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1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A EXECUÇÃO DE SENTENÇA À LUZ DO NOVO REGRAMENTO:
ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDENCIAL
AUTOR
POR: ANA RITA DA COSTA FREITAS
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
NITERÓI
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A EXECUÇÃO DE SENTENÇA À LUZ DO NOVO REGRAMENTO:
ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDENCIAL
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Direito Processual Civil.
Por: Ana Rita da Costa Freitas
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Jesus Cristo
por interceder junto ao Pai por mim, ao Pai
por me atender e depois a minha mãe
Vitalina, a minha irmã Beatriz, e a meus
sobrinhos Simone e Daniel, por me
inspirarem.
4
DEDICATÓRIA
Dedico à memória de Byron Torres de
Freitas, honrado escritor, advogado, político
e pai.
5
RESUMO
A sociedade, desde os meados do século 20, vem se desenvolvendo de forma vertiginosa. Assim, mostra-se imperioso que o conjunto de normas e regras que a regem seja constantemente revisto e atualizado. No Brasil, nota-se que o desenvolvimento técnico e científico, além do desenvolvimento dos costumes, tratou de mudar consideravelmente as relações sociais. Em decorrência dessas transformações, houve mudanças nos objetos dessas relações. As de direito material, com toda essa transformação social, vêm sendo atingida de forma incontestável, porém nem sempre o legislador, que procura modernizar e adequar o conjunto de regras, consegue atingir a meta procurada de impingir maior efetividade e celeridade aos processos. As leis nº 10.444/2002 e 11.232/2005 são exemplos da tentativa de se imprimir maior celeridade e efetividade à tutela judicial implementando medidas inclinadas a esse ofício no campo do Direito Processual Civil.
6
METODOLOGIA
Este trabalho concretiza-se em uma apresentação de alguns aspectos
do fenômeno jurídico em estudo, do tratamento conferido a cada uma das
vertentes do referido fenômeno pelo ordenamento jurídico nacional
consubstanciado em sua interpretação doutrinária e jurisprudencial.
Para que se pudesse atingir tal objetivo, o presente estudo foi
elaborado a partir do método da pesquisa bibliográfica, como também da pesquisa
jurisprudencial, ambas levadas a efeito através do conhecimento aferido em livros
e pesquisa da jurisprudência através de páginas oficiais da internet.
Também, para a implementação da pesquisa que resultou nesta
monografia, foi feita uma análise interpretativa do entendimento dos doutrinadores
e dos magistrados, em cuidadosa análise de cada trabalho investigado, extraindo-
se a essência do posicionamento de cada um deles acerca do tema ora tratado,
tudo sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
INTRODUZIDAS PELAS LEIS 10.444/2002 E 11.232/2005................................ 11
1.1 – DA LEI Nº 10.444/2002................................................................................ 11
1.2 – DA LEI Nº 11.232/2005................................................................................ 13
1.3 – DA AÇÃO MONITÓRIA................................................................................ 15
1.4 – BREVE COMENTÁRIO ACERCA DOS TÍTULOS EXECUTIVOS
JUDICIAIS............................................................................................................. 16
CAPÍTULO II
PONTO DE VISTA DOUTRINÁRIO...................................................................... 18
2.1 – DA INTIMAÇÃO E DO PRAZO PARA CUMPRIMENTO DA
OBRIGAÇÃO......................................................................................................... 18
2.2 – DA POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO.............................................. 20
2.3 – DA NATUREZA DA IMPUGNAÇÃO............................................................ 22
2.4 – BREVES LINHAS ACERCA DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA................ 24
2.5 – DO CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO................................. 25
8
2.6 - DO INÍCIO DA EXECUÇÃO......................................................................... 26
CAPÍTULO III
PONTO DE VISTA JURISPRUDENCIAL............................................................. 28
3.1 – DO RECURSO CABÍVEL NA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA.................... 28
3.2 – DA POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO.............................................. 30
3.3 – DA INTIMAÇÃO DO DEVEDOR PARA O CUMPRIMENTO DA
OBRIGAÇÃO......................................................................................................... 32
3.4 – DO CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS............................. 34
CONCLUSÃO........................................................................................................ 36
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 39
9
INTRODUÇÃO
Neste trabalho são abordadas importantes modificações introduzidas
pelas Leis 10.444/2002 e 11.232/2005 no Código de Processo Civil, com a
exposição das questões mais importantes ainda controversas e como essas
questões estão sendo tratadas no ponto de vista da doutrina e da jurisprudência.
Às portas da edição do novo Código de Processo Civil, mostra-se importante o
levantamento dos pontos controvertidos existentes nas regras atuais de execução
de sentença.
Tendo em vista a existência de tais controvérsias, e, com já exposto
estando em trâmite a efetivação do novo Código de Processo Civil, procurou-se,
aqui, fazer um breve levantamento de alguns pontos importantes, motivos de
controvérsia, que, espera-se, sejam objeto de revisão por parte dos legisladores
envolvidos na confecção do novo Códex Processual Civil.
Para tanto, verificou-se que, a partir do ano de 1994, vêm ocorrendo
importantes reformas no Código de Processo Civil. As Leis 10.444/2002 e
11.232/2005 trouxeram consideráveis mudanças ao âmbito da execução.
A Lei nº 10.444/2002 tratou de modificar a execução das sentenças que
condenam ao cumprimento de obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa.
Desse modo, o cumprimento desses comandos passou a ser dentro do próprio
processo em que a sentença foi proferida. Portanto, não mais subsiste a
condenação em um processo de conhecimento e a execução em um processo
autônomo. Observa-se que o art. 475-I, do Código de Processo Civil, estabelece
que o cumprimento da sentença que comina ao devedor o cumprimento de
obrigação de fazer ou de não fazer e de entrega de coisa será feito em
conformidade com o art. 461, do mesmo Código. Da mesma forma, assim o
estabelece o art. 644, também do Código de Processo Civil.
10
No tocante à Lei 11.232/2005, tem-se que é tão notável como o
cumprimento de sentença, tratando-se de obrigação por quantia certa, foi
modificado, que seu regramento saiu do Livro II do Código de Processo Civil, que
trata do Processo de Execução, indo para o Capítulo X, do Livro I, que trata do
Processo de Conhecimento.
Entretanto, verifica-se que não se vislumbra patente a adesão dos
doutrinadores e juristas no sentido de entender que essa mudança tem o condão
de otimizar a sistemática da execução de sentença, que agora está
consubstanciada em simples cumprimento de sentença.
Destarte, vê-se que houve grande modificação no tocante aos
procedimentos para execução da sentença, que, de acordo com o que já foi
exposto, tornou-se tão-somente mera fase processual, com caráter simplesmente
incidental. Porém, para o entendimento dessa nova ordem, a controvérsia ainda
impera. Assim é que, neste estudo são apresentados alguns pontos controvertidos
que atualmente vigoram no campo doutrinário e jurisprudencial.
No primeiro capítulo, são analisadas as principais modificações
oriundas de ambas as Leis, para que se tenha a exata noção das questões
controversas.
No segundo capítulo, indica-se como tais questões estão sendo
tratadas do ponto de vista de renomados doutrinadores, mostrando-se as
correntes em sentido contrário de entendimento.
Já no terceiro capítulo, é considerado o ponto de vista dos que aplicam
as leis e normas aos casos concretos, ou seja, como a jurisprudência vem
tratando os pontos controversos.
Dessa forma, neste estudo, os pontos controversos existentes após a
edição das leis em comento são mostrados nas suas vertentes doutrinárias e
jurisprudenciais.
