advocatus, nº 11

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Contacte-nos através do seu Mediador, visite-nos num Espaço AXA ou ligue 707 218 218, todos os dias úteis, das 8h30 às 19h00. PUB www.advocatus.pt Pág. 33 o nosso maior compromisso é consigo Vai diminuir a actividade legislativa do Estado Sérvulo Correia Director: João Teives n Director Editorial: Jorge Fiel n Mensal n Ano I n N.º 11 n Fevereiro de 2011 n 15 euros José Miguel Júdice deu o pontapé de saí- da ao dizer, no Advocatus 7, que vivia sem o Alberto dos Reis. Alargamos o debate a diferente opiniões. Júdice (PLMJ) sugere que se faça Control/Alt/Del. Carlos Aguiar e Ana Catarina Silva (CAFL) questionam a necessidade de uma revisão integral. José Carvalhosa (Raposo Bernardo) esmiúça a questão da audiência preliminar Sob a capa da defesa do direito à liber- dade de expressão e informação, sempre protegido e levado até às suas últimas consequências, entrámos numa era onde o atropelo a muitas regras passou a ser uma constante. O olhar duro de Leonor Chastre (Abreu), Luís Neto Galvão (SRS) e Ricardo Henriques (pbbr) sobre o fenó- meno WikiLeaks “Para se fazer impor, a Ordem tem de ter uma intervenção as- sertiva nos media, e isso tem sido conseguido pelos últimos bastonários. O Dr. José Miguel Júdice foi quem iniciou este ca- minho inevitável”, afirma Henri- que Salinas, 42 anos, especialis- ta em Penal da Carlos Cruz O que fazer ao Código ? Regras atropeladas Henrique Salinas, associado da CCA Júdice iniciou este caminho 18 26 6 5 601073 210256 00011 O novo agregador da advocacia

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Advocatus, Nº 11

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Page 1: Advocatus, Nº 11

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ou ligue 707 218 218, todos os dias úteis, das 8h30 às 19h00.

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Pág. 33

o nosso maior compromissoé consigo

Vai diminuir a actividadelegislativado Estado

Sérvulo Correia

Director: João Teives n Director Editorial: Jorge Fiel n Mensal n Ano I n N.º 11 n Fevereiro de 2011 n 15 euros

José Miguel Júdice deu o pontapé de saí-da ao dizer, no Advocatus 7, que vivia sem o Alberto dos Reis. Alargamos o debate a diferente opiniões. Júdice (PLMJ) sugere que se faça Control/Alt/Del. Carlos Aguiar e Ana Catarina Silva (CAFL) questionam a necessidade de uma revisão integral. José Carvalhosa (Raposo Bernardo) esmiúça a questão da audiência preliminar

Sob a capa da defesa do direito à liber-dade de expressão e informação, sempre protegido e levado até às suas últimas consequências, entrámos numa era onde o atropelo a muitas regras passou a ser uma constante. O olhar duro de Leonor Chastre (Abreu), Luís Neto Galvão (SRS) e Ricardo Henriques (pbbr) sobre o fenó-meno WikiLeaks

“Para se fazer impor, a Ordem tem de ter uma intervenção as-sertiva nos media, e isso tem sido conseguido pelos últimos bastonários. O Dr. José Miguel Júdice foi quem iniciou este ca-minho inevitável”, afirma Henri-que Salinas, 42 anos, especialis-ta em Penal da Carlos Cruz

O que fazerao Código ?

Regrasatropeladas

Henrique Salinas, associado da CCA

Júdice iniciou este caminho 18 266

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O novo agregador da advocacia

Page 2: Advocatus, Nº 11

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Page 3: Advocatus, Nº 11

Fevereiro de 2011 3O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt EntrevistaDestaques

“A vantagem é que o advogado interno conhece a empresa, a actividade, as pessoas. Tem um conhecimento diário e profundo de todas as questões, o que permite uma significativa poupança de tempo”, explica Joana Serra, a advogada da Deloitte, que gosta de lançar sementes e meter as mãos na terra do jardim da sua casa nas Amoreiras

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EditoraEnzima Amarela - Edições, Lda

Av. Infante D. Henrique, 333H, 441800-282 LisboaTel. 218 504 060Fax: 210 435 935

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impressão: Sogapal, Rua Mário Castelhano, Queluz de Baixo

2730-120 Barcarena

Director-geralJoão David Nunes

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DirectorJoão Teives

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Director EditorialJorge Fiel

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Directora de ArtePatrícia Silva Gomes

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EditoresAntónio Barradinhas (Online)

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Tatiana Canas [email protected]

Directora de MarketingMaria Luís

Telf. 925 606 [email protected]

Rua Luz Soriano, 67-1º E Bairro Alto1200-246 Lisboa - PORTUGAL

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A decoração é atraente, quer os altos cadeirões encostados à parede, quer as cadeiras são confortáveis. A iluminação é simpática e o grande lustro que domina toda a sala é de fazer inveja. O jogo de cores é tranquilo e há um curioso toque junto à montra, por cima das escadas de acesso à sala do piso inferior, que é uma mesa, devidamente posta com louça, copos e talheres. Quer saber mais sobre o que pensa Manuel Falcão do Assinatura, um restaurante da zona do Rato? Vá directo à página 44, sem passar pela casa de partida

RESTAURANTE

Decoração atraente, iluminação simpática44

Quem não acredita no amor à primeira vista está enganado. Que o diga Isabel Magalhães que teve pelo golfe uma súbita paixão que veio para ficar. Começou a jogar há pouco mais de um ano e já venceu vários torneios de advogados. Considera o novo passatempo como “um enorme deleite e uma inspiração para a alma”

HÓBi

A súbita paixão pelo golfe de Isabel Magalhães 43

Inscreveu-se em Direito a pensar que ia ser jornalista, mas durante o curso foi ganhando vontade de ser advogada. Joana nasceu na Telhada, Figueira da Foz, viveu e estudou em Coimbra e deitou âncora no Porto, onde, além de associada no escritório de Gil Moreira dos Santos é sócia fundadora de editora de livros baptizada com o nome do capitão do Moby Dick, de Melville. Breve história da vida de uma advogada sportinguista que tem um truque para ser feliz: “Só fico alegre com as vitórias, não fico triste com as tristezas”

PASSEiO PÚBliCO

Uma sportinguista com truque para ser feliz24

Page 4: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia4 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptEntrevista

João TeivesDirector Advocatus

Cortar a direito

É preciso que algo mudepara que tudo fique na mesma

Emile de Antonio foi um cineasta tardio. Começou depois dos 40. Antes fez de tudo um pouco mas a sua ligação às artes e aos artistas foi sempre seminal. Jasper Johns, Roberto Raushenberg ou, em especial, Andy Warhol foram alguns dos artistas promovidos por De Antonio. Não é fácil rever os filmes de De Antonio mas deixo aqui a nota de dois filmes importantes que têm edição em DVD. Point Of Order (1963), a primeira obra do cineasta, é uma obra-prima de montagem e colagem de material pré-existente (180 horas da transmissão televisiva dos Army McCarthy hearings) transformados num filme de 97 minutos. O poder da montagem é absolutamente criativo, sendo implacável na desconstrução do mito do senador Joseph McCarthy. Nota curiosa para os grandes momentos do advogado que representava o Exército, Joseph Welsh (seria actor, representando o juiz, no filme de Preminguer – Anatomy of a Murder). Quer na sua apresentação: “I came down from Boston in the guise of a simple trial lawyer. I suppose I’d try to think up some questions to ask witnesses and then, if I didn’t like the awser, ask another

one”. Quer no momento histórico em que enfrenta McCarthy: ”Until this moment, senator, I think I never really gauged your cruelty or your recklessness. Let’s us not assassinate this lad further, senator. You’ve done enough. Have you no sense of decency, at long last? Have you left no sense of decency”. Grande documentário é também In The Year of the Pig (1968), sobre o Vietname, indo às origens do colonialismo francês, foi feito no auge da guerra e da intervenção norte-americana. De Antonio mescla material pré-existente, algum do qual inclusive furtou (!) de Arquivos Militares Franceses de Fort d’Ivry, com entrevistas. Tal como em Point of Order, De Antonio recusa a estética opressiva e explicativa da voz-off, dando aos seus espectadores a liberdade na interpretação das suas obras. Para melhor compreender De Antonio veja-se o estudo de Randolph Lewis Emile de Antonio – Radical Filmmaker in Cold War America (338 pag.), editado pela The University of Wisconsin Press, em 2000. Os diálogos de Point of Order também estão disponíveis em Livro (edição W.W. Norton de 1964).

Emile de Antonio, um cineasta radical 7.ª ARTE

O prometido é devido. No número em que entrevistámos o ex-bas-tonário José Miguel Júdice, ficara o compromisso do Advocatus em lançar um dossiê sobre a Reforma do Código de Processo Civil. A ideia base é a de reunir, ou melhor, agregar, não fosse o Advocatus o agregador da Advocacia, o contri-buto dos advogados portugueses sobre esta temática. Diga-se que a ideia, ainda que prévia à aludida en-trevista, teve como inspiração dois textos, publicados a 9 e 10 de Se-tembro, do ano transacto, por Líba-no Monteiro, no portal Advocatus, e pelo próprio José Miguel Júdice, no Jornal de Negócios. Neste texto elencava 33 medidas que propôs à Comissão de Reforma do Proces-so Civil instituída, desde o final de 2009, pelo Ministério da Justiça. Os propósitos da comissão não pode-riam ser mais louváveis:

do paradigma existente e a elimina-ção do Código de Processo Civil e uma linha reformista que defende a manutenção do código embora com alterações e aperfeiçoamentos pontuais. Na linha revolucionária, apesar de se intitular um reformista, está o ex-bastonário José Miguel Júdice, a quem saúdo pelo seu ex-celente artigo, e também o próprio presidente do Supremo Tribunal de Justiça, conselheiro Luís Noronha Nascimento, que, em entrevista ao Advocatus, também defendeu pontos de vista similares, como a aproximação a regras processuais simplificadas utilizadas nas arbitra-gens e o recurso a guidelines defini-dos por cada juiz em cada tribunal. Esta linha de pensamento implica um reforço efectivo do poder do juiz na condução do processo e da audiência que está nos antípo-das da visão dos que propõem um

É preciso uma alteração de paradigma e um choque cultural para que os objectivos propugnados pela instituição da Comissão de Reforma não fiquem apenas no papel

“Esta comissão tem como objectivo identificar os momentos e as cau-sas dos atrasos que não permitem uma decisão judicial em tempo útil e sugerir as melhores soluções que facilitem a tramitação processual.Pretende-se, com as propostas que venham a ser adoptadas, aumentar a celeridade da decisão judicial, re-duzir os custos de acesso à Justiça e melhorar a qualidade da própria decisão, conferindo uma maior es-tabilidade, transparência e segu-rança à vida judiciária, em benefício dos cidadãos e das empresas”.Lançado o repto, temos, em pri-meiro lugar, de nos congratular pela resposta dos vários colegas e pela qualidade dos seus contributos.Penso que podemos divisar duas linhas fundamentais na abordagem ao problema da Reforma do Código do Processo Civil. Uma linha revo-lucionária que propugna a alteração

“Divisamos duas linhas fundamentais

na abordagem à Reforma do Código do

Processo Civil. Uma linha revolucionária que

propugna a alteração do paradigma existente

e a eliminação do Código de Processo

Civil. Uma linha reformista que

defende a manutenção do código embora com alterações e aperfeiçoamentos

pontuais”

Page 5: Advocatus, Nº 11

Fevereiro de 2011 5O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Edição vídeo desta entrevista

em www.advocatus.pt

decréscimo do poder dos juízes como, por exemplo, a do actual bastonário António Marinho e Pinto, e a sua proposta de eliminação da taxa sancionatória excepcional. A linha reformista, de manutenção do código, com ajustes e alterações, parece-me, ainda só com dados recolhidos de forma totalmente em-pírica, claramente maioritária. Em número anterior já Sousa Macha-do dera uma entrevista defenden-do o código, e os contributos de Carlos Aguiar, Ana Catarina Silva e José Carvalhosa vão nesse senti-do. Trata-se de uma visão, por ser reformista, necessariamente mais atomista dos problemas e insti-tutos. Devo confessar, talvez por algum conservadorismo inato dos advogados, que me inclinaria sem-pre, neste caso, para uma reforma, e não tanto para uma revolução. Mas as entropias do sistema são tantas que não me parece que isto vá lá só com reformas. Um pouco à semelhança do que se passou com o contencioso administrativo. Não temos dúvidas de que a reforma de 2002/2003 foi uma verdadeira conquista democrática e de consa-gração de um quadro constitucional de tutela judicial efectiva dos direi-tos dos cidadãos. Mas passados sete anos sobre a reforma temos de concluir, como o faz o nosso distinto convidado deste número, o professor doutor Sérvulo Correia, que algo correu mal. Não há direito substantivo, fundamental ou não, que resista a 10 anos de pendência em primeira instância. A situação na jurisdição comum não me parece que seja sequer comparável mas não deixa de ser inaceitável. É pre-ciso uma alteração de paradigma e um choque cultural para que os objectivos propugnados pela ins-tituição da Comissão de Reforma não fiquem apenas no papel. Enfim, para que Fabrizio Corbera, Príncipe de Salina, personagem do ”Il Gat-topardo”, de Giuseppe Tomase de Lampedusa, imortalizado por Burt Lancaster, no filme homónimo de Visconti, não tenha novamente ra-zão com a sua célebre tirada: “É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma...”

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Page 6: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia6 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptEntrevista

Henrique Salinas, especialista em Penal da Carlos Cruz e Associados

“O que temos vindo a assistir nos últimos anos, com a crise económica, é ao aumento de processos que entidades jurídicas podem vir a originar de foro Penal Económico”, afirma Henrique Salinas, 42 anos, advogado por tradição e académico por paixão

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Crise favorece Penal Económico

Advocatus i A opção de exercer numa sociedade de média dimen-são como é a Carlos Cruz e Asso-ciados (CCA) foi propositada?Henrique Salinas i Sim, porque en-tendo que nas sociedades maiores a estrutura é muito mais rígida e é difí-cil chegar alguém e impor-se, tendo uma progressão rápida na carreira. Nas sociedades de média dimensão é possível fazer a diferença e contri-buir activamente para o crescimento da sociedade.

a advocacia em prática individual continua a ser o padrão predomi-nante no país. Assim, do ponto de vista da formação profissional, e dada a individualidade da advoca-cia, penso que é possível atingir o sucesso, quer numa pequena fir-ma, como num grande escritório. Tudo depende daquilo que o ad-vogado, individualmente, consiga fazer e do valor acrescentado que consiga trazer para a respectiva firma.

Advocatus i Do lado da oferta, acha que as pequenas e médias sociedades conseguem oferecer condições atractivas aos seus as-sociados?HS i Nos Estados Unidos há mui-tos advogados que exercem indi-vidualmente e facturam a níveis iguais ou superiores a colegas que integram grandes sociedades. E, mesmo em Portugal, as socieda-des de advogados são um fenó-meno que tem cerca de 30 anos,

Page 7: Advocatus, Nº 11

Fevereiro de 2011 7O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

Advocatus i Qual é a avaliação que faz do seu percurso dentro da CCA? HS i Cada vez mais é essencial o advogado ter uma sólida formação profissional em várias áreas. No meu caso, nunca perdi a ligação à Aca-demia e penso que isso é impor-tante do ponto de vista teórico. Em concreto, no Direito Penal Econó-mico, que é o ramo em que exerço, é fundamental haver esse elo entre a prática que a advocacia permi-te com um estudo constante que a Academia promove. Uma das áreas jurídicas que mais carece de desen-volvimento é a advocacia preventiva dentro do Direito Penal Económico, e isso só é possível através do seu aprofundamento teórico. Em Itália e em Espanha já existem muitas em-presas com regulamentos internos sobre esta matéria.

Advocatus i Em suma, quais são então as mais-valias que a carrei-ra académica lhe pode trazer?HS i A implantação de regulamentos internos por parte das empresas, para ter algum impacto junto dos tribunais, tem de ser elaborada por pessoas que sejam reconhecida-mente especialistas no mundo jurí-dico, que tenham obras publicadas. Estas regras de conduta têm de ser objectivas e imparciais, realizadas por profissionais independentes que não sejam contratados pela empre-sa depois de surgir o problema. Em Itália e França, essa independência tem sido garantida através do recru-tamento de pessoas ligadas à Aca-demia. Esta é a principal vantagem para os advogados ligados à advo-cacia preventiva na área do Direito Penal Económico.

Advocatus i Qual o diagnóstico que faz de Portugal em relação aos crimes de colarinho branco de que trata o Direito Penal Eco-nómico?HS i Como noutras áreas, nesta ma-téria Portugal está um pouco atra-sado em relação aos outros países. Há 10 anos este era um ramo ma-nifestamente residual. Burlas, furtos e homicídios eram os crimes a que se resumia o Direito Penal no país. Na viragem do milénio houve uma

verdadeira revolução e, de repente, o Direito Penal Económico ficou na ordem do dia. Basta abrir um jornal para ver que a maioria dos casos mediáticos está ligada a esta área, como o BPP ou o BPN. Também no domínio das contra-ordenações há um campo vasto a explorar dentro desta matéria pelas sociedades de advogados.

Advocatus i O mediatismo do Di-reito Penal Económico contribuiu, de alguma forma, para a sua po-pularidade?HS i Sem dúvida alguma. De início, os casos que iam a tribunal, no âm-bito do Direito Penal Económico, envolviam pequenas empresas, que se tornavam conhecidas através dos media. Actualmente, chegámos a um ponto sem retorno, onde os ca-sos nesta área proliferam e as enti-dades e protagonistas envolvidos são conhecidos de todos os portu-gueses. A dimensão deste tipo de processos – derivada da sua com-plexidade – também os torna ten-dencialmente populares.

Advocatus i Existe algum proces-so, em particular, que tenha mar-cado a viragem do Direito Penal Económico em Portugal?HS i Não me atreveria a identificar um caso específico, mas a propen-são para um determinado tipo de criminalidade: fraudes relacionadas com fundos comunitários, proces-sos de corrupção e – como con-sequência da crise financeira – os processos relacionados com a acti-vidade bancária.

