jornal advocatus nº 4

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Ao ADN do advogado falta a perspectiva do Marketing Pedro Rebelo de Sousa sobre o rebranding da SRS O responsável pelas áreas de Direito Fi- nanceiro e Mercado de Capitais da PLMJ acha que uma Oferta Pública de Aquisi- ção, hostil em particular, é uma operação com adrenalina. Jorge Brito Pereira cor- re maratonas, actua nos Fora da Lei e acha que a advocacia de negócios por- tuguesa enriqueceu muito em contacto com a inglesa César Sá Esteves (SRS) diz que é mais fácil despedir cem trabalhadores do que um só. Luís Miguel Mon- teiro (MLGTS) põe em evidência o confronto entre a realidade e o modelo normativo teórico. Mais optimis- ta, João Paulo Teixeira de Matos (Garrigues) garante que o ordenamento jurídico funciona. Pedro Romano Martínez, presidente do Instituto do Direito do Traba- lho, chama a atenção para o incremento dos litígios motivados pelas deficiências da lei Jorge Brito Pereira, sócio PLMJ OPA tem muita adrenalina Mais fácil despedir cem do que um? 6 25 Assumimos um compromisso consigo: estar cada vez mais próximos, disponíveis e dedicados. Contacte-nos através do seu Mediador, visite-nos num Espaço AXA ou ligue 707 218 218, todos os dias úteis, das 8h30 às 19h00. PUB PUB Director: João Teives n Director Editorial: Jorge Fiel n Mensal n Ano I n N.º 3 n Junho de 2010 n 15 euros www.advocatus.pt www.raposobernardo.com Pág. 31

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Jornal advocatus Nº 4

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Page 1: Jornal advocatus Nº 4

Ao ADN do advogado

falta a perspectiva

do Marketing

Pedro Rebelo de Sousasobre o rebranding da SRS

O responsável pelas áreas de Direito Fi-nanceiro e Mercado de Capitais da PLMJ acha que uma Oferta Pública de Aquisi-ção, hostil em particular, é uma operação com adrenalina. Jorge Brito Pereira cor-re maratonas, actua nos Fora da Lei e acha que a advocacia de negócios por-tuguesa enriqueceu muito em contacto com a inglesa

César Sá Esteves (SRS) diz que é mais fácil despedir cem trabalhadores do que um só. Luís Miguel Mon-teiro (MLGTS) põe em evidência o confronto entre a realidade e o modelo normativo teórico. Mais optimis-ta, João Paulo Teixeira de Matos (Garrigues) garante que o ordenamento jurídico funciona. Pedro Romano Martínez, presidente do Instituto do Direito do Traba-lho, chama a atenção para o incremento dos litígios motivados pelas deficiências da lei

Jorge Brito Pereira, sócio PLMJ

OPA tem muita adrenalina Mais fácil despedir cem do que um?6 25

Assumimos um compromisso consigo: estar cada vez mais próximos,

disponíveis e dedicados. Contacte-nos através do seu Mediador, visite-nos

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Director: João Teives n Director Editorial: Jorge Fiel n Mensal n Ano I n N.º 3 n Junho de 2010 n 15 euros

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O novo agregador da advocacia2 Junho de 2010

www.advocatus.ptEntrevista

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Junho de 2010 3O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt EntrevistaDestaques

O presidente do Instituto dos Advogados de Empresa não tem dúvidas: “O advogado in house tem valências que o do outsourcing não possui”. Católico, Vítor Marques Moreira sublinha que o advogado da empresa conhece a história, o pessoal e o negócio, e por isso, defende que ele deve ser um auxiliar de gestão “e tem de caminhar a passos largos para ser parte integrante da gestão”

TESTEMUNHO

Vítor, o defensor dos advogados in house15

Quando chega a hora de arranjar emprego, a média de curso conta, mas não é tudo. As firmas de advo-gados dão cada vez mais importância à componente psicológica dos recém-licenciados, querem saber quem é o candidato, o que tem feito ao longo da vida, como ocupa os tempos livres e as responsabilida-des que assumiu ao longo do percurso académico

RECRUTAMENTO

A média conta mas não é tudo10

Adepto apaixonado pelo Sporting e antigo hoquista do Alverca, Luís Filipe Carvalho, sócio da ABBC e candidato a Bastonário, é uma cara conhecida da generalidade dos portugueses, porque aparece frequentemente na SIC: “Vou à televisão para contribuir para a credibilização da Justiça e para ajudar as pessoas a perceberem melhor o que se passa”, explica o advogado, que, apesar de nunca ter recebido qualquer tipo de treino ou preparação, tem uma excelente relação com as câmaras e passa muito bem na televisão

PASSEIO PÚBLICO

O candidato que passa bem na televisão23

O artigo de Bruno Mestre só não conheceu a luz do dia no número de estreia da Advocatus porque fazia parte do dossiê sobre Direito e Redes Sociais, cuja publicação adiámos para o número 2. Mas em Maio aconteceu o que não devia ter acontecido, por única e exclusiva responsabilidade do director editorial, sublinhe-se. Na página 24 da última edição está o título certo (O problema reside na prova), a entrada adequada, a assinatura e a fotografia correctas – mas o artigo errado. Do erro pedimos desculpa aos leitores, ao Bruno Mestre e à PLMJ. E para tentar redimir-nos desta imperdoável falha pedimos à Who uma magnífica ilustração para acompanhar nesta edição a publicação correcta desta matéria. À terceira foi de vez!

POR DIREITO

Bruno Mestre: à terceira foi de vez36

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EditoraEnzima Amarela - Edições, Lda

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Impressão: Sogapal, Rua Mário Castelhano, Queluz de Baixo

2730-120 Barcarena

Director-geralJoão David Nunes

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DirectorJoão Teives

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Director EditorialJorge Fiel

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Editor onlineAntónio Barradinhas

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Directora de MarketingMaria Luís

Telf. 925 606 [email protected]

Rua Luz Soriano, 67-1º E Bairro Alto1200-246 Lisboa - PORTUGAL

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Page 4: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia4 Junho de 2010

www.advocatus.ptEntrevista

João TeivesDirector Advocatus

Cortar a direito

Beyond a reasonable doubt

“Autobiography of an execution” (2010) é o re-lato, na primeira pessoa, da experiência de Da-vid R. Dow como advogado dos condenados à morte. Dow é Director de Contencioso do Texas Defender Service e relata no seu livro, com no-mes fictícios, muitos dos casos em que partici-pou, a sua luta diária para protelar a execução dos seus clientes e os efeitos dessa luta na sua própria vida pessoal. É um retrato poderoso e desassombrado do sistema. A multiplicidade de histórias que Dow conta é mais do que suficien-te para nos deixar petrificados. Ao ponto de nal-guns casos a execução ser agendada, por acor-do, quase nos termos do nosso 155º! O binómio vida profissional/vida pessoal e a dispersão de casos acaba por desequilibrar um pouco o livro. Desse mal não sofre “THE LAST LAWYER – The fight to save death row inmates”(2009). Foi es-

crito pelo Professor de jornalismo da Universi-dade de West Virginia John Temple. É um relato muito completo e preciso da defesa de Bo Jo-nes pelo advogado Ken Rose e a sua equipa do Center for Death Penalty Litigation em Durham (Carolina do Norte). John Temple acompanha de perto todos os membros da equipa, quer sejam investigadores ou advogados, na investigação, na elaboração das moções e dos recursos e nas próprias audiências, dando-lhe um fio condutor que nos permite perceber, por dentro, todos os passos, dúvidas, estratégias e acções daquele que é, verdadeiramente, o último advogado do cliente. Particularmente interessante é a aborda-gem à execução de pessoas com deficiências mentais, questão também abordada no livro de Dow. Em 2001, foi aprovada legislação no Es-tado que impedia a execução de pessoas com

um QI inferior a 70 e com incapacidade notória para executar as tarefas do dia a dia. Tendo sido dado prazo até Janeiro de 2002 para apresen-tar “mental retardation motions”. Dos duzentos casos que tinham em mãos, Ken Rose e a sua equipa identificaram 52 com deficiências men-tais, incluindo Bo Jones. O que significa que o Estado executa em regra, para além do binómio negro/pobre, sempre os mais fracos. O livro de Dow foi editado pela Twelvebooks (nome advêm da política da editora de só publicar um livro por mês) e o de Temple pela University Press of Mis-sissippi. Por incrível que pareça ainda não exis-te edição em suporte digital da obra de Lang, Beyond a Reasonable Doubt. Aqueles que não quiserem esperar por uma nova passagem na Cinemateca sempre poderão encomendar o fil-me, pelas vias habituais, em VHS.

Advocacia com causas

LIVROS

O título do último filme de Fritz Lang no seu exílio americano data de 1956 e tem um trama poderosa. Austin Spencer (Sidney Blackmer), director de um jornal, é um feroz opositor à pena de morte. Com o propósito de denunciar a injustiça da pena capital acorda com o seu futuro genro, o escritor em ascensão e antigo jornalista Tom Garrett (Dana Andrews), um plano audacioso. Os dois irão fabricar provas, todas cir-cunstanciais, por forma a incriminar Garrett de um homicídio que a Polí-cia não consegue resolver. O objec-tivo seria o de obter a condenação de Garrett, provando posteriormente a sua inocência e assim a falibilidade do sistema judicial e da aplicação da penalidade máxima. Sucede, porém, que o Director morre num acidente

são ética e personalista imanente à dignidade da pessoa humana.Estamos na cultura “do olho por olho” e de obediência, por vezes verdadeiramente fundamentalista, à palavra escrita. Como diz David. R. Dow “Deutoronemy tramps the sixt Amendment every time”. E, assim, os argumentos tendem a ser de cariz prático. Seja o perigo de matar inocentes, os custos financei-ros de manter os condenados no corredor da morte, a taxa de crime crescente em Estados com pena de morte, ou o próprio método de execução, já que a mistura de quí-micos utilizada em certos estados na injecção letal, foi inclusivamente abolida pela Associação de Veteri-nários quando eutanasiam animais. O argumento mais forte utilizado

A meu ver, neste filme tão incompreendido, que data de 1956, Fritz Lang destrói, com a sua absoluta mestria, todos os alicerces em que se poderia fundar a “racionalidade” do sistema da pena capital

de viação e com ele são destruídas as provas da inocência de Garrett. Quando está agendada a sua exe-cução é descoberta uma carta de Spencer ao Procurador revelando todo o plano e assim a inocência de Garrett. Este descai-se em conver-sa com a sua noiva Susan Spencer (Joan Fontaine) que descobre ser ele o verdadeiro assassino. Quan-do o governador se prepara, frente às câmaras, para assinar o perdão, recebe uma chamada e, num plano sublime, com a caneta em punho leva-a lentamente ao seu suporte no topo da secretária mandando o pri-sioneiro recolher à cela. Não houve perdão e a execução iria prosseguir. Este filme de Lang leva a discussão em torno da pena de morte a um patamar superior. Não se trata do

argumento clássico e válido dos abo-licionistas de que basta provar que um condenado à morte é inocente para justificar o fim da aplicação da pena. O ser culpado ou não acaba por ser indiferente à discussão. O absurdo do sistema é que, mesmo sendo culpado, Garrett foi condenado com provas to-talmente fabricadas e, para mais, cir-cunstancias. Este absurdo deixa-nos inquietos, descrentes e angustiados. Como é que podemos confiar neste sistema? A meu ver, neste filme, tão incompreendido, Lang destrói, com a sua absoluta mestria, todos os alicer-ces em que se poderia fundar a “racio-nalidade” do sistema da pena capital. É fácil de compreender que nos Es-tados Unidos os argumentos da tese abolicionista raramente são esgrimi-dos no seu território natural de dimen-

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www.advocatus.pt

Edição vídeo desta entrevista

em www.advocatus.pt

tem sido, sem dúvida, a da inexis-tência de um “due process of law” relativamente a muitas condena-ções (argumento que também é esgrimido na obra de Lang quando Spencer discute com o Procurador no início do filme). É interessante que muitos advogados de conde-nados à pena de morte, que eram favoráveis à aplicação da pena, se tornaram abolicionistas quando confrontados com os processos em concreto que levaram os seus clien-tes ao corredor da morte. E existem casos gritantes. Seja na ocultação de provas, na escolha do júri ou até na muito deficiente representação dos acusados por parte do advo-gado de defesa no julgamento. Dow conta uma história inacreditável de um advogado que dormiu durante o julgamento, não fez uma única instância às testemunhas de acusa-ção, não produziu uma única prova em julgamento (nem possíveis ate-nuantes) e nem sequer alegou (nem mesmo na fase de determinação da sanção). Por azar o segundo advo-gado nomeado para representar o condenado não levantou a questão da representação inadequada no recurso. O cliente acabou executa-do.O sistema pós-condenação de exe-cução da pena de morte é bastan-te complexo. Existem mais de 49 moções e recursos possíveis, razão pela qual entre a sentença e a sua efectiva aplicação medeiam vários anos. E, assim, cada adiamento (“stay”) ou prorrogação é vista pelo advogado do condenado como uma grande vitória dentro de uma batalha com um destino pratica-mente traçado. Na maioria das ve-zes, o advogado não procurará es-tabelecer a inocência do seu cliente mas sim provar que, se não existis-sem iniquidades no sistema e no processo, não teria sido aplicada a pena capital. Particularmente cruel é a estratégia de alguns Tribunais de Recurso de só fazerem conhecer a sua decisão 15 minutos antes da execução para não permitir o advo-gado apresentar novo recurso para protelar a execução.Felizmente no nosso país podemo-nos orgulhar de não ter de travar diariamente tais batalhas.

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O novo agregador da advocacia6 Junho de 2010

www.advocatus.ptEntrevista

Cristina ArvelosJornalista

Advocatus | A crise também chegou à advocacia?Jorge Brito Pereira | Na socieda-de PLMJ, coordeno duas áreas: Direito Financeiro e Mercados de Capitais. Esta última ressente-se da crise. Operações de mercado, de expressão, são muito poucas. A área de Direito Financeiro é me-nos cíclica, pois existem opera-ções que se fazem em momentos de crise e de expansão económi-ca, nomeadamente de financia-mento. Mas o ano tem sido inte-ressante no Mercado de Capitais

“Não me acho um tubarãomas também não sou golfinho”

Jorge Brito Pereira, sócio da PLMJ

“Não me acho um tubarão. Mas também não sou golfinho e penso que os outros advogados também não o são”, afirma Jorge Brito Pereira, sócio da PLMJ, onde coordena as áreas de Direito Financeiro e de Mercados de Capitais, acrescentando que o mercado está em permanente mudança: “Quando comecei a advogar, era uma enorme vantagem saber falar e escrever em inglês. Hoje em dia, falar mandarim ou/e alemão é uma vantagem, mas falar inglês é um dado adquirido. O mercado mudou e acredito que ainda vai mudar mais”

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Junho de 2010 7O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

português. Já tivemos a oferta pú-blica de aquisição da CSN sobre a Cimpor. Não estou pessimista.

Advocatus | A retoma acontece-rá ainda em 2010?JBP | Vamos ter muitos soluços nesta retoma e vivemos actual-mente um deles. Estamos numa situação complicada, num mo-mento difícil para Portugal.

Advocatus | São para tubarões as áreas em que trabalha?JBP | Não gosto dessa expres-são. Primeiro, não me acho um tubarão. Mas também não sou golfinho e penso que os outros advogados também não o são. Os advogados, que trabalham nestas áreas, começaram há 20, 25 anos. É uma área para advogados com algumas particularidades, mas que não correspondem à imagem dos tubarões – dos grandes advo-gados que fazem negócios extra-ordinários.

Advocatus | O que o levou a es-colher estas áreas?JBP | O acaso, uma coincidên-cia. Fui estagiário de José Miguel Júdice, que começou a trabalhar nesta área nos anos 90. Na altura, tivemos uma operação enorme: a oferta pública de aquisição sobre a Sofinloc, em que José Miguel Júdice foi advogado e eu o esta-giário. Gostei, entusiasmei-me, fiz a minha tese de mestrado nesta área, escrevi livros sobre OPA. Uma Oferta Pública de Aquisição, hostil em particular, é uma opera-ção com adrenalina, estratégia e muitos termos jurídicos com com-plexidade. Acredito que só não há mais advogados nesta área, por-que o mercado é pequeno.

Advocatus | A componente in-ternacional nesta área está mais presente do que nas outras. Certo?JBP | Quem trabalha nesta área sente-se cidadão da Europa. Não há nenhuma operação do merca-do que não tenha uma compo-nente internacional. Os mercados europeus estão abertos, o capital circula com velocidade, em parti-

cular dentro da Europa, mas tam-bém para fora. Qualquer operação de mercados envolve advogados estrangeiros, bancos de investi-mento internacionais.

Advocatus | Nos contactos in-ternacionais há algum que tenha como uma efectiva mais-valia?JBP | Sim. Não individualizando ninguém, acho que a advocacia de negócios portuguesa enrique-ceu muito com os contactos com a inglesa. Os nossos métodos de trabalho mudaram, melhoraram muito, o que faz com que a prática da advocacia portuguesa corres-ponda aos melhores padrões da advocacia internacional.

Advocatus | O que mudou?JBP | O panorama jurídico portu-guês mudou radicalmente. Passou de um mercado fechado com meia dúzia de advogados de grande qualidade, com uma prática indi-vidual para um mercado comple-tamente aberto, com uma vertente internacional e que deixou de estar focalizada em seis indivíduos para se focalizar num conjunto de es-critórios de advogados, entidades que actuam de forma colectiva e procuraram especialização, maior eficiência. Quando comecei a ad-vogar, era uma enorme vantagem saber falar e escrever em inglês. Hoje em dia, falar mandarim ou/e alemão é uma vantagem, mas fa-lar inglês é um dado adquirido. O mercado mudou e acredito que ainda vai mudar mais.

Advocatus | A advocacia dos ne-gócios faz-se à mesa em almo-ços e jantares?JBP | Essa imagem está colada a uma certa advocacia de negócios, mas não é real. A advocacia de negócios é mais uma prática de escritório, um trabalho de equipa persistente, feito sobre papéis, muito menos entusiasmante do que se vê em filmes americanos, em que acontecem sempre umas coisas extraordinárias.

Advocatus | Nunca desiste?JBP | Não sou de desistir. A per-sistência, muito mais do que gran-

lhar. Já tive processos fantásticos em que correu tudo bem e outros terríveis em que correu tudo mal. Se mantivermos a relação certa com o cliente, ele percebe que os advogados não são responsáveis por tudo, quer quando corre bem, quer quando corre mal. Os advo-gados são apenas um dos facto-res dos processos.

Advocatus | é o dinheiro que move as pessoas e as socieda-des de hoje?JBP | Não. É verdade que a área de Direito Financeiro e a de Mer-cado de Capitais lidam sobretudo com dinheiro. Isto não significa que daqui se possa tirar uma fo-tografia aplicável à sociedade. Sou daqueles que acredita pia-mente que não é o dinheiro que move a sociedade e as pessoas. O dinheiro é apenas um elemento muito importante na nossa vida. Como costumo dizer aos meus alunos: é melhor ser rico, bonito e com saúde do que pobre, feio e doentinho. Mas continuo a achar que os elementos fundamentais

“Uma Oferta Pública de Aquisição, hostil em particular, é uma operação com adrenalina,

estratégia e muitos termos jurídicos com complexidade”

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“Os arranques e recuos com a tributação das mais-valias são um

péssimo sinal do que se deve fazer. O caminho tem de ser marcado

de forma firme e determinada”

des qualidades intelectuais, é uma das maiores características que alguém pode ter. Tento que ela es-teja na minha vida e admiro mui-to as pessoas persistentes com quem trabalho.

