplo, onde o ambiente propicia para o desenvolvimento matemático de adultos e
crianças que acompanham seus pais e os ajudam a contar dinheiro passar troco e
em cálculos de desconto, ou seja, a Etnomatemática desempenha um papel de
auxiliar na visão crítica da realidade utilizando elementos matemáticos para tal fim.
É fato que pensar os conceitos da Etnomatemática não significa
abandonar a matemática acadêmica, que se faz presente desde o século XVI, por
meio dele se conquistaram e colonizaram o mundo, graças ao conhecimento de
Pitágoras. Não se trata de rejeitar os estudos antigos mais sim aprimorá-los,
adequando valores morais, desta forma é um erro concluir que a Etnomatemática
poderá substituir uma matemática acadêmica fundamental para a formação de
indivíduos ativos. Assim, para que o livro didático seja atuante e eficiente e englobe
seus distintos alunos, é necessária outra proposta educacional alterando a
concepção de ensino, as metodologias de modo a se adequar com a realidade atual.
Para D’Ambrósio (2005), não se trata de inserir novas disciplinas ou rotular as já
existentes e sim, organizar as estratégias de ensino o que chamamos de currículo.
Observamos que a edição de livros deverá obedecer a critérios de escolha por parte
das escolas além do que, podemos citar o Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), que tem como objetivo auxiliar o desempenho pedagógico dos educadores
por meio da distribuição de coleções dos livros didáticos para estudantes da
educação básica. Podemos adiantar que as atividades que pontuamos nos livros
didáticos que expressam a cultura e o cotidiano dos alunos e professores, não
indicam oportunidades que estes podem expressar, oralmente e por escrito, a sua
experiência e vivência.
É fundamental para Etnomatemática a apropriação de práticas culturais
manifestadas no cotidiano dos alunos e, justamente, é nos livros didáticos que tais
conceitos e práticas podem estar retratados de maneira que todos possam
compartilhar vivências e comportamentos, a depender da matemática que vir a ser
ensinada aos alunos. O professor é um importante aliado no ensino/aprendizagem
da matemática. É necessário saber a matemática do cotidiano (cultura) para ensinar
de maneira segura e eficaz e sem o apoio de livros didáticos que considerem a
cultura como conhecimento dos sujeitos, fica difícil o aprendizado eficiente do
conteúdo.
Trabalhar os conteúdos da matemática aproximando da vida dos alunos é
fato de grande importância, tornando-a humana e acessível a todos. É importante a
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criação de recursos didáticos voltados ao entendimento de tal conteúdo, de forma
simples e objetiva no modo de ser explicado e, assim, assimilado de forma
qualitativa e acumulativa, agregada aos seus conhecimentos naturais. Já que temos
uma bagagem sobre conhecimentos dos quais nos relacionamos diariamente e isto,
sem dúvidas, nos facilita na resolução de problemas, agregando novos
conhecimentos aos que já possuímos, de forma a compartilhá-los e difundi-los
através da comunicação, característica que mais diferencia os seres humanos das
demais espécies, segundo D’Ambrósio (2005).
A matemática começa a organizar-se como instrumento de análise,
devido às necessidades oriundas do cotidiano. É possível elaborar explicações
sobre o que é visível e invisível, podemos citar como exemplo no livro didático, 1º
ano quando explicam os conteúdos retratam atividades com números a partir de
situações do cotidiano, medidas e sistema monetário.
Uma dos conteúdos principais da Matemática, sem dúvidas, é contar o
tempo, como vemos no exemplo a seguir (Figura 1) no livro didático do 2º ano do
Ensino Fundamental.
Entretanto, aparece no livro
didático do 1º ano a indicação do
tempo, como conteúdo, mas a
atividade retrata uma situação
rotineira e simplista que nem
sempre contribui para uma
aprendizagem crítica e
significativa.
Figura 1 – Indicação do tempo no livro de Matemática
Fonte: Livro do 1º Ano. MATSUBARA, J.; CORÁ, A. Projeto Pitanguá: Matemática. 2 ed, São Paulo:
Editora Moderna, 2008
Há mais de 2.500 anos, o homem já estava tentando criar um sistema de
conhecer e lidar com seu ambiente, porém necessitava de medições de espaço e
tempo. Em relação a conhecimentos matemáticos que retratem a cultura popular,
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como músicas, brincadeiras, parlendas etc, encontramos nos livros didáticos
analisados, os seguintes exemplos:
Figuras 2 e 3: Cultura popular – Leitura Fonte: Livro do 2º Ano. MATSUBARA, J.; CORÁ, A. Projeto Pitanguá: Matemática. 2 ed, São Paulo: Editora Moderna, 2008.