Advocatus i Concorda com a per-cepção generalizada de que os crimes de colarinho branco são mais permeáveis à Justiça, exac-tamente por envolverem persona-lidades de renome?HS i Não, aliás, o próprio facto des-sas pessoas estarem a responder em tribunal já é – por si só – demons-trativo de que estão sujeitas à mes-ma lei do cidadão comum. Trata-se é de um tipo de criminalidade muito complexa, em que a produção da prova é muito complicada. A própria mediatização do caso também não ajuda…

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“Nas sociedades maiores a estrutura é muito mais rígida e é difícil chegar alguém

e impor-se, tendo uma progressão rápida na

carreira”

“Uma das áreas jurídicas que

mais carece de desenvolvimento é a advocacia preventiva

dentro do Direito Penal Económico, e isso só é possível através do seu aprofundamento

teórico”

“Para se fazer impor, a Ordem tem de ter uma intervenção assertiva nos media, e isso tem sido conseguido pelos últimos

bastonários. O Dr. José Miguel Júdice foi quem iniciou este caminho inevitável”

Page 8: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia8 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptEntrevista

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Advocatus i Existe alguma pro-pensão para que os crimes de co-larinho branco sejam mega pro-cessos?HS i São de uma enorme complexi-dade técnica que depois dá origem a alegações muito mais complexas que, por sua vez, conduzem a um julgamento mais complexo. Essa complexidade também está muitas vezes relacionada com o número de processos envolvidos e de arguidos acusados. Da conjugação destes factores nascem, muitas vezes, os tais megas processos.

Advocatus i Os mega processos não pecam pela eficácia que sub-traem às decisões, dada a delon-ga nos tribunais?HS i Não tenho a mais pequena dúvi-da que assim é. Processos morosos e muito complexos, se a aplicação da pena vem 10 a 15 anos depois da prática dos factos, já não faz muito sentido. A pessoa julgada já não é a mesma pessoa que praticou os fac-tos. O próprio sentido de justiça sai beliscado aos olhos da sociedade.

Advocatus i Relativamente à sua carreira profissional, quando é que começou a dividir o seu tem-po entre a Academia e a advoca-cia?HS i Mal terminei o curso fiz logo o estágio profissional e comecei a exercer advocacia até às primeiras provas do mestrado. Quando come-cei o doutoramento suspendi a ad-vocacia, sem prejuízo de continuar a trabalhar neste ramo preventivo do Direito Penal Económico, que tam-bém considero benéfico para a tese.

Advocatus i A advocacia foi uma vocação ou a obrigação?HS i Confesso que foi uma tradição familiar, já vamos na terceira geração de advogados, é normal que haja sempre essa curiosidade e impulso para exercer a mesma actividade. Sinceramente, sinto-me mais voca-cionado para esta área nova da ad-vocacia, da consultoria e colabora-ção preventiva, do que na advocacia tradicional de barra.

Advocatus i imagina-se a fazer outra coisa para além do Direito?

Com 42 anos, Henrique Salinas é casado e tem três filhos. Sendo-lhe “indiferente” que algum deles dê continuidade à tradição familiar e se venha a tornar num advogado, essencial é que cada um dos seus descendentes siga aquilo em que tenha gosto. “O importante é que eles tenham uma actividade profissional que os realize e que lhes dê um meio de subsistência onde possam ter sucesso”. Apreciador de música jazz e de fotografia, Pat Metheny é um dos seus intérpretes de eleição. “No trabalho, por exemplo, acho que não poderá ser muito produtivo”. Com os filhos, como alvo principal da sua objectiva, o ad-vogado já chegou a tirar um curso, “que foi uma faca de dois gumes, porque fiquei inteiramente consciente da minha completa ignorância, mas também me abriu perspectivas para me aperfeiçoar no futuro”. Desejoso por se ver livre do frio invernal, assegura que se metia num avião com destino tropical, logo então. “O ideal eram umas férias fa-miliares, a cinco, acho sempre mais divertido com as crianças. Só penso numa viagem que irei fazer com certeza, às Maldivas. A nível de praias, é o ‘projecto-paraíso’ por realizar”.

Sonha com férias nas MaldivasPERFil

bastonário e da sua predisposição para divulgarem as opiniões da OA. Esta, para se fazer impor, tem de ter uma intervenção assertiva nos media, e isso tem sido conseguido pelos últimos bastonários.

Advocatus i Já inclui, portanto, Rogério Alves nesta geração de bastonários mais mediáticos?HS i Sim, e mesmo o Dr. José Miguel Júdice, que foi quem iniciou este ca-minho inevitável.

Advocatus i Dada a conjuntura económica, quais são os princi-pais desafios que considera que o Direito Penal Económico enfrenta em Portugal?HS i Dividindo o Direito Penal Eco-nómico em duas áreas – preventiva e reactiva – o que todos os clientes gostariam era de não ter problemas. O que temos vindo a assistir nos últi-mos anos, com a crise económica, é o aumento de processos que entida-des jurídicas podem vir a originar de foro Penal Económico. Basta pensar nos casos BPP e BPN. Aquela acal-mia que se verificou há 20 anos nes-tas áreas nunca mais vai regressar. Em relação aos projectos preventi-vos, de Corporate Defense, temos de consciencializar as empresas de que este é o momento adequado para avançar por aí.

HS i Imagino. Como disse, segui a advocacia por curiosidade e tradição familiar, mas sempre gostei muito de Gestão. Era uma actividade que exerceria com todo o gosto e sem qualquer sacrifício.

Advocatus i Colaborou no gabine-te da Ordem dos Advogados (OA). Quais os principais projectos que estão em estudo?HS i A ideia é que a OA deve ser consultada sempre que são apre-sentados diplomas que possam dizer respeito à classe profissional. Colaborei durante três anos, respei-tantes ao mandato do Dr. Rogério Alves [2005/2007], na análise de alguns diplomas na área do Direito Penal Económico.

Advocatus i Entende que, com a reeleição de Marinho e Pinto, está favorecida a concretização dos objectivos do gabinete da OA?HS i A OA beneficia sempre de uma projecção pública forte, para a qual não é decisiva a manutenção do bastonário por mais do que um mandato. Por exemplo, o Dr. Rogério Alves esteve na Ordem durante ape-nas um triénio e deu bastante pro-jecção à Ordem. Logo a seguir, veio o Dr. Marinho e Pinto com um estilo muito particular. Acho que tudo de-pende, no fundo, do estilo de cada

“Em relação aos projectos preventivos, de Corporate Defense, temos de consciencializar as empresas de que este é o momento adequado para avançar por aí”

Page 9: Advocatus, Nº 11

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Page 10: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia10 Fevereiro de 2011

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Fátima SousaJornalista

[email protected]

Testemunho

Uma mulher de convicções

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Joana Serra, advogada in house da Deloitte Portugal

É em regime de tempo parcial que exerce as funções de advogada in house da Deloitte Portugal. Uma opção norteada pela vontade de

nalmente e dedicar-se à família. E é de preferência a pé que, todos os dias, encurta a distância entre um mundo e o outro.

Joana Serra encontrou na Deloit-te os valores corporativos que lhe permitem conciliar o melhor de dois mundos: realizar-se profissio-

Joana refuta que o advogado da empresa seja menos isento e menos independente do que o advogado externo. Está na Deloitte por convicção. E em part-time, também por convicção. Porque as duas filhas pequenas merecem

Page 11: Advocatus, Nº 11

www.advocatus.pt Testemunho

Uma mulher de convicções

Não teve dúvidas de que o seu caminho

profissional passaria mais pela consultoria do que pelo tribunal. Nem durante o curso,

nem durante o estágio, sentiu apetência

pela barra: “Não tive muitas oficiosas, mas nenhum dos casos me

entusiasmou”

“Escrever as peças processuais até tem a

sua graça e defender os argumentos também,

mas prefiro a parte societária”

Setembro de 2010 11O novo agregador da advocacia

se dedicar à família, na convicção de que os filhas – de oito e cinco anos – necessitam de dedicação, em tempo e presença física, de um dos progenitores. “Não tem de ser a mãe, pode ser o pai, mas neste caso sou eu. E nos dias em que tenho de ficar a trabalhar até mais tarde, elas sentem a ausência”.A opção foi plenamente compre-endida pela Deloitte, uma empre-sa que, diz a advogada, “tem uma grande noção da importância da família”. Ou não fosse a própria empresa membro de uma vasta família internacional com a casa-mãe no Reino Unido, a Deloitte Touche Tohmatsu Limited (DTTL). Foi na Deloitte que Joana ingres-sou mal terminou o estágio que lhe dava formalmente direito a exercer a advocacia. Licenciada pela Uni-versidade Clássica de Lisboa, em 1987, estagiou com Paulo Jorge Ventura, um advogado de gabine-te exclusivo, “à antiga” como se usa dizer. Cumprido o ritual de inscrição na Ordem dos Advogados, iniciou-se como consultora jurídica da em-presa, ainda antes da fusão com a Arthur Andersen, em 2002. Foi a reorganização, e o inerente ajuste de competências do modus ope-randi de duas consultoras com posturas diferentes no mercado, que a conduziu onde está hoje, à função de advogada in house. Não teve dúvidas de que o seu caminho profissional passaria pela consultoria, muito mais do que pelo tribunal. Nem duran-te o curso, nem durante o está-gio, sentiu apetência pela barra: “Não tive muitas oficiosas, mas nenhum dos casos me entusias-mou. Tinha até dificuldade em as-sumir a defesa, às vezes parecia que estava do lado do Ministério Público…”.É certo que o primeiro impacto de um candidato a advogado é o Direito Penal, mas Joana sempre soube que daria outro destino à licenciatura. Não é que desgoste da argumentação: “Escrever as peças processuais até tem a sua graça e defender os argumentos também, mas prefiro a parte so-cietária”. Prefere a contratação, à

negociação. Também aqui, aliás, há que argumentar: “Temos de convencer os nossos clientes de que a nossa opção é a melhor, temos de ter argumentos com mais-valia”. Reconhece que é “a parte mais engraçada do Direito”.Dispensa “completamente” ir a tri-bunal: “É a razão de ser advoga-da de empresa”. Mas na Deloitte também não surgem muitas opor-tunidades. Desde logo, porque há pouca litigância, para além de umas cobranças… “Desde que cá estou houve três ou quatro ac-ções contra a empresa”. E depois o tribunal consome tempo, dema-siado tempo que não se coaduna com a rapidez do processo deci-sório: “Não se pode esperar pelo tribunal, as decisões têm de ser tomadas depressa e as soluções negociadas. Acontece mesmo quando o processo já está em jul-gamento, para se evitarem anos a fim em tribunal”.Na Deloitte, o que chega a tribu-nal é residual. É que a maioria das situações potencialmente gerado-ras de conflito está contemplada numa espécie de manual de boas práticas por que se regem todas as sociedades da família DTTL: o Deloitte Practice Manual. É uma ferramenta valiosa para todos os colaboradores da empresa, em Portugal, como em todo o mundo. Nela constam, desde as normas de conduta comercial em todos os domínios da esfera de intervenção da consultora, políticas de contra-tação e prestação de serviços ao relacionamento com os clientes, à resolução de conflitos de interesse à gestão interna. “É uma enorme vantagem. Se este manual não existisse, teria de ser o advogado a fazê-lo. Assim, o recurso ao advogado da empresa só se coloca quando há dúvidas na aplicação da ferramenta, ou se determinada decisão implicar um risco acrescido, face ao que o ma-nual permite”.De fora ficam, naturalmente, as especificidades locais decorren-tes do enquadramento jurídico de cada país. De resto, é um modelo graças ao qual o trabalho que che-ga a Joana é muito filtrado.

Joana Serra

Licenciada em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, 1987.

Inscrita na Ordem dos Advogados em 1990. Ingressou na Deloitte

em 1990, tendo sido promovida a manager em 1994. No exercício

das funções, assegura os assuntos jurídicos correntes relativos às diversas

sociedades, revisão de contratos com clientes, e coordenação dos assuntos de contencioso

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O novo agregador da advocacia12 Fevereiro de 2011

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Apesar da triagem, trabalho não lhe falta. Tem a seu cargo a gestão dos assuntos jurídi-cos das quatro sociedades que compõem a Deloitte Portugal – Deloitte & Associados SROC, vocacionada para serviços de auditoria e consultoria fiscal, a Deloitte Consultores, cuja activi-dade se centra na consultoria de negócios e gestão e corporate finance, a SCG – Serviços Gerais de Gestão, que presta serviços de contabilidade e consultoria administrativa em regime de out-sourcing, e a Weshare, fornece-dora de serviços partilhados de gestão administrativa e financei-ra.É ainda Joana quem coordena os assuntos jurídicos da Deloitte Portugal em Angola. Mas com o necessário recurso a advoga-dos locais, uma vez que não tem competência jurídica no país.Também por cá, socorre-se da assessoria externa. “Sozinha era impossível”. Pode acontecer que não haja capacidade de resposta ou que determinados assuntos impliquem tempo que a advo-gada não possa despender, por estar mais consagrada ao acom-

Joana gosta de lançar sementes. Gosta mesmo de meter as mãos na terra e é o que faz, sempre que pode, no pequeno baldio que transformou em jardim nas traseiras do prédio onde habita, na envolvente das Amoreiras, em Lisboa. Sempre viveu rodeada de verde e gostava mesmo de fazer um curso de jardinagem. Mas é difícil conciliar os horários, pelo que este é um projecto adiado. “Talvez quando me reformar”. Até lá, vai retirando do jardim que ajudou a criar a paz e o sossego que a retemperam do tempo passado entre as quatro paredes do escritório. A apetência pelo exterior impele-a, sempre que a meteorologia ajuda, a vencer a pé a distância que a separa da zona do Saldanha, onde trabalha. Só “é pena o barulho da cidade”, um “som contínuo” que ilude com a música e as notícias que vão saindo dos auscultadores que não dispensa. Sabe-lhe bem esta meia hora, entre o caos matinal que é próprio dos oito e cinco anos das duas filhas, e o stress diário do escritório.

A fiel jardineiraTEMPOS liVRES

panhamento diário da empresa. Ou ainda “sempre que os órgãos decisórios considerem que é a opção mais prudente ou aconse-lhável”. Os processos são assim libertados, ainda que se mante-nham sob o seu controlo.De Joana Serra, a empresa es-pera uma atenção específica e diária. É essa, aliás, o valor acrescentado de ter um in house e, na sua opinião, a única dife-rença face ao advogado externo. A vantagem é que o interno co-nhece a empresa, a actividade, as pessoas. Tem um conheci-mento diário e profundo de to-das as questões, o que permite uma significativa poupança de tempo”. O resultado é uma maior proactividade. A Deloitte espera-o e consegue-o. Com um benefí-cio extra: é que o conhecimento que Joana Serra tem da empresa já vem de longe, é anterior à sua função como advogada in house. Exceptuando este conhecimento específico, que advém do facto de trabalhar para um só cliente e no cliente, não vê outra diferen-ça face ao advogado externo: “A postura é a mesma”. Não con-corda que se coloquem questões de falta de independência: “Se-ria a mesma coisa que dizer que qualquer pessoa que recebe di-nheiro por um trabalho deixa de ser independente. Do ponto de vista técnico, é-se independen-te. De resto, é uma questão de carácter”. Caso contrário, signifi-caria que apenas o advogado em nome individual com gabinete seria isento e independente. “E não é assim”.Joana Serra defende que impor-ta desmistificar esta falsa ques-tão. E é por isso que vê com bons olhos a criação, na Ordem dos Advogados, do Instituto dos Advogados de Empresa. É sinal de um duplo reconhecimento. Das empresas, que reconhecem a vantagem de possuírem um interlocutor que fale a mesma linguagem dos advogados ex-ternos. E da classe, que assim reconhece uma função que os advogados já exerciam mas não era devidamente valorizada.

“Na Deloitte, o que chega a tribunal é residual. É que a maioria das situações

potencialmente geradoras de conflito está contemplada numa espécie de manual de boas práticas por que se regem todas as

sociedades da família DTTL”

Testemunho

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“A vantagem é que o advogado interno

conhece a empresa, a actividade, as pessoas. Tem um conhecimento

diário e profundo de todas as questões, o que permite uma

significativa poupança de tempo”

Page 13: Advocatus, Nº 11

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É hoje incontornável que a sucessão alu-cinante de diplomas legais; a não rara im-perfeição e imprecisão dos textos legais; a dispersão legislativa; a exigência do rigor da resposta, tornam imperioso que os aplicadores dos referidos diplomas – sejam advogados, juristas, magistrados ou simplesmente utilizadores casuais – tenham acesso a instrumentos que lhes permitam, com alguma rapidez e segu-rança, obter as respostas que procuram.O JusPrático das sociedades, para já li-mitado às sociedades por quotas, que são, por excelência, o tipo societário mais frequente entre nós, é um instrumento de fácil utilização que pretende fornecer o respectivo enquadramento legal, actu-alizado, desenvolvido e esclarecido pela mais recente doutrina e jurisprudência, e que guia o seu utilizador através do co-mentário pelos vários artigos do Código das Sociedades Comerciais, devidamen-te sistematizados para permitir uma visão global e completa do regime das socieda-des por quotas. Sem quaisquer pretensões doutrinárias

ou de esgotar as matérias sobre o que versa, o “JusPrático das Sociedades por Quotas” foi pensado para apoiar e servir de suporte a todos os que, como nós, têm de dar resposta às mais diversas ques-tões que diariamente nos são colocadas sobre a constituição, a organização e o funcionamento deste tipo de sociedade.

