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Pág. 30 Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático de Direito da Universidade Nova Há muito para rever na Constituição Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano IV n N.º 41 n Agosto de 2013 n 15 euros Chama-se Murthy Law Firm, é especialista em imi- gração para os EUA e foi um dos pioneiros na in- ternet, onde se estreou em 1994. Hoje, é o site de sociedades de advogados mais visitado em todo o mundo. Sheela Murthy contou ao Advocatus como é que nasceu a ideia de criar uma firma com estas características e afirmou que o que a move não são os honorários mas sim acreditar que os imigrantes ajudam os EUA a ser um grande país. Alguns dos melhores jogadores, treinadores e agentes do mundo são representados pela equipa liderada por Francisco Cortez, coorde- nador de Direito do Desporto na Morais Leitão Galvão Teles Soares da Silva (MLGTS). Consi- dera que quando participa em grandes transfe- rências de jogadores há que estar muito atuali- zado pois “os clientes confiam em nós porque sabem isso”. O site de advogados mais popular do mundo Francisco Cortez, Direito do Desporto MLGTS Os melhores do desporto 28 06 www.advocatus.pt O agregador da advocacia

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Advocatus, 41

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Page 1: Advocatus, 41

Pág. 30

Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático de Direito

da Universidade Nova

Há muito para rever na Constituição

Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano IV n N.º 41 n Agosto de 2013 n 15 euros

Chama-se Murthy Law Firm, é especialista em imi-gração para os EUA e foi um dos pioneiros na in-ternet, onde se estreou em 1994. Hoje, é o site de sociedades de advogados mais visitado em todo o mundo. Sheela Murthy contou ao Advocatus como é que nasceu a ideia de criar uma firma com estas características e afirmou que o que a move não são os honorários mas sim acreditar que os imigrantes ajudam os EUA a ser um grande país.

Alguns dos melhores jogadores, treinadores e agentes do mundo são representados pela equipa liderada por Francisco Cortez, coorde-nador de Direito do Desporto na Morais Leitão Galvão Teles Soares da Silva (MLGTS). Consi-dera que quando participa em grandes transfe-rências de jogadores há que estar muito atuali-zado pois “os clientes confiam em nós porque sabem isso”.

O site de advogados maispopular do mundo

Francisco Cortez, Direito do Desporto MLGTS

Os melhores do desporto 2806

www.advocatus.pt O agregador da advocacia

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Agosto de 2013 3O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Destaques

Susana Alberto e Marta Paiva, da Caiado Guerreiro & Associados, Marta Rebelo, consultora da HAAG, e João Pereira Reis e Rui Ribeiro Lima, sócio e associado da MLGTS, respetivamente, dão a sua opinião sobre a nova lei do turismo.

DOSSIÊ

O que representa a nova lei do turismo20

João Ferreira Pinto, sócio fundador da João Ferreira Pinto & Associados, fala sobre por que é que gosta do livro “1984”, de George Orwell, que leu quando frequentava o ensino secundário e o marcou para sempre.

O LIVRO DE…

Um tema atual42

O futuro da solicitadoria passa pela aquisição de novas competências, afirma José Carlos Resende, presidente da Câmara dos Solicitadores. Em Portugal, são cerca de 3300.

SOLICITADORIA

Novas competências12

A ERA e a Plataforma Legal, uma ACE que reúne três sociedades de advogados, uniram forças para explorarem o segmento de negócio dos chamados vistos gold, uma autorização de residência de entrada e permanência em Portugal para fins de investimento e que se destina a investidores que não sejam da União Europeia e do Espaço Schengen.

SOCIEDADES

A oportunidade dos vistos gold16

COmunICAçãO, DESIGnE muLTIméDIA

Av. Marquês de Tomar, 44-71050-156 Lisboa Tel: 217 957 030

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RAmOnDEmELOPHOTOGRAPHY

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PRODuTORA DE AuDIOVISuAISRua Luis Simões, 14 | 2745-033 Queluz

Tel: 214 348 010www.comsom.tv

Distribuição por assinaturaPreço: 180€

(12 edições; oferta de voucher Odisseias)[email protected]

Tiragem média mensal: 2.500 ex.Depósito legal: 308847/10

N.º registo ERC 125859

EditoraEnzima Amarela - Edições, Lda

Av. Infante D. Henrique, 333H, 441800-282 LisboaTel. 218 504 060Fax: 210 435 935

[email protected]

Impressão: TYPIA – Grupo MonterreinaÁrea Empresarial Andalucía

28320 Pinto Madrid - España

Diretor-geralJoão David Nunes

[email protected]

DiretorJoão Teives

[email protected]

Diretor EditorialHermínio [email protected]

Editora ExecutivaFátima de Sousa

[email protected]

Diretora de marketingMaria Luís

Telf. 961 571 [email protected]

Rua Luz Soriano, 67-1º E Bairro Alto1200-246 Lisboa - PORTUGAL

www.who.pt// [email protected]

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O agregador da advocacia4 Agosto de 2013

www.advocatus.ptCortar a direito

João Teivesdiretor

Execuções: Eficácia ou estatística?Não podemos aplicar a processos massificados receitas de processos diferenciados.

“Speeches on behalf of Marcus Fonteius and Marcus Aemilius Scaurus” são dois discursos de defesa de Marcus Tullius Cícero de acusações de extorsão, num sentido amplo, feitas ao governador da Gália (Fonteius), deixando a província sobreendividada, e da Sardenha (Scaurus), tendo--se locupletado com o fornecimento de cereais quando em Roma se passava fome. Trata-se de dois discursos, ou alegações orais se qui-

sermos utilizar um termo processual equivalente aos nossos julgamentos, que se encontram incompletos, fragmentados, traduzidos e comentados pelo Prof. Andrew R. Dyck, editados pela Oxford University Press (2012), em que é extensivamente analisada a mestria da retórica de Cícero.

Os Argumentos de Cícero

LIVRO

simultaneamente eficaz mas que não deixe de proteger os legítimos direitos do devedor.Neste aspeto tenho para mim que só se justifica a intervenção do Juiz em casos excecionais. A regra de-veria ser a da prática do ato pelo agente de execução com eventual reclamação para o Juiz de qualquer ato ilegal por aquele praticado. Caso contrário estamos a pressionar o sistema para a prática de atos repe-titivos, mecânicos e indiferenciados que geram sistematicamente atra-sos e são impeditivos das já redu-zidas hipóteses que o exequente tem de ver o seu direito efetivado. Não podemos aplicar a processos massificados receitas de processos diferenciados.Neste aspeto, a ainda sob a ação executiva em vigor, os Tribunais aca-baram por compreender essa nova realidade ao emitirem, pelo menos em algumas comarcas como a do Porto, Oeiras e, muito tardiamen-te, Lisboa, provimentos em que se padronizavam e autorizavam gene-ricamente atos de execução que não tinham, assim, de ter despacho individualizado.Julgo que é neste sentido que a próxima ação executiva caminha

e nesse sentido, na minha opinião, caminha bem. Reduzem-se os tí-tulos executivos não judiciais, ga-rantindo os direitos dos devedores contra uma agressão automática ao seu património, mas diminui-se a intervenção necessária do Juiz no processo tornando-o mais eficaz. Saliento apenas duas pequenas notas. Quando a decisão arbitral ou judicial não deva ser executada no próprio processo ou quando o título seja uma injunção, a título de exemplo, aplica-se o processo su-mário. Neste caso está dispensado o despacho liminar. E se a decisão for executada no próprio processo, o que é a regra, porque não dispen-sar o despacho liminar? Segunda nota. Se existe Tribunal com compe-tência específica para a execução, não vislumbramos a razão de ser de intentar o requerimento executivo no tribunal que proferiu a sentença para ser este a remeter a sentença, o requerimento executivo e os do-cumentos que a acompanham para o Tribunal competente. Não é mais simples pedir translado da senten-ça, que não implica intervenção do Juiz, para ir diretamente à secção de competência especializada e executar?

tância. Afirmar que estes processos entopem os tribunais é uma meia verdade visto que, em rigor, gran-de parte do processo encontra-se privatizado e corre os seus termos junto do agente de execução.Assim, o número que é deveras preocupante não é do número de pendências ou da baixa taxa de resolução, mas sim o da diminuta eficácia das execuções, em que os direitos das partes, neste caso dos exequentes, não chegam a ser efetivados. E isso contribui, e muito, para um sentimento de falência da Justiça. Parece-me curial afirmar que nem sempre se trata de um problema do processo mas mais de um problema da economia. Se o executado não dispõe de património, por muito que queiramos tornar o processo ágil, nunca conseguiremos tornar efetivo o direito do credor.Há quem defenda que temos, neste momento, um sistema muito agres-sivo do património do devedor. Mes-mo que assim seja do ponto de vista teórico, a prática e os resultados das execuções dizem-nos precisamente o contrário. De qualquer forma, torna-se impera-tivo arquitetar um sistema que seja

As execuções são comummente apontadas como o calcanhar de Aquiles do sistema. Representam 72% das pendências. Mas apenas uma percentagem ínfima é coroada de sucesso, logrando o exequente fazer valer o seu direito. E tem sido tamanho o efeito nocivo nas estatís-ticas da Justiça que até o anterior Presidente do Supremo Tribunal de Justiça propunha retirar de vez as execuções dos Tribunais. De uma só vez, e com um tiro certeiro, acaba-vam-se com os atrasos sistémicos da Justiça. Sem chegar a tanto, cer-to é que têm vindo a ser tomadas medidas no sentido de reduzir as pendências de forma quase admi-nistrativa/coerciva. Se o processo estiver parado já não se suspende, extingue-se. Se o exequente nada vier dizer quanto ao cumprimento do acordo, extingue-se. Se não se encontrarem bens, extingue-se. Estas medidas aumentam, como não poderia deixar de ser, a taxa de resolução processual e diminuem as pendências. E, assim, no primeiro trimestre de 2013, as pendências já diminuíram 3,3% relativamente ao último trimestre. Apesar de tudo continuavam pendentes 1.215.056 ações executivas em primeira ins-

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O agregador da advocacia6 Agosto de 2013

www.advocatus.pt

“É uma enorme responsabilidade representarmos estes clientes”. A afirmação é de Francisco Cortez, coordenador da área de prática de Direito do Desporto da Morais Leitão Galvão Teles Soares da Silva (MLGTS) e decorre do facto de a sua equipa representar alguns dos melhores jogadores, melhores treinadores e melhores agentes do mundo. Um negócio que tem muito peso na sociedade, mas de que não revela números. Sabido é que Portugal está nos cinco países em matéria de transferências de jogadores. Em valor.

Uma enorme responsabilidade representarmos estes clientes

grandes desenvolvimentos desta área de trabalho, sobretudo através do Dr. Carlos Osório de Castro. Ten-do alguns dos melhores futebolistas, treinadores e agentes de futebol do mundo era uma exigência termos um serviço para esses clientes, uma equipa especializada e atualizada. São clientes que exigem uma es-

do, é a resolução de problemas, de conflitos entre as pessoas e no mundo do desporto existe a ne-cessidade de resolver problemas dessa natureza. Fui chamado por isso a integrar a equipa, que co-ordeno com o Carlos Osório de Castro. Somos dez advogados, em 162 da sociedade. Somos uma

pecialização, uma grande disponi-bilidade. É uma área que representa um negócio importante em Portugal.

Advocatus | Como é que integrou a equipa?FC | Sou um advogado de conten-cioso, um litigator, e o desporto também tem contencioso. No fun-

Advocatus | O que levou à criação de um grupo de trabalho vocacio-nado para o Direito do Desporto na mLGTS?Francisco Cortez | A Morais Leitão tem uma experiência longa em Di-reito do Desporto, com o Dr. João Morais Leitão e o Dr. Miguel Galvão Teles. Nos últimos dez anos, houve

Entrevista

Francisco Cortez, coordenador de Direito do Desporto da MLGTS

Fátima de SousaJornalista

[email protected]

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Agosto de 2013 7O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

equipa multidisciplinar que trata de questões como contratos, trans-ferências, patrocínios, fiscalidade, contencioso administrativo, cível e disciplinar. Somos, no fundo, um grupo transversal que reúne advo-gados de diferentes competências e que estão integrados em grupos de prática diferentes – corporate, fiscal, administrativo, civil, público.

Advocatus | O negócio justifica de facto uma equipa específica?FC | Há um estudo da Universida-de Católica e da Delloite, de 2011, que nos diz que, em 2010, em Por-tugal aconteceram cerca de 1250 negócios de compra e venda de jogadores, o que dá 180 a 200 por ano. Em 2012, estamos a falar de 1600 negócios. Portugal está nos cinco primeiros países do mundo em termos de valor dos negócios de transferência de jogadores. É claramente uma área de negócio importante em Portugal e, como tal, justifica que haja advogados com uma especialização nesta ma-téria. Nós temos a sorte de termos a confiança de alguns clientes que são agentes, jogadores e treina-dores e até instituições ligadas ao futebol em Portugal que precisam dos nossos serviços. Justifica-se claramente.

Advocatus | Apesar da transversa-lidade da equipa, há áreas espe-cíficas do ponto de vista jurídico?FC | Há realmente matérias que são iguais a todos os sectores: por exemplo, uma figura pública que precisa de proteção em caso de abuso do direito de informação não interessa se é do desporto ou não. Mas há outras que são únicas, como o contrato de transferência de um jogador. Não é um contrato simples, como o de outro traba-lhador. O mesmo acontece com o contencioso disciplinar, devido à especificidade da ordem jurídica do desporto.

Advocatus | Como se articula essa ordem desportiva com a lei geral?FC | O direito do desporto vive muito do Direito em geral, sendo que de-pois existe legislação específica que regula a atividade. As leis que neste

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“As leis que neste momento estão em vigor têm uma década, pelo que não me parece que se imponha com grande urgência uma

alteração da legislação para adequação a novas realidades. Às vezes, uma mudança

de lei cria novos problemas”

momento estão em vigor têm uma década, pelo que não me parece que se imponha com grande ur-gência uma alteração da legislação para adequação a novas realidades. Às vezes, uma mudança de lei cria novos problemas. À exceção da criação do Tribunal Arbitral do Des-porto [TAD], que pode ser um passo em frente muito grande.

Advocatus | Que leitura fez do chumbo do Tribunal Constitu-cional e das críticas que fez ao diploma?FC | O Tribunal Constitucional con-siderou inconstitucional apenas uma norma, que previa a existên-cia de recurso das decisões em matéria de arbitragem necessária. Mas no dia 29 [de julho] foi votada no parlamento uma proposta da maioria de alteração do decreto para o tentar colocar em confor-midade com a decisão do TC e que admite a possibilidade de recurso para o Supremo Tribunal Administrativo. O projeto procura responder a algumas críticas que o Constitucional fez, duas ou três questões importantes que tinham a ver, fundamentalmente, com a relação entre o tribunal arbitral e os tribunais judiciais, nomeadamente a designação dos árbitros em caso de não haver acordo das partes e a decisão das providências cautela-res quando o tribunal arbitral ainda não está constituído. Este projeto tenta resolver isso, a meu ver de uma forma que pode ser discutível. No regime aprovado antes, previa--se que a decisão das providências cautelares cabia ao presidente do tribunal arbitral, mas o TC criticou essa solução e o novo projeto prevê que passem a ser decididas pelo presidente do Tribunal da Relação ou Tribunal Central Administrativo do Sul, consoante as matérias. O que pode ser um problema. Não estou a ver o presidente da Relação a ter disponibilidade para decidir providências cautelares sobre des-porto.

Advocatus | Ainda assim, é favo-rável à criação do TAD?FC | Completamente. No contencio-so, em geral, sou totalmente a favor

“Estou um pouco preocupado com a

aplicação à arbitragem no desporto do

regulamento das custas judiciais, que é muito

caro. Se as partes pagarem o mesmo no tribunal arbitral que no

tribunal judicial, o que normalmente

é uma vantagem que a arbitragem costuma

ter poderá deixar de ser”

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O agregador da advocacia8 Agosto de 2013

www.advocatus.ptEntrevista

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da arbitragem que é uma forma de resolução de litígios das pesso-as e das empresas que é rápida, é eficiente e, normalmente, até é mais barata. É uma boa solução. E o desporto é uma das matérias em que vale a pena ir para a arbitragem, porque é uma matéria específica, que tem particularidades. Existir a possibilidade de as partes, volun-tariamente, quando fazem um con-trato estabelecerem uma cláusula arbitral é uma grande vantagem. Retira-se algum contencioso dos tribunais comuns, permite-se que seja decidido por árbitros que, à partida, têm competências especia-lizadas. Quanto a ser mais barato, não é bem assim neste caso porque o projeto prevê que as custas do tribunal arbitral são calculadas nos termos do regulamento das custas judiciais. Talvez só seja mais barato porque há menos recursos.

Advocatus | E quanto à arbitragem necessária?FC | O projeto de lei previa que a arbitragem necessária em situações que têm a ver com decisões das federações, de natureza disciplinar, e da autoridade antidopagem de Portugal, o que é pacifico. A única questão discutida e posta em causa pelo Constitucional foi o facto de as decisões do tribunal arbitral em sede de arbitragem necessária não serem recorríveis para os tribunais judiciais, o que entretanto foi alterado.

Advocatus | Estão reunidas as condições para a especialização dos árbitros?FC | A lei prevê que os árbitros re-sultem de uma lista fechada de 40, escolhidos por entidades e organis-mos relacionados com o desporto. Há outras situações, noutros cen-tros de arbitragem, em que as partes podem escolher quem querem. Há boas experiências numa e noutra so-lução. Penso que, pelo menos para os primeiros árbitros, a lista fechada pode ser uma boa solução. Espero que até ao fim do ano, princípio do próximo tenhamos tribunal arbitral.