Advocatus | A persistência não pode levar à obstinação?JBP | Às vezes. Por isso, deve ser temperada com outras qualida-des, nomeadamente por alguma clarividência. Se assim não for, acontece o mesmo que a algumas pessoas nas maratonas: não de-sistem, apesar de não se sentirem bem, e morrem.

Advocatus | E quando as coisas não correm bem com os clien-tes?JBP | O acompanhamento aos clientes tem uma parte jurídica, mas tem também outra psicológi-ca – a que se utiliza para se estar ao lado do cliente nos momentos difíceis. O cliente não procura no advogado apenas um trabalho bem feito. Quer também que o ad-vogado seja capaz de o aconse-

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O novo agregador da advocacia8 Junho de 2010

www.advocatus.ptEntrevista

estão nas pessoas e não no di-nheiro.

Advocatus | O que move então a sociedade?JBP | Mal está a sociedade em que o seu elemento fundamental e es-sencial é o dinheiro. Acredito que a sociedade portuguesa tem um conjunto de valores nas pessoas, na família, que move muito mais do que o dinheiro. Vivemos um mo-mento complicado e, por isso, o dinheiro é actualmente um elemen-to catalisador pelas piores razões. Passa a ter importância, sobretudo para as pessoas que não o têm e que dele precisam para dar respos-ta às necessidades que criaram. Os últimos anos foram de fortís-simo endividamento das famílias portuguesas.

Advocatus | Quais são, a seu ver, os valores essenciais para me-lhorar a sociedade?JBP | A família traz valores funda-mentais, que tenho como fortes referências da minha vida. Cultivo muito a minha família e a relação com os meus filhos, os meus pais, os meus sogros. Há outro elemen-to que também cultivo muito des-de há 15, 20 anos, que é a procura da felicidade individual através do bem-estar. Gosto muito de traba-lho, trabalho muito, mas sei que a minha felicidade não é ali que está. Está num conjunto de outras coi-sas que faço, que ajudam a equili-brar-me e a ser feliz.

Advocatus | A legislação portu-guesa afasta os investidores?JBP | Temos uma legislação desi-gual. Na área do Direito Financeiro, temos uma legislação que corres-ponde, sob o ponto de vista técni-co-jurídico, ao que de mais sofisti-cado existe na Europa. Mas sempre tivemos um sério problema em olhar para o mercado, para aquilo sobre o que estamos a legislar. Há países na Europa que perceberam, há várias décadas, que a legislação é um factor de competitividade e estruturaram o seu sistema jurídico de forma a que fosse atraente para os estrangeiros investirem, deslo-carem sedes, terem regimes fáceis,

flexíveis, sob o ponto de vista fiscal estáveis e interessantes. O Luxem-burgo, a Holanda, a Irlanda são bons exemplos disso. Infelizmente, Portugal não percebeu.

Advocatus | E abusa na carga fis-cal…JBP | O problema já nem se põe tanto na carga fiscal. Põe-se na estabilidade do regime. A principal razão que leva vários investidores estrangeiros a não contemplarem Portugal como sede para as suas operações é não confiarem na esta-bilidade. Ninguém sabe para onde vai evoluir o nosso regime fiscal a cinco, dez anos e as expectativas são más. Nós não somos capazes de dar confiança aos investidores estrangeiros e portugueses.

Advocatus | Como têm sido as experiências em Angola e no Brasil?JBP | São mercados muito diferen-tes e interessantes, que vivem uma fase de crescimento económico. O mercado brasileiro tem um nível de maturidade, em particular por cau-sa da aproximação aos Estados Unidos. No mercado angolano as coisas estão a ser construídas há menos de uma década. Mas Ango-la é um país de que gosto muito.

Advocatus | Porquê?JBP | Há cerca de sete anos, tinha a guerra acabado há seis meses, fiz com dois amigos uma viagem inesquecível por Angola. Na altura, se soubesse escrever, tinha escrito um romance, se soubesse pintar, tinha pintado um quadro. Como não sabia fazer nem uma coisa nem outra, escrevi um livro de di-reito angolano, que foi publicado com a ajuda de duas colegas, uma das quais angolana. Foi a forma de agradecer a viagem extraordiná-ria, os amigos que ainda tenho em Angola. Sem ter sangue ou ascen-dência africana, fiquei sempre com uma ligação próxima com Angola.

Advocatus | Porque é que os ri-cos querem sempre ser mais ri-cos: pelo prazer de negociar ou pela costela Tio Patinhas?JBP | Não sei se saberei respon-

“A persistência, muito mais do que grandes qualidades intelectuais, é uma das maiores

características que alguém pode ter”

“A advocacia de negócios portuguesa

enriqueceu muito com os contactos com a

inglesa”

Há três anos e meio, pesava 100 quilos, ouviu de um ex-aluno que chegavam seis meses de preparação para correr uma maratona. Nessa semana, começou a correr, sempre ao pé do Tejo, em Lis-boa, e meio ano depois, com menos 14 quilos, estava a participar na maratona de Londres. Chegou até ao fim, “não no melhor esta-do”, e não parou mais. Corre três vezes por semana e duas vezes por ano participa em maratonas. A última foi em Boston, que fez em 3h37. No seu dia-a-dia não prescinde ainda de ler e de cozi-nhar. A tarefa de fazer o jantar está a seu cargo. Gosta e gostam dos seus cozinhados. Na leitura, anda fascinado por José Eduardo Agualusa. A música é um dos seus maiores prazeres. Faz parte da banda rock-blues “Fora da Lei”, só composta por advogados. Toca guitarra e escreve as letras. Confidência: “Acredito que as letras são a maior contribuição que dou, pois de outra forma não me deixariam tocar na banda”.

Maratonista, chef e fora da lei

HÓBIS

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Page 9: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 9O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

Edição vídeo desta entrevista

em www.advocatus.pt

der. Não sou rico e, se fosse, tenho dúvidas de que quisesse ainda ser mais. Mas é normal que quem é rico pela qualidade do seu trabalho, não esteja com vontade de parar de trabalhar. São pesso-as para quem o trabalho é mui-to importante. A nossa tradição judaico-cristã tem uma relação terrível com o dinheiro, ao contrá-rio do que acontece em tradições com uma raiz mais protestante, em particular os Estados Unidos.

Advocatus | é um professor tra-dicional ou aberto?JBP | Adoro, tenho paixão por dar aulas. Comecei por acaso, esta-va no 5.º ano, em 1989. Adoro a

“A principal razão que leva vários investidores

estrangeiros a não contemplarem Portugal

como sede para as suas operações é não confiarem na estabilidade. Nós

não somos capazes de dar confiança aos investidores estrangeiros e portugueses.”

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relação com os alunos, aprendo imenso com eles, é muito enri-quecedor e obriga-me a estar actualizado. Acho que sou justo nas avaliações e um dos meus maiores gostos é ter alunos com sucesso.

Advocatus | Como é trabalhar na PLMJ, a maior sociedade de advogados do país?JBP | Nunca estive noutra. A fi-delidade ao escritório onde se trabalha é uma qualidade, mas também é normal que os advo-gados mudem quando entendem. O meu escritório foi o primeiro a ter presente que o futuro esta-va no crescimento orgânico e a

apostar nos seus estagiários, há 20 anos. Hoje em dia vejo esta-giários meus a fazerem o mesmo caminho que eu fiz na sociedade. Para mim, trabalhar na PLMJ é natural, como respirar. E para ser sincero não me vejo a trabalhar noutro sítio.

Advocatus | Qual é o seu maior desafio para 2010?JBP | É o sucesso da área de Direi-to Financeiro na PLMJ. É chegar ao final do ano, olhar para trás e en-contrar uma área estabilizada, com uma carteira de clientes fiel, um conjunto de advogados de grande qualidade a trabalhar em equipa. Acredito que vamos conseguir.

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Page 10: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia10 Junho de 2010

www.advocatus.ptRecrutamento

Na hora do recrutamento, a média final de curso continua a ser importante, mas a componente psicológica dos recém-licenciados é cada vez mais valorizada. As firmas querem saber quem é o candidato, o que tem feito ao longo da vida, o que gosta de fazer nos tempos livres, a forma como gere o tempo e as responsabilidades assumidas ao longo do percurso académico

A média conta mas não é tudo

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Numa época em que a concor-rência no mercado de trabalho é feroz, as sociedades focam-se nas qualificações dos candidatos, usando a média apenas como pri-meiro elemento de despiste. Do

outro lado da barricada, aos fina-listas de Direito já não basta um estágio profissional. Para darem os primeiros passos na carreira, os bons alunos avaliam os vários escritórios de topo, elegendo os

que pagam melhor, dão formação extra e prometem internacionali-zação.Em Outubro de 2010, é dado o tiro de partida para o recrutamento profissional iniciado em Setem-

Tatiana CanasJornalista

[email protected]

Page 11: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 11O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Recrutamento

bro do ano seguinte. O Job Shop da Católica (um encontro onde as firmas de advogados fazem o headhunting dos finalistas, que, por sua vez, aproveitam para con-sultar o leque de ofertas que os es-pera no mercado de trabalho), que costumava ter lugar em Março, foi antecipado em cinco meses, o que demonstra bem o acirrar da concorrência no recrutamento dos melhores profissionais.“É bom sinal. Significa que há uma guerra entre as sociedades de ad-vogados pelos melhores alunos”, comenta Patrícia Gonçalves, res-ponsável pelo Gabinete de Saídas Profissionais da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Uni-versidade Católica Portuguesa (Católica). A média mantém-se como factor preponderante no re-crutamento, mas Patrícia garante que a parte psicológica é crescen-temente valorizada pelas firmas, e isso é visível, quer através das “clínicas legais” (uma cadeira do

“É importantíssimo o conhecimento do advogado,

porque este é um mercado que trabalha com pessoas”

“A comissão de estágio permite-nos ter um

conhecimento muito mais profundo do que se passa

durante o estágio”

Filipa Mendes Pinto

Sócia da FIND. 43 anos. Licenciada em Direito (91) na Clássica

de Lisboa. Começou na J. Galvão Teles, Bleck,

Pinto Leite & Associados. Directora do departamento jurídico da

PGA – Portugália Airlines, entre Abril de 95 e Setembro 03

Patrícia gonçalves

Responsável pelo Gabinete de Saídas Profissionais da Fac. Direito Lisboa

da Católica desde 2006. 31 anos. Licenciada

em Comunicação Social pela Católica. Estágio curricular na TVI.

Trabalhou em consultoras, agências de comunicação

e no grupo Impala

Pedro Metello de Nápoles

Sócio Coordenador da Comissão de Estágio de PLMJ

Licenciado em Direito (95) pela Católica de Lisboa.

Foi secretário executivo da Associação Portuguesa de Arbitragem. Especializado nas áreas do

Contencioso e da Arbitragem

“Há uma guerra entre as sociedades

de advogados pelos melhores alunos”

último ano onde os estudantes to-mam conhecimento directo com a prática dos escritórios de advoga-dos, consultoras ou ONG, através da frequência inhouse), como dos estágios de Verão. No próprio Job Shop da Católica está prevista a inscrição de “alu-nos-embaixadores” destacados para cada sociedade de advoga-dos participante. O objectivo des-ta função é aluno e firma darem-se a conhecer mutuamente, numa tarefa onde a média é desconhe-cida, pelo que os advogados vão prestar mais atenção às compe-tências qualitativas do estudante.Durante os últimos meses do cur-so, os dados dos estudantes são centralizados no Gabinete de Saí-das Profissionais, que organiza um CD com os vários currículos, em que constam contactos dos fina-listas e data da respectiva licen-ciatura, bem como média prevista. As informações estão, também, discriminadas por nível (mestrado,

licenciatura ou LLM) para os escri-tórios poderem escolher directa-mente de entre os candidatos que procuram. A adesão dos estudan-tes a este método é tão elevada que no ano lectivo de 2009/10, apesar dos licenciados serem 120, os dados concentrados no CD in-cluíam 238 juristas. O follow up dos estudantes da Ca-tólica é elevado, até com recurso às novas tecnologias, como a rede social Linked In. “Mantemos o con-tacto com ex-alunos até porque muitos participam no 2.º ciclo [mes-trados]”, explica Patrícia. A tendên-cia da grande maioria dos licen-ciados é estagiar em sociedades de advogados, mas a responsável pelo Gabinete de Saídas Profissio-nais da Católica garante que “tam-bém já há muitos interessados em empresas”, como as consultoras Deloitte, PricewaterhouseCoopers ou KPMG, e os bancos Millen-nium BCP ou BES. A razão da preferência pelas firmas

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Aos finalistas de Direito já não basta um estágio

profissional. Para darem os primeiros

passos na carreira, os bons alunos avaliam os vários escritórios de topo, elegendo os que pagam melhor,

dão formação extra e prometem

internacionalização

Page 12: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia12 Junho de 2010

www.advocatus.pt

“Os interessados começam a enviar candidaturas

espontâneas ainda antes de terminarem o

curso”

“Se não resistirmos à antecipação do

recrutamento, daqui a pouco, vamos buscar

os estagiários ao liceu!”

Fernanda Matoso

Sócia desde 1988 da MLGTSLicenciada em Direito (84) pela Universidade Livre de Lisboa.

Além de responsável pelo Recrutamento há 15 anos

(“Já tenho sócios na firma que foram recrutados por mim”), coordena

ainda a equipa de Administrativo e Contratação Pública e

é sub-coordenadora do departamento de Direito Público

Luísa Soares da Silva

Sócia desde 2001 da MLGTS, onde está há 20 anos.

Licenciada em Direito (90) na Católica Portuguesa.

É responsável pelo Recrutamento e integra

as equipas de Comercial e Societário e Mercado de Capitais

Marta Trindade

Sócia desde 2007 na Abreu Advogados.

Licenciada em Direito (97) na Clássica de Lisboa

Especializada em Direito do Trabalho é também a responsável pelo

Recrutamento, pasta que partilha com

a Sofia Santos Machado

“O projecto humano passa pela consciencialização de

que esta é uma profissão rigorosa e

exigente”

prende-se com o facto do estágio, na maioria das empresas (cerca de 80%), ser proibido pela Ordem dos Advogados, o que levaria os advogados-estagiários a terem de arranjar um patrono ad hoc.A fase seguinte do processo de recrutamento é a filtragem dos dados recebidos pelas faculdades de Direito do País. Com a Nova (de Lisboa e Porto), a Católica (de Lisboa e Porto), e as Clássicas de Lisboa e Coimbra a representarem os principais focos de procura por parte dos escritórios de advoga-dos, os currículos recebidos pe-las firmas são às centenas, pelo que muitas optam por fazer uma primeira filtragem em regime de outsourcing.“É importantíssimo o conheci-mento do advogado, porque este é um mercado que trabalha com pessoas”, diz Filipa Mendes Pinto, sócia da FIND, uma empresa de

e é muito importante que os can-didatos a advogados saibam o que querem e para onde vão”, diz Filipa.Numa segunda fase da candida-tura, a entrevista é mais orientada para o projecto da firma em causa. “Primeiro, sem identificar em con-creto em que consiste a proposta, procuramos confirmar a corres-pondência do perfil do candidato ao pedido do cliente. Nesta fase, aprofundamos então os aspec-tos técnicos e comportamentais determinantes para o projecto em causa”, esclarece a sócia da FIND, acrescentando que “um dos grandes benefícios em passar por este primeiro filtro é o contexto ser mais informal, os candidatos não se sentem avaliados, o que é determinante para o sucesso da conversa”.Outro dos grandes objectivos da FIND é preparar os candidatos a

estágios em sociedades de advo-gados e departamentos jurídicos de empresas para as entrevistas in house. Saber como gerir os (even-tuais) convites feitos pelas firmas, ponderá-los e reagir às propostas, avaliando os tempos de resposta aos escritórios também faz parte das tarefas da empresa de Filipa: “A nossa posição não é apenas uma entrevista de selecção, tem também uma componente peda-gógica, de coaching profissional”, acrescenta Filipa Mendes Pinto. Como exemplos, a consultora deixa alguns conselhos, desde a postura corporal, que deve ser direita, mostrando determinação (v.s. recolhida na cadeira, o que transmite uma mensagem de aca-nhamento), ao vestuário, que se pretende arranjado “embora não demais”.Em 2008, a FIND fez o seu primei-ro estudo sobre a percentagem de

Recrutamento

recrutamento que trabalha exclu-sivamente com advogados. “Ou-tra coisa fundamental é conhecer a estrutura da sociedade para a qual estamos a desenvolver a procura. Mesmo quando já traba-lhámos com aquele cliente, gosta-mos sempre de conhecer o sócio ou o responsável da área que vai trabalhar com a pessoa recruta-da”, acrescenta.Dividido, em regra, em duas eta-pas, o processo de recrutamento de advogados estagiários para a FIND passa, em primeiro lugar, por uma entrevista de âmbito ge-ral onde se apura quem é o entre-vistado, o que tem feito ao longo da vida, o que gosta de fazer nos tempos livres, a forma como gere o tempo e as responsabilidades assumidas ao longo do percurso académico. “A competitividade do mercado na advocacia está a au-mentar, os tempos estão a mudar

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Page 13: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 13O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

estagiários colocados. “Ficámos muito contentes porque, com ex-cepção das saídas voluntárias, o número é praticamente irrisório, a maioria das pessoas mantém-se nas sociedades, o que signi-fica que há continuidade e que o nosso trabalho foi bem sucedido”, conclui Filipa Mendes Pinto, real-çando que, apesar de manter uma relação de parceria com as firmas de advogados, a decisão final é delas.A maior sociedade de advogados portuguesa, a PLMJ, é uma das fir-mas que se socorre da FIND para uma primeira triagem das cente-nas de candidaturas que recebe todos os anos e ao longo do ano. Depois, a PLMJ tem uma comis-são interna de estágio, coordena-

Recrutamento

da por Pedro Metello de Nápoles. Em conjunto com esta comissão trabalha, ainda, no recrutamento de estagiários, Madalena Aguiar, responsável pela Direcção Profis-sional. “Tradicionalmente, o envolvimento dos sócios com o processo de es-tágio verificava-se apenas aquan-do do período de recrutamento, havendo depois um mero acom-panhamento, em função da maior ou menor proximidade com os es-tagiários”, explica Pedro Metello de Nápoles. Contudo, “o aumento da dimensão das sociedades e do número de estagiários evidenciou as falhas deste sistema”, reco-nhece o advogado. Daí a comis-são de estágio, com funções mais “efectivas”, que permite que a

PLMJ tenha “um conhecimento muito mais profundo do que se passa durante o estágio”, acres-centa Metello de Nápoles. Infor-malidade e diversidade, são dois traços que a firma procura nos candidatos à prática no escritório. “É difícil traçar um perfil de PLMJ, diria que isso não existe, porque aqui queremos pessoas de todas as zonas do País”, resume Mada-lena Aguiar. Experiências extra-faculdade como associativismo, desporto ou prática de um instru-mento musical também são muito importantes porque, como explica a mesma responsável, traduzem “maturidade” e “capacidade de gerir o tempo”. Na PLMJ, este ano (2010/2011), foram contratados 18 advogados estagiários, contra

Aos finalistas de Direito já não basta um estágio

profissional. Para darem os primeiros

passos na carreira, os bons alunos avaliam os vários escritórios de topo, elegendo os que pagam melhor,

dão formação extra e prometem

internacionalização

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Page 14: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia14 Junho de 2010

www.advocatus.ptRecrutamento

FIND Empresa de recrutamento e consultoria na área dos departamentos jurídicos e colaboradores nas sociedades de advogados. Em actividade há cinco anos, a sua expansão passa, sobretudo, por um “passar de palavra” entre os clientes, bem como a confiança que estes depositam nos seus serviços. Com o core na fase da inserção de estagiários no mercado de trabalho, contratações a nível superior de carreira, de associados juniores e associados seniores, também faz parte dos serviços prestados pela empresa, apesar de menos divulgados, devido à relação discreta que a FIND faz questão de manter com os seus clientes.

