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30 MANUEL SANTOS VÍTOR, MANAGING PARTNER DA PLMJ ORDEM IGNORA GRANDES SOCIEDADES 6 CARLOS PEIXOTO ADVOGADO EM GOUVEIA E SEIA 15 JOSÉ LOBO MOUTINHO DOCENTE Diretor: João Teives | Diretor Editorial: Hermínio Santos | Mensal | Ano V | N.º 52 | juLho de 2014 | 15 euros 5 601073 210256 00052 www.advocatus.pt O agregador da advocacia O novo programa de doutoramentos da Católica A profissão longe do litoral

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advocatus, 52

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30MANUEL SANTOS VÍTOR, MANAGING PARTNER DA PLMJ

ORDEM IGNORA GRANDES SOCIEDADES

6CARLOS PEIXOTOADVOGADO EM GOUVEIA E SEIA

15JOSÉ LOBO MOUTINHODOCENTE

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O novo programa de doutoramentosda Católica

A profissão longe do litoral

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ARBI

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ÁRIA

ArbitragemTributária n.º 1

2014Coordenação

Nuno Villa-Lobos

Tânia Carvalhais Pereira

10 E

uros

A Revista Arbitragem Tributária reúne artigos de fiscalistas mais experientes e de profissionais de uma nova geração, de académicos, advogados, magistrados e funcionários da Administração Tributária, apresentando-se como um ponto de encontro de diversas sensibilidades e um estímulo ao debate, de olhos postos nos mais recentes desenvolvi-mentos em matéria de arbitragem tributária.

À venda no site do CAAD(www.caad.org.pt)e no site do Advocatus(www.advocatus.pt)

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PUBLISHER

Edifício Lisboa OrienteAv. Infante D. Henrique, 333 H | 37

1800-282 LisboaT. 218 504 060 | F. 210 435 935

DiretorA-geralMaria Luís

T. 961 571 [email protected]

DIRETORJoão Teives

[email protected]

DIRETOR EDITORIALHermínio [email protected]

EDITORA EXECUTIVAFátima de Sousa

[email protected]

GESTOR COMERCIALJoão Pereira

T. 960 427 [email protected]

EDITOR FOTOGRÁFICORamon de Melo

www. ramondemelo.com

DISTRIBUIÇÃO POR ASSINATURAPreço: 85€ (12 edições)[email protected]

TIRAGEM MÉDIA MENSAL: 2.500 ex.DEPÓSITO LEGAL: 21725

N.º REGISTO ERC: 113427

IMPRESSÃOTYPIA - Grupo MonterreinaÁrea Empresarial Andalucia

28320 Pinto Madrid - España

A propósito do lançamento da revista Propriedades Intelectuais, o sócio da PLMJ Manuel Lopes Rocha dá a sua opi-nião sobre o Direito da Propriedade Intelectual em Portugal.

www.advocatus.pt O agregador da advocacia

18DOSSIÊ

O REGIME DA TRANSPARÊNCIA

23JET ADVOCATUS

ROCK POR UMA CAUSA

36TELEVISÃO

A ACADEMIA DA VDA

39ARBITRAGEM

TRÊS ANOS DE SENTENÇAS

Imagens de mais uma edição do Rock’n’Law.

Quatro opiniões sobre a tributação das sociedades de advogados: de João Espanha, em nome da ASAP, de André Vasques Dias, da Macedo Vitorino & Associados, de José Pedroso de Melo, da SRS Advogados, e de Adelaide Moura, da A.M.Moura Advogados.

Rodrigo Esteves de Oliveira e Su-sana Almeida Lopes explicaram o projeto no “Direito a falar”

Um balanço feito pelo presidente do CAAD, Nuno Villa-Lobos.

12REVISTA

PROPRIEDADE INTELECTUAL

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advocatus.pt

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Cortar a Direito

Justiça tributária

Arbitragem Tributárianº1 – 2014

REVISTA

vos e Fiscais disponibiliza estatísti-ca, existia uma pendência de 8654 processos no Tribunal Tributário de Lisboa. Para combater tal pendência estavam alocados, em 2013, dezoito juízes (nove em efetividade de fun-ções, cinco em destacamento e qua-tro como auxiliares), o que dá um ratio de cerca de 480 processos por juiz. Estamos perante um problema sem resolução à vista. O problema estará nos juízes e na sua produtividade ou falta dela? No Processo e na sua complexidade? Nos contribuintes e no seu anseio de litigância ou na agres-sividade da Administração Tributária? Será a culpa de todos e de ninguém? É certo que a tramitação de um pro-cesso de impugnação, pelos prazos fixados no Código de Procedimento e Processo Tributário, impede a re-solução do processo em seis meses. Mas certamente não é por causa do Código que os processos estão para-dos mais de dez anos sem que ocorra a prática de um único ato processual. Os juízes consideram que o número adequado de processos por juiz, na justiça administrativa e tributária, é de 150. O problema estaria, assim,

Em setembro de 2002, um contri-buinte deduz impugnação judicial de um ato de liquidação adicional de Imposto sobre o Valor Acrescentado. Ainda em 2002, o Representante da Fazenda Pública apresenta a sua contestação. Em 2003, são produ-zidas provas e alegações escritas. Em julho de 2014 é elaborada e proferida a sentença. Entre 2003 e 2014 não foi praticado qualquer ato processual. O Tribunal Tributário de Lisboa demorou onze anos, sim onze anos, para pro-ferir uma sentença de nove páginas num processo de relativa simplicidade. No mesmo dia, deste mês, num pro-cesso de 2013, uma oposição à exe-cução, o Tribunal Tributário de Lisboa informa as partes que só em 2016, sim 2016, poderá agendar sessões de inquirição de testemunhas.Estes exemplos, infelizmente, não são a exceção. São a regra. E são a regra que irá continuar nos próximos anos.Mesmos os desfechos positivos dei-xam de o ser quando para termos uma decisão de mérito é necessário mais do que uma década. Em 2012, último ano que o Conselho Superior dos Tribunais Administrati-

Esta vontade de obter receitas fiscais, a todo o custo, em desrespeito dos mais basilares princípios, aliada à insustentabilidade, pela onerosidade, de manutenção de garantias bancárias, sem prazos de caducidade, para que as execuções se possam suspender, tornam o problema da paralisia dos tribunais tributários a mais grave ofensa aos direitos dos administrados e contribuintes, ao direito a uma tutela judicial efetiva e eficaz e a maior mancha da Justiça Portuguesa em quarenta anos de Democracia.

JOÃO TEIVESDIRETOR

no défice de oferta judiciária face à procura. Parece-me incontornável a necessidade de aumentar a oferta. Mas estando identificado o problema há anos e anos não é desculpável que durante anos e anos o mesmo não seja resolvido através da formação de juízes especializados. Para mais, o quadro tende a agra-var-se, visto que a Administração Tributária, face à pressão da receita fiscal, acentuou comportamentos de grande agressividade e irrazoabilida-de face ao contribuinte, com uma desconsideração absoluta da sua posição e das suas razões. Sintomático deste comportamento acrítico da Administração Tributária é um número absolutamente anormal de pedidos de arbitragem entrados no Centro de Arbitragem Adminis-trativa, relativos ao Imposto Único de Circulação. Parece mentira mas quase 15% dos processos aí entra-dos dizem respeito àquele imposto. E por que motivo? Pela forma abso-lutamente acrítica, ou acéfala, com que a Administração Tributária tem interpretado tais normas. O veículo foi furtado. O contribuinte junta provas.

Depois de, em 2013, o CAAD ter publicado um excelente e prático guia de arbitragem tributária, lan-ça, em 2014, o primeiro número da revista Arbitragem Tributária. O CAAD é um caso absoluto de sucesso. Pela celeridade, pela

credibilidade e pela competência. Juízes, Advogados, Professores Universitários, Árbitros e juristas dão-nos um panorama global da pioneira arbitragem tributária na-cional. Excelente edição da New-sengage.

Não interessa. Era o titular regista-do. O veículo foi exportado e tem matrícula estrangeira. O contribuinte junta provas. Não interessa. Era o titular registado. Liquidação oficiosa de IUC, mais contraordenação, mais execução. Serão que os impostos deixaram de ter um propósito? Se o carro não está nem na posse nem na titularidade do contribuinte, a não ser no registo, como é que é possível fazer incidir impostos sobre o vazio? Esta vontade de obter receitas fiscais, a todo o custo, em desrespeito dos mais basilares princípios, aliada à insustentabilidade, pela onerosidade, de manutenção de garantias ban-cárias, sem prazos de caducidade, para que as execuções se possam suspender, tornam o problema da paralisia dos tribunais tributários a mais grave ofensa aos direitos dos administrados e contribuintes, ao direito a uma tutela judicial efetiva e eficaz e a maior mancha da Jus-tiça Portuguesa em quarenta anos de Democracia. Este é o problema que, não obstante o enorme mérito das soluções alternativas, como é o caso do CAAD, urge resolver.

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Manual de Contabilidadepara Juristas (2ª Edição)O Manual de Contabilidade para juristas auxilia-o a interpretar as normas da contabilidade, acrescentando reflexões jurídicas sobre aspetos centrais e complementares de temáticas diretamente rela-cionadas com a prática de condutas previstas e punidas pela lei fiscal e penal.

Conheça alguns dos temas abordados na obra:

Como ler as contas de uma empresaComo fazer uma análise económica e financeiraComo detetar práticas nocivas Como interpretar conceitos económicos básicos

«1ª Ediçãoesgotada em menos

de 6 meses»

2ª Edição aindamais prática,com numerososexemplos eestudo de casos

Prof. Doutor António Gameiro eMestre Nuno Moita da Costa guiam-no atravésde uma linguagem simples pelos conceitoscontabilísticos mais complexos

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NOVIDADE

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Entrevista

Não aprecia a expressão “advogados de província” mas, “havendo em Portugal cada vez mais província e cada vez mais advogados, não é de todo desajustada a referência a advogados de província”. Advogado desde 1990, consultor da Caiado Guerreiro e Associados desde dezembro de 2012 e deputado na Assembleia da República desde 2009, Carlos Peixoto afirma que a advocacia que se faz fora de Lisboa e do Porto é mais focada nas pessoas e no território e o que o caminho é “a especialização e o regime societário”.

Carlos Peixoto, advogado com escritórios em Gouveia e Seia

Especialização é o caminho

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Advocatus | Continua a fazer sentido falar de advogado de província?Carlos Peixoto | Não aprecio a expressão. Julgo que apouca e menoriza os advogados que exercem a profissão fora dos grandes centros. A província é comummente conotada com as regiões mais desfavorecidas e mais pobres do país e ninguém gosta de estar associado à po-breza e à carência. De todo o modo, havendo em Portugal cada vez mais província e cada vez mais advogados, não é de todo desajustada a referência a advogados de província. Esses (nos quais me incluo) são pro-fissionais que resistem, que não se conformam nem se vergam à erosão das brutais assimetrias de um território litoralizado e de-sigual nas oportunidades e nas potencialidades.

Advocatus | O que distingue a advocacia de Lisboa e do Porto daquela que se faz no resto do país?CP | Há campos que se cruzam e são comuns. Não há uma ad-vocacia só de Lisboa e do Por-to e uma advocacia só do resto do país. Ainda assim, se pudes-se classificar a diferença numa só frase, diria que a advocacia de cidade é mais centrada nas empresas e nos negócios e que a advocacia do resto do país é mais focada nas pessoas e no território. Julgo que fora dos grandes centros a relação com o cliente é mais intensa e mais vivida. Os encontros com o ad-vogado ocorrem não só no es-critório mas na rua, no café, nas repartições públicas e até à porta de casa. A “prestação de contas” é, nesta perspetiva, mais recor-rente e até desgastante. Em Lis-boa e no Porto, os clientes têm outra disciplina e outros hábitos. Vão ao escritório quando preci-sam ou quando são convocados e não quando lhes apetece, pas-sando só para saber como está o assunto.Mas, por outro lado, são também mais exigentes nas explicações e nas solicitações, talvez pelo seu nível social e cultural globalmen-te mais aprimorado. Numa outra perspetiva, alguns dos escritó-rios de Lisboa e Porto estão já hoje cada vez mais voltados para o exterior, para a assessoria a clientes estrangeiros, enquanto que, no resto do país, a advoca-

cia tem um campo de ação mais interno, predominantemente vi-rado para clientes nacionais.Por outro lado, nestas duas ci-dades (mais Lisboa) existem es-critórios e advogados cada vez mais vocacionados e treinados para a desjudicialização dos li-tígios, com o recurso crescente aos meios alternativos de reso-lução, designadamente arbitra-gens, o que não acontece com o resto do país, em que a inter-venção dos advogados, no que à litigância diz respeito, se centra quase exclusivamente nos tribu-nais judiciais.

Advocatus | Quais são as impli-cações do novo mapa judicial para os advogados que exer-cem fora dos centros urbanosCP | Há que distinguir aqueles que têm escritórios nas capitais de distrito dos restantes. Os pri-meiros ficam a ganhar, e muito.

“As sociedades multidisciplinares arrasarão os pequenos escritórios tal como os grandes centros comerciais arrasaram o pequeno comércio”

Os segundos vão ser menos pro-curados e menos compensados pelos serviços que prestam fora da localidade onde têm instalado o seu escritório, pois na prática vão ser eles a suportar os custos das deslocações para a sede de distrito. A população do interior do país, para além de envelhe-cida, está muito empobrecida e dificilmente terá recursos eco-nómicos para alocar a eventu-ais acréscimos de encargos e honorários. Como é sabido, o novo mapa judicial “atira” para as capitais de distrito os proces-sos comuns coletivos e as ações ordinárias de valor superior a 50.000€ de toda a circunscrição distrital, o que só beneficia quem lá está sediado.

Advocatus | As reformas ao ní-vel da Justiça têm beneficiado ou prejudicado os advogados de província?

“O potencial das grandes sociedades de advogados é enorme e só ainda não pulverizara de forma mais implacável os advogados de prática isolada porque se criou a ideia, nem sempre real, que os serviços que prestam são excessivamente caros”

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Entrevista

CP | Todas as que afastaram ou restringiram a intervenção dos advogados – todos eles – da resolução de litígios, como foi o caso do novo processo de in-ventário, do divórcio ou do des-pejo, são prejudiciais. Mas as boas reformas beneficiam todos os agentes da justiça, sejam eles quais forem e este governo tem tido diversas iniciativas que já há muito se impunham. Excecio-nando o novo mapa judiciário e a nova lei da arbitragem, que ser-vem melhor os advogados dos grandes centros, todas as outras alterações legislativas represen-tam ganhos efetivos para todos. A reforma do processo penal, do processo civil, do CIRE, dos jul-gados de paz, do regulamento das custas processuais e agora a do procedimento administrativo, são disso bons exemplos.

“Como é sabido, o novo mapa judicial “atira” para as capitais de distrito os processos comuns coletivos e as ações ordinárias de valor superior a 50.000€ de toda a circunscrição distrital, o que só beneficia quem lá está sediado”

Advocatus | O que pensa da procuradoria ilícita em terras pequenas?CP | Nos pequenos centros a procuradoria ilícita tem um terre-no assustadoramente fértil. Tra-ta-se de uma chaga que ninguém parece capaz de curar. Tal como a corrupção, todos sabem que existe, mas poucos a denunciam e combatem. Não é concebível que contabilistas elaborem con-tratos de trabalho ou de arrenda-mento, minutas de procurações ou alterações a pactos sociais; não é aceitável que solicitadores tratem de declarações de IRS dos seus clientes ou que se com-portem como mediadores imobi-liários, recebendo comissões; Não é correto que funcionários de serviços públicos recebam e sirvam pessoas que sabem esta-rem a praticar procuradoria ilícita só porque são pais, filhos, entea-dos ou simplesmente conhecidos dessas pessoas; não é admissí-vel que o cidadão comum surja, muitas vezes, como fomentador desta sub-cultura, aceitando ale-gremente que por, exemplo, um desenhador lhe legalize um ter-reno na conservatória, fazendo--lhe a planta, preenchendo-lhe a declaração de IMI, marcando--lhe a escritura de justificação e efetivando o registo de seguida. Denunciar, acusar e julgar estas condutas é o caminho. O proble-ma é que é um caminho cheio de pedras, pois nestas peque-nas terras quem denuncia é um vil delator, é alguém que pode arranjar mais problemas do que aqueles que procura resolver.

Advocatus | Qual a sua opinião sobre as grandes sociedades de advogados?CP | São ótimas pra os clientes, porque lhes prestam serviços de qualidade, com um bom grau de estudo e especialização, mas são menos boas para alguns advoga-dos, que são reduzidos a meros trabalhadores por conta própria, embora com notória margem de progressão. Mesmo os sócios ou os associados destas socie-dades não têm dedicação exclu-siva ao trabalho jurídico, à rela-ção com os clientes e à ligação com os processos que lhe estão confiados. Trabalham muito para dentro, para a máquina, para a marca e por isso transformam essa marca em produto de ex-celência. O potencial das gran-

des sociedades de advogados é enorme e só ainda não “pulveri-zaram” de forma mais implacável os advogados de prática isola-da porque se criou a ideia, nem sempre real, que os serviços que prestam são excessivamente caros.

Advocatus | Qual vai ser o futu-ro do advogado de província?CP | Os advogados só sobrevi-vem profissionalmente onde há pessoas e atividade económica. O declínio demográfico do inte-rior do país é galopante e não parece haver antídotos para o estancar. A tendência futura é, a meu ver, a do incremento das cidades médias (refiro-me quase só às atuais cidades médias) e o despovoamento, senão mesmo desaparecimento, das peque-nas localidades do interior. Só se manterão os advogados se-diados nessas cidades médias e se se associarem a outros co-legas. A velocidade a que mu-dam as coisas, a complexidade crescente do comércio jurídico e a competitividade da vida exi-gem conhecimentos e respostas que não se compadecem com a prestação de serviços de ‘cli-nica geral’ ou com experiencias voluntaristas e generalistas. A especialização e o regime socie-tário são os caminhos.

“Nos pequenos centros a procuradoria ilícita tem um terreno assustadoramente fértil. Trata-se de uma chaga que ninguém parece capaz de curar. Tal como a corrupção, todos sabem que existe, mas poucos a denunciam e combatem”

“A exigência de um mestrado – e não apenas uma licenciatura tipo Bolonha - que é requisito do acesso às magistraturas, deve também vingar para quem quiser ser advogado”

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Mestrado para ser advogado

Advocatus | Qual o papel da Or-dem dos Advogados no apoio aos advogados de província?CP | A OA só faz aquilo que a so-ciedade em geral e o legislador em especial lhe permitem que faça. Acompanhará sempre a evolução dos tempos e não me parece que tenha margem para proteger de forma particular os advogados de província. Como advogado em Gouveia e Seia há 24 anos, nunca notei ou senti nenhum apoio especial pelo fato de exercer a profissão numa zona de baixa densidade po-pulacional.Também na Ordem dos advogados não há descri-minação positiva do Interior. Até no montante das quotas anuais isso é visível.