“JusPrático Sociedades por Quotas” pretende dar uma visão global do regime das so-ciedades comerciais por quotas, espelhando as alterações legislativas e, sobretudo as decisões mais relevantes dos nossos tribunais. Caracteriza-se pela inclusão de:• Referências a legislação fundamental e complementar, jurisprudência, doutrina e

comentários de autor• Indicação individualizada de chamadas de atenção, para matérias de especial

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Page 15: Advocatus, Nº 11

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Page 16: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia16 Fevereiro de 2011

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Em todas as escalas (local, nacional, regional, europeia e internacional) os instrumentos, normas e princípios ambientais têm vindo a construir um edifício que é necessário. A doutrina e a jurisprudência têm acompanhado de perto o crescimento do edificado e contribuído significativamente para a sua solidez. O Direito do Ambiente chegou, evidentemente, a um ponto de não retorno

bro de 2002) nas costas da Galiza mostrou, para além de todas as outras dificuldades, a perplexida-de das investigações judiciais não terem podido identificar um “res-ponsável directo” deste acidente e despoletou uma nova consciên-cia ecológica colectiva. O recente “caso”da explosão de uma plata-forma da BP no Golfo do México foi, apenas, a última das catástro-fes, o mais recente dos avisos. O aviso de que não é mais possível às empresas ignorarem os sinais de perigo, porque tal e tamanha negligência tem consequências directas absolutamente desastro-sas para o meio ambiente, para as pessoas que vivem e trabalham nas (largas) imediações do local da tragédia, para a economia lo-cal e regional. Mas também para a imagem e cotação da própria em-presa negligente e para as segu-radoras que, dada a dimensão do sinistro, entram em estado de afli-ção e de profunda depressão face ao contratualmente estabelecido. Para lá da prova da impotência da empresa em estancar em tempo útil, que é o tempo de uma emer-gência, toda a poluição causada.Acontece que estes, como outros casos, são apenas a parte mais mediática das questões ambien-tais que lhes conferem uma di-mensão própria das tragédias. No dia-a-dia, porém, na vida de todos os dias, à escala local, nacional, regional, europeia e internacional, a regulação jurídica ambiental tem vindo a efectivar-se e a melhorar significativamente os seus con-tornos. Em todas estas escalas, instrumentos, normas e princípios ambientais têm vindo a construir um edifício que é necessário. A

“O recente caso da explosão de uma

plataforma da BP no golfo do México foi, apenas, a última das catástrofes, o mais recente dos avisos”

“Já não é mais possível às empresas ignorarem os sinais

de perigo porque tal e tamanha negligência tem consequências

directas absolutamente desastrosas para o

meio ambiente, para as pessoas que vivem e

trabalham nas (largas) imediações do local

da tragédia, para a economia local e

regional”

Mário Melo Rocha

Head Department de Direito do Ambiente da SRS

Docente da Universidade Católica Portuguesa

Chegámosaopontodenãoretorno

doutrina e a jurisprudência têm acompanhado de perto o cresci-mento do edificado e contribuído significativamente para a sua so-lidez. O Direito do Ambiente che-gou, evidentemente, a um ponto de não retorno. Mas ele não se faz apenas, nem já, sobretudo, após a ocorrência das tragédias. Faz-se todos os dias mediante o uso de ferramentas técnicas, necessaria-mente jurídicas, e nesse campo interpretadas, como é próprio de qualquer regulação pelo Direito. No princípio, os “casos” como o da BP alimentaram o Direito do Ambiente. Hoje, ele já não precisa deles. Apenas os lamenta.

Por Direito

O mar teve sempre um papel de-safiador e anunciador. Para nós portugueses são, desde há vários séculos, conhecidas as razões. O que se esperaria menos é que ele desempenhasse também esse du-plo papel em sede das questões de regulação jurídica e, em espe-cial, nas matérias da regulação jurídica ambiental. Historicamen-te, foi a protecção do mar face ao derrame de hidrocarbonetos que desafiou e atormentou o legislador internacional nos anos 30 e 40, ainda antes mesmo de ter conhe-cido a luz do dia a disciplina nor-mativa que haveria de se chamar Direito do Ambiente. Depois, já com o seu nascimento à vista e, de resto, contribuindo largamen-te para ele, viria a ser o naufrágio do Torrey Canyon (em Março de 1967), nas costas da Cornualha, que, em conjunto com um caldo sociocultural fervilhante (pelos acontecimentos de Maio de 68), despoletou uma consciência eco-logista, até aí não evidente. Mais tarde, o naufrágio do Amoco Cadiz (em Março de 1978), nas costas da Bretanha, provocou uma das pio-res catástrofes ecológicas de que há memória e consolidou, em defi-nitivo, a necessidade imperiosa de atenção às matérias da protecção ambiental. Já no final do século XX, o naufrágio do Erika (em De-zembro de 1999) no Mar Cantá-brico viria a determinar, anos mais tarde, uma sentença histórica, ins-taurando nos tribunais franceses o conceito de “prejuízo ecológico” que sustentou a ordem de paga-mento de mais de 190 milhões de euros, a título indemnizatório, às várias partes envolvidas. O caso do Prestige (afundado em Novem-

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Page 18: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia18 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptDebate

Sugiro que quem manda faça Control/Alt/Delete ao CPC. E que, já sem ele existir, tenhamos de viver com um novo enquadramento normativo em que os nossos conservadorismos, resistência à mudança e pura preguiça não possam servir de álibi

“Considero que não faz nenhuma falta a existência de um

Código de Processo Civil (CPC), que seria

muito bem substituído por uma curta lei de conteúdo reforçado

que definisse as regras essenciais do processo,

um pouco como são os regulamentos dos

centros de arbitragem internacionais”

“As faculdades de Direito deveriam ter

cadeiras obrigatórias, como nos EUA,

de “interrogatório de testemunhas”,

sendo impedidas nos processos as perguntas

que procurem inquirir o hearsay,

ou as respostas não baseadas em factos”

José Miguel Júdice

Sócio fundador e coordenador da área de prática de Arbitragem

Control/Alt/Delete

Embora a antiguidade não corres-ponda a um posto em PLMJ, cabe-me a mim ter a primeira palavra entre os sócios que irão colaborar nesta utilíssima iniciativa do Advocatus, que vivamente felicito1. Considero que não faz nenhuma fal-ta a existência de um Código de Pro-cesso Civil (CPC), que seria muito bem substituído por uma curta lei de conteúdo reforçado que definisse as regras essenciais do processo, um pouco como são os regulamentos dos centros de arbitragem interna-cionais2, devendo em contrapartida cada juiz ou tribunal divulgar as gui-delines que serão aplicáveis nesse tribunal quanto a aspectos práticos. Como esta minha proposta é utópica e julgo que nunca terei a alegria de a ver triunfar, penso que uma solução moderada seria a redução substan-cial do CPC3, de modo a incluir so-bretudo as regras estruturantes do funcionamento do sistema.Como inevitável e natural decorrên-cia, deve ser dada maior latitude de-cisória ao juiz, sendo apenas sindi-cáveis decisões que afectem o due process (princípio do contraditório, igualdade de armas e proibição do efeito surpresa), e reforçada a cria-ção de regras especiais acordadas com os advogados em função da complexidade e especificidade do processo, como acontece nas arbi-tragens.O processo deve ser muito mais oral (mas os depoimentos das testemu-nhas deverão em regra ter de ser escritos, admitindo-se também sem limitações o depoimento de parte) e simplificado, devendo o registo da prova ser um encargo das partes e por elas assegurado, através de vá-rias possibilidades, que podem in-cluir a transcrição vídeo ou a esteno-

grafia. Deve ser proibida a existência de questionário, substituído por uma lista dos grandes temas sobre os quais decorrerá a audiência. As Faculdades de Direito4 deveriam ter cadeiras obrigatórias, como nos EUA, de “interrogatório de testemu-nhas”, sendo impedidas nos proces-sos as perguntas que procurem in-quirir o hearsay, ou as respostas não baseadas em factos. A prova pericial (por testemunhas e não por perícias colegiais) deve ser muito mais valo-rizada. A continuidade da audiên-cia deve ser aplicada na prática e o adiamento de audiências muito mais limitado. As sentenças devem po-der ser verbais (e só redigidas para recurso). Os tribunais da relação de-vem revisitar a produção de prova quando não estejam esclarecidos.Não tenho dúvida que esta minha proposta exige magistraturas e ad-vogados mais qualificados, que fa-çam bem o trabalho de casa. Mas o aumento da eficácia do sistema libertaria tempo para esforços com maior valor acrescentado. Também sei que o sucesso destas minhas (velhas) ideias – cuja eficá-cia tenho testado em arbitragens internacionais, e com mais dificul-dade nas nacionais... – pressupõe um processo de adaptação cultural. No entanto, e conheço muito bem as profissões jurídicas, a adaptação gradual nunca se fará, pelo que é ne-cessário um choque que obrigue a começar de novo. Por isso sugiro que quem manda faça Control/Alt/Delete ao CPC. E que, já sem ele existir, tenhamos de viver com um novo enquadramento normativo em que os nossos con-servadorismos, resistência à mu-dança e pura preguiça não possam servir de álibi.

1. PLMJ é uma sociedade de Advogados e não uma empresa de advogados. Na de-fesa dos interesses dos nossos clientes falamos a uma só voz. Em matérias de política legislativa nunca lhes perguntei se concordam comigo. Este texto, por isso, só a mim responsabiliza.

2. O Regulamento CCI, a maior instituição mundial do género, tem 29 artigos e rege muitas centenas de complexas arbitra-gens por ano sem problemas.

3. O novo Código Suíço tem 408 artigos, incluindo as regras sobre mediação, con-ciliação e arbitragem e cabe em 96 pági-nas!

4. E também a formação do CEJ e da Or-dem dos Advogados

Page 19: Advocatus, Nº 11

Fevereiro de 2011 19O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Debate

Será necessária, ou sequer conveniente, a reforma integral do Código de Processo Civil, ou seja, a substituição do código vigente por um novo diploma?

“A substituição do Código de Processo

Civil por um novo implicaria um trabalho

árduo e bastante moroso, dificilmente

compatível com a necessidade de se

introduzirem ajustes pontuais no actual

código com alguma brevidade”

“Defendemos alterações pontuais, como a simplificação

da fase inicial do processo executivo, a agilização da penhora de saldos bancários

e a permissão, no âmbito de um contrato

de arrendamento, da cumulação da execução para a

entrega do locado com a execução para o

pagamento de rendas em atraso”

Carlos Aguiar

Sócio da CAFL - Carlos Aguiar, Ferreira Lima & Associados

Ana Catarina Silva

Advogada associada da CAFL - Carlos Aguiar, Ferreira Lima & Associados

Haverámesmonecessidade?

Desde a nomeação, em finais de 2009, de uma Comissão para a Reforma do Código de Processo Civil, que se espera que venham a ser efectuadas novas mudanças na mencionada legislação.Mas caberá aqui perguntar: será necessário, ou sequer convenien-te, a reforma integral do Código de Processo Civil, ou seja, a substi-tuição do código vigente por um novo diploma?

É certo que várias são as vozes que defendem que o actual códi-go, cujas bases remontam a 1961 – não obstante ter sido substan-cialmente alterado nos anos de 1995/1996, 2003, 2007 e 2008 – deveria ser substituído, adequan-do-se as soluções legislativas nele constantes à actual realidade do país e dos seus agentes, com a implementação de soluções que permitissem uma tramitação mais célere do processo, sem no entan-to por em causa a certeza e se-gurança jurídicas necessárias em qualquer ordenamento.Todavia, tal substituição, no actual momento, não se nos afigura ne-cessária ou sequer conveniente.Com efeito, se por um lado, a substituição do actual Código de Processo Civil por um novo impli-caria um trabalho árduo e bastan-te moroso, dificilmente compatível com a necessidade de se introdu-zirem ajustes pontuais no actual código com alguma brevidade, por outro lado, também nos pare-ce que não será este o momento oportuno para a realização de tal tarefa.De facto, nos últimos anos, te-mos assistido a uma proliferação legislativa, sem precedentes, ten-

do-se verificado mudanças signi-ficativas em quase todas as áreas do Direito.O próprio Código de Processo Civil vigente foi recente e profu-samente alterado, essencialmen-te no que respeita aos regimes aplicáveis aos recursos e à acção executiva, alterações essas que ainda se encontram em processo de assimilação e de compreensão por parte de todos os agentes pe-las mesmas afectados, tanto mais que, por força das respectivas dis-posições relativas à aplicação da lei no tempo, não são aplicáveis a todos os processos em curso.Afigura-se-nos assim ser de toda a conveniência que haja um tempo de maturação, de consolidação e, digamos, de verificação da ade-quação prática das soluções que muitas vezes na teoria se afigu-ram serem as mais correctas, mas que posteriormente na prática se verifica não o serem, para que se possa avaliar da justeza e da ade-quação das alterações já introdu-zidas na tramitação do processo civil, antes de se proceder a uma substituição integral do sistema vigente por outro.Não significa isto que, no nosso entendimento, não possam, ou não devam, ser introduzidas alte-rações no actual Código de Pro-cesso Civil, essencialmente no que respeita ao regime da acção executiva, o qual, apesar de ter sido alvo de inúmeras alterações nos últimos anos, com a profunda reforma de 2003 e a denominada reforma da reforma de 2008, ainda evidencia algumas carências que necessitariam de ser colmatadas. No entanto, afigura-se-nos que tais alterações deverão ser efec-

tuadas em questões pontuais, de mero ajuste do regime vigente – como sejam, a simplificação da fase inicial do processo executivo, a agilização da penhora de saldos bancários e a permissão, no âmbi-to de um contrato de arrendamen-to, da cumulação da execução para a entrega do locado com a execução para o pagamento de rendas em atraso – sem que tal implique a substituição integral do Código de Processo Civil vigente.

Page 20: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia20 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptDebate

As alterações legislativas vão corroendo os princípios fundamentais que nortearam a criação dos institutos jurídicos. E assim, paulatinamente, a audiência preliminar vai-se assemelhando, cada vez mais, com a moribunda audiência preparatória

“Não nos restam dúvidas sobre a

bondade do intuito da alteração legislativa de 1995: o legislador quis substituir a moribunda audiência preparatória

por uma dinâmica e dignificada audiência

preliminar”

“Do nosso ponto de vista, o instituto da

audiência preliminar não tem correspondido às expectativas da sua

criação”

José Carvalhosa

Fez carreira nas áreas de Corporate, Comercial e Contencioso. Antes de

integrar Raposo Bernardo, exerceu em sociedade própria durante mais de 20

anos

Sobreaaudiênciapreliminar

O figurino da “audiência preliminar” a que se refere o art.º 508.º- A do CPC, foi introduzido pela reforma le-vada a cabo pelo D.L. n.º 329-A/95, de 12/12, que o justifica assim, no respectivo preâmbulo:“Onde, verdadeiramente, se inova de base, é com a instituição da audiên-cia preliminar, que, visando sanear – e, sempre que disso for caso, decidir – o processo – e indo muito além, na sua fisionomia formal e substancial da actual audiência preparatória, ali-ás, consabidamente descaracteriza-da, na prática judiciária concreta – é erigida em pólo aglutinador de todas as medidas organizativas do mesmo processo e traduz a instituição de um amplo espaço de debate aberto e corresponsabilizante entre as par-tes, seus mandatários e o tribunal, de forma que os contornos da cau-sa, nas suas diversas vertentes de facto e de direito, fiquem concertada e exaustivamente delineados …”.Feito um esforço para compreender as linhas mestras subjacentes à au-diência preliminar que o legislador assim nos quis transmitir, não nos restam dúvidas sobre a bondade do intuito da alteração legislativa de 1995: o legislador quis substituir a moribunda “audiência preparatória” por uma dinâmica e dignificada “au-diência preliminar”.Para o efeito, desde logo e como vem sendo hábito, mudou a desig-nação do instituto.Depois, ampliou os seus objectivos: os fitos genéricos de possibilidade de conhecimento dos pedidos, no âmbito da audiência preparatória, e de discussão de qualquer excepção, deram lugar, com a audiência preli-minar, ao seguinte elenco de possi-bilidades:- realização de tentativa de concilia-ção

- discussão da matéria de facto e de direito- discussão da posição das partes e de supressão de insuficiências ou imprecisões na exposição da maté-ria de facto- prolação do despacho saneador- selecção da matéria de facto que se considera assente e da que é le-vada à base instrutória, com a de-cisão sobre eventuais reclamações- indicação dos meios de prova- designação da data para a audi-ência final- requerimento da gravação da au-diência finalPareciam estar criadas as condi-ções para que a audiência preli-minar – moldada pelos princípios da cooperação, da concentração, da continuidade, da imediação, da oralidade e da preclusão – se afir-masse como um trampolim decisivo da fase introdutória dos articulados para a fase central da instrução, dis-cussão e julgamento.Do nosso ponto de vista, porém, o instituto da audiência preliminar não tem correspondido às expectativas da sua criação, tendo para o efeito contribuído uma série de factores.Destacamos, por exemplo:A circunstância de o juiz poder dis-pensar a audiência preliminar se a simplicidade da causa o justificar. Este poder discricionário atribuído ao juiz vem permitindo a dispen-sa da audiência em casos em que a complexidade da causa muito a aconselhariam. E vice-versa.A circunstância de a cooperação entre as partes não se obter por de-creto, indicando-nos a experiência que a selecção da matéria de facto, feita no âmbito da audiência prelimi-nar, não é mais consensual do que a selecção feita fora desse âmbito, pelo juiz, ao abrigo do art.º. 508.º-B.

A circunstância de o princípio da continuidade da audiência ser me-ramente teórico, pois o n.º 2 do art.º 510.º prevê a possibilidade da suspensão da audiência, quando a complexidade das questões a re-solver o exija …A circunstância de o habitual zigue-zaguear legislativo já ter desvirtuado um dos princípios basilares da audi-ência preliminar, o da preclusão. De acordo com a redacção inicial do art.º. 508.º-A, se um mandatário fal-tasse à audiência, ficava precludido o direito de apresentação de reque-rimento probatório ou de requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do colectivo – direitos que passou a poder exercer, (com a alteração introduzida pelo D.L. n.º 375-A/99, de 20/09), no prazo de 5 dias após a realização da audiência a que faltou …A próxima alteração legislativa per-mitirá ao mandatário faltoso, even-tualmente, no mesmo prazo, vir reclamar da selecção da matéria de facto. E, assim, paulatinamente, as altera-ções legislativas vão corroendo os princípios fundamentais que nor-tearam a criação dos institutos ju-rídicos. E assim, paulatinamente, a “audiência preliminar” vai-se asse-melhando cada vez mais com a mo-ribunda “audiência preparatória”.

