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Pág. 30 Three Gorges fez o trabalho de casa Luís Miguel Cortes Martins, sócio da Serra Lopes, Cortes Martins Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano II n N.º 23 n Fevereiro de 2012 n 15 euros O novo regime do arrendamento urbano, contido na proposta de lei n.º38/XII que o governo apresentou ao parlamento, é uma revolução ou a reforma possível? Maria José Santana, da SRS, José Pedro Martins, da José Maria Calheiros e Associados, Sofia Plácido de Abreu, da Pares Advogados, e Rui Pedro Martins, da BPO, têm um olhar crítico sobre uma lei de contornos liberalizadores e que é apresentada como visando modernizar o mercado de arrendamento Os critérios de acesso dos juízes aos Tribunais Superiores terão de ser mais rigorosos, defende João Nuno Azevedo Neves, sócio fundador da ABBC & Associados. Conhecimentos jurídicos profundos, eficácia e qualidade são os critérios que o advogado defende, afirmando ainda que os critérios de seleção mais rigorosos permitem potenciar decisões que, do ponto de vista técnico, tenham qualidade Uma revolução ou a reforma possível? Azevedo Neves, sócio fundador da ABBC Critérios rigorosos 12 06 www.advocatus.pt O agregador da advocacia 5 601073 210256 00023

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Pág. 30

Three Gorges fez o trabalho de casa

Luís Miguel Cortes Martins, sócio da Serra Lopes, Cortes Martins

Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano II n N.º 23 n Fevereiro de 2012 n 15 euros

O novo regime do arrendamento urbano, contido na proposta de lei n.º38/XII que o governo apresentou ao parlamento, é uma revolução ou a reforma possível? Maria José Santana, da SRS, José Pedro Martins, da José Maria Calheiros e Associados, Sofia Plácido de Abreu, da Pares Advogados, e Rui Pedro Martins, da BPO, têm um olhar crítico sobre uma lei de contornos liberalizadores e que é apresentada como visando modernizar o mercado de arrendamento

Os critérios de acesso dos juízes aos Tribunais Superiores terão de ser mais rigorosos, defende João Nuno Azevedo Neves, sócio fundador da ABBC & Associados. Conhecimentos jurídicos profundos, eficácia e qualidade são os critérios que o advogado defende, afirmando ainda que os critérios de seleção mais rigorosos permitem potenciar decisões que, do ponto de vista técnico, tenham qualidade

Uma revolução ou a reforma possível?

Azevedo Neves, sócio fundador da ABBC

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Armindo Pinto Ribeiro, sócio da Gouveia Pereira, Costa Freitas & Associados (GPA), descobriu a pintura em 2000 e desde então nunca mais parou. Atualmente pinta dois a três quadros por mês. Prefere a pintura abstrata, principalmente a acrílico

HoBBY

Dois a três quadros por mês43

João Rebelo, diretor jurídico do grupo Espírito Santo Saúde, conhece como ninguém o setor da saúde e é o pioneirismo do grupo que mais o satisfaz: “Estamos a percorrer caminhos que ainda não foram feitos”, afirma

testeMuNHo

Os desafios da saúde20

Pode um cidadão português ser extraditado para julgamento pela justiça brasileira? Esta é uma das questões que tem dominado o caso do alegado envolvimento de Duarte Lima no assassínio, no Brasil, de Rosalina Machado, secretária e companheira de Lúcio Tomé Feteira

PRoCesso

Os labirintos do caso Duarte Lima36

Três advogados e uma advogada que também são professores falam das mais valias que têm em acumularem a advocacia com o ensino. Trata-se de uma “complementaridade enriquecedora”

CARReiRAs

Professores e advogados18

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João teivesdiretor

Cortar a direito

Justiça para ricos e Justiça para pobres

É deveras lamentável que o discur-so dos principais atores judiciários assuma, com premência inusitada, um carácter leviano, populista e de-magógico. A Justiça é um dos pilares de qualquer Estado de Direito Demo-crático e não deve, nem pode, ser tratada como se estivéssemos em animada tertúlia de café ou numa barra de restaurante a vociferar atoardas simplistas para uma plateia embria-gada. A Justiça é mais séria do que isso. Tem de ser mais séria do que isso. Quando ouvimos uma vez que tem de deixar de existir uma justiça para ricos e uma justiça para pobres pensamos “isto só pode ser uma gafe, um desabafo”. Quando ouvimos duas desconfiamos. À terceira despertamos de vez e ficamos preocupados. Temos de ficar preocupados. E reagir. E rea-firmar a nossa fé inquebrantável pelos princípios básicos estruturantes de qualquer Estado de Direito que assen-ta na dignidade da pessoa humana. E porque devemos ficar preocupados? Duas razões elementares. Primeiro, porque quando se diz que queremos acabar com a Justiça para ricos e a Justiça para pobres queremos, afi-nal, acabar com a Justiça. Segundo, porque um responsável pela Justiça

ginas? E se o processo tiver centenas de dossiers? E se tivermos dezenas de arguidos? Só falta dizer que va-mos fazer um julgamento sumário. E deixamos de ter Justiça, quer para ricos, quer para pobres. Justiceiros com certeza que não faltarão, agora Justiça... É inaceitável, porque o Direito Penal e o Direito Processual Penal são a matriz ética de qualquer Estado de Direito. Não devem, nem podem, ser utilizados para dividir os Portugueses em cruzadas persecutórias medie-vas. A estratégia e o discurso nem são originais, mas são perigosos e totalmente inaceitáveis num Estado de Direito. Para mais, pasme-se, por quem tem responsabilidades na área da Justiça! Mesmo que se admita que existem algumas entropias ou inefici-ências no sistema que possam gerar a impossibilidade de realização da Justiça, pela sua paralisia, então de-vem tais ineficiências e entropias ser atacadas. Agora não se pode é ter discursos demagógicos fraturantes dos nossos princípios fundamentais. Destarte em vez dos Judeus são os ricos. Mas, como sempre, não se trata nem de judeus nem de ricos, mas de todos nós.

Mesmo que se admita que existem algumas entropias ou ineficiências no sistema que possam gerar a impossibilidade de realização da Justiça, pela sua paralisia, então devem tais ineficiências e entropias ser atacadas. Agora não se pode é ter discursos demagógicos fraturantes dos nossos princípios fundamentais

não pode, para justificar alterações legislativas, mesmo que em si justificá-veis, erigir como fundamentação das mesmas o apontar de um grupo como bode expiatório, o apontar de um alvo fácil de ódio popular, para mais numa época de notórias dificuldades, neste caso os ricos e a sua Justiça e a sua culpa. Ora, este tipo de discurso é totalmente inaceitável e demagogo.É demagogo porque inexistem dis-crepâncias no sistema penal e pro-cessual penal entre portugueses ricos e pobres. Todos temos as mesmas garantias de defesa. Ricos, pobres, judeus, muçulmanos, cristãos... Dir--se-ia, mas os arguidos ricos recorrem,

é deveras lamentável que o discurso dos

principais atores judiciários assuma,

com premência inusitada, um carácter

leviano, populista e demagógico

Em 2011, a Fundação PLMJ comemorou a sua primeira década de pro-fícua atividade. Para o comemorar lançou este belíssimo livro que reúne uma seleção de cem obras, do seu acervo, de criadores nacionais. Que a advocacia e os escritórios nacionais são um espaço de cultura e arte não é novidade. A comprová-lo à saciedade está a rubrica fixa que dedicamos

em todos os números à obra de arte preferida do Ad-vogado no escritório. Mas temos de reconhecer que o trabalho desenvolvido pela Fundação PLMJ sob o lema “uma socieda-de de advogados como espaço de cultura” tem um papel ímpar, como agente dinamizador, no panorama artístico nacional. Parabéns.

Cem Obras Dez Anos – Uma Selecção da Colecção da Fundação PLMJ

LiVRo

praticando esse pecado capital. E os arguidos pobres não? Dir-se-á, ainda, que os arguidos ricos podem contratar, em princípio, os melhores advogados, o que lhes permite uma defesa mais eficaz do que os arguidos pobres, que não podem contratar tais advogados e têm de se contentar com um defensor nomeado ao abrigo da proteção jurídi-ca. Se é esse o racional, qualquer que seja o sistema erigido, e a não ser que se limite o direito do arguido a escolher o seu advogado, padecerá sempre do mesmo problema. E se é de um problema de limitação da defesa dos arguidos que se trata então parece-me que o que devíamos fazer era qualificar tal sistema. Mas afinal quem é respon-sável pela existência de um sistema de proteção jurídica eficaz? Diria que tudo não passa, afinal, de um mero pretexto para acabar com garantias de defesa de ricos e pobres, de todos nós. Mais, diria que nem sequer tal observação empírica e simplista de dualidade de justiças corresponde à realidade. Os processos muitas vezes utilizados como exemplos são de ex-trema complexidade. Diz-se que não podemos ter um processo com um sem número de testemunhas. E se a acusação forem mil e quinhentas pá-

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O agregador da advocacia6 Fevereiro de 2012

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A litigância de má-fé ou abusiva deveria ser “seriamente sancionada”, afirma João Nuno Azevedo Neves, sócio fundador da ABBC & Associados, Sociedade de Advogados, que dá o benefício da dúvida à Ministra da Justiça e defende critérios muito mais rigorosos na ascensão dos juízes aos tribunais superiores

Penalizar litigância de má-fé

benefícios da arbitragem. Também julgo que a nova lei que regula esta atividade vai contribuir para o cres-cimento da arbitragem em Portugal.

Advocatus | Porquê?JNAN | Há que perceber que a arbitragem é uma jurisdição consensual e sigilosa, com grande agilidade e dinâmica. O caráter sigi- loso tem uma importância deci- siva até por não afetar a dinâmi-

das arbitragens, mas o custo-benefí-cio é compensado pelo facto de um litígio ser resolvido em seis meses ou num ano em vez de em 10 anos.

Advocatus | Ao nível da arbitragem Portugal pode ter uma posição re-levante na comunidade lusófona?JNAN | Pode por maior experiên-cia e por outro aspeto que tem sido manifesto: alavancar a hipótese de negócio. Ou seja, há países lusófo-

ca dos envolvidos. Em empre- sas cotadas, por exemplo, a solu- ção arbitral impede que seja do conhecimento público o conteúdo das discussões e permite uma de-cisão mais célere. O equilíbrio eco-nómico da empresa, a relação com os bancos e os fornecedores e com a própria estrutura da empresa é completamente diferente se ocorrer em sede arbitral ou num Tribunal co-mum. Fala-se muitas vezes no custo

Advocatus | A arbitragem é uma das suas áreas de atuação. Como avalia o sector em Portugal?João Nuno Azevedo Neves | Sensi-bilizou-me no último congresso que ocorreu em Coimbra e que estava ligado à arbitragem em Portugal, Espanha e Brasil a apetência dos jovens pelo tema. Esse interesse foi muito significativo e demons-tra que os advogados mais novos estão cada vez mais inseridos nos

Hermínio santosjornalista

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Ram

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e M

elo

Entrevista

João Nuno Azevedo Neves, sócio fundador da ABBC & Associados

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Fevereiro de 2012 7O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

nos onde, por razões de estrutura da própria dinâmica legislativa e da sua aplicação, a utilização da arbitragem é mais eficaz em duas vertentes: a escolha da lei aplicável e a autono-mia da vontade das partes, refletin-do-se quanto ao foro, ao direito e à língua a aplicar. Ter uma solução rá-pida através da arbitragem é, por ve-zes, um motor de implementação de alguns negócios que nunca seriam possíveis em países lusófonos com mais problemas na justiça comum.

Advocatus | o seu escritório já es-teve envolvido em alguns casos desse tipo?JNAN | Sim e com êxito. Há cerca de três ou quatro anos, houve uma conferência em Lisboa onde inter-vieram colegas nossos de Moçam-bique e Angola que manifestaram e demonstraram o interesse no de-senvolvimento da arbitragem nos seus países, o que é elucidativo das possibilidades da arbitragem nesses países.

Advocatus | o escritório já tem uma ligação a países lusófonos?JNAN | Os países lusófonos têm o maior interesse para nós. Por várias razões: a língua e a circunstância de a maioria da legislação ter como fonte a legislação portuguesa. Tam-bém temos que apostar nestes pa-íses por causa do apoio a dar aos nossos clientes que lá estão. Temos uma parceria em Angola e um par-ceiro em Cabo Verde, e estudaremos outros mercados à medida que for necessário, mas sempre de acordo com os interesses dos nossos clien-tes. Ou seja, a nossa prioridade é servir o cliente. A personalização é, para nós, fundamental. Todos os as-suntos são acompanhados por, pelo menos, um sócio.

Advocatus | tem 44 anos de advo-cacia. Como é que vê os proble-mas da Justiça em Portugal, mui-tas vezes diagnosticados mas que continuam com muitos vícios?JNAN | O problema da Justiça por-tuguesa é o da prolongada crise do País e que se tem refletido na inde-finição de tudo o que é estratégico. O que é que faria se eventualmente tivesse a possibilidade de dialogar

com alguém decisivo na área da Justiça? Primeiro: um levantamento por entidade completamente inde-pendente de todos os problemas da Justiça do ponto de vista da gestão, charneira de muitos dos problemas que sentimos; em segundo lugar: atacar a morosidade, nomeada-mente a necessidade imperiosa de os prazos serem cumpridos pelos juízes, afastar o excesso de forma-lismo e as possibilidades das usuais dilações. Admito que seja lento e di-fícil, mas tem de se demonstrar que há vontade de alterar o indispensá-vel; haver justificações e respeito pelos interlocutores envolvidos. Em terceiro lugar: sem prejuízo da inde-pendência dos juízes, temos de criar uma relação mais próxima entre ju-ízes e quem carece da Justiça – eu sinto que nas arbitragens as teste-munhas não têm “medo” de depor, ao contrário do que acontece nos julgamentos. Há outro aspeto que é importante e que tem a ver com o segredo de Justiça: a sua viola-ção leva à necessidade de os inter-venientes explicarem o conteúdo dessa violação, o que se traduz num círculo vicioso de resposta e contrar-resposta, violando-se o que foi sem-pre sagrado na nossa profissão: a intimidade dos assuntos pendentes. É essa intimidade que permite que não se seja julgado na praça públi-ca, quer do ponto de vista cível, quer penal. Outro problema grave: há que estudar, ponderar e suscitar a ques-tão do acesso dos juízes aos Tribu-nais Superiores. O critério terá de ser muito mais rigoroso.

Advocatus | e que critérios é que defende?JNAN | Conhecimentos jurídicos profundos, eficácia e qualidade. A qualidade implica não só a capaci-dade de julgar, de apreciar a prova, mas também a qualidade técnica. Os critérios de seleção mais rigo-rosos permitem potenciar decisões que, do ponto de vista técnico, te-nham qualidade. A sua falta afeta os bons juízes que estão na Relação e no Supremo, e que são muitos.

Advocatus | A atual ministra da Justiça está nesse caminho?JNAN | Tem as maiores qualidades

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Penalizar litigância de má-fé

“Há países lusófonos onde, por razões de estrutura da própria dinâmica legislativa

e da sua aplicação, a utilização da arbitragem é mais eficaz em duas vertentes: a escolha da lei aplicável e a

autonomia da vontade das partes, refletindo--se quanto ao foro, ao

direito e à língua a aplicar”

“Quantas vezes se litiga para se obter um acordo? Para

justificar honorários, para retardar? Quem

decide tem a perceção exata do abuso ou

não no recurso à via judicial, pelo que

terão que ser fixados meios de permitir

sanção rigorosíssima e dissuasora”

“O problema da Justiça portuguesa é o da prolongada crise do País e que se tem

refletido na indefinição de tudo o que é estratégico”

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e é corajosa. Temos que dar tempo ao tempo. Dou-lhe um exemplo: nas custas judiciais é irrelevante que au-mentem ou não; deve é sancionar--se seriamente a litigância de má-fé ou abusiva. Quantas vezes se litiga para se obter um acordo? Para jus-tificar honorários, para retardar? Quem decide tem a perceção exa-ta do abuso ou não no recurso à via judicial, pelo que terão que ser fixados meios de permitir sanção rigorosíssima e dissuasora.

Advocatus | Quais são as priori-dades da sociedade de advoga-dos ABBC?JNAN | O nosso compromis-so essencial é com os clientes e nessa perspetiva as prioridades são a inovação, a eficiência e o poder gerar valor para o cliente. Por outro lado, há a preocupação de um crescimento sustentado e, assente nele, a internacionali-zação. Nunca abandonaremos a personalização que nos distingue. Não abdicamos de ter um controlo sobre cada caso, nem de o sócio participar na estratégia de solução de cada assunto e no seu acom-panhamento e qualidade técnica.

Advocatus | A internacionaliza-ção está em curso?JNAN | Sim. Essa experiência de internacionalização tem sido ca-tivante. Neste momento somos a focus firm em Portugal da DLA Pi-per, a maior sociedade do mundo em número de advogados, o que permite que os nossos clientes tenham serviços de primeira qua-lidade em qualquer parte do mun-do, pois a cadeia da DLA Piper está interligada: trata-se de uma sociedade com 4600 advogados. Vivendo num mundo globalizado, não podemos afastar uma interna-cionalização sustentada.

Advocatus | Quais são os core business da sociedade?JNAN | Somos uma sociedade full service. Temos o societário, fu-sões e aquisições, laboral, aviação – onde somos líderes – imobiliário, financeiro, fiscal, arbitragem, con-tencioso e o direito penal com o Bastonário Rogério Alves.

“Há que estudar, ponderar e suscitar a questão do acesso dos juízes aos Tribunais Superiores. O critério terá de ser muito mais rigoroso”

Advocatus | Que opinião é que tem sobre a entrada de sociedades es-trangeiras nas sociedades de ad-vogados portuguesas?JNAN | Dentro do tal espírito da globalização acho que é um passo que não pode deixar de ser respei-tado. Há uma qualidade excecional de advogados e de sociedades em Portugal mas a internacionalização é fruto da globalização de que fa-lámos. Adiro a essa internacionali-zação e à entrada dessas socieda-des nas sociedades portuguesa. O nosso exemplo é flagrante: a DLA, estando associada connosco, não interfere no dia-a-dia, mas trocamos conhecimentos que são decisivos. É uma prestação de serviços globais que tem de ser acautelada por qual-quer escritório digno e de dimensão. Portanto, essa internacionalização e a entrada de estrangeiros nessas sociedades é louvável, só aprende-mos.

Advocatus | A evolução da ad-vocacia passará sempre pelas médias e grandes sociedades de advogados?JNAN | É muito difícil convencer um cliente, mesmo de média dimensão, que o escritório não tem capacidade de resposta para problemas de Direi-to administrativo, fiscal ou comercial ao mesmo tempo, e tal só é possível em médias ou grandes Sociedades de Advogados. É uma evidência e uma necessidade em todo o mundo, quer queiramos ou não reconhecê--lo. Mas é importante não confundir sociedades de advogados com ad-vogados que se juntam para pagar a renda e as secretárias. Estou a falar em sociedades estruturadas com organigramas internos e critérios de atuação definidos.

