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22 “DEIXÁMOS QUE SE PERDESSE A DIGNIDADE DA PROFISSÃO” 06 BARBAS HOMEM DIRETOR DO CEJ ESPECIAL ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO ADMINISTRATIVA Diretor: João Teives | Diretor Editorial: Vítor Frias | Mensal | Ano V | N.º 55 | outubro de 2014 | 15 euros É preciso renovar a formação de magistrados www.advocatus.pt O agregador da advocacia Um desafio lançado ao contencioso administrativo português ANTÓNIO SERRA LOPES, SÓCIO FUNDADOR DA SLCM PROF. DOUTORA SUSANA VIDEIRA CAAD CENTRO DE ARBITRAGEM ADMINISTRATIVA CONFERENCE MESTRE JOÃO TIAGO SILVEIRA ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO ADMINISTRATIVA: UM DESAFIO LANÇADO AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO PORTUGUÊS FACULDADE DE DIREITO :: 30 OUTUBRO’14 “O CAAD tem sabido crescer de modo exemplar” 05 “O CAAD TEM VINDO A ALCANÇAR COM SUCESSO OS OBJECTIVOS QUE PRESIDIRAM À SUA CRIAÇÃO”

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“Deixámos que se perDesse a DigniDaDe Da profissão”

06BARBAS HOMEMDIRETOR DO CEJ

ESPECIALARBITRAGEM E MEDIAÇÃO ADMINISTRATIVA

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É preciso renovar a formação de magistrados

www.advocatus.pt O agregador da advocacia

Um desafio lançado ao contencioso administrativo português

ANTÓNIO SERRA LOPES, SÓCIO FUNDADOR DA SLCM

PROF. DOUTORA SUSAnA ViDeiRA

c a a d c e n t r o d e a r b i t r a g e m a d m i n i s t r a t i v a

cOnFeRence

mestre JoÃo tiago silveira

a r b i t r a g e m e m e d i a ç Ã o a d m i n i s t r a t i v a : u m d e s a f i o l a n ç a d o a o c o n t e n c i o s o a d m i n i s t r a t i v o p o r t u g u ê s

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“O CAAD tem sabido crescer de modo exemplar”

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“o caad tem vindo a alcançar com sucesso os obJectivos que presidiram à sua criaçÃo”

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3 advocatus outubro 2014

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Edifício Lisboa OrienteAv. Infante D. Henrique, 333 H | 37

1800-282 LisboaT. 218 504 060 | F. 210 435 935

Diretora-geralMaria Luís

T. 961 571 [email protected]

DIRETORJoão Teives

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DIRETOR EDITORIALVítor Frias

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EDITORA ExECUTIVAFátima de Sousa [email protected]

GESTOR COMERCIALJoão Pereira

T. 960 427 [email protected]

EDITOR FOTOGRÁFICORamon de Melo

www. ramondemelo.com

DISTRIBUIÇÃO POR ASSINATURAPreço: 85€ (12 edições)[email protected]

TIRAGEM MÉDIA MENSAL: 2.500 ex.DEPÓSITO LEGAL: 21725N.º REGISTO ERC: 113427

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Joaquim Pereira Mendes é responsável pelo departamento jurídico da Sonae Sierra. São 25 anos a construir soluções que vão ao encontro do negócio, com o advogado a assumir-se como um deal maker mas também um defensor de causas.

www.advocatus.pt O agregador da advocacia

13DOSSIÊ

JusTiÇaaDminisTraTiVa

21OPINIÃO

o Caso YuKos

28DIREITO A FALAR

VaLiDaÇão De CrÉDiTos

34O LIVRO DE

riCarDo marques

Quatro olhares sobre a recente revisão legislativa no âmbito dos tribunais administrativos e fiscais.

O fundador da Miranda Correia Amendoeira & Associados, Agostinho Pereira de Miranda, escreve sobre este caso em que um tratado assinado em Lisboa ameaça o Kremlin.

Em foco o testemunho e a experiência do fundador da Plataforma Legal, Miguel de Almeida Fernandes.

A escolha do managing partner da Candeias & As-sociados, Ricardo Marques Candeias, recaiu sobre “Um mundo para Julius”.

10R. IPSUM LOREIUM

SOCIEDADES

aDVoCaCia in Houseo ConsTruTor De soLuÇÕes na sonae sierra

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Cortar a Direito

Reforma da Justiça Administrativa

O Mundo de Ontem Recordações de um europeu

LIVRO

Para nos ajudar a pensar estas al-terações da justiça administrativa temos, neste número, os valiosos contributos do Professor Mário Aro-so de Almeida, membro da comissão da reforma, e dos Colegas Margarida Olazabal Cabral, António Duarte de Almeida e Tiago Amorim.Pequenas notas que cumpre destacar.Em primeiro lugar, e em consonância com a reforma do Código de Pro-cesso Civil, o fim do modelo dualis-ta de ação administrativa (especial e comum), passando os processos a tramitar numa única forma (ação ad-ministrativa).Em segundo lugar, o fim da resolução fundamentada por parte do órgão da Administração para ultrapassar o efeito suspensivo do pedido de provi-dência cautelar de suspensão e a sua decisão, a pedido da Administração, pelo juiz, no que é um importante re-forço da tutela jurisdicional plena e efetiva dos particulares.

“2014 é o ano da reforma da Justiça Administrativa” diz-nos a Ministra da Justiça.Poderia, de facto, ser verdade não fosse o caos instalado pela refor-ma da organização judiciária, com o crash da plataforma eletrónica Citius, que dos pequenos transtor-nos iniciais já se tornou em caso de polícia, ou melhor de Procuradoria (afinal o caso, digo o transtorno, era sério), com a adoção das soluções provisórias definitivas da Justiça em contentores e o profundo descrédito gerado pela manifesta incapacidade de operacionalizar uma reforma que se queria estruturante para o país.Depois disto é difícil dizer que 2014 será o ano da reforma da justiça ad-ministrativa. Com estas reservas, certo é que te-mos um novo projeto de Código de Procedimento Administrativo, de Có-digo de Processo nos Tribunais Ad-ministrativos e de Estatutos do Tribu-nais Administrativos e Fiscais.

Julgo que as alterações propugnadas são, em geral de aplaudir, e não merecem censura. Veremos, porém, como serão operacionalizadas.

JOãO TEIVESDIRETOR

Em terceiro lugar, o alargamento da competência dos Tribunais Adminis-trativos, passando a abarcar a fixa-ção da justa indemnização devida por expropriações, servidões e ou-tras restrições de utilidade pública, bem como as Impugnações judiciais de decisões da Administração Públi-ca que apliquem coimas, no âmbito do ilícito de mera ordenação social, por violação de normas de direito administrativo em matéria de am-biente, ordenamento do território, urbanismo, património cultural e bens do Estado.Este alargamento, sendo teorica-mente defensável e em conso-nância com o artigo 212º, nº3, da Constituição (“Compete aos tri-bunais administrativos e fiscais o julgamento das ações e recursos contenciosos que tenham por ob-jeto dirimir os litígios emergentes das relações jurídicas administra-tivas e fiscais”), vai colocar im-portantes desafios à justiça admi-

Escritas pouco antes do seu suicídio, em fevereiro de 1942, as memórias de Stefan Zweig não são um registo autobiográfico comum. É clara a forma dual como Zweig vê o mundo. No exílio, apátrida, em plena segunda guerra mundial, a segunda que vive, existe um claro antes e depois. Um antes da grande guerra e um depois da grande guerra. As páginas iniciais correspondem a um mundo idílico, pré-guerra, um verdadeiro Éden de que Adão viria a ser expulso. “Todos sabiam quanto tinham, ou quanto tinham a receber, o que era permitido e o que era proibido. Tudo se fazia com conta, peso e medida”. E um depois, com a grande guerra, o fim de um sonho de uma europa em paz, unida e humanista. E era esse o sonho do autor. O retorno

a um Éden para sempre perdido. Zweig é ao mesmo tempo humilde e reservado. Tem enorme parcimónia em falar de si próprio. Nesse aspeto este livro é mais um esboço de impressões do autor sobre o seu tempo e sobre o que rodeou, do que um retrato de si próprio. Mas não deixam de estar lá o ambiente cultural vivido em Viena e na Europa. Brahms, Toscanini, Strauss, Freud, Valery, Joyce, Mann, Gorky, Rathenau, entre muitos outros, passam nestas páginas. A dualidade só é ultrapassada nas páginas finais: ”Mas, em última análise, cada sombra é também filha da luz, e só quem tenha vivido a claridade e a escuridão, a guerra e a paz, a ascensão e a queda, só esse terá verdadeiramente vivido”.

nistrativa, historicamente morosa.Quanto às contraordenações tere-mos o problema, claro, da prescri-ção. Quanto às indemnizações por expropriações, aí o problema será dos particulares em obterem uma resolução atempada e justa do quantum indemnizatório depois de já se terem visto expropriados.Uma última e breve nota para a projetada tramitação dos proces-sos por via eletrónica. O SITAV nunca teve a mesma eficiência e fiabilidade do CITIUS. Os erros eram e sempre foram constantes na entrega de peças, tornando o processo, muitas vezes, um ver-dadeiro martírio. É um pormenor prático mas muito significativo, em que se devem evitar os erros recentes.Concluindo, julgo que as altera-ções propugnadas são, em geral de aplaudir, e não merecem cen-sura. Veremos, porém, como se-rão operacionalizadas.

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Magistratura

“O novo mapa judiciário coloca desafios à formação dos magistrados”. A afirmação é do diretor do Centro de Estudos Judiciários, António Pedro Barbas Homem, que acredita que o CEJ terá, assim, que encontrar, “em articulação com os conselhos superiores, os caminhos para renovar a formação”. Considera que o perfil clássico do magistrado – de competência genérica – é, de algum modo, “posto em causa” com a grande aposta que a reforma judiciária faz na especialização.

É preciso renovar a formação

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materiais formativos”, são algumas das medidas que fazem parte do plano estratégico do centro apro-vado para alcançar este objetivo. Foi também definida uma nova or-ganização e definição dos planos de estudo e um novo sistema de avaliação dos auditores de justiça – “aquilo que, às vezes, a opinião pública conhece menos bem no que diz respeito à formação inicial dos magistrados”, refere Barbas Homem. “Esse projeto passa mui-to pela definição de um modelo pedagógico próprio para a forma-ção de magistrados e de outros profissionais do direito, que está a realizar-se”, acrescenta.Ao CEJ compete formar os magis-trados judiciais e os magistrados do Ministério Público, além de ga-rantir a continuidade da formação na profissão. Para o ano letivo de 2014/2015, “vai abrir dois cursos de formação: um para os tribu-nais administrativos e tributários e outro para os tribunais judiciais”, cada um com “40 vagas”. Os conselhos superiores transmitem a “necessidade de recrutamento efetivo de mais magistrados, mas os constrangimentos orçamentais impuseram que essa abertura de vagas tivesse que ser limitada a este contingente”, nota. “Para os tribunais administrativos e tribu-tários será feito um esforço muito grande, este ano e no próximo, de recrutamento e formação de au-ditores de justiça, que, se a ava-liação for favorável, serão futuros juízes dessa jurisdição”, adianta.Sobre a renovação das forma-ções, explica que o “objetivo é in-tegrar um conjunto muito vasto de recomendações que estão a ser feitas a nível europeu, através da rede de formação jurídica e judi-ciária europeia”. As novas tecno-logias desempenham a esse nível um papel importante. “O facto de hoje em dia o processo ser cada vez mais eletrónico exige que a formação seja adequada a estas novas exigências”, exemplifica. “As recomendações da União Eu-ropeia são muito vagas, mas cor-respondem também a uma preo-cupação que temos desenvolvido de abertura do CEJ à comunidade jurídica. Portanto, vão na linha da instituição de ser transparente no que diz respeito aos conteúdos que ensina, ao modo como forma os magistrados e qualquer pessoa po-der através do site ter acesso aos planos de estudo, aos critérios de avaliação de magistrados e a outros elementos que são fundamentais

Sofia Dutra, [email protected]

“Uma aposta muito grande na ética judiciária” tem sido a grande preo-cupação de António Pedro Barbas Homem desde que assumiu a dire-ção do Centro de Estudos Judiciá-rios (CEJ), em setembro de 2011, na sequência da demissão da an-terior diretora, em função da polé-mica em torno da cópia generaliza-da num teste por parte de futuros magistrados. Garante, porém, que “todo esse episódio foi excessi-vamente empolado”. “Não teve a

importância que lhe foi dada pela opinião pública e está inteiramente ultrapassado”, afirma.Assim, no início do mandato “os desafios” que se colocavam ao CEJ eram “muito vastos”, no sen-tido de “recuperar a credibilidade e reconhecimento que já teve no passado”. O “recrutamento dos docentes do CEJ mediante con-curso e uma nova estratégia de co-municação, nomeadamente atra-vés da disponibilização online dos

“Cada vez mais, e nomeadamente alguns episódios complexos vividos no sistema judicial nos últimos anos, mostram que, para além da independência externa, é muito importante a independência interna, que tem que ver com os colegas de profissão, com as instituições próprias de cada uma das magistraturas”

para compreender a sua formação”.Uma das preocupações que o centro “tem tido e que agora terá que desenvolver de forma mais acelerada no plano do próximo ano tem que ver com a articula-ção entre a organização judiciária e as funções do CEJ”, salienta. “O novo mapa judiciário coloca desafios à formação dos magis-trados e o CEJ terá que encontrar também, em articulação com os conselhos superiores, os cami-nhos para renovar a formação”, diz. “O perfil clássico de formação do magistrado – um magistra-do de competência genérica – é, de algum modo, posto em causa com a grande aposta que é feita na especialização”. Assim, torna--se “necessário redefinir um novo modelo de formação, quer para os magistrados que estão na forma-ção inicial, quer para aqueles que estão em formação contínua, ten-do em vista prepará-los, ou pelo menos, disponibilizar-lhes os ele-mentos que depois permitam essa mesma especialização”.

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Há a ideia de que será “na articu-lação da tendencial especializa-ção dos tribunais com a utilização das novas tecnologias, ao lado de se atribuírem maiores poderes de gestão, quer às entidades de coordenação de sistema – no caso português passam a ser também os presidentes de comarca – quer aos próprios juízes, que será pos-sível que a justiça seja mais céle-re, mas que essa celeridade não resulte em prejuízo do cidadão”, observa o diretor do CEJ. Cita, a propósito, um ditado: “Quer a jus-tiça feita a desoras, quer a justiça apressada não são verdadeira jus-tiça”. É, pois, fundamental “encon-trar um equilíbrio”, diz. “À imagem do que se está a passar noutros países europeus, esse equilíbrio vai ser procurado através, por um lado, de especialização e, por ou-tro lado, de poderes de gestão processual, quer a nível macro (do Conselho Superior da Magistratura e do juiz presidente), quer ao nível de cada processo (através de cada juiz) ”, refere. “Isso é uma novidade no sistema português e, por não ter tradição, ela própria precisa de ser avaliada, ou seja, daqui a uns meses será necessário avaliarmos o sentido destas reformas, que be-nefícios trouxeram e eventualmen-te que efeitos negativos e não es-perados é que estão a trazer para o sistema judicial”.

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O desafio da independência de espíritoUm tema a que o CEJ tem es-tado “especialmente atento” é à confiança na justiça. “Partimos de indicadores que merecem alguma preocupação”, comenta Barbas Homem. “É fundamen-tal percebermos de que modo é que conceitos clássicos como a legitimidade do poder judicial, e outros, estão a ser transfor-mados numa outra preocupa-ção, em que já não se discute propriamente a legitimidade do poder judicial, mas sobretudo se procuram as melhores estra-tégias para ganhar a confiança

“Daqui a uns meses será necessário avaliarmos o sentido destas reformas, que benefícios trouxeram e eventualmente que efeitos negativos e não esperados é que estão a trazer para o sistema judicial”

da opinião pública”. Na sua opi-nião, “muitas dessas estratégias passam não por grandes reformas culturais, mas sobretudo pela pre-ocupação que cada magistrado deve ter em cada tribunal sobre a forma como trata cada um dos utentes do sistema de justiça”. “Aquilo que muitos estudos têm vindo a provar – e a mensagem que procuramos transmitir aos nossos auditores e que foi transmitida ins-titucionalmente aos presidentes de comarca e aos magistrados coor-denadores – é que a confiança na justiça se adquire quotidianamente

através de boas estratégias na re-lação entre a justiça oficial e aque-le que procura a justiça”, defende. Chama ainda a atenção para a importância de “cultivar o carácter e a independência de espírito” – uma das orientações do plano es-tratégico anterior. “Cada vez mais, e nomeadamente alguns episódios complexos vividos no sistema ju-dicial nos últimos anos, mostram que, para além da independência externa, é muito importante a inde-pendência interna, que tem que ver com os colegas de profissão, com as instituições próprias de cada

uma das magistraturas. É essa independência de espírito, essa capacidade de decisão forte das dependências que podem surgir no dia a dia e que correspondem ao enraizamento dos magistra-dos na vida social que deve ser procurada”, argumenta. “A independência não é apenas uma questão institucional e nor-mativa, mas é uma situação que tem que ser vivida pelos magis-trados todos os dias. Isso é um desafio para qualquer magistra-do, e ainda mais para um jovem magistrado”, conclui.