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O novo agregador da advocacia22 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptFormação

O grupo de docentes da Católica Global School of Law constitui uma verdadeira selecção mundial – Oxford, Chicago, NYU, Columbia, LSE, King’s College London, Max Planck Institute de Heidelberg, etc. – a que os alunos têm acesso directo, graças ao número limitado de alunos em cada disciplina

Num mercado legal em contracção, acentua-

se a necessidade de diferenciação na formação dos

candidatos às carreiras jurídicas. E a menor procura de serviços

jurídicos permite mais facilmente

libertar tempo aos colaboradores para a formação qualificada

“O Global Legal Education Report do Financial Times incluiu a Católica global School of

law na sua selecção mundial de llM. Nesta

lista predominam os programas

americanos. A Católica aparece entre as 16 escolas europeias, sendo as restantes maioritariamente

britânicas”

Umaverdadeiraselecçãomundial

No dia 14 de Setembro de 2006 teve lugar a primeira aula do pri-meiro LLM (Legum Magister, Mas-ter of Laws) em Portugal, lecciona-da pelo prof. Phillip Wood. Na sala, alunos provenientes da Bélgica, da Espanha, da Polónia, dos Es-tados Unidos, da Venezuela, para além de advogados portugueses praticando em Lisboa, no Porto e no Algarve. O LLM em International Business Law tem sido frequentado, desde 2006, por jovens advogados (sem-pre com experiência profissional mínima de três ou quatro anos) interessados em mergulhar num ambiente de trabalho exigente, com leccionação em inglês, com professores que combinam a ex-celência académica com a dimen-são profissional e que provêm da Católica ou das melhores univer-sidades americanas e europeias. Grande parte destes alunos é hoje sócia de importantes escritórios ou head of legal de empresas em Portugal e no estrangeiro. Escritó-rios de referência, como a Abreu Advogados, a Morais Leitão, a Serra Lopes Cortes Martins ou a Vieira de Almeida, são patrocina-dores do programa e enviam ad-vogados para o frequentar. A FLAD é um apoio essencial, es-pecialmente para a presença de professores e de alunos america-nos. A Comissão Fulbright, a Fun-dação Millennium bcp e a Galp Energia também apostaram numa importante parceria. Na sequência do sucesso deste programa, dirigido a advogados experientes, foi possível convidar para dirigir um novo LLM duas fi-guras cimeiras da academia mun-

dial: Joseph Weiler, da New York University, um dos mais influentes professores americanos actuais e Miguel Poiares Maduro, anterior-mente advogado-geral no TJCE e hoje professor em Florença, e professor visitante na Católica e na Universidade de Yale (recente-mente galardoado com o Prémio Ciência da Fundação Gulbenkian). O resultado foi a oferta a partir de 2009 do LLM Law in a European and Global Context, um dos mais inovadores programas do seu gé-nero a nível internacional. Dirigin-do-se a juristas recém-licenciados de grande potencial, abrange vá-rias áreas jurídicas, à luz de uma pluralidade de fontes e tendo em conta o contexto social, económi-co e político subjacentes. O grupo de docentes deste pro-grama constitui uma verdadeira selecção mundial (proveniente de instituições como Oxford, Chica-go, NYU, Columbia, LSE, King’s College London, Max Planck Ins-titute de Heidelberg e várias ou-tras de nível semelhante), a que os alunos têm acesso directo, graças ao número limitado de alu-nos em cada disciplina. Este LLM, que contou com o patrocínio da Linklaters e da Miranda, foi selec-cionado e apoiado pela Fundação Gulbenkian como um dos dois projectos mais inovadores no do-mínio educativo.

A criação Em 2006, apenas um grupo pe-queno de pessoas teve a noção de que vivíamos um momento fundador: para além de um peque-no grupo de colegas na Católica, alguns dos melhores advogados

portugueses (como o Luís Bran-co, o Luís Cortes Martins e o João Vieira de Almeida) e o então pre-sidente da Fundação Luso-Ameri-cana para o Desenvolvimento, Dr. Rui Machete.A comunidade académica por-tuguesa não se apercebeu então de que iniciávamos um projecto muito ambicioso: o de oferecer em Portugal programas que concor-ressem com os melhores a nível mundial, como motor para a cria-ção de um centro de excelência no ensino e na investigação em língua inglesa que colocasse Lis-boa no mapa da academia jurídica global.Como corolário institucional deste percurso, a Católica Global School of Law foi criada por despacho do Reitor da Universidade Católica em 2009 junto da sua Faculdade de Direito (em Lisboa). No desenvolvimento dessa estra-tégia, e graças ao apoio da Miran-da Correia Amendoeira e Associa-dos, foi criada a Cátedra Miranda em Direito Financeiro Transnacio-nal, através da qual foi contratado o professor Jan Dalhuisen, autori-dade mundial nestas matérias pro-veniente do King’s College London e da Universidade da Califórnia, Berkeley. Este foi o primeiro pas-so no sentido da instituição de um verdadeiro corpo docente e de in-vestigação internacional residen-te, que contribua para a colabo-ração entre os actuais professores da Católica e os mais produtivos académicos mundiais.Foram estabelecidas parcerias com algumas das mais dinâmi-cas e prestigiadas Universidades: King’s College London, com o qual

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Fevereiro de 2011 23O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Formação

“A oferta de llM vem ao mesmo

tempo beneficiar da lógica de Bolonha,

entendida como oportunidade para a reforma do ensino do Direito e como veículo

para a mobilidade internacional

de alunos”

luís Barreto Xavier

Licenciado e mestre em Direito pela FD da UCP. Foi consultor principal do Centro Jurídico da Presidência

do Conselho de Ministros. Foi assessor do gabinete dos Juízes no

Tribunal Constitucional. Leccionou na Faculdade de Direito de Lisboa e lecciona na Faculdade de Direito da

UCP. É director da Católica Global School of Law e coordenador do

Ensino Pós-graduado da FD UCP (Lx)

se instituiu um double degree; Ge-orgetown, através do Center for Transnational Legal Studies; Wa-shington University in St. Louis, Utrecht e outras, no âmbito do Transnational Law Program, apoia-do pela Comissão Europeia e pelo Departamento de Estado Norte-Americano através do programa Atlantis; várias outras parcerias com instituições como Duke, Cor-nell, IE Law School, Tilburg, Maas-tricht ou Houston.

O reconhecimentoNovembro de 2010. O Global Le-gal Education Report do Financial Times (de 2010) incluiu a Católica Global School of Law na sua se-lecção mundial de LLM Nesta lista predominam os programas ame-ricanos. A Católica aparece entre as 16 escolas europeias, sendo as restantes maioritariamente bri-tânicas. Esta publicação escolheu ainda um artigo de um aluno da Católica para o seu relatório anual, sucedendo à aluna da New York University em 2009.O que explica o sucesso dos LLM da Católica? Um conjunto de fac-tores:a) A opção de concorrer na primei-

ra divisão mundial, que levou a um extremo cuidado na selec-ção do corpo docente, quer no plano académico quer no pro-fissional e no pedagógico

b) O carácter verdadeiramente trans nacional das formações ofereci-das — que não se debruça sobre um sistema jurídico particular (ao contrário da generalidade dos programas concorrentes) mas sobre uma realidade cada vez mais europeizada e globalizada)

c) A exigência na selecção inter-nacional dos alunos, a exigên-cia de trabalho no âmbito dos programas

d) A estreita colaboração com as forças mais dinâmicas do mun-do jurídico: escritórios de ad-vogados, empresas, grandes universidades estrangeiras

e) A localização em Lisboa, cida-de com capacidade para atrair professores e estudantes inter-nacionais

O contexto A oferta de LLM vem ao mesmo tempo beneficiar da lógica de Bo-lonha, entendida como oportuni-dade para a reforma do ensino do Direito e como veículo para a mo-bilidade internacional de alunos.A tendência internacional vai no sentido de que os estudantes continuarão maioritariamente a re-alizar as suas formações de base nos países de origem e estudando sobretudo os direitos nacionais, mas procurarão cada vez mais no mercado internacional a formação pós-graduada mais ajustada ao seu perfil. Em Portugal, os alunos que con-cluem um LLM na Católica podem requerer o acesso à dissertação de mestrado (pós-Bolonha). In-ternacionalmente, são muitos os estudantes europeus que vêm re-alizar o 2.º ciclo à Católica.Num momento em que o mercado legal se encontra em contracção, acentua-se a necessidade de di-ferenciação na formação dos can-didatos às carreiras jurídicas. Por outro lado, no interior das organi-zações, a (conjuntural) menor pro-cura de serviços jurídicos permite

mais facilmente libertar tempo aos colaboradores para a formação qualificada. Os LL.M. vêm assim também constituir uma importante mais-valia para juristas ambicio-sos que não desejam carreiras ex-clusivamente centradas no Direito Interno.

O futuroOs próximos tempos vão conhe-cer a maior divulgação internacio-nal dos programas, o desenvol-vimento da investigação jurídica pura e aplicada em língua inglesa e a criação do programa de PhD internacional. Um percurso impen-sável em 2006? Certamente. Mas uma equipa entusiástica com um conjunto de apoios da comunida-de pode contribuir efectivamente para as mudanças necessárias.

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O novo agregador da advocacia24 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptPasseio Público

Joana Pinto Coelho inscreveu-se em Direito a pensar que ia ser jornalista, mas durante o curso foi ganhando vontade de ser advogada. Esta é a história de uma rapariga de Telhada, Figueira da Foz, que viveu em Coimbra e deitou âncora no Porto, onde fundou uma editora de livros baptizada com o nome do capitão do Moby Dick, de Melville

Um gato chamado Hendrix?

data de coisas quando fosse gran-de, de professora a veterinária, sen-do que este último sonho denuncia um gosto por animais que ainda se mantém – uns dias antes da nossa conversa tirou da rua um gato, que ainda não tinha sido baptizado, pois ela ainda não se tinha decidido en-tre Hendrix (do Jimmy) ou Louie (do Armstrong).Fez-se mulher com um pé em Te-lhada, onde os avós tinham gali-nhas e matavam o porco (“uma coi-sa horrível, mas deliciosa”), e outro na Figueira, onde fez o secundário e teve a sorte de tropeçar num pro-

nFA

CTO

S

privilégio de fazer duas coisas de que gosto muito”, confessa, com aquele ar feliz de quem está em paz consigo e com a vida, Joana Pinto Coelho, uma das duas filhas (a mais velha, Dora, trabalha numa farmácia em Mafra) do matrimónio entre um enfermeiro e uma técnica adminis-trativa da Segurança Social.Nasceu e cresceu em Telhada, ou-trora um importante apeadeiro da freguesia de Paião, na Figueira da Foz. Os avós eram agricultores. Os pais foram a primeira geração a emancipar-se da terra. Quando era miúda Joana ambicionou ser uma

Quando iniciou o curso em Coim-bra, lia todos os dias o Público e pensava que ia ser jornalista. De-pois foi ganhando vontade de ser advogada. Continuou a ler muito. Jornais, apontamentos, livros de estudo, mas também muito Sara-mago, Camus, Thomas Mann, Eça, Tolstoi e por aí adiante. O resultado está aí. Joana, 31 anos, é advoga-da, no escritório de Gil Moreira dos Santos, e sócia fundadora da Ahab, uma editora com uma dezena de li-vros publicados.“Gosto muito de ser advogada e de editar livros. Tenho o imenso

Jorge FielJornalista

[email protected]

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Fevereiro de 2011 25O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

fessor de Filosofia que a apresen-tou a Nietzsche, a Camus e a ou-tros autores, viciando-a na leitura e ensinando-a a não ficar só a olhar para as coisas, mas habituando-se também a questioná-las. Não foi para fugir à Matemática (era uma aluna de 4 a esta disciplina) mas porque gostava de Línguas e de História que, no 10º ano, quis ir para Letras. Aos 15/16 anos a op-ção por Direito foi bastante racional. “Escolhi Direito porque me pare-cia ser um curso que abre muitas portas e onde se aprende muitas coisas. Enquanto formação dá-nos uma educação muito cívica, ajuda-nos a crescer e a perceber as pes-soas e as organizações”, explica.Coimbra, onde partilhava um apar-tamento na Rua António José de Almeida com a irmã e as amigas, foi uma excitação, um coup de foudre. O curso nem tanto. Ao princípio es-tranhou. “O 1.º ano é um choque: 430 alunos. Um ritmo distinto do que vinha habituada. Uma forma di-ferente de estruturar o pensamento. Não temos um ensino virado para a autonomia dos alunos, mas mui-to dependente dos apontamentos e das aulas”, recorda. Mas depois foi como a Coca-Cola. Entranhou. “Gostei muito do curso”.Com a cidade, foi um caso de pai-xão à primeira vista. Em contraste com a pasmaceira de Telhada, mes-mo da Figueira, vivia-se um ambien-te fervilhante. “Em Coimbra não há marasmo. Há um burburinho per-manente, muitas conversas políti-cas e organizações cívicas. Está-se sempre a discutir como combater qualquer coisa. Na primeira assem-bleia magna em que participei, um colega esborrachou uma melancia na cabeça de outro. Vi discussões de bar de faculdade mais anima-das que a campanha das presiden-ciais”, conta.À medida que progredia no curso ia ganhando vontade de ser advo-gada. “O curso é muito teórico mas ainda bem que é assim, porque depois, na vida real, temos muito tempo para aprender a prática mas falta-nos o tempo para a formação”.Quando acabou o curso, em Julho de 2002, tinha um pequeno proble-ma pela frente. Não tinha ninguém

na família relacionado com Direito. Precisava de fazer o estágio. E já estava cansada de Coimbra. Queria mudar para o Porto ou para Lisboa. Ultrapassou o problema com a aju-da de uma amiga, cujo pai advoga-do não tinha condições para lhe dar o estágio mas teria todo o gosto em dar o nome para ela fazer as aulas na Ordem. Rumou para o Porto, onde deitou âncora há oito anos. Começou por instalar-se no apartamento de uma amiga, em frente aos bombeiros, na Constituição, e a andar no autocarro da linha 20. De então para cá, Joana tem dado a corda aos sapatos. Fez o estágio, adubou a sua formação com duas pós-graduações (uma em Fiscal, na Clássica do Porto, e outra em Laboral, na Católica), comprou um Seat Ibiza branco, mudou-se para casa própria, e tornou-se as-sociada da Gil Moreira dos Santos, Caldeira, Cernadas, Fontemanha e Associados, uma firma instalada num palacete da Rua 5 de Outubro, no Porto.Fora de horas, no Verão de 2008, o seu gosto com a leitura levou-a a embarcar na aventura de fazer uma pequena editora, a Ahab (o nome do intrépido capitão do Pe-quod, no romance Moby Dick, de Herman Melville), a meias com o seu colega e amigo Tiago Szabo – benfiquista apesar do apelido de-nunciar ser descendente do famoso Joseph Szabo, um húngaro que foi treinador-jogador da equipa do FC Porto que em 1930/31 ganhou o 1º Campeonato de Portugal. Joana é sportinguista, mas sempre feliz por-que tem um truque: “Só fico alegre com as vitórias, não fico triste com as tristezas”.A Ahab apresentou-se no mercado com uma salva inaugural de três livros: “Pudor e Dignidade”, do no-rueguês Dag Solsatd, “Pergunta ao Pó”, de John Fante, e “A Ilha”, de Giani Stuparich. Para Joana (que não empresta livros) ter um editora significa o prazer de poder publicar boas traduções (o nome do tradu-tor é sempre referido na capa) dos livros que gosta, em edições boni-tas e cuidadas, inventadas no ga-binete de design do inglês Andrew Howard.

Passeio Público

“O curso é muito teórico mas ainda bem

que é assim, porque depois, na vida real, temos muito tempo

para aprender a prática mas falta-nos o tempo

para a formação”

“Os ebooks são importantes para uma

consulta rápida e técnica, de um atlas, uma enciclopédia ou um livro de Direito.

Mas será que alguém vai ler poesia num

computador?”

“Em Coimbra não há marasmo. Há um burburinho permanente, muitas conversas

políticas e organizações cívicas. Está-se sempre a discutir como combater qualquer

coisa. Na primeira assembleia magna em que participei, um colega esborrachou uma

melancia na cabeça de outro”

O catálogo já vai em dez títulos, cada um com uma edição inicial de 1 500 exemplares. Não é um negó-cio fabuloso, não dá para viver dele (nem Tiago nem Joana estavam à espera disso), mas está sustentável, que é o que interessa. O iPad e os ebooks não tiram o sono a Joana, nem lhe fazem ru-gas na testa. “Já experimentei ler num iPad. Ninguém pode fechar os olhos ao fenómeno dos tablets. Mas não me parece que eles irão ar-rasar o mercado livreiro. Os ebooks são importantes para uma consulta rápida e técnica, de um atlas, uma enciclopédia ou um livro de Direito. Mas será que alguém vai ler poesia num computador?”, pergunta Jo-ana, que continua a devorar livros, em papel: “Temos a noção do vo-lume e quanto falta para acabar o livro, seja na cama ou no sofá, na esplanada da Praia dos Ingleses ou no Solar de Vinho do Porto, no com-boio ou em salas de espera”.

