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Pág. 32 Manuel Barrocas sócio fundador da Barrocas Advogados Arbitragem é uma instituição de grande prestígio Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano III n N.º 36 n Março de 2013 n 15 euros Castanheira Martins, da BPO Advogados, Ale- xandra Dias Teixeira, da JPAB, e Rogério Fer- nandes Ferreira e Francisco de Carvalho Fur- tado, da RFF, bem como Ricardo Arvela, da DevPag, dão a sua opinião sobre a recuperação de créditos. A questão está na ordem do dia devido à situação económica de Portugal que levou ao aumento do número de falências e in- solvências. “O grande problema da Justiça é que é demasia- do conservadora. Em décadas nada se inovou, continua tudo na mesma no que diz respeito à máquina, ao funcionamento”. Este é o diagnós- tico de Germano Marques da Silva, penalista e professor de Direito Penal Fiscal, sobre a situação do sector em Portugal. Docente na Universidade Católica, afirma que se sente “fundamentalmente professor” e “advogado por necessidade”. Como agilizar a recuperação de créditos Germano Marques da Silva, penalista Justiça conservadora 27 06 www.advocatus.pt O agregador da advocacia

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advocatus, nº 36

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Pág. 32

Manuel Barrocas sócio fundador da Barrocas Advogados

Arbitragem é uma instituição de

grande prestígio

Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano III n N.º 36 n Março de 2013 n 15 euros

Castanheira Martins, da BPO Advogados, Ale-xandra Dias Teixeira, da JPAB, e Rogério Fer-nandes Ferreira e Francisco de Carvalho Fur-tado, da RFF, bem como Ricardo Arvela, da DevPag, dão a sua opinião sobre a recuperação de créditos. A questão está na ordem do dia devido à situação económica de Portugal que levou ao aumento do número de falências e in-solvências.

“O grande problema da Justiça é que é demasia-do conservadora. Em décadas nada se inovou, continua tudo na mesma no que diz respeito à máquina, ao funcionamento”. Este é o diagnós-tico de Germano Marques da Silva, penalista e professor de Direito Penal Fiscal, sobre a situação do sector em Portugal. Docente na Universidade Católica, afirma que se sente “fundamentalmente professor” e “advogado por necessidade”.

Como agilizar a recuperação de créditos

Germano Marques da Silva, penalista

Justiça conservadora 2706

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Março de 2013 3O agregador da advocacia

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Guilherme de Oliveira, reitor da Universidade Portucalense, fala sobre as prioridades deste estabelecimento de ensino na área do Direito. Este ano o objetivo é lançar um mestrado em “Jurisprudência de Direito Privado”.

O sócio da Abreu Advogados Rodrigo Ferreira da Rocha escreve sobre a sua experiência em Moçambique, onde tem um projeto próprio, a Fralaw.

ensino

PassaPoRte

As ambições da Portucalense

Ser advogado em Moçambique

20

37

Depois dos países africanos de língua oficial portuguesa, as sociedades de advogados estão agora a descobrir a América Latina. Sete delas explicam ao Advocatus o que já fazem nesses mercados.

inquéRito

Destino: América Latina12

Formou-se em Braga, no final do estágio lançou-se num projeto próprio e no ano passado fundou a Vieira, Amílcar & Associados, também na cidade onde estudou. Nuno da Silva Vieira ainda tem tempo para se dedicar à escrita e lançou recentemente um livro sobre insolvência. Acredita que Portugal pode ser um centro da indústria legal de negócios para os PALOP.

Passeio PúBliCo

Acreditar em Portugal16

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O agregador da advocacia4 Março de 2013

www.advocatus.ptCortar a direito

João teivesdiretor

Caixa de PandoraA possibilidade de existência de “Alternative Business Structures” nas sociedades de advogados, na proposta apresentada de alteração dos Estatutos, representa um autêntico rombo nos pilares em que assenta a profissão.

Por vezes, ao ler os livros de Richard Susskind, parece que estamos a ler um livro de ficção científica de Isaac Asimov ou Arthur C. Clark. A reflexão do autor sustenta-se nos efeitos que a liberalização e a revolução tecnológica terão no futuro da profissão. Fatores que, asso-ciados à pressão do mercado relativamente à eficiência e aos custos dos serviços, operaram uma autêntica disrupção na forma como e por quem serão prestados serviços jurídicos. Não se trata aqui de uma mera transformação do alfaiate, com uma prestação de serviços individualizada, cara a cara e à medida de cada

cliente, para a grande superfície, com uma estan-dardização e posterior comoditização dos serviços jurídicos. A diferença é qualitativa. Levado ao ex-tremo a reflexão de Susskind, será do Homem para a máquina. Um pouco como aquele filme de Ridley Scott, Prometheus, em que uma personagem é operada não por um médico, profissional liberal, mas por uma máquina. Assim parece o futuro de Suskind com um HAL a dizer a Justiça. Tomorrow´s Lawyers - An Introduction to Your Future é uma edição da Oxford University Press (2013).

A ascensão das máquinas

liVRo

dades de advogados cotadas em bolsa. E estas alterações no mer-cado global não podem deixar de ser objeto de reflexão no nosso país. Agora o que, no mínimo, se exigi-ria é que fossem objeto de estudo e reflexão antes de serem apro-vadas. Julgo até que o Conse-lho Geral deveria ter interpretado com a máxima amplitude possível o artigo 27º, nº4, da Lei 2/2013, por forma a excluir, por razões de interesse público, a possibilidade de existência deste tipo de so-ciedades. É que a sua aprovação representa um autêntico rombo nos pilares em que assenta a pro-fissão. Como será tratado o sigilo pro-fissional numa sociedade em que sejam sócios um revisor oficial de contas, com obrigações es-pecíficas de participação, e um advogado, com obrigação de sigilo profissional? Sob que pris-ma analisar uma simples fatura de uma sociedade destas? De acordo com as regras estritas de fixação de honorários ou de maxi-

mização de lucro? Como atacar a procuradoria ilícita se se permite que, sob o mesmo teto, outros profissionais ou não profissionais prestem serviços da sociedade? Como garantir a independência e isenção da profissão perante um acionista não profissional? Ela será garantida de facto? Como garantir a inexistência de confli-tos de interesses? Como é que a Ordem dos Advogados poderá defender que é inaceitável uma figura como o defensor público se permite que uma sociedade de advogados tenha outros profis-sionais a trabalhar sob a mesma unidade? E as perguntas pode-riam continuar indefinidamente. Não poderemos deixar de dar ra-zão a Richard Susskind, um de-fensor absoluto destas soluções, quando o mesmo refere, na sua última obra, infra descrita, “no one knows where this will lead us” (pg. 8). E perante tamanha imprevisão, sem estudos prévios ou discussão, é impensável alte-rar os fundamentos da profissão. Vamos mesmo abrir esta caixa?

trário. Todas as conclusões e pa-receres existentes vão no sentido contrário. Mais, trata-se de alterações que, ao contrário do que estabelece o próprio regime das associações públicas, não foram nem sufraga-das nem aprovadas em nenhuma Assembleia Geral. É verdade que era imperativo apresentar ao Governo, em trinta dias, uma proposta de adapta-ção dos Estatutos, mas julgo ser impensável que uma alteração desta dimensão seja feita ao ar-repio da vontade dos advogados portugueses. Dos múltiplos as-petos da proposta apresentada vou centrar-me na possibilidade de existência de ABS (Alternative Business Structures), sociedades cujo capital é pertença de não advogados, sejam estes outros profissionais (sociedades multi-disciplinares) ou não. Não ignoramos a voragem dos novos tempos e a liberalização trazida pelo Legal Services Act, de 2007, no Reino Unido. Hoje em dia existem, inclusive, socie-

A aprovação da Lei 2/2013, que estabelece o regime jurídico da criação, organização e funciona-mento das associações públicas profissionais, vem colocar novos e prementes problemas e desa-fios à advocacia em Portugal. Antes de mais, a pressão da ela-boração de uma proposta de adaptação, por parte das respe-tivas Ordens existentes, dos Es-tatutos respetivos à nova lei, num prazo, exíguo, de trinta dias. Po-derá dizer-se que a Lei já se en-contrava em discussão há algum tempo. Certo é que os advogados por-tugueses nunca discutiram, nem foi promovida a discussão, das adaptações necessárias à nova Lei. E esta é a primeira pecha de todo este processo. Como é pos-sível que alterações propostas, algumas delas verdadeiramente disruptivas, sejam aprovadas sem que os advogados portugueses as discutam? Se lermos as con-clusões dos últimos congressos nada daí resulta que permitisse estas alterações. Bem pelo con-

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O agregador da advocacia6 Março de 2013

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“A Justiça precisa de picante, de ser agitada, porque o grande problema da Justiça é que é demasiado conservadora”. Assim pensa Germano Marques da Silva, advogado penalista. Não precisa de mais leis, precisa de inovar no funcionamento, na “máquina”. Admite, porém, que há resistências à mudança. Docente do ensino superior há mais de 40 anos, é crítico do sistema de Bolonha e não hesita em afirmar que muitos alunos não deviam estar na faculdade, mas sim no politécnico. Dos seus alunos diz que os trata como filhos e foi em nome dessa relação que acompanhou Duarte Lima numa diligência judicial.

Justiça precisa de picante

uma “Justiça”. Trouxe-me umas seis ou sete e escolhi esta. A Jus-tiça precisa de picante, de ser agitada, porque o grande proble-ma da Justiça é que é demasiado conservadora. Em décadas nada se inovou, continua tudo na mes-ma no que diz respeito à máquina, ao funcionamento. Fazem-se leis atrás de leis, mas é normal, resulta da dinâmica da própria socieda-

muito grande em mudar os parâ-metros da atuação. Se for junto dos advogados em geral todos eles se queixam de que há legis-lação a mais, não se questionam se entretanto a sociedade não mu-dou muito mais. As mudanças dão trabalho, obrigam a adaptações, a mudanças de mentalidade e há sempre resistência.Há décadas que oiço dizer que é

de. Se a lei procura corresponder às necessidades sociais tem de se ir adaptando. A lei vai sempre atrás dos acontecimentos: primei-ro acontecem as coisas e só de-pois é que vem o legislador tentar enquadrar. Não é possível prever a dinâmica da sociedade. Mas é preciso ser-se mais atrevido.O jurista é, por natureza, conser-vador. Tem sempre uma relutância

advocatus | Comecemos por uma pequena provocação. não pude deixar de reparar no qua-dro que representa a Justiça, mas uma representação com um toque erótico. é intencional?germano Marques da silva | A obra é de um russo que apareceu aí há uns dois anos a dizer que precisava de vender uns quadros e a quem acabei por encomendar

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Entrevista

germano Marques da silva, penalista, professor de Direito Penal Fiscal

Fátima de sousaJornalista

[email protected]

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Março de 2013 7O agregador da advocacia

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preciso alterar a organização judi-ciária, mas sempre que se faz uma mudança, mesmo que seja numa comarca que não tem movimento nenhum, levanta-se a comarca em peso.

advocatus | e onde é que colo-cava algum picante?gMs | É preciso pôr em tudo, mas sobretudo nos problemas eminen-temente sociais. Veja toda a pro-blemática do Direito do Trabalho: estamos numa mudança profun-díssima, a insegurança de não sa-ber se amanhã se tem emprego ou não, é perturbador para qualquer pessoa. Os problemas da família também são muito complicados. A família de hoje não tem nada a ver com a família de há 30 anos. É preciso dar resposta a estas mu-danças.

advocatus | a justiça criminal é aquela de que se fala mais. e é precisamente a sua área. Como é que aconteceu? Foi uma esco-lha?gMs | Quando fui convidado para assistente da Faculdade de Lis-boa foi para Direito criminal. Na altura, não queria. Interessava-me mais Direito bancário, ganhava-se melhor a vida, na altura Penal era uma miséria. Não dava nem para os criminosos nem para os advo-gados. Os grandes escritórios não tinham sequer área criminal, não compensava.Mas acabei por aceitar. O profes-sor que me convidou dizia que quando Portugal fosse um país civilizado Direito Penal e Direito Fiscal seriam mais importantes. Na altura não se estudava sequer Fiscal, porque se corrompiam os funcionários públicos – qualquer coisa, negociava-se com o funcio-nário e os juristas não tinham qual-quer papel.Comecei a ensinar e dediquei-me fundamentalmente às áreas do chamado Direito Penal Económico.

advocatus | surgiu há relativa-mente pouco tempo ao lado de Duarte lima. assumiu a defesa nos processos em curso?gMs | Nem sequer sou advoga-

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Justiça precisa de picante

“a lei vai sempre atrás dos acontecimentos: primeiro acontecem

as coisas e só depois é que vem o legislador tentar enquadrar. não

é possível prever a dinâmica da sociedade.

Mas é preciso ser-se mais atrevido”

“Vim para Lisboa com um conto de reis no bolso para tirar o curso. Oito dias

depois tinha uma sala de explicações de Matemática na 05 de Outubro, em frente

à Feira Popular. Fiz todo o curso a dar explicações. De Matemática porque era

muito procurada e eu era bom aluno”

do do Duarte Lima, é uma grande confusão. Ele foi meu aluno e os alunos para mim são como filhos: quando batem à porta, tenho de os ajudar. O Duarte Lima tem um problema no Brasil e tem um ad-vogado no Brasil, tem problemas em Portugal e tem advogados em Portugal. Eu intervim num dado momento como um velho pro-fessor. Foi meu aluno no primeiro curso que dei na Católica. Con-tinuo a ser amigo e conselheiro até. Mas não vou intervir no pro-cesso. Não tenho nada a ver com o processo do banco e do Brasil. Num dado momento, há coisas no Brasil que vêm para Portugal e a comunicação social começa a pressionar. Acompanhei-o uma vez à Polícia Judiciária e se fosse preciso acompanhar mais vezes ia. A minha atitude para com os alunos é exatamente para todos. Costumo dizer no início do curso que há apenas um processo em que não me devem procurar: são os casos de violência doméstica. É pedagógico, para que percebam enquanto são jovens os valores do respeito pelos outros.Sou professor há 40 anos e em 40 anos muitos alunos me bateram à porta. Muitos casos não consigo resolver e encaminho para outros, mas estou sempre aberto a ouvi--los, a dar um conselho.

advocatus | é essencialmente professor. é uma vocação?gMs | Vim para Lisboa com um conto de reis no bolso para tirar o curso. Oito dias depois tinha uma sala de explicações de Matemáti-ca na 05 de Outubro, em frente à Feira Popular. Fiz todo o curso a dar explicações. De Matemática porque era muito procurada e eu era bom aluno. Comecei a traba-lhar muito cedo, quando acabei a escola primária. Estudava à noite e trabalhava como ourives em Gon-domar, tinha seis patrões, todos irmãos. Deixei de trabalhar para eles porque não queriam que es-tudasse, queriam pôr-me a fazer viagens para as ilhas. E a razão por que fui para Direito foi porque é uma profissão liberal, para não ter patrão. O que é uma ilusão,

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O agregador da advocacia8 Março de 2013

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“A minha atitude para com os alunos é exatamente para todos. Costumo dizer no início do curso que há apenas um processo em que não me devem procurar: são os casos de violência doméstica. É pedagógico, para que percebam enquanto são jovens os valores do respeito pelos outros”

Entrevista

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porque temos sempre patrões, os nossos clientes. Mas há sempre o poder de aceitar ou não os pro-cessos.

advocatus | em 40 anos de en-sino, como olha para as suces-sivas gerações de estudantes?gMs | Há mudanças profundís-simas. A democratização do en-sino, a chegada de multidões à universidade. Mudou o nível dos alunos, a metodologia de ensino, as próprias exigências – hoje é-se menos exigente. A grande maioria dos alunos não tem capacidade para estar na universidade, devia estar no politécnico. Isso mudou o ensino. Os alunos hoje só querem resolver casos práticos, mas isso é próprio dos politécnicos – for-mar técnicos, não formar juristas. O que dá prazer é formar juristas, pessoas que sejam capazes de pensar pela sua cabeça, como a própria palavra licenciatura sig-nifica. E pensar não é saber ler o Código, é compreender o fenó-meno social e criar as soluções. A maior parte dos alunos hoje não tem essa preparação, acha que resolvendo casos ficam com formação, mas não ficam.E isso resulta da massa. Mas há sempre uma percentagem significativa de alunos muito bons, a pensarem pela própria cabeça, a confron-tarem, criarem e isso é muito in-

teressante. Os outros podem ser bons técnicos do Direito, mas para se ser advogado ou para se ser juiz é preciso muito mais. É preci-so formação de base e o pior que pode acontecer a um advogado ou um juiz é não ter essa forma-ção. Costumo dizer aos meus alu-nos que quem sabe só Direito não sabe nada. Nunca me esqueço da recomendação que me foi feita pelo meu velho professor Cavalei-ro de Ferreira a primeira vez que conduzi exames: “Não se esqueça que o aluno que está a examinar amanhã pode ser juiz e o senhor pode ser réu e não há coisa pior do que um juiz incompetente”.

advocatus | Bolonha não veio ajudar…gMs | Traz muitas dificuldades, sobretudo na fase da licenciatura. Os estudantes hoje trabalham in-comparavelmente mais do que há 15 anos. A formação é sobretudo técnica, todas as disciplinas foram desdobradas, passaram a semes-trais. Não há tempo para amadu-recer as matérias. Começam-se as aulas logo a pensar nos exa-mes e ainda há professores que fazem testes a meio e trabalhos para avaliação. É uma tendência dos professores acharem que a sua cadeira é sempre a mais im-portante e todos os anos a maté-ria vai aumentando. É muito raro

“Mente-se em Portugal que é um disparate, mas não me consta

que alguém tenha sido condenado por mentir num tribunal. Há uma atitude de desculpa”

Germano Marques da Silva diz-se “funda-mentalmente professor” e “advogado por necessidade”, “para completar o vencimen-to”. “Os professores ganham pessimamente em Portugal e advocacia, apesar de tudo, é muito melhor remunerada do que o ensino superior”. Assume que trabalha como advo-gado por obrigação, mas não enjeita que há processos que o entusiasmam.Não tanto, certamente, do que ensinar. Das aulas retira a sensação de que é “sempre

jovem”: “Os alunos têm sempre a mesma idade e isso é extremamente interessante”. E depois há “o prazer de despertar os espíri-tos, de os entusiasmar”: “É muito interessan-te começar com um aluno no primeiro ano e depois dar-lhe uma cadeira final”.É docente na Universidade Católica, minis-trando Direito Penal Fiscal, um semestre em Lisboa, outro no Porto. Em cada um deles faz o mesmo exercício: “Como o dinheiro não chega para pagar tudo, pergunto-lhes como

futuros empresários o que fariam primeiro, se pagar os impostos, se pagar os salários. Em Lisboa, mandam pagar os impostos, no Porto os salários. Andei a tentar perceber e lá consegui – muitos dos alunos que tenho no Porto são filhos de pequenos empresários, que conhecem os funcionários”.Germano Marques da Silva leciona ainda duas horas por semana numa instituição que ajudou a fundar, há 30 anos, a Escola Supe-rior de Polícia. Disciplina: ética profissional.