Advocatus | Acredita que vai mes-mo contribuir para retirar proces-sos dos tribunais judiciais?

FC | Não se sabe bem. Houve quem dissesse que não era ne-cessário, mas a maioria das enti-dades consultadas foi favorável. Acho que vai ter um volume de processos considerável, mas não sei quantos. Umas dezenas logo no início, mas depois serão mais, com certeza. Vai ter trabalho. Na parte necessária vai ter trabalho, na que é voluntária vai depender da credibilidade dos árbitros e das decisões – bons árbitros imparciais, independentes e competentes fa-zem a credibilidade de um tribunal arbitral. E vai depender de como se comportar a questão do custo. Estou um pouco preocupado com a aplicação à arbitragem no des-porto do regulamento das custas judiciais, que é muito caro. Se as partes pagarem o mesmo no tribunal arbitral que no tribunal judicial, o que normalmente é uma vantagem que a arbitragem costuma ter pode-rá deixar de ser. Porque as custas são altíssimas, estamos a falar de valores absurdos mesmo, de pro-cessos em que no contencioso nor-mal pode estar em causa o acesso ao direito. Aplicando à arbitragem, receio que seja um problema que vamos transferir do tribunal judicial para o arbitral. Preferia que existisse uma regra própria, como acontece noutros centros de arbitragem em que o valor das custas é fixado de acordo com o valor da causa, mas independente do regulamento de custas.

Advocatus | Voltando ao direito desportivo, alguns dos seus pro-tagonistas têm estado envolvi-dos em processos mediáticos, nomeadamente por suspeitas de corrupção…FC | Se me pergunta se temos tido intervenção nesses processos, posso dizer-lhe que não. Mas se os clientes tiverem necessidade des-se serviço cá estamos. O critério é se entendermos que a pessoa tem direito de defesa e razões para se defender aceitamos o patrocínio.

Advocatus | mas têm clientes me-diáticos…FC | Sim, e que têm problemas pró-prios pelo facto de serem figuras

“nós temos a sorte de termos a confiança de alguns clientes que são agentes, jogadores

e treinadores e até instituições ligadas

ao futebol em Portugal que precisam dos nossos serviços”

“O desporto é uma das matérias em que vale a pena ir para a arbitragem,

porque é uma matéria específica, que tem

particularidades. Existir a possibilidade de as

partes, voluntariamente, quando fazem um

contrato estabelecerem uma cláusula arbitral

é uma grande vantagem”

“Temos tido experiência com os nossos clientes, quer em Portugal, quer fora, da dificuldade de relação entre as figuras públicas e os media”

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Agosto de 2013 9O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“Quando participamos em grandes

transferências de jogadores temos de

estar muito atualizados, os clientes confiam

em nós porque sabem isso”

públicas. Temos tido experiência com os nossos clientes, quer em Portugal, quer fora, da dificuldade de relação entre as figuras públicas e os media. São figuras públicas mas têm a sua vida privada, que devia ser respeitada e nem sempre isso acontece. O papel do advogado é procurar defender essa vida privada. Isso faz-se às vezes através de con-tactos com a comunicação social, outras vezes através de providências cautelares, que impedem a violação ou continuação da violação desses direitos. Felizmente, tem funcionado em Portugal.

Advocatus | E são clientes que valem muito no mundo do futebol. Isso aumenta a responsabilidade do advogado?FC | Segundo o estudo da Univer-sidade Católica e da Delloite, em termos de valor, os clubes da pri-meira divisão envolveram, em 2012, transferências na ordem dos dois mil milhões de euros, 300 milhões dos quais dizem respeito a Portu-gal. São números da FIFA. Estamos a falar de um negócio significativo na economia portuguesa, o que se compreende se virmos que Portugal tem vários dos melhores jogadores do mundo, grandes treinadores, grandes agentes. É normal que movimente muito dinheiro.É uma enorme responsabilidade re-presentarmos estes clientes. É assim que nos sentimos aqui. Nesta equipa há advogados muito especializados nas suas áreas mas que trabalham muito no desporto, o que obriga a uma constante atualização em ter-mos de conhecimento da lei, dos regulamentos, da doutrina e da juris-prudência. Participamos em ações de formação internas e externas para podermos responder a um grau de exigência elevadíssimo dos clientes. Quando participamos em grandes transferências de jogadores temos de estar muito atualizados, os clientes confiam em nós porque sabem isso.

Advocatus | Qual o peso deste negócio na morais Leitão?FC | É uma área muito relevante num escritório de advogados como o nos-so. Mais não lhe posso dizer.

“A minha camisola é a do cliente, não é vermelha, nem verde, nem azul. Esqueço

totalmente. Fico satisfeito por ver clientes do escritório a jogar bem”

O gabinete de Francisco Cortez na Morais Leitão não deixa dúvidas sobre a sua área de prática: camisolas de jogadores autografadas denunciam o “ar” que ali se respira – futebol. Mas Francisco Cortez não é apenas um advogado que representa jogadores, treinadores e agentes de futebol. É ele próprio um adepto e reconhece que “gostar de futebol ajuda bastante”: “Além de trabalho é um prazer. A atividade é negócio mas também é espetáculo”, sintetiza.Na equipa de Direito do Desporto, há advogados de todas as cores, clubisticamente falando. Tal como os clientes. E conflitos de “inte-resses” não há: “A minha camisola é a do cliente, não é vermelha, nem verde, nem azul. Esqueço totalmente. Fico satisfeito por ver clientes do escritório a jogar bem”, diz, ainda que a “sua” camisola seja vermelha. Com cartão, quotas em dia, lugar cativo no estádio. Vai aos jogos do seu Benfica, como não podia deixar de ser: “Sofro muito, mas também tenho algumas alegrias”.Também dá uns toques na bola. Já participou em torneios integrado na equipa da Morais Leitão. Agora joga no grupo de desporto da sociedade. Joga a meio campo. Defende e também ataca. É o orga-nizador, o que distribui o jogo. No futebol, como na equipa de Direito do Desporto, de que é um dos coordenadores.

A meio campoFuTEBOL & ADVOCACIA

“é claramente uma área de negócio

importante em Portugal e, como tal, justifica que

haja advogados com uma especialização

nesta matéria”

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O agregador da advocacia10 Agosto de 2013

www.advocatus.pt

A pressão dos clientes em obter honorários mais baixos, com atendimento rápido e eficiente, o aumento da concorrência e a valorização crescente da advocacia preventiva em relação à contenciosa leva a que os escritórios de advogados se aproximem às políticas de gestão empresarial.

Mudanças socioeconómicas são fonte de novas oportunidades para advogados

A profissão de advogado está pe-rante o maior desafio de sempre. A complexidade dos processos pró-prios da sua função e o desafio na intersecção local e global da ativi-dade fortemente influenciada pela economia e pela globalização do conhecimento exigem novos méto-dos organizativos de trabalho.A advocacia tradicional está saturada e é necessário explorar novas possi-bilidades criadas pelas transforma-ções sociais. A pressão dos clientes em obter honorários mais baixos, com atendimento rápido e eficien-te, o aumento da concorrência e a valorização crescente da advocacia preventiva em relação à contenciosa leva a que os escritórios de advoga-dos se aproximem às políticas de gestão empresarial, influenciados pelos modelos anglo-saxónicos de law firms. Por outro lado, surge um perfil de cliente novo globalizado, poderoso a nível financeiro e alta-mente exigente nos seus processos de trabalho que até recentemente era pessoal e generalista exigindo conhecimentos profundos e espe-cializados na execução de processos de aconselhamento ou contencioso.O surgimento de equipas multidis-ciplinares com um modus operandi mais informal e com especificidades próprias conduz a um desempenho superior do escritório. Por outro lado, surgem grandes oportunidades na exploração de novas funções e novos mercados. Os escritórios passam a incluir gestores do conhecimento, técnicos em gestão de riscos, con-

intensa ao trabalho que se tendem a aceitar como naturais para o sucesso profissional. Apesar do clima inicial de angústia perante a velocidade das mudanças, estas traduziram-se em novas oportunidades e reptos à pro-fissão, pois o cliente consciente da sua cidadania produziu no mercado jurídico um aumento de litigiosidade e conflitos.As tecnologias de informação e de software vieram facilitar o trabalho do advogado, principalmente, no acesso à legislação vigente e conso-lidada, na jurisprudência e no acesso a artigos doutrinários, de forma pre-cisa, com custos menores e grande economia de tempo. As plataformas digitais traduzem-se num instrumento de relacionamento mais próximo com os clientes com posicionamento diferenciado e ino-vador de escritório virtual, acessível sem os constrangimentos do tempo e do espaço. Os escritórios têm a possibilidade de organizar a infor-mação adequada ao perfil do clien-te, como o seguimento dos casos, processo e decisões.Assim e entre as competências pro-fissionais dos advogados surge cada vez mais a chamada visão do negócio traduzida numa atuação jurídico-legal intimamente relacionada com rea-lidade socioeconómica do cliente. Esta nova abordagem taylor-made suportada pelas tecnologias de in-formação aproxima cada vez mais o advogado das necessidades reais do cliente sendo o elo facilitador e adju-vante da efetividade da sua atividade.

Florbela Jorge

Advogada e diretora editorial da Wolters Kluwer. Licenciada em Direito pela Universidade Internacional, conta ainda com um MBA da Universidade Católica do Porto.

“Entre as competências profissionais dos

advogados surge cada vez mais a chamada

visão do negócio traduzida numa

atuação jurídico-legal intimamente relacionada

com realidade socioeconómica

do cliente”

Advocacia

sultores nas áreas de outros saberes, gestores de conteúdos em páginas web, de blogs e redes sociais, ges-tores da comunicação, etc. Ao ad-vogado moderno exige-se um perfil diferenciado na especialização do conhecimento cada vez mais pelos setores económicos (energia, indús-tria farmacêutica, obra pública, etc.) e não pelos ramos de direito, com competências de relacionamento interpessoal, integração em equipa com respeito pela hierarquia interna e domínio de idiomas estrangeiros. O desconforto da realidade da ad-vocacia moderna é superado pelos mecanismos que se moldam às no-vas circunstâncias e pela capaci-dade do conceito de advogado se adaptar às transformações sociais que acontecem mais rapidamente que as alterações legais, de forma a assegurar a sua sobrevivência.A cultura da instantaneidade faci-litada pela web e a disponibilidade total ao cliente exige uma dedicação

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Page 12: Advocatus, 41

O agregador da advocacia12 Agosto de 2013

www.advocatus.ptSolicitadoria

A profissão de solicitador parece, por vezes, sobrepor-se à de advo-gado, contudo desempenham fun-ções diferentes no sistema jurídico português. Isso não invalida que em alguns casos o solicitador possa exercer uma função semelhante à do advogado e vice-versa, ou, até mesmo que trabalhem em parceria. O presidente da Câmara dos So-licitadores, José Carlos Resende, reconhece que existe efetivamente “alguma sobreposição de funções

São cerca de 3300 os profissionais que, em Portugal, se dedicam à solicitadoria. Com funções que, por vezes, parecem coincidir com as de advogado. Mas que se diferenciam pelo lado mais pragmático da formação e da intervenção, nomeadamente na ação executiva. Ao Advocatus o presidente da Câmara dos Solicitadores, José Carlos Resende, defende que o futuro passa pela aquisição de novas competências exclusivas.

O lado pragmático da Justiça

entre as duas profissões”. Algo que consta inclusive na Lei dos Atos Próprios dos Advogados e Soli-citadores (Lei nº49/2004 de 24 de agosto).O percurso de formação dos advo-gados e solicitadores é semelhante em várias cadeiras, ainda que, no caso dos segundos, a fase final da formação possua um carácter mais prático, aproximando-se de áreas como a dos registos e notariado, fiscal, civil e processual civil.

O solicitador desempenha diver-sos “papéis”. Tanto pode dar uma consulta jurídica, como elaborar contratos, alterar ou extinguir negócios jurídicos. Em casos de Processo Civil pode representar uma das partes, com exceção de quando é estritamente obrigatória a representação por um advogado. Ainda que, por vezes, este trabalho seja feito em equipa, composta por advogado e solicitador. Ao nível do Processo Penal, o solicitador só

O grande desafio dos solicitadores consiste

em assegurar que a entrada em vigor do novo Código do Processo Civil não

cause perturbações à eficácia e celeridade

do processo.

Page 13: Advocatus, 41

Agosto de 2013 13O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

poderá representar o lesado em caso em que o código o permita (art.º 76 do Código de Processo Penal). Enquanto no que se refere a processos de Direito de Trabalho, a partir do momento da audiência de partes, é sempre obrigatória a constituição de um advogado, como consta do art. º 98-B do Código do Processo do Trabalho. Mas afinal o que distingue os solici-tadores dos advogados? Na pers-petiva de José Carlos Resende, é principalmente o “tradicional cariz mais pragmático da atividade do solicitador”. A própria preparação académica para a atividade é dada tendo esse intuito mais pragmá-tico, com o objetivo de tornar o solicitador um profissional “com capacidade de fácil adaptação à prática do direito e da realização dos atos simplificados”. Ambos os profissionais poderão formar uma equipa nas diversas áreas de atividade, o que, por nor-ma, acontece sempre que a tarefa a realizar envolve múltiplas valências. Neste caso, o solicitador irá intervir nas áreas em que tem mais apti-dão ou especialização, assim como em tarefas de cariz mais prático e tecnológico. Na perspetiva do presidente da Câmara dos Solicitadores, estas “parcerias” representam benefícios para os clientes e para os próprios profissionais, uma vez que o conhe-cimento técnico disponível se torna “mais especializado e alargado”. “Sendo tradicional o solicitador dedicar-se à organização da pro-va quanto à matéria de facto e à vigilância dos prazos processuais, o que justifica a notificação prefe-rencial ao solicitador, nos termos do citado nº3 do art. º 253 do Código do Processo Civil”, acrescenta.Ressalva, ainda, que numa eco-nomia global como a atual, este trabalho conjunto poderá resultar numa resposta mais rápida, eficaz, especializada e de menor custo.Em 2003, os solicitadores assis-tiram a um alargamento das suas funções com a criação da figura dos solicitadores de execução, mais tarde denominados de “agentes de execução”. Na opinião de José Car-los Resende, houve quatro fatores

que contribuíram para esta medida: a forte concorrência de advogados e estagiários nas principais áreas de intervenção dos solicitadores; a perspetiva de informatização e de uma desjudicialização de mui-tos atos profissionais; a grande apetência dos solicitadores para abraçarem novos desafios; e, por fim, o aumento de pendências ao nível dos processos de execução. Tudo começou em 2000, quando a Câmara dos Solicitadores apresen-tou ao ministro da Justiça de então – António Costa – a proposta de criação da figura do solicitador de execução. Um desafio que já havia sido lançado pelo bastonário da Ordem dos Advogados da altura, Pires de Lima. Contudo, o processo só avançou em 2003 quando a mi-nistra da Justiça, Celeste Cardona, decidiu recuperar esta proposta, o que resultou na reforma do Código

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“A verdade é que a caminhar foram fazendo o seu caminho e, passados dez anos, são uma realidade indiscutível, verificando-se o desenvolvimento de muitos escritórios de agentes de execução que assumiram o desafio com coragem e persistência”

A preparação académica para a atividade é dada

tendo esse intuito mais pragmático, com o objetivo de

tornar o solicitador um profissional “com capacidade de fácil adaptação à prática

do direito e da realização dos atos

simplificados”.

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O agregador da advocacia14 Agosto de 2013

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Os solicitadores têm tentado ao longo da história enriquecer a pro-fissão, criando novas competências e, de preferência, exclusivas. Um exemplo disso é o GeoPredial, um serviço criado pela Câmara dos Solicitadores com o objetivo de dar aos cidadãos e empresas a delimitação precisa da(s) propriedade(s) que detêm. Utilizando para isso a tecnologia de georreferenciação. Um serviço que é prestado de forma rápida, segura e económica, garante José Carlos Resende. O GeoPredial disponibiliza ainda apoio jurídico na legalização do património imobiliário, através do apoio de um solicitador que ajudara a solicitar o registo predial, inscrição matricial, entre outras medidas.O Balcão Único do Solicitador é outra das medidas que tem procurado destacar o trabalho destes profissionais, reforçando o lado pragmático e mediador da sua intervenção. Assim, consegue prestar, “ao abrigo de uma marca”, diversos serviços de forma rápida e, em simultâneo, garantir a segurança jurídica.

Profissionais do século XXIPROFISSãO

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José Carlos Resende está convicto de que o desenvolvimento do sistema irá implicar – a médio prazo – uma maior responsabilização dos agentes de execução e uma evolução para a desjudicialização mais profunda, à semelhança do que acontece no resto da Europa.