Advocatus | O que há a mudar no Estatuto da Ordem dos Ad-vogados?CP | Justifica-se que seja modifi-cado o regime de acesso aos can-didatos à profissão. A redução do número de exames e a diminuição do tempo de duração do estágio parecem impor-se. A exigência de um mestrado – e não apenas uma licenciatura tipo “Bolonha” - que é requisito do acesso ás magis-traturas, deve também vingar para quem quiser ser advogado.

Advocatus | O que pensa da multidisciplinaridadeCP | Não vejo o que é que estru-turas multidisciplinares trazem de positivo ou de bom à profissão. Os advogados têm uma função so-

cial, asseguram a paz comunitária e estão sujeitos a regras deontoló-gicas e de sigilo muito peculiares.Essa nova realidade, de cariz mer-cantil, visando exclusivamente o lucro, é suscetível de descarac-terizar e desvalorizar a profissão, criando dificuldades óbvias no cumprimento dessas regras, na manutenção do principio da inde-pendência face a outros poderes instalados na sociedade – político, económico, social e mediático - e até na compatibilização fiscal en-tre os regimes aplicáveis a advo-gados e a profissionais de outras áreas. As sociedades multidisci-plinares arrasarão os pequenos escritórios tal como os grandes centros comerciais arrasaram o pequeno comércio.

advocatus.pt

“Julgo que fora dos grandes centros a relação com o cliente é mais intensa e mais vivida. Os encontros com o advogado ocorrem não só no escritório mas na rua, no café, nas repartições públicas e até à porta de casa”

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Distribuição

Venda com prejuízo: o fim do Adamastor?Supremo Tribunal de Justiça pronuncia-se desfavoravelmente sobre penalização de revenda com prejuízo, põe fim a decisões contraditórias de tribunais sobre descontos concedidos aos distribuidores e adopta perspectiva clara e certa sobre a matéria.

JOAQUIM VIEIRA PERES

Sócio da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados

“Este acórdão vem marcar um rumo claro, afastando de forma segura e definitiva algumas legítimas dúvidas e receios provocados por uma redacção descuidada pelo legislador, por umainterpretação nebulosa e ainda mais inibidora recentemente anunciada pela ASAE e por uma aplicação fundamentalista por uma parte dos tribunais, completamente desligadas da realidade económica actual”

Por acórdão do passado dia 14 de Maio, subscrito por unanimi-dade pelos 14 juízes-conselhei-ros das secções de Criminais do STJ, publicado a 17 de Junho no Diário da República, foi decidido, para uniformização de jurispru-dência, que um revendedor tem o direito de considerar que o seu preço de compra efectivo de um determinado bem (para efeitos de verificação de posterior re-venda “com prejuízo”), é abatido do valor que lhe tenha sido de-duzido, pago ou creditado pelo fornecedor a título de “rappel”.A notícia em si pode aparentar não ser merecedora de realce, na medida em que parece bas-tante evidente e indisputável, a qualquer leigo, que um desconto concedido por um fornecedor a um revendedor, ainda que de-penda ou varie conforme o nível de compras realizadas por este último num determinado perío-do de tempo, reduz economica-mente o seu custo da aquisição e, portanto, deveria relevar para cálculo da sua margem € a qual, existindo, impediria qualquer venda com prejuízo.Contudo, a realidade era ou-tra e subsistia nalguns tribunais portugueses, inclusive tribunais superiores, a convicção que a lei proibia que este tipo de des-conto fosse tido em conta, na medida em que o mesmo não se justificasse objectivamente, cên-timo por cêntimo, na poupança conseguida pelo fornecedor com cada entrega individual do mes-mo produto, num certo momen-to, a um dado distribuidor. Se-gundo esta perspectiva, nunca haveria que considerar descon-tos ou créditos induzidos por ou-

tras compras efectuadas àquele fornecedor, no passado ou a concretizar no futuro, daquele mesmo produto ou de produtos diferentes.O STJ rejeitou em termos inequí-vocos um tal raciocínio, afirman-do criticamente que “[a] limita-ção dos descontos que relevam para dedução ao preço de com-pra, segundo o regime jurídico da venda com prejuízo, leva a que tal regime jurídico comporte a pos-sibilidade de ser punida como venda com prejuízo uma venda em que os agentes económicos não sofrem prejuízo nenhum e, pelo contrário, obtêm lucros”.Esta afirmação sobressai espe-cialmente se nos recordarmos que se assistiu, nas últimas se-manas, a uma pronúncia ge-neralizada, por parte dos mais variados sectores económicos, de incomodidade ou mesmo veemente protesto face à per-turbação trazida à actividade comercial pela promulgação do Decerto Lei n.º 166/2013 que re-formulou as chamadas Práticas Individuais Restritivas do Comér-cio (nas quais se inclui a reven-da com prejuízo), em particular pela incerteza decorrente de vá-rias opções constantes daquele diploma (um dos mais infelizes exemplos de má técnica legisla-tiva de que tenho memória).Ora, face à falta de segurança motivada pelas formulações le-gais escolhidas pelo novo De-creto-Lei, potenciada pelo enor-me incremento do montante das sanções previstas para o seu desrespeito, o estabelecimen-to pelo STJ de uma linha clara, precisa e inequívoca sobre o que é legal e o que não é legal, não

pode deixar de ser devidamente realçado e saudado.Sobretudo quando este órgão ju-dicial, para além de resolver de-finitivamente a questão concreta que lhe foi suscitada é o “rappel” um desconto de quantidade que baixa o preço de compra de um produto, para efeito de venda com prejuízo? , fez questão de enquadrar, de uma forma per-feitamente cristalina e universal, todo o tema da venda com preju-ízo e do relacionamento que es-tabelece nos dias de hoje entre um produtor/fornecedor de um produto e um distribuidor/reven-dedor do mesmo.É esse enquadramento que con-fere a esta decisão a sua enorme importância e marcará, por certo, o futuro da aplicação prática do regime da venda com prejuízo, recentemente “intervencionada” de forma tão polémica pelo actu-al executivo.O STJ fundamentou a sua deci-são em duas grandes ideias es-truturantes, aplicáveis a grande parte dos potenciais litígios que se anteviam como inevitáveis à face da nova legislação.A primeira é a de que a relação que se estabelece nos dias de hoje entre um fornecedor e um distribuidor é uma relação global, de carácter permanente e não esporádico, não se confundindo nem podendo ser reduzida a uma mera sucessão de compras e vendas pontuais, independentes e autónomas entre si. Qualquer análise das contrapartidas nego-ciadas entre fornecedor e distri-buidor, quer se trate de preços, líquidos ou não, descontos ou pagamentos por serviços presta-dos ou “utilidades” proporciona-

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das, tem de ser feita à luz desta relação abrangente, tendencial-mente duradoura.A segunda é a de que a relação de fornecimento não pode mais ser vista como visando somen-te a satisfação do interesse do comprador em garantir a se-gurança e regularidade do seu abastecimento mas antes como dirigindo-se igualmente ao inte-resse do fornecedor em asse-gurar o escoamento dos seus produtos, através do incentivo dado à respectiva aquisição pelo distribuidor.A esta luz, quaisquer compar-ticipações, pelo fornecedor, de custos incorridos pelo distribui-dor ou quaisquer transferências de valor ou de incentivos eco-nómicos para este último, seja como preços mais reduzidos, descontos e outros abatimentos ou ainda como pagamentos por utilidades ou serviços auferidos, devem ser admitidas (isto é, va-loradas para efeitos de cálculo de “preço de compra efectivo”) sempre que relacionadas com o contrato-quadro de fornecimento e contribuindo para a estratégia comercial do fornecedor, ao esti-mular a aquisição dos seus pro-dutos pelo revendedor. Nessa medida, o STJ decidiu que tais descontos ou pagamentos são, como o exige a lei, “directa-mente relacionados com a tran-sacção em causa”.Assim se superou este requisito equívoco que, enquanto escolho, pouco nítido e tremendo ― qual Adamastor, “disforme e de gran-díssima estatura” ―, amedronta-va com “perdições de toda sorte” a “gente ousada” que porfiava em aventurar-se por certos mares.

Esta tomada de posição do STJ, ainda no quadro do Decreto-Lei anterior (revogado e substituído pelo DL 166/2913), é igualmen-te aplicável à nova redacção da norma em causa, ainda que esta apresente uma formulação não completamente coincidente: agora, “descontos directa e ex-clusivamente relacionados com a transacção dos produtos em causa”. O próprio STJ se encar-regou de indiciar isso mesmo, ao evidenciar que o propósito visado pelo legislador com a al-teração foi, confessadamente, apenas o de clarificar a noção de preço de compra efectivo, “tendo em consideração, entre outros, os descontos diferidos no tempo” (de que o rappel dito condicional é o exemplo mais evidente).Em conclusão, este acórdão vem marcar um rumo claro, afastando de forma segura e definitiva algu-mas legítimas dúvidas e receios provocados por uma redacção descuidada pelo legislador, por uma “interpretação” nebulosa e ainda mais inibidora recente-mente anunciada pela ASAE e por uma aplicação fundamenta-lista por uma parte dos tribunais, completamente desligadas da realidade económica actual. É, sem margem de dúvida, uma excelente notícia para os opera-dores económicos, contribuindo expressivamente para a diminui-ção dos seus custos de transac-ção, tão levianamente maltrata-dos pela alteração recente do regime das Práticas Individuais Restritivas do Comércio.Que assim se removam “os du-ros casos que Adamastor contou futuros”.

“A relação que se estabelece nos dias de hoje entre um fornecedor e um distribuidor é uma relação global, de carácter permanente e não esporádico, não se confundindo nem podendo ser reduzida a uma mera sucessão de compras e vendas pontuais, independentes e autónomas entre si”

“A relação de fornecimento não pode mais ser vista como visando somente a satisfação do interesse do comprador em garantir a segurança e regularidade do seu abastecimento mas antes como dirigindo-se igualmente ao interesse do fornecedor em assegurar o escoamento dos seus produtos”

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Propriedade Intelectual

Superficialidade e generalidade. São dois termos que o advogado Manuel Lopes Rocha, sócio da área de prática de Propriedade Intelectual, Marcas e Patentes da PLMJ, usa para caracterizar o cenário nacional no que à infor-mação sobre propriedade inte-lectual (PI) concerne. “Há ainda muita ignorância difusa, a verda-de é que os materiais disponíveis nem sempre são adequados. Há muita superficialidade, sempre as ‘Introduções’, os ‘Manuais’ genéricos”, lamenta. Na sua opi-nião, esta parte já devia estar ultrapassada, na medida em que há muito mais que refletir: afi-nal, “o Direito de PI é um direito

No que respeita à informação sobre o Direito de Propriedade Intelectual ainda há muita ignorância e muita superficialidade. A crítica é de Manuel Lopes Rocha, sócio da área de prática de Propriedade Intelectual, Marcas e Patentes da PLMJ e um dos mentores da revista “Propriedades Intelectuais” lançada em junho.

Ainda há muita superficialidade

Créditos das Fotos –

dos tribunais e há tribunais que julgam e julgaram muito bem e outros menos, é sempre assim. Apesar de tudo, há vinte anos era bem pior”.Foi para melhorar este cenário que se lançou num empreendi-mento de foro editorial: trazer para a língua portuguesa uma publicação inspirada na revista francesa “Proprietés Intellectue-les”. Contou com a diligência de outro advogado, Miguel Lou-renço Carretas, empenhado no mesmo esforço de atualização do conhecimento. Ambos conhe-ciam já a revista, pois nela tinham publicado o que Manuel Lopes Rocha define como um “extenso

artigo” sobre a denominada “Lei do Enforcement” (Lei 16/2008, de 1 de abril) que alterou o Código de Direito de Autor e o Código de Propriedade Industrial. O contac-to revelou-se, pois, fácil e a ideia ganhou contornos mais precisos.Mas porquê uma revista france-sa na génese deste projeto? A explicação surge imediata: por-que esta revista, como outras em França, tem “uma enorme qualidade”. Manuel Lopes Ro-cha reforça esta tese com o ar-gumento de que a publicação é da Thomson Reuters, que “nun-ca edita publicações medíocres”: “O acervo de artigos, estudos e comentários de jurisprudência é

“O Direito de PI é um direito dos tribunais e há tribunais que julgam e julgaram muito bem e outros menos, é sempre assim”

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“Claro que a doutrina e a jurisprudência francesas são importantíssimas para nós. Somos da mesma família jurídica, sempre fomos, nomeadamente em Propriedade Intelectual. A França é o país do droit d´auteur, um dos grandes países, historicamente, fundadores da PI, juntamente com o Reino Unido e os EUA”

impar e nunca nenhuma publica-ção portuguesa o poderia alcan-çar. Essa é uma enorme vanta-gem de partida”.Está, porém, distante de ser a única vantagem: “Claro que a doutrina e a jurisprudência fran-cesas são importantíssimas para nós. Somos da mesma família jurídica, sempre fomos, nome-adamente em Propriedade In-telectual. A França é o país do droit d´auteur, um dos grandes países, historicamente, fundado-res da PI, juntamente com o Rei-no Unido e os EUA. O Direito de PI nasce com as três revoluções nesses países, em curiosas com-binações”.

QUEM É QUEM

Miguel Carretas, um dos men-tores do projeto com Manuel Lopes Rocha, é o diretor da revista, que terá periodici-dade bianual. Já o sócio da PLMJ integra a direção cientí-fica, juntamente com Evaristo Mendes, Henrique Sousa An-tunes e Manuel Oehen Mar-ques, os três da Universida-de Católica. A revista conta

ainda com o contributo de um conselho editorial abrangente, constituído por advogados, juízes, professores universitá-rios, um magistrado do Minis-tério Público e um empresário e inventor.No primeiro número, em maté-ria de doutrina aborda temas como a luta contra o carrega-mento ilícito, a patente unitária,

a nova lei para a gestão coleti-va dos direitos autorais no Bra-sil e o direito de reprodução.No que toca à jurisprudência, estão em foco as patentes de medicamentos e os direitos de autor e direitos conexos.Da lusofonia integra artigos so-bre a propriedade intelectual em Moçambique e Macau e os tratados de Internet de 1996.

J U N H O 2 0 1 4

n.° 1

P r o p r i e d a d e s i n t e l e c t u a i s

DIRECÇÃO CIENTÍFICAEvaristo MENDESDocente da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa Henrique SOUSA ANTUNESProfessor da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa Manuel OEHEN MENDESDocente da Universidade Católica Portuguesa, Advogado, Porto Manuel LOPES ROCHAAdvogado, Lisboa

DIREÇÃO DA PUBLICAÇÃOMiguel LOURENÇO CARRETASDirectorTelmo VILELADirector adjunto

REDACÇÃOSofia VIVASFilipa IGLESIAS

Com a colaboração deSolenne FLEYTOUXResponsável do Departamento de Publicações IRPI

EDIÇÃOuniversidade católica editoraPalma de Cima1649-023 Lisboa – PortugalTel. (351) 217 214 020fax (351) 217 214 [email protected]

COMITÉ EDITORIALAntónio ABRANTES GERALDESJuiz-Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, LisboaAntónio MENEZES CORDEIROProfessor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de LisboaAntónio PINTO MONTEIROProfessor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de CoimbraCarlos MARTINSAdvogado e Agente Oficial da Propriedade Industrial, MaputoCésar BESSA MONTEIROAdvogado, Presidente do Grupo Português da AIPPI, LisboaCláudia TRABUCOProfessora da Faculdade de Direito da Universidade Nova, LisboaEurico REISJuiz-Desembargador do Tribunal da Relação de LisboaGil BARREIROSAdvogado, PortoGonçalo CABRALConsultor Jurídico, MacauJosé Luís ARNAUTAdvogado, LisboaLeopoldo CAMARINHAAdvogado, ViseuLuís BARRETO XAVIERDocente da Universidade Católica Portuguesa, LisboaLuís NUNESAssistente-Regente da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola

Maria José COSTEIRAJuíza de Direito, LisboaMário MONTEProfessor da Universidade do Minho, BragaPaula MEIRA LOURENÇOProfessora da Faculdade de Direito da Universidade de LisboaPedro VALE GONÇALVESAdvogado, LisboaPedro VERDELHOMagistrado do Ministério Público, LisboaPeter VILLAXEmpresário e inventor, LisboaRonaldo LEMOSAdvogado e Professor Universitário, Rio de JaneiroVictor CASTRO ROSAAdvogado, LisboaVictor DRUMMONDAdvogado e Professor Universitário, Rio de Janeiro

ASSINATURAS E VENDAuniversidade católica editoraTel. (351) 217 214 020Fax (351) 217 214 [email protected] | www.uceditora.ucp.pt

Revisão editorial: Helena RomãoComposição: acentográficoImpressão e acabamento: SersilitoData: junho 2014Depósito Legal: 000 000/14ISBN: 978-972-54-00000ISSN: 2183-2919

Revista PI.indb 1 6/3/14 11:25 AM

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Não obstante este, digamos assim, direito histórico, o es-pecialista português encontra hoje, em alguns meios, um certo snobismo ou preconceito con-tra a doutrina francesa: “Curio-samente, durante anos não se consumiu aqui outra coisa. Agora, gosta-se, aqui e ali, de afivelar um certo distanciamen-to ‘anglo-saxónico’, com um ar vagamente superior”. Que resu-me assim: “Puro erro, típico de (recém) conversos”. O que se deve – sustenta – “é aproveitar o melhor de cada sistema, não fechar as portas a nenhum”. Vol-tando à revista, acrescenta mais um argumento a validar a esco-lha: “A revista-mãe tem muitos colaboradores alemães, belgas, italianos, ingleses, americanos, do melhor que há no mundo”.O sócio da PLMJ não tem dúvida de que havia – e há - em Por-tugal um terreno fértil para uma publicação desta natureza: “O nosso país é periférico, longe dos grandes centros de decisão, e por isso temos sempre tudo ‘de menos’, menos livros, menos revistas, menos decisões dos tribunais, menos debate, menos estudo”.É atenuar, “um tanto”, este es-tado de coisas que a revista se propõe. Tal como a sua matriz francesa, a edição portuguesa pretende ter um nível elevado de estudo, atualidade e profun-didade na abordagem das ques-tões de Propriedade Intelectual. É uma revista para estudiosos e práticos destas matérias, tentan-

do conciliar estas duas vertentes que – diz o seu fundador - são indissociáveis. “A sua ligação es-treita à Faculdade de Direito da Universidade Católica e a grande categoria do seu Comité Editorial são disso garante”, sublinha.“Propriedades Intelectuais” apre-senta-se como isenta e aberta a vários pontos de vista. Um posi-cionamento que Manuel Lopes Rocha reforça, remetendo para o primeiro número, como prova dis-so. Não deixa, contudo, de reco-nhecer que, “aqui, como em tudo, não há inocência”. E porque não? Porque “estas questões não são quimicamente puras, isso não existe”. Os fundadores da revista acredi-tam – “como é óbvio” - na Pro-priedade Intelectual. Mais: acre-ditam que ela é muito importante num país como Portugal. “O que queremos dizer é que não somos dogmáticos, nem ‘funcionários’, queremos discutir e aceitamos pontos de vista contrários aos nossos, desde que assentes na mesma procura de qualidade na análise destas matérias”, remata o porta-voz dos fundadores do projeto.“Propriedades Intelectuais” é so-bre a PI em língua portuguesa,

“O nosso país é periférico, longe dos grandes centros de decisão, e por isso temos sempre tudo ‘de menos’, menos livros, menos revistas, menos decisões dos tribunais, menos debate, menos estudo”

“Legislação existe, é preciso é aplicá--la e aplicá-la bem. Profissionais especializados também vamos tendo, há muito maior formação, muitas vezes adquirida no estrangeiro. Temos, até, um tribunal especializado”

não apenas de Portugal. Vai, por isso mesmo, receber contributos da comunidade lusófona. “Claro, a revista vai também refletir so-bre a realidade portuguesa e so-bre aquela dos países nossos ir-mãos de expressão portuguesa, bem como o caso particular de Macau, que merece uma atenção redobrada”. Serão contributos a diferentes ritmos. Desde logo porque “Macau tem sido um centro de estudo destas maté-rias num nível que nunca tivemos cá”. Já o Brasil é “um colosso, um país jovem, dinâmico, mesmo nestas áreas da PI”, elogia Ma-nuel Lopes Rocha, salientando a presença, no comité editorial, de dois “notáveis” docentes e advo-gados brasileiros nestas áreas, um deles é mesmo coautor do projeto da nova lei de direito de autor. Serão contributos a dife-rentes ritmos. Quanto a Angola, “obviamente”, não está, ainda, no patamar do Brasil. Mas estas questões já se põem e “muito mais se porão nos tempos mais próximos”. Prova disso – con-cretiza - é que as grandes multi-nacionais, cujos ativos assentam na PI, já estão em Angola. E o mesmo se pode dizer de Moçam-bique.