Magistratura

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O desafio da independência de espírito

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Primeiro Sonae Imobiliário e Tu-rismo. Depois Sonae Imobiliária. Hoje Sonae Sierra. Joaquim Perei-ra Mendes entrou para a empresa em 1989 e acompanhou as várias designações e o crescimento da empresa. Também as suas fun-ções se foram alterando. Inicial-mente era responsável pela área jurídica. “Era o único”, diz. Com

o tempo, as funções foram-se alargando e hoje é administrador e acumula também a responsabi-lidade pela parte fiscal no que diz respeito a planeamento e estrutu-ra (com exceção do compliance fiscal) e pelas fusões e aquisições. Coordena diretamente uma equipa de sete advogados na sede, con-tando ainda com o apoio de advo-

gados nos escritórios centrais da empresa nos países onde esta tem centros comerciais em operação.Joaquim Pereira Mendes explica que na Sonae Sierra “a formaliza-ção do negócio não é entendida de forma atomizada, como acontece em muitas empresas”. O departa-mento que dirige é, assim, respon-sável pela arquitetura jurídica de

tudo o que se passa na empresa. “Quer pela estrutura dos nossos projetos, quer pela relação de do-mínio, quer pela relação com os outros intervenientes: lojistas ou prestadores de serviços”. Quanto ao cargo que assume em matéria de fusões e aquisições, afirma que não define o preço, mas que o seu departamento tem a “responsabili-

Há 25 anos a encontrar soluções jurídicas para dar resposta às necessidades da Sonae Sierra, Joaquim Pereira Mendes considera que flexibilidade e criatividade são fundamentais para que o jurista seja um deal maker. Além de construtor de soluções, o advogado responsável pelo departamento legal da empresa continua também a ver-se como um defensor de causas.

O construtor de soluções

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advocatus.pt

“O papel do departamento, que foi sempre muito importante, reveste-se hoje de aspetos decisivos, por exemplo, para o esforço de internacionalização da empresa. Hoje os desafios acabam por ser ainda maiores, porque estamos a aumentar muito as jurisdições para onde vamos”

dade de assegurar que o negócio é feito em termos eficazes e adequa-dos aos interesses da empresa”. “Somos nós que modelamos o ne-gócio e a forma como a empresa realiza as suas atividades e, por isso, o departamento tem umas funções mais alargadas do que existem noutras empresas, o que representa a visão integrada que temos da nossa atividade”, salien-ta. “Isso resulta também do próprio percurso da Sonae Sierra. Temos um percurso essencialmente no país até 1999 e depois todo um processo de internacionalização, com uma componente muito forte na utilização de contributos de ter-ceiros – nossos parceiros – para o desenvolvimento do negócio”. “As joint-ventures são um pilar do desenvolvimento e da inter-nacionalização da Sonae Sierra”, assegura, sendo a função do de-partamento legal nesse domínio “absolutamente decisiva”. “Usamos advogados externos em muitos casos – são indispensá-veis”, nota, mas argumenta que os advogados in house podem fazer coisas que um advogado externo não pode fazer, em função de esta-rem “dentro das coisas antes delas acontecerem”. Fator que, consi-dera, é potenciado pelo facto de muitos dos advogados do departa-mento estarem há “bastantes anos na empresa” e de já constituírem um repositório de conhecimento. “Conhecemos muito bem os obje-tivos da empresa, as suas idiossin-crasias, pelo que intervimos muito cedo na preparação de tudo o que vamos fazer”. “A proximidade do departamento legal ao negócio e à decisão é total”, afirma. ”Nós inter-vimos”, frisa.“O papel do departamento, que foi sempre muito importante, reveste--se hoje de aspetos decisivos, por exemplo, para o esforço de inter-nacionalização da empresa. Hoje os desafios acabam por ser ainda maiores, porque estamos a aumen-tar muito as jurisdições para onde vamos”, esclarece. Explica que, no exterior, “a estrutura e os objetivos são iguais, mas o estádio de de-senvolvimento é diferente. Somos muito orgulhosos do nosso traba-lho. Hoje, em Portugal, fazemos praticamente tudo internamente. O objetivo é fazermos o mesmo nos outros países, mas, na medida em que temos menos massa críti-ca, claro que o recurso a serviços terceiros é maior – usamo-los so-bretudo quando temos que fazer uma operação mais complexa, no-

“Os desafios que a Sonae coloca são muito difíceis de encontrar em Portugal. Não há muita gente que como eu tenha andado a negociar joint-ventures com investidores americanos, irlandeses, brasileiros, ingleses, franceses e alemães”

meadamente aquisições e vendas, onde não intervimos sozinhos”. E alerta que, quando se vai para ou-tras jurisdições, é fundamental sa-ber que em “cada país se fazem as coisas de forma diferente. Embora os objetivos e a forma de fazer o negócio sejam, tendencialmente, internacionais, há que ter em con-ta as realidades locais e as formas de fazer. Quem não tiver isso em atenção sofrerá, seguramente, muitas desilusões”, nota. “Esse é um desafio muito grande para o meu departamento”.“A Sonae Sierra quer ter um de-partamento jurídico forte. Somos um elemento que integra a em-presa e que é entendido como sendo a forma mais eficiente e segura de realizar as coisas”, diz. Considera que o departamento é uma “mais-valia para a empresa. Conseguimos que faça os seus negócios melhor, de uma forma mais rápida, mais segura e mais barata. Temos dois tipos de fun-ções: uma função de verificação, proteção e controlo; e uma fun-ção muito positiva e proactiva de realização das coisas”. Diz, aliás, que “esse é um dos aspetos po-

sitivos” da Sonae Sierra. “Somos deal makers, fazemos coisas. Te-mos ambição, pensamos grande, que é uma coisa que, por vezes, falta em Portugal”, salienta.Crê, porém, que “o departamento jurídico não precisa de estar nas luzes da ribalta”. Precisa, antes, de “assegurar que a empresa atinge os seus objetivos e realiza os seus negócios tal como os concebeu”. “Se não for possível, temos que informar, mas temos que arranjar forma de a fazer”, afirma. E garan-te que os aspetos legais não têm causado impedimentos à interna-cionalização da empresa. “Nós, juristas, somos muito flexíveis e cabe-nos a nós, e esse é um dos grandes desafios que temos, ter a criatividade e a flexibilidade para encontrar as soluções que dão resposta às necessidades da em-presa. Não houve nenhum caso em que não tivesse encontrado solução jurídica para um negócio”, assegura. Assume, porém, que já houve casos em que não se fez um negócio porque o departamento legal assim o aconselhou. “Mas não que não houvesse forma jurí-dica de o resolver”, afiança. “Face

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In House

Um advogado de causasLicenciou-se em Direito pela Fa-culdade de Direito da Universi-dade de Coimbra em 1980, mas Joaquim Pereira Mendes afirma que o que o aliciou para o cur-so “não foi muito consciente”. Assume, porém, que “desde pe-queno” se viu no âmbito do Di-reito. “Ninguém da minha família direta estava envolvida em Direi-to”, nota. Apenas um amigo do pai, que era jurista – “um homem de inteligência fulgurante” – terá tido alguma influência. “Achei que valia a pena enveredar por este caminho”, refere. “Hoje já não temos tantas ilusões, mas quando somos novos achamos que vamos contribuir para mudar muita coisa, e ser advogado tem esta auréola de defensor de cau-sas”, admite. Assegura, porém, que ainda se vê como um defen-sor de causas.Antes da “causa” na Sonae, Jo-aquim Pereira Mendes passou pela advocacia de prática indivi-dual e pela sociedade de cons-truções Soares da Costa, onde foi advogado e assessor jurídico. “A minha prática individual foi

muito pequena”. É que diz não ter “jeito para apresentar contas”.“A minha vida é muito simples”, afirma. “Por vezes, achamos que há pessoas que têm muita expe-riência e chegamos à conclusão que não têm, porque andaram to-dos os anos a fazer a mesma coi-sa. Eu, embora não tenha andado por muitos lados, faço muitas coi-sas diferentes”. Além da atividade principal como advogado, dá aulas na Universida-de Portucalense. “Estou lá desde a sua fundação, em 1986, porque gosto”, diz. “É muito gratificante e ajuda-me muito para a minha ativi-dade na Sonae Sierra, porque me expõe a um ambiente diferente. O ambiente de universidade é muito diferente do ambiente da empresa e isso muda-me um pouco a ca-beça”. É que além do contato com colegas, tem, sobretudo, contacto com os alunos, o que é “muito re-juvenescedor e desafiante. É bom estar sujeito a essa exposição, obriga-me a estar atualizado, a estudar de outra maneira. É dife-rente pensar no direito sem estar sob a pressão do caso concreto”.

Revela que quando passa por uma situação mais complicada na Sonae Sierra faz o teste de ver se sabia explicar isto aos seus alunos de forma simples e compreensível. “Quando chego à conclusão que a explicação é complicada, o as-sunto não está visto”, nota. “Mui-tas vezes, encontro aí soluções que, na lufa-lufa do dia a dia, não estava a ver”. A docência auxilia--o, assim, mesmo nos casos con-cretos e ajuda-o a “ser humilde”. Do outro lado, também acredita que há vantagens. “Acho que os meus alunos e a instituição tam-bém ganham alguma coisa com a minha experiência. Sendo todos os outros meus colegas muito mais competentes e com conhe-cimentos teóricos muito superio-res aos meus, tenho uma mais--valia importante que é poder falar de muitas coisas, não só de as ter estudado, mas de as ter vi-vido e de saber como é sofrer na pele a procura da solução, saber que o A e o B de que falamos são Antónios, Bernardos e Marias”, sugere. “É muito diferente o saber de experiência feito”.

à análise que se fez, entendeu-se que, naquelas circunstâncias, o risco que estava a ser colocado não era razoável de ser assumido. Onde a flexibilidade é menor é na parte fiscal. Não quer dizer que não se faça, mas a flexibilidade que temos em encontrar as melho-res soluções é menor, em virtude da exigência de normas imperati-vas”, diz. Considera-se, portanto, um “facilitador, mas também um construtor de soluções. Somos um agente ativo”, salienta, referindo--se aos elementos do departa-mento que dirige. Uma das coisas que o atrai na prática empresarial é montar os negócios e “vê-los existir. É muito gratificante”, diz, sobretudo porque o seu trabalho esteve “sujeito ao teste do tempo – em bons tempos e em tempos agrestes. Fazemos bem e ousa-mos fazer, o que é muito importan-te”, assevera. Além disso, acredita que, sobretudo para quem está no Porto – como é o seu caso –, “mui-to dificilmente poderia encontrar um sítio melhor para exercer a ati-vidade do que a Sonae. Os desa-fios que a Sonae coloca são muito difíceis de encontrar em Portugal. Não há muita gente que como eu tenha andado a negociar joint-ven-tures com investidores america-nos, irlandeses, brasileiros, ingle-ses, franceses e alemães”, conclui.

“Nós, juristas, somos muito flexíveis e cabe-nos a nós, e esse é um dos grandes desafios que temos, ter a criatividade e a flexibilidade para encontrar as soluções que dão resposta às necessidades da empresa”

“O ambiente de universidade é muito diferente do ambiente da empresa e isso muda-me um pouco a cabeça”

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O Código de Processo dos Tribunais Administrativos (CPTA) e o Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF) foram alvo de revisão. E uma das questões que se coloca é saber se as alterações propostas contribuirão para uma melhor justiça.

Melhor justiça?

Ao fim de dez anos de vigência do CPTA e o ETAF entendeu o Minis-tério da Justiça ser altura de intro-duzir alterações, de modo a corrigir e aperfeiçoar os dois documentos. Da comissão criada para o efeito fez parte Mário Aroso de Almeida, professor da Faculdade de Direi-to da Universidade Católica, que entende que o primeiro aspeto re-levante do projeto de revisão é a proposta de alargamento do âm-bito da jurisdição administrativa

e fiscal, dando mais um passo no sentido de cobrir todos os litígios de natureza administrativa e fiscal. Na ótica do advogado António Du-arte de Almeida, sócio da Tavares e Sousa, Duarte de Almeida, Cam-pos e Carvalhinho, o que está em casua é uma evolução na continui-dade, com o projeto de revisão do ETAF e do CPTA a corresponder a uma adequação do atual sistema (com algumas soluções mais con-sensuais que outras), mantendo-se

as virtudes e os pecados originais (como é o caso da excessiva des-valorização da forma e do procedi-mento na atividade administrativa). Por sua vez, Margarida Olazabal Cabral, sócia da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados, tem dúvidas de que os reais problemas da Justiça Admi-nistrativa se resolvam pela revisão do Código do Processo nos Tribu-nais Administrativos, mas reconhe-ce que algumas alterações da lei

processual administrativa podem contribuir para uma melhor justiça. Já Tiago Amorim, managing part- ner da Amorim & Associados, de-fende que os dois projetos con-templam alterações que deverão ser acompanhadas de um forte reforço dos meios afetos aos tri-bunais administrativos. É o caso – justifica – da ampliação do âmbito da jurisdição administrativa, que levará a um significativo acréscimo dos processos.

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Direito Administrativo

O projeto de revisão do ETAF e do CPTAO primeiro aspeto relevante do projeto de revisão é a proposta de alargamento do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal, dando mais um passo no sentido de cobrir todos os litígios de natureza administrativa e fiscal.

MáRIO AROSO DE ALMEIDA

Professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa

“Um ponto politicamente sensível prende--se com a regra da representação do Estado pelo Ministério Público nas ações sobre contratos e responsabilidade civil do Estado, que o projeto mantém”

Tive a honra de integrar a comissão que há poucos dias apresentou à Ministra da Justiça o projeto de re-visão do ETAF e do CPTA. Ao fim de dez anos de aplicação, foram iden-tificados muitos pontos carecidos de correção ou de aperfeiçoamen-to. Entretanto, em 2013, o CPC foi objeto de uma reforma profunda e está em vias de publicação o novo regime do CPA. Todas estas razões explicam a iniciativa da reforma.O primeiro aspeto relevante do projeto de revisão é a proposta de alargamento do âmbito da jurisdi-ção administrativa e fiscal, dando mais um passo no sentido de cobrir todos os litígios de natureza admi-nistrativa e fiscal, como preconiza o artigo 212.º, n.º 3, da CRP. O pro-jeto adota, em todo o caso, nesta matéria, uma posição equilibrada, que, tendo em conta a realidade dos nossos tribunais administrativos, só propõe a extensão do âmbito da jurisdição às ações de condenação à remoção de situações constituídas pela Administração em via de fac-to, de condenação ao pagamento de indemnizações decorrentes da imposição de sacrifícios por razões de interesse público e de fixação da justa indemnização devida por expropriações, servidões e outras restrições de utilidade pública, e de impugnação de decisões que apliquem coimas previstas nos re-gimes jurídicos dos instrumentos de gestão territorial, da urbanização e da edificação.É, por outro lado, proposta a rees-truturação das formas do processo declarativo não-urgente, através da substituição da ação administrativa especial e da ação administrativa comum por uma única ação admi-

nistrativa, cuja tramitação procura harmonizar o novo regime do CPC com as especificidades próprias do processo administrativo. Quanto a alguns aspetos, propõe-se, no entanto, a manutenção de uma dualidade de regimes: assim, por exemplo, o ónus de impugnação especificada continua a não ser imposto às autoridades adminis-trativas apenas nas ações que hoje correspondem à forma da ação ad-ministrativa especial.Um ponto politicamente sensível prende-se com a regra da repre-sentação do Estado pelo Ministério Público nas ações sobre contratos e responsabilidade civil do Estado, que o projeto mantém, mas admi-tindo que, em função das especi-ficidades próprias de cada litígio, o Estado possa assumir, mediante decisão fundamentada, que a ade-quada defesa em juízo dos seus interesses no âmbito de processos revestidos de maior complexidade exige um patrocínio especializado e, por outro lado, a mobilização de recursos, técnicos e humanos, que só possam ser assegurados me-diante a constituição de advogado. Outro ponto politicamente sensí-vel diz respeito ao regime do ar-tigo 128.º do CPTA, para o qual são propostas soluções dirigidas a promover um maior equilíbrio entre os valores e interesses em conflito. Assim, propõe-se que a proibição de executar só opere uma vez citada a entidade requerida, após o des-pacho liminar de admissão do juiz. E que a possibilidade de execução administrativa imediata, mediante a emissão de uma resolução fun-damentada, seja substituída pela possibilidade de, durante toda a

“Outro ponto politicamente sensível diz respeito ao regime do artigo 128.º do CPTA, para o qual são propostas soluções dirigidas a promover um maior equilíbrio entre os valores e interesses em conflito”

pendência do processo cautelar, a autoridade requerida ou os con-trainteressados pedirem ao juiz o levantamento da proibição de exe-cutar. O pedido pode ser deduzido com caráter de urgência, hipótese em que o juiz promove a realiza-ção, no prazo de 48 horas, de uma audiência oral, no termo da qual toma a decisão de imediato.