Solicitadoria

do Processo Civil, desse ano.José Carlos Resende acredita que esta medida permitiu evitar o “caos nos tribunais”. Apesar de o número de pendências nesta área ter aumentado nos últimos anos, o responsável defende que, caso não tivessem sido criados os agentes de execução, a situação atual seria muito pior… Sustenta, assim, que a introdução da figura do agente de execução foi “globalmente po-sitiva para a eficácia da Justiça”, mas alerta que agora é essencial apostar na celeridade e eficiência dos procedimentos, assim como numa “atitude concertada de todos os operadores judiciais”. “A verdade é que a caminhar foram fazendo o seu caminho e, passa-dos dez anos, são uma realidade indiscutível, verificando-se o de-senvolvimento de muitos escritó-rios de agentes de execução que assumiram o desafio com coragem e persistência”, sublinha o presi-dente da Câmara dos Solicitadores. Deste percurso, retira como mais--valias a criação de uma área de intervenção e o facto de os solici-tadores terem aprendido a “lidar de uma forma muito profissional” com o processo de execução e com a citação.Mas acredita que ainda há me-didas a ser tomadas, nomeada-mente concluir o que foi proposto em 2003, com especial enfase na penhora dos depósitos bancários. José Carlos Resende está convic-to de que o desenvolvimento do sistema irá implicar – a médio pra-zo – uma maior responsabilização dos agentes de execução e uma evolução para a desjudicialização mais profunda, à semelhança do que acontece no resto da Europa. Na sua opinião, o grande desafio dos solicitadores consiste em as-segurar que a entrada em vigor do novo Código do Processo Civil não cause perturbações à eficácia e celeridade do processo. Mas num futuro próximo, defende que estes profissionais necessitam de “adqui-rir novas competências exclusivas” como forma de se diferenciarem das restantes profissões jurídicas e “manterem a sua história de várias centenas de anos”.

Em 2003, os solicitadores assistiram a um alargamento das

suas funções com a criação da figura

dos solicitadores de execução, mais tarde

denominados de “agentes de execução”

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www.lpmcom.pt

a influenciar desde 1986

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O agregador da advocacia16 Agosto de 2013

www.advocatus.ptSociedades

De um lado está uma oportunida-de de mercado detetada pela ERA e relacionada com a atribuição de vistos de residência a cidadãos não europeus que, por exemplo, adqui-ram imóveis de valor igual ou supe-rior a 500 mil euros. Do outro, três sociedades de advogados reunidas num agrupamento complementar de empresas (ACE) onde uma delas, a Luis Natário, Pina Cabral e Asso-ciados, Sociedade de Advogados, RL, há já vários anos que mantém estreitas relações com países como a China, os PALOP e a Rússia, tendo adquirido elevada especialização na área do Direito de estrangeiros. Foi assim que as duas partes entra-

Uma imobiliária e três sociedades de advogados agrupadas numa ACE viram nos vistos gold uma oportunidade de negócio e juntaram forças para tratar das necessidades de clientes chineses, russos, venezuelanos, brasileiros e angolanos. Miguel Poisson, da ERA Portugal, e Miguel Almeida Fernandes e Ricardo Pina Cabral, da Plataforma Legal, falaram ao Advocatus sobre a sua parceria e os serviços que prestam.

Negócios comvistos dourados

ram numa espécie de “casamento de conveniência” em que quem fica a ganhar são os clientes. Miguel Pois-son, diretor-geral da ERA Portugal, refere que “identificámos esta opor-tunidade de mercado e sentimos, de imediato, a necessidade de dispor de um serviço integrado que permitisse a atribuição de vistos de residência”. A confiança e a credibilidade, “mas também a garantia de poder contar com um prestador de serviços, líder no seu mercado, que conta com os melhores recursos humanos, tec-nológicos, e com presença a nível internacional”, foram os fatores que levaram a ERA a escolher a Plata-forma Legal.

Miguel Almeida Fernandes e Ricar-do Pina Cabral, da ACE Plataforma Legal, afirmam que na área dos vis-tos gold a parceria com a ERA “é a primeira e única dado o carácter de exclusividade que foi assumido por ambas as instituições”. Mas nou-tras áreas, “como a formalização de contratos de crédito, locações financeiras e outras, temos parcerias similares com instituições financei-ras. No fundo procuramos dar uma resposta nacional a clientes com necessidades nacionais”.Como é que as sociedades de ad-vogados intervêm neste processo? Respondem os advogados: “A Plataforma Legal tem um produto

miguel Almeida Fernandes e Ricardo Pina Cabral, da ACE

Plataforma Legal, afirmam que na área dos

vistos gold a parceria com a ERA “é a primeira e única dado o carácter

de exclusividade que foi assumido por

ambas as instituições”

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Advocatus | Porque é que a ERA recorreu a uma parceria com uma sociedade de advo-gados para a atribuição dos vistos gold?miguel Poisson | Identificámos esta oportunidade de mercado e sentimos, de imediato, a neces-sidade de dispor de um serviço integrado que permitisse a atri-buição de vistos de residência. Atualmente o mercado português é visto como uma oportunidade de investimento, por conseguin-te é importante ter uma respos-ta para clientes estrangeiros que desejem obter um visto de resi-dência em Portugal. Nas nossas lojas verificou-se um aumento da procura desde setembro, do ano passado, mas no início de 2013 esta procura disparou. Sobretudo para imóveis situados em zonas top e cujo valor de investimento se situa acima dos 500.000 euros. A ERA é a primeira imobiliária a dispor de um serviço deste tipo. Trata-se de mais um meio para nos diferenciarmos neste merca-do. Neste momento todas as lojas têm acesso a esta parceria, com a ACE Plataforma Legal, de Norte

a Sul do país, Açores e Madeira. Advocatus | Porque é que foi escolhida a ACE Plataforma Legal?mP | Foram vários fatores. Des-tacaria a confiança e a credibili-dade, mas também a garantia de poder contar com um prestador de serviços, líder no seu merca-do, que conta com os melhores recursos humanos, tecnológicos, e com presença a nível inter-nacional. Com esta parceria as nossas lojas podem continuar a concentrarem-se no seu core business e não precisam de estar preocupadas com a parte buro-crática e processual. Advocatus | Quais as tarefas dos advogados no processo dos vistos gold?mP | Prestam todos os serviços jurídicos e administrativos com vista à obtenção do ARI, vulgo golden visa. Trata-se de um servi-ço chave na mão, em que os ad-vogados da ACE Plataforma Le-gal estão presentes desde a fase de acolhimento do cliente até à emissão e entrega do golden visa,

passando pelo acompanhamento dos clientes compradores ao Ser-viço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Advocatus | O mercado dos vistos gold resume-se a Lisboa ou há outras zonas do país que também despertam o interesse de investidores?mP | Linha do Estoril, Sintra e também em algumas zonas do Algarve. Mas a grande procura tem sido em Lisboa. Advocatus | Além dos chineses, que outros investidores “candi-datos” a vistos gold é que estão a procurar Portugal?mP | Essencialmente brasileiros, angolanos, russos e venezuela-nos. Advocatus | Qual o segmento mais procurado por estes in-vestidores: residencial, escritó-rios, comércio, armazéns?mP | Há maior procura de imóveis residenciais, mas também temos alguns casos de procura de espa-ços comerciais, sobretudo em zo-nas nobres da cidade de Lisboa.

“A primeira imobiliária com um serviço deste tipo”

DISCuRSO DIRETO

miguel Poissondiretor-geral da

ERA Portugal

“chave na mão” para as tarefas le-gais, como preparação e legalização da Procuração, due dilligence do imóvel pretendido, preparação e celebração do contrato promessa e documento particular autenticado. Além disso, fazemos o acompanha-mento do processo junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e representamos o cliente nos atos acessórios mas necessários à emis-são do visto”.Para os responsáveis da ERA e das sociedades de advogados, o mer-cado português é visto atualmente como uma oportunidade de inves-timento para clientes estrangeiros oriundos do Brasil, Angola, Vene-

Miguel Almeida Fernandes e Ricar-do Pina Cabral consideram que os vistos gold são um segmento de ne-gócio com futuro para as sociedades de advogados até porque “cada vez mais Portugal tentará ser a Florida da Europa e, nesse sentido, quer o investimento imobiliário quer a posterior representação de clientes estrangeiros, será uma área que os advogados portugueses poderão acompanhar com o mérito que se lhes reconhece”.Os vistos gold – ou Autorização de Residência para Investimento (ARI) – são uma autorização de residência de entrada e permanência em terri-tório português para fins de investi-

mento. Destinam-se a investidores que não sejam cidadãos da União Europeia e do Espaço Schengen e que devem preencher determinados requisitos relacionados com inves-timento, aquisição de imóveis ou criação de emprego. Investimento ou transferência de capitais de pelo menos um milhão de euros, criação e manutenção de um número determinado de postos de trabalho e aquisição de imóveis no valor mínimo de 500 mil euros são algumas das condições indispen-sáveis para obter a autorização de residência. Em maio já tinham sido atribuídos mais de 10 vistos gold e existiam cerca de 100 candidaturas.

zuela e Rússia. A linha do Estoril, Sintra e também algumas zonas do Algarve são das mais procu-radas, embora Lisboa seja o local mais preferido. A ERA é a primeira imobiliária a dispor de um serviço deste tipo e Miguel Poisson afirma que se trata de “mais um meio para nos diferenciarmos neste mercado. Neste momento todas as lojas têm acesso a esta parceria, com a ACE Plataforma Legal, de Norte a Sul do país, Açores e Madeira”. Com esta parceria “as nossas lojas podem continuar a concentrarem-se no seu core business e não precisam de estar preocupadas com a parte burocrática e processual”.

Agosto de 2013 17O agregador da advocacia

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O agregador da advocacia18 Agosto de 2013

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Advocatus | A parceria com a ERA para os vistos gold é a pri-meira do género para a Plata-forma Legal?miguel Almeida Fernandes e Ri-cardo Pina Cabral | Nesta área é a primeira e única dado o carácter de exclusividade que foi assumido por ambas as instituições. Nou-tras áreas, como a formalização de contratos de crédito, locações financeiras e outras, temos par-cerias similares com instituições financeiras. No fundo procuramos dar uma resposta nacional a clien-tes com necessidades nacionais.

Advocatus | na prática, qual a intervenção de uma sociedade de advogados neste processo dos golden visa?mAF e RPC | A Plataforma Legal tem um produto “chave na mão” desempenhado as tarefas legais, como preparação e legalização da Procuração, due dilligence do imóvel pretendido, preparação e celebração do contrato promes-sa e documento particular au-tenticado. Além disso, fazemos o acompanhamento do processo junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e representamos o cliente nos atos acessórios mas necessários à emissão do visto, tal como representação fiscal e obtenção do número de contri-buinte, abertura de conta ban-cária, contratação do seguro de saúde, tradução de documentos.

Advocatus | Como é este pode ser um segmento de negócio com futuro para as sociedades de advogados?mAF e RPC | No fundo a ARI é, numa das suas vertentes, apenas

mais um elemento de uma área que já é familiar à Plataforma Legal e a outras sociedade de advogados que é o investimento estrangeiro em imóveis situados em Portugal. Assistimos, durante a primeira década deste século a um aumento muito substancial deste negócio com o investimen-to fortíssimo do mercado inglês e irlandês. Com o início da cri-se estes mercados contraíram e assumiram volumes insignifican-tes. Nos últimos anos, embora em volumes incomparavelmente inferiores, tem sido o mercado belga, holandês e russo a estar mais ativo. Estes mercados não foram tão atingidos pela crise e os seus investidores não estão, normalmente, dependentes de financiamento bancário que tem sido, e continua a ser, um dos principais entraves a mais inves-timento. Ou seja, cada vez mais Portugal tentará ser a Florida da Europa e, nesse sentido, quer o investimento imobiliário quer a posterior representação de clien-tes estrangeiros, será uma área que os advogados portugueses poderão acompanhar com o mé-rito que se lhes reconhece.

Advocatus | Além de chineses, que outras nacionalidades é que têm mostrado interesse em adquirir o golden visa?mAF e RPC | Cidadãos oriundos dos PALOP, Venezuela e Rússia.

Advocatus | O que é que a Pla-taforma Legal teve de fazer para ter uma especialização nesta área? Contratou mais advogados? Deu formação em mandarim aos seus quadros?mAF e RPC | A Plataforma Legal é uma ACE, dele fazendo parte três sociedades. Por via da sua atividade, uma delas - a Luis Na-tário, Pina Cabral e Associados, Sociedade de Advogados, RL - há já vários anos que mantém estreitas relações com países como a China os PALOP e a Rús-sia, tendo adquirido elevada es-pecialização na área do Direito de estrangeiros. Por outro lado, há mais de 10 anos que a PL vem atuando fortemente na área do investimento estrangeiro. Daí que a ARI não nos tenha obrigado a qualquer especial adaptação. Já estávamos nesta área, temos know how, temos circuitos defi-nidos e otimizados e uma equi-pa de apoio que fala mandarim. É para nós fundamental que os clientes encontrem interlocutores que falem a sua língua, que co-nheçam os seus costumes e que lhes possam passar o máximo de conhecimento de forma tranqui-la, garantindo-lhes a segurança de quem está num país distante a fazer negócios de monta, sem sequer compreender a língua. No fundo é prestar o serviço que gostaríamos de ter caso fosse-mos nós os clientes.

Produto “chave na mão” para as tarefas legais

DISCuRSO DIRETO

miguel Almeida FernandesPlataforma Legal

Sociedades

Os vistos gold – ou Autorização de Residência para

Investimento (ARI) – são uma autorização

de residência de entrada e permanência

em território português para fins

de investimento.

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O agregador da advocacia20 Agosto de 2013

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Em maio entrou em vigor a chamada nova lei das regiões de turismo em Portugal. O sector é restruturado do ponto de vista organizacional e funcional, mas será que esta lei é suficiente para tornar a promoção do turismo mais eficaz e assim impulsionar o sector?

Para lá da leiCom a entrada em vigor da Lei n.º 33/2013, de 16 de maio, as áreas regionais de turismo de Portugal continental passaram a beneficiar de um novo regime jurídico. O lado mais visível da mudança foi a criação de cinco entidades regionais de tu-rismo, o que implicou restruturações, nomeadamente a nível dos polos de desenvolvimento turístico, uns extintos e outros integrados. Mas será que era a lei de que o sector necessitava para uma organização e funcionamento mais eficazes? Advogados de três sociedades dão a sua opinião. Susana Alberto e Marta Paiva, da Caiado Guerreiro & Associados, entendem que com a publicação desta lei foi dado um passo decisivo na eficiência, racio-nalidade e eficácia da organização e promoção do turismo de Portugal. E sublinham o “esforço do legislador” em determinar a utilização, de for-ma eficiente, dos cada vez mais es-cassos recursos públicos. Já Marta Rebelo, consultora da HAAG, reco-nhece que este novo regime jurídico introduz agilidade e modernidade na promoção turística, mas argumenta que terá ainda de passar o teste de equilíbrio entre a necessidade de controlo de custos e a capacida-de de melhorar a valorização e de-senvolvimento das potencialidades turísticas de Portugal continental. João Pereira Reis e Rui Ribeiro Lima, da MLGTS, sustentam que, a breve trecho, deverá ser aprovado um novo regime de licenciamento das ativida-des económicas ligadas ao turismo e que será necessário aligeirar os procedimentos e os conteúdos dos planos de ordenamento do território.

Turismo

Sus

ana

Dia

s/W

ho

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Agosto de 2013 21O agregador da advocacia

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Com a publicação desta Lei, foi dado um passo decisivo na eficiência, racionalidade e eficácia da organização e promoção do turismo de Portugal.

um passo decisivo

Com a entrada em vigor da Lei n.º 33/2013, de 16 de Maio que estabelece o regime jurídico das áreas regionais de turismo de Por-tugal continental, a sua delimitação e características prevê um novo regime jurídico de organização e funcionamento das Entidades Re-gionais de Turismo.Assim sendo, com a aprovação da Lei n.º 33/2013, foram criadas cinco Entidades Regionais de Turismo, as quais tomam por referência as áre-as regionais abrangidas por cada uma das Nomenclaturas das cinco Unidades Territoriais de Portugal Continental para Fins Estatísticos de Nível II (NUTS II).Procede-se, assim, à reestrutura-ção das Entidades Regionais de Turismo, nelas integrando, por extinção e fusão, os polos de de-senvolvimento turístico – do Dou-ro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, Alqueva e Alentejo Litoral.Para além da redução das Entida-des Regionais de Turismo, este di-ploma introduz alterações relevan-tes no que diz respeito ao controlo da despesa designadamente, com a diminuição dos cargos dirigentes remunerados, com a proibição da contratação de empréstimos que gerem dívida fundada por parte das Entidades Regionais de Turismo, com a celebração de contratos--programa entre as Entidades Re-gionais de Turismo e o Turismo de Portugal I.P. os quais permitem uma fiscalização rigorosa da aplicação das verbas que lhe são afetas.Ora, numa altura de contenção financeira, é de enaltecer este es-forço do legislador em determinar a utilização, de forma eficiente, dos cada vez mais escassos recursos públicos, canalizando as verbas decorrentes do emagrecimento da estrutura e organização das Entida-des Regionais de Turismo para um

maior investimento público na área do marketing. Para este efeito foi criado um Conselho de Marketing que tem como objetivo incentivar o desenvolvimento do turismo, que permitirá eventualmente uma ala-vancagem para o crescimento e a recuperação económica do País.Cumpre destacar ainda que, com a unificação das anteriores 11 En-tidades Regionais de Turismo, em 5 entidades regionais fica, definiti-vamente, ultrapassada a histórica dispersão das Entidades Regionais de Turismo em Portugal.Contudo, a extinção dos seis po-los de desenvolvimento turístico não está isenta de críticas, tendo motivado receios de que, com o seu desaparecimento, venham a ser descuradas as especificidades turísticas que os polos comportam. Consideramos, no entanto, que a valorização da oferta turística do Douro, Serra da Estrela, Leiria--Fátima, Oeste, Alqueva e Alentejo Litoral não sairá prejudicada com esta Lei. Somos, inclusivamente, da opinião de que a sua integra-ção em Entidades Regionais de Turismo – onde cada município é representado por um membro, titular de um voto – confere aos municípios uma maior igualdade na capacidade reivindicativa para a promoção das respetivas áreas turísticas. Pretendemos, também, assinalar o facto de através do alargamento do conceito de mercado interno, pas-sar a ser permitido às Entidades de Turismo Regional a promoção das suas áreas turísticas em Espanha, que consubstancia um importante passo para o nosso país.É nosso entendimento que, com a publicação desta Lei, foi dado um passo decisivo na eficiência, racio-nalidade e eficácia da organização e promoção do turismo de Portugal.

marta Paivae Susana Alberto

Advogadas da Caiado Guerreiro & Associados

“é de enaltecer este esforço do legislador

em determinar a utilização, de forma

eficiente, dos cada vez mais escassos recursos

públicos, canalizando as verbas decorrentes do emagrecimento da

estrutura e organização das Entidades Regionais

de Turismo para um maior investimento

público na área do marketing”

“A valorização da oferta turística do Douro,

Serra da Estrela, Leiria--Fátima, Oeste, Alqueva

e Alentejo Litoral não sairá prejudicada

com esta Lei. Somos, inclusivamente, da opinião de que a

sua integração em Entidades Regionais de Turismo confere aos municípios uma

maior igualdade na capacidade

reivindicativa para a promoção das respetivas áreas

turísticas”

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O agregador da advocacia22 Agosto de 2013

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Este novo regime jurídico terá ainda de passar o teste de equilíbrio entre a necessidade de controlo de custos e a capacidade de melhorar a valorização e desenvolvimento das potencialidades turísticas de Portugal continental.