Na 1.ª pessoa

O que diz Manuel Lopes Rocha sobre a Propriedade Intelectu-al em Portuga? Diz que “estas matérias estão devidamente va-lorizadas, há uma muito maior consciência da importância dos direitos de PI. Há monopólios

que foram desarmados, o co-nhecimento é livre, emancipou--se de alguns centros com voca-ção centralizadora e exclusiva. Muitas entidades, outrora perifé-ricas, ocupam hoje o centro. Foi e é assim em todo o lado. Legis-lação existe, é preciso é aplicá--la e aplicá-la bem. Profissionais especializados também vamos tendo, há muito maior forma-ção, muitas vezes adquirida no estrangeiro. Temos, até, um tri-bunal especializado. Quanto a este, a experiência tem aspe-tos positivos, sem dúvida, mas, também, aspetos negativos que há que ter em conta e muito. Será um debate que promover-mos muito em breve”.

“Macau tem sido um centro de estudo destas matérias num nível que nunca tivemos cá”

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Academia

O programa de doutoramento da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa foi atualizado, de modo a responder aos desafios que o ensino do Direito enfrenta atualmente. A adaptação a Bolonha, o acompanhamento dos doutorandos e a aposta na investigação em rede são, segundo o coordenador do programa, José Lobo Moutinho, as principais alterações promovidas num programa que pretende iniciar os doutorandos no percurso da investigação.

Investimento positivo

A adaptação a Bolonha conduziu à “definitiva superação da ideia de que o doutoramento de Direito está, pelo menos tendencialmen-te, ligado à carreira académica”, além da “adaptação do programa à nova estrutura dos graus académi-cos anteriores”, afirma o docente. A aposta na investigação em rede procurou “superar o modelo do caminho solitário do candidato”, substituindo-o pelo do “doutora-mento inserido numa comunidade de investigação” – neste caso é o Católica Research Centre for the Future of Law - Centro de Estudos e Investigação em Direito.Esta rede é, assim, segundo o res-ponsável, o “contexto adequado para uma internacionalização e uma interdisciplinaridade que se mostrem realmente produtivas. E que criem laços para o futuro da investigação e do ensino”.Para José Lobo Moutinho, mais do que acumular mais disciplinas do mesmo tipo que as dos graus anteriores – embora com maior ní-vel de aprofundamento – um pro-grama de doutoramento deve “in-troduzir o doutorando no percurso de investigação que se abre à sua frente”. Assim, em Lisboa, o pro-grama centra-se na preparação da tese. A componente curricular do programa de doutoramento sofreu, nesta terceira edição, uma reestru-turação e atualmente, o primeiro semestre do doutoramento conta com três unidades curriculares (se-minário de metodologia, workshop de investigação e fórum de debate científico), enquanto o segundo se-mestre já se centra na preparação do projeto de tese. Os três anos seguintes são totalmente dedica-dos à investigação e à elaboração da dissertação.Embora considere que o ensino do Direito, pelo menos na Católica e noutras faculdades de topo, seja “marcado, de uma forma geral, pela qualidade”, o coordenador do

programa de doutoramento nota que este tem que ser renovado à medida que “as coisas vão evo-luindo”. Assim, para José Lobo Moutinho, o ensino do Direito en-frenta quatro desafios principais, a que a Católica procura responder. O primeiro é aliar uma formação científica sólida e profunda a uma forte orientação para a prática,

“evitando o fosso que existiu, du-rante tempo demais, entre uma e outra”, diz. O segundo é promover uma relação mais próxima – e pe-dagogicamente mais rica e eficaz – entre professores e estudantes. O terceiro é fomentar uma aprendiza-gem participativa dos estudantes, através da inovação dos métodos pedagógicos e da integração “na

Para José Lobo Moutinho, o ensino do Direito enfrenta quatro desafios principais, a que a Católica procura responder

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medida do possível, dos estudan-tes na investigação feita na Escola, particularmente ao nível do Católi-ca Research Centre for the Future of Law” – sobretudo ao nível das teses de mestrado. O quarto desa-fio é internacionalizar “os curricula e a docência, inclusivamente na licenciatura, num quadro coerente como aquele criado em Lisboa e a que chamamos o Transnational law curriculum”, explica. Concretiza: “Recebendo e enviando professo-res de forma a poderem simulta-neamente partilhar e enriquecer as suas experiências de investigação e docência, tirando proveito e ali-mentando a rede internacional. Recebendo e enviando estudan-tes, mas assegurando que o inter-câmbio seja, para além de uma im-portante experiência de vida, uma experiência académica exigente e enriquecedora”. José Lobo Moutinho salienta que “esta abertura a estudantes inter-nacionais se pode dar em moldes diferentes daqueles a que estamos habituados”. Dá o exemplo da rea-lização da Católica Graduate Legal Research Conference, em setem-bro – um fórum onde doutorandos de todo o mundo vão apresentar e discutir o seu work in progress.Na sua opinião, o programa de doutoramento pode contribuir para produzir alterações na justiça na-cional. O coordenador do progra-ma de doutoramento salienta o contributo do mesmo para produzir alterações na Justiça nacional. “É pela valia dos nossos doutorados e pelo que eles podem dar que temos a esperança, melhor, a certeza, de poder contribuir efetivamente para a melhoria do funcionamento da Justiça portuguesa”, diz.Assim, por um lado, o programa arranca da ideia de que o doutora-mento em Direito não está neces-sariamente ligado à carreira acadé-mica. “O fim que nos move é o de formar juristas de superior qualida-de e elevado aprumo moral, aptos a servir o bem comum, nas mais di-versas vestes e âmbitos. Isso, na-turalmente, aplica-se também, ou até antes de mais, às questões da reforma e melhoria das instituições e da legislação”, afirma.Por outro lado, “a aposta no traba-lho em rede, a incluir a internacio-nalização e na interdisciplinarida-de, torna-os particularmente aptos a um contributo muito valioso”, nota. “Basta pensar, por exemplo, no que esses aspetos podem ofe-recer em dois campos tão impor-tantes e tão atuais como a organi-

O Católica Research Centre for the Future of Law pretende que a Faculdade de Direito da Universidade Católica “se distinga no universo das faculdades de direito portuguesas”

zação judiciária ou a melhoria da supervisão”.Assim, “será de esperar e desejar que a investigação na Escola e na Faculdade em geral se insira nas linhas de investigação do Católica Research Centre for the Future of Law”, adianta. Para o responsável, a grande missão de um centro de investigação é enquadrar e promo-ver a investigação científica. Acres-centa, porém, que “a criação do nosso Centro visou também refor-çar a aposta da nossa Faculdade de Direito na inovação relativamen-te aos cânones tradicionais em que o ensino e a investigação científica no campo do Direito se veem ain-da hoje promovidos entre nós”. No fundo, o Católica Research Centre for the Future of Law pretende que a Faculdade de Direito da Univer-sidade Católica “se distinga, no universo das faculdades de direito portuguesas, também pelo modo como pensa e desenvolve a inves-tigação jurídica”. “Essa distinção assegurar-se-á mediante a aposta numa investi-gação em equipa – que integra do-centes das Escolas de Lisboa e do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portugue-sa - e, em qualquer caso, em rede, interdisciplinar e com dimensão internacional”. Assim, à imagem e

semelhança do que sucede com a Faculdade de Direito a que o Cen-tro pertence, têm duas secções: uma que funciona a partir do Por-to e outra em Lisboa, “ainda que o trabalho seja maioritariamente de-senvolvido em conjunto pelas duas secções”, explica.O grande desafio da Católica Re-search Centre for the Future of Law reside, segundo o docente, na in-tegração dos investigadores e da sua investigação, “com preferência para o desenvolvimento de proje-tos fundados numa coordenação do trabalho investigadores com áreas de interesse e de especia-lidade diversas”. Neste contexto, impõe-se ao centro, como desafio fundamental, “um papel ativo na integração dos seus investigadores em redes de investigação nacio-nais e internacionais, bem como, a proposta de iniciativas no sentido de criação de novas redes onde o desbravar de novos terrenos”.A prioridade dirigida à investigação interdisciplinar, assente no cruza-mento do direito com outras disci-plinas, “alarga o horizonte crítico e criativo do jurista”, além do âmbito do diálogo científico. “Deve, por isso, o centro incentivar a publi-cação em fori mais alargados, que libertem o investigador do ónus de escrever para uma audiência muito

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restrita, projetando o seu trabalho num horizonte mais alargado, no quadro de um verdadeiro diálogo científico transnacional e tematica-mente intercruzado por diferentes formações e sensibilidades cientí-ficas”, afirma.José Lobo Moutinho assegura que, estando consciente da dimensão essencialmente prática do Direi-to, o “Centro investirá esforços não apenas na investigação pura, mas também na investigação apli-cada”. Nesse sentido, um desafio fundamental do centro será o de “criar uma plataforma que permita a realização de estudos jurídicos aplicados, com o que potenciará e tornará mais imediatos os modos de serviço à sociedade em que se integra”.No universo das faculdades de di-reito portuguesas, a Faculdade de Direito da Universidade Católica pretende distinguir-se pela “apos-ta numa investigação em equipa, interdisciplinar e com dimensão in-ternacional”. Outro traço distintivo é a integração no centro de inves-tigação não apenas de docentes e doutorandos das Escola de Lisboa e do Porto da Faculdade de Direito e da Global School of Law, “mas também docentes e investigadores externos de qualidade inquestioná-vel e que pretendam participar em projetos em rede ou cuja produção científica esteja de acordo com o espírito que enforma a criação do Centro”. Quer constituir-se, assim, numa “casa comum para académi-

cos na área do direito que desen-volvem uma investigação inovado-ra e prospetiva”.Neste contexto, Lobo Moutinho qualifica de “urgente” a necessi-dade de superação do quadro tra-dicional de divisão do ensino do Direito, na medida em que “os pro-blemas que afligem a comunidade e que impõem reflexão científica aprofundada e respostas que refli-tam devidamente a sua complexi-dade não se distinguem em proble-mas exclusivos de direito privado ou definíveis de modo estanque como questões de direito público”, exemplifica. Antes convocam, diz, “o contributo, conjugado e aberto, dos cultores de várias áreas do Di-reito e que hoje se veem obrigados a trabalhar em conjunto”. Consi-dera, pois, fundamental redefinir as áreas de investigação científica, consentâneas com os termos ino-vadores em que o Direito é desafia-do na comunidade”. Solidariedade e cidadania, qualidade das institui-ções, direito dos negócios, justiça e segurança, integração europeia e direito do mar são linhas aponta-das pelo responsável.Assim, no âmbito do Centro desen-volvem-se, atualmente, projetos na área do direito do mar, da arbitra-gem, de direito dos seguros, assim, como, em sede de direito da união europeia, pontificando ainda esfor-ços em matéria de direito da regu-lação e simplificação administrativa, assim como, em sede de responsa-bilidade civil e sancionatória.

Maioria dos investigadores está no Porto

Criado em novembro do ano pas-sado, o Católica Research Centre for the Future of Law desenvolveu já “um notável conjunto de inicia-tivas”, afirma o diretor da Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portu-guesa, Manuel Fontaine Campos.No Centro de investigação do Porto – onde estão 25 dos 43 investigadores do Centro – o res-ponsável salienta o financiamento pela Comissão Europeia do pro-jeto “Training of national judges in EU competition law and judicial co-operation between national judges”, com o qual se “procura contribuir para a boa aplicação do Direito da Concorrência da União Europeia, designadamente, por parte dos magistrados portugue-ses e espanhóis”. Manuel Fontaine Campos assi-nala também “os sete encontros, colóquios, conferências ou con-gressos” realizados no primeiro semestre deste ano. Destaca a conferência internacional: “An-titrust Private Enforcement”, o Congresso Ibero-Americano de Direito do Trabalho (“Repensar o Direito do Trabalho?”) e a confe-rência sobre “Os novos limites da

Plataforma Continental”. Estas “iniciativas integram-se nas linhas de investigação fundamentais do Centro Desafios Globais da Inte-gração Europeia, Cidadania, Soli-dariedade e Inclusão Social e Es-tudos sobre Assuntos Marítimos, Governação dos Oceanos, Direito e Direito Internacional”, explica. Chama ainda a atenção para os dois encontros doutorais de in-vestigação com a Universidade de Glasgow e a Universidade de Coimbra e para o projeto em cur-so de criação de um Observatório CEID, que “visa apreciar a aplica-ção de certos setores de Direito da União Europeia pelos tribunais nacionais (essencialmente, de pri-meira instância)”.Este responsável considera que “o trabalho desenvolvido e pro-jetado encontra bases sólidas no seu corpo de investigadores e no seu plano estratégico”. Uma con-vicção reforçada pelo facto de “na avaliação em curso pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o Ca-tólica Research Centre for the Fu-ture of Law ter sido o único centro de investigação em Direito da ci-dade do Porto a passar à segunda fase de seleção”, conclui.

Manuel Fontaine Campos, diretor da Escola do Porto da Faculdade de Direito da Católica

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Fiscalidade

A tributação das sociedades de advogados está na ordem do dia e as recentes alterações legislativas no domínio dos impostos não deram resposta a esta questão. João Espanha, sócio fundador da Espanha & Associados e vogal do conselho diretor da ASAP – Associação das Sociedades de Advogados de Portugal, André Vasques Dias, sócio da Macedo Vitorino & Associados, José Pedroso de Melo, coordenador da área de prática de Fiscal da SRS Advogados, e Adelaide Moura, sócia fundadora da A.M. Moura Advogados, escrevem sobre o assunto.

Impostos e sociedadesde advogados

“Impõe a prudência que este debate se efectue sem extremismos e com o maior pragmatismo”

A transparência fiscal e as socie-dades de advogados, 56 é igual a 28+28?, o tempo da ponderação e do bom senso e uma atividade, dois regimes?, são os títulos dos textos que pode ler neste dossiê. Demonstram que a matéria é segui-da com atenção nas sociedades de advogados e que há soluções que poderiam ser seguidas pelo poder político e legislativo. “A solução que vimos reclamando é a possibi-lidade de o regime de transparência fiscal, no que concerne às socie-dades de profissionais em geral, e sociedades de Advogados em particular, passar a ser opcional”, defende João Espanha.O sócio fundador da Espanha & Associados considera que “aberto

o capital das sociedades a não--Advogados, o regime geral do IRC poderia ser alcançado (pese em-bora esta solução fosse, a nosso ver, uma forma algo enviesada de fazer as coisas). Contudo, o recente anúncio da decisão, por parte do Governo, de que as sociedades multidisciplinares não serão opção, reabre (felizmente!) a discussão”.Andrés Vasques Dias, sócio da Ma-cedo Vitorina & Associados, consi-dera que “aplicando-se o regime da transparência fiscal, o lucro obtido pela sociedade fica sujeito ao IRS dos sócios a uma taxa máxima de cerca de 56%, independentemente de corresponder a serviços por eles prestados e de ter sido distribuído ou não”.

Para José Pedroso de Melo, co-ordenador da área de prática de Fiscal da SRS Advogados, este é o tempo da ponderação e do bom senso: “Impõe a prudência que este debate se efectue sem extremis-mos e com o maior pragmatismo. E isto passa por reconhecer que, em face da evolução normativa do instituto, a discussão não se pode limitar à pura abolição do regime, ou à consagração de um regime optativo”Adelaide Moura, sócia fundadora da A.M. Moura Advogados, con-sidera que não se afigura muito sensato tributar de forma diferente lucros que provêm de atividades iguais, continuando os sócios das sociedades mais pequenas a ser

tributados a uma taxa marginal de IRS que pode ir até aos 53%, enquanto as outras, tributadas em sede de IRC, terão uma taxa mais reduzida, na ordem dos 29,5% so-bre os lucros, considerando já as derramas estadual e municipal, e sendo cada sócio tributado pelos lucros que lhe forem efetivamente pagos à taxa liberatória de 28%.