Advogado por necessidade

PRoFissão

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Março de 2013 9O agregador da advocacia

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“A razão por que fui para Direito foi porque é uma profissão liberal, para não ter patrão. O que é uma ilusão, porque temos sempre

patrões, os nossos clientes. Mas há sempre o poder de aceitar ou não os processos”

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“os alunos hoje só querem resolver

casos práticos, mas isso é próprio dos

politécnicos – formar técnicos, não formar

juristas. o que dá prazer é formar juristas,

pessoas que sejam capazes de pensar

pela sua cabeça, como a própria palavra

licenciatura significa”

“Recorremos demasiado ao tribunal. não sei se é um vício

da sociedade, se é um despertar para

os direitos. nos anos 40, o maior número

de processos era por injúria, os chamados

crimes de fim de semana”

que um professor selecione meia dúzia de pontos do programa. Há necessariamente uma degradação do ensino superior.

advocatus | é essencialmente professor. que tempo reserva à advocacia? ainda vai a tribunal?gMs | É raríssimo ir a tribunal. É um bocado incompatível com a vida de professor. Corre-se sem-pre o risco de encontrar como juiz ou na parte contrária um antigo alunos e é sempre desagradável. Trabalho mais de gabinete, a fazer pareceres, ajudar outros advoga-dos que me pedem orientação.

advocatus | Voltando à sua área de prática, diria que o Direito Penal está bem enquadrado em Portugal?gMs | Em democracia, o Proces-so Penal é muito mais instável do que o Civil. Desde o Código de 78 até hoje já se alterou para aí umas vente vezes. É Direito Cons-titucional aplicado: é no Processo Penal que as liberdades e garan-tias dos cidadãos se realizam, daí a sensibilidade, daí a mudança. Há quem diga que há garantias a mais, recursos a mais, mas é só quando não lhes bate à porta, por-que quando têm algum processo--crime ou uma suspeita precisam de todas as garantias. E este di-álogo permanente que é próprio da democracia é muito difícil. O Processo Penal não é adjetivo em si, procura concretizar os direitos, liberdades e garantias dos cida-dãos, a própria liberdade. Daí toda a discussão sobre a medida das penas. E há também a segurança como valor. Em tempos de convul-são as pessoas querem segurança e estão disponíveis para sacrificar as suas próprias liberdades e di-reitos em nome de maior segu-rança, porque sem segurança os outros valores importam pouco. É esta conciliação que o Processo Penal faz.

advocatus | Mencionou as ale-gações de excesso de garantias e de recursos. andam normal-mente associadas a críticas de manobras dilatórias. essas ma-

nobras são uma realidade na sua opinião?gMs | Só são dilatórias quando as instituições, nomeadamente os tribunais, deixam. Por mau funcio-namento. Diz-se que se recorre muito. Dou-lhe um exemplo: tive um processo que durou 18 anos, com dois recursos (ganhos) para o Constitucional e três para o Supre-mo. A culpa não foi de haver re-cursos, foi de haver decisões mal tomadas. E é isso que se quer evi-tar, é para isso que se deve investir fortemente na formação de base. A verdadeira justiça não se faz nos tribunais superiores, faz-se nos de primeira instância. Os recursos devem ser a exceção, mas têm de se admitir porque a justiça é hu-mana. Temos juízes fantásticos, mas naturalmente que também os há com menos qualidade.Depois temos alguns vícios da so-ciedade portuguesa. Mente-se em Portugal que é um disparate, mas não me consta que alguém tenha sido condenado por mentir num tribunal. Há uma atitude de des-culpa. Todos os dias nos nossos tribunais são postas em causa testemunhas que se vê que estão a mentir. Tem-se feito muito con-tra isso, nomeadamente o registo da prova, de que eu sou um dos responsáveis. A ideia que me entusiasmava era que, vendo que os seus de-poimentos ficavam gravados, as pessoas mentissem menos. Não temos esses estudos, mas conti-nua a haver mentira em tribunal. Os juízes também não têm ins-trumentos para tudo, têm muitos processos.Além disso, recorremos demasia-do ao tribunal. Não sei se é um vício da sociedade, se é um des-pertar para os direitos. Nos anos 40, o maior número de processos era por injúria, os chamados cri-mes de fim de semana: as pesso-as juntavam-se no adro da igreja a conversar, os homens bebiam uns copos, as mulheres começa-vam nas intrigas e à segunda-fei-ra aparecia tudo em tribunal… Eram as bagatelas. As coisas mudaram, porque a justiça ago-ra é cara.

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O agregador da advocacia10 Março de 2013

www.advocatus.ptEntrevista

advocatus | Mas os tribunais estão cheios de processos. não continua a haver bagatelas?gMs | Somos desconfiados e isso complica em termos processuais. Os Processos querem regulamen-tar tudo. Noutros países da Euro-pa, da mesma família jurídica da nossa, há confiança nas pessoas que vão decidir, os juízes têm po-deres de orientação efetiva. Entre nós não. Há a regrazinha, faz-se um papel, notifica-se, para qual-quer coisa se tem de notificar, os poderes do juiz são limitados. Isso multiplica o número de diligências de tal maneira que os processos se arrastam.

advocatus | Falando de proces-sos que se arrastam, como se ex-plica que os chamados megapro-cessos, mediáticos, não parecem ter fim à vista?gMs | Por essa Europa fora já não se usam esses processos. A tenên-cia hoje é para separar. O processo Casa Pia, por exemplo, é quase im-possível de julgar: a quantidade de arguidos, a quantidade de testemu-nhas, os contraditórios…e de tudo conseguir selecionar o que parece verdadeiro…Esta é outra coisa que tem que ver com a formação. Na formação eu-ropeia continental há muito a ideia de que os tribunais servem para fazer justiça. Os americanos e os ingleses acham que os tribunais são para resolver problemas. Nós anda-mos tempos infinitos para saber se há mais uma circunstância que faça com que em vez de sete anos de prisão sejam sete anos menos um mês… Ouvem-se mais umas quan-tas testemunhas, fazem-se mais umas diligências. Na justiça ameri-cana só uns 10 por cento dos casos vão a julgamento. É um problema cultural.Na minha área há quase um vício: para os defensores de Direito Penal os clientes são sempre inocentes, o que dificulta a colaboração para a realização da justiça. O que seria razoável era que, conhecendo os elementos do processo, o Ministé-rio Público e a Defesa negociassem, de preferência ir a julgamento. À americana. E isso faz um peso mui-

to grande na vida dos tribunais. Ter defesa não significa ser inocente, significa conseguir a solução mais benéfica.

advocatus | a exposição mediáti-ca e o facto de envolverem figuras públicas também não contribuem para arrastar os processos?gMs | Aí temos de distinguir duas coisas. É um aprofundamento da democracia haver processos contra pessoas poderosas. Não foi agora que começaram a cometer crimes, agora há é o tomar consciência de que ninguém tem as costas quen-tes, seja ministro, seja empresário. Há cada vez mais esta preocupação de legalidade, de toda a gente ter de responder perante a lei. É a afirma-ção do princípio da igualdade e a igualdade é a base da democracia. A discussão na comunicação social é terrivelmente perigosa. Não se conseguiu resolver, não sei como se resolve. A comunicação social teve e tem de ter uma função de denún-cia. O que acontece é que não se contenta com a denúncia, frequen-temente denuncia e julga. Quem acompanha os processos-crime vê como as notícias são frequente-mente distorcidas. Toda a gente quer utilizar a comuni-cação social, advogados, polícias… Costumo dizer que não conheço nenhum caso em que os jornalis-tas tenham assaltado os tribunais para obter processos. A violação vem de dentro. Vamos ver se esta ideia de acabar com a violação do segredo de justiça é bem-sucedida. Fui membro do Conselho Superior do Ministério Público durante 12 anos e muitas vezes o problema se levantou, sempre se procuraram so-luções e legislou mas o mal continua na mesma. O processo passa pelas mãos de muita gente. E a ideia do segredo profissional ainda não está suficientemente enraizada entre nós.As pessoas não têm consciência de que, numa fase em que se está em investigação, se pode lançar o labéu de culpado sobre alguém que esteja inocente. Fica para o resto da vida. Há todo um problema de moral so-cial. Preocupa-me o efeito que isto tem na família, tenho escrito sobre isso. É terrível.

“Para os defensores de Direito Penal os clientes são sempre inocentes,

o que dificulta a colaboração para a

realização da justiça. o que seria razoável

era que, conhecendo os elementos do processo,

o Ministério Público e a Defesa negociassem,

de preferência ir a julgamento.

À americana”

“Há quem diga que há garantias a mais,

recursos a mais, mas é só quando não lhes bate à porta, porque quando têm algum

processo-crime ou uma suspeita precisam de todas as garantias”

“Toda a gente quer utilizar a comunicação social, advogados, polícias… Costumo dizer que não conheço nenhum caso em que os jornalistas tenham assaltado os tribunais para obter processos. A violação vem de dentro”

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O agregador da advocacia12 Março de 2013

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As sociedades de advogados portuguesas têm vindo a repensar a sua estratégia de internacionalização. Fruto, porventura, da atual situação económico-financeira do País. Certo é que, depois dos países africanos de língua oficial portuguesa, em particular Angola e Moçambique, se orientam agora para os mercados da América Latina. O principal enfoque é no Brasil, por via da identidade linguística e do atrativo de uma economia em crescimento acelerado. Mas no continente sul-americano outras economias emergem. Serão elas igualmente atrativas ou a língua é uma barreira para a expansão das sociedades nacionais? Representantes de sete firmas sintetizam a aposta que fazem nesses mercados.

O novo El Dorado da advocacia?

América Latina

No Brasil, a atividade de sociedades de advogados portuguesas não é recente. Há já vários anos que as principais firmas portuguesas es-treitaram ligações com as suas congéneres brasileiras.O robusto crescimento da economia brasileira em áreas como o pe-tróleo e gás, energia em geral, mineração, siderurgia, agricultura, indústrias de transformação e produção de bens, sector bancário e financeiro e sector de serviços em geral, aliado a um mercado con-sumidor com crescente poder aquisitivo de cerca de cem milhões de pessoas e à organização de grandes eventos desportivos internacio-nais tem, nas últimos anos, tornado o mercado brasileiro muito atra-ente para o investimento estrangeiro e potenciado a necessidade de apoio jurídico aos respetivos projetos. Neste quadro e considerando a natureza eminentemente transnacio-nal da atividade dos nossos clientes a abertura de uma presença no Rio de Janeiro e São Paulo e a ligação a uma das mais prestigiadas

sociedades de advogados brasileiras – Ma-chado Meyer Sendacz Opice – foi um passo natural na nossa estratégia. Sendo o Rio de Janeiro a capital do mercado brasileiro de petróleo e gás são inúmeros os nossos clientes internacionais, operadores e prestadores de serviços na referida área, que têm procurado o escritório com o objetivo de instalar ou a reforçar a sua atividade na cidade.Para além destas solicitações, há ainda que sublinhar a importância do apoio prestado a alguns dos principais grupos económicos brasileiros que desenvolvem presentemente relevantes investimentos na área da energia, mineração e infraestruturas em vários países afri-canos onde desde há muito operamos.

José Castro e solla Associado sénior

Brasil, um mercado em expansão

MiRanDa CoRReia aMenDoeiRa & assoCiaDos

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Março de 2013 13O agregador da advocacia

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tura de escritórios em parceria com advoga-dos locais e a criação de desks ou grupos de trabalho especiali-zados em jurisdições específicas. Tendo em conta a crescente importância que a América Latina representa para as em-presas portuguesas, é natural que a capacidade de atuação dos Escri-tórios de Advogados portugueses nesta região vá também aumentando, a par da experiência local que se vai adquirindo e consolidando ao longo do tempo. A América Latina representa assim um grande desafio de expansão para os Escritórios de Advogados portugueses, em especial os paí-ses hispânicos, os quais tradicionalmente nunca foram considerados prioritários.

em várias áreas do direito que especia-listas estrangeiros lhe poderão trazer.A prestação de servi-ços jurídicos por so-ciedades de advoga-dos portuguesas na América do Sul tem um campo muito fértil no acompanhamento de investidores por-tugueses nesses mercados, designadamente em coordenação de sociedades de advogados locais que assegurem a representação na ju-risdição de intervenção quando as sociedades nacionais o não possam ou não seja aconse-lhável que o façam, mas também através da prestação de assessoria especializada em cer-tas áreas que essas jurisdições são ainda defi-citárias e nas quais os advogados portugueses tenham já experiência consolidada.

Um mercado florescente

aaMM

O contexto económico e financeiro que o nosso País vive tem obrigado as empresas a repensar a estratégia internacional. A par de alguns mercados naturais, como sejam os PA-LOP e o Brasil, há outros países que têm me-recido uma especial atenção por parte das em-presas portuguesas. A América Latina tem vindo a registar taxas de crescimento muito atrativas e consistentes, pelo que não é de estranhar que haja uma cada vez maior presença portuguesa nesses mercados, nos mais variados sectores incluindo a construção, infraestruturas, energia, novas tecno-logias, etc. Os Escritórios de Advogados não podem ficar alheios a estas mudanças, ou seja, precisam de acompanhar o processo de internacionalização dos seus Clientes, em especial nos países onde se registam os volumes de negócios mais significati-vos. Neste âmbito, os Escritórios de Advogados têm adotado diversas vias, nomeadamente o es-tabelecimento de parcerias institucionais, a aber-

Um grande desafio

sRs

Grande interesse

aBReu aDVogaDos

Nos últimos anos, tem vindo a verificar-se um crescente interesse de Portugal no inves-timento em países da América Latina. Tal situação é facilmente compreensível à luz do fenómeno do desen-volvimento económi-co e social dos países da área geográfica em apreço. Com efeito, estando a Europa a ser afetada por uma profunda crise económico--financeira, o nosso País tem procurado novas oportunidades de investimento, focando-se em países emergentes, tais como os países sul-americanos, entre os quais o Peru e a Co-lômbia. Mais se diga a este propósito que se perspetiva um estreitamento de relações co-merciais entre os dois países acima referidos e a União Europeia (UE), em virtude da assi-natura do Acordo de Comércio Livre, em junho de 2012. De facto, o Acordo deverá entrar em vigor após o cumprimento dos procedimentos internos das partes, altura em que esta região se tornará ainda mais interessante do ponto de vista do investimento e do comércio internacio-nal. Acresce que a UE aprovou um Regulamento que prevê a assistência comunitária à América Latina em vários domínios de cooperação.Deste modo, o investimento nestes países tornou-se bastante apelativo para as empresas nossas clientes. A Abreu Advogados acompa-nha com grande interesse a evolução destes países e aposta em potenciais parcerias nesta região para responder aos novos desafios dos seus clientes.

Paulo de Moura MarquesSócio

nuno Miguel PrataSócio

Bernardo de arrochela alegria

Sócio

As sociedades de advogados são entidades que respondem aos desafios dos mercados, em particular dos mercados emergentes, na medida em que são prestadores de serviços atentos às evoluções. As sociedades de advo-gados portuguesas que tenham uma vocação internacional, seja por trabalharem áreas do direito mais propensas a uma prestação trans-fronteiriça de serviços jurídicos, seja porque a internacionalização é um seu desígnio, encon-tram na América do Sul um mercado florescen-te e com uma língua de trabalho que, ou é a já a sua, ou é de fácil compreensão.A América do Sul não é, no entanto, um mer-cado propenso a uma internacionalização de sociedades de advogados portuguesas apenas pelo fator linguístico ou cultural, mas por méri-tos próprios. Falamos de mercados que cres-cem a um ritmo destacado face à Europa, com potencialidade de desenvolvimento contínuo por várias décadas e a necessitarem de atra-írem investimento estrangeiro e conhecimento

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O agregador da advocacia14 Março de 2013

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4. Finalmente, a Ordem dos Advogados do Brasil tem colocado sérios entraves à entrada de escritórios estrangeiros no País e até às associações entre estes es-critórios e escritórios brasileiros.