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A Justiça Administrativa tem, como a Justiça não administrativa, diver-sos problemas, entre os quais avulta a demora na decisão dos processos. É certo, por outro lado, que temos desde 2004 uma boa lei processual administrativa, dir-se-ia mesmo uma lei muito adiantada, que garante o princípio da tutela jurisdicional efe-tiva. Não acredito, por isso, que os reais problemas da Justiça Adminis-trativa se resolvam pela revisão do Código do Processo nos Tribunais Administrativos.Dito isto, não deixa de ser verdade que algumas alterações da lei pro-cessual administrativa podem con-tribuir para uma melhor justiça.Duas ou três notas sobre aquilo que agora se propõe.

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“No domínio do contencioso pré-contratual urgente, a que sou particularmente sensível, transpõe--se a diretiva recursos, com o efeito suspensivo automático da impugnação, mas poder-se-ia ter ido mais longe, acabando aqui com a dualidade processo cautelar /ação principal, que apenas duplica processos e atrasa a decisão do fundo da causa”

Sócia da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados

Contributos para uma melhor justiça

Não acredito que os reais problemas da Justiça Administrativa se resolvam pela revisão do Código do Processo nos Tribunais Administrativos. Mas

não deixa de ser verdade que algumas alterações da lei processual administrativa podem contribuir para uma melhor justiça.

MARgARIDA OLAzAbAL

CAbRAL

O objetivo de maior coerência entre o processo administrativo e o pro-cesso civil, recentemente alterado, é de aplaudir.Parece fazer sentido também a uni-ficação ação administrativa comum / ação administrativa especial. Essa unificação parece contribuir, desde logo, para que o Código seja agora mais exaustivo na regulamentação da tramitação da ação, agora única, do que era na regulamentação da ação comum. Em qualquer caso, as especificidades do ato administra-tivo, e da sua impugnação, tornam inevitável que, mesmo sob um nome comum, tenhamos proces-sos com percursos distintos. Tal como hoje a dualidade de ações suscita problemas de aplicação do CPTA, a especificidade das ações em que está em causa um ato ad-ministrativo também há de continu-ar a causar dificuldades. De aplaudir é também a previsão, como regra, de julgamento por juiz singular (que já era prática, mas trouxe nos últimos anos o inquietan-te problema da reclamação para a conferência). Assim contribua para algum descongestionamento dos tribunais administrativos. Tenho dúvidas sobre a bondade da alteração do modo de contagem dos prazos para propositura das ações. Embora faça sentido do ponto de vis-ta teórico, trata-se de uma mudança depois de estarmos todos habitu-ados ao atual modo de contagem. Desconfio que irá dar azo a algumas distrações e aflições, e mesmo ações perdidas desnecessariamente.A justiça cautelar é um fator que mui-to contribui para a perceção do não funcionamento da Justiça Adminis-trativa. Na verdade, a justiça caute-

lar só faz sentido se houver decisão num muito curto espaço de tempo, o que é muito raro acontecer atual-mente. Ora, não me parece que a revisão do CPTA traga mecanismos para garantir uma justiça cautelar eficaz, isto é, rápida (também reco-nheço que não é fácil que seja a lei a garanti-lo). Acaba-se agora com a figura tão polémica da “resolução fundamentada” no que se refere a providências de suspensão de eficá-cia dos atos, consagrando um efeito suspensivo automático e determi-nando que o juiz o pode levantar. Causam-me alguma preocupação os prazos em que o juiz adotará uma tal decisão, bem como a previsão de que a única exceção que permite a continuação da execução do ato é a situação de “estado de necessida-de”. Estaremos daqui a uns tempos a discutir os prejuízos para o interes-se público que esta opção acarreta?No domínio do contencioso pré--contratual urgente, a que sou par-ticularmente sensível, transpõe-se a diretiva recursos, com o efeito sus-pensivo automático da impugnação, mas poder-se-ia ter ido mais longe, acabando aqui com a dualidade pro-cesso cautelar /ação principal, que apenas duplica processos e atrasa a decisão do fundo da causa. Finalmente, de louvar parece-me ser a liberdade conferida ao Estado para se fazer representar por mandatário judicial próprio nas ações de respon-sabilidade e relativas a contratos. Na verdade, em muitos casos, o Mi-nistério Público não tem condições para o fazer da melhor forma, estan-do a entidade demandada nas me-lhores condições para decidir quem a deve representar.

“A justiça cautelar é um fator que muito contribui para a perceção do não funcionamento da Justiça administrativa. Na verdade, a justiça cautelar só faz sentido se houver decisão num muito curto espaço de tempo, o que é muito raro acontecer atualmente”

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Direito Administrativo

Evolução na continuidadeO projeto de revisão do ETAF e do CPTA corresponde a uma adequação do atual sistema (com algumas soluções mais consensuais que outras). As virtudes e os pecados originais (como é o caso da excessiva desvalorização da forma e do procedimento na atividade administrativa) mantêm-se.

ANTóNIO DUARTE DE ALMEIDA

Sócio da Tavares e Sousa, Duarte de Almeida, Campos e Carvalhinho

“Das alterações ao CPTA saliento a unificação das formas do processo, a reformulação do regime da proibição de execução do ato administrativo na suspensão da eficácia e do regime da impugnação de atos de adjudicação”

Passados dez anos desde a entrada em vigor da reforma do contencioso administrativo operada em 2004, são já evidentes algumas causas de entropia que carecem de corre-ção. O projeto de revisão do ETAF e do CPTA deixa intocado o mo-delo organizativo e processual do atual contencioso administrativo, surgindo como uma evolução na continuidade.Não sendo possível proceder, aqui, a uma recensão e avaliação sis-temática das alterações, vou-me restringir àquelas que, na minha opi-nião, assumem um maior impacto no exercício da advocacia.Por razões de ordem lógica, co-meço por referir duas importantes alterações ao ETAF.A nova redação do artigo 4º do ETAF inclui na jurisdição administrativa litígios que estavam subtraídos ao seu âmbito, como é o caso da fixação da indemnização por ex-propriação e do julgamento das contraordenações em matéria de ambiente, ordenamento do territó-rio, urbanismo, património cultural e bens do Estado. No essencial, o legislador pretende, tanto quanto possível, fazer coincidir o âmbito da jurisdição administrativa com os “litígios emergentes de relações jurídicas administrativas” (segundo a fórmula constitucional). Essa coin-cidência é meramente tendencial e nem me parece desejável que seja absoluta.Um dos maiores sobressaltos pro-vocados pela aplicação prática do atual contencioso administrativo resulta da sistemática rejeição de um número inusitado de recursos jurisdicionais por força do sentido que a jurisprudência administrativa

vem atribuindo à alínea i) do N.º 1 do artigo 27º do CPTA. Vem en-tendendo o STA que a reclamação para a conferência é o único meio idóneo para reagir contra a decisão de juiz singular. Tal interpretação, denotando uma clara falta de pru-dência, vem prolongando situações insustentáveis. A alteração do N.º 1 do artigo 40º do ETAF visa ultrapas-sar este obstáculo, fixando a regra do funcionamento dos tribunais administrativos de círculo com juiz singular. Se a questão fica, aparen-temente, resolvida para o futuro, subsistem amplos efeitos negativos que deviam ser removidos.Das alterações ao CPTA saliento a unificação das formas do processo, a reformulação do regime da proi-bição de execução do ato adminis-trativo na suspensão da eficácia e do regime da impugnação de atos de adjudicação.A redução das duas ações adminis-trativas (comum e especial) a uma única, sendo a alteração mais ‘me-diática’, assume, em minha opinião, efeitos essencialmente simbólicos: evidencia o corte definitivo da li-gação ao recurso contencioso de anulação. Curiosamente, do ponto de vista da marcha do processo, significa, inversamente, a coloniza-ção da ação administrativa comum pela ação administrativa especial.O reenvio ao juiz da decisão de ma-nutenção ou não da proibição de execução do ato aquando da formu-lação de um pedido de suspensão da eficácia, com o desaparecimento da resolução fundamentada, visa, de alguma forma, responder aos problemas práticos que o atual re-gime vem colocando. A bondade da solução depende, exclusivamente,

“Considero bastante positiva a consagração de um efeito suspensivo automático associado à ação administrativa de impugnação das decisões de adjudicação”

do uso que dela venham a fazer os juízes.Finalmente, considero bastante po-sitiva a consagração de um efeito suspensivo automático associado à ação administrativa de impugnação das decisões de adjudicação.O projeto de revisão do ETAF e do CPTA corresponde a uma adequa-ção do atual sistema (com algumas soluções mais consensuais que outras). As virtudes e os pecados originais (como é o caso da exces-siva desvalorização da forma e do procedimento na atividade admi-nistrativa) mantêm-se. Tendo em conta o acréscimo de poderes de ponderação concedidos ao juiz, só a prática judiciária permitirá retirar ilações definitivas.

Impõe-se um reforço dos meios afetos aos tribunais

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Aí estão os projetos de revisão do contencioso administrativo, designa-damente do Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) e do Estatuto dos Tribunais Administrati-vos e Fiscais (ETAF).Destaca-se a consagração de uma única forma de processo, sob a de-nominação de “ação administrativa”, com um modelo unitário de tramita-ção – assim se abandonando o atual modelo dualista (ação administrativa comum e ação administrativa espe-cial). O regime aplicável à fase dos articulados aproxima-se do proces-so civil anterior à reforma de 2013 e a fase subsequente aproxima-se do processo comum de declaração pre-visto no Novo Código de Processo Civil (NCPC). Esta aproximação é,

“É de aplaudir a solução de apenas aplicar o novo regime aos processos instaurados depois da entrada em vigor do novo regime, assim evitando as entropias tão recentemente experimentadas no domínio do processo civil”

Fundador e managing partner da Amorim & Associados*

Impõe-se um reforço dos meios afetos aos tribunais

Os projetos contemplam alterações que deverão ser acompanhadas de um forte reforço dos meios afetos aos tribunais administrativos. É o caso

da ampliação do âmbito da jurisdição administrativa, que levará a um significativo acréscimo dos processos.

TIAgO AMORIM

porém, temperada pela subsistência de normas atualmente aplicáveis à ação administrativa especial.Em matéria de contagem de prazos para impugnação de atos administra-tivos, a remissão para o artigo 279º do Código Civil (e a eliminação da remissão para o regime do Código de Processo Civil) é relevante, na medida em que dessa remissão parece resul-tar que a contagem de tais prazos não se suspende em férias judiciais.Quanto à declaração de ilegalidade de normas com fundamento em ile-galidade meramente formal ou pro-cedimental, deve ser pedida no pra-zo máximo de seis meses, salvo em casos excecionais.Destacam-se as alterações relacio-nadas com o contencioso pré-con-tratual, sobretudo a extensão do res-petivo âmbito (nomeadamente aos contratos de concessão de serviços públicos) e a consagração de efeito suspensivo automático à impugna-ção do ato de adjudicação.No que à tutela cautelar respeita, é suprimida a atual alínea a) do n.º 1 do artigo 120º do CPTA, que prevê a possibilidade de decretamento da providência quando seja evidente a procedência da pretensão do proces-so principal – que, de resto, revelava escasso efeito prático, na medida em que raramente os tribunais decreta-ram providências com base nesse preceito. De forte efeito é a alte-ração relacionada com a proibi-ção de execução do ato adminis-trativo em caso de requerimento da suspensão da eficácia: notifi-cada do requerimento, a entida-de requerida só pode iniciar ou prosseguir a execução se estiver perante uma situação de “estado de necessidade” ou se o tribunal,

a requerimento dos interessados, entender que o diferimento da execução é “gravemente preju-dicial para o interesse público ou gerador de consequências lesivas claramente desproporcionadas”.Os projetos contemplam ainda alte-rações que deverão ser acompanha-das de um forte reforço dos meios afetos aos tribunais administrativos. É o caso da ampliação do âmbito da jurisdição administrativa (nomea-damente pela transferência da juris-dição comum dos litígios relaciona-dos com a fixação de indemnização devida por expropriações e outras restrições de utilidade pública e com a aplicação de coimas em matéria, designadamente, de ambiente, or-denamento e urbanismo), que leva-rá a um significativo acréscimo dos processos. Será também o caso e o efeito da qualificação como urgentes dos procedimentos de massa, quan-do estejam em causa concursos de pessoal ou procedimentos de reali-zação de provas cujos participantes sejam em número superior a 20. Em matéria de recursos, nota para a atribuição de legitimidade para in-terposição de recurso a “quem seja directa e efectivamente prejudicado, ainda que não seja parte na causa ou seja apenas parte acessória”. No que respeita o processo execu-tivo, destaque para a ampliação do prazo para apresentação da petição de execução para 1 ano. Por fim, é de aplaudir a solução de apenas aplicar o novo regime aos proces-sos instaurados depois da entrada em vigor do novo regime, assim evitando as entropias tão recente-mente experimentadas no domínio do processo civil.

“Destaca-se a consagração de uma única forma de processo, sob a denominação de ação administrativa, com um modelo unitário de tramitação – assim se abandonando o atual modelo dualista (ação administrativa comum e ação administrativa especial)” * com Catarina Oliveira e Tânia Santos

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Direito Laboral

Compensações por despedimento colectivo: paternalismo da Troika ou uma medida inevitável?Compreendendo-se analiticamente os motivos que levaram a Troika a impor a redução do factor de ponderação de um mês para 20 e agora 12 dias de retribuição base por cada ano de antiguidade, a nossa dúvida prende-se com a verdadeira necessidade de se estabelecer um limite máximo imperativo para a referida compensação.

CAROLINA bOULLOSA gONzALEz

Advogada da ACE – Sociedade de Advogados, com especialização nas áreas de prática de Contencioso e Arbitragem, Direito Laboral e da Segurança Social

“No âmbito do actual regime legal, a utilização do montante compensatório não apenas para preservar a paz social, mas também para, eventualmente, premiar trabalhadores que o mereçam, fica definitivamente afastada”

O artigo 366.º do Código do Traba-lho, na sua redacção aprovada pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro, estabelecia que, em caso de des-pedimento colectivo, o trabalhador tinha direito a compensação corres-pondente a um mês de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade, a qual não poderia ser inferior a três meses de retribuição base e diuturnidades.Pese embora as alterações de for-mulação ao longo dos tempos e os vários diplomas legais em vigor, a verdade é que, desde a entrada em vigor, em 31 de Julho de 1975,do Decreto-Lei 372-A/75, de 16 de Julho, que a compensação por des-pedimento colectivo se encontrava estabelecida em termos semelhan-tes aos acima referidos.No entanto, actualmente, para os contratos de trabalho celebrados após 1 de Outubro de 2013, encon-tra-se prevista uma compensação por despedimento colectivo de 12dias de retribuição base e diuturni-dades por cada ano completo de antiguidade, tendo-se pretendido salvaguardar a expectativa dos tra-balhadores contratados antes da referida data, assegurando desse modo a aplicação dos regimes an-teriores mais favoráveis.Todavia, em ambos os regimes (actual e transitório), o legislador estabeleceu patamares máximos, os quais, consoante os casos, po-derão significar a perda de vários anos de antiguidade no cômputo da respectiva compensação.Ora, compreendendo-se analitica-mente os motivos que levaram a

Troika a impor a redução do factor de ponderação de um mês para 20 e agora 12 dias de retribuiçãob ase por cada ano de antiguidade, a nossa dúvida prende-se com a verdadeira necessidade de se estabelecer um limite máximo imperativo para a re-ferida compensação.De facto, de uma compensação que se encontrava estabelecida a partir de valores mínimos, passou-se para uma compensação limitada também por valores máximos.Ora, temo-nos deparado com situa-ções concretas de entidades empre-gadoras que, no âmbito de despedi-mentos colectivos, estariam dispostas a pagar aos trabalhadores abrangidos uma indemnização superior ao legal-mente previsto, mas que acabam por recuar na sua opção, tendo em conta os referidos limites legais, com isso muitas vezes inviabilizando a paz social e a resolução extra-judicial de conflitos.Como tal, a nosso ver, nenhuma razão impedia, que, simultaneamente com a redução do factor de ponderação para cálculo das compensações e o esta-belecimento de limites máximos para as mesmas – que funcionariam ambos como a regra geral supletiva –, fosse deixada em aberto a possibilidade de, por opção da entidade empregadora, tais limites serem ultrapassados em benefício do trabalhador.Na mesma senda, temos dificulda-de em compreender a previsão de uma contra-ordenação grave para os casos em que tais limites sejam ultrapassados.Importa salientar que o n.º 5 do artigo 6.º da Lei n.º 23/2012, de