11
CAPÍTULO I
PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL INTRODUZIDAS PELAS LEIS 10.444/2002 E 11.232/2005
Antes da explanação acerca do tema, mostra-se útil deixar consignado
que, de maneira geral, as Leis 10.444/2002 e 11.232/2005, para o campo do
cumprimento da execução dos títulos judiciais, obrigação de pagar, de fazer e não
fazer e de entregar coisa, como também da liquidação de sentença, criaram uma
nova forma sem a necessidade da instauração de um novo processo, ressalvada a
execução das obrigações para pagamento de quantia certa contra a Fazenda
Pública e execução das prestações alimentícias. Vale ressaltar que, no que
concerne às alterações do processo executório das obrigações, a Lei 11.232/2005
tratou apenas da execução para pagamento de quantia certa, tendo em vista que
as Leis 8.952/1994 e 10.444/2005 já haviam disposto sobre a execução das
obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa. O que agora ocorre é que no
próprio processo de conhecimento são implementadas as medidas tendentes ao
cumprimento da obrigação.
1.1 – DA LEI Nº 10.444/2002
A Lei nº 10.444/2002 instituiu para as ações que tenham por objeto a
entrega de coisa (obrigação de dar) uma única relação processual, excetuando-se,
naturalmente, os casos que não seguem os procedimentos comuns dos arts. 621
e seguintes (ação de despejo, de reintegração de posse, etc), do Código de
Processo Civil. Assim, o cumprimento de obrigação para entrega de coisa se dá
no bojo da ação de conhecimento, inexistindo, como outrora, a obrigatoriedade de
dois processos, quais sejam: uma ação condenatória e outra executória. A ação
para entrega de coisa segue os procedimentos estabelecidos com a importante
reforma anterior do Código de Processo Civil no tocante à execução das
12
obrigações de fazer e não fazer (art. 461, CPC), e os determinados no parágrafo
3º, conforme determinado no art. 461-A, do Código de Processo Civil, artigo
acrescentado pela lei em análise.
Vale ressalvar que o acima exposto aplica-se somente às execuções de
títulos judiciais como bem ensina Humberto Theodoro Junior1:
A Lei nº 10.444, de 07.05.02, separou as execuções de títulos judiciais e extrajudiciais. Apenas para estas destinou a actio iudicati, nos moldes dos arts. 621 a 631. Para as sentenças condenatórias à entrega de coisa, o regime adotado é o da executio per officium iudicis. Não há mais a ação de execução em sucessivo processo. O sistema é o da sentença executiva lato sensu, como já anteriormente se passava com as ações de despejo e com as possessórias. Ao julgamento do pleito segue-se a expedição do mandado de entrega da coisa perseguida pelo autor, sem necessidade da abertura do processo de execução (art. 461-A, parágrafo 2º, com a redação da Lei nº 10.444, de 07.05.02).
A lei ora estudada também inseriu os parágrafos 5º e 6º ao art. 461, do
Código de Processo Civil, que dispõem sobre o cumprimento das obrigações de
fazer e não fazer, destacando-se o disposto no parágrafo 5º, que trata dos
diversos meios de coerção direta e indireta postos à disposição do juiz,
independentemente de requerimento da parte interessada, para o adimplemento
da obrigação.
Registre-se que o art 644, do Código de Processo Civil, passou a
vigorar dispondo que “a sentença relativa à obrigação de fazer ou não fazer
cumpre-se de acordo com o art. 461, observando-se subsidiariamente, o disposto
neste Capítulo”, daí conclui-se que a forma de execução das obrigações de fazer
e não fazer ocorrerá com fulcro nos artigos 632 a 638 e 642 a 643, todos do
Código de Processo Civil, respectivamente, quando estivermos diante da
necessidade de executar um título executivo extrajudicial, pois, por outro lado, se
o título for judicial, não resta dúvida que a execução das obrigações de fazer e não
fazer se dará com base no art. 461 e seguintes.
1 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 35ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 144.
13
Vale ressalvar, também, as importantes alterações produzidas pela lei
10.444/2002 no corpo do art. 273, do Código de Processo Civil, que passou a
sujeitar a antecipação da tutela às regras que disciplinam o instituto da execução
provisória, além das disposições que regulam as obrigações de fazer impostas a
tal título, e possibilitou a antecipação parcial de um dos pedidos ou de partes
deles, o que é de grande utilidade em sua aplicação prática.
Acerca das modificações oriundas da Lei 10.444/2002 para o Código de
Processo Civil, podemos agregar mais esclarecimento buscando as palavras do
processualista Marcelo Abelha Rodrigues2:
Após a bem sucedida experiência com a tutela específica das obrigações de fazer e não fazer, o legislador da reforma do CPC pretendeu, e assim fez, estender o mesmo tratamento processual para a tutela específica das obrigações de entrega de coisa (que não seja dinheiro). O art. 2º da Lei 10.444/2002, que criou o art. 461-A, promoveu uma sensível e esperada modificação na estrutura da tutela das obrigações de entrega de coisa, e seguindo a mestra trilha da tutela dos deveres de fazer e não fazer, causou mais uma ruptura do esqueleto do CPC, deixando este diploma ainda mais remendado e costurado. Depois do êxito de alteração de 1994 do regime jurídico relativo às obrigações de fazer e não fazer, em que as funções de cognição e execução passaram a ser realizadas numa mesma relação jurídica processual, por intermédio de técnica mandamental ou executiva lato sensu, o legislador da Lei 10.444/2002 decidiu acolher a sugestão de Teori Albino Zavascki e, assim, estender o mesmo tipo de tratamento para as obrigações de entrega de coisa.
1.2 – DA LEI Nº 11.232/2005
Prosseguindo, com relação à Lei nº 11.232/2005, tem-se que, de
acordo com o seu art. 9º. foram expressamente revogados os seguintes
dispositivos do Código de Processo Civil pátrio: Inciso III do art. 520, os artigos.
570, 584, 588/589, 590, 602/611, 639/641 e o Capítulo VI do Título I do Livro II do
2 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de Direito Processual Civil. 2ª ed. rev. aum. São Paulo: RT, 2003, p. 245.
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Código de Processo Civil. Em contrapartida, no Código de Processo Civil foram
incluídos o Capítulo IX, que versa acerca da Liquidação da sentença, nos artigos
475-A a 475-H e o Capítulo X, que trata do Cumprimento de Sentença nos artigos
475-I a 475-R, todos incluídos pela supracitada Lei. Vale registrar, que de acordo
com o art. 475-I, do CPC: “O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts.
461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por
execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo”.
Registre-se, ainda, que o Capítulo II que antes tratava dos Embargos à
Execução Fundada em Sentença, passou a tratar dos Embargos à Execução
contra a Fazenda Pública.
Agora, tratando-se de título judicial, o devedor poderá atacar o
cumprimento de sentença por meio do instituto da impugnação, previsto no Código
de Processo Civil, nos artigos 475-L e 475-M. Quanto aos títulos executivos
extrajudiciais, não houve alteração na sistemática processual, de modo que
continuam comportando impugnação por meio de embargos do devedor, conforme
artigos 736 a 745 do Código de Processo Civil. É importante destacar que se a
execução é por título extrajudicial, vislumbra-se que os embargos persistem, seja
execução por quantia certa, para entrega de coisa, obrigação de fazer ou não
fazer.
Impende destacar que a impugnação não suspende o processo
executivo, embora o juiz possa, diante de critérios de conveniência e
oportunidade, conferir-lhe tal efeito, de acordo com o art. 475-M, do Código de
Processo Civil, que consigna: “A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo
o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o
prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao
executado grave dano de difícil ou incerta reparação”.
Ocorre, que, mesmo com efeito suspensivo, a execução pode seguir,
desde que prestada caução, observando-se as regras da execução provisória
apontadas no artigo 475-O, do Código de Processo Civil, de acordo com o que
15
autoriza o parágrafo 1º do art. 475-L, do mesmo Código: “Ainda que atribuído
efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exeqüente requerer o prosseguimento
da execução, oferecendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo
juiz e prestada nos próprios autos”. Resumindo-se, se a impugnação tem efeito
suspensivo, corre nos próprios autos, se não tem, corre em apartado.
Vislumbra-se, no entanto, cabível a exceção de pré-executividade, por
exemplo, a teor do artigo 475-R, do Código de Processo Civil, que estabelece:
“Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as
normas que regem o processo de execução de título extrajudicial”. Contra a
decisão que resolve a impugnação, cabe agravo de instrumento quando tal
decisão não extinguir a apelação, que, se assim for, requererá apelação.