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“A solução que vimos reclamando é a possibilidade de o regime de transparência fiscal, no que concerne às sociedades de profissionais em geral, e sociedades de Advogados em particular, passar a ser opcional”

“Aberto o capital das sociedades a não- -Advogados, o regime geral do IRC poderia ser alcançado (pese embora esta solução fosse, a nosso ver, uma forma algo enviesada de fazer as coisas). Contudo, o recente anúncio da decisão, por parte do Governo, de que as sociedades multidisciplinares não serão opção, reabre (felizmente!) a discussão”

Sócio fundador da Espanha & Associados, vogal do conselho diretor da ASAP – Associação das Sociedades

de Advogados de Portugal

Transparência fiscal e sociedades de advogados

Sabe o leitor com certeza que os rendimentos dos cônjuges são, obri-gatoriamente, tributados no IRS em conjunto. Sabe o leitor também, provavelmente, que este regime da tributação conjunta foi estendido – mas nestes casos por opção - a quem viva em união de facto, inde-pendentemente do sexo. E estendido ainda, entretanto, a agregados constituídos por duas ou mais pessoas que vivam em economia comum há mais de dois anos, desde que uma seja maior de idade, não obstante a Administração tributária continuar sem aplicar, na prática, este regime, em virtude de não existir um campo específico, na declaração Modelo 3 de IRS, para assinalar as situações de econo-mia comum, contrariamente ao que sucede com as uniões de facto, já

O regime da transparência fiscal revelava-se materialmente injusto porquanto, no que respeita às sociedades de

profissionais, acabava por ser quase privativo das sociedades de Advogados, e assaz prejudicial quando a sociedade de

Advogados é, ou quer ser, uma empresa.

contempladas. Já não sabe, talvez, o leitor que a regra da tributação conjunta dos rendimentos do agre-gado familiar se aplica seja qual for o regime de bens. Nem que, afinal, os cônjuges podem apresentar as suas próprias declarações de rendimen-tos, mas só (só se) se declararem como separados de facto, sendo assim, quase, tributados como se fossem duas pessoas não casadas. E saberá o leitor, porventura, sendo casado, que é responsabilizado pelo pagamento do IRS sobre os rendi-mentos do seu cônjuge? Que esta responsabilidade fiscal se aplica mesmo em caso de separação de bens? E aos bens do cônjuge não titular de quaisquer rendimentos? Saberá ainda o leitor que são, à partida, havidos como residentes, e aqui também (duplamente) tribu-tados, o cônjuge e os filhos não residentes, por ser residente em Portugal o outro cônjuge, exigindo--se, para afastar a “presunção” ao cônjuge não residente, a prova da inexistência de uma ligação entre a maior parte das suas activida-des económicas e o território por-tuguês?Estes e muitos outros problemas, cada vez mais complexos e diver-sos, têm origem no facto de a nossa Constituição ter sido interpretada inicialmente, por autores muito auto-rizados, no sentido de dela decorrer a injunção da tributação unitária dos rendimentos do agregado familiar. Mas decorre, também, de a solução da tributação separada onerar, mais, casais em que os rendimentos são, exclusiva ou predominantemente, apenas de um dos cônjuges (os “casados/único titular”), que não é, hoje, a situação mais comum.Esta solução alternativa - a da tributação separada e não unitá-ria dos rendimentos do agregado

familiar -, afinal, não parece mais conforme à Constituição, quando esta impõe (tendo em conta as ne-cessidades e os rendimentos do agregado familiar) a tributação do rendimento pessoal? E esta solu-ção, mais simples - da tributação individual e da declaração autóno-ma dos rendimentos de cada um e, portanto, de cada pessoa singular (no caso dos filhos, representados pelos pais) - que sempre implicará, é certo, regras fiscais próprias para a imputação dos rendimentos comuns cada um dos cônjuges, mas é, ainda assim, bem tentadora. É, aliás, adoptada maioritariamente noutros países e aquela que permite mais respeito pela individualidade e responsabilidade dos membros do agregado familiar titulares dos rendimentos auferidos. E também ultrapassar as actuais di-ferenças de tratamento na panóplia fiscal de “situações familiares” hoje previstas pelo legislador e simplifi-car o regime da determinação do rendimento colectável e do imposto a pagar. Obstando, ainda, aos pro-blemas decorrentes da presunção de residência e da dupla tributação internacional do cônjuge residen-te no estrangeiro, aproximando as retenções na fonte do imposto devido a final e dispensando um número importante de contribuintes da apresentação das suas declara-ções fiscais, sem perda de controlo dos rendimentos auferidos. Além, principalmente, de facilitar a infor-matização dos procedimentos de recolha do imposto.O momento em que se agita a refor-ma do IRS - porventura em tempo inapropriado - pode ser o de pon-derar alternativas e, assim também, o da tributação pessoal (individual) dos rendimentos (de cada um) dos membros do agregado familiar.

JOÃOESPANHA

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56 é igual a 28 + 28?

A única forma de compatibilizar o regime de transparência fiscal com o princípio da capacidade contributiva será atribuir-lhe carácter facultativo, à semelhança do que acontece com o regime simplificado de tributação e outros regimes baseados em presunções e não no rendimento real.

ANDRÉ VASQUESDIAS

Sócio da Macedo Vitorino & Associados

“Aplicando-se o regime da transparência fiscal, o lucro obtido pela sociedade fica sujeito ao IRS dos sócios a uma taxa máxima de cerca de 56%, independentemente de corresponder a serviços por eles prestados e de ter sido distribuído ou não”

Até 2014, o regime de transpa-rência fiscal aplicou-se às socie-dades de advogados enquanto “sociedades de profissionais” que desenvolvem uma das actividades previstas na Portaria n.º 1011/2001 e na qual todos os sócios são pro-fissionais dessa actividade.Com a reforma do IRC, este regi-me foi alargado a outras socieda-des que desenvolvem uma ou mais destas actividades e que preen-cham certos requisitos, tais como, facturação associada a essas acti-vidades superior a 75%, cinco ou menos sócios e participação dos profissionais no capital não inferior a 75%.Esta solução foi criticada por ale-gadamente favorecer as grandes sociedades. Estranhamente, pou-co se discutiu sobre a racionalida-de de manter este regime, tendo a Comissão para Reforma do IRC (“Comissão”) considerado que esta questão extravasava o seu mandato.É comummente aceite que o re-gime de transparência fiscal tem três objectivos: (i) a eliminação da dupla tributação económica dos lucros, (ii) a neutralidade fiscal e (iii) o combate à evasão fiscal. Anali-sando em maior detalhe este regi-me, verifica-se que nenhum destes objectivos permite justificar hoje a sua aplicação obrigatória.Evita-se a dupla tributação na me-dida em que os lucros da socie-dade não são tributados em IRC e IRS, mas tão só em IRS. Na prática, porém, este regime pode ter como efeito antecipar e agravar a tributa-ção, o que, como bem apontou a Comissão, pode levantar questões de violação do princípio da capaci-dade contributiva.Com efeito, aplicando-se o regime da transparência fiscal, o lucro ob-tido pela sociedade fica sujeito ao

IRS dos sócios a uma taxa máxima de cerca de 56%, independente-mente de corresponder a serviços por eles prestados e de ter sido distribuído ou não. Caso este re-gime não fosse aplicável, a tribu-tação seria distinta: os honorários pagos aos sócios pelos serviços prestados seriam sujeitos a IRS até 56%; por seu turno, o lucro da so-ciedade seria sujeito a IRC à taxa máxima de cerca de 28% e em IRS à taxa de 28% (com opção de en-globamento), mas apenas quando distribuído.Esta solução não deveria levantar objecções se se tivesse em con-ta que o lucro de uma sociedade (mesmo de advogados) não se destina a remunerar os serviços prestados pelos sócios, mas sim o capital investido e o risco assumi-do, podendo resultar de outros fac-tores para além da actuação dos sócios. Por esta razão, a eventual dupla tributação do lucro em IRC e IRS (28% + 28%) não justifica a sua imediata tributação em IRS (até 56%).Também a neutralidade fiscal, que visa tratar da mesma forma os pro-fissionais que desenvolvem a sua actividade isoladamente e os que o fazem em sociedade, não per-mite justificar esta opção, a não ser por aqueles que continuem a ver as sociedades de advogados como escritórios de partilha de despesas em que todo o montante facturado é para ser distribuído. A verdade é que hoje os modelos de gestão não distinguem estas so-ciedades das restantes sociedades comerciais: o valor facturado não se destina apenas a ser distribuído, é necessário para cobrir custos e realizar investimentos!O mesmo se diga em relação ao combate à evasão fiscal. Este com-bate não pode ser feito com sacri-

“Caso este regime não fosse aplicável, a tributação seria distinta: os honorários pagos aos sócios pelos serviços prestados seriam sujeitos a IRS até 56%; por seu turno, o lucro da sociedade seria sujeito a IRC à taxa máxima de cerca de 28% e em IRS à taxa de 28% (com opção de englobamento), mas apenas quando distribuído”

fício do princípio da capacidade contributiva, em particular, quando existem outros mecanismos para evitar abusos.Por tudo isto, a única forma de compatibilizar o regime de trans-parência fiscal com o princípio da capacidade contributiva será atribuir-lhe carácter facultativo, à semelhança do que acontece com o regime simplificado de tributação e outros regimes baseados em pre-sunções e não no rendimento real. Talvez nessa altura se possa dizer que 56 é igual a 28 + 28.

*Artigo redigido segundo as regras do anterior acordo ortográfico.

Fiscalidade

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“Cumpre ter presente que, em face da actual discrepância de taxas verificada entre a tributação das pessoas singulares e das pessoas colectivas, a única razão que ainda justifica a manutenção deste regime se prende com o combate aos comportamentos de substituição resultantes, no caso, da interposição de entidades fictícias com o único intuito de obter vantagens fiscais para os respectivos sócios”

Coordenador da área de prática de Fiscal da SRS Advogados

O tempo da ponderação e do bom senso

Frustrando as expectativas de to-dos quantos adivinharam na Refor-ma do IRC o fim do regime da trans-parência fiscal nas sociedades de profissionais, a Lei n.º 2/2014, de 16 de Janeiro, que aprovou a Re-forma do Código do IRC, não só não o concretizou como, ao invés, veio a alargar o seu âmbito de apli-cação a outras realidades que até agora lhe escapavam.Convenhamos que tais expectati-vas sempre pareceram demasiado optimistas. E é justo reconhecer que seria difícil fazer diferente, ponderadas as diversas condicio-

A solução poderá ter de passar pela consagração de alterações legislativas pontuais que, reconhecendo o princípio

e a sua necessidade, eliminem ou atenuem os efeitos mais perniciosos e incontroversamente injustos da sua aplicação.

JOSÉ PEDROSODE MELO

nantes com que se deparou a Co-missão encarregada da Reforma do imposto, designadamente as que resultavam do âmbito do pró-prio mandato que lhe foi concedido.Acresce que, pelo menos no plano dos princípios, o instituto da trans-parência fiscal constitui, desde que aplicado de forma generalizada, uma ferramenta de plena actua-lidade e utilidade na evitação dos designados comportamentos de substituição. E, nessa perspectiva, a solução encontrada pela Comis-são para a Reforma do IRC tem o mérito de eliminar a gritante injusti-ça resultante da aplicação exclusi-va do regime às sociedades de ad-vogados e sociedades de revisores oficiais de contas.Volvidos que estão, entretanto, seis meses sobre aquela interven-ção legislativa, e assente que se encontra a poeira mediática, não se vislumbram razões para que o tema não possa agora ser especifi-camente debatido com a seriedade que merece. E, sobretudo, a sere-nidade que se impõe.Impõe a prudência que este deba-te se efectue sem extremismos e com o maior pragmatismo. E isto passa por reconhecer que, em face da evolução normativa do instituto, a discussão não se pode limitar à pura abolição do regime, ou à con-sagração de um regime optativo.Com efeito, cumpre ter presen-te que, em face da actual discre-pância de taxas verificada entre a tributação das pessoas singulares e das pessoas colectivas, a única razão que ainda justifica a manu-tenção deste regime (e, de resto, a sua generalização) se prende com o combate aos comportamentos de substituição resultantes, no caso, da interposição de entidades fictícias com o único intuito de obter vantagens fiscais para os respec-

“Impõe a prudência que este debate se efectue sem extremismos e com o maior pragmatismo. E isto passa por reconhecer que, em face da evolução normativa do instituto, a discussão não se pode limitar à pura abolição do regime, ou à consagração de um regime optativo”

tivos sócios. Que não já quaisquer preocupações de neutralidade fiscal ou de dupla tributação económica.Ora, se assim é, é forçoso reco-nhecer que se, actualmente, par-te substancial das sociedades de advogados não encaixam naquele paradigma, não se apresenta como tarefa fácil a consagração de con-ceitos normativos que permitam distinguir os verdadeiros projectos empresariais comuns das situa-ções de mera associação formal de profissionais com vista à obtenção de um regime fiscal mais favorável. Que efectivamente existem.Admitindo aquela dificuldade, a que se juntam limitações de ordem política, a solução poderá ter de passar pela consagração de alte-rações legislativas pontuais que, reconhecendo o princípio e a sua necessidade, eliminem ou atenuem os efeitos mais perniciosos e in-controversamente injustos da sua aplicação: a imputação de lucros não distribuídos, mantidos para reserva ou reinvestimento, a impu-tação de lucros artificiais corres-pondentes a proveitos facturados e não cobrados e a situação dos sócios “de mero estatuto”.E a verdade é que não vislumbram razões de ordem técnica ou de princípio que se possam opor à so-lução do problema, sem prejudicar a sua eficácia como ferramenta de combate à evasão fiscal. Passan-do pela consagração de um regime de caixa semelhante ao adoptado para o IVA, como sugerido pela Comissão para a Reforma do IRC, ou pela extensão do regime de de-duções à colecta por lucros rein-vestidos, várias são as soluções possíveis. Haja bom senso e pon-deração.

*Artigo redigido segundo as nor-mas do anterior acordo ortográfico.

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Fiscalidade

Uma atividade, dois regimes?Não se afigura muito sensato tributar de forma diferente lucros que provêm de atividades iguais, continuando os sócios das sociedades mais pequenas a ser tributados a uma taxa marginal de IRS que pode ir até aos 53%, enquanto as outras, tributadas em sede de IRC, terão uma taxa mais reduzida, na ordem dos 29,5% sobre os lucros, considerando já as derramas estadual e municipal, e sendo cada sócio tributado pelos lucros que lhe forem efetivamente pagos à taxa liberatória de 28%.

ADELAIDEMOURA

Sócia fundadora da A.M. Moura Advogados

“No caso das sociedades de advogados, já se vê que só aquelas com estruturas que já possam dizer-se de natureza empresarial ou com pretensões a tal (com mais de cinco sócios) poderão passar a beneficiar da reduzida taxa de IRC”

O regime da transparência fiscal aplicável às sociedades de advo-gados, enquanto sociedades de profissionais consiste na imputa-ção aos respetivos sócios da ma-téria coletável obtida pela socieda-de, tributada na esfera pessoal dos sócios em IRS.A desvantagem deste regime traduz-se no facto de a parte dos lucros imputada a cada sócio fi-car sujeita ao pagamento de IRS a taxas progressivas, incluindo-se também nos lucros tributáveis os que não são distribuídos.Nos termos do regime de transpa-rência fiscal em vigor até ao final de 2013, uma sociedade só seria considerada como uma socieda-de de profissionais se (a) todos os sócios fossem pessoas singulares e (b) todos exercessem apenas uma das ditas profissões liberais ou uma atividade de prestação de serviços por conta própria prevista na Tabela Anexa ao Código do IRS.Era e é ainda, o caso das socie-dades de advogados, das quais apenas podem ser sócios pessoas singulares que exerçam a profissão de advogados.

Reforma do IRC Com a reforma da tributação das sociedades (Lei n.º 2/2014, de 16 de janeiro), o conceito de socieda-des de profissionais para efeitos de sujeição ao regime de transpa-rência fiscal foi alargado, passando este a ser aplicável às sociedades cujos rendimentos provenham, em mais de 75%, do exercício conjun-to ou isolado de atividades profis-sionais especificamente previstas na Tabela Anexa ao Código do IRS,

desde que, cumulativamente, em qualquer dia do período de tribu-tação, (a) o número de sócios não seja superior a cinco, e (b) nenhum deles seja pessoa coletiva de direi-to público, e (c) pelo menos 75% do capital social seja detido por profissionais que exercem as re-feridas atividades, total ou parcial-mente, através da sociedade.Na prática, duas grandes altera-ções: (a) uma sociedade de advo-gados com mais de cinco sócios não fica sujeita ao regime da trans-parência fiscal; e (b) sociedades de profissionais que facilmente dei-xavam de o ser com a entrada de um sócio minoritário que não exer-cesse a mesma profissão deixam agora de conseguir “escapar” à transparência fiscal, salvo se, pelo menos, fizerem uma reestruturação profunda da titularidade do respeti-vo capital social e da forma como a atividade é prosseguida. No caso das sociedades de advo-gados, já se vê que só aquelas com estruturas que já possam dizer-se de natureza empresarial ou com pretensões a tal (com mais de cin-co sócios) poderão passar a bene-ficiar da reduzida taxa de IRC. Não se afigura muito sensato tributar de forma diferente lucros que provêm de atividades iguais, continuando os sócios das sociedades mais pequenas a ser tributados a uma taxa marginal de IRS que pode ir até aos 53%, enquanto as outras, tributadas em sede de IRC, terão uma taxa mais reduzida, na ordem dos 29,5% sobre os lucros, consi-derando já as derramas estadual e municipal, e sendo cada sócio tri-butado pelos lucros que lhe forem

“Sociedades de profissionais que facilmente deixavam de o ser com a entrada de um sócio minoritário que não exercesse a mesma profissão deixam agora de conseguir escapar à transparência fiscal”

efetivamente pagos à taxa liberató-ria de 28%.Por exemplo, e sem grande rigor de cálculo por não ter em conta as-petos relevantes como sejam tribu-tações autónomas, numa situação de duas sociedades, uma sujeita ao regime de transparência fiscal e outra sujeita a IRC, no primeiro caso um sócio ao qual seja impu-tado em 2014 lucro no montante de 100 000,00 EUR pagará cerca de 50 000,00 EUR de IRS, enquan-to um sócio de uma sociedade de advogados sujeita a IRC, pelo re-cebimento de lucros em 2014 no mesmo montante de 100 000,00, EUR pagará cerca de 28 000,00 EUR de IRS.

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AdvocatusJet Advocatus

A edição de 2014 do Rock’n’Law vai ficar para a história. Foi a que registou o maior resultado de sempre, tendo angariado 107 mil euros em receitas o que, após dedução de impostos, gerou o maior donativo desde a primeira edição: quase 75 mil euros. O apoio irá permitir à Re-food abrir 20 novos núcleos, assegurando, assim, o resgate de milhares de refeições para alimentar milhares de pessoas. O evento, que teve lugar no dia 26 de junho, contou com a presença de 1 720 pessoas para ver atuar nove bandas constituídas por advogados. Nas últimas cinco edições o Rock’n’Law apoiou 12 projetos de Solidariedade Social e angariou quase 257 mil euros.

Rock por uma causa

Francisco Proença de Carvalho e HunterHalder, da Re-food

O sócio-fundador da CMS-RPA, Rui Pera

A plateia

Os “Out of office”, de RPA Link Laters

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Jet Advocatus

Jorge Brito Pereira (na guitarra) e os advogados - músicos da PLMJ

A “Bandalhoca”, da VdA, no aquecimento

O entusiasmo do público

A “Bandalhoca” em ação

Os “Heroes del despacho”, da Uria Meréndez - Proença de Carvalho Daniel Proença de Carvalho

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Pela Miranda, a “Lex no more”

Pedro Rebelo de Sousa, da SRS

António Lobo Xavier, da MLGTS

Mafalda Barreto e FerminGarbayo, da Gomez - Acebo & Pombo

“Lowcura”, a banda da SRS

A “Tier one band”, da MLGTS

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O que é um mercado? Mistérios do direitoda concorrênciaQuando se suscitam questões sobre o mercado em causa, e se estas podem afetar o resultado final, os juristas têm de discutir os contornos desse mercado de acordo com os ditames do direito da concorrência, sem recear este Adamastor que guarda o cabo na rota para a solução justa.