20 no ano passado (2009/2010). Na Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), todo o processo de recrutamento é feito dentro das portas da sociedade, pelas sócias Fernanda Matoso e Luísa Soares da Silva. Destas duas responsá-veis, parte a short list dos candi-datos a estagiários do escritório, que será apresentada ao Conse-lho de Administração. Este ano, à semelhança do que aconteceu há 12 meses, foram seis os recruta-dos admitidos. Fernanda Matoso afirma que a postura da firma é “passiva”, uma vez que os interes-sados começam a enviar candida-turas espontâneas “ainda antes de terminarem o curso”. Feita uma primeira triagem dos currículos por ordem decrescente, das notas mais altas para as mais baixas, à primeira entrevista reali-zada segue-se um teste de Inglês, escrito e oral. Nos apurados nes-te patamar estão os estagiários da MLGTS. “O projecto humano passa pela consciencialização de que esta é uma profissão rigoro-sa e exigente”, o que significa que os colaboradores da firma passam “muito tempo” nesta casa, conta Luísa Soares da Silva. Deontologia, ética e sigilo profis-sional são, por isso, os vectores-base que a MLGTS elege para a receita ideal do perfil pretendido: rigor, confiança e criatividade, combinado com uma personalida-de que seja forte e reaja perante pressões.Outra sociedade que dispensa intermediações na contratação dos colaboradores mais jovens é a Abreu Advogados (AA). Como explica Marta Trindade, sócia responsável por este pelouro na firma liderada por Miguel Teixeira de Abreu, “até hoje, nunca pon-derámos a filtragem externa”. O escritório tem, inclusivamente, um documento interno com os proce-dimentos relativos a esta matéria.Marta Trindade confirma a ante-cipação de candidaturas: “Anti-gamente, há cerca de 10 anos, a recepção de currículos estava muito concentrada no final do ano lectivo, em Junho. Depois, come-

PONTOS FORTES

O que procuram as firmas O que valorizam os estagiários

Vivência do curso – feita após análise do currículo Remuneração

Capacidade de gerir prioridades – coordenação do percurso académico, eventuais actividades associativas ou de responsabilidade social

Internacionalização da firma

Experiência de Erasmus Plano de carreira

Estudo de línguas estrangeiras, com prevalência do Inglês

Perspectivas profissionais

Opções de vida profissional e conhecimento prévio do perfil das sociedades operantes no mercado

Especificação das funções a desempenhar

çaram a vir cada vez mais cedo, sendo o pico alto entre Novembro e Janeiro”. Para além deste méto-do, a participação do escritório em iniciativas como o Job Shop da Ca-tólica e as candidaturas entregues em mão, são as outras vias para a reunião de potenciais colaborado-res da AA. Apesar desta exigên-cia crescente na antecipação do recrutamento – até porque o pro-cesso de Bolonha veio encurtar as licenciaturas –, a advogada diz que o escritório tenta resistir, “senão, daqui a pouco, vamos buscá-los (aos estagiários) ao liceu!”.Média de final de curso, faculda-de de licenciatura e conhecimento de línguas são os factores objec-tivos a que a AA dá enfoque. Um teste de Português e Inglês é fei-to aos candidatos para perceber como comunicam. A este exame,

seguem-se duas entrevistas, até que – por fim – chega a decisão fi-nal. Com dez recrutados em 2009, este ano o processo ainda está aberto na AA de Lisboa. Na filial do Porto da firma estão fechadas as quatro vagas. Mais uma vez, e à semelhança da PLMJ, também na AA os estágios de Verão funcionam, por um lado para os juristas terem contacto com a prática da advocacia; por outro lado, têm, para os advoga-dos seniores, a vantagem de apre-sentarem (futuros) colaboradores. “Outro dos factores atractivos na AA está o bom ambiente de tra-balho na firma, galardoada com o prémio de Melhor Empresa para Trabalhar pela revista Exame”, conclui Marta Trindade, que fez toda a sua carreira, de estagiária a sócia, nesta sociedade.

No Job Shop da Católica está prevista

a inscrição de “alunos--embaixadores” destacados para

cada sociedade de advogados participante.

O objectivo é aluno e firma darem--se a conhecer

mutuamente, numa tarefa onde a média

é desconhecida, pelo que os advogados vão prestar mais atenção

às competências qualitativas do

estudante

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Page 15: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 15O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Pedro RodriguesJornalista

[email protected]

Testemunho

encerra com a mesa-redonda “O paradigma do advogado de empre-sa como redutor do risco no tecido empresarial”, que junta advogados e empresários, moderados por um jornalista.Debater a importância e papel do advogado no desenvolvimento do negócio da empresa é um dos ob-jectivos do encontro. “Queremos que se entenda a mais-valia gera-da e que os colegas e os empre-gadores tenham a percepção das qualidades que o advogado tem de possuir para ser útil à empresa”, explica Vítor Marques Moreira, pre-sidente do IAE.“O advogado de empresa conhece a história, o pessoal, o negócio, por

“O advogado de empresa conhece a história, o pessoal, o negócio, por isso deve ser um auxiliar de gestão e tem de caminhar a passos

largos para ser parte integrante da gestão”

O sindicalista dos in houseAs empresas caminharam no sentido do outsourcing, seguindo uma lógica de redução dos departamentos internos, desde o contencioso, aos recursos humanos. Nas vésperas do Encontro Nacional do Instituto de Advogados de Empresa (IAE), Vítor Marques Moreira quer debater se este modelo se revelou o mais adequado. “O advogado in house tem valências que o do outsourcing não possui”, afirma o presidente do IAE

isso deve ser um auxiliar de gestão e tem de caminhar a passos largos para ser parte integrante da ges-tão”, sublinha. Nessa perspectiva é necessário “formar mais e melho-res advogados de empresa, com mais valências”, um trabalho que o instituto tem vindo a fazer com as conferências temáticas trimestrais e o encontro anual, para superar “o grande lapso dos últimos anos, que foi os advogados não se valo-rizarem mais”.“Hoje, com a massificação da ad-vocacia, as saídas profissionais para os advogados passam por, ou ser inserido numa sociedade, ou concorrer à magistratura, ou abrir escritório para prática individual.

Os advogados precisam de se mostrar às empresas, e estas de entender que o advogado in house é uma mais-valia para o negócio. Vítor Marques Moreira, presidente do Instituto dos Advogados de Em-presa (IAE), resume os objectivos do encontro nacional do instituto: aproximar empresários e advoga-dos e demonstrar que ambos ga-nham com essa aproximaçãoNo próximo encontro nacional do IAE da Ordem dos Advogados, que se realiza em Lisboa dia 26 de Junho, são abordados os temas “Quais as Valências do Advogado de Empresa” e “O Regime do Ad-vogado de Empresa em Termos de Contrato de Trabalho”. A reunião

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Page 16: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia16 Junho de 2010

www.advocatus.ptTestemunho

A outra solução é concorrer para lugares nas empresas”, enumera o presidente do IAE, chamando a atenção para um dos temas do en-contro, a relação laboral dos advo-gados com as empresas.Em foco vai estar o modelo de rela-ção jurídica e laboral do advogado na empresa, “se é um contrato de trabalho, ou de prestação de servi-ços, o chamado recibo verde, situ-ação em que há muitos advogados nas empresas”.“Vamos debater o que é preciso fa-zer para que todos os advogados de empresa possuam um contrato de trabalho, nem que para isso seja necessária a mediação da Ordem dos Advogados”, defende o pre-sidente do IAE. Essa intervenção, salvaguarda, não tem característi-cas de “função sindical”, mas sim “conciliadora”, procurando van-tagens mútuas para a empresa e para o advogado.“As empresas ficam duplamente favorecidas, porque têm um con-trato que é feito pelos seus pró-prios juristas e ao mesmo tempo supervisionado e sindicado pela Ordem”, explica. Esta situação garante que “o nosso colega está defendido pelo contrato; ou seja, que o direito de reserva não vai ser atingido, e que está salvaguardado o Estatuto da OA que define o que é um advogado de empresa”.De acordo com Vítor Marques Moreira, a intervenção da Ordem neste processo é justificada pela necessidade de clarificar “que o advogado em regime de subor-dinação jurídica tem de cumprir o estatuto da OA, em relação ao se-gredo profissional e acima de tudo à independência técnica”. Ou seja, “posso estar subordinado por um contrato de trabalho, mas tenho a minha independência técnica, e é isso que vamos debater”. O papel do advogado da empresa na prevenção do risco nos negó-cios é o tema de uma mesa-redon-da que encerra o encontro. O de-bate junta dois advogados e dois empresários. O objectivo é discutir “frontalmente porque é que os ad-vogados são uma mais-valia para a empresa e como reduzem o risco no negócio”.

Vítor Marques Moreira

Presidente do Instituto dos Advogados de Empresa. Licenciado na Lusófona

(99) exerce como advogado num dos maiores bancos em rede de balcões e número de clientes do país (que não refere por estar em

conflito com a administração) onde trabalha há três décadas, começando

por administrativo (83), depois como solicitador e finalmente como

advogado. É ainda sócio do escritório Ladv, com Lenine Jesus Oliveira

Em foco estará a questão da opção da empresa em relação ao regime de trabalho do advogado: “As em-presas caminharam há uns anos atrás no sentido do outsourcing, recorrendo aos escritórios, se-guindo uma lógica de redução dos departamentos internos, desde o contencioso, aos recursos huma-nos”, explica Vítor Marques Morei-ra, que defende ser necessário um debate entre todos os envolvidos no sentido de avaliar se o modelo se revelou o mais adequado.“Com a evolução do negócio da empresa, é importante saber quais são as valências necessárias para que o advogado possa preencher cabalmente o seu papel – e quan-do falo no advogado, não é como mero jurista, queremos que seja mais do isso”, defende o presiden-te do IAE, sublinhando que “o ad-vogado in house tem valências que o do outsourcing não possui”. No fundo da questão está uma re-lação, socioprofissional e pessoal, entre o advogado e a empresa que deixou de existir: “Noutros tempos o advogado era respeitado na em-presa, mas está a vulgarizar-se a profissão”, lamenta Vítor Marques Moreira, acrescentando que nesta evolução se perde algo que consi-dera fundamental para o sucesso da empresa, “o amor à camisola. Ainda é possível, mas já não há muito”.A dupla tributação dos advogados de empresa, que descontam para os regimes sociais dos advogados e para a segurança social, e even-tualmente para o regime do sector em que trabalham, como sucede nos bancos, é um dos problemas que o IAE quer ver resolvido.“Queremos criar um regime espe-cífico para os advogados de em-presa”, explica o presidente do IAE, que considera que não faz sentido esta “dupla ou tripla tribu-tação” para o advogado de empre-sa, quando o enquadramento dos seus colegas em prática societá-rias ou individual são mais simples.“Não é com atitudes de oposição pura e dura ao Dr. Marinho e Pin-to que se vai prestigiar os advo-gados”, é deste modo que Vítor Marques Moreira responde à ac-

Ler é um dos seus prazeres maiores. Ultimamente tem-se dedica-do à auto biografia de Adriano Moreira, A Espuma do Tempo, de onde retirou um conceito que lhe chamou a atenção para o actual momento da advocacia: “A certo ponto distingue-se o proletário do pobrezinho, entre o que tem emprego e salário e aquele que não tem dinheiro, que é pobrezinho, assim, neste caso, o advo-gado, não podendo ser proletário, só se arrisca a ser pobrezinho”, comenta. Se ler é um hóbi, a música podia quase ser uma pro-fissão. Tocou com várias bandas, algumas com “algum protago-nismo” na cena musical dos anos 70 e 80. O interesse começou aos 12 anos, na Igreja de São Vicente, na Graça, perto do Liceu Nacional de Gil Vicente, onde cresceu. “Sou católico, e numa mis-sa em memória de colegas da escola falecidos, deslumbrei-me com o som da guitarra e bateria”. Tanto que pediu uma guitarra, oferecida pela passagem de ano, “comprada por 900 escudos, uma fortuna na altura, na Custódio Cardoso Pereira, no Chiado”. Mais tarde, no serviço militar, conheceu José Lúcio, o musicólogo e investigador de instrumentos musicais tradicionais portugueses, que lhe reavivou o interesse pela música. Hoje mantém o gosto e toca em casa, numa sala concebida para esse fim.

Católico, músico e amigo da leitura

TEMPOS LIVRES

tual situação na OA, na sequência do chumbo das contas. “A quem é que isto interessa? A mim não é. Como advogado não tenho ne-nhum interesse em ver a minha Or-dem exposta na praça pública com estas discussões estéreis, à volta de questões que não são ques-tões” salienta.“Somos todos advogados, eu luto pelo mesmo que os outros cole-gas, uma advocacia mais pujante, mais forte, mais dinâmica. É a ra-zão de ser da Ordem”, defende o presidente do IAE, que deixa um alerta para as futuras implicações de ter “um bastonário e uma direc-ção eleitos que governam há três anos sem orçamento.”

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Page 17: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 17O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

PUB

Page 18: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia18 Junho de 2010

www.advocatus.ptRecurso

Um tribunal longe de mais?

A escolha de Santarém para sede dos novos tribunais

especializados nas áreas da

Propriedade Industrial e da Concorrência,

Regulação e Supervisão suscita

farta polémica

tribunal especializado no tratamento de certas matérias fosse localizado, quer na área das instituições cuja prática decisória será chamado a es-crutinar, quer na área em que tem ori-gem a larga maioria dos processos”, mas “em qualquer destas hipóteses, não parece haver dúvida de que tal tribunal deveria estar localizado em Lisboa”, contesta o Círculo dos Ad-vogados Portugueses de Direito da Concorrência.Também César Bessa Monteiro, pre-sidente da Associação Portuguesa dos Consultores em Propriedade Industrial (ACPI), tem reservas sobre a escolha da maior cidade do Riba-tejo, que considera ser “um facto inesperado e inaudito”. No entanto, salvaguarda o advogado, “como não posso duvidar da bondade e com-petência de quem nos governa, terei que presumir que algo de muito re-levante terá justificado a criação na-quela cidade dos referidos tribunais.”

Já Leonor Chastre, sócia da Abreu Advogados, defende a localização dos novos tribunais, “do ponto de vista do desenvolvimento e coesão socioeconómica do território nacio-nal, a escolha de Santarém parece-nos equilibrada”, já que a cidade “é servida por boas vias de comunica-ção”, estando a menos de uma hora de Lisboa.A escolha de Santarém resulta de uma proposta do município, que se disponibilizou para assegurar o edifício, a antiga Escola Prática de Cavalaria, custeando as obras ne-cessárias para adaptação do edifício e instalação. A explicação é do gabinete do minis-tro da Justiça, que esclarece ainda que, ao nível dos recursos humanos, a criação dos novos tribunais “não implicará encargos adicionais para o Estado”, com a “reafectação dos já existentes”. No entanto, o Ministério liderado por Alberto Martins adianta

O anúncio foi feito nas comemora-ções do 25 de Abril, em Santarém, pela voz do primeiro-ministro, José Sócrates: os novos tribunais espe-cializados nas áreas da Propriedade Industrial e da Concorrência, Regu-lação e Supervisão vão ser instala-dos na capital ribatejana, no antigo edifício histórico da Escola Prática de Cavalaria.Além dos dois tribunais, em breve o Conselho de Ministros aprovará a criação de um Tribunal da Relação, a instalar igualmente em Santarém. A criação de três novos tribunais numa cidade de média dimensão, a uma centena de quilómetros de Lisboa, gerou reacções contraditórias, entre defensores e opositores da medida.Em causa, mais do que a criação dos tribunais, há muito exigida pela generalidade dos protagonistas do sector empresarial e por advogados especializados nestas áreas, está a localização. “Faria sentido que um

Page 19: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 19O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Recurso

O Círculo dos Advogados

Portugueses de Direito da Concorrência

contesta o facto dos novos tribunais não

ficarem em Lisboa: “As características deste

tribunal, em particular, desaconselham a solução proposta,

geradora de enormes ineficiências e

desperdício de recursos para os intervenientes

nos processos em questão”

que, “não é ainda possível determi-nar o número exacto de funcionários a colocar/ deslocar”.O benefício da dúvida em relação à localização dos tribunais é partilha-do por Manuel Lopes Rocha, res-ponsável pela área de Propriedade Intelectual, Marcas e Patentes da PLMJ, para quem “o problema não é a localização”, mas “a definição das competências e o aproveitamento dos recursos e da experiência exis-tentes”. Isto porque, realça, “não há nenhum tribunal assim no mundo inteiro, pelo que, até por isso, se re-comenda cautela”.Também o Círculo dos Advogados Portugueses de Direito da Concor-rência modera as expectativas, refe-rindo-se especificamente ao tribunal da sua especialidade: “As caracte-rísticas deste tribunal, em particular, desaconselham a solução proposta, a qual seria geradora de enormes ineficiências e desperdício de recur-sos para os intervenientes nos pro-cessos em questão.”Como é de prever, a eficiência dos tribunais é a maior preocupação dos especialistas nestas áreas. “Tudo vai depender da forma como o tribunal for instalado”, sublinha o especialista da PLMJ, que defende que a solu-ção de reforma no ramo da Proprie-dade Intelectual e Industrial “tem de ser cuidadosamente implantada” em articulação com os profissionais do

sector. Esse processo de consulta e debate, lembra, não existiu antes da escolha da localização dos tribunais, não havendo estudos, nem sendo conhecidas as posições das várias entidades envolvidas.A preocupação é partilhada pelo Cír-culo dos Advogados Portugueses de Direito da Concorrência, que pede cautela em relação à competência do tribunal nas áreas da Regulação e da Supervisão. Neste ponto, notam os responsáveis do centro, “o ver-dadeiro impacto desta atribuição de competência especializada na área da Concorrência só poderá ser ava-liado quando for conhecida a orga-nização e funcionamento do mesmo tribunal”.Mais optimista, César Bessa Mon-teiro adianta que a criação dos tribu-nais poderá “constituir um princípio de solução”. No entanto, sublinha, é necessário cuidado “na estrutura-ção e organização do funcionamen-to dos mesmos Tribunais” para que estes contribuam para “uma Justiça mais simples, célere e acessível”.A especialização dos tribunais, está prevista na Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judi-ciais (LOFTJ), de 2008, cuja evolução depende “do estudo a realizar pelo grupo de trabalho para o alargamen-to do novo mapa judiciário”, explica o Ministério da Justiça. Nesse senti-do, a criação de novos tribunais em

juízos de competência especializada já se encontra prevista, “dentro das áreas de competência especializada que já hoje se encontram previstas”, esclarece o gabinete. A escolha de Santarém para sede dos novos tribunais surgiu na se-quência da aceitação por parte do Governo de uma proposta do muni-cípio. A notícia foi, por isso, natural-mente, acolhida com satisfação pelo presidente da Câmara, Francisco Moita Flores.Em declarações logo após o anún-cio, o autarca sublinhou que a insta-lação dos novos tribunais é “impor-tantíssima”, sobretudo pelo número de profissionais que vai trazer à ci-dade, quer entre os que se vão fixar, quer dos que ali terão de se deslocar no acompanhamento de processos.Para convencer o Governo, a autar-quia comprometeu-se a restaurar o edifício da antiga Escola Prática de Cavalaria, de onde saiu a unidade comandada por Salgueiro Maia, em 25 de Abril de 1974. Nesse dia, o então capitão, ao chamar os cade-tes e instruendos para a missão em Lisboa, anunciou que o objectivo era pôr fim “ao estado a que isto chegou”. Agora, é o Executivo que propõe instalar no mesmo local dois novos tribunais, para assim resolver o congestionamento dos tribunais, um dos problemas que mais afecta a economia e sociedade no País.