Nos exemplos citados, do livro do 2º ano de Matsubara (2008), podemos
verificar:
Na Figura 2, temos um texto para leitura sobre a pipa. Um tipo de
brinquedo que faz parte do cotidiano das crianças desde a preparação, suas cores,
forma (Geometria), medidas (Unidades de medida) bem como para brincar,
acompanhar a direção do vento (Geografia). Um brinquedo presente nas diversas
culturas, entre as crianças e adultos, inclusive na nossa região que temos praias.
Na Figura 3, temos uma parlenda que faz parte das tradições e da cultura
popular com seus versos. A atividade contribui para que o aluno aprenda a escrever
os numerais por extenso e numericamente.
Nesse sentido, estudos já indicavam a necessidade de organização do
conhecimento com um todo, com a finalidade de centrar o homem na sua cultura e
no seu cotidiano. Nesse sentido, a Etnomatemática se encaixa nessa reflexão sobre
a descolonização e na procura de reais possibilidades de acesso para o
subordinado, para o marginalizado e para o excluído (D’AMBRÓSIO, 2005). Novas
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estratégias de ação foram criadas, oriundas de uma visão de futuro imediato como
em longo prazo, sendo que, cada informação é absorvida de forma individual, e este
conhecimento é gerado pela interação comum, por meio da comunicação social dos
indivíduos.
Quando a sociedade e, portanto, os sistemas culturais se encontram e se
expõem mutuamente, estão sujeitos a uma dinâmica de interação que produz um
comportamento cultural que se nota em grupos de indivíduos, em comunidades,
tribos e nas sociedades como um todo. Os resultados dessa dinâmica do encontro
são as manifestações interculturais, que vêm se intensificando ao longo da história
da humanidade. (D’AMBRÓSIO, 2005, p. 59).
Em alguns casos, podemos ainda contar com a substituição de um
sistema por outro, ampliando novos conhecimentos, relações entre diferentes
pensamentos que representam novos potenciais criativos da espécie. E, justamente,
temos na matemática uma forma de conhecimento que expande a busca pela
resolução de problemas e direciona novos caminhos para seu desenvolvimento. A
matemática, sem dúvida, é atingida por esta transição que sofre a civilização,
procura-se por uma estabilidade a fim de suprir as necessidades de uma geração
futura aonde à variedade cultural vem sendo algo natural.
Como estamos nos referindo ao ensino fundamental I, os alunos têm por
característica a participação através da oralidade em aulas, em atividades em grupo
ou individuais, o professor tem papel fundamental na socialização deste saber,
sendo mediador de estratégias e resolução de problemas elaborados por ele, com o
auxílio do livro, de dúvidas ou fatos relatas por eles:
É importante salientar que partir dos conhecimentos que as crianças
possuem não significa restringir-se a eles, pois é papel da escola
ampliar esse universo de conhecimentos e dar condições a elas de
estabelecerem vínculos entre o que conhecem e os novos conteúdos
que vão construir, possibilitando uma aprendizagem significativa.
(BRASIL/PCN, 1997, p. 45).
Este é o papel da Etnomatemática: socializar o saber e partilhar o
conhecimento através da participação dos sujeitos, respeitando suas diferenças
culturais e sociais. Com a Matemática temos a noção de cultura e como se dá a
sobrevivência de cada espécie humana e como diferentes comunidades são
capazes de se organizar como sociedade compartilhando conhecimentos que são
adquiridos em conjunto. Podemos anunciar que o cotidiano está repleto de saberes
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matemáticos próprios do contexto de cada um e utilizamos a matemática para
entender as operações cognitivas que utilizamos para comprar, vender, financiar
etc., em ambiente familiar e escolar, entre outros como indica D’Ambrósio (2005).
No momento que solicitamos à escola livros didáticos de Matemática para
a realização da pesquisa tomamos conhecimento que, geralmente, não há
disponibilidade de livros didáticos para todos os alunos, ou quando há, são pouco
utilizados.
Além disso, é primordial uma boa prática docente, sabendo que somente
o livro não auxilia na aprendizagem dos conceitos matemáticos:
Um bom livro, nas mãos de um professor despreparado, pode
produzir péssimo resultado, assim como um livro de baixa qualidade,
conduzido pelas mãos de um professor competente, mediante
conjecturas sobre o conteúdo apresentado e sobre o contexto
focado, pode resultar numa aprendizagem significativa, crítica,
criativa e participativa. (LOPES, 2009, p. 37).