“Num efeito perverso da solução adoptada pelo legislador, o risco económico da impugnação judicial de um despedimento colectivo poderá ser bem mais oneroso para a entidade empregadora do que o pagamento negociado, no âmbito desse despedimento, de uma compensação superior aos limites legais”

25 de Junho, estabelecia que, em caso de cessação de contrato de trabalho celebrado antes de 1 de Novembro de 2011, “constitui con-tra-ordenação grave o pagamento de compensação de valor inferior ao resultante do disposto neste artigo”, demonstrando, assim, que, pese embora o estabelecimento de limites máximos para a compensação, a preocupação do legislador, ainda que restringida ao regime transitório, continuava a ser a protecção dos mínimos legais a que o trabalhador tinha direito.Sucede que, o n.º 7 do artigo 366.º do Código do Trabalho, na sua ver-

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são actual, estabelece como con-tra-ordenação grave a violação da norma que prevê a forma de de-terminação da compensação e os respectivos limites máximos.Por outro lado, à luz deste regime, suscita-nos também dúvidas a in-terpretação da previsão da alínea f) do n.º 2 do artigo 360.º do Código do Trabalho, na sua versão actual, ficando por descortinar que “méto-do de cálculo de compensação a conceder genericamente aos tra-balhadores a despedir” poderão as entidades empregadoras utilizar, que não o previsto no artigo 366.º do Código do Trabalho ou nos re-gimes transitórios.Sobre esta matéria já se pronunciou o Tribunal Constitucional, no âmbito do Acórdão n.º 602/2013, ao fisca-lizar a constitucionalidade do n.º 1 do artigo 7.º da Lei n.º 23/2012, de 25 de Junho. De acordo com este tribunal, o artigo 366.º do Código doTrabalho “vem regulamentar a com-pensação por despedimento colec-tivo, fixando-lhe um valor máximo, a determinar em razão de diferentes factores. Até esse limiar legalmente definido, podem os factores relevan-tes ser quantificados por via de nego-ciação colectiva. É o que resulta do artigo 339.º, n.º 3, do mesmo Código (cfr. também, especificamente no que se refere ao despedimento coletivo, o artigo 360.º, n.º 2, alínea f)”.Nos termos do exposto, pese em-bora as já referidas incongruências ou formulações menos felizes, será forçoso concluir pela imperatividade do regime do artigo 366.º do Código do Trabalho, existindo (?), contudo, lugar para o exercício da autonomia privada, tanto ao nível contratual como da negociação colectiva, até aos limites máximos estabelecidos pelo mesmo preceito legal. Assim, no âmbito do actual regime legal, a utilização do montante com-pensatório não apenas para preser-var a paz social, mas também para, eventualmente, premiar trabalhadores que o mereçam, fica definitivamente afastada.Importa, ainda, referir que, num efeito perverso da solução adop-tada pelo legislador, o risco econó-mico da impugnação judicial de um despedimento colectivo poderá ser bem mais oneroso para a entidade empregadora do que o pagamento negociado, no âmbito desse des-pedimento, de uma compensação superior aos limites legais. De facto, situando-se a média das indemniza-ções determinadas pelos tribunais por despedimentos ilícitos nos 30 dias de retribuição base e diuturnidades por

“Nenhuma razão impedia, que, simultaneamente com a redução do factor de ponderação para cálculo das compensações e o estabelecimento de limites máximos para as mesmas, fosse deixada em aberto a possibilidade de, por opção da entidade empregadora, tais limites serem ultrapassados em benefício do trabalhador”

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Formação Aplicada em Processo AdministrativoCurso de Preparação para o CEJ (26.ª edição)Curso de Preparação para o CEJ – Ingresso nos Tribunais Administrativos e Fiscais

Estão abertas as candidaturas.Ano Letivo 2014/15

cada ano completo de antiguidade ou fracção, sem quaisquer limites máximos, é notória a discrepância para os 12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade, com o limite máximo de 12 vezes a retribuição base mensal e diuturnidades, prevista actualmente para os despedimentos colectivos.Neste âmbito, é razoável prever que, a manter-se a referida discrepância de regimes, as impugnações de des-pedimentos colectivos aumentem, assim como os inerentes custos para os empregadores.Por outro lado, não poderá deixar de se referir que, em alternativa a um aumento ilícito das compensações por despedimento colectivo, restará sempre às entidades empregadoras a possibilidade de se socorrerem do instituto da remissão, sendo certo que, no âmbito de uma relação labo-ral, um acordo de remissão de crédi-tos apenas poderá concretizar-se de-pois de findo o contrato de trabalho, impedindo, assim, uma negociação e acordo com todos os trabalhadores em sede de despedimento colectivo.Resta-nos, de todo o modo, tendo em conta a prematuridade e com-plexidade do regime e as dúvidas suscitadas, aguardar por eventuais decisões judiciais que possam cla-rificar as questões apontadas.

Artigo redigido segundo as regras do anterior acordo ortográfico.

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Prescrição

Ultimamente não se fala de outra coisa. Citius isto, Citius aquilo. A Ministra diz “Ah e tal”; a Bastoná-ria responde “Ah e tal não. Ah e tal, coiso!”. Os funcionários judiciais vão fazendo os possíveis (e os im-possíveis, já agora) para a máquina não parar a 100% (90% é suficien-te...). Enfim, certo é que ninguém se entende, e que este é O tema da modaComo eu não sou de acompanhar as modas, escrevo sobre outra coisa (que por acaso também já esteve na moda): a prescrição dos processos sancionatórios (leia-se, criminais e contra-ordenacionais)Quando a prescrição andou na moda e nas bocas do mundo, uns procuraram sacudir a água do ca-pote; outros, por seu turno, foram crucificados; alguns (poucos e em menor número que os restantes infelizmente) disseram umas quan-tas verdades. Mas como esta coisa das modas muitas vezes escapa a um quadro racional, o que pegou é que esses bandidos que são os advogados (onde honrosamente me incluo) é que são os culpados de todos os males.As modas são uma coisa muito gira sim senhor, até por contribu-írem muita vez para o realçar do que por vezes é despercebido. Mas são também perigosas. So-bretudo quando nos orientam para uma tendência mesmo quando não precisamos dela ou, pior, quando esta é prejudicial (para nós e para os outros), desviando-nos para um concreto sentido, ou ideia (errada).É, por isso, imprescindível que aqueles que administram a justiça em nome do povo não descurem a verdade, a coerência e a decência que muitas das vezes são ofus-cadas por essas modas. Mesmo

Justiça das modasAs modas, pela sua natureza, são efémeras. A justiça e os direitos fundamentais não. E se alguém acha que esta reforma era esperada há 200 anos, não ignorará, seguramente, que a justiça e aqueles direitos existiam muito antes de quaisquer modas.

RUI COSTA PEREIRA

Associado da PLMJ,autor Wolters Kluwer

“Dúvidas não tenho que declarar a prescrição de um processo sancionatório pode ser incómodo. É também incómodo reconhecer-se que os Arguidos têm direito – se reunidos os pressupostos legais – a que essa prescrição seja declarada”

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durante o julgamento – agendan-do-se sessões de julgamento umas em cima das outras, indeferindo--se todos os requerimentos apre-sentados, rejeitando-se todos os recursos, atropelando-se todas as garantias legalmente reconhecidas –, impedindo-se os Advogados de poderem organizar uma defesa ca-bal e efectiva dos seus clientes?Já basta os Arguidos terem de sofrer na (longa e quase sempre atrasada) fase da investigação com esse rótulo e com a possibi-lidade de intervirem no processo bastante limitada (em termos le-gais). Depois disso, em julgamen-to, é de uma (extrema) violência inadmissível cortarem-se as per-nas à Defesa, com o receio (e até pânico nalguns casos) da prescri-ção do processo, motivada, regra geral, pelo atraso da investiga-ção.Não quero com isto significar que as investigações se atrasam por inércia ou incompetência de quem as conduz – antes pelo contrário. Quiçá, quando o legislador e o poder executivo se perdem em modas e reformas megalómanas – franca e claramente mal prepa-radas – do mapa judiciário e do Citius, podiam aproveitar para as-segurar às autoridades judiciárias e aos órgãos de polícia criminal os meios necessários para que possam executar conveniente e celeremente as suas funções. Sim, eu sei que a Polícia Judici-ária até tem uma sede nova toda XPTO, com heliporto e tudo. Mas ficou também com o equipamen-to informático de antes, que faz inveja a alguns acervos arqueoló-gicos, e com uma redução do seu orçamento que se cifra em menos 9% que em 2013.

“Quiçá, quando o legislador e o poder executivo se perdem em modas e reformas megalómanas – franca e claramente mal preparadas – do mapa judiciário e do Citius, podiam aproveitar para assegurar às autoridades judiciárias e aos órgãos de polícia criminal os meios necessários para que possam executar conveniente e celeremente as suas funções”

quando a verdade seja muito incó-moda ou inconveniente, e dúvidas não tenho que declarar a prescri-ção de um processo sancionatório pode ser incómodo. É também in-cómodo reconhecer-se que os Ar-guidos têm direito – se reunidos os pressupostos legais – a que essa prescrição seja declarada. Pois é, mas é a verdade.Se as investigações demoram o dobro ou triplo do tempo que de-vem demorar, por que razão devem os Arguidos sofrer por esse facto

As modas, pela sua natureza, são efémeras. A justiça e os direitos fundamentais não. E se alguém acha que esta reforma era espera-da há 200 anos, não ignorará, se-guramente, que a justiça e aqueles direitos existiam muito antes de quaisquer modas.

Artigo redigido segundo as regras do anterior acordo ortográfico.

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Prof. DoUTorA SUSAnA ViDeirA

c a a d c e n t r o d e a r b i t r a g e m a d m i n i s t r a t i v a

conference

mestre JoÃo tiago silveira

a r b i t r a g e m e m e d i a ç Ã o a d m i n i s t r a t i v a : u m d e s a f i o l a n ç a d o a o c o n t e n c i o s o a d m i n i s t r a t i v o p o r t u g u ê s

f a c u l d a d e d e d i r e i t o : : 3 0 o u t u b r o ’ 1 4

“O CAAD tem sabido crescer de modo exemplar”

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“o caad tem vindo a alcançar com sucesso os obJectivos que presidiram à sua criaçÃo”

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um desafio lançado ao contencioso administrativo português

arbitragem e mediaçÃo administrativa

A

“A arbitragem e mediação administrativa: Um desafio lançado ao contencioso administrativo português” foi o tema de uma conferência que teve lugar no dia 30 de setembro, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). O evento foi organizado conjuntamente pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da FDUL e pelo Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD).

Para Vasco Pereira da Silva, que abriu a conferência, o “argumento tradicionalmente usado de só ser possível a existência de arbitragem em questões em que haja disponibilidade por parte da Administração é uma realidade que hoje não faz sentido”.“Sabemos que não há poderes integralmente discricionários nem poderes integralmente vinculados”, diz. “Mas coloca-se agora uma questão nova: os limites da arbitrabilidade. Precisamente porque é ao Estado que cabe o exercício da função jurisdicional, ele tem que delimitar de forma rigorosa o universo ao qual vai admitir esta forma de resolução de litígios administrativos”. Na sua opinião, “é preciso encontrar novos critérios, porque os

tradicionais não funcionam. A fixação de limites é difícil e é o novo desafio que se coloca a todos os operadores do Direito. Se calhar este é um problema habitual, a que nos vamos habituando hoje no quadro do Direito Administrativo, porque as fronteiras são fluidas e está sempre tudo em reconstrução – matérias que anteriormente não eram administrativas passam a ser por causa designadamente dos direitos fundamentais. Mas, por outro lado, há também a privatização de muitas relações que até aí eram administrativas. Portanto, esta questão em que os limites são fluidos e têm que ser reconstruídos é uma questão que se coloca em matéria de arbitragem, mas é uma matéria genérica e é um dos modernos desafios do Direito Administrativo”.

os meiosalternativos de resoluçÃo de LiTiGioS ADMiniSTrATiVoS

O primeiro painel da conferência teve moderação a cargo do professor da FDUL, Vasco Pereira da Silva. A primeira intervenção coube ao presidente do Conselho Deontológico do CAAD, o Conselheiro Manuel Fernando dos Santos Serra, para quem, “por demasiados anos, a resolução de litígios foi tida, no nosso país, como reserva absoluta dos tribunais do Estado e a realização do direito como tarefa exclusiva

do poder judicial”. Na sua opinião, esta foi “uma das nossas maiores falhas”. “E os resultados estão bem à vista, com a dureza crua da pendência de processos nos nossos tribunais tradicionais, em números extremamente elevados”. Crê, como tal, que “subjaz hoje o desafio da decisão atempada”. “Os tribunais estatais não podem corresponder em termos satisfatórios, na medida em que não dispõem de condições para uma resposta cabal à vertiginosa procura do sistema judicial”, salienta. “A arbitragem não é, nem alguma vez pretendeu ser, panaceia para as obstruções à justiça”, afirma. Entende, de resto, que “os meios alternativos de resolução de conflitos, sobretudo os que visam a aproximação de posições entre a Administração e os administrados, deveriam começar a atuar muito cedo, logo na fase graciosa, para assim se aumentar as faculdades preventivas

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“urge integrar a mediaçÃo nos valores e discurso da administraçÃo pública”

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ou profiláticas do nosso sistema de justiça administrativa e tributária”. Considera, assim, bem-vindas “reformas na administração da Justiça, incentivando e reforçando a aplicação dos meios de resolução alternativa de litígios, de importância crescente na sociedade contemporânea e de ampla legitimidade, que resulta da vontade das partes em prevenir ou pôr fim aos litígios através daqueles meios alternativos, com a indispensável garantia de credibilidade, qualidade, celeridade e eficácia quanto às respetivas decisões”.“É absolutamente indispensável salvaguardar o respeito pelos princípios da legalidade e da igualdade entre os administrados/contribuintes, pelo que é igualmente imperioso acautelar, no âmbito do regime da arbitragem, o interesse público, que aqui se desdobra em várias vertentes, a saber: na criação de um centro de arbitragem institucionalizado,

a funcionar em estreita ligação ao Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais; na total independência dos tribunais arbitrais; no acesso generalizado à arbitragem pelos administrados/ contribuintes, mesmo os de menores posses; na tomada de decisões arbitrais de acordo com o direito constituído, sem quaisquer concessões a negócios ou pressões; e na fundamentação expressa dessas decisões e na sua publicidade, condição essencial à sua transparência e à sua exposição ao crivo crítico da comunidade, jurídica e outra”.“Tudo isto”, diz “são condições para o estabelecimento, em bases sólidas, de uma via célere e especializada, menos onerosa e mais informal, mas igualmente credível, de composição de litígios administrativos/tributários, naquelas áreas em que não seja necessária a intervenção de um tribunal do Estado”. Na sua opinião,

a credibilidade na arbitragem “tem que passar pela garantia da isenção, independência, imparcialidade e competência dos árbitros, quer através da aplicação de rigorosos critérios de recrutamento, quer através da instituição de um exigente regime de impedimentos, suspeições, escusas, afastamento, substituição e responsabilidade dos juízes-árbitros”.“Tudo isto existe já no regime de arbitragem fiscal a cargo do CAAD”, afirma. “O reconhecido êxito alcançado na atividade assim desenvolvida aconselha a aproximação entre esse regime e o da arbitragem administrativa, para que, nestas áreas do direito público, os tribunais estatais encontrem nos tribunais arbitrais parceiros condignos e unidos num objetivo comum: a realização da justiça em tempo útil, sem o que não poderá falar-se de um verdadeiro Estado de direito democrático”.Por sua vez, o presidente do Centro de Arbitragem Administrativa, Nuno Villa-Lobos, considera que “o acesso à justiça administrativa constitui um bem essencial para cada um de nós, cidadãos enquanto afirmação da própria cidadania e também uma condição sine qua non para o desenvolvimento do país”. Indica como principais problemas tradicionalmente apontados à justiça administrativa em Portugal “o excesso de pendências judiciais, a lentidão processual e os custos”. E acredita que “a arbitragem administrativa pode contribuir eficazmente na busca de soluções para estes problemas”. Garante que “nos últimos cinco anos, os passos dados têm sido decisivos para a credibilização da arbitragem pública. Desmistificaram--se medos e receios quanto ao uso da arbitragem nos litígios entre o Estado e os cidadãos, tendo o CAAD desempenhado um papel central nessa desmistificação, através de duas vias: a arbitragem administrativa desde 2009 e a arbitragem fiscal a partir de 2011”. Na sua opinião, o sucesso e a confiança na arbitragem administrativa geraram a confiança necessária para o surgimento da arbitragem fiscal. Crê que “se em cinco anos entraram cerca de 400 processos de arbitragem administrativa, apesar do número relativamente reduzido de entidades pré-vinculadas ao CAAD, o alargamento por exemplo a novos ministérios conteria em si o potencial para gerar uma pequena revolução silenciosa no contencioso da função pública em Portugal”. Nesse desafio, pensa que “o CAAD pode desempenhar um papel importante, porque tem já uma larga experiência