Advocatus | Que avaliação é que faz da atuação do atual bastonário da ordem dos Advogados?JNAN | Participei em sete eleições para a Ordem dos Advogados, fui eleito em cinco e percorri todos os órgãos da Ordem. Tenho por regra sagrada não pôr em causa a legitimi-dade do Bastonário. Entendo é que há uma manifesta crispação entre os atores da vida judiciária e essa cris-pação, do meu ponto de vista, tem

“o nosso compromisso essencial é com

os clientes e nessa perspetiva as

prioridades são a inovação, a eficiência

e o poder gerar valor para o cliente. Por outro lado, há a preocupação de um

crescimento sustentado e, assente nele, a

internacionalização. Nunca abandonaremos a personalização que

nos distingue”

“tenho por regra sagrada não pôr em

causa a legitimidade do Bastonário. entendo é que há uma manifesta

crispação entre os atores da vida judiciária

e essa crispação, do meu ponto de vista, tem

sido fomentada pelo senhor Bastonário”

Entrevista

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“os países lusófonos têm o maior interesse para nós. Por várias razões: a língua e a circunstância de a

maioria da legislação ter como fonte a

legislação portuguesa. também temos que

apostar nestes países por causa do apoio a

dar aos nossos clientes que lá estão”

sido fomentada pelo senhor Basto-nário. Um segundo ponto tem a ver com o facto de o senhor Bastonário se esquecer de duas coisas: que tem de conhecer profundamente as sociedades de advogados que o são realmente e o que elas represen-tam na formação e dignificação dos Advogados; tem que se lembrar que só cerca de 20 por cento dos advo-gados exercem a profissão a full-ti-me e que não pode falar só para os que pensa que o elegeram, mas sim para todos os advogados, principal-mente para aqueles que exercem a profissão em pleno. Se analisarmos o discurso do senhor Bastonário sentimos que é dirigido fundamen-talmente aos tais 20 por cento. Isso é gravíssimo.

Advocatus | Que conselhos daria a um jovem advogado em início de carreira?JNAN | Comecei a advogar em es-critório próprio ainda como candi-dato à advocacia, como se deno-

minava na altura. Saí da Unilever, em 1968, onde tinha sido trainee e me davam um ordenado fabuloso. Isto para dizer que primeiro há que querer ser advogado e saber sofrer pela profissão. É uma exigência to-tal e têm de entender esta profissão como uma espécie de sacerdócio no bom sentido. Conselhos a dar: o primeiro é que percebam bem se querem ser advogados, o segundo é formação, formação, formação e o terceiro é independência.

Advocatus | Como cidadão de um País em crise o que é que perspe-tiva para 2012? está otimista, pes-simista, realista?JNAN | Sendo realista, entendo que não se têm atacado nem resolvido os problemas do que é estratégi-co neste País. Legisla-se demais e criam-se formalismos escusados. O exemplo da nova lei do arrendamen-to é elucidativo: tanto se esperava, mas pouco ou nada soluciona do tão apregoado como essencial.

“Há que perceber que a arbitragem é uma jurisdição consensual e sigilosa, com

grande agilidade e dinâmica”

As mazelas ficaram para o resto da vida mas é com indisfarçável orgulho que o advogado João Nuno Azevedo Neves, de 70 anos, fala da sua paixão pelos toiros. Mostra fotos e recorda histórias e fa-çanhas da sua vida de forcado, na década de 60 e que durou enquanto a cortisona no joelho o permitiu. Essa vida não o afastou dos estudos, que cumpriu sempre com distinção, nem do objetivo de ter o seu próprio escritório de advogados. Foi em 1968 que decidiu “começar do zero” na advocacia, depois de dizer adeus a uma proposta de emprego com um “chorudo” ordenado na Unilever, onde estava como trainee. Recorda com apreço o seu patrono na advo-cacia, Dr. José Maria Galvão Teles, e a grande ajuda na sua formação do Dr. José Delgado Martins. Hoje, a sua vida é repartida por várias paixões: advoca-cia, viagens, música e solidariedade. É presidente da Associação de Solidariedade Social D. Pedro V, uma das instituições particulares de solidariedade social que, em Portugal, mais dinheiro dá para pro-

jetos com crianças, e vice-presidente dos Amigos do Hospital de Santa Maria. “A solidariedade é um ponto assente na minha vida e dela faz parte”, diz. Tem como leitura permanente o “Livro do Desassos-sego”, de Fernando Pessoa, que nasceu na casa onde a sua sociedade de advogados tem a sede – um edifício histórico da cidade de Lisboa, em frente ao teatro de São Carlos e onde, numa das salas do segundo andar, no dia 29 de Setembro de 1910, teve lugar uma reunião decisiva na preparação da revolu-ção de 5 de Outubro de 1910 que implantou a Re-pública em Portugal. Nas viagens escolhe destinos exóticos e que lhe transmitam referências diferentes daquelas que tem. Exemplos? Birmânia, Malásia, Índia, Cachemira, que teve de abandonar por causa de uma revolução, Ceilão e Indonésia. João Nuno Azevedo Neves é sócio fundador da ABBC & Asso-ciados, Sociedade de Advogados, que teve as suas origens em 1981. É licenciado em Direito pela Facul-dade de Direito da Universidade de Lisboa (1968).

Histórias e paixões de um forcado

PeRFiL

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O agregador da advocacia10 Fevereiro de 2012

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O papel político do TC

Estante

Responsabilidade Financeira e tribunal de Contas - Contributos para uma Reflexão NecessáriaAntónio Cluny201125€

os Direitos Humanos em ÁfricaCoordenação: José Melo Alexandrino201135 €

Responsabilidade tributária dos gestores e dos Técnicos Oficiais de ContasPaulo Marques201123,58 €

A Prova do Crime e o que se disse antes do JulgamentoPaulo Dá Mesquita201163 €

estudos em Memória do Prof. Doutor J. L. saldanha sanches – Coleção 5 volumesVolume I201160 €

A Prova em Direito CivilFernando Pereira Rodrigues201126 €

“O papel político do Tribunal Constitucional”, de Ana Catarina Santos, é um estudo com-pleto e aprofundado sobre o papel político do Tribunal Constitucional (TC), sua ativi-dade, composições, perfis dos juízes, pro-cesso de escolha dos membros, influência político-partidária, sentido de voto dos juí-zes, etc. desde a fundação do TC em 1983 até aos dias de hoje. No livro que agora se apresenta foram analisados todos os acórdãos do TC ao longo de 25 anos, exceto os casos de fis-calização concreta, através dos quais a autora analisou o comportamento judicial dos juízes e o consequente papel político do TC. A obra avalia nomeadamente em que medida há ligações entre o sentido de voto dos juízes e os partidos políticos que os designaram; de que modo o com-portamento de voto beneficia os principais partidos políticos. Numa época em que o Tribunal Consti- tucional volta a estar no centro das atenções como arma de arremesso político, a pro-

pósito das dúvidas de constitucionalidade levantadas acerca das medidas de austeri-dade impostas pela troika, até que ponto as constantes suspeitas de partidarização do TC podem ser confirmadas? Esse é um dos eixos fundamentais das reflexões da autora.A obra é prefaciada (e será apresentada) por António Araújo, atualmente a traba-lhar junto da Presidência da República, e reconhecidamente o maior especialista português em matérias relacionadas com o Tribunal Constitucional.

A ideia deste livro nasceu, primeiro, da neces-sidade de ir coligindo apontamentos sobre aspetos técnicos ligados ao desenvolvimento prático da efetivação de responsabilidades financeiras no Tribunal de Contas.Emergiu, depois, como um imperativo de cons-ciência e de cidadania face à atual “crise” económica, social e política.Inicialmente, o livro procura traduzir a evolução e a problemática do conceito de responsabi-lidade financeira em função da própria evo-lução dos modelos políticos, económicos e administrativos da nossa sociedade.De seguida, debruça-se sobre os conceitos mais concretos e os instrumentos jurídico processuais que permitem a efetivação da responsabilidade financeira, bem como sobre as muitas dificuldades, ambiguidades e insu-ficiências que eles ainda comportam.Por fim, procura, ainda, aventar caminhos possíveis para a resolução e ultrapassagem de alguns desses bloqueios.

os MAis CoNsuLtADos

os MAis VeNDiDos

Coimbra Editora JusJornal

Coimbra Editora JusNet

Coimbra Editora

A Estante é uma página de parceria entre a Advocatus e a Coimbra Editora, grupo Wolters Kluwer

Responsabilidade financeira

Por tudo isto, esta obra da autoria de António Cluny, pretende ser, antes de tudo, um mo-mento de reflexão e divulgação da realidade e das virtualidades da jurisdição do Tribunal de Contas, no contexto político e económico atual e no de um cada vez mais necessário apuramento e efetivação das responsabi-lidades financeiras dos que usam e gerem dinheiros públicos.

O mercado português de Operações Financeiras conta agora com a presença de uma das “majors” mundiais de Conselho em Comunicação e Public Relations. A Hill & Knowlton está presente em 44 países com uma oferta disponível em 80 escritórios e 50 associados.

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Page 11: advocatus 23

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Page 12: advocatus 23

O agregador da advocacia12 Fevereiro de 2012

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O risco da meia reforma

conseguirá, no entanto, responder aos problemas de sempre - o con-gelamento das rendas antigas é um deles, na ótica dos senhorios – ou será apenas a reforma possível? Quatro advogados especialistas em arrendamento dão a sua opinião: Maria José Santana, da SRS, José Pedro Martins, da José Maria Calheiros e Associados, Sofia Plácido de Abreu, da Pares Advogados, e Rui Pedro Martins, da BPO, têm um olhar crítico sobre a nova lei.

A troika impôs e o governo português aprovou uma nova lei do arrendamento. Liberaliza o mercado do arrendamento, agilizando procedimentos e encurtando prazos, mas será que responde, de facto, aos problemas do sector?

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O novo regime do arrendamento urbano, contido na proposta de lei n.º 38/XII que o governo apresentou ao parlamento, visa “a moderniza-ção do mercado de arrendamento, corrigindo as injustiças do passa-do, sem a criação de novas injustiças”. E, assim, altera profundamen-te as regras que regulam o mercado do arrendamento, encurtando prazos e liberalizando as condições dos novos contratos, agilizando o despejo e atualizando rendas. Corajosa nos princípios que enuncia,

Arrendamento

Page 13: advocatus 23

Fevereiro de 2012 13O agregador da advocacia

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Dependendo da regulamentação posterior, pode dizer-se que se projectou uma Reforma corajosa, que se tornará na Reforma possível consoante lograrem ser limadas as arestas da sua implementação para que a mesma possa eficazmente funcionar do ponto de vista prático

“saliente-se, como aspectos menos

positivos, a tramitação extrajudicial do

despejo através do Balcão Nacional do

Arrendamento (BNA), que não dispensa o

recurso aos tribunais sempre que o inquilino

se oponha”

“A negociação entre senhorio e inquilino,

para a actualização de rendas, tem contornos que não são facilmente

apreensíveis e, se correr bem, não deixa de ter uma moratória de cinco anos até o contrato poder ser

denunciado”

Maria José santana

Sócia da SRS Advogados, com responsabilidades nas áreas de

Imobiliário, Construção e Urbanismo; Contratação Pública; Direito Marítimo;

Contencioso e Arbitragem. De 1995 a 2003, foi advogada sénior e sócia

na Oliveira, Martins, Moura, Esteves & Associados – Sociedade de Advogados

A reforma possível?

É sempre com cautela que a Lei tra-ta temas da esfera privada e prin-cípios constitucionalmente garan- tidos, como o de que todos têm direito a habitação adequada em termos de dimensão, higiene e conforto.Esta proposta de Lei dá uma imagem corajosa no sentido de alteração profunda do Arrenda-mento; porém, não agrada nem a Senhorios, que se queixam de “subsidiar” há anos os Inquilinos e desempenhar o papel social do Estado, nem a Inquilinos, que “temem” a actualização das ren-das e o termo dos contratos vin-culísticos.Imposta no âmbito do Memorando de Entendimento tem o mérito de dotar o mercado do Arrendamen-to de um regime totalmente liberal (prazo e condições dos novos con-tratos), de agilizar o despejo (pra-zo médio de três meses), de impor uma moralização fiscal (recurso ao regime especial do despejo) e de determinar uma metodologia para a actualização das rendas antigas.O objectivo é repor a confiança na figura do Arrendamento, um desejável equilíbrio, nunca total-mente conseguido, nas relações Senhorio/Inquilino e travar o “en-dividamento” das famílias (cultu-ra enraizada de “proprietário” em completo desalinho com a gene-ralidade dos países europeus); por outro lado, sem novas regras que tornem o Arrendamento um negó-cio atraente, não há como captar recursos para a Reabilitação do património imobiliário, ambos fun-damentais à requalificação dos centros urbanos, à mobilidade so-cial e adaptabilidade das famílias em função das suas necessidades económicas e profissionais.Saliente-se, como aspectos me-

nos positivos, a tramitação ex-trajudicial do despejo através do Balcão Nacional do Arrendamento (BNA), que não dispensa o recurso aos Tribunais sempre que o Inqui-lino se oponha e, por outro lado, e nos arrendamentos habitacionais, a desocupação poder ser diferida, por razões sociais; e se o Inquili-no não entregar o locado, terá que ser requerida a autorização judicial para entrada imediata no domicí-lio, por Agente de Execução ou Notário, os quais podem pedir o auxílio das autoridades policiais: processualmente, assumir prazo até três meses, é, no mínimo, im-praticável.De assinalar, também, que a nego-ciação entre Senhorio e Inquilino, para a actualização de rendas, tem contornos que não são facilmente apreensíveis e, se correr bem, não deixa de ter uma moratória de cin-co anos até o contrato poder ser denunciado, além de que com-porta situações de excepção para Inquilinos com mais de 65 anos, com grau de invalidez superior a 60%, ou com carências económi-cas, o que numa perspectiva so-cial, volta a colocar o Senhorio no papel de suporte providencial da habitação, o que não é, nem pode ser, o fim desta Reforma.Por último, há que repensar um regime fiscal que penalize proprie-tários de imóveis devolutos, que venha a introduzir a tão desejada taxa liberatória nos rendimentos prediais, mas que também crie incentivos fiscais à reabilitação e propicie um acesso fácil a fundos e programas que possam financiar os custos da (re)construção, crian-do oportunidades para as empre-sas deste sector.Dependendo do grau de altera-ções que este projecto venha a

ter até à sua promulgação, o seu sucesso dependerá, em muito, da sua regulamentação posterior, pelo que se pode dizer que se pro-jectou uma Reforma corajosa, que se tornará na Reforma possível consoante lograrem ser limadas as arestas da sua implementação para que a mesma possa eficaz-mente funcionar do ponto de vista prático.

Este artigo foi escrito segundo as regras anteriores ao novo acordo ortográfico.

Page 14: advocatus 23

O agregador da advocacia14 Fevereiro de 2012

www.advocatus.pt

Uma reforma que não resolve em definitivo os problemas essenciais do sector há muito diagnosticados (o “congelamento” das rendas antigas e a inexistência de mecanismos que garantam aos senhorios formas eficazes e céleres para reagir a situações de incumprimento pelos arrendatários) não é uma verdadeira reforma

“Poucos senhorios se aventurarão a

implementar o novo sistema, pois, nos casos em que não cheguem a acordo

com os arrendatários quanto ao montante

da renda, poderão ter que lhes pagar uma

indemnização totalmente desproporcionada face aos valores de rendas que auferiram durante

décadas”

“tendo em conta que o arrendatário se pode opor a esta forma de

resolução extrajudicial e que, após a emissão de título de desocupação

do locado, o arrendatário pode recusar-se a

abandonar o imóvel, está bom de ver que a maior

parte das situações continuará a ser decidida

nos tribunais”

Reforma ou reformulação?

Ao longo dos meus quase 20 anos de advocacia tenho assistido a vá-rias alterações ao regime jurídico do arrendamento urbano. Quase todas apelidadas de “reformas”, o tempo tem-se encarregado de demonstrar que de reformas têm muito pouco.Apostado em dinamizar o merca-do do arrendamento, o Governo apresentou recentemente junto da Assembleia da República uma proposta de nova lei do arrenda-mento urbano (Proposta de Lei n.º 38/XII). Desconfio, no entanto, que estamos perante mais uma opor-tunidade adiada.Tal proposta encerra aspetos po-sitivos, como sejam o fim dos “arrendamentos vitalícios” (per-mitindo-se que os contratos de arrendamento de duração indeter-minada celebrados ao abrigo do RAU - Regime do Arrendamento Urbano, aprovado pelo Decreto--Lei n.º 321-B/90, de 15 de Ou-tubro - sejam livremente denun-ciados pelo senhorio nos termos aplicáveis aos novos contratos), a maior liberdade na estipulação do prazo de vigência dos contratos (eliminando-se a exigência da du-ração mínima dos cinco anos nos arrendamentos de duração limita-da), a maior facilidade de cessa-ção do contrato de arrendamento em caso de mora no pagamento da renda pelo arrendatário (o se-nhorio poderá resolver o contrato no caso de mora igual ou superior a dois meses ou no caso de, num período de referência de 12 me-ses, o arrendatário, por mais de quatro vezes, seguidas ou interpo-ladas, se atrasar mais de oito dias no pagamento da renda).A simplificação das regras de atu-alização das denominadas rendas

José Pedro Martins

Sócio fundador da José Maria Calheiros e Associados, é licenciado em Direito

pela Universidade Católica Portuguesa e possui uma pós-graduação em

Arrendamento Urbano pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

antigas e a criação do mecanismo especial de despejo têm também sido apontadas como exemplos de virtudes da nova lei do arren-damento. Diria antes que estamos perante alterações virtuais...Em primeiro lugar, embora se reconheça que o sistema atual-mente vigente de atualização das rendas é de enorme complexi-dade e revela alguma ineficácia (quantos senhorios, certamente a larga maioria daqueles que a isso se propuseram, não terão desisti-do de atualizar as rendas antigas quando confrontados com a teia de exigências legais…), a minha previsão é que poucos senhorios se aventurarão a implementar o novo sistema, pois, nos casos em que não cheguem a acordo com os arrendatários quanto ao mon-tante da renda, poderão ter que lhes pagar uma indemnização to-talmente desproporcionada face aos valores de rendas que auferi-ram durante décadas. Na verdade, está previsto na nova lei do arren-damento que, caso as partes não cheguem a um consenso quanto ao valor da renda, o senhorio po-derá denunciar o contrato pagan-do ao arrendatário uma indem-nização correspondente a cinco anos do valor médio das rendas propostas por cada uma das par-tes.Em segundo lugar, a criação do denominado Balcão Nacional de Arrendamento, que assegurará a tramitação extrajudicial do proce-dimento especial de despejo, po-derá vir a revelar-se de reduzida utilidade. Tendo em conta que o arrendatário se pode opor a esta forma de resolução extrajudicial e que, após a emissão de título de desocupação do locado, o arren-

datário pode recusar-se a abando-nar o imóvel, está bom de ver que a maior parte das situações conti-nuará a ser decidida nos tribunais.Ora, uma reforma que não resolve em definitivo os problemas essen-ciais do setor há muito diagnosti-cados (o “congelamento” das ren- das antigas e a inexistência de mecanismos que garantam aos senhorios formas eficazes e céle-res para reagir a situações de in-cumprimento pelos arrendatários) não é uma verdadeira reforma.