O teste do equilíbrio

Através da Lei n.º 33/2013, de 16 de Maio, a Assembleia da República estabeleceu “o regime jurídico das áreas regionais de turismo de Portu-gal continental, a sua delimitação e características, bem como o regime jurídico da organização e funciona-mento das entidades regionais de turismo” (art. 1.º).Sucedendo ao DL n.º 67/2008, de 10 de Abril (alterado pelo DL n.º 187/2009, de 12 de Agosto), este novo regime introduz alterações de monta na delimitação geográ-fica das áreas regionais de turismo (doravante “ART”) e na dinâmica das entidades regionais de turismo (doravante “ERT”). Quanto a estas, este regime conhece já várias crí-ticas oriundas das entidades do sector, maxime por deixar para um segundo plano o imprescindível envolvimento consistente dos pri-vados na promoção e desenvol-vimento turístico, em articulação com as ERT, por comparação com o regime anterior.O novo diploma, ao eliminar os seis polos de desenvolvimento turístico (previstos no agora revogado DL n.º 67/2008 e que eram Douro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, Litoral Alentejano e Alqueva), consagra a existência apenas das cinco ART correspondentes às NUTS II (No-menclatura das Unidades Territo-riais para Fins Estatísticos de nível II). Ou seja, Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve, adequando-se as ERT a tal configuração. Esta é a principal novidade do diploma, que torna patentes as preocupações de índole orçamental assumidas pelo legislador, já que a adequação das ART e, bem assim, das ERT, às NUTS II, e a eliminação dos polos de desenvolvimento turístico, importa uma redução de custos significa-tiva ao nível do número de cargos

cípios e as ERT estava condiciona-da à existência de verbas inscritas no OE e confiadas ao Turismo de Portugal. No regime agora vigente, a celebra-ção de contratos-programa com o Turismo de Portugal, seja a contra-parte uma ERT ou uma “associa-ção de direito privado que tenha por objecto a actividade turística”, obedece a regras de quantificação e identificação dos objectivos e me-tas estabelecidos, encontrando-se a forma de distribuição pelas ERT das dotações orçamentais afectas ao Instituto de Turismo. Às ERT era conferido pelo novo diploma o po-der de celebrar contratos-programa para o desenvolvimento do turis-mo regional ou sub-regional com as entidades intermunicipais, mas, face ao recente acórdão do Tribunal Constitucional que declarou incons-titucional a criação daquelas entida-des, esta disposição foi esvaziada de qualquer utilidade. Regras de contenção orçamental à parte, este diploma introduz agi-lidade e modernidade na promoção turística, ao dotar as ETR de um novo órgão, o conselho de marke-ting que, apesar de ter essencial-mente uma vocação consultiva e reunir apenas trimestralmente, tem a seu cargo a aprovação do plano de marketing proposto pela comissão executiva, avaliando a sua execução e formulando propostas para o seu ajustamento.De um modo geral, este novo regime jurídico terá ainda de passar o teste de equilíbrio entre a necessidade de controlo de custos e a capacidade de melhorar a valorização e desen-volvimento das potencialidades turísticas de Portugal continental, área onde a aposta económica dos poderes públicos tem sido ampla-mente sublinhada.

marta Rebelo

Consultora da HAAG (Henrique Abecassis, Andresen Guimarães, Pedro Guerra & Álvaro Roquette Morais). É licenciada pela Faculdade de Direito de Lisboa e mestre em Ciências Jurídico-Económicas pela mesma instituição.

“Este diploma introduz agilidade e modernidade na promoção turística,

ao dotar as ETR de um novo órgão, o

conselho de marketing que, apesar de ter

essencialmente uma vocação consultiva

e reunir apenas trimestralmente, tem a seu cargo a aprovação do plano de marketing

proposto pela comissão executiva”

dirigentes remunerados (que passa de 45 para 10). Tais preocupações também são pa-tentes na proibição de contratação de empréstimos que gerem dívida fundada por parte das ERT e na introdução de critérios económico--financeiros mais rigorosos. Mani-festação clara deste último aspecto é a nova regulamentação expressa da possibilidade de celebração de contratos-programa pelas ERT com o Turismo de Portugal, I. P. (art. 32.º) ou com entidades intermunicipais (art. 33.º), e respectivos âmbitos. Esta matéria era apenas brevemente enunciada no DL n.º 67/2008, ao es-tatuir, no art. 28.º que a celebração de contratos entre o Governo e as ERT, entre o Governo e associações de direito privado, ou entre os muni-

Turismo

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Agosto de 2013 23O agregador da advocacia

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É de admitir que, a breve trecho, seja aprovado um novo regime de licenciamento das atividades económicas ligadas ao turismo, nomeadamente dos empreendimentos turísticos, que contemple os objetivos acima enunciados, o que, certamente, contribuirá para um maior empreendedorismo neste setor tão relevante para a economia nacional.

Implicações do novo regime

Através da Resolução do Conse-lho de Ministros n.º 24/2013, de 16 de Abril, foi aprovado o Plano Estratégico Nacional para o Turis-mo para o período de 2013-2015 (doravante referido como PENT), assumindo-se como um instrumen-to estruturante no desenvolvimento das políticas públicas, a concreti-zar através de 8 programas e 40 projetos.Na perspetiva estritamente jurídica merece especial destaque o “Pro-grama de Destinos Turísticos”, já que este prevê a adoção de diver-sas medidas de “simplificação de processos e a redução de custos de contexto” através, nomeada-mente, da desmaterialização de procedimentos e da agilização dos mesmos, designadamente “através de redução de etapas, de meca-nismos de reconhecimento auto-mático e mecanismos de controlo a posteriori.”.É pois de admitir que, a breve tre-cho, seja aprovado um novo regime de licenciamento das atividades económicas ligadas ao turismo, nomeadamente dos empreendi-mentos turísticos, que contemple os objetivos acima enunciados, o que, certamente, contribuirá para um maior empreendedorismo neste setor tão relevante para a economia nacional. Mas importa reconhecer que tal apenas sucederá se o legislador se pautar por um verdadeiro es-pírito reformista que, com ino-vação e criatividade, modifique, radicalmente, o modelo de con-trolo administrativo das atividades económicas que tradicionalmente caracteriza os nossos regimes de licenciamento. Por outro lado, apesar do PENT

nada referir em matéria de revisão do regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro), parece-nos evidente que a estraté-gia e os objetivos nele enunciados impõem, também aqui, uma profun-da reforma do quadro legal vigente.É que, não raras vezes, a aprovação de um projeto turístico esbarra na necessidade de, previamente, se promover a elaboração de plano municipal de ordenamento do ter-ritório (seja plano de urbanização ou plano de pormenor) ou de alte-rar/rever os planos preexistentes, nomeadamente porque estes não previram, nem poderiam ter previs-to, por razões óbvias e evidentes, todas as intenções de investimento turístico que iriam surgir durante o seu dilatado período de vigência. Ora, como é sabido, a elaboração e/ou alteração de planos de or-denamento é extraordinariamente morosa, e esta morosidade não só desincentiva o investimento como comporta sérios riscos de inviabilização de projetos que, à partida, tinham todas as condições de sucesso.Assim, haverá que aligeirar os pro-cedimentos e os conteúdos mate-riais e documentais dos planos de ordenamento do território, deles retirando tudo aquilo que não seja, efetivamente, necessário à prosse-cução e salvaguarda do interesse público naquilo que à ocupação, uso e transformação do solo diz respeito.Limitar ao essencial aquilo que deve constar do plano contribui-rá, decisivamente, para reduzir os respetivos custos de elaboração, tornando este “instrumento” mais consentâneo com os tempos de

João Pereira Reis

Sócio da MLGTS., integra as equipas de Urbanismo, Ambiente,

Administrativo e Contratação Pública.“Haverá que aligeirar

os procedimentos e os conteúdos materiais e

documentais dos planos de ordenamento do

território, deles retirando tudo aquilo que não seja, efetivamente, necessário

à prossecução e salvaguarda do interesse

público naquilo que à ocupação, uso e

transformação do solo diz respeito”

“Apesar do PEnT nada referir em

matéria de revisão do regime jurídico dos

instrumentos de gestão territorial (Decreto-Lei

n.º 380/99, de 22 de Setembro), parece-nos evidente que a

estratégia e os objetivos nele enunciados

impõem, também aqui, uma profunda reforma

do quadro legal vigente”

Rui Ribeiro Lima

Associado da MLGTS, desenvolve atividade em Direito Administrativo,

com especial enfoque em matéria de Urbanismo, Ambiente, Expropriações e

Contratação Pública.

austeridade que atualmente vive-mos e mais “amigo” do investimen-to privado.E idêntico desiderato se alcançará mediante uma substancial redução dos prazos procedimentais e uma efetiva e indispensável articulação entre os diversos departamentos da Administração Central, de tal sorte que os respetivos pareceres refli-tam uma posição uniforme, e sem contradições, que constitua fator de segurança para quem pretenda investir no setor do turismo.

Page 24: Advocatus, 41

O agregador da advocacia24 Agosto de 2013

www.advocatus.ptLivro

Espera ter-se contribuído para dar à matéria da tutela executiva dos particulares o enfoque que ela merece e para descodificar caminhos de interpretação em vários domínios em que o legislador ficou aquém do grau de concretização normativa desejável.

Descodificar a tutela executiva

A obra que agora se publica cor-responde, com algumas alterações e actualizações, à dissertação de Mestrado apresentada em 2005 na Faculdade de Direito da Universi-dade de Lisboa, sob a orientação do Senhor Professor Doutor José Manuel Sérvulo Correia. Esta publicação marca a estreia da colecção de monografias do Ins-tituto do Conhecimento AB (IAB), projecto de divulgação do trabalho de investigação jurídica desenvol-vido pelos colaboradores da Abreu Advogados. Vale a pena frisar que a preparação desta publicação foi generosamente proporcionada graças a uma estratégia de cres-cimento sustentável do escritório, que nas circunstâncias actuais não teme romper com uma perspectiva exclusivamente economicista de negócio, na certeza de que uma advocacia de excelência depen-de de reflexão e análise jurídicas qualificadas e antecipadoras dos problemas complexos que nos são suscitados pelas solicitações dos nossos clientes. Com o presente estudo quisemos alcançar dois objectivos: aproxi-marmo-nos, pelo conhecimento e pela crítica, de um movimento le-gislativo que se afirmou reformador e, desse modo, realizar as implica-ções práticas e a dimensão de tal movimento. É sabido que a reforma do contencioso administrativo de 2002/2004 alterou profundamente o modelo de justiça administrativa até então vigente. Porém, raramen-te se realça o facto da matéria da tutela executiva dos particulares ser

um dos domínios processuais em que o legislador mais se distanciou do modelo processual anterior. Na realidade, esta constitui uma das áreas menos tratadas pela doutri-na administrativista, sendo ainda hoje, volvida quase uma década da entrada em vigor da reforma, notória a falta de elementos con-ceptuais que auxiliem na aplicação das regras processuais introduzi-das neste âmbito. O objecto central deste estudo é, pois, de natureza prática. Visa essencialmente a análise e com-preensão do modo de aplicação dos princípios e regras relativos às três novas formas de processo de execução que o CPTA permite mover contra as entidades públi-cas. Optámos, assim, por encarar a reforma legislativa de 2002/2004 de modo directo, sem nos determos demasiado em considerações so-bre o alcance substantivo, político--jurídico, das opções do legislador. Não obstante, a análise prática de-senvolvida sobre os meios de tutela executiva revela de forma evidente um novo estádio de evolução do contencioso administrativo que, ademais, não encontra paralelo em nenhum dos movimentos legislati-vos europeus seus contemporâne-os. Pode, na verdade, concluir-se que o processo executivo instituído pelo CPTA espelha um novo enten-dimento do princípio da separação e interdependência de poderes, que assenta na diminuição dos espa-ços de reserva da Administração e num concomitante alargamento do âmbito material de intervenção do

Cecília Anacoreta Correia

Advogada associada da Abreu Advogados e assistente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É autora de “A Tutela Executiva dos Particulares no Código de Processo nos Tribunais Administrativos”

“A preparação desta publicação

foi generosamente proporcionada graças a uma estratégia de

crescimento sustentável do escritório, que nas circunstâncias actuais

não teme romper com uma perspectiva

exclusivamente economicista de negócio”

Page 25: Advocatus, 41

Agosto de 2013 25O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“O processo executivo instituído pelo CPTA

espelha um novo entendimento do

princípio da separação e interdependência de poderes, que assenta

na diminuição dos espaços de reserva da Administração e num concomitante

alargamento do âmbito material de intervenção do poder jurisdicional”

poder jurisdicional. Correlativamen-te, as novas formas de processo executivo administrativo hoje confi-guradas concretizam uma vertente da tutela jurisdicional efectiva dos particulares que faltava assumir no plano da legislação ordinária. De facto, estão hoje previstos meios processuais estruturalmente exe-cutivos no CPTA que conferem aos particulares formas de satisfação efectiva de posições jurídicas lesa-das pela Administração, ainda que contra a vontade desta, estejam tais posições jurídicas tituladas por sentença ou outro título executivo extrajudicial. Esta dimensão das alterações introduzidas pelo CPTA em matéria de tutela executiva dos particulares é avassaladoras e leva--nos a considerar, cremos que sem exageros, que a reforma do conten-cioso administrativo de 2002/2004 constitui a iniciativa legislativa do século XXI que mais contribuiu para o aperfeiçoamento do modelo de Estado de Direito em Portugal. Muito sumariamente, a Parte I desta obra centra-se no enquadramento, constitucional e legal, do primei-ro processo jurisdicional dito de “execução de sentenças contra entidades públicas”, introduzido no contencioso administrativo portu-guês pelo Decreto-Lei n.º 256-A/77. Segue-se um breve percurso pela evolução subsequente, constitu-cional, legal e dogmática, relevan-te em matéria de tutela executiva dos particulares contra entidades públicas. A Parte II deste estudo é dedicada a uma breve descrição do proce-dimento de elaboração legislativa da reforma, focando a atenção na análise do novo processo executivo, segundo a ordem sistemática pela qual as várias matérias constam do código. Assim, inicia-se pelo enqua-dramento do processo executivo a partir dos princípios fundamentais previstos na Parte Geral do CPTA, suscitando e procurando resolver uma série de dificuldades na apli-cação desses princípios em sede executiva. De seguida, aborda-se um conjunto de questões que são objecto de tratamento comum às três formas de processo executivo previstas: o âmbito de aplicação do

processo executivo, a legitimidade processual, as espécies de títulos executivos admissíveis, os funda-mentos de oposição à execução e a exigibilidade das obrigações assumidas pela Administração. Por fim, abordam-se aspectos especí-ficos de cada forma de processo executivo. No final, espera ter-se contribuído para dar à matéria da tutela executiva dos particulares o enfoque que ela merece e para descodificar caminhos de interpre-tação em vários domínios em que o legislador ficou aquém do grau de concretização normativa desejável.

*Este artigo foi escrito segundo as regras anteriores ao atual acordo ortográfico.

“A análise prática desenvolvida sobre os meios de tutela executiva revela de forma evidente um novo estádio de evolução do contencioso administrativo que, ademais, não encontra

paralelo em nenhum dos movimentos legislativos europeus seus contemporâneos”

Page 26: Advocatus, 41

O agregador da advocacia26 Agosto de 2013

www.advocatus.ptOpinião

O regime de clemência permanece pouco popular em alguns países, nomeadamente do sul da Europa, entre os quais se inclui Portugal. Para tal contribuirão naturalmente diferenças culturais e históricas, as quais levam a que, por vezes, se olhe com desconforto para um mecanismo que passa pela denúncia de empresas frequentemente vistas como parceiras.