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o segundo painel contou com a moderação do Juiz Conselheiro António Bento São Pedro, vogal do Conselho Deontológico

do CAAD. Na intervenção inicial, o árbitro do CAAD Mark Kirkby assinala que “falar de arbitragem e contratos administrativos é entrar diretamente na discussão sobre a arbitrabilidade no direito administrativo”, isto é, na discussão sobre que matérias e relações jurídicas regidas pelo direito administrativo podem ser subtraídas aos Tribunais do Estado e submetidas à apreciação por árbitros escolhidos pelas partes. O advogado refere que “nenhum obstáculo existe hoje a que uma previsível alteração do Código do Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA) venha a consagrar a possibilidade de submeter à arbitragem as questões relacionadas com a validade, interpretação e aplicação da generalidade dos atos administrativos”. Defende que “já há base para sustentar que os árbitros possam apreciar a validade de atos administrativos praticados nos procedimentos de formação dos contratos públicos no quadro da apreciação da “(in)validade consequente do próprio contrato”. Isto é, sabendo-se que são inválidos os contratos no caso de serem inválidos os atos procedimentais em que tenha assentado a sua celebração, o advogado entende que o regime legal em vigor permite que ambas as questões de invalidade, dos atos antecedentes e dos contratos consequentes, sejam apreciadas no mesmo processo arbitral, não sendo de admitir que a impugnação do ato administrativo

procedimental se tenha que fazer em ação especial a intentar nos tribunais administrativos.Em termos de direitos confiados à arbitragem, o Conselheiro Jorge Lopes de Sousa, árbitro do CAAD em matéria administrativa e tributária, indica como limite a eficiência para a justiça. “Um Estado de Direito tem de assegurar tutela judicial e ou a consegue fornecer diretamente ou então tem que permitir que seja conseguida por outra via”, refere. O Conselheiro vê a arbitragem como uma necessidade prática de assegurar a tutela judicial e alerta que os tribunais “para serem tribunais têm que ser imparciais”. Acredita que a arbitragem tem várias vantagens, “evidentes a nível económico”, nomeadamente os juros indemnizatórios que são menores se o processo se resolver depressa. Chama ainda a atenção que o processo de recrutamento e seleção dos árbitros em matéria tributária e administrativa deve ser ainda “mais rigoroso” do que na arbitragem em geral. “Tem de haver maior controlo”, diz. Na sua opinião, tudo o que envolve dinheiros públicos tem de ter um controlo adequado.Por sua vez, João Tiago Silveira, do Instituto de Ciências Jurídico Políticas da FDUL afirma que “o CAAD tem sabido crescer de forma exemplar”. “Os conflitos de direito administrativo que julga têm sido rapidamente resolvidos, pois o tempo médio de decisão é de 3,7 meses e o número de processos e de aceitações prévias da sua jurisdição tem crescido”, nota. “Atualmente, os ministérios

de gestão processual quer na área administrativa, quer na área fiscal, onde no espaço de três anos já foram constituídos cerca de 1000 Tribunais Arbitrais, mantendo-se o tempo de decisão inferior a quatro meses e meio”. Assume que “este sucesso resultou da convergência de diversos fatores e vontades”, salientando “a ligação que existe entre o CAAD e o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF)”. “Tem sido um excelente exemplo de complementaridade na resolução dos problemas da justiça portuguesa”, adianta. Destaca o exemplo de Santos Serra como “uma inspiração” e uma “elevada fasquia para o futuro”. “A Fasquia continua a ser a de sempre: dar um contributo relevante para a resolução dos problemas da justiça em Portugal, cientes de que está em causa não só um direito fundamental dos cidadãos, como também o próprio desenvolvimento do país. Temos, porém, a consciência de que o caminho é longo, e que não devemos baixar a guarda perante os sucessos alcançados”. Villa-Lobos está seguro que “o capital de confiança já acumulado pelo CAAD, quer junto da Administração Pública, quer junto dos cidadãos, augura um futuro risonho para a arbitragem pública em Portugal”. Este painel foi concluído pelo professor da FDUL Domingos Soares Farinho, que afirma que “não existem obstáculos jurídicos substantivos à utilização da mediação administrativa, embora existam escolhas procedimentais, sendo os principais obstáculos de natureza organizacional e administrativa”. Aponta como as duas razões que podem impedir a disseminação da mediação administrativa “a renitência dos decisores administrativos em aceitarem discutir e/ou alterar uma atuação jurídica sua em ambiente de mediação e a suspeição sobre a qualidade e a mais-valia do mediador”. “Aprovado um quadro legal da mediação de litígios jurídico--administrativos e tomadas medidas para responder aos obstáculos, a mediação como forma de resolução de conflitos apresenta-se como uma opção preferencial num grande número de conflitos jurídico-administrativos, incluindo mesmo, intra-administrativos”, nota. “De um ponto de vista legal, sendo já hoje possível a realização de mediações de litígios jurídico-administrativos, é recomendável que a lei preveja passos procedimentais e substantivos específicos, por exemplo quanto à homologação de acordos. Com isto se conseguirá assegurar uma maior

eficácia da mediação e confiança por parte de todos os agentes envolvidos”.Para além do adequado enquadramento legal, Domingos Farinho considera que devem ser dados dois incentivos à mediação de conflitos jurídico-administrativos: “Em primeiro lugar, urge integrar a mediação nos valores e discurso da Administração Pública, através de uma cultura top-down de promoção e aceitação da mediação como mais uma garantia dos administrados e mais uma forma de conseguir eficiência na prossecução do interesse público. Por outro lado, é necessário apostar na formação como forma de credibilizar a mediação administrativa e aumentar a confiança e qualidade nos resultados a obter. Aqui, centros de arbitragem, sociedades de advogados e universidades têm um papel decisivo a desempenhar”.

dr. nuno villa-lobos

conselheiro manuel fernando dos santos serra

prof. doutor domingos soares farinho

prof. doutor vasco pereira da silva

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mestre marK KirKbY

mestre JoÃo tiago silveira

conselheiro Jorge lopes de sousa

dr. nuno lousa

conselheiro antÓnio bento sÃo pedro

questÕestransversais

da Justiça, Educação e Ciência e Cultura já aceitam que o CAAD julgue conflitos que os oponham a cidadãos e empresas em matéria de funcionalismo público e contratos, entre outras. E vários estabelecimentos de ensino superior público também já o aceitaram”. Regista igualmente como vantagem que “as custas são, em regra, mais baixas do que nos tribunais do Estado”. “É uma experiência a incentivar e desenvolver”, diz.Vê, assim, com “bons olhos o alargamento de competência do CAAD, pois este centro de arbitragem apresenta vantagens evidentes para os utilizadores dos serviços de Justiça, que procuram decisões rápidas e de confiança, com a força de sentenças judiciais. Faria todo o sentido que o CAAD pudesse julgar litígios em matéria de urbanismo e que os municípios aceitassem a sua jurisdição para os conflitos que os oponham a cidadãos ou agentes económicos em processo relativos à possibilidade de construir ou reabilitar edifícios”. “Também poderia ser muito útil que o Estado aceitasse que os litígios relativos a contratos ao abrigo dos quais serão concedidos auxílios comunitários no período 2014/2020 fossem julgados pelo CAAD”, refere. “Tendo em conta que a reabilitação urbana começa a crescer e que nos próximos anos teremos mais de 21 mil milhões de euros para investir com fundos comunitários, aqui está uma boa forma de o sistema público de Justiça poder ajudar a melhorar a economia”, sugere.

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segundo JoÃo tiago silveira “o caad tem sabido crescer de modo exemplar”

O painel foi finalizado por Nuno Lousa, que sublinha “o risco que existe no atual quadro legislativo, que surge potenciado no quadro legislativo que se avizinha”. “Parece-me perfeitamente justificado o alargamento da arbitrabilidade no campo do direito administrativo e saúdo a preocupação que existe no sentido de assegurar a transparência das arbitragens nesse domínio, conferindo publicidade às decisões arbitrais, conforme, aliás, se encontra previsto”. “Aquilo que já não me parece tão bem”, diz “é que pela mesma porta da arbitrabilidade entre também a equidade”. Na sua opinião, são “realidades diferentes”. “Arbitrabilidade não significa necessariamente equidade. Temos que separar muito bem as coisas, sob pena de corrermos fortes riscos e de termos situações muito desagradáveis no futuro”. Entende que esta situação levanta “questões desafiantes no que toca ao modelo de atuação da administração pública”. E questiona: “Se os efeitos da inclusão no contrato administrativo de uma cláusula compromissória em que se preveja que um litígio deve ser julgado de acordo com a equidade não têm efeitos na própria execução do contrato?” “O advogado questiona o sentido da administração pública colocar a equidade como forma de resolução do litígio com o particular quando celebra um contrato. “No âmbito da execução rege-se pelo direito estrito, mas sabe que se houver algum litígio e for para tribunal arbitral, a questão vai ser analisada no âmbito da equidade”, nota. “Uma segunda questão tem que ver com os critérios que devem presidir à atuação da administração pública quando confrontada com a possibilidade de aceitar ver os litígios que a envolvam ser resolvidos pela equidade. E a questão é ainda mais pertinente quando o sentido da equidade não é inequívoco nem unívoco”, acrescenta.

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áreasSecToriAiS

O terceiro painel contou com a intervenção inicial do árbitro do CAAD, Pedro Madeira de Brito, o qual afirmou que “seria interessante ponderar a existência de um sistema público de mediação especializada em saúde, à semelhança do que existe para outras áreas”. “Teria que ter a cautela de resolver na integralidade os litígios e assumir as particularidades que o direito da saúde tem, nomeadamente a circunstância de se situar nalguns casos em zonas de indistinção do direito público e do direito privado, e noutros casos com capacidade para resolver todos os litígios que podem surgir no contexto da saúde”. Chama a atenção, portanto, que o ângulo de intervenção desse sistema de mediação especializado “teria que ser bem calibrado do ponto de vista jurídico”.Por seu lado, a professora da FDUL, Carla Amado Gomes, alerta que “a mediação pode desviar o foco da competência administrativa de fiscalização, inspeção e regulação”. “A Administração não pode aproveitar a existência deste mecanismo para abdicar do exercício das suas competências de regulação e fiscalização”, diz. “Não sou terminantemente contra, mas a minha posição de partida é muito cética”, sublinha.Já o advogado Paulo Graça crê que “o conjunto legislativo consubstanciado pela Lei n.º 12-A/2008, de 27/02 e pela Lei n.º 59/2008, de 11/09, entretanto revogadas pela Lei n.º 35/2014, de 20/06, que aprovou a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, modificou o paradigma da relação jurídica de emprego público, passando a assumir o contrato de trabalho em funções públicas como vínculo predominante”.“Este paradigma era antes constituído pelo vínculo de nomeação por tempo

indeterminado, consubstanciada num ato por força do qual o funcionário era autoritária e unilateralmente investido numa posição jurídica que se dizia estatutária, porque modificável por força de lei, aplicada mediante atos administrativos, sem que o mesmo pudesse invocar direitos adquiridos, e ao qual, com a aceitação, aderia passivamente, porquanto a mesma era entendida não como requisito de perfeição mas de eficácia do ato de nomeação”, diz.“Tendo a lei passado a assumir o contrato de trabalho em funções públicas como vínculo predominante, a respetiva bilateralidade impede a Administração Pública de o executar através de ato administrativo, dotado do privilégio de execução prévia, passando o que antes se qualificava como ato administrativo a valer como mera declaração contratual, cuja execução coerciva depende do escrutínio judicial e que apenas pode executar-se nos termos de sentença que a reconheça a legalidade do seu conteúdo, em cujo cumprimento condene”.Considera, como tal, que “a

arbitragem administrativa, pelas características de especialização e, sobretudo, de celeridade, se assume como meio privilegiado de garantia da legalidade permitindo, quer às entidades públicas, quer aos agora chamados trabalhadores em funções públicas a definição rápida e correta dos seus dissídios”.O painel foi concluído pelo professor da FDUL e árbitro do CAAD, João Miranda, segundo o qual “agora que se alargou o escopo do art.º 3º do Regime Jurídico

prof. doutor pedro madeira de brito

prof. doutora susana videira

prof. doutor rui guerra da fonseca

prof. doutora carla amado gomes

dr. paulo graça

prof. doutor JoÃo miranda

a arbitragem administrativa permite às entidades públicas e aos trabalhadores a definiçÃo rápida e correta dos seus dissídios

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da Urbanização e Edificação, prescrevendo um conjunto bastante alargado de matérias que podem ser disciplinadas, pode ser que por essa via, indiretamente, se acabe por dar uma nova vida à arbitragem no âmbito do direito da urbanização e edificação”. “Não tem havido muitas situações de recurso à arbitragem, mas também me parece que os casos de arbitragem administrativa ainda são escassos”, nota. Pensa, porém, que “no urbanismo, é possível que esses casos venham a aumentar nos próximos tempos, sobretudo, ao nível da interpretação e aplicação de regulamentos municipais de urbanização e edificação”.A sessão de encerramento esteve a cargo da diretora-geral da Direção-Geral de Política de Justiça e professora da FDUL, Susana Videira. “Consciente das vantagens da arbitragem, o Governo manteve a aposta no desenvolvimento da justiça arbitral, nomeadamente nos campos da justiça civil, comercial, administrativa e fiscal”, diz. “Para o efeito, logo em 2011, apresentou uma proposta de lei com o objetivo de instituir um regime de arbitragem voluntária, que veio a ser aprovado.

“o caad tem vindo a alcançar com sucesso os obJectivos que presidiram à sua criaçÃo”

Portugal aderiu aos padrões internacionais mais relevantes em matéria de arbitragem, por forma a tornar este meio alternativo de resolução jurisdicional de litígios mais competitivo, mas também mais transparente e mais apto a gerar segurança acrescida junto dos cidadãos e dos agentes económicos”. “O ano de 2014 tem-se revelado o ano da reforma da justiça administrativa”, nota, adiantando que “a atual reforma da justiça administrativa trará novidades em matéria da arbitragem administrativa”. Entre as principais alterações no recente projeto do CPTA salienta “a ampliação das matérias jurídico-administrativas; a consagração expressa de que as decisões proferidas pelos tribunais administrativos podem ser impugnadas nos termos e fundamentos estabelecidos na lei da arbitragem voluntária, assim como a aplicação obrigatória por via informática em base de dados organizada pelo Ministério da Justiça das sentenças arbitrais que venham a transitar em julgado”. “Sabemos que a aprovação de novas medidas legislativas não

arbitragem realizada no CAAD”. Por um lado, “dispõe de uma lista de árbitros de inquestionável nível, todos especializados em direito administrativo, o que é garantia de decisões de elevada qualidade”. Por outro lado, “o CAAD é o único centro de arbitragem a funcionar sob a égide do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, sendo responsável pela salvaguarda da independência e imparcialidade, bem como pela idoneidade e competência dos árbitros”.

é bastante para que o sistema de justiça progrida e faça o seu caminho. Por razões de ordem predominantemente social e atendendo à particular importância de certas áreas, o Ministério da Justiça vem apoiando alguns centros de arbitragem voluntária institucionalizada. No que diz respeito à arbitragem administrativa, o CAAD é um excelente exemplo de que o investimento nos centros de arbitragem institucionalizada pode claramente contribuir para os cidadãos terem uma justiça cada vez mais efetiva, mais célere e pronta nas áreas da sua intervenção”.Para Susana Videira, “o CAAD tem vindo a alcançar com sucesso os propósitos que presidiram à sua criação, propiciando uma resolução de litígios mais célere que os tribunais administrativos e fiscais. As custas são mais baixas do que aquelas que são praticadas nos tribunais administrativos e fiscais. A tramitação do processo é simples e sem formalismos excessivos, é gerida eletronicamente pelo Centro, o que torna o processo mais eficiente”. A responsável destaca ainda dois aspetos “basilares para o sucesso da

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caad – centro de arbitragem administrativa avenida duque de loulé n.º 72 a | 1050-091 lisboa

t. +351 21 318 90 [email protected]

conference

O Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito de Lisboa (ICJP) e o Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD) representados pelos seus Presidentes, Prof. Doutor Jorge Miranda

e Dr. Nuno Villa-Lobos, respetivamente, celebraram, em 17 de outubro de 2014, no Conselho Científico da Faculdade de Direito de Lisboa, um protocolo de colaboração.