Arrendamento

Page 15: advocatus 23

Fevereiro de 2012 15O agregador da advocacia

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A utilização da comunicação enquadra-se nos objectivos de celeridade processual que a reforma pretende alcançar e não merece comentário. Os restantes requisitos exigíveis para que o senhorio proceda à denúncia e desocupação do locado colocam sérias dúvidas

“sendo o contrato omisso relativamente ao prazo, considera--se celebrado pelo prazo certo de dois anos. o que deverá,

então, entender-se por ‘contrato de duração

indeterminada’? o contrato pelo prazo

certo de 30 anos? seria útil esclarecer

esta matéria”

“os senhorios poderão despejar os arrendatários

com fundamento na realização de obras de demolição, de restauro

ou de remodelação profundas no locado,

as quais nunca se virão a efectivar. A ‘sanção’ consiste

no agravamento da indemnização a pagar

ao arrendatário”

Sofia Plácido de Abreu

Sócia da Pares Advogados responsável pela área de Ordenamento do Território,

Urbanismo e Imobiliário, possui vasta experiência na elaboração e concertação de planos municipais de ordenamento do

território e na preparação e negociação de contratos urbanísticos com entidades

administrativas

Sérias dúvidas

A Proposta de Lei n.º 38/XII tem como objectivo reformar o regi-me do arrendamento urbano, em execução da medida estabelecida no Memorando de Entendimen-to celebrado entre Portugal e a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário In-ternacional. Para tanto introduz alterações de cariz substantivo ao Código Civil, revê o sistema de ac-tualização das rendas dos contra-tos habitacionais anteriores a 1990 e dos não habitacionais anteriores a 1995, assim como cria um meio expedito de desocupação do lo-cado, designado por “procedi-mento especial de despejo”.Destacamos o regime de denún-cia pelo senhorio do contrato de arrendamento de duração indeter-minada com fundamento na de-molição ou na realização de obra de remodelação ou de restauro profundos que obriguem à deso-cupação do locado (Proposta de alteração aos artigos 1101º, alínea b), 1103.º e 1095.º do Código Ci-vil).1. Este regime apenas é aplicável aos contratos de arrendamento de duração indeterminada. Temos di-ficuldade em integrar o conceito. Senão vejamos: a alteração pro-posta ao artigo 1095.º do CC im-põe um prazo máximo de 30 anos a estabelecer no contrato que, se for ultrapassado, se considera reduzido àquele limite; por outro lado, sendo o contrato omisso re-lativamente ao prazo, considera--se celebrado pelo prazo certo de dois anos. O que deverá, então, entender-se por “contrato de du-ração indeterminada”? O contrato pelo prazo certo de 30 anos? Seria útil esclarecer esta matéria.2. A denúncia para os fins enun-ciados, que hoje segue os termos da lei de processo, passará a ser

objecto de mera comunicação es-crita pelo senhorio ao arrendatário a enviar com a antecedência mí-nima de seis meses relativamente à data da desocupação, da qual conste o tipo de obra a realizar no prédio arrendado. A comunicação será acompanhada de declaração do município atestando que foi iniciado procedimento de contro-lo prévio da operação urbanística a realizar e que a mesma obriga à desocupação do locado. A utilização da comunicação en-quadra-se nos objectivos de ce-leridade processual que a reforma pretende alcançar e não merece comentário. Os restantes requisitos exigíveis para que o senhorio proceda à de-núncia e desocupação do locado colocam sérias dúvidas: i) Como é por demais sabido, a apresen-tação de um requerimento de li-cenciamento ou de comunicação prévia de uma obra não garante a aprovação dos projectos e a sub-sequente obtenção das corres-pondentes licença ou admissão. ii) Mas mesmo que tal suceda, as obras podem nunca vir a ser realizadas ou sequer iniciadas. iii) Fazer impender sobre as câmaras municipais o dever de atestar que as obras de remodelação ou de restauro profundos obrigam à de-socupação do locado vai implicar maior morosidade na apreciação dos projectos, os quais nem se-rão, muitas das vezes, suficientes para dar uma resposta habilitada. O ónus da responsabilidade sobre os técnicos autores dos projectos, que se tem vindo a sedimentar na legislação urbanística portugue-sa, aparece aqui devolvido aos municípios sem que se divise o motivo. Em suma, os senhorios poderão despejar os arrendatários com fundamento na realização de

obras de demolição, de restauro ou de remodelação profundas no locado, as quais nunca se virão a efectivar. A “sanção” consiste no agravamento da indemnização a pagar ao arrendatário que, de seis meses, passará a corresponder a 10 anos de renda. Mesmo assim, vale a pena.

Este artigo foi escrito segundo as regras anteriores ao novo acordo ortográfico.

Page 16: advocatus 23

O agregador da advocacia16 Fevereiro de 2012

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Em relação ao Balcão Nacional do Arrendamento, merece crítica apenas a anunciada urgência do processo, sendo certo que a recente tendência governativa de atribuir carácter de urgência em todas as reformas a breve trecho esvaziará a sua aplicação processual

“Aplaudimos a total liberdade das partes

na estipulação do prazo de duração dos contratos, bem como, a redução dos prazos supletivos para dois e

cinco anos, tratando-se de situação habitacional

ou não habitacional, respetivamente”

“A reflexão governativa, tão frequentemente

associada a “obstáculo reformista”, terá ido

desta vez longe de mais ao reduzir os prazos

de livre denúncia pelo senhorio nos contratos de arrendamento não

habitacional”

Os prazos da lei

No domínio da reforma no merca-do de habitação a que o Governo Português se comprometeu no me- morando de entendimento, avizi-nhava-se a tomada de medidas para (i) melhorar o acesso das fa-mílias à habitação, (ii) promover a mobilidade laboral, (iii) melhorar a qualidade das habitações e apro-veitar melhor as casas de habita-ção já existentes e ainda (iv) redu-zir os incentivos ao endividamento das famílias.Os objetivos estavam definidos e as medidas para esta intervenção legislativa também não poderiam ficar aquém daquelas que o me-morando de entendimento especi-ficou para a reforma do arrenda-mento.A recente proposta de Lei do Go-verno avança com especial enfo-que na redução do carácter vin-culista a que os senhorios estão sujeitos, possibilitando-se agora que estes possam denunciar li-vremente os contratos de arren-damento de tempo indeterminado com um pré-aviso de dois anos, quando no passado se previa para a mesma faculdade o prazo de cinco anos.Em torno da redução desse ca-rácter vinculista, a proposta repo-siciona os contratos habitacionais e não habitacionais anteriores ao RAU e ao Decreto-Lei n.º 257/95 de 30/Set, bem como os poste-riores a esses regimes (mas an-teriores ao NRAU), mantendo as exceções em função da idade dos inquilinos ou situação de deficiência.Para o futuro aplaudimos a total liberdade das partes na estipula-ção do prazo de duração dos con-tratos, bem como, a redução dos prazos supletivos para dois e cin-co anos, tratando-se de situação habitacional ou não habitacional,

Rui Pedro Martins

Advogado da BPO Advogados. Licenciado pela Faculdade de Direito

da Universidade de Lisboa, possui uma pós-graduação em Direito Penal

Económico e Europeu, no Instituto Penal Económico e Europeu da Universidade

de Coimbra

respetivamente.A reflexão governativa, tão fre-quentemente associada a “obstá-culo reformista”, terá ido desta vez longe de mais ao reduzir os prazos de livre denúncia pelo senhorio nos contratos de arrendamento não habitacional. A partir de agora o senhorio denunciará o contrato com um pré-aviso de dois anos, o que se advinha penoso para a generalidade dos comerciantes e irrefletido na medida em que fun-cionará como um desincentivo ao arrendamento comercial.Tem-se destacado o mecanismo de renegociação de rendas nos contratos antigos, o qual assenta num processo negocial sem pre-cedentes na legislação do sector. A negociação prevista será dire-ta entre as partes e por iniciativa do senhorio à qual o arrendatário pode apresentar uma contrapro-posta. Não alcançando acordo o senhorio pode reaver o locado promovendo o pagamento de uma indemnização equivalente a cinco anos do valor médio de proposta e contraproposta. O cálculo in-demnizatório tem sido apelidado de excessivo, com razão cremos. Vejamos que, numa renda mensal de € 50,00, perante uma iniciati-va de atualização da renda para € 500,00 e uma contraproposta de €100,00, o senhorio pode-rá recuperar o locado pagando € 18.000,00, ou seja, 30 anos da renda que vigorava.Regime excecional é previsto para os agregados com RABC inferior a 5 RMNA ou com idade superior a 65 anos ou ainda grau de inca-pacidade superior a 60 por cento.Por último, uma breve referên-cia à instalação do procedimento simplificado para despejo, sob a figura de um Balcão Nacional de

Arrendamento, à imagem do BNI, que pretende agilizar e recolocar no mercado de forma célere os locados em situação de despejo.Merece aqui crítica apenas a anunciada urgência do processo, sendo certo que a recente tendên-cia governativa de atribuir carácter de urgência em todas as reformas a breve trecho esvaziará a sua aplicação processual.

Arrendamento

Page 17: advocatus 23

Fevereiro de 2012 17O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Justiça constitucional

A avaliar pelas conclusões agora publicadas, o pecado continua hoje presente na justiça constitucional portuguesa

“Na revisão de 1997 deram-se

passos positivos, designadamente ao ser alargado o período de mandato dos juízes de seis para nove anos,

pretendendo dar-se-lhes maior independência”

“o estigma de órgão politizado do tC é, por

outro lado, associado ao comportamento judicial

dos juízes (judicial behavior). o melindroso binómio constituído por

ideologia política dos juízes e comportamento

judicial tem sido amplamente estudado”

Pecados de um tribunal

Trinta anos depois da Revisão Cons-titucional que em 1982 deu origem ao nascimento do Tribunal Constitu-cional (TC), vale a pena recordarmos a sua origem para melhor compre-endermos a sua situação actual e reflectirmos sobre o seu futuro.O modo de designação dos juízes foi um dos temas mais polémicos daquela época e gerou profundas divisões não só na classe política mas também na opinião pública. Em discussão estava a hipótese de o Presidente da República (PR) poder também vir a participar no processo de nomeação dos juízes do TC, tal como acontece em alguns outros modelos constitucionais europeus.O facto de a maior parte dos juízes serem escolhidos na Assembleia da República (AR) é identificado como um enorme ponto fraco. Como a votação impunha uma maioria de votos superior a dois terços na AR, obrigando a um entendimento pré-vio entre os maiores partidos polí-ticos, as negociações arrastaram--se por vários meses. E foi numa reunião tripartida entre PS, PSD e CDS que se excluiu a hipótese de o PR participar no processo de esco-lha dos juízes. Não por argumentos jurídicos ou políticos sólidos mas por razões meramente pessoais: a desconfiança em relação aos nomes que seriam indicados por Ramalho Eanes, em funções à data.O antigo Presidente do TC Luís Nu-nes de Almeida recorda que che-garam a fazer-se simulações sobre os nomes que Eanes poderia vir a nomear para o TC e em virtude da “nebulosa ideológica existente em torno do PR” e das desconfianças recíprocas entre o PS e a AD, essa hipótese não se concretizou.Este foi “o pecado original do TC”, usando a expressão de Marcelo Rebelo de Sousa. Também Antó-nio Araújo refere que “a questão da composição do TC foi extremamen-te politizada desde o início já que os

Ana Catarina santos

Doutoranda em Ciência Política na Universidade Nova de Lisboa, mestre em

Ciência Política pela Universidade Nova de Lisboa e pós-graduada três vezes na área do Direito, é professora e jornalista. É autora de “O Papel Político do Tribunal

Constitucional”, editado pela Coimbra Editora, grupo Wolters Kluwer

próprios negociadores dos partidos, antes de assentarem uma solução para o modo de designação dos juízes, fizeram simulações sobre as personalidades de esquerda ou de direita que viriam a ser nomeadas para o TC”.Assim, quase casuisticamente, ficou definido que o processo de escolha dos juízes seria por designação e subsequente votação parlamentar de dez juízes, e estes cooptariam mais três. O modo de designação foi aprovado na AR com a necessária maioria de dois terços mas muitos deputados votaram contrariados ao abrigo da disciplina de voto, e cerca quarenta apresentaram de-clarações de voto discordando da solução adoptada. Jorge Miranda classificava-o como uma “bomba relógio” para o Estado de Direito e para Marcelo Rebelo de Sousa o TC era uma “instituição partidocrática”.Ao longo de três décadas, em vários processos de revisão constitucio-nal, o tema tem sido abordado. Na revisão de 1997 deram-se passos positivos, designadamente ao ser alargado o período de mandato dos juízes de seis para nove anos, pretendendo dar-se-lhes maior in-dependência (para os mandatos não coincidirem com mandatos de órgãos políticos), e também ao ser proibida a reeleição, o que faz com que os juízes possam exercer fun-ções sem estarem condicionados com a expectativa de serem recon-duzidos pelo poder político que os designou inicialmente. O estigma de órgão politizado do TC é, por outro lado, associado ao comportamento judicial dos juízes (judicial behavior). O melindroso binómio constituído por ideologia política dos juízes e comportamento judicial tem sido amplamente es-tudado e debatido na academia, sobretudo nos Estados Unidos a propósito do Supreme Court.Em Portugal, os contributos mais

férteis têm surgido pelas investi-gações de António Araújo, Pedro Magalhães e Nuno Garoupa. O livro “Papel Político do Tribunal Consti-tucional”, que agora publicamos, procura ser mais um humilde con-tributo nessa reflexão.A análise é complexa e baseia-se principalmente em dados estatís-ticos e quantitativos para explicar as diversas dimensões do com-portamento judicial. E cruza diver-sas dimensões, sendo certo que a “classificação dos juízes” e a busca de “conexões políticas” é sempre problemática e polémica. Mas, a avaliar pelas conclusões agora pu-blicadas, o pecado continua hoje presente na justiça constitucional portuguesa.

Este artigo foi escrito segundo as regras anteriores ao novo acordo ortográfico.

Page 18: advocatus 23

O agregador da advocacia18 Fevereiro de 2012

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Exercer a advocacia e a docência é uma prática comum. Mas que mais-valias traz para o ensino o facto de haver professores que também são advogados? E que benefícios colhe a advocacia dos seus profissionais que também são docentes? Quatro advogados respondem e falam de uma complementaridade enriquecedora

Entre a academia e a advocacia

O que têm em comum Luís Miguel Monteiro, Rui Medeiros, Soares Ma-chado e Paula Ponces Camanho? São os quatro advogados e, simul-taneamente, docentes universitários. Em comum têm, ainda, o facto de acreditarem nas virtudes deste acu-mular de práticas profissionais, con-victos de que quer o ensino quer a advocacia saem a ganhar.Luís Miguel Monteiro divide a sua vida profissional entre o escritório da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), de que é sócio, e as universidades de Lisboa, Nova e Católica e ainda o ISLA – instituições onde é docente de pós-graduações. O que explica a opinião de que a docência “comple-ta na perfeição” a profissão jurídica. São duas profissões complementa-

Ana Duarte

“A prática da advocacia possibilita que o docente

“se aperceba dos problemas jurídicos com efetiva

relevância prática”

Paula Ponces CamanhoSócia da MLGTS

“Ensinar Direito aos alunos, depois de o ter visto ser

aplicado na prática, (…) e de o aplicar e interpretar

quotidianamente em casos concretos, dá-nos uma

visão mais completa e talvez mais perfeita das previsões

normativas”

soares MachadoSócio da SRS

res, pois a docência “obriga a apro-fundar o conhecimento de matérias, estabiliza e consolida conceitos, faz sobressair o Direito como um todo, através do estudo dos seus princípios e métodos de resolução dos problemas e, com isso, forne-ce instrumentos para resolver novas questões e enfrentar situações dife-rentes”. Encara, pois, a docência como uma mais-valia para o advogado, dado que “o trabalho e investigação que constituem pressuposto da ativida-de do docente dão profundidade à análise dos problemas jurídicos, característica que se conserva em qualquer profissão jurídica que se exerça”. Além disso, a docência es-timula a análise de questões de di-ferentes perspetivas, o que permite

“antecipar objeções e problemas que deverá enfrentar qualquer es-tratégia de defesa do interesse do cliente”. Também Rui Medeiros, sócio da Sérvulo & Associados e docente da Universidade Católica, acredita que o desempenho em simultâneo das duas funções faz todo o sentido. E discorda da ideia pré-concebida de que o Direito está pensado para a capacidade de memorizar, des-tacando-lhe antes uma vocação essencialmente prática tendo por objetivo “resolver problemas reais”. “A capacidade de resolução das questões jurídicas complexas é um desafio apaixonante e o facto de o advogado continuar a estudar pode ser uma mais-valia nessa tarefa”, sustenta.