Cabe ressaltar que o art. 475-I, do CPC, no seu parágrafo 1º,
estabelece que “é definitiva a execução da sentença transitada em julgado e
provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não
foi atribuído efeito suspensivo”, assim, poderá o credor, independentemente da
parte contrária ter apresentado recurso questionando outras matérias que não
foram objeto do trânsito em julgado, requerer a expedição de mandado de
penhora e avaliação, caso o devedor não cumpra no prazo de 15 dias o
adimplemento da obrigação por quantia certa ou já liquidada, a teor do art. 475-J,
do mesmo Código.
A despeito do que foi exposto, é importante lembrar que, para a
Fazenda Pública, os embargos à execução continuam a existir. Assim sendo, em
caso de ser executado um título judicial contra a mesma, esta não oferecerá
impugnação em sim embargos, que poderão ser recebidos com efeito suspensivo
e atacáveis por apelação.
1.3 – DA AÇÃO MONITÓRIA
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No que concerne à ação monitória, os embargos continuam existindo e,
de sua rejeição, cabe apelação. Caso não haja oposição de embargos monitórios,
ou se rejeitados e não houver apelo, a execução segue o rito que anteriormente
exposto para coisa certa ou incerta, obrigação de fazer, não fazer, ou seja, artigos
461 e seguintes, do Código de Processo Civil. É o que se depreende do art. 1.102-
C, do CPC, com a redação dada pela Lei nº11.232/2005, in verbis: “No prazo
previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a
eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-se-á,
de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em
mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I, Título VIII, Capítulo X,
desta Lei”.
1.4 – BREVE COMENTÁRIO ACERCA DOS TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS
Não há que se olvidar que o inciso I do art. 584, do CPC, (revogado)
considerava títulos executivos judiciais tão-somente as sentenças condenatórias
proferidas no processo civil. A Lei nº 11.232/2005 veio a alterar o conceito desses
títulos: o inciso I do art 475-N, do Código de Processo Civil, dispõe que “são títulos
executivos judiciais a sentença proferida no processo civil que reconheça a
existência de uma obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa e quantia”.
Igualmente nos incisos III e V do referido artigo ficou estabelecido que são títulos
judiciais “a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que
inclua matéria não posta em juízo e o acordo extrajudicial, de qualquer natureza,
homologado por sentença”.
Vale lembrar que as sentenças homologatórias de conciliação e
transação já eram consideradas títulos executivos judiciais antes da Lei
11.232/2005. Porém, também foi incluído no inciso 5º do art. 475-N, do Código de
Processo Civil, como título executivo judicial o acordo extrajudicial, de qualquer
natureza, homologado judicialmente.
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Registre-se que nos processos sincréticos, tendo em vista já ter havido
a citação do réu no processo de conhecimento, não persiste a necessidade de
nova citação para o cumprimento de sentença, haja vista a inexistência de
processo de execução. Porém, deve existir a intimação do executado para o
cumprimento da obrigação, é o que se conclui do art. 475-J, do Código de
Processo Civil, que estabelece o prazo de 15 dias para tal cumprimento.
É de se destacar que, com o advento da lei nº 11.232/2005, a defesa do
executado se faz mediante incidente de impugnação que não tem efeito
suspensivo, salvo se o juiz acolher alegação de dano de difícil ou incerta
reparação apresentada pelo executado em sua impugnação. Pela atual regra,
incluída no Código de Processo Civil pelo artigo 475-M, § 3º, o recurso cabível da
decisão que resolver a impugnação é o agravo de instrumento, tendo em vista
que, como já visto, a impugnação tem natureza de incidente processual e a
decisão deste incidente imputará em uma decisão interlocutória, salvo quando
importar extinção da execução caso em que caberá apelação.
Para finalizar esse Capítulo vale consignar o pensamento de Francisco
José Carvalho3:
A finalidade do cumprimento da sentença desde logo é propiciar a efetiva prestação jurisdicional, tornando eficaz o desiderato da distribuição da justiça. Esta modalidade de execução tem o condão de promover a celeridade do Poder Judiciário, propiciando a satisfação da tutela pretendida pelo jurisdicionado. Logo, é um predicado altamente significativo para a satisfação daqueles que reclamam seus direitos.
E o autor prossegue:
Deve-se entender por tutela jurisdicional diferenciada a proteção jurídica atribuída a um direito, tendente a tornar célere, eficaz e proveitoso o resultado útil da demanda pretendida pelo autor ou réu em razão da atuação do Poder Judiciário.
3 CARVALHO, Francisco José. Tutela Jurisdicional Diferenciada na Lei de Cumprimento da Sentença, in: ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda (coordenadores). Atualidades do Processo Civil. Curitiba: Juruá, 2007, pp.159/160.
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CAPÍTULO II
PONTO DE VISTA DOUTRINÁRIO
Existem vários pontos ainda controvertidos acerca das modificações
introduzidas pelas Leis nº 10.444/2002 e 11.232/2005. É o que bem se vislumbra
no campo doutrinário. Dentre todos esses pontos, destacam-se os que serão a
seguir expostos.
2.1 – DA INTIMAÇÃO E DO PRAZO PARA CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO
Primeiramente, cabe apresentar aqui a controvérsia existente no
tocante à obrigatoriedade ou não da intimação pessoal na fase da execução da
sentença, como também em relação ao momento em que começa a correr o prazo
para o cumprimento da obrigação.
Vale registrar o que estabelece atualmente o art. 475-J, do Código de
Processo Civil: “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já
fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a
requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei,
expedir-se-á mandado de penhora e avaliação”.
Da análise do supracitado artigo, não resta claro se haverá intimação
pessoal do executado ou a intimação do seu patrono. Assim, não existe
entendimento pacificado acerca da questão, Nelson Nery Junior e Rosa Maria
de Andrade Nery4 defendem que a intimação deve ser efetivada na pessoa do
4 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 9 ed. São Paulo: RT, 2006. p. 641.
19
advogado do executado, registrando tal posicionamento com as seguintes
palavras:
A intimação do devedor deve ser feita na pessoa de seu advogado, que é o modo determinado pela Reforma da Lei 11232/05 para comunicação do devedor na liquidação de sentença e na execução para o cumprimento da sentença. A intimação do advogado do devedor, que se faz, de regra, pela imprensa oficial, para o cumprimento do julgado é ato de ofício do juiz, em decorrência do impulso oficial do CPC 262. Outra forma que pode ser adotada para a intimação do devedor é o juiz, no dispositivo da sentença, determinar algo como: “transitada em julgado, intime-se o devedor, na pessoa de seu advogado, para pagar em quinze dias, sob pena de multa de 10% sobre o valor da condenação”. Pode fazer isso porque é providência que deve ser tomada ex officio.
Igualmente, na mesma esteira de entendimento, Ada Pellegrini
Grinover5 afirmou:
A lei não prevê intimação da condenação líquida para efeito do depósito do art. 475-J, que isenta o devedor da multa de 10%, cabível no caso de haver impugnação. Mas, em homenagem ao princípio da segurança jurídica, é provável que se chegue à conclusão de que a intimação é necessária: na pessoa do patrono, contudo em observância do espírito utilitário da lei.
Por outro lado, defendendo a intimação pessoal da parte quando o
objetivo da comunicação processual for provocar a prática de um ato que a ela
caiba realizar pessoalmente, no caso o cumprimento da obrigação, registre-se o
entendimento de Alexandre Freitas Câmara6:
Tenho para mim que nenhuma dessas duas posições é a melhor. Penso que o termo “a quo” desse prazo quinzenal é a intimação pessoal do devedor para cumprir a sentença. Não pode ser mesmo de outro modo. Em primeiro lugar, é expresso o art. 240 do CPC em afirmar que, salvo disposição em contrário, os prazos para as partes correm da intimação. Ora, se não há expressa disposição em contrário no art. 475-J (ou em qualquer
5 GRINOVER, Ada Pellegrini. in: CIANCI, Mirna; QUARTIER, Rita de Cássia Rocha Conte (coord). Temas Atuais da Execução Civil: estudos em homenagem ao Professor Donaldo Armelin. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 4. 6 CÂMARA, Alexandre Freitas. A Nova Execução de Sentença, 6ª ed. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2009, pp. 119/120.