Page 26: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia26 Fevereiro de 2011

www.advocatus.pt

O WikiLeaks obrigou-nos – e isso foi um contributo muito válido – a repensar os direitos de Propriedade Intelectual na sociedade da informação. Quanto ao resto, não resisto a citar Mário Vargas Llosa que num artigo no El Pais escreve que “Assange, mais do que um grande lutador pela liberdade, é um entertainer com êxito, a Oprah Winfrey da informação”

Custe o que custar a muitos fun-damentalistas, a liberdade de expressão tem de se sujeitar a regras, tem de ter limites. To-memos o exemplo de um insul-to: será que poderemos alguma vez aceitar que um insulto possa ser desculpado só com a justifi-cação de que se tratou apenas de uma manifestação da liber-dade de expressão por parte de alguém? Claro que não. Um insulto é uma ofensa, ponto. Se nos puséssemos a defendê-lo

“Sob a capa da defesa do direito à liberdade

de expressão e informação, sempre protegido e levado até às suas últimas

consequências, entrámos numa era onde o atropelo a

muitas regras passou a ser uma constante”

AOprahWinfreydainformação

WikiLeaks

com essa justificação, a vida em sociedade ficaria seguramente muito mais difícil e azeda para todos. Além de que todos sabe-mos também que esta questão não é assim tão simples, pois o que num determinado ambien-te cultural pode ser entendido como muito grave, noutro pode ser entendido apenas como uma mera graça.Ao longo das últimas duas déca-das esta questão voltou a assu-mir uma nova importância, num

mundo cada vez mais global, onde difundir informação em grande escala se tornou cada vez mais fácil. Senão vejamos: a evolução das tecnologias de informação e da internet foi mu-dando radicalmente as formas de comunicarmos uns com os outros. Nos anos mais recentes, passá-mos até a ouvir falar de um fe-nómeno inédito: da web social e das redes sociais, onde as pessoas partilham informação

João

Rib

eiro

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Page 27: Advocatus, Nº 11

Fevereiro de 2011 27O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“O direito à privacidade é um direito de

tal forma nobre e incontornável num Estado de Direito,

que tem em Portugal consagração

constitucional, pese embora as constantes violações que sofre e

que, mais grave ainda, ficam frequentemente

impunes”

“Quando nos batemos pela não violação da

nossa correspondência electrónica, pela

restrição das escutas telefónicas, pela

imposição de limites claros à videovigilância e à partilha dos nossos dados médicos como

podemos aplaudir entusiasticamente

um fenómeno como o Wikileaks?”

leonor Chastre

Sócia da Abreu Advogados

WikiLeaks

entre si de uma forma que seria impensável até há poucos anos. Falam de si, de tudo e de todos, seja com conhecidos ou des-conhecidos, veiculam opiniões, revelam até segredos de tercei-ros, copiam trabalhos e ideias, partilham sem limites músicas e filmes obtidos ilegalmente, etc.Sob a capa da defesa do direi-to à liberdade de expressão e informação, sempre protegido e levado até às suas últimas con-sequências, entrámos numa era onde o atropelo a muitas regras passou a ser uma constante. Uma das questões que se co-loca com mais ênfase nos dias de hoje, por exemplo, tem a ver com o domínio da Proprie-dade Intelectual, pois continu-am inquestionavelmente a ser postos em causa os direitos de autor de inúmeros conteúdos que circulam na internet. São sobejamente conhecidos os constantes atropelos aos direi-tos sobre a propriedade do sof-tware, das músicas, dos filmes, as violações ao direito da con-fidencialidade dos documentos em causa, ao direito a um trata-mento legal dos dados pessoais e sobretudo ao importantíssimo princípio da privacidade.É precisamente sobre este últi-mo princípio que temos de re-flectir na abordagem WikiLeaks versus direitos de Propriedade Intelectual. Mário Vargas Llosa, num inspiradíssimo artigo sobre este mesmo assunto, publicado, a 16 de Janeiro de 2011, no jor-nal espanhol El País e apropria-damente intitulado Lo privado y lo público, diz que “a desapari-ção daquilo que é o privado, que ninguém respeite a intimidade alheia, e que exista uma indús-tria informativa que alimente sem tréguas e sem limites esse voyerismo universal é uma ma-nifestação de barbárie”.Não te-nhamos dúvidas: o desrespeito pelos outros e pelo que é de outrem não é aceitável numa so-ciedade evoluída.Os documentos divulgados e feitos publicar inicialmente na internet – mas que cedo tiveram

eco entre a imprensa mais lida e respeitada dos diversos países, numa escolha aliás criteriosa-mente feita por Julian Assange –, documentos esses que tanto impacto tiveram na opinião pú-blica, ávida de sensacionalis-mo, no fundo informaram q.b. e devassaram em excesso, ul-trapassando todos os limites e violando em muito o princípio da privacidade de entes par-ticulares e entes públicos. Em concreto e numa fria análise, acabaram por tirar mais do que aquilo que deram.Estamos conscientes de que esta afirmação exalta os âni-mos dos acérrimos defensores do WikiLeaks e de Julian As-sange, considerados hoje ex-poentes máximos da liberdade de expressão e de informação. Melhor dizendo: da informação sem restrições ao alcance de todos os cidadãos. O direito à privacidade é um direito de tal forma nobre e incontorná-vel num Estado de Direito, que tem em Portugal consagração constitucional, pese embora as constantes violações que sofre e que, mais grave ainda, ficam frequentemente impunes.Um Estado de Direito assenta em princípios basilares, como o respeito pela legislação em vigor que protege a privacidade de pessoas e instituições. Ob-viamente com as excepções im-postas por outros valores como, por exemplo, saúde pública, luta anti-terrorista, tráfico de seres humanos e outras enor-mes e hediondas violações de Direitos Humanos. Quando nos batemos pela não violação da nossa correspondência electró-nica, pela restrição das escutas telefónicas, pela imposição de limites muito claros aos siste-mas de videovigilância à parti-lha dos nossos dados médicos e do nosso ADN, quer por parte das entidades privadas – como entidades empregadoras que o fazem ilicitamente –, quer por parte do Estado e entidades su-pranacionais, como podemos aplaudir entusiasticamente um

fenómeno como o WikiLeaks?É certo que estamos na “Era da Informação”. Mas isso já deixou de significar somente poder.Neste momento é sobretudo um grande negócio. O Wiki-Leaks obrigou-nos – e isso foi um contributo muito válido – a repensar os direitos de Proprie-dade Intelectual na sociedade de informação. O resultado é que neste momento importantes ONG mobilizam-se já para tra-balhar temas prementes como o dos dados pessoais/privacidade e, sobretudo, em preparar uma legislação eficaz que proteja os direitos de autor a nível de internet. Mas já quanto ao res-to, não resisto a voltar a citar Vargas Llosa quando, no supra mencionado artigo, refere que “Assange, mais do que um gran-de lutador pela liberdade, é um entertainer com êxito, a Oprah Winfrey da informação”.

Page 28: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia28 Fevereiro de 2011

www.advocatus.pt

A origem criminosa dos conteúdos veiculados pelo WikiLeaks impõe um conjunto de obrigações sobre os prestadores do serviço de alojamento daquele site. Pelo menos no nosso país existiria uma obrigação de os prestadores cessarem o alojamento daquele site, se instados a tanto pelas autoridades

Em Novembro passado, rebentou um escândalo de repercussões mundiais com a publicação não editada, e em grande escala, de telegramas de diplomatas ameri-canos enviados ao Departamento de Estado, em Washington. Estes telegramas eram classificados de confidenciais e versavam so-bre temas entre o trivial e o muito sensível. Em Portugal, a imprensa deu ruidoso destaque ao tema do transporte de prisioneiros de Guantánamo e ao alegado envol-vimento do Governo português.Também alguma imprensa interna-cional de referência publicou tele-gramas e nos Estados Unidos logo teve início uma discussão sobre a First Amendment da Constituição americana e a liberdade de im-prensa e de expressão. No entan-to, pelo Natal os ânimos já tinham arrefecido, com as intervenções de eminentes juristas recordando que não é possível estabelecer um paralelo com o escândalo Water-gate (1972), onde a imprensa re-velou que o governo americano ocultara deliberadamente um acto criminoso. Com efeito, a pondera-ção de interesses neste caso do WikiLeaks é muito menos con-clusiva do que no Watergate, não sendo nada líquido que o dever de informar e o direito do público a ser informado devam prevalecer sobre a confidencialidade do pro-duto da actividade rotineira de al-guns diplomatas.Os telegramas em causa terão sido fornecidos ao WikiLeaks por um soldado americano que os descarregou ilicitamente, em for-mato digital, num quartel a leste de Bagdad, durante um período de oito meses. Perante a indigna-ção de várias autoridades exigin-

“A ponderação de interesses no caso Wikileaks é muito

menos conclusiva do que no Watergate, não sendo nada líquido que o dever de informar e o direito do público a ser informado devam

prevalecer sobre a confidencialidade do produto da actividade

rotineira de alguns diplomatas”

“Os telegramas incluem informações

potencialmente sensíveis, relativas a pessoas singulares

identificadas ou identificáveis (dados

pessoais), relacionadas com a vida privada,

opções políticas, filosóficas ou religiosas

e a saúde”

luís Neto galvão

Advogado SRS AdvogadosSefosseemPortugal…

WikiLeaks

responsabilidade criminal, contra-ordenacional e civil em caso de inobservância dessas obrigações. Consagra ainda mecanismos com o objectivo de assegurar que, quando os dados são transferidos para fora do EEA, idênticas obri-gações são cumpridas. É fundamental que ao nível dos estados, o tratamento de infor-mação “classificada” se encontre sujeito a obrigações de segurança equivalentes às dos particulares e que sempre que essa informação seja “exportada”, o que sucede cada vez mais frequentemente (veja-se a troca de informações com os Estados Unidos no qua-dro do combate ao terrorismo), as obrigações de segurança de tra-tamento sejam cumpridas pelos estados “importadores”. É que a fuga de informação (leak) ocorrida num quartel a leste de Bagdad não teria provavelmente sucedido se os Estados Unidos tivessem res-tringido adequadamente o acesso aos telegramas em causa.

do o encerramento do WikiLeaks, este logo fez saber que se encon-trava alojado em vários pontos do globo. Ora, a origem criminosa dos conteúdos veiculados pelo WikiLeaks impõe um conjunto de obrigações sobre os prestadores do serviço de alojamento daque-le site, pelo menos para os que se encontrem estabelecidos no Es-paço Económico Europeu (EEA). Na verdade, muito embora não estejam sujeitos a “uma obriga-ção geral de vigilância sobre as informações que transmitem ou que armazenam”, aqueles pres-tadores serão responsáveis pelos conteúdos por si alojados quando passem a “ter conhecimento efec-tivo da actividade ou informação ilegal”, em virtude da Directiva n.º 2000/31/CE, do Parlamento e do Conselho, de 8 de Junho de 2000 e dos seus instrumentos de trans-posição (em Portugal, a Lei do Comércio Electrónico, Decreto-Lei n.º7/2004, de 7 de Janeiro). Pelo menos no nosso país existiria uma obrigação de os prestadores ces-sarem o alojamento daquele site, se instados a tanto pelas autori-dades. Por seu turno, os mesmos tele-gramas incluem informações po-tencialmente sensíveis, relativas a pessoas singulares identificadas ou identificáveis (dados pessoais), relacionadas com a vida privada, opções políticas, filosóficas ou re-ligiosas e de saúde. Quando estes dados são tratados por particulares (bancos, hospi-tais, operadores móveis), o que, em regra, é proibido, a lei obriga a um investimento significativo em medidas técnicas e organiza-tivas adequadas a evitar o aces-so não autorizado e estabelece a

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Fevereiro de 2011 29O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Wikileaks

OprincípiodaproporcionalidadeA própria Convenção Europeia dos Direitos do Homem admite restrições e condicionamentos à liberdade de expressão. A colisão de direitos fundamentais deve ser resolvida pelo princípio da proporcionalidade, infelizmente muitas vezes esquecido

A palavra “wiki” (“extremamente rápido” em havaiano), ficou céle-bre com a criação da Wikipedia, a “enciclopédia livre” editada co-laborativamente e que muito tem contribuído para a transmissão de informação a nível mundial. Também de forma colaborativa a organização privada sueca tem disponibilizado informações con-fidenciais, oriundas de governos, instituições e grandes empresas, embora, para garantir que os da-dos não são alterados, apenas aceite a edição das informações por utilizadores autorizados, reco-mendando o uso de software ade-quado que garanta a privacidade das suas fontes. O lema subjacente à actividade desta organização é o de que a “transparência cria uma socieda-de melhor para todas as pesso-as” e um “melhor escrutínio leva a uma redução da corrupção e democracias mais fortes”. Con-tudo, a recente actividade deste site ao divulgar documentos con-fidenciais norte-americanos e a censura a que foi sujeito, suscitou reacções de variados sectores da comunidade que se dividiram en-tre críticos e apoiantes. Várias fo-ram as empresas que se juntaram à repressão, directa ou indirecta, de tal actividade, sofrendo algu-mas, no entanto, ataques por par-te de hackers, em represália, bem como a crítica exponenciada pelas redes sociais. Diversos foram os debates jurídi-cos que foram surgindo em torno do caso WikiLeaks: desde logo a conveniência de uma maior regu-lação da internet ou da neutrali-dade da rede (concepção inicial da internet e defendida ainda

Ricardo Henriques

Associado da Pedro Pinto, Bessa Monteiro, Reis, Branco & Associados.

Iniciou-se na Abreu, Cardigos & Associados, tendo desde então

acompanhado o sócio César Bessa Monteiro na ABBC e agora na

pbbr. Dedica-se essencialmente à Propriedade Intelectual, Sociedade da

Informação, Publicidade e Direito da Concorrência

“Diversos foram os debates jurídicos

que foram surgindo em torno do caso

Wikileaks, desde logo a conveniência de

uma maior regulação da internet ou da

neutralidade da rede”

“Se a liberdade, imparcialidade e transparência da

imprensa parecem ser um valor fundamental,

outros valores têm de ser tidos em consideração”

por muitos), que não tendo tido ainda grande visibilidade, deixa adivinhar um tema de extrema importância num futuro muito pró-ximo: também a necessidade de políticas mais restritivas de con-fidencialidade e de utilização da informática e comunicações nas empresas e instituições. É de facto expectável que se assista a um reforço crescente da seguran-ça de empresas e governos na for-ma como lidam com a informação, limitando o acesso a informações sigilosas, bloqueando a possibili-dade de utilização de dispositivos portáteis de armazenamento. Na realidade, a utilização intensiva da internet e outras tecnologias pelos Estados Unidos, foi talvez o que permitiu um acesso tão abrangen-te a informação confidencial. Tal poderá servir de alerta na constru-ção das redes e bases de dados que outros países estão ainda a construir. O tema que mais opiniões pare-ce ter gerado foi a incontornável discussão relativa à liberdade de expressão e seus limites. A possi-bilidade de divulgação de notícias que possam colocar a segurança de um país em risco e o direito de acesso a informações confi-denciais pelos cidadãos. Alguns alegam o direito à informação como garantia de um regime de-mocrático. Outros entendem que a liberdade de expressão deve ser relativizada, e que não devem ser divulgadas informações capazes de comprometer a segurança na-cional, a qual deverá prevalecer sobre os interesses de cada cida-dão. Se a liberdade, imparcialida-de e transparência da imprensa parecem ser um valor fundamen-

tal, outros valores têm de ser tidos em consideração. A própria Con-venção Europeia dos Direitos do Homem admite restrições e con-dicionamentos à liberdade de ex-pressão, tais como a “segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do crime, a protecção da saúde ou da mo-ral, a protecção de honra ou dos direitos de outrem”, também eles direitos fundamentais. A colisão de direitos fundamentais deve ser resolvida pelo princípio da propor-cionalidade, infelizmente muitas vezes esquecido.

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O novo agregador da advocacia30 Fevereiro de 2011

www.advocatus.pt

NãosabemosarrumaracasaNa sua expressão mais banal, o português acredita em quase tudo, menos em si próprio: no milagre de Ourique, na UE, na banca internacional; ou mesmo naquelas entidades que nos ensinam algumas lições de comportamento social e financeiro e o que devemos fazer; porque a triste verdade é que não sabemos, por nós próprios, arrumar a casa

Quando estas linhas forem lidas, escritas que foram poucas horas antes do termo da campanha para as eleições presidenciais, cada cidadão virá inevitavelmen-te a cruzar-se com essa ideia pouco consoladora, mas nem por isso menos verdadeira: o que es-tas eleições trouxeram de novo? Se comparássemos este sufrágio com outros, que não ocorreram em momentos tão dramáticos, vemos hoje em dia, com algum desencanto, o português na sua expressão mais banal, acreditan-do em quase tudo, menos em si próprio: no milagre de Ourique, na União Europeia, na banca in-ternacional; ou mesmo naquelas entidades que nos ensinam al-gumas lições de comportamento social e financeiro e o que deve-mos fazer; porque a triste verda-de é que não sabemos por nós próprios arrumar a casa.Mas se essa era a questão pre-mente durante tantos meses, se esse foi afinal tema adiado – que não podia sê-lo, – não podemos deixar de meditar no silêncio das nossas casas ou das nossas ca-beças, sobre essa questão, que é a de saber quem trata dura-douramente de nós, esquecidos os casos de AVC político ou eco-nómico e ficando-se o país pela sua malapata tradicional, à se-melhança de velho teimoso que insiste em não se tratar. A res-posta inevitável seria: ninguém. Até ao dia em que a História se desvanece em memória. E se os portugueses de amanhã forem tão ineptos como os políticos de hoje, este país há-de esboçar uns cumprimentos mesurados à esquerda e à direita e, discreta-

Carlos de Almeida Sampaio

Sócio da Cuatrecasas Gonçalves Pereira

“E se os portugueses de amanhã forem

tão ineptos como os políticos de hoje, este

país há-de esboçar uns cumprimentos

mesurados à esquerda e à direita

e, discretamente, ser riscado do mapa”

“Se tivermos a sorte de haver quem nos

convença que o conhecimento teórico só é sinónimo de sucesso quando em conjugação com a vontade e com a determinação, e ainda

com as leis que reforçam uma comunidade, do

mesmo modo que a sua violação a envergonha,

então, vale a pena tentar”

Por Direito

mente, ser riscado do mapa.Até esse momento que podem os portugueses fazer? Diria que pouco e, ao mesmo tempo, muito. Veja-se de resto que um Estado, enquanto comunidade politicamente organizada, ne-cessita de um corpo estruturado e respeitado de leis, da emissão desses comandos numa ordem social nuclear e cívica onde o Es-tado e a consciência desse povo e da sua história afloram nas ac-tividades sociais, na cultura, no desporto, nas artes plásticas do mesmo modo que, se proceder-mos a uma busca um pouco mais intensa, eles aí estarão nas acti-vidades tecnológicas de topo e no fingerprint que hoje diferencia as economias em crescimento e as que se atolam num crescente lamaçal. As economias digitais, a sociedade de informação são provavelmente uma das apostas tecnológicas que com grande habilidade, know-how e persis-tência, merecem um olhar atento da parte do cidadão comum. Aí desponta, talvez, o engenho; se assim for falta-nos tão só o rigor.A componente científica, produti-va, técnica e lúdica da economia digital move milhões de adep-tos entusiastas e incondicionais. Está bom de ver que entre um qualquer momento de excelência de uma rede social e o momento ritualizado de ir meter numa urna o nome do candidato que ainda por cima já venceu, torna este último muito pouco apelativo e parece dar sentido a esse primei-ro momento que tem o simples mérito de ver o português recriar virtualmente o avatar dos seus sonhos, finalmente livre dessa

escada penosa que tem inevita-velmente que voltar a subir nos próximos meses dos anos mais próximos. É aqui que os portu-gueses têm uma oportunidade única de redenção e retoma. Mas não nos iludamos por Sísifo na sua condenação ter encontrado a felicidade. Sem vontade férrea, noção do que lhe era imposto, sem lei, sem força, sem ciência, sem imaginação e sem rigor, este será apenas o tempo de um or-çamento que nasce e morre sem tempo.Mas, se tivermos a sorte de haver quem nos convença que o conhe-cimento teórico só é sinónimo de sucesso quando em conjugação com a vontade e com a determi-nação, e ainda com as leis que reforçam uma comunidade, do mesmo modo que a sua violação a envergonha, então, vale a pena tentar.