Da mesma opinião partilha a ad-vogada da MLGTS e assistente da Faculdade de Direito da Universida-de Católica – Escola do Porto Paula Ponces Camanho. Acrescenta, aliás, que a prática da advocacia possibi-lita que o docente “se aperceba dos problemas jurídicos com efetiva rele-vância prática”. O sócio da SRS Advogados e pro-fessor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa José Carlos Soares Macha-do defende mesmo que as duas profissões são “complementares”. Entende, assim, que é sempre bené-fico o “cruzamento das duas verten-tes”, quer para quem estuda, quer para quem ensina. “Ensinar Direito aos alunos, depois de o ter visto ser aplicado na prática, (…) e de o apli-car e interpretar quotidianamente em casos concretos, dá-nos uma visão mais completa e talvez mais perfei-ta das previsões normativas”, argu-menta.É a partir da sua experiência que Rui Medeiros advoga que o ensino do Direito em Portugal não cabe só aos docentes, individualmente, antes é tarefa de toda a estrutura universitá-ria. No entanto, a realidade do país não é homogénea a este nível, so-bretudo desde a declaração de Bo-lonha, que conduziu à diferenciação das faculdades. Algumas – no enten-der do sócio da Sérvulo – “souberam abrir-se aos sinais dos tempos e ofe-recem uma formação adequada às grandes exigências que os juristas que iniciam hoje a sua atividade pro-fissional enfrentam”. Luís Miguel Monteiro traça uma perspetiva mais abrangente do que deve ser o ensino do Direito, de-

Carreiras

Page 19: advocatus 23

Fevereiro de 2012 19O agregador da advocacia

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Entre a academia e a advocacia

fendendo que os alunos devem ser formados no “raciocínio jurídico e nos métodos específicos de resolu-ção de problemas”, nomeadamente em cursos que coloquem o “acento tónico na aprendizagem aplicada aos conceitos jurídicos, através do trabalho sobre casos práticos, em investimento metodológico”. O que se traduz numa “vantagem decisiva para o exercício profissional”. Acre-dita, porém, que deveria haver uma maior aposta no conhecimento inter-disciplinar, principalmente em áreas próximas do Direito como a Econo-mia, a Psicologia ou a Sociologia. Já Soares Machado admite que existem “naturais diferenças de qua-lidade de escola para escola”, mas, ainda assim, acredita que as univer-sidades “cumprem bem” o papel de dar aos alunos as bases teóri-cas necessárias ao bom domínio e compreensão dos princípios gerais do Direito, algo imprescindível para o exercício da profissão. Não deixa, contudo, de alertar que a universi-dade não se deve cingir à vertente teórica, apelando a uma evolução para um ensino mais moderno e que funcione como uma “ponte” para a vida profissional.Nesse sentido, os profissionais da advocacia poderão ter um papel a desempenhar no ensino do Direi-to. Os advogados “aportam muito ao ensino do Direito”, defende Luís Miguel Monteiro. Também Rui Me-deiros considera que os advogados desempenham um papel funda-mental no “bom ensino do Direito”. Contudo, crê que as faculdades “não devem, nem podem estar fe-chadas sobre si próprias”, sendo essencial a abertura ao mercado da advocacia para perceber e dar resposta aos grandes temas que se colocam como centrais no exercício da profissão. Além disso, a aposta num elevado nível de empregabi-lidade não pode ser dissociada do grau de confiança na qualidade e na adequação de um ensino que é, afinal, ministrado por futuros em-pregadores.Tanto Paula Ponces Camanho como Soares Machado concordam que a principal missão do professor--advogado é dar aos alunos uma perspetiva mais prática do Direito,

aliando o conhecimento académico ao conhecimento da prática diária e alertando-os para os diversos pro-blemas práticos que surgem na interpretação da lei e sua posterior aplicação nos tribunais.Mas, para Luís Miguel Monteiro, o mais gratificante da atividade como docente é o prazer do “es-tudo puro”, sem constrangimen-tos, nem preocupações pela apli-cabilidade prática das soluções,

“A capacidade de resolução das questões jurídicas

complexas é um desafio apaixonante e o facto de o

advogado continuar a estudar pode ser uma mais-valia

nessa tarefa”

Rui MedeirosSócio da Sérvulo & Associados

A docência “obriga a aprofundar o conhecimento

de matérias, estabiliza e consolida conceitos, faz

sobressair o Direito como um todo (…) e, com isso, fornece

instrumentos para resolver novas questões e enfrentar

situações diferentes”

Luís Miguel MonteiroSócio da MLGTS

Em Novembro passado, foi apresentada no VII Congresso dos Advogados Portugueses a pro-posta de criação de um regime de incompati-bilidades entre o exercício da advocacia e o de profissões como professor ou jornalista. Uma proposta que está longe de consensual.O sócio da MLGTS Luís Miguel Monteiro não co-nhece em profundidade a proposta, no entanto, sendo a advocacia uma profissão liberal, consi-dera que só deve ser considerada incompatível

com atividades suscetíveis de gerarem conflitos de interesses. Não crítica a proibição de acumu-lação de funções, nomeadamente no caso dos deputados-advogados, mas reconhece que isso pode diminuir a qualidade dos representantes. Já o sócio da SRS Soares Machado considera que não existem “razões suficientemente fortes” que possam justificar exceções a essa proibi-ção, nomeadamente no que diz respeito aos de-putados.

Sem consenso PRoPostA

e o “diálogo desafiante com os alunos” detentores de uma “ines-gotável capacidade criadora e in-terrogativa”. Da profissão de professor Rui Me-deiros destaca a “relação que se estabelece entre um docente e um aluno”, uma relação que, diz Paula Ponces Camanho, contribui para a formação enquanto advogada, colocando-lhe questões sobre as quais nunca de debruçara.

Soares Machado, por sua vez, destaca a oportunidade de poder partilhar o saber que tem adquiri-do: a docência transporta-o para uma “vertente diferente e comple-mentar” da habitual atividade pro-fissional.No que toca ao exercício da advo-cacia, as opiniões são unânimes: o que mais motiva os quatro advo-gados é o contributo que dão para a resolução de problemas reais.

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O agregador da advocacia20 Fevereiro de 2012

www.advocatus.pt Testemunho

Queria ser juiz mas quando chegou à Faculdade depressa percebeu que a sua vocação era a advocacia. Começou por estar quatro anos num escritório de advogados e, em 2006, aceitou o convite para integrar o grupo Espírito Santo Saúde, onde é diretor jurídico. João Rebelo, 31 anos, é hoje um advogado in-house satisfeito com os resultados e a sua equipa num trabalho onde tem de “agradar a gregos e troianos”

Foi o último hospital a abrir em Lisboa e está equipado com 424 camas de internamento, oito blo-cos operatórios, 44 gabinetes de consulta externa e 64 postos de hospital de dia. Reúne um vasto conjunto de serviços hospitalares e serve uma população de 272 mil pessoas. Quando estiver em velocidade de cruzeiro, o novo Hospital de Loures, a primeira

Especialista da saúde

uma equipa de quatro pessoas, explica: “Tivemos uma interven-ção em quase todas as áreas e desde o início de todo o processo. Começou com o contrato com o Estado, prosseguiu na contrata-ção dos recursos para a abertura do hospital e continuou na partici-pação no processo de aquisição de equipamentos, prestação de serviços clínicos, tratamento de

parceria público-privada gerida pelo grupo Espírito Santo Saúde (ESS), funcionará com 1200 traba-lhadores, dos quais 290 médicos e 370 enfermeiros. Para que todos estes números e factos fossem uma realidade existiu uma estrutura incontor-nável: a direção jurídica do grupo Espírito Santo Saúde. João Rebe-lo, diretor do serviço e que dirige

A espírito santo saúde não era uma desconhecida para

João Rebelo

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Fevereiro de 2012 21O agregador da advocacia

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é o pioneirismo do grupo espírito santo

saúde que mais satisfaz o diretor

jurídico. “estamos a percorrer caminhos que ainda não foram

feitos pois é uma área relativamente nova em

Portugal”, afirmaEspecialista da saúde

dados pessoais, formação”.É o pioneirismo do grupo Espírito Santo Saúde que mais satisfaz o diretor jurídico. “Estamos a percorrer caminhos que ainda não foram feitos pois é uma área relativamente nova em Portugal”, afirma. Trata-se de aplicar as regras do Direito a uma área com realidades e problemas específicos. Na equipa de João Rebelo todos sabem um pouco de tudo, mas existe uma divisão de tarefas tendo em conta as “disciplinas” do Direito que mais se aplicam no grupo ESS: parte societária e contratos, licenciamento e regulatório, contencioso e pré-contencioso, recursos humanos e tratamento de dados pessoais.Para algumas questões espe-cíficas é necessário recorrer a escritórios de advogados. Como é que define essa contratação? João Rebelo afirma que ela “deve assentar em dois aspetos dife-rentes: ou porque há um projeto específico que, pela sua dimen-são, exige uma ajuda ou as maté-rias em causa revestem especial complexidade”. Essas matérias podem ser, por exemplo, o Direito Fiscal, ou processos de aquisição de empresas de maior dimensão.Um dos principais desafios do seu dia-a-dia é procurar “pôr ordem na casa satisfazendo gregos e troianos”. É que os colegas de João Rebelo – administradores e diretores hospitalares, por exemplo – são também os seus “clientes”. Gerir esse equilíbrio é um “desafio e exige uma for-ma própria de saber colocar as questões e gerir expetativas”, diz. João Rebelo foi um dos primeiros advogados a licenciar-se na Fa-culdade de Direito da Universida-de Nova de Lisboa. Em 2003, no 4.º ano do curso, foi contactado pela sociedade Linklaters para fazer um estágio de verão no es-critório. Desse contacto resultou a realização do seu estágio pro-fissional na sociedade, aí tendo permanecido quatro anos, até in-gressar no grupo ESS. Considera que uma sociedade de advogados é um desafio muito interessante e

uma grande escola, mas o traba-lho in-house nas empresas “tam-bém pode ser muito estimulante, principalmente se for um projeto novo e estivermos na empresa desde o seu início”. Foi precisa-mente o seu caso.A Espírito Santo Saúde não era uma desconhecida para João Rebelo. Quando foi advogado da Linklaters chegou a trabalhar com o grupo e houve logo uma “boa relação e empatia” que ain-da hoje existe e é fundamental para o advogado se sentir bem na empresa. É talvez por isso que não faz projetos para o futuro. “Estou bastante realizado e julgo que ainda tenho muito para dar à empresa e a empresa também tem muito para me dar”, afirma. O Direito sempre esteve nos seus horizontes. No secundário, na altura de definir a orientação profissional, pensou em ser juiz, uma ideia que abandonou assim que começou a frequentar a uni-versidade. Percebeu que a sua vocação era ser um advogado “muito ligado à área de gestão de equipas”. Da sua experiência na Linklaters, uma sociedade de base inglesa e que lhe possibili-tou contactos com o estrangeiro, conclui que há bons profissionais em Portugal, um País onde se faz “boa advocacia”.

João Rebelo foi um dos primeiros advogados a licenciar-se na Faculdade

de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Em 2003, no 4.º ano do

curso, foi contactado pela sociedade Linklaters para fazer um estágio de

verão no escritório. Desse contacto resultou a realização do seu estágio profissional na sociedade, aí tendo

permanecido quatro anos, até ingressar no grupo ESS

João Ferreira Rebelo, mestre em Direito pela Universidade Nova de Lisboa, ocupa atual-mente o cargo de diretor de serviços jurídicos do grupo Espírito Santo Saúde. Entre outras áreas de prática, desenvolve a sua ativida-de no âmbito do direito comercial, direito da saúde e respetivo regulatório. É membro de várias Comissões de Ética para a Saúde, entre as quais a do Hospital da Luz, em Lisboa,

e do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures. Tem participado em diversas conferências e sessões de formação sobre temas transversais de âmbito jurídico-clínico, com especial enfoque em dilemas éticos, direitos e deveres dos doentes. Publicou recentemente, na Direito das Sociedades em Revista, um texto sobre ações preferenciais sem voto no ordenamento jurídico português.

Mestre em DireitoPeRFiL

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O agregador da advocacia24 Fevereiro de 2012

www.advocatus.ptSociedades

Prudência, confiança, otimismo, investimento, internacionalização – é assim que as dez sociedades de advogados inquiridas pelo Advocatus sobre as perspetivas para 2012 encaram um ano que se anuncia como sendo de continuação, se não mesmo de agravamento, da crise

O ano de todos os ajustesEm 2012, tudo indica que as ten-dências já registadas em 2011 se manterão e até acentuarão: a contração na economia e a regressão no consumo e a con-tenção do investimento deixam antever um ano de contornos difíceis para o tecido empresa-rial e para a sociedade portu-guesa. Neste contexto, qual a estratégia das sociedades de advogados? Como encaram a crise? Retraem as expetativas ou fazem jus à velha máxima de transformar desafios em opor-tunidades? Das opiniões reco-lhidas emerge uma conclusão: este vai ser um ano de ajustes, em que, mais do que nunca, as sociedades vão fazer valer os seus fatores distintivos. Refor-çar competências, diversificar, internacionalizar, apostar na ex-celência do serviço ao cliente – eis alguns dos denominadores comuns às diversas sociedades que acederam a expor as suas perspetivas para o ano em cur-so. Perpassa, de entre os vários testemunhos, uma mensagem positiva, em que a prudência e o otimismo se conciliam na con-vicção de que 2012 será um ano de oportunidades.

As nossas perspectivas para 2012 são naturalmente de consolidar as Opções Estra-tégicas, atentas as circunstâncias que afectam o mercado europeu em geral e o por-tuguês em particular. Ao festejar 20 anos de um projecto com determinados princípios fundacionais – institucionalização, qualidade, especialização, realização pessoal e pro-fissional e internacionalização - tentaremos cuidar de fortalecer a aposta no Foco no Cliente e na nossa capacidade de ter valor acrescentado ao seu negócio. Acreditamos que se manterão as tendências dos dois últimos anos no acréscimo de actividade no Direito Laboral, incluindo o que abrange ao sector Público, o Contencioso e a Arbitra-gem e as reestruturações empresarias. Apostas como a do Direito Desportivo, Am-biente e Terceiro Sector, devem sentir um certo aprofundamento. O Direito Financeiro andará de braço dado com o Corporate para encarar a onda de reestruturação que a economia realizará e de reprivatizações. Áreas como Fiscal e Direito Público estarão activas, seja porque qualquer decisão empresarial dependerá de uma cuidadosa re-flexão tributária, seja porque no refluxo do programa de reprivatizações haverá que repensar o Estado Regulador. Rever as PPP e atender uma produção legislativa que se impõe ocuparão os nossos administrativistas. Como que em paralelo, teremos a área de Concorrência e Direito Europeu que estará muito sub-jacente a todos estes desenvolvimentos. Numa outra direcção teremos a crescente internacionalização da economia portuguesa e o que ela implica de esforço de acompanhamento dos nossos Clientes. Enfim – um ano em que decerto os desafios farão jus a esta trajectória de sucesso nos últimos 20 anos!

Pedro Rebelo de sousamanaging partner

Enfoque no clientesRs

O mercado dos serviços jurídicos não deixou de ser afectado pelo contexto actual de crise. Não obstante, a advocacia é uma actividade que também se desenvolve em contra-ciclo e há aspectos que se traduzem em oportunidades para o futuro. Desde logo verificou-se uma mudança no tipo de assuntos. As operações de aquisição e financiamento de novos projectos nos sectores público e privado deram lugar a ope-rações de reestruturação e refinanciamento e a um crescimento claro do contencio-so. Em face das restrições orçamentais que enfrentam, mudou a atitude das empre-sas face à contratação dos serviços jurídicos. Iniciou-se a era dos modelos flexíveis e criativos de honorários que basicamente significam partilhar o risco dos clientes.Esperamos que em 2012 as reestruturações e as aquisições de oportunidade se in-tensifiquem, em particular no sector financeiro e imobiliário. Mesmo no sector públi-co adivinha-se, em função de novas privatizações, da renegociação de contratos e concessões e da implementação de reformas estruturais, uma retoma da procura de serviços jurídicos. Não será talvez ainda o ano de crescimento económico que todos desejamos, mas poderá ser o ano com os primeiros sinais de uma recuperação que, embora se afigure lenta, poderá ser mais sólida e sustentável no longo prazo.

Filipe Romãosócio

Acreditar na recuperaçãouRíA MeNéNDez - PRoeNçA De CARVALHo

Alguns destes artigos foram escritos segundo as regras anteriores ao novo acordo ortográfico.

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Numa perspectiva geral consideramos que, em 2012, o mercado conti-nuará a estar muito competitivo, o que irá beneficiar as sociedades que tenham uma organização adequada em termos de gestão. A facturação atempada, a redução dos prazos de cobrança e uma rápida adaptação à realidade económica serão factores essenciais para o sucesso das Sociedades de Advogados.No caso da Abreu Advogados, a estratégia comercial para este ano passa por uma presença “agressiva” no mercado nacional, com um for-te incremento de cross selling, e pela diversificação do risco da nos-sa actividade, através da presença multijurisdicional (presentemente estamos em Angola, Moçambique e Macau/China), pois acreditamos que não se pode olhar para a advocacia que praticamos focando-nos exclusivamente na realidade económica nacional, mas pensando glo-balmente. Continuaremos também a ter um especial cuidado no que toca à optimização dos nossos recursos e na sua utilização com rigor ético na definição de meios a utilizar e objectivos a atingir.No que toca à relação com os clientes, continuaremos a tentar encontrar soluções para que estes, apesar dos cortes orçamentais, obtenham value for money nos serviços por nós prestados. A Abreu Advogados sempre se integrou com os clientes, não sendo um mero prestador de serviços alheio da respectiva realidade. A nossa condição de prestadores de serviços externos a um leque alargado de clientes nacionais e internacionais permite-nos aceder e participar em inúmeras experiências que podemos reverter para os nossos clientes. A Política de Sustentabilidade da Abreu Advogados é, também, uma forma de nos tornarmos mais competitivos e por isso, melhor preparados para mais um ano de crise económica. A adopção de boas práticas na gestão e prestação de serviços contribui para a nossa sustentabilidade económica e social, tornando-nos a primeira escolha de colaborado-res e clientes.

Miguel Castro Pereiramanaging partner

Diversificar o riscoABReu ADVogADos

Em Portugal, as perspectivas económi-cas para 2012 são negativas, prevendo--se uma forte contracção da economia e uma quebra acentuada do consumo e do investimento, as quais serão naturalmen-te sentidas na advocacia.No entanto, à semelhança do que acon-teceu no ano de 2011, em que o volume de negócios da BMA superou em cerca de 15 por cento o ano anterior, procuraremos ultrapas-sar os efeitos económicos da crise. Com efeito, a BMA pretende dar continuidade, com toda a determinação, ao seu modelo próprio de advocacia e reforçar o investimento nas suas áreas de especialização, como a propriedade intelectual, o direito farmacêutico, o direito da publicidade e as tecnologias de informação. Iremos também continuar a investir na marca BMA, mantendo-a como uma referência absoluta nas nossas áreas de especialização não só em Portugal como no estrangeiro, reforçando a qualidade nos nossos serviços jurídicos, de forma a acentuar factores de diferenciação e criação de mais--valias para os clientes. A BMA continuará a apostar na formação profissional dos seus advogados e a dar-lhes as condi-ções necessárias para procurarem novas oportunidades de negócio para a sociedade.A BMA continuará a fazer uma meticulosa gestão do risco de crédito de clientes, procurando re-duzir os prazos de pagamento e controlando rigorosamente os custos operacionais.

Investir na marcaBAPtistA, MoNteVeRDe e AssoCiADos

Para a Gómez-Acebo & Pombo a gran-de aposta para 2012 é a consolidação do seu escritório em Lisboa, investin-do fortemente na formação especiali-zada interna e externa dos seus pro-fissionais.Obviamente, e atendendo ao contexto de incerteza que atravessamos, esta-mos convictos de que nos próximos meses a adaptação às novas circuns-tâncias será crucial. A evolução da situação financeira do Estado e dos mercados internacionais, dos quais depende a economia portuguesa, o cumprimento dos compromissos esta-belecidos pela troika, nomeadamente o pacote de reformas legislativas pre-visto, e o cumprimento do calendário de privatizações, terão um forte im-pacto na economia portuguesa e no futuro de todos os que nos movemos na sua área de influência. As áreas em que mais seguiremos apostando serão, até pelas razões acima descri-tas, a Arbitragem, o Contencioso, o Societário/Comercial. Vamos, ainda, reforçar as nossas áreas de Banking & Finance, Energia, Construção e Con-tratação Pública. A Propriedade Inte-lectual e as Tecnologias de Informação serão também uma área-chave de de-senvolvimento no escritório de Lisboa, dando sequência ao projeto de de-senvolvimento desta área iniciado em 2011. Encaramos a crise como uma oportunidade de crescimento, pois é nos tempos difíceis que surgem as melhores ideias e por vezes as melho-res oportunidades.