Nos termos do protocolo celebrado, ambas as instituições podem, designadamente, desenvolver iniciativas e projetos conjuntos.

Dr. Nuno Villa-Lobos - Presidente do CAADProf. Doutor Jorge Miranda - Presidente do ICJPProf. Doutor Carlos Blanco de Morais - Vice-Presidente do ICJP

Dr. Nuno Villa-Lobos - Presidente do CAADProf. Doutor Jorge Miranda - Presidente do ICJP

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21 advocatus outubro 2014

A 17 de dezembro de 1994, 46 países, incluindo Portugal, assina-ram em Lisboa o Tratado da Carta da Energia. Foi um acontecimento histórico, só possível graças ao co-lapso do império soviético, mas a que poucos jornais internacionais deram relevância. Pela primeira vez na história, o investimento ex-terno em todo um setor da econo-mia global passava a ser protegido pelas disposições de um tratado multilateral. E o TCE não se limita, como poderia supor-se, a tutelar

juridicamente o investimento nas fontes energéticas mais tradicio-nais, como o petróleo ou o gás na-tural. Estão por ele abrangidas to-das as fontes primárias de energia, fóssil ou renovável, e até a energia nuclear. Por outro lado, o tratado protege os direitos dos investido-res tanto diretos como indiretos, desde as empresas operadoras até às fornecedoras de equipamento e capital para o setor energético.A proteção jurídica que o TCE pro-porciona aos investidores originá-rios dos países que são parte do mesmo (presentemente 52 estados e 2 organizações internacionais, in-cluindo a União Europeia) não tem paralelo em qualquer outro instru-mento internacional similar. Que o diga a Federação Russa! No pas-sado dia 18 de julho, um tribunal arbitral ‘ad hoc’, composto por três eminentes juristas internacionais (um americano, um canadiano e um suíço), condenou o estado rus-so a pagar uma indemnização de 50 mil milhões de dólares (o equi-valente a 40 mil milhões de euros) a um grupo de sociedades con-troladas por 5 ‘oligarcas’ ex-acio-nistas da extinta petrolífera Yukos. O tribunal entendeu que a então maior empresa russa do ramo foi expropriada ilicitamente e por ra-zões de natureza política. Entre os beneficiários da sentença estão o ex-CEO da empresa Mikhail Kho-dorkovsky, libertado em dezembro último por perdão presidencial, de-pois de ter estado detido 9 anos nas cadeias de Putin.É uma decisão – na verdade trata--se de três arbitragens, cujas de-cisões diferem apenas no valor da indemnização e sua justificação –sem precedentes nos anais da jus-tiça comercial internacional. Desde

logo pelo montante da condena-ção, que equivale a 2,5 vezes o va-lor do PIB russo, ou 50% das suas reservas em divisas. Nunca uma sentença arbitral tinha excedido a vigésima parte desta indemniza-ção. Estamos a falar de dinheiro suficiente para pagar metade do empréstimo da troika a Portugal. O equivalente a 40 pontes Vasco da Gama!E, no entanto, a Rússia foi conde-nada ao abrigo de um tratado do qual verdadeiramente nunca foi parte. Assinou o TCE em 1994, mas depois de várias escaramuças jurídicas e diplomáticas, acabou por desistir da sua ratificação em 2009. Por “distração”(?) dos seus negociadores – a Noruega e a Aus-trália, por exemplo, estavam mais atentas – a Federação Russa ficou sujeita à sua aplicação provisória, prevista no tratado. Por outro lado e um tanto ironicamente, um trata-do concebido para proteger o in-vestimento estrangeiro vem agora beneficiar cidadãos russos, aliás pouco conhecidos pela sua integri-dade. É uma humilhação para Putin – e num valor que se diz ser supe-rior ao impacto financeiro de todas as sanções do ocidente impostas na sequência da crise da Ucrânia.A Federação Russa vai tentar anu-lar a decisão nos tribunais holan-deses. Dificilmente terá sucesso. Seguir-se-ão inúmeras batalhas jurídicas nos tribunais dos países onde existam bens do estado rus-so ou património que este contro-le. Neste caso estão, por exemplo, as ações do estado nas petrolífe-ras Rosneft ou Gazprom, empre-sas hoje cotadas nas praças euro-peias. A guerra (fria) nos tribunais ocidentais vai prolongar-se por muitos anos.

Arbitragemadvocatus.pt

“É uma humilhação para Putin – e num valor que se diz ser superior ao impacto financeiro de todas as sanções do ocidente impostas na sequência da crise da Ucrânia”

Sócio fundador da Miranda Correia Amendoeira & Associados

Caso Yukos: Tratado assinado em Lisboa

ameaça o KremlinA Rússia foi condenada ao abrigo de um tratado do qual verdadeiramente

nunca foi parte. Assinou o TCE em 1994, mas depois de várias escaramuças jurídicas e diplomáticas, acabou por desistir da sua ratificação em 2009.

“É uma decisão – na verdade trata-se de três arbitragens, cujas decisões diferem apenas no valor da indemnização e sua justificação – sem precedentes nos anais da justiça comercial internacional”

AgOSTINhO PEREIRA

DE MIRANDA

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22 advocatus outubro 2014

Entrevista

António Serra Lopes é advogado há 53 dos seus 80 anos de vida. Escolheu a profissão inspirado pela visão romântica da mãe, que acreditava que advogado é aquele que ajuda os outros. Exerce-a socorrendo-se da visão quixotesca de que onde quer que haja injustiça é preciso apontar a lança. E aponta-a, nomeadamente, àquilo que designa como a proletarização da Ordem.

António Serra Lopes, sócio fundador da Serra Lopes Cortes Martins

“É preciso apontar a lança”

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Fátima de Sousa, [email protected]

Advocatus | Completou 80 anos de vida e 53 de advocacia. O que o levou para a profissão? António Serra Lopes | Não tenho nenhuma ascendência de advoga-dos. A minha família era modesta, o meu pai empregado comercial e a minha mãe dona de casa. Eu era o melhor aluno da instrução primá-ria. Não me lembro exatamente de quando é que se começou a falar do que eu queria ser, mas lembro-me de que gostaria de ser maquinista de comboio. Houve uma altura em que pensei ser piloto, mas achava que maquinista tinha mais dignidade. Um dia estava a falar com a minha mãe quando ela me perguntou se não gostaria de ser advogado. Não era muito conciliável com ser ma-quinista de comboio… Perguntei o que fazia um advogado e a minha mãe, que não era da arte, respon-deu que um advogado defende pessoas, ajuda-as. A minha reação foi “então, se ajuda pessoas, eu quero”. E pus na cabeça que ia ser advogado. Nunca mais pensei nou-tra coisa.

Advocatus | Pensa que essa sín-tese da sua mãe se mantem vá-lida?ASL | Deve ser assim. Um advoga-do deve, obrigatoriamente, ter pedi-gree no sentido de saber, de ser há-bil, mas principalmente de perceber a vida. O Código de Hamurabi, que é a primeira coisa que conhecemos de Direito escrito, tem coisas curio-sas como o vizinho ter a obrigação de varrer a sua porta mas também a do lado. É o bom senso. À medida que vamos avançando na vida, o Di-reito avança também e passa a ocu-par-se de tudo, a ligar-se com duas coisas extremamente importantes que são a política e a economia. Não sei se a minha mãe sabia mui-to bem o que fazia um advogado. Sabia para que servia, havia uma cristalização de que ser advoga-do era bom e eu alinhei. Casei com uma advogada, tenho uma filha e uma neta advogadas. Já há cinco Serra Lopes advogados.

Advocatus | Mas era uma visão ingénua da profissão?ASL | É o que se chama uma over-simplification. Na verdade, espera--se do advogado que, ao cumprir as suas funções, seja melhor do que outro profissional qualquer. Em quê? Em honestidade e, sobretu-do, em compreensão pelos outros. No meio das minhas literaturas, havia uma frase do Sartre de que gostava muito – “J’ai la passion de

vem dizer sempre a verdade toda. A resposta é que nem sempre se tem de dizer a verdade toda, mas sempre se deve evitar ocultar a ver-dade que foi perguntada. É difícil. Advocatus | Em 1975 foi para o Brasil. Foi a política que o fez mudar-se?ASL | Não foi por perseguição polí-tica, mas Portugal era um país incó-modo para mim. Era diretor jurídico do grupo CUF que, nessa altura, por estranho que pareça hoje, faturava 7% do PIB português. Comecei por baixo. Tinha 25 ou 26 anos. Quan-do soube que estavam à procura de um advogado concorri e fui escolhi-do. Mas, graças ao meu gosto por línguas, fui progredindo bastante e acabei por passar do contencio-so da CUF para a holding, onde se

comprendre les hommes”. E uma das maneiras mais notáveis de compreender os homens, aí com-preendidas as mulheres, é ser ad-vogado. Porque ser advogado im-plica necessariamente uma ou duas qualidades pessoais, honestidade e bondade para com os outros. Depois, basta que me pergunte se eu não sei que há advogados de acusação e de defesa para isto ser posto em causa. Mas são pontos de vista diferentes. Há advogados de acusação porque determinadas pessoas são acusadas de não te-rem cumprido a lei. E há advogados de defesa que têm como função mostrar que ou a pessoa não fez aquilo ou aquilo que fez não viola a lei. Claro que isso coloca muitos problemas. Os meus variados esta-giários às vezes perguntam se de-

“Os meus variados estagiários às vezes perguntam se devem dizer sempre a verdade toda. A resposta é que nem sempre se tem de dizer a verdade toda, mas sempre se deve evitar ocultar a verdade que foi perguntada”

“Perguntei o que fazia um advogado e a minha mãe, que não era da arte, respondeu que um advogado defende pessoas, ajuda-as. A minha reação foi ‘então, se ajuda pessoas, eu quero’. E pus na cabeça que ia ser advogado. Nunca mais pensei noutra coisa”

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Entrevista

controlavam os aspetos jurídicos do grupo que tinha 180 sociedades. Quando aconteceu a revolução era diretor jurídico. Politicamente, na CUF nunca me colocaram quais-quer objeções. Eu não tinha parti-do, até porque não havia partidos, exceto o Comunista, mas tinha uma notória simpatia pelo socialismo, devido a amigos como Mário Soa-res e Jorge Sampaio. A certa altu-ra, verifiquei que estava a dirigir os aspetos jurídicos de uma entidade que todos os dias era decepada. As empresas estavam a ser ocupadas, nacionalizadas. Aquele clima per-secutório foi para mim, depois das alegrias do 25 de abril, preocupante. Eu já ia muitas vezes ao Brasil, por-que tínhamos clientes brasileiros e clientes portugueses no Brasil. E numa dessas vezes, o Gouvêa

Vieira convidou-me a ficar a tra-balhar no escritório dele, com o argumento de que Portugal estava virando Cuba. Ofereceu-me um lu-gar de advogado sénior. Eu estava no Brasil por causa de um concurso da Lisnave, mas era julho, o mês de aniversário da minha mulher, e ela e os miúdos foram ter comigo. Con-versámos e decidimos ficar. Aceitei o convite e a minha mulher, que em Portugal era diretora jurídica da Im-pério, ficou como diretora da maior companhia de seguros brasileira.

Advocatus | Cinco anos depois, faz o caminho inverso. Desiludiu--se com o Brasil?ASL | Trabalhei cinco anos no Bra-sil e gosto do Brasil como país, como local para ter amigos, mas não gosto do pendor classista,

“Uma das maneiras mais notáveis de compreender os homens, aí compreendidas as mulheres, é ser advogado. Porque ser advogado implica necessariamente uma ou duas qualidades pessoais, honestidade e bondade para com os outros”

não gosto como local onde rico é amigo de rico e pobre é amigo de pobre, onde, numa população de 200 milhões de habitantes, havia 70 milhões em miséria absoluta. Nesses cinco anos, houve duas visitas portuguesas, uma do Mário Soares e outra do Ramalho Eanes. O Brasil pululava de técnicos portu-gueses, que sentiam, como eu, que não havia saída para nós em Portu-gal, que tinha medo da incerteza. Já tinha passado um bocado a loucura gonçalvista, mas não totalmente. Fizeram-se reuniões destinadas à chamada nova emigração portu-guesa, com o intuito de nos incitar a voltar. Diziam que já tinha sido aprovada a Constituição, mas ain-da havia o Conselho da Revolução. A pátria chamava-nos e eu tinha cá os meus pais que morriam de

“Nenhum de nós é filiado em nenhum partido, não metemos cunhas ao governo. Temos uma lista de clientes de que fazem parte os descendentes dos dois Mello, temos cerca de 300 clientes”

“Os advogados podem concorrer a deputados. Porém, não tenho a menor dúvida de que, se forem eleitos, devem suspender a atividade. Escolhem: ou são advogados ou são deputados. Ambas são renunciáveis”

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saudade. Por outro lado, os meus filhos, que estavam na idade da universidade, estavam a virar bra-sileiros. Conversei com a minha mulher e decidimos voltar. O Bra-sil não era o meu cup of tea. Du-vido que qualquer outro país do mundo seja. As raízes são fortes.

Advocatus | Foi fácil retomar a advocacia após essa ausência? ASL | Nessa altura, corriam os pro-cessos instaurados pelo Sá Carnei-ro contra O Diário. O jornal havia lançado a notícia de que ele devia dinheiro ao banco. O que aconte-ceu é que ele e o Ricardo jogavam na bolsa, que era extremamente favorável. Uns dias antes do 25 de abril, pediram dinheiro ao banco para comprar ações da Tranquili-dade, mas deu-se entretanto a re-volução e ficou tudo congelado, a banca foi nacionalizada. Só que o comité soviético do Banco Espírito Santo fez circular que o Sá Carneiro devia dinheiro. Ainda hoje se lê nas paredes do Alentejo “Sá Carneiro paga o que deves”. Não o deixavam vender as ações, mas exigiam que ele pagasse e faziam a conta com os juros, na altura incomensuráveis. O Francisco Sá Carneiro pôs um processo contra o jornal e quando ele morreu a família deu seguimen-to às oito ações. O advogado de-les era o Eduardo Figueiredo, que entretanto ficou doente. Uma das ações era na Boa Hora, no 8º juízo, e era preciso subir uns cinco anda-res. Ele não conseguia, por causa da doença, e o Ricardo Sá Carneiro,

A proletarização da OrdemPela primeira vez, Portugal tem uma mulher na pasta da Justiça e outra à frente da Ordem dos Ad-vogados. Sobre a primeira, Antó-nio Serra Lopes não se pronuncia por uma questão de princípio: afi-nal, Paula Teixeira da Cruz foi sua aluna e estagiária. Sobre a segun-da, diz apenas que não conhece e que nunca a viu pessoalmente. Houve outra bastonária antes, a sua própria mulher, Maria de Jesus Serra Lopes: diz o advo-gado que foi o primeiro bastoná-rio consorte, o único até agora. Não conhecer Elina Fraga não

significa que Serra Lopes não tenha opinião sobre a instituição. Explica que a advogada tenha sucedido a Marinho e Pinto, que cumpriu dois mandatos consecutivos, em função de um fenómeno de proletariza-ção de uma Ordem que, até então, havia sido elitista. E proletarizou--se porque há nove mil advoga-dos que vivem do apoio judiciário. Na sua perspetiva, o que está a acontecer é um envilecimento da Ordem: “deixámos que em Portugal se perdesse a dignidade da profissão de advogado”, critica. Responsabili-za o anterior bastonário por aquilo

que designa como a manobra de criação de um organismo por ele tutelado para responder ao apoio judiciário. Criou – diz – um circuito aberto, mas com numerus clau-sus: “encheu e fechou”. Depois disso, “deu diversas entrevistas em que repetiu quase monotona-mente a expressão ‘os calabouços estão cheios de presos defendi-dos por estagiários’”. Serra Lopes rejeita esta ideia e desafia Marinho e Pinto a enviar-lhe casos desses e o resultado de casos semelhantes defendidos por advogados do cír-culo fechado da Ordem.

“Quando aconteceu a revolução era diretor jurídico. Politicamente, na CUF nunca me colocaram quaisquer objeções. Eu não tinha partido, até porque não havia partidos, exceto o Comunista, mas tinha uma notória simpatia pelo socialismo, devido a amigos como Mário Soares e Jorge Sampaio”

“Há um jornalismo de tribunal que é característico de alguns jornais e que é batoteiro, de influência, de sensação barata. Há umas ovelhas negras. No processo da Casa Pia, por exemplo, houve jornais que estavam nitidamente contra os arguidos, queriam satisfazer a fúria popular”

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Entrevista

que era o representante da família, convidou-me. Quando o Eduardo Figueiredo morreu, fiquei com os oito processos. O que me valeu ser considerado o advogado do PSD e do Sá Carneiro.