Neste contexto de parcerias desenvolvidas com escritórios brasileiros, a MC&A trabalha atual-mente em colaboração com a sociedade bra-sileira de advogados L.O. Baptista, Schmidt, Valois, Miranda, Ferreira, Agel (SVMFA). Quanto aos restantes mercados da América Latina, não se tem verificado par-ticular interesse por parte das sociedades de advogados portuguesas, uma vez que a língua predominante é o espanhol.

Embora o processo de internacionalização das empresas portuguesas não seja propria-mente novo, a verdade é que a diminuição da procura interna resultante da atual conjuntura económica e da implementação do Programa de Ajustamento negociado entre o Governo Português e a Comissão Europeia (CE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Ban-co Central Europeu (BCE) tem levado cada vez mais empresas portuguesas a apostar em novos mercados. Ao contrário do que sucede com a maior par-te dos países da Zona Euro, os países da América Latina, com espe-cial destaque para o Brasil, têm registado, nos últimos anos, elevadas taxas de crescimento económico, atraindo cada vez mais empresas portuguesas e estrangeiras que procuram aproveitar as oportunida-des do grande mercado latino-americano. As sociedades de advogados internacionais têm também vindo a re-forçar a sua presença na América Latina, pois esta é uma das zonas do globo que já regista e registará, nos próximos anos, um maior vo-lume de investimento público e privado, designadamente na área das infraestruturas, constituindo uma oportunidade única para as socie-dades de advogados europeias de cariz internacional “exportarem” o conhecimento e experiência adquiridos nos últimos anos na con-ceção, financiamento, construção e exploração de grandes projetos, sobretudo em regime de parceria público-privada (PPP), modalidade essa que começa a dar agora os primeiros passos na América Latina.

Exportar conhecimentoUma presença que se justifica

Em parceria no Brasil

aVM aDVogaDos

MC&a

Sem prejuízo de estarmos particularmente atentos a outros mercados da América Latina, o Brasil con-tinua a ser o mercado da América Latina prioritário para a AVM. Apesar das pressões inflacionistas, já evidentes em 2012, e de as sucessivas revisões em baixa das taxas de crescimento para 2013 situarem o Brasil nuns dececionantes 3%, o âni-mo da economia brasileira poderá transcender o otimismo conjuntural induzido pelos projetos de infraestruturas a concretizar até 2016, graças ao potencial de expansão do consumo que o mercado interno comporta, ao incremento do crédito, esti-mulado pelas reduções recordistas da taxa de juro e ao fluxo de investimento chinês. O interesse no Brasil subsiste e o seu potencial não pode ser ignorado pelas sociedades de advogados empenhadas num projeto internacional sé-rio, cujo sucesso passa inevitavelmente pela cobertura dos países lusófonos e dos fluxos de negócios entre eles. Estamos convictos de que a presença da AVM no Brasil se justifica estrutural e concetualmente. Referimo-nos a uma presença autónoma, com base numa total integração orgânica dos escritórios locais no universo AVM, que permite falar de uma carteira própria de Clientes e não de meras parcerias que, frequentemente, não se distinguem do simples referenciamento de advogados locais, por vezes reforçado pela reciprocida-de, pela exclusividade e, principalmente, pela comunicação de uma imagem global. A AVM RJ assume-se como uma via poderosa de acompanhamento de Clientes de África para a América Latina e de captação, a partir do Brasil, de investimento dirigido a Angola e Moçambique e pode, ademais, revelar-se um adjuvante diferenciador na exploração da ponte com a Ásia.

Mafalda seabra Pereira Senior associate

Vítor Marques da CruzSócio fundador

Ricardo Campos Advogado associado sénior

O mercado da América Latina (em particular o brasileiro) tem-se revelado importante não só para as empresas comerciais portuguesas, mas também para os escritórios de advocacia, numa tentativa de acompanhar as empresas nacionais nos investimentos que, com cada vez mais frequência, se realizam naquele país. Todavia, a tendência tem sido a realização de parcerias com escritórios brasileiros, uma vez que:

1. O mercado jurídico no Brasil é muito competitivo;2. As sociedades de advogados brasileiras têm um nível de desenvolvi-

mento que as coloca a par das sociedades internacionais e seguiram, na sua maioria, o modelo americano de organização de escritórios;

3. O mercado brasileiro é, também a nível comercial e de negócios, mui-to competitivo e com dificuldades consideráveis, que tornam parti-cularmente difícil a um escritório estrangeiro exercer a atividade sem uma parceria no local;

gÓMeZ-aCeBo & PoMBo

América Latina

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Março de 2013 15O agregador da advocacia

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O agregador da advocacia16 Março de 2013

www.advocatus.ptPasseio Público

“Portugal pode vir a ser centro da indústria legal de negócios dos PALOP e do Brasil”. A convicção é de nuno da silva Vieira, sócio da Vieira, Amílcar & Associados. Aos 32 anos, o advogado, que definiu na adolescência os seus projetos profissionais, quer agora tentar influenciar.

Entre livros e leis

Ram

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elo

Nuno da Silva Vieira frequentava o 10.º de escolaridade quando começou a preocupar-se com o futuro. Que profissão queria ter? A que iria dedicar-se? A advoca-cia surgiu-lhe como a solução. Aos 32 anos, tem um projeto pró-prio e está realizado. Mas, neste momento, sente que deve tentar influenciar. O advogado acredita que Portu-gal pode vir a ser um centro da

indústria legal de negócios para os PALOP (Países Oficiais de Lín-gua Oficial Portuguesa) e Brasil. Para isso é necessário que os advogados estejam orientados para este objetivo. Nesse senti-do, quer encontrar-se com co-legas, conversar e partilhar esta ideia de forma a fazer parte de um grupo de interessados que ajudem a tornar Lisboa numa nova city.

Natural da pequena aldeia de Monsul, Póvoa de Lanhoso, Di-reito não era propriamente fa-miliar à vivência de Nuno, mas havia algo que o fascinava. De-sejava ter uma intervenção so-cial e contribuir para melhorar o mundo e a advocacia parecia-lhe ser a forma certa de o fazer. De-cidiu, pois, que ia ser advogado e nunca mais quis outra coisa. A Escola de Direito da Universida-

de de Braga pareceu-lhe o lugar ideal para concretizar essa de-cisão, até por uma questão de poupança dos pais. Hoje, sente--se orgulhoso da escolha, afir-mando mesmo que a faculdade onde estudou tem vindo a “dar cartas”. “Na altura em que me formei havia uma ideia de que a Escola de Direito de Braga era um Direito diferente, era um Di-reito Económico e via-se o Direi-

ana Duarte

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Março de 2013 17O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

acredita que Portugal pode vir a ser um

centro da indústria legal de negócios para os

PaloP (Países oficiais de língua oficial

Portuguesa) e Brasil. Para isso é necessário

que os advogados estejam orientados para

este objetivo

to Económico como uma coisa má”, recorda.Finalizado o curso, decidiu fazer o estágio também na zona de Braga, num escritório especia-lizado em Direito Comercial. A procura foi longa e infrutífera, até que na pequena vila de Amares conseguiu encontrar um advoga-do que lhe dava alguma liberda-de e onde teria acesso a casos de Direito Comercial. Reconhece que era uma advocacia mais pro-vinciana, mas sempre acreditou que poderia ser um advogado especialista na área comercial. Em Amares fez um estágio “à medida”, com autonomia, com a vantagem de ter sido o único es-tagiário durante um ano e meio. Durante esse tempo tratou de to-dos os processos oficiosos que eram designados para o escritó-rio. Essa experiência permitiu-lhe aprender muito. “Num concelho pequenino, sem grande educa-ção financeira e empresarial, eu fui encontrando todos os dias er-ros que as pessoas não podiam cometer. Eu acabei por aprender com os erros que as pessoas iam cometendo”, conta. No final do estágio decidiu lan-çar-se num projeto próprio e abriu um escritório em Amares, tentou conquistar os primeiros clientes, resolver as primeiras causas, mas tendo sempre em mente que tinha de continuar a estudar. Aprofundou a formação na área do Direito com pós-gra-duações em Coimbra, na Univer-sidade Portucalense e em São Tiago de Compostela (Espanha).A escrita acompanhou sempre o percurso de Nuno da Silva Vieira: escreveu livros que nunca seriam publicados e outros que vieram a sê-lo. Alguns desses livros são ainda hoje as “sebentas” pelas quais se guia no trabalho. A primeira publicação ocorreu aos 22 anos. Estava na faculda-de e surgiu a ideia de elaborar um guia de saídas profissionais para estudantes de Direito. Nuno teve a tarefa de coordenador adjunto. Seguiram-se outras, nomeadamente a do “Guia da Empresa”, uma obra escrita em

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O agregador da advocacia18 Março de 2013

www.advocatus.ptPasseio Público

parceria com a amiga Paula de Carvalho. O objetivo era explicar às pessoas como criar empre-sas e assegurá-las sem come-ter alguns erros. Com o sucesso desta obra, Nuno acreditou que era capaz e que poderia vingar. Isso deu-lhe estímulo para con-tinuar a escrever. Nos dois anos seguintes decidiu apostar numa literatura mais voltada para o ci-dadão comum, de que é exemplo o seu último livro (ver caixa).O passo seguinte na carreira aconteceu o ano passado: com dois sócios fundou a Vieira, Amí-lcar & Associados, em Braga. Projeto que até agora tem um balanço “bastante positivo”, com projeção a nível nacional e com vontade de apostar a nível inter-nacional. Para o futuro tem mui-tos planos, desde logo avançar para o resto do país (com uma representação em Lisboa) e para a internacionalização. “Nasci em Braga e por olhar a profissão como uma utopia rea-lizável achei que Braga merecia nos próximos anos esforços no sentido de criar uma socieda-de de excelência”, conta. Re-conhece que os primeiros anos são complicados, como receita aponta o trabalho árduo, não só

a escrita acompanhou sempre o percurso de nuno da silva

Vieira: escreveu livros que nunca seriam

publicados e outros que vieram a sê-lo. alguns desses livros são ainda

hoje as “sebentas” pelas quais se guia no

trabalho

“Nasci em Braga e por olhar a profissão como uma utopia realizável achei que Braga merecia nos próximos anos esforços no sentido de criar uma sociedade de excelência”

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Nuno da Silva Vieira acaba de publicar “O Credor toca sempre duas vezes”, um livro sobre insolvên-cia. Em 2012, quando criou a sociedade com outros dois sócios - uma meta que sempre desejou alcançar - decidiu que o caminho seria diferente, não iria es-crever livros para aumentar o currículo mas sim para educar e ajudar os cidadãos comuns. Este é o obje-tivo deste novo livro, o qual tem tido algumas críticas por ser mais light. “Por mais críticas que façam a este livro, acho que avancei para a literatura que chega às pessoas, acredito mesmo que alguns advogados

irão comprar este livro”, afirma. Alerta desde logo que este livro não pode ser visto como uma obra acadé-mica. O objetivo é outro – é influenciar. Nele apre-senta as dificuldades das insolvências e os conse-lhos para orientar as pessoas, contudo não deixa de lançar algumas “farpas”. Defende acima de tudo que é preciso acreditar e que o País precisa de acreditar que é capaz. Existem sinais de prosperidade e estes têm de ser aproveitados. Considera-se um otimista, mas acredita que tem de o ser, pois até agora tem conseguido realizar os sonhos.

Uma escrita virada para as pessoas

oBRa

através de advocacia, mas tam-bém através da elaboração de artigos, livros, entrevistas. Ape-sar de se dedicar afincadamente à profissão e à produção literária, não descura a família, algo que considera bastante importante na sua vida. É pai do André, que tem agora cinco anos e a quem já cultiva a necessidade da pou-pança através de jogos. Pai e fi-lho têm um acordo: o André tem um mealheiro e sempre que tem direito a comprar algo tem de ter o dobro do dinheiro do valor do presente para o poder comprar. Algo que o filho pediu a Nuno que partilhasse na apresentação do seu mais recente livro. O ad-vogado defende que, em casa, os filhos devem ser incentivados à poupança, ao estudo, à cultura e às artes. É um pai orgulhoso e sente-se bem neste papel. Sabe que a profissão lhe ocupa muito tempo, mas tenta ser disciplina-do a nível de horários, cumprindo o que tem a fazer mas ainda as-sim sem deixar de viver. É duran-te as férias que mais aproveita para estar com a família, descan-sar e escrever. Gosta bastante de conhecer o mundo e tem sempre vontade de conhecer mais… mas Portugal é o seu local de eleição.

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Março de 2013 19O agregador da advocacia

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A opção de encerrar Tribunais, ainda que com a criação de Extensões locais, sobretudo no interior do tal “velho” Portugal pode originar que um cidadão que ali viva se sinta um “cidadão de segunda”, porque o acesso à justiça se lhe tornou desproporcionalmente injusto perante um “cidadão urbano”.

“não seria difícil encontrar soluções diferenciadas para

realidades distintas. Bastava que esses

tribunais pudessem funcionar em certos dias da semana, sem prejuízo

dos casos urgentes, com mobilidade de

funcionários, juízes e magistrados do MP”

Cidadania e acesso à justiça

A organização judiciária na sua ma-lha basilar ainda hoje em vigor de-corre de um quadro legal assente em bases sociológicas, demográ-ficas, económicas, tecnológicas e culturais que estão já muito distan-tes da actual realidade portuguesa, neste século XXI. Este é, aliás, um argumento sempre utilizado para dar início a (novas) reformas na área da administração da justiça. Argumento esse, aliás, que faz todo o sentido. Confronta-se, porém, esse argu-mento com um outro no qual se ale-ga que hoje coexistem entre nós um Portugal velho e um Portugal novo; aquele ligado à ruralidade, às aldeias e vilas mais recônditas, aos trabalha-dores rurais, aos velhos, a uma vida comunitária ainda eivada de um forte sentir religioso e que se caracteriza igualmente por elevados índices de pobreza ou por um maior conserva-dorismo das suas gentes; ao invés, o Portugal novo seria o Portugal das cidades, dos jovens, das áreas industrializadas, dos locais onde se manifesta a cultura e onde há maior poder de compra. É verdade que, de forma genérica, abstracta e as-sente em mera análise de modelos assépticos, uma tal conclusão pode-ria ser extraída. Mas quando se sai da campânula dos modelos puros e se desce à realidade do quotidiano essa verdade esboroa-se perante dimensões de cidade no campo e do campo na cidade. Hoje temos já alguma “qualidade de vida” das gentes dos campos face aos dramas dos que, vivendo a cidade, se vêem repentinamente desempregados ou de qualquer forma carenciados, sem apoios e aos quais vale tão só a so-lidariedade de organizações não go-vernamentais que acode à “pobreza envergonhada” e que em tudo lhes

diminui essa “qualidade de vida” ine-rente à cidade.O que temos são as vivências de cada cidadão de acordo com as suas vicissitudes geográficas, fami-liares, sociais, de género e etárias, indistintamente na urbe ou fora dela. Circunstancialismos de vivências que não podem fazer esquecer que a todos o Estado deve tratar de acor-do com o princípio de igualdade, se-gundo o qual deve tratar-se o que é igual de maneira igual e de maneira diferente o que é diferente.Ora, vivemos hoje uma vez mais a necessidade de reformar o qua-dro organizativo dos Tribunais. Está por dias a reforma cuja quadrícula comarcã se baseava no concelho administrativo. Isto é, cada conce-lho/comarca, tinha um Tribunal, um Juiz e um Magistrado do MP. O que, para além de significar um servi-ço próximo do cidadão, significava igualmente a presença próxima do Estado. A proposta do novo mapa assen-ta a centralidade judicial no Distrito Administrativo, com algumas excep-ções. Opção esta que aplaudo. Mas a opção de encerrar Tribunais, ainda que com a criação de Exten-sões locais, sobretudo no interior do tal “velho” Portugal pode originar que um cidadão que ali viva se sin-ta um “cidadão de segunda”, por-que o acesso à justiça se lhe tornou desproporcionalmente injusto pe-rante um “cidadão urbano”, não só pela inexistência de acessibilidades como pelas demais circunstâncias que atrás referi para quem vive no tal Portugal velho. E isso fere, quanto a nós o princípio da igualdade, para além de em nada contribuir para a tão propalada coesão territorial.Até porque não seria difícil encontrar

Jorge CostaProcurador da República

e autor Wolters Kluwer Portugal

soluções diferenciadas para reali-dades distintas. Bastava que esses Tribunais pudessem funcionar em certos dias da semana, sem prejuízo dos casos urgentes, com mobilidade de funcionários, juízes e magistrados do MP. Sendo normalmente tribunais de reduzida dimensão, o volume processual permitiria que um magis-trado acumulasse acumular mais do que um desses tribunais, e o mes-mo se passando com os restantes recursos humanos. E assim se as-segurava a proximidade do Estado e se garantiam princípios como o da igualdade e da proporcionalidade. E se assegurava o fundamental direito de acesso à justiça inscrito na (atual) CRP, de uma forma proporcional-mente adequada e justa para todos, independentemente das contingên-cias territoriais. A AR tem agora a sensível missão de ponderar sobre tais direitos e princípios.

*Artigo escrito segundo as regras anteriores ao atual acordo ortográfico.