MIGUEL SOUSAFERRO

Consultor da Eduardo Paz Ferreira & Associados. Professor Convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é autor da tese de doutoramento “A definição de mercados relevantes no Direito Europeu e Português: Teoria e Prática”, pela mesma instituição.

“Em 1980, Turner, um eminente professor de economia americano, debruçando-se sobre o modo como as autoridades definiam mercados, concluiu: this whole area is a bloody mess. Mais de três décadas depois, estas palavras continuam a ter um fundo de verdade”

O direito da concorrência exige, frequentemente, que se comece por definir o mercado em causa, para se identificar uma prática coletiva restritiva da concorrên-cia ou um abuso de posição dominante ou de dependência económica, para decidir sobre o dever de notificação e a autori-zação de uma operação de con-centração, para avaliar a legali-dade dum auxílio de Estado ou para respeitar múltiplos direito e deveres processuais.A própria legitimidade deste ramo do direito está dependen-te da ideia de que os mercados são definidos de acordo com um método objetivo e previsível. Caso contrário, recai-se no cam-po da arbitrariedade, dando-se às autoridades o poder de restringir a iniciativa económica e a liberdade contratual com base em juízos que podem não ter qualquer ligação com a realidade do impacto das condutas nos mercados.No entanto, vivemos uma profunda insegurança jurídica sobre o que seja, para o direito, um “mercado relevante” e como o devemos defi-nir. Os mesmos mercados são de-finidos de maneira diferente de au-toridade para autoridade e, dentro de cada autoridade, de caso para caso. A nossa AdC, por exemplo, já afirmou várias vezes que não existem mercados “gratuitos”, mas também já identificou mercados “gratuitos” em vários casos. São frequentes as instrumentalizações das delimitações para servir os in-teresses do caso concreto.

Os princípios gerais afirmados em documentos administrati-vos e a prática das autoridades da concorrência não correspon-dem inteiramente aos esclareci-mentos jurisprudenciais. Deixe-mos de citar a Comunicação da Comissão Europeia sobre esta matéria como se fosse fonte de direito: não é, e diverge da juris-prudência em vários pontos.Infelizmente, os tribunais têm limitado, drástica e excessiva-mente, o seu controlo das defini-ções de mercado realizadas pe-las autoridades da concorrência. Neste plano, só em cerca de 5% dos casos em que a questão foi expressamente discutida peran-te as jurisdições europeia e na-cional os tribunais se mostraram críticos. Nalguns casos, verifica--se mesmo, na prática, uma re-cusa de justiça, fundada na ideia errada de que estão sempre em causa apreciações económicas complexas.Sejamos claros: estes conceitos e métodos são jurídicos. O facto de serem construídos com base em ensinamentos da ciência económica não permite que se remeta para esta a definição do conceito e método de definição de mercados, sob pena de vio-lação do princípio do Estado de direito. E o controlo passa quase sempre por questões de facto, de direito e de lógica, sendo mui-to raros os juízos que assentam, efetivamente, em apreciações económicas.A tese de doutoramento que aca-

“Vivemos uma profunda insegurança jurídica sobre o que seja, para o direito, um “mercado relevante” e como o devemos definir. Os mesmos mercados são definidos de maneira diferente de autoridade para autoridade e, dentro de cada autoridade, de caso para caso”

bo de defender na Universidade de Lisboa, com o título “A defi-nição de mercados relevantes no direito europeu e português da concorrência: teoria e prática”, procura chamar a atenção para esta realidade e esclarecer os conceitos próprios do mercado relevante e o método da sua de-limitação.Resulta desta análise que, ideal-mente, o mercado em causa se-ria o conjunto mais estreito dos produtos e/ou serviços, áreas e períodos temporais que exercem suficiente pressão concorren-cial imediata sobre o produto, a

Concorrência

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“Os tribunais têm limitado, drástica e excessivamente, o seu controlo das definições de mercado realizadas pelas autoridades da concorrência. Neste plano, só em cerca de 5% dos casos em que a questão foi expressamente discutida perante as jurisdições europeia e nacional os tribunais se mostraram críticos”

“Os princípios gerais afirmados em documentos administrativos e a prática das autoridades da concorrência não correspondem inteiramente aos esclarecimentos jurisprudenciais”

área e o período temporal focal da análise, devido à substituibi-lidade do lado da procura ou do lado da oferta, de modo a que não haja incentivo económico para um pequeno aumento não transitório de preços do produ-to, na área e no período focal, na ordem dos 10%, acima de níveis concorrenciais.No entanto, o conceito que tem vindo a ser defendido na juris-prudência, dividido em mercado de produto e mercado geográfi-co (e, implícita e ocasionalmen-te, em mercado temporal), não corresponde inteiramente a este. Nem se verifica que os conceitos jurídicos aplicados pelos tribu-nais estejam corretamente resu-midos nos princípios por si siste-maticamente reproduzidos.Uma das conclusões mais sur-preendentes foi o facto de, ao contrário do que é geralmente entendido, o famoso teste SS-NIP, a que aludimos acima, não ter sido (ainda) adotado como critério orientador do conceito de mercado. O Tribunal de Justi-ça da União Europeia fala apenas em substituibilidade “razoável” ou “suficiente” entre produtos/áreas, sem nunca concretizar estes conceitos indeterminados por referência ao critério quanti-tativo ínsito no teste SSNIP. Na prática, pode haver variações de preço muito superiores a 10%, sem causar substituição, e ainda assim os produtos/áreas serem incluídos no mesmo mercado.Com a economia a confrontar--nos com novas realidades, difí-ceis de enquadrar na velha teoria de definição de mercados, torna--se premente trabalhar sobre fundações sólidas, para que todo o edifício não se desmorone.Assim, por exemplo, não existem “mercados de inovação”, com mera potencialidade de produ-to/serviço futuro. O que existem são mercados atuais em que a inovação é um fator crucial a

ponderar na aferição do poder de mercado.Não existem “mercados gratui-tos”. Só pode haver um mercado se um determinado bem/serviço for transacionado. Mas a gratui-tidade de certos bens/serviços pode ter um impacto determi-nante em mercados. A Google não está ativa num mercado de buscas online, está ativa num mercado de publicidade, no qual o seu sucesso é largamente in-fluenciado pela sua capacidade de atrair utilizadores para o seu motor de busca.Os ditos “mercados bilaterais” são, na realidade, dois mercados relevantes unidos por uma pla-taforma comum. Não existe um único mercado de jornais com dois tipos de procura de dois produtos diferentes, existe um mercado de leitores de jornais e um mercado de publicidade na imprensa, com relações de in-terdependência entre si que não podem deixar de ser ponderadas após a definição dos mercados.Estas questões podem ter um impacto decisivo na prática. Uma empresa pode ver-se sujeita a uma coima por não ter notifica-do uma concentração que estava convicta de não ter de notificar. Outra pode ver-lhe atribuída uma posição dominante numa ativi-dade que nem considera ser um mercado. Um acordo limitado a uma pequena área ou volume pode afinal ter um efeito sensí-vel na concorrência e ser consi-derado inválido. Uma autoridade da concorrência pode não ter legitimidade para aceder, duran-te uma inspeção, a documentos sobre atividades noutros merca-dos. Etc.Em 1980, Turner, um eminente professor de economia america-no, debruçando-se sobre o modo como as autoridades definiam mercados, concluiu: “this whole area is a bloody mess”. Mais de três décadas depois, estas pala-

vras continuam a ter um fundo de verdade.Não podemos ser irrealistas no nível de exigência com a opera-ção de definição de mercados. Muitos casos não suscitam es-peciais dificuldades a este nível. Mas, quando se suscitam ques-tões sobre o mercado em causa e se estas podem afetar o resulta-do final, os juristas têm de discutir os contornos desse mercado de acordo com os ditames do direito da concorrência, sem recear este Adamastor que guarda o cabo na rota para a solução justa.Resta-nos esperar que o estu-do ora concluído contribua para a consciencialização para a im-portância desta matéria e para o esclarecimento das dúvidas que inevitavelmente se suscitam.

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Estante

UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS ESSENCIAIS DO PEPEXNo fundo, pretende-se reduzir o número das ações executivas pendentes e em especial aquelas que terminam sem qualquer recuperação para o credor, as quais, muitas vezes, têm como único fim obter certidão de incobrabilidade.

ANDREIA DE MELOE CASTRO

Advogada e Mestre em Ciências Jurídico-Empresariais pela Faculdade de Direito da Universidade de LisboaAutora da Wolters Kluwer

“No dia 30 de Maio, foi publicada a Lei n.º 32/2014, mediante a qual foi aprovado o procedimento extrajudicial pré-executivo (PEPEX)”

No dia 30 de Maio, foi publicada a Lei n.º 32/2014, mediante a qual foi aprovado o procedimento extraju-dicial pré-executivo (PEPEX). O PEPEX visa a identificação de bens penhoráveis antes de ser instau-rada a ação executiva, através da disponibilização de consultas às bases de dados previstas no CPC. No fundo, pretende-se reduzir o número das ações executivas pen-dentes e em especial aquelas que terminam sem qualquer recupera-ção para o credor, as quais, muitas vezes, têm como único fim obter certidão de incobrabilidade.Este procedimento é facultativo e depende da existência de um título executivo que permita a utilização da forma de processo sumária, como é o caso das injunções, in-cluindo as europeias, sentenças estrangeiras, cheques, letras e li-vranças até 10.000,00€, documen-tos autênticos ou autenticados, garantidos por hipoteca ou penhor, atas de condomínio ou comuni-cações no âmbito do NRAU, até àquele valor.A dívida deve ser certa, líquida e exigível e o requerente deve ainda discriminar o capital, juros, impos-tos devidos (ex.: imposto de selo), taxas de justiça pagas (por exem-plo, pelo procedimento de injun-ção) e outras quantias, bem como expor os factos que fundamentam o pedido, quando não constem do título executivo. Caso o Requeren-te pretenda a identificação de bens comuns do casal, deve indicar o número de contribuinte do cônjuge e o regime de bens (bastando fo-tocópia não certificada do assento de casamento).O PEPEX permite a cumulação de

pedidos, desde que as partes se-jam as mesmas e todos se desti-nem ao pagamento de quantias certas. O prazo para pagamento da taxa de justiça devida pelo iní-cio do procedimento é de cinco dias após o requerente rececionar o “identificador único de pagamen-to”, sob pena do requerimento ficar sem efeito.Efetuado o pagamento, o requeri-mento é considerado entregue e é realizada a distribuição automática do pedido a um agente de execu-ção, que conste da lista dos agen-tes de execução que participam no PEPEX, através do SISAAE, o qual tem 5 dias úteis para realizar as consultas e elaborar relatório, ou para recusar o procedimento. Em caso de incumprimento pelo agente de execução (AE) do prazo de realização das diligências pre-vistas na presente lei, para além de responsabilidade disciplinar, pode ser aplicada, a título cautelar, a me-dida de suspensão de distribuição de novos procedimentos até que se mostrem realizadas as diligên-cias em falta.O Requerente pode, no entanto, requerer a substituição do AE ori-ginariamente designado, 15 dias após o termo daquele prazo, sendo nomeado outro. O AE pode recusar o requerimento quando falte algum requisito. Nos casos em que é pos-sível a sanação (ex.: insuficiência de elementos ou a ausência de cópia do título executivo), o reque-rente tem 5 dias para suprir a falta. Havendo recusa do requerimento, o credor pode ainda assim requerer a convolação do procedimento em processo executivo, no prazo de 30 dias.

Não existe suspensão dos prazos durante as férias judiciais, aplican-do-se em tudo o que não esteja especialmente previsto as regras do Código de Processo Civil. O AE consulta as bases de dados, nomeadamente da Autoridade Tri-butária e Aduaneira, Segurança Social, Registo Civil, RNPC, entre outras.O Banco de Portugal (BP) disponi-biliza ao AE informação acerca das instituições em que o requerido de-tém contas, nos mesmos termos previstos para a penhora de saldos bancários. É assegurada a confi-dencialidade de todos os dados obtidos, porquanto os resultados das consultas e a informação ob-tida não podem ser divulgados ou utilizados para outro fim que não o do procedimento em causa.Após as pesquisas, é elaborado relatório resumindo as mesmas e indicando uma das seguintes men-ções:• Sem quaisquer bens identifica-dos;• Com bens aparentemente onera-dos ou com encargos;• Com bens aparentemente livres de ónus ou encargos.Do Relatório constam ainda outras informações essenciais para o cre-dor, tais como o requerido constar da lista pública de devedores, ter sido declarado insolvente, ter fale-cido ou sido dissolvido, bem como ser parte em processos executivos pendentes.Após receber o relatório, o credor pode requerer a conversão do PE-PEX em ação executiva.Na eventualidade de não terem sido encontrados bens ou direitos penhoráveis, o credor pode reque-

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rer a notificação do devedor para, no prazo de 30 dias, e sob pena de ser incluído na lista pública de de-vedores:• pagar a dívida, acrescida dos ju-ros vencidos, impostos eventual-mente devidos e honorários do AE;• celebrar acordo de pagamento com o credor;• indicar bens penhoráveis: neste caso, o credor tem 30 dias para re-querer a convolação em processo executivo;• opor-se ao procedimento.A notificação do devedor é feita por contacto pessoal do AE. No caso das pessoas singulares, a notifica-ção é feita na residência ou no local de trabalho. Na impossibilidade de se apurar a morada mais atualiza-da, a notificação é feita na morada fiscal. A notificação das pessoas coletivas ou equiparadas é realiza-da por contacto pessoal do AE na sede, presumindo-se que é a que consta no RNPC. Se a sede estiver encerrada, e não havendo quem aceite receber a notificação ou caso haja recusa em assinar, o AE afixa a notificação no local.É possível que a notificação seja feita em terceira pessoa ou por nota de depósito (no caso das ilhas das regiões autónomas em que não exista AE, a notificação pode ser efetuada por carta regis-tada com aviso de receção). Se o requerido estiver ausente, não há lugar a notificação edital. Refira-se ainda que as diligências realizadas pelo AE são registadas no SISAAE utilizando-se dispositivo eletrónico aprovado.O devedor pode apresentar opo-sição ao procedimento, com base nos fundamentos previstos no CPC, de acordo com o título exe-cutivo em causa. É aplicável o regime da oposição à execução, sendo criada uma nova espécie de processo especial de oposição ao PEPEX. Pela apresentação de opo-sição, é devida taxa de justiça no valor de 1,5 ou 3 UC’s, consoante o valor do procedimento seja infe-rior ou igual à alçada do Tribunal da Relação ou seja superior a esse valor, respetivamente, sem prejuízo das regras referentes ao Apoio Ju-diciário. O credor pode apresentar

contestação, sendo devida taxa de igual montante.A pendência de processo de opo-sição ou a sua procedência obs-tam à instauração de ação exe-cutiva com base no mesmo título.Todavia, Requerente e Requerido podem celebrar um acordo escrito para pagamento do valor em dí-vida, acrescida de juros vencidos até à data limite de pagamento e dos impostos a que haja lugar, bem como dos honorários devidos ao AE, em prestações mensais e sucessivas, devendo o acordo e o plano de pagamento ser comuni-cados ao AE, para efeitos de regis-to no procedimento.Com a junção do acordo o proces-so é extinto, com expressa indica-ção do fundamento, sem prejuízo da convolação do procedimento em processo executivo, por soli-citação do Requerente, junto do AE, em caso de incumprimento de qualquer das prestações devidas.A convolação do PEPEX em pro-cesso de execução fica condicio-nada à verificação cumulativa dos seguintes requisitos:• Apresentação do requerimento executivo;• Junção de relatório de bens.Nestes casos, o exequente fica dispensado do pagamento inicial dos honorários e despesas do AE, bem como do valor devido a título de consultas das bases de dados, quando este seja exigido no âmbi-to do processo executivo.Uma vez que este tipo de execu-ções é precedido do PEPEX, não se repetem as consultas às bases de dados. Após a extinção do pro-cedimento, é possível proceder a novas consultas, caso o PEPEX não seja convolado em ação exe-cutiva e tenha terminado sem a identificação de quaisquer bens penhoráveis, na medida em que o credor pode, no prazo de 3 anos, solicitar a realização de novas consultas, mediante pagamento ao AE, o qual elabora novo rela-tório.Nestes casos, não há lugar à no-tificação do requerido quando já esteja inserido na lista pública de devedores. No que diz respeito ao acesso ao processo, qualquer das

partes intervenientes no proce-dimento pode aceder ao proces-so, por via eletrónica, mediante autenticação. Significa isto que, para além do acesso por advo-gados e AE’s, será também pos-sível aceder ao processo, através de plataforma informática criada para o efeito, mediante o certifi-cado digital integrado no Cartão do Cidadão, bem como através da plataforma de autenticação da ad-ministração fiscal.No caso do Requerido, o proces-so só fica disponível para consul-ta pelo requerido após a primeira notificação ou após a citação no âmbito da ação executiva subse-quente. Não se verificando nenhu-ma destas hipóteses, 30 dias após extinção do procedimento. Após a inclusão do requerido na lista pú-blica de devedores, o credor pode solicitar certidão de incobrabilida-de, para efeitos de recuperação de IVA e IRC, a qual é emitida pelo AE e comunicada à AT. Contudo, se após a emissão da referida certidão, o requerido for excluído da lista pública de deve-dores por ter havido pagamento integral, o AE está obrigado a noti-ficar a AT de tal facto.Dos atos praticados pelo AE, no âmbito do PEPEX, cabe reclama-ção a apresentar por qualquer das partes, no prazo de 30 dias, a con-tar da data em que teve conheci-mento da prática dos mesmos, para os órgãos de fiscalização e disciplina da atividade dos AE’s e, quanto à legalidade dos atos para os tribunais judiciais competentes.Os atos dos órgãos de fiscalização e disciplina da atividade dos AE’s podem ser igualmente impugna-dos, no prazo de 30 dias contados da data da sua notificação aos interessados, junto dos tribunais administrativos.Em todas as questões não pre-vistas expressamente na presen-te Lei, que entrará em vigor em 01/09/2014, é de aplicar, subsidia-riamente o CPCAguardemos, pois, a sua entra-da em vigor, para que possamos efetuar uma análise resultante da experiência vivenciada na prática quotidiana.