O regime da clemência em Portugal

Em 25 de Agosto de 2006 foi pu-blicada a Lei 39/2006, que previu, pela primeira vez no ordenamento jurídico português, o regime jurí-dico da dispensa e da atenuação especial da coima em processos de contra-ordenação por infracção às normas nacionais de concorrência. A Lei 39/2006 veio a ser revogada pela Lei 19/2012, de 19 de Maio, que estabeleceu a nova Lei da Con-corrência e incluiu o referido regime entre as suas disposições.Em traços gerais, este regime, ha-bitualmente denominado Regime de Clemência, prevê que a primeira empresa envolvida num acordo ou prática concertada de natureza hori-zontal (em particular, um cartel) que denuncie tal prática à Autoridade da Concorrência possa beneficiar de dispensa de coima (que, recorda-mos, pode atingir 10% do volume de vendas das empresas infractoras), na medida em que respeite determi-nadas condições, nomeadamente coopere de forma plena com a Auto-ridade da Concorrência. Encontra-se igualmente prevista a possibilidade de redução da coima, até um má-ximo de 50%, aplicável a empresas que, embora não reunindo as con-dições necessárias para beneficiar de isenção, forneçam informações e provas com valor adicional significa-tivo sobre a infracção em questão.O Regime da Clemência, bastante jovem no ordenamento jurídico por-tuguês, tem já um vasto histórico de aplicação na União Europeia, quer pela Comissão Europeia, quer por autoridades da concorrência de ou-tros Estados-membros. Na verdade,

empresa participante.Dois factores poderão, no entanto, contribuir para a alteração desta tendência. O primeiro factor prende-se com uma mudança legislativa introduzi-da pela Lei 19/2012, de 19 de Maio. Ao passo que a lei da concorrência anterior previa apenas a responsa-bilidade individual de titulares dos órgãos de administração das empre-sas infractoras, a Lei 19/2012 veio estender tal responsabilidade aos titulares de cargos de direcção ou fiscalização de áreas de actividade em que seja praticada alguma con-traordenação. Consequentemente previu-se também a possibilidade de estes beneficiarem do regime de dispensa ou redução de coima. Alargando-se o universo de pessoas que podem beneficiar deste instru-mento, aumentará naturalmente a pressão que incide sobre empresas e pessoas infractoras.O segundo factor está relacionado com a crescente globalização da economia e com número de em-presas estrangeiras presentes no mercado português. O risco de uma dessas empresas, proveniente de países com uma cultura de concor-rência diferente, apresentar um pe-dido de clemência não deverá deixar de exercer alguma pressão sobre as restantes empresas envolvidas nas eventuais práticas anti-concorren-ciais no sentido de recorrerem ao mesmo mecanismo.

*Este artigo foi escrito segundo as regras anteriores ao atual acordo

ortográfico.

Sara Estima martins

Associada sénior da área de prática de Direito Europeu e da Concorrência PLMJ. Licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, possui uma pós-graduação em Direito Comunitário (LL.M), pelo Colégio da Europa, Bruges.

“Os regimes de clemência encorajam

as empresas a entregar as provas

de que dispõem quanto à existência e funcionamento destas

práticas altamente lesivas da concorrência, possibilitando assim a

detecção e investigação de tais práticas”

este regime constitui um instrumento valioso da luta contra os cartéis. Os regimes de clemência encorajam as empresas a entregar as provas de que dispõem quanto à existência e funcionamento destas práticas altamente lesivas da concorrência, possibilitando assim a detecção e investigação de tais práticas. Apesar do sucesso deste instituto em diversos ordenamentos jurídi-cos europeus, o mesmo permanece pouco popular em alguns países, nomeadamente do sul da Europa, entre os quais se inclui Portugal. Para tal contribuirão naturalmente diferenças culturais e históricas, as quais levam a que, por vezes, se olhe com desconforto para um me-canismo que passa pela denúncia de empresas frequentemente vistas como parceiras.Têm, pois, sido, até à data, parcas as investigação de cartéis em Por-tugal suscitadas por um pedido de clemência apresentado por uma

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Agosto de 2013 27O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Fusão

Em novembro vai nascer uma nova sociedade global de advogados: a King & Wood Mallesons SJ Berwin. Resulta da fusão entre a asiática King & Wood Mallesons e a britânica SJ Berwin. O negócio foi fechado no final de julho e é primeira fusão entre um escritório do Reino Unido e uma grande sociedade do sudeste asiático.

O novo giganteda advocacia

De acordo com os dados do Global 100

survey de 2012, o escritório resultante desta fusão ocupará

o oitavo lugar do ranking mundial.

Mais de 220 advogados e uma fatu-ração de 754 milhões de euros. São estes os números mais sonantes de uma fusão que começou a nascer há alguns meses e confirmada quan-do, no primeiro fim-de-semana de junho, os sócios chineses e austra-lianos da King & Wood participaram na reunião anual de sócios da SJ Berwin, que este ano se realizou em Marbella. O jornal espanhol Expansion, citan-do o The American Lawyer, conta que a aprovação final do negócio entre os sócios das duas firmas de-veria ter ocorrido no outono, mas os acontecimentos precipitaram-se e tudo se resolveu no final de julho. A fusão entra formalmente em vigor em novembro.No período transitório, o escritório será denominado King & Wood Mal-lesons SJ Berwin, na Europa, no Mé-dio Oriente e no Reino Unido antes de deixar cair a parte “SJ Berwin” permanentemente. Segundo o jornal

A partir do dia 1 de novembro a rede da King & Wood Mallesons estará na lista das 25 maiores sociedades de advogados do mundo. Confira os números:

• 553 partners (234 na Ásia, 163 na Europa e Médio Oriente, 154 na Austrália e dois nos EUA)

• 2233 advogados (1157 na Ásia, 731 na Austrália, 343 na Europa e Médio Oriente e dois nos EUA)

• Presente em 30 locais (11 na China, nove na Europa, cinco na Austrália, um no Médio Oriente, dois nos EUA, um em Hong Kong e um no Japão)

• Receitas: cerca de 1000 milhões de dólares.

Os números da nova sociedadeFuSãO

espanhol, o desaparecimento do nome nunca foi um problema para os sócios ingleses da sociedade, especializada em capital de risco. Trata-se de uma fusão impensável há alguns anos e mostra o poder crescente das sociedades de ad-vogados asiáticas. De acordo com

os dados do Global 100 survey de 2012, o escritório resultante desta fusão ocupará o oitavo lugar do ranking mundial. A King & Wood era até 2012 o quinto escritório chinês, com 687 advogados. Naquele ano fundiu-se com os australianos da Mallesons

Stephen Jacques e passou a ter 1900 advogados, tendo ascendido a número dois no ranking da China. A SJ Berwin nasceu em Londres, em 1982. Conta com 345 advogados e 12 escritórios. No último exercício faturou 213,7 milhões de euros, mais 2,5% do que ano anterior.

Page 28: Advocatus, 41

O agregador da advocacia28 Agosto de 2013

www.advocatus.ptInternacional

Foi por ter passado por um longo e penoso processo de obtenção da cidadania norte-americana que Sheela Murthy, natural da Índia, decidiu criar uma firma de advogados especializada em imigração. E fê-lo com um passo arrojado para a época (1994): criou um site, com informação sobre a lei de imigração dos Estados Unidos, destinado a ajudar pessoas de todo o mundo a concretizarem o sonho americano. Bateu recordes: é o site de sociedades de advogados mais visitado em todo o mundo. A estratégia online tem sido boa para o negócio, mas o que move esta advogada de 51 anos não são os honorários – é acreditar que os imigrantes ajudam os Estados Unidos a serem um grande país.

Imigrantes ajudam EuA a serem um grande país

Sheela murthy, fundadora da Murthy Law Firm

e casos de todo o país e de todo o mundo. Além disso, era um espaço novo e excitante e queríamos explorá--lo, sendo ao mesmo tempo criativos e correndo riscos. Graças a Deus, foi uma ótima decisão.

Advocatus | Qual foi a reação?Sm | A reação dos clientes foi boa – uma vez que confiavam no nome (Sheela Murthy & Murthy.com) esta-vam dispostos a entregar-nos os seus casos e a recomendar-nos. Até nós

“Até nós ficámos surpreendidos com o facto de haver tantas pessoas a quererem

contratar-nos sem nos conhecerem pessoalmente. Fornecemos muitos recursos

gratuitos e explicamos a lei da imigração numa linguagem sem o jargão jurídico, de modo a que percebam como o processo

pode ser complicado e complexo”

Advocatus | Hoje em dia a maioria das sociedades de advogados, se não mesmo todas, está na Internet. mas em 1994 era diferente. O que a levou a colocar a sua firma online?Sheela murthy | O meu marido estava no campo da tecnologia e sugeriu-me que usasse a Internet para chegar a pessoas de todo o país e do mundo que pudessem estar interessadas em emigrar para os Estados Unidos. Uma vez que Imigração se rege por uma lei federal, podemos aceitar clientes

ficámos surpreendidos com o facto de haver tantas pessoas a quererem contratar-nos sem nos conhecerem pessoalmente. Fornecemos muitos recursos gratuitos e explicamos a lei da imigração numa linguagem sem o jargão jurídico, de modo a que perce-bam como o processo pode ser com-plicado e complexo. Isto fez com que tomassem consciência da importância de terem um bom advogado ao seu lado para as ajudar a tornar as coisas mais simples e a serem bem sucedidas.

Page 29: Advocatus, 41

Agosto de 2013 29O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Advocatus | Atingiu o objetivo a que se propôs quando se lançou nesta empreitada online?Sm | Graças a Deus, não só atingimos o nosso objetivo, como somos capa-zes de ajudar muito mais pessoas do que alguma vez imaginámos. Con-seguimos também lançar a Murthy-Nayak Foundation que proporciona novas oportunidades a milhares de famílias e crianças desfavorecidas, com as quais partilhamos o nosso sucesso financeiro, quer na Índia, o país onde nascemos, quer na Amé-rica, o país que adotámos.

Advocatus | Tornou-se o site de advogados mais visitado do mun-do. Como explica esse sucesso?Sm | Foram precisos muitos anos para construir a reputação, com grande qualidade do trabalho que desenvolvemos e com práticas de negócio honestas. Além disso, os nossos honorários são acessíveis e tudo é conhecido à partida. Os nos-sos sistemas são muito eficientes e, por isso, os clientes têm uma relação suave connosco. Para resumir: quali-dade do trabalho, ética, integridade, simplicidade, clareza e dedicação para ajudar as pessoas a concretizar o seu sonho americano, de viverem e trabalharem num grande país – é o que tem permitido o nosso sucesso.

Advocatus | Em que medida é que esta atividade online tem ajudado o trabalho como firma especializada em imigração?Sm | A Murthy Law Firm tem traba-lho precisamente devido à presença online, que torna o nosso nome reco-nhecido por uma vasta audiência e por potenciais clientes. Ao estarmos ativos online, temos uma noção dos casos complicados e das dificulda-des que se enfrentam em todo o país no campo da imigração. Usamos os nossos conhecimentos mais recentes para ajudar muitas outras pessoas com os seus problemas e encontrar soluções criativas para melhorar as suas vidas.

Advocatus | Como imigrante que é, esta área de prática foi uma es-colha natural?Sm | Sim, ser imigrante e ter passado pessoalmente por todo este stressante

“Os Estados unidos são uma nação de

imigrantes. A sua força reside em trazer as melhores mentes de todo o mundo para trabalharem e viverem aqui”

processo com o meu advogado de imigração de então deu-me determi-nação para ajudar outros a encontra-rem a paz de espírito contratando a melhor e mais dedicada equipa legal do mundo para resolver os problemas relacionados com a imigração. Embo-ra eu tenha exercido, e gostado, direito imobiliário e corporate antes de me dedicar exclusivamente à imigração, ter passado por todo o processo fez--me sentir empatia e simpatia pelas pessoas que enfrentam os mesmos problemas e que se podem sentir pre-ocupadas com os atrasos do governo e as questões burocráticas.

Advocatus | O que a levou a criar a sua própria firma, tendo traba-lhado para grandes sociedades de advogados?Sm | Na vida, há sempre vantagens e desvantagens em quase todas as decisões que tomamos. Sentia-me infeliz trabalhando para grandes fir-mas em que o cliente era apenas uma fonte de rendimento. Queria prestar um serviço personalizado e cuidar dos clientes durante o difícil processo de imigração.

Advocatus | Quais são os princi-pais desafios de um advogado de imigração?Sm | Para sermos bons no que quer que seja na vida, temos de traba-lhar muito e ter a visão e o desejo de excelência e sermos o melhor que

conseguiremos. Temos de estar a par das leis e regulamentos nesta área, os quais estão sempre a mudar. Temos de sentir empatia pelo cliente e pelo momento difícil que vive, temos de ser pacientes e dedicados ao longo de todo o processo que, às vezes, pode levar muitos anos a concluir.

Advocatus | Os Estados unidos são um país de muitas comunidades. Qual a sua opinião sobre o dossiê da imigração? Defende reformas?Sm | Os Estados Unidos são uma nação de imigrantes. A sua força re-side em trazer as melhores mentes de todo o mundo para trabalharem e viverem aqui. Os imigrantes são importantes para o crescimento da economia e para a investigação de ponta que aqui se desenvolve. Além disso, criam negócios que empregam pessoas e pagam impostos que aju-dam a nação. São necessárias reformas no campo da lei da imigração. O Senado apro-vou no passado dia 27 de junho o projeto de lei 744, que tem aspetos positivos e outros não tão positivos. O processo de transformação de um projeto em lei é lento e árduo, sendo necessário que as duas câmaras do parlamento o votem e que o presi-dente o ratifique. A nossa firma tem defendido a imigração pro-business, para ajudar o país e encorajar os me-lhores e os mais brilhantes de todo o mundo a tornarem este país maior.

Sheela Murthy nasceu na localidade indiana de Baroda, há 51 anos, tendo frequentado a Faculdade de Direito de Bangalore. Foi quando conheceu aquele que viria a ser seu marido, Vasant Nayak, que se desencadeou o caminho que viria a percorrer até ser cidadã norte--americana. Vasant estudava já nos Estados Unidos e encorajou-a a fazer o mesmo. Assim fez e acabou por se licenciar em Harvard, em 1987. Como advogada, trabalhou em grandes firmas de Nova Iorque e de Baltimore até que, em 1994, decidiu criar a sua Murthy Law Firm. Já tinha então passado pelo processo de obtenção da cidadania norte-americana: foram 12 anos que descreve como penosos, as-sessorada por um advogado que pecava pela falta de sensibilidade, interessado apenas nos honorários. Hoje a sua firma emprega uma equipa de 110 pessoas, 20 das quais oriundas da Índia. Vinte e sete são advogados, sendo que cinco são sócios mas não de capital.

De Baroda a MarylandPERFIL

Page 30: Advocatus, 41

O agregador da advocacia30 Agosto de 2013

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A Constituição precisa de “ter uma cláusula específica sobre os tribunais arbitrais, estabelecendo o estatuto dos seus juízes, limites na sua remuneração, o modo como funcionam, as suas qualificações e o tipo de Direito que esses tribunais podem decidir”, defende Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. O constitucionalista defende também a redução do número de juízes do Tribunal Constitucional.

Constituição deveregular Justiça arbitral

so que foi importante o papel do Presidente da República, a princí-pio muito criticado, mas julgo que decidiu bem no sentido de manter o Governo na plenitude das suas funções e de assim permitir a es-tabilização do País. Os próprios mercados reagiram de acordo com as expectativas de manter a con-

dando indicações concretas sobre o modo como as políticas públicas se devem desenvolver no futuro. Mas acho que fez bem, assumindo também a responsabilidade de no futuro as coisas não acontecerem da forma como ele espera. Com a sua atitude mostrou que está preo-cupado com o País e também que

fiança no País.Advocatus | A intervenção do Presidente da República surpre-endeu-o? Demorou muito tem-po a intervir ou foi uma situação normal?JBG | Não é normal que o Presi-dente se atravesse no caminho da governação como desta vez o fez,

Advocatus | Julho foi um mês bi-zarro na vida política portuguesa. Que conclusões é que tirou de tudo o que se passou?Jorge Bacelar Gouveia | O mês provou que o sistema político fun-ciona e que a Constituição tem a resposta para as crises que sur-giram e que se resolveram. Pen-

Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático da Nova

Entrevista

Hermínio Santosjornalista

[email protected]

Page 31: Advocatus, 41

Agosto de 2013 31O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

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assume as suas responsabilidades, ao contrário do que outros dizem ou pensam.

Advocatus | Ficou surpreendido com a falta de acordo entre os três partidos?JBG | Não, pois já se estava à es-pera. Num processo político deve haver diferenças bem marcadas entre a maioria e a oposição e so-bretudo num processo político que se acelera para o fim da legislatura; quanto mais estamos perto do fim menos se espera que seja alcan-çado um acordo.

Advocatus | O Governo tem con-dições para concluir a legisla-tura?JBG | Tem condições embora a situação seja difícil e, ao contrá-rio do que se julga, o crescimento e a estabilização económica não decorrem apenas das palavras e dos discursos políticos. A gran-de prova de fogo que o Governo vai enfrentar depois das férias é a realidade económico-financeira e social. Tenho esperança de que possa enfrentar essa realidade e manter-se em funções, que a si-tuação do País possa melhorar e que os indicadores sejam mesmo mais positivos do que têm sido.

Advocatus | Esta intervenção do Presidente da República é um aviso para intervenções futuras, à moda de Cavaco Silva…JBG | É uma intervenção original. Não sendo uma interferência no Governo e muito menos sendo um governo de iniciativa presidencial, é uma intervenção mais substan-cialista pois pretende estabelecer parâmetros para a ação do Gover-no dizendo que ele vai continuar em funções mas desde que responda a um conjunto de eixos de gover-nação, que são concretos. Desse ponto de vista é uma novidade que fica entre uma total neutralidade e uma interferência direta na ação do Governo. Pelo que observo o Presidente prefere não intervir com vetos políticos – teve muito poucos – optando por uma inter-venção mais substancialista no que respeita a certas opções da política

económica mais importantes. Advocatus | Foi deputado durante dois anos. Como é que classifica as manifestações que têm ocor-rido nas galerias de São Bento, destinadas ao público?JBG | Os cidadãos têm o direito de se manifestarem, mas não da-quela forma. O Parlamento tem de manter a sua dignidade e não deve tolerar esse tipo de manifestações. É a casa da democracia, a casa onde todos os portugueses se reveem e não deve ser tolerado esse tipo de manifestações.