Mapa judiciário

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O agregador da advocacia20 Março de 2013

www.advocatus.ptLegislaçãoEnsino

A Universidade Portucalense “quer ser centro de encontro para os práticos do Direito, ao longo das suas vidas”, disse ao Advocatus o reitor deste estabelecimento de ensino, Guilherme de Oliveira. Este ano uma das ideias é lançar um mestrado em “Jurisprudência de Direito Privado”. Será um mestrado de pendor “profissionalizante”, cobrindo as várias áreas do Direito Privado.

Portucalense quer ser centro de encontro do Direito

A principal inovação estaria no mé-todo: os estudantes começariam por organizar e conhecer pelo nome as decisões jurisprudenciais mais fre-quentes em cada área; só depois partiriam para a literatura jurídica, para aprofundar cada um desses temas mais frequentes. Os diplo-mados poderiam apresentar-se jun-to dos empregadores, no mercado de trabalho, com um conhecimento das realidades forenses superior ao que é vulgar. É assim que o reitor da Universidade Portucalense de-

fine o novo mestrado. Na área dos mestrados já existe um mestrado científico convencional em Ciências Jurídico-Económicas, a área do Direito que a universidade quer pri-vilegiar. Também tem um curso de pós-graduação em Direito e Gestão. E tem formações mais curtas em Direito fiscal, Direito das garantias, Contratação internacional e garantia autónoma, Criminalidade económi-co-financeira e Contabilidade para juristas. Dispõe também de cursos de preparação para acesso a profis-

sões: para o CEJ, desde há 24 anos, para a carreira diplomática, para ad-ministradores de insolvência e para inspetores tributários. Na área do Direito a universidade tem atualmente duas propostas. O reitor apresenta-as assim: “Primeiro, um 1.º ciclo generalista, mas gosta-ríamos de ter, em breve, um braço que focasse sobretudo o direito re-lacionado com a economia; os nos-sos licenciados vão desempenhar a profissão numa região com intensa atividade económica e devem estar

preparados para isso. Segundo, que-remos privilegiar os estudos da juris-prudência, no 2.º ciclo; os cursos de mestrado devem aproximar mais os licenciados da vida real, dando-lhes verdadeiras especializações sobre o modo como os tribunais aplicam o direito, nos vários setores”.Como é que a Portucalense preten-de distinguir-se das restantes univer-sidades na área do Direito? Guilher-me de Oliveira responde: “Quer ter uma inclinação para o Direito da Economia no 1.º ciclo; e quer fazer

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Março de 2013 21O agregador da advocacia

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Portucalense quer ser centro de encontro do Direito

estudos de jurisprudência na fase de pós-graduação. Quer desen-volver as tradições que tem, base-adas no curso de preparação para o CEJ e na colaboração antiga de bons advogados e magistrados.

advocatus | quais devem ser as traves-mestras de um bom cur-so de Direito em Portugal?guilherme de oliveira | As tra-ves-mestras, em qualquer parte do mundo, são os bons professo-res. Depois, é necessário cumprir as intenções do processo de Bo-lonha e fornecer preparação teóri-ca, no 1.º ciclo, para dar formação jurídica nos instrumentos funda-mentais do Direito; quatro anos são suficientes para isso. Na pós--graduação, deve promover-se a especialização, de preferência com a integração dos estudan-tes em projetos de grupo; esta integração contribui para formar o espírito de equipa e sensibiliza os estudantes para a relevância so-cial do trabalho universitário.

advocatus | Considera que, de uma forma geral, se formam bons advogados em Portugal?go | Suponho que uma parte dos juristas é francamente boa, mas não tenho maneira de dar uma resposta fundamentada. Também creio que as univer-sidades não têm uma preocu-pação suficiente para formar juristas no sentido de resolver problemas, quer sejam proble-mas sociais quer seja o proble-ma da justiça, nem cultivam um espírito empreendedor; os me-lhores licenciados tendem para ser apenas eruditos.

advocatus | qual é a realida-de da universidade Portu-calense? número de alunos, professores, intercâmbio com

universidades estrangeiras, presença no mundo lusófono.go | Neste ano letivo o Departa-mento de Direito conta com cer-ca de 600 alunos e 50 docentes, nos 3 ciclos de estudos. Existem parcerias com várias universi-dades europeias que permitem a mobilidade dos nossos estu-dantes e docentes. No mundo lusófono temos parceria com Cabo Verde e estamos também a desenvolver parcerias com o Brasil e em Angola.

advocatus | Como prevê a evolução do ensino do Direito na universidade?go | Falando de todas as Uni-versidades, creio que a evolução mais importante do processo de Bolonha impunha a generalização de formação ao longo da vida. Ou seja, os juristas deviam voltar às escolas várias vezes, consoante os seus interesses profissionais em cada época. Com este regres-so repetido, ganhariam os profis-sionais e ganhariam as escolas, que receberiam as contribuições vindas do mercado. Mas esse as-peto da reforma de Bolonha não foi entendido, a ideia antiga de que a licenciatura é suficiente ain-da está muito vincada, e deixou de haver dinheiro para pagar for-mações de pós-graduação. Por outro lado, a dificuldade de investir em turmas mais peque-nas, ou seja, em mais professores e mais salas, impedirá melhora-mentos significativos. Prevejo que tudo fique como está, por muito tempo.

Juristas deviam voltar à escola várias vezes

FoRMação

Quer estar mais perto da vida prá-tica, sem descurar a formação te-órica. A Portucalense quer ser um centro de encontro para os práti-cos do Direito, ao longo das suas vidas”.

na área dos mestrados já existe um mestrado científico convencional em Ciências Jurídico-

-económicas, a área do Direito que a universidade quer

privilegiar. também tem um curso de

pós-graduação em Direito e gestão

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O agregador da advocacia22 Março de 2013

www.advocatus.ptMulher

Ser mãe e advogada não é tarefa fácil. Prazos judiciais apertados, deslocações a diversos tribunais e processos complexos que requerem um estudo aprofundado dificultam a gestão dos dois papéis. Quais as ferramentas a utilizar? Organização e disciplina parecem ser o segredo para conseguir ter o melhor destes dois “mundos”. Claudia Moreira e Ana Luisa Beirão dão o seu testemunho.

“Profissões” a tempo inteiro

A advocacia é uma profissão que os ingleses designam como time consuming. As vinte e quatro ho-ras do dia são, muitas vezes, es-cassas para todos os assuntos que um advogado é chamado a tratar, que, na generalidade dos casos, são, simultaneamente, im-portantes e urgentes! Porém, o facto de pertencer a uma estrutura com a dimensão da SRS Advo-gados dá-me o conforto de, caso surja uma qualquer emergência, poder ausentar-me do escritório sem receios, porquanto qualquer assunto que tenha em mãos será devidamente tratado pela equipa de Direito do Trabalho, na qual me integro. A grande incompati-

bilidade que posso apontar entre a maternidade e advocacia é, de facto, o cumprimento impreterível de prazos judiciais (e estes, feliz-mente terminam à meia-noite!) e o acompanhamento de diligên-cias judiciais em comarcas fora de Lisboa, o que, naturalmente, me impede de levar a minha filha ao colégio de manhã – rotina que ver-dadeiramente aprecio e valorizo.Na realidade, creio que a compa-tibilização destas duas facetas, as mais importantes da minha vida, nem sequer se revela difícil. Exige apenas muita organização e dis-ciplina, ao ponto de ter todas as atividades escolares e extraesco-lares da minha filha registadas no

Outlook, para tentar garantir que nada falhe. Tenho também a sorte de ter uma estrutura familiar que muito me apoia nesta matéria e sei que, caso surja algum imprevisto, terei a quem recorrer. Ao fim do dia, o que acaba por ser difícil é explicar a uma criança de 4 anos em que consiste o trabalho da mãe. Sabe que existe um escritório, mas, quando lhe tento explicar o que é um Tribunal e para que ser-ve, confesso que não tenho gran-de sucesso. Esta é uma daquelas ações que, natural e geralmente improcede, pelo menos enquanto a Disney não produzir uma “Cin-derela no Tribunal”!

ana luisa Beirão Advogada coordenadora no Departamento de Direito do Trabalho da SRS Advogados.

Licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa e pós-Graduada em Direito do Trabalho

e da Segurança Social pela mesma Universidade.

Organização e disciplina

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Março de 2013 23O agregador da advocacia

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Ser mãe e advogada tem em co-mum um ponto: são ambas pro-fissões a tempo inteiro ou, me-lhor, modos de vida. Fui mãe há cerca de 4 meses, e, hoje, tendo regressado ao trabalho há pouco tempo, posso dizer que ser mãe e advogada não é tarefa fácil: os prazos não se suspendem, os clientes não esperam e os pro-cessos urgentes não param por-que somos mães. Em Portugal, não é fácil ser mãe e advogada. Temos direito, ape-nas desde 2009, à suspensão das diligências judiciais, pelo pra-zo máximo de 3 meses. É a isto que temos direito. A isto e a um montante atribuído, por conta da maternidade, pelo CPAS, que não nos permite deixar de trabalhar por mais de 4 meses. E, com 4 meses, os nossos bebés ainda são tão pequeninos…Não obstante me sentir felizar-da por trabalhar num escritório que facilita o reajustamento dos horários para estar com a bebé, deparei-me com uma dificuldade imensa logo na primeira semana após o regresso: gerir o meu tem-po entre a bebé, biberões, fraldas, cólicas e banhos, por um lado, e clientes, e-mails, telefonemas e diligências, por outro. A questão é que, como mãe, é essencial es-tar presente, acompanhar o cres-cimento, porque há sempre qual-quer coisa nova: um sorriso, uma brincadeira, um som, um gesto. Porém, enquanto advogada, tam-bém há sempre qualquer coisa por fazer: um e-mail por escrever, um telefonema por fazer, uma no-tificação por responder, uma dili-gência, uma nova lei por estudar, tantas leis novas por estudar… E assuntos urgentes, tanta urgência que normalmente surge ao final da tarde.Agora, tenho de me desdobrar em duas pessoas: a advogada, con-tactável e solícita para os clientes e, a mãe, sempre disponível para

a filha. E, portanto, só me resta adaptar-me e se a audiência é às 10h no Porto, o biberão tem de ser às 6h30 ao invés de ser às 8h. Apesar da árdua tarefa que é conjugar as duas facetas, e cain-do em todos os lugares-comuns, o esforço é recompensado e, no final, como diz o poeta, tudo vale a pena se a alma não é peque-na e na alma de uma advogada cabe a nossa a vida e a dos ou-tros que entraram na nossa como clientes. Chegar a casa, depois de mais um dia de correria e azá-fama e ver o sorriso da Carolina é a melhor sensação do mundo: nesse momento o resto torna-se acessório e o mundo é obrigado a esperar-nos até ao dia seguinte, em que começa tudo de novo.

Cláudia Moreira Advogada na Almeida e Paiva &

Associados. Licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, conta

também com uma pós-graduação em Direito Bancário pela mesma instituição.

Mãe e advogada não é tarefa fácil “A grande incompatibilidade que posso apontar entre a maternidade e advocacia é,de facto, o cumprimento impreterível de prazos judiciais”

Ana Luisa Beirão

“Agora, tenho de me desdobrar em duas pessoas: a advogada, contactável e solícita para os clientes e, a mãe, sempre disponível para a filha”

Cláudia Moreira

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O agregador da advocacia24 Março de 2013

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Quatro meses depois de ter tomado posse como Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal resolveu fazer uma revolução no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), o core business da investigação penal portuguesa. Afastou Cândida Almeida e propôs Amadeu Guerra, o nome que mereceu a aprovação do Conselho Superior do Ministério Público. Quatro advogados falam dos desafios que esperam o novo rosto dos “megaprocessos” em Portugal.

Justiça

Um novo DCIAP ou mais do mesmo?

A solução foi rápida, eficaz e dis-creta. Cândida Almeida, que li-derava o DCIAP há 12 anos, foi afastada a 20 de fevereiro e pou-co mais de uma semana depois o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) aprovava o nome do seu substituto: Amadeu Guer-ra. Este foi o nome escolhido por Joana Marques Vidal para fazer a

reestruturação do departamento mais mediático da justiça portu-guesa. O seu nome foi aprovado com 16 votos a favor e três contra pelo CSMP. Tomou posse a 11 de mar-ço mas, de acordo com o relato do Diário de Notícias, só em se-tembro, mês em que decorrerá o movimento anual dos procurado-

res, poderá lançar uma reforma do departamento anteriormente liderado por Cândida Almeida. Segundo o mesmo jornal, uma das condições de Amadeu Guerra para aceitar o cargo foi a renova-ção do DCIAP. Amadeu Guerra, 58 anos, é natural de Tábua. Entrou para o Ministério Público há 33 anos e desempe-

o DCiaP é um dos mais mediáticos

departamentos da Justiça portuguesa

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Março de 2013 25O agregador da advocacia

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Olho para a sucessão na direcção do DCIAP, escorado em premissas objectivas. Creio ser a forma saudável de abordar o tema, sem resvalar por especulações que, infelizmente, infectam muitas das análises que têm por alvo factos relevantes. Veja-mos então: Tomou posse, recentemente, uma nova Procuradora Geral da República, a Dr.ª Joana Marques Vidal. É legítimo que pretenda colocar em luga-res de elevada responsabilidade, como é o caso, pessoas que correspondam a es-colha própria sua. Muito da imagem do Ministério Público, colonizada, como está, pela vertente da acção penal, que detém em quase monopólio, depende do trabalho realizado naquele departamento e nos de-partamentos de investigação e acção penal espalhados pelo país. Mas a imagem, sen-

do importante, não é essencial. O que está em causa é a execução, pela magistratura do MP, das atribuições que a Constituição e a lei lhe conferem. A senhora Procura-dora Geral da República terá a sua apre-ciação critica dos serviços relativamente aos quais, doravante, é o rosto cimeiro e a principal responsável. Deve, assim, ser livre para operar as alterações que enten-da, no quadro da legalidade. Foi o caso. A cessação da comissão de serviço da Dr.ª Cândida Almeida, magistrada que, aliás, muito aprecio e cuja carreira e personali-dade deverão ser reconhecidas, deu azo à alteração verificada. Nada disto é anormal, nem justifica perplexidades ou lucubrações fora de tom. O Dr. Amadeu Guerra não terá experiên-cia no domínio criminal. É surpreendente,

mas não tem de ser negativo. Os procu-radores colocados no DCIAP, de acor-do com o Estatuto, devem ter essa ex-periência, utilíssima no desempenho das funções respectivas. O director, esse, co-ordena pessoas e meios, estabelece orientações e toma decisões. Para isto to-dos lhe reconhecem boas qualidades. Há uma boa expectativa. O futuro dirá. Um fu-turo que, se correr bem, trocará também os mega-processos, por outros mais julgáveis, mais respeitadores dos direitos e prerroga-tivas dos envolvidos.

O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) foi criado em 1998 com o objectivo de coordenar e dirigir a investigação e a prevenção da criminalidade violenta, altamente organizada ou de especial complexidade. Como quase todas as ideias legislativas, desde bem cedo se cavou um enorme fosso entre os objectivos e os meios adequados à respectiva concretização. E por isso, durante 8 anos (até 2006) foram-se multiplicando os diagnósticos sem as res-pectivas soluções. Até essa altura, os meios eram apenas adequa-dos à direcção da investigação, mas claramente insuficientes para a respectiva concretização. Veio depois a “Operação Furacão” que colo-cou o DCIAP no foco do horizonte mediático e com ela, um ano depois, o aumento do quadro de magistrados (de 8 para 12) e dos funcionários (de 7 para 14). O espaço foi alargado para provisório regressando pos-teriormente à antiga forma após sucessivas promessas de instalações definitivas. A crescente especialização que o tempo sempre permite foi sempre acompanhada de falta de condições. Muitas histórias se pode-riam aqui contar de amontoados de processos e dossiers, de salas de depoimento transformadas em arquivo provisório. Nós, Advogados que se relacionam profissionalmente com o DCIAP desde há uns anos a esta parte, temos por certo que este Departa-mento Central subiu de importância a pulso. O DCIAP é hoje uma realidade incontornável no panorama da investigação criminal por-tuguês, fruto de um leque invulgar de Magistrados e Funcionários

Judiciais que os apoiam incondicionalmen-te. Aquilo que falta ao DCIAP, porventura, em meios, sobeja em competência técnica e na entrega diária das pessoas que o com-põem. Mas, a par desta tecnicidade e ine-gável especialização, não menos importante, há um conjunto de pessoas – magistrados e funcionários – de óptimo trato, com quem dá gosto trabalhar. Pessoas que por serem profissionais competentes não precisam de lançar mão de tiques de autoritarismo para se fazerem respeitar, que percebem o pa-pel dos Advogados no sistema judiciário e que não acham que perdem a sua indepen-dência e objectividade por conversarem sobre o jogo de futebol do fim-de- semana passado. É, pois, sem qualquer esforço ou favor que escrevemos aquilo que nos foi pedido: o nosso testemunho do relaciona-mento profissional com o DCIAP. Desta fei-ta, directamente. Sem mandatos, ou, como diria alguém, agora na negativa, sem ser a Douto punho!