“Do ponto de vista do desenvolvimento e coesão socioeconómica do território

nacional, a escolha de Santarém parece-nos equilibrada, já que é uma cidade

servida por boas vias de comunicação e está a menos de uma hora de Lisboa”

Leonor Chastre

Sócia da Abreu Advogados

Francisco Moita Flores

Presidente da Câmara Municipal de Santarém

“A instalação dos novos tribunais é importantíssima, sobretudo pelo

número de profissionais que vai trazer a Santarém, quer entre os que se vão fixar, quer dos que ali terão de se deslocar no

acompanhamento de processos”

Page 20: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia20 Junho de 2010

www.advocatus.pt

Advocatus | Além dos três tri-bunais agora anunciados, está prevista a criação e instalação de novos tribunais especiali-zados nos próximos anos? Em que áreas?MJ | Um dos traços marcantes da Lei n.º 52/2008, que aprova a nova Lei de Organização e Fun-cionamento dos Tribunais Judi-ciais, é a aposta na especializa-ção dos tribunais. Deste modo, à medida que for alargando o âm-bito de aplicação da nova LOF-TJ a todo o país e em função do estudo a realizar pelo Grupo de Trabalho para o alargamento do novo Mapa Judiciário, serão cria-dos novos juízos de competência especializada dentro das áreas de competência especializada que já hoje se encontram previstas. O Governo mantém-se igualmente atento à sociedade e à evolução das pendências processuais, en-contrando-se sempre receptivo a acolher sugestões no sentido de ir de encontro aos anseios e pretensões de alguns sectores sociais e oportunamente propor a criação de novas áreas de es-pecialização, caso estas se justi-fiquem.

Advocatus | A serem criados novos tribunais, eles serão ins-talados em outras cidades de média dimensão, a exemplo do que sucede agora com Santa-rém?MJ | Não se prevê, nesta fase, a instalação de novos tribunais de competência especializada. Contudo, o Ministério da Justiça encontra-se sempre receptivo a ouvir as propostas de todos os municípios e procurar contribuir para a melhoria do bem-estar das

“Sem encargos adicionais”O gabinete do ministro da Justiça chama a atenção para o facto dos novos tribunais não implicarem encargos adicionais para o Estado

Alberto Martins

Ministro da Justiça

populações. Caso oportunamen-te se justifique a criação de novos tribunais de competência espe-cializada e se outros municípios demonstrem interesse nesse aco-lhimento, proporcionando um lo-cal para a sua instalação e crian-do condições para a mesma sem custos para o Estado, o Ministério ponderará as diversas opções.

Advocatus | Qual o investimento estimado na criação destes tri-bunais (infra-estruturas, deslo-cação de pessoal, funcionamen-to)? Quantos funcionários serão colocados/ deslocados?MJ | O Município de Santarém disponibilizou-se para assegurar um edifício condigno e adequado para a instalação dos novos tri-bunais, na antiga Escola Prática de Cavalaria, custeando todas as obras necessárias para adaptação do edifício e instalação. Também ao nível dos recursos humanos, não implicará encargos adicionais para o Estado, propondo-se a re-afectação dos já existentes. Neste momento, não é ainda possível determinar o número exacto de funcionários a colocar/ deslocar.

Advocatus | A criação de tribu-nais especializados significa que há um desinvestimento nas possibilidades de recurso à ar-bitragem?MJ | O Programa do XVIII Go-verno estabelece como uma das prioridades na área da Justiça a promoção de novas políticas para uma Justiça mais simples e desburocratizada, mais céle-re, mais acessível, mais pontual, mais transparente e previsível. Como linhas de acção, forma fi-xadas a previsão de medidas de

descongestionamento dos tribu-nais, de forma a assegurar o au-mento da celeridade da decisão judicial, mas também a redução de custos, a promoção do aces-so e a melhoria da própria qua-lidade da decisão e novos me-canismos para a uniformização de jurisprudência. Do mesmo modo, o Governo estabeleceu ainda como prioridade continuar a aperfeiçoar os moldes institu-cionais e organizativos em fun-ciona a Justiça. É neste sentido que surge a criação de tribunais especializados, significando a mesma uma aposta do Governo na melhoria do acesso à Justiça e não um desinvestimento nas possibilidades de recurso à ar-bitragem. A promoção de me-lhores meios para a resolução judicial dos litígios não obsta a que se procure incentivar o re-curso a meios não judiciais, tais como a arbitragem, a qual con-tinua a ser uma das prioridades deste Governo.

Recurso

“O Município de Santarém

disponibilizou-se para assegurar um edifício condigno e adequado

para a instalação dos novos tribunais,

na antiga Escola Prática de Cavalaria, custeando todas as

obras necessárias para adaptação do edifício e

instalação”

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Junho de 2010 21O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Advocatus | A criação dos no-vos tribunais vai permitir a re-solução mais rápida e eficien-te dos conflitos nas áreas em questão?Manuel Lopes Rocha | No que respeita à Propriedade Intelec-tual, estamos a falar de um úni-co tribunal. Tudo vai depender da forma como o tribunal for ins-talado. A questão é dramática, sim, nos tribunais de comércio, na área da Propriedade Indus-trial. Mas já não há problema no Direito de Autor, pelo que esta reforma tem de ser cuidadosa-mente implantada e, sobretudo, em articulação com os profis-sionais do sector. Há que dizer que na anterior legislatura se deram passos positivos, desde a aprovação da lei de respeito pelos direitos da propriedade intelectual, até à acentuação do discurso sobre a Inovação, o Empreendorismo, as Indústrias Culturais. Por isso, o panorama se desanuviou quanto ao Direito de Autor. Os tribunais começa-ram a responder com celeridade e as primeiras decisões sobre indemnizações são notáveis. A jurisprudência das Relações, em dois anos, arrancou o País das trevas, nesta área.

Advocatus | Que avaliação faz das tentativas de resolver os conflitos de propriedade inte-lectual através da arbitragem?MLR | Não tem grande expres-são. Do ponto de vista institu-cional, há um centro ligado a

“Recomenda-se cautela”Manuel Lopes Rocha, sócio da PLMJ, onde é responsável pela área de Propriedade Intelectual, Marcas e Patentes, avisa que a reforma deve ser “cuidadosamente implementada” “O problema não é

a localização mas a definição das

competências e o aproveitamento dos

recursos e da experiência existentes. Não há

nenhum tribunal assim no mundo inteiro, pelo

que, até por isso, se recomenda cautela”

Manuel Lopes Rocha

Responsável pela área de Propriedade Intelectual, Marcas e Patentes da PLMJ

uma Faculdade de Direito que nunca deve ter tido nenhum caso e há uma experiência no Ministério da Justiça que, até agora, não tem tido êxito. Mas há obviamente campo para a ar-bitragem nesta área, sobretudo se se derem pequenos passos experimentais em determinados segmentos. O problema portu-guês é querer logo abarcar tudo, em vez de começar, sensata-mente, com pequenos passos. Por isso, os resultados não apa-recem…

Advocatus | Entende que fal-tam no quadro legal e de re-gulação português mais meca-nismos preventivos que possam evitar a ida para tribunal dos conflitos entre empresas nas áreas da Propriedade Intelec-tual e da Concorrência? MLR | Faltam, sim, em determi-nadas áreas. Basta ver o que diz a Comissão da União Europeia sobre a situação portuguesa no domínio das patentes dos medi-camentos.

Advocatus | Concorda com a instalação dos novos tribunais em Santarém? Que vantagens e que dificuldades apresenta esta localização?MLR | O problema não é a lo-calização. Há experiências de descentralização noutros Esta-dos. O problema é a definição das competências e o aprovei-tamento dos recursos e da ex-periência existentes. Não há ne-

nhum tribunal assim no mundo inteiro, pelo que, até por isso, se recomenda cautela. No Rei-no Unido estuda-se a criação de um tribunal para o direito de autor e o design, na Alemanha há dois tipos de tribunais de pa-tentes, um para apreciar a vali-dade, outro para as infracções. Ora por que razão Portugal vai ser o primeiro num modelo as-sim? Avaliou-se tudo bem, pre-viamente? Há estudos? Onde estão? Ouviu-se a ACPI, as en-tidades de gestão colectiva, as associações de marcas? Outro aspecto: vai-se prescindir da grande experiência dos magis-trados dos tribunais de comér-cio? Um juiz especializado em matérias de patentes leva anos e anos a fazer. E os recursos das decisões desse tribunal? A Relação de Santarém, também anunciada, vai ter competência única nessa área? Enfim, é pre-ciso atender a muitos aspec-tos. A resposta a essa questão ditará o êxito ou o fracasso de uma ideia que, repito, me parece muito interessante.

Recurso

Page 22: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia22 Junho de 2010

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César Bessa Monteiro, presidente da Associação Portuguesa dos Consultores em Propriedade Industrial, não duvida da bondade da decisão de localizar os tribunais em Santarém, mas confessa não perceber as razões que levaram a essa escolha

Advocatus | A criação dos novos tribunais vai permitir a resolução mais rápida e eficiente dos con-flitos?César Bessa Monteiro | A atribui-ção da actual competência aos Tri-bunais de Comércio para decidirem sobre litígios na área de Proprie-dade Industrial teve uma intenção bondosa mas que rapidamente se tornou ineficaz. É que os Tribunais de Comércio passaram a ser um caldeirão onde vão sendo deposi-tados assuntos de variada natureza, como as insolvências, matéria de concorrência, assuntos de direi-to comercial e também os litígios relativos à Propriedade Industrial. E, por isso, nem sequer, o esforço ou dedicação dos magistrados e funcionários que trabalham nesses tribunais é suficiente para evitar o caos que nos mesmos se insta-lou. A Lei 52/2008 de 28 de Agos-to que estabeleceu o regime da organização e funcionamento dos tribunais judiciais e criou pela pri-meira vez em Portugal os Juízos de Propriedade Intelectual e o anúncio da aprovação pelo Governo de um projecto de lei criando os Tribunais da Propriedade Intelectual poderá constituir um princípio de solução. Necessário é que se tenha cuidado na estruturação e organização do funcionamento dos mesmos Tribu-nais para que a criação dos mes-mos contribua para a realização de “uma Justiça mais simples, célere e acessível”.

Advocatus | Que avaliação fa-zem das tentativas de resolver os conflitos de propriedade in-

“Inesperado e inaudito”

“É um facto inesperado e inaudito. Mas como não posso duvidar da

bondade e competência de quem nos governa

terei que presumir que algo de muito relevante

terá justificado a criação em Santarém dos

referidos tribunais”

César Bessa Monteiro

Presidente da Associação Portuguesa dos Consultores em Propriedade Industrial

telectual através da arbitragem. Porque falharam?CBM | A área da Propriedade In-telectual é uma área em que, por princípio, a arbitragem não está excluída e até se justifica. Será pro-blemático o uso da arbitragem nas decisões sobre a invalidade dos di-reitos privativos de Propriedade In-dustrial mas a arbitragem funciona em tudo mais, e é até um meio por excelência para a resolução de con-flitos por geralmente se discutirem questões muito especializadas, que melhor são percebidas por árbitros com conhecimentos específicos. É evidente que os interessados só recorrerão à arbitragem se lhes for proporcionado um quadro legal fiá-vel e, igualmente, Centros de Arbi-tragem com prestígio e competên-cia. Infelizmente tal nem sempre se tem verificado, o que pode explicar, a par da falta de tradição no uso deste meio de resolução de confli-tos, o quase inexistente recurso à Arbitragem para se dirimirem litígios surgidos nesta área.

Advocatus | Entendem que fal-tam no quadro legal português os mecanismos preventivos que poderiam evitar a ida para tribu-nal dos conflitos entre empresas, nas áreas da Propriedade Inte-lectual e da Concorrência?CBM | Não me parece que em re-lação aos referidos mecanismos preventivos a situação em Portugal seja muito diferente da dos nossos parceiros mais próximos, uma vez que temos como eles mecanismos de Mediação, designadamente nos Centros de Arbitragem que devida-

mente utilizados poderiam evitar em muitas circunstâncias o recurso a Tribunal.

Advocatus | Concorda com a instalação dos novos tribunais em Santarém? Que vantagens e que dificuldades apresenta esta localização?CBM | A instalação em Santa-rém do Tribunal da Propriedade Intelectual bem como do Tribu-nal para a Concorrência e de um Tribunal da Relação surgiu como um facto inesperado e inaudito. Como não posso duvidar da bon-dade e competência de quem nos governa, terei que presumir que algo de muito relevante terá justificado a criação naquela ci-dade dos referidos tribunais. Não seria, por isso, sério da minha parte estar-me a pronunciar so-bre vantagens ou inconvenientes da escolha feita pelo Governo sem conhecer os motivos que determinaram a decisão e que poderão ser de tal modo rele-vantes que se sobreponham aos inconvenientes que certamente existem.

Recurso

Page 23: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 23O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Passeio Público

Luís Filipe Carvalho nasceu em Luanda, de onde veio com sete anos, em 1975. A mãe era funcionária do Ministério da Educação e o pai trabalhava no negócio automóvel. Movido pelo impulso quixotesco de ajudar a fazer justiça aos mais necessitados, nunca sonhou outra coisa senão ser advogado. Achou muito maçudos os dois primeiros anos do curso de Direito. Ao terceiro entusiasmou-se. Ainda andava na faculdade quando começou a dar aulas, primeiro no secundário, depois na faculdade. Três meses após concluir a licenciatura, chocou de frente com a realidade quando começou a trabalhar num escritório: “a desorientação inicial deve-se ao fosso enorme existente entre o que se ensina na universidade e o que é preciso na vida prática”

O bombeiro que apaga fogos

pragmática vontade de resolver pro-blemas. “No secundário sempre senti maior vocação para as Humanidades e uma atracção muito grande pela defesa dos direitos humanos”, ex-plica Luís Filipe Carvalho, 43 anos, candidato a Bastonário da Ordem dos Advogados e uma cara conhe-

cida da maioria dos telespectado-res, pois é presença frequente nos espaços informativos da SIC, onde comenta e dá opinião sobre casos de justiça. “Comecei a ser chamado quando o caso Casa Pia gerou um vulcão mediático à volta da Justiça e eu estava na direcção da Ordem. Nunca recebi qualquer tipo de trei-

no ou preparação. Dei-me logo bem com a câmara. Vou à televisão para contribuir para a credibilização a Justiça e para ajudar as pessoas a perceberem melhor o que se passa. Sinto-me uma espécie de bombeiro que combate incêndios e apaga fo-gos”, esclarece.As aulas de Introdução ao Estudo

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Os dois primeiros anos do curso de Direito, iniciado em 1985 na clássica de Lisboa, foram tão maçudos e te-óricos que quase o desmotivaram, o que era grave pois desde miúdo nunca sonhara com outra coisa se-não ser advogado, movido pelo im-pulso quixotesco de ajudar a fazer justiça aos mais necessitados e pela

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Page 24: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia24 Junho de 2010

www.advocatus.pt

de Direito, dadas por Pedro Romano Martinez, eram o único oásis no ári-do deserto dos dois primeiros anos do curso que ele teve atravessar. “Parece que a faculdade tinha pa-rado no tempo há 30 anos atrás”, comenta Luís, instalado no seu gabi-nete, num 5.º andar dos n.º 1 a 7 do Largo de S. Carlos, agora ocupado pela ABBC (a firma de que é sócio, sendo o C final de Carvalho), e que há cerca de um século foi habitado por Fernando Pessoa – antigo inqui-lino cuja memória é homenageada no átrio do prédio por um trabalho de Alexandre Farto.Só a partir do terceiro ano sentiu a chama da paixão pelo Direito que ele esperava se acendesse logo no primeiro. Por esta altura, tinha come-çado a ganhar dinheiro para se sus-tentar, a ele e ao seu primeiro carro (um Dois Cavalos bordeaux), dando aulas numa secundária de Alverca. Desde então nunca mais parou de trabalhar. No início do último ano do curso passou a monitor na Clássica. De manhã recebia aulas. À tarde da-va-as. Começou em Finanças Públi-cas, passando depois por diversas cadeiras, merecendo-lhe especial atenção os dois anos como assis-tente em Direito Comercial, a cadei-ra de Oliveira Ascensão, professor a quem não poupa quando chega a hora dos elogios, sublinhando a vivacidade e brilhantismo com que ensinava e escrevia.Ao todo, entre o liceu e a faculda-de (onde deu aulas a dois futuros secretários de Estado, Carlos Pina e Marcos Perestrello), foi professor durante dez anos. No entretanto, fez o estágio com João Nuno Azevedo Neves (o A de ABBC, que é amigo de um primo da mulher), a tropa (uma peluda já que as seis semanas da recruta, especial para licenciados em Direito, foram passadas em Ta-vira e no Verão) e três filhos: Afonso 16, que vai para Engenharia, João, 13, e Francisco de 12. Como os dois últimos ainda não revelaram a voca-ção, Luís Filipe confessa que está a trabalhar para ver se convence pelo menos um deles a ir para Direito, mas reconhece que não está a ser fácil.“Para mim sempre foi muito claro que só faria carreira académica se

isso fosse conciliável com a prática da advocacia”, esclarece Luís Filipe, que nasceu em Luanda, no ano do Maio francês, filho de um trabalha-dor do ramo automóvel e de uma funcionária do Ministério da Educa-ção, ele de Leiria e ela de Viseu, mas que desde o início dos anos 50 vi-viam e trabalhavam em Angola.Deixou de ser analfabeto na Asso-ciação dos Antigos Estudantes de Coimbra, onde completou a primeira e segunda classes, até que em 1975 deixou tudo para trás e voou para Lisboa. “Foi uma saída à pressa. O meu pai ainda ficou mais um ano, a ver o aquilo dava, mas explicou-nos muito claramente que tínhamos de partir, porque o país já não era mais seguro”, recorda.Da chegada a Lisboa ficou-lhe tatua-da na memória a impressão de um enorme caos e grande desorgani-zação, misturados com uma indis-farçável alegria que pairava no ar. “Vivia-se um momento especial. Nós tivemos de recomeçar tudo de novo, de nos virar. A minha mãe manteve-se nos quadros do Ministério da Educação. O meu pai arrancou com outro negócio. Foi difícil, muito difí-cil”, resume.Da infância vivida em Luanda, pri-meiro no Bairro de Alvalade depois no Terra Nova, guarda boas recorda-ções: “Vivia-se de um modo mais in-formal. As relações entre as pessoas eram mais calorosas, intensas e de grande proximidade. Muito menos rígidas do que cá. Era uma socie-dade boa, franca e aberta, muito solidária com as pessoas locais, ao contrário do que muita gente ago-ra diz. E a sensação de espaço era totalmente diferente. Fazer mil quiló-metros lá equivalia a uma viagem de cem quilómetros cá”.Em 2005, quando voltou pela primei-ra vez a Luanda, reconhece que o choque foi grande. Mas agora, que, por motivos profissionais, tem visi-tado com frequência a cidade onde nasceu, não esconde ter muita fé e esperança no que se está por lá a fa-zer: “É um país com recursos e uma cultura de paz e desenvolvimento. Angola vai ser muito diferente, para melhor, na próxima década”.O choque também foi grande quan-do em 1990, três meses após ter

Passeio Público

Na adolescência, até entrar na faculdade, Luís jogou, anos a fio, hó-quei em patins pelo Alverca, onde se distinguiu como avançado golea- dor, ao ponto de ser chamado à Selecção Nacional. No geral, gosta de mar e de todos os desportos que metam velocidade, como corri-das de automóveis e karts - modalidade onde compete regularmen-te. O Sporting é outra das suas grandes paixões. Foi nas bancadas do velho José de Alvalade, onde tinham lugares cativos ao pé um do outro, que nasceu e se consolidou a amizade com Rogério Alves, que acompanhou na direcção da Ordem quando o seu actual colega na ABBC foi Bastonário. Luís não só não falha um jogo do Sporting, como tem uma estratégia para o futuro da equipa de futebol, que consiste numa liderança forte e na mistura certa entre jovens valores oriundos da formação, com uma meia dúzia de futebolistas experien-tes, em cuja escolha não pode haver erros. “Têm de ser todos tiros no alvo, pela posição que ocupam em campo, pelo exemplo que dão aos mais novos e pela necessária capacidade de domínio no balneá-rio”, explica o advogado, que adora passear em grandes metrópoles, como Londres, Buenos Aires, São Paulo. Nova Iorque ou Paris, mas também cidades secundárias, como Burgos, Salamanca ou Siena.