Advocatus | Entretanto fundou a sua sociedade…ASL | Quando me formei, eu e a minha mulher tínhamos um sonho, que era ter um escritório, mas só chegámos a ter um escrit… Alu-gámos um espaço na Rua da Pra-ta: quando eu recebia um clien-te, a minha mulher saía, quando ela recebia um cliente saía eu… Depois passámos para um escri-tório razoável na Avenida Joaquim António de Aguiar. Já tínhamos mais uns quatro ou cinco advoga-dos. Eram colegas que trabalhavam connosco e dividiam a renda por-que, nessa altura, as sociedades de advogados eram proibidas. Os

Um verbo não conjugávelDos 53 anos de profissão, António Serra Lopes não escolhe momen-tos mais marcantes do que ou-tros. Destaca apenas a alegria de ganhar processos por oposição ao desgosto de os perder, na lógi-ca de que “a mágoa dura sempre mais”. Além disso, há perder e per-der, tudo depende – diz – do que se entender por perder um processo. Vai a tribunal com muito gosto, até porque sempre gostou da barra: “Fui jogador de xadrez, não era profissional mas joga-va torneiros. E gosto muito de jogar, porque obriga a pensar e a prever. Para mim, uma audiên-

cia com um juiz inteligente e um advogado inteligente da outra parte é perfeitamente desejável. Acho o julgamento uma disputa gira… É um exercício intelectual”. Com 80 anos de vida, não pensa em reformar-se: “gosto muito de viajar, mas já viajei tudo, gosto de ler, mas já não consigo ler todos os livros do mundo…”, comenta. Mas o mais importante é que, para António Serra Lopes, reformar--se é um verbo não conjugável. “Agora ter-se lucidez para pen-sar, para falar, para escrever, para interrogar, haverá uma altura em que se não tem”.

Para mim, uma audiência com um juiz inteligente e um advogado inteligente da outra parte é perfeitamente desejável. Acho o julgamento uma disputa gira… É um exercício intelectual”.

“A certa altura, verifiquei que estava a dirigir os aspetos jurídicos de uma entidade que todos os dias era decepada. As empresas estavam a ser ocupadas, nacionalizadas. Aquele clima persecutório foi para mim, depois das alegrias do 25 de abril, preocupante”

“Deixámos que em Portugal se perdesse a dignidade da profissão de advogado”

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A homenagem

António Serra Lopes marcou profundamente a advocacia portu-guesa nas últimas décadas. O elogio parte dos organizadores da homenagem que aconteceu no último dia 28, em Lisboa. Um dos promotores foi o sócio fundador da Miranda Correia Amendoeira & Associados, Agostinho Pereira de Miranda, que ao Advocatus frisou que a homenagem “visa destacar o exemplo de um advo-gado que, durante 50 anos, apenas quis servir a Justiça e que o fez com saber, coragem e um elevado sentido de cidadania”. “António Serra Lopes é tudo aquilo que eu queria ser quando me tornei advogado: corajoso, lúcido, generoso, ferozmente indepen-dente e muito divertido”, testemunhou.

“Só queria que o Estado fosse condenado a pagar 25 tostões ao Carlos Cruz. Isso queria dizer que havia culpa”

advogados não podiam associar--se para angariar clientes. Quando passou a ser possível, os Diários da República duplicaram… Foi no período da engenheira Pinta-silgo. A nossa foi das primeiras. Advocatus | Como olha hoje para o panorama das sociedades de advogados?ASL | A minha sociedade é espe-cial. Primeiro, apesar de o nosso principal núcleo ser o corporate, não somos advogados de negócios no sentido em que não fazemos ne-gociatas… Nenhum de nós é filiado em nenhum partido, não metemos cunhas ao governo. Temos uma lis-ta de clientes de que fazem parte os descendentes dos dois Mello, temos cerca de 300 clientes.

Advocatus | Há nessas palavras uma crítica à advocacia?ASL | Não é uma crítica à nossa advocacia em geral, mas a cer-tas pessoas que exercem a ad-vocacia penduradas num partido.

Advocatus | A este propósito, qual a sua opinião sobre os de-putados que também exercem a advocacia?ASL | Acho duas coisas e nenhu-ma delas é original. Primeiro, há deputados a mais, não são pre-cisos 230. Depois, há advogados a mais. Portugal tem inscritos na Ordem 29 mil advogados quando não precisaria de mais do que 14 mil. Proporcionalmente à popu-lação, tem três ou quatro vezes mais advogados do que França. Os advogados podem concorrer a deputados. Porém, não tenho a menor dúvida de que, se forem eleitos, devem suspender a ati-vidade. Escolhem: ou são advo-gados ou são deputados. Ambas são renunciáveis.

Advocatus | Voltando à sua car-reira. Além dos processos de Sá Carneiro, foi patrono de outras causas mediáticas. Lida bem com essa exposição?ASL | Nestes 50 anos, tive uma sé-rie de casos que me deram expo-sição pública. Além do processo do Sá Carneiro, tive os do Cadilhe, do António Oliveira contra o Ben-fica (no caso Vale e Azevedo)… Percebo que as pessoas tenham um certo gosto de ser ver no jornal, mas, se for só a fotografia pronto… Simplesmente, há um jornalismo

de tribunal que é característico de alguns jornais e que é batoteiro, de influência, de sensação bara-ta. Há umas ovelhas negras. No processo da Casa Pia, por exem-plo, houve jornais que estavam nitidamente contra os arguidos, queriam satisfazer a fúria popular. Advocatus | Esse processo em concreto arrastou-se por anos. Já está encerrado?ASL | O processo está longe de terminado, porque o Sá Fernan-des e eu temos pendente uma ação no Tribunal Europeu dos Di-reitos do Homem contra o Estado português pela morosidade, pela injustiça. Como sabe, o tribunal de Estrasburgo não interfere nos tribunais portugueses, apenas castiga o Estado, condenando-o a pagar uma multa. O processo fica igual, é só moral. Mas só queria que o Estado fosse condenado a pagar 25 tostões ao Carlos Cruz. Isso queria dizer que havia culpa. Além disso, temos a revisão ex-traordinária de sentença. Se, mes-mo com o trânsito em julgado da sentença, aparecerem elementos tão fortes que façam supor que a condenação é uma ofensa à justi-ça, podemos recorrer junto do Su-premo. Na minha vida toda, talvez tenha assistido a uma ou duas revi-sões conseguidas.

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Televisão

ETV/Advocatus | Existe, da par-te dos bancos e das sociedades financeiras, uma maior consciên-cia da importância dos serviços de validação de créditos?MAF | Há uma grande disparida-de. Há bancos que sim, há outros que não, depende da sensibilidade do que sofreram com a crise. Mas, a génese da crise está relaciona-da com a concessão de créditos, escolhia-se mal a quem se con-cedia o crédito ou os termos em que eram concedidos não eram os mais adequados. Quer por pres-são da comunicação social, quer pela opinião pública, por altera-ções legislativas comunitárias, in-ternacionais e também nacionais, os bancos corrigiram metade do problema, que é a análise de risco,

e passaram a ter mais prudência. Nessa área de análise de risco to-dos os bancos transversalmente mudaram. Mas a jusante, na parte de contratualização e formaliza-ção, houve bancos que mudaram e bancos que não. O que é curio-so, porque ainda há velocidades muito diferentes na banca nacional.

ETV/Advocatus | Relativamente a essas diferenças de abordagem, os bancos portugueses são mais “desleixados”?MAF | É mais ou menos igual. Criou--se uma cultura, que hoje sabemos que é errada, mas que ainda preva-lece em alguns sítios, que diz que a meritocracia está diretamente rela-cionada com o número. Por exem-plo, se fizer 500 operações e outro

“Há muitas operações que foram, à boa maneira portuguesa, sendo empurradas, havendo muita solicitação para fechar operações, sem o cuidado que era necessário”

colega 400, eu sou melhor. Mas se depois as minhas operações geras-sem prejuízo, era irrelevante, porque entretanto, já se tinham passado dois anos e isso não era contabiliza-do. Se, hoje em dia, há bancos que tiveram uma inversão de 180 graus e onde há um rigor muito grande, também há bancos que continu-am a funcionar da mesma maneira.

ETV/Advocatus | Pode-se dizer que há um segmento específi-co que tem menos cuidado na atribuição de crédito ou esses fenómenos acontecem em toda a banca? MAF | Continuam a existir. Hoje a generalidade dos bancos em Portu-gal apresenta contas trimestrais e, portanto, há muitas operações que

A validação de créditos foi o tema em destaque na entrevista do sócio fundador da Plataforma Legal, Miguel Almeida Fernandes, ao Direito a Falar, uma parceria entre o ETV e o Advocatus. Na emissão, o advogado defendeu que a banca já é mais cautelosa na análise de risco, mas ainda há muito a fazer na parte da contratualização.

Crédito: bancos só corrigiram metade do problema

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“Por um lado temos o Estado a descomplicar no sentido de agilizar o acesso aos fundos, por outro temos os bancos na ressaca de uma crise a quererem descomplicar sim, mas facilitar não”

foram, à boa maneira portuguesa, sendo empurradas, havendo muita solicitação para fechar operações, sem o cuidado que era necessário. Quando dizemos que determina-da operação não se deve realizar porque falta algum documento, a pressão é a do “nacional porreiris-mo”, que ainda se vai vivendo em alguns bancos em Portugal. Um exemplo: o crédito protocolado, chamado QREN ou PME, que é extramente sensível, o que acon-tece é que os tempos médios, da generalidade dos bancos em Por-tugal, desde que o cliente entrega toda a documentação ao seu ges-tor até ao momento em que tem o dinheiro disponível na conta, é de 95 dias, ou seja, mais de três meses. A Plataforma Legal tem a funcionar, com um parceiro desde junho, um modelo integrado que o faz em 25 dias, ou seja, reduz em 75% o tempo de espera. Isto é um aspeto extramente sensível. O crédito PME é um crédito pesa-do por natureza, porque temos o Estado, a sociedade de garantia mútua, as gestoras das linhas pro-tocoladas, os bancos, os clientes. Se conseguirmos integrar isto com muito rigor e muito otimizado, con-seguimos gerar valor na oferta ao cliente. Este valor é usado da ma-neira menos democrática, porque as instituições financeiras usam-no como um argumento concorrencial.

ETV/Advocatus | A validação, em termos gerais, passa por tratar todos os elementos do-cumentais necessários à atri-buição do crédito e à formali-zação do contrato?MAF | Dando um exemplo clássi-co: um casal que pede um finan-ciamento para comprar uma casa vai a uma análise de risco, hoje em dia mais cuidada, que assegura devidamente se tem capacidade para aquele endividamento e se consegue pagá-lo. Mas, depois, se o contrato não é bem formalizado, temos problemas. No mesmo exemplo, se há uma situação que provoca o incumprimento e se o contrato não foi bem celebrado,

“Quando dizemos que determinada operação não se deve realizar porque falta algum documento, a pressão é a do nacional porreirismo, que ainda se vai vivendo em alguns bancos em Portugal”

os bancos não conseguem aceder às garantias e é isso que gera as imparidades e que custa milhões a todos os bancos em Portugal.

ETV/Advocatus | A validação é um processo que tem vantagens para todos os intervenientes, quer para os bancos quer para os clientes?MAF | Trata-se de fazer tudo como se deve, o que não é fácil. Na Pla-taforma Legal, nestes cinco anos, celebrou-se para cima de 120 mil atos de contratos que titularam mais de mil milhões de euros. Nes-tes, não há um único caso que te-nha gerado um default ou impari-dade, e mesmo que houvesse, os

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seguros cobrem até 1,2 milhões por ato. Aqui é que está a vantagem, porque quando a banca é cuidada na análise de risco, mas depois não tem o mesmo cuidado na formaliza-ção, continua a gerar imparidades.

ETV/Advocatus | Os bancos têm de pensar a longo prazo e não em ganhos imediatos? MAF | É uma cultura que tem mudado, mas ainda não com-pletou esse ciclo de mudança.

ETV/Advocatus | Sentiu essa mu-dança nos últimos tempos por força do ajustamento externo? MAF | Esse ajustamento tem-se vindo a verificar, mas é um ajus-tamento que é fácil de entender pelas cúpulas dos bancos, mas depois, quando uma pessoa em Bragança quer o crédito, aí essa mensagem é difícil de passar.

É também um momento difícil para os bancos, que têm sofri-do reduções de colaboradores e fechado representações locais.

ETV/Advocatus | Essas reduções têm sacrificado as condições dos bancos avaliarem o crédito?MAF | Há menos pessoas a tra-balhar nos bancos e que têm de apresentar mais resultados. Por-tanto, a preocupação de uma pes-soa que está no balcão passa a ser comercial para atingir números.

ETV/Advocatus | Quais os seg-mentos em que é mais preocu-pante?MAF | Aquilo que é mais sensível para a economia quer pelo efeito multiplicador, quer pelo emprego, é o crédito imobiliário e as PME. No caso das PME há vontade política para ter melhores condições, daí

termos visto o QREN e as linhas de apoio a serem renovadas e o Esta-do a assumir parte do risco. Existe a vontade e tem que ser através das PME que se vai conseguir dar a volta à situação económica. Nas PME o processo é complexo e pe-sado, tanto que saiu uma altera-ção legislativa este mês e vai sair outra no sentido de descomplicar o processo. Mas, se por um lado temos o Estado a descomplicar no sentido de agilizar o acesso aos fundos, por outro temos os bancos na ressaca de uma crise a quere-rem descomplicar sim, mas facili-tar não. Tem de haver rigor e vive-mos nesta tentativa de equilíbrio.

ETV/Advocatus | A criação do Banco de Fomento terá efeitos positivos nesse domínio? MAF | Tenho dúvidas sobre o Banco de Fomento, mas tam-

“Criou-se uma cultura, que hoje sabemos que é errada, mas que ainda prevalece em alguns sítios, que diz que a meritocracia está diretamente relacionada com o número”

“Na área de crédito de habitação, junto dos nossos parceiros fazia-se, num mês normal, três mil operações de crédito habitação e em fins de trimestre cinco a seis mil operações, hoje em dia fazemos 200”

Televisão

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A crescer 300%

ETV/Advocatus | Quando é que foi fundada a Plataforma Legal e quantos advogados tem hoje?Miguel de Almeida Fernandes | A Plataforma Legal, neste mo-delo atual, foi criada em agosto de 2009, a partir da fusão de três sociedades de advoga-dos, uma no Porto e duas em Lisboa. No fundo, estas eram as sociedades com maior ex-pressão na área de crédito e daí nasceu a Plataforma Legal. Atualmente tem 176 advoga-dos e, a nível de colaboradores e de faturação, está no top 10 dos escritórios em Portugal, sendo líder no número de es-critórios, com 60 no país. É uma presença nacional unifor-me com escritórios na Madeira e em quatro ilhas dos Açores,

porque um dos desafios que se co-locava era de dar uma solução ge-ográfica uniforme. A plataforma tra-balha, sobretudo, com instituições financeiras, que atuam em todo o território nacional e onde temos que ter uma solução uniforme, em termos de serviços e de resposta.

ETV/Advocatus | Conseguir as-segurar o mesmo tipo de serviço em todo o território nacional é um desafio grande? MAF | É um desafio muito grande e passa por ter ações de forma-ção constantes, muito cuidado no recrutamento e um acompanha-mento exaustivo das operações. Nesse sentido, a Plataforma Le-gal é um escritório atípico, por-que há desde direções financei-ras, a auditorias, a métricas. São situações mais típicas de em-

presas do que, propriamente, de escritórios de advogados. ETV/Advocatus | Em temos de negócio, a Plataforma Legal tem crescido muito nos últi-mos anos? MAF | Nos últimos dois anos houve um crescimento conso-lidado de 300%, faturou-se, no ano 2013, 4,1 milhões de eu-ros, com o primeiro semestre deste ano a atingir 2,5 milhões.

ETV/Advocatus | São as socie-dades de advogados a divulgar os resultados financeiros…MAF | Para a Plataforma Legal é fácil. Para já, é uma questão moral e de princípio e, como os nossos clientes são instituições financeiras e seus clientes, tudo é faturado. Na Plataforma Legal há direção financeira, escritório de contabilidade e auditoria, por-que tem que haver total transpa-rência, caso contrário não fun-cionaria e é isso que permite o crescimento. Os primeiros dois anos foram complicados pois a atividade quebrou com a crise. Para dar um exemplo, na área de crédito de habitação, junto dos nossos parceiros fazia-se, num mês normal, três mil ope-rações de crédito habitação e em fins de trimestre cinco a seis mil operações, hoje em dia faze-mos 200. Quando se falava em quebras na ordem de 2% e 3%, era uma catástrofe. Depois, de repente, o mercado cai mais de 90%, o que obrigou a reajusta-mentos nos últimos anos.

bém tenho dúvidas sobre o Ban-co Público. Quando vejo o Esta-do a desempenhar funções dos privados em concorrência direta ou às vezes desleal, tenho dificul-dade em perceber que haja uma vantagem, enquanto cidadão, em que parte daqueles impos-tos seja alocada àquela atividade.