“Há uma boa expetativa. O futuro dirá”

“Subiu de importância a pulso”

Rogério alvesABBC & Associados

João Medeiros PLMJ

Paulo Farinha alvesPLMJ

nhou funções em diversos Tribu-nais, como o Tribunal de Trabalho de Lisboa e o 3º Juízo Criminal de Lisboa, onde permaneceu durante três anos. Esteve colocado no Ga-binete Director de Informatização Judiciária, foi vogal da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) e membro da Comissão de Acesso aos Documentos Admi-nistrativos. Desde 2008 que pas-

sou a desempenhar funções de Coordenador no Tribunal Central Administrativo do Sul (TCA Sul). Os jornais referem que se trata de um magistrado sério, competente e discreto. Numa intervenção so-bre “Saneamento e transparência de contas públicas”, feita no Con-gresso do Sindicato dos Magistra-dos do Ministério Público, afirmou que “não ajuda ao prestígio do Mi-

nistério Público a perceção de que corrupção e crimes económico--financeiros não têm resultados”.O DCIAP é um dos mais mediá-ticos departamentos da Justiça portuguesa. Os casos BPN, “Face Oculta” e dos submarinos, o pro-cesso Freeport e as operações “Furacão” e “Monte Branco” pas-sam todos por ali.Num momento em que o DCIAP

só em setembro, mês em que decorrerá

o movimento anual dos procuradores,

amadeu guerra poderá lançar uma reforma do

departamento

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O agregador da advocacia26 Março de 2013

www.advocatus.ptJustiça

Com o devido respeito por opinião (ou in-tenção) diferente, penso que não é muito relevante saber se o DCIAP vai continuar a existir ou se vai ser substituído por outra coisa ou por coisa nenhuma. Mais deta-lhe, menos detalhe, não me parece que as coisas estarem organizadas em dciapes, diapes, comarcas, distritos ou outra coi-sa faça significativa diferença. Tal como são mais as pessoas que fazem os cargos do que os cargos que fazem as pessoas, também são mais as regras e os procedi-mentos que fazem as instituições do que o inverso. Desde que as regras sejam claras (e boas) e os procedimentos ainda melhores, e desde que não haja feudos, nem intocáveis, e, ainda, desde que haja checks and balances, meios, racionalidade, responsabilidade e prestação de contas, mais dciape, menos dciape, não fará muita diferença. Outras coisas, isso sim, fazem diferença. Aponto cinco, à la minu-ta. Primeiro, separação clara – nas intenções e nas práticas – entre o que é do Direito e o que é de outras áreas, como a política, a composição social e sociológica ou a ideologia. Segundo, meios extra-processuais (periciais nomeadamente) eficientes, usados com racionalidade e eficácia, não tornando os processos seus prisioneiros. Terceiro, responsabilidade e responsabilização dos agentes (de todos os agentes) clara, sem corporativismo e sem nacional-porreirismo, mas também sem manipulações e assassi-natos de carácter. Quarto, processos menos mega, mais pequenos, mais focados, com esforço probatório mais fundo, prescindindo do efeito de nu-vem e de arrastão dos mega-processos. Quinto, disponibilidade séria para enfrentar uma questão que precisa (cada vez mais) de ser enfrentada, repensando as coisas sem tabus, sem pré-con-ceitos, mas também sem medo da responsabilidade e da presta-ção de contas: princípio da oportunidade. Isto é, possibilidade de escolha, concentração de meios, definição de prioridades, olho clínico, abandono da igualdade-amálgama, que leva tudo e que leva nada adiante.

O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) é um órgão de coordenação e de direção da investigação e de prevenção da criminalidade violenta, altamente organizada ou de especial complexidade. O DCIAP é uma estrutura da Procura-doria-Geral da República que é o órgão superior do Ministério Público. É uma estrutura interdisciplinar, integrando magistrados do Ministério Público, elementos de Órgãos de Polícia Crimi-nal e funcionários de justiça. É constituído por um procurador--geral-adjunto, que dirige, e por procuradores da República em número constante de quadro aprovado por portaria do Ministro da Justiça, ouvido o Conselho Superior do Ministério Público. O quadro atual do DCIAP é constituído por um procurador-geral--adjunto e por 12 procuradores da República.É coadjuvado pelo Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) criado na dependência orgânica da Procuradoria-Geral da República, constituído por especialistas com formação científica e experi-ência profissional em matéria económica, financeira, bancária, contabilística ou de mercado de valores mobiliários.

Fonte: Site da Procuradoria-Geral da República

DCIAP ou não DCIAP: eis a (não) questão!

O que é o DCIAP

Rui Patrício MLGTS

HistÓRia

está em mudança, o Advocatus solicitou a quatro advogados que expressassem a sua opinião sobre os desafios e o futuro do departa-mento. Rogério Alves, associado da ABBC, João Medeiros e Paulo Farinha Alves, da PLMJ, e Rui Pa-trício, da MLGTS, responderam ao desafio.Rogério Alves considera que a “cessação da comissão de servi-ço da Dr.ª Cândida Almeida, ma-gistrada que, aliás, muito aprecio e cuja carreira e personalidade de-verão ser reconhecidas, deu azo à alteração verificada. Nada disto é anormal, nem justifica perplexida-des ou lucubrações fora de tom. O Dr. Amadeu Guerra não terá experiência no domínio criminal. É surpreendente, mas não tem de ser negativo. Os procuradores colocados no DCIAP, de acordo com o Estatuto, devem ter essa experiência, utilíssima no desem-penho das funções respectivas. O director, esse, coordena pessoas e meios, estabelece orientações e toma decisões. Para isto todos lhe reconhecem boas qualidades. Há uma boa expectativa”.

Para João Medeiros e Paulo Fa-rinha Alves “aquilo que falta ao DCIAP, porventura, em meios, sobeja em competência técnica e na entrega diária das pessoas que o compõem. Mas, a par desta tecnicidade e inegável especiali-zação, não menos importante, há um conjunto de pessoas – magis-trados e funcionários – de ótimo trato, com quem dá gosto traba-lhar. Pessoas que por serem pro-fissionais competentes não preci-sam de lançar mão de tiques de autoritarismo para se fazerem res-peitar, que percebem o papel dos Advogados no sistema judiciário e que não acham que perdem a sua independência e objetividade por

conversarem sobre o jogo de fute-bol do fim-de- semana passado”.Rui Patrício afirma: “com o devido respeito por opinião (ou intenção) diferente penso que não é muito relevante saber se o DCIAP vai continuar a existir ou se vai ser substituído por outra coisa ou por coisa nenhuma. Mais detalhe, me-nos detalhe, não me parece que as coisas estarem organizadas em dciapes, diapes, comarcas, distri-tos ou outra coisa faça significati-va diferença. Tal como são mais as pessoas que fazem os cargos do que os cargos que fazem as pes-soas, também são mais as regras e os procedimentos que fazem as instituições do que o inverso”.

amadeu guerra, 58 anos, é natural de

tábua. entrou para o Ministério Público há 33

anos e desempenhou funções em diversos

tribunais, como o tribunal de trabalho

de lisboa e o 3º Juízo Criminal de lisboa, onde permaneceu durante três anos.

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Março de 2013 27O agregador da advocacia

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A situação económica do país levou ao aumento do número de falências e insolvências e ao consequente acumular do volume de dívidas por cobrar. É para agilizar os mecanismos de cobrança que estão em discussão em sede legislativa alterações ao Processo Civil em matéria de ação executiva.

A atual conjunta económica e financeira do país tem in-fluenciado de forma crescen-te a capacidade de empresas e particulares cumprirem as obrigações assumidas. Tem influenciado de forma negativa, levando ao aumen-to do número de declarações de falência e insolvência. O resultado direto é o avolumar de dívidas por pagar – e por cobrar. O recurso à via judicial tem estado na primeira linha das soluções equacionadas pelos credores, contribuindo para um crescente número de pen-dências. Parece ser um ciclo vicioso que a proposta de al-teração ao Processo Civil no que respeita à ação executiva – lei 113/XII – se propõe que-brar, propondo mecanismos alternativos, nomeadamente a negociação extrajudicial. É sobre estas novas ferra-mentas, vantagens e incon-venientes, que se pronunciam advogados de três socieda-des e o representante legal de uma das empresas que se dedica precisamente à recu-peração de créditos. São eles Castanheira Martins, da BPO Advogados, Alexan-dra Dias Teixeira, da JPAB, e Rogério Fernandes Ferreira e Francisco de Carvalho Furta-do, da RFF, bem como Ricar-do Arvela, da DevPag.

Prós e contras da lei

Recuperação de créditos

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O agregador da advocacia28 Março de 2013

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A dificuldade da cobrança não deverá ser imputada apenas ao devedor, mas também a quem está encarregue de efetuar a cobrança, devido à escassez de soluções utilizadas para tal.

“numa hierarquização imaginária sobre os créditos vencidos

com maior dificuldade de cobrança, lanço

para o topo da hierarquia as dívidas

pecuniárias emergentes de transações

comerciais, por regra sustentam-se em fraca tutela, desnudadas do

traje de garantia de pagamento”

“a existir concórdia sobre a dificuldade em recuperar créditos urge

discutir o direito no sentido de se encontrar

soluções, sob pena de sermos causa ou extensão da opinada

dificuldade”

Faltam soluções de cobrança

Em contexto introdutório da opinião que me proponho lançar sobre um tema que tem sido debatido, por todos os interessados. Quero aler-tar que há muito que o preceitua-do honeste vivere deixou de ter a conotação que merece, ainda, em contexto metafórico debruçado no tema em que me incumbe opinião, versando esse, sobre a dificuldade existente na recuperação de crédi-tos, atrevo-me a dizer que nos dias de hoje mais parece que temos um ius a pender para o devedor, ao invés de um ius das partes.Numa hierarquização imaginária so-bre os créditos vencidos com maior dificuldade de cobrança, lanço para o topo da hierarquia as dívidas pe-cuniárias emergentes de transações comerciais, por regra sustentam-se em fraca tutela, desnudadas do traje de garantia de pagamento.Em posição hierárquica inferior, terí-amos as dívidas pecuniárias emer-gentes de incumprimentos com ins-tituições financeiras, nomeadamente o crédito à habitação e ao consumo, por regra são fortemente tuteladas, com o mais vasto universo de garan-tias de pagamento.Sequencialmente, ficariam em po-sições hierárquicas inferiores to-das as outras dívidas pecuniárias que se fundam nos mais variados negócios jurídicos, não demonstran-do carácter preocupante.Focado no topo da hierarquia apre-sentada, entendo ser esse o tipo de incumprimento que suscita uma maior dificuldade de cobrança. Ma-nifesto a minha opinião dentro de um olhar técnico, conjugado num contexto realista e fundamentado em conhecimento no terreno.Não alheia à dificuldade de cobrança instalada no nosso País o Parlamen-to Europeu e o Conselho Europeu reformulam o texto da Diretiva/35/CE de 29/6/2000, através da Diretiva

2011/7/UE de 16/2/2011, estabele-cendo novas medidas de luta contra os atrasos de pagamento nas tran-sações comerciais, prevendo no n.º 3 do art. 6.º soluções descentra-lizadoras da via judicial, tal como as agências de cobrança (“...O credor...tem o direito de exigir uma indem-nização...do devedor pelos custos suportados com a cobrança...A in-demnização pode incluir despesas...com o recurso aos serviços de um advogado ou...contratação de uma agência de cobrança de dividas.)Sem recurso a grande sapiência entende-se que a falta de património do devedor e o desconhecimento do paradeiro deste são as maiores dificuldades que a cobrança enfren-ta. Tripartindo o argumento lançado, deparamo-nos com património es-condido em simulação, paradeiro in-certo por astúcia do devedor e poder económico conjugado com conheci-mento de mecanismo para protelar pagamento ou mesmo evitá-lo.Não é de escusar comentário sobre o noticiado ultimamente, apregoa-dor de proteção e incentivo ao não pagamento. O orgulho em ser bom pagador vai-se convertendo em or-gulho em ser mau pagador. A ver-gonha associada ao incumprimento deixou de ser sentimento, verifican-do-se uma desresponsabilização roçante no desrespeito pelo credor. Acrescentando à epígrafe as já muito preocupantes Insolvências.Na cobrança de dívidas não existem fórmulas certas, apenas algumas que podem ser mais céleres, efica-zes e menos honorosas para as partes.Numa missão minimizadora da pro-blemática da incobrabilidade o lado do credor tem que se munir das op-cionalidades legais existentes, utili-zar a antecâmara da via judicial, de-signo, a via extrajudicial, procurar se necessário no terreno a localização

do devedor aproveitando para aferir se existem verdadeiras possibilida-des de pagamento e, que o devedor, por interesse, faz questão de afastar da sua esfera jurídica.Verifico, amplamente, um pensa-mento conservador sobre os meios a utilizar para se cobrar, equivalente a dizer-se que a dificuldade da co-brança não deverá ser imputada apenas ao devedor, mas também a quem está encarregue de efetuar a cobrança, devido à escassez de so-luções utilizadas para tal.A existir concórdia sobre a dificul-dade em recuperar créditos urge discutir o direito no sentido de se en-contrar soluções, sob pena de ser-mos causa ou extensão da opinada dificuldade.

Ricardo arvela

Representante legal da Devpag

Recuperação de créditos

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Março de 2013 29O agregador da advocacia

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O reforço do papel do juiz constitui uma má notícia e traduzir-se-á necessariamente numa redução da celeridade e da eficácia que uma boa parte dos agentes de execução e mandatários vinham imprimindo aos processos.

“a eliminação da possibilidade de executar

estes documentos particulares irá traduzir--se, em muitos casos,

na sujeição do credor à obrigação de instaurar injunção, com o tempo e os custos inerentes,

para ver reconhecido um crédito que poderá até já estar inequivocamente assumido pelo devedor em documento por este

assinado”

“entre as alterações mais negativas preconizadas nesta proposta de lei, na perspectiva do credor,

naturalmente, encontra-se também o fim da livre substituição do agente de execução por parte

do exequente, sem necessidade de qualquer

fundamentação”

Redução da celeridade

Encontra-se já na Assembleia da Re-pública, para discussão e aprovação a proposta de Lei n.º 113/XII, com significativas alterações do Proces-so Civil, incluindo a parte respeitante a acção executiva, a mais importan-te das ferramentas no âmbito da re-cuperação de créditos.São propósitos declarados des-ta proposta de lei, no que à acção executiva diz respeito: o reforço do papel do juiz no controlo do proces-so, o aperfeiçoamento de alguns as-pectos de cariz técnico processual e o reformular do estatuto do agente de execução. Na verdade, estas al-terações traduzem um corte com a orientação preconizada pela refor-ma da acção executiva de 2003, e aprofundada pela reforma de 2008, com o regresso ao controlo e ao poder decisório do juiz em algumas das questões mais importantes em detrimento dos poderes actualmen-te conferidos ao Agente de Execu-ção. No âmbito da recuperação de crédito, e na perspectiva do credor, este reforço do papel do juiz cons-titui uma má notícia e traduzir-se-á necessariamente numa redução da celeridade e da eficácia que uma boa parte dos agentes de execução e mandatários vinham imprimindo aos processos.Numa época em que o número de processos de insolvência cresce desmesuradamente ou em que as sociedades se dissolvem e liquidam com extrema facilidade, a celerida-de na actuação é fundamental para o sucesso de uma cobrança. Se no regime actual, as execuções funda-das em título executivo com valor até € 30.000 se iniciam com a penhora de bens do executado, sem neces-sidade de despacho liminar ou de ci-tação prévia, com a alteração legis-lativa que se preconiza, esse limite baixará para os € 10.000, colocando muitos processos na sujeição a um

sempre demorado despacho ape-nas para que se avalie liminarmente a conformidade de um título que a própria lei considerou oferecer um mínimo de garantias de segurança jurídica. Sempre se poderão invocar as possibilidades de utilização abu-siva, o que, sem dúvida, tem acon-tecido. Contudo, a solução sempre deveria passar por uma penalização mais eficaz dos infractores e nunca por esta penalização generalizada dos credores.A proposta de lei elimina também os documentos particulares (acor-dos de pagamento ou confissões de dívida, por exemplo) do elenco dos títulos executivos. Compreende-se que este tipo de documento ofereça uma menor garantia de segurança jurídica do que os títulos executivos judiciais. Mas poderá esse ser um ar-gumento válido quando os títulos de crédito, ainda que meros quirógra-fos, continuam a figurar como títulos executivos? Qual afinal o critério do legislador? A eliminação da possibi-lidade de executar estes documen-tos particulares irá traduzir-se, em muitos casos, na sujeição do credor à obrigação de instaurar injunção, com o tempo e os custos inerentes, para ver reconhecido um crédito que poderá até já estar inequivocamente assumido pelo devedor em docu-mento por este assinado.Entre as alterações mais negativas preconizadas nesta proposta de lei, na perspectiva do credor, natural-mente, encontra-se também o fim da livre substituição do agente de execução por parte do exequente, sem necessidade de qualquer fun-damentação. Faculdade que havia sido conferida ao exequente pela reforma de 2008 e tão bons resul-tados apresentara em termos de aumento de eficácia dos agentes de execução.No sentido de uma maior agilização

da cobrança não serão muitas as novidades legislativas a apontar. Não deixaremos, contudo, de fazer refe-rência à eliminação da obrigatorieda-de de despacho prévio para efeitos de penhora de depósitos bancários ou à eliminação da exigência de despacho liminar em execuções até 10.000 Euros quando estão em cau-sa títulos como actas de condomínio ou algumas das comunicações pre-vistas no regime do arrendamento urbano.