Um sportinguista com estratégiaHÓBIS

concluído o curso, integrou o escri-tório de advogados onde ainda se mantém. “O embate, no início da actividade, foi muito forte. Temos dificuldade em aplicar boa parte do que aprendemos na faculdade. Esta desorientação inicial deve-se ao fosso enorme existente entre o que se ensina na universidade e o que é preciso na vida prática”, acusa Luís Filipe, bastante crítico desta desco-nexão entre a visão universitária e a realidade, que não é exclusiva do Di-reito, antes se estendendo a outras áreas do saber.Na vida real, o candidato a Basto-nário acha que a profissão de ad-vogado é muito mais difícil agora do que quando debutou nela: “Ser advogado é cada vez mais exigen-te em disponibilidade, em entrega e em investimento pessoal, o que implica sacrificar a vida familiar. As formas de trabalhar também evoluí-ram. Temos menos tempo para fazer mais, devido ao grau crescente de exigência dos clientes. É tudo mais rápido. Há mais solicitações, o que é natural. A consulta jurídica é o futuro. Prevenir é a melhor forma de evitar o penoso recurso ao sistema judicial”.

Luís Filipe é uma cara conhecida porque aparece

frequentemente na SIC: “Vou à televisão porque

penso que assim posso contribuir para credibilizar a Justiça e ajudar as pessoas a perceberem melhor o que se passa. Sinto--me uma espécie de

bombeiro que combate incêndios e apaga fogos”, esclarece

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Page 25: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 25O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Estado da Arte

A situação não vai melhorar

A crise só não existe para os especialistas de Direito do Trabalho. Pedro Romano Martínez (presidente do Instituto de Direito do Trabalho) chama a atenção para o incremento dos litígios motivado pelas deficiências da lei. Luís Miguel Monteiro (MLGTS) concorda e põe em evidência o confronto entre a realidade e o modelo normativo teórico. César Sá Esteves (SRS) diz que é mais fácil despedir cem do que um. João Paulo Teixeira de Matos (Garrigues) é o mais optimista e garante que o ordenamento jurídico funciona

Despedimento colectivo, lock out e lay off são expressões que pas-saram a fazer parte do dia-a-dia dos portugueses, com empresas a irem à falência, e consequente processo de insolvência e despe-dimento dos trabalhadores, sus-pensão temporária dos contratos de trabalho (lay off) ou paragem da actividade pela entidade patronal (lock out). Com a Qimonda a representar o caso mais mediático nesta área, muitas foram as empresas que se reestruturaram, algumas sendo até dadas como case study a nível de boa cooperação entre o patronato

e os sindicatos, como aconteceu na Autoeuropa. Infelizmente, para a maioria das PME portuguesas, o caminho foi mais drástico, com Lisboa, Porto e Braga a registarem os níveis mais elevados de fecho de indústrias. Relativamente a sectores, têxtil e calçado foram os mais afectados. Segundo dados oficiais do INE, Portugal está com a mais elevada taxa de desempre-go dos últimos 30 anos, com o va-lor do primeiro trimestre de 2010 a fixar-se nos 10,6%.Mas as más notícias não ficam por aqui: segundo especialistas em Direito do Trabalho, 2010 segue a

senda de 2009. E, se a realidade económica não ajuda a resolver o problema social que é o desem-prego, a política não lhe fica atrás. Resultado da reforma do Código do Trabalho (CT), estão em vigor três diplomas ex-aequo, que se complementam. No novo regime laboral, com apenas mais três anos depois do CT ter sido pro-mulgado, vários erros foram reco-nhecidos pelo próprio Executivo, o que levou à publicação de nova legislação avulsa. Tudo isto contri-buiu para uma maior insegurança jurídica o que conduz, necessaria-mente, ao disparar de litígios.

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HO

10,6%foi o valor da taxa de desemprego

registado pelo INE no final do primeiro trimestre. Trata-se

da mais elevada taxa de desemprego dos últimos 30 anos no

nosso país

A crise e o Direito Laboral

Page 26: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia26 Junho de 2010

www.advocatus.pt

O ano de 2009, fruto de um con-junto de circunstâncias conver-gentes, terá sido, sem dúvida, um dos períodos da história recente portuguesa em que mais se utili-zou e se pôs à prova os mecanis-mos de despedimento dos traba-lhadores por razões objectivas.Se alguém tinha dúvidas de que em Portugal é, numa perspectiva jurídica, mais fácil despedir cem trabalhadores do que um, essas dúvidas foram seguramente dissi-padas ao longo de 2009. Perdido o temor do impacto mediático, social e até emocional, associado ao despedimento colectivo, o nos-so passado recente demonstrou à sociedade que Portugal gozará, muito provavelmente, dos regimes mais flexíveis de despedimento colectivo no contexto da União Europeia. Não é algo de que de-vamos ter especial orgulho e nos possamos regozijar, mas, efec-tivamente, é manifesto, como já várias vezes tive oportunidade de expressar, o total paradoxo da lei laboral portuguesa, em que é praticamente impossível fazer um despedimento individual fora de um contexto de crise e é relativa-mente simples, célere e “seguro” concluir com sucesso um despe-dimento em massa. Acresce que, seja por falta de experiência, seja por falta de competências técni-cas ou outras razões, a verdade é que a representação colectiva dos trabalhadores em proces-sos desta natureza nem sempre se mostra adequada à protecção dos interesses daqueles. Enfim, estas circunstâncias têm sido sucessivamente ignoradas, mas estou certo de que, mais cedo ou mais tarde, alguém terá que ter a coragem e a iniciativa po-lítica de fazer face a este equí-

Estado da Arte

É manifesto o total paradoxo da lei laboral portuguesa, em que é praticamente impossível fazer um despedimento individual fora de um contexto de crise e é relativamente simples, célere e “seguro” concluir com sucesso um despedimento em massa

Maisfácildespedircemdoqueum

César Sá Esteves

Sócio e responsável pelo Departamento de Direito do Trabalho da SRS Advogados

O nosso passado recente demonstrou

à sociedade que Portugal gozará, muito

provavelmente, dos regimes mais flexíveis

de despedimento colectivo no contexto

da União Europeia

Com alguma ironia, diria mesmo que, nesta altura, crise só não existe para os especialistas de

Direito do Trabalho, os quais continuam a ter que dar resposta às

prementes solicitações das empresas e

trabalhadores que desesperam face a uma lei laboral que,

não apenas não dá as respostas adequadas, como asfixia e impede algumas soluções de

gestão de flexibilização das relações de trabalho

voco da lei laboral portuguesa. É minha convicção que a crise económica e social que Portugal está ainda a atravessar e, previsi-velmente, continuará a atravessar, primeiro em virtude da crise e de-pois como consequência e para correcção dos efeitos das medi-das de combate à crise, levará a que os processos de reestrutura-ção das empresas se sucedam. Muitas organizações não tiveram a visão (ou os recursos) para, atem-padamente, terem promovido os reajustamentos e redimensiona-mentos de estrutura que se mos-travam essenciais, estando agora forçadas a fazê-lo, já em contra- ciclo e com perda de foco para o negócio, sendo certo que algumas já perderam definitivamente o mo-mento e deparam-se agora com processos mais gravosos de in-solvência.Há que ter presente que, na maior parte dos casos, as reestrutura-ções, embora rendam frutos mais adiante (se bem planeadas e con-cretizadas), constituem no imedia-to um esforço económico e finan-ceiro muito significativo.Não é, pois, com grande surpre-sa que constato que a taxa de desemprego persiste em níveis muito elevados e é crescente o número de insolvências. A grande diferença, em especial para os tra-balhadores, é que nos processos de reestruturação actualmente em curso ou em plano, natural-mente com muitas excepções, já não existe grande disponibilidade financeira para acomodar as pre-tensões indemnizatórias. Situa-ções de despedimento colectivo de há seis/doze meses atrás, em que eram frequentes planos com-pensatórios com coeficientes en-tre 1,5 a dois meses de retribuição

mensal por ano de antiguidade, mostram-se agora raros e, nal-guns casos, já se mostra difícil às empresas orçamentar as compen-sações mínimas legais.Com alguma ironia, diria mesmo que, nesta altura, crise só não existe para os especialistas de Direito do Trabalho, os quais con-tinuam a ter que dar resposta às prementes solicitações das em-presas e trabalhadores que deses-peram face a uma lei laboral que, não apenas não dá as respostas adequadas, como asfixia e impe-de algumas soluções de gestão de flexibilização das relações de trabalho. A verdadeira e efectiva “flexigurança” ainda não chegou a Portugal.

A crise e o Direito Laboral

Page 27: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 27O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Estado da Arte

“O facto do diploma ter entrado em vigor com várias deficiências, e em momentos diferentes, também leva a uma maior insegurança, o que conduz ao disparar de litígios”, diz Pedro Romano Martínez

“Novoregimeincrementalitígios”

Pedro Romano Martínez

Presidente do Instituto do Direito do Trabalho

e Coordenador da Comissão Redactora do Código do Trabalho (2006)

“Numa situação de crise como a que

vivemos, claro que os litígios aumentam

porque um trabalhador despedido sem

alternativa de emprego está mais propenso a entrar em litígio

com a empresa que o dispensou, do que se

tivesse recolocação no mercado de trabalho”

Advocatus | Tal como já era previsível no ano passado, os litígios laborais continuam a au-mentar, requerendo uma cres-cente assessoria jurídica nesta área. Considera que as altera-ções introduzidas no Código do Trabalho contribuíram para este cenário?Pedro Romano Martínez | Sim, por várias razões – a instabilida-de legislativa e as dúvidas gera-das pelo novo regime levantam sempre dúvidas e aumentam o número de litígios. O facto de o diploma ter entrado em vigor com várias deficiências, e em momentos diferentes, também leva a uma maior insegurança, o que conduz ao disparar de lití-gios.

Advocatus | Em que matérias se notam mais problemas?PRM | O novo regime do des-pedimento, ao contrário do que parece, aparentando simplificar o processo, incrementa os lití-gios, porque permite a interpo-sição de uma acção contra o preenchimento de um simples formulário, o que retira o espaço necessário a uma cuidada pon-deração.

Advocatus | A crise económica também tem contribuído para o aumento da litigiosidade?PRM | Evidentemente. Apesar da lei conduzir a muitas incer-tezas, não podemos colocar só a tónica neste aspecto. Numa situação de crise como a que vi-vemos, claro que os litígios au-mentam porque um trabalhador despedido sem alternativa de emprego está mais propenso a entrar em litígio com a empresa que o dispensou, do que se ti-

vesse recolocação no mercado de trabalho.

Advocatus | Quanto às medi-das apresentadas pelo Ministé-rio do Trabalho na redefinição do subsídio de desemprego, acha que é uma solução ade-quada para a resolução deste flagelo social?PRM | É um paliativo, não vai resolver o fundo da questão, só vai conseguir reduzir o peso económico da despesa [em cer-ca de 40 milhões de euros], é a forma mais fácil e rápida de o fa-zer, mas não sei se será a mais eficaz. Estes são aspectos labo-rais muito ligados com questões económicas e políticas, pelo que a legislação terá um raio de acção muito diminuto.

Despedimento

Processo disciplinar e acesso aos tribunais facilitados;Erros processuais desvalorizados;

Horários

Bancos de horas dependentes de acordo colectivo;Horários concentráveis em três dias;Adaptabilidade incentivável através de contratos colectivos;

Precariedade

Penalização agravada para falsos recibos verdes;Regime de contratos a termo mais restritivo.

Principais alterações de 2009

MUDANçA

Advocatus | Nesta altura em que a área Laboral se tem mediatiza-do tanto dado o contexto econó-mico, qual a importância que re-vestem as IV Jornadas do Direito do Trabalho?PRM | Este é um ramo jurídico é mui-to complexo e há muitos problemas em análise, que os especialistas no seu trabalho do dia-a-dia não se conseguem aperceber. Estas jorna-das têm uma grande vantagem em termos de promoção do conheci-mento. O grande problema do Di-reito do Trabalho não é tanto na te-oria, mas nas falhas de aplicação. A legislação foi projectada para uma economia em crescimento, bem organizada. O problema reside nas múltiplas ambiguidades do regime, que dão azo a diferentes aplicações práticas pela jurisprudência.

Page 28: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia28 Junho de 2010

www.advocatus.pt

O nosso ordenamento jurídico respondeu eficazmente à substituição do modelo industrial por um novo modelo de economia assente no conhecimento e na informação, permitindo o encerramento de estruturas inúteis e/ou obsoletas, sem grandes sobressaltos, e estabelecendo condições, quer através do despedimento colectivo, quer através do lay-off, para ajustar a força de trabalho às necessidades do mercado

Ordenamentojurídicofuncionou

João Paulo Teixeira de Matos

Sócio da Garrigues Portugal

Não deve ser necessário ter que

cair numa situação de crise empresarial para poder ajustar o factor trabalho às exigências do quotidiano de cada

mercado

Não há mais lugar para as empresas dos salários baixos ou para as empresas que não

reconhecem a mudança constante e a dinâmica

da concorrência

As estatísticas oficiais anunciam que largas centenas de empresas, ultrapassando mesmo o milhar, fecharam definitivamente as suas portas no último ano e meio. A notícia não pode deixar de cau-sar consternação, sobretudo com a situação dos trabalhadores que perderam os seus postos de tra-balho e uma não menor preocupa-ção com a perda de valor e des-truição de riqueza que tal número indicia.A crise que se revelou nos merca-dos financeiros em finais de 2008 tem inquestionavelmente alguma quota-parte de responsabilidade nesses encerramentos mas, em inúmeros casos, não foi mais que o acelerador de uma morte espe-rada. E nesses casos, ainda bem.Os encerramentos verificados, ain-da que idênticos nas suas conse-quências, não são iguais nas suas causas. Com efeito, numa mesma época convivemos com três fe-nómenos diferenciados – o caso mais evidente são as empresas que, embora adaptadas aos mer-cados actuais, directamente afec-tadas pela retracção da procura a partir de 2008 não tiveram outra alternativa que não sair do mer-cado; o segundo caso é o das empresas, normalmente do sector industrial e muitas vezes de cariz multinacional, que baseiam o seu modelo de negócios na mão-de--obra barata e, como tal, vão-se ciclicamente deslocando para os mercados onde essa mão-de-obra pode ser encontrada; o terceiro e último caso é o daquelas empre-sas que “pararam no tempo”, não acompanharam a evolução tecno-lógica e não se souberam adaptar

a ambientes concorrenciais.No momento em que a retoma ocorrer, as empresas do primei-ro grupo voltarão aos mercados, gerando novamente emprego e riqueza. As do segundo grupo não voltarão ao nosso país pois já não somos mais – e ainda bem que as-sim é – uma economia assente em custos baixos inexoravelmente as-sociados a baixa qualificação. As do terceiro grupo espera-se que estejam definitivamente enterra-das. É a “destruição criativa” de que fala Jack Welch.A crise que estamos a viver não é uma mera crise financeira, neces-sariamente passageira. Coincide no tempo com algo mais vasto e que já vinha de trás, ou seja, a substituição do modelo industrial que vivemos desde finais do sé-culo XVIII, por um novo modelo de economia assente no conhe-cimento e na informação. Não há mais lugar para as empresas dos salários baixos ou para as empre-sas que não reconhecem a mu-dança constante e a dinâmica da concorrência.O nosso ordenamento jurídico foi capaz de responder eficazmente a esta substituição de modelos, permitindo o encerramento de estruturas inúteis e/ou obsoletas, sem grandes sobressaltos, e es-tabelecendo condições, quer atra-vés do despedimento colectivo, quer através do lay-off para ajus-tar a força de trabalho às neces-sidades do mercado. Ficou assim demonstrado que é fundamental que existam mecanismos sufi-cientemente ágeis para ajustar em cada momento oferta e procura de trabalho. É importante que se

entenda que esses mecanismos também devem existir fora das situações de crise. Dito de outro modo, não deve ser necessário ter que cair numa situação de crise empresarial para poder ajustar o factor trabalho às exigências do quotidiano de cada mercado.O desafio que se avizinha é inco-mensuravelmente mais difícil: aos empresários impõe-se que enten-dam que a sua missão é criar valor e que tal passa necessariamente pela valorização do factor traba-lho; aos trabalhadores impõe-se que entendam que na nova eco-nomia da informação e do conhe-cimento não há mais lugar para os modelos da revolução industrial; ao legislador exige-se que enten-da que a economia não se muda por decreto e que, apesar de su-cessivas reformas legislativas, não há mais lugar para normas subs-tancialmente idênticas às que se anunciaram substituir.