Advocatus | na área da Justiça o que destacaria na atuação da mi-nistra Paula Teixeira da Cruz? Cor-respondeu às suas expectativas? JBG | Penso que a ministra da Justiça tem o mérito de evitar dis-cursos grandiloquentes e de fazer reformas concretas e em campos específicos.

Advocatus | Quer dar alguns exem-plos?JBG | O novo Código do Processo Civil, que vai entrar em vigor em se-tembro, e que de um modo geral é uma boa reforma: simplificou o pro-cesso e até se aplica aos processos pendentes, o que é uma vantagem. Outro exemplo é a reforma dos Julga-dos de Paz, que são uma alternativa interessante à Justiça formal do Esta-do e que devem ser revitalizados, em-bora a tradição portuguesa não seja grande nessa matéria. O regresso do Tribunal da Boa Hora ao…Tribunal da Boa Hora é uma decisão importante, embora mais do domínio do simbóli-co. Tem havido uma preocupação de fazer reformas pontuais, em certas situações em que há um bloqueio da Justiça, e penso que, no geral, o balanço é positivo. Houve outra coisa que ela fez bem e que, infelizmente o Tribunal Constitucional considerou inconstitucional e que foi a criminali-zação do enriquecimento ilícito. Penso que é uma medida essencial para Por-tugal – um país maduro e democrático tem que ter esta legislação.

Advocatus | Porque é que o Tri-bunal Constitucional (TC) “chum-bou” a proposta?JBG | Havia um problema de na-

“Penso que a ministra da Justiça tem o mérito de evitar discursos grandiloquentes

e de fazer reformas concretas e em campos específicos”

“A grande prova de fogo que o Governo vai enfrentar depois

das férias é a realidade económico-financeira e social. Tenho esperança de que possa enfrentar

essa realidade e manter-se em funções, que a situação do País possa melhorar e que os indicadores sejam mesmo mais positivos

do que têm sido”

“num mundo globalizado e em

que sobretudo os advogados de língua portuguesa representam mais de um quarto dos

advogados do mundo inteiro, penso que temos de ganhar consciência da

importância do Direito de Língua Portuguesa no mundo como um verdadeiro Direito

Global”

Page 32: Advocatus, 41

O agregador da advocacia32 Agosto de 2013

www.advocatus.ptwww.advocatus.pt

“Pelo que observo o Presidente prefere

não intervir com vetos políticos – teve muito poucos – optando por uma intervenção mais

substancialista no que respeita a certas

opções da política económica mais

importantes”

“Penso que é um assunto grave a nossa Constituição ter um défice de regulação em matéria de Justiça arbitral”

tureza processual de inversão do ónus da prova. Penso que, com uma mudança no modo como esta-va redigida a lei, ela poderá passar. Mas o TC também não pode ter uma interpretação fundamentalista desse princípio porque quem está no exercício de uma função pública tem mais deveres do que quem não está. Outra coisa que eu não consigo entender em Portugal é a razão por que aqueles que são con-denados a uma pena de prisão não aguardam na cadeia a resolução dos recursos que apresentaram. Isso é inadmissível.

Advocatus | Como é que esse tipo de situações se altera? Con-tinuamos a ouvir muitas lamen-tações dos vários protagonistas da Justiça…JBG | Acho que há vários proble-mas. Há um que tem a ver com a organização e meios e muitos processos prescrevem devido à falta de meios, sobretudo na área do crime económico, que deveria ser uma prioridade. Depois, há uma mentalidade excessivamente ga-rantista, muita litigância, utilização, até à exaustão, de todos os recur-

“Jorge Cláudio de Bacelar Gouveia nasceu em Lisboa em 1966, fi-lho de Francisco Gouveia dos Santos, natural do Montijo (distrito de Setúbal), e de Maria da Graça Abreu Bacelar Gouveia dos Santos, natural de Paredes de Coura (distrito de Viana do Castelo). O seu pai, já falecido, era economista e advogado e a sua mãe foi durante toda a sua vida profissional professora primária, estando neste momento aposentada”. É assim que começa o currículo resumido que Bacelar Gouveia disponibiliza no seu completíssimo site pessoal e onde dá conta de toda das suas atividades, desde a agenda até às viagens profissionais e ocupações académicas. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, foi depois assistente estagiário da mesma instituição, trabalhando com Diogo Freitas do Amaral, Jorge Miranda e Marcelo Rebelo de Sousa. Em 1993, con-cluiu o mestrado em Direito e nesse mesmo ano aceitou o convite formulado por Jorge Miranda para ser professor convidado na Facul-dade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo (Mo-

çambique), onde residiu dois anos. Em 1996, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e iniciou o seu doutora-mento, concluído em 1999. Até 2009, percorreu os diversos degraus da carreira de professor universitário, tendo sido naquele ano contra-tado, após concurso público, como professor catedrático da Facul-dade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. É atualmente nesta Escola ainda coordenador do Mestrado em Direito e Segurança. Foi deputado, entre 2009 e 2011, exerceu cargos autárquicos e é autor de uma vasta bibliografia, com mais de 150 títulos, publicados em Portu-gal e no estrangeiro. O seu mais recente é desafio é a presidência do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting, cargo para que foi eleito na lista de Bruno de Carvalho. “Sempre fui sportinguista desde que me conheço e o Sporting sempre se notabilizou por ser um clube sério e que aposta na verdade desportiva”, afirma. Acredita que o atual líder está a fazer um excelente trabalho e que o clube tem pela frente um “duro programa de reorganização” que vai durar vários anos.

Direito, carreira e o Sporting

PERFIL

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Entrevista

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Agosto de 2013 33O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“Tem havido uma preocupação de fazer

reformas pontuais, em certas situações

em que há um bloqueio da Justiça,

e penso que, no geral, o balanço é positivo”

“Se estamos em contenção de

despesas, não se justifica ter 13 juízes no TC, bastaria ter sete, que dariam

conta do recado. Por outro lado, também se

verifica, nos últimos anos, uma diminuição

nos litígios que chegam ao TC. Se é

verdade que nos anos 90 o Tribunal chegava a proferir mais de 1000 decisões por ano, hoje

isso não é assim”>>>

“O País deve estar sempre a pensar no seu bilhete de identidade, que é a sua

Constituição. Não é preciso mudá-la radicalmente, mas há questões que

têm de ser resolvidas. Por exemplo, o financiamento da saúde e da educação,

que é um assunto crucial”

sos existentes e até imaginários e que também é preciso combater.

Advocatus | é autor do antepro-jeto de Lei-Quadro das Associa-ções Públicas Profissionais. JBG | Não da atual, mas sim da anterior, que esta revogou…

Advocatus | Como é que tem acompanhado a polémica levan-tada em relação a alguns aspetos da nova lei, principalmente entre os advogados?JBG | Na Nova fizemos um coló-quio sobre o assunto em junho que mostrou à evidência que cabe ao Governo resolver um conjunto de problemas que foram criados. Fi-cou claro que o Governo teve muita pressa em receber as propostas das várias ordens profissionais, que são 18, mas até agora ainda não deu andamento ao assunto e em dezembro deste ano haverá, pelo menos, eleições em três ordens profissionais, com mudança de re-gras, e elas não sabem o que fazer: se fazem eleições ao abrigo das re-gras antigas – arriscando repeti-las devido ao novo enquadramento legislativo que entretanto venha a ser publicado; ou se esperam por essas novas regras. Por exemplo, na Ordem dos Advogados, a regra é de que o Bastonário seja eleito por método maioritário a uma volta, sem haver necessidade de maioria absoluta. De acordo com a nova lei, é preciso que haja maioria absolu-ta. Este é um problema complicado e penso que o Governo já deveria ter dado uma resposta para estas questões, até porque, para estas associações profissionais, fazer eleições é um processo caro – só a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, que é a maior ordem do país, tem 72.000 membros. O Estado deve comportar-se com lealdade pois se exige às ordens 30 dias para apresentar as adap-tações dos seus estatutos à nova lei, também deveria responder em 30 dias dando uma solução para o problema.Advocatus | neste momento qual é o ponto de situação?JBG | A lei está em vigor e impõe que haja uma alteração dos es-

tatutos de cada uma das ordens, a ser aprovados pelo Parlamento, que ainda não recebeu qualquer proposta de lei. Penso que só há uma solu-ção neste momento, até porque em dezembro há eleições para algumas ordens, e ela passa por, em setem-bro, o Parlamento aprovar uma lei só com um único artigo a dizer que essa lei-quadro permite prorrogar a vigência dos atuais estatutos por mais um ano até que estes possam ser revistos e adaptados.

Advocatus | O atual Governo e o Tribunal Constitucional (TC) algum dia irão fazer as pazes?JBG | Em democracia a controvér-sia e a crítica são sempre louváveis. O TC, a meu ver, decidiu bem nos casos em relação à suspensão dos subsídios na função pública. Devo dizer-lhe que o TC até foi equilibrado, pois se é verdade que o Governo não gostou porque não queria que tivesse havido qualquer inconstitu-cionalidade, também é verdade que houve muitas outras pessoas que ficaram à espera que houvesse ain-da mais inconstitucionalidades, por exemplo, em relação à contribuição extraordinária de solidariedade. Pen-so que o TC decidiu de uma forma equilibrada e fiquei satisfeito pois decidiu de uma forma que eu já ante-cipava. É sempre normal que o poder legislativo não goste que o poder judicial declare que as suas normas não estão bem. Claro que depois há um discurso político subjacente, mas isso não faz mal a ninguém, pois nem os juízes se deixam pressionar nem os políticos se deixam amedrontar pelas decisões do TC.

Advocatus | O estatuto do TC e a nomeação dos seus membros está bem como está ou deveria sofrer alterações?JBG | Está bem assim. Os seus mem-bros não podem ser reconduzidos, têm um mandato único de nove anos e é uma solução que tem resultado bem. Talvez diminuísse o número de juízes, que são 13. Em Espanha, por exemplo, que é um país quatro vezes mais do que Portugal, há o mesmo número de juízes. Se estamos em contenção de despesas, não se jus-tifica ter 13 juízes no TC, bastaria ter

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O agregador da advocacia34 Agosto de 2013

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“Em democracia a controvérsia e a crítica são sempre louváveis. O TC, a

meu ver, decidiu bem nos casos em relação

à suspensão dos subsídios na função

pública”

>>>

sete, que dariam conta do recado. Por outro lado, também se verifica, nos últimos anos, uma diminuição nos litígios que chegam ao TC. Se é verdade que nos anos 90 o Tri-bunal chegava a proferir mais de 1000 decisões por ano, hoje isso não é assim. Seria também uma boa medida para tornar o Estado mais eficiente e barato. Penso que seria útil reduzir o número de juízes, mas isso só é possível com uma revisão da Constituição.

Advocatus | mas a discussão dessa revisão está fechada a sete chaves…JBG | Mas não devia ser assim. O País deve estar sempre a pensar no seu bilhete de identidade, que é a sua Constituição. Não é preci-so mudá-la radicalmente, mas há questões que têm de ser resolvi-das. Por exemplo, o financiamento da saúde e da educação, que é um assunto crucial. Ter um sistema de saúde tenden-cialmente gratuito ou de educação com o ensino básico absoluta-mente gratuito para toda a gente é iníquo e injusto. Hoje esse mo-delo está ultrapassado porque a Constituição foi aprovada com um pressuposto completamente diferente do de hoje, numa altura em que não havia praticamente medicina e universidades privadas. Os pressupostos sociais e econó-micos dessa altura não se verificam hoje e, além disso, havia uma ne-cessidade de democratização do acesso ao ensino e de universali-zação dos cuidados de saúde que não existem hoje. Penso que se justifica uma reflexão global sobre o modo de financiamento desses sistemas sociais.

Advocatus | Ou seja, é adepto de rever a Constituição?JBG | Claro, mas não é só naqueles dois temas, há muita coisa a rever. Por exemplo, na área da Justiça, a questão do Conselho Superior da Magistratura e introduzir limites ao funcionamento dos tribunais arbitrais – hoje verificamos que eles se transformaram em tribunais de ricos e estes não devem ter uma justiça melhor do que os pobres ou

remediados. A nossa Constituição precisa de ter uma cláusula espe-cífica sobre os tribunais arbitrais, estabelecendo o estatuto dos seus juízes, limites na sua remuneração, o modo como funcionam, as suas qualificações e o tipo de Direito que esses tribunais podem decidir. Penso que é um assunto grave a nossa Constituição ter um défice de regulação em matéria de Justiça arbitral. Outros aspetos importan-tes são o da regionalização, que não está fechada, e o da reforma do sistema político. Há uma refor-ma que pode ser feita agora, sem necessidade de rever a Consti-tuição, a do sistema eleitoral das autarquias. Com eleições à porta, perdeu-se uma oportunidade para fazer isso. Também a questão da redução do número de deputados deveria ser abordada – a Constituição esta-belece um mínimo de 180 e um máximo de 230. Esse número po-deria ser reduzido. Estranhamente, ao fim de dois anos, o Governo fez algumas refor-mas importantes, ou tentou fazer, mas a reforma do sistema político está parada, o que é inacreditável quando até Passos Coelho tinha uma ideia interessante que era a do voto preferencial. Nunca mais ouvi falar dela e tenho pena porque o voto preferencial daria mais capacidade de decisão ao eleitor. No meio de todas as convulsões que tem havido, a reforma do sis-tema político seria uma compensa-ção importante para um conjunto de reformas económicas e finan-ceiras que têm sido duras. Porém, com tristeza, vejo a ausên-cia, por parte do Governo, de um discurso de reforma do sistema político. Claro que não desconheço que isso tem outras implicações por haver a necessidade de conciliar dois partidos, que têm dimensões diferentes, o PSD e o CDS, e a reforma que interessa a um não interessa a outro. Mas isso tem de ser explicado às pessoas, que não entendem porque é que não se faz nenhuma mudança no sistema político.

“No meio de todas as convulsões que tem havido, a reforma do sistema político seria uma compensação importante para um conjunto de reformas económicas e financeiras que têm sido duras.“

Entrevista

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Agosto de 2013 35O agregador da advocacia

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Advocatus | Se lhe pedissem para caracterizar a situação atual do ensino do Direito em Portugal o que responderia? Que estamos ao nível das me-lhores escolas europeias?JBG | Digamos que há luzes e sombras. O processo de Bolo-nha foi importante porque obri-gou os professores a refletirem sobre o seu próprio ensino e internacionalizou-o, o que nos colocou em contato com outras universidades e outros países. Infelizmente, Bolonha também trouxe um certo facilitismo no que respeita aos cursos e abriu a porta a alguns aproveitamentos e oportunismos no próprio proces-so da aprendizagem. Penso que é necessário retificar algumas opções do processo de Bolo-nha: o caso das creditações, por exemplo, ou o de não haver mé-dias para acesso a certo tipo de cursos. Digamos que houve uma abertura generalizada, mas em certos casos assistiu-se a um facilitismo que deve ser comba-tido. No que respeita ao Direito, se o processo de Bolonha trou-xe vantagens, parece uma má ideia que o mestrado se tenha banalizado e em certos casos se tenha tornado numa tese de fim de licenciatura: isso não está na natureza de um mestrado. Nou-tra perspetiva, o processo de Bo-lonha não feito em diálogo com outras profissões forenses, quer com os juízes e procuradores, quer com os advogados. Tem havido um clima de crispação e de suspeição constante por parte das profissões forenses em relação às universidades, dizendo-se que as Faculdades

de Direito estão a vender cursos e a facilitar as coisas para terem mais dinheiro, o que, em termos gerais, não é verdade. É preciso estabelecer um certo consenso que possa eliminar alguns mal--entendidos.

Advocatus | E como é que a Fa-culdade de Direito da nova tem contribuído para esse debate?JBG | Temos tido uma preocupa-ção com a exigência dos nossos alunos. Todos os anos temos sido sempre a Faculdade com as melhores classificações de entrada no que respeita à licen-ciatura. Este ano vamos ter um novo doutoramento em Direito e Segurança, uma área em que te-nho vindo a trabalhar na sequên-cia de um mestrado que já teve 12 edições. Apostámos também muito na internacionalização, quer com algumas universidades europeias quer com o mundo de língua portuguesa, com o Bra-sil, Angola e Moçambique. Com estes dois países, temos dois doutoramentos conjuntos, com duplo título reconhecido quer em Portugal quer em Angola ou Moçambique, onde já temos o primeiro doutorado. Isto é uma absoluta novidade no panorama português dos doutoramentos em Direito.

Advocatus | é aqui que se enquadra a atividade do Ins-tituto do Direito de Língua Portuguesa (IDILP), do qual é presidente?JBG | É uma associação de ju-ristas de língua portuguesa que tem a sede nesta Faculdade de Direito, mas que está aberta a

outras instituições e a profes-sores, juízes, procuradores, advogados. Costumamos fazer congressos anuais – o último foi em Maputo – e lançámos agora a Revista do Direito de Língua Por-tuguesa, que pretende congregar contributos de todos os países de língua portuguesa, incluindo também Macau. Quando é solici-tada, também fazemos projetos de legislação e estudos de na-tureza doutrinária. Num mundo globalizado e em que sobretudo os advogados de língua portu-guesa representam mais de um

quarto dos advogados do mundo inteiro, penso que temos de ga-nhar consciência da importância do Direito de Língua Portuguesa no mundo como um verdadeiro Direito Global.