*Artigo escrito segundo as regras

anteriores ao atual acordo ortográfico

Castanheira Martins

Advogado do departamento de recuperação de créditos da BPO

Advogados. Licenciado pela Universidade Católica, é pós-graduado em Contabilidade e

Finanças pelo CIDEC e possui ainda o Curso de Direito do Trabalho

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O agregador da advocacia30 Março de 2013

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A negociação extrajudicial da dívida tem vantagens quer para o devedor, quer para o credor. O credor escusa-se a suportar custos relacionados com um processo judicial, incerto quanto ao seu resultado, e o devedor evita onerar ainda mais a sua dívida com o posterior reembolso desses custos ao credor.

“Para um credor comum, sem garantia sobre os

bens do devedor, torna--se extremamente difícil

a cobrança da dívida, pois, num cenário de endividamento, desemprego e de

dificuldades financeiras, será praticamente

impossível conseguir encontrar bens

disponíveis do devedor para penhora”

A vantagem da negociação extrajudicial

O encerramento de empresas, o au-mento do desemprego, o aumento das insolvências (singulares e colec-tivas), o aumento da carga fiscal, o aumento do custo de vida e, conse-quentemente, a redução do rendi-mento disponível, tornam cada vez mais infrutíferas e ineficazes as dili-gências para a cobrança de dívidas.Maioritariamente, o credor, antes de interpor uma acção judicial, decla-rativa ou executiva, consoante a (in)existência de título executivo, efec-tua um contacto prévio por telefone e/ou por carta junto do devedor, com vista à obtenção de um acordo de pagamento, como uma derradeira tentativa de evitar a morosidade dos tribunais e o custo inerente à cobran-ça judicial da dívida.Contudo, a tentativa de acordo, an-tes do recurso ao tribunal, fica muitas vezes prejudicada pela desactualiza-ção dos contactos dos devedores, pelo facto de não quererem receber a carta do credor, ou pela simples inexistência de resposta a esse con-tacto. Muitos dos devedores ape-nas contactam os seus credores, na pessoa dos seus mandatários, já após receberam uma notificação do tribunal ou do agente de execução.A negociação extrajudicial da dívida tem vantagens quer para o devedor, quer para o credor. O credor escusa--se a suportar custos relacionados com um processo judicial, incerto quanto ao seu resultado – nomea-damente com taxas de justiça, pro-visões e honorários com agentes de execução –, e o devedor evita onerar ainda mais a sua dívida com o poste-rior reembolso desses custos ao cre-dor, podendo usufruir de condições mais vantajosas para o pagamento

da dívida, designadamente, quanto a prazos de pagamento e um even-tual perdão de juros.Todavia, mesmo quando o contacto prévio resulta, o credor, na maioria das vezes, depara-se com propos-tas do devedor que envolvem paga-mentos mensais de valor diminuto, demasiado prolongados no tempo e sem qualquer garantia de cum-primento: ou porque está desem-pregado, ou porque está a cumprir múltiplos acordos de pagamento, ou porque o seu rendimento disponível não permite pagamentos de outro montante. Quando se avança para a cobrança judicial de uma dívida, o mais provável é que o seu devedor já não tenha património algum em seu nome, ou porque já o perdeu no âm-bito de outras execuções de dívidas, ou porque já o vendeu para pagar dívidas, ou porque, simplesmente o “acautelou”, tornando, assim, im-possível a recuperação do crédito através da venda judicial dos bens passíveis de penhora. Caso o deve-dor tenha património em seu nome, o mais certo será existirem credores garantidos sobre o mesmo.Para um credor comum, sem garan-tia sobre os bens do devedor, torna--se extremamente difícil a cobrança da dívida, pois, num cenário de endi-vidamento, desemprego e de dificul-dades financeiras, será praticamen-te impossível conseguir encontrar bens disponíveis do devedor para penhora, com relevância económi-ca suficiente para, através da sua venda, conseguir pagar o crédito e as despesas do respectivo proces-so executivo. Explique-se: a maioria dos imóveis está hipotecada à ban-ca (credor garantido), os veículos au-

tomóveis têm na sua maioria reserva de propriedade a favor da instituição financeira que financiou a sua aqui-sição, e os bens móveis, atendendo aos custos e meios necessários a disponibilizar para a sua penhora. Assim, esta diligência torna-se dis-pendiosa e sem interesse para os credores, até pelo seu próprio re-sultado, sendo por isso dispensada na maioria das vezes. Relativamente às empresas, quando accionadas judicialmente, na sua maioria, já se encontram inactivas ou sem quais-quer bens. A recuperação de crédi-to, judicial e extrajudicial, é cada vez mais difícil e, atendendo à conjuntura actual do país, a tendência será para essa dificuldade se agravar expo-nencialmente. Perante tal cenário, apenas uma atitude criteriosa na concessão de crédito, a exigência de garantias e a intervenção célere do credor, em caso de incumprimen-to, poderão reduzir o risco da sua recuperação.

*Artigo escrito segundo as regras

anteriores ao atual acordo ortográfico

alexandra Dias teixeira

Sócia da JPAB – José Pedro Aguiar-Branco & Associados. Licenciada pela

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tem ainda uma pós-graduação

em Direito Bancário, da Bolsa e dos Seguros na mesma instituição

Recuperação de créditos

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Março de 2013 31O agregador da advocacia

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A actual conjuntura económica e financeira tem influenciado de forma crescente a capacidade das empresas e dos particulares em cumprirem as obrigações assumidas. Neste contexto, foram introduzidos mecanismos extrajudiciais de recuperação de empresas aptos a salvaguardar os interesses dos credores, fomentando a negociação e a chegada a uma solução equilibrada para ambas as partes.

“é de realçar os mecanismos de

acompanhamento e mediação criados com

vista a um equilíbrio entre a parte devedora

e credora para que o acordo alcançado

possa reflectir se não a situação mais justa de

repartição dos encargos entre os envolvidos, pelo

menos uma situação que permita ao devedor manter a actividade e ao credor recuperar, ainda

que parcialmente, ou por um período mais dilatado

de tempo, os seus créditos”

Os mecanismos da lei

No âmbito da insolvência e recupe-ração de empresas foram introdu-zidos o Sistema de Recuperação de Empresas por via Extrajudicial (SIREVE) e o Processo Especial de Revitalização (PER),e no caso de dívidas de particulares entrou este ano em vigor um regime que estimu-la a negociação entre as instituições bancárias e os clientes em risco de incumprimento (PERSI).Em traços gerais, o SIREVE é ade-quado para os casos em que a em-presa em dificuldades é incapaz de prosseguir o seu processo de recu-peração sem que haja, da parte dos credores, concessões. Este proces-so administrativo, que funciona junto do IAPMEI, pode ter duração máxi-ma de três meses, e consiste na ne-gociação entre a empresa em dificul-dades e os seus credores públicos e/ou privados. À negociação, acresce um parecer técnico do IAPMEI, so-bre a viabilidade da empresa, e deste processo decorre a suspensão das acções de execução instauradas pelos credores que aceitem entrar no processo. É de salientar que, ao contrário dos credores privados, a Autoridade Tributária e Aduaneira e a Segurança Social, têm, obrigato-riamente, de iniciar negociações po-dendo, no entanto, recusar, de forma fundamentada, os termos propostos pelo devedor. O sucesso deste pro-cesso é alcançado pela adesão ao acordo de credores que represen-tem pelo menos 50% do montante de dívida apurado, não sendo, em princípio, vinculativo para os credo-res que não pretendam aderir.Já o PER se destina às empresas em situação de insolvência eminen-te decorrendo sob coordenação do Tribunal, com caracter de urgência.

Quanto aos particulares e às institui-ções bancárias, é dada a possibili-dade de recurso a um procedimento extrajudicial de regularização de si-tuações de incumprimento (PERSI). Este processo inclui uma fase de análise da situação económica e fi-nanceira do cliente em situação de risco de incumprimento, de modo a delinear uma proposta apta a ser por ele cumprida. O desencadear do procedimento garante, ao clien-te, a não resolução do contrato ou a cedência de posição contratual por parte do banco, durante o seu de-curso. A par deste regime foi ainda prevista uma rede de apoio ao clien-te em incumprimento a ser constituí-da por entidades públicas e privadas e que lhe permite, de forma gratuita, saber quais os seus direitos e deve-res durante o procedimento.Os processos extrajudiciais que des-crevemos permitem, nomeadamen-te, evitar os inconvenientes associa-dos aos processos judiciais como a morosidade e os custos, ao mesmo tempo que permitem a obtenção de um acordo que salvaguarda os inte-resses de ambas as partes.É de realçar os mecanismos de acompanhamento e mediação cria-dos com vista a um equilíbrio entre a parte devedora e credora para que o acordo alcançado possa reflectir se não a situação mais justa de re-partição dos encargos entre os en-volvidos, pelo menos uma situação que permita ao devedor manter a actividade e ao credor recuperar, ainda que parcialmente, ou por um período mais dilatado de tempo, os seus créditos.*

*Artigo escrito ao abrigo das regras do

antigo acordo ortográfico.

Rogério M. Fernandes Ferreira

Sócio fundador da RFF. Licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa. Pós-graduado em

Estudos Europeus, pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa. Mestre em Direito Fiscal

na menção de Ciências Jurídico-Económicas pela Faculdade de Direito

da Universidade Católica de Lisboa.

Francisco de Carvalho Furtado

Associado sénior da RFF. Licenciado pela Faculdade de Direito da

Universidade de Lisboa. Curso de Contabilidade e Controlo de

Gestão pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa.

Mestrando em Gestão Fiscal no Instituto Superior de Gestão.

O processo é iniciado com um re-querimento assinado pela empresa, e pelo menos, um dos credores. Do requerimento pode já constar um acordo entre as partes, sendo ape-nas necessária a homologação pelo Tribunal. Havendo negociações, a mediação é feita por um administra-dor judicial provisório nomeado pelo Tribunal, que na falta de acordo entre as partes informa o Tribunal da insol-vência de facto com vista à declara-ção judicial da mesma.

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O agregador da advocacia32 Março de 2013

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Só os tribunais podem resolver os seus próprios problemas de estrutura, funcionamento e acumulação de processos. “A Arbitragem pode contribuir, e muito, é certo, para que se atenuem os problemas de acumulação, mas não pode, nem é a sua missão, resolver aquele problema”, afirma Manuel Barrocas, um dos advogados portugueses mais experientes nesta área.

Arbitragem não resolve acumulação de processos

www.advocatus.ptEntrevista

Manuel Barrocas, sócio fundador da Barrocas Advogados

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Março de 2013 33O agregador da advocacia

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Arbitragem não resolve acumulação de processos

“tenho encontrado de tudo, ao longo das mais de duas décadas

referidas. Desde magistrados que ainda não assimilaram bem a arbitragem, e pouco têm feito para que isso

suceda, até outros que se esforçam para a entender e

respeitar o seu regime fundamental”

Manuel Barrocas, sócio fundador da Barrocas Advogados

advocatus | Como têm os tribu-nais judiciais acolhido e com-preendido a arbitragem em Portugal?Manuel Barrocas | De forma vari-ável. Nuns casos, os magistrados mais atentos e abertos à evolução têm acolhido bem a Arbitragem ao longo das últimas duas déca-das e meia, ou seja, após a entra-da em vigor da Lei de Arbitragem de 1986, com compreensão e in-teresse no seu desenvolvimento como modo útil de resolução de litígios.Há um segundo grupo de magis-trados que, por imposição legal, devem atender ao facto da exis-tência da Arbitragem. Revelam esforço para a compreender, mas por vezes continuam ligados à ideia de que os tribunais judiciais são os órgãos que fazem justiça e os tribunais arbitrais são conce-bidos como uma segunda linha, dentro da órbita dos tribunais do Estado e sujeitos aos mesmos princípios, quando não ao próprio regime do Código de Processo Civil.Por fim, há um outro grupo mais fechado que ainda entende que a Arbitragem é uma intrusa e que apenas há que olhar para ela por-que a lei a isso obriga. A perda de poder é algo que preocupa.

advocatus | em sua opinião qual dos grupos é atualmente predominante?MB | O primeiro grupo incorpora, felizmente, magistrados do Su-premo Tribunal de Justiça e dos Tribunais da Relação de Lisboa e do Porto, ou seja, dos que mais têm trabalhado em processos que têm por objeto matéria arbitral. De um modo geral, o segundo grupo dispersa-se por todos os tribunais superiores e o terceiro grupo tem-se tornado diminuto.

advocatus | e nos tribunais de primeira instância?MB | Tenho encontrado de tudo, ao longo das mais de duas déca-das referidas. Desde magistrados que ainda não assimilaram bem a Arbitragem, e pouco têm feito para que isso suceda, até outros

que se esforçam para a entender e respeitar o seu regime fundamental.

advocatus | Pensa que com a nova lei de arbitragem de 2011 as coisas vão mudar?MB | Sim, vão mudar. Não só por causa da nova lei, mas também por-que muito se tem escrito e dito, nos últimos anos, sobre a Arbitragem e claro a nova Lei é também reflexo disso. Não tenho dúvidas de que, com o aumento da importância prá-tica de Arbitragem, a sua compreen-são pelos juízes vai ser gradualmen-te maior.

advocatus | Mas, o fenómeno não tem sido semelhante noutros paí-ses europeus?MB | Assim é, em muitos casos. Mas, em países em que a Arbitra-gem é mais aplicada, a formação dos magistrados em certos tribu-nais, para além de ser de alto nível, é assessorada por técnicos espe-cializados em arbitragem. É o caso do Cour d’Appel de Paris e do Cour de Cassation em França.

advocatus | o que lhe parece o discurso do Bastonário da ordem dos advogados sobre a arbitra-gem feito na abertura do ano ju-dicial?MB | A oratória acusatória é boa quando se baseia em factos con-cretos, em casos específicos, en-volvendo pessoas determinadas e não em discursos que deixa no ar a ideia de que se trata de uma mera diatribe inconsequente.Na verdade, é fácil falar em abstra-to e, em geral, sem consequências pessoais de maior, mas é difícil fa-lar de assuntos de que pouco ou nada se sabe. Não me refiro em particular ao Senhor Bastonário. Ele que disse o que disse é porque tem conhe-cimento do que fala, mas melhor seria e desejável que, em ato sub-sequente ao seu discurso, demons-trasse o que afirma. Isto para bem do Estado, dos in-tervenientes na Arbitragem e do prestígio das instituições, inclusive da Ordem dos Advogados. Se isso não suceder, de pouco valem as suas palavras. É certo que se referiu

“Não tenho dúvidas de que, com o aumento da importância prática de Arbitragem,

a sua compreensão pelos juízes vai ser gradualmente maior”

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O agregador da advocacia34 Março de 2013

www.advocatus.pt

“Muitos milhares de cultores e práticos da arbitragem, por todo o mundo, que inclui

ex-altos magistrados de tribunais,

grandes advogados, professores de Direito

e muitos outros juristas, economistas,

engenheiros e outros técnicos têm dignificado, como

ninguém, a arbitragem”

“A acumulação de processos nos tribunais não é apenas uma questão do seu funcionamento interno. É também uma questão cultural que se enraizou na sociedade portuguesa de forma persistente”

Entrevista

>>>

negativamente apenas aos lití-gios entre entidades públicas e privadas, mas, na verdade exis-te nas suas palavras um acinte inexplicado contra a Arbitragem em geral. Não se sabe bem por-quê. Por tudo isto, esperemos, sinceramente, que o Senhor Bas-tonário denuncie factos e ofereça provas do que diz. Nem que seja uma mera prova indiciária.A Arbitragem é uma instituição de grande prestígio em todos os países civilizados e é impres-cindível no comércio internacio-nal e cada vez mais em muitas áreas do Direito. Como também é importante a Mediação. Isto não são chavões que parecem assustar muita gente. Corres-pondem a necessidades das pessoas. Denegrir a Arbitragem sem mais e ao nível do Bastoná-rio dos Advogados, sinceramen-te não dá uma boa imagem do nosso País.Muitos milhares de cultores e práticos da Arbitragem, por todo o mundo, que inclui ex-altos magistrados de tribunais, gran-des advogados, professores de Direito e muitos outros juristas, economistas, engenheiros e ou-tros técnicos têm dignificado, como ninguém, a Arbitragem. Não percebemos, salvo de-monstração em contrário, onde se possa apoiar com justeza aquele discurso.

advocatus | o que traz de novo a lei de arbitragem publicada em 2011?MB | Traz, na verdade, muitas coisas de novo. Desde uma mais clara afirmação dos princípios e do regime fundamental da Arbi-tragem até uma clara autonomia da Arbitragem em relação aos tribunais do Estado. A Arbitra-gem corresponde a uma opção das partes de um litígio, quer porque acreditam que mais rapi-damente conseguem resolver o seu caso, quer porque têm espe-rança que uma solução arbitral pode manter as partes afastadas de um ambiente litigioso extre-mo que inviabilize por completo as suas relações futuras. Aquela

arbitragem foi uma “opção profissional”

CaRReiRa

advocatus | Como é que se interessou por esta área da arbitragem?MB | Sou profissional do Direito, advogado há mais de quatro décadas e árbitro em múltiplas ocasiões quer em Portugal, quer no estrangeiro.Trata-se de uma opção profissional, sobretudo por quem sempre se interessou pelo contencioso.

advocatus | qual a importância da arbitragem numa sociedade como a Barrocas advogados?MB | A sociedade Barrocas Advogados pratica desde há muitos anos não só contencioso e arbi-tragem, mas também outras áreas da advocacia, sobretudo as que interessam às empresas, quer nacionais, quer estrangeiras. A importância da Ar-bitragem nela é muito significativa, tal como são importantes outras áreas do Direito.

advocatus | quais os projetos e ambições da Barrocas advogados para este ano?MB | A situação portuguesa e internacional con-tinua a não ser boa. Espera-nos um novo cená-rio internacional que ainda não se sabe, a médio termo, qual seja. Estamos preparados para o que vier.

advocatus | Como tem avaliado a atuação da Ministra da Justiça?MB | Não tenho muitos elementos que me possam habilitar a ajuizar com justeza. Penso, no entanto, que a energia e a experiência na profissão de ad-vogada da senhora ministra lhe dão boas condi-ções para fazer um bom trabalho, numa área – a da Justiça – em que os problemas são ciclópicos.