Estado da Arte

A crise e o Direito Laboral

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Junho de 2010 29O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

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influência24 anos de

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O novo agregador da advocacia30 Junho de 2010

www.advocatus.ptEstado da Arte

Formas crescentes de precariedade, em número de soluções e de indivíduos abrangidos, generalizam a convicção de que a normalidade reside naquilo que o sistema normativo só admite como excepção: as prestações de serviços que o são apenas de nome, o trabalho sempre temporário, o contrato a termo e a via-sacra das respectivas renovações

Confrontoentrerealidadeemodelo

Luís Miguel Monteiro

Sócio da área de Laboral da MLGTS

O nosso actual Direito do Trabalho sofre a erosão própria dos tempos de crise, mas igualmente a degradação típica

dos sistemas desadequados da

realidade que regulam e pretendem moldar. Se

este desajustamento não for enfrentado, nada há a esperar que não seja maior

deficiência reguladora, enfraquecimento

dos valores do sistema, incremento de desigualdades,

desprotecção generalizada

O ano 2010 não se apresen- tou ao comum dos portugueses como proporcionando motivos pa- ra grande optimismo. Decorrido o seu primeiro trimestre, os dados disponíveis confirmam, se não mesmo acentuam, a gravidade da situação que o país enfrenta.A crise financeira e económica faz o seu caminho, dando lugar ao que se afigurava previsível e, para muitos, inevitável – o generaliza-do empobrecimento do país, as-sinalado pelos usuais parâmetros macroeconómicos e revelado no quotidiano pela crua realidade do encerramento de empresas, aban-dono de negócios e projectos de investimento, aumento significati-vo do desemprego, acréscimo dos entraves ao acesso ao mercado de trabalho pelos mais jovens, pres-são nas contas públicas (também) por via da crescente solicitação de prestações sociais, dificuldade de indivíduos e famílias satisfazerem compromissos básicos, incremen-to da emigração.Estando feito o diagnóstico das de-bilidades da economia portuguesa, conhecendo-se os constrangimen-tos à actuação dos tradicionais ins-trumentos da política económica e parecendo claro que o crescimento da produção nacional, a aconte-cer nos próximos anos, não terá impacto significativo no emprego, a conclusão parece impor-se com meridiana clareza: a situação social que vivemos não vai melhorar nos próximos tempos, sendo provável que a sua degradação se acentue. Este cenário colocaria inevitavel-mente pressão sobre qualquer sistema de regulação das relações laborais, pondo à prova os seus di-

versos institutos e, por via destes, os valores que o orientam. Dese-javelmente, também poderia servir de catalisador para que, resistindo no que é essencial, os edifícios normativos evoluíssem através da criação de soluções mais eficazes e pela correcção do que, ainda que temporariamente, se mostrasse desadequado.Por isso e sem surpresa, a situação descrita também deixa a sua mar-ca no nosso ordenamento jurídico, no qual a disciplina do trabalho su-bordinado tem como paradigma a relação profissional de longa dura-ção, com tutela dos elementos es-senciais do estatuto do trabalhador – o que faz, quando, onde e com que contrapartida – e restrição das causas de cessação contratual. Este confronto entre a realidade económica e o modelo normativo teórico decerto multiplicará con-flitos, não obstante a impressão geral de que a conflitualidade, pelo menos na sua actual expressão, é ineficaz na perspectiva da mudan-ça do estado das coisas.Porém, mais do que isso, importa ler os sinais que a realidade nacio-nal vem manifestando, de há bas-tantes anos a esta parte, a propósi-to do trabalho assalariado. Formas crescentes de precariedade, em número de soluções e de indivídu-os abrangidos, generalizam a con-vicção de que a normalidade reside naquilo que o sistema normativo só admite como excepção: as presta-ções de serviços que o são apenas de nome, o trabalho sempre tem-porário, o contrato a termo e a via-sacra das respectivas renovações. Níveis elevados de desemprego entre os mais jovens entravam a

necessária renovação de ideias e o desenvolvimento de potencialida-des, para além do sem número de efeitos colaterais graves, ao nível da natalidade, da emigração, da ausência de hábitos de trabalho, só para nomear alguns. A partir de idade cada vez mais baixa, desem-prego é sinónimo de abandono do mundo do trabalho e, com ele, de perda definitiva de experiências mas, igualmente, de supressão de causa próxima de progressão téc-nica e intelectual.Estes sinais convergem na consta-tação da perda de eficácia da dis-ciplina do trabalho subordinado. O nosso actual Direito do Trabalho sofre a erosão própria dos tempos de crise, mas igualmente a degra-dação típica dos sistemas desade-quados da realidade que regulam e pretendem moldar. Se este de-sajustamento não for enfrentado, nada há a esperar que não seja maior deficiência reguladora, en-fraquecimento dos valores do sis-tema, incremento de desigualda-des, desprotecção generalizada.O trabalho quer-se com direitos, mas estes de nada valem não ha-vendo trabalho. Por isso, impõe-se alcançar o equilíbrio adequado entre a protecção do emprego e as condições, também legais, para a sua criação.

A crise e o Direito Laboral

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Junho de 2010 31O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

Jorge FielJornalista

[email protected]

“Salvo raras excepções, o advogado não tem no seu ADN a perspectiva de Marketing. É importante saber Direito, mas depois é preciso aprender a pensar bem e a utilizar todas as suas ferramentas de uma forma sistemática. O que é que mudou? Hoje em dia, nós temos que olhar para o cliente como o centro e perceber que isto é uma prestação de serviços”, afirma Pedro Rebelo de Sousa, no momento em que concluiu o rebranding da SRS, uma operação que, além da consolidação do naming (após o fim da parceria com a Simmons & Simmons), contemplou um processo interno, que deu origem a uma assinatura - Focus Matters -, a primeira de uma firma portuguesa de advocacia, e uma nova política de pricing

Olhar o cliente como o centroPedro Rebelo de Sousa, sócio fundador da SRS

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Page 32: Jornal advocatus Nº 4

O novo agregador da advocacia32 Junho de 2010

www.advocatus.ptEntrevista

Advocatus | Diogo Leónidas, da garrigues, em entrevista à Advo-catus, disse que as sociedades espanholas sempre tiveram uma visão estratégica de Portugal, en-quanto as anglo-saxónicas ope-ram de maneira mais financeira. Foi essa a causa do downgrading da vossa relação com a Simmons & Simmons (Simmons)? Pedro Rebelo de Sousa | Não é necessariamente assim. As fir-mas internacionais sempre nos olharam como um mercado muito periférico e com pouca relevância em termos de clientela. Não é por acaso que só muito tardiamente vieram para cá. Vamos ser realis-tas. As firmas espanholas come-çaram a internacionalizar-se há menos de dez anos e numa lógica follow the client. Eu diria que são muito menos sofisticadas que as anglo-saxónicas, que já come-çaram essa estratégia no pós- -guerra. A realidade é que o inglês é a língua franca dos negócios e o direito anglo-saxónico é a lex mer-catoria.

Advocatus | Nada a ver, portan-to…PRS | Tem um bocadinho de ver-dade. No pós-crise, a Simmons optou por uma concentração. Portugal não era estratégico, mas não foi por aí. Foi mais pelo tipo de trabalho. A Simmons quis con-centrar-se nas áreas Financeira e de Direito Corporate, deixando de ser uma grande multipractice com todas as valências. Ora nós tínha-mos exactamente uma estratégia de ter todas as valências, porque o mercado é pequeno e, quando uma vai mal, a outra vai bem. Há o efeito compensatório. E quería-mos desenvolver a nossa clientela com base na sua expansão inter-nacional. Tínhamos geografias, prioridades e valências diferentes. Claro que para um escritório es-panhol, Portugal faz mais sentido. Está na sua geografia.

Advocatus | A substituição da opção anglo-saxónica pela atlântica está a correr de acordo com as expectativas? PRS | É uma estratégia em dois

andamentos. Um é seguir o clien-te, que começou em 95-96 com o governo Guterres, e a expansão para o Brasil, e no pós-guerra de Angola, em 2002/03. Há muitos clientes internacionais que nos olham como alguém que lhes pode descodificar uma jurisdição onde eles não têm grandes con-tactos.

Advocatus | A língua portuguesa é uma vantagem comparativa? PRS | É a língua e ainda o facto do Direito ser semelhante. O outro andamento é o dos clientes dos países lusófonos que se estão a internacionalizar. O Brasil tende a ser uma das cinco maiores eco-nomias do mundo. Um dos gran-des erros sucessivos dos nossos governos tem sido o de não criar condições de natureza jurídica e fiscal para realmente tornar Portu-gal o que a Irlanda foi para os Es-tados Unidos, como plataforma de internacionalização e de investi-mento na Europa. Mantemos uma ligação à Simmons, o que nos per-mite prestar serviço a um cliente em 25 jurisdições, desde a China ao Médio Oriente, passando pelos países lusófonos que já falei e pe-las principais capitais europeias. O que nos dá uma vantagem com-petitiva.

Advocatus | é fundamental para um escritório português ir para fora de portas?PRS | A internacionalização é enri-quecedora e também uma postu-ra - uma atitude. Quando retornei à advocacia, em 93, escrevi uma carta com os quatro princípios fundamentais deste escritório e a internacionalização era um deles.

Advocatus | Foi advogado e ban-queiro, no Brasil, Estados Uni-dos e Portugal. O que é que foi mais divertido? PRS | Tudo foi um bocadinho di-vertido. No Brasil, estive numa fase muito boa, porque é um país para se começar uma vida, muito desafiante, jovem e com um cres-cimento brutal. A trabalhar para o Citibank, que era o maior credor do Brasil, fui aprendendo figuras,

“As firmas espanholas começaram a

internacionalizar-se há menos de dez anos e numa lógica follow

the client. Eu diria que são muito menos sofisticadas que as anglo-saxónicas”

“O advogado é quem seduz a mulher, quem a leva a jantar, ao cinema, quem conversa, quem

passa noites a namorar. Quem a leva para o

quarto é o advogado. Mas quem na verdade

passa a noite é o cliente e o advogado que não percebe isso

é um mau advogado. O bom advogado é aquele

em quem o cliente confia a tal ponto de

perguntar “Onde é que eu assino?”

operações e estruturações dife-rentes e de uma grande sofistica-ção, até pelo elemento inflacioná-rio que obrigava a uma criatividade enorme e a uma elasticidade que me fez ser realmente um muito bom advogado business. Foi mui-to marcante, recém-casado, com dois filhos que nasceram lá, com uma parte da família (os meus pais estavam lá) - tinha um enquadra-mento muito simpático.

Advocatus | E Nova Iorque?PRS | Fiz 30 anos em Nova Iorque, assumindo muito jovem funções de grande responsabilidade na re-estruturação da dívida da América Latina. É um desafio brutal, por-que foi uma oportunidade muito estimulante estar no centro daqui-lo que foi a génese de toda esta bola de neve – a primeira grande crise foi a América Latina. O Citi-bank era o maior banco e eu era o chairman dos comités de bancos para os vários países, o que foi um trabalho muito excitante. De-pois fui para a área de Corporate Finance e durante cinco anos não trabalhei como advogado, mas mais na banca. Adorei. Trabalhar em Nova Iorque aos 30 anos foi fantástico. Sentimo-nos um bo-cadinho king of the world. Depois voltar a Portugal foi muito excitan-te. Raras vezes uma pessoa tem a chance de fazer uma privatização, como a do Fonsecas, que foi a pri-meira a 100% de um banco portu-guês. Foram quase três anos com uma equipa muito boa, como o Nuno Amado e a Esmeralda Dou-rado, que fui buscar ao Citibank. Depois tive de pensar seriamente em realizar o sonho da minha vida. Tentar participar e desenvolver um projecto que consistia num escri-tório diferente. Comecei com zero clientes. Advocatus | Porque é que voltou à advocacia?PRS | De vez em quando temos de nos reinventar. Porque é que co-mecei com a advocacia? Porque existia um novo Código das Socie-dades, um novo Código de Valo-res Mobiliários, havia um arranque praticamente nivelado com os ou-

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Junho de 2010 33O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

“Penso que a composição ideal para o governo é uma mistura de

juristas (não digo de advogados), gestores,

economistas e engenheiros, ainda que haja uma proximidade

muito grande, no raciocínio lógico,

entre o advogado e o engenheiro. Nós temos uma matriz da lógica e isso, parecendo que

não, ajuda imenso quando se analisa um problema e na forma

como se faz a sua decomposição”

Advocatus | Qual é o peso do Estado na facturação da SRS?PRS | Aproximadamente 5% a 7%. Os 50 maiores clientes, re-presentam cerca de 70% da fac-turação. Os 100 maiores cerca de 90%. E o maior cliente não repre-senta mais que 4,5%.

Advocatus | Como é que se po-sicionam face à concorrência?PRS | Quando saímos da fusão com a Simmons fizemos uma reflexão estratégica com con-sultores. Falámos com o mer-cado, clientes antigos, clientes potenciais… com os chamados stakeholders. Depois fizemos um trabalho de brainstorming interno e chegámos a uma missão: que-remos ser líderes em serviço ao cliente e criação de valor. Isto não significa ser o maior, não significa de todo que queremos ter o maior número de advogados, ou sermos o maior em facturação. Nós colo-camos a tónica em duas sílabas. O cliente o que valoriza é a qualidade de serviço e a criação de valor, o resto é quase um dado adquirido, isto significa que criar valor é ser-mos parceiros do cliente. Como se cria valor? Ser o parceiro credível do cliente, que entende os impe-rativos, a sua estratégia e tenta perceber o seu negócio. É por isso que nos arrumamos por áreas de Direito e sectores económicos.

Advocatus | Quais os sectores em que mais apostam?PRS | Escolhemos cinco: Finan-ceiro, Energia, Infra-estruturas, TMT e live science (que é a ciência da vida que tem farmacêutico e Imobiliário/Turismo).

Advocatus | Qual desses é mais importante?PRS | A energia representa entre 20% a 25% da facturação e é um sector onde temos uma actividade diversificada, não só em Portugal, mas também em Angola e no Bra-sil. Acho interessantíssima a apos-ta portuguesa nas eólicas e em tudo o que é energia alternativa. Mas apesar de a achar uma apos-ta arrojada e interessante, comun-go de algumas das perplexidades

tros. Mais. Esses códigos estavam a ser revistos para se aproximar mais do que existia lá fora. Como tinha uma experiência e contactos que me ajudaram e não havia mui-tos escritórios que estivessem na área do Direito Financeiro no seu todo, com Mercado de Capitais, houve um nicho de oportunidade que me fez ser capaz de seguir em frente e desenvolver o projecto, juntamente com outros colegas – um escritório nunca é uma obra de uma só pessoa.

Advocatus | Qual é a grande di-ferença entre ser advogado e banqueiro?PRS | Costumo contar esta histó-ria. O advogado é quem seduz a mulher, quem a leva a jantar, ao cinema, quem conversa, quem passa noites a namorar. Quem a leva para o quarto é o advogado. Mas quem, na verdade, passa a noite é o cliente - e o advogado que não percebe isso é um mau advogado. O bom advogado é aquele em quem o cliente confia a tal ponto de perguntar “onde é que eu assino?”. No fundo, o advogado tem de perceber a sua posição e ser um elemento que se subalterniza ao cliente, seja ele banqueiro ou não. Aquilo que o cliente está a pagar é exacta-mente isso, são as suas ideias, a capacidade de negociar e de fa-zer acontecer.

Advocatus | António Vitorino disse que há cada vez menos advogados no governo. Isso é mau?PRS | No período salazarista e pós-salazarista, Portugal viveu sempre um bocadinho sob a hegemonia de raiz do Direito. Só tardiamente tive-mos cursos de Gestão. Penso que uma mistura de juristas (não digo de advogados), gestores, econo-mistas e engenheiros é o ideal, ainda que haja uma proximidade muito grande, no raciocínio lógico, entre o advogado e o engenheiro. Nós temos uma matriz da lógica e isso, parecendo que não, ajuda imenso quando se analisa um pro-blema e na forma como se faz a sua decomposição.

que foram manifestadas naquele manifesto sobre a subsidiação da estratégia de expansão.

Advocatus | Quando se fala em acrescentar valor, o preço faz parte da equação?PRS | Quando se fala em acres-centar valor tem de se olhar para outro elemento que o cliente con-sidera que é o custo. Acrescen-tar valor numa equação custo/valor que seja atraente e isso faz com que neste esforço de refor-mulação estratégica tenhamos desenvolvido matrizes de pricing diferenciadoras, ou seja, através de uma combinação de métodos que se afastam cada vez mais da pura facturação por hora e le-vam em conta determinado tipo de variáveis, como as áreas que o cliente usa no escritório. A mim interessa-me que o cliente passe a usar as nossas várias valências. Sou sensível a que o valor de um trabalho em certas áreas do Direi-to é mais caro do que em noutras. A Concorrência é uma das áreas em que o valor hora é mais alto ao invés do que se passa no Direito Laboral, que hoje é uma área em crescimento brutal mas onde his-toricamente se cobra menos. É a lei da oferta e a procura.

Advocatus | Como é que funcio-na em concreto esse esquema?PRS | Temos esquemas de pricing diferentes e inovadores, que não vou revelar, senão seria dar o ouro ao bandido. Mas os clientes que recorrem mais aos nossos servi-ços e que usam as várias valên-cias são beneficiados.

Advocatus | Como foi o proces-so de organização e rebran-ding da SRS?PRS | Na organização temos uma matriz. Um advogado quando desenvolve a sua carreira aqui dentro, escolhe uma área de di-reito e o sector de economia que acompanha. Pode ser Comercial e Telecomunicações, pode ser Financeiro e Energia. Logo quan-do faz formação, quando viaja, focaliza, isto tem a ver com a nossa nova assinatura.

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“Temos uma missão: queremos ser líderes em serviço ao cliente e criação de valor.

Isto não significa ser o maior, não significa de todo que queremos ter o maior número

de advogados, ou sermos o maior em facturação. Nós colocamos a tónica em duas

sílabas: valor”

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O novo agregador da advocacia34 Junho de 2010

www.advocatus.ptEntrevista

“A mim interessa-me que o cliente passe

a usar as nossas várias valências.

Sou sensível a que o valor de um trabalho em certas áreas do Direito é mais caro do que em noutras. A Concorrência é uma das áreas em que o valor hora é mais alto, ao invés do que se passa no Direito Laboral, que hoje é uma área em

crescimento brutal mas onde historicamente se cobra menos. é a lei da

oferta e a procura”

Advocatus | é normal as socie-dades terem assinatura? PRS | Em Portugal não há muito a tradição dos escritórios terem uma assinatura. Nós temos uma missão, depois quantificámo-la em termos do que são os nossos objectivos e orçamento. Fizemos uma análise interna de como se-ria a assinatura e começámos por dizer o que é o valor. Os valores que apareceram foram: foco, exi-gência, compromisso, inovação e ambição. Mais engraçado são as 80 palavras mais frequentes na declaração de valores e com-portamentos SRS. Pondo numa matriz os resultado foi, Cliente, o mais importante, SRS: valor, ex-pectativas, compromisso e foco. Estas palavras foram debatidas exaustivamente e chegou-se à as-sinatura. Chegou-se à conclusão, que, de todos estes valores,o mais importante era o foco, daí o Focus Matters. Porquê? Porque é inglês, trabalhando numa advocacia mui-to internacionalizada é preferível ter uma assinatura só em inglês. Há um substantivo e um verbo, o verbo matter que também pode ser matter de assunto, nós lida-mos com matters. Matter quer di-zer matéria de interesse. O foco o que é? É o foco no cliente, na cria-ção de valor, na especialização de sectores e áreas de direito no que é relevante. Dar respostas inteligí-veis, claras e implementáveis.

Advocatus | Foi pacífica a es-colha de iniciais em vez de tirar partido, por extenso, do apelido Rebelo de Sousa?PRS | Completamente pacífico. E

eu sou um dos maiores defenso-res. Porque é discutível. Muitos advogados portugueses defen-dem que as siglas não vingam e que deve ser sempre um nome. Quando me juntei ao Grupo Legal Português, porque estava no Fon-secas & Burnay, aderi com muita convicção, porque achei que era fantástico haver um escritório que não tinha o nome de ninguém. Isso é que é a verdadeira institu-cionalização. Eu acho que a sigla de certa maneira tenta ser mais um passo na institucionalização. Eu tenho muita honra no meu nome, mas acho que um escritório é um escritório.