“A notificação do devedor é feita por contacto pessoal do AE. No caso das pessoas singulares, a notificação é feita na residência ou no local de trabalho. Na impossibilidade de se apurar a morada mais atualizada, a notificação é feita na morada fiscal”

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Entrevista

Os clientes que batem à porta das grandes sociedades de advogados têm a garantia de qualidade de serviço, know-how e experiência acumulada e dimensão. Características que assentam que nem uma luva na PLMJ, principalmente a dimensão, que funciona como um “ativo” muito importante. Manuel Santos Vítor, managing partner da sociedade, explica o que a distingue da concorrência e porque é que é a altura de debater a fiscalidade das sociedades de advogados.

Manuel Santos Vítor, managing partner da PLMJ

A dimensão é um ativo

Advocatus | Quais são os de-safios que se colocam hoje na gestão de uma sociedade de advogados?Manuel Santos Vítor | É impor-tante perceber que gerir uma sociedade de advogados é gerir pessoas e quando se pensa na gestão de uma grande socieda-de de advogados, com mais de 220 Advogados, em 3 continen-tes, como é PLMJ, pensa-se que a lógica é empresarial. Isso não

é bem assim. Ou seja, é obvia-mente uma lógica empresarial na medida em que é uma estrutura organizada e altamente profis-sional, que visa ser eficiente e com todos os serviços de apoio profissionalizados, que nos tor-nam mais ágeis e eficientes, no-meadamente os departamentos: financeiro, RH e formação, co-municação e marketing, gestão do conhecimento, business in-telligence, informática e teleco-

municações, serviços forenses, registos e notariados, entre ou-tros. Mas no dia-a-dia o que faço, como gestor de uma sociedade de advogados, é gerir pessoas, ouvi-las, percebê-las, perceber onde é que estão e para onde vão, tentar ajudá-las, sendo cer-to que não influencio a produção do dia-a-dia, pelo menos numa escala micro. Isto é, eu não vou ter com um responsável de uma determinada área de prática e

dizer-lhe como é que ele a deve exercer. Estou disponível para o ajudar, vou intervir no sentido de esse colega estar alinhado com aquilo que são os objetivos do escritório e zelo para que eles sejam cumpridos. Aprovamos todos os anos planos estratégi-cos e objetivos e ao longo do ano sou o principal responsável para que tudo seja feito de acordo com esses objetivos. Tenho de ter tempo suficiente para a ges-

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Hermínio Santos, jornalista, [email protected]

tão corrente e disponibilidade para sair dessa gestão corrente e antecipar tendências e proble-mas e definir quais serão os pró-ximos passos do escritório em termos estratégicos, para servir-mos cada vez melhor os nossos clientes, em todas as jurisdições onde estamos presentes.

Advocatus | E como é que isso se faz? É com trabalho de equi-pa? Estudo? Olhar lá para fora?MSV | É com tudo isso que re-fere. É importante perceber que não fui treinado para ser gestor mas sim advogado e por força de várias circunstâncias e mo-mentos aqui no escritório estou, nesta fase e durante um determi-nado período de tempo, a gerir os destinos do escritório. Temos uma gestão coletiva e sou uma das faces visíveis de um conse-lho de administração e de um conjunto excelente de sócios, esse sim, particularmente visível. Todos têm disponibilidade para participarem em tarefas coletivas e há uma variedade de assuntos e temas onde essa participação é possível.

ções – onde e estivemos envol-vidos em todas – mas também pequenas e médias operações com uma dimensão, um volume e uma frequência que não tínha-mos já há bastante tempo. No Imobiliário começou a sentir-se novamente o mercado a mexer. Ou seja, as áreas típicas de crise mantêm-se a todo o vapor e al-gumas áreas que tinham tido me-nor volume de trabalho nos últi-mos anos de crise começaram a crescer também bastante. Neste momento posso dizer-lhe que no segundo semestre de 2013 trabalhámos mais do que no pri-meiro semestre do mesmo ano, acabámos o ano passado a tra-balhar bem mais do que 2012 e a tendência para 2014, em Portu-gal, é trabalhar bem mais do que em igual período do ano passa-do. É um sinal positivo e o sector da advocacia é um dos primeiros onde se sente o crescimento ou o decréscimo da atividade eco-nómica.

Advocatus | Porque é que um cliente devia escolher a PLMJ em detrimento de outra socie-dade de advogados?MSV | Existem alguns aspetos que nos distinguem da maior par-te das sociedades de advogados. Nunca desistimos de apostar na inovação, na formação, no inves-timento nas pessoas, na tecnolo-gia e em saber o que há de mais recente no mercado na tentativa de sermos nós quem protagoniza ou participa naquilo que a seguir vai acontecer no mercado. Por exemplo, e sem pretender ser arrogante, não é incomum que em PLMJ surjam soluções jurídi-cas que mais tarde são adotadas pelo mercado. Exemplos práti-cos: sempre fomos muito conhe-cidos por ser uma sociedade das que mais cedo apostou em ser “full service”- fomos a primeira a apostar fortemente numa prá-tica de Arbitragem que hoje nos distingue das outras sociedades e, recentemente, um dos primei-ros diretórios de Arbitragem con-siderou-nos como uma das 100 principais sociedades mundiais na matéria; a aposta no Private Equity, uma área pouco conheci-da em Portugal e à qual já temos uma equipa dedicada e que tal-vez tenha sido das que mais ope-rações terá feito no mercado nos últimos 18 meses e trata-se de um grupo em pleno crescimento e felizmente cheio de trabalho.

“Saio esperançoso e animado desta fase de crise e do memorando de entendimento com a troika mas também sinto que há ainda muito que deve ser feito. Tem de haver uma pressão muito forte para as pessoas se entenderem. A troika forçou muitos acordos e a partir do momento em que eles foram embora não há aqui ninguém para nos pressionar muito nesse sentido”

Advocatus | A PLMJ é hoje uma sociedade de referência em Portugal. Quais são os fa-tores que têm impulsionado o seu crescimento?MSV | A qualidade da equipa, a qualidade do trabalho e a con-fiança dos clientes. Desde que me lembro – e estou no escritório há quase um quarto de século – não houve uma estratégia de crescimento pelo crescimento. Existe um crescimento natural fruto do aumento da procura dos nossos serviços por parte dos clientes e do nosso interesse em prestar esses serviços jurídicos em Portugal e no estrangeiro.

Advocatus | Esse crescimento vai passar muito pelo estran-geiro, pela PLMJ International Legal Network?MSV | Crescemos muito em Por-tugal mas nos últimos anos, prin-cipalmente desde 2008/2009, houve uma clara diminuição do volume de trabalho no País. Por isso e fruto de um trabalho inicia-do alguns anos antes crescemos mais fora de Portugal. Sentimos que agora as coisas estão a mu-dar, pela positiva, no País – que continua a ser o nosso principal mercado – mas também pensa-mos que existirão oportunidades lá fora mais consistentes e com um potencial de maior cresci-mento do que em Portugal. Va-mos manter e crescer em Portu-gal mas, provavelmente, vamos crescer mais rapidamente, mais visivelmente, em alguns dos mercados onde já estamos ins-talados, como Angola, Moçambi-que, China e Macau e porventura noutros mercados para onde es-tamos a olhar.

Advocatus | Desde 2008 que, certamente, as áreas de práti-ca que têm mais trabalho têm “acompanhado” a situação económica. Será o caso, por exemplo, do Direito do Traba-lho?MSV | Direito do Trabalho, Con-tencioso e Arbitragem, Fiscal. Estas áreas mantêm-se com um volume de trabalho muito gran-de. O que notamos nos últimos 10/12 meses, desde o segundo semestre de 2013, é que as áre-as mais típicas de fases de cres-cimento económico começaram a ter mais trabalho. Por exemplo, M&A (Fusões e Aquisições) co-meçou a ter não só as grandes transações, como as privatiza-

“Tenho de ter tempo suficiente para a gestão corrente e disponibilidade para sair dessa gestão corrente e antecipar tendências e problemas e definir quais serão os próximos passos do escritório em termos estratégicos, para servirmos cada vez melhor os nossos clientes, em todas as jurisdições onde estamos presentes”

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Entrevista

“Existem alguns aspetos que nos distinguem da maior parte das sociedades de advogados. Nunca desistimos de apostar na inovação, na formação, no investimento nas pessoas, na tecnologia e em saber o que há de mais recente no mercado na tentativa de sermos nós quem protagoniza ou participa naquilo que a seguir vai acontecer no mercado”

Criámos, por exemplo, uma Ita-lian Desk que está dedicada aos assuntos italianos e pareceu--nos que fazia todo o sentido aproveitar duas coisas: por um lado a existência de investimen-to italiano no nosso País e, por outro, a circunstância de ter-mos no escritório um conjunto de advogados, uns portugueses outros italianos ou que fizeram a sua educação em Itália, que nos permitiu fazer uma Italian Desk. Estamos sempre a tentar com-binar o que temos aqui dentro e para onde podemos evoluir e aquilo que o mercado possa ne-cessitar. Esta desk teve um aco-lhimento simpático por parte do mercado em termos de trabalho concreto. Tínhamos antes cria-do uma German Desk no mesmo conceito da Italian Desk e que

também nos distingue das outras sociedades de advogados. Outro exemplo sobre o que nos dis-tingue de muitos outros: temos um conjunto de advogados que vão arrancar, em setembro, para pós-graduações no estrangeiro e vamos suportar significativas dos custos associados. Pergun-tavam-me uma vez porque é que os clientes vão bater sistema-ticamente à porta das grandes sociedades de advogados e eu diria que têm a garantia de três coisas: qualidade de serviço, know-how e experiência acumu-lada e dimensão. Esta última fun-ciona como um nosso ativo pois conseguimos dedicar equipas de grande dimensão, simultanea-mente a várias operações com-plexas, com a mesma qualidade técnica, a mesma profundidade

de conhecimentos e o mesmo enfoque no cliente.

Advocatus | As sociedades de advogados continuam a ser a melhor forma de organização da profissão?MSV | Para nós, sim. Continua-mos a pensar que o nosso me-lhor modelo organizativo é a de uma sociedade “full service” e independente. Somos sobretudo uma sociedade de clientes. Te-mos clientes que estão connos-co há 40 anos, já passaram por sucessivas gerações de advoga-dos, nós próprios já passámos por sucessivas administrações desses clientes, já se organiza-ram, reorganizaram, reestrutu-raram, cresceram, já vimos tudo – o passado e o presente e em muito casos conseguimos an-

tecipar o futuro. Esses clientes têm problemas de todo o tipo: Contencioso, Fiscal, Laboral, nas áreas das novas tecnologias, na área da distribuição. Conse-guimos fazer isso tudo e não é aquele saber-fazer de “clínico geral” pois damos a garantia de que quem tratar de um assunto é alguém que se dedica em ex-clusivo, ou quase, a essa área de trabalho e pode dar um apoio na especialidade que é dificilmente comparável com as sociedades de menor dimensão onde há ad-vogados mais generalistas.

Advocatus | Qual é a posição da PLMJ em relação às socie-dades multidisciplinares e às alterações aos estatutos da Ordem dos Advogados?MSV | Estamos à espera de ver

“Desde que me lembro – e estou no escritório há quase um quarto de século – não houve uma estratégia de crescimento pelo crescimento. Existe um crescimento natural fruto do aumento da procura dos nossos serviços por parte dos clientes e do nosso interesse em prestar esses serviços jurídicos em Portugal e no estrangeiro”

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o que vai acontecer a seguir. Di-ria que, infelizmente, não há pro-priamente muito diálogo entre os principais parceiros. Por outras palavras, acho estranho que uma sociedade de advogados como a PLMJ e outras de dimensão re-levante não sejam ouvidas num processo tão estruturante como é o do desenvolvimento da nos-sa profissão nos próximos anos. Há, evidentemente, uma entida-de que a PLMJ integra, que é a ASAP, que representa os interes-ses das sociedades de advoga-dos, desde as grande sociedades de advogados até às de média e pequena dimensão, mas aqui-lo que se passa neste momen-to, pelo menos no que respeita à nossa articulação com a Or-dem dos Advogados, é que não há grande diálogo e nem houve nos últimos seis anos. Não vejo neste momento grande altera-ção de circunstâncias e portanto discute-se mais na praça públi-ca do que propriamente com as sociedades de advogados. Há alguma informação que vai sen-do veiculada no sentido de que não vai haver sociedades multi-disciplinares, mas não sabemos muito bem como é que isso se vai passar.

Advocatus | A PLMJ é contra ou a favor das sociedades mul-tidisciplinares?MSV | O tema das sociedades multidisciplinares não pode ser

“O tema das sociedades multidisciplinares não pode ser dissociado de outros temas e sobretudo do que estamos a falar em termos de concorrência”

dissociado de outros temas e sobretudo do que estamos a fa-lar em termos de concorrência. Se elas forem admitidas no seu estado mais puro aquilo que vai acontecer é que as sociedades de advogados vão estar a con-correr, por exemplo, com empre-sas de auditoria que vão integrar advogados/sociedades de ad-vogados e terão um regime fis-cal que é muito mais favorável e flexível do que o das sociedades

de advogados. Não me parece que seja equilibrado permitir que sociedades de advogados com o regime de transparência fiscal que têm hoje em dia concorram com consultores que terão um regime fiscal mais favorável e que integrarão advogados prestando serviços jurídicos. Temos que ver que irá acontecer em termos de multidisciplinaridade mas tam-bém assegurar que estaremos a falar de concorrência com enti-

dades que terão armas iguais às nossas e não serão favorecidas. Não temos medo de concorrer com ninguém, temos quase 50 anos de atividade e já vimos de tudo. Quando entrei para a PLMJ – e já cá estou há 25 anos – as-sisti a um primeiro exercício de sociedades multidisciplinares que não correu bem e acabou de for-ma estrondosa com o desabar da Enron e da Arthur Andersen, na segunda metade dos anos

“Estou muito agradecido à troika por ter posto aqui algum juízo na cabeça dos portugueses e que deveríamos ter uma imagem dela na nossa mesa de cabeceira, na capa do telemóvel e do ipad para nos lembramos do que sofremos nesses anos e tentar evitar que eles voltem”

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Entrevista

“Os recém-licenciados vêm hoje mais bem preparados do que nós no plano técnico mas infelizmente continuam “impreparados” no que diz respeito à capacidade de integração no mercado de trabalho e numa máquina como é a de uma sociedade de advogados desta dimensão. Esse investimento tem que se feito pelas sociedades.”

“A Ordem defende a advocacia e o mercado mas tem--no feito sobretudo naquilo que diz respeito a uma parte do mercado e não a todo. É a parte que tem a ver com as pequenas sociedades de advogados e com os advogados em prática individual e tem ignorado o resto”

noventa do século passado. Há neste momento uma segunda tentativa de se pegar no modelo de empresas multidisciplinares e penso que os riscos que havia e que levaram ao desabamento da Arthur Andersen pós-Enron provavelmente permanecem. Tam-bém posso dizer que, quando entrei para o escritório e nos meus primeiros anos de exercí-cio da nossa atividade, Portugal era um mercado fechado, só ad-vogados e poucas sociedades e vimos entrar em Portugal so-ciedades espanholas, francesas, inglesas, etc. dos mais diversos países. Sociedades que são de dimensão ibérica, europeia e global. Todas elas são altamen-te organizadas e profissionais e concorremos com elas e isso força-nos a elevar o nosso ní-vel de qualidade, de exigência e de profissionalismo. Temos

como é que podemos concorrer melhor num contexto global de forçosa liberalização do mercado por causa da nossa integração na União Europeia e que se vai aprofundar cada vez mais.

Advocatus | A Ordem está sen-sível a essas questões?MSV | Tanto quanto é do meu conhecimento diria que a Ordem está ciente dos problemas e ha-verá um espaço de discussão e de colaboração entre a Ordem dos Advogados e o Ministério da Justiça relativamente a alguns desses temas. Como lhe dis-se esse diálogo não tem existi-do com as grandes sociedades de advogados, designadamente connosco e temos sempre gosto em colaborar com a Ordem dos Advogados. Penso que as gran-des sociedades de advogados podem beneficiar muito de uma

de estar e estaremos à altura de todos os desafios. Não temos, por isso, medo da concorrência, até agradecemos a sua existên-cia para poder olhar para o que eles fazem e melhorar naquilo que seja possível. Concorremos com essas sociedades quer cá quer noutras jurisdições. Não te-mos nenhum problema com isso. Onde poderemos ter problemas é se de repente as regras não forem homogéneas ou criarem distorções em termos de exercí-cios de atividade que se tornem perniciosas para as sociedades de advogados. Espero que o relacionamento com a Ordem e com a atual Bastonária seja me-lhor pois há imenso espaço para se colaborar e falar e melhorar e sobretudo para a Ordem per-ceber o que nós fazemos, o que temos feito nos últimos anos, como é que podemos evoluir e

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maior cooperação com a Ordem dos Advogados, quer relativamen-te a Portugal quer relativamente a outras jurisdições. A Ordem de-fende a advocacia e o mercado mas tem-no feito sobretudo na-quilo que diz respeito a uma parte do mercado e não a todo. É a par-te que tem a ver com as pequenas sociedades de advogados e com os advogados em prática indivi-dual e tem ignorado o resto. Ora este resto representa, se calhar, uma parte muito significativa da atividade em termos de número de advogados, por exemplo. Estas

grandes sociedades de advoga-dos são, claramente, as que têm de lidar com uma concorrência muito profissional de socieda-des internacionais apoiadas pe-las Ordens dos Advogados dos respetivos países, que apoiam a profissionalização, a internacio-nalização e a ida para Portugal e outros países para concorrerem com as sociedades locais. Nesse aspeto sentimo-nos um pouco sozinhos, quer em Portugal quer no que respeita ao apoio que de-veríamos ter na nossa entrada em mercados externos.

Advocatus | Esta era também uma boa altura para colocar em cima da mesa o tema da reforma da fiscalidade que se aplica às sociedades de advo-gados?MSV | Penso que sim. Como lhe dizia há pouco o tema da multi-disciplinaridade não pode ser discutido isoladamente do tema da fiscalidade e, portanto, se, de alguma maneira, se quer ou deve abrir o mercado para permitir essa multidisciplinaridade então nessa altura é incontornável discutir o tema fiscal e as implicações fis-

“Temos de aprender a ser responsáveis”Advocatus | A Energia e Recursos Naturais é uma área onde atua enquanto advogado. O gás de xisto veio provocar uma grande mudança da energia?MSV | Gostaria de começar por lhe dizer o seguinte: a minha base é Corporate e M&A e depois há duas área de que gosto muito e às quais tento manter uma ligação pois hoje passo dois terços da minha atividade en-volvido na gestão do escritório. Um delas é a da Energia e Recursos Naturais. O gás de xisto é um tema novo e tem vindo a revolu-cionar o mercado mundial. Desenvolveu-se sobretudo nos EUA e no Canadá por várias razões: económicas e jurídicas. Por razões económicas pois isso permitiu que os EUA se tornassem autosuficientes em termos de abastecimento de gás natural e por razões de natureza jurídica pois o que está no sub-solo dos EUA pertence ao proprietário do terreno e na Europa é domínio público. Isso permitiu que nos Estados Unidos se desen-volvesse mais rapidamente a indústria e isso está a revolucionar a indústria mundial pois está-lhes a permitir neste momento tornarem-se autossuficientes em termos de produção de energia de energias fósseis e exportar ramas refinadas. Isto é uma revo-lução e tem impacto em todo o mundo pois há um conjunto de países produtores que abasteciam os EUA e que o deixaram de fa-zer. Na Europa não se passa nada embora existam alguns países que assumiram um certo protagonismo nesta matéria, como a Polónia e Reino Unido mas, a seguir, co-meçaram as dificuldades. Na Polónia, por exemplo, já não tem crescido tanto como se esperava. No atual quadro regulató-rio europeu – que é muito mais cauteloso que o norte-americano – é difícil avançar

mais. Também há uma pressão e lobbying dos fornecedores de gás para o mercado europeu e que estão fora da União Euro-peia. Isto causa problemas de segurança de abastecimento e de soberania pois tudo isto está ligado a atividades fundamentais.