ETV/Advocatus | O Banco de Fo-mento pode ser útil para controlar a aplicação dos fundos, evitando situações menos claras? MAF | Se for assim, acho que sim. Mas acho que vai ser um elemento a somar às sociedades de garan-tia mútua, às linhas de gestores e ser mais um peso. As funções que vão ser desempenhadas podiam ser feitas pela Caixa Geral de De-pósitos. Se quisermos ser auda-ciosos, fica o Banco de Fomento e a Caixa nessas áreas. Porque na área de formalização de crédito, aquela em que a Plataforma Legal atua, vivemos em concorrência di-reta em parte dos nossos serviços com as conservatórias, o serviço casa pronta e os notários. Mas en-quanto a Plataforma Legal tem de

“Tenho dúvidas sobre o Banco de Fomento, mas também tenho dúvidas sobre o Banco Público”

“Nos últimos dois anos houve um crescimento consolidado de 300%, faturou-se, no ano 2013, 4,1 milhões de euros, com o primeiro semestre deste ano a atingir 2,5 milhões.”

ter uma rentabilidade financeira, as conservatórias não. É um papel que o Estado está a desempenhar e que não faz de todo sentido.

ETV/Advocatus | Qual o feedback que recebe, em termos de pers-petivas para a economia no pró-ximo ano, no tecido empresarial português e nas famílias?MAF | A nível das instituições de crédito e das empresas, considero que há, ainda de forma ténue, um

sentimento positivo. Será um ano de crescimento ligeiro, foram im-plementadas reformas profundas, que têm dado resultados e as pers-petivas são otimistas. O crédito às PME é também um sinal positivo e tem um efeito multiplicador muito rápido, gerando emprego. Do pon-to de vista dos cidadãos ainda não se sente, as pessoas estão muito retraídas e expectantes, pois foram muitos anos de crise, de falta in-vestimento e de desemprego.

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Jet Advocatus

O Orçamento visto pela MirandaAs principais medidas fiscais do Orçamento do Estado para 2015 estiveram em análise no dia 21 de outubro numa iniciativa da Miranda Correia Amendoeira & Associados que encheu o auditório do hotel de Lisboa onde se realizou. Foram convidados figuras como o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais António Carlos dos Santos e o consultor fiscal e ex-diretor de serviços do IRS Manuel Faustino, que debaterem a reforma do IRS e da fiscalidade verde. Para este tema contribuíram também os sócios da Miranda Samuel Fernandes de Almeida e Luís M. S. Oliveira. Em foco estiveram também as questões da supervisão bancária na União Europeia, introduzidas pelo editor de economia do Financial Times, Chris Giles. Já as perspetivas económicas para 2015 foram debatidas pela ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite e pelo economista Manuel Caldeira Cabral. Este seminário contou com o apoio institucional de UK Trade & Investment, da Câmara de Comércio Luso-Britânica, da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã e da Dutch Portuguese Chamber of Commerce.

O presidente da Miranda, Agostinho Pereira de MirandaMaria Gouveia de Oliveira, associada sénior da Miranda

Rui Amendoeira e João Afonso Fialho, na plateiaSamuel Fernandes de Almeida, da Miranda

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advocatus.pt

O Orçamento visto pela Miranda

A ex-ministra das Finanças, Manuela Ferreira LeiteO editor de Economia do Financial Times, Chris Giles

O painel que debateu a reforma da fiscalidadeCatarina Távora, sócia da Miranda, com Agostinho Pereira de Miranda

O ex-diretor de serviços IRS, Manuel FaustinoEm primeiro plano, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Carlos dos Santos

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Descobri Alfredo Echenique e “Um mundo para Julius” em 2006. Con-seguiu ultrapassar, na minha lista de preferências, nomes como Ga-briel García Marquez, Mário Var-gas Llosa, Milan Kundera e outros tantos escritores consagrados, também eles de enorme talento. Todo o enredo se desenvolve em re-dor da vivência de Julius, um miúdo da classe alta de Lima. A rotina des-ta criança na escola que frequenta, no seio familiar, na relação com a sua mãe e irmãos e a sua entrada

na adolescência são a razão para o autor tecer uma certeira, irónica e profunda crítica a toda uma classe social que vive o dia a dia com uma enorme despreocupação, alegria e conforto. Sem, no entanto, deixar de olhar também para o outro lado da moeda de uma mesma realida-de: uma classe pobre, analfabeta, sofredora e infeliz. Estes dois mun-dos estão constantemente a intera-gir entre si. Julius acha-se confortá-vel em ambos porque, na verdade, ignora as suas diferenças. E é nesta

‘santa ignorância’ que o leitor se apercebe de toda uma estratificação social que assenta, única e exclusi-vamente, no berço de cada um dos personagens (e, por isso, humana-mente injusta), impossível de alterar.Seja como for, no fundo, Echeni-que diz-nos que, entre estes dois mundos, é muito mais fácil viver no primeiro do que no segundo. Tam-bém há amor, alegria e felicidade (e religiosidade) no mundo dos ri-cos. E tudo isso é tão fácil de al-cançar. Basta ser filho de alguém

que já seja alguém. Nesta altura poderíamos afirmar que só poderia ser essa a conclusão. Mas, o que espanta em Echenique é ele seguir uma narrativa que contraria a linha tradicional do romance, sustentada nos ‘pobrezinhos, felizes e honra-dos’. Para atingir esse desiderato o autor provoca-nos ao longo de todo o livro. Fá-lo com a arma mais forte de todas: um misto de ironia suprema, subtileza e incomensu-rável ternura. Tudo isto com uma atualidade inacreditável.

Ricardo Marques Candeias

Ricardo Marques Candeias,managing partner da Candeias & Associados

O livro de advocatus.pt

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NOTÍCIAS

advocatus.pt

A PLMJ e o Gabinete Legal Mo-çambique (GLM), escritório mem-bro da PLMJ Internacional Legal Network para Moçambique, foram distinguidos na segunda edição dos Global Legal Awards, na ca-tegoria “M&A deal of the year: Africa”. A revista The American Lawyer premiou, assim, a asses-soria jurídica prestada em parceria

American Lawyer distingue PLMJ e gLM

pelos dois escritórios à empresa ONGC Videsh (OVL) na aquisição de um interesse participativo de 10% ao grupo Anadarko no bloco “Area 1” do offshore da Bacia do Rovuma. Esta operação, também distinguida pela publicação inglesa Legal Week nos Africa Legal Awar-ds, teve um valor de cerca de 2,5 mil milhões de dólares.

Escola de Lisboa com nova direção

Jorge Pereira da Silva é o novo dire-tor da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica

Portuguesa (UCP). Mário Aroso de Almeida e Manuel Fontaine Campos foram reconduzidos nos cargos de di-retor nacional da Faculdade de Direi-to e diretor da Escola do Porto da Fa-culdade de Direito, respetivamente. O docente que agora assume a di-reção da Escola de Lisboa inves-tiga e leciona na UCP na área do Direito Público, nas disciplinas de Direito Constitucional, Direitos Fun-damentais, bem como Teoria e Ciên-cia Política. Foi docente convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica e do Institu-to de Estudos Superiores Militares. Desempenha ainda funções no Ga-binete do Representante da Repú-blica para os Açores e desenvolve atividade privada como jurisconsulto.

A Garrigues foi, pela terceira vez, distinguida nos FT Innovative Lawyers Awards, com o prémio de firma mais inovadora da Euro-pa Continental. No ranking anual publicado pelo Financial Times, a Garrigues é a única socieda-de espanhola e ibérica nos dez primeiros escritórios, subindo do

garrigues eleita firma mais inovadora

décimo lugar, alcançado no ano passado, para o sexto lugar. Além desta distinção, a Garrigues foi finalista em outras quatro cate-gorias: firma mais inovadora da Europa – incluindo Reino Unido; litigação e arbitragem (resolução de disputas); direito financeiro; e responsabilidade social.

(com foto)

Wolters Kluwer premeia Ricardo gaspar Dias

Ricardo Dias, advogado da Uría Me-néndez - Proença de Carvalho, foi pre-miado pelo artigo “Deveres de proteção e a fronteira entre a responsabilidade

civil contratual e extracontratual: Um problema (também) de Direito Inter-nacional Privado?”. O trabalho, que sugere soluções a problemas legais na Europa das nações, conquistou o V Premio Wolters Kluwer de artigos doutrinais. A editora premeia com três mil euros e com a publicação do arti-go que coloca os problemas entre a doutrina e a jurisprudência nacional e estrangeira sobre a inclusão dos deve-res de proteção no conteúdo da relação obrigacional. As soluções propostas pelo autor, licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto, incidem na imposição de deveres de proteção com o fim de evitar o falsea-mento do resultado contratual.

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>> PLMJ INTEGRA ESTAGIÁRIOS

>> VDA ACEITA DESAFIO DO BALDE DE GELO

>> MIRANDA AUMENTA EQUIPA

>> PLMJ REFORÇA EQUIPA DE TMT

>> PEDRO CAETANO NUNES INTEGRA PLMJ

páginas vistas As mais PARTILhADAS>> CRIADOR DIZ QUE CITIUS NÃO ESTÁ PREPARADO PARA REFORMA JUDICIÁRIA

>> PLMJ INTEGRA ESTAGIÁRIOS

>> O ABANDONO DO PARADIGMA DE QUE A ANTIGUIDADE É UM POSTO

>> NOVO REGIME DO ALOJAMENTO LOCAL

>> ESTAGIÁRIOS DISCUTEM ESTATUTO DA ORDEM

o site do advocatus em agosto

SRS assessora projeto de carbono em Angola

O último relatório do Transaction Track Record destaca como ope-ração do terceiro trimestre de 2014 a entrada da Oxy Capital (através do fundo Oxy Capital Mezzanine) no capital social dos ginásios Fit-ness Hut, uma transação que teve

Speechly bircham e Charles Russell fundem-se

Charles Russell Speechlys é a so-ciedade de advogados que resulta da fusão da Speechly Bircham com

PLMJ na “operação do trimestre”

assessoria jurídica da PLMJ. Em comunicado, a sociedade sublinha que “volta a estar no topo do seg-mento de assessores jurídicos em termos de valor de negócios, com 1.637 mil milhões de euros e sete operações assessoradas”.

A advogada coordenadora no de-partamento de ambiente/público da SRS Advogados, Ivone Rocha, fez parte da equipa de peritos in-dependentes que elaborou o rela-tório que valida os critérios para a redução de emissões de CO2 da Hidroelétrica de Gove, no Huambo. Trata-se do primeiro projeto de

carbono angolano a ser registado.A equipa elaborou o Validation Repport, um documento que apro-va os elementos fornecidos pelos promotores do projeto. Verifica os requisitos de elegibilidade para poder ser registado como um pro-jeto de CDM - Clean Development Mechanism, criado no âmbito do Protocolo de Quioto.A energia produzida pela hidro- elétrica vai ser distribuída na pro-víncia do Huambo. “Ao produzir energia a partir de uma fonte re-novável, este projeto consegue reduzir a emissão de gases CO2

para a atmosfera ao permitir de-sativar várias pequenas unidades de produção de energia de com-bustíveis fósseis que ainda operam na região”, diz a sociedade, em comunicado.

a Charles Russell, com efeitos des-de 1 de novembro.“Acreditamos que esta combina-ção irá permitir-nos oferecer aos nossos clientes uma gama ainda mais completa de serviços e uma maior profundidade de especializa-ção”, afirma o managing partner da Speechly Bircham, James Carter.“Vamos parecer diferentes em termos de marca, mas de resto o negócio vai continuar como sem-pre”, acrescentou.

Citius: PgR investiga

A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a investigar dois técnicos, requisitados à Policia Judiciária (PJ) em 2012, por alegada sabotagem do Citius.A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, que já tinha apontado in-dícios de foro disciplinar e criminal nos problemas com a plataforma informática, enviou um relatório à PGR a levantar suspeitas sobre os dois técnicos informáticos que estão ao serviço do Instituto de Gestão Financeira e de Equipamentos de

Justiça (IGFEJ). A informação que foi confirmada ao jornal pela PJ. Os dois técnicos informáticos terão ocultado informação ao Ministério da Justiça, entre 26 de agosto e 1 de setembro, isto é, uma semana antes da entrada em vigor do novo mapa judiciário.A investigação do Ministério Pú-blico foi entregue ao responsável do gabinete de cibercrime da PGR, Pedro Verdelho, A confirmarem-se as suspeitas de sabotagem informática, o crime pode ser punido com uma pena até dez anos de prisão.

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SIM, desejo assinar o jornal Advocatus com o custo total de 180 euros (12 edições).

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www.advocatus.pt O agregador da advocacia

JORgE SANTIAgO NEVES

Pessoas

É o novo reforço da Sérvulo & Associados, ficando a seu cargo a área de Direito Fiscal. O advogado foi sócio de indústria da JPAB – José Pedro Aguiar-Branco e desempenhou diversos car-gos públicos. Atualmente é também árbitro tributário e membro da Comissão para a Reforma do Imposto sobre as Pessoas Singulares (IRS).

Deixou a Abreu Advoga-dos para integrar a área de prática de Direito Público da PLMJ. O advogado, especialista em contrata-ção pública, foi reforçar a equipa liderada pelo sócio Pedro Melo.

Acaba de reforçar a equipa da BAS Sociedade de Advogados com funções nas áreas de Direito Societário, Bancário e Concorrência. O advogado transitou da Gómez-Acebo & Pombo (GA&P), onde era membro do conselho assessor, tendo sido sócio dessa sociedade e da Barrocas Sarmento Neves.

Vai liderar a área de prática de concorrência e Direito da União Europeia da CMS Rui Pena & Arnaut, com o estatuto interno de managing associate. Esteve antes na Siemens, como head lawyer dos sectores da saúde e infraestruturas e cidades e dos centros corporativos. O advogado foi ainda, durante 13 anos, membro do depar-tamento de Direito Europeu e Concorrência da PLMJ.

DIOgO FEIO

NUNO PIMENTEL gOMES

advocatus.pt

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LUÍS MIgUEL ROMãO

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Uma revelação com caráter Man in Black é o novo eau de parfum Bulgari Parfums para homens que procuram uma fragância oriental, com sofisticação e sensualidade. Para esta fragância, o perfumista Alberto Morillas inspirou-se no contraste entre o preto e ouro rosa presente nos mostradores de relógios Bulgari. O resultado é um perfume intenso com nuances de âmbar e couro e notas de rum.

A evolução do designA Samsung acaba de revelar o novo Galaxy Alpha, um smartphone que espelha a nova abordagem da marca ao design. Com espessura de 6,7 mm, moldura em metal, cantos curvos e textura suave da capa traseira, o novo membro da família Galaxy pretende exibir um design sofisticado. Sem esquecer a funcionalidade, apresenta um contraste entre o acabamento em mate macio ao toque e o reflexo dos pormenores metálicos. O Galaxy Alpha está disponível em preto carvão, branco brilhante, dourado e prateado.

Para amantes do oceano A Rolex apresenta o novo modelo Rolex Deepsea para mergulho extremo. Com um mostrador “D-Blue”, com cores que evocam as profundezas do oceano, relembra a expedição Deepsea Challenge com o realizador James Cameron. O relógio de mergulho Rolex Deepsea é impermeável até 3.900 metros e tem uma caixa Oyster de 44 mm, reforçada pela arquitetura Ringlock System.

O Grupo Tommy Hilfiger apresenta a oitava edição limitada da carteira anual “Tommy Hilfiger”, para a Breast Health International, uma fundação não lucrativa que desenvolve a pesquisa e tratamento do cancro da mama. Em azul-marinho com apontamentos em bronze e vivos tubulares em vermelho, a carteira de 2014 procura personificar a estética clássica, americana e cool da marca. Em pele italiana enrugada, com bolsos assimétricos, detalhes dourados e um porta-chaves com borlas em vermelho, branco e azul, a carteira vem, ainda, com uma alça descartável que permite usá-la ao ombro.

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Missão solidária

Made in PortugalMy Maria Guimarães é a nova marca de calçado

português que, após a terceira participação na feira internacional MICAM, em Milão, decide

apostar no mercado nacional. A marca sugere para a coleção de outono/inverno 2014 três

modelos: My Ivete Black, My Gisela Brown e My Fiona Animal Print. My Maria Guimarães

define-se como uma marca de requinte e classe com espírito jovem e ciente de que o conforto é

uma peça fundamental.

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