Advocatus | Os novos tempos obrigam a alterar o comporta-mento das sociedades? Sente que têm de dar muito mais aten-ção ao marketing?PRS | Muito. E não é fácil. Salvo raras excepções, o advogado não tem no seu ADN a perspectiva de Marketing. Acho que isso tem a ver com a posição defensiva e conservadora que é passada pe-las faculdades. O que não é mau, porque é olhar para a lei e para a doutrina, para a jurisprudência e tentar fazer uma interpretação que seja a mais rigorosa. Acho que falta talvez uma componente de realismo nisto. É importante sa-ber Direito, mas depois de saber Direito é preciso saber pensar. Eu nunca acreditei que a pessoa que sai da Faculdade de Direito saiba muito daquilo. Sabe um bocado, mas aprende tanta teoria que não serve para rigorosamente para nada. O que é importante é apren-der a pensar bem e a utilizar todas as suas ferramentas de uma forma sistemática. O que é que mudou? Hoje em dia, nós temos que olhar para o cliente como o centro e perceber que isto é uma prestação de serviços.

Advocatus | Um prestação de ser-viços com preocupações no cam-po ético e social, não é assim?PRS | Mas todas elas devem ter. Há aquela ideia do advogado carregar o peso de tentar fazer o mundo me-lhor. Todos nós queremos um mun-

“A nossa assinatura é Focus Matters. Porquê? Porque é inglês, trabalhando

numa advocacia muito internacionalizada é preferível ter uma assinatura só em inglês. Há

um substantivo e um verbo, o verbo matter que também pode ser matter de assunto,

nós lidamos com matters. Matter quer dizer matéria de interesse. O foco o que é? É

o foco no cliente, na criação de valor, na especialização de sectores e áreas de direito no que é relevante. Dar respostas inteligíveis,

claras e implementáveis”

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Junho de 2010 35O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

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do mais justo e de legalidade e de justiça. Mas isto é uma prestação de serviços e isso exige que nos saibamos posicionar para vender os serviços e falar com o cliente. Tenho de reconhecer que o convívio com a Simmons foi muito importante em termos de experiência e de cultura. Há coisas que ficam. Acho muito importante uma disciplina de tra-balho anglo-saxónica e dos meca-nismos de gestão do escritório, que se sofisticou muito. Hoje gere-se o escritório praticamente como uma empresa. Quem gere a SRS é um administrador que veio da Matuta-no, que é do grupo Pepsi.

Advocatus | Que sistema usam para avaliar o desempenho dos advogados?PRS | Neste momento estamos exactamente a discutir isso. Nós temos o plano de carreira, que já é relativamente desenvolvido, no sentido de que uma parte signifi-cativa dos lucros são distribuídos sobre a forma de bónus pelos ad-vogados e os sócios. Temos uma avaliação de desempenho, que é

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Advocatus | Como ex-banquei-ro, teme que a credibilidade do sistema financeiro português saia muita abalada por esta crise? PRS | Portugal atravessa um tes-te difícil de credibilidade a nível internacional. Não é só o sistema financeiro que é uma subsecção do problema e apanha por tabela. O país como um todo passa um teste difícil de credibilidade por-que tem que demonstrar que não faz operações meramente de cos-mética ou de recuperação fácil a curto prazo sem, no fundo, olhar para os problemas estruturais. Va-mos ser honestos, o que qualquer credor quer ver é se a nossa eco-nomia se reajusta e não continua a crescer em termos de endivi-damento de uma forma insusten-tável. É uma espécie de dieta. Eu como gordo percebo. Primeiro te-mos de emagrecer. Mas depois te-mos de mudar os hábitos de vida. Infelizmente eu estou a dizer isto mas não faço. Se não mudamos os hábitos, depois recupera-se outra vez o peso.

“Temos esquemas de pricing diferentes e inovadores, que não vou revelar, senão seria dar o ouro ao

bandido. Mas os clientes que recorrem

mais aos nossos serviços e que usam

as várias valências são beneficiados”

feita anualmente, e que tem uma componente de indicadores de performance quantitativos que se tornam mais objectivos.

Advocatus | Qual é o grau de ob-jectividade da avaliação de de-sempenho?PRS | Há indicadores quantitati-vos e há avaliação qualitativa que geralmente é feita por duas pes-soas e é discutida com a pessoa e antes de ser feita a distribuição do bónus. No entanto, porque re-ter talento para nós é fundamen-tal, neste momento o que está em causa por um lado, é rever a es-trutura societária e a sua composi-ção. Nós temos capital, lockstep e desempenho e a nossa ideia é ain-da desenvolver mais ainda estes três componentes. E no desempe-nho estamos a criar mecanismos de mensuração muito objectivos, porque o pior que pode haver é subjectividade nessas matérias. Portanto estamos neste proces-so, que estará concluído até ao final do mês e implicará depois a revisão do plano de carreira.

Apesar de não ser exactamente ma-gro, faz exercício físico com muita re-gularidade. Mas não na cave do seu escritório, o antigo edifício das Se-lecções na Francisco Manuel de Melo (junto ao Parque Eduardo VII), onde há um ginásio totalmente equipado e uma quadra de squash. Pedro nada quase todos os dias, mais de meia hora (20 minutos de crawl e 10 a 15 minutos de costas), enquanto ouve música nos auscultadores subaquáti-cos do seu iPod. E ao fim de semana dá longos passeios de bicicleta na ci-clovia de Cascais. Casado, com dois filhos, viveu em Lourenço Marques durante os três anos (67-70) em que o pai, Baltasar (de quem herdou o reló-gio Cartier que usa) foi Governador de Moçambique. Viveu, começou a tra-balhar e estabeleceu família no Brasil, onde se transformou de advogado em

banqueiro. Aos 30 anos, o Citibank proporcionou-lhe a extraordinária ex-periência de ser nova-iorquino: “To-das as pessoas estão em Nova Iorque claramente de passagem, portanto, qualquer um que por lá passa se torna num nova-iorquino. Em Nova Iorque todos são nova-iorquinos, ninguém é estrangeiro. É o único local no mun-do verdadeiramente cosmopolita”. No regresso a Portugal liderou a privati-zação do Fonsecas & Burnay antes de retornar à advocacia, onde foi o primeiro não inglês a ser eleito para board da Simmons. “Nunca tinha es-tado numa partnership, que é um ani-mal especial onde todos são patrões, todos são sócios. O trabalhador é ac-cionista e o accionista é trabalhador. Uma experiência marcante”, concluiu este advogado, que está obviamente de bem com a vida.

HÓBI

Usa o Cartier do pai e um iPod subaquático

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O novo agregador da advocacia36 Junho de 2010

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Oproblemaresidenaprova

Por direito

O Direito e as Redes Sociais

A Internet veio revolucionar pro-fundamente a forma como traba-lhamos, ocupamos os tempos li-vres e nos relacionamos. As redes sociais (social networking), como o Facebook, Linkedin ou Myspace, constituem uma expressão recen-te desse fenómeno no âmbito das relações pessoais e profissionais. O conceito funciona de uma forma es-pantosamente simples mas eficaz: o utilizador cria um perfil pessoal onde publicita as informações que pretender divulgar sobre si, como nome, idade, estado civil, relações pessoais e algumas fotos. Esse uti-lizador liga-se então a outros utiliza-dores – seus conhecidos ou não – e, a partir desse conjunto, constitui-se uma rede social. Os membros de uma rede têm uma variedade de formas de interacção tais como: mensagens no perfil destinadas a

ser divulgadas entre os utilizadores, fotos de eventos importantes para a vida do utilizador ou grémios de pessoas com interesses comuns. O objectivo consiste em utilizar a internet como uma forma de pro-moção do relacionamento humano. Os números revelam o sucesso da fórmula: só o Facebook tem cerca de 350 milhões de utilizadores re-gistados.Estas redes sociais erguem, toda-via, alguns problemas delicados a nível laboral: em primeiro lugar, a empresa poderá perder produtivi-dade decorrente do tempo que os seus trabalhadores nelas gastem; um regulamento interno ou uma ordem de serviço que condicione o acesso a esses sítios durante o tempo de trabalho resolverá facil-mente a questão. Mais problemático poderá ser o

acesso à informação que estas re-des permitem e o respectivo trata-mento. Este segundo conjunto de situações será susceptível de le-vantar problemas muito complexos a propósito de discriminação, priva-cidade e direitos fundamentais.Relativamente à discriminação no local de trabalho, o direito portu-guês oferece um regime extrema-mente protector, mesmo a nível de direito comparado. A informação disponível nessas redes não poderá sustentar um comportamento dis-criminatório. O problema reside na prova: como é que o trabalhador vai provar que não lhe renovaram o contrato devido a se ter descoberto numa rede social que era homosse-xual? Como é que a trabalhadora vai provar que a ostracização (shun-ning) a que os/as colegas a votaram no local de trabalho se deve a algu-

350milhõesde utilizadores

registadosno Facebook

As potencialidades abertas pelas redes sociais não deverão ser anuladas pelos perigos que representam em matéria de práticas discriminatórias e de direitos fundamentais. A indefinição da fronteira entre a actuação no âmbito da esfera privada ou pública poderá ser, talvez, o maior desafio que a utilização das redes sociais suscita

João

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Junho de 2010 37O novo agregador da advocacia

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mas fotos reveladoras da sua con-fissão religiosa? A informação dis-ponível nessas redes sociais abre as portas a comportamentos discri-minatórios de prova muito difícil. A problemática densifica-se se fo-carmos a questão dos direitos fun-damentais do trabalhador, entre os quais o direito à privacidade. Poder-se-á sustentar que a divulgação de informação nestas redes ainda se insere na esfera privada quando quem comunica não pode assegu-rar a identidade de todos os desti-natários? Imaginemos que um trabalhador em licença por motivo de doen-ça decide publicar algumas fotos suas numa intervenção desportiva radical que chegam ao conheci-mento do empregador; que por sua vez decide mover-lhe um pro-cesso disciplinar e apresentar de-

Bruno MestreLicenciou-se na Faculdade de Direito

da Universidade Católica do Porto, em 2004, com doutoramento no European

University Institute (2005-2009).Como investigador foi bolseiro da Fundação para a Ciência e para a

Tecnologia, tendo passado por centros de investigação em Hamburgo, Trier, e nos projectos AGIRE (Action pour une Gestion Innovante des Restructuration

en Europe), RefGov (Reflexive Governance in the Public Interest) e no

subgrupo Corporate Governance.Na PLMJ exerce nas áreas Corporate/

M&A e Trabalho

núncia na Segurança Social. Imaginemos que se descobrem numa rede social comentários mui-to negativos de um empregado bancário sobre o funcionamento da sua empresa. Será que o emprega-dor pode iniciar um procedimento disciplinar? Por um lado, são com-portamentos cuja divulgação pode lesar o interesse da empresa, por outro lado, são comportamentos que estarão a coberto da liberda-de de expressão e serão emitidos numa esfera privada. A solução terá que ser encontrada caso a caso, tendo em devida conta os interes-ses em questão, num critério de concordância prática. Como afirma Júlio Gomes, “Fora da empresa e do seu tempo de trabalho, o tra-balhador dispõe de uma liberdade de expressão (...) ampla. Contudo, mesmo aqui, esta liberdade de ex-

Por direito

pressão não é ilimitada.” (Manual (2007),pp.278-279). No exemplo que acima se deu não será indife-rente, por exemplo, saber se o ad-ministrador da instituição bancária pertencia, ou não, à rede social onde a informação foi divulgada. As potencialidades abertas pelas re-des não deverão ser anuladas pelos perigos que representam em maté-ria de práticas discriminatórias e de direitos fundamentais. A indefinição da fronteira entre a actuação no âmbito da esfera privada ou pública poderá ser, talvez, o maior desafio que a utilização das redes sociais apresenta. Competirá aos agentes judiciários, às entidades explorado-ras das redes e ao legislador encon-trar um ponto de equilíbrio entre os direitos dos trabalhadores, a utiliza-ção abusiva de dados e a protecção dos interesses das empresas.

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Junho de 2010 39O novo agregador da advocacia

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A MiRANDA CORREiA AMENDOEiRA & AssOCiADOs (Miranda) entrou no Gabão, em parceria com o escritório local SCP Ntoutoume & Mezher Mouloungui. A Miranda irá assessorar clientes predominantemente nas áreas do Petróleo e do Gás, Telecomunicações, Banca e Exploração Mineira. Com esta aliança, a firma de advogados portuguesa passou também a integrar países de expressão francófona. O sócio executivo da Miranda, Rui Amendoeira, afirma que este projecto é “assumidamente internacional” e o Gabão “corresponde ao primeiro passo de uma estratégia de crescimento nos países africanos de língua francesa”. Como resultado deste acordo, está planeada a abertura - a curto prazo - de um escritório em Port-Gentil, cidade da indústria petrolífera no Gabão. Este novo escritório irá trabalhar de forma articulada com o actualmente existente em Liberville, capital do Gabão.

Seis painéis no 3º encontro da ASAP

AdC quer cobrar juros a quem perde recursos em tribunal

PLMJ assessora IKEA Portugal

António BarradinhasJornalista

[email protected]

A Associação das Sociedades de Advogados de Portugal (ASAP) promoveu, a 28 de Maio, o terceiro encontro nacional, numa jornada que incluiu seis painéis com oradores convidados: “As fusões de sociedades de advogados” (MLGTS); “As sociedades de advogados familiares e a sua evolução” (Cancella d’Abreu, Esteves & Associados); “Reflexões sobre a relação das sociedades de advogados com clientes” (PLMJ); “A cultura nas sociedades de advogados” (VdA); “Remunerações de

A Autoridade da Concorrência (AdC) quer pôr as empresas que percam recursos em tribunal a pagarem juros de mora sobre as coimas que lhe forem aplicadas. A alteração está a ser preparada no âmbito da revisão da Lei da Concorrência, que está a ser estudada pela equipa liderada por Manuel Sebastião há vários meses. “Se a empresa vier a não ganhar o recurso, então estamos a ponderar que haja a contagem de juros até ao pagamento

da sanção”, explica o presidente da AdC. Manuel Sebastião falava à saída da Comissão de Orçamento e Finanças, no âmbito da audição anual das entidades reguladoras do sistema financeiro. A nova legislação deverá ainda contemplar a possibilidade dos tribunais “poderem, não só diminuir a sanção, como também agravá-la”.

A nova loja IKEA de Loures implicou um investimento de 70ME. A área de prática de Imobiliário da sociedade de advogados PLMJ assessorou todo o projecto imobiliário e comercial de abertura do terceiro espaço da empresa sueca em Portugal. A equipa liderada pelo sócio Tiago Mendonça de Castro já vinha acompanhando este projecto desde 2008, no âmbito da compra dos terrenos onde está instalada a loja, respectivo licenciamento comercial e urbanístico, bem como construção do espaço propriamente dito e infra-estruturas adjacentes. O novo IKEA de Loures cria 480 novos postos de trabalho directos, que se vão juntar aos mais de mil colaboradores que as lojas de Alfragide e Matosinhos já englobam.

sócios nas sociedades de advogados” (Campos Ferreira, Sá Carneiro & Associados); “A internacionalização nas sociedades de advogados” (Miranda).Segundo o presidente da ASAP, Pedro Cardigos, relativamente aos temas e respectivos convidados para os apresentarem, “os primeiros são seleccionados pela sua transversalidade, pois é importante que o seu interesse não se limite a certas sociedades [...] Os oradores são convidados pela sua experiência e

conhecimento dos temas”. Com um participante especial, Pedro Pérez-Llorca, managing partner da firma homónima espanhola, uma perspectiva evolutiva do mercado legal foi deixada aos advogados portugueses.Nesta iniciativa foi, ainda, lançado o livro “Contributos para as Sociedades de Advogados”, por vários autores. Em simultâneo, foi também apresentada uma sondagem do sector, feita numa parceria da ASAP com o centro de sondagens da Católica (CESOP).

RECTifiCAçãO Na última edição do Advocatus, na peça sobre tendências da advocacia portuguesa, nas declarações do sócio da VdA, Fernando Resina da Silva, deve antes ler-se “a par deste crescimento orgânico a VdA tem incorporado pequenos grupos de prática especializados e liderados por advogados de reconhecido mérito. Foi assim no passado recente com a entrada das equipas de Mário Esteves de Oliveira (Público), Paulo Olavo Cunha (Comercial) e Sofia Galvão (Imobiliário)”. Pelo lapso, as nossas desculpas.

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O novo agregador da advocacia40 Junho de 2010

garrigues distinguida como a melhor firma de Fiscal de portugal A Garrigues Portugal foi galardoada com o prémio “melhor firma de Fiscal do Ano em Portugal” relativamente a 2010. Atribuída pela publicação “International Tax Review”, esta distinção tem como objectivo escolher a firma que mais se tenha destacado no último ano na assessoria fiscal de operações de Fusões e Aquisições, Reestruturação de Empresas e Contencioso Tributário. A equipa de Direito Fiscal da Garrigues Portugal, liderada pelo sócio Fernando Castro Silva e na qual se integram também os sócios Miguel Reis e Paulo Núncio, conta com cerca de 30 profissionais especializados nos escritórios de Lisboa e do Porto, sendo actualmente o maior departamento fiscal entre sociedades de advogados em Portugal.

Dia do Advogado celebrado a 19 de Maio Embora as comemorações nacionais tenham decorrido na ilha da Madeira, com uma cerimónia no teatro municipal Baltazar Dias, no Dia do Advogado aconteceram ainda diversas iniciativas em Lisboa e Porto. Assim, o Conselho Distrital de Lisboa (CDL) organizou um conjunto de fóruns em escolas do ensino básico e secundário, subordinados ao tema “Direitos e Deveres da Cidadania e o papel do Advogado na sociedade portuguesa do século XXI”. Segundo o presidente do CDL, Carlos Pinto de Abreu, este projecto visou prestar um contributo para o desenvolvimento do processo de conhecimento dos jovens, ajudando-os “na construção de uma verdadeira consciência social, educada para uma cultura de direitos humanos”. Quanto ao Conselho Distrital do Porto, o enfoque foi na iniciativa da consulta jurídica gratuita, com a qual a equipa encabeçada por Guilherme Figueiredo pretendeu “estreitar a relação entre o advogado e o cidadão, e contribuir para a edificação de uma sociedade conhecedora dos seus direitos e deveres”.

Dado o sucesso da iniciativa no ano passado, o evento pós-laboral que reúne várias firmas de advogados com o objectivo de angariar fundos para a criação da “Casa Claret – Comunidade de Inserção”, uma instituição destinada a acolher e acompanhar pessoas com necessidades de apoio psicológico. Com data marcada para o próximo dia 17 de Junho, às 21 hora, na discoteca Gossip, em Lisboa, Abreu Advogados (AA), Campos Ferreira, Sá Carneiro & Associados (CFSC), Cuatrecasas, Gonçalves Pereira (CGP), Garrigues, Miranda, Correia, Amendoeira & Associados (Miranda), Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), Uría Menéndez-Proença de Carvalho (UM-PC) e Vieira de Almeida & Associados (VdA) são as sociedades de advogados promotoras do evento. AA, CFSC, Miranda e SRS apresentam o Rock in Law. Os Dj estarão a cargo da Miranda e da AA. Bandas da AA, CFSC, Miranda e SRS tocarão em conjunto. Restantes bandas apresentarão os seus temas, como sucedeu em 2009.