20
outro lugar), o prazo de quinze dias ali referido tem de correr da intimação. Não pode, pois, ser aceita a idéia da fluência automática do prazo, por ser uma opinião “data vênia” contrária à lei. Isso, porém, não é tudo. Há de se levar em consideração, ainda, o fato de que a fluência desse prazo de forma automática implicaria, a nosso ver, uma violação à garantia constitucional do processo justo, decorrente do princípio do devido processo legal, uma vez que poderia acontecer de a multa incidir sem que a parte sequer soubesse que já se iniciara o prazo para o pagamento. Basta pensar nos casos em que o advogado não comunica à parte o momento inicial da eficácia da sentença ou, pior ainda, aqueles casos em que por alguma razão haja dificuldade em estabelecer com precisão a partir de que momento se deu o início da produção de efeitos da sentença. Não tenho, pois, qualquer dúvida em sustentar a necessidade de intimação pessoal do executado para que pague o valor da dívida, sob pena de incidir a multa referida no art. 475-J do CPC. Intimação pessoal e não ao seu advogado, pois, como já se viu em passagem anterior desta obra (supra, item 3.1), deve-se intimar a parte pessoalmente sempre que a finalidade da comunicação processual for provocar a prática de um ato que a ela caiba realizar pessoalmente (como, sem dúvida, é o ato de cumprir a sentença).
Tais questões são encaradas de forma diferenciada por Araken de
Assis7, que ensina:
O prazo flui da data em que a condenação se tornar exigível. Logo, se aplicará tanto na execução definitiva, quanto na provisória. É o que se extrai da locução “condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação” (art. 475-J, caput). Não se previu qualquer intimação pessoal do executado, ou do seu advogado, como termo inicial do prazo. Era idéia fixa do legislador dispensar nova citação, na fase de cumprimento, economizando tempo precioso e evitando percalços na sempre trabalhosa localização do devedor. Daí por que qualquer medida tendente a introduzir intimação pessoal, ou providência análoga, harmoniza-se mal com as finalidades da lei. Então, mostrar-se-ia preferível restaurar a citação inicial para todos os casos.
2.2 – DA POSSIBILIDADE DO PARCELAMENTO DO DÉBITO NO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
7 ASSIS, Araken de. Cumprimento de Sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 235.
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Primeiramente, vale registrar o que estabelece o art. 745-A do Código
de Processo Civil: “No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do
exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em
execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado
requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais,
acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês”.
Tal preceito incluído no Código de Processo Civil pelo supracitado
artigo é denominado parcelamento judicial do crédito exeqüendo, tendo a
manifesta finalidade de atender ao princípio da utilidade da execução e, ao mesmo
tempo, garantir ao executado a possibilidade de execução menos gravosa ao
devedor que renuncia à oposição dos embargos e reconhece o débito. Vislumbra-
se, no entanto, que tal preceito é aplicável apenas à execução fundada em título
executivo extrajudicial, tendo em vista que apenas o processo executivo autônomo
aceita a oposição de embargos.
Ocorre que o artigo 475-R, do Código de Processo Civil, (incluído pela
Lei nº. 11.232/2005) dispõe que as normas que regem o processo de execução
extrajudicial são aplicáveis subsidiariamente ao cumprimento de sentença, no que
couber. Dessa forma, passou-se a discutir se o parcelamento compulsório está
entre as normas que aceitam tal aplicação subsidiária. Parte da doutrina e dos
julgadores entende que sim tendo em vista que se esse benefício é do devedor na
execução de título extrajudicial, discute-se, porque não pode ser também do
devedor que tem o débito reconhecido na esfera judicial.
Humberto Theodoro Junior8 consignou:
O parcelamento concebido pelo art. 745-A é um incidente típico da execução por quantia certa fundada em título extrajudicial, que se apresenta como uma alternativa aos embargos do executado. Figura dentre os dispositivos que regulam os embargos, ação que nem sequer existe na execução de sentença. Aliás, não teria sentido beneficiar o devedor condenado
8 THEODORO JUNIOR. A Reforma da Execução do Título Extrajudicial. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 217.
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por sentença judicial com novo prazo de espera, quando se valeu de todas as possibilidades de discussão, recursos e delongas do processo de conhecimento. Seria um novo e pesado ônus para o credor, que teve de percorrer a longa e penosa via crucis do processo condenatório, ter ainda de suportar mais seis meses para tomar as medidas judiciais executivas contra o devedor renitente (...). O credor por título judicial não está sujeito à ação executiva nem tampouco corre o risco de ação de embargos do devedor. O cumprimento da sentença desenvolve-se sumariamente e pode atingir, em breve espaço de tempo, a expropriação do bem penhorado e a satisfação do valor da condenação. Não há, pois, lugar para prazo de espera e parcelamento num quadro processual como esse.
2.3 – DA NATUREZA DA IMPUGNAÇÃO
É inquestionável a existência de dúvidas no campo doutrinário acerca
da natureza da impugnação tendo em vista que a mesma para alguns autores
tem, tanto como antes ocorria com os embargos à execução, natureza de ação,
conforme podemos aferir das palavras de Marcelo José Magalhães Bonicio9
(...) resta indagar, ainda, qual a natureza do novo regime de impugnação, previsto nos arts. 475-J e 475-L do CPC. O legislador, também nesse ponto, não cumpriu a sua missão de evitar incertezas e questionamentos, dado o alto grau de discutibilidade que este novo regime de tutela do executado possui. No regime anterior, não havia dúvidas de que a tutela do executado era feita por meio de uma ação de conhecimento incidental, chamada embargos à execução, mas, no regime atual, há dúvidas a respeito da natureza do regime de impugnação. Ao que tudo indica, o sistema de impugnação possui natureza de ação. Não há que se falar em contestação, ou, na falta desta, em revelia, salvo se tratasse do processo de conhecimento ou do processo cautelar, nos quais há uma predisposição do sistema para, em maior ou menor grau, conhecer as alegações das partes a respeito da existência, ou não, de determinado direito. Desta forma, a tutela que o executado merece não pode ser recebida com indiferença pelo sistema, como se fosse uma faculdade do juiz conhecê-la ou não. Muito pelo contrário, a tutela do executado insere-se no direito de exigir uma prestação jurisdicional justa e
9 BONICIO, Marcelo José Magalhães. Contornos da Responsabilidade do Legislador: incertezas, inseguranças e incoerências decorrentes das reformas do sistema de execução civil. in: BRUSCHI, Gilberto Gomes; SHIMURA, Sérgio (coordenadores). Execução Civil e Cumprimento de Sentença. São Paulo: Método, 2007, p. 373, vol. 2.
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adequada, nos termos do disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição da República. Na impugnação, no entanto, ante a ausência de procedimento previsto em lei, deve-se atentar para as garantias da ampla defesa e do contraditório, antes asseguradas pelo regime dos embargos à execução, mas, no regime atual, relegadas ao critério do juiz, no caso concreto.
Aprofundando-se em seu inconformismo, prosseguiu o autor:
Enquanto no sistema anterior, ante a possibilidade de revelia, ou mesmo de instrução probatória, não havia dúvidas quanto à possibilidade de ocorrer a litispendência e, ao final, o trânsito em julgado da decisão proferida nos embargos, o sistema atual é omisso a esse respeito, o que deixa os contornos da impugnação bastante imprecisos. Com isso, mais incertezas virão, pois, por exemplo, não será fácil responder à indagação a respeito da autoridade da decisão proferida em sede de impugnação. Não se sabe, ao certo, se tal decisão terá aptidão para impedir, fora do processo de execução, a propositura de outra ação com o mesmo objeto, por força da ocorrência de litispendência ou de coisa julgada. Assim, por exemplo, se o devedor alega, em sede de impugnação, a existência de excesso no valor exigido em juízo, mas não obtém sucesso, convém indagar se poderá ele, em outro processo, repetir a alegação feita anteriormente, ou se estará obrigado a observar os efeitos da decisão anterior, já transitada em julgado.