Page 31: Advocatus, Nº 11

www.belledo

pium

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Eu sou a tua obsessão

Briefing 240X335_071D68360_240X335_071_YSL 28/09/10 16:29 Page1

Page 32: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia32 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptPor Direito

OscustosdeumaineficiênciaNão é necessário que a economia se apresente em recessão para perceber que a excessiva demora dos tribunais do trabalho se repercute directamente nas finanças das empresas, sendo mais gravosas quanto menor é a empresa. A ineficiência dos tribunais do trabalho é suportada entre empresas e contribuintes

Entre as várias medidas trazidas pelo Código de Processo do Tra-balho, uma delas assume particu-lar destaque: o custo dos salários intercalares, quando a acção de impugnação do despedimento se prolongue por mais de doze meses, é suportado pelo Estado. Como é sabido, este diploma deve grande parte da sua origem à Co-missão do Livro Branco das Rela-ções Laborais, que teve a missão de reavaliar o quadro legal vigente e propor alterações com vista à promoção do emprego.Entre as várias propostas daque-la comissão, foi sugerida a con-sagração, à semelhança do que ocorre no ordenamento jurídico espanhol, de um sistema em que o Estado português suportasse pelo menos parte dos custos dos salários intercalares, quando a ac-ção judicial se prolongasse por um período superior a um ano.Esta medida foi acolhida pelo le-gislador no Código de Processo do Trabalho, em termos de o Esta-do assumir o pagamento da retri-buição intercalar, quando a acção judicial se prolongar por um perío-do superior a um ano. Exemplificando, em Outubro de 2006, num dos mais conhecidos tribunais do trabalho, encontra-vam-se trabalhador, administrador da empresa e as doze testemu-nhas das partes (na sua maioria, trabalhadores da empresa), para serem ouvidas na audiência de julgamento, agendada cinco me-ses antes, em acção de impug-nação do despedimento proposta pelo trabalhador em Novembro de 2005. Nesse dia, à hora agendada, o tri-bunal anunciou que devido à falta

Diogo Vaz Marecos

Advogado. Autor do livro “Código do Trabalho Anotado”, Coimbra

Editora|Wolters Kluwer

“Entre as várias medidas trazidas pelo Código de Processo do Trabalho,

uma delas assume particular destaque: o custo dos salários

intercalares, quando a acção de impugnação do despedimento se

prolongue por mais de doze meses, é suportado

pelo Estado”

“Ao contrário do que sucede nos processos-

crime, em que a delonga judicial é em parte justificada pela

investigação, nos processos laborais a prova é levada pelas partes ao tribunal e

pode ser apresentada imediatamente, não

havendo motivos para demoras desmedidas das decisões judiciais”

de sala, não haveria julgamento, reagendando-o para quatro me-ses depois. No processo ficaria provado que o trabalhador aufe-ria 3.700, euros (incluindo salário, telemóvel, automóvel, etc.) e que havia sido despedido ilicitamente. Em consequência, a empresa foi condenada, em Maio de 2007, no pagamento dos salários entre a data do despedimento e a data da sentença, no total de 20 meses de ordenado, férias, subsídio de fé-rias e subsídio de Natal, vencidos enquanto decorreu a acção, e ain-da da indemnização fixada na lei.Dito de outra forma, porque não houve uma decisão do tribunal no prazo de 12 meses – não sendo um prazo ideal, é admissível – o processo custou à empresa, além das taxas de justiça que teve de pagar, cerca de 30 mil euros À data de hoje, estes seriam inte-gralmente suportados pelo Esta-do, ou seja, pelo contribuinte. Não é necessário que a economia se apresente em recessão para perceber que a excessiva demora dos tribunais do trabalho se reper-cute directamente nas finanças das empresas, sendo mais gravo-sas quanto menor é a empresa. Ao contrário do que sucede noutros processos judiciais, de dívidas, por exemplo, em que o atraso do tribunal em decidir traz igualmente consequências criticáveis, o efeito é vencerem-se juros de mora de 4 por cento ao ano se a divida for entre particulares, ou cerca de 9,5 por cento, se entre empresas, só nos tribunais do trabalho os juros correspondem ao salário do traba-lhador.No exemplo da divida, ao final de oito meses, tempo que o tribunal

demorou a mais, depois de de-corridos 12 meses, seriam pagos 3.798,13 euros ou 3.933,05 euros, se a dívida fosse entre particulares ou empresas, respectivamente. Se é certo que não devem ser as empresas a suportar integralmen-te os atrasos judiciais, para os quais nem sequer contribuíram, não é menos exacto que estes custos se devam simplesmente repercutir nos contribuintes, sem que sejam implementadas outras medidas que permitam em tempo útil resolver conflitos laborais (con-tratação de mais juízes, funcioná-rios judiciais, etc.). Ao contrário do que sucede nos processos-crime, em que a delon-ga judicial é em parte justificada pela investigação, nos proces-sos laborais a prova é levada pe-las partes ao tribunal e pode ser apresentada imediatamente, não havendo motivos para demoras desmedidas das decisões judi-ciais. Vejamos se a anunciada (re) revisão da legislação laboral corri-ge esta situação.

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Fevereiro de 2011 33O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

Tatiana CanasJornalista

[email protected]

“Um bom outsourcing legislativo, como sucedeu no Código dos Contratos Públicos, deve envolver diálogo permanente com a máquina administrativa. O recurso a juristas exteriores ao Estado justificava-se pela grande complexidade do diploma em causa e pelo elevado grau de especialização que a matéria recomenda”, afirma Sérvulo Correia, 74 anos, que confessou ao Advocatus que “morreria feliz se ainda conseguisse escrever um manual de Teoria Geral do Direito Administrativo”

Bom outsourcing legislativoenvolve diálogo com Administração

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Advocatus i Este ano o processo administrativo vai estar na ordem do dia, com a contestação dos magistrados e dos funcionários públicos aos cortes salariais. Qual o impacto que prevê da ava-

lanche de processos no cenário, já crítico, dos tribunais adminis-trativos?José Manuel Sérvulo Correia (JMSC) i O Código do Procedi-mento Administrativo, nos tribunais

administrativos, tem uma medida para os chamados “processos em massa” que permite juntá-los, se-leccionar da massa que levanta os mesmos problemas de Direito aqueles que sejam mais represen-

José Manuel Sérvulo Correia, sócio da Sérvulo e Associados

João TeivesDirector Advocatus

>>>

Page 34: Advocatus, Nº 11

O novo agregador da advocacia34 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptEntrevista

“Com a criação de um segundo Tribunal

Central Administrativo, redistribuíram-se as competências entre os tribunais

administrativos, o que permitiu desafogar o Supremo Tribunal

Administrativo”

“Eventualmente, nos primeiros tempos os tribunais terão colocado um crivo menos exigente na

admissibilidade e até depois no provimento

das medidas cautelares solicitadas, o que deu, em relação à

Administração Pública, uma certa noção de

que se criava um clima de ingovernabilidade

porque tudo era travado ao nível das medidas

cautelares”

“A Sérvulo participou num processo de outsourcing legislativo numa projecto muito importante que foi o Código dos Contratos Públicos. Estou convencido que vai ficar no Direito Público português como um dos grandes monumentos legislativos destas décadas”

>>>

tativos das diversas peculiaridades, suspender os outros, e julgar esses. E depois, há um leque de possibili-dades quando são proferidas essas decisões iniciais. Os autores daque-les processos que ficaram suspen-sos podem desistir, recorrer logo, ou requerer a continuação isolada do seu próprio processo. Aí é que o efeito de afogamento dos tribunais poderá eventualmente ser maior. E depois, naturalmente, vai haver re-percussão a nível dos tribunais su-periores.

Advocatus i Com os recursos?JMSC i Sim.

Advocatus i Neste momento es-tamos com sete anos sobre a reforma do Contencioso Admi-nistrativo. Quais as principais vantagens que destaca nesta re-volução?JMSC i Tratou-se de uma mudança qualitativa em relação às fases an-teriores na história do nosso Con-tencioso Administrativo. Quanto ao imperativo constitucional da efec-tividade penso que, pela primeira vez, terá sido globalmente alcança-do através de um eco muito grande de soluções inovatórias. Sublinharia a alteração do leque de meios pro-cessuais com a essência de uma acção de condenação à prática de acto devido, que é uma forma muito mais eficaz de reagir contra a passi-vidade ou a simples recusa da ad-ministração do que a antiga acção de impugnação do acto negativo. Por outro lado, destaca-se ainda a possibilidade de cumular pedidos em qualquer acção administrativa, mesmo na acção de impugnação do acto administrativo, como a pos-sibilidade de cumular, na mesma acção, o pedido de anulação do acto com o pedido de condenação da prática de um acto substitutivo. Em terceiro lugar, flexibilizaram-se também muito os mecanismos de tutela cautelar, que quase se resu-miam ao velho instituto da suspen-são de eficácia do acto adminis-trativo e agora podem ser aqueles que, segundo as circunstâncias, se revelem as mais efectivas. Simulta-neamente com a reforma proces-sual propriamente dita, o legislador

fez um pacote integrado que tam-bém passou pela orgânica dos tri-bunais administrativos. E aí, não só foi criado um número substancial de novos tribunais administrativos, a nível de tribunais de primeira ins-tância, mas também com a criação de um segundo tribunal central ad-ministrativo. Redistribuíram-se as competências entre os tribunais administrativos, o que permitiu de-safogar o Supremo Tribunal Admi-nistrativo e reservar-lhe o papel pró-prio de qualquer supremo tribunal, que é o de estabelecer as grandes orientações para a evolução da ju-risprudência, análise dos principais problemas que se colocam no âm-bito da jurisdição administrativa, e não se desgastar constantemente perante um número infindável de pequenos processos com proble-mas que não têm um alcance social jurídico geral.

Advocatus i Deixando de ser um tribunal de primeira instância para os actos do governo...JMSC i Excepto para os actos do Conselho de Ministros e do primei-ro-ministro, que acho que se justifi-ca. O primeiro-ministro e o Conse-lho de Ministros não praticam actos sobre a renovação das funções de um contínuo, mas referem-se a problemas de elevado interesse pú-blico e aí justifica-se que haja uma certa cautela quanto a requisitos de maturidade e de ciência dos juízes que vão reapreciar essas decisões. Mas são situações excepcionais, de resto todos os actos do Governo passam pela fieira normal.

Advocatus i Nesse clima de revo-lução, não acha que houve uma certa exuberância que, com o tempo, se tornou mais contida por parte dos tribunais?JMSC i Penso que esse fenómeno expansionista se verificou nos pri-meiros tempos de aplicação da re-forma do Contencioso Administrati-vo, sobretudo no domínio da tutela cautelar. Como esta foi muito facili-tada e, em muitos casos, não se tra-ta apenas de garantir o status quo, mas há a possibilidade de, através de medidas cautelares antecipató-rias, conseguir desde logo a solu-

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Fevereiro de 2011 35O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Entrevista

>>>

“A actividade legislativa do Estado muito provavelmente não vai ser prioritária

durante uns tempos, devendo prevalecer sobretudo medidas de emergência. Uma parte significativa da actividade de fundo

do Estado de planeamento e programação deverá sair afectada”

“Tem-se mantido um nível razoável de

equilíbrio entre aquilo que é controlo de

legalidade e aquilo que é controlo de

conveniência política”

“Não tenho a certeza que a morosidade

nos tribunais administrativos seja

mais grave do que nos tribunais comuns”

ção que se pretenderia através da causa principal. Naturalmente que houve, da parte dos advogados, um enorme recurso à tutela cautelar e, eventualmente, nos primeiros tem-pos os tribunais terão colocado um crivo menos exigente na admissibi-lidade e até depois no provimento das medidas cautelares solicitadas, o que deu, em relação à Adminis-tração Pública uma certa noção de que se criava um clima de ingover-nabilidade, porque tudo era travado ao nível das medidas cautelares. Admito que depois tenha havido a acepção da consciência de uma necessidade de maior cautela, en-fim, um certo equilíbrio sobre aquilo que é claramente matéria jurídica e de tutela dos direitos, e aquilo que é matéria de política administrativa pela qual os órgãos da administra-ção devem responder politicamente perante os eleitores ou perante os órgãos da assembleia, que são di-rectamente legitimados pelo eleitor. E, portanto, diria globalmente que não se pode afirmar que se tenha concretizado o risco do juiz admi-nistrativo usurpar a legitimidade de decisão para a decisão livre dos órgãos da administração. Tem-se mantido um nível razoável de equi-líbrio entre aquilo que é controlo de legalidade e aquilo que é controlo de conveniência política.

Advocatus i Se é certo que no có-digo houve uma revolução, tam-bém é verdade que os tribunais administrativos e em especial os tributários continuam a ser muito pouco céleres, até por compara-ção com a justiça comum. Como é que esta situação pode ser ul-trapassável?JMSC i Não tenho a certeza que a morosidade nos tribunais adminis-trativos seja mais grave do que nos tribunais comuns. Apesar de tudo, há diferenças significativas entre o que se passa a nível do Supremo Tribunal Administrativo, que melho-rou muito a sua taxa de eficiência e resolução. O que não quer dizer que os problemas estejam total-mente solucionados, porque mes-mo a esse nível o número de pro-cessos findos, por vezes, é inferior ao número de processos entrados.

Mas a situação não é dramática. É com as taxas de resolução e de eficiência que se estabelecem rá-cios entre o número de processos findos e o número de processos entrados, mais o número de pen-dentes que vinham do ano anterior. E depois, há uma taxa de resolu-ção que é apenas um rácio entre processos entrados e processos findos. A taxa do Supremo Tribunal Administrativo tem andado relati-vamente à volta dos 100 por cento, embora piore na taxa de eficiência. Depois, há tribunais onde a situa-ção é bastante preocupante, no-meadamente aqui em Lisboa, não sei como a realidade se configura nos últimos meses, mas até há pouco tempo, pelo menos no juízo liquidatário do Tribunal Administra-tivo do Círculo de Lisboa a situação era gravíssima. Há processos que demoram, só na primeira instância, oito a 10 anos, às vezes mais.

Advocatus i O presidente do Su-premo Tribunal de Justiça quei-xava-se da falta de juízes…JMSC i Não ponho em dúvida que, em alguns casos, faltem juízes. Isso parece evidente. Não tenho núme-ros, estou a dizer aquilo que por vezes tenho lido. Mas tenho ouvido falar que, num país como a França, a capitação de juízes por habitante é inferior à capitação em Portugal. E, no entanto, não quer dizer que eles não tenham críticas contra a morosidade, porque eu diria que o problema é comum aos tribunais na Europa, onde a situação é mais grave nuns do que noutros mas, apesar de tudo, a situação em França estará longe de ter a gra-vidade da situação em Portugal. Portanto, só para dizer que, sem pôr em causa que em alguns ca-sos sejam necessários mais juízes, será porventura ilusório pensar que indo aumentando indefinidamente o número de juízes se vai resolver o problema. A verdade é que, com esta reforma, criaram-se uma série de novos tribunais administrativos de primeira instância, criou-se um novo tribunal de segunda instância, aumentou-se consideravelmente a esses níveis o número de juízes e os resultados globais não parecem

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O novo agregador da advocacia36 Fevereiro de 2011

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“As perspectivas para este ano são muito delicadas. Temos de encarar tudo com a maior das cautelas e estar preparados para resistir à crise e ultrapassá-la na parte que nos diz respeito. E estou em crer que a crise, duma forma ou de outra, nos irá afectar”

“Há tribunais onde a situação é bastante

preocupante, nomeadamente aqui em

lisboa. Até há pouco tempo, pelo menos no

juízo liquidatário do Tribunal Administrativo

do Círculo de lisboa a situação

era gravíssima. Há processos que demoram, só na

primeira instância, oito a 10 anos, às vezes

mais”

“Em França, a capitação de juízes

por habitante é inferior à portuguesa. Sem

pôr em causa que em alguns casos sejam necessários mais

juízes, será porventura ilusório pensar que indo aumentando indefinidamente o

número de juízes se vai resolver o problema”

Entrevista

>>>ter melhorado, se exceptuarmos o Supremo Tribunal Administrativo.