A “Companhia das Sandes”, detida pelo fundo de private equity Explorer Investments, adquiriu ao grupo espanhol Eat Out, em Portugal, cem por cento do capital da empresa “Sopas e Companhia”, que opera com as insígnias “Loja da Sopas” e “Frescco”, passando a controlar 114 lojas em Portugal. A Rui Pena, Arnaut & Associados assessorou todo o negócio. A equipa foi liderada pelo sócio Francisco Xavier de Almeida e incluiu as advogadas Margarida Vila Franca, Pedro Fajardo e Rita Gaspar Simões.

CGP E GARRiGUEs AssEssORAM TElEfóNiCA E PT NA DisPUTA PElA ViVO A PT e a Telefónica reuniram as equipas e as assessorias externas para o confronto, na sequência da disputa pela Vivo, no Brasil, que pode desencadear várias formas de aproximações ou afastamentos. Diogo Leónidas, sócio partner da Garrigues Portugal, assessora a PT, enquanto do lado da Telefónica, a escolha foi para a equipa de Manuel Castelo Branco, sócio que lidera a multinacional espanhola, Cuatrecasas, Gonçalves Pereira (CGP).

ROCk iN lAw 2010

RPA AssEssORA AqUisiçãO DA COMPANhiA DAs sANDEs

Para a Chambers, a MLgTS é melhor firma portuguesaA sociedade liderada por João Soares da Silva e António Pinto Leite foi galardoada com a distinção de Chambers Europe Award for Excellence in Portugal pelo terceiro ano consecutivo. A Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS) ganhou o prémio de Chambers Europe Award for Excellence in Portugal, atribuído ao abrigo dos Chambers Europe Awards for Excellence, numa cerimónia que teve lugar em Londres, na semana passada. Esta é a

segunda ocasião, num período de três anos, em que a MLGTS recebeu este galardão.

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Junho de 2010 41O novo agregador da advocacia

Faleceu Mário Montalvão Machado

O militante número seis do PSD e eminente jurista do Porto, na área do direito privado, Mário Montalvão Machado, de 88 anos, morreu na madrugada do passado dia 11 de Maio. Sobre o falecido, o advogado social-democrata, e também portuense, Paulo Rangel, disse à Lusa que o País “perdeu uma das suas grandes figuras, uma figura de referência”.

Morreu José Luís Saldanha Sanches

O fiscalista, José Luís Saldanha Sanches faleceu no passado dia 13 de Maio, com 66 anos, no hospital de Santa Maria, em Lisboa. Tinha um cancro e estava internado há três semanas. Era casado com a procuradora-geral adjunta, Maria José Morgado, com quem tinha uma filha. Saldanha Sanches distinguiu-se como dirigente político durante o fascismo, mas recusava o saudosismo dos tempos da luta e da militância. Hoje, reconhecia que o MRPP, partido pelo qual militara, era uma “fraude” e tinha amigos que definia como “claramente de direita”, que dizia respeitar “profundamente pela sua honestidade intelectual”.

César Bessa Monteiro foi reeleito presidente da ACPI

O presidente da Associação Portuguesa dos Consultores em Propriedade Industrial, que encabeçou a lista única à direcção, vai cumprir o terceiro mandato consecutivo de dois anos, acompanhado de Gonçalo de Sampaio, reeleito secretário-geral da associação.

iVONE ROChA E MARiA filOMENA NETO, da JPAB, marcaram presença no congresso do Eurojuris, em Marraquexe, Marrocos. Ivone Rocha foi chairwoman do grupo permanente “Direito da Energia e do Ambiente”. Maria Filomena Neto entrou nas discussões “Direito da Família, Heranças e Direito das Sucessões”. As duas advogadas da JPAB foram as únicas representantes portuguesas presentes nesta iniciativa.

DUARTE DE AThAyDE, sócio da Abreu Advogados, foi reconduzido no cargo de co-chair to the crossborder real estate practice comittee, da ABA Section of International Law, que conta com 22 mil membros na secção de direito internacional e 400 mil membros no total.

hElENA TAPP BARROsO, PEDRO COsTA GONçAlVEs, BAl CABRAl E MiGUEl DE AlMADA das respectivas áreas de Contencioso e Arbitragem, Administrativo e Contratação Pública e Societário e Comercial, são os quatro novos sócios da MLGTS. Com estas nomeações, o escritório passa a contar com 33 sócios, num total de 162 advogados.

JORGE MiRANDA E RUi MEDEiROs lançaram no final do mês a segunda edição da Constituição anotada. A propósito da pertinência e actualidade da obra, o docente da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa e sócio da Sérvulo & Associados afirmou que “os grandes temas de que se fala, a propósito de uma futura revisão constitucional, não se prendem verdadeiramente com o sistema de direitos fundamentais que a CRP consagra […] As dúvidas são outras […] Como credibilizar o sistema político? Quais as alterações necessárias para pôr termo ao eterno conflito entre o Estado e as regiões autónomas?”.

Marcos de Sousa Monteiro eleito counsel da Linklaters PortugalO advogado desenvolve actividade predominantemente nas áreas de fusões e aquisições, private equity e operações de corporate finance, tanto de âmbito nacional como multinacional. “Esta promoção representa o reconhecimento do contributo do Marcos de Sousa Monteiro para a Linklaters e das suas elevadas qualidades pessoais e profissionais. O Marcos tem sido um elemento decisivo do grupo de Corporate Finance e, em geral, do nosso escritório. Pelo seu percurso e pelos resultados que alcançou ao longo dos últimos anos, provou ser inteiramente merecedor desta nomeação, que representa um investimento da Linklaters no reforço dos serviços que presta aos seus clientes,” explica Pedro Siza Vieira, managing partner do escritório de Lisboa da Linklaters.

José Manuel galvão Teles recebe Medalha de Honra da OAO sócio da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva (MLGTS), foi um dos advogados homenageados com a Medalha de Honra da Ordem dos Advogados (OA), por ocasião das comemorações do Dia do Advogado. Na mesma ocasião, foi atribuída a Medalha de Ouro ao Professor Doutor Jorge de Figueiredo Dias e a Medalha Comemorativa dos 50 anos da Advocacia a um largo número de ilustres advogados, como Alves Henriques, Rebelo Quintal, Álvaro Monjardino, António Soares de Oliveira, Carlos Melo Bento, Gama Lobo Xavier, Henrique Pontes Leça, José Prada, José Sampaio, Polónio de Sampaio (a título póstumo), Rui Nepomuceno e Saul Nunes.

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PEssOAs

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O novo agregador da advocacia42 Junho de 2010

www.advocatus.ptséries

Inicialmente criticada pelas feministas, acusada de excesso de emoção e de usar saias demasiado curtas, a protagonista da séria da Fox, Ally McBeal, acabaria por se tornar num símbolo de força, humor e perseverança da televisão americana. A sua alegria e o positivismo representam, ainda que de forma extremada, a sensibilidade feminina, inimitável para os homens, o que reforça a ideia de que, se não existissem tantas mulheres na advocacia, os seus tons seriam sempre escuros e discretos. Assim o afirma Susana Afonso Costa, sócia de Laboral da Rui Pena, Arnaut e Associados (RPA). A série, que esteve no ar entre 1997 e 2002, retrata a vida dos advogados e secretárias da Cage, Fisher and Associates que, além de uma sala de audiências e de um escritório, partilhavam também uma casa de banho unissexo. Este espaço invulgar, também como o bar local onde tradicionalmente terminavam os episódios, foram palco de cenas características que pretendiam ir muito além da vida profissional das personagens. Tratando-se de uma sitcom, Ally McBeal, “queria antes retratar as relações entre colegas do que propriamente a profissão”, ainda que, “como em qualquer trabalho absorvente, a vida pessoal de um advogado tenda a cruzar-se com o mundo profissional, por falta de tempo ou de imaginação”. A série ficou ainda conhecida pelas “alucinações” dos seus personagens, nos quais o wishfull thinking era recriado em cena. O bebé dançante, que surgia a Ally, é um dos exemplos mais conhecidos. Apesar da sua originalidade, Ally McBeal seria cancelada após cinco temporadas, devido à queda das audiências. Os fãs das séries de advogados não voltariam a conhecer uma personagem tão divertida e humorística. No entanto, Susana Afonso Costa comenta que o mundo da advocacia não passou a viver em tons de cinzento. “Nos escritórios de advogados existe uma enorme diversidade de feitios e humores, o que os torna ricos e divertidos”, acrescenta a advogada da RPA. Talvez haja um pouco de Ally McBeal em todas as sociedades.

SusanaAfonsoCostaéfãdeAllyMcBeal

Cláudia KöverJornalista

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Junho de 2010 43O novo agregador da advocacia

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Sem saber, ao certo, em que altura descobriu a sua vocação para a pintura, o sócio da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), Eduardo Verde Pinho, confessa-se atraído “desde sempre” pela imagem enquanto veículo de mensagem, seja em forma de fotografia, cinema, pintura ou publicidade. Praticante deste passatempo desde os tempos da faculdade, em 1991, inscreveu-se no curso de Fotografia da Escola Superior Artística do Porto, que concluiu três anos mais tarde. “Num sábado, algures em 2004, li um anúncio no jornal ‘workshop de pintura/técnica mista com Jorge Curval’ e pensei ‘porque não’?”, conta Eduardo, explicando como surgiu o primeiro convite para expor num ateliê. A estreia deu-se em 2007, e desde então nunca mais parou. As duas séries dos seus últimos trabalhos, expostos na galeria de arte “AP’ARTE”, no Porto, são dedicadas aos temas “Corpos” e “Elas”. A inspiração surgiu para contrabalançar os seus anteriores trabalhos, que eram “muito virados para a matéria, urbanos, por vezes violentos e chocantes”. Da conjugação da advocacia com a pintura resulta que “sujar as mãos” está reservado para as tardes de sábado. Pintar “na cabeça”, fá-lo “quando calha”, porque “a criatividade convive mal com os ponteiros do relógio”. Libertadora do stress do dia-a-dia, a pintura significa para ele um enorme prazer: “80% do gozo está no imaginar e fazer a obra, apenas os outros 20% ficam para expor o trabalho e sentir o agrado de quem vê e ouvir as suas críticas”. Aprende e apura a técnica ao “olhar e devorar imagens, quadros, exposições ou livros”, completando-os depois com um processo de “deixa ver se consigo fazer?”. Para o artista, o pintor “mais genial de todos” foi Picasso, mas Schwitters, Dubuffet, Pollock e Barceló também fazem parte do (largo) espectro de influências, mais do que pelo estilo, pela “atitude inovadora perante o acto de criação artística”.

EduardoVerdePinho

hóbi

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O novo agregador da advocacia44 Junho de 2010

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Manuel FalcãoDirector-geral da Nova Expressão

Despesas de representação

Conhaque

No tempo em que o Pap’Açorda abriu portas, ainda existiam jornais no Bairro Alto. Corria o ano de 1981 e uma banda britânica, os Fun Boy Three, fazia furor com uma canção que é muito adequada à época que vivemos e ao presente estado da nação: The Lunatics Have Taken Over The Asylum. Pois por essa altura Fernando Fernandes e José Miranda meteram mãos à obra de transformar um antigo estabelecimento comercial num restaurante que rapidamente ganhou fama e que havia de ser um local bem frequentado por empresários, jornalistas, políticos, artistas e todos os que queriam, nessa época, uma amostra da nova animação que nascia num Bairro Alto, muito pela mão dos dois donos do restaurante e de Manuel Reis - os três construíram o triângulo mágico que começou a mudar Lisboa – Manuel Reis no Frágil e na Loja da Atalaia e Fernando Fernandes e José Miranda no Pap’Açorda. Um dos trunfos do Pap’Açorda, que se tem mantido ao longo dos anos, é a utilização de uma base da cozinha tradicional portuguesa, óptima qualidade dos ingredientes e uma confecção cuidada. Depois, a decoração do sítio e o próprio espaço físico ajudam. A presença constante de pelo menos um dos donos, a atenção posta no acompanhamento do serviço mostra um cuidado com os detalhes que tem garantido um nível de qualidade constante ao longo dos quase 30 anos que a

casa já tem.O balcão de entrada, longo, para ficar a beber um aperitivo, enquanto se espera pela mesa ou que chegue alguém, é uma das imagens de marca da casa.

Os factosEu, por acaso, sempre gostei mais de ir ao Pap’Açorda ao almoço que ao jantar. Ao almoço é mais sossegado, recatado quanto baste para uma conversa de trabalho. Eu pessoalmente gosto de ficar logo na sala de entrada, ao fundo, numa das mesas do lado esquerdo, perto da parede. É um bom sítio para ver quem está e quem entra — e é sempre uma observação interessante. Mário Soares, cliente habitual do restaurante, costuma ficar na mesa que existe num

recanto do lado direito. Algumas das conversas de preparação de “O Independente” foram lá feitas e, depois do jornal iniciar publicação, era habitual que a direcção se juntasse lá à sexta-feira, num almoço, para analisar a edição e falar do número seguinte — enfim, recordações do final da década de 80.Ao jantar, o Pap’Açorda é um excelente local para levar convidados estrangeiros que queiram conhecer a comida portuguesa e sentir alguma da animação lisboeta.Falando de coisas mais substanciais a minha entrada preferida é a salada verde com caranguejos de casca mole. No prato principal existem sempre dúvidas – entre os fabulosos

Pap’AçordaRua da Atalaia, 67Bairro Alto, LisboaTelef. 213 464 811

Um bom exemplo dos novos caminhos

BANDA SONORA

Carlos Bica é um dos músicos de jazz portugueses com uma mais sólida carreira internacional e com uma dezena de discos editados em nome próprio. Contrabaixista, tem um estilo heterodoxo, marcante, dominado por uma grande marcação rítmica e uma subtileza de arranjos. O seu disco mais recente, “Carlos Bica+Matéria Prima” foi gravado em três concertos, na Culturgest, na Casa da Música e no Museu do Oriente, todos em 2008, e é um bom exemplo dos novos caminhos que Carlos Bica procura na sua música. Aqui ele é acompanhado por Matthias Schriefl no trompete, flugelhorn e melódica, por João Paulo no piano, keyboards e acordeão, por

Mário Delgado na guitarra eléctrica e João Lobo, na bateria e percussão. É um grupo de músicos de eleição e o resultado destas três sessões de gravações ao vivo é absolutamente fora de série. A maioria dos temas é da autoria do próprio Carlos Bica, à excepção de uma composição de João Paulo e de outra de Marc Ribot e de uma deliciosa versão de «Paris, Texas», de Ry Cooder.

Eusempregosteimaisdeiraoalmoçopastéis de massa tenra com feijão verde, a morcela da beira com grelos ou as costeletas de borrego panadas. Na área dos peixes vale a pena pensar nos filetes de sardinha panados (deliciosos, uma raridade) com arroz de coentros, os linguadinhos fritos com açorda, os jaquinzinhos, também com açorda, ou a garoupa com alcaparras. Nas sobremesas é muito difícil fugir à tentação da mousse de chocolate (um dos emblemas da casa) ou, numa versão mais light, à queijadinha de requeijão, que fica muito bem a acompanhar o café.

Os custosNo Pap’Açorda convém mesmo fazer reserva, sobretudo ao jantar — e é bom que saiba que há duas possibilidades — ou ir cedo, pelas oito da noite, ou querer um jantar mais tardio, pelas dez. Saiba também que existe uma zona de fumadores. Os custos variam muito com a extensão da refeição e os acompanhamentos líquidos. Entre os 30 e 60 euros (mais, se os vinhos forem especiais) consegue ter uma experiência leve ou um belo repasto.

Page 45: Jornal advocatus Nº 4

Junho de 2010 45O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Conhaque

Para brilhar nesta estação, a FURLA apresenta-lhe a colecção “Flash” com malas feitas totalmente de borracha.

Para quem gosta de fugir ao tradicional, o modelo BX39 desta colecção FURLA é totalmente resistente e “implacável”.

A Odisseias e a Agência de Viagens Abreu juntaram-se para lhe proporcionar verdadeiros momentos de sonho e serviço de excelência. Os três novos packs de Escapadinhas –

Românticas, Sonho&Spa e Família – vão oferecer-lhe momentos únicos de romantismo, diversão, relaxamento e descoberta em locais de sonho, sempre na melhor companhia.

Estas três opções permitem-lhe escolher qual o programa que melhor se adapta às suas preferências: estadias com tratamentos de Spa, fins-de-semana em família ou alojamento

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país com todos os seus encantos e recantos.

Tire um tempo só para si. Cuide de si para desfrutar de um prazer que nunca antes experimentou. O seu corpo e o seu espírito libertam-se, transportados para o coração da natureza – vibrante, colorida e sorridente.Com Eau de Paradis, Biotherm transporta-nos para um lugar encantado. O charme cativante desta fragrância reinventa a sensualidade com um ritmo alegre e delicado.Deslumbrante e alegre, Eau de Paradis nasce para a vida através de uma explosão de frescura, um estremecer de voluptuosidade. Um perfume efervescente cruza o luxuoso coração da natureza, correndo pelas florestas de madeiras preciosas, andando sobre as frutas e as bagas – romã, framboesa – absorvendo-as numa deliciosa profusão. Repleta pela bondade da natureza, esta fragrância delicada descansa de forma requintada, serena e calma.

Um convite para o Paraíso

Os fins de tarde de um dia soalheiro de Verão sugerem sempre um momento relax, em que se possa partilhar algo refrescante em boa companhia. A nova colecção de relógios Fóssil de acetato transparente, transforma as suas tardes em momentos especiais e inesquecíveis, com um pequeno toque de glamour.

Perfeitos para o Verão

Flash!

Apaixone-se por Portugal!

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O novo agregador da advocacia46 Junho de 2010

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“Escolhi um pintor muito jovem – sobre os consagrados todos têm opinião formada –, actualmente trabalhando em Inglaterra, Alexandre Farto, de 21 anos, por ser uma das nossas reais promessas e em que sempre acreditamos”. É deste modo que João Nuno Azevedo Neves, da ABBC, explica a escolha do quadro, sem nome, de Alexandre Farto. “A obra, feita de posters de rua em camadas, tinta, resina e fibra de vidro, chama a atenção para o caos também humano e para a necessidade da composição de uma solução”, acrescenta o advogado, um dos fundadores da ABBC. A escolha de Alexandre Farto, de mérito inquestionável, é, no entanto, face ao pretendido e só por tal razão, uma segunda escolha, salvaguarda João Nuno Azevedo Neves, que preferia referir-se a outro quadro, colocado a poucos metros, de Bruno Pacheco, porquanto: “Esta obra liga-nos à identificação do indivíduo, à busca dos afectos e correcta relação”. João Nuno Azevedo Neves é advogado há 42 anos, formado na Faculdade de Direito de Lisboa, no curso de 1962-66. A escolha do Direito resultou da “paixão pela solução de problemas e a dinâmica que geram quando pautados pelo Direito”, conta o sócio da ABBC, que destaca na evolução da profissão nas últimas quatro décadas, a necessidade da especialização e a criação de equipas homogéneas.

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Alexandre Farto

Actualmente em Inglaterra, onde é considerado uma certeza da pintura contemporânea,

Alexandre Farto, de 21 anos, iniciou a carreira como grafiter, a pintar nas ruas e comboios

da margem sul do rio Tejo. Artista urbano de raiz, tem vindo a desenvolver trabalhos de

ilustração, animação e design gráfico

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Junho de 2010 47O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

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