Fermín garbayoresident partner

Consolidar LisboagóMez-ACeBo & PoMBo

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Sociedades

A Miranda aborda o ano de 2012 com optimismo. Desde o início da nossa actividade, já lá vão 25 anos, que decidimos prosseguir uma estratégia clara de máxima internacionalização. Tal como a entende-mos, a internacionalização significa operar em diversas geografias com uma plena implantação em cada espaço a ponto das barreiras linguísticas, culturais e de ordenamento jurídico serem (quase to-talmente) desmanteladas. A globalização da actividade económica tem esbatido o conceito de “pátria” ou “nacionalidade” das organi-zações empresariais, sobretudo as de maior dimensão. Tenho difi-culdade em apontar a nacionalidade de alguns dos nossos maiores clientes multinacionais, salvo porventura a sua nacionalidade de origem ou histórica. À nossa (menor) dimensão, procuramos seguir o mesmo modelo: construir uma organização multi-jurisdicional em que o elemento unificador deixa de ser um espaço territorial (país, cidade ou outro) para passar a ser um conjunto de valores profissio-nais: a especialização do conhecimento, a qualidade do serviço, a ética dos comportamentos. Através desta visão, o espaço (ou mercado, como também se diz)

Em PLMJ fazemos um balanço positivo de 2011 e os indicadores de que dispomos dão-nos confiança para 2012 e anos seguintes, os quais serão seguramente desafiantes em termos de dificuldades a transpor. Para PLMJ o ano fica marcado pela consolidação do projecto de in-ternacionalização, iniciado há vários anos. Trabalhamos diariamente com os nossos parceiros em Angola, o GLA – Gabinete Legal Ango-la e em Moçambique, com o GLM - Gabinete Legal Moçambique. Reforçámos a nossa parceria com a Dacheng Law Offices, o maior escritório chinês, onde trabalham em permanência dois Advogados de PLMJ.Do ponto de vista de reconhecimento internacional foi também um ano muito positivo, com a atribuição do prémio de melhor Mana-ging Partner da Europa ao nosso Sócio Fundador e Presidente do Conselho de Administração Luís Sáragga Leal, que nos prestigia a todos em PLMJ. Assinale-se também o reconhecimento do presti-giado Financial Times, que considerou PLMJ a 5.ª Sociedade mais Inovadora da Europa Continental.Como em anos anteriores PLMJ envolveu-se nalguns dos assuntos e operações mais emblemáticos realizados em Portugal, incluindo, mais recentemente, no programa de privatizações. Para 2012 apostamos fortemente no reforço da exportação de ser-viços jurídicos por PLMJ em permanente ligação com os escritórios

Rui Amendoeirasócio executivo

Manuel santos Vitorsócio administrador

Pela positiva

Manter a liderança

MiRANDA CoRReiA e AMeNDoeiRA & AssoCiADos

PLMJ

em que podemos actuar é (quase) tão amplo como a nossa ambição. Para já, a Miranda Alliance estende-se por todo o espaço da língua portuguesa, uma par-te da África francófona e espanhola, e bem assim os Estados Unidos. Na nos-sa mira estão outras paragens onde as oportunidades existem e são tangíveis. Temos o rumo definido e o planeamento do nosso crescimento bem estabeleci-do. A estratégia é de longo prazo e, tan-to quanto possível, deve ser imune aos ciclos conjunturais, sejam eles positivos ou negativos. Alguém disse que a “crise” é tão mais real quanto mais pensamos nela. Se assim é, a melhor forma de a combater é estarmos ocupa-dos com ideias, projectos e iniciativas que não nos deixam tempo para pensar na crise. Por isso, estamos optimistas.

PLMJ International Network, e trabalha-remos arduamente para continuar a ser uma firma líder em Portugal procurando manter a confiança dos nossos clientes, muitos dos quais acompanhamos há dezenas anos. Esperamos ter a oportunidade de parti-cipar nas principais operações que pos-sam surgir ao longo do ano, incluindo designadamente no programa de priva-tizações.Temos hoje mais fee earners a trabalhar no universo de PLMJ do que no início de 2011. Sendo certo que a larga maio-ria desses advogados foi integrada nos escritórios de GLA e GLM, é com orgulho que se assinala a integração de nove estagiários e a entrada de 13 novos estagiários no ano de 2011. Este é um sinal claro de confiança no futuro de PLMJ. À medida que nos aproximamos dos 45 anos de actividade, conti-nuamos a crescer como escritório e instituição. Somos hoje e re-forçadamente seremos uma sociedade de advogados full service, independente e cada vez mais marcada pela presença em várias jurisdições.

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Fevereiro de 2012 27O agregador da advocacia

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A RPA integra, desde 1 de Janeiro de 2012, a CMS, organização transnacional de escritórios de advogados que conta com 55 escritórios em 30 jurisdições e com um número total de colaboradores superior a 5000. A CMS é uma organização europeia em expansão e presta serviços de elevada quali-dade e consistência a clientes de topo, em assuntos domésticos e internacionais. A sociedade é agora designada por CMS Rui Pena & Arnaut.Perspectiva-se para 2012 um agravamento da crise económica do país caracterizado pela falta de liqui-dez no sistema bancário e na economia em geral, pela quebra acentuada do investimento e do consumo e por uma elevada incerteza quanto ao futuro, o que irá reflectir-se também no mercado da advocacia provocando uma expectável contracção. A CMS Rui Pena & Arnaut conseguiu contrariar a tendência depressiva que se verificou já em 2011, registando uma actividade bastante relevante nas áreas de fu-sões e aquisições, energia, laboral, contencioso e propriedade intelectual, e é esperado que este fluxo se verifique também em 2012. A nossa integração na organização CMS, que constitui a concretização de um dos nossos pilares estratégicos de desenvolvimento, permitir-nos-á acompanhar os clientes com presença internacional e terá, estamos convictos, um impacte significativo na nossa actividade e na carreira dos advogados que connosco trabalham. Continuaremos a apostar na qualidade dos serviços que prestamos e na originalidade das soluções que apresentamos, agora com uma cobertura geográfica mundial e uma amplitude de valências e jurisdições muitíssimo reforçadas. Estamos muito atentos às oportunidades que vão surgir, designadamente nos processos de privatização, vendas de activos e rees-truturações empresariais. Estamos empenhados em desenvolver a nossa actividade e concentrados em ajudar os nossos clientes a tomar as melhores opções para levar adiante os seus negócios.

Olhamos para 2012 com a prudência com que se deve encarar a incer-teza – e com a confiança própria de quem tem todas as razões para acreditar num final feliz.Vai, é claro, ser um ano exigente. A procura de serviços jurídicos em algumas das áreas/produtos que mais sustentaram o crescimento das firmas nos últimos anos terá uma tendência de contracção. Outra coi-sa não seria de esperar face à brutal desaceleração do investimento (público e privado, nacional e estrangeiro) e ao estrangulamento finan-ceiro de muitas empresas. Este quadro, conjugado com os sinais de estabilização da procura que já se viam antes da crise de 2008, torna o crescimento – e mesmo a sustentabilidade – das firmas de advogados um exercício cada vez mais difícil. A exigência de qualidade técnica e de inovação nas soluções apresentadas aos clientes, de eficiência na gestão de recursos, de rigor no recrutamento e na retenção de talentos, de sofisticação na construção de propostas de fees – tudo isto teremos, nós e os nossos concorren-tes, de enfrentar com esforço redobrado nos tempos que aí vêm.Nos últimos dois anos, fizemos na VdA um exercício profundo de reflexão estratégica e tomámos op-ções claras de posicionamento, segmentação e diferenciação. Temos, em toda a firma, uma união de propósitos em torno dessas opções. Como é óbvio, podemos estar enganados nas nossas escolhas, mas não estamos passivamente à espera dos desígnios do destino. Acreditamos que, passada a tempestade destes tempos, a VdA sairá reforçada, tal como a generalidade das firmas portuguesas. Há, e continuará a haver, óptimos advogados e óptimas firmas no nosso país.

Paulo Pinheirosócio

Prudência e confiançaVieiRA De ALMeiDA

Reforçar a internacionalização

CuAtReCAsAs, goNçALVes PeReiRA

Diogo Perestrelomanaging partner

A conjuntura que atravessamos implica ne-cessariamente a tomada de decisões estraté-gicas adequadas que, ponderando todas as variáveis e acautelando possíveis cenários, nos permitam enfrentar as mudanças em curso de forma ajustada e equilibrada. Assim, a sociedade tem desenvolvido estratégias de minimização do impacto da degradação da economia, mantendo-se atenta e apta para implementar as medidas de ajustamento que a cada momento se possam impor. O reforço da nossa aposta na internacionalização é um dos aspectos mais importantes a ter em con-ta, especialmente em países como o Brasil, Angola e Moçambique, sem esquecer toda a nossa capacidade enquanto sociedade de advogados ibérica e a nossa vasta rede in-ternacional para além dos países lusófonos. No plano interno, estamos cientes de que os clientes esperam cada vez mais do advogado um nível de excelência, aferido pela capaci-dade de antecipar problemas e de apontar soluções céleres e eficazes, e que valoram uma relação próxima de apoio e confiança. Neste contexto, entendemos que a exigência criteriosa na selecção e formação dos advo-gados e a atenção dedicada a cada cliente são, seguramente, factores decisivos para uma estratégia de sucesso.

Qualidade e originalidadeCMs Rui PeNA & ARNAut

Maria João Ricoumanaging partner

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O agregador da advocacia28 Fevereiro de 2012

www.advocatus.ptTelevisão

Do arrendamento à concorrência, passando pelos mercados emergentes e terminando no estado da Justiça: assim foi o Direito a Falar em janeiro, programa do ETV moderado pelo jornalista Francisco Teixeira e com comentário do diretor do Advocatus, João Teives

Atualidade em foco

As novas regras do arrendamentoA nova Lei do Arrendamento foi o tema do primeiro Direito a Falar do ano, com a análise dos advogados António Raposo Subtil (sócio fundador da Raposo Subtil & Associados) e Fernando Antas da Cunha (sócio fundador da Antas da Cunha, Ferreira & Associados). Ambos demonstraram ser a favor da nova lei, ainda que com reservas. Raposo Subtil alertou para a agilidade que a futura lei dará aos despejos sempre que não exista um consenso entre o inquilino e o proprietário. Defendeu, por isso, alterações à proposta de lei, com vista a evitar abusos. Já Antas da Cunha realçou que a tarefa de decidir os despejos nos tribunais pode desvirtuar a proposta do Governo, que assentava no princípio da negociação entre inquilino e proprietário.

Mercados emergentesOs mercados emergentes foram o tema do Direito a Falar de 14 de janeiro: foram convidados Tiago Matos (Odebrecht Portugal e Moçambique), Nuno Castelão (Vieira de Almeida & Associados) e António Payan Martins (sócio CMS - Rui Pena & Arnaut), todos eles com a missão de encontrar no estrangeiro oportunidades para as empresas em que trabalham. Tiago Matos Ferreira não tem dúvidas quanto à prioridade do mercado africano, nomeadamente devido à crise na Europa: com base na sua experiência, afirmou que os brasileiros procuram Portugal como facilitador da entrada em África. Por sua vez, Nuno Castelão afirmou que uma das prioridades da VdA é o Brasil. Um dos últimos exemplos de internacionalização é o da Rui Pena & Arnaut, que desde o início do ano integra a CMS. Segundo o sócio António Payan Martins, esta integração permite um melhor acompanhamento dos clientes que arriscam em novos mercados.

As reformas na concorrênciaO projeto-lei que pretende alterar a atual Lei da Concorrência está em discussão pública desde dezembro, mas as alterações propostas geram crítica entre os especialistas. Daí que tenha sido o tema do programa de dia 21, com Mário Marques Mendes (Marques Mendes & Associados), José Luiz Cruz Vilaça (PLMJ) e Nuno Ruiz (Vieira de Almeida & Associados). Os três advogados manifestaram o receio de que o reforço de poderes da Autoridade da Concorrência (AdC) tenha ido longe demais. Para Mário Marques Mendes, o que é proposto representa um “desequilíbrio” entre os poderes da AdC e as garantias dos arguidos. Opinião também sustentada por Cruz Vilaça, que questionou a constitucionalidade deste ponto, e por Nuno Ruiz, que considerou “inaceitável” este reforço de poderes que, na prática, possibilita a aplicação de medidas sem que um tribunal se pronuncie.

O estado da JustiçaLuís Nobre Guedes (Nobre Guedes, Mota Soares & Associados) e João Tiago Silveira (Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados) analisaram as reformas em curso no último programa do mês. Embora concordando que a Justiça chegou a um ponto de rutura, divergiram quanto aos responsáveis pela situação. Nobre Guedes, ex-dirigente do CDS, não poupou críticas ao anterior governo socialista pelo atual estado da Justiça, afirmando que não esteve à altura das funções. Em sua opinião, há dois problemas básicos por resolver – a Justiça e o clientelismo. Por seu lado, o ex-secretário de Estado do PS João Tiago Silveira sustentou que as políticas que estão a ser postas em práticas são da exclusiva responsabilidade do Governo. Mostrando-se crítico quanto às medidas implementadas,

afirmou que a Justiça carece de “gestão, qualidade e transparência”.

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Negócios da China

pela árabe Oman Oil, igualmente candidata única). A propósito desta ofensiva chinesa nos mercados externos, Advocatus entrevistou dois advogados: Luís Miguel Cortes Martins, da Serra Lopes, Cortes Martins, a sociedade que assessorou a Three Gorges, e Rita Assis Ferreira, advogada da PLMJ residente em Pequim. Duas entrevistas, uma conclusão: o interesse chinês pela economia portuguesa é a longo prazo e uma oportunidade estratégica que o Estado não deve desperdiçar. Mais: Portugal vale por si, mas muito como plataforma para a expansão para outras geografias lusófonas, também para os Estados Unidos e mesmo para outros países europeus. A reter neste processo de privatizações, nas palavras de Cortes Martins, a ideia de que só boas empresas atrairiam o interesse de tantos investidores estrangeiros: afinal, esta é, porventura, a maior crise desde a segunda guerra mundial.

Duas empresas chinesas concorreram à privatização parcial de duas empresas do sector energético português: é a ponta do iceberg de uma estratégia de investimento à escala mundial de um país que emerge como potência indiscutível

João

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A assinatura do memorando de entendimento entre o Estado português e a troika constituída pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Central Europeu desencadeou o interesse de empresas estrangeiras por Portugal: é que nele está contida a obrigação de privatização de empresas estratégicas nacionais como ferramenta de encaixe financeiro. Da China veio, até agora, o principal interesse: duas empresas estatais – a China Three Gorges e a State Grid – concorreram ao capital a privatizar, a primeira aos 21,35 por cento da EDP e a segunda a 25 por cento da REN. O resultado do primeiro concurso foi favorável às pretensões da empresa chinesa, vencedora de uma operação em que concorreu com três outros players do setor energético internacional. Também a State Grid viu satisfeitas as suas pretensões a 25 por cento da REN – um desfecho inevitável dado que este era o máximo a privatizar por candidato (os restantes 15 por cento foram licitados, e conseguidos,

Dossiê

Fátima de sousajornalista

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“Havia a ideia de que as empresas chinesas têm um processo burocrático muito complicado, mas todos os prazos do concurso foram superados. Julgo que a forma como a Three Gorges se empenhou neste concurso surpreendeu as autoridades portuguesas”. Quem o afirma é Luís Miguel Cortes Martins, 49 anos, sócio da Serra Lopes, Cortes Martins, e líder da equipa de assessoria jurídica à empresa chinesa na privatização de 21,35 por cento da EDP

Three Gorges surpreendeu

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como víamos a EDP e a privatização, no fundo, para perceberem se esta-vam confortáveis connosco antes de avançarem para a contratação. Devo dizer que o cliente fez o trabalho de casa, olhou para outras sociedades de advogados, mas decidiu ficar connosco, o que nos orgulhou.

Advocatus | Foi uma operação com um timing muito exigente. isso aumentou a pressão?LMCM | Para os padrões portu-gueses, foi de facto uma operação

relativamente rápida. A China Three Gorges já estava atenta à EDP e ainda antes do lançamento do processo já estudava a empresa, dado que a privatização constava no memorando de entendimento que definia como limite o final do ano. Começámos a trabalhar em meados de agosto, mas já tinham estado em Lisboa antes, ainda sem advogados envolvidos. Quando o processo começou formalmente já estavam muito bem preparados. Obviamente que foi um processo

exigente. E para um escritório é sem-pre emblemático, pois foi a maior pri-vatização em volume feita em Portu-gal. Foi extremamente interessante do ponto de vista profissional pelo trabalho jurídico que implicou. Devo dizer também que foi extremamente bem conduzido pelo Estado e pelos seus assessores.Sabíamos que estávamos em com-petição, o que é um fator extra de adrenalina. Com o desafio adicional de estarmos a trabalhar com uma entidade chinesa, com uma cultura

Luís Miguel Cortes Martins, sócio da Serra Lopes, Cortes Martins

Advocatus | Como surgiu a opor-tunidade de assessorar a China three gorges na privatização da eDP?Luís Miguel Cortes Martins | A oportunidade de apresentarmos uma proposta surgiu por via da Ska-dden Arps, que é uma sociedade americana sediada também na Chi-na com a qual já havíamos tido ou-tras operações e que nos referenciou em Portugal. A China Three Gorges fez o contacto, tivemos algumas reu-niões em que abordámos o modo

O agregador da advocacia30 Fevereiro de 2012

www.advocatus.ptDossiê

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Fevereiro de 2012 31O agregador da advocacia

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totalmente diferente, com barreiras várias a começar pela língua. Em poucas semanas tivemos de nos adaptar, de compreender os receios iniciais, de ganhar uma esteira de confiança.Outro desafio forte foram os timings, muito exigentes. Havia a ideia de que as empresas chinesas têm um processo burocrático muito compli-cado e há de facto alguns constran-gimentos nos processos decisórios, mas todos os prazos do concurso foram superados. Julgo que a forma como a Three Gorges se empenhou neste concurso surpreendeu as au-toridades portuguesas.