Em sentido contrário, a defender que realmente a nova figura para a
efetivação do direito do demandante, o cumprimento de sentença, possui e deve
possuir apenas caráter de fase final, não impondo outro tipo de ação a combatê-lo,
por buscar trazer total e exclusiva efetividade da tutela em favor do demandante, o
processualista Athos Gusmão Carneiro10 consignou:
A adoção da epígrafe “Do cumprimento da sentença” vem a proclamar, de modo expressivo, a meta desta última etapa do processo de conhecimento: busca-se a efetivação da sentença condenatória, efetivação que resultará na entrega ao demandante (plano dos fatos) do bem de vida a que fora declarado com direito. Assim, a sentença de condenação conduzirá desde logo (tanto quanto no mundo dos fatos apresentar-se possível) à “satisfatividade” de que já se revestem, por sua natureza e em
10 CARNEIRO, Athos Gusmão. Do Cumprimento da Sentença, conforme a Lei 11.232/05 – parcial retorno ao medievalismo? por que não?, in: ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda (coordenadores). Atualidades do Processo Civil. Curitiba: Juruá, 2007, p. 99.
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caráter imediato, as sentenças meramente declaratórias e as sentenças (de procedência) constitutivas.
No tocante à tutela do executado frente à Fazenda Pública, Marcelo
José Magalhães Bonicio11 registrou:
Os embargos foram mantidos para as hipóteses de execuções amparadas em títulos executivos extrajudiciais e, ainda, para as execuções em que a Fazenda Pública for devedora. Nesses casos, haverá, para tutelar o executado, uma ação de conhecimento incidental, enquanto, nas hipóteses em que a execução estiver amparada em título executivo judicial, o executado poderá dispor de simples impugnação, a qual, como vem sendo afirmado pela doutrina, embora tenha natureza de ação, não chega a constituir um processo incidental, mas sim um mero incidente do processo. Não estão claros os motivos que levaram o legislador a alterar a tutela do executado, estabelecendo tratamentos diferenciados para situações que, em princípio, são muito parecidas. A incoerência fica mais evidente quando se vê que, para a Fazenda Pública, mesmo que se trate de título executivo judicial, foram mantidos os embargos à execução. Não há justificativa plausível para a existência de várias formas de tutela do executado, porque, ou os títulos judiciais são tratados da mesma forma, ou, então, se os extrajudiciais oferecem algum risco, é melhor aceitar a idéia de que é preciso reduzir a quantidade de tais títulos.
2.4 – BREVES LINHAS ACERCA DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA
Em decorrência da mudança, agora a liquidação de sentença tem início
com o requerimento de liquidação com a intimação do réu, é o que depreende do
art. 475-A, § 1º, do Código de Processo Civil. Ocorre que, mesmo que não haja
citação, grande parte dos doutrinadores entende que a liquidação de sentença não
se afigura, mesmo agora, como simples incidente processual, como bem
asseverou Nelson Nery Junior12:
11 Obra citada, p. 375. 12 NERY JUNIOR, Nelson. Conceito Sistemático de Sentença: considerações sobre a modificação do CPC 162, § 1º, que não alterou o conceito de sentença, in: JAYME, Fernando Gonzaga; FARIA, Juliana Cordeiro de; LAUAR, Maira Terra (coordenadores). Processo Civil: novas tendências:
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A doutrina é vigorosamente majoritária no sentido de dar à liquidação de sentença natureza jurídica de ação (há pretensão de liquidação); a sentença faz coisa julgada material e é rescindível (CPC 485). Assim, quando o juiz resolve essa ação, julga a lide, o mérito da liquidação, proferindo pronunciamento que se enquadra no CPC, 269, I, mas não extingue o processo, qualificado como sendo o conjunto de todas as ações cumuladas deduzidas inicialmente (cumulação de ações na petição inicial) ou em cúmulo superveniente, como são os casos, por exemplo, da a) ação e reconvenção; e b) da ação de conhecimento, ação de liquidação de sentença e ação de execução. O mesmo ocorre com a impugnação ao cumprimento da sentença, que é ação, mas exercitada dentro do mesmo processo (formado pela ação de conhecimento, ação de liquidação de sentença, ação de execução e ação de impugnação ao cumprimento da sentença).
2.5 – DO CABIMENTO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO
Essa questão, igualmente, é tema de discussões na doutrina, como
bem se apercebe do pronunciamento do processualista Daniel Amorim
Assumpção Neves13:
É verdade que o próprio legislador, por vezes, quebra o sistema recursal projetado pelos arts. 513 e 522 do CPC, como ocorre nos arts. 475-H e 475-M, § 3º, nos quais existe a expressa previsão de cabimento de agravo de instrumento contra decisão que resolve a liquidação de sentença e que julga a impugnação sem colocar fim ao processo. Ora, dependendo do conteúdo dessas decisões, é inegável que se estará diante de uma sentença, não obstante a opção do legislador em prever expressamente o cabimento do agravo de instrumento. É interessante notar que na doutrina que já se manifestou a esse respeito não são poucos os processualistas que aparentemente concluem às avessas, afirmando que diante da expressa previsão de cabimento do recurso de agravo de instrumento contra a decisão que julga a liquidação, tal pronunciamento teria natureza de decisão interlocutória. Tal entendimento, entretanto, mostra-se equivocado porque fundado num erro de premissa: o cabimento de determinado recurso pela lei não desvirtua a natureza do
estudos em homenagem ao Professor Humberto Theodoro Junior. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 524. 13 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. O Novo Conceito de Sentença de Mérito e os Problemas Recursais, in: BRUSCHI, Gilberto Gomes; SHIMURA, Sérgio (coordenadores). Execução Civil e Cumprimento de Sentença. São Paulo: Método, 2007, p. 83, vol. 2.
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pronunciamento recorrível, que deve ser determinado à luz de seu conceito legal, previsto no art. 162 do CPC. Ou seria defensável que o pronunciamento que decide a impugnação à concessão dos benefícios da assistência judiciária é uma sentença, somente porque a Lei 1.060/1950, em seu art. 17, prevê o cabimento do recurso de apelação contra tal decisão?
E o autor prosseguiu:
A opção do legislador, voltada para as dificuldades procedimentais que seriam geradas pelo cabimento da apelação nesses casos, em nítido prejuízo à celeridade processual, não deve ser saudada, porque, apesar de afastar discussões a respeito do recurso cabível, fará com que em segundo grau os mesmos problemas já apresentados voltem a se repetir: haverá revisor? O agravante terá direito à sustentação oral? Será cabível o recurso de embargos infringentes? O problema não se resolve simplesmente com a quebra do sistema recursal, porque sempre que isso se verifica no caso concreto ocorrerão dificuldades procedimentais no recurso interposto em comparação com o recurso em tese cabível.
2.6 – DO INÍCIO DA EXECUÇÃO
No tocante ao início da execução Marcelo José Magalhães Bonicio14
asseverou:
A nova execução civil apresenta duas questões interessantes, ligadas à incidência da multa e, indiretamente, ao início da fase de execução. Ocorre que, na nova reforma, compete ao devedor efetuar o pagamento da dívida no prazo de 15 dias, sob pena de ser penalizado com o acréscimo de uma multa de dez por cento sobre o valor total, mas a lei não fala qual é o momento inicial da multa. A doutrina está dividida. Para alguns, assim que os efeitos da sentença forem liberados, ou seja, quando não houver recurso dotado de efeito suspensivo, a multa incide, competindo ao credor, por exemplo, no prazo de interposição de recurso especial, providenciar o depósito do valor integral da dívida. Para outros, é necessário que ocorra a intimação do devedor para cumprir voluntariamente a obrigação. Somente na hipótese de isso não ocorrer é que incidirá a multa mencionada. Em outras palavras, é correto afirmar que a discussão está
14 Obra citada, p. 376.
27
relacionada com o momento de início da execução, para a qual a existência de multa está voltada.