Advocatusi Na área fiscal recor-reu-se à arbitragem. Acha que o recurso a uma arbitragem admi-nistrativa em termos massivos, esta seria uma boa alternativa?JMSC i Os problemas não se põem nos mesmos termos no Conten-cioso Tributário e no Contencioso Administrativo em sentido estrito. Terá de haver alguma cautela na de-limitação de alguns tipos de casos que, em princípio, não são muito re-comendáveis para efeito de solução arbitral. No entanto, também me parece que, em face de uma situ-ação global de relativa inoperância dos tribunais administrativos para dar andamento às causas, deveria estudar-se o alargamento do me-canismo de arbitragem, a aplicabi-lidade desse mecanismo. Não tive ainda ocasião de estudar com cui-dado a lei da arbitragem tributária, mas vi uma solução que, sem pre-juízo das tais ressalvas para casos excepcionais, parece bem concebi-da, e é esta: o particular que tem o seu processo pendente há mais de dois anos no tribunal, tem o direito de requerer a passagem à arbitra-gem. É claro que a arbitragem não resolve tudo porque normalmente é mais cara, e também o stock de árbitros disponíveis não será tão extenso. Em suma, recomendo cui-dado quanto à natureza das causas em relação às quais se podia esten-der a arbitragem. E também com a consciência de que a arbitragem não resolverá tudo, por ser difícil en-contrar árbitros se houver um gran-de número de arbitragens e, por outro lado, a questão dos custos. Sem considerar que não será uma solução miraculosa que irá resolver todos os problemas do atraso nos tribunais administrativos, penso que seria uma, entre outras soluções, em encarar para tentar ir corrigindo esta situação.

Advocatus i Como é que funciona o outsourcing legislativo?JMSC i A Sérvulo e Associados (Sérvulo) não participou em muito outsourcing legislativo. Participou, nos últimos anos, num projecto

muito importante, numa tarefa mui-to complexa, mas muito interessan-te, para quem goste de fazer este tipo de trabalho, que foi o Código dos Contratos Públicos (CCP). Quer dizer, nós não fomos os autores do CCP, fizemos ante-projectos, que depois foram sendo sucessivamen-te discutidos, no quadro do então Instituto dos Mercados de Obras Públicas e Particulares e do Imo-biliário (IMOPPI) com cerca de 70 ou 80 representantes dos diversos sectores da Administração Pública. Os textos foram sendo sucessiva-mente reformulados até que final-mente seguiram para o Conselho de Ministros e aí também ainda foram retocados. Portanto, este é um trabalho da classe jurídica, eu diria com inclinação para o Direito Público em que nós tivemos um papel relevante, e afirmo-o com orgulho. Naturalmente que este có-digo, como todos os códigos, irá sofrendo o embate da experiência e em função disso irá sendo retocado neste ou naquele aspecto em que as soluções são menos satisfató-rias. Mas estou convencido que vai ficar no Direito Público português como um dos grandes monumen-tos legislativos destas décadas. Isto, a par do Código do Processo Administrativo que - em virtude da reforma administrativa que vigorou nos tribunais - também vai carecer de revisão, uma vez que é dos di-plomas mais antigos que ainda te-mos em vigor.

Advocatus i Quais são as princi-pais vantagens que vê nesta for-ma de legislar?JMSC i Para os juristas que têm uma vertente analítica, que estudam com atenção a evolução dos mes-mos ramos jurídicos noutras ordens jurídicas internacionais e no próprio Direito Europeu, será como na En-genharia Aeronáutica construir um novo Airbus. É um trabalho muito aliciante, mas que também envol-ve muita responsabilidade. Mas é uma tarefa episódica – como dizia há momentos atrás, que me lem-bre nos últimos anos, e para além do CCP, a Sérvulo interveio com uma equipa que não era só de ad-vogados desta sociedade (também

Page 37: Advocatus, Nº 11

Fevereiro de 2011 37O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“Nós não somos uma sociedade de advogados de full service, no sentido de

aceitarmos todos os casos, nem trabalhar em todos os planos do Direito”

Entrevista

>>>

“A arbitragem não resolve tudo porque normalmente é mais

cara, e também o stock de árbitros disponíveis não será tão extenso”

“é inevitável que, em cada momento, haja

núcleos mais rentáveis do que outros. Neste momento posso dizer

que o núcleo de Direito Público ainda é o mais

rentável e em 2010 ultrapassou os seus

objectivos”

incluía técnicos doutras origens), dirigida pelo professor Rui Medei-ros que redigiu a nova legislação da água. Foi também um trabalho que se arrastou por dois anos ou coisa que o valha, envolvendo também uma quantidade de diplomas com-plementares, nalguns dos quais o escritório também teve um papel relevante quanto à sua elaboração. E foi agora, recentemente, esta lei da arbitragem tributária, cujo ante-projecto é da autoria do nosso só-cio de Tributário, Gonçalo Leite de Campos. Quanto a trabalhos enco-mendados à sociedade nos últimos tempos, foi isto.

Advocatus i Considera que o distanciamento da máquina ad-ministrativa é uma mais-valia no outsourcing legislativo?JMSC i Pelo contrário, eu diria que um bom outsourcing legisla-tivo, como sucedeu no CCP, deve envolver diálogo permanente com a máquina administrativa. O recur-so a juristas exteriores ao Estado justificava-se pela grande com-plexidade do diploma em causa e pelo elevado grau de especiali-zação que a matéria recomenda. Seria um grande erro elaborar di-plomas destes de costas voltadas para a Administração Pública, pois é daqui que vem todo o input ao modo como muitos dos problemas se colocam e depois têm de se re-solver tecnicamente o conjunto de soluções normativas que a pouco e pouco vão surgindo nas diversas fases de elaboração do projecto.

Advocatus i Numa conjuntura económica de retracção vai ha-ver uma tendência para o Estado reduzir recurso ao outsourcing legislativo?JMSC i É possível. Até porque a ac-tividade legislativa do Estado muito provavelmente não vai ser prioritá-ria durante uns tempos, devendo prevalecer sobretudo medidas de emergência. Uma parte significativa da actividade de fundo do Estado de planeamento e programação deverá sair afectada. Mas, para a Sérvulo, o outsourcing legislativo não foi o principal nível do outsour-cing em que nós participámos. O

principal nível foi o patrocínio de entidades públicas em processos em curso nos tribunais adminis-trativos, a assessoria em grandes operações como, por exemplo, na preparação de concursos para no-vas concessões no domínio das auto-estradas e coisas assim desse género e pareceres, sendo que es-tes normalmente não são pedidos à sociedade. A Sérvulo conta com vários professores doutores, como é o meu caso ou o do professor Rui Medeiros, para além de advogados que têm mestrados e leccionam na Academia tendo obra conhecida, a quem por vezes são pedidos pa-receres. Mas todo o trabalho que granjeiem de natureza jurídica são auferidos a título da sociedade, aqui os sócios não recebem autonoma-mente. Embora a nível de factura-ção e o rendimento sejam da socie-dade, o pedido é individualizado, ao invés do que sucede no patrocínio judiciário, onde a intervenção de-pende de equipas multidisciplinares lideradas por sócios de ponta.

Advocatus i Quais os principais objectivos para a sociedade num ano que se afigura novamente complicado na advocacia?JMSC i Ainda não aprovámos o orçamento para 2011, o que mos-tra bem a atitude expectante que nos reserva este ano. Como sabe, as perspectivas gerais para o país não são brilhantes. Segundo o Eco-nomist, Portugal, a par da Irlanda e eventualmente da própria Espanha, deveria entrar em default o mais cedo possível, ou seja, deveriam re-conhecer e declarar a sua insolvên-cia para que a sua dívida externa possa ser reestruturada, significan-do isto que os credores teriam de perder parte dos seus créditos. Mais adiante, a mesma publicação refere que os próprios bancos portugue-ses não vão ficar intocados com a aplicação destas medidas que eles consideram racionais e indispensá-veis, a aplicar o mais cedo possível, por duas ordens de razões: por um lado, porque eles põem dúvidas em relação à solidez das instituições bancárias portuguesas, uma vez que não é de excluir a situação de haver uma bolha de crédito malpa-

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O novo agregador da advocacia38 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptEntrevista

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rado prestes a rebentar num futuro próximo. Por outro lado, os bancos absorveram parte da dívida esta-dual, logo, é evidente que se hou-ver essa reestruturação do crédito português, os bancos – juntamente com os outros credores – irão per-der uma parte dos seus créditos, o que afecta inevitavelmente o equilí-brio das próprias instituições finan-ceiras. Em suma, as perspectivas para este ano são muito delicadas e nós, como as outras sociedades de advogados, com cerca de 60 advo-gados e 30 outros profissionais, te-mos de encarar tudo com a maior das cautelas e estar preparados para resistir à crise e ultrapassá-la na parte que nos diz respeito. E es-tou em crer que a crise, duma forma ou de outra, nos irá afectar.

Advocatus i A Sérvulo começou por ser uma boutique de Direito Público, hoje em dia é um escri-tório multidisciplinar. Esta maior versatilidade pode ser considera-da benéfica numa altura de crise?JMSC i Nós não somos uma so-ciedade de advogados de full ser-vice, no sentido de aceitarmos todos os casos nem de trabalhar em todos os planos do Direito. Temos uma estrutura de núcleos que abrange as principais áreas de prática: Direito Público, e em volta dele Direito Europeu e da Concorrência, Direito do Ambiente e do Urbanismo, Direito Financei-ro, Direito Societário e Comercial, Direito Laboral, Direito Penal Eco-nómico e Contra-Ordenacional e Direito Fiscal. Como bem diz, é um facto que a rentabilidade destes núcleos varia consoante a conjun-tura, e estarmos preparados para aconselhamento jurídico em mais do que uma área provavelmente é mais uma vantagem do que uma preocupação. É inevitável que, em cada momento, haja núcleos mais rentáveis do que outros. Neste mo-mento posso dizer que o núcleo de Direito Público ainda é o mais rentável e em 2010 ultrapassou os seus objectivos. Mas, como lhe disse, ainda estamos a preparar o orçamento e os objectivos de fac-turação para 2011. Vamos ver o que nos reserva este ano.

Nascido em 1937 em Angra do Heroísmo, nos Açores, foi obrigado a escolher a profissão com apenas 14 anos. Com um volume de leitura “mui-to grande”, dada a tenra idade, o facto do pai ser reitor do Liceu Camões permitiu-lhe alimen-tar esse vício através da biblioteca “muito boa e extensa” dessa instituição. “O meu pai queria que eu fosse engenheiro, costumava dizer que as pessoas mais importantes do país no futuro iriam ser engenheiras”, lembra. “Em certa medi-da acertou [risos], mas nunca senti atracção pela Engenharia, só hesitei muito quanto à Medicina”. Comparando ambas as profissões, considera-as semelhantes, uma vez que “ambas enfrentam situações de diagnóstico difíceis, que implicam conhecimentos técnicos profundos mas actu-alizados, e também um raciocínio criativo para identificar rapidamente a natureza do problema complexo e depois tentar encontrar estratégias de saída ou de contenção”. Profundamente arrependido de ter enveredado pelo Direito aquando do 25 de Abril, nessa altura era jurista no Banco de Portugal (BdP), onde inte-grou a primeira equipa que, em 1975, foi à Suíça negociar o primeiro empréstimo ao Estado portu-guês com garantia de ouro. Paralelamente, lec-cionava na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e tinha um escritório onde só ia ao fim do dia, mas que era “fonte de grande despesa”, numa altura em que já tinha o quinto dos seus sete filhos. Com o sentimento de que tudo o que construíra até então era inútil, na Academia vivia-se uma fase conturbada, onde o MRPP afastara o PC e desatou a sanear todos os professores, passando depois aos assistentes. O saneamento de Jorge Miranda foi a gota que fez transbordar o copo. Nessa noite, os assistentes que ainda não tinham sido saneados, entre os quais se contava José Manuel Sérvulo Correia, reuniram no escri-tório de João Robin de Andrade e, decidindo que a situação estava incontrolável, solidarizaram-se com Jorge Miranda. “Foi então que me arrependi de não ter ido para Medicina, que me teria pro-porcionado mais facilmente sustento noutro país, para onde teria emigrado se a teoria da ditadura comunista tivesse vingado”. A reconciliação com o Direito deu-se na Assem-bleia da República (AR), na legislatura que teve início em 1976. “Os assistentes de Direito Pú-blico da minha faculdade entraram praticamen-te todos na política, a partir de 1974, porque se criou aquela noção de que era preciso evitar que

o país caísse numa nova ditadura e tornava-se necessário construir uma democracia”. Eleito para a primeira legislatura da Assembleia da Re-pública, após a Assembleia Constituinte, mais uma vez o escritório revelou-se “um peso terrí-vel”, pois continuou a ser advogado, mas já não tinha tempo para ir ao escritório. Como membro da AR, e em conjunto com colegas como Sousa Franco, Joaquim Magalhães Mota ou Figueire-do Dias, legislou sobre as principais matérias da Constituição, desde a estruturação do sector público até ao Serviço Nacional de Saúde, ou à Reforma Agrária. Rematada a carreira política em 1979, a propó-sito do célebre episódio das Opções Inadiáveis, a par duma intensa vida profissional, é patriarca de uma família extensa, com sete filhos e 14 ne-tos, com o 15.º a caminho. Declarado viciado no trabalho, até os tempos livres são passados a despachar papéis e a ler livros da especialidade. “Também gosto muito de ler livros que não sejam de Direito, mas todos os que tenho comprado nos últimos anos estão lá em casa acumulados, à espera duma oportunidade para serem lidos”, confessa. Viúvo da mãe dos seus sete filhos em 1998, tornou a casar-se quatro anos mais tarde com uma senhora de origem sul-africana, com quem viaja de vez em quando até às suas ori-gens, “embora leve sempre alguns livros de Di-reito na bagagem”. Os Açores são outro destino incontornável, onde passa três semanas todos os verões, duas semanas na sua terra natal, os restantes dias noutra ilha. Questionado sobre projectos futuros, José Ma-nuel Sérvulo Correia não tem dúvidas: “Morreria feliz se ainda conseguisse escrever um manual de Teoria Geral do Direito Administrativo”.

Para morrer feliz tem de escrever antes um manual PERFil

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Fevereiro de 2011 39O novo agregador da advocacia

Joana DionísioJornalista

[email protected]

Ordem adia mais uma vez o início do estágioA uma semana da data marcada, a Ordem dos Advogados adiou mais uma vez o início do estágio dos recém-licenciados em Direito, previsto inicialmente para 13 de Dezembro. A abertura desta fase complementar da licenciatura tem sido sucessivamente adiada, tendo agora ficado marcada para 15 de Março.

MANUEL CASTELO BRANCO está de saída da Cuatrecasas por ter “uma forma diferente de encarar o futuro”. A saída do managing partner da multinacional espanhola deu-se por mútuo acordo e o advogado continuará a colaborar com o escritório.

OCTÁVIO CASTELO PAULO E GONçALO ANASTÁCIO foram premiados pela primeira edição da Best Lawyers em Portugal nas áreas de Telecomunicações e Concorrência, respectivamente.

PEDRO RAPOSO deverá suceder a Pedro Cardigos, tendo sido convidado para liderar a ASAP. A eleição dos novos órgãos dirigentes está marcada para 15 de Fevereiro.

FRANCO CAIADO GUERREIRO E ASSOCIADOS distinguida pela Tax Directors Handbook como uma das melhores firmas portuguesas em Fiscal.

pbbr galardoada em Propriedade Intelectual, área liderada por César Bessa Monteiro, pela Corporate International Magazine.

RAPOSO BERNARDO, CRA E AB foram distinguidas pela Finance Monthly Awards 2010 nas seguintes categorias: Full Service Law Firm of the Year; Internet & E-Commerce Law Firm of the Year; M&A Law Firm of the Year; Private Equity Law Firm of the Year.

AB colabora em estudo para a APRiTElUma equipa da Abreu Advocatus (AB) liderada pelo sócio do departamento de Concorrência, Miguel Mendes Pereira (na foto) colaborou com a Maksen Consulting num estudo sobre “Acesso a Conteúdos para Pay-TV” e ficou encarregue pela assessoria jurídica na parte de Concorrência e Regulação.

VdA faz pro bono na Madeira

Casa Pia faz viagem tripla para a Relação

VdA e CRIAMAR organizaram uma manhã informativa na Madeira. A sessão foi subordinada ao tema “Questões jurídicas relevantes para a actividade das entidades do 3.º sector da Madeira”, no âmbito do “Programa Pro Bono e de Responsabilidade Social Empresarial” da Vieira de Almeida & Associados (VdA).

O caso Casa Pia, o maior processo judicial português, foi transferido para o Tribunal da Relação, tendo sido precisas três viagens para o levar os mais de mil volumes e apensos. O mega processo conta com mais de 70 mil páginas, mais de mil volumes e um acórdão com quase duas mil páginas.

Alta velocidade a dividir por cinco A VdA, CS Associados, UM-PC, Miranda e Jardim Sampaio, Magalhães e Silva, foram as firmas envolvidas no projecto de Alta Velocidade. O trabalho de assessoria jurídica ao projecto no troço Poceirão-Caia venceu um prémio europeu atribuído pela publicação especializada Euromoney

Project Finance Magazine. A assessoria foi da responsabilidade da Vieira de Almeida & Associados (VdA) e o apoio aos bancos no Financeiro pela Campos Ferreira, Sá Carneiro & Associados (CS Associados). A Uría Menéndez - Proença de Carvalho (UM-PC) foi a firma responsável

pela assessoria jurídica aos bancos na área do Público enquanto a Miranda ficou com o aconselhamento ao Banco Europeu de Investimento. Do escritório Jardim, Sampaio, Magalhães e Silva veio a assessoria jurídica à entidade adjudicante, o Estado português.

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O novo agregador da advocacia40 Fevereiro de 2011

FCB&A novamente distinguida pela Corporate intl.A sociedade foi apontada como a Full Service Law Firm of The Year in Portugal nos últimos “2010 Legal Awards”, sendo a segunda vez que a publicação inglesa premeia esta firma. Vítor Marques da Cruz, sócio da FCB&A, diz que “este prémio vem certificar a qualidade dos advogados com quem contamos, demonstrando a nossa crescente presença além-fronteiras”.

AVM chega a Maputo e abre escritório no Porto. Estas constituem a mais recente aposta da firma angolana liderada por António Vicente Marques. O grande objectivo da expansão é afirmar o projecto num espírito lusófono.