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Março de 2013 35O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“em Portugal, para além de um ou outro centro de arbitragem,

praticamente nenhuma iniciativa internacional

se vê para tornar mais conhecida

a nossa moderna lei de arbitragem e a excelência do nosso País para

acolher processos de arbitragem e outras condições que era

necessário criar para que isso fosse uma

realidade”

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“Não se pode dizer que haja “uma pátria” mundial da Arbitragem. Ela tem-se generalizado por todo o Mundo e as economias emergentes da Ásia e da América Latina têm, avidamente

pode-se dizer, procedido à sua institucionalização e fomento”

opção deve ser respeitada, tanto aliás como a opção de preferir os tribunais.

advocatus | Mas não há árbi-tros que podem deixar-se cor-romper?MB | Admito que sim, como tam-bém há juízes em que o mesmo fenómeno pode ocorrer. Com todo o respeito que tenho pelos juízes, que é muito e merecido na grande maioria dos casos, falando em abstrato sobre a sua pergunta, a grande diferença é que na Arbitragem as partes, cada uma de per si, têm a facul-dade de escolher os árbitros, o que não acontece no caso dos juízes. Não estou a falar necessaria-mente sobre corrupção, mas sobretudo sobre competência técnica para resolver um litígio determinado.

advocatus | Há condições para se situar em Portugal um cen-tro internacional de arbitra-gem para resolver diferendos, por exemplo, entre partes per-tencentes ao mundo lusófono?MB | Essa é uma boa questão. Sinceramente acho que há con-dições, mas entendo que isso é difícil de concretizar, mesmo em relação ao mundo lusófono. Na verdade, penso que nessa maté-ria espelha-se de uma forma fiel as diferenças enormes entre a idiossincrasia dos portugueses e dos espanhóis. Estes últimos estão abertos ao Mundo, partilhando com outros interessados um tema, um proje-to ou uma causa, impulsionados por um grande dinamismo. Os portugueses têm tendência para se fechar na sua “quinti-nha” pessoal, desconfiando da partilha de projetos que podem ser de interesse comum. Isto significa em termos práticos que, em Espanha, mais concre-tamente em Madrid, existe orga-nizado um clube de arbitragem que tem revelado grande vitali-dade, empenho e muito trabalho útil efetuado na divulgação da Arbitragem espanhola ou relacio-

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O agregador da advocacia36 Março de 2013

www.advocatus.ptEntrevista

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nada com Espanha. Esse traba-lho tem dado frutos, não só nes-te País, mas também com boa projeção em França, Alemanha e nos países da América Latina. Porque não seguem os portu-gueses esse exemplo? Porque o mundo lusófono é menor e teori-camente com menor necessidade de recorrer à arbitragem interna-cional? É possível, mas em Por-tugal, para além de um ou outro centro de arbitragem, praticamen-te nenhuma iniciativa internacional se vê para tornar mais conhecida a nossa moderna lei de arbitragem e a excelência do nosso País para acolher processos de arbitragem e outras condições que era neces-sário criar para que isso fosse uma realidade. A letargia tem dominado. Parece que também aqui a situação ne-gativa que o País atravessa tem tomado conta das pessoas.

advocatus | em que é que a ar-bitragem pode resolver o pro-blema da acumulação de pro-cessos nos tribunais?MB | Só os tribunais podem resol-ver os seus próprios problemas de estrutura, funcionamento e acumulação de processos. A Ar-bitragem pode contribuir, e muito, é certo, para que se atenuem os problemas de acumulação, mas não pode, nem é a sua missão, re-solver aquele problema. A acumulação de processos nos tribunais não é apenas uma ques-tão do seu funcionamento interno. É também uma questão cultural que se enraizou na sociedade por-tuguesa de forma persistente. Não é possível admitir que os tri-bunais sejam uma espécie de de-pósito de um número infindável de pequenas ações e ainda pior quando têm caráter executivo. E se é certo que o problema está resolvido neste particular nas va-ras dos tribunais das grandes ci-dades, não é menos certo que nestes últimos continuam a existir sentenças que se alongam por 40 e 50 páginas e muitos outros en-traves, designadamente os que importam uma atávica burocracia processual em que o juiz é chama-

“Sou profissional do Direito, advogado há mais de quatro décadas e árbitro em múltiplas ocasiões quer em Portugal, quer no estrangeiro. Trata-se de uma opção profissional, sobretudo por quem sempre se interessou pelo contencioso”

do a decidir ínfimas questões. Va-mos ver o que o novo Código de Processo Civil vai trazer de novo, mas receio que se repitam experi-ências anteriores falhadas.

advocatus | a arbitragem é ape-nas apropriada para resolver os grandes litígios ou também pode estar ao de assuntos “cor-rentes”?MB | A Arbitragem tanto é útil para resolver grandes causas, como assuntos da vida corrente e isso já está a acontecer relativamente a questões provenientes de se-guros e acidentes de viação e do consumo ou mais técnicas como é o caso do contencioso da pro-priedade industrial relativo a medi-camentos genéricos.

advocatus | qual é a “pátria” da arbitragem a nível mundial? Por alguma razão especial?MB | Não se pode dizer que haja “uma pátria” mundial da Arbitra-gem. Ela tem-se generalizado por todo o Mundo e as economias emergentes da Ásia e da América Latina têm, avidamente pode-se dizer, procedido à sua institu-cionalização e fomento. São co-nhecidos muitos sucessos neste campo.Para além destes casos, há certos países, em regra os países econo-micamente mais desenvolvidos, que desenvolveram a Arbitragem, e mais recentemente também a Mediação, em termos notáveis. Isso manifesta-se na existência de sofisticadas leis de arbitragem, em experimentadas instituições arbitrais, em árbitros, advogados e peritos de grande competência e experiência. É o caso dos Esta-dos Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Suécia, Áustria e outros.Portugal não está neste grupo da frente, mas está, seguramente com aqueles países, na primeira linha de países capazes de en-tender e desenvolver a prática da Arbitragem. A nova lei da arbitragem, que re-centemente entrou em vigor, é um excelente exemplo disso.

“a arbitragem tanto é útil para resolver grandes causas,

como assuntos da vida corrente e isso já está a acontecer

relativamente a questões provenientes de seguros e acidentes

de viação e do consumo ou mais técnicas como é o

caso do contencioso da propriedade

industrial relativo a medicamentos

genéricos”

“a sociedade Barrocas advogados pratica

desde há muitos anos não só contencioso e arbitragem, mas

também outras áreas da advocacia,

sobretudo as que interessam às

empresas, quer nacionais, quer estrangeiras.”

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Março de 2013 37O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Passaporte

O sócio da Abreu Advogados Rodrigo Ferreira Rocha é “alfacinha de gema”, mas teve o primeiro contacto com Moçambique na infância quando os pais decidiram ir viver para lá. Voltou a Portugal. Estudou e começou a trabalhar. Até que surgiu a oportunidade de regressar a Moçambique. Não hesitou e voltou. Hoje, continua a exercer no país, onde detém inclusive um projeto próprio – a Fralaw. É dessa experiência que faz o relato, na primeira pessoa.

De “armas e bagagens” para Moçambique

Quando se pensa na vida em Moçambique, um país banhado pelas mais belas praias da costa africana do lado do Índico e rodeado pelas ma-ravilhas da Savana, achamos que o exercício da advocacia se perde neste clima de férias. Mas é um engano: este foro tem tanto dinamismo em assuntos de vida, carreira e dia-a-dia de um Ad-vogado que, muitas vezes, acabamos por nos esquecer das maravilhas que a vida nos trópicos nos pode proporcionar. Alfacinha de gema (como dizem por Portugal), vim para Moçambique ainda em criança com os meus pais. Regressei mais tar-de, já depois de terminados os estudos na Facul-dade de Direito de Lisboa. Iniciei a minha carreia numa excelente escola de princípios, ética e rigor a Miranda, Correia Amendoeira. Quando foi aber-ta a possibilidade de iniciar uma operação de tal escritório em Moçambique, aceitei esse desafio de imediato. Vim de armas e bagagem para Mo-çambique. Por vicissitudes da vida pessoal, optei, a certa altura, por começar um projecto próprio, dando início aquilo que é hoje a Fralaw, escritório onde hoje trabalho.

Muitas vezes pensei no que poderia ser uma car-reira numa outra perspectiva, onde as decisões que tomei não me trouxessem de volta a Moçam-bique, ou me tivessem mantido na minha zona de conforto que era colaborar, num projecto que não era o meu. A resposta que encontrei foi a adição de vários factores que partilho de seguida. Sendo o mercado moçambicano um mercado em cresci-mento (que não se confunda com menos exigente ou menos sofisticado, porque não o é), as oportu-nidades que se oferecem a um advogado em iní-cio de carreira são bem mais atractivas que as que são impostas em mercados onde a concorrência é mais feroz. A título de exemplo, questiono quan-tos Advogados, porventura melhor preparados que eu, anseiam em trabalhar uma super major dos petróleos ou com uma instituição financeira triplo A? Em Moçambique, em tenra idade da mi-nha profissão deparei-me com clientes, daqueles cujos nomes aparecem constantemente nas mais conceituadas publicações financeiras mundiais. Em Portugal, apenas os iria ver passar, ou, quanto muito, ajudar numa transacção onde, eu apenas

seria um dos sete advogados a trabalhar o dos-sier.Mas, nem só desses grandes clientes e assis-tências a mega projectos vive um Advogado em Moçambique. Diligências em repartições públicas, cartórios ou em tribunais também fazem parte da nossa rotina. Se num dia nos sentimos importan-tes por representar um Cliente de renome inter-nacional, temos de estar preparados para, no dia seguinte, abraçar uma causa pequena ou mesmo o apoio jurídico a instituições de solidariedade so-cial contribuindo para projectos que podem mudar a vida de uma nação. Trabalhar em Moçambique não é nem mais fácil nem mais difícil que em qual-quer outro país… Mas aqui cada trabalho, cada causa deixa uma sensação de obra feita. É graças a esse espírito, tive a honra de ser convidado para me tornar sócio de uma das mais prestigiadas so-ciedades de advogados de Portugal, onde a exce-lência, qualidade, ética, rigor e solidariedade giram em volta de uma só marca, a Abreu Advogados.*

*Artigo escrito segundo as regras anteriores ao atual

acordo ortográfico

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O agregador da advocacia38 Março de 2013

JoRge BleCk vai deixar a sociedade de advogados Linklaters. A decisão prende-se com a limitação legal de idade, que impede a continuação de funções depois dos 65 anos. Jorge Ble-ck tem atualmente 58 anos e é um dos mais antigos sócios da firma em todo o mundo.

José luís aRnaut é uma das quatro personali-dades convidadas para integrar o advisory board do recém-criado “EU Observatory on IP Infrigements”. Este organismo do Instituto Europeu de Harmonização no Mercado Interno (IHMI) tem como objetivo o combate à contrafação.

FRanCisCo PRoença De CaRValHo é o novo sócio da Uría Menéndez-Proença de Carvalho (UM--PC) em Portugal. O advogado integra a sociedade desde 2010, ano da fusão entre a firma es-panhola e a portuguesa, alcançando agora a posição de sócio.

antÓnio alVes Da silVa vai ser reconhecido como “Senador da Fiscalidade” pelo Instituto de Direito Económico, Finan-ceiro e Fiscal (IDE-FF) e pela Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal. O jurista é consultor da RFF & Associados.

ViCente Voigt De oliVeiRa é o novo consultor do German Desk da PLMJ, plataforma de apoio jurídico a empresas portugueses que atuam no mercado alemão, centro e leste europeu, assim como de empresas desses países que investem em Portugal e nos países lusófonos. O advogado tem experiência em construção, imobiliário, contencioso, privatizações, direito comercial, PPP, transações internacionais e arbitragem.

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Vasco Marques Correia é candidato a Bastonário dos advogados

A Abreu Advogados acaba de abrir um novo es-critório em Timor-Leste, numa joint venture com a C&C Advogados – parceira da firma na China.O escritório situa-se em Díli e irá operar com o nome Abreu e C&A Advogados – Timor-Leste, com a coordenação de Manuel Andrade Neves (Abreu) e de Nuno Sardinha da Mata, (C&C). A operação representa mais um passo na apos-ta da sociedade portuguesa na internacionali-

abreu advogados expande-se para timor-leste

O advogado Vasco Marques Correia, atual presidente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advo-gados apresentou na sexta-feira, 1 de março, a can-didatura à Ordem dos Advogados. O atual presiden-te do Conselho Distrital de Lisboa mostrou-se como “simples advogado”, independente dos cargos que exerce e da sociedade que integra.Durante o discurso da candidatura, Vasco Correia Marques fez referências a vários temas atuais relacio-nados com a Ordem, nomeadamente o procedimento de alteração estatutária, atualmente em curso. O qual – na perspetiva do advogado – está “profundamente errado, na forma e na substância”. Pedindo, por isso, “clareza e transparência” neste processo.O candidato desafiou o atual bastonário a apresentar a candidatura para se “bater” com ele nesta eleição. Considerando que caso aconteça será um “combate franco, frontal e clarificador”.Na perspetiva de Vasco

Marques Correia a Ordem está hoje “muitíssimo fragi-lizada, sempre contra tudo e contra todos, nunca a fa-vor de coisíssima nenhuma e absolutamente incapaz de formular uma única ideia”.Por isso, o advogado defende o regresso a uma po-sição de contenção e sobriedade das intervenções públicas do bastonário.“Tal como muitos, não me revejo numa Ordem interna e artificialmente dividida – porque, claro, para alguns é preciso dividir para reinar!”, afirmou. Apelando a um “relacionamento aberto, descomplexado e sem hipo-crisias entre todos os atores judiciários”.A candidatura tem como mandatário Medina Carreira e conta com o apoio de Garcia Pereira e de Paulo Sá e Cunha. Ainda não existe uma data oficial para as elei-ções da Ordem dos Advogados referente ao mandato de 2014/16, contudo prevê-se que sejam marcadas para novembro.

zação e é a primeira joint venture entre as duas sociedades.A coordenação local do escritório será da responsabilidade do advogado da Abreu Bernardo Correia Barradas, que terá como missão gerir a equipa composta por dois advogados e um paralegal. A equipa irá prestar serviços jurídicos a clientes, nacionais e internacional, com interesses em Timor-Leste, em especial nas áreas de Energia e dos Recursos Naturais.

Page 39: advocatus, 36

Março de 2013 39O agregador da advocacia

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ilo distingue sete advogados portugueses

O International Law Office (ILO) destaca sete advogados portu-gueses na edição de 2013 dos Client Choice Awards. José Miguel Júdice, Pedro Cas-siano Santos, Rui de Oliveira Neves, Sofia Enriquez, António Fernandes de Oliveira, Tomas Vaz Pinto e João Nuno Azevedo Neves são os agraciados. José Miguel Júdice (PLMJ) é destacado em Arbitragem, Pe-dro Cassiano Santos (Vieira de Almeida) em Bancário, Rui de Oliveira Neves (MLGTS) em Mer-cado de Capitais, Sofia Enriquez (Raposo Bernardo) em Concor-rência, António Fernandes de Oliveira (AFDO) em Corporate Tax, Tomas Vaz Pinto (MLGTS) em General Corporate e, por fim, João Nuno Azevedos Neves (ABBC) na área de Contencioso.Os Client Choice Awards pre-miam o serviço ao cliente, tendo em conta fatores como a capaci-dade de compreensão e o acom-panhamento dos clientes, dos negócios e dos mercados, além da capacidade de acrescentar valor aos negócios e atividades dos clientes.

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O agregador da advocacia40 Março de 2013

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aBa eleita uma das melhores empresas para trabalharA Azevedo Brandão & Associados (ABA) foi eleita a melhor empresa para trabalhar na categoria de pequenas empresas dos “Prémios Excelência no Trabalho 2012”. Uma iniciativa do Diário Económico, em parceria com a Heidrick & Struggles, o Instituto para o Desenvolvimento da Gestão Empresarial e o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.O ranking analisa as empresas onde os colaboradores gostam de traba-lhar.A ABA é uma pequena sociedade, fundada em 2000 por Miguel Aze-vedo Brandão, no Porto. Atualmente conta com 12 colaboradores e um volume de negócios de 150 mil euros.