Dessa forma, o autor concluiu:
As discussões a respeito do início da execução demonstram o alto grau de discutibilidade que o sistema processual apresenta, mas, no que diz respeito à intimação do executado ser feita na pessoa do advogado, é correto afirmar que aumentou a insegurança das partes e a responsabilidade dos advogados em geral. É comum, no cotidiano dos escritórios de advocacia em geral, ocorrerem longos períodos de ausência de determinado cliente, durante os quais pouco se sabe a respeito de seu paradeiro.
Por fim, vê-se que, a despeito da unificação apresentada pela nova lei,
mostra-se discutível esse aparente sincretismo, como se pode aferir do
entendimento de Luis Rodrigues Wambier15:
Não chegou o legislador a atribuir à sentença que condena o réu ao pagamento de soma em dinheiro força idêntica à das sentenças fundadas nos arts. 461 e 461-A do CPC. Por isso, entendemos que a reunião procedimental não apagou a autonomia existente entre as ações de conhecimento, condenatória e a execução. Observe-se, a propósito, que, consoante estabelece o novo art. 475-J do CPC, a execução da sentença condenatória dependerá de requerimento do credor.
15 WAMBIER, Luis Rodrigues. Sentença Civil: Liquidação e Cumprimento. 3ª. ed. São Paulo: RT, 2006, p. 52.
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CAPÍTULO III
PONTO DE VISTA JURISPRUDENCIAL
As controvérsias existentes após a edição das Leis nº 10.444/2002 e nº
11.232/2005 não se restringem ao campo doutrinário, também no campo
jurisprudencial existem vários pontos que estão longe do entendimento unânime,
conforme veremos a seguir.
3.1 – DO RECURSO CABÍVEL NA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA
A nova redação contida no art. 475-H, do Código de Processo Civil, não
faz mais referência à expressão "sentença", mas sim à expressão "decisão", que
lhe confere, conforme dito acima, carga de interlocutoriedade, por expressa
previsão legal.
Cumpre destacar que com o advento da Lei n.° 11.232/2005, a
liquidação de sentença, seja por arbitramento, seja por artigos, configura-se em
incidente processual, o que não dá ensejo a processo autônomo. Portanto, a
decisão que julga a liquidação de sentença é uma decisão de natureza
interlocutória e, portanto, provoca o recurso de Agravo de Instrumento, na forma
do art. 475-H, do Código de Processo Civil, no prazo de 10 dias.
Entretanto, o entendimento jurisprudencial acerca da matéria também é
controvertido, conforme se pode aferir dos julgados a seguir consignados
colacionados das páginas oficiais da internet:
AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DO DEVEDOR. OPOSIÇÃO. POSTERIOR. VIGÊNCIA. LEI N. 11.232/2005. "TEMPUS REGIT ACTUM". SENTENÇA EXTINTIVA. SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. APLICAÇÃO DA LEI 11.232/05. RECURSO CABÍVEL. APELAÇÃO E NÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO INTERPOSTO. AGRAVO DE
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INSTRUMENTO. ERRO GROSSEIRO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. . APLICAÇÃO SÚMULA 83/STJ. 1. O erro grosseiro resta configurado quando o recurso interposto contraria dispositivo expresso de lei, sendo, por esta razão afastada a aplicação do Princípio da Fungibilidade recursal. 2. Precedentes: AgRg nos EREsp 841.413/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008, DJe 01/09/2008, AgRg no Ag 946.131/RS, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/05/2008, DJe 05/08/2008, AgRg no REsp 868.029/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA, julgado em 26/04/2007, DJ 06/08/2007 p. 715. 3. In casu, os embargos à execução foram opostos em 31/07/2006, após a entrada em vigor da Lei n. 11.232/2005. 4. As inovações introduzidas pela Lei n. 11.232/2005 são aplicáveis às decisões após sua entrada em vigor, tendo em vista o princípio do Tempus Regit Actum. 5. O recurso especial é inadmissível nos termos da Súmula n. 83 do STJ, in verbis: "não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida". Entendimento que se aplica à hipótese da alínea "a" do permissivo constitucional (v.g.: AgRg no Ag 1.002.799/SP). 6. Agravo regimental desprovido. (STJ; 1ª Turma; Relator: Min. Luiz Fux; AgRg no Ag 1148137; julgado em 03/08/2010). (acesso em 19/08/2010) PROCESSUAL CIVIL. LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO. RECURSO CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. O recurso não pode ser conhecido, pois contra a sentença que julga a liquidação de sentença, no caso realizada por arbitramento, cabe agravo de instrumento, por expressa disposição legal, e não recurso de apelação como proposto pela parte recorrente (artigo 475-H do CPC). (TRF4; 4ª Turma; Relatora: Marga Inge Barth Tessler; AC 95.04.13547-1; julgado em 11/06/2008). (acesso em 20/07/2010)
AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA. APELAÇÃO CÍVEL. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. RECURSO CABÍVEL. Mantém-se a decisão monocrática que negou seguimento ao agravo de instrumento, pois em consonância com a orientação jurisprudencial deste Tribunal. A lei processual tem aplicação imediata. O recurso cabível para impugnar a decisão recorrida é o agravo de instrumento, segundo o disposto no art. 475-H do CPC, e não o de apelação. Recurso desprovido. (TJRS; 8ª Câmara Cível; Relator: José Ataídes Siqueira Trindade; AG 70027929348; julgado em 15/01/2009). (acesso em 20/07/2010) ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FGTS. LIQUIDAÇÃO DO JULGADO. ART. 475-H DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
30
ERRO GROSSEIRO. INEXISTÊNCIA. CONCORDÂNCIA COM OS CÁLCULOS. PRECLUSÃO LÓGICA. ART. 503 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. JUROS DE MORA. I - Em que pese a literalidade do art. 475-H do CPC, não há considerar tenha havido "erro grosseiro" na interposição de recurso de "apelação" contra sentença de liquidação, ao invés do agravo de instrumento a que se refere o novel dispositivo, eis que parte da doutrina vem reconhecendo como "sentença" a natureza jurídica da decisão que julga a liquidação e os manuais de processo, historicamente, sempre afirmaram que “A apelação é o recurso cabível contra toda e qualquer sentença (...)” (cf. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários..., 11.ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 413). (...) IV -Apelação não conhecida. (TRF2; 8ª Turma Especializada, Relator: Desembargador Federal Marcelo Pereira/no afast. Relator; AC 416579; julgado em 19/08/2008). (acesso em 30/07/2010) EMBARGOS. EXECUÇÃO. SENTENÇA. NOVA LEI. Os embargos à execução (de título judicial) foram ajuizados antes do advento da Lei n. 11.232/2005 e foi prolatada sentença posteriormente a esse diploma. Diante disso, a via recursal adequada para remeter a causa à apreciação da instância ad quem é a apelação, não o agravo de instrumento. Contudo, nesse caso, não caracteriza erro grosseiro a interposição do agravo, que, pelo princípio da fungibilidade, pode ser apreciado como apelação. Precedentes citados: REsp 1.044.693-MG, DJe 6/8/2009; REsp 1.033.447-PB, DJe 5/3/2009; REsp 1.075.468-MG, DJe 30/3/2009, e REsp 1.103.044-PR, DJe 5/2/2009. EREsp 1.043.016-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgados em 10/3/2010”. (STJ; Informativo Nº: 0426 - Período: 8 a 12 de março de 2010). (acesso em 20/07/2010)
3.2 – DA POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO
Com base na leitura do art. do artigo 475-R, do Código de Processo
Civil, que estabelece que as normas que regem o processo de execução
extrajudicial são aplicáveis subsidiariamente ao cumprimento de sentença, existe,
como já exposto, o entendimento de que o mesmo tratamento dispensado ao
executado de título extrajudicial deverá ser dado ao devedor de título judicial, que
poderia, supõe-se, se valer do instituto do parcelamento, preenchidos todos os
requisitos do art. 745-A, do Código de Processo Civil, desde que não ofereça a
impugnação prevista no art. 475-L do mesmo Código. No campo jurisprudencial,
31
esse tema é controverso conforme os seguintes julgados igualmente colacionados
das páginas oficiais da internet, in verbis:
EXECUÇÃO POR TÍTULO JUDICIAL - Ação de cobrança - Pretensão de parcelamento do débito, nos termos do art. 745-A, CPC - Possibilidade. - Embora inserto no capítulo de embargos à execução, o que pressupõe execução por título extrajudicial, as regras concernentes a este tipo de execução são aplicáveis subsidiariamente ao cumprimento de sentença - Art. 475-R, CPC - Devedor de título extrajudicial não pode ter mais benefícios que o devedor de título judicial - Caso, no entanto, em que o depósito não atingiu 30% do valor do débito - Possibilidade de complementação - Recurso parcialmente provido. [...]. (TJSP; 14ª Câmara de Direito Privado; Relator: Des. Melo Colombi. AG 7.176.134-5; julgado em 21/11/2007). (acesso em 16/07/2010)