PAULO PINTO DE ALBUqUERqUE é o novo juiz no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.O jurista foi eleito para o cargo pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, com 114 votos. Com ele concorreram Maria Eduarda Azevedo e João Manuel Miguel, através duma lista apresenta pelo Ministério da Justiça.

FCB&A esclarece novo Código Contributivo. A iniciativa foi co-organizada com a Câmara do Comércio Americana em Portugal e subordinada ao tema “Código dos regimes contributivos do sistema previdencial da Segurança Social”, tendo como fito explicar o novo regime da Lei.

CATóLICA organizou seminário sobre Propriedade Intelectual e Sociedade de Informação. O orador foi o Raymond Nimmer, director da Faculdade de Direito da Universidade de Houston. O evento teve como objectivo estudar instrumentos jurídicos vocacionados para a optimização dos direitos de Propriedade Intelectual na era da Informação Digital.

PlMJ partilha experiência e inova nas soluções

Miranda analisa Orçamento 2011

JPAB premiada galardão internacional

John Akula defende os BRiC como solução anti-crise

laboralistas da RPA analisam Código do Trabalho

A Miranda e o jornal Vida Económica promoveram duas sessões de esclarecimento sobre o Orçamento do Estado aprovado para 2011 nas instalações da firma em Lisboa e no Porto.

A firma liderada por José Pedro Aguiar-Branco (na foto, ver Advocatus n.º 5) recebeu o prémio Environmental Law Firm of the Year in Portugal, pela Corporate INTL. A JPAB foi seleccionada na categoria de Ambiente e Energia, área liderada pela sócia Ivone Rocha.

Em entrevista ao Advocatus, John Akula, professor do MIT Sloan School defende que o Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC) podem ser uma boa alternativa a mercados “maduros” como os Estados Unidos e a Europa.

A sócia da área de Direito de Trabalho da Rui Pena, Arnaut & Associados (RPA), Susana Afonso Costa (na foto, ver Advocatus n.º10) e associada principal Sofia Mateus analisaram as especificidades dos mecanismos de cessação de contratos de trabalho numa conferência organizada pelo International Faculty for Executives.

Sérvulo com PT no caso das pensõesUma equipa da Sérvulo e Associados liderada por Lino Torgal e Maria Zagallo procedeu à preparação e negociação com o Estado do memorando de entendimento e do projecto de decreto-lei que enquadra a transferência do fundo de pensões da Telefónica.

A PLMJ lança uma nova assinatura institucional: “Partilhamos Experiência. Inovamos nas Soluções”. A expansão internacional é outra das apostas da sociedade para 2011, pioneira na criação de uma rede internacional de contactos, através da International Legal Network.

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DgPJ organiza sessão sobre “O novo regime jurídico do divórcio e das responsabilidades parentais”

iDEFF promove conferência sobre “Novo Regime de Arbitragem Fiscal”

CCA contrata Reynolds Carvalho

Numa parceria com o Observatório Permanente da Justiça Portuguesa (OPJP), a Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ) apresentou um estudo acerca do tema no Picoas Plaza, em Lisboa. A cerimónia contou com a presença do ministro da Justiça, Alberto Martins, e do director do OPJP, Boaventura de Sousa Santos.

O evento decorreu no auditório da Faculdade de Direito de Lisboa e foi organizado em três painéis, contando com a participação de Eduardo Vera Cruz, Eduardo Paz Ferreira e Ana Paula Dourado.

A CCA reforçou a sua área Corporate ao contratar Bernardo Reynolds Carvalho como novo responsável pelo International Desk do departamento de Corporate.

BPO lança acção sobre “Cobranças - Novas Ferramentas para Recuperação de Créditos”

ABBC reforça área de laboral

Numa parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, o encontro teve como objectivo dar a conhecer às empresas os mecanismos que permitem evitar cobranças difíceis, facilitando as mesmas.

A sociedade liderada por Benjamim Mendes contratou dois novos especialistas para o departamento de Direito do Trabalho. Catarina Santos Ferreira e Américo Oliveira Fragoso são as novas aquisições num ramo que se prevê atarefado ao longo de 2011.

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O novo agregador da advocacia42 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptSéries

Na sociedade inglesa do século XIX desenvolve-se uma trama em que várias personagens, de diversos núcleos, convergem num mundo misterioso, onde uma longa batalha legal por causa de um testamento é o centro de toda a história. A série Bleak House é uma adaptação do romance homónimo de Charles Dickens e nela entra a personagem escolhida por Ricardo Costa Macedo, sócio da Franco Caiado Guerreiro: o advogado Tulkinghorn, interpretado por Charles Dance. “Inteligente, manipulador, perspicaz e com capacidade de causar um profundo terror naqueles que com ele se cruzam. É, acima de tudo, um fiel servidor do seu cliente, Sir Leicester”. Apesar de não se rever na totalidade dos traços da personalidade de Tulkinghorn, Ricardo considera que este inglês “pouco simpático” tem “excelentes qualidades”, nomeadamente, a lealdade e o instinto de protecção para com o seu cliente, bem como a capacidade de observação, atributos que o advogado procura replicar na sua prática profissional, à qual, ao contrário da personagem, procura acrescentar “uma sólida dose de simpatia”. Apesar de não ser uma série de advogados, nela está bem explícita a crítica ao sistema judicial vitoriano, retratado como “um labirinto capaz de consumir os litigantes”, um dos aspectos que levam Ricardo a distinguir esta trama como um “universo absolutamente espantoso”.

RicardoCostaMacedoéfãdeTulkinghorn

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Fevereiro de 2011 43O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt

isabel Magalhães

Licenciada em Direito pela FDUL (1978) é sócia de capital e gerente da sociedade de advogados Magalhães

Associados. No plano cívico, é presidente do Movimento Ser Cascais.

Hóbi

Quem não acredita no amor à primeira vista está enganado. Que o diga Isabel Magalhães que teve pelo golfe uma súbita paixão que veio para ficar. Começou a jogar há pouco mais de um ano e já venceu vários torneios de advogados. Considera o novo passatempo como “um enorme deleite e uma inspiração para a alma”, um desafio constante à sua perícia, concentração e determinação. Pratica duas a três vezes por semana, excepto nas férias, altura em que quase todos os dias consegue ir ao campo treinar as suas tacadas. A descoberta do golfe revelou-se “extraordinária” para alguém cujas actividades de tempos livres se inseriam num ambiente “muito mais artístico e intelectual”. Isabel garante que descobriu capacidades pessoais que ela própria desconhecia e louva o facto de poder estar em contacto directo com a natureza, ao mesmo tempo que pratica um desporto relaxante que “funciona como um escape ao stress que a profissão de advogado necessariamente implica”. “Para além de ser uma óptima forma para lidar com as fraquezas e de potenciar os pontos fortes, o facto de jogar golfe ensina a competir de modo saudável, tanto com os outros, como com nós próprios”, conclui.

IsabelMagalhães

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O novo agregador da advocacia44 Fevereiro de 2011

www.advocatus.ptRestaurante

Manuel FalcãoDirector-geral da Nova Expressão

Mesmo junto ao Largo do Rato, na primeira transversal de quem desce a Rua Alexandre Herculano em di-recção à Avenida da Liberdade, fica a Rua do Vale de Pereiro. Logo ali, perto da esquina, está o Assinatura, dirigido pelo chefe Henrique Mouro que ganhou reputação no restauran-te Club, em Vila Franca de Xira.O Assinatura é composto por duas salas – uma ao nível da entrada e ou-tra, em baixo, a ver-se a cozinha, e onde fica uma “mesa do chefe”, que dá para um grupo maior, e que é o local ideal para Henrique Mouro ex-plicar os seus “menus degustação”, uma das opções da carta. A decoração é atraente, quer os al-tos cadeirões encostados à parede, quer as cadeiras são confortáveis. A iluminação é simpática e o grande lustro que domina toda a sala é de fazer inveja. O jogo de cores é tran-quilo e há um curioso toque junto à montra, por cima das escadas de acesso à sala do piso inferior, que é uma mesa, devidamente posta com louça, copos e talheres e as respec-tivas cadeiras a ladeá-la, a dar a ima-gem de estar virada ao contrário e presa ao tecto. O estacionamento é relativamente fácil em parques públi-cos e à noite faz-se sem dificuldade nas proximidades.

Ao almoçoO Assinatura proporciona experiên-cias diferentes, desiguais, nas duas refeições do dia. Ir almoçar ao Assi-natura é uma coisa, ir jantar é outra. Passo a explicar: existe um menu de almoço que, por 24 euros, proporcio-na entrada, prato e sobremesa, além de água, café e couvert. O menu de almoço varia semanalmente e pode ser consultado na página do restau-rante na internet, www.assinatura.com.pt. Há sempre várias propostas de vinho a copo para acompanhar a refeição, além de uma carta de vi-nhos razoável, bem organizada por regiões e com algumas propostas a

preços sensatos, outras nem tanto. No menu de almoço tem ainda a possibilidade de preferir só o prato principal e escolher, ou não, entrada ou sobremesa – o prato sozinho fica por 18 euros e a entrada e sobre-mesa por três euros cada, até aos 24 acima referidos. As propostas do menu de almoço são boas, produtos frescos e boa confecção. Confesso que fiquei com melhor impressão do ambiente e da comida ao almoço do que ao jantar. Ao almoço, numa zona onde abundam sedes de instituições e escritórios de profissões liberais, o restaurante é mais movimentado e a própria refeição parece fluir melhor. E a lista parece adequada a um bom almoço de trabalho que não deixe demasiadas marcas pela tarde fora. Para quem precise de marcar um almoço para a zona do Rato este é claramente um local a ter em conta.

Ao jantarÀ noite, ao jantar, a coisa é um pou-

co diferente e o serviço torna-se um pouco presente demais nas explica-ções e ligeiramente distraído no ser-viço do vinho. O serviço é simpático e atencioso, mas talvez um pouco intrusivo. Ao jantar o chefe oferece um pequeno amouse bouche de entrada e logo aí se percebe qual é o grande ponto forte do Assinatura: um cuidado invulgar no tempero, na combinação de aromas, na criação de texturas de molhos. O couvert in-clui um curioso pão de alfarroba, qui-noa, um pratinho de azeite de Trás-os-Montes e manteiga de ovelha. A carta oferece uma lista variada com entradas, várias propostas de peixe e carne e menus de degusta-ção de cinco (45 euros) e sete pratos (55 euros). Na carta, os pratos prin-cipais rondam em média os 25 euros cada. Ao jantar, nos pratos princi-pais, registei opiniões desencontra-das sobre a matéria-prima principal e os acompanhamentos: a pescada no forno (que inexplicavelmente pa-

AssinaturaRua do Vale de Pereiro 19 A, Lisboa

Telefone 213 867 696

“Com que Voz”, de Amália RodriguesBANDA SONORA

Originalmente editado há 40 anos, em 1970, o álbum “Com Que Voz” é considerado, a par de “Busto”, a melhor gravação de Amália Rodrigues. Este é o disco marcante da viragem da carreira de Amália, muito por obra de Alain Oulman, que nessa altura começou a trabalhar com a fadista e que musicou os poemas de nomes como Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, Manuel Alegre ou Pedro Homem de Mello. David Ferreira, o filho do poeta, que conhece como poucos a obra de Amália, pegou no disco original, rodeou-se de pessoas conhecedoras da obra da fadista, como Frederico Santiago, e com base nos arquivos da Valentim de Carvalho criou

uma nova edição com dois discos – o álbum original, remasterizado (e ainda mais surpreendente) e um segundo disco, intitulado “A Procura”, que revela 19 gravações feitas na época, entre as quais alguns inéditos, como por exemplo uma gravação alternativa de “Com Que Voz”. Da edição faz ainda parte um livro, de 88 páginas, no formato do CD, e que agrupa textos de vários autores, contando diversos episódios que marcaram uma época e as pessoas que na altura trabalhavam mais de perto de Amália Rodrigues. (Edição Valentim de Carvalho/iPlay)

Melhoraoalmoçodoqueaojantarrecia ter, em alguma altura, sofrido de excesso de refrigeração) estava mediana mas os legumes de acom-panhamento eram excepcionais; os filetes de bacalhau eram decentes, embora um pouco salgados – en-quanto o arroz de línguas e boche-chas de bacalhau que acompanha-va, excedia todas as expectativas. Nas sobremesas a grande reve-lação é um arroz doce envolto em massa filo, enquanto os figos com amêndoas e ovos se revelaram um pouco pesados.

Contas à vidaQuanto aos vinhos – ao almoço bebeu-se um Meandro, um tinto do Douro, que estava óptimo, e ao jantar um Monte dos Cabaços, Alentejo, que confirmou ser um dos bons vinhos brancos que se fazem hoje em dia. Ambos rondavam os 20 euros, o que, atendendo ao lo-cal e aos vinhos que são, não pa-rece exagerado. De qualquer forma o Assinatura não é propriamente barato quando comparado com outros restaurantes de igual nível. Duas pessoas ao almoço pagaram pelo menu reduzido 61 euros e ao jantar, pela descrição acima escrita, 94 euros – e, a menos que não se beba vinho, parece-me difícil descer alguma coisa que se veja destes va-lores.

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Fevereiro de 2011 45O novo agregador da advocacia

www.advocatus.pt Montra

Biotherm luta contra a idade

Skin Vivo Serum é o nome do novo anti-idade para o rosto, criado pela Biotherm. Este produto reúne dois poderosos ingredientes naturais: o Plâncton Termal puro e o Reverserol SV. A sua fórmula actua a nível da reparação e protecção do ADN, corrigindo as suas alterações e estimulando o nascimento de novas células. A pele fica firme, rejuvenescida e visivelmente radiante.

Swatch “quebra barreiras”

A Swatch Bijoux tem agora uma nova colecção de bijutaria quem tem deliciado as suas clientes. A colecção Breaking Ranks vem superar as barreiras da elegância colocando o mesmo elemento geométrico em todas as peças da colecção. O pentágono foi a forma geométrica escolhida para tornar o colar, o anel, a pulseira e os brincos em peças harmoniosas e originais.

Novo Volkswagen Passat

Depois do sucesso do bestseller da Volkswagen, com mais de 15 milhões de unidades vendidas, chega agora a sétima geração do modelo Passat que, depois de totalmente reinterpretado, expressa ainda mais presença e imponência. Para além do estilo exterior, o novo Passat espelha o progresso tecnológico através do seu sistema de detecção de fadiga e função de travagem de emergência para a condução em cidade. O novo Volkswagen Passat vai, também, ser o mais económico de sempre, com um consumo combinado de 4,2 l/100 km.

O Cérebro do Matemático

A editora Gradiva destaca para 2011 o livro de David Ruelle “O Cérebro do Matemático”, um livro criado a partir das histórias de vida de matemáticos que passa pelos seus ditos espirituosos, pelas suas excentricidades, tragédias

pessoais, comportamentos bizarros, acessos de loucura, fins trágicos e assombrosas descobertas de beleza sublime. Este é também um livro informativo que explica os conceitos matemáticos em discussão, permitindo

compreender os nossos processos de pensamento matemático e filosófico.

Vodafone lança novo smartphone com sistema Android

A Vodafone Portugal lançou um novo smartphone com sistema operativo Android: o Vodafone 945. O Vodafone 945 é o segundo smartphone de marca Vodafone com sistema operativo Android (sucede ao Vodafone 845)

e pode ser adquirido por 129,9 euros, um preço muito competitivo no mercado português. Possuindo as características esperadas num telefone topo de gama (melhor ecrã, melhor câmara, melhor experiência touch),

este telemóvel 3,5G com Android e serviços Vodafone 360 permite o acesso à internet e à loja online Android Market, onde é possível adquirir aplicações para potenciar a utilização do telemóvel. O Vodafone 945 tem ecrã

táctil de 3,2 polegadas, GPS, câmara de 5 megapixel e conectividade Wi-Fi e Bluetooth.

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O novo agregador da advocacia46 Fevereiro de 2011

www.advocatus.pt

As duas telas marinhas a óleo que estão no corredor de acesso às salas de reunião do escritório fundado por Manuel Barrocas datam do século XIX e são a escolha deste sócio da firma Barrocas Advogados. As obras – da autoria de Luís Ascêncio Tomasini, um oficial de marinha português de ascendência italiana que viveu entre 1823 e 1902 – “tornam menos severo o ambiente de trabalho, sobretudo num escritório de advocacia que é, frequentemente, de pressão”, refere o jurista, que elegeu esta tela não só pela beleza que representa, mas também pela sua raridade. “Em primeiro lugar, não são abundantes as marinhas pintadas por artistas portugueses; em segundo lugar, porque representam pictoricamente o que na altura não podia ser feito doutro modo”, diz, referindo-se às cenas da costa moçambicana pintadas no quadro: uma missão católica e um barco a remos movido por elementos da população autóctone de religião muçulmana. O autor, Luís Ascêncio Tomasini, após uma brilhante carreira como capitão de navios, durante a qual fez estudos sobre a natureza, dedicou-se inteiramente à Arte, ficando conhecido como um celebérrimo pintor de marinhas. Nas obras escolhidas por João Nuno Barrocas, num ambiente tropical, na foz do rio Zambeze, transmitem-se movimento e cor, elementos que, na opinião do jurista, “constituem obras muito belas”.

JoãoNunoBarrocas

Obra de ArteR

amon

de

Mel

o

luís Ascêncio Tomasini

Viveu entre 1832 e 1902. Pintor dos séculos XIX e XX,

foi capitão de navios. De nome respeitado, fez vários estudos

da natureza enquanto se dedicou à vida marítima. Após abandonar a patente dedicou-

se à Arte, como pintor de figuras marinhas.

Page 47: Advocatus, Nº 11

Os mais atentos desejam-no. Os mais distraídos também.Novo CLS. Equipado com o sistema ATTENTION ASSIST, da Mercedes-Benz, que alerta o condutor para sinais de cansaço ou desconcentração. E com o Assistente Activo de Faixa de Rodagem, que em caso de desvio de faixa de rodagem faz vibrar o volante e intervém no sistema de travagem. Sensualidade e bom senso. Consumo (combinado l/100Km): 5,2. Emissões CO2 (g/Km): 135. www.mercedes-benz.pt/cls

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Page 48: Advocatus, Nº 11