A PLMJ acaba de lançar um novo grupo de trabalho dedicado a projetos interna-cionais, especialmente vocacionado para a assessoria jurídica no contexto de ope-rações cross border e de grandes projetos de investimento envolvendo diversas ju-risdições. A equipa é coordenada pelo só-cio fundador da PLMJ Luís Sáragga Leal.A nova plataforma conta com o contribu-to da sócia Sofia Gomes da Costa e do advogado consultor Emílio Rui Vilar, espe-cialista nas áreas de Energia, Oil & Gas, Direito Financeiro, Bancário e investimen-

tos internacionais. Assim como do asso-ciado sénior Francisco Lino Dias e da as-sociada Maria José Sousa Leite.Ao criar esta nova plataforma de trabalho a sociedade reforçou a equipa com a con-tratação de dois novos advogados: Lin Man, associada sénior com a missão de acompanhar as operações relacionadas com o mercado chinês, e António Cid, as-sociado, que completou recentemente o L.L.M. Advanced Masters of Law in Inter-national Business Law na Católica Global School of Law.

MC&a distinguida com prémio evoluçãoA MC&A conquistou o galardão Evolução, na cate-goria pequenas empresas, no âmbito do Prémio Ex-celência no Trabalho 2012. Esta iniciativa tem como intuito distinguir as empresas que mais valorizam e investem no desenvolvimento do capital humano. Durante o estudo é analisado o clima organizacional e o desenvolvimento do capital humano das empresas a concurso. O principal objetivo é apurar e premiar as que apresentem um melhor clima organizacional e que se destaquem como entidades de excelência no desenvolvimento do capital humano em Portugal.Esta foi a terceira edição do estudo, a qual registou 172 candidaturas.O sócio fundador da MC&A, Vítor Marques da Cruz, defende que este é um prémio de cada um dos mem-bros da equipa, pois são eles os responsáveis pelo clima organizacional e pela partilha da identidade da sociedade.O Prémio Excelência no Trabalho é uma iniciativa da Heidrick & Struggles, em parceria com o Diário Eco-nómico e com o ISCTE Business School.

PlMJ cria grupo de trabalho para projetos internacionais

PLMJ lança serviço no qual assume o papel de “barrister”

José Pedroso de Melo assina carta aberta ao bastonário

Jorge Bleck abandona Linklaters

Um tiro em cada pé (e outro em quem o apanhar)!

O que valorizam as sociedades de advogados?

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Quer valorizar uma empresa? Coloque um advogado na administração

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De Portugal para o mundo

Um tiro em cada pé (e outro em quem o apanhar)!

Estatuto da Ordem: Congresso ou assembleia geral?

*dados relativos ao período de 28 de janeiro a 28 de fevereiro

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Março de 2013 41O agregador da advocacia

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A atual situação política em Portugal, as privatizações e possíveis soluções como a internacionalização ou um novo primeiro-ministro foram os temas dominantes em fevereiro no programa “Direito a Falar”, uma parceria entre o Advocatus e o Económico TV.

Portugal numa perspetiva jurídica

Televisão

Internacionalização das sociedadesO “Direito a Falar” reuniu Nuno Miguel Prata (sócio da SRS Advogados), Bru-no Xavier de Pina (associado sénior PLMJ) e Miguel Marques dos Santos (só-cio da Garrigues) para analisarem a internacionalização das sociedades de advogados e as oportunidades para as firmas portuguesas no estrangeiro. A tendência para a internacionalização dos clientes e das firmas tem crescido e as sociedades de advogados tiveram de acompanhar esta tendência.

“António Costa seria um excecional secretário-geral do PS”Apesar de estar um pouco afastado da política, José Miguel Júdice acredita que António Costa seria um bom secretário-geral do PS, pois é determina-do, forte e com capacidade de criar consensos. O sócio fundador da PLMJ classifica a prestação do atual presidente da Câmara de Lisboa como ex-celente.

A importância da Arbitragem“A Arbitragem é uma forma de administração de justiça regulada, credível e efetiva”. A convicção é do advogado Carlos Cruz, que defende que a arbitra-gem desempenha um papel essencial pois representa uma forma importante de retirar toda a pressão que existe nos tribunais relativamente a ações que estão há muito pendentes. Para incentivar o recurso à Arbitragem, o advo-gado sugere que sejam dados benefícios fiscais a quem enveredar por esta solução.

Portugal e as privatizações“Portugal está no radar dos grandes investimentos”. A garantia é de Diogo Leónidas Rocha, sócio e especialista em Fusões e Aquisições da Garrigues Portugal, em entrevista no programa “Direito a Falar”. Na opinião do advo-gado, as privatizações acabaram por ser “uma boa notícia” para o País, pois fizeram-se bons negócios. E – comenta - não deixa de ser curioso verificar o interesse que existiu por parte dos investidores internacionais nas empresas portuguesas.

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O agregador da advocacia42 Março de 2013

www.advocatus.ptHobby

Leonor Chastre começou a aprender a tocar bateria há três anos e desde logo se revelou uma paixão. A bateria é um instrumento exigente, requer uma grande coordenação de membros e uma boa capacidade auditividade. Por isso, a advogada aproveita para treinar todos os fins-de-semana para aper-feiçoar esta “arte”. Tem um professor de música para lhe ensinar as técnicas do instrumento. “Além de ser ótimo músico, tem muita paciência!”, conta a sócia da Gómez-Acebo & Pombo.Enveredou pelo “mundo” da bateria por gosto próprio. Era um instrumento que lhe provocava alguma curiosidade. Hoje, agrada-lhe principalmente o facto de, ao tocar, conseguir abstrair-se da realidade. Consegue uma evasão mental que lhe permite aliviar o stress acumulado. Leonor é uma pessoa cheia de energia e apesar do trabalho exigente não des-cura os hobbies. Atualmente, além da bateria, pratica ainda ténis, natação, Krav Maga e Ski. Mas com a música tem uma relação especial, pois esta permite em simultâneo “disciplinar a mente” e “exercitar o cérebro”. Ao tocar bateria sente o espírito mais livre, o que lhe traz “felicidade, positivismo e alegria”.

Leonor Chastre

leonor Chastre

Sócia da Gómez-Acebo & Pombo, é responsável pelo departamento de

Propriedade Intelectual e Tecnologias de Informação da sociedade em Portugal.

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Março de 2013 43O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Office with a view

“Como se não houvesse amanhã”

A rua Castilho, em pleno centro lisboeta, não é só o local onde se situa a ABC Legal, é também um reflexo do dia a dia desta sociedade. Movimentado. Intenso. Numa correria, “como se não houvesse amanhã”, como define a sócia Alexandra Bessone Cardoso. Se, por um lado, domina a agitação, por outro, pode ver-se a consequência do tempo em edifícios em processo de reabilitação. De outrora mantêm-se unicamente as fachadas, ainda que bastante fustigadas. Mas esta é uma vista em constante mutação. No futuro, a sócia da ABC Legal espera ver nascer um novo prédio para embelezar a zona. Alexandra Bessone Cardoso gosta de apreciar a movimentação da rua, com o comércio que lhe é característico, os turistas e as pessoas que passam atarefa-das. Contudo, são as “árvores imponentes” que mais lhe cativam a atenção. A primeira vez que apreciou esta vista foi há cerca de 20 anos. Estava a começar a carreira. Hoje, reconhece que, na época, não se apercebia bem do que via: olha-va, mas nada via. Após experiências em outros países, cidades e outras zonas de Lisboa regressou à Castilho. Quando voltou a olhá-la, 20 anos depois, sentiu-se invadida por um sentimento de “profundo orgulho”.

alexandra Bessone Cardoso

Sócia da ABC Legal. Licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade de

Lisboa, conta com um mestrado em Direito Internacional Privado na mesma instituição.

Fez uma pós-graduação em Direito do Trabalho e Segurança Social pela Facoltà di

Giurisprudenza della Università degli studi di Bologna, Itália, e um Phd em Information

Technology Law pela Queen Mary e Westfield University, em Londres – Inglaterra.

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O agregador da advocacia44 Março de 2013

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Manuel Falcãodiretor-geral da Nova Expressão

Restaurante

Prazeres da Avenida

Este Avenue abriu há quase um ano, no espaço onde antes viva o LA Caffé, do lado direito de quem desce a Avenida da Liber-dade, pouco antes do Hotel Sofi-tel. Entrou rapidamente na moda - beneficia de uma belíssima vista sobre a avenida, uma localização fantástica e a decoração, sóbria, confortável e elegante, baseia--se no conforto e em pequenos pormenores como, por exemplo, algumas peças da marca Porsche Design. O resultado é uma mistura equilibrada entre sofisticação e in-formalidade. Intitulando-se restaurante e eno-teca, o Avenue tem uma invejável lista de vinhos - apresentada num iPad. Não só tem boas referências portuguesas, como alguns vinhos estrangeiros mais difíceis de en-contrar. A lista está bem organiza-da por regiões e géneros. Os em-pregados sabem dar conselhos e não se fixam em vender um preço alto. O serviço é, em geral, eficaz e amável. Aqui tanto se pode fa-zer um almoço de trabalho, como beber um copo ao fim da tarde, acompanhado de uns petiscos, ou um jantar - que nas noites de sex-ta e sábado pode ser mais tardio, já que nesses dias a cozinha fecha mais tarde. Nos últimos anos a zona da Aveni-da da Liberdade tem ganho moti-vos de atração, com restaurantes que conseguem combinar o lado da gastronomia, com a faceta de

animação e convívio, como se comprova na Rua Barata Salguei-ro hoje em dia, com o Guilty, o Sushi Café Avenida ou o D’Oliva.A primeira coisa a dizer é que o Avenue é solidamente baseado na tradição culinária portuguesa, com alguns toques contemporâneos, mas sem floreados químicos a perturbar a análise das coisas. Ao almoço tem uma opção de menu do dia, com o simpático preço de 16 euros, mas as propostas da lista são entusiasmantes - e para quem queira há uma opção de degustação, com entrada, prato de peixe, de carne e sobremesa, tudo por 36 euros por pessoa. Os

vinhos são sempre à parte, mas há propostas equilibradas e com uma boa relação de preço - mes-mo algumas colheitas de produto-res mais pequenos e que não se encontram em muitos locais - aí a casa faz jus à designação de eno-teca. Há também a possibilidade de vários bons vinhos a copo.Nas entradas surgem propostas bem portuguesas, baseadas em farinheira, em cavala frita em es-cabeche ou umas lascas de baca-lhau finamente panadas e que os ditames da moda levam a que se-jam identificadas como tempura. Nas carnes destaca-se uma belís-sima alheira de caça de Mirandela

aVenueAvenida da Liberdade N.º 129

T.: 213 432 115 (Fecha sábado ao almoço

e Domingo todo o dia)

tony Bennett - as time goes Bygreat american songbook Classics

BanDa sonoRa

Aquilo de que mais gosto em Tony Bennett, nas suas interpretações, é a forma desprendida como encara este assunto de cantar as canções que ou-tros fizeram e tornaram conhecidas. Ser um croo-ner de versões não é coisa fácil - a concorrência é muita e alguma tem boas vozes. Eu já me cansei de dizer que de boas vozes está o inferno cheio - o que interessa é a forma de cantar. E é esse pre-cisamente o interesse que vejo em Tony Bennett, a maneira que ele tem de cantar tão pouco esfor-çada, tão descuidada, mas que mostra um sentir que é o seu e não aquela coisa esforçada que al-

guns gostariam de ou-vir. No cinema não gos-tamos de atores que fazem over acting; na música não gosto de cantores que fazem over singing. Bennett não faz over singing. É ele. Gosto disso - como aqui se pode constatar nas versões de “Blue Moon”, “As Time Goes By”, “The Lady Is A Tramp” ou “This Can’t Be Love”, por exemplo.

e um arroz de pato, feito a partir da perna do bicho, à moda do Minho. Quando a matéria-prima vem do mar pode escolher entre uns cara-bineiros alourados com açorda de espargos selvagens e coentros, um polvo na brasa com esmagada de batata ou um belíssimo lombo de cherne corado com guisadinho de choco e arroz negro.Eu não sou muito de sobremesas mas as farófias com morangos temperadas com poejos fazem pensar - assim como a seleção de queijos com doce de figo.Num dia recente, no menu de al-moço a entrada era uma salada de peito de pato fumado com figo - que estava muito boa. A seguir veio um bem temperado risotto de cação com coentros e poejos e, a findar, uma torta de laranja agra-davelmente clássica. Bebeu-se um tinto Churchill Estates. Tudo incluído, ficou em 54 euros para duas pessoas. À noite conte com entre 35 a 40 euros por pessoa, preço que sobe naturalmente se a escolha do vinho for especial. De qualquer forma é um preço justo para a qualidade, o conforto, o serviço e a vista - que os olhos também comem.Se puder escolher uma mesa per-to da janela, tanto melhor.

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Março de 2013 45O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Montra

Vitalidade e energia romanasA frescura mediterrânica encontra uma moderna força amadeirada no novo

Bulgari Man Extreme. A pensar no homem que procura emoções fortes, extraordinárias e extremas, a nova fragância evoca a atmosfera romana

com os seus ingredientes naturais. O novo frasco em monolítico prateado e cinzento ardósia a fazer lembrar o mármore romano é uma homenagem à

herança da Bulgari.

luxo com privacidade e discriçãoHótel Privé é o nome da coleção de maquilhagem da Givenchy para este verão. Ao transmitir uma elegância natural e subtil, as cores contam histórias de intimidade e de prazeres delicados. Porque cada dia é uma experiência especial, Hôtel Privé promete ser um luxo privado mas que dá vontade de partilhar.

sofisticação intemporal

A nova coleção Lancaster da Pulsar é uma proposta de sofisticação e ele-gância intemporal. Com mostrador branco ou preto, uma caixa de 43mm de

diâmetro e bracelete em pele preta resistente à água, os novos Lancaster estão disponíveis em várias versões: pode optar por um dos dois com fases

da lua ou pelo multifunções com submostrador de segundos e data.

lixo que está na moda

Summer 2013 True Colors é o conceito que rege a nova coleção primavera/verão 2013 da Tela Bags. A transformar materiais destinados ao lixo em aces-sórios de moda, a marca propõe uma coleção intemporal, orgânica e funcional. A Banner Line com sobras de telas promocionais e a Fusion Line a combinar estofos automóveis com o linóleo são as duas linhas disponíveis para a próxima estação.

Xperia exclusivo

O Sony Xperia J é o novo smartphone exclusivo da Vodafone. Disponível em preto e branco, possui sistema operativo Android 4.0, ecrã tátil de quatro po-legadas, processador de 1 GHz, câmara de 5MP com flash LED e funcionali-

dade de gravação de vídeo. Está equipado com A-GPS, wi-fi e Bluetooth.

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O agregador da advocacia46 Março de 2013

www.advocatus.ptOs filmes de ...

Sócia da Miranda Correia Amendoeira & Associados. Licenciada pela Faculdade de

Direito da Universidade de Lisboa, centra a atividade nas áreas de Direito societário,

recursos minerais e arbitragem.

Tânia Cascais

Histórias complexas, repletas de mistérios e traições predominam nas escolhas cinematográficas da sócia da Miranda Tânia Cascais. A descoberta da verdade no final da trama é o denominador comum, quer seja dada a conhecer por jornalistas ou fotógrafos, quer, mesmo, pelo acaso.

título: O Mundo a seus pés (Citizan Kane), 1941Realizador: Orson WellesProtagonistas: Agnes Moorehead., Dorothy Comingore, Joseph Cotten, Orson WellesHistória: Charles Foster Kane é um magnata da imprensa que começou do zero mas conseguiu construir um império e tornar-se multimilionário. Ao morrer, a última palavra que profere é “Rosebud”. Um jovem jornalista acredita que pode ser a pista para um grande mistério e não descansa enquanto não descobre a vida desconhecida de Kane.

01título: Janela Indiscreta (Rear Window), 1954Realizador: Alfred HitchcokProtagonistas: Grace Kelly, James Stewart, Raymond Burr., Thelma RitterHistória: Um repórter fotográfico vê-se confinado ao seu apartamento em Nova Iorque por ter partido uma perna. Sem nada para fazer, começa a observar a vida dos vizinhos. O hobby “voyeurista” leva-o a suspeitar que um dos vizinhos possa ter assinado a mulher…

02

título: A Golpada (The Sting), 1973Realizador: George Roy HillProtagonistas: Paul Newman, Robert Redford, Robert ShawHistória: Os anos 30 servem de cenário a esta comédia que retrata a tentativa de dois vigaristas de vingarem a morte de um amigo, assassinado por um chefe da mafia. O plano é somente um: aplicar um golpe de génio que lhe arrase as finanças! Mas, não será fácil…

03

título: Os homens do Presidente (All the President’s men), 1976Realizador: Alan J. PakulaProtagonistas: Dustin Hoffman, Jack Warden, Robert RedfordHistória: A sede do Partido Democrático é invadida. O jornalista Bob Woodward começa a investigar aquilo que parece ser um caso secundário. Contudo, para a defesa dos assaltantes são recrutados os melhores advogados. Woodward e Carl Bernstein (também jornalista) seguem a história e o que descobrem levará à demissão do presidente Nixon.

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título: Era uma vez um país (Underground), 1995Realizador: Emir KusturicaProtagonistas: Miki Manojlovic, Lazar Ristovski, Mirjana Jokovic, Slavko Stimac, Ernst Stötzner, Srdjan Todorovic, Mirjana Karanovic, Milena Pavlovic.História: Marko e Blacky trabalham no mercado negro e organizam a resistência contra os nazis durante a Segunda Guerra. Blacky é perseguido e Marko esconde-o numa cave. Desligado da realidade, Blacky acredita nos relatos do amigo: só que a guerra entretanto acabara…

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