Advocatus | Qual o legado que pretende deixar nesta área?JBG | Quero deixar uma plata-forma de união entre os países de língua portuguesa e fazer sobressair que há muita coisa que nos une e que muitos de nós porventura nem sequer co-nhecemos.

Algumas opções do processo de Bolonha precisam de ser retificadas

EnSInO E LuSOFOnIA

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O agregador da advocacia36 Agosto de 2013

www.advocatus.ptCrónica

O sócio fundador da Macedo Vitorino, João de Macedo Vitorino, “viaja” no tempo e faz um retrato da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nos anos 80. Na altura, como aluno e mais tarde como docente. Recorda as cadeiras dificieis, as orais intermináveis, mas também os amigos que ficaram para a vida.

Esse tempo de faculdade…

Há 35 anos, o Mundo era outro, Portugal era outro, Lisboa era outra. Vivíamos numa asfixia das contas públicas como hoje, mas tudo o mais era diferente. Quando lá entrei em 1983, a Fa-culdade de Direito de Lisboa (FDL) vivia ainda o rescaldo da revolu-ção, uma espécie de vingança dos que tinham sido maltratados durante os loucos anos após o 25 de Abril. Ainda assisti a orais do Dr. Garcia Pereira, totalmente arbitrário no juízo que fazia dos alunos, mas já não era a Revolu-ção que mandava ali. Já não havia armas em cima da mesa como se contava ter acontecido anos antes. Os velhos professores estavam de volta, pelo que o ensino passou a ter alguma consistência quando se tinha a sorte de ser aluno de pes-soas como o Professor Ascensão ou a Senhora Professora Doutora Dona Isabel Magalhães Colaço (fa-zia questão de ser tratada assim, como muitos se lembram), a cuja última equipa de assistentes tive depois a sorte de pertencer. O azar batia à porta quando nos calha-va um dos muitos monitores sem qualquer qualidade que nos davam nas aulas práticas. Lembro-me das orais a acabar à meia-noite depois de os assistentes nos fazerem es-perar horas, do calor da sala 31, lá em cima no primeiro andar, onde fiz Finanças Públicas a 30 de Se-

WIK

IPÉ

DIA

Page 37: Advocatus, 41

Agosto de 2013 37O agregador da advocacia

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tembro de 1984 com o então Dr. Guilherme Oliveira Martins lá para as nove da noite, que nunca olhou para mim durante todo o exame. Por que será que não esquecemos nenhuma das orais que fizemos? Muitas coisas melhoraram entre-tanto na FDL, mas a sensação de fazer uma oral não mudará, de certeza. Lembro-me das aulas e dos exames nos anfiteatros, das “catacumbas” onde tínhamos as aulas práticas com as suas pare-des amareladas. Durante o meu curso começaram as mudanças. A FDL começa a atribuir doutoramentos: o Prof. Jorge Miranda, Prof. Menezes Cordeiro o Prof. Miguel Teixeira de Sousa e depois já não pára. Abrem-se concursos para assis-tentes. Eu entro como assistente estagiário na grande vaga de 1989, faço o mestrado em 1991 e fico por lá até ao ano 2001, vendo como o dia-a-dia de uma faculdade ia mudando e como a vida dos alunos também se tornava mais fácil com o desafogo dos anos 90. Já depois vieram as obras que fa-zem da FDL um luxo que só quem não o teve apreciará devidamente. Porque no meu tempo de facul-dade não havia nem era preciso parque... Nós alunos não tínhamos carro, usávamos o metro que nos deixava em Entrecampos e o resto era a pé ou íamos de autocarro. Quem não vivia na cidade como eu, tinha o prazer de viajar, no meu caso até ao Areeiro, nos confor-táveis autocarros da Rodoviária, em que nos molhávamos quando chovia no Inverno e assávamos no calor do Verão. Em 1983, a maioria não tinha dinheiro no bolso. Íamos ao bar velho que hoje já não existe, mas nem sempre se podia tomar café. Os livros vendiam-se quase todos em fascículos da Associação de Estudantes e não os conseguí-amos comprar todos de uma vez. Era o tempo também das fotocó-pias à venda à porta da faculdade. Era também o tempo em que os rapazes estavam em maioria nas salas de aula e no bar, tornando o futebol um tema importante como não o voltou a ser na FDL depois que, a partir de 1986, a raparigas

João de macedo Vitorino

Sócio fundador da Macedo Vitorino & Associados. Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, onde fez também um mestrado em Direito Civil e uma pós-graduação em Direito Processual Civil.

passaram a entrar em maioria entre os alunos (e mais tarde as senho-ras entre os docentes, magistrados e advogados). Todos os do meu curso nos lembramos das tardes desse ano no bar a dar conversa às caloiras. Eu em particular, pois anos depois acabei por casar com uma delas.Uma das coisas que mais me surpreendeu no primeiro ano de faculdade foi a mistura de pes-soas vindas de tantos sítios dife-rentes. Mas devo confessar que estranhei bastante o facto de a maioria não ter interesses para além dos normais para os jovens daquele tempo. A faculdade, ao contrário do que eu esperava, não era um sítio onde se juntavam os crânios de Portugal para pensar no Direito e noutras coisas. Afinal a faculdade não puxava as pessoas para cima. Antes pelo contrário, o estudo das matérias do curso parecia fazer com que as pessoas se desinternassem de qualquer outro tipo de conhecimento… E não era por falta de tempo livre. Era um modo de vida numa insti-tuição que pouco se preocupava com o que não fosse a lição da matéria e o respectivo exame. E nós lá seguíamos o programa sem sequer saber o que nos esperava depois. Não havia “job shops”, ou qualquer iniciativa que puses-se os alunos em contacto com o mundo, de forma que, acabado o curso cada um se agarrava ao que parecesse seguro. Agora, passados 30 anos sobre a licenciatura, o tempo de faculdade, não fossem algumas poucas ami-zades feitas então e a memória de muitos momentos de verdadeira farra, deixaria uma impressão cin-zenta como as paredes da própria FDL, uma sensação de tempo a mais na mesma coisa (felizes os de Bolonha!). Valeu mais para mim o tempo de ensino, primeiro de Processo Civil e depois de Inter-nacional Privado, que se seguiu e que também me ligou àquela casa, apesar de ter podido constatar por dentro a rigidez de um sistema que não queria e, creio, não quer mu-dar mas vai mudando, empurrado pelas circunstâncias.

“A faculdade, ao contrário do que eu

esperava, não era um sítio onde se juntavam os crânios de Portugal para pensar no Direito

e noutras coisas. Afinal a faculdade não

puxava as pessoas para cima. Antes pelo

contrário, o estudo das matérias do curso

parecia fazer com que as pessoas se desinternassem de

qualquer outro tipo de conhecimento…”

“Em 1983, a maioria não tinha dinheiro no bolso. Íamos ao bar velho que hoje já não existe, mas

nem sempre se podia tomar café. Os livros

vendiam-se quase todos em fascículos

da Associação de Estudantes e não os conseguíamos

comprar todos de uma vez. Era o

tempo também das fotocópias à venda à porta da faculdade”

Page 38: Advocatus, 41

O agregador da advocacia38 Agosto de 2013

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JOSé FARIA COSTA é o novo provedor de Justiça. O catedrá-tico, que substitui Alfredo José de Sousa no cargo, foi eleito com 150 votos a favor, 16 contra, 18 abstenções, 21 votos em brancos e dois nulos.

CARLOS SAnTOS FERREIRA é o novo consultor da SRS Advo-gados. O jurista conta com um vasto currículo, sobretudo na área da Banca, tendo sido presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos e, pos-teriormente, do Millennium BCP.

TânIA PInHEIRO é a nova sócia da Caiado Guerreiro & Associa-dos, tendo sido escolhida por unanimidade em assembleia geral de sócios da firma. A advogada trabalha na sociedade desde 2004 e foi a responsável por fun-dar o German Desk, equipa que lidera atualmente.

JOãO PE-REIRA DA CRuz é o novo pre-sidente da ACPI – Asso-ciação Por-tuguesa dos Consultores em Proprie-dade Intelectual. O administrador da J. Pereira da Cruz é também secretário-geral do EPI (Instituto dos Mandatários Europeus de Pa-tente) e presidente da AMEP (As-sociação Portuguesa dos Manda-tários Europeus de Patentes).

RICARDO BORDALO JunQuEI-RO é o novo consultor da Cuatre-casas, Gonçalves Pereira (CGP) para a área de Direito Europeu e da Concorrência. O Of Counsel conta com uma vasta experiência em Direito da Concorrência e da Regulação Económica, tendo estado envolvido em diversos processos junto das instituições nacionais e europeias.

Docente da Católica pioneira em apresentar doutoramento em inglês

Advogados deram espetáculo em prol de boas causas (com fotogaleria)

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Dois advogados da SRS, José Car-los Soares Machado e Mariana Fran-ça Gouveia, são os autores do capí-tulo sobre Portugal da quarta edição do “The International Arbitration Re-view”, que acaba de ser publicada.Nele destacam a Lei-Modelo UN-CITRAL, em vigor desde março de 2012, considerando que colocou Portugal a seguir, explicitamente, os padrões internacionais.

SRS assina capítulo sobre Portugal na International Arbitration Review

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Férias judiciais: Tribunais encerram com cerca de dois milhões de pendências

Juíza dá razão à Ordem sobre exames dos estagiários

CGP com novo consultor de Direito Europeu e da Concorrência

nova SBE e FDunL lançam mestrado em Direito e Gestão de EmpresasA Nova School of Business and Eco-nomics (Nova SBE) e a Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lis-boa (FDUNL) uniram-se para lançar o mestrado pré-experiência em Direito e Gestão de Empresas. A formação destina-se a jovens licenciados em Direito que pretendam desenvolver uma carreira no mundo empresarial.Os docentes Paulo Soares de Pi-nho e Vítor Pereira das Neves são os responsáveis pela coordenação científica do curso. Este mestrado pretende preparar os jovens juristas para assumirem um papel de rele-vância nas organizações em que trabalham, sejam elas sociedades de advogados, empresas, organis-mos de regulação e supervisão, ou, em negócios próprios.O mestrado terá início do mês de outubro.

José Carlos Soares Machado é o sócio responsável pelo departamen-to de Contencioso e Arbitragem da SRS Advogados e Mariana França Gouveia é consultora no mesmo departamento. A publicação interna-cional do grupo “The Law Reviews” faz uma análise sobre a área jurídica da Arbitragem em diversos países, através do contributo de vários es-pecialistas locais.

Page 39: Advocatus, 41

Agosto de 2013 39O agregador da advocacia

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PBBR participa na elaboração da International Copyright LawOs advogados da PBBR César Bessa Monteiro, César Bessa Monteiro Jr. e Ricardo Henriques participaram na elaboração da publicação International Copyri-ght Law. Os juristas são os au-tores responsáveis pelo capítulo referente a Portugal.A publicação é editada pela Go-bal Law Business e contém um estudo de Direito comparado do regime do Direito de Autor e Direitos Conexos, em 40 paí-ses. Este projeto contou com a contribuição de especialistas de 40 jurisdições, os quais descre-vem o quadro legal da proteção e exploração destes direitos. A obra contém informação sobre os tipos de obras que podem ser protegidas, formalidade a serem cumpridas, as infrações e as re-gras relativas à posse de obras.A publicação foi elaborada sob a coordenação de um sócio da fir-ma de advogados internacional Baker & Mackenzie.

mLGTS aumenta estrutura societária

A Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS) aumentou a estrutura societária ao promover a sócios os juristas Luís Gagliardini Graça e Pedro Pardal Goulão (sócios de indústria), Helena Soares de Moura, Constança Carrington e Gonçalo Andrade Castro (sócios contratados). Ascenderam ainda à posição de advogados senio-res Andreia Guerreiro, António Côrte-Real Neves, Margarida Lima Rego, Manuel Freitas Pita e Paula Ponces Camanho.

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O agregador da advocacia40 Agosto de 2013

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A Abreu Advogados integra a shor-tlist dos European Business Awards 2013/14, sendo a única socieda-de de advogados portuguesa em competição. A firma está nomeada na categoria National Champion, com o projeto da Abreu Internatio-nal Legal Solutions.A candidatura apresentada pela sociedade teve por base o projeto Abreu International Legal Solutions, com o qual a firma visa disponibi-lizar aos clientes serviços jurídicos integrados, adaptados às neces-sidades estratégicas, em países e mercados de expressão portugue-

sa. A Abreu Advogados irá ainda concorrer para a categoria de Ru-ban d’Honneur na próxima etapa da competição, que terá lugar em abril de 2014. A organização europeia identificou algumas empresas com base na capacidade de demonstrar os três princípios fundamentais no cerne do programa “Awards”: ino-vação, excelência e sustentabilida-de do negócio.Os European Business Awards têm como objetivo reconhecer e pre-miar a excelência, boas práticas e inovação em empresas de toda a União Europeia.

A CMS Rui Pena & Arnaut (CMS--RPA) assina o capítulo sobre Por-tugal do estudo da Comissão Euro-peia (CE) dedicado ao regime jurí-dico dos segredos de negócio e da informação comercial confidencial no mercado interno e nos Estados Unidos e Japão. A sociedade par-ticipou neste trabalho a convite da Baker & Mackenzie (B&M).A colaboração da CMS-RPA foi co-ordenada pelos advogados José Luís Arnaut, sócio responsável pelo

departamento de Propriedade In-telectual e Joaquim Shearman de Macedo, sócio corresponsável pelo departamento de resolução de litígios. O convite surgiu após a B&M ter ganho o concurso pro-movida pela CE, para a elaboração do estudo relativo a 27 jurisdições europeias, incluindo ainda os Esta-dos Unidos da América e o Japão. A CMS-RPA foi convidada para ser a responsável pelo capítulo sobre a jurisdição portuguesa.

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Abreu finalista dos European Business AwardsCmS-RPA colabora em

estudo da Comissão Europeia

PLmJ e GLm assessoram operação na área da Energia em moçambique

mediação é nova aposta da BAS Advogados

A PLMJ e o GLM (Gabinete Legal Moçambique) foram responsá-veis por prestar assessoria jurídica às empresas Oil and Natural Gas Corporation (ONGC), na aquisição de 10 por cento do interesse par-ticipativo detido pelo grupo India-no Videocon Industries, no bloco “Area 1” do offshore da Bacia do Rovuma, em Moçambique. Esta é já considerada uma das maiores operações da área da energia de-senvolvida na África Ocidental e em Moçambique.O valor do negócio ascendeu aos 2,5 mil milhões de dólares, aproxi-madamente 1,9 mil milhões de eu-ros. A transação foi acompanhada por estes dois escritórios, parceiros

no âmbito da PLMJ International Legal Network. A operação durou aproxima-damente cinco meses e contou com a participação de uma larga equipa multidisciplinar dos dois escritórios. A equipa da PLMJ foi composta por Ana Oliveira Ro-cha (Oil&Gas), Marta Pedro e Mi-guel Spínola (Mozambique Desk). Enquanto o GLM contou com a participação de Josina Correia (Oil&Gas) e Amina Abdala (Públio e Regulatório).A transação foi coordenada global-mente pela Simmons & Simmons Hong Kong que prestou assessoria jurídica em direitos de outras juris-dições como a inglesa e indiana.

A sociedade de advogados BAS acaba de se lançar numa nova área de prática, a Mediação, integrada no departamento de contencioso. A coordenação fica a cargo de Do-mingos Soares Farinho (na foto).Licenciado pela Faculdade de Di-reito da Universidade de Lisboa, é aí assistente e investigador-douto-rando. Foi diretor do gabinete para a resolução alternativa de litígios do Ministério da Justiça, com atribui-

ções que incluíam a prossecução da política governamental para as áreas dos Julgados de Paz, media-ção pública, arbitragem institucio-nalizada e acesso à justiça.Justificando esta aposta, diz a so-ciedade que encara a resolução de conflitos de uma forma integrada, preocupando-se em determinar, de forma criteriosa e qualificada, qual o melhor método para solucionar problemas.

Page 41: Advocatus, 41

Agosto de 2013 41O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Ambiente

Num país mergulhado em dificuldades, é difícil encontrar temáticas que não sejam financeiras. Será que a remodelação governamental e a criação de um novo Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia pode ser um sinal de atenção ao sector?

Nova oportunidade ao sector?