Advocatus | ter sido a maior priva-tização em volume feita em Portu-gal aumentou a complexidade da assessoria?LMCM | Colocou desafios interes-santes, na medida em que tínhamos em simultâneo questões típicas de um processo de aquisição de ações, questões de corporate governance e questões regulatórias. No fundo, obrigou o escritório a alocar ao pro-cesso uma equipa multidisciplinar para que o cliente estivesse absolu-tamente seguro em todos os aspe-tos da operação. Acompanhámos a negociação da chamada parceria estratégica: a EDP fez com cada um dos quatro candidatos uma nego-ciação como se fosse para fechar contrato e estava preparada para as-sinar com qualquer um deles quan-do o governo decidisse. Houve um trabalho muito profissional por parte da EDP, pois as propostas não foram apenas princípios, mas acordos aca-bados. Só isso permitiu que o gover-no decidisse a 22 de dezembro e no dia 30 se tivesse assinado o contrato e feito o primeiro pagamento de 600 milhões de euros.

Advocatus | estiveram em concor-rência com sociedades de maior dimensão. o facto de terem ganho que significado tem?LMCM | A advocacia é provavel-mente dos setores em Portugal com maior concorrência. O que faz com que os escritórios de topo em Portu-gal estejam ao nível dos melhores da Europa e do mundo. Os advogados portugueses estão muito abertos

à concorrência, o que levou a um enorme progresso, uma enorme so-fisticação sobretudo nos últimos dez anos. O quadro de pressão que tivemos de viver não foi diferente do de outras operações. Estamos muito prepara-dos para responder em tempo útil, com qualidade, rigor e conhecimen-to técnico. E isso foi reconhecido pelas empresas internacionais que connosco trabalharam.

Advocatus | sendo o povo chinês conhecido pelo low profile, como é que a China three gorges rece-beu a polémica em torno das no-meações para a eDP?LMCM | Sem querer entrar muito na polémica, houve um processo de construção das listas que foi funda-mentalmente liderado pelos outros acionistas privados da EDP. A Three Gorges apenas indicou, como pre-visto, quatro representantes para o Conselho Geral de Supervisão. Devo dizer, no entanto, que estão muito confortáveis com a escolha de Eduardo Catroga para presidente do conselho, pois tem um currículo que fala por si e está há seis anos na empresa, conhece-a perfeitamente. Penso que é preciso pôr as coisas em perspetiva: estamos a falar de três ou quatro nomes mais polémi-cos num conselho com 23 pessoas.

“o quadro de pressão que tivemos de viver

não foi diferente do de outras

operações. estamos muito preparados

para responder em tempo útil, com

qualidade, rigor e conhecimento técnico. e isso foi reconhecido

pelas empresas internacionais que

connosco trabalharam”

Nascido em Santarém, há 49 anos, Luís Miguel Cortes Martins está à beira de fazer uma viagem que há muito lhe despertava a curiosidade mas que nunca tinha tido oportunidade de concretizar – uma viagem à China. A privatização da EDP, em que assessorou a Three Gorges, permite-lhe ago-ra juntar este desejado carimbo aos que já tem no passaporte. Um país que cresce tão depressa com uma cultura tão antiga e costumes tão dife-rentes – são estes os aliciantes para uma viagem que se iniciará logo após os festejos do Ano do Dragão. Sócio mais antigo da Serra Lopes, Cortes Mar-tins – excetuando os fundadores, claro – foi nesta

sociedade que fez toda a sua carreira, desde o estágio pós-licenciatura na Católica de Lisboa, em 1985. Na universidade em que se formou teve a possibilidade de enveredar pela docência, mas não teve dúvidas ao escolher a advocacia: “É uma paixão, não é só uma forma de ganhar dinheiro”, explica. Gosta, porém, de dar aulas, pelo que mi-nistra alguns seminários na instituição que fica a umas centenas de metros do escritório. “Ainda é um bocadinho, mas vou a pé”, conta.É um defensor convicto da arbitragem, mas não necessariamente um advogado de bastidores: “Vou à barra com muito gosto. Sempre foi o que fiz, embora agora já não tanto”.

A caminho da China

PeRFiL

“Houve um trabalho muito profissional por parte da EDP, pois as propostas

não foram apenas princípios, mas acordos acabados. Só isso permitiu

que o governo decidisse a 22 de dezembro e no dia 30 se tivesse

assinado o contrato”

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“No meio da mais profunda crise, ver quatro candidatos

baterem-se por uma empresa portuguesa é o reconhecimento

da qualidade das empresas portuguesas.

Faz bem ao ego nacional”

O trabalho gerado por estes inves-timentos tem algum efeito sinérgico na economia e na nossa atividade. Mas também há um trabalho diferen-te em áreas como as restruturações, as insolvências e o contencioso, que em tempo de crise se inflacionam. Uma área em que também inves-timos bastante é a arbitragem, que consideramos uma alternativa válida ao tradicional contencioso e cuja lei entra em vigor em março.Para 2012 estou bastante confiante, lúcido e prudente mas confiante. O trabalho será mais duro, com mar-gens mais estreitas, mas continuo a detetar oportunidades.

Advocatus | A pressão sobre o preço continuará?LMCM | Há alguma pressão sobre o preço, mas temos conseguido resis-tir porque entendemos que, a partir de um determinado nível, se entra numa canibalização de preços que não é benéfica para ninguém e pre-ferimos não entrar por aí. A questão é que a realidade com a qual os ad-vogados lidam é mais antipática: é mais antipático tratar de insolvências do que fazer aquisições, despedir do que contratar. Era preferível que não fosse assim, mas não é só viver as épocas áureas dos clientes, temos de apoiá-los nas fases difíceis. E isso é o que nos distingue: para nós, a advocacia não é só um negócio; é evidente que sem remuneração a atividade não é sustentável mas a advocacia é muito mais, serve para ajudar as pessoas, para se fazer jus-

Advocatus | o facto de terem con-seguido a EDP dá-lhes confiança para investirem mais em Portu-gal?LMCM | Este é um investimento de longo prazo. Algumas das condi-ções de financiamento que foram pré-acordadas com a EDP são li-nhas de muito longo prazo, prazos que na Europa ocidental nem sequer estamos habituados a considerar. Há um período de lock up de quatro anos em que, por força da lei, não podem vender nem comprar qual-quer outra participação, mas não os vejo minimamente preocupados com isso. Olham para a EDP como uma empresa muito internacionaliza-da que lhes dá acesso a mercados muito importantes como o Brasil e os Estados Unidos. Se a EDP não fosse uma excelente empresa, exce-lentemente gerida, não teria atraído este investimento. No meio da mais profunda crise, ver quatro candida-tos baterem-se por uma empresa portuguesa é o reconhecimento da qualidade das empresas portugue-sas. Faz bem ao ego nacional.

Advocatus | Que mais-valias traz para a sociedade ter assessorado o vencedor?LMCM | Significa muito pela visibi-lidade e pelo reconhecimento que nos traz em termos de mercado. A história das empresas e também das sociedades de advogados é muito a história do que fazem, das oportu-nidades que têm e da forma como as aproveitam. Tínhamos já estado presentes noutras privatizações, de menor dimensão mas algumas, se calhar, até juridicamente mais com-plexas, pelo que temos um bom track record. E não sendo, de facto, uma das grandes sociedades em número, temos a ambição de estar na primeira liga em termos de know how. Esta foi uma oportunidade de ouro para podermos demonstrar o que valemos.

Advocatus | o ano de 2011 encer-rou com chave de ouro. e 2012?LMCM | Obviamente que estamos preocupados com a crise em que vivemos, mas as indicações que te-mos são até mais positivas do que as que existiam no início de 2011.

tiça. Há uma dimensão humana e social de que não abdicamos.

Advocatus | isso é uma crítica à profissão?LMCM | A concorrência, a partir de determinado momento, torna-se perversa, sobretudo quando as pes-soas têm uma noção menos ética na profissão. Vemos verdadeiramente a caça ao cliente, quando, nos esta-tutos da Ordem, está expresso que não podemos angariar clientes. Ad-mito que, hoje em dia, seja uma ne-cessidade, mas usarem-se os mais sofisticados esquemas para desviar clientes é algo que me faz muita con-fusão, disputam-se os clientes como se fossem uma mercadoria e isso desqualifica a advocacia. A seguir vem o resto, os honorários, a ideia de somos todos iguais e só quere-mos é faturar. O mercado precisa de se ajustar, mas isso tem de ser feito sem violação das regras elementa-res, preservando o mais sagrado da profissão.

Advocatus | Há aí também uma crítica à ordem?LMCM | A Ordem dos Advogados não está a cumprir bem o seu papel. Não é atacando a ministra ou espin-gardeando contra tudo e contra to-dos que se resolvem os problemas. A Ordem devia ter uma função re-guladora e disciplinadora que não a vejo exercer.Neste momento olho para a Ordem e só vejo o bastonário. Um bastoná-rio com um excesso e uma ânsia de protagonismo como raramente vi e pouca preocupação em resolver os problemas concretos dos advoga-dos. A amplificação do discurso de que o sistema não funciona não serve a ninguém e a Ordem acaba por não cumprir o seu papel de contribuir para o Estado de Direito. E ninguém lhe reconhece o papel de interlocu-tor. Ora os advogados são atores essenciais do sistema de justiça e quem achar que assim não é está a fazer uma má reforma, seja ela qual for. A última coisa que a Ordem devia fazer era colocar-se fora do sistema. Não é com gestos grandiloquentes que se reformam instituições. A jus-tiça é um assunto demasiado sério.

“Foi um processo exigente. E para um escritório é sempre emblemático, pois foi a maior privatização em volume feita em Portugal”

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Dossiê

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“As privatizações permitem às empresas chinesas entrar no mercado português, mas sem dúvida que Portugal funciona como uma plataforma para outros mercados, como o americano e o brasileiro”. É esta a leitura que Rita Assis Ferreira, 34 anos, associada sénior PLMJ e a única advogada portuguesa em Pequim, faz sobre o interesse chinês pelas privatizações de empresas portuguesas. Um interesse que, defende, devia ser aproveitado para negociar contrapartidas que continuassem a gerar negócio

Portugal é uma oportunidade

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Atlântico e a Europa e passou a ser o Pacífico e o hemisfério sul, isto é, a América Oeste, toda a frente asi-ática, África do Sul e Austrália. E a PLMJ, dentro da sua política de ter sempre projetos pioneiros, decidiu apostar nesse mercado. Daí esta parceria com a Dacheng Law Offi-ces, que é um escritório de referên-cia no mercado doméstico da China, com cerca de dois mil advogados

em 32 províncias, 400 dos quais só em Pequim. A PLMJ escolheu Pequim para se instalar porque é o centro de decisão e porque se afir-ma cada vez mais como centro eco-nómico. É onde estão presentes as empresas detidas pelo Estado [as SOE – State Owned Entreprises] e a Dacheng tem uma relação privile-giada com essas empresas e com a instituição estatal que as gere, a SA-

SAC. São as SOE que estão a inves-tir além-fronteiras, nomeadamente no mundo que mais interessa a nível de recursos naturais.

Advocatus | é importante ter uma presença física permanente?RAF | A PLMJ, quando estabelece uma parceria, acredita que o projeto funciona quando há uma presença efetiva. Tem a ver com a própria his-

Rita Assis Ferreira, associada sénior PLMJ

Advocatus | Qual a importância da China na estratégia de internacio-nalização da PLMJ?Rita Assis Ferreira | A PLMJ tem uma estratégia de internacionaliza-ção que remonta há 10 anos. Co-meçou com parcerias no Brasil e Angola, que depois se estenderam a Moçambique e a Cabo Verde. Há cerca de dois anos, o centro eco-nómico do mundo deixou a ser o

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tória do País: fomos descobrindo o mundo e acabámos por ir ficando e a partir do momento em que saímos fomos perdendo esse mundo. Os erros não se podem repetir. Daí es-tarmos presentes fisicamente. Além disso, é uma cultura completamen-te diferente, em que estamos em competição relativa com escritórios internacionais, enormes e instala-dos na China e que também querem abranger os países da CPLP. Se não tivermos lá uma pessoa de confian-ça, da cultura PLMJ, que lhes lembre que falamos a língua deles (temos um advogado chinês) mas também falamos a língua dos países onde querem investir, que conhecemos a cultura chinesa mas também a dos países onde querem investir, caímos no esquecimento.

Advocatus | Quais são os objeti-vos desta parceria?RAF | A presença PLMJ na China tem como principal objetivo ser um porto de abrigo para as empresas portuguesas que queiram investir no mercado asiático, ainda que, por causa da crise, sejam muito poucos os clientes que estamos a receber

nestas condições. O nosso mercado mais forte são as empresas chine-sas, principalmente as estatais, que querem investir no estrangeiro.A nível jurídico colocam-se vários cenários. Quando uma empresa portuguesa quer investir na China faço equipa com um advogado es-pecialista da Dacheng pois não sei o suficiente de lei chinesa, nem era nossa pretensão que eu fosse espe-cialista na lei chinesa. O que acon-tece é uma integração da equipa da especialidade com a minha coorde-nação e revisão. Muitas vezes os ad-vogados da Dacheng coordenam-se com os da PLMJ da mesma espe-cialidade, pois têm a perfeita noção de que não têm a mesma formação e o mesmo know-how que nós. Há esta abertura e esta modéstia, pois a advocacia na China tem apenas 20 anos. Mas a maioria das vezes so-mos solicitados para operações em sentido inverso, isto é, para a cana-lização do investimento estrangeiro das empresas chinesas que querem operar em Angola, Moçambique, Portugal e Brasil. O que fazemos é entregar esses projetos ao GLA em Angola e ao GLM em Moçambique ou à PLMJ em Portugal, sendo que Angola e Moçambique fazem sem-pre ligação com o Africa Desk que temos em Lisboa. É uma equipa alargada que se coordena em fun-ção da complexidade do projeto. Há ainda outra vertente que acontece quando os escritórios em Angola e Moçambique e mesmo em Portugal detetam oportunidades de negó-cio em áreas em desenvolvimento, transmitindo-as ao China Desk para identificação de potenciais investi-dores. Nesses casos, faço o match making, na medida em que já sei que empresas chinesas pretendem e podem investir – o que pretendem não é o que podem, porque o gover-no, através da SASAC, é que decide quem investe, onde e com que mon-tantes; as privadas podem decidir mas estão condicionadas a nível do financiamento.

Advocatus | e o mercado portu-guês que atrativos oferece?RAF | Há empresas chinesas interessadas e bem posicionadas. A recetividade às privatizações, por

“A presença PLMJ na China tem como

principal objetivo ser um porto de abrigo para as empresas portuguesas que

queiram investir no mercado asiático (…) mas o nosso mercado

mais forte são as empresas chinesas, principalmente as

estatais, que querem investir no estrangeiro”

“A PLMJ escolheu Pequim para se instalar porque é o centro de decisão e porque se afirma cada vez mais como centro económico. É onde estão presentes as empresas detidas pelo Estado”

Rita Assis Ferreira, 34 anos, está na PLMJ desde 2000, tendo integrado a sociedade no estágio subse-quente ao fim da licenciatura na Universidade Católi-ca. Acompanhou desde a primeira hora a decisão de entrar no mercado chinês, acalentada pelo sócio Luís Sáragga Leal. O gosto por esta geografia – diz – sur-giu naturalmente. E naturalmente também se decidiu a sucessão quando Susana Santos Vitor, a primeira advogada PLMJ em Pequim, deixou a capital chine-sa. A primeira visita de Rita aconteceu em Abril de 2011, a mudança em Junho. Rita gostou de Pequim, que descreve como “es-teticamente semelhante a Nova Iorque”, uma ci-dade evoluída, que funciona, com uma segurança fantástica. O trânsito é complicado, mas “não tan-to como em Angola”, o pior é a poluição. A comi-da é boa: serve-se uma “gastronomia suave”. Até agora, Rita tem conseguido escapar a particula-

ridades gastronómicas como os famosos miolos de macaco, uma iguaria mais a sul. Ainda assim há um pepino do mar que não aprecia – “parece um olho” – que é muito caro e que os chineses teimam em apresentar nos jantares. Os estrangeiros são muito bem tratados. E pre-cisamente por ser estrangeira, não nota qualquer diferença na relação com os investidores: já se fosse chinesa, o mesmo não aconteceria, porque homens e mulheres ainda estão longe da igual-dade.Do que Rita sente saudades é das pessoas. Mu-dou-se com o marido e a filha, então com 18 me-ses, mas a família e os amigos fazem-lhe falta. Es-tará de volta, em princípio, daqui a dois, três anos. Até lá, vai tecendo amizade entre os membros de uma comunidade portuguesa que reputa de “mui-to interessante”. E vai aprendendo mandarim.

Uma portuguesa em Pequim

eXPeRiÊNCiAs

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“o interesse por Portugal poderá

manter-se para lá das privatizações se

houver oportunidades de negócio tão boas.

o ideal era que o governo, entregando

uma das privatizações a uma empresa

chinesa, negociasse contrapartidas

que permitissem desenvolver uma série

de áreas”

sucesso. Preferem gastar o dinheiro lá do que ir para a China: porque é longe, porque é preciso ser pacien-te, porque os chineses não perdem a face… Agora já estão mais inte-ressadas porque tiveram casos de insucessos noutros mercados apa-rentemente mais fáceis e porque a China vive um boom económico. Mesmo assim, se for possível meter tudo num contentor e depois alguém vender lá excelente… Mas o risco é de o importador chinês receber um produto, fazer um milhão de pro-dutos iguais e registar a marca. E a empresa portuguesa fica sem o con-tentor e sem a marca. Já aconteceu. A China é um mercado de oportuni-dades mas é preciso estar lá.

Advocatus | Foi o que a PLMJ fez há dois anos. Qual é o balanço do China Desk? RAF | Está a ser uma experiência muito positiva a nível pessoal e pro-fissional e o balanço da parceria é muito positivo. Estamos a trabalhar com uma série de SOE – que são empresas dificílimas de trabalhar: só para ter uma noção, há escritórios in-ternacionais há quatro anos a tentar captar um cliente entre essas empre-sas e não conseguem; eu estou lá há seis meses e já estamos a trabalhar com algumas, em coordenação com Angola, Moçambique e Portugal. Claro que temos todos um caminho a percorrer, mas trabalhamos com uma visão de médio prazo.

Advocatus | sendo a única socie-dade portuguesa com presença na China, com quem concorre a PLMJ? Com as sociedades inter-nacionais?RAF | Estamos em estádios diferen-tes e temos leques de clientes dife-rentes. Os escritórios internacionais querem abarcar todo o mercado e nós só a CPLP. Neste momento, es-tão a considerar a PLMJ como um parceiro e um complemento quando se trata de dar apoio jurídico a em-presas que querem entrar, por exem-plo, em Angola e em Moçambique, cuja cultura, língua e legislação nós conhecemos. Não estamos, por isso, em competição e os próprios clientes estão a verificar que traba-lhamos em equipa.

Portugal. Assim continuaria a haver negócio gerador de trabalho em Por-tugal e automaticamente gerador de interesse de outras empresas. Não estamos alicerçados em carvão e petróleo, mas somos muito bons em áreas de nicho, por exemplo na tec-nologia onde temos projetos muito inovadores. Eles não conhecem a nossa qualidade e o nosso grau de especialidade. Há boas oportunida-des, mas será que há interesse em promovê-las e abertura ao investi-mento estrangeiro?