Sendo assim, todos devem estar envolvidos em prol de instigar o aluno
para aprendizagem do conteúdo de matemática, havendo uma contextualização
desse ensino com a sua vida cotidiana, se torna mais provável o alcance do
interesse do educando.
Segundo Lopes (2009), uma das causas do desuso do livro didático em
especial de matemática, é que os mesmos são formulados com base em pessoas
participantes de setores de destaque da sociedade, que tem grande opinião na
construção e manutenção destes livros em mercado. Este é um interesse da editora,
devido a isto se gera restrições no conteúdo do livro. Ainda segundo o autor, alguns
livros que temos em mercado são descontextualizados e sem compromisso com
uma educação crítica, não auxiliam na formação cidadã do aluno, estes conteúdos
se restringem as disposições atuais. Tais livros não estão cumprindo seu papel, em
tornar-se mais atraente e eficiente no ensino de matemática nas práticas escolares:
O “velho” livro didático não deve ser um “livrório”, ou seja, um “livro
grande e fútil” (Dicionário Aurélio), que incorpore, de forma
desmedida, qualquer tipo de recomendação para poder ingressar em
programas governamentais de distribuição de livro didático. Os
estudos realizados mostram a necessidade de que o autor tenha
conhecimento das várias concepções acerca do desenvolvimento da
Matemática e da Matemática Escolar, de abordagens metodológicas
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e facilitadoras de recursos instrucionais e tendências da Educação
Matemática e, na mesma proporção, das adversidades e conflitos da
sociedade, para que sua obra, dentro do que permite um recurso
instrucional impresso, auxilie o professor a refletir sobre suas
concepções e sua prática escolar, para a promoção de uma
educação crítica e transformadora. (LOPES, 2009, p. 60).
No ensino da matemática deve-se respeitar aspectos básicos tais como:
Relacionar a vida cotidiana do aluno no ensino da matemática;
Figura 4: A matemática e o cotidiano Fonte: Livro do 3º Ano. GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo: Editora Moderna, 2007.
Observar o mundo real com representações gráficas envolvidos nos conceitos
e princípios matemáticos;
Figura 5: Representação gráfica
Fonte: Livro do 3º Ano. GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo:
Editora Moderna, 2007.
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Estimular os educandos a falar e desenvolver estes conteúdos por meio de
tabelas, gráficos, construção e organização de tais dados.
Figura 6: Tratamento de informação
Fonte: Livro do 3º Ano. GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo:
Editora Moderna, 2007.
Entretanto, observamos que as atividades terminam em si mesmo, não
avançando nos desafios cognitivos para que os alunos possam ir além do que está
proposto no livro didático e compreender os saberes da cultura e do cotidiano na
aprendizagem matemática, como observamos nas imagens acima respectivamente
do livro de Gay (2007), do 3º ano.
Figura 7: Cultura egípcia
Fonte: Livro do 4º Ano. GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo: Editora Moderna, 2007.
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Na figura acima presente no livro do 4º ano, vemos que o livro didático
retrata da história da humanidade para explicar a origem do sistema de numeração,
para compreender o conhecimento matemático na atualidade.
Figura 8: Leitura na aprendizagem matemática
Fonte: Livro do 5º Ano. GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo: Editora Moderna, 2007.
No livro do 5º ano é desenvolvido com os alunos questões que os
estimulem a integrar situações do cotidiano com o conteúdo matemático. Situação
que também está presente no livro do 3º ano. Para visualizar, destacamos a sessão
que é desenvolvida que é: A matemática me ajuda a ser... Nesta seção, a
Matemática estará presente em situações que possibilitarão a reflexão sobre
diferentes aspectos do cotidiano, contribuindo para a formação cidadã do educando.
Livro 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano
Jogos 20 11 5 5 5
Desafios 4 - 8 8 9
Parlendas - 1 - - -
Cantiga Folclórica - 1 - - -
Cantiga Popular 2 2 - - -
Histórias (leituras) 6 29 9 14 12
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História da humanidade - 2 1 3 -
Reportagens - - - 3 3
Quadro 1: Expressão do cotidiano e da cultura nos livros de Matemática
No livro do 1º ano notamos a maior presença de jogos, histórias, cantigas
e desafios como objetivo que propiciar aos alunos a construção do conceito de
número.
No livro do 2º ano temos a presença das histórias e jogos. Indicando-nos
que a leitura também está presente na aprendizagem dos conhecimentos
matemáticos. O livro do 3º ano apresenta histórias, desafios e jogos como condição
de ampliação do conhecimento matemático com a sua realidade e contexto social.
Nos livros do 4º e 5º anos temos a presença das leituras (reportagens)
que complementam a construção do conhecimento matemático.
Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática
(BRASIL, 1997) contemplam a importância de respeitar a capacidade de
aprendizagem e os conhecimentos que cada aluno traz consigo no decorrer de seu
cotidiano:
Os alunos trazem para a escola conhecimentos, ideias e intuições,
construídas através das experiências que vivenciam em seu grupo
sociocultural. Eles chegam à sala de aula com diferenciadas
ferramentas básica para, por exemplo, classificar, ordenar,
quantificar e medir. Além disso, aprendem a atuar de acordo com os
recursos, dependências e restrições de seu meio. (BRASIL, 1997, p.
25).
Por fim, podemos dizer que o livro didático tem sua importância na
realidade educacional brasileira, e de acordo com o Decreto da Lei de 1938, o
Instituto Nacional do Livro (INL), gerou a Comissão Nacional do Livro Didático que
datava em seus incisos, que os livros didáticos das escolas primárias, normais,
profissionais ou secundárias de todo o território nacional deveriam obter a
autorização antecipada do Ministério da Educação. A edição de livros deverá
obedecer a critérios de escolha por parte das escolas além do que, podemos citar o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que tem como objetivo auxiliar o
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desempenho pedagógico dos educadores por meio da distribuição de coleções dos
livros didáticos para estudantes da educação básica.
Considerações finais
Assim, na análise dos livros de Matemática do 1º ao 5º ano, verificamos
que referente à contextualização de seus exercícios para a criança de cada ano
específico, os livros didáticos começam a recorrer a situações da cultura, no que se
refere ao conteúdo contextualizado, pois sabemos que no dia a dia o conhecimento,
está carregado de sabedorias e fazeres da cultura de cada indivíduo. Os livros
didáticos apresentam uma variedade de leituras (Ciências, História, Geografia,
Literatura) que incentivam a construção do conhecimento da Matemática. A
aprendizagem da Matemática não se constitui apenas como cálculos, separados das
vivências, experiências e das demais áreas do conhecimento. Embora, ainda não
expressa situações da cultura, no que se refere ao conteúdo contextualizado, pois
sabemos que no dia a dia o conhecimento, independente da área, está carregado de
sabedorias e fazeres da cultura de cada indivíduo. Porém, encontramos textos que
incentivam a leitura e escrita para aprendizagem do conhecimento da matemática
além de outras indicações para leitura e jogos. Podemos também observar que a
partir do livro do 3º ano complementos para o estudo do conteúdo matemático
baseado em textos científicos, história da humanidade e valorização da cidadania,
porém pouca exploração de ideias da cultura popular ou regional. Por fim, vamos
registrar que a nossa análise foi mais pedagógica, não tendo como finalidade
adentrar pelos conceitos matemáticos,
REFERÊNCIAS
FONTES: LIVROS DIDÁTICOS:
MATSUBARA, J.; CORÁ, A. Projeto Pitanguá: Matemática. 2 ed, São Paulo:
Editora Moderna, 2008. Livro do 1º Ano.
MATSUBARA, J.; CORÁ, A. Projeto Pitanguá: Matemática. 2 ed, São Paulo:
Editora Moderna, 2008. Livro do 2º Ano.
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GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo: Editora
Moderna, 2007. Livro do 3º Ano.
GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo: Editora Moderna, 2007. Livro do 4º Ano.
GAY, Mara Regina Garcia. Projeto Buriti: Matemática. 1 ed, São Paulo: Editora Moderna, 2007. Livro do 5º Ano.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática, 1997.
_____. Programa Naconal do Livro Didático. Portal do MEC. Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: 25 nov. 2012. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2. ed. Belo Horizonte, Autêntica, 2005.
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 1, p. 99-120. jan./abr. 2005. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n1/a08v31n1.pdf > Acesso em: 26 set. 2012. ECHEVERRIA, Maria, POZZO. Juan (Org.). Aprender a Resolver Problemas e Resolver Problemas para Aprender. In:______. A solução de problemas. Aprender a Resolver, Resolver para Aprender. São Paulo, 1994. HALMNENSCHLAGER, Vera Lúcia da Silva. Etnomatemática: uma experiência educacional. São Paulo, Selo Negro, 2001.
LOPES. Jairo de Araújo. NACARATO. Aldair. LOPES. Celi (Orgs.). O livro didático, o autor e as tendências em Educação Matemática. In:______. Escritas e Leituras na Educação Matemática. Belo Horizonte, Autêntica, 2009.