Parece que não é preciso procu-rar glaciares a derreter para saber que as alterações climáticas estão a acontecer, que influenciam o nosso mercado e que os interesses difu-sos do Ambiente merecem outra atenção. Num país mergulhado em dificuldades, é difícil encontrar te-máticas que não sejam financeiras. Será que a remodelação governa-mental e a criação de um novo Mi-nistério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia pode ser um sinal de atenção ao sector?Está em causa um problema de Es-tados, de Fiscalidade, de Economia/ Empresas, de ONG e de Pessoas. De Estados porque se trata de es-tratégias de controlo ambiental, de regulação económica, de concor-rência. Em matéria fiscal, a Agência Europeia do Ambiente destacou que Portugal poderia aliviar até 3.000 milhões em impostos sobre o tra-balho e o capital, via tax shift do rendimento. Nada mais que uma transferência do que se paga em IRS e IRC para tributos ambien-tais. Economia, porque se trata de eco-eficiência, competitividade, de reformulação de processos, mas é sobretudo um problema de pessoas que não conhece geografia. A fase é de importantes mudanças, com a revisão da Diretiva sobre a Qualidade dos Combustíveis, a deslocação de investimentos das petrolíferas para fontes de petróleo menos poluentes, as problemáticas envoltas na rejeição pelo P.Europeu de uma proposta da Comissão so-bre o reequilibrio do CELE e a afa-mada questão do back-loading de licenças de emissão.Para quem anuncia que a crise faz com que o tema perca interesse, respondemos com a prontidão que este é o momento. É de uma nova

economia que se fala. É o momento de reformular, de uma reindustriali-zação mais eficiente, que contabilize as emissões de carbono, ambiental-mente sustentável. E se queremos evidências de financeiros para o demonstrar, aludamos a Christine Lagarde (FMI) que ao Wall Street Journal referiu: “É um risco enor-me e uma imensa oportunidade. Meio bilião de dólares é gasto em subsídios para combustíveis, gás e eletricidade. O risco é o consumo excessivo. As oportunidades são enormes, com os gastos econo-mizados sendo reorientados para educação e saúde.”O assunto tem um foco preciso: re-forma dos subsídios para a energia, promoção de tecnologias, descabo-nização da economia. Uma palavra de ordem: empregos ligados à efi-ciência energética, agro-ecologia, protecção de áreas naturais, bio-combustíveis, gestão de resíduos, distribuição de gás natural, turismo ecológico (englobando patrimónios culturais/belezas naturais). O ambiente é um valioso recurso económico: atente-se à maior ri-queza em Portugal, os recursos naturais. Recursos hídricos: dispo-nibilidade da água que será central na agricultura com os períodos de seca que se avizinham. Bons solos, pois só conseguiremos equilibrar a balança comercial alimentar se pro-duzirmos com recursos endógenos, diversidade florestal, sol, vento, mar, com um oceano de potencialidades numa das maiores ZEE mundiais. À crise como o obstáculo, ficam estes caminhos.O tema já atribuiu um Nobel a Al Gore e todos os anos movimenta biliões em transacções e projectos em países em desenvolvimento. Há espaço para a criação de Emprego.

João Quintela Cavaleiro

Advogado da Legal Link | Cavaleiro & Associados

Passou a ser necessário conciliar ambiente e negócio de forma a as-sociar o tema “não a custo, não a constrangimento ou caridade – mas como uma fonte de oportunidades de inovação e vantagem compe-titiva.” Num país mergulhado em problemas, deixam-se estes cami-nhos. Temos uma boa notícia: é que depende apenas da nossa vontade. Que a reformulação governamental e a criação do novo Ministério do Ambiente, Ordenamento do Territó-rio e Energia sejam um sinal dessa vontade de mudança.

*Artigo escrito segundo as regras an-

teriores ao atual acordo ortográfico.

“é de uma nova economia que se

fala. é o momento de reformular, de uma reindustrialização

mais eficiente, que contabilize as

emissões de carbono, ambientalmente

sustentável”

“uma palavra de ordem: empregos

ligados à eficiência energética, agro-

ecologia, protecção de áreas naturais,

biocombustíveis, gestão de resíduos, distribuição de gás natural, turismo ecológico (englobando patrimónios culturais/

belezas naturais)”

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O agregador da advocacia42 Agosto de 2013

www.advocatus.ptO livro de…

Li “1984” na língua original em 1989 enquanto frequentava o Secundário e me preparava para o “First Certificate in English”.Escrito em 1948 na Escócia (há 65 anos), atrai pela visão futurista e por um romance tórrido proibido, apimentado com uma reflexão política do papel do Estado nas Sociedades Modernas. Transporta-nos para o ano futurista de “1984” em que o Estado vigilante (o “Big Brother”) tudo controla através um autêntico “Matrix”. Os “telecrãs” - uma nova tecnologia que capta imagem e som de todos, a toda a hora e lugares (públicos e privados), onde se anuncia a mensagem “Big Brother is watching you”.Winston Smith é um pacato funcionário do futurista “Ministério da Verdade”, onde se rescrevem as notícias já publicadas conforme as conveniências políticas em cada momento do “Big Brother”. O casamento tem como única finalidade gerar filhos para o Partido e o acto sexual fora da procriação é considerado crime. Certo dia Winston conhece Júlia - uma “rebel-de da cintura para baixo” - e tudo se precipita. O tema é prementemente actual, com a utilização massificada das novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) cada vez mais invasoras da privacidade: A videovigilância “por razões de segurança”: na via pública; nos aeroportos por causa do “11 de Setembro”; nas estradas, nos supermercados, centros comerciais e lojas (“Sorria está a ser filmado”).Smartphones, tablets e GPS (em número superior à população), com câmaras, microfones e “geolocalização”, que carregamos para todo o lado, a toda a hora. Registos de entradas e saídas através dos dados biométricos (impressão digital, íris e voz).Dentro de casa e do escritório: Videoporteiros; “Smart TVs” (apelidadas “SpyTV”); consolas com internet e “webcam”; sis-temas de videoconferência. Navegação não segura na internet, emails e vírus, trojans e “phishing”, o roubo de dados e de identidade.Facebook, Linked In, Youtube, Google+, blogs e grupos, com frenética publicação desnuda (nem sempre consciente) - “a internet não esquece”. Comunicações tele (voz, vídeo e dados) com “rede” em (quase) todo o lado, chats e videoconferências pela net (via skype). A privacidade no local e nos instrumentos de trabalho: navegação na internet, “posts” nas redes sociais e conteúdos de emails profissionais. A questão dos limites “BYOD” (“Bring Your Own Device”), isto é, acesso à informação pessoal que guardamos juntamente com os dados profissionais nos gadgets que usamos para trabalhar (mesmo sendo nossos) - e dos quais a Empresa faz “back ups” “por razões de segurança”.Os sistemas de escuta governamental “ECHELON”, “PRISM” (e outros…). Novas tecnologias para captar imagem e som, de todos, a toda a hora e em todos os lugares, tal como os “telecrãs” em “1984”, “Big Brother is watching you”.

João Ferreira Pinto

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Agosto de 2013 43O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Office with a view

História em cada esquina

A história da Pedro Raposo & Associados (PRA) está presente na memória de João Labo-rinho Lúcio sempre que olha pela janela do escritório. Da sala onde trabalha tem vista para as “raízes” da sociedade; o projeto que originou a PRA nasceu exatamente na mesma rua onde se situa atualmente a firma, a Rodrigo da Fonseca, em Lisboa. Ao apreciar o movimento da rua e o edifício que outrora ocupou, relembra-se do que mo-tivou a equipa a avançar para “um projeto desafiador”. Com regularidade, gosta de para e apreciar o local onde tudo começou para “manter vivo o espírito de desafio”.A história que “corre pela rua” e que pode ser identificada em cada esquina é o que mais agrada ao advogado. Essa história – a sua história – que se mistura diariamente com as pessoas que caminham apressadamente na rua e com as árvores que “insistem em engalaná-la”. Ao chegar pela primeira vez ao atual escritório teve a sensação de “ter subido na vida”. Efetivamente, passou do segundo andar para o quarto, de um projeto mais pequeno para outro mais desafiante e exigente, o que representou uma nova etapa na carreira profissional. Recorda-se exatamente do momento em que olhou pela janela, do alto do novo gabinete, e pensou: “Uau, isto é que foi um grande passo na minha carreira”. Mas não deseja ficar por aqui… Apesar de a PRA ocupar o último andar de um prédio, João Laborinho Lúcio acredita que há que “continuar a subir”, pois o objetivo tem de ser “ver sempre mais longe”.

João Laborinho Lúcio

Sócio da Pedro Raposo & Associados (PRA), responsável pelo departamento de

Propriedade Intelectual. É licenciado em Direito pela Universidade Internacional.

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O agregador da advocacia44 Agosto de 2013

www.advocatus.pt

manuel Falcãodiretor-geral da Nova Expressão

Restaurante

Terraço com sabor oriental

O conceito é especialmente indica-do para as noites de verão: sushi com vista sobre a cidade e o rio. Isto é possível do alto de um prédio na Rua da Misericórdia, onde há uns anos funciona o Silk Club e que, há uns meses, acolheu o Sushi Fashion, que migrou da Rua Cape-lo. De um rés do chão com vista para o edifício do antigo Governo Civil, o Sushi Fashion saltou para um dos terraços com melhor vista de Lisboa. Fica na Rua da Miseri-córdia 14, 6º andar, no edifício do Espaço Chiado, do lado direito de quem sobe do Largo de Camões. A reserva é aconselhada.Durante uns anos o Sushi Fashion Chiado fez fama no seu local de origem, na Rua Capelo. Pratica o chamado sushi de fusão, com notória influência brasileira. É um género que se popularizou em Portugal e, se arrepia os puristas, conseguiu alargar a base de con-sumidores.Em abono da verdade se diga que o Sushi Fashion é um bom praticante do género, com atenção à apre-sentação dos pratos e, sobretudo, à qualidade da matéria prima - o peixe - o que, no caso do sushi, é algo de absolutamente essencial. O menu proporciona entradas frias e quentes e, nestas, destaco as vieiras com molho de lima sobre cama de espinafres. Nas frias o destaque vai para o carapau pi-cado com gengibre, molho de soja, óleo de sésamo e cebolinho e também para o pregado laminado com molho e citrinos. Há uma ex-

tensa oferta de temakis (os cones de algas), de sashimi (as fatias de peixe cru), uramaks (rolo inverti-do), hot rolls (rolos em tempura), combinados de suhsi e sashimi, nigiris (arroz com peixe no topo), hosomakis (rolo fino de sushi) e gunkans (arroz envolvido em peixe).Se quer experimentar o que a casa tem de melhor para oferecer, o combinado silk experience pro-porciona-lhe os melhores cortes, em quantidade apreciável, para duas pessoas, por 100 euros. O combinado especial do chefe tem menos variedades de peixe mas

proporciona uma boa experiência de sushi e sashimi e também de hot rolls, e fica por 50 euros para duas pessoas. Nas sobremesas recomendam-se os gelados, no-meadamente os de chá verde, de sésamo e o de gengibre. A gar-rafeira não é ambiciosa, mas tem suficiente variedade e diversidade de preços. O bar proporciona uma carta de cocktails que tem sucesso e o serviço é atento e simpático.O ambiente é animado, bastante trendy, muitos grupos de amigos, alguns casais, nalguns dias da se-mana DJ. As mesas são baixas, a

SuSHI FASHIOn AT SILK CLuB

Rua da Misericórdia, No. 14 - 6º, Edifício Espaço Chiado,

Telefone 917 961 934www.sushifashion.pt

www.silk-club.comHorário: Terça e Quarta-feira das

19.00h à 01.00h; Quinta-feira a Sábado das 19.00h às 04.00h -

a porta fecha às 02.30h

Senhoras Remisturadas

BAnDA SOnORA

Já que falámos do Silk Club, a música que hoje pro-pomos deverá fazer parte dos discos que pode ter em casa se quiser juntar uns amigos e se quiser dar a ideia que tem por lá um DJ invisível. A série a que este disco pertence, a Verve Remixed, parte do catálogo da Verve, um dos mais importantes no jazz, carregado de grandes clássicos dos anos 50 e 60 e sujeita-o a um tratamento de remisturas e intervenções de DJ de diversos estilos. Com dois ou três discos da coleção a rodar alternadamente tem sucesso garantido. O novo disco, “Verve Remixed - The First Ladies”, agarra em temas históricos do catálogo da Verve, de nomes como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Nina Simone, Dinah Washington ou Astrud Gilberto e dá-lhes um tratamento remix por cima. Como no caso do sushi de

fusão, os puristas do jazz não gostarão do tratamento que aqui foi dado a clássicos - até porque o trata-mento das remisturas é aqui mais radical que em edições anteriores desta coleção. Mas se a ideia é animar uma garden party em qualquer varanda urbana ou num refúgio cam-pestre, esta é uma boa hipótese de banda sonora. Aqui há pouca ligação com o passado e, mais, um exercício do prazer imediato. Música ideal para servir com cocktails. (Verve Remixed, the First Ladies, CD Universal, FNAC)

recordar que na origem tudo isto era bar e discoteca. Há uma zona interior, uma sala vidrada, mas nestas noites estivais o terraço é uma tentação e a vista de que se desfruta, e que vai da encosta do Castelo até ao rio, numa perspe-tiva alargada, é claramente das melhores que se pode ter na cida-de. Muito bom local para levar um convidado que queira descontrair, sobretudo numa noite de quinta ou sexta-feira - e já se sabe que acabado o jantar o espaço é ideal para uma noite divertida e com frequência animada.

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Agosto de 2013 45O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Montra

Ouro em dois tonsOs novos modelos da linha Dancier, da Piaget, apresentam-se em dois tons de ouro – branco e rosa. São relógios ultraplanos, com um desenho sóbrio: um bisel forma um círculo perfeito adornado com galões duplos, o fundo é

de cristal de safira ligeiramente arqueado, os elos intermédios têm o formato de pesos, um bracelete todo em ouro perfeitamente integrado com a caixa.

Belle en corsetO perfume Classique, de Jean-Paul Gaultier, celebrou 20 anos com uma edição especial: o estilista concebeu um frasco inédito, reinventando as curvas do espartilho que são a imagem de marca e transformando-o num vestido de alta-costura. A sensualidade do busto, essa, manteve-se, numa tonalidade rosa carnosa. “Belle en Corset” é assinatura deste clássico renovado.

Clássico e vanguardistaConjugar as linhas clássicas com as tendências mais vanguardistas foi

o que fez a Jetclass com a consola Spacium. A talha é evidenciada nas pernas, encimadas por elementos retilíneos e mais depurados, num

verde-esmeralda muito atual. A Spacium apresenta-se como um objeto de cobiça para os verdadeiros apreciadores de sofisticação.

Duo à prova de águaUm cronógrafo desportivo e um telemóvel de elevado rendimento à prova de água formam uma dupla desportiva preparada para as exigências do verão e adaptada a quaisquer circunstâncias aquáticas: juntos, o TAG Heuer Aquaracer 500M Calibre 16 Chronograph e o smartphone TAG Heuer Racer Sub Nano constituem um duo editado em tiragem limitada a 10 estojos denominados AquaDuo e que é exclusivo para o mercado português, numa combinação idealizada pela Torres Distribuição.

Pele de cortiçaUma capa de tablet em vermelho cereja? E em pele de cortiça? A Pelcor propõe

uma associação entre material e cor para dar vida nova a um gadget que já faz parte do dia a dia de cada vez mais pessoas. Em Portugal e no estrangeiro,

porque este iPad case está agora à venda no MoMa de Nova Iorque e Tóquio, que assim reconhece o design e a inovação da marca portuguesa.

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O agregador da advocacia46 Agosto de 2013

www.advocatus.ptOs filmes de ...

José Gagliardini

Sócio da Gagliardini & Associados. Licen-ciado pela Faculdade de Direito da Uni-

versidade Católica Portuguesa do Porto. Exerce nas áreas de Direito Civil, Direito

Comercial, Direito Penal e Contra Ordena-cional, Direito do Desporto, Contencioso e

Direito Matrimonial Canónico.

José Gagliardini

Clássicos intemporais do cinema nacional e internacional dominam as preferências cinematográficas de José Gagliardini. Contudo, é a obra mais conhecida de Manoel de Oliveira, Aniki Bóbó, que conquista o top das escolhas do sócio da Gagliardini & Associados.

Título: Aniki Bóbó, 1942Realizador: Manoel de OliveiraProtagonistas: Feliciano David, Fernanda Matos, Nascimento FernandesHistória: O Porto serve de cenário a esta história que retrata a rivalidade entre dois miúdos, que lutam pelo amor da “rapariga dos seus sonhos”. A disputa vai aumentando, até que um acidente a leva a afastar-se de um deles… Só depois de tudo esclarecido é que os dois jovens podem voltar a jogar ao Aniki Bóbó (polícia e ladrão).

01Título: O Padrinho (The Godfather), 1972Realizador: Francis Ford CoppolaProtagonistas: Al Pacino, Diane Keaton, Marlon BrandoHistória: O filme conta a história do patriarca da família de mafiosos Corleone. Ao longo da trama assiste-se à as-censão deste clã siciliano e, posteriormente, à derrocada. Mostrando como funciona e quem sobrevive no submun-do da máfia.

02

Título: Pulp Fiction, 1994Realizador: Quentin TarantinoProtagonistas: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma ThurmanHistória: Thriller policial composto por vários episódios, em que a trama é diferente mas com um fio condutor. Assassinos profissionais, gangsters, raparigas um pouco loucas, pugilistas e assaltantes juntam-se num cenário moderno misturado com traços dos anos 30 e 40.

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Título: A Vida é Bela (La Vita è Bella), 1997Realizador: Roberto BenigniProtagonistas: Giustino Durano, Nicoletta Braschi, Roberto BenigniHistória: Guido é um judeu que vive numa pequena cida-de na Toscana, onde tem uma pequena livraria. No dia do aniversário do filho (Giosué), a família é presa pelas tropas alemãs e enviada para um campo de concentração. Nessa situação, com muito humor à mistura, Guido faz tudo para sobreviver e minimizar o sofrimento de Giosué. Um filme que é considerado um hino à vida.

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Título: Sete Pecados Mortais (Se7en), 1995Realizador: David FincherProtagonistas: Brad Pitt, Gwyneth Paltrow, Kevin Spacey, Morgan FreemanHistória: Os sete pecados mortais são a fonte de inspira-ção de um serial killer. Um a um, o assassino irá retratá-los através de crimes, para assim castigar os “pecadores”. O experiente detetive Somerset e o jovem e impulsivo Mills terão como missão perceber e apanhar este meticuloso assassino.

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