Advocatus | e quanto ao investi-mento das empresas portuguesas pela China, está em retração ape-nas devido à crise?RAF | A minha experiência diz-me que essa retração acontece des-de a crise. Mas também é verdade que uma empresa portuguesa que se quer internacionalizar pensa em quase todos os países antes da China, infelizmente. Pensa primeiro no Brasil, mas temos visto que há empresas portuguesas a investir no Brasil em áreas que são praticamen-te monopólios, o que resulta em in-

exemplo, é muita. Neste momento temos duas empresas chinesas no mercado com ofertas muito altas. Para nós, China Desk, se uma delas ganhar significará uma abertura de portas, ajudará os chineses a ganha-rem confiança em Portugal. A cultura chinesa é desconfiada por natureza e está em pânico com a crise na Eu-ropa, não consegue conceber como é que a Europa chegou a este ponto, que na China seria inconcebível. Re-ceiam investir porque receiam perder dinheiro. Mas se estas duas empre-sas ganharem as privatizações em áreas que são rentáveis e em que vão ganhar imenso know-how será um sinal de confiança. Isso irá de-monstrar que Portugal, além de ser um país acolhedor com quem gos-tam de negociar, também é um país de confiança, responsável, o que os chineses ainda não sabem. Mesmo com as limitações nas comunica-ções, vão passar palavra de que se pode investir em Portugal. Havendo um caso de sucesso todos confiam, se houver um caso de insucesso fe-cham as portas.[Posteriormente a esta entrevista, as candidaturas da China Three Gorges e da State Grid à EDP e à REN, res-petivamente, venceram o concurso lançado pelo Estado.]

Advocatus | Mas Portugal interes-sa-lhes de per si ou como plata-forma para outros mercados?RAF | As privatizações permitem às empresas chinesas entrar no mer-cado português, mas sem dúvida que Portugal funciona como uma plataforma para outros mercados, como o americano e o brasileiro. Este último é muito apetecível para a China, apesar de ter fechado um pouco as portas ao investimento chi-nês. Os Países Africanos de Língua Portuguesa também estão a ganhar força e muitos investimentos estão a ser escoados para lá, até porque não existem limitações. O interes-se por Portugal poderá manter-se para lá das privatizações se hou-ver oportunidades de negócio tão boas. O ideal era que o governo, entregando uma das privatizações a uma empresa chinesa, negocias-se contrapartidas que permitissem desenvolver uma série de áreas em

“A cultura chinesa é desconfiada por natureza e está em pânico com a crise na Europa, não consegue conceber como é

que a Europa chegou a este ponto, que na China seria inconcebível. Receiam investir

porque receiam perder dinheiro”

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O agregador da advocacia36 Fevereiro de 2012

www.advocatus.ptProcesso

Pode ou não Domingos Duarte Lima, acusado pela justiça brasileira, da morte da portuguesa Rosalina Ribeiro, ser extraditado para o Brasil? Que lei vigora? A Constituição da República ou a Convenção de Extradição entre Estados membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa? O penalista Rui Patrício responde a estas e outras questões de um caso que divide opiniões

Extraditar ou não extraditar, eis a questão

ternacional, nos casos de terro-rismo e de criminalidade interna-cional organizada, e desde que a ordem jurídica do Estado requisi-tante consagre garantias de um processo justo e equitativo”. Ora Duarte Lima não vem acusado de nenhum dos crimes contemplados como exceção à não extradição. Uma entrevista da ministra da Jus-tiça, Paula Teixeira da Cruz, à TVI, emitida a 17 de novembro, veio,

sileira? Muitas foram as opiniões auscultadas, entre constituciona-listas e penalistas, com a maioria a manifestar-se contra a possibilida-de de extradição, invocando, em defesa de tal argumento, o artigo 33.º, ponto 3, da Constituição da República Portuguesa: “A extradi-ção de cidadãos portugueses do território nacional só é admitida, em condições de reciprocidade estabelecidas em convenção in-

Desde que o alegado envolvimen-to do advogado e ex-deputado português Domingos Duarte Lima no assassínio, no Brasil, de Rosa-lina Machado, secretária e com-panheira do milionário Lúcio Tomé Feiteira, saltou para a ribalta que uma questão se tornou dominante nos meios jurídicos e na comuni-cação social: pode ou não um ci-dadão português ser extraditado para julgamento pela justiça bra-

no entanto, adicionar novos e, de certa forma, disruptivos elemen-tos a esta discussão. A titular da pasta trouxe à liça uma convenção assinada em 2005 e ratificada em 2008 - a Convenção entre os Esta-dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que substitui o tratado de extradição entre Portugal e o Brasil e à luz da qual a extradição de cidadãos na-cionais é possível. A convenção,

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Fevereiro de 2012 37O agregador da advocacia

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que vigora desde 1 de março de 2010 – ou seja, desde data ante-rior às acusações proferidas con-tra Duarte Lima pela justiça bra-sileira -, contém em si mesma a negação do princípio genérico da extradição, ao admitir que pode ser recusada precisamente com o fundamento de que se trata de um cidadão português. É o que diz o artigo 4.º da convenção, sobre “recusa facultativa de extradição”: “A extradição poderá ser recusada se a pessoa reclamada for nacio-nal do Estado requerido”. Perante disposições (aparente-mente) contraditórias, qual a que tem mais força? A Constituição da República ou a Convenção entre a CPLP? O constitucionalista Costa Andrade não tem dúvidas: citado pelo Público, defendeu que a lei geral do País é “unívoca e cortan-te, não consente duas interpreta-ções nem consente dúvidas”. Diferente é a opinião de Bacelar de Vasconcelos, também constitucio-nalista, que, citado pelo Jornal de Notícias, advogou que “não há uma hierarquia fixa entre a Cons-tituição e as convenções interna-cionais”. Esta é – admitiu – uma controvérsia que os juristas discu-tem há mais de um século, mas, em sua opinião, “um Estado não pode fazer um acordo com outros países e, depois, dizer que não o cumpre por causa da sua Consti-tuição”.Todavia, a tese que recolhe mais contributos é a de que Duarte Lima não poderá ser extraditado. Assim é também entre penalistas, como Rui Patrício, sócio da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva e Associados, que, em de-clarações ao Advocatus, susten-tou que “a regra de não extraditar nacionais é seguida por inúmeros países, exacerbando a nacionali-dade e o seu valor jurídico e sim-bólico, em detrimento da coopera-ção jurídica internacional”.Não se cumprindo a extradição, outro cenário se poderá abrir: a de julgamento em Portugal pelos crimes que lhe são imputados no Brasil. “Ao contrário de outros Es-tados – que não extraditam bem julgam os seus nacionais – Por-

tugal, quando não extradita, pode julgar na maior parte dos casos. Procura-se, assim, evitar que Portugal seja um local de refúgio para suspeitos de crimes pratica-dos noutros países e foragidos a justiças estrangeiras”, explica o penalista, que representa a Índia e os Estados Unidos, respetiva-mente, nos processos de extradi-ção de Abu Salem e Monica Bedi (acusados de terrorismo e cuja extradição em 2005 foi revogada em Janeiro último pelo Supremo português) e de George Wright (cujo processo está para análise no STJ na sequência de uma re-clamação sobre a decisão de não extradição).A convenção entre a CPLP prevê esta hipótese, ao admitir no seu artigo 5.º que, “quando a extra-dição não puder ter lugar ou for recusada, o Estado requerido de-verá, caso o Estado requerente o solicite e as leis do Estado re-querido o permitam, submeter o caso às autoridades competentes para que providenciem pelo pro-cedimento criminal contra essa pessoa por todos ou alguns dos crimes que deram lugar ao pedido de extradição”.E, se o processo correr em Por-tugal, prevalece a lei portuguesa, incluindo no que respeita à valida-de e ao valor da prova. Ainda que – alerta Rui Patrício – “haja que contar com o efeito da distância entre o local da alegada prática dos factos em apreciação e da obtenção da prova e o local do julgamento, o que – como é óbvio e está demonstrado – pode tornar mais fraco o poder de certa pro-va convencer o tribunal”. “Embora na pureza dos princípios não seja assim, na prática o julgamento por recusa da extradição pode ser um julgamento de ‘segunda linha’”, conclui.Para que tal aconteça é necessá-rio que as autoridades brasileiras remetam a Portugal os autos do processo, o que, a ter acontecido, ainda não foi tornado público. O que se sabe – e que se pode ler no site do Ministério Público do Rio de Janeiro – é que, a 12 de dezem-bro, o procurador-geral de Justiça

Rui Patrício, sócio da MLgts

Certo é que Duarte Lima não foi nem irá ao Brasil por sua iniciativa,

como já deixou claro o seu advogado em Portugal, germano Marques da silva

do Rio enviou ao Procurador-Geral da República “cópias integrais dos autos da ação penal de homicídio proposta pela promotoria de Sa-quarema contra o advogado e ex--deputado português Domingos Duarte Lima”.Foi precisamente para conseguir um julgamento em Portugal que a cabeça-de-casal da herança de Lúcio Tomé Feteira, Olímpia Feteira, apresentou, junto da jus-tiça portuguesa, uma denúncia criminal contra Duarte Lima por suspeita do homicídio de Rosalina Ribeiro. Uma iniciativa – segundo um comunicado divulgado - para combater a “ausência de ação ofi-ciosa das autoridades portugue-sas relativamente ao crime, que é público”, e o “imobilismo em que se estava a cair”.O objetivo é permitir o julgamento em Portugal de um caso em que está alegadamente envolvido um português no homicídio de uma portuguesa, para o que – susten-ta o documento – “é aplicável a lei portuguesa e os tribunais portu-gueses têm jurisdição”. Também Rui Patrício entende que pode haver processo em Portugal, mesmo que não haja noutro país, neste caso o Brasil, “se suspei-to e vítima forem portugueses”. Caso em que o processo segue o mesmo caminho que qualquer outro. Certo é que Duarte Lima não foi nem irá ao Brasil por sua inicia-tiva, como já deixou claro o seu advogado em Portugal, Germano Marques da Silva. Bastante críti-co da forma como o processo foi conduzido, o penalista afirmou publicamente não confiar na po-lícia brasileira: alegando saber “como este caso foi organiza-do”, acusou os investigadores de “uma desonestidade total” e de-nunciou a existência de “indícios falsos e falsificação de provas” – “Há muito interesse em jogo”. Domingos Duarte Lima encontra--se entretanto em prisão preven-tiva no âmbito de um outro pro-cesso, sob acusação de fraude e branqueamento de capitais que envolve o Banco Português de Negócios (BPN).

“Portugal, quando não extradita, pode

julgar na maior parte dos casos. Procura-

-se, assim, evitar que Portugal seja um local de refúgio para suspeitos de crimes

praticados noutros países e foragidos a

justiças estrangeiras”

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O agregador da advocacia38 Fevereiro de 2012

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Não deverá a reforma que aí vem ir no sentido de esvaziar a acção executiva, mas sim de reforçá-la, mantendo o elenco de títulos executivos e, se possível, simplificando a sua tramitação, residindo aí a diferença entre uma reforma inovadora e útil e uma reforma inócua

Do programa do actual governo constam, no que toca à área da Justiça, entre outras, as seguintes medidas de simplificação processu-al: redução das formas de processo, simplificando e assegurando eficá-cia e celeridade (assente na desfor-malização de procedimentos, na oralidade processual e na limitação das questões processuais); criação de um novo paradigma para a acção declarativa e para a acção execu-tiva; criação de condições para a conclusão de processos em tem-po útil e razoável, dando adequada resposta às expectativas sociais e económicas e reduzindo-se as pen-dências; reforma da acção executiva com a sua extinção sempre que o título seja uma sentença, devendo a decisão judicial ser executada em liquidação de sentença ou em sede de incidente na própria acção e, nos casos dos restantes títulos executivos, criação de um processo abreviado, mais célere, sem prejuízo da reponderação das condições de exequibilidade dos documentos particulares, mantendo-se o actual regime de exequibilidade dos títulos de crédito.Estaremos, à primeira vista, em presença de objectivos válidos, tendentes a alcançar os objectivos há muito almejados por todos os responsáveis e agentes do sistema judiciário. Com efeito, a celeridade processual e a eficácia da cobrança dos créditos têm sido causa/efeito de parte significativa das sucessivas reformas e principais alterações ao quadro legislativo vigente a que nas últimas duas décadas assistimos.E a eficiência de um sistema de justiça afere-se, sem dúvida, pelo resultado “consolidado” que se ob-tém das variáveis: a) celeridade; b) formalismo; c) desmaterialização; d)

“Continua a ser premente avançar-se

no sentido de uma Justiça célere, sem deixar de ser justa, eficaz sem deixar

de ser ‘garantística’, simples, sem se tornar

demasiado ‘fácil’. e este será o momento”

Reforçar a acção executiva

simplificação processual; e) garan-tias materiais e processuais.Ora, na reforma de 1995, o legisla-dor ampliou o leque de títulos exe-cutivos, ao conferir força executiva aos documentos particulares, assi-nados pelo devedor, que importem constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo mon-tante seja determinável em face do título, da obrigação de entrega de quaisquer coisas móveis ou de pres-tação de facto determinado. Tinha o legislador, ao tempo, o objectivo de contribuir significativamente para a diminuição do número das acções

declarativas de condenação pro-postas, tendentes a reconhecer um direito do credor sobre o qual não recaísse verdadeira controvérsia. Mantém-se, pois, actual a preo-cupação, dado que continua a ser premente avançar-se no sentido de uma Justiça célere, sem deixar de ser justa, eficaz sem deixar de ser “garantística”, simples, sem se tornar demasiado “fácil”. E este será o momento.Contudo, parece contraditório que-rer assegurar-se maior grau de efi-cácia nos mecanismos de cobrança judiciais e, ao mesmo tempo, reduzir ou limitar as espécies de títulos exe-cutivos, parecendo abrir-se caminho à limitação no caso dos documen-tos particulares, “que só poderão ter a virtualidade de adquirir força executiva quando for inequívoca a obrigação exequenda e estiverem asseguradas as garantias das pes-soas contra execuções injustas”. O regime actualmente em vigor assenta, precisamente, no pressu-posto de que a obrigação in casu não oferece dúvidas do ponto de vista do direito substantivo, tendo sido resultado de uma manifesta-ção de vontade livre, esclarecida e ponderada. Claro que ao executado devem ser assegurados todos os meios de defesa e nunca por nun-ca o contraditório pode ser aban-donado a favor de qualquer outro princípio, por mais relevante que este seja.Não deverá, pois, a reforma que aí vem ir no sentido de esvaziar a ac-ção executiva, mas sim de reforçá--la, mantendo o elenco de títulos executivos e, se possível, simplifi-cando a sua tramitação, residindo aí a diferença, nesta temática, entre uma reforma inovadora e útil e uma reforma inócua, como tantas outras.

Debate

Luís Amorim teixeira

Sócio fundador da TLCB Advogados – Amorim Teixeira, Couto, Borgas

& Associados, Sociedade de Advogados. Licenciado em Direito

pela Universidade Lusíada do Porto, possui pós-graduações em Direito Fiscal e Ciências Jurídico-

Empresariais

Texto escrito segundo as regras anteriores ao acordo ortográfico

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Fevereiro de 2012 39O agregador da advocacia

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As soluções são válidas, mas a sua implementação será morosa e, a meu ver, prejudicará a celeridade almejada; volto assim à ideia das intervenções cirúrgicas, por que pugnei ao comentar o Memorando celebrado com o FMI, e de deixar a reforma para um período de menor emergência nacional

Reforçar a acção executiva Por soluções cirúrgicas

Miguel esperança Pina

Sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira desde 2001, desenvolve a sua atividade profissional na área

da resolução judicial e extrajudicial de conflitos no âmbito de relações societárias e contratos financeiros,

entre outros

“A Comissão optou por medidas que revolucionarão o

sistema processual. Medidas meritórias e que alinham com os padrões processuais mais avançados, mas que pressupõem uma demorada preparação dos agentes da Justiça

e uma mudança de mentalidades”

Ao ler as primeiras páginas da Ex-posição de Motivos do Projecto de Código de Processo Civil, fica a ideia de que a principal causa da morosi-dade do sistema judiciário e da sua consequente ineficiência reside no abuso de expedientes dilatórios pe-los advogados. Inexplicavelmente, o documento da Comissão da Reforma nada propõe relativamente aos prazos dos magistrados. Ora, um litígio, seja simples ou complexo, será decidido à medida da disponibilidade do juiz e um cidadão que exerça o direito de acção entra num verdadeiro jogo de sorte e azar (normalmente azar). Os processos arrastam-se interminavel-mente e nada é previsível. Parece-me assim evidente a essencialidade de sujeitar os juízes a prazos efectivos. Em vez de medidas cirúrgicas deste tipo, a Comissão optou por medidas que revolucionarão o sistema proces-sual. Medidas meritórias e que ali-nham com os padrões processuais mais avançados, mas que pressu-põem uma demorada preparação dos agentes da Justiça e uma mudança de mentalidades, o que não é possí-vel neste momento, em que há uma enorme pressão exógena. A audiência preliminar passa a ser tendencialmente obrigatória e cria-se um despacho pré-saneador, prepara-tório da audiência preliminar. Visando a reforma a simplificação e a celerida-de, não se vislumbra o alcance desta maior burocratização! Na audiência preliminar, o juiz procederá ao sane-amento, através de despacho escrito, no qual serão fixadas as questões es-senciais de facto, que serão objecto da prova. Ou seja, a Comissão pretende erradicar do sistema a Factualidade Assente e a Base Instrutória. Assim, estes instrumentos tão arreigados na tradição jurídica portuguesa serão ba-nidos. Consequentemente, em lugar

de uma lista pormenorizada dos fac-tos, passaremos a ter a enunciação das grandes questões. A bondade desta solução é indiscutível e sou fer-voroso adepto da mesma. Em vez de perder tempo e concentração, numa multiplicidade de pequenos factos, o julgamento centra-se nas grandes questões e, durante a audiência, po-dem ser pertinentemente chamados à colação os factos instrumentais. Essa solução é a da arbitragem internacio-nal, nomeadamente a da paradigmáti-ca Câmara de Comércio Internacional de Paris, e que foi importada em 2008 pela Associação Comercial de Lisboa. Apesar da experiência internacional dos árbitros portugueses, a verdade é que a experiência de três anos de

vida do novo regulamento da Asso-ciação Comercial de Lisboa tem de-monstrado a dificuldade em adaptar a nossa prática e mentalidade forenses a esse método de selecção da matéria probatória, através da identificação dos grandes temas. Basta olhar para esta experiência para antever as di-ficuldades da implementação dessa metodologia nos tribunais portugue-ses. Essa implementação exigirá uma formação lenta e profunda e uma tre-menda mudança de mentalidades. Com o devido respeito, neste ponto crítico da reforma, as palavras foram muito além do que é comportável pela realidade e pela premência dos objec-tivos. Para agravar esta dificuldade, os documentos passarão, segundo o projecto vertente, a ter de ser juntos no início da produção da prova. Ou seja, apesar de se ter apenas uma percepção das questões essenciais, e já não de todos os factos essenciais e instrumentais, coarcta-se a possibi-lidade de juntar prova à medida que os factos instrumentais forem surgindo na audiência de julgamento. Compre-ende-se o alcance salutar da medida; duvida-se que possa ser respeitada.Não posso terminar sem expressar uma sensação de desconforto relativa-mente à introdução de uma excessiva nota de discricionariedade dos juízes na gestão do processo, designada-mente mediante o poder de confor-mar e modular a tramitação de cada processo em concreto, em função das respectivas especificidades.Concluindo, as soluções são válidas, mas a sua implementação será mo-rosa e, a meu ver, prejudicará a cele-ridade almejada; volto assim à ideia das intervenções cirúrgicas, por que pugnei ao comentar o Memorando celebrado com o FMI, e de deixar a reforma para um período de menor emergência nacional.