Advocatus | Como cidadão como é que olha para o pós-troika em Portugal?MSV | Estou muito agradecido à troika por ter posto aqui algum juízo na cabeça dos portugueses e que deveríamos ter uma imagem dela na nossa mesa de cabeceira, na capa do telemóvel e do ipad para nos lembramos do que sofremos nesses anos e tentar evitar que eles voltem. Temos de aprender a ser responsáveis, a gastar com conta, peso e medida e fazer investimentos com cabeça sem meros intuitos políticos. Fomos até aos limites daquilo que é preciso sofrer socialmente e nesse aspeto demos mostra de uma grande abnegação e capa-cidade de sacrifício. Saímos do programa da troika e entrámos numa fase de cresci-mento muito limitado ainda e temos de criar condições para que o crescimento seja muito superior. Só assim é que poderemos resolver alguns problemas fundamentais com que saímos do programa da troika, por exemplo, a elevada taxa de desempre-go. É decisivo baixar esta taxa e aumentar o investimento estrangeiro em Portugal. É crítico fomentar a produção em Portugal. Temos de reformar o Estado, perceber o que queremos dele e o que queremos que ele faça.

Advocatus | O clima político atual favore-ce essa reforma e o consenso?MSV | Penso que não. Os principais atores

políticos são os mesmos que já cá estão há algum tempo e portanto se não chegarem a algum entendimento no momento em que a crise apertava mais, agora, que estão a ver que isto está a correr um pouco melhor, vão sentir-se muito menos pressionados para chegar a qualquer tipo de acordo. Saio esperançoso e animado desta fase de crise e do memorando de entendimento com a troika mas também sinto que há ainda mui-to que deve ser feito. Tem de haver uma pressão muito forte para as pessoas se en-tenderem. A troika forçou muitos acordos e a partir do momento em que eles foram em-bora não há aqui ninguém para nos pressio-nar muito nesse sentido.

cais associadas. Volto de novo à multidisciplinaridade para lhe dizer o seguinte: os advogados, na sua prática, recorrem, sempre que é necessário, a profissionais de outras atividades. De uma for-ma geral, todos os escritórios de advogados, em projetos que são complexos, socorrem-se de pro-fissionais de outras áreas, de ou-tras disciplinas que não o direito sempre que tal seja necessário: economistas, arquitectos, peritos profissionais. O tema da multidis-ciplinaridade não é esse e trata--se de uma questão mais vasta.

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ETV/Advocatus | O que levou à criação da VdAcademia?Rodrigo Esteves de Oliveira | Foi, por um lado, um ato de inovação e, por outro lado, a necessidade de implementar um processo de melhoria contínua dos colaboradores da Vieira de Almeida – esse foi o primeiro foco da VdAcademia. Hoje, passados cinco anos, temos outros focos. Isto não nos distingue de outras sociedade de advogados, que terão a mesma necessidade, e também não nos distingue de uma sociedade de serviços. O que nos distinguiu há cinco anos, e nos continua a distinguir, foi o processo que implementámos para a melhoria contínua dos trabalhadores: a VdAcademia. Há cinco anos já

se sentia que as áreas do Direito são cada vez mais sofisticadas e complexas e que o conhecimento com que se sai da universidade – absolutamente imprescindível – não é suficiente. A nossa primeira tarefa foi criar um plano de formação jurídica, sempre a dois anos, das hard skills. Em colaboração com todas as áreas de prática e com todos os sócios, tentámos perceber quais eram as mais importantes áreas do conhecimento onde devia haver uma formação específica para os advogados da VdA, e percebermos quais as áreas em que deve haver uma formação setorial.Depois, sentia-se que um advogado faz-se de mais alguma coisa do que o seu conhecimento jurídico,

“Este tipo de formação veio mostrar que os advogados são profissionais do conhecimento”

O quinto aniversário da VdAcademia foi o tema da entrevista que Rodrigo Esteves de Oliveira e Susana Almeida Lopes, respetivamente sócio responsável pela academia e diretora de recursos da Vieira de Almeida e também com responsabilidades na instituição, deram ao Direito a Falar. Os dois responsáveis especificaram os pormenores das dez mil horas de formação já dadas pela primeira academia criada por uma sociedade de advogados, além de revelarem os projetos que se afiguram.

VdA aposta na formação

Televisão

sobretudo quando está numa sociedade com esta dimensão. Há um americano que diz que a advocacia é uma profissão de relação. E é nessa parte da relação que nasce um outro vetor do nosso plano de formação: as soft skills - são a parte comportamental, não jurídica, que hoje se exige a um advogado que queira ter sucesso.

Advocatus | Desde o início que combinam as duas?REO | Sim. Abordamos desde grandes questões até assuntos de pormenor. Temos, por exemplo, formações sobre preparação de reuniões e sobre gestão de projeto multidisciplinar. Depois percebemos que numa sociedade

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desta dimensão tem que haver uma preocupação também com a área da gestão, o que nos leva a ter outra componente do plano de formação dedicada às management e leadership skills. A última vertente é do conhecimento do negócio dos nossos clientes, pelo que também temos uma formação em setor skills. Portanto, é um plano de formação complexo.

Advocatus | Que importância é que este tipo de iniciativas tem para a formação de advogados em Portugal? O que trouxe de inovador?Susana Almeida Lopes | Este tipo de formação veio mostrar que os advogados são profissionais do conhecimento. É aí que reside a diferença em termos do apport que se dá aos clientes. As faculdades de Direito são muito especializadas nas vertentes mais técnicas, que são a base do trabalho do advogado, mas há um complemento que é fundamental nas sotf skills e nas leadership skills, que vão fazer com que os advogados possam trazer um contributo mais profundo aos clientes. Esta necessidade começou a acentuar-se nos últimos anos. Quando a academia foi criada já se aflorava a questão da crise, do valor acrescentado que se pode trazer, já percebíamos que o advogado ia ter que lidar com outro tipo de pressão e exigências e ia ter que se adaptar, ir mais ao encontro dos clientes e do seu negócio, ele próprio desenvolver o negócio. Seja numa sociedade de advogados ou em prática individual, um advogado tem novas exigências, quer em termos do aprofundar do seu know-how, quer em termos de soft skills, quer como conseguir, por vezes com valores horários mais baixos, o mesmo ou mais valor acrescentado ao cliente. Creio que este tipo de formação foi inovadora e trouxe esta vantagem para a VdA, mas começou também a espelhar-se no mercado a ideia de que estas valências, que outras organizações e outros setores de atividade já trabalhavam, são também fundamentais para os advogados em Portugal.

Advocatus | A academia surge em plena crise financeira. Foi também uma resposta à crise?SAL | Exatamente. Era preciso antecipar e preparar os advogados e a estrutura para lidar com estas novas exigências, além de trazer mais conhecimento ao nível da gestão e uma maior preparação para

sofisticar os nossos processos de gestão.

Advocatus | Que balanço é que faz dos cinco anos de atividade?REO | Não fizemos talvez tudo bem, nem tudo o que podíamos ter feito, mas fizemos alguma coisa. Optámos desde o início por nos comportarmos como uma universidade deve comportar-se: inovando em patamares seguros e consistentes, pois os falhanços nos projetos, a escolha ou a implementação de um mau projeto pagam-se caro. Acho que é um balanço positivo, porque temos tido bom feedback interno (a aceitação do plano de formação é hoje outra) e externo. Para o evento de comemoração dos cinco anos da VdAcademia convidámos as outras empresas que têm academias e percebemos que isso teve um impacto muito positivo. Hoje, há necessidade de ter objetivos de formação bem claros e datados e ter planos de formação adequados. Tivemos coisas de que nos orgulhamos muito: duas formações pós-graduadas para a liderança da VdA (um programa executivo de gestão avançada para firmas de advogados e um compact MBA para liderança); uns prémios internacionais dirigidos aos estudantes de Direito de Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Brasil – foram sempre prémios com vencedores portugueses e de outros países; três spring schools, que tiveram enorme sucesso – tentámos fazer perceber aos alunos das faculdades o que precisam de ter de diferente para terem sucesso numa

sociedade de advogados, dando-lhes algumas ferramentas de que possam tirar proveito se forem para uma estrutura empresarial do género da da VdA. Portanto, fizemos muita coisa.

Advocatus | A academia é importante para a retenção de talentos?SAL | Tem uma grande importância. Nos últimos anos, a nossa taxa de retenção é de 90%, o que é um motivo de orgulho. A academia tem um papel muito importante nesta fase, porque os advogados dão uma grande importância à sua carreira profissional. A maior parte dos advogados inicia o seu percurso profissional no escritório enquanto estagiário e depois, à medida que vai adquirindo know-how e experiência, vai progredindo em termos de patamar na carreira, sendo que existe para uma parte significativa uma aspiração para chegar ao topo de carreira enquanto associados coordenadores e outros para poderem integrar a sociedade enquanto sócios. Neste percurso, a academia traz uma ligação direta entre o desenvolvimento das competências que são importantes para a carreira de cada uma das pessoas relativamente à fase em que estão, o que significa que estamos a fazer preparação em termos jurídicos das soft skills de acordo com o patamar de carreira em que o estagiário ou o advogado está, e também dos colabores das áreas de suporte. Mas estamos sempre a antecipar quais são as competências que vão precisar a seguir. Assim, quando tiverem esses desafios já estão preparados. Essa é uma

grande vantagem em termos da preparação interna. Por outro lado, o facto de atribuirmos bolsas para formação pós-graduada em Portugal e no estrangeiro e licenças de estudo para que possam, por exemplo, fazer um mestrado ou doutoramento com regulamentação de tempo e que possam conciliar com ficar no escritório, acompanhar os clientes e ao mesmo tempo investir na sua preparação em termos de formação, é também algo que sentimos que as pessoas têm valorizado.

Advocatus | Quais as vantagens desta academia para os stakeholders?REO | Inevitavelmente, um projeto destes tem por objetivo último a prestação de melhores serviços jurídicos. Portanto, no final desta linha está sempre o cliente da VdA. De forma mais direta e imediata, julgo que há uma grande vantagem para os colaboradores em terem um plano de formação em que eles participam. Fazemos inquéritos para saber quais são as suas maiores necessidades e, como tal, eles participam no seu próprio processo de aquisição de conhecimentos, e depois têm formações tailor made. Parece coisa pouca, mas não é: houve uma alteração profunda nas nossas formações. Colaboramos com os nossos formadores para que a formação seja especificamente dirigida às nossas necessidades. Tem também que ter uma estrutura que centralize a atribuição das bolsas e das licenças. E, portanto, quando tira uma pós-graduação casa um sabe qual é o tempo que tem disponível para esse efeito, quais é que são as compensações

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que isso lhe traz dentro da sociedade. Este é um processo de tentativa de antecipação do futuro e, por isso, de alguma forma, uma tentativa de controlo do futuro, o que não é fácil. Para os clientes, temos formações que já estão a ser feitas. Vamos agora implementar melhor um processo com formação certificada. Temos uma relação com as universidades muito mais estabilizada, elas que são um parceiro absolutamente estratégico nestas matérias. Temos protocolos vividos com as melhores universidades do país. Recebemos estagiários de várias estruturas: da Universidade do Minho, da Casa da América Latina, do ISCTE de Moçambique. Temos as formações de spring school, em que colaboramos com as universidades e com os alunos universitários e é por isso também, em certa medida, um programa de responsabilidade social. Colaboramos com associações de estudantes na realização de vários eventos, como foi o caso do Moot Court, que é a montagem de cenários de tribunais para discussão de um caso, que nós patrocinamos desde o início. Estas são algumas das vantagens para nós e para os stakeholders.

Advocatus | Em que consiste o modelo dos certificados de aptidão pedagógica?SAL | Os certificados de aptidão pedagógica (CAP) são atribuídos individualmente a cada formador. Para alguém ter um CAP tem que fazer uma formação que prepara em termos de pedagogia, de boas práticas em termos formativos, até de como fazer uma apresentação. Ter formadores com CAP é um dos requisitos para a acreditação maior da academia. Nós temos mais de 30 pessoas com CAP e já desenvolvemos duas edições do CAP internamente. Além disso, temos uma certificação da DGERT [Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho] da academia ser uma entidade formadora certificada em Direito, o que significa que podemos atribuir diplomas com formação certificada a todos os formando que estiverem nas nossas formações. Portanto, temos este selo de qualidade da nossa formação jurídica. E depois dentro da academia temos várias pessoas com os certificados de aptidão pedagógica, que os habilitam de uma forma mais própria, com um

conhecimento mais aprofundado, sobretudo ao nível das metodologias pedagógicas, e que os habilitam a serem formadores.

Advocatus | Quantas formandos é que já passaram pela academia?SAL | Nestes cinco anos, temos 7500 presenças – mas temos repetentes. Realizámos um evento interno da academia em que atribuímos prémios ao melhor formador, ao formando que se distingue em algum momento, e recordo-me que as duas pessoas que receberam o prémio de mais presenças contabilizaram 35 presenças. Portanto, há pessoas que utilizam estas formações de uma forma bastante alargada, como haverá outras que tiveram contacto com a academia uma ou duas sessões. No total, realizamos 10 mil horas de formação.

Advocatus | Esta dimensão estava acima ou abaixo das vossas expectativas?REO | No início está abaixo. Dentro de cinco anos, penso que teremos números maiores.

Advocatus | Quais os projetos futuros da VdAcademia?REO | Vamos continuar a tentar antecipar e a controlar, na medida do possível, o futuro no que diz respeito ao conhecimento. Temos alguns projetos na linha de montagem. Vamos procurar certificar a VdAcademia na componente das soft skills. Há, para a área da assessoria em serviços, uma transversalidade de necessidades e a experiência que temos já é significativa, o que nos permitirá obter a certificação nas soft skills e nas leadership skills. Temos também numa fase embrionária um processo

que pode passar por um encontro anual ou por uma associação com as outras academias corporativas, porque há necessidades comuns. Vamos ainda lançar uma revista online e implementar um processo estruturado – que já está avançado – de transferir o nosso know-how jurídico para os nossos clientes.

“Um projeto destes tem por objetivo último a prestação de melhores serviços jurídicos. Portanto, no final desta linha está sempre o cliente da VdA”

Televisão

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Arbitragem

Advocatus | Três anos de arbi-tragem tributária: que balanço?Nuno Villa-Lobos | Quem já con-tatou com a arbitragem fiscal nestes três anos sabe que o pro-jeto é um sucesso. Tanto o Esta-do como os contribuintes de nor-te a sul do país dão mostras de satisfação e confiança neste novo sistema. Para este sentimento, muito têm contribuído sentenças

arbitrais céleres, públicas, trans-parentes e de elevada qualidade técnica, com custos idênticos aos dos tribunais estaduais e por que não reconhece-lo também, a ca-pacidade de resposta do CAAD. Desde o início até agora o núme-ro de processos tem triplicado de ano para ano e o tempo de res-posta diminuiu inclusive em rela-ção ano de arranque.

Advocatus | Quais são as prin-cipais matérias sujeitas a arbi-tragem? E quem recorre mais?NV-L | Ao longo do tempo a ten-dência tem sido a da diversifica-ção, não só quanto à localização geográfica e perfil socioeconómi-co dos contribuintes, mas tam-bém em relação aos tipos de imposto impugnado e valores en-volvidos. Só a título de exemplo dos cerca de 450 pedidos já apresentados só em 2014, 30% foram apresen-tados por contribuintes singula-res, e em 75% destes estiveram envolvidos valores inferiores a 60 mil euros.

Advocatus | Em que medida é que a arbitragem veio aligeirar a pendência nos tribunais em matéria fiscal?NV-L | Nestes três anos a arbitra-gem fiscal recebeu cerca de mil processos. Este número já é sig-nificativo face à novidade do insti-tuto. Caso se mantenha estável a tendência atual de crescimento, à arbitragem fiscal chegarão só em 2014 cerca de mil processos. Isto é, só no presente ano, o número de processos será similar à totali-dade dos processos entrados nos dois anos anteriores.Cerca de mil processos foi tam-bém a diferença entre o número de processos entrados e findos nos tribunais tributários de pri-meira instância em 2013. Por isso, se em 2014 o CAAD admi-nistrar cerca de 1000 processos, estará a absorver uma parte dos processos que de outra forma da-riam entrada nos tribunais tribu-tários, dando assim o seu contri-

A arbitragem fiscal é um sucesso. Quem o afirma é o presidente do Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD), Nuno Villa-Lobos, a propósito dos três anos de vigência do sistema. Para esse sucesso – afiança – contribuíram as sentenças céleres, públicas, transparentes e de elevada qualidade técnica.

NUNO VILLA-LOBOS

Três anos de sentenças “céleres” e “transparentes”

buto para estancar o crescimento de pendências.

Advocatus | Que significado tem, para a arbitragem tributária, a recente decisão do TJUE de reconhecimento destes tribunais como órgãos jurisdicionais?NV-L | A decisão do dia 12 de ju-nho do TJUE é histórica pois veio reconhecer natureza jurisdicional aos tribunais arbitrais tributários nacionais, visto que pela primeira vez admitiu um pedido de reen-vio prejudicial formulado por um tribunal arbitral voluntário de um Estado-Membro.

Advocatus | Quais os principais desafios que se colocam à arbi-tragem tributária em Portugal?NV-L | O sucesso de um projeto ou de uma proposta inovadora no Mun-do do Direito não se mede em anos, mas sim em décadas ou gerações. Ainda assim, a visibilidade e relevân-cia do CAAD, manifestada desde logo no número crescente de con-tribuintes que a ele recorrem. Mas também através de outros impulsos, inclusive internacionais: a citada de-cisão do TJUE que veio reconhecer natureza jurisdicional à arbitragem fiscal, comprovam que o projeto está no bom caminho.Este sucesso porém só pode ser garantido para o futuro se con-tinuarem a ser assegurados os elementos essenciais para a sua consolidação, designadamente, a aplicação estrita do direito cons-tituído e o enquadramento deon-tológico institucionalizado.