AGRAVO INOMINADO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO LIMINAR AO RECURSO. PARCELAMENTO DA DÍVIDA. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. NÃO CABIMENTO. A Lei 11.232/2005 teve como principal finalidade trazer celeridade processual, afastando expedientes processuais meramente protelatórios à satisfação do direito material do credor. Descabe a aplicação subsidiária do artigo 745-A do Código de Processo Civil, na forma disposta do artigo 475 R da mesma lei, pois o pagamento do título judicial não comporta qualquer parcelamento que seja contrário à vontade do credor. Conhecimento e desprovimento do agravo inominado. (TJRJ; 18ª Câmara Cível; Relator: Des. Rogério de Oliveira Souza; AC 2008.002.12571; julgado em 10/06/2008). (acesso em 29/06/2010)
AGRAVO INOMINADO - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE - EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL - PEDIDO DE MORATÓRIA LEGAL - ART 745-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - INAPLICABILIDADE - DECISÃO MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO. O art.745-A, do CPC, que permite ao executado requerer o parcelamento da dívida nas condições nele previstas, só é aplicável à execução fundada em título extrajudicial, uma vez que toda a disciplina da execução por título judicial encontra-se nos artigos 475-I a 475-O e nesta o devedor não tem nenhuma benesse. Pelo contrário, nesse âmbito a lei prevê, unicamente, mecanismos destinados a compelir o executado ao pronto cumprimento da condenação. Desprovimento do recurso. (TJRJ; 13ª Câmara Cível; Relator: Des. Sergio Cavalieri Filho; AG 2007.002.21576; julgado em 22/08/2007). (acesso em 29/06/2010)
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EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL - FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - PEDIDO DE PARCELAMENTO DO DÉBITO -APLICAÇÃO DA REGRA DO ART. 745-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - INADMISSIBILIDADE - AGRAVO DESPROVIDO. A moratória legal ou parcelamento não se aplica à fase de cumprimento de sentença porquanto evidente o conflito entre o artigo 745-A do CPC e a conduta indicada no artigo 475-J do mesmo estatuto, sendo que este último determina o imediato pagamento da dívida, de forma integral, sob pena de acréscimo da multa de 10% (dez por cento). (TJSP; 26ª Câmara de Direito Privado; Relator: Renato Sartorelli; AG 990093048329; julgado em: 09/03/2010). (acesso em 20/06/2010) EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - ART . 745-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - PARCELAMENTO - IMPOSSIBILIDADE - APLICAÇÃO APENAS NA HIPÓTESE DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. A doutrina e a jurisprudência majoritárias entendem que a moratória do devedor prevista no art . 745- A do CPC não poderia ser utilizada subsidiariamente na hipótese de título executivo judicial, diante da incompatibilidade procedimental, do texto expresso do artigo e do afastamento do espírito da lei. Recurso não provido. (TJMG; 10ª Câmara Cível; Des. Rel. Pereira da Silva; AG 1.0145.07.390500-5/003; julgado em 02/06/2009). (acesso em 20/06/2010)
3.3 – DA INTIMAÇÃO DO DEVEDOR PARA O CUMPRIMENTO DA
OBRIGAÇÃO.
Semelhantemente ao que ocorre no campo doutrinário, é controvertido
o posicionamento da jurisprudência acerca do destinatário da intimação para o
adimplemento da obrigação, ou seja, se a intimação deve se dar na pessoa do
executado ou do seu patrono pela publicação. Para conferir maior ilustração ao
tema estudado, confira-se o seguinte julgado colhido no Informativo do Superior
Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL - OFENSA AO ART. 475-J DO CPC - INEXISTÊNCIA - RECURSO ESPECIAL - DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO - SÚMULA 284/STF - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO. I. No que tange à alegada ofensa ao art. 475-J do Código de Processo Civil, melhor sorte não socorre a ora recorrente,
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porquanto o entendimento proclamado por esta Corte é no sentido da desnecessidade de intimação pessoal do devedor para o cumprimento da sentença. II. No que se refere à alegada ofensa ao art. 293 do CPC, o recurso não atende aos requisitos técnicos necessários ao julgamento, pois apenas fez ilações genéricas que não são hábeis ao enfrentamento do apelo excepcional, não chegando mesmo a explicitar adequadamente os motivos pelos quais teria ocorrido tal violação. Incidência da Súmula 284/STF, aplicável, por analogia, neste Tribunal. III. O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. IV. Agravo Regimental improvido. (STJ; 3ª Turma; Relator: Min. Sidnei Beneti; REsp 1184164, julgado em 17/06/2010). (acesso em 10/08/2010) CUMPRIMENTO. SENTENÇA. INTIMAÇÃO. Tratou-se de REsp remetido pela Terceira Turma à Corte Especial, com a finalidade de obter interpretação definitiva a respeito do art. 475-J do CPC, na redação que lhe deu a Lei n. 11.232/2005, quanto à necessidade de intimação pessoal do devedor para o cumprimento de sentença referente à condenação certa ou já fixada em liquidação. Diante disso, a Corte Especial entendeu, por maioria, entre outras questões, que a referida intimação deve ser feita na pessoa do advogado, após o trânsito em julgado, eventual baixa dos autos ao juízo de origem, e a aposição do “cumpra-se”; pois só após se iniciaria o prazo de quinze dias para a imposição da multa em caso de não pagamento espontâneo, tal como previsto no referido dispositivo de lei. Como destacou o Min. João Otávio de Noronha em seu voto vista, a intimação do devedor mediante seu advogado é a solução que melhor atende ao objetivo da reforma processual, visto que não comporta falar em intimação pessoal do devedor, o que implicaria reeditar a citação do processo executivo anterior, justamente o que se tenta evitar com a modificação preconizada pela reforma. Aduziu que a dificuldade de localizar o devedor para aquela segunda citação após o término do processo de conhecimento era um dos grandes entraves do sistema anterior, por isso ela foi eliminada, conforme consta, inclusive, da exposição de motivos da reforma. Por sua vez, o Min. Fernando Gonçalves, ao acompanhar esse entendimento, anotou que, apesar de impor-se ônus ao advogado, ele pode resguardar-se de eventuais acusações de responsabilidade pela incidência da multa ao utilizar o expediente da notificação do cliente acerca da necessidade de efetivar o pagamento, tal qual já se faz em casos de recolhimento de preparo. A hipótese era de execução de sentença proferida em ação civil pública na qual a ré foi condenada ao cumprimento de obrigação de fazer, ao final convertida em perdas e danos (art. 461, § 1º, do CPC), ingressando a ora recorrida com execução individual ao requerer o pagamento de quantia certa, razão pela qual o juízo determinou a
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intimação do advogado da executada para o pagamento do valor apresentado em planilha, sob pena de incidência da multa do art. 475-J do CPC. Precedentes citados: REsp 954.859-RS, DJ 27/8/2007; REsp 1.039.232-RS, DJe 22/4/2008; Ag 965.762-RJ, DJe 1º/4/2008; Ag 993.387-DF, DJe 18/3/2008, e Ag 953.570-RJ, DJ 27/11/2007. Resp 940.274-MS, Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/4/2010. (STJ. Informativo Nº: 0429 - Período: 5 a 9 de abril de 2010). (acesso em 20/07/2010)
3.4 – DO CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Tendo em vista que não existe mais a figura do processo de execução,
paira a dúvida se são cabíveis ou não honorários advocatícios na fase de
cumprimento de sentença. A tendência, na corrente majoritária jurisprudencial, é
que realmente são cabíveis somente se houver resistência por parte do devedor
em adimplir sua obrigação, ou seja, caso não haja o pagamento do débito no
prazo de 15 dias. Vale registrar o seguinte julgado, in verbis:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - EMBARGOS DECLARATÓRIOS - OMISSÕES NA DECISÃO - INEXISTENTES - RECURSO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO. 1 - Não se vislumbra razão para a reforma da decisão recorrida, uma vez que não se detecta a presença de qualquer vício de omissão no decisum, mormente porque todos os argumentos foram devidamente apreciados pelo provimento judicial que analisou a impugnação. 2 - Não é obrigatório que o julgador aprecie, um por um, os argumentos suscitados pela parte recorrente, conquanto que debata suficientemente os fundamentos do recurso. 3 - O termo inicial para a incidência dos juros moratórios em honorários advocatícios é o trânsito em julgado da sentença, ocasião em que a obrigação se torna exigível. 4 - Em relação à aplicação da multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil, cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. 5 - Quanto ao deferimento da verba honorária em fase de cumprimento de sentença, tem-se que os honorários advocatícios são cabíveis, tendo em vista que não houve satisfação da obrigação, pelo devedor, no prazo de quinze dias. 6 - Assim sendo, não resta configurada a existência de omissões que possam macular a decisão sob análise.