Este artigo foi escrito segundo as regras anteriores ao novo acordo ortográfico.

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O agregador da advocacia40 Fevereiro de 2012

Júdice integra lista internacional de árbitros

O sócio PLMJ José Miguel Júdice integra a lista de Árbitros do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá, constituída por dez árbitros e destinada especialmente a arbitragens internacionais administradas.Brenardo Cremades, Juan Armesto, Emannuel Gaillard, Eduardo Silva Romero, Fernando Mantilla Serrano e Guido Tawill fazem também parte desta lista internacional.O Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá contava já com uma lista onde constavam os principais árbitros brasileiros. Esta nova lista aumenta o número de árbitros do centro e torna-os mais recetivos a mediarem questões internacionais.

Abreu com Centro de MediaçãoA Abreu Advogados decidiu apostar na área da Arbitragem, pelo que avançou com o projeto de criação de um centro de mediação de conflitos. O centro deverá começar a funcionar em fevereiro, sendo coordenado pelo sócio José Maria Corrêa de Sampaio e pelo consultor jurídico Thomas Gualtier. Com este projeto, a sociedade pretende contribuir para a redução do número de pendências que atualmente minam os tribunais judiciais, atuando no sentido de cumprir as medidas acordadas com a troika. Thomas Gaultier é consultor na Abreu Advogados e especialista na mediação comercial privada, formado e com experiência nesta área nos Estados Unidos da América. Por seu lado, José Maria Corrêa de Sampaio é o sócio responsável pela área de Arbitragem e Mediação da Abreu.

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Repensar o ensino do Direito

Abreu avança com Centro de Mediação

OA acolhe encontro sobre o “Processo Penal e os Direitos Fundamentais”

Presidente do STJ propõe tabela para honorários dos advogados

“Direito a falar” sobre insolvências

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SRS no top 20 das melhores empresas para trabalhar

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Aumento do período de trabalho em 30 minutos

Prémio Alberto dos Reis para estagiário PLMJ

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O SITE DO ADVOCATUS EM JANEIRO*

*Dados referentes ao período entre 28 de dezembro e 28 de janeiro

Cuatrecasas, gonçalves Pereira assessora BANiFA Cuatrecasas, Gonçalves Pereira assessorou o BANIF – Banco Internacional do Funchal, S.A. (emitente) e o BANIF – Banco de Investimento, S.A. (intermediário financeiro) na Oferta Pública de Troca de Obrigações do BANIF (OPT). A equipa responsável por esta operação foi constituída pelo sócio André Luiz Gomes e pelos advogados associados Florbela Pires, Margarida Leal de Oliveira e Ana Paula Basílio. A liquidação da OPT teve lugar a 9 de janeiro e as novas Obrigações Subordinadas 2012/2019 foram admitidas à negociação no dia seguinte. O processo correspondeu a uma oferta pública de aquisição, geral e voluntária, de 100.000 obrigações subordinadas emitidas pelo BANIF (Obrigações Subordinadas 2009/2019), sendo a contrapartida até 100.000 obrigações subordinadas, com valor nominal unitário de €1.000.00 (obrigações subordinadas 2012/2019) a emitir pelo BANIF abaixo do par. O valor de referência de troca foi de 70 por cento e o valor total da operação foi de €100 000,00.

sRs no top 20 das melhores empresas para trabalharA sociedade ocupa o 13.º lugar na lista das Melhores Empresas para Trabalhar em Portugal, no ranking da revista Exame. A SRS é o único escritório de advogados no top 20 da lista que congrega 100 empresas. Justificando esta classificação, a sociedade argumenta que, desde a fundação, há 20 anos, pretende cultivar o conceito de nice place to work, tentando criar um ambiente de trabalho agradável e condições que contribuam para a captação de talento e para o sucesso das pessoas e do escritório. Com mais de 80 colaboradores, a empresa empenha-se na criação de perspetivas de carreira e na gestão e partilha de conhecimentos entre pares. Os encontros informais promovidos pela firma e o respeito e valorização de todos os trabalhadores são considerados os principais fatores de satisfação dos funcionários da SRS. No 39.º e no 85.º lugares estão posicionadas outras duas sociedades do panorama da advocacia nacional, respetivamente, a Abreu Advogados e a Miranda Correia Amendoeira & Associados.

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Legalworks entra no mercado polaco

A Legalworks – Gomes da Silva & Associados acaba de estabelecer uma parceria com a sociedade de advogado polaca Kloda Narkiewicz – Jodko Spólka Partnerska Adwokaci. Este acordo formal é o culminar de quase um ano de relacionamento, em que a sociedade de Rui Gomes da Silva procedeu ao acompanhamento jurídico de clientes que têm expandido a sua atividade para aquele país do leste europeu. A entrada no mercado polaco vai permitir à Legalworks aumentar competências na prestação de serviços nas duas jurisdições. Contribui igualmente para que se posicione como uma sociedade mais atrativa para empresas cuja estratégia de internacionalização passe pela Polónia.

VdA e MLgts recomendadas por diretório internacional

A Vieira de Almeida & Associados (VdA) e a Morais Leitão Galvão Teles Soares da Silva & Associados (MLGTS) são as duas sociedades nacionais recomendadas pelo diretório internacional PLC – Practical Law Company Which Lawyer na área de Investment Funds. O diretório apresentou pela primeira vez um ranking nesta área para Portugal.

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Page 42: advocatus 23

O agregador da advocacia42 Fevereiro de 2012

www.advocatus.ptSéries

A série portuguesa “Liberdade 21” começou a ser exibida em 2008 na RTP1 e o principal objetivo era retratar o dia-a-dia de uma sociedade de advogados. Para isso foi criada a sociedade fictícia Vasconcelos, Brito e Associados, que ao longo de 20 anos de existência foi conquistando notoriedade. No entanto, esse reconhecimento surge aliado à ideia de que não olha a meios para defender os clientes. A sociedade é gerida por dois sócios principais - Raul Vasconcelos (António Capelo) e Helena Brito (Ana Nave) - que mantêm uma relação conflituosa, mas carateriza-da por uma estranha união que representa a força da firma.Esta é a série preferida de António Falé de Carvalho, principalmente por a sociedade em questão ganhar sempre as “lides em tribunal”. No en-tanto, o sócio da Falé, Nandin & Associados destaca que essa não é, nem poderia ser a realidade, mas dá-lhe esperança para encarar a reali-dade “sempre de uma forma positiva”. O advogado destaca a prestação da personagem Raul Vasconcelos, in-terpretada por António Capelo. Que apresenta como sendo uma perso-nagem “bastante firme”, mas que, apesar disso, tem “espírito de inicia-tiva” e defende a “disciplina”.Relativamente a semelhanças entre o dia-a-dia da Falé, Nandin & Asso-ciados e o da Vasconcelos, Brito e Associados, o advogado só conse-gue identificar “situações na área cível em que um simples formalismo preterido improcede a ação”.

António Falé de Carvalho é fã de “Liberdade 21”

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Fevereiro de 2012 43O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Hobby

Armando Pinto Ribeiro, advogado da Gouveia Pereira & Associados (GPA), tem como hobby a pintura abstrata, principalmente a acrílico. A prática começou em 2000, como forma de fazer face à pressão e ultrapassar uma fase mais complicada da vida em que enfrentou uma depressão. A partir daí nunca mais parou e atualmente pinta dois a três quadros por mês.Para Armando Pinto Ribeiro, pintar é uma forma de descontrair. Sempre que tem algum tempo livre, pega nos pincéis e liberta a imaginação. Até mesmo quando visita os pais, em Azeitão, aproveita a “inspiração” do jardim e dedica-se à arte da pintura.O “prazer de pintar” permite-lhe apreciar melhor os tempos livres, mas, principalmente, foi uma forma que encontrou de “descarregar” o stress do trabalho e dos processos mais difí-ceis de resolver. Tem, inclusive, um quadro intitulado “inferno” que criou depois de resolver um processo deveras “infernal”.Confessa que, por vezes, pinta com “impaciência e desenfreado”, mas sempre com o ob-jetivo de obter um resultado final que o satisfaça, ainda que isso implique algumas vezes “pintar por cima”. Não consegue definir “se é a pintura que ajuda a formar a personalidade ou se é a perso-nalidade ou a profissão que se projetam na pintura”, mas tem a certeza de que esta foi a melhor forma que encontrou para se libertar da tensão da profissão.

Armando Pinto Ribeiro

Armando Pinto Ribeiro

Sócio da Gouveia Pereira, Costa Freitas & Associados (GPA), é licenciado em Direito

pela Universidade Católica Portuguesa e tem uma pós-graduação em Direito

Comunitário pela mesma universidade

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Page 44: advocatus 23

O agregador da advocacia44 Fevereiro de 2012

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Manuel Falcãodiretor-geral da Nova Expressão

Restaurante

A maior parte das cafetarias por-tuguesas são apenas uma versão vitaminada dos antigos snack-bars dos anos 60 e 70. Volta e meia sur-gem boas excepções a esta regra e o Soul Food Café, aberto nas Ave-nidas Novas desde Março do ano passado, é uma delas. Comecemos pelo espaço – decora-ção contemporânea, boa temperatu-ra, boa luz, montra ampla para a rua, as paredes sempre com exposições de artistas convidados – da ban-da desenhada à fotografia. A sala é para não fumadores, existe uma pequena esplanada para tabagistas impenitentes. Um plasma transmite a Fashion TV ou o Food Channel, enquanto o sistema de som passa uma boa selecção de música soul, funk e jazz. O serviço é francamente simpático e acolhedor, com a Cláu-dia, a Joana e o Pedro a darem boa atenção aos clientes enquanto na cozinha as operações são coman-dadas pela chef Luísa Sousa.Uma das primeiras coisas que salta à vista é o cuidado colocado no ar-ranjo dos pratos – desde as saladas às tostas, passando pelas propostas do dia. Vê-se que na cozinha há gos-to em apresentar o trabalho de forma atraente – afinal os olhos também comem…

As sugestõesO Soul Food Café apresenta sempre um prato do dia, que vai variando. Se ao fim da manhã visitar a página do Soul Food Café no Facebook (bas-

ta escrever o nome, aparece logo) saberá o que pode ter à hora de al-moço – o bacalhau à Braz na prepa-ração da casa é uma especialidade, assim como a lasanha de carne (de uma qualidade invulgar), um arroz de pato pouco tradicional mas muito in-teressante, o prego em bolo do caco ou os risottos, para citar apenas al-gumas das propostas mais frequen-tes. Mas além dos especiais do dia, a lista apresenta outras propostas: saladas (destaco a de frango e a de salmão), pastas, tostas (destaco a de salmão e a de brie com mel), sandu-íches (experimentem a de presunto com brie ou a de cogumelos) e final-mente uns já célebres hambúrgueres de 150 gramas, feitos de boa carne, e que podem vir na versão grelhada,

com um molho picante, outro à base de queijo ou com uma boa dose de molho inglês. Eu vou quase sempre no spicy, com batatas fritas caseiras às rodelas. Para os mais gulosos, as sobremesas vão variando ao longo da semana. Falta dizer que a garra-feira é limitada mas bem escolhida e com preços sensatos e que há vinho a copo. Ao jantar estão disponíveis as su-gestões da carta, mas também um Pica-Pau Soul Food ou um prego no prato ou no pão. É possível marcar a sala para grupos – o limite é 30 pes-soas.Um almoço ou jantar para duas pes-soas, com vinho e sobremesa, ficará entre os 30 e 40 euros, dependendo das escolhas e apetites.

soul Food CaféAv. Miguel Bombarda 133 B

Tel. 213 161 163

Lioness: Hidden treasures - Amy Winehouse

BANDA soNoRA

Um disco póstumo é um objecto que fica a meio caminho entre o testamento e o abutre, arrisca-se a ser incómodo em ambas as situações. “Lioness: Hidden Treasures”, de Amy Winehouse, pertence a esta classe maldita da música popular. Acontece que este disco é uma prova do talento multifacetado que Amy Winehouse tinha, da sua enorme capacidade de interpretar canções, como se ouve nas versões que gravou de clássicos como “Our Day Will Come”, “Will You Still Love Me Tomorrow”, “Valerie”, “The

Girl From Ipanema”, ou “Body And Soul” (este um dueto com Tony Bennett). O disco tem também dois temas da própria Amy Winehouse, entre eles “Like Smoke” e “Between the Cheats”, uma prova de que ela era também uma talentosa compositora. Amy Winehouse criou um estilo feito de inspirações que vão do rap a Ronnie Spector, passando por algumas divas soul. Viveu depressa, morreu cedo e deixou-nos bons discos.

Cafetaria com almaOs passatemposAo almoço a clientela é muito hetero-génea – há conversas de negócios, conversas de amigos, conversas de namorados, conversas de advoga-dos e conversas de escritório. Tam-bém há mesas solitárias – já que este é um espaço onde se pode estar sem medo de ser maçado ou des-pachado. Há wi-fi para os clientes e algumas revistas para ler enquanto se espera a chegada do pedido.A casa tem um lado de entreteni-mento, que começa na música e nos canais escolhidos na televisão, mas que passa também pela simpática possibilidade de ir lanchar, ou beber um copo ao fim da tarde, acompa-nhado por um prato de enchidos ou uma selecção de queijos ou até um prato das estimáveis batatas fritas caseiras. Nos dias em que há futebol digno de nota a gerência avisa via Facebook que faz algumas promo-ções para quem lá quiser ver o jogo – como recentemente aconteceu com o Barcelona-Real Madrid. Ca-fetarias destas existem poucas em Lisboa – a conjugar a qualidade do espaço, com o serviço e a qualidade da cozinha – simples mas cuidada.

Texto escrito segundo as regras anteriores ao acordo ortográfico

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Fevereiro de 2012 45O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Montra

Bilhete postal do paraísoQuando os dias ainda estão frios e cinzentos nada como sonhar com o quente

do sol numa praia de areia dourada: uma escapadela da vida diária é exatamente o que propõe a Longchamp com o novo design da gama Le Pliage®. Com

assinatura do nova-iorquino Jeremy Scott, os novos modelos assumem a forma de um convite ao paraíso: uma das faces apresenta-se “pintada” a cores quentes num cenário exótico e irresistível, enquanto na outra, em forma de bilhete postal,

o designer reforça o convite com um “gostava que estivesse aqui”.

tempo de acrobaciasA Lorus lançou dois novos modelos de relógios masculinos da coleção Blades, a equipa de acrobacias aéreas patrocinada pela marca. O caráter simultaneamente desportivo e clássico é a principal nota destes modelos, em caixa de 42 mm em aço e uma resistência à água até 10 bars de pressão. Com bracelete em pele, apresenta duas opções no mostrador – preto e branco, ambas com duplo calendário.

Brilho e sofisticaçãoUm brilho sofisticado é o que promete a Pekan com a coleção Fresh Start. Trata-se de

uma seleção de três anéis em prata e ouro com quartzo fume, green gold e ametista verde. As pedras em tons límpidos conferem a cada uma das peças uma sensação

translúcida de profundidade e um toque fresco próprio para antecipar os dias primaveris.

escrita com mistérioA Montblanc presta homenagem ao mestre do thriller psicológico cinematográfico, Alfred Hithcock, com dois novos modelos exclusivos. A Edição Limitada 3000 inspira-se no design da escura escadaria que se destaca em “Vertigo” (1958): a textura em resina preciosa preta cria um efeito especial que remete para a sensação de vertigem de Hitchcock. E no clip alude à arma do crime de “Psyco” (1960), uma faca de lâmina reluzente. O cone da caneta, em prata, apresenta 53 marcas que simbolizam os filmes da carreira do realizador. Já a Edição Limitada 80 dá corpo a canetas em ouro branco maciço com reminiscências vermelhas que simbolizam manchas de sangue. O clip em forma de faca é enriquecido com diamantes.

sinal máximoÉ um novo serviço da Vodafone destinado a garantir a máxima cobertura móvel em

espaços interiores. Chama-se Sinal Max e disponibiliza rede 3G com alcance de 50 a 70 metros, o que o torna especialmente indicado para garagens e caves ou

outros locais onde o sinal normal de rede sofra limitações.Assente na tecnologia Femtocell, permite até quatro chamadas – de voz e dados

– em simultâneo e configurar até 30 números de telemóvel. Para beneficiar deste novo serviço basta adquirir o equipamento, disponível em qualquer loja do

operador, e dispor de um serviço ADSL, fibra ou cabo.

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O agregador da advocacia46 Fevereiro de 2012

www.advocatus.ptObra de Arte

Dinamismo e vida são as primeiras palavras que surgem a Pedro Drago quando contempla a obra “Lisboa cidade de recantos”, da autoria de António Araújo. Esta tela a óleo é original de 2006 e tem como pano de fundo a cidade de Lisboa. O autor retratou na obra alguns temas da capital portuguesa. Como explica o advogado da Barrocas Advogados, o artista faz uma “representação da cidade, evocando a história, as lembranças e tertúlias do tempo de estudante”.Nas instalações da sociedade, a obra encontra-se no corredor que dá acesso à sala de reuniões, de forma a que não só a equipa da Barrocas Advogados, mas também os clientes a possam apreciar. Na perspetiva do advogado, tem ali “a visibilidade e o destaque necessário à dignidade” da peça.Para Pedro Drago, a arte é um complemento essencial na vida de um advogado e esta obra transmite o dinamismo essencial ao exercício da profissão. Por isso, considera fundamental a existência de obras de arte no escritório, porque “a arte e a advocacia andam de mãos dadas”. Na sua opinião, tanto a advocacia como a arte “têm regras que, não sendo absolutas, ficam confinadas à inesgotável aptidão criadora do homem”. Neste sentido, elege as palavras do jurista sul-americano Eduardo Couture para explicar esta relação: “A arte de manipular as leis sustenta-se, acima de tudo, na excelsa dignidade da matéria confiada às mãos do artista”.

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