Entrevista disponível em

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Marca

Manufaturada em Hamburgo des-de 1924, a Meisterstück “personi-fica veementemente a busca da Montblanc pela perfeição. Ao lon-go dos anos, tornou-se a fiel com-panheira de gerações de estudan-tes e cientistas, poetas e artistas, homens de estado e de negócios. O seu carater sofisticado rapida-mente a tornou num instrumento de escrita único: numa referên-cia”, diz a marca.A coleção lançada este ano cele-

A referência da escritaEstudantes, cientistas, poetas, artistas, homens de estado, empresários. Todos a conhecem e sabem que é um ícone global. Atinge em 2014 os 90 anos de vida e mantém-se fiel às origens. Chama-se Meisterstück, é “a” caneta e foi a primeira etapa na busca pela perfeição iniciada pela Montblanc. Hoje, dá o nome a uma sofisticada coleção de objetos únicos de relojoaria, joalharia e, claro, instrumentos de escrita.

bra os 90 anos da icónica caneta e uma das atrações é um aparo es-pecial em ouro rosa com uma gra-vação especial, por tempo limita-do. Diz a Montblanc que “fazendo eco da tão prestigiada herança, as peças de relojoaria da Montblanc Meisterstück Heritage represen-tam os códigos da alta relojoaria”. Manufaturadas na Manufactura Montblanc em Villeret e Le Locle, na Suíça, as clássicas peças de relojoaria evocam o melhor da tra-

dicional relojoaria deste país.Na coleção encontram-se também peças em pele manufaturadas na Pelletteria da Montblanc, em Flo-rença. Em pelica macia, a coleção Soft Grain põe em evidência as melhores qualidades da pele Ita-liana. Por último, um conjunto de acessórios intemporais, composto por pulseiras, porta-chaves e bo-tões de punho, tudo desenhado em Paris, completam a coleção Meisterstück.

A coleção lançada este ano celebra os 90 anos da icónica caneta

A escritaCelebrando 90 anos da caneta, a Montblanc apresenta a colecção Meisterstück, com várias formas: desde a mais pura Caneta 149, às canetas Classique e LeGrand, até às Rollerball e Esferográficas. Cada instrumento de escrita é artisticamente manufaturado em resina preta preciosa, adornado com acabamentos em ouro rosa e apresentado numa distinta cai-xa envolta por uma manga, que representa uma réplica de 1924. Os que optarem pela caneta irão

gostar especialmente da elegante gravação no aparo em ouro rosa maciço Uma edição especial de instrumentos de escrita, disponível apenas no ano do aniversário, evi-dencia o savoir-faire da Montblanc com uma Caneta, Rollerball e Es-ferográfica em tamanho Classique, apresentando uma elegante grava-ção guilloche revestida a resina pre-ta, emblema Montblanc em madre-pérola, acabamentos em ouro rosa e aparo em ouro maciço (Au750) com design especial 90 Anos.

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A Montblanc afirma que a nova linha de artigos em pele vem au-mentar a prestigiada coleção: Meisterstück Soft Grain. Disponí-vel em preto e bege, a linha apre-senta pele suave com toque na-tural em diversas pastas, bolsas mensageiro e carteiras, variados acessórios como porta-moedas,

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A pele

A relojoaria

porta-cartões e portas passapor-tes. Contemporânea no design, a linha Meisterstück oferece adicio-nalmente soluções para artigos eletrónicos tal como capas para smartphones e tablets para Apple e Samsung, com design extra fino e os mais requintados acabamento com molduras protetoras.

A joalharia

Para celebrar a Meisterstück, a coleção de joalharia e acessó-rios masculinos sublinha a pai-xão da Montblanc pelo design intemporal: refinados botões de punho, pulseiras e porta-cha-ves surgem como uma nova fonte de elegância discreta. Inspirados nos icónicos porme-nores Meisterstück, a colecção

apresenta elegantes gravações, resina preta lustrosa com ónix preto e acabamentos em cor de ouro rosa que realçam as peças de joalharia através do contras-te sublime. A colecção em aço inoxidável presta homenagem ao instrumento de escrita Meis-terstück com detalhes em plati-na e gravação Montblanc no aro.

A Colecção Montblanc Meisters-tück Heritage é inspirada no espírito Meisterstück. Com clássico design, distintas complicações e decora-ções sumptuosas, estas refinadas peças de relojoaria “traduzem em cada detalhe os valores da Mon-tblanc Meisterstück e os códigos da tradicional manufatura relojoeira suíça – tornando-se companheiros de longa data dos seus donos. O movimento contemporâneo do Pul-sograph é fabricado manualmente e ajustado com perícia, de acordo com os princípios da tradicional arte relo-joeira Suíça. As hastes que acoplam a bracelete crescem de forma cónica da peça central da caixa, e curvam gentilmente em sentido descendente para que o relógio se adapte anato-micamente ao pulso. A peça central da caixa descende verticalmente e o emblema Montblanc na coroa é ma-

nufaturado em ouro rosa maciço ou aço com acabamento polido sobre o fundo raiado da caixa. A clássica cai-xa redonda é apelativamente acentu-ada pelos diversos acabamentos da superfície: o alto polimento do fino e convexo bisel contrasta com a peça central, com acabamento acetinado horizontal para um brilho sedoso. O mostrador é ligeiramente curvo com declive descendente na perife-ria, mantendo a aparência clássica. O padrão raiado confere um brilho subtil e encantador ao mostrador, movendo-se radialmente a partir de centro e variando de intensidade de-pendendo da incidência da luz. Já no Perpetual Calendar, sobre o fun-do do mostrador encontram-se os ponteiros, de horas e minutos, e o extremamente complexo calendário perpétuo com mostrador de fases de lua.

Fonte: Montblanc

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A Atlântida é um lugar que ne-nhum de nós visitou mas que todos gostaríamos de encontrar, como local de renascimento e re-novação, pelo menos em algum momento das nossas vidas.No seu livro Nova Atlântida (1627), Francis Bacon parte da lenda da Atlântida, desloca-a para parte incerta do Oceano Pacífico e em-preende uma viagem que o leva “simultaneamente para além do velho mundo e do novo mundo”.A história começa com o desvio de rota de uma expedição euro-peia que levantou ferro do Peru em direcção à China e Japão mas que, devido a tempestades e fortes ventos, se desvia da rota. Os marinheiros, vendo-se

“no meio do maior deserto de água do mundo e sem provisões”, pre-paravam-se para morrer, não sem antes proferirem uma prece a Deus, e na aurora de um novo dia, vêem a terra firme da ilha de Bensalém… Bacon inicia a descrição da or-ganização daquele lugar e suas gentes, a qual impõe um paralelo com a realidade conhecida pelos seus marinheiros e com o conhe-cimento que o leitor tem do lugar onde se encontra.A ilha de Bensalém é convertida ao cristianismo sem mediação missionária mas por directa in-tervenção divina. Tendo como ponto de partida a pureza da re-velação divina, Bacon descreve uma sociedade ideal fazendo ca-

minho pela ciência, tecnologia, ética, política e religião com cla-reza, objectividade e concisão.O livro foi reeditado recentemen-te em Portugal e existem várias versões disponíveis em formato digital, muitas das quais gratui-tas. Trata-se de um livro que so-breviveu à prova do tempo man-tendo a sua actualidade e que merece ser (re)conhecido.Não obstante esta viagem ina-cabada ter tantas interpretações quantas as leituras que da mes-ma se façam, contém uma visão de profunda esperança na capa-cidade do homem regular a sua vida em sociedade, em todas as suas dimensões, que alguns qualificam como utópica.

Luís Almeida Carneiro

Associado da Espanha & Associados, é coordenador da equipa de Civil - Laboral

O livro de advocatus.pt

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França é a mais recente aposta da Miranda Correia Amendoeira & Associados. A Miranda Alliance integrou na sua rede um escritório em Paris liderado pela advogada francesa Sophie da Cunha. O escritório, localizado nos Champs Elysées, será responsável por fazer o acompa-nhamento das várias empresas francesas clientes da sociedade nas suas operações internacionais em Portugal e nos mercados africanos em que a

Miranda Alliance está instalada, em especial na África Francófona. O sócio executivo da Miranda e coordenador da Miranda Alliance Rui Amen-doeira afirma que a sociedade “tem tido muitos clientes, portugueses e estrangeiros, a apostarem em mercados na África Francófona como são os casos do Gabão, Camarões, República do Congo ou República Democrática do Congo, o que nos faz acreditar no potencial destes mercados”.

Miranda expandeatividade para Paris

PRA assina protocolo com Pro Bono

A Pedro Raposo & Associa-dos (PRA) celebrou um pro-tocolo de cooperação com a Pro Bono Portugal. Trata-se de uma associação que visa permitir às instituições de solidariedade social comple-tarem o apoio prestado aos beneficiários, além de mobili-zar e facilitar o envolvimento de alunos de licenciaturas de Direito, faculdades, juristas, advogados e sociedades de

NOTÍCIAS

advocatus.ptadvocatus.pt

PLMJ lança guia de investimento para italianos

A PLMJ lançou o Guia de Investi-mento em Portugal para Empresá-rios Italianos, em colaboração com a Embaixada de Itália em Lisboa. A publicação contém as “informações essenciais” para o acesso ao merca-do e ao sistema jurídico português, especificamente orientado para em-presários italianos que pretendam investir em Portugal. O Guia contou com a colaboração das advogadas especializadas da Italian Desk da PLMJ, Serena Cabrita Neto, Marta Costa e Célia Vieira de Freitas, pre-tendendo ser “uma ferramenta infor-mativa, acessível e prática para os investidores italianos que procurem a principal informação sobre como fazer o seu investimento em Portu-gal”, lê-se no comunicado.

advogados que pretendem colo-car à disposição o seu trabalho, experiência e serviços que pres-tam. Através de diversas ações de solidariedade, a PRA “preten-de contribuir para uma sociedade mais responsável e para um me-lhor acesso à justiça e a serviços jurídicos de qualidade por parte daqueles que precisem, mas que não tenham capacidade financei-ra para a eles acederem”, diz a sociedade em comunicado.

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>> MINISTRA DA JUSTIÇA: NÃO HAVERÁ SOCIEDADES MULTIDISCIPLINARES

>> GOVERNO REDUZ ESTÁGIO DA ORDEM PARA ANO E MEIO

>>CGP REFORÇA EQUIPA DE DIREITO FISCAL

>> EUROPE WOMEN IN BUSINESS LAW AWARDS: PLMJ É “LEADING FIRM” EM PORTUGAL

>> PLMJ REFORÇA GRUPO DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO

páginas vistas As mais PARTILHADAS>> CGP REFORÇA EQUIPA DE DIREITO FISCAL

>> ROCK’N’LAW JÁ MEXE E APOIA RE-FOOD

>> CAIADO GUERREIRO PARTICIPA NO “LABOUR & EMPLOYMENT”

>> MINISTRA DA JUSTIÇA: NÃO HAVERÁ SOCIEDADES MULTIDISCIPLINARES

>> EUROPE WOMEN IN BUSINESS LAW AWARDS: PLMJ É “LEADING FIRM” EM PORTUGAL

o site do advocatus em JUNHO

SRS assessora NOS Air Race

A SRS Advogados foi a sociedade responsável pela assessoria jurídica aos promotores do NOS Air Race Championship, juntou em Cascais, de 4 a 6 de julho, milhares de curiosos para ver as acrobacias dos aviões em competição.A equipa de advogados responsável pelo projeto foi liderada por Gusta-vo Ordonhas Oliveira e Raquel Cuba Martins. “Tratou-se de um projeto inovador e desafiante, com grande dimensão e complexidade organizati-va e forte projeção e vocação interna-cional, ao qual a SRS Advogados se associou no âmbito da sua experien-cia em assessoria na organização de eventos desportivos”, afirma a socie-dade de advogados em comunicado.

CDL: queixa-crime sem sustentação jurídica

O Conselho Distrital de Lisboa (CDL) marca presença no protesto nacional da Ordem dos Advogados contra o novo mapa judicial mas não se revê na queixa-crime anunciada contra o Governo por falta de “sustentação jurídica”, afirmou ao Advocatus o pre-sidente da instituição, António Jaime Martins. “Não me revejo na queixa--crime cuja apresentação se anuncia, porquanto a reorganização judiciária pretendida pelo Ministério da Justiça consubstancia uma opção política com a qual podemos não concordar, e daí a razão de ser do protesto na-cional, mas não vislumbro sustenta-ção jurídica para a apresentação da queixa, estando a mesma destinada a ser arquivada”, afirmou.

Justiça portuguesa entre as mais lentas da UEOs tribunais portugueses precisa-vam, em 2012, de mais de um ano para resolver os casos de litígios ci-vis e comerciais. Os dados são da segunda edição do Painel de Ava-liação da Justiça na União Europeia (UE), publicada pela Comissão Euro-peia. Portugal era, nesse ano, o séti-mo Estado-membro a necessitar de mais tempo para resolver esse tipo de litígios (entre os 22 para os quais são disponibilizados dados), embora precisasse de menos dias do que os mais de 400 de que necessitava em 2010. Assim, o número de casos de litígios comerciais e civis pendentes nos tribunais nacionais aumentou em 2012 face a 2010, sendo o nosso país o quarto Estado-membro da UE com mais casos.

Espanha e Associados leciona sobre pareceres jurídicos

O coordenador do Departamento de Direito do Trabalho, Civil e Contencioso da Espanha e Associados, Luís Almeida Carneiro, foi responsável pela formação “Elaboração de Pareceres Jurídicos” ministrada a entidades públicas e priva-das na cidade de Luanda, em Angola, entre os dias 7 e 11 de julho. O convite ao advogado sénior da sociedade de advogados partiu do IFE – International Faculty for Executives, e resulta de uma parceria que a Espanha e Associados tem vindo a desenvolver com esta en-tidade para ministrar formações em várias áreas.

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SIM, desejo assinar o jornal Advocatus com o custo total de 180 euros (12 edições).

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LEONORCHASTRE

JOÃOPAULO MIOLUDO

CARLOSDUQUE

PessoasReforçou a equipa de consultores da ACE – Sociedade de Advogados que passou, assim, a juntar às suas atuais áreas de prática as valências de Direito da Medicina e Direito da Família e Sucessório.

É o novo coordenador do departamento de propriedade intelectual da CMS Rui Pena & Arnault (CMS RPA), de que já era consultor. O advogado e agente oficial de propriedade industrial passa, assim, a número dois do departamento liderado por José Luís Arnaut, recebendo o estatuto de managing associate.

A sócia da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira (CGP) participou num seminário sobre a proteção dos direitos de propriedade intelectual e as tecnologias de informação organizado pela sociedade de advogados em parceria com o Instituto Pedro Nunes (IPN) e a Smart Equity.

O sócio da Pedro Raposo & Associados (PRA) integra a lista de árbitros do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Luso Espanhola (CCILE). O Centro de Arbitragem é a instituição de arbitragem através da qual a CCILE promove e realiza arbitragens voluntárias, atividades e prestação de serviços conexos com a arbitragem voluntária.

GUILHERMEDE OLIVEIRA

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Os dados recolhidos são processados automaticamente pela Newsengage – Media, Conteúdos e Comunidades, SA e destinam-se à gestão do seu pedido e à apresentação de futuras propostas. O seu fornecimento é facultativo, sendo-lhe garantido o acesso à respetiva retificação. Caso não pretenda receber propostas comerciais de outras entidades, assinale aqui

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Montra

Identificação no pulso As novas pulseiras iDee permitem identificar o utilizador, podendo ser personalizadas de acordo com o estilo de cada um. Disponíveis em diferentes cores e modelos, podem incluir as inscrições que o utilizador pretender, nomeadamente nome, data de nascimento, cidade e contactos a utilizar em caso de emergência. O objetivo é libertar do uso de carteiras e documentos em situações em que é conveniente ter maior liberdade, como a prática de desporto, ou quando uma criança se perde.

As horas à mesaO novo Table Clock da Officine Panerai possui uma esfera em vidro mineral, perfeitamente transparente, que oferece uma vista dupla: uma de frente, do mostrador fixado no centro da esfera, e a outra de trás, que permite admirar os detalhes e os acabamentos do movimento de manufatura P.5000. O design minimalista, marcado pela alternância de índices lineares com grandes números nos pontos cardinais, assegura, segundo a marca italiana, uma excelente legibilidade.

Fragância refrescadaCusto L’ Eau é a nova visão da Custo Barcelona Woman. Diz a marca que a fragância é “mais refrescante” do que a original e adapta-se “às últimas tendências em per-fumaria”. O perfume conserva as notas originais, mas adiciona “um toque de frescura mais rico e intenso”. Mantém o mesmo frasco e a mesma cartonagem, com pequenas mudanças que atualizam o conceito do de-senho, conservando a cor rosa fúcsia como símbolo de continuidade.

Homenagem em forma de caneta

Relógios todo-o-terrenoA Pulsar, marca da Seiko Watch Corporation, lançou dois novos cronógrafos masculinos inspirados no todo o terreno. Ambos os modelos têm caixa em aço de 45mm, vidro mineral, além de bracelete em pele azul perfurada e com pespontos em branco. O azul é a cor predominante nestes relógios de design desportivo do representante oficial de relógios da Qatar World Rally Team. Têm indicação do dia do mês e resistência à água até 10 bar de pressão.

A Montblanc homenageia Rita Hayworth ao criar uma caneta limitada a 46 peças artesanais – o número de lançamentos do filme “Gilda”, que lhe deu fama in-

ternacional. A laca verde translúcida da caneta remete para o sedutor vestido de cetim que a icónica atriz usou no poster

do filme. A forma da caneta sugere a sua figura sensual, enquanto a ponta

em ouro 750 honra o glamour da estrela de Holywood. A tampa está cravejada

de diamantes.

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Direcção:Cabo de Gata, 1-3, Sector 2Área empresarial Andaluzia.28320 Pinto Madrid. Espanha.

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DIREITO EMPRESARIAL3ª edição

DIREITO ADMINISTRATIVO8ª edição

DIREITO E GESTÃO8ª edição PARCEIROS CMS Rui Pena & Arnaut | Garrigues | Uría Menéndez - Proença de Carvalho

| Galp Energia

FORENSE8ª edição PARCEIROS CMS Rui Pena & Arnaut | Garrigues | Linklaters | Miranda | PLMJ

| Sérvulo & Associados | Uría Menéndez - Proença de Carvalho

DIREITO FISCAL3ª edição PARCEIRO PLMJ

PARCEIRO Sérvulo & Associados

CANDIDATURAS1ª fase: 16 de junho a 31 de julho2ª fase: 1 de agosto a 5 de setembro(para o mestrado em Direito e Gestão termina a 2 de setembro)

Tel. 217 217 [email protected]/posgrad

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