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7 - Recurso conhecido, mas improvido. (TJES; 2ª Câmara Cível; Relator: Des. Manoel Alves Rabelo; AG 2089000109; julgado em 25/11/2008). (acesso em 20/06/2010)
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CONCLUSÃO
De todo o exposto, conclui-se que, na elaboração das Leis nº
10.444/2002 e 11.232/2005, sem sombra de dúvida, o legislador teve a intenção
de conferir maior efetividade e celeridade na entrega da tutela judicial ao
pleiteante. De certa forma, não logrou atingir 100% de seu objetivo, tendo em vista
que persistem vários pontos controversos na interpretação das referidas leis.
Entretanto, vislumbrando-se o conjunto de toda a sistemática, vê-se que, a
despeito de toda a controvérsia existente, o processo se tornou mais célere e
efetivo.
Registre-se que as alterações atingiram mais profundamente a
sistemática no tocante à execução por título judicial, extinguindo-se os processos
autônomos de conhecimento e execução de sentença, transformando-os num
único processo, com um único procedimento, concretizando-se atualmente a
antiga execução autônoma de sentença em uma fase final do próprio processo de
conhecimento.
Explicando, com a entrada em vigor das referidas leis houve um
rompimento com o modelo clássico, ultrapassado, sendo permitido o
processamento das ações de conhecimento, liquidação e execução de forma
encadeada e razoável. Isto é, se já houve a condenação, não há motivo para que
se inicie outro processo para a perfeita efetividade da sentença. A obrigatoriedade
de nova citação como ocorria na sistemática anterior fazia com que todo o
processo se emperrasse, se arrastando desnecessariamente por mais um longo
período.
É de se deixar claro que continuam a existir dúvidas acerca de vários
temas, como, por exemplo, acerca da intimação para cumprimento da obrigação,
se esta se deve dar na pessoa do advogado, pela imprensa, ou na pessoa do
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executado. Igualmente, continua a pairar dúvidas acerca do início do prazo para o
referido cumprimento.
Também é de ressalvar o fato de que foi posto à disposição do órgão
judiciário um instrumento que permite que se obrigue ao executado cumprir a
obrigação sob pena da incidência de multa. Ou seja, compete ao órgão judiciário,
ex offício ou a requerimento da parte, na própria resolução judicial ou
posteriormente, a imposição de multa, em decisão plenamente motivada.
Cabe lembrar que, a despeito do sincretismo agora verificado, quando
não existe mais o processo de execução, conforme já estudado, nota-se que a
impugnação que ora mostra-se vigente se constitui em meio de defesa do
executado e, caso preenchidos os requisitos que o autorizam, poderá o juiz
conferir-lhe efeito suspensivo. Mesmo assim, ainda persistem dúvidas a respeito
da natureza de tal impugnação.
E mais, concluindo pela existência de outra vertente passível de
controvérsia, tem-se que, posta toda a argumentação, no tocante à possibilidade
de parcelamento em execução fundada em título judicial, vislumbra-se que o
credor deve ter garantido o direito de percepção integral do valor que lhe é devido,
não tendo que se ver obrigado ao parcelamento compulsório. Afigura-se tão
relevante o possível fato de não ser oferecida perfeita tutela ao direito do credor
em execução por título judicial que, se assim fosse, teria que ser expressa a
aplicação do art. 745-A ao cumprimento de sentença. Ocorre que, contrariamente
a esse pensamento, não pode ser desconsiderada a possibilidade de o
parcelamento ser a única forma de se tornar efetiva a execução.
A respeito da mudança da conceituação de sentença, outro ponto
controvertido, é de extrema clareza que a atividade jurisdicional não termina com a
certificação do direito subjetivo: ela somente se exaure com a efetivação desse
direito. Portanto, a Lei 11232/2005 inovou, alterando o conceito de sentença,
previsto no art. 162, parágrafo primeiro, do CPC, a que agora não se imprime mais
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a característica de encerramento do processo, antes, de prosseguimento para que
ocorra concretamente a efetivação do direito tutelado.
Por fim, conclui-se que são várias as possibilidades na nova sistemática
abertas às possíveis discussões e controvérsias, vislumbrando-se, desse modo,
que a variedade de entendimentos continuará. Entretanto, de qualquer forma, tais
controvérsias não derrubam o objetivo das alterações do CPC estudadas, que é o
de tornar o procedimento executivo mais célere e efetivo, e que, esperamos,
sejam posteriormente esclarecidas com a edição do novo Código de Processo
Civil que já se mostra incipiente.
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TRF2. http:/www.trf2.jus.br. Link: Consultas/Jurisprudência. Acesso em
30/07/2010.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO................................................................................................ 2
AGRADECIMENTOS.............................................................................................. 3
DEDICATÓRIA........................................................................................................ 4
RESUMO................................................................................................................. 5
METODOLOGIA...................................................................................................... 6
SUMÁRIO................................................................................................................ 7
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
INTRODUZIDAS PELAS LEIS 10.444/2002 E 11.232/2005................................ 11
1.1 – DA LEI Nº 10.444/2002................................................................................ 11
1.2 – DA LEI Nº 11.232/2005................................................................................ 13
1.3 – DA AÇÃO MONITÓRIA............................................................................... 15
1.4 – BREVE COMENTÁRIO ACERCA DOS TÍTULOS EXECUTIVOS
JUDICIAIS............................................................................................................. 16
CAPÍTULO II
PONTO DE VISTA DOUTRINÁRIO...................................................................... 18
2.1 – DA INTIMAÇÃO E DO PRAZO PARA CUMPRIMENTO DA
OBRIGAÇÃO........................................................................................................ 18
2.2 – DA POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO.............................................. 20
2.3 – DA NATUREZA DA IMPUGNAÇÃO............................................................ 22
2.4 – BREVES LINHAS ACERCA DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA................ 24
2.5 – DO CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO................................. 25
2.6 - DO INÍCIO DA EXECUÇÃO......................................................................... 26
CAPÍTULO III
PONTO DE VISTA JURISPRUDENCIAL............................................................. 28
3.1 – DO RECURSO CABÍVEL NA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA................... 28
3.2 – DA POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO.............................................. 30 3.3 – DA INTIMAÇÃO DO DEVEDOR PARA O CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO........................................................................................................ 32
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3.4 – DO CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS............................. 34
CONCLUSÃO........................................................................................................ 36
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 39
ÍNDICE................................................................